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Passagem do Passagem do Virtual para o Virtual para o
RealReal
Para muitos, a passagem do virtual para o real é bastante dura. Para outros, impossível. Lembro-
me dela, que não era ela, era ele. Lembro-me dele que não tinha charme algum, embora fosse um verdadeiro Don Juan no virtual. Sabia muito
bem lidar com as palavras escritas.
Lembro-me de toda aquela falsa alegria que vários deixaram transparecer durante anos
através das letras e que, no real, rolou ladeira abaixo. Lembro-me de opções sexuais que não eram verdadeiras e de amizades que não foram
sinceras.
Lembro-me daquela loura fatal, sexy,, sensual que enviava sempre suas fotos
causando frisson em muitos. Trinta, trinta e cinco anos, talvez? Não. Já era
avó e beirava seus setenta anos. As tais fotos eram de cerca de trinta anos atrás
retocadas por um photoshop.
Lembro-me de críticos literários. Viviam de um sonho que possivelmente jamais concretizaram.
Lembro-me dos exaltados, ferozes provocadores. Verdadeiras ovelhinhas no real. Lembro-me de
profissões virtuais. Médicos, advogados, engenheiros. Seres reais que sequer tiveram a
oportunidade de passar na porta de uma faculdade.
Lembro-me dos donos da verdade virtuais, apenas virtuais. No real, não tinham opinião a respeito de
nada. Perdiam-se dentro das suas próprias dúvidas. Lembro-me dos intelectuais, vários, a
maioria de porta de buteco. Lembro-me de amores que jamais passaram para o real pois no virtual já
eram impossíveis. Se bem que necessários.
Lembro-me do caráter dos seres virtuais. Como
distinguir os bons e os maus? Ainda não existe em nenhum computador uma peça que se encaixe e faça uma luz vermelha ou verde
piscar a cada e-mail que entra na nossa caixa de correio nos
dando a informação que precisamos.
Lembro-me dela que tomou ele da outra e dessa mesma outra que nunca foi dele.
Mas havia quem dissesse – Ele é meu! Ela é minha! No virtual, ninguém nunca foi de
ninguém e quando chegaram ao real, poucos foram de alguém.
Lembro-me dos formadores de opinião e das vaquinhas de presépio. Lembro-me da unanimidade virtual, talvez a única coisa real. Lembro-me de enigmas. É assim ou
assado? É falso ou verdadeiro? E lembro-me dos especialistas em enganar,
trapacear, provocar.
Lembro-me dos ofendidos, feridos que sangravam virtualmente até não poder mais.
Lembro-me das doenças virtuais (?), das mortes (?), das fugas e dos sumiços. Seres
que nem mesmo no virtual conseguiram sustentar seus personagens. Lembro-me dos
ódios e intrigas. Quem seria o vilão e a vítima? Jamais saberei.
Lembro-me de mim, em meio a um tiroteio invisível e a um carinho duvidoso. Lembro-me tão bem das carências excessivas que desabrochavam em palavras dolorosas.
Lembro-me da criança que era um adulto e do adulto que era uma criança. Lembro-se da ofensa, da necessidade de denegrir a
imagem de pessoas que incomodavam as outras pelos simples fato de se destacarem
virtualmente.
Lembro-me finalmente, que o virtual jamais conseguiu ser real e que o real vivia a anos luz do virtual. Depois de
lembrar-me de tudo isso chego à conclusão que apenas sei que nada sei
sobre o mundo virtual, assim como ninguém sabe.