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Oulipo - Experiência com Poesia

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Essa é uma modalidade de poesia bem diferente que tem como principio a literatura matematicamente construída. Precisa-se de muita criatividade e muita ousadia para conhecer plenamente.

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  • O Oulipo e os jogos de escrita:

    Registro da Oficina realizada no Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana, 2011

  • 1 EDIO

    BELO HORIZONTE

    2012

    OrganizaoMaria Elisa Rodrigues Moreira e Juan Ferreira Fiorini

    O Oulipo e os jogos de escrita:

    Registro da Oficina realizada no Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana, 2011

  • Tradio Planalto Editora e Distribuidora Ltda.

    www. [email protected].: (31) 3226-2829

    ISBN: 978-85-99361-25-2

    Copyright 2011 by Tradio Planalto EditoraTodos os direitos reservados. Este livro ou parte dele no pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizao escrita da Editora

    Editor ExecutivoRicardo S. Gonalves

    RevisoMrcio Cesar Pereira dos Santos

    ProduoTradio Planalto Editora

    Toda literatura potencial.Jean Lescure

  • 7Este livro se apresenta como o registro da Oficina O Oulipo e os jogos de escrita, oferecida por ns em julho de 2011, no Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana.

    No princpio desse ano, ao tomarmos conhecimento do Festival, pensamos na possibilidade de oferecer uma Oficina que contemplasse temas que nos envolvem e uma proposta pedaggica na qual acreditamos. Queramos trabalhar a literatura e a produo criativa, mas de uma forma que unisse o ldico e o terico. Fazer com que as pessoas conhecessem um pouco mais sobre a literatura e descobrissem que escrever no precisa ser, necessariamente, um tormento. Fazer da escrita e do pensamento um jogo, ao mesmo tempo uma reflexo e um divertimento.

    Nesse sentido, surgiu-nos a ideia de uma Oficina em que trabalhssemos diretamente com o Oulipo, o Ouvroir de Litrature Potentielle: um grupo literrio-matemtico, fundado na Frana na dcada de 1960 e existente ainda hoje, cujo mote principal a escrita atravs de contraintes, de restries autoimpostas. Um grupo que se denominava como seriamente ldico ou ludicamente srio.

    Assim construmos a proposta da Oficina, mesclando teoria e prtica, jogos e leituras, produes e pensamentos: os participantes poderiam conhecer um pouco mais sobre a literatura e o Oulipo, ter contato com a obra de alguns escritores referenciais ao grupo como Georges Perec, Jacques Roubaud, Raymond Queneau e Italo Calvino , identificar as muitas possibilidades da escrita e envolver-se, de forma ldica, no universo da produo criativa atravs de alguns exerccios oulipianos, de alguns

    jogos de escrita baseados em restries que servissem de estmulo liberdade.

    O resultado foi melhor que o esperado: nas 20 horas de oficina, os participantes produziram uma srie de textos interessantes, apropriaram-se das regras propostas pelos jogos e, certamente, divertiram-se bastante.

    Apresentao

  • 8 9

    O ambiente informal garantiu que todos se sentissem vontade e, assim, pudessem explorar suas prprias potencialidades e descobrir sua relao com a escrita e com a leitura.

    Ao final da Oficina, pensando numa forma de registrar a experincia, alguns dos textos ali construdos e o prprio trabalho de produo, o grupo pensou em uma forma de publicar esses materiais: um blog, um folheto, um livro?

    assim que vem luz, pois, com o apoio da Tradio Planalto Editora, e graas ao Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana, este pequeno livro, o qual esperamos que sirva de ponte para devaneios literrios, produes criativas e divertidos momentos em grupo.

    Boa leitura!

    Maria Elisa Rodrigues MoreiraJuan Fiorini

    Maria Elisa Rodrigues Moreira comunicloga, mestre e doutoranda em Literatura na UFMG. Autora do livro Saber narrativo: proposta para uma leitura de Italo Calvino (Tradio Planalto, 2007), tem vasto conhecimento sobre o OULIPO e seus membros, tendo publicado artigos e ministrado oficinas sobre o tema.

    Juan Ferreira Fiorini estudante de Letras da UFMG, professor de lngua espanhola e poeta. Autor do livro Quase nada sempre tudo (Tradio Planalto, 2009), j participou de saraus e exposies de poesia, sempre preocupado com o lado ldico da linguagem. Para tanto, criou uma srie de jogos didticos para tornar o ensino de lngua estrangeira mais dinmico.

    Harrieth de Rezende estudante de Filosofia da UFOP, assim como professora de literatura num cursinho de Ouro Preto. O gosto pelas obras de Italo Calvino, assim como a perspectiva oulipiana de juno de reas do conhecimento a priori antagnicas, como matemtica e literatura, a atraram para a oficina.

    Bruna Fontes Ferraz licenciada em Lngua Portuguesa pela UFOP e mestranda em Teoria da Literatura na UFMG, onde desenvolve pesquisas a partir da obra de Italo Calvino, principal motivao para seu envolvimento com a oficina.

    O grupo

  • 10 11

    Patrcia Lacerda Silvrio estuda Histria na PUC Minas, e seu interesse pela literatura e por outros campos do conhecimento motivou sua participao na oficina.

    Tathiana Piacesi de Souza psicloga e estudante de conservao e restauro na FAOP, e aproveitou o Festival de Inverno para se aventurar um pouco tambm pela literatura.

    Eduardo Luiz Incio Teixeira estudante de Letras na UFOP, com grande interesse na produo escrita, fator que o motivou a participar da oficina.

    OULIPO? O que isso? O que aquilo? O que este OU?E este LI? E este PO?

    OU oficina, uma fbrica. Para fabricar o qu? A LI.

    LI literatura, aquilo que se l e que se rasura. Que tipo de LI? A LIPO.

    PO significa potencial. Literatura potencial em quantidade ilimitada, potencialmente produtiva at o fim dos tempos, em quantidades enormes, infinitas para todos os fins prticos.

    Marcel Bnabou e Jacques Roubaud

    A Oficina

  • 13

    O que o OULIPO? O que so contraintes? Quem eram esses loucos ratos que se propunham a construir seus prprios labirintos? Escrever sob restries pode mesmo ampliar a liberdade de criao?

    Acrstico: Poema que parte de um nome prprio, cujas letras sero as iniciais de cada verso do poema.

    Bola de neve: Poema que se constri com a seguinte estrutura: verso 1, palavra de uma letra; verso 2, palavra de duas letras; verso trs, palavra de trs letras e assim por diante.

    Anagrama: Palavras que podem ser formada a partir das mesmas letras de uma outra palavra (usando todas as letras, e em mesmo nmero).

    Aliterao: Texto cujas palavras devem iniciar sempre pela mesma letra.

    1. dia

  • 14 15

    Pequenos relmpagos para lanar fascas sobre a escrita.

    Gato que embaralha o novelo de palavras

    Engenhoso, capaz de escrever sem a letra e, mas mais fcil seria escrever sem a letra

    O, pois leva a vida como modo de usar artifcios lingusticos.

    Rasga as palavras, mas

    Garante a continuidade do ldico na literatura.

    Escritor, sim, mas no s isso: literato, matemtico...

    Sonhador sonhava com a potencialidade das palavras.

    Poeta? Sim. Louco? Talvez.

    Embaralha as palavras, construindo labirintos, para escrever seus textos

    Rato, ! isso! Rato que se prope a sair de seu labirinto potico.

    Enganador, ou seria, encanador? Pois os

    Canos lingusticos se multiplicam potencialmente.

    (Bruna)

    Haja pacincia para tantos desatinos

    Algum que consiga lidar com excessos

    Risos, lgrimas, amores excelsos

    Rompem as horas em espcie de tormentos

    Inteiramente corpo e inteiramente alma

    Em face da chama ardente se faz conhecer a calma

    Taurina que se fia em teimosia

    Hoje no foi amanh ela porfia.

    (Harrieth)

    Pedro um jovem ator negro que interpretava um nufrago perdido em uma selva. Lamentava a quebra de seus culos, um fator que dificultava a sua sobrevivncia, principalmente na busca de alimentos. Durante o dia colhia amoras e durante a noite fazia da relva sua cama, onde sonhava com a bela Iracema, sua jovem noiva de cabelos negros e pele morena.

    (Patricia)

  • 16 17

    A

    T.

    VemPara Baixo,

    Depois

    Direo

    TrocadasParalelas

    Interaes (Tathi)

    Restries modernas? Cotidianas? Tecnolgicas? Narrar em 140 caracteres, twittear. Verbo novo, criatividade.

    HARRIETHSonhava em ser estrela reconhecida. Saiu do interior, foi morar na capital. Um encontro definiu o seu destino. Aquela bala, manchete da

    manh.1 hour ago

    TATHIA falta de sentir falta. Falta por no ter um lugar cheio de tantas coisas

    qualquer para fazer falta de sentir completo um espao considerado apenas seu.2 hour ago

    PATRCIAPulei! Voei! Cai! Parei? Pulei mais uma vez voei cai parei! Que trem uai? Por fim desisti! Putz como tem toldos nesse prdio!

    3 hour ago

    BRUNAAcordar. Urinar. Comer. Beijar. Caminhar. Trabalhar. Lunch. Buzinar.

    Xingar. Ralar. Retornar. Defecar. Lavar. Ver. Comer. Dormir. Cotidiano.4 hour ago

    EDUARDOEsperava viver hoje. Assim como esperava ontem. Ainda bem que o

    trem no passou naqueles dias, decepcionando o bairro inteiro e ela.5 hour ago

    Ouviram om onde Ozzy Osbourne operou os ombros. Os ouvintes objetaram o ouro, olhando obliquamente. Otrios!, observou o obreiro... O obstetra originou o ouriversador ou o Oulipo operante?

    (Eduardo)

    Whats happening?

  • 19

    2. dia

    Raymond Queneau era um escritor ou um matemtico? Como passear com Zazie no metr? E escrever milhes, bilhes, trilhes de poemas com uma mesma base? E novamente aliterar, fazer ecoar a letra?

    Abecedrio:Texto cujas palavras tem que ter as iniciais conforme a ordem alfabtica.

    Bola de neve derretida: Segue a ordem inversa do Bola de neve (decrescente).

    Palndromo:Texto que pode ser lido nos dois sentidos (com significados iguais ou distintos).

  • 20 21

    barbrie, coisas demasiadamente esdrxulas. Fazia galanteios hediondos, indecncias jocosas. Leis mundanas no ouvem pessoas.

    (Harrieth)

    - Sua senhoria, sabe sambar?

    - Sei, sim senhor. Sambo soslaio, sorrateiro.

    - Senhor sabe?

    - Sapateado! Sei safar semblantes srios, severos.

    - Somente?

    - Salpico suculentas saladas, sucumbo sonolncias. Suportas?

    - Sinceramente, sinto sudorparas sacudirem suores sobre silhuetas, sinos soarem. Sabe, sou sentimental...

    (Harrieth)

    O

    homem comum

    apagado aqui

    por uma borracha moral.

    O rumo de sentimentos vai

    para frente e para trs, sem

    inteno de parar. Ele no mais

    carne: um plstico, uma usina trmica,

    um boneco de ressuscitamento. Inexistem atalhos ou mesmo abismos.

    Seu destino/funo um cubculo glido, muito bem-sucedido.

    (Eduardo)

    Canto um conto que lamenta meu longo pranto

    Um canto do meu pranto saio ao lu

    E conto meu lamento no pranto

    No meu canto conto meu pranto

    Lamento meu canto dentro do

    Meu pranto conto um

    Canto do meu

    Pranto lamento

    Canto.(Patrcia)

  • 22 23

    RUIDOSAMENTE

    RUMOREJANTE

    SILENCIOSO

    SUSSURRAR

    MURMURAR

    BARULHO

    ZUMBIR

    ZUNIR

    ZUIR

    ZUM

    ZU

    ZZZ

    (Bruna)

    O amor que perdeu naquele encontro ao luar, seguiu no futuro um caminho diferente do que ela havia planejado. A rota do destino encarregou-se de jogar ao vento as lindas lembranas imaginadas. Ela ento ficou s e chorou. Voltou para casa, retomou a vida, seguiu em frente; dia aps dia sem nem ao menos sorrir. Pensou, sofreu, dormiu e rezou. No sai mais, no danava mais. Paralisou-se perante o luar daquela noite com fim. Raul queria ir embora para ser ator e ficar famoso. Conseguiu e fez at filme em Roma. Tempos depois voltou, pois sentia falta do amor. Procurou por ela. De longe lhe vi, e para ele ri, me senti feliz novamente.

    (Tathi)

    possvel exercitar a escrita, coloc-la em movimento? D para brincar de era uma vez? Desafia-se a criatividade com exerccios de estilo?

    Gabriel olha ao longe; elas devem estar perdidas, as mulheres esto sempre perdidas, mas no, uma garotinha surge e o aborda:

    Eu sou a Zazie, aposto que voc o tio Gabriel. responde Gabriel, amaciando o tom. Eu mesmo, o seu

    titio.Ela acha graa. Gabriel sorri, educado, pega a menina no colo e

    transporta at a altura dos lbios, ele d um beijo, ela d um beijo, ele a desce de volta.

    Que cheiro bom, disse a menina. Barbouze, da Fior explica o colosso. Pe um pouquinho atrs da minha orelha. perfume de homem.

    QUENEAU, Raymond. Zazie no metr. So Paulo: Cosac Naify, 2009. p. 9.

  • 24 25

    Procura-se:

    Tio Gabriel. Um senhor de voz amaciada, educado e um colosso cheiroso que usa perfume de homem: Barbouze, da Fior. E deixou entristecida a pequena garotinha Zazie.

    (Patricia)

    Gabriel olha ao longe, j angustiado pela demora das mulheres. O cair daquela noite de inverno, fria e enevoada, o fazia ter arrepios na espinha. Ele pensa:

    - Elas devem estar perdidas! As mulheres esto sempre perdidas!

    Caminha em direo estrada. melhor ir procur-las antes que a noite se torne ainda mais obscura. Mas o resgate impedido por uma garotinha que o aborda:

    - Eu sou Zazie, me disseram que voc o tio Gabriel.

    - Quem lhe disse isso? pergunta Gabriel, desconfiado.

    A menina no responde. Ela acha graa.

    Gabriel tenta descobrir mais sobre a garotinha, ganhar a sua confiana:

    - Eu sou o seu titio. E sorri tentando conhecer mais sobre aquela garotinha que apenas surgiu: no se sabe de onde nem com quem.

    Ele pega a menina no colo e a transporta at a altura dos lbios, lhe d um beijo que retribudo com outro beijo por Zazie. Ele a desce de volta.

    - Voc est perdida? Onde est o seu pai? E a sua me?

    Mas Zazie simplesmente ignora a pergunta e diz:

    - Que cheiro bom!

    - barbouze, da Fior! explica o colosso.

    - Pe um pouquinho atrs da minha orelha.

    - perfume de homem.

    A menina insiste dizendo que tambm quer ficar perfumada. Gabriel oferece acompanh-la at sua casa e que s aps deix-la em casa lhe daria o perfume. Ela, ento, resignada caminha em direo floresta, enquanto Gabriel a segue solcito.

    A noite est cada vez mais escura e, agora, tambm tempestuosa. As mulheres ainda no voltaram... nem Gabriel...

    (Bruna)

  • 27

    3. dia

    Pequenas fascas persistentes, relmpagos da escrita. Aliteraes, acrsticos, inversos abecedrios...

    Zepelim xadrez virou um tormento sem razo que podia ocorrer no mais longe jardim ideal.

    (Tathi)

    A aliterao absorve abundantemente arranjos alfabticos, assim a alegria ao apanhar algarismos ao acaso altera a ao artstica. Ao arranjar algebricamente alguns adereos artsticos, aflorando alguns As, aclamamos a aliterao.

    (Bruna)

  • 28 29

    Inteligvel intelectual

    Trabalha a literatura com

    Audcia e cria factual

    Lipogramas sem ditadura

    Obstculos transpe e recria

    Contraintes que

    Ampliam os horizontes

    Literrios atravs dos

    Vetustos pensares

    Ignotos em seus olhares

    Navegando nas correntes da

    Odisseia da escrita.

    (Patrcia)

    Gigantesco goleiro grunhe Ganges!

    Entretido, emulso evoluindo escalafobtico.

    Osaka olha o obsoleto:

    Rasante resultado ranheta (retrgrados).

    Gaivotas giram, golpes/gumes,

    Emulando Eufrates entradas ticas.

    Seguem supermercados sem suor.

    Pokmons pensantes! Pr polcia

    Enquanto estaes estranhas espionam!

    Restam retalhos resplandecentes, repreendidos

    Esmerados estilos estremecem esquisito!

    Carente caracterstica, conforme Cazaquisto.

    (Eduardo)

    E uma complicao. Ou complexificao?

    Acrstico brivadois: Parte de um acrstico, mas a ele acrescenta nova restrio: em cada verso, as palavras devem comear com as iniciais que se seguem, conforme a ordem alfabtica, letra inicial do verso.

    J libertos mas

    Oprimidos. Preconceitos que

    Gatunam humanidades. Impacincia,

    Oportunismo, privao; qualquer

    Salvao tardia? Utopia.

    Direito emancipatrio fedendo

    Escrpulos fingidos. Garra?

    Exaltao ferrenha, gatunagem!

    Soluos, tanta usurpao!

    Camaradagem de enganos

    Roubos, suicdios temveis!

    Inimigos juram liberdade

    Talvez usem violncia

    At barganhar corpos.

    (Bruna)

  • 30 31

    possvel entender o modo de usar a vida de Georges Perec? Como pensar o mundo em um tabuleiro de xadrez? Combinar escrevendo, escrever combinando, jogando, brincando... Desaparecimentos? Repeties? Ecos dos nmeros nas letras? Lipogramador monovoclico?

    Lipograma: Escrita de um texto sem a utilizao de uma letra determinada. Lipograma inverso: Escrita de um texto em que todas as palavras devem conter uma letra determinada.Monovocalismo: Escrita de um texto que pode utilizar apenas determinada vogal.

    Ana andava calada. A madrasta mal afamada amava Ana. Passava as calas ganhadas na Frana, falava jacas, mas...

    L pras tantas da manh, a danada calava as tamancas, cantava assanhada: V!

    (Juan e Harrieth)

    Renato corria pra direita, escorregou rolando contra barranco, regressou pro barco. Mirou-se, pronto, rodeado por marinheiros furiosos. Agarrou reles corda cortada. Enforcou-os. Resignado, debruou-se sobre mariscos, devorando-os. Posteriormente, dormiu.

    (Juan e Harrieth)

    chefe sem cerne. Defende excelentemente cheque de gente. chefe demente... Cr em trem de Che. Entende de sebe, de crente e de p... Sem dente, repete Pel de repente.

    (Eduardo e Patrcia)

    Foi em um bar. No teve tev, amigo, mulher... Havia outra noite e outro eu. A morte de um carnaval.

    (Eduardo e Patrcia)

    Bolo com ovo?

    Como todo!

    Contorno o bolo, o povo, o lodo.

    O tonto ortodoxo com dor provoco.

    Olho o ombro, o osso, o gorro.

    Oco o oposto,

    Poroso doloroso,

    O polvo octgono.

    O lobo com p

    O oposto do ovo.(Tathi e Bruna)

    Trabalho at tarde, todo tempo tem tanta tralha tumultuando. Tento, tento, tomo toco, outro trem atrapalhando! Tic-tac! Tic-tac! Tem gente contando minutos enquanto, demente, desisto. Tantas contraintes extravagantes! Baita insensatez!

    (Tathi e Bruna)

  • 33

    4. dia

    Italo Calvino era um mago? Ou uma mquina combinatria? Com o tar d para contar histrias? Ou s adivinhar passado presente futuro? possvel combinar e recombinar? Tudo, todo o tempo?

  • 34 35

    CARTAS: Rainha de Moedas, A Sacerdotisa, A Morte, Sete de espadas, Dez de ouros, O Carro, Dois de paus e Quatro de paus.

    Poema das sete esPadas

    A rainha douradaA todos seu reino iluminava.Veio a sacerdotisa malvadaE uma maldio lanava:Que a morte iria imperar No reino das Sete Espadas.Para a maldio aplacarDez moedas de ouro sero pagasAo valente cavaleiroDo carro reluzente.Com bravura venceu os carteirosDois de paus e quatro de paus tremulentes.Jaziam sob a moDo nobre guerreiroLibertando entoO reino das sete espadas de seu desespero.

    (Patrcia)

    CARTAS: A temperana, a imperatriz, o louco, 6 de ouros, 2 de ouros, 2 de copas, 8 de copas, 2 de espadas, 9 de ouros

    Num pequeno chal de beira de estrada estava a imperatriz solitria, com sua roupa de gala, sentada em seu trono. Pomposa, com seu braso real fundido a ouro e sua coroa, que lhe pesava a cabea e caia sobre a face, lhe provocando rugas que ainda no possua. Tinha se produzido toda e tambm arrumado uma bela mesa para nove pessoas. Tinha planejado um banquete e esperava pacientemente seus convidados. Mas, coitada da imperatriz, que no era l boa da cabea, no se preocupou em arrumar um lugar em que coubessem todos os convidados, j que sua casa era um tanto quanto pequena, ou seja, trs cmodos, quarto, banheiro e cozinha, tudo conjugado.

    A coitada esperou oito dias e nada dos convidados: ficou oito dias sentada, oito dias sem tomar banho, oito dias comendo seu prprio banquete. E ningum apareceu. Com cimbra nas pernas resolveu, aps oito dias sentada, levantar. Nisso algum bateu na porta: toc-toc, toc-toc. Vai a coitada da imperatriz abrir, j nem lembrando mais que tinha ou estava esperando convidados. Era a temperana, que veio de longe, muito longe, da terra mais longe que os olhos no podem ver no horizonte. Ali estava ela, a temperana, com cara de boba,

  • 36 37

    carregando duas espadas sem nem saber por qu. Ao ser recebida pela imperatriz, se assustou com sua cara cheia de rugas (que aps oito dias j eram suas de fato), e lhe fincou as espadas. A imperatriz, antes feliz por ver a amiga, soltou um pum de susto, e a temperana, antes assustada, fica feliz em reconhecer a amiga. Nessa troca de sensaes as duas se esquecem das espadas e vo beber: duas taas para cada, e a cada taa bebida elas colocavam seis moedas de ouro num jarro. Beberam tanto que dormiram. No meio da noite, a coitada da imperatriz acordou aos berros: uiuiuiuiuiuiuiui!, e logo viu as espadas fincadas em seu corpo. E ento se lembrou do acontecido. Sem pensar demais, j que esse no era seu forte, tirou as espadas de si e fincou-as na amiga, que, chapada, no sentiu nada. E voltou a dormir.

    De longe, logo ali na cozinha, estava o louco. Louco da vida por ter visto tudo sem entender nada. E logo ali, meio de longe, ele continua. Amanhece o dia, e as duas acordam. A imperatriz, coitada, e a temperana, de ressaca, e nem se do conta da situao. O louco, que de louco no tinha nada, chega de mansinho e fica parado na frente das duas, olhando as espadas fincadas. Temperana se assusta, grita e sai correndo. A coitada da imperatriz, lerda como era, tambm se assusta e sai correndo para a terra longe, longe, muito longe. O louco cai, estatelado no cho, com as duas espadas nas costas, as quais a coitada da imperatriz fincou, sem se dar conta, achando ser ele a amiga temperana.

    (Tathi)

    CARTAS: O mago, A Fora, O Julgamento, Rei de bastes, Rei de moedas, Rainha de taas, 3 copas, s de espadas, 3 espadas.

    Depois de 50 anos trancado em sua oficina, Petrarco encontrou a frmula do ouro. Como sua cidade era pequena e habitada totalmente por sua famlia, logo se espalhou o boato daquele feito. (o mago)

    O rei de Foules mandou o cavaleiro real inform-lo de que ele teria aposentos reais e todas as condies de produzir em seu castelo, se assim quisesse. (rei de bastes)

    Foi num banquete deste palcio, no momento do brinde em homenagem vinda do mago, que seus olhares e os de Amarilda, a rainha, se cruzaram. (rainha de taas)

    Desde ento, a rainha Amarilda sempre estava em sua oficina, afinal, suas 3.563 coroas tinham de ser polidas e reformadas constantemente. (3 copas) Petrarco teve ento uma idia genial: a de cunhar moedas para o reino que conteria o perfil da rainha, sua amante. (rei de moedas)

    O amor proibido comea a crescer nos coraes do alquimista e da rainha, decidiram fugir. Quando estavam se banhando em um lago de tulipas na floresta, encontram um cavaleiro real que lhes dispara a flecha do sono. (3 espadas)

    O casal acorda em pleno julgamento (O julgamento) na praa, acusados pela trama de traio (s de espadas) ao rei. Foram postos em posio de degola, mas no momento em que as guilhotinas foram acionados, bateram com fora nas madeiras de apoio. Ningum entendeu como os traidores haviam desaparecido, de repente. (a fora)

    (Harrieth)

  • 38 39

    CARTAS: 10 de paus, A Estrela, 5 de ouros, 8 de paus, O Sol, 3 de paus, 5 de espadas.

    Numa noite tempestuosa, na qual raios e troves (X DE PAUS) cortavam o cu e o relgio batia a dcima segunda badalada, uma mulher nua (A ESTRELA) andava pela floresta (V DE OUROS). A noite era silenciosa e escura: s se ouvia o canto das corujas e s se via a brancura e os cabelos loiros esvoaantes da moa enigmtica. O seu corpo era iluminado por uma luz que parecia vir do seu prprio interior, sendo que o seu corpo aberto (com pernas e braos esticados) remetia a uma estrela de ponta cabea: o que sempre significou mau pressgio.

    Prxima floresta, havia uma casa (VIII DE PAUS) muito ornamentada e luxuosa onde vivia um casal que queria muito ter filhos. Mas tudo indicava que a esposa era estril at que, sem nenhuma explicao, ela engravidou. O casal teve gmeos: dois meninos (O SOL) que em nada se assemelhavam a eles: enquanto os pais eram morenos, as crianas tinham a pele muito branca e os cabelos muito louros.

    Dizem que no dia do nascimento dessas crianas, a moa loira estava andando na floresta e o mesmo aconteceu 15 anos depois do nascimento dos gmeos onde se sentia a presena assustadora da estrela de ponta cabea.

    Os raios cortantes que vinham do cu em direo a casa se tornavam chamas de fogo (III DE PAUS) que se alastraram rapidamente incendiando a casa luxuosa. Enquanto isso, os gmeos como que impulsionados por um gnio ruim pegaram duas espadas (V DE ESPADAS) e estraalharam seus pais, os quais no tiveram tempo nem de se defenderem.

    Aps essa tragdia, a tempestade acabou e, como num claro, foi possvel ver a moa loira com os gmeos adentrando a floresta.

    (Bruna)

    5. dia

    Os relmpagos voltam a brilhar: alguns lampejos para inspirar.

    No cu brilham estrelas, num pisca-pisca constante, mas tambm ilumina a noite, um luar apaixonante. Olho a lua e sua beleza natural que pena! ela est encoberta pelo holofote artificial.

    (Bruna)

    A fada safada era acusada de levar a salada para sua casa. Sempre danada fazia muitas travessuras. Nada parecia encantada de levada que era ela.

    (Patricia)

    Ai, ai, ai! Grita ela.

    Cad minha bicicleta?

    Onde colocaram minha boneca?

    Ela no sabe de nada.

    (Tathi)

  • 40 41

    Regras, regras e mais regras... se so autoimpostas, podem tambm ser autocriadas. Se possvel criar com contraintes, possvel tambm criar contraintes? Regras aplicadas a produes coletivas: d para escrever junto?

    Bruna

    4x4 Escrever um texto de 44 palavras cuja quarta deva ser iniciada pela letra L. A partir desta palavra, a cada 4 palavras, a ltima sempre dever comear com a letra L

    Os meninos chupavam laranja

    Na cidade de Luzilndia

    Com mos de lama.

    Sonhavam caar antlopes, leopardos,

    Hienas, rinocerontes e lees.

    Na hora do lanche,

    Sua imaginao voava longe:

    Visitavam vrios pases: Libria,

    Camares, Nigria, Egito, Laos.

    No mundo da lua,

    Ficavam todos bem loucos.

    Eduardo

    Associao Escrever um texto de 30 palavras, sendo 10 associadas ao conceito sono

    Tadeu roncava enquanto dormia. E sonhava com os meninos de Luzilndia. Ao acordar, caiu da cama e viu que ainda era noite. Despertou, bocejou e espreguiou-se. Sonolento, chupou uma laranja.

    Tathi

    Rima Escrever um texto de 20 palavras, com rima a cada duas palavras

    Aquela menina era Marina. Cheirava gasolina, injetava herona, usava platina. Pela matina, virava Karina da esquina. Louca menina aquela Marina.

    Patrcia

    Br Escrever um texto de 20 palavras iniciadas em BR, podendo utilizar artigos e preposies

    Bruna, brasileira do Brasil, que brilha no breu e brinca com brocha e broca na brisa breve da bruma bruxuleante.

    Harriet

    Citao de letras de msicas Escrever um texto de 20 palavras que contenha trs trechos de letras de msica

    H dez mil anos atrs havia um fio de cabelo no meu palet. Depois daquela dia, nada ficou no lugar.

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    E viveram felizes para sempre...

    Assim nossa aventura oulipiana chegou ao fim: depois de muitas risadas, muitas brincadeiras, muitos textos. Alguns fceis, outros difceis de serem produzidos. Alguns com timos resultados, outros nem tanto. Mas o que mais interessava era o processo: brincar de escrever, escrever brincando, sem medo dos resultados. Pensar as palavras como pequenas peas a serem montadas em um gigantesco, infinito e intercambivel quebra-cabeas.

    Por tudo isso, agradecemos imensamente organizao do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana de 2011, a todos os participantes da Oficina e, em especial, monitora que nos acompanhou durante todo o processo, Paula Peanha, pela gentileza, boa vontade e eficincia.

    Maria Elisa e Juan

    Capa_OULIPOoulipo - oficina