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abril 2014 1 ano 2 | número 4 | abril 2014 PAPO DE MONTANHA Revista do CEL Banco de acidentes CBME Um Índio escalando na Suíça História do Montanhismo em Niterói Um fenômeno recente?? A Escalada Contemporânea no Rio de Janeiro Antonio Paulo Faria Carta de um Montanhista Relato do Salomyth de uma experiência na escalada aos 75 anos

Papo de Montanha - Abril 2014

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Papo de Montanha é uma publicação do CEL - Clube Excursionista Light (celight.org.br)

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ano 2 | número 4 | abril 2014

PAPO DE MONTANHA Rev

ista

do

CEL

Banco de acidentesCBME

Um Índio escalando na Suíça

História do Montanhismo em NiteróiUm fenômeno recente??

A Escalada Contemporânea no Rio de JaneiroAntonio Paulo Faria

Carta de um Montanhista Relato do Salomyth de uma experiência na escalada aos 75 anos

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índice

editorialano 2 | número 4 | abril 2014

CEL - Clube Excursionista Light Presidente: Éder AbreuVice-Presidente: Fernando AraújoSecretaria-Geral: Ricardo MarinsTesouraria: Claudio Van e Norma BernardoDiretoria de Montanhismo: Filipe Careli e Rafel VargensDiretoria Social: Gabriela LimaDiretoria de Ecologia: Daniel ArlottaDiretoria de Comunicação: Karla Paiva e Claudney Neves Diretoria Cultural: Miriam Gerber

Projeto Gráfico inicial: Paulo FerreiraOrganização: Claudney Neves Editoração: Karla Paiva

Foto de capa: Renato Índio do Brasil escalando. Foto: Thomas Good, Suíça.

Papo de Montanha é uma publicação do CEL - Clube Excur-sionista Light. As opiniões expressas pelos autores são de inteira responsabilidade dos mesmos e não representam a opinião da revista Papo de Montanha e do CEL.

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AplicativoCroqui............................................... 35

CBMEBanco de acidentes........................... 20

CapaUm Índio escalando na Suíça............ 28

Complexo da Boca do Rego Escaladas diversas em Resende ...... 12

História do Montanhismo em NiteróiUm fenômeno recente?.. ...................04

Relato de um Montanhista Vitória, consegui! Por Salomyth......... 38

Desde o início, o objetivo da Revista Papo de Montanha é o de trazer matérias interessantes não só para os sócios do CEL, mas para todo o público montanhista. Para isso buscamos novidades, matérias inéditas, criativas e informativas, sem esquecer do nosso passado com as histórias de nossos precursores.

Nesta edição o passado vêm à tona com um relato emocionante de Salomyth Fernandes, que nos conta como foi sua volta às montanhas, aos 75 anos de idade!

Antonio Paulo Faria também nos fala de sua contribuição e mostra um pouco das histórias de algumas das conquistas mais importantes no Rio de Janeiro.

Alex Figueiredo situa Niterói nesse cenário histórico e Filipe Careli mostra quanto a cidade de Resende tem a oferecer em vias para diversão dos escaladores.

Apresentamos ainda um software desenvolvido para facilitar a vida de quem deseja ter seus croquis ao alcance de um toque.

Buscando entender como muitos acidentes e incidentes acontecem, a CBME reformulou seu banco de dados e aguarda o seu relato. Mostramos nessa edição como isso funciona e porque é tão importante colaborar.

Em nossa matéria de capa poderemos ver belas fotos e o relato da passagem de um índio escalador pela Suíça. Imperdível!

Boa leitura!

A Escalada Contemporânea no Rio de JaneiroMinha contribuição. Por Antonio Paulo Faria...................................................23

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História do Montanhismo em Niterói, um fenômeno

recente?Por Alex Figueiredo

Colaboração e fotos: Leandro do Carmo

(pitbullaventura.blogspost.com)

Quando da fundação do Clube Niteroiense de Montanhismo, em 2003, se debateu sobre este tema, se o CNM seria “inovador” ao ser criado na região leste da Baía da Guanabara.

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Logo depois de sua criação, a surpresa! O sexto clube de montanhismo do Brasil era de Niterói! O extinto Clube Excursionista Icaraí (CEI), fundado em 03 de maio de 1939, com o lema; “Sois brasileiros? Quereis conhecer de perto a vossa pátria? Inscrevei-vos no Clube Excursionista Icaraí.” Com atividades de caminhadas tanto em Niterói quanto no Distrito Federal (a atual cidade do Rio de Janeiro).

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Mas, entre o CEI e o CNM temos um hiato de tempo de 63 anos... O que houve nesse período? Existia a prática de montanhismo em Niterói e arredores?

Em Niterói sempre houve atividade de tropas escoteiras em diversos bairros, o que sem dúvida, permitiu que a prática do montanhismo continuasse em nosso berço, sendo algo um pouco “naturalizado”, mas não com a alcunha de montanhismo, era simplesmente o hábito de frequentar nossas florestas e montanhas, mas infelizmente não como a ideia de um clube excursionista como conhecemos hoje em dia.

Os excursionistas da Capital vinham frequentar nossas montanhas que, de certa forma, eram pouco exploradas, sendo que a primeira conquista de uma via de escalada em Niterói foi, parece, em 1956, batizada de “Artificial da Conquista”, na Agulha Guarish, Serra da Tiririca. Tivemos também a “Chaminé Campelo”, em 1956 no morro do Cantagalo, na Reserva Darcy Ribeiro (conhecida hoje como Setor Darcy Ribeiro, do Parque Estadual da Serra da Tiririca) e o “Paredão Surpresa” em 1978, no Morro do Santo Inácio.

Na década de 70, houve cerca de 8 conquistas de vias, 13 conquistas na década de 80 e 10 até fins dos anos 90. Após este período, as rochas niteroienses testemunharam uma verdadeira febre de novas de vias de escaladas!

Mas voltando a ideia de Clubes de Montanhismo, em junho de 1989 houve

a fundação do Grupo Caminhante Independente, por Gerhard Sardo que, originalmente, almejava a ideia de um clube excursionista, tanto que em suas programações de atividades, o informativo do GCI constava um item curioso, que era “Influência Ideológica” onde elencava os nomes dos clubes de montanhismo cariocas. Houve também o Grupo Terra, mas de curta duração.

Em 1992 o GCI executou um projeto que foi, a seu modo, um marco na História das Montanhas de Niterói, a campanha SOS Montanhas de Niterói, quando foram realizados mutirões de limpeza em todos os topos e trilhas do município. Nesse momento, as pessoas que frequentavam as trilhas se deram conta de duas informações importantes: SIM, nós temos montanhas! E do quanto estavam degradadas.

Infelizmente também em 1992 o GCI começou a enveredar o caminho do movimento de defesa ambiental, perdendo de forma irreversível sua ideia original, que era o de um clube de montanhismo. Mas essa iniciativa acabou rendendo frutos, e membros deste grupo fundaram: o Grupo Cauã de caminhadas; Grupo Sussuarana, de Jorge Antônio Lourenço Pontes e Flávio Siqueira, ambos de curta existência no território fluminense; e o Projeto Ecoando, em 1994, de Cássio Garcez, que é um misto de empresa de ecoturismo e de um Clube Excursionista, que existe até hoje.

O ano de 1994 também foi marcado pela tragédia no montanhismo fluminense. Em 25 de setembro de

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Via Luiz Arnauld - Morro do Tucum

“Na década de 70, houve cerca de 8 conquistas de vias, 13 conquistas na década de 80 e 10 até fins dos anos 90.”

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Foto: Parque Estadual da Serra da Tiririca

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1994 um grupo do Clube Excursionista Brasileiro, em uma atividade de caminhada ao Morro do Cantagalo, foi atacado por um enxame de abelhas africanizadas, gerando o óbito de Herald Zerfas (guia) e Joaquim Afonso Braga. Herald era um montanhista apaixonado pelas montanhas de Niterói, onde realizava diversas

caminhadas e escaladas, sempre com bom humor e um chapéu estilo tirolês.

Ao iniciarmos o novo milênio, o montanhismo em Niterói ressurgiu em sua forma mais organizada e, com o apoio da FEMERJ montanhistas organizaram, finalmente, o segundo clube de montanhismo de Niterói, o Clube Niteroiense de Montanhismo,

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que teve em sua primeira diretoria Gustavo Muniz (presidente), Alan Marra (vice-presidente), Nise Caldas (tesoureira), Jerônimo dos Santos (diretoria técnica) e Alex Figueiredo (diretoria de meio-ambiente).

Agora, nove anos se passaram desde a primeira reunião organizada por essas pessoas e, dessa forma, tivemos um período de diversas atividades, explorações e conquistas, mas principalmente, 9 anos se passaram de risos, aventuras e camaradagem, que nos deram muitas alegrias e histórias para contar.

Em Niterói temos aproximada-mente 12 setores de escaladas, es-palhados por 9 montanhas e falésias, em um total de quase 180 vias, que vão desde vias curtas, passando pelas es-portivas, até vias com mais de 500 m de extensão. Isso sem contar com os setores de boulders, que dispensam comentários.

A maior concentração de vias está no Parque Estadual da Serra Tiririca - PESET, com cerca de 78% delas. Mas os locais de fora do parque também impressionam pela beleza, com destaque para o Morro do Morcego. De lá se tem um visual fantástico da Baía da Guanabara e montanhas do Rio de Janeiro, tendo 6 vias. A famosa “Pracinha de Itacoatiara”, também se destaca pela quantidade de boulders e vias esportivas. Com fácil acesso, é possível estacionar o carro a poucos metros do local.

Via Bromibondo - Bananal

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http://aoutraesquerda.blogspot.com.br

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Mas vamos ao que importa: e as escaladas? Só no PNI? Apesar de Itatiaia ser um paraíso de pedras, neste artigo vamos nos focar em alguns picos próprios de Resende. A cidade é cercada pela Serra da Mantiqueira por um lado e pela Serra do Mar por outro e, mesmo sendo em grande parte uma planície, a cidade possuí várias falésias com um acervo grande e variado de vias. Destacaremos aqui aquele que foi o primeiro pico de grande porte em Resende, o berço da escalada esportiva na região e até hoje a escola de muitos escaladores: O Complexo da Boca do Rego.

Possui diferentes tipos de escalada, dividindo-se em 6 setores e diversos boulders. É cortado pelo Rio Pirapitinga, que forma dois excelentes poços para banho bem próximos às escaladas.

Como Chegar: Já em Resende, pegar a BR – 161 no bairro Alambari próximo a Rodoviária Graal e seguir por 8,5 km até chegar em uma ponte de arco. Virar à esquerda na estrada de chão logo antes da ponte e seguir por 1,5 km até chegar numa bifurcação Vire a direita em direção a fazenda e seguir por mais 2,5 km até chegar num balneário (Identificado por um poste de concreto ao lado da estrada com a sigla FLUMITUR antigo restaurante na década de 80 hoje em ruínas). A pedra atrás do balneário é o setor principal da Boca do Rego. Para Pedra do Bode e do Bodinho, suba a estrada mais 300m até avistar uma casa e um curral. Estacione o carro em frente à casa, atravesse a cerca de arame farpado e suba a trilha que leva ao topo do morro. No mapa abaixo, a Falésia do Bodinho fica entre a pedra do Bode e a Pedra da Cabra.

Complexo daBoca do Rego

Escaladas Diversas

Conhecida antigamente por escaladores e montanhistas por ser a cidade vizinha à Itatiaia, Resende, a Princesinha do Vale, é a última cidade do Rio de Janeiro na região sudeste do estado, fazendo divisa com São Paulo e Minas Gerais. Hoje a Região é um polo industrial automotivo e conta também com a conhecida Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).

Resende

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Setor Principal

Conhecida pelo mesmo nome do balneário, a Pedra da Boca do Rego está logo atrás das ruínas do antigo Restaurante FLUMITUR. Depois de atravessar o rio a pequena trilha de acesso começa dentro das ruínas, na parte de trás, onde a muretinha está um pouco quebrada. Esta área já foi muito frequentada pelos escaladores da região, pois contém vias tradicionais-esportivas, de equilíbrio, horizontais e de proteção móvel. No verão é melhor escalar no período da manhã devido ao sol em algumas vias, já no inverno há sombra o tempo todo. Leve costuras longas, a fim de reduzir o atrito que ocorre em boa parte das vias.

Deve-se tomar cuidado com abelhas próximas às vias.Esta pedra conta ainda com um setor de esportivas fortes conhecido por

Buracos, com sombra o dia todo, bastando seguir para esquerda após a base das vias da Boca do Rego até uma gruta, o setor está logo após esta.

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1- Rego Selvagem. VIIIb E1 40m – Leve friends médios.2- Curva do Rego. VIIc E1 35m3- Rego Sujo. VIIa E1 30m4- Arrego. VIIIb E1 20 metros - Possui uma bela horizontal4a- Variante Arregaçado, VIIIc5- Bigode do Rego. IVsup A1 E2 40 metros - Boa via para os iniciantes6- Fiss. Vovô Charles. VIsup E2 30 metros – Leve um jg. de friends. 7- Boca Lisa. 6º A1+ E2 50 metros – Leve estribos, jg de nuts, cliffs de ¼ de buraco8- Mão Furada. 6º VIIc/A2 E3 50m – Leve cliffs de buraco de ¼, estribos e hexentrics grandes.9- Regasso, VIIIa10- Rego Caliente, VIIIb – Leve friends médios se for até o final da fenda.11- Fissura Tiaraju, VIIc – Leve friends médios e pequenos.

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Setor Buracos

Pedra do BodePara entender a Pedra do Bode,

imagine um pequeno Babilônia, porém com cristais que estouram. Este setor de “agarrência” possui algumas vias bem positivas no lado direito, sendo um ótimo campo-escola para iniciantes. A graduação vai aumentando a medida que avança-se para esquerda, terminando em um diedro com duas

1 – Que aresta é essa Resendense, IXa.2 – Leptospirose, IXa E1 10m.3 – Falência Múltipla, IXb E1 10m4 – Leishmaniose, VIIIc E1 12m.

5 – Toxoplasmose, VIIc E1 15m.6 – Metamorfose, VIIIb E1 13m.7 – Cura Divina, IXa

vias em móvel, também ideais para quem está começando neste tipo de escalada. O problema fica por conta da base sem sombra, sendo sempre bom levar protetor solar, boné, guarda-sol e muita água.

Foram feitas as duplicações das paradas de diversas vias por um grupo de escaladores do GEAN, com

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proteções doadas pelo clube, inclusive adicionando paradas intermediárias em algumas, permitindo assim um rapel mais seguro e aulas de escalada: Via Buxada de Bode/Via Bode Crer/Via Bode Chefe/Via Independência ou Bode x Via Bode Véio (comum)/Via BBB e ainda a recolocação de chapas na Via Bode Veio (que, infelizmente, foram roubadas recentemente).

1- Bode Boy. VIsup E2 20m

2- Diedro Quebra-Galho. V E2 15 metros.

- Leve friends médios e nuts. (Possui

parada dupla no topo)

3- Nachos e Tequila, VIIa E2 15m.

4- Diedro Ah Se Eu Fosse Homem. IVsup

E2 15 metros - Leve jg. nuts e friends

pequenos. (Possuí parada dupla no topo)

5- Big Bode Brasil. VIIa E1 20 metros

6- Indepedência ou Bode! VIsup E2 25

metros.

7- Bode Véio, VI E2 25 metros.

8- Bode Chefe. Vsup E1 25 metros.

9- Bode Busters. IVsup E1 35 metros.

Cuidado ao rapelar ou fazer baldinho, já

houve queda nesta via, pois a corda de

60m dobrada ao meio não chega ao chão.

10- Bode Crer. V E2 45 metros. Cuidado ao

rapelar.

Entre estas duas vias há um projeto

sendo conquistado: China in Bode, hoje

com sete chapeletas, Graduada em VIsup.

11- Buchada de Bode. V E2 50 metros.

12- Bodinho com Cerveja. IV E2 40 metros.

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Falésia do BodinhoPedra abrasiva, porém excelente para quem está iniciando na escalada

esportiva, o setor de baixo da Falésia do Bodinho é rico em sextos bem protegidos e curtos, de aproximadamente 15 metros. O setor de cima possui vias mais fortes. Assim como no Bode, a base não possui sombra, então valem as mesmas dicas. A subida até a falésia também é um pouco puxada.

Recentemente, um grupo de escaladores do GEAN duplicou todas as paradas das vias do setor de baixo e limpou a base e as vias que estavam com limo. Além disso, novas vias estão sendo conquistadas.

Setor de Cima

1- Luidera, 7a2- Marimbundos, 7b3- Mamute, projeto4- Melzinho na Chupeta com Pimenta Malagueta, projeto5- Ta de Bode, projeto6- Na Lata, 9a7- Sinuca, 7c

Setor de Baixo

8- Petit Gateau, IVsup 20 metros (Ideal para quem está começando a guiar)9- Por água a baixo, VIsup E1 15 metros10- Dia de fúria, VIsup E1 15 metros11- Mudança de plano, VI E1 15 metros12- Marquize, VIsup E1 15 metros13- Batata D´água, VIIb E1 15 metros

Ao lado da Batata d’água há um projeto sendo conquistado com 4 chapas de nome “A 1ª Vez a Gente Nunca Esquece”. Logo após há a última via do setor, a Parabolt, V, 15 metros. As duas ainda não estão no croqui.

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No complexo há mais três falésias, prevalecendo escalada em móvel: Pedra da Cabra, Falésia dos Astros e Falésia do Naipe, porém estas não tem sido muito frequentadas.

Vale a pena trazer o crash pad, pois há diversos boulders, tanto em torno do ribeirão, quanto no morro próximo a Pedra do Bode e Bodinho.

Outros destaques da região

Pedra Selada – Distrito de Visconde de Mauá – Com seus 1775 metros de altitude, o cume da direita pode ser acessado por caminhada. Possui bela vista da região de Visconde de Mauá. Há duas vias longas para alcançar o cume esquerdo: Via Os Três Patetas D4 6 VIIIB A0 E1 220m e Vista Grossa D4 6º VIsup A1 (8) E3 200 metros.

Falésia das Cruzes – Visconde de Mauá - 22 vias que em média tem de 20 à 25 metros, com graduação de VIsup ao 9º grau. Vias bem protegidas com chapeletas e paradas duplas no final. É abrigado de sombra o dia todo, base plana e nenhuma caminhada. Além disso tudo, fica ao lado de cachoeiras e a 5 minutos da Vila de Maringá.

Bosque das Paredes Ocultas – Distrito de Engenheiro Passos – Esta falésia, por si só, merecia um artigo. Possui sete setores com diversas vias esportivas entre V e 9b e diversos boulders. Possuí um ótimo guia na internet, mas já foram conquistadas novas vias após a confecção deste. Boa base, caminhada curta, diversas formas de vias, grandes buracos no granito. É imperdível.

Para finalizar, fica o agradecimento ao geanista Admilson Corrêa (Dime) que me ajudou a montar este artigo, ao Juliano Magalhães e ao Rock Trip Resende que cederam os croquis e informações, e ao grupo GEAN. Nos sites abaixo podem ser vistos croquis e informações sobre a região:

http://www.grupogean.com/http://rocktripresende.blogspot.com.br/http://aoutraesquerda.blogspot.com.br/

Filipe Careli de Almeida é engenheiro, natural de Resende. Escala desde 2007, é membro do GEAN e compõe a atual diretoria técnica do Clube Excursionista Light. É ainda autor do blog “A outra esquerda” e colunista na revista Montanhas.

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Sou montanhista residindo atual-mente no Canadá, e apesar de ter deixado o Brasil em 2004 mantive meus elos com a comunidade escaladora do país princi-palmente através das listas de discussão e foi a partir daí que surgiu a oportuni-dade de estar envolvido com o banco de dados de acidentes.

Só recapitulando, o banco de dados de acidentes foi um trabalho pioneiro do Pedro Lacaz Amaral e do Marcus Araújo, que disponibilizaram e divulgaram um formulário de relatório de acidentes e compilaram dois ótimos relatórios que foram publicados em

2002 e 2003 com acidentes e incidentes acontecidos até 2002.

Depois disso o projeto entrou em hiato até ser transferido à tutela da CBME em 2006. O formulário foi então disponibilizado novamente, graças ao empenho do Alex Hubner, junto com o Davi Marski, parte do trabalho deles com o site da CBME. O número de relatos porém foi muito baixo, e apesar disso poder parecer uma coisa boa, refletindo talvez o fato de que poucos acidentes aconteceram no período, quem acompanha as listas de discussão sabe que a realidade do período foi diferente, com vários acidentes graves inclusive com fatalidades, que por um ou outro motivo nunca chegaram oficialmente à CBME pelo canal apropriado, que é o relato preenchido online. Todos esses anos, ficaram fora das estatísticas e do banco de acidentes da CBME, tão importantes para definição de estratégias de segurança pela entidade em âmbito nacional.

Em Junho deste ano finalmente fui trazido a bordo pelo Silvério Nery depois de uma série de e-mails meus cobrando o próximo relatório, já que o último relatório data de 2003 e tenho especial interesse no assunto. Após ele se certificar de que eu teria a disponibilidade e capacidade técnica para a tarefa, me passou a coordenação do banco de acidentes da CBME.

Banco de relatos de acidentes

Quem acompanha as listas de discussão de escalada e montanhismo ficou sabendo que o banco de dados de acidentes em montanhismo e escalada foi reformulado pela CBME esse ano, sob minha coordenação.

Por André Pereira

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Me inspirei no trabalho do Clube Alpino do Canadá, que mantinha um banco de dados de acidentes no site da entidade, que consultei várias vezes ficando impressionado com a abundância de relatos lá presentes. Decidi por transformar também o banco de acidentes da CBME em um banco de dados disponível online.

O formulário foi levemente redesenhado, ainda baseado no formulário da American Alpine Club, mas adaptado para nossa realidade. Após preenchido e enviado o formulário online, o relato é revisto por dois revisores e então disponibilizado para consulta. Esse processo dura no geral 2 a 3 dias e não mais que 7 dias, a não ser que haja algum problema com o relato, informações desencontradas, falta de identificação do relator ou outro problema.

Uma mudança importante foi a for-ma de apresentação dos relatos, agora totalmente anônima. Apesar de precisar-mos da identificação do relator em caso de necessidade de esclarecimentos an-tes da publicação do relato, a identificação dos envolvidos é op-cional e nunca divulgada para o público, assim como os dados do relator. Espera-mos com isso evitar que pessoas envolvi-das em acidentes e incidentes se sintam inibidas em relatá-los. Não é necessário ter sido diretamente envolvido para in-cluir um relato, e mesmo transcrições de reportagens ou mensagens de listas de discussão são bem-vindas.

Outro fato impor-tante: o banco de dados é aberto tanto para relatos de acidentes como de in-cidentes. Nunca é demais frisar que os incidentes

ou quase-acidentes são tão importantes quanto os acidentes e devem ser incluídos no banco de dados. Por exemplo, nessa nova safra de relatos constatamos um grande número de incidentes causados

por erros de uso da auto-se-gurança, e esse fato trazido à atenção de quem consulta o banco de dados com certeza vai diminuir a chance de que cometam erro semelhante.

Relatos proven ientes do montanhismo ou outras modalidades que se utilizam das mesmas técnicas e equipamentos podem e devem ser incluídos: escalada em todas suas variações, canyoning, espeleologia, rapel, alpinismo industrial, caminhada em trilha, etc. Incidentes ou acidentes envolvendo brasileiros no exterior também devem ser relatados.

A intenção é manter o banco de da-dos online para consulta, mas também produzir os PDFs que serão disponibili-zados para download pela comunidade

escaladora. Estamos planejando publicar um relatório com-pleto a cada 6 meses, com a próxima edição prevista para Dezem-bro de 2013.

Disponibilizamos também a opção de notificação automática por e-mail para que quiser receber uma mensagem para cada relato incluído no sistema.

Com o sistema testado e plenamente funcional, o maior desafio agora é conseguir os relatos de fatos acontecidos desde 2003, ou mesmo mais antigos e que não tenham sido reportados nos dois grandes relatórios anteriores. Muitos relatos vieram em resposta a mensagens minhas nas listas de discussão. Estabelecemos também uma parceria informal com a Rosangela Gelly, que ministra palestras de gerenciamento de

“O banco de dados é aberto tanto para relatos de acidentes como de incidentes.”

“Disponibilizamos também a opção de notificação automática por e-mail para quem quiser receber uma mensagem para cada relato incluído no sistema.”

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Endereço do banco de relatos de acidentes da CBME, acesse e colabore:

http://www.cbme.org.br/relato

riscos na prevenção de acidentes em escalada, e tem sido uma efetiva divulgadora do banco de acidentes. Sempre observamos um pico de relatos depois de suas palestras. Mas ainda precisamos de mais relatos passados.

Enviar um relato para a CBME é uma contribuição muito significativa para esta e futuras safras de escaladores. É um ato simples mas que com toda certeza vai estar salvando vidas. Essa é minha convicção e minha principal motivação para doar meu tempo para a manutenção do banco de dados.

https://www.facebook.com/lagartistartesanato

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Passei muitos anos procurando, pesquisando e analisando até encontrar os melhores lugares para abrir vias. Fiz uma varredura do que ainda podia ter por aqui, vendo imagens de satélite, fotografias e indo ao campo, na base da tentativa e erro. Muitos diziam que a cidade já estava saturada de escaladas, não havia mais nada interessante para abrir. Mas esse dogma foi caindo aos poucos. Ainda existem paredes muito boas e inéditas para serem abertas, faltam apenas escaladores que queiram fazer esse trabalho. Depois das vias prontas as pessoas não percebem o trabalho enorme que é feito preparando-as. Existem muitas linhas boas, mas deixá-las escaláveis é outra história. Em geral as paredes do Rio de Janeiro têm muito limo e vegetação, com algumas exceções. Mas não se preocupe, a vegetação está crescendo e ampliando sua cobertura sobre as rochas, fotos históricas mostram isto.

A escalada carioca ficou praticamente estagnada por uma década inteira, com poucas novidades, enquanto se expandia em

outros estados. Até então a última grande “descoberta” no Rio foi a Barrinha, em 2000, quando abri a Crux com Certeza (IXb). O Luiz Claudio Pita ficou eufórico e transformou o lugar na melhor área de vias esportivas daqueles anos, rivalizando com o Grupo 3 da Serra do Cipó (MG). Aliás, até hoje pouco foi acrescentado à escalada esportiva carioca, principalmente devido à saída do Pita do país, foi morar na Espanha. E anteriormente perdemos o Helmut Becker, que foi morar no Canadá. De importante antes da Barrinha, foram as vias abertas por André Kühner e amigos, no Jardim Botânico, no final dos anos 1990. Em relação as vias com proteção móvel, até o final dos anos 2000 muito pouco havia sido feito na cidade, com destaque para as vias que o André Ilha e colaboradores abriram em Guaratiba e no Morro Dona Marta. Quanto à escalada tradicional brasileira, que são vias longas com grampos ou chapas, conhecidas estranhamente como “vias de parede”, também pouco foi feito, mas nos últimos dez anos tivemos muitas contribuições de Flávio

A escalada contemporânea no Rio de Janeiro: minha contribuição

Por Antonio Paulo Faria

Frequentemente meus colegas me fazem esta pergunta - “Como é que você consegue achar essas vias?” – Não sei bem como responder, mas acho que é uma soma de experiência, vontade e sorte.

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Leone no Pico dos Quatro; Miguel Monteza e o Pedro Bugim em pontos diferentes da cidade; e o Felipe Dallorto que desenvolveu novos setores em Jacarepaguá e reativou outros, abrindo dezenas de vias bem variadas. Outras pessoas também contribuíram, com uma participação menor, mas importante.

Com abertura da Impressionismo Carioca (VI+ ou VIIa) na Pedra da Gávea, em 2005, começamos a perceber que ainda era possível abrir boas linhas na cidade do Rio de Janeiro. Mas esta via foi aberta sem nenhuma pretensão. Fui à Gávea para abrir uma via curtinha somente para fazer fotos e continuar meu legado de fanfarrão, com ajuda do Diego Nóbrega. Mas depois de subir a primeira fenda, com uma melhor visão percebi que a linha se prolongava até o cume e continuava magnífica. Até hoje as pessoas me perguntam como foi que achei aquela linha. Foi pura sorte!

Depois do fechamento do acesso por São Conrado, os escaladores passaram a evitar

a Pedra da Gávea. Entretanto, a visitação voltou a aumentar depois da abertura da espetacular Sensação de Êxtase (VIIa), de 200 m, no contraforte norte. Já existiam três vias muito antigas nessa parede, mas que caíram no esquecimento. Fiz algumas tentativas mal sucedidas em 2004, porém, em 2008... Uma maluquinha da Lituânia veio ao Brasil para ser batizada em capoeira, mas queria escalar e ver a Mata Atlântica. Assim tive a ideia de reativar o projeto e abrir essa via. Ela se chama Ljiljana Grmoljez. Jamais consegui falar este nome. Você consegue? Nas outras duas investidas fui auxiliado pelo esloveno Szvinyarovich Grljevic... Mais um nome complicado. Ele dava segurança e dava goles numa bebida da Eslovênia com altíssimo teor alcóolico (52%), e repetia várias vazes... “Pedrou da Gaveou, yo love voche”. Enfim, o nome Sensação de Êxtase foi porque esses dois ficaram extasiados com o lugar. Posteriormente o Miguel Monteza se entusiasmou e voltou lá com o Guilherme Fonseca abriram mais duas vias muito boas. O Arthur Soleiro e eu voltamos e abrimos um projeto antigo que eu tinha, a Ranzinza e Rabugento (VI+). Ou seja, essa montanha incrível voltou a ser frequentada com mais intensidade pelos escaladores e ganhou em 2013 mais uma via longa na face leste, aberta pelos colegas do Clube Excursionista Carioca. O Pico da Tijuca (1022 m) também andava meio esquecido, as pessoas frequentavam apenas três vias clássicas. A situação melhorou depois que abri as três últimas vias do lugar, e ficaram ótimas: Estranho no Ninho (4 VIIa) em 1987, Caipirinha (VIIa) e Instabilidade Emocional (VIIc) em 1998.

Nos anos 2000 abri mais algumas vias sem muita expressão na cidade do Rio, Guaratiba e Itacoatiara, entretanto, algumas ficaram curiosas. A Terror dos Urcanistas (VIIb/c) é uma esportiva, mas é necessário uma hora de caminhada do tipo toca-pra-cima para acessar sua base, que fica no Portal da Pedra da Gávea. Ou seja, impensável para um falesista típico, com aquelas pernas fininhas... Eles chegam lá arrasados! Hahaha... A Tchibum dos Inconsequentes (4 VI E2), quem diria, é uma via fácil toda em móvel, de 25 m, em plena Pedra do Urubu! Navegando de

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caiaque pela Urca observei essa fenda que é visível somente do mar. É muito divertida. Também tem a Fricote (VIIa) em Guaratiba, Vaca Louca (VI+) em Itacoatiara etc.

Depois que voltei a morar no Brasil, em 2010, abri muitas vias. Foram quase 100 em três anos e em lugares diversos: Arraial do Cabo, Barra da Tijuca, Cambotas (MG), Chapada Diamantina, Dedo de Deus, Floresta da Tijuca, Ilha Pontuda (Rio), Morro do Couto (PNI) e Serra do Cipó. A “falésia” do Circo é um exemplo. Eu estava no estacionamento da trilha da Pedra da Gávea e percebi que uma pequena parede mostrava uma textura que lembrava a face norte do Pico da Tijuca, com seus agarrões. Resolvi dar uma explorada, o que significou muitas horas lutando com o mato. Quase desisti. Mas ao chegar lá, vi que além dos agarrões existiam também algumas fendas de qualidade, além do visual. Abri onze vias. A Área de Lazer, que conta com cinco vias, foi uma parede errática. Fui explorar uma outra parede, mas acabei achando essa, bem melhor. Ela fica escondida pela a floresta, ali, bem pertinho da falésia da Barrinha, que aliás, tem história parecida. Pela autoestrada Lagoa-Barra, via diariamente aquela parede com dois diedros, e resolvi ir investigar com o Renato Estrella, no ano 2000. Depois de varar muito mato e chegar à parede, percebi que os diedros eram muito sujos e tinham grampos antigos, mas a “falésia” tinha uma qualidade fantástica para vias esportivas.

Em 2008 fui remando às Ilhas Tijucas (Alfavaca e Pontuda) com o André Penna e vi muitas possibilidades para boas linhas, inclusive abri uma em móvel no ano seguinte, Paraíso Efêmero (IV), na ilha Alfavaca. Voltei à ilha Pontuda este ano (2013) e fiquei mais impressionado ainda. Abri várias linhas excelentes com o Daniel Araújo, Felipe Dallorto, Guilherme Taboada e Silvio Brentan. São vias de todos os tipos: chaminés, fendas variadas, vias esportivas técnicas e atléticas, e até uma parede com quase 100 m. Esta ilha tem tudo para se transformar em um dos melhores pontos de escalada da cidade, e fica apenas a dois quilômetros da Barra da Tijuca (três minutos de lancha ou 20 min remando).

As pessoas também pensam que abrir

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Comprida (RJ) e Escalavrado (RJ). Em 2001 comecei um projeto com meus colegas e iniciamos uma via no Morro dos Cabritos (1800 m), em Teresópolis, na mesma época que o André Ilha, Flávio Wasniewski e Paulo Chaves começavam outra linha na mesma montanha. O Daniel Bonella e eu finalizamos a Céu é o Limite (6 VIIb) com 950 m de extensão, uma linha extraordinária toda em livre e com muitas fendas. Tive muita sorte em ter escolhido essa linha, mas pesquisei muito antes de entrar naquela parede enorme. Deu muito trabalho, mesmo antes da primeira investida. Mas parece que essa fase ainda está bem ativa, muitas linhas longas, com mais de 200 m foram abertas em montanhas distintas do Estado: em Itatiaia, Macaé, Penedo, Petrópolis, Rio das Ostras, Teresópolis, Santa Maria Madalena, Santo Antonio de Pádua etc.

Depois da abertura da via Os Impermeáveis, no Dedo de Deus (1692 m), muitos pensavam que não era mais possível abrir vias interessantes e sem ser artificial na montanha símbolo do montanhismo nacional. Porém, fui lá fazer observações geológicas em 2011 e fiz muitas fotos de vários ângulos. Analisando o material, percebi - “Ué, não tem via nessa linha reta e limpa, por que?” – Eu acabava de visualizar uma via fantástica, bem ali no nariz de todo mundo, ao lado da Leste. A Caminho dos Deuses (6 VIIc), de 180m, tem de tudo: aderência, agarras e fendas maravilhosas.

Novos centros de escalada estão surgindo, mostrando crescimento em todo o estado. Porém, o número de pessoas abrindo vias ainda é muito pequeno. Espero que haja uma boa renovação de conquistadores talentosos e que gostem de abrir vias. Perdemos vários escaladores fantásticos e experientes que foram morar no exterior ou pararam de escalar, e a minha geração está chegando perto do limite. A escalada carioca, e por tabela a nacional, cresceu muito com a geração que começou nos anos 1970, em destaque André Ilha,

muitas vias é sinal que a pessoa escala muito. Mas não é necessariamente verdade. Abrir vias aqui é mais um trabalho sujo do que escalar propriamente. É muito difícil abrir via em um bom estilo, de baixo para cima, escalando em livre. Normalmente é preciso parar de agarra em agarra para testá-las e escová-las. Em geral as fendas são imundas, é preciso subir tudo em artificial móvel para limpá-las, para depois descer e escalar. Esse trabalho é muito cansativo. Mesmo as vias esportivas difíceis, que geralmente equipamos com proteções fixas de cima para baixo, ou subimos de corda de cima, dá um trabalho enorme. Resultado, abrir vias e escalar não é a mesma coisa por aqui, e ainda saímos imundos.

Enfim, com as contribuições das pessoas citadas aqui a geografia da escalada carioca está mudando. Enquanto as áreas tradicionais estão praticamente estagnadas, com poucas escaladas novas que valem a pena, a Zona Oeste está crescendo. Vários novos setores foram abertos em Jacarepaguá, Barra da Tijuca, Joatinga, Parque Estadual da Pedra Branca, Parque Nacional da Tijuca e Guaratiba, com centenas de vias novas e de qualidade. A maior concentração de vias no país ainda fica na cidade do Rio, com aproximadamente 1500 linhas abertas.

A geografia da escalada no Estado do Rio de Janeiro também mudou. Com o início da fase de conquista das “supervias” no Brasil, em 2000, foram abertas na mesma época linhas por grupos diferentes na Maria

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Antonio Carlos Magalhães, Dalton Chiarelli e Mário Arnauld. Ainda fico impressionado com o André Ilha, que já mereceu o apelido de “André Pilha de Tatu”, por se meter em cada buraco... Mas ele continua abrindo ótimas linhas em lugares tradicionais e inéditos. Nos anos 1980 surgiu a minha geração, com figuras como o Alexandre Portela, Marcello Ramos, Sérgio Poyares e Sérgio Tartari. Nos anos 1990 os destaques foram Luis Claudio Pita, Ralf Cortes, Helmut Becker, Alex Sandro Ribeiro e Daniel Rabelais. As gerações mais recentes ainda estão em processo de construir seus legados, mas existem bons nomes que já foram citados anteriormente. Felizmente o mesmo está ocorrendo em vários outros estados, do Rio Grande do Sul ao Ceará. As novas gerações estão produzindo muito e com qualidade, com algumas distorções éticas ou estéticas comuns, mas mesmo assim a escalada nacional está atingindo um nível excepcional. Posso afirmar que hoje o Brasil está entre os melhores países do mundo para a escalada em rocha. Isso é devido à diversidade, número de vias, qualidade e o clima. Pesa contra nós a distância do resto do mundo, o idioma e os preços elevados. Ficamos atrás apenas dos EUA, França, Espanha e Itália. Pode acreditar!

Em 2011 completei 30 anos de escalada, abri minha primeira via em 1983, no Pico da Bandeira, e não parei mais. Estou ficando velho, porém, mais ativo! Já abri aproximadamente 300 vias em muitos lugares diferentes, no Brasil e no exterior, incluindo aproximadamente 10% das vias do Maciço da Tijuca e também cerca de 10% das vias da Serra do Cipó. Como consegui? É simples, além de sexo, nunca achei nada melhor para fazer do que escalar e explorar. Adoro planejar linhas exóticas, como algumas que abri na Serra do Cipó. Posso citar: Chorreira Musical (VIIb), Movimentos Eróticos/Alongamento Erótico (VIIb), Túnel Rebouças (VI+), Liseba (VIIa), Sonho de Consumo (VIIIc) e o teto Tetânico (IXb), entre outras 27 vias que abri por lá. Enfim, a história da escalada está aberta, cabe a você dar continuidade.

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A primeira viagem levou-nos para a Cabana d’Orny na parte francófona da Suíça. Para nós a subida para a cabana foi muito cansativa, com as mochilas pesadas - o teleférico, o que teria facilitado a ascensão para a cabana incendiou em dezembro do ano passado! Na cabana, fomos recebidos calorosamente e muito bem servidos pelo simpático casal anfitrião Patricia e Raymond. A multidão de hóspedes na cabana foi internacional: Alemães,

Escoceses, Americanos, Suíços, Franceses, ... e um Carioca!

Escalar nesta região é magnífico: agulhas de granito de cor dourada, a qualidade da rocha, de primeira classe, cenário alpino com neve e gelo. O Renatão se movimentou extremamente ágil em seus crampons! O Samba m a n d a cumprimentos!

Finalmente! Após 13 anos, o índio do Brasil – Renatão – ousou de novo visitar a terra dos relógios, chocolates e bancos. Por sorte, que ele trouxe o sol e o calor do Rio de Janeiro! Mais de 3 semanas vagamos nos vales estreitos, subimos em paredes íngremes e balançamos sobre cristas expostas – tudo isso, quase sem exceção, com tempo excelente. Desta vez nós visitamos principalmente o cantão de Valais no coração dos Alpes, com os três maiores glaciares da Suíça e mais de trinta picos por volta de 4000m.

Um índio escalando na

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Nosso segundo objetivo foi o glaciar mais poderoso dos Alpes: Cerca de 23 km de comprimento, até 900 metros de espessura - o Glaciar de Aletsch. 8km de trekking no gelo ao lado das mesas bizarras de geleira para a Cabana de Condordia. Ela está situada como um ninho

de águia, acima de uma parede

vertical de 150m, acessível através de uma escada de aço. A tentavia

de subir o Grande Grünhorn falhou - estava muito tarde e as temperaturas eram demasiado elevadas, as pontes de neve já fortemente suavizadas. Isso não estragou de jeito nenhum o nosso humor. Quanto mais nós apreciamos as vistas deslumbrantes sobre a superfície de gelo enorme, o panorama único de montanhas, o purê de batatas obrigatório no jantar, a cerveja fresca de “Olivia Popeye”...

Tão grande é que, o Glaciar de Aletsch, hoje se apresenta – seu declínio é praticamente certo. Até o final deste século, apenas pequenos remanescentes

Um índio escalando na SuíçaPor Thomas GoodFotos: Renato Índio do Brasil

e Thomas Good

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deste fluxo de gelo magnífco sobreviverão ao aquecimento global.

No nosso último tour atravessamos o Weissmies (4017 m), do Sul para oeste. Na cabana CAS - foi a Cabana de Almagell, com uma cozinha muito boa - houve nas vésperas da escalada

uma agitação zelosa. Às 04:00 horas da manhã no silêncio suave, todo mundo estava procurando com iluminação fraca sua mochila, seus crampons, suas meias... que bagunça! Pouco depois nós tropeçamos na escuridão com a

ajuda de nossos

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faróis em direção ao cume, em seguida um simples mas maravilhoso rock ridge à luz do sol nascente e no final uma estreita crista de neve - nós estávamos muito felizes no cume!

No dia seguinte: O South Rim do Jägihorn (5a+), uma subida no melhor gneisse, infelizmente na chuva leve com degraus escorregadios. O Renatão liderou soberanamente a nossa cordada ao pico!

Há ainda tanta coisa para dizer: Nossa primeira escalada, a via de família (5c+) no Alpstein, o passeio de bicicleta para a cidade medieval de Stein am Rhein, o passeio de barco para as Cataratas do Reno com o salto no branco e fresco espuma da cachoeira, a escalada Tio Pepe (6b) em Bernese Oberland (Diemtigtal) , a caminhada pelos prados florescendos e coloridos, a visita ao muro de escalada em Berna , a visita de Appenzell no Dia Nacional, o campo escola de escalada perto de Gstaad - uma famosa cidadezinha chiquemique, as cercas elétricas do gado... Renatão, obrigado por este tempo inesquecível e maravilhoso!

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Der erste Trip führte uns zur Cabane d’Orny im französisch sprechenden Teil der Schweiz. Der Zustieg zur Hütte war für uns sehr anstrengend mit den schweren Rucksäcken - der Sessellift, der den Aufstieg zur Hütte erleichtert hätte, ist im Dezember des letzten Jahres abgebrannt! In der Hütte wurden wir herzlich empfangen und sehr gut verköstigt vom sympathischen

Wirtepaar Patricia und Raymond. Die Gästeschar in der Hütte war international: Deutsche, Schotten, Amerikaner, Schweizer, Franzosen, ... und ein Carioca!

Das Klettern in dieser Region ist herrlich: Goldfarbene Granitnadeln, erstklassige Felsqualität, hochalpines Ambiente mit Schnee und Eis. Renatão bewegte sich ausserordentlich

Eine indische Klettern in der SchweizEndlich! Nach 13 Jahren wagte es der Indio do Brasil - Renato - wieder, das

Land der Uhren, der Schokolade und der Banken zu besuchen. Er brachte auch gleich die Sonne und die Wärme von Rio de Janeiro mit. Über 3 Wochen sind wir in den verwinkelten Tälern herumgeirrt, an steilen Wänden geklettert und über exponierte Grate balanciert - das fast ausnahmslos bei ausgezeichnetem Wetter. Diesmal besuchten wir vor allem den Kanton Wallis im Herzen der Alpen mit den drei grössten Gletschern der Schweiz und über dreissig 4000er-Gipfeln.

Versão em alemão

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leichtfüssig auf seinen Steigeisen! Der Samba lässt grüssen!

Unser zweites Ziel war der mächtigste Eisstrom der Alpen: ca 23km lang, bis 900m dick: der Aletschgletscher, Gletschertrekking an den skurrilen Gletschertischen vorbei zur Konkordiahütte, die einem Adlerhorst gleich über eine senkrechte, 150m hohe Felswand mit Hilfe einer Stahltreppe erreichbar ist. Der Versuch das Grosse Grünhorn zu besteigen misslang - wir waren zu spät dran und die Temperaturen waren zu hoch, die Schneebrücken schon stark aufgeweicht. Das trübte keineswegs unsere Stimmung. Umso mehr genossen wir die beeindruckende Aussicht auf die riesige Eisfläche, das einzigartige Gipfelpanorama, den obligatorischen Kartoffelstock beim Abendessen, das frische Bier von “Olivia Popeye”,...

So gigantisch sich der Aletschgletscher jetzt noch präsentiert - sein Niedergang ist so gut wie sicher. Bis Ende dieses Jahrhunderts werden nur noch kleine Reste dieses prächtigen Eisstromes die Klimaerwärmung überlebt haben.

Auf unserer letzten mehrtägigen Tour überschritten wir das Weissmies

Eine indische Klettern in der SchweizVon Thomas Good

Fotos: Renato Índio do Brasil e Thomas Good

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(4017m) von Süden nach Westen. In der CAS-Hütte - es war die Almagellerhütte, mit sehr guter Küche - herrschte am Vorabend der Tour wie immer in den Hütten lärmiges und

emsiges Treiben. Um 04:00h morgens dann gedämpfte Stille, jeder sucht in der schummrigen Beleuchtung im Durcheinander seinen

Rucksack, seine Steigeisen, seine Socken,... Dann stolpern wir in der Dunkelheit mit Hilfe unserer

Stirnlampen über unendlich lange Geröllfelder Richtung Gipfel, dann ein einfacher wunderbarer Felsgrat im Licht der aufgehenden Sonne, am Schluss noch ein schmaler Schneegrat - wir standen überglücklich auf dem Gipfel!

Am nächsten Tag: Die Südkante aufs Jägihorn (5a+), eine Kletterei in bestem Gneis und das bei leichtem Regen mit rutschigen Tritten! Renatão meisterte als Seilschaftsführer diesen Prüfstein bravourös!

Es gäbe noch soviel zu erzählen: Unsere erste Klettertour, die Familienroute (5c+) im Alpstein, die Fahrradtour ins mittelalterliche Städtchen Stein am Rhein, die Bootsfahrt zum Rheinfall mit dem Sprung in die weisse frische Gischt des Wasserfalles, die Kletterei Tio Pepe (6b) im Berneroberland (Diemtigtal), Wanderung in der Lenk über die bunten blühenden Alpenwiesen mit Cassia, der Besuch der Kletterhalle in Bern, der Besuch von Appenzell am

Nationalfeiertag, der Klettergarten in der Nähe von Gstaad, einem berühmten Chiquimiqui-Touristenort, die elektrischen Zäune für die Rinder,… Renatão, vielen Dank für diese wundervolle Zeit!

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Um catálogo de vias foi a primeira ideia. O objetivo era reunir o endereço de todos os croquis já disponíveis na Internet e disponibilizar no celular. Mas naquela época os aparelhos ainda eram elitistas, o 3G ainda muito pior do que hoje, a bateria não durava muito e a memória interna limitada.

Em 2011, conversando com a Adriana Mello e o Alex Cabral a ideia apareceu de novo, só que dessa vez a partir deles. Eu não havia dito nada. Os dois estavam muito confiantes. A motivação deles era muito positiva. Era o maravilhoso mundo novo! O céu era o limite!

Só que eles queriam fazer algo bem mais ousado: refazer todos os croquis. Além disso, eles imaginavam algumas coisas que eu não sabia como implementar tecnicamente na época.

Então fiz um protótipo bem simples só para ver se ia funcionar e deixei para resolver as questões mais complicadas depois. O aplicativo não chegava aos pés do que tínhamos conversado mas cumpria bem o seu papel.

Adriana e o Alex fizeram os croquis iniciais, eu fiz um servidor na Internet e um cliente simples para Android. O servidor foi rápido, visto que a tecnologia já era bem antiga. O cliente para Android foi onde tive que investir mais tempo.

Passamos o programa para alguns amigos e continuamos sempre melhorando uma coisa aqui e outra ali. Depois colocamos na Internet e divulgamos um pouco.

Não sei o que aconteceu mas, quando eu vi, as pessoas que falavam do programa, falavam bem. Parabenizavam a iniciativa. Comentavam sobre coisas que podiam melhorar. Pediam para adicionar alguma coisa, informavam vias erradas, pediam mais vias etc. Enfim, o pessoal já estava usando e pronto.

Trabalhando há quase 20 anos na área de informática e há uns 5 anos “fissurado” pela escalada, tão logo os smartphones apareceram comecei a pensar em como fazer alguma coisa útil para a escalada.

Croqui

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Por André Moreira

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Isso foi muito agradável e nos fez conversar com os autores e distribuidores de croquis sobre a possibilidade de disponibilizar seus croquis através do celular. Fomos muito bem recebidos e de novo, para minha surpresa, todos, sem exceção, apoiaram a ideia e foram muito generosos.

Sempre explicando o objetivo central do programa e ouvindo com atenção a todos, mais e mais pessoas vieram nos ajudar nessa empreitada, disponibilizando os guias e colocando seus croquis à disposição do programa. Tanto que chegamos a marca de 1000 croquis vindos de todas as partes do Brasil.

Enquanto isso o pessoal do iPhone, Blackberry, Window Phone também queria a versão para seus aparelhos. Foi muito positivo e recebi a demanda com muita felicidade. O tempo é curto mas ainda temos a esperança de alcançar todas as plataformas.

Comprei um Apple, um iPhone e comecei pesquisar sobre a parte técnica de programar para iOS. Assim que comecei a ler a respeito, descobri que a Apple cobra US$ 99,00 para todo mundo que quer desenvolver para iOS. Depois, descobri que ela cobra mais US$ 99,00 por ano para cada programa colocado na AppStore. Pensei: bem, o pessoal do iPhone vai ter que me ajudar nessa parte. Se eu cobrar US$ 0,99 e conseguir vender 100 unidades por ano, eu cubro as taxas da Apple. Mas logo depois que descobri que a Apple ainda retira 30% de cada venda. Aí eu desisti de fazer conta e comecei a fazer o programa.

Superados os problemas técnicos, a primeira versão para iPhone estava disponível na AppStore. De novo o programa era bem simples mas bastante funcional, cumpria o que prometia. O pessoal do iPhone recebeu o programa muito bem também.

Hoje temos o servidor croqui.org, o cliente para Android googleplay, o cliente para iPhone itunes e continuamos

trabalhando para melhorar o programa.O programa conta com uma lista de

vias de todo o Brasil. Classificadas por cidade, montanha ou setor, cada via tendo, além do croqui, informações diversas tais como os nomes dos conquistadores, a graduação, o equipamento sugerido, informações de acesso, fotos e localização GPS quando disponível.

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Temos muitos planos para o futuro e estamos sempre adicionando novos croquis, fotos e coordenadas GPS das bases das vias. Queremos que no futuro as pessoas possam enviar seus croquis, fotos, comentários e coordenadas GPS através do próprio

celular.Enfim, tem muito trabalho pela frente

mas a receptividade de todos nos motiva ainda mais. Quero

agradecer muito à Adri-ana, ao Alex e a todos os que nos ajudaram dis-ponibilizando croquis, relatando problemas, sugerindo melhorias e divulgando o programa de forma tão positiva.

Muito obrigado.

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Além disso, o programa ainda tem uma lista de clubes, guias e instrutores com informações de contato e endereço. Também estão disponíveis uma lista de vias favoritas, uma de anotações pessoais, uma tabela de conversão de graduação, um cronômetro, um sistema de localização das vias mais próximas e o programa está integrado a um sistema de mapas on-line bastante popular.

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Que maravilha! Chegar no final da escalada do Paredão Branco - Morro da Urca, sem sentir nenhuma dor no joelho direito, com direito a bolo de chocolate com nozes, cafezinho, maçã, etc. A nossa escaladora argentina Miriam estava à nossa espera na gruta, ponto final da escalada. Quantas felicitações e carinho, depois de 4 a 5 anos impossibilitado de fazer caminhadas, voltar a fazer escalada é um prazer incalculável!

Tudo começou n’uma excursão que fiz ao ponto culminante “Tira-Chapéu” - Serra da Bocaina (SP). Na volta, chegando quase no final da descida fácil “Caminho de Vaca”, n’uma depressão, coberto por capim, caí rolando uma pequena ribanceira, de tal maneira que minha perna dobrou violentamente para trás, ficando imobilizado, com muita dor no joelho.

Meus amigos fabricaram uma muleta para eu prosseguir até o carro,

estacionado mais ou menos a 2 km.Resultado: tive estiramento dos

ligamentos do joelho (felizmente não romperam) mas, impossibilitou-me de fazer mais caminhadas. Não senti, por longo período, confiança na minha perna direita. P’ra me curar procurei nadar bastante no mar, andar muito dentro d’água na praia tranquila do Flamengo (1,5 km), mais tarde andei na areia mole até não sentir mais nada.

Pedi ao meus amigo Paulo Maurício e Brasil se podiam me ajudar a fazer um teste de escalada n’uma das vias dos “Coloridos”, no Morro da Urca. Escolheram o Paredão Branco. Ficou combinado, se eu sentisse a menor dor no joelho, desceríamos imediatamente.

Pois bem, a notícia vazou; “o velho Salô ia voltar a escalar de novo”. O presidente do CERJ, Waldecy, se prontificou também a me ajudar, até me deu uma camisa com escudo do CERJ

Vitória, consegui!Por Salomyth Fernandes, em 2002.

Manuscrito cedido por Miriam Gerber.

Com um título que já diz muito sobre superação, o mestre Salô, nos conta sua experiência em uma escalada, aos 75 anos, após um longo período impossibilitado de praticar qualquer atividade física. Fala, ainda, do seu amor às montanhas e da nossa brevidade por aqui.

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p’ra me dar sorte, e deu ainda mais, parecia um acontecimento fora de série, inédito.

Paulo Mauríco me dando segurança, Brasil me filmando, o amigo Lucas fotografando, procurando, descendo e subindo o paredão, o melhor ângulo do “artista”, e o Waldecy supervisionando tudo.

Finalmente, cheguei à gruta. A nossa amiga argentina, Miriam Bamo Bamo, já estava à nossa espera. Senti-me curado e feliz. Logo apos minha chegada à gruta, apareceu a montanhista Simone, do CEB, acompanhada do Alexandre. Ambos médicos, que subiram atrás de mim, por precaução (?).

Soube também que tinha uma galera enorme de todos os clube de montanha do Rio, que vieram torcer para que eu tivesse bom desempenho. Desci de bondinho sozinho, enquanto o

“... Fiquei pensando na misteriosa, imponente e magnífica Pedra da Gávea, a primeira montanha que ascendi, aos 16 anos (1943),

e daí nunca mais deixei de amar as montanhas.”

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grupo descia a pé pelo caminho usual.Chegando na Praça da Praia

Vermelha, no bar Laguna (último grampo), outra surpresa! Encontrei festivo (parecia temporada de montanha), quantos montanhistas, me abraçaram e desejaram boas vindas. Sinceramente, isto nunca me aconteceu na vida antes. Quanta emoção. Como é bom ter amigos montanhistas! Ver aqueles rostos

risonhos me desejando boa sorte e volta às montanhas. É uma coisa que mexe com o coração da gente.

Mais tarde, em casa, fiquei pensando na misteriosa, imponente e magnífica Pedra da Gávea, a primeira montanha que ascendi, aos 16 anos (1943), e daí nunca mais deixei de amar as montanhas.

Estou com 75 anos, mas quero subir ainda mais e, possivelmente, escalar mais ainda.

Um dia subirei a montanha dos deuses, tanto, tanto que nunca mais voltarei à base.

A vida passa, mas as montanhas ficam, porque elas são eternas.

Salomyth está hoje com 86 anos. Participou da conquista de várias vias clássicas, como a Lionel Terray, na Pedra Bonita, Paredão Vermelho, na Urca, Face Nordeste do Nariz do Frade, Chaminé Cassin e, juntamente com Minchetti e Thiers foram responsáveis pela abertura do Caminho das Orquídeas, rota hoje utilizada para acesso à Agulha do Diabo, montanha que subiu por 37 vezes. Na sede do Clube Excursionista Light é possível ver um mural, pintado à mão por Salomyth, onde retrata esse caminho tão querido por ele.

“A vida passa, mas as montanhas ficam, porque elas

são eternas.”

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Programação permanente na sede do CEL

- Todas às terças e quintas: Muro de escalada e reunião social;- Terceira semana do mês: Palestra/debate no Papo de Montanha;

acesse:

www.celight.org.bre fique sabendo da programação do clube e as

vantagens de se associar.