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5/24/2018 PauloLbo-DireitoDasObrigaes-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/paulo-lobo-direito-das-obrigacoes 1/149 XEROY VALOR .~  J g  lfP PASTA  _~k"",2,---- PROP ._---- MATÉRIA _---- -- ORIGINAi..  Paulo Lôbo DIREITOCIVIL. OBRIGAÇÕES 2 a edição 2011 L  n , .  Editor"!, Hsaraiva

Paulo Lôbo - Direito Das Obrigações

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  • XEROY VALOR .~ Jg lfPPASTA _~k"",2,----PROP._----MATRIA _----

    -- ORIGINAi..

    Paulo Lbo

    DIREITO CIVIL.

    OBRIGAES

    2a edio2011

    L

    n,. Editor"!,H saraiva

  • 5Apresentao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 11

    Captulo ICONSTITUCIONALIZAO DO DIREITO DAS OBRIGAES 13

    1.1. A constitucionalizao das obrigaes .. " . . . . . . . . . . . . . . .. 131.2. As etapas do constitucionalismo e a evoluo contempornea

    do direito das obrigaes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 141.3. Insero do direito das obrigaes no Estado social. . . . . . . . .. 16IA. Repersonalizao do direito das obrigaes . . . . . . . . . . . . . . .. 171.5. Fundamentos constitucionais do contrato. . . . . . . . . . . . . . . . .. 181.6. Fundamentos constitucionais da responsabilidade civil. . . . . .. 22Captulo 11OBRIGAES EM GERAL , , 242.1. Direito das obrigaes , ,. 242.2. Conceito e pressupostos das obrigaes. . . . . . . . . . . . . . . . . .. 282.3. Distino entre dvida e obrigaao " . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 30204. Execuo forada .... , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . .. 302.5. Dvida e responsabilidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 322.6. O papel da causa nas obrigaes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 352.7. Obrigaes de meio e obrigaes de resultado " 37Captulo IIIFONTES DAS OBRIGAES 413.1. Classificao das fontes " 41

    3.1.1. A antiga classificao quadripartida das fontes. . . . . . .. 443.1.2. A classificao das obrigaes adotada pelo Cdigo Civil

    brasileiro. . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 453.2. Nossa posio " 47

    Captulo IVRELAO JURDICA OBRIGACIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 504.1. Relao jurdica pessoal e relativa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... 504.2. Distino com a relao jurdica vinculada a direitos absolutos 53

    347.4(81 )

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    Indice poro catlogo sistemtico:

    Dvidas?Acesse www.saraivaiur.com.br

    Regi st ro !j.t4231PREGO ELETP.ONICO

    I. Brasil: Obrigaes: Direito civil

    Dados Internacionais de (otologoo no Publiccr;iio (OP)(Cmara Brasileiro do Uvro, Sp' Brasil)

    Data de fechamento da edio: 8.~2.2010

    ISBN 978.B5.02.0s719.7

    Diretor editorial Antonio Luiz de roledo PintoDiretor de produo editorial Luiz Roberto CuriaGerente de produo editorial Ugio Alves .Assistente editorial Rosono Simone SilvoAssistente de produo editorial CIorissa Boroschi MarioPreparao de originais Cintio do Silvo Leito

    Evandro Lisboa FreireArte e diagramao Cristina AporlJ(ido Agudo de Freitos

    lidia Pereira de MoroisReviso de provas Rito de Cssio Queiroz Gorgati

    Renato de Mello MedeirosServios editorio;s Corlo CristinaMarques

    Eloine Crisfino do SilvoCopo Ricardo Gomes BarbosaProuo grfico Marli RampimImpresso RR OonneneyAcabamento RR Oonnelley

    114/20120'1/(/5/2012

    --SaraivaRuoHenrique Schoumonn,270, (erqueiro (sar - So Paulo - SPCEP05413-909PABX:(11) 3613 3000SAUUR:0800 055 7688De 22 o 62, dos 8:30 s 19:[email protected]: www.soroivojur.com.br

    FILIAIS

    AMAZONASIROH06HWRORAIMA/A(RERuo (osro Azevedo. 56 - (mIJOfone: (92) 363~227 - fax: (92) 363~782 - MonoUlBAHIA/SERGIPERuo Agripino D,eo, 23 - 8rotosfone: (71) 3381.5854/3381.5895fox: (7l)'3381-o959-So~odorBAURU (SO PAUlOIRuo Monsenoo, Ooro. 2.55/2.57 - (enhofone: (14) 3234-5643 - fox: (14) 3234.7401- 80um(EAR/l'IAUI/MARANHOA,. faomeno Gomes, 670 - JocorelOngofone: (85) 3238-2323/3238-1384fax: (85) 3738-1331- fonolBloDISTRITO fEDERAL51A/SUl Tre,ho 210le 850 - Selor de Ind,lri

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    Captulo XOBRIGAES ALTERNATIVAS .

    10.1. Obrigaes alternativas e o direito de escolha .1O.l.l.TItular do direito de escolha das prestaes alternativas.

    10.2. Impossibilidade da prestao alternativa .10.3. Obrigaes facultativas .

    Captulo XIOBRIGAES INDIVISvEIS E DMSVEIS .11.1. Obrigaes indivisveis .11.2. Obrigaes divisveis .11.3. Pluralidade de participantes .

    11.3.1. Indivisibilidade da prestao em relao a vrios cre-dores .

    11.4. Converso da obrigao indivisvel em divisvel .

    Captulo XIIOBRIGAES SOLIDRIAS .

    12.1. Obrigaes solidrias .12.2. Solidariedade ativa .12.3. Solidariedade passiva .

    12.3.1. Mora na solidariedade passiva .12.4. Na fiana no h solidariedade .

    8.2.2. Impossibilidade superveniente da obrigao de fazer .8.3. Obrigaes de no fazer .

    8.3.1. Inadimplemento da obrigao de no fazer .8.3.2. Impossibilidade superveniente da obrigao de no fazer

    Captulo IXOBRIGAES DE DAR .9.1. Obrigaes de dar .9.2. Obrigaes de dar coisa certa .

    9.2.1. Responsabilidade pela perda ou deteriorao da coisa ..9.2.2. Direito s benfeitorias e melhoramentos .

    9.3. Obrigao de restituir .9.4. Obrigao de dar coisa futura ' .9.5. Obrigaes de dar coisa incerta .

    9.5.1. Impossibilidade superveniente da obrigao de dar coisaincerta .

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    554.3. Inexistncia de eficcia real das obrigaes no direito brasileiro4.4. Repercusso da relao jurdica obrigacional em interesses de

    terceiros .4.5. Thtela externa do crdito : .4.6. A relao obrigacional como processo .

    Captulo VPRESTAO .5.1. A prestao como objeto da obrigao , .5.2. Direito prestao ou direito de crdito .5.3. Licitude da prestao .5.4. Determinao da prestao .5.5. Possibilidade e impossibilidade da prestao. Superendivida-

    mento .5.6. Prestaes instantneas e duradouras .5.7. Imputao de responsabilidade .

    Captulo VIDEVERES GERAIS DE CONDUTA .6.1. Deveres anexos prestao e deveres gerais de conduta .6.2. Dever de boa-f objetiva nas obrigaes .

    6.2.1. Deveres pr e p6s-contratuais .6.2.2. Dever de no agir contra os atos pr6prios .

    6.3. Dever de realizao da funo social das obrigaes .6.4. Dever de equivalncia material das prestaes .6.5. Dever de equidade .6.6. Dever de informar .6.7. Dever de cooperao .

    Captulo VIIOBRIGAES NATURAIS, OU OBRIGAES DECORRENTES DE DI-REITOS SEM PRETENSO .7.1. Direitos sem pretenso .7.2. Dvidas prescritas .7.3. Obrigaes judicialmente inexigveis .7.4. Dvidas de jogo e de aposta .

    Captulo VIII _OBRIGAES DE FAZER E DE NAO FAZER ; .8.1. Primazia das obrigaes de fazer .8;2. Obrigaes de fazer .

    8.2.1. Adimplemento da obrigao de fazer ; , .

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  • 12.5. Oposio de excees comuns e exclusivas pelo devedor soli-drio .

    12.6. Rateio entre os devedores solidrios .12.7. Impossibilidade da obrigao solidria .12.8. Extino da obrigao solidria .Captulo XIIITRANSMISSO DAS OBRIGAES .13.1. Transmisso de crditos e dvidas .13.2. Cesso de crdito .....................................

    13.2.1. Forma da cesso de crdito .13.2.2. Notificao do devedor .13.2.3. Oposio de excees pelo devedor em virtude da ces-

    so , .13.2.4. Cesses legais de crdito , .13.2.5. Respo'nsabilidades do credor cedente .13.2.6. Crditos intransmissveis , .13.2.7. Pluralidade de cesses de crdito .

    13.3. Assuno de dvida .13.3,.1. Consentimento do credor como fator de eficcia da as-

    suno de dvida .13.3.2. Assuno de adimplemento : .

    13.4. Cesso de contrato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ~. . . . . . . . . . . . . . .Captulo XIVADIMPLEMENTO .14.1. Concepo do adimplemento .14.2. Legitimao ativa (quem deve ou pode adimplir) .14.3. Legitimao passiva (a quem se deve adimplir) .14.4. Objeto do adimplemento .

    14.4.1. Dvidas de dinheiro e dvidas de valor .14.4.2. A correo monetria do valor da prestao .14.4.3. ndices e parmetros de atualizao monetria .14.4.4. Proibies e limitaes de ndices de correc monetria14.4.5. Correo monetria excessiva como clusula abusiva ..14.4.6. R~Visoda prestao por motivos impre~isvejS superve-

    nientes .14.5. Prova do adimplemento. Quitao .14.6. Lugar do adimplemento .14.7. Tempo do adimplemento .

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    14.8. Adimplemento substancial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 195

    Captulo XVMODOS EVENTUAISDE ADIMPLEMENTO V. . . 19915.1. A razo de serem modos eventuais " 19915.2. Consignao em adimplemento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 19915.3. Adimplemento com sub-rogao ~.. " 20515.4. Imputao do adimplemento 20815.5. Dao em adimplemento 20915.6. Compensao 212

    15.6.1. Efeitos da causa do negcio jurdico na compensao.. 21815.6.2. Hipteses de excluso da compensao 219

    15.7. Confuso 22015.8. Novao ' - 22215.9. Remisso de dvida 227

    Captulo XVIINADIMPLEMENTO DAS OBRIGAES 23016.1. Inadimplemento em geral ' 230

    16.1.1. Culpa ou dolo no inadimplemento 23316.1.2. Caso fortuito e fora maior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 234

    16.2. Mora ' " 23516.2.1. Mora do devedor 23716.2.2. Mora do credor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 23916.2.3. Purgao da mora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 242

    16.3. Impossibilidade do adimplemento no imputvel ao devedor .. 24316.4. Perdas e danos pelo inadimplemento ; 24516.5. Aspectos gerais do d:mo moral 25116.6. Juros legais~ 25416.7. Arras e direito de arrependimento ; 26016.8. Violao posiUva.da obrigao 263

    Captulo XVIIcLAUSULA PENAL , 26617.1. Caractersticas....................................... 26617.2. Funes da clusula penal 26717.3. limites legais da clusula penal 27117.4. Redu>judicial e aplicao da equidade 272

    Captulo XVIIIATOS UNILATERAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 27518.1. Atos unilaterais , 275

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  • 10

    BIBLIOGRAFIA ...................... , .

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    Esta obra abrange a teoria geral das obrigaes e os principais atosunilaterais clvis. Parte substancial dela, ora revista e atualizada, foi publica-da no livro Teoria geral das obrigaes, editado em 2005.

    Fomos impelidos por trs desafios que animaram a produo deste livro.Em primeiro lugar, realizar uma obra que seja til tanto para o profissional,que necessita de elementos necessrios para aplicar o direito das obrigaesem geral, qunnto para o estudante do curso jurdico, que deseja no apenasobter conhecimento acessvel. mas tambm que lhe permita desenvolverreflexo crtica, com o olhar posto nas mudanas sociais e econmicas, tointensas em nossa era. O segundo desafio estruturar uma teoria geral dasobrigaes que se desprenda do paradigma do individualismo oitocentista,voltando-se para o paradigma da solidariedade social, consolidado comofundamento constitucional do direito, como se v nos arts. 3, I, e 170 daConstituio Federal. O terceiro desafio traduzir, em linguagem e textosimplificados, a essncia da doutrina jurdica do maior jurista brasileiro dosculo XX, Pontes de Miranda, sobre as obrigaes, particularmente a con-tida no Tratado de direito privado, cuja leitura imprescindvel aos que dese-jam conhecer os fundamentos do direito civil brasileiro.

    PaI' motivos didticos, sempre que possvel, distribumos as matriasadotando a sequncia do Cdigo Civil de 2002, mais cientfica que a do C-digo precedente. O Cdigo Civil de 2002 obra de compromisso entre osparadigmas do individualismo e da solidariedade social, razo por que setorna imprescindvel a discusso em torno de temas sobre as relaes obri-gacionais que ele omitiu ou tratou insuficientemente, mas que foram desen-volvidas pela doutrina nacional e estrangeira, com reflexos na jurisprudncia,como os deveres gerais de conduta obrigacional, a tutela externa do crdito,.as obrigues destitudas de pretenso, o prazo de graa, o adimplementosubstancial, a violao positiva da obrigao, o superendividamento, a res-ponsabilidade pr e p6s~negocial.

    Onde recomendvel, promovemos a insero e anlise crtica da juris-prudncla dos tribunais superiores e aludimos s inovaes trazidas peloscdigos c legislaes civis dos povos do sistema jurdico romano-germnico,mais recentes, cujas solues so referidas sempre que o direito brasileiroseja omisso ou obscuro. Destacamos a Lei de Modernizao do Direito dasObrigaes, de 2001-2002, da Alemanha, a mais profunda alterao legisla-

    275279281284287291

    Promessa de recompensa _Concurso de direito privado :::::,:::::::Gesto de negcios alheios .Enriquecimento sem causa " .Pagamento indevido .................................................

    18.2.18.3.18.4.18.5.18.6.

  • tva que se produziu sobre a matria, unificando o direito comum e o direitodo consumidor, com ntida opo de socialidade das obrigaes.

    A constitucionalizao do direito civil, qual dedicamos o primeirocaptulo, relativamente ao direito das obrigaes. obra permanente, e no

    . se encerra com o advento de nova codificao. Sem prejuzo da milenar epeculiar autonomia do direito civil, o processo de constituclonalizao redi-reclona sua trajetria e misso histricas com fins e valores humanistas, re-personalizantes e solidrios. Da a constante referncia que fizemos. aolongo da obra, aos princpios e regras constitucionais, que devem Informar econformar a interpretao e compreenso do direito civil em sua complexacontextura atual.

    necessrio que salientemos a insuficincia da teori

  • nutica, tendo a Constituio como pice conformador da elaborao e apli-cao da legislao civil. A mudana de atitude substancial: deve o juristaInterpretar o Cdigo Civil segundo a Constituio e no a Constituio se-gundo o Cdigo, como ocorria com frequncia.

    A fundamentao constitucional do direito privado no episdica ecircunstancial, mas constante em sua aplicao, cumprindo-se reagir se-duo da aparente autossuficlncia da legislao civil, mxlme com o ad-vento de um novo Cdigo Civil, tradicionalmente mais estvel que a Consi-tuio, sob risco de envelhecimento precoce. Tem razo Luiz Edson Fachin,ao propor a permanente reconstltUclonalizao do direito civil, pois"compreender que um Cdigo Civil (e por isso, o 'novo' Cdigo Civil Brasi-leiro) uma operao ideolgica e cultural que deve passar por uma impres-cindvel releltura prlncipiolgica, reconstltucionalizando o conjunto de re-gras que integre esse corpo de discurso normativo" (2004: 18).

    Pode-se afirmar que a constitucionalizao do direito das obrigae$ o processo de elevao ao plano constitucional dos princpios fundamentaisdesse ramo do direito civil, que condicionam e conformam a observnciapelos cidados, e a aplicao pelos tribunais, da legislao Infraconstitucio-nal. As duas principais espcies de obrigaes civis, o contrato e a responsa-bilidade civil, tm firmados na Constituio de 1988 seus esteios fundamen-tais. Na histria recente do direito, a constitucionalizao foi antecedida eacompanhada de forte Intervenodo legislador infraconstitucional no direi-to das obrigaes, principalmente para tutela dos contratantes vulnerveis epara proteo da vtima de danos, com a expanso da responsabilidade civilobjetiva.

    O Cdigo Civil de 2002 surgiu em contexto completamentedlferente deseu antecedente, principalmente em face da perda de sua funo unificado-ra do direito privado, ante as normas constitucionais fundamentais sobre asrelaes Civis, inexistentes no passado, e a convivnCia com os mlcrosslste-mas jurdicos, que persistiro, com destaque para o direito do consumidor,no 'Campo das obrigaes. Impe-se ao Intrprete e aos aplicadores do direi.toa Imensa tarefa de Interpretar esse Cdigo em conformidade com os valo-res e principlos cOnstitucionais. O paradigma do individualismo e do sujeitode.direlto abstrato foi substitudo pelo da solidariedade social e da dignidadeda pessoa humana, notadamente no direito das obrigaes, que impulsio-nou Intensa transformao de contedo e fins.

    1.2. ASETAPAS DO CONSTITUCIONALISMO E A EVOLUO.CONTEMPORNEA DO DIREITO DAS OBRIGACES

    O constitucionalismo e a codificao (especialmente os cdigos civis)so contemporneos do advento do Estado liberal e da afirmao do indivi-

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    I~

    iI.

    dualismo jurldlco. Cada um cumpriu papel determinado: o constitucionalis-mo, o de limitar profundamente o Estado e o poder poltico; a codificao, ode assegurar o mais amplo espao de autonomia aos .irdivduos, nomeada-mente no campo da atividade econmica.. Os cdigos civis tiveram como paradigma o cidado dotado de patrim-

    nio, vale dizer, o burgus livre do controle pblico. Nesse sentido que en-tenderam o homem comum, deixando a grande maioria fora de seu alcance.Para os iluministas, a plenitude da pessoa dava-se com o domnio sobre ascoisas, com o ser proprietrio. A liberdade dos modernos, ao contrrio dosantigos, concebida como no impedimento. Livre quem po.de deter, gozare dispor de sua propri'edade, sem impedimentos, salvo os ditados pela or-dem pblica eos bons costumes, mas sem interfern.~ia do Estado ~ semconsiderao aos interesses sociais. Na antiga Roma os escravos exerciam aatividade econmica (eram "livres" para exerc-la); alguns enriqueceram,mas a cidadania era-lhes vedada. Entre os modernos, ocorreu a inverso:livre o que detm a livre-iniciativa econmica, pouco importando que sejasubmetido a uma autocrcia poltica: o exemplo frisante foram as ditadurasmilitares que exasperaram o libe~a}ismo econmico. Hannah Arendt (1979:188-220) sublinhou que o liberalismo, no obstante o nome, colaborou paraa eliminao da noo de liberdade no mbito poltico.

    As primeiras constituies, portanto, nada regularam sobr~ as rela~e.sprivadas, principalmente as obrigacionais, cumprindo sua funao de del1ml-tao do Estado mnimo. Ao Estado coube apenas estabelecer as regras dojogo das liberdades privadas, no plano infraconst.itucionaI, de ~ujeitos dedireitos formalmente iguais, abstrados de suas deSigualdades reais. Como adura lio da histria demonstrou, a codificao liberal e a ausncia ~aconstituio econmica serviram de instrumento de explorao dos maisfracos pelos mais fortes, gerando reaes e conflitos que redundaram noadvento do Estado social.

    Em verdade, houve duas etapas na evoluo do movimento liberal e doEstado liberal: a primeira, a da conquista da liberdade; a segunda, a da ex-plorao da liberdade (Lbo~ 1986: 11). Como legado do Estado liberal, aliberdade e a igualdade jurdicas, apesar de formais, incorporaram-se ao ca-tlogo de direitos das pessoas humanas, e no apenas dos sujeitos ~e re~a-es jurdicas, e nenhuma ordem jurdica democr~ti~a pode ?e~as abnr mao.Os Cdigos cristalizaram a igualdade formal de dIreitos subJetiVOs,ro~p~~-do a estrutura estamental fundada no jus privilegium, ou nos espaos Jundl-cos reservados s pessoas em razo de suas origens. Ant:s do advento doEstado social, ao longo do sculo XX, o direito das obrigaoes conteve-~e n.aliberdade e na igualdade formais, sem contemplar os figurantes vulneravelse as exlgnclas de justia social.

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  • 1.3. INSERO 00 DIREITO DAS OBRIGAES NO ESTADOSOCIAL

    O Estado social, no plano do direito, todo aquele que tem includo naConstituio a regulao da ordem econmica e social, mxime da atividadeeconmica. Alm do controle do poder poltico, que caracterizava o Estadoliberal, controlam-se os poderes econmicos e sociais e projeta-se para almdos indivduos a tutela dos direitos, incluindo o trabalho, n moradia, a edu-cao, a cultura, a sade, a seguridade social, o meio ambiente, todos cominegveis reflexos nas dimenses materiais do direito das obrigaes. Nasntese de Pietro Perlingieri (2008: 14), o Estado social de direito "representaa tentativa de conjugar legalidade e justia social". .

    A Ideologia d social, traduzida em valores de justia social ou de soli-dariedade social, passou a dominar o cenrio constitucional do sculo XX.A sociedade exige o acesso aos bens e servios produzidos pela e.:onomia.

    ~ Firmou-se a opinio entre os juristas de que as razes do direito so muitomais amplas que as razes do mercado. Da a inafastvel atuao do Esta-do, para fazer prevalecer o interesse social, evitar os abusos e garantir o es-pao pblico de afirmao da dignidade humana. Nem mesmo a onda deneoliberalismo e globaJizao econmica, que agitou o ltimo quartel dosculo XX, abalou os alicerces do Estado social, permanecendo cada vezmais forte a necessidade da ordem econmica e social, exprimida em suaregulao, inclusive com o advento de direitos tutelares de novas dimensesda cidadania, a exemplo da legislao de proteo do consumidor.

    Apreciando as transformaes havidas no direito privado, especial-mente no direito das obrigaes, Franz Wieacker demonstra que o aconteci-mento mais importante quanto aos aspectos fundamentais da viragem dodireito civil para o social foi o regresso do direito ao princpio da equivaln-cia material. O individualismo liberal desprezou a antiga tradio, que vinhada tica social de Aristteles, da equivalncia material das prestaes, parao que contriburam a tica da liberdade e da responsabilidade de Kanl eSavigny, a recusa do liberalismo em relao a uma relativizao das obriga-es assumidas pelas alteraes de valor verificadas no mercado, e a expe:-tativa da previsibilidade da evoluo da economia. No Estado social houveo alargamento da responsabilidade solidria das partes e da comFetncia dojuiz para reviso dos negcios jurdicos, em razo da mutao funcional doordenamento normativo numa sociedade dominada pela solidariedade so-cial (I980: 598-626).

    Aemerso do direito do consumidor, nas ltimas dcadas do sculo .xX,paradoxalmente quando o Estado social entrou em crise, talvez por essa mes-ma razo, e a do controle do contrato de adeso a condies gerais fIZeramdespontar a necessidade da preveno e represso dos abusos de poder dosfornecedores e predisponentes em detrimento dos contratantes vulnerveis.

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    em virtude de sua proeminncia no plano do conhecimento (tcnico ou jur-dico) ou da economia (monoplios, informao, superi~ridade finan~eira). Odireito tradicional encontrava-se mediocremente arma.ao para sancionar osabusos e muito menos para prevem-Ios. A teoria dos vcios do consentimentonQ permitia remediar toda~ as situaes injustas, principalmente em face ~aviolncia econmica (Mazeaud, Mazeaud e Chabas, 1998: 28). A proteaodo consumidor e as consequentes restries liberdade contratual traduzem--se "por um renascimento do formalismo e pelo d~sen~olvimento d,a ordempblica de proteo do consentimento do consumidor ; a ordem publtca deproteo, entendida como de tutela das categorias de contrata~tes ~ue. seencontram em posio de inferioridade e que demandam a garant~a de Justiacontratual, distingue-se da ordem pbltca de direo, voltada a Impor certaconcepo de interesse geral e de utilidade pblica (~hestin, 1993: 119).

    1.4; REPERSONAUZACO DO DIREITO DAS OBRIGAESA codificao civil liberal tinha, como valor necessrio da realizao da

    pessoa, seu patrimnio. em torno do qua~ g~a~itavam os. ~e~ais intere~ses _privados, juridicamente tutelados. O patnmonIO, o dommo mcontrastavelsobre os bens, inclusive em face do arbtrio dos mandatrios do poder poli-

    \ tico, realIzava a pessoa humana. .'\ certo que as relaes obrigacionais tm um forte cunho patrimonial i-zante. Todavia, a prevalncia do patrimnio, como valor individual a ser tu-telado, fez submergir a pessoa humana, que passou afigurar como simples eformal polo de relao jurdica, como sujeito abstrado de sua dimenso real.

    A patrimonializao das relaes obrigacionais, no sentido de. prima-zia, incompatvel com os valores fundados na dignidade da pessoa huma-na, adotados pelas Constituies modernas, inclusive pela brasileira (art. 1u,III). A repersonalizao reencontra a trajetria da longa histria da ema.nc~-pao humana, no sentido de repor a pessoa humana como centro do direI-to civil, ficando o patrimnio a seu servio. O direito das obrigaes, aln~aque essencialmente voltado s relaes econmicas da pessoa, te~ ~el~aocom essa funo instrumental, alm de estar conformado aos pnnclplos evalores constitucionais que protegem.

    O desafio que se coloca aos civilistas a capacidade d: ver as. pess?~sem toda sua dimenso ontolgica e, atravs dela, suas relaoes patnmOnI,:lse econmicas. Impe-se a materializao dos sujeitos de di:eit~s, ,q~e saomais que apenas titulares de bens ou polos abstratos ~e rel~.oe~Jundlc~s._Arestaurao da primazia da pessoa humana, nas relaoes CIVIS, e a co~dl.aoprimeira de adequao do direito realIdade e aos fundamentos constitucIO-nais. O homem abstrato do liberalIsmo econmico cede espao para o ho-mem concretodi sociedade contemporn~a, na busca de um humanismosocialmente comprometido (Amaral, 1998: 160). '*'.

    17

    J

  • 19

    produo e distribuio dos bens e servios que atendem s necessidadeshumanas e sociais. na ordem econmica e social que emerge o Estadosocial, sob o ponto de vista jurdico-constitucional, e cr\istaliza-se a ideologiaconstitucionnlmente estabelecida.

    Os fundamentos jurdicos essenciais do direito contratual esto, assim,estabelecidos na Constituio, alm do macroprincpio da dignidade da pes-soa humana: arts. P\ IV (valores sociais do trabalho e da livre, iniciativa);30, I (solidariedade social); 50, XXXII (defesa do consumidor); 5, XXXVI(garantia do ato jurdico perfeito); 170 (princpios do trabal~o huma~o, daliberdade de atividade econmica, da justia social, da propnedade pnvada,da funo social da propriedade, da livre concorrncia, da defesa do consu-midor, da defesa do meio ambiente); 173. S 4.0 (represso do abuso do podereconmico); 174 (Estado como agente normativo e regulador da atividadeeconmica).

    Os princpios gerais da atividade econmica, contidos nos arts. 170 e s.da Constituio brasileira de 1988, demonstram que o paradigma de contra-to neles vertido e o paradigma da codificao liberal no so os mesmos, Naacepo tradicional e liberal tem-se o contr~to ent:e. indivduos aut~om~se formalmente Iguais, realizando uma funao IndiVidual de harmonlzaaode interesses antagnicos, segundo o esquema clssico da oferta e da acei-tao, do consentimento livre e da igualdade formal ~as ~artes. O contratoassim gerado passa a ser lei entre as partes, na conhecida formula pacta suntservanda. O contrato encobre-se de inviolabilidade, inclusive em face doEstado ou da coletividade. Vincula-se o contratante tica e juridicamente;vnculo que tanto mais legtimo quanto fruto de sua liberdade e autono-ia. "A autonomia privada, com a liberdade contratual, a liberdade de ex~r-

    ccio da propriedade e a liberdade de comrcio e profissional, foram as pnn-cipais reivindicaes do programa liberal. que se pr~po.nha a ~1c~n7ar ?bem-estar liberando as foras morais, polticas e economlcas do individuo(Relser, 1990: 54). Ante esse paradigma, compreende-se que, na Const.i,.tl.,!bo liberal, o contr.ato est..jaal.!$.lte; no apenas ele, mas toda a ordemeconmica. Essa"vlso Idlica da plena realizao da justia comutativa, queno admitia qualquer interferncia do Estado-juiz ou legislador, pode serretratada na expressiva petio de princpio da poca: quem diz contratual,diz justo.

    ,...C..onstituio.Eederal-bI:asileir.9_..p.t:Das.admj.te~Q~c"Q.lJ.t~at-J,1,J~..L~a.Uz~a funo social, a ela condicionando os interesses individuais, e que consl-era a Cl:e"S1pldade material das partes . .Q Cdigo Chl.i1.Q.e.2001,e~l v!r~gemcompleta ,_inltQduz..a..r,egulamenta~~.g@-r"a.I~e5-G@I'''t-r.ael;Qs.c.om~Q.-I2n.D.c 1RIo d_aJuno social determinante do contedo e dos limites da liberdade contra-tual: Com"~, a ordem econmica tem por finalidade ".as.s~-t.oGe&

    _e~la~digna,_confo!11Je.os ditam~cia..ius.U..-~jltJart.. 170. d,~CF). ~justia social importa "reduzir as desigualdades sociais e regIOnais (art. 3

    I18

    Orlando de Carvalho (1981: 90) julga oportuna a repersonalizao detodo o direito civil - seja qual for o invlucro em que esse direito se conte-nha-, isto , a acentuao de sua raiz antropocntrica, da sua ligao vis-ceral com a pessoa e os seus direitos. essa valorizao do poder jurisgni-cO' do homem comum, essa centralizao em torno do homem e dosinteresses imediatos que faz o direito civil, para esse autor, o {oyer da pessoa,do cidado mediano, do cidado puro e simples. Nessa mesma direo, es-clarece Pietro Perlingleri que no se projeta a expulso ou a reduo quan-titativa do contedo patrimonial no sistema jurdico e especialmente no civi-Istico, porquanto o momento econmico, como aspecto da realidade socialorganizada, no ellmlnveI. A divergncia concerne avaliao qualitativado momento econmico e disponibilidade de encontrar; na exigncia datutela do homem, um aspecto idneo para atribuir-lhe uma justificativa ins-titucional de suporte ao livre desel}volvlmento da pessoa (1997: 33). Firma--se a convico de que o domnicuobre as coisas no um fim e~o,.mas a concel2,ode um patrimnio mnimo, constitudo de bens e crditos,_q,y~.~r$l.maa~sobrevlvnd:e 'Slurij';:In:F'rescindvel como suporte derealizao do ~o da dlgniQade human-(Fachin, 2001: 303).

    Extrai-se da Constit~io brasileira, em razo dos valores Incorporadosem suas normas, que, no plano geral do direito das obrigaes convencio-nais, -..paralJgmJiheral.de m~alncia do interesse do credors..49y

  • e inci~.oVII do art. 170 da CF). So, portanto ..incompatveis coma Consti-{tui~~oas polticas econmicas pblicas e privadas denominadas 'neolibe-!'rais, pois pressupem um Estado mnimo e total liberdade ao mercado, dis-..Rensan~o a regu~amen~a;,oda ordnJp ~conmic", a qual s faz sentido porperseguIr _a funaosocIal e a tutela lundica dos mais fracos e por supor amte~en5ao estatal per~ane~te (legislativa. governamental e judicial), parareahzaao desses superIores mteresses e valores sociais e de realizao dadignidade humana. "As ideias que se exprimem sob a forma de obrigao deleald.ade. de cooperao e de boa-f na execuo dos contratos podem serconsIderadas sob a noo de solidarismo contratual" fGrynbaum, 2004: 33),em que se inscrevem os autores comprometidos como movimento visandoa estabelecer uma compreenso social do direito contratual, fundada nosvalores constitucionais,

    . Uma das mais importantes realizaes legislativas dos princpios cons-titucionais da atividade econmica olCdigo de Defesa do Consumidor,

    \ q,ue.regulamenta',a relao contratual de consumo; Seu mbito de abrangn-~Ia ~ enorme, pOISalcana todas as relaes havidas entre os destinatriosfmaIs dos produt?s e s~rvios lanados no mercado de consumo por todosa~u~les que a ~eIconsIdera fornecedores, vale dizer, os que desenyolvemativIdade organizada e permanente de produo e distribuio desses bens,

    < A~s.ini;.o Cdigo ~e Defesa do Consumidor subtraiu da regncia do Cdigo"CI~lI ~ quase tot~hda_dedos contratos em que se inserem as pessoaS'~em seucotIdIano de satlsfaao de necessidades e desejos econmicos e vitais.

    T~lvez umadas maiores caractersticas do contra:o, na atualidade, sejao crescimento do\.-p!incpida equivalncia material das prestaes; que per-passa todos os fu~dame~tos cons~i.tu~ionais a ele aplicveis. Esse' princpioreserva a e ua ao e o usto e ulhbno contratua se'a ara manter a ro-

    ~or~ionalidade i~icial dos direitos e obrigaes sela para ~orrigir os desequi-h.bnos supervenientes. pouco importando que as mudanas de circunstn-cias pude,ssem ser previsveistO que Interessa no mais a exigncia cega .7(de cumpnmento do contrato,aa forma como foi assinado ou celebrado' mas'r - - -. ,;~e sua execuao na~ acarreta va~tagem excessiva I?2ra uma das partes [desvanta?~em.exces~I~a,para outra,'f:r~el obj~tivamente, segut1.90as regrasda expen,en,cla ordmana. ~sse prinCIpIOConjuga-se com os: princpios daboa-fe objetIva e o da funao sacia!, igualmente referidos no Cdigo Civil.

    Outro interessante campo de transformao da funo dos contratos o ~as negoc~ae~ ou convenes coletivas, j amplamente utilizadas nom~1Otrabalhista. A medida que a sociedade civil se organiza. o contrato co-letiVOa,presenta-se como um poderoso instrumento de soluo e regulaonormativa dos conflitos transindividuais. O Cdigo de Defesa do Cons'Jmi-dor, por exemplo, prev a conveno coletiva para regular os interesses doscon~umidores e f~rnec~d~re,s, atravs de entidades representativas. Na pers-pectIva do pluralismo JundIco, acordos so firmados estabelecendo regras

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    de convivncia comunitria, desfrutando uma legitimidade que desafia a daordem estatal. ,

    . Na economia oligopolizada existente em nossas SOfiedad~s atuais, ocontrato, em seu modelo tradicional, converte-se em instrumento de exerc-cio de poder, que rivaliza com o monoplio legislativo do Estado. As condi-es gerais dos contratos, verdadeiros cdigos normativos privados, so pre-dispostas pela empresa a todos os adquirentes e utentes de 'bens e servios.constituindo em muitos pases o modo quase exclusivo das relaes nego-ciais. Em certas reas, as condies gerais dos contratos podem alcanarnmeros gigantescos de destinatrios, como se d com os planos de sade.Nessas situaes, o consentimento livre substitudo por uma relao depoder e submisso. A legislao contratual clssica Incapaz de enfrentaradequadamente esses problemas, o que torna imperiosa a concretizao dosprincpios constitucionais aplicveis atividade econmica, voltados pro-teo dos contratantes vulnerveis. No Brasil, os contratos de adeso a con-dies gerais, no plano infraconstitucional, esto contemplados pelo Cdigode De:esa do Consumidor, quando vinculados a relaes de consumo, e,para os demais, pelos arts. 423 e 424 do Cdigo Civil e pela Lei n. 11.280, de16 de fevereiro de 2006, que estabelece a nulidade de eleio de foro nocontrate de adeso, para prevalecer o juzo do domiclio do ru, encerrandolonga controvrsia jurisprudencial. -

    O principal giro de perspectiva que se observa na compreenso do con-trato, no contexto atual, a considerao do poder que cada participanteexercita sobre o outro; do poder contratual dominante que nunca deixou dehaver, :nas que o direito desconsiderava, porque partia do princpio da igual-dade formal dos contratantes, sem contemplar as suas potncias ecopmi-cas; ou, como hoje j tratamos de modo multo mais jurdico, o poder domi-nante de um e a vulnerabilidade jurdica de outro, que pressuposta oupresumida pela lei, a exemplo do inquillno, do trabalhador, do consumidor,

    , do aderente.A coutrlna frequentemente localiza o fundamento constitucional da

    autonorr.ia privada no princpio da livre-Iniciativa (art. 170 da Constituio).Na concepo atual, todavia, a autonomia privada abrange universo muitomais am?lo que a atividade econmica, onde ficou insulada pelo individua-lismo juridico. Os atos de autonomia tm fundamentos e fins variados. Con-sentir no transplante de rgo ato de autonomia privada, mas sem dimen-so eccnmica; por igual, os atos de autonomia nas relaes familiares, p.ex., consentimento dos pais para o casamento de filho menor de dezesseisanos (art. 1.517 do Cdigo Civil), ou o reconhecimento voluntrio de filhohavido (ora do casamento (art. 1.609), ou o pacto antenupcial para escolhado regime matrimonial de bens (art. 1.639).

    21

  • No mbito econmico, h muitos atos que se celebram entre particula-res (I." ex., vender um objeto usado para outrem) que no se Inserem ematividade econmica, sendo estranhos ao princpio da livre-Iniciativa. As-sim, autonomia privada e at mesmo liberdade contratual no se confundemcom livre-Iniciativa, entendida como a liberdade de empreendimento ou deempresa, conquistada historicamente pela revoluo liberal, contra o abso-lutismo monrquico, esta sim de fundamento constitucional. por tais razes,a liberdade contratual no pode ser concebida como direito fundamental(Reiser, 1990: 92), como afirmou explicitamente o Conselho Constitucionalfrancs, em 1994, algo Inteiramente aplicvel ao Brasil: "nenhuma norma devalor constitucional garante o princpio da liberdade contratual", para admi-tir que o legislador possa, no Interesse geral, modiflcar,ab-rogar ou comple-tar legislao anterior, interVindo nas relaes privadas (Molfessls, 1997:73). Se a liberdade contratual fosse princpio constltudonal estaria imune Interveno do legislador infraconstitucional que lhe ImpUsesse limites ne-gativos e positivos, no interesse social, como ocorre com o Cdigo de Defesado Consumidor, que estabelece profundas restries ao poder negociai dosfornecedores de produtos ou servios.

    1.6. : FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DARESPONSABILIDADE CIVIL

    A Constituio Federal destinou vrios dispositivos legais dispersos responsabilidade civil, permitindo ao intrprete deles extrair um sistema bcslco que Informa e conforma a legislao aplicvel, especialmente o CdigoCivil. No mbito dos direitos e garantias individuais, podem ser listados osIncisos V, X, XLV e LXXV do art. 5". Outros dispositivos especficos: arts. 21,XXIII, c; 37, ~ 60.; 141; 173, !350.; 225, !3!320.e 30.; 236,!3 10.;245.

    A Constituio adota diversas modalidades de reparao, .que no seresume apenas tradlclonallridenlzao pecuniria. Dentre elas: a) fica as-segurado o direito de resposta, proporcional ao agravo recebido pelo ofendi-do, que em determinadas situaes pod~ ser mais adequado

  • DIREITO DAS OBRIGACES

    25

    ;,'

    ,obrigaes.p'revi~t_as no Cdigo Civil, mas a todas as relaQes\:j~rdic_as.regI;das ,pellJegi.sl~-o_e~p_e.ci1sonexa~

    A parte nuclear do direito das obrigae~ legat~ria da e~ab~ra~ mi-lenar do senso prtico do direito romano antIgo; deJa para ca sao maiS"dedois milnios de lenta e laboriosa elaborao terica e prtica. As soluesque o direito contemporneo ainda, util.iza tm origem nas resolu~~s dosconflitos que os antigos romanos cnstalIzaram em suas normas Jundlcas e,sobretudo, nos trabalhos deixados por seus jurisconsultos. Certamente, odireito das obrigaes o principal elemento comum das estruturas funda-mentais dos direitos nacionais enquadrveis no grande sistema jurdico ro-mano-germnico, no qual se inclui o direito brasileiro. Mas, como adverte.Orlando Gomes. o direito das obrigapes. el~b9rado no sculo XIX, calcadono direito romano e aperfeicoado. principalmente na Alemanha, pelos m:-

    . dectistas. 'Lqmcorreu para o dese!}yolvimellto econmico, mas legitimo,uabusos, ao favorecer a prepotncia sIas.p_e~~orre;"--"..1.9 toA~.p'r~sJar,,,risF?-o)J~g~Dl,?;9~Sujei!0,,do, dever.(devedor) ,.com..seu. pa tfim-

    ",DJ9.: O direito dasobrig~es o ramo do direito que regula,arelaojurdica"de.dvida, de ..prestao .ou.de. dever.geral .de.conduta .negoc-lal.entre ..pessoas~determinadas_ou.determinveis,.sendo este o ncleo que o identifica. di-reito relativo, a que corresponde o dever relativo .~sJelaes.negociais

  • ""-.::Incldnclado direito das obrigaes:-Exemplificando: A titular de direitosda personalidade, dentre os quais a honra, oponveis a todas as pesspas

    ..mdleitas ao direito brasileiro - direito absoluto; B.difamou A em jornal. pas-sando este a ser credor daquele da indenlza.o por danos morais e materiais(Prestao de indenl~r) - direito relativo (direito dasobrigas;W).

    Tampouco se Incluem no campo pr6prlo do direito das obrigaes asd~nomindas obrigaes propter rem (literalmente, obrigaes por causa deuma coisa), ou ambulat6rlas. Nessas hipteses, seja quem for o titular dddireito real assume "obrigaes e crditos em razo e com referncia cisaque constitui o objeto do direito real" (Zannoni, 1996: 37). So exemplos, noCdigo Civil: as despesas de conservao da coisa no condomnio geral (art.1.315); as contribuies devidas pelo condmino para despesas ordinriasde condomnio em edifcio (art .. 1.336, 1); as despe~as com a conservaodos limites entre dois Imveis (art. 1.297); a obrigao de Indenizar em razoda avulso (art. 1.251); a obrigao de Indenizao 'pela passagem forada(art. 1.285) ou pela passagem de cabos e tubulaes (art. 1.286).

    A doutrina tradi~lonalmente destaca como singularidade do direito dasobrig~e~ fato d(uidar de rel~~j!:!!iclJ,=~~~~mpqr!ias ou transitrias,;tlljac.satlsfaoJev---.extino.,-Qliandoa dvida adimplida, ela extlngUe-~se. ~os6 a dvida transitria, mas crajto'crreltivo~Atrnstorfedadeexiste at mesmo nas obrigaes de execuo duradoura, como 'nos contra-tos relaclonals e de prestaes de servios (p. ex., .planos .desade ou deprevidncia privada), nos quais cada prestao esgota e extingue o crdito ea dvida correspondentes. tEm contrar-artida, as relaes jurdicas de direito~.r~aLs~ria!!l~permanentes,.enquanto o aomnio ou.dlreito real limitado per-manecer sob o mesmo titular. Do mesmo modo, h relaes jurdicas perp-tuas, Irradiadas dos direitos da personalidade, que existem enquanto existiro titular, cujos efeitos persistem para' alm da morte..,Todavia, cresce a con-vico de que esse modo de ver as obrigaes insatisfatrio, porque justa-mente a caracterstica de serem constitudas pela prtica de um ato parasatisfazer a u,mi Interesse\medlante outra conduta (adimplemento) "revelanQapenas tratar-se de uma relao transitria, que se esgota com a realiza-d, do fim.programado, m'a~ de uma relao dinmica, a desdobrar-se nocur~o de um processo" (Aguiar Ir., 2604: 47). No trfico jurdico atual, hrela~s contratuais de natureza permanente e Interativa, como o plano desaqde, a previdncia privada, o seguro, a educao privada, o carto de cr-dito, que excepclonam a regra da transitoriedade.

    Diz Pontes de Miranda que ao se falar em direito das obrigaes j serestringe a tal. ponto o conceito. de. obrigao, j se pr-excluem obrigaesque no entram no quadro, como acima demonstramos, e de tal modo seprecisa0 conceito "que em verdade melhor terta sldo.que s obrigaes queso obJ~to do Direito das Obrigaes se houvesse dado outro nome" (1971,v. 22: 7); Emoutro volume do Tratado .dedireito prlvadb, ao concluir o .estudo

    26

    geral das obrigaes, diz que o que chamamos de teoria geral das obrigaes "teorllgeral das dvidas", porque h dvidas a que no correspondem obri-gaes, mas nem por isso deixam de ser dvidas. Assim, prope, ao final, queO melhor nome seria Teoria Geral das Dvidas e Obrigaes (1971, v. 26:281). Apesar de reconhecer a procedncia da crtica, curvamo-nos ao usollngustko que consagrou a expresso Teoria Geral das Obrigaes, abran-gente tanto de seu conceito geral quanto de seu conceito especfico. Mas aprpria teoria geral das obrigaes de direito privado questionada. Krl.Larenz, um dos mais influentes civilistas do sculo XX, na Alemanha, cujodireito marcado pela preferncia das partes gerais conceptuais, afirmouque a Justificao do direito das obrigaes descansa na possibilidade de umconceito estrutural uniforme das "relaes obrigacionais", mas que no res-ponde aos diferentes acontecimentos vitais, especialmente o trfico jurdicoe os danos Imputveis (1958: 13).

    As normas jlirdicas estabelecidas nos arts. 233 a 420 do Cdigo Civilaplicam-se a todas as relaes jurdicas obrigacionais, assim como s nego-ciais s extra negociaIs, de natureza civil ou empresarial, previstas no referi-do Cdigo ou na legislao especial. Tambm so,aplicveis s relaes con-tratuais de consumo, supletivamente, no que rio contrariem o 'princpioconstitucional de defesa do consumidor (art. 170, V.da CF). Pr shnplicida-de d~ exposio comum dizer relao contratual ou extracontratual. termoeste introduzido em 1985 no Cdigo Civil francs (,1ft.2270;1), para distin-guir as duas espcies de responsabilidades, mas os vocbulos negociai eextranegocial so mais adequados, pois abrangem as demais espcies denegcios jurdicos que no so contratuais (negcios jurdiCOSunilaterais eplurilaterais).

    O Cdigo Civil de 2002 deixou de fora as obrigaes que se encontramsob a proteo do direito do consumidor, que se constituiu como um dosgrandes ramos do direito privado atual, com primazia sobre as normas geraisdaquele. Dlr-se- que, por ser direito especial, deva ser regido por legislaoprpria. Todnva, o direito do consumidor regula as obrigaes contratuais ede responsabilidade civil mais comuns de cada cidado no seu cotidiano,para satisfao de suas necessidades corriqueiras de produtos e servioS.

    Diferentemente da duplicidade legislativa que prevaleceu no Brasil, asnormas de proteo do consumidor, de responsabilidade dos fornecedoresde produtos e servios e as que regulavam as condies gerais dos contratosforam Incorporadas ao Cdigo Civil da Alemanha (BGB), mediante reformasiniciadas em 2000, apontando para um direito civil geral e social para abraara proteo dos mais fracos, dos vulnerveis, dos consumidores (Marques eWehner, 2001: 270-7), e que culminaram com a Lei de Modernizao doDireito das Obrigaes, de 1D de janeiro de 2002. Essa lei foi considerada "amais importante reforma, do Cdigo Civil alemo desde que ele entroU emvigor em 1900" (Schulte~Nlke, 2003). Claus-Wilheim Canaris, igualmente,

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  • considerou-a a reforma "mais abrangente e substancial do Burgeliches Gesetz-buch", o Cdigo Civil alemo, excluindo-se a grande reforma do direito defamlia (2003: 3). Uma das relevantes mudanas diz respeito substituiodas tradicionais hipteses de violao contratual para a de violao do de-ver, alcanando no apenas o que as partes estipularam, mas conjunto dedeveres gerais que o sistema jurdico estabelece para cumprimento tanto dodevedor quanto do CTf~dor(veja-se a nova redao do ~ 241 do Cdigo Civilalemo, de largo alcance: "a relao obrigacional pc,de obrigar, conforme oseu contedo, qualquer parte com referncia aos direitos, aos bens jurdicose ao~ interes~:s da outr~"). O Cdigo Civil ~I~mo incorporou as diretivas fgeraIs da Umao Europela que regulam matenas essenciais das obrigaes "~'na atualidade, tais como os efeitos da publicidade e informao, a responsa- \ b~lidade civil pelo produto, os contratos negociados fora do local de celebra- ~ .....ao, o crdito ao consumidor, os pacotes de viagens e turismo, a segurana:'O geral dos Produt.os, as clusulas abusivas, os contrates distncia, a indica- .'-r- .o dos preos e as vendas de b~l)s de consumo. !

    O tratamento distinto das obrigaes negociais e extranegociais no m- '~bito do Cdigo de Defesa do Consumidor pode levar ao entendimento de se- .ter formado "um novo direito das obrigaes", no dizer de Jean Carbonnier, , ,tendo como originalidade, em contraste com a suposta igualdade tericaentre as pessoas, considerada pelo direito civil, a pressuposio da inferiori-dade de um dos contratantes. Mas sobretudo o direito do consumidor quetem empurrado, penetrado e modificado o direito civil obrigacional (2000:16), nos pases que mantm esse dualismo legislativo.

    2.2. CONCEITO E PRESSUPOSTOS DAS OBRIGACESObrigao a relao jurdica entre duas (ou mais) pessoas, em que

    uma delas (o credor) pode exigir da outra (o devedor) uma prestao. svezes, o credor pode ser reciprocamente devedor do Ot;tro, como ocorre comos-contratos bilaterais, a exemplo da compra e venda: o vendedor credordo comprador para gue este preste, pagando o preo; mas o compradC;F.;omesmo tempo credor do vendedor para que este preste, entregando a coisavendida. A obrigao em sentido amplo apresenta dupla face, sob a perspec-tiva patrimonial: um elemento ativo do patrimnio do credor e um elemen-to passivo do patrimnio do devedor (Weill e Terr, 1986: 4).

    geralmente admitido que a noo de obrigao, mais exatamente doestado de obrigado, apareceu a propsito dos atos ilcitos; a vtima de umdano tinha o direito, com a assistncia de seu cl, de exercer a vinganasobre o responsvel, limitado depois pela Lei de Talio (olho por olho, dentepor dente), mais adiante permitindo-se ao autor do dano propor uma com-posio (poena), que se converteu na composio legal. O estado de obriga-.do (ou devedor) em matria contratual nasceu muito tempo depois. No in-

    28

    cio do direito romano, o direito do credor sobre o obrigado era prximo dodireito do proprietrio sobre um escravo (da a expresso ob llgatus); apenasaps a lei PoeteUa Papiria (326 a.c.) o direito do credor sobre o devedor se-para-se do direito de propriedade, no permitindo maisVa execuo sobre ocomo e sim sobre seu patrimnio,

    O Cdigo Civil no define a obrigao, para estrem-la de outras figu-ras, F-lo o Cdigo Civil portugus, nestes termos: "art. 397. Obrigao ovnculo jurdico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com outra realizao de uma prestao". A referncia a vnculo concesso tradi-o do direito romano, mas discutvel sua funo prestante na atualidade,mxime quando a obrigao concebida como processo, como movimentodinmico, que rompe a ideia de ligadura esttica entre sujeitos.

    Ao direito corresponde o dever, que tem por objeto a prestao. Quan-do o ~ireito pode ser exercido, tem-se a pretenso do, credor, a que corres-ponde a obrigao do devedor (no sentido estrito e preciso do termo) de fa-

    ~ zer, de no fazer ou de dar, As obrigaes de dar compreendem as obrigaesde entregar ou restituir posse, propriedade ou outro direito.

    O conceit() de pretenso, como exerccio da exigibilidade de um direito, determinante e central para a compreenso da obrigao moderna. Sempretenso pode haver dever ou dvida. mas no obrigao em sentido estrito.Para Jan Schapp, a pretenso moderna deriva da acUo do direito romano, apartir da qual Windscheid, em 1856, em obra famosa, desenvolveu o concei-to de pretenso, tal como n~ o conhecemos hoje. "Isso resultou ento, embreve, na diferenciao entre pretenso de direito material e de direito pro-cessual" (2004: 50).

    Com efeito, podemos afirmar que os romanos no conheceram nemdesenvolveram o conceito de direito subjetivo, porque no concebiam o in-divduo isolado, 'mas como parte do todo comunitrio, e por isso um interes-se pessoal apenas era juridicamente tutelado se o magistrado lhe atribusseuma actio. Os modernos, a partir da ideia de autonomia IndividuaI, estrutu-raram o direito subjetivo, como direito de cada indivduo assegurado pelodireito objetivo, tendo como contrapartida o dever jurdico correspondentede outro indivduo, para cujo descumprimento ou inobservncia agregaramo conceito romano de actio, surgindo ento a chamada pretenso de direitomaterial.

    Obrigao,' no sentido estrito e preciso do termo, apenas o dever ou a, dvida que podem ser exigidos pelo credor. P.ode haver dvidas que ainda~o sejam exigveis, no se convertendo em obrigaes, porque no surgiu a

    - pretenso. Diz Marcos Bernardes de Mello quea pretenso "constitui o graude exigibtltdade do dtreito (subjetivo) e a obrigao de submisso ao adimple-mento" (2004: 183). Tenha-se o exemplo de negcio jurdico cuja execuoesteja dependente de termo inicial fixado pelas partes: h direito e dever .

    29

    ..

  • mas no h, ainda, pretenso e a respectiva obrigao. Nesse sentido, eX-cluem-se do conceito de obrigao as obrigaes que esto fora do direitodas obrigaes e evitam-se as confuses com o conceito de dvida.

    - O ?bjeto d obrigao a prestao, e o objeto da prestao sempre-uma aao ou omisso do devedor: um fazer em sentido amplo (Inclusive dar)ou um no fazer (absteno) que se prometeu. Ainda quando' se fal emobrigao de dar, o objeto da prestao no a coisa em Si,mas um fazer, ou~eja, um dar a coisa devida. A coisa em si no devida; devido o dar. Importante que se ressalte que nenhuma coisa entra diretamente no mundojurdico como objeto de obrigao.

    Esses so conceitos fundamentais, sublinhdos constantemente porPontes de Miranda, ao longo de sua obra, diferentemente 'da doutrina tradi-cional, onde se enconttm embaralhados. "Os trs ~ntldos de 'obrigao'continuaram na terminologia jurdica, a despeito de se haverem precisado osc~nceitos de_dever (dvl~a).e de obrigao e de se terem apontado as obriga-oes que estao fora do direito das obrigaes" (1971, v. 22: 13).

    2.3. DISTINCO ENTRE DVIDA E OBRIGACO_ 'No se pode' confundir dvida (dever) com obrigao, porque a primei-ra antecede e gera a segunda. Na relao jurdica obrigacional, no h obri-gao sem dvida. Nem sempre a obrigao ocorre simultaneamente com advida. Q.\@njlende vlst~l- tem o dever eA o..bJj~~r (entregara coisa). fu;..algum.s~ obrigplJ)!~ntregaL;aTo,utrern.llmi....Q!~_.Aois-dJ.as,.de-Jlois.,,;.j-exi~leQdlJ.:-eiJo_{crdito~-e.o~dever.(dMidaJ,.mas.no.ainQa~1'Teten-~

  • -i.. lII:i:

    111

    mento de atividades nocivas. No mesmo sentido, o CPC estabelece que, geo devedor no cumprir a obrigao assumida de concluir um contrato, ocredor pode obter uma sentena que produza o mesmo resultado do contra-to que deveria ter sido firmado, ou todos os efeitos da declarao no emiti-da, inclusive para fins de registro pblico. H, ainda, as astrelntes, ou seja,as multas cominatrias impostas pelo juiz para coagir o devedor a cumpriras obrigaes assumIdas, na forma da legislao processual. Exemplo deexecuo especfica o do contrato preliminar (art. 464 do Cdigo Civil),que tem por finalidade a realizao do contrato definitivo (o tipo mais co-mum a promessa de compra e venda), cujo inadimplemento permitir queo interessado requeira ao juiz o suprimento da vontade da parte inadimplen-te, mediante sentena que conferir carter definitivo ao contrato preliminar.

    At mesmo na nica hiptese de Ptiso..cj~admltlda em nosso direi-to, ou seja, a do inadimplemento voluotrio e inescusvel do ~ed,or dealimcutQs.,..uo_se:P.ode dizer ~E.essoa do..de~e.dJ:)J..._obJ,e.to_,.gp.riga-

    _o,ROis- ..Wiso at lli!geL~JQtm_d~~Qns.trj~.c:;~rl_gA.s~~,!tjo.Quan-to ao depositrio infiel, aps o incio de vigncia da Conveno Americanade Direitos Humanos (Pacto de So Jos da Costa Rica), adotada formal-mente pelo Brasil, cujo art. 7 apenas admite a priso de inadimplente deobrigao alimentar, o STF editou a Smula Vinculante 25 ..estabelecendoque " ilcita a priso civil do depositrio infiel, qualquer que seja a moda-lidade do depsito".

    Decidiu o STJ (REsp 13.416-0) ser da ndole do sistema jurdico brasi-leiro que, inviabilizada a execUo especfica, esta se converta em execuopor quantia certa, respondendo o devedor por perdas e danos, observadasas limitaes pena pecuniria pelo no cumprimento, ou seja, at ao valormximo da obrigao principal, podendo o juiz reduzi-Ia a propores razo-veis, para que no sirva de justificativa ao enriquecimento sem causa.

    2.5. DVIDA E RESPONSABILIDADEUma das mais importantes distines do direito das obrlgaes a que

    estrema a dvida da responsabilidade, de tal sorte que o devedor, pela obri-gao, pode responder com seu patrimnio ou parte dele. a teoria dualist!..,.da obrigao. Deve-se sua sistematizao doutrina alem anterior ao res-pectivo Cdigo Civil, tendo sido difundidos os termos origlntlrlos de Schulde Ha(tung, o primeiro consistindo no dever de prestar ou de observar deter-minado comportamento, e o segundo, na responsabilidade do patrimnio dodevedor como garantia pelo inadimplemento, ou sejq:,de um estado de sub-misso de uma ou mais coisas. Diz Larenz (1958: 34) que necessrio dis-tinguir conceptualmente a responsabilidade da dvida, do dever de prestar,"mas aquela segue esta como a sombra ao corpo", de tal sorte que a "respon-sabilidade" que acompanha a "dvida" transmite a esta uma espcie de gra-

    32

    vitao. Outros autores utilizam os ter~os latin~s de..bitum e obl!g~i?, comos mesmos significados da teoria dualista (em mgles: duty e lrabzllty; emfrancs: devoir e engagemenO.

    A doutrina controverte acerca da natureza da responsabilidade patri-monial. forte o entendimento de tratar-se de garantia. H quem sustente.que se trataria de um direito real de garantia, semelhante.aoAP~nhor, que noIncidiria sobre bens determinados, mas sobre todo patnmomo do devedor,como uma universa:idade (Varela, 1986: 138), o que nos parece desarrazo-ado. No h necessidade de se recorrer ao direito real para situar essa espe-cfica garantia, que se irradia da obrigao, como parte integrante dela.

    O dbito ou dever o correlativo do direito do credor. No basta, toda-via, Identificar o dbito e o devedor. A evoluo do direito dos povos, espe-cialmente no mbito do sistema jurdico romano-germnico, encaminhou-seno sentido de des.tacara responsabilidade da pessoa par~ com o patrimniodo devedor. No antigo direito romano, no caso de Inadimplemento, o credorpoderia deter o devedor como escravo e at vend-lo; da surgiu q .noo devnculo (obligatio) do devedor, que at ns chegou, como submisso von-tade e ao poder do credor. Na atualidade, a relao de crdito e dbito -p-essoalj diz respeito s pessoas dos res12ectivos titulares. Cont.udo, a respon-

    , sabilidade no pessoal, no sentido de responder com a liberdade. mas, . patrimonial; a afet,,!-.o de seu patrimnio, que pode ser objeto de penhora

    determinada pelo juiz, para satisfao da dvida. Em putras palavras, o pa-trimnio do devedor responde pela dvida. A responsabilidade patrimonialalc.ana, em princpio, todo o patrimnio (bens mveis e imveis, proprieda-de intelectual, crditos, ttulos de crdito, aes e quotas de empresas, quotacondominial, aplicaes financeiras, saldos bancrios etc.), salvo os bensimpenhorveis e os que correspondem ao chamado patrimnio mnimo ne-cessrio existncia da pessoa. A responsabilidade pode ser limitada, ex-cepcionalmente, quando o devedor oferecer determinado bem como garan-tia de hipoteca, penhor ou anticrese, ou quando a lei assim estabelecer.Exemplo de responsabilidade li1T!itada legal a do herdeiro, pois ape~as

    , responde pelas dvidas do falecido at o limite das "fo~as d beran~ill', Isto, dos bens que efetivamente recebeu na partilha. .

    Esclarea-se que no h vnculo do credor com o patrimnio do deve-dor. "vnculo s h e::1trepessoas", diz Pontes de Miranda (1971, v. 22: 23).Qur,tndo se fala'de responsabilidade do patrimnio (Ha(tung ou obligatio)no significa que este sujeito passivo na relao jurdica, mas que o Estadopode retirar dele o quanto baste para a satisfao da dvida.

    A concepo de responsabilidade desenvolvida na linguagem jurdica,a partir do direito romano, eminentemente extrnseca ao home":" cor;; osentido muito prxiI:no ao de "responder". Segundo Edgar Bode~he~mer, osromanos, que eram um povo jurista, usavam respondere em pnmelra acep-

    33

    ~

    ;.411------------~

  • o com um sentido jurdico. O demandado, ou seu representante no tribu-nal, 'responderiam' a uma demanda apresentada contra si, interpondo ra-zes e alegaes destinadas a fazer frente s pretenses do demandante ejustificar sua prpria conduta. Se o tribunal considerasse que as razes alegaes no.eram satisfatrias, sblicitava-se ao demandado que contestas-se a demanda em uma forma diferente e no verbal: pedia-se-Ihe, possivel-mente, para 'responder' aos danos por descumprimento do contrato, ou de-volver certos bens adquiridos Ilicitamente por ele" (1972: 435).

    A equivalncia entre dbito e responsabilidde no automtica. poiso patrimnio disponvel ou penhorvel pode no ser suficiente para respon-der ao montante da dvida, reduzindo-se ro orcionalmente a arantia es e-

    - rada pelo credor. . s vezes h patrimnio do devedor, mas Insuscetvel dapenhora determinada pelo juiZ, comprometendo aXecuo forada. A leiexclui determinados bens, no podendo ser objeto de execuo forada oupenhora. o caso do imvel utilizado como residncia da familla, que nopod~ Jesponder por qualquer dvida contrada pelos pais, filhos ou outraspessos que nele residam (Lei n. 8.009/90), inclusive se for alugado a ou-trem, como tem entendido o STJ (REsp 574.050).

    No totalmente correto afirmar que a responsabilidade surge, apenas,quando se manifesta adimplemento insatisfatrio ou recusa de adimplir. Emtal caso, pode o credor prejudicado pr em atividade um dos dois elementosque formam a obrigao: o dbito ou a responsabilidade (Silva, 1997: 100).Em outras palavras, J20de exigir ou o adimplemento (dbito) ou perdas.-edanos (responsabllidadel. .

    Por outro lado, em determinadas obrigaes. a responsabilidade patri-. monial desloca-se da pessoa do devedor, quando este no consideradocivilmente Imputvel. A responsabilidade transfere-se para o patrimnio deoutra pessoa (o imputvel). Assim ocorre com a responsabilidade transubje-tlva (ou por fato de outrem) de que trata o art. 932 do Cdigo Civil, Imputan-do,-se a responsabilidade aos pais pelos filhos menores, ao tutor ou curadorpor seus pupll0s e curatelados, ao empregador por seus empregados, aoshotis por seus hspedes ou moradores. Nesses casos'h responsabilidadesem dvida.

    Mediante conveno das partes, pode ocorrer que-a-responsabilidadepatrimonial, na execuo forada, seja de terceiro. patrimnio de tercejroresponde no lugar do patrimnio do devedor. So exemplos a responsabili-dade do fIador pela dvida do devedor afian-do e as hipteses de terceirosque garantiram com seus bens dvidas que no eram suas, mediante hipote-ca, penhor e anticrese. Tambm nesses casos h responsabilidade dissocia-da da dvida.

    V-se que:"o-dualismo - dbito e responsabilidade - no pode ser- encarado de modo absoluto. Orlando Gomes adverte que, em princpio, h

    34

    i'.

    coincidncia entre dbito e responsabilidade, sendo est consequncia da.quele, mas h situaes nas quais a decomposio se impe, ou inexistecoexistncia dos dois elementos. Assim: a) um s dbito pode correspondera uma pluralidade de responsabilidades, e a sujeio do tesponsveilimita--se, em alguns casos, a parte de seu patrimnio; b) h dbito sem responsa-bilidade, na obrigao natural; c) h responsabilidade sem dbito prprionas' garnlias reais; como penhor e hipoteca, oferecidas por terceiro; d) nafiana o fiador responsvel, sem dbito atual, nascendo a responsabilidadeantes do dbito; e) na obrigao imperfeita, garantida por terceiro, h dbitosem responsabilidade prpria (1998: 12).

    -A relao da responsabilidade patrimonial com a dvida no significa- total segurana para o credor, pois o patrimnio composto de elementosdiversoS e Instvels"que podem variar entre o advento da dvida e sua exigi-bilidade; pode, tambm, ser insufiCiente no momento da exigibilidade dadvida ou da execuo forada, compelindo-o a ficar em expectativa deeventual incremento, dentro do prazo prescricional geral de dez anos (art.205 do Cdigo Civill. A responsabilidade patrimonial depende de outras cir-cunstncias, como, por exemplo, ,a dvida exigvel de outros credores domesmo devedor, ou a insolvncia deste (art. 955 do Cdigo Civil). Apenas agarantia real (penhor, hipoteca ou anticrese) torna privilegiado o respectivocrdito sobre bens determinados do devedor (responsabilidade patrimonialespecial), com precedncia sobre os credores comuns (sem privilgio).

    Advirta-se que -a-resp0l)sabilidade patrimonial no imprescindvelpara caracterizar-se a obrigao. Como veremos, as obrigaes naturais so

    ...juridicamente existentes. porque h crdito e dbito, mas so destitudas..de( pretenso, ou seja, so inexigveis. Mas. se a prestao for adimplida o cr .. dito ser sntisfeito. A Inexigibilidade da obrigao torna. igualmente. inexig-vel a responsabilidade patrimonial.

    2.6. O PAPEL DA CAUSA NAS OBRIGACESEm princpio, todas as obrigaes tm uma causa, entendida como fim

    ou funo econmico-social. H obrigaes, no entanto, em que a causa abstrada, como. por exemplo, nos ttulos de crdito; no importa de quemodo o t1tulo foi obtido pelo portador ou pelo titular e para que fim. Na liode Jacques Ghestln:-aTcausa o porqu da obrigao, aquilo que a explica;podeser entendida em dois significados distil)tos, o primeiro con@ausaeficiente, isto , como fato gerador da obrhm~; o segundo - o que estamosadotando - co~ausa final, isto , o fim perseguido pelos que se vinculam(1993: 819). ~

    A doutrina jurdica b~ileira, tradicionalmente, sempre foi avessa causa, por entend-la desnecessria e sem consistncia prtica, desconside-rando, sem razo, a distino entre obrigaes causais e abstratas. Para Tor-

    35

  • quato Castro, todavia, a causa nunca foi excluda do direito brasileiro e cor-responde ao conceito de causa (inal, da filosofia aristotlica, no podendoser confundida com motivos, nem com os propsitos psico:gicos dos agen-tes; em outras palavras, a.causa " a (uno que o ato jundico tende a reali-zar. Ela de s~r vista no ato; ela o elemento do ato que lhe garante a indi-vidualidade",-E a funo til do negcio, o escopo prtico e econmico, quepermite a nominao legal dos contratos, sendo todos estes causais (I 966:37). No h, no Cdigo Civil brasileiro. regra semelhante existente no C-digo Civil francs, que estabelece ser invlida a conveno que no exprimaa causa. No direito de common law, o contrato. para sua validade, dependede estar perfeitamente configurada a considcration, que se aproxima muitoda causa, do direito continental europeu; sua difcil caracterizao para umjurista de tradio romano-germnica pode ser reduzida a,;),significado de"preo pago pela promessa", em retorno por-alguma coisa. o que leva a qua-lificar as promessas gratuitas como de natureza distinta do contrato (Shabere Rohwer, 1984: 66). :

    A entrega de um bem poder ter causas diversas, o que identificar onegcio jurdico querido pelos figurantes: doar, vender, emprestar, permutarpor outro. Mas o negcio jurdico pode j nascer abstrato; como referido, aemisso da letra de cmbio destituda de qualquer causa.

    Nos negcios causais, diz Antnio Junqueira de Azevedo, a inexistn-{cia de causa pressuposta acarretar nulidade por falta de causa (portanto, aexistncia da causa , a, requisito de validade) e, quando a hiptese for deC,lusa final, ineficcia superveniente (portanto, a existncia da causa , a,fator de permanncia da eficcia), "Em ambos os casos, o ?apel da causaser de proteo parte, que se fiou na existncia (pass

  • :::~'~.,h' ,ij!::[:.:l trina tem maior Incidncia nas prestaes de servios dos profissionais libe-li::,) ~ ..ra1.s... principalmente da atividade mdica, que seria essencialmente obriga--fre' o de meio, exceto a do cirurgio plstico. Qualificada como ,obrigao de" U, 1,~~ resultad~: Na primeira hlp6tese, o mdico seria responsve~ pela correo e~1,'" ~ adequaao dos melas tcnicos que. empregou. independentemente de teri!~~i .alcanada a cura do paciente; na segunda, seria civilmente responsvel pe-J ' los danos que a cirurgia causasse ao paciente, por no ter alcanado o resul-.

    tado esttico por este pretendido. Os reflexos dessa doutrina so fortes najurisprudncia brasileira: "segundo doutrina dominante, a rela~o entre m-dico e paciente contratual e encerr~. de modo geral (salvo cirurgias plsti-cas emhclezadoras). obrigao de ineio e no de resultado. Em razo disso,no caso de danos e sequelas porventura decorrentes da ao do mdico.jmp.resclndvel se apresenta a demonstrao de c~lpa do profissional (...)"(ST], REsp 196.306). Todavia. diferentemente da experincia francesa .no

    (se tem aplicado a presuno de c!llpa, Impondo-se vitima-credora todo O---..Resoda carga probat6rla.

    Tal distino das obrigaes no mais se sustenta, pois contradiz umdos principais fatores de transfermao da responsabllidade civil, ou seja, aprimazia do interesse da vtima. Por outro lado. estabelece uma Inaceitveldesigualdade na distribuio da carga da prova entre as duas espcies:...naobrlga,o de meio, a vtima no apenas tem de provar os requisitos da res-ponsabilidade civil para a re12araco (dano. fato causador, nexo de causali-dade, imputabilidade). m~~ue o meio empregado foi tecnicamente inade-Quado ou sem a diligncia requerida.

  • A exigncia vtima de provar que a obrigao foi dc resultado, emhipteses estreitas, constitui o que a doutrina denomina prova diablica. Asobrevivncia dessa dicotomia, por outro lado, flagrant~mente incompat-vel com o prinCpio constitucional de defesa do conlnitante consumidor (art.170, V,da Constituio), alado a condicionante de quakluer atividade eco-nmica, em que se insere a prestao de servios dos profissionais liberais.

    Somente possvel harmonizar a natureza de rcsponsabilidade subjeti-va ou culposa do profissional liberal, que o prprio Cdigo de Defesa doConsumidor consagrou, com o princpio constitucional d~ defesa do consu-midor, se houver aplicao de dois princpios de regncia dessas situaes,a saber: a presuno da culpa e a consequente Inverso do nus da prova.Ao profissional liberal, e no ao cliente, impe-se o nus de provar que noagiu com dolo ou culpa, na realizao do servio que prestou, exonerando--se da responsabilidade pelo dano.

    No mesmo sentido, veja-se a lio de Jorge Mossel Iturraspe (1998,passim), para quem essa distino no favorece a tutela do consumidor deservios e sempre foi L1tili]:adana doutrina e na jurisprudncia para ampararos prestadores de servios, atenuando o rigor de suas obrigaes, construin-do um mbito de inadimplemento contratual admilido. Diz ainda o autorque a qualificao das obrigaes como de meio desvincula o dever do de-vedor do compromisso de alcanm um rcsultado de inter~sse do credor, ju-ridicamente protegido, ou seja, o de lograr um resullado benfico. "a tutelado consumidor se refora, na medida em que se considera cada serviocomo um resultado e uma finalidade em si mesmo, quc responde ao interes-se do credor, e na medida em que a prova sobre a impossibilidade ou alea-toriedade deve produzi-la o devedor do servio, pois do contrrio ser con-siderado como inadimplente responsvel".

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    FONTES DAS OBRIGACES

    Sumrio: 3.1. Classificao das fontes. 3.1.1., A antiga classificao qua-drlpartlda das fontes. 3.1.2. A classificao das obrigaes adotada peloCdigoCivilbrasileiro. 3.2. Nossa posio.

    3.1. CLASSIFICACODAS FONTESA classificao das fontes das obrigaes, cuja controvrsia doutrinria

    sempre a caracterizou, mais enunciativaou didtica,' porque todas as obri-gaes so efeitos de fatos jurdicos. Quando os fatos naturais ou humanosconvertem-se em fatos jurdicos, porque houve uma norma que previu hi-poteticamente seus elementos e que incidiu sobre eles, provocando necessa-riamente efeitos, tais como direitos e deveres, pretenses e obrigaes.

    Tradicionalmente, a doutrina indica como fontes - Imediatas ou me-dlatas - as principais espcies de fatos jurdicos, na ordem de importnciadas ocorrncias prticas da vida, ou acontecimentos vitais merecedores deordenao, a saber: .

    a) contra~os (obrigaes contratuais);b) atos ilcitos (obrigaes extracontratuais);c) atosnilaterais (obrigaes unilaterais).Na doutrina brasileira reina grande divergncia sobre o que se entende

    por fontes das obrigaes, que seriam: ala vontade humana e a lei (Orozill)-bo Nonato, Caio Mrio da Silva Pereira, Maria Helena Diniz, lvaro VillaaAzevedo); b) alei como fonte imediata e vontade humana e ilcito comofontes mediatas(Silvlo Rodrigues, Slvio de Salvo Venosa, Pablp Stolze Ga-gliano e Rodolfo Pamplona Filho, Carlos Roberto Gonalves); ) os contra-tos, as declaraes unilaterais de vontade, os atos Ilcitos e critrinais e a lei(Paulo Nader); d) o ordenamento jurdico (Arnaldo Rizzardo);: e) os fatosjurdicos e a lei (Rubens Limongi Frana); O os fa.tos jurdicos (PO\1tes deMiranda, Marcos Bernardes de Mello, Fernando Noronha).

    A mais sedutora das classificaes das fontes, por sua simplicidade, avontade humana e a lei, a,mais controvertida. Como diz Orlando Gomes,quando se indaga a fonte de uma obrigao procura-se conhecer o fato jur-dico ao qual a lei atribui efeito de suscit-la; que entre a lei, esquema gerale abstrato, e a obrigao, relao singular entre pessoa, medeia sempre um

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  • fato, considerado idneo pelo ordenamento jurdico para determinar o deverde prestar (1998: 25).

    O contrato uma espcie de negcio jurdico, mas no a nica. Hneg6cios jurdicos que no so contratos, como os negcios juridlcos unila-terais (p. ex., a promessa de recompensa, arts. 854 a 860 do C6dlgo.clvll; a 'oferta para contratar, enquanto no houver aceitao da outra parte, art..427; os ttulos de crdito; o assentimento a ato de outrem) e at mesmo ne-gcios jurdicos bilaterais no contratuais, a exemplo do acordo de transmis-so da propriedade, que se integra ao contrato de compra e venda de Imvel,e que se perfaz com o registro pblico. E h obrigaes nascidas de outrostipos de fatos jurdicos no negociais. A lei no fonte direta das obrigaesno convencionais, pois est presente em todas elas, quando Incide n'o su-porte ftico concreto e faz irradiar entre os efeitos as obrigaes, assim queos deveres possam ser exigveis pelo credor.

    Os contratos (espcies de negcios jurdicos, que por sua vez so esp-cies de atos jurdicos, que por sua vez so espcies de fatos jurdicos), emtodas as pocas, exerceram importantes funes de relao entre s homens.Foram concebidos na prtica cotidiana, de acordo com as necessidades ecomplexidades das relaes econmicas e sociais. Na atualidade, os contra-tos dificilmente partem de um ncleo comum. Uma grande dicotomia seformou, no que respeita ao contedo, substituindo a classificao tradicio-nal dos contratos de direito privado em contratos civis e comerciais, porcontratos comuns e de consumo, com caractersticas e finalidades distintas.Quanto forma, os contratos ou so paritrios ou so no paritrios (contra-tos de adeso a condies gerais, contratos massificados, contratos de con-sumo, contratos condicionados proteo do contratante vulnervel, con-tratos eletrnicos); nos primeiros, a vontade Individual declarada e oconsentimento desempenham papel criador, nos segundos relevante ocontrole do poder negociai dominante ou a vontade substituda pela con-dutainegocial tpica.

    Como diz, Larenz (1958: 14), o significado vital dos contratos muitodiferente, porque h contratos, como a locao de im6vels urbanos, que aomenos para uma das partes pode ter importncia vital, enquanto outros sfunqamentam uma relao fugaz entre os Interessados e no afetam interes-se algum de importncia existencial. Nos primeiros por-se-ia de manifesto a"misso social do direito privado", a saber, estabelecer condies e ditarnormas que faam possvel um equilbrio razovel das foras sociais e dosInteresses humanos, tomando em considerao a necessidade de proteodos economicamente dbeis. Em verdade, dizemos n6s, dos juridicamentevulnerveis, que eventualmente podem no ser os economicamente dbeisou hipossuflclentes, pois tudo depende do poder contratual dominante e dasituao de sujeio do contratante vulnervel, como ocorre com os contra-tos de consumo e de adeso.

    42

    No ato IIkito, a relao jurdica obrigacional surge sem conveno docredor ou do devedor, em virtude de ofensa culposa a direito alheio. O atoilielto (art. 186 do Cdigo Civil) Insuficiente para abranger toda a gama dedanos Imputveis, pois o direito distanciou-se do subjetllqismo individualis-ta, qu marcou o desenvolvimento da responsabilidade civil, para absorveros Imperativos de solidariedade social (art. 3, I, da Constituio) e imputarresponsabilidade pelos danos oriundos de situaes ou fatos objetivos, sejapelos riscos criados, seja pela atividade desenvolvida, i~dependentementede sua licitude ou ilicitude. Nem todo dano gera imputaao de responsabili-dade a algum, mas a trajetria do direito na direo de realizao damxima reparao dos danos; em outras palavras, a cada dano deve corres-ponder uma reparao, ainda que o fato que o causou seja lcito, como se vno amplo enunciado do art. 931 do Cdigo Civil: .... os empresrios indivi-duais e as empresas respondem Independentemente de culpa pelos danoscausados pelos produtos postos em cirulao". Imputvel quem respondepelo dano (devedor), que pode ser quem no o causou, por exemplo, os paispelos filhos menores, o empregador por seu empregado. Da dizer-se danoImputvel.

    Alm dos contratos e dos danos imputveis, cogitam-se de obrigaesoriundas de atos jurdicos u.nilaterais (promessas unilaterais, outros neg-cios jurdicos unilaterais, pagamento indevido, enriquecimento sem causa).

    H, ainda, situaes jurdicas derivadas do moderno trfico em massaque dispensam as manifestaes de vontade negociaI, mas que produzemefeitos obrigacionais semelhantes aos atribudos ao negcio jurdico. Socondutas negociais tpicas s quais o direito imputa consequncias prpriasdos neg6cios jurdicos, distanciando-se dos requisitos de existncia, valida-de e eficcia destes e que esto previstos na Parte Geral do Cdigo Civil. Amassificao negociai fruto da massificao social, que se aguou I partirda segunda metade do sculo XX, com a urbanizao avassaladora e a ofer-ta Impessoallzada de produtos e servios, a exemplo dos transportes pbli-cos urbanos e dos grandes centros de compras. Nesses casos, as pessoasrealizam suas necessidades vitais, Inclusive os menores e os demais civil-mente incapazes, sem lhes poder ser aplicveis os requisitos de validade donegcio jurdico, previstos no art. 104 do Cdigo Civil (agente capaz, objetolcito, possvel e determinado e forma prevista ou no defesa em lei). As con-dutas e no as manifestaes de vontade so suficientes, prevalecendo atmesmo quando as segundas foram contrrias aos efeitos negociais objetiva-mente imputveis (se entrar no nibus, ainda que por engano quanto aodestino, ter de pagar a tarifa, no podendo alegar anulao por erro; se omenor absolutamente incapaz, s vezes por conta prpria, ofertar publica-mente na rua produtos ou servios, no se poder alegar nulidade).

    A doutrina cogitou das relaes contratuais de fato, em virtude da faltade conscincia da declarao de vontade ou mesmo de sua desnecessidade;

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  • no caso do transporte coletivo, ter-se-ia uma relao jurdica obrigacionalno porque o usurio teria querido ou declarado~ mas porque. de acordocom os pontos de vista gerais do trfico jurdico, sua conduta estaria unidaa essa consequncia. Larenz (1978: 734) atenuou os excessos dessa teoriaaproximando-a do regime contratual comum; a inexistncia do consenti-mento seria compensada pela imputao de efeitos semelhantes s "condu-tas soclalmente tpicas". Exemplo de repercusso favorvel dessa doutrinana jurisprudncia brasileira a Smula 130 do ST], cujo enunciado estabe-lece que "a empresa responde, perante o cliente, pela reparao de dano oufurto de veculo ocorridos em seu estacionamento". No se trata a de rela-o contratual presumida ou implcita de depsito de coisas, mas de inci-dncia de dever autnomo de prestao de seguran~l e reparao derivadode conduta negociai tpica, independentemente' da vontade da empresa(loja, supermercado, shopping center) ou do detentor do vcculo. O STJ avan-ou no sentido de imputar responsabilidade at mesmo a rgos pblicos, aexemplo dos estacionamentos de universidades pblicas (REsp 615.282),ainda que no haja relao de consumo de servio, pc la allsncla de remu-nerao atual ou potencial, requisito exigido pelo S 2 do art. 311 do CDe. Emsoluo muito prxima, Pontes de Miranda entende que h "dever de cust-dia que no deriva da relao jurdica de depsito, mas sim da lei ou dascircunstncias" - nas quais podemos incluir a conduta negociai tpica _ eque, em todas essas espcies, relao jurdica existente cOl'rcsponde o deverde prestao, "dentro do qual se incrustra o de custodim" (1972, v, 42: 328).

    3.1.1. A antiga classificao quadripartida das fontes

    Os romanos referiam-se aos contratos, aos quase contratos, aos delitose aos quase delitos, mas essa classificao deixou de contar com o apoio dadoutrina atual. Assim est em conhecido trecho do Lvro Terceiro das Insti-tuies de Justiniano (13, 2), aps estabelecer a principal diviso das obriga-es em civis (estabelecidas pelas leis) e pretorianas ;)u honorrias (consti-tudas pelo magistrado em virtude de sua jurisdio): "outra diviso asclassifica em quatro espcies, segundo nascem de contrato, ou .como de umcontrato (quase contrato), de um delito, ou como de um delito (quase deli-to)" (1979: 171). Todavia, Gaio, em suas Institutas; ~scritas no sculo II de-pois de Cristo, refere-se apenas ao contrato e ao delito (III, 88). O delito o.campo atual da responsabilidade civil extranegocial e o quase delito danoque no foi causado pela prpria pessoa que assume a responsabilidade,exemplificando Justiniano (Livro Quarto, 5) com o juiz que fez sua a lide,com o habitante de uma casa de onde foi derrubada ou derramada algumacoisa, com as coisas derrubadas ou cadas de habitao de filho de famlia,com o mestre de navio, o estalajadeiro, e o estabulrio, pelos danos causa-dos por pessoas a seu servio.

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    O Cdigo Civil francs repercutiu essa tradio, tendo permanecido in-tacta ao longo dos dois sculos de sua vigncia, com influncia na legislaode outros povos. Com efeito, o Ttulo III do Livro III (Das diferentes manei-ras de aquisio da propriedade) destina-se aos "contr,atos ou obrigaesconvencionais em geral" enquanto o Ttulb IV do mesmo Livro volta-se sobrigaes "que se formam sem conveno", a saber, os quase contratos, osdelitos (responsabilidade civil) e os quase delitos. O art. 1.371 consideraquase contratos "os fatos puramente v~lunt~rios do homem, que !esulta~em vnculo com terceiro por alguma razao, e as vezes em compromisso recI-proco entre as duas partes", incluindo-se o enriquecimento sem causa, opagamento indevido e a gesto de negciOS alheios. Enquadra-se como qua-se delito (art. 1.383) a responsabilidade civil decorrente de danos causadospor negligncia ou imprudncia, sem carter intenc,ional.

    Impressiona como o Cdigo Civil francs, a mais influente codificao .civil do mundo moderno. mantenha at hoje essa classificao das fontes,apenas explicyel pelo forte trao individualista que o marcou. Para muitos,a noo de quase contrato historicamente falsa, Irracional e intil (Carbon-nier. 2000: 527). Forte em Emilio Betti, Antunes Varela (1'986:210) acreditaque, no fundo. a ideia que explica, seno a formao da categoria dos quasecontratos, pelo menos a persistncia dela ao longo dos sculos, " o chama-do dogma da vontade. traduzido na preocupao individualista de recondu-zir todas as obrigaes fora criadora da vontade dos cidados e na relu-tncia em aceitar que elas possam nascer, por imperativo legal, das exignciasda solidariedade social e das relaes de cooperao entre os homens".

    3.1.2. A classificao das obrigaes adotada pelo Cdigo Civilbrasileiro

    O Cdigo Civil no explcita o que considera fontes das obrigaes, nolivro prprio (arts. 233 a 420), optando por disciplinar diretamente as moda-lidades (obrigaes de dar, de fazer, de no fazer. alternativas, divisveis,solidrias).que no so. propriamente. espcies de fontes, mas modos deser das variadas obrigaes. O CdigQ Civil italiano de 1942, e os que por eleforam influenciados, destinou um captulo introdutrio ao lvro Das Obriga-es, definindo explicitamente as fontes das obrigaes (contrato, fato ilcitoe outros eventos Indicados pelo ordenamento), o carter patrimonial da obri-gao e o princpio da boa-f~. objetiva (regale della corretezza). Igualmente,os Cdigos Civis que lhe sucederam tendem a defini-Ias. Cdi~o portugus(I966): contratos. negcios unilaterais, gesto de negcios, enriquecimentosem causa e responsabilidade civil. Cdigo peruano (I 984): c'1~tratos, ges-to de negcios. enrlquechnento sem causa. promessa unilatera,1ie responsa-bilidade extracoptratual. Cdigo Paraguaio (I987): contratost promessasunilaterais. gesto de negcios alheios, eJiriqueclmento sem causa, paga-

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  • i;,(

    mento indevido, responsabilidade civil. Cdigo de Qubec (l994): contratose todos os atos ou fatos a que a lei atribua efeitos de obrigao.

    No Livro I da Parte Espec~al (arts. 421 a 965), o Cdigo Civil brasileiroregula determinadas.obrigaes, a saber, o contrato, a responsabilidade civil ,por danos imputveis (doravante, por convenincia didtica, apenas deno-minada responsabllldade civl1), os atos unilaterais e os ttulos de crdito ..No so fontes, mas espcies ou tipos abertos 'de obrigaes. Outras esp-cies podem ser consideradas, desde que se enquadrem nas modalidadesgerais. Por outro lado, o Livro III da Parte Geral do Cdigo Civil (arts. 104 a232), desUnado aos fatos jurdicos, fornece os requisitos mais gerais de iden-tificao das obrigaes .civis.

    As espcies de contratos previstas no Cdigo Civil no esgotam a am-pla possibilidade criativa de outras, pelas partes contratantes, em virtude doprincpio do autorregrmento da vontade e da regra de tutela da atipicidade(art. 425), estejam ou no disciplinadas em leis especiais. Ou seja, podem aspartes criar novas espcies de contratos, no previstos em lei, desde queobservem as normas gerais, inclusive os princpios da funo social, da boa--f e da equivaincia material. A atlpicldade no se confunde com arbitrarie-dade, pois c.gda espcie contratual nova haver de contar com um mnimode "tiplcldade social';, segundo expresso de Emillo Betti (1969, v. 1:373),assim entendida a que se desenvolve e acolhida no trfico jurdico, reme-tendo para as valoraes econmicas ou ticas da conscincia social, paraalm dos interesses meramente individuais, contingentes, variveis, contra-ditrios, socialmente imponderveis. .

    A responsabilidade civil (tambm predlcada como extranegociai ouaqulliarta, sendo esse termo adjetivao da romana Lei Aquflta de 572 a.C.) obrigao derivada da violao do dever de no causar dano a outrem. Odireito brasileiro consagrou, definitivamente, a reparao no apenas dodano material, mas igualmente do dano moral, mxime com.o advento daConstituio Federal (art. 511, X), do Cdigo de Defesa do Consumidor (art.611,VI) e do art. 186 do Cdigo Civil. Todavia, no o dano a fonte da obri-gao, mas o fato jurdico que se constituiu com a violao do dever de nocausar-dano, do qual derivou a relao Jurdica obrigacional entre o credor(a vtima) e o devedor (o imputvel pelo dano).

    As espcies de atos unilaterais tratadas pelo Cdigo Civil (arts. 854 a886), sob essa denominao genrica, so diferentes entre si. tendo em co-mum apenas o fato de no se enquadrarem nos contratos ou na responsabi-lidade civil extranegoclal. Com efeito, a promessa de. recompensa negciojurdiCO unilateral; a gesto de negcio pode ser ato jurdico em sentido es-trito (ou ato jurdico lcito, segundo a terminologia utilizada pelo art. 185 doCdigo Civil), quando realizada segundo a vontade presumida do dono donegcio, ou pode ser ato ilcito (art. 186 do Cdigo Civil), quando realizada

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    contra a vontade presumida do dono do negcio; o pagamento indevido ato ilcito em relao a quem o recebeu; e o enriquecimento sem causa fatojurdiCOem sentido estrito, pois pode decorrer sem quaiquer manifestaode vontade das partes envolvidas, a exemplo da avulso!,(art. 1.251 do Cdi-go Civil}.

    Os ttulos de crdito so, tambm, atos unilaterais, nesse sentido am-plo. Na atualidade, assumiram natureza eminentemente empresarial, razopor que melhor se qualificariam como obrigaes mercantis ou empresariais.

    O Cdigo Civil de 2002 unificou, no plano legal, .=:S obrigaes de direi-to privado. Contudo, no plano didtico, permanece adequada a classificaoentre obrigaes eminentemente civis e obrigaes mercantis, cuja naturezaradica em sua insero predominante na atividade empresarial. Assim, socontratos mercantis aqueles nos quais o direito exige que um dos figurantesseja empresa (sociedade empresria ou empresrio individual). Por exem-plo, o Cdigo Civil de 1916 inciua o contrato de seguro entre os contratoscivis, mas a legislao subsequente tornou esse contrato objeto exclusiva-mente de atividade empresarial fiscalizada; o pargrafo nico do art. 757 doCdigo Civil a culminncia dessa trajetria, ao estabelecer que somentepossa ser parte, no contrato de seguro, como segurador, en:idade para tal fimlegalmente autorizada.

    3.2. NOSSA POSICOFontes das obrigaes so apenas os fatos jurdcos lcitos ou ilcitos.

    Os fatos jurdicos em sentido amplo classificam-se -em fatos jurdicos emsentido estrito, atos-fatos jurdicos e atos jurdicos (atos jurdicos cm scntidoestrito e negcios Jurdicos) e podem todos ser lcitos ou ilcitos. Dos fatosilcitos, assim considerados pelo direito, dimana sempre obrigao de repa-rar. As vezes o direito pr-exclui a ilicitude, mas Impe o dever e a conse-quente obrig

  • rdico contrato, que, por sua vez, espcie do fato jurdico negcio jurdico.Daquele fato jurdico (comodato) promanam efeitos, dentre os quais os di-reitos do dono da casa, comodante (p. ex., o de exigir a devoluo, quandoo prazo se encerrar), os deveres de quem recebeu a casa, comodatrio (p. .ex., o de restitu-la e o de pagar um luguel, se ultrapassar o prazo da restl.tuio), a pretenso do comodante, para exigir a devoluo d" coisa findo oprazo, e finalmente a obrigao do comodatrio derestituiJ'. Somente nesseestgio, aps descumprir o dever e de submeter-se pretenso do credor, que surge a obrigao do devedor, como um dos efeitos do fato jurdico.Como demonstrado, apenas o fato jurdico pode ser qualificado como fontedas obrigaes, pois o contrato e seus efeitos so consequncias dele.

    Assim, no a lei, por si mesma, nem a conveno, nem os atos unila-terais que configuram isoladamente as fontes de obrigao. As convenes eos atos unilaterais so espcies de fatos jurdicos, no sendo correto.identi-ficar as fontes das obrigaes nas espcies em que se desdobram os fatosjurdicQs. Entre a lei e a obrigao h o fato jurdico. A obrigao efeito dofato jurdico, que antecedido de outro efeito, ou seja, o dever (ou dvida).Sem dever no h obrigao em sentido estrito e 'preciso. O dever antecedea obrigao, at mesmo nos negcios jurdicos instantneos. Quem compra vista tem o dever e, logo, a obrigao de pagar o preo. A scquncia maisvisvel quando a obrigao desponta no tempo: se o comprndor deve pagardias aps a entrega da coisa, j tem o dever, mas nlnasceu, ainda, a obri-gao; em contrapartida, a obrigao j tinha nascido para o vendedor, queprometeu entregar imediatamente a coisa. Porm, se ambos (comprador evendedor) consentiram que a entrega da coisa dar-se- quando do pagamen-to do preo, tem-se hiptese de negcio jurdico bilateral, cujo vnculo seformou para um e outro (deveres), sem terem nascido ainda as obrigaesrespectivas.

    . Somente por metonmia as espcies de obrigaes (plano da eficcia),principalmente o contrato e a responsabilidade civil, podem ser considera-das suas fontes, e sim os fatos jurdicos (plano da existncia) de onde pro-manam. Mais