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Peça Processual da Simulação de Julgamento de Contencioso Administrativo e Tributário (FDL).
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5/17/2018 Parecer do Minist rio P blico - Contencioso Administrativo e Tribut rio ...
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MINISTÉRIO PÚBLICO
Parecer do Ministério Público n.º159/2012
Processo 5134/12
Procuradoria da Comarca de Lisboa
Exmos. Senhores Juízes de Direito
do Tribunal Administrativo de Círculo de Loures
Nos termos do artigo 219.º, n.º1 da Constituição da República
Portuguesa (doravante CRP), artigos 9.º, n.º2 e 85.º do Código de Processo
dos Tribunais Administrativos (doravante CPTA), entendendo a relevância da
matéria em causa, para bem da defesa dos direitos fundamentais dos
cidadãos, de interesses públicos especialmente relevantes e da saúde pública
enquanto valor constitucionalmente protegido, vem o Ministério Público emitir
parecer sobre o mérito da causa do Processo n.º 7824/12, o que faz nos
termos e com os seguintes fundamentos:
A) Da Violação do Direito à Saúde.
O Direito à Saúde encontra-se constitucionalmente consagrado no artigo
64.º CRP, estando sistematicamente enquadrado no âmbito dos direitos
económicos, sociais e culturais. No entendimento do ilustre Mestre Jorge
Miranda, o direito à saúde não constitui um direito de natureza análoga para
efeitos do artigo 17.º CRP. Assim sendo, o Direito à Saúde está sujeito ao
regime dos direitos fundamentais sociais, económicos e culturais e, porconseguinte, não se aplica os artigos 18.º e ss. CRP, apenas aplicáveis
especificamente ao regime dos direitos, liberdades e garantias.
Aliás, por se tratar de um verdadeiro direito social, o direito à saúde está
implicitamente dependente da evolução da conjuntura económico-social, quer
seja positiva ou negativa. Esta conceção implica necessariamente que estando
o País a atravessar uma grave crise económica, os direitos sociais estejam
sujeitos a restrições, o que pode verificar-se desde que não seja afetado o seuconteúdo mínimo essencial. No entanto, não se encontram razões plausíveis,
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nem tão pouco atendíveis para se ponderar que o conteúdo mínimo essencial
do direito à saúde esteja afetado.
Esta situação aconteceria por exemplo se não se conseguisse assegurar
convenientemente e nas devidas condições de segurança o número de partos
existente nesta região.
B) Da Violação da Lei de Bases da Saúde.
Nos paramentos do artigo 18.º DL 86- A/2011 “o Ministério da Saúde é o
departamento governamental que tem por missão definir e conduzir a política
nacional de saúde garantindo uma aplicação e utilização sustentáveis de
recursos e a avaliação dos seus resultados” . “A política de saúde tem âmbito
nacional e obedece às directrizes seguintes: (…) e) A gestão dos recursos
disponíveis deve ser conduzida por forma a obter deles o maior proveito
socialmente útil e a evitar o desperdício e a utilização indevida dos serviços”
(Base II da Lei de Bases da Saúde).
Neste sentido, no nosso entendimento, não encontramos quaisquer
afetações às disposições previstas pela Lei de Bases. Pelo contrário, admite-se
a racionalização dos recursos existentes e, nessa medida, compreendemos o
encerramento da MAC, com o propósito de restruturar o mapa de saúde.
C) Da Violação dos Princípios Fundamentais que regem a atuação
da Administração Pública.
Analisando o artigo 266.ºn, nº2 CRP a propósito dos princípios
fundamentais da atuação da administração pública, concluímos o seguinte:1. No concernente ao princípio da igualdade, consagrado
constitucionalmente no artigo 13.º CRP, entendemos não estar violado
visto não existirem razões atendíveis, no caso sub judice , que limitem o
acesso dos cidadãos ao serviço nacional de saúde.
2. Relativamente ao princípio da proporcionalidade em sentido amplo,
deveremos analisá-lo nas suas três vertentes.
2.1. Adequação – o encerramento da MAC, que pretende reduzir asdespesas Estaduais, efetivamente atingirá esse mesmo objetivo.
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2.2. Necessidade – o meio supra referido constitui o meio menos
gravoso de entre os disponíveis, inserindo-se num processo de
reaproveitamento dos recursos existentes.
2.3. Proporcionalidade em sentido estrito – existe efetivamente uma
proporção adequada entre o meio utilizado e o fim desejado.
3. Quanto ao princípio da Imparcialidade, não está igualmente colocado em
causa, uma vez que o procedimento teve em consideração critérios
previamente determinados no Despacho n.º456/2012, de 26 de Abril,
despacho este que diminuiu a margem de discricionariedade e de livre
apreciação.
4. Para finalizar, os princípios da Justiça e da Boa-fé são de tal ordem
subjetivos, que para justificar a sua violação necessitaríamos de factos
que comprovassem manifestamente essa mesma violação, algo que não
verifica no caso em concreto.
Face aos elementos a que teve acesso, o Ministério Público entende não
existir violação de qualquer princípio fundamental condutor da atuação da
administração pública e que ergue acima de tudo a prossecução do interesse
publico.
D) Da preterição da audiência dos interessados.
O artigo 100.º, n.º1 CPA dispõe que em regra, finda a instrução, os
interessados tenham o direito de ser ouvidos no procedimento administrativo
antes de ser tomada a decisão final, sendo informados, nomeadamente sobre o
sentido provável desta, salvo os casos previstos no artigo 103.º CPA. Estescasos poderão constituir situações de inexistência ou de dispensa de audiência
dos interessados. Precisamente, no entendimento do MP está preenchida uma
causa de inexistência de audiência dos interessados pelo artigo 103.º, n.º1,
alínea c), pois o número de interessados a ouvir seria de tal forma elevado que
tornaria inexequível a realização de audiência. Nesta sequência, no caso sub
judice , não haveria lugar a audiência dos interessados, não obstante sendo
substituída pela consulta pública, conforme prevê o mesmo artigo.
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Face ao disposto no parecer P001422001 do Conselho Consultivo da
PGR “a impraticabilidade da audiência dos interessados nos procedimentos de
massa, a que se refere a alínea c) do n.º 1 do artigo 103º do CPA, não resulta
de num mero princípio de economia processual, mas antes da efectiva
impossibilidade de o órgão instrutor reconsiderar individualmente a situação
relativa de cada um dos opositores. (…) O conceito indeterminado constante da
alínea c) do n.º 1 do artigo 103º do CPA (número elevado de interessados),
sendo meramente descritivo, é susceptível de controlo judicial, dado que a sua
subsunção à situação de facto não carece de operações de valoração extra-
legal.”
Considerando que não estarmos em condições de avaliar a matéria de
facto dada como provada, apenas estamos em condições de acrescentar que a
preterição de consulta pública em substituição da audiência dos interessados,
constitui “uma formalidade essencial cuja preterição acarreta vício de forma e a
invalidade do ato administrativo que consubstancie a decisão final ”, na opinião
de outro ilustre Mestre, Marcelo Rebelo de Sousa. Concretamente, tratar-se-á
de um vício de forma por preterição de formalidades essenciais, o que terá
como consequência, em nosso entender, a nulidade do ato administrativo
(133.º, n.º 1 e n.º2, alínea d) CPA), em razão da violação do direito
fundamental de participação dos interessados no procedimento (267.º, n.º1
CRP). Esta mesma posição é sufragada pelo Professor Doutor Vasco Pereira
da Silva, uma vez que considerado o direito subjetivo público de participação
procedimental que a realização da audiência dos interessados concretiza um
direito fundamental atípico, de natureza análoga aos direitos, liberdades e
garantias (artigo 17.º CRP), a sua violação preencheria a previsão da alínea d)
do n.º 2 do artigo 133.º do CPA. Apesar desta posição doutrinária, a maioria da
doutrina e jurisprudência, entendem tratar-se de uma situação de anulabilidade
do ato administrativo (135.º CPA). Quer se considere nulo ou anulável, tudo
dependerá da prova de existência ou inexistência do procedimento de consulta
pública do despacho do Ministro da Saúde.
Embora pareça, a princípio, irrelevante a querela doutrinária, na prática,
as consequências daí derivadas são vastas, em virtude do regime consagrado
para o regime da nulidade e anulabilidade do ato.
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E) Da Pretensa da Providência Cautelar.
As providências cautelares constituem um meio de tutela que pretende
impedir que se constitua uma situação irreversível ou se produzam graves
danos que ameacem o efeito útil da decisão que se pretende alcançar com o
processo principal (112.º, n.º1 CPTA). Estes processos cautelares
caracterizam-se pelos traços da instrumentalidade, provisoriedade e da
sumariedade. Instrumentalidade na medida em que só pode ser desencadeada
por quem tenha legitimidade para intentar um processo principal e de se definir
por referência a esse processo principal, em ordem à utilidade da sentença que
nele virá a ser proferida. A provisoriedade, por sua vez, transparece a
possibilidade do Tribunal revogar, alterar ou substituir na pendência do
processo principal a sua decisão de adotar ou recusar a adoção da providência
cautelar, existindo a alteração relevante das circunstâncias inicialmente
existentes (artigo 124.º, n.º 1 CPTA). No que toca à característica da
sumariedade, tendo em conta que a tutela cautelar só é efetiva se os tribunais
forem capazes de a proporcionar em tempo útil, essa capacidade será
equivalente ao tempo consumido na avaliação das questões de modo
superficial.
A providência cautelar em análise foi requerida simultaneamente com a
propositura da acção judicial (114.º, n.º 1 CPTA). Devido a uma eventual
demora até à resolução final do litígio e para evitar a perda de interesse
processual, o autor requereu, a decretação desta decisão, com o intuito de
evitar a concretização de um prejuízo de difícil reparação.
Ainda que não descuremos o facto de que efetivamente a decisão do
Presidente da ARSLVT já está a produzir efeitos, admitimos que o tipo deprovidência cautelar solicitada terá efeitos conservatórios (artigo 112.º, n.º1
CPTA), uma vez que este tipo de providência retém na posse ou na titularidade
do particular, um direito e um bem de que já disponha, mas que está na
iminência de perder.
Assim, avaliemos agora os pressupostos necessários à procedência
deste decretamento, que a partir do disposto artigo 120.º, n.º1 CPTA, infere-se
constituírem critérios de decisão das providências cautelares conservatórias:
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a) A evidência da procedência da pretensão formulada ou a formular
no processo principal, designadamente por estar em causa a impugnação de
acto manifestamente ilegal, de ato de aplicação de norma já anteriormente
anulada ou de ato idêntico a outro já anteriormente anulado ou declarado nulo
ou inexistente; e
b) O fundado receio da constituição de uma situação de facto
consumado ou da produção de prejuízos de difícil reparação para o requerente
(periculum in mora) e que não seja manifesta a falta de aparência do bom
direito (fumus non malus iuris) .
Considerando estas definições, concluímos que o pressuposto
“ periculum in mora” não se encontra preenchido pelos seguintes motivos:
A Maternidade PPP, atendendo à situação de Maria Felicidade
Bemnascido, facultará acompanhamento personalizado ao domicílio, de forma
a responder às necessidades especiais da puérpera.
Acresce que a PPP disponibilizou-se a integrar os respetivos
especialistas na doença Ricardiopleural, bem como todos os médicos
integrados na equipa da MAC.
Os demais vícios de violação de lei imputados ao ato também não são
aptos a declarar o Despacho Ministerial manifestamente ilegal, por não
concretizarem uma lesão dos valores alegados.
Por fim, cabe mencionar a exigência de proporcionalidade, que implica a
ponderação de todos os interesses em jogo, de forma a fazer depender a
própria decisão sobre a concessão ou recusa da providência cautelar dos
interesses preponderantes do caso concreto, sempre que não seja evidente a
procedência ou improcedência da pretensão formulada. Desde logo, a
ponderação não se realizará a não ser quando seja evidente a procedência da
pretensão principal. Funcionando tipicamente em situações de dúvida ou de
incerteza, o que no caso em apreço não se verifica, pois os requisitos são
cumulativos e como vimos os pressupostos da evidência da procedência da
pretensão formulada e do periculum in mora não estão verificados.
À luz dos fundamentos invocados pelas partes deste processo,
consideramos, ao abrigo do artigo 120.º, n.º1 CPTA, não se verificarsustentáculo bastante para que seja decretada a providência cautelar
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requerida, por não ser evidente a procedência da pretensão impugnatória
formulada na ação principal, tendo, do mesmo modo, também considerado
como não verificado o pressuposto contido na alínea b) do mesmo normativo
legal.
Face ao exposto, o Ministério Público conclui que:
a) Deve ser julgada improcedente ou procedente a
impugnação do Despacho Ministerial, em consequência de ser
provada a respetiva existência ou não da realização de consulta
pública formulada em D.
b) Deve ser julgada improcedente ou procedente a
impugnação do despacho do presidente da ARSLVT considerando o
resultado da apreciação do Despacho do Governo.
c) Deve ser julgado improcedente o pedido formulado em E.
Lisboa, 16 de Maio de 2012
Os Procuradores do Ministério Público
André Pereira
Marlene PalmaRaquel Teixeira
Sérgio Delgado