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PAPEL DA MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DO ALUNO-CIDADÃO Daniela Batista Santos Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB Campus de Jequié. [email protected] Profº. Dr. Jorge Costa do Nascimento Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB Campus de Jequié. [email protected] 1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA Tradicionalmente a disciplina matemática é vista como muito difícil. Esse pensamento, na maioria das vezes é caracterizado pela postura do professor, visto que a maioria deles assume uma postura “tradicional. Atrelado a essa atitude, há ainda outro agravante, o formalismo excessivo que costumam exigir dos alunos. O Formalismo, segundo Borges (2004), consiste na apresentação da matemática, como uma linguagem unidimensional, ou seja, uma linguagem sem significado, um mero conjunto de regras sintáticas, sem preocupar-se com o valor semântico. Não há uma preocupação com o significado real de um problema, principalmente na fase final deste, na sua verificação. A interpretação é importante, pois, o que é consistente na sintaxe matemática pode não se evidenciar na semântica. “De educadores para professores realizamos o salto de pessoa para funções” 1 (Alves, 2001). Esta frase de Rubens Alves leva-nos às seguintes reflexões: Qual o papel da Escola? E dos professores? Qual a relevância do ensino de matemática? Será que o currículo escolar tem proporcionado o desenvolvimento integral do aluno? O papel da escola, segundo Antunes (1998), renova-se com os estudos e descobertas sobre o comportamento cerebral, desse modo, a escola deverá estimular o desenvolvimento da inteligência, pois não podemos mais conceber o papel da escola como uma agencia de informações, visto que para isso têm-se diversos meios tais como: A televisão com seus 1 Grifo meu

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  • PAPEL DA MATEMTICA NA FORMAO DO ALUNO-CIDADO

    Daniela Batista Santos

    Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB Campus de Jequi.

    [email protected]

    Prof. Dr. Jorge Costa do Nascimento

    Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB Campus de Jequi.

    [email protected]

    1. INTRODUO E JUSTIFICATIVA

    Tradicionalmente a disciplina matemtica vista como muito difcil. Esse

    pensamento, na maioria das vezes caracterizado pela postura do professor, visto que a

    maioria deles assume uma postura tradicional. Atrelado a essa atitude, h ainda outro

    agravante, o formalismo excessivo que costumam exigir dos alunos.

    O Formalismo, segundo Borges (2004), consiste na apresentao da matemtica,

    como uma linguagem unidimensional, ou seja, uma linguagem sem significado, um mero

    conjunto de regras sintticas, sem preocupar-se com o valor semntico. No h uma

    preocupao com o significado real de um problema, principalmente na fase final deste, na

    sua verificao. A interpretao importante, pois, o que consistente na sintaxe matemtica

    pode no se evidenciar na semntica. De educadores para professores realizamos o salto de

    pessoa para funes1 (Alves, 2001). Esta frase de Rubens Alves leva-nos s seguintes

    reflexes: Qual o papel da Escola? E dos professores? Qual a relevncia do ensino de

    matemtica? Ser que o currculo escolar tem proporcionado o desenvolvimento integral do

    aluno?

    O papel da escola, segundo Antunes (1998), renova-se com os estudos e descobertas

    sobre o comportamento cerebral, desse modo, a escola dever estimular o desenvolvimento da

    inteligncia, pois no podemos mais conceber o papel da escola como uma agencia de

    informaes, visto que para isso tm-se diversos meios tais como: A televiso com seus

    1 Grifo meu

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    mltiplos meios, a internet, os livros dentre outros. Apesar das mudanas ocorridas nos

    ltimos anos, principalmente no que tange ao conhecimento cientfico e tecnolgico, Segundo

    Moraes (1997), percebe-se que novas tendncias surgiram no sentido de compreender o novo

    contexto social, no qual o homem est inserido. Neste sentido, no mais possvel conceber

    um sistema educacional voltado para a transmisso de contedo, em que o educando assume o

    papel de receptor passivo de informaes.

    Tomando como suporte as propostas de tericos da educao e da educao

    matemtica, como: Moraes (1997), Alves (2000), Antunes (1998), Borba (2004), DAmbrosio

    (1996), dentre outros, a importncia desta pesquisa reside na perspectiva de redirecionar o

    olhar para a matemtica, vislumbrando um ensino voltado para construo de uma formao

    que possibilite promover uma educao de qualidade, visando o desenvolvimento do

    estudante de forma integral, capacitando-o para assumir o seu papel de cidado na sociedade.

    Objetivou-se nesta pesquisa: Analisar nos projetos pedaggicos dessas escolas a

    concepo apresentada que demarque a formao de cidado; Verificar a concepo dos

    professores de matemtica do objetivo do ensino de matemtica; Verificar os tipos de

    avaliaes que so realizadas.

    Para isso, fez-se a seguinte pergunta norteadora desta pesquisa: A disciplina

    Matemtica, enquanto componente curricular tem contribudo para formao cidad do

    educando?

    2. FUNDAMENTAO TERICA

    O ensino de matemtica, componente curricular da Educao Bsica, tem

    contribudo para a formao poltica do cidado? Quando falamos em formao poltica

    perpassa-se o exerccio da cidadania. Para tal discusso fez-se incurses em temas como:

    conceito de cidadania, formao de professor, saberes docentes, teorias educacionais,

    currculo, projeto poltico pedaggico (ou proposta pedaggico) da escola, dentre outros. No

    entanto nos ativemos, para esta comunicao, em alguns, como veremos a seguir.

    2.1. DA FORMAO DA CIDADANIA

    Cidadania uma condio de cidado, neste sentido segundo Ximenes (2000), faz se

    necessrio entender o significado de cidado. Para Ferreira (2001), epistemologicamente o

    termo cidado vem da palavra civis, isto , o habitante livre das cidades. Conforme Lellis &

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    Imenes (1994), se recorremos aos fatos histricos, veremos que a palavra cidado tem vrios

    significados, por exemplo: na Grcia Antiga, ainda segundo Ferreira (2001), a cidadania era

    reservada ao homem educado que se diferenciava do escravo e essa educao era ministrada

    pelo sbio, que criava o prprio conhecimento. Segundo esse autor esse homem educado

    recebia a sua educao diretamente do criador da cincia, que tambm era um cidado. J na

    Europa Medieval, cidados eram os habitantes que defendiam as cidades, que viviam em um

    processo de formao. Aps a Revoluo Francesa, a noo de liberdade passou a caracterizar

    o cidado, sendo, a partir desse perodo, denominado cidado aquele que se tornava sujeito

    com direitos e obrigaes definidos por uma constituio, no mais estando submetido ao

    poder discricionrio.

    Mas, o que ensino-aprendizagem de Matemtica tem a ver com cidadania?

    A resposta a esta pergunta comea com incurses na Lei de Diretrizes e Bases da

    Educao Nacional (LDB), segundo a qual:

    Art. 2 - A educao, dever da famlia e do Estado, inspirada nos

    princpios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por

    finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o

    exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho2.

    Ao se falar em construo da cidadania se pode dizer, baseando-se em Imenes e

    Lellis (1994, p. 10) que, antes de tudo preciso perguntar, em que condies a cidadania se

    efetiva? Ainda de acordo com esses autores, na presena da informao e da educao. Pois, a

    primeira delas possibilita escolha e deciso. E, a segunda, porque, toda informao prescinde

    de interpretao e para isso fundamental certo nvel de educao. Nestes termos, os dois

    pressupostos acima estabelecidos constituem condies necessrias para o exerccio da

    cidadania.

    Ainda na perspectiva dos mesmos autores para o efetivo exerccio da cidadania ainda

    se faz necessrio acrescentar mais um elemento, a autonomia pois, esta permite aos indivduos

    pensarem por si mesmo, tomarem as suas prprias decises, e de no serem enganados pelas

    diversas propagandas.

    2 LDB, Art. 2 e 3, Ttulo II Dos Princpios e Fins da Educao Nacional.

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    De primeira mo muitos podem dizer que no h relao. Porm, ao se pensar que

    atualmente, na sociedade moderna, a maioria das informaes vem veiculada em linguagem

    matemtica, uma vez que,

    Resultados matemticos e dados estatsticos so uma referncia

    constante durante debates na sociedade. Eles fazem parte da estrutura

    da argumentao. Dessa forma, a matemtica usada para dar

    suporte ao debate poltico. Mas no apenas isso. Ela se torna parte da

    linguagem com a qual sugestes polticas, tecnolgicas e

    administrativas so apresentadas. A matemtica torna-se parte da

    linguagem do poder. (BORBA e SKOVSMOSE, 2001, p. 127).

    Isto , segundo Imenes e Lellis (1994), decodificar informaes precisa-se de

    instruo matemtica, mas para o desenvolvimento da autonomia poltica e intelectual

    preciso um ensino de matemtica que ajude o sujeito do conhecimento a decifrar a informao

    disponvel na sociedade.

    2.2. DO PROJETO POLTICO PEDAGGICO

    A necessidade de trabalhar na perspectiva educacional apresentada acima exige uma

    proposta pedaggica adequada s necessidades da comunidade em que a escola est inserida.

    Segundo Kramer (1997), uma proposta pedaggica um caminho, no um lugar, devendo

    ser construda no caminho e no caminhar, uma vez que esta possui uma histria que precisa

    ser contada, isso significa, que importante um registro na proposta pedaggica das

    experincias anteriores individual ou coletiva, relatar as aes realizadas, os obstculos

    enfrentados e as condies para que possa haver um reflexo critica dessa experincia, no

    sentido de subsidiar a reformulao de novas propostas.

    Para esta autora, toda proposta pedaggica precisa explicitar seus objetivos e pensar

    criticamente a realidade a que se dirige, enfrentando todos os problemas por mais agudos que

    sejam. Sob este aspecto, uma escola que tem como princpio bsico a incluso dos alunos

    deve levar em considerao o desenvolvimento da formao integral dos indivduos, em suas

    dimenses bio-psico-social e cultural. Neste sentido, necessrio considerar as diferenas de

    ritmo, gnero, raa, classe e vivncias culturais, a fim de garantir o pleno desenvolvimento

    das disposies e aptides correspondentes a cada etapa da vida humana.

    2.3. DAS COMPETNCIAS E SABERES DO PROFESSOR DE MATEMTICA

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    O processo educativo muito complexo, pois, educar exige muito mais do que

    saberes especficos da disciplina que se pretende ministrar. Segundo Pires (2001), existem

    algumas competncias bsicas para a formao do professor de matemtica, dentre elas

    destacamos: Competncia referente ao comprometimento com os valores da sociedade

    democrtica, Competncia referente compreenso do papel social da escola, Competncia

    referente ao domnio dos contedos a serem socializados e de seus significados em diferentes

    contextos, Competncia referente ao domnio do conhecimento pedaggico, Competncia

    referente ao conhecimento do processo de investigao que possibilitem o aperfeioamento da

    prtica pedaggica, Competncia especfica de um professor de matemtica, dentre outras.

    Para Saviani (1996), h alguns saberes necessrios na formao do professor, em

    particular o professor de matemtica, que est muito relacionado com as competncias

    discriminadas por Pires (2001), assim, de forma resumida, apresentaremos abaixo, esses

    saberes: Saber Atitudinal, Saber crtico-contextual, Saber especficos, Saber pedaggico e o

    Saber didtico-curricular.

    Assim, percebemos que o saber especfico uma condio necessria, mas no

    suficiente pra a formao do professor. Podemos ento, perceber o quanto importante para

    a formao docente o conhecimento dos outros saberes que integram e complementam a

    formao do professor, para que o mesmo possa ser um educador.

    3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    Realizou-se um estudo de caso, com abordagem qualitativa, utilizando-se como

    campo de pesquisa, duas escolas da rede estadual de ensino fundamental, de 5 a 8 srie do

    municpio de Jequi, das quais faremos uma anlise dos documentos: projeto poltico

    pedaggico e a utilizao de um questionrio semi-aberto para esses professores e, como

    amostra, seis professores de matemtica, trs de cada uma das escolas investigadas.

    O estudo de caso, segundo Goldenberg (2003), uma tcnica de pesquisa, que vem

    de uma tradio mdica e psicolgica, em que, refere-se a uma anlise detalhada de um caso

    individual, que explorado intensamente. Adaptada, tornou-se uma das principais

    modalidades de pesquisa qualitativa em cincias sociais, por fazer uma anlise holstica e

    completa, que considera uma unidade social escolhida como o todo, seja um indivduo ou

    uma instituio ou uma famlia ou uma comunidade. E por isso, permite a reunio de um

    maior nmero de informaes detalhadas, por diferentes instrumentos de coleta de dados, com

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    objetivo de apreender a totalidade de uma situao e descrever a complexidade do caso

    escolhido, possibilitando assim, a penetrao na realidade social.

    importante ressaltar que, o estudo de caso, nos dar um resultado especifico, do

    objeto de estudo escolhido, no sendo utilizado para fazer generalizaes, no entanto,

    podemos refletir sobre determinadas situaes, nos alertando para as possveis semelhanas

    que poder ocorrer com realidades diferentes da estudada.

    Nosso parmetro estar pautado: na sistemtica da anlise documental e na anlise

    das respostas de um questionrio aplicado aos participantes da pesquisa. Nossa amostra foi de

    cinco professores de matemtica.

    Por questes ticas, utilizamos nomes fictcios para discriminar os participantes da

    pesquisa. Assim sendo, Daphia a professora licenciada em Lngua portuguesa e

    Literatura. Ela professora h 13 anos e tem 5 anos que leciona Matemtica para completar

    carga horria; Maytenus licenciado em Matemtica, ensina h 12 anos e sempre lecionou

    Matemtica, por aptido pessoal; Auaska licenciada em Cincias, tem 3 anos lecionando e

    1 ano lecionando Matemtica, para completar carga horria; Nether licenciada em

    Qumica leciona h 28 anos e sempre ensinou matemtica, por aptido pessoal; Delta est

    cursando o curso de formao de professores para series iniciais, leciona h 22 anos e tem

    apenas 6 meses lecionando Matemtica, tambm para completar carga horria.

    Na anlise documental, que envolveu o Projeto Poltico Pedaggico das escolas,

    pretendeu-se verificar qual a concepo de cidado que permeava essa proposta; os objetivos

    que se pretendia alcanar com o componente curricular matemtica, na perspectiva de

    desenvolver nos estudantes as competncias e habilidades necessrias a formao do aluno-

    cidado. Tambm, observaram-se, algumas aulas desses professores, cuja pretenso foi

    verificar as informaes obtidas na anlise dos documentos citados e do questionrio, como o

    ensino de matemtica vinha sendo desenvolvido e se vinha contribuindo para a formao

    pretendida, para os educandos.

    Utilizou-se o questionrio, composto por questes de mltipla escolha e questes

    dissertativas, para verificar a concepo de ensino do professor, a sua formao, dentre outros

    aspectos necessrios a subsidiar a resposta da pergunta norteadora desta pesquisa. Permitindo-

    nos analisar o que disse e como disseram os respondentes, verificando-se as possveis

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    contradies, entre o que foi respondido nas questes objetivas, com categorias definidas e o

    que foi respondido nas questes dissertativas.

    O questionrio utilizado nessa pesquisa teve 19 perguntas (8 de mltipla escolha e 11

    dissertativas). Nas quatro primeiras perguntas faz-se uma abordagem scio-demogrfica dos

    participantes e nas demais se abordam temas como grau de satisfao com a profisso,

    formao do professor, aprendizagem, prticas pedaggicas, projeto poltico pedaggico e

    sobre ensino de matemtica. A escolha da anlise documental e aplicao de um questionrio,

    para obteno dos dados da pesquisa uma tentativa de, pela triangulao das informaes

    coletadas, dar maior grau de confiabilidade pesquisa, segundo Alves-Mazzotti, Lincoln &

    Guba (apud Borba 2004).

    4. ANLISE DOS DADOS

    4.1 QUESTIONRIO

    Referindo-se importncia da formao especfica do professor, houve consenso,

    pois para eles o professor com formao especifica tem mais conhecimento e por isso

    ensinar com maior segurana. Delta fez um comentrio interessante a respeito da

    importncia da formao especifica, dizendo que o professor com formao especifica, pode

    entender melhor as dificuldades dos discentes. Os professores tm conscincia que a

    formao especifica fundamental, mas notrio que, eles s enfatizam o conhecimento

    especfico que o docente deve ter. Mas lembramos que h outros saberes que configuram a

    formao do educador, alm do saber especifico que conforme Pires (2001), constituem-se de

    algumas competncias bsicas para a formao do educador, em particular o educador

    matemtico, como por exemplo: Competncia referente ao comprometimento com os valores

    da sociedade democrtica, Competncia referente a compreenso do papel social da escola,

    Competncia referente ao domnio dos contedos a serem socializados e de seu significados

    em diferentes contexto.

    Na questo referente Participao em evento(s) para aperfeioamento profissional,

    quatro professores disseram que participam de eventos, mas no na rea de matemtica.

    Alguns chamaram a ateno para o fato que nos curso que o governo oferece s permitido

    participar que tem formao especifica para a rea que est sendo oferecido o curso.

    De acordo com Peres (2004), o professor no pode se considerar um ser

    profissionalmente acabado, visto que a profisso docente exige o desenvolvimento

  • 8

    profissional ao longo de toda a carreira, ressaltando que a formao um suporte

    fundamental do desenvolvimento profissional e o desenvolvimento profissional de cada

    professor de sua inteira responsabilidade. Assim, esse autor, chama ateno para a

    importncia da formao continuada, que deve permear ao longo da carreira docente.

    Esses eventos so de fundamental importncia para a formao cientfica do

    professor, justificado ainda melhor, na resposta da questo 8, na qual, perguntamos sobre o

    conhecimento em Educao Matemtica e apenas Maytenus, falou sobre, todos os outros

    no sabiam e nunca tinha ouvido falar a respeito. Permitindo-nos concluir que, estes

    professores no tm buscado atualizar-se sobre as novas tendncias que vem sendo discutida

    sobre o ensino de matemtica.

    Perguntados sobre quais os fatores que dificultam a aprendizagem dos discentes em

    matemtica, os professores citaram: Falta de pr-requisito; Dificuldade de leitura;

    Dificuldade de interpretao; Indisciplina; Falta de interesse dos discentes; Falta de

    motivao nas aulas; Superlotao nas salas de aula; Falta de acompanhamento familiar;

    Falta de novas metodologias; Falta de aptido para a academia; Escola que leve em

    considerao as diferenas; Afinidade com a disciplina.

    Essas respostas apresentadas pelos professores retratam, na concepo de Perez

    (2004), uma postura defensiva, ao atriburem a no aprendizagem de matemtica, a falta de

    pr-requisito e at a falta de capacidade do estudante. No entanto, este autor chama ateno

    para a possibilidade dessa falta de interesse do discente, para estudar matemtica, estar

    relacionada ao mtodo de ensino utilizado pelo professor. Portanto necessrio que haja uma

    poltica sria com investimentos adequados na educao, na escola e na formao (inicial e

    continuada) do professor, cujo objetivo tambm seja a melhoria da qualidade de ensino.

    Perguntados agora: De quem a responsabilidade da dificuldade de aprendizagem

    dos discentes em matemtica, responderam: do Professor; do Aluno; da Famlia; do Sistema.

    Quando se refere responsabilidade do aluno, eles fazem referencia falta de

    interesse que estes tm pelo estudo, a falta de compromisso com a escola e com sua vida

    acadmica. Ao se referirem a responsabilidade do sistema, justificam-se por este no oferecer

    melhores condies de trabalho, no investir na formao continuada dos docentes, por no

    ter uma poltica preocupada com uma educao que possa proporcionar o desenvolvimento

    integral dos alunos.

  • 9

    Quanto famlia, fazem afirmaes, do tipo: a famlia se encontra muito distante

    da escola, falta de orientao familiar. Isto acontece seja por que estamos vivendo numa

    era de globalizao em que os pais esto cada vez mais sem tempo, por motivos de trabalho,

    seja por falta de compromisso. notrio e urgente a necessidade da escola prover os meios

    para que os pais estejam envolvidos com a escola e possam exercer seu papel de

    orientadores, contribuindo assim para que juntos, escola e famlia, possam superar alguns

    obstculos que prejudicam os discentes, principalmente os psicolgicos e emocionais.

    Da responsabilidade do professor, algumas afirmaes so: o professor precisa se

    dedicar mais as suas atividades, o professor precisa ter mais compromisso, ateno e

    preocupar-se se o aluno est aprendendo ou no, o professor precisa fazer auto critica para

    melhorar a sua prtica.

    As problemticas abordadas acima, em relao responsabilidade do professor,

    refletem o que j foi dito, isto , a necessidade da formao inicial e continuada do professor,

    para que este possa ter condies de trabalhar de forma a alcanar o objetivo amplo da

    educao: a formao do aluno crtico apto a exercer a cidadania.

    Quanto aos motivos da indisciplina responderam: Falta de Estrutura familiar; Falta

    de respeito com os professores; Falta de limites na escola; Falta de estimulo dos discentes;

    Aulas cansativas (falta de novas metodologias).

    Todos os participantes concordaram por unanimidade em dois motivos que causam a

    indisciplina: A falta de estrutura familiar e a falta de estimulo dos discentes. Alguns deles

    acrescentaram que: A famlia no consegue estabelecer limites, Os alunos no respeitam

    mais os professores, A escola deveria cobrar mais e a direo interferir mais, no fazer

    provas muito fceis porque seno eles passam logo e no final do ano eles no querem nada,

    as aulas so muito tradicionais, cansando o professor e o aluno.

    Esta difcil realidade, tem tornado a escola totalmente responsvel pela formao

    dos discentes, o que acarreta a ela uma sobrecarrega de funes. Pois, ao invs de contar com

    a famlia para que juntas possam educar o aluno, assume integralmente a responsabilidade

    por esta educao. H um agravante nesta nova atribuio da escola, a mesma no est

    preparada para tal, at mesmo porque a funo da escola contribuir para o crescimento e

    desenvolvimento do educando.

  • 10

    Este fato recai em outros fatores citados pelos participantes da pesquisa a falta de

    respeito pelos professores e a falta de estimulo dos discentes para estudar. Muitos desses

    alunos no aprenderam o significado do respeito mtuo. E por isso, torna-se difcil e at

    injusta, a postura de professores, quando atribuem algumas culpas ao aluno, seja em relao

    indisciplina, ou a rotulao de que este no quer estudar, de que no tem compromisso com a

    escola, sem pensar nos fatores que provocam essas atitudes.

    Quando perguntados sobre o que fazer para que a situao pudesse mudar,

    responderam: Acredita que a situao possa mudar; No acredita que a situao possa mudar.

    Sobre essa possibilidade somente um professor pessimista. Para ele h dificuldade

    na mudana, pois est muito solto, no h cobrana por parte da direo e da famlia. Os

    demais professores, em contraposio, acreditam que a situao pode ser mudada desde que:

    haja polticas pblicas para que sejam ofertados modelos alternativos de educao; haja uma

    mudana na postura da famlia; que a famlia passe a freqentar a escola; que o professor

    tenha mais compromisso e preocupe-se mais com a aprendizagem dos alunos e; a escola

    tenha outros profissionais para dar suporte, por exemplo: um psiclogo, que ajude no

    acompanhamento dos alunos, e para que no haja s represso, mas que eles possam ser

    ouvidos.

    Procuramos saber a respeito da Existncia do Projeto Poltico Pedaggico na escola

    que lecionam; das suas participaes na construo e/ou reformulao do Projeto e; sobre a

    concepo desses professores quanto ao cumprimento do que proposto nos Projetos. Todos

    disseram que as escolas em que lecionam possuem Projeto Poltico Pedaggico, embora no

    tenham participado da construo e ou reformulao do projeto. Quatro deles por no

    pertencerem, na poca da construo do projeto, ao quadro da escola e um por no ter sido

    convidado.

    Com relao ao cumprimento do que proposto no Projeto poltico pedaggico, a

    maioria afirma que cumprem na medida do possvel, apenas um diz no ter conhecimento do

    que proposto no projeto da sua escola. Destaque-se o que disse Maytenus a esse respeito

    totalmente no, faz o possvel, pois faltam profissionais e algumas metas fogem da realidade.

    De acordo com Kramer (1997), em toda proposta pedaggica precisam estar explcitos os

    objetivos e o pensar criticamente a realidade a que se dirige, enfrentando-se todos os problemas

    por mais agudos que sejam. Devendo esta proposta ser construda com a participao efetiva de

  • 11

    todos que constituem a escola, a saber: alunos, professores, profissionais no docentes, famlia

    e comunidade adstrita escola. Assim, h a necessidade da escola em se preocupar com este

    aspecto, uma vez que, os objetivos e metas desejados pela comunidade passam a fazer parte

    dos objetivos e metas da escola e esses passam ento a ser os compromissos a serem

    alcanados por todos, escola e comunidade. Num processo democrtico que estabelece vnculo

    da comunidade com a escola nela inserida, criando uma conscincia coletiva da necessidade de

    preservar a escola como espao de convivncia e de formao.

    Na questo: concepes dos participantes da pesquisa sobre o porqu de se ensinar

    matemtica. Todos os participantes da pesquisa, de acordo com as respostas apresentadas,

    concebem que a importncia do ensino de matemtica est na sua utilidade para a vida.

    Apenas Maytenus, vai alm dessa perspectiva utilitria da matemtica, acrescentando que a

    importncia do ensino da matemtica para que o aluno possa utiliz-la como ferramenta

    leitura de mundo, contribuir na formao da cidadania e prepar-lo para o mercado de

    trabalho.

    Quando a pergunta sobre as concepes dos participantes da pesquisa sobre o

    objetivo do ensino de matemtica, apenas um dos participantes no respondeu, os outros

    quatro acreditam que o objetivo da matemtica o desenvolvimento do raciocino lgico.

    Apenas, Maytenus, percebe que os objetivos do ensino da matemtica esto alm do

    desenvolvimento do raciocnio lgico-matemtico, citando que a matemtica, contribui para

    a construo de competncias que contribuem para a tomada de deciso, para tornar o ser

    humano mais equilibrado e para o desenvolvimento de inteligncia.

    Esses professores concebem a matemtica sobre o aspecto utilitrio e para o

    desenvolvimento do raciocino lgico matemtico. Apenas Maytenus, o professor licenciado,

    chama a ateno para outros aspectos que permeiam o porqu e os objetivos do ensino da

    matemtica.

    Conforme revelado nas respostas acerca do porque de se ensinar matemtica,

    encontram-se as mais diversas respostas, dentre elas: por que importante para o cotidiano

    e para vivermos no mundo moderno em que estamos ou para desenvolver o raciocnio,

    entre outras.

    Ressaltamos que o questionamento sobre o porqu se ensina matemtica e o seu

    objetivo, devem estar sempre presentes na prtica docente, pois, conforme Perez (2004) estes

  • 12

    podero ajudar ao professor na reflexo da sua prtica, que muito importante para o

    desenvolvimento profissional. Vale lembrar que para encontrar a resposta para esses

    questionamentos necessrio que o professor desencadeie uma constante pesquisa, o que

    contribuir para adquirir novos conhecimentos o que proporcionar reflexos positivos em sua

    prtica.

    4.2 ANALISE DOCUMENTAL

    Na analise documental, utilizamos o projeto poltico pedaggico das duas escolas

    onde desenvolvemos a pesquisa. Trabalhamos com dois projetos poltico pedaggicos de duas

    escolas que denominamos: Escola A e Escola B.

    Pretendeu-se verificar qual a concepo de cidado que permeava cada uma das

    propostas e; os objetivos que se pretendia alcanar com o componente curricular matemtica,

    na perspectiva das competncias e habilidades necessrias ao exerccio da cidadania.

    De acordo com a anlise do projeto da Escola A, percebeu-se que este traz uma

    concepo de que o ensino deve estar voltado para o desenvolvimento integral do educando,

    que implica diretamente na preparao para a vida e o exerccio da cidadania. No entanto, na

    prtica, muitas aes precisam ser repensadas, analisadas com toda a comunidade escolar, por

    exemplo: no processo de observaes de aulas de matemtica, verificou-se que essas aulas

    eram sempre expositivas dialogadas e que os professores no se esmeravam aplicar recursos

    metodolgicos, diferentes desse cotidianamente utilizado, para dinamizar essas aulas na

    perspectiva da aprendizagem.

    No projeto da Escola B est presente viso de fazer da escola, uma instituio

    reconhecida no Estado pelo elevado ndice de aprovao com a devida qualidade de ensino

    para seu alunado e que oferea comunidade, profissionais de qualidade e comprometidos

    com a sociedade como um todo. A qualidade de ensino um ponto positivo, pois demonstra

    que esta escola tem preocupao com o ensino que oferecido aos seus alunos.

    5. CONSIDERAES FINAIS

    A matemtica tem uma funo to essencial em nossa vida quanto linguagem,

    quase todas as pessoas com qualquer grau de instruo utilizam matemtica. Existem

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    atividades matemticas que so to intuitivas, que passam despercebidas, fato que leva

    pessoas a acreditarem no ter conhecimento de matemtica.

    Deveria ser um dos objetivos do seu ensino desenvolver de forma integral o

    educando preparando-o para o exerccio pleno da cidadania. Mas, o que vemos uma

    discrepncia entre o que se objetiva e o que praticado, tendo em vista que a escola muitas

    vezes no possui uma estrutura adequada ou no tm profissionais qualificados para tal. Isso

    provoca um prejuzo social porque perdemos a possibilidade de formar pessoas com grau de

    criticidade.

    Trabalhar a matemtica com significados acreditar que esta tem enquanto

    componente curricular que contribuir para o desenvolvimento holstico do educando, tornando-

    o um ser crtico, preparado para o exerccio pleno da cidadania.

    Ressaltamos, ao nos referir sobre a importncia da formao do professor, que no

    estamos atribuindo a culpa de todos os problemas da no aprendizagem a ele, pois este

    apenas um elemento dentro do sistema educacional, e que para contribuir com um bom

    trabalho, precisa ser capacitado para isso.

    Alm de a formao continuada proporcionar ao docente a construo permanente de

    conhecimento, o que refletir positivamente na sua prtica, tambm, auxilia o desenvolvimento

    da conscincia pra a necessidade de tornar-se educador. Concordamos com Alves (2001),

    quando diz que de educadores para professores realizamos o salto de pessoa para funes3.

    Assim, ao retomar o objetivo geral do projeto e confront-lo com os resultados da anlise dos

    dados coletados, acredita-se que este foi alcanado, uma vez que foi possvel verificar que

    apesar da matemtica ser uma disciplina fascinante, poucos conseguem ver a sua beleza e

    importncia para a vida.

    De acordo com o que encontramos na anlise desses dados, possvel admitir a falta

    de uma poltica educacional com maiores investimentos na educao, principalmente na

    formao inicial e continuada do professor, pois, notrio que esta formao interferi

    diretamente na formao do educando. J que, um profissional que no est qualificado no

    pode desempenhar a sua funo com qualidade. Por isso, acredita-se que com essas medidas, a

    matemtica passe a contribuir mais na formao do educando de modo a atingir o objetivo

    amplo da educao: o exerccio da cidadania.

    3 Grifo meu

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    REFERNCIAS

    ALVES, Rubens. Filosofia da cincia introduo ao jogo e a suas regras. 3 ed. So Paulo,

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