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Noites do Oriente Penny Jordan Digitalizado por Projeto-romances [email protected] Noites do Oriente (Daughter of Hassan) Penny Jordan Julia nº 204 Este Livro faz parte do Projeto_Romances, sem fins lucrativos e de fãs para fãs. A comercialização deste produto é estritamente proibida NOITES DO ORIENTE Descendo as sombrias escadarias do palácio de Qu’ Har, o pequeno país árabe que estava visitando, Danielle esbarrou de repente num homem desconhecido, coberto com um manto negro. Sem esperar por uma palavra dela, ele a beijou selvagemente, fazendo Danielle vibrar louca de paixão. Trêmula e emocionada, ela ouviu o estranho declarar: - Eu sou Jordan Saud Ibn Ahmed, o homem que você recusou para marido. Foi muito ingênua em pensar que me conformaria coma a sua recusa. – Não, Jourdan não se conformaria mesmo, Danielle logo descobriu. Ele estava acostumado a obter tudo o que queria; era um conquistador icorrigível. E, para têla em sua cama, como esposa, seria capaz até de raptá-la.

Penny Jordan - Noites Do Oriente

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Noites do Oriente

Noites do Oriente Penny Jordan

Digitalizado por

Projeto-romances

[email protected] do Oriente

(Daughter of Hassan)

Penny Jordan

Julia n 204Este Livro faz parte do Projeto_Romances, sem fins lucrativos e de fs para fs. A comercializao deste produto estritamente proibida

NOITES DO ORIENTE

Descendo as sombrias escadarias do palcio de Qu Har, o pequeno pas rabe que estava visitando, Danielle esbarrou de repente num homem desconhecido, coberto com um manto negro. Sem esperar por uma palavra dela, ele a beijou selvagemente, fazendo Danielle vibrar louca de paixo. Trmula e emocionada, ela ouviu o estranho declarar: - Eu sou Jordan Saud Ibn Ahmed, o homem que voc recusou para marido. Foi muito ingnua em pensar que me conformaria coma a sua recusa. No, Jourdan no se conformaria mesmo, Danielle logo descobriu. Ele estava acostumado a obter tudo o que queria; era um conquistador icorrigvel. E, para tla em sua cama, como esposa, seria capaz at de rapt-la.

CAPITULO I

- Papai, que presente maravilhoso! No devia me estragar desse jeito com tanto mimo - queixou-se Danielle, os grandes olhos verdes fixos no rosto barbudo do padrasto, alto e elegante nos trajes rabes.

- Bobagem! - Ele colocou o colar de diamantes no pescoo delgado de Danielle. - Voc no minha filha legtima, mas a menina dos meus olhos. Gosto de mim-Ia e no sei como isso poderia estrag-Ia. Na verdade, esmeraldas combinariam mais com seus olhos. . .

Danielle riu, encarando o padrasto com amor. Seu pai verdadeiro linha morrido antes de ela nascer. Quando estava com treze anos, a me casou-se com o xeque Hassan Ibn Ahmed, chefe de um imprio do petrleo.

Danielle e o padrasto se deram bem desde o comeo. O xeque j era casado, mas no tinha filhos. A primeira mulher havia se divorciado dele e, embora no tivessem conversado a respeito, Danielle imaginava que ele no podia ter filhos, o que aumentava o amor e a amizade entre eles.

Danielle tinha a impresso de que a famlia do padrasto no aprovava o segundo casamento dele. O que explicava o fato de nunca serem visitados no elegante apartamento de St. John's Wood, a residncia de Londres, ou na fazenda de Dorset, prxima da universidade em que Danielle tinha estudado.

Pensassem o que pensassem do casamento do xeque Hassan, estava claro que a famlia admirava seu talento e a perspiccia para os negcios e as finanas. No fosse assim, no lhe, teriam confiado a responsabilidade de uma atividade daquela importncia. O xeque vivia e trabalhava em Londres, mas a matria-prima que alimentava sua companhia vinha de uma propriedade dirigida pelo irmo mais velho dele, numa estreita faixa entre o Kuwait e a Arbia Saudita.

De vez em quando, os compatriotas lhe faziam visitas, mas Danielle os via raramente. Primeiro porque h apenas dois anos tinha terminado o curso de aperfeioamento na Sua, e segundo porque Hassan preferia no envolver a esposa e a enteada nos negcios.

Depois de um ano na Sua, Danielle voltou Inglaterra decidida a procurar um emprego, o que deixou o padrasto horrorizado. Foi por esse motivo que quase chegaram a se desentender, e tambm por isso Danielle interpretava aquele presente como uma maneira de retomarem o bom relacionamento. No havia necessidade de trabalhar, argumentava Hassan; e, depois, o que ela pretendia? Sugeria que ele no tinha condies de sustent-Ia?

Danielle pediu me que explicasse ao padrasto que, no Ocidente, as garotas decidiam trabalhar por livre e espontnea vontade, pois no concordavam em ser sustentadas por suas famlias at se casarem.

Hassan, entretanto, parecia no compreender seu ponto de vista. E s depois de muita insistncia permitiu que ela fizesse o curso de cozinha Cordon Bleu que tanto almejava.

Esperava que o padrasto se mostrasse mais flexvel, quando lhe contasse que com o aprendizado pretendia abrir um restaurante. O dinheiro deixado pelo pai no era muito, mas dali a trs meses, ao completar vinte e um anos, poderia retir-Io e finalmente atingir seu objetivo.

A arte culinria havia exercido grande atrao sobre ela, desde, que freqentava a escola sua, onde os cursos de maquilagem e manequim complementaram o aprendizado ideal para aquele corpo to feminino e esguio, que j deixava entrever uma mulher atraente, recm-sada da adolescncia. Suas colegas eram todas riqussimas, vindas dos mais diversos pases, mas Danielle destacava-se por ser a nica inglesa que tinha por padrasto um rabe bem-sucedido.

Como a me, Danielle possua fartos cabelos loiros que caam sobre os ombros. Embora os olhos da me fossem azuis, os dela eram verdes como esmeraldas; uma herana do pai escocs.

Era preciso reconhecer que as coisas no haviam sido fceis para me e filha depois que perderam o chefe da famlia. Moravam modestamente numa pequena casa ao norte de Londres, mantida graas aos esforos da me e com os magros recursos de que dispunha. Quando a menina completou dez anos, a me viu-se obrigada a voltar a trabalhar como secretria na companhia de petrleo, onde, finalmente, conheceu o homem que se tornaria seu segundo marido.

Ali lembranas de Danielle foram interrompidas pela entrada da me no quarto.

- Vai ficar para o jantar, minha filha? - perguntou.

Apesar dos quarenta anos, Helen Hassan poderia passar por irm de Danielle, que sorriu ao ver a me usando roupas caras e jias discretas. Era difcil imaginar que aquela mulher bonita e simptica um dia tivesse se preocupado com o preo de um par de sapatos! Mas como haviam sido tempos marcantes, hoje Danielle no se permitiu viver com extravagncia. Embora nunca tivesse dito, desejava que seus pais no fossem to ricos. Adoraria dividir um apartamento com as amigas e lutar para, no fim do ms, repartir todas as despesas. Esse tipo de experincia a deixava fascinada. Mas eles, sem dvida, se sentiriam magoados se sugerisse sair de casa. Alm disso, conhecendo a educao recebida por Hassan, ela sabia perfeitamente que o padrasto desaprovava o grau de liberdade de alguns de seus colegas.

Saa esporadicamente com alguns rapazes, sem contudo prolongar os encontros. DanieIle percebia que o olhar austero de Hassan impunha respeito e mantinha-os distncia. Jamais havia sido necessrio afastar uma aproximao mais ntima. Talvez porque ningum a achasse atraente, pensou, olhando, insegura para o imenso espelho barroco pendurado na parede, um sorriso leve e malicioso despontando nos lbios.

- E ento, minha filha? - repetiu a me. - Vai ficar para jatar conosco? Os Sancerre foram convidados. Vieram de Paris e Philippe quis saber se voc estaria presente.

Danielle fez uma careta.

Philippe Sancerre era filho de um homem de negcios, amigo do pudrasto. Um francs que tinha conhecido em Paris h um ano. Embora jovem, apenas cinco anos mais velho que ela, tratava-se de uma pessoa bastante experiente com as mulheres. DanieIJe deduziu isso pela maneira como ele a beijou numa noite em que tinham jantado juntos. Com olhos alegres e cabelos castanhos, Philippe a agradava, porm deixava-a embaraada quando por vezes ficava observando com ateno as linhas sensuais de seu corpo.

Naturalmente Danielle no era uma jovem desinformada. Sabia das armadilhas e prazeres do sexo, mas havia uma grande distncia entre conhecer e experimentar um contato fsico. Nesse campo, reconhecia, no passava de uma garota ingnua, o que no deixava de lhe parecer ridculo. Afinal de contas, perguntava-se com ironia, quem no mundo de hoje, com quase vinte e um anos, ainda continuava virgem? Mas fazia questo de permanecer assim at que aparecesse um homem especial, digno de possu-Ia inteiramente.

- Sim, vou ficar para o jantar - respondeu, certa de que veria um ar de felicidade estampado no rosto da me. Ao contrrio de algumas mulheres da sua idade, Helen Hassan no conseguia disfarar o orgulho que sentia pela presena da filha sensual e encantadora.

No havia qualquer ponta de inveja diante da beleza daquela jovem a quem amava com dedicao.

Danielle aplicou uma sombra esverdeada, piscou os olhos e recuou para observar melhor o efeito refletido no espelho. No quarto, havia delicados mveis dourados e objetos franceses do sculo XVIII, quase todos presentes do padrasto ao completar dezoito anos. Devia ser-lhe grata pelo resto da vida; refletiu, no pelas atenes recebidas, mas por fazer de sua me uma mulher apaixonada e amada.

O colar de diamantes emitia raios de fogo entre os seios escondidos pela seda do seu vestido de noite. Hassan no lhe impunha o uso, de roupas orientais mais discretas, porm sabia que ele preferia v-Ia com roupas modestas e esperava que no se queixasse por ter escolhido aquele traje. Ao entrar na ampla sala de estar, percebeu que os olhos de Philippe se iluminaram de admirao diante, de sua elegncia. Ele e o pai levantaram num sinal de respeito e Philippe cruzou a sala para tomar-lhe as mos e beij-Ias ,com ardor.

- Philippe! - ela exclamou, quase num sussurro, constrangida com o gesto inesperado.

Madame Sancerre sorriu bondosamente, vendo o filho beijar as mos de Danielle mais uma vez antes de se afastar.

- Assim voc deixar Danielle embaraada, querido - observou a mulher, gentilmente. - Ela no est acostumada com esses mpetos, no verdade, petit!

Antes que Danielle respondesse, madame Sancerre voltou-se para Helen Hassan e disse, com certa inveja:

- Helen, voc dev.e se orgulhar de sua filha. Minha Catherine, apesar de ter apenas dezoito anos, uma rebelde. No faz nada comme ei fault; no se comporta como une jeune fille bien leve. Mas no adianta! Quando lhe digo que no conseguir um bom casamento, ela ri e argumenta que no quer casar. Diz que vai estudar advocacia e construir a prpria vida. Assim, encerra o assunto!

Madame Sancerre balanou a cabea, desanimada, mas dando a entender que secretamente aprovava a determinao da filha.

O padrasto aproximou-se de DanieIle e a abraou.

- Tem razo, madame - respondeu senhora -, ns sentimos orgulho de Danielle. Ela o que se pode chamar de filha perfeita: bem-educada, bonita, inteligente...

DanieIle corou.

- Uma jia rara! - acrescentou madame Sancerre, sorrindo. - necessrio cuidar muito bem dela, meu caro.

- Farei o possvel e o impossvel para proteg-Ia. - Hassan falou Com tal seriedade, que Danielle sentiu vontade de protestar, de dizer-lhe que era uma pessoa comum como qualquer outra, com defeitos e qualidades, no uma flor para ser guardada dentro de uma redoma.

Mas madame no parava de falar e ela no teve oportunidade de expressar sua opinio. Aos poucos a conversa acabou girando sobre assuntos mais gerais.

Depois do jantar, DanieIle e Philippe conversaram a ss, enquanto os pais discutiam negcios e as mes faziam consideraes sobre moda.

- Chrie - disse Philippe -, h muito tempo no nos vamos.

Convena seu padrasto a lev-Ia para Paris na prxima vez que ele viajar.

- Sinto muito, Philippe, mas no vai dar - respondeu Danielle, afastando a mo que ele insistia em tocar - Em breve recomearei meus estudos.

- Estudos? Ah, sim, o curso e culinria! Voc deveria faz-Io em Paris, o verdadeiro bero da arte. O que acha da idia? Talvez seu pai no aprove, sabendo que estar longe e desprotegida, estou certo?

- Sim, sem dvida ele no concordar com a idia. Um dia, quem sabe...

- Um dia a liberdade ser conquistada, no ? - ele completou, sorrindo. - S espero que v direto ao meu encontro. Danielle, voc adorvel... uma atraente mistura de adolescente e mulher. Quando se tomar madura, ser irresistvel!

Danielle compreendia muito bem as observaes picantes de Philippe. Ele era famoso por suas ousadas tentativas de conquista.

- Voc no se cansa de flertar, no? - disse-lhe.

- Eu? Flertar? - ele exclamou, erguendo as sobrancelhas - Nunca! Ainda mais com voc, mignonne! Seu protetor jamais permitiria e, alm disso, meus pais dependem dele nos negcios. Agora, se est procurando um dom-juan de verdade, um homem temperamental e dominador, no precisa ir muito longe. Basta olhar para a famlia de Hassan. Ele nunca lhe falou sobre Jourdan?

Ao ouvir aquilo, Danielle arregalou os olhos, sentindo o corpo enrijecer.

- inacreditvel! - continuou Philippe. - Jourdan o sobrinho predileto dele!

- Talvez j tenha falado. .. No me lembro. Afinal, os parentes so tantos! - Danielle mentiu, ao mesmo tempo que no compreendia por que havia ficado perturbada com a simples meno de um primo desconhecido. Jourdan! Que nome estranho!

O orgulho, entretanto, fez com que dominasse a curiosidade crescente e no perguntasse nada a respeito dele.

- Se ele tivesse lhe falado de Jourdan, com certeza voc lembraria - Philippe insistiu. - No entendo como pde esconder a relao dos dois, pois so muito prximos. Hassan considera-o mesmo como um filho.

Os olhos de Danielle revelavam absoluta incredulidade. Se Jourdan fosse to importante para seu padrasto, como Philippe dizia, era impossvel que Hassan nada tivesse dito sobre ele. Alm disso, no deixaria de visit-Ios, pelo menos de vez em quando.

- Mas h uma coisa - acrescentou Philippe. - Jourdan nunca aprovou o casamento de Hassan com sua me, embora talvez j tenha esquecido tudo. O casamento, afinal, um fato consumado, e ele um homem sensato demais para continuar se opondo inutilmente, principalmente porque teria muito a perder.

- Por outro lado, quais as vantagens que teria, colocando-se a favor? - DanielIe afinal perguntou.

Philippe olhou-a intrigado e sorriu.

- Hassan no lhe contou como chegou a controlar a indstria de petrleo de Qu'Rar?

- Meu padrasto no costuma discutir negcios com mulheres - respondeu, contrariada ao revelar tal fato.

Depois de alguns anos de convivncia com o padrasto, Danielle acabou compreendendo que aquela atitude ligava-se mais a um desejo de poup-Ia e me das preocupaes dirias, que a deciso de exclu-Ias de uma parte da vida dele. Reconhecia, porm, que os resultados, em Imbos os casos, no pareciam diferentes.

O xeque Hassan era bondoso e seu cuidado com elas era contnuo, Mas Danielle estremecia s de pensar no que seria dela e da me le tivessem que se submeter a um homem oriental que considerasse as mulheres meros objetos domsticos. Como todas as moas europial, DanielIe desejava ser independente. Contudo respeitava o modo de pensar do padrasto, pois no queria ofender ou magoar o homem que tanto tinha feito por ela e a me.

- Sabe que Jourdan concordaria plenamente com isso? - continuou Philippe, em tom de brincadeira. - Sem tirar nem pr, ele o que !te costuma chamar de chauvinista. Quando esteve em Paris pela ltima vez, fiquei abismado com a opinio dele sobre o sexo frgil, ma chrie, e ainda mais com a maneira com que as mulheres reagiam s idias dele. Naturalmente, poder e riqueza combinam muito bem, em Jourdan no falta nada, embora sua ambio seja desmedida. . .

Philipe olhou-a de relance para observar sua reao. Mas Danielle no demonstrou nada. Parecia mergulhada numa aparente irritao causada por aquele tal sujeito que, segundo Philippe, desprezava as mulheres e as usava para se divertir, desfazendo-se delas depois, como copos descartveis.

- Voc sabia que o pai de Hassan, como administrador pleno dos bens da famlia, pde escolher livremente o filho para suced-Io?

Ela no sabia, mas, no querendo admitir, confirmou com a cabea e esperou que Philippe continuasse. Apesar de reservada, sentia grande curiosidade a respeito da famlia do padrasto.

- O xeque Den Ibn Ahmed tinha quatro filhos, dos quais Hassan era o predileto e por isso seu sucessor direto. Mas ele no possua filhos. Os trs irmos demonstraram franco descontentamento com isso. Por fim, lbn Ahmed compreendeu que um homem sem filhos no seria de fato a escolha mais certa para a conduo de Qu'Har. Depois de consultar os conselheiros, montou-se numa companhia para controlar a produo de petrleo e os rendimentos da Qu'Har, e Hassan, ainda o preferido, passou a administr-Ia. Foi uma deciso sbia, pois com Hassan a companhia se diversificou e cresceu, e os lucros so empregados para beneficiar no apenas a famlia, mas tambm seu povo. Talvez voc no saiba, mas os ancestrais de Rassan pertenceram a uma pequena tribo que ficou famosa por sua bravura e independncia. Foi um dos meus antepassados que persuadiu o xeque a mandar os filhos se educarem no exterior, e a partir da comeou a relao entre a famlia de Hassan e a minha. Papai diz que seu padrasto compensou amplamente a dvida moral para com o meu av atravs do volume de negcios que ele nos deu e continua dando at hoje. . .

- E voc, no concorda com isso?

- Sem dvida, ele tem sido generoso - admitiu Philippe -, todavia poderia tornar a ajuda mais efetiva. Por exemplo, um cargo importante em uma de suas inmeras companhias representa pouco para ele e seria de inestimvel valor para ns. Concorda?

Como Danielle sabia que, para seu padrasto, um homem, deveria vencer na vida com seu prprio esforo, preferiu no responder. Em algumas ocasies, Philippe mostrava-se agradvel e encantador, mas no parecia to dedicado ao trabalho quanto o pai. No entanto, era natural que, acostumado a uma vida sofisticada em Paris, Philippe, ambicionasse uma riqueza maior para o futuro.

Sem dvida ele a achava atraente, se casaria com uma mulher ambm rica, mas talvez uma francesa calma e. tranqila que acabass fechando os olhos para os negcios do marido. Ela jamais faria tal coisa, concluiu, surpresa com o prprio pensamento. S se casaria com um homem capaz de am-Ia intensamente e compartilhar com ela todos os acontecimentos de sua vida profissional e emotiva. Sorriu com tristeza: com certeza existiam poucos homens dispostos quela comunho verdadeira. Mesmo o padrasto, que amava Helen, tinha interesses dos quais a exclua.

Ser que sua me conhecia o passado de Hassan?, perguntou-se.

Claro que sim, embora nunca tivesse comentado nada com ela. Mas por qu? Precisava admitir uma coisa: s depois de ter voltado da Sua que sua me comeou a trat-Ia como adulta, e no podia esquecer que, para ela, sempre seria a filhinha querida e inexperiente.

Danielle refletiu que havia amadurecido muito nos ltimos anos.

Tinha uma sensibilidade que atraa as pessoas com problemas, a procur-Ia e a desabafar-se com ela. Esse tipo de experincia colaborou para fortalecer ainda mais os traos maduros de sua personalidade.

Nem por isso deixava de compreender que, quando se est envolvido emocionalmente, torna-se muito difcil encontrar qualquer soluo ou julgar com imparcialidade.

Fazendo um balano de sua vida, prometeu-se uma coisa: ser fiel a si e jamais fazer concesses que no achasse necessrias e justas.

- Aborreo voc com toda essa conversa? - perguntou Philippe.

Danielle respondeu com um sorriso. Na verdade, estava interessada. E mesmo que no estivesse, pensou Philippe, orgulhoso e egosta como era, no acreditaria que ela pudesse se cansar com a histria. Para ele, as mulheres sempre se sentiam encantadas com sua presena.

- No, de jeito nenhum - respondeu pausadamente. - Por favor, continue.

- Ainda no lhe contei o melhor. Quando a mulher de Hassan percebeu que ele no seria o cabea de Qu'Rar, mas s administraria os negcios de longe, pediu o divrcio. Oh, sim, as muulmanas, segundo o Coro, tm esse direito, porm poucas chegam a utiliz-Io.

Sem uma famlia rica e poder para sustent-Ias, as divorciadas levarn uma vida em geral infeliz. Mas ao que parece, Miriam nunca desejou casar com Hassan, e sim com o irmo mais velho dele. Hassan recusou as demais esposas permitidas pelo Coro. Ele j estava ciente de que seria impossvel ter um filho e contou a meu pai que a perspectiva de enfrentar problemas com trs esposas no o entusiasmava.

Assim, alm de dar-lhe o controle absoluto dos rendimentos do petrleo, o pai dele escreveu no testamento, com a presena de toda a farnflia, que Hassan escolheria seu prprio sucessor - entre os membros da famlia, claro. Fazer o contrrio seria absurdo; mas excetuando essa exigncia, Hassan viu-se livre para indicar quem quisesse, e at a poca do casamento com sua me a opo tinha recado sobre Jourdan.

Philippe no demonstrava, mas o tom de voz denunciava que havia um clima de oposio figura de Jourdan. Gostaria de lhe perguntar a razo, DanielIe pensou. Seria. por causa dele que o padrasto no as linha levado at Qu'Rar ou nunca havia trazido nenhum membro da famlia para visit-Ios? Intrigava-se cada vez mais com o tal desconhecido. Em nome de qu ele ousava afastar as duas famlias? Ela sabia que muitos rabes desprezavam os compatriotas que se casavam com pessoas de outra cultura, mas, pelo que Philippe ,contou, Jourdan no havia cortado relaes com o tio, e, com conrteza, no era inteno dele criar uma rixa familiar.

- A verdade que ningum da famlia ficou contente com o casamento de Rassan e sua me - continuou Philippe. - Afinal de contas, Hassan um homem rico e poderoso, e, embora Jourdan possa herdar dele esta posio, a idia de que toda riqueza ser partilhada por estrangeiros ultrapassou os limites de tolerncia da famlia.

Uma palavra chamou a ateno de Danielle, uma palavra que el repetiu diversas vezes a si mesma: "estrangeiros".

- Que estrangeiros? - perguntou, ansiosa.

- Ento voc no sabe? - replicou Philippe, satisfeito. - Na veias de Jourdan corre uma ,mistura de sangues. De fato, ele deve Hassan ser aceito pela famlia e ocupar uma posio importante. Ele filho do irmo caula de Hassan que, quando jovem, estudou numa universidade de Paris. Foi l que acabou conhecendo a mulher qu seria a me de Jourdan, embora no tivesse casado com ela. Ningum da famlia ficou sabendo do caso e da criana, at que Suad foi assassinado numa briga de rua. Hassan viajou ento para Paris para se inteirar dos acontecimentos e descobriu que o irmo vivia com Jeanenette. Ao constatar que ela estava grvida de Suad, ofereceu-lhe dinheiro em troca de plenos direitos legais sobre o beb, quando este nascesse. Jeannette concordou e, to logo nasceu a criana, o tio levou para Qu'Har. Comenta-se na famlia que Hassan tinha a inteno de criar Jourdan como o filho que no pde ter, e at o momento de Jourdan ir para a escola viveu sob a proteo dele...

O corao de Danielle ficou cheio de dor, tocado pela dramtica histria daquele menino abandonado. Como Jourdan podia ser to ingrato com quem tinha lhe salvado a vida de um destino incerto? Como podia ele, criado como filho verdadeiro pelo tio, ignor-Io, quase se voltando contra ele? E Hassan? Por que nunca lhe contou sobr a existnCia daquele homem?

Como se lesse os pensamentos dela, Philippe comeou a fornecer respostas para todas as perguntas, mas antes que pudesse complet-Ias foi interrompido pela chegada de Hassan e monsieur Sancerre, que o chamaram para se juntar a eles.

- Ah, esses homens! - exclamou madame Sancerre, acompanhando com os olhos a sada de Philippe. - Mas no resta dvida, petite de que Philippe prefere a sua companhia do xeque e do pai.

- A senhora no estar sendo injusta? - replicou Danielle, querendo ser gentil.

- Ora, vamos, chrie - protestou a senhora. - uma mulher encantadora. Ento no percebeu que Phillippe tem uma forte queda por voc?

CAPITULO II

- Ento no notou mesmo que Philippe est interessado em voc? disse Rassan, conversando com Danielle sobre o jantar da noite Itnterior, quase repetindo as palavras de madame Sancerre.

- Ele simptico - ponderou ela -, mas acha que todas as jovens razoavelmente bonitas tm o dever de se curvarem a seus ps.

Danielle fez uma careta de desagrado. O padrasto riu e passou a mo nos cabelos dela.

- E como todas as moas que so muito mais do que razoavelmente bonitas, voc ignora os galanteios dele, no isso?

O padrasto estava bem-humorado e demonstrava alvio por ela no achar Philippe interessante. Mas por qu?, perguntou-se Danielle, sorrindo. Naturalmente, Hassan preferia mant-Ia segura em casa e talvez visse no relacionamento dos dois jovens o perigo de perd-Ia.

- Philippe no passa de uma companhia agradvel - afirmou ela, olhando-o fixamente.

Aquele parecia o momento adequado para lhe falar sobre as coisas que comeavam a preocup-Ia. Mas no tinha inteno de mago-Ia. Queria apenas deixar claro, para o padrasto e para a me, que j era suficientemente adulta para tomar as prprias decises.

- O senhor no pode continuar censurando todos os meus namorados - disse com suavidade, mas procurando provoc-Ia.

Hassan olhou-a como homem e no como pai. Danielle corou ao perceber que os olhos dele lhe percorriam o corpo todo at se deterem nos olhos verdes e faiscantes.

- Sim, voc j uma mulher adulta - concordou, com voz , sria. - Danielle, sabe que me preocupo muito com a sua felicidade, no? - Ela fez que sim com a cabea. - Ento no existem motivos para discutirmos, certo?

- Certo. . . - respondeu, surpresa com o final repentino da conversa. No fundo, sentia que, com aquele silncio sbito e aquela brevidade, de alguma forma ele a tinha manobrado.

Ele precisa compreender e aceitar que no vou viver aqui em casa para o resto da minha vida, Danielle disse a si mesma naquela tarde, enquanto se arrumava para sair com duas amigas da escola,. Uma, delas ia ser modelo e a outra era danarina e tinha acabado de assinar contrato para um espetculo no West End. Danielle invejava-Ihes a liberdade, embora tivesse certeza de que no se adaptaria quele tipo de relacionamento inconseqente e superficial que as colegas mantinham com alguns homens. Eles entravam e saam da vida delas sem deixar qualquer marca. . .

Gostava dos homens como amigos, mas no conseguia se imaginar envolvida num caso amoroso srio e regular, pois, para surpresa dela, a idia de um contato mais ntimo no a entusiasmava. Seria uma mulher frgida? No, essa era uma palavra forte demais para uma natureza to feminina! Simplesmente, pensou, ainda no tinha descoberto o sexo, o que precisava encarar com muito bom humor.

Sorrindo e achando engraadas aquelas consideraes, vestiu jeans, deixando as roupas mais caras de lado. Era uma garota romntica, refletiu, afinal o sexo feito por simples prazer no significava nada para eIa. Qualquer aproximao mais ntima deveria ser fundamentada no amor.

Suas duas amigas eram bastante divertidas. Embora pertencessem a famlias relativamente abastadas, freqentavam feiras e bazares em busca de roupas baratas e usadas, e mostravam predileo por modelos da dcada de vinte ou trinta. Como Danielle, tambm vestiam jeans e camisetas surradas. Quando se encontraram, estavam alegres e dispostas, falando muito sobre os planos para o futuro. Ao descreverem o apartamento em que moravam e o modo de vida que levavam, Danielle sentiu uma pontinha de inveja.

- E voc, Danielle - perguntou Corinne, a danarina -, quais so seus planos?

- Estou pensando em abrir um restaurante. . .

- Um restaurante?! - exclamou a moa, erguendo as sobbrancelhas - Puxa! Voc um bocado ambiciosa, hein? Sempre tive a Impresso de que pensava s em casamento! Bem que estranhava o fato de voc no namorar, principalmente por causa da posio social da sua famlia.

- O que tem uma coisa a ver com a outra?

- Refiro-me ao seu padrasto, Dan. No me diga que ele ainda no pensou em casar voc com algum escolhido por ele mesmo? Quero dizer, no Oriente Mdio casamento arranjado ainda uma realidade, principalmente nas classes mais altas. Sabe, h alguns meses uma colega minha namorou um desses homens. Ficou com ele um bocado de tempo. Ela me disse que eles so fogo, e que preciso ler muita. estrutura para aceitar ficar ao lado deles como se fosse um objeto. . . sempre disposio. . .

Danielle sorriu meio sem graa, julgando a observao de Corinne de mau gosto.

- Ele encheu Vanessa de jias e roupas, mas quando chegou a hora do casamento caiu fora. Parece que tinha uma bela noivinha esperando por ele... Nossa, Vanessa ficou louca de raiva e disse isso pra ele. Pensa que adiantou? Ele morreu de rir! Falou que havia pago por ela, coisas do gnero. . .

- Pelo menos ela foi recompensada altura - observou Linda, com cinismo. - J ouvi falar de casos como este, muitos deles com muulmanos. Aprenderam que o dinheiro compra tudo e na hora de concluir negcio nunca saem perdendo. Mas claro... uma garota esperta pode se dar muito bem. . . jias, viagens, roupas. . .

Danielle sentiu-se mal com a conversa.

- Bem, preciso ir andando - disse, repentinamente, passando as mos nos cabelos.

Ela mesma no, sabia o que a tinha deixado to ofendida; se o fa to de a garota entregar o corpo em troca de jias, ou o homem que havia pago por ela. Mas concluiu que o homem parecia o respon!lvel pelo sentimento repulsivo que a invadia naquele momento, porque simplesmente tinha usado a mulher para satisfazer-se, sem se importar, com os sentimentos que deveriam sustentar um relacionamento.

- Ainda tem mais - Corinne continuou. - Na verdade, Vanessa no se importou muito com tudo isso, pois segundo ela o tal de Jourdan era realmente uma gracinha. Valeu a pena! No estou dizendo que ela no o levava a srio. Na realidade, a vontade dela era casar com ele. . .

Jourdan! Danielle estremeceu ao ouvir o nome. Talvez fosse tolice pensar que se tratava da mesma pessoa de quem Philippe havia falado. Mas parecia pouco provvel ,que existissem dois rabes ricos com o nome idntico.

- Est se sentindo bem, Danielle? Voc est to plida! Corinne reparou.

- Estou bem, Corinne - mentiu, pegando a sacola e levantando do banco do parque -, mas preciso mesmo ir embora. Prometi que chegaria cedo em casa para jantar.

No era verdade. Porm, de repente sentiu necessidade de saber mais sobre a famlia do padrasto. Ele ou a me precisariam falar, com ela sobre o assunto.

A caminho de casa, espantava-se por nunca antes haver sentido, curiosidade a respeito da falta de contato entre as famlias. Talvez fosse assim, pensou, por ter estado tanto tempo fora, estudando, envolvida pelo estreito mundo escolar e pelos problemas de ordem, pessoal.

Enquanto tomavam caf, aps o jantar, Danielle tocou no assunto.

- Danielle! - exclamou a me, surpresa com a intromisso da filha em algo to particular.

- Deixe, Helen - interveio Hassan, com um sorriso. - Ela tem todo o direito de perguntar. Alis, nunca entendi por que no quis saber antes.

- Talvez por imaturidade ou por estar preocupada exclusivamente com a minha vida - admitiu Danielle, com sinceridade.

- E quem despertou seu interesse? - Hassan olhava fixo para ela, sondando-a. - Teria sido Philippe Sancerre?

- Em termos - disse Danielle. Sabia das ligaes profissionais entre o padrasto e a famlia de Philippe e no desejava causar problemas para o rapaz. - Em parte, porque, vivendo mais aqui em casa, percebi o quanto vocs estavam desligados dos outros.

- Bom - comeou Helen -, acho que posso lhe explicar a razo principal desse afastamento. A famlia Ahmed no aprovou nosso casamento. De certa forma estavam certos. . . afinal, no me conheciam! Sabe, Danny, Hassan precisou abrir mo de muitas coisas para ficar conosco.

Danny!, exclamou Danielle consigo mesma. A me a havia chamado pelo apelido carinhoso de quando ainda era criana! Sorriu, os olhos midos de lgrimas, como os da me.

- Minha famlia foi teimosa e cegamente preconceituosa - comentou Hassan, e virou-se para a esposa. - Voc, querida, por favor, nunca duvide de que desfrutei com prazer de cada segundo da minha vida a seu lado. - Ele abraou Danielle carinhosamente. - A felicidade que vocs duas me do inestimvel, como a chuva que fecunda um deserto.

- E agora poderemos ser ainda mais felizes - comentou Helen, lurridente, e voltou-se para Danielle. - A famlia de Hassan quer a reconciliao.

- Inclusive Jourdan? - Daniele no pde evitar o tom amargo.

Hassan retirou o brao dos ombros dela e lanou um olhar carregado de cumplicidade para Helen, que fez com que Danielle sentisse um medo nunca antes experimentado.

- O que sabe a respeito de Jourdan? - perguntou ele, com tranquilidade.

- Sei apenas que se ops ao seu casamento com mame, que considera as mulheres meros objetos de satisfao sexual e que, quando se cansa delas, abandona-as sem a menor considerao.

- Jourdan um homem criado no deserto - explicou Hassan, sem procurar contradiz-Ia. - um homem decidido, um pouco duro, talvez at mesmo insensvel em algumas ocasies, mas possui qualidades inegveis. Nenhum homem pode viver como um gavio cruel pelo resto da vida. H de chegar o momento em que ir precisar da delicadeza de uma mulher sincera, quando o corao mais rido e duro reclamar pela calma e pela paz de um osis. No caso de Jourdan, este outro lado de seu carter ainda no veio tona. Danielle. . . no vou lhe perguntar como soube dessas coisas sobre meu sobrinho, pois j encontrei a resposta. No de bom tom que algumas pessoas, cientes de sua fraqueza e incapacidade, procurem caluniar outras mais dignas, sem estas sequer estarem presentes!

- Philippe no desse tipo - protestou, chocada com o cinismo do padrasto.

- No? Por acaso voc sabe que o pai dele me pediu sua mo em casamento em nome do filho?

A expresso de espanto de DanieIle revelou que ignorava toda a situao.

- Danielle. .. no culpe Philippe. Aquele rapaz sofisticado, mantm um padro de vida bastante elevado. Voc filha de um homem extremamente rico, bonita, muito bonita! Philippe ama a beleza e o luxo, isso natural. Depois, eu e o pai dele temos negcios. . . no acha normal que a mentalidade prtica de um francs se volte para um casamento conveniente?

- Pensei que ele gostasse de mim. . . - murmurou, em tom de queixa. - No sabia que. . .

- Mas voc no gosta dele? No houve nada entre vocs dois? - perguntou a me.

- Felizmente no - respondeu. - Oh, mame, a senhora tirou a sorte grande! Amada por dois homens... E eu? Se todos que aparecerem forem como Philippe e Jourdan, ser impossvel acreditar na existncia de um amor verdadeiro.

- Jourdan? Por que menciona Jourdan? - perguntou o padrasto.

Ela mesma se mostrou surpresa. No fundo no queria ser to independente quanto imaginou a princpio. Desejava apenas encontrar algum que na realidade a amasse. E essa viso romntica do amor provavelmente ligava-se evidente adorao que o padrasto dedicava sua me. Hassan era um caso nico entre os rabes, e, naquele momento, cresceu em importncia ao ser comparado com os homens em geral.

Danielle tentou ordenar rapidamente os pensamentos, apressada pelo padrasto, que a fitava aguardando resposta. Estimulada pelo olhar provocativo dele, ergueu a cabea com certo orgulho.

- No verdade que no seu pas as mulheres so obrigadas a casar contra a prpria vontade? E o que voc me diz dessas infelizes que entregam seu destino nas mos de um marido desconhecido? Pois Jourdan aprova tudo isso!

- Mas ento voc condena um homem pelo simples fato de um outro, bastante invejoso, deturpar seu carter? - perguntou Hassan, com brandura. - Danielle, voc me surpreende.

- No foi apenas Philippe que. . . me contou sobre Jourdan.

O olhar atnito do padrasto fez com que ela se sentisse embaraada e culpada por continuar com a argumentao.

- Por acaso, sem saberem que eu o conhecia, umas amigas falaram sobre ele. . . - ela explicou. - Ele se envolveu com uma moa em, Paris.

- Uma putain - Hassan exclamou, num gesto brusco. - Uma mulher que vende o corpo em troca de. . .

- Isso no importa! - protestou, imediatamente. - Tratava-se de uma pessoa, um ser humano com sentimentos! Se os homens no a pagassem por esse tipo de coisa, elas no estariam por a se perdendo!

- Um homem tem necessidades - explicou Hassan, discordando. - Quando no pode satisfazer-se de outra maneira, natural que as procure. Nem sempre possvel conciliar envolvimento emocional e apelos fsicos! Ento, nesse caso, que resta a fazer? Ora, Danielle, eu a julgava bem mais compreensiva. Mas condenar um homem porque procura saciar um apetite natural!. . .

Danielle baixou a cabea, os olhos midos de lgrimas.

E.mbora se amassem, ela e o padrasto no tinham os mesmos pontos de vista. Havia uma grande distncia entre os dois, quando se tratava de avaliar o sexo masculino.

E se lhe perguntasse sobre as necessidades da mulher? Sobre os movimentos femininos? Poderiam ser saciados da mesma maneira? Claro que no! Sem dvida o padrasto ficaria chocado e deprimido: Mais uma vez os padres morais, diferentes para o homem e para a mulher, eram o ponto central da discusso! Entretanto o sexo feminino no dependia apenas dos desejos do homem. O problema era mais complexo, pois as prprias emoes da mulher encarregavam-se de prende-Ia. Se o homem conseguia satisfazer suas necessidades sem nenhum elo afetivo, a mulher, ao contrrio, raramente se entregava sem emoo. Que injustia!, desejou dizer. Mas calou-se. Limitou-se a reunir todos as foras para pensar com sensatez.

- Naturalmente ningum infalvel! Um homem pode fraquejar e ser perdoado. Mas esse no o caso de seu sobrinho! Longe de apenas saciar a sede, ele parece sentir prazer em continuar errando. Siceramente, sinto pena da mulher que se casar com ele. Ou das mulheres que sero suas esposas. . .

- No, voc est errada, Danielle. - Os olhos dele expressavam dor e admirao pelas consideraes contundentes da filha,- Jourdan tem direito a uma nica esposa - explicou Hassan. - Imagino que Filippe tenha lhe contado a histria do nascimento de meu sobrinho. Porm no deve ter mencionado a promessa que fiz me dele, antes de pegar a criana aos meus cuidados. Prometi a ela que Jourdan receberia uma educao catlica. Ela morreu poucos dias depois do parto mesmo assim decidi cumprir o prometido. Portanto, Danielle, apesar da posio que ele ocupa em Qu'Har, meu sobrinho to catlico quanto voc.

Daniele conteve o choro, envolvida por uma estranha sensao de irrealidade, por um pressentimento inexplicvel que a invadia e era intensificado pela expresso do rosto da me, cujos olhos no saam de cima dela.

- Como minha filha adotiva - acrescentou Hassan -, um dia voc tambm se tornar extremamente rica. Nunca falamos disso antes por falta de oportunidade. Como sabe, alm de eu ser dono de grande riqueza, controlo tambm a propriedade da famlia, que s pode passar de pai para filho, de irmo para irmo e de tio para sobrinho... As mulheres no tm direito herana. Quando eu morrer, minha, fortuna pessoal ser dividida entre voc e sua me, mas minha posio na companhia de petrleo ser disputada entre meus irmos, j que no possuo filhos legtimos. A luta pelo poder em Qu'Har oscila sutilmente entre eles, ambos bastante invejosos e dominados pela ambio. Se u morrer sem deixar-lhes minha parte na companhia, com certeza explodir uma guerra civil no nosso pequeno pas, e em seguida tudo o que papai e eu mesmo construmos fatalmente ser destrudo.

Ele fez uma breve pausa e continuou:

- Alm de tudo isso, sou extremamente preocupado com a sua segurana. Repito, Danielle: com a minh morte, voc se tornar riqussima. Tudo o que eu e sua me temos tentado fazer proteg-la contra inescrupulosos e interesseiros. Procure entender.

Danielle sentiu-se vencida. Ento ele acreditava que ela no tinha condies de cuidar de si mesma?

- Sendo assim, papai, peo-lhe que no me deixe nada. ., Prefiro vencer por meus prprios esforos...

Diante dessas palavras, Hassan procurou abrandar a voz e medindo a extenso do que dizia. De repente, descobriu que estava na frente de uma garota bela e frgil, de olhos verdes como pedras preciosas, e muito decidida!

- Danielle, voc uma mulher bastante sensata. Sei que conhece os perigos de uma riqueza excessiva e que nunca abusar desse privilgio. Mas no se preocupe. J tomei as devidas providncias para a preservao da minha parte na companhia. E j tratei de assegurar a herana que um dia passar s suas mos...

Hassan olhou para Helen significativamente, deixando claro que havia entre eles um acordo misterioso. Um frio percorreu o corpo de Danielle, que sentiu medo ao ver-se deixada de lado naquela questo.

- Como assim? - perguntou finalmente.

Hassan aproximou-se, tomou-lhe as mos e fitou-a com carinho.

- Minha frgil avezinha, no precisa ter medo... Jourdan sabe o tesouro que guardo comigo. Uma prola que no tem preo, e que ele tambm preservar com todo amor... Quando voc se tornar sua esposa, tudo isso...

E a voz de Hassan foi desaparecendo como por encanto. Danielle havia gravado apenas as ltimas palavras: "Quando voc se tornar sua esposa..." Ento era ela a infeliz mulher prometida para Jourdan? Por deus, exclamou para si mesma. Agora entendia tudo!

Danielle!

A voz da me, macia e ansiosa, f-la despertar e voltar realidade.

- Estou bem, mame. S que no vou casar com Jourdan. Prefiro passar fome a ter de viver com esse homem!

Quanndo acabou 'de falar, percebeu o quanto havia sido infantil. Custou a crer naquela deciso absurda que seus pais tinham tomado. Era preciso que entendessem de uma vez por todas que. ela era madura o suficiente para escolher os rumos de sua vida.

- Mame, sei que a senhora capaz de me entender. - Ela insistiu.

- Claro, querida - respondeu a me, olhando o marido de relance. - Mas Hassan pensa apenas no seu bem-estar. Danny, querida, eu e seu pai tentamos proteg-la...

- Oh, mame! - exclamou Danielle, suspirando. - No pode mas me manter em casa como se fosse uma bonequinha frgil. Alm disso, depois de ter ouvido as aventuras de Jourdan com as mulheres, nosso casamento seria um desastre!

- Danielle - alertou Rassan, com calma -, Philippe Sancerre lhe falou dele com muita malcia. .. Claro, no posso responder pelo passado de meu sobrinho, mas sei que, como todos os homens, ele encara o casamento com seriedade, e tenho certeza de que depois de casados...

- No me interessa o quanto srio o casamento para Jourdan - interrompeu-o. - Mesmo que falssemos de um outro homem, no mudaria meu ponto de vista. No estou discutindo a personalidade dele. O que questiono o prprio princpio do casamento arranjado, sejam quais forem as razes. Oh, entendo que deseja meu bem-estar, mns esse casamento me repugna. No posso concordar com isso!

- Querida, compreendo como se sente agora - disse Helen.- Hassan, procure entend-la. Danielle no muulmana. Dificilmente poderia aceitar um papel passivo e ceder a um marido dominador.

- No estou pedindo isso a ela - Hassan se defendeu, obsevando o corpo encolhido e tenso de Danielle.

- Ento concorda que no poder haver casamento? - perguntou Danielle.

- Se essa sua vontade... Mas, confesso que estou decepcionado. Tenho certeza de que o casamento daria certo. Naturalmente, terei de contar sua deciso a Jourdan...

- Em breve ele encontrar outra mulher que o queira - completou Danielle, lembrando da amiga de Corinne.

- Ele tambm ficar desapontado quando souber que foi recusado... mas talvez a culpa seja minha.Esqueci que voc no minha filha, de fato, embora a considere como tal. Ou, cOmO diz sua me,uma filha oriental...

Hassan parecia abatido

- Sei que fez tudo para assegurar meu futuro - Danielle falou, com pena dele. - E lhe agradeo por isso. Todavia, um dia encontrarei um homem que eu possa respeitar, com quem partilharei minha vida, e no algum que me deseje apenas para gerar filhos. Alm disso, no me sinto preparada para o casamento...

- Talvez no. . . por enquanto. Mas j que no quer casar com, Jourdan, pelo menos poderia visitar minha famlia... em meu nome como sabe, em breve terei de ir aos EUA a negcios. Sua me ir comigo. Eu me sentiria feliz, Danielle, se aceitasse aproveitar essa semanas de frias para mostrar. minha famlia a filha adorvel bonita que ...

- Quer que eu v a Qu'Rar? Oh, mas isso impossvel!... - Ela falou e logo se interrompeu. Ia dizer que no podia ficar sozinha com pessoas estranhas, que tinham condenado o casamento entre Hassan e sua me. Alm disso, no Se sentiria bem ao lado do homem que tinha acabado de recusar como marido! Mas achou melhor deixa essa discusso para depois.

Mais tarde, enquanto Danielle se preparava para dormir Helen a procurou.

- Filha - ela comeou, sentando na beirada da cama e observando-a com olhos meigos -, queria pedir-lhe que fosse a Qu'Rar.

muito importante para Rassan, mais do que voc possa imaginar! Naturalmente compreende a tristeza que ele sente por no ter filhos Principalmente considerando a posio que ocupa. T-la como filha deixa-o felicssimo. No lhe negue o prazer de apresent-la para o membros da sua famlia...

- Uma famlia que nos rejeitou, mesmo quando ele trabalhava para lhes dar dinheiro... No, mame, no posso fazer isso. N seria honesta se fingisse que...

- Nem por seu pai? - interrompeu Relen. - Jourdan perder prestgio na famlia com a recusa do casamento, mas o mesmo acontecer com Hassan...

Danielle parou para meditar naquelas palavras, sentando-se ao lado da me e olhando fixamente para o cho. Compreendia a importncia dnquela viagem, no entanto no desejava se comprometer.

- Entendo como papai se sente... Mas... A senhora sempre soube que eu seria incapaz de aceitar um casamento desses, no mesmo?

- Sim, minha filha. Porm Hassan tinha certeza de estar agindo da maneira mais correta. Estava convencido de que assim garantiria seu futuro. Penso que s sua reao explosiva acabou mostrando a Impossibilidade dos planos dele. - Interrompeu-se, encarou Danielle . perguntou: - Agora que est segura de seus sentimentos, que tudo j foi esclarecido, no poderia aceitar esse pequeno convite?

CAPTULO III

s vezes a aceitao de um pequeno convite acaba exigindo esforo imensos, Danielle constatou, enquanto olhava pela janela do avio jato - um dos onze da companhia Qu'Har Air. Mas aquele e especial, pois pertencia famlia de Hassan.

Um jovem gentil e prestativo, Saud, tinha sido deslocado do trabalho normal nos escritrios da companhia para acompanhar Dal1ieIl naquela viagem. E ela estava encantada com isso.

O barulho dos motores potentes do avio diminuiu, sugerindo q estavam chegando ao destino.

Perdendo o controle, Danielle alisou a saia de seda com dedos trmulos. O tecido era verde-claro e discreto, e realava-lhe a cor dos cabelos e o bronzeado da pele. Examinou as mos e os braos surpreendeu-se por estar to queimada, o que era raro para uma inglesa tpica como ela. Na verdade, tinha apenas tomado um pau do sol ameno da Inglaterra e, segundo Hassan, deveria estar prepara para enfrentar o caloro de todo o ms de agosto em Qu'Har, tem em que permaneceria por l.

Sentiu curiosidade de saber o que os familiares de Hassan iria achar dela. Embora tivesse prometido a si mesma que no se preocuparia com esse tipo de coisa, agora desejava que tudo corresse be principalmente por causa do padrasto. Por sorte, Jourdan - aconselhado por Hassan, para evitar que se encontrassem - estava em Paris numa viagem de negcios. Sem dvida seria embaraoso conhecer, homem que no havia aceitado para ser seu marido.

O jato aterrissava devagar. Pela janelinha, ela pde ver um cu muito alzul e limpo. Voltou casualmente a cabea para trs e viu que Saud a fitava. Surpreendido, o rapaz desviou o olhar com timidez, evitando encar-la. Trajava-se com bom gosto, tinha cabelos pretos e lisos e era filho de um dos primos de Hassan e funcionrio da companhia. Nos pases rabes, essas trocas familiares eram uma virtude nao um hbito condenvel, refletiu Danielle, lamentando no ter linda sobre a vida e os costumes da gente com quem iria conviver durante um curto perodo de tempo. E se, desavisadamente, transgredisse alguma lei? Na verdade, no tinha por que se preocupar... Jamaile, a primeira mulher do irmo mais velho de Hassan, concerteza lhe explicaria tudo o que precisasse saber.

Em pouco tempo o avio parou no aeroporto, castigado pelo sol quente. Agradecida pela presena do tmido acompanhante, ela desembarcou naquela terra estranha.

- Gostou da viagem, senhorita? - perguntou-lhe o piloto, com polidez.

- Sim, obrigada.

Embora estivesse acostumada com o respeito que as pessoas em geral tinham por ela, Danielle nunca soube avaliar o verdadeiro sentido da palavra deferncia at se tornar membro da famlia Ahmed. E pela primeira vez, naquele momento, percebia o que significava de fato pertencer quela famlia. .. Isso a encorajava a enfrentar aquele solo desconhecido.

Com calma caminhou em direo ao carro que a esperava. Nenhuma palavra seria suficiente para descrever o Mercedes preto e brilhante estacionado pomposamente sada do aeroporto, denunciando a posio de seus anfitries.

Durante grande parte do percurso at o palacete, Danielle permaU calada, olhando encantada os edifcios que se erguiam dos dois lados da avenida principal. medida que se afastavam do aeroporto, divisar, muito ao longe, uma, grande extenso de deserto, entremeada aqui e ali por palmeiras. De repente, sem que esperasse, surgiram estufas construdas sobre terras cultivadas que, conforme Saud lhe explicou, faziam parte de um novo plano para diminuir a dependncia de Qu'Har dos produtos de importao.

- A estufa e a usina recm-construdas no litoral so resultado da vontade de xeque Hassan, para que todo o povo usufrua a riqueza petrlfera do pas.

Sim, pensou Danielle, olhando os sinais da tecnologia em toda a su volta. Aqui est uma coisa de que esse rapaz pode se orgulhar!

- V aquele prdio branco l adiante? - perguntou Saud.

- Sim. O que ? .

- Uma nova escola s para mulheres. Foi uma idia to ousada que criou uma poro de problemas, at os lderes religiosos resolveram cOncordar com a implantao.

Danielle percebeu um tom de desagrado na voz de Saud.

- Tem alguma coisa contra a educao de mulheres? - perguntou, procurando provoc-lo.

Ele ficou sem saber o que responder, limitando-se a balanar a' cabea. Entretanto, nos .olhos, estampava-se um forte sinal de desaprovao.

Danielle preferiu suavizar a conversa para no embara-lo mais.

- Bom, aqui diferente do Ocidente - observou, diplomaticamente. - Fale-me um pouco sobre sua famlia. Isto , se no se

importa.

- Oh, no. Claro que no! Bom... o Emir o chefe da famli e do pas. Sou filho do primo em segundo grau dele e por isso n, tenho muita importncia na hierarquia da famlia. De fato, foi s trabalhando nos escritrios do xeque Hassan, meu tio, que passei ocupar certa posio na companhia.

- Mas voc formado, no? - Insistiu, lembrando o que padrasto tinha falado a respeito do rapaz. - Por que no procuro trabalho em outro lugar?

- No quis sair daqui. Qu'Har o meu lar, e o lar de meus pais O xeque Hassan custeou meus estudos, e os de uma poro de gente e a nica maneira que encontrei para retribuir foi utilizar meus conhe cimentos em prol do desenvolvimento do meu pas.Danielle sentiu-se comovida pela simplicidade com que Saud falava, ali estava o outro lado do soldado do deserto: a ingenuidade e a lealdade.

- Ele um homem generoso e sensato - comentou Saud, com seriedade. - Todos ns s temos de lhe agradecer...

- Principalmente Jourdan - arriscou Danielle, pensando cuidados de Hassan para com ele, desde pequeno.

- Ah, sim, Jourdan - Saud repetiu com entusiasmo.

Danielle olhou para ele e viu um olhar cheio de orgulho admirao.

- Papai fala que Jourdan o sucessor natural do xeque Hassan, e que sem ele nosso pas ficaria numa situao to ruim que logo desaparecia do mapa - explicou o rapaz. - Ele o que chamamos "ddiva do Profeta".

- Como assim, ddiva do Profeta? - Apesar de sua averso por aquele homem desconhecido, Danielle no conseguia deixar de se interessar por ele.

- o nome que a gente d para quem nasce com a fora, o conhecimento e a capacidade de manter nosso povo unido - Saud explicou. - Na nossa casa sempre nasceu algum com essas qualidades em pocas de conflito e ae necessidade. O pai do xeque Hassan tambm achou que o filho era uma ddiva, at saber que ele no poderia ser pai. Numa famlia como a nossa, com tantos irmos e filhos, existe sempre rivalidade. E s vezes dessa tenso toda surgem os que lutam para conquistar o poder e o controle de tudo. O pas pequeno, mas riqussimo em petrleo. - lamentvel que a nossa gente no consiga administrar essa riqueza com sabedoria. importante planejar hoje para o futuro, quando talvez no tenhamos o petrleo, e exatamente isso que o xeque Hassan vem tentando fazer. A maioria dos planos, contudo, j foram colocados em prtica. Muito dos nossos melhores homens estudaram no exterior, e somas ulculveis de dinheiro foram aplicadas no aprendizado e em equipamentos tecnolgicos. Mas tudo isso de nada valer se ningum estiver preparado para continuar o trabalho iniciado pelo xeque Hassan.

Precisamos de um homem fortssimo, capaz de vencer todos os obstculos, feroz como um gavio e esperto como uma serpente. Jourdan esse homem...

- Feroz como um gavio -, repetiu Danielle com desagrado. Aquilo soava autoritrio e agressivo: Esperto como uma serpente. Imaginava uma mente maquiavlica capaz de construir todos os meandros de uma intriga. Sabia quanto os muulmanos apreciavam a sutileza e precisavam desse dom para alcanarem sucesso no mundo negcios rabes. Um homem que se deixasse enganar no seria bem-visto por um rabe, para quem o respeito era tudo.

- Voc gosta muito de Jourdan, no? - disse com naturalidade, perguntando-se se Saud estaria ou no a par do casamento desfeito. Era estranho que, sendo Jourdan to importante dentro da famlia real, no lhe tivessem escolhido uma moa rabe.

- Eu o admiro muito - concordou Saud. - Algumas pessoas s no entendem por que ele segue a religio da me. Contudo o Coro

reconhece o valor de todas as religies, e Jourdan aceita os preceitos do Coro e procura segui-las como qualquer um da nossa raa.

- Ele parece ser um modelo de perfeio - Danielle observou, com certa frieza. - uma pena no poder conhec-lo...

Entretida com o cenrio que se estendia at o horizonte, ela no percebeu o olhar de surpresa de Saud.

O carro avanava para um arco aberto numa enorme parede branca, to brilhante quanto a luz do sol, e DanieIle fechou os olhos para proteg-los. Quando voltou a abri-los, o automvel estava parando na frente de um edifcio baixo e comprido com muitas janelas fechadas e um delicado trabalho em mosaico decorando a entrada.

- Vou deix-la aqui - disse Saud, saindo do carro. - O criado a levar at o alojamento feminino, onde Jamaile a receber.

- Vamos nos ver outra vez?

Saud corou e lanou um olhar ansioso para o motorista, que se aproximava, como se dentro dele crescesse uma incontrolvel vontade de ficar a ss com ela, para que ningum os ouvisse conversando.

- Pedirei a papai permisso para rev-la - respondeu, quase murmurando.

O motorista tomou o lugar e em poucos minutos o carro arrancou, passando por baixo de outro arco decorado com frisas em arabesco, que dava para um ptio fechado. Numa das quatro paredes, uma porta se abriu. Sentindo-se como Alice no Pas das Maravilhas, Danielle compreendeu que devia entrar por aquela porta. Ela assim fez, como se vivesse um sonho, ciente de que uma ou outra porta, na parede ao lado, tambm tinha se aberto. No se voltou para ver, mas algum pegou sua bagagem e seguiu silenciosamente atrs dela. Atravessou a porta escancarada e de repente viu-se envolvida pelo aroma forte de incenso de jasmim.

- Queira seguir-me, por favor!

A moa que falava estava vestida de preto dos ps cabea e tinha a voz baixa e melodiosa. Comearam a andar e Danielle ouviu o tilintar de argolas colocadas nos tornozelos dela. No final do longo corredor, ela abriu uma porta e indicou a Danielle que a seguisse.

Era um aposento quadrado, com um pequeno div debaixo de uma janela, junto a uma pequena fonte.

- Se me permite...

A moa puxou Danielle gentilmente para sentar no div e tirou-lhe as sandlias de salto alto. Em seguida, lavou-lhe as mos e os ps com a gua da fonte, cujo perfume era suave e extico.

Os gestos da jovem eram decididos e rpidos, o olhar modesto e triste. Ela deve ser uma espcie de criada, Danielle pensou, enquanto a moa se levantava e ia at o outro lado do aposento, de onde voltou trazendo um par de chinelos bordados.

- necessrio us-los na presena de Jamaile - explicou.- costume joelhar-se e aproximar-se, depois sair sem voltar as costas.

Mas no seu caso basta ajoelhar-se. Para voc, as formalidades habituais foram dispensadas...

O ingls da jovem era perfeito, to perfeito que fazia Danielle envergonhar-se por no saber uma palavra da lngua rabe.

- Onde aprendeu falar ingls to bem?

- Foi papai quem me ensinou. E estou aqui s por causa disso. Jamaile quer que todas as filhas e netas aprendam essa lngua.

- Por qu?

- Para que possam estudar na Inglaterra. Ela deseja que as garotas da famlia recebam uma boa educao. Diz que importante para que elas no sejam rejeitadas pelos homens por causa da ignorncia. Mas agora, se permite, vou lev-la at a presena dela.

Estavam numa ante-sala que conduzia cmara ampla com teto abobadado, adornado com pinturas e alto-relevo.

- Meu Deus! - exclamou Danielle, maravilhada com tanta beleza. Que cores! Eram mltiplas e ricas em tonalidades, como se fossem jias faiscantes sob um intenso raio de sol!

Numa extremidade da cmara, erguia-se uma plataforma com uma poltrona luxuosa, delicadamente esculpida, e, atrs dela, uma parede com arabescos, repleta de formas abstratas e coloridas que pareciam ter atingido uma beleza inimaginvel. Pedras semipreciosas tinham sido incrustadas e brilhavam com os raios do sol que atravessavam as frestas das venezianas fechadas.Danielle, como que voltando de um prolongado delrio, finalmente percebeu que a moa havia sado. Uma porta no painel pintado se abriu e ela, lembrando das explicaes, ajoelhou-se com rapidez sobre o pequeno tapete colocado para esse fim no piso ladrilhado.

Com a cabea abaixada, ouviu um leve tilintar de metais e o farfalhar de sedas. No ousou olhar para cima, at que uma voz macia, e agradvel ecoou:

- Venha c, minha filha, quero conhecer o tesouro de Hassan...

Daniella ps-se de p e deu alguns passos indecisos em direo ao trono. Deparou-se com o olhar atento de uma mulher baixa, mida, luxuosamente vestida, os dedos cobertos de anis e jias pendurudas no pescoo.

- Os cabelos dela tm a cor do deserto depois da chuva - comentou a mulher com uma outra, que estava parada atrs do trono.

Danielle no tinha notado a presena dela at Jamaile falar.

- Na Inglaterra - disse uma outra acompanhante -, essa cor indica vivacidade.

Jamaile sorriu e com um gesto pediu a Danielle que subisse na plataforma.

- Como so afortunados os homens ingleses - comentou. -, Enquanto aqui nossos patrcios julgam as mulheres pela reputao, l basta olh-las para perceberem se esto diante de uma mulher geniosa, temperamental como uma potranca rabe, ou dcil como uma pomba.

- Ela observou Danielle com ateno. - Qual delas, na sua opinio, um homem escolheria?

- No sei. - Danielle respondeu, hesitante. - Imagino que os homens, assim como as mulheres, tm necessidades diferentes. Uns preferem mulheres serenas, outros, temperamentais.

- Ela fala com prudncia - Jamaile disse s acompanhantes.- Hassan no mentiu: sua beleza como a dos nenfares e outras flores aquticas, plidas e delicadas, que se fecham em si mesmas quando ameaadas por algum perigo. Enquanto estiver em Qu'Har, Danielle, voc ficar aqui, sob minha guarda, certo?

Danielle assentiu com a cabea, encantada com a maneira da mulher se referir a ela.

- Como Hassan deve ter explicado, nossas mulheres no andam sozinhas nas ruas, e nunca se apresentam a um homem sem cobrir o rosto com um vu. A no ser diante do pai ou do marido. Naturalmente, como europia, no precisa seguir esse costume. Mas como filha de nosso irmo, talvez fosse aconselhvel adot-lo. Deixo a seu critrio a deciso... Caso prefira segui-lo enquanto estiver entre ns, Zoe providenciar um chadrah e lhe dar explicaes sobre as leis de nosso pas. Todavia, ns compreenderamos se desejasse manter os hbitos ocidentais...

Como que eu posso contest-la?, perguntou-se Danielle, percebendo que no havia outra sada seno aceitar a proposta feita por Jamaile. Se insistisse em usar as prprias roupas, talvez a acusassem de ser egosta e indiferente reputao de Hassan; se se vestisse e se comportasse como uma mulher muulmana, seria o primeiro passO para agredir sua prpria personalidade.

A mulher silenciou, aguardando a resposta. Danielle lembrou da generosidade e do amor que Hassan sempre lhe dedicou e compreendeu que havia apenas uma escolha.

- Usarei o chadrah - disse, um tanto desanimada, dominada por uma sensao de fatalidade da qual no conseguia fugir. Era como se tivesse embarcado numa viagem sem rumo, como se a sua vida nunca mais pudesse voltar ao normal pelo simples fato de ter pronundado aquela frase.

No fundo, porm, aceitava aS regras do jogo esperando que a fllmlia de Hassn no mais criticasse sua me, escolhida como segunda esposa do xeque.

Jamaile sorriu.

- Assim seja! Acompanhe Zoe. Mais tarde conversaremos. H muitos anos no vejo Hassan e voc me dar notcias dele e da velha Inglaterra, que no visito desde minha infncia.

Danielle afastou-se devagar de Jamaile, sem voltar as costas, o que Zoe aprovou com um sorriso.

Depois que saram da cmara de recepo, Danielle seguiu Zoe ao longo de um enorme corredor.

- Seus aposentos j esto preparados...

Subiram uma escada espiralada que parecia no ter fim. Chegando no patamar, Zoe abriu uma porta e pediu a Danielle que entrasse. Danielle, ento, ficou maravilhada, acompanhando Zoe pelo salo extico at darem num quarto suntuoso, onde havia uma cama coberta com lenis de seda adornados com pequenas e delicadas folhas douradas. Ao lado, ficava o . quarto de vestir com guarda-roupas espelhados, uma inovao evidentemente recente, e mais adiante um banheiro com peas em mrmore cor-de-rosa, que se harmonizava com o padro de cores do quarto.

- A criada trar algumaS roupas para voc escolher - disse Zoe -, e amanh uma costureira providenciar exatamente o que desejar...

- Oh, mas vou ficar aqui apenas trs semanas - Danielle argumentou. - No h necessidade...

- Recusar os presentes de J amaile seria o mesmo que insult-Ia - Zoe avisou, com seriedade.

- Bom, nesse caso...

Zoe ficou com ela algum tempo, explicando detalhes da maneira correta de agir em diversas situaes.

- Mas como que vou me lembrar de tudo isso? - DanieU quis saber.

- No to difcil quanto parece. Sempre haver uma de ns po rperto para ajud-la... Eu a verei hoje noite, no jantar - acrescentou, levantando do div. - Voc sabe descer sozinha?

- Oh, claro! Prestei muita ateno em todo o caminho! tudo muito bonito. No me esquecerei!

Zoe saiu e fechou a porta atrs de si. Danielle sentiu-se desamparada.

Apesar das diferenas de cultura e de educao, gostava de Zoe, com seu olhar meigo e a voz branda. Era sobrinha de Jamaile conforme tinha sido informada, e uma de suas acompanhantes, que era motivo de alegria famlia. Se Jamaile se sentisse satisfeita com o desempenho dela at o final do ano, retribuiria aumentando-lhe o dote e ajudando seus pais a encontrarem um bom marido para ela.

Danielle ficou espantada com essa revelao, mas Zoe parecia contente e feliz com o fato de o pai escolher o companheiro de sua vida. No tocaram no nome de Jourdan embora o assunto fosse propcio, e Danielle nada comentou por imaginar que aquele casamento arranjado fosse mantido em segredo pela famlia.

To logo Zoe se retirou, Danielle examinou os guarda-roupas. Um meia dzia de cfts de seda estava pendurada, com cores que ia , do rosa ao verde-jade mais intenso. Pegou um deles e colocou sobre corpo, descobrindo que logo se transformaria numa oriental desajeitada. Desajeitada, sim, mas com um ar sensual de apaixonada.Imediatamente reps o cft ao lado dos outros.

Bateram de leve porta e, antes que pudesse responder, uma criada entrou.

- Vim por ordem de Jamaile - explicou. - Trouxe-lhe este chadrah para us-lo no palcio.

Danielle pegou o vu grosso e negro, disfarando o desagrado, e arrepiou-se s com a idia de usar aquela pea a contragosto, pois estaria traindo seus princpios mais arraigados. Porm, lembrou que ali ela representava o padrasto e no ficaria bem ofender a quem quer que fosse. De repente, soou o alto e agudo som de um sino, e ela, assustada, deixou cair o manto.

A criada prostrou-se imediatamente, ficando imvel por vrios segundos antes de levantar, calma e graciosamente, e dirigir-se a Danielle.

- Com certeza deseja um bom banho antes do jantar e estou aqui para ajud-la. Trouxe-lhe um perfume feito com as rosas de nosso jardim. Danielle teve mpetos de dizer que no precisava de ajuda, mas antes que pudesse falar, a moa caminhou para o suntuoso banheiro, abriu as torneiras e misturou uma essncia forte dentro da banheira, o que fez com que a gua se tomasse leitosa.

- Eu... eu prefiro me lavar sozinha - Comeou Danielle.

A expresso da criada era de mgoa e decepo.

- Quer que eu me retire?

- Sabe, as garotas europias no esto acostumadas com acompanhantes... Como se chama?

- Zanaide - respondeu a moa, intimidada. - Jamaile pensar que a ofendi se me mandar embora...

Os enormes olhos castanhos de Zanaide ficaram to tristonhos, que Dunielle no teve como argumentar. Enquanto a moa lavava-lhe o corpo com uma esponja macia, ela reconhecia que naquele momento no poderia negar o prazer e a delcia que sentia por estar mergulhada numa gua aromatizada. Quando saiu da banheira e enrolou-se na toalha estendida por Zanaide, percebeu que no tinha ficado nem um pouco inibida.

- Sua pele to branca e macia! - observou Zanaide. - O homem que tiver a felicidade de olh-la ficar maravilhado diante de tanta beleza. Mas acho que deveria comer mais para engordar uns quilinhos.

- Nos pases europeus os homens preferem mulheres magras e esguias - Danielle justificou com um sorriso malicioso, adivinhando os pensamentos da criada.

- Voc no noiva?

- No - respondeu, ainda sonindo e balanando a cabea.- E voc ?

- H muitos anos! Sou noiva do meu primo de segundo grau, como costume. Vamos casar no ano que vem. - Suspirou, ps-se de p e abriu um pequeno armrio. - Se quiser deitar no div, por favor...

Perturbada, Danielle obedeceu, e pouco depois Zanaide comeou a massage-la com um leo perfumado.

-No vejo Faisal h muito tempo - a moa continuou. - Ele estudou numa universidade da Inglaterra e de l foi trabalhar na Arbia Saudita. Meu irmo disse que se transformou num home muito bonito!

Uma covinha apareceu nas faces de Zanaide quando sorriu com malcia do comentrio e, como. resposta, Danielle tambm sorriu.

- E voc no se importa com esse casamento arranjado? No gostaria de conhecer um homem especial, apaixonar-se por ele e a ento optar pelo casamento?

- Eu me apaixonarei pelo meu marido - respondeu Zanaide, sem hesitar. - Se me comportasse de outra maneira, s traria desonra para minha famlia.

Sem dizer nada, retirou-se do quarto por alguns momentos e voltou com um cft verde-jade no brao.

- No, esse no! - protestou DanieUe, lembrando que j havia experimentado aquele e constatado o pssimo resultado sobre o corpo.

Zanaide franziu as sobrancelhas, sem compreender.

- Por que no? o mais bonito! No quer insultar Jamaile, quer? Com sinceridade, o que acha dele?

- deslumbrante - admitiu -, mas me sinto mais vontade com minhas roupas. Voc tambm no gostaria de usar o tipo de roupa que se usa no meu pas!

Zanaide riu, piscando os olhos.

- Tambm uso jeans, mas s em casa, com mame e minhas irms. Mame no se conforma, mas meus irmos dizem para ela que na Europa todas as moas adotaram calas compridas. Isso muito salutar! Aproveitar as boas coisas dos dois mundos...

DanielIe arregalou os olhos, espantada com a confisso de Zanaide. Mas ento as mulheres muulmanas no se submetiam completamente dominao dos homens?

Aparentemente sim. Enquanto Zanaide lavava-lhe e enxugava-lhe os cabelos, procurava dar informaes esclarecedoras, o que fez com que DanieIle formasse um quadro bastante diferente daquele que havia traado inicialmente. Alm de estudarem no exterior, as mulheres eram encorajadas a fazer longos treinamentos, e como mostravam-se discretas e observavam as leis muulmanas, tambm gozavam um certo grau de liberdade.

- Claro, a gente no pode danar e ficar vontade entre os homens, como acontece na Europa, mas o xeque Hassan fez muito por ns e prometeu ajudar-nos ainda mais. Muitas de ns preferem continuar usando o chadrah e manter o antigo padro de vida. No verdade que o desconhecido oferece maior fascnio que o conhecido? Nosso mistrio que fascina os homens...

Danielle compareceu ao jantar e depois retirou-se, aliviada. Todas as mulheres tinham sido gentis, mas o esforo para lembrar de todos nomes, somado longa viagem e ao ambiente estranho, cultivou na sensao de extremo cansao. O que mais desejava naquele momento era atirar-se numa cama confortvel.

J havia tomado duas xcaras de caf forte e sem dvida teria tio obrigada a aceitar outras se Zoe no notasse seu embarao e desse um jeitinho de poup-la. A comida, embora deliciosa, pesava no estmago. Foi com satisfao que Danielle deixou a mesa e andou pelo corredor em direo escada em espiral que dava para o seu quarto. L, Zanaide deveria estar sua espera.

Com o corpo e a cabea pesados, sentiu que os degraus no tinham fim. Mas dizendo a si mesma que aquilo era produto da sua imaginao, segurou o tecido do chadrah e continuou subindo.

Candelabros de parede iluminavam a escadaria e, noS cantos, as sombras tremiam quando uma brisa mais forte agitava as chamas.

Uma das sombras escuras pareceu avanar ao seu encontro. Deteve-se, engoliu em seco e, observando com ateno, notou que no se tratava de uma sombra, mas de um homem vestido com um manto preto, que laDra parecia envolv-Ia.

O manto se abriu e mostrou um peito forte e bronzeado, coberto de plos crespos ainda molhados, como se o desconhecido tivesse acabado de sair do banho. Danielle ergueu os olhos e viu os cabelos pretos e midos. O rosto, extremamente masculino, tinha ossos angulosos e acentuados, o olhar brilhante.

O homem moveu-se e disse algumas palavras em rabe e ento, na meia-luz, Danielle viu seus olhos negros que a examinavam com arrogncia.

Ele tornou a falar, desta vez com voz rspida, como se lhe desse ulguma ordem.

- Eu... no entendo a sua lngua. S falo ingis...

Os lbios dele se abriram e dentes brancos brilharam na penumbra.

Ele a teria compreendido? Danielle estremeceu e deu um passo atrs, instintivamente.

Uma mo magra agarrou-lhe o pulso e a puxou para a frente.

- Est minha procura? -ele perguntou num ingls quase perfeito. Mas no havia gentileza na voz. Pelo contrrio, parecia muito impaciente.

Danielle no soube fazer outra coisa seno fit-lo e, quando a soltou, automaticamente esfregou o pulso dolorido.

- Estava indo para o meu quarto...

Ele franziu as sobrancelhas espessas, com um ar incrdulo.

- Nessa parte do palcio? No sabe que no existem mulheres por aqui?...

Mais que as palavras, o tom insolente fez Danielle enrubescer como se acabasse de cometer um crime. Voltou o rosto e olhou para baixo.

- Oh, mas eu tenho certeza que tomei o caminho certo...

O homem agora parecia srio e indiferente explicao.

Quantos anos ele ter?, perguntou-se Danielle. Trinta? Talvez u pouco mais? Fosse qual fosse a idade, sem dvida alguma tratava-se de algum que gostaria de conhecer. Apesar da antipatia inicial, reconhecia a intensa masculinidade dele, pressentia o tronco esguio, mas poderoso por baixo do manto; as coxas de msculos tensos que a seda fina no conseguia esconder.

- Ento...?

Os olhos dele no paravam de percorrer todo o corpo dela, desa fitando-a. E quando paravam para encar-la, pareciam ler seus pensamentos com facilidade. Ele sabia do efeito que causava em Danielle Parecia sentir o pulsar acelerado do corao dela.

Ela lhe deu as costas, procurando esconder o tremor dos lbios, dominada pelo desejo instintivo de desaparecer dali imediatamente. Mas como? O ambiente a havia influenciado tanto, a ponto de se comportar como Zoe e Zanaide na presena de um homem desconhecido? Onde estavam a segurana e a independncia conquistadas com tanto esfqro?

- No notei que havia me distanciado da ala das mulheres... No poderia fazer a gentileza de me indicar o corredor certo?

Ele sorriu com ironia. Danielle endureceu o corpo, percebendo que zombava dela. Mas os olhos no... os olhos a estudavam minuciosamente...

- Voc bastante ousada - ele observou. - Ou ser a simples ignorncia que fez a pombinha indefesa passar para o reino do poderoso gavio? Desconhece por acaso o perigo que est correndo?...

Cansada e confusa, Danielle ftou-o em silncio, a respirao difcil. Ele ento prendeu-a novamente pelos pulsos e puxou-a contra o corpo msculo, os rostos quase colados. Sem esperar qualquer reao, beijou-a com violncia.

Ela nunca tinha experimentado um beijo to ntimo e to ardoroso, nunca havia sentido a presso de mos masculinas nos seus quadris, apertando-a contra um corpo que, para seu espanto, estava completamente nu sob o manto!

O contato lhe despertou os sentidos. Afastou-se com todas as foras conseguiu reunir, mas as mos dele de novo a prenderam. Aperpdo-lhe os pulsos com mais fora ainda, rindo da sua v tentativa de livra-se dele, comentou:

- Quer dizer ento que as mulheres inglesas nem sempre so indiferentes preservao da castidade? Voc fica vermelha como uma rosa que desabrocba no jardim... Tambm est fechada no ptio, desconhecido e inexplorado... Mas...

- Pare com isso! No quero ouvi-lo! Me solte e deixe que eu v hora... Vou me queixar a Jamaile!

Ele riu e deixou-a se afastar do corpo inquieto, embora continuasse prendendo-lhe um dos pulsos.

- No, no, mignonne... talvez antes queira saber o nome do homem que se comportou to mal com voc...

Danielle, apreensiva e com um estranho pressentimento, encarou-o uurdando a revelao. Mas por que tremia tanto? O que estava acontecendo com ela? No acreditava que a simples presena de um homem arrogante e pretensioso pudesse torn-la to frgil e vulnervel!

O rosto dele mergulhava quase totalmente na penumbra, mas ainda, sim ela podia distinguir os msculos tensos das faces, a linha austera da boca, os lbios ameaadores esboando um riso sarcstico.

- Quer ou no quer saber quem sou?

A mo dele soltou-lhe o pulso e pousou sobre o ombro, os dedos pressionando para sentir melhor a carne oculta pelo tecido. Ali estava algum que conbecia profundamente uma mulher, penson Danielle; um homem que se divertia com ela, que zombava do seu embarao.

Ao toque forte da mo, ela enrijeceu os msculos, tentando faz-lo recuar. Porm ele riu mais uma vez, deslizando as mos e apalpando-lhe o seio. Danielle sentiu a respirao presa, o sangue correndo veloz nas veias.

- Seu corao est sob as minhas mos, como um pssaro pego numa armadilha - ele falou com suavidade, arfando levemente.

Como se ardesse em chamas, Danielle recuou, sentindo o calor das mos no seio estender-se por todo o corpo. Mas ele no permitiu qu se afastasse demais.

Retirou as mos e descobriu-lhe a cabea, desmanchando o penteado feito por Zanaide. A luz mortia do candelabro iluminou a cabea de Danielle, como uma fogueira viva.

- Essa luz embeleza a filha de Rassan...

Uma frase como essa, pensou Danielle, teria sido ridcula em outra circunstncias. Mas ali, naquele antigo palcio povoado de pessoas estranhas, simplesmente estimulava-a a se comportar como a herona dos romances que sempre desprezou...

- Quem voc? - ela perguntou, afinal, numa voz trmula.

Ele sorriu com a mesma arrogncia e ergueu as sobrancelhas. A entrar numa rea mais iluminada, Danielle viu-lhe o corpo poderoso, que se movimentava como se pertencesse a um mundo divino a que nenhum ser humano tinha acesso.

- Quer dizer que realmente no sabe meu nome?

Ele agora falava com uma voz sria, que assustava Danielle. O ar volta parecia esfriar mais e mais, dominado por uma presena demonaca e devastadora.

- Como poderia saber? Acabei de chegar e...

- Tambm acabo de chegar - cortou o homem. - Estava indo para os meus aposentos quando a encontrei, e ento pensei que pudesse estar, me procurando. Uma concluso lgica, no mesmo, filha de Rassan? Sabe, conheo bem os ingleses... Agarram-se muito, lgica. Estou certo?

- No. .. est redondamente enganado! - DanieIle desejava contest-lo a qualquer preo. - Eu estava indo para os meus aposentos tambm... Creio que subi a escada errada, s. - Mas agora, " pensou, tarde, muito tarde! Ah, se tivesse voltado no momento que pressenti a proximidade daquele homem! - Depois, que motivo teria eu para procurar um homem que sequer conheo? - concluiu.

Sentiu uma grande satisfao ao falar com todo o desprezo possvel, num esforo de ferir-lhe o orgulho. De fato, o rosto tenso dele transmitia raiva, uma raiva que poderia lev-lo a um gesto mais violento, a uma tempestade de emoes que facilmente a derrotaria...

- Existe um motivo mais forte do que imagina, filha de Rassan - ele respondeu, com a voz macia e ao mesmo tempo ameaadora. - Sou Jourdan Saud lbn Ahmed.

CAPITULO IV

Danielle teve a ntida impresso de que o cho havia desaparecido sob seus ps, atrapalhada com pensamentos desordenados, que inutilmente procurava compreender.

- Mas voc no estava em Paris?

- Se soubesse que eu estaria aqui, com certeza nunca teria vindo... - ele comentou. - Conhece muito pouco os homens, filha de Hassan, apesar de toda sua educao moderna. Honestamente, pensava que eu ia engolir um insulto daqueles? Ser recusado como marido?

Seus dedos fortes agarraram-lhe as mos com crueldade. Um medo gelado envolveu Danielle, como se fosse abraada pela morte. Era impossvel acreditar que estivesse vivendo aquele pesadelo! Assim que pudesse, telefonaria para os pais e voltaria para a Inglaterra! Mas, Deus do cu!, eles se encontravam nos Estados Unidos, viajando de costa a costa, fechando negcios e cumprindo compromissos sociais!

Pois ento pediria ajuda a Jamaile, decidiu, reanimando-se e procurando vencer o medo que criava um abismo entre ela e a realidade.

Jamaile sem dvida a ajudaria. Ah, se tivesse pedido algum dinheiro a Rassan! Mas ele havia insistido em que no precisaria de nada. De fato, seus anfitries se sentiriam ofendidos se utilizasse seus prprios recursos. No tinha pago nem mesmo a passagem de avio, pois dispunha do jato da famlia.

Os pensamentos giravam em redemoinhos, desafiando-a a det-los.

E durante todo esse tempo, Jourdan estava ali a pouca distncia dela, envolto em sombras, segurando-lhe sem piedade os pulsos.

- Jamais o perdoarei!- ela exclamou, o rosto vermelho de furor. - No fiz nada para merecer esse tipo de tratamento! Assim como no tive inteno de ofender voc com a minha recusa.

- Ento a filha de Hassan no tem a coragem que demonstra ter! E muito fcil insultar algum num momento de exaltao. O difcil justificar a atitude mais tarde!

- Que justificativa deveria dar? Como poderia aceitar a idia de um casamento fundamentado num negcio financeiro? - Danielle falava com a franqueza da emoo. - Mesmo antes de saber do acordo entre voc e papai, fiquei conhecendo passagens da sua vida que me desagradaram, inspiraram antipatia e desconfiana...

- O que ouviu a meu respeito?

Os olhos de Jourdan se estreitaram, tornaram-se astutos como o de uma pantera prestes a atacar a presa. Danielle permaneceu pensativa, tensa e amedrontada, hesitando em falar. Ele estava pronto para destruir seus frgeis argumentos.

- Quem lhe falou de mim? - Jourdan insistiu, impaciente com o silncio prolongado de Danielle.

- Uma amiga minha - disse rapidamente, recusando-se a dar maiores explicaes. - Phlippe Sancerre tambm. " Considero-me' uma mulher de sorte, pois apenas ouvi seu nome, entretanto, algumas garotas tiveram de Suportar seu egosmo, sua possesso e indiferena...

Por um momento, teve a impresso de que ele a esbofetearia. Instintivamente recuou, intimidada pelo olhar selvagem.

- Considere-se uma mulher de sorte, sim, mas porque compreendo que voc no passa de uma garota mimada, que mal sabe o que diz. Uma menina que no tem o menor pudor de caluniar pessoas que nem sequer conhece. - Aproximou-se um pouco, o hlito quente nas faces de DanieUe. - Uma criana que ignora aquilo que recusa com palavras desesperadas e disparatadas. Ento acha que as mulheres no suportam a minha maneira de am-las? E por isso foge de mim, apavorada e cheia de averso? Ora, ora, sua bobinha...veja bem... H muita coisa mais em que deve pensar...

Aproximando-se, puxou-a contra si. Com uma mo segurou-lhe os ombros e com a outra acariciou-lhe o rosto.

- Voc to tmida quanto uma gazela no osis - brincou, gentil.- O que temos aqui? Uma criaturinha frgil e amedrontada. Fi1ha de Hassan... onde est a sua bravura? Sou apenas um homem! Feito de carne e ossos! E meu corao bate igualzinho ao seu. No consegue ouvi-lo?

Danielle concentrou a ateno na mo que estava pressionada sobre o peito dele. Rezou, com desespero, para que aparecesse algum para livr-la daquele pesadelo.

- No se preocupe - disse ele, lendo-lhe os pensamentos.- Ningum vir socorr-la. Esses alojamentos so meus, exclusivamente meus. Pense nisso, filha de Hassan. Se eu quisesse lhe mostrar exatamente o que o amor, ningum me impediria neste momento. No haveria ningum para escutar seus tmidos lamentos virginais...

- No sou vir... - Ela no pde terminar de falar. Ele varreu suas palavras com uma gargalhada.

- Danielle, no minta. .. Se isso fosse verdade, eu no precisaria lhe dizer que um homem acha deliciosamente excitante imaginar o corpo de uma mulher como um ptio perfeitamente intacto e inacessvel. Estou surpreso por Sancerre no ter comentado isso com voc.

- O que o faz pensar que ele no conversou comigo a respeito?

Danielle desejou ter a coragem de empurrar Jourdan e se livrar dele. Mas sabia que qualquer esforo para escapar seria intil. O brao que lhe pressionava os quadris era forte como ao!

- Porque ele no lhe teria falado apenas com palavras - Jourdan respondeu, calmo e divertido. - E seus dedos, Danielle, no tremeriam tanto ao tocar meu peito, nem seus ,olhos estariam assim to arregalados, assustados com o desconhecido e atraente...

Os dedos dele afastaram o traje que cobria os seios. de Danielle e a mo os procurou, ansiosa, tocando-os com sensualidade. Ela engoliu em seco, enrijecendo o corpo. O corao pulsava selvagem, os lbios ressequidos, os pensamentos recusando os fatos, no aceitando que aquele estranho arrogante e orgulhoso pudesse venc-Ia.

- Danielle, como voc jovem! E como inexperiente! - Jourdan falava com ardor, enquanto os dedos desfaziam com firmeza os laos do cft dela. As palavras de protesto de Danielle desapareceram sob a presso da boca mscula, e aquele beijo ao mesmo tempo selvagem e gentil estimulou-lhe os sentidos, atirando-a num turbilho de emoes at ento ignoradas.

Dominada pela sensualidade dos dedos dele, Danielle sentiu os seios enrijecidos e ardentes, os lbios abertos entregues insistncia, dos dele, o corpo todo dcil obrigando-a a ceder ao estranho poder que ele exercia sobre seu ser.

Quando os lbios dos dois se separaram, voltou lucidez e, incoformada, tentou se desvencilhar. Mas ele beijou-lhe o pescoo com avidez.

- Fique calma, filha de Hassan - disse, com uma voz rouca e que se misturavam o desejo e a zombaria -, ou serei obrigado a lhe demonstrar todo o amor que sua inocncia recusa e ao mesmo tempo deseja com loucura!

- Solte-me! - ela pediu, arfante, sentindo o corao bater acelerado.

Mas Jourdan a ignorou, continuando a deslizar os lbios pelo pescoo, pelo colo, at parar sobre a pele suave do seio. Assustada, Danielle imobilizou-se. Tremeu ainda mais quando os dedos dele acariciaram-na, os lbios roando o bico do seio, excitando-o, at que e sentiu-se fraca, dominada por uma poderosa sensao de prazer.

Quando Jourdan se afastou, Danielle ficou estonteada, quase desfalecida. Percebendo que estava cambaleante, os braos dele a seguraram, impedindo-a de cair.

- O que a deixou assim? - ele perguntou lacnico, fechando-lhe o traje. - Que sentiu?

- No senti nada - ela mentiu. - A no ser que queira leve em conta mjpha nusea.

- Nusea? - Num momento cheio de horror, Danielle temeu que Jourdan jamais a soltasse. Mas imediatamente ele recuou, os cabelos iluminados pela fraca chama dos candelabros, os olhos brilhantes e irnicos.

- Oh, no, minha garotinha, no queira me desafiar desse jeito. Alm do mais, j estou cansado para iniciar uma virgem esta noite. No fundo, no fundo, bem que gostaria de tom-la nos braos e deit-la numa cama acetinada, desfazer pouco a pouco sua afetao e seu orgulho, que voc to mal utiliza como escudo.

Fez uma pausa e estendeu-lhe a mo.

- Venha... mostre-me que no a criana que parece ser...admita que gosta quando a toco... admita que no sou desagradvel. - Claro, Jourdan, voc no desagradvel - Danielle disse com irritao, perdendo a prudncia. - Voc degradante, revoltante, desrespeitoso e absolutamente repulsivo!

No esperou pela reao dele. Deu meia volta, ergueu o traje desceu rapidamente a escadaria.

Quando chegou ao corredor, parou, respirou fundo e prestou ateno para ter certeza de que no estava sendo seguida. No, no havia nada a no ser o silncio. Deu alguns passos e finalmente percebeu que de fato tinha tomado o caminho errado.

Zanaide estava esperando por ela no quarto.

- O que aconteceu, para estar chegando agora?

- Bem, Zanaide... me perdi pelos corredores e... sabe, pensei que Jourdan estivesse na Frana...

- Estava mesmo. Chegou hoje noite - a moa explicou, intrigada com a palidez de Danielle. - No v me dizer que se enganou e subiu a escada que leva aos aposentos do xeque Jourdan?

- Infelizmente, Zanaide, foi o que ocorreu...

O acontecido no sa de sua cabecinha confusa e chocada. O corao ainda batia com a mesma fria de nuvens em tempestade, os seios ainda guardando a lembrana daquela mo insistente... Mas no contaria nada a ningum. Nem mesmo a Zanaide.

- O xeque Jourdan muito bonito... e muito msculo, tambm.- Zanaide deu sua opinio - Estar com ele seria um prazer alm de toda imaginao feminina... Como ele no segue nossa f, deve ter apenas uma esposa. A famlia de Jamaile prefere que o xeque escolha uma entre as filhas, pois poderoso e rico...

- Ele . arrogante e dominador! No quero ouvir nenhuma palavra mais a respeito desse homem!

- No o acha atraente?

- Acho Jourdan to atraente quanto uma serpente! - desabafou, enquanto Zanaide a ajudava a tirar a roupa. - E duas vezes mais perigoso!

Depois que Zanaide a deixou sozinha, levada por um impulso desconhecido Danielle saiu da cama e foi at o quarto de vestir.

Diante do espelho, tirou a camisola e examinou o corpo rosado e trmulo. Levou as mos aos seios que pareciam no lhe pertencer mais, como se pulsassem descontrolados, despertos pelo toque apaixonndo e selvagem de Jourdan.

Soluou, quebrando o silncio. Cerrou as plpebras para espantar as lembranas do prazer que a havia dominado momentos atrs. Incapaz de observar seu corpo nu, tornou a vestir a camisola. A verdade que tinha se trado, refletiu, e queria esquecer o calor dos lbios de Jourdan e a vertigem louca de um amor que lhe parecia absolutamente impossvel.

Captulo V

O dia seguinte foi to agitado que Danielle no teve tempo de se preocupar com coisa alguma. Depois de tomar o delicioso caf da manh, desceu apressada com Zanaide para um enorme ptio onde um Rolls-Royce a esperava com o motor ligado.

Um motorista abriu-lhe a porta de trs. Ela entrou e sentou-se obedientemente ao lado de Jamaile, que a cumprimentou com um sorriso.

- Dormiu bem, filha de Hassan?

Danielle fez que sim com a cabea e teve vontade de lhe pedir que a chamasse pelo nome. Filha de Hassan lhe trazia lembranas que desejava esquecer. Toda vez que lhe falavam assim, um arrepio lhe corria pelo corpo.

- Os vendedores de seda costumam vir ao palcio quando queremos roupas novas - explicou Jamaile. - Normalmente vm uma vez por ms, por sinal essa uma ocasio de grande alegria para minha casa, quando todos os membros se renem na cmara de recepo. Minhas noras tambm comparecem, junto com os parentes passamos um dia inteirinho escolhendo tecidos e tomando caf.

- Deve ser muito agradvel! - Danielle respondeu com polidez.

Jamaile, porm, percebeu que ela no tinha se interessado realmente e deixou isso bem claro lanando-lhe m olhar perspicaz.

- Kadir - disse ela ao motorista -, por favor, feche o painel.

Kadir obedeceu-a, isolando-se com o guarda-costas no banco da frente. Em seguida, o carro arrancou.

- Quando ns, mulheres, vivemos desse modo recatado, precisamos encontrar diverses que nos ocupem - disse Jamaile. - E voc, Danielle, no deve estranhar-nos t