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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
CÂMPUS DE PATO BRANCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL
MARLETE TURMINA OUTEIRO
O PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NAS
ESCOLAS DO NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE PATO BRANCO:
LIMITES, DESAFIOS E POSSIBILIDADES
DISSERTAÇÃO
PATO BRANCO/PR
2015
2
MARLETE TURMINA OUTEIRO
O PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NAS
ESCOLAS DO NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE PATO BRANCO:
limites, desafios e possibilidades
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional – PPGDR, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, câmpus de Pato Branco, como requisito parcial para a obtenção do grau de “Mestre em Desenvolvimento Regional”. Área de Concentração: Desenvolvimento Regional Sustentável Linha de Pesquisa: Educação e Desenvolvimento Orientadora: Profª Dra. Maria de Lourdes Bernartt Coorientadora: Profª Dra. Giovanna Pezarico
PATO BRANCO/PR
2015
3
FICHA CATALOGRÁFICA
4
Ministério da Educação
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Câmpus Pato Branco
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Regional
5
TERMO DE APROVAÇÃO Nº 80
Título da Dissertação
O processo de implementação da Educação do Campo nas Escolas do Núcleo
Regional de Educação de Pato Branco: limites, desafios e possibilidades
Autora
Marlete Turmina Outeiro
Esta dissertação foi apresentada às 10 horas do dia 26 de junho de 2015, como requisito
parcial para a obtenção do título de MESTRE EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL – Linha
de Pesquisa Educação e Desenvolvimento – no Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Regional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. A autora foi
arguida pela Banca Examinadora abaixo assinada, a qual, após deliberação, considerou o
trabalho aprovado.
Profª. Drª. Maria de Lourdes Bernartt – UTFPR
Orientadora
Dr. Antônio Cavalcante de Almeida – PNPD/UTFPR
Examinador
Prof. Dr. Edival Sebastião Teixeira - UTFPR
Examinador
Profª Drª Giovanna Pezarico - UTFPR
Examinadora
Profª Drª Marlize Rubin Oliveira - UTFPR
Examinadora
Visto da Coordenação
Prof. Dr. Miguel Angelo Perondi
Coordenador do PPGDR
O Termo de Aprovação assinado encontra-se na Coordenação do PPGDR.
6
“A escola cumpre uma função
mediadora no processo de acumulação
capitalista, em face de sua ineficiência,
sua desqualificação”.
(Maria de Lourdes Bernartt)
“Para que se possa plantar a terra, é
preciso preparar o sol. É necessário arar
a terra, revirá-la, descompactá-la,
transformar o material orgânico deixado
pelas culturas anteriores em substrato
para a próxima cultura. E depois disso,
nutrir com os elementos necessários e
que dela farão um solo fértil para que a
semeadura possa ‘vingar’”.
(Giovanna Pezarico)
“Creio que, um dia, a escola rural será
reconhecida e apreciada para que
efetivamente seja cumprida a finalidade
de uma educação universal”.
(Marlete Turmina Outeiro)
7
DEDICATÓRIA
Dedico esta pesquisa a todos os Sujeitos do Campo, que sonham, acreditam e lutam
por uma sociedade mais justa e solidária!
Aos meus familiares,
Ao meu marido, Edison Luiz, impossível não dedicar, pois é a razão da conclusão
deste mestrado. Principal incentivador, contribuição e tolerância. Você me transmitiu
a SABEDORIA, pela riqueza de conhecimento; a FORÇA, através da segurança; e a
BELEZA, pelo carinho e respeito. Te amo!
Aos Meus Filhos Mariana e Bruno, motivo de sonhos, lutas, persistências e
conquistas. Amo Vocês!
À minha querida Isabel, nora e filha de coração! Sua beleza e alegria nos contagia
todos os dias! Te amamos!
À minha irmã gêmea Marli, pelos conselhos e por ser meu exemplo e orgulho. Ao
cunhado Cláudio e a sobrinha Marina, obrigada pelo carinho e amizade.
Aos meus pais, Mario e Rosa, meus irmãos Valdecir e Maria Ivani e seus familiares,
que alicerçados em bases de coragem, na luta constante de superação das
desigualdades impostas pela sociedade; acreditaram que através da educação
escolar, a inclusão social seria possível. Confiaram na possibilidade para trilhar novos
caminhos, conquistar novos horizontes, batalhar por melhores condições de vida e
por confiar na construção crítica, com senso de liberdade e justiça. Muito obrigada!
8
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Coordenação do Campo da SEED/PR, Coordenação do Campo do
NRE/Pato Branco e Escolas do Campo colaboradores nesta pesquisa e partícipes do
processo de construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
À UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná e ao PPGDR – Programa
de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, agradeço pela oportunidade e
estímulo nesta caminhada.
À Professora Drª Maria de Lourdes Bernartt, meus sinceros agradecimentos, pelo
convívio, compartilhamento de saberes, pela referência docente e principalmente,
pela Pessoa Maravilhosa, Mediadora, Sábia, e por acreditar na educação enquanto
desenvolvimento social, cultural, humano e emancipador. Meus agradecimentos!
À Professora Drª Giovanna Pezarico, obrigada pela disposição, encaminhamentos e
contribuição. Meu muito obrigada pelo carinho e alegria!
Ao Professor Edival Sebastião Teixeira, agradeço por mostrar o caminho do Mestrado
em Desenvolvimento Regional, pelo legado acadêmico e contribuição,
disponibilizando seu tempo na análise desta pesquisa.
Ao Professor Drº Antônio Cavalcante, gentil contribuição na análise desta pesquisa.
Muito obrigada!
À Professora Drª Marlize Rubin de Oliveira, que além de compartilhar seus
conhecimentos no decorrer do curso, contribuiu na análise desta pesquisa. Agradeço
de coração!
À Professora Doutoranda Marciane Mendes, pela generosa e importantíssima
colaboração em fornecer elementos para esta pesquisa, além do que, se dispôs em
contribuir na análise deste estudo. Obrigada!
À minha amiga e colega Luciane Mattos, pelo carinho, incentivo, preocupação e
conselhos no decorrer da realização do curso. Principalmente, pela amizade!
Obrigada!
9
RESUMO
OUTEIRO, Marlete Turmina. O Processo de Implementação da Educação do Campo
nas Escolas do Núcleo Regional de Educação de Pato Branco: limites, desafios e
possibilidades. 2014. 136 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional,
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Pato Branco, 2015.
A presente dissertação está inserida no Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Regional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus
Pato Branco, na Linha de Pesquisa Educação e Desenvolvimento. Nessa pesquisa,
buscou-se investigar a implementação das Diretrizes Curriculares da Educação do
Campo no Estado do Paraná, cujo lócus, a SEED/PR, o NRE/Pato Branco e as
Escolas do Campo pertencentes ao referido NRE. A temática consiste em responder
à problemática de pesquisa, visando identificar os limites e desafios do processo de
implementação da Educação do Campo nas escolas rurais no Núcleo Regional de
Educação de Pato Branco. A pesquisa exploratória abrange um recorte temporal que
compreende os anos de 2002 a 2014, objetivando identificar e analisar nos
documentos e percepções dos sujeitos da pesquisa que norteiam a implementação
da educação do campo no Estado do Paraná. Os resultados demonstram que a
educação do campo ainda não superou o desafio de implementação de políticas
públicas, em especial, as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo. De modo
geral, os textos apontam a educação escolar preocupada com o meio urbano, na
tentativa de solucionar os problemas referentes à evasão escolar, baixa
escolarização, repetência, entre outros. A realidade do campo exibe com maior
gravidade esses mesmos problemas, porém, é visível o desenvolvimento de
propostas na tentativa de concretizar soluções definitivas para as questões do campo.
No entanto, um fator positivo é o aumento de cursos em formação continuada, alguns
oferecidos pelo Departamento de Educação do Campo do Núcleo Regional de
Educação, outros por iniciativa do próprio docente, os quais demonstram a
preocupação na melhoria de suas práticas pedagógicas, concomitantes à
necessidade de modificar a identidade da escola do campo. Nesse sentido, busca-se
aprofundar a discussão a fim de desmistificar a ideia de que sujeito do campo seja
sinônimo de educação precária, carente de qualidade. Documentos como as
Diretrizes Operacionais do Campo instituído pelo CNE - Conselho Nacional de
Educação em 2002, as Diretrizes Curriculares do Campo elaboradas pela SEED -
Secretaria de Estado e Educação no Estado do Paraná em 2004 e instituída como
política pública em 2010 contribuíram com dados que permitiram fazer um estudo
entre política pública e contexto educacional do campo, a fim de se perceber os
desafios para o desenvolvimento de uma educação conforme a cultura, modos de
10
vida, história, enfim, as especificidades dos sujeitos do campo.
Palavras-chave: Política Pública. Educação do Campo. Prática-Pedagógica.
11
ABSTRACT
OUTEIRO, Marlete Turmina. The Implementation Process of Rural Education in
Schools of the Regional Education Center of Pato Branco: limits, challenges and
possibilities. 2014. 138 p. Dissertation (Master in Regional Development) Federal
Technological University of Paraná, Pato Branco, 2015.
This work is part of the Graduate Program in Regional Development of the Federal
Technological University of Paraná, Pato Branco campus, the research line Education
and Development. The line of research concerns the Regionality and Development. In
this study, investigate sought the implementation of the Field Education Curriculum
Guidelines in the State of Paraná, whose locus, SEED / PR, the NRE / Pato Branco
and Field Schools belonging to the NRE. The theme is to respond to the research
problem, to identify the limits and challenges of the implementation process of Rural
Education in rural schools in the Regional Center of Pato Branco Education.
Exploratory research covers a time frame comprising the years 2002-2014 in order to
identify and analyze the documents and perceptions of the subjects that guide the
implementation of the field of education in the state of Paraná. The results show that
the education field has not yet overcame the challenge of implementing public policies,
in particular the field of Education Curriculum Guidelines. In general, the texts point to
the concerned school education with the urban environment, in an attempt to solve the
problems related to truancy, low school enrollment,flunk, among others. The reality of
the field displays more serious such problems, however, is visible the development of
proposals in an attempt to achieve definitive solutions to the issues of the field.
However, a positive factor is the increase in continuing education courses, some
offered by the Department of Education Field Regional Center of Education, others
initiatives by the own teacher, which demonstrate the concern in improving their
teaching practices, concomitant with need to change the identity of the field school. In
this sense, we seek to deepen the discussion in order to demystify the idea that the
subject field to be synonymous with poor education, poor quality. Documents such as
the Field Operational Guidelines established by the CNE - National Education Council
in 2002, the Curriculum Guidelines field developed by SEED - Secretary of State and
Education in the State of Paraná in 2004 and established as a public policy in 2010
provide data that allow make a study of public policy and educational field context in
order to understand the challenges for the development of an education as culture,
ways of life, history, finally, the specificities of the subject field.
Keywords: Public Policy. Rural Education. Pedagogical Practice.
12
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
APEART – Associação Projeto Educação do Assalariado Rural Temporário
CEB – Conselho Ensino Básico
CELEM – Centro de Línguas Estrangeiras Modernas
CNBB – Confederação Nacional dos Bispos do Brasil
CNE – Conselho Nacional da Educação
CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
CPT – Comissão Pastoral da Terra
CUT – Central Única dos Trabalhadores
EJA – Educação de Jovens e Adultos
ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio
ENERA – Encontro de Educadores e Educadoras da Reforma Agrária
FETRAF-SUL – Federação dos Trabalhadores na Agricultura da Região Sul
FMI – Fundo Monetário Internacional
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
INEP – Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos
LDB – Lei de Diretrizes e Base da Educação
MASTER – Movimento dos Agricultores Sem Terra
MEB – Movimento de Educação de Base
MEC – Ministério da Educação e Cultura
MST – Movimento Sem Terra
NRE – Núcleo Regional de Educação
ONGs – Organizações Não Governamentais
PB – Paraíba
PE – Pernambuco
PPP – Projeto Político Pedagógico
PR – Paraná
PR – Paraná
RS – Rio Grande do Sul
S.A. – Sistema Anônimo
SAEP – Sistema de Avaliação da Educação Básica do Paraná
SEED – Secretaria de Estado da Educação
SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
SIFEDOC – Seminário Internacional de Educação do Campo e Fórum do Centro Sul
do Rio Grande do Sul
13
SUDE – Superintendência de Desenvolvimento Educacional
SUED – Superintendência da Educação
TECSOC – Simpósio Nacional de Tecnologia e Sociedade
UDR – União Democrática Ruralista
UEL - Universidade Estadual de Londrina
UEM - Universidade Estadual de Maringá
UENP - Universidade Estadual do Norte do Paraná
UEPG - Universidade Estadual de Ponta Grossa
UEPR – Universidade Estadual do Paraná
UFFS – Universidade Federal Fronteira Sul
UFPR – Universidade Federal do Paraná
UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos
UFSM – Universidade Federal de Santa Maria
ULTBA – União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil
UNESCO – Organização das Nações Unidas
UNESPAR - Universidade Estadual do Paraná
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
UNICENTRO - Universidade Estadual do Centro Oeste
UNILA – Universidade Latino-Americana
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná
14
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - DOCUMENTOS OFICIAIS ............................................... 34
FIGURA 2 - ASPECTOS ANALÍTICOS DAS DIRETRIZES
CURRICULARES DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO
ESTADO DO PARANÁ ......................................................
58
FIGURA 3 - DADOS REFERENTES AS ESCOLAS PERTENCENTES
A REDE ESTADUAL DE ENSINO .....................................
70
FIGURA 4 - PARANÁ EM NÚMEROS .................................................. 72
FIGURA 5 - ESCOLAS ESTADUAIS DO CAMPO PERTENCENTES
AO NRE DE PATO BRANCO ............................................
110
FIGURA 6 - PROFESSORES E ALUNOS DA ESCOLA DO CAMPO
GLECI REGINA ZANCHETT .............................................
111
FIGURA 7 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA ESCOLA LINHA
APARECIDA .....................................................................
112
FIGURA 8 - TRABALHO: PRESERVAÇÃO DE NASCENTES (ÁGUA). 112
FIGURA 9 - ESCOLA ESTADUAL DO CAMPO SÃO LUIZ -
CHOPINZINHO/PR ….......................................................
112
FIGURA 10 - PRÉDIO DA ESCOLA ESTADUAL DO CAMPO FREI
CECILIANO .......................................................................
112
FIGURA 11 - DESENHOS DOS ALUNOS DA ESCOLA NOSSA
SENHORA DO CARMO ...................................................
114
FIGURA 12 - ACESSO PRINCIPAL À CIDADE DE CORONEL
DOMINGOS SOARES ......................................................
114
FIGURA 13 - ESCOLA DO CAMPO JUPIRA G. BONDERVALLE 115
FIGURA 14 - ATIVIDADE DESENVOLVIDA PELA ESCOLA 115
15
ESTADUAL JUPIRA G. BANDERVALLE ..........................
FIGURA 15 - PALESTRA COM PROFISSIONAIS SOBRE O
COMBATE AO MOSQUITO DA DENGUI .........................
116
FIGURA 16 - VISITA EM UMA PROPRIEDADE SITUADA NO
MUNICÍPIO DE ITAPEJARA D' OESTE ............................
117
FIGURA 17 - ATIVIDADE DESENVOLVIDA EM APOIO AO OUTUBRO
ROSA ................................................................................
117
FIGURA 18 - SALA DE AULA, TV PENDRIVE, LABORATÓRIO DE
INFORMÁTICA, BIBLIOTECA E QUADRA ESPORTIVA...
118
FIGURA 19 - ESCOLA ESTADUAL DO CAMPO ORESTES TONET .... 118
FIGURA 20 - RECURSOS PEDAGÓGICOS OFERECIDOS PELA
ESCOLA.............................................................................
119
FIGURA 21 - ATIVIDADE DE ALUNOS EM LAVOURA .......................... 119
FIGURA 22 - ESCOLA PROFESSOR DORIVAL CORDEIRO ................ 120
FIGURA 23 - SEMANA CULTURA – ESCOLA ANTÔNIO ARTÊMIO
FRANCA ............................................................................
120
FIGURA 24 - ESCOLA DO CAMPO DUQUE DE CAXIAS ...................... 121
FIGURA 25 - ATIVIDADE DESENVOLVIDA PELOS ALUNOS DA
ESCOLA ............................................................................
121
FIGURA 26 - GINÁSIO DE ESPORTES ................................................. 122
FIGURA 27 - ATIVIDADE DESENVOLVIDA PELOS ALUNOS NA
ESCOLA ............................................................................
122
FIGURA 28 - ESCOLA ESTADUAL DO CAMPO SANTA LÚCIA ........... 122
FIGURA 29 - QUADRA DE ESPORTES ................................................. 123
16
FIGURA 30 - ESTRUTURA ESCOLA ESTADUAL DO CAMPO ANDRÉ
GUIMARAES .....................................................................
123
FIGURA 31 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA ESCOLA DO
CAMPO SÃO LUÍS ............................................................
124
FIGURA 32 - SEMANA CULTURAL ESCOLA DO CAMPO CASTELO
BRANCO ...........................................................................
125
FIGURA 33 - ESCOLA ESTADUAL DO CAMPO SANTA INÊS
...........................................................................................
125
FIGURA 34 - PROFISSIONAIS DA ESCOLA DO CAMPO SANTA INÊS 126
FIGURA 35 - PAINEL ILUSTRATIVO NA ESCOLA SANTA INÊS ......... 126
FIGURA 36 - FOLDER DIVULGAÇÃO ATIVIDADES DA ESCOLA ....... 127
FIGURA 37 - FOLDER DIVULGAÇÃO DE ATIVIDADES REALIZADAS
EM QUATRO ESCOLAS DO CAMPO ..............................
127
FIGURA 38 - CADERNO DE RECEITAS ................................................ 128
FIGURA 39 - BOLO NA CINZA ............................................................... 128
FIGURA 40 - CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS TRADICIONAIS
INDÍGENAS .......................................................................
129
FIGURA 41 - PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA ESCOLA ................. 129
FIGURA 42 - SALA DE AULA NA ALDEIA INDÍGENA – ESCOLA
ESTADUAL INDÍGENA NITÓTU .......................................
130
FIGURA 43 - ARTESANATO INDÍGENA ................................................ 130
17
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - PERÍODOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 59
QUADRO 2 - ORGANIZAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES
DA EDUCAÇÃO DO CAMPO .........................................
60
QUADRO 3 - CARACTERÍSTICAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO
PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM ..............
62
QUADRO 4 - EIXOS TEMÁTICOS NAS DIRETRIZES DA
EDUCAÇÃO DO CAMPO ...............................................
63
QUADRO 5 - O ESTADO DO PARANÁ, SUAS ESPECIFICIDADES 66
QUADRO 6 - UNIVERSIDADES PÚBLICAS – PARANÁ 67
18
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO – FRAGMENTOS DE UMA CONQUISATA .................................. 19
2. REMINISCÊNCIAS DE UMA CONQUISTA .......................................................... 26
2.1 Políticas Públicas e Educação: Diálogos Preliminares ............................................. 26
2.2 Políticas Públicas Nacionais para a Educação do Campo: Antecedentes
Históricos e Atualidades ....................................................................................................... 29
2.3 Diretrizes Curriculares da Educação do Campo x Prática Docente ....................... 48
3. CAMINHOS DE UMA CONQUISTA .................................................................. 54
3.1 Desenvolvimento Metodológico .................................................................................... 54
3.2 Educações do Campo no Contexto das Diretrizes .................................................... 57
3.3 Os Sujeitos-Atores Sobre a Implementação da Educação do Campo nas Escolas
do Campo: Para a Compreensão das Percepções .......................................................... 65
3.3.1 O Estado do Paraná .................................................................................................... 66
3.3.2 O Contexto da Secretaria de Estado da Educação – SEED/PR ......................... 70
3.3.3 O Contexto do Núcleo Regional de Educação (NRE) de Pato Branco............... 73
3.4 Percepções sobre a Implementação da Educação do Campo: Principais Sínteses
.................................................................................................................................................. 74
3.5 NRE/Pato Branco ............................................................................................................ 78
3.6 Coordenação e/ou Direção das Escolas do Campo Pertencentes ao NRE/Pato
Branco ..................................................................................................................................... 82
3.7 Observações Realizadas pela Pesquisadora ............................................................. 88
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: A CONQUISTA EM SUA REALIDADE ................... 97
APÊNDICES ........................................................................................................... 108
APÊNDICE A - ESCOLAS ESTADUAIS DO CAMPO – NRE DE PATO BRANCO . 109
APÊNDICE B - QUESTÕES DE PESQUISA .................................................................. 130
ANEXOS ................................................................................................................. 132
ANEXO I - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ..................... 132
19
1 INTRODUÇÃO – FRAGMENTOS DE UMA CONQUISATA
O campo deve ser concebido como espaço de vida, de sujeitos que lutam para
ter acesso ao conhecimento e de certa maneira, o interesse dos sujeitos
permanecerem na terra como um espaço de construção de identidade. E pensando
no contexto histórico, de construção social, com propósitos emancipatórios,
considera-se relevante apresentar os fragmentos de uma conquista, pelo qual
percorremos para a pesquisa, cuja tarefa é complexa, pois exige um olhar sobre nossa
própria trajetória de vida, da cultura e do meio em que somos partícipes.
Na vida profissional, questiono-me o tempo todo, o motivo que me levou a
pesquisar a educação do campo, tendo em vista ser professora de escola urbana e
de nunca ter trabalhado em uma escola rural. Então, qual é o chão em que estou
pisando? A resposta é um dos fatores relevantes para um olhar aproximado de nossa
história, das experiências vivenciadas, dos costumes e do meio no qual participamos;
de forma sucinta, com o intuito de fazer memória dos motivos que me regeram até
este momento.
Enquanto mestranda do curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Regional, graduada em Pedagogia, professora de curso de Formação de Professores,
de escola da rede pública de ensino, do sudoeste do Paraná, trago na essência o
orgulho de ser filha de agricultor, estudante de escola de interior e, de alguém que traz
a saudade de mover com a terra, subir na árvore, brincar na chuva, ouvir a cantiga do
galo, do fogão a lenha, da roda de conversas e do desejo arraigado na veemência de
contribuir para a emancipação social de um povo, acredita-se que há possibilidade de
contribuir de alguma forma através desta pesquisa/estudo sobre educação do campo.
Além disso, implicado no pensamento de uma educação a partir do lugar onde vivem,
com direitos vinculados a cultura e suas necessidades. Por intermédio da família
aprendi a sentir orgulho de minha origem social, não de forma enganosa dos
problemas que existem no campo, mas sim, incentivada a buscar preparo para
enfrentá-los. Foi então, na escola da roça, o motivo para perceber que através do
conhecimento é possível persistir por igualdade social.
Da mesma forma que minha família alicerçada em colunas de força1, na luta
constante de superação das desigualdades impostas pela sociedade, pela sabedoria
1 Resistência às injustiças, preconceitos e desigualdades sociais.
20
e beleza da vida, acreditou que através da educação escolar, a inclusão social seria
possível, assim como realizar um sonho com resultados promissores. Enfim,
pensando na educação enquanto possibilidade para trilhar novos caminhos,
conquistar novos horizontes, batalhar por melhores condições de vida e por confiar na
construção de homens e mulheres críticos, com senso de liberdade e justiça.
Dessa forma, assume-se a perspectiva de que a escola pode assumir/tem o
objetivo de construir uma sociedade, fundamentalmente emancipatória\universal.
Para tanto, evidencia-se a importância das políticas públicas e do papel do Estado
neste contexto. Neste sentido, é importante compreender que historicamente os
movimentos acerca da relação entre Estado e educação do campo tem sido repleto
de embates e contradições, em diálogo com os contextos históricos de cada época.
Com este intuito, visualizei no Mestrado em Desenvolvimento Regional da
UTFPR - Universidade Tecnológica Federal de Pato Branco, a possibilidade para
pesquisar e contribuir de alguma forma, para a construção de uma educação do
campo a partir do que propõe as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo, em
específico nas escolas do campo pertencentes ao NRE – Núcleo Regional de Pato
Branco/PR.
Assim, emerge como questão norteadora do presente estudo a seguinte
pergunta: como ocorre o processo de implementação da Educação do Campo nas
escolas rurais no Núcleo Regional de Educação de Pato Branco, a partir das
orientações estabelecidas pelas Diretrizes Curriculares para as Escolas do Campo do
Estado do Paraná?
Em vista disso, a presente texto tem como objetivo geral analisar o processo
de implementação da Educação do Campo, nas escolas rurais no contexto do Núcleo
Regional de Pato Branco. Assim, de forma a atingir esse intento foram estabelecidos
como objetivos específicos:
- Analisar no texto das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo as orientações
contidas neste documento;
- Identificar a estrutura física e pedagógica das Escolas do Campo a partir das ações
desenvolvidas, a fim de comparar com o previsto no texto das Diretrizes;
- E por fim, identificar limites e desafios para a implementação das Diretrizes
Curriculares do supracitado NRE.
Para isso, é necessário, pois, contextualizar\problematizar os objetivos
pretendidos pelo estudo sabendo que se evidencia historicamente a pouca
21
preocupação na formulação de políticas públicas que enfoquem a educação do
campo, assim como poucas preocupações com a formação teórico-prática de
profissionais para atuarem nestas escolas. Nota-se que a educação oferecida aos
sujeitos do campo, por muito tempo esteve ignorada das agendas políticas e se
conformava em aceitar as cartilhas elaboradas pelos tecnocratas educacionais a
serviço da classe dominante. No entanto, tais políticas não eram direcionadas aos
reais interesses e necessidades do povo trabalhador, conduzindo-os à exclusão e ao
menosprezo, impedindo a elaboração de projetos específicos e a tentativa de
melhores condições de vida no campo.
De modo geral, os textos apontam a educação escolar preocupada com o meio
urbano, na tentativa de solucionar os problemas referentes à evasão escolar, baixa
escolarização, repetência, entre outros. Dessa forma, a realidade do campo exibe com
maior gravidade esses mesmos problemas, porém, é visível a carência no
desenvolvimento de propostas na tentativa de se concretizar soluções definitivas para
as questões do campo.
A trajetória histórica do Brasil demonstra que iniciativas educacionais e
econômicas se preocuparam em servir a classe dominante. Dados relativos ao regime
militar e sua política agrária, primavam pelo incentivo financeiro privilegiando as
grandes empresas de insumo e de beneficiamento dos produtos agrícolas, da mesma
forma que apontavam políticas públicas que impediam qualquer ação organizada dos
sujeitos do campo, consentindo a continuidade de ações concentradoras e
excludentes. Atualmente, continua presente no imaginário das classes dominantes do
Brasil agrário, a concepção de que para desenvolver o trabalho no campo não há a
necessidade de se aprender a ler e a escrever.
No âmbito das políticas públicas educacionais, na década de 1960, poucos
registros marcam o desenvolvimento de ações para as escolas do campo, conforme
dados:
A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB nº 4.024/61 (BRASIL,
1961), é um registro histórico que comprova o descaso com relação às escolas do
campo2, pois não há especificidade destinada às escolas situadas nas zonas rurais.
A LDB nº 5.692/71 (BRASIL, 1971) abre a oportunidade de se pensar no espaço
2 Neste período histórico (1961), a nomenclatura utilizada para escola do campo, era escola rural.*Na LDB 4024/61 – não há registro destinado às escolas do campo. Somente no Cap. III, Art. 47, faz-se referência ao curso agrícola, como ensino técnico de grau médio.
22
rural, quando no Capítulo I, Art. 4º, destaca que para os currículos das escolas que
oferecem o ensino de 1º e 2º graus devem trabalhar conforme as necessidades e
possibilidades concretas, às peculiaridades locais e as diferenças individuais dos
alunos. Porém, nesta LDB não se cogita política educacional direcionada, ao contrário,
foi neste período histórico que ocorreu a descentralização, o fechamento de escolas
em zonas rurais resultando na transferência dos alunos para escolas maiores no
espaço urbano3.
Nos anos de 1990, com a LDB nº 9.394/96, a educação do campo ganhou
espaço na agenda da política educacional. Para a Educação Básica, conforme
prescrito no Art. 28 há possibilidade de adaptações quando na adequação às
peculiaridades da vida rural, da mesma forma que os conteúdos curriculares e
metodologias deverão ser apropriados às reais necessidades e interesses dos alunos.
Enquanto legislação brasileira, pode-se considerar a LDB n.º 9394/96 como um marco
positivo para a educação rural. Esta lei constitui-se de dezesseis artigos com normas
políticas, pedagógicas, administrativas e financeiras a serem observadas nos projetos
das instituições que integram os diversos sistemas de ensino municipal, estadual e
federal (BRASIL, 2002). A partir dela iniciou-se um processo de mobilização social
acerca da construção das Diretrizes Operacionais para Educação Básica nas Escolas
do Campo.
Em 2002, após um intenso e prolongado período de discussão sobre política
educacional do campo, a partir da Resolução CNE/CEB nº 1 de 03/04/2002, instituem-
se as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo
(BRASIL, 2002). A oferta de ensino em escolas rurais, conforme estas diretrizes passa
a se desvincular do ensino urbano, permitindo adaptar currículo, modificar calendário,
desenvolver metodologias apropriadas, capacitar profissionais, oferecer escolas de
boa qualidade, enfim, garantir o Ensino Básico conforme a organização da vida no
campo, assim como, o próprio texto presente no Relatório das Diretrizes (BRASIL,
2002) aponta que as Diretrizes vêm garantir o respeito às diferenças e a política de
igualdade, tratando qualidade da educação escolar na perspectiva da inclusão.
Embora se considerem as particularidades do campo, faz-se necessário
entender que não se pretende desconsiderar a importância do meio urbano, ao
3A LDB 5692/71 – Apresenta especificidade quanto: § 2º Na zona rural, o estabelecimento poderá organizar os períodos letivos, com prescrição de férias nas épocas do plantio e colheita de safras, conforme plano aprovado pela competente autoridade de ensino.
23
contrário, reconhece-se a relevância da relação existente entre meio urbano e o rural
para o processo de ensino e aprendizagem.
Documentos como as Diretrizes Operacionais do Campo, instituídos em 2002,
pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), as Diretrizes Curriculares do Campo
elaboradas pela Secretaria de Estado e Educação no Estado do Paraná (SEED) em
2006 e instituídas como política pública em 2010 contribuíram com dados que
permitem fazer um estudo entre política pública e contexto educacional do campo, a
fim de perceber os desafios para o desenvolvimento de uma educação conforme a
cultura, modos de vida, história, enfim, as especificidades dos sujeitos do campo.
Políticas Públicas da educação do campo, tanto nacional (Diretrizes
Operacionais da Educação Básica para as Escolas do Campo), quanto local, em nível
de Estado (Diretrizes Curriculares da Educação do Campo), vigentes, indicam fatores,
como práticas pedagógicas diferenciadas, que corroboram à execução de ações
efetivas para um melhor desenvolvimento educacional coerentes com as expectativas
de emancipação social. Porém, visualiza-se precariedades nas instalações físicas de
muitas escolas, dificuldades de acesso, carência de professores habilitados,
currículos que privilegiam uma visão urbana de educação, baixo desempenho escolar
dos alunos, entre outros fatores que impedem ações para a superação dos problemas
relativos a educação do campo.
Em face do exposto, para dar conta da problemática da pesquisa, buscou-se
por autores e bibliografias que embasam a temática, tais como: Caldart (2002, 2003),
Arroyo (1999, 2008, 2010), Molina (2007, 2008), Pires (2012), Mendes (2009),
Pezarico (2014), Bernartt (2006), dentre outros.
Os documentos analisados consistem em: Diretrizes Operacionais para a
Educação Básica do Campo (MEC, 2002) e Diretrizes Curriculares da Educação do
Campo no Estado do Paraná (2006). A pesquisa de campo envolve a Coordenação
da Educação do Campo – SEED/Curitiba e do NRE/Pato Branco, bem como Escolas
do Campo pertencentes a este Núcleo.
As Diretrizes Operacionais da Educação Básica para as Escolas do Campo
instituída em 2002 e, consequentemente, o documento das Diretrizes Curriculares no
Estado do Paraná, elaborado pela Secretaria de Estado de Educação (SEED), em
2006, e instituída como política pública para ser seguida enquanto orientações teórica-
metodológica em 2010, são documentos que contribuem com dados que permitem
fazer um estudo entre política pública e contexto educacional do campo. Estas
24
Diretrizes colaboram para a reflexão sobre limites, desafios e possibilidades que
favorecem ou impedem o ensino nessa modalidade, contextualizada ao cotidiano
escolar, quando relacionadas às características docentes e discentes e infraestrutura
das escolas.
A situação demonstra que a educação do campo ainda não superou o desafio
de implementação de políticas públicas. Portanto, espera-se que com este estudo seja
possível desmistificar a ideia de que sujeito do campo seja sinônimo de educação
precária, carente de qualidade, inferior e desnecessária necessidade de investimento
em recursos teóricos-metodológicos para um ensino emancipador. Miguel Arroyo
enfatiza com clareza esta condição:
Temos uma larga história que sempre defendeu que os saberes que a escola rural deve transmitir devem ser poucos e úteis para mexer com a enxada, ordenar a vaca, plantar, colher, levar para a feita. Aprender apenas os conhecimentos necessários para sobreviver e até modernizar um pouco a produção, introduzir novas tecnologias, sementes, adubos, etc. essa visão utilitarista sempre justificou a escola rural pobre, os conteúdos primaríssimos, a escolinha das primeiras letras. (ARROYO, 1999, p. 17).
Foi através do comprometimento de grupos organizados e preocupados com a
educação do rural, que a ideia de o desqualificar está sendo minimizada, e, aos
poucos, em meio a inúmeros desafios, está se ampliando o reconhecimento da
construção de identidades, da valorização cultural, do jeito próprio de uma
comunidade. Embora compreenda-se que a iniciativa desta educação peculiar não é
mérito das políticas públicas, mas surge a partir de demandas de movimentos sociais,
de ações coletivas concomitantes às condições educacionais e suas especificidades.
Com efeito, o texto da dissertação está estruturado em quatro capítulos, a
saber:
O primeiro capítulo “Fragmentos de uma Conquista” visa introduzir o assunto,
base essencial para apresentar o tema de pesquisa, objetivos, justificativa e problema.
O segundo capítulo “Reminiscência de uma Conquista” permite visualizar a
história da educação no Brasil, especialmente a Educação Rural e Educação do
Campo, desde o período da colonização até os dias atuais. Além disso, possibilita
acompanhar a construção de novos conceitos de Educação do Campo, a partir de
políticas públicas construídas através de discussões, reivindicações, mobilizações e
estudos. O texto embasa-se legalmente em documentos como as Diretrizes
Operacionais da Educação do Campo (BRASIL, CNE/CEB, n. 1, 2002), Diretrizes
Curriculares da Educação Básica do Campo no Estado do Paraná (Paraná, 2006) e a
25
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96) e em obras de
autores supramencionados.
No terceiro capítulo “Anseios de uma Conquista” apresenta-se a metodologia
do estudo, assim como, apontamentos de dados que contribuem para melhor
entendimento referente ao tema, como a investigação, os sujeitos, procedimentos de
coleta e análise de dados e contexto da pesquisa. Contribuem aqui autores como
Minayo (2007) e Bardin (1977). Neste capítulo também são apresentadas algumas
especificidades do Estado do Paraná, necessárias para a aproximação com o
contexto escolar. O aporte bibliográfico foi elaborado a partir de estudos de Pires
(2012), Sacristán (2000), Arroyo (2010), Bernartt (2006) e Diretrizes Curriculares para
a Educação Básica nas Escolas do Campo no Estado do Paraná – SEED/PR (2006).
E por fim, apresenta-se os resultados da Pesquisa, as respostas obtidas pelos
pesquisados, almejando mostrar as conquistas de um labor árduo, de lutas,
organizações, persistências e sonhos.
A partir da investigação foi possível visualizar o paralelo existente entre o que
diz no documento das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo e as reais
condições existente nas Escolas do Campo. Na sequência, com base nas informações
do questionário aplicado, são identificadas percepções, limites, desafios e
possibilidades no âmbito da Secretaria de Estado e Educação de Curitiba (SEED), do
Núcleo Regional de Educação de Pato Branco (NRE) e Escolas do Campo
pertencentes a este NRE.
Nas considerações finais, quarto capítulo, os principais elementos da pesquisa
serão retomados com o intuito de se fazer uma reflexão e apontamentos referentes
ao tema pesquisado, os quais permitirão avançar no propósito de se compreender as
especificidades das práticas pedagógicas, dos sujeitos e das políticas de Educação
do Campo.
Por fim, esclarece-se que os títulos “Fragmentos de uma Conquista”,
“Reminiscência de uma Conquista”, “Caminhos de uma Conquista” e “A Conquista em
sua Realidade” apresentam significados de contexto pessoal, familiar e profissional.
Pessoal, por ser partícipe de vivências no campo e que a superação é um exemplo
de conquistas, cujos limites e desafios permeiam atualmente às Escolas do Campo;
familiar, por não deixar de sonhar e persistir convictamente por dias melhores;
profissional, porque visa a emancipação social, realização de sonhos e a possibilidade
de um mundo melhor.
26
2. REMINISCÊNCIAS DE UMA CONQUISTA
Como parte relevante do estudo proposto, o capítulo destinado ao referencial
teórico apresenta-se algumas contribuições para a discussão e entendimento
reminiscentes de conquistas, os quais demonstram conceitos importantes, vinculada
política de educação do campo no Brasil e`, especialmente, no Estado do Paraná.
Na sequência, apresenta-se a trajetória da educação do campo no cenário
brasileiro, com alegrias e dissabores, de forma a problematizar as relações que se
estabelecem entre as normas e as orientações vinculadas às Diretrizes Operacionais
para Educação Básica nas Escolas do Campo (BRASIL, 2002) em nível Federal e as
Diretrizes Curriculares da Educação do Campo em nível estadual.
2.1 Políticas Públicas e Educação: Diálogos Preliminares
Na extensão de estudos realizados no decorrer desta pesquisa e com base nas
discussões apresentadas por Souza (2006), percebeu-se que historicamente a
denominação de política pública surgiu através de estudos no meio acadêmico
especialmente, nos Estados Unidos da América. Era estudada como parte da ciência
política, e não mencionava relações com as bases da teoria estatal. Porém, tinha
como propósito analisar as normas, que delas provocam as decisões, elaboração,
implantação e avaliação das políticas públicas instituídas pelos governos.
De acordo com Souza (2006), as definições acerca de políticas públicas
assumem uma perspectiva de totalidade, no entanto, levando em conta as
individualidades, ou seja, ser considerados os indivíduos, instituições, interações,
ideologias e interesses. É de suma importância considerar a influência das políticas
públicas na economia e nas sociedades, de forma a haver uma inter-relação entre
Estado, política, economia e sociedade sendo assim, a formulação de uma política
pública traduz o propósito de governos visando o desenvolvimento de programas e
ações a fim de apresentar um resultado ou de provocar mudanças em uma realidade,
isto é, desdobram-se em planos, programas, projetos, bases de dados ou sistemas
de informação e pesquisa. Quando concretizada, são implementadas, estando
juguladas a preceitos de acompanhamento e avaliação (SOUZA, 2006).
Existem várias definições que contribuem sobre o que seja política pública. No
entanto, para a compreensão a que se refere o tema desta dissertação, é fundamental
que se tenha o entendimento de que políticas públicas são ações do governo que
27
permitem produzir efeitos a fim de atender uma especificidade, ou seja, uma política
pública deve enfatizar as soluções relativas a resoluções de problemas. No entanto:
Pode-se também acrescentar que, por concentrarem o foco no papel dos governos, essas definições deixam de lado o seu aspecto conflituoso e os limites que cercam as decisões dos governos. Deixam também de fora possibilidades de cooperações que podem ocorrer entre os governos e outras instituições e grupos sociais. No entanto, definições de políticas públicas, mesmo as minimalistas, guiam o nosso olhar para o locus onde os embates em torno de interesses, preferências e ideias se desenvolvem, isto é, os governos. (SOUZA, 2006, p. 6).
De acordo com a autora, do ponto de vista teórico-conceitual, uma política
pública apresenta seu enfoco através das explicações sobre a natureza dos processos
políticos. Enfim, a formulação de uma política pública traduz o propósito de governos
visando o desenvolvimento de programas e ações a fim de apresentar um resultado
ou de provocar mudanças em uma realidade, isto é, desdobram-se em planos,
programas, projetos, bases de dados ou sistemas de informação e pesquisa. Quando
concretizada, são implementadas, estando juguladas a preceitos de
acompanhamento e avaliação (SOUZA, 2006).
A intenção com este estudo, é conhecer algumas políticas públicas na área da
educação, pois contribuirá para entender a política pública destinada à educação do
campo, foco principal nesta dissertação. Sabe-se que compreender uma política
pública não é algo fácil. Por isso, é preciso conhecer as orientações teórico-
metodológicas que compõe o documento de tal política, neste estudo, as Diretrizes
Curriculares da Educação do Campo. Desta forma, é relevante ressaltar as principais
políticas educacionais que vincularam no decorrer da história da educação no Brasil.
Por isso, apresenta-se um recorte histórico contendo as principais datas e
acontecimentos no que tange às políticas de educação:
Ao se falar de políticas públicas no Brasil, é impossível não se mencionar o
papel dos jesuítas, os quais chegaram ao Brasil no ano de 1549, e marcaram o início
da educação formal. De acordo com Saviani (2007), foi a partir dos jesuítas que se dá
início à circulação de ideias pedagógicas no Brasil. Ainda, conforme o autor, os
jesuítas além de catequizar, foram os intermediários da aproximação dos índios ao
homem branco. Até a sua expulsão, eles mantiveram o controle do ensino no Brasil.
Conforme a história demonstra, com a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de
Pombal, em 1759, a vertente religiosa foi substituída pelas ideias laicas caracterizando
uma visão iluminista de educação. Saviani (2007) destaca que o ensino era
caracterizado pela concepção tradicional, e a partir da década de 1920, ganhou força
28
um movimento renovador com o propósito de superar as ideias pedagógicas
tradicionais, com a divulgação do “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”.
(SAVIANI, 2007).
Para Gadotti (2000), através do Movimento dos Pioneiros, a Escola Nova
propunha que a educação fosse investigadora das mudanças sociais, e ao mesmo
tempo, fosse possível que essas mudanças se transformassem, pois, a sociedade
estava em constante mudança. O Movimento da Escola nova foi considerado, de
acordo com Gadotti (2000), o primeiro grande resultado político em favor de um Plano
Nacional de Educação. E como consequência, em 1947, discute-se a elaboração do
anteprojeto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
Consequentemente, em 1961, a primeira LDB é promulgada, e através dela, Saviani
(2007), encerra-se a fase de predominância das ideias renovadoras.
Após o golpe de 1964, a educação popular toma alento através de dois
movimentos; um envolvendo a educação popular, caracterizado pela educação
informal e educação de jovens e adultos, constituída através do empenho de Paulo
Freire. É importante ressaltar que as ideias de Paulo Freire contribuíram
significativamente nos debates da Lei de Diretrizes e Bases – LDB. O segundo
Movimento, pela educação pública. Gadotti (2000) ressalta que dois sociólogos
apresentam destaque, Florestan Fernandes e Luiz Pereira. Destaca, que Florestan
Fernandes, de forma assídua, contrastou os conservadores que queriam fixar a LDB
de forma privatista.
Em 1969, entra em vigor o Movimento Tecnicista, que, segundo Libâneo
(1992), este movimento atua no aprimoramento da ordem social capitalista,
articulando-se com o sistema produtivo. O interesse principal, conforme o autor, é,
portanto, produzir indivíduos “competentes”, capazes de atuar no mercado de
trabalho, no entanto, sem se preocupar com as mudanças sociais vigentes.
No período entre as décadas de 1980 e 1990, no âmbito teórico-metodológico,
educadores discutem experiências centradas pelas pedagogias críticas. A partir
dessas experiências e lutas dos educadores germinaram várias entidades, dentre
elas, a Associação Nacional de Educação, a Associação Nacional de Pós-Graduação
e pesquisa em Educação; da mesma forma que se fortaleceu a Confederação de
Professores do Brasil. Neste cenário de lutas e conquistas, alguns interlocutores
merecem destaque: Miguel Gonzáles Arroyo (2010), José Carlos Libâneo (1992),
Saviani (2007), entre outros.
29
A proposta da pedagogia histórico-crítica, conforme discorre Saviani (2007),
mantém-se na resistência ao pensamento neoconservador. Nesta perspectiva,
algumas contribuições são auferidas por Gasparin (2007), Geraldo (2009), e outros
de grande contribuição para o entendimento desta proposta de ensino.
E finalmente, na década de 1990 a 2000, expressa-se o neoprodutivismo, nova
versão da teoria do capital humano, o que acaba sendo refletida na pedagogia da
exclusão. Para tanto, Saviani (2007), utiliza esclarecimentos analíticas, também
empregadas por Kuenzer (2007), a fim de ilustrar esses instrumentos: “exclusão
includente” e “inclusão excludente”, isto quer dizer que as escolas incluem mais
estudantes em seu contexto escolar, provocando melhorias dos dados estatísticos;
por outro lado, esses alunos continuam excluídos do mercado de trabalho e da
participação cidadã na sociedade.
A fim de concluir as ideias sobre o contexto teórico-metodológico acima
descrito, Saviani (2008) comenta o entrosamento entre política e educação. Para o
autor, atualmente, tornou-se comum afirmar que educação é um ato político. Todavia,
educação e política são indissociáveis, porém, não são iguais, cada uma apresenta
uma particularidade própria. Diante desta afirmativa, no item a seguir, apresenta-se
algumas reflexões acerca do entendimento referente política e educação, porém,
relacionado ao tema desse estudo, a educação do campo.
2.2 Políticas Públicas Nacionais para a Educação do Campo: Antecedentes
Históricos e Atualidades
O presente texto tem por intensão apresentar reflexões acerca de Políticas
Públicas de Educação do Campo, vivenciadas no Brasil e, em especial, no Estado do
Paraná. Para isso, é necessário destacar algumas definições sobre políticas de
educação do campo, com base em autores como Caldart (2002), Molina (2004),
Arroyo (2008), Pezarico (2014), Bernartt (2006), Munarim (2011), entre outros.
Como argumentação inicial, é importante discorrer sobre alguns aspectos que
evidenciam atualmente a educação do campo. Seu surgimento ocorreu pelo labor e
comprometimento de grupos organizados, movimentos sociais, civis e profissionais da
educação, cujo esforço tinha como propósito desenvolver uma educação de
qualidade, porém, com características próprias. Outro dado importante tem referência
ao conceito de educação do campo.
Até a década de 1990, a educação dos povos residentes no rural era
30
conceituada como educação rural, cuja característica definia o ensino como arcaico,
atrasado, sem necessidade de um conhecimento maior para o trabalho no campo.
Com isso, a intensão era a de descaracterizar esta visão, em que o campo pudesse
ser visto como local de moradia, de vida, de trabalho, em que se constrói novas
possibilidades de reprodução social e desenvolvimento sustentável (SOUZA, 2006).
De acordo com a autora acima mencionada, a educação do campo deve
estender aos processos produtivos, cujo trabalho permita o desenvolvimento local e
regional, de forma a possibilitar uma devolutiva de dignidade para as famílias e
comunidades que vivem nesse local. Portanto, é preciso em primeiro momento ter
clareza quanto à educação rural anterior à década de 1990, e, atualmente o que se
atribui à educação do campo, numa perspectiva singular, particular, aos sujeitos que
no campo constroem suas histórias, identidades e suas vidas.
A terminologia rural, diante do resultado de estudos e pesquisas realizadas
pelos atores sociais do campo, define-se como sendo relacionada a um caráter
positivista, mercadológica, competitiva, capitalista, em que, de acordo com Molina
(2004), durante muito tempo, a educação rural esteve acompanhada a uma posição
de atraso, carente de recursos pedagógicos. E, conforme a mesma autora, tinha como
pano de fundo, um interior arcaico, com raros programas educacionais pensados e
elaborados a partir do contexto urbano.
A educação do campo, por sua vez, tem relação com um caráter político-
pedagógica crítica, dialética, dialógica, de sujeitos politicamente conscientes,
valorizando através de sua identidade sociohistórico e cultural.
Dessa premissa, reconhecida como percussora na contemporaneidade em
pesquisas sobre a educação do campo, para Caldart:
A educação do campo surge em um determinado momento e contexto histórico e não pode ser compreendida em si mesma, ou apenas desde o mundo da educação ou desde os parâmetros teóricos da pedagogia. Ela é um movimento real de combate ao atual estado de coisas, produzidos pelos trabalhadores “pobres do campo”, trabalhadores sem-terra, sem trabalho, sem escola, dispostos a reagir, a lutar, a se organizar contra o formato de relações sociais que determina esta sua condição de falta (CALDART, 2012, p. 147 – 148).
O surgimento da educação do campo não aconteceu no acaso, as políticas
executadas surgiram a partir de reivindicações de grupos organizados, os quais,
resistiram muitas políticas públicas, muitas leis e normatizações. Nesse sentido, é
preciso ressaltar que a reflexão sobre políticas públicas na educação do campo tem
31
relação direta à ideia dos direitos.
Partindo de tal pressuposto, para Molina:
As políticas públicas traduzem formas de agir do Estado, mediante programas que objetivam dar materialidade aos direitos constitucionais. Entre os direitos constitucionais que se materializam por meio das políticas públicas, estão principalmente os direitos sociais, (...) pelo fato de as políticas públicas serem formas de atuação do Estado para garantir os direitos sociais, elas também são denominadas, muitas vezes, políticas sociais. (MOLINA, 2004, p. 686).
A fim de proporcionar clareza quanto ao entendimento de diretos, a filósofa
Marilena Chauí (2003) discorre que “um direito difere de uma necessidade ou carência
e de um interesse. Uma necessidade ou carência é algo particular e específico”. Ainda,
para a autora que uma necessidade e carência podem ser conflitantes entre si.
Enfatiza ainda, que um direito é geral e universal, válido para todos os cidadãos,
grupos e classes sociais, independentemente de uma condição social. Segundo
Arroyo:
A luta do homem do campo pela escola, pela instrução de seus filhos, se situa neste contexto de conquista de um direito, ou de um mínimo de igualdade de oportunidades, sendo uma forma de se defender de uma ignorância que percebe estar vinculada à sua situação de exclusão política e econômica (ARROYO, 1982, p. 5).
Dessa forma, direito e educação apresentam-se paralelos, pois ambos se
caracterizam a partir de um longo processo de construção histórica paulatinamente
atrelados as intensas reivindicações e lutas sociais. E nessas lutas, também
permeiam os movimentos para uma educação universal atenta às especificidades do
campo.
Mister se faz pensar a educação nas escolas do campo a partir do
entendimento de Caldart:
Uma escola do campo não é, afinal, um tipo diferente de escola, mas sim é a escola reconhecendo e ajudando a fortalecer os povos do campo como sujeitos sociais, que também podem ajudar no processo de humanização do conjunto da sociedade, com suas lutas, sua história, seu trabalho, seus saberes, sua cultura, seu jeito. Também pelos desafios da sua relação com o conjunto da sociedade. Se é assim, ajudar a construir escolas do campo é fundamentalmente, ajudar a constituir os povos do campo como sujeitos, organizados e em movimento. Porque não há escolas do campo sem a formação dos sujeitos sociais do campo, que assumem e lutam por esta identidade e por um projeto de futuro. Somente as escolas construídas política e pedagogicamente pelos sujeitos do campo, conseguem ter o jeito do campo, e incorporar neste jeito as formas de organização e de trabalho dos povos do campo. (CALDART, 2003, p. 66).
Conforme Caldart, a intervenção do Estado, possibilita contribuir para a
32
concretização de uma escola dinâmica de forma a pensar o contexto dos sujeitos do
campo, tentando romper com a concepção de desenvolvimento ligado apenas a
acumulação de riquezas, sobretudo relacionada a questões sociais em que
desempenham. Dessa forma, para Munarim:
O Movimento de Educação do Campo, é muito mais que luta por escola, é reconhecer e fortalecer o processo de resistência e emancipação dos povos do campo. E, nessa educação, preconizam uma educação no campo, que seja do campo. (MUNARIM, 2011, p. 12).
A denominação “no campo” parte do entendimento de que o povo tem direito a
uma educação no lugar em que está inserido, rompendo com cansativas horas de
locomoção para se chegar à escola, a qual, geralmente está situada em realidade
urbana. Já a compreensão de “do campo”, visa o direito ao povo participar da
educação escolar, ou seja, vinculada a cultura, saberes, história, necessidades
humanas e sociais. Nesse entendimento, para Arroyo:
A escola, a capela, o lugar, a terra são componentes de sua identidade. Terra, escola, lugar são mais do que terra, escola ou lugar. São espaços e símbolos de identidade e de cultura. Os movimentos sociais revelam e afirmam os vínculos inseparáveis entre educação, socialização, sociabilidade, identidade, cultura, terra, território, espaço, comunidade (ARROYO, 2007, p. 163).
Dessa forma, Frigotto concorda com Arroyo no sentido de abordar um contexto
pedagógico indissociável ao cultivar e compartilhar identidades, da oralidade, dos
saberes tradicionais e memórias coletivas estabelecidas na relação entre povos,
comunidade e natureza. Nesse aspecto, entende-se o campo como local dinâmico,
de vida e de organização.
As percepções para, no e do campo, aparentemente inocentes, na realidade expressam, na história da educação dos homens e mulheres do campo, o vetor entre processos educativos alienadores e mantenedores da ordem do capital, e processos educativos que pautam o horizonte da emancipação humana e das formas sociais que cindem o gênero humano. O ponto nodal aqui não é de nos agarrarmos a um significado semântico destas três preposições, e sim o seu conteúdo histórico e o que ele expressa em termos de disputa no plano educativo. (FRIGOTTO apud MUNARIM, 2011, p. 35.
De acordo com Frigotto, as expressões “do” e campo versam em modelos,
conteúdos e métodos pedagógicos planejados de forma centralizada na diversidade
existente no campo, “particularidades e singularidades dadas pela realidade de
homens e mulheres que produzem suas vidas “no” campo. Entretanto, não se
demanda o local e muito menos a particularidade, mediante a negação do acesso e a
33
construção do diálogo e da construção de espaços em que os sujeitos do campo
constroem suas vidas. (FRIGOTTO, 2011).
Partindo da premissa de Arroyo e Frigotto, a contribuição de Pezarico dialoga
ainda mais no sentido de se esclarecer a denominação “no” e “do” campo:
Daí a importância política ao considerar como fundamentais as políticas que garantam o direito à educação que seja “no” e “do” campo – no: o povo tem o direito a ser educado no lugar onde vive. Do: o povo tem o direito a uma educação pensada desde o lugar e com a sua participação, vinculada à sua cultura e às necessidades humanas e sociais. (PEZARICO, 2014, p. 37).
As práticas pedagógicas da Educação do Campo, de acordo com Pezarico,
precisam atender os anseios da comunidade, tanto escolar, como familiar, de forma a
construir algumas características essenciais no processo de ressignificação do
campo. Daí a relevância em ações políticas ao considerar como indispensáveis as
políticas públicas que garantam o direito a uma educação paralela entre sujeito,
natureza e sociedade.
No entanto, é preciso algumas mudanças significativas no que se refere à
política pública, visando conceber o campo não somente como espaço geográfico,
mas sim, considerar a Educação do Campo inserida num pano de fundo mais amplo,
que abrange também as questões agrárias, políticas e do capital numa perspectiva
identitária de luta por direitos, para além da educação, em que se possa produzir
diferentes espaços políticos, em que a terra se torna um troféu para quem depende
dela para sua subsistência (PEZARICO, 2014).
É importante ressaltar que, para Pezarico (2014), a Educação do Campo não é
percebida como um campo isolado, mas de tensões e disputas de projetos, design e
códigos, também técnicos que a partir da materialidade orientam as relações entre
sujeitos e natureza.
Neste viés, a escola tem uma função social que vai além do ato pedagógico, os
quais se identificam entre ensinar a ler, escrever, contar e somar. A escola
corresponde, enquanto valor social, internaliza questões pautadas nas relações de
vivência da cidadania. Arroyo observa que:
Assumir a educação como direito de todo cidadão e como dever do Estado significou um avanço. As políticas públicas e os ordenamentos legais passaram a ser inspirados nessa concepção de direitos. Entretanto, isso não tem significado avanços no reconhecimento das especificidades de políticas para a diversidade de coletivos que fazem parte de nossa formação social e cultural. A ênfase na educação como direito de todo cidadão deixa explicitas tensões na concepção de direito, de educação, de cidadania, de políticas
34
públicas: ver e defender esses direitos como generalistas sem o reconhecimento das diferenças (ARROYO, 2007, p. 160).
Partindo-se da premissa de Arroyo, cuja educação é direito de todos e dever
do estado, faz-se necessário discorrer sobre as principais ações que incidiram na
elaboração da atual política da educação do campo, as Diretrizes Operacionais da
Educação Básica para as Escolas do Campo, em nível Federal, e as Diretrizes
Curriculares da Educação do Campo no âmbito do Estado do Paraná. No entanto, a
fim de compreender este contexto atual, é importante retroceder na história da
Educação no Brasil desde o seu surgimento.
No Brasil, no contexto da colonização, os índios que, antes disso, utilizavam
experiências próprias para seus aprendizados e subsistências, viram seus hábitos
serem alterados, seus costumes ignorados, em nome da conquista, da exploração e
de uma “globalização econômica” pré-anunciada. Posteriormente, o alvo foram os
africanos e imigrantes europeus (FERREIRA & BRANDÃO, 2011). Ao avançar na
história, evidencia-se também este processo marginal aos povos residentes na zona
rural, em que as práticas da elite não condiziam com as necessidades e interesses
destas populações.
Quanto ao modelo de educação, a história revela que desde o início do Império
(1822) até o século XX, a educação era destinada para a elite brasileira. Os negros,
índios e pobres, em geral, eram discriminados pelas políticas vigentes. Tendo em vista
que, nesta época, ao contrário dos dias atuais, a maioria da população brasileira vivia
na zona rural. Se retrocedermos na história da educação no Brasil, autores como
Saviani (2007) revela que a história da educação propriamente dita, tem início a partir
de 1549 com a chegada dos Jesuítas, cuja missão consistia em articular entre si a
colonização, a educação e a catequese.
Até o século XX, o recorte temporal demonstra importantes acontecimentos que
marcaram a história no Brasil, no entanto, o foco desse estudo é nas políticas de
educação do campo, cujos acontecimentos marcam poucas iniciativas, ou quase
nada, a não ser mera preocupação com as questões do meio ambiente, quanto à
proteção de rios e nascentes e a criação de reservas florestais.
Fato relevante no século XX é notado pelo primeiro congresso de operários
realizado no Rio de Janeiro, cuja iniciativa visava congregar o mundo operário para
deliberar a respeito de suas condições de trabalho, e sobre as táticas e estratégias a
serem desenvolvidas nas lutas sociais. Iniciativa que aguçou e oportunizou o
35
incremento da I Greve Geral em 19174, em que ficou conhecida pela paralisação da
indústria e do comércio no Brasil (MENDES, 2009).
Conforme os estudos realizados no decorrer da pesquisa, em bibliografias
informadas na introdução dessa dissertação, percebem-se o envolvimento de
algumas mobilizações em favor do trabalhador urbano, porém, não se cogita
demonstrativo de ações direcionadas ao trabalhador do campo. Da mesma forma que
a Primeira Lei Geral de Educação no Brasil, de 1827, no seu texto, não há menção à
população rural.
Art. 1º - Em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos, haverá as escolas de primeiras
letras que forem necessárias.
Art. 2º - (...) marcarão o número e localidade das escolas, podendo extinguir as que existem em lugares pouco populosos (...). Estas escolas serão regidas pelos estatutos atuais se não se opuserem a presente lei; os castigos serão os praticados pelo método Lancaster5. (USP/SP, 2014).
Após 1889, anos que sucedem a Proclamação da República, a preocupação
educacional caracterizava-se por influência da filosofia positivista6 francesa, a qual
exaltava a formação industrial e urbana, considerando pouco interessante a inclusão
da população residente no campo aos processos formais de educação. Com isso, não
havia interesse à população residente no campo7.
No entanto, a história da educação do campo começou a ser considerada e
percebida no campo jurídico e educacional nas primeiras décadas do século XX, por
consequência dos movimentos migratórios que se intensificaram, provocando o
4Greve Geral: Esta mobilização operária foi uma das mais abrangentes e longas da história do Brasil. O movimento operário mostrou como suas organizações (Sindicatos e Federações) podiam lutar e defender seus direitos de forma descentralizada e livre, mas de forte impacto na sociedade. Esta greve mostrou não só a capacidade de organização dos trabalhadores, mas também que uma greve geral era possível. Fonte: www.infoescola.com. 5O método Lancaster, também conhecido como Ensino Mútuo ou Monitorial, teve como objetivo ensinar um maior número de alunos, usando pouco recurso, em pouco tempo e com qualidade. Foi criado por Joseph Lancaster, quaker inglês, influenciado pelo trabalho do pastor anglicano Andrew Bell. Contudo, Lancaster amparou seu método no ensino oral da repetição e memorização, pois acreditava que esta dinâmica inibia a preguiça, a ociosidade, e aumentava o desejo pela quietude. Nesta metodologia não se esperava que os alunos tivessem “originalidade ou elucubração intelectual” na atividade pedagógica, mas disciplinarização mental e física. (Origem: Saviani, 2007). 6O positivismo é uma linha teórica da sociologia, criada pelo francês Auguste Comte (1798-1857), que começou a atribuir fatores humanos nas explicações dos diversos assuntos, contrariando o primado da razão, da teologia e da metafísica. Os positivistas abandonaram a busca pela explicação de fenômenos externos, a exemplo da criação do homem, para buscar explicar coisas mais práticas e presentes na vida deste, como no caso das leis, das relações sociais e da ética. O positivismo teve fortes influências no Brasil, tendo como sua representação máxima, o emprego da frase positivista “Ordem e Progresso” na bandeira brasileira. (FERREIRA/BRANDÃO, 2011). 7Neste período a escolarização não era frequentada por toda a população.
36
aumento da população nas cidades. Esse foi um dos motivos que gerou preocupação
nas referidas discussões. De acordo com Mendes (2009), isso fez com que a temática
passasse a ser considerada nos seguintes documentos oficiais visualizados na
figura1:
Figura 1 - Documentos Oficiais Fonte: MENDES (2009)
Os documentos apresentados na figura 1, são essenciais no sentido de se
contribuir historicamente nas políticas que envolvem a educação do campo, no
entanto, o foco desse estudo é nas políticas do campo, cujos acontecimentos marcam
o primeiro documento a ser observado: à lei maior, a “Carta Magna”, a Constituição
Federal. No entanto, as leis apresentadas na figura 1, elencam sobre a possibilidade
de implantar leis subordinadas destinadas à população rural.
A primeira Constituição Federal de 1934 é um marco protagonista para um país
geograficamente agrário, pois pela primeira vez uma constituição menciona a
educação rural. Nesta Constituição a tentativa dos Pioneiros da Escola Nova lutavam
pela reconstrução do sistema educacional. Os quais, visavam uma formação voltada
para a formação escolar, em que o acesso à educação e ampliação do Estado de
Direito democrático fossem garantidos.
Percebe-se que as reivindicações dos Pioneiros são evidentes, quando no Art.
149 e o Art. 156 fazem referências a um ensino público, laico, obrigatório e gratuito
favorecido e custeado pelo Estado. No entanto, no que se refere a educação do
campo, denominada educação rural o Art. 121, em seu parágrafo 4: O trabalho
agrícola será objeto de regulamentação especial em que se atenderá, quanto
37
possível, ao disposto neste artigo. Procurar-se-á fixar o homem ao campo, cuidar de
sua educação rural, e assegurar ao trabalhador nacional a preferência na colonização
e aproveitamento das terras públicas. Já o artigo 156, prevê que a realização do
ensino nas zonas rurais, a União reservará, no mínimo, vinte por cento das quotas
destinadas a educação no respectivo orçamento anual. (BRASIL, 1934).
É importante ressaltar que nessa Constituição de 1934 que é criado o Conselho
Nacional de Educação, organizada na forma da lei, tendo como propósito elaborar o
Plano Nacional de Educação. Esta Constituição manteve-se somente por três anos,
suas determinações não agradaram alguns setores da burguesia.
Por sua vez, a Constituição de 1937 dá ênfase para o contingente de mão de
obra destinadas para as atividades de industrialização. Por conta disso, o meio rural
era julgado pelo discurso elitista, como atrasado, de pouco desenvolvimento. Sendo
assim, o meio urbano se consolidava com menção ao progresso, ao moderno. Nesta
época o Brasil era assistido pelo golpe de estado, uma política ditatorial comandada
pelo Governo de Getúlio Vargas, e com a colaboração militar implanta-se o que
chamou de Estado Novo.
No entanto, as políticas governamentais visualizavam os sujeitos do campo
sendo pobres e ignorantes. Ainda, o propósito da educação aos residentes no meio
rural, tinha por preocupação o assistencialismo. Mister se faz elencar que nesta
mesma década acontecia no Brasil um movimento chamado “Ruralismo
Pedagógico”8, este tinha por objetivo fixar o homem ao campo. Isso porque, um
grande número de família deixava o campo com perspectiva de melhorar suas
condições de vida no meio urbano, tendo em vista de que o processo de
industrialização crescia consideravelmente.
Por conta do “Ruralismo Pedagógico”, na década de 1950 foi instituída a
Campanha de Educação Rural e o Serviço Social Rural, os quais desenvolviam
projetos nas áreas de saúde, economia doméstica, artesanato, e outros, com caráter
assistencialista, de melhoria de vida.
Concomitante às ações de formação dos agricultores, e com base no artigo 180
da Constituição Federal em vigor, é instituído o Decreto Lei n. 9.613, de 20 de agosto
de 1946. Esta lei estabelece as bases de organização e de regime do ensino agrícola,
8Ideia que estava imbuída pelo regionalismo do país e a fixação do homem no campo. Esse movimento
ruralista continha uma doutrina de cunho sentimental com exortação do meio rural, conforme afirma Abrão (1986, p. 32): o “mito da terra benfazeja, o mito do em se plantando dá”.
38
que é o ramo do ensino até o segundo grau, destinado essencialmente à preparação
profissional dos trabalhadores da agricultura. (BRASIL, 1946).
O Decreto supracitado tem como finalidades:
Art. 2. O ensino agrícola deverá atender: Aos interesses dos que trabalham nos serviços e misteres da vida rural, promovendo a sua preparação técnica e a sua formação humana. Aos interesses das propriedades ou estabelecimentos agrícolas, proporcionando-lhes, de acordo com as suas necessidades crescentes e imutáveis, a suficiente e adequada mão de obra. Aos interesses da Nação, fazendo continuamente a mobilização de eficientes construtores de sua economia e cultura. (BRASIL, 1946).
Percebe-se que a educação agrícola evidencia que as alterações e reformas
não tem demonstrado melhorias em atender às necessidades e especificidades das
populações do campo, a fim de atender suas experiências de vida. Mas sim,
demonstram atender respostas exigidas pelos imperativos hegemônicas do
desenvolvimento econômico.
Em 1946, a nova Constituição Brasileira configura mudanças para a educação
inspirada nos princípios de liberdade e solidariedade humana. No que tange a
educação dos povos do campo, no Art. 166, inciso III, quanto a legislação do ensino
que adotará como princípio – “as empresas industriais, comerciais e agrícolas, em que
trabalhem mais de cem pessoas, são obrigados a manter ensino primário gratuito para
os seus servidores e os filhos destes”. (BRASIL, 1946).
Dessa forma, percebe-se provável intenção do Estado em transferir a
responsabilidade pela educação dos residentes em espaço rural às empresas
agrícolas. Outro fator de grande valia aos povos residentes do campo, tem relevância
ao apoio financeiro que o Brasil recebia dos Estados Unidos, cujo propósito era
disponibilizar especialistas em educação e extensão rural. Da mesma forma que
cediam bolsas de estudo para os agricultores que se propunha a receber treinamento
no exterior.
Percebe-se grande preocupação na superação da educação formal, sem
respeitar as especificidades dos que residiam no rural. No entanto, algumas
organizações são evidenciadas em favor de abertura maior aos povos do campo,
ocorrendo em 1949 o Seminário Internacional de Educação de Adultos, visando
preparar líderes e agentes comunitários a fim de combater o analfabetismo que
assolava o país. E várias campanhas foram desenvolvidas, a fim de incentivar os
agricultores permanecerem na terra. Porém, não foi o suficiente para impedir na
39
década de 1950 o êxodo rural.
No âmbito das políticas públicas educacionais, na década de 1960, poucos
registros marcam o desenvolvimento de ações para escolas do campo. A LDB (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação) nº 4.024/61 é um registro histórico que comprova o
descaso e a deficiência na estrutura física e humana, e as escolas apresentavam-se
deficientes em estrutura física e os profissionais demonstravam pouca qualificação.
Sendo assim, confirmava-se o desinteresse no cenário político em oportunizar
aprendizagem de qualidade e ensino diferenciado. No entanto, foi nesta década que
o educador Paulo Freire contribuiu significativamente no desenvolvimento de uma
educação crítica e emancipatória para alfabetização de jovens e adultos.
O método utilizado por Paulo Freire (2013) consistia numa proposta ativa,
dialogal, crítica e criticador (SAVIANI, 2007)9. Entretanto, o trabalho desenvolvido por
Paulo Freire não satisfazia a mera alfabetização, consistia em libertar o homem de
suas limitações, pela consciência dessas limitações (SAVIANI, 2007).
A elaboração e execução do método por Paulo Freire (2013) demonstrava a
preocupação com o meio em que o sujeito estava inserido, no que diz respeito à
cultura predominante. Neste sentido, cultura pode ser entendida como práxis, como a
capacidade do homem de se transformar e ser transformado por meio da qual o
homem não só se adapta ao mundo, como também o transforma. Essa transformação
acontece através da interação do homem com a natureza, modificando-a com o uso
de ferramentas e, através da interação comunicativa entre os sujeitos e sua
organização social. (SCHELLING apud SEED, 2006).
Freire idealizou locais, os quais denominou “Círculo de Cultura”. Este espaço
substituía o lugar de escola. Os professores também eram substituídos por
coordenadores de debates, que em lugar de aulas expositivas, mediavam o diálogo,
levando em conta suas tradições, costumes e hábitos locais (SAVIANI, 2007).
Entretanto, percebe-se que a proposta desenvolvida por Freire vai ao encontro dos
objetivos da educação do campo na atualidade, no que diz respeito aos fatores
culturais e locais.
9A elaboração do método comportava cinco fases: 1. Levantamento do universo vocabular dos grupos com quem se trabalhará; 2. Escolha das palavras, selecionadas do universo vocabular pesquisado; 3. Criação de situações existenciais típicas do grupo com quem se vai trabalhar; 4. Elaboração de fichas-roteiro, que auxiliem os coordenadores de debate no seu trabalho; 5. Feitura de fichas com a decomposição das famílias fonêmicas correspondentes aos vocábulos geradores. (SAVIANI, 2007, p. 322).
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O surgimento da educação do campo não aconteceu no acaso, as políticas
executadas surgiram a partir de reivindicações de grupos organizados, os quais,
resistiram muitas políticas públicas, muitas leis e normatizações, como por exemplo,
a LDB que se apresenta a seguir:
Com a LDB nº 5.692/71, surge a oportunidade de pensar no espaço do campo
com possibilidade de políticas regionais, possíveis para educar filhos de agricultores
com probabilidade de permanência no local onde viviam. No entanto, nesta LDB não
se cogitou política educacional direcionada. Ao contrário, resultou em descentralizar,
fechar escolas e transferir os alunos para escolas maiores no espaço urbano,
objetivando a municipalização das escolas do campo.
Com a Constituição Federal de 1988, a educação do campo ganha maior
espaço nas políticas públicas, especialmente no Art. 205, quando diz que “A
educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
(BRASIL, 1988).
Percebe-se que de acordo com o Artigo supracitado referente a Constituição
Federal, estabelece para o Estado e a família compartilharem com a sociedade a
responsabilidade na formação dos educandos. Ou seja, a comunidade civil organizada
passa a ser vista como coparticipante no processo de educação. No entanto, o Art.
206 prescreve que teve haver “igualdade de condições para o acesso e permanência
na escola” (BRASIL, 1988).
Apesar de prescrito, assim como o cenário vivenciado na história da educação
no Brasil, especificamente nas escolas do campo, vê-se as dificuldades e carências
que as escolas vem enfrentando ao longo do tempo. Dessa forma, entende-se que
pouco houve igualdade de acesso à escola, bem como, às condições de subsistência.
Na organização do Estado Brasileiro, no que se refere a área educacional a
normatização é conferida pela Lei n. 9394|96, na qual está contida as normatizações
destinadas às escolas do campo. Nos anos 1990 reforçado por iniciativas de
movimentos organizados, a educação do campo ganha espaço na política
educacional. A oferta de ensino em escola rural permite desvincular do ensino urbano,
possibilitando adaptar currículos, modificar calendários, desenvolver metodologias
apropriadas, capacitar profissionais, oferecer escolas de boa qualidade, enfim,
garantir o ensino básico conforme a organização da vida no campo de acordo com o
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que prevê no artigo 28 da LDB:
Art. 28. Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: Conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; Organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; Adequação à natureza do trabalho na zona rural. (BRASIL, 1996)
Nesse momento político, a educação do campo passa a ser pensada a partir
das especificidades dos povos do rural. Entendida por uma política pública ponderada
como resgate de uma dívida histórica, que durante anos foram negados seus direitos
a uma educação de qualidade. Por conta disso, resultado de conquista dos
movimentos sociais na agenda política, iniciativas de organizações civis em
seminários temáticos, abre a possibilidade de implantação de diretrizes específicas,
contrapondo currículos urbanos que correspondam às necessidades de formação
integral dos alunos do campo.
Em 1998, em parceria entre MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra), UNB (Universidade de Brasília), UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a
Infância), UNESCO (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento da
Educação, Ciência e Cultura e a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil)
elaboraram o relatório final da I Conferência Nacional por uma Educação Básica nas
Escolas do Campo, primeira iniciativa para pensar a educação pública a partir do povo
do campo, considerando o contexto, cultura, tempo e espaço, bem como os princípios
de vida, organização familiar e de trabalho (SEED, 2006). Este encontro de acordo
com Molina:
Esse Encontro foi um momento importante para a elaboração de subsídios às políticas públicas interministeriais que possam contribuir na promoção do desenvolvimento e da educação nos territórios rurais, como também, possibilitar a ampliação das articulações interinstitucionais, construindo agenda comum de pesquisa na área. (MOLINA, 2006, p. 9-10).
Doravante, a partir dos movimentos, seminários, estudos, reinvindicações, a
educação do campo em 2002, a partir da Resolução CNE/CEB nº 01, de 03 de abril
foi instituída em nível federal as Diretrizes Operacionais, a qual consolidou a
especificidade da política de educação do campo:
Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas escolas do campo a serem observadas nos projetos das instituições que integram os diversos sistemas de ensino.
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Art. 2º Estas Diretrizes, com base na legislação educacional, constituem um conjunto de princípio e de procedimentos que visam adequar o projeto institucional das escolas do campo às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e Médio, a Educação de Jovens e Adultos, a Educação Especial, a Educação Indígena, a Educação Profissional de Nível Técnico e a Formação de Professores em Nível Médio na modalidade Normal. (BRASIL, CNE/CEB, n. 1, 2002, p. 32).
A área de abrangência desta resolução para as escolas do Campo está prevista
para os níveis de Educação Infantil, o Ensino Fundamental e Médio, a Educação de
Jovens e Adultos, a Educação Especial, a Educação Indígena, a Educação
Profissional de Nível Técnico e a Formação de Professores em Nível Médio na
modalidade Normal (BRASIL, 2002). Com o objetivo pedagógico de privilegiar o
contexto, a realidade, a cultura, os fatores socioeconômicos e os saberes próprios dos
estudantes. Seu texto foi discorrido de acordo com as particularidades dos povos do
campo10. Com isso, está referendada no parágrafo único do art. 2.º da resolução que
institui as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo:
A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes a sua realidade, ancorando-se na sua temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de Ciências e Tecnologia disponível na Sociedade e nos Movimentos Sociais em defesa de projetos que associem as soluções por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país. (BRASIL, CNE/CEB, n. 1, 2002, p. 32).
Em consonância à LDB e as Diretrizes Operacionais possibilitam a gestão
democrática como mecanismo de relação entre escola, comunidade local,
movimentos sociais, órgãos normativos do sistema de ensino e os demais setores da
sociedade (BRASIL, 2002). Concomitantemente, o Estado do Paraná, através dos
grupos organizados, dá continuidade as discussões para elaboração das Diretrizes
Curriculares para as Escolas do Campo.
De acordo com Histórico presente no texto das Diretrizes Curriculares da
Educação do Campo (SEED, 2006), as discussões pensadas a partir do contexto do
povo trabalhador tomou alento no I Encontro de Educadores e Educadoras da
Reforma Agrária (I ENERA), realizado em julho de 1997, em Brasília. Participaram
deste encontro os integrantes do Grupo de Trabalho de Apoio à Reforma Agrária da
Universidade de Brasília, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra –
representado pelo Setor de Educação e o Fundo das Nações Unidas para a Infância,
10Os povos do campo compreendem de: pequenos agricultores, quilombolas, povos indígenas, pescadores, assentados, reassentados, ribeirinhos, povos da floresta, caipiras, lavradores, roceiros, sem-terra, agregados, caboclos, meeiros, boias-frias, entre outros.
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Fundo das Nações Unidas para a Ciência e Cultura (BRASIL, 2010).
Os resultados desse encontro, entre outros, deram ênfase a novos encontros e
articulações em favor da educação em escolas do meio rural. No entanto, os
participantes foram desafiados a realizar algumas conferências. Em nível de estado
do Paraná, organizou-se a I Conferência por uma Educação do Campo que aconteceu
em julho de 1998, na casa do Trabalhador em Curitiba11.
No mesmo ano, em Luziânia (GO), ocorreu a conferência nacional “Por uma
Educação Básica do Campo”. Nesta conferência um dos objetivos dos participantes
estava em retornar aos seus estados e realizar ações estaduais12. Neste encontro, os
participantes discutiram sobre os principais problemas e que concepção de educação
se está oferecendo ao meio rural, visando a elaboração de proposta específica,
diferenciada, no sentido de processo de formação humana, que constrói indicativos
culturais e políticas dos sujeitos que vivem no campo (FERNANDES, CERIOLI,
CALDART, 1988).
Outro aspecto presente nas discussões desta Conferência, diz respeito à
tendência de marginalização das escolas do meio rural, de modo geral, consideravam
como escolas relegadas ao abandono, as quais recebiam a denominação de “escolas
isoladas”13. Concomitante as escolas isoladas, em alguns municípios, alunos do meio
rural eram levados a estudar em escolas do meio urbano, os mesmos enfrentavam
horas de transporte, estradas em péssimas condições e o preconceito de colegas e
professores em que eram chamados de atrasados, motivos dos quais provocavam o
abandono, a evasão dos estudantes.
Nesse contexto de discussões, o Paraná organizou no mês de novembro de
2000, o II Encontro de Educação do Campo que aconteceu em Porto Barreiro. Neste
evento os envolvidos elaboraram um documento, denominado de “A Carta de Porto
Barreiro” (2000, p.1), nomenclatura oriunda ao nome do município em que aconteceu
11Encontro este organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) da Universidade de Brasília (UnB) e de outras entidades e organizações (MENDES, 2009, p. 22). 12Aconteceu em Luziânia, GO, de 27 a 31 de julho de 1998. Esta conferência reuniu educadores, educandos e sujeitos envolvidos com a educação de diferentes segmentos dos camponeses: Sem Terra, agricultores familiares, indígenas, povos da floresta, ribeirinhos, quilombolas, juntamente com suas Organizações e Movimentos do campo em todo o país e fora dele. Cinco anos mais tarde, em 2004, é realizada, na mesma cidade, a II Conferência Nacional Por uma Educação do Campo (MENDES, 2009, p. 22). 13Escolas Isoladas: A escola isolada constituía-se de uma só classe dividida em quatro séries, ou então, duas séries no turno matutino e duas vespertina (1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries). Enquanto a professora ensinava uma série, a outra realizava as atividades já solicitadas pela professora.
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o encontro. Neste, estiveram reunidos 450 educadores, dirigentes e lideranças de 64
municípios, entre os envolvidos, 14 organizações representavam os movimentos
sociais populares, sindicatos, universidades, ONGs e prefeituras.
O objetivo do II encontro visava refletir a respeito das realidades do campo,
entre as discussões, debateram a existência de muitas das dificuldades na educação
do campo provém de políticas governamentais que excluem o rural do
desenvolvimento nacional. A então política pública, privilegiava a agropecuária
capitalista em prejuízo da pequena agricultura, agricultura familiar e camponesa. Com
isso, a maioria da população residentes no campo sofrem com a ausência de políticas
inadequadas para atender esta demanda.
Conforme a Carta de Porto Barreiro (2000), grande número de municípios do
estado do Paraná, em áreas rurais sofrem com a falta de eletrificação, saneamento
básico, telefonia, transporte coletivo, saúde, escola, correios, centros de cultura,
esporte e lazer. Paradoxalmente, o Paraná é reconhecido pela riqueza na
diversificação da produção, é favorecida pelas condições climáticas, hídricas, mineral,
pela qualidade de seu solo e pela diversidade de seu povo. No entanto, carente em
políticas que favoreçam os interesses dos povos do campo.
É importante ressaltar algumas características relativas a região em que se
realizou esta pesquisa, em especial o que tange a área de abrangência do NRE de
Pato Branco. De acordo com Bernartt:
A região, que hoje é o sudoeste do Paraná, tem sua formação e ocupação marcada por conflitos em torno da propriedade e da posse da terra, pela consolidação de uma agricultura de base familiar e pelo surgimento de diversos movimentos sociais. Por essas e outras razões, já foi objeto de muitas abordagens histórico-historiográficas, as quais evidenciam a preocupação em se analisar o processo de ocupação, de regionalização, de urbanização, de industrialização, bem como os aspectos socioambientais da região. (BERNARTT, 2006, p. 33).
De acordo com a autora, a região sudoeste, assim como outras regiões do
estado do Paraná, tem características históricas que demonstram importantes de lutas
por conta de posse da terra. Fator este, peculiar que demarcam a região dos
municípios abrangentes ao NRE de Pato Branco, a qual será especificado na
sequência desta dissertação.
A partir da instituição das Diretrizes Operacionais em nível Federal, o estado
do Paraná através de ação coletiva mediante demandas sociais e governo do estado,
em 2006 institui as Diretrizes Curriculares para a Educação do Campo. A referida
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Diretriz (PARANÁ, 2006) foi elaborada através do esforço de professores, pedagogos,
equipe pedagógica dos Núcleos Regionais de Educação e técnico-pedagógico da
SEED, que no período de três anos realizaram seminários, reuniões, simpósios e
encontros descentralizados proporcionando a participação de todos na elaboração.
Não resta dúvida de que foi um avanço significativo para as escolas do campo,
conforme discorre Mendes14:
O Paraná esteve presente como um dos protagonistas no cenário de reivindicações e uma das ações do governo Estadual para implementação das Diretrizes Operacionais foi a criação da Coordenação da Educação do Campo na Secretaria de Estado da Educação em 2003, a exemplo de outros estados. Entretanto, diferentemente de outros estados, no Paraná se definiu pela construção das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo em 2006 (MENDES, 2009, p. 3).
A construção das Diretrizes Curriculares não aconteceu de modo unilateral,
mas em processos de negociações e conjunturas. Conforme o próprio texto, elas
chegaram às escolas do campo como um documento orientador do currículo e da
prática docente, bem como a de proporcionar aos professores a observação e
assimilação do campo como possibilidade para a construção dos conhecimentos dos
educandos, levando em conta suas histórias, riquezas, cultura e saberes próprios da
comunidade. Tendo em vista que até então, os modelos pedagógicos privilegiavam
propostas de ensino vinculadas ao meio urbano; no entanto, com as Diretrizes
Curriculares da Educação do Campo, se tem a possibilidade de superar um quadro
de políticas públicas inadequadas ou sua total ausência. Nesse momento político, as
demandas assinalam a necessidade de resgatar uma dívida histórica (BRASIL, 2002),
em que o desafio está em pensar a educação pública a partir do mundo do campo.
O espaço da educação do campo tem suas especificidades, com isso, a relação
dos seres humanos campo e cidade deve provocar a desconstrução do preconceito
do “jeca tatu” e a visão de que o local é de atraso e pobreza, possibilitando ao campo
um lugar de desenvolvimento, fortalecido pela identidade e autonomia das
populações, reconhecendo construir forte relação de forma que através da educação
os sujeitos percebam que cidade não vive sem o rural, e que o rural não vive sem a
cidade.
Neste intento, visualiza-se forte incidência de políticas públicas inspiradas e
14Marciane Mendes, fez parte da equipe designada para a elaboração das Diretrizes Curriculares do
Estado do Paraná/Coordenação da Educação do Campo na SEED.
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pensadas na cidade e nos cidadãos urbanos como exemplo de sujeitos de direitos. A
cidade é vista como local de convívio, de socialização, de dinâmica política e
sociocultural. Este cenário infunde políticas públicas educativas, as quais estão
inclusas nos currículos escolares, amparadas e sistematizadas através dos textos
legalmente constituídos.
Para reproduzir as relações sociais que distingue a identidade e permanência
no campo, faz-se necessários projetos políticos de desenvolvimento, em que permita
a educação escolar ser parte primordial desse processo. Nesse sentido, no texto das
Diretrizes Operacionais para a Educação Básica do Campo, assim como as Diretrizes
Curriculares da Educação do Campo no estado do Paraná, propõe aos sujeitos do
campo não ser privados de seus conhecimentos culturais, permitindo que possam
moldar suas próprias trajetórias de vidas. Caldart deixa claro quanto o que se espera
da escola do campo:
Uma escola do campo não é, afinal, um tipo diferente de escola, mas sim é a escola reconhecendo e ajudando a fortalecer os povos do campo como sujeitos sociais, que também podem ajudar no processo de humanização do conjunto da sociedade, com suas lutas, sua história, seu trabalho, seus saberes, sua cultura, seu jeito. Também pelos desafios da sua relação com o conjunto da sociedade. Se é assim, ajudar a construir escolas do campo é fundamentalmente, ajudar a constituir os povos do campo como sujeitos, organizados e em movimento. Porque não há escolas do campo sem a formação dos sujeitos sociais do campo, que assumem e lutam por esta identidade e por um projeto de futuro. Somente as escolas construídas política e pedagogicamente pelos sujeitos do campo, conseguem ter o jeito do campo, e incorporar neste jeito as formas de organização e de trabalho dos povos do campo. (CALDART, 2003, p. 66).
Partindo da premissa da autora supracitada, a intervenção do Estado,
possibilita contribuir para a concretização de uma escola dinâmica de forma a pensar
o contexto dos sujeitos do campo, tentando romper com a concepção de
desenvolvimento ligado apenas a acumulação de riquezas, sobretudo relacionada a
outras questões sociais em que desempenham (CALDART, 2003).
Portanto, diante desse panorama que doravante a educação do campo se
consolida no estado do Paraná, após passado por inúmeros encontros, seminários,
conferências, entre outros já apresentados nesta dissertação, em 2010, através da
Resolução 4783 de 28 de outubro, institui as Diretrizes Curriculares da Educação do
Campo como Política Pública Educacional para o estado do Paraná (Instrução
Conjunta nº 001/2010 – SEED/SUED/SUDE) objetivando a garantia e a qualidade no
atendimento escolar:
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Institui a Educação do Campo como Política Pública Educacional com vistas à garantia e a qualificação do atendimento escolar aos diferentes sujeitos do campo, nos diferentes níveis e modalidades de ensino da Educação Básica. (SEED, 2010, p. 1).
Ações da política pública mencionada anteriormente com relação às práticas
pedagógicas, prevê o imperativo de formação integral dos seus agentes (BRASIL,
2002). Deve possibilitar o acesso a todos os níveis e modalidades de ensino. A ênfase
está no reconhecimento das especificidades e nas diferenças, também das condições
culturais e sociais dos sujeitos.
Arroyo defende a ideia de que:
Assumir a educação como direito de todo cidadão e como dever do Estado significou um avanço. As políticas públicas e os ordenamentos legais passaram a ser inspirados nessa concepção de direitos. Entretanto, isso não tem significado avanços no reconhecimento das especificidades de políticas para a diversidade de coletivos que fazem parte de nossa formação social e cultural. A ênfase na educação como direito de todo cidadão deixa explicitas tensões na concepção de direito, de educação, de cidadania, de políticas públicas: ver e defender esses direitos como generalistas sem o reconhecimento das diferenças (ARROYO, 2007, p. 160).
No entanto, nos últimos vinte anos o cenário rural apresentou mudanças
significativas, permitindo um jeito próprio de conceber o campo como espaço
geográfico. Para Pezarico (2014), é importante considerar a Educação do Campo
inserida num pano de fundo mais amplo, que abrange também as questões agrárias,
políticas e do capital numa perspectiva identitária de luta por direitos, para além da
educação, em que se possa produzir diferentes espaços políticos, em que a terra se
torna um troféu para quem depende dela para sua subsistência.
Para Pezarico (2014), a Educação do Campo não é percebida como um campo
isolado, mas de tensões e disputas de projetos, design e códigos, também técnicos
que a partir da materialidade orientam as relações entre sujeitos e natureza.
Garantindo assim a identidade e a organização política em que exige conhecimentos
que são mediados através das experiências do dia a dia e de instituições
especializadas, como a escola.
A escola tem função social que vai além do ato pedagógico, os quais se
identificam entre ensinar a ler, escrever, contar e somar. A escola corresponde,
enquanto valor social, internaliza questões pautadas nas relações de vivência da
cidadania. Arroyo observa que:
A luta do homem do campo pela escola, pela instrução de seus filhos, se situa neste contexto de conquista de um direito, ou de um mínimo de igualdade de
48
oportunidades, sendo uma forma de se defender de uma ignorância que percebe estar vinculada à sua situação de exclusão política e econômica (ARROYO, 1982, p. 5).
Assim como Arroyo, o texto do documento das Diretrizes Curriculares da
Educação do Campo no estado do Paraná (SEED, 2006) defende a concepção de
que as práticas pedagógicas e metodológicas baseadas no saber social, tende a um
procedimento de valorização cultural e política, de justaposição nas relações de
trabalho e experiências da população do campo. No entanto, ao falar em políticas
públicas, é imprescindível ter clareza quanto ao tipo de homem se pretende ser e que
estrutura em nível intelectual-cultural são necessários para definir tais ações. A partir
desses pressupostos o estado do Paraná, visualiza nas Diretrizes Curriculares da
Educação do Campo questões incorporadas às demandas da comunidade, assim
como as experiências expressas nesse documento, produzido por uma coletividade
com interesses comuns.
O texto apresentado até aqui é indispensável enquanto base teórica para o
entendimento dos limites impostos no decorrer da história da educação do campo,
assim como, permite situar o campo da pesquisa a fim de perceber os desafios para
a implementação das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo no estado do
Paraná e perceber as possibilidades para sua efetivação no contexto das escolas.
Faz-se necessária a aproximação da pesquisadora em referenciais que
aceitem o entendimento na construção das Diretrizes Curriculares da Educação do
Campo, sua implementação nas escolas, levando em conta as especificidades do
estado do Paraná, os responsáveis pela sua efetivação e a importância atribuída ao
Projeto Político Pedagógico nas escolas correspondentes ao contexto do rural.
2.3 Diretrizes Curriculares da Educação do Campo x Prática Docente
As Diretrizes para a Educação do Campo no Estado do Paraná (2006), é um
dos requisitos fundamentais para a organização das escolas, a elaboração de
propostas que ensejam o contexto local e contemplem a formação de uma identidade
própria, coerente com os valores culturais, econômicos e sociais da comunidade. Há
a necessidade de se reelaborar o Projeto Político Pedagógico, com autonomia e
coletividade, contemplando as especificidades e diversidades do campo e para o
campo. Para Caldart, trata-se de uma educação que deve ser “no” e “do”, porque:
(...) o povo tem o direito de ser educado no lugar onde vive; (Do, pois) “o povo
49
tem direito a uma educação pensada desde o lugar e com a sua participação, vinculada à sua cultura e às suas necessidades humanas e sociais”. (CALDART, 2002, p. 26).
Há uma construção de saberes culturais que necessariamente deve estar
presente no processo de construção dos conhecimentos escolares, sendo o ponto de
referência para as práticas pedagógicas nas escolas do campo.
A educação do campo tem reafirmado alguns princípios norteadores através do
Decreto nº 7.352/2010, o qual dispõe sobre a política de Educação do Campo e o
Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). Estes princípios
visam: a) respeitar à diversidade do campo, levando em conta os aspectos sociais,
culturais, ambientais, políticos, econômicos, de gênero, geracional e de raça e etnia;
b) incentivar a formulação de projetos políticos-pedagógicos específicos para as
escolas do campo; c) desenvolver políticas de formação de profissionais da educação
para o atendimento em escolas do campo; d) valorizar a identidade da escola através
de projetos pedagógicos com currículo e metodologias específicas; e) controlar a
qualidade da educação escolar, mediante a participação da comunidade e dos
movimentos sociais do campo. (BRASIL, 2010).
A partir dos princípios acima elencados, as escolas do campo ganham um novo
estereótipo, um novo sentido, sobre a sua formação, efetivando uma proposta
pedagógica coerente e em sintonia com a história de luta dos trabalhadores do campo,
tendo a identidade vinculada à realidade na qual a escola está inserida.
Mister se faz, proporcionar às escolas a elaboração de uma proposta
pedagógica diferenciada, isto é, elaborá-la levando em consideração o contexto em
que a escola esteja inserida, sua história, cultura, necessidades, entre outros. Nesse
sentido, através do projeto político pedagógico é possível colocar em prática as
especificidades da comunidade. Para tanto, é necessário que seja um instrumento de
gestão democrática e sua elaboração permita envolver todos que fazem parte da
escola.
(...) deve partir de uma análise do contexto do campo e da escola e de uma concepção de Educação do Campo, suas finalidades e princípios básicos, como forma de caracterizar que espaço de atuação é esse, bem como a elaboração de proposta pertinente ao contexto em que a escola se insere (PIRES, 2012, p. 116).
De acordo com Pires (2012), a proposta pedagógica elaborada pela e com os
objetivos da Escola do Campo, deve permear uma educação que respeite o modo de
50
vida dos povos, suas dinâmicas sociais e acolha seus saberes e experiências. Sendo
assim, a educação escolar deve ser compreendida como prática social, em que trate
o conhecimento de forma a ser estimulada à formação de novas probabilidades de
vida e estabilidade no campo, como espaço de luta e de educação.
Entre os desafios das escolas do campo, está em redesenhar o novo perfil de
professores, dos papéis, das práticas, das estratégias e das ações, de forma a superar
as omissões com as quais tradicionalmente as escolas tem lidado como o processo
de aquisição dos conhecimentos. O currículo deve romper com a visão generalista,
única de conhecimento, de modo de pensar, de verdade, de ciência e de validade
(ARROYO, 2010).
O currículo se constrói conforme as configurações de práticas pedagógicas, de
acordo com as especificidades de uma determinada comunidade escolar. O currículo
deve prever através de seus conteúdos, um espaço a diversidade e ao diálogo, que
contribua para a formação e desconstrução do saber sequencial, estanque e
hierarquizado (SACRISTÁN, 2000).
É preciso ter ciência de que os sujeitos do campo, na condição de construtores
de suas histórias, sabem qual escola querem construir, de quais conteúdos ela deve
produzir e transmitir. Para Arroyo (2010), a escola do campo precisa de um currículo
que trabalhe com conteúdos relacionados à terra, ao território15 e a cultura dos povos.
No entanto, essa deve ser a base de formação dos profissionais que atuam nas
referidas escolas.
As propostas pedagógicas das escolas, enfatizadas nas Diretrizes
Operacionais da Educação Básica para as Escolas do Campo, antecipa a valorização
das questões relacionadas a gestão democrática, no artigo 13 prevê:
II – Propostas pedagógicas que valorizem, na organização do ensino, a diversidade cultural e os processos de interação e interação e transformação do campo, “a gestão democrática”, o acesso ao avanço científico e tecnológico e respectivas contribuições para a melhoria das condições de vida e a fidelidade aos princípios éticos que norteiam a convivência solidária e colaborativa nas sociedades democráticas (BRASIL, 2002).
Dessa forma, a Educação do Campo deve ser compreendida como uma
construção coletiva, participativa, em que toda a comunidade escolar possa contribuir,
de forma que sejam contemplados o exercício e a conquista de direitos em prol da
15Território, nesse texto faz referência ao local em que o sujeito está inserido, suas histórias, culturas,
modo de vida e necessidades. Vai muito além do espaço geográfico.
51
emancipação e construção da cidadania. A sala de aula não pode ser somente o lugar
de aprender conteúdo, deve ser o local de construção da subjetividade, da formação
enquanto sujeitos sociais, presentes e participantes do processo político, social,
educacional, entre outros (PIRES, 2012). No entanto, é necessário entender que todo
o processo participativo é permeado de conflitos e contradições, mas que devem ser
superados em favor de uma coletividade, de objetivos comuns.
A escola tem o dever de não só respeitar os saberes dos alunos, saberes
socialmente construídos na prática comunitária, como também discutir com os alunos
a realidade concreta a que se deva associar à disciplina (FREIRE, 2013). Nesse
sentido, tem-se como exemplo o município de Francisco Beltrão16, em que levando
em conta o contexto e necessidade da comunidade, criou-se a disciplina de
Desenvolvimento Rural Sustentável – DRS, que atualmente integra o currículo de 5º
a 9º ano do Ensino Fundamental (SEED, 2006), para contemplar os conteúdos
diversificados do currículo da turma em questão.
Conforme as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo no Estado do
Paraná (SEED, 2006), a proposta aponta importância em algumas problemática
essencial focalizadas nos conteúdos escolares, estas sistematizadas através de eixos
temáticos: Trabalho – Divisão Social e Territorial, Cultura e Identidade,
Interdependência campo-cidade, questão agrária e Desenvolvimento Sustentável e
Organização Política, Movimentos Sociais e Cidadania.
Essas problemáticas são referenciadas a partir dos encaminhamentos
metodológicos presentes nas práticas e atitudes dos profissionais. Os
encaminhamentos metodológicos (SEED, 2006), são alternativas do procedimento de
assimilação e construção de conhecimentos gerais, pedagógicos e de cada área do
conhecimento, levando em consideração a valorização dos seres humanos e dos
saberes das experiências em prol de uma educação que supere o estudo de
enciclopédias e valorize a vivência, a cultura, as práticas sociais dos envolvidos nas
ações pedagógicas.
Os procedimentos metodológicos visam atender aos eixos temáticos elencados
nas Diretrizes (SEED, 2006), permitindo visualizar no “eixo trabalho”, como uma
atividade humana de transformação, possibilitando a organização produtiva na
sociedade em que estamos inseridos, neste caso, as comunidades do campo.
16Município vizinho de Pato Branco/PR, situado na Região Sudoeste do Estado.
52
Dentre os temas a serem trabalhados a partir desta problemática, deve-se
contemplar os pertencentes ao contexto do campo, dentre eles, o ciclo completo da
produção e a divisão social do trabalho, levando-se em consideração as
especificidades em cada comunidade presentes através da cultura de seus povos.
Sendo assim, são muitas as possibilidades de desenvolver esta problemática em sala
de aula. Conforme as Diretrizes Curriculares, a formação do professor e sua
disposição para problematizar os aspectos da vida cotidiana são essenciais à
educação que se quer dos povos do campo (SEED, 2006, p. 36).
As manifestações culturais17 podem ser desenvolvidas através das práticas
pedagógicas nas escolas do campo; essa problemática é contemplada nas Diretrizes
Curriculares através do eixo Cultura e Identidade. Esta problemática é gerada na
prática social bem-sucedida de cada uma das camadas dos povos, coerentes no
sentido de fazer a escola ter um sentido maior para a formação dos alunos.
Outra temática indispensável, diz respeito a interdependência campo-cidade,
permite problematizar as atividades cotidianas, conforme necessidades sociais
básicas, como alimentação e água potável, importante para desenvolver práticas
coerentes ao desenvolvimento sustentável. Embora sabe-se que para o
desenvolvimento sustentável há a necessidade de um projeto político de sociedade
que contemple a dimensão socioambiental do ser humano, da sociedade e do planeta
(SEED, 2006, p. 40). E se pensar em desenvolvimento em nível de educação, não se
pode deixar de discorrer que independente de campo ou cidade, os direitos devem
ser igualmente constituídos.
Partindo da premissa elencada no parágrafo anterior, é importante ressaltar o
que Molina elenca:
(...) A Educação do Campo para ser coerente com um projeto popular para o país, uma educação comprometida com esse projeto e com um modelo contra hegemônico de desenvolvimento, necessita também da pluralidade dos projetos educacionais e esta, somente pode ser construída, se tivermos clareza do que significa para os camponeses o princípio da universalidade. (MOLINA, 2006, p. 58).
17Clifford Geertz – O conceito de cultura que eu defendo, e cuja utilidade os ensaios abaixo tentam
demonstrar, é essencialmente semiótico. Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado. É justamente uma explicação que eu procuro, ao construir expressões sociais enigmáticas na sua superfície. Todavia, essa afirmativa, uma doutrina numa cláusula, requer por si mesma uma explicação. (GEETZ, 2008, p. 4).
53
De acordo com Molina, os direitos universais aqui elencados, lembram que se
deve levar em consideração que o modelo de desenvolvimento não pode ser de forma
excludente, ou seja, partindo do pressuposto de que existem as mesmas
possibilidades, o mesmo contexto entre o campo e a cidade.
Para os camponeses, a luta pela educação como direito universal não é uma questão apenas de acesso, de ter o direito a estudar, a se organizar, mas o direito a serem reconhecidos como sujeitos que produzem conhecimentos, que possuem práticas diferentes na organização do trabalho e da cultura camponesa, não necessariamente, às mesmas engessadas pelo capitalismo, embora, muitas delas, estejam fortemente influenciadas por ele. (MOLINA, 2006, p. 58).
Molina admite, dessa forma, abrir espaço para o reconhecimento das
diferenças, das especificidades que existem no campo não encontradas na cidade.
No entanto, sem esquecer de que ambos, campo e cidade, são independentes, um
necessita do outro para sua sobrevivência. E, dessa forma, a concretização dessas
discussões estão apresentadas nos eixos temáticos das Diretrizes Curriculares da
Educação do Campo, os quais incluem esta problemática visando o entendimento da
relação campo X cidade.
Embora se sabe que o surgimento de novas perspectivas de trabalho
pedagógico não ocorre repentinamente, são efetivadas paulatinamente a partir de
diferentes encaminhamentos metodológicos, com clareza de qual é a concepção de
educação do campo se quer desenvolver.
Partindo da premissa já elencada, o capítulo seguinte apresenta a trajetória
percorrida no decorrer da pesquisa, o método utilizado, os sujeitos envolvidos,
constituídos de coordenações da Educação do Campo em âmbito de SEED/PR, NRE
de Pato Branco e Escolas do Campo do já mencionado NRE. Na sequência apresenta-
se a coleta de análise de dados.
54
3. CAMINHOS DE UMA CONQUISTA
Este capítulo tem por caracterização apresentar o caminho percorrido no
decorrer da pesquisa, as premissas norteadoras da investigação, os sujeitos, os
procedimentos de coleta, bem como, as abordagens pertinentes à análise de dados e
o contexto da pesquisa. Relacionada a implementação das Diretrizes Curriculares na
Educação do Campo, algumas dificuldades são apresentadas no decorrer deste texto,
a fim de discutir sobre os limites enfrentados pelas escolas do campo na atual
constituição da política pública presente na mencionada diretriz, e por consequência,
o texto também demonstra algumas conquistas demonstradas na trajetória.
3.1 Desenvolvimento Metodológico
Por considerar a temática complexa, tendo em vista as relações entre as
Diretrizes Curriculares da Educação do Campo e as ressignificações inerentes ao
processo de implementação de políticas públicas, algumas ancoragens teórico-
metodológicas se fizeram necessárias, permitindo uma análise acurada dos
tensionamentos neste contexto. Para tanto, de forma ilustrativa, faz-se uma analogia
a partir de Pezarico, propícia para o caminho de pesquisa, em relação à postura do
sujeito pesquisador e seu objeto de estudo:
Para que se possa plantar a terra, é preciso preparar o solo. É necessário arar
a terra, revirá-la, descompactá-la, transformar o material orgânico deixado pelas
culturas anteriores em substrato para a próxima cultura. E depois disso, nutrir com os
elementos necessários e que dela farão um solo fértil para que a semeadura possa
“vingar”. (PEZARICO, 2014, p. 3).
Paralelo ao pensamento da autora, adotou-se como precaução metodológica a
perspectiva de que o conhecimento é um processo em movimento, construído a partir
de ações condizentes às reivindicações, vontades e necessidades dos povos do
campo e, paulatinamente, à oportunidade de construir uma educação pensada a partir
do contexto vivido pelos seus sujeitos.
Amparada em tal precaução, compreende-se que o percurso do estudo se
estruturou em momentos distintos e salutares para que as concepções, tanto teóricas
quanto metodológicas pudessem estar amadurecidas. Para Minayo (2012), as fases
da pesquisa são distribuídas em momentos diferenciados: o primeiro, refere-se ao
conjunto de conceitos, métodos e técnicas; o segundo, diz respeito a fase exploratória,
55
esse é o momento que o pesquisador elabora seu projeto de investigação; o terceiro
momento, é o trabalho de campo, realizado a partir das entrevistas, observações,
levantamento de material, e outros necessários para a pesquisa; o quarto e último
momento, diz respeito ao tratamento dos dados pesquisados.
Dessa forma, o desenvolvimento do estudo foi estruturado da seguinte forma:
O primeiro momento dedicou-se ao estudo bibliográfico, a fim de apropriar-se
da fundamentação atribuída por estudiosos e pesquisadores da educação do campo.
Em seguida, em estudos de Minayo (2007), Bardin (1977), Ludke e André (1986),
entre outros, a fim de estabelecer a caracterização do método e metodologia de
investigação. Além disso, por considerar que a temática está inserida num feixe de
relações interessadas, o método emerge como conceito norteador necessário para a
abordagem coerente e teoricamente fundamentada. Minayo, explica o método
científico como sendo:
(...) define metodologia de forma abrangente e concomitante (...) a) como a discussão epistemológica sobre o “caminho do pensamento” que o tema ou o objeto de investigação requer; b) como a apresentação adequada e justificada dos métodos, técnicas e dos instrumentos operativos que devem ser utilizados para as buscas relativas às indagações da investigação; c) e como a “criatividade do pesquisador”, ou seja, a sua marca pessoal e específica na forma de articular teoria, métodos, achados experimentais, observacionais ou de qualquer outro tipo específico de respostas às indagações específicas (MINAYO, 2007, p. 44).
O segundo momento, caracterizou-se pelas aproximações do campo de estudo
de caráter qualitativo, realizando-se a partir de uma pesquisa em um contexto
exploratório, principalmente sobre as singularidades da Educação do Campo em
relação a outros projetos de formação, como a Educação Rural e Agrícola, por
exemplo.
O terceiro momento, possibilitado pelos momentos anteriores caracteriza-se
pelo trabalho de campo, que para Minayo (2007), é um momento a ser realizado após
o estudo bibliográfico, permitindo ao pesquisador aperfeiçoar o conhecimento sobre o
assunto. A etapa de pesquisa dedicou-se, primordialmente ao estudo das Diretrizes
Operacionais da Educação Básica para as Escolas do Campo, fundamentada pela
Resolução CNE/CEB 1/2002, tendo como propósito o entendimento,
encaminhamentos, as concepções e questões legais, aplicáveis ao contexto
brasileiro. Após a análise das prescrições no âmbito nacional, partiu-se para a análise
das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo no Estado do Paraná, visando o
entendimento das orientações e encaminhamentos previstos para essa modalidade
56
de ensino.
Neste sentido, destaca-se a utilização da pesquisa documental que, para
Minayo (2007), vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento
analítico, o que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da
pesquisa. Da mesma forma, Ludke e André consideram pesquisa documental aquela
realizada:
Desde leis e regulamentos, normas, pareceres, cartas, memorandos, diários
pessoais, autobiografias, jornais, revistas, discursos, roteiros de programas de rádio
e televisão até livros, estatísticas e arquivos escolares (LUDKE E ANDRÉ, 1986, p.
38).
As respostas obtidas pelos pesquisados apresentam variedades e para melhor
análise, foi necessária organizá-la seguindo uma ordem, ou seja, nessa pesquisa,
iniciou-se:
Coleta de dados a um profissional que compõe a Coordenação da Educação
do Campo, pertencente à SEED/PR;
Posteriormente, a um profissional que compõe a Coordenação da Educação do
Campo, pertencente ao NRE/Pato Branco;
Em seguida a 3 escolas do campo, pertencentes ao NRE/Pato Branco,
destinada a um profissional que compõe a direção ou coordenação de escola, as quais
foram escolhidas por localização geográfica, na tentativa de contemplar as diferentes
regiões dos 15 municípios desse NRE.
Por fim, apresenta-se, foram questionados 6 professores que pertencem a
escolas do campo do já mencionado NRE.
É importante ressaltar, que a coleta de dados foi realizada mediante
agendamento prévio e a partir da assinatura do Consentimento Livre e Esclarecido,
que consta no anexo II dessa dissertação.
O quarto momento diz respeito ao tratamento e análise dos dados pesquisados.
Desse modo, a apreciação de conteúdo aconteceu conforme o que fundamenta
Bardin, a partir dos pressupostos estabelecidos para a análise de conteúdo:
É o estudo das motivações, das atitudes, dos valores, das crenças, das
tendências e, acrescentamos, auxilia a desvendar as ideologias que podem existir nos
dispositivos legais, princípios e diretrizes e outros que a simples vista não se
apresenta com a devida clareza. (BARDIN, 1977, p. 4).
Por outro lado, para a autora supracitada, em alguns casos, a análise de
57
conteúdo é pertinente por auxiliar na pesquisa dando-lhe maior profundidade e
complexidade. Tal abordagem se preocupa com um nível de realidade que não pode
ser quantificado, ou seja, ela trabalha com um universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes que correspondem a um espaço mais profundo
das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis.
Dessa premissa, a fim de considerar os objetivos construídos para esta
pesquisa e no intuito de proporcionar maior clareza quanto à análise dos dados, três
categorias foram estabelecidas, neste sentido, a primeira categoria refere-se à
Educação do Campo no contexto das Diretrizes estabelecidas pela SEED/PR; a
segunda categoria se refere às percepções dos sujeitos vinculados as orientações
que contemplam a implementação nas escolas do campo, e como está sendo
articulada a implementação desse documento na SEED/PR, enquanto mantenedora
das referidas escolas e descentralizadora das referidas orientações, no NRE/Núcleo
de Pato Branco, por ser a unidade em que estabelece articulação entre SEED e
Escolas do Campo e, por fim, as Escolas do Campo do já denominado NRE, na figura
dos diretores ou coordenadores e professores; a terceira categoria, se refere aos
limites e desafios no contexto do processo de implementação da educação do campo
no estado do Paraná, orientado por tais Diretrizes.
3.2 Educações do Campo no Contexto das Diretrizes
As Diretrizes Curriculares da Educação do Campo, no Estado do Paraná, foi
resultado de inúmeros encontros, discussões e cursos específicos, a fim de possibilitar
a elaboração do texto que contempla a referida diretriz. No entanto, entre 2003 e 2010,
foi o período de estudos e elaboração e, em 2006 foram publicadas com o propósito
de orientar para a gestão de Políticas Públicas Educacionais, além de um conjunto de
orientações para a prática pedagógica na Escolas do Campo de forma articulada às
Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Nesse sentido:
(...) chegam às escolas como um documento oficial que traz as marcas de sua construção: a horizontalidade, que abraçou todas as escolas e núcleos regionais de educação do estado e a polifonia, que faz ressoar nelas as vozes de todos os professores das escolas públicas paranaense. (SEED/PR, 2006, p. 05).
Contudo, ao analisar o documento da referida Diretriz, percebe-se que se pode
definir quatro aspectos relevantes para essa pesquisa:
58
Figura 2 - Aspectos analíticos das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo no Estado do Paraná Fonte: Elaboração própria (2014), a partir das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo no Estado do Paraná (SEED, 2006).
Ao longo da história da educação do campo, visualizam-se marcos em que a
educação rural manteve-se marginalizada com relação às políticas públicas. O Estado
do Paraná, assim como em todo o Brasil, apresentava-se com grandes precariedades,
por isso, importantes iniciativas ocorreram, dentre elas a mobilização do MST para
alfabetização de jovens e adultos nos assentamentos de Reforma Agrária, elaboração
de materiais teórico-metodológico, seminários, entre outros (SEED/PR, 2006).
Outras ações foram criadas no propósito de amenizar os problemas
enfrentados pelos povos das áreas rurais, como na década de 1990, a criação do
Programa Especial Escola Gente da Terra, que tinha por finalidade dar um
atendimento diferenciado aos povos do campo, em nível de Ensino Fundamental e
alfabetização de Jovens e Adultos, a criação de cadernos de subsídios destinados
aos jovens e adultos. Nesse processo, é importante ressaltar que o MST e a Comissão
Pastoral da Terra agiam como interlocutores entre comunidade do campo e instâncias
governamentais.
Em parceria com a Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural
(Assesoar), através do projeto Vida na Roça, foram importantes para a discussão a
respeito da escola e dos povos do campo. Assim como as relevantes contribuições:
Fetraf-SUL / CUT - Federação dos Trabalhadores na Agricultura da Região Sul /
59
Central Única dos Trabalhadores, escolas itinerantes. E no ano 2000, criou-se a
Articulação Paranaense por uma Educação do Campo, seminários, conferências,
entre outros, cujo objetivo era em favor de uma coletividade, ou seja, os povos do
campo (SEED/PR, 2006).
Pelo exposto, o histórico da educação do campo pode ser definido em quatro
períodos:
Período:
Ações:
Primeiro Período: Negação dos camponeses como sujeitos sociais e
cidadãos brasileiros;
Segundo Período: Período de preocupação com a educação rural, por
parte do Estado, em função da migração campo-cidade e do
atraso sociocultural da população rural;
Terceiro Período: Década de 1960, influência de Paulo Freire e outros,
na alfabetização de jovens e adultos. – Com o golpe militar
houve recuo nos projetos educacionais objetivando
educação emancipatória;
Quarto Período: Década de 1980, organização dos movimentos
sociais, avanço nos debates da educação do campo,
impulso do MST exercendo influência política.
Quadro 1 - Períodos históricos da Educação do Campo Fonte: Elaboração própria (2014) – a partir de dados das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo (SEED/PR, 2006).
De acordo os dados mencionados no quadro 4, o contexto histórico no Brasil
demonstra que, mesmo sendo um país essencialmente agrário, desde o seu
surgimento, percebe-se que nos textos das Constituições de 1824 e 1891 a educação
rural não foi mencionada. Somente por conta do movimento migratório no século XX,
a sociedade despertou. Foi nessa época também que surgiu o Ruralismo Pedagógico,
já mencionado nessa dissertação. E, posteriormente, também já argumentado nessa
dissertação, por influência dos pensamentos de Paulo Freire, e a mobilização para
alfabetizar jovens e adultos, por conta de mobilizações, reinvindicações, interesses e
reflexões em favor de uma educação diferenciada, a educação do campo se
intensifica e toma espaço nas políticas públicas.
No entanto, busca-se uma educação com características problematizadoras,
60
que se leve em conta os saberes dos sujeitos paralelos aos conteúdos curriculares
(SEED/PR, 2006). Para tanto, um procedimento essencial para a educação que se
quer construir tem relação com a escuta, quer dizer, ouvir os clamores, anseios,
reivindicações, sonhos, dissabores, críticas, sabedorias, necessidades, etc. dos
povos do campo.
A estrutura do texto das Diretrizes está organizada em três subitens, a saber:
Subitens: Considerações:
Histórico da Educação do
Campo:
São discorridos aspectos da trajetória da
educação do campo no Brasil, assim como, as
políticas públicas evidenciadas e a atual
admissão na agenda política.
Concepção de educação do
campo:
A concepção “do” e “no” campo, o
entendimento sobre a que campo se pretende
construir; levando em conta a história, cultura,
e outros fatores que diferencia o sujeito do
campo.
Eixos temáticos e
encaminhamentos
metodológicos:
São apresentadas sugestões,
encaminhamentos de conteúdos e alternativas
metodológicas visando às especificidades para
a educação do campo.
Quadro 2 - Organização das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo Fonte: Elaboração própria (2014) -a partir de dados das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo (SEED/PR, 2006).
O quadro 5 aponta os principais procedimentos ao desenvolvimento curricular
na Educação do Campo, cujo processo intenciona acontecer de forma
problematizadora, visando atender às especificidades de cada comunidade, escola e
alunos. Problematizar (SEED/PR), implica discutir os conteúdos de forma a gerar
indagações e não de forma enciclopédica e mecânica. Da mesma forma, deve-se
proporcionar ao aluno o entendimento de que campo se está falando. Nesse sentido,
o texto das Diretrizes orienta que:
Tal seleção requer procedimentos de investigação por parte do professor, de
61
forma que possa determinar quais conteúdos contribuem nos diversos momentos
pedagógicos para a ampliação dos conhecimentos dos educandos. Estratégias
metodológicas dialógicas, nas quais a indagação seja frequente, exigem do professor
muito estudo, preparo das aulas e possibilitam relacionar os conteúdos científicos aos
do mundo da vida que os educandos trazem para a sala de aula. (SEED/PR, 2006, p.
29).
Nesse sentido, Arroyo entende que, não somente o trabalho para o
cumprimento dos conteúdos são relevantes, assim como, a escola representa muito
mais:
A escola, a capela, o lugar, a terra são componentes de sua identidade. Terra,
escola, lugar são mais do que terra, escola ou lugar. São espaços e símbolos de
identidade e de cultura. Os movimentos sociais revelam e afirmam os vínculos
inseparáveis entre educação, socialização, sociabilidade, identidade, cultura, terra,
território, espaço, comunidade (ARROYO, 2007, p. 163).
Dessa forma, Pezarico corrobora com Arroyo no sentido de abordar um
contexto pedagógico indissociável ao cultivar e compartilhar identidades, da oralidade,
dos saberes tradicionais e memórias coletivas estabelecidas na relação entre povos,
comunidade e natureza. Nesse aspecto, entende-se o campo como local dinâmico,
de vida e de organização.
Daí a importância política ao considerar como fundamentais as políticas que
garantam o direito à educação que seja “no” e “do” campo – no: o povo tem o direito
a ser educado no lugar onde vive. Do: o povo tem o direito a uma educação pensada
desde o lugar e com a sua participação, vinculada à sua cultura e às necessidades
humanas e sociais. (PEZARICO, 2014, p. 37).
As práticas pedagógicas são sugeridas pelas Diretrizes da Educação do
Campo, a fim de atender e repensar as ações de sala de aula, professores e
comunidade escolar, visam construir algumas características essenciais no processo
de ressignificação do campo (SEED/PR, 2006), tais como:
Concepção:
Características:
Concepção de Mundo: O ser humano é sujeito da história. O homem
do campo não é atrasado, submisso; possui um jeito
de ser peculiar.
62
Concepção de Escola: A escola é o local de apropriação de
conhecimentos científicos construídos
historicamente pela humanidade. Local que
possibilite a ampliação dos conhecimentos, em que
os aspectos da realidade seja o ponto de partida do
processo pedagógico.
Concepção de Conteúdos
e Metodologias de Ensino:
Os conteúdos são selecionados a partir do
significado que têm para determinada comunidade
escolar. Requer procedimento de investigação por
parte do professor.
Concepção de Avaliação: É um processo contínuo e realizado em
função dos objetivos propostos para cada momento
pedagógico.
Quadro 3 - Características da Educação do Campo no processo de ensino e aprendizagem Fonte: Elaboração própria (2014) – a partir de dados das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo (SEED/PR, 2006).
Nota-se que nestas Diretrizes tais concepções são fundamentais para o
processo de ensino e aprendizagem, contemplam as especificidades e o jeito próprio
de fazer educação, de forma que possa considerar os conteúdos curriculares e as
vivências. Pelo histórico da educação do campo, percebe-se que as referências das
atividades pedagógicas raramente são baseadas nos saberes, na cultura e
experiências dos povos do campo; da mesma forma que a organização dos sistemas
de ensino, a formação dos profissionais e a elaboração de materiais didáticos não
condizem com a realidade em que as escolas estão inseridas. Essa visão surge da
iniciativa de que o urbano serve de modelo ideal para os demais contextos, dentre
eles, as escolas do campo. (SEED/PR, 2006).
O texto das Diretrizes Curriculares aponta eixos temáticos, que permitem
corroborar com o fazer pedagógico em sala de aula, visando encaminhamentos
metodológicos alternativos no processo de aquisição e construção das
aprendizagens, tendo em vista o valor atribuído ao ser humano no ambiente escolar,
propriamente em sala de aula, assim como, os saberes dos povos valorizando os
aspectos sociais, culturais e históricos, de forma que supere a dimensão enciclopédica
proporcionada pelos livros didáticos. (SEED/PR, 2006).
Nesse sentido, autores como Pires (2012) defendem a ideia de que é de
63
fundamental importância viabilizar nas escolas do campo a construção de uma
proposta pedagógica diferenciada. Isto é, o Projeto Político Pedagógico se constitui
em um instrumento de gestão para pôr em ação as propostas viabilizadas pela escola.
Partindo desta premissa, a pesquisa elaborada para essa dissertação, cujo
resultado será explanado nos próximos capítulos, percebe-se grande movimento das
escolas em favor da ressignificação de seu espaço escolar. Desenvolvem-se ações
no sentido de atender aos anseios, necessidades e características próprias de cada
comunidade. A seguir, apresenta-se os principais eixos temáticos apontados pelas
Diretrizes Curriculares da Educação do Campo. Tais eixos, configuram-se como
primordiais para a educação que se pretende construir em escolas do campo:
Eixo Temático
Definição
Trabalho, divisão social e
territorial:
O trabalho é definido como atividade humana
que transforma a natureza e o próprio ser humano.
Permite a reflexão sobre a organização produtiva na
sociedade capitalista e em outros modos de
produção. O ponto de partida é a análise sobre as
atividades humanas produtivas desenvolvidas pelos
povos do campo.
Cultura e Identidade: Cultura é entendida, como toda a produção
humana que se constrói a partir das relações
humanas com a natureza, no coletivo. Devem ser
compreendidas como modos de vida, a partir dos
costumes, relações de trabalho, família, religião,
diversão, etc. A cultura é motivada na prática social
produtiva de cada uma das categorias sociais dos
povos do campo.
Interdependência campo-
cidade, questão agrária e
desenvolvimento
sustentável
A partir do século XX, com o início da
industrialização no Brasil iniciou um processo de
interdependência entre campo-cidade. A
interdependência campo-cidade pode ser
problematizada a partir das atividades cotidianas e
das necessidades sociais básicas, como
64
alimentação e água potável.
Organização política,
movimentos sociais e
cidadania
A inexistência de movimentos sociais,
associações comunitárias, organizações sociais,
etc. indica a organização política dos moradores de
um determinado local.
Quadro 4 - Eixos temáticos nas Diretrizes da Educação do Campo Fonte: Elaboração própria (2014) – a partir de dados das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo (SEED/PR, 2006).
Em relação a estes eixos temáticos, considera-se importante refletir sobre
Trabalho, divisão social e territorial e organização de produção, tanto na sociedade
capitalista, como em outros modos de produção, cujo ponto de partida precisa ser aos
sujeitos do campo (SEED, 2006).
Pelos estudos para essa pesquisa e em outros já realizados, é sabido que a
organização social e de trabalho é segregada na sociedade capitalista em que se vive,
de modo que muitos possuem pouco espaço de terra e poucos são proprietários de
grandes extensões. Todavia, dentre essa organização social estão presentes formas
culturais diversificadas, com peculiaridades e modos de vidas, cuja fundamentação
teórica e prática precisam constar nas práticas pedagógicas de professores em sala
de aula.
Quanto ao eixo cultura, é de relevância salientar, que por muito tempo a cultural
dos povos do campo foram negadas, da mesma forma que suas histórias não
apresentavam relevâncias, tampouco a criação de vínculo entre comunidade do
campo e contexto escolar, todavia, não faziam parte das discussões e dos currículos
dos educandos e atividades planejadas pelos professores.
De acordo com o que propõe as Diretrizes Curriculares da Educação do
Campo, as relações culturais, econômicas, políticas e sociais que marcam e
remarcam os diferentes municípios do Estado do Paraná, aproximam o debate para a
percepção, relação e interdependência existentes entre o campo e a cidade, assunto
necessário que merece atenção especial de professores, alunos e comunidade tanto
do campo, quanto da cidade (SEED/PR, 2006).
Outro eixo temático presente nas Diretrizes Curriculares, diz respeito a
organização política, movimentos sociais e cidadania. A partir desse eixo, o professor
tem a possibilidade de refletir com os alunos os enfrentamentos políticos, as lutas
65
sociais e as condições de existência dos familiares que residem no campo e também
na cidade.
Com relação aos eixos apresentados, não basta o professor trabalhar o
conteúdo teórico, faz-se necessário conhecer as escolas do campo no estado do
Paraná, em especial o contexto que circundam o processo de ensino e aprendizagem,
limites e desafios que permitem e impedem o direcionamento de ações e políticas em
prol do efetivo desenvolvimento de currículos dinâmicos, capazes de apropriar a
riqueza do campo oferecendo a ampliação dos conhecimentos escolares, para isso, a
pesquisa buscou conhecer o contexto do Estado do Paraná, visando identificar
especificidades com relação ao contexto do Estado, a fim de melhor compreender
como está ocorrendo a implementação das diretrizes nas escolas do campo.
Considerando os elementos analisados, percebe-se que no âmbito das
Diretrizes, o texto orienta para que a Educação do Campo seja efetivada, levando em
conta o currículo que atenda as especificidades de cada comunidade. No entanto, o
texto da Diretriz discorre que:
Os saberes escolares localizam-se em dois planos: os saberes da experiência
trazidos pelos alunos. Os saberes da experiência trazidos pelos professores, somados
aos específicos de cada área do conhecimento e aos gerais. Para que se efetive a
valorização da cultura dos povos do campo na escola, é necessário repensar a
organização dos saberes escolares; isto é, os conteúdos específicos a serem
trabalhados. (SEED/PR, 2006, p. 45).
Dessa forma, as Escolas têm a liberdade para reorganizar seus currículos, a
fim, de atender as particularidades, podendo até mesmo acrescentar disciplinas. No
entanto, as Disciplinas em âmbito da Educação Básica Nacional Comum, não podem
ser desconsideradas.
3.3 Os Sujeitos-Atores Sobre a Implementação da Educação do Campo nas
Escolas do Campo: Para a Compreensão das Percepções
Para a análise dos dados foi necessária uma breve caracterização dos sujeitos
envolvidos no processo. Para isso, conhecer através de pesquisas, algumas
características que definem o Estado do Paraná, bem como, a execução da SEED/PR,
no que diz respeito à Educação do Campo, o NRE de Pato Branco e suas Escolas do
Campo, na figura do Diretor ou Coordenador e Professores.
66
3.3.1 O Estado do Paraná
Considerando a necessidade de aproximações iniciais com os lócus de estudo
e seus sujeitos, considerou-se premente a caracterização do Estado do Paraná, em
termo educacionais, bem como, as articulações decorrentes entre SEED, NRE de
Pato Branco e escolas do campo vinculadas a este.
Neste sentido, atribui-se maior ênfase à Região Sudoeste, área de abrangência
do NRE de Pato Branco, sua população, índice de desenvolvimento, atividades
econômicas e qualidade de vida. Buscou-se dados na possibilidade de maior
entendimento das condições de implementação das Diretrizes Curriculares da
Educação do Campo nas Escolas pertencentes ao NRE/Pato Branco. Esses dados
são apresentados no quadro a seguir:
Especificidades Paranaense
Extensão do Paraná na superfície brasileira: 2,3 da superfície brasileira
População total do Brasil: 11.105.232
População Rural do Brasil: 14,7%
IDH do Paraná: 0,749
Melhor Capital do Brasil em qualidade de vida: Curitiba
Atividades Econômicas: Agricultura, pecuária,
mineração, extrativismo vegetal
e indústrias.
Quadro 5 - O Estado do Paraná, suas especificidades Fonte: Elaboração própria (2014) – a partir de dados do IBGE (2010).
De acordo com o quadro acima elencado, a partir de dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2014, o Estado abrange 2,3% da
superfície brasileira, apresentando um total aproximado de 11.105.232habitantes. Em
2010 (IBGE) apresentou um total de 14,7% da população residem em áreas rurais. O
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,749, (IBGE) em 2010, classificando-
se Curitiba, como uma das melhores capitais em qualidade de vida. Nas atividades
econômicas, exibe variedades, entre agricultura, pecuária, mineração, extrativismo
vegetal e industrial, por isso, é considerada entre os Estados de melhor economia. Na
economia, a agricultura também representa forte influência na produção de grãos
(IBGE, 2010).
No setor educacional, especialmente, no ensino superior, o Estado do Paraná
oferece importante representatividade.
67
Universidades Públicas –Paraná
Universidade Federal no
Paraná:
Fronteira do Sul (UFFS),
Integração Latino-Americana (UNILA)
Federal do Paraná (UFPR).
Universidade Tecnológica
Federal no Paraná – UTFPR,
campus de:
Curitiba,
Pato Branco,
Dois Vizinhos,
Medianeira,
Apucarana,
Londrina,
Francisco Beltrão,
Toledo,
Campo Mourão,
Cornélio Procópio,
Ponta Grossa.
Instituto Federal no Paraná,
campus de:
Curitiba,
Londrina,
Foz do Iguaçu,
Jacarezinho,
Paranaguá,
Paranavaí,
Telêmaco Borba,
Umuarama,
Londrina,
Ivaiporã,
Assis Chateaubriand,
Cascavel,
Campo Largo,
Palmas
Lapa
Irati
Universidades Estaduais no
Paraná:
Estadual do Paraná (UNESPAR),
Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE),
Estadual do Norte do Paraná (UENP),
Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO),
Estadual de Ponta Grossa (UEPG),
Estadual de Maringá (UEM),
Estadual de Londrina (UEL)
Estadual do Paraná (UEPR).
Quadro 6 - Universidades Públicas – Paraná Fonte: Elaboração própria (2014) – a partir de dados do MEC (2014).
68
Julga-se pertinente argumentar sobre o quadro 6, em que as instituições em
nível Federal e Estadual apresentam um número significativo no cenário estadual.
Porém, sabe-se que não é o suficiente para suprir as necessidades sociais.
As universidades da Rede Pública de Ensino, aqui demonstradas, são aquelas
constituídas e mantidas pelos poderes públicos federal ou estadual. Essas instituições
oferecem cursos gratuitos, demonstram qualidade de ensino e grande diversidade de
cursos. Entre eles, embora em pequeno número, proporcionam cursos de formação
em educação do campo.
Os Institutos Federais demonstram maior número, encontram-se dezesseis
instituições em assíduo desenvolvimento no Estado. O papel dos Institutos Federais
garante a perenidade de ações que visem incorporar, antes de tudo, setores sociais
que historicamente foram alijados dos processos de desenvolvimento e modernização
do Brasil, o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e afirma uma
Educação Profissional e Tecnológica como instrumento realmente vigoroso na
construção e resgate da cidadania e transformação social (PEREIRA, 2008). Dessa
forma, as atribuições dos Institutos Federais além de proporcionar a construção do
conhecimento, formação cidadã, também prepara para o mundo do trabalho, a fim de
enfrentar as dinâmicas da competitividade e tecnologias industriais.
As Universidades Tecnológicas Federais instituídas na abrangência do estado
do Paraná, oferecem diversos cursos profissionalizantes, entre eles: Bacharelados,
Licenciaturas e Tecnólogos. Elas proporcionam a continuação de estudos para os
acadêmicos, estendendo para Pós-Graduação lato e stricto sensu em diferentes áreas
do conhecimento. É mister o destaque para a UTFPR, campus de Pato Branco, por
ser a instituição do Programa de Pós-Graduação stricto sensu Desenvolvimento
Regional, o qual esta pesquisa se constitui.
No Estado do Paraná oito Universidades Estaduais promovem o
desenvolvimento do ensino superior em diversas áreas. As instituições estaduais são
de responsabilidade da Rede Estadual de Ensino.
E para concluir a exposição do quadro 6, apresenta-se as três Universidades
Federais encontradas no Estado do Paraná, cujo destaque está na localização das
referidas instituições. Elas estão situadas em regiões de maior abrangência
populacional: a UFPR em Curitiba, capital do estado, a UNILA na região de fronteira
sul, próxima aos países vizinhos, Paraguai e Argentina e a UFFS em regiões próximas
em estados do Sul do Brasil.
69
É importante destacar que, embora os cursos de Educação do Campo ser em
menor número em relação a outros cursos, as instituições públicas supracitadas se
preocupam com a formação da população do campo, pois através dos estudos já
realizados para a elaboração dessa dissertação, identificou-se que as IES oferecem
cursos de licenciatura, desenvolvem encontros de estudos, seminários e colabora com
a SEED/PR na formação continuada dos profissionais quando solicitadas.
Das instituições em nível estadual no Paraná, destacam-se pela quantidade, as
Escolas de Ensino Fundamental e Médio. Nessa pesquisa não se faz referências as
escolas municipais, por não se tratar como prioridade em nosso estudo. As Escolas
Estaduais são fundadas a partir das necessidades locais, ou por área de abrangência.
Na figura a seguir, mostrar-se dados referentes às Escolas da Rede Estadual de
Ensino do Paraná.
Figura 3 - Dados referentes as Escolas pertencentes a Rede Estadual de Ensino 18 Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados da SEED/PR (2014).
O quadro demonstra que a educação no Paraná, que sua organização e origem
estão relacionadas à história da educação no Brasil. Mister se faz comparar as
características do país, tendo em vista o processo de ocupação e exploração territorial
e cultural, sobretudo as contradições existentes na sociedade. Nesse sentido, buscou-
se aprofundar esse assunto a partir de Bernartt:
As regiões são conceituadas, então, como um produto das relações entre seus setores competentes, a partir de um determinado centro, que pode ser um nó (regionais) ou um polo de irradiação socioeconômica (regiões polarizadas). Esse centro atua, desempenhando funções econômicas hegemônicas (produção e distribuição de bens industriais, realização de
18Para essa pesquisa não temos como propósito elencar aspectos da Rede Municipal de Ensino, se
apresentados, somente a fim de informação.
70
serviços, dentre outras) (BERNARTT, 2006, p. 21).
Nessa ótica, análogo ao exposto por Bernartt, entende-se que os NREs se
constituem de centros responsáveis pelos municípios que os circundam; compreende-
se também, que para determinar o polo centralizador, alguns aspectos são
observados, a exemplo, a localização geográfica, situação sociopolítica, cultural, a
vegetação típica, alguns fenômenos naturais significativos, entre outros. No entanto,
é importante ressaltar que região no entendimento dessa pesquisa, vai muito além
que o espaço geográfico, é um local de histórias, lutas, vivências e culturas. Dessa
forma:
Para que as regiões não sejam escolhidas de forma arbitrária, é necessária a
obediência à disposição determinada pela natureza, de modo que cada uma delas
apresente uma certa unidade de conjunto, resultante da correlação entre os diversos
fatos geográficos que nelas podem ser observados. (BERNARTT, 2006, p. 26 – 27).
A região pode ser caracterizada pelas próprias relações inter-regionais, que,
por sua vez, representam uma dimensão das relações sociais. Para a finalidade desse
estudo, o termo região faz referência aos Núcleos Regionais de Educação, pois dos
existentes no estado do Paraná, o NRE de Pato Branco constitui-se lócus dessa
pesquisa, o qual desenvolve ações junto aos estabelecimentos de ensino de sua
região.
3.3.2 O Contexto da Secretaria de Estado da Educação – SEED/PR
É preciso considerar o objetivo principal deste estudo, está relacionado às
escolas do campo. Com isso, é de fundamental importância conhecer os órgãos
responsáveis pelo desenvolvimento dessa modalidade de ensino; composta pela
Secretaria de Educação – SEED – Paraná19, Núcleo Regional de Educação – NRE de
Pato Branco e escolas do campo. Considerando a hierarquia de autonomia
correspondentes:
Secretaria de Estado da Educação – SEED/PR, situada em Curitiba, capital do
Estado – Avenida Água Verde, 2140 – Vila Isabel, CEP: 80240-900. Telefone: (41)
3340-1746 e (41) 3244-8499, tem por incumbência os 32 Núcleos Regionais de
Educação – NRE.
19A coordenação da Educação do Campo da SEED / Curitiba está vinculada ao Departamento da
Diversidade.
71
A Educação do Campo no Estado do Paraná está vinculada às atribuições da
SEED, a mesma pertence ao Departamento da Diversidade; e este Departamento
constitui-se de quatro coordenações, dentre elas, a Educação do Campo. A
coordenação tem por atribuição orientar, fiscalizar e implementar políticas públicas em
nível de Estado.
As atribuições da Secretaria de Estado e Educação – SEED/PR consistem em
orientar, fiscalizar e implementar políticas públicas em nível de estado. A modalidade
de Educação Básica do Campo, a educação para a população rural está prevista com
adequações necessárias às peculiaridades da vida no campo e de cada região
(SEED/PR, 2014)20.
Com base nas informações apresentadas pela SEED/PR, há aspectos
essenciais à organização da prática pedagógica, em que se privilegie os conteúdos
curriculares com referência às reais necessidades e interesses dos estudantes das
zonas rurais; da mesma forma que, a organização escolar com as especificidades de
adequação conforme fases do ciclo agrícola e às condições climáticas do local; por
conseguinte, adequação à natureza do trabalho na zona rural.
Na sequência, a figura apresenta o Paraná em números, ou seja, os habitantes,
escolas e matrículas escolares:
Figura 4 - Paraná em Números Fonte: Elaborado pela autora (2014), a partir de dados do IBGE (2010); Dados População e Souza, Fontana, Marcoccia (2012).
20Fonte: www.educadores.diaadia.pr.gov.br
72
Os dados demonstrados na figura 4 retratam alguns aspectos que
proporcionam conhecer a dimensão do Estado do Paraná, no que se refere a sua
população, instituições de ensino, sobre tudo às da Rede Estadual.
Nota-se que os 10.444.526 habitantes dos 399 municípios do Estado, possuem
um total de 2.148 Escolas da Rede Estadual de Ensino; calcula-se uma média de 5,38
escolas para cada município, porém, levando-se em conta de que há municípios que
possuem uma quantidade muito maior de escolas, devido ao número de habitantes.
Dessa forma, entende-se que o número de escolas demonstradas no fluxograma é
insuficiente para o total de habitantes.
Outro cálculo é de relevante contribuição, quando comparado o número de
1.328.023 matrículas na Rede Estadual de Ensino, com a quantidade de 2.149
escolas, tem-se um total de 617.97 alunos por estabelecimento de ensino. Levando
em consideração de que muitas Escolas Estaduais possuem um número muito maior
de alunos, inúmeras delas constituem-se de 5 vezes maior a esse total; fica visível a
insuficiência de escolas para a quantidade de alunos em que o Estado possui.
Seguindo o mesmo raciocínio, e motivo específico dessa investigação, as
escolas do campo apresentam dados interessantes. O contexto rural possui 1.700
escolas para uma população de 1.531.834. Em uma primeira leitura, imagina-se que
este número seja pequeno para a abrangência do Estado do Paraná; no entanto, o
rural vive a problemática da permanência no campo. Conforme dados apresentados
por Souza, Fontana, Marcoccia (2012), o Estado do Paraná registrou na década de
1990, 3.500 estabelecimentos de ensino no estado. Das escolas estaduais existentes
no rural, aproximadamente 80% funcionam em dualidade administrativa (estadual e
municipal).
Tal entendimento permite considerar que, esses números mostram que as
escolas situadas no campo, embora o total de alunos seja pequeno, ainda é
insuficiente para a demanda do campo. Isso porque muitos desses alunos ainda
frequentam o ensino urbano; essa problemática é apresentada por Souza, Fontana,
Marcoccia (2012), em torno de 78% dos alunos que estudam nas escolas têm que se
locomover para o perímetro urbano para estudar; outros 22% se locomovem para as
escolas localizadas no próprio campo.
Quanto ao propósito dessa pesquisa, a abrangência do NRE/Pato Branco,
constitui-se de 75 escolas da Rede Estadual, dessas 29 escolas são do campo, as
quais constitui-se de 64.750 matrículas, distribuídos nos 15 municípios. Esses dados
73
serão analisados na sequência, ao apresentar as 29 escolas pertencentes a esse
NRE.
3.3.3 O Contexto do Núcleo Regional de Educação (NRE) de Pato Branco
O NRE de Pato Branco abrange 15 municípios da região sudoeste do Estado
do Paraná.21 No que tange ao quadro de funcionários do NRE, na grande maioria são
professores da Rede Estadual de Ensino, cuja atribuições consistem em dar
continuidade às metas e ações da Secretaria de Estado da Educação – SEED. O
atendimento à comunidade escolar em suas necessidades é um dos princípios desse
NRE.
O Núcleo Regional de Educação tem como atividades específicas22:
Atender as escolas a que pertence, no âmbito da Educação Básica, incluindo
Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos – EJA, Centro de Línguas
Estrangeiras Modernas – CELEM, Paraná Alfabetizado e Educação
Profissionalizante; dentre os citados, estão incluídas as escolas pertencentes ao meio
urbano e rural.
É de incumbência do NRE dar informação, orientação, mediação e articulação
das políticas públicas constituídas pelas SEED.
Atender às necessidades específicas de cada escola no processo de
construção de aprendizagens, as quais, são assistidas pelo grupo que constituem a
equipe pedagógica do NRE (SEED/PR, 2014). E estes por sua vez, visam a qualidade
educacional e social de acordo com as características de cada comunidade.
A demanda de trabalho dos profissionais do NRE/Pato Branco tem por
atendimento às escolas pertencentes a rede pública estadual, bem como, da rede
pública municipal e particular.
É importante ressaltar que “Escola do Campo”, nomenclatura denominada às
escolas rurais, tem base no que estabelece as Diretrizes Operacionais para Educação
Básica no Campo.
As 2.148 Escolas pertencentes ao Núcleo Regional de Educação de Pato
Branco contemplam 54.881 turmas, atendendo 1.322.282 matrículas, distribuídas nos
21 Município de: Bom Sucesso do Sul, Chopinzinho, Clevelândia, Coronel Domingos Soares, Coronel Vivida, Honório Serpa, Itapejara D’Oeste, Mangueirinha, Mariópolis, Palmas, Pato Branco, São João, Saudades do Iguaçu e Sulina. 22 Fonte: SEED/PR (2014).
74
15 municípios desse NRE. As 29 escolas do campo estão incluídas nesses números.
3.4 Percepções sobre a Implementação da Educação do Campo: Principais
Sínteses
Inicialmente, as análises sobre as percepções da implementação das Diretrizes
Curriculares da Educação do Campo recaíram sobre a sua trajetória. Para tanto, as
análises tiveram como ponto de partida, o departamento de agentes envolvidos no
estabelecimento das próprias diretrizes.
Com o propósito de expor os movimentos com relação a elaboração das
Diretrizes Curriculares da Educação do Campo, buscou-se identificar sujeitos que
vivenciaram este processo, dentre os quais, doravante nominada como “professora”,
trabalhou na SEED/PR no período de março de 2005 a julho de 2009, na função de
coordenadora da educação do campo, de abril de 2007 a julho de 2009, participando
efetivamente da elaboração das Diretrizes da Educação do Campo.
A “professora”, através de respostas às questões enviadas via e-mail, conta
que a educação do campo sempre permeou às discussões e os anseios para se tornar
um espaço institucionalizado na SEED/PR. Nesse diálogo, demonstrava-se a
necessidade de descaracterizar as atribuições dessa coordenação relacionados
somente aos fazeres pedagógicos, mas sim, a elaboração de uma política pública, de
atuação permanente para as escolas do campo.
Nesse sentido, Ribeiro comenta que:
A educação do campo como proposta de superação da educação rural é transpassada, do mesmo modo, pelas contradições próprias da sociedade de classes da qual faz parte. Mas, no sentido contrário à educação rural, a educação do campo se insere em um projeto popular de sociedade, e por essa razão encontra-se em processo de construção pelos trabalhadores, sejam eles agricultores, técnicos, educadores ou pesquisadores. (RIBEIRO, 2012, p. 675).
A educação do campo sempre teve relação de aspecto político, em que ao
longo da história, apesar da efetivação de vários programas e projetos para a
educação rural, a educação do campo em nenhuma época, se constituiu como
prioridade dos investimentos públicos; ao contrário, sempre desempenhou um papel
marginal no conjunto das políticas sociais (RIBEIRO, 2012).
De acordo com Ribeiro (2012), autores evidenciam que os programas, projetos
e ações educativas dirigidas às populações que se esgotam sem mesmo terem sido
75
avaliados, seja por falta de recursos, em que são registrados apenas no planejamento,
seja por conveniência política.
Contudo, sabe-se que o Estado do Paraná, na área educacional exibe inúmeras
dificuldades, não somente nas escolas do campo, como em todas as escolas públicas.
Para a “professora”, às escolas demonstram precariedade nas estruturas físicas,
materiais pedagógicos, formação inicial e continuada de professores, a inexistência
de um calendário próprio que leve em conta as especificidades, suas histórias,
necessidades, entre outros; para ela, faz-se necessária uma política permanente, que
além de amenizar uma questão histórica, de descaso e preconceito, também
proporcione a formação para a emancipação sociopolítica.
Neste contexto, para Caldart:
A Educação do Campo surgiu em um determinado momento e contexto histórico e não pode ser compreendida em si mesma, ou apenas desde o mundo da educação ou desde os parâmetros teóricos da pedagogia. Ela é um movimento real de combate ao atual estado de coisas. Ela é um movimento real de combate ao atual estado de coisas: movimento prático, de objetivos ou fins práticos, de ferramentas práticas, que expressa e produz concepções teóricas, críticas a determinadas visões de educação. (CALDART, 2008, p. 3).
Um dos maiores desafios da SEED/PR, dentre os encontrados nas diversas
ações que ocorreram a partir do ano de 2003, conforme a “professora”, foi o de criar
estratégias para as concepções e os princípios do Movimento da Educação do Campo
chegasse até às escolas do campo. E de agora em diante, iniciar um processo de
reflexão para definir a identidade que não estivesse condicionada somente à
localização geográfica dessas escolas. Simultaneamente, ocorria o fechamento de
muitas escolas de áreas rurais, em que muitas delas eram fechadas sem chegar ao
conhecimento da Coordenação do Campo na SEED, embora as atuações de
permanência das escolas eram apoiadas por movimentos sociais, lideranças locais,
MST, entre outros, pouco aceitos pelas instâncias maiores da Secretaria de Estado
da Educação – SEED, não bastava para muitos alunos de áreas rurais serem
transferidos para escolas urbanas.
No que se refere aos sistemas de ensino, percebe-se que faltam, em muitos
deles, a constituição de coordenações de Educação do Campo dentro das secretarias
de Educação, para encaminhamento das políticas e organização das escolas,
inclusive atendendo à oferta de formação continuada (obrigação dos sistemas de
ensino). Dessa forma, a problemática não está somente na constituição de
76
coordenações, como também, na participação de movimentos sociais em participar
nas decisões referentes a educação do campo.
A “professora” relata que, por diversas vezes, foi necessário justificar e
esclarecer por escrito os motivos dos movimentos sociais como MST, se envolverem
nas questões referentes à educação do campo. Segundo a “professora”, por inúmeras
vezes ouvia-se que tais solicitações não se enquadravam nas regras burocráticas da
mantenedora – SEED/PR. Mesmo assim, de forma acanhada, em 2006 consolidou-
se a construção das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo no Estado do
Paraná, e em 2010, instituiu-se como uma política pública.
Conforme o relato da “Professora”, foi possível compreender o processo de
como foi elaborada as diretrizes da educação do campo, da mesma forma que, a partir
desse entendimento, discorre-se quanto ao que se evidencia em nível de SEED/PR
atualmente, NRE e escolas do campo.
Quanto às questões estabelecidas no âmbito da SEED/PR, o questionário é
composto por cinco questões (APÊNDICE B), constando de: 1. De onde é emanada
a Política de Educação do Campo no Estado do Paraná; 2. Orientações sobre os
fundamentos previstos na Política de Educação do Campo; 3. O objetivo da Política
de Educação do Campo; 4. Participação junto a Articulação da Educação do Campo;
e, 5. Disseminação da Política de Educação do Campo.
Como já mencionado, iniciou-se a coleta de dados por meio de um questionário
destinado a um profissional pertencente ao grupo da Coordenação do Campo da
SEED/PR (nominado nas respostas por P/SEED, 2014), por entender que embora
haja reivindicações, organizações, movimentos em favor de uma política pública, ela
acontece a partir do empenho e comprometimento de instâncias superiores; no caso
das Diretrizes da Educação do Campo, mantida pela Secretaria de Estado da
Educação – SEED/PR.
Diante da resposta do profissional, quanto a de onde emana a política de
educação do campo, não foi possível um entendimento, pois sua resposta não foi
elencada. Da mesma forma que a questão seguinte também não demonstrou
resposta.
No entanto, quando questionado sobre a organização da equipe que orienta a
educação do campo, foi mencionado que:
A estrutura de organização da SEED possui 32 Núcleos Regionais de Educação, que tem um território de abrangência de atendimento das escolas
77
estaduais, municipais e particulares (P/SEED, 2014)
E, em conformidade às atribuições da SEED, a educação do campo na SEED,
de acordo com o questionado: “É composto por 04 Coordenações e 01 Núcleo”
(P/SEED, 2014).
Quanto aos objetivos da política de educação do campo, foi sugerido pelo
questionado, que se faça uma leitura de documentos que sistematizam a educação
do campo. Enfatiza ainda que: “Achamos arriscada a afirmação contida na questão
04, pois esta coordenação não possui estudos para afirmar isso” (P/SEED, 2014).
Os documentos não foram citados, porém, acredita-se tratar-se de textos das
Diretrizes Operacionais da Educação Básica para as Escolas do Campo e Diretrizes
Curriculares da Educação do Campo no Estado do Paraná.
No que se refere à permanência do aluno no campo, segundo a resposta do
questionário, é especificamente de interesse do próprio aluno. A resposta foi
complementada com o comentário de que: “é uma questão arriscada, não tendo
estudos para tal afirmação” (P/SEED, 2014).
Diante da resposta supracitada, buscou-se fundamentar em teóricos que
estudam as questões relacionadas ao campo.
Quem vem produzindo conhecimentos na Educação do Campo? Os sujeitos coletivos? Os coletivos nas universidades? Os alunos dos cursos de graduação e de pós-graduação lato e stricto sensu que possuem um pé na terra, ou nela chegaram por meio dos projetos de pesquisa e de extensão universitária. Identidades são delineadas. Há um vínculo orgânico com a terra (SOUZA apud MUNARIN / BELTRAME / CONDE / PEIXER, 2011, p. 95).
Diante da afirmativa dos autores, cria-se através de movimentos sociais dos
trabalhadores um vínculo político, com uma luta que é social e de classe. Os quais,
buscam nos setores públicos respostas às suas reivindicações na tentativa de
resolver, ou mesmo, sanar necessidades da comunidade. Com isso, percebe-se na
resposta da Coordenação, que não há um interesse direto quanto as questões
relacionadas ao campo.
Ao questionar sobre a participação da coordenação na Articulação do Campo
no Paraná, não obtivemos informação.
A questão seguinte deixa clara que os procedimentos de orientações para os
NREs são efetivados de diferentes formas, conforme o excerto:
As orientações da SEED são emanadas de diferentes formas, e-mail, reuniões
técnicas, encontros, orientação escrita, web conferências, curso de formação, etc.
78
(P/SEED, 2014).
Nesse sentido, percebeu-se que em nível de SEED/PR há o entendimento
quanto a articulação e implementação das Diretrizes para as escolas do campo; no
entanto, não se percebeu grande preocupação quanto aos resultados dessas
orientações. Com isso, de acordo com o observado no decorrer da pesquisa, confirma
a fragilidade presente na concretização de práticas pedagógicas desenvolvidas no
decorrer das ações das escolas, quanto as reais orientações previstas nas Diretrizes.
3.5 NRE/Pato Branco
O roteiro de questões a serem respondido por um profissional que compõe o
grupo da Coordenação do Campo, pertencente ao NRE de Pato Branco (nominado
por P/NRE, 2014), compôs-se assim: 1. Formação acadêmica em educação do campo
dos profissionais que participam da referida coordenação; 2. Sobre os documentos
que orientam as escolas do campo; 3. Formação continuada aos profissionais das
escolas do campo; 4. Sobre o contexto das escolas do campo no Estado do Paraná;
e, 5. Relação entre SEED/PR X NRE X ESCOLAS no contexto das políticas públicas
para escolas do campo.
Segundo o profissional, não há uma formação específica em educação do
campo aos que pertencem a equipe da educação do campo do NRE. O que acontece
são capacitações, encontros com outros técnicos da SEED/PR, como relata:
(...), o normal é termos capacitações, encontros com demais técnicos da SEED para discutirmos a temática para posterior suporte as escolas do campo. No trabalho de orientação às escolas do campo, as informações que passo são baseadas na Diretriz Curricular elaborada pela SEED, através de estudos que faço baseado na Diretriz (P/NRE, 2014).
Nesses encontros discute-se sobre temáticas para posteriormente orientar às
escolas do campo. As informações que esta coordenação realiza, tem conformidade
com as Diretrizes Curriculares elaborada pela SEED/PR. De maneira geral, Pires
discorre:
A organização do trabalho pedagógico na Educação do Campo requer uma
formação de educadores (as) a partir da dinâmica social, política e cultural existente
no campo e através das lutas pelos direitos de seus povos, pelo direito à terra, ao
território, ao modo de produção camponês, à educação e à escola (PIRES, 2012, p.
117).
Conforme a autora supracitada, a formação para a educação do campo vai
79
além dos espaços de atuação escolar, devendo eleger parcerias com os movimentos
sociais, comunidade local, sindicato do campo, enfim, aos incluídos no mesmo
contexto da realidade do campo.
Quanto à formação dos profissionais para trabalhar nas escolas do campo,
Conceição Paludo, no livro organizado referente ao I CIFEDOC23, provoca-nos para
relevantes reflexões:
Obviamente, e talvez a gente pudesse dizer que se há um espaço que, pelo
sofrimento, pela luta dos movimentos sociais do campo, ainda conserva uma
perspectiva de radicalidade crítica da educação é exatamente a Educação do Campo.
Nisso há um grande aprendizado a ser feito porque, hoje, grande parte das Secretarias
de Educação caiu e cai na tentação de contratar, até pela pressão dos governos,
organizações e empresas.
(...) o que ocorre é que essas instituições estão na lógica do mercado, de produção de apostilas e materiais em pacote como se fossem mercadorias e, como tal, não há mais o sujeito aluno, com sua especificidade de origem de classe, sua cultura e seus valores. Também não há mais o professor como sujeito central na organização pedagógica (PALUDO, 2014, p. 46 – 47).
Este cenário, conforme a autora, paralelo à resposta do profissional acima
elencado, permite perceber que ainda há carência no interesse dos governantes, em
especial, neste texto, do Estado do Paraná, em estabelecer critérios que concretizem
formação específica para trabalhar com e nas escolas do campo. Embora para
Mendes (2009), a ideia de uma escola pública que considere a cultura e a experiência
dos sujeitos do campo, se fortaleceu também no discurso oficial.
Com referência aos documentos que orientam as escolas do campo, o
profissional relatou que as Diretrizes Curriculares para Educação do Campo,
publicadas pela SEED/PR e, Diretrizes Curriculares de cada disciplina, são os
documentos base de orientação. Cabe ressaltar que:
O conteúdo deste texto tem estreita relação com o debate empreendido nos diversos espaços públicos de ‘encontro’ entre sociedade civil organizada e o estado do Paraná, a exemplo dos Seminários Estaduais de Educação do Campo promovidos desde o ano de 2004, pela Coordenação da Educação do Campo/SEED, com o apoio do Ministério da Educação (MEC) e com a participação dos movimentos e organizações sociais, Secretarias Municipais de Educação, universidades públicas e dos encontros descentralizados com os professores da rede de ensino (PARANÁ, 2006, p. 15).
23 I CEFEDOC –I Seminário Internacional e I Fórum de Educação do Campo da Região Sul, organizado pela Universidade Federal de Santa Maria – RS, em maio de 2014.
80
Sobre a formação continuada dos profissionais das escolas do campo, o
profissional expressou que acontece pela SEED/PR, cuja participação abrange a
mesma formação que acontece para todos os segmentos. No entanto, na semana
pedagógica, realizada no âmbito de cada escola, disponibilizam materiais voltados
para as especificidades do campo.
Conforme este profissional, neste momento, a grande perspectiva é que, cada
educador, passe a pensar a realidade da escola em que atua, utilizando metodologias
adequadas à compreensão dos sujeitos do campo, além da inserção de conteúdos
culturais da comunidade escolar. Nesse âmbito, é necessário ressaltar:
A incorporação de questões às políticas estaduais, no Paraná, pela criação da
Coordenação da Educação do Campo, resultou em ações que se dirigiram
especialmente aos professores que atuam nessas escolas. Documentos foram
produzidos e um conjunto significativo de ações para a formação continuada foi posto
em andamento, a partir do ano de 2004.
De forma semelhante ao que ocorreu com as discussões curriculares para a Educação Básica no Estado, os documentos oficiais indicam que os professores foram chamados a participar das discussões curriculares para a Escola do Campo (MENDES, 2009, p. 58).
De acordo com Mendes (2009), de fato, os professores que atuam nas escolas
do campo participam das discussões, dos encontros e da elaboração dos documentos
orientadores? Suas concepções foram, de alguma forma, afetadas pelas ideias postas
no documento das Diretrizes?
Procurou-se analisar a resposta do profissional do NRE/Pato Branco,
contrapondo as questões apresentadas pela autora. No entanto, para ele, não há uma
prática diferenciada na formação dos professores que atendam escolas do campo e
cidade, relata o questionado:
Como dissemos acima, não existe, na prática, uma diferenciação na formação dos professores que atendem escolas do campo e cidade. O que se espera, geralmente, é que o professor do campo faça a transposição de métodos à realidade do aluno do campo, para que seja significativa e que só ocorrerá pela decisão do professor de realmente considerar em sua abordagem, conteúdo a partir da dinâmica de cada comunidade (P/NRE, 2014).
Dessa forma, o que se espera, geralmente, é que o professor do campo faça a
transposição de métodos à realidade do aluno do campo, a fim de dar significado ao
contexto local. Porém, isso só acontecerá pela decisão do professor. Sendo assim, o
81
professor é o condutor de seu conhecimento das questões relacionadas à comunidade
escolar de atuação, de forma a articular conhecimento da comunidade com os
oferecidos pelas disciplinas, em que à apropriação das Diretrizes é um bom caminho.
No que se refere ao contexto das escolas do campo, no Estado do Paraná, o
profissional expressou que existe uma preocupação das comunidades rurais quanto
à manutenção das escolas do campo, considerando a redução do número de alunos.
Estes, por motivos de migração para a cidade, carência no transporte escolar, a ideia
de que o ensino na cidade seja melhor, a evasão, a diminuição de filhos na família e
a rotatividade de professores não permite um trabalho continuado focado na realidade
da comunidade.
Com relação à questão à cima, a pesquisa demonstrou que há uma certa
tensão permanente entre a economia de recursos, precarização do trabalho docente
também no campo e o fechamento das escolas, tendo em vista a inúmeras
dificuldades enfrentadas pela sociedade brasileira atualmente.
De acordo com o profissional questionado, recentemente, todas as escolas do
campo do NRE/Pato Branco solicitaram a mudança de nomenclatura da instituição,
passando a serem denominadas ‘Escolas do Campo’.
E por fim, com quanto a relação entre SEED/NRE/ESCOLAS, com referência
ao contexto das Políticas de Educação do Campo, em especial às Diretrizes
Operacionais e Curriculares do Campo. Na resposta, relatou que:
As escolas são orientadas a inserirem no PPP e PPC, metodologias, conteúdos estruturantes indicados na diretriz. Professores são orientados a inserirem conteúdos culturais da comunidade de modo a fazer sentido para o aluno, ligando aos demais conteúdo da disciplina (P/NRE, 2014).
A educação do campo tem como fundamentação as diretrizes curriculares, em
que são disponibilizados a todos. Com isso, as escolas são orientadas a inserirem no
Projeto Político Pedagógico e na Proposta Pedagógica Curricular, metodologias,
conteúdos estruturantes indicados na Diretriz.
Desta forma, os professores também são orientados a inserirem conteúdos
culturais da comunidade, de modo a fazer sentido para o aluno, ligando aos demais
conteúdo da disciplina. Nesse sentido, uma ressalva deve ser considerada, para isso,
buscou-se em Caldart:
É necessário trabalhar pela transformação da escola (junto com a transformação do projeto formativo/educativo vigente) se o que pretendemos é vinculá-la organicamente aos interesses sociais e culturais dos
82
trabalhadores e ao objetivo de emancipação humana (em sua concepção originária e ainda hegemônica, a escola não tem e não trabalha para este vínculo); - processos mais radicais de transformação da escola implicam em recriar a “forma escolar” tal como instituída pela sociedade moderna capitalista (que é a escola que conhecemos); - a forma escolar não diz respeito apenas ou principalmente aos conteúdos de ensino (ainda que eles sejam muito importantes na tarefa educativa mais específica da escola não está aí a centralidade da transformação), mas fundamentalmente se refere ao formato das relações sociais que acontecem no interior da escola, inclusive no trabalho pedagógico com os conteúdos e ao seu isolamento em relação à dinâmica de vida, das lutas sociais (CALDART, 2011, p. 151).
Para a autora, a formação de escola existente atualmente, foi configurada
historicamente, não surgiu do nada, mas foi constituída a partir de um determinado
momento histórico e de formação social. Para isso, é preciso ressignificar o modelo
de educação escolar.
3.6 Coordenação e/ou Direção das Escolas do Campo Pertencentes ao NRE/Pato
Branco
A busca pela compreensão das percepções dos sujeitos atrelados ao processo
de implementação da Educação do Campo operacionalizou-se por meio da
elaboração de um roteiro semiestruturado, com vistas a verificar concepções e
perspectivas dos mesmos sobre a temática. Neste sentido, em termos específicos, o
roteiro de questões a serem respondidas por um profissional que compõe o grupo da
Coordenação do Campo (nominado por C/EC, 2014), pertencente a Escolas do
Campo do NRE/Pato Branco, foi composto de eixos que buscaram compreendera de:
1. Formação acadêmica em educação do campo dos profissionais que participam da
referida coordenação; 2. Sobre os documentos que orientam as escolas do campo; 3.
Formação continuada aos profissionais das escolas do campo; 4. Sobre o contexto
das escolas do campo no Estado do Paraná; e, 5. Relação entre SEED/PR X NRE X
ESCOLAS no contexto das políticas públicas para escolas do campo.
Ao serem questionados sobre as diferenciações percebidas nas escolas do
campo a partir das Diretrizes Curriculares; tanto a C/EC1, quanto a C/EC2 e C/EC3
relataram que:
A escola do campo passou a dar maior ênfase aos Sujeitos que compõem sua própria realidade escolar, com maior preocupação em trabalhar os conteúdos, visando a contextualização referente à vivência do homem do campo (C/EC1,2,3, 2014).
Da mesma forma que houve um incentivo, uma motivação para a escola se
83
reconhecer como tal, e, com o reconhecimento legalizado enquanto escola do campo,
o currículo pode ser adaptado e as práticas pedagógicas devem ser realizadas
coerentes com o que prevê no texto das diretrizes. Dessa forma, a elaboração das
Diretrizes Curriculares da Educação do Campo, possibilita trabalhar de maneira mais
específica e contextualizada, tendo em vista, proporcionar especificidades e
encaminhamentos que remetem as particularidades desta modalidade educativa, ou
seja, do campo. Sendo assim, torna o trabalho mais concreto, facilitando a efetivação
do processo de ensino-aprendizagem dos educandos das escolas. Essa perspectiva
deve ser considerada a partir de Molina e Tafarel:
Construímo-nos como seres humanos em relações interpessoais e intrapsíquicas. Ou seja, nossas funções psicológicas superiores, que nos permitem conhecer – constatar, compreender, explicar, agir no meio, transformando-o -, dependem de nossas aprendizagens. O nosso desenvolvimento depende de nossas aprendizagens. O ato de conhecer não é dado ao ser humano, e sim aprendido em suas relações sociais, que dependem da materialidade de condições concretas objetivas de vida (MOLINA & TAFAREL, 2012, p. 570).
Quanto aos encaminhamentos do NRE/Pato Branco para as escolas do campo,
são realizados a partir da fundamentação das Diretrizes Curriculares da Educação do
Campo. Em geral, o NRE contribui sugerindo formações para os professores e
orientações, a fim de as aulas serem contextualizadas, destacando as riquezas,
culturas do campo e incentivar os alunos a estudar mostrando a importância dessa
etapa da vida deles, conforme o relato de um dos entrevistados vinculados à escola
As orientações feitas pelo NRE, é que todas as aulas devem ser contextualizadas e estarem de acordo com a realidade do campo, a fim de destacar as riquezas dessa cultura e incentivar os alunos a estudar, mostrando a eles a importância dessa etapa da vida deles (C/EC3, 2014)
Ao serem questionados como estão sendo desenvolvidos os conteúdos
específicos nas escolas do campo, com relação às Diretrizes Curriculares,
responderam que as disciplinas procuram trabalhar, sempre que possível,
contextualizando com a realidade campesina, os conteúdos destacam-se como: meio
ambiente e o uso dos recursos naturais de maneira sustentável, condições
econômicas do trabalhador rural, trabalho infantil, preparo e manejo do solo,
assoreamento do solo, agrotóxicos e destino correto das embalagens; assim como, o
desenvolvimento de textos que contemplem a vida do campo, seus conhecimentos,
aspectos culturais, religiosidade, festividades locais e crenças populares.
Com isso, relataram que, na medida do possível, o trabalho consiste em se
84
descobrir metodologias e conteúdo específicos condizentes com a estrutura orientada
pelas Diretrizes Curriculares, as quais são conteúdos estruturantes e básicos, os
mesmos das escolas urbanas. Porém, o diferencial está no direcionamento de acordo
com as especificidades do campo. Uma das escolas acrescentou, destacando as
temáticas:
- Questões relacionadas ao meio ambiente e o uso de recursos naturais de maneira sustentável; - A questão agrária e as demandas por reformas; - Condições econômicas do trabalhador rural assalariado e as condições de trabalho; - O trabalho infantil; - Preparo e manejo do solo; - Questões de assoreamento do solo; - A questão dos agrotóxicos e o destino correto das embalagens; - Com produções de textos que contemplem: A vida do campo, seus conhecimentos, aspectos culturais, religiosidade, festividades locais, crenças populares, etc. (C/EC1, 2014).
Nesse sentido, é importante argumentar sobre a necessidade de se criarem
condições propícias de ensino e aprendizagens; elaborar propostas, metodologias,
técnicas condizentes aos objetivos pretendidos. Para isso, buscou-se em Freire:
É próprio do pensar certo a disponibilidade ao risco, a aceitação do novo que não pode ser negado ou acolhido só porque é novo, assim como o critério de recusa ao velho não é apenas o cronológico. O velho que preserva sua validade ou que encarna uma tradição ou marca uma presença no tempo continua novo (FREIRE, 2013, p. 36 – 37).
Ao serem questionados sobre o que mudou no Projeto Político Pedagógico das
escolas a partir das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo, responderam que,
a partir das Diretrizes Curriculares, o PPP está sendo elaborado com novas
perspectivas, visando a preocupação do homem do campo.
Entre as características da educação do campo que se pretende construir, estão: concepção de mundo; concepção de escola; concepção de escuta e metodologias e concepção de avaliação (C/EC3, 2014).
Em comum, os profissionais das escolas questionadas, relataram que, com a
participação da comunidade local, por meio dos órgãos colegiados, as reflexões das
condições de vida dos campesinos, os educandos com relação à escola e a sala de
aula, são elaboradas as propostas políticas pedagógicas necessárias às escolas do
campo.
Outro fator presente no PPP das escolas do campo, é a possibilidade de incluir
disciplinas, a fim de priorizar a educação do campo, isso é possível, principalmente
85
nas escolas que oferecem ensino em tempo integral. Caldart afirma que:
Construir uma escola do campo significa pensar e fazer a escola desde o projeto educativo dos sujeitos do campo (...); trazer para dentro da escola as matrizes pedagógicas ligadas às práticas sociais; combinar estudo com trabalho, com cultura, com organização coletiva, com postura de transformar o mundo (...) se assim o for, a escola do campo será mais que escola, porque com uma identidade própria, mas vinculada a processos de formação bem mais amplos, que nem começam nem terminam nela mesma, e que também ajudam na tarefa grandiosa de fazer a terra ser mais que terra (CALDART apud MENDES, 2009, p. 55).
Dessa forma, os PPPs das escolas estão cada vez mais condizentes à
realidade das escolas do campo, permitindo contemplar as riquezas e especificidades
e aprendizagens no contexto da sala de aula, e ao mesmo tempo, promovendo o
resgate e a valorização da cultura, que por diversas vezes ficou esquecida.
Outro relato diz respeito à formação continuada dos profissionais da escola do
campo e, a contratação dos professores. As Direções ou Coordenações elencaram
que, a formação continuada dos profissionais da Escola do Campo, tem por base a
formação realizada pela SEED/PR, para todos os profissionais das escolas estaduais.
Dessa forma, os profissionais que atuam na Escola do Campo buscam contextualizar
as discussões dos temas à realidade geográfica da escola e os sujeitos que a ela
pertence. Para uma das escolas questionadas:
A formação continuada dos profissionais da Escola do Campo, tem por base a formação realizada pela SEED, PR, para todos os Profissionais das escolas estaduais. Entretanto, os profissionais que atuam na Escola do Campo buscam contextualizar as discussões dos temas à realidade geográfica da escola e os Sujeitos que ela atende (Homem do Campo e sua realidade própria). Os momentos das reuniões pedagógicas, também, fortalecem a formação dos profissionais que atuam na Escola do Campo (C/EC2, 2014).
Os momentos das reuniões pedagógicas, também fortalecem a formação dos
profissionais que atuam na Escola. E a contratação dos profissionais se dá da mesma
forma que as demais escolas.
De acordo com Pires (2012), é preciso considerar, que a formação desse novo
perfil de professor (a) vem se construindo em um dos maiores desafios colocados a
todos aqueles que querem redesenhar as funções e papeis da escola do campo.
Em relação aos professores pertencentes às Escolas do Campo do NRE/Pato
Branco (nominados por P1, P2, P3, P4, P5 e P6), o roteiro de questões a ser
respondido por eles, compôs-se da seguinte maneira: 1. Formação acadêmica em
educação do campo dos professores que atuam nas escolas do campo; 2. Sobre os
86
documentos que orientam as escolas do campo; 3. Formação continuada aos
professores das escolas do campo; 4. Sobre o contexto das escolas do campo no
Estado do Paraná; e, 5. Relação entre SEED/PR X NRE X ESCOLAS no contexto das
políticas públicas para escolas do campo.
Para os professores questionados, especificamente ao “Professor 1”, os
encaminhamentos são para que se trabalhe de forma diferenciada, dando ênfase ao
conteúdo que se relaciona com o campo:
Mudou muito pouco, penso para as escolas do campo, seria necessários professores efetivos que todos os anos permanecessem na mesma escola, para poderem dar sequência a um trabalho iniciado coletivamente (P1, 2014).
Aos demais questionados (2, 3, 4, 5, e 6), os encaminhamentos são iguais aos
que se realizam em outras escolas; e por fim, específico ao campo, não há
encaminhamentos:
Só está no papel; mudou as diretrizes, mas os conteúdos programáticos continuam os mesmos; O currículo continua o mesmo para as escolas do campo e urbanas; nada; me falta conhecimento (P2, P3, P4, P5 e P6, 2014).
Diante das respostas dos questionados, quanto à formação de professores é
importante ressaltar o pensamento de Frigotto, quando diz que:
(...) hoje, grande parte das Secretarias de Educação caiu e cai na tentação de contratar, até pela pressão dos governos, organizações e empresas como o Instituto Airton Sena, Instituto Unibanco, Instituto Positivo e Instituto Pitágoras para gerirem, no conteúdo, método e na forma, os processos educativos (FRIGOTTO apud PALUD, 2014, p. 46).
Diante do exposto, percebe-se a grande influência de formação comum a todas
as escolas, ou seja, a mesma formação tanto para profissionais do urbano, quanto
para o do rural.
Por conseguinte, para Arroyo apud Caldart (2012), o primeiro significado a
extrair dessa história é a superação da formação de um protótipo único, genérico de
docente educador para educador para a educação básica. Para o autor, a
consequência de protótipo único privilegia a formação de professores na visão urbana,
desconsiderando o vínculo com a cultura e os saberes dos povos do campo.
Sobre os documentos que orientam a educação do campo, o professor 2
respondeu que os conteúdos específicos do campo são pouco trabalhados; para outro
professor, o que a escola oferece são projetos diferenciados; e para os demais, não
se está trabalhando nada:
87
(...) é que se trabalhe diferenciado, dando maior ênfase a conteúdos relacionados ao campo; não faz nada”; não há encaminhamento; igual as demais escolas; Nenhum (P1, P3, P4, P5 e P6, 2014).
Nesse sentido, o que se pode depreender da percepção acima, é de que apesar
das diretrizes e ações, ainda que pontuais, para alguns docentes, não são percebidas
distinções entre os projetos de formação vivenciados na educação do campo e
urbana. Tais circunstância evidencia os desafios acerca da compreensão das
concepções de educação do campo de perspectiva relevante da formação de
professores atrelados ao processo de implementação de diretrizes, por exemplo.
Com referência aos encaminhamentos do NRE/Pato Branco às Escolas do
Campo; um professor respondeu que os encaminhamentos são de forma diferenciada,
dando maior ênfase a conteúdos relacionados ao campo. Porém, os demais
professores, responderam que não há encaminhamentos específicos, os realizados,
são iguais das demais escolas. Um professor escreveu que é novo neste contexto e
ainda não conseguiu se inteirar.
Ao se questionar os professores sobre o que se está trabalhando de conteúdo
específico nas escolas do campo, esses responderam que de específico, está sendo
trabalhado muito pouco, ou nada. No entanto não se está trabalhando nada, devido
as provas Brasil, SAEP e ENEM e, os conteúdos permanecem os mesmos das
escolas urbanas. Já para outro professor, a escola oferece projetos diferenciados.
Quanto ao que mudou no PPP da escola, os professores escreveram: um
deles, que “não se tem conhecimento do que mudou” (P1, 2014); outro, que se
transformou em escola do campo somente no papel – “Virou escola do campo
somente no papel” (P2, 2014), e, aos demais (P3, P4, P5 e P6) que a relação
estabelecida é puramente teórica.
A construção do Projeto Político Pedagógico parte de princípios de igualdade, qualidade, liberdade, gestão democrática. As bases para esta organização são, sem sombra de dúvida, os sujeitos envolvidos no processo educativo. Se toda a comunidade escolar não ajudar pensar, refletir, planejar e replanejar o processo escolar, provavelmente não ajudará a realizar e colocar em prática as aspirações do PPP (MOSTEFAL & FAGUNDES, 2013, p. 49 – 50).
O Projeto Político Pedagógico da escola, de acordo com citação acima, permite
pensar no que fazer e como fazer a prática pedagógica, pois esse pensar faz sentir
mais sujeitos das ações pedagógicas que a escola como um todo desenvolve, ou até
permite refletir sobre as atuações dos profissionais da escola. No entanto, o PPP
88
compõe de um instrumento de ação política pedagógica quando elaborado por todos
os sujeitos da comunidade escolar.
Ao serem questionados sobre a formação continuada dos profissionais da
escola e contratação. Os professores relataram que a formação continuada continua
a mesma, igual em todas as escolas; um dos professores relatou que:
A formação continuada continua acontecendo de maneira igual em todas as escolas, nem os professores podem optar por esta ou aquela escola (P3, 2014).
No entanto, não há diferença das demais escolas. Porém, tanto a formação
continuada, como a contratação dos profissionais, para um professor, é muito difícil
adequar campo e cidade.
3.7 Observações Realizadas pela Pesquisadora
As observações realizadas pela pesquisadora nas Escolas pesquisadas não
seguiram um padrão pré-elaborado, visaram a análise conforme os registros
encontrados nas homepages das Escolas, no endereço eletrônico da SEED/PR, e
também o que se visualizou durante visita a estas instituições. A inserção deste
instrumento de coleta de dados fez-se necessário tendo em vista que os dados obtidos
pelos questionados não apresentaram clareza o suficiente quanto aos objetivos e
problemática da pesquisa. Por essa razão, sentiu-se a necessidade de se apontar
algumas observações percebidas no decorrer da pesquisa de campo, nas mesmas
escolas em que se realizou a pesquisa. A fim de apresentar maior legitimidade, farão
parte dessa pesquisa algumas imagens e folders, fornecidos pelas escolas.
As referidas escolas demonstram uma maior aproximação com o previsto no
documento das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo para o Estado do
Paraná. Essa conclusão se obteve através de visita informal nestas escolas e pelos
dados divulgados pela SEED/PR no endereço eletrônico da escola, presente no
referencial desta dissertação.
Portanto, percebeu-se que dentre as 29 pesquisadas, um número relativamente
baixo, através de suas atividades desenvolvem práticas que proporcionem o
desenvolvimento previsto nas Diretrizes Curriculares da Educação do Campo.
Porém, a maioria delas desenvolve atividades contextualizadas, de forma a
relacionar com necessidades da comunidade, tais como: estudo sobre o mosquito da
dengue, atividades relacionadas a cultura da comunidade, envolvimento de práticas
89
com a colaboração de Colégio Agrícola, produção de livro de receitas e exposição
desses alimentos produzidos na roça, dentre outros que se caracterizam relevantes e
proporcionam aproximação as orientações das Diretrizes.
É importante destacar em uma das escolas pesquisadas, uma de suas
particularidades marcantes - a formação da comunidade, cuja origem se deu a partir
da colonização de descendentes de ucranianos. Tanto a comunidade, quanto a escola
procura manter os costumes e tradições do Rito Ucraniano.
Corroborando com a especificidade apresentada por esta escola, é relevante
apresentar o pensamento de Arroyo, evidenciando a importância da formação de
professores para que ações como a da Escola Colônia Paraíso sejam efetivadas,
(...) partindo do pressuposto de formação do todo profissional, em que os saberes do trabalho, da terra, das experiências e das ações coletivas sociais e legitimar esses saberes como componentes teóricos dos currículos. Reconhecer e incorporar essa riqueza de aprendizados que entram nos cursos de Pedagogia da Terra, de formação de professores do campo e de professores indígenas e quilombolas exige mudar as identidades dos cursos de formação como meros capacita dores para o exercício do magistério e reconhece-los como o lugar aberto aos saberes, valores e práticas educativas que se dão na dinâmica social, política e cultural (ARROYO apud CALDAR, 2012, p. 361).
Com o objetivo de atender as especificidades da comunidade, a escola
desenvolveu projetos relacionados à cultura ucraniana. É importante ressaltar que,
uma informação recebida informalmente, revelou que a partir do próximo ano, essa
escola será fechada, e os alunos matriculados serão transferidos para outras escolas
da região.
O fechamento de escola e transferência de alunos para escolas da cidade tem
característica histórica, já mencionada nessa dissertação, quando o processo de
descentralização ocorrido em detrimento da LDB nº 5692/71. No entanto, espera-se
que as comunidades escolares, em consonância com os órgãos responsáveis, não
permitam que se fechem escolas, pois elas existem a partir das lutas de movimentos
sociais e demais defensores da educação do campo.
Percebeu-se que em uma das escolas procura-se desenvolver atividades que
permitem a relação entre conteúdo curricular às questões socioambientais. Dentre as
atividades, encontra-se a participação dos alunos na IV Conferência Nacional Infanto
Juvenil pelo Meio Ambiente, desenvolvido no mês de setembro de 2013. O trabalho
intitulado “Preservação de Nascentes (Água) ”, foi contemplado em nível de NRE/Pato
Branco para ser representado em nível Estadual.
90
Através destas práticas pedagógicas provocam-se a reflexão, o aprendizado e
a conscientização dos alunos e, consequentemente, através dos relatos, suas
famílias. O texto das Diretrizes da Educação do Campo enfatiza que se devem eleger
temas centrais para as práticas pedagógicas, este pode ser um caminho para articular
os conhecimentos específicos das áreas. Por exemplo: Meio Ambiente, Trabalho na
Terra, Alimentação, Saúde podem ser temas de projetos escolares, porém, a essência
do trabalho estará na articulação a ser realizada entre as áreas do conhecimento
(SEED/PR, 2006). Dessa forma, o texto enfatiza que:
De acordo com as Diretrizes Curriculares, os rios ou o mar, as associações
comunitárias etc. são lugares educativos que, às vezes, justamente por causa do
contato diário, passam despercebidos, esquecidos no momento da elaboração dos
planejamentos de ensino. Esses lugares educativos podem ser usados nas mais
diferentes disciplinas e não apenas nas aulas de Ciências, como usualmente
acontece. Assim, é necessário, que cada uma delas, a partir do seu conhecimento
próprio, consiga identificar como os diversos ambientes podem se fazer presentes nas
suas práticas pedagógicas (SEED/PR, 2006, p. 49).
De acordo com o elencado no texto supracitado, a atividade realizada pela
Escola, promovida pelo NRE/Pato Branco, contempla as orientações previstas nas
Diretrizes.
Um dos aspectos que chama atenção para essa pesquisa tem relação ao
registro no PPP de uma das Escolas, o qual aponta que o ensino deve possibilitar a
compreensão dos sujeitos do campo e sua relação ao contexto em que estão
inseridos, quanto ao movimento histórico, suas contradições e relação campo-cidade,
em que faz referência ao processo de desenvolvimento, de globalização, de lutas
sociais (SEED/PR, PPP, 2010).
Em pesquisa para essa dissertação, observou-se que uma das escolas
desenvolve atividades coerentes com os encaminhamentos pedagógicos oferecidos
pelas Diretrizes Curriculares da Educação do Campo. Com isso, é possível se realizar
uma leitura favorável à construção de um ensino voltado aos interesses dos povos do
campo. Nesta escola, os alunos realizaram atividades em parceria com o Colégio
Estadual de Educação Profissional Assis Brasil (Colégio Agrícola), visando dar
continuidade aos saberes e experiências construídas em suas famílias. Nessa
atividade, os alunos do curso de Agropecuária auxiliam na organização da horta,
ensinaram os alunos a fazer a compostagem, o minhocário e a organização dos
91
canteiros. A partir das ações desenvolvidas pelos alunos, Pezarico (2014) corrobora
enfatizando a importância da tecnologia no processo de construção de saberes, em
que na construção e transformação destes saberes a educação tecnológica pode
assumir cada vez mais relevância como um espaço para a mediação entre as relações
baseadas na educação, tecnologia e trabalho, como princípio educativo.
Para a Escola do Campo é preciso dedicação e esforço para que se colham
“frutos” do trabalho realizado. Por isso, o Programa “Horta Escolar” da SEED/PR, vem
mostrando esses frutos na escola (SEED/PR, 2014).
Um dos objetivos nesta Escola, cujo texto do Projeto Político Pedagógico da
escola elenca, é sobre a importância de integrar Escola, Família e Comunidade,
proporcionando um amplo conhecimento cultural, social e econômico, visando à
formação básica do cidadão (SEED/PR, PPP, 2010).
O objetivo da escola tem relação direta às Diretrizes Curriculares da Educação
do Campo, por isso, acredita-se que sua fundamentação é desenvolvida através das
práticas pedagógicas que acontecem em sala de aula:
O que caracteriza os povos do campo é o jeito peculiar de se relacionar com a
natureza, o trabalho na terra, a organização das atividades produtivas, mediante mão-
de-obra dos membros da família, cultura e valores que enfatizam as relações
familiares e de vizinhança, que valorizam as festas comunitárias e de celebração da
colheita, o vínculo com uma rotina de trabalho que nem sempre segue o relógio
mecânico (SEED/PR, 2006, p. 24).
Entende-se o campo como um estilo de vida, peculiaridades em que visam a
autoafirmação, a identidade da comunidade, valorizada pelo trabalho, histórias, jeito
de ser e relação mantida com a natureza. A Educação do Campo, enquanto prática
social constitui-se em processo de construção histórica, para Caldart, apresenta
características que podem ser destacadas para identificar, sua consciência de
mudança, dentre elas:
Constitui-se como luta social pelo acesso dos trabalhadores do campo à
educação, feitas por eles mesmo e não apenas em seu nome. A Educação do Campo
não é para nem apenas com, mas sim, dos camponeses, expressão legítima de uma
pedagogia do oprimido.
Assume a dimensão de pressão coletiva por políticas públicas (...). Suas
práticas reconhecem e buscam trabalhar com a riqueza social e humana da
diversidade de seus sujeitos: formas de trabalho, raízes e produções culturais, forma
92
de lutas, de resistência, de organização, de compreensão política, de modo de vida.
(CALDART, 2012, p. 261 – 262).
As características elencadas por Caldart definem o que é e o que pode ser a
Educação do Campo, enquanto prática social que não se compreende em si mesma
e nem apenas a partir das questões da educação, confrontando as contradições
sociais que a produzem (CALDART, 2012).
É preciso considerar, diante do exposto, a relação estabelecida por Arroyo ao
discorrer que é preciso organizar as escolas, os currículos, os agrupamentos de forma
a respeitar a especificidade dos educandos em seus tempos humanos de formação,
a fim de superar essa organização solitária, segmentada do trabalho e avançar para
formar mais coletivas e mais concentradas em coletivos de educandos e educadores
por tempos de formação (ARROYO apud CALDART, 2012).
No que se refere às práticas pedagógicas, para Caldart (2012), um dos desafios
das escolas do campo está em estabelecer em suas ações de sala de aula o contexto
do campo, enquanto sujeitos, humanos, sociais, coletivos, com a vida real e por inteiro,
trazendo as contradições sociais, as potencialidades e os conflitos humanos para
dentro do processo pedagógico.
Além disso, para Caldart, acontecem hoje no âmbito da Educação do Campo
experimentos pedagógicos importantes na direção de uma escola mais próxima dos
desafios de construção da sociedade dos trabalhadores (CALDART, 2012).
Constata-se através da pesquisa, que os conteúdos a serem trabalhados em
uma das escolas, são intencionalmente selecionados, visando o conhecimento
produzido historicamente, de forma que possa cumprir com o propósito de
emancipação. Nesse sentido, o Projeto Político Pedagógico entende que:
Nossa escola pretende, do ponto de vista político pedagógico ser um espaço
para que aconteça o conhecimento emancipador. Pretende-se, democraticamente,
superar os obstáculos para um processo educativo de sucesso e configura-se como
constante inovadora da prática social de educar; não pela inovação em si mesma,
mas pela sua importância na atuação intencional (SEED/PR, PPP, 2010, p. 47).
A escola oferece o Programa PIBID Diversidade da UTFPR, campus de Dois
Vizinhos, com o qual proporciona várias ações em favor da proposta da Educação do
Campo. Para a escola, em consonância às Diretrizes Curriculares da Educação do
Campo:
93
A escola deve realizar uma interpretação da realidade que considere as relações mediadas pelo trabalho no campo, como produção material e cultural da existência humana. A partir dessa perspectiva, deve construir conhecimentos que promovam novas relações de trabalho e de vida para os povos no e do campo (SEED/PR, 2006, p. 32).
Diante disso, a escola definiu algumas metas para entender melhor o campo a
que se refere as orientações das Diretrizes, a fim de perceber o que de fato pode
significar a Educação do Campo. Sendo assim, com a colaboração dos alunos,
identificou-se quais comunidades compõe a escola e suas características. O trabalho
também prevê visitas em algumas famílias e realização de eventos, com o propósito
de aproximar escola e família. Nessas visitas realizadas pelos alunos PIBID24 e alunos
da escola, percebeu-se que há famílias com áreas produtivas e bem estruturadas, e
outras são assalariadas no campo e em indústrias da região.
Outro fator identificado, conforme o folder apresentado nas figuras 36-37
(APÊNDICE A) desta dissertação, consiste nos relatos de pais de alunos, os quais
dizem estimular os filhos a estudar reconhecendo a importância do estudo. Alguns
com o incentivo para melhorar sua formação e dar continuidade à vida no campo, já
outros, têm por opção, desejar que seus filhos exerçam suas profissões fora do meio
rural.
É oportuno ressaltar a importância das atividades desenvolvidas na escola para
a comunidade local, em que permite aos docentes em suas práticas pedagógicas
relacionar conteúdo teórico com as vivências estabelecidas na comunidade, da
mesma forma que contribui para momentos de troca de saberes, vivências e
socialização entre escola e comunidade.
O encontro final desse projeto de ação aconteceu no mês de outubro de 2014,
neste mês realizaram diferentes atividades, as quais foram apresentadas no decorrer
do trabalho. Estas atividades vieram ao encontro das características e necessidades
locais. Dentre as atividades desenvolvidas, após destacam-se: oficinas ofertadas pela
UTFPR, Campus Dois Vizinhos e Comunidade Escolar: cisterna e silo secador,
pomadas caseiras/medicinais, arte indígena e filtro dos sonhos, compostagem
ecológica e conservação do solo, sabão de álcool/óleo caseiro, decoupage; entrega e
24 PIBID – O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID é um programa de incentivo e valorização do magistério e de aprimoramento do processo de formação de docentes para a educação básica, vinculado a Diretoria de Educação Básica Presencial – DEB – da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. Fonte: http://www.ufvjm.edu.br/prograd/pibid.html
94
exposição de sementes crioulas; levantamento de propostas de reflexão para 2015;
palestra – Perspectivas do ensino para a juventude do campo; atividades envolvendo
os discentes da escola: o que eu sei do campo.
Diante das referidas observações, Silva contribui:
A Concepção de Educação do Campo que temos trabalhado refere-se a uma multiplicidade de experiências educativas desenvolvidas por diferentes instituições, que colocaram como referência para suas propostas pedagógicas uma nova concepção de campo, de educação e do papel da escola (SILVA, 2006, p. 61).
A autora acima mencionada corrobora com as observações realizadas através
da pesquisa, em que deixa transparecer que para a ressignificação do campo, com
vistas ao contexto da comunidade, é preciso fundamentar propostas, elencar e efetivar
objetivos, de forma a aprimorar os conhecimentos e orientar práticas e técnicas
educativas proporcionando o intercâmbio entre a escola e ao seu entorno.
Nesse sentido, entende-se que uma das funções da escola está em favor da
melhoria no aprendizado dos alunos em todas as áreas do conhecimento,
correspondendo com seus interesses e realidades.
Outra atividade observada envolve quatro escolas do campo, pertencentes a
um mesmo município. As escolas desenvolvem Mostra Cultural de Educação do
Campo, objetivando apresentar à comunidade os trabalhos realizados nas escolas.
Dentre os projetos, destaca-se: projeto água, construção de vulcão nas aulas
de Ciências, dinâmica de relacionamento pessoal, literatura infanto-juvenil,
trabalhando a prevenção contra a dengue, atividade multidisciplinar, estudo da
hidropônica como alternativa na horticultura familiar, visitas às propriedades vizinhas,
alfabeto fenício, jardim suspenso, autorretratos, jogos, esgrima, entre outros.
Além das ações já mencionadas, observou-se outra atividade que merece
reconhecimento. Esta envolve a construção de um livro de receitas, cujo trabalho é
realizado a partir de um projeto interdisciplinar, pensado em 2013, em um curso de
Formação em Ação (Formação Continuada Oferecida pela SEED/PR), e desenvolvido
neste ano de 2014. Nesse Projeto envolveram-se cinco escolas do campo.
Mediante o exposto, fica evidente, a preocupação da escola em valorizar os
saberes da comunidade. Para Mendes (2009), as escolas do campo têm a função de
incentivar a permanência dos alunos no campo e para isso procura valorizar a
identidade, a cultura e a importância do trabalho no campo, provocando a
permanência dos alunos em suas comunidades.
95
Como se pode perceber, as práticas pedagógicas possibilitam manter diálogo
entre saberes culturais e saberes científicos, a fim de promover espaços partilhados
e referências na relação com as atividades de seu grupo de convivência.
Diante das evidências apresentadas neste texto, acredita-se que independente
da escola possuir poucos alunos, ou um número relativamente alto, é possível
desenvolver práticas pedagógicas coerentes à realidade do campo, condizentes aos
encaminhamentos proporcionados pelo texto das Diretrizes Curriculares do Campo.
Dessa forma, partindo da premissa de Mendes (2009), observou-se em uma
escola Indígena de Educação Infantil e Ensino Fundamental, o desenvolvimento de
práticas pedagógicas envolvendo os saberes, a cultura da comunidade escolar.
Algumas atividades foram evidenciadas, a fim de atribuir relevância ao contexto
cultural da comunidade. Dentre as observadas, destaca-se o bolo na cinza, o qual é
um alimento típico da cultura indígena, é produzido de farinha de mandioca e assado
enrolado em folhas de bananeiras, na brasa.
Os alunos da escola, na sua maioria, pertencem a uma aldeia indígena, os
quais apresentam especificidades culturais, sociais, econômicas e históricas, como a
prática de contação de histórias, lendas, artesanatos e apresentações das músicas
tradicionais. As características diferenciam-se das demais pesquisadas, pelo fato de
valorizar os costumes indígenas.
Outro fator de relevância observada nessa escola está no fato de a comunidade
ter participação ativa no processo escolar; dentre as ações da família, a participação
em sala de aula torna a aprendizagem com maior direcionamento às questões locais.
Os familiares contribuem na transmissão da cultura local, na valorização dos saberes
da comunidade e vínculo entre escola, família e sociedade.
Acredita-se que é possível construir identidades individuais e coletivas,
articulando currículo e vivências em sociedade, considerando as necessidades da
comunidade, assumindo que os tempos e espaços escolares podem ser sempre
ressignificados. Desse modo, a escola não pode ser apenas um local físico, definidos
pelos limites burocráticos, deve ser um espaço de convivência social, cuja prática se
amplia para além dos seus muros.
O tempo de aprendizagem também não pode ser pensado apenas como o
tempo em sala de aula. Dessa forma, dependendo de como a escola se articula com
a família, com a comunidade, o processo de construção do conhecimento também se
amplia. Nesse sentido, o texto das Diretrizes Curriculares ressalta:
96
Os nós do campo são desvelados na pesquisa como fundamento da prática pedagógica. Os nós do campo podem ser desvelados na gestão democrática da escola e da educação pública. Os nós da escola pública podem ser compreendidos mediante a atitude coletiva de indagação sobre a trajetória da institucionalização dos tempos escolares e da escola como lugar de aquisição de conhecimentos (SEED/PR, 2006, p. 49-50).
Os nós mencionados pelas Diretrizes se referem, às práticas coletivas, que de
forma coletiva se leve em consideração as especificidades da comunidade em que a
escola pertence e, essas particularidades sejam parte para a aquisição de
conhecimentos tanto de alunos, como de todos os envolvidos.
Para além de todas as práticas pedagógicas lançadas no contexto do campo,
é preciso desenvolver a ideia de que a educação do campo tem sentido quando
pensada a sua relação com a questão da terra, e, sobretudo, sua condição para a
formação cidadã.
97
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: A CONQUISTA EM SUA REALIDADE
Ao iniciar esta pesquisa e vivenciar uma trajetória percorrida, enquanto
profissional da área de educação, professora de escola urbana e não haver atuado
em uma escola rural, um aspecto se aproxima para um olhar aproximado de nossa
história, das experiências vivenciadas, dos costumes e do meio no qual somos
partícipes, pois sendo filha de agricultor, estudante em escola de interior, traz-se na
origem o sonho de uma conquista, da crença nos direitos partilhados, de justiça e
igualdade social. Tendo em vista ser mestranda do Programa de Pós-Graduação
Desenvolvimento Regional foi possível a aproximação com o tema no
desenvolvimento dessa pesquisa, o que corroborou para o crescimento acadêmico e
pessoal, enquanto docente e pesquisadora.
Esta dissertação apresenta os resultados da pesquisa realizada com o objetivo
de analisar o processo de implementação da Educação do Campo, no âmbito das
escolas rurais do NRE – Núcleo Regional de Educação de Pato Branco. É importante
ressaltar que as considerações apresentadas até este momento não representam a
conclusão de um estudo, mas um processo possível de continuação.
O caminho percorrido, conforme a problemática de pesquisa, permitiu entender
hipóteses iniciais, no entanto, algumas parcialmente confirmadas e outras não
evidenciadas, visando a desmistificação da ideia de que o sujeito do campo seja
sinônimo de educação precária, carente de qualidade no ensino, inferior e investida
de no mínimo de recursos para um ensino emancipador.
Os dados evidenciaram que o comprometimento de grupos organizados, tanto
de Movimentos Sociais, quanto do grupo escolar, está sendo construído um novo
contexto de sujeito do campo, em que o julgamento de atrasado, inferior de
conhecimentos, está paulatinamente sendo banido e o reconhecimento, a construção
de identidades e valorização da cultura local encontra-se valorizada a partir da
construção coletiva dos Projetos Políticos Pedagógicos das Escolas, atrelados à
concepção de campo construídas e evidenciadas através das ações desenvolvidas
pelas escolas.
Para descrever o caminho percorrido no desenvolvimento desta pesquisa,
organizou-se o texto em cinco capítulos, cujos relatos e indagações são retomados
na sequência:
O primeiro capítulo, a partir da trajetória histórica, intitulada de Fragmentos de
98
uma Conquista, possibilitou apresentar o tema de pesquisa, objetivos, justificativa e
problemática, a fim de apresentar de forma sucinta, a totalidade da pesquisa.
No segundo capítulo, Reminiscências de uma Conquista, percebeu-se por meio
da história da educação no Brasil, sobretudo, na Educação do Campo, a partir da
sustentação dos documentos como as Diretrizes Operacionais da Educação do
Campo (BRASIL, CNE/CEB, n. 1, 2002), Diretrizes Curriculares da Educação Básica
do Campo no Estado do Paraná (Paraná, 2006) e a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei nº 9394/96) e de obras de Caldart (2002), Molina (2007),
Arroyo (2010), Mendes (2009), Pezarico (2014), a construção de novas ações
direcionadas para a efetivação de políticas públicas para a Educação do Campo.
Embora se compreenda que há iniciativa do Governo do Estado do Paraná,
para a construção de uma política pública preocupada com os sujeitos do campo, suas
peculiaridades, interesses e necessidades, há o interesse maior dos movimentos
sociais, grupos organizados através de ações coletivas, visando tornar possível um
ensino de qualidade, com direitos e deveres em favor do reconhecimento e da
emancipação social, contrário aos textos demonstrados na história da educação do
campo.
Pelo contexto histórico abordado, evidenciou-se que outrora o estado, no que
se refere às políticas públicas, não se adaptava a uma realidade do campo, mas sim,
o campo que se adaptava ao estado. Hoje, com a elaboração das Diretrizes
Curriculares, consequência de organizações sociais, esta realidade está sendo
modificada.
Considera-se que o documento das Diretrizes Curriculares da Educação do
Campo no Estado do Paraná, elaborado a fim de tornar possível o aprimoramento das
orientações e encaminhamentos de práticas docentes, tornando possíveis atender às
reivindicações e sugestões dos Movimentos Sociais e comunidade local. No texto
dessa dissertação, utilizou-se de forma ilustrativa a nomenclatura “a Conquista” dos
sujeitos do campo. Conquista, por demonstrar o resultado de reivindicações, lutas e
ações em prol de uma coletividade, sendo estas, os povos do campo.
No terceiro capítulo, “Os Anseios de uma Conquista”, procurou-se apresentar
o caminho o qual foi preciso para caracterizar os objetivos e problemática da pesquisa.
Foram apresentados alguns aspectos importantes para o conhecimento da
organização gestora da Educação do Campo, constituída pela SEED/PR, NRE/Pato
Branco, Direção ou Coordenação e Professores de algumas Escolas do Campo. Para
99
isso, elaboraram-se algumas questões dirigidas aos sujeitos de pesquisa. Com o
mesmo intuito, para a análise mais precisa dos dados recebidos, foi preciso utilizar de
roteiro de observação nas mesmas escolas pesquisadas.
As ações desenvolvidas pela SEED/PR têm por função a efetivação de políticas
públicas, encaminhamentos, orientações e fiscalização junto aos NREs. Os NREs, por
sua vez, representado nessa pesquisa pelo NRE de Pato Branco, desenvolvem as
mesmas ações, porém, destinadas às Escolas. E finalmente, a concretização das
ações da SEED/PR e NRE nas Escolas, através do trabalho desenvolvido pela gestão
escolar, através da direção e coordenação e práticas pedagógicas dos professores
junto aos seus educandos.
No quarto capítulo, “Contexto da Conquista”, contextualiza-se de forma sucinta,
o local da pesquisa, ou seja, o Estado do Paraná no intuito de se perceber
características possíveis para a realização de atuações que possam atender aos
desejos da sociedade, tanto local, quanto em nível de Estado. Dessa forma, levando
em consideração o previsto nas Diretrizes Curriculares da Educação do Campo,
quanto aos fatores culturais, saberes próprios, condições socioeconômicas, entre
outros apresentados nessa dissertação, o Estado do Paraná demonstra ter condições
para desenvolver políticas públicas que favoreçam as especificidades, tanto dos
povos inseridos no campo, quanto aos residentes no urbano.
Ante o exposto, foi necessário dialogar levando-se em conta a fundamentação
de alguns estudiosos, fazendo referências às práticas desenvolvidas, a fim de tornar
possível a aproximação das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo ao
contexto escolar.
O aporte bibliográfico partiu dos estudos de Pires (2012), Sacristán (2000),
Arroyo (2010), Bernartt (2006) e o texto das Diretrizes Curriculares para a Educação
Básica na Escolas do Campo no Estado do Paraná – SEED/PR (2006),
fundamentação necessária para a compreensão e entendimento das ações
desenvolvidas nas 29 Escolas do Campo pertencentes ao NRE/Pato Branco.
Entretanto, os dados evidenciados pela pesquisa nas 29 escolas, demonstram
grande esforço da equipe escolar, a fim de, direta ou indiretamente atender às
orientações apresentadas nas Diretrizes Curriculares da Educação do Campo, cujas
atividades merecem destaque:
Palestras de conscientização sobre problemas causados pelo mosquito da
dengue, bulling, meio ambiente, entre outros de necessidade da comunidade;
100
Desenvolvimento de projetos relacionados ao resgate da cultura local;
Parceria com empresas da comunidade, a fim de realizar projetos de prevenção
das queimadas;
Atividades vivenciadas em propriedades rurais em parceria com alunos da
Escola Agrícola: construção de horta, compostagem, minhocário e organização de
canteiros;
Concurso de paródias, visando relacionar o conteúdo escolar ao cotidiano da
comunidade;
Projetos permitindo aproximação dos alunos às atividades aviárias
desenvolvidas na comunidade;
Atividades culturais, de lazer e comemorativas, favorecendo o intercâmbio
entre conteúdos curriculares e saberes da comunidade.
Deve-se ressaltar que algumas atividades pedagógicas são dificultadas, pelo
fato de que muitas escolas não oferecem condições favoráveis para a sua efetivação.
Dentre as problemáticas, percebeu-se a falta de condições física em algumas escolas:
quadra de esportes, salas de aula, pouco espaço externo, acesso às escolas e
carência de recursos didático-pedagógicos; e recursos humanos: grande rotatividade
de professores, pelo fato de serem profissionais contratados, sem habilitação para a
educação do campo e professores residentes e também docentes do urbano, cujo
trabalho é dificultado tendo em vista ser necessário desempenhar dois contextos
diferenciados.
No quinto capítulo, “A Conquista: Resultado da Pesquisa”, apresenta-se as
respostas obtidas pelos pesquisados, almejando mostrar o resultado do trabalho
coletivo, de lutas, organizações, persistências e sonhos. As consequências,
demonstram algumas nuances no processo de implementação das Diretrizes
Curriculares da Educação do Campo.
Com base nas informações do questionário aplicado, são analisados os limites,
desafios e possibilidades em âmbito da SEED – Secretaria de Estado e Educação de
Curitiba, NRE – Núcleo Regional de Educação de Pato Branco e Escolas do Campo
pertencentes ao NRE de Pato Branco. Evidenciou-se algumas respostas ambíguas
com relação a Coordenação da SEED, NRE e Direção ou Coordenação Pedagógicas
das Escolas, com relação às respostas dos Professores. Nesse sentido, a
implementação das Diretrizes Curriculares nas Escolas do Campo, na visão dos
Professores, não há efetivação. Porém, através das observações da pesquisadora,
101
constatou-se várias atividades desenvolvidas nas 29 escolas pertencentes ao NRE de
Pato Branco. Essas atividades estão coerentes com o que prevê nas Diretrizes.
Para a pesquisadora, alguns professores desconhecem as orientações das
Diretrizes Curriculares da Educação do Campo, no entanto, juntamente com os
demais profissionais da escola, desenvolvem projetos que possibilitam atender às
questões do contexto sociocultural da comunidade. Entretanto, a Coordenação da
Educação do Campo da SEED/PR e do NRE/Pato Branco, através das suas
respostas, cumpre seu papel de efetivação, de orientações e normatizações.
Entende-se que para a implementação e ressignificação das Escolas do Campo
deve haver sustentação à normatização, ou seja, neste momento, às Diretrizes
Operacionais e Curriculares, e que estas precisam ser estudadas e entendidas pelos
profissionais da Escola. Percebe-se que não se pode esperar “receitas prontas”, as
atitudes precisam partir do meio escolar, dos professores, funcionários e comunidade,
levando-se em conta a realidade em que a escola está inserida.
Finalmente, no entendimento da pesquisadora a partir dos resultados da
pesquisa, a fim de responder à questão problematizadora, com relação aos limites,
desafios e possibilidades do processo de implementação da Educação do Campo nas
escolas rurais no Núcleo Regional de Educação de Pato Branco, um dos limites está
no distanciamento nas orientações previstas pelas Diretrizes ao contexto das escolas.
Entendendo, a partir dos resultados, a falta de entendimento de professores na
realização de suas práticas pedagógicas. Entretanto, percebeu-se que as
Coordenações da Educação do Campo da SEED/PR, NRE/Pato Branco e
Coordenação ou Direção das Escolas pesquisadas, possuem entendimento quanto
ao texto das Diretrizes, porém, há pouca articulação junto ao quadro docente.
Os desafios relacionam-se à efetivação das orientações previstas nas
Diretrizes Curriculares, a fim de desenvolver os conteúdos curriculares paralelos às
histórias locais, saberes e necessidades; da mesma forma, em proporcionar aos
profissionais das escolas momentos de estudos, de orientações específicas e
formação para a Educação do Campo; outro desafio está na contratação dos
professores, em que possibilitem o desenvolvimento da docência somente na escola
do campo, a fim de permitir um maior entrosamento entre professor e comunidade.
Como possibilidade de implementação das Diretrizes Curriculares, entende-se
que a atuação dos profissionais da Educação do Campo, sendo, SEED/PR, NRE/Pato
Branco e Escolas do Campo deve ser ativa, comprometida, visando os interesses da
102
comunidade local, com o propósito de formação crítica, cidadã e emancipatória.
Este estudo não teve a pretensão de exaurir o tema. Abrem-se perspectivas
para novas pesquisas, novas investigações que provoquem o avanço e, sobretudo,
melhorias na Educação do Campo. Dessa forma, ao se concluir este estudo, acredita-
se que os resultados aqui apresentados são relevantes, permitindo compreender no
âmbito das escolas do campo, quem são os povos que incessantemente lutam para
dar vida, conceito e dignidade para si e seus familiares. Enfim, no que tange à
educação, deve ser repensada, reelaborada, buscando novas possibilidade para
trilhar outros caminhos, ou seja, não deixar de reivindicar e lutar pelos direitos do povo
do campo, conquistar novos horizontes, batalhar por melhores condições de vida e
por confiar na construção de homens e mulheres críticos, com senso de liberdade e
justiça.
103
REFERÊNCIAS
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108
APÊNDICES
109
APÊNDICE A - ESCOLAS ESTADUAIS DO CAMPO – NRE DE PATO
BRANCO
110
Figura 5- Escolas Estaduais do Campo pertencentes ao NRE de Pato Branco Fonte: Elaboração própria (2014) - elaborada a partir de dados de www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/consultaescolas.
Figura 6 - Professores e alunos da Escola do Campo Gleci Regina Zanchett Fonte: http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
111
Figura 7 - Atividades desenvolvidas na Escola Linha Aparecida Fonte: http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
Figura 8 - Trabalho: Preservação de Nascentes (Água) Fonte: http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
112
Figura 9 - Escola Estadual do Campo São Luiz - Chopinzinho/PR Fonte: http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
Figura 10 - Prédio da Escola Estadual do Campo Frei Ceciliano Fonte: http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
113
Figura 11 Desenhos dos alunos da Escola Nossa Senhora do Carmo Fonte: http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
Figura 12 Acesso principal à cidade de Coronel Domingos Soares Fonte: www.google.com.br (2014).
114
Figura 13 Escola do Campo Jupira G. Bondervalle http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
Figura 24 Atividade desenvolvida pela Escola Estadual Jupira G. Bandervalle Fonte: http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
115
Figura 15 - Palestra com profissionais sobre o combate ao Mosquito da Dengui Fonte: http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
Figura 16 - Visita em uma propriedade situada no município de Itapejara d' Oeste Fonte: http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
116
Figura 17 Atividade desenvolvida em apoio ao Outubro Rosa http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
117
Figura 18 Sala de aula, tv pendrive, laboratório de informática, biblioteca e quadra esportiva http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
Figura 19 Escola Estadual do Campo Orestes Tonet http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
118
Figura 20 Recursos pedagógicos oferecidos pela escola http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
Figura 21 - Atividade de alunos em lavoura http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
119
Figura 22 - Escola Professor Dorival Cordeiro http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
Figura 23 - Semana Cultura – Escola Antônio Artêmio Franca http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
120
Figura 24 - Escola do Campo Duque de Caxias http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
Figura 25 - Atividade desenvolvida pelos alunos da Escola http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
121
Figura 26 - Ginásio de Esportes http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
Figura 27 - Atividade desenvolvida pelos alunos na escola http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
Figura 28 - Escola Estadual do Campo Santa Lúcia http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
122
Figura 29 - Quadra de Esportes http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
Figura 30 - Estrutura Escola Estadual do Campo André Guimaraes http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
123
Figura 31 - Atividades desenvolvidas na Escola do Campo São Luís (1) http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
124
Figura 32 - Semana Cultural Escola do Campo Castelo Branco http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
Figura 33 - Escola Estadual do Campo Santa Inês http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/modules/conteudo/
125
Figura 34 - Profissionais da Escola do Campo Santa Inês Fonte: Imagem fornecida pela Escola (2014).
Figura 35 - Painel ilustrativo na Escola Santa Inês Fonte: Imagem fornecida pela Escola (2014).
126
Figura 36 - Folder divulgação atividades da escola Fonte: Folder de divulgação fornecido pela Escola (2014).
Figura 37 - Folder divulgação de atividades realizadas em quatro escolas do campo Fonte: Folder de divulgação fornecido pela Escola (2014).
127
Figura 38 - Caderno de receitas Fonte: Folder de divulgação fornecido pela Escola (2014).
Figura 39 - Bolo na cinza Fonte: Imagem fornecida pela Escola.
128
Figura 40 - Contação de histórias tradicionais indígenas Fonte: Imagem fornecida pela Escola
Figura 41 - Participação da família na escola Fonte: Imagem fornecida pela Escola
129
Figura 42 - Sala de aula na aldeia indígena – Escola Estadual Indígena Nitótu Fonte: Imagem fornecida pela Escola.
Figura 43 - Artesanato indígena Fonte: Imagem fornecida pela Escola.
130
APÊNDICE B - QUESTÕES DE PESQUISA
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De onde é emanada a política de educação do campo que transformou
as escolas rurais em escolas do campo?
Quais são as orientações, os fundamentos, a base da educação do
campo no Estado do Paraná?
Qual é a formação da equipe que orienta a educação do campo no
Estado do Paraná?
Qual é o objetivo da política de educação do campo, tendo em vista que
a maioria dos alunos não quer permanecer no campo?
A SEED/PR participa da Articulação do Campo no Estado do Paraná?
Como acontece as orientações da SEED para os NREs e Escolas do
Campo?
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A equipe da educação do campo no NRE tem formação para a
Educação do Campo?
Quais são os documentos que orientam as escolas do campo?
Como acontece a formação continuada dos profissionais das escolas do
campo? E qual é o diferencial em relação às escolas urbanas?
Qual é o contexto das escolas do campo no Estado do Paraná?
Qual a relação entre SEED/NRE/ESCOLAS no contexto das Políticas
de Educação do Campo, em especial as Diretrizes Operacionais e
Curriculares do Campo?
131
CO
OR
DE
NA
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O
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C
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PO
D
O
NR
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O que diferenciou nas escolas do campo a partir das Diretrizes
Curriculares da Educação do Campo do Estado do Paraná?
Qual é o encaminhamento do NRE/PR para escolas do campo com
referência à educação do campo?
O que está sendo trabalhado de conteúdo específicos nas escolas do
campo de acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação do
Campo?
O que mudou no Projeto Político Pedagógico da escola a partir das
Diretrizes Curriculares da Educação do Campo?
Como acontece a formação continuada dos profissionais da escola do
campo? E a contratação dos professores, tem diferencial em relação às
escolas urbanas?
PR
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ES
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S
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/PA
TO
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AN
CO
O que diferenciou nas escolas do campo a partir das Diretrizes
Curriculares da Educação do Campo do Estado do Paraná?
Qual é o encaminhamento do NRE/PR para escolas do campo com
referência à educação do campo?
O que está sendo trabalhado de conteúdo específico nas escolas do
campo de acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação do
Campo?
O que mudou no Projeto Político Pedagógico da escola a partir das
Diretrizes Curriculares da Educação do Campo?
Como acontece a formação continuada dos profissionais da escola do
campo? E a contratação dos professores, tem diferencial em relação às
escolas urbanas?
132
ANEXOS
ANEXO I - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
PR
Ministério da Educação Universidade Tecnológica Federal do Paraná Campus Pato Branco
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, Marlete Turmina Outeiro, estudante do Curso de Pós-Graduação stricto sensu da
UTFPR Campus Pato Branco, estamos executando uma atividade de investigação vinculada
o Curso de Mestrado em Desenvolvimento Regional, mediante o Projeto de Pesquisa
intitulado “O Processo de Implementação da Educação do Campo nas Escolas do Núcleo
Regional de Educação de Pato Branco: Limites, Desafios e Possibilidades”. O objetivo do
referido projeto consiste em pesquisar a implementação das Diretrizes Operacionais para as
Escolas do Campo, bem como analisar nos documentos os limites, desafios e possibilidades
para um ensino conforme o contexto da comunidade campesina.
Sua colaboração na pesquisa será de suma importância para o desenvolvimento da mesma.
Por isso, pedimos a sua participação e autorização para a realização de coleta de dados
atinentes ao referido projeto através do fornecimento de informações por meio de: observação
direta, conversas informais, documentos oficiais, questionários e/ou entrevistas. Suas
informações serão utilizadas apenas para as finalidades da pesquisa e não serão objetos de
avaliação pessoal no sentido de verificação de acerto ou erro.
A participação na pesquisa não envolve risco físico, tampouco constrangimento de qualquer
natureza. A identidade dos envolvidos será preservada em todas as fases dos projetos e os
mesmos terão pleno direito de censura sobre os conteúdos que fornecerem individualmente.
Se a qualquer momento desejar informações adicionais sobre as pesquisas ou, se não
querendo mais participar, desejar interromper sua participação, pode entrar em contato no
horário comercial pelo telefone (46) 3220-2504 ou pelo e-mail [email protected],
endereçando a mensagem à Professora Maria de Lourdes Bernartt, orientadora desta
pesquisa.
Profª. Drª. Maria de Lourdes Bernartt
Orientadora do Projeto