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Panorama Geral da História dos sistemas de informações; Um approach sobre o sistema de epidemiologia no Brasil. Por Rodrigo Afonso Magalhães - Historiador (Universidade Federal Fluminense – UFF). Quando se pensa em escrever a história de alguma temática - neste caso a história dos sistemas de informação em longa duração, e assim passando pelos sistemas demográficos e estatísticos - somos pressionados pela própria dinâmica do campo científico para conciliar uma evolução cronológica dos eventos com a importância paralela que estes eventos têm para nós, modernos. E na verdade, uma temática de “história tecnológica” dificilmente poderia fugir muito da esfera e demanda moderna na qual é gerada, pela nossa sociedade contemporânea. Ao mesmo tempo, uma história geral das tecnologias é tudo menos evolutiva, a não ser nos últimos dois centênios, ou como hoje nos parece a tecnologia em si, sob o consenso-crise expresso pelo capitalismo tardio pós- modernista. No entanto, devemos atentar que no ramo da

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Panorama Geral da Histria dos sistemas de informaes;

Panorama Geral da Histria dos sistemas de informaes;

Um approach sobre o sistema de epidemiologia no Brasil.

Por Rodrigo Afonso Magalhes

- Historiador (Universidade Federal Fluminense UFF).

Quando se pensa em escrever a histria de alguma temtica - neste caso a histria dos sistemas de informao em longa durao, e assim passando pelos sistemas demogrficos e estatsticos - somos pressionados pela prpria dinmica do campo cientfico para conciliar uma evoluo cronolgica dos eventos com a importncia paralela que estes eventos tm para ns, modernos. E na verdade, uma temtica de histria tecnolgica dificilmente poderia fugir muito da esfera e demanda moderna na qual gerada, pela nossa sociedade contempornea. Ao mesmo tempo, uma histria geral das tecnologias tudo menos evolutiva, a no ser nos ltimos dois centnios, ou como hoje nos parece a tecnologia em si, sob o consenso-crise expresso pelo capitalismo tardio ps-modernista. No entanto, devemos atentar que no ramo da estatstica, a prpria produo e cumulatividade de dados que impulsiona mtodos mais eficazes de processamento destas informaes. Se a histria da tecnologia nem sempre evolutiva e est permeada de interesses contingentes, a histria da tecnologia estatstica tem na evoluo e acumulao sua fora de propulso, seu interesse contingente perptuo.

importante notar que uma proposta de histria dos sistemas de informaes deveria visar tambm tratar o problema da circulao e difuso de tcnicas e informaes, e no meramente sua histria tecnolgica, levando em conta a grande importncia do advento de novas tecnologias, mas discernindo suas funes sociais destas assim como as condies de sua gnese e sucessivas adaptaes e recusas. Por exemplo: a existncia de certas tecnologias de sade, ou da possibilidade de reproduzi-las, no significa que estas novidades no conhecimento sejam imediatamente repassadas e acessveis e praticadas pela populao geral. Especificadamente: o condom existia desde muito tempo como artefato contraceptivo (feito com fibras de animais) isso no significou a disseminao plena deste mtodo contraceptivo, o que s foi realizado no tempo atual, graas aos novos objetivos biopolticos, como o advento da Sida ou planejamento de natalidade, e atravs de sistemas de distribuio de informao e formas de conscientizao mais eficazes do que a aceitao ftica (ou fatdica) do discurso religioso moralizante.

A histria da circulao das informaes (e, por conseqncia, a disseminao das idias polticas) desde a antiguidade permite uma quantidade expressiva de abordagens, que vo desde o campo da arte, esttica e simbologias, passando pela poltica e propaganda, pelas linguagens e as tcnicas at os campos das grandes estruturas socioeconmicas e do quotidiano microeconmico.

Na antiguidade mesopotmica e egpcia (governos ativos j por volta do 3 milnio antes de cristo, cerca de cinco mil anos atrs, portanto), podemos encontrar incontveis evidncias do uso dos nmeros para a contagem da populao e do planejamento da atuao pblica, segundo certas doutrinas polticas centralizadoras do Tempo e do Palcio ou do chamado complexo Palcio-Templo, base social de um governo centralizado, cujo governante tomado como Rei Deus (no caso do Egito) ou scio privilegiado e semidivino da divindade maior (caso da Mesopotmia).

As burocracias mesopotmicas; compreendendo as dinastias sumrias, acadianas, (neo-) babilnicas, assrias e caldias; utilizavam como tcnica de armazenamento de dados cilindros de argila cozida em que inscreviam com cunhas-carimbos - as atas, os feitos polticos, religiosos, econmicos; e mesmo os suficientes letrados entre o povo podiam anotar seus eventos e necessidades quotidianas atravs das tabuinhas de argila (cf.: REDE, Marcelo. Famlia e Patrimnio na Mesopotmia: 2004).

Excerptos do Cilindro de Cyro descrevendo genealogia real de Ciro, e as conquistas que este realizou, capturando a Babilnia (539 a. C).

Na distribuio dos proventos alimentcios, no caso de regimes mais centralizadores e (re)distributivos como o do Egito, normatizado ainda atravs da poltica do Templo-palcio, a contagem do povo era crucial. Tcnicas de contabilidade bsica e demografia se tornam to ou mais importantes para estes povos quanto suas conquistas nos ramos da geometria, irrigao, agricultura, literatura e astronomia. O po (de centeio, trigo) que era o alimento bsico e emblemtico da nutrio nestas sociedades, tambm centralizava a organizao do trabalho, que por sua vez estava ligada aos censos para trabalhos compulsrios ao estado. No retorno redistributivo da atuao estatal, tal contagem e proporo das medidas dos alimentos estocados nos emprios oficiais eram obviamente igualmente importantes.

Foram, de fato, os grandes estados centralizadores que formularam os primeiros recenseamentos de massa. No Egito, entre 2700 e 2000 a. C. existiam recenseamentos bianuais, depois anuais; por volta de 1900 so estabelecidas listas das famlias dos guerreiros, onde antes s existiam informaes concernentes ao Palcio-Templo.

Tais estados hidrulicos, no entanto, nunca ultrapassaram sua condio relativamente regional e dificilmente se enquadrariam na noo de um sistema mundial ou imperial da forma que o entendemos hoje.

No ltimo milnio antes de cristo, mesmo as pequenas tribos hebrias deixaram em seu livro sagrado registrada a necessidade do recenseamento; em xodo e Nmeros tal medida de controle ordenada pelo prprio deus a Moiss:

Fazei o recenseamento de toda a comunidade dos israelitas, segundo os cls e segundo as casas patriarcais, alistando os nomes de todos os homens, cabea por cabea. O objetivo do censo claramente militar, como se segue: Todos aqueles em Israel, de vinte anos para cima, hbeis para ir guerra... (Bblia de Jerusalm. Livro de Nmeros. Cap. I, vers. ii)

Nesta rea que por ora abordamos, por humor negro da histria, pouco ou menos se sabe daquele povo que foi importante na difuso das comunicaes eminentemente no guerreira da antiguidade. Os fencios, inventores do alfabeto, no chegaram a cumprir a dominao econmica hoje possvel em um sistema capitalista; no entanto, desenvolveram uma sociedade sui generis de povos voltados ao comrcio (doux commerce).

Quando por volta do sculo VI a.C., os povos iranianos partindo do Cucaso e dos Montes Zagros, conquistaram a sia Central ao norte at o Industo ao leste, a Mesopotmia, a Fencia, a Anatlia, a Trcia (estas ao Oeste), o Egito, a Arbia, a Etipia (ao Sul), alcanando a Europa; e, portanto, tendo em mos um imprio vastssimo, possuam e expandiram os tipos de selos, obeliscos, inscries iconogrficas em pedra, todos artefatos do poder governamental que legitimavam ordens oficiais com relativa eficcia maioria do povo, ou ao menos aos principais conglomerados populacionais.

A vastido da dinastia persa dos Aquemnidas, permitiria paralelos de conhecimentos outrora improvveis. A difuso de padres de astronomia e, claro, a forma divinatria da astrologia babilnica pelas regies gregas e hindus poca constituio dos vedas so exemplos notrios de transmisso de idias cientficas permitidas por um imprio mundializante: trs autores chegam a cifras semelhantes sobre o grande ano astrolgico: Herclito (10.080 anos), Berossos (432.000 anos), e Arhyabata (1.080.000 X 4 = 4.320.000)

Os governantes da Prsia aquemnida anunciavam com plena convico que eram senhores dos quatro cantos do mundo e se denominavam Rei de Reis (soberano maior que reinaria por desgnio divino no sendo ele mesmo alguma espcie de divindade sobre outros reis acessrios). Herdoto, um grego ateniense, lista; seguindo a tradio de refeies pantagrulicas ligadas idia que faziam do regime desptico universal de seus inimigos persa; os proventos e tributos enviados pelas vastas regies controladas pelo imprio:

Jnios, magnsios da sia, elios, crios, lcios, milieus, panflios: 400 talentos de prata.

Msios, ldios, lasnios, cabalenses, hitenenses: 500 talentos.

Habitantes do helesponto, frgios, trcios da sia, paflagnios, mariandinos, srios (=capadcios): 360 talentos.

Cilicianos: 360 cavalos brancos (um por dia), 500 talentos (dos quais 140 para o financiamento da cavalaria de guernio na Cilcia).

Fencia, Sria chamada Palestina, Chipre: 350 talentos.

Egito e Lbios fronteirios, Cirene, Bare: 700 talentos; proventos da pesca do lago Moeris; 120000 medimnos de trigo para a guarnio de Mnfis (capital).

Satgidas, gandaros, ddicos, aparitas: 170 talentos.

Susa e Csia (Elam): 300 talentos.

Babilnia e resto da Assria: 1000 talentos, 500 meninos castrados.

Ecbtana e resto da Mdia, paricanos, ortocoribantes: 450 talentos.

...

Moscos, tibarenos, macrones, mossinecos, mares: 300 talentos.

Indianos: 360 talentos de p de ouro, equivalentes a 4.680 talentos eubicos de prata.Como vimos, a diviso e organizao de populaes associadas aos bens e tributos que advm delas escoados para o governo central, no era nem estranho prsia monrquica, nem aos segmentados gregos que poca de Herodotos sofriam com o imperialismo tributarista ateniense.

entre os gregos que podemos ver mais proximamente as preocupaes com a idia de sade e da sade dos cidados. Hipcrates nascido na ilha de Cs, e grande conhecido pelos juramentos dos profissionais de medicina, escreveu sobre as epidemias, sendo ele aquele que cunhou este nome. Nesta obra esto presentes primeiramente a preocupao com o clima e ambiente. Ou seja, deve-se atentar para aquelas alteraes na sade que so estimulados pela mudana das estaes: a gripe e febres intensas no inverno, doenas disentricas no vero. Nesta obra sobre epidemia, o tempo e recorrncia das febres so importante medida de controle e classificao da doena e do tratamento. Ainda, tais inferncias sobre as causas das doenas esto fundamentadas (mesmo que por vezes inexatas e incorretas) na observao da natureza (physis) e da composio da sade de grupos populacionais (os homens, as mulheres, os que frequentam os ginsio, os jovens...)

Enquanto reconhecemos que o padro de anlise individual de bom ou mau estado de sade so diferentes dos atuais, assim como so diferentes conforme as idias formuladas em grupos sujeitos a necessidades diferentes; uma espcie de idia de bem estar do corpo coletivo no estava separada da religiosidade. Existiam primeiramente ritos de purificao que serviam como forma de apaziguar pestes tanto quanto atrair os favores dos deuses da cidade para sua populao. Outra forma mais efetiva de controle da sade da populao eram os ginsios pblicos para treinamento dos cidados gregos e as prticas dietticas disseminadas. A noo mtica de higeia no se assemelha a nossa noo de higiene preventiva cara bacteriologia e conscincia de germes invisveis; a higia grega valoriza sim a sade da populao, mas sade inata do organismo e a boa e fortificante alimentao nos cidados. So nos os banhos e termae pblicos dos tempos romanos, so encontrados hinos deusa (Salus), filha de Asclepios (deus da medicina), filho de Apolo (deus do sol)

Regimes institucionais mais descentralizados, como a repblica romana sucessora parcial dos gregos, tambm empregaram o censo. A Roma antiga que se tornou gradativamente militarizada, e que ainda produziria eleies populares durante quatro sculos (at o sculo I a.C.) para selecionar seus governantes, no podia dispensar a estrita organizao e disposio da populao patrcia e plebia cidad de Roma para servir ao exrcito. Foi Srvio Tlio, na poca em que supostamente (ou de forma lendria) ainda existiam reis, que reuniu os romanos no campo dedicado ao deus Marte (deus das batalhas) pela primeira vez para cont-los e para prepar-los para a guerra contra seus inimigos ao redor; tais recenseamentos posteriormente passaram a acontecer de cinco em cinco anos, e sua diviso bsica era a centria.

O sistema poltico romano foi desenvolvido a partir de sucessivas reaes a uma realidade internacional de extrema disputa e agressividade. O sistema jurdico romano seria o aparelho de absoro da violncia. A sociedade romana se no inspirada pela ambio de universal a princpio (se dermos crditos as narrativas idlicas), tornou-se militarizada pela crescente ameaa de seus inimigos. A taxa de mortalidade da sociedade ocidental romana triunfante e em freqente alistamento, enfrentamento e aumento do corpo de exrcito, sofriam periodicamente com crises de abastecimento de mo de obras (com o declnio das conquistas), mas tambm com o acirramento das iniqidades sociais, com a progressiva e absurda concentrao de terra pblica (ager publicus) na mo de poucos membros da classe senatorial.

Sabemos o quanto a sombra civilizacional e cultural de Roma pairou sobre e inspirou a tradio europia, e ainda erige-se como modelo ocidental de hegemonia mundial. A prpria palavra Repblica (Res Publica: literalmente Coisa Pblica, no particular) assim como Imprio (imperium: poder do general sobre a vida do soldado) tambm de origem romana.

Atravs da expanso romana, denominada anacrnica, mas pragmaticamente imperialismo romano, os censos passaram a ser aplicados tambm s cidades conquistadas:

Sob as ordens de Quirino eu fui tambm a pessoa que conduziu o censo da cidade de Apamea (na Sria); 117 mil cidados de ambos os sexos...; declara o engenheiro (equivale atualmente a um aide de camp) Secundus da colnia romana de Berytus (atual Beirut, no Lbano), em uma inscrio epigrfica. Por vezes a realizao do censo, mesmo provocava revolta entre os povos conquistados como atesta Tito Lvio (139): As tribos situadas em ambos os lados do Reno foram submetidas por Drusus e o distrbio, que iniciou na Glia devido ao censo, foi trazido a um fim.. O censo em Roma possua um objetivo blico e, com as sucessivas e interessantes conquistas, passou a ter cada vez mais um objetivo tributrio.

Portanto, nossa hiptese de que qualquer estado (no sentido genrico), governo, organizao coletiva deve desenvolver (atravs de critrios histrico-indutivos) um sistema ou conjunto de sistemas para gerenciar e armazenar e fazer circular (ou armazenar) as informaes de forma bem sucedida, na medida em que intensifica as relaes de poder desta sociedade.

Os sistemas de estradas pavimentadas e com instncias de descanso para os mensageiros a cavalo eram os meios mais rpidos disponveis para a circulao. Em Roma, os cavaleiros, a denominada classe eqestre tornou-se uma espcie de classe mdia, j que controlava a transferncia no s de informaes, mas o sistema de abastecimentos de alimentos, de bens e dinheiro (moedas, crditos) entre a metrpole de Roma e suas provncias e colnias. Este mtodo bsico de transferir a informao distncia, no modificou muito at o sculo XIX, com a inveno do telgrafo (primeira das tecnologias telemticas binrias). Apesar de extremamente raros, a falcoaria, ou aves treinadas (pombos) eram o que poderiam existir de mais arrojados, sendo mais cleres e viveis somente para as distncias no to longas.

Ironicamente, o que deve ter evoludo sistematicamente atravs dos estados sucessivamente conquistados por dinastias guerreiras, aristocracias baseadas na honra e concesso de privilgios, foram a simbologia, sigilografia e criptografia. Dinastias poderosas e estabelecidas ciosas de seu poder dificultavam a circulao de informaes para seus conspiradores na corte e para a populao comum sujeitada. Nas sociedades dos privilgios aristocrticos a regra era, portanto, julgar previamente a suposta dignidade (normalmente hereditria ou baseada em distines de guerra) daquele que receberia a informao poltica; diferentemente das sociedades democrticas contemporneas em que a capacidade de poder se multiplicaria como j dissemos antes pela proporcional multiplicao do saber. Por outro lado, com a simbologia, da qual a escrita somente uma modalidade especialidade, era possvel transmitir idias polticas e comandos do governo a vastas populaes. A seleo de estilizao, busca por suportes perenes como pedras, difuso de smbolos de poder, exibio brutal do poder, a ideologia da seleo e julgamentos divinos, a justia governamental que evitaria que o forte prejudicasse o fraco; todos estes temas sero privilegiados como discurso do poder digno de ser generalizado e simbolizado.

No obstante, no plano do planejamento estatal e da racionalidade governamental no podemos dizer que os antigos eram muito avanados e no podemos fazer outra coisa a no ser concordar com a perspectiva modernista (em muitos casos, tambm evolucionista) de que a produo e cumulatividade dos dados produzidos, mantidos e resgatados do passado pelos modernos permitem conjecturas de tendncias outrora impensveis.

Durante a fragmentao do principado romano seguiram-se catstrofes e o estabelecimento de monarquias segmentares germnicas, foi a igreja crist que herdou toda a tradio do imprio romano e seus monges manteriam arquivos durante sculos. Devemos considerar que a o catolicismo romano a instituio mais antiga atualmente viva, e a serialidade dos dados acumulados deve ser considervel. No entanto, a noo de mistrio inicitico religioso, a noo de adaptao da sabedoria divina sobre historicidade humana, e proibio de acesso temporalidade reservada como apangio da divindade crist (St. Agostinho), dificultaria aplicar a moderna noo de transparncia total das informaes. Relquias, milagres, xtases e vises coletivas, todas pareceriam se dissolver sob a lmina fria do mtodo e inquirio cientfica.

Exemplos de saberes obscurecidos na idade mdia esto os ritos religiosos de agremiaes que vinham a ser consideradas herticas, e atravs da inquisio, outros saberes populares e empricos que dominavam efeitos de certas ervas foram negados e perseguidos.

No plano do fim da idade mdia comeou a renascena que tambm fora insuflada por um surto tardio de neoplatonismo, este advindo da reedio textos de Plato no conhecidos pela medievalidade e resgatados atravs de fontes islmicas e bizantinas. As mitologias da antiguidade mais uma vez iluminaram a Europa, atravs de figuras como John Dee, Giordano Bruno, Galileu. A figura do Rei Trimegisto coroava a organizao sovcial europia baseada no consenso por trs estamentos da sociedade; interessante vislumbrar a utopia do sculo I (data do Hermetismo Grego) e do sculo XV (poca do resgate no neoplatonismo da Europa): nela este rei lendrio Hermes Trimegisto era capaz de fazer todas as suas medidas governamentais serem cumpridas por todos os cidados, tais medidas eram necessariamente boas, e estavam evidentes nas prprias coisas da cidade, atravs de smbolos matemticos, sugerindo uma demanda por automatismo em um mundo tornado global pelas conquistas dos sucessores de Alexandre (Sec. I a.c), e com as grandes navegaes do sculo XV e XVI.

Os alquimistas, figuras semi-mticas se enquadram neste cruzamento de saber poder; se seus cdigos eram initeligveis e obscurantistas em algumas vises, para outras o exerccio de organizao hermtico ajudou a codificar e controlar experimentos que viriam a ser mais bem sistematizados pela qumica do sculo XIX, com Kekul (anel de carbono) e Mendeleyev (tabela peridica).

A partir desta anlise e arqueologia dos impulsos por sistemas de organizao e operacionalizao da informao em interao com as necessidades do territrio (ou campo) em que formada e interfere, de forma mais racional e resolvendo o binmio abrangncia-abreviao de informaes, podemos perceber o quanto o saber (acesso e circulao do saber e da informao) e poder esto associados, como preconizam, ressalvadas suas especificidades, as teorias e doutrinas filosficas de pensadores como Michel Foucault, Gramsci, Nietzsche, Maquiavel e Sun Tsu.

De fato, apesar de as sociedades da antiguidade terem se valido de censos, controles, tcnicas para a organizao de seus cidados nos nveis produtivos, disciplinares, morais e blicos, eles no foram bem sucedidos em introduzir a anlise estatstica de forma completa e cada vez mais eficaz no exerccio de sua soberania.

A estatstica considerada um ramo da matemtica aplicada e foi necessria alguma descoberta e acumulao durante sculos de cdigos e frmulas matemticas at alcanar sua operacionalidade mnima.

Somente passada a poca dos reinos segmentares e feudais sob monoplio ideolgico da cristandade - que por sua forma de organizao e censura dificultava a centralizao e acesso e comparao de todos os dados disponveis, fundamentos essenciais da estatstica - que foi possvel tal disciplina se constituir. Mas no foi causa suficiente, apesar de necessria. A estatstica aplicada seria filha legtima somente do liberalismo do sculo xix catalisada cada vez mais para: a organizao de suas cidades internamente, para a obsesso da acumulao do moinho capitalista e para eficcia da explorao realizada nos imprios neocoloniais europeus.

Devemos tambm enumerar alguns outros fatores histricos cuja influncia conjunta (em maior ou menor grau) permitiu o desenvolvimento de novas tcnicas de matemtica aplicada, que prepararam o terreno para desenvolvimento da estatstica:

Primeiramente o afrouxamento do controle da igreja catlica (ou resistncia bem sucedida da classe comercial urbana sobre esta religio) sobre os interesses e tticas de cunho comercial, permitiu o desenvolvimento de casas de cmbio, emprstimos a juros, entre outras facilidades econmicas, as quais, durante sculos, foram denominadas pecaminosas e proibidas. Foram, de fato, grandes jogadores e apostadores (a exemplo de Girolano Cardano notvel matemtico e vigarista vivo entre 1501 a 1576) que desenvolveram as primeiras teorias da probabilidade, e depois alguns filsofos acadmicos (Pascal, Fermat, ca.1650) tornaram-na aplicveis a questes prticas, sistematizando o Clculo das Probabilidades.

Em segundo lugar a formao de identidades nacionais, que ocorreu aps o enfraquecimento e fragmentao do poder catlico; enfrentada pelas sucessivas reformas protestantes no Sacro Imprio Germnico (com Lutero), na Helvetia (a sua de Calvino), na Bomia (com Huss), na Inglaterra (com Henrique VIII), e a expanso do puritanismo, que acabou se revelando estimulante de vis capitalista. A idia de que o Rei absolutista era o equivalente ao Imperador dentro de seus domnios, superou progressivamente os poderes feudais localizados que impediam uma circulao maior de pessoas e informaes. Foi este proto-poder nacional que sucedeu ao diludo poder espiritual da igreja em assuntos temporais e polticos.

Em terceiro lugar, devemos considerar as grandes navegaes e a conquista de entrepostos (feitorias em portugus) na frica e sia e o estabelecimento de colnias na Amrica, s foi possvel com o desenvolvimento de novas cartas nuticas, mtodos para a astronomia e para o estabelecimento de padres, distncias e proximidades cartogrficas. Tais avanos foram expressos principalmente na escola portuguesa de Sagres e na figura do prncipe Henrique, o navegador; e na influncia naval das cidades como Gnova e Veneza. Alm disso, a administrao das novas possesses eram grandes e inditos desafios econmicos, comerciais, demogrfico-migratrios e blicos para o que eram comparativamente estados semifeudais europeus dos sculos XV e XVI; o que provia os conquistadores e comerciantes de grande quantidade de informao, conforme a descoberta de terras a sul, a leste e oeste.

O que se passou durante os sculos XVII e XVIII, pode ser vislumbrado pela constante apelao dos pensadores iluministas aos estados orientais (como Prsia, Imprio Otomano, China, at reinos semilendrios como Gandara), como imagem de crtica para as monarquias feudais europias. A figura de Lus XIV, rei-sol da Frana mostra como a segmentaridade feudal tentou ser substituda pelo ptreo absolutismo sustentando o Estado (que era o prprio soberano, no caso francs) em direitos divinos. Norbert Elias mostra em Sociedade de corte a situao do Rei e dos aristocratas consistiam num sistema intricado e complexo que permitia o Rei-Mquina (Apostolids) controlar a mquina absolutista. Foram nestes sculos que os passos para cincia estatstica (estadstica) puderam se dar mais firmemente, e foi utilizada para assegurar o domnio do soberano sobre o(s) corpo(s) da populao. Os iluministas, em contrapartida, conjuravam o deusa razo sob a forma de grandes governos gerais idealizados, originrio de um oriente, muitas vezes onrico (Voltaire, Montesquieu). A interao entre as escolas de pensamento europias permitiam que Voltaire, um filsofo apreciasse a prtica inglesa de inoculao com objetivos antivarilicos, enquanto, o resto da Europa considerava isto uma barbaridade cruel.

Ancien regime e a demografia nacional

O Iluminismo

O discurso clnico na formao do imprio brasileiro

Aperfeioamentos de um cdigo de higieneMedicina preventiva: Patologia + Epidemiologia

Interdisciplinaridade

Brasil

Rio... [...] possvel captar as mudanas comparando os dados dos censos efetuados na cidade em 1799 e 1821. Entre uma e outra data, a populao urbana - excludas, portanto as freguesias rurais do municpio - subiu de 43 mil para 79 mil habitantes. Em particular, o contingente de habitantes livres mais que dobrou, passando de 20 mil para 46 mil indivduos. No foram s reinis e monarquistas latino-americanos que aportaram na corte fluminense. O enxerto burocrtico suscitou uma procura de moradias, servios e bens diversos, atraindo para o Rio mercadorias e moradores fluminenses e mineiros. Enfim, chegam mais africanos, dado que a baa de Guanabara convertera-se, desde o final do sculo XVIII, no maior terminal negreiro da Amrica(ALENCASTRO, 1999, p. 13)Estas pujantes alteraes populacionais ocorriam nesta cidade devido a inverso da corte para a Amrica. Desde a chegada da corte, a Intendncia, rgo natureza policial administrou a sade no Rio de Janeiro e o porto era o foco de trocas e alteraes no seu sistema ecolgico e nosolgico, Doenas tropicais foram importadas da frica e da sia, da mesma forma que plantas exgenas foram aqui climatizadas. Se durante os sculos XVII e XVIII, o Brasil era considerado um lugar para bravos, pela pouca chance de sobreviver, com o estabelecimento da corte teve de modificar a situao de forma rpida, o que se revelou brusco.

os intelectuais-mdicos grassavam nessa poca como miasmas na putrefao, ou como economistas em tempo de inflao: analisavam a realidade, faziam seus diagnsticos, prescreviam a cura, e estavam sempre inabalavelmente convencidos de que s a sua receita poderia salvar o paciente. E houve ento o diagnstico de que os hbitos de moradia dos pobres eram nocivos sociedade, e isto porque as habitaes coletivas seriam focos de irradiao de epidemias, alm de, naturalmente, terreno frtil para propagao de vcios de todos os tipos. (CHALHOUB, 1996, p. 29)

Apesar da crtica simplista e romntica presente no texto acima, a veracidade da realidade colonial e do recm formado imprio expressou-se nas grandes epidemias de clera, assim como a realidade do clima tropical expressou-se atravs da febre amarela; ambas acometeram pesadamente a cidade do Rio de Janeiro na dcada de 1850. Tanto o imprio de um Pedro II quase republicano quanto a repblica nascida j velha e dilapidadora, perodos polticos fortemente elitistas e oligrquicos, passaram a adotar um discurso que quase sempre associavam as classes pobres idia de classes perigosas. Os cortios, esta quase-instituio popular, foram desfeitos, acusados de focos de epidemias e doenas, pela sua promiscuidade, insalubridade, alta taxa de natalidade que acarretava o excesso de populao desocupada.

O Primeiro censo realizado no Brasil foi em 1890

A pssima situao do sistema sanitrio do Pas atestada pelo vaivm da responsabilidade pela sade. O provedor-mor, o Fscio-mor e o Intendente Geral da Polcia dividiam a responsabilidade pela sade pblica. Em 1828, houve um incio de municipalizao, por decreto imperial, das responsabilidades em sade pblica, deciso revogada duas dcadas depois, em um contexto de calamidade epidmica. O que se segue so mirades de rgos com escassa ou nenhuma articulao entre si.

A repblica oligrquica foi superada por uma coalizo de foras que levaram o representante do sul, Getlio Vargas, presidncia. O nacionalismo varguista e o estabelecimento de protees sociais para os trabalhadores urbanos foram temperados e desenvolvidos pela ditadura, denominada de um estado novo e que criado em 1937 no sobreviveria nova configurao de foras do ps-guerra em 1945.

Foi durante O Estado Novo que o

A titulo de atualizao, histria da estatstica brasileira ganhou recentemente quatro sistematizaes referenciais inditas realizadas pelo pesquisador e historiador do IBGE Nelson Senra: os livros Histria das Estatsticas Brasileiras, cobrindo o perodo que vai de 1808 a 2002, dispostos em quatro volumes referentes aos seguintes perodos: 1 Volume: Estatsticas Desejadas: 1822-c.1889,

2 Volume: Estatsticas Legalizadas: c.1889-c.1936

3 Volume: Estatsticas Organizadas: c.1936-c.1972

4 Volume: Estatsticas Formalizadas: c.1972-2002

Histria e evoluo tecnolgica, Grandes sistemas de informao (SIM, SNV, SINAN, Histria da demografia, Histria da epidemiologia, Bancos de informao da Fiocruz)

Fases no Brasil Moderno; Controle de epidemias70> Epidemiologia social da crise80 >Epidemiologia e desenvolvimento tecnolgico e poltico sistemas de controle e vigilncia em sade 90-00> Epidemiologia ecolgica 2010.

Base terica comparativista da epidemiologia

Ciberntica

Evoluo e histria tecnolgica dos sistemas de informao e controle.

Bibliografia

Accounting on Egypt

Medronho

Manual de Vigilncia

Rouquayrol

Entrevistas com profissionais de informao, memria tecnolgica da questo

Nelson Senra. IBGE

Catlogo da Casa de Oswaldo cruz

Rede. Famlia e Patrimnio na Mesopotmia

Foucault. Territorio, Seguridad y Poblacin