View
231
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 1/164
LiteraturaEspanhola III
Alai Garcia DinizRosangela Schardong
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 2/164
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 3/164
Literatura Hispânica IV:
Don Quijote Alai Garcia Diniz
Rosangela Schardong
Florianópolis, 2011.
7° Período
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 4/164
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 5/164
Governo Federal
Presidente da República: Dilma Vana Rousseff
Ministro da Educação: Fernando Haddad
Coordenador da Universidade Aberta do Brasil: Celso José da Costa
Universidade Federal de Santa Catarina
Reitor: Alvaro Toubes Prata
Vice-reitor: Carlos Alberto Justo da Silva
Secretário de Educação a Distância: Cícero Barbosa
Pró-reitora de Ensino de Graduação: Yara Maria Rauh Müller
Pró-reitora de Pesquisa e Extensão: Débora Peres Menezes
Pró-reitora de Pós-Graduação: Maria Lúcia de Barros Camargo
Pró-reitor de Desenvolvimento Humano e Social: Luiz HenriqueVieira da Silva
Pró-reitor de Infra-Estrutura: João Batista Furtuoso
Pró-reitor de Assuntos Estudantis: Cláudio José Amante
Centro de Ciências da Educação: Wilson Schmidt
Curso de Licenciatura em Letras-Espanhol na
Modalidade a Distância
Diretor Unidade de Ensino: Felício Wessling Margotti
Chefe do Departamento: Adriana C. K. DellagneloCoordenadoras de Curso: Maria José Damiani Costa
Vera Regina de Aquino Vieira
Coordenadora de Tutoria: Raquel Carolina Souza Ferraz D’Ely
Coordenação Pedagógica: LANTEC/CED
Coordenação de Ambiente Virtual: Hiperlab/CCE
Projeto Gráfico
Coordenação: Luiz Salomão Ribas GomezEquipe: Gabriela Medved Vieira
Pricila Cristina da Silva
Adaptação: Laura Martins Rodrigues
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 6/164
Comissão Editorial
Adriana Kuerten Dellagnello
Maria José Damiani Costa
Meta Elisabeth Zipser
Lêda Maria Braga TomitchVera Regina de Aquino Vieira
Equipe de Desenvolvimento de Materiais
Laboratório de Novas Tecnologias - LANTEC/CED
Coordenação Geral: Andrea Lapa
Coordenação Pedagógica: Roseli Zen Cerny
Material Impresso e HipermídiaCoordenação: Thiago Rocha Oliveira, Laura Martins Rodrigues
Diagramação: Talita Ávila Nunes
Ilustração de capa: Miguel Repiso
Ilustrações: Tarik Assis Pinto
Revisão gramatical: Gastón Consentino
Revisão textual: Renata de Almeida
Design Instrucional
Coordenação: Vanessa Gonzaga Nunes
Designer Instrucional: Luiziane Silva Rosa
Copyright@2011, Universidade Federal de Santa Catarina
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitidae gravada sem a prévia autorização, por escrito, da Universidade
Federal de Santa Catarina.
Ficha catalográfica
Catalogação na fonte elaborada na DECTI da BU/UFSC
D585l Diniz, Alai GarcíaLiteratura hispânica IV / Alai García Diniz, Rosangela
Schardong. – Florianópolis : LLE/CCE/UFSC, 2011.
150 p. : il.Inclui bibliografia.UFSC. Licenciatura em Letras Espanhol na Modalidade
a Distância.
ISBN 978-85-61483-49-41. Cervantes Saavedra, Miguel de, 1547-1616. 2. Ficção
espanhola – Séc. XVI – História e crítica. 3. Paródia. I.Schardong, Rosangela. II. Título.
CDU: 860”15”
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 7/164
Sumario
Unidad A - Preliminares ................................ 11
1. Introducción .................................................................13
1.1 Acercándose a la obra .......................................................................13
1.2 Recomendaciones ..............................................................................16
Unidad B - Recepciones ................................ 192. La recepción del Quijote en Latinoamérica ...............21
2 .1 La recepción en Hispanoamérica .................................................21
Bibliografía consultada ........................................................................... 38
3. El Quijote y los libros de caballerías ......................... 333.1 Introducción ..........................................................................................33
Bibliografía consultada ........................................................................... 37
4. La defensa de la ficción .................................................39
4.1 Introducción ..........................................................................................39
4.2 Lectura y censura ................................................................................42
4.3 Victoria del deleite ..............................................................................49
Bibliografía consultada ........................................................................... 50
Unidad C - Cruce de textos y trayectorias ...51
5. Máquina de géneros .....................................................53
5.1 La novela pastoril y la sentimental................................................53
5.2 El tratado de cortesanía ...................................................................55
5.3 Las novelas de caballerías y otros artificios ...............................56
5.4 La novela picaresca............................................................................58
5.5 La comedia y la novela corta ..........................................................60
5.6 La novela morisca ...............................................................................61
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 8/164
5.7 El género epistolar ..............................................................................62
Bibliografía consultada ........................................................................... 63
6. La negociación de la realidad .......................................65
6.1 Don Quijote, caballero andante .....................................................656.2 Dulcinea del Toboso ...........................................................................72
Bibliografía consultada ........................................................................... 76
7. Las mujeres en el Quijote ............................................77
7.1 Organización social en la España del Siglo de Oro .................77
7.2 Marcela, la pastora que no ama ...................................................82
7.3 “La buena de Maritornes” .................................................................86
7.4 Dorotea, elogio a la acción noble ..................................................87
7.5 Doña Rodríguez, dama menesterosa ...........................................92
7.6 Ana Félix, la morisca cristiana .........................................................93
Bibliografía consultada ........................................................................... 96
Unidad D - De los vestíbulos a la escena ... 97
8. Los textos preliminares y los autores del Quijote .......99
8.1 Preliminares del Quijote de 1605 ...................................................998.2 El historiador arábigo Cide Hamete, autor del Quijote .......104
8.3 Preliminares del Quijote de 1615 ................................................108
8.4 El Quijote de Avellaneda en la Segunda Parte de
Cervantes .......................................................................................112
Bibliografía consultada .........................................................................113
9. Dulcinea encantada ....................................................115
9.1 El encantamiento .............................................................................115
Bibliografia Consultada .........................................................................122
10. El arte dramático en el Quijote .................................123
10.1 El arte dramático en el Quijote ..................................................123
10.2 Procedimientos para teatralizar la ilusión de lo narrado .125
Bibliografía consultada .........................................................................130
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 9/164
Unidad E - Verso, prosa y vida ...................133
11. La lírica en el Quijote ................................................135
11.1 El lirismo pastoril ............................................................................135
Bibliografía Consultada .........................................................................140
12. La oralidad en el Quijote ..........................................141
12.1 La oralidad en Quijote ..................................................................141
12.2 El arte de la conversación ...........................................................146
Bibliografia consultada..........................................................................150
13. La peripecia final ........................................................151
13.1 ¿En qué consiste la peripecia? ...................................................151
13.2 El fin del caballero .........................................................................152
13.3 Muere el hidalgo ...........................................................................154
13.4 El Quijote, parodia y lección .......................................................155
Bibliografía consultada .........................................................................158
Comentario Final ...........................................................159
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 10/164
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 11/164
Presentación
Estimado estudiante:
El libro que vas a conocer ahora concluye los estudios de literatura hispáni-
ca del curso de Letras – Español en la modalidad a distancia de la Universi-
dad Federal de Santa Catarina y te propone un reto: la lectura y el estudio
de una obra de referencia mundial que la cultura hispánica ha ofrecido a la
humanidad: El ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha (1605/1615).
El objetivo general del curso monográfico sobre el Quijote es lograr que tú,
estudiante, en primer lugar, leas las dos partes de la obra, pues sin esta ac-
ción primera y fundamental, este libro, que pretende ser la guía de estudio
de esa lectura, perderá su función.
¿Cómo adquirir el libro?
Aunque es una inversión importante la adquisición de este libro para tu
acervo particular, en los polos hay varios ejemplares de la obra que podrán
ser usados. Además, existen sitios en internet que disponibilizan el más re-
ciente libro interactivo que consta de la primera edición del Quijote digita-
lizada y que se puede leer oyendo música de la época. (http://quijote.bne.
es/libro.html)
El desafío que te proponemos exigirá de ti determinación, interés y dis-
ciplina a fin de que puedas apoderarte específicamente del patrimonio
inmaterial que Miguel de Cervantes y sus lectores han regalado al mun-
do. Seguramente, esto ayudará a diseminar la cultura hispánica de modo
lúdico y profundo, adonde sea que te ubiques como profesor de Lengua
Española, que, a su vez, hace de la cultura materia de cultivo, primeramen-te, de la enseñanza.
De modo distinto de las demás obras sobre la literatura hispánica que tú
has leído en el curso de Letras–Español, el estudio monográfico de una
obra, de antemano supone una lectura personal de las dos partes del
Quijote para que, sobre ese conocimiento personal, se reconozcan otros
soportes que te ayuden a explotarla y evaluarla en relación a sus idiosin-
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 12/164
crasias. Nosotras sugerimos los temas que a lo largo de los siglos se han
ido estableciendo como tradición de lecturas y de profundización de los
investigadores del Quijote.
Entre otros objetivos específicos, el curso intenta proponer que observescómo los objetos simbólicos latinoamericanos comprenden siempre la
transculturación y es el multiculturalismo como un elemento central de los
estudios sobre la cultura en el siglo XXI.
Por otra parte, es ciertamente posible creer que la impregnación de los
ideales quijotescos pueda hacer hablar hoy a la juventud que, en lugar del
consumismo y de la competencia, vislumbren otras miradas referentes a la
convivencia en sociedad.
Aproximarte a tal libro, al establecer un puente con la recepción del Qui-
jote en Latinoamérica, comprende proveer datos para estudios sobre los
géneros literarios que aparecen en la obra, el desarrollo de los personajes
centrales, la literatura sincronizada y creada también en consonancia con
otras artes como el arte dramática; el pasaje de la escritura a la oralidad
(y viceversa) y la estructura de la novela en las dos partes. Esto podrá ubi-
carte en un recorte vertical de estudio y ofrecerte la oportunidad de com-
prender cómo se hace un estudio monográfico, a fin de prepararlos, demodo consciente y en profundidad, a la investigación de la crítica literaria
para estudios de posgrado.
Esperamos que leas integralmente el Quijote y profundices aspectos de su
lectura con los estudios reunidos en este manual, para desarrollar aún más tu
capacidad lectora en lengua española y abarcar tópicos sensibles a tu futura
tarea como educador y diseminador de este producto simbólico que la huma-
nidad aprendió a respetar y a ofrecer a las futuras generaciones humanas.
Alai Garcia Diniz y Rosangela Schardong
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 13/164
Unidad APreliminares
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 14/164
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 15/164
13
C APÍTULO 01
Introducción
En este capítulo, querido estudiante, tendrás la explicación de este guía delectura y estudio.
1.1 Acercándose a la obra
Al principio podemos impresionarnos con la corpulencia del Qui-
jote, así como sus vetustos años y aunque en el 2005 se hayan festejado
en todo el mundo sus cuatrocientos años, cualquier temor se desvanecesi consideramos que, con diferentes motivaciones e interpretaciones, el
Quijote nunca dejó de ser leído, desde la primera impresión en 1605, en
Madrid. En sus orígenes, la obra inmediatamente atrapó a los lectores,
tanto que en 1614 un destemplado autor, Alonso Fernández de Avella-
neda, osó publicar la segunda parte de la obra. Pero en 1615 la versión
apócrifa fue suplantada por la legítima segunda parte compuesta por
Cervantes, el verdadero autor del Quijote, quien repitió el éxito de la
primera parte.
Pese a que el Quijote viajó por el mundo en las embarcaciones de
los colonizadores españoles, jamás fue un defensor de la monarquía, del
catolicismo o de los intereses de la corona española. Cuando levantó la
espada fue en defensa de los que consideraba desvalidos. Su respeto por
todos los que cruzaron su camino –con raras excepciones, motivadas
por fantasías caballerescas- conquista, hasta hoy, admiradores en dife-
rentes latitudes e idiomas, entre los cuales encontraremos lectores de
distintas edades, profesiones y clases sociales.
La risa contagiosa que resulta de las despilfarradas aventuras de un
anciano con ambición de héroe caballeresco, así como las inquietudes
y la cómica elocuencia del campesino hecho escudero, sin duda son as-
pectos que justifican que el Quijote se haya ganado un lugar en la biblio-
teca y en el ánimo de lectores de todo el mundo. Con todo, caballero y
escudero están dotados de una compleja personalidad que se revela a lo
largo de sus preciosos coloquios y conturbadas aventuras, con progresi-
vo encantamiento.
1
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 16/164
14
Otro aspecto de la novela que merece realce es la gran variedad de
personajes de diferentes clases sociales, ocupaciones, perfiles psicológi-
cos, orígenes, variantes lingüísticas y un largo etcétera. Cada cual con
su particular aporte humano y artístico a la construcción de esta gran
narrativa de amores y aventuras.
Además del grueso caudal humano, es notable la riqueza artística
de la obra. En el Quijote, Cervantes reúne la erudición de los modelos
épicos y caballerescos con los géneros contemporáneos de la narrativa
de ficción, de la poesía y del teatro, y los hace dialogar con los conflictos
cotidianos de la vida de los españoles de principios del siglo XVII, como
ya verás en las páginas siguientes.
Pese a todas estas razones, cabe preguntar: ¿Por qué elegir esta obra
para un curso monográfico en la carrera universitaria, en pleno siglo
XXI? Primeramente por la importancia que Cervantes y el Quijote ocu-
pan en las letras de la Lengua Española. Otro aspecto principal es faci-
litar el acceso del estudiante brasileño a una de las obras más estimadas
de la literatura universal. La materia de este libro tiene la intención de
servir como instrumento facilitador de la lectura, a la vez que una es-
timulante invitación al estudio académico del texto literario. Con ese
criterio fueron seleccionados los autores y los textos críticos aquí pre-sentados, con bastante libertad, sin vinculación estricta a ninguna línea
de la crítica cervantista o literaria.
El instrumental teórico-crítico utilizado es bastante reducido, si
consideramos que ríos de tinta corrieron sobre la infinidad de temas
que han suscitado meditaciones e incursiones analíticas sobre la obra
maestra de Cervantes, durante los más de cuatro siglos de su publica-
ción. No obstante, creemos que los temas trabajados y debatidos a lo
largo de estos cuatrocientos años por la crítica pueden ser discutidos
con ustedes, estimados alumnos, en este guía de lectura y estudios, así
como también propiciar nuevos modos de explicar y aprehender esta
obra que pasa de generación a generación, de país a país, siendo leída
con gran intensidad.
En lo que toca a sus metas, Literatura Hispánica IV ambiciona cola-
borar efectivamente para la construcción del conocimiento del estudiante
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 17/164
15
C APÍTULO 01
de Letras y futuro profesor de literatura. Para tanto, en muchas ocasiones
te invita a recordar lo que ya ha sido estudiado para, enseguida, agregar
informaciones y estimular nuevas prácticas, de manera que se evidencie
que los saberes dialogan y se suman, en movimiento creciente.
Queremos poner en relieve que este libro corrobora lo que se afirma
en la presentación de Introducción a los estudios de la narrativa, en cuan-
to a entender la literatura como campo de conocimiento, como una de
las formas de construcción de la cultura y como particular instrumento
de reflexión sobre la condición humana y del mundo. Seguramente el
papel de la literatura es algo que merece continua reflexión de los pro-
fesores de lengua materna y extranjera. Durante mucho tiempo la lite-
ratura fue empleada como modelo de la lengua patrón, como ejemplode figuras de lenguaje o de rebuscadas formas sintácticas. Este procedi-
miento casi siempre ha sido de forma fragmentada, en una contribución
a que el texto, generalmente, esté privado de alma y de sentido y como
tal, no pueda ejercer su función primordial: deleitar y enseñar .
El clásico precepto de que el arte debe propiciar placer estético (de-
leite) y provecho ético (enseñanza) al público se enlaza con la opinión
del filósofo Nelson Goodman, citado en la presentación de Introducción
a los estudios de la narrativa. También con la del profesor brasileño An-tonio Cándido. Éste último, en El derecho a la literatura (1995), concibe
la literatura como una amplia categoría que abarca todos los géneros de
ficción y confabulación, en que se incluye el chiste, el refrán, el relato de
experiencias cotidianas, la telenovela, la música, las artes plásticas, o sea,
todo lo que produzca en el individuo momentos de fruición estética.
Para Antonio Cándido, el deleite que se experimenta en estos momentos
es indispensable para el bienestar y la salud mental. Él asegura que ade-
más de ser un poderoso instrumento de educación intelectual y afectiva,la literatura tiene el incuestionable papel formador de la personalidad,
porque nos hace vivir, por la fuerza de la palabra organizada: el bien y
el mal que integran la obra de arte. Una vez que la literatura manifies-
ta las emociones y la visión de mundo de individuos y de grupos, ella
nos pone en contacto con experiencias que tal vez no tendríamos en
nuestras propias vidas. Por eso, Antonio Cándido afirma que la litera-
tura constituye una potente herramienta de humanización, porque al
REALES, Liliana; CONFORTÍN,Rogério. Introdução aos estu-dos da narrativa. Florianópo-lis: LLE/CCE/UFSC, 2008.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 18/164
16
hacernos vivir la vida ajena, confirma en cada uno de nosotros rasgos
esencialmente humanos: el ejercicio de la reflexión, la adquisición del
saber, la buena disposición para con el prójimo, la capacidad de pene-
trar en los problemas de la vida, en la complejidad del mundo y de los
seres. Por su efecto humanizador, la literatura debería constar entre los
derechos humanos, asevera Antonio Cándido.
Al invitarte a leer y a estudiar el Quijote esperamos que el deleite y
el provecho intelectual sean productivos y, muy particularmente, que la
obra te instigue a ser, en tus clases de lengua y literatura, un ingenioso
difusor de esta gran obra prima, cuajada de fascinantes seres humanos
y de ricas experiencias.
1.2 Recomendaciones
Referencia a los dos volúmenes del• Quijote
Querido alumno, como advertirás a lo largo de la lectura del Qui-
jote de 1605, esa obra está dividida en cuatro partes, aspecto que no se
repite en el de 1615. No obstante, la crítica cervantina acostumbra a
referirse al libro de 1605 como Primera Parte del Quijote y al libro de1615 como Segunda Parte del Quijote. Aquí optamos por seguir esta
convención, ¡estate atento!
Referencia a las partes y capítulos del• Quijote
Partiendo del presupuesto de que los estudiantes podrán utilizar
distintas ediciones del Quijote, decidimos no mencionar las páginas de
donde se recogen las citas. Siguiendo la costumbre de la crítica cervan-
tina, usaremos números romanos para indicar las partes de la obra (Ej:I para la Primera Parte; II para la Segunda Parte) y numerales arábigos
para indicar los capítulos en que se encuentran los fragmentos aludidos.
Veamos un ejemplo, con una cita de la aventura de los molinos de
viento, que está en la Primera Parte, en el capítulo ocho:
“- ¿Qué gigantes? –dijo Sancho Panza.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 19/164
17
C APÍTULO 01
- Aquellos que allí ves –respondió su amo- de los brazos largos, que
los suelen tener algunos de casi dos leguas” (I, 8).
Referencia a la obra y al protagonista•
Para referirnos al título de la obra usaremos la abreviación Quijote,
siempre en itálica. El nombre del protagonista será escrito sin la letra
itálica, pero acompañado del título de dignidad que él incorporó al ha-
cerse caballero andante: Don Quijote.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 20/164
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 21/164
Unidad BRecepciones
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 22/164
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 23/164
21
C APÍTULO 02
La recepción del Quijote enLatinoamérica
Entendemos que al leer una obra canónica no hace falta sacralizarla,
sino que es más coherente y relevante mostrar como adquiere renovada
fluidez y actualidad a partir de las relecturas que le son hechas. Con
ese propósito el estudio del Quijote parte de un locus particular, Lati-
noamérica, para que tú, estimado alumno, conozcas algo a respecto de
cómo esta novela clásica ha sido recibida en nuestras tierras. La Unidad
B también te acerca a informaciones sobre los libros de caballerías –de
donde emanan los modelos para las aventuras de nuestro héroe-, y sobrealgunos fundamentos que posiblemente guiaron a Miguel de Cervantes
en la composición de su obra prima.
2.1 La recepción en Hispanoamérica
A través de los siglos, la cultura hispánica se identifica con el Quijo-
te y la lectura de esa obra se renueva con sus lectores y con la recepción
en las más diversas culturas, proceso que seguramente enriquece a uno
de los más importantes patrimonios literarios del Occidente.
Al permanecer viva en los más distintos contextos históricos y en
un proceso de receptividad sin interrupción a lo largo de los siglos, el
Quijote recibe el epíteto de texto clásico. En ese sentido, estudiar esta
obra compuesta de dos tomos, el primero en 1605 y el segundo, diez
años después, en 1615, por lo tanto al comienzo del siglo XVII, implica
también reconocer la prodigalidad de un sin número de modos de leerla obra. En el curso, ya has conocido previamente algo sobre el tema de
la recepción de Quijote, a partir de algunos lectores reconocidos como
José Saramago, Gunter Grass y Jorge Luis Borges, entre otros. Éste úl-
timo se apodera de la obra, a su manera, con el tema de lo apócrifo en
“Pierre Menard, autor del Quijote”.
2
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 24/164
22
Ensayos sobre el cuento borgeano:
FERNANDEZ, M. Rodriguez. “Pierre Menard, autor del Quijo-
te”. Biografía de un lector. In: Revista Chilena de Literatura. n.
67. Santiago: 2005. Disponível em: <http://www.scielo.cl/scielo.
php?pid=S0718-22952005000200007&script=sci_arttext>. Acesso
em 11/10/ 2010
CAMPOS, A. Silveira. A máscara vazia: um comentário sobre
“Pierre Menard, autor del Quijote”. In: Revista Espaço Acadêmico.
Unesp. n. 90. 2008. Disponível em: <http://www.espacoacademico.
com.br/090/90campos.htm>. Acesso em 12/10/2010.
Por otra parte, Michel Foucault considera al Quijote la primera
obra que hace la ruptura entre el lenguaje y las cosas. En nuestra guía,
en el apartado sobre la recepción en Latinoamérica, elegimos seleccio-
nar otros receptores iberoamericanos que, de alguna manera, podrían
aportar otros planteamientos, una vez que al ser considerado como una
de las tres “biblias profanas”, al lado de la obra de William Shakespea-
re y de Dante Alighieri, el Quijote suele ser objeto de los más distintos
aportes. Por ejemplo, el español Miguel de Unamuno (1864-1936) llamala atención hacia dos distinguidas figuras históricas que actuaron en La-
tinoamérica y que, para él, han tenido al Quijote como modelo: Ignacio
de Loyola y Simón Bolívar.
Sobre el tema de la recepción, Luis Correa–Díaz recuerda que: “el
primer eje conceptual del campo de lectura de Cervantes en América
estaría dado por su carácter transatlántico, y el segundo por su condición
interamericana.”(2007) Además de eso, hace también una nómina de es-
critores latinoamericanos, tales como: José Joaquín Fernández de Lizardi,Antonio José de Irisarri, Juan Bautista Alberdi, Juan Montalvo y Rubén
Darío… Jorge Luis Borges, Juan José Arreola, Marco Denevi, Carlos Fuen-
tes, Eduardo Galeano, Augusto Monterroso, Augusto Roa Bastos, Kathy
Acker, Angélica Muñiz-Huberman, entre tantos otros “que aportaron a la
eminencia del Quijote como modelo clásico de la escritura” (2004).
Por ocasión del Cuarto Centenario de la obra, muchas de esas re-
currencias al Quijote se empiezan a colectar en forma de libro como El
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 25/164
23
C APÍTULO 02
Quijote en América (2010) que fue organizada por Schmidt-Welle, Frie-
dhelm e Ingrid Simson.
De tales investigaciones se descubre que las aventuras del caballero
manchego circulan desde remonta fecha en el continente pues, segúnIrving Leonard, hay pruebas de que en 1606 los libreros de la ciudad de
Lima recibieron setenta y dos ejemplares del Quijote.
El hecho de que el Virreinato del Río de la Plata solo se haya con-
solidado en 1766, explica que la recepción más significativa del Quijo-
te en el ámbito rioplatense ocurre a partir del siglo XIX. Significativo
ejemplo es que el general José de San Martín, al ser nombrado gober-
nador de Cuyo, en 1814, se refiere con ironía al territorio de la gober-
nación como “mi ínsula cuyana”. La “ínsula” de San Martín compartía
con la ínsula Barataria la particularidad de ser una isla de tierra firme,
sin rodearse de agua.
Domingo Faustino Sarmiento, autor de una obra fundacional del
siglo XIX – Facundo (1845), que logró convertirse en presidente argenti-
no, utiliza en sus discursos al «valeroso hidalgo, que toma los molinos de
viento por gigantes espantables, los odres de vino por tiranos a quienes
atraviesa con su lanza» es «noblemente revolucionario».
De otro matiz es la recepción de Paul Groussac (1848/1929), el
franco-argentino que logró el renombre al destilar su crítica sobre obras
que Marcelino Menéndez Pelayo recomendaba. Groussac fue director de
la Biblioteca Nacional de Argentina y sobre la obra cervantina decidió
abordar sus “deformidades”. El polemista franco argentino, tras encon-
trar digresiones y defectos en la geografía de la obra, opina que Sancho
se presenta mucho más denso como personaje que Don Quijote:
[…]la fisonomía moral y mental de don Quijote, su psicología mórbida,
como hoy diríamos, se manifiesta al principio y en toda la Primera Parte
con unos pocos rasgos exagerados y repetidos que forman un conjunto
demasiado simple y rudimental. (GROUSSAC, 1919)
No merece la pena mencionar otros improperios acerca del Quijote
y basta con el comentario de Jorge Luis Borges, también director de la
Biblioteca Nacional de Argentina. En su artículo Arte de injuriar , Bor-
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 26/164
24
ges alude a las teorías sobre el insulto y afirma que las consideraciones
literarias de Groussac acerca del Quijote son “pérfidas conferencias her-
mosas”. Convertido en polemista, en inquisidor, en juez, Paul Groussac
no tardó en llenarse de enemigos.
Como uno de los centros de modernidad latinoamericana, el con-
texto rioplatense de comienzo del siglo XX, en cierta medida, podía
estimular el surgimiento de una figura contestataria y divergente de la
Península Ibérica, que en contrapartida ejercía su intento intelectual de
afirmarse en el escenario latinoamericano.
Ricardo Rojas, escritor, crítico e historiador de la literatura argen-
tina, que estuvo en Ushuaia recluido por conflictos políticos al mando
del dictador argentino José Félix Uriburu en 1930, aprovechándose de
la información del “Memorial indiano” recogido en el Consejo de Indias
(Sevilla), escribe una obra que incluye un pedido de Miguel de Cervan-
tes, quien habría solicitado un cargo al Rey como forma de resarcir el
patrimonio familiar que había pagado para salir del cautiverio y el suel-
do sobre sus más de veinte años de ejercicio como soldado. Basado en
ese oficio real que le contestan de un modo negativo e irónico: «Busque
por acá en qué se le haga merced», firmado en junio de 1590, Rojas es-
cribió un “Don Quijote en Ushuaia”.
En un reciente coloquio sobre la presencia del Quijote en Argentina,
el investigador Pedro Luis Barcia destaca que la obra aparece, entre otros
bienes, en el testamento del pulpero Felipe Haedo, al final del siglo XVIII:
Y curiosamente, en el inventario de esta pulpería figuran:… doce arro-
bas de pasas de Santiago y (...) superiores, tres y media de garbanzos,
siete cerraduras inglesas, y un Don Quijote de la Mancha muy viejo
(BARCIA, 2007, P. 12).
El mismo autor, al tratar de las huellas de la literatura caballeresca
en Argentina, recuerda a otro investigador:
Juan Alfonso Carrizo, nuestro mayor colector de poesía tradicional oral
en nuestro país, recuerda en dos o tres sitios de sus caudalosos y noticio-
sos estudios preliminares a sus compilaciones de materia poética folcló-
ricas que, cuando él visitaba ranchos perdidos en mitad de un valle o de
una montaña, encontraba que, los dueños de casa, del rancho custodia-
Datado en Buenos Aires, juliode 1934, y publicado en Cer-
vantes, Buenos Aires, EditorialLosada, 1948, págs. 303-309.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 27/164
25
C APÍTULO 02
ban celosamente ejemplares de Los doce pares de Francia, entre otros
que menciona, algunos de materia caballeresca (BARCIA, 2007, p. 14).
En ese ensayo sobre la presencia del Quijote en Argentina, Barcia
presenta el surgimiento de la primera versión de la ciudad de BuenosAires como una Nueva Barataria, tal como la imaginó el humorista es-
pañol Eduardo Sojo, en su petipieza Don Quijote en Buenos Aires (1885),
que provocó un pequeño escándalo político.
En la primera mitad el siglo XX, el jesuita Leonardo Castellani da
continuidad a esa ficción al escribir El nuevo gobierno de Sancho (1942),
indicando a “Cide Hamete Benengeli” como autor y a “Jerónimo del Rey”
como traductor. En Buenos Aires, Sancho instala su gobierno baratario
y escucha a distintos personajes (estereotipos) contestando sus dudas
y problemas. Entre ellos aparece el Maestro, el Tanguista, el Filósofo, el
profesor de poesía, etc. Digno de conocer es el ilustrador de apodo Ma-
rius (Castellani) que inaugura un linaje visual gauchesco al tema quijo-
til, como se puede percibir en la siguiente imagen:
Otra obra argentina en lenguaje gauchesco se titula Don Quijote en
la Pampa, de Pedro Manuel Eguía y Fernando Bragas Caba, la cual fue
escrita en décimas y vino a la luz en 1948.
Destacando la relevancia de la contribución latinoamericana al de-
bate sobre el Quijote, dice Carlos Fuentes: “La Mancha, en verdad, ad-
quirió todo su sentido en las Américas” (Apud SCHIMIDT-WELLE;
SIMSON, 2005). Concepción semejante tiene el escritor mexicano José
Emilio Pacheco, que afirma que recorrer el territorio de La Mancha a
través de la pluma de Cervantes le permitió “entender que la lengua pue-
de volverse ficción”. (PACHECO, 2009) Pacheco, en el discurso que pro-
fiere al recibir el Premio Cervantes 2009, afirma que:
Nada de lo que ocurre en este cruel 2010 de los terremotos a la nube de
ceniza, de la miseria creciente a la inusitada violencia que devasta paí-
ses como México era previsible al comenzar el año… Sin embargo, en
medio de la catástrofe, siguen en pie, y hoy como nunca son capaces de
darnos respuestas, el misterio y la gloria del Quijote. (PACHECO, 2009)
Este discurso demuestra como, a lo largo del siglo XX, la vetusta
novela cervantina adquirió sentidos que extrapolan las discusiones aca-
Puedes leer el discurso com- pleto de José Emilio Pachecoen el sitio www.oem.com.mx/ laprensa/notas/n160812 .
La primera edición de El
nuevo gobierno de Sanchoapareció en el año 1942;la segunda, aumentada entres capítulos, en 1944; latercera, con más cinco pie-zas en prosa y un anexo enverso sobre la segunda, en1965. En 1991 las edito-riales porteñas Vectores yServiam reeditaron la obra.Fuente: http://cruzamante.blogspot.com/2008/09/
el-nuevo-gobierno-de-san-cho.html
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 28/164
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 29/164
27
C APÍTULO 02
Sobre el primer autor, guatemalteco, Millares destaca la devoción a
Cervantes no solo en sus ensayos, sino también en elementos intrínse-
cos de la novela El señor presidente, con giros de palabras como recurso
humorístico del dictador que acusaría su ignorancia y que recordarí-
an al lúdico juego entre Sancho y Don Quijote, además de escenas que
invocan directamente a las ridiculeces del caballero. Asimismo, en un
ensayo de 1967, “Muerte y resurrección de un novelista”, es evidente la
manifestación recriminatoria de los personajes al autor, Miguel Ángel
Asturias, tal como ocurre en la segunda parte del Quijote. Además de
eso, en contraposición a Menéndez Pidal, que ve a Bartolomé de Las
Casas como un demente, Asturias concibe a Las Casas como la perso-
nificación del humanismo cervantino, que se expresa por medio de la
figura de un caballero andante (MILLARES, 2001, p. 478).
Carpentier , en la novela El derecho al asilo (1972), alude a un escru-
tinio de libros como el que el cura y el barbero hacen en el Quijote. En La
consagración de primavera (1990) figura, en la reflexión del protagonista,
la referencia al títere Quijote del retablo de Maese Pedro. Carpentier
también recreó el Quijote por medio de una adaptación radiofónica en
Cuba, en 1940.
Con Roa Bastos la recepción se da en su novela Yo el supremo(1974), en la figura de un compilador que alude a los falsos copistas e
historiadores y sueña con la ínsula Barataria que él acaba de inventar. En
el siguiente fragmento queda evidente que el Quijote opera como clave
de lectura para la novela del dictador que se recompone y se desplaza en
el yo que escribe:
Pon tus cascos en la palangana. Remójate los juanetes solípedos. Cálzate
en la cabeza el balde del barbero Alejandro, el casco del Mambrino o de
Minerva. Lo que quieras… (ROA BASTOS, 1985, p. 66).
A modo de conclusión sobre este breve recorrido por distintos au-
tores y temas de la recepción del Quijote en las comarcas culturales lati-
noamericanas falta dedicarnos particularmente a Brasil. Este es el locus
de lectura en que nos inscribimos para dar a conocer el universo de la
obra y sus expansiones o relecturas, como modos distintos de inspirar
transformaciones, parodias, y ¿por qué no? profanaciones.
Alejo Carpentier (1904-1980),músico, escritor y poetacubano.
Augusto Roa Bastos (1917- 2005), escritor paraguayo,autor de poesías y novelas.
Ganó el Premio Cervantes en1989.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 30/164
28
2.1.1 La recepción en Brasil
En nuestro país el Quijote ha seguido caminos semejantes a los que
trilló en tierras hispanoamericanas, influyendo en las artes y también en
las reflexiones éticas y políticas. Sin embargo, en esta sección nos deten-
dremos a la acogida que recibió en la literatura.
Primeramente, merece relieve un ensayo de Carlos Fuentes, publica-
do en Brasil , en el que destaca el humor cargado de melancolía de Cer-
vantes como uno de los fecundos modelos de Machado de Assis.
Entre las investigaciones nacionales, debemos enfatizar el ensayo
de Maria Augusta da Costa Vieira.
“ Em torno da recepção do Quixote no Brasil” (2005), que trata so-bre los supuestos sentidos atribuidos a la obra en nuestro país. Destaca
la conferencia “Dom Quijote”, de Olavo Bilac, en el Gabinete Portugués
de Lectura, en 1905, como la inauguración de los estudios interpretati-
vos producidos en Brasil sobre la obra de Cervantes (VIEIRA, 2005, p.
20). La investigadora recuerda el pasaje en el que Cervantes se refiere
con cierta ironía a la recepción de su primer libro en China, en donde el
emperador le habría invitado a ser el director de un colegio para que los
chinos aprendan la lengua castellana, sin ofrecer ninguna ayuda finan-ciera para cubrir los gastos de esa empresa en Oriente. Dicha referencia
a la recepción del libro demuestra cómo el autor no solo reconocía en
los primeros diez años el éxito de su obra, sino que adivinaba la intensa
multiplicación que se haría a través de las traducciones en distintas len-
guas y las percepciones que su obra tendría en los siglos posteriores.
En busca de los lazos ibéricos, la investigadora trae a colación en
los años treinta, Casa grande & senzala (1933), de Gilberto Freyre, que
vincularía el Quijote a la identidad iberoamericana, con su metodologíainnovadora de encontrar, en el ámbito privado, el eje central de análi-
sis de formación nacional conectada al Quijote como el paradigma del
ethos ibérico (VIEIRA, 2005, p. 22).
Entre las obras brasileñas en que se observa la recepción del Qui-
jote, Vieira indica diferentes géneros, tales como las recreaciones de la
obra cervantina, obras que encarnan el mito quijotesco de lectura ro-
mántica y particulares interpretaciones que se han adherido al texto a
El ensayo de Carlos Fuentes fue originalmente publicadoen España por la revista Qui-
mera. Traducido por SergioMolina - “Machado de Assis,herdeiro de Cervantes” – fue
publicado en el periódico Fol-ha de São Paulo, día 1er. deoctubre de 2000, p. 4 a 11.
Maria Augusta da CostaVieira es docente de la Uni-versidad de São Paulo (USP) yreconocida investigadora de
la obra de Cervantes. Entre sus publicaciones destacamos
O dito pelo não dito: para-doxos de Dom Quixote (1998)
e Dom Quixote: a letra e oscaminhos (2006).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 31/164
29
C APÍTULO 02
lo largo de los tiempos. Se puede destacar, entre las distintas obras, el
Dom Quixote das crianças ( 1936), de Monteiro Lobato y la combinación
entre dibujos de Cándido Portinari y poemas de Carlos Drummond de
Andrade (1973).
Vieira señala el evidente influjo del Quijote en el procedimiento
narrativo de Memorias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado
de Assis. En cuanto al protagonismo con cierto bies quijotesco, indica
el personaje principal de Triste fim de Policarpo Quaresma (1915), de
Lima Barreto, como una inequívoca alusión al enloquecido hidalgo
manchego.
Siguiendo la observación de la recepción en Brasil, merece atenci-
ón que, bajo encomienda, Carlos Drummond de Andrade ha creado
veintiún poemas a partir de dibujos de Portinari, a lápiz sobre cartón,
acerca del Quijote. El prólogo de la obra enuncia que la intención ini-
cial de los dibujos sería la de ilustrar una nueva publicación de José
Olympio, que al fin y al cabo no se realizó. No obstante, posterior-
mente ese material originó una obra de lujo: Dom Quixote - Cervantes,
Portinari, Drummond (1973), publicada por la editorial Diagrafis.
Vale la pena dedicarnos a leer una de las composiciones de Drum-mond, “IV/ Convite à glória”, acompañada de la ilustración de Portinari
que, en su carácter inter-medial, pueden sugerir distintas lecturas.
IV / CONVITE À GLÓRIA
— Juntos na poeira das encruzilhadas conquistaremos a glória.
— E de que me serve?
— Nossos nomes ressoarão nos sinosde bronze da História.
— E de que me serve?
— Jamais alguém, nas cinco partidas do mundo,
será tão grande.
— E de que me serve?
(DRUMMOND, 1973)
Una de las pinturas de Portinari.
Don Quijote y Sancho Panza sa-
liendo paras sus aventuras, 1956.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 32/164
30
— As mais inacessíveis princesas se curvarão à nossa passagem.
— E de que me serve?
— Pelo teu valor e pelo teu fervor terás uma ilha de ouro e esme-ralda.
— Isto me serve.
En primer lugar, debemos notar que la reunión de poesía y artes
plásticas conduce al lector a una escucha performática, como afirma el
filósofo francés Jean-Luc Nancy, pues los sentidos no dependen sola-
mente de la mirada, de lo visual, sino del lenguaje verbal. Lo que másnos interesa, en esta perspectiva, es la interacción dialógica entre Don
Quijote y Sancho.
En la breve conversación el lenguaje poético opera con el juego de la
métrica, es decir, el verso largo, prolijo y de léxico sofisticado, pertenece al
amo. El verso corto, seco, redundante, se refiere al parlamento de Sancho
que, como podemos apreciar en la novela, materializa el punto de vista
realista, atento a lo concreto. El único verso en que el escudero contesta
positivamente al amo es cuando los signos de la gloria atañen a su objetode deseo: “la ínsula”. Hecho que refuerza el rigor verosímil del poema de
Drummond. Así, “Convite à glória” convence por el lenguaje poético con-
densado y enjuto y causa deleite a quien haya leído o no el Quijote.
En la intermedialidad propuesta por esa mezcla de dos artes (poe-
sía y pintura) conviene dedicar algunas palabras también a la propuesta
de Candido Portinari, en términos pictóricos.
Se puede notar, primeramente, que el color del fondo destaca de lacabalgata las líneas amarillas, que se asocian al dorado de la gloria posi-
ble. La posición del caballero, de negro, más adelante, fragua por la ver-
ticalidad y finura de su figura el rumbo y la obsesión que caracteriza a
Don Quijote. En segundo plano, pero pleno en su forma circular, viene
la figura de Sancho que planta en las patas del rocín su adhesión al suelo,
a lo real, mientras que Rocinante, en su andadura, tiene el ímpetu de su
amo, que busca la acción. Los caballos son de un color distinto: el gris de
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 33/164
31
C APÍTULO 02
Rocinante sirve de contraste a los colores de su amo, como también a la
atmósfera cargada de sueño que caballo y caballero reproducen. Sancho
evoca, con su rocín oscuro de orejas de burro, la cotidianidad y realidad
del que acepta la invitación y acompaña a quien lo conduce.
Al final de este capítulo es necesario advertir que no es propuesta de
esta guía agotar el estudio de la recepción del Quijote en Latinoamérica
o, particularmente, en Brasil. Lo que te presentamos son algunas posi-
bilidades que levantamos para que tú, dedicado estudiante, identifiques
otras huellas del Quijote en la literatura, teatro, poesía, pintura, cine y en
las múltiples expresiones de la cultura que se enriquece con el patrimo-
nio que la obra prima de Cervantes ha regalado a la humanidad.
Bibliografía consultada
ANDRADE, C. Drummond; PORTINARI, C. Dom Quixote - Cervantes, Por-tinari, Drummond. Edição Autografada. Rio de Janeiro: Diagraphis, 1973.http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet115.htm Acessono dia 16/10/2010.
BARCHINO, Matías (Ed.). Territorios de La Mancha: versiones y subversionescervantinas en la literatura hispanoamericana. Cuenca: Universidad deCastilla la Mancha, 2007.
BARCIA, Pedro Luis. “Dos aspectos de la presencia del Quijote en Argenti-na” . Jornadas Cervantinas Internacionales, 2007. Disponível em: <http://ciudadcervantina.org.ar/webfiles/articulos/i_jornadas_cervantinas_internacionales_2007>. Acesso em13/10/2010
BASTOS, A. Roa. Yo el supremo. Buenos Aires: Sudamericana, 1985.
CLOSE, Anthony J. Cómo se lee hoy al Quijote. Cambridge: Estudios Cer-vantinos, 1995.
DARÍO, Ruben – Cantos de vida y esperanza. (primera edición, 1905).http://www.poesia-inter.net/rd09160.htm Acesso em 15/11/2010.
DÍAZ, Luis Correa. Cervantes en las Américas. 2007. Disponível em:<http://cvc.cervantes.es/literatura/quijote_america/correa.htm>. Aces-so em: 11/10/2010
GARGATAGLI, Marieta. “Borges y Paul Groussac”. Disponível em: <http://cvc.cervantes.es/actcult/borges/espaarge/04a2.htm>. Acesso em:14/10/2010
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 34/164
32
MATTALÍA, Sonia; SELMA, Pilar; ALONSO, Pilar (Org.). El viaje en la literaturaHispanoamericana: el espíritu colombino. VII Congreso de la AsociaciónEspañola de Estudios Literarios Hispanoamericanos. Disponible en: <bo-oks.google.com>. Acesso em: 17/10/2010.
PACHECO, José Emilio. Discurso por el premio Cervantes 2009. Disponívelem: < “http://www.oem.com.mx/laprensa/notas/n160812”www.oem.com.mx/laprensa/notas/n160812>. Acesso em: 18/10/2010.
SARMIENTO, D. F. El Donquijotismo en política. El Nacional, 4 de febrerode 1879 [recogido en Obras, publicadas bajo los auspicios del gobiernoargentino; caps. I y II, tomo 40, págs. 129-134; Buenos Aires, Imprenta y li-tografía «Mariano Moreno», 1900]. Disponível em: <http://cvc.cervantes.es/literatura/quijote_america/argentina/sarmiento.htm>. Acesso em:(19/10/2010).
SCHIMIDT-WELLE, FRIEDHELM e Ingrid SIMSON (Ed.). El Quijote en Améri-ca. Ámsterdam/New York, NY, 2010. Disponível em: <http://cvc.cervan-tes.es/literatura/quijote_america/argentina/introduccion.htm>. Acessoem: 03/10/ 2010.
URIBE-ECHEVARRÍA, J. «Preámbulo» y «Primeros y últimos pasos». El quijoteen América. Disponível em: <http://cvc.cervantes.es/literatura/quijote_america/chile/uribe.htm>. Acesso em: 12/10/2010.
VIEIRA, M. A. da Costa. Em torno da recepção do Quixote no Brasil: es-critura cervantina e mito quixotesco. In: TROUCHE, A.; REIS, Livia. DomQuixote: Utopias. Niterói: EdUFF/Prefeitura de Niterói, 2005.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 35/164
33
C APÍTULO 03
El Quijote y los libros decaballerías
En este capítulo, estimado y estimada estudiante, esperamos brindarte no-
ciones sobre la historicidad de los caballeros andantes, sobre el origen y la
tradición de los libros de caballerías, sobre su popularidad en la época en
que vivió Miguel de Cervantes, así como un acercamiento a los conflictos
literarios en torno a este género y algunas perspectivas para introducirte
en la lectura del Quijote. ¡Disfrútalas!
3.1 Introducción
Al recorrer las primeras páginas de El ingenioso hidalgo Don Quijote
de la Mancha somos presentados a un hidalgo aficionado a los libros de
caballerías. Él comparte esa afición con otros personajes, como el cura de
su pueblo, maese Nicolás y el barbero, con quienes tuvo muchas compe-
tencias acerca de la valentía de sus héroes. A lo largo de la novela, cono-
cerás a otros innumerables admiradores declarados de tales libros, que
van a renovar y alimentar el debate sobre sus cualidades y debilidades.
El auge de esa clase de literatura en España había sido en el siglo
XVI, pero, de hecho, los libros de caballería aún eran el género de lectura
más popular en la época en que el Quijote fue publicado. Esos gruesos
libros eran divulgados por la lectura directa - a los que sabían leer -, de
modo oral, en lecturas colectivas, como también a través de poemas y
canciones populares que versaban sobre los amores y las hazañas de sus
famosos personajes.
Ese género ofrecía, sin duda, una lectura atractiva, llena de peligros,
aventuras y atribulados lances sentimentales que entretenían el espíritu
de hombres y mujeres de todas las clases sociales. Ejemplo de ello es el
ventero, que burlonamente arma a Don Quijote caballero andante (I, 2)
en su primera salida, demostrando conocer muy bien el lenguaje, los
valores y ritos de las novelas de caballerías.
3
Ilustración de Gustave Doré
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 36/164
34
Esa clase de narrativa de ficción es, en el siglo XVI, una perviven-
cia del heroísmo novelesco medieval. Su origen está en las obras del
francés Chrétien de Troyes (s. XII) que noveló las leyendas del Santo
Grial, de las aventuras de los caballeros del Rey Arturo, del amor de
Tristán e Iseo, entre otras.
Sus obras fueron imitadas por autores de toda Europa. Los valores
de la Orden de la Caballería y del amor cortés allí presentes se tornaron
materia clásica y, por ello, fueron imitados y reelaborados en incontables
títulos, en prosa y verso, en los siglos posteriores.
De esa fuente, seguramente, se vierte gran parte de los temas y he-
chos al Amadís de Gaula, que se leyó en España con mucho entusiasmo
desde el siglo XIV, en la primitiva versión castellana. Esa novela inauguró
un ciclo que fue el pasto espiritual de los amantes de la literatura cabal-
leresca del siglo XVI. El heroico Amadís representa el perfecto caballero,
buen vasallo, amante fiel, puro y poético. Recordemos que el Amadís es
el tema de la disputa entre Don Quijote y el cura, en el primer capítulo,
sobre cuál había sido el mejor caballero. En los capítulos siguientes vere-
mos que el Amadís será una de las más importantes fuentes de imitación
del hidalgo manchego.
A ese respecto, creímos que es pertinente confesar que cuando
leimos el Quijote por primera vez fui acometida por el temor de que
no podría entender una obra de casi cuatrocientos años de antigüedad
-en aquel entonces- que constantemente hacíamos referencia a obras
todavía más vetustas. Sin embargo, al avanzar la lectura nos dimos
cuenta de que, en relación a la primera preocupación, el Quijote es
una obra que se auto explica. Por ser una parodia de los libros de ca-
ballerías, el narrador frecuentemente hace didácticas aclaraciones al
lector acerca de las locuras que comete el ingenioso hidalgo, le cuenta
cuál es su inspiración libresca y por qué motivos ha emprendido fan-
tasiosas aventuras. Por lo tanto, caro estudiante, lee sin temor, porque
si fuera incomprensible el Quijote no habría estado en las librerías
desde hace más de cuatro siglos.
Otra de nuestras inquietudes era saber si existieron, de verdad, los
caballeros andantes. Si esa duda te asalta, conviene saber que sí, exis-
Hay muchas películas queabordan esos temas, porejemplo Escalibur , Merlín,Lancelot y Tristán. Puedes
accederlas en la internet yasí comprenderás mejor la
materia caballeresca.
Los “ciclos”, o “series” dabancontinuidad a obras de gran
gusto popular, muchas veces por manos de otros escri-
tores, que no el autor de la primera edición.
Ejemplo de libros de caballería -
“Amadis de Gaula”.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 37/164
35
C APÍTULO 03
tieron durante los siglos XI y XIII, organizados en Inglaterra y Francia,
pero subordinados directamente al Papa, en Roma. Las actividades de
esos caballeros, o Cruzados, estuvieron esencialmente relacionadas a la
defensa de Jerusalén, de los peregrinos y de los lugares santos.
Los principios éticos de la Orden de la Caballería Andante sirvie-
ron de modelo a muchas órdenes posteriores, de carácter militar, que
subsistieron en los reinos cristianos casi hasta nuestros días.
El Cid Rodrigo Díaz de Vivar (1043-1099) es un notable ejemplo
histórico del heroísmo de los caballeros españoles. En los siglos
XVI y XVII había también las órdenes religiosas. Pertenecer a algu-
na de estas órdenes acrecentaba estatus a los miembros de la noble-
za. Por ejemplo, en Las meninas, Velázquez (1599-1660) estampa
en su pecho una cruz roja, símbolo de la Orden de Santiago
Habiendo dicho todo esto, sin temor ni dilación vayamos al grano:
¿qué relación hay entre el Quijote y los libros de caballerías?
Del poco dormir y del mucho leer libros de caballería se le secó
el cerebro al hidalgo manchego, de manera que vino a perder el jui-cio. Su locura se pone de manifiesto al pretender imitar a los bravíos
héroes de esos libros.
Los libros de caballerías son, en principio, los cimientos de esta no-
vela cervantina. En ellos está el modelo que el enloquecido protagonista
intentará revivir, será la constante tela de fondo de sus andanzas, sus
aventuras y sus pretensiones amorosas.
Ya en el prólogo, el supuesto amigo del autor señala que la obra “esuna invectiva contra los libros de caballerías”, que lleva “la mira puesta a
derribar la máquina mal fundada destos caballerescos libros, aborreci-
dos de tantos y alabados de muchos más”. La crítica reconoce al Quijote
como una parodia del género caballeresco que tiene como eje la locura
del protagonista cincuentón. La locura es el principal elemento que lo
descalifica como valiente y belicoso héroe, y como par amoroso de ilus-
tres y hermosas doncellas.
Asimismo, estaban ética-mente comprometidos conla defensa y protección delos débiles, especialmente delas viudas y de los huérfanos.De modo que Don Quijote
se inicia ejemplarmente enel ejercicio de la caballeríaandante defendiendo al mu-chacho Andrés de los golpesde su amo (I, 4).
Guilherme Marechal(William Marshal c.1174-1219) fue considerado unode los mejores caballerosdel mundo. Puedes leer su
biografía en un agradable ydidáctico texto de GeorgesDuby (Guilherme Marechal,ou o melhor cavaleiro domundo. Trad. Renato Jani-ne Ribeiro. Rio de Janeiro:Graal, 1987). Los restosmortales de ese caballeroestán en el Temple Churchen Londres, juntamente conlos de otros caballeros tem-plarios. El Temple Church
fue escenario de la famosapelícula El Código Da Vinci.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 38/164
36
Para que produzca el efecto deseado, la parodia no puede alejarse
de lo que es parodiado. Así que la estructura y los más importantes te-
mas del Quijote imitan los libros de caballerías.
Las más importantes son las constantes andanzas, pues el caballerotiene que buscar incansablemente las aventuras, porque son ellas que
ponen de manifiesto su carácter heroico. Además, las victorias y con-
quistas son la principal forma de servicio amoroso que el caballero debe
ofrecer a su amada, sin el cual no será digno de su afecto.
El continuo peregrinaje determina la estructura episódica, una
vez que el desplazamiento conduce el caballero a distintos lugares y al
encuentro de varios tipos humanos, que experimentan o suscitan dife-
rentes conflictos. Sin embargo, si en los libros de caballerías los héroes
se encontraban con ejércitos enemigos, sabios eremitas, doncellas me-
nesterosas, dragones, perversos gigantes y malvados encantadores, don
Quijote y Sancho Panza van a encontrarse con los más variados repre-
sentantes de los grupos sociales y culturales de la España del principio
del siglo XVII. En el Quijote, por lo tanto, la tradicional materia legenda-
ria y mítica de las novelas de caballerías medievales y del siglo XVI cede
el paso a la verosimilitud , o sea, a las normas de la vida común.
Es necesario advertir que el Quijote sigue el modelo de las novelas
de caballerías en cuanto a la estructura episódica. Ese rasgo compositivo
también era usual a otros géneros narrativos en boga en el siglo XVI, tales
como la novela amorosa de aventuras (o bizantina), la novela morisca y
la novela pastoril.
No obstante, Cervantes se adelanta a las convenciones de su tiempo
e introduce algo nuevo: en el Quijote los episodios recogen elementos
compositivos de diferentes géneros literarios y artísticos, además de dis-tintos estilos, desde los más bajos a los más elevados. Así que, además de
las andanzas, batallas con lanza y espada, y querellas amorosas, propias
de los libros de caballerías, toparemos con situaciones cómicas, otras
dramáticas y trágicas, con acciones lentas y otras vertiginosas, con dis-
cursos de tono elevado y con diálogos entre populares, con términos
eruditos y otros de bajos fondos, con gente virtuosa y viciosa, nobles y
campesinos, clérigos y legos, con descripciones pintorescas y algunas
En Literatura Hispánica III(unidad A, cap. 2) puedesrevisar las características
generales de las novelas decaballerías.
Si no conoces estos géne-ros, no te preocupes, pues
los estudiarás en la próximaunidad
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 39/164
37
C APÍTULO 03
escatológicas, con actos teatrales y líricos, con personajes y conflictos tí-
picos de la novela pastoril, de la morisca, de la mística, de la sentimental,
de modo que nuestra mente nunca se aburre.
Tanta variedad tiene un propósito: causar admiración al lector ydarle sabroso deleite. Estas son metas del arte poético del siglo XVII
a las que Cervantes se aplica con extremo primor. Tú, atento lector,
serás testigo de que la ingeniosa parodia logra sus efectos en nuestros
días, moviendo a la reflexión y a la risa, a medida que progreses en la
venturosa lectura.
Bibliografía consultadaCERVANTES SAAVEDRA, Miguel de. El ingenioso hidalgo don Quijote de laMancha. Ed. Martín de Riquer. Barcelona: Planeta, 1990.
RIQUER, Martín de. Introducción. In: CERVANTES SAAVEDRA., Miguel de.El ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha. Barcelona: Planeta, 1990,p. XVI-LXXXIV.
_____. Cervantes y el “Quijote”. In: CERVANTES SAAVEDRA., Miguel de. Elingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha . Ed. y notas Francisco Rico.Madrid: Real Academia Española; Asociación de Academias de la Len-gua Española, 2004, p. XLV-LXXV.
WILLIAMSON, Edwin. El Quijote y los libros de caballerías. Trad. Mª JesúsFernández Prieto. Madrid: Taurus, 1991.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 40/164
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 41/164
39
C APÍTULO 04
La defensa de la ficción
Aquí encontrarás, caro alumno, el contexto literario que nos ayude a com- prender cómo fue ingeniosa e innovadora la composición del Don Quijote
de la Mancha. Este capítulo pretende destacar cómo esa primorosa obra
del siglo XVII mimetiza cómicamente los preceptos y los conflictos litera-
rios de su tiempo. Con él esperamos facilitar tu comprensión de la obra,
así como también que puedas profundizar tus conocimientos y tu reflexión
sobre la lectura y los efectos de la ficción.
4.1 Introducción
Con “estimado lector”, o “discreto lector” solían empezar los
prólogos de las narrativas de ficción en los siglos XVI y XVII. Los
términos afectuosos debían captar la simpatía del receptor hacia la
obra que tenía en manos. Sin embargo, el autor del Quijote larga
con un “desocupado lector”. Eso no es una ofensa, sino manifesta-
ción de la ironía que rezuma de esta gruesa novela. Si el lector no
se escapa de la mordacidad del autor, mucho menos el enloqueci-
do protagonista y todo lo que atañe a la materia caballeresca.
En el Quijote la parodia a los libros de caballerías es evidente
desde los textos proemiales y se configura plenamente en los pri-
meros capítulos. A los lectores del siglo XVII, acostumbrados a
la lectura de tales libros, debe de haberles causado mucha risa la
detallada descripción con que se inicia el capítulo I.
La “lanza en astillero” y a la “adarga antigua” - viejas armas de com-
bate que seguramente estaban en un sitio visible de la casa - son el sím-
bolo de la hidalguía del personaje, o sea, de su sangre noble. La aristo-
cracia, en España, asentaba su superioridad en el hecho de descender de
los antiguos guerreros que fundaron los reinos cristianos ibéricos. La
mención al galgo, un perro de caza, indica que el hidalgo practica ese
deporte, típico de la nobleza. Sin embargo, la minuciosa descripción de
lo que se come en la casa revela una modesta despensa. El menú es de
4
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 42/164
40
gente pobre, que come “más vaca que carnero” porque la carne de vaca
era más barata que la de carnero. La escasa alimentación alcanza el cor-
ral, en el que figura apenas un “rocín flaco”.
La nobleza de un individuo debería lucir en su ropa, por ello elhidalgo viste telas finas como el “velarte” y el “velludo”, pero sólo en
los días de fiesta. Para los demás, basta un “vellorí de los más finos”. El
número de criados también era un significativo indicio de la riqueza de
los miembros de la nobleza. Cuantos más criados, mayor riqueza. Por
lo tanto, el ama y el único “mozo de campo” –que, además, se ocupa del
corral– son el retrato de los parcos recursos económicos de su señor.
Todos estos indicios del humilde linaje y escasa fortuna del hidalgo
manchego tienen efecto cómico si son comparados con la tradicional
figura de los héroes de los libros de caballerías, que siempre tienen alto
linaje y, muchas veces, son príncipes herederos, como ocurre con los
modelos clásicos de Arturo, Parsifal y Tristán.
Ahora bien, comparado a tales modelos, el lugar de nacimiento del
protagonista del Quijote pone de relieve la intención de su autor de de-
sautorizar la tradición caballeresca. En lo que concierne al espacio, es
importante destacar que las novelas de ese género solían situar la acciónen tierras lejanas y en imperios exóticos o fabulosos. Sin embargo, el
Quijote no empieza ni transcurre en Persia, ni en Constantinopla, ni en
Grecia, ni en el Imperio de Trapizonda, sino llana y sencillamente “en
un lugar de La Mancha”, como dice Martín de Riquer. Él considera que
ese es el primer palmetazo cervantino a las novelas de caballerías. El
simple título de la obra, El ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha,
por lo tanto, ya sería motivo de risa, o por lo menos de sorpresa. Asimis-
mo, seguramente configura una clara indicación de que las aventuras
caballerescas, en esta obra, siguen otros derroteros.
Es importante considerar que elegir la lejana Bretaña, o los países
Septentrionales, por ejemplo, como espacio para las aguerridas aven-
turas caballerescas, permitía al autor imaginar una vasta gama de seres
y elementos fantásticos, cuya irrealidad no podría ser detectada por el
lector. No obstante, al ubicar las andanzas del Quijote en la Mancha,
ningún español, por más crédulo que fuera, podría aceptar que el pro-
También sus amadas te-nían elevada estirpe, lo quecontrasta cómicamente con
la elección del personajecervantino, puesto que toma
por “señora de sus pensa-mientos” a una labradora del
Toboso (I, 2).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 43/164
41
C APÍTULO 04
tagonista se encontrase con gigantes, como él lo cree en la aventura de
los molinos de viento.
El marco espacial de la Mancha confirma la humanidad del prota-
gonista, mientras que la geografía de España obliga a la acción a teneren cuenta las leyes naturales y las costumbres que rigen la vida común, a
la vez que intensifica la gracia de las ambiciones y fantasías caballerescas
del enloquecido hidalgo. Esto tiene un sabroso ejemplo en la primera
salida: cuando Don Quijote llega a una venta, que él piensa que es un
castillo, con sus trompetas, doncellas, castellano, capilla y otras tantas
cosas, tal como en las novelas que había leído. Así también, cuando él
se encuentra con los mercaderes toledanos (I, 4). Es posible que en ese
episodio, Don Quijote haya querido probar la fuerza de su brazo, con- vencido de la verdad de lo que había leído en tantos libros: que los ca-
balleros andantes estaban protegidos por la Providencia Divina cuando
defendieran una justa razón, de modo que un sólo hombre podría ven-
cer un ejército de enemigos. No obstante, aunque el caballero confíe “en
la razón que de mi parte tengo” (I, 4), los toledanos se burlan de él y la
Providencia lo ignora, puesto que no impide el tropiezo de Rocinante,
ni siquiera la “tempestad de palos” que le deja molido.
¿Y él desiste de la locura de ser caballero? No.
Observa de qué modo el autor explica al lector cómo opera la inge-
niosa fantasía del personaje: “Y aún se tenía por dichoso, pareciéndole
que aquélla era propia desgracia de caballeros andantes” (I, 4). En el
almacén de libros que tiene en la memoria Don Quijote encuentra “su
ordinario remedio” (I, 5): recordar un caso semejante que le pasó a un
conocido paladín. Ese será su frecuente recurso para confirmar que es
un verdadero caballero andante, juntamente con la excusa de que ma-
lignos encantadores le persiguen, provocando una “continua mudanza”
de las cosas, a fin de quitarle la gloria, como lo dice en la aventura de los
molinos de viento (I, 8).
Muy probablemente las primeras páginas del Quijote deberían in-
dicar al lector español de 1605 que tenía ante los ojos un libro de puro
entretenimiento. Una obra audaz, como nunca se había visto antes, que
retoza y reinventa los modelos conocidos para sorprender al receptor y
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 44/164
42
deleitarlo en los momentos de ocio, tal como sugiere el epíteto “desocu-
pado lector”.
La evidente materia cómica que salta a los ojos y desata la risa des-
de las primeras páginas del Quijote es señalada por la crítica cervan-tina como un rasgo definidor de la obra. Vargas Llosa afirma que “si
es verdad que Cervantes escribió su novela para condenar la irrealidad
del romance caballeresco”, como plantea el prólogo, en vez de acabar
con el género “lo coronó con una extraordinaria novela”, puesto que
“cuatrocientos años después, el mundo entero tiene a su libro como un
formidable alegato a favor del sueño y la ilusión”. En conformidad con
este parecer, Mercedes Alcalá Galán afirma que Cervantes presenta en
el Quijote una apasionada defensa de la ficción.
Para comprender el ámbito político, cultural y literario que, pode-
mos imaginar, motivaron la defensa de la ficción en esa obra maestra de
Cervantes, pasamos a presentar algunos datos acerca de la censura a la
literatura de ficción en la España de los siglos XVI y XVII.
4.2 Lectura y censura
La invención de la imprenta produjo a mediados del siglo XV, entre
otras cosas, el incremento del número de libros, de categorías de escri-
tores y, consecuentemente, de lectores. Entre los géneros de escritura,
la ficción ganó notable impulso, lo que despertó la preocupación de los
principales autores, hasta entonces, los doctores y predicadores de la
Iglesia.
En el siglo XVI, en España como en toda la Europa, saber leer era
privilegio del clero y de la nobleza, justificado por su papel en la admi-
nistración pública. La lectura, por tanto, formaba parte de la capacita-
ción profesional de los individuos. Sin embargo, esta práctica, para las
mujeres, era bastante restringida.
El advenimiento de la imprenta, no obstante, crea nuevos ámbitos
para la lectura. En el caso de la ficción, suscita el desarrollo de la lectura
silenciosa en privado, instaurando la crisis de las categorías literarias es-
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 45/164
43
C APÍTULO 04
tablecidas, como afirma B. W. Ife. Los textos religiosos, filosóficos y jurí-
dicos estaban generalmente destinados a la lectura en voz alta y colecti-
va, sea en el púlpito, la universidad o en el tribunal. En esos espacios, el
libro era considerado una fuente de conocimiento por excelencia.
Las distintas clases de novela en boga en el siglo XVI en España,
inclusive los libros de caballería, estaban escritos en prosa, no en verso.
Así lo advierte B. W. If, lo que es bastante novedoso, especialmente si
consideramos que hasta el siglo anterior la ficción era el dominio de la
poesía, cuyo medio correspondiente era el verso. Recordemos que obras
épicas, tales como Ilíada, Odisea y Eneida, modelos clásicos del género
novelesco, fueron compuestas en verso. También el teatro se expresaba
en versos, tradición que perdura en el siglo XVII, como se ve en las pie-zas de Lope de Vega y Calderón de la Barca, por ejemplo.
Los predicadores de la Iglesia y otros intelectuales manifestaron en
obras destinadas a la educación moral y política de la aristocracia su
profunda preocupación por los daños que la ficción, especialmente los
libros de caballería, podría causar. El temor más común era que inad-
vertidos lectores (u oyentes) pudieran tomar la ficción por verdad.
¿El Quijote sería un irónico testimonio de que este temor tenía
fundamento? ¿Qué opinas?
Martín de Riquer afirma que, sin duda, contribuyó a acrecentar la
confusión entre el relato de ficción y el relato de cosas reales el hecho de
que en los siglos XVI y XVII se editaban libros rigurosamente verídicos
con los títulos Historia del emperador Carlos V y Crónicas del Gran
Capitán Gonzalo Fernández de Córdoba. No obstante, las denomina-ciones “historia” y “crónica” – propias de la prosa documental - apare-
cían también en ficciones como la Historia del invencible caballero don
Olivante de Laura, Primera parte de la grande historia del muy animoso
y esforzado príncipe Felixmarte de Hircania y la Crónica del muy va-
liente y esforzado caballero Platir , entre tantos otros que, como esos,
formaban parte de la biblioteca de Don Quijote (I, 6). La engañosa equi-
valencia de los términos generó la frecuente acusación de que los libros
Recuerda que ya has estudia-do esos autores en móduloIntrodução ao estudo do textopoético e dramático (UnidadB, 7.1, 8.7). Puedes leer las
piezas de esos autores en el sitio www.cervantesvirtual.es
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 46/164
44
de caballería eran mentirosos y fingidos. Pronto verás que ese tema es
discutido en muchos pasajes del Quijote, destacadamente en la conver-
sación entre el cura y el ventero Palomeque (I, 32) y en el diálogo entre
el canónigo toledano y Don Quijote (I, 49). Riquer, comparando ambos
coloquios, destaca que Don Quijote, pese a ser hombre culto, se hace en
su mente la misma confusión que el analfabeto ventero Palomeque, y
cree que son verdaderas todas las batallas y aventuras de los hercúleos
protagonistas de los libros de caballerías, que se enfrentan con serpien-
tes de fuego y matan gigantes con un solo golpe de espada. Ambos no
perciben ninguna distinción entre los héroes de ficción y los históricos.
Asimismo, indican como más valientes los fantásticos personajes y más
entretenidos sus libros.
Esa incapacidad para distinguir personajes y narraciones históricos
de los ficticios es señalada en el hidalgo manchego aún en el primer ca-
pítulo: “decía él que el Cid Ruy Díaz había sido muy buen caballero, pero
que no tenía que ver con el Caballero de la Ardiente Espada, que de sólo
un revés había partido por medio dos fieros y descomunales gigantes”
(I, 1), nos advierte el autor.
Otra frecuente acusación en contra de los libros de caballerías y
demás clases de ficción era que dañaban las costumbres, principalmentepor causa de la materia amorosa, considerada un provocativo estímulo a
la lasitud moral, al pecado y a la lujuria. Algunos predicadores de la mo-
ral cristiana comparan estos libros a un sermón del diablo, que despierta
las bajas pasiones y deshace los propósitos firmes. Gaspar Astete acusa
sus autores de hombres que no temen a Dios, por eso sus bocas están
llenas de maldad, blasfemias y torpezas. Ruega al Señor que mande el
fuego abrasador para consumir estos libros y borrarlos de la memoria
de los hombres (apud ALCALÁ).
La súplica de Gaspar Astete hace mención a la idea de que la lectura
duplica el contenido del libro en la mente del lector. Fascina e inquieta a
los intelectuales de los siglos XV y XVI la capacidad de trasladar a la me-
moria lo que fue leído, formando una especie de biblioteca interior. Sin
rastros materiales, la lectura sólo se desaloja por el olvido, afirma Alcalá
Galán. En el Quijote, el fuego abrasador en que culmina el escrutinio de
la biblioteca (I, 6), tiene el mismo fin de la demanda de Gaspar Astete:
¿Te acuerdas del Cantar deMio Cid? Lo has estudiado
en Introdução aos estudos danarrativa (Unidad A, 1.2).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 47/164
45
C APÍTULO 04
provocar el efecto inverso y destruir la materialidad de los libros para
borrar su equivalente registro en la memoria del ingenioso hidalgo.
Los autores de manuales para la educación femenina son los más
entusiastas divulgadores de la tesis de que la ficción da mal ejemplo.Francisco de Salazar advierte que los padres encierran bajo llave a sus
hijas, pero les permiten leer la “sabrosa ponzoña” de los libros de cabal-
lerías, de donde aprenden “peores cosas, que quizá en toda la vida, aun-
que tratara con los hombres pudiera saber”. Ese mal ejemplo hace que
descuiden sus deberes y se pasen el tiempo “deseando ser otra Oriana
como allí, e verse servida de otro Amadís” (apud IFE).
La larga lista de autores graves que atacaron los libros de caballerías
permite una conclusión: eran muy leídos. Martín de Riquer calcula que
entre 1530 y 1599 los libreros españoles publicaron 175 ediciones de
libros de caballerías, con cerca de mil ejemplares cada una (RIQUER,
1990). Pese a la popularidad de esta clase de lectura, hubo varios in-
tentos de prohibir por completo la ficción en España y las colonias. En
1531 un real decreto prohibía la exportación a las Indias de “romances,
de historias vanas o de profanidad como son el Amadís y otros de esta
calidad.” En 1543 se prohíbe la impresión de tales géneros en las colo-
nias y en 1555 se extiende esas prohibiciones a la Península. En 1625 el veto incluye las obras teatrales. Por supuesto, esas disposiciones eran a
menudo burladas por los libreros (IFE, 1992).
En el Quijote, la hija del ventero Palomeque y Maritornes (I, 32)
participan de un debate acerca de los libros de caballerías y, en sus de-
claraciones, representan ficcionalmente el gusto que la materia amorosa
de los libros de caballerías producía en las jóvenes lectoras y oyentes, de
todas las clases sociales. Si al ventero Palomeque le gusta oír la narraci-
ón de “aquellos foribundos y terribles golpes que los caballeros pegan”,
a Maritornes le gusta más “cuando cuentan que se está la otra señora
debajo de unos naranjos abrazada con su caballero, y que les está una
dueña haciéndoles la guarda, muerta de envidia y con mucho sobresal-
to”. Ya la hija del ventero prefiere oír “las lamentaciones que los caballe-
ros hacen cuando están ausentes de sus señoras”.
Puedes suponer, estimadoestudiante, que esas jóvenes
son potenciales protagonistasde las ensoñaciones tan temi-das por los predicadores.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 48/164
46
En ese capítulo (I, 32) se menciona cómo los libros de caballerías
se divulgaban entre las clases populares, mayoritariamente anal-
fabetas: el que sabía leía en voz alta para los demás, en las horas
de descanso y entretenimiento. Así, se puede imaginar, es que eldueño de la primera venta a la que acude Don Quijote (I, 2-3) se
tornó versado en los usos y costumbres del mundo caballeresco.
En la misma línea censora va la acusación de que la literatura de fic-
ción incita más a pecar que las tentaciones mundanas. Para B. W. Ife está
claro que “el tema de discusión no es tanto el mal que contiene la obra
como el efecto nefasto de ésta sobre su público. La acusación platónica es
que el mal ejemplo dado por la literatura no consiste en que se lee sobreel mal, sino que el mal se experimenta realmente durante la lectura”.
B. W. Ife recuerda que Platón defiende el destierro de los poetas de
su República debido a la turbación que la gran poesía causa en el ánimo.
Para Platón el peligro está en la identificación entre el público y los per-
sonajes: “penetrar en los sentimientos ajenos debe afectar a los propios”
(apud IFE). Consecuentemente, se puede decir compartir, a través del
arte, unas emociones que a uno le avergonzaría confesar en la vida real
y que podría influir en su carácter, socavando su resistencia a la adver-
sidad y a la tentación.
La identificación del público con los personajes era uno de los obje-
tivos del arte de los siglos XVI y XVII. La mayoría de los preceptores del
arte poético del periodo estaban predominantemente inclinados hacia la
doctrina aristotélica, que concibe la turbación del alma - sea por la risa
de las obras cómicas, o por la compasión y el terror provocados por las
obras trágicas y épicas - como un poderoso instrumento para limpiar yfortalecer el alma de los ciudadanos (Cf. Poética, cap. V-VI). Para Aristó-
teles, por lo tanto, el arte tiene una función benéfica para la República.
Aristóteles afirma que la fábula más bella es aquella que provoca
mayor admiración en el público (cf. Poética, cap. IX).
En sintonía con este pensamiento, los tratados de arte poético de
orientación aristotélica utilizan términos como encantar , maravillar ,
Fábula
“Fábula” en la doctrina deAristóteles designa la imita-ción de acciones, la compo-
sición de los actos, que debede tener inicio, medio y fin.
Modernamente el térmi-no equivale a “historia” o
“enredo”.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 49/164
47
C APÍTULO 04
embelesar y suspender para definir el efecto que el arte debe causar en el
ánimo del público. No obstante, los preceptores del arte poético del siglo
XVI hacen hincapié en que la verosimilitud es condición imprescindible
para la admiración. La ficción debe acomodarse a las leyes naturales y
mantenerse coherente con la lógica que rige la vida real.
En el Quijote Cervantes registra, en boca de sus personajes, dife-
rentes opiniones corrientes sobre ese tema. En el singular diálogo entre
el canónigo de Toledo y Don Quijote (I, 47) el religioso da su voto por
la verosimilitud:
¿Qué hermosura puede haber (…) en un libro o fábula donde un mozo
de diez y seis años da una cuchillada a un gigante como una torre y le
divide en dos mitades, como si fuera de alfeñique? y que cuando nosquieren pintar una batalla, después de haber dicho que hay de la parte
de los enemigos un millón (…) habemos de entender que el tal caba-
llero alcanzó la victoria por solo el valor de su brazo? (…) ¿Qué ingenio,
si no es del todo bárbaro e inculto, podrá contentarse leyendo que una
gran torre llena de caballeros va por la mar adelante, como nave con
próspero viento, y hoy anochece en Lombardía y mañana amanezca en
tierras del Preste Juan de las Indias, o en otras que ni las describió Tolo-
meo1 ni las vio Marco Polo2?
[…] Hanse de casar las fábulas mentirosas con el entendimiento de losque las leyeren, escribiéndose de suerte que facilitando los imposibles,
allanando las grandezas, suspendiendo los ánimos, admiren, suspen-
dan, alborocen y entretengan, de modo que anden a un mismo paso la
admiración y la alegría juntas; y todas estas cosas no podrá hacer el que
huyere de la verisimilitud y de la imitación, en quien consiste la perfec-
ción de lo que se escribe (I, 47).
Para el canónigo, la ficción es mejor cuanto más parece verdadera
y tanto más agrada, cuanto tiene más de lo posible. Por ello censura lascapacidades sobrehumanas de que están dotados los protagonistas de
los libros de caballerías, así como de la falta de coherencia espacial y
temporal de las aventuras fantásticas. El canónigo defiende que el deleite
estético no puede prescindir de la racionalidad. Esa opinión representa,
en gran medida, la de muchos hombres de letras de los siglos XVI y
XVII acerca de la narrativa de ficción, en Europa y España. Sin embar-
go, el enloquecido hidalgo manchego va por otra senda. Para él, leer es
Verosimilitud
Del latín veri (verdad) y similis (semejante), eltérmino “verosimilitud”designa lo que es semejantea la verdad. Aristóteles, aldistinguir la Historia de laPoesía, asevera que no esoficio del poeta narrar lo queocurrió, sino representar loque podría ocurrir. Así queel Historiador se dedica a laverdad, mientras el Poeta in-venta personajes y accionesque deben ser verosímiles.
1 Ptolomeo (Claudio): geó- grafo y astrónomo griego (s.II d.C.).
2 Marco Polo (1254-1324),comerciante veneciano y
gran viajero que cruzó la Asiaoriental. La relación de susandanzas, El libro de MarcoPolo (1271-1295), fue el librode viajes más célebre de laEdad Media.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 50/164
48
creer, es –a despecho de la razón– dejarse arrebatar por la ficción, como
se deprende de su respuesta al canónigo:
Calle vuestra merced, no diga tal blasfemia, y créame que le aconsejo
en esto lo que debe de hacer como discreto, sino léalos y verá el gustoque recibe de su leyenda. Si no, dígame: ¿hay mayor contento que ver,
como si dijésemos, aquí ahora se muestra delante de nosotros un gran
lago de pez hirviendo a borbollones, y que andan nadando y cruzando
por él muchas serpientes, culebras y lagartos, y otros muchos géneros
de animales feroces y espantables, y que del medio del lago sale una voz
tristísima que dice: ‘Tú, caballero, quienquiera que seas, que el temeroso
lago estás mirando, si quieres alcanzar el bien que debajo de estas ne-
gras aguas se encubre, muestra el valor de tu fuerte pecho y arrójate en
mitad de su negro y encendido licor, porque si así no lo haces, no serás
digno de ver las altas maravillas que en sí encierran y contienen los siete
castillos de las siete fadas que debajo de esta negrura yacen’? ¿Y que
apenas el caballero no ha acabado de oír la voz temerosa, cuando sin
entrar más en cuentas consigo, sin ponerse a considerar el peligro a que
se pone y aun sin despojarse de la pesadumbre de sus fuertes armas,
encomendándose a Dios y a su señora, se arroja en mitad del bullente
lago, y cuando no se cata ni sabe dónde ha de parar, se halla entre unos
floridos campos (…) ? (I, 50).
En seguida Don Quijote describe el ameno paisaje que el Caballerodel Lago vislumbra, la majestuosa recepción en el castillo y su encuen-
tro con una hermosísima doncella que le cuenta “qué castillo es aquél
y de cómo ella está encantada en él, con otras cosas que suspenden al
caballero y admiran a los leyentes que van leyendo su historia” (I, 50).
Para abreviar su argumentación, Don Quijote asevera:
No quiero alargarme más en esto, pues de ello se puede colegir que
cualquiera parte que se lea de cualquiera historia de caballero andanteha de causar gusto y maravilla a cualquiera que la leyere. Y vuestra mer-
ced créame y, como otra vez le he dicho, lea estos libros, y verá cómo le
destierran la melancolía que tuviere y le mejoran la condición, si acaso
la tiene mala (I, 50).
Está claro que para ese aficionado lector, el gusto y la admiración
advienen del puro placer estético. Para él, decididamente, la verosimili-
tud no es condición imprescindible para la suspensión de los sentidos.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 51/164
49
C APÍTULO 04
4.3 Victoria del deleite
Mercedes Alcalá Galán observa que el pasaje del Caballero del
Lago ha suscitado diferentes interpretaciones de la crítica. Con fre-cuencia es visto como contrapunto paródico a las teorías del canóni-
go. No obstante, Alcalá considera que este pasaje es un ars legendi, o
sea, un breve tratado sobre cómo se debe leer la ficción. Para Alcalá
la historia del Caballero del Lago, inventada por Don Quijote, ilus-
tra perfectamente el placer y la emoción que el lector puede gozar al
dejarse implicar con lo que está leyendo. La palabra escrita instiga la
imaginación, y esa lo hace ver, tocar, vivir emociones, puede hacer con
que las cosas ausentes sean evocadas con una intensidad casi superior
a la de la realidad de esas mismas cosas.
Alcalá juzga que es Don Quijote, con la narración del pasaje del
Caballero del Lago, quien vence el debate sobre teoría literaria que se
desarrolla en los capítulos 47 al 50. Destaca que la argumentación del
hidalgo manchego es una contundente defensa del deleite que, no obs-
tante, tiene una justificación ética: el contento que se recibe al leer mejo-
ra la condición del hombre, si acaso la tiene mala. Así, aunque relegue la
verosimilitud, Don Quijote salvaguarda el provecho moral de la lectura,ítem que los censores de la narrativa de ficción tenían en alta cuenta.
El Quijote es una espléndida respuesta de Cervantes a la condenaci-
ón de los libros de entretenimiento, afirma Alcalá. Para ella, a través de
la ingeniosa parodia, Cervantes concibe una reivindicación del valor de
la ficción desde la ficción. Él no se deja atrapar por el discurso contrario
a la fabulación y, emblemáticamente, subvierte el debate representándo-
lo como parte integrante de una obra ficcional.
Por fin, parece cierto decir en el Quijote Cervantes concede privile-
gio a la ficción, insertando varios géneros de novela, lírica y teatro que
enriquecen el largo cauce de la trama caballeresca con historias inter-
caladas y episódicas aventuras. Sin embargo, personajes, hechos y con-
flictos históricos muchas veces se asoman a la ficción, incrementando la
verosimilitud. Además, la coherencia histórica constantemente veda el
paso a los devaneos caballerescos del ingenioso hidalgo manchego.
Uno de ellos transluce en el fingido origen arábigo delQuijote (I, 9). El hallazgo deunos papeles antiguos en que
se cuenta la trama caballe-resca es una parodia a la tra-dicional costumbre de indicaruna fuente remota para esaclase de ficción, tales comomanuscritos griegos o latinos.No obstante, al inventarun historiador musulmán,Cide Hamete Benengeli, y untraductor morisco aljamiado,
Cervantes toca una cues-tión política de su tiempo:la presencia de la cultura yla lengua árabes en España,cuyas manifestaciones esta-ban prohibidas desde 1566.El tema será tratado con más
profundidad en los próximoscapítulos.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 52/164
50
Esta obra constituye un novedoso experimento novelístico que
abarca los más diversos y estimados recursos del arte poético de su
tiempo. Por consiguiente, la fina ironía cervantina, que rezuma de las
páginas del libro, da sabrosa lección a los lectores, a la vez que los di-
vierte con los pasajes cómicos, los absorbe con las complejas discusio-
nes, con el suspenso y las detalladas descripciones; los maravilla con la
materia amorosa, los encanta con la diversidad de personajes y episo-
dios, los arrebata con las acciones inusitadas de caballero y escudero, sus
curiosos diálogos y con las sorpresas de sus sucesivos desplazamientos.
Todo el Quijote es una invitación a creer mientras se lee, a deleitarse con
el placer estético y la exquisita razón de cada una de sus páginas.
Bibliografía consultada
ALCALÁ GALÁN, Mercedes. Escritura desatada: poéticas de la representa-ción en Cervantes. Alcalá de Henares: Centro de Estudios Cervantinos,2009.
ARISTÓTELES. Poética. Trad. ed. Eudoro de Souza. 7. ed. Lisboa: ImprensaNacional – Casa da Moeda, 2003.
IFE, B. W. Lectura y ficción en el Siglo de Oro. Trad. Jordi Ainaud. Barcelona:Crítica, 1992.
RIQUER, Martín de. Introducción. In: CERVANTES S., Miguel de. El inge-nioso hidalgo don Quijote de la Mancha. Barcelona: Planeta, 1990, p. XVI-LXXXIV.
_____. Cervantes y el “Quijote”. In: CERVANTES S., Miguel de. El ingeniosohidalgo don Quijote de la Mancha. Ed. y notas Francisco Rico. Madrid: RealAcademia Española; Asociación de Academias de la Lengua Española,2004, p. XLV-LXXV.
VARGAS LLOSA, Mario. Presentación. In: WILLIAMSON, Edwin. El Quijote
y los libros de caballerías. Trad. Mª Jesús Fernández Prieto. Madrid: Taurus,1991, p. 11-17.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 53/164
Unidad CCruce de textos y trayectorias
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 54/164
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 55/164
53
C APÍTULO 05
Máquina de géneros
El vocablo “máquina”, en este capítulo, remite a los preceptos poéticos delos siglos XVI y XVII, en los que arte es sinónimo de técnica y el artista es
concebido como un artesano, que tiene que conocer y dominar con primor
una serie de técnicas e instrumentos para componer un bello artefacto, eso
es, una gran obra de arte. La combinación entre las normas literarias y el
ingenio del autor resultan en un texto de gran artificio, o sea, de gran valor
artístico. En este contexto el término “máquina” alude a la ingeniosidad
del autor, que se expresa por medio de una novedosa combinación de téc-
nicas. En este capítulo, queremos ayudarte a percibir cómo Cervantes fueun magnífico artífice de la narrativa de ficción al reunir distintos géneros
literarios en la composición del Quijote. A ver qué opinas al final…
5.1 La novela pastoril y la sentimental
Caro alumno, podemos imaginar que, en el siglo XVII, sería nor-
mal y corriente que alguien que anduviese por los caminos de la Man-
cha, al caer de la noche, encontrase acogida entre un grupo de pastores
de cabras, y que fuera invitado a sentarse sobre unas pieles de ovejas y a
servirse de un caldero que bien olía a guisado de cabra. Igualmente, que
esos anfitriones tuvieran por “larga arenga” un discurso como el de la
Edad Dorada, proferido por Don Quijote y que, sin embargo, se com-
placieran con el sonido del rabel y con un romance de amor cantado por
un compañero suyo, como ocurre en los capítulos 11 y 12. Tales hechos
parecen sacados de la vida cotidiana.
¿Y qué decir de Grisóstomo, el “famoso pastor estudiante” que mue-
re de amores? ¿Y de la bella Marcela, hija de labradores ricos que se viste
de pastora y vive en el campo, buscando la soledad y el cuidado de su
ganado (I, 12-14)? Esos jóvenes, de familias adineradas, parecen sacados
de un género literario: el de las novelas pastoriles.
Ángel Basanta explica que la novela pastoril tiene sus antecedentes
en la poesía grecolatina, en los Idilios, de Teócrito, y en las Bucólicas,
5
Don Quijote y los “cabreiras”.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 56/164
54
de Virgilio. Como género narrativo, tuvo su apogeo en el Renacimiento
italiano, consagrado en La Arcadia (1504), de Jacobo Sannazzaro. La pri-
mera manifestación de la novela pastoril en España fue La Diana (1559),
de Jorge de Montemayor, que tuvo varias continuaciones. Entre otros
autores que se dedicaron al género, figuran Cervantes, con La Galatea
(1585) y Lope de Vega, con La Arcadia (1598).
Los personajes de esas novelas son pastores que poco tienen que
ver con la realidad, puesto que son jóvenes cultos y refinados que se
retiran al campo. En el ambiente y en los afectos predomina la filosofía
y la estética neoplatónica, por ello la naturaleza es idílica, orientada por
el tópico del locus amoenus. Para estos platónicos pastores el amor es
fuente de un dolor gustoso que se resuelve en música y poesía. Así, enel sosiego de los verdes prados, mientras pace el ganado, los pastores
se dedican a la conversación, a tocar instrumentos y a declamar versos
cuyo tema constante es el amor: el no comunicado, el no correspondido;
los celos, el amor que no se puede olvidar y, en menor medida, la feliz
correspondencia. El puro amor de los pastores se destina al legítimo ma-
trimonio, venturoso final con el cual terminan los dolorosos trances.
En esas novelas algunas veces aparece la peculiar figura de la pasto-
ra que no quiere amar, fuente del pesar de sus enamorados. Este pareceser el modelo imitado por Marcela (I, 12-14), que no esquiva la honesta
conversación con los pastores, pero rehúye a todo trato amoroso.
No es común a la novela pastoril el trágico final a que llega el de-
sesperado Grisóstomo. Tal desenlace es propio de otro género, el de las
novelas sentimentales. Como ocurre en la novela pastoril, el enredo de
la sentimental se concentra en los afectos amorosos de sus personajes,
no en la acción. Así que los personajes no actúan de modo relevante. La
narración se ocupa de los movimientos del alma, que traducen el sentir
de los personajes.
La particularidad de la novela sentimental es que el amor se torna
una enfermedad del alma y domina la razón, de modo que los obstácu-
los a la correspondencia amorosa conducen a la desesperación y conse-
cuente muerte de uno de los amantes Cárcel de amor (1492), de Diego de
San Pedro, es la más conocida obra española de ese género, que floreció
Se puede consultar fácilmenteesta obra en internet
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 57/164
55
C APÍTULO 05
en la segunda mitad del siglo XV, y ejerció gran influjo sobre la materia
amorosa de la narrativa y de la lírica posteriores.
En el Quijote, Cervantes tiene el cuidado de distinguir los verda-
deros cuidadores de cabras y ovejas de los fingidos. Los distingue nom-brando a ésos “cabreros” y a los otros “pastores”. La pacífica y amistosa
convivencia es verosímil y, sobre todo, ilustra magníficamente el precep-
to aristotélico de imitación. Según la Poética, arte es mímesis (imitación).
Imitar es copiar artísticamente los modelos, que pueden ser tomados de
la vida o del arte, así como hace el pintor cuando pinta un cuadro; el dra-
maturgo, cuando compone una comedia de honor o un auto sacramental ;
o el poeta, cuando compone un romance, por ejemplo. En la España de
los siglos XVI y XVII, cada género de arte tiene sus modelos canónicosy sus normas. El artista que quiere ser respetado por sus iguales y por el
público deberá reverenciarlos y cumplirlos.
Sería posible suponer que la coexistencia de cabreros y pastores en-
tre los capítulos 12 y 14 de la primera parte del Quijote reitera uno de
los criterios de composición de la obra: hacer convivir pacíficamente y
placenteramente la tradición artística y literaria con la vida corriente.
A la vez, al combinar harmoniosamente dos géneros de novela, elpastoril y el sentimental, el agudo Cervantes luce su capacidad de emu-
lar los modelos. La emulación, de acuerdo con el arte poético clásico,
en boga en la España de los siglos XVI y XVII, atañe a la capacidad de
introducir algo nuevo a los consagrados modelos, a fin de sorprender y
admirar al lector
5.2 El tratado de cortesanía
Respecto a la recepción del lector, cabe preguntar: ¿no te ha sor-
prendido, caro estudiante, la descripción de Sancho sobre sus conoci-
mientos acerca de los buenos modales a la hora de comer? Al principio
del capítulo 11, el campesino -ahora en el papel de escudero- declina la
invitación de su amo para sentarse a su lado a comer con los cabreros
por evitar el ceremonioso modo cortés “donde me sea forzoso mascar
despacio, beber poco, limpiarme a menudo, no estornudar ni toser si
Recuerda que has estudiadoesos distintos géneros teatra-les en Introdução ao estudodo texto poético e dramático(sección 8.7)
Encuentras la definición deromance en Introdução aoestudo do texto poético edramático (Unidad A, sec-ción 3.2.2), y el ejemplo enel Quijote , en el romance deamor cantado por el cabrero
Antonio (I, XI).
Don Quijote y Sancho van a
encontrarse otras veces congente culta que elige imitarel modo de vida de los per-sonajes de las novelas pas-toriles. Primero, al conoceral pastor Eugenio, que rela-ta la historia de Leandra (I,51), y, en la segunda parte,al topar con el grupo quese entretiene “formandoentre todos una nueva ypastoril Arcadia” (II, 58).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 58/164
56
me viene gana” (I, 11). Este breve protocolo seguramente adviene de un
género de lectura muy común en aquellos tiempos: los tratados de cor-
tesanía. La vida en la corte suponía el dominio de la etiqueta al vestirse,
comportarse, hablar, beber y comer. Uno de los tratados más populares
fue el Galateo español (1593), de Lucas Gracián Dantisco. Al deleite de
oír a Sancho luciendo su saber respecto a las normas de conducta en la
corte, debes añadir, lector atento, el provecho que la novela te brinda.
El provecho, como se ha mencionado en el capítulo anterior, era una
de las metas de la poesía, pudiendo abarcar toda clase de materia, de los
diferentes temas y aspectos del conocimiento, que ofrezca enseñanza al
receptor. Vale destacar que uno de los preceptos más estimados en las
artes de los siglos XVI y XVII, en España, era que el arte debería deleitarenseñando. Cervantes, como se nota, a todo estaba atento.
5.3 Las novelas de caballerías y otrosartificios
Terminada la historia de los amores de Grisóstomo y Marcela, Don
Quijote y Sancho siguen su camino en búsqueda de aventuras (¿o serí-
an desventuras?) caballerescas, en las que el manchego paladín pueda
dar prueba de su valor. Indudablemente, de las novelas de caballerías
advienen los ímpetus de Don Quijote para castigar a los yangüeses que
apalearon a Rocinante (I, 15). El valor del caballero, no obstante, no se
confirma. Para animar a Sancho a embestir contra los yangüeses, Don
Quijote asevera: “yo valgo por cien” (I, 15). Pero, al fin y al cabo, amo
y escudero acaban tan malparados como el incontinente Rocinante. La
justificativa para la resonante derrota proviene de tales novelas.
Del manantial de historias amorosas caballerescas emanan los
arrebatos nocturnos de Don Quijote hacia Maritornes, causa de la gran
pendencia entre el enamorado caballero y el celoso arriero, así como
de la escaramuza entre Sancho y Maritornes (I, 16). Las páginas de los
libros de caballerías también son la fuente de la receta del bálsamo de
Fierrabrás. Sin embargo, su efecto curativo no se transmuta en la dolo-
rosa realidad de Don Quijote y Sancho. En vez de sanar, el famoso bál-
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 59/164
57
C APÍTULO 05
samo agrava los males de los personajes, rebajándolos de la idealizada
representación heroica y sublime que el compromiso con el universo
caballeresco podría suponer, a la más llana condición humana, cuyas
escatológicas manifestaciones producen escenas que mueven a risa. Las
palizas de los yangüeses (I, 15); los puñetazos, el vómito, los sudores y
la diarrea en la venta de Palomeque (I, 16-17); las pedradas, los dientes
rotos y nuevos vómitos que resultan de la embestidura contra el ejército
de ovejas (I, 18); los gases intestinales y posteriores consecuencias en la
aventura de los batanes (I, 20) son elementos completamente ajenos a la
elevada categoría de las narrativas de ficción caballeresca. El efecto hu-
morístico caracteriza a estos componentes como propios de los géneros
menores del teatro cómico.
Parece acertado identificar, en la no acostumbrada combinación
de acción caballeresca con efecto cómico, el frecuentemente modus
operandi de la parodia a los libros de caballerías. Mientras avances en
la lectura, curioso aprendiz, seguramente identificarás otras estrategias
del ingenioso Cervantes. Es importante notar que la parodia a los libros
de caballerías es un género que no existía antes del Quijote. Cervantes
lo inventó a partir de la primorosa combinación entre las artes ya co-
nocidas y la realidad circundante. El éxito de la fórmula es garantizado
por el resultado obtenido: no viola las normas del arte, tampoco ofende
la razón. Pues es razonable – y, por consiguiente, completamente vero-
símil - que si un hombre armado de lanza embiste con su caballo contra
una manada de ovejas reciba unas tantas pedradas de los ovejeros que
las cuidan, ¿no te parece?
Pero el Quijote no es sólo una parodia a los libros de caballería,
ya lo han advertido renombrados cervantistas. Hay mucho más en sus
caudalosas páginas.
Para analizar la riqueza compositiva de la obra es necesario desta-
car la contribución de Sancho. Él es uno de los principales responsables
por abrillantar las páginas de la novela con la cultura popular, especial-
mente por medio de los dichos y refranes, además de otros géneros de
narrativa. Uno muy preciado es el cuento, que en diferentes momentos
adorna el coloquio del labrador-escudero, como ocurre en el capítulo 20,
en el que, para entretener el tiempo, Sancho narra el cuento de la pastora
Puedes revisar los génerosmenores del teatro cómicoen Introdução ao estudo dotexto poético e dramático(Unidad B, 7).
Sancho se desagua después de
beber el Bálsamo de Fierrabrás (I,
17). Ilustración de Gustave Doré
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 60/164
58
Torralba. Esa clase de narrativas cortas, con diversos temas, era reunida
en colecciones de amplia divulgación. Muy conocidas fueron Patrañuelo
(1565), y Sobremesa y alivio de caminantes (1569), de Juan de Timoneda.
Nótese que ya en el título de la segunda obra mencionada es evidente la
finalidad de entretener.
5.4 La novela picaresca
Para entretener al lector y tornar más dulce y apetecible las pági-
nas de las largas novelas, los autores deberían introducir variedad. La
variedad puede expresarse a través de las aventuras, los personajes, los
episodios, el estilo, entre otros elementos de la composición. Ese pre-cepto clásico del arte poético (cf. Poética, cap. XXIII) fue actualizado en
España por López Pinciano, en Philosophía Antigua Poética (1596). En la
Epístola V, al prescribir las calidades de la fábula (sinónimo de historia,
enredo), Pinciano afirma que debe ser una y varia. O sea, debe tener a la
vez unidad y variedad. La unidad se refiere a la acción, a la persona y al
tiempo, mientras que la variedad se extiende, además, a la locución y a la
materia, o sea, al asunto. En el Quijote, la unidad se conforma en la figura
y la acción de los protagonistas principales, amo y escudero, mientrasque la variedad se expresa, entre otras formas, por la máquina de géneros
que se incorpora a la narrativa principal.
Ya hemos visto cómo la novela pastoril y la sentimental se adhie-
ren a la trayectoria del caballero manchego. No obstante, debemos notar
que algunos encuentros, como el de Don Quijote con los cabreros y los
pastores, nada influyen en las metas o en el itinerario del caballero. Tam-
poco él interfiere su historia, aunque no siempre es así.
En el capítulo 22, de la primera parte, Don Quijote y Sancho topan
con un grupo de galeotes o, como Sancho explica: “gente que por sus
delitos va condenada a servir al rey en las galeras, de por fuerza”.
Don Quijote pone toda su atención en el hecho de que ellos son
“gente forzada”, circunstancia que, en las novelas de caballerías, es el ori-
gen de muchas heroicas aventuras, en las que el paladín liberta seño-
ras, doncellas, o algún personaje insigne de la prisión de algún rey cruel
Don Quijote y los prisoneros.
Ilustración de Gustave Doré.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 61/164
59
C APÍTULO 05
o gigante maligno. Los términos “gente forzada”, por lo tanto, lo hacen
pensar que “aquí encaja la ejecución de mi oficio: deshacer fuerzas y so-
correr y acudir a los miserables”.
Pero, los galeotes son gente soez que se burla de la ingenuidad ycuriosidad de Don Quijote. El más peligroso entre todos es Ginés de
Pasamonte, descrito por el guardia como atrevido y gran bellaco. Él co-
metió el mayor número de delitos, pero se enorgullece de su biografía,
tanto que la escribió de puño propio: La vida de Ginés de Pasamonte. Él
supone que la calidad de su libro puede destituir el principal modelo en
su categoría: “mal año para Lazarillo de Tormes y para todos cuantos de
aquel género se han escrito o escribieren” (I, 22).
El Lazarillo de Tormes (1554), de autor anónimo, es la obra que
inauguró el género de la novela picaresca. Se presenta como una obra
autobiográfica, escrita en primera persona. El pícaro, como es llamado
ese tipo de personaje, cambia sucesivamente de amo y de lugar, delatan-
do los vicios de las distintas clases sociales. El pícaro finge ser lo que no
es para obtener beneficio propio. Frecuentemente usa su astucia para
engañar a sus amos y superar las dificultades que se le presentan, por eso
es considerado por la crítica moderna como un anti-héroe.
Ángel Basanta indica que el Lazarillo de Tormes tuvo éxito edito-
rial inmediato. Su modelo fue seguido en el Guzmán de Alfarache (en
dos partes, 1599 y 1604), de Mateo Alemán, configurando plenamente
el género. Otros escritores también se aplicaron al tema, en una segunda
etapa de la picaresca. Cervantes aprovecha algunos rasgos del género en
Rinconete y Cortadillo, una de sus Novelas ejemplares (1613).
Algunos críticos sustentan la opinión de que Don Quijote y Sancho
también tienen carácter picaresco. Como no hay unanimidad sobre elasunto, te invitamos a formar tu propia opinión, caro estudiante.
Martín de Riquer, por ejemplo, opina que, en el Quijote, la novela
picaresca apenas asoma en la figura de Ginés de Pasamonte, en la men-
ción a su libro y en la actitud de los demás los galeotes, que muestran su
habilidad con los juegos de palabras para, irónicamente, fingir no ser lo
que son. En cuanto a la trayectoria de Don Quijote, es importante obser-
Recuerda que has estudiadoeste tema en Introdução aosEstudos da Narrativa (UnidadI, sección 1.2.1.b).
Estatua del niño Lazarillo guian-
do al ciego (Salamanca)
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 62/164
60
var que el encuentro con esos personajes altera su itinerario. Después de
libertarlos, se encamina a la Sierra Morena -movido por la prudencia de
Sancho, que teme la acción punitiva de la Santa Hermandad-.
5.5 La comedia y la novela corta
Cuantiosa variedad traerá a la narrativa principal el encuentro del
Caballero Manchego con el Caballero del Bosque, o sea, el desesperado
y enamorado Cardenio (I, 23). En la Sierra Morena, la historia de los
amores de Cardenio y Luscinda se entrecruza con la de los amores de
Dorotea y don Fernando. La trama amorosa reúne elementos que tie-
nen mucha semejanza temática con la comedia de capa y espada, consus conflictos de amor y honor de la gente noble, los cuales terminan
siempre en matrimonio.
Debemos observar que Don Quijote no interfiere en estas historias,
que se desarrollan paralelamente a la suya (I, 23–37). En cambio, Car-
denio, desesperado de amor –como los personajes de las novelas senti-
mentales y algunos de las novelas de caballerías-, inspira la penitencia
amorosa de don Quijote, que se dispone a imitar los trances de Amadís
de Gaula en la Peña Pobre, cuando se imagina rechazado por su amada
Oriana (cf. RIQUER (I, 25)). También Dorotea participa activamente de
la farsa inventada para reconducir al caballero a su aldea, representando
a la Princesa Micomicona.
Entretanto, estas historias que se comunican se distinguen de la
Novela del curioso impertinente (I, 33-35), que se introduce en la narra-
tiva principal como lectura, no como acción. Ese enredo configura una
novela corta, un género de narrativa de ficción que sería propiamenteinaugurado en la lengua española por la pluma de Cervantes, algunos
años después, con sus Novelas ejemplares (1613).
Los antecedentes del género novela corta española son los cuentos
orientales, como las Mil y una noches; el Libro de los ejemplos del Con-
de Lucanor (1335), de Don Juan Manuel; las novelas italianas, especial-
mente el Decamerón (1348-1353), de Boccaccio y las Novelle, de Matteo
Bandello (1485-1561). Además de la materia novelística, propia de la
Podemos citar como ejemplolas famosas comedias deLope de Vega El perro del
hortelano y La dama boba.En La vida es sueño, de Cal-derón de la Barca, el drama
vivido por Rosaura en muchosaspectos se asemeja al deDorotea. Puedes leer estas
obras en www.cervantesvir-tual.es
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 63/164
61
C APÍTULO 05
narrativa de ficción, la novela corta recibe gran influjo del teatro en ese
período de gran florecimiento de las artes españolas.
Martín de Riquer define el artificio cervantino de imbricar los dis-
tintos géneros, en sucesivas historias y episodios, como “literatura dentrode literatura” (RIQUER, 1990, LXI). Vargas Llosa asemeja ese procedi-
miento estético a las “cajas chinas” (1997). No obstante, para comprender
el valor artístico del Quijote y, especialmente, de la ingeniosa máquina
de géneros que Cervantes pone en marcha a lo largo de la narrativa, con-
viene advertir que cada género estaba regido por sus propias normas,
conocidas por todos a través de las obras canónicas que los configuran
y representan. Esa ponderación nos permite concluir que la armoniza-
ción de distintos géneros, narrativos y dramáticos, exige del autor grandominio del arte narrativo, así como agudeza de ingenio para adecuar la
vasta tradición a los rigores de la verosimilitud.
5.6 La novela morisca
En la primera parte del Quijote, a partir del capítulo XVI, parece
que todos los caminos conducen a la venta de Palomeque. La sucesiva
llegada de nuevos huéspedes motiva la narración de otra sabrosa histo-
ria, que suspende el ánimo de los oyentes con sus intrincados trances
y el de los lectores con su sazonada variedad. Así es que la historia del
Cautivo y Zoraida (I, 37-42) incorpora a la trama caballeresca los in-
gredientes de la novela morisca: el espacio argelino. La trama abarca los
conflictos entre cristianos y musulmanes, así como el lenguaje incorpo-
ra gran número de arabismos.
Ángel Basanta afirma que la novela morisca es un fenómeno lite-rario genuinamente español que tiene sus raíces históricas en la larga y
conflictiva convivencia entre moros y cristianos. Señala como más sig-
nificativas obras del género, la anónima Historia del Abencerraje y la her-
mosa Jarifa (incluida en la Diana (1562), de Jorge de Montemayor), la
Historia de Ozmín y Daraja (intercalada en la primera parte del Guzmán
de Alfarache (1599), de Mateo Alemán), y las Guerras civiles de Granada
(1595 y 1619), de Ginés Pérez de Hita, la única obra extensa del género.
Puedes revisar el texto deVargas Llosa en Introduçãoaos Estudos da Narrativa(Unidad III, sección 1.2).
Representación de la novela
morisca. Ilustración de Gusta-
ve Doré.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 64/164
62
A ejemplo de otros cervantistas, Martín de Riquer señala que la
historia del Cautivo contiene algunos datos biográficos de Cervantes,
que estuvo cautivo en Argel durante cinco años. Por lo tanto, es verídico
el “soldado español llamado tal de Saavedra” (I, 40), como también los
protagonistas de esa trama.
Cervantes también abordó el tema morisco en sus comedias Los
tratos de Argel y Los baños de Argel . En la segunda parte del Quijote, la
temática morisca es retomada a través del encuentro de Sancho con su
vecino Ricote (II, 54) y de la historia de Ana Félix (II, 63-65).
5.7 El género epistolar Seguramente añade gracia y variedad a la narración de las aven-
turas y desventuras del caballero manchego la inserción del género epis-
tolar. El envío de cartas es un rasgo particular de las novelas sentimenta-
les. Las misivas, enviadas en secreto, permiten a los amantes comunicar
libremente sus sentimientos. Muchas veces ellas determinan una peripe-
cia, eso es, un cambio en la dirección de la acción (cf. Poética, cap. XI).
El género epistolar fue utilizado también en las novelas de caballe-rías, especialmente en la comunicación de los enamorados. Por ejemplo,
es a través de una carta que Oriana comunica a Amadís que rechaza su
amor porque sospecha de su lealtad. En esa carta, Oriana ordena que
Amadís no vuelva a aparecer ante sus ojos, ni ante nadie. La misiva, por
lo tanto, opera como peripecia que lleva al caballero a la desesperación,
al abandono del servicio amoroso y de las aventuras, como también a
aislarse, como penitente, en la Peña Pobre. Otra carta traerá el pedido de
perdón de Oriana y la súplica para que Amadís vaya a verla en el castillode Miraflores ( Amadís de Gaula, Libro II, cap. 4-6).
En el Quijote, en cambio, las cartas tienen variados emisarios y
destinatarios, asuntos, estilos y finalidades. Esos elementos motivan el
uso, o no, de formas de tratamiento, de fórmulas de saludo y despedida
que tradicionalmente configuran el género. Te invitamos, caro estudian-
te, a observar los mencionados aspectos en la carta de un “desdeñado
amante” (I, 23), la “libranza pollinesca” (I, 25), la “Carta de don Quijote
La hermosa mora se llamaba Zahara, era hija del renegado
Hajji Murad y, por parte demadre, nieta de una mallor-
quina que había sido cautiva-da. Zahara casó en 1574 con
Abd al-Malik, hombre muyafecto a los cristianos y a sus
costumbres. Después de sumuerte, contrajo segundasnupcias con Hasán Bajá (el Azán Agá que se cita en el
capítulo 40, que perdonó tresveces la vida a Cervantes),
y desde 1580 vivió en Cons-tantinopla (RIQUER, 1990, p.
415).
Madrid Biblioteca Nacional – Co-
lección de ilustraciones de Cárcel
de Amor (1492), de Diego de San
Pedro (1437-1498). Grabado por
Rosembach. Original en el Museo
Británico (cvc.cervantes.es – ac-
ceso 11/2/11)
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 65/164
63
C APÍTULO 05
a Dulcinea del Toboso” (I, 25) y en el mensaje y la carta de Luscinda a
Cardenio (I, 27). En la segunda parte del Quijote la correspondencia por
carta se intensifica. Merece especial atención la “Carta de Sancho Panza
Teresa Panza, su mujer” (II, 36), la “Carta de don Quijote de la Mancha a
Sancho Panza, Gobernador de la ínsula Barataria” (II, 51) y la “Carta de
Sancho Panza a don Quijote de la Mancha” (II, 51). Léelas y verás cómo
esa correspondencia contribuye de modo particular a la composición de
ese libro sin par.
En conclusión, parece cierto decir que la inusual máquina de gé-
neros ingeniada por Cervantes, en el Quijote, pone de relieve la capa-
cidad inventiva del autor. Muchos críticos aseveran que la magnífica
imbricación de narradores, narrativas y géneros configura los funda-mentos de la novela moderna. No obstante, vale notar que el Quijote
no llegaría a nosotros si no fuera un éxito de venta en sus días, eso es,
si no hubiera cumplido con los preceptos del arte de su tiempo, si no
hubiera admirado a sus miles de lectores por la variedad y unidad, por
su provecho y verosimilitud y, especialmente, si no los hubiera deleita-
do con su grandioso artificio.
Bibliografía consultada
ARISTÓTELES. Poética. Trad. ed. Eudoro de Souza. 7. ed. Lisboa: ImprensaNacional – Casa da Moeda, 2003.
BASANTA, Ángel. Cervantes y la creación de la novela moderna. Madrid:Anaya, 1992.
BOBES, Carmen et allí. Historia de la teoría literaria, II. Poéticas clasicistas.Madrid: Gredos, 1998.
LÓPEZ PINCIANO. Philosophía Antigua Poética. Ed. Alfredo Carballo Pica-zo. Madrid: Instituto Miguel de Cervantes, 1973. 2.v. (Biblioteca de Anti-guos Libros Hispánicos, serie A, v. 19).
RILEY, E.C. Teoría de la novela en Cervantes. Trad. Carlos Sahagún. 3. ed.Madrid: Taurus, 1981.
RIQUER, Martín de. Ed. Introducción y notas. In: CERVANTES, Miguel de.El ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha. Barcelona: Planeta, 1990.
Recuerda, atento estudian-te, que en su primera sali-da Don Quijote finge estaragraviado con Dulcinea
por haberle despedido yordenado que no volvieraa aparecer ante ella (I, 1).Probablemente, está imi-tando la pasión amorosade Amadís.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 66/164
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 67/164
65
C APÍTULO 06
La negociación de la realidad
Caro estudiante, este capítulo pretende reunir los principales trazos del ca-rácter de los tres personajes principales de la novela, así como arrojar luces
sobre los conflictos de opinión y de percepción de la realidad entre Don
Quijote y Sancho, con especial atención en lo que se refiere a Dulcinea, en
los capítulos finales de la Primera Parte. Es importante que observemos los
meandros del pensamiento y de las intenciones de estos personajes para
que comprendamos cómo las aventuras, la larga conversación y el amistoso
peregrinaje ejercen especial efecto en el ánimo del caballero y del escudero.
6.1 Don Quijote, caballero andante
Para tratar el exquisito tema de la locura de Alonso Quijano, que
se cree el caballero andante Don Quijote de la Mancha, conviene re-
cordar algunos significativos hechos. Primeramente, fijémonos en su
estado de ánimo al final del primer día de la primera salida: “Casi todo
aquel día caminó sin acontecerle cosa que de contar fuese, de lo cual
se desesperaba, porque quisiera topar luego luego con quien hacer ex-
periencia del valor de su fuerte brazo” (I, 2). El brioso hidalgo está en
búsqueda de las aventuras, actitud constante de todos los héroes de las
novelas de caballerías. En El Quijote y los libros de caballerías (1991),
Edwin Williamson explica que por intermedio de las aventuras, el ca-
ballero “lleva a la práctica sus poderes latentes, superando todas las
complicaciones y eventualidades que pone a su paso el mal o el azar”
(p. 56). Así que, sin victoriosas hazañas, no existe el héroe caballeresco.
Son las aventuras, por lo tanto, el medio por el cual el hidalgo manche-go podrá confirmar su capacidad para actuar como caballero andante.
En segundo lugar, debemos notar que el primer encuentro del novel
caballero no le brinda una aventura, sino el reconocimiento de que el uni-
verso de las novelas que ha leído puede ser transfigurado en el paisaje
de la Mancha:
Anduvo todo aquel día, y, al anochecer, su rocín y él se hallaron can-
sados y muertos de hambre; y que, mirando a todas partes por ver si
Novel caballero es aquel quetodavía no ha sido armadocaballero andante. En lasnovelas, normalmente ocupaese papel el joven que es pre-
parado para la vida caballe-resca por un caballero mayor
y más experimentado.
6
Dibujo de H. Pisan (mundomilita-
ria.es - acceso 11/2/11)
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 68/164
66
descubría algún castillo o alguna majada de pastores donde recogerse
(…) vio, no lejos del camino por donde iba, una venta, (…) y como a
nuestro aventurero todo cuanto pensaba, veía o imaginaba le parecía
ser hecho y pasar al modo de lo que había leído, luego que vio la venta
se le representó que era un castillo con sus cuatro torres y chapiteles deluciente plata, sin faltarle su puente levadiza y honda cava, con todos
aquellos adherentes que semejantes castillos se pintan (I, 2).
El narrador omnisciente deja claro que el ingenioso hidalgo vio
una venta, y que en su mente la transmutó en castillo. Sin embargo, lo
que ocurre enseguida le permite continuar con su fabulosa imagina-
ción: había mujeres mozas en la puerta, como suele haber doncellas
en la entrada de los castillos para recibir a los caballeros. Y, cuando el
viajero imaginó que “algún enano se pusiese entre las almenas a darseñal con alguna trompeta de que llegaba caballero al castillo”, sucedió
acaso que “un porquero que andaba recogiendo (…) una manada de
puercos (…) tocó un cuerno, a cuya señal ellos se recogen, y al instante
se le representó a don Quijote lo que deseaba, que era que algún enano
hacía señal de su venida” (I, 2). Por consiguiente, en su imaginación el
ritual de recepción del caballero andante se efectúa.
Esos acontecimientos tienen importancia capital a la hora de exa-
minar la locura de Don Quijote: nos revelan que él no es un loco rema-
tado. Su demencia no se explica por las teorías médicas o psicológicas
–sean modernas o de la época-, señala Williamson. Su locura opera por
medio de la semejanza. Su ingeniosa memoria acomoda lo que ve y oye
por los caminos de la Mancha a lo que leyó en los libros de caballerías.
Williamson afirma que la locura de Don Quijote “no es arbitraria,
obedece a un sistema que regula su comportamiento y estructura sus ar-
gumentos”, lo que impide que él se convierta en una marioneta de una far-sa cómica. El cervantista advierte que este sistema ético, guerrero y senti-
mental deriva de los conceptos y convenciones de los romances artúricos.
En la Unidad B ya se ha comentado que, en la aventura de los
mercaderes (I, 4-5), pasada la “tempestad de palos”, el molido caballero
“acordó de acogerse a su ordinario remedio, que era pensar en algún
paso de sus libros, y trújole su locura a la memoria aquel de Valdovi-
nos y del Marqués de Mantua” (I, 5). Por lo tanto, Don Quijote también
Los romances artúricos son, por ejemplo la leyenda del
Santo Grial, la del Rey Arturo y los caballeros de la tabla
redonda, de Lancelot, deParcifal, entre otras. Como se
ha mencionado, estas obrasmedievales configuran loscánones de las novelas de
caballerías.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 69/164
67
C APÍTULO 06
encuentra en las historias de los libros que leyó la justificación para sus
desventuras. Al ser semejante a lo que le pasó a algún famoso caballero,
la adversidad confirma que él, Don Quijote, está realmente imitando los
bravíos hechos de sus héroes.
En la aventura de los molinos de viento (I, 8), Don Quijote acude
a otra clase de argumento: la intervención del sabio Frestón, que le
tiene envidia y cambia el aspecto de las cosas “por quitarme la gloria”.
Ese razonamiento debería convencer a Sancho, y al lector, de que Don
Quijote, como los audaces caballeros andantes, es capaz de ver más allá
de las apariencias. Por eso él nos explica que, para que él no venciera
con su fuerte brazo a aquellos treinta o cuarenta desaforados gigan-
tes que andaban por los campos de la Mancha, el mago Frestón loshabía transformado en molinos de viento, para engañar los sentidos
del caballero. Si Don Quijote rindiera, en una batalla campal, a tantos
gigantes, seguramente alcanzaría inmensa gloria que, en este caso, es
sinónimo de fama de buen caballero.
Es importante tener en cuenta que en las epopeyas, las leyendas
artúricas y en las novelas de caballerías eran frecuentes los elementos
mágicos o sobrenaturales, como el Grial; los filtros como el que bebieron
Tristán e Iseo; espadas mágicas –como la que reveló la identidad del ReyArturo-; el encantamiento –como el que mantiene Ulises aprisionado en
la isla de Circe-; transfiguraciones –como la que opera el mago Merlín,
sobre el padre de Arturo, la noche en que éste es engendrado; las pocio-
nes –como el bálsamo de Fierrabrás- ; entre otros. De modo que al acu-
dir a la mágica transmutación para explicar los hechos que le acaecen,
Don Quijote echa mano de un argumento legítimo dentro de la lógica
de los libros de caballerías.
Es de acuerdo con tal lógica que el amo de Sancho ve e interpreta
la fabulosa transformación de frailes de San Benito en encantadores (I,
8), de gigantes en molinos (I, 8), de ejércitos en ovejas y carneros (I, 18),
de cabezas de gigantes en cueros de vino (I, 35). El cambio en la apa-
riencia de las cosas es obra de agentes malignos, enemigos sutiles que el
caballero andante debe percibir y combatir, a pesar de las advertencias y
opiniones en su contra. Además, si Don Quijote no busca las aventuras,
nunca será un famoso caballero.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 70/164
68
6.1.1 La penitencia en Sierra Morena
En nuestro tiempo posiblemente la más conocida aventura de Don
Quijote sea la de los molinos de viento. No obstante, tal vez la más im-
portante, en la Primera Parte, sea la penitencia en Sierra Morena. Ellaes fundamental para la configuración de la identidad caballeresca del
protagonista. La soledad y la aspereza de las montañas, el encuentro con
Cardenio, enloquecido y desesperado de amor, despiertan la memoria
del demente caballero y le infunden:
El deseo (…) de hacer en ellas [las montañas] una hazaña, con que he
de ganar perpetuo nombre y fama en todo lo descubierto de la tierra; y
será tal, que he de echar con ella el sello a todo aquello que puede hacer
perfecto y famoso a un andante caballero (I, 25).
Don Quijote planea imitar la penitencia de amor que hicieron
Amadís de Gaula y otros famosos caballeros, después de un desengaño
amoroso que los llevó a la desesperación. Para que la “hazaña” logre el
éxito que Don Quijote espera, es fundamental la colaboración de San-
cho. Por eso el caballero didácticamente le indica sus modelos, le expone
sus intenciones a fin de convencerlo a ejecutar debidamente la diligencia
que le será incumbida.
Inicialmente Don Quijote le explica a Sancho el principio de la imi-
tación. Le dice que “cuando un pintor quiere salir famoso en su arte,
procura imitar los originales de los más únicos pintores que sabe; y esta
misma regla corre por todos los más oficios o ejercicios que sirven de
adorno de la repúblicas” (I, 25). Así, el que quiera alcanzar la fama de
prudente, debe imitar a Ulises, y el que quiera ser conocido como buen
hijo y piadoso, debe imitar a Eneas.
En lo que toca a la caballería andante, Don Quijote afirma que:
Amadís fue el norte, el lucero, el sol de los valientes y enamorados caba-
lleros, a quien debemos imitar todos aquellos que debajo de la bandera
del amor militamos. Siendo, pues, esto ansí, (…) el caballero andante
que más le imitare estará más cerca de alcanzar la perfección de la ca-
ballería (I, 25).
Ulises es el protagonista de laOdisea, de Homero. El epítetoque define el carácter de Uli-
ses es prudente. Su prudencia se pone de manifiesto en losardides que trama para ven-cer los sucesivos obstáculosque encuentra para realizarlos propósito de retornar a
Ítaca y recuperar su señorío.
Eneas, huyendo de Troya (F.
Barocci, 1598).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 71/164
69
C APÍTULO 06
Una vez señalado a Amadís como el mejor modelo, Don Quijo-
te indica su acción más distinguida: “cuando se retiró, desdeñado de la
señora Oriana, a hacer penitencia en la Peña Pobre”.
Si el Amadís es el mejor ejemplo a imitar y si la penitencia es su másdistinguido hecho, es coherente que Don Quijote piense que:
Me es a mí más fácil imitarle en esto que no en hender gigantes, desca-
bezar serpientes, matar endriagos, desbaratar ejércitos, fracasar armadas
y deshacer encantamientos. Y pues estos lugares son tan acomodados
para semejantes efectos, no hay para qué se deje pasar la ocasión, que
ahora con tanta comodidad me ofrece sus guedejas (I, 25).
Para que entiendas mejor la ingeniosa mente de don Quijote, caro
alumno, es importante aclararte cuál es el valor simbólico de la ocasión.
La Ocasión es una deidad de la Antigüedad grecorromana, equivalente
a la Fortuna. Alegóricamente era representada como una mujer con los
ojos vendados y con largo pelo que se esparce en la parte delantera de la
cabeza. La venda indica su ceguera y el pelo en la delantera simboliza la
falta de dominio que los hombres tenían sobre ella, puesto que no podí-
an agarrarla por este medio. En las epopeyas, es la Fortuna o la Ocasión
el principal factor que determina la acción, como una clase de Destino
azaroso. Para que la Ocasión sea exitosa es necesario saber usarla. De
acuerdo con la filosofía neo estoica vigente en las epopeyas, en las no-
velas de caballerías y también en la ética de la España del siglo XVII, la
virtud de saber actuar de forma correcta en todas las ocasiones indica la
sabiduría y la prudencia del individuo (cf. MUHANA (org.), 2006).
Dicho esto, puedes advertir cómo Don Quijote interpreta su entor-
no, uniendo lo que es visible a su significación transcendente. Al identi-
ficar en la geografía y en la soledad de Sierra Morena la semejanza con laPeña Pobre, reconoce los indicios de que la Ocasión le echa sus guedejas
para favorecerlo en sus propósitos.
¿Cuáles son sus propósitos? Edwin Williamson los sintetiza: “don
Quijote imita a Amadís con la esperanza de que al actuar como él al final
termine siendo como él” (1991, p. 151).
Eneas es el protagonistade la Eneida, de Virgilio. Lacaracterística que define sucarácter es pío. El hechoque destaca su piedad ylo consagra como buenhijo es que Eneas salva asu familia del incendio queconsumió Troya cargandoa su padre sobre los hom-bros, mientras en la mano
derecha conduce a su hijo,el pequeño Ascanio, y esseguido por su esposa,Creusa.
Peña Pobre
La Peña Pobre es un lugaresquivo: una peña muy alta,metida siete leguas en elmar, en cuyas alturas hay unsantuario en donde vive unermitaño que encontró allílas condiciones para la peni-tencia y la soledad, porque“la peña es tan estrecha queno puede llegar a ella ningúnnavío más que en verano”(Amadís, Libro II, cap. 4).
Ocasião. In: Emblemas (1531),
de Andrea Alciato (scielo.br –
acceso 11/2/11)
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 72/164
70
Sin embargo, el mismo Sancho advierte que Don Quijote no puede
hacer una imitación perfecta de la penitencia de Amadís, o la de Or-
lando, porque le falta una verdadera razón para ello. Le indaga: “¿Qué
dama le ha desdeñado, o qué señales ha hallado que le den a entender
que la señora Dulcinea del Toboso ha hecho alguna niñería con moro o
cristiano?” (I, 25).
Su amo le contesta que, justamente, “ésa es la fineza de mi negocio;
(…) el toque está en desatinar sin ocasión y dar a entender a mi dama
que, si en seco hago esto, ¿qué hiciera en mojado?” (I, 25).
Williamson aclara que lo que Don Quijote realmente quiere es que
Dulcinea se entere de su amor –que hasta entonces fue tan platónico
que nunca le ha sido revelado- y que lo reconozca como “caballero ena-
morado”.
A raíz de ese propósito está la consciencia del enloquecido hidalgo
de que sus juicios pueden parecer arbitrarios o subjetivos a otra gente,
como lo notamos en la disputa con Sancho, sobre si la aparente bacía es
yelmo o, realmente, una simple bacía de barbero.
Para Williamson, el hidalgo percibe que el mundo de la caballería
no será restaurado hasta que los demás no comprueben que el sistema
caballeresco funciona independientemente de lo que él pueda hacer o
decir. Por ello, Williamson cree que en Sierra Morena “el caballero in-
tenta poner en marcha el sistema caballeresco al imitar la ‘locura’ peni-
tencial de Amadís o de Orlando” (1991, p. 151). Tal sistema tiene como
fuerza motriz el amor de la dama, sin el cual el caballero es cuerpo sin
alma, como dijo el propio Don Quijote. Si Dulcinea corresponde favo-
rablemente a la penitencia amorosa, acepta el amor de Don Quijote y
lo reconoce como caballero enamorado, le proporcionará “una pruebafehaciente de que su declarado servicio amoroso tiene una base en la
realidad” (1991, p. 152), asegura Williamson.
La ironía está en que al iniciar la penitencia el sistema realmente
empieza a funcionar. La primera señal de ello es que Dorotea, fingiendo
ser la princesa Micomicona, sostiene que viene de muy lejos a buscar a
Don Quijote de la Mancha, cuya gran fama ha llegado al extranjero (I,
Locuras de amor durante la peni-
tencia en Sierra Morena. Ilustraci-
ón de Gustave Doré.
El Yelmo de Mambrino
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 73/164
71
C APÍTULO 06
29). Por fin, observa Williamson, el caballero tiene pruebas objetivas de
que su reputación se extiende a otras tierras. Por vez primera otro per-
sonaje le ha reconocido por lo que él mismo ha declarado que es. Pero, la
prueba definitiva de que la restauración del mundo de la caballería está
verdaderamente en marcha llega cuando Sancho le informa que Dulci-
nea quiere verle, y que el vizcaíno que había derrotado la había visitado,
aunque los galeotes todavía no (I, 31). Don Quijote se pone enorme-
mente satisfecho, y comenta: “Todo va bien hasta ahora” (I, 31).
El encuentro con la princesa Micomicona aún le brinda al cabal-
lero el delicioso dilema experimentado por los verdaderos caballeros
andantes, el de elegir entre la gloria de las armas o los deberes del amor:
“por una parte, me acosa y fatiga el deseo de ver a mi señora; por otra,me incita y llama la prometida fe y la gloria que he de alcanzar en esta
empresa” (la de dar muerte al gigante que ha usurpado el reino de la Mi-
comicona) (I, 31). Atendiendo al consejo de Sancho, Don Quijote elige
la batalla, porque serviría para acrecentar su fama, todavía más, antes de
reunirse, por fin, con Dulcinea.
La teatral aparición de la princesa Micomicona y su escudero –el
barbero maese Nicolás- es la señal irrefutable de que el universo de la
caballería está en marcha. Pero también es una clara indicación de queDon Quijote es capaz de enloquecer a los sanos. Primeramente desati-
na a Sancho, que se engancha a la fantasía del amo, en seguida al cura y
al barbero, que se proponen a disfrazarse e inventar una trama, a modo
de las aventuras caballerescas, para reconducir a Don Quijote a su al-
dea, a fin de remediarlo. Luego saca de su juicio perfecto a Dorotea y
a Cardenio, después a todo el grupo que se reúne en la venta de Palo-
meque, que se disfraza para participar en la farsa de los encantadores
que enjaulan al caballero. Nadie es inmune a la demencia caballerescadel ingenioso hidalgo.
La sorprendente máquina que cambia la apariencia de las cosas y
de las personas contará con nuevas razones y estrategias en la Segunda
Parte, pero eso es materia para otro capítulo. Ahora pongamos nuestra
atención en la creciente definición de Dulcinea y en su capital relevancia
para la aventurera historia del caballero manchego.
Don Quijote enjaulado. Ilustraci-
ón de Gustave Doré.
Dulcineia como la princesa Mi-
comicona. Ilustración de Gustave
Doré.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 74/164
72
6.2 Dulcinea del Toboso
Don Quijote se vuelve loco ante los libros de caballerías y la lo-
cura lo lleva al amor, señala Martín de Riquer (1990, p. XLVIII), puesasí que Don Quijote decidió hacerse caballero andante, además de sus
armas y de su caballo, se vio precisado “a buscar una dama de quien
enamorarse, porque el caballero andante sin amores era árbol sin fruto
y cuerpo sin alma” (I, 1).
El amor, es pues, una exigencia derivada de la locura caballeresca.
Ante esta necesidad Don Quijote escoge por dama suya “a una moza la-
bradora de muy buen parecer, de quien él un tiempo anduvo enamorado,
aunque, según se entiende, ella jamás lo supo, ni le dio cata dello” (I, 1).
Así es que la aldeana Aldonza Lorenzo queda convertida, en la ima-
ginación de Don Quijote, en la princesa Dulcinea del Toboso, modelo
de hermosura y discreción, que reside en alcázares o palacios. Sancho
estará, al principio, plenamente convencido de que su señora es una alta
princesa llamada Dulcinea que vive en el Toboso, pese a que esto último
le sorprenderá un poco, pues jamás ha tenido noticias de que en una
aldea tan próxima a la suya resida princesa alguna, pondera Riquer.
Pero llega el momento en que Don Quijote decide enviar a Sancho
al Toboso con una carta para Dulcinea, y en esta ocasión hay que des-
cubrirle la verdad. Don Quijote, que con toda conciencia dio a Aldonza
Lorenzo el nombre de Dulcinea, ha de renunciar por unos instantes a
esta idealización y deberá abrir un brevísimo paréntesis en su fantasía,
no en su locura, y confesar a Sancho que Dulcinea es Aldonza Lorenzo,
la hija de Lorenzo Corchuelo y Aldonza Nogales (I, 25).
Sancho se queda asombrado al enterarse de que Dulcinea es esta al-
deana que él bien conoce. Hace unos groseros elogios de su fuerza (“tira
tan bien una barra como el más forzudo zagal de todo el pueblo”…),
pero que no desmienten la primera impresión que nos dio Don Quijote,
de que Aldonza era moza “de muy buen parecer”, señala Riquer.
La respuesta de Don Quijote a la sorpresa de Sancho es perfecta-
mente coherente a las costumbres literarias de la época. Asevera que
Ni le dio cata dello, o sea:“ni él [don Quijote] le dio aella cuenta de ello”, explicaRiquer (1990, p. 40).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 75/164
73
C APÍTULO 06
para lo que él quiere a Dulcinea del Toboso “tanto vale como la más
alta princesa de la tierra. Sí, que no todos los poetas que alaban damas,
debajo de un nombre que ellos a su albedrío les ponen, es verdad que
las tienen”. Don Quijote le explica a Sancho que las famosas Amarilis,
Filis, Dianas y Galateas -damas cantadas y alabadas en la poesía y en las
novelas- no “fueron verdaderamente damas de carne y hueso”. Ellas son
apenas sujeto de sus versos. Le aclara que los hombres que las fingen
lo hacen para que la gente los tenga “por enamorados y por hombres
que tienen valor para serlo” (I, 25). Por lo tanto, al celebrar a Aldonza-
Dulcinea como su amada, el caballero da a entender a todos que él es
un hombre que tiene valor para enamorarse.
Sobre la naturaleza del amor, Don Quijote señala que “dos cosas so-las incitan a amar más que otras; que son la mucha hermosura y la buena
fama, y estas dos cosas se hallan consumadamente en Dulcinea” (I, 25).
Entonces, si Aldonza Lorenzo reúne las cualidades que incitan a amar, es
lícito que Don Quijote la quiera y que, a ejemplo de los poetas, la pinte
en su imaginación como “la más alta princesa del mundo” (I, 25).
Don Quijote nunca más volverá a hablar así, observa Riquer. Ha
tenido que hacerlo porque era forzoso enviar al Toboso a Sancho y éste
tenía que saber a quién había de entregar la carta. Pero, en su justifica-tiva el hidalgo manchego “ha revelado que su amor, como su locura, es
algo puramente literario, pues está cortado con el patrón de los poetas
bucólicos y de las novelas pastoriles”, destaca Riquer (1990, p. L). La gra-
ve revelación nos indica la preocupación del hidalgo en orientar debi-
damente a Sancho, puesto que su destino como caballero enamorado
depende de la eficacia de la diligencia que le confió.
6.2.1 La dama del caballeroYa se ha dicho (Unidad B, cap. 2) que las aventuras y el amor a una
distinguida dama conforman la identidad del protagonista de las nove-
las de caballerías. Edwin Williamson enseña que concluir con éxito un
combate o desafío es una muestra de la valía del caballero. De ahí que las
aventuras definen a los personajes, ordenándolos en categorías morales:
bueno o malo, valeroso o cobarde, honrado o innoble (1991, p. 56). La
principal recompensa por las victorias es la fama de buen caballero, que
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 76/164
74
debería extenderse por todo el mundo y, especialmente, llegar al cono-
cimiento de su amada.
Es importante comprender el valor simbólico de la dama en la cons-
titución del carácter del héroe. Conquistar la fama de singular caballeroimplica enfrentar una sucesión de aventuras, lo que podría embrutecer el
carácter del paladín, por el constante convivio con las armas y la guerra.
Los caballeros pueden salvaguardarse contra ese efecto negativo de las
hazañas “por medio del servicio amoroso a una hermosa dama, porque
los sentimientos amorosos, al requerir generosidad, cortesía, humildad y
lealtad, ennoblecen espiritualmente”, explica Williamson (1991, p. 36). Él
señala que las leyendas caballerescas medievales recogen la concepción
del amor cortés introducida en Francia por los trovadores provenzales.Para esos poetas, el amor era “la emoción producida por la adoración
total de una dama” (1991, p. 33). Ese puro afecto mejoraba la naturaleza
de los hombres y realzaba sus virtudes caballerescas.
Tales paradigmas amorosos posiblemente sean la fuente de la ab-
soluta confianza de Don Quijote en que el valor de su brazo le es infun-
dido por Dulcinea del Toboso, como lo afirma en el capítulo 30, cuando
Sancho le incita a casarse con la princesa Micomicona. Enojado, Don
Quijote rechaza el mal fundado consejo escuderil revelándole que “ella[Dulcinea] pelea en mí, y vence en mí, y yo vivo y respiro en ella, y tengo
vida y ser” (I, 30). Sin el amor de Dulcinea, el valiente caballero estaría
inerme y sin fuerzas para matar ni siquiera una pulga –dice él-.
Sancho intenta excusar su desafortunado consejo afirmando que,
en cuanto a la belleza, “entrambas [Dulcinea y Micomicona] me parecen
bien” (I, 30). Con tal argumento logró el perdón de su amo.
Tal vez indagues, caro estudiante, ¿por qué el énfasis en la hermo-sura de las damas?
Para contestar a esa pregunta es necesario aclarar que las leyendas
heroicas medievales, que conforman los cánones de la narrativa caballe-
resca, se basan en la premisa de que el universo ha sido creado por una
deidad benevolente. Consecuentemente, el universo debe ajustarse a un
diseño perfecto y a una estructura inteligible. No obstante, la acción de
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 77/164
75
C APÍTULO 06
agentes malévolos y las imperfecciones humanas impiden percibir di-
rectamente el orden perfecto. Esta idea divide el mundo en una realidad
visible y otra invisible. El simbolismo –que Michel Foucault llamó simi-
litud - permite al hombre descubrir y articular la relación entre el mundo
invisible y el perceptible por los sentidos (WILLIAMSON, 1990, p. 29-
31). De acuerdo con esa premisa, la belleza sería una señal visible de la
perfección del alma de quien la posee. Por ello, en el universo caballeresco
las hermosas doncellas son las que merecen la adoración total, porque su
fino amor da vida y ser a los héroes, enaltece su valor y sus virtudes por
medio del sublime contacto con su perfección espiritual.
Por creer fielmente en todo eso -que ha aprendido en las novelas
que leyó- es que Don Quijote no puede sufrir la descripción de Sanchoacerca de su encuentro con Dulcinea. Sancho miente a su amo, pero,
como observa Riquer, inventa una escena lo más aproximada posible
a lo que hubiera podido ocurrir si realmente hubiese llevado la carta a
Aldonza Lorenzo -aunque matizándola con socarronería-. Sancho dice
que la encontró en un corral de su casa limpiando trigo rubión, que tuvo
que poner un costal sobre un jumento, que estaba sudada y despedía un
olorcillo algo hombruno, que rasgó la carta de Don Quijote, porque no
sabía leer, y que le dio un pedazo de pan y queso ovejuno (I, 31).
Riquer advierte que toda esa invención de Sancho va interrumpida
con intervenciones de Don Quijote, que le corrige lo que va diciendo
para amoldarlo a la ficción caballeresca: Dulcinea convertía con sus ma-
nos el trigo en perlas, debió de besar la carta, preguntar por Don Qui-
jote, despedir una fragancia aromática y, si no le regaló a Sancho alguna
rica joya en albricias por su diligencia fue “porque no la tendría allí a
la mano” (I, 31). Para Riquer, la escena anterior, en la que Don Quijote
había confesado que Dulcinea era Aldonza, ha sido totalmente borrada:“fue un breve paréntesis que para él puede darse por inexistente, pues
ahora, como siempre, persiste en la creencia de que Dulcinea es una alta
princesa” (1990, p. LI).
Pero lo que realmente importa es que Sancho -orientado por el cura
y el barbero (I, 27)- transmite a Don Quijote la respuesta de Dulcinea:
“le suplicaba y mandaba que (…) saliese de aquellos matorrales y se
Recuerda que has estudiadoeste tema en Literatura His- pânica I (Unidad B, cap. 4)
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 78/164
76
dejase de hacer disparates, y se pusiese luego luego a camino del Toboso,
(…) porque tenía gran deseo de ver a vuestra merced” (I, 31).
Ese mandato se asemeja al que Oriana le hizo a Amadís, con el que
puso fin a su penitencia. El mensaje de Dulcinea a Don Quijote, por tan-to, simboliza el amor de la dama por su caballero, en los moldes de los
más altos ejemplos de los libros de caballerías. Sobre todo, esa respuesta
indica que ella lo reconoce como caballero enamorado. En su imagina-
ción, el ingenioso penitente podría pensar que la Ocasión, sin duda, le
fue favorable, puesto que posibilitó que tuviera éxito en sus propósitos.
Don Quijote experimenta gran regocijo y lo manifiesta diciendo: “Todo
va bien hasta ahora” (I, 31).
Desgraciadamente el caballero enamorado no es verdaderamente ca-
paz de advertir las falsas apariencias y, poco a poco, será atrapado por ellas.
En cuanto a Dulcinea, en los capítulos que se refieren a la peniten-
cia en Sierra Morena (I, 25-31), alcanza una definición y un realismo
singular en la Primera Parte. En esos capítulos Sancho describe a Aldon-
za, tal como la conoce, y Don Quijote detalla cómo concibe a Aldonza-
Dulcinea, por qué la quiere y cómo ella le infunde valor, vida y ser (I,
31). Sin embargo, aunque goce de representación y actuación definidasal final de la Primera Parte, la figuración de Dulcinea sufrirá grandes y
significativos cambios en la Segunda, tornándose en un factor deter-
minante de las peregrinas aventuras de amo y escudero. ¿Qué cambios
sufre? ¿Cuáles opera? Aguarda. Eso lo estudiaremos más adelante.
Bibliografía consultada
MUHANA, Adma (org.). Posfacio. In: REBELO, Gaspar Pires de. Infortúniostrágicos da constante Florinda. São Paulo: Globo, 2006.
RIQUER, Martín de (ed.). Introducción. In: CERVANTES, Miguel de. El in-genioso hidalgo don Quijote de la Mancha. Barcelona: Planeta, 1990, XVII-LXXXIV.
WILLIAMSON, Edwin. El Quijote y los libros de caballerías. Trad. M.ª JesúsFernández Prieto. Madrid: Taurus, 1991.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 79/164
77
C APÍTULO 07
Las mujeres en el Quijote
Caro estudiante, leyendo el Quijote nos deparamos con gran diversidadde personajes que cruzan el camino del caballero y de su escudero. Martín
de Riquer contabiliza unos 150 hombres y unas 50 mujeres que actúan en
la novela (1990, p. LXVI). Entre los personajes femeninos constan los feos,
los de extrema hermosura y aquellos cuya apariencia ni siquiera se alude.
Hay mujeres que son apenas mencionadas, hay las que tienen tímida par-
ticipación y otras que son decisivamente actuantes. [Sobre éstas la narra-
ción se demora y esmera, a fin de cautivar la atención del lector]
Este capítulo se dedica al estudio de los personajes femeninos del Quijote ,
con especial atención a los caracteres heroicos y a otros que, a pesar de su
virtud dudosa, tienen gran autonomía en la acción y en el uso de la pala-
bra. Seguramente disfrutarás de esta lectura. ¡Buen provecho!
7.1 Organización social en la España delSiglo de Oro
Antes de abarcar la materia literaria, entretanto, es importante que
nos acerquemos al contexto histórico, social y cultural de la España del
período en que vivió Cervantes. Esto nos ayudará a entender en qué
medida los personajes femeninos, sobre los cuales nos detendremos,
representan los conflictos con que se enfrentaban las mujeres de aquel
momento.
En los años en que el Quijote salió a la imprenta, la sociedad españo-
la estaba organizada según un esquema tripartito medieval , formado por
el Clero, la Nobleza y el Estado General, afirma Antonio Domínguez
Ortiz, en Instituciones y sociedad en la España de los Áustrias (1985). El
papel que cada individuo ocupaba en la sociedad era determinado por
su clase social.
El estado más elevado de la nobleza era compuesto por los Grandes
de España, grupo minoritario formado por duques y algunas familias
7
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 80/164
78
de la más alta jerarquía nobiliaria, que dominaban extensos territorios
y controlaban las más importantes instancias del poder político. Este
grupo constituía la auténtica clase dirigente de la España de los Áustrias,
según Javier Salazar Rincón. Los miembros más humildes de la aristo-
cracia eran los hidalgos -como el manchego Alonso Quijano-.
En la categoría del Estado General, eso es, el de los “no nobles” se des-
tacan los labradores ricos que estaban unidos al señor de tierras por víncu-
los de vasallaje. Se trata de un sector reducido y poderoso de la sociedad,
cerca del 5% de la población rural, que constituía la oligarquía del campo.
La división social y la relación entre las categorías reflejan el pensa-
miento español que, en el siglo XVII, todavía preservaba la concepción
medieval, según la cual el mundo fue creado y ordenado por Dios. Sala-
zar Rincón, en El mundo social del Quijote (1985), explica que “entre las
disposiciones celestiales y la sociedad civil existe un eslabón interme-
diario: la sangre, que actúa como causa segunda o vehículo por el que el
individuo, de acuerdo con los deseos de Dios, queda adscrito a un linaje
y vinculado a un estamento” (p. 71).
De acuerdo con ese principio, la sangre es el medio físico por el
cual las virtudes y excelencias del noble, la rusticidad del campesino y la“impureza” de los cristianos-nuevos se transmiten a sus descendientes.
Los nobles, por lo tanto, llevaban gran ventaja sobre los demás porque
descendían de aquellos que, en un pasado de glorias, realizaron hechos
heroicos por la patria. El noble sería heredero de las excelsas virtudes
del guerrero medieval. Tal presupuesto infunde a la nobleza el papel de
defensora de la sociedad:
El pueblo bajo ha sido creado por Dios para cultivar el suelo y asegurar
el sustento de la sociedad; el clero tiene la obligación de ocuparse delos ministerios de la fe; y la nobleza ha de realzar la virtud y administrar
justicia y defender al pueblo (Apud SALAZAR RINCÓN, 1985, p. 140).
El honorable papel de defensora, no obstante, determina la sumi-
sión de los demás a la nobleza.
Entre los atributos morales conferidos a la aristocracia, también
está el honor. Según Salazar Rincón el honor es el reconocimiento y
La Casa de los Áustrias , o sea,la dinastía de los Habsburgo,
reinó en España de 1514 a1700. En ese período hubo un gran fomento cultural, lo queconfiguró el llamado Siglo de
Oro de las artes y la letrasespañolas.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 81/164
79
C APÍTULO 07
la reverencia que la sociedad le otorga al individuo de linaje ilustre, o
elevada posición, que responde adecuadamente a las obligaciones de
su posición. El honor comprende, por un lado, la consideración de los
superiores, el respeto de los iguales y la sumisión de los inferiores. Por
otro lado, implica un conjunto de deberes y normas de conducta que el
individuo debe cumplir y observar si no quiere verse difamado.
La superioridad de los nobles debería manifestarse públicamente
por medio del lujo y de la ostentación. Para lucir su categoría, el noble
debería ser el mejor educado, vestir ropas de finas telas, poseer mansio-
nes, numerosos criados y una mesa abundante. Sin embargo, los excesi-
vos gastos dispensados a la ostentación llevaron a la aristocracia a deudas
crecientes y a un consecuente empobrecimiento en el siglo XVI. Entresus causas figuran la elevación de los precios y el consecuente aumento
del coste de vida, posteriores a la institución de las colonias americanas.
Ante la ruina de las casas hidalgas, la enorme fortuna de los labra-
dores ricos empieza a configurar una nueva clase social. El sólido poder
económico de los oligarcas del campo los torna equiparables a la gente
de nacimiento ilustre, haciéndolos merecedores del honor , aunque estu-
vieran desprovistos de noble abolengo.
La formación de ese grupo, que poco a poco se libertaba de las
relaciones de vasallaje por medio de la compra de sus propiedades, po-
dría haber suscitado una auténtica transformación de la división social
tripartita, sostiene Salazar Rincón. Entretanto, la nobleza, en el ápice
de la pirámide social, se había convertido en el punto de confluencia
de las aspiraciones colectivas, lo que determinó la adopción mimética
de las formas de vida de la nobleza por las capas sociales inferiores. En
otras palabras, caro estudiante, eso significa que los labradores ricos,
como los demás grupos de adinerados “no nobles”, en vez de objetar la
supremacía de la nobleza intentaban integrarse al grupo de los aristó-
cratas a través de la compra de títulos. Además, se esforzaban por imitar
su modo de vestir y de ostentar superioridad, por asimilar sus valores
morales y éticos, a fin de reivindicar el derecho a la honra. Sus casas y
solares mostraban, en el exterior, el linaje de la familia, por medio de
ornadas esculturas de su blasón.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 82/164
80
7.1.1 Delimitación del papel de la mujer
Las categorías de la organización tripartita no eran el único criterio
para designar a cada uno su puesto social. Había otros factores deter-
minantes como, por ejemplo, el género sexual. Observando la complejacuestión de la honra se puede ilustrar cómo se establecía la delimitación
social de los papeles del hombre y de la mujer.
El honor del noble le asigna una serie de deberes que él debe cum-
plir junto al rey y al Estado. Sin embargo, el honor de la mujer noble se
restringe a su castidad, o sea, al celo de la virginidad de la mujer soltera
y de la fidelidad de la mujer casada. Juan Vives, en el clásico Formación
de la mujer cristiana (1523), asevera:
Es cierto que la formación moral de las mujeres puede lograrse con po-
quísimos preceptos, porque los varones actúan en casa y fuera de ella,
en los negocios privados y en los públicos: las normas para tantas y tan
diversas actividades requieren prolijos volúmenes. En cambio, el cuida-
do exclusivo de la mujer es la pudicicia (p. 986).
Ese concepto, claramente manifiesto y repetido en los tratados dedi-
cados a la educación moral de la mujer, nos permite comprender la escasa
mención a la actuación femenina en la sociedad y en las artes españolas
del Siglo de Oro, ya que su papel estaba restringido al espacio doméstico.
7.1.2 Polarización entre Ave y Eva
Distintos historiadores, al registrar la vida de las mujeres españolas
en el Siglo de Oro, describen la polarización entre el papel de la honesta
doncella y perfecta esposa, semejante a la Ave María, y entre la mujer
pecadora, descendiente de Eva.
Vicens Vives registra que la mujer española de la nobleza y de la bur-
guesía de los siglos XVI y XVII era la más dedicada al hogar y a la familia,
que todas sus congéneres de Europa. Su educación se limitaba a aprender
a leer, escribir y contar, cuidar de la casa y ejecutar trabajos manuales,
además de la instrucción religiosa que recibía y practicaba en la familia y
en la Iglesia. Entre las exhibiciones y fiestas públicas que le era permitido
asistir estaban las procesiones y fiestas religiosas, las corridas de toros
La Casa Solar de los Pérez de
Arauzo de Miel, familia hidalga
de Burgos, en foto de 1880
(www.arauzodemiellahidalguia
delosperez.blogspot.com –
acceso 12/2/11)
Destaque del escudo de los Pérez
de Arauzo de Miel
(www.arauzodemiellahidalguiadelosperez.blogspot.com –
acceso 12/2/11)
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 83/164
81
C APÍTULO 07
y, con limitaciones, las representaciones teatrales, particularmente las de
temas sacros. Según ese autor, la mujer española era el ideal más acabado
de retiro doméstico, modestia edificante y profunda religiosidad.
En el polo opuesto a la vida recatada de la mujer de las clases privi-legiadas, Vicens Vives perfila la mujer libertina, las cortesanas, busconas,
celestinas y simples prostitutas que, bajo las órdenes de un rufián, se
amontonaban en los prostíbulos de las ciudades (cf. 1971, p. 230-231).
Soldevila repite la circunscripción de la mujer a los polos de “mujer
de vida recluida” y de “mujer desenvuelta” (1963, p. 132). Entretanto,
al consultar las actas notariales y otros documentos, Manuel Tuñón de
Lara logra diseñar el panorama del trabajo de las mujeres en las clases
populares. En Historia de España (1991) registra que muchas viudas ad-
ministraban una pequeña propiedad rural, poseían un humilde negocio
o conducían el taller de su fallecido marido, con la autorización de las
asociaciones gremiales. Tuñón de Lara destaca que también eran desig-
nadas como viudas las solteras emancipadas y las mal casadas, cuyos
maridos estaban en las Indias o en paradero desconocido. La mayoría
de las viudas vivía en la pobreza, por eso contaban como “medio vecino”
para efectos de impuesto.
En el campo las mujeres trabajaban con los hombres y, en algunas
regiones, también se dedicaban a la manufactura y venta de productos
artesanales para minorar la pobreza de la familia, señala Salazar Rincón
(1985, p. 168-169).
Como lo puedes notar, caro estudiante, había mucha diferencia
entre el papel de la mujer de la nobleza y de las clases populares. Aun-
que la mujer de la aristocracia era educada para las artes y las letras, la
necesidad de guardar el honor la impedía de ingresar en los colegios yen las universidades, como también de ejercer cualquier cargo público.
Todos sus pasos eran objeto de constante vigilancia de la familia y de su
grupo social. Libres del peso de la honra, las mujeres del Estado General
poseían, en tesis, mayor libertad, pero la penuria les limitaba, en gran
medida, la posibilidad de ejercer un papel de destacada importancia.
Además, Tuñón de Lara advierte que, si el nivel de analfabetismo feme-
Las hilanderas, de Diego
Velázquez (1599-1660).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 84/164
82
nino era significativo en las clases aristocráticas, entre las humildes era
regla general (1991, p. 255).
Es importante considerar que, en ese período, el papel asignado a
las mujeres de todas las clases sociales era el de esposa. De acuerdo conla tradición cristiana, al casarse, la mujer se ajusta al rol que justifica su
existencia en el plano de la creación: “el fin para que Dios la crió es para
ser ayudadora del marido”, dice Fray Luis de León, en La perfecta casada
(1583). Este dictamen fue largamente utilizado para determinar y justi-
ficar la subordinación de la mujer al hombre.
El autor del Quijote, no obstante, parece tener en menos la doc-
trina de los manuales de educación femenina, redactados por predi-
cadores católicos, que pretendían controlar a la mujer de la nobleza e
inmovilizarla en el ambiente doméstico. A lo largo de sus andanzas el
caballero manchego encontrará heroicas figuras que se hacen señoras
de su destino, dueñas de una voluntad autónoma que les garantiza es-
pacio y simpatía en la narrativa. A ellas volquemos nuestra atención.
7.2 Marcela, la pastora que no ama
La historia de Marcela nos es referida por diversas voces masculi-
nas: la de un anónimo mozo, que la llama “endiablada”; la del cabrero
Pedro; la de Ambrosio y la de Grisóstomo. El cabrero Pedro nos cuenta
su distinguido origen, su extremada belleza, su inusual decisión de no
casarse, de vivir en el campo y de no corresponder al amor de los pasto-
res que la requieren (I, 12). Ambrosio describe a Marcela como “enemi-
ga mortal del linaje humano”, que con su desprecio puso fin a la vida de
su amigo. Grisóstomo, en la Canción Desesperada, la llama cruel, ingratay causadora de mortales celos.
Sin embargo, la voz de Marcela literalmente se sobrepone a las vo-
ces masculinas a partir del momento en que surge sobre la peña don-
de se cavaba la sepultura de Grisóstomo. Su belleza deja atónitos a los
pastores, cabreros y demás presentes. Ella toma la palabra y nos da una
nueva perspectiva para juzgarla: la del yo femenino.
Puedes leer este tradicio-nal y polémico manual de
educación femenina en www.cervantesvirtual.es. El fray
repite los estigmas de infe-rioridad femenina vigentesen el siglo XVI, a la vez quediseña el perfecto ideal de
esposa cristiana a partir delos preceptos de Proverbios:
31, que describen a la esposavirtuosa. Es una rica lectura,
seguramente.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 85/164
83
C APÍTULO 07
Marcela quiere dar a entender cuán fuera de razón van los que la
culpan por la muerte de Grisóstomo. Su argumentación se organiza
como un discurso jurídico en el que presenta su defensa. El primer tó-
pico es su belleza. Si recordamos la narración del cabrero Pedro (I, 12),
notamos que lo que despertó el interés por Marcela fue la divulgación
de su extremada hermosura y fortuna, bien como la noticia de que pasó
a vivir sola en el campo, a pastorear su rebaño. La ausencia de un tutor
masculino tal vez haya creado en los pretendientes la expectativa de que
Marcela pasaría a aceptar libremente los juegos amorosos, tal como ha-
cían los personajes de las novelas pastoriles.
Los pretendientes son jóvenes ricos, de distinguidas familias
que, muy probablemente, están ansiosos por disfrutar las alegrías delamor que la hermosura de Marcela les despierta. No obstante, ella no
acepta el afecto que nace de la belleza del cuerpo, y públicamente se
recusa a retribuirlo:
Yo conozco, con el natural entendimiento que Dios me ha dado, que
todo lo hermoso es amable; mas no alcanzo que, por razón de ser ama-
do, esté obligado lo que es amado por hermoso a amar a quien le ama.
(…) Y, según yo he oído decir, el verdadero amor no se divide, y ha de ser
voluntario, y no forzoso (I, 14).
Con esas palabras Marcela reivindica la autonomía sobre sus pro-
pias emociones. Posiblemente el amor que Marcela concibe como ver-
dadero sea el que sus padres nutrían. Su orfandad resulta de una intensa
unión espiritual entre los cónyuges, una vez que el padre fallece “de pe-
sar de la muerte de tan buena mujer” (I, 12), cuenta el cabrero Pedro.
Aparentemente, Marcela no heredó sólo la belleza y la fortuna de sus
padres, sino también sus sublimes sentimientos.
De acuerdo con la filosofía del amor en boga en las artes de los si-
glos XVI y XVII, el verdadero amor supone que el impulso sexual y los
ímpetus de la pasión pueden ser subyugados por la razón, si la mente se
centra en la belleza espiritual y moral del ser amado. Al paso que la for-
ma de amar a la que los pastores se han entregado desprecia la necesidad
de los lazos espirituales, configurando un aspecto fugaz del amor: el en-
tusiasmo de la pasión. De acuerdo con la doctrina del amor, la pasión es
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 86/164
84
despertada por los instintos. Éstos desordenan las emociones y provo-
can suspiros, lágrimas, languidez, celos, furia y desesperación (PARKER,
1986) -todos los desenfrenados trastornos de que fueron acometidos los
pretendientes de Marcela, potencialmente Grisóstomo-.
Se puede decir que, al convertirse en objeto del ardiente deseo mas-
culino, recae sobre Marcela la imagen de Eva, la mujer seductora. Pero
la bella joven refuta ese papel: “que la hermosura en la mujer honesta es
como el fuego apartado o como la espada aguda, que ni él quema ni ella
corta a quien a ellos no se acerca.” Esa afirmación, cargada de simbo-
lismo, hace recordar el discurso clerical de los manuales de educación
femenina. Los autores intentaban frenar la sexualidad de la juventud
exhortando a las doncellas a resistir a las insistentes súplicas masculi-nas, sin jamás cuestionar la sexualidad de los varones. Marcela invierte
los papeles y dirige a sus pretendientes el sermón que secularmente los
predicadores católicos direccionaron a las mujeres:
La honra y las virtudes son adornos del alma, sin las cuales el cuerpo,
aunque lo sea, no debe de parecer hermoso. Pues si la honestidad es
una de las virtudes que al cuerpo y alma más adornan y hermosean,
¿por qué la ha de perder la que es amada por hermosa, por correspon-
der a la intención de aquel que, por sólo su gusto, con todas sus fuerzas
e industrias procura que la pierda? (I, 14)
La prédica de la castidad femenina, en la voz de una mujer, sue-
nan a una severa crítica al apetito sexual masculino, ¿no te pare-
ce, caro lector?
Marcela no quiere ser Eva, tampoco Ave. Ella conoce las obligacio-
nes que implican “la carga del matrimonio” (I, 12), tal vez por eso afirme
tajantemente: “yo nací libre, y para poder vivir libre escogí la soledad
de los campos” (I, 14). Marcela usa de su perspicaz entendimiento para
protestar contra las trabas del matrimonio, dice Ruth Lamb (1981, p.
769), rechazando el sacramento que garantía al marido autoridad para
gobernar a su esposa y señorearse de su cuerpo y bienes.
Es importante destacar que en los siglos XVI y XVII –y también
muchos siglos después- el matrimonio estaba desvinculado del amor.
Luis Vives recomienda a lamujer casada que “en nin-guna cosa se prefiera a sumarido; téngale por padre,por dueño, por mayor ymejor que no ella, y así locrea y así lo diga” (1523, p.1101)
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 87/164
85
C APÍTULO 07
El casamiento era una forma de sumar títulos, propiedades y fortunas
entre las familias. La decisión era tomada por los padres de los novios
e implicaba en una serie de contratos. Marcela, no obstante, es señora
de su voluntad y de su patrimonio, afirma: “Yo, como sabéis, tengo
riquezas propias y no codicio las ajenas; tengo libre condición y no
gusto de sujetarme” (I, 14).
La ida de Marcela al campo representa públicamente su determi-
nación de no atender a las convenciones que atañen a su clase social.
Lo que Marcela efectivamente desea es vivir “en perpetua soledad” en
el campo, comunicando sus pensamientos “con los árboles y con las
aguas” de las montañas. Ese modo de vida parece inspirado en la lite-
ratura mística, que floreció en el siglo XVI, en España. Los poetas mís-ticos, con una fuerte inspiración ascética, pregonaban que a través de
una vida penitente, libre de las tumultuosas pasiones que perturban las
emociones y desorientan los instintos, era posible encaminar el alma al
encuentro con Dios y con él establecer una perfecta unión espiritual,
la cual sería sellada cuando el alma abandonase el cuerpo material y
regresase a la orden celestial San Juan de la Cruz , entre otros poetas de
la mística española, convierte la naturaleza en un símbolo idóneo para
que el hombre acerque su alma a Dios.
Muy probablemente las decisiones de Marcela de libertarse de toda
forma de control y tutela que cercenaban a las mujeres de su clase social
y de ir a vivir en las montañas, derivan de su determinación de some-
terse únicamente al puro amor dedicado a Dios, mientras espera el mo-
mento de regresar a Su presencia. Indicio de esas sublimes intenciones
son las últimas palabras dirigidas a los pastores: “tienen mis deseos por
término estas montañas, y si de aquí salen, es a contemplar la hermosu-
ra del cielo, pasos con que camina el alma a su morada primera” (I, 14).
Por fin, se puede concluir que, con su discurso en primera persona,
Marcela reivindica el reconocimiento de su derecho a vivir sin ningún
tipo de tutela. Al negarse a atender los deseos masculinos, la bella pasto-
ra desafía a los oyentes a frenar su pasión y a contemplar la belleza inte-
lectual y moral de la mujer, que no está dotada apenas de un cuerpo her-
moso, sino también de razón, de entendimiento y de un espíritu libre.
San Juan de la Cruz , místicocarmelita (1542-1591), esuna de las figuras máximasde la lírica castellana. Su
poesía es breve, escrita en sumayor parte en liras: Subidaal monte Carmelo, Noche os-cura del alma, Llama de amorviva y Cántico espiritual. Pue-des acceder a esas obras enwww.cervantesvirtual.es
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 88/164
86
7.3 “La buena de Maritornes”
En el polo opuesto al de las hermosas doncellas que surgen en el
camino de Don Quijote, despunta Maritornes, moza asturiana que sirveen la venta de Juan Palomeque.
A diferencia de los personajes femeninos como el ama y la sobrina
del caballero, o la esposa y la hija del escudero, de las que no se refiere
ningún rasgo de su aspecto físico, Maritornes goza de una prolífera des-
cripción:
Ancha de cara, llana de cogote, de nariz roma, del un ojo tuerta y del
otro no muy sana. Verdad es que la gallardía del cuerpo suplía las de-
más faltas: no tenía siete palmos de los pies a la cabeza, y las espaldas,
que algún tanto le cargaban, la hacían mirar al suelo más de lo que ella
quisiera. (I, 16)
Además, sus manos son descritas con el despectivo “muñecas”, sus
cabellos como “crines” y acerca de su aliento, dice el narrador “que, sin
duda alguna, olía a ensalada fiambre y trasnochada” (I, 16).
Esa descripción obviamente es irónica, puesto que el personaje pro-
tagoniza la burlesca acción que se desarrolla en el capítulo 16. Los cómicosaccidentes nocturnos intensifican los infortunios de Don Quijote y San-
cho, a la vez que acrecientan motivos para la risa y el deleite del lector.
Siendo así, el aspecto de Maritornes representa una satírica an-
títesis a la belleza idealizada de las doncellas y princesas de los libros
de caballerías. Su carácter es objeto de semejante ironía. Se dice que la
moza asturiana “presumía de muy hidalga”. Los asturianos, así como los
oriundos de las demás provincias del norte de España, en ese período de
la historia se consideraban naturalmente hidalgos, porque esas tierras no
fueron ocupadas por los musulmanes, no recayendo sobre ellos la duda
sobre la limpieza de su sangre cristiana, como sucedía a los naturales de
las provincias del sur. Uno de elementos que distingue a la gente noble
es el valor de la palabra empeñada y es en ese requisito que Maritornes
luce su hidalguía: jamás dio palabra de satisfacer a algún huésped que
no se la cumpliera.
Maritornes (www.paraquesirve.net/p/maritornes)
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 89/164
87
C APÍTULO 07
El patrón la llama “puta”, pero Maritornes no es una “mujer del par-
tido”, como las que Don Quijote encontró en la primera venta. Su oficio
es el de sirvienta, y sus tratos con los huéspedes tal vez puedan ser enten-
didos como manifestación de que disfruta libremente de su sexualidad –a
pesar de su presunto linaje honrado-, o de que lo hace en cambio de algún
dinero, o por ambos motivos, que absolutamente no interesan al enredo.
La presencia de mozas del partido, la poca limpieza y honestidad
de las ventas de la España del siglo XVII son atestadas por los cronistas
de la época. Sin embargo, vale destacar que Cervantes se abstiene de co-
mentarios moralizadores sobre el tema. Bajo las tintas de la ironía, Cer-
vantes alude a las libertades de Maritornes como si fueran prácticas ca-
ritativas, destacadas con el repetido “buena” (“la buena de Maritornes”,“buena moza”, “la buena doncella” (I, 16); “de muy buena voluntad” (I,
17)). Sin embargo, una clara virtud intelectual se vislumbra en la acción
de la asturiana: la astucia. Ella mantiene sus tratos en secreto y procura
ejecutarlos del mismo modo. Posiblemente nadie habría advertido su
visita al arriero si Don Quijote no estuviera insomne y delirando con las
fabulaciones de que está llena su memoria.
Aunque sea puntual en echar “a rodar la honestidad”, en un aspecto
Maritornes se asemeja a la mayoría de las jóvenes españolas del 1605, ensus ensoñaciones románticas, como lo declara durante el debate sobre
los libros de caballerías, en el capítulo 32 (Primera Parte).
Plasmando rasgos de los personajes cómicos del teatro popular con
otros de la vida cotidiana de las mujeres de su tiempo, se puede afirmar
que la sirvienta asturiana es retratada con mucho esmero, en cuerpo y
alma, por el autor. Acaso por eso se gane la simpatía de los lectores de
todos los tiempos.
7.4 Dorotea, elogio a la acción noble
En la soledad de la Sierra Morena una voz con tristes acentos desea
comunicar su desgracia al cielo, puesto que no encuentra consejo, alivio
ni remedio en los seres humanos.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 90/164
88
La voz despierta la curiosidad, y ésta lleva a un cuadro de pura
contemplación: un mozo vestido como labrador, con el rostro inclina-
do se lava los pies en el arroyo. Suspende a los secretos observadores
la blancura y belleza de los pies, “que eran tales, que no parecían sino
dos pedazos de blanco cristal” (I, 28). Sus piernas “de blanco alabastro”
parecían. Además, tenía unos cabellos rubios “que pudiera los del sol
tenerles envidia”, a los cuales les sirve de peine unas manos que “seme-
jaban pedazos de apretada nieve”.
Poco a poco el autor compone, ante la imaginación del lector, un
cuadro vivo en el que representa a Dorotea con todos los íconos de la
belleza femenina, a fin de incitar su curiosidad acerca del personaje. En
seguida, cede el turno al disfrazado mozo, para que cuente su historiaen primera persona. El lector ocupará, junto con el cura, el barbero y
Cardenio, el papel de destinatario privilegiado de la narración, al cual es
dado a conocer la historia directamente de quien la vivió, sin la interfe-
rencia irónica del narrador.
La autonomía del discurso deberá revelar si se comprueban o no las
expectativas sobre la autonomía de la acción que suscita el traje varonil y
sobre la virtud del carácter, indicado por la extrema belleza de la joven.
Caro estudiante, es importante que te enteres de que para el lector
contemporáneo a Cervantes, la imagen de una bella joven vestida de
hombre estaba cargada de significación. Era torrencial su frecuencia
en los palcos, afirma Carmen Bravo-Villasante en La mujer vestida de
hombre en el teatro español, siglos XVI-XVII (1955). Ella explica que el
prototipo del disfraz varonil adviene de los libros de caballerías italia-
nos. En el Orlando Innamorato (1487), de Boiardo, surgen Marfisa y
Bradamante, que fueron inspiradas en el mito de las Amazonas de la
Antigüedad clásica y en las doncellas andantes de las leyendas caballe-
rescas. En Orlando Furioso (1516), Ariosto da continuidad a las aven-
turas de las belicosas damas. Marfisa es la heroica guerrera, ansiosa por
conquistar gloria y fama a través de las batallas, mientras Bradaman-
te actúa como donna innamorata de semblante angélico que vistió la
armadura y ciñó la espada para combatir malignos encantadores que
aprisionaron a su amado Ruggero.
Dorotea, en Ilustración de
Gustave Doré.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 91/164
89
C APÍTULO 07
El tema de las heroínas en traje masculino entró en España por vía
del teatro de Lope de Rueda y, en prosa, a través de la historia de don Félix
y Felismena, intercalada en la Diana (1559), de Jorge de Montemayor.
El gesto decidido e independiente de Marfisa y Bradamante, la ac-titud libre, la superación o transgresión de los límites impuestos al bello
sexo las tornan “varoniles”, así como a sus innúmeras descendientes.
Bravo-Villasante explica que el concepto de mujer varonil era el más
alto ideal femenino del Renacimiento italiano, movimiento que ejerció
gran influencia en la cultura y en las artes españolas del siglo XVI.
El tema de la mujer vestida de hombre se consagró en España por
medio del teatro de Lope de Vega, de Tirso de Molina y de Calderón.
Bravo-Villasante señala que la popularidad de la figura se debe a que
su presencia garantía el prestigio del público, y también porque facili-
taba mucho el trabajo del dramaturgo, puesto que la mujer travestida
connotaba no sólo el argumento, sino también la trama y el desenlace.
Dentro de la temática amorosa, una promesa no cumplida, la deshonra
de la doncella o un amor no correspondido llevaban a las jóvenes a la
valiente actitud de travestirse para seguir el galán a fin de convencerlo
a cumplir la promesa, reparar el honor o conquistar el amor ambicio-
nado. En el transcurso de la trama podría haber variadas complicacio-nes, pero prontamente la heroína alcanzaba su premio y el desenlace
estaba garantizado.
En el Quijote aparecen diversas mujeres vestidas de hombre: Do-
rotea (I, 26-46), en la Primera Parte; la hija de Diego de la Llana (II, 49),
Claudia Jerónima (II, 60) y Ana Félix (II, 63) en la Segunda. Sin embar-
go, los personajes femeninos travestidos no siguen el mismo plan de
la acción del teatro, especialmente porque ganan densidad psicológica,
como vemos en el caso de Dorotea.
La figura casi divina de Dorotea tiene un origen social claramente
determinado y tan verosímil como el conflicto que ella personifica. Sus
padres son labradores, “gente llana, sin mezcla de alguna raza mal so-
nante, y, como suele decirse, cristianos viejos ranciosos; pero tan ricos
que su riqueza y magnífico trato les va poco a poco adquiriendo nom-
bre de hidalgos, y aun de caballeros” (I, 28).
Lope de Rueda , comediógrafoespañol, nacido en Sevilla
(¿1510?-1565), fue uno de losmaestros del primitivo teatrode su país. Autor y actor almismo tiempo, compusouna nutrida serie de pasos yentremeses: El convidado, Lacarátula, Las aceitunas, El ru-fián cobarde, Cornudo y con-tento, entre otros. Cervantes,que lo había visto representaren su niñez, lo elogia en el
prólogo a sus Entremeses.
La hija de Diego de la Llana esuna excepción entre las he-roicas doncellas travestidas.
El personaje y su conflicto forman parte de la parodiaque está en curso durante el
gobierno de Sancho. En eseepisodio se da una de lasconocidas complicacionesdel travestismo: las pasionesequívocas, como la que elhijo de Diego de la Llana,vestido de doncella, despiertaen el maestresala (I, 49).
Cuando Don Félix se mudódel pueblo a la corte, Felis-mena lo siguió y se vistióde paje para entrar a serviren su casa, como estrategiapara acercase a su amado.Como Marfisa y Bradaman-te, Felismena es hábil en elmanejo de las armas (cf.Diana, libro I).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 92/164
90
Sus padres son vasallos del Duque Ricardo, uno de los Grandes de
España. En el desigual linaje del señor y de sus vasallos Dorotea asienta
la causa de su desdicha. Es que su hermosura despertó el amor de don
Fernando, hijo del Duque. Los padres de la bella Dorotea le advertían
para que “considerase la desigualdad que había entre mí y Don Fernan-
do, y que por aquí echaría de ver que sus pensamientos [de Don Fernan-
do], aunque dijese otra cosa, más se encaminaban a su gusto que a mi
provecho” (I, 28).
Para comprender mejor el temor de los padres de Dorotea es im-
portante aclarar que los matrimonios desiguales en fortuna y linaje no
eran deseables en las sociedades tripartitas. Asimismo, la prevención
de los celosos padres alude al hecho histórico de que los jóvenes de lanobleza solían ejercitarse en el juego de la seducción con las hijas de los
vasallos de sus padres, porque con ellas las consecuencias eran menos
graves (cf. DUBY, 1988, p. 197).
Una noche, acosada por la súbita entrada de don Fernando en su
habitación, como también por sus fuertes brazos, Dorotea conoció car-
nalmente al hijo del Duque, bajo la palabra de matrimonio.
No obstante, don Fernando no cumplió con la palabra dada, pues-to que no trató de la boda con su padre, sino todo lo contrario: dejó de
visitarla y contrajo nuevas nupcias en una ciudad cercana. Dorotea, en-
tonces, tuvo la prueba de que fue engañada. Concomitantemente, tuvo
seguridad de que el alto título de don Fernando no encontraba corres-
pondencia en su carácter, que debería ser igualmente elevado.
La hija de labradores no se siente inferior al linajudo don Fernan-
do. Se lo dijo cuando él invadió su dormitorio: “tu vasalla soy, pero no
tu esclava; ni tiene ni debe tener imperio la nobleza de tu sangre paradeshonrar y tener en poco la humildad de la mía; y en tanto me estimo
yo, villana y labradora, como tú, señor y caballero” (I, 28).
Por la riqueza de sus padres pero, sobre todo, por su rectitud moral,
Dorotea se juzga merecedora de honra, como la gente de sangre ilustre.
Por creer firmemente en eso ella se trasviste y parte en búsqueda de su
prometido marido, para que él, como noble, cumpla la palabra empeña-
Márquez Villanueva aclaraque el matrimonio “por palabras de futuro”, o sea,
“consentido pero pospuesto”,como el realizado por Doro-tea y don Fernando, seguía
siendo lícito en la literatura, pero históricamente perdió la
validez después del Conciliode Trento (1545-1563).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 93/164
91
C APÍTULO 07
da. Podemos concordar con Ann Wiltrout en que Dorotea tiene como
meta “la restitución de su honra y también de la del noble que le dio
palabra de matrimonio” (1973, p. 171).
El conflicto en torno a esa bella villana coincide con el debate histó-rico fomentado por los humanistas simpáticos a las ideas de Erasmo, de
que el honor debería corresponder a la nobleza de la acción, no a la del
nacimiento. Convencida de la verdad de estos principios, cuando reen-
cuentra a don Fernando en la venta de Palomeque, Dorotea lo desafía a
probar su nobleza en sus actitudes: “la verdadera nobleza consiste en la
virtud, y si ésta a ti te falta negándome lo que tan justamente me debes,
yo quedaré con más ventajas de noble que las tú tienes” (I, 36).
Con su brillante argumentación Dorotea convence a los que la oyen
en la venta, inclusive a los amigos de don Fernando. Estos ratifican sus
argumentos y en coro abogan en su favor, suplicando al envilecido Don
Fernando que “venciéndose a sí mismo” muestre un generoso pecho y
que, “si se preciaba de caballero y de cristiano, que no podía hacer otra
cosa que cumplille la palabra dada” (I, 36). Por fin, logran llamarle a la
razón y él consiente en honrar su compromiso con Dorotea.
Caro estudiante, a lo largo de la Segunda Parte del Quijote encon-trarás a otros personajes femeninos travestidos. Al estudiarlos, tal vez
concluyas que cuando se conoce lo que va por el alma de esos caracte-
res, a través de su relato y de su acción, se percibe que son individuos
que conciben el mundo desde una perspectiva más elevada. Las her-
mosas jóvenes en traje varonil están convencidas de la superioridad
irrefutable de las leyes éticas, morales y espirituales que gobiernan el
mundo. Esta convicción determina su postura, dotándolas de una vo-
luntad imperiosa común a los héroes clásicos, lo que las torna agentes
de la restauración del orden superior que debe regir el universo.
Como no es posible analizar largamente a esos personajes, a con-
tinuación se apuntan algunas particularidades de Doña Rodríguez y de
Ana Félix, para ayudarte a percibir cómo cada carácter femenino es úni-
co, dotado de sentimientos y conflictos particulares.
Erasmo de Rotterdam (¿1469?-1536), humanistaholandés, autor de Adagios,Coloquios y Elogio de lalocura (1510). Estudió los
problemas sociales y religio- sos con equilibrio y un ideal puramente ético. Ejerció graninfluencia en la Europa de
su tiempo, singularmenteen España, que perduró poralgunos siglos.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 94/164
92
7.5 Doña Rodríguez, dama menesterosa
En el episodio de los duques (II, 30-57), la única persona que trata
a Don Quijote como verdadero caballero andante, legítimo protector delos desvalidos, es doña Rodríguez. Como dice Maria Augusta da Costa
Vieira, es ese personaje que no se arma de máscara -y que ingenuamente
cree en la autenticidad del caballero andante- el que desenmascara a los
otros fingidores (1985, p. 145).
La hidalga empobrecida secretamente recurre al paladín manchego
para que aderece tuertos, eso es, para que obligue, por las armas, al hijo
de un labrador rico que cumpla la palabra de matrimonio dada a su hija,
a fin de que la engañada muchacha recupere su honor.
Aunque tenga una torpe visión de la realidad , Doña Rodríguez
percibe muy bien la decadencia moral y financiera de sus amos, que se
excusan de tomar a su cargo el caso de su hija, puesto que no quieren
indisponerse con el rico labrador que les presta dinero. Ello lo denuncia
al caballero, el remediador de todas las cuitas del mundo. A fin de com-
probar la acusación, la dueña delata -¿o miente?- que la duquesa tiene
“dos fuentes (…) en las dos piernas, por donde se desagua todo el mal
humor de quien dicen los médicos que está llena” (II, 48). Doña Rodrí-
guez está introduciendo una sospecha sobre la corrupción interior de la
duquesa. La acusación es muy grave si tenemos en cuenta que, según la
tradición médica, el cuerpo era considerado el espejo del alma.
Por tanto, un cuerpo insano estaría
indicando la consecuente enfermedad del
alma de su bella señora, o sea, la corrupci-
ón de su naturaleza noble e insigne.
Pese a que esté involucrada en una có-
mica parodia, la dueña asturiana comulga
con las bravías heroínas travestidas la mis-
ma imperiosa seguridad de que la justicia
debe sobreponerse a todas las convencio-
nes y, además, que la nobleza de la sangre
ha de confirmarse en loables acciones.
Una irónica señal de suvista corta es su calidad de
“dueña antojuna” que se presenta ante Don Quijotecon unos “muy grandes an-
teojos” (II, 48).
Tuvo larga vigencia en Españael Examen de ingenios para
las ciencias (1575), de Huartede San Juan, un tratado de
medicina que describe y
analiza los elementos consti-tutivos del hombre y esta-
blece las relaciones entre las particularidades fisiológicas y sus atributos psíquicos. De
acuerdo con ese tratado,los rasgos exteriores, espe-cialmente del rostro, son laexpresión de los vicios y vir-
tudes, aptitudes y tendenciasdel individuo.
Grabado de Manuel Salvador
Carmona (www.unav.es/
biblioteca/fondoantiguo)
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 95/164
93
C APÍTULO 07
7.6 Ana Félix, la morisca cristiana
En el capítulo 63 de la Segunda Parte, publicada en 1615, por pri-
mera vez Don Quijote está ante una verdadera batalla, pero no actuará
en ella, tampoco en el trágico conflicto que allí se desvenda, el de la
hermosa Ana Félix .
En ese episodio el puerto, el mar y las embarcaciones no aluden a las
campañas que los caballeros andantes de los libros (Tirante, Esplandián,
Palmerín de Oliva, etc) hacían contra los turcos de Constantinopla, ad-
vierte Marín de Riquer, sino a la histórica expulsión de los moriscos de
España, en 1609, lo que tiñe esas páginas de “una actualidad inmediata
y apasionada que los contemporáneos debieron de percibir en toda sugravedad e, incluso, audacia” (1990, p. XLV).
En la segunda mitad del siglo XVI, con el levante de Granada, se
agravó el conflicto político y sociocultural que culminó con la expulsión
incluso los “moriscos antiguos”, aquellos que hacía mucho demostraban
haberse adaptado a la vida y a la religión cristiana. Domínguez Ortiz, en
la Historia de los moriscos (1989), registra que el 8 de octubre de 1611,
cuando el Rey Felipe III firmó el orden de expulsión de los “moriscos
antiguos” de Murcia, muchos clamaron en su favor alegando que debe-rían ser considerados cristianos. Fray Juan Pareda, enviado para exa-
minarlos, redactó en 1612 un informe en el que atestaba la cristiandad
de los de Ricote, manifiesta en actos públicos –procesiones, penitencias,
oraciones colectivas, muestras de piedad cristiana- que había presencia-
do y de cuya sinceridad no tenía dudas. Además, argumenta que hacía
tiempo bebían vino y comían tocino, y los menores de cuarenta años
no hablaban ni entendían el árabe. Por todo eso estimaba improcedente
su expulsión. Entretanto, la única concesión que logró fue postergar elplazo del destierro, pues “los rigoristas del Consejo propendían a creer
que aquellas demostraciones eran pura comedia y que, en el fondo, eran
moros como los demás” (1989, p. 199).
La varonil Ana Félix afianza su fe en su palabra y en su belleza.
Asegura que es cristiana “y no de las fingidas ni aparentes, sino de las
verdaderas y católicas” (II, 63). Atestigua que sus padres son cristia-
nos y que:
Se puede extender a AnaFélix lo que Maria Augustada Costa Vieira dice respectode Marcela y Dorotea, queellas “não chegam a interferir
nos destinos do cavaleiro eDom Quixote, por sua vez,não contribui em nada paraa resolução de seus conflitos”(“Personagens femininas emDom Quixote”, in: Anais doV Seminário Nacional Mulhere Literatura. Natal – RN, Ed.UFRN, 1995, p. 352).
Val de Ricote es un pueblo deMurcia. Al transferir el topó-nimo a su personaje “Ricoteel morisco” (II, 54), Cervantesalude directamente a los he-chos históricos allí ocurridos.
Morisco (a)
Dícese de los moros bauti-zados que se quedaron enEspaña después de la Recon-quista (Reconquista: períodode la historia de la PenínsulaIbérica que va desde la bata-lla de Covadonga (718) hastala toma de Granada (1492),en que se sucedieron lasluchas de los núcleos [reinos]cristianos contra los moros)(Pequeño Larousse Ilustrado,1984).
Ana Félix puede ser tajante
al reivindicar su identidad deverdadera cristiana, afirmaMárquez Villanueva, “porqueestá pregonando la plenitudde eficacia del sacramentobautismal en una tierra decristianos”. Sus palabrasrebosantes de orgullo segu-ramente fueron “terribles deoír” para aquellos que aboga-ron a favor de la expulsión(1975, p. 331).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 96/164
94
Mamé la fe católica en la leche; criéme con buenas costumbres; ni en
la lengua ni en ellas [costumbres] jamás, a mi parecer, di señales de ser
morisca. Al par y al paso de esas virtudes, que yo creo que lo son, creció
mi hermosura, si es que tengo alguna (II, 63).
Ana Félix, con la cuerda en la garganta, sabe como inclinar los áni-
mos a su favor. Para legitimar lo que es inescrutable a los sentidos huma-
nos –la verdad de sus palabras y la virtud de su fe- Ana Félix echa mano
de una señal visible: su hermosura. Si el cuerpo es un espejo del alma,
entonces su bello rostro figura la dignidad de su espíritu. Después de des-
tacar la fe y las costumbres cristianas como virtudes, Ana Félix censura
los vicios del rey de Argel: la codicia, la lujuria y el homosexualismo.
Además, al mentir al rey de Argelia y al engañarlo presentándoledon Gaspar Gregorio vestido de mujer, Ana Félix indica que usó de la
mentira y de la astucia de simular ser lo que no es –actitudes que con-
denaron a los de su raza a la expulsión- para engañar al enemigo de los
cristianos españoles.
Por lo tanto, Ana Félix coloca la finalidad loable de su acción indivi-
dual en la contracorriente de la masa de los que fueron desterrados.
Los medios (la mentira y el engaño) no son cuestionados, muchomenos condenados. Tal vez ahí se pueda advertir el guiño de Cervantes
sobre la parcialidad en la aplicación de la justicia.
Seguramente las palabras de la bella prisionera que tocaron más
hondamente al tribunal fue la súplica con que encierra su relato: “lo que
os ruego es que me dejéis morir como cristiana”. Por medio de esta solici-
tud hecha en la inminente hora de la muerte, teniendo el lazo de la horca
en la garganta, Ana Félix prueba que posee la más auténtica preocupa-
ción de los católicos contrarreformados: el celo por el destino del alma.
Como una católica ejemplar , ella no suplica que rescaten su fortuna o a
don Gaspar, porque su principal bien es su alma, cuyo destino eterno
depende de modo de morir. Para cumplir con los dogmas de la Iglesia,
antes de la última hora el católico debería confesarse, recibir el perdón,
la comunión, la extremaunción y ser sepultado en tierra bendita.
Nótese que en ese episodioel hombre travestido de
mujer tiene una connotacióntrágica, acorde con la trama.
El propósito del travestismoes salvaguardar la identidad
y la integridad de don GasparGregorio.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 97/164
95
C APÍTULO 07
Las lágrimas de Ana Félix corroboran la sinceridad de sus palabras
y mueven a los que la oyen al llanto. Compadecido, el virrey de Barcelo-
na la liberta y, más tarde, buscará los medios legales para que permanez-
ca en España. La participación de Ricote intensifica la dramática escena.
Sus lágrimas y ruegos se añaden a los de su hija. Entretanto, para el
lector, el reconocimiento de que Ricote es el padre de Ana Félix adquiere
un significado particular: comprueba la veracidad de la confesión de fe
de la prisionera. Sólo el lector sabe que, algunos capítulos antes, Ricote
había declarado a Sancho: “yo sé cierto que la Ricota mi hija y Fran-
cisca Ricota mi mujer son católicas cristianas” (II, 54). Posiblemente,
con ese inusitado encuentro, en que se congregan confesiones obtenidas
en distintas circunstancias, Cervantes pretenda inclinar el ánimo de sus
lectores a la compasión.
El efecto inmediato del relato autobiográfico de la morisca cristiana
es la liberación de la pena por la muerte de los soldados españoles, en
la batalla naval. No obstante, su discurso remite a un crimen anterior,
contra su fe, cometido por aquellos que la condenaron al destierro acu-
sándola indebidamente de ser “infiel”. Por medio de su autodefensa la
acusada sutilmente invierte los papeles, colocando a los acusadores en
el lugar de reos de su propia conciencia.
En los moldes del conflicto que Ana Félix personifica, el de la apa-
riencia exterior y de la esencia interior, se puede concluir que los panta-
lones de la bella travestida exteriorizan una virtud que el relato en pri-
mera persona confirma: el ánimo “varonil” del personaje. Ese atributo
se configura en su inquebrantable disposición para ajustar su destino
de modo que puede vivir su fe de forma digna. Esa determinación la
lleva a usar de su inteligencia, astucia y valor en acciones y palabras ad-
mirables, que despiertan la compasión –la más elevada de las virtudesteologales- de sus jueces y de todos los que la oyen (quizá, de muchos
que leen sus palabras…).
Caro estudiante, en ese capítulo te dimos informaciones que te per-
miten seguir adelante el análisis de los personajes femeninos del Quijo-
te. ¡Anímate!
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 98/164
96
Bibliografía consultada
BRAVO-VILLASANTE, Carmen. La mujer vestida de hombre en el teatro es- pañol, siglos XVI-XVII. Madrid: Revista de Occidente, 1955.
DOMÍNGUEZ ORTIZ, Antonio. Instituciones y sociedad en la España de los Áustrias. Barcelona: Ariel, 1985.
DOMÍNGUEZ ORTIZ, Antonio; VINCENT, Bernard. Historia de los moriscos.Madrid: Alianza, 1989.
DUBY, Georges. O cavaleiro, a mulher e o padre. Trad. G. Cascais Franco.Lisboa: Dom Quixote, 1988.
LAMB, Ruth. Las mujeres en El Quijote: contraste entre la mujer rena-centista y la mujer barroca. In: Actas del I Congreso Internacional sobreCervantes. Madrid: Edi-6, 1981, p. 767-772.
LEÓN, Fray Luis de. La perfecta casada (1583). 9. ed. Madrid: Espasa-Calpe,1968.
MÁRQUEZ VILLANUEVA, Francisco. Personajes y temas del Quijote. Madrid: Taurus, 1975.
PARKER, Alexander A. La filosofía del amor en la literatura española, 1480-1680. Trad. Javier Franco. Madrid: Cátedra, 1986.
RIQUER, Martín de. Introducción. In: CERVANTES S., Miguel de. El inge-nioso hidalgo don Quijote de la Mancha. Barcelona: Planeta, 1990, p. XVI-LXXXIV.
SALAZAR RINCÓN, Javier. El mundo social del Quijote. Madrid: Gredos, 1985.
SCHARDONG, Rosangela. A imagem da “mulher varonil” em Dom Quixote:estudo dos relatos femininos em primeira pessoa. Dissertação de mestra-do. Universidade de São Paulo, 1997.
SOLDEVILA, F. Historia de España. Barcelona: Ariel, tomo V, 2. ed., 1963.
TUÑÓN DE LARA, Manuel, et alii. Historia de España. Barcelona: Lobor,1991.
VICENS VIVES. Historia de España y América. 2. ed. Barcelona: Vicens-Vives,tomo III, 1971.
VIEIRA, Maria Augusta da Costa. O dito pelo não dito: Dom Quixote no pa-lácio dos duques. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo,1985.
VIVES, Juan Luis. Formación de la mujer cristiana (1523). In: Obras com- pletas. Ed. Lorenzo Riber. Madrid: Aguilar, tomo I, 1947.
WILTROUT, Ann E. Las mujeres del Quijote. In: Anales Cervantinos. Madrid:Consejo Superior de Investigaciones Científicas –CSIC-, tomo XII, 1973,
p. 167-172.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 99/164
Unidad DDe los vestíbulos a la escena
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 100/164
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 101/164
99
C APÍTULO 08
Los textos preliminares y losautores del Quijote
No es lo mismo escribir una novela en el siglo XVII y en el siglo XXI.
En la época de Cervantes había que cumplir normas incluso para la com-
posición del prefacio, como será indicado en este capítulo.
Aunque al principio pudimos evadir la lectura del prólogo del Qui-
jote de 1605, no debemos dejar de dar atención al de la Segunda Parte,
de 1615. Este prólogo contiene una noticia que interfiere decisivamente
en las aventuras del caballero manchego y, de modo singular, en la com-posición de la novela: la aparición de una segunda parte apócrifa. En
consecuencia, en la Segunda Parte del Ingenioso Caballero Don Quijote
de la Mancha, que Cervantes publica en 1615, vemos encenderse la saña
de Cide Hamete -el autor arábigo-, que reivindica la condición de verda-
dero autor. Además, las voces de los narradores y personajes se suman a
la de los protagonistas a fin de legitimar su autenticidad, con vistas a de-
preciar la mala invención del falso autor. En este capítulo te guiaremos
en la observación y en el estudio de estos temas.
Para advertir el cambio de estilo y de las motivaciones de Cervantes
en el prólogo de 1615, nos parece acertado primeramente retroceder
al de 1605, a la inserción de Cide Hamete y a la configuración de Cer-
vantes como segundo autor, para mejor conducir tu reflexión, estimado
estudiante, sobre los aspectos de la composición del Quijote que este
capítulo pretende enfocar, ¿vale?
8.1 Preliminares del Quijote de 1605
Caro alumno, antes de dar inicio al análisis del texto literario, con-
viene aclarar qué un texto preliminar .
Alberto Porqueras Mayo, en El prólogo como género literario (1957),
explica que, en el llamado Siglo de Oro, delante de la obra literaria van
apéndices de diverso carácter conocidos con el nombre de preliminares.
8
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 102/164
100
Unos son de mero carácter burocrático y legislativo, como la tasa y la fe
de errata. La primera determina el precio del libro y la segunda confir-
ma que la edición impresa es igual a la manuscrita. En seguida vienen
las aprobaciones, que eran escritas por los censores, hombres de la Igle-
sia encargados de impedir la publicación de obras que no estuvieran en
conformidad con las leyes y dogmas de la fe católica, que ofendieran a la
monarquía o a las costumbres. Las aprobaciones podían brindar al lector
ideas de indudable valor estético, cuando sus redactores eran destacados
hombres de letras, pero solían ser anodinas.
Los versos laudatorios generalmente eran compuestos por los ami-
gos del autor, o por alguna autoridad del área de conocimiento del libro
–poesía, teología, teatro-, en alabanza a la obra. Se entendía que tales en-comios servían como substancial recomendación a la lectura. La dedica-
toria es, también, un preliminar importante, a veces decisivo. El destina-
tario siempre es una personalidad de la cual el autor espera protección
financiera y moral, acaso su libro sea censurado.
Sin duda, el prólogo es el preliminar más importante, porque confi-
gura un ornato literario tradicional, como asegura el propio Cervantes.
Fíjate, atento estudiante, que al principio del segundo párrafo del pró-
logo, Cervantes explica al lector que quisiera darle la historia desnuda,“sin el ornato del prólogo”. Al final de ese párrafo le dice a su amigo que
estaba afligido y absorto porque “pensaba en el prólogo que había de
hacer a la historia de don Quijote, y que me tenía de suerte que ni quería
hacerle, ni menos sacar a luz sin él las hazañas de tan noble caballero”.
De hecho, en el Siglo de Oro, ningún libro que ambicionara ser dig-
no de nota podría prescindir del prólogo, afirma Porqueras Mayo.
Este estudioso explica que el prólogo es un género literario definidopor estructuras determinadas, impuestas por la tradición que se hace ley.
Es una fórmula tipográfica estilísticamente independiente del texto que
precede, pero que tiene su materia intrínsecamente ligada a él, siendo
permeable y dependiente del texto a que sirve. Así, por ejemplo, los pró-
logos a los libros de teología traían citas a autoridades teologales, los de
los libros de poesía trataban de cuestiones pertinentes a la lírica y los del
teatro aludían a los paradigmas de la escenificación.
El contraste puede ser adver-tido en las aprobaciones de la Segunda Parte del Quijote. Es
fácil notar que la del Licencia-do Márquez Torres se distin- gue de las dos anteriores al
formular un encendido elogioa Cervantes y a sus obras.
Ella es un importante docu-mento acerca del inmediatoéxito del Quijote en España y Europa, bien como de la
gloria que gozó Cervantes en sus últimos meses de vida.
Cervantes dice, con algunacomplicación sintáctica, que
no quiere hacer el prólogo, pero tampoco quiere sacar a
luz (o sea, imprimir) el libro sin ese importante adorno.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 103/164
101
C APÍTULO 08
Tradicionalmente el prólogo tenía la finalidad de captar la benevo-
lencia (captatio benevolentiae) del lector por medio de un texto simple,
breve, con estilo directo y personal, en el cual el autor se dirigía directa-
mente al lector para presentar el libro, justificar su motivación para escri-
bir, defender su opinión y elogiar sus logros. Porquera Mayo afirma que:
el prólogo es lo más íntimo del libro y como una vida prolongada es
una anticipación de él. Técnicamente es un preliminar, literariamente es
ya la zona del libro que se adelanta, nos tiende la mano y nos ‘introduce’
realmente es su misma vida” (1957, p. 106).
La existencia de estructuras tradicionales que aseguran al prólogo
el estatuto de género literario suscita, no obstante, un afán de originali-
dad y extravagancias formales, actitud propia de la vitalidad de las artesde los siglos XVI y XVII. Un buen ejemplo es el prólogo de Cervantes
al Quijote de 1605.
8.1.1 El prólogo de 1605
Ese proemio cumple la tradicional función de presentar el libro
–aunque muy brevemente-, pero, en cuanto al estilo, echa mano de una
inusual ironía. También sale de las acostumbradas sendas al inventar un
diálogo para justificar su novedosa materia e inusitados versos lauda-torios. Observa, caro estudiante, que en vez de aludir al contenido de la
novela, como sería esperado, en el prólogo de 1605 Cervantes describe,
cuestiona e ironiza las normas que rigen el género prólogo y la costum-
bre de los poemas encomiásticos.
Respecto de esta actitud cervantina, es interesante considerar lo que
dice Martín de Riquer. Él señala que en 1605 Cervantes tenía cincuenta
y ocho años, y hasta entonces el único libro que había publicado era la
Galatea, en 1585. Lope de Vega era, en ese período, el escritor que se
hallaba en la cumbre de la gloria, era popularísimo, admirado y brillan-
te. Lope constantemente publicaba libros de los más diversos géneros y
estrenaba con gran éxito multitud de comedias, mientras Cervantes lle-
vaba una vida desdichada y opaca, y había fracasado ante el público en
el teatro. Riquer afirma que, sin duda, Cervantes solicitó a diversos escri-
tores y personas encumbradas que le dieran poesías en elogio al Quijote,
sin que nadie se dignara a complacerle. Ello llegó a los oídos de Lope de
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 104/164
102
Vega, quien en una carta a un anónimo, fechada el 4 de agosto de 1604,
escribió: “De poetas, no digo, buen siglo es éste: mucho en cierne para
el año que viene, pero ninguno hay tan malo como Cervantes ni tan ne-
cio que alabe a don Quijote”. Esa carta se divulgó, y Cervantes, irritado,
critica en el prólogo de 1605 la costumbre de poner poesías laudatorias
ajenas a principio de los libros.
Riquer observa que Cervantes ataca a Lope de Vega al decir, iróni-
camente, que “ha de carecer mi libro de sonetos al principio, a lo menos
sonetos cuyos autores sean duques, marqueses, condes, obispos, damas o
poetas celebérrimos”. Riquer aclara que al frente del poema La hermosura
de Angélica (1602), de Lope de Vega, figuran doce poesías laudatorias de
diversos autores, entre los cuales hay un príncipe, un marqués, dos con-des y dos damas. Cervantes satiriza cómicamente esa práctica colocando
en los preliminares del Quijote poesías burlescas firmadas por fabulosos
personajes de los libros de caballerías (RIQUER, 1990, p. 11-14).
Al censurar los tradicionales usos, Cervantes podría suscitar mu-
chas críticas. Por ello, supone Edwin Williamson, introduce en el pró-
logo la curiosa figura del “amigo” que le dice cómo debe proceder. El
diálogo entre el autor y su amigo componen un fingido enredo que an-
ticipa la parodia a las fórmulas tradicionales que el lector encontrará enel cuerpo principal de la novela (1991, p. 125).
El prólogo también se conecta con el texto principal al anticipar
la ironía que de él rezuma. Por ejemplo, el “desocupado lector” con que
Cervantes inicia el prefacio es una fórmula de tratamiento que dista del
tradicional “estimado lector”, o “discreto lector”. Pero, tras el ataque, el es-
critor se finge sumiso por medio del tópico de la humildad (topos humi-
litatis). Porqueras Mayo explica que, en el género prólogo, era frecuente
que el autor se presentase al lector con una actitud humilde, disculpán-
dose por su poco caudal y por las faltas que podría encontrar en el libro.
Cervantes utiliza ese tópico al referirse al “estéril y mal cultivado ingenio
mío” y al alegar que no es capaz de cumplir con las normas acostum-
bradas para los preliminares, tampoco de engendrar un hijo con menos
faltas. Sin embargo, al exagerar la debilidad de su ingenio y al mencionar
que el libro fue concebido en la cárcel –hecho que muy bien podría dejar
de mencionar-, Cervantes ironiza la figura del propio autor.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 105/164
103
C APÍTULO 08
¡Ojo! Puedes revisar los datos de la biografía de Cervantes en tulibro Literatura Hispánica I , Unidade B, cap. 4.
La metáfora del libro como hijo y del autor como padre también
es un conocido tópico del género. Entretanto, Cervantes lo altera afir-
mando que, “aunque parezco padre, soy padrastro de don Quijote”. De
este modo, al recargar su actitud humilde, incrementa la ironía. Delibe-
radamente irónicos son el uso del aumentativo para dirigirse al lector
(“lector carísimo”) y el énfasis en la autonomía que el lector dispone
para juzgar al libro: “no quiero suplicarte (…) que perdones o disimules
las faltas que en este mi hijo vieres, y ni eres su pariente ni su amigo, y
tienes tu alma en tu cuerpo y tu libre albedrío como el más pintado”.
Por lo tanto, el lector puede calificar la obra como quiera, puesto que es
señor y rey de su propio juicio.
La más vehemente ironía cervantina, no obstante, va dirigida hacia
“el empedrado de fórmulas que hereda el prologuista”, asegura Porque-
ras Mayo (1968, p. 24). Los ataques son directos y claros, pero en la voz
de un “amigo”. Toda la censura a los moldes anquilosados de la citas de
autoridades y de las citas en latín, la crítica al vulgo y, principalmente, laidea de forjar burlescas poesías laudatorias son enunciadas por el “gra-
cioso y bien entendido amigo”. Consecuentemente, sólo a él caben las
embestidas contra ese inaudito modo de redactar los preliminares.
Edwin Williamson hace notar que Cervantes, en el prólogo de 1605,
parece dedicado a forjar para sí el papel de autor humilde y terrible-
mente honesto, acongojado por no saber qué escribir, que teme ser des-
preciado por el lector (cf. 1991, p. 126). Tal representación se fragua en
una imagen, una suerte de autorretrato en palabras: “estando una [hora]suspenso, con el papel delante, la pluma en la oreja, el codo en el bufete
y la mano en la mejilla, pensando lo que diría”.
Nota, caro estudiante, que esa imagen de Cervantes como autor del
Ingenioso Hidalgo don Quijote de la Mancha puede permanecer en la
mente del lector sólo hasta el capítulo ocho, porque desde allí surge otra.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 106/164
104
8.2 El historiador arábigo Cide Hamete,autor del Quijote
Hasta el capítulo ocho de la Primera Parte, Cervantes se presentacomo una especie de erudito que recopilaba datos de otros autores y
de los archivos de la Mancha para ordenar la historia de Don Quijote,
como se observa, por ejemplo, en el capítulo dos. En la primera salida
del caballero, el narrador afirma:
Autores hay que dicen que la primera aventura que le avino fue la del
Puerto Lápice; otros dicen que la de los molinos de viento; pero lo que
yo he podido averiguar en este caso, y lo que he hallado escrito en los
anales de la Mancha, es que él anduvo todo aquel día […] (I, 2).
No obstante, en el octavo capítulo Cervantes se introduce en las
páginas de la novela apesadumbrado por no saber más de Don Quijote.
Allí nos cuenta cómo fue el hallazgo, en Toledo, de una obra manuscrita,
con caracteres arábigos, llamada Historia de don Quijote de la Mancha,
escrita por Cide Hamete Benengeli, historiador arábigo. A partir de este
momento, hasta la última página de la Segunda Parte, la autoría será atri-
buida a Cide Hamete y la historia de Don Quijote se nos presenta como
una traducción de ese original árabe. Un “morisco aljamiado”, eso es, quedomina el castellano, será su verdadero traductor . Cervantes, a su vez, se
relega a un plano secundario al considerarse el “padrastro” del Quijote
(I, pról.), “el segundo autor” (I, 8), “el curioso que tuvo cuidado de hacerla
traducir [la historia]” (II, 3), o simplemente “el traductor” (II, 18).
Martín de Riquer dice que con la inserción del autor arábigo Cer-
vantes parodia “un aspecto del estilo de los libros de caballerías, en los
que es muy frecuente que los autores finjan que los traducen de otra
lengua o que han hallado el original en condiciones misteriosas” (1990,
p. 99). El raro origen de los libros de caballerías incluía tumbas, ermitas,
ruinas, pergaminos, placas de cobre, cajas de plomo, entre otros inusua-
les medios de conservar y ocultar la escritura. Cervantes los alude en las
últimas páginas de la Primera Parte, fíjate.
Entretanto, E.C. Riley señala que, si al fingir Cervantes que la his-
toria de Don Quijote estaba escrita por un historiador arábigo llamado
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 107/164
105
C APÍTULO 08
Cide Hamete Benengeli no hubiera tenido más interés ni pretendido
otra cosa que parodiar un gastado artificio, habría poco que decir acerca
de ello. Sin embargo, el efecto que Cervantes consigue es aumentar la
notable profundidad del libro, a la vez que arroja mayor luz sobre su
teoría de la novela (1981, p. 316-317).
Riley considera que Cervantes hace de Cide Hamete un ser “delibe-
radamente absurdo” que actúa en diferentes papeles. En el rol de narra-
dor, Riley destaca la función mediadora del autor arábigo, especialmente
cuando se separa de la narración para hacer comentarios marginales
que tienen por objetivo preparar al lector para algo que va a suceder
estimulando, quizás, su curiosidad. El éxito de esta mediación de Be-
nengeli está en que las apelaciones al lector entablan contacto con él,creando cierta intimidad.
Conviene señalar que, como cronista de las aventuras de Don Qui-
jote, Cide Hamete ya existe en la mente del caballero desde el momento
de su primera salida:
¿Quién duda sino que en los venideros tiempos, cuando salga a luz la
verdadera historia de mis famosos hechos, que el sabio que los escri-
biere no ponga, cuando llegue a contar esta mi primera salida tan de
mañana, desta manera?: ‘apenas había el rubicundo Apolo […] (I, 2).
El papel de sabio, o mago, que puede ser inmanente y trascendente,
se mezcla con el de cronista, o historiador. Como mago y sabio Cide Ha-
mete tiene el privilegio de conocer los pensamientos más insignificantes
y los sentimientos más triviales e inconfesos de sus personajes, advierte
Riley (1981, p. 325), en ejemplos que fácilmente podrás encontrar, ¿no
es cierto, atento estudiante?
Como cronista, el autor arábigo registra los hechos de los protago-
nistas, algunas veces con excesiva e inconveniente puntualidad, observa
Williamson. Así lo hace, por ejemplo, al narrar los cómicos hechos de la
venta de Palomeque, en que Don Quijote acosa a Maritornes, es apor-
reado por el arriero, Sancho se desagua “por entrambas canales” y es
manteado, entre otros infortunios (I, 16-17).
El ariero defiende a Maritornes
del acoso de don Quijote (I, 16).
Ilustración de Gustave Doré.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 108/164
106
Todos esos acontecimientos, tan contrarios a las nobles intencio-
nes del caballero, son descritas detalladamente, confirmando la ad-
vertencia: “fuera de que Cide Hamete Benengeli fue historiador muy
curioso y muy puntual en todas las cosas, y échase bien de ver, pues las
que quedan referidas, con ser tan mínimas y tan rateras, no las quiso
pasar en silencio” (I, 16). Cide Hamete se detiene en cosas soeces que
un “historiador grave” seguramente pasaría por alto (WILLIAMSON,
1991, p. 200-201). Al autor moro, entonces, y no a Cervantes, se deben
dirigir las críticas a la atención dada a las ordinarias menudencias de
caballero y escudero.
Sin embargo, es coherente inquirir: ¿merece crédito ese puntua-
lísimo historiador? Riley considera que Cervantes se cuida mucho deaclarar que Cide Hamete es una impostura, eso es, un engaño. Prueba
de ello es que nos deja abrumados ante la ambigüedad con que lo refie-
re. Si, por una parte, se le presenta como un historiador “muy curioso y
muy puntual en todas las cosas” (I, 16), la “flor de los historiadores” (I,
52), el “fidedigno autor” (II, 61), por otra parte, hace notar que Benen-
geli es un moro, y era “muy propio de los de aquella nación ser menti-
rosos” (I, 9) y que “de los moros no se podía esperar verdad alguna” (II,
3). Para confundirnos aún más, lo vemos jurar “como católico cristiano”
(II, 27). El autor arábigo “es, por tanto, una paradoja cómica, alguien a
quien tenemos que creer y a quien no tenemos que creer”, afirma Riley
(1981, p. 234). Sin embargo, no es simplemente un elemento cómico
de la parodia. Este renombrado cervantista concluye que “Benengeli
está representado al novelista, que es en parte historiador y en parte
poeta”. En cuanto historiador (o cronista) debe atenerse a la verosimili-
tud de los hechos, del espacio y del tiempo. En cuanto mago (o sabio),
puede conocer los pensamientos y emociones de los personajes, puede
inventar quimeras, todo lo que dice respecto a la poesía y a la fantasía,
que operan en “regiones extra-históricas” (1981, p. 326-327). Se puede
afirmar que el historiador moro es una parodia al tradicional artificio
de los autores extranjeros de los libros de caballerías, pero también un
simulacro de los novelistas del siglo XVII, que escriben “historias” que
no deben ser creídas al pie de la letra.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 109/164
107
C APÍTULO 08
8.2.1 El manuscrito arábigo: la clandestinidad del Quijote
de Cide Hamete
Si Riley cree que Cide Hamete es un “personaje deliberadamente
absurdo” cuya hechura deja entrever la teoría de la novela de Cervan-tes, Mercedes Alcalá Galán añade que Cide Hamete es definitivamente
inverosímil, y que su presencia permite suponer la postura política de
Cervantes ante una problemática cuestión de su tiempo.
Alcalá Galán señala que la lengua árabe estaba prohibida en España
desde 1566, tanto la producción oral como la escrita, y que, por tanto,
ese Quijote de Cide Hamete sería un libro clandestino. Esta autora en-
tiende que la prohibición del idioma -forma absoluta de control- intentó
apagar la existencia y la memoria de la cultura árabe en la Península.Ella refiere los decretos que antecedieron al de 1566, imponiendo pro-
gresivas restricciones a la lengua, a la religión y a las costumbres de los
moros, los obliga a cambiar el nombre, invalida sus documentos y, por
fin, culminan en la expulsión en 1609-1614. Durante ese largo proceso
la lengua va encarnando paulatinamente un carácter subversivo, en for-
ma de resistencia, en prueba de apostasía de aquellos que la usaban. Por
consiguiente, la posesión de libros en árabe era uno de los delitos más
severamente punidos por el Santo Oficio. Los papeles escritos en árabecausaban temor a los cristianos viejos, mientras que, para los moriscos,
adquirían un carácter casi sagrado y les tenían gran aprecio, aunque no
los supieran leer (ALCALÁ - GALÁN 2009, p. 117-125).
Siendo así, sería improbable históricamente que Cervantes pudiera
comprar viejos cartapacios en la calle del mercado en Toledo, tampo-
co que encontrara por allí un joven morisco aljamiado que supiera leer
el árabe. Sería realmente imposible que en el siglo XVI hubiera en Es-
paña “un historiador arábigo” (I, 9), o un “autor arábigo y manchego” (I,22), aún menos un “filósofo mahomético” (II, 53) que invocara a Alá y a
Mahoma frecuentemente.
Alcalá Galán considera que al concebir al autor árabe y al traductor
morisco aljamiado, Cervantes compone la poética de lo imposible. Ella
recuerda que en la Edad Media fue muy significativo el hibridismo entre
la lengua y la cultura cristianas y musulmanas en la Península. Sintomá-
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 110/164
108
tico fruto de esa hibridación fue el aljamiado, o sea, la lengua romance
de los mozárabes escrita en caracteres árabes. Con la prohibición del
árabe, el proceso se invirtió: el castellano pasó a sustituir el árabe en
textos que trataban de asuntos islámicos.
¡Ojo! Ya has estudiado las formas poéticas híbridas de las moaxajas,
que son escritas en árabe, pero terminan con una jarcha –una can-
cioncilla en lengua vulgar o en lengua romance-. Revísalas en Intro-
dução ao estudo do texto poético e dramático, Unidad A, cap. 3)
En el Quijote esa conexión, esa equivalencia y continuo tránsito de
una lengua a otra se hace presente en el hecho de que don Gaspar Gre-gorio –conterráneo de Ana Félix y de Ricote- sepa árabe. También se
pone en evidencia en el discurso de Don Quijote sobre los préstamos del
árabe en el castellano (II, 67), señala Alcalá Galán (2009, p. 140).
Para esa investigadora el Quijote de Cide Hamete es un perfecto
texto aljamiado en el que la materia cristiana –las aventuras de un ca-
tólico caballero manchego- son registradas en la lengua árabe. Afirma
que lo que puede parecer un simple juego en la metaficción de la obra,
no lo es. Ella cree que Cervantes se niega a apagar la memoria de la
presencia de la cultura musulmana en España. Alcalá Galán entiende
la naturaleza aljamiada del Quijote como una postura política de Cer-
vantes ante un auténtico dilema histórico de su tiempo (2009, p. 141).
Así que el arte, aunque paródica y burlona, no se aleja de los verdaderos
tiempos que la engendraron.
8.3 Preliminares del Quijote de 1615
En este apartado, caro estudiante, queremos llamar tu atención hacia
algunos datos que nos parecen relevantes a la comprensión de la historia
de esta magistral obra de la literatura española, lo que incluye algunos
aspectos de la vida de Cervantes y de los conflictos que vivían los autores
profesionales de su tiempo. Vale resaltar que la biografía del escritor no
explica su obra, pero nos ayuda, en muchos aspectos, a comprenderla.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 111/164
109
C APÍTULO 08
Primeramente, es importante observar el cambio en el título de la
novela: Segunda Parte del Ingenioso Caballero Don Quijote de la Man-
cha, por Miguel de Cervantes Saavedra, autor de su primera parte.
Martín de Riquer advierte que Don Quijote nunca fue caballero,pese a la farsa del capítulo tres de la primera parte, en la que fue armado
por el ventero. Riquer cree que la probable motivación de la alteración
del título (sustituyendo el término “hidalgo” por “caballero”) se debe al
empeño de Cervantes en que su Segunda Parte auténtica no se pudiera
confundir con la apócrifa de Avellaneda, publicada en 1614 con el título
Segundo Tomo del Ingenioso Hidalgo don Quijote de la Mancha (1990, p.
551). El mismo afán, seguramente, justifica la nota “autor de su primera
parte” en la portada del Quijote de 1615.
En relación a las aprobaciones, comentamos al principio (8.1) que la
del Licenciado Márquez Torres nos trae noticias sobre el éxito de las obra
de Cervantes en el extranjero. Los hechos que el Licenciado menciona son
verídicos y aluden a la visita que su superior, don Bernardo de Sandoval
y Rojas, hizo a Noël Brulart de Silley, quien, en calidad de embajador del
rey de Francia, fue a Madrid en febrero de 1615 para acelerar los trámites
de las bodas del príncipe de Asturias (futuro Felipe IV) con doña Isabel
de Borbón, hermana del rey francés (RIQUER, 1990, p. 552).
En el privilegio, expedido al mando del rey, se puede observar el
complicado tránsito que las obras debían pasar hasta tener la permisión
y las debidas licencias para ser publicadas, así como las penalidades a las
distintas infracciones discriminadas.
En la dedicatoria al Conde de Lemos, Cervantes declara sono-
ramente que recibe su auxilio financiero: “me sustenta, me ampara
y hace más merced que la que yo acierto a desear”. En lo tocante alamparo, podemos suponer que se trata de la salvaguardia legal para
la impresión de sus obras ante el Consejo de Castilla. Según Riquer, el
Conde fue protector de Cervantes de 1613 a 1616, por ello le dedicó,
en 1613, sus Novelas ejemplares.
En esa dedicatoria también encontramos noticias sobre la cuantio-
sa producción literaria de Cervantes entre 1615 y 1616, toda ella dedi-
Nótese que hasta entoncesCervantes sólo había publi-cado la Galatea (1585) y elQuijote de 1605.
El Conde de Lemos (1576-1622) protegió a numerososescritores, entre ellos los
Argensola, Lope de Vega yGóngora.
Portada de la Segunda Parte del
Quijote.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 112/164
110
cada al Conde. Al principio menciona el envío de sus comedias (Ocho
comedias y ocho entremeses), publicadas en febrero de 1615. En el último
párrafo anuncia la remesa de Los trabajos de Persiles y Sigismunda.
8.3.1 El prólogo de 1615
Ese prólogo va dirigido, por supuesto, al lector español de 1615 que
conocía muy bien los temas a los que alude el ingenioso Cervantes, por
eso él puede suprimir las acusaciones que el falso autor del Quijote le ha
dirigido en el prólogo de la edición apócrifa de 1614. Para ayudarte, caro
estudiante, a comprender mejor la vehemente réplica de Cervantes a su
imitador, te daremos aquí algunas informaciones para que rellenes las
lagunas y disfrutes de ese sabroso diálogo entre el falso y el verdadero
autor del Caballero de la Mancha.
Inicialmente, debemos observar como Cervantes cambia la estra-
tegia de composición. En el prólogo de 1605 había inventado un diálo-
go directo con un supuesto “amigo”, del cual el lector participaba como
mero observador. Ya en el prólogo de 1615 el autor habla directamente al
lector, sin la ironía que había usado antes con él. Ahora es el falso autor
quien participa del diálogo como destinatario indirecto de lo que dice
Cervantes y de lo que le diría al lector, si por ventura llegara a conocerlo.A ese autor apócrifo va dirigida la mordacidad que en 1605 Cervantes
había direccionado a las tradicionales fórmulas de los preliminares.
En el prólogo de 1615, irónicamente Cervantes afirma que no cor-
responderá a la expectativa del lector de que insulte al insolente autor
que lo agravió llamándolo asno, mentecato y atrevido. Sin embargo, al
enumerar los vilipendios, el insulto está hecho.
Cervantes se resiente porque su imitador le note de viejo y manco.Es que Avellaneda escribió en su prólogo: “y pues Miguel de Cervantes
es ya de viejo como el castillo de San Cervantes, y por los años tan mal
contentadizo que todos le enfadan…” (apud RIQUER, 1990, p. 557). Es
verdad que en 1614 Cervantes ya tenía 67 años, pero arguye que “hace
de advertir que no se escribe con las canas, sino con el entendimiento, el
cual suele mejorarse con los años”. A respecto de su manquedad –Cer-
vantes no tenía los movimientos de la mano izquierda, a causa de una
Se trata de una novela amo-rosa de aventuras que sigueel modelo de las prestigiadas
novelas bizantinas, la cual será publicada en 1616, pós-
tumamente.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 113/164
111
C APÍTULO 08
grave herida que sufrió-, advierte que resulta de “la más alta ocasión
que vieron los siglos pasados”. Alude a la famosa Batalla de Lepanto, en
la que participó como soldado, el 7 de octubre de 1571, cuando la flota
española venció a los turcos.
Cervantes no acepta que Avellaneda lo tache de envidioso. Le re-
plica que no tiene envidia a ningún sacerdote, familiar del Santo Oficio,
de ocupación continua y virtuosa. Riquer aclara que Avellaneda se había
dado perfecta cuenta de que en el prólogo de 1605 Cervantes critica-
ba a Lope de Vega. Por ello, en su prólogo, defiende a Lope y acusa a
Cervantes de ofender “a quien tan justamente celebran las naciones más
extranjeras, y la nuestra debe tanto, por haber entretenido honestísima y
fecundamente tantos años los teatros de España con estupendas y innu-merables comedias” (apud RIQUER, 1990, p. 558). El estudioso elucida
que Lope de Vega era familiar del Santo Oficio (es decir, colaborador de
la Inquisición) desde 1608, y sacerdote desde 1614. En cuanto a la con-
notación de “ocupación continua y virtuosa”, parece ser una referencia
irónica a la vida disoluta de Lope de Vega, de la cual Cervantes era testi-
go, puesto que eran vecinos.
El insolente imitador de Cervantes reprochó a sus novelas –alusión
a las Novelas ejemplares (1613)- diciendo que eran “más satíricas queejemplares, si bien no poco ingeniosas” (apud RIQUER, 1990, p. 558).
Cervantes le contesta que ellas no podrían ser buenas “si no tuvieran de
todo”. Riley interpreta la respuesta de Cervantes como una defensa de la
variedad (1981, p. 328). Francisco Rico, no obstante, cree que Cervantes
“le da la vuelta a la crítica de Avellaneda, recogiendo el sentido clásico
de sátira: ‘mezcla de cosas diversas’” (2004, p. 544).
Cervantes ataca a su ofensor acusándole de afligido: “pues no osa
parecer a campo abierto y al cielo claro, encubriendo su nombre, fin-
giendo su patria, como si hubiera hecho alguna traición de lesa majes-
tad”. Eso lo dice porque la novela apócrifa va firmada por el “Licenciado
Alonso Fernández de Avellaneda, natural de la villa de Tordesillas”, datos
con toda seguridad ficticios, afirma Riquer (1990, p. 995).
De los cuentos de los locos de Sevilla y de Córdoba el fingido
Avellaneda deberá aprender la lección. Escarmentado, ya “no se atreverá
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 114/164
112
a soltar más la presa de su ingenio en libros que, en siendo malos, son
más duros que las peñas.” Sin duda el Quijote de 1605, aunque contenga
errores y haya recibido críticas por las numerosas historias interpola-
das, es una novela de estimada solidez. Los críticos son unánimes al afir-
mar que la obra de Avellaneda es “en invención y estilo manifiestamente
inferiores” a la de Cervantes (RIQUER, 1990, p. 995).
En vez de rivalizar o amenazar la continuidad de las aventuras del
Quijote de Cervantes, la novela apócrifa se convierte en un elemento más
de la ingeniosa invención del Manco de Lepanto, como verás a seguir.
8.4 ElQuijotede Avellaneda en laSegundaParte de Cervantes
Seguramente nadie en el siglo XXI habría oído siquiera la men-
ción al falso autor Alonso Fernández de Avellaneda si no fuera por
obra y gracia de Cervantes. El verdadero autor otorga inmortalidad
y perpetua fama al autor apócrifo al tornarlo personaje y referencia
constante de su inigualable Segunda Parte del Ingenioso Caballero don
Quijote de la Mancha.
Serán referencias injuriosas, por supuesto, a partir del capítulo 59.
La culminación de todas ellas se encuentra en el capítulo 70, en que
Altisidora describe su visita al infierno. Cuenta que los diablos encuen-
tran el libro demasiado malo, inclusive para usarlo como proyectil al
jugar a la pelota.
A pesar de su poca calidad, el falso Quijote es un hecho histórico
con el que hay que contar, puesto que fue leído por millares de personas.
Al tenerlo en cuenta, por lo tanto, Cervantes afina la verosimilitud de su
invención, a la vez que incrementa la variedad de la materia novelesca.
A partir del capítulo 59, Don Quijote y Sancho se ven acosados por
la existencia de los impostores. El efecto es que su identidad personal se
convierte en problema de primordial importancia, observa Riley. En-
tre los desaciertos de Avellaneda está que, incapaz de mantener la sutil
figura de Dulcinea, hizo que Don Quijote renunciara a ella y adoptara
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 115/164
113
C APÍTULO 08
el nombre de caballero desamorado. Aún mayor torpeza comete con la
figura de Sancho, convirtiéndolo en un ser soez, estúpido, sucio y glotón,
observa Riquer (1990, p. 996-997). Desde que se enteran de la existencia
de los impostores, caballero y escudero se preocupan en reafirmar su
identidad y en distinguirse de sus ruines copias.
Avellaneda, aunque sea el falso autor, acaba por interferir en la
trayectoria del verdadero Quijote. Tanto que el caballero cervantino de-
cide no ir a Zaragoza, donde su doble participó en una sortija, y se dirige
a Barcelona (II, 60). Altera su camino “simplemente para dar un mentís
al autor rival”, dice Riley (1981, p. 333).
La invención del autor apócrifo se personifica en la novela cervan-
tina cuando aparece don Álvaro Tarfe (II, 72), personaje de Avellaneda.
Cervantes se sirve de él para dar el veredicto final, atestado y firmado
ante un escribano, acerca de la falsedad del los personajes del autor na-
tural de Tordesillas.
En conclusión, se puede decir que la obra del autor tordesillesco le
brinda al Quijote de Cervantes una nueva dimensión, que aumenta su
efecto de realidad. No tanto de realidad histórica, sino, especialmente, de
sólida verdad poética, coherente y una, que hace de la obra de Cervantesmás dura que las peñas.
Bibliografía consultada
ALCALÁ GALÁN, Mercedes. Escritura desatada: poéticas de la representa-ción en Cervantes. Alcalá de Henares: Centro de Estudios Cervantinos,2009.
PORQUERAS MAYO, Alberto. El prólogo como género literario. Su estudioen el Siglo de Oro español . Madrid: Consejo Superior de InvestigacionesCientíficas, 1957. (Anejos de Revista de Literatura, 14, p. 93-178).
______. El prólogo en el Manierismo y Barroco españoles. Madrid: ConsejoSuperior de Investigaciones Científicas, 1968. (Anejos de Revista de Lite-ratura, 27, p. 3-24).
RICO, Francisco. Edición y notas. In: CERVANTES S., Miguel de. Don Quijo-te de la Mancha. San Pablo (Brasil): Real Academia Española; Asociaciónde Academias de la Lengua Española, 2004.
Sortija
Era un juego caballeresco,o deporte, que consistía en
acertar una sortija con lalanza. Los caballeros queparticipaban llevaban pin-tadas en sus escudos letras,letrillas o motes, con frases oversos alusivos a sus damas(RIQUER, 1990, p. 999).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 116/164
114
RILEY, E.C. Teoría de la novela en Cervantes. Trad. Carlos Sahagún. 3. ed.Madrid: Taurus, 1981.
RIQUER, Martín de. Edición, introducción y notas. In: CERVANTES S., Mi-guel de. El ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha. Barcelona: Plane-
ta, 1990.
WILLIAMSON, Edwin. El Quijote y los libros de caballerías. Trad. M.ª JesúsFernández Prieto. Madrid: Taurus, 1991.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 117/164
115
C APÍTULO 09
Dulcinea encantada
Estimados estudiantes, en continuidad al estudio de los trazos del carác-ter de Sancho, del Quijote y de Dulcinea observados en la Primera Parte
(1605), que te presentamos en la Unidad C, el presente capítulo pretende
reunir algunos apuntes sobre el desarrollo del carácter de los personajes
principales de la novela en la Segunda Parte (1615). Quiere, además, echar
luces sobre como las alteraciones en las actitudes y en la representación de
tales personajes promueve cambios en la configuración narrativa de la Se-
gunda Parte del Quijote (1615). Asimismo, aquí encontrarás datos para
guiarte en la observación y el análisis de una estrategia muy productiva enla obra: el encantamiento.
9.1 El encantamiento
Inicialmente, es importante destacar que de Daniel Eisenberg es la
idea de que “al incorporar la Primera Parte dentro de la Segunda, Cer-
vantes avanza el concepto de ‘novela’ rompiendo con lo que había sido
un principio narrativo” (EISENBERG, 1993, p. 75).
En el caso de Sancho Panza, que en la Primera Parte aparece en
medio de las interpolaciones de Cervantes, intervenciones del cura, del
barbero, siempre secundando a su amo, en la Segunda Parte (1615) va
a sufrir grandes transformaciones. Una de ellas es que se enorgullece al
saber que su figura ya “es personaje de libro impreso. Esta misma cir-
cunstancia, por la que es objeto de burla e imitación, justifica la explo-
ración creativa del paralelismo entre amo y escudero” (URBINA, 1991,p.136). El paralelismo mencionado por Eduardo Urbina alude al hecho
de que algunos cervantistas estén de acuerdo que, en la Segunda Parte,
Sancho sufre un proceso de “quijotización”, pasando a actuar de modo
semejante al de Don Quijote, en la Primera Parte.
Organizada de modo semejante a la Primera, la Segunda Parte
contiene un prólogo y 74 capítulos, con distintos temas que se relacio-
nan entre sí. Uno de ellos se estructura a partir del capítulo 8, cuando
9
Portada de libro de Daniel
Eisenberg
Salvador de Madariaga planteó la tesis de la “Qui- jotización” de Sancho y dela “Sanchificación” de DonQuijote en Guía del lector
del “Quijote” (1976).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 118/164
116
Don Quijote decide tomar la bendición de “la sin par Dulcinea”, ahí
empieza a tener lugar la burla del encantamiento de Dulcinea, ingenia-
da por Sancho.
El tema literario de la dama encantada será uno de los principalesejes de la Segunda Parte, pues norteará la trayectoria de los personajes, ori-
ginará varios discursos y debates, y será el motor de muchos episodios.
Para acercarnos a la intricada cuestión del encantamiento, vale la
pena poner atención a la investigación de Ana García Chichester, “Don
Quijote y Sancho en El Toboso: superstición y simbolismo” (1983), acer-
ca de los agüeros que aparecen en el capítulo 9, en el que se describe la
entrada de Don Quijote y Sancho en el pueblo de Dulcinea.
García Chichester aclara que en el siglo XVI se conocían distintos
tipos de agüeros, muchos de ellos fueron recompilados por Pedro Cirue-
lo, en Reprouación de las supersticiones y hechizerzías (Apud GARCÍA
CHICHESTER, 1983, p.2). Entre sus principales manifestaciones había
los augurios que “se basaban en movimientos de animales (o de aves)
y los basados en los movimientos humanos, corporales o espirituales”.
Además, había los omen, agüeros “fundados en la interpretación de lo
que dice o hace otra persona” (1983, p. 2).
A partir de esos datos, García Chichester destaca que, en el inicio
del capítulo 9, el narrador advierte que la acción ocurría cuando “me-
dianoche era por filo”. Por tanto, García entiende que cuando Sancho y
Don Quijote llegan al Toboso la gente dormía, y que en la noche clara
sólo se escuchaban las voces de los animales.
La estudiosa indica que, en primer lugar, el extrañamiento se da
a partir de la referencia temporal (la medianoche) que, incluso en lamodernidad (con los surrealistas, por ejemplo), sugiere una atmósfera
de sueño o de magia. Podemos imaginar que, envueltas en estas suges-
tiones, las voces de los animales configuran para Don Quijote el primer
mal agüero en su llegada al Toboso.
El segundo agüero, del tipo omen, es el fragmento de un romance
que cantaba un villano que, camino a su jornal, se acerca del caballero:
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 119/164
117
C APÍTULO 09
Mala la hubistes, franceses
en esa de Roncesvalles (II, 8)
Para Don Quijote, esos versos vienen a ser una interpretación
comprensible de lo que representa el agüero de las voces de los anima-les que ha oído.
Rodríguez Marín, en “Las supersticiones en el Quijote”, recuerda
que esos versos son un trozo del romance de Roncesvalles, que relata
la captura de Guarinos, en la famosa batalla en que muere ese caballero
francés. El estudioso entiende que, para Don Quijote, el hecho de salir
en búsqueda de Dulcinea y encontrar esos agüeros tendría el sentido
de que él fracasaría en su intento de encontrar a su dama. Esta posible
expectativa se confirma en el enfático parlamento del labrador:
“En esa casa frontera viven el cura y el sacristán del lugar; entrambos o
cualquiera dellos sabrá dar a vuestra merced razón desa señora prince-
sa, porque tienen la lista de todos los vecinos del Toboso; aunque para
mí tengo que en todo él no vive princesa alguna; muchas señoras sí,
principales, que casa una en su casa puede ser princesa” (II, 9).
Ante este parecer, Sancho insiste en que Don Quijote se embos-
que, para que él vuelva solo al pueblo a averiguar. Podemos suponer queSancho teme que su amo advierta su mentira acerca de la respuesta de
Dulcinea que le había llevado a Sierra Morena.
El capítulo 9 puede ser entendido como un mal agüero sobre la
realización de las ambiciones caballerescas de Don Quijote. Según Ana
García Chichester, “en un plano más profundo, el capítulo sirve de pre-
sagio a las dos fuerzas conflictivas en la obra: la derrota del amante cor-
tesano y la promesa de la vida eterna del creyente” (1983, p.9).
El en capítulo siguiente, el encantamiento de Dulcinea -que de
princesa se convierte en fea aldeana que huele a ajos crudos- simboliza
que el caballero es objeto del maleficio de los encantadores. Sancho, por
su parte, irónicamente cumple el rol de brujo, que domina el arte de los
encantadores.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 120/164
118
Conviene recordar que, en la Primera Parte, la actitud común de
Sancho es discutir con su amo e insistir en explicarle lo que él entiende
por lo real. Sancho intenta disuadirlo de sus fantasiosas interpretaciones
del universo sensible. Así es que la bacía del barbero no sería el yelmo
mágico; en lugar del castillo debería ver una simple venta, entre tantos
otros ejemplos. Sin embargo, el obstinado escudero fracasa en su intento
pues, para Don Quijote, lo que justifica sus distintas interpretaciones es
la acción del mago enemigo, autor de los encantamientos. A partir de
determinado momento, Sancho se da cuenta de que querer que Don
Quijote vea el mundo como él es “pedir peras al olmo”. En consecuencia,
empieza a desobedecer a su amo y a intervenir en el curso de la historia,
particularmente cuando le dice que la villana maloliente con que topan
en uno de los caminos del Toboso es la encantada Dulcinea (II,10).
Es cierto decir que, en la Segunda Parte, en lugar de los episodios
interpolados de la Primera, cobra mayor importancia en la narrativa
la problematización del encantamiento de Dulcinea. Según Eduardo
Urbina, “Cervantes reanuda la historia del ingenioso caballero a partir
de la reelaboración del distanciamiento entre don Quijote y Dulcinea”
(1991, p.138).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 121/164
119
C APÍTULO 09
Si el fracasado encuentro del caballero enamorado con su dama
aleja al par amoroso, el engaño intensifica el antagonismo de los propó-
sitos de amo y escudero. Al acentuar los extremos de los protagonistas,
Cervantes opera una labor literaria creativa y eficaz, en que, de acuerdo
con Urbina “al loco-cuerdo del caballero opone el simple-discreto del
escudero” (1991, p.150). En cuanto a la pareja amo-escudero, es incon-
testable que Sancho sigue siendo un personaje entre gracioso y astu-
to, pero gana mayor relevancia como protagonista en la Segunda Parte,
como expresa el cura: “las locuras del señor sin las necedades del criado
no valían un ardite” (II,54).
El encuentro con el Caballero del Bosque inicia la serie paródica de
farsas para lograr el retorno de Don Quijote, sin embargo, la actitud deDon Quijote y la de Sancho provocan efectos inesperados, como hacer
que Tomé Cecial renuncie a su oficio y que Sancho asuma la mediación
de los encantadores: “no le quiso replicar, por no decir alguna palabra
que descubriese su embuste” (II, 16).
El estudio de Urbina plantea un tópico que se construye a lo lar-
go del segundo libro: “la imprevista construcción del burlador burlado”
(1991, p. 155). En consecuencia, el problemático tema del encantamien-
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 122/164
120
to de Dulcinea se amplía en el episodio de Don Quijote en la cueva
de Montesinos (II, 22-23). Allí la trasmutación se confirma en sueños,
cuando el caballero ve a su dama vestida con la misma ropa de la aldeana
que topó en el Toboso (II, 23). Sancho, al oír el relato de Don Quijote:
Pensó perder el juicio o morirse de risa; que como él sabía la verdad del
fingido encanto de Dulcinea, de quién el había sido el encantador y el
levantador de tal testimonio, acabó de conocer indubitablemente que
su señor estaba fuera de juicio (II, 23).
El juego burlesco del escudero “amigo-enemigo, fiel-traidor” llega a
la cumbre en la discusión sobre el sueldo (II, 29), que lleva a la demisión
de Sancho, aunque enseguida Don Quijote vuelva atrás.
En el palacio de los duques, Sancho verá realizarse su sueño de go-
bernar una ínsula. Viendo crecida su importancia, Sancho parece pre-
tender igualarse a su amo, y sirve a la duquesa como su señora, com-
placiéndola con su conversación. Sin embargo, la astuta dama lo lleva a
confesar la burla del encantamiento, lo que acarreará algunas dificulta-
des al escudero parlanchín.
La confesión del falso encantamiento dará lugar a que los duques
inventen la farsa del desencanto, que obligará a Sancho a aceptar losazotes prescritos por el mago Merlín como fórmula para libertar a Dul-
cinea. Lo peor es que lo fingido por Sancho se hace verdadero en la
visión de mundo de Don Quijote.
Aun acerca de las novedosas actitudes del ingenioso escudero, en
la Segunda Parte se observa que en distintos episodios Sancho toma de-
cisiones, lo que sería propio del papel del amo. Además, Sancho tiene
la osada actitud de negarse a participar de algunas acciones caballeres-
cas, como la parodia del Clavileño, preparada por los duques. Sancho
se rehúsa a participar, alegando ser solamente un escudero. Repite la
decisión al resistir al sacrificio de los azotes que Merlín le impone, como
medio para desencantar a Dulcinea. De ese modo, se observa que San-
cho se destaca como agente de la ficción y de la parodia.
En el capítulo 73, cuando Don Quijote y Sancho regresan a su al-
dea, el cierre de las aventuras caballerescas y escuderiles está envuelto en
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 123/164
121
C APÍTULO 09
obscuros agüeros, tal como ocurrió en la entrada en el Toboso. La riña
de los niños es entendida por Don Quijote, como una señal de que él no
ya no volvería a ver a Dulcinea.
Así también liebre que se escapa de los galgos sería otro malumsignum que para el vencido caballero representa a Dulcinea que se le
escapa. Sancho condena a tales augurios como niñerías.
El derrumbe moral de Don Quijote se concreta poco a poco. Apa-
rentemente su melancólica enfermedad, el fracaso, la pérdida de la aven-
tura de la locura y la imposibilidad de desencantar a Dulcinea le hacen
recobrar el juicio. No obstante, sus últimas palabras son dichas por el
cuerdo y simple Alonso Quijano.
Como se nota, en la Segunda Parte la burla del encantamiento de
Dulcinea y de su desencantamiento conforman el motivo central, tanto
del afán de aventura de la tercera salida de Don Quijote, como de su de-
rrumbe moral y físico al ser vencido por el Caballero de la Blanca Luna,
así como del pesaroso regreso a su aldea.
A modo de conclusión, se puede afirmar que el encantamiento es,
en esa emblemática novela, un primoroso artificio con el cual el autor
incremente el valor artístico de su obra. Podemos concordar con Eduar-
do Urbina en que:
El proceder creativo y consciente de Cervantes, que ilusoriamente hace
a sus protagonistas independientes de la parodia que sirven, resulta en
una ficción admirable y verosímil, deleitable por cómica y ejemplar por
su invención (1991, p. 162).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 124/164
122
Bibliografia Consultada
EISENBERG, Daniel. Cervantes y Don Quijote. Montesinos: 1993. Disponí-ble en: http://users.ipfw.edu/jehle/deisenbe/cervaydq/cervaydq.htm.
GARCIA CHICHESTER, Ana. Don Quijote y Sancho en el Toboso: supersti-ción y simbolismo. Madrid, Cervantes virtual, 1983. Disponible en: http://www.h-net.org/~cervantes/csa/articf83/garcia.htm.
MANDARIAGA, Salvador. Guía del lector del Quijote. Madrid, ed. Espasa-Calpe, 1981.
RODRÍGUEZ MARÍN. Las supersticiones en el Quijote.
URBINA, Eduardo. El sin par Sancho Panza: parodia y creación. Almagro:Anthropos, 1991.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 125/164
123
C APÍTULO 10
El arte dramático en el Quijote
Caro estudiante, como ya se ha dicho comentado en los capítulos anterio-res, el Quijote es una obra que amalgama elementos de diversos géneros
literarios y artísticos. La harmonía estética alcanzada en esta peculiar re-
unión es una de los principales indicadores de la genialidad de Miguel de
Cervantes. En este capítulo pretende acercarte a algunos conceptos teóricos
y estéticos que te guiarán en la observación y el estudio de las manifesta-
ciones del arte dramático en esta ingeniosa novela. Asimismo, te brinda-
mos algunas perspectivas críticas para orientarte e incitarte a avanzar en
la investigación de este tema. ¡Anímate!
10.1 El arte dramático en el Quijote
Mucho ya se ha comentado sobre el efecto dramático de la novela
de Cervantes y constantemente la crítica especializada en el Quijote se
dedica a su inmanente teatralidad. En una crítica de fuentes, como la del
mexicano Aurelio González, se atribuye la ruptura de límites entre los
géneros narrativo y dramático a la poética barroca.
De otro cariz es la crítica de Bruce Wardropper sobre el arte dramá-
tico en una obra tan rica y compleja, al afirmar que: “Cervantes fue en su
época tan experimentador como Brecht, Ionesco o Arra-
bal en la nuestra” (Apud Jesús G. Maestro, 2005, p.139).
Claudio Guillén explica, en “Cauces de la novela cer-
vantina” (2004), que en elQuijote las acciones, las reflexiones
y los diálogos fluyen de manera paralela y simultánea. Como
en el teatro, en la mayor parte de esta novela cervantina, los
personajes se manifiestan en el presente de la acción:
Esta actualización que adelanta el relato hace posible
que desde él (…), el personaje vaya forjando el curso de
su existencia. Cervantes imagina vidas, pero cada una se
construye como un vivir, concreto pero complejo. Diga-
mos que la novela actualiza, impulsándolos, el vivir y el
pensar (GUILLÉN, 2004, p. 1149).
10
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 126/164
124
Observando la importancia del acto de hablar como representa-
ción del vivir y del pensar en la novela, Claudio Guillén clasifica distin-
tos parlamentos utilizados en el Quijote, como, por ejemplo, las simples
conversaciones, en que la comunicación mutua sostiene la sociabilidad;
las discusiones, cuando alguien procura negar lo dicho por otro, o per-
suadirle. Estos parlamentos se distinguen de los debates dialécticos, en
que muchos personajes participan de la elocución, con distintas opinio-
nes. Esa categoría remonta a los diálogos de abolengo humanístico (Cf.
GUILLÉN, 2004, p. 1149).
Acerca des mismo tema, Jesús G. Maestro destaca que si entende-
mos que la novela opera con la hibridez entre lo narrativo y lo dramáti-
co, y que ello se da por el presente de la acción (hic et nunc) , es posibleentender cómo la idealidad de lo narrado se concreta en escenas que
actualizan las acciones de los personajes del relato.
De ese modo, se puede decir que el Quijote se configura como una
máquina de géneros dramáticos y presenta capítulos donde se puede
identificar distintos géneros teatrales reconocibles. Según Jesús G. Maes-
tro, hay once episodios que la crítica sostiene como de raigambre teatral:
Dorotea en el rol de la princesa Micomicona (I, 29-30, 371.
y 46);
El yelmo de Mambrino y la bacía de barbero (I, 44-45);2.
Don Quijote rodeado de gigantes que le enjaulan (I, 46-3.
47);
El discurso del canónigo sobre las comedias (I, 48);4.
La aventura de Las Cortes de la Muerte (II, 11);5.
El encuentro con el caballero de los Espejos (II, 12-14);6.
Los bailes narrados de las bodas de Quiteria (II, 19-21);7.
El retablo de Maese Pedro (II, 25-26);8.
Diversos episodios con los duques (II, 34-35);9.
Sancho en Barataria (II, 49, 51 y 53);10.
La escena de la cabeza encantada, tal vez (II, 62).11.
En latín significa aquí y ahora
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 127/164
125
C APÍTULO 10
10.2 Procedimientos para teatralizar lailusión de lo narrado
El arte dramático tiende a imponer un distanciamiento de lo narra-do y con eso dar una dimensión que suspende la narrativa. Según Jesús
G. Maestro, serían cinco los procedimientos utilizados por Cervantes
para teatralizar la ilusión de lo narrado:
10.2.1 Introducción del narrador en el teatro
Este procedimiento cervantino consiste en un prólogo hablado an-
tes de empezar la escena. Lo encontramos, por ejemplo, en el retablo de
Melisendra, presentado por el titerero maese Pedro (II, 26).
Esta verdadera historia que aquí a vuesas mercedes se representa es sa-
cada al pie de la letra de las crónicas francesas y de los romances espa-
ñoles que andan en boca de las gentes, y de los muchachos, por esas
calles. Trata de la libertad que dio el señor don Gaiferos a su esposa Me-
lisendra (…) (II, 26).
La modernidad española se ha servido de un prólogo hablado, por
ejemplo, en las farsas guiñolescas de Federico García Lorca como El re-
tablillo de don Cristóbal (1928), en que se puede evidenciar cómo resue-
na la raigambre cervantina:
El AUTOR - Señoras y señores: El poeta, que ha interpretado y recogido
de labios populares esta farsa de guiñol tiene la evidencia de que el pú-
blico culto de esta tarde sabrá recoger, con inteligencia y corazón lim-
pio, el delicioso y duro lenguaje de los muñecos. Todo el guiñol popular
tiene este ritmo, esta fantasía y esta encantadora libertad que el poeta
ha conservado en el diálogo.
El guiñol es la expresión de la fantasía del pueblo y da el clima de su
gracia y de su inocencia.
Así, pues, el poeta sabe que el público oirá con alegría y sencillez expre-
siones y vocablos que nacen de la tierra y que servirán de limpieza en
una época en que maldades, errores y sentimientos turbios llegan hasta
lo más hondo de los hogares.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 128/164
126
El teatro épico creado por Bertold Brecht también usa al narrador
como efecto central, como un modo de hacer con que el contenido de la
escena a ser vista pase antes por la reflexión del público.
10.2.2 El teatro como dialéctica entre la realidad y la ficción
La destrucción del retablo de maese Pedro realizada por el aira-
do Don Quijote materializa la dialéctica entre ficción y realidad, en el
mismo Capítulo 26. Otro ejemplo es el discurso de Merlín sobre la ne-
cesidad de los azotes de Sancho para desencantar a Dulcinea, durante
la estancia de los protagonistas en el palacio de los duques (II, 35). Es
con el teatro de los mil trescientos azotes que sería posible cambiar la
realidad.
10.2.3. El teatro como objeto de crítica literaria
El canónigo de Toledo, en la Primera Parte, capítulo 48, mantiene
un largo debate con el cura acerca de las artes de su tiempo. Entre tantas
preciosas sentencias, da su parecer sobre las comedias:
Si estas que ahora se usan, así las imaginadas como las de historia, todas
o las más son conocidos disparates y cosas que no llevan ni pies ni ca-
beza, y con todo eso, el vulgo las oye con gusto, y las tiene y las apruebapor buenas, estando tan lejos de serlo… (II, 48)
Esa reflexión del canónigo no debe ser confundida con la opinión
de Cervantes. Ella está en la boca del canónigo y es adecuada a la índole
de una persona de su categoría. Tal opinión acerca de las comedias ex-
prime una visión exactamente opuesta al opúsculo de Lope de Vega en
Arte nuevo de hacer comedias (1609), en el que El Fénix hace la defensa
de su modelo de teatro, censurado por los académicos. Aunque conozca
las reglas clásicas y aristotélicas, como dramaturgo Lope desea ofrecer
al vulgo lo que le gusta.
10.2.4 La narrativa se vuelve un espectáculo con distintas
facetas
Buenos ejemplos de cómo en muchas ocasiones en el Quijote la
narrativa se vuelve un espectáculo con distintas facetas son Dorotea ha-
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 129/164
127
C APÍTULO 10
ciendo el papel de princesa Micomicona (I, 29-30); el cura, el canónigo
y Cardenio fantaseados de gigantes o cabezudos para enjaular a Don
Quijote (I, 46, 47); y, en la Segunda Parte, el embuste de Basilio al fingir
traspasarse la espada para conmover a Quiteria:
Si quisieses, cruel Quiteria, darme en este último y forzoso trance la
mano de esposa, aún pensaría que mi temeridad tendría disculpa, pues
en ella alcancé el bien de ser tuyo (II, 21).
La farsa escénica hecha por Basilio involucró efectos dramáticos
como los de la sangre, la respiración “ya con el alma en los dientes” y
otras contorsiones corporales, con los cuales acabó por provocar adhe-
siones como la de Don Quijote, los amigos de Basilio y finalmente, la de
Quiteria.
El único espectador que mantuvo el distanciamiento de tal ardid
fue Sancho: “para estar tan herido este mancebo…mucho habla; hágan-
le que se deje de requiebros, y que atienda a su alma, que, a mi parecer,
más la tiene en la lengua que en los dientes” (II, 21).
La farsa de Basilio no fue un milagro sino “industria”, una técnica
teatral usada para engañar a todos y vencer la batalla amorosa contra
Camacho, después de casarse in extremis con Quiteria.
Del mismo modo, se puede pensar que la aventura de Clavileño,
que exige la composición de un escenario para que actúen como pro-
tagonistas Don Quijote y su escudero, configura el palco de un gran
espectáculo. Allí el objeto escénico se convierte en paródico con la refe-
rencia al “troyano Hector” y la histórica Guerra de Troya.
El rol que deben cumplir Sancho y Don Quijote vendados los con-
vierte en actores de una aventura espectacular para quien los mira. Ellosactúan como cómicos en una situación performática dotada de escena-
rio, de una ambientación y del objeto dramático principal. Para lograr
el máximo efecto la acción teatral está provista de recursos sonoros, de
movimientos y de calor, producidos por las voces de los criados, grandes
fuelles para hacer aire y hachas. Todo para que Don Quijote y Sancho
creyeran que realmente iban por los aires en el lomo del famoso caballo
Clavileño (II, 41).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 130/164
128
Actualizando la acción novelística y, a la vez, dramática, se pue-
de afirmar que la parodia del caballo volador se compara a un “reality
show”, concebido para divertir a los duques y a sus criados.
El fabuloso vuelo tiene un final propiamente cómico, puesto quelos creadores del espectáculo prenden fuego a la cola de Clavileño, de
modo que Don Quijote y Sancho terminan su extraordinaria aventura
echados al suelo, medio chamuscados (II, 41).
10.2.5 El entremés como episodio novelesco
Además de apuntar los procedimientos teatrales insertados en la
narrativa de a novela, vale la pena observar cómo, en episodios como
el del Caballero del Bosque (II, 16), es posible identificar de qué modolos signos teatrales se organizan para que la farsa del fingido caballero
andante y su escudero se concrete.
Para Don Quijote y Sancho la percepción de que el código caballe-
resco es completamente respetado en la actitud y figura del Caballero
del Bosque resulta de una escenificación eficiente, que atrapa también
al lector. Tomé Cecial, como escudero narigudo, en el momento crucial
revela la impostura y la verdadera identidad del caballero que desafía a
Don Quijote a tomar armas. Jesús Maestro indica cómo numerosos ele-
mentos escénicos contribuyen para la composición del espectáculo: “pa-
labra, tono, mímica, gesto, movimiento, peinado, maquillaje, vestuario,
accesorios, decorado, luz, música y efectos sonoros” (2005, p. 142).
Otro ejemplo de cómo, en el Quijote, algunas episodios adoptan
la estructura de un entremés es la secuencia de actos de Sancho en el
gobierno de la Ínsula Barataria. Se puede afirmar que la secuencia com-
pone un espectáculo semejante a un montaje entremesil 1.
Entre otros elementos dramáticos, se puede advertir en la acción de
Sancho en el “espacio escénico” de la Ínsula manifestaciones del género
grotesco. Eduardo Urbina clasificó como “grotesco ingenioso” 2 a ese mo-
delo formal en el que la experiencia risible armada para Sancho resulta
en una actuación justa, discreta y severa de los pleitos. La inocencia del
personaje que resuelve las situaciones con justicia y dignidad deja de
1 Serie de escenas de humorque traen la marca de los
entremeses que, en prosa, so-lían intercalarse en los actos
de las comedias.
2 Lo grotesco deriva de la yuxtaposición irresolubleentre una experiencia risible y un elemento incompatible
que, sin embargo, forma par-te de esta experiencia, explica
Maestro (2005, p. 144).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 131/164
129
C APÍTULO 10
cumplir la expectativa de fracaso pretendido por los
burladores, los duques y sus criados.
Es cierto que la experiencia risible en el teatro re-
nacentista direccionaba la comedia en las clases humil-des y reservaba la tragedia a los miembros de la aristo-
cracia. Según Maestro, Cervantes ironiza en el Quijote
tal discriminación. La actitud de Cervantes, no obstan-
te, revela una tendencia del teatro hispánico del siglo
XVII, la diseminación de comedias con la temática del
honor y de valores elevados, como la justicia, prota-
gonizadas por personajes villanos como, por ejemplo,
Fuenteovejuna, de Lope de Vega, El alcalde de Zalamea,de Calderón de la Barca, entre tantos otros.
Estamos de acuerdo con Maestro en cuanto al reconocimiento de
los episodios de la Ínsula como un rescate ético de los humildes:
Al introducir a Sancho como protagonista de estas burlas, Cervantes nos
congela la carcajada, nos distancia brechtianamente de los burladores,
y nos sitúa ante la posibilidad de reflexionar sobre la legitimidad de una
comedia que sólo y siempre decidía acordarse de los humildes para
burlarse de ellos. Con la modernidad, personajes nobles, burgueses o
poderosos, han sido convertidos progresivamente en objeto público de
risa y comedia (2005, p. 145).
Para concluir, hacemos hincapié en que este acercamiento a la tea-
tralidad vivida por Don Quijote utiliza las más variadas técnicas para
que el lector se deleite con las distintas formas artísticas que la acción
dramática produce. En esta innovadora obra el teatro es un fructífero
instrumento que actualiza el idealismo, imprime dinamismo a la escena
ficcional con el uso de la parodia, del grotesco, de formas animadas y
de la farsa. La exitosa inserción del arte dramático en la novela permite
demostrar técnicas distintas del lenguaje que Cervantes manipula con
gran acierto, a fin de atrapar al lector y ganar su complicidad de modo
ingenioso.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 132/164
130
Bibliografía consultada
CERVANTES, Miguel de. Don Quijote de la Mancha. Ed. Francisco Rico.Madrid; San Pablo: Real Academia Española y Asociación de la Lengua
Española, 2004.GONZÁLEZ, Aurelio. Cervantes: el Quijote, el Teatro y la Poesía. In: REVISTADIGITAL UNIVERSITARIA, México, 2005.
GUILLÉN, Claudio. Cauces de la novela cervantina. In: CERVANTES, Mi-guel de. Don Quijote de la Mancha. Ed. Francisco Rico. Madrid; San Pablo:Real Academia Española y Asociación de la Lengua Española, 2004, p.1145-1155.
MAESTRO, Jesús G. Sancho Panza y Sansón Carrasco: contribuciones a lateatralidad del Quijote. AISPI. ACTAS XXIII, 2005. http://cvc.cervantes.es/
literatura/aispi/pdf/21/I_13.pdf URBINA, Eduardo. El sin par Sancho Panza: parodia y creación. Almagro:Anthropos, 1991.
A quien le interese el tema de la teatralidad en el Quijote , se recomiendala lectura de los siguientes ensayos y obras:
BARAS, A. Teatralidad del Quijote. Barcelona: Anthropos, 98-99 (1988).
BERGAMÍN, José. Lázaro, don Juan y Segismundo. Madrid: Espasa-Calpe,
1959.CASALDUERO, Joaquín. Sentido y forma del “Quijote”. Madrid: Ínsula,1975.
CERVANTES, Miguel de. Don Quijote de la Mancha. Barcelona: Crítica-Ins-tituto Cervantes, 1998.
______. “Prólogo al lector” In: Teatro completo, Barcelona: Planeta, 1987.
FERNÁNDEZ DE AVELLANEDA, Alonso. Don Quijote de la Mancha. Ma-drid: Espasa-Calpe, 1972.
FERNÁNDEZ-TURIENZO, F. La visión cervantina del Quijote. In: Anales Cer-vantinos, XX (1982).
GAOS, Vicente. Cervantes, poeta. In: Claves de literatura española I, Ma-drid: Guadarrama, 1971.
GILMAN, Stephen. La novela según Cervantes. México: Fondo de CulturaEconómica, 1993.
HATZFELD, Helmut. Estudios sobre el barroco. Madrid: Gredos, 1973.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 133/164
131
C APÍTULO 10
MARTÍNEZ BONATI, Francisco. Cervantes y las regiones de la imaginaci-ón. Dispositio II-1 (1977).
MANZINI, Guido. Cervantes. La vita e le opere. Firenze-Milano: Sansoni-Accademia, 1973.
MARTÍN MORÁN, José Manuel. Los escenarios teatrales del Quijote. Ana-les Cervantinos, XXIV (1986).
______. El Quijote en ciernes. Los descuidos de Cervantes y las fases de
elaboración textual. Torino: Edizioni dell´Orso, 1990.
ORTEGA Y GASSET, José. Meditaciones del “Quijote”. Madrid, Revista deOccidente, 1970 [10 ed.1914].
ROJAS, Ricardo. Cervantes. Buenos Aires: Losada, 1948.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 134/164
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 135/164
Unidad EVerso, prosa y vida
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 136/164
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 137/164
135
C APÍTULO 11
La lírica en el Quijote
Estudiantes, en ese capítulo vamos a entrar en un terreno que complemen-ta a retórica que en la ficción quijotesca sobrepasa el dominio estricto de la
prosa. En anticipación a las enciclopedias positivistas y en modo paródico
el Quijote demuestra como a través de la lírica se conforman vigorosos
roles dramáticos o sociales.
11.1 El lirismo pastoril
En la obra Don Quijote, el lirismo no existe solo en el lenguaje in-
trínseco de la prosa que contiene de por sí una recreación del lenguaje
por la polisemia que retira las palabras del “estado de diccionario”. De
este modo se confiere a ellas otros sentidos según el contexto, debido a
que la ficción se configura, sobre todo, a partir de la función poética del
lenguaje, por tomar algunos elementos teóricos de Roman Jakobson.
Además de eso, en las dos partes de la obra de Cervantes se trata de
que en lugar de la existencia histórica, Don Quijote suele “vivir la litera-tura” (Ryley, 1981:68). Hay diferentes funciones para las inserciones de
distintos modelos estróficos de la lírica común y corriente de distintos
segmentos sociales de aquel entonces. Sea cortesana o popular, la poesía
penetra por la piel narrativa y cumple muchas veces la función paródica,
o la de destacar una crítica irónica a la erudición.
En la primera parte, por ejemplo, en el capítulo noveno, los versos
del episodio de los cabreros (I, Cap. XI) después del discurso de Don
Quijote sobre la edad dorada, uno de los cabreros dice:
queremos darle solaz y contento con hacer que cante un compañero
nuestro que no tardará mucho en estar aquí; el cual es un zagal muy en-
tendido y muy enamorado, y qué sobre todo, sabe leer y escribir y es mú-
sico de un rabel, que no hay más que desear. (CERVANTES, 1966, p. 106)
En la primera parte del1. Quijote (1605) se observa la forma del li-
rismo popular a través de la oralidad de la palabra cantada, como
Formalista ruso (1896/ 1982)creó el análisis estructuraldel lenguaje y desarrolló las
seis funciones del lenguaje.La función poética se man-
tenía conectada al mensaje;la apelativa al receptor; etc.Escribió sobre Edgar AllanPoe y Bertolt Brecht entreotros. Haroldo de Camposcon un equipo fue el respon-
sable por la traducción dela obra Lingüística. Poética.Cinema (1970) por la EditorialPerspectiva.
11
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 138/164
136
modo de contestar o contraponerse al discurso de Don Quijote
sobre la edad dorada, desde aquel universo pastoril. El romance
de amor a Olalla, en versos octosílabos, con rima asonante en
los versos pares, trae una estrofa de raigambre popular - el ro-
mance de Antonio - que no tiene otra función que enseñar otra
clase de refinamiento y arte cancioneril. Se sabe también que
Cervantes aprovechó muchos de sus poemas ya escritos para di-
seminarlos en su obra.
De algún modo, hay una secuencia lírica entre el romance de Anto-
nio, dotado de idealismo y amor cortés a Olalla y el cuento que se narra
después, concretamente, a partir de la muerte del “pastor estudiante lla-
mado de Grisóstomo” en los capítulos XII; XIII y XIV del primer librodel Quijote en que se cuenta la historia de Marcela y Grisóstomo como
la de una Arcadia fingida. La diferencia es que el lirismo surge en el
interior de la novela pastoril, género típico del Renacimiento, que se
compone de un cuento idealizado con temática idílica y amorosa en una
atmósfera bucólica, con una prosa que contiene digresiones en forma de
poemas intercalados. El cambio de la prosa a la lírica configuraría al per-
sonaje una mayor profundidad de raíz psicológica, al tiempo que crearía
una ruptura en el proceso discursivo referente al lenguaje del cuento.
Verbigracia, el caso del episodio de Grisóstomo y Marcela, en la primera
parte, en la que a partir de la digresión en forma estrófica del poema,
el lector comprende la autobiografía y la idea implícita de un suicidio
por desengaño amoroso. Es cierto que en ese episodio, que se cuenta de
modo separado en varios capítulos (I, 12; 13; 14), existe la confluencia
entre la novela sentimental y la novela pastoril. Cervantes da cuenta de
la hibridez genérica en esas construcciones ficcionales que se manifies-
tan en el modus vivendi del amor cortés. En general, el desenlace trágico
no suele ocurrir en las novelas pastoriles. Sin embargo, en ese episodio
en que se inserta el parlamento de Marcela, el entierro de Grisóstomo se
puede leerlo como híbrido, por el modo como Cervantes actualiza esos
modelos, no como un saber enciclopédico, sino como una recreación
lúdica entre dos técnicas de la prosa de su tiempo.
En clave paródica, los cuentos intercalados por versos sorprenden
al lector e interrumpen la secuencia de los hechos típicos en los cuen-
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 139/164
137
C APÍTULO 11
tos. Al promover el suspenso, el narrador sale en búsqueda de atrapar al
lector para mostrar, poéticamente, y, de cierto modo, cargado de oscu-
ridad, el suicidio de Grisóstomo que tardó siglos en ser admitido entre
los lectors del Quijote. Fue solamente a partir de la lectura de Américo
Castro que se concreta la idea del suicidio del pastor estudiante, que
antes se entendía como una muerte por amores. Así, el capítulo XIV
empieza con la Canción desesperada de Grisóstomo en endecasílabos,
en un largo poema que revela una voz póstuma, semejante a una epístola
lírica que evoca figuras mitológicas e infernales para poblar de tensión
dramática la palabra y su transcendencia. De la épica proviene el léxico
bélico en relación con la materia erótica (mil heridas; enemiga; fieros
tiranos; llaga) solo posible de escuchar por la voz póstuma que atra-
viesa la vida de ultratumba por medio de la escritura. Sin embargo, esatranscendencia de la voz que “para contalla pide nuevos modos” (vv 32),
según Mary M. Gaylord “intenta rebasar los límites del lirismo pastoril
anterior” (GAYLORD, 2001: 296). No es nada ameno el espacio que se
dibuja con el apelo dantesco. Ese uso de la lírica también sirve para re-
tener la linealidad del cuento y crea, según Mary Malcolm Gaylord en
Canción desesperada, la voz en contra de las razones, que se profundiza
en la musicalidad del lirismo y la sonoridad del lenguaje, para enseñar
una meta-poética que es el interés de la voz humana para el renacentista.El corte de la prosa que da lugar a un largo poema en primera persona
no serviría para seguir controlando el interés del lector en la historia.
Además de esa explicación intrínseca del texto, el lirismo aparece
también en otros capítulos de la obra porque eso no solo era admisible
en la retórica del siglo XVI - XVII, como tenía una función específica,
como ya fue mencionado.
En el segundo volumen (1615), en el capítulo XII, el Caballero2.del Bosque, en la farsa de su condición de caballero andante, y
“por lo tanto enamorado”, canta un soneto a su dama. Es un
modo de identificarse en el mundo de la farsa, en el cual la pa-
sión tiene su propia métrica. Tal como las comedias hispánicas
de la escuela lopista, la situación de amor utiliza el modelo del
soneto y, por lo tanto, ese poema debe introducir la provocaci-
ón que el Caballero del Bosque hace enseguida a Don Quijote
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 140/164
138
diciendo que “todos los caballeros de la Mancha” confiesan que
Casildea de Vandalia sería, de las damas, la más hermosa. De ese
modo, Don Quijote decide batirse con el Caballero por juzgar
eso una gran mentira del otro. Así se ve que el lirismo funciona
como artificio literario que concreta la farsa del mundo cortesa-
no de ese forjado Caballero.
Un poco más adelante, se puede constatar que el mundo libresco del
segundo volumen del Quijote vuelve a aparecer: en el capítulo XVI, el
Caballero del Verde Gabán, don Diego de Miranda, al explicar que tiene
libros, seis docenas de libros, pero no de caballería. Para el hidalgo es un
problema que su único hijo de dieciocho años se dedicara a la poesía.
Repasa de Homero a Marcial, y a Virgilio, y, en ese momento, se dedica
a una glosa a cuatro versos que le han enviado de Salamanca. En esediálogo, Don Quijote teoriza sobre la poesía de un modo semejante a lo
que plantea Aristóteles en su Poética , cuando abarca la noción de arte
como poesía, diciendo:
Y aunque la [ciencia] de la poesía es menos útil que deleitable, no es de
aquellas que suelen deshonrar a quien las posee. La poesía, señor hidal-
go, a mi parecer, es como una doncella tierna y de poca edad, y en todo
estremo hermosa, a quien tienen cuidado de enriquecer, pulir y adornar
muchas doncellas, que son todas las otras ciencias, y ella se ha de servir
de todas , y todas se han de autorizar con ella…ella es hecha de una
alquimia de tal virtud, que quien la sabe tratar la volverá en oro purísimo
de inestimable precio…y no penséis que yo llamo aquí vulgo solamen-
te a la gente plebeya y humilde; que todo aquel que no sabe, aunque
sea señor y príncipe, puede y debe entrar en número de vulgo. Y así, el
que…tratare y tuviere a la poesía, será famoso y estimado su nombre en
todas las naciones políticas del mundo. (CERVANTES, 1968, p. 650).
El discurso de Don Quijote sobre la poesía causó gran impresión
en Diego de Miranda por la calidad de los razonamientos que hacía y sudiscreción. Sin embargo, al ver enseguida que se aproximaba un carro
lleno de banderas reales, Don Quijote da voces a Sancho para tomar sus
armas en contra de los leones.
De esta manera, el largo discurso sobre el lirismo del capítulo XVI
sirve también para identificar en el lector protagonista (Don Quijote),
no únicamente el que desatina por haber leído las novelas de caballería,
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 141/164
139
C APÍTULO 11
sino también al que abarca la imitación de lo erudito que un saber trans-
forma en idealista. Y en capítulo XVIII, es don Lorenzo que así define al
Caballero de la Triste Figura: “él es un entreverado loco, lleno de lúcidos
intervalos.” (II,28; p. 666).
Cuando Don Quijote le pide la glosa, antes de que él empiece, el lec-
tor entenderá cómo se debe glosar en un tratado retórico, que combina
las leyes, la intención, los entredichos de los versos glosados que se leen
después. En décimas que configuran los cuatro versos al final de cada
décima, que lo que hace es retomar la glosa, se observa la alabanza de
Don Quijote al poeta. No contento con la glosa, el caballero manchego le
pide “versos mayores”, lo que evidencia la influencia italiana petrarquis-
ta, que en el Renacimiento introduce el soneto en versos endecasílabos.Don Lorenzo prontamente demuestra su alcance como poeta contem-
poráneo diciéndole un soneto sobre la fábula de Píramo y Tisbe. En ese
caso, el lirismo se ubica en el interior de la prosa, que consiste en un arti-
ficio más del protagonista cortesano, que lee poesía y disfruta del deleite,
de esa clase distinta y sofisticada de uso del lenguaje literario. Además se
juega la escena entre lectura y escritura, insertándola en el interior del
lenguaje novelesco. De la glosa al soneto, es así como distintos formatos,
modelos y funciones del lirismo en el Quijote surgen en los dos libros
y configuran un tópico a ser profundizado como técnica, saber y magia
del lenguaje. “La pluma es lengua del alma” (II,28; p. 651)
Concluyendo, vale la pena recordar que el conocimiento se hace
gradualmente, y en relación al tema del lirismo en el Quijote, algunos
tópicos sobre la parodia estudiados en el libro de Literatura II (págs.
38/39) aquí se vuelven útiles, también para amplificar los estudios sobre
la relación entre verso y prosa. Si nos permiten evocar a Giorgio Agam-
ben, él dice que el concepto clásico de parodia se debe a la interrupciónde la recitación rapsódica por los cómicos, que invertían con humor el
argumento serio escuchado antes. Agamben cita esa perspectiva para la
novela moderna:
desde Cervantes…convocado y deportado fuera de su lugar y de su rango,
el lector accede …a una suerte de entre mundo. Si la parodia , la escisión
ntre canto y palabra y lenguaje lenguaje mundoconmemora en realidad
la ausencia de lugar de la palabra humana. (AGAMBEN, 2005; p. 63)
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 142/164
140
Lo que se puede leer en el libro segundo del Quijote es que en el
mundo de la farsa o de las “historias fingidas”, que circulan alrededor del
lector protagonista, el lirismo se combina con la parodia por traer nue-
vos ritmos; De esta forma, otros saberes se combinan a las técnicas del
lenguaje, que contrastan o se agregan a la prosa, configurando efectos
distintos a través de esos artificios literarios.
Bibliografía Consultada
AGAMBEN, Giorgio – Profanaciones. Trad. Flavia Costa y Edgardo Castro.Buenos Aires: 2005.
GAYLORD, Mary Malcolm. Voces y razones en la Canción desesperada deGrisóstomo. In: Silva philologica in honorem a Isaías Lerner, Madrid: Cas-talia, 2001, pág. 287 – 299. Accesado en la página web día 03 de octubrede 2010 http:/books.google.com.br/
CABADA GÓMEZ, Manuel. Teoría de la (endo) lectura literaria del Quijote. Madrid: UAM, 2001.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 143/164
141
C APÍTULO 12
La oralidad en el Quijote
Estudiantes, semejante a la transformación de paradigmas culturales conla informática que reubica, en la actualidad, las relaciones sociales e in-
terpersonales con la virtualidad, la imprenta reinsertaría gradualmente
el dominio de la escritura y de la oralidad entre el siglo XVI / XVII, hecho
histórico que no podría quedar fuera de la obra cervantina que vamos a
introducir en ese capítulo en forma de algunos apuntes. El pasaje del
universo de oralidad a la escritura en el siglo XVI/XVII va a conformar
un campo de estudios.
12.1 La oralidad en Quijote
Con la invención de la imprenta en el siglo XV se puede decir que
la producción cultural sufre una transformación de peso y una novela
como la de Miguel de Cervantes, al comienzo del siglo XVII, se consti-
tuye bajo ese signo. Esto enseña el umbral entre la oralidad y la escritura.
Por eso se manifiesta, en sus dos partes, como el fenómeno dialógico, las
interpolaciones o sus parlamentos, que funcionan desde distintos pro-
pósitos y genealogías. Sea desde la tradición griega de las discusiones
filosóficas o como contrapunto entre el uso del lenguaje por parte de los
dos protagonistas, el tema de la oralidad se sobrepone a una mera distin-
ción entre la charla de Don Quijote y de Sancho Panza. Se puede tratarlo
desde las pautas de la retórica contra-reformista o si se quiere, también
se puede comentar, al leer un texto clásico como este, desde una pers-
pectiva en la que la inquietud del lector del siglo XXI se manifieste como
recepción viva de la obra. Estas consideraciones identifican dos manerasde leer la literatura. Considerar el dialogismo y la polifonía propuesta
por Mijail Bajtín, o desde la visión de Paul Zumthor, sobre la oralidad
como fuente de performance, en la cual la literatura se transforma en
presencia entre el emisor y su receptor. Intentaré tratar la oralidad en
el Quijote a partir de los conceptos que la lectura de este siglo (XXI) me
sugiere. Así el parlamento abajo:
12
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 144/164
142
Sancho, amigo…. Yo soy aquel para quien están guardados los peligros,
las grandes hazañas, los valerosos hechos. Yo soy, digo otra vez, quien ha
de resucitar los de la Tabla Redonda, los Doce de Francia y los Nueve de
la Fama… ( I, 20, p.179)
Entre otras consideraciones posibles sobre el tema, se revela el tono
amigable y cercano con el cual el amo se dirige a su escudero y nos enseña
mucho más que la estrecha relación entre un modo de relato cortesano,
como el de las novelas de caballería, y la novela cervantina que traduce
las narrativas a un principio paródico, que las resucita al tiempo que las
critican; las cuenta, al tiempo que las ironizan, las rescata, al tiempo que
las rompen en añicos, como fórmulas a ser tomadas en serio.
Ese contacto continuo entre lo que se escribe y lo que se habla; so-bre los modos de contar, que se revelan en los dos personajes, van a crear
en la novela nudos que forjan un recurso retórico de primera plana.
Antonio Viñao, en su ensayo “Oralidad y escritura en el Quijote:
oposición o interacción” observa que,
Los análisis filológico-literarios centrados en la crítica textual o el contex-
to de producción y recepción coetáneo a la obra en cuestión o a su au-
tor –en este caso el Quijote y Cervantes– difícilmente pueden sustraersea los debates del tiempo en que se llevan a cabo. (VIÑAO, 2004, p. 30)
Eso sirve como estímulo para que estudiemos el tema de la oralidad
en contacto con sus muchos lectores anteriores.
Además, de generación en generación hay una necesidad de supe-
ración de los hechos, formando los llamados ciclos caballerescos, que
deben superar a los antepasados sin nunca aniquilar a los héroes an-
teriores. Los ideales son de honor y valor moral en las aventuras decaballería que, en general, se dan por una serie de pruebas de valentía
y dignidad contra gigantes, alimañas y monstruos, que compensan el
amor del caballero a una dama idealizada que raramente se alcanza.
En varios episodios del primer libro de Quijote es posible detectar
el cambio y las técnicas que el relato oral solía tener.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 145/164
143
C APÍTULO 12
De entre los distintos episodios y relatos del primer libro, nos llamó
especial atención el Capítulo XX - “Cuento de Sancho”, pues, a pedido
del amo, Sancho pasa a narrar un episodio sobre el pastor Lope Ruiz:
… yo me esforzaré a decir una historia, que, si la acierto a contar y no mevan a la mano, es la mejor de las historias…que ya comienzo. Erase que
se era, el bien que viniere para todos sea, y el mal, para quien lo fuere a
buscar…que aquí viene como anillo al dedo…y no vaya a buscar el mal a
ninguna parte, sino que volvamos por otro camino, pues nadie nos fuer-
za a que sigamos este, donde tantos miedos nos sobresaltan. (I,20:182)
Por primera vez, Sancho intenta narrar oralmente un cuento y su
energía se desarrolla en un metalenguaje que ronda alrededor de cómo
se puede empezar una historia: Sigue tu cuento, Sancho – dijo don Quijote– y del camino que hemos de seguir déjame a mi el cuidado( I,20, p. 183).
Las palabras del amo sugieren que el cuento sirve de entretenimiento
a quien se traslada como un recurrido semejante del espacio con el de la
historia…Hay que seguir de algún modo: …Y este Lope Ruiz andaba ena-
morado de una pastora que se llamaba Torralba, la cual pastora llamada
Torralba era hija de un ganadero rico y este ganadero rico…( I,20, p. 183)
El modo de narrar de Sancho mueve en Don Quijote un deseo deprofesar preceptos básicos del arte de narrar:
Si desa manera cuentas tu cuento, Sancho – dijo don Quijote – repitien-
do dos veces lo que vas diciendo, no acabarás en dos días; dijo segui-
damente, y cuéntalo como hombre de entendimiento y si no, no digas
nada. (I, 20, p. 182)
A esa clase de enseñanza, retruca el escudero: “yo no sé contar de
otra manera, ni es bien que vuestra merced me pida que haga usos nuevos.
(I, 20, p. 182)
Aquí se puede entender con una rápida digresión sobre la oralidad
y sus efectos rítmicos, que lo que reclama Don Quijote, de Sancho, pue-
de tratarse de distinciones habituales en aquella época entre el arte de la
cadencia, del modo oral de narrar.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 146/164
144
Discutiendo la cadencia de la oralidad en el mundo medieval, Paul
Zumthor muestra que la diferencia entre las intensidades orales deter-
minaba tres modelos rítmicos: el planus (normal); el tardus (lento) y el
velox (rápido) (ZUMTHOR, 1993, p. 172).
La puesta en escena del relato oral de Sancho identificaría un arte
de cadencia popular del cuento que, posiblemente, adoptaba un esque-
ma rítmico que podría ser llamado de tardus (lento). Las repeticiones
siguen a lo largo de ese cuento, como suele ocurrir en la técnica mnemó-
nica, que puede identificar un estilo oral en la reinvención del cuento.
Lo significativo es que, a partir de ese “Cuento de Sancho”, empie-
za a dibujarse una actitud particular del personaje Sancho, quien va a
seguir reaccionando frente a las situaciones impuestas por la conducta
de Don Quijote, pasando a adquirir la capacidad de expresar sus opi-
niones sobre los temas, de modo más tajante y concreto, en cuanto otra
visión posible sobre la realidad.
Inicialmente, Sancho no puede contar sin repetir las palabras, como
se hacía con el antiguo verso que servía de mote o daba el ritmo a los
romances. Durante varios siglos, según Zumthor, la prosa compite con
el verso y, en el Quijote, la cadencia del cuento de Sancho (a causa de lasrepeticiones que le sobrevienen) harto más discretas que al principio,
al final acaban de modo inesperado y es quizás lo que seduce al oyente
como a Don Quijote a lo largo del cuento: “allí se acaba do comienza el
yerro de la cuenta del pasaje de las cabras”. (I, 20, p.183)
Como medievalista, Paul Zumthor explica que la vocalidad debe
ser considerada globalmente y en su carácter performático impone estra-
tegias expresivas coordinadas (copulativas; agregativas) más que subor-
dinantes. (ZUMTHOR, 1993, p. 191) Eso explica las repeticiones y lasformulaciones circulares en la sintaxis usada por Sancho.
De cualquier modo, lo que también tiene validez es el estudio de Me-
néndez Pidal, que desvendaba en el estilo del romance español algunos
elementos que indicarían la particularidad de la vocalidad, tales como: la
intensidad; la predominancia de la palabra en acto más que la descripci-
ón; la intemporalidad; los juegos de reverberación, eco y de repetición.
presencial y en el contatoentre emisor y receptor
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 147/164
145
C APÍTULO 12
Esos rasgos aparecen en el cuento de Sancho. Es decir: hay una
intensidad de la palabra en acción; la intemporalidad y los juegos de
reverberación, eco y repetición, como para configurar una presencia
particular del lenguaje. Por eso las pautas de la enunciación siguen mu-
cho más el modo tradicional de oralidad, si se compara a los diálogos
conceptuales y filosóficos de Don Quijote, que el acercamiento al dialo-
gismo retórico de la filosofía.
Por otro lado, Ryley identifica que las cuestiones teórico-críticas
están ensambladas en el Quijote de tres maneras: directamente, como
núcleo de la locura del héroe; como móvil de su conducta o como tema
de diálogo o discurso. (RYLEY, 1962, p. 14)
En la obra se presentan formas de composición oral, semejantes al
collage o a las historias intercaladas y el paso desde el discurso directo al
indirecto o viceversa. Sin embargo, son las interrupciones abruptas las
que sirven para mantener en estado de alerta a los lectores. De todos, el
episodio del vizcaíno (cap. VIII) es la interrupción más impactante, por
la disculpa de que el autor de la historia no ha escrito más.
Hay que agregar que la poética de lo verbal fue tratada por distin-
tos investigadores de la obra de Cervantes que observaron sus técnicas;sociolectos; chistes; pliegos sueltos; refranes; sentencias o su principio
dialógico (Rivers, E.L); Sacido Romero; Lázaro Carreter; Chevalier; etc.
En la frontera entre escritura y oralidad, el Quijote también se re-
fiere a una ficción que invade la realidad; a distintos tipos de lectores y a
géneros de libros de los más dispares: manuscritos, cartas, testamentos,
rúbricas, o a diferentes soportes de lo escrito. En distintos episodios, en
la segunda parte, se alude a la difusión comercial de la primera parte y
se contrasta el libro auténtico a lo falso, enseñando un mundo de “pira-terías editoriales” (VIÑAO, 2004, p. 29). Al llegar a Barcelona, Don Qui-
jote entra en una imprenta y observa una tipografía y se interesa por la
industria del libro y lo que en la primera parte se paseaba en su mente,
se materializa y pasa a dominar la realidad en la segunda. De ahí que
Moner lo llama “libro de los libros”. (Moner apud VIÑAO, 2004, p.30).
Confiera cómo se da eserasgo o las fórmulas para
mantener el interés del lectoru oyente en otros capítu-los de la primera parte:VIII,XVIII,XIX, XXXIX y L quetambién suceden en la segun-da parte: III, XI, XXV,XXXV.(VIÑAO, 2004, p. 33)
El portal Cervantes sobre laobra trae otras referenciasque pueden ser consultadas
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 148/164
146
En resumen, tratar la oralidad en el interior de la escritura implica
reunir una multiplicidad de voces que se pueden oír en el Quijote. Cada
una exige un modo de acercamiento e investigación, sin olvidarse de
que se trata de un texto no hablado sino escrito. Sin embargo, hay que
leerlo, no como un paso de la oralidad a las letras de modo positivista,
sino, más bien, como una “combinación de letras y oralidad, es decir,
una situación nueva de interacción y mezcla entre ambas.” (KEGAN
apud VIÑAO, 2004, p. 31).
12.2 El arte de la conversación
El Quijote es una novela peculiar en muchos aspectos. Uno de ellos,que en este apartado queremos destacar, es la cantidad y extensión de los
diálogos entre amo y escudero. Los tradicionales libros de caballería so-
lían dar énfasis a la acción del héroe. Por lo tanto, sus sentimientos eran
revelados por el narrador omnisciente, o por medio de raros poema es-
critos o cantados por el paladino alguna vez para desahogar el alma. En
el Quijote, no obstante, la mayor parte del tiempo, amo y escudero se en-
tretienen en sabrosos coloquios, mientras vagan por campos y caminos
de España en búsqueda de aventuras.
En tales coloquios es que Sancho viene a enterarse de las normas y
costumbres de la andante caballería, aprende sobre la vida de famosos
caballeros, sobre la acción de magos y encantadores y, entre otras cosas,
algunos preceptos de la conversación elegante, tales como: no ensartar
dichos, no hablar demasiado, ni revelar asuntos privados; usar siempre
palabras dignas con su interlocutor, entre otros, que le repite numerosas
veces su amo.
El destaque que Cervantes le da al diálogo en esa magistral novela
es correspondiente al prestigio que el arte de la conversación elegante
tenía en las cortes europeas.
Es importante recordar que el diálogo fue la forma con la que los
grandes filósofos de la Antigüedad enseñaban. Cuando surgieron las
universidades, en la Edad Media, el diálogo –en forma de quaestia dis-
putata- constituyó el sistema de las clases de San Tomás de Aquino, en la
Véase, por ejemplo, los Diálo-gos , de Platón
Ilustración de Gustave Doré. Don
Quijote conversando con Sancho
Panza
Cf. LAUAND, Luiz Jean. “Intro-dução”. In: AQUINO, Tomásde. Sobre o ensino. Os setepecados capitais. 2. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 3-22.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 149/164
147
C APÍTULO 12
Universidad de París, entre 1256 y 1259. El método consistía en probar
una tesis presentando objeciones y contra objeciones, con sus respecti-
vas respuestas.
La disputa polémica de un tema sintetizaba el espíritu de la univer-sidad, que entendía que “não era suficiente escutar a exposição dos gran-
des livros do pensamento ocidental por um mestre; era essencial que as
grandes idéias se examinassem criticamente na disputa” (LAUAND (ed.),
2004, p. 4). Esa metodología enseguida pasó a los colegios medievales, a
través del ars predicandi (el arte de predicar), que enseñaba la técnica del
debate. Luego tal asignatura se extendió a los siglos XVI y XVII.
El prestigio del debate polémico de ideas como sistema de en-
señanza universitaria y escolar posiblemente determinó el surgimiento
del arte de la conversación elegante, como práctica culta de las cortes
humanistas italianas. De Italia los preceptos del arte de conversación
se extendieron por Europa y perduraron hasta el siglo XVIII. De los
palacios, los saraus pasaron a la casa de los nobles, de modo que todos
aquellos que dominaban las prácticas de la corte eran diestros en el arte
de dialogar. Había, incluso, manuales de conversación elegante. El más
importante de ellos es El cortesano (1528), del italiano Baldassare Casti-
glione, que mimetiza y describe los principios del arte de dialogar, entreotros saberes necesarios para el perfecto habitante de la corte. Esa obra
fue el modelo de innúmeras otras que surgieron en las cortes europeas.
En España el más difundido manual de cortesanía fue ya mencionado
Galateo Español (1593), de Gracián Dantisco.
Alcir Pécora, en el prefacio de A arte de conversar (2001), explica
que el diálogo, en los círculos privados, sustituía el academicismo de
la disputa escolar, sin perder su carácter pedagógico en la formación
intelectual de la nobleza. La utilidad de los coloquios, entendidos como
fuente de conocimiento, está en la posibilidad de comunicación y de
desarrollo de ideas, que pueden influir en las opiniones de los partici-
pantes de la terturlia. El abad André Morellet (1727-1819), en el tratado
De la conversation (1812), destaca el beneficio del perfeccionamiento
moral de la sociedad por medio de la amistosa palestra. Pécora conside-
ra que, en los diferentes tratados acerca del arte de dialogar “a conversa
justifica-se como um principio civilizador, na medida em que as paixões
La vida en los grandes pala-cios reales, como en el Lou-vre, de París, o El Escorial,en Madrid, así como enlos palacios de los nobles(como el de los duques, enla Segunda Parte del Quijo-te), exigía una serie de nor-mas de etiqueta, del bienvestir, de los modales a lamesa, del bien hablar, en-tre tantos otros.
Ilustración de Gustave Doré.
Don Quijote en el palacio de los
duques
En este contexto el términopasión debe ser entendidocomo una perturbación delánimo, como el furor que semanifiesta en el que defiendecon mucho entusiasmo unaopinión.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 150/164
148
postas em jogo deixam-se modelar pelas ações reguladoras dos vários
discursos em colaboração” (PÉCORA (prefacio), 2001, XVI).
En el Quijote hay una serie de ejemplos de las distintas formas y fi-
nalidades que puede asumir el coloquio elegante. Ya en las primeras pá-ginas se menciona que el hidalgo “tuvo muchas veces competencias con
el cura de su lugar (…) sobre cuál había sido mejor caballero: Palmerín
de Inglaterra o Amadís de Gaula.” (I, 1) Podemos imaginar que en esas
“competencias” los participantes presentan argumentos que expresan su
opinión, con la finalidad de cambiar la de su contrario.
Del encuentro de Don Quijote con los cabreros y los pastores (I,
11-14), resultan diferentes manifestaciones del arte de bien hablar. Pri-
meramente, Don Quijote enuncia el bello discurso de la Edad Dorada
(I, 11), demostrando su dominio del arte retórico y su erudición. No
obstante, el enloquecido hidalgo falla al dirigir ese elevado discurso a la
gente humilde, tornando absolutamente inadecuada su elocución, que
suena a “larga arenga” a los cabreros. Mucho mejor le aviene al hidalgo-
caballero el papel de oyente en la amena conversación con el cabrero Pe-
dro, cuando éste le cuenta la historia de Grisóstomo y Marcela. Como se
trata de un relato, no hay disputa. Constituye, por lo tanto, una sabrosa
conversación de sobremesa, o sea, que se lleva a cabo después de comer,para postergar el gusto de la buena compañía –usual e igualmente pla-
centera hasta nuestros días-.
La pasión del caballero se enciende, sin embargo, en la plática con
Vivaldo (I, 13), que asume el carácter de una disputa de ideas. Con el
propósito de tornar más agradable la caminata hasta el entierro al que
se dirigían, Vivaldo deliberadamente censura las actitudes de los cabal-
leros andantes para incitar a su enloquecido interlocutor a defender sus
costumbres, como ser enamorados, encaminarse a la dama antes de las
batallas y tener sonoro linaje, por ejemplo. Aunque sus opiniones sean
intencionadamente irónicas y provocativas, Vivaldo conduce la conver-
sación con inteligencia y de modo cortés, sin ofender nunca al extravia-
do hidalgo manchego. Don Quijote le contesta con el afán de disuadirlo
de la mala opinión que tiene de los que profesan la andante caballería.
Pero… ¿habrá influido sobre la opinión de Vivaldo?
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 151/164
149
C APÍTULO 12
En el arte de la conversación se considera que un discurso es eficaz
cuando influye sobre el ánimo de los participantes e inclina su opinión
hacia el argumento o la tesis propuesta por el orador. En ese sentido,
la plática de Don Quijote supuestamente es ineficaz sobre el ánimo de
Vivaldo, tanto cuanto es inepta la argumentación del canónigo de Tole-
do cuando intenta convencer a Don Quijote de que son falsas todas las
novelas de caballerías (I, 49-50).
En la Primera Parte, se puede decir que el mejor ejemplo de efica-
cia discursiva es el de Dorotea, que con juiciosos argumentos inclina
la opinión de los que la oyen, los cuales salen en su defensa y terminan
por convencer a don Fernando para que cumpla la palabra que le había
dado (I, 36). En ese episodio la conversación tiene un inequívoco efecto“civilizador”, puesto que su efecto es traer a don Fernando de vuelta a la
recta razón, abandonando la pasión amorosa que le impelía a actuar de
modo indigno.
¿Y qué decir de Sancho, que convence a Don Quijote de que Dulci-
nea está encantada? (II, 10) Todo el arte de argumentar lo aprendió en
las largas pláticas con su amo.
Caro alumno, en incontables episodios encontrarás excelentesoportunidades para observar las intensiones, estrategias y efectos del
arte de la conversación, sobre todo en el palacio de los duques. Anótalos
y sigue el estudio de ese prolífico tema.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 152/164
150
Bibliografia consultada
AQUINO, Tomás de. Sobre o ensino. Os sete pecados capitais. Trad. ed. in-trod. Luiz Jean Lauand. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
CASTIGLIONE, Baldassare. O Cortesão. Trad. Carlos Nilson Moulin Louza-da. Prefácio Alcir Pécora. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
GRACIÁN DANTISCO, Lucas. Galateo Español . Madrid: Atlas, 1943.
MORELLET. A arte de conversar . Trad. Edmir Missio, Maria Ermantina Gal-vão. Prefácio Alcir Pécora. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
PÉCORA, Alcir. Prefácio. In: MORELLET. A arte de conversar . Trad. EdmirMissio, Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2001, VII-XX.
SACIDO ROMERO, A. – oralidad, escritura y dialogismo en el Quijote de1605, en Anales Cervantinos, XXXIII, (1995-97), pp.39-60.
VIÑAO, Antonio. Oralidad y escritura en el quijote: ¿oposición o interacción?Revista de Educación, núm. extraordinario (2004), pp. 27-47. www.revis-taeducacion.mec.es/re2004/re2004_03.pdf
ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz . Trad. Amalio Pinheiro e Jerusa Pires Ferrei-ra. São Paulo: Cia das Letras, 1993.
Ver páginas web:
http://cvc.cervantes.es/obref/quijote/indice.htmhttp://www.cervantes.tamu.edu/v2/Bibliografias/indiceBEIC/cervantes-mo.htm
http://www.aache.com/quijote
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 153/164
151
C APÍTULO 13
La peripecia final
Estimado alumno, como toda gran obra de arte, el final del Quijote tienemúltiples interpretaciones. Queremos señalar, en este capítulo, algunas de
las líneas de interpretación que siguió la crítica cervantina. Puedes concor-
dar con ellas, parcial o totalmente, o puedes discordar y buscar otra inter-
pretación, tuya y personal, pues, como diría el propio Cervantes “tienes tu
alma en tu cuerpo y tu libre albedrío” (prólogo de 1605). ¡Buena lectura!
13.1 ¿En qué consiste la peripecia?De acuerdo con la Poética de Aristóteles, peripecia es uno de los ele-
mentos esenciales de la tragedia, que consiste en la “mutação dos sucesos
no contrário” (cap. XI), o sea, cuando se espera de una acción un efecto y
se da el inverso. Eso es lo que ocurre en la batalla del Caballero de la Blan-
ca Luna, en una playa de Barcelona, contra Don Quijote (II, 64). A quien
vio Don Quijote vencer con tanta facilidad al Caballero de los Espejos
(II, 15), bien como al Caballero-lacayo Tosilos (II, 56), la derrota para el
Caballero de la Blanca Luna es un revés no esperado, contrario a la ex-
pectativa de los que lo vimos salir bonitamente de similares percances.
Como conviene a las grandes tragedias, en ese suceso, la peripecia vie-
ne unida a otros dos elementos propios de la acción trágica: la catástrofe
y el reconocimiento. Se puede decir que el vencimiento del Caballero de la
Triste Figura es también una catástrofe, que consiste en “uma ação perni-
ciosa e dolorosa, como são as mortes em cena, as dores vehementes, os feri-
mentos e mais casos semelhantes” (Poética, cap. XI). La derrota del caballe-ro en una batalla, de acuerdo con la tradición caballeresca, significa que él
no fue protegido por la Fortuna (o la Providencia). Eso ocurría cuando el
paladín no estaba con la razón, o cuando su causa no era justa y verdadera.
La derrota en las armas implica, por tanto, una humillante derrota moral.
En síntesis, se puede decir que la derrota es una catástrofe que obli-
ga a Don Quijote a reconocer la flaqueza de su brazo y la debilidad de
su causa –él entra en la batalla para defender la belleza de Dulcinea-. El
13
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 154/164
152
malogro en la batalla provoca una peripecia al trastocar el papel de ca-
ballero invicto en vencido. Tal hecho obliga a Don Quijote a someterse a
la mudanza del modo de vida y del rumbo, exigidos por el vencedor: en
vez de seguir sus andantes aventuras, debe retirarse a su pueblo por un
año. Allí “has de vivir sin echar mano a la espada, en paz tranquila y en
provechoso sosiego, porque así conviene al aumento de tu hacienda y a
la salvación de tu alma” (II, 64), ordena el de la Blanca Luna.
Porque es derrotado en un contexto que respeta las estrictas nor-
mas de la caballería andante, Don Quijote acepta su infortunio y se de-
termina a cumplir el mandato de su oponente “como caballero puntual
y verdadero” (II, 64).
13.2 El fin del caballero
La melancolía de su vencimiento, sospechan sus amigos
aldeanos, Sancho, y el médico que lo consulta, es la causa de
la súbita enfermedad que lo acomete el mismo día que llega a
la aldea. La enfermedad, curiosamente, le devuelve la cordura,
atestada por los amigos y confirmada por una autoridad ecle-
siástica: el cura. En los registros civiles el escribano apunta su
muerte natural, en su lecho, sosegada y cristianamente (II, 74).
Conviene notar que la muerte de Don Quijote, en el últi-
mo capítulo de la Segunda Parte, no despierta polémica entre
los personajes. Tampoco el autor arábigo, el segundo autor
o el morisco aljamiado levantan sospechas sobre la autenticidad de la
recuperación de la cordura de Alonso Quijano y de su muerte, como lo
hicieron en otras ocasiones.
A este respecto, es interesante observar que al final de la Primera
Parte del Quijote, pese a que se mencionen su tumba y epitafio, el narra-
dor omnisciente menciona la tercera la salida y anuncia el propósito de
que salga a la luz de la imprenta la tercera salida de Don Quijote (I, 52).
Esa expectativa, posiblemente, motivó al falso Avellaneda a componer
la Segunda Parte. El final de la edición apócrifa, igualmente, indica la
continuación de las quijotescas hazañas:
Ilustración de Gustave Doré. La
muerte de Don Quijote
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 155/164
153
C APÍTULO 13
Pero como tarde la locura se cura, dicen que en saliendo de la corte [don
Quijote], volvió a su tema, y que comprando otro mejor caballo, se fue
la vuelta de Castilla la Vieja, en la cual le sucedieron estupendas y jamás
oídas aventuras… llamándose el Caballero de los Trabajos, los cuales no
faltará mejor pluma que los celebre (apud RIQUER, 1990, p. 1098).
El desenlace de la novela apócrifa, a nuestro juicio, arroja luces so-
bre la contundente declaración de Cide Hamete de que “para mí sola na-
ció [la historia de] don Quijote, y yo para él; él supo obrar y yo escribir;
solos los dos somos para en uno” (II, 74).
Con esas palabras el autor arábigo afirma tajantemente la estrecha
relación entre creador y criatura. Además, si éste le da muerte natural,
es legítima y absolutamente verosímil. Eso lo advierte en el discurso alprincipio del capítulo:
Como las cosas humanas no sean eternas, yendo siempre en declina-
ción de sus principios hasta llegar a su último fin, especialmente las vi-
das de los hombres, y como la de don Quijote no tuviese privilegio del
cielo para detener el curso de la suya, llegó su fin y acabamiento cuando
él menos lo pensaba (II, 74).
La verosímil enfermedad y muerte del protagonista, sin embargo,
echan mano de varios testigos y del parecer de autoridades eclesiásticas
y civiles –el cura y el escribano-, los cuales intensifican la connotación
de inexorable fin del hidalgo convertido en andante caballero.
Conviene notar que el texto configura el funesto desenlace como
una decisión literaria de su autor, para impedir que groseras plumas ten-
gan ocasión de dar continuidad a las peregrinas aventuras del caballero
manchego. Además, es pertinente observar que ese final confirma lo que
Cervantes ya había anticipado en el prólogo al lector, cuando le advierteque en la Segunda Parte “te doy a don Quijote dilatado, y, finalmente,
muerto y sepultado, porque ninguno se atreva a levantarle nuevos testi-
monios, pues bastan los pasados” (prólogo 1615).
Siendo eso así, es cierto decir que la obra presenta plausibles causas
de la enfermedad, de la recuperación de la razón y de la muerte de su
protagonista. Todavía, muchos sutiles ingenios indicaron otros signifi-
cados para el fin del caballero. Veamos algunos de ellos.
En uno: “en unión o confor-midad” (Pequeño DiccionarioLarousse Ilustrado, 1994).
Aparentemente la alegaciónde Cide Hamete es que sóloél y Don Quijote forman launidad, sin que otros falsosautores puedan intervenir odisociarlos.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 156/164
154
13.3 Muere el hidalgo
Jorge Guillén, en el artículo “Vida y muerte de Alonso Quijano”
(1987), sostiene que el hidalgo manchego “encarna la tragedia de la per-sona: el ser que no llega a ser quien es” (p. 312).
Guillén se pregunta si la vida y la muerte de Alonso Quijano serían
nada más que el prólogo y el epílogo de la gran historia de Don Quijote.
Alega que al principio de la novela la identidad del hidalgo es tan insig-
nificante que no se llega a saber cómo se llamaba con exactitud: Quijada,
Quejana, Quesada, Quijana… Completamente distinta de la definición
de la identidad de Don Quijote, condensada en la famosa afirmación:
yo sé quién soy (…) y sé que puedo ser no sólo los que he dicho, sino
todos los doce Pares de Francia, y aun todos los nueve de la Fama, pues
a todas las hazañas que ellos todos juntos y cada uno por sí hicieron, se
aventajarán las mías (I, 5).
Guillén destaca la aclaración de Unamuno a tales palabras: al de-
cir ‘¡yo sé quién soy!’, don Quijote no dijo sino ‘yo sé quién quiero ser’
(1987, p. 306).
Las innúmeras declaraciones semejantes que hace Don Quijote no
son “sólo frenesí de querer, sino conciencia de ser” (ídem, p. 307), señala
Guillén. No obstante, de aventura en aventura, de fracaso en fracaso,
descendemos a la derrota final: un desenlace nada brusco. En las últimas
jornadas de la Segunda Parte, el decaimiento del caballero conduce a la
reaparición completa de Alonso Quijano.
¿Cómo va a sobrevivir en su lugar de la Mancha el recién regresa-
do? Guillén considera que, para ese hidalgo, sentirse ex-Don Quijote
equivale a sentirse desesperadamente ex-Alonso Quijano: alguien que
no puede hacer suya una vida sin heroísmo. Su última acción heroica
será dejarse morir sin más ni más, como bien percibe su fiel escudero:
- ¡Ay! –respondió Sancho, llorando-: No se muera vuestra merced, señor
mío, sino tome mi consejo, y viva muchos años; porque la mayor locura
que puede hacer un hombre en esta vida es dejarse morir, sin más ni
más, sin que nadie le mate, ni otras manos le acaben que las de la me-
lancolía (II, 74).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 157/164
155
C APÍTULO 13
No llegar a ser quien verdaderamente es puede configurar un des-
tino que, entretanto, no niega a la persona, ni su valor, ni sus ideales. Por
eso, Alonso Quijano, como hombre superior, no tiene a su alcance más
que la hazaña negativa: “dejarse morir desde lo más íntimo de su alma
indomable” (GUILLÉN, 1987, p. 312). ¿Esa sería su última cordura o su
última locura?
Para Guillén, el doble Alonso Quijano-Don Quijote fragua la suma
síntesis de todo lo humano.
13.4 El Quijote, parodia y lección
Javier Salazar Rincón, en El mundo social del Quijote (1985), plan-
tea que podemos reconocer en el Quijote una parodia social y un alec-
cionador desengaño.
Para imaginar el contexto histórico y cultural de la España en que
vivió Cervantes, vale recordar que, con la conquista de las Indias de
América y de las colonias de África, Asia y Europa, la Corona Española
constituía un gran imperio, tan extenso y próspero como los tradicio-
nales imperios de Inglaterra y Francia. Las riquezas provenientes de lascolonias permitían a la clase aristocrática ostentar con mayor atuendo
su caudalosa fortuna. La ocupación de las colonias también creaba ins-
tituciones eclesiásticas, militares y civiles, bien como cargos que eran
ocupados solamente por los miembros de la alta nobleza.
Posesiones españolas durante del reinado de Felipe II de España
Território sob domínio de Felipe II
AMÉRICA
Açores
MadeiraCanárias
Cabo Verde
S. Jorge de Minas
Ascensão
Sta. Helena
EUROPA
ÁFRICA
ÁSIA
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 158/164
156
En el capítulo V, “El Quijote, parodia y lección”, Salazar Rincón des-
taca que la nobleza, situada en la cúspide de la pirámide jerárquica, se
había convertido en el punto de confluencia de todas las aspiraciones
colectivas, en un verdadero imán, que atrae las miradas de los plebeyos
que quieren mejorar su suerte y librarse de la miseria y el descredito.Eso determina “la adopción mimética de las formas de vida noble por
parte de los grupos inferiores” (1985, p. 298). A tal punto que quienes
no pueden ser nobles, intentan parecer . En Madrid, por ejemplo, Fran-
çois Bertaut (apud SALAZAR, 1985, p. 299) observó que los corrales de
comedias estaban siempre llenos “con todos los mercaderes y todos los
artesanos, que abandonando su tienda vanse allí con la capa, la espada y
el puñal , y todos se llaman caballeros, hasta los zapateros”
Aunque la nobleza siga siendo inaccesible a la mayoría, las riquezas
se habían convertido en un instrumento seguro para superar las barre-
ras sociales, puesto que era posible comprar títulos. Ello produce la pasi-
ón por el medro, descrita en El Buscón (1599), de Guzmán de Alfarache:
…porque el pastor querría ser labrador y el labrador querría ser escude-
ro y el escudero querría ser cavallero y el cavallero querría ser rey y el rey
querría ser emperador (idem, p. 303).
En otras palabras, todos sueñan con los ideales caballerescos de ho-nor, dignidad, gloria y vida noble.
Salazar Rincón señala que, en el Quijote, el hidalgo y el labrador
manchego también tienen la ambición de ascender socialmente. Pese a
que sea hidalgo de los de lanza en astillero, rocín laco y galgo corredor
(I, 1), Alonso Quijano ambiciona ser caballero andante que, gracias al
valor de su brazo, se imagina coronado del imperio de Trapisonda (I, 1).
Como caballero, cree que puede tornarse rey al desposar una hermosa y
enamorada princesa (I, 21), o alzar altos puestos, si el sabio que escribe
su historia venga a deslindar su parentela y a descubrir que es quinto o
sexto nieto de rey (I, 21).
Sancho, a su vez, aunque siendo labrador pobre y con hijos (I, 4), no
habiendo gobernado más que gansos, puercos (II, 2) y cabras (II, 52), acce-
de a la invitación de su vecino para ser su escudero porque éste le promete
darle una ínsula y dejarlo como su gobernador (I, 7). A la falta de hidal-
guía, sostiene que el ser cristiano viejo ya le basta para ser conde (I, 21).
Vale destacar que el porte dearmas sólo era permitido a
los hombres de la aristocra-cia. La espada y el puñal , porlo tanto, eran signos que dis-tinguían a los varones nobles
de los “no nobles”
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 159/164
157
C APÍTULO 13
En cuanto a sus ambiciones de medrar socialmente, los dos hé-
roes han vivido engañados, asegura Salazar Rincón. Han protagonizado
una farsa, con evidentes resonancias sociales
Sus ambiciones son un reflejo abreviado de aquella sociedad en quelos pujos de grandeza y las ganas de medrar habían llegado a ser una
obsesión generalizada. Pero han sido desengañados acerca de sus vanas
aspiraciones en los episodios culminantes de la historia: el final del go-
bierno de Sancho y la derrota de Don Quijote. En el desengaño, o sea, en
el abandono de los ensueños de gloria, riqueza y fama reside “la mayor
victoria de ambos personajes y la gran lección social y moral de la nove-
la” (1985, p. 309), afirma Salazar Rincón.
Ese autor señala que el desengaño cervantino es, ante todo, sabidu-
ría y verdad, y el desengañado, el hombre que ha logrado conocerse a sí
mismo (1985, p. 310). Conocerse a sí mismo era un ideal de la filosofía
neo estoica en boga en la España de los siglos XVI y XVII. Ese principio
formaba parte de los ideales de la perfecta cortesanía, por ello era divul-
gado y alabado en los tratados de educación política.
Por ejemplo, Palacios Rubios asevera que: “Deben los hombres co-
nocerse a sí mismos y medir y estimar sus fuerzas y las cualidades de suspersonas, y no confiar de sí más de lo que deben, ni tomar sobre sí más
carga de la que pueden sufrir” (apud SALAZAR RINCÓN, 1985, p. 310).
Seguramente Don Quijote acumula, entre sus tantas lecturas, la de
esos tratados, puesto que al aconsejar Sancho, cuando parte a gobernar
la ínsula, le advierte:
…Has de poner los ojos en quien eres, procurando conocerte a ti mis-
mo, que es el más difícil conocimiento que puede imaginarse. Del co-
nocerte saldrá el no hincharte como la rana que quiso igualarse con el
buey; que si esto haces, vendrá a ser feos pies de la rueda de tu locura la
consideración de haber guardado puercos en tu tierra (II, 42).
La lección de prudencia que le enseña Don Quijote a Sancho pone
de relieve que quien alcanza a conocerse a sí mismo sabe acometer em-
presas adecuadas a su propia capacidad y condición. Tal vez por eso es
que Sancho sorprenda a todos en el cargo de gobernador, sobre todo por
El ideal de la perfectacortesanía fue manifiesto ymimetizado en El Cortesano (1528), del italiano Baldas-
sare Castiglione. Esta obramaestra sirvió de modelo aun sin número de publicacio-nes similares en toda Europa.En el país del Quijote tuvomucho éxito el Galateo Espa-ñol (1593?), de Lucas GraciánDantisco.
En los siglos XVI y XVII mu-chos hombres de letras sededicaron a componer tra-tados de educación política,que se han convertido enun prestigiado género lite-rario. En los años seiscien-tos fueron muy estimadaslas obras de Baltasar Graci-án (1601-1658): El discreto,El héroe, Oráculo manual yarte de prudencia. Tambiénmerece nota la Idea de unpríncipe político-cristiano(1640), de Diego SaavedraFajardo. Podrás encontraralgunas de esas obras enla red, especialmente enwww.cervantesvirtual.es
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 160/164
158
su firme sentido común y gran espíritu justiciero. Siendo fiel a sus prin-
cipios, Sancho puede enorgullecerse de su honestidad al dejar la supues-
ta ínsula: “desnudo nací, desnudo me hallo: ni pierdo ni gano: quiero
decir que sin blanca entré en este gobierno, y sin ella salgo, bien al revés
de cómo suelen salir los gobernadores de otras ínsulas” (II, 53).
Para Salazar Rincón, aunque el Quijote satirice los afanes hidalguis-
tas y las engañosas ilusiones de las gentes de la época, la obra no defien-
de el inmovilismo social. Los fracasos y desengaños de sus protagonistas
nos dejan una lección de desengaño acerca de la riqueza y de la ascensión
nobiliaria, pero también una duradera lección de fe en el hombre. Eso
porque las vanas ambiciones de amo y escudero jamás laceran su noble
carácter. Siguiendo sus aventuras y desventuras se nos revela el buen co-razón de Sancho, su lealtad a su señor, su constante preocupación por la
familia. Igualmente, se nos confirma la bondad de Alonso Quijano-Don
Quijote, manifiesta en tantas actitudes compasivas, que ponen de relieve
su honradez y recto espíritu de justicia.
Si no acceden a la alta nobleza, a la gloria y a la fortuna, eso ya no
importa. La calidad de los títulos y de los bienes pretendidos se achica
ante la dignidad del alma de amo y escudero, en las que aprendemos a
contemplar la auténtica vida del espíritu humano.
Bibliografía consultada
ARISTÓTELES. Poética. Trad. ed. Eudoro de Souza. 7. ed. Lisboa: ImprensaNacional – Casa da Moeda, 2003.
GUILLÉN, Jorge. Vida y muerte de Alonso Quijano. In: HALEY, George(org.). El Quijote de Cervantes. Madrid: Taurus, 1987 (reimp.), p. 303-312.
RIQUER, Martín. Edición, introducción y notas. In: CERVANTES, Miguel de.El ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha. Barcelona: Planeta, 1990.
SALAZAR RINCÓN, Javier. El mundo social del “Quijote” . Madrid: Gredos,1985.
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 161/164
159
Comentario Final
Estudiantes,
A modo de conclusión, necesitamos explicar que, nosotras, las au-
toras de este tomo, tenemos conciencia de que la guía de lectura que
aquí les presentamos peca por ser nada más que un sendero abreviado
de lo que se puede extraer de las lecturas que, a lo largo de cuatro siglos,
se fueron construyendo sobre la novela de Cervantes. No es un com-
pendio para especialistas, sino un esbozo para el alumno que empieza
a profundizar sus conocimientos sobre literatura hispánica y desea leer
no solamente lo que se dijo sobre la obra, sino, de hecho, aprovechar el
curso para leer las dos partes del Quijote, como modo de aprehender
uno de los más altos patrimonios inmateriales de la sensibilidad que
la cultura hispánica ha regalado a la humanidad, a través de la obra de
Miguel de Cervantes.
Sin la presunción de querer dar la última palabra o de esperar
demasiado de esta humilde guía panorámica de lectura del Quijote,
como modo de acción en un espectro cultural de Occidente que, enla contemporaneidad, vive “bajo la tensión de lo inhumano, experi-
mentada en una escala de magnitud y de horror singulares” (STEINER,
2003:25), confiamos en que este curso monográfico sobre literatura
cervantina pueda ofrecer al estudiante de Letras-Español un epílogo
especial para el inicio de un diálogo intercultural, entre el pasado y el
presente. Y si la comunidad de valores tradicionales está hecha añicos,
vale la pena acordarnos de lo que plantea George Steiner sobre la la-
bor de la crítica literaria, de hacer que “la creación no se hunda en el
silencio.”(STEINER, 2003:27).
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 162/164
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 163/164
7/24/2019 PERIODO8-literatura-espanhola3
http://slidepdf.com/reader/full/periodo8-literatura-espanhola3 164/164