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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • 1049 Dezembro/2013 CATUTI A história de organização do Quilombo do Gurutuba é marcada por muitas lutas pela garantia dos direitos das famílias tradicionais que ali vivem. E partir dessas demandas a quilombola Antônia Antunes da Silva, uma das sócias fundadoras da Associação das Mulheres, relembra o passado quando iniciaram os primeiros passos na luta pelo reconhecimento identidário e direitos associados e, destaca a criação da Associação Quilombola do Gurutuba composta de uma organização representativa das 32 comunidades existentes no território, a qual abrange sete municípios - Janaúba, Porteirinha, Pai Pedro, Monte Azul, Jaíba e Catuti.Considerando a vasta extensão territorial, este período foi marcado por diversas ações sociais e articulações de parcerias que passaram a ser frequentes para a comunidade gurutubana - mobilizações para o autorreconhecimento, para a demarcação do território tradicional, o uso e ocupação do mesmo, mutirões em torno, alfabetização contextualizada, acesso à água, a cidadania, segurança e soberania alimentar. A criação da Associação Comunitária das Mulheres Quilombolas de Malhada Grande em Catuti/MG, em 2010, é fruto deste processo de mobilização. Atualmente, o grupo conta com 35 mulheres entre associadas, de faixa etária entre 23 e 50 anos. Elas relatam que foi com apoio de parcerias que as mulheres quilombolas foram rompendo os preconceitos e conquistando espaços em diversas frentes de trabalho. Ousadia e resistência definem o Grupo de Mulheres Quilombolas de Catuti/MG

Ousadia e resistência definem o grupo de mulheres quilombolas de Catuti

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Agricultoras familiares se unem para criar uma padaria comunitária.

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Page 1: Ousadia e resistência definem o grupo de mulheres quilombolas de Catuti

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • 1049

Dezembro/2013

CATUTI

A história de organização do Quilombo

do Gurutuba é marcada por muitas

lutas pela garantia dos direitos das

famílias tradicionais que ali vivem. E

partir dessas demandas a quilombola

Antônia Antunes da Silva, uma das

sócias fundadoras da Associação das

Mulheres, relembra o passado quando

iniciaram os primeiros passos na luta

pelo reconhecimento identidário e direitos associados e, destaca a criação da Associação

Quilombola do Gurutuba composta de uma organização representativa das 32 comunidades

existentes no território, a qual abrange sete municípios - Janaúba, Porteirinha, Pai Pedro,

Monte Azul, Jaíba e Catuti.Considerando a vasta extensão territorial, este período foi marcado

por diversas ações sociais e articulações de parcerias

que passaram a ser frequentes para a comunidade

g u r u t u b a n a - m o b i l i z a ç õ e s p a r a o

autorreconhecimento, para a demarcação do território

tradicional, o uso e ocupação do mesmo, mutirões em

torno, alfabetização contextualizada, acesso à água, a

cidadania, segurança e soberania alimentar. A criação

da Associação Comunitária das Mulheres Quilombolas

de Malhada Grande em Catuti/MG, em 2010, é fruto

deste processo de mobilização. Atualmente, o grupo

conta com 35 mulheres entre associadas, de faixa etária entre 23 e 50 anos. Elas relatam que foi

com apoio de parcerias que as mulheres quilombolas foram rompendo os preconceitos e

conquistando espaços em diversas frentes de trabalho.

Ousadia e resistência definem o Grupo de Mulheres Quilombolas de Catuti/MG

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Minas Gerais

Realização Apoio

Resgataram então antigos fazeres, como os teares do algodão,

onde teciam mantas e panos, além da produção de goma,

farinha, bolos, biscoitos e pães. Antônia relata que o primeiro

trabalho que fizeram juntas, após criarem a associação, foi o

resgate da produção do algodão agroecológico com o apoio do

Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas. Mas o

momento pedia uma atividade que contribuísse de forma mais

imediata com a ampliação de renda das famílias. Além do CAA-

NM apoiaram esta iniciativa a Organização Internacional com

Sede na África do Sul - ActionAid, Instituto de

Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais -

IDENE.

A padaria no início foi instalada no distrito de Barreiro

Branco de referência para o território. Porém o

deslocamento diário até a comunidade e a significativa

mudança na rotina das mulheres dificultava o

desenvolvimento do empreendimento. Com o apoio de

parceiros conseguiram construir a Padaria Comunitária Mariano Matos, uma homenagem a uma

importante liderança do Quilombo do Gurutuba, apoiador da criação da Associação de

Mulheres. O espaço que possui estrutura e equipamentos para preparo e organização dos

produtos da padaria e da casa de farinha. A mudança

facilitou o trabalho das mulheres que organizaram

melhor o tempo entre os afazeres da propriedade.

O próximo passo que as quilombolas desejam é

beneficiar a mandioca na Casa de Farinha da

comunidade. Querem utilizar a goma e a farinha

produzida no local para diminuir custos e valorizar a matéria prima da própria comunidade.

Antônia conta que a associação tem tido muitas conquistas. As quilombolas estão mais

motivadas a buscar mudanças. Após os avanços na organização conseguiram assinar um

contrato com o PAA – Programa de Aquisição de Alimentos por meio da CONAB – Companhia

Nacional de Abastecimento na modalidade compra e doação simultânea, onde seus produtos

serão repassados às escolas e associações do município de Pai Pedro e região. A Associação

acessou um fundo rotativo solidário para formação de capital de giro, essencial para a aquisição

de materiais em maior volume e menor preço. É perceptível a autoestima das mulheres que

compreendem a força e a capacidade que elas têm de gerar respostas para seus problemas. E

seguem felizes e unidas, rumo a outras conquistas.