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Patrocínio Institucional Parceria Institucional Apoio
O Grupo AfroReggae é uma organização que
luta pela transformação social e, através da
cultura e da arte, desperta potencialidades
artísticas que elevam a autoestima de jovens
das camadas populares. Tem por missão
promover a inclusão e a justiça social,
utilizando a arte, a cultura afro-brasileira e a
educação como ferramentas para a criação de
pontes que unam as diferenças e sirvam como
alicerces para a sustentabilidade e o exercício
da cidadania.
O InfoReggae é uma publicação semanal e faz
parte dos conteúdos desenvolvidos pela
Editora AfroReggae.
Sede Rio de Janeiro
Rua da Lapa, nº 180 – Centro
Rio de Janeiro (RJ)
+55 21 3095.7200
Representação São Paulo
Rua João Brícola, nº 24
18º andar – Centro
São Paulo (SP)
+55 11 3249.1168
Contatos
www.afroreggae.org
facebook.com/afroreggaeoficial
twitter.com/AfroReggae
É permitida a reprodução dos conteúdos desta
publicação desde que citada a fonte.
Reproduções para fins comerciais são
proibidas.
InfoReggae - Edição 58
Cabo Verde - Parceiros
07 de Novembro de 2014
Coordenador Executivo
José Júnior
Coordenador Geral Adjunto
Danilo Costa
Gerência de Informação e
Monitoramento
Thales Santos
Assistentes de Pesquisa
Nataniel Souza
Juliana Paula Mattos
Coordenação Editorial
Marcelo Reis Garcia
Redação e Edição
Nivea Chagas
Editoração
Luiz Adrien
Equipe do AfroReggae
em Cabo Verde
Ana Cristina Silva
Anderson Santos
Bruna Camargos
Clovis Silva
Cristiano Piredda
Elon da Silva
Francisco Silva
Johayne Hildefonso
Marven Santino
Patrocínio Institucional Parceria Institucional Apoio
3
Apresentação
Em novembro, o InfoReggae vai apresentar
três edições sobre o trabalho desenvolvido
pelo AfroReggae em Cabo Verde, África,
em parceria com as Nações Unidas.
A missão humanitária, desenvolvida entre
2013 e 2014, marcou a história da
instituição e nos deu a certeza de que
nosso trabalho deve estar sempre em
busca de novas experiências e desafios,
reafirmando os compromissos inadiáveis com uma vida melhor para as pessoas. A África e
o AfroReggae possuem uma irmandade de alma e lutas que foi consolidada e fortalecida
neste ano de trabalho.
Essa edição vai falar sobre nossos principais parceiros neste movimento pela melhoria de
vida do povo de um país irmãos do AfroReggae. Um trabalho que teve com as Nações
Unidas, o Governo de Cabo Verde e as organizações locais a sinergia ideal para produzir
avanços e bons resultados.
Essa edição do InfoReggae resgata Guimarães Rosa que um dia nos ensinou que "a vida é
um mutirão de todos". E foi com todos e todas, com muitos, que o AfroReggae fez seu
trabalho em Cabo Verde.
Nas próximas edições vamos falar dos jovens e adolescentes que participaram do projeto e
dos desafios do trabalho.
Vamos em frente.
Marcelo Reis Garcia
Coordenador Editorial
4
ONU, AfroReggae e África
Cooperação que estava escrita nas estrelas
Em algum ponto do tempo e do espaço, o AfroReggae e a Organização das Nações Unidas,
ONU, tinham um encontro marcado. A conexão entre a organização não governamental
brasileira e a instituição internacional começou a se concretizar em 2010, na dimensão dos
objetivos comuns de trabalhar pelo desenvolvimento social, pelos direitos humanos e
pela paz mundial.
Naquele ano, o AfroReggae começava a adotar a metodologia desenvolvida pelo Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD, para identificar e compreender a
pobreza dentro dos territórios onde atuava. O AfroReggae foi a primeira ONG do mundo
a adotar o Índice de Pobreza Multidimensional, IPM, para o levantamento das
privações sociais que vão além da questão da renda, observando também as
condições de moradia, educação, saúde. A partir desse diagnóstico, o trabalho foca
na criação de redes de parcerias que promovem a travessia das famílias da
exclusão para a inclusão social sustentável.
Na esteira deste processo, no ano passado o AfroReggae iniciou uma rica parceira com a
ONU, o PNUD e o Fundo de Populações das Nações Unidas, UNFPA, para compartilhar
esta metodologia, e também sua longa experiência na aplicação de oficinas de arte e cultura
como instrumentos de promoção e inclusão social, com os irmãos de além-mar – em Praia,
capital de Cabo Verde, o país formado por várias ilhas na costa ocidental da África.
Prédio da ONU em Cabo Verde
5
Cabo Verde – “É di bai pa terra grande, terra di felicidade...”
Com Índice de Desenvolvimento Humano, IDH, de 0,636 (2014) que o coloca em
123º lugar entre 187 países, Cabo Verde é um país de desenvolvimento humano
médio. Ocupa a décima posição entre 52 países da África.
Com cerca de 500 mil habitantes, Cabo Verde vem apresentando melhorias
significativas nos seus indicadores sociais e também econômicos, desde a
independência de Portugal, em 1975. O país apresentava, em 2012, a maior
expectativa de vida do continente, com 71 anos para os homens e 79 anos para
mulheres, segundo o Banco Mundial e o Unicef.
Segundo o Banco Mundial, de 2002 a 2010, o número de pobres desceu de 37%
para 27% e a taxa de pobreza extrema reduziu de 21% para 12%.
Mas o País enfrenta inúmeros desafios, a começar pelas condições geográficas e
climáticas. Apenas 10% do território em terras aráveis, com poucos recursos
minerais, clima árido e terreno montanhoso Cabo Verde tem grandes dificuldades
com a produção agrícola, por exemplo. Além disso, é preciso enfrentar também a
fragmentação geográfica em dez ilhas.
6
Inclusão Social da Juventude em Cabo Verde
A ONU opera em Cabo Verde desde a indepência, contribuindo para o
desenvolvimento sustentável do País, por meio do Programa Único das Nações
Unidas, que procura “melhorar a coerência, a sinergia e a complementaridade no
seio das Agências, Comissões, Fundos e Programas das Nações Unidas em Cabo
Verde (...)”.
Desde 2003, Ronaldo Nazário e Zinedine Zidani, astros do futebol mundial,
promovem uma partida beneficente anual, Jogo Contra a Pobreza, junto com o
PNUD, com o apoio da Fifa e da Uefa, cuja a renda é revertida para projetos sociais
em todo o mundo. O 10º Jogo, realizado em 2013, levantou recursos para a
implantação de dois projetos voltados para jovens – um no Brasil e outro em Cabo
Verde.
No Brasil, os recursos foram destinados à Rede Esporte para Mudança Social,
REMS, um projeto que promove a redução da pobreza e a inclusão social através do
esporte.
Em Cabo Verde, o PNUD utilizou os recursos na implantação de um projeto para
inclusão de jovens por meio do grafite, da música e do circo, que também inclui a
realização de um diagnóstico do Risco Social das famílias moradoras de bairros e
comunidades da capital do País.
E o AfroReggae foi convidado a participar do projeto como consultor e parceiro do
Escritório Comum do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, do
Unicef e do UNFPA.
Com uma prática já aplicada em outros países como Inglaterra e Índia, levou para
Cabo Verde a metodologia das oficinas de Percussão, Circo e Grafite. Desde
setembro 2013, o AfroReggae compartilha saberes e práticas, forma agentes
multiplicadores e acompanha a execução do projeto.
7
Além disso, integrantes de ONGs locais e técnicos do Ministério da Juventude de
Cabo Verde foram capacitados para utilizar o Risco Social Familiar e medir
privações familiares que vão além da renda, aplicando o questionário formulado pelo
PNUD para a identificação do Índice Multidimensional de Pobreza, IPM, que o
AfroReggae já utilizou nas favelas cariocas de Vigário Geral, Parada de Lucas e
Complexo do Alemão.
Bandeira da ONU no alto do prédio das Nações Unidas em Cabo Verde
8
A riqueza dos parceiros – uma engrenagem em perfeito
funcionamento
O Ministério da Juventude, Emprego e Desenvolvimento dos Recursos Humanos é o
gestor do Projeto de Inclusão de Jovens, com o financiamento das Nações Unidas.
Mas os parceiros vêm chegando para somar uma infinidade de elementos que
tornam a experiência muito mais rica. O Ministério da Justiça, o Instituto Cabo-
verdiano da Criança e do Adolescente e especialmente o Ministério da Educação
são os grandes parceiros do Governo de Cabo Verde na implementação do projeto.
Na cidade de Praia, os bairros de Safende, Achada Grande Frente e Tira Chapéu,
com grande contingente populacional, problemas de violência e ociosidade dos
jovens foram identificados como foco do projeto. Neles, as organizações não-
govenamentais são as parceiras que detêm o conhecimento sobre a realidade local,
têm capilaridade e capacidade de diálogo, mobilização, engajamento.
A Associação Solidariedade e Desenvolvimento Zé Muniz, em Safende, a
Associação Acrides, Tira Chapéu, o Projeto Simenti, da Fundação Esperança, e a
organização Korrenti di Activistas em Achada Grande Frente são os executores das
ações. Cada uma das instituições traz a sua experiência, troca saberes e cria, com o
AfroReggae, as melhores estratégias para incluir a população no projeto.
Outros parceiros foram chegando, como o Centro Cultural Brasil – Cabo Verde, uma
luxuosa companhia nessa jornada.
O AfroReggae, nesse processo de transferir tecnologia social, conversa com todos
estes diferentes atores, articula ações, parceiros e possibilidades, integrando uma
grande engrenagem que vem mudando a vida de adolescentes e jovens cabo-
verdeanos.
Os tambores estão nas ruas e escolas da cidade de Praia.
Lá também, a inclusão social tem gosto de festa.
9
Nações Unidas – uma base consistente para mudar
horizontes
Como diz Paulo Freire “Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”.
Instituições são feitas de gente, são muito mais que pedra e cal, pois são moldadas
no dia a dia pelas pessoas e pelo seu trabalho.
No âmbito do Projeto Inclusão Social dos Jovens em Cabo Verde, a equipe do
AfroReggae encontrou nas Nações Unidas uma parceira sólida na batalha pela
garantia de direitos. Por meio da arte e da cultura, o projeto atou pontas soltas e
construiu pontes para superar diferenças e promover justiça social.
Nélida Rodrigues, Alazais François, Jean Claude Borges formaram a equipe das
Nações Unidas envolvida no projeto. Com o AfroReggae, eles pensaram junto,
implementaram e deram vida às ações nos bairros da cidade de Praia.
Equipe das Nações Unidas juntamente com Bruna Camargos e
Luciano Marques (ambos a direita) do AfroReggae.
10
Nélida Rodrigues é Chefe da Unidade de Desenvolvimento do Capital Humano do
Escritório Comum do PNUD, UNFPA e UNICEF. A cabo-verdiana de sorriso aberto
estudou muitos anos no Brasil e acolheu com carinho a equipe AfroReggae. Foi
grande incentivadora das atividades, disposta a ouvir a equipe, mesmo com sua
agenda pesada. Com sua larga experiência institucional, conhecendo bem os
parceiros nacionais e a realidade local, Nélida foi incansável colaboradora na
construção das propostas de trabalho conjunto.
Jean Claude Borges, o homem de finanças, ‘enlouqueceu’ muitas vezes para
atender aos pedidos da produção dos eventos e oficinas - figurinos, lanches, água,
passagens, som, iluminação, transporte etc. Mas, imerso em suas planilhas, Jean
Claude não hesitou em fazer e refazer cálculos e mais cálculos, espremer cada
recurso para que todas as atividades fossem realizadas com qualidade.
A arte de sorrir, de acreditar e avançar na vida – um projeto ambicioso
Alazais François é especialista
em Proteção da Infância,
voluntária das Nações Unidas em
Cabo Verde. No Projeto de
Inclusão de Jovens, seu papel foi
crescendo e ela acabou
responsável por uma grande
parte do trabalho – da articulação
com as instituições até as
compras, produções e outras
ações pertinentes à execução do projeto. Alazais se tornou a ponte AfroReggae -
Cabo Verde.
Ainda bem jovem, a francesa com seu olhar de menina (ou seria um novo olhar?)
aporta, na verdade, excelentes observações sobre o mundo que a rodeia. Sempre
muito parceira, Alazais topava as mais extravagantes ideias e atividades no campo e
fazia questão de sair do escritório com a equipe técnica e com os jovens.
11
Com seu jeitinho acessível se tornou uma referência para os jovens multiplicadores
do projeto.
Ela tem percepções muito positivas sobre o impacto do projeto nos jovens dos
bairros da cidade de Praia e se encantou com o jeito AfroReggae de se comunicar –
propositivo, positivo, solidário.
Pelo direito de transformar sonhos em realidade
Considera que num espaço muito curto de tempo o aumento da autoestima dos
jovens que participam no projeto é flagrante. E cita diversos exemplos: jovens que
não participavam da vida comunitária e que hoje já ministram aulas mesmo para os
multiplicadores; jovens que pareciam muito tristes, carrancudos até, que estavam
envolvidos no crime, que não sorriam nunca e demonstravam todas as dificuldades
da vida, mudaram muito. “Esses jovens agora são palhaços (na oficina de circo)!
Estão sorrindo, abraçando a gente. São pessoas totalmente diferentes. Retomaram
a escola...” lembra Alazais.
Alazais diz que sente orgulho do projeto, quando vê que o novo comportamento dos
jovens é fruto direto das ações. Este orgulho cresceu muito quando descobriu que
alguns dos jovens multiplicadores queriam entrar na universidade. Sem que o
projeto tivesse aberto essa questão, os jovens foram falar diretamente com os
articuladores para dizer que queriam uma oportunidade, apesar de todas as
dificuldades que pudessem ter.
A francesa é enfática: “Eu fiquei muito feliz de saber que eles se sentiram capazes
de conseguir o que queriam. Não tinham um sonho que achavam que não iriam
realizar, um sonho para guardar escondido. Não, eles assumiram o desejo e
possibilidade de realizá-lo. E acho que o projeto ajudou nisso, nessa perspectiva de
autoestima”.
Alazais espera ter incorporado no seu próprio estilo cativante mais um elemento: o
jeitinho claro, propositivo e parceiro do AfroReggae, que levou para Cabo Verde, a
energia carioca que faz gente brilhar.
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O Gestor das Políticas Públicas para a Juventude
em Cabo Verde Ministério da Juventude, Emprego e Desenvolvimento dos Recursos Humanos
O Ministério da Juventude, Emprego e Desenvolvimento dos Recursos Humanos,
MJEDRH, é responsável pela coordenação e execução das políticas de juventude,
em articulação com os demais departamentos governamentais.
O MJEDRH trabalha para proporcionar aos cidadãos, em particular os jovens, mais
e melhores condições de participação na vida social, política, econômica, esportiva e
cultural do país. Para cumprir essa missão, o Ministério tem implementado
programas formulados para responder aos múltiplos e complexos problemas que
afetam os jovens de Cabo Verde.
O Ministério é o parceiro natural do Projeto Inclusão Social dos Jovens por conta do
público-alvo, e de sua estrutura operacional que tem setores diretamente ligados às
atividades que foram propostas pelo AfroReggae.
Ele é o responsável pela nacionalização dos recursos e pela gestão do projeto,
contribuindo com técnicos sociais que foram deslocados para compor a equipe de
trabalho.
Novas metodologias e novos compromissos
Na fase inicial do projeto, a equipe do AfroReggae capacitou três técnicos do
Ministério, os três articuladores institucionais e os três articuladores locais das
ONGs, para trabalhar com a metodologia do Risco Social Familiar. A metodologia do
Risco Social Familiar utiliza o Índice de Pobreza Multidimensional, IPM, que fornece
um retrato mais amplo sobre a pobreza. Apontando privações em saúde, educação
e padrão de vida, proporciona um quadro mais completo da pobreza do que
simplesmente indicadores de renda, e daí é possível buscar estratégias amplas para
combater privações e carências.
13
Com o resultado da aplicação do questionário do IPM, e a partir do levantamento
dos dados, é produzido um “Mapa de Privações”. As famílias são classificadas de
acordo com suas privações numa escala de 0 a 5+ de Risco Social, e são
direcionadas a um dos técnicos sociais de referência, que fará os encaminhamentos
necessários para as políticas públicas e redes especializadas que possam atender
as demandas. Ele vai acompanhar estas famílias, buscando garantir o movimento de
travessia da exclusão para inclusão social.
A equipe enfrentou dificuldades no início do trabalho com os técnicos, que estavam
habituados a executar apenas o trabalho de gabinete dentro dos ministérios. Fazer a
busca ativa das famílias não era uma prática, mas os técnicos seguiram em frente
com a disposição para a aprendizagem e incorporação de novos métodos no fazer
social. Eles se aproximaram das ONGs e dos jovens, vivenciaram o dia a dia dos
bairros e todas as suas questões. “A sensibilidade no trabalho social é algo que não
podemos perder e esta é uma chama que se mantém acessa quando o diálogo é
posto olho no olho, na mesma altura”, lembra bem Ana Cristina Silva, da equipe do
AfroReggae em Cabo Verde. É essa chama que o AfroReggae partilhou com os
técnicos cabo-verdianos. O Risco Social Familiar foi incorporado ao trabalho técnico
e a metodologia levada para outras ilhas de Cabo Verde.
1ª reunião de capacitação IPM – Madalena, Ivanilda, Orlando, Vitoria e Ana Cristina.
14
Relações bem-vindas
Orlando Borja é sociólogo e faz parte do corpo técnico da Direção Geral da
Solidariedade Social. A direção orienta e assegura o acompanhamento e avaliação
da implementação das políticas de proteção, integração e inserção sociais, em
estreita articulação com os organismos públicos e privados e as organizações da
sociedade civil que atuam na área da Proteção Social.
Orlando compõe o quadro técnico do Projeto de Inclusão dos Jovens e fez toda a
diferença no processo de implantação e execução. Tímido, de voz baixa e tranquila,
surpreendeu a equipe do AfroReggae com seu domínio dos casos das famílias
avaliadas pelo IPM e classificadas em Risco Social Familiar. Orlando conhecia bem
as famílias, suas privações e, em quase todos os casos, já havia feito algum tipo de
intervenção. Ele rapidamente se tornou o maior aliado da equipe, e foi como se
trabalhassem juntos há muito tempo. “Nas quatro missões, ele esteve presente e
sempre à disposição, um verdadeiro técnico social, sem discurso e com muito
prática”, afirma Ana Cristina.
Nos períodos em que AfroReggae não esteve em Cabo Verde, Orlando manteve a
equipe no Brasil muito bem informada. Ana Cristina faz questão de mandar um
recado: “Foi um prazer ter conhecido, ter trabalhado e ter aprendido com Orlando,
um técnico preocupado com a proteção social dos jovens, crianças e idosos do seu
País”.
Nelida (ONU) e Orlando (Ministério da Juventude)
15
Em Safende, um Espaço Aberto com a Associação
Solidariedade e Desenvolvimento Zé Muniz
Associação Solidariedade e Desenvolvimento Zé Muniz já tem quase vinte anos de
atuação em Cabo Verde. Há seis, a Associação inaugurou o Espaço Aberto
Safende, numa parceria entre a Associação Zé Moniz (AZM), a Comunidade de
Sant’Egídio, o ICCA e a Câmara Municipal da Praia.
Com a missão de desenvolver atividades para inclusão das crianças, adolescentes e
jovens do bairro de Safende, o Espaço Aberto é bem equipado e oferece oficinas de
informática, reciclagem de papel, atividades para crianças no contraturno escolar e
apoio psicológico para comunidade. As figuras chaves do Espaço Aberto, que
recepcionaram a equipe do AfroReggae foram Adelsia Duarte, então diretora da
instituição e Celestino Moreno, ambos assistentes sociais. Foram eles que abriram o
processo de interlocução com os jovens e instituições locais.
Celestino Moreno é o Articulador Local do Projeto Inclusão de Social dos Jovens.
Um companheiro de trabalho doce e atento. Não existe nada difícil para Celestino.
Ele conhece bem a região, os jovens, suas famílias e suas privações. E tem sempre
um sorriso no rosto para atender às emergências, criações, necessidades do
projeto.
Articulador Local do Projeto de Inclusão Social de Jovens, Celestino Moreno.
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“Execução... como se deve chegar...”
O primeiro contato da equipe do
AfroReggae com Adelsia de Jesus
Almeida Duarte foi no Espaço
Aberto Safende, onde a
professora trabalhava. Aldesia dá
aulas de Gênero e
Desenvolvimento Local do Instituto
Cabo-verdiano para Ciência
Sociais e Jurídica, na capital.
Defensora apaixonada dos direitos das mulheres, das crianças e dos adolescentes,
carrega com orgulho um imenso capital de informação, trabalho e experiência.
Tanto que há cinco meses ela assumiu a Coordenação Geral do Projeto, e foi, desde
o primeiro encontro, uma parceira crucial não apenas na implantação das ações no
bairro, mas no aporte de conhecimento e experiências sobre a realidade social de
Cabo Verde.
Como articuladora institucional, ainda na Associação Zé Moniz – Espaço Aberto,
Aldesia fazia a interlocução com os outros atores implicados no projeto,
supervisionava a materialização das atividades, sobretudo as relacionadas com
aspectos psicossocial. Aldesia sabe exatamente onde, quando e como se chegar;
sabe apontar as maiores privações dos bairros pobres de Cabo Verde e conhece
como ninguém as políticas públicas do País.
“... penso que este projecto tem tatuado diariamente a minha alma.”
As oficinas propostas pelo AfroReggae foram bem ao encontro do jeito de Aldesia.
Firme, sem “meias” palavras, ela defende que é preciso “fazer barulho” para ser
ouvido. Ela já faz muito barulho em Praia. Mas agora, conta ainda com os tambores
e cores dos adolescentes e jovens que embarcaram no Projeto de Inclusão.
17
Aldesia aponta como experiências “fantásticas”, no decorrer do projeto, o
engajamento de todo o corpo técnico da instituição e a descoberta da grande
capacidade de liderança dos jovens multiplicadores – “ver jovens a quem a
sociedade tem negado quase tudo experimentando possibilidades de fazer algo
valorizado pela sociedade”, diz Aldesia.
Pessoalmente, Aldesia valoriza a possibilidade de fortalecimento de sua capacidade
técnica de intervenção comunitária. “A utilização do IPM também aprimorou a minha
capacidade de acompanhamento sociofamiliar”, lembra ela.
E na vida dos jovens e adolescentes, muita coisa tem mudado.
O grupo da percussão de Safende foi convidado para participar de uma atividade no
Plateu, centro da cidade. O grupo era formado sobretudo por adolescentes e jovens
que antes estavam constantemente metidos em confusão, desordens. Aldesia
pegou carona com o grupo até o local do evento. E viu, no carro, resultados do
Projeto de inclusão: “Como também ia participar na atividade, peguei boleia com
eles. Qual não foi o meu espanto quando entrei no carro e havia um silêncio
absoluto. Eu acompanhei o silêncio do grupo. Quando não aguentava mais de
curiosidade, perguntei ao líder Bruno o que se passava com aqueles jovens. E ele
me respondeu: ‘São regras do grupo. Quando vamos para atuações não podemos
nos dispersar com muitas conversas. Temos que nos concentrar’.
Bom, eu não disse mais nada. Regras são regras, mas comigo mesma pensei que
era impensável isso acontecer a seis meses atrás.”
18
Um tempo feliz para as crianças
Associação para as Crianças Desfavorecidas, ACRIDES
A Associação para as Crianças Desfavorecidas, ACRIDES, trabalha basicamente
com crianças e adolescentes, com a premissa de que “a infância devia ser um
tempo feliz, um tempo para ser amado e protegido, um tempo de inocência”.
Com essa premissa, a Acrides foca em ações de proteção de crianças em condições
de pobreza e vulnerabilidade e risco social. Busca garantir o direito ao crescimento
saudável, sob a proteção da família, da sociedade e do Estado.
A Acrides foi a instituição escolhida para executar, em Tira Chapéu, as ações do
Projeto de Inclusão dos Jovens. O primeiro encontro da equipe do AfroReggae com
os técnicos da Acrides aconteceu numa escola desativada, cedida para a Acrides
para o desenvolvimento das atividades do projeto e para uso da comunidade.
Foi um susto. O espaço não tinha qualquer estrutura para receber os jovens ou as
equipes técnicas. Nesse clima, a equipe AfroReggae conheceu Lourença, Ruth e
Ima. As coisas iriam mudar.
Logo toda a equipe promoveu um mutirão de limpeza, a Acrides levantou recursos e
hoje o espaço está todo arrumado e bonito.
Gente que ensina a olhar para a alma
Lourença Tavares é presidente da Acrides e tem uma longa experiência e
participação intensa em projetos de desenvolvimento social e atenção a crianças e
adolescentes em Cabo Verde. Com ela trabalham, diretamente com a população,
Maria Goreth Gomes, a Ruth, e Emanuel Cabo Verde, o Ima.
Ruth é assistente social e Articuladora Institucional do Projeto Inclusão Social dos
Jovens. É quem detém o conhecimento de cada história de família, a trajetória de
19
cada morador de Tira Chapéu. Bastante conhecida no bairro, distribui cumprimentos
e tem sempre uma boa história para contar, ilustrar a realidade e as condições
sociais do bairro. Ruth é daquelas que vai às últimas consequências para matricular
uma criança na escola, para internar alguém, para não deixar uma história ficar
parada. Na verdade, nada fica parado ao lado dela, o mundo entra em movimento:
“Vamos fazer oficina de percussão, circo e grafite? Os brasileiros chegaram! Eu
disse que eles iriam chegar.”
Sempre de partida para algum lugar, com uma nova tarefa a cumprir, não espera
ninguém, quem quiser que siga atrás para aprender a fazer qualquer coisa dar certo.
Acompanhar Ruth nas suas abordagens é, no mínimo, aprender a fazer, a intervir a
usar a técnica, com aquele olhar para alma.
Em Tira Chapéu o AfroReggae conta também com o super parceiro Ima, outro
Articulador Local do projeto. Ima é o professor de reforço escolar da Acrides, e é
quem leva a equipe do AfroReggae para visitar as famílias. Ima conhece
absolutamente tudo na região e sua maior preocupação é estar à altura dos desafios
que aparecem cotidianamente. E está.
Emanuel, grande parceiro do AfroReggae em Cabo Verde.
20
Ninguém fica de fora
Projeto Simenti, Fundação Esperança e Movimento Korrenti di Activistas
Em Achada Grande Frente, o AfroReggae trabalhou com o Projeto Simenti e com
Movimento Korrenti di Activistas, pois o trabalho de uma instituição complementava
a outra.
O AfroReggae chegou ao Pelourinho em seu segundo dia de ocupação. Esse
espaço, onde hoje funciona o projeto, era utilizado pela comunidade como banheiro.
Um lugar, sujo, escuro e malcheiroso, mas a comunidade se mobilizou e recuperou
o local e por isso a Câmara Municipal cedeu o espaço para que fossem
implementadas atividades sociais.
Com o apoio do Projeto Simenti e do Movimento Korrenti di Activistas a equipe do
AfroReggae começou a trabalhar em Achada Grande Frente. A experiência de
trabalhar com duas instituições numa mesma comunidade foi um dos grandes
desafios do projeto.
A Korrenti di Activistas ainda não era uma associação formalizada, no início das
atividades. A abertura do processo de formalização da instituição foi um grande
ganho, já que nasce uma nova associação para trabalhar pela comunidade.
No início, a maioria dos jovens dependia do espaço para quase tudo - se alimentar,
estudar, ter acesso a serviços de saúde. Isso representava mais uma dificuldade.
Mas o Projeto de Inclusão tem feito bem o seu trabalho e os jovens já começaram a
dar os primeiros passos em direção a uma vida autônoma.
“..A comunidade é um terreno fértil, onde cada criança é uma semente e cada
jovem uma planta positiva em potência.”
Foi no Pelourinho, que a equipe do AfroReggae encontrou João Monteiro. Ele é um
jovem sociólogo que faz a diferença onde mora, lutando pela paz numa “zona” de
21
muita violência. João é líder de um grupo que quer sair da exclusão, do anonimato,
da marginalidade.
Articulador Local do Projeto Inclusão Social dos Jovens em Achada Grande Frente,
João conta com o espaço do Pelourinho para receber jovens de todo o bairro. O
Pelourinho não é um abrigo oficial, mas lá ninguém fica sem abrigo. É um espaço
livre, terreno neutro, de acolhimento e atenção. Lá chegam jovens que precisam
apenas dormir e comer. Ou reiniciar toda uma vida.
João Monteiro (esquerda), Articulador Local do Projeto Inclusão Social dos Jovens em Achada Grande Frente e
Johayne Hildefonso, do AfroReggae.
22
Centro Cultural Brasil - Cabo Verde
Diálogos ricos e produtivos
O AfroReggae não poderia passar por Cabo Verde sem convidar o Centro Cultural
Brasil-Cabo Verde, inaugurado em 2002, na Cidade de Praia, para participar do
Projeto de Inclusão Social de Jovens.
Os Centros Culturais são o principal instrumento de execução da política cultural
brasileira no exterior e estão ligados diretamente à missão diplomática ou repartição
consular. Desenvolvem ações de ensino da Língua Portuguesa falada no Brasil;
difusão da Literatura Brasileira. Promovem atividades culturais, como exposições de
artes visuais, peças de teatro, espetáculos de música erudita e popular.
Os Centros celebram também parcerias com os países onde estão instalados para a
promoção de diálogos e interlocução entre a cultura local e a cultura brasileira.
Em Cabo Verde, o AfroReggae foi conhecer duas mineiras valorosas que trabalham
no Centro Cultural Brasil - Cabo Verde, CCB-CV.
Marilene Pereira, Diretora do Centro, e Aparecida Varela, Coordenadora se tornaram
grandes parceiras do Projeto de Inclusão de Jovens, integrando uma rede que
potencializa as ações e abre oportunidades para os jovens cabo-verdianos.
O projeto conta, agora, com toda a estrutura do CCB-CV, colaboração de
funcionários, equipamentos. O terceiro espetáculo da missão, com textos do poeta
Vinícius de Moraes, ocupou inteiramente a estrutura do Centro, que tem três
andares.
A Diretora do Centro, Marilene Pereira, tem contribuído incansavelmente na criação
oportunidades de trabalho e estudo para os jovens do projeto. Já contratou os
jovens para ministrar oficinas no Centro Cultural, deu apoio para o estudo da Língua
Portuguesa e para os exames de proficiência para vagas em cursos de Graduação
no Brasil.
23
Aparecida Varela, outra mineira de fala fácil e gentil, recebeu os jovens de braços
abertos e esteve sempre pronta para apoiar o projeto no que estivesse ao seu
alcance.
Nas próximas edições de novembro, o InfoReggae continua contando a sua
experiência em Cabo Verde. Um trabalho que uniu povos, jovens e adolescentes,
profissionais que descobrem que mesmo em diferentes margens do grande
Atlântico, todos queremos construir uma vida melhor.
Placa de identificação do prédio de formação profissional feito em conjunto com o SESI e o SENAI em Cabo Verde
Prédio de formação profissional feito em conjunto com o SESI e o SENAI em Cabo Verde
24
Patrocínio Institucional Parceria Institucional Apoio