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PAISAGEM URBANA DA ARQUITETURA MODERNA: Edifícios de apartamentos na radial João Pessoa Porto Alegre FAGUNDES, ANGELA; LIMA, RAQUEL; OLIVEIRA, MAITÊ 1. PUCRS. Acadêmica da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Av. Ipiranga, 6681 Prédio 9 Porto Alegre/RS [email protected] 2. PUCRS. Departamento de Teoria e História da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Av. Ipiranga, 6681 Prédio 9 Porto Alegre/RS [email protected] 3. PUCRS. Acadêmica da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Av. Ipiranga, 6681 Prédio 9 Porto Alegre/RS [email protected] RESUMO A capital gaúcha desenvolveu-se a partir da ponta da península, às margens do lago Guaíba, por estratégias de natureza militar e organizou-se por meio de uma estrutura em leque, formada por cinco radiais. Essas geratrizes viárias caracterizam a cidade até os dias de hoje. As grandes radiais são: Avenida Borges de Medeiros, Avenida João Pessoa, Avenida Osvaldo Aranha, Avenida Independência e Avenida Voluntária da Pátria. A radial João Pessoa, conhecida no século XVIII como Caminho da Azenha, nasceu como uma via de ligação entre a antiga vila e a ponte da Azenha que conduzia a Viamão, através da Estrada do Mato Grosso (atual avenida Bento Gonçalves). A avenida João Pessoa tem início na avenida Salgado Filho, atravessa o bairro Cidade Baixa e termina na avenida Bento Gonçalves, no bairro Azenha, compreendendo, quarto bairros: Centro Histórico, Farroupilha, Cidade Baixa e Azenha. Em todas essas vias estruturais da cidade existem edifícios de apartamentos que compõem uma paisagem urbana com características próprias de um modo de morar moderno. O presente artigo apresenta a paisagem da arquitetura moderna por meio de alguns edifícios de apartamentos projetados para a radial João Pessoa, em Porto Alegre. Fazem parte deste conjunto as seguintes edificações: Edifício Redenção e Edifício Vitória Régia; Edifício Matos Vanique, Edifício Jequitibá e Edifício Jovay, entre outras. Palavras-chave: Paisagem Urbana; Arquitetura Moderna em Porto Alegre; Habitação Coletiva; Modos Modernos de Morar.

PAISAGEM URBANA DA ARQUITETURA MODERNA: Edifícios … · alterada para Parque Farroupilha, que se mantém até hoje, e o parque perdeu nova fração com a construção do Instituto

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PAISAGEM URBANA DA ARQUITETURA MODERNA: Edifícios de apartamentos na radial João Pessoa – Porto Alegre

FAGUNDES, ANGELA; LIMA, RAQUEL; OLIVEIRA, MAITÊ

1. PUCRS. Acadêmica da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Av. Ipiranga, 6681 Prédio 9 – Porto Alegre/RS [email protected]

2. PUCRS. Departamento de Teoria e História da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Av. Ipiranga, 6681 Prédio 9 – Porto Alegre/RS [email protected]

3. PUCRS. Acadêmica da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Av. Ipiranga, 6681 Prédio 9 – Porto Alegre/RS [email protected]

RESUMO

A capital gaúcha desenvolveu-se a partir da ponta da península, às margens do lago Guaíba, por estratégias de natureza militar e organizou-se por meio de uma estrutura em leque, formada por cinco radiais. Essas geratrizes viárias caracterizam a cidade até os dias de hoje. As grandes radiais são: Avenida Borges de Medeiros, Avenida João Pessoa, Avenida Osvaldo Aranha, Avenida Independência e Avenida Voluntária da Pátria. A radial João Pessoa, conhecida no século XVIII como Caminho da Azenha, nasceu como uma via de ligação entre a antiga vila e a ponte da Azenha que conduzia a Viamão, através da Estrada do Mato Grosso (atual avenida Bento Gonçalves). A avenida João Pessoa tem início na avenida Salgado Filho, atravessa o bairro Cidade Baixa e termina na avenida Bento Gonçalves, no bairro Azenha, compreendendo, quarto bairros: Centro Histórico, Farroupilha, Cidade Baixa e Azenha. Em todas essas vias estruturais da cidade existem edifícios de apartamentos que compõem uma paisagem urbana com características próprias de um modo de morar moderno. O presente artigo apresenta a paisagem da arquitetura moderna por meio de alguns edifícios de apartamentos projetados para a radial João Pessoa, em Porto Alegre. Fazem parte deste conjunto as seguintes edificações: Edifício Redenção e Edifício Vitória Régia; Edifício Matos Vanique, Edifício Jequitibá e Edifício Jovay, entre outras.

Palavras-chave: Paisagem Urbana; Arquitetura Moderna em Porto Alegre; Habitação Coletiva; Modos Modernos de Morar.

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1. Introdução

No município de Porto Alegre, a capital do estado do Rio Grande do Sul, o desenvolvimento

deu-se a partir do crescimento urbano dividido em cinco importantes fases, segundo Célia

Ferraz de Souza. A primeira fase (1680 a 1772), ocupação do território/formação do núcleo;

segunda fase (1772 a 1820), trigo; terceira fase (1820 a 1890), imigração; quarta fase (1890 a

1945), industrialização; quinta fase (1945 até os dias atuais) metropolização.

Razões estratégicas de natureza militar nortearam a ocupação. Em 1773 instalou-se

oficialmente a capital na ponta da península, onde era a esquina do Rio Grande de São Pedro

(XAVIER, 1987). O porto, no lado norte da península, ligava-se aos centros de interesse pelas

grandes radiais. Essas geratrizes viárias criaram uma estrutura em leque, que caracteriza a

cidade até os dias de hoje. As grandes radiais são: avenida Borges de Medeiros, avenida

João Pessoa, avenida Osvaldo Aranha, avenida Independência e avenida Voluntários da

Pátria.

A avenida João Pessoa, é uma das primeiras radiais urbanas que, partindo do centro,

atravessa a cidade baixa e vai confluir na avenida Bento Gonçalves, em área que oficialmente

pertence ao bairro Santana. Nasceu como o caminho de ligação entre a vila primitiva e a ponte

da Azenha que conduzia a Viamão através da estrada do Mato Grosso. Em 1930, por meio do

Decreto Municipal n.206, de 4 de outubro, a avenida passa a chamar-se João Pessoa, em

homenagem ao advogado e político paraibano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. A

avenida já havia sido estrada caminho da Azenha, estrada Caminho da Redenção, rua da

Redenção, avenida da Redenção.

Junto a avenida João Pessoa está situado um dos parques mais importantes da cidade: o

Parque Farroupilha, popularmente conhecido como parque da Redenção é um dos maiores e

mais antigos parques da capital gaúcha. Em 1935 aconteceu a Exposição do Centenário da

Farroupilha, e nessa ocasião, uma parte do do campo foi drenada, nivelada e urbanizada,

seguindo um projeto do urbanista francês Alfred Agache. Neste ano sua denominação foi

alterada para Parque Farroupilha, que se mantém até hoje, e o parque perdeu nova fração

com a construção do Instituto de Educação General Flores da Cunha junto à avenida Oswaldo

Aranha. No interior do parque está o auditório Araújo Vianna, projeto de Moacir Moojen

Marques e Carlos Maximiliano Fayet. O parque é composto por 37 hectares.

Ainda, junto a avenida estão situados alguns prédios da Universidade Federal do Rio Grande

do Sul, o Templo Positivista de Porto Alegre, o Colégio Júlio de Castilhos, a Escola

Profissional Darcy Vargas, o Shopping João Pessoa, o Laboratório de Perícias e o

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Departamento de Identificação do Instituto Geral de Perícias e a sede do Jornal do Comércio.

Esses edifícios compõem a paisagem de uma avenida moderna, com equipamentos de

prestação de serviços, que ocupam diferentes lotes tradicionais da cidade, mas que

representam temporalidades diversas: arquitetura historicista, arquitetura protoracionalista e

arquitetura moderna.

Avenida João Pessoa (2016), Foto de Tarcisio Carneiro.

2. Os modos modernos de morar em apartamento

O modo de morar em apartamento foi conquistado passo a passo através modificações e

adequações às moradias tradicionais. A tipologia denominada ‘casa porto-alegrense’, iniciou

a vivência da sociedade em pequenas habitações. Segundo Bittencourt, as casas eram

baixas e atarracadas remontando às origens açorianas, e ocupando toda a largura do lote do

período colonial, com uma ou duas janelas e construídas no alinhamento em grupos de duas

até onze unidades. A disposição dos cômodos seguia uma ordem, privilegiando o espaço

mais público, a sala, e protegendo os mais privados, quartos, varanda e cozinha. A mesma

sequência que foi utilizada nas casas térreas, foi também nos sobrados, nas casas de porão

alto e nos palacetes dos anos dez, com adaptações. Os ambientes denominados gabinete e

corredor também foram incorporados à sequência inicial dos cômodos. Nas casas com porão

alto, por exemplo, o serviço poderia ficar no porão e os dormitórios no pavimento superior.

Lúcia Géa analisa os espaços internos da casa das elites porto-alegrense dos anos 10 através

de um mapa simbólico: (...) a sala fazia a transição entre a rua e a casa e era o local de

recepção e representação, completado pelo gabinete. No extremo oposto, estavam os

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invioláveis dormitórios. A varanda era o centro da vida doméstica e o espaço mediador e

conciliador das relações familiares, servindo também para receber os convidados mais

íntimos. (...) As dimensões dos lotes eram determinantes na ocupação pelas residências e,

por consequência, por sua distribuição interna. No século XX as exigências com relação à

higiene e a salubridade dos espaços indicaram mudanças nesta ocupação. O recuo lateral é

uma destas mudanças, possibilitando as aberturas dos dormitórios para a fachada lateral; a

taxa de área verde que deveria ser deixada livre no terreno é outra destas alterações que

visavam a melhoria dos espaços da habitação. Havia também as casas para aluguel, na

década de 30. ‘Casas de Renda’, era a denominação de época para casas geminadas, como

cita Günter Weimer, no projeto aprovado para a Rua Dona Sofia, no bairro Menino Deus.

Projeto do arquiteto Fernando Corona de 1935 e construção da Empresa Azevedo Moura &

Gertum, estas unidades serviram, a meu ver, como o início da convivência necessária para

moradia em edifícios de habitação coletiva. Mas, segundo Nara Machado, Porto Alegre já

conhecia os edifícios de apartamentos nos anos 20. Eram pequenas edificações, de dois a

três pavimentos, para aluguel, e utilizando o térreo para fins comerciais. Cita que o primeiro

edifício de apartamentos teria sido destinado às instalações da Cia. de Seguros de Vida

Previdência do Sul, de 1911, no térreo e sobreloja, com dois apartamentos por andar nos

demais pavimentos.

O sobrado multifamiliar era uma antecipação dos prédios de apartamentos que surgiram

posteriormente com o advento dos edifícios mais altos. Segundo Mattar, eram provavelmente

destinados para aluguel, sendo os pavimentos superiores ocupados por apartamentos,

enquanto no térreo sua utilização era para armazéns, lojas e depósitos. Os exemplos citados

por Mattar, entre outros, encontram-se situados na rua Voluntários da Pátria, construídos na

década de 20, de autoria do arquiteto Theo Wiedersphan e da construtora Azevedo Moura e

Gertum. Eram os projetos do proprietário Manoel Pereira e de Eduardo Secco,

respectivamente. A sequência na disposição dos cômodos das casas para as elites se

mantém nos edifícios de apartamentos de pequeno porte. Sala, quarto, varanda e cozinha.

Essa era a disposição usual desde os casarões da Avenida Independência dos anos dez do

século XX. No bairro Cidade Baixa, por exemplo, o processo de mudança na imagem das

edificações, especialmente nos conjuntos de casas, teve início na década de 30. Menegotto

analisa vários exemplares através dos quais pode-se identificar a busca de outro tipo de

linguagem, uma linguagem associada à modernidade. Até então, elementos arquitetônicos

oriundos do classicismo eram predominantes nas edificações. As formas de vida sofreram

alterações graduais, mantendo os espaços e as ligações internas das casas muito

semelhantes à configuração das pequenas casas implantadas em lotes estreitos dos

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oitocentos. Contudo, nos edifícios de apartamentos, a situação dos dormitórios era priorizada,

dispondo suas aberturas para as fachadas de frente. A grande novidade na organização dos

espaços do apartamento da década de trinta se dá na localização da área de serviço. (...) na

distribuição do espaço, uma interessante inversão começa a tomar corpo com frequência,

qual seja a colocação da zona de serviço próxima à entrada do apartamento e não mais nos

fundos do mesmo. Grande descoberta, possibilita uma ocupação mais eficiente do espaço.

Decorrente de uma nova acepção da zona de serviço ao nível simbólico, é natural que esta

acabasse se traduzindo também ao nível espacial. Não há mais a necessidade de isolar esse

ambiente no fundo da casa. Muitos exemplos são deste período, destacando-se os edifícios

São Gabriel, Santa Rosa, Guaspari, Piccardo, Alcaraz, para citar alguns dos mais

importantes94. Importante destacar a busca da funcionalidade e privacidade aliada a uma

continuidade espacial. Segundo Machado, essa continuidade espacial entre diversos

elementos seria um indício identificador de modernidade. Modernidade que segue um

processo de desenvolvimento ao longo dos anos 40 e 50. No centro de Porto Alegre

marcaram os anos 40 o Edifício Santa Helena, do arquiteto Fernando Corona e o Edifício

Sulacap, do arquiteto Arnaldo Gladosch, para citar alguns exemplos importantes.

A avenida João Pessoa é uma das importantes radiais de Porto Alegre que apresenta em sua

paisagem importantes exemplares da arquitetura moderna: edifícios de apartamentos. Dentre

esses, destacam-se dois grupos de edifícios de apartamentos: as torres, edifícios cuja ênfase

à verticalidade caracteriza os modos de morar nas alturas, abrilhantando a modernidade

urbana; os conjuntos de edifícios modernos, edifícios que constituem uma paisagem urbana

harmônica, cultivando a ideia de criar cidade com gabarito semelhante e expressivo quanto à

modernidade de Porto Alegre.

3. Paisagem urbana moderna: torres da avenida João Pessoa

A verticalidade é um dos princípios de composição presentes nos edifícios de apartamentos

da avenida João Pessoa. Muitas vezes isolados em lotes, outras ocupando as divisas dos

terrenos, as torres da avenida João Pessoa são importantes exemplares da arquitetura

moderna que retratam os modos modernos de morar nas alturas. Os Edifícios Mattos

Vanique, Jequitibá, Monte Tabor e Jovay são alguns dos grandes personagens da

modernidade da radial João Pessoa de Porto Alegre.

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Edifício Mattos Vanique

O edifício Mattos Vanique, de autoria de Nilton Beduschi (CREA 7399), do ano de

1956, situado na avenida João Pessoa 1784, esquina com Praça Piratini, possui a

tipologia de torre e apresenta diversas características típicas do modernismo. São 15

pavimentos residenciais, distribuídos acima de um térreo, marcado por pilares de

base circular, com função de comércio, que apresentam múltiplas tipologias, desde

apenas 1 dormitório até unidades habitacionais de 3 dormitórios; as cozinhas já

aparecem com as áreas diminuídas, as áreas de serviço são compostas de

fechamentos com cobogós, e, diferente dos apartamentos contemporâneos, com

apenas 1 banheiro, mesmo nas unidades com 3 dormitórios, portanto não dispondo de

nenhuma suíte.

Edifíco Mattos Vanique (2016), foto de Tarcisio Carneiro

Edifício Jequitibá

O edifício Jequitibá, de autoria da Imobiliária Bageense, do ano 1955, situado na Rua

Desembargador André da Rocha 20, esquina com a Avenida João Pessoa, possui a

tipologia de torre, característica recorrente nas esquinas da avenida joão Pessoa.

Apresenta diversas tipologias na unidades habitacionais, dispondo de apartamentos

com 3 dormitórios, ao longo dos quinze pavimentos distribuídos sobre o térreo

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comercial e um subsolo de garagens. A partir do décimo primeiro pavimento, surge um

terraço, oriundo de uma subtração no volume da edificação, até o ultimo pavimento,

onde também ocorre um terraço. A unidades habitacionais desse edifício são

organizadas por meio de apartamentos tipo, com cozinhas com dimensões

características do modernismo, visto que são conforme as células mínimas de

habitação de Le Corbusier, as áreas de serviço dispõe de fechamentos com cobogós.

Cada unidade dispõe de apenas um banheiro.

Edifício Jequitibá (2016), foto de Tarcisio Carneiro

Edifício Monte Tabor

O edifício Monte Tabor, de autoria da Construtora Imobiliária Himalaia S.A., do ano de

1960, com responsabilidade técnica de Eugênio Carlos Knorr (CREA 8510), situado

na Rua Olavo Bilac 418, esquina com a avenida João Pessoa, possui a tipologia de

torre. São doze pavimentos tipo, dispostos sobre um pavimento térreo comercial. As

unidades habitacionais são compostas de 2 ou 3 dormitórios, cozinhas pequenas,

área de serviço com sanitário auxiliar.

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Edifício Monte Tabor (2016), foto de Tarcisio Carneiro

Edifício Jovay

O edifício Jovay, de autoria do engenheiro Rubens Xavier (CREA 7025) , do ano de

1967, situado na Rua Avaí 15, esquina com a avenida João Pessoa, possui tipologia

de torre. É composto por quartorze pavimentos tipo, distribuídos sobre um pavimento

térreo comercial. As unidades habitacionais são de tipologias multiplas, variando de 1

dormitório até 3. Este é um caso que apresenta suites, dispondo, portanto, de mais de

um dormitório por unidade. As cozinhas são compactas e as áreas de serviço com

fechamentos em cobogós.

Edifício Jovay(2016), foto de Tarcisio Carneiro

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4. Paisagem Urbana e Conjunto de edifícios modernos: Redenção,

Presidente e Vitória Régia

O conjunto é composto por três edifícios: Edifício Redenção, Edifício Presidente João Pessoa

e Edifício Vitória Régia. Os edifícios Redenção e Vitória Régia compõem as extremidades do

conjunto e possuem o mesmo número de pavimentos, 9, já o Edifício Presidente João Pessoa

localiza-se no interior do conjunto e possui 11 pavimentos. O conjunto compõe a paisagem da

radial João Pessoa, a frente do mais antigo Parque de Porto Alegre, o Parque Farroupilha,

conhecido como Parque da Redenção.

O local onde se encontra o Parque Farroupilha foi doado à cidade pelo governador Paulo José

da Silva Gama em 1807, inicialmente conhecido como Potreiro da Várzea, passou a

chamar-se Campos do Bom Fim em 1870, em 1884 passou a ser Campos da Redenção em

homenagem a libertação dos escravos e em 1935 passou a ser Parque Farroupilha por este

ter abrigado a exposição do Centenário da Revolução Farroupilha. O Parque situa-se entre a

Av. João Pessoa, Av. José do Bonifácio, Av. Osvaldo Aranha, Av. Paulo Gama e Rua Eng.

Luiz Englert, estando tombados seus passeios, caminhos, vegetação, ajardinamentos,

edificações, abrigos, chafarizes, fontes, estatuária, lagos, espelhos d’água e recantos,

incluindo o recanto Solar, o recanto Oriental, o recanto Europeu, o recanto Alpino, o

orquidário, o roseiral, o zoológico, o estádio Ramiro Souto, o Auditório Araújo Vianna, o

Espaço Cívico e o Monumento ao Expedicionário, o Mercado do Bom Fim e o Instituto General

Flores da Cunha.

Edifício Redenção – Emil Bered – 1954

Localizado na Rua da República, 21, esquina com Avenida João Pessoa, no bairro Cidade

Baixa, possui 09 pavimentos mais o térreo e subsolo com garagem. O edifício é composto por

apartamentos-tipo, acomodando três apartamentos por pavimento, de três dormitórios cada.

Contém duas fachadas voltadas para a via pública, a fachada da Rua da República e a

fachada da Avenida João Pessoa. A composição desse edifício é organizada em um bloco

compacto em forma de “L”, com uma área interna aberta.

No térreo, a introdução de uma mureta de pedra que contorna parte do edifício, as esquadrias

que dão fechamento ao hall, o painel de cerâmica, os pilotis que possibilitam o térreo elevado

se abrindo para o parque e uma loja na divisa do lote, dão fechamento ao conjunto. No corpo

do edifício, um pequeno balanço voltado para a Rua da República enfatiza o acesso principal;

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nas fachadas, para quebrar a volumetria plana, é acomodada uma grelha, com partes

preenchidas com cor, de forma alternada, marcando a divisão interna dos cômodos e as lajes

entrepiso. Ambas as fachadas guardando elementos moduladores, formando um jogo de

saliências, cores e texturas no reboco. As esquadrias são semelhantes, todas com

venezianas.

Edifício Redenção (2016). Foto de Tarcísio Carneiro.

Edifício Presidente João Pessoa – Geraldo da Silva – 1961

Localizado na Avenida João Pessoa, 453, possui 11 pavimentos acrescidos de térreo,

subsolo com garagem e terraço. O edifício compõe o interior do conjunto e desenvolve-se em

bloco compacto, com três apartamentos-tipo por andar, dois para a Avenida João Pessoa e

um para os fundos, todos de três dormitórios. Os apartamentos voltados para a Avenida João

Pessoa possuem dormitório com sacada para a via pública, podendo contemplar o Parque

Farroupilha.

É o edifício mais alto do conjunto, tem sua fachada marcada por linhas horizontais contínuas

em bordô que abrigam as sacadas. O térreo possui duas salas destinadas a comércio.

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Edifício Presidente João Pessoa (2016). Foto de Tarcísio Carneiro.

Edifício Vitória Régia, Jaime Schneider – 1967

Localizado na Avenida João Pessoa, 437, possui 09 pavimentos, acrescido de térreo

comercial e subsolo com garagem. O edifício é composto por dois blocos separados pela

circulação vertical, formando um “H” virado. Ambos os blocos possuem três apartamentos, os

das extremidades com três dormitórios e os do centro, de um dormitório, todos com

dependência de empregada. O prédio contém apenas uma fachada para a via pública.

O térreo possui duas entradas para o subsolo, duas lojas e o hall de acesso ao edifício; o

corpo do edifício é composto por sacadas, separadas por um cobogó que esconde a área de

serviço dos apartamentos de um dormitório. Voltados para a Avenida João Pessoa, nas

sacadas, ficam os dormitórios e a sala de estar/jantar. A fachada é marcada verticalmente

pelo cobogó e horizontalmente por faixas nas lajes entrepiso.

Edifício Vitória Régia (2016). Foto de Tarcísio Carneiro.

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5. Considerações Finais

Nas vias estruturais de Porto Alegre apresentam-se edifícios de apartamentos que compõem

uma paisagem urbana com características próprias de um modo de morar moderno. As

radiais Avenida Borges de Medeiros, Avenida João Pessoa, Avenida Osvaldo Aranha,

Avenida Independência e Avenida Voluntária da Pátria expressam a modernidade vivenciada

pela sociedade gaúcha dos anos de 1950, entre outros aspectos, por meio de seus edifícios

de apartamentos. A radial João Pessoa, conhecida no século XVIII como Caminho da Azenha,

nasceu como uma via de ligação entre a antiga vila e a ponte da Azenha que conduzia a

Viamão, através da Estrada do Mato Grosso (atual avenida Bento Gonçalves). A avenida João

Pessoa tem início na avenida Salgado Filho, atravessa o bairro Cidade Baixa e termina na

avenida Bento Gonçalves, no bairro Azenha, compreendendo, quarto bairros: Centro

Histórico, Farroupilha, Cidade Baixa e Azenha.

Os modos de morar em apartamento foram conquistados passo a passo por meio de

alterações às moradias tradicionais. Processos como socialização e modernização foram

fundamentais para o desenvolvimento da cidade de Porto Alegre. A paisagem da arquitetura

moderna configurada por alguns edifícios de apartamentos projetados para a radial João

Pessoa, em Porto Alegre. Fazem parte deste conjunto as seguintes edificações: Edifício

Redenção e Edifício Vitória Régia; Edifício Matos Vanique, Edifício Jequitibá e Edifício Jovay.

Paisagem urbana moderna, composta por conjuntos de edifícios ou por edifícios torres

isolados na radial João Pessoa.

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MENEGOTTO, Renato. Cidade Baixa: pela manutenção dos cenários de um

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MATTAR, Leila Nesralla. Porto Alegre: Voluntários da Pátria e a experiência da

rua plurifuncional (1900-1930). Dissertação de Mestrado em História do Brasil.

Porto Alegre, IFCH, PUC/RS, 2001.

SOUZA, Célia Ferraz de; MULLER, Dóris Maria. Porto Alegre e sua evolução

urbana. Porto Alegre: Editora da Universidade/ UFRGS, 1997.

XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura Moderna em Porto Alegre. São

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WEIMER, Guinter. Levantamento de projetos arquitetônicos – Porto Alegre –

1892 a 1957. Pesquisa realizada nos microfilmes do Arquivo Municipal da Prefeitura

de Porto Alegre. Porto Alegre: Procempra, 1998.

Agradecimentos

Agradecemos o apoio à pesquisa em desenvolvimento que originou o presente artigo: ao CNPq –

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico por meio da bolsa PIBIC/CNPq e à

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul que, por meio da Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo apoia o Grupo de Pesquisa Arquitetura e Cultura por meio de sua infraestrutura.