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PCNP – Marcos Rodrigues Ferreira Língua Portuguesa

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O português brasileiro foi o mais extensivamente exposto à influência das línguas africanas, pois de 1538 a 1855 foram trazidos cerca de 18 milhões de escravos negros, sujeitos a um contato mais intenso com a escassa população branca, em contraposição aos 6 milhões de indígenas.

Os africanos trazidos para o Brasil integram duas culturas: a cultura banto e a cultura sudanesa.

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A cultura banto cinde-se no Grupo Ocidental, originário do Congo e de Angola, e no Grupo Oriental, originário de Moçambique, Tanganica e Região dos Lagos. Seus representantes se fixaram no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Maranhão, Pernambuco e Alagoas.

A cultura sudanesa compreende os fulas, os mandingas, os fantis-ashantis, os hauxás, os ewês e os iorubás ou nagôs, originários da costa oeste africana:Sudão, Senegal, Guiné, Costa do Ouro, Daomé e Nigéria. Eles se fixaram principalmente na Bahia, vieram em número menor que os bantos, e dois séculos mais tarde.

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Estima-se em 300 o número de palavras africanas que foram incorporadas ao léxico do português brasileiro. São ainda escassos os estudos sobre as influências lingüísticas africanas. Os primeiros textos atribuem aos africanos simplificações da morfologia nominal e verbal que outros textos atribuem igualmente aos indígenas. Quanto ao léxico, eles procuram identificar as origens do vocabulário africano difundido no Brasil.

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Quadro – Contribuições lexicais africanas ao português brasileiro: palavras bantos, segundo Castro (1980; 2001)

Palavra Banto e Significado

Bagunça: Desordem, confusão, baderna, pândega ruidosa Banguela: Desdentado ou que tem arcada dentária falha na frenteBeleléu : Cemitério: “ ir para o beleléu” – morrer, sumirCachaça :Aguardente que se obtém mediante a fermentação e a destilação do caldo da

cana, qualquer bebida alcoólica. Cachimbo: Pito de fumarCaçula: O mais novo dos filhos ou dos irmãosCarimbo: Selo; sinete, sinal público com que se autenticam documentosEncafifar: Amuar; calar-se de repente, envergonhar-se; desagradarLenga-lenga: Conversa fiada, enganosa, discurso longo e enfadonhoMambembe: Medíocre, de má qualidade, inferiorMaracutaia: Engodo, trapaçaMoleque: Menino, garoto, rapaz, menino negroQuilombo: Povoação de escravos fugidosXingar: Insultar, ofender com palavrasZonzo: Atordoado, tonto, distraído

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A extraordinária complexidade lingüística dos povos africanos, associada à prática portuguesa de misturar suas etnias às dos indígenas, para dificultar as revoltas, deve ter dado origem, após o século XVII, a um dialeto das senzalas, sorte de língua franca, segundo a hipótese de Castro (1980, 2001). Nesse dialeto, tanto quanto nas palavras que passaram para o português brasileiro, as línguas bantos tiveram grande importância. Delas provêm as expressões vir de Aruanda (isto é, de Luanda, costa norte de Angola), dançar um Moçambique, rainha do Congo e congada.

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As palavras bantos incorporadas ao

português brasileiro conheceram uma dispersão maior pelas áreas lexicais, como atestam os itens:

Cacunda, caçula, fubá, angu, jiló, carinho, bunda, quiabo, dendê, dengo, samba, etc.

 

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Já as palavras da cultura sudanesa concentram em 65,7% na linguagem litúrgica dos candomblés, tais como estas palavras do iorubá incorporadas ao português:

Afoxé: cortejo carnavalesco da Bahia Agogô: instrumento musical usado no candomblé Auê: confusão, alvoroço Babalorixá: pai de santo Obó: despacho, oferenda Ialorixá: mãe de santo Iansã: orixá do fogo, do trovão e da tempestade Iemanjá: orixá do mar Ogum: orixá do ferro e da guerra Odara: bem, bom, bonito Orixá: divindade Oxumaré: orixá da riqueza Xangô: orixá dos raios e do trovão Xinxim: cozido de galinha, com camarões secos, amendoim e castanha de caju.

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CASTILHO, Ataliba T. de.; ELIAS, Vanda M. Pequena Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2012.

CASTRO, Yedda P. Falares africanos na interação social do Brasil-Colônia. Salvador: UFBA, 1980. (Publicação n. 89)

_____________ Falares africanos na Bahia: um vocabulário afro-brasileiro. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras/Topbooks, 2001.