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COMt:RCIO DE l-101'1ENS EM OURO PRE'ID NO St:CULO XIX NILCE RODRIGUES PARREIRA UNIVERSIDAÓE FEDERAL DO PARANÁ Mestrado em História do Brasil Opção: História Demográfica Curitiba 1990

PARREIRA, NILCE RODRIGUES.pdf

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NILCE RODRIGUES PARREIRA
Opção: História Demográfica
Depois.de anos de muito trabalho e dedicação quase que e!
clusiva, consegui atingir a meta tão desejada, finalmente a dis­
sertação de ~estrado ficou pronta.
Ao escrever algumas palavras de agradecimento, depois de
ter colocado no papel tantas hipóteses, duvidas, resultados e al
. gumas sugestões, parece dificil escrever a ultima pãgina, talvez
a mais pessoal de todo o trabalho.
Comecei a pensar e a relacionar as pessoas que de alguma
forma me ajudaram no decorrer desta tarefa e, a lista vai cres -
cendo ... crescendo. Nunca pensei que um trabalho acadêmico pu­
desse envolver tantas pessoas, tantos sentimentos, tanta . ener­
gia vital.
decer a todos que me ajudaram.
Primeiramente agradeço ao apoio financeiro da CAPES e da
ABEP, de grande importância para o desenvolvimento desta traba­
lho. Agradeço a todos os professores do Mestrado em História do
Brasil da Universidade Federal do Paranã, sempre dispostos a au
xiliar, corrigir, sugerir e sobretudo incentivar, especialmente
a Márcia Graf, minha orientadora.
As professoras Mitiko e Clotilde Paiva, da Faculdade de
Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, p~
las sugestões e boa vontade em me auxiliar quando foi necessa­
rio. Ao professor lracidel Nero da Costa, da Faculdade de Admi-
05
nistração e [conoll1ii1 di1 lJnivcrsidi1dc de São Paulo, tambem sempre
disposto a auxiliar e incentivar desde o inicio deste trabalho.
A Miriam Braum e ao Luis Pinheiro,pelo desenho dos grãfi­
coso Ao Ramõn Villar e ã Carla Berwig pela correção do português,
ã Regina Bruno pela correçao bibliográfica. A Sandra Skakausky p~
la datilografia das tabelas.
Aos funcionários das diversas instituições onde pesquisei,
especialmente ã Suely Pierutti, da Casa do Pilar, e ã M6nica Mas
sara do Museu da Inconfidência em Ouro Preto.
Ao Paulo pelo apoio ã pesquisa, pela leitura do texto e
sugestões.
A meus pais, duas pessoas fortes e batalhadoras. A duas
p e s s o as mui t o e s p e c i a i s, sem p r e d i s P os tas a "e n s i n a r a p e s c a r" a
quem tem boa vontade de aprender: Nancy e Geraldo Zaniratti. A
toda a minha familia que me acompanhou e apoiou durante todo o
processo de gestação deste trabalho.
As minhas amigas Verginia, Ida, Izaura, Sylvia e Rita, p~
lo apoio e incentivo.
mais sinceros agradecimentos.
Nilce R. Parreira
setembro de 1989
tos. Esta preocupação antiga dos historiadores tende agora a ser
esclarecida. O século XIX não está mais relegado a segundo plano,
ao contrário, apresenta-se como uma fonte inesgotável de dados e
documentos que aos poucos vão sendo explorados, trazendo ã tona
características regionais da sociedade oitocentista mineira. As
peculiaridades de Minas Gerais começam a surgir como resultado
dos estudos regionais, que vão sendo concluldos em números ainda
tímidos, mas crescentes nos ~ltimos anos.
Minas Gerais apresenta um quadro econ6mico baseado na pr~
dução mercantil de subsistência. Al~m da agricultura, a indústri
a, em se~ sentido mais amplo. de transformação de matérias-pri -
mas em produtos comercializáveis. começava a se desenvolver em
diversas regiões da província. O crescimento demogrãfico da pop~
lação escrava aponta para a nãoestagnaçã~ econ6mica, em contra­
posição ã ideia veiculada pela historiografia tradicional.
Sendo o regime escravista logicamente, a mão-de-obra bãsi
ca mantenedora das atividades econ6micas era a escravista. Logo,
se havia crescimento da população escrava, seu emprego estava
sendo requisitado pelos setores produtivos, o que implica em me- •
nor ou maior grau, no desenvolvimento de algum tipo de produção
econômica.
or
A manutenção de um grande plantel de escravos em Minas Ge-
rais durante o s~cu'o XIX. aponta pafi a resist~ncia do escravis
mo at~ as vesperas da abolição. apesar do processo de desagrega-
ção do sistema.
[ provâvel que o com~rcio de escravos tenha se mantido em
Minas durante todo o s~culo. com intensidade diversificada regio
nalmente. embora ainda não seja posslvel precisar esta diferen­
ciação pela inexistência de trabalhos sobre as diversas regiões
mineiras.
Quanto a Ouro Preto, fica evidenciada a persistência da
escravidão ate as vesperas da abolição. Entre 1810 e 1859, cai
a comercialização de escravos, mas a partir de 1860 ate 1884, o­
corre o maior numero de transações registradas durante o seculo.
Ou seja, durante o períOdO de desagregação do sistema a socieda­
de mineira se apega a ele, por razões ainda não totalmente escla
recidas mas certamente de cunho econômico.
Imbuídos no espírito de curiosidade construtiva, e buscan
d6 o conhecimento deste períodO da Hist~ria mineira tão comenta-
do, nos lançamos a este estudo da estrutura da população escrava
comercializada em Ouro Preto durante o seculo considerado.
Apesar das limitações inerentes a este tipo de trabalho,
esperamos contribuir pelo menos em parte para o conhecimento de
Minas oitocentista, nao apenas com respostas, mas principalmente
com indagações.
10
o interesse pelo estudo do regime escravista em Minas Ge-
rais nao constitui novidade nos meio universitários, atraindo a
atenção de estudiosos de diversas ãreas de pesquisa: economistas,
cientistas politicos, demógrafos e historiadores principalmente.
As diversas abordagens, possibilitam o enriquecimento paulatino
deste estudo, que ainda possui muito a ser explorado. São exata
mente estas novas abordagens, com exploração de documentação i­
nedita e metodologia aperfeiçoada, que trazemã luz novas ques­
tões, esclarecem dúvidas, abrem novas perspectivas.
Dentro destas novas opções teõrico-metodolõgicas encontra
se o campo dedicado ã histõriademogrãfica, que vem obtendo óti­
mos resultados na exploração de fontes passlveis de utilização
de tecnicas e metodos quantitativos. A metodologia aplicada e de
senvolvida pela demografia, baseada em tecnicas quantitativas,
permite, atraves do estabelecimento de series homogêneas, maior
precisão na coleta e tratamento das variáveis analisadas pelo e~
tudioso, diminuindo a margem de erro. A qualidade das fonte, as-
sim como o numero e importância das variáveis que possuem, são
fundamentais para um estudo baseado nesta metodologia.
O estudo dos preços de escravos, permite que a análise da
economia escravista seja vista ~o~ um novo ~risma, sendo desne- , cessário ressaltar a importância do estabelecimento do valor da
mão~erobra escrava, numa sociedade em que ela representou a ba-
11
se do sistema produtivo. Por outro lado. as fontes que permitem
um estudo de pr~ços deste segmento da sociedade. permitem uma a
nálise regional do regime escravista brasileiro em termos demo­
grãficos.
Os autores que têm se dedicado a este estudo adotaram.
como já foi ressaltado. caminhos diversificados, utilizando como
fontes primárias. jornais. matrlculas de escravos. inventários,
escrituras de compra e venda de escravos, dados censitãrios e ou
tros. As listas de classificação de escravos para emancipação p!
lo Fundo de Emancipação, criado pela Lei Rio Branco (Lei do Ven­
tre Livre), tambem possuem dados que permitem não só o estudo da
estrutura da população escrava, como tambem o cálculo do preço
dos escravos na conjuntura emancipacionista. . 1·
Marina de Avellar Sena trabalhou com an~ncios de jornais
do seculo XIX, de Minas Gerais, referentes a transaçõ~s com es-
cravos. Foram pesquisados os jornais: "O Universal", "Oiirio de
Minas", e "0 Bom Senso". Tais an~ncios referem-se ã compra, ven­
da, hipoteca, leilão, e ate mesmo ã venda de escravos fugidos.
Chamou a atenção para a diversificação das atividades profissio­
n a i s e x e r c i das p e los c.a t i vos, mas não se de t e ve n o e s tu dia das
mesmas. No referido trabalho, a autora analisou 21 escrituras de
compra e venda de escravos encontradas no Cartório de Ponte No-
va, referentes aos anos de 1866, 1874, 1875 e 1876. A partir des
ta análise, que compreendeu cerca de 30 escravos, partiu para ob
servações sobre os preços dos mesmos. Procurou provar que os pre
ços dos escravos não obedeciam a nenhum criterio; para isto, fez
o agrupamento dos mesmos por apro~imação de preços. Ainda com es
te Objetivo, elaborou uma tabela do valor dos escravos, segundo
a idade (em ordem crescente, e sem divisão por faixas etirias).
12
A partir dos resultados obtidos, concluiu que o valor do escravo
variava em função da vontade ou necessidade de seu proprietârio.
Não t r a b a 1 h o u c o mas v a r i ã v e i s n a t u r a 1 i d a d e e s e x o. C o n s t a to u a­
penas dois casos do sexo feminino; todos os escravos do sexo mas
culino eram IIroceirosll, e apenas 3 escravos eram de origem afri­
cana. O pequeno numero de escravos observados não permitiu o es­
tabelecimento de series homogêneas. Os resultados obtidos devem
ser considerados com cautela, uma vez que a prõpria autora cons­
tatou a existência de numeros significativos de livros próprios
para o registro das escrituras de compra e venda de escravos,
em cartórios das anti~as freguesias da cidade 2 .
A hipótese principal do presente trabalho, assume uma po­
sição inversa â constatação da autora acima citada, segundo a
qual o valor do escravo variava em função da vontade ou necessi­
dade de seu proprietirio, uma vez que a variação do preço do es­
cravO e aqui considerada como dependente de uma serie de outras
variãveis, entre as quais, o tempo e o espaço.
Zelia Maria Cardoso de Mello 3 trabalhou com pr·eços de es-
cravOS encontrados em inventários em São Paulo, para o perlodo
de 1847 a 1887, como parte de sua pesquisa, então em desenvolvi-
mento. sobre a riqueza em São Paulo. Procurou determinar a estru
tura da população escrava estudada, considerando as variãveis o­
rigem. sexo, idade, atividade, preço e perTodo. Para o estabele­
cimento do preço medio dos escravos. trabalhou com as variiveis
sexo, idade e periodo. Não considerou a origem, nem a atividade
produtiva. A autora faz uma comparação entre os preços m~di6s
conseguidos E~ seu estudo, e as oscilaçóes de preços do cafe, de
tectadas por Antônio Oelfin Neto 4
1 3 Com o objetivo de estabelecer o preço medio de escravos
da Provlncia do Paraná, de 1861 a lSB?, Carlos Roberto Antunes
dos Santos 5 trabalhou com escrituras de compra e venda de escra
vos. Consider.ando o preço do escrllVO urna variável dependente,
procurou identificar em que medida as variãveis região, período,
idade, sexo e atividade produtiva influenciaram ou foram determi
nantes do valor do escravo. Para a exploração das variãveis~ uti
lizou metodos e tecnicas quantitativos.
Dentro da mesma linha metodolõgica e utilizando como fon-
tes primárias as escrituras de compra e venda de escravos da fre
guesia do Pilar em 'Salvador, destaca-se ainda, o trabalho da e­
quipe de Maria Luiza Marcl1io 6 . Os autores acreditam ser o preço
do escravo uma variãvel dependente das caracterlsticas do mesmo.
A partir desta hipõtese, procuram estabelecer as variáveis que ~
tuariam nas flutuações do preço unitãrio do escravo, e em que ar . 7
dem de importância atuariam nestas flutuações. Estabeleceram o
preço media para os escravos, segundo sexo, idade (a partir de
5 anos), e atividade (lavoura e domestica). O preço media segun­
do o sexo e origem, só foi estabelecido para os escravos da fai-
x a e t ã r i a 35 - 44 a nos, de p r o f i s são do 11\;; s t i c a .
Kãtia de Queirós Mattos0 8 trabalhou com dados quantitati­
vos contidos em inventãrios e com anúncios de leilões de escra -
vos, publicados em jornais da epoca. Os inventãrios foram esco­
lhidos nas decadas: 1808-1810, 1851-1860 e 1871-1880 (65 jJard c~
da decênio}. Segundo a autora "0 preço do escravo e um jogo de
variivei~. algumas das quais totalmente alheias ao prõprio escra
vo e outras, ao contrãrio, intimamente ligadas a sua pessoa ll9
~s variãveis idade, sexo, saude e qualificação profissional, jun
tam-se as variiveis de cariter conju~tural: as os~ilações do pre
14
ço em decorrência da concorrência e do tráfico; a distância en­
tre o porto de partida e o de chegada; os riscos do transporte
marítimo e a "Lei da oferta e da demanda". Comenta ainda a ne­
cessidade de se analisar a modalidade da venda, se ã vista ou a
prazo. Destaca a import~ncia das vari~veis idade, sexo e quali­
ficação profissional. na determinação do preço do escravo, mas
não calculou o preço medio dos escravos estudados em função de~
tas variãveis. Estabeleceu os preços medios dos escravos "adul-
-d 11 1 O d . . - d f 1 d d d tos e em boa sau e ,sem lstlnçao e sexo por a ta e a os
seriais suficientes para distingui-los, embora tenha considera­
do tal variãvel como importante na d~terminação do preço. De a­
cordo com os dados por ela analisados, a origem e a cor não in­
fluenciaram na variação do preço do escravo. A prõpria autora
considera que estas m~dias devem ser vistas com cautela, uma
vem que não consideram fatores fundamentais na oscilação dos - 1 1 mesmos, como o sexo. a idade e a saude .
A utilização de metodos e tecnicas quantitativos, no pr~
sente trabalho, se fazia necessãria para maior precisão na ex­
ploração das fontes, que por constituirem seri~s se prestam a
este tratamento, enriquecendo e fundamentando a anilise qualit!
tiva dos resultados obtidos.
tõria da escravidão em Minas Gerais, nos seus aspectos econômi­
co, social e demogrãfico. Visa-se ainda, chamar a atenção para a
importância dos ,estudos regionais.
rante todo o'período em questão. À analise da atividade produti­
va e do preço do escravo exigiu maior:diversificação metodológi­
ca, com o objetivo de melhor aproveitamento das informações con-
15
tidas nas escrituras de compra e venda. Foram explorados os re­
gistros coletados durante o s~culo. com exceção de alguns casos
abandonados por não conterem as informações mlnimas necessarias.
A anel;se dos dados para a primeira met3de do seculo, exigiu um
tratamento da documentação de forma quase totalmente indivídua-
lizada. atribuindo-se maior ênfase ã analise qualitativa. No p~
rlodo de 1860 a 1887, a documentação ~ mais rica em informações
quantificãveis. tendo permitido maior utilização de metodos e
tecnicas quantitativos. Na lJtilização destes metodos e técnicas,
como jã foi salientado, foi adotada a ficha modelo B (anexada a
~eguir), que possibilitou a sistematização das informações con- - 12 tidas na docu~entaçao explorada .
Os registros de compra e venda de escravos cont~m as se­
guintes variãveis: data da transação, nome do escravo, sexo,
cor, idade, estado civil. oficio, filiação, na~uralidade, resi-
dência, preço valor da meia sisa. Possuem ainda o nome completo
e local de residência do (s) vendedor (es) e do (s) comprador
(es). d~dos que permitem conjecturas acerca da migração desse
contingente de cativos, e ainda sobre .a existência de comercian
tes de escravos. A existência de sociedades de compra e venda
de escravos, fica evidenciada pela escritura de dissolução de u
ma sociedade deste tipo, registrada no códice nQ 259, datada
de 1872, documento este, transcrito a seguir 13 .
Anexo n Q J
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
FICHA DE ARROLAMENTO
""OUIVO:----
li! D" [SCRITURA: -----
"UIO!HC" :
NOllr:
O'(C/O:
TERMO
COR:
"LlAdo:
·Plllrco:
"E'A S ISA :
17
Escritura de dissolução de Sociedade de compra e venda de escra­
vos, que fazem o Tenente Antonio Alves Ferreira e Capitão Joz~
Querino Ferreira.
Saibão os que virem este publico instrumento de escritura de dis
solução de sociedade, que aos vinte e cinco dias do mez de Maio
do anno de mil oitocentos setenta e dois. nesta Cidade de Ouro
Preto e em meu Cartorio comparecerão como partes entre si havin­
das e ajustadas o Tenente Antonio Alves Ferreira e o Capitão Jo­
z~ Querino (erreira, ~oradores em Sam Bartholomeu, sendo este re
prezentado por seu procurador Capitão Antonio Francisco Junquei­
ra, reconhecidos de Mim e testemunhas adiante assignadas, peran­
te as quais pelas mesmas partes foi dito, que ate hoje tinhão
constituido e gerido mutuamente uma Sociedade de compra e venda
de escravos, mas que prezentemente não lhes convindo continuar
com a mesma Sociedade trataram de sua liquidação em consequencia
da qual couberão dous escravos a cada um dos Socios ã saber, ao
Tenente Antonio Alves Ferreira os escravos Julio tabra de quar~~
ta annos de edade e Joz~ cabra de trinta e aitas annos mais ou
menos, e ao Capitão Jose Querino Ferreira, os escravos Gerardo
crioulo de quarenta e cinco annos e João Africano de cincoenta
annos mais ou menos, e como os escravos que ficarão com o Tenen­
te Antonio Alves, fossem de maior valor. voltou este ao Capitão
Joze Querino trezentos mil reis, que o mesmo diz ter recebido em
dinheiro corrente, por tanto. dando-se as mesmas ... partes .. mutua
quitação dos Capitais e lucros da referida Sociedade a-dissolvem·
i hoje em diante, e dão por dissqlvida pela prezente escritura,
com inteira renuncia de reclamarem indemnisações, por quaquer t~
tulo que sejão. e aprezentarão o conhecimento Provincial, datado
18
hoje, numero quarenta e quatro, exercicio de 1871 ã 1872, assig­
nado pelo Agente Antonio Moreira Co~lho e Escrivâo ajudante, Ho­
norio Jose Barbosa, do qual consta terem pago o direito de um
mil e oitenta reis, bem como a estampilha de quatrocentos reis a
que colocada. Por serem estes seus contractos, e me pedirem que
os reduzisse a instrumento publico eu o fiz nesta escritura em
nome dos Contractantes e de quem mais tocar, tendo uma entreli -
nha que diz - Antonio. Sendo-lhes esta lida acharâo conforme e a
assignâo com as ditas testemunhas e comigo Francisco de Paula Ma
laquias, Tabelião que a escrevi.
(Seguem-se as assinaturas)
No ato da transação eram declaradas as condições de paga­
mento e apresentado o recibo do recolhimento do imposto da Meia
Sisa sobre o preço de escravos, geralmente recolhido ~elo compr~
dor na coletoria da cidade. Finalmente, constam as assinaturas
do comprador, do vendedor ou de seus procuradores, alem das tes­
temunhas. Em alguns casos o vendedor declarava a procedência do
escravo (obtidos por compra, herança, doação e outras). Certos
registros possuem tambem a descrição flsica do escravo, como os
do cõdice n9258 - Livro Especial de Notas do 19 oficio, onde es-
-ta informação e mais detalhada. Foram encontradas as seguintes o~
servações em alguns registros: fujão, preso, cego, aleijado, g~
loso, ladino, boçal e outras.
O cruzamento das variãveis acima referidas permitiu o es­
tabelecimento de medias anuais de preços para os escravos de Ou­
ro Preto, apesar de não ter sido pvsslvel o estabelecimento des­
tas medias para todo o perlodo estudado, em função das limita­
ções da documentação estudada, como se verá no capitulo sobre os
19
Na anãlise dos resultados obtidos através do cálculo das
medias anuais de preços, na anãlise das informações encontradas
nas escrituras de compra e venda no que se refere ao preço do
escravo, assim como nos exemplos citados no capitulO dos preços,
foi mantida a divisão temporal adotada em função da diversidade
das referidas escrituras. Ou seja, a oscilação do preço do es­
cravo foi analisada considerando-se o seu comportamento durante
as duas metades do século XIX.
Nas citações de documentos, assim como em relação aos no­
mes próprios, manteve-se a grafia original do documento.
A escolha de Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar de Ouro
Preto, para esta estudo, se deveu ã importância histõrica daqu~
la localidade, então capital da prov;ncia de Minas Gerais.
Devido ã importância das descobertas mineralõgicas, foi
criada a 9 de novembro de 1709, a capitania de São Paulo e Minas
do Ouro. Em 8 de julho de 1711, o arraial de Ouro Preto foi eri­
gido em vila, sob a denominação de Vila Rica de Albuquerque( ho­
menagem prestada pelo primeiro capitão-general Ant6nio de Albu -
querque, a si próprio), não aceita pelo rei, que retirou o nome
Albuquerque. Nos registros cartoriais consta Vila Rica de Nossa
Senhora do Pilar de Ouro Preto.
Pelo 'alvarã de 2 de dezembro de 1720, Minas Gerais tornou
-se capitania independente, com sede em Ribeirão do Carmo( atual
Mariana). A 30 de novembro de 1822, Minas Gerais passa ã provin­
cia do Império do Brasil. Vila Rica foi elevada ã categoria de
cidade a 20 de março de 1823, sob o titulo de Imperial Cidade do
14 Ouro Preto .
A atividade mineratôria foi responsável pelo desenvolvi menta econômico e crescimento populacional da região, que chegou
20
ao apogeu no decorrer do seculo XVIII. O surto de desenvolvimen­
to econômico criado em função da atividade mineratõria e a im­
portância politica adquirida pela região em função de sua riqu~
za mineral e da rigorosa fiscalização metropolitana, atrairam e
ainda atraem a atenção de estudiosos da Histõria de Minas e da
escravidão. O controle efetivo por parte da Coroa portuguesa, im
pedindo o livre acesso ã região e o isolamento geográfico da
mesma, levou ao desenvolvimento de uma sociedade peculiar com ca
racter;sticas prõpria~ e bastante influenciada pela metrópole
constituindo assim outro foco de atração para os estudiosos.
A história da prov;ncia durante o século XIX, ficou rele­
gada a segundo plano durante muito tempo e começa agora a ser ob
jeto de estudos regionais. Este trabalho se inclui nesta etapa
de busca do conhecimento da histôria mineira durante o século
XIX, a partir do estudo de um segnlento da população escrava.
21
NOTAS E REFEREN.CIAS
01. SENA, OlIvia Marina de Avellar. Com-.Era e venda de escravos em Minas Gerais. Belo Horizonte,-rlttera Maciel, 1977. 109 p.
02. . Arrolamento das fontes históricas de Ponte Nova (M.G.) In: PAULA. EurIpedes Simões de. ~rg. Anais do VI Simpósio Na­ cional dos professores Universitarios de Historia; trabalho (Coleçao da Revista de Historia, 45).
03. MELLO, Zélia Maria Cardoso de. Os escravos nos inventários pau listanos da segunda metade do seculo XIX. In: MELLO, Zélia Maria Cardoso de. et alii. História Econômica: ensaios. São Paulo, Instituto de Pesquisas Economicas, 1983. p.59-104.
, 04. Id., p. 59-104
05.
06.
SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Preços de escravos na Pro- vincia do Paraná: 1861-1887; estudo sobre as escrituras de compra e venda de escravos. Curitiba, Universidade Federal do Paranâ, 1974. 131 p. mimeo ..
MARCTLIO, ~aria Luiza et al.ii. Considerações sobre o preço do escravo no periodo imperial; uma análise quantitativa; basea da nos registros de escritura de compra e venda de escravos­ da Bahia. In: Anais de História .. Assis, Departamento de His­ tória, Faculdade de Filosofia, Ci~ncias e Letras de Assis 1973. p. 179-94.
07. Id., p. 181.
08. MATTOSO, Kátia de Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo Brasiliense, 1982. 267 p.
09. I d ., p. 77 .
10. Ibid., p.88
11. Ibid., p.95
12.
13.
A ficha modelo B foi utilizada para arrolamento das variâveis contidas nas escrituras de co~pra e venda de escravos da Pro - vincia do Paranâ, por: SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Preços ... Op. cit., p.l0, com pequenas modificações, uma vez Que os registros de compra e venda de escravas de Ouro Preto cont~m as meimas variáveis.
REGISTRO especial de notas de transações de escravos desta ci­ dade. Tabeliões do primeiro oficio; Francisco de Paula Mala­ quias e Bento Antônio Romeiro. Veredas. Ouro Preto, 12.03.1870 a 08.11.1884, p.8 verso. Codice nQ 259.
3. FONTES
Existe ainda muito a ser feito em termos de pesquisas his
t6rica no Brasil. A organização de arquivos e bibliotecas, o arro
lamento de fontes prim~rias, e restauração de documentos danifica
dos, principalmente pela falta de condições adequadas de conser­
vação. Ao que tudo indica, é comum ao pesquisador o manuseio de
documentos corroidos por traças, danificados pela humidade. Uma
coisa e certa, boa parte dessa documentação est~ irremediavelmen-
te perdida e muito mais se perderá se não forem adotadas
das eficazes para sua recuperaçao.
medi-
O acesso a arquivos pUblicos e particulares, que possuem
sob sua guarda fontes primárias para o estudo da História brasi
leira, leva o pesquisador a ter uma idéia do volume de documentos
ainda não pesquisados. Os obst~culos sao inumeros, mas a persis­
tência e interesse dos pesquisadores têm levado ã descoberta e ex
ploração de novas fontes prim~rias e, consequentemente, aos pau -
cos os pontos duvidosos vão sendo esclarecidos.
O regime escravista brasileiro por exemplo, foi e ainda e foca de estudos os mais variados~ entret~nto. ainda sao poucos os
trabalhos de carãter regional sobre o tema. Por outro lado. o tra
balho do pesquisador nao pode ser enriquecido com depoimentos dos ~ -
próprios escravos quanto ã sua situação na sociedade da epoca.de-
~ido ã quase total inexistência de fontes primárias deixadas pe-
los mesmos.
o estudo critico dos documentos acesslveis ã pesquisa permite
maior esclarecimento do longo perlodo escravista brasileiro, e
consequentemente, a melhor compreensão do estagio atual de nos
sa História.
Entre as fontes para o estudo da História do Brasil, des-
tacam-se entre outros, os documentos cartoriais, os registros pa­
roquiais·, os peri6dicos, e ainda os depoimentos orais. ,
Alem do conhecido estado de abandono em que se encontram
documentos históricos, ainda não arrolados e catalogados, em ar -
quivos por todo o paIs, deparamos com atitudes lasiimaveis, como
ê o caso da utilização de documentos de incalculavel valor hist6
rico para a encadernação de livros cartoriais l .
Outro problema frequente e a localização da documentação a
ser trabalhada, devido a sua transferência de um arquivo para ou
tro, ou mesmo a inexistência nos arquivos de documentos que fo­
rpm catalogados e posteriormente perdidos. Existe ainda um empe­
c11io com o qual defrontam os~que optam pelo tratamento das fon
tes a partir de metodos e tecnicas quantitativos: o estabelecime~
to de series homogênea.s. O nGmero de fontes coletadas e a quali­
dade das informações que possuem determinam a viabilidade ou nao
desta opção metodológica.
Os registros de compra e venda de escravos de Ouro Preto,
fontes primarias basicas para o presente trabalho, possibilitaram
o estabelecimento de séries homegéneas. Faziam parte do acervo do
a rqu i vo d a C a s a dos C o n tos, te n do. s i d o e n c o n t r a dos nos 1 i v r o s de
notas de tabeliões. Esses códices se encontram atualmente na Ca­
sa do Pilar, arquivo de documentacão cartorial que funciona como
auxiliar ao Museu da Inconfidência, na cidade deDuro Preto, em
25
virtude do fechamerito daquele arquivo para trabalhos de restaura-
ção, quando foi iniciado o arrolamento de fontes primãrias para a
elaboração deste trabalho. Dos 74 cõdices levantados e arrolados,
apenas 5 são destinados unicanlente ao registro de transações
escravos 2abrangendo, estes ~ltimos, cerca de 23 anos, de vinte
três de março de mil oitocentos e sessenta a oito de novembro
de
e
de
mil oitocentos e oitenta e quatro, e conten informações mais com
pletas sobre os cativos. Tal fato comprova o não cumprimento das
determinações legais, que exigiam a adoção de livros especiais p~
ra o registro das escrituras de compra e venda de escravos 3 .
Os livros de notas de tabeliões pesquisados, cont~m al~m
dos registros de compra e venda de escravos, outros tipos de re-
gistros como: contrato e ajuste de casamentos, escrituras de con
fissão de dívida, escrituras de fiança, escrituras de legitima-
ção de filhos naturais, escrituras de compra e venda de imóveis e
outros. Relativos a escravos, contêm ainda: registros de hipote -
cas, cartas de alforria, registros de doação, locação de serviços
trocas e outros. Todos os registros relativos a transações com
escravos foram arrolados.
Os códices eirados foram microfilmados pelo Centro de Es­
tudos do Ciclo do Ouro, mas não foi possível durante a etapa de
arrolamento das fontes, o acesso aos microfilmes devido ao fecha­
mento da Casa dos Contos para restauração, como foi mencionado.
posteriormente, terminados os trabalhos de restauração, pôde- se
constatar que boa parte destes microfilmes estão ilegíveis, por
terem permanecido longo período ~em os cuidados necessârios para
sua conservaçao. Os originais foram .consultados na Casa do Pi­
lar. Abrangem um períOdO de 88 anos~ com uma lacuna de 22 anos
não tendo sido encontradas escrituras de Compra e Venda deescra-
26
1826,1828, '1830, 1832, 1833, 1834, 1835, 1836, 1337, 1840, 1847,
1849 e 1885.
Dos códices arrolados, 23 nao possuem escrituras de com-
pra e venda de escravos, mas cont~m outros tipos de documentos m
bre os mesmos, como cartas de alforria, escrituras de troca, e'
outros. A maioria se encontra em bom estado de conservação, qua­
tro em estado razoãvel, e tr~s em estado ruim, alguns bastante dani
ficados por traças e umidade. A leitura dos mesmos quase sempre
e boa, sendo oito cõdices de leitura razoãvel. Destes códices, s~
te foram encontrados posteriormente na Casa dos Contos, e enumer~
dos de s/n9 1 a s/n~7, por não possuirem numeração original.
Alem dos registros de notas de tabeliões foram consulta -
dos manuscritos: dois códices dos Autógrafos das Leis Mineiras, e
~õdices das Posturas das Câmaras Municipais de Mariana e Ouro Pre
to. Um dos cõdices de Postura de Ouro Preto encontra-se em pessi
mo estado de cqnservação, muito rasurado, corroTdo por traças e
manchado, a escrita estã muito clara e ilegTvel em algumas pãgi­
~as. No próprio códice hã uma observação sobre a confusão e desor
dem do mesmo e sobre a necessidade de reformi-104 .
As memórias pesquisadas pertencem ao acervo de algumas das
bibliotecas visitadas e ao Arquivo Público Mineiro. Neste, encon­
tra-se tambem a coleção de Leis Provinciais "Livro de Lei Minei -
ra", abrangendo o perTodo de 1835 a 1858: as posturas municipais
estão inseridas nesta coleção. A legislação imperial foi pesquis~
da no referido arquivo, na bibliotfca publica de Belo Horizonte,
~ no Instituto Histórico Geogrãfico e Etnogrãfico Paranaense. Os
dados censitãrios foram coletados em trabalho,s atuais de demogr~
fia histórica, em informações dos viajantes, e no IBGE em Curiti-
27
ba. Os mapas pesquisados. alguns dos quais aqui reproduzidos. fa
zem parte do acervo do Arquivo Publico Mineiro. Os relatórios dos
Presidentes de provlncia, e os relatórios de transmissão de cargo
pesquisados encontram-se sob a guarda do Arquivo Publico Mineiro
e da Biblioteca Nacional, np Rio de Janeiro. Nas pesquisas de fo~
tes e bibliografia necessãrias ã elaboração do presente trabalho,
contou-se com o acesso às seguintes instituições: Biblioteca Pú -
blica do Paraná, Biblioteca do setor de Ciências Humanas, Letras
e Artes e Biblioteca do curso de Pós-graduação em História do Bra
sil, da Universidade Federal do Paraná; Circulo de Estudos Bandei
rantes (Curitiba), Museu Paranaense, Instituto Histórico Geogrãfi
co e . Etnogrãfico do Paraná, Biblioteca Nacional, Arquivo Nacio -
nal, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Biblioteca Pu -
blica de Belo Horizonte, Arquivo Público Mineiro, Biblioteca do
CEDEPLAR, Biblioteca da FACE(sala Mineiriana) e Biblioteca da
FAFICH da Universidade Federal de Minas Gerais, Casa dos Contos
e Casa do Pilar(Ouro Preto) , e IBGE (Curitiba).
As escrituras de compra e venda de escravos de Ouro Pre-
to, possuem informações que permitiram a formação do perfil da p~
pulação escrava comercializada em Minas Gerais e registrada em
cartórios de Ouro Preto no decorrer do seculo XIX. r importante
ressaltar que nao se tratou aqui da totalidade dos escravos ali
existentes, e possivelmente nao estejam incluldos todos os escra­
vos comercializados. r provável que se realizassem transações di retamente entre as partes, sem que foss~ lavrada escritura em car
tório.
Havia algumas vezes, uma defasagem entre a realização da
transação, e seu registro junto aos orgaos competentes.Em alguns
casos. este atraso no lavramento da escritura ocorria em função do tipo de transação. ou melhor, em função do motivo que levou deter
28
minado proprietãrio a dispor de um beM, no caso, um escravo.Entre
essas escrituras encontram-se casos de venda para pagamento de
dividas, para pagamento de hipotecas, ou ainda casos de venda co-
mum, sem motivo aparente para que se demorasse a mandar lavrar o
documento comprobatório da transação.
Nem sempre e possivel detectar atr?ves do documento, o
fator que levou o proprietãrio a dispor do escravo, mas em alguns
casOs fica bem clara a obrigatoriedade da venda em função do cum­
primento de compromissos assumidos anteriormente. E o caso da ven
da para pagamento de hipotecas ou, ainda, a entrega de escravos
que h a v i a m s i d o h i p o t e c a do s. E x i s tem a i n d a a s e s c r i tu r as d e "v e n -
da condicional 11, ou IIvenda ã retro", que na verdade eram uma es-
pecie de hipoteca para garantia de eMprestimos. O vendedor se com
prometia a pagar determinada quantia, dentro de um prazo pre-es­
tabelecido, geralmente a juros mensais. Se o pagamento não fosse
efetuado dentro do prazo previsto a venda seria efetivada automa­
ticamente, sem a necessidade de lavraMento de outro documento em
cartório. Em outros casos, a escritura se refere ã efetivação de
venda condicional realizada anteriormente, para garantia de empr~
timo em dinheiro, pagando o comprador a diferença quando o valor
do escravo excedia ao valor do emprestimo.
Eram vendidos tambeM escravos provenientes de partilha de
herança. Em certos casos, um ou mais herdeiros compravam a parte
da herança que pertencia ao(s) outro(s) herdeiro(s). Ou ainda, f~
zia-se emprestimo de determinado valor, lavrando em cart6rio uma
escritura de venda condicional para garantia de pagamento do mes­
mo, incluindo-se na venda bens que esperavam recebe~ "em partilha
de herança. Algumas escrituras referem-se ã venda de bens, inclu­
indo-se escravos arrematados em hasta'pGblica. r Quase impossivel identificar os fatores de ordem pessoal
29
que envolvem a venda dos escravos, a nao ser quando v~m declara­
dos na escritura, o que e raro acontecer. Pode-se tomar como exem
plo, o caso da venda de uma fazenda situada no Ribeirão da Perpe­
tinga, freguesia da Itatiaia, termo de Vila Rica, incluindo 62 es
cravos. O vendedor, capitão Sebastião Francisco Bandeira, possuia
idade avançada e padecia de varias doenças, e como declara a es -
critura, resolveu vender os bens especificados na ~esma por nao
se encontrar em condição de administr~-los. Reservou para si, en­
quanto vives~e, o serviço de um dos escravos, que era aprendiz de
carpinteiro 5 . Outro caso que merece destaque refere-se ã venda de
imóveis em São João D'[l Rei, Paracatu e em Campo Belo, juntamen
te com três escravos. A vendedora, Maria Thereza de Jesus, foi
pronunciada em devassa, presa e condenada ao degredo perpetuo. Os
bens constantes na escritura foram vendidos a seu sobrinho, João
[van~el;sta da Costa, para pa~amento de um advogado em São João
0'[1 Rei e despesas de custos do processo. O comprador se compro­
meteu a pagar as despesas do auto e da viagem de degredo da vend!
dora, alem de lhe entregar o restante, se houvesse.Comprometeu-se
também ao -pagamento da Sisa 6
.
Em 1858 foi registrada a venda de 29 escravos, feita por
Francisco Machado de Magalhães Botelho Musqueira ao comendador Ma
noel Teixeira de Souza e ao capitão Antônio Luiz de Magalhães Mus
queira, na qual o vendedor declara que vendia os bens móveis e
semoventes que lhe couberam por herança de seu pai, a seu irmão
e a seu cunhado porque não lhe interessava permanecer na provin­
cia de Minas Gerais. Os escravos que vendia eram aparentados com 0"0 _ • - 7
outros que os compradores possuiam
Atrav~s desses exemplos, pode-se deduzir que os motivos
alegados para a venda dos escravos eram os mais variáveis possI
veis.
30
Entre a documentação arrolada existem dois tipos de regi~
tros de compra e venda de escravos: o primeiro refere-se unicamen
te a transações envolvendo escravos; o sC0undo, alim de escravos,
inclui outros bens. As escrituras que se referem ã venda de escra
vos e outros bens, como fazendas, terra, animais, jóias, ferramen
tas, imóveis, costumam ser bastante ricas em detalhes,(foram en -
contradas 51 escrituras deste tipo). Traze~ oeralmente, a descri
ção detalhada dos bens vendidos, e seu preço unitãrio. Entretanto
as informaçõ~s referentes aos escravos são bastante falhas. A1~m
do nome, que sempre e declarado, e do sexo ·tamb~m sempre identif!
cãvel, a naturalidade se destaca como a variãvel mais frequente
nestes registros. A cor, a idade, a atividade produtiva e afilia
çio, aparecem com uma frequ~ncia bem menor. Quanto ao estado ci
vil, chamou a atenção o fato de que entre os 81 casos de escra­
vos registrados como casados para todo o periodo estudado, 66 re
ferem-se a escravos'vendidos juntamente co~ outros bens, princi -
pa1mente com fazendas. O preço unitãrio dos escravos e declarado
para 235 dos 538 escravos contidos nessas 51 escrituras, ou seja,
43,68% do total. Para os restantes, declarava-se o preço total dos
escravos vendidos, ou o preço de grupos de escravos. Em alguns c~
sos, nao se desvinculou o preço dos escravos do montante da ven-
da.
bens, merecem destaque pela ri~ueza de informações que possuem,c~
mo foi dito anteriormente. A escritura nQ 195, de 7 de abril de
1809 traz informações bastante in~ressantes8 Trata-se do paga -
mento de uma divida de 13:000$000, tendo sido realizado um ajuste
de contas em 1807, no qual o devedor e vendedor, sentiu-se lesa­
do e recorreu ao Juiz ordinãrio, tendo sido aberto um processo Esta escritura refere-se ao reajuste de contas,ami9 ã vel, e rela-
31
ciona os bens que fazem parte da venda, e ao citar os nomes dos
proprietários de imóveis que se limitavam com a fazenda(situada ro
freguesia da Itaberaba, termo da Vila de 0ueluz dos Carijõs, co~
marca do Rio das Mortes), uma declara~ão se destaca, quando faz
referência ã propriedade de " ... Jose Moreira Alfera que são a90ra
dos seus libertos ... " Apesar de não existirem na escritura outras
referências ao fato, não se Dode desprezar sua i~portância, uma
vez que afirma possuirem os escravos bens que outrora pertenciam
a seu senhor., Apesar de não haver referência alguma ao tipo de
bens, provavelmente se tratasse de uma fazenda ou terras, uma vez
que se 1 i,mi tavam com a fazenda "Ri bei rão do Mello ", objeto desta
transação. A forma como se deu esta apropriação de bens, tambem
não está esclarecida na escritura. Provavelmente se trate de uma
doação feita pelo senhor em testamento.
Desta .venda faziam parte, alem da fazenda "ruralll, vinte
escravos. Foi dado ao vendedor, o prazo de seis meses para reti -
rar da fa2enda tudo o que lhe pertencia, incluindo criações, fru­
tos de suas roças e lavouras, e ainda, escravos não incluidos hes
ta venda. Para garantia desta transação, alguns bens, e 60 escra­
vos (al~m dos 20 que faziam .parte da venda), haviam sido hipote­
c a dos p a r a p a 9 a m e n t o deu m a d ,. v ; d a d e 1 2 . O 00 c r u z a dos " . .. a f a v o r
e no juizo da administração e a arrecadação da Santa Bulla da Cru
z a d a de s t a c a p i ta n i a . . . " Mas o v e n d e d o r j ã h a v ; a p a g o . .. 5 . 000 cru
zados desta divida. A escritura menciona outros escravos, livres
de hipotecas, que poderiam garantir o restante da divida ~ arreca­
dação da Bulla da Cruzada afirmando" ... alem dos oitenta e oito es­
cravos dezignados e dispostos neste instrumento outros tantos e
mais escravos nas fabricas del1e coronel outorgante ... 11 Pouco de­
pois, referindo-se a bens que poderiam ~arantir a referida venda, vem 11 ••• tem o dito coronel outorgante outros bens de raiz e mo
32
veis livres e dezembargados com estima de maior valor asima detudo
quanto mais elle deve ou possa dever e todos estes que asim lhe
ficão das sobreditas epotecas obri~a e epoteca adito coronel ou -
torgante ... ao Doutor outroC)ado ... "Estas duas declarações permi­
tem Que se tenha uma ideia do tamanho da fazenda"Ribeiro do r·1el-
10", e das posses de seu proprietârio.
A escritura n9 la, de 8 de marro de 1800, refere-se ã ven
da de uma fazenda de cultura denominada "O Engenho da Boa Vista",
situada na Perampeba da Boa Morte, freguesia de Congonhas do Cam­
po, termo da Vila de Queluz 9 . A venda inclui todos os bens da fa­
zenda, inclusive 83 escravos. Chama a atenção o prazo para paga -
mento desta divida de l6:000S000, estipulado em 30 anos, sem refe
r~ncia ao pagamento de juros.
Um dos documentos mais completos pesquisados foi a escri-
tura n9 40 de 12 de agosto de lü14(conforme anexo n9 1, P.344 ),
referente ã venda da fazenda "~'indanha OI, localizada na aplicação
da Lagoa Dourada, freguesia dos Prados, termo da Vila de São Jose
comarca do Rio das Mortes lO . 4 venda abrange tudo o que existia
na referida fazenda, inclusive engenhos, moinhos, paiol, mongolo
senzalas, currais, pomares, hortas, oficinas, canaviais, gado va
cum e cavalar, burros, ovelhas, jumentos, bestas, 61 escravos e
outros bens especificados na escritura. Declara-se o preço unitâ­
rio dos animais e escravos. Cerca de 55% dos escravos (34 indivi­
duos), eram casados entre si, formando 17 casais.
Foram ana1isadas neste trabalho 426 escrituras de compra
e venda de escravos registrados e~ cartorios de Ouro Preto, num
total de 1173 escravos. Estes numeros excluem escrituras que fo­
ram abandonadas por não conterem um minimo de informações necess~
rias ao estudo sÕcio-demogrãfico. Quantitativo e qualitativo da
população estudada.
33
o grafico n9 1 apresenta a distribui~äo anual das escritu
ras durante 0 secul0 XIX. Exclui cerca de 34 escrituras que nao
foram aproveitadas por insuficiencia de infor~a~öes ou por repeti
Cäo . Detectou-se uma concentrac.äo de escrituras de 1861 a 1881
totalizando 310 transa~oes. 0 ano de 1862 apresentou a maior inci
dencia de escrituras durante 0 seculo, tendo sido registradas 28
transa~öes de compra e venda incluindo escravos. Seguem-se osanos
de 1863 e 1865, com 25 a 24 escrituras respectivamente. Durante
oS primeiros anos do seculo tambem se registrou uma concentra~äo
de escrituras, embora inferior a registrada nas decadas de ses sen
ta e setenta. Durante 0 primeiro quinquenio do secu10, concentram
-se 23% dos escravos comercializados durante todo 0 perlodo estu­
dada, e a partir de 1860, encontram-se 36% destes escravos.n gra­
fieo a seguir traz a distribui~äo das escrituras de compra e ven­
da de escravos durante 0 seculo XIX, e a distribu;c ao dos escra­
vos venjidos durante 0 perlodo (por quinquen;o).
, GRAFICO NI 2
0 - ,... t- C)
• 0
8 In 0 10 10 0 10 0 10 0 10 0 In 10 0 0 N N ~ ", V .,. 10 10 co co 12 t- CD CI) CI) CD CD CI) CD CD co CD CD CD
CI) - - - - - - co co CD CD C) - -
N· OE ESCRITURAS
PRETO SÉCULO XIX (DISTRIBUiÇÃO ANUAL NQ' ABSOLUTOS)
1820 1830 1640 1850 1860 1870 1880
35
De acordo com este grâfico, durante os primeiros 15 anos
do seculo, foi, registrado um pequeno nQ de escrituras, contendo in
formaçoes sobre a co~ercializaçâo de grande nQ de escravos, refe -
rindo-se portanto, ã venda de muitos escravos por um pequeno nume
ro de proprietários. Vendas que incluiam geralmente, outros bens
como fazendas, terras, animais e outros. O comercio de escravos
tornou-se pouco significativo a partir de então(considerando-se a­
penas os casos registrados em cartórios de Ouro Preto), ate o in;
cio da segunda metade do seculo, quando aumenta o numero de escra
vos vendidos, e o numero de escrituras de venda de escravos, ou se
aumenta o número ,de vendas individuais de escravos. j a,
A tabela nQ 1, traz a distribuição das escrituras de com
pra e venda de escravos de Ouro Preto, durante o seculo XIX(em pe­
rlodos quinquenais), de acordo com o número de escravos vendidos
p o r e s c r i tu r a. P r e dom i na mas e s c r i tu r a s d e ve nd a de 1 a 5 e s c r a v o 5
e a partir de 1860 não houve mais nenhuma venda de mais de dez es
cravos registrados na mesma e~critura. Durante todo o seculo foram
registrados apenas quatro escrituras de venda de mais de quarenta
escravos, sendo duas e~ 1800(com 83 a 62 escravos), uma em 1814 ,
(com 61 escravos), e outra em 183l(com 52 escravos)todas envolven­
do a venda de fazendas e outros bens. As três escrituras referentes
aos primeiros quinze anos do seculo, são responsáveis pela concen­
tração de escravos detectada no perTodo.
o grâfico n9 3, permite melhor visualização destas info!
- destacando a intensificação do comercio de escravos nas de maçoes,
cadas de 'Ses'Sénta'e setenta, e o 'predom;nú) de vendas unitarias de
escravoS.
NÜMERO DE ESCRITURAS DE VENDA DE ESCRAVOS - PER10DOS QUINQOENAIS - 1800-1887
Per; odo VI
NQ ~ 0'\ ~ 0'\ ~ 0'\ ~ 0'\ .q 0'\ .q 0'\ .q 0'\ .q 0'\ .q ...... 10 o o ~ ~ N N M M .q ~ Ln U"l <.D <.D ...... ...... co co Q)S-
de I I , , I I I "
, I I I I I I I I I -O::S o U"l o 1.0 o Ln o tn o tn o Ln o U"l o tn o tn .... escra o o r- r- N N M M ~ ~ Ln Ln <.O ,<.O ...... ...... co co ...... .,..-
vos por co co co co co co co co co co co co co co co co co co 10 s- r- r- ~ r- r- r- r- r- r- r- r- r- r- r- ..-- r- r- r- ~ u
escritura OVl f-Q)
1 6 6 3 2 1 4 4 4 3 2 69 68 40 68 28 7 315
2 4 1 3 1 1 8 4 4 1 1 3 40
3 5 3 1 1 1 3 2 1 2 2 21
4 3 1 1 5
'. 5 1 1 1 1 1 2 7
1 a 's 1 9 1 1 3 6 1 1 4 5 5 4 S 81 77 45 81 31 9 388
6 a , O 5 3 1 1 1 1 1 3 1 3 1 21
11 a 20 1 1 1 1 1 2 3 10
21 a 30 1 1 2
31 a 40 1 1
41 e + 2 1 , 4
Total,de escrituras 28 15 6 7 , 2 3 4 7 5 6 1 O 84 78 48 82 31 9 426
GRÁFICO N« 3
N» OE ESCRAVOS POR ESCRITURA
O 5T Cl 0) rr 2Î O O tVJ CM m ro * i i 1 < f « i O IT) o o m O m o O — W •0 ro «0 O CO cs (0 flO <0 Œ
T en <J> O) m m (0 (0 f-
O
i <n O ¡n o « o
f <r m m <0 to r- « <D (D CO CO a «0
o>
Os resultados obtidos atrilv~S da documentação estudada,a
pontam para uma queda na comercial jzaç~o de escravos entre J810 e
1854. A partir ~e então observa-se uma reativação deste com~rcio ,
principalmente na década de sessenta, quando foram realizadas 162
transações, envolvendo 221 escravos. Os dados coligidos indicam que
foi mantido o regime escravista ate às vesperas da abolição.As in-
formações de que se dispõe, confirmam que a população escrava da
província manteve-se elevada durante todo o seculo, chegando na
década de setenta a alcançar quase o dobro de escravos registrados
nO início do século.
A existência de um numero relativamente pequeno de escri
turas de compra e venda de escravos registradas durante todo o se­
cul o XIX, não contesta a afirmação de que houve grande importação
de escravos para a provTncia de Minas Gerais durante o periodo l1
nem de que a maior parte dos escravos importados atraves do porto
do Rio de Janeiro, os quais deram entrada no mercado do Valongo
M· G . 12 P 1 destinavam-se a ·lnas eralS . rovave mente, estes escravos fos
sem registrados em cartório nos portos de desembarque pelos compr~
dores durante a primeira metade do século, e nas províncias de ori
gem com a cessação do t~ãfico de escravos africanos. Cabe ainda o~
servar que as escrituras de compra e venda analisadas neste traba-
lho referem-se apenas aos casos registrados em cartórios de Ouro
preto e não as transações realizadas em toda a provincia Talvez
um trabalho de pesquisa nas escrituras de compra e venda de escra­
;os do Rio de Janeiro pudesse comprovar essa hip~tese. A declaração
de residência dos compradores dos e~cravos importados, poderia ind~
O destino dos mesmos, no caso de compra efetuada para explor~ car çio da mão-de-obra em benef1cio próprio. Sabe-se que existiam merc!
dores de escravos que os comprav~m para revenda, neste caso fica -
39
Outra forma de se tentar localizar estes escravos import~
dos, ou mesmo os casos em que era firmado um contrato de compra e
venda por escrito particular, poderia ser atraves das averbações a
que estavam sujeitos ao entrarem na provlncia, uma vez que esta
possibilidade de averbação posterior consta da legislação imperial
que estabelecia que o contrato de compra e venda deveria ser cele -
brado por escritura publica ou particular, com as assinaturas das
partes e de duas testemunhas, " ... averbando-se aC!uella ou este, na
côrte. na Recebedoria do Município e nas Cidades e Villas, nas Esta
ções por onde se arrecadar a taxa anual dos escravos, em livro pró­
prio para isso destinado, e dentro do prazo de 30 dias contados da
t ,,13
se em tri5 temas principais, referentes ao conhecimento do documen­
to (escrituras de compra e ven~a de escravos), do proprietirio de
escravoS e dos próprios escravos, alem das respectivas subdivi'sões.
A preocupação inicial foi a de organizar a documentação
para exploração e anâlise. Com este objetivo foram destacados os
seguintes itens: o numero da ficha individual do escravo, o nome
da cidade onde foi realizada a venda, ~ data da venda, o nome do
arquivo onde 5e encontra o documento original, o tTtulo do livro
ou cõdice, o numero de chamada deste cõdice, as datas constantes nos
termos de abertura e encerramento dos mesmos, e o numero da escritu
ra.
Os itens referentes aos propriet~rios, constantes na fi­
cha de arrolamento, são basicamente dois: os nomes e as residências
de vendedores e compradores. que permitiram extrair uma serie de
informações, conduzindo ã tentativa de conhecimento da classe 50
40
ções que possibilitaram a elaboração do item "Senhores de escra -
vos:.profissão, qualidade, nacionalidade e estado civil".
o item referente aos locais de residência de vendedores
e compradores de escravos levou ã procura de conhecimento da or­
ganização politico-administrativa e judiciária da provincia, alem
de todo um trabalho de pesquisa em mapas de Minas Gerais do secu
10 XIX. A partir da identificação das residências, foi poss;vel lo
calizar a procedencia e o destino dos escravos comercializado:; e:
registrados nos livros notariais de Ouro Preto. O que permitiu con­
jecturas relativas ã mobilidade espacial ou ao caráter migratório
da massa escrava estudada.
Finalmente, foram exploradas as i~fJrmações referentes ao
e 1 emen to e s c r a vo, r a z a o d o e s tu d o de s e n v o 1 v i do.
Os registros de compra e venda de escravos permitem co-
nhecimento em menor ou maior grau, o nome, o estado civil, a natu­
ralidade, a atividade produtiva, a cor, a idade, o sexo, afilia -
ç ã o d o e s c r a vo, e a i n d a o p r e ç o p e 1 o q u a 1 f o i ve n d i d o a s sim c o mo
o valor do imposto da Meia Siza, pago sobre o valor da compra. Em
alguns casos foi identificado o pagamento de outros impostos, como
o Imposto de ~ovos e Velhos Direitos e o Imposto do Selo.Alem des­
tes dados, as escrituras trazem, a partir da decada de setenta
outros referentes ã matricula e averbamento dos escravos.Estas in-
formaçõe.~ . n~o, f~~~m. e~~l ~radas.
As escrituras de compra e venda de escravos podiam ser
passadas mediante procuração. A principio pensou-se em relacionar
os procuradores, na tentativa de conhecer quem eram, mas esta ideia
41
foi descartada. Em muitos casos, tratava-se de parentes ou advo­
gados das partes interessadas. As procuraçoes vinham transcri -
tas no final da escritura e foram i~portantes na complementação
de informações que faltavam nos registros, referentes tanto aos
proprietãrios cuanto aos escravos.
mento do documento.
1. Numero de chamada do livro - Os cõdices pesquisados g~
-ralmente possuem um numero de identificação, o que possibilita
fua 10calizaçâo no arquivo onde estão guardados. Esta· numeração
foi mantida com exceção de apenas sete cõdices. Estes ultimas
foram encontrados posteriormente no Arquivo da Casa dos Contos,
em Ouro Preto, e não possuiam numeração. Pari' facilitarsua iden­
tificação foram aqui numerados como cõdices "sem numero", de a
7, ficando para simplificar, numerados assim: s/n9 1 a s/n97.
2 . TTtulo do livro - Este ê outro item que permite a
dentificaçâo do cõdice no arquivo. Foram pesquisados para este
trabalho os livros de notas de tabeliões. vindo geralmente com
t'ltulos assim: "Livro de ttltas do Primeiro(Segundo, etc.) Tabe-
1 . - o ou "L i v r o E s p e c i a 1 d e No tas de T r a n s a ç õ e s d e E s c r a vos", 1 a .,.,
ou ainda com outro titulo correlato.
3. Datas do termo de abertura e do termo de encerramento
Os cõdices possuem termos de aber~ura e encerramento e as datas
dos mesmos geralmente coincidem. Esta informação e meramente de
carãter contãbil-administrativo, nao tendo interesse para este
trabalho. Importam, sim, as datas de registro da primeira e da
42
o perlodo de abrang~ncia do mesmo.
4. r~mero da ficha - O arrolamento dos codices foi feito
em ordem cronológica, na medida do possrvel, com exceção daqueles
encontrados posteriormente. O fichamento individual dos escravos,
teve inlcio paralelamente ao arrolamento, quando o ato de fotoco­
piar, conferir e organizar os códices, legava alguma disponibili­
dade de tempo. As fichas individuais dos escravos foram sendo ex-
-ploradas. Esta numeraçao ne~ sempre obedece ao criterio cronolôg~
co, em função das especificações da documentação. Existem codi-
ces distintos, com perlodos coincidentes, o que impossibilitou o
fichamento cronológico.
5- ~~mero da escritura - As escrituras foram sendo nume-
radas na ordem em que fora~ registradas nos codices. Os mesmos fo
ram mantidos em ordem cronológica, na medida do possivel. Este
tem foi de grande importância na organização do trabalho.
G- Cidade - Trata-se do local em que foi lavrada a escri
tura. Como os côdices se referem a tabelionatos de Ouro Preto
as escrituras foram registradas quase que exclusivamente naquela
localidade, sob as seguintes designações: Vila Rica de Nossa Se -
nhora do Pilar de Ouro Preto, Imperial Cidade de Ouro Preto, ou
simp1esmente, Vila Rica ou Ouro Preto.
7- ~ome do arquivo - Aparece em todas as fichas o nome
da "C a s a dos C o n tos", em b o r a a d o c u m e n ta ç ã o p e r t e n ç a a g o r a a o a r­
qui vo d a "C a s a do P i 1 a r ". 1 o c a 1 i z a das, a m b a s a s i n s t i tu; ç õ e sem
Ouro Preto.
estudo,por se tratar de trabalho desenvolvido no campo da Histõ -
ria, mais especificamente, História do Brasil. Este item e porta~ to de grande significação, estando presente em todas as etapasde~
ta dissertação. ~o se trata apenas de um item de organização
mas parte da estrutura do trabalho. E fundamental ao conhecimento
do momento histórico estudado, da conjuntura social, econômicamen
te e demográfica em que se deram as transações envolvendo escra -
vos.
escravoS serão analisados nos capltulos se9uintes.
44
NOTAS E REFERENCIAS
1. Tal fato foi constatado no c~dice n9 42. NOTAS - Lançamentos do segundo tabelião. Ignãcio Jose de Souza Rebe110. Vila Rica. 30.11.1816 a 19.05.1827. Foram utilizadas como enchi- mento de capa deste c~dice. listas de estravos. contendo o nome. a naturalidade, a idad~ e a residência dos mesmos. O mesmo ocorreu na confecção da capa do cõdice nQ 72. NOTAS - Lançamentos do terceiro tabelião Joao Baptista de Almeida Sa raiva. Vila Rica. 04.03.1812 a 30.03.1819. Este c~dice con tem um documento que se assemelha a uma caderneta de contro~ le contãbil de loja comercial. e que traz o controle de com­ pras de determinadas pessoas. especificando o que foi compra do. o valor e a quantidade. -
2. ESCRITURAS de compra e vendas de escravos. pelo segundo tabe 1ião Bernardino Rodrigues de Souza. Ouro Preto, 23.03. - 1861 a 26.04.1865.99 p .. C~dicen9 257. ESCRITURAS de transações .de escravos. cartõrio do primeiro tabelião Fran c1~co- de Paula Malaquias. Ouro Preto, 08.03.1861 a 10.0~. 1 8 7 O . 5 O p.. C õ d i c e n 92 5 8 . I d " c ~ d i c e 25 9, 4 3 p.. LANÇAMENTOS de todas as escrituras de escravos, pelo ter­ ceiro tabelião Agostinho jose dos Santos. Ouro Preto, 11. 05 . 1 874 a 06. 03 . 1 875 . 5 Op .. C ô d i c e n 9 260.
3. Exigência constatada no Alvarã de 3 de junho de 1809, item VII, que especifica as informações que deveriam conter estes livros ... o artigo 19, do capltulo IV, do decreto n9 151, de 11 de abril de 1842, regulamentava novas disposições tefe rentes ã obrigatoriedade do lançamento das escrituras de com pra e venda de escravos em livro prôprio para tal fim ... " BRASIL. Leis; decretos, etc. Alvarã de 3.5.1809. COLlECÇAO das Leis do Brazil de 1808. Rio de.Janeiro, Imprensa Nacio­ nal, 1891. p. 70-1. BRASIL. Leis, decretos, etc. decreto n9 151 de 11.4.1842. COLLECÇAO dasLeis do Imperio do Brazil de 1842. Rio de Janeiro, Typographia Nacional, 1865. p. 205-6, t. 5, parte 2. Citado por: SANTOS, Carlos Roberto An­ tunes dos. Preços ... Op. cit., p. 21-2.
4. CAMARA Municipal de Ouro Preto 1720-1826. Ouro Preto, 49 verso p.
5. NOTAS - Lançamentos do primeiro tabelião Antônio Joze Rodri­ gues de Az~vedo. Oiogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos, Juiz ordinario. Vila Rica, 14.07.1800 a 23.05.1804. p. 4 Codice n9 11.
,i
6. NOTAS - Lançamentos do primeiro tabelião João dos Santos A­ breu. João de Oeos Magalhaens Gomes, Juiz pela Ley. Ouro Preto, 07.09.1829 a 01.02.1832. p.7. Côdice nQ 15.
7. NOTAS - Lançamentos do segundo.tabelião Bernardino Rodrigue~ de Souza. Ouro Preto, 20.05.1858 a 24.02.1860. p. 34. Co di ce nQ 51. -
8. NOTAS - Lançamentos do terceiro tabelião Joze de Souza Mattos. Manoel Rodrigues Pacheco. Vila Rica, 02.06.1807 a 31.01. 1812. p. 67 verso e segs .. Cõdice nQ 71.
45
9. HOTAS - Lançamento do primeiro tabelião Ant6nio Joz~ Rodri­ gues de Azevedo. Oiogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos, J u i z o r d i n ã r i o . V i 1 a R i c a, 2 9 . O 7 • 1 7 9 7 la 1 3 . 1 1 • 1 8 O O. p. 132 e segs. Cõdice ny 10.
10. NOTAS - Lanç~mento do segundo tabelião, Antônio de Abreu Lo bato. Antonio Vieira da Cruz. Vila Rica, 06.09.1811 a - 29.11.1816. p. 54 verso e segs .. Códice nQ 33.
". MARTINS, ROÊerto Borges. A economia escravista de Minas Ge­ rais no seculo XIX. Belo Horlzonte, CEOEPLAR/UFMG, 1980. 55 p. {textos para leitura, 13).
12. KARASCH, Mary Catherine. Slave life in Rio de Janeiro: lBOB-185Q. Princeton Unlverslty Press, 1986. p. ~
13. De acordo com o artigo nQ 19, do capitulo IV, do decreto n9 1 51 t de '11 de abril de 1 842 . BRASIL... 1 842 . O p. c i t ., p. 205-6. Citado por: SANTOS. Preços ... Op. cit., p. 22.
14. BANDEIRA, Manuel. Guia de Ouro Preto. ~io de Janeiro, Tec­ noprint-Ediouro, s.a .. p~ 151-2 (Prestlgio, 545).
4. CONJUNTURA MINEIRA NO SECULO XIX
47
o s r e 1 a tos dos v i a j a n t e s e a s t1 e m Õ r i a s d e a u t o r e s c o n tem
porineos, ainda constituem fontes importantes, bãsicas aos inte -
resSados no conhecimento da economia e sociedade mineiras no secu
10 XIX. Sabe-se que existem milhares de documentos, fontes primã­
rias para este estudo, ainda ineditos em arquivos de Minas e de
1 - -outros estados . Aos poucos vem a tona estudos com base neste ti
po de documentação, principalmente em forma de trabalhos acadêmi­
COS. Estudos estes que contribuem para o preenchimento das enor -
mes lacunas existentes, mas oue ainda não formam um corpo
que permita o conhecimento seguro de todas as regiões da
provlncia de Minas Gerais no decorrer do seculo XIX.
coeso
então
Para o inlcio do seculo, existem os jã citados relatos
de viajantes, as t1emõriase importantes trabalhos acadêm;cos 2 ,que
permitem uma visão mais segura do perlodo. O dinamismo do proce~
s o h; s t õ r i c o , que n a o se 1 i m i ta ã sI/e p o c as" , "idades " ou "c i c 1 os " ,
estabelecidos pelo homem para ~ua melhor compreensão, contribui
para o conhecimento deste inlcio de seculo, que traz ainda refle
x o 5 dos e c u 1 o a n t e r i o r, que, e rI f lJ n ç ã o d a a t i v i d a d e m i n e r a d o r a
foi alvo da atenção de muitos estudiosos. A conjuntura internaci~
nal e as transformações a nivel .nacional, a ruptura do pacto co­
lonial, a Independência do B.rasil, despertaram interesse para es
te intcio de ~~cul0.
48
torna-se necess~rio estabelecer ~uais foram estas marcas e conse-
quências, para que se possa compreender o que se passava em t1inas.
As consequências da decadência de sua principal atividade produti
va, a mineração, e os ultimos esforços da metrópole, que tentava
reativar esta fonte de riquezas exploradas desordenadamente duran
te o seculo anterior e cuja derrocada tornara-se irreversivel, se
fazem sentir.
Poder-se-ia imaginar a hipótese de que este periodo re­
fletisse ainda o brilho da "epoca do ouro". Entretanto, a riqueza
produzida pela mineração foi efê~era e não ficou no Brasil, tendo
sido canalizada para a metrópole e~ sua quase totalidade. A ganâ~
cia e imediatismo da Coroa se fizeram sentir através do sistema
colonial e tiveram consequ~ncias negativas para a provincia~ Por­
tanto, o inicio do seculo não pode refletir o fausto daqueles tem
pos áureos. As marcas que ficaram estão relacionadas a miséria
do setor de exploração mineral e a outros(comercio, agricultura,
pecuária, ind~stria t~xt;l, etc) que se desenvolveram paralela­
mente ã mineração, a principio visando suprir o mercado criado
por esta atividade. Setores estes que iniciaram seu desenvolvi
menta a despeito dos empecilios e proibições impostos pela Me­
trópole, ã qual não era interessante o deslocamento de mão- de .. : o
bra e capitais da atividade principal, o que acarretaria a curto
prazo a diminuição nos rendimentos regias.
Como ressalta uma das Mem6rias referentes ã hist6ria da
escravidão, publicada no in1cio do seculo passado, não fosse a
ind~stria (em seu sentido amplO): desenvolvida pelos habitantes da
província de Minas certamente estes morreriam de fome no meio de
riquezaS, como acontecia na região diamantina 3
.
49
f\ s r e f e r ê n c i a s ã f o 1:1 e) à nl e d i das p r e v e n t i v a s c o n t r. a o s
altos preços, â falta de alimentos e aos atravessadores de vive -
res aparecem nas posturas municipais de diversas localidades mi­
neiras. Os fazendeiros e chacareiros de Mariana que possuissemcin
co ou mais escravos eram obri~ados a plantar roças de mandioca
de acordo com o numero de cativos ~ue possuíssem coma I, prevençao
em epoca de carestia e falta de gêneros de primeira necessidade 4 .
o decimo primeiro artigo, aditivo às posturas da Câmara
Municipal de Ouro Preto, estabelece a criação de uma Casa P~blica
no largo do Pelourinho para abrigar tropeiros e quintandeiros, co
mo medida de prevenção contra a falta e a carestia de mantimentos 5
causada pelos atravessadores
tar a ação dos atravessadores, obrigando tropeiros e carreiras a
vender diretamente ã população os gêneros de primeira necessidade
como feijão, milho, farinha de milho e de mandioca, toucinho,sal,
azeito e açúcar, antes de repassã-los àqueles 6: Esta preocupa­
ção das autoridades municipais não pode ser desprezada.
Muito pouco se sabe de concreto sobre o desenvolvimento
econômico da provlncia no decorrer do seculo XIX. Não se tem ain­
da uma visao globalizante baseada e~fontes prim~rias e em dados
emplricos. Sabe-se, no entanto, que e antiga a preocupação com a
necessidade de se conhecer melhor ede forma aprofundada este pe­
rrada da hist6ria mineira. Começam a surgir hip6teses sobre a fo~
ma como se deu a grande crescim~nto populaçion~J ~~çr~vo verifica
do no per;odo, durante o qual, segundo Martins 7
, se concentrou na
provrncia o maior contingente popul~cional escravo registrado du­
rante todo o regime escravista brasi1eiro,tendo sido constatado um
crescimento de cerca de 210 mil indivlduos entre 1819 e 1973. A
50
população escrava passou de cerca de 170 mil individuas para mais
de 380 mil neste perlodo.
As atividades produtivas deste enorme contingente popul~
cional ainda não estão devidamente identificadas para todo o secu
lo e para toda a extensão do território provincial. Aos poucosvao
sendo realizados trabalhos que permitem conhecer melhor determi­
nados regiões da provlncia, esclarecendo um pouco mais esta reali
dade.
Em função da demanda do mercádo consumidor da zona mine­
radora, desenvolveram-se na provincia uma s~rie de atividades se­
cundãrias durante o seculo XVIII. Com a decadência da mineração
cresce a importância das ativf.dades agropecuãrias e manufaturei -
ras, que vão aos poucos substituindo aquela atividade inicial.
o principal investimento feito pelos mineradores era re­
presentado pela aquisição de escravos, sendo este capital transfe
rido para as atividades referidas na medida em que sobrevivesse i
mineraçã~; ou seja, os setores agropecuãrios e o manufatureiro ti
veram inicio em Minas, em menor ou maior escala, com a utilização
de mão-de-obra escrava.
Mão-de-obra reaproveitada do setor minerador8 , importada,
como sugere Martins 9 , ou fruto de cre~cimento vegetativo positivo
- . . 1 L & C 10· da populaçao escrava provlncla , como sugerem una ano, de
qualquer forma esta transformação econ6mica se deu sob a ~gide do
trabalho escravo.
Os resultados obtidos no"decorrer deste trabalho levam a
crer que seja viãvel a hipotese. sobre o crescimento vegetativo da
população escrava para a comarca de Ouro Preto. Para a província
como um todo, considerando -se a alta concentração de escravos du
51
rante o seculo XIX, a reproduc~o certamente estaria li9ada'o im -
portação de cativos.
No final do século XVIII, Minas produzia quase tudo o
que necessitava. Alem de mantimentos, milho, tabaco, algodão, cri
ava gado bovino, suino e ovino. Produzia artesanato de couro, te-
1- - 11 cidos grosseiros de a, chapeus, queijos . O algodão passou a
ser produzido em maior escala, assim como o tabaco, que era utili
zado no trãfico de escravos africanos. A re9 iã o sul da provincia
se dedicava ã pecuária e ã agricultura. O nordeste , principalme~
te a re~ião de l~inas ~~ovas, produzia algodão, substituindo aos
poucos a mineração decadente. A comarca de Paracatu dedicava- se
a criação de gado, numa tentativa de soerguimento econômico, após
a queda da atividade mineradora.
Segundo Gontijo12, no inicio do seculo XIX a situa -
çio já começa a se modificar, em função da decad~ncia da mineração
e consequentemente das atividades econômicas e sociais. Apesar da
expansão agropecuária alcançada, os produtos eram de subsistência,
voltados para o mercado interno sem valor mercantil para o mercado
externo. A mineraçao ainda ocupava numero significativo de pessoal
nessa epoca, mas nem se comparava ao periodo anterior. Foram. cria
dõs diversas companhias~ basicamente de capital inglês, para expl~
ração aurifera, sem sucesso. A permissão de constituição destas
co~panhias reflete a preocupação da Coroa 'na tentativa de salvar
sua principal fonte de riquezas, A importância destas sociedades
esti na sua contribuição para a passagem da mão-de-obra escrava p!
ra a livre13 ; Em 1879,'0 numero de- trabalha'dores livres superava o
de escravos na Saint John d'el Rey Mining Company14. A mineração
diamantina tamb~m decaiu, tendo sido i~plantado o 'sistema de arren
damento na tentativa de reativâ-la, o que tambem fracassou.Em 1832
52
e desenvolvimento agropecuârio no final do seculo, aumentaram a de
manda de artefatos de ferro, propiciando o surgimento de grande nú
merO de artesãos do metal, incentivando a produção domestica ape -
sar das proibições da Coroa.
Devido ao alto preço dos instrumentos de ferro(impo~
tados) a exploração de ouro se tornava mais onerosa, buscando solu
cionar a questão e metrõpole decidiu implantar a siderurgia em Mi­
nas. Com o auxilio de tecnicos estrangeiros, algumas forjas foram
construídas no inicio do seculo, como a fãbrica construida no mor
ro de Gaspar Soares pelo Intendente Câmara e a "Patriótica", cons­
truida por Eschwege em Congonhas. Mas na decada de 60 a atividade
estava condenada, em virtude de " ... seu carâter artesanal e es-
. ,,15 cravlsta ..
A mâo-de-obra se apresentava como UM problema cons -
tante para os fabricantes de ferro. Eschwege comenta a questão de
falta de mão-de-obra especializada. O trabalhador livre assim que
aprendia o oficio fugia da forja e se estabelecia como ferreiroinde
pendente. Os escravos alugados eram requisitados por seus pr9prie­
tirios. Foi necessârio recorrer ã compra de escravos para regular! 16
trabalhos . Os escravoS se adaptavam melhor aos m~todos ar zar os
caicos, dificultando o aperfeiçoamento do processo produtivo.
o autor de uma memõria publicada em l837,procurou de
mons trar as dificuldades encontr~~as para o desenvolvimento têcni . ,., _.,' - . 1 7
co e cientifico por naçoes escravlstas A desvalorização do tr!
balho que ocorreu nestes paises tornou-se um entrave ao desenvolvi
mento, piorando a qualidade do mesmo e impedindo qualquer forma de
53
desenvolvimento t~cnico ou cient~fico. Manter o escravo em to tal
ignorância era uma forma de perpetuar a escravidão.
Ainda segundo Gontijo, a introdução das linhas fer -
reas em Minas significou a decad~ncia das manufaturas de ferro,mas
possibilitou o aperfeiçoamento do setor com a reformulação dos mé­
todos produtivos, permitindo a importação de mãquinas e equipamen­
tos e o escoamento da produção e~ grande escala 18 •
, Quanto ã aaropecuária, seu desenvolvimento continua-
va nO início do seculo XIX. Com destaque para a criação de bovinos,
suinos, .ovinos, caprinos e aves. Cultivava-se cana-de-açúcar, tab~
c o, a 1 9 o dão e v,. ver e s. Tem in" c i o a p e n e t r a ç ã o d o c a f e, t r a z i dopo r
tropeiros. As fazendas mantinha um mínimo de comercio,comprando sal,
ferro e escravos. EI'l 1819, a pecuãria ocupava o primeiro lugar nas
exportações da provínCia, vindo a seguir o artesanato de algodão e
último os produtos agrlcolas 19 . Gontijo destaca a importância por
das atividades de beneficiamento dos produtos agropecuáriOs naque-
le ano.
Com o correr do século, a' produção cafeeíra assume
maior importância, atingindo o auge por volta de 1870. A zona da
Mata era a principal região produtora da provlncia. Mas tarde o
sul de Minas tambem começa a produzir café.
As exportações de produtos agropecuãrios e seus deri
vados mantiveram-se esta~nadas durante todo o período imperial 20
Os viajantes comentam, de maneira geral, o estado de
d e c a d ê n c i a d a r e 9 i ã o ~ i n e r a d o r a n e's t e i n í c i o dos e c u 1 o. F a 1 a m da
transferência da população das zonas mineradoras decadentes para
outras ireas e/ou para as atividades agrTcolas, pecuãrias e manufa
tureiras.
54
vlncia. Os principais gêneros cultivados por todo seu território t
principalmente nas proximidades da capital, era~ o milho, o fei­
jão, a cana-de-açúcar e o arroz. Ou seja, a agricultura era basica
mente mercantil de subsistência e de consumo local. com a venda do
excedente para regiões dentro da provTncia,para o Rio de Janeiro.
para a Bahia e para São Paulo.
o unic? meio de transporte eram as tropas de mulas e as di
ficuldades de escoamento da produção desestimulavam seu amento.
A comarca do Rio das Mortes era a maior produtora agrlcola
da provTncia, seu~ produtos eram consu~idos em diversas regiões de
Minas. Al~m de g~neros de subsist~ncia,produzia tabaco, na região
C e B a e P e n di, P o uso A 1 to, A i u r u o C a e C a r ra n c as. O s h a bit a n t e s d a
região de são João revendiam a prazo escravos trazidos do Rio de
Janeiro, aceitando tabaco como paoamento, multiplicando ass~m o ca
. d 21 A d 1 t b- . - d pital invest, o . comarca esenvo veu am em a cnaçao e gado
b o v i no, P a r a s u p r i r a r e 9 i ã o m i n e r a d o r a, c h e 9 a n d o a e x p 'o r t a r p a r a
São Paulo, fazendo concorrência ao gado proveniente dos sertões do
São F r a n c i s c o . Os o v i no s f o r ne c i a m 1 ã com a q u a 1 e r a m f a b r i c a dos
chapeu e tecidos Jrossei~os. Expcrtava-se toucinho para todas as
reJióes de ~inas. Outro importante setor produtivo desenvolvido foi
a indústria de laticlnios, com exportação de queijos consumidos em
t-'inas e no Rio de Janeiro.
i'l:s margens do "Caminho Novo", que ligava Minas ao Rio de
Janeiro, foram se estabelecendo fazendas que cultivavam o milho
produto de grande demanda na região para alimentação das tropas de
mulas, e começava-se a plantar café. Barbacena e são João d'el Rei
~~am importantes focos comerciais por constituirem passagem de
55
tropas. Barbacena sobrevivia graças a passagem de caravanas que
ali se abasteciam. A mão-de-obra era c~ra, devido ao constante a­
fluxo de viajantes. Essa co~arca possuia a maior concentração de
escravoS de toda a província. Estes executavam todo o tipo de tra­
balho, mas os fazendeiros e seus famil iares ta~bem trabalhavam 22 .
Segundo Saint-Hilaire 23 , a comarca de Vila Rica era a me -
nO r das cinco que formava~ a caritania e possuia em 13l3( segundo
Wschwe~e), 6 517 fOjoS e 72.200 individuos, o que equivaleria a
sétima parte aa população total de r1inas, considerando-se o total
de 433.04S habitantes indicados por Eschwege para 1808.
Nas proximidades de Vila Rica(cabeça de comarca), os cami-
nhOS eram ruins, os campos desertos, "sem cul tura e sem rebanho "24.
A vegetação foi devastada para exploração de ouro. A medida em que
a produção de ouro foi diminuindo, os habitantes da vila se deslo­
caram para outras regiões. A ropulação que chegou a 20.000 I pessoas,
possuia em 1316. apenas 8.000 habitantes 25
. A vila possuía um co -
mercio de importação considerável, incentivado pe'la presença do
governador e das principais repartiçõ~s p~blicas da provlncia.
Se~undo Rugendas, Vila Rica mantinha importante comercio
COJõl toda a provincia, como Rio de Janeiro, Mato Crasso e Goiãs
Era ponto