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O USO DE DOCUMENTOS DE ARQUIVO NA SALA DE AULA
PAULO PEREIRA SOUTTO MAYOR
CRIMINALIDADE
Documentos de arquivo e criminalidade na História do Brasil
2/2013
TEMA: Criminalidade
TÍTULO: Documentos de arquivo e criminalidade na História do Brasil
JUSTIFICATIVA: A sequência didática escolhida a partir do tema criminalidade tem,
como principal preocupação, trabalhar com os alunos como a História é um processo de
ruptura e continuidade. Enquanto ruptura, a História da criminalidade pode oferecer
material de arquivo para análise baseado em conceitos criminais, comportamentos a
serem punidos pelo Estado que, nos dias atuais, não são mais considerados crimes. Por
outro lado, muito daquilo que se considerava crime no começo do século XX pode,
ainda hoje, pertencer ao grupo dos crimes previstos no código penal e, desta forma,
ainda serem preocupação do Estado e da sociedade civil.
Existe uma linhagem de juristas que consideram que o crime, em si, não existe e o que
existe são formas de manifestação de comportamento social que são, em determinados
períodos históricos, tipificados no código penal, recebendo a pecha de crimes mas que,
em outros momentos históricos, por força do legislador, não serem mais tipificados.
Essa dinâmica do que seja o crime ou comportamento delituoso é histórica, na medida
em que pode ser modificada pelo legislador de tempos em tempos.
O material da sequência didática, disponibilizado pelo Arquivo Público contém charges
e documentos ligados a inquéritos policiais desde o início do século XX. Tal material é
de extrema valia para professores e alunos porque possibilita um mergulho no passado
por meio da sua inquirição, que pode ser realizada com base em uma problematização
daquilo que naquele momento histórico perturbava mais a sociedade civil como
comportamento criminoso e que, por conta disso, era tomado como premissa para a
ação do Estado.
Tais documentos possuem referências não apenas à tipificação do crime no código
penal, mas também o surgimento de diversos atores históricos como os delegados,
investigadores, escrivães, policiais militares, promotores de justiça, juízes e,
principalmente, autores de delito, considerados suspeitos ou não, aqueles que estarão à
mercê da investigação determinada a partir do inquérito policial.
Analisar tal material é também abrir uma janela para o passado e verificar que tipo de
relação o Estado mantinha e ainda mantém, com a sociedade civil, especialmente os
seus cidadãos que, por um motivo ou outro tiveram um comportamento considerado
delituoso.
OBJETIVOS: A presente SD sobre o tema da Criminalidade tem como objetivos:
a) Ler um documento de arquivo como documento histórico;
b) Analisar e interpretar o documento de arquivo;
c) Contextualizar o documento de arquivo com o cenário histórico em que ele está
inserido;
d) Relacionar o documento de arquivo com o conteúdo previsto para a série no qual
será trabalhado, que é a 3ª. Série do Ensino Médio;
e) Estabelecer analogias sobre o tema da Criminalidade abordado no documento de
arquivo com o tema da Criminalidade nos dias de hoje.
COMPONENTE CURRICULAR: Primeira República no Brasil.
ANO (SÉRIE): 3ª. Série do ensino médio.
TEMPO PREVISTO (NÚMERO DE AULAS): 04 aulas.
DESENVOLVIMENTO E CONTEÚDO DAS ATIVIDADES:
1a aula: Apresentação em 10 minutos de um vídeo sensacionalista sobre a violência nas
grandes cidades: http://www.youtube.com/watch?v=UVR7kxZIRjs será utilizado como
primeiro documento de arquivo é a charge disponibilizada pelo APESP - O ESPORTE
que se pratica nas ruas de São Paulo. O Diário da Noite, São Paulo, 2 set. 1926. Apesp.
Nos primeiros 20 minutos da aula o professor, baseado no livro de Boris Fausto, “Crime
e cotidiano”, apresentará aos alunos algumas estatísticas disponibilizadas no livro sobre
a criminalidade na cidade de São Paulo, no início do século XX.
Proporção de prisões segundo as principais contravenções em dois períodos em São
Paulo
Fonte: FAUSTO, Boris. Crime e Cotidiano. p. 37.
Fonte: FAUSTO, Boris. Crime e Cotidiano. p. 47.
Nos 20 minutos restantes os alunos deverão visualizar bem a imagem da charge e
responder as seguintes perguntas:
a) Quais são os delitos praticados na cidade de São Paulo retratados na charge?
b) Como a população de São Paulo na época é retratada pelo chargista?
c) Como esses delitos podem se relacionar com a estatística apresentada no livro de
Boris Fausto?
2ª aula: Será utilizado como segundo documento de arquivo - Ocorrência registrada
sobre o soldado Alfredo de Godoy no 1º Batalhão da Força Pública do Estado de São
Paulo, a 29 de junho de 1909. Acervo Apesp; Ocorrência registrada sobre Izabel de
Lima na 3ª Sub-delegacia de Policia de Sta. Ephigênia, São Paulo, a 12 de maio de
1904. Apesp.
Tal ocorrência remeterá a reflexão sobre “usos e costumes” da época e a posição da
mulher na sociedade, uma questão de gênero. O professor irá explicar nos primeiros 20
minutos como a mulher era percebida no Brasil no início do século XX, vivendo em
uma sociedade patriarcal. A partir daí, os alunos irão ler o documento. Nessa leitura
deverão responder as seguintes perguntas:
a) De que maneira a figura da mulher é tratada nas ocorrências?
b) Os documentos foram escritos à mão e quais foram suas dificuldades para fazer
a leitura dos mesmos?
c) Que papel tinha a polícia na época com relação aos usos e costumes da
sociedade?
3ª aula: Serão analisados os seguintes documentos de arquivo - Officio de apresentação
de acusação a João Antonio de Lima pela 3ª Delegacia de Polícia de São Paulo, em 01
de junho de 1910. Apesp; Denúncia anônima sobre jogatina registrada na 3ª
Subdelegacia de Sta Ephigênia (Ponte Pequena), São Paulo, em 1º de setembro de 1902.
Apesp; COM VISTAS. Voz da Raça, ano I, n.1, São Paulo, 18 de março 1933. Apesp.
Tais documentos retratam, em situações diferentes e datas diferentes, a presença de
policiais em comportamentos considerados delituosos na época. O primeiro em relação
a uma prostituta a ao uso de dinheiro falsificado, o segundo o caráter autoritário do
policial com os atores e o terceiro a relação de policiais com o jogo do bicho. Acredita-
se que a leitura desses três documentos irá permitir aos alunos uma reflexão sobre a
relação existente entre a sociedade da época e os membros da polícia, indicando uma
aproximação entre os dois.
O professor irá fazer as seguintes perguntas aos alunos, tomando os 50 minutos da aula:
a) Quem foi responsável pela escrita dos documentos?
b) Que delitos foram cometidos pelos policiais nos documentos lidos?
c) Qual era a preocupação das autoridades na época em relação aos delitos
cometidos pelos praças?
d) É possível estabelecer, por meio da leitura dos documentos, a origem dos
policiais que cometiam delitos?
4ª aula: Serão utilizadas para a sensibilização dos alunos as duas fotos abaixo indicadas,
que mostram o clima de guerra civil nas grandes cidades brasileiras. O professor irá
utilizar os 30 primeiros minutos da aula para explicar aos alunos a situação de cidades
como o Rio de Janeiro e São Paulo, nos dias de hoje, onde a polícia e o exército
invadem a periferia e a favela, sem cautela em relação à população local, para
pretensamente combater o crime organizado e o tráfico de drogas. Essa população fica a
mercê da violência e dos tiroteios entre criminosos e policiais, sem ter a quem recorrer,
esgueirando-se para fugir de balas perdidas. Será feita uma breve comparação das duas
fotos com a primeira charge, estudada na primeira aula, para que os jovens possam
refletir sobre a questão da continuidade e da ruptura na História.
ANDRADE, R. Tanque das Forças Armadas participam de cerco ao Complexo do
Alemão, conjunto de favelas na zona norte do Rio. Folha.com, 29 nov. 2010.
Disponível em: <http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1579-veja-fotos-de-ataques-
e-operacoes-no-rio#foto-29562>. Acesso em: 14 jan. 2011.
ANDRADE, R. Moradores do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, durante
cerco ao conjunto de favelas. Folha.com, 29 nov. 2010. Disponível em:
<http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1579-veja-fotos-de-ataques-e-operacoes-no-
rio#foto-29563>. Acesso em: 14 jan. 2011.
Perguntas:
a) Descreva as duas cenas que aparecem nas fotografias.
b) Que relações podemos estabelecer entre a charge da primeira aula e as duas
fotografias? O que mudou? Percebe-se alguma continuidade?
c) Para você, qual deve ser o papel do Estado e da polícia no combate a
criminalidade na periferia e nas favelas das grandes cidades brasileiras?
BIBLIOGRAFIA: Para aproveitar melhor a documentação oferecida pelo Arquivo
Público, pretende-se utilizar como bibliografia complementar os seguintes livros:
CHALHOUB, S. Trabalho, lar e botequim. São Paulo: Brasiliense, 1986
FAUSTO, B. Crime e cotidiano. São Paulo: Brasiliense, 1984
FAUSTO, B. O crime do restaurante chinês. São Paulo: Companhia das Letras, 2009
ANEXOS: