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p a p i r o INFÂNCIA Eles pulam, jogam e nadam sem tempo para brincadeiras. São os atletas mirins As histórias de gente que se deixou comandar pelo vento A vida num sopro Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade 7 de Setembro - agosto a dezembro de 2012

Papiro 2012 2 - A vida num sopro

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Page 1: Papiro 2012 2 - A vida num sopro

papi ro INFÂNCIA

Eles pulam, jogam e nadam

sem tempo para brincadeiras.

São os atletas mirins

As histórias de gente que se deixou comandar pelo vento

A vida num sopro

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade 7 de Setembro - agosto a dezembro de 2012

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*EDITORIAL

EXPEDIENTEO jornal Papiro é uma produção laboratorial do curso de Jornalismo da Fa7. Coordenador do curso: Dilson Alexandre. Editor-chefe: Rafael Rodrigues. Editor-executivo de Planejamento Gráfico: Alvaro Beleza.

Editor-executivo de Fotografia: Jari Vieira. Agência de Notícias Fato: Eugênio Furtado. Agência Experimental Brado: Leonardo Paiva. Projeto gráfico: Andrea Araujo. Redação: Ana Rodrigues, Bruno Parente, Dayanne Feitosa

Dutra, Eduardo Moreira, Elayne Costa, Elrica Mara, Gilvane Sousa, Jaciára Lima, Jackson Pereira, Lylla Lima, Rubens de Andrade, Suiany Rocha, Taíssa Julião. Designers: Amanda Rodrigues, Anderson Paixão, Andrei

Tavares, Anna Rita Regadas, Gabriel Mota, Gerusa Pacheco, Levi de Freitas, Rones Maciel, Yara Barreto. Tiragem: 500 exemplares. Impressão: Expressão Gráfica.

Elas se esquivam, fogem, ruborizam.

Não vendem barato aquilo que têm

de mais valioso: suas subjetividades.

Só se deixam desvendar por um olhar um

pouco mais treinado, sensível, humano. Elas

são aquelas pessoas a quem o jornalismo

acostumou-se a chamar de personagens.

Gente anônima ou famosa, rica ou pobre, feliz

ou atormentada, mas com algo em comum:

boas histórias que merecem ser contadas.

Mas, em se tratando de pessoas, histó-

rias não são simplesmente contadas. São,

Personagens em busca de intérpretes

na verdade, ressignificadas, recontadas.

São redimensionadas para caber na pá-

gina do jornal. Nesse exercício semiótico,

em que cada palavra é (ou deveria ser)

símbolo de algo real, é que se revelam

não apenas os bons personagens, mas

também os bons intérpretes – aqueles a

quem o jornalismo convencionou chamar

de repórteres.

Esta edição do Papiro evidencia encon-

tros, a um tempo felizes e desafiadores,

de personagens e intérpretes-repórteres.

O exercício laboratorial coloca em foco

uma delicada costura, que envolve as

convicções de repórteres em formação

e a natureza sempre imprevisível das in-

terações humanas, expressa nesses en-

contros. Daí surge o desafio para nossos

futuros jornalistas.

E eles saem-se com este conjunto de

matérias que flagram, de diversos modos,

uma porção daquelas coisas aludidas mais

acima – essas subjetividades, essa presen-

ça do outro. Histórias de homens que dis-

seram não ao ocaso da velhice. Contos de

amor e desamor mediados por conexões

banda larga. Vidas em alta e baixa velocida-

de, em estradas de terra e asfalto. Corpos

infantis tensionados pela competitividade

da vida moderna. Histórias de dinheiro, de

fanatismo, de trabalho. No virar de cada

página, esse é um jornal feito de gente.

Boa leitura.

Rafael Rodrigues

Editor-chefe

Cynthia Nogueira

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Motoristas x pedestres: uma batalha sem vencedoresFALTA DE INFRA-ESTRUTURA, SOMADA AO ACUMULO DE VEÍCULOS,

GERAM TRANSTORNOS E DESUMANIZAM O TRÂNSITO DA CAPITAL

Gritos, xingamentos e o barulho estri-

dente das buzinas tomam conta das

ruas e avenidas da capital. De um

lado, motoristas reclamam da falta de aten-

ção de pedestres e a estrutura precária da

malha viária. De outro, há os que andam a

pé, vítimas da constante correria dos mo-

toristas, e de uma fiscalização do trânsito

que nem sempre pune os infratores.

Fortaleza, como as grandes metrópoles

brasileiras, vive esse conflito a cada es-

quina. No bairro Benfica, no cruzamento

da Avenida Carapinima com a Rua Juvenal

Galeno, durante o horário de pico, é quase

impossível atravessar a via sem correr o ris-

co de ser atropelado por algum motorista. O

estudante Antônio Ferreira dos Santos, 15

anos, afirma que raramente utiliza a faixa

de pedestre, mesmo sabendo dos riscos.

Entre os anos de 2001

e 2010, foram 1472

pedestres mortos no

trânsito de Fortaleza.

“Eu não costumo utilizar a faixa. Os mo-

toristas não respeitam nem o sinal, quan-

to mais à faixa. Quando estou indo para a

escola ou voltando para casa, sempre vejo

a faixa, só que quando quero atravessar a

rua eu só olho se vem carro ou não, e corro

para outro lado”, diz ele.

Já o flanelinha Francisco Wilame de

Sousa, 45 anos, diz fazer uso da faixa de

pedestre com freqüência, pois como tra-

balha nas ruas, no entorno do Shopping

Benfica, conhece de perto os perigos para

quem utiliza ou não a faixa. “Eu já presenciei

muitos acidentes nessa área. E, como já fui

quase atropelado uma vez por um motoris-

ta que ‘furou’ o sinal, eu presto bastante

atenção ao atravessar a rua. Os motoristas

não respeitam ninguém, nem eles mesmos.

No horário de pico, parece uma guerra.

Muito barulho de carro, principalmente de

buzinas”, comenta Wilame.

A vendedora Maria Albeniza Ferreira

Mourão, que possui um carrinho de lan-

ches na esquina do cruzamento, diz que

acidentes em cima da faixa são comuns,

mesmo havendo o semáforo para pedes-

tre. “Os acidentes acontecem geralmente

entre as 16h e 20h quando o movimento

na avenida é muito forte. Estudantes e tra-

balhadores são os que mais sofrem com

a falta de educação dos motoristas, prin-

cipalmente os de ônibus, que param fora

do ponto para passageiros entrar, o que

acaba atrapalhando bastante o movimento”,

afirma Dona Albena.

Na opinião dos agentes de trânsito, o

Texto: Rubens de Andrade

Design: Levi de Freitas

principal problema dos condutores está

na crença de que a preferência é sempre

deles, seja em relação à pedestre ou a ou-

tros veículos, por isso é tão comum flagrar

esses condutores acelerando na sinalização

amarela ou furando a sinalização vermelha,

além de pararem constantemente em cima

da faixa. Outros fatores, como a travessia

de pedestres em locais inapropriados, a

falta de sinalização e de fiscalização acabam

colaborando diretamente com estatísticas

assombrosas, mas compatíveis com o trân-

sito caótico.

Os dados coletados sobre acidentes de

trânsito, relativos ao período de Janeiro a

Dezembro de 2011, classificam os pedes-

tres como a segunda categoria que mais

apresentou vítimas fatais. No geral, 2.091

pessoas morreram vítimas de acidentes no

trânsito. Desse total, os pedestres somam

457 mortes, o que representa 21,86%, fi-

cando atrás apenas dos motociclistas, com

761 mortes (36,39%).

Faixa respeitada

Em alguns pontos da capital, o valor da faixa

de pedestre parece variar de acordo com o

contexto a qual está inserida. No “sistema

de trânsito” privado, como por exemplo,

dentro do Shopping Iguatemi, os motoristas

respeitam, como manda o código de trânsi-

to, todas as sinalizações, incluindo a faixa.

A cena se repete em ruas e avenidas que

possuem escolas, universidades, agentes

de trânsito ou fiscalização eletrônica.

Deixar de dar preferência de passagem

ao pedestre quando ele está na faixa, que

não tenha concluído a travessia, é infração

gravíssima, punida com multa no valor de

R$ 180 (cento e oitenta reais) e sete pon-

tos na carteira. Além de pagar a multa, o

infrator tem sua carteira suspensa, o veí-

culo é retido e o documento de habilitação

é recolhido pela autoridade de trânsito. E,

parar o automóvel na faixa de pedestre na

mudança de sinal luminoso também incide

em multa e quatro pontos na carteira.

VEJA MAIS

www.fa7.edu.br

Rubens de Andrade

Faixa de pedestre no bairro Benfica: acidentes são comuns

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DIFERENTES

HISTÓRIAS DE VIDA

UNIDAS PELO SOPRO

DE UMA FORÇA DA

NATUREZA. CONHEÇA

PESSOAS QUE TÊM

NO VENTO UM ALIADO

NAS SUAS VIDAS

E CARREIRAS

Texto: Elayne Costa

Design: Anderson Paixão

Há 16 anos, Silvio Capibaribe virou pa-

rapentista e abriu sua própria escola

de parapente no Ceará. Silvio era pa-

raquedista, mas influenciado por dois alemães

começou a praticar o parapente. “Eu sempre

gostei de voar, mas na profissão de paraque-

dista eu ficava mais no chão do que no ar”.

“Os aviões quebravam muito”, diz ele.

Silvio se apaixonou pelo esporte e resolveu

seguir carreira. “Abrir a escola de parapente

não foi fácil, eu tive que treinar muito sozi-

nho e me profissionalizar”. Sílvio contou que

no início tinha muito medo de altura, e que

voar sempre foi um grande desafio para ele.

“Quando eu estou voando, não existe sensa-

ção melhor e eu amo fazer isso”, diz Silvio.

A escola Vôo Livre fica na serra da Paca-

tuba, a 30 quilômetros de Fortaleza, e conta

atualmente com quatro professores. Com

tantos anos voando e ensinando as pesso-

as a voarem, Sílvio nunca sofreu nenhum

acidente. “Eu procuro sempre seguir as

regras de segurança e é isso que eu passo

para os meus alunos, por isso nunca sofri

nenhum acidente”, diz ele.

A filha de Sílvio, que tem dois anos de

idade, também já pulou de parapente.

“O esporte é tão tranquilo que eu e a

minha esposa pulamos com a nossa filha,

e ela disse que adorou”, conta o professor.

Em todos esses anos de profissão, ele disse

que nunca ninguém reclamou de ter pulado,

ou não gostou da aventura.

Outra personagem que usa o vento

como forma de trabalho é Priscila Rodri-

gues, chefe do Departamento de Saúde e

Segurança em uma empresa de energia

eólica. Priscila precisa subir semanalmente

nas turbinas de 80 metros de altura para

checar como os técnicos estão trabalhando

e ver se estão todos em segurança. “Traba-

lhar com energia eólica é muito gratificante,

principalmente porque é uma forma limpa

de gerar energia, usamos apenas o vento

para gerar energia elétrica para centenas

de casas”, diz ela.

Priscila está na empresa há quatro anos

e conta que a primeira vez que precisou

subir em uma turbina não foi fácil. “Oitenta

metros é muito alto e eu precisei subir de

escadas. Achei que não iria conseguir,mas

depois que eu cheguei no topo a visão que

eu tive pagou todo o esforço, foi maravilho-

so”, conta ela. Algumas vezes a técnica em

segurança precisou descer os 80 metros

por uma corda do lado de fora da turbina.

“Quando eu estou voando,

não existe sensação melhor

e eu amo fazer isso”

Elayne Costa

Deixa o vento me levar

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Essa descida faz parte de um treinamento

de segurança que a empresa oferece para

todos os técnicos. É uma forma de evacua-

ção em casos de emergência.

“Na primeira vez que eu desci de corda

foi muito difícil, estava com muito medo,

mas hoje é tranqüilo e eu adoro fazer”, diz

ela. Priscila tem o sonho de um dia pular

de paraquedas ou até mesmo de bungee

jump. “Tudo relacionado à altura agora é

uma coisa que me chama a atenção e eu

tenho muita vontade de fazer. Só não pulei

ainda por falta de oportunidade”.

O vento literalmente “leva” Fernando

Pereira da Silva, 62 anos, duas vezes por

mês para o meio do mar. Ele é pescador há

mais de 50 anos e nunca pensou em fazer

outra coisa na vida. “Pescar é uma coisa

que eu comecei a fazer quando ainda era

criança e nunca pensei em deixar. O vento

leva o meu barco a vela todos os meses

mar adentro e até hoje me trouxe de volta”.

Fernando sai para pescar duas vezes por

mês e passa de 10 a 15 dias em alto mar. O

barco volta carregado, em média com mais

de 300 quilos de peixe. “Ser pescador não

é fácil, as vezes ficamos mais tempo no mar

do que em terra e são grandes os riscos que

enfrentamos. O vento faz o mar se revoltar e

nós precisamos lutar contras as tormentas”,

diz ele. O pescador do Mucuripe sai em seu

barco a vela todas às vezes com mais quatro

amigos e contam com a sorte para volta-

rem abastecidos. A falta de peixes é cada vez

maior, e com isso mais longe eles precisam ir.

“Os peixes estão diminuindo e assim a

gente precisa se distanciar ainda mais da

terra. Saímos daqui antes do sol nascer e

só chegamos no ponto para pescar de novo.

É muito longe da terra firme e isso assusta”,

conta. Os próprios pescadores cozinham as

suas refeições diárias no barco, e no car-

dápio eles só comem arroz, feijão e, claro,

peixe. “Quando dá a gente leva um pouco

de carne, mas é difícil e quando levamos só

dura três ou quatro dias. Depois comemos

apenas peixe, os que pescamos. É peixe frito

cozido, de todas as formas”, diz ele.

Seu Fernando diz que nunca sofreu ne-

nhum acidente nesses 50 anos de profis-

são, mas que já perdeu alguns amigos. O

mar às vezes se revolta, e alguns barcos

se perdem pela imensidão azul. Eles viajam

totalmente desprovidos de segurança.

No barco não há nenhum aparelho de

comunicação ou localizador. Não possui

também sinalizadores que poderiam ser

usados em casos de emergência. “A gente

só viaja com a experiência que possuímos

e com uma bússola”, ele completa.

Entre várias histórias curiosas ele con-

ta que já viu peixes maiores que o barco

e que algumas vezes aconteceu do peixe

ficar batendo embaixo do barco tentando

derrubá-lo. “É muito estranho! A sensação

que a gente tem é que o peixe está tentan-

do virar o barco para comer todos nos. Dá

muito medo, mas felizmente isso nunca

aconteceu. Questionado sobre o seu maior

medo quando está em alto mar, ele não

demora em responder. “Tenho medo de

um navio passar por cima da gente. Esse

é o meu maior medo. Porque já aconteceu

com a embarcação de alguns amigos meus.

E quando isso acontece dificilmente alguém

consegue escapar vivo”, assegura.

“O vento faz o mar se

revoltar e nós precisamos

lutar contras as tormentas”

Elayne Costa Arquivo

VEJA MAIS

www.fa7.edu.br

As velas do Mucuripe levam o pescador Fernando para longas temporadas no mar. Já Priscila (à direita) enfrenta medos em nome da energia eólica

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Você sabe o que é rally? Uma competição

automobilística que pode ser realizada

em diversos tipos de terrenos, desde

terra batida à areia fofa de um deserto. Isso

mesmo! Essa competição é vivenciada pelos

seus admiradores desde o século XX. Um es-

porte que vem crescendo e atraindo cada vez

mais apaixonados por velocidade e aventuras.

“O rally se destaca pela oportunidade

de se conhecer lugares que dificilmente

você iria”, diz Stanger Eler, administrador

de empresas e praticante do esporte. Ele

se deparou com o universo das competições

por conta da esposa Monique Mota, “Ela se

apaixonou pelo rally e para não deixa-la com-

petir sozinha, resolvi unir o útil ao agradável”.

Mas essa influência não foi apenas da

esposa. Desde criança, já era fascinado por

velocidade. Quando morava na cidade de Assis

Chateaubriand (PR), gostava de assistir com-

petições de MotoCross. Veio morar no Ceará,

e aqui começou a se aproximar do esporte.

Casamento, família e logo um carro 4x4.

Passeios e trilhas em família. O que era

lazer acabou virando um esporte da família

toda. Mas não se preocupe, pois conciliar os

dois lados é bem mais simples e fácil do que

imaginamos. “Para você poder ter a tranqui-

lidade de competir em alto nível, em compe-

tições nacionais, a família e a empresa têm

que estar auxiliando e incentivando”, pontua.

Para o piloto Armando Bispo, o encon-

tro com o universo automobilístico acon-

teceu ainda garotinho. “Já bem pequeno

vivia cercado de carrinhos, triciclos, carros

de rolimã e ao sair com meus pais ou avô

sempre ficava muito próximo ao motoris-

ta do ônibus para aprender com os seus

movimentos, até que aos 13 anos meu tio

que era mecânico deixou que eu dirigisse

um carro pela primeira vez”, afirma o piloto,

que iniciou sua carreira nas estradas aos

49 anos de idade. Hoje está com 59 anos.

Ele já vive outro lado da história. “No

meu caso, por não ter filhos em casa, pois

todas as duas já se casaram, eu e minha

esposa vibramos com o esporte e ela me

prestigia pessoalmente sempre que pode”,

afirma. Mesmo assim não desconsidera

a importância do apoio da família e conta

com esse apoio para continuar a seguir

nas competições.

Mesmo em meio ao clima de competi-

ção, os pilotos conseguem encarar o lado

divertido, o que ajuda a aliviar as tensões

das competições.

O esporte

Mas mesmo com o incentivo das em-

presas privadas, o Ceará não reconhece

seus grandes atletas do rali. “Vejo alguns

patrocinadores resignados que investem no

ENTRE PRAIA, SERRA E SERTÃO. NÃO IMPORTA O TIPO DE ESTRADA,

O QUE CONTA PARA ELES É A AVENTURA DE DESCOBRIR UM NOVO CAMINHO PARA CHEGAR AO INESPERADO

“O rally se destaca pela

oportunidade de se

conhecer lugares que

dificilmente você iria”,

diz Stanger Eler

esporte e uma Federação que poderia fazer

ainda mais em prol do rally, no entanto,

acredito que carecemos de maior incentivo

por parte das empresas e do próprio Gover-

no em prestigiar este esporte através do

patrocínio contínuo durante o ano a eventos

e pilotos de rali” diz Armando Bispo.

Nesse campo das competições cada

piloto e navegador viveram momentos mar-

cantes e inspiradores. Para o piloto Armando

Bispo, o momento mais memorável foi quan-

do participou do Rally Internacional dos Ser-

tões em 2008 “com a expectativa de apenas

completar os 10 dias de uma competição

seletiva e muito dura para o carro e o piloto”.

Ao final, sem trocar ao menos um pneu,

com a mesma embreagem e sem nenhum

problema mecânico, sagrou-se campeão

da Categoria Production no ano de estreia

no Rally dos Sertões. Uma vitória, segundo

Armando, inesquecível entre muitas outras

ao longo desses 10 anos de rally.

Com reconhecimento ou sem reco-

nhecimento devidamente merecido, eles

seguem o caminho da aventura e da pai-

xão por velocidade.

Armando Bispo/Acervo pessoal

Poeira nas rodas

Texto: Ana Rodrigues

Design: Gabriel Mota

VEJA MAIS

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Armando Bispo/Acervo pessoal

Na hora da corrida, a família de Armando Bispo acompanha de perto

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Era uma voz contente e alegre que co-

meçou a narrar uma história de amor

e saudade. Ao longo de nossa conver-

sa, Isadora Gonçalves, 33, professora de

Ioga, fala de sua história com o Belvis, um

fusca de cor indefinida como ela mesma gos-

ta de ressaltar. “Ele é uma coisa de creme,

com marrom. Não sei!”, afirma aos risos.

Como muitas pessoas, Isadora levou em

consideração na hora da compra o fato do

Fusca ser um carro mais barato, desde sua

manutenção, com peças mais em conta,

até a economia na gasolina. Mas não era a

questão financeira que falava mais alto na

hora da escolha, era algo maior que nem

mesmo ela consegue explicar. “Tem algum

encanto no Fusca, mas essa não seria a

palavra... Ele é compacto, bonito, é diferente!”

Com esse amor inconceituavel, o Fusca

de cor indefinida passou de um simples car-

ro para ser algo mais que um veículo. Não

é a toa que Isadora resolveu chamá-lo ca-

rinhosamente de Belvis. Uma homenagem

ao seu cantor favorito Elvis Presley, já que

por coincidência a data de fabricação de

Belvis, 1977, é a mesma da morte de Elvis,

o rockstar que conquistou multidões com

sua música eletrizante e seu requebrado

enlouquecedor. Mas Belvis não se compara

ao precursor do rock que conquistou o co-

ração de várias mulheres, ele é simples e só

conseguiu encantar os amigos e família de

Isadora. “Todos adoravam o Belvis. Minhas

amigas só queriam sair se fosse com ele”,

conta com certa vaidade e prossegue de-

clarando seu amor pelo carrinho que ficava

no quintal de sua casa. “Ele era mais um

ornamento, algo pelo qual eu tinha muito

Belvis não morreu

Texto: Jaciára Lima

Design: Gabriel Mota e Yara Barreto

MESMO NÃO TENDO ELE MAIS AO SEU LADO,

O AMOR E CARINHO AINDA ENCHEM O CORAÇÃO

DE ISADORA DE SAUDADE

carinho e zelo”. Mas esse amor, carinho e

zelo foram postos à prova quando Isadora

teve que tomar uma decisão que lhe deixou

muito triste. Vender o carro para poder

fazer um curso de especialização, em Ioga,

no México. “Eu tinha que vender, estava

precisando de dinheiro”, conta a ex-dona

de Belvis, que para não ficar longe do carro

vendeu ele estrategicamente para o seu

pai, Edvar Costa. “Foi uma forma de não me

separar dele” diz aos risos pelo telefone.

A viagem duraria um ano, mas seria

como se Belvis estivesse sempre com ela,

já que no México o carro mais popular de to-

dos é o Fusca. Quem nunca assistiu a uma

novela mexicana e viu aquelas baratinhas,

em sua grande maioria verdes, servindo de

táxi para todos os personagens? Pois bem,

de acordo com Isadora lá é assim mesmo,

em todas as ruas e bairros você encontra

um Fusca, não importa se estão com as

peças originais ou customizados, lá eles são

valorizados. “Acho que é uma questão cultu-

ral. Lá eles não têm preconceito com quem

dirige Fusca, diferente do Brasil” afirma a

professora de Ioga. E é esse preconceito

que faz a voz de Isadora mudar e ficar mais

séria, o sorriso por detrás da ligação pare-

ceu dar espaço para algo que deveria ser

visto com mais seriedade. “Aqui as pessoas

que compram um Fusca são vistas como

pessoas que não tem condições, por ele

ser um carro barato”, declara e ainda diz

quando não é esse pensamento é o de que

Fusca é para colecionador.

O amor pelo Belvis é algo de fazer Isa-

dora gaguejar. Quando pergunto se ela

compraria outro Fusca ela responde ra-

pidamente. “Eu pretendo reaver o Belvis!”

Cheia de alegria e esperança e continua

dizendo que o problema é o marido, Max

Maranhão, que não gosta nenhum pouco da

ideia dela voltar a ter o Belvis, já que quan-

do ainda era dona do Fusca mal o dirigia.

“Eu dirigi pouco o Belvis, ele era mais um

ornamento. Eram as minhas amigas que

dirigiam ele”, conta. Mas parece que ao

recontar a sua história com o Belvis aquilo

que estava adormecido acabou despertan-

do, pois de acordo com Diana Valentina, 26,

estudante de jornalismo e irmã de Isadora,

logo depois da entrevista, a irmã passou

a pensar na possibilidade de ter o Belvis

novamente. “Acho que ela ligou logo em

seguida, dizendo que deveríamos pegar o

Belvis de volta”, diz aos risos. Diferente da

irmã, Diana trocaria sim um Fusca por um

Celta, pois considera o carro pesado e duro

demais para dirigir.

VEJA MAIS

www.fa7.edu.brIsadora (à direita) demorou a superar a venda do Fusca

Arquivo pessoal

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Quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012.

Nessa noite enluarada, o time do Ce-

ará entrou em campo às 20h30min,

para enfrentar a equipe do Icasa no estádio

Presidente Vargas (PV). A torcida do Vovô

começa a chegar lentamente, mas sempre

com os gritos de incentivos ao time. Já

é quase hora do jogo e, naturalmente, a

movimentação aumenta.

Ao entrar no PV, começo a sentir o tre-

mor das arquibancadas, as bandeiras balan-

çando, e os bandeirões sendo abertos. Entre

os torcedores, encontro Gabriel Arruda, de

25 anos, que faz parte da Cearamor desde

os 15. Ele deixa transparecer facilmente o

fanatismo pelo seu clube de coração.

Gabriel trabalha como agente admi-

nistrativo em uma empresa de licitações,

mas admite que o emprego não é sua

prioridade na vida. “Acima de tudo, e an-

tes de tudo, sou Ceará e amo o Ceará.

Venho ao estádio todos os jogos, e quan-

do estou saindo de casa, sei que estou

disposto a tudo, gritar, pular, vibrar, e até

brigar se for necessário. Nosso lema já diz

tudo: Vibração, União, e Poder. Já perdi

até emprego para viajar acompanhando

meu Vovô querido, e se for preciso faço

isso tudo de novo, pois, tudo pelo Ceará

é valido”, afirma Gabriel.

A Torcida Organizada Cearamor (TOC)

foi fundada em 1982, mas só em 1990 se

tornou uma torcida profissional organizada.

Hoje, a TOC conta com aproximadamente

8 mil integrantes. Isso a torna uma das

maiores organizadas do país.

Por conta desse tamanho, a Cearamor

naturalmente divide opiniões. “A Cearamor

é sem duvida alguma algo essencial para

o time do Ceará, pois sempre está nos

jogos apoiando os jogadores. Não somos

torcedores modistas e sim torcedores de

verdade”, afirma Gabriel. Já para algumas

pessoas, torcidas organizadas são coisa de

quem não tem o que fazer. “É um absurdo.

Esses vândalos ficam indo para os estádios

de futebol para brigar, falar mal, e fazer

badernas, e usam o jogo como desculpas,”

afirma o torcedor do Ceará e estudante de

Direito Hemesson Moreira.

“Aqui não adianta falar só da TOC, pois o

que acontece aqui no Ceará também acon-

tece nos outros Estados do país. As torcidas

organizadas, em geral, acabam se envolvendo

em conflitos com as outras torcidas dos times

rivais. Muitos julgam as organizadas como

uma coisa de quem não tem o que fazer.

Penso diferente, pois, dentro do estádio, sem

sombra de duvida, as organizadas apóiam

muito seus times, o problema acontece fora

dos estádios”, afirma Antônio Ferreira, apo-

sentado e torcedor do Ceará desde criança.

Em meio a essa discussão, as torcidas

acabaram se tornando uma questão de

segurança pública. Isso explica as cons-

tantes tentativas de regulamentação da

atividade dos torcedores organizados. A lei

Nº° 12.229, de 2010, deixa claro que não

só as ações das organizadas, mais todas

as ações que acontecem em eventos es-

portivos tornaram-se de responsabilidade

do poder público. Tramita no Congresso

Nacional um projeto de lei do deputado fe-

deral André Moura (PSC) que propõe mu-

danças no Estatuto de Defesa do Torce-

dor (Lei Federal n.º 10.671/2003) para,

segundo o parlamentar, oferecer mais

segurança e comodidade aos torcedores

brasileiros, além de garantir o direito da

acessibilidade nos mais variados eventos

desportivos. Pela proposta de André, ini-

cialmente, todas as Torcidas Organizadas

deveram realizar o recadastramento de

seus integrantes nos meses de janeiro e

agosto, de cada ano. No Brasil, porém, a

aplicação das leis tem ocorrido de forma

problemática, com diversos casos sem

punição.

O que temos certeza é que, de um jeito

ou de outro, essas pessoas amam seus

times do coração. Alguns mais, outros

menos, mas, para elas, a sensação vivida

dentro de um estádio é algo sem explica-

ção. “Futebol é algo maravilhoso, o espe-

táculo proporcionado pelas organizadas

dentro dos estádios é lindo. Os integrantes

das mesmas por amarem demais seus

times acabam exagerando. O que jamais

poderemos questionar é o amor desses

torcedores aos seus times”, afirma Paulo

César de Azevedo, professor de história e

torcedor do Ceará.

Cearamor: uma torcida disposta a tudo pelo VovôPARA ALGUNS, INCENTIVADORES. PARA OUTROS VÂNDALOS. A DISCUSSÃO SOBRE O PAPEL

E A IDENTIDADE DO TORCEDOR DE FUTEBOL OCORRE HÁ DÉCADAS E PARECE LONGE DO FIM

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Texto: Eduardo Moreira

Design: Yara Barreto

Cynthia Nogueira

25948-EDUCADORA 7 DE SETEMBRO JORNAIS PAPIRO.indd 825948-EDUCADORA 7 DE SETEMBRO JORNAIS PAPIRO.indd 8 09/05/2013 15:19:4209/05/2013 15:19:42

Page 9: Papiro 2012 2 - A vida num sopro

papi ro 9

“Quando a galera se junta na sede,

ao meio-dia pra sair, o nego sua

a camisa pra levar a bateria, as

faixas, os bambus e o bandeirão. Isso é o

esforço de cada um, por amor ao time e

por amor a torcida.” É assim que Jarbas

Silva, conhecido como Banha, inicia o dia

de preparação para as partidas do Forta-

leza Esporte Clube. O jovem, que é solteiro

e mora com a mãe e um irmão no Parque

Santa Rosa, periferia de Fortaleza, conta

a emoção que é participar da organização

de uma ida ao estádio com a torcida. O

amor pelo clube vem de criança. O pai era

torcedor do Fortaleza. O time e as cores

do clube fortaleceram a imagem do pai

vestido de vermelho azul e branco.

Já Addler Pinheiro, ex-vereador de For-

taleza e presidente de honra da Torcida Uni-

formizada do Fortaleza – TUF, se apaixonou

pelo clube em 1982, quando o tio e o pai,

torcedores do Ferroviário, o levaram para

a final do Cearense daquele ano. “Fiquei

encantado com a festa da Fiel Tricolor e

dentro de campo mais ainda, pois o Rei

Leão deu um show e aplicou uma goleada

de 4 x 0! Foi amor a primeira vista”.

Outro que também foi ao estádio pela

primeira vez na torcida de outro clube é

Eliezio Sousa, 34, casado, atual presidente

da TUF, Eliezio conta que foi ao estádio

pela primeira vez com um vizinho, torcedor

do Ceará. Mas quando chegou em casa,

encontrou com o pai, que trabalhava como

caminhoneiro e havia acabado de chegar

de viagem. Ele foi surpreendido com o pre-

sente que seu pai havia trazido. “Meu pai

falou, ‘você não vai torcer Ceará, você vai

torcer Fortaleza, eu trouxe essa caneca

de porcelana com o símbolo do Fortaleza’.”A identificação com as torcidas orga-

nizadas também apareceu com o tempo

para todos eles. Eliezer conta que via as

torcidas mais antigas e achava aquilo

muito lindo. Quando a TUF surgiu, ele

começou a se aproximar, aos poucos, fa-

zendo amizades e conhecendo mais gente.

Já Addler Pinheiro pertenceu a outras

torcidas, antes de ser convidado para

participar da TUF. “Era da Fiel Tricolor.

Em 1987 a Fiel meio que deu um tempo.

Surgiu a Bafo do Leão, mas eu fiz uma

mini torcida, a Força Jovem Tricolor, mas

de imediato o Éberson Martins (fundador

da TUF) fez um convite irrecusável para

minha família. Resultado, eu, Marcionílio

e Arley (irmãos de Addler), aceitamos e

fizemos história, o que me fez ser hoje

presidente de honra com muito orgulho.”

Já Jarbas Silva se identificava com o

ritmo funk, indo a bailes funk na cidade e

na época as torcidas organizadas utiliza-

vam como música de arquibancada este

ritmo. As músicas da torcida nos bailes já

chamavam sua atenção. Mesmo gostando

da música e indo para o estádio ele não

ficava na torcida. Em 2001, começou a se

aproximar dela. Saindo do bairro pratica-

mente sozinho, ele se dirigia para o estádio

com membros de outros locais da cidade.

Todos eles falam das amizades e da

emoção de estar na torcida organizada e

consideram o espaço como uma família,

Addler Pinheiro lembra que muitas vezes

existe uma relação familiar que não é

encontrada em casa. Muitas pessoas se

dirigiam à sede da torcida ou às lojas da

torcida para fugir dos problemas domés-

ticos. Inclusive com pessoas morando na

sede, porque não tinham onde morar. Foi

o caso do lutador Maninho, que morou

durante um tempo na sede da TUF. Ele

cuidava do espaço e da Academia de Artes

Marciais que havia no local.

Para Jarbas, a TUF é uma família, todos

estão unidos em torno do Fortaleza. “Lá tem

pai de família, tem criança e tem trabalhador.”

Já Eliezio comenta que a torcida é uma verda-

deira religião, os torcedores são apaixonados

pelo time, têm um sentimento maior, seja nos

bons ou nos maus momentos. “Ano passado

o primeiro jogo nosso foi em Manaus (pela

Série C do Campeonato Brasileiro). Até hoje

estou pagando a passagem, mas fui”. Segun-

do ele, as organizadas viraram um meio de

vida, inclusive com pessoas dando a vida por

ela. Como foi o caso do presidente da TUF,

Marcionílio Pinheiro, que foi morto após a

ultima partida do Fortaleza, pelo Campeonato

Brasileiro de 2005. Na ocasião, também

morreu Fred Paiva da Silva, vice-presidente

da torcida Fúria Jovem do Botafogo.

Leões da TUF: disposição e amor em três coresÓDIO, AMOR, PAIXÃO, LOUCURA. TUDO JUNTO E MISTURADO

EM NOME DE UMA ÚNICA COISA: O CLUBE DE FUTEBOL.

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Texto: Jackson Pereira

Design: Yara Barreto

Tamara Aquino

25948-EDUCADORA 7 DE SETEMBRO JORNAIS PAPIRO.indd 925948-EDUCADORA 7 DE SETEMBRO JORNAIS PAPIRO.indd 9 09/05/2013 15:19:4309/05/2013 15:19:43

Page 10: Papiro 2012 2 - A vida num sopro

papi ro10

Quem optou por ser atleta profissional

no Brasil sabe que não encontrará

pela frente um caminho oportuno.

Não bastasse a rígida disciplina exigida pela

prática do esporte, ainda há uma série de

deficiências estruturais a que o atleta tem

que se submeter, sobretudo, se for proce-

dente da camada social mais baixa. Entre-

tanto, há “teimosos” por aí provando que

não há obstáculo intransponível, quando

realmente se quer.

Quando tinha seis anos, Tárcila Barboza

conheceu a Ginástica Rítmica. Hoje, aos dez,

a menina da comunidade do Dendê já pode

ser considerada uma promessa do esporte

brasileiro. O vice-campeonato no Torneio

Nacional de Ginástica Rítmica, conquistado

em 2011, no Ginásio Paulo Sarasate, serviu

como recompensa ao empenho da ginasta-

-mirim, que também acumula diversos títu-

los e boas participações em competições

estaduais e nacionais.

A jovem atleta, de corpo flexível e men-

te focada, revela destreza e espontaneida-

de. Quando fala, parece até gente grande.

Quem a conhece, a princípio, pode custar

a perceber que sua vida sempre foi per-

meada pela dificuldade. A mãe trabalha

como faxineira, sem renda mensal fixa, e

tem que sustentar toda a família. Precisa

se desdobrar, sempre que deseja pro-

porcionar algum tipo de lazer aos filhos.

Ciente dos obstáculos, mas, confian-

te no futuro, Tárcila demonstra esforço

em todas as atividades que realiza. Era

aluna da Escola Yolanda Queiroz e, como

se destacou, ganhou bolsa para estudar

em um tradicional colégio particular da

cidade. Ela reconhece a importância do

conhecimento para se atingir o sucesso,

sem, contudo, tirar o foco da ginástica.

“Pretendo ficar no esporte, até quando

Deus permitir”, planeja.

Tárcila treina duas vezes por semana, no

ginásio da Universidade de Fortaleza (Uni-

for), acompanhada de perto pela professora

Ester Vieira, que voluntariamente trabalha

pelo desenvolvimento da menina. Mas, a fal-

ta de patrocínio, muitas vezes, torna inviável

a participação dela em competições realiza-

das fora do Ceará, pelo custo das viagens.

Em janeiro deste ano, Tárcila esteve

no programa Caldeirão do Huck, da Rede

Globo, participando do quadro Agora ou

Nunca. Sem hesitar um só momento, ela re-

alizou as cinco provas do desafio e ganhou

o prêmio máximo, de R$ 50 mil. A menina

entregou todo o dinheiro à mãe, para que

comprasse uma casa. Contudo, esta optou

por depositá-lo em uma poupança.

COM DISCIPLINA E EMPENHO, CRIANÇAS E ADOLESCENTES ENCONTRAM NO ESPORTE

A CHANCE DE TER UM FUTURO PROMISSOR

Campeõesda vida

Texto: Bruno Parente

Design: Rones Mota Demonstrando esforço e

dedicação também nos

estudos, Tárcila ganhou

bolsa em um tradicional

colégio da cidade. Hoje ela

está na 5ª série

Tárcila já ganhou prêmio no programa Caldeirão do Huck

Brenho Rebouças

25948-EDUCADORA 7 DE SETEMBRO JORNAIS PAPIRO.indd 1025948-EDUCADORA 7 DE SETEMBRO JORNAIS PAPIRO.indd 10 09/05/2013 15:19:4409/05/2013 15:19:44

Page 11: Papiro 2012 2 - A vida num sopro

papi ro 11

A prova de que é possível

Medalha de bronze no Pan-Americano de

Guadalajara, realizado em 2011 no Mé-

xico, o fortalezense Joilson Bernardo da

Silva, de 24 anos, mostra que é possível

ser vitorioso no esporte, mesmo quando

faltam recursos. Sua trajetória no atletismo

começou aos nove anos, quando corria des-

calço pelas ruas do Mucuripe. O primeiro

tênis foi achado no lixo, bem surrado, mas

serviu assim mesmo. Aos doze, conheceu

o Projeto Atleta, do Governo do Estado, e

destacou-se em diversas provas na região

Nordeste. Daí em diante, Joilson passou a

se dedicar mais ao esporte.

Mudou-se para Londrina, no Paraná,

onde encontrou melhores condições para

treinar e, hoje mora na cidade de Campi-

nas, em São Paulo. Coleciona boas partici-

pações em eventos nacionais e internacio-

nais e serve de inspiração a muitos jovens

que desejam seguir carreira no esporte. A

prova em que Joilson mais se destaca é a

corrida de 5000m.

Nayara Rodrigues tem 16 anos e, há sete,

pratica o heptatlo. O esporte tem permi-

tido à jovem ampliar os horizontes e ter

esperança num futuro promissor. Sua mo-

dalidade reúne sete provas em uma só:

arremesso de dardo e de peso, corrida

de 200m, 100m com barreira, salto em

altura, salto em distância e corrida de

800m. Nayara já participou das Olimpía-

das Escolares, classificando-se até a ter-

ceira fase. Pretende, um dia, chegar bem

mais longe: “Espero estar nas Olimpíadas

de 2016”, ambiciona. Paralelamente à

carreira no esporte, Nayara tem o desejo

de cursar faculdade de Educação Física

ou Fisioterapia.

Companheira de pistas de Nayara, Mar-

cela Figueiredo, de 16 anos, também en-

controu no heptatlo a razão para mudar o

rumo de sua vida. “O atletismo me ensinou

a ter foco, garra, dedicação”. Praticante há

apenas um ano, Marcela já disputou compe-

tições importantes: Troféu Norte/Nordeste

de Atletismo (por duas ocasiões, sendo uma

na categoria juvenil e outra na categoria

adulto) e Olimpíadas Escolares, chegando à

segunda fase. Pretende se profissionalizar

no esporte e, também, fazer faculdade de

Psicologia ou Educação Física.

Quando o esporte dá novos rumos à vida

VEJA MAIS

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O investimento nos atletas brasileiros,

quase sempre, só vem na fase adulta,

quando eles já conseguiram provar que

o esporte vale a pena. À exceção do

futebol, o que se vê é o desperdício de

centenas de talentos, que se perdem

por não ter tido direito às condições

mínimas para a prática do esporte. São

poucos os locais com estrutura; faltam

patrocínio e equipamentos adequados;

a preparação física não é apropriada.

Imagine se no Brasil não existisse um

Ministério encarregado de “cuidar” ex-

clusivamente do esporte...

Em todo caso, quem sonha em se-

guir no esporte, possivelmente, encon-

trará muitas portas fechadas, até se

deparar com uma oportunidade. Entre-

tanto, não há espaço para lamentação,

e desistir deve estar fora de cogitação.

Dia a dia, o fôlego amanhece renovado

para cada nova batalha e, certamente,

quando for o tempo, o sucesso e o

reconhecimento chegarão.

DIREITO DE TODOS?

Joilson começou a correr, aos 9 anos, com um tênis achado no lixo

Nayara quer competir nas Olimpíadas

Bruno Mota

Tarcísio Ribeiro Tarcísio Ribeiro

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Page 12: Papiro 2012 2 - A vida num sopro

papi ro12

Eles são jovens que precisam arrumar

tempo para estudar, passear, se divertir

– tudo nas 24 horas de um dia. Esse é o

roteiro da vida de tantas crianças e ado-

lescentes. Agora imagine se eles, além de

tudo isso, acumularem a função de atletas.

Um bom exemplo disso é Vittória Lopes,

nadadora, de apenas 16 anos. A rotina da

jovem é intensa: ela treina de segunda a

sábado. Entre natação, corrida, e exercícios

extensores, para ajudar a fortalecer dos

músculos, são cerca de três horas de trei-

namento, duas dentro d’água e uma fora.

Em algumas épocas, Vittória ainda chega a

treinar duas vezes por dia, duas vezes por

semana. O horário? 05h45min da manhã,

antes de ir para o colégio.

A atleta está no segundo ano do ensino

médio. “Não sou a melhor aluna da sala,

mas sou uma boa aluna sim”, afirma. Mes-

mo com os treinos e estudos, ainda arranja

tempo para se divertir. Ela conta que muitas

vezes saía na sexta-feira sabendo que no

outro dia de manhã teria treino. Mas, em

diversas outras ocasiões, já deixou de sair

pelo mesmo motivo. “Eu tenho que me virar

em duas, mas, sabendo se organizar, dá pra

sair, namorar, passear, estudar e treinar”.

Para Vittória, o ditado “filha de peixe,

peixinha é” se encaixa perfeitamente. A

mãe da jovem é Hedla Lopes, nadadora

e triatleta, a primeira do Norte/Nordeste

a participar dos jogos Pan Americanos e

também do Ironman no Havaí. A mãe, que

entrou no esporte aos 11 anos de idade,

por indicação médica, diz que “tudo é uma

questão de disciplina, objetivo e foco”.

A “peixinha” deu seu primeiro mergulho

aos seis meses de idade e nunca mais parou.

Sua primeira competição foi aos nove anos,

que é a idade mínima para competir. Ela tam-

bém conta que sempre teve o incentivo da

família, principalmente da mãe. “Eu escuto so-

bre esporte 24 horas por dia. Às vezes canso,

mas ao mesmo tempo não consigo ficar um

dia sem falar desse assunto. É estranho, né?”.

Vittória pode ser jovem, mas a bagagem

no esporte já é bem grande. No ano passado,

a atleta foi convidada para treinar em Curitiba,

Paraná. Passou um mês e gostou. Voltou para

Fortaleza e falou para os pais que queria mo-

rar lá. Na época, ela só tinha 14 anos, mas foi

100% apoiada. Só havia um empecilho: a tão

sonhada festa de 15 anos. Ficou combinado

que ela ficaria até abril (mês da festa) e viajaria

depois. E assim foi. No fim de semana seguinte

ao baile, ela se mudou para Curitiba.

Mesmo com todo apoio, morar fora foi

um desafio. “Eu tinha que arrumar meu

quarto, lavar minhas roupas, ir ao mercado,

ir a pé para o colégio, andar de ônibus, es-

tudar e treinar”. Isso tudo com apenas 15

anos e sem a família por perto para dar su-

porte. “Era bem difícil fazer tudo isso, mas

não me arrependo de nada. Pelo contrário,

fiz amizades que pretendo guardar para

sempre e fiquei um pouco mais madura”.

E para quem está com vontade de en-

frentar essa jornada, Vittória ainda dá uma

dica: “tudo que você for fazer, tem que fazer

com felicidade. Tudo que você faz feliz e com

dedicação, pode ter certeza que dá certo.

E, claro, tem que se organizar também”.

Entre as braçadas e os livrosSER ATLETA NÃO É NADA FÁCIL. UMA ROTINA INCANSÁVEL DE TREINOS EXIGE MUITO DE QUALQUER ESPORTISTA.

SER ATLETA, ADOLESCENTE E ESTUDANTE, É MAIS DIFÍCIL AINDA

Como já treina há bastante tempo, Vittória

já tem artimanhas para administrar o seu

tempo. Mas, sua prima Emily Lopes, de 13

anos, ainda está aprendendo a conciliar os

horários. A menina, que faz o 8º ano do

ensino fundamental, nada desde quando

era um bebê, mas só começou a competir

há pouco tempo

Mas não é por isso que sua rotina é

mais leve. Assim como a prima, Emily tam-

bém treina de segunda a sábado. “É meio

difícil, porque tenho pouco tempo para es-

Seguindo os passos

“Tudo que você faz feliz e

com dedicação, pode ter

certeza que dá certo”.

tudar e fazer as tarefas do colégio entre as

aulas e a natação”. Ela ainda conta que, às

vezes, não faz as atividades da escola por

ter que dormir cedo para treinar no outro

dia pela manhã.

Emily começou no esporte por incentivo

da tia, gostou e continuou por vontade pró-

pria. Ir ao cinema, encontrar as amigas? Só

nos fins de semana. Mas, mesmo assim, se

diz apaixonada pelo que faz. Ela ainda fala que

o pai, Braz Junior, é o maior seu maior esti-

mulador. “Como eu nado, ele não exige tanto

assim das notas, mas estudar é importante”.

A mãe, Tatiana Lopes, é outra super fã, mas

cobra um pouco mais da filha nos estudos.

Vittória e Emily Lopes

Texto: Taíssa Julião

Design: Anna Rita Regadas

Raoni Souza

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Raoni Souza

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Page 13: Papiro 2012 2 - A vida num sopro

papi ro 13

Texto: Suiany Rocha

Design: Gerusa Pacheco

Correr, pular, suar e principalmente se

divertir. É o que toda criança gosta

de fazer. Que tal aliar tudo isso à

prática de esportes? Pode ser prazeroso

e ao mesmo tempo traz benefícios à saú-

de. Normalmente esse seria um conselho,

porém, nos dias atuais, se torna um alerta,

já que o número de crianças consideradas

acima do peso tem crescido. Segundo da-

dos da Sociedade Brasileira de Pediatria,

nos últimos 30 anos o índice de crianças

obesas passou de 3% para 15% no país.

Além das atividades escolares, dos cur-

sos de línguas, do acesso à internet e aos

jogos eletrônicos, muitas crianças ainda

encontram tempo para o esporte. Para mui-

tas delas, essa prática faz parte da rotina.

A atividade esportiva pode “despertar”

crianças mais indispostas. É o que relata

Daniel Moreira, profissional de educação

física há cinco anos. “Esportes coletivos são

os mais indicados. As crianças ficam mais

motivadas, já que exigem uma interação

entre elas”.

Os pequenos podem até ter uma vida de

atleta cheia de energia e disposição. Mas

uma má alimentação pode colocar em risco

os ganhos com os exercícios físicos.

Lara Oliveira tem 10 anos e uma rotina

diária de atividades esportivas. Mesmo com

as obrigações escolares e o curso de inglês,

a garota pratica hip hop, joga futebol na

quadra do condomínio onde mora e ainda

frequenta um clube de vôlei.

Ela diz que não se cansa e que só não

fica mais tempo nas suas diversões porque

sua mãe não deixa. “Nem vejo o tempo pas-

sar quando estou jogando” explicou Lara

ainda bem eufórica por conta do treino.

Luciana Oliveira, mãe da pequena es-

portista, diz que a filha tem muita energia,

mas, na hora de comer, sempre dá traba-

lho. Enquanto a filha se alimenta, a mãe

está sempre de olho. Alimentos ricos em

proteínas e carboidratos estão sempre no

cardápio da Lara, mesmo ela tendo outras

preferências. “Eu adoro sushi”, revela.

Zeneide Ferreira é mãe de Ana Tereza

também de 10 anos. Foi dela a ideia de ma-

tricular a filha no vôlei. Não só pela queima

de calorias, mas pela timidez da filha. Ela

acredita que o vôlei, por ser uma atividade em

grupo, pode ajudar na socialização de Ana.

A menina diz que, no começo dos trei-

nos, há dois anos, tinha pouca disposição

para o esporte. Hoje, encara muito bem sua

rotina de atividades e sai de lá com muita

fome. “Se eu pudesse, saía daqui e iria direto

para o McDonalds”, disse ela, num momento

em que a mãe não estava por perto.

Rafaele Nunes é professora de vôlei num

clube de Fortaleza. Seus alunos têm entre

8 e 14 anos. Embora o objetivo não seja

formar atletas profissionais, as crianças de-

monstram muito empenho e dedicação du-

rante os treinos, segundo a professora. Não

existe aula teórica; apenas um aquecimento

inicial e depois é hora de suar a camisa.

Apesar de ser chamada carinhosamen-

te de Tia Rafa pelos alunos, na hora do

treino ela impõe um ritmo acelerado. Fica

atenta a tudo que os pequenos atletas fa-

zem na quadra durante uma hora, tempo

médio de treino.

Falando de alimentação, a professo-

ra explica que não receita nem um tipo

de dieta, mas que sempre dá dicas aos

alunos. “(Sempre digo a eles,) bebam bas-

tante água e sucos e evitem alimentos gor-

durosos e refrigerantes”. Mas reconhece

que o próprio local de treino dispõe de

uma lanchonete bastante tentadora, cheia

de atrativos, principalmente para crianças.

Glauber Marques tem 13 anos e joga

vôlei duas vezes na semana. Ao sair do

treino, ainda bastante suado, foi direto

para a lanchonete e comeu um salgadi-

nho frito acompanhado de uma latinha de

refrigerante.

“Se deixar por conta dele, é sempre

assim”, reclama Mair Marques, mãe de

Glauber. Normalmente ela não permite este

tipo de alimentação e procura incentivá-lo

a tomar sucos, comer frutas e cereais. Ela

disse ainda que este caso foi exceção já que

estava “apressada” naquele dia.

O perigo na vitrine dos docesAS ACADEMIAS E CENTROS ESPORTIVOS ESTÃO CHEIOS

DE PEQUENOS ATLETAS. MAS APENAS O EXERCÍCIO

PODE NÃO SER SUFICIENTE PARA GARANTIR UMA

INFÂNCIA SAUDÁVEL

“(Sempre digo a eles)

bebam bastante água e

sucos e evitem alimentos

gordurosos e refrigerantes”

Rafaela Nunes, professora de vôlei

Nem sempre o local dos treinos oferece alimentação adequada

Humberto Mota

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Cerca de 30 minutos antes do início da

atividade esportiva é importante o consu-

mo de proteínas, carboidratos, vitaminas

e minerais. É o que aconselha a nutri-

cionista Maria das Graças Mendonça.

Ela explica que uma alimentação

balanceada com frutas, hortaliças e ali-

mentos integrais, ricos em fibra, deve

ser um hábito principalmente na infân-

cia, na qual há uma rápida metaboli-

zação. A falta desses nutrientes gera

um déficit nutricional. E o consumo de

alimentos com calorias vazias, como

é o caso dos doces, refrigerantes e

gorduras, eleva rapidamente a energia,

gerando um pico rápido e em seguida

uma baixa energética maior que o pico.

Após o exercício é importante que a

reposição de calorias seja de forma gra-

dativa através de sucos naturais ou bar-

ras de cereais e depois uma alimentação

constituída de proteínas e carboidratos.

A nutricionista ressalta a importância

da consciência que os pais devem ter na

educação alimentar dos filhos, seja es-

portista ou não. E que o hábito de comer

bem deve ser adotado por toda a vida.

DICAS

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Page 14: Papiro 2012 2 - A vida num sopro

papi ro14

Texto: Lylla Lima

Design: Anderson Paixão e Andrei Tavares

Quem não gostaria de ter a sor-

te grande de ganhar na loteria?

Ficar milionário da noite pro dia,

realizar seus sonhos, fazer o que a vida

até então não tinha lhe proporcionado.

mais vezes os sonhos viram verdadeiros

pesadelos, que o diga pessoas que ganha-

ram prêmios grandes, viram suas vidas

mudarem e o dinheiro em pouco tempo

ir embora, deixando o arrependimento,

solidão e tristeza. O que mudou na vida

delas? Como vivem hoje?

Não faltam historias de pessoas que

enriqueceram de uma hora pra outra. Cer-

ca de um terço dos novos milionários vão

a falência dentro de alguns anos, segundo

uma pesquisa realizada nos Estados Uni-

dos, seja pela imaturidade, inocência ou

outros motivos. Antônio de Souza ganhou

9 milhões de Cruzeiros, que na década de

70 poderiam ter comprado casas, carros

e etc. Hoje não tem mais nenhum centavo

e nenhum bem que tenha comprado com

esse dinheiro. A família, que mora em For-

taleza, nos atendeu muito bem, mas alertou

que ele não fala sobre o assunto há anos,

nem mesmo com sua esposa Aglida, que

sobrevive com seu salário de professora.

lhar aos 15 anos, casou, teve duas filhas,

separou, repartiu a casa com a ex-mulher,

casou-se novamente, tem dois enteados e

uma cachorra. Desde menino sempre acre-

ditou que um dia a sorte e a perseverança

iam ganhar.

Em rifas de amigos, de vez em quando

vencia. Seu primeiro grande prêmio foi

em uma gincana na TV, na qual ganhou

um sofá e uma estante, em 1988. No

trabalho, emprestava dinheiro aos ami-

gos, pra depois ganhar o seu em cima.

Toda semana ia até as casas lotéricas

e fazia sua aposta. Mas avisa: é preciso

ter controle “Tem gente que usa o jogo

como vicio. Se você tem dinheiro pra jogar,

GANHAR PRÊMIOS EM SORTEIOS É QUESTÃO DE SORTE OU AZAR? VEJA COMO O DINHEIRO

TRANSFORMA A VIDA DAS PESSOAS. E ACREDITE: NEM SEMPRE O RIQUEZA TRAZ FELICIDADE

Dj Alemão

Dinheiro na mão é

vendaval

Souza hoje ganha um salário mínimo.

Antes de ficar milionário, ele ganhava pelo

menos 3 salários com seu emprego na

Petrobras. Logo que ganhou na loteria dei-

xou o cargo. Um homem calmo, que cria

gatos abandonados da rua, mas realmente

o assunto lhe incomoda, o arrependimento

é grande. A família o acha forte por nunca

ter tentado cometer uma besteira contra

si mesmo.

Mas também há o outro lado, há pes-

soas que mudam sua realidade, ajudam o

próximo e criam, com o dinheiro ganho,

fonte de renda. Ilvan Silva, conhecido onde

mora por Gil, tem 47 anos e trabalha de

porteiro em um colégio. Começou a traba-

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Page 15: Papiro 2012 2 - A vida num sopro

papi ro 15

O matemático Munir W. Niss é au-

tor de 4 livros que tratam sobre

a Mega Sena. Seu livro de maior

sucesso é o Segredo das Loterias,

lançado no ano de 2003. Munir tra-

balhou 30 anos em lotéricas, há

13 dá palestras sobre o assunto

e diz já ter ganhando 40 vezes na

Mega Sena. Para o pé quente Munir

três fatores são relevantes para

que se seja um ganhador: sorte,

dinheiro para apostar e estratégia,

cada um com 33% de chance. Uma

dica dele é Jogar pouco os números

com final nove ou final zero, pois

saem menos.

jogue. Mas se você não tem deixe pra lá,

amanhã é outro dia.”

Anos se passaram e o grande dia che-

gou. Em um domingo, foi almoçar na casa

da sogra com toda a família, mas quando

chegou lá lembrou que tinha esquecido a

cartela pra marcar. O sorteio acontecia ao

vivo pela TV. Então voltou pra buscar e sua

irmã disse: “hoje você ganha”. Gil respondeu

“Deus te ouça”, e saiu. Marcando sua carte-

la sozinho na sala, estava insatisfeito, pois

nas 10 primeiras pedras não saiu nenhuma

das suas. Disse a si mesmo: “Que cartela

ruim.” Mas o jogo virou e em seqüência

seus números começaram a sair, só faltava

uma pedra pra ele “bater”, a de numero 13.

O incrível é que Gil sempre teve supersti-

ção com esse numero. De todas as cartelas

que comprava todas tinham que ter obriga-

toriamente o número 13. E foi essa mesma

que lhe garantiu o prêmio de 200 mil re-

ais. Chamou a família e avisou do ocorrido.

Todos em festa, conhecidos começaram

a ligar. A cartela era no nome dele e sua

esposa Solange, que todos chamam de Sol.

A data de entrega do prêmio foi mar-

cada para a terça-feira da mesma se-

mana e obrigatoriamente tinha que ser

entregue na casa do ganhador e com a

presença da equipe de televisão do pro-

grama. “Ele é sortudo”, alguns diziam, mas

para Gil não é só questão de sorte. “Só

Todas as cartelas que

Gil comprava tinham que

ter obrigatoriamente o

número 13

Carlos Soares/Aline Araujo

ganhei porque jogo, se você não está no

meio não tem como”. Calmo e observa-

dor, Gil, juntamente com Sol, abriu uma

conta, depositou o dinheiro e só retirou

aos poucos. O primeiro grande sonho a

realizar foi a compra da casa de cima, a

que teve que dividir com sua ex-esposa,

que na época alugava o imóvel. Com o

dinheiro, ele pôde comprar a casa de cima

e continuou alugando, pra ter uma fonte

de renda. O segundo passo foi reformar

sua casa. Todos os moveis velhos foram

trocados, menos o fogão que ele tinha

comprado uma semana antes de “ficar

rico” contrariando sua esposa, que estava

precisando também de um novo armário

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de cozinha. Então ele disse a ela: “não

se preocupe, semana que vem a gente

compra” e assim foi feito.

O carro da família, um Chevette foi re-

formado e rifado. Posteriormente com-

prou um novo carro. Ajudou a familiares e

hoje ainda tem uma boa quantia deposita-

da, pra caso de urgência. Vive somente do

dinheiro de seu trabalho e dos seus bicos,

faz pequenas entregas, transporte de co-

nhecidos e ainda consertos de eletricida-

de. Alguns problemas apareceram com a

chegada da nova vida. Amigos aos montes,

pessoas que tinham idéias mirabolantes e

só precisavam de alguém pra entrar com

o capital. Gil soube cuidar do dinheiro mas

conhece amigos que também ganharam

em jogos e em pouco tempo perderam

tudo ou quase tudo.

“Maré”, amigo de Ilvan é um deles. Ga-

nhou 20 mil reais no proibido jogo do bicho,

comprou duas casas para alugar, mas logo

trocou uma delas por uma moto, e poste-

riormente vendeu pra pagar dividas. Assim,

o dinheiro que vem fácil também vai fácil.

Gil não tem nenhum vicio, mas reconhece

que, para pessoas envolvidas com bebidas,

drogas e outros estão mais propícias, in-

clinadas a gastar o dinheiro de maneira

descontrolada e superficial.

O porteiro continua comprando semanal-

mente suas cartelas, duas vezes por sema-

na. Guarda uma pequena coleção delas que

junta desde o dia que ganhou. Quando lhe

pergunto se ele continua jogando ele me res-

ponde que sim e diz: “se eu comprava quando

não ganhava, avalie agora que ganho”. Ele

já tem planos com que fazer do próximo

prêmio. Irá tirar sua carteira tipo C (só tem

A e B) para comprar e dirigir um caminhão,

assim podendo aumentar o tamanho e o

número de seus fretes. Diante de tanto oti-

mismo, a vontade que dá é de acreditar na

sorte também e correr até uma lotérica.

Gil continua jogando, mesmo depois de vencer

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Idosos na ativa FOI-SE O TEMPO EM QUE OS AVÔS FICAVAM APENAS EM CASA AOS CUIDADOS

DE FILHOS E NETOS. HOJE ELES FAZEM QUESTÃO DE MANTER SEUS TRABALHOS

COMO FONTE DE RENDA OU HOBBY

Texto: Dayanne Feitosa Dutra

Design: Gerusa Pacheco

Próximo a Praça dos Leões, no centro

da cidade de Fortaleza, encontramos

o sebo – um local onde é possível

encontrar livros antigos - onde o dono tem

um apelido muito propício para as come-

morações de final de ano: Papai Noel, como

é popularmente conhecido o comerciante

Francisco Antônio Cavalcante. Ele divide o

espaço do pequeno comércio com os livros

de Lima Barreto, Machado de Assis, William

Shakespeare e fica à espera de sua clien-

tela. Seu local de trabalho está nos fundos

de uma grande livraria da praça. Ao entrar

no local, já podemos ver as letras com os

dizeres: Paradidádicos Papai Noel.

Segundo Antônio, a origem do apelido

foi dada quando ele tinha 30 anos, com

os cabelos brancos e então os amigos o

apelidaram. Desde então, ficou conhecido

por Papai Noel. Já recebeu várias cartas

e doces de crianças, mas nunca recebeu

nenhum presente. “O pessoal acha que o

Papai Noel é mais pra dar presente (risos).

O meu presente é essa confraternização

aqui sabe, essa consideração e o respeito

que tem por mim.”

Em 1990, ele começou a fazer troca de

livros. Atualmente, um filho e um neto lhe

ajudam no trabalho. Com 66 anos de idade,

Papai Noel ainda segue o mesmo método

de venda, trocando um livro seu por dois

do cliente. Ele afirma que sua profissão tem

uma grande responsabilidade e fica grati-

ficado pela amizade e confiança de seus

clientes. “Quem vende livro, no meu caso, é

assim uma coisa espiritual sabe? Alimenta

mesmo a alma da gente, principalmente

quando a pessoa pede um livro e a gente

tem. Aqui é uma maravilha”, comemora.

Paradidáticos Papai Noel

Rua: Gen.Bezerril, 396 – Praça dos

Leões (Centro)

* SERVIÇO

Ele denomina seu trabalho como “se-

bista” e conta que tem grande apreciação

pela leitura de vários gêneros. “Eu gosto

dessas histórias assim de interior. De fic-

ção, suspense, superstições... eu me ligo

muito nessas histórias, gosto muito de ler.”

Diversas gerações já frequentaram seu es-

tabelecimento. “Eu tenho pessoas que já tão

na faculdade, já casaram e tão comprando

livro para os filhos. Então a gente fica com

uma responsabilidade muito grande sobre

esse negócio de livro. Por que você tem eu

vender o livro certo, não adianta vender o

livro errado”. Ele trabalha todos os dias e

diz que vai seguir fazendo assim até não

poder mais. “Aí a determinação já num é

minha, é de Deus mermo, a determinação

é de Deus né?!”, ressalta.

Brasil tem 29 milhões de aposentados e pensionistasO personagem apresentado mostra que

apesar da idade, ainda se sente bem aju-

dando ou auxiliando de certa forma a so-

ciedade. Não são todos os idosos que têm

a possibilidade de se manter na ativa. Mas

é cada vez maior o número de pessoas

que, após a aposentadoria, ainda mantém

seus empregos ou procuram um hobby.

Muitas vezes a continuidade no trabalho

é para o sustento da família. Segundo o

censo do IBGE de 2000, 62,4% dos idosos

e 37,6% das idosas são responsáveis pelo

sustento da família. Juntos, somam uma

população de 8,9 milhões. Ainda segundo

o IBGE, quase seis milhões de idosos com

60 anos ou mais ainda trabalham, repre-

sentando 30,9% do total. Na faixa de 70

anos ou mais, o percentual é de 18,4%. O

idoso não é mais considerado alguém sem

utilidade. Diversas empresas reservam va-

gas de emprego para pessoas da terceira

idade, por suas experiências e sua dedica-

ção no trabalho. Além disso, o idoso que

trabalha ou mantém um hobby, se sente

ainda mais vivo.

“Quem vende livro, no meu

caso, é assim uma coisa

espiritual sabe? Alimenta

mesmo a alma da gente,

principalmente quando a

pessoa pede um livro e

a gente tem. Aqui é uma

maravilha.”

VEJA MAIS

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Papai Noel nem pensa em parar de trabalhar

Fabrício Alves

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papi ro18

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Através das redes sociais, como Face-

book, Orkut e sites de relacionamen-

tos como o Badoo, muitos casais

acabam se conhecendo, fugindo da paquera

tradicional do olho no olho, para relaciona-

mento virtual. Foi o que aconteceu com dois

jovens de mundos diferentes, unidos com a

ajuda do Facebook.

Paulo Jordão, de 24 anos, técnico

em mecatrônica, morava na cidade de

Campinas, no estado de São Paulo com

sua família, ele era membro da Igreja de

Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias,

conhecida popularmente como a Igreja

dos Mórmons. Segundo as crenças dessa

religião, os jovens são chamados para

servir uma missão de tempo integral,

dedicando-se dois anos de sua vida para

pregar o evangelho de Jesus Cristo em

qualquer parte do mundo.

Em julho de 2008 chegou a vez de

Paulo, que foi enviado para fazer missão

na cidade de Fortaleza. E junto com ele

vieram às regras. Uma delas era a proi-

bição de qualquer contato íntimo com

uma mulher. “Os missionários não podem

namorar na missão”, diz ele.

Depois de dois anos, em julho de

2010, Paulo volta para sua cidade com

o dever cumprido. Ele nem imaginava que

a vinda para capital cearense mudaria

sua vida.

Any Lima, estudante de Jornalismo

de 25 anos e também membro da Igreja

de Jesus Cristo do Santos dos Últimos

Dias, morava em Fortaleza com sua mãe

HOJE É COMUM CONHECER

PESSOAS QUE ENCONTRAM

SUA ALMA GÊMEA

NAVEGANDO NA INTERNET.

VOCÊ ACREDITA QUE UM

RELACIONAMENTO VIRTUAL

PODE DAR CERTO? ANY E

PAULO PROVAM QUE SIM

O cupido pede login e senha

e sua avó. A jovem tinha uma vida nor-

mal, dedicando-se aos estudos e a igreja.

Mas uma sugestão de amizade no seu

Facebook começou a mexer com os seus

sentimentos e com a sua rotina.

Any, navegando na rede social viu Pau-

lo Jordão como sugestão de amigo, e ao

perceber que tinham amigos em comum

da igreja, enviou um convite de amizade.

E o rapaz logo aceitou. Tiveram a primeira

conversa e as primeiras perguntas virtual-

mente, no bate papo do site. “Ele era meio

chatinho, metido... eu não gostava muito

dele”, diz Any dando risadas.

Com o tempo, Paulo insistiu e pediu seu

MSN, foi ai que o papo ficou mais interessan-

te e com mais freqüência. “Falei um pouco

da minha vida, e ele da dele, e vimos que

tínhamos bastante coisa em comum,” afirma

Any. Eles moravam com a mãe e com a avó.

Depois do MSN veio a troca de telefone,

que aumentou ainda mais a afinidade en-

tre os dois. Mas, Paulo ainda tinha dúvidas

sobre Any, e pediu para um amigo, que co-

nheceu na missão quando estava em For-

taleza, para verificar as informações dadas

pela moça. Seu amigo confirmou tudo, e o

interesse do rapaz só aumentou, pedindo

a jovem em namoro.

Em outubro de 2010, Any precisou ir

para São Paulo tirar seu visto para os Esta-

dos Unidos no consulado americano. Ficou

hospedada na casa de sua prima. Porém, já

tinha combinado com Paulo de encontrá-lo

nessa viagem.

Tudo ocorreu como ela tinha planeja-

do. o primeiro encontro entre os dois foi

inesquecível, e o primeiro beijo aconteceu.

Quando a estudante de jornalismo retor-

nou a Fortaleza, já estava completamente

apaixonada. “Todos os dias ele me ligava pela

manhã e a noite. Ficávamos conversando pelo

celular por até três horas”, comenta a garota.

No final de 2010, Paulo veio para

Fortaleza passar o ano novo com sua

amada e conhecer sua família. Uns três

dias antes de ele voltar para Campinas

fez uma surpresa, comprou as alianças

e pediu a namorada em casamento. Mas,

por serem da religião dos Mórmons, pre-

servaram a lei da castidade: sexo somen-

te depois do casamento.

Aproxima-se o grande dia, Any e sua

mãe viajam para Campinas. Organizam

duas cerimônias, uma no dia 22 de julho

no cartório, e na manhã do dia seguinte no

templo sagrado, onde é permitida somente

a entrada de membros da Igreja dos Mór-

mons. Acontece uma festa bem simples

para a família e amigos do casal.

Depois do casamento, o casal decide

morar com a mãe de Paulo em Campinas.

Seis meses depois retornam para Fortaleza

em busca de oportunidades.

Hoje continuam se amando e firmes

na igreja, planejando até ter filhos no final

do ano. Isso tudo graças a uma simples

sugestão de amizade no Facebook.

Texto: Gil de Souza

Design: Amanda Rodrigues

Arquivo Pessoal

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Page 19: Papiro 2012 2 - A vida num sopro

papi ro 19

QUANDO A INTERNET

VIRA UMA ARMA NOCIVA

E PERIGOSA NA MÃO DE

QUEM NÃO SABE USÁ-LA

PARA SE RELACIONAR

Deletando a relação

Assim como muitos casos amoro-

sos pela Internet dão certo, outros

que talvez tivessem tudo para ser

eternos, acabam nem saindo das telas

do computador. O encantamento pela

pessoa que não está perto fisicamente

pode decidir o futuro de alguém. Foi o que

aconteceu com Leandro Gomes, 25 anos,

estudante de biologia, e Sara Oliveira, 21

anos, vendedora.

Eles se conheceram em janeiro de 2010

por um site de bate-papo. Ao entrarem na

mesma sala virtual, eles começaram uma

conversa. Leandro achava que seria só mais

uma conversa. Mas como ele conta, o papo ia

ficando mais interessante. “Era uma conver-

sa bem descontraída. Passamos horas con-

versando sobre assuntos do nosso dia-a-dia.

Queríamos saber as coisas básicas, como

onde mora, o que faz, do que gosta etc.”.

Neste mesmo dia, Leandro e Sara tro-

caram seus emails pessoais e se despe-

diram. No dia seguinte, Leandro entrou na

Internet e viu que Sara tinha aceitado seu

pedido para ser um dos seus contatos,

então eles começaram a conversar nova-

mente. E a partir daí foram todos os dias,

no mesmo horário. Dessa forma eles iam

se conhecendo melhor, até já podiam se

ver pela webcam.

Depois de algum tempo se relacionando

via internet, a moça conta para a família

do caso amoroso, para surpresa tanto de

Leandro como dela mesmo, a família não

aceitou o namoro. Além de eles morarem

em cidades diferentes – ele em Fortaleza,

ela em São Paulo -, não se conheciam pes-

soalmente e desde então começaram os

conflitos de um namoro pela internet. Por

incrível que pareça, as brigas entre eles

aumentaram e decidiram terminar. Com

pouco mais de duas semanas, eles voltam,

mas nada era como antes. Começaram a

perceber que realmente não daria certo

continuar, pois eles viviam em mundos total-

mente diferentes. Também foram influencia-

dos pelas histórias que eles mesmos já co-

nheciam de relações virtuais mal-sucedidas.

O estudante afirma que os relacionamentos

pela internet nem sempre são seguros e

exigem muito do casal.

Leandro ainda gostava muito de Sara,

mas precisava pensar no seu futuro. En-

tão disse um não definitivo para o namoro

com ela. Hoje, ele avalia que foi a melhor

saída para todos os problemas que estava

enfrentando. Leandro e Sara ainda se fa-

lam, mas reconhecem que não dão mais

certo juntos e cada um segue sua vida.

Isso pode muito bem se adequar à

situação que Renata Nayara, 22 anos,

organizadora de eventos, viveu. Ano passa-

do, ela namorou com Evilásio Mendes, 24

anos, empresário. Mas o relacionamento

não pôde ir adiante, justamente por causa

da internet.

A partir do dia em que o relacionamento

foi assumido publicamente, a ex-namorada

de Evilásio passou a intrometer-se na vida do

casal, sobretudo na vida de Renata. Foi atra-

vés da internet que a ex-namorada conseguiu

encontrar o perfil de Renata no Facebook. E

desde então, descobriu emails e telefones.

De acordo com Renata, a outra sabia de

tudo que acontecia na vida do casal, graças

às publicações no mural do perfil de Renata.

“Virou um inferno. Tive que excluir o per-

fil na rede social”, conta ela.

Um dos pontos negativos é a des-

confiança. Para Renata, essa foi um dos

motivos que a levou a terminar o namoro

que mantinha com Evilásio há pouco mais

de três meses. A ex-namorada começou

a postar fotos antigas dela e do rapaz,

induzindo que fossem atuais, o que de-

sagradou Renata.

Renata conta que com todos os insul-

tos, intrometimentos e abusos que ela so-

freu, não teve outra saída a não ser termi-

nar tudo com Evilásio, pois estava sendo

caluniada por uma pessoa que nunca tinha

visto. E na opinião dela, existem emque não

vale a pena passar por causa de outras

pessoas. Para ela, a internet teve um lado

negro neste ponto, pois trouxe vergonha,

medos e receios.

Essa ferramenta que hoje é tão im-

portante, mostra que nem sempre é fácil

manter um relacionamento. Na maioria das

vezes poder ajudar e também atrapalhar

diretamente no destino dos casais.

Texto: Elrica Mara

Design: Amanda Rodrigues

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Bárbara Rodrigues

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A vida na newsroomO MODELO INOVADOR DE REDAÇÃO INTEGRADA, ADOTADO PELO CURSO DE JORNALISMO

DA FA7 PARA O FECHAMENTO DO PAPIRO, VOLTOU A REUNIR ESTUDANTES E

PROFESSORES EM TORNO DO FRISSON DA NOTÍCIA.

Fotos: Cynthia Nogueira

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