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Oswald de Andrade Oswald de Andrade

Oswald de Andrade. Autor: Oswald de Andrade Escola Literária: Modernismo 1ª Geração Ano de Publicação: 1924 Gênero: Romance Temas: Sátira à burguesia

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Oswald de AndradeOswald de Andrade

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Autor: Oswald de Andrade Escola Literária: Modernismo — 1ª Geração Ano de Publicação: 1924 Gênero: Romance Temas: Sátira à burguesia paulista (casamento

por interesse, futilidade) Divisão da Obra: 163 Episódios Local: São Paulo Narração: 1ª Pessoa (Narrador—Personagem)

MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR

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Oswald de Andrade (1890-1953) Nasceu em São Paulo, filho de família rica, fazendeiros que

plantavam café, foi poeta, romancista, ensaísta e teatrólogo.

Formado em Direito, Oswald foi um ‘playboy’ rebelde: era rico, festeiro e mulherengo (casou-se cinco vezes, duas delas com mulheres famosas: Tarsila do Amaral e Patrícia Galvão ( "Pagu"). Atuou diretamente na Semana de Arte Moderna, criou os manifestos Pau-Brasil e Antropofágico, além da revista literária semanal O Pirralho.

Em 1929, foi à falência, após muitas viagens a Europa e esbanjamentos sociais. Militante esquerdista, passou a divulgar o Comunismo junto com Pagu em 1931, mas desligou-se do Partido em 1945.

O AUTOR

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Romance: Memórias sentimentais de João Miramar

(1924); Serafim Ponte Grande (1933) Teatro: O Rei da Vela (1937) Poesia: Pau-Brasil (1925); O escaravelho de ouro

(1946) Manifestos: Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924);

Manifesto Antropófago (1928). Sua obra é marcada pela irreverência, pelo

coloquialismo, pelo nacionalismo e pela crítica. Morreu sofrendo dificuldades de saúde e financeiras, mas sem perder o contato com os artistas da época.

Bibliografia: Principais obras

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A Escola literária em que Memórias

sentimentais de Joao Miramar está inserida é o Modernismo — primeira geração.

A ESCOLA LITERÁRIA

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O movimento denominado Modernismo iniciou-se em 11 de

fevereiro de 1922, com o evento chamado “Semana da Arte Moderna”. Mas muitos consideram o início do movimento a partir do ano de 1920, pois as características modernistas já haviam sido incorporadas aos escritores pré-modernistas. O ápice do movimento dá-se em 1922 com a Semana de Arte Moderna.

A Semana de Arte Moderna foi um evento ocorrido no Teatro Municipal de São Paulo. E contou com inúmeras manifestações, como apresentação de conferências, leitura de poemas, dança e música e vários grandes nomes da literatura brasileiras, tais como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Manuel Bandeira, Di Cavalcanti, Graça Aranha, Guilherme de Almeida e muitos outros.A arte exposta nesse evento causou uma enorme polêmica à sociedade da época, e atravessou o século XX, impressionando até os dias de hoje.

Resumo Modernismo No Brasil

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O movimento divide-se em três fases, todavia, aqui nos interessa

a primeira fase.

Ela se caracteriza por ser uma tentativa de definir e marcar posições(quem determinará as diretrizes artísticas).

É um período rico em manifestos e revistas de duração efêmera. Um mês depois da Semana de Arte Moderna, a política vive dois

momentos importantes: eleições para Presidência da República e congresso (RJ) para fundação do Partido Comunista do Brasil. Ainda no campo da política, surge em 1926 o Partido Democrático que teve entre seus fundadores Mário de Andrade.

É a fase mais radical justamente em consequência da necessidade de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado.

Tem caráter anárquico e forte sentido destruidor.

Primeira Fase (1922-1930)

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Mário de Andrade; Oswald de Andrade; Manuel Bandeira; Antônio de Alcântara Machado; Menotti del Picchia; Cassiano Ricardo; Guilherme de Almeida; e Plínio Salgado.

Principais autores da primeira fase

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• Busca do moderno, original e polêmico; • Nacionalismo em suas múltiplas facetas; • Volta às origens e valorização do índio

verdadeiramente brasileiro; • “língua brasileira” – falada pelo povo nas ruas; e

• Paródias – tentativa de repensar a história e a literatura brasileiras.

A postura nacionalista apresenta-se em duas vertentes: • nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da

realidade, identificado politicamente com as esquerdas.

• nacionalismo ufanista, utópico, exagerado, identificado com as correntes de extrema direita.

Características

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Canção do exílio(Gonçalves Dias)

Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais [flores,

Nossos bosques têm mais [vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar , sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu [morra, Sem que eu volte para lá; Sem que disfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as [palmeiras, Onde canta o Sabiá.

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Canto de regresso à pátria(Oswald de Andrade)

Minha terra tem

palmaresOnde gorjeia o marOs passarinhos daquiNão cantam como os de lá

Minha terra tem mais [rosasE quase que mais amoresMinha terra tem mais [ouroMinha terra tem mais [terra

Ouro terra amor e rosasEu quero tudo de láNão permita Deus que eu [morraSem que volte para lá

Não permita Deus que eu [morraSem que volte pra São PauloSem que veja a Rua 15E o progresso de São Paulo.

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João Miramar — Personagem principal da

história. Pertence à burguesia paulistana dos plantadores de café. Casa-se com Célia e possui uma amante.

Célia — Prima e esposa de Miramar. É rica e pertence à burguesia paulista.

Celiazinha — Filha de Miramar e Célia — não tem voz ativa na história, apenas é citada.

OS PERSONAGENS

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Madame Rolah — Atriz de cinema. Mulher loira

e linda, pela qual Miramar se apaixona e se torna seu amante. Após a falência de Miramar, Rolah o abandona. `

Tia Gabriela — Mãe de Célia, Pantico, Nair e Nice. É tia e sogra de Miramar. Em viagem a Europa, recebe o golpe do baú do falso Conde José Chelinini.

Pantico, Nair e Nice — Primos e cunhados de Miramar.

OS PERSONAGENS

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Machado Penumbra — Pseudoautor do

prefácio ao Miramar- homem das letras, intelectual.

José Chelinini — Amigo de Miramar. Dizendo-se Conde, casa-se com tia Gabriela para aplicar-lhe golpes.

Britinho — Amigo de Miramar que morre em uma emboscada.

Dr. Pôncio Pilatos da Glória — Médico da família.

OS PERSONAGENS

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O enredo da obra é simples: João Miramar

relata sua história pessoal. Ao longo de capítulos revolucionariamente

curtos, repassa os principais fatos que marcaram sua existência.

ENREDO

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a) infância; b) viagem ao exterior; c) retorno ao Brasil; d) 1ª Guerra Mundial; e) namoro com Célia; f) casamento; g) nascimento de sua única filha (Celiazinha); h) o caso extraconjugal; i) a falência; j) divórcio motivado pelo insucesso financeiro; k) morte da ex-esposa; e l) recuperação da guarda da filha e da fortuna.

As impressões deixadas pela:

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A história do narrador é banal. Não tem nada de

especial. Nem acontecimentos bombásticos que orientam para um final que exprima a vitória do verdadeiro amor, nem consequências necessárias resultantes de um determinismo psicossocial. Já aí se vê o quanto Oswald distancia-se de toda literatura que o precedeu tanto na escolha quanto no tratamento do tema.

Além dessas, a outra grande inovação é o trabalho de Oswald com a linguagem. Ao longo da obra o que mais chama atenção não é a narrativa, mas a maneira que o narrador emprega para sugerir sua trajetória pessoal.

ENREDO

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Machado Penumbra abre o romance com um

prefácio em que dá boas-vindas a João Miramar, saudando sua 'entrada de homem moderno na espinhosa carreira das letras'.

A partir daí, é narrada a trajetória desse novo escritor, sujeito ingênuo, educado na acanhada cidade de São Paulo, no começo do século. É um intelectual provinciano, cuja família rica vive da extração de café.

Síntese

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Na abertura, Miramar, ainda garotinho, é

levado pela mãe ao oratório familiar e lá entre a imagem do manequim, propriedade materna, e a oração, o garoto pensa e reza:'__ Senhor convosco, bendita sois entre as mulheres, as mulheres não têm pernas, são como o manequim de mamãe até em baixo. Para que perna nas mulheres, amém'.

Síntese

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Outra experiência do menino João recebe o título

'Gatunos de Crianças' e é assim condensada: 'O circo era um balão aceso com música e

pastéis na entrada. E funâmbulos (Aquele que anda ou dança em corda bamba) cavalos palhaços desfiaram desarticulações risadas para meu trono de pau com gente em redor. Gostei muito da terra da Goiabada e tive inveja da vontade de ter sido roubado pelos ciganos'.

E, assim, em fragmentos, a trajetória de Miramar prossegue.

Síntese

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A viagem de navio à Europa vai destacando as

cidades: manhã no Rio, Tenerife, Terra firme - Barcelona, Torre Eiffel, Milão, Vaticano, Sorrento, Veneza, etc.

O namoro com Célia é assim apresentado: 'Vinham motivos como gafanhotos para eu e Célia comermos amoras em moitas de bocas. Requeijões fartavam mesas de sequilhos. Destinos calmos como vacas quietavam nos campos de sol parado. A vida ia lenta como pontes e queimadas. Um matinal arranjo desenvolto de ligas morenava coxas e cachos'.

Síntese

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O casamento não passa sem registro: 'O Forde levou-nos para igreja e notário entre

matos derrubados e a vasta promessa das primeiras culturas. Jogaram-nos flores como bênçãos e sinos tilintaram. A lua substituiu o sol na guarita do mundo, mas o dia continuou tendo havido entre nós apenas uma separação precavida de bens'. E a seguir, o nascimento do primeiro filho: 'Minha sogra ficou avó'.

Síntese

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O tempo passa e Miramar se apaixona por

uma estrela de cinema, Madame Rolah, e a esposa logo percebe a ausência do marido:

'... Não se esqueça de todas as minhas outras encomendas e traga também um par de sapatos de lona branca para Celiazinha. Vai a medida do pé. Temos tido muito calor nestes dias. Por que é que não me escreves? Veja se vem logo. Abraça-te e beija-te. Tua Célia'.

Síntese

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Mas, Miramar só tem olhos para a amante,

passando dias maravilhosos com ela, enquanto a sogra e filhos percorrem a Europa, pedindo com frequência o envio de dinheiro:

' ... Nós não vamos embora para o Brasil porque mamãe tem medo dos sobremarinos. P.S. Vimos a Ponte dos Suspiros onde morreu Romeu e Julieta e tiramos um retrato pegando nas pombas. Nair'.

Síntese

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Os negócios vão mal, mas o romance com Rolah, não: 'Ela me tinha confessado pela manhã que seus amores

anteriores com pastores não tinham passado de pequenos flertes de criança. Agora quando tínhamos descido a escada longa eu me tinha baixado até os orquestrais cabelos louros. E tínhamo-nos juntando no grande doce e carnoso grude dum grande beijo mudo como um surdo'.

Célia descobre tudo e exige a presença do marido na Fazenda Bambus:

'Entrei em Higienópolis para jantar e sobre a mesa um telegrama azul exigia minha imediata presença nos Bambus. Célia sabia tudo laconicamente'.

Síntese

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A família é levada à falência e desonra: 'Higienópolis encheu-se às cornetadas da

falência e desonra. Meu folhetim foi distribuído grátis a amigos e criados. E tia Gabriela sogra granadeira grasnou graves grosas de infâmias. Entrava doméstico para comer e dormir longe de Célia. Os criados eram garçons de restaurante'.

Síntese

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As dívidas são muitas e têm de ser pagas: 'Eu e o conde e o Britinho éramos de semanas

os autores mais citados na pendenga madura da sala de verdes audiências do Fórum Cível Paulista. Capinhas pretas enrouqueciam com pinga derredor das oblongas mesas zunzum com a lonjura de nossos privilegiados nomes protestados. Primeiras praças anunciaram-se dos bens legados por inventário de mãe únicos válidos havidos para credores ante a Verdun contratual do separado casamento com Célia...'

Síntese

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A esposa falece e João Miramar decide interromper as memórias,

motivando a seguinte entrevista:

'__ Com que então o ilustre homem pátrio de letras não prossegue suas interessantíssimas memórias?

___ Não. ___Seria permitido ao grosso público ledor não ignorar as razões

ocultas da grave decisão que prejudica assim a nossa nascente literatura?

___ Razões de estado. Sou viúvo de D. Célia. ___ Daí? ___ Disse-me o dr. Mandarim que os viúvos devem ser

circunspectos. Mais, que depois dos trinta e cinco anos, mezzo del camin di nostra vita, nossa atividade sentimental não pode ser escandalosa, no risco de vir a servir de exemplo pernicioso às pessoas idosas '.

Síntese

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O foco narrativo na obra é

predominantemente de 1ª pessoa. João Miramar relata os principais momentos de sua trajetória.

"Entrei para a escola mista de D. Matilde." (Cap. 5)

"Não disse nada do que queria dizer a Madô." (Cap. 10)

"Molhei secas pestanas para o rincão corcunda que vira nascer meu pai." (Cap. 58)

FOCO NARRATIVO

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Em alguns momentos, o narrador de 1ª pessoa cede

espaço a outros narradores também de 1ª pessoa. Isto ocorre quando são transcritas cartas e bilhetes. O emprego da transcrição de cartas e bilhetes de

outras pessoas é um recurso muito empregado na literatura desde o Romantismo. A utilização desse artifício sempre foi feita dentro de um contexto e seguindo um padrão a fim de não prejudicar a unidade lógica da narrativa. Todavia, isso que não ocorre em "Memórias Sentimentais de João Miramar".

FOCO NARRATIVO

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"Ilmo. Sr. Dr. Cordeais saudações Junto com esta um jacá de 15 frango que é para a

criancinha se não morrê.Confirmo a minha de 11 próximo passado que aqui vai tudo em ordem e a lavoura vai bem já estou dando a segunda carpa.

Fiz contrato com os colonos espanhol que saiu da Fazenda Canadá assim mesmo perciso de algumas familhas a porca pintada deu cria sendo por tudo 9 leitão e o Migué Turco pediu demissão arrecolhi na ceva mais de três capadete que já estão no ponto a turbina não está foncionando bem esta semana amanhã o Salim vem concertal.

O descascador ficou muito bom por aqui vão todos bom da mesma forma com a graça de Deus que com D. Célia fique restabelecido da convalecença é o que eu lhe desejo."

76. CARTA ADMINISTRADORA

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Há momentos, ainda, em que

foco narrativo de 1ª pessoa deixa de existir, passando a haver apenas um ‘eu-lírico’. Isto acontece quando a narrativa cede espaço à poesia.

FOCO NARRATIVO

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158. RECREIO PINGUE-PONGUE

" Miramar a vida é [relativaO acontecimento não teria [sidoSe nascesses sóSem a mãe que te deixou [virtudes caladasO acontecimento te [ofertouA filhinha de olhos clarosAbertos para os dias a vir

És o ele de uma cadeia [infinitaAbraça o Dr. MandarimE soma ele o azul desta [manhãLouçã"

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Miramar (o narrador) dirige-se à Miramar (o

homem), proporcionando ao leitor a oportunidade de conhecer a síntese deste diálogo interior de natureza poética. O foco se desloca de 1ª para 3ª pessoa e novamente para 1ª pessoa (afinal o "eu lírico" é sempre de 1ª pessoa mesmo quando não expressados abertamente os sentimentos do autor).

Em alguns capítulos a narrativa é impessoal, como se o narrador fosse de 3ª pessoa. Através deste artifício o autor dá a impressão que a narrativa vai se construindo por si mesma sem a interferência do narrador de 1ª pessoa que predomina na obra.

FOCO NARRATIVO

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“ Mas na limpidez da manhã mendiga cornamusas

vieram sob janelas de grandes sobrados.Milão estendia os Alpes imóveis no orvalho."

Assim, o foco de 1ª pessoa centrada no narrador personagem, cede vezes ao foco de 1ª pessoa centrada em outras personagens, ao foco movendo-se de 1ª para 3ª pessoa e desta novamente para 1ª , por força do emprego da poesia, ao foco impessoal dando a impressão de 3ª pessoa.

Tudo isso compõe o mosaico criado por Oswald de Andrade. A partir da constante mudança do foco narrativo, Oswald de Andrade dá origem a um verdadeiro desconcerto da obra (provavelmente para demonstrar a intensidade do desconcerto do mundo burguês).

40. COSTELETA MILANESA