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A escassez de água no semiárido ainda é um problema que atinge milhares de famílias agricultoras no nordeste brasileiro. Nesta região até chove e muito, mas chove tudo de uma vez. Da água que cai, parte vai para o subsolo e fica armazenada nos lençóis de água em baixo da terra, a solução para muitos é escavação de poços, o problema é achar esta água e tornar ela acessível ao povo do Sertão. Mas existem pessoas sensíveis que conseguem detectar essa água no subsolo, e ainda conseguem prever se ela é bastante e de boa qualidade, um exemplo é o agricultor Francisco Vieira Sampaio de 55 anos, filho de Antônio Paulino de 81 anos, conhecido como Antônio Mestre, Francisco herdou do pai uma sensibilidade impar e usa seu dom para melhorar a vida de pessoas que sofrem com a falta de água. Porem antes de conhecermos a história de Seu Francisco, vamos conhecer também o dom de seu pai, Seu Antônio Mestre, homem trabalhador que além de agricultor foi professor e passou boa parte de sua vida ensinando aos filhos daquele sertão. Seu Antônio Mestre é casado com Joana Vieira, que hoje tem 83 anos, o casal teve seis filhos, quatro homens e duas mulheres, a família nasceu e cresceu na região onde fica a comunidade Tapera em Pedro II, no Piauí, quase divisa com o Ceará. Seu Antônio Mestre hoje integra um grupo na região conhecidos como profetas da chuva, eles se reúnem todos os anos para fazerem previsão de como será o inverno do ano decorrente, uma ajuda para os agricultores que podem se preparar para um inverno bom ou ruim e assim prevenir futuros prejuízos. Para fazer suas previsões Seu Antônio Mestre observa os pássaros, para ele, esses sim são os verdadeiros sábios, “se você aprende a perceber o comportamento das aves você aprende a perceber a natureza, antigamente não tinha energia, rádio, TV esses aparelhos que transmitisse a umidade do tempo e a gente observava a natureza, daí é que vem esse dom”, explica. Seu Francisco Vieira também aprendeu a observar a natureza, mas seu dom é bem mais complexo. Dono de uma grande sensibilidade ele Piauí Ano 4 | nº 74 | Agosto| 2010 Pedro II-- Piauí Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Sabedoria Popular Pai e Filho usam dom para ajudar a achar água e prever chuvas no semiárido Piauiense 1 Seu Francisco segura seu instrumento de trabalho, seu pai Antônio Mestre observa o dom do filho. Seu Antônio Mestre olha o céu, nem sempre as previsões são boas.

Pai e Filho usam dom para ajudar a achar água e prever chuvas no semiárido Piauiense

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A escassez de água no semiárido ainda é um problema que atinge milhares de famílias agricultoras no nordeste brasileiro. Nesta região até chove e muito, mas chove tudo de uma vez. Da água que cai, parte vai para o subsolo e fica armazenada nos lençóis de água em baixo da terra, a solução para muitos é escavação de poços, o problema é achar esta água e tornar ela acessível ao povo do Sertão. Mas existem pessoas sensíveis que conseguem detectar essa água no subsolo, e ainda conseguem prever se ela é bastante e de boa qualidade, um exemplo é o agricultor Francisco Vieira Sampaio de 55 anos, filho de Antônio Paulino de 81 anos, conhecido como Antônio Mestre, Francisco herdou do pai uma sensibilidade impar e usa seu dom para melhorar a vida de pessoas que sofrem com a falta de água.

Porem antes de conhecermos a história de Seu Francisco, vamos conhecer também o dom de seu pai, Seu Antônio Mestre, homem trabalhador que além de agricultor foi professor e passou boa parte de sua vida ensinando aos filhos daquele sertão. Seu Antônio Mestre é casado com Joana Vieira, que hoje tem 83 anos, o casal teve seis filhos, quatro homens e duas mulheres, a família nasceu e cresceu na região onde fica a comunidade Tapera em Pedro II, no Piauí, quase divisa com o Ceará. Seu Antônio Mestre hoje integra um grupo na região conhecidos como profetas da chuva, eles se reúnem todos os

anos para fazerem previsão de como será o inverno do ano decorrente, uma ajuda para os agricultores que podem se preparar para um inverno bom ou ruim e assim prevenir futuros prejuízos.

Para fazer suas previsões Seu Antônio Mestre observa os pássaros, para ele, esses sim são os verdadeiros sábios, “se você aprende a perceber o comportamento das aves você aprende a perceber a natureza, antigamente não tinha energia, rádio, TV esses aparelhos que transmitisse a umidade do tempo e a gente observava a natureza, daí é que vem esse dom”, explica.

Seu Francisco Vieira também aprendeu a observar a natureza, mas seu dom é bem mais complexo. Dono de uma grande sensibilidade ele

Piauí

Ano 4 | nº 74 | Agosto| 2010Pedro II-- Piauí

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Sabedoria PopularPai e Filho usam dom para ajudar a achar água e prever

chuvas no semiárido Piauiense

1

Seu Francisco segura seu instrumento de trabalho, seu pai Antônio Mestre observa o dom do filho.

Seu Antônio Mestre olha o céu, nem sempre as previsões são boas.

largura tarja superior 1ª página 4cm

altura da marca 3,8cm

descobriu que era capaz de identificar no subsolo lençóis de água usando uma varinha feita de aço ou cobre. Ele conta que tudo começou quando ao observar Frei Frederico, que na época desenvolvia um trabalho junto à comunidade Cabral em Pedro II, ele tinha esse dom e estava à procura de um melhor lugar para cavar um poço, Seu Francisco pediu para pegar a varinha que o Frei usava e diz que sentiu algo diferente quando passou pelo lençol freático que o Frei Frederico tinha encontrado, a partir dali ele começou a se interessar, “ eu já tinha ouvido falar disso e sabia que algumas pessoas sentem com mais facilidades, outras nem percebe, mas eu senti forte, foi aí que eu resolvi praticar”, conta.

Seu João conta que ficou muito feliz quando descobriu que o seu dom tinha um nome “Radiestesia”, mas descobriu também que não bastava ter apenas esta sensibilidade, ele precisava se aperfeiçoar “além da água, pode se encontrar, outros minérios, outros coisas que tem no subsolo, encontrar água é mais complicado depende da mente, com a mente você diz a profundidade, se a água é boa para beber, quatro metros de fundura tem, você vai deduzindo, colocando o ferro que acusa, eu fui aprendendo isso com o tempo, no inicio só sentia, mas não identificava mais nada”, explica.

O agricultor conta que foi difícil no princípio, porque as pessoas não aceitavam, ele conta que quase desistiu, mas com incentivo de amigos, persistiu. Seu Francisco foi participar de uma capacitação no IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada), em Juazeiro da Bahia, através do Projeto Social da Diocese de Parnaíba e prosseguiu na sua vontade de aprender mais. Ele conta que o primeiro poço que indicou foi 1990, na sua própria comunidade, que sofria muito com a falta de água, de lá para cá não lembra quantos já encontrou, mas fala com orgulho que todas suas previsões foram certeiras e que já ajudou muita gente , “nunca aconteceu de eu indicar e não ter água” diz. No início ele afirma que indicava até 20 poços por dia, hoje devido à idade e o desgaste mental exigido pela técnica, ele já não consegue indicar tantos assim.

Seus ganchos feitos de aço, companheiro inseparáveis, estão com ele desde que descobriu que podia encontrar água. Porém, assim como seu pai Antônio Mestre, que consegue prever chuvas com mais facilidade na região semiárida, Seu Francisco também tem dificuldades quando a região não é o semiárido, “no sertão para mim é mais fácil identificar, chega na região de cristalino fica mais difícil, parece que ele interfere”, conta. Seu Francisco afirma que não ganha tanto dinheiro com o ofício, vez ou

outra ele é chamado para encontrar poços, principalmente na região do Ceará, mas as pessoas não valorizam muito seu trabalho, acham que é fácil, “a máquina sou eu, meus pés e minha mente, não é fácil, a gente se desgasta demais, mas as pessoas não valorizam”, comenta.

Seu Francisco é casado há um ano com Dona Raimunda Ribeiro Monteiro e os dois não tem filhos. Ele diz que ajuda outras pessoas a também desenvolverem seus dons, algumas ele observa, tenta ensinar a usar, mas muitos não desenvolvem, “ isso não é algo que se aprenda, a pessoa tem que ter o talento, mas eu procuro incentivar porque esse dom é necessário, principalmente para nossa região que sofre tanto com a falta de água, se tiver quem possua esse dom, fica mais fácil a sobrevivência dessa gente aqui nessa região seca”, afirma.

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Seu Francisco e sua esposa Raimunda Ribeiro.