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6º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais 25 a 28 de Julho de 2017 PARIS IN FLAMES: UM ESTUDO COMPARADO ENTRE A BBC E A DABIQ SOBRE O TERRORISMO INTERNACIONAL Segurança Internacional, Estudos Estratégicos e Política de Defesa Artigo Pablo Victor Fontes Santos IRI/PUC-RJ Jessika Cardoso de Medeiros DGEI/UFRJ Belo Horizonte 2017

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6º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais

25 a 28 de Julho de 2017

PARIS IN FLAMES: UM ESTUDO COMPARADO ENTRE A BBC E A DABIQ SOBRE O

TERRORISMO INTERNACIONAL

Segurança Internacional, Estudos Estratégicos e Política de Defesa

Artigo

Pablo Victor Fontes Santos

IRI/PUC-RJ

Jessika Cardoso de Medeiros

DGEI/UFRJ

Belo Horizonte

2017

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RESUMO: “Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data” (Luís Fernando

Veríssimo). Este artigo tem como propósito, a partir da perspectiva comparada, analisar e

apontar a partir das construções discursivas e semiológicas, produzidas pelas reportagens

jornalísticas da BBC e pela DABIQ Magazine. O fato histórico investigado corresponde aos

ataques em Paris de 13 de novembro de 2015 tendo em vista a espetacularização midiática

construída e transmitida por intermédio das mensagens verbais e não verbais. Assim sendo,

o artigo busca responder a seguinte pergunta: Como é possível construir narrativas e

discursos sobre a temática do terrorismo a partir de perspectivas dualistas. Temos como

hipótese que as construções discursivas e narrativas ocorrem segundo duas questões. De

um lado, existe a transmissão de ideias, valores mediante a lógica de segurança,

solidariedade e a retorno à normalidade, já por outro espectro há a construção da sensação

de insegurança, de tragédias e de desespero. Metodologicamente,utilizou-se de referências

bibliográficas a cerca do tema sobre os estudos de segurança/insegurança internacional,

terrorismo, análises de discurso e um estudo pormenorizado comparando as capas e os

conteúdos jornalísticos dos referentes meios de comunicação.

PALAVRAS-CHAVE: Terrorismo; Estado Islâmico; Mídia; Dabiq; BBC.

ABSTRACT: "Sometimes the only real thing in a newspaper is the date" (Luís Fernando

Veríssimo). This article has the purpose, from the comparative perspective, to analyze and

point out from the discursive and semiological constructions produced by the journalistic

reports of the BBC and DABIQ Magazine. The historical fact investigated corresponds to the

attacks in Paris of November 13, 2015 in view of the media spectacularization constructed

and transmitted through verbal and nonverbal messages. Thus, the article seeks to answer

the following question: How can we construct narratives and discourses on the subject of

terrorism from dualistic perspectives. We have as hypothesis that the discursive and

narrative constructions occur according to two questions. On the one hand, there is the

transmission of ideas, values through the logic of security, solidarity and a return to

normality, on the other hand there is the construction of a sense of insecurity, tragedy and

despair. Methodologically, bibliographical references were used on the subject of

international security studies, terrorism, discourse analysis and a detailed study comparing

the covers and the journalistic contents of the referring mass media.

KEY-WORDS: Terrorism;Media; Dabiq; BBC.

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INTRODUÇÃO

Desde sua origem, no início dos anos 2000, o grupo intitulado Estado Islâmico (EI)

foi se moldando e alterando suas estruturas até chegar ao que se conhece atualmente.

Diferentemente dos outros grupos terroristas, o EI ganha notoriedade não apenas por

difundir o terrorismo, mas porque se utiliza dos meios de comunicação digital e das redes

sociais para difundir seus valores, suas ideias e concepções sobre mundo. Após, o ano de

2014, com a declaração do Califado, a atuação do grupo se tornou mais ostensiva com

constantes atividades de combatentes no Oriente Médio e com a expansão

geopolítica/geoestratégica sobre o globo.

Ao longo do tempo, a atividade midiática do grupo também tomou forma e força. A

Dabiq, revista online, tornou-se uma das principais ferramentas de marketing utilizadas pelo

grupo. Porém, é preciso apontar que o grupo possui, para além da revista, uma extensa

cadeia de operação midiática. Através de diversas plataformas, como publicações online,

aplicativos para celular, redes sociais, vídeos, o grupo exalta os feitos militares, as crenças

religiosas para efeito propagandístico. Dentro dessa divisão midiática encontra-se uma

estação de rádio (Al-Bayan) que é transmitida na Síria, Iraque e Líbia, mas possui alguns

boletins diários que são noticiados em outras línguas, como o inglês, francês, russo, turco.

Também possuem uma agência de notícias (Amaq), que reporta as ações do grupo dentro e

fora do território do Oriente Médio, e uma divisão de mídia em língua estrangeira (Al-Hayat

Media Center) responsável pelas revistas e produção dos vídeos, entre outros aplicativos

para celular.

Entre os objetivos externos do EI, há a zona de influência direta, está o continente

europeu, por exemplo, a França que no dia 13 de novembro de 2015 foi alvo de diversos

ataques em sua capital, Paris. Tal evento teve forte repercussão na mídia europeia e

internacional ganhandotambém espaço no periódico do grupo terrorista. Desta maneira,

utilizou-se os ataques de Paris, em novembro de 2015, como marco temporal, para delimitar

o escopo de pesquisa, realizando duas análises de modo comparato entre a Dabiq

Magazine e a BBC (uma das maiores coorporaçãoes midiáticas da Europa)- objetos desta

pesquisa.

Assim sendo, o artigo busca responder a seguinte pergunta: Como é possível

construir narrativas e discursos sobre a temática do terrorismo a partir de perspectivas

dualistas. Temos como hipótese que as construções discursivas e narrativas ocorrem

segundo duas questões. De um lado, existe a transmissão de ideias, valores mediante a

lógica de segurança, solidariedade e a retorno à normalidade, já por outro espectro há a

construção da sensação de insegurança, de tragédias e de desespero.

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No que concerne as divisões do artigo, primeiramente foi feita a constatação sobre a

importância da contribuição dos estudos críticos sobre a agenda da segurança/insegurança

internacional a partir dos atores não estatais, sobretudo, o impacto do terrorismo do EI por

intermédio das mídias. No segundo momento, o texto aborda a relação que existe entre

mídias, análise de discurso através do pós-estruturalismo. Na última secção, o artigo faz uso

de modo permenorizado da análise de discurso em perspectiva comparada tendo como

estudos de caso a Dabiq Magazine e a BBC.

Metodologicamente, o paper se utilizou de referências bibliográficas a cerca do tema

sobre os estudos de segurança/insegurança internacional, terrorismo e mídia. Além disso,

fez-se um estudo pormenorizado, a partir da análise de discurso, comparando as capas e os

conteúdos jornalísticos dos referentes meios de comunicação.

1. A CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS CRÍTICOS SOBRE A AGENDA DA

SEGURANÇA/INSEGURANÇA INTERNACIONAL A PARTIR DOS ATORES NÃO

ESTATAIS: O TERRORISMO DO EI

Após o fim da Guerra Fria (1991), os estudos sobre a segurança/insegurança

internacional passaram por mudanças e inovações. A Escola de Copenhagen, através de

seus teóricos, como Barry Buzan, Ole Weaver e Jaap Wilde lançaram obras a partir da

temática sobre a segurança que permitiram e proporcionaram uma ampliação/alargamento

sobre os atores e agendas que antes eram marginalizados. Ao lançarem luz sobre o

conceito de securitização1 e desecuritização2 alavacaram temas que vão desde os estudos

sobre segurança humana até temas que envolvem a segurança/insegurança de atores não

estatais.

Diante desta possbilidade de ampliação do tema, novas escolas passaram a também

contribuir sobre os estudos de segurança/insegurança. As Escolas de Paris3 (Pierre

1Securitização pode, portanto, ser vista como uma versão mais extrema de politização. Em teoria, qualquer emissão pública pode ser localizada no espectro que vai de não politizada (ou seja, o Estado não lidar com isso e não é de qualquer outra forma uma questão de debate público e de decisão) ou através da politização (ou seja, a questão faz parte da política pública, exigindo do governo tomada de decisão e de recursos ou, mais raramente, alguma outra forma de governação comunal) para securitizados (ou seja, a questão é apresentada como uma ameaça existencial, necessitando de medidas de emergência e justificar ações fora dos limites normais do processo político). Em princípio, a colocação das questões sobre este espectro está aberta: Dependendo das circunstâncias, qualquer problema pode acabar em qualquer parte do spectrum. Na prática, a colocação varia substancialmente de Estado para Estado (e também ao longo do tempo). Alguns Estados politizam a religião (Irã, Arábia Saudita) e outros não (França, Estados Unidos). Alguns vão securitizar a cultura (URSS, Irã) e outros não (Reino Unido, Países Baixos) (BUZAN; WEAVER; WILDE, 1998, pp.23-24). 2 Ver em BUZAN; WEAVER; WILDE, 1998, pp.23-24. 3 Paris tem sido o principal local do desenvolvimento teórico distinto, principalmente, inspirado por Bourdieu e outros sociólogos, com uma dose de Foucault e um compromisso completo para

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Bourdieu, Didier Bigo e Jef Huysmans em 1990) e de Aberystwyth4 (Ken Booth e Wyn

Jonnes) passaram a trazer visões ainda mais críticas possibilitando que outras agendas e

temas para além de uma dimensão positivista e em oposição ao realismo ganhassem

relevância (BUZAN; HANSEN, 2009; WEAVER, 2004).

As visões sobre segurança/insegurança internacional permitiram que uma infinidade

de temas e agendas pudessem ser estudados e analisados vinculados e não atrelados a

dimensão estatal. O terrorrismo tornou-se uma das temáticas nos debates sobre

segurança/insegurança ganhando projeção internacional, sobretudo, a partir dos principais

discursos de Chefes de Estados, dos analistas e dos meios de comunicação,

principalmente, após os atentados de 11 de setembro de 2001 cujo evento histórico,

politizado, ganhou projeção e impacto global, através das imagens impactantes

espetacularizadas, pelas redes de TV norte-americanas e pelas agências de notícias

internacionais (HUYSMANS, 2006).

Um dos personagens que se tornou cada vez mais presente, nas principais capas de

revistas e jornais do mundo, a partir do discurso e dos Speech Acts sobre a insegurança

internacional, foi o Estado Islâmico (cuja ideologia religiosa baseada no wahabismo,

subconjunto do salafismo jihadista5). Em 2001, quando os Estados Unidos invadiram o

investigações empíricas detalhadas por meio das práticas reais realizado por diversas agências - práticas que muitas vezes revelam padrões e processos diferentes daqueles encontrados ao estudar o discurso oficial. Didier Bigo é a figura principal neste desenvolvimento e 'seu' jornal Cultures & Conflits publicou uma série de trabalhos importantes em relação a este programa de pesquisa. Empiricamente, Bigo mostrou, entre outras coisas, a fusão entre a segurança interna e a segurança externa, sobretudo, à medida que as agências competem pelas tarefas gradualmente desterritorializadas envolvendo a polícia, os militares e os militares tradicionais. Além disso, produzem conjuntamente uma nova imagem de ameaça conectando constantemente a imigração, o crime organizado e o terrorismo. (WEAVER, 2004, pp.10-11) (Tradução Nossa). 4 Aberystwyth tem sido um dos sites mais importantes para o desenvolvimento dos chamados Estudos de Segurança Crítica (CSS). O CSS é a escola que tem um movimento amplo que emergiu de muitas fontes e muitos lugares, na Europa. O CSS tem as duas figuras principais estão localizadas no Universidade de Gales, Aberystwyth - Ken Booth e Richard Wyn Jones. O trabalho definidor da escola, a antologia Estudos de Segurança Crítica, foi editada por dois pós-canadenses Keith Krause (Genebra) e Mike Williams (então Portland, Maine), mas Mike Williams mudou-se para Aberystwyth em 1998. CSS argumenta que nós, como pesquisadores, devemos evitar ver o mundo através dos olhos do estado. É preciso emancipar-se da figura do Estado tendo em vista que muitas das vezes ele é considerado o problema (WEAVER, 2004, pp.6-7). (Tradução Nossa). 5 Há duas correntes de pensamento que contribuíram para a eclosão do pensamento jihadista: O primeiro está associado com a Irmandade Muçulmana, grupo fundado em 1928, no Egito, e que defendia que o califado deveria ser o sistema de governo para o mundo islâmico a partir de uma reforma do Islã, visando à restauração da pureza doutrinária. A segunda corrente é justamente o salafismo de origem sunita5 que prega a pureza doutrinária da religião islâmica. Nessa vertente existe a busca por eliminar a idolatria da religião e afirmar a unicidade de Deus (tawhid) (BUNZEL, 2015; NAPOLEONI, 2015). Dentro do salafismo existe o wahabismo, movimento religioso que exerce influência direta no Estado Islâmico. Consiste no retorno as origens do Islã, com o desprezo e a hostilidade aos muçulmanos que não possuem a mesma visão ideológica. Desse modo, o salafismo jihadista surgiu pela combinação dessas correntes (BUNZEL, 2015; COCKBURN, 2015). Essa corrente ideológica chegou futuramente ao Estado Islâmico por Abu Musab al-Zarqawi, jordaniano que na década de 1980 foi para o Afeganistão lutar ao lado dos mujahedin contra o Exército Vermelho soviético.

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Afeganistão, Zarqawi6 (líder) e seus seguidores se viram obrigados a se mudar para áreas

no território iraquiano, onde em 2002 foi constituído o grupo Jama’at al-Tawhid wa’al-Jihad

(Organização do Monoteismo ou Unidade e Jihad). Somente em 2004, Zarqawi jurou

lealdade à Al-Qaeda e rebatiza seu grupo como Al-Qaeda no Iraque (AQI). No ano de 2006,

foi formado o Mujahidin Shura Council que buscava unir a AQI e os outros grupos jihadistas

que também atuavam na região. Esse foi o primeiro passo do desejo nutrido pelo líder da

AQI de formar um califado. Após a morte de Zarqawi (feito por um ataque aéreo norte-

americano), Abu Umar al-Baghdadi é nomeado líder renomeando o grupo para Estado

Islâmico do Iraque (EII)7 (VULTEE, 2011; BUNZEL, 2015; NAPOLEONI, 2015).

Buscando cooptar indivíduos que se indentificassem com as causas e os objetivos

do grupo terrorrista, o EI passou a investir nos meios de comunicação (“tradicionais” e

digitais) tendo em vista o impacto e o poder de mobilização junto a opinião pública

internacional. A forma encontrada pelo EI deu-se pela divulgação de conteúdos jornalísticos

e de vídeos, numa comunicação em rede de modo transnacional. Além disso, os conteúdos

jornalísticos e o marketing produzido pelo EI tem como ênfase, a desconstrução dos

discursos e das narrativas (reportagens e matérias), das mídias mainstream ocidental que

apenas apontam, para uma visão uniderecional sobre o terrorismo “esquecendo” o passado

e a dívida histórica durante e pós-processo de colonização.

Como bem lembra Jeff Huysmans (2006) a segurança/ insegurança são fenômenos

construídos politicamente e socialmente. Nos meios de comunicação tanto mainstream

como os “alternativos”, os discursos sobre insegurança e segurança são enfatizados e

reafirmados através da linguagem, da estética (fotografias), do framing etc. Os jogos de

linguagem semióticos amparados na estética da TV e no impresso criam e constroem um

imaginário e uma representação da violência onde a anarquia, o caos, a barbárie devem ser

combatidos a todo instante. Há um marketing do terror, principalmente, nos dias atuais onde

por meio das redes sociais (twitter, facebook, youtube) o discurso e a narrativa (luto e

instropecção) contra o terrorismo enquadrado como inimigo (guerra global) a ser combatido

(eixo do mal) (DUPAS, 2006; HUYSMANS, 2006; SONTAG, 2005).

Deste modo, destacamos a importância nos estudos e nas analises discursivas e

semiológicas sobre o terrorismo do EI nas subáreas de segurança/insegurança. O modo soft

que as mensagens são transferidas e transmitidas pelos meios de comunicação (inclusive

no âmbito virtual) calcadas na natureza política do terrorismo, como uma tática para atingir

seus principais objetivos elencados, principalmente, pós-2001 onde o terrorismo atingiu

aproximadamente 31.000 incidentes terroristas e 64.000 mortes. O número de incidentes

6 O primeiro contato com a Al-Qaeda e seu líder, Osama Bin Laden, aconteceu no ano de 2000. No entanto, no primeiro momento Zarqawi tinha outras prioridades, e se recusou a fazer parte da Al-Qaeda (BUNZEL, 2015). 7Islamic State of Iraq (ISI).

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aumentou acentuadamente em 464% em 2011, em comparação com 2002 (começaram a

aumentar em 2005, saltou em 2007-2008 e cruzou o pico mais alto de 5000 ataques / ano

em 2011) segundo a base de dados do Terrorismo Global (GTD) (STEPANOVA, 2011;

STAMPNITZKY, 2013).

2. A ANÁLISE DISCURSIVA A PARTIR DO PÓS-ESTRUTURALISMO

Observa-se, a partir das últimas décadas do século XX, um vertiginoso

desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação, marcado pelo surgimento de

novas mídias, como a internet, o celular e o IPTV, e, por conseguinte, pela transformação do

status e do consumo da informação. Novas estratégias passaram a ser organizadas para a

sobrevivência do ameaçado controle do establishement sobre a informação, assim como

para a sobrevivência dos conglomerados que constituem as tradicionais imprensa escrita e

televisiva, que passaram a concorrer com uma infinidade de blogs, sites, redes de

sociabilidades e IPTVs que reconfiguraram a produção e o consumo da informação.

A “era da informação” passou a exigir, portanto, novas estratégias de comunicação

por parte dos Estados, e dos governos, como destacou VALENTE (2007), sem que para

isso, no mundo globalizado8, se observasse o desaparecimento do caráter nacional dos

veículos de comunicação de relevância global. A Revista Dabiq é um exemplo desse

movimento globalizante, cuja publicação ocorre de modo online e bimestralmente, pela qual

a organização do Estado Islâmico atua como uma difusora de sua ideologia (universalista)

por meio da propaganda transnacional onde a segurança/insegurança passou a atuar para

além dos Estados (networks e de modo privado) (ABRAHAMSEN; WILLIAMS, 2011).

A Britsh Broadcasting Corporation (BBC) é outro meio de comunicação que ganhou

relevância nos últimos anos, pelas ampliações e pelas inovações que passou. Além disso, a

BBC é pertence a uma das regiões do mundo que vem sofrendo com os atentados

terroristas pelos membros que compõem o Estado Islâmico. Nesse sentido, a escolha por

estes dois objetos são essenciais para entendermos como as mídias, nos seus variados

tipos, por vezes, influenciam, manipulam os discursos e as narrativas ao longo do tempo e

do espaço a partir dos seus respectivos enquadramentos.

Entender os processos de construção e de desconstrução tornam-se importantes

tento em vista que através da desconstrução dos discursos é possível enxergar as

oposições binárias em que os significados dos discursos são produzidos. Por intermédio da

linguagem, objetos, assuntos, estruturas ganham relevância dado o significado e o impacto

que exercem na sociedade para além da representação linguística (MALMVIG, 2006).

8Compartilhamos a visão de David Held (1980) sobre a definição de globalização.

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Nesse sentido, tanto os discursos como as linguagens são usadas para reforçar certas

visões de mundo.

Alguns estudos pós-modernos ajudam neste artigo já que as narrativas têm uma

função de legitimação para a reivindicação do conhecimento. Em termos epistemológicos,

as grandes narrativas servem como um modo de auto-fundação, enquanto que no nível

político servem como auto-regulamentação ou auto-afirmação. Ao olharmos para a lógica

ocidental é possível a realizar uma desconstrução das narrativas e dos discursos que

legitimam a dominação, as implicações políticas e morais (DEVETAK, 1997).

Como um livro, o discurso não apresenta de modo nítido nem tampouco de modo

determinado suas essências. Desde suas primeiras linhas até o ponto final, o discurso

apresenta unidades que são relativas e variáveis. Portanto, os discursos e as narrativas não

podem ser consideradas como unidades imediatas e homogêneas. Nesse sentido, por meio

do fim das grandes narrativas, a política passa a ter lugar onde o contexto e as fundações

consideradas estáveis para a decisão e ação são retirados (FOUCAULT, 1997; DEVETAK,

1997).

Segundo Foucault (1997), ao olharmos para os meios de comunicação e seus modos

de atuação, na política internacional, é possível observar as críticas que as mídias realizam

as "regras discursisvas universais” já pré-estabelecidas. Mas, ao mesmo tempo, é possível

enxergar como os meios de comunicação podem promover o silenciamento de questões e

de vozes utilizando os discursos (FOUCAULT, 1997, pp.24-27). Por isso, a política não

pode ser entendida com base em heróis e vilões, ou apoiada em posição politicamente

correta e suas alternativas incorretas.

Em regiões marcadas pela vulnerabilidade, os meios de comunicação tem uma

importância ainda maior tendo em vista as questões complexas com que vem a se deparar.

Em muitos processos históricos conflituosos, a mídia promoveu e/ou acentou as crises ao

invés de mediar ou mesmo solucionar (CAMARGO, 2008). Por vezes, os jornalistas

descrevem os conflitos de modo desordenado caracterizando de modo homogêneo conflitos

étnicos que em si, são muito complexos. A mídia, por vezes, incita a violência das mais

variadas e multiplas formas. A construção do esteriótipos só amplifica e distorce a realidade

local. Além disso, os meios de comunicação, geralmente, mas não somente, manipulam as

informações e o acesso as fontes imprimem uma ideia de “verdade”, objetividade,

imparcialidade e neutralidade para os leitores (FROHARDT; TEMIN, 2007).

Nesse sentido, o uso da metodologia da análise de discurso é importante já que por

intermédio do discurso é possível reconhecer as dualidades entre a retórica e a prática

construpidas midiaticamente. A partir do discurso também é possível enxergar os possíveis

interesses que determinados setores da sociedade internacional defendem. Cabe ressaltar

que por meio dos discursos existem elementos de dominação, de ideologia e de poder.

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Nesse sentido, os jornais tornam-se importantes ferramentas para se analisar as narrativas

e os discursos estereotipados construídos no tempo e no espaço.

Suponho que em toda a sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesa e temível materialidade (FOUCAULT, 2014, p.9).

Como ressalta Hansen (2006), a língua pertence à dimensão social, política e cultural de

uma sociedade. A língua representa um sistema instável onde sinais são evidenciados a

partir da construção da identidade e da diferença. Através da linguagem é possível enxergar

as implicações do discurso político marcados por construções específicas e subjetividades.

Os meios de comunicação na medida em que trabalham com diversos tipos de linguagem

atuam de modo ambíguo. Portanto, para entender a linguagem é preciso observar o local de

produção, reprodução de particulares subjetividades e identidades ao mesmo tempo

enxergar as exclusões e os silenciamentos.

A análise do campo discursivo orienta-se de forma a tratar e o compreender do

enunciado. Para, além disso, o discurso permite enxergar as estreitezas, as singularidades

determinando condições de sua existência. Por intermédio do discurso, algumas correlações

com outros tópicos mostram que outras questões acabam por serem marginalizadas. A

análise de discurso possibilita demarcar as superfícies das primeiras emergências, as

instâncias de delimitação chegando inclusive às grades de especificação (FOUCAULT,

1997, p.31).

Como afirma Doty (1993), a abordagem de práticas discursivas enfatiza a construção

linguística da realidade. A natureza produtiva da linguagem não depende tampouco

coincide, necessariamente com as motivações, percepções, intenções ou entendimento dos

atores sociais. A análise de discurso, portanto, permite,ao longo do tempo, que é possível

enxergar que as práticas discursivas não são feitas com uma base onde o centro é fixo e

estável. Isto é, as práticas discursivas constituem termos e modos de subjetivação de modo

disperso e espalhados por vários locais.

3. A APLICABILIDADE DA ANÁLISE DE DISCURSO EM PERSPECTIVA COMPARADA:

DABIQ MAGAZINE X BBC

3.1 Dabiq Magazine

O trabalho tem como ponto de partida, as análises sobre a Dabiq Magazine, edição

número 12, de 18 de novembro de 2015. A revista possui 66 páginas, no entanto é preciso

destacar que nem todos os conteúdos foram utilizados na medida em que partes destas

matérias/reportagens não mencionaram ou abordaram, os ataques ocorridos em Paris.

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Assim, a análise utilizou-se como fonte, a capa, o prólogo com suas fotos e legendas, e a

matéria que se inicia na página 25 até 28. Seguindo a ordem de apresentação dos

conteúdos na revista, a primeira figura é a foto da capa.

Nesta imagem é possível observar alguns sentidos produzidos pela capa.

Começando pelo título, “JUST TERROR”, que em português significa “terror justo”,faz

referência a Shari’ah (lei) de Allah seguida pelos militantes do Estado Islâmico. Um dos

ensinamentos da Shari’ah há o decretarde que a punição deve acontecer aos cruzados

(modo como o grupodenomina os ocidentais que são contra as suas doutrinas, fazendo

analogia com as cruzadas cristãs na Idade Média) beligerantes de onde eles não

esperavam9. A ideia de justiça inferida nesse discurso, também pode ser associada aos

ataques aéreos10 executados por tropas francesas em curso contra o califado, dessa

maneira, tornaria justo aos olhos de Allah e no âmbito político-militar.

Uma segunda interpretação discursiva e semiológica corresponde às cores utilizadas

no título, na palavra terror (destacada com o uso da cor vermelha), enquanto a palavra just

está em branco; o uso da cor vermelha remete à agressividade, sangue, enquanto que o

branco transmite um sentimento de pureza, paz. Desta forma, no que toca ao “justo” é puro

e com bênçãos, e o “terror” será um meio agressivo e sangrento de se chegar à justiça.

Além disso, o título faz uso de letras em formato de caixa alta (letra maiúscula). Na redação

jornalística, o uso de letras em caixa alta funciona como uma maneira de chamar atenção.

Há um hábito, por parte da revista, em fazer uso de publicações em caixa alta. Apenas a

edição 14 da revista fez uso de letras maiúsculas e minúsculas.

No que concerne a foto observa-se o escurecimento das bordas e o foco claro na

pessoa que está sendo socorrida. Os bombeiros, com semblantes preocupados, revelam

que o ataque promovido pelo grupo obetve êxito. A ação de ferir pessoas, e principalmente,

ferir psicologicamente também ganha destaca. A passagem escrita na página do prólogo é

possível apontar tal conclusão: “The divided crusaders of the East and West thought

themselves safe in their jets as they cowardly bombarded the Muslims of the Khilāfah11”

(DABIQ MAGAZINE, 2015, p. 2).

Avançando para o conteúdo do prólogo, que conta com uma parte textual rica e

algumas fotos, destacamos algumas partes textuais já que foram contextualizadas e

correlacionadas com a Figura 1. Outro ponto que destacamos, deve-se às outras fotos que

fazem referência aos ataques de Paris. A figura 2 tem como legenda “The coward François

9“But Allah decreed that punishment befall the warring crusaders from where they had not expected” (DABIQ MAGAZINE, 2015, p. 2). 10 “A year earlier, on “19 September 2014,” France haughtily began executing airstrikes against the Khilāfah”(DABIQ MAGAZINE, 2015, p. 2). 11 “Os cruzados divididos do Leste e Oeste pensaram estarem salvos em seus jatos enquanto eles covardemente bombardeavam os muçulmanos do califado.” (Tradução nossa)

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Hollande”, que em português significa “O covarde François Hollande”. A importância desta

imagem deve-se, em termos contextuais, a figura do antigo presidente da França, François

Hollande, eleito em 2012.

Os dois homens a frente do presidente são aparentemente, seguranças, visto que

um deles está armado, no entanto é preciso destacar que os indivíduos não estão

uniformizados. Nesse sentido, a utilização do termo “covarde” dá-se em função de François

Hollande está escoltado (dependendo da interpretação, escondido, já que mal pode ser visto

e o rosto coberto pela sombra) por homens armados e utilizando coletes à prova de

balas.Nota-se também o desfocar da paisagem, ao redor dos homens, isso faz com que a

atenção/enquadramento seja direcionada ao centro, onde se encontra o presidente francês.

A Figura 3 possui a seguinte legenda: “The Scene after the Khilafah’s daring raids in

Paris”, em português: “A cena depois da ousada incursão do Califado em Paris”. Na foto

pode ser visto a cena do restaurante La Belle Equipe após o ataque dos atiradores, com

corpos no chão e ação dos bombeiros. A luz do refletor no rapaz destaca o rosto assustado,

deixando o registro com uma grande carga dramática; Tal como a Figura 1, a Figura 3

aponta para os corpos ensanguentados,bombeiros e semblantes assustados remetendo

mais uma vez, para o sucesso da ação por parte do grupo Estado Islâmico.

No que concerne às palavras podemos destacar o uso da expressão

ousada.Segundo nossa interpretação, a expressão está relacionada as dificuldades do EI

em avançar geopoliticamente e geoestrategicamente o território europeu. Ao revisitarmos o

prólogo, as palavras utilizadas pelo EI apontam que apesar da inteligência internacional está

em guerra contra o Estado Islâmico, os ataques contra a nação francesa foram executados

com êxito12. A palavra incursão também tem destaque haja vista que a expressão tem

conotação de uma ação militar que por sua vez, nos remete a ideia de invasão. Outra

informação vista no prólogo é a frase “oito guerreiros derrubaram Paris de joelhos, depois de

anos de arrogância francesa na face do Islã”. Segundo nossa interpretação, a frase remete

a existência de um estado de emergência nacional onde as ações dos oito homens

armados, somente com rifles de assalto e cintos explosivos, foram capazes de promover

uma cena de guerra13” (DABIQ MAGAZINE, 2015, p. 2).

Já na Figura 4 vemos a legenda: “The nightmare in France has only begun”, que

significa, “O pesadelo na França apenas começou”. A foto com um homem com a camisa

com sangue, acompanhado de um policial, falando ao celular com um rosto assustado

retrata o horror vivido pelos ataques. A ameaça na legenda revela que a França é um alvo

12 “Thus, the blessed attacks against the Russians and the French were successfully executed despite the international intelligence war against the Islamic State” (DABIQ MAGAZINE, 2015, p. 2). 13 “The eight knights brought Paris down on its knees, after years of French conceit in the face of Islam.A nationwide state of emergency was declared as a result of the actions of eight men armed only with assault rifles and explosive belts” (DABIQ MAGAZINE, 2015, p. 2).

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do Estado Islâmico, muito se deve ao que já foi abordado na Figura 1 com relação aos

ataques aéreos no território do Califado. No texto do prólogo há uma passagem que passa a

sensação de orgulho sentida com o choque da população francesa: “Thus, the Islamic State

dispatched its brave knights to wage war in the homelands of the wicked crusaders, leaving

Paris and its residents “shocked and awed.14” (DABIQ MAGAZINE, 2015, p. 2).

Dando sequência ao conteúdo da edição #12, em uma seção intitulada “A selection

of military operations by the Islamic State”15, são destacadas algumas operações conduzidas

pelo grupo terrorista em diversas regiões do globo. Ressaltamos esta passagem da revista

posto que existe a transmissão de um discurso e de uma narrativa em defesa das

operações onde obteve-se êxito, por intermédio, de uma expansão geopolítica do território

do Califado. A expansão do Califado pode ser também interpretada como um modo de

massacrar, de aterrorizar e de humilhar os inimigos de Allah (DABIQ MAGAZINE, 2015, p.

25).Entre essas operações militares do grupo que deram “certo” estão os ataques em Paris.

A foto de número 6 tem como legenda a seguinte descrição: “Carnage on the streets

of Paris following the Islamic State’s blessed assault”, em português, “Matança nas ruas de

Paris após o abençoado ataque do Estado Islâmico”. Tal como qual as fotos analisadas

anteriormente, a presença de elementos que mostram preocupação e/ou sensação de

emergência/urgência reafirmam mais uma vez o impacto dos atentados terroristas.Nesta

imagem especificamente destacamos dois alvos: de um lado o estádio de futebol (Stade de

France) e a casa de show (Bataclan). O primeiro alvo (estádio de futebol) ganha relevância

já que duarante o atentado, havia a presença do presidente francês durante uma partida de

futebol.

O segundo alvo ganha relevância, do ponto de vista religioso, já que “mushrikin”,

traduzido como idólatras, foi o termo utilizado para denominar os franceses que estavam no

show. Novamente, os ataques de Paris são usados como uma resposta para chocar o

mundo. Os óbitos são associados aos cruzados que executaram ataques aéreos nas terras

do Califado, como fica explicitado na última sentença.Realizada a análise da Dabiq, com

suas nuances nos texto e fotos, a seguir é feito uma analise discursiva e semiológica da

BBC. Os mesmos objetivos e parâmetros foram abordados e respeitados desde a utilização

de matérias, com fotos, textos edelimitação temporal.

3.2 BBC

14“Assim, o Estado Islâmico despachou seus bravos guerreiros para travar uma guerra na pátria dos perversos cruzados, deixando Paris e seus residentes “chocados e temerosos.” (Tradução nossa) 15“Uma seleção de operações militares pelo Estado Islâmico”. Essa seção no formato atual teve início na edição #11 da revista, anteriormente era feita de maneira mais diluída no conteúdo.

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A BBC realizou uma cobertura, sobre os ataques de Paris (sexta-feira) e

posteriormente até o dia 18 de novembro (quarta-feira). Diversas matérias e reportagens

foram realizadas, onde pode ser encontrado, através de um sistema de busca, pelo próprio

site,vídeos de sobreviventes contando suas experiências e como conseguiram sair vivos dos

locais atacados.

Filmagens amadoras de celulares das vítimas ou dos vizinhos próximos aos locais

dos atentados. Alguns vídeos internacionais também foram destacados nas matérias tendo

como o sentimento de solidariedade, compaixão as vítimas, ao redor do mundo. As

reportagens fizeram alusão a utilização das redes sociais no mundo, sobretudo, o facebook,

que possibilitava aos seus respectivos usuários, alterassem suas fotos nas cores da

bandeira francesa (azul, branco e vermelho) com um lema “Je suis Paris”.

Estímulos as reportagens sobre os ataques possibilitou que outras análises e

histórias paralelas pudessem ser abordadas e/ou revisitadas. A alusão a outros ataques no

mundo também foi endossada pela BBC. A temática da segurança/insegurança ganhou

notoriedade, principalmente, no que tange as questões envolvendo os refugiados que

chegavam cada vez mais a Europa. O aumento de segurança/insegurança em vários países

do continente também foi um tema levantado, sobretudo, a mudança da estratégia militar em

ações contra o Estado Islâmico. Entretanto, apesar de ser importante citar essas matérias, o

foco da pesquisa reside na análise textual e fotográfica que compõe a matéria jornalística

que versa especificamente sobre os ataques.

A primeira fonte é do dia 14 de novembro de 2015, com o título “Paris attacks:

Islamic State militants change tactics” (“Ataques de Paris: Militantes do Estado Islâmico

mudam tática”) do autor Frank Gardner, correspondente de segurança da BBC desde 2002,

e vítima de um atirador na Arábia Saudita em 2004. O título da matéria explica-se tendo em

vista que o grupo do EI passa a realizar ataques, par’álem da região do Oriente Médio. Dirá

Gardner (2015): “Mas os militantes estão bem cientes do seu apelo transnacional à violência

jihadista na Europa e em outro lugar.16”. O uso da palavra “apelo” dentro da mudança de

tática busca desqualificar a ação, já que tal palavra remete à uma ação tida como última

instância, buscando chamar a atenção ao atacar em terreno europeu ou outros fora da

região de influência direta do grupo.

As ações, fora do território habitual, são tratadas na matéria, como consequência,

dos ataques aéreos17, na região, dominada pelo grupo. Entretanto, os ataques são tidos

como vitoriosos já que buscam acabar com os lideres. Portanto,as novas ações passam a

ser realizadas fora do centro de gravidade do Estado Islâmico, leia-se Iraque e Síria. No

16“For most of last year and much of this, IS's focus has been on taking and holding territory in the Middle East. For its leaders in Raqqa and Mosul, that is still the priority.” 17“As they reel under the daily onslaught of US-led coalition airstrikes, haemorrhaging one leader after another, they are increasingly looking to direct or inspire attacks further afield”(GARDNER, 2015).

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decorrer da reportagem são abordados outros temas que buscam apresentar um pano de

fundo para explicar a ação. Dentre eles estão: ataques ocorridos em países do Oriente

Médio, nos meses próximos a novembro de 2015, leia-se: a questão da fronteira entre

Turquia e a Síria. Essa região de fronteira ganha relevância já que é o espaço, onde

transitam os jihadistas,advindos da Europa, para se juntar ao EI.

A reportagem, produzida pela BBC, possui três fotos, contudo, apenas duas que

abordam os ataques de Paris. A Figura 7 possui a seguinte legenda: “Security has been

stepped up across France in the wake of the attacks” (“Segurança tem sido aumentada por

toda a França no despertar dos ataques”). A foto de militares, fortemente armados, em um

aeroporto,faz à associação, com as vias de entrada no país, visto que existe um conflito

quanto a entrada de refugiados. A Figura 8 com a legenda “Across France and beyond,

tributes are being paid the victims of the attacks” (“Pela França e além, estão sendo

prestadas homenagens às vítimas dos ataques”), nos mostra dois rapazes grafitando, em

um dos muros da cidade, a mensagem “reze por Paris”, uma mensagem que se espalhou

pelas redes sociais, sendo registrada.

A próxima reportagem, também é do dia 14 de novembro, com o seguinte título:

“Paris attacks: A new terrorism and fear stalks a city” (“Ataques de Paris: Um novo

terrorismo e medo perseguem uma cidade”). No começo da matéria jornalistica há alusão

aos ataques ao jornal francês Charlie Hebdo (janeiro de 2015). A correlação feita pelo jornal,

busca realizar um paralelo e uma comparação,com o que aconteceu nas ruas de Paris em

2015. O autor da matéria também destaca que os ataques que parecem “normais” de

ocorrerem e serem associados ao Oriente Médio, chegaram a Europa, em Paris cidade

onde não existe esse tipo de ferocidade. Tal elucidações podem ser encontradas no trecho

a seguir.

The majority in January marched in solidarity, but they did not share the fear.Today it is different.Friday night's attacks were the Middle East come to Europe.They were of a ferocity, scope and randomness which we associate with Beirut or Baghdad - but not with Paris or London.18 (SCHOFIELD, 2015)

Schofield (2015) informa que os ataques em Paris, aponta para um novo tipo de

terrorismo caracetrizado pela lacuna quantos as crenças, massivo e mortal. Isto é, não

existe um objetivo politico que busca-se ser alcançado, apenas um fundo religioso. O autor

parece descrer e/ou mesmo desqualificar o fundo religioso.Por fim,Schofield (2015) fala

sobre a (possível) reação da sociedade francesa (solidariedade) que clama pela retomada

do armamento policial para aqueles que estão fora de serviço. Ao mesmo tempo, o autor

aponta que a sociedade francesa clama pela volta do armamento na sociedade que vive

18A maioria em Janeiro marchou em solidariedade, mas eles não compartilhavam o medo. Hoje é diferente. Os ataques de sexta à noite estavam no Oriente Médio vieram para a Europa. Eles foram de uma ferocidade, alcance e aleatoriedade que nós associamos com Beirute ou Bagdá- mas não com Paris e Londres (Tradução nossa).

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com medo/insegurança. De acordo com o autor, esse seria o principal objetivo dos

perpetradores, ou seja, deixar a sociedade francesa sob o medo, armada e dividida entre si.

A matéria também composta por duas imagens (Figura 9) na primeira imagem, a

frente do restaurante que foi alvo do ataque, está repleta de flores no chão, onde associa-se

com o sentimento de solidariedade da sociedade francesa. A segunda imagem podem ser

observados militares armados, nas ruas de Paris, mais precisamente, em frente à Catedral

de Notre-Dame de Paris, uma igreja cristã e ponto turístico da cidade, onde existe a

transmissão de uma mensagem de proteção, símbolo cristão.

Outra inferência que pode ser feita a matéria jornalística está relacionada à

angulação e ao enquadramento, na primeira foto o ângulo é perpendicular ao local atingido,

permitindo avistar, a entrada com flores, o nome do restaurante e as pessoas passando na

rua ao lado, o que mostra o retorno à normalidade da vida cotidiana em contraste, com os

resquícios da tragédia (flores e o chão sujo, com o que parece areia). Na segunda imagem,

toda a imponência da Catedral de Notre-Dame é vista a partir do posicionamento de baixo

para cima da câmera, com os militares armados protegendo sua base, e no canto direito,

existe uma aglomeração de pessoas que novamente retoma ao cotidiano daquela região

turística.

A última reportagem do dia 14 de novembro de 2015, tal como a anterior, levanta o

questionamento de um novo tipo de terrorismo em seu título, “Paris attacks: A new type of

terrorism?”. Ao longo da reportagem, o jornalista Peter (2015) aponta questionamentos,

sobre os ataques em Paris, principalmente, porquê Paris foi o alvo. Uma das possíveis

respostas dá-se justamente aos ataques aéreos contra o grupo na Síria e no Iraque19, mas

nessa passagem, especificamente, esses ataques não são usados para transmitir uma

mensagem de vitória sobre o grupo.

O jornalista entende que a escolha dos alvos civis tinha como intenção, matar o

máximo de pessoas possíveis e de maneira aleatória20. Como já foi citado, mais uma vez, é

feito um histórico com outros ataques e, através do argumento de um especialista belga, em

grupos jihadistas. Na reportagem é dito que na França, esse tipo de barbarie não é comum,

ao contrário de outros países do Oriente Médio, em que muitas das ações passam a

impressão de naturalidade. Segue o trecho do jornalista: “There have been similar suicide

attacks in Syria and Iraq, where militants have used up all their bullets, then blown

themselves up in a crowd, he said. But never before in France”21(PETER, 2015).

19 “French warplanes have repeatedly attacked IS fighters in Syria and Iraq, as part of the US-led campaign against the group” (PETER, 2015). 20“They were soft civilian targets in Paris - the intention was evidently to kill many people randomly.” (PETER, 2015). 21Têm acontecido ataques suicida similar na Síria e Iraque, onde militantes usam todas as suas balas, e então se explodem na multidão, ele disse. Masnunca antes na França (Tradução nossa).

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Estão presentes nesta mesma reportagem, três fotos, sendo que uma delas é o

mapa onde aconteceram os ataques.Na legenda “Police are on the highest alert as the hunt

for possible accomplices continues” (“Polícia está em alerta máximo enquanto a busca por

possível cúmplice continua”). Na foto, a viatura policial e a fita de isolamento ganham

destaque. A legenda da fotografia transmitea mensagem de que a polícia está presente nas

ruas de Paris, e medidas estão sendo tomadas para a proteção dos cidadãos parisienses.A

legenda “Extra French soldiers have been deployed - joining thousands mobilised in cities

after the January attacks” (“Soldados franceses extras foram movimentados- se unindo aos

milhares mobilizados nas cidades depois dos ataques de Janeiro”). Novamente, a foto de

militares armados está presente no material jornalístico, demostrando o potencial da força

militar frente às ameaças.

Dando seguimento, a matéria do dia 18 de novembro de 2015, “Paris attacks: Grief,

anger and defiance on city streets” (“Ataques de Paris: Pesar, raiva e resistência”) trata-se

especialmente dos parentes das vítimas e dos sobreviventes com seus respectivos

depoimentos. A matéria de Burridge (2015) dissemina, em suas fotos (figura 12),

novamente, o sentimento de solidariedade que se espalhou por Paris e foi demostrada nos

locais alvos. A figura 13 tem como legenda, as palavras: “Flowers and tributes have been left

outside Le Carillon bar in Paris” (“Flores e tributos têm sido deixados no lado de fora do Le

Carillon em Paris”). A foto com a rosa, um símbolo do amor, é focalizada e em volta, todas

as flores, quase que tomando metade da imagem, reforça a mensagem de amor e de

solidariedade na sociedade francesa.

Por fim, mas não menos importante, a imagem 14 tem como legenda“The Bonne

Biere was one of the venues targeted in Friday's attacks” (“O Bonne Biere foi um dos locais

alvos nos ataques de sexta”). Mesmo mudando a localização, as flores, mantém a mesma

intenção. Todavia, é preciso destacar que nesta imagem temoso momento em que há um

cidadão francês ler as homenagens prestadas. Há um reforçar da fotografia em remeter a

memória e o trauma sofrido pelos cidadãos (ãs) franceses (as).Na última foto,“The attacks

have left the people of Paris in shock” (“Os ataques deixaram as pessoas de Paris em

choque”), além das inúmeras flores, também é colocado em destaque a foto de duas

mulheres, que possivelmente foram vítimas. A mensagem de empatia fica mais forte, visto

que mostra de modo nítido os rostosdas duas jovens vítimas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo tratou a partir de uma perspectiva comparada, os diversos discursos

midiáticos que ocorreram em Paris, no dia 13 de novembro de 2015, após os atentados

terroristas. Nesse sentido foi possível a partir de uma análise pormenorizada, um estudo

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entre o portal de noticias da BBC e revista online Dabiq Magazine produzida pelo Estado

Islâmico. No que concerne à BBC, as reportagens produzidas transmitiam ideias e valores,

por meio de suas fotos, a partir de uma lógica onde segurança, solidariedade e retorno à

“normalidade” eram priorizadas.

Os discursos tentavam contextualizar a sociedade francesa, remetendo a outros

atentados que ocorreram na região e/ou no país. Com relação à Dabiq, a revista constrói

ideias e concepções que estão em contraposição à visão mainstream dos meios de

comunicação. Isto é, as imagens exploradas com mortos, feridos, pessoas ensanguentadas,

semblantes preocupados, evidenciam uma sensação de insegurança em Paris e no mundo

ocidental.

Ao olhar os estudos de casos não pretendemos trazer conclusões finais, mas

algumas considerações, dentre elas apontar para além de uma visão maniqueísta, entre o

certo ou errado, justo ou injusto, boa ou ruim. Nesse sentido, compreendemos que tanto a

Dabiq (Estado Islâmico) quanto a BBC apresentam visões de mundo diferentes tendo como

alicerces abordagens e processos históricos que são instrumentalizados pelos meios de

comunicação, cujos objetivos são conquistar a opinião pública internacional a partir de

diferentes narrativas.

Destacamos também que o objetivo de apresentar duas abordagens diferentes para

o mesmo fato foi atingido, enriquecendo o material para o debate acerca do tema, visto que

atualmente, o Estado Islâmico encontra-se em constante destaque na mídia internacional.

Nesse sentido, as análises discursivas reforçou as hipoteses deste artigo já que de um lado,

existiu a transmissão de ideias, de valores, mediante a lógica de segurança, solidariedade e

a retorno à normalidade, já por outro espectro houve a construção da sensação de

insegurança, de tragédias e de desespero. Esse artigo abre possibilidades para que outras

visões acerca do tema sejam trabalhadas em pesquisas futuras ao qual pretende-se dar

continuidade.

Não menos importante, devemos perceber que através de diferentes framings pode-

se abordar uma determinada questão, independentemente, de qual área estejamos falando.

No entanto, ao abordamos a temática de segurança/insegurança, sobretudo, por meio de

atores não estatais (EI), percebemos o quanto cada vez mais, movimentos transnacionais

caracterizados por ideologias universalistas (insiders/outsiders) buscam cooptar indivíduos,

para certas causas, consideradas essenciais. As mídias atuam e funcionam, neste sentido,

como ferramentas do marketing do terrorismo, atualmente, em rede e de modo

espetacularizado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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