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29/04/2009 1
Cidadania Médica
ou…
Cidadania e Medicina
29/04/2009 2
Parte I – Consciência Cidadã
Penso, logo existo!
René Descartes
29/04/2009 3
Anqrwpos
Homo
29/04/2009 4
Lição de Ética
Dois pecados sérios em que incidem os hábitos
prevalecentes no campo do pensamento ético
são a pronta aquiescência à falta de clareza
e a complacência com a ignorância -
exatamente os pecados que Sócrates morreu
combatendo há mais de dois mil anos
William Frankena
29/04/2009 5
Homo & Anthropos
Man, homo, is so called because he is made from the soil, humus, as it
says in the book of Genesis: 'And the Lord God formed man of the
dust of the ground' (2:7). It is said incorrectly that man in his entirety is
formed from two substances, that is, from the union of a soul and a
body. Strictly speaking, man, homo, comes from soil, humus.
The Greek word for man is antropos [anthropos], because he looks
upwards, raised up from the ground to contemplate his creator. This is
what the poet Ovid means, when he says: “And though other animals
are prone and fix their gaze upon the earth, he gave the man an uplifted
face and made him look at heaven and raise his countenance to the
stars.' (Metamorphoses, 1, 84-6). Standing erect, he looks at the
heavens in search of God; he does not turn towards the ground,
like the beasts who have been fashioned by nature and obedience
to their appetite to bend their heads. ”.
29/04/2009 6
Humanização
De que adiantaria se falar de humanização da
Medicina se estamos em plena era de profunda
desumanização do ser humano?
A nossa diferença básica para os animais é a nossa
capacidade de auto-consciência e de raciocínio.
Isto está sendo corroído em todas as áreas com
nossa intoxicação pelas formas e pelos assuntos
financeiros.
29/04/2009 7
Compreensão Ou entendemos que temos que alargar nossas
consciências em todos os níveis ou seremos apenas um bando de pessoas amontoadas, uns papagaiando, outros se entupindo e uns poucos manobrando.
Não devemos contribuir para a criação de rebanhos ou manutenção das inconsciências.
Que tudo o que foi ou for dito seja ouvido com um amadurecido espírito crítico e com suas idéias imediatamente colocadas.
29/04/2009 8
A Criação do Homem (1)
Não podemos falar de Humanização da Medicina se
não falarmos do processo de Humanização em geral.
29/04/2009 9
A Criação do Homem (2)
Hübris
Lúcifer
Adão
Cronos
Zeus
Prometeu
Asclépio
Nós?
29/04/2009 10
Mike Sherrer & Triny Cline(Que sentimentos passam essas imagens?)
29/04/2009 11
Mídia e Propaganda (Oficiais e Oficiosas)(Que sentimentos passam essas imagens?)
29/04/2009 12
Mídia e Propaganda (Para Crianças)(Que sentimentos passam essas imagens?)
29/04/2009 13
Stents que matam e o Peru do Bush(Primeiras Páginas… - Por que?)
O Globo
Notícia alarmante
Sem comprovação
Cunho comercial
Para o Jornal
Para o Concorrente
Jornal do Brasil
Notícia alienante
Corriqueira
Não sei mais
… e o peru era falso
29/04/2009 14
E a Imprensa Imbecilizando...
29/04/2009 15
Algo desnecessário:
29/04/2009 16
Formatação das atividades
29/04/2009 17
Quem muito se abaixa...
29/04/2009 18
Em alguns lugares isto já é
o presente (ou quase)
29/04/2009 19
Solidariedade
O que devemos privilegiar:
O socorro a um necessitado ou
A preservação da imagem de
Um evento de fantasia
Com profissões falsas
Com objetivos redundantes
Com transporte ultrapassado
Com roupas de inadequadas
Para alguém de representação?
O que vocês diriam ao ver a cena seguinte?
29/04/2009 20
O Ser Humano O Ser Humano em sua Essência
Regulado pela Ética
Punido pela Consciência
Perda da Tranqüilidade Pessoal O Ser Humano em Sociedade
Regulado pela Moral
Punido pelos Circunstantes
Perda da Estima Pública
O Ser Humano em seu GrupoRegulado pela Deontologia
Punido pelos seus ParesPerda por Avertência a Exclusão O Ser Humano em seu Estado
Regulado pela LeiPunido pelo Governo
Perda de Bens, Espaço ou Tempo
29/04/2009 21
Mecanismos Reguladores
Ética > Moral > Deontologia > Lei
Interior <<< Controle >>> Exterior
Mas...
O controle pode ser
pela coerção ou
pela alienação
ou por ambas!
29/04/2009 22
Mecanismos de Controle Coerção
Externo
Pela Força
Pela Autoridade
Gera Medo
Gera Grupos
Gera Indignação
Gera Revolta
Alienação
Interno
Pela Sutileza
Pela “Informação”
Gera Apatia
Gera Rebanhos
Gera Indiferença
Gera Idiotia
29/04/2009 24
Bertold Brecht alertou:
“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, os preços do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem de decisões políticas.
O analfabeto político é tão ignorante que se orgulha, estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância, nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior dos bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o lacaio dos exploradores do povo”.
29/04/2009 25
Desvios básicos de nossa época Das Atividades Fins
Do Trabalho
Da Vida Real
Do Convívio Humano
Da Ação
Da Decisão
Da Realização
Da Conscientização
Para o Ser Humano
Para Atividades Meio
Para o Capital
Para a Vida Alienada
Para o Isolamento
Para a Reação
Para o Condicionamento
Para a Frustração
Para a Robotização
Do Ser Humano
29/04/2009 26
Antonio Machado
Despertad cantores
Acaben los ecos
Empiecem las voces!
29/04/2009 27
Parte II –Cidadania Médica
O coração tem razões que a
própria razão desconhece
Blaise Pascal
29/04/2009 28
Antonio Machado
El ojo que ves no es
Ojo porque tu lo veas
Es ojo porque te ve!
29/04/2009 29
Anqropos
29/04/2009 30
Da Vinci
Dimensão Humana na Arte
Hipócrates
Arte na Dimensão Humana
A vida é breve, a arte é longa; a ocasião fugidia; a
experiência falaz; ojulgamento difícil.
29/04/2009 31
Hipócrates
A vida é breve, a
arte é longa; a
ocasião fugidia; a
experiência falaz; o
julgamento difícil.
29/04/2009 32
Um paradoxoAlguém já ouviu falar em...
A vegetalização da botânica ou
A animalização da zoologia ?
Mas o triste fato é que temos que falar em...
A humanização da Medicina !
29/04/2009 33
A Representação e a Realidade
1 2 3 4 4 números 2 pares e 2 ímpares1 2 3 4 5 6 6 números 3 pares e 3 ímpares1 2 3 4 5 6 7 8 8 números 4 pares e 4 ímpares
Em qualquer série de metade será par.
Quantos números existem?
Quantos números pares existem?
A dimensão humana é infinita
Números são representações e não realidades
29/04/2009 34
Gente
Medicina é uma tarefa para gente.
Quanto mais os médicos delegam suas tarefas a“máquinas” ou quanto mais os médicos se ocupam de pedaços do paciente, tanto menor o seu prestígio na sociedade.
Claro que a função objetiva do médico é essencial.Mas sem a função subjetiva (interação médico-paciente) sua missão não é integralmente percebida ou integralmente realizada.
29/04/2009 35
Duas Constatações
1- Howard Barrows (Southern Illinois Medical School): uma anamnese bem feita por um médico bem preparado chega ao diagnóstico em 90% dos casos.
Um estudo alemão (Düsseldorf) mostrou que o uso de exames modernos (ultra-som, ressonância, tomografia, endoscopia, biópsia, etc.) em detrimento da anamnese e do exame físico piorou ou, pelo menos, não melhorou, nos últimos 40 anos, a acuidade diagnóstica (à exceção do câncer).
29/04/2009 36
Tempo de Atendimento
O Homem é um ser biográfico (e não apenas
biológico) e simbólico (muito mais que racional)
Quanto mais o tempo dos exames complementares,
por mais precisos que sejam, substitui o tempo com
o paciente (sua história), menos acurado tende a ser
o diagnóstico (mesmo o biológico)
Mais consultas não significa necessariamente uma
melhoria no atendimento
29/04/2009 37
Medicina e Ciência
Com os enormes avanços e conhecimentos científicos (mesmo que muitos deles não estejamou sequer sejam aplicáveis à Medicina) torna-se difícil se falar em Medicina sem se falar emCiência Médica.
Aliás, essa “confusão” costuma ser feita por todos, desde administradores a jornalistas, povo em geral e mesmo por nós, médicos.
A atividade médica diz respeito a pessoas e não agrupo de células, órgãos ou tecidos.
29/04/2009 38
Medicina e Ciência*
Entrevista de Richard Smith, há 12 anos diretor do BMJ:
Apenas entre 5% a 10% dos artigos publicados nas melhores revistas médicas têm validade clínica; nas revistas mais especializadas este percentual não chega a 1%.
O que interessa aos investigadores não é, comfreqüência, o que interessa a médicos e pacientes.
Os laboratórios gastam muito dinheiro emprodutos que aportam muito pouco.
29/04/2009 39
Medicina e Tecnologia
Com o crescente arsenal tecnológico à disposição dos médicos (cada vez mais caros e inaccessíveis àmaior parte da população) torna-se difícil se falarem Medicina sem se falar em tecnologia.
Aliás, essa “confusão” costuma ser feita por todos,desde administradores a jornalistas, povo em geral e mesmo por nós, médicos.
A atividade médica diz respeito a pessoas e não aparâmetros físicos, químicos ou biológicos ou a achados parciais em tempo ou espaço.
29/04/2009 40
Medicina e Tecnologia*
Aparelhos são nada mais que extensões a ampliadores de nossos sentidos e de nossa práxis (nem sempre perfeitos). De nossos olhos, de nossos ouvidos, de nossos braços etc.
Mesmo o computador é apenas uma ferramenta e, quando muito, uma extensão da parte lógica do nosso cérebro
Aparelhos nos dão imagens e parâmetros de um momentono tempo e no espaço. Mesmo suas integrações sãoparciais em relação à dimensão infinita da pessoa.
29/04/2009 41
Medicina e Protocolos
Com a crescente complexidade trazida à prática médica pelos novos conhecimentos e pelas novastecnologias foram criados protocolos de ação para determinadas situações.
Aliás, essa “confusão” costuma ser feita por todos, desde administradores a jornalistas, povo em geral e mesmo por nós, médicos.
A atividade médica diz respeito a pessoas em suadiversidade biológica, psicológica e social e não a entes feitos em série e vivendo momentos iguais.
29/04/2009 42
Medicina e Protocolos*
Medicina é a aplicação de leisgerais a casos particulares
Edmund Pellegrino
O mesmo se aplica à Assistência
29/04/2009 43
A Unidade e a Generalidade
Procusto (e os protocolos)
Um lendário ladrão que vivia próximo à Elísios, na Ática. Originalmente chamado de Damastes ou Polípemon, ele adquiriu o nome de Procusto ("o Estirador") porque obrigava suas vítimas a se deitarem num leito de ferro e cortava-lhes os pés quando excediam o tamanho deste, ou esticava-os com cordas quando não o atingiam. Foi morto por Teseu, que lhe infligiu a mesma espécie de tortura que ele impunha à suas vítimas.
Protocolos não são princípios ou finalidades. São apenas meios.
29/04/2009 44
Medicina e Responsabilidade
Com o crescente grau de invasividade da atividade médica e com as crescentes promessas de “curas”ações e expectativas têm sido frustradas e frustrantes. Erro dos médicos dando campo ao terreno jurídico.
Aliás, essa “confusão” costuma ser feita por todos, desde administradores a jornalistas, povo em geral e mesmo por nós, médicos.
A atividade médica diz respeito a pessoas reais e não a idealizações descidas à terra. O sonho criado em um paciente passa a fazer parte integrante de sua vida.
29/04/2009 45
Medicina e Mercado
Com a impossibilidade de abrangência geral da açãopública na área da saúde temos as ações privadas, até recentemente com missões médicas variadas. Agora temos empresas absolutamente comerciais.
Aliás, essa “confusão” costuma ser feita por todos, desde administradores a jornalistas, povo em geral e mesmo por nós, médicos.
A atividade médica diz respeito a pessoas ou seja, asujeitos que, aos olhos dos números, viram objetos a serem contabilizados.
29/04/2009 46
Fins e Meios O trabalho rotineiro expulsa o trabalho não rotineiro
João Bosco Lodi
Na Assistência a finalidade é a pessoa do paciente.
Ensino, Pesquisa, Ciência, Status, Dinheiro são válidos
quando se respeita a finalidade precípua da Assistência.
É muito fácil nos esquecermos desses princípios!
29/04/2009 47
Erros de Medidas
O paciente deixou de ser nossa preocupação. Em seu lugar entrou o custo de seu atendimento.
Se o paciente tivesse continuado no centro de nossa real preocupação o custo de seu atendimento seriamuitíssimo menor.
Toda a atividade médica está centrada em um encontro pessoal entre o paciente e o seu médico. Este encontro ébarato, diagnóstico e também terapêutico.
Quando ele não se dá em sua justa medida, a atividade médica é sobrecarregada com atos diagnósticos eterapêuticos geralmente caros e desnecessários.
29/04/2009 48
Encontros e Economia
Em ambos os casos uma boa relação entre os participantes traz mais prazer.
Em ambos os casos uma boa relação entre os participantes exige menos colaterais.
Em ambos os casos uma boa relação entre os participantes atinge melhor os objetivos comuns e particulares.
Em ambos os casos uma boa relação entre os participantes alivia tensões.
Em ambos os casos, uma boa relação entre os participantes economiza muito dinheiro.
29/04/2009 49
Melhoria da Medicina
Duas coisas são importantes para recuperarmos o
teor humanístico da prática médica:
A valorização do paciente como a razão de ser da
Medicina
A valorização do encontro clínico como o ato
fundamental da Medicina.
29/04/2009 50
A Relação Médico Paciente
: É essencialmente uma relação humana: humano
entrando em contato com humano; humanos tratando de assuntos humanos com objetivos, anseios e temores humanos, necessidades, dores, dificuldades, fé, esperanças e interpretações humanas.
Ou melhor o humano de per si pouco difere do primata de
per si, ou do lamelirrostro de per si, ou da planária de per si
A dimensão humana se revela na relação
E se revela em toda a sua extensão: boa e má
29/04/2009 51
Passemos aos Conflitos
O conflito na relação médico -
paciente surge basicamente na não
percepção ou não atendimento do médico
em relação aos objetivos (conscientes
ou não) e às necessidades e
possibilidades de seu paciente.
29/04/2009 52
O Objetivo e o Subjetivo
O Dentista para o Paciente:
E atenção! Não há dor!
Apenas a pressão da broca no nervo
exposto!
Don Martin (Mad Magazine)
---
Uma experiência: o efeito da anestesia local
29/04/2009 53
As Duas Queixas Principais
O Doutor sequer me examinou!
Não pediu que eu lhe mostrasse meu corpo
O Doutor sequer me ouviu!
Não pediu que eu lhe mostrasse minha alma
Não houve Comunhão
29/04/2009 54
Duas Queixas Complementares
O Doutor pediu muitos exames!
Será que ele o tempo que isso leva?
O Doutor me encheu de remédios!
Será que ele sabe quanto custa?
29/04/2009 55
Desvios básicos de nossa época(Também se aplica à Medicina)
Das Atividades Fins
Do Trabalho
Da Vida Real
Do Convívio Humano
Da Ação
Da Decisão
Da Realização
Da Conscientização
Para o Ser Humano
Para Atividades Meio
Para o Capital
Para a Vida Alienada
Para o Isolamento
Para a Reação
Para o Condicionamento
Para a Robotização
Para a Frustração
Do Ser Humano
29/04/2009 56
(Desvio básico da Medicina)Uma viagem em símbolos
Medicina
Asclépio
Comércio
HermesDinheiro
Pluto
29/04/2009 57
Os Protagonistas de Hoje
O que acontece com
médicos/enfermeiros? Dançaram!
29/04/2009 58
Nenhum dos dois é garantia da boa Medicina
29/04/2009 59
A boa Medicina é mais assim…
29/04/2009 60
A boa Medicina é mais assim…
29/04/2009 61
Afinal, o que é Assistência Médica?
Humanos lidando com humanos
Se entendermos realmente essas dimensões poderemos
entender e praticar a tarefa assistencial. Afinal…
Ninguém é ninguém!
29/04/2009 62
A “Pessoa” e a “Coisa”
El ojo que ves no es
ojo porque tú lo veas;
es ojo porque te ve.
Antonio Machado