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O discipulado de Cristo e a cruz Mc 8.34-38 Dietrich Bonhoeffer (1906-1945) foi um dos grandes líderes cristãos do século passado. Sua influência e ação foram além do púlpito e da comunidade que pastoreava. Ele se tornou um dos líderes da resistência cristã contra o nazismo de Hitler. Em um dos textos mais importantes de Bonhoeffer, ele “profetizou” aquilo que hoje o cristianismo tem infelizmente vivido: “a graça sem discipulado, a graça sem cruz” [Bonhoeffer, 2008. p.10]. Ou seja, pessoas se dizem cristãs, mas não se tornam discípulos de Jesus [o que é uma contradição de termos]. Elas dizem que amam a Cristo, mas se sentem desconfortáveis com a sua cruz. Jesus deixou bem claro para os que desejavam segui-lo que, no seu discipulado, a cruz seria central. Esta declaração é tão importante, que foi registrada por três dos quatro evangelistas bíblicos (Mt 16.24-28; Mc 8.34-38; Lc 9.23-27). Estudando o texto de Marcos, podemos aprender um pouco mais sobre o discipulado de Cristo e a cruz. Em primeiro lugar, ser discípulo de Jesus implica em assumir a vontade de Deus como central na vida (v.34,35). A palavra cruz no Novo Testamento transmite a ideia de morte. Ela nunca é um símbolo para uma dificuldade ou um fardo pesado. Jesus veio ao mundo para morrer (Is 53.1-12). Desde o seu nascimento, a vida de Jesus apontava para a cruz (cf. Mt

Pastoral - O Discipulado de Cristo e a Cruz - Marcos 8.34-38

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Page 1: Pastoral - O Discipulado de Cristo e a Cruz - Marcos 8.34-38

O discipulado de Cristo e a cruz

Mc 8.34-38

Dietrich Bonhoeffer (1906-1945) foi um dos grandes líderes cristãos do século

passado. Sua influência e ação foram além do púlpito e da comunidade que pastoreava.

Ele se tornou um dos líderes da resistência cristã contra o nazismo de Hitler. Em um dos

textos mais importantes de Bonhoeffer, ele “profetizou” aquilo que hoje o cristianismo

tem infelizmente vivido: “a graça sem discipulado, a graça sem cruz” [Bonhoeffer, 2008.

p.10]. Ou seja, pessoas se dizem cristãs, mas não se tornam discípulos de Jesus [o que é

uma contradição de termos]. Elas dizem que amam a Cristo, mas se sentem

desconfortáveis com a sua cruz.

Jesus deixou bem claro para os que desejavam segui-lo que, no seu discipulado, a

cruz seria central. Esta declaração é tão importante, que foi registrada por três dos quatro

evangelistas bíblicos (Mt 16.24-28; Mc 8.34-38; Lc 9.23-27). Estudando o texto de Marcos,

podemos aprender um pouco mais sobre o discipulado de Cristo e a cruz.

Em primeiro lugar, ser discípulo de Jesus implica em assumir a vontade de Deus

como central na vida (v.34,35). A palavra cruz no Novo Testamento transmite a ideia de

morte. Ela nunca é um símbolo para uma dificuldade ou um fardo pesado. Jesus veio ao

mundo para morrer (Is 53.1-12). Desde o seu nascimento, a vida de Jesus apontava para a

cruz (cf. Mt 1.21; Mc 8.31-33; Jo 3.14,15; 12.32,33). Esta era a vontade do Pai (Jo 6.38-40,

53-56). Logo, a cruz de Cristo é a maior expressão de obediência a vontade de Deus, daí a

vitória e a exaltação de Jesus acima de todos (cf. At 2.32-36; Fp 2.9-11). Ser um discípulo

de Jesus é abrir mão de sua vontade própria e assumir a vontade de Deus como o objetivo

de sua existência (Gl 2.19,20). Este é o sentido de tomar a cruz.

Em segundo lugar, ser discípulo de Jesus implica reconhecer a cruz de Cristo como

alegria e regozijo (v.36-38). Obviamente, se não fosse pela cruz, estaríamos ainda mortos

em nossos delitos e pecados. Teríamos, ainda, uma dívida impagável com Deus (Cl 2.13-

15). Se foi pela cruz que Jesus demonstrou a sua obediência ao Pai (Fp 2.8), foi por ela

também que fomos reconciliados com Deus (Rm 5.8,10). Por ela, somos justificados diante

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de Deus (Rm 5.1,2). Nada do que fizéssemos poderia mudar a nossa condição para com

Deus (Mc 8.36,37 cf. Ef 2.1-3). Logo, alegrar-se na cruz de Cristo é reconhecer que por

meio da morte e da ressurreição de Jesus temos uma nova vida e um novo

relacionamento com Deus, mediante a fé (Cf. Jo 1.11,12; Gl 2.19,20; Ef 2.4-10). Alegrar-se

na cruz, ou como disse Paulo, gloriar-se na cruz (Gl 6.14), é a atitude oposta a

envergonhar-se de Cristo e de sua palavra (Mc 8.38). Ser um discípulo de Jesus é

considerar motivo de alegria aquilo que o mundo considera uma loucura (1 Co 1.18-21).

Voltemos ao discipulado da cruz, voltemos ao verdadeiro discipulado de Jesus. E

que ele nos abençoe nesta caminhada.

Gladston Cunha