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PeloEstado Entrevista “Não se muda 60 anos em seis meses” O atual presidente das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) assumiu o cargo em janeiro deste ano e já está promovendo uma verdadeira transformação na empresa. Com o corte de despesas e a busca pelo aumento da receita, ele propõe uma série de medidas calcadas nos princípios da administração pública, envolvendo nas decisões os empregados e as entidades sindicais que os representam. Siewert passou oito anos na Secretaria de Estado da Fazenda e durante nove meses chegou a ser o titular da pasta. Experiência que está sendo usada agora, na reestruturação da Celesc. Nesta entrevista exclusiva concedida em seu gabinete à CNR-SC/ADI-SC/Central de Diários, o presidente da maior empresa pública de Santa Catarina e terceira maior entre todas as empresas instaladas no estado fala sobre as primeiras ações, o futuro da Celesc e de como os princípios da gestão privada podem ser aplicados - com sucesso - em uma empresa pública. Bem- humorado, recebeu a equipe de reportagem com um efusivo “Luz e Força”, numa referência às atividades da empresa que comanda. [PeloEstado] - Como será a re- estruturação da Celesc? Cléverson Siewert - O setor de energia é extremamente complexo, cerne do desenvol- vimento do país e fator de com- petitividade. Isso faz com que ele seja muito dinâmico, esteja em constante inovação e tenha muitos desafios. O nosso prin- cipal desafio é a modicidade tarifária, da Medida Provisória 579, convertida em lei no início desse ano, que é a captura, por meio do órgão regulador, dos ganhos e da produtividade que a companhia teve ao longo do ano para entregar isso à socie- dade, sempre buscando dimi- nuir a tarifa. Temos, em 2013, um valor para fazer custeio e investimentos que é o mesmo de dez anos atrás, sendo que nesse mesmo período houve 65% de inflação e 40% de cresci - mento de sistema. Então, fica a pergunta: como iremos tocar a Celesc, a maior empresa públi- ca de Santa Catarina e a terceira maior empresa do estado, com os mesmos valores de dez anos atrás? Esse processo todo fez com que interpretássemos essa mudança e aí a empresa teve consciência da necessidade de reestruturação. Queremos ace- lerar o processo para recuperar o tempo perdido. [PE] - Qual a principal necessi- dade da empresa? CS - Nossos custos operacio- nais de 2013 são em torno de R$ 150 milhões acima da receita re- colhida com tarifa. Esse custo a mais é acumulado dos últimos dez anos. Então, em função da modicidade tarifária e desse custo acima do normal, nós to- mamos a decisão de fazer um novo planejamento. Constru- ímos um novo estatuto social para a Celesc, com regras para investimento, administração e até mesmo no setor pessoal. Também tivemos que estabele- cer o nosso Plano Diretor, com metas físicas, financeiras e com 20 iniciativas estratégicas que nos permitirão levar a empresa de forma sustentável até 2030. Outro foco importante foi o pla- no de adequação de quadros, reduzindo despesas com Pro- grama de Demissão Voluntária (PDV), reposicionamento de pessoal e, agora, com o Plano de Eficiência Operacional, com no- vos procedimentos e processos. [PE] - O que já foi feito? CS - Reduzimos duas direto- rias. A Celesc possui cerca de 3 mil servidores efetivos e somen- te oito cargos comissionados. E mesmo assim cortamos quatro deles. Estamos definindo cortes em outros setores. Na última semana, definimos o corte de 30% dos cargos gerenciais da empresa, um número bastante significativo. Isso representa- rá cerca de R$ 3,5 milhões de economia ao ano. Mais do que o valor, trata-se de um indica- tivo para a sociedade e para o próprio corpo funcional de que precisamos fazer mais com me- nos. Esses funcionários não dei- xam de ser efetivos da Celesc, mas deixam de receber um va- lor extra por ser chefe de depar- tamento, assessor ou chefe de divisão. O plano foi construído pelos funcionários da empresa em parceria com a diretoria. Fi- zemos tudo isso trocando infor- mações com as forças sindicais, mostrando para eles os planos e tirando todas as dúvidas. [PE] - Por onde iniciou a rees- truturação? CS - Iniciamos nos Postos de Atendimento a Subestações, os PAS. A estrutura existente hoje custa R$ 20 milhões por ano. A nova estrutura, desenhada com os funcionários, custará R$ 7 milhões ao ano. Para chegar a esse valor, mudamos a quanti- dade de pessoas que irão atu- ar e a escala de atendimento, com menos sobreaviso, menos hora- extra, mantendo a quali- dade do serviço e suprindo as necessidades dos consumido- res. Obviamente teve gente que perdeu dinheiro nesse proces- so, mas se não abrirem mão de algo, a companhia pode sofrer. Há ainda os Centros de Ope- ração de Distribuição (COD), que ficam em cada uma das 16 agências regionais. Existia a ideia de transformá-los em um só, mas estamos fazendo um trabalho escalonado. Nossa primeira ação é fazer com que desses 16 COD, somente cin- co funcionem no período no- turno, das 22 às 6 horas. Com isso, já economizamos escala e hora-extra. Não vamos tirar R$ 150 milhões de um ano para o outro, mas precisamos mon- tar a situação para isso ano a ano, mostrando para a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) que somos viáveis. [PE] - Quando acontece a reno- vação da concessão? CS - No dia 15 de julho de 2015 encerra o contrato atual. Nossa expectativa é que em três anos recuperemos esses R$ 150 mi- CLÉVERSON SIEWERT lhões. Se conseguirmos antes, ótimo, mas é um passo de cada vez. Se, juntos, encontrarmos R$ 50 milhões em ganho neste ano já é muito. A Aneel é um órgão regulador de controle externo que está olhando nossas contas. Imaginem no dia da reunião para renovação da concessão eles olharem nossas contas e verem que gastamos R$ 150 mi- lhões a mais do que arrecada- mos em tarifa e sem indicado- res adequados. Eles vão dar a concessão para outro que possa fazer melhor. Mas se eles anali- sarem que estamos com indica- dores positivos e recuperando o valor gasto a mais, é mais fácil renovarem a concessão para que continuemos fazendo um bom trabalho. É esse sentimento que precisamos mostrar ao órgão regulador: de que sabemos nos- sos problemas, diagnosticamos e estamos sabendo recuperar. A atual concessão foi dada em 1996 e a próxima, comentam, deve ser entre 20 e 25 anos. [PE] - Como está o relaciona- mento com a Aneel? CS - Melhorou muito e eles têm as melhores impressões da Celesc. Muito disso é pelo tratamento que o ex-presiden- te Gavazzoni (Antonio Marcos Gavazzoni, hoje secretário es- tadual da Fazenda) tem com as pessoas e também porque firmamos muitos compro- missos nos últimos dois anos, cumprindo todos eles, como investimento em pesquisa e desenvolvimento e redução de custos. Isso dá confiança não só ao órgão regulador, mas tam- bém ao investidor, que quer a valorização de suas ações. [PE] - Essa situação de dese- quilíbrio ocorre em outras con- cessionárias? CS - Em várias outras, por con- ta da modicidade tarifária. Pro- cedimentos semelhantes aos que estamos implantando estão sendo feitos na Copel (Compa- nhia Paranaense de Energia) e na Cemig (Companhia Ener- gética de Minas Gerais). Qual o futuro da Celesc? De um lado, a renovação da concessão com toda essa reestruturação interna da empresa; do outro, o aumen- to de receita. Assim, equilibra- mos a balança. [PE] - Como pretende aumen- tar a receita? CS - Novos negócios e Geração são focos muito fortes para que consigamos crescer mais, já que o crescimento da Distribuição é muito pequeno, porque o es- tado cresce pouco também em sua população. A Celesc nunca foi agressiva nesse nicho. Não temos praticamente nada. A capacidade atual instalada é de somente 81 megawas (MW) para um consumo anual gigan- tesco, perto de 20 giga was (GW). Somos o oitavo maior PIB (Produto Interno Bruto) do país e o quinto maior consumi- dor de energia elétrica. Diante disso, lançamos uma chamada pública para novos negócios em Geração e já temos 1,1 mil MW em estudo. Assim, poderemos ser sócios em projetos de dife- rentes fontes. O dinheiro não é o principal problema, já que há muitas pessoas querendo finan- ciar projetos de Geração. Temos é que tirá-los do papel por meio de uma metodologia que está sendo criada. Se o projeto en- Não somos uma secretaria de Estado. Precisamos de lucro para atender empregados e sociedade adequadamente.

Pelo estado entrevista pres celesc cléverson siewert 08 07-13 duas pag

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“Não se muda 60 anos em seis meses”O atual presidente das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) assumiu o cargo em janeiro deste ano e já está promovendo uma verdadeira transformação na empresa. Com o corte de despesas e a busca pelo aumento da receita, ele propõe uma série de medidas calcadas nos princípios da administração pública, envolvendo nas decisões os empregados e as entidades sindicais que os representam. Siewert passou oito anos na Secretaria de Estado da Fazenda e durante nove meses chegou a ser o titular da pasta. Experiência que está sendo usada agora, na reestruturação da Celesc. Nesta entrevista exclusiva concedida em seu gabinete à CNR-SC/ADI-SC/Central de Diários, o presidente da maior empresa pública de Santa Catarina e terceira maior entre todas as empresas instaladas no estado fala sobre as primeiras ações, o futuro da Celesc e de como os princípios da gestão privada podem ser aplicados - com sucesso - em uma empresa pública. Bem-humorado, recebeu a equipe de reportagem com um efusivo “Luz e Força”, numa referência às atividades da empresa que comanda.

[PeloEstado] - Como será a re-estruturação da Celesc?Cléverson Siewert - O setor de energia é extremamente complexo, cerne do desenvol-vimento do país e fator de com-petitividade. Isso faz com que ele seja muito dinâmico, esteja em constante inovação e tenha muitos desafios. O nosso prin-cipal desafio é a modicidade tarifária, da Medida Provisória 579, convertida em lei no início desse ano, que é a captura, por meio do órgão regulador, dos ganhos e da produtividade que a companhia teve ao longo do ano para entregar isso à socie-dade, sempre buscando dimi-nuir a tarifa. Temos, em 2013, um valor para fazer custeio e investimentos que é o mesmo de dez anos atrás, sendo que nesse mesmo período houve 65% de inflação e 40% de cresci-mento de sistema. Então, fica a pergunta: como iremos tocar a Celesc, a maior empresa públi-ca de Santa Catarina e a terceira maior empresa do estado, com os mesmos valores de dez anos atrás? Esse processo todo fez com que interpretássemos essa mudança e aí a empresa teve consciência da necessidade de reestruturação. Queremos ace-lerar o processo para recuperar o tempo perdido.

[PE] - Qual a principal necessi-dade da empresa?CS - Nossos custos operacio-nais de 2013 são em torno de R$ 150 milhões acima da receita re-colhida com tarifa. Esse custo a mais é acumulado dos últimos dez anos. Então, em função da modicidade tarifária e desse custo acima do normal, nós to-

mamos a decisão de fazer um novo planejamento. Constru-ímos um novo estatuto social para a Celesc, com regras para investimento, administração e até mesmo no setor pessoal. Também tivemos que estabele-cer o nosso Plano Diretor, com metas físicas, financeiras e com 20 iniciativas estratégicas que nos permitirão levar a empresa de forma sustentável até 2030. Outro foco importante foi o pla-no de adequação de quadros, reduzindo despesas com Pro-grama de Demissão Voluntária (PDV), reposicionamento de pessoal e, agora, com o Plano de Eficiência Operacional, com no-vos procedimentos e processos.

[PE] - O que já foi feito?CS - Reduzimos duas direto-rias. A Celesc possui cerca de 3 mil servidores efetivos e somen-te oito cargos comissionados. E mesmo assim cortamos quatro deles. Estamos definindo cortes em outros setores. Na última semana, definimos o corte de 30% dos cargos gerenciais da empresa, um número bastante significativo. Isso representa-rá cerca de R$ 3,5 milhões de economia ao ano. Mais do que o valor, trata-se de um indica-tivo para a sociedade e para o próprio corpo funcional de que precisamos fazer mais com me-nos. Esses funcionários não dei-xam de ser efetivos da Celesc, mas deixam de receber um va-lor extra por ser chefe de depar-tamento, assessor ou chefe de divisão. O plano foi construído pelos funcionários da empresa em parceria com a diretoria. Fi-zemos tudo isso trocando infor-mações com as forças sindicais,

mostrando para eles os planos e tirando todas as dúvidas.

[PE] - Por onde iniciou a rees-truturação?CS - Iniciamos nos Postos de Atendimento a Subestações, os PAS. A estrutura existente hoje custa R$ 20 milhões por ano. A nova estrutura, desenhada com os funcionários, custará R$ 7 milhões ao ano. Para chegar a esse valor, mudamos a quanti-dade de pessoas que irão atu-ar e a escala de atendimento, com menos sobreaviso, menos hora- extra, mantendo a quali-dade do serviço e suprindo as necessidades dos consumido-res. Obviamente teve gente que perdeu dinheiro nesse proces-so, mas se não abrirem mão de algo, a companhia pode sofrer. Há ainda os Centros de Ope-ração de Distribuição (COD), que ficam em cada uma das 16 agências regionais. Existia a ideia de transformá-los em um só, mas estamos fazendo um trabalho escalonado. Nossa primeira ação é fazer com que desses 16 COD, somente cin-co funcionem no período no-turno, das 22 às 6 horas. Com isso, já economizamos escala e hora-extra. Não vamos tirar R$ 150 milhões de um ano para o outro, mas precisamos mon-tar a situação para isso ano a ano, mostrando para a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) que somos viáveis.

[PE] - Quando acontece a reno-vação da concessão?CS - No dia 15 de julho de 2015 encerra o contrato atual. Nossa expectativa é que em três anos recuperemos esses R$ 150 mi-

CLÉVERSON SIEWERT

lhões. Se conseguirmos antes, ótimo, mas é um passo de cada vez. Se, juntos, encontrarmos R$ 50 milhões em ganho neste ano já é muito. A Aneel é um órgão regulador de controle externo que está olhando nossas contas. Imaginem no dia da reunião para renovação da concessão eles olharem nossas contas e verem que gastamos R$ 150 mi-lhões a mais do que arrecada-mos em tarifa e sem indicado-res adequados. Eles vão dar a concessão para outro que possa fazer melhor. Mas se eles anali-sarem que estamos com indica-dores positivos e recuperando o valor gasto a mais, é mais fácil renovarem a concessão para que continuemos fazendo um bom trabalho. É esse sentimento que precisamos mostrar ao órgão regulador: de que sabemos nos-sos problemas, diagnosticamos e estamos sabendo recuperar. A atual concessão foi dada em 1996 e a próxima, comentam, deve ser entre 20 e 25 anos.

[PE] - Como está o relaciona-mento com a Aneel?CS - Melhorou muito e eles têm as melhores impressões da Celesc. Muito disso é pelo tratamento que o ex-presiden-te Gavazzoni (Antonio Marcos Gavazzoni, hoje secretário es-tadual da Fazenda) tem com as pessoas e também porque firmamos muitos compro-missos nos últimos dois anos, cumprindo todos eles, como investimento em pesquisa e desenvolvimento e redução de custos. Isso dá confiança não só ao órgão regulador, mas tam-bém ao investidor, que quer a valorização de suas ações.

[PE] - Essa situação de dese-quilíbrio ocorre em outras con-cessionárias?CS - Em várias outras, por con-ta da modicidade tarifária. Pro-cedimentos semelhantes aos que estamos implantando estão sendo feitos na Copel (Compa-nhia Paranaense de Energia) e na Cemig (Companhia Ener-gética de Minas Gerais). Qual o futuro da Celesc? De um lado, a renovação da concessão com toda essa reestruturação interna da empresa; do outro, o aumen-to de receita. Assim, equilibra-mos a balança.

[PE] - Como pretende aumen-tar a receita?CS - Novos negócios e Geração são focos muito fortes para que consigamos crescer mais, já que o crescimento da Distribuição é muito pequeno, porque o es-tado cresce pouco também em sua população. A Celesc nunca foi agressiva nesse nicho. Não temos praticamente nada. A capacidade atual instalada é de somente 81 megawatts (MW) para um consumo anual gigan-tesco, perto de 20 giga watts (GW). Somos o oitavo maior PIB (Produto Interno Bruto) do país e o quinto maior consumi-dor de energia elétrica. Diante disso, lançamos uma chamada pública para novos negócios em Geração e já temos 1,1 mil MW em estudo. Assim, poderemos ser sócios em projetos de dife-rentes fontes. O dinheiro não é o principal problema, já que há muitas pessoas querendo finan-ciar projetos de Geração. Temos é que tirá-los do papel por meio de uma metodologia que está sendo criada. Se o projeto en-

Não somos uma secretaria de Estado. Precisamos de lucro para atender empregados e sociedade adequadamente.

quadrar-se na metodologia, a empresa investirá após aprova-ção do Conselho. Se a Celesc for sócia minoritária, com 49% de um empreendimento de Gera-ção, e comprar a energia desse investimento, ela precisará ti-rar “do bolso” apenas 10% de todo o investimento. Então, se a nossa metodologia der certo, dos cerca de R$ 30 milhões que a Celesc Geração tem por ano para investir, podemos multipli-car por dez, transformando em R$ 300 milhões. É uma questão de gestão e uma grande sacada para a empresa deslanchar.

[PE] - E os novos negócios?CS - Esses se enquadram em telefonia e a geração distribuí-da, que é compra por parte da Celesc da energia excedente gerada a partir de geradores so-lares residenciais ou até mesmo tendo a Celesc como principal ativo de uma empresa criada para geração de energia. Po-demos fazer negócio também em iluminação pública, que é responsabilidade da prefeitura, mas sabemos da dificuldade dos municípios. Uma série de oportunidades que precisa-mos tirar do papel. Precisamos enxergar e superar as dificul-dades. A Distribuição é nosso ganha-pão, mas, para lucrar de verdade, precisamos ir para a Geração e para novos negócios, já que 97% do faturamento é Distribuição. Somos uma em-presa pública que precisa atuar com as premissas de mercado, pois 80% do nosso capital é pri-vado e 20% é público, mesmo que 50,2% das ações da empre-sa com direito a voto sejam do Estado. Não somos uma secre-taria de Estado. Precisamos de lucro para atender empregados e sociedade adequadamente.

[PE] - Como é a relação com o setor produtivo, em especial com a Federação das Indús-trias (Fiesc)?CS - Quanto mais transparente e aberto formos, mais iremos acertar. Na Fiesc, por exemplo, fomos convocados para uma reunião de emergência, já que determinadas regiões estavam com problemas sérios. De fato eles existem, por mais que seja robusto e bom o nosso sistema. Fomos informados de proble-mas como o de um frigorífico

de Santa Cecília. Outro proble-ma que nos foi relatado era de uma empresa de laticínio em Treze Tílias. Isso me surpreen-deu, pois recém havíamos feito uma subestação. Estudamos minuciosamente in loco e volta-mos na última semana para dar o resultado. A sociedade espera isso, que Celesc dê respostas cla-ras e objetivas às demandas que são trazidas. Em Santa Cecília, já conversamos com o prefeito e a construção da subestação que estava agendada para 2015 será feita neste ano. Em Treze Tílias, durante os 15 dias que estive-mos lá não houve nenhum pro-blema. A equipe técnica disse que não havia mais problema, mas a gerência achou que tinha. Ou seja, o problema era de co-municação interna.

[PE] - Isso será recorrente?CS - Realizaremos mensal-mente, na primeira sexta-fei-ra de cada mês, uma reunião entre Celesc e Fiesc para troca de informações. A Federação é responsável por colher as de-mandas que serão repassadas à companhia para análise. Na mesma reunião, a Celesc repas-sa as informações das deman-das colhidas anteriormente.

[PE] - E a relação com as re-gionais?CS - Para que as demandas sejam menores, estamos orien-tando nossos gerentes regionais que atuem de maneira pró-ati-va. Isso parece óbvio, mas não é. Peço para os gerentes descobri-rem seus 20 maiores consumi-dores, ligarem para eles, verem as demandas, necessidades e dificuldades. É importante que os gerentes visitem câmaras de vereadores e associações em-presariais. Muitas vezes o con-sumidor só quer que o escutem. Somos concessão de serviço público e nossa primeira tare-fa é atender bem à sociedade. Não se muda 60 anos em seis meses. É um processo que es-tamos construindo aos poucos. Todos que tiverem problemas devem se comunicar com a Ce-lesc, porque queremos ajudar e acertar. Trabalhamos com três premissas: que a Celesc seja financeiramente forte, transpa-rente em suas ações e decisões, e seja adequada na prestação de seu serviço. Tenho certeza de

que, se atuarmos assim, estare-mos dinamizando a economia, dando competitividade a nos-sos negócios e trabalhando bem para a sociedade.

[PE] - Mudar cultura organiza-cional não é fácil.CS - O que fazemos aqui em 4 ou 5 anos, poderíamos fazer na iniciativa privada em um ou dois. Mas é realmente pra-zeroso ver os resultados. A Ce-lesc, ao longo de seus 60 anos, foi tratada como secretaria de Estado e pouco se cobrava dos seus funcionários. Hora-extra, custeio e sobreaviso eram ques-tões sazonais e não sistemati-zadas. Como presidente, estou cobrando dos meus diretores. Conversei pessoalmente com todos os gerentes e perguntei a eles sobre custeio e horas-extras feitas. Alguns disseram que não sabiam. Como não sabem? Eu sei e cobro que saibam também, porque o Conselho da empresa me cobra. São dados básicos que não preciso pedir aos ge-rentes, é tarefa deles saberem isso. Estamos em processo de profissionalização da Celesc.

[PE] - Na gestão de pessoas, terá mais mudança?CS - Para o profissional ser che-fe de departamento precisará ter requisitos mínimos. Isso não existia na Celesc, nem mesmo para a presidência da empre-sa. Isso não quer dizer que não possa haver indicação política. É claro que pode, desde que cum-pram uma série de requisitos. Somos uma empresa pública e precisamos desse trânsito políti-co, que é absolutamente normal. Quero deputados e governador aqui dentro da empresa, mas, como disse, respeitando regras. Quando chega aqui um deputa-do pedindo algo, respondemos se pode ou não, de acordo com as regras. Eles não ficam chate-ados, porque o sim ou o não se-guem os mesmos critérios para todos. Sei disso porque traba-lhei com concessão de recursos por oito anos na Secretaria da Fazenda. Se cabe na regra é con-cedido, se não cabe não é, sob pena de eu me prejudicar e de o governador, como ordenador primário, ser prejudicado tam-bém. O que sai de “não” aqui na Celesc é algo extraordinário, mas são “nãos” explicados, com

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coerência, lógica e embasamen-to. No que dá para fazer, temos o maior prazer em ajudar. Essa blindagem é muito importante.

[PE] - O número de terceiriza-dos cairá?CS - Estamos trabalhando a primarização da Celesc, que é trabalhar com funcionários pró-prios. A melhor empresa distri-buidora de energia do Brasil é a Coelce (Companhia Energética do Ceará), que possui 85% de terceirização. A segunda me-lhor é a Elektro, de São Paulo, com 0% de terceirização. O im-portante é a boa gestão de pes-soas. A Celesc, seus funcioná-rios e sindicatos optaram pela primarização e vamos fazer dar certo, com novo plano de saúde, de previdência e uma série de benefícios. Fizemos, durante os últimos nove meses, um Plano de Demissão Voluntário (PDV), que teve a saída de 750 funcio-nários e estamos recompondo no máximo 55% desse número, todos em áreas fins.

[PE] - O atendimento mudará? CS - Sei que a empresa não atende adequadamente à socie-dade, pois nosso call center não é bom e a nossa ação na internet ainda é ruim. Estamos contra-tando um novo contact center, saindo de 30 para 100 posições de atendimento. Percebemos que 90% do nosso estado têm acesso à internet e 70% dos atendimentos feitos nas lojas da Celesc poderiam ser feitos via internet. Portanto, estamos fazendo um grande web site que terá capacidade de receber toda essa demanda por serviços via internet. Com isso, diminuo o trânsito nas lojas e facilito a vida dos consumidores. Melhora-remos também o atendimento comercial, com mais atendentes para dar o carinho e a atenção que o nosso consumidor preci-sa. O segundo semestre será de revolução no atendimento.

[PE] - Como está a situação fi-nanceira da empresa?CS - Em 2012 tivemos um pre-juízo de R$ 250 milhões, em decorrência do PDV, contabili-zado de uma só vez, ainda que seja pago em parcelas. Somado ao PDV, teve a questão da uti-lização de térmicas, que no ano passado não representou mui-

to em nossa contabilidade. Em 2013, no entanto, a energia das térmicas, que é mais cara, foi mais utilizada em função da es-tiagem. Isso desequilibrou nos-sas finanças e o reajuste tarifário deve ter a incidência do valor da compra de energia dessas usinas, revertendo o resultado da companhia para positivo.

[PE] - A repotenciação de Pery II, em Curitibanos, representa muito para a Celesc?CS - Em 11 de julho estaremos inaugurando essa obra, com o maior investimento da história da Celesc, cerca de R$ 125 mi-lhões. É a retomada da Celesc na área de Geração. A usina vai sair de 4,4 MW para 30 MW, um aumento de 20% na Geração da empresa como um todo. Quere-mos mostrar que o investimen-to em Geração não é somente diretriz, mas que está realmente acontecendo. Um momento ím-par da Celesc.

[PE] - A capacidade energética do interior catarinense é boa?CS - Sim, mas há um projeto muito importante, em parceria com o Estado, para melhorar. Vamos transformar os ramais de monofásico para trifásico, o que dará estrutura e segurança energética para as cidades do interior. Descobrimos que seria interessante transformar 6 mil quilômetros de ramais e linhas a um custo de R$ 300 milhões. Levei o projeto ao governador Raimundo Colombo e ele se propôs a estudar a viabiliza-ção de parte disso por meio do Pacto por SC. Classificamos três regiões do estado como “vazios elétricos”, pois não possuem rede de alta tensão: Planalto Norte, em Irineópolis, o entor-no de Lages e o Extremo Oeste, em Abelardo Luz. Ali há menos oferta de energia elétrica, e, con-sequentemente, são regiões me-nos industrializadas. O próprio governador, o vice-governador Eduardo Moreira e o secretário de Planejamento, Murilo Flores (também secretário-executivo do Pacto por SC) estudam fa-zer um aumento de capital na Celesc para que a empresa pos-sa realizar esse investimento. Nos últimos 25 anos, nenhum governador se preocupou em imaginar infraestrutura energé-tica para Santa Catarina.