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Fundador da Seção de Madeiras e da Divisão de Aeronáutica do IPT, desenvolveu trabalhos de grande relevância para as novas conquistas nacionais no campo da madeira e da aviação. Brotero ficou conhecido no meio como “pai do Freijó”, madeira que pesquisou com afinco e ficou consagrada na construção aeronáutica. Exportada para o Japão, era empregada nos caças “Zero”, principal caça da marinha japonesa na II Guerra Mundial. Foi também renomado projetista e construtor de aviões, como o Bichinho, e planadores, como o Gafanhoto. Seu trabalho deu suporte técnico para a fundação e desenvolvimento da Cia Aeronáutica Paulista, que projetou centenas de unidades do avião Paulistinha. Ele formou e treinou a melhor equipe brasileira de técnicos aeronáuticos. Após uma vida dedicada à pesquisa, estudos e realizações em prol da aeronáutica, faleceu em 1980 aos 76 anos. Frederico Abranches Brotero foi um grande impulsionador dos estudos das madeiras nacionais aplicadas na aviação. Metódico e criativo, Brotero foi o mentor de projetos que contribuíram para consolidar a indústria aeronáutica e a aviação em nosso País. Frederico Brotero (1904 - 1980) 1940 - Avião Bichinho sobrevoando São Paulo, pilotado por Anésio Amaral

Personalidades IPT - Frederico Brotero

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Durante todo o 112º ano de vida do IPT, convidamos você a conhecer a vida e o trabalho desses ipeteanos ilustres. Traremos todo mês uma exposição sobre cada uma dessas personalidades. Este mês o contemplado é Frederico Brotero.

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Page 1: Personalidades IPT - Frederico Brotero

Fundador da Seção de Madeiras e da Divisão de Aeronáutica do IPT, desenvolveu trabalhos de grande relevância para as novas conquistas nacionais no campo da madeira e da aviação.

Brotero ficou conhecido no meio como “pai do Freijó”, madeira que pesquisou com afinco e ficou consagrada na construção aeronáutica. Exportada para o Japão, era empregada nos caças “Zero”, principal caça da marinha japonesa na II Guerra Mundial.

Foi também renomado projetista e construtor de aviões, como o Bichinho, e planadores, como o Gafanhoto. Seu trabalho deu suporte técnico para a fundação e desenvolvimento da Cia Aeronáutica Paulista, que projetou centenas de unidades do avião Paulistinha. Ele formou e treinou a melhor equipe brasileira de técnicos aeronáuticos.

Após uma vida dedicada à pesquisa, estudos e realizações em prol da aeronáutica, faleceu em 1980 aos 76 anos.

Frederico Abranches Brotero foi um grande impulsionador dos estudos das madeiras nacionais aplicadas na aviação. Metódico e criativo, Brotero foi o mentor de projetos que contribuíram para consolidar a indústria aeronáutica e a aviação em nosso País.

Frederico Brotero (1904 - 1980)

1940 - Avião Bichinho sobrevoando São Paulo, pilotado por Anésio Amaral

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A década de 1900 é considerada o início de uma era pioneira na aviação, marcada pelos primeiros voos de avião, creditados aos irmãos Wright, com o Flyer, em 1903, na Carolina do Norte, e a Alberto Santos Dumont com o 14-Bis, em 1906, em Paris.

No Brasil, o IPT - na época denominado Gabinete de Resistência dos Materias (GRM) - publicava seu Manual de Resistência dos Materiais, com os primeiros ensaios de madeiras.

É nesse contexto que nasce Frederico Abranches Brotero, no dia 16 de junho de 1904, na cidade de São Paulo, filho de João de Barros Brotero e de Cecilia Abranches Brotero. Pouco depois, a família passa a se dedicar ao café, principal atividade econômica da época.

Brotero passou parte de sua infância na cidade de São Paulo com seus quatro irmãos: Carlos, Cecília, João Evangelista (1º) e João Evangelista (2º). Depois a família mudou-se para Piracicaba, local onde ele iniciou seus estudos primários. Apelidado pela família de Fritz, era um menino metódico e gostava muito de esportes.

Em 1923, aos 19 anos, preparando-se para ingressar numa universidade, escolhe não seguir a tradição da família de advogados (como o bisavô Conselheiro Brotero), fazendeiros, funcionários públicos e políticos. Fascinado por invenções, preferiu seguir a carreira de engenheiro e matriculou-se no curso preparatório para a Escola Politécnica de São Paulo. Foi aprovado no curso de engenharia civil dois anos depois, formando-se em 1929. Nesse período, no bairro de Santa Cecília, conhece sua vizinha e futura esposa, Maria do Carmo Pereira Guimarães.

Em 1928, admitido como assistente-aluno no IPT, começa a estudar as características das madeiras nacionais, sendo o primeiro a defender suas aplicações na aviação.

Em 1932 casa-se com Maria do Carmo, com quem teve dois filhos: Anna Maria e Frederico Octávio.

Nos anos 1940 e 1950, Brotero deixa a sua marca no desenvolvimento aeroportuário do País, com uma atuação bastante ativa na direção de alguns órgãos da Secretária Estadual de Viação.

Em 1954, separa-se da primeira esposa e assume um novo casamento com Maria Laporte Ribeiro. Aposenta-se do IPT três anos depois, mas continua atuando como consultor na área. Entre 1961 e 1962 assume a Presidência do Instituto de Engenharia. Nos anos seguintes, as informações sobre sua vida pessoal e profissional são escassas; sabemos apenas que Brotero adoece, e falece em 1980.

“Foi ponta esquerda da Associação Atlética das Palmeiras e era considerado na época um dos melhores ponteiros de São Paulo”. Entrevista de Frederico Octavio Guimarães Brotero, em O Bandeirantes, 17 de outubro de 1982.

“ Segundo Brotero, as madeiras nacionais eram variadíssimas, ótimas e muito pouco exploradas” Entrevista de Romeu Corsini em 2005.

“Pai amoroso, brincalhão, bonachão, mas que dava profundo valor à educação dos filhos” Entrevista de Frederico Octavio Guimarães Brotero, em O Bandeirantes, 17 de outubro de 1982.

1905 - Frederico Abranches Brotero com um ano de idade

1908 - João de Barros Brotero e Cecília Abranches Brotero, pais de Brotero

1939 - Brotero com o filho Frederico Octávio e a filha Anna Maria

Déc. de 1900 - Cecília Abranches Brotero, irmã de Frederico

Déc. de 1900 - Seu irmão, João Evangelista Brotero 2º

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Os resultados dos trabalhos realizados pelas Seções de Ensaios Mecânicos de Madeira e de Identificação de Madeiras possibilitaram novas aplicações das madeiras nacionais, como assoalhos, dardos para atletismo, estacas para fundações, dormentes para ferrovias, hélices e caixas para exportação de laranjas. A cooperação com o Clube Politécnico de Planadores (CPP) – nascida do hobby de alguns ipeteanos que eram sócios do clube – viabilizou o projeto de construção de planadores e posteriormente de alguns monomotores, além do estudos de materiais correlatos (colas, vernizes, dopes e telas) para a indústria aeronáutica.

Nessa mesma década são produzidas na oficina de aeronáutica do IPT cerca de mil hélices para a aviação brasileira. Brotero foi o responsável pela introdução de métodos de fabricação em grande escala de hélices de madeira.

Em 1928 Brotero ingressa como assistente-aluno no IPT - na época denominado Laboratório de Ensaios de Materiais (LEM) - sob a direção de Ary Torres, na Seção de Ensaios Mecânicos de Madeira, realizando estudos sobre as características das madeiras nacionais. Dois anos depois, é contratado como engenheiro auxiliar da Seção, chefiada pelo engenheiro suiço Gian Caprez. Os anos 1930 marcaram o desenvolvimento da tecnologia aeronáutica no Brasil, quando a maioria das iniciativas industriais contava com a participação de militares. Nessa época, a Seção executava estudos intensos e sistemáticos sobre as características fisicas e mecânicas das madeiras nacionais (resistência à compressão, flexão, dureza, contração, densidade, elasticidade, dentre outros), com a finalidade de abrir campo para novas aplicações na indústria. A partir desse trabalho Brotero começa a se interessar pelo emprego das madeiras nacionais na aviação, época em que a tendência mundial da tecnológia aeronáutica era a substituição da madeira por materiais metálicos. Entretanto, o Brasil possuía um parque metalúrgico limitado sem grandes siderúrgicas.

Com a saída do Engº Gian em 1931, Ary Torres indica Brotero para assumir a chefia da Seção. No ano seguinte, teve inicio a Revolução Constitucionalista, quando o Estado de São Paulo se levanta contra o governo de Getúlio Vargas. Sob a direção do Adriano Marchini, o LEM é requisitado para constituir o Serviço de Engenharia da Força Pública do Estado, com a missão de dirigir todas as atividades bélicas. Entretanto, Marchini se acidenta e é hospitalizado; Brotero assume então a direção interina do Laboratório. Cessada a guerra Brotero retorna à chefia da Seção, onde continua suas pesquisas sobre madeiras. Em 1934, o LEM é transformado em Instituto de Pesquisas Tecnológicas, período em que foram estudadas as propriedades físicas e mecânicas de 40 madeiras e identificadas 147 espécies, como o Pinho-do-Paraná, Pau-Marfim e o Frei-jorge (conhecida como “Freijó”), em substituição ao Spruce - tipo de madeira usada internacionalmente na fabricação de aviões. Com essa pesquisa, Brotero fica conhecido no meio técnico como “o Pai do Freijó”, madeira consagrada na construção aeronáutica e exportada em larga escala para o Japão, que a utilizava na fabricação de seus caças.

“Apesar do enorme progresso e da generalização da construção metálica em todos setores da indústria aeronaútica, a madeira ainda está longe de ser abandonada como material utilizável nos aviões modernos” Brotero em Emprego das Madeiras Nacionais em Aviação, em 1939.

“E eu que ainda era menino, por ouvir tanto se falar que o Engº Brotero era o “pai do Freijó”, acabei achando que era o irmão do Freijó”. Entrevista de Frederico Octavio Guimarães Brotero, em “o bandeirantes”, 17 de outubro de 1982.

Déc. de 1940 - Oficina da Divisão de Aeronáutica do IPT, ondeeram projetados e construídos aviões, planadores e embarcações

Déc. de 1940 - Equipe de engenheiros e técnicos coordenadapor Brotero, no Clube Politécnico de Planadores

Déc. de 1940 - Ensaio de tração de um Planador

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Na Seção foram construídos planadores, sendo o primeiro planador oficial o Gafanhoto (IPT-1), e também vários aviões, como o Planalto (IPT-4) e o Junior (IPT-7). Em 1942, a equipe de Brotero reprojeta um avião da Cia Aeronáutica Paulista - o Paulistinha, que viria a ser o modelo mais fabricado no Brasil até os anos 1970. O IPT fornecia à empresa hélices, chapas de madeira e outras peças fabricadas pela Seção, além de realizar visitas periódicas à fabrica.

O trabalho gerado pelas pesquisas na área de madeira e aviação possibilita a criação da Divisão de Aeronáutica, em 1948, também sob a chefia de Brotero. A Divisão diversifica seus trabalhos, desenvolvendo molinetes para a VASP e Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, carros abastecedores de combustível para uso em pequenos campos de aviação, motores aeronáuticos refrigerados a ar, hélices com acabamento de borracha e equipamentos de bordo.

A Divisão de Aeronáutica também organizava cursos de voo a vela em todo País e era responsável pela orientação e controle da execução da pista e hangar para o CPP na Cidade Universitária, inaugurada em 1949.

Nos anos 1950, a Divisão de Aeronáutica colabora com o Laboratório de Ensaio de Embarcações, realizando alguns estudos de madeira para barcos. Brotero, além das atividades do IPT, acumula funções em vários órgãos da Secretária da Viação e Obras Públicas do Estado de São Paulo. Os trabalhos do IPT no campo da aviação vão diminuindo em razão da criação do Centro Técnico Aeroespacial - CTA, em 1951, ficando mais tarde a cargo do Depto. Aeroviário do Estado de São Paulo (DAESP). Mesmo assim, o IPT ainda constrói em 1954 alguns planadores e aviões, como o Surubim (IPT-16), o primeiro da série com trem retrátil e o mais veloz até então construído, com velocidade superior a 300km/h, feito todo em madeira freijó e contraplacado produzido no IPT.

Em 1957, após idealizar, projetar e concretizar seu trabalho, desenvolvendo com isso uma nova capacitação no IPT, Frederico Brotero se aposenta, encerrando sua carreira no Instituto.

Aplicando todo o conhecimento adquirido, Brotero constrói em 1938, em conjunto com Orthon Hoover (técnico da Curtiss americana, enviado ao Brasil para montar alguns aviões da Aviação Naval), o monomotor “Bichinho”, feito inteiramente em madeira, com 90% de madeiras nacionais. O protótipo foi oficialmente chamado de HB-1 e depois registrado como IPT (IPT-0), também conhecido como “avião mosquito”.

Em 1939, Brotero encomenda ao Eng. Clay Presgrave do Amaral, que estava nos EUA, o projeto de um túnel aerodinâmico para ensaios de modelos de 1,5 m de envergadura, e importa da Alemanha uma máquina para confecção de contraplacado com a finalidade de instalar uma fábrica no IPT. No mesmo ano Brotero publica o livro “Emprego de Madeiras Nacionais em Aviões“, apresentando seus estudos iniciais.

Em 1940 é criada a Seção de Madeiras (Ensaios e Industrialização), chefiada por Brotero. Com apoio do governo paulista, o setor de aeronáutica se destaca dentro da Seção, passando a produzir contraplacados com pinho-do-paraná, hélices com pau-marfim e aviões com freijó.

“Testar na prática o que se observou em nossos laboratórios” Brotero em Emprego das Madeiras Nacionais em Aviação, em 1939.

1949 - Vista àrea das instalações do IPT no Butantã. A Seção de Aeronáutica foi responsável pela execução do hangar e pista de voo na Cidade Universitária

1957 - Encontro dos presidentes e vices do Instituto de Engenharia.

Déc. de 1930 - Ensaio de hélice na oficina do IPT, no bairro do Bom Retiro

O IPT projetou e fabricou em sua oficina, até o final da década de 1930, cerca de mil hélices para aviação militar e civil

Déc. de 1950 - Brotero em seu escritório na Diretoria de Aeroportos do Estado de São Paulo

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Em 1947, o Governo do Estado criou o Conselho Estadual de Aeronáutica Civil, para melhor acompanhamento das atividades aviatórias e, sobretudo, da construção de aeroportos. Esse órgão da Secretaria Estadual de Viação indicou Brotero para a Presidência do Conselho, cargo que ocupou por quatro anos.

Seu trabalho nesse Conselho proporcionou fundamentais subsídios e orientação técnica para a construção e melhoria de vários aeroportos no Estado de São Paulo, principalmente o Aeroporto de Congonhas, que nessa época dispunha apenas de uma pista de 1.200m, asfaltada rudimentarmente e com condições técnicas deficientes.

Em 1951, faz parte de uma comissão que discutia a necessidade de um aeroporto internacional no estado de São Paulo, quando o Aeroporto de Congonhas registrou um imenso movimento para sua capacidade operacional de passageiros e carga. A comissão opta pelo antigo distrito de Santo Ângelo (atual Jundiapeba), na cidade de Mogi das Cruzes, e Congonhas se destinaria às linhas domésticas; Viracopos, em Campinas, seria uma alternativa para servir toda a zona sul do País.

São Paulo em 1952, dando importantes contribuições para a história dos aeroportos em São Paulo. Destaca-se a realização de estudos sobre as condições aeroportuárias do País e a ampliação e modernização do Aeroporto de Congonhas. Brotero defende a localização do Aeroporto Internacional de São Paulo em Mogi das Cruzes, contrariando os que defendiam Viracopos, considerado por ele impraticável devido a distância.

O projeto, entretanto, não se concretizou. Somente na década de 1960 as políticas voltadas à industrialização e à implantação de empresas nacionais e multinacionais fomentaram a criação de uma infraestrutura aeroportuária, e Viracopos torna-se o Aeroporto Internacional, ficando Congonhas limitado a receber voos domésticos e alguns poucos internacionais procedentes da América do Sul.

Nos anos de 1970, devido ao crescimento do País, decide-se construir um novo Aeroporto Internacional na cidade de Guarulhos-SP, inaugurado em 1985.

Brotero assume a Presidência da Diretoria de Aeroportos do Estado de

1942 - Brotero (à esq.) e Camargo , no avião Planalto, IPT-4

1942 - Brotero comemorando com Clay Presgrave do Amaral (dentro do avião) o 1º voo do Planalto, no campo da VASP - atual Aeroporto de Congonhas 1944 - Avião Júnior (IPT-7) no Campo de Marte - SP

1949 - Maquete do Aeroporto de Congonhas - SP. Brotero realizou estudos para ampliação e modernização do Aeroporto

Déc. de 1940 - Batismo de avião em frente ao IPT , no bairro do Bom Retiro - SP