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COACHING
&
PSICANÁLISE
Sérgio Gleiston*
* Master Coaching Integral Sistêmico (FEBRACIS), pós-graduando em Psicanálise (IAMPST), gestor de processos, especialista em gestão de pessoas (FTDR)
Coaching & Psicanálise
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é apenas uma tentativa de aproximação de dois campos de
saber: o coaching e a psicanálise. O primeiro, nascido no mundo dos esportes e
incorporado à administração, cada vez mais tem entrado no universo do life para além do
limites do business: hoje não é mais só o empresário que faz coaching; vemos artistas,
cantores, jogadores de futebol, pessoas famosas e anônimos gozarem dos benefícios dessa
técnica. A psicanálise, por sua vez, também tem entrado no universo empresarial.
As pesquisas relativas ao relacionamento das duas áreas parece um campo ainda
muito incipiente, portanto, não permite conclusões e nem é o intuito do seguinte trabalho,
criar um modelo de “coaching psicanalítico”. Mas, constatou-se que há muitos coaches
terapeutas, psicólogos e psicanalistas constando nos sites de busca (e outros tantos que
não aparecem por ali!).
O trabalho que você tem em mãos, visa apenas mostrar para o coach (ou leigo
interessado em coaching) e para o psicanalista que suas práticas não são, necessariamente,
excludentes e que ambos profissionais podem se beneficiar dessa aproximação. Quem se
enriquece com isso é o nosso cliente (ou paciente), afinal, o que os dois campos de saber
almejam é sua melhor qualidade de vida.
Fortaleza, 15 de maio de 2014.
Sérgio Gleiston Master Coaching Integral Sistêmico,
Pós-graduando em Psicanálise.
Gestor de Processo, especialista em Recurso Humanos
CONTATOS
E-mail: [email protected]
Fone: (85) 8545-2105 (oi)
Blog: sgncoaching.com.br
Facebook/sergiogleiston
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Sérgio Gleiston
Sumário DEFININDO... ................................................................................................................................. 6
O que é coaching? ..................................................................................................................... 6
O que é a psicanálise? ............................................................................................................... 7
Diferenças e semelhanças entre psicanálise e psicoterapias................................................ 8
O que o coaching não é? ........................................................................................................... 9
Diferenças entre coaching e terapias .................................................................................. 10
Semelhanças entre coaching e terapias .............................................................................. 10
Campos do saber que auxiliam o coaching ............................................................................. 11
Benefícios do coaching ............................................................................................................ 11
Benefícios da psicanálise ..................................................................................................... 12
Benefícios da psicanálise para o coaching .......................................................................... 13
Benefícios do coaching para a terapia ................................................................................ 13
Críticas da Psicanálise ao coaching ..................................................................................... 15
Breve história do coaching ...................................................................................................... 16
As 7 Escolas da Psicanálise .................................................................................................. 18
Princípios básicos da Psicanálise ......................................................................................... 18
Tipos de coaching .................................................................................................................... 19
Como funciona o processo de coaching? ................................................................................ 19
INCONSCIENTE E RESPONSABILIDADE ........................................................................................ 20
Conceito de autorresponsabilidade ........................................................................................ 20
Relação entre autorresponsabilidade e teoria psicanalítica ................................................... 21
IDENTIFICAÇÃO DO ESTADO ATUAL ............................................................................................ 22
Perguntas Poderosas ............................................................................................................... 22
Como perguntar? ................................................................................................................ 23
Mapa de Autoavaliação Sistêmico .......................................................................................... 24
IDENTIFICAÇÃO DO ESTADO DESEJADO ...................................................................................... 25
Dream List ............................................................................................................................... 25
Smartirzação ............................................................................................................................ 25
Ordenação de valores ............................................................................................................. 26
CRENÇAS ...................................................................................................................................... 27
O poder das crenças ................................................................................................................ 27
Matriz de formação de crenças ativa ...................................................................................... 29
Linguagem verbal ................................................................................................................ 30
Linguagem não-verbal ......................................................................................................... 33
Diálogo Interno (pensamentos automáticos) ..................................................................... 39
Coaching & Psicanálise
Sentimentos ........................................................................................................................ 40
Matriz de formação passiva .................................................................................................... 41
Neurônios-espelhos ............................................................................................................ 42
Contágio social .................................................................................................................... 43
Padrões repetitivos ............................................................................................................. 45
Autossabotagem ................................................................................................................. 47
CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 51
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................. 51
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Sérgio Gleiston
Agradeço ao Dr. Ramos, por me incentivar,
E à minha esposa Andrea – com quem sou muito melhor!
Coaching & Psicanálise
COACHING & PSICANÁLISE
DEFININDO...
O que é coaching?
Trata-se de um conjunto de técnicas bastante difundidas no Brasil e no mundo
que auxiliam as pessoas a atingirem seus objetivos.
Há inúmeras definições na literatura especializada:
“(...) metodologia que presta apoio à pessoas para seu crescimento e para o
alcance de metas num processo pelo qual o Coach e o cliente, também denominado
coachee, formem uma parceria” (PAIVA, MANCILHA & RICHARDS, 2012:7).
A palavra metodologia é interessante: do grego, META-, “atrás, depois”, mais
HODOS, “caminho” acrescida de sufixo LOGOS, “palavra, estudo, tratado”; seria uma
palavra, um discurso que ajuda a percorrer um caminho.
“(...) parceria com cliente num processo criativo, provocador de pensamentos e
de autoconsciência, que inspira os clientes a maximizarem o seu potencial pessoa e
profissional (...)” (International Coaching Federation, apud DUTRA, 2010:15).
“O Coaching de performance nada mais é do que um suporte
que um profissional especializado oferece a quem busca
melhores resultados na vida profissional, sem perder de vista
seus anseios pessoais, seus valores, sua inclinação profissional
e, principalmente, o equilíbrio na condução a uma vida mais
feliz” (PAULA, 2011:25).
“(...) arte de facilitar o desempenho, aprendizado e desenvolvimento de outra
pessoa (...) arte no sentido de que, quando praticado com perfeição (...) se torna uma dança
entre duas pessoas que, usando a conversa, se movem em completa harmonia e parceria”
(DOWNEY, 2013:18).
Basicamente, nelas o coaching é visto como uma metodologia, um processo,
uma parceria ou mesmo uma arte que presta apoio, suporte, auxílio, que serve de
facilitador para o crescimento (pessoal e/ou profissional) do cliente (chamado coachee)
tendo por objetivo o alcance de resultados, metas, melhoria do desempenho e
performance.
De um lado temos o profissional, chamando coach, do outro o cliente (coachee)
e o processo se denomina coaching.
Trata-se de um processo de condução (lógico, racional, cognitivo) que coloca
você diante do espelho e o faz exclamar para si mesmo: “prazer em conhecer-me!”. Em
outras palavras, descobre-se suas fortalezas, como está o seu estado atual e onde se quer
chegar. A partir disso, elabora-se um plano de ação para concretizar os seus sonhos.
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Sérgio Gleiston
O coaching é um processo de educar o olhar para que se possa enxergar as suas
potencialidades e utilizá-las ao seu favor. Se você volta os seus olhos para coisas boas,
tal qual o girassol se inclina na direção dos raios solares, eis que você encontrará somente
coisas boas...
Acho bonito o significado da palavra processo. A vida é repleta de processos: as
águas do rio correm para o mar, depois evaporam, transformam-se em nuvens, derramam-
se em forma de chuva no rio e tudo se reinicia... todos os dias, o sol se levanta no
horizonte, pintando o céu de belas cores até que se põe, cedendo lugar às outras estrelas
e à lua... Enfim, a grama cresce, as árvores florescem, pessoas nascem, outras morrem...
Tudo parece tão natural!
Os sábios romanos chamavam isso de procedere: o verbo latino cedere significa
“ir”; mas, ao se juntar ao prefixo “pro” (adiante, para frente), ganha o sentido de “avançar,
mover-se para o futuro”. Pergunto: o que te move? O que te faz acordar todos os dias?
Qual o seu propósito de vida? Para tantas pessoas essas são perguntas tão difíceis de
responder! O coaching também auxilia nesse caminho de descoberta.
Às vezes, esse movimento de avançar implica em deixar o antigo para trás,
abandonar velhos hábitos e aventurar-se rumo ao desconhecido como está escrito
naqueles conhecidos versos:
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que
já tem a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos que nos
levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia; e se
não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de
nós mesmos (atribuído a Fernando Pessoa).
Quantas pessoas você conhece que têm vivido “à margem de si”, com potenciais
gigantescos, mas que vivem inconformadas com seu estado atual, frustradas em seus
sonhos, adiando a sua felicidade... E se houvesse um processo que pudesse ajudar a
realizar seus sonhos? A fazer a “travessia”, a desbravar outros mares, a superar seus
desafios? O nome disso é coaching.
O coaching é um processo de mudanças, através dele, você muda a perspectiva
sobre si, sobre suas capacidades e sobre a forma como encarar as situações. O coach é o
espelho que o indaga e o faz refletir: onde você quer chegar? Quais são suas forças? O
que te falta para alcançar o que deseja? Como consegui-lo? O que se pode fazer apesar
de...? O que te impede de ir além?
Em resumo, coaching é processo de condução lógica e cognitiva que identifica
o Estado Atual, depois busca identificar os objetivos e onde a pessoa/organização quer
efetivamente chegar, seu Estado Desejado, traça um plano de ação e busca remover os
impedimentos.
O que é a psicanálise?
Freud definiu o que é psicanálise com os seguintes itens (Zimerman, 2005: 59 –
questão 57):
Coaching & Psicanálise
Um procedimento para a investigação dos processos mentais que, de
outra forma, são praticamente inacessíveis.
Um método baseado nessas investigações para o tratamento de
transtornos neuróticos.
Uma série de concepções psicológicas adquiridas por esse meio e que se
somam, umas às outras, para formar progressivamente uma nova
disciplina científica.
Posteriormente, eles sublinhou que os seus pilares teóricos e técnicos
imprescindíveis eram: a existência do inconsciente dinâmico, o complexo de Édipo, a
repressão, a resistência, a transferência e a interpretação.
Diferenças e semelhanças entre psicanálise e psicoterapias
Antes de tudo, cabe discriminar a função específica dos psicólogos, psiquiatras,
psicanalistas e terapeutas (Zimerman, 2005: 34-35 – questão 3):
Psicólogo: formado em Psicologia, está apto a exercer as diversas formas de
psicoterapia, psicologia organizacional, aplicação de testes psicológicos. Não pode
prescrever medicação;
Psiquiatra: é um médico que, após sua formação, faz uma especialização
específica. Só assim, estará apto a exercer psicoterapias e tratar “pacientes psiquiátricos”
(psicóticos hospitalizados, depressões graves, crises de pânico, drogadíctos etc.) com
medicação psicotrópica.
Tanto o psicólogo como o psiquiatra podem se tornar psicanalistas, desde que
passem pelo processo de formação, vinculados a um Instituto de Psicanálise, passem pelo
processo de supervisão individual, participem de seminários teórico-técnicos, elaborem
monografia etc. O objeto de estudo do psicanalista é o inconsciente. Não está autorizado
a prescrever medicamento (se não for médico). E trata, sobretudo, pacientes neuróticos,
podendo, por vezes, trabalhar em conjunto com psicólogos e psiquiatras.
Psicoterapia é um termo genérico que costuma ser empregado para designar
qualquer tratamento realizado com métodos e propósitos psicológicos (Zimerman, 2005:
60-62 – questão 59).
Existe um largo leque de tipos de psicoterapia (Zimerman, 2005: 59 – questão
58):
Psicoterapias breves: voltada para resolução específica de problemas
circunscritos a determinadas queixas. Muito utilizada em hospitais;
Psicoterapia focal: centra-se em um determinado foco, particularmente,
traumático ou estressante;
Psicoterapias de apoio (de curta ou longa duração);
Terapia cognitiva: visa muito mais as funções conscientes do que
inconscientes. A forma como as pessoas percebem, significam e
interpretam suas experiências emocionais é que vai determinar como elas
irão sentir, pensar e agir. Volta-se, principalmente, para o sistema de
crenças;
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Sérgio Gleiston
Terapia comportamental: parte do princípio que os comportamentos
patológicos, que tiveram origem em aprendizagem que promoveram
distorções cognitivas, são capazes de ser reversíveis através de novas
aprendizagens, em uma espécie de dessensibilização, de um
descondicionamento de antigos reflexos condicionados patogênicos;
Outras correntes: análise transacional (consiste em enfocar as múltiplas maneiras
de como se processam as transações do sujeito com os demais membros de um grupo);
psicodrama; psicologia analítica, gestalterapia, logoterapia dentre outras. Há ainda uma
gama de psicoterapias alternativas: florais de Bach, neurolinguística, bioenergética, yoga,
diversas formas de relaxamento, musicoterapia, hipnose etc.
Zimerman (2005: 33-34 – questão 2) faz uma analogia bem interessante para
estabelecer a relação entre a psicoterapia e a psicanálise:
Assim como existe os extremos da claridade do dia e da
escuridão da noite, também existem os estados intermediários
como são a aurora e o crepúsculo (...) os autores e professores
estabeleciam um enorme abismo entre psicoterapia e
psicanálise. Na atualidade, entretanto, as zonas de aurora e
crepúsculo servem de analogia para o significado de que passou
a existir uma redução de diferenças, e uma superposição de
semelhanças entre ambas está se expandindo de forma
significativa.
O que o coaching não é?
Mentoring – é quando um colega sênior, considerado uma pessoa com mais
conhecimento e mais sabedoria específicos, dá conselhos e funciona como modelo. O
mentoring envolve uma ampla gama de discussões que podem não estar limitadas apenas
ao trabalho. Um mentor é um “padrinho” com grande experiência profissional no campo
de trabalho do cliente. Tanto o mentoring quanto o coaching estão relacionados,
principalmente com realizações no presente e no futuro.
Aconselhamento – é trabalhar com um cliente que se sente desconfortável ou
insatisfeito com sua vida. Ele está procurando direção e conselhos. O conselheiro trabalha
de forma remediativa ao problema do cliente. O foco é sair de um problema ou tirar uma
dúvida do que fazer. Nos Estados Unidos e Europa existem faculdades de
aconselhamento.
Treinamento - é o processo de adquirir conhecimento ou habilidade através do
estudo, experiência ou ensino. O treinador é, por definição, um expert. E o treinamento,
provavelmente, tem por alvo habilidades específicas e resultados imediatos. O
treinamento, em geral, é de um para muitos em vez de ser um a um.
Ensino – o ensino passa o conhecimento do professor para o aluno. O professor
conhece algo que o estudante não sabe. O oposto é verdadeiro no coaching. O professor
é o expert e ele tem as respostas, já o coach possui perguntas.
Consultoria – um consultor oferece conhecimento e experiência e resolve
problemas de negócios ou desenvolve o negócio como um todo. O consultor cria
Coaching & Psicanálise
processos que devem ser postos em prática pela empresa e não por ele. O consultor lida
com a organização inteira ou com partes específicas e nem sempre com as pessoas dentro
da organização. Os consultores geralmente só afetam indiretamente as pessoas da
organização.
Terapia - é trabalhar com um cliente que procura alívio para sintomas de dor
em sua rotina e para problemas psicológicos. O cliente quer a cura emocional e/ou o alívio
do sofrimento mental. O motivo que leva o cliente entrar em terapia ou aconselhamento,
em geral, é livrar-se da dor e do desconforto, mais do que ir em direção aos objetivos
desejados. O coaching não é remediativo. A terapia e o aconselhamento, mais do que o
coaching, tendem a se envolver com a compreensão e a trabalhar mais com experiências
passadas focando as causas, consequências e meios para lidar com elas de forma
remediativa.
Diferenças entre coaching e terapias
DIFERENÇAS ENTRE COACHING E TERAPIA
Coaching Terapia
Tempo determinado Tempo indeterminado
Foco no futuro Foco no passado
Cliente busca melhorar performance Paciente procura alívio para sintomas de dor em
sua rotina e para problemas psicológicos
Pergunta-se: como? Pergunta-se: por que?
Identificação de estado atual e estado desejado Diagnóstico
Não é tratamento Tratamento de debilidades
Foco na solução Foco no problema
Foco na ação Foco no discurso
Coach fala e coachee responde Paciente fala, terapeuta ouve e interpreta
Elaboração de um plano de ação (estratégico) Elaboração de um plano (terapêutico, p.ex., na
TCC)
Baixa importância do expert Alta importância do expert
Semelhanças entre coaching e terapias
SEMELHANÇAS ENTRE COACHING E TERAPIA
1. Resolução de problemas
2. Análise de valores
3. Mudança de comportamento
4. Resistência
5. Suporte/ apoio ao cliente
6. Reforço
7. Crescimento pessoal
8. Definição de metas
9. Aprendizado
10. Não oferecem conselhos, mas mostram possibilidades
11. Desafiam o cliente
12. Exploram e ajudam na reavaliação de crenças
13. Confidencialidade
14. Levantamento de dados/informação sobre o problema
15. Atendimento personalizado
16. Baseados em pesquisas
17. Alta taxa de transformação
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Sérgio Gleiston
Campos do saber que auxiliam o coaching
Os ramos da ciência que foram usadas para estruturar o Coaching Integral
Sistêmico foram:
Psicologia Positiva: Psique humana voltada para a alta performance;
Sociologia: Relações sociais;
Antropologia: manifestações e comportamentos humanos;
Teoria dos Sistemas: Tudo está ligado e interdependente;
Filosofia: Compreensão crítica e racional dos princípios humanos;
Física Quântica: Criação da realidade a partir do observador;
Pedagogia: Estrutura do ensino e do aprendizado;
Administração: compreensão dos princípios de liderança organizacional;
Ética: compreensão de valores na construção do caráter.
Benefícios do coaching
Para uma pessoa:
O cliente torna-se mais produtivo. Atinge, de forma consiste, um
desempenho mais alto em tudo o que se determina a fazer;
Adquire autoconfiança;
Adquire clareza em relação as suas metas e valores, assim sendo, segue a
direção ao cumprimento de suas metas e as vive de acordo com seus valores.
Aprende mais e vence os bloqueios para aprender melhor.
Esclarece o que quer e o que pode oferecer nos seus relacionamentos. Os
seus relacionamentos tornam-se melhores.
Melhora sua qualidade de vida.
Sua vida torna-se mais equilibrada com crescimento constante.
Adquire mais flexibilidade.
Recebe estímulo intelectual ao discutir ideias importantes.
Torna-se mais criativo.
Transforma-se mais na pessoa que quer ser.
Torna-se um modelo para os outros.
O coaching propicia o potencial para o avanço no seu trabalho e melhores
perspectivas a curto, médio e longo prazo.
Para a empresa:
O coaching é uma evidência do comprometimento da empresa em
desenvolver seu pessoal.
O coaching propicia uma performance de alto desempenho duradouro.
O trabalho de equipe melhora.
O coaching mantém os funcionários-chave e evita:
O custo do retreinamento
A perda do conhecimento da empresa para os concorrentes
A queda na produtividade quando o pessoal deixa a empresa
Coaching & Psicanálise
O coaching tem a melhor relação custo-benefício para alocar
recurso no local certo para as pessoas que precisem dele.
Benefícios da psicanálise
Zimerman (1999: 412-414) enumera os benefícios terapêuticos em:
Resolução de crises situacionais agudas;
Esbatimento de sintomas;
Um melhor reconhecimento e utilização de algumas capacidades sadias
do ego, que estavam latentes ou bloqueadas, e a possível liberação das
mesmas;
Uma melhor adaptação interpessoal;
Os resultados de um processo analítico seria a modificação da estrutura interna
do paciente de forma profunda, estável e permanente. Essas mudanças se caracterizariam,
ainda segundo o autor, por:
Modificação na qualidade das relações objetais internas e, a partir daí, as
externas;
Um menor uso de mecanismos defensivos primitivos;
Uma renúncia às ilusões de natureza simbiótico-narcisísticas;
Uma capacidade de fazer (re)introjeções e, daí, novas identificações, de
renovados modelos, tanto de objetos como de funções psíquicas, de
valores e de papéis;
Recuperação e integração de partes suas;
Obtenção de uma capacidade em suportar frustrações, absorver perdas e
fazer um luto pelas mesmas, através da assunção do seu quinhão de
responsabilidades e eventuais culpas.
Reparação dos possíveis danos infligidos;
Diminuição das expectativas impossíveis de serem alcançadas;
Um abrandamento do superego;
Uma libertação das áreas autônomas do ego que, possibilite um uso mais
adequado de suas nobres funções: percepção, pensamento, linguagem,
juízo crítico, conhecimento, comunicação, ação e criatividade;
Aceitação da dependência sadia (tecida com confiança, respeito, amizade
etc.);
Utilização da linguagem verbal, em substituição à não-verbal (p.ex., a
somatização);
Aquisição de uma função psicanalítica da personalidade (autoanálise);
Ruptura com os papéis estereotipados;
Aquisição de um sentimento de identidade, consistente e estável;
Obtenção de uma autenticidade e de uma autonomia;
Ao mesmo tempo que o sujeito adquire o direito de sentir-se livre das
expectativas e mandamentos dos outros (especialmente, dos que moram
dentro dele), ele também deve ser capaz de experimentar relações
afetivas com outras pessoas, reconhecendo-as como livres, inteiras,
diferentes e separadas dele, ao mesmo tempo em que posso suportar
sentimentos ambivalentes em relação a tais pessoas.
13
Sérgio Gleiston
Benefícios da psicanálise para o coaching
À um profissional de coaching, a psicanálise tem muito a oferecer sobre o
entendimento dos atos humanos (cf. tópico 1.5.4. - críticas da Psicanálise ao coaching): a
psicanálise auxilia o Coach a ter uma escuta mais aprimorada, a compreender os com
mais profundidade os mecanismo de padrão repetitivo (cf. tópico 5.3.3.) e
autossabotagem (cf. tópico 5.3.4.); enquanto o coach ver olha para o comportamento
consciente (Políticas Internas Declaração da Filosofia Empresarial, Estratégias, Branding,
Indicadores de Instruções, de Performance, Trabalho, Organogramas), o psicanalista vê
o indivíduo com suas pulsões, desejos, recalques, neuroses, mecanismos de defesa,
processos de transferência e contra-transferência, castrações, Processos Psicodinâmicos,
Estrutura de Poder, Personalidades, Motivações, Natureza do Grupo etc.
Não se trata de transformar o Coach em psicanalista, mas de reconhecer os
próprios limites da técnica.
Benefícios do coaching para a terapia
Uma pesquisa rápida no Google1, revela que há um número crescente de
profissionais que aliam as técnicas de coaching às práticas terapêuticas:
“Terapeuta e Coach”: aproximadamente, 15.500 resultados;
“Psicólogo e Coach”: aproximadamente, 83.70 (o número sobe para
91.400 se a pesquisa se referir a “psicóloga e coach”);
“Psicanalista e Coach”: aproximadamente, 35.800;
A prática do Coaching Psicológico pode ser descrita como um processo
facilitador que busca incrementar o desempenho, o aprendizado e o crescimento do ser
humano – como indivíduo ou dentro de um grupo. O Coaching Psicológico visa aumentar
o nível de satisfação e de bem-estar, o desempenho na vida particular e profissional e
reduzir o estresse no trabalho, levando à melhores resultados e ao sucesso. Tal prática é
sustentada por modelos de Coaching, embasados nos processos de aprendizagem de
adultos e crianças e em teorias e abordagens já consagradas.
É aplicada por Psicólogos-Coaches experientes e graduados, com especialização
ou pós-graduação e vivência na área, que passaram por supervisão da prática e
desempenho profissional. O trabalho do Coach-Terapeuta ajuda a descobrir e trazer à
tona, ao nível cognitivo, os obscuros processos psicológicos inconscientes dos
mecanismos de defesa que muitas vezes dificultam o alcance de metas propostas,
produzindo resultados indesejados.
De que modo o Coaching Psicológico pode ajudar? O problema mais comum do
homem contemporâneo é encontrar a dose certa, a proporção ideal entre o trabalho com
as responsabilidades pessoais, é a busca do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Na
ausência de tal equilíbrio surge uma infinidade de problemas tais como a depressão, a
raiva, a insatisfação profissional, a falta de energia, o medo, o sentimento de perda de
1 Pesquisa realizada em 13 de maio de 2014.
Coaching & Psicanálise
capacidade, problemas com desempenho no serviço, de relacionamento, até problemas de
saúde.
As causas desta luta desigual repousam no fato das exigências do trabalho e da
vida particular terem se tornado mais dominantes em nossa sociedade, levando muitas
pessoas a criarem expectativas irrealistas em relação a si próprias e aos outros, levando a
tumultos a nível pessoal e interpessoal.
Um Coach-Psicólogo pode auxiliar o entendimento das forças que atuam por trás
de nosso comportamento e munir-nos de ferramentas necessárias para aproveitar melhor
o tempo, melhorar a produtividade, o desenvolvimento de metas, a motivação e o
equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Quando tal equilíbrio é atingido, não só
experimentamos uma sensação de bem-estar, como também conseguimos vivenciar o
momento, aproveitar a vida como um todo.
O papel do Coach-Terapeuta no processo de restauração do equilíbrio envolve:
avaliar os problemas e obstáculos existentes; identificar e modificar comportamentos e
pensamentos negativos; oferecer perspectiva, discernimento e compreensão do “eu”
interior; criar e implementar um plano de ação; proporcionar apoio e buscar alternativas;
comparar as metas propostas com os objetivos alcançados; identificar e eliminar travas e
traumas.
Uma pesquisa realizada a respeito de recursos humanos e especialistas em
pessoal publicada em uma série de trabalhos da Work Foundation “Managing Best
Practice” aponta para os benefícios do Coaching aliado às terapias:
Principais benefícios do Coaching Psicológico:
- 84%;
- 86%;
ao trabalho (88%);
ilidade sobre suas ações (90%);
(77%);
(59%);
(87%);
nho (62%).
Principais benefícios do Coaching Psicológico para a organização:
(79%);
seu desenvolvimento (69%);
o desempenho organizacional e a produtividade (69%);
(63%);
(57%);
(39%);
cionamento interpessoal e interdepartamental (35%);
15
Sérgio Gleiston
Críticas da Psicanálise ao coaching
As pesquisas científicas em relação ao coaching ainda são escassas e há poucas
estatísticas sobre o tema. Talvez, a principal crítica ao coaching e a todo o seu cabedal
teórico recaia sobre a ideia de performance.
Para Whitmore (2010:97), em um primeiro momento, performance é “a
execução das funções exigidas de uma pessoa”, o que poderia resultar, no mínimo esforço
para se alcançar algo, o que leva ao autor complementar:
A verdadeira performance é ir além do que é esperado; é estabelecer os mais
altos padrões pessoais, padrões estes que excedam o que os outros exigem ou esperam.
Isso é, obviamente, a expressão do potencial de uma pessoa. Isso se aproxima da segunda
acepção para performance que existe em meu dicionário: “um feito, uma proeza, uma
exibição pública de habilidade” (...) (WHITMORE, 2010:97).
Nesse sentido, por hora, parcial, o performático estaria a serviço do “mercado”
e do discurso capitalista. A psicanalista e Coach Bianca Damasceno, em seu artigo “A
sociedade contemporânea e seus meios de competência: uma crítica ao coaching à luz da
teoria psicanalítica”2, aborda essa questão com maestria:
Pela análise de textos, anúncios e experiências nas formações
oferecidas no mercado do coaching, o que se percebe é que por
trás do discurso em prol de uma vida feliz e bem sucedida – via
alcance de metas – pode-se correr o risco de um reforço à
ideologia neoliberal. Ideologia que promove os mandatos
imperativos do ‘gozo ininterrupto’, da felicidade obrigatória
como prova de sucesso, da pressa, da superficialidade, da
exacerbação da performance e da aversão crônica ao sofrimento
(...) capazes de levar ao “amesquinhamento dos horizontes ético
e político”, gerando o “embrutecimento de nossas opções
existenciais” (DAMASCENO, s/d).
A autora acredita ser possível um “diálogo interdisciplinar entre o coaching e a
psicanálise [que] enriqueceria, sem dúvida, os dois campos”. Ao que parece, não com os
discursos neoliberais sobre performance, sucesso e felicidade, pois são discursos prontos,
pré-moldados, onde o ser só existiria se tiver isso, isto e aquilo.
Whitmore (2010:101) alerta que se concentrar exclusivamente na melhoria da
performance, não dá resultados, esta “não pode [ser] sustentada onde não há aprendizado
ou onde não há prazer”.
Quanto ao sucesso, a dissertação de mestrado de Mário Divo Motter Júnior, “A
Dimensão do sucesso em coaching: uma análise do contexto brasileiro” (2012), constatou
que a percepção do cliente (coachee) sobre o processo é múltipla, passando pelo discurso
neoliberal, mas também amplia a definição de sucesso para além do simples alcançar
metas. O autor complementa:
Resume em si tanto a dimensão de alcançar metas como a de
crescimento, transformação e ganhos pessoais. Olhar o
indivíduo-interior, o ser humano, sem perder de vista o
2 Disponível em <http://www.psicanalise.ufc.br/hot-site/pdf/Mesas/06.pdf> (acesso: abril/2014)
Coaching & Psicanálise
resultado. Aí temos uma visão que transcende chegar onde se
espera, pois a perspectiva é a de saber aproveitar aquilo que se
conquistou, sendo então uma pessoa diferente e para melhor.
(...) há evidências de que o processo será tanto melhor sucedido
se, ao buscar indicadores de resultados para medir o sucesso, não
se tenha foco apenas no alcance de metas ou objetivos tangíveis.
Segundo os resultados deste trabalho, passa a ser fundamental a
sensibilidade em identificar expectativas e/ou necessidades do
coachee para se tornar uma pessoa com mais qualidade de vida,
feliz e em harmonia consigo e com os que o cercam (JÚNIOR,
2012: 63).
Bianca Damasceno, concordando com Mário Divo Motter Júnior, sugere um
“processo de coaching onde o sujeito é, não somente incluído, mas o foco principal da
caminhada em direção ao alcance de objetivos e realização de projetos de vida”,
respeitando suas singularidades e diferenças, um apelo à ética da alteridade, à consciência
de seu papel social sem “se perderem de si mesmos, caso persistam na ideia de felicidade
a qualquer preço”:
Partindo de uma visão psicanalítica, o coaching pode e deve se
manter como um meio de competência da sociedade
contemporânea, mas realizando um trabalho mais inventivo,
mais inovador, mais questionador do próprio mercado; por que
não? Um trabalho em prol de uma forma de vida mais criadora,
que se paute menos no performático e que se centre numa
dimensão marcadamente simbólica. Isso implica, até mesmo,
tomar consciência dos limites que o próprio trabalho de
coaching se depara diante do sujeito em crise. Pela demanda de
cuidados presente nas sessões de coaching, o profissional deve
inclusive ser capaz de indicar uma análise como um espaço
possível de resolução de conflitos de seu cliente. A dor e o
sofrimento revelam, muitas vezes, o núcleo mortífero e
autodestrutivo existente no homem. Desmentir essa verdade
com promessa de final feliz é, como dito acima, pura ideologia
ou, mais concretamente, submissão ao mercado.
No meu entender, o processo de coaching deve ser regido pela singularidade das
necessidades e desejos do sujeito, de seus valores pessoais e de sua responsabilidade pelas
escolhas e decisões. A jornalista Jussara Goyano, no artigo, “Por mais desempenho” para
a revista Psiquê Ciência & Vida, sintetiza a questão:
(...) Em que pesem as críticas sobre essa prática contribuir para
a propagação de ideias capitalistas, o uso das técnicas de
coaching mostra exatamente o contrário: há diminuição do
estresse, depressão e ansiedade e aumento da resiliência e do
bem-estar (males associados ao modo de vida capitalista).
Concluo, como Coach, ainda, que com a prática o usuário
resgata para si (e somente para si) um bem precioso: tempo para
reflexão sobre sua vida, seus ideais, seus propósitos, algo que a
civilização atual de fato lhe tirou (e vem lhe tirando) há muito
tempo (PSIQUE, ano VIII, nº 100, p. 37).
Breve história do coaching
Séc. IV. a.C.: Sócrates usava os princípios das perguntas como fonte de
(auto)conhecimento: “maiêutica”, ou seja, “parto de ideias”;
17
Sérgio Gleiston
Séc. XV: A palavra “coach” é proveniente do termo húngaro “kocsi”, que
denominava as carruagens que surgiram por volta do século XV na vila de Kocs, na
Hungria, guiadas por um condutor e levadas por cavalos. Transportando pessoas,
mensagens e mercadorias de um lugar para outro, logo essas carruagens, famosas por seu
conforto, se tornaram populares em toda a Europa. Já nessa época o termo “coach” estava
ligado à transição, referindo-se a algo que promovia a mudança e a transformação. Se na
Idade Média os “cocheiros” realizavam apenas uma mudança no espaço, limitando-se a
deslocar os seus passageiros, os “coaches” de hoje promovem a mudança nas mentes das
pessoas, conduzindo-as a do estado atual para o estado desejado (metas e objetivos).
Séc. XVI: Os domadores de cavalos selvagens nos EUA são chamados de
coaches.
1840: na Universidade de Oxford, na Inglaterra, a palavra “coach” passou a
designar o tutor particular de um estudante que o ajudava na preparação para os exames.
1880: pela primeira vez o termo “coach” foi usado no sentido atual de treinador
esportivo, referindo-se especificamente à pessoa que treinaria um time de atletas para
vencer uma regata.
1960: Programa educacional em Nova York introduziu pela primeira vez
habilidades de Coaching de Vida. Este programa foi transportado para o Canadá e
melhorado com a inclusão de resolução de problemas.
1960: os norte-americanos Richard Bandler e John Grinder desenvolveram a
técnica da modelagem, um processo no qual um modelo de sucesso é adotado, analisado,
mapeado e reproduzido através de seus comportamentos, estratégias, crenças e
linguagem, chegando-se a um resultado semelhante ao original. A isso se deu o nome de
Programação Neurolinguística (PNL).
1974: foi publicado o livro “O jogo interior de tênis”, do norte-americano
Timothy Gallwey. O autor divide os jogos em geral em duas partes: o jogo exterior, no
qual há um adversário, obstáculos externos e uma meta também externa, e o jogo interior,
que se desenrola na mente do jogador e tem como obstáculos a falta de concentração, o
nervosismo, a autocondenação e a ausência de autoconfiança. Gallwey diz que praticar o
jogo interior é explorar o ilimitado potencial que existe dentro de cada um de nós,
utilizando o jogo de tênis como uma metáfora para conquistar recompensas valiosas na
vida.
Dec. de 1980: são fundadas, no Reino Unido e nos EUA, as primeiras
companhias que oferecem serviços de coaching business, individual e de grupo.
Companhias de consultas na área de psicologia começam a oferecer serviços chamados
de coaching. Técnicos de esporte e coaches business identificam princípios do coaching
comuns entre essas áreas. O coaching é introduzido no mundo business em países
germânicos.
Dec. de 1990: Anthony Robbins desenvolveu o conceito de life coaching,
aplicando os conhecimentos do coaching já usados no mundo business para melhorar a
vida das pessoas. Tony Robbins ganhou reconhecimento mundial pelos best-sellers
Coaching & Psicanálise
“Desperte seu Gigante Interior” e “Poder sem Limites”, nos quais ele incentiva as pessoas
a descobrirem seu poder interior, assumindo o controle imediato de suas próprias vidas.
Através de histórias inspiradoras, estudos de casos, testes personalizados e um programa
que qualquer pessoa é capaz de seguir, ele demonstra como liberar o poder oculto da
mente, como controlar as emoções, como evitar a autossabotagem e as crenças
inconscientes que controlam negativamente a vida de cada um, tornando possível
transformar qualquer hábito ou comportamento.
1992: John Withmore lança o livro “Coaching para Performance”, o primeiro a
tratar o coaching como uma disciplina independente, trazendo técnicas e ferramentas de
coaching em uma perspectiva não invasiva e não diretiva, baseada em consciência e
responsabilidade. Whitmore defende que a única motivação verdadeira é a interior ou a
automotivação, que é onde o Coach atua.
1995: O conceito de inteligência emocional foi sistematizado e popularizado
pelo psicólogo norte-americano Daniel Goleman, com seu livro best-seller “Inteligência
Emocional”. A partir da obra de Goleman, a capacidade de ter consciência sobre os
próprios sentimentos e emoções, gerindo-os e transformando-os, passou a circular na
grande mídia e despertou discussões na área empresarial.
As 7 Escolas da Psicanálise
Partindo da posição de que o termo “psicanálise”, necessariamente, implica
acesso ao inconsciente e que deve levar em conta os fenômenos de resistência,
transferência e atividade interpretativa, com fins de mudança da estrutura do psiquismo;
fala-se em Escolas Psicanalíticas quando se atende a quatro critérios básicos (Zimerman,
1999:41):
1° - O aporte de conceitos originais;
2° - Que esses tenham aplicabilidade na prática psicanalítica clínica;
3° - Que sejam conceitos que atravessem gerações de psicanalistas;
4° - Que sucessivamente inspirem e deem novos frutos e ramos.
Sendo assim, costuma-se falar em “Sete Escolas de Psicanálise”: freudiana,
kleiniana, psicologia do ego, psicólogos do self, Lacan, Winnicott e Bion.
Princípios básicos da Psicanálise
O termo “princípio” é bastante utilizado nas ciências em geral, designando um
ponto de partida para a construção de um sistema de ideias e de conhecimentos que
mantenha uma certa lógica e coerência. Pode-se depreender a existência de vários e
distintos princípios agindo simultaneamente e interagindo entre si, embora cada um
mantenha uma autonomia conceitual, com regras e leis específicas, dentre uma longa série
de princípios, cabe destacar os nove (os oito primeiros são de Freud):
I. Princípio da existência do Inconsciente.
II. Princípio da existência das pulsões instintivas.
III. Princípio do determinismo psíquico.
IV. Princípio do prazer-desprazer e princípio da realidade.
V. Princípio da constância.
19
Sérgio Gleiston
VI. Ponto de vista econômico do psiquismo.
VII. Princípio da compulsão à repetição.
VIII. Princípio da negatividade.
IX. Princípio da incerteza.
Tipos de coaching
As principais áreas de atuação do Coaching hoje são: Profissional (Negócios,
Carreira e Executivo) e Pessoal (Vida, Esportes, Saúde, Relacionamento, Finanças entre
outros).
Segundo os participantes o coaching pode ser feito: autocoaching, individual,
casais, adolescentes, equipes ou grupos.
Segundo o público-alvo: esportistas, artistas, políticos, médicos, advogados,
executivos, líderes, empresas, empreendedores, profissionais liberais, estudantes etc.
Segundo as metas: coaching para concursos, para vendas, de emagrecimentos,
para noivas etc.
Segundo os modelos: coaching com Programação Neurolinguística (PNL), com
psicodrama, coaching eriksoniano, cognitivo, ontológico, coaching integral sistêmico etc.
O QUE É O COACHING INTEGRAL SISTÊMICO?
Coaching é um processo de condução lógica, racional e cognitiva que identifica inicialmente o
Estado Atual para levar o cliente ao ponto desejado através de um plano de ação.
Por Integral deve-se entender a capacidade de mobilizar tanto o hemisfério esquerdo do cérebro
(cognitivo, racional, lógico e intelectual) em direção às mudanças e como o hemisfério direito (emocional,
criativo, intuitivo e crenças). Ou seja, equilibrar razão e emoção.
Sistêmico significa que o ser humano é visto como um todo e sua vida é formada por diversos
pilares: emocional, familiar, conjugal, filhos, espiritual, social, saúde, serviço, intelectual, financeiro,
profissional. Modificando um deles, altera-se os demais.
Como funciona o processo de coaching?
O processo de coaching consiste em sessões (pelo menos 10), de cerca de uma
hora e meia, geralmente, encontros semanais.
Inicialmente, se identifica o Estado Atual (EA) do cliente (coachee), através de
“ferramentas” (intervenções) específicas, oriundas de diversos campos do saber
(Psicologia, Administração, PNL). Algumas ferramentas podem ser utilizadas para isso:
mapa de auto avaliação sistêmico (MAAS), o MAAS com indicadores, a Avaliação de
Inteligência Emocional, Análise SWOT, dentre outras.
Em seguida procura-se estabelecer o Estado Desejado (ED), trata-se dos
objetivos e metas a serem atingidas pelo coachee: onde você quer chegar? Passa-se pela
identificação dos recursos (o que tenho?), aquisição do que ainda falta (o que preciso?
Como consigo?), autoconhecimento dos impedimentos (o que me impedi? Quais são
minhas crenças limitantes?) e elaboração de estratégias para atingir resultados.
Coaching & Psicanálise
Algumas ferramentas podem ser utilizadas para isso: verificação dos sonhos
(Dream List), transformação em objetivos e metas (Smartirização), checagem de valores
e viabilidade (ordenação de valores) e elaboração do plano de ação (5W2H).
No Coaching Integral Sistêmico, além dos exercícios de cunho “racional”, há
uma série de atividades imaginativas, baseadas em visualizações, metáforas e reflexões.
Além dos exercícios realizados nas sessões, há uma também uma série de
exercícios extra-sala, visto que o resultado do processo depende mais do coachee do que
do profissional. Alguns exercícios visam a mudança de comportamentos e aquisição de
novos hábitos; outros como filmes e livros, visão à reflexão sobre sentimentos e
pensamentos.
INCONSCIENTE E RESPONSABILIDADE
Conceito de autorresponsabilidade
Um conceito fundamental do Coach é a (auto)responsabilidade.
“Autorresponsabilidade é a crença de que você é o único responsável pela vida
que tem levado, sendo assim é o único que pode muda-la” (VIEIRA, 2012:42). Todas as
nossas mudanças e conquistas se iniciam após assimilarmos e passarmos a viver de acordo
com esse conceito (Idem: 43).
“Autorresponsabilidade é a capacidade racional e emocional de trazer para si
toda a responsabilidade por tudo o que acontece em sua vida, por mais inexplicável que
seja” (VIEIRA, 2010:44). Pessoas autorresponsáveis, ao enfrentarem momentos de
dificuldades, sempre se perguntam: “o que devo fazer para que, da próxima vez, os
resultados sejam melhores?” (Idem, p. 46).
O modelo da autorresponsabilidade foi desenvolvido, por Paulo Vieira, por volta
dos anos 2000 a partir do pensamento de Stephen R. Covey, em “Os 7 Hábitos das Pessoas
Altamente Eficazes”, baseando-se nos modelos das pessoas reativas e das pessoas
proativas.
Uma pessoa reativa possui uma linguagem, seja verbal ou corporal, que tenta
absolve-la de toda a responsabilidade. Esta linguagem deriva da crença de que ela não
pode fazer nada a respeito de sua vida. Ela está sempre transferindo suas
responsabilidades de sucesso e felicidade para os outros (VIEIRA, 2008: 26). Tanto que
“através da linguagem, podemos quase que automaticamente, distinguir quem é uma
pessoa reativa de quem é uma pessoa autorresponsável (VIEIRA, 2008: 37).
LINGUAGEM REATIVA LINGUAGEM AUTORRESPONSÁVEL
Isto sempre acontece comigo O que eu fiz para que isso acontecesse?
Ninguém me respeita Eu me respeito e me faço respeitar
Sempre fiz assim e deu certo O que posso fazer para melhorar?
Não posso fazer isso Eu escolho fazer isso ou não
Eu preciso fazer isso Eu prefiro fazer isso ou não
Se eu pudesse fazer isso... Quais recursos buscarei para fazer isso?
Promoção nesta empresa é impossível O que devo fazer para alcança-la
(Adaptado de: VIEIRA, 2008:38)
21
Sérgio Gleiston
As pessoas reativas são influenciadas basicamente pelo ambiente externo
(VIEIRA, 2008: 27).
Já uma pessoa com autorresponsabilidade desenvolvida (ou proativa, no modelo
de Covey) é capaz de exercer com eficiência a liberdade de escolha (VIEIRA, 2008: 38).
Podemos mudar propositada e responsavelmente nossos pensamentos e sentimentos a
respeito de qualquer coisa, podemos escolher nossas palavras e também alterar
beneficamente nosso estado de espírito. “A capacidade de submeter uma reação a um
valor, princípio ou objetivo, é a essência de uma pessoa autorresponsável” (Idem, p. 29).
A concepção de autorresponsabilidade foi sintetizada em Leis de aplicação
prática:
(Vieira, 2012: 76)
Uma pessoa autorresponsável, certamente, continua sendo influenciada por
fatores externos, “o que muda é que as reações aos estímulos são escolhas baseadas nos
valores, princípios e objetivos que ela possui” (VIEIRA, 2008: 29).
Já John Whitmore falava da importância da (auto)responsabilidade para o
coaching, se referia a ela como “conceito ou objetivo básico” e como “fundamento da boa
performance”: “quando verdadeiramente aceitamos, escolhemos ou assumimos
responsabilidade por nossas ideias e ações, nosso compromisso com elas aumenta, tal
como nossa performance” (WHITMORE, 2010:34).
Entretanto, deve-se deixar claro que não somos capazes de controlar todos os
aspectos de nossas vidas e se alguém se responsabilizar por questões que estão além do
seu controle, trará sérios riscos à sua autoestima e às crenças sobre si mesmo, uma vez
que estas expectativas jamais serão plenamente satisfeitas.
Relação entre autorresponsabilidade e teoria psicanalítica
Muitas vezes, julga-se, de forma equivocada, que os termos, inconsciente e
responsabilidade são excludentes. Seguindo, a interpretação lacaniana, por meio do
psicanalista brasileiro Jorge Forbes (2012), em seu livro “Inconsciente e responsabilidade
– psicanálise do séc. XXI”, busquemos traçar um paralelo entre os dois.
Coaching & Psicanálise
O autor mostra que Freud já se preocupava com a questão da responsabilidade
por aquilo que é inconsciente; um exemplo disso é o Caso Dora, quando ele a implica
para que veja qual é a sua parcela na desordem de que ela se queixa (FORBES, 2012:
XIV). Para o brasileiro “responsabilidade precisa abranger o inconsciente” (Idem, p. 6-
7). Para ele, Freud “define a responsabilidade, justamente, pela possibilidade de a pessoa
conduzir seu desejo ao mundo” (Idem, p. 15):
Quando entendemos que até mesmo a história é construída e
pode ser reelaborada, o mundo torna-se função do desejo. Sendo
assim, cabe a cada um colocar-se no mundo com a singularidade
do seu desejo (...) querer o que se deseja e, eventualmente, dizer
o que se quer ou conduzir-se na sua direção (FORBES, 2012:
14).
Para Forbes, “somos, sim, responsáveis frente ao acaso e à surpresa [das
manifestações inconscientes] (...) ‘responsáveis’ e não culpados” (Idem, p. IX). O autor
entende que a psicanálise freudiana reflete a sociedade moderna patriarcal de seu tempo,
sob a égide do Édipo e da culpa, com a releitura de Lacan às obras de Freud:
(...) o desejo do inconsciente não é o efeito do recalque do objeto
universalmente incestuoso. Essa concepção culpabiliza o
sujeito, mas não pode responsabilizá-lo por um desejo cuja
natureza é a de ser uma tragédia universal. O inconsciente do
qual vamos tratar é aquele que leva o ser falante a
responsabilizar-se pela invenção de seu estilo singular de
usufruir do corpo e de sua vida (FORBES, 2012: 14).
De sua ótica, se, antes o mal-estar estava na impossibilidade da realização, hoje,
se manifesta na angustia da escolha, “quanto mais aumenta o risco da escolha, mais
aumenta a angústia” (Idem, p. XXXI). Desse feito o homem pós-moderno, é considerado,
por Forbes, um “homem desbussolado”. Lacan diria que “por nossa condição de sujeito,
sempre somos responsáveis”.
IDENTIFICAÇÃO DO ESTADO ATUAL
Dentro do processo de coaching, a primeira etapa é a identificação do Estado
Atual do coachee. Algumas ferramentas podem ser utilizadas para isso: Mapa de
Autoavaliação Sistêmico (MAAS), o MAAS com indicadores, a Avaliação de
Inteligência Emocional, Análise SWOT, dentre outras.
Perguntas Poderosas
O Coach não tem as respostas, o que ele tem são Perguntas Poderosas de
Sabedoria (PPS) que permitem ao cliente (coachee) obter de si mesmo as mais profundas
e fundamentadas respostas. De acordo com muitos autores sobre a temática, o coaching
é, essencialmente, uma conversa estruturada entre o Coach e o cliente. Portanto, “a
habilidade de fazer perguntas ceras está no centro da caixa de ferramentas de um Coach
experiente” (PAIVA, MANCILHA & RICHARDS, 2012: 67). O coaching vai se
distinguir de uma conversa do dia a dia, justamente, pela qualidade de suas perguntas, as
quais devem ser específicas para um propósito, “é a maneira como o Coach pode ter um
23
Sérgio Gleiston
impacto direto para guiar o cliente a alcançar a sua mudança comportamental e suas
metas” (Idem, p. 68).
“Assim como uma luz poderosa, a Pergunta Poderosa de Sabedoria (PPS)
ilumina os lugares mais profundos e escuros do indivíduo, fazendo-o ver o que não via,
fazendo-o ouvir o que antes não ouvia e fundamentalmente fazendo-o responder o que
acreditava não haver respostas” (FEBRACIS, 2013: 45).
Para Anthony Robbins (2013b), “perguntas de qualidade criam uma vida de
qualidade” (p. 220), elas “determinam tudo o que você faz na vida, de suas habilidades
aos relacionamentos e rendimentos” (Idem, p. 223). O autor dá um exemplo de diálogo
interno (ver tópico 5.2.3.) de uma pessoa deprimida:
É mais provável que tais pessoas se sintam deprimidas apenas porque se fazem
perguntas enfraquecedoras numa base regular, perguntas como: “De que adianta? Por que
sequer tentar, já que as coisas parecem que nunca dão certo? Por que logo eu, meu Deus?”
(ROBBINS, 2013b:222)
“As perguntas que você faz determinarão onde focaliza, como pensa, como sente
e o que faz” (Idem, p. 224), portanto, “podemos mudar como nos sentimos num instante,
pela simples mudança de foco” (Idem, p. 228) e a melhor maneira de fazer isso é fazendo
boas perguntas (Idem, p. 222). Ao invés de se perguntar “como posso estar deprimido?”
ou “por que ninguém gosta de mim?”, pode-se perguntar: “como posso mudar meu estado,
a fim de me sentir feliz e mais amado?”
E quais são as características de uma boa pergunta, uma Pergunta Poderosa de
Sabedoria (PPS):
Orientadas principalmente para o Futuro.
Orientadas principalmente para a ação e para a reflexão.
Orientadas para a Solução e não para os problemas
Orientada principalmente para os Objetivos.
Orientadas para a autorresponsabilidade.
Orientadas para discernir o ponto de partida (EA)
Boas perguntas nos fazem pensar.
Boas perguntas produzem boas respostas.
Boas perguntas produzem ação real.
Boas perguntas geram novas possibilidades.
Boas perguntas criam espaços de flexibilidade.
Perguntas poderosas geram respostas poderosas.
Perguntas de sabedoria produzem respostas sábias.
Como perguntar?
Pergunte com respeito e empatia.
Ouça com respeito e empatia.
Use o tom de voz e postura para fortificar a pergunta.
Seja pacífico ao perguntar.
Seja desafiador ao perguntar (se necessário).
Coaching & Psicanálise
Fuja do mono tom e varie o timbre, tom e entonação da voz.
Seja enérgico somente quando necessário.
Pergunte olhando para o cliente (de preferência nos olhos).
Ouça o cliente olhando para ele.
Respeite as respostas do cliente por mais absurda que elas sejam.
Se necessário faça mais perguntas, porém não critique as respostas do cliente.
Ao perguntar, creia que seu cliente é completamente capaz e ilimitado de
potencial.
Conduta emocional: É a maneira pela qual fazemos as PPS’s, usando toda a
estrutura da comunicação não verbal para dar poder às perguntas:
Voz: Inclinação vocal, pausas, entonação, altura, velocidade, timbre
Olhos: severidade, paz, cumplicidade, desafio, amor, olhar nos olhos com ternura
e acolhida
Maneirismos: Gestos, cabeça, posição do corpo, toque
Respiração: profundidade, pausa, velocidade, impaciência
Hammer: (martelada): É o período de tempo dado após uma PPS’s com o
intuito de fazer o cliente mergulhar no silêncio insuportável da pergunta e produzir assim
as melhores respostas.
Mapa de Autoavaliação Sistêmico
(FEBRACIS, 2013b: 28)
Considerando que a plenitude dentro do MAAS é 10, quantos pontos distantes você se
encontra atualmente em cada pilar?
1 e 2 pontos de distância = Bom
3 e 4 pontos de distância = Crítico (exige atenção)
≤ 5 pontos de distância = Muito Crítico
25
Sérgio Gleiston
PERGUNTAS IMPORTANTES:
A Roda da sua vida, roda?
Quais fichas caem diante dessa constatação?
Que decisões tomar?
Quais pilares você gostaria de melhorar?
IDENTIFICAÇÃO DO ESTADO DESEJADO
Dream List
Quais são seus sonhos?
DREAM LIST
1.
2.
3.
4.
5.
Smartirzação
Agora, transforme seus sonhos em objetivos e metas, observando os seguintes
critérios:
a) Escreva de forma positiva. Pergunte-se: O que eu quero ao invés disso?
Exemplo: Não quero casar com um homem que beba! Resposta: Quero casar com
uma homem equilibrado e sóbrio.
b) 2. Escreva uma meta desafiantes e realistas. Pergunte-se: Essa meta é atingível?
Essa meta é desafiante? Que outras metas intermediárias posso estabelecer que
me ajudarão a conquistar esta outra?
c) 3. A meta tem que ser algo que esteja no seu controle, influenciada diretamente
por você. Pergunte-se: Esta meta está sob meu controle? O que posso fazer para
atingir essa meta? O que farei de diferente para atingir minha meta? Que pessoas
me ajudarão nesta ação para que eu atinja a minha meta?
d) A meta tem que ser mensurável ao longo do processo. Pergunte-se: Quando vou
atingir esta meta? Como vou medir o resultado e a evolução desta meta? Como
vou saber que eu atingi esta meta?
e) Cheque seus recursos. Pergunte-se: Que recursos eu tenho? Como eu posso
conseguir mais ajuda? Quais recursos você necessita para atingir sua meta?
f) A meta é ecológica. Pergunte-se: Qual é o custo das suas metas? Você está
querendo e é capaz de pagar por elas? Isso é bom para mim e para o meus? O
que de fato me fará mais feliz? Essa meta está alinhado com meus valores e
princípios?
Coaching & Psicanálise
METAS Esp
ecí
fico
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Po
siti
vo?
Desa
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do
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Eco
lógic
o?
Vo
cê
co
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ola
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Tem
po
ral?
1.
2.
3.
Ordenação de valores
Valores são coisas e estados mentais importantes para nós. Estão no centro de
quem somos. Comumente são expressos em termos abstratos, por exemplo: honestidade,
amor, amizade, lealdade, diversão, saúde, integridade, intimidade e liberdade... Valores
são a energia por detrás de nossas metas. Se as metas são os destinos, então os valores
são o que nos impelem em direção a elas.
Ao estabelecer metas, pergunte a si mesmo: O que é importante para você? O
que você ganha fazendo isso? De que maneira isso é importante para você? Por que você
quer isso? O quanto você quer isso? Quais princípios são seus guias? O que move sua
vida e suas ações? O que o deixa “doido” e o que faz ficar com raiva e frustrado?
Escreva quais são os valores mais importantes para você, aqueles que você não”
abriria” mão de forma alguma. Na primeira coluna (ordem 1), enumere os seus valores
em ordem de importância.
ORDENAÇÃO DE VALORES OR
DE
M 1
OR
DE
M 2
VALORES
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Na coluna dois (ordem 2), responda: Como você está vivendo, sinceramente,
seus valores? Enumere de acordo com a sua vivência real.
Perguntas: Você está vivendo sua vida de acordo com seus valores de forma
coerente? Se não, o que te impede de vive-los? Que decisões você pode viver para alinhá-
los? Seus objetivos estão respeitando seus valores?
27
Sérgio Gleiston
PLANO DE AÇÃO
Meta: ________________________________________
O QUE? QUANDO? ONDE? QUEM? POR QUE? COMO? QUANTO
CUSTA? Indicador
1.
2.
3.
4.
LEGENDA
Em andamento
Realizado
A ser feito
CRENÇAS
O poder das crenças
A terapeuta comportamental, Judith Beck (1997) nos pergunta:
O que faz uma pessoa interpretar uma situação diferente de uma
outra? Por que uma mesma pessoa pode interpretar um evento
idêntico de forma diferente em um momento e em outro? A
resposta está relacionada a fenômenos cognitivos mais
duradouros [que os pensamentos automáticos]: as crenças
(BECK, 1997:29).
Para Robbins (2013ª) “uma crença é qualquer princípio orientador, máximas, fé
ou paixão que pode proporcionar significado e direção na vida (...) filtros pré-arranjados
e organizados para nossas percepções do mundo” (p. 62) ou, dito de outra forma, “são
abordagens para a percepção pré-formadas, pré-organizadas, que filtram nossa
comunicação para nós mesmos, de uma maneira consistente” (Idem, p. 65).
Crenças são os programas inculcados em nossa mente desde a infância e que
regem nossa maneira de viver, agir e reagir diante o mundo. Nossas crenças determinam
nossas percepções, escolhas, ideias, comportamentos, sentimentos, saúde,
relacionamentos, etc., ou seja, determinam nossas vidas em todos os aspectos. As crenças
determinam passado, presente e futuro:
Onde trabalharei?
Quanto ganharei?
Como gastarei o dinheiro que ganho?
Serei mesquinho e avarento?
Terei férias?
Onde passarei a minhas férias?
Com quem me relacionarei?
Como tratarei meus relacionamentos?
Como será o meu casamento?
Serei traído pelo sócio, chefe, esposo?
Coaching & Psicanálise
Como serão os meus filhos?
Como será minha saúde?
O quanto me amarei?
Esses “programas mentais” podem atuar apenas quando se está em determinado
estado (emocional), interpreta as situações de acordo com as lentes da crença,
focalizando, seletivamente, todas as informações que a confirmam, desconsiderando ou
descontando as informações contrárias (BECK, 1997: 30).
“As crenças nos ajudam a libertar os mais ricos recursos que estão bem dentro
de nós, criando-os e dirigindo-os para apoiarem nossos resultados” (ROBBINS,
2013b:63). Podem ser potencializadoras (quando nos levam a resultados positivos) ou
limitadoras (quando atrapalham nosso desenvolvimento).
As crenças mais determinantes são as crenças mais inconscientes, mais
profundas. Judith Beck divide as crenças em dois grupos: centrais e intermediárias. As
primeiras consistem em “entendimentos que são tão fundamentais e profundos que as
pessoas frequentemente não os articulam, sequer para si. Essas são consideradas verdades
absolutas” (BECK, 1997:30). Já as crenças intermediárias seriam as atitudes, regras e
suposições, frequentemente, não-articuladas (Idem, p. 31).
As crenças podem ser subdivididas em 5 grupos:
1ª crenças de identidade (eu sou...)
2ª crenças de princípios e valores (o que é certo e errado)
3ª crenças de reconhecimento (o mundo e as pessoas são...)
4ª crenças espirituais (Deus é...)
5ª crenças traumáticas (aprendizados dolorosos que danificam as crenças)
De onde vêm as crenças? Judith Beck traça um caminho:
As pessoas tentam extrair do seu ambiente desde os seus
primeiros estágios desenvolvimentais. Elas precisam organizar
a sua experiência de uma forma coerente para funcionar de
forma adaptativa (...) suas interações com o mundo e com outras
pessoas conduzem a determinados entendimentos ou
aprendizagens, suas crenças, as quais podem variar em precisão
e funcionalidade (BECK, 1997: 31).
Robbins (2013ª:65-69) elenca cinco possíveis origens para o nosso sistema de
crenças: o ambiente (sócio-cultural-familiar) – considerado o mais potente gerador de
crenças –; os acontecimentos (pequenos ou grandes); o conhecimento, seja por
experiência direta, por estudo, leituras, filmes etc.; as experiências passadas, p. ex., se, ao
menos uma vez, você conseguiu realizar algo bem sucedido no passado, é fácil formar a
crença de que fará com sucesso novamente; e, por fim, é a visualização mental do futuro
desejado.
De acordo com Beck (1997:32), em uma situação específica, as crenças
subjacentes da pessoa influenciam sua percepção, que é expressa por pensamentos
automáticos específicos, que influenciam as emoções da pessoa, que por sua vez também
influenciam o comportamento e, com frequência, conduzem a uma resposta fisiológica.
29
Sérgio Gleiston
O Coaching Integral Sistêmico, trabalha com uma ferramenta-conceito chamada
Matriz de Formação de Crenças, que sintetiza tudo isso: toda crença é inculcada em nossa
mente pelas imagens que vimos, sons e falas que ouvimos e pelas sensações que sentimos
repetidamente ou por forte emoções.
Vejamos de forma mais clara como funciona a matriz ativa de formação de
crenças: uma COMUNICAÇÃO vitoriosa e vencedora, produz imediata e
automaticamente um estado interno que gera PENSAMENTOS também vitoriosos, que
sua vez, dão sequência ao ciclo neurofisiológico, produzindo SENTIMENTOS de vitória.
Acompanhando a matriz percebemos que todo sentimento de vitória perpetuado produz
CRENÇAS de vitória e realização. E toda crença é AUTORREALIZÁVEL, como
veremos no tópico sobre Diálogo Interno (cf. tópico 5.2.3.).
Muitas de nossas crenças foram formadas durante a infância, porém, quando
éramos criança, por sermos desprovidos de intelectualidade e discernimentos, tudo o que
víamos, ouvíamos e sentíamos, entravam, automaticamente, sem filtro nem defesas, em
nossas mentes como verdades absolutas, ou seja, como crenças. Porém, nem sempre a
crença que nos fora útil na infância serão úteis na fase adulta, resta-nos então, reprogramar
nossa mente.
Matriz de formação de crenças ativa
A matriz de formação de crenças tem duas vertentes, uma ativa e outra passiva.
Inicialmente abordaremos apenas a primeira: toda comunicação (verbal ou não-verbal),
gera pensamento (imagens mentais ou diálogo interno), que produz sentimentos que
geram crenças (limitantes ou fortalecedoras), que, por sua vez, criam comunicação,
pensamentos e sentimentos e assim por diante, em um ciclo autossustentável.
As crenças são o nível mais profundo e mais rígido, o locus mais difícil de ser
alterado, entretanto, “a modificação profunda de crenças mais fundamentais torna os
pacientes menos propensos a apresentar recaídas no futuro” (BECK, 1997:32). Para isso,
em geral, busca-se modificar o pensamento ou o sentimento sobre uma determinada
crença; níveis, que, embora menos rígidos, requerem grande esforço para mudança. O
estágio mais superficial e flexível da matriz de formação de crenças é a comunicação que,
como veremos, mudando a forma como falo ou me comporto também posso modificar
pensamentos, sentimentos e, por fim, as crenças.
Coaching & Psicanálise
(FEBRACIS, 2013b: 28)
Linguagem verbal
Tanto para o coaching como para a psicanálise a linguagem verbal tem suma
importância. A palavra tanto revela o conteúdo do inconsciente como estrutura nosso
universo, dá lógica e sentido aos acontecimentos.
(...) Cada palavra dita gera em nossas mentes uma representação
interna (pensamentos). Se frequentemente, falo a palavra
“merda”, em minha mente será criado e fixado o equivalente a
essa palavra, ou seja, vai passar a existir em minha mente uma
representação interna. E toda representação interna atraí uma
experiência externa e real, e a medida que repito ideias e
sentimentos a meus pensamentos, tornando-os parte da minha
vida e resultados (...)toda representação interna muito repetida
tem grande probabilidade de se tornar uma crença e, depois que
uma crença é instalada, ela acontecerá nas nossas vidas, no plano
real. Desta maneira, alguma área da vida deste imprudente
verbal estará uma verdadeira “merda” (...) (VIEIRA, 2010:127).
Quatro grupos de linguagem verbal serão aqui analisados: as frases e expressões
generalizadoras, os qualificadores, os rótulos e a validação.
Frases e expressões generalizadoras
Muitas expressões populares são terrivelmente limitantes, podendo gerar crenças
(VIEIRA, 2010:131):
Filho de peixe, peixinho é;
Sou batalhador;
Sou guerreiro;
Sou um lutador;
Pau que nasce torto, nunca se endireita;
Dinheiro é sujo;
Sexo é pecado;
31
Sérgio Gleiston
Quem ama sofre;
“Estas coisas só acontecem comigo”;
“Devo ter jogado pedra na cruz”;
Quer ser feliz? Então, não case;
Se algo pode dar errado, certamente, dará;
Meu patrão é o pior que existe;
Filho é só preocupação e dor de cabeça;
“Fulano só chegou onde chegou porque...”
Dinheiro na mão é vendaval;
Homem que é homem não chora;
Todos os homens são iguais;
“Ganhar dinheiro está cada vez mais difícil”;
O mundo é injusto;
A violência está em todo lugar.
Tais frases, como muitas outras, passam a ideia de determinismo, de limitação,
de impossibilidade de mudança, podendo gerar crenças profundas. Ao alterar, ao
selecionar as construções verbais que pronuncio, posso desconstruir, aos poucos,
pensamentos, sentimentos e crenças.
Qualificadores
Palavras do tipo “tudo”, “todos”, “nada”, “nunca”, “ninguém”, “nenhum”,
“sempre”, “jamais”, “só”, são supergeneralizadoras, que quando as usamos esquecemos
as exceções e limitamos nossas possibilidades. Quando bem empregadas, ótimo. Por
exemplo, todos os professores dessa universidade tem mestrado. Se a afirmativa
corresponde à realidade, então, o qualificador “todos” foi bem empregado. Porém,
quando digo que todos os professores dessa faculdade estão insatisfeitos com seu
trabalho, estou generalizando e provavelmente, isto não corresponde à realidade.
Vejamos alguns qualificadores:
Julgamentos: advérbios como “obviamente”, “claramente” e
“definitivamente”, mostram julgamentos ocultos.
Suposições injustificadas, às vezes, sutilmente disfarçadas com do tipo
perguntas “por que?”. Outras vezes, estão escondidas em frases que tem palavras como
“quando”, “desde”, “e” e “se”.
A palavra “tentar” implica dificuldade, possibilidade de falha e mesmo
impossibilidade. Evite “tentar”. Faça;
A palavra “Mas” é uma palavra que, imediatamente, qualifica ou mesmo nega o
que veio antes. Trocar “mas” por “e” pode ser útil, pois isso liga os dois pontos e tem
mais probabilidade de ser recebido com a mente aberta.
Rótulos
Ao colocarmos rótulos nas pessoas, isso determina nossas expectativas sobre
elas e, pior, corre o risco delas assumirem tal papel para si.
Coaching & Psicanálise
O grande inconveniente de colocar certos rótulos nos filhos (“é
um mal-educados, ninguém gosta de você, faz tudo errado”...),
ou atribuir a ele a função de executar um determinado papel (de
bode expiatório, ou o de ser o “filhinho da mamãe”, por
exemplo) consiste no fato de que esses rótulos vão se
incorporando de tal forma no psiquismo da criança, passando a
representar uma verdade, de sorte que ela vai agindo da forma
como a estão rotulando, assim aumentando a convicção de quem
a acusa e desqualifica, assim movimentando um crescente
círculo vicioso maligno (ZIMERMAN, 2005:110 – questão
168).
Validação
O olhar que lançamos sobre as pessoas, pode alterar nosso comportamento e o
delas, quando mudamos nossa perspectiva sobre o indivíduo, ele também muda, como é
o caso da validação (elogio). Validar é reconhecer que algo que as pessoas são, fazem ou
possuem merece o seu reconhecimento e elogio verbal. Validar é um ato de amor,
humildade e verdade. Validar é reconhecer algo de valor em outra pessoa. É um ato
sincero e respeitoso. Quando validamos as pessoas ao nosso redor, estamos recriando o
nosso ambiente e, principalmente, estamos criando um novo relacionamento a partir da
mudança da nossa própria comunicação e atitude (VIEIRA, 2010:144). Elogiar as pessoas
libera em nosso organismo serotonina (que diminui a dor, melhora o humor, traz sensação
de prazer e saciedade) e endorfina (que melhora a memória, o humor, o sistema
imunológico, diminui a ansiedade e a depressão).
Uma pesquisa realizada em Harvard revelou os benefícios da validação:
Após uma década de pesquisa, sobre níveis de desempenho altos
e baixos em equipes acompanhadas pelo psicólogo e consultor
de negócios Marcial Losada, com base na extensa modelagem
matemática, chegou-se à conclusão que 2.9013 é proporção
mínima entre interações positivas e negativas necessárias para
fazer uma equipe corporativa ter sucesso. Isso significa que são
necessárias cerca de três experiências, expressões ou
comentários positivos para combater os efeitos debilitantes
de uma experiência, expressão ou comentário negativo.
Abaixo desse ponto crítico, atualmente, conhecido como Linha
de Losada, o desempenho no ambiente de trabalho entra,
rapidamente, em colapso. Mantenha-se acima dele, de
preferência, conforme os resultados da pesquisa, para uma razão
de 6 para 1, e as equipes apresentam seu desempenho máxima.
Losada observou inúmeros exemplos na prática. Por exemplo,
ele trabalhou em uma companhia mineradora global que
apresentava perdas de processo superiores a 10% e não foi
surpresa alguma quando ele descobriu que a razão de
positividade na empresa era de apenas, 1,15. Mas, depois que os
líderes de equipe foram instruídos a dar feedbacks mais
positivos e encorajar mais interações positivas, a razão das
equipes subiu para uma média de 3,56. Isso levou a enormes
avanços na produção melhorando o desempenho em mais de
40%. (ACHOR, 2010:69 – negrito meu).
Da mesma forma, o autoelogio também pode trazer benefícios: de tanto você
repetir suas qualidade positivas, pode-se gerar crenças positivas sobre si.
33
Sérgio Gleiston
Linguagem não-verbal
No entender de Zimerman: “na situação analítica, a comunicação vai ‘além das
palavras’, porquanto há um campo do processo analítico, onde as palavras não dão conta
do que está acontecendo” (1999:359), por tanto, cabe ao analista também “a
descodificação das mensagens implícitas do que está subjacente ao verbo, ou oculta por
este, assim como também na ausência do verbo, como algum gesto, somatização, atuação
etc.” (ibidem.).
Sabemos que entre duas pessoas, ocorre cerca de 2.500 a 5.000, às vezes,
chegando até a 10.000, sinais informativos por segundo, incluindo todas as mudanças de
som, imagem, temperatura, tato, odor corporal etc. (WEIL & TOMPAKOW, 2005: 20).
Uma pesquisa de 1950 apurou que em toda comunicação interpessoal cerca de
7% da mensagem é verbal (somente palavras), 38% é vocal (incluindo tom de voz,
inflexões e outros sons) e 55% é não-verbal (PEASE & PEASE, 2005: 17).
Fazemos juízos e interferências gerais a partir da linguagem corporal, os quais
podem prever ocorrências da vida, realmente, significativas, como quem promovemos,
quem contratamos, quem convidamos para encontros.
Alex Todorov, da Universidade de Princeton, mostrou que, o juízo formado, em
um segundo, sobre a cara dos candidatos, predizem 70% do senado dos E.U.A. e os
resultados da corrida para governador.
De acordo com Zimerman (1999:362) a linguagem não-verbal (ou pré-verbal)
pode ser subdividida em: paraverbal, gestual, corporal, metaverbal, oniróide (manifesta-
se através de devaneios, fenômenos alucinatórios, sonhos), transverbal e
contratrasferencial.
Paraverbal: trata-se do emprego da voz, com suas nuances e
alternâncias de altura, intensidade, amplitude e timbre da voz ou ritmo, a
seleção de palavras, os lapsos e muitas formas de silêncio (ZIMERMAN,
1999:363).
Gestual e atitudes: desde o momento em que o cliente está na sala de
espera – veio cedo, tarde, foi pontual? Como está vestido? Qual sua
expressão? Como saudou? Como começa a sessão? Está nos induzindo a
assumir algum papel? Inclui-se a mímica facial [ver tópico 5.2.2.4., sobre
as microexpressões], a postura, os gestos sutis de impaciência,
contrariedade, aflição, alívio etc. (ZIMERMAN, 1999:363).
Linguagem corporal: o corpo fala! Basta a observação de como o bebê
comunica-se com a sua mãe para comprovar essa afirmativa. Desde as
primeiras descobertas de Freud (“o ego, antes de tudo, é corporal” e
também aquelas relativas aos seus múltiplos relatos de conversões
histéricas) até os atuais e aprofundados estudos da psicossomática
(ZIMERMAN, 1999:364).
Metaverbal: é aquela comunicação que opera simultaneamente em dois
níveis distintos, os quais podem ser contraditórios entre si, p. ex., a
piscadela que desdiz o que foi dito (ZIMERMAN, 1999:365).
Coaching & Psicanálise
Gestos
Os trabalhos do psicolinguista americano David McNeil, da Universidade de
Chicago, têm demonstrado que os gestos são janelas para o pensamento3. Para ele,
gestualidade e fala compõem uma unidade inseparável, p.ex., para maioria das pessoas é
muito difícil se comunicar por um longo período sem recorrer às mãos. Com elas,
descrevemos relações espaciais complexas, percursos ou formas etc. A relação intrínseca
entre fala e gestualidade também é corroborada pelas pesquisas: nos casos de afasia (perda
da capacidade de falar ou compreender o que é dito) essa comunicação é prejudicada, o
que não ocorre em lesões que paralisam os membros.
David McNeil classificou os gestos em quatro grupos:
Beats: bem fácil de reconhecer ao observar os políticos nas campanhas
eleitorais. Em geral, esse gesto aparece estreitamente ligados ao ritmo da
fala, golpes de braços ou batidas de mãos conferem uma estrutura
temporal ao que é dito e enfatizam a “força combativa” do argumento,
independentemente, do conteúdo;
Gestos dícticos: acompanham palavras como aqui, lá, isto, eu, você.
Frequentemente, quem diz “eu” aponta a mão levemente aberta para o
próprio peito, o que pode ser entendido mesmo sem o auxílio da fala;
Gestos icônicos: expressam representações figuradas, referências
espaciais ou acontecimentos;
Gestos metafóricos: se parecem exteriormente com os icônicos, porém
abrangendo conteúdo de ideia abstrata.
Movimentos oculares
Alguns especialistas acreditam que a direção do movimento dos olhos é muito
reveladora, eles estudaram os chamados clems ou “movimentos oculares laterais
conjugados”, involuntariamente, em cerca de 75% das vezes, os olhos se dirigem para a
direita ou esquerda, acompanhando o pensamento. Uma pesquisa feita com matemáticos,
constatou que os movimentos oculares para direita estão relacionados ao pensamento
simbólico, enquanto os para esquerda indicam pensamento visual, criatividade (COHEN,
2009: 130-131).
Na década de 1960, os fundadores da PNL, Richard Bandler e John Grinder,
psicólogos da Califórnia, estudando três grandes psicoterapeutas (Fritz Perls, criador da
Gestalt, Virgínia Satir, pioneira da terapia familiar, e Milton Erickson, líder da
hipnoterapia) perceberam que os pacientes tendiam a dar sinais do seu pensamento
inconsciente pela maneira que seus olhos se moviam (assim como mudanças na postura,
gestos e tom de voz). Estudando isso eles desenvolveram um guia de interpretação:
Olhar para cima e para a esquerda: significa imagem construída
(imaginação);
Olhar para cima e para a direita: é indícios de recordação (lembrança);
Olhar para o lado à esquerda: áudio criado;
3 Extraído da revista MENTE & CÉREBRO, ano XIV, n. 163, pp. 38-45.
35
Sérgio Gleiston
Olhar para o lado à direita: áudio lembrado;
Olhar para baixo à esquerda: cinestesia (paladar, olfato, tato);
Olhar para baixo à direita: diálogo interno.
Esses parâmetros são válidos para pessoas destras, nos canhotos, funciona
invertido.
Microexpressões faciais
Um estudo realizado pelo psicólogo norte-americano Paul Ekman, desde a
década de 1960, com diversos povos, dos cinco continente, revelou que existem algumas
expressões faciais básicas que são universais (tristeza, raiva, surpresa, medo, nojo e
alegria) que emitem pequenos sinais que podem ser interpretados por todas as culturas:
O que denominei micorexpressões – movimentos faciais rápidos, que duram
menos de um quinto de segundo – são fonte importante de escapamento, revelando uma
emoção que uma pessoa tenta ocultar. Uma expressão falsa pode ser denunciada de
diversas maneiras: em geral, é levemente assimétrica e carece de uniformidade da forma
que flui de vez em quando da face (EKMAN, 2011:32).
O que varia de acordo com a cultura, são as regras de exibição (EKMAN,
2011:22) e alguns “gatilhos emocionais” que a despertam (idem, p. 35).
A tese de Ekman é corroborada ainda pelo fato de crianças cegas de nascença
manifestarem expressões espontâneas similares às de indivíduos dotados de visão (Idem,
p. 31).
Fisiologia
Quando pensamos em não-verbal, geralmente, pensamos na em como
influenciamos e como somos influenciados pelos outros e nos esquecemos que também
somos influenciados pelo nosso comportamento não-verbal, nossos pensamentos, nossos
sentimentos e nossa fisiologia.
Expressões de poder e dominância tem a ver com expansão, tornar-se maior,
esticar-se, ocupar mais espaço, abrir-se. Esse comportamento é comum em todo o reino
animal e não só aos homens e aos primatas. Essas expressões de poder são universais:
Jéssica Tracy que as pessoas que nascem sem visão erguem os braços quando vencem
uma competição.
Coaching & Psicanálise
O que fazemos quando nos sentimos sem poder? Fazemos exatamente o
contrário: nos fechamos, envolvemo-nos, ficamos menores; tanto animais como pessoas
fazem o mesmo. Se alguém se mostra mais poderoso do que nós, tendemos a nos tornar
pequenos e a não funcionar como “espelho”.
Nossos pensamentos, sentimentos e fisiologia são afetados pela nossa postura
corporal. Amy Cuddy (Harvard Business School) e Dana Carney (Columbia) mostraram
através de seu experimento que manter-se em uma “pose de alto poder” por menos de
dois minutos faz com que as pessoas sintam-se mais poderosas e mais dispostas a assumir
riscos. 42 participantes (26 mulheres e 16 homens) foram aleatoriamente designados para
fazer posturas de alto ou baixo poder. Os participantes não sabiam do real objetivo do
estudo e acharam que a análise era sobre os possíveis efeitos da colocação diferente
de eletrodos de eletrocardiograma, acima e abaixo do coração. Os participantes foram
colocados por um pesquisador em posturas de “alto ou baixo poder”. Cada participante
realizou duas posturas de 1 min cada. A atitude dos participantes em relação a assumir
riscos foi avaliada com uma tarefa, tipo jogo; os sentimentos foram medidos através de
autorelato. Amostras de saliva, foram usadas para testar os níveis de cortisol e
testosterona antes e aproximadamente 17 minutos após a permanência nas poses.
Descobriu-se que poses que representam status de poder elevam o nível de testosterona
(hormônio relacionado à dominância) e reduzem o nível de cortisol (hormônio do stress).
37
Sérgio Gleiston
POSTURA DE ALTO PODER
POSTURA DE BAIXO PODER
Não é somente isso. Outros estudos revelam que sorrir, mesmo quando se está
triste ou de forma artificial, p.ex., colocando um lápis na horizontal entre os lábios, faz
com que o cérebro entenda que você está feliz e você se sente como tal.
Sabe-se que, quando estamos tristes, a nossa tendência corporal é de se fechar:
ombros caídos, corpo curvo, cabeça baixa, olhos caídos. Ao alterar, conscientemente, a
postura corporal, erguendo a cabeça, olhando para frente, mantendo o peito aberto e o
corpo ereto, melhora-se nosso estado de ânimo.
Benefícios de um abraço
O toque físico não é apenas agradável. Ele é necessário. A pesquisa científica
respalda a teoria de que a estimulação pelo toque é absolutamente necessária para o nosso
bem-estar, tanto físico quanto emocional, ajudar a aliviar a dor, a depressão e a ansiedade,
pois diminui a liberação de hormônios do estresse (cortisol) e estimula a produção do
hormônio da afetividade (ocitocina).
Na década de 1960, Harry F. Harlow, diretor do Laboratório de Primatas da
Universidade de Wisconsin, realizou experiências com macacos Rhesus. Cada recém-
nascido tinha acesso a duas “mães” artificiais: uma de armação de arame com rosto de
madeira e uma mamadeira à altura do peito, e outra mãe de armação de arame revestida
de um macio pano felpudo. Quando uma ameaça se apresentava, imediatamente os bebês
fugiam para junto da mãe de pano, em busca de conforto e consolo. Somente depois
começavam uma exploração. Harlow observou que os macacos bebês preferiam
claramente as “mães” mais confortáveis. Diante de situações com muitos estímulos novos
e na presença da “mãe” confortável, as reações de medo e de agarrar-se rapidamente
davam lugar à exploração curiosa dos objetos, com regressos periódicos à “mãe” de pano.
Contudo, na ausência da “mãe” confortável, os macacos ficavam paralisados pelo medo
e não exploravam o ambiente. A conclusão que a pesquisa traz é que a “mãe”
desconfortável é incapaz de transmitir segurança. Essa pesquisa demonstra quanto os
mamíferos necessitam do afeto, da estimulação sensorial do cuidado, das trocas com
Coaching & Psicanálise
outros de sua espécie para que possam ter as habilidades cognitivo-afetivas e todos os
aspectos biopsicossociais desenvolvidos de modo pleno4. O afeto chega a ser muito mais
importante do que a necessidade básica de alimento.
Os cientistas estudaram o benefício do abraço e descobriram que, ao abraçar
alguém, com respeito e sinceridade, se produz um aumento dos níveis de ocitocina, o
chamado “hormônio do amor”, que auxilia a criação de vínculos, estimula a sociabilidade,
facilita a formação de laços de amizade, o estreitamento de ligações sentimentais. Um
abraço melhora o humor e reduz a ansiedade. Existem muitas pesquisas sobre o tema que
apontam o abraço como um meio que ajuda a melhorar a interação social, inclusive com
portadores de autismo e esquizofrenia!
Bastante conhecido é o caso de Temple Grandin, que nasceu com autismo grave.
Em uma época na fazenda, a partir da vacinação das vacas, ela criou a “máquina do
abraço”. Ela controlava a pressão da máquina, ficava ali até 20 minutos, uma vez por
semana, e saía relaxada. Foi um processo gradativo de perder a hiper-sensibilidade. O
processo começou ainda quando era criança. O esforço enorme da mãe, dos terapeutas e
dos professores foi essencial para que ela se desenvolvesse. Com afeto, ajuda profissional
e apoio, Temple conseguiu quebrar a barreira do autismo. Hoje, ela tem pós-doutorado
em veterinária e já consegue abraçar algumas pessoas5.
Pesquisadores da Universidade de Massachussets, em 2008, desenvolveram uma
jaqueta equipada com um dispositivo de pressão, que pode auxiliar pessoas com
transtornos mentais a lidar melhor com a ansiedade em situações de interação social. O
produto foi projetado inicialmente para crianças com transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH). A ideia surgiu da observação de terapeutas ocupacionais de que
a chamada “estimulação tátil de pressão profunda” (técnica que geralmente utiliza
cobertores grossos para envolver firmemente o tronco e os braços da pessoa) ajudava os
pacientes a se manter concentrados, reduzia a ansiedade e evitava comportamentos
agressivos. Os resultados têm sido positivos6.
O Abraço melhora o funcionamento do Sistema Imunológico. Vários
experimentos demonstraram, que o toque pode: fazer-nos sentir melhor com nós mesmos
e com o ambiente à nossa volta; faz a gente se sentir bem; acaba com a solidão; faz a
gente superar o medo; abre passagem para os sentimentos; constrói a autoestima; estimula
o altruísmo; retarda o envelhecimento; pessoas que gostam de abraço permanecem mais
jovens por mais tempo; alivia a tensão; combate a insônia.
Um abraço sincero estimula a circulação do sangue no corpo, fazendo com que
isso tenha efeitos positivos sobre coração e a pressão sanguínea, diminui o nível de
estresse e ansiedade e, inclusive, melhorando o sistema imunológico! Um abraço estimula
a produção de hormônios como serotonina e dopamina, que estão relacionados ao prazer
e ao conforto; reforça também a autoestima.
4 Extraído do site: http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/80/artigo266443-1.asp 5 Extraído do site: http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2010/11/mulher-consegue-vencer-autismo-com-maquina-do-abraco-nos-eua.html 6 Extraído do site: http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/roupa_terapeutica_simula_abraco.html
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Sérgio Gleiston
A escritora Kathleen Keating, em seus dois livros Terapia do abraço (vol. 1 e 2)
relaciona inúmeros outros benefícios para se abraçar.
Silêncio
Zimerman (1999:370-371) ressalta o silêncio como uma importante forma de
comunicação não-verbal, o qual pode ter significado:
Simbólico: o paciente/cliente espera que se adivinhe suas demandas;
Bloqueio, seja da capacidade de falar ou pensar;
Inibição;
Protesto;
Controle, a fim de testar a paciência do profissional;
Negativismo;
Comunicação primitiva: comunicação inconsciente daquilo que ele não
consegue expressar em palavras;
Regressivo: p. ex., quando o cliente adormece como forma de sentir-se
como uma criança tendo uma mãe a velar o seu sono; outras vezes, de
forma análoga, pode estar representando a busca da “capacidade para
ficar só” (Winnicott).
Elaborativo: espaço e tempo para a reflexão, correlação e integração de
insights.
Diálogo Interno (pensamentos automáticos)
A interpretação de uma dada situação afeta muito mais nossas respostas
emocionais do que a situação em si. O grande responsável por tudo isso, frequentemente,
são os pensamentos automáticos. Claro que existem alguns fatos que nos deixam
desconfortáveis (um ataque pessoal, rejeição, fracasso), mas para algumas pessoas até
mesmo situações positivas podem ser interpretadas de forma equivocadas, distorcidas e
o grande responsável por isso são os pensamentos automáticos (expressos seja por diálogo
interno ou imagens mentais ou ambos). Corrigindo o pensamento negativo, altera-se os
sentimentos (as respostas fisiológicas), as crenças e o comportamento. Entretanto, mudar
o pensamento é mais difícil do que o comportamento (a postura) como vimos
anteriormente.
Os pensamentos automáticos são um fluxo de pensamento que coexistem com
um fluxo de pensamento mais manifesto, comum a todos nós e que, na grande maioria
das vezes, não nos damos conta. O problema é quando eles se tornam disfuncionais, ou
seja, quando distorcem a realidade, causando emoções aflitivas e/ou interferem na
capacidade dos paciente atingirem suas metas. Na grande maioria dos casos, esses
pensamentos são negativos, exceto em paciente maníacos, de transtornos narcisísticos ou
viciados em drogas (BECK, 1997:88). Usualmente, os pensamentos automáticos são
bastante breves, e a pessoa tem mais ciência da emoção que o conteúdo deles acarretam.
Timothy Gallwey define como o “diálogo interno”, a autocrítica e a
comunicação negativa interferem na nossa forma de se relacionar com o mundo e conosco
mesmo. Na tentativa de esclarecer o processo, o autor, observando os como agiam os
tenistas, elaborou o conceito de EGO 1 e EGO 2 (sem relação com a terminologia
Coaching & Psicanálise
psicanalítica e mais próximo do zen budismo, mas uma instrumentalização bastante útil
como explicação): enquanto o primeiro, dá instruções, pensa, racional, consciente, julga,
avalia, atribui valores positivos ou negativos aos fatos, condena as ações; o segundo é o
realizador, sente, inconsciente, automático. O processo resume-se assim:
Depois de o EGO 1 ter avaliado algumas jogadas, é possível que
comece a generalizar. Em vez de julgar um acontecimento
isolado como “um outro backhand ruim”, ele começa a pensar
“você tem um backhand horrível”. Em vez de dizer “você estava
nervoso naquele ponto”, ele generaliza: “você é o pior jogador
do clube”. Outras generalizações comuns são: “estou tendo um
mau dia”, “sempre perco as jogadas fáceis”, “sou lento” etc. É
interessante ver como a mente julgadora amplia os julgamentos.
Pode começar por reclamar “que saque ruim” e, depois, ampliar
para “hoje estou sacando mal”. Depois de mais alguns saques
ruins, o julgamento pode ampliar-se ainda mais para “eu tenho
um péssimo saque”. Continua com “eu sou um mau jogador de
tênis” e finaliza com “eu não presto”. Primeiro a mente julga
o evento. Depois, agrupa eventos. Em seguida, identifica-se
com o evento combinado e finalmente julga a si mesma.
Como resultado, o que acontece, geralmente, é que estes
autojulgamentos tornam-se profecias que se autorealizam.
Isto é, são comunicações do EGO 1 a respeito do EGO 2 nas
quais o EGO 2 crê, depois de repetidas um número suficiente de
vezes. Depois, o EGO 2, atuando como o computador que é,
começa a fazer valer estas expectativas. Se você disser a si
mesmo que é mau sacador um número suficiente de vezes,
acontece uma espécie de processo hipnótico. É como se fosse
dado um papel ao EGO 2 – o papel de mau sacador – e ele o
desempenha, suprimindo enquanto isso as suas reais
capacidades. Uma vez que a mente julgadora estabelece a auto-
identidade com base nos seus julgamentos negativos, o
desempenho do papel continua a esconder o verdadeiro
potencial do EGO 2 até que o processo hipnótico seja
interrompido (...) (GALLWEY, 1996: 35-36).
Sentimentos
Para Paul Ekman (2011: 31), “a emoção é um processo, um tipo específico de
avaliação automática, influenciado por nosso passado evolucionista e pessoal, em que
sentimos que algo importante para nosso bem-estar está acontecendo e um conjunto de
mudanças fisiológicas e comportamentos emocionais influenciam a situação”. Elas nos
motivam, influenciam em nossas escolhas e nossa qualidade de vida. Também enviam
sinais, mudanças nas expressões, na face, na voz e na postura corporal de forma
involuntária. Mas também podem nos afetar de forma negativa, causando reações
impróprias, desproporcionais e com tempo prolongado além do necessário.
Ekman lista “nove caminhos” que ativam e acessam nossas emoções (Idem, p.
48-53):
1º) Avaliadores automáticos: as reações emocionais aparecem em milésimos
de segundo de forma involuntária e automática, com o intuito de preservação;
2º) Avaliação reflexiva: os valores que depositamos conscientemente, sobre
determinados eventos, ao tentar compreendê-los.
41
Sérgio Gleiston
3º) Memória de uma experiência emocional passada;
4º) Imaginação;
5º) Falar de um evento emocional: falar a respeito das experiências emocionais
do passado também pode ativar emoções. Às vezes, o simples ato de falar acerca de um
episódio emocional nos induzirá a uma nova vivência da emoção. Voltar a vivenciar os
sentimentos de um episódio do passado pode trazer benefícios ao nos dar a chance de
elaborar um final diferente para as questões e inspirar o apoio ou compreensão da pessoa
com que falamos;
6º) Empatia: contar história faz você vivenciar novamente a emoção e revelar
seu sofrimento. Todos podemos compartilhar emoções, isto é, senti-las de modo
empático. Ao presenciar a reação emocional de outra pessoa (pode ser personagens da tv,
de filmes, de livros, revistas e jornais), começo a me sentir como ela (ver tópico sobre
neurônios-espelho 9.3.1.). Embora, isso nem sempre aconteça, p. ex., se não houver
interesse ou identificação com o interlocutor;
7º) As instruções de outras pessoas a respeito da geração da emoção: podemos observar como pessoas importantes em nossas vidas nos geram emoções e,
involuntariamente, adotamos suas variações emocionais como nossas próprias, p. ex.,
uma criança cuja mãe tem medo de aglomerações pode também desenvolver essa fobia;
8º) Violação das regras sociais: quando violamos as regras sociais ou vemos
outros fazerem, podemos nos sentir irritados, indignados, desdenhosos, envergonhados,
culpados, surpresos, talvez, satisfeitos;
9º) Assumir voluntariamente a aparência da emoção: o simples fato de fazer
uma expressão, principalmente as expressões universais (medo, tristeza, alegria, nojo,
raiva e surpresa) produz mudanças nos sistemas nervosos autônomos das pessoas. Um
exemplo típico é o ato de sorrir.
Matriz de formação passiva
Ao lado da matriz ativa, temos também a matriz passiva de formação de crenças.
Ela se inicia pelas informações sensoriais (visão, audição e sensação) que a criança recebe
passivamente sem ter como se defender delas por não possuir um “filtro de crenças”,
muito menos racionalidade para entender e analisar os estímulos. A repetição dos
estímulos sensoriais (visão, audição e sensação) recebidos pela criança produzem
primeiramente o senso comum, que é a primeira suposta compreensão do mundo que a
cerca, mantendo tais estímulos e informações sensoriais o senso comum, se fortalece e
vira opinião, que na filosofia, significa uma ideia confusa a respeito da realidade. A
continuidade do recebimento dos estímulos transforma a opinião em convicção, que é
algo real e factível. Se os mesmo estímulos forem mantidos a convicção se transforma,
finalmente, em crença, que nada mais é do que o programa mental que rege nossas vidas
e destinos (VEIRA, 2010:234).
Coaching & Psicanálise
Diferentemente, das crianças, os adultos tem responsabilidade pela formação de
seus sistemas de crenças, podem selecionar o que veem, ouve e sentem, podem questionar
o senso comum, podem mudar de opinião, podem alterar seus paradigmas. Entretanto,
algumas vezes, somos influenciados pelo meio em que vivemos, pelos padrões repetitivos
que aprendemos de nossos pais ou responsáveis.
Algumas temáticas podem ser abordadas como exemplo da formação passiva de
crenças: o espelhamento, o contágio social (emocional), os padrões repetitivos
(compulsão pela repetição ou “neurose de destino”) e a autossabotagem.
Neurônios-espelhos
Considerada uma das mais importantes descobertas científicas da Neurociência,
os neurônios-espelho, estão espalhados por partes fundamentais do cérebro (córtex frontal
pré-motor – associado à movimento e percepção – e os centros de linguagem, empatia e
dor), esses neurônios disparam não só quando realizamos uma ação, mas também quando
a observamos.
A descoberta desses mecanismos foi feito a cerca de uma década e sugere que
nós também fazemos mentalmente tudo a que assistimos alguém fazer, eles explicam
como aprendemos a sorrir, conversar, caminhar, dançar, jogar. Na sua forma mais básica,
significa que ensaiamos mentalmente toda a ação observada, facilmente percebido no
caso do bocejo ou do sorriso ou ainda quando nos sentimos comovidos por um filme, por
exemplo. Em nível mais profundo, temos uma explicação biológica para o entendimento
dos outros, o surgimento da cultura e patologias psicossociais que vão desde a falta de
empatia ao autismo7.
Em resumo, ao observar a ação de outra pessoa, conseguimos interpretar suas
intenções. “E, se você me ver emocionalmente aflito por ter perdido uma cesta, os
7 Extraído de: DOBBES, David. Reflexo Revelador. In: revista MENTE & CÉREBRO (Ano XIV, n. 161 –junho de 2006) p. 46-51.
43
Sérgio Gleiston
neurônios-espelho do seu cérebro simulam minha aflição. Automaticamente, você sente
empatia por mim porque, literalmente, sente o que estou sentindo”.
Contágio social8
Raramente nos damos conta de que opiniões, atitudes e até estados de humor
daqueles com quem convivemos, mesmo sem muita proximidade, influenciam de forma
intensa nossos pensamentos, sentimentos e ações.
O sociólogo Nicholas A. Christakis e o cientista político James H. Fowler, no
livro “O poder das conexões – A importância do networking e como ele molda nossas
vidas”, descobriram que não apenas agentes patogênicos são transmitidos de uma pessoa
para outra, mas também comportamentos – seja o riso ou atos suicidas, decisões sobre
compras ou costumes alimentares. Esse “contágio social”, segundo eles, domina várias
áreas de nossa vida, frequentemente sem que tenhamos consciência disso.
Solidão
Outro estudo de Christakis e Fowler demonstrou que esse fenômeno se estende
também a posturas e emoções: os dados relativos a como milhares de pessoas
regularmente se sentem foram transformados pelos pesquisadores em uma espécie de
mapa. Resultado: se um amigo que mora nas redondezas sente-se solitário, nossos
próprios dias solitários aumentam. “Por incrível que pareça, o sentimento de solidão é
transmitido mesmo entre conhecidos sem ligação: se o vizinho se sente assim durante dez
dias no ano, acrescentam-se dois dias do outro lado da cerca. Somente entre pessoas que
moram a mais de um quilômetro e meio de distância esse efeito se perde”.
O que parece uma espécie de “magia” é explicado cientificamente: os
pesquisadores estão convencidos de que, em redes sociais, os sentimentos e preferências
se espalham segundo uma regularidade matemática. O que uma pessoa sente não está
obrigatoriamente associado a parentes diretos ou vizinhos, mas também àqueles com os
quais ela não mantém contato constante. É aí que entra o conceito de “rede”: as
interligações que nos unem muitas vezes são insuspeitas e nos afetam por canais
perceptivos que escapam à consciência.
Felicidade
Em outro estudo, Christakis e Fowler compilaram mais uma vez em um trabalho
minucioso, realizados por meio de questionários, os valores relativos à felicidade de
milhares de habitantes da cidade de Framingham, no estado americano de
Massachussetts. Os resultados do estudo de longo prazo que durou, no total, 32 anos, de
1971 a 2003, apresentaram de forma gráfica e demonstraram que as pessoas mais infelizes
tendiam a se mover “nas margens da rede social e na ponta de uma cadeia de
relacionamentos sociais”.
8 Extraído de: WESTERHOFF, Nikolas. Contágio Social. In: MENTE & CÉREBRO (n. 220 – maio de 2011). Também disponível em: <http://www.methodus.com.br/artigo/693/contagio-social.html> (acesso: 13 de maio de 2014)
Coaching & Psicanálise
Análises demonstraram também quão eficiente é o contágio: a felicidade de
quem estava em contato direto com uma pessoa feliz aumentava, em média, 15%! Quem
conhecia apenas o amigo de uma pessoa feliz tinha um proveito de cerca de 10%.
Obesidade9
Um novo estudo descobriu que ter amigos gordos deixa a pessoa 57% mais
predisposta a ganhar uma barriguinha mais saliente.
O efeito foi mais intenso para amigos próximos, mas também apareceu se amigos
de amigos – ou mesmo os amigos destes – ganhassem peso, sugerindo que a obesidade
se dissemina por meio de uma espécie de contágio social, o mesmo fenômeno
popularizado com o livro O Ponto de Desequilíbrio (Malcolm Gladwell), lançado em
2000, busca entender como ocorrem as grandes mudanças na sociedade e porque,
normalmente, acontecem de forma repentina, sem que ninguém as espere. Segundo o
autor, ideias, produtos, mensagens e comportamentos se espalham como vírus.
Pesquisadores afirmam que o efeito contagioso ocorre porque imitamos ou
adotamos inconscientemente o comportamento das pessoas que estimamos, e que esse
fator deve ser levado em conta quando tentamos contra-atacar a obesidade.
Christakis e o cientista político James Fowler, da University of California em
San Diego, analisaram dados coletados ao longo de 32 anos sobre 12.067 pacientes do
Framingham Heart Study, que acompanha a saúde dos habitantes de uma pequena cidade
de Massachusetts, assim como de seus filhos, a cada quatro anos desde 1948.
Além de listar os cônjuges os membros da família a cada checagem, os
participantes forneciam os nomes dos amigos próximos que saberiam de seu paradeiro no
futuro, mais de 70% destes também foram incluídos no estudo, criando uma rede social
densa, adequada para se estudar efeitos parecidos com os de uma epidemia.
Os pesquisadores encontraram grupos de amigos obesos na rede, mas as ligações
não pareciam vir de pessoas com o mesmo peso que se reuniam, nem de causas não
detectadas, como relataram na versão online do New England Journal of Medicine.
Quando duas pessoas listavam, cada uma, a outra como amiga, e uma delas
estava acima do peso, a segunda pessoa tinha 171% mais chances de se tornar obesa.
Entretanto, se apenas um membro do par considerasse o outro um amigo, a obesidade era
mais tendenciosa para a pessoa com esse ponto de vista.
Pessoas cujos amigos tinham amigos obesos carregavam um risco de obesidade
de 20%, que caía para 10% para amigos em "terceiro grau". Por outro lado, a um irmão
gordinho elevava o risco para 40%, e um cônjuge, para 37%.
A localização geográfica não teve influência nos resultados. Se o seu amigo
gordinho é seu vizinho ou mora longe, para você o risco de ganhar peso é o mesmo.
Pessoas do mesmo sexo também têm uma impacto mais forte sobre a outra.
9 Extraído de: MINKEL, J.R. Amigos de verdade engordam juntos. In: Scientific American Brasil. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/amigos_de_verdade_engordam_juntos.html> (acesso: 13 de maio de 2014).
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Sérgio Gleiston
Contágio emocional
O contágio emocional de pessoa para pessoa opera automaticamente,
instantaneamente, inconscientemente e fora de nosso controle intencional. Ocorre sempre
que as pessoas interagem, seja em duplas, num grupo ou em uma organização. Fica mais
óbvio num evento esportivo, num cinema ou numa peça teatral em que a multidão
atravessa uma emoção idêntica ao mesmo tempo.
O psicólogo Daniel Goleman, ao tratar dos neurônio-espelho e do contágio
emocional afirma que “estamos constantemente impactando os estados cerebrais de
outras pessoas” (2012:78), nessa perspectiva, “somos responsáveis por como moldamos
os sentimentos daqueles com quem interagimos – para melhor ou pior” (ibidem.). As
pesquisas levantam uma questão importante: quem emite as emoções que passam entre
as pessoas e quem as recebe? Goleman acredita que “o emissor tende a ser a pessoa mais
emocionalmente expressiva no grupo” (ibidem.), também as posições de poder são
emissores emocionais fortes.
Padrões repetitivos
É comum encontrarmos pessoas que repetem padrões de comportamento
inconscientemente: o homem que se casa pela segunda, terceira e, até pela quarta ou mais
vezes, com o mesmo tipo de mulher que não o agradava ou satisfazia. A mulher que
cresceu tendo um tirano como pai, um homem que foi física e talvez até sexualmente
abusivo, e escolhe (inconscientemente) o mesmo tipo de homem para se casar e, muitas
vezes, acaba indo parar na emergência de um hospital. Ou mesmo uma criança cuja mãe
cometeu suicídio na meia-idade, quando ela era pequena, e, que, ao chegar à meia-idade,
decidiu abreviar a própria vida. Sabe-se, por exemplo, que pessoas com baixa autoestima,
tendem a “manter padrões de relacionamento que reforcem seu baixo nível de estima com
parceiros que as desmerecem e as desvalorizam”10 (ver tópico 5.3.4. sobre
autossabotagem). Para além dos casos claramente patológicos, como tentativas de
suicídio recorrente de uma pessoa deprimida ou os rituais obsessivos-compulsivos ou
ainda comportamentos de dependência (drogas, jogos, bulimias, perversões sexuais,
delinquência dentre outros), temos também as repetições inexplicáveis de nossos erros e
fracassos.
Freud se debruçou sobre o tema da repetição em vários momentos, em “Além do
princípio do prazer”, chega a afirmar que “existe efetivamente na vida psíquica uma
compulsão de repetição que se coloca acima do princípio de prazer”, isso explicaria os
casos das inúmeras pessoas que se julgam vítima da fatalidade, infortúnios do acaso ou
do destino: “Alguns indivíduos passam a impressão de serem perseguidos pelo destino,
de que uma força demoníaca guia sua existência e desde o início a psicanálise sustentou,
para a grande maioria, tal destino era preparado pelo próprio sujeito”. Em “Angústia e
vida pulsional”, ele escreve:
Há indivíduos que, ao longo de toda a vida, repetem, em seu
prejuízo, as mesmas reações daninhas sem corrigi-las, ou que
parecem, por sua vez, perseguidas por um destino implacável,
ao passo que um exame preciso nos mostra que, sem saber, elas
10 Um artigo muito interessante sobre autoestima está disponível em: <http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/80/artigo266443-1.asp>
Coaching & Psicanálise
são os autores inconscientes do próprio infortúnio. Atribuímos
então à compulsão de repetição o caráter demoníaco.
Por que repetimos o que nos é prejudicial e/ou doloroso? O psicanalista
argentino J.-D. Nasio, seguindo o pensamento de Lacan, se debruça magistralmente sobre
o tema em seu livro “Por que repetimos os mesmos erros” (Zahar, 2013). Para ele,
“repetição é uma série de pelo menos duas ocorrências em que um objeto aparece –
primeira ocorrência – desaparece e reaparece – segunda ocorrência – sempre ligeiramente
diferente, embora, todas as vezes reconhecível como sendo o mesmo objeto” (Idem, p.
23), obedecendo a três leis:
1ª Lei do Mesmo e do Diferente, onde o mesmo jamais se repete de
maneira idêntica;
2ª Lei da Alternância da Presença e da Ausência, onde entre uma
aparição e outra da repetição, há um espaço de ausência;
3ª Lei A Intervenção de um observador que enumera a repetição:
sem alguém para contar a sequência, não há repetição – por isso, é
comum que as pessoas repitam seus padrões sem se darem conta; para
estas, não há nada de repetitivo até que alguém lhe mostre.
Para o autor, nem toda repetição é maléfica:
A repetição tem a finalidade de produzir três efeitos importantes
sobre nós: preservar nossa unidade de indivíduo, desenvolver ao
máximo nossas potencialidades e consolidar o sentimento de que
somos o mesmo ontem e hoje. Assim, a repetição produz um
tríplice efeito benéfico: a autopreservação, o desenvolvimento
pessoal e a consolidação da identidade (NASIO, 2013: 30).
Em seu entendimento, há três modos de reincidência do passado sobre o
presente, esquematizados da seguinte maneira:
A repetição sadia (através rememoração): retorno à consciência de um passado esquecido;
A repetição sadia (através de nossos comportamentos sadios): retorno de um passado conturbado
e recalcado;
A repetição patológica: é o retorno compulsivo, em nossos sintomas e passagens ao ato, de um
passado traumático, foracluído e, depois, recalcado.
(Adaptado de: NASIO, 2013: 41).
Nasio relaciona às repetições sadias de passado não traumático às pulsões de
vida: (...) a primeira forma de repetição associamos às pulsões de vida
que visam estender o ser (...) [elas] ligam, integram e ampliam o
ser (...) quando é o inconsciente força de vida, que sobe à
superfície do eu, o passado que irrompe insere-se muito
naturalmente na ação presente, coincide com a vida e, não raro,
manifesta-se por atos criadores (...) [quando] trata-se de um
passado conturbado e, por conseguinte, recalcado, na
expectativa de retornar para se integrar no presente quando as
circunstâncias do momento assim o exigirem (...) (NASIO,
2013: 40).
Em contrapartida, as repetições patológicas (repetições inexplicáveis de nossos
erros e fracassos, necessidade imperiosa de representar incessantemente uma experiência
47
Sérgio Gleiston
traumática infantil de maneira inconsciente, o homem ou a mulher que multiplica os
rompimentos amorosos por não achar o parceiro ideal, TOC, comportamentos de
dependência, como drogas, jogos, bulimia, perversões dentre outros) estão associadas à
um passado traumático e doloroso, que explode em comportamentos irreprimíveis, por
vezes, violentos e sempre doentios relacionados às pulsões de morte:
(...) a outra forma de repetição em ato é o retorno de um passado
traumático. É a atualização violenta de um inconsciente que
assimilamos às pulsões de morte, que ao contrário das pulsões
de vida, reduzem o ser no núcleo de um trauma (...) separam,
isolam e reduzem o ser a seu estado mais crispado e doloroso
(...) que se precipita numa ação selvagem e compulsiva, o
passado que se impõe abala o presente e nos desestabiliza (...)
trata-se de um passado traumático e, por conseguinte,
foracluído, antes de ser recalcado. Um passado ansioso por se
exteriorizar repetitivamente, furando de modo brutal a casca do
eu para ali ganhar a forma de sintoma ou passagem ao ato (...)
[dessa forma] o trauma é uma droga e o traumatizado um viciado
nessa droga. O trauma gera o trauma (NASIO, 2013: 40).
Nasio afirma que na repetição patológica, existe um episódio traumático (ou
mesmo uma série de “microtraumas”), meio real, meio imaginado (de caráter sexual ou
agressivo ou melancólico), vivido na infância ou na puberdade, que fez o sujeito sentir-
se no centro do acontecimento (seja como vítima, agressor ou observador) o qual
desencadeou uma emoção aguda, violenta (um composto de emoções extremas e
contraditórias, sentidas, mas não registradas, não assimiladas, não simbolizadas, por uma
consciência imatura e obscurecida pelo pavor – o que Lacan denomina “gozo”). Com
efeito, a criança abalada pelo trauma foraclui o gozo (ela sente em seu corpo, mas não o
representa em sua cabeça (não simboliza), não reconhece as emoções e sensações que
percebe, então, recalca o gozo insuportável no momento do trauma. Uma vez no
inconsciente, o gozo ali permanece recalcado durante vários anos. Durante esse período,
recalcado, isolado e errante, o gozo se agita, fermenta e só aspira uma coisa: brotar na
superfície e implodir num corpo de adulto, em forma de comportamento compulsivo.
Autossabotagem
Para David Zimerman, a autossabotagem:
Do ponto de vista da psicanálise, é bastante frequente e
importante a autossabotagem, que muitos pacientes –
especialmente, os depressivos e os portadores de uma estrutura
masoquista, manifestam ao longo do processo analítico. Este
último fato se evidencia em muitas relações amorosas, em que
um dos dois cônjuges desenvolve uma relação de vínculo
sadomasoquista, mesmo que quem esteja no papel de
masoquista, na maioria das vezes, trata-se de uma pessoa cheia
de recursos positivos e sadios, porém, por razões inconscientes,
se autossabota e tanto aceita como também provoca atitude
sádica do outro par. Em minha experiência, observo que grande
parte dessa sabotagem contra si próprio(a) deve-se a um forte
complexo de imerecimento, devido a mandamentos que provêm
de antigos traumas que estão dolorosamente fixados nas
camadas profundas do psiquismo e que fazem o sujeito sentir
muito ódio, culpa e desejo de vingança, sendo que tudo isso
Coaching & Psicanálise
concorre para uma sensação de “não ter direito de ser feliz!”
(ZIMERMAN,2012 :222 – verbete: sabotar).
Todos temos um certo nível de autossabotagem, alguns mais outros menos, e
existem muitas teorias sobre o assunto. Há quem classifique os graus de autossabotagem
da seguinte forma:
Autossabotagem total: presente em pessoas, cujo pensamento
dominante é “tudo é do jeito que é”, pois julga que a mudança da
realidade não depende delas. Sentem-se incapazes, sem ideias, vítimas
de Deus, do mundo, do destino, das pessoas...
Autossabotagem quase total: nesse nível, as pessoas já tem algumas
ideias, mas não as colocam em prática; detectam as oportunidades, porém
desistem antes de começar, não têm resultados muito efetivos. É comum
a procrastinação e se compararem com outros. Embora, tenham
consciência de que algo dependa delas, se sentem reféns do mundo
externo;
Autossabotagem parcial: as coisas são colocadas em práticas, mas os
resultados são pequenos, falta de persistência, resiliência. As pessoas
nesse nível parecem que remam contra a maré, têm que fazer um esforço
enorme, mas acabam morrendo na praia;
Nível de autossabotagem reduzida: aqui as pessoas têm ideias,
colocam em prática e veem resultados, têm grande nível de persistência
e encontram as soluções o mais rapidamente para os desafios que
precisam enfrentar.
Freud se debruçou sobre o tema da autossabotagem (ou neurose de destino, de
sucesso ou de fracasso) em seu estudo sobre “Os Arruinados pelo Êxito”, de 191611:
Parece ainda mais surpreendente, e na realidade atordoante,
quando, na qualidade de médico, se faz a descoberta de que as
pessoas ocasionalmente adoecem precisamente no momento
em que um desejo profundamente enraizado e de há muito
alimentado atinge a realização. Então, é como se elas não
fossem capazes de tolerar sua felicidade, pois não pode haver
dúvida de que existe uma ligação causal entre seu êxito e o fato
de adoecerem (Op. Cit., p. 331- negrito meu).
E apresenta dois casos: o primeiro de uma mulher, bem nascida e bem educada:
Ainda muito jovem, não pôde conter seu gosto de viver;
fugiu de casa e perambulou pelo mundo em busca de
aventuras, até travar conhecimento com um pintor, que não
só pôde apreciar seus encantos femininos mas também captar,
apesar de sua degradação, as qualidades mais requintadas que
ela possuía. Levou-a para viver com ele e ela provou ser uma
companheira fiel, parecendo apenas carecer de reabilitação
social para alcançar uma felicidade completa. Após muitos anos
de vida em comum, o pintor conseguiu fazer com que a família
dele se reconciliasse com ela; estava então preparado para
11 FREUD, S. (1916). Os arruinados pelo êxito. In: A história do Movimento psicanalítico, artigos sobre a metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Rio de Janeiro: Imago, 1996. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v.14) p. 331-346.
49
Sérgio Gleiston
torná-la sua esposa legítima. Foi nesse momento que ela
começou a desmoronar. Descuidou da casa da qual agora
estava prestes a tornar-se dona por direito; imaginou-se
perseguida pelos parentes dele, que desejavam fazê-la parte da
família; proibiu ao amante, com seu ciúme insensato, todo
contato social; prejudicou-o em seu trabalho artístico, e logo
sucumbiu a uma doença mental incurável (Op. Cit., p. 331-
332 – negrito meu).
E no segundo caso, trata-se de um senhor, respeitável professor universitário:
Nutria havia muitos anos o desejo natural de ser o sucessor do
mestre que o iniciara nos estudos. Quando esse professor mais
antigo se aposentou e os colegas informaram ao pretendente que
ele fora escolhido para substituí-lo, começou a hesitar,
depreciou seus méritos, declarou-se indigno de preencher o
cargo para o qual fora designado, e caiu numa melancolia que
o deixou incapaz de toda e qualquer atividade durante vários
anos (Op. Cit., p. 332)
Em sua perspectiva, as forças da consciência que induzem à doença, em
consequência do êxito, em vez de, “se acham intimamente relacionadas com o complexo
de Édipo, a relação com o pai e a mãe – como talvez, na realidade, se ache o nosso
sentimento de culpa em geral” (Op. Cit., p. 346).
Há também quem insista na autossabotagem como resultada de ressentimento
(mágoa, rancor, raiva, ódio) com os outros (produzindo um estado de vitimação, reativo)
ou consigo mesmo (resultando em sentimento de culpa e não merecimento).
Para o Coach internacional Shirzad Chamine, autor do livro “Inteligência
Positiva” (Objetiva, 2013), em nossa mente existem Dez Sabotadores, conjunto de
padrões mentais automáticos, universais e habituais, cada um com sua própria voz, crença
e suposições que trabalham contra o que é melhor para o indivíduo. Eles se
desenvolveram desde a infância, com o intuito de fazer a pessoa sobreviver às ameaças
da vida, tanto físicas quanto emocionais, mas, ao chegar à idade adulta, esses Sabotadores
não são mais necessários, entretanto, já se tornaram habitantes invisíveis da mente e
modelam nosso comportamento.
a) O Crítico: é o principal Sabotador, o que afeta todo mundo. Ele leva você a
constantemente encontrar defeito em si mesmo, nos outros e nas condições e
circunstâncias, a enxergar o lado negativo das coisas e a supor o pior. Gera a maior parte
da sua ansiedade, estresse, raiva, decepção, vergonha e culpa. A mentira dele para se
justificar é a de que, sem ele, você ou os outros se transformariam em seres preguiçosos
e sem ambição que não iriam muito longe. Assim, a voz dele costuma ser confundida com
a voz durona da razão, em vez de o Sabotador destrutivo que realmente é;
b) O insistente: é a necessidade de perfeição, ordem e organização levada longe
demais. Ele deixa você e os outros ao seu redor ansiosos e nervosos. Drena a sua energia
ou a dos outros com medidas extras de perfeição que não são necessárias. Também faz
você viver em constante frustração consigo mesmo e com os outros por as coisas não
estarem perfeitas o bastante. A mentira dele é que o perfeccionismo é sempre bom e que
você não paga um preço muito alto por ele.
Coaching & Psicanálise
c) O Prestativo: obriga você a tentar ganhar aceitação e afeição ao ajudar,
agradar, salvar ou elogiar os outros constantemente. O resultado é que ele faz com que
você perca de vista suas próprias necessidades e se ressinta dos outros. Também encoraja
os outros a se tornarem exageradamente dependentes de você. A mentira dele é que você
está agradando os outros porque é uma coisa boa de se fazer, negando que, na verdade,
você está tentando ganhar afeição e aceitação indiretamente.
d) O Hiper-realizador: deixa você dependente de desempenho e realizações
constantes para ter respeito e validação próprios. Ele mantém você concentrado
principalmente no sucesso exterior em vez de no critério interior para felicidade. Costuma
levar a tendências insustentáveis de vício em trabalho e faz com que você perca contato
com necessidades emocionais e de relacionamento mais profundas. A mentira dele é que
sua aceitação própria deveria ser dependente do desempenho e da valorização externos.
e) A Vítima: quer que você se sinta emotivo e temperamental como forma de
ganhar atenção e afeto. Ela resulta em um foco extremo em sentimentos internos,
principalmente os dolorosos, e pode muitas vezes resultar em uma tendência a se
martirizar. As consequências são que você desperdiça sua energia mental e emocional, e
os outros se sentem frustrados, impotentes ou culpados de nunca conseguirem fazer você
feliz por muito tempo. A mentira da Vítima é que assumir a figura de vítima ou mártir é
a melhor maneira de atrair cuidado e atenção para si mesmo.
f) O Hiper-racional: coloca um foco intenso e exclusivo no processo racional
de tudo, incluindo relacionamentos. Ele faz com que você seja impaciente com as
emoções das pessoas e as veja como indignas de muito tempo e consideração. Quando
você está sob influência do Hiper-racional, pode ser visto como frio, distante ou
intelectualmente arrogante. Ele limita sua profundidade e flexibilidade em
relacionamentos no trabalho e em sua vida pessoal e intimida pessoas com mentes menos
analíticas. A mentira dele é que a mente racional é a forma mais importante e útil de
inteligência que você possui.
g) O Hipervigilante: faz você sentir ansiedade intensa e contínua em relação a
todos os perigos que cercam você e em relação a tudo o que poderia dar errado. Ele fica
constantemente, em estado de alerta e nunca pode descansar. Isso resulta em uma grande
quantidade de estresse contínuo que exaure você e os outros. A mentira dele é que os
perigos ao seu redor são maiores do que realmente são e que a vigilância ininterrupta é a
melhor maneira de lidar com eles.
h) O inquieto: está, constantemente, em busca de emoções maiores na próxima
atividade ou mantendo-se sempre ocupado. Ele não permite que você sinta muita paz e
alegria com sua atividade atual. Dá a você uma contínua série de atividades que o faz
perder o foco nas coisas e nos relacionamentos que realmente importam. As outras
pessoas têm dificuldade em acompanhar a pessoa guiada pelo Inquieto e costumam se
sentir distantes dele ou dela. A mentira dele é que, ao se manter tão ocupado, você está
vivendo a vida intensamente, mas ele ignora o fato de que a busca por uma vida cheia faz
você perder a vida que está acontecendo no momento.
i) O Controlador: funciona movido a uma necessidade ansiosa de estar no
comando, controlar situações e dirigir as ações das pessoas de acordo com a vontade dele.
Ele gera alta ansiedade e impaciência quando isso não é possível. Na visão do
51
Sérgio Gleiston
Controlador, ou você está no controle, ou está fora de controle. Enquanto o Controlador
permite que você consiga resultados em curto prazo, ele acaba gerando ressentimento nos
outros em prazos mais longos e impede que eles exercitem e desenvolvam sua capacidade
plana. A mentira dele é que você precisa do Controlador para extrair os melhores
resultados das pessoas ao seu redor.
j) O Esquivo: se concentra no positivo e no prazeroso de uma maneira extrema.
Ele evita tarefas difíceis e desagradáveis e conflitos. Ele leva você aos hábitos de
procrastinar e fugir de conflitos. Isso resulta em explosões nocivas, em conflitos
sufocados que foram deixados de lado e provoca atrasos na conclusão das coisas. A
mentira dele é que você está sendo positivo e não evitando seus problemas.
CONCLUSÃO
Ao longo de todo esse trabalho, o leitor pôde perceber o quão rico se mostram
os dois campos de saber, o coaching e a psicanálise, e o quanto os dois podem atuar juntos
– cada um dentro de sua especificidade – e se beneficiarem com esta aproximação.
Essas linhas gerais aqui definidas, apontam para novas pesquisas e novas
descobertas.
E, ao final desse percurso, espero ter contribuído, de alguma forma, para o
crescimento e enriquecimento do prezado leitor.
Sérgio Gleiston Master Coaching Integral Sistêmico,
Pós-graduando em Psicanálise.
Gestor de Processo, especialista em Recurso Humanos
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