34
1 Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado dos produtos da sociobiodiversidade de Santa Catarina Governo do Estado de Santa Catarina Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A.

Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

  • Upload
    vandat

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

1

Perspectivas e potencialidades de

produção e de mercado dos produtos

da sociobiodiversidade de Santa

Catarina

Governo do Estado de Santa Catarina

Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural

Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A.

Page 2: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

2

Governador do Estado

João Raimundo Colombo

Vice-Governador do Estado

Eduardo Pinho Moreira

Secretário de Estado da Agricultura e da Pesca

João Rodrigues

Presidente da Epagri

Luiz Ademir Hessmann

Diretores

Ditmar Alfonso Zimath

Extensão Rural

Eduardo Medeiros Piazera

Desenvolvimento Institucional

Luiz Antonio Palladini

Ciência, Tecnologia e Inovação

Paulo Roberto Lisboa Arruda

Administração e Finanças

Page 3: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

3

Perspectivas e potencialidades de produção

e de mercado dos produtos da

sociobiodiversidade de Santa Catarina

Álvaro Afonso Simon

Ilmar Borchardt

Mara Cristina Benez

CONVENIO Epagri x MDA nº 701337/2008

Projeto de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura

Familiar Catarinense – ATER 2008

Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina

Florianópolis

2012

Page 4: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

4

Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri)

Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Cepa)

Rodovia Admar Gonzaga, 1486, Itacorubi, Caixa Postal 1587

88034-001 Florianópolis, SC, Brasil

Fone: (48) 3665-5000, fax: (48) 3665-5074

Site: www.epagri.sc.gov.br

Editado pela Epagri/Gerência de Marketing e Comunicação (GMC).

ELABORAÇÃO:

Álvaro Afonso Simon Engenheiro Agrônomo, Doutor Interdisciplinar em Ciências Humanas, Epagri/Cepa

Ilmar Borchardt, Epagri/Cepa Filósofo, Epagri/Cepa

Mara Cristina Benez Engenheira Agrônoma, Doutor em Ecologia e Desenvolvimento Sustentável, Epagri/Ciram

REVISÃO:

PADRONIZAÇÃO E REVISÃO FINAL:

Dezembro de 2012

Page 5: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

1

APRESENTAÇÃO

Em 2008, o Ministério de Desenvolvimento Agrário – MDA implementou as Redes

Temáticas, ao todo quatorze, que refletiam as suas principais áreas de ação, com temas

focados no público como indígenas, mulheres, extensionistas, etc.; em cadeias produtivas

como biodiesel, leite, orgânicos, entre outras. Alguns temas incluíam também ações como

diversificação do tabaco, a questão do crédito, e a agregação de valor através de produtos e

mercados diferenciados. As redes deveriam, através da interconexão das muitas iniciativas

entre esses temas, permitir conhecer e difundir as diferentes experiências e ser instrumento no

auxílio da operacionalização dessas ações nos estados brasileiros.

A estruturação dessas redes e a realização de suas metas passou a ser contemplada a partir de

convênios contratados a partir desta data com as entidades estaduais de ATER. O convênio

MDA nº 701337/2008 - Projeto de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura

Familiar Catarinense – ATER 2008, firmado com a Epagri também propôs metas nessas

redes.

A Rede de Produtos e Mercados Diferenciados propôs, além de sua estruturação e a

capacitação de atores locais, propôs a realização de um diagnóstico dos produtos da

sociobiodiversidade de Santa Catarina e seu potencial de mercado.

A promoção dos produtos da biodiversidade, associada aos modos tradicionais de cultivo e

extração, é uma forte linha de ação do MDA, levando em conta que a agricultura familiar de

algumas regiões tem, nesses produtos, importante fonte de renda, de subsistência, de

promoção de saúde e de reprodução cultural.

Nesse contexto se produziu esse relatório. Em função da limitação do tempo e de recursos,

não tem a pretensão de ser um trabalho abrangente, limitando-se a algumas incursões em

iniciativas nessa área, descrição sumária de alguns produtos, em seus aspectos produtivos e de

mercado, e algumas sugestões de encaminhamento na sua promoção.

A princípio, nos pareceu de pouca importância fazer esse diagnóstico para o Estado de Santa

Catarina, pois pensamos que, diferentemente das regiões norte e centro-oeste do país, não

havia em nossa produção agropecuária nenhum produto, com essa característica, arrolado

entre os de maior volume econômico. Além disso, éramos levados a crer que, pela nossa

colonização predominantemente europeia, nossos produtos agrícolas fossem todos exóticos, e

a paisagem já havia sido toda antropizada.

O trabalho nos deu pistas de que há produtos da sociobiodiversidade conhecidos, porém

pouco pesquisados em seu potencial produtivo e de mercado e subavaliados em sua

importância econômica, cultural e ecológica em alguns contextos locais.

Portanto, o presente diagnóstico despertou a necessidade e o interesse de se realizar um

aprofundamento sobre o tema envolvendo os agentes públicos e de mercado na promoção de

pesquisas e na criação de mecanismos de mercados diferenciados e na organização dos

produtores e das cadeias dos produtos da sociobiodiversidade.

Page 6: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

2

SUMÁRIO

Introdução................................................................................................................ 3

Fundamentos metodológicos.................................................................................. 4

Alguns dos principais produtos.............................................................................. 7

Goiaba Serrana .......................................................................................... 7

Pinhão ....................................................................................................... 13

Erva-Mate ................................................................................................. 17

Palmeira Juçara........................................................................................ 20

Cipó Imbé.................................................................................................. 21

Conclusões ........................................................................................................... 23

Bibliografia........................................................................................................... 24

Anexo - Roteiro para entrevista dos agentes das cadeias produtivas................. 26

Page 7: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

3

INTRODUÇÃO

O Brasil é considerado um dos principais centros de diversidade genética de espécies

frutíferas ainda pouco estudadas. O potencial de exploração comercial de algumas dessas

espécies frutíferas nativas tem sido identificado nos últimos anos à medida que são

desvendados atributos de qualidade de seus frutos sob o ponto de vista de apreciação e

propriedades nutracêuticas (WESTON, 2010). A variedade de biomas reflete a enorme

riqueza da flora e da fauna brasileira e uma rica sociobiodiversidade, representada por mais de

200 povos indígenas e por diversos povos e comunidades tradicionais que reúnem um

inestimável acervo de conhecimentos sobre a conservação e uso da biodiversidade.

Entende-se por sociobiodiversidade a relação entre bens e serviços gerados a partir de

recursos naturais, voltados à formação de cadeias produtivas de interesse de povos e

comunidades tradicionais e de agricultores familiares. Neste sentido, o Governo Federal tem

implementado ações voltadas à promoção dos produtos da sociobiodiversidade na economia

formal, visando: i) à agregação de valor socioambiental; ii) à geração de renda e iii) à

segurança alimentar de povos, comunidades tradicionais e agricultores familiares.

A promoção de cadeias produtivas de produtos da sociobiodiversidade tem sua especificidade

e exige um olhar ampliado, com enfoque interdisciplinar acerca do conhecimento sobre as

inter-relações entre sociedade e ambiente. Para efetivar ações dessa natureza é necessário

envolver múltiplos atores sociais, no que tange às formas de apropriação dos espaços e usos

dos recursos da biodiversidade regional, bem como de atores institucionais que atuam na

implementação de políticas nacionais no âmbito estadual.

Atrelados a sua complexidade está a importância do tema, pois os produtos da

sociobiodiversidade são potenciais fontes de renda para os povos e comunidades tradicionais

e de agricultores familiares. Envolvem a possibilidade de exploração de elementos da

natureza, seus modos de produção particulares e a exploração destes, associados a

ecossistemas específicos. Porém, por se tratarem de produtos e saberes particulares e locais

ainda não são bem conhecidos. A sua promoção na economia formal exige maiores

conhecimentos de suas particularidades, potencialidades e limitações, dos possíveis

mecanismos de mercado diferenciado para a sua promoção e das eventuais demandas de seus

produtos.

O diagnóstico procurou descrever ações dessa natureza no Estado de Santa Catarina, através

do levantamento das particularidades regionais. Primeiramente buscou-se, a partir de pesquisa

bibliográfica, conhecer o estado da arte em relação à produção e produtos da

sociobiodiversidade a nível estadual. Para levantar as particularidades locais foram realizadas

entrevistas e rodas de conversa com diferentes atores no âmbito político, institucional,

produtores e agentes de mercado e/ou entidades representativas. A dificuldade de informações

sobre o tema nos levou a priorizar a produção de cinco produtos que se enquadram como

sendo da sociobiodiversidade em Santa Catarina: goiaba serrana, erva-mate, pinhão, palmeira

juçara e cipó Imbé. Esses produtos são os mais expressivos e já se tinha um conjunto de

conhecimentos sobre eles. Com as informações levantadas procurou-se estabelecer indicativos

preliminares para a adequada utilização e das potencialidades de produção e de mercado.

O resultado desse diagnóstico foi publicado em meio digital no site da Epagri na forma de

relatório e disponibilizado aos atores envolvidos e interessados no tema. A seguir são

apresentados aspectos relacionados aos procedimentos metodológicos adotados para o

diagnóstico, os resultados obtidos e os desafios e limitações a serem vencidos para a adequada

Page 8: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

4

utilização dos recursos e potencialidades de produção e de mercado de produtos da

sociobiodiversidade em Santa Catarina.

Page 9: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

5

FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS UTILIZADOS

PARA A CONSTRUÇÃO DO DIAGNÓSTICO

A construção deste diagnóstico e a estratégia adotada para sua realização seguiu as seguintes

etapas: Contexto sumário sob o qual se insere a temática estudada, Escolha do tipo de

pesquisa e seus instrumentos metodológicos, Definição dos atores e Conceitos assumidos.

Contexto sumário sob o qual se insere a temática estudada

Para o conhecimento do estado da arte com relação aos cinco produtos escolhidos foram

realizadas revisões bibliográficas de documentos existentes e pesquisado e acompanhado os

sites oficiais que divulgam e tratam do Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos

da Sociobiodiversidade (PNPPS). Esse plano foi concebido para promover a conservação e o

uso sustentável da biodiversidade e garantir alternativas de geração de renda para as

comunidades rurais, por meio do acesso às políticas de crédito, assistência técnica e extensão

rural, a mercados e aos instrumentos de comercialização e à política de garantia de preços

mínimos.

O objetivo do governo, através do PNPPS, é garantir a inclusão produtiva dos agricultores

familiares e dos povos e comunidades tracionais através da promoção de tecnologias

sustentáveis que respeitem seus sistemas de organização social e, ao mesmo tempo, valorizem

os recursos naturais e práticas, saberes e tecnologias desenvolvidas localmente.

Embora tenha nascido de uma articulação dos Ministérios do Meio Ambiente (MMA), do

Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS),

outros Ministérios e setores também estão envolvidos na implantação do Plano Nacional de

Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade. São eles: os governos estaduais, a

Casa Civil, Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB/MAPA), Agência Nacional de

Vigilância e Inspeção Sanitária (ANVISA/MAPA), Serviço Florestal Brasileiro (SFB/MMA),

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA/MDA), a Agência de

Cooperação Técnica Alemã (GTZ), o setor empresarial, as agências de fomento, as

organizações das comunidades tradicionais e dos trabalhadores e trabalhadores extrativistas e

da agricultura familiar.

Escolha do tipo de pesquisa e seus instrumentos metodológicos

A pesquisa foi do tipo exploratório e de corte qualitativo. Foi do tipo exploratório por se tratar

de um trabalho realizado para levantar informações gerais a respeito do tema (Altamirano,

1991) e serviu principalmente para aclarar conceitos e conhecer a situação sobre

potencialidades e limitações da produção e do mercado de produtos da sociobiodiversidade

em Santa Catarina. O corte qualitativo permitiu explorar os aspectos da subjetividade humana

e captar as diversas opiniões contrárias e/ou complementárias dos atores entrevistados

(Strauss e Corbin, 2002).

A metodologia utilizada se constituiu numa entrevista semi-estruturada concebida como um

processo de interação verbal e não verbal entre pesquisador e entrevistado relacionadas ao

tema da sociobiodiversidade, conforme Triviños (1987, p. 146). O questionário aplicado

constou de um roteiro com 35 tópicos. Inicialmente as perguntas tiveram o objetivo de

identificar os(as) entrevistados(as) com informações pessoais e do seu ramos de

trabalho/atuação com relação ao tema estudado. As perguntas restantes tratam de diversos

aspectos relacionados aos interesses do estudo, que permitiram identificar: a) Principais

produtos da sociobiodiversidade em SC; b) a caracterização da situação das cadeias

Page 10: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

6

produtivas, c) as perspectivas e potencialidades de produção e mercado de produtos da

sociobiodiversidade em SC e, d) desafios e limitações a serem vencidos para a adequada

utilização dos recursos e potencialidades de produção e de mercado de produtos da

sociobiodiversidade.

Utilizou-se também a técnica de “roda de conversa” Freire (1991) que permitiu coletar

informações de modo sistematizado sem o uso de questionário. O texto relacionado

especificamente ao Cipó Imbé foi construído com as contribuições da Oficina temática de

PEAP - Pesquisa, Extensão e Aprendizado Participativo realizada em outubro de 2012, na

cidade de Florianópolis e das publicações e depoimentos dos Pesquisadores Douglas Ladik

Antunes e Mauro de Bonis relacionados ao projeto “Cipó Imbé: manejo sustentado, design

integral e economia solidária”, desenvolvido no município de Garuva, SC.

Definição dos atores

A seleção de pessoas entrevistadas foi do tipo intencional e não probabilístico (Strauss e

Corbin, 2002). A escolha levou em consideração o notório conhecimento dos entrevistados e a

sua atividade relacionada à produção e mercado de produtos da sociobiodiversidade. De

acordo com este propósito foram entrevistados atores no âmbito político, institucional,

produtores e agentes de mercado e/ou entidades representativas, totalizando ao todo, oito

pessoas entrevistadas.

Conceitos assumidos:

Para a realização deste trabalho foram assumidos os conceitos estabelecidos pelo Plano

Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade, elaborado pelo

Grupo de Coordenação, composto por integrantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário

– MDA; Ministério do Meio Ambiente – MMA e Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate a Fome – MDS. Os conceitos são apresentados a seguir:

a) Agricultor Familiar: aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo,

simultaneamente, aos seguintes requisitos: (i) não detenha, a qualquer título, área maior do

que 4 (quatro) módulos fiscais; (ii) utilize predominantemente mão-de-obra da própria família

nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; (iii) tenha renda

familiar predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio

estabelecimento ou empreendimento; (iv) dirija seu estabelecimento ou empreendimento com

sua família1.

b) Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se

reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e

usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social,

religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e

transmitidos pela tradição2.

c) Biodiversidade ou Diversidade Biológica: a variabilidade de organismos vivos de todas

as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros

1 Conforme definição da Lei 11.322/06 que estabelece as diretrizes para a formulação da Política

Nacional de Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais

2 Conforme definição do Decreto 6.040/07 que institui a Política Nacional de Desenvolvimento

Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.

Page 11: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

7

ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda

a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas3.

d) Arranjos Produtivos Locais – APLs: Agrupamentos de empreendimentos de um mesmo

ramo, localizados em um mesmo território, que mantêm algum nível de articulação, interação,

cooperação e aprendizagem entre si e com os demais atores locais (governo, pesquisa, ensino,

instituições de crédito).

e) Cadeia Produtiva: É um sistema constituído de atores inter-relacionados e pela sucessão

de processos de produção, transformação e comercialização do produto.

f) Cadeia Produtiva da Sociobiodiversidade: Um sistema integrado, constituído por atores

interdependentes e por uma sucessão de processos de educação, pesquisa, manejo, produção,

beneficiamento, distribuição, comercialização e consumo de produto e serviços da

sociobiodiversidade, com identidade cultural e incorporação de valores e saberes locais dos

PCTAF e que asseguram a distribuição justa e equitativa dos seus benefícios.

g) Produtos da Sociobiodiversidade: Bens e serviços (produtos finais, matérias primas ou

benefícios) gerados a partir de recursos da biodiversidade, voltados à formação de cadeias

produtivas de interesse dos povos e comunidades tradicionais e de agricultores familiares, que

promovam a manutenção e valorização de suas práticas e saberes, e assegurem os direitos

decorrentes, gerando renda e promovendo a melhoria de sua qualidade de vida e do ambiente

em que vivem.

3 Artigo 2o da Convenção sobre Diversidade Biológica.

Page 12: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

8

ALGUNS DOS PRINCIPAIS PRODUTOS DA

SOCIOBIODIVERSIDADE EM SANTA

CATARINA COM IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

E/OU SOCIAL

Em função do tempo escasso para a realização desse diagnóstico e do objetivo pactuado,

achou-se por bem limitar a descrição a apenas cinco produtos da sociobiodiversidade que já

apresentam um potencial alternativo de mercado para a agricultura familiar e os povos e

comunidades tradicionais de Santa Catarina. Essa observação remete a necessidade da

realização de novos e mais aprofundados estudos sobre o tema aqui exposto. A descrição da

Goiaba Serrana, Erva Mate e do Pinhão especificamente, apresentaram relativa facilidade pelo

acúmulo de informações existente e também pelo fato que algumas pesquisas relacionadas a

esses produtos terem sido desenvolvidas por pesquisadores da Epagri. Para a descrição do

Palmito Juçara e do Cipó Imbé foi necessário a utilização de métodos não convencionais de

pesquisa exigindo a participação de produtores e de pesquisadores de outras instituições para

complementar a realização da entrevista.

Goiaba Serrana

A goiabeira serrana (Acca

sellowiana, sinonímia

Feijoa sellowiana) é uma

espécie frutífera da

família Myrtaceae, nativa

do planalto meridional

brasileiro e do nordeste

do Uruguai. A espécie é

cultivada comercialmente

em vários países, tais

como França, Israel,

Itália, Rússia, Colômbia,

EUA e Nova Zelândia.

No Brasil, a goiabeira serrana encontra-se em processo de domesticação, ocorrendo em

populações naturais no sub-bosque da Floresta Ombrófila Mista e em alguns pomares

comerciais.

O fruto da goiabeira serrana apresenta alta qualidade organoléptica, com um sabor doce-

acidulado e um excelente aroma. O fruto é fonte de vitaminas e minerais, apresenta atividade

antibactericida, antioxidante e antialérgica, sendo que a presença de flavonoides auxilia na

atividade imunológica, auxiliando no controle de processos inflamatórios. Além do consumo

in natura, os frutos podem ser processados e utilizados na produção de sucos, geleias, sorvetes

e bebidas. A maturação da goiaba serrana na planta varia muito entre frutos, podendo a

colheita durar um mês para uma mesma cultivar e um mesmo local. No ponto ideal para

consumo, o fruto desprende-se facilmente do pedúnculo.

Page 13: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

9

A goiabeira-serrana é adaptada a regiões de altitude. Geralmente as cultivares são

recomendadas para o plantio em áreas acima de 1000 metros de altitude, pois assim ficam

reduzidos os problemas fitossanitários, ou seja, de pragas e doenças. Os estados mais

propícios para seu cultivo são Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. A aparência do

fruto da goiabeira serrana lembra um pouco a goiaba que já é comercializada. Entretanto, seu

sabor é mais ácido e silvestre. Alguns estudos já apontam que a goiaba serrana será uma boa

opção para quem quer experimentar novos e marcantes sabores.

Apesar da goiabeira serrana ainda não fazer parte das frutas comercializadas em escala

nacional no Brasil, ela já é cultivada em outros países, como a Nova Zelândia, onde podem

ser encontrados mais de vinte produtos feitos a partir da fruta, entre eles, sucos, biscoitos,

geléias, óleos e, até mesmo, espumante. O motivo de ser pouco conhecida no país é a ausência

de variedades melhoradas.

Domesticação da espécie no Brasil

O processo de domesticação da goiabeira serrana no Brasil iniciou-se em 1986 por iniciativa

do pesquisador da Empasc (hoje Epagri) Jean-Pierre Ducroquet. Ducroquet decidiu iniciar

uma coleção com os melhores exemplares nativos da região e com alguns acessos melhorados

de outros países. Naquela época, através de um concurso regional, adquiriu 10 amostras de

frutos das 150 melhores goiabeiras serranas da região.

A grande diversidade de acessos foi a base para o trabalho de melhoramento genético que

iniciou no município de Videira - SC e que depois foi transferido para o município de São

Joaquim no planalto serrano catarinense, onde as condições climáticas são mais favoráveis ao

desenvolvimento da espécie. Depois de alguns anos de observação de cada acesso, se fizeram

cruzamentos dirigidos de quatro exemplares nativos com dois exemplares melhorados na

Nova Zelândia, a cultivar “Apollo” e a cultivar “Unique”, todos cruzando entre si seguindo

um delineamento dialélico num total de 960 plantas. Só então em 2007 foram lançadas duas

cultivares comerciais brasileiras, adaptadas às condições climáticas do planalto serrano

catarinense, a "Alcântara" e a "Helena". Em 2008 outras duas cultivares foram lançadas, a

"Mattos" e a "Nonante".

Conhecimento tradicional em SC

A professora da UFSC e ex-pesquisadora da Epagri Karine Santos estudou as características,

o conhecimento local e a variação fenotípica e genética associados à Acca sellowiana, com

vistas a avançar no conhecimento sobre o processo de domesticação da espécie, favorecer a

elaboração de estratégias de conservação on-farm, bem como estimular a implementação de

um programa de melhoramento genético participativo. Seus estudos sobre o conhecimento

tradicional revelaram a impressionante diversidade de uso da goiabeira serrana.

Segundo Karine, o conhecimento mantido nas comunidades rurais indica que a goiabeira

serrana pode ter um papel na ampliação da economia local e na conservação da

biodiversidade. “Uma participação efetiva dos institutos de extensão rural poderia estimular o

interesse no cultivo da goiabeira serrana e de outras espécies nativas, além de promovê-las

como fontes de renda”. Karine, que atuou na Epagri de São Joaquim vê a pesquisa

participativa como um caminho para incluir os agricultores no desenvolvimento de programas

direcionados à manutenção da diversidade genética e do conhecimento tradicional.

Na visão dos pesquisadores o cultivo desta fruteira é uma alternativa para pequenos

agricultores, já que é possível conciliar a produção da goiabeira-serrana com outras atividades

agrícolas. Com esse fim a Epagri já iniciou um programa de distribuição de mudas para os

Page 14: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

10

agricultores interessados, e já existem mais de 10 pequenos pomares em observação. Este

programa deverá ter continuidade, agora com a distribuição de mudas de outras variedade.

Na UFSC, o professor Rubens Onofre Nodari coordena um programa de melhoramento

genético participativo, em parceria com duas dezenas de agricultores gaúchos dos municípios

de Ipê e Antonio Prado (RS) que já cultivavam tradicionalmente a planta. “Fizemos um

estudo no qual eles identificaram as qualidades e os problemas de cada pé de feijoa

selecionado e apontaram os melhoramentos desejados”, conta o pesquisador. “Hoje estamos

devolvendo as mudas melhoradas a estes agricultores, para início de um plantio comercial,

visando o mercado nacional”.

Na opinião de Nodari, a feijoa é uma excelente opção para o pequeno agricultor familiar. “A

goiaba-serrana madura permanece com a casca verde e só se sabe que o fruto está no ponto

quando ele se solta facilmente do galho. Então a colheita exige o repasse diário do agricultor

para verificar quais frutos estão em ponto de colheita. Não admite mecanização como no caso

de maçãs, por exemplo. Em compensação, a comercialização tem uma boa rentabilidade”.

Esses produtores tradicionais levam suas feijoas para vender em Porto Alegre, nas feiras. “E o

que eles levarem, vende”, garante Onofre Nodari. A ponto de atrair a atenção de outros

agricultores, que estão iniciando plantações maiores, e cooperativas, que começam a se

organizar para apresentar a feijoa ao resto do Brasil.

Assistência Técnica

Entre os informantes que fazem uso de práticas agrícolas ou de atividades de manejo, somente

cinco receberam orientações da Epagri, sugerindo que a maioria maneja a goiabeira serrana

por sua própria experiência.

Conclusão

A caracterização e a diversidade cultural e genética da planta já estão num estagio avançado.

Porém existe a necessidade de se organizar a cadeia produtiva associada à organização dos

agricultores. Junto a isso, é necessário ampliar as pesquisas e assistência técnica e

fundamentalmente ampliar a perspectivas comerciais otimizando a produção para tornar a

goiaba-serrana uma alternativa de renda para o agricultor familiar.

Pinhão

Essa cultura já é considerada como um

dos produtos da sociobiodiversidade,

como consta no Seminário Nacional

realizado em 2008. Nesse diagnóstico,

sintetizamos as principais informações

relacionadas à Araucaria Angustifolia,

com o objetivo de reforçar a

viabilidade econômico-financeira de

reflorestamento e também

proporcionar subsídios a eventual elaboração de uma proposta de incentivo ao cultivo dessa

espécie na Região Sul do Brasil em especial em SC.

Page 15: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

11

Page 16: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

12

Características gerais

O gênero Araucária L. Jussieu compreende dezenove espécies de ocorrências restritas ao

hemisfério sul, entre as quais destaca-se a Araucaria angustifolia, árvore nativa brasileira,

vulgarmente conhecida como “araucária”, “pinheiro brasileiro”, “pinho” e por outros nomes

populares, a qual está inserida no domínio da Mata Atlântica, classificada como Floresta

Ombrófila Mista, também conhecida como floresta de pinheiros, pinhais, mata de araucária,

entre outras denominações.

Trata-se de uma típica conífera brasileira, árvore grande e perenifólia, de tronco reto e quase

cilíndrico, com altura variando entre 10m e 35m, fuste com até 20m ou mais e, diâmetro à

altura do peito acima de 50cm, quando adulta, alcançando melhor desenvolvimento a partir

dos 30 anos de idade. Segundo Mattos (1994), a Araucaria Angustifolia é a que tem maior

área de distribuição no mundo, dentre as espécies existentes, a qual conta com quatro

variedades, incluindo a típica (var. angustifolia, var. caiova, var. indehiscens e var.

dependens) e uma forma (catharinensis Mattos), sendo que diferenciam-se entre si, mais pela

época em que amadurecem as sementes (pinhões), como por exemplo, julho-agosto (var.

caiova), outubro-janeiro (var. indehiscens). Devido as diferentes épocas de amadurecimento

das pinhas, as sementes podem ser encontradas no Brasil de março a setembro.

Produção e produtividade:

É uma planta dióica, isto é, há árvores femininas e masculinas, com suas respectivas

inflorescências ou estróbilos. Há predominância de pinheiros masculinos tanto em áreas de

ocorrência natural, como em plantios. Possui um longo ciclo reprodutivo, sendo que a

primeira flora pode ocorrer antes dos 15 anos de idade em planta cultivada isoladamente e

antes dos 20 anos de idade nas populações naturais. A floração feminina ocorre o ano todo, a

masculina, de agosto a janeiro. A polinização ocorre nos meses de outubro a dezembro, a qual

é realizada predominantemente pelo vento, sendo que dois anos após esse evento, as pinhas

amadurecem. Nas populações naturais, a produção de sementes (pinhão) normalmente ocorre

após 15 a 20 anos de idade. Quando plantadas, as árvores isoladas iniciam a produção de

sementes entre 10 e 15 anos, porém, em povoamentos a produção de semente dá-se a partir de

20 anos.

Nos primeiros anos, a produção de pinhão é pequena e, mesmo quando atinge a plena

produção, as safras são cíclicas. Durante 2 ou 3 anos, produz abundantemente, reduzindo a

produção posterior, gradativamente, nos 2 ou 3 anos seguintes. Uma árvore feminina produz

anualmente a média de 80 pinhas, cada uma com cerca de 90 pinhões. De acordo com Guerra

et al. (2002), em áreas de savanas, onde encontram-se árvores isoladas de araucária, a

produtividade de pinha é maior comparativamente à produção em remanescentes florestais.

Em algumas fazendas do planalto serrano de Santa Catarina, em áreas de remanescentes,

foram obtidos em média 20 pinhas por ano. Entretanto, em florestas plantadas, a produção

tende a ser menor ainda, principalmente nos primeiros anos, talvez por causa da competição

entre as árvores. Além disso, o número de pinhas oscila muito entre uma árvore e outra. De

acordo com Mattos (1994), as pinhas têm em média, 2,3kg, podendo variar entre 0,61kg e

4,1kg. Ainda de acordo com o autor, numa pinha de 2,3kg encontra-se, em média, 0,823 kg de

pinhões.

Área de ocorrência natural

Presente no planeta desde a última glaciação - que começou há mais de um milhão e

quinhentos mil anos, a araucária, segundo o engenheiro florestal Paulo Carvalho, da Embrapa

de Colombo, PR, já ocupou área equivalente a 200.000 Km² no Brasil, distribuídos nos

estados: do Paraná, 80.000 Km², de Santa Catarina, 62.000 Km², do Rio Grande do Sul,

Page 17: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

13

50.000 Km², em manchas esparsas nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e

do Espírito Santo, que, juntas, não ultrapassavam 4% dessa área originalmente ocupada. Hoje,

restam cerca de 4% das florestas originais. As plantas femininas produzem em média 40

pinhas por ano e cada pinha madura pode pesar até 5 quilos e conter, em média, 80 a 120

sementes. A produção de sementes ocorre 10 a 20 anos após a semeadura e depois continua

por mais de 200 anos. Quando maduras, as sementes caem no chão.

A área de ocorrência natural da Araucaria Angustifolia concentra-se formando agrupamentos

densos, sobretudo na parte leste e central do planalto sul brasileiro nos Estados do Rio Grande

do Sul, Santa Catarina e Paraná, ocorrendo também como ilhas esparsas no sul e nordeste do

Estado de São Paulo e, mais raramente, em algumas partes de Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Essa espécie também ocorre na Província de Missiones, na Argentina. É encontrada,

preferencialmente em cotas altitudinais que variam de 500m a 800m.

Cobertura florestal original e remanescentes

Segundo Machado & Siqueira (1980), no Brasil, as florestas naturais de araucária ocupavam

originalmente 185.000km², sendo 73.780km² no Paraná, 56.693km² em Santa Catarina,

46.843km² no Rio Grande do Sul e, 7.684km² distribuídos em manchas esparsas nos Estados

de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O intenso processo de exploração predatória da

araucária, principalmente a partir do início do século XIX, fez com que as reservas naturais

dessa espécie se restringissem a menos de 3% de sua área original.

Descrição da Semente de Pinhão

A semente de araucária, conhecida como pinhão, tem de 3cm a 8cm de comprimento, por 1cm

a 2,5cm de largura e peso médio de 8,7g. Sua amêndoa é rica em reservas energéticas,

servindo para a alimentação humana, de animais domésticos (principalmente suínos) e da

fauna silvestre. O pinhão também apresenta propriedades medicinais, sendo indicado para o

combate a azia, a anemia e a debilidade do organismo (EMBRAPA, 2002).

Propriedades nutricionais e principais usos culinários

A polpa do pinhão é formada basicamente de amido. Informações de fonte não oficial,

veiculada no site www.ambientebrasil.com.br, indicam que cada 100g de pinhão cozido

correspondem a: ▪ 195,5 calorias ▪ 3,94g de proteínas ▪ 35mg de cálcio ▪ 70mg de ferro ▪

1.350mg de vitamina B1 ▪ 4.700mg de vitamina B5 ▪ 41,92g de glicídios ▪ 1,34g de lipídios ▪

136mg de fósforo ▪ 3mg de vitamina A ▪ 240mg de vitamina B2 ▪ 13,9mg de vitamina C

Ainda de acordo com a mesma fonte, com farinha de pinhão é possível confeccionar broas,

tortas e pães. O pinhão pode ser consumido diretamente ou misturado a saladas ou molhos

para carnes. Também pode ser utilizado para o preparo de suflê, de rocambole, de pudim,

entre outros alimentos.

Comercialização

Os pinhões são encontrados em maior quantidade nos meses de abril a junho, porém o maior

volume de comercialização ocorre nos meses de junho e julho quando ocorrem às festas

típicas da Região Sul do Brasil e, inclusive as festas juninas, quando também se verificam as

maiores oscilações de preços.

Embora sua comercialização seja disciplinada pela Portaria Normativa DC nº 20, grande parte

da venda ainda é clandestina (sem emissão de notas fiscais), o que dificulta a mensuração da

magnitude deste mercado. Em Santa Catarina, não é realizado acompanhamento de preços do

pinhão, porém, há relatos de que em virtude da escassez do produto, influenciada pela baixa

produtividade dos pinheiros, em 2012, o pinhão foi vendido no varejo a R$ 4,00/kg em

Page 18: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

14

Florianópolis e R$ 2,20, em São Joaquim. Infelizmente, não se dispõe de estatísticas sobre a

produção de pinhão, proveniente exclusivamente de florestas plantadas.

Importância alimentar e sócio-econômica do pinhão

De acordo com Guerra et al. (2002), apesar de não se dispor de dados oficiais sobre a

exploração de pinhão na região Sul do Brasil, é inquestionável sua importância alimentar, no

período de outono-inverno, e seu papel na geração de renda de meeiros, parceiros, coletadores

avulsos e pequenos proprietários rurais.

O pinhão é muito apreciado por milhares de famílias, principalmente da região Sul do Brasil.

Aliás, o apetite humano por esse fruto pode, inclusive funcionar como o principal aval para a

perpetuação da araucária (Projeto Pinhão). Por enquanto não se conseguiu quantificar o

número de famílias envolvidas com esta atividade e respectiva quantidade de produto gerado.

Contudo, para se ter uma idéia de sua magnitude basta dizer que a quase totalidade dos

pinhões comercializados no Sul do Brasil, no período de outono-inverno tem origem neste

padrão de exploração (GUERRA et al., 2000).

É muito comum se ver vendedores oferecendo pinhões às margens de rodovias no interior dos

Estados da região Sul do Brasil na época da safra. Aliás, para muitas dessas pessoas, a

comercialização do pinhão não é apenas um incremento para a renda familiar durante o

inverno, mas também uma forma de sobrevivência.

Melhoramento genético

Atualmente, de acordo com Guerra et al. (2002), a Universidade Federal de Santa Catarina

desenvolve pesquisa na área da coleta, caracterização e conservação de germoplasma vegetal

da araucária, visando o desenvolvimento de tecnologias que permitam o uso destes recursos

genéticos em programas de melhoramento genético florestal. Enquanto o Núcleo de Pesquisa

em Florestas Tropicais desenvolve atividades de coleta e de caracterização genética em

populações remanescentes de araucária, o Laboratório de Fisiologia do Desenvolvimento e

Genética Vegetal desenvolve trabalhos de micropropagação e conservação in vitro do

germoplasma vegetal desta espécie.

Ainda de acordo com Guerra (2002), os avanços obtidos nos últimos anos com relação à

micropropagação com a tecnologia de sementes sintéticas permitem o estabelecimento de

sistemas avançados de propagação de plantas por combinar a possibilidade de capturar e fixar

ganhos genéticos em populações clonais com a eficiência e menor custo do sistema semente.

Avaliação de genótipos de araucária para produção de pinhão

O Engenheiro Agrônomo Charles Seidel da Estação Experimental da Epagri de Caçador (SC),

está realizando pesquisa com o objetivo de identificar, avaliar e selecionar plantas de

Araucaria Angustifolia com bom potencial para a produção de pinhões visando o uso

múltiplo: alimentação humana e produção de madeira. A meta é identificar e selecionar

genótipos de araucárias com bom potencial de produção de pinhões até dezembro de 2008.

O experimento está em andamento. De acordo com o pesquisador, já foram encontrados pelo

menos quatro exemplares da espécie que se destacam como grandes produtores de pinhões,

das quais foram coletadas sementes. Ainda de acordo com o pesquisador, de cada procedência

foram plantadas nove mudas de maior destaque em área de aproximadamente um hectare com

pastagem desativada.

Considerações gerais

O fato de o cultivo de araucária apresentar baixa produtividade e longo ciclo de maturação

não significa que o seu plantio deva ser evitado. Para se ter uma idéia, no hemisfério norte, os

Page 19: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

15

incrementos médios anuais em volume real de madeira giram em torno de 9m³/ha/ano. Além

disso, de acordo com a Sociedade Brasileira de Silvicultura, mais de 80% das florestas

plantadas do mundo de clima temperado são plantações de coníferas, como Pinus radiata

(montemey pine) e Picea sitchensis (spruce) que são cortadas com 20 – 60 anos de idade,

dependendo da taxa de incremento anual.

No Brasil, especialmente na região Sul, tem-se excelentes condições para o cultivo de

florestas. Além das vantagens edafoclimáticas e da disponibilidade de terras, o Brasil se

destaca atualmente como um dos países que oferecem o melhor clima de investimento em

negócios florestais na América Latina.

Há uma crescente demanda por madeira no Brasil e no mundo. Só no Brasil, estima-se que o

consumo anual de madeira, para todos os fins, oscile entre 250 e 300 milhões de m³, dos quais

aproximadamente um terço é proveniente de florestas plantadas que ocupam menos de 1% da

área total do território nacional.

A escassez de madeira, principalmente de toras para desdobramento mecânico, vem se

refletindo em expressivos aumentos de preços da madeira de florestas plantadas no mercado

interno nos últimos 5 anos, com tendência de que esse quadro se mantenha por longo período,

o que significa mais um alento para o setor.

É possível que a madeira proveniente de florestas plantadas de araucária tenha remuneração

compensatória no longo prazo se os plantios atingirem escala suficiente para garantir o

abastecimento, principalmente, de segmentos industriais que utilizam toras de elevado calibre,

já que se trata de uma madeira diferenciada em relação às das espécies exóticas, inclusive no

que se refere ao aspecto ambiental.

Em resumo, existe um ambiente de negócio bastante favorável, inclusive para o cultivo de

espécies alternativas, como por exemplo, a Araucaria Angustifolia, a bracatinga, entre outras.

Entretanto, entende-se que se houver interesse em promover o cultivo da araucária, no curto

ou médio prazo, alguns incentivos precisam ser concedidos, principalmente ao pequeno

produtor rural, para compensar as desvantagens relacionadas à baixa produtividade, ao longo

ciclo de maturação da espécie e também ao risco de investir em uma cultura em fase inicial de

pesquisa. Para isso, deve haver, por parte do poder público, empenho incondicional e

disposição de investir um significativo montante de recursos financeiros, para promover os

seguintes incentivos:

a) garantir assistência técnica qualificada por meio de instituições de pesquisas

governamentais ou de convênio com empresas prestadoras de serviços especializadas em

extensão florestal;

b) fornecer mudas de qualidade;

c) proporcionar o acesso a linha de financiamento com taxa de juros e prazos compatíveis

com o desenvolvimento da araucária; e

d) investir em pesquisa de melhoramento do potencial da produção da espécie, visando torná-

la auto-sustentável no longo prazo.

Ressalta-se que o ideal seria primeiramente explorar todas as possibilidades de melhoramento

do potencial produtivo da espécie. Porém, considerando-se que as pesquisas de melhoramento

genético da araucária recém começaram, entende-se que ainda faltam muitos anos para que

seus resultados comecem a surtir efeitos capazes de tornar o cultivo dessa espécie mais

atrativo, e principalmente auto-sustentável. Além disso, há pesquisas comprovando a

ocorrência de degeneração genética da espécie, devido ao isolamento entre os pequenos

povoamentos remanescentes.

Page 20: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

16

Assim, por se tratar de uma espécie de reconhecida importância socioeconômica e ambiental,

sugerem-se algumas alternativas de incentivo ao cultivo da araucária, que visam reduzir os

custos de implantação, amenizar o problema do longo ciclo de maturação da espécie e facilitar

o acesso à pesquisa, a assistência técnica e ao financiamento bancário, principalmente para

aos pequenos produtores rurais. Porém, ressalta-se que as referidas sugestões, consideradas de

difícil implementação, são apenas idéias que precisam ser avaliadas e, se não descartadas,

melhoradas com a maior participação possível das instituições públicas e privadas, que de

alguma forma se relacione com o tema em questão.

Ressalta-se também, que antes de promover qualquer incentivo ao cultivo da araucária com

fins econômicos, deve-se avaliar cuidadosamente com o apoio de pesquisadores

especializados no assunto, se no atual estágio de pesquisa em que se encontra a espécie, já se

dispõe de informações técnicas e agronômicas mínimas necessárias para iniciar seu cultivo

para tal finalidade.

Verifica que a rentabilidade financeira da araucária é pouco atrativa, devida basicamente ao

baixo incremento médio anual, ao longo ciclo de maturação e aos elevados custos de

implantação. Também foi demonstrado que a simples expansão de prazos de carência e de

amortização a juros de 8,75% ao ano não é suficiente para resolver o problema do

financiamento. Conseqüentemente, as linhas de crédito tradicionais como o Propflora, Pronaf

Florestal e Fundos Constitucionais, estão longe de representarem, de fato, o mecanismo de

financiamento adequado para a araucária.

Diante disso, as alternativas de incentivo ao plantio dessa espécie se resumem a uma

combinação de mecanismos que se complementam e, que poderiam ser promovidos pelos

Governos dos Estados da região Sul, em parceria com o Governo Federal e com as empresas

de base florestal dos Estados abrangidos pelo projeto, por enquanto denominado de “Projeto

Pró-Nativas”. Algumas sugestões nesse sentido serão apresentadas a seguir.

Conclusões

As análises das informações abordadas neste estudo apontam para as conclusões apresentadas

a seguir.

Verifica-se que ainda existe um restrito mercado para a madeira de araucária, mas por se

tratar de uma árvore nativa em extinção, sua comercialização enfrenta sérios obstáculos, tanto

no mercado interno quanto externo. A madeira de araucária é vendida atualmente a preço

muito próximo ao da madeira de pinus, embora em 1998, o preço daquela, comparativamente

ao desta, atingisse até 85% a mais dependendo do diâmetro das toras. Apesar da madeira da

araucária ser considerada superior a do gênero Pinus, esta é preferida pelos mercados por não

representar risco de conflitos com a Lei de Crimes Ambientais.

Com relação à semente da araucária, constatou-se que apesar de sua importância alimentar e

sócio econômica, as atividades de coleta e de comercialização continuam sendo realizadas

informalmente. O maior volume de comercialização de pinhões ocorre nos meses de junho e

julho, quando também se verificam as maiores oscilações de preços. O que mais influencia

estas oscilações é a variação na produtividade da safra, sendo que no atacado, a remuneração

por saca de 50kg varia entre R$ 25 em anos de produtividade alta, e R$ 50 em ano de baixa

produtividade.

Constata-se também que em virtude da boa deposição de resíduos orgânicos, a araucária é

indicada nos casos de reflorestamento para recuperação ambiental e de reposição de mata

ciliar, em locais sem inundação. Além disso, é uma árvore fundamental para o ecossistema, já

que abriga uma ampla variedade de animais, de aves e de outras espécies vegetais.

Page 21: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

17

Quanto ao cultivo, verificou-se que o aspecto mais problemático para reflorestamento com

araucária é a elevada exigência em solo, tanto no que se refere à fertilidade, quanto à

profundidade e à compactação, o que além de contribuir para menor disponibilidade de terra

dedicada ao plantio da espécie, implica maiores gastos com a preparação de talhão.

Por causa das condições de fertilidade e de profundidade do solo, os plantios de araucária

apresentam ampla variação nos índices de incremento médio anual. Entretanto, em condições

edafoclimáticas favoráveis a produtividade da araucária pode atingir mais de 25m³/ha/ano.

A araucária também não tolera sombreamento lateral quando plantada em faixa em capoeira

alta, porém, nos primeiros anos do plantio alcança as maiores taxas de capacidade

fotossintética por mudas cultivadas sob leve sombreamento, aceitando, inclusive, a

consorciação com outras culturas provisórias até o terceiro ano de idade da floresta.

Por se tratar de uma espécie de crescimento inicial lento, é recomendado que a primeira fase

de manutenção se estenda até o terceiro ano. Além disso, por apresentar desrama natural

deficiente devem ser realizadas cerca de quatro podas de galhos para obter-se madeira sem nó.

Constata-se, ainda, que a araucária é susceptível ao ataque de pragas e fungos que, pelo

menos por enquanto, não estão sendo pesquisados, havendo apenas a possibilidade de serem

controladas por adequado sistema de manejo.

Os custos de implantação de 1 ha de araucária são significativamente maiores em relação aos

de pinus, devido, principalmente, aos gastos com mudas, por causa da necessidade de mais

substratos e de adubos e da ocupação de maior área de viveiro, podendo custar até três vezes

mais do que uma muda de pinus, quando produzidas em conformidade com os critérios de

qualidade.

Os custos de manutenção da primeira e da segunda fase também tendem a ser um pouco mais

elevados devido ao lento crescimento inicial da espécie e a potencial necessidade de uma

desrama a mais por volta do 10º ano de idade da floresta.

As receitas obtidas com a comercialização das toras provenientes do primeiro e do segundo

desbastes são pequenas, entretanto, a partir do 25º ano, quando a tora atinge o diâmetro

mínimo para laminação, o potencial de receita aumenta significativamente.

As receitas provenientes da venda de pinhões são muito difíceis de estimar e, quando são

estimadas, revelam-se pouco representativas em termos líquidos, por causa dos elevados

gastos com a coleta, a debulha, a embalagem e o transporte interno do pinhão. A coleta de

pinhões é uma atividade muito perigosa. Além disso, a produção de pinhão em plantios

adensados é bastante imprevisível, já que está sujeita a fatores ambientais, tais como, a

disposição espacial, a variabilidade de fenologia reprodutiva, ao padrão de distribuição do

pólen e as próprias condições do solo.

A rentabilidade financeira da araucária é pequena devido, basicamente, ao longo ciclo de

maturação da espécie, a baixa produtividade e aos elevados custos de implantação.

Calculando-se a taxa de retorno do resultado operacional da comercialização de toras e de

pinhões, obtém-se uma rentabilidade intrínseca de 9,41%, sem considerar o valor da terra e,

de 6,6% a.a., considerando-se o valor médio da terra de segunda em Santa Catarina, nos

primeiros 5 meses de 2004. A rentabilidade da araucária em sítio com incremento médio

anual abaixo de 20m³/ha/ano é pouco atrativa.

Apesar de a araucária ser a espécie nativa mais estudada quanto ao melhoramento e

conservação de recursos genéticos, até o momento, não se dispõe de resultados concretos

capazes de tornar o plantio desta espécie auto-sustentável, ou de pelo menos motivar o seu

cultivo em larga escala. Entretanto, se encontram em andamento pesquisas de melhoramento

Page 22: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

18

genético da espécie, de polinização artificial e de avaliação de genótipos de araucária para a

produção de pinhão.

Além dos problemas relacionados ao longo ciclo de maturação, a heterogeneidade no

desenvolvimento das plantas, a imprevisibilidade da produção de pinhões em povoamento e

aos elevados custos, principalmente de implantação, o plantio da araucária enfrenta mais um

grande obstáculo no campo jurídico, qual seja, um emaranhado de legislações que inibe

qualquer iniciativa de quem deseja investir no cultivo comercial de árvores nativas ameaçadas

de extinção.

A legislação em vigor, não explicita claramente que plantios econômicos de araucária

realizados em conformidade com a lei possam ser explorados comercialmente.

As legislações primam pelas restrições e punições visando, exclusivamente, a preservação da

espécie, porém não mencionam nenhuma intenção de favorecer juridicamente as iniciativas de

plantio da espécie com fins comerciais.

Portanto, a legislação deve ser aperfeiçoada para estimular quem deseja investir em plantios

econômicos de árvores nativas, proporcionando-lhe absoluta segurança quanto ao direito de

agir livremente, porém, com responsabilidade, sobre suas culturas comerciais de árvores

nativas. Aliás, o plantio em larga escala dessa espécie é a alternativa mais eficaz para diminuir

a pressão sobre as árvores remanescentes.

A despeito de tudo isso, entende-se que o cultivo da araucária deve ser incentivado. Acredita-

se que um programa de incentivo ao cultivo da araucária, associado a uma firme determinação

do poder público de resolver, definitivamente, o impasse que envolve essa espécie, pode se

reverter em importantes benefícios econômicos, sociais e ambientais no longo prazo.

Erva Mate

Introdução

A erva-mate (Ilex paraguariensis Saint Hilaire) é uma espécie arbórea nativa do sul do Brasil, Paraguai e norte da

Argentina. É importante

fonte de renda nesses

países. Por um longo

período, foi um dos

primeiros produtos das

exportações brasileiras

Em 2011, a produção de

erva-mate em Santa Catarina somou o valor bruto da produção de R$ 26,5 milhões.

Nas últimas décadas, têm-se observado um crescimento e uma diversificação na linha de

produtos derivados de erva-mate; contudo, os avanços no desenvolvimento tecnológico e no

controle de qualidade não têm sido suficientes para atender às atuais exigências do

consumidor. A exploração da erva-mate baseia-se no extrativismo, sendo que a maior parte do

mate produzido provém de ervais nativos ou de plantas cultivadas originadas de sementes,

Page 23: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

19

acarretando uma alta heterogeneidade dos plantios que dificulta o estabelecimento de padrões

de manejo da cultura e de processamento do produto(WENDLING, 2004).

Este cenário tem gerado maior procura, por parte dos produtores, de tecnologias para o

aumento da produtividade dos ervais nativos e, especialmente, para o estabelecimento de

novos ervais, pelo aumento da área cultivada e/ou pelo adensamento de ervais nativos. O

plantio de novos ervais tem sido feito com mudas originadas de sementes, sendo que essa

propagação apresenta uma série de entraves, como a baixa qualidade genética e fisiológica

das sementes; dormência por imaturidade embrionária, sendo o período excessivamente longo

destinado à estratificação e produção das mudas; baixo poder germinativo, desuniforme e em

baixo percentual, o que resulta em uma alta heterogeneidade dos plantios. Todos esses fatores

contribuem para elevar o custo de produção e limitar o melhoramento genético da espécie

(WENDLING, 2004).

Aspectos ambientais

Na distribuição da erva-mate, dois tipos climáticos são citados, segundo Koeppen: Cfb (clima

temperado) e Cfa (clima subtropical), com chuvas regulares e distribuídas ao longo do ano e

com médias de precipitação em torno de 1500 a 2000 mm. As temperaturas médias anuais,

variam de 15 a 18ºC na região dos pinhais, e de 17 a 21ºC em Misiones, Argentina. As geadas

são freqüentes ou pouco freqüentes, dependendo da altitude, que varia de 500 a 1500 m sobre

o nível do mar. O cultivo da erva-mate no território brasileiro abrange cerca de 180.000

propriedades dos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.

As propriedades em que ela é cultivada são, na maioria, pequenas e médias o que lhe assegura

uma importância social expressiva.

Consideram-se solos aptos para o plantio da erva-mate, aqueles que apresentam boa

profundidade, boa permeabilidade e fertilidade natural de média a alta. Solos com menos de

um metro de profundidade, ocasionam queda no rendimento da erva-mate, acentuada em

períodos de déficit hídrico, e reduzem a vida útil das plantas. A cultura não suporta solos

compactados e/ou encharcados.

Colheita e beneficiamento

A coleta dos frutos feita no período de janeiro a março e deve ser realizada, em matrizes com

mais de seis anos e selecionadas por apresentarem-se sadias e com poucos frutos e muita

folha. O momento ideal para a coleta é quando os frutos estiverem com a cor violeta. Após a

coleta, os frutos devem sofrer beneficiamento e as sementes serem submetidas a

armazenamento, estratificação ou ao processo de germinação, de imediato.

As sementes de erva-mate apresentam uma dormência bastante complexa. Resultados de

trabalhos científicos têm mostrado que grande parte das sementes colhidas não germinam em

função de não terem seu embrião totalmente desenvolvido. Adicionalmente, sementes de

erva-mate se tratadas com fungicida, antes de serem postas a germinar, diminuem

sensivelmente a germinação fazendo crer que o fungicida ao matar fungos lignocelulolíticos

que destróem o envoltório da semente dificulta a emergência do embrião. Assim, as sementes

de erva-mate quando postas a germinar logo após a coleta e beneficiamento dos frutos

germinam desuniformemente. A germinação é uniformizada, somente, quando as sementes

são submetidas a um processo de estratificação em areia definido pela Embrapa Florestas.

O processo de estratificação, por uniformizar a germinação das sementes é apropriado para

viveiristas que não tem problemas com disponibilidade de mão-de-obra. Ao contrário, aqueles

Page 24: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

20

com pouca disponibilidade preferem a semeadura direta que por promover a germinação em

fluxos possibilita um melhor aproveitamento da mão-de-obra disponível ao longo do tempo.

Rendimento e Rentabilidade

É importante destacar que a erva-mate é produzida através de vários sistemas de cultivo

como: solteira, em consórcio com culturas anuais, com e sem mecanização no preparo do

solo, na mata ou em capoeiras, em áreas de pastagens, etc.

Como exemplo, apresenta-se o sistema de cultivo solteiro e com o solo preparado

mecanicamente. Neste sistema apresenta-se uma planilha que poderá servir de orientação para

que técnicos e produtores calculem os respectivos custos e rendas, de acordo com os preços,

produtividades, sistema de cultivo e nível tecnológico usado em cada propriedade rural.

Importância socioeconômica

No que se refere à rentabilidade econômica, nos níveis de custos e produtividade acima

referidos e considerando um período de 21 anos, a erva-mate pode superar a Taxas Internas de

Retorno (TIRs) de 45% e Valores Presentes Líquidos (VPLs) de R$ 25 mil, indicadores esses

bastante superiores aos alcançados com as culturas agrícolas anuais de feijão, milho, soja e

trigo.

A exploração da erva-mate constitui-se numa atividade agrícola de grande importância,

devido às seguintes características:

a) Ambiental: quando plantada em curvas de nível, contribui no combate à erosão do solo;

b) Social: no Brasil, é produzida em 180 mil propriedades rurais de 596 municípios, gerando

mais de 710 mil empregos diretos constituindo-se numa das poucas opções de emprego e

renda no meio rural, principalmente nos meses de junho, julho e agosto, época da

concentração da poda (colheita);

c) Econômica: além de ser a principal atividade econômica de muitos produtores e

municípios, rende diretamente mais de R$ 175 milhões anuais.

A erva-mate forma um dos sistemas mais característicos brasileiros, sendo explorada de forma

nativa (na mata, em pastagens, com culturas anuais e adensadas cultivada solteira ou em

sistema agroflorestal com culturas anuais (feijão, milho, soja, mandioca, arroz, etc.), em

consórcio com outras espécies florestais, fruticultura, etc.

Estudos sobre Erva mate

Uma equipe integrada por pesquisadores e técnicos da Universidade Federal do Rio Grande

do Sul (UFRGS), da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do RS (Fepagro) e da

Universidade Federal de Ijuí (Unijuí) vem se dedicando, há 15 anos, ao estudo de diferentes

aspectos da biologia da erva-mate, especialmente os mais importantes para o desenvolvimento

da cadeia produtiva dessa espécie.

Está em estudo a colaboração da Universidade do Vale do Taquari (Univates), de Lajeado,

graças ao apoio da Secretaria de Ciência e Tecnologia do RS. Somente da UFRGS participam

três departamentos do Instituto de Biociências (Genética, Botânica e Ecologia), o Instituto de

Ciência e Tecnologia de Alimentos e a Faculdade de Farmácia. À frente dessa equipe

multidisciplinar e de alta especialização está a bióloga Helga Winge, doutora em Ciências

(Genética), que desde 1971 integra o grupo de docentes e orientadores do Programa de Pós-

graduação em Genética e Biologia Molecular da UFRGS. A partir de 1974, ela passou a

orientar dissertações de Mestrado e teses de Doutorado, dando início a uma nova linha de

pesquisas do Departamento e no Curso de Pós-graduação denominado "Genética e Evolução

de Plantas Nativas da América do Sul." Em 1985, começou o estudo da erva-mate, dentro da

Page 25: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

21

primeira linha de pesquisa, contando, mais tarde, com a colaboração da bióloga Suzana

Cavalli Molina, que também se dedicou ao estudo da erva-mate.

No início da década de 90, formou-se a equipe multidisciplinar que até hoje atua em conjunto.

Entre os inúmeros estudos que vêm sendo realizados pelo grupo, estão a variabilidade

genética de populações nativas do Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul;

o desenvolvimento das flores masculinas e femininas e frutos e o desenvolvimento do

embrião da semente; microorganismos associa dos às raízes de erva-mate; concentração de

xantinas (cafeína e teobromina); implantação de bancos ativos de germoplasmas (BAGs);

germinação de sementes em laboratório e a campo e sobrevivência das plântulas de erva-mate

em diferentes graus de sombreamento.

O estudo sobre a diversidade genética de plantas de erva-mate dos Estados produtores é feito

pelo Departamento de Genética da Ufrgs, a partir da análise do DNA, de proteínas de reserva

das sementes e de isoenzimas (proteínas que controlam reações químicas do metabolismo) de

plantinhas germinadas no laboratório. E efetuada a análise de cada árvore individual, num

total de 50 por Estado. Segundo Helga Winge, esses estudos são essenciais para orientar

qualquer trabalho de melhoramento genético da espécie, o que até hoje não foi feito em

nenhum lugar do mundo.

A pesquisa sobre o desenvolvimento de flores, frutos e embrião é realizada pelo

Departamento de Botânica e um dos objetivos é esclarecer as causas da longa demora da

semente para iniciar a germinação. Esse período é um dos entraves para obtenção de mudas

de erva-mate na quantidade desejada em um curto espaço de tempo. Nesse departamento é

feito também o estudo e identificação dos micorrizas, importantes para a planta absorver as

quantidades necessárias de nutrientes do solo, e a germinação em tubo de ensaio. O trabalho

sobre a cafeína é desenvolvida pela Faculdade de Farmácia.

Palmito Juçara

A Euterpe edulis Martius é uma palmeira

importante do Bioma Mata Atlântica, suas

sementes e frutos servem como alimento para

a fauna e sua dispersão é feita por aves e

mamíferos. A falta do manejo sustentado da

espécie contribui para sua degradação no meio

ambiente provocando um desequilíbrio

ambiental no meio explorado. Neste trabalho

citamos como um potencial produto da

biodiversidade em SC. Pertence à Familia das

Arecaceae (Palmae), espécie Euterpe edulis Martius.

Sinonímia botânica: Euterpe equsquizae Bertoni ex Hauman, Euterpe globosa Gaertn, recebe

por vezes outrnoms como: ensarova, içara, inçara, iiçara, juçara, palmito, palmiteiro-doce,

palmito-branco, palmito-juçara, palmito-vermelho, ripa, ripeira, açaí do sul, ensarova.

Introdução

Page 26: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

22

O palmito da espécie E. edulis é um alimento nobre e muito apreciado como uma iguaria

tipicamente brasileira. Devido ao seu grande consumo, o Brasil tornou-se o maior produtor e

consumidor, e já foi o maior exportador deste produto. Atualmente, o palmito desta espécie é

um dos produtos mais explorados na Floresta Atlântica, ou Mata Atlântica. (REIS

&GUERRA, 1999 apud SMA - Fundação Florestal, 2008). A palmeira juçara é um produto

florestal não madeireiro, de suma importância. Suas flores são polinizadas por inúmeros tipos

de insetos, mas principalmente por abelhas e seus frutos maduros alimentam Jacutingas,

Jacus, Tucanos, Araçaris, Sabiás e outros pássaros dispersores de sementes. Seu meristema é

apreciado pelo macaco prego, suas plântulas servem de alimento a Catetos e Queixadas. As

sementes caídas no chão são devoradas por roedores como Cotias, Pacas, Ratos. (KAZITA,

2004).

O E. edulis, além de ser de suma importância para o Bioma Mata Atlântica, produz um

palmito muito apreciado, pois ele não é tão fibroso quanto o açaí e nem doce como o

Bactrisgasipaes (pupunha), tendo um sabor único e muito valorizado. Além disso, pode-se

extrair a polpa de seus frutos, obtendo-se um suco muito energético. Há uma grande

possibilidade de se trabalhar no manejo dessa espécie no litoral catarinense como uma

alternativa de renda para a agricultura familiar.

Mercado do palmito

O mercado do palmito em conserva tem sido objeto de amplos e variados estudos e vem

sofrendo algumas modificações com o desaparecimento do palmito juçara das prateleiras. A

Juçara tem boas perspectivas em relação ao potencial deste mercado já que, inegavelmente

continua sendo o palmito preferido dos consumidores e tem recebido insistentes solicitações

de fornecimento, tanto pelos tradicionais como por novos clientes.

O mercado interno de palmito está estimado em 40.000 toneladas anuais, correspondendo a

mais de U$ 400 milhões. Apenas 10% deste mercado são de E. edulis. Isto nos permite dizer

que o mercado para o produto aqui estudado é amplo e bastante superior a quaisquer

expectativas de produção nacional para os próximos 10 a 20 anos, uma vez que não se tem

conhecimento de nenhum manejo realmente da espécie.

Os preços de venda do palmito no varejo, quando encontrado, apresentam variações bastante

significativas, sempre superiores aos congêneres (açaí, pupunha e palmeira real). O produto

vendido clandestinamente acaba por forçar preço para alguns segmentos tradicionalmente

consumidores do produto de origem clandestina (pizzarias, restaurantes), inviabilizando-os

como mercado para um produto adequadamente manejado. (KAZITA, 2004)

Mercado de luxo e resorts têm ofertado o produto a preços bastante elevados, o que reflete a

dificuldade em localizar o produto em condições adequadas de venda. A Kazita estima, hoje,

o preço de venda do vidro de 300 g a pelo menos R$ 10,00 e o vidro de 1.200 g, a pelo menos

R$ 30,00. Estes produtos chegam ao consumidor final por R$ 16,00 a R$ 20,00 o vidro de300

g e mais de R$ 50,00, o vidro de 1, 200 g. (KAZITA, 2004)

Outros Usos

A espécie é ornamental desde pequena e pode ser cultivada em vaso; quando adulta, em

jardim. Além disso, é recomendada para recomposição de mata ciliar, para locais com

inundações de média a longa duração.

Colheita

A colheita das sementes deve ser feita diretamente dos cachos colhidos, quando os frutos

estiverem maduros (ver item Beneficiamento). Recomenda-se colher os frutos de diversas

palmeiras sadias e com alta produtividade, e não de apenas uma planta isolada. Identifica-se a

Page 27: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

23

fase de maturação dos frutos, quando estes apresentam-se com coloração preta brilhante.

Certifica-se que os frutos estão realmente maduros, introduzindo-se a unha em sua polpa; se a

unha ficar manchada da cor vinho tinto, então os frutos estão prontos para serem colhidos.

Beneficiamento

É recomendável que os cachos colhidos sejam deixados à meia sombra por uma semana, para

que completem a maturação pós colheita. Após esse período, os frutos devem ser destacados

dos cachos e colocados em um balde com água. Ao longo de quatro dias, deve-se trocar

diariamente a água do balde para evitar fermentação. Após esse período processa-se o

despolpamento manual, friccionando os frutos com a palma da mão contra as malhas de uma

peneira sob água corrente. Estando as sementes livres da polpa e lavadas deve-se deixá-las à

meia sombra por um período de dois dias.

Importância econômica

O Brasil não é apenas o maior fornecedor, mas também um grande consumidor, com ênfase

na região Sudeste. Como tem alto valor econômico como alimento, sofre em virtude disto,

intenso extrativismo. Essa exploração contribui para a degradação do meio ambiente e torna-

se um fator de preocupação para a preservação da espécie uma vez que não há rebrota após o

corte para a extração do palmito (MORTORA & VALERIANO, 2001 apud MÜLLER, 2007).

Para que o palmito continue a existir e seja fonte renovável de riqueza, devem-se conhecer as

extrações legais voltadas à preservação, extração e industrialização do produto. Ao lado disso,

torna-se necessário intensificar a preocupação com a reposição da espécie por meio do

replantio (AMBIENTE BRASIL, 2010). O Processo mais adequado para a exploração do

palmiteiro é o manejo sustentado (FLORIANO et al, 1988), tornando-se uma nova fonte de

renda das áreas florestadas e desempenhando um papel ecológico fundamental no ecossistema

(REIS et al, 1993 apud MÜLLER, 2007).

Ações como essa estão sendo pensadas no intuito de incentivar o consumo da juçara, ainda

muito incipiente no Brasil. No litoral do Rio Grande do Sul e sul de Santa Catarina, o Centro

Ecológico, que trabalha com Assessoria e Formação em Agricultura Ecológica, tem 30 dos

200 agricultores que orientam cultivando a palmeira juçara. O mercado ainda é fechado na

própria região e não é possível atender a demandas de fora, mas municípios como Três

Cachoeiras também absorveram a juçara para merenda escolar.

“Trabalhamos há 17 anos com a conversão dos sistemas tradicionais para os agroecológicos.

Um deles é o de implantação de Sistemas Agroflorestais, pensando na preservação ambiental.

O trabalho com a juçara tem destaque já há oito anos, mas a palmeira leva mais ou menos oito

anos para dar fruto. Depois, a safra é anual. E, quando o fruto é retirado, a palmeira não

morre, como acontece quando retiram o palmito. Cada pé chega a dar cinco quilos de açaí de

juçara, e cada quilo é vendido a R$ 1, ou seja, o lucro é duas vezes e meio maior do que o do

palmito, que é vendido a R$ 2”, diz o engenheiro agrônomo André Luiz Rodrigues

Gonçalves, coordenador técnico do Centro Ecológico e professor de Agroecologia do Instituto

Federal Catarinense - IFC.

Dessa forma, além de evitar-se o risco de extinção da espécie, em seu estado natural,

protegesse a fonte de renda de famílias inteiras que se dedicam a extração de produtos da

floresta(PEREIRA, 2000 apud MÜLLER, 2007), tendo em vista que o lucro conseguido

através da polpa das sementes é maior que o palmito em si, a polpa é uma nova alternativa de

uso de juçara, visto que os preços são atrativos e o mercado está em expansão.

Sintese

Page 28: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

24

Os dados analisados permitem concluir que o cultivo do E. edulis é possível na região

litorânea de SC, desde que seja de forma legal e que se faça o manejo adequado da espécie.

Observamos também durante o desenvolvimento deste trabalho que o E. edulis é mais uma

fonte de renda para os agricultores da região, pois por ser totalmente proveitoso, podendo-se

usar suas folhas em artesanatos e ração animal, pólen para produção apícola, frutos para

produção de polpas e o estipe que pode ser usado na produção de vassouras. O plantio pode

ser feito em meio às matas da região, até porque a palmeira não suportaria sol direto. Vale

ressaltar que o E. edulis é muito apreciado no Brasil, sendo então uma boa fonte de renda para

a região.

Cipó Imbé

Introdução

A Mata Atlântica é um dos biomas brasileiros mais ameaçados de extinção, atualmente possui

menos de 8% de remanescentes, considerando a sua área original, que correspondia a 15% do

território nacional e se estendendo por 17 estados brasileiros das regiões sul, sudeste, centro-

oeste e nordeste. Com um dos seis biomas brasileiros, a Mata Atlântica possui uma

importante parcela da diversidade biológica, ou seja, apresenta estruturas e composições

florísticas diferenciadas, sendo considerado o mais rico dos biomas.

Em Santa Catarina a intensa exploração dos recursos florestais provenientes deste bioma

esteve associada à demanda energética, agricultura e urbanização. Entre os usos não

madeireiros de espécies na região litorânea onde predomina a Floresta Ombrófila Densa,

destaca-se com grande importância o palmito (Euterpe edulis), com um histórico de uso

bastante intenso em toda região. Entre outros produtos estão as plantas medicinais como o

cha-de-bugre (Casearia sylvestris), espinheira-santa (Zollernia ilicifolia), pau-oleo (Copaifera

trapezifolia), pau-amargo (Trichilia sp.), os frutos do araca (Psidium cattleianum), do inga

(Inga spp.), e bacupari (Garcinia gardneriana), plantas fibrosas como o cipo-imbe

(Philodendron corcovadense), e ornamentais como a guaricana (Geonoma sp.), além de

diversas espécies de orquídeas e bromélias.

Page 29: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

25

Potencialidade de produção e de mercado

Mais especificamente no litoral norte de Santa Catarina e sudeste do Paraná, centenas de

famílias se dedicam direta ou indiretamente ao artesanato com fibras vegetais obtidas de

raízes alimentadoras (cipó-imbé) da espécie Philodendron corcovadense Kunth – ARACEAE.

No entanto, o atual sistema de produção evidencia o risco à manutenção dos estoques naturais

da espécie devido à crescente demanda de mercado. Vários estudos apontam que a principal

dificuldade dos cipozeiros está relacionada ao licenciamento para retirada de cipó da floresta

que necessita de estratégias ecológicas de manejo. Trata-se de uma atividade ainda em

processo de regulamentação do ponto de vista da legislação ambiental, pois muito pouco se

conhece sobre seu sistema de manejo, estoque natural e dinâmica de reposição do recurso

extraído. A exploração das florestas com o objetivo de obtenção econômica de produtos

florestais não-madeireiros é permitida somente por meio de um Plano de Manejo Florestal

Sustentável.

Os cipozeiros estão se organizando e criaram recentemente o Movimento Interestadual dos

Cipozeiros e Cipozeiras (MICI), grupo que tem como foco a articulação dos atores para o

comércio justo e legalização das áreas de coleta por meio de acesso aos territórios e aos

recursos naturais. O movimento já percebeu que o manejo da espécie é feito de forma

incipiente e desagregada entre os extratores. Diante da problemática acredita que uma solução

para as comunidades seria o cultivo da espécie nos quintais de suas casas. Porém, sua

viabilidade depende da articulação de algumas entidades para a busca de técnicas apropriadas

de propagação da espécie e do entrelaçamento entre o conhecimento científico e o

conhecimento tradicional dos cipozeiros.

Considerações finais

Não há muitas informações técnicas sobre o Cipó Imbé, mas o que se observa é que além da

questão legal, os cipozeiros enfrentam longas distâncias em busca do recurso e conflitos de

propriedade da terra, pois a extração é realizada em propriedades de terceiros. Pesquisas dão

conta que alguns critérios de manejo como o tempo de pousio de uma área e o número de

raízes a serem coletadas são divergentes entre os extratores, evidenciando a carência de um

sistema de manejo comum.

Estudos feitos pela Universidade Estadual de SC - UDESC e pela Empresa de Pesquisa

Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – EPAGRI identificaram a necessidade de

novas tecnologias nos processo de produção, beneficiamento das fibras, capacitação do

extratores e tratamento dos resíduos. Em síntese, a produção do Cipó Imbé necessita da ação

efetiva do estado com o objetivo de consolidar uma cadeia produtiva alternativa para uma

parcela da população tradicional da região litoral norte de Santa Catarina.

Page 30: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

26

Conclusões

Há, em princípio, um certo senso comum de que os produtos da sociobiodiversidade do

Estado de Santa Catarina são de pouca importância pois, diferentemente das regiões norte e

centro-oeste do país, não há em nossa produção agropecuária, produtos, com essa

característica, com volume econômico expressivo. Somos levados a crer, também, que pela

nossa colonização predominantemente europeia, nossos produtos agrícolas são todos exóticos,

e a paisagem já foi toda antropizada.

No entanto esse diagnóstico deu pistas de que há produtos com grande potencial. São

produtos pouco conhecidos, pouco pesquisados em seu potencial produtivo e de mercado,

subavaliados em sua importância econômica, cultural e ecológica em alguns contextos locais.

Entre os consumidores, esses produtos não são, em geral, conhecidos como produtos da “mata

catarinense” e produzidos por agricultores familiares com conhecimentos transmitidos por

muitas gerações. Consequentemente, os produtos não agregam o valor devido a sua origem.

A diretriz de promoção de produtos da Política Nacional de Promoção das Cadeias de

Produtos da Sociobiodiversidade (PNPPS) tem sido eficaz em outras regiões, gerando

interesse no consumo de produtos e serviços associados aos ecossistemas locais e ao modo

como são produzidos.

Cabe uma reflexão sobre ações de agentes públicos e privados no sentido de valorizar

produtos da sociobidiversidade catarinense, com consequente geração de renda, valorização

dos modos de produção e de manutenção da biodiversidade.

Page 31: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

27

Bibiografia Consultada

1. AMBIENTE BRASIL Silvicultura do Palmito Juçara (Euterpe edulis). Data de

publicação indefinida. Disponível em: http://www.ambientebrasil.com.br. Acesso em:

14/12/2012.

2. ANGELI, Aline. Araucária angustifólia (araucária). In: Instituto de pesquisa e estudos

florestais (IPEF). São Paulo: 2003. Disponível em:

http://www.ipef.br/identificacao/araucaria.angustifolia.asp. Acesso em 18/12/12

3. BARNI, Euclides João. Potencial de Mercado para a goiaba serrana catarinense.

Florianianópolis. Epagri 2004. 48p (Epagri Documentos 212).

4. PROJETO NOVA CARTOGRAFIA SOCIAL DOS POVOS E COMUNIDADES

TRADICIONAIS DO BRASIL. Fascículo 9. Cipozeiros de Garuva, Santa Catarina.

Florianopolis SC, março de 2007. ISBN 85-86037-20-6

5. CARVALHO, Paulo Ernani Ramalho. Espécies florestais brasileiras: recomendações

silviculturais, potencialidades e uso da madeira. Brasília: EMBRAPA – SPI, 1994.

640p.

6. CESAR FILHO, Mário. Araucária, a planta do futuro. Revista Ciência Hoje. Rio de

Janeiro, n 218, ago. 2005.

7. DEGENHARDT, Juliana; DUCROQUET, Jean-Pierre; GUERRA, Miguel Pedro;

NODARI, Rubens Onofre. Variação fenotípica em plantas de duas famílias de meios-

irmãos de goiabeira-serrana (Acca sellowiana Berg.) em um pomar comercial em São

Joaquim-SC. Rev. Bras. Frutic. vol.27 no.3 Jaboticabal Dec. 2005

8. DUCROQUET, J-P. H. J. Cultivo da goiabeira serrana (Acca sellowiana). In: Seminário

nacional sobre fruticultura de clima temperado, 8, 2008, São Joaquim. Resumos. São

Joaquim, SC: Epagri, 2008.

9. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Florestas. Zoneamento ecológico para

plantios florestais no Estado do Paraná. Brasília: EMBRAPA-DDT, 1986. 89p.

(EMBRAPA-CNPF. Documentos, 17).

10. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. EMBRAPA. Cultivo do

pinheiro-do paraná. 2001. Disponível em:

<http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Pinheiro-do-

Parana/CultivodoPinheirodoParana/sistema/08_solos.htm> Acesso em: 18/12/2012.

11. FANTINI,A.C.; RIBEIRO,R.J.; GURIES,R.P. Produção de palmito (Euterpe edulis

Martius - Arecaceae) na floresta ombrofila densa: potencial, problemas e possíveis

soluções. Sellowia, n.49/52, p.256-80, 2000.

12. FLORIANO,E.P.; NODARI,R.O.; REIS,A.; REIS,M.S.; GUERRA,M.P. Manejo do

palmiteiro: uma proposta. Documentos EMBRAPA/CNPF, n.19, p.189-91, 1988.

13. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São

Paulo: Paz e Terra, 2001.

14. QUADROS, Kenia Michele de. Propagação vegetativa da erva-mate. Dissertação de

Mestrado, Posgraduação em Engenharia Florestal UFSM, Santa Maria/RS, 2009.

Page 32: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

28

15. GUERRA, Miguel Pedro; SILVEIRA, Vanildo; REIS, Maurício Sedrez dos;

SCHNEIDER, Lineu. Exploração, manejo e conservação da araucária (araucária

angustifólia). In: Sustentável mata atlântica: a exploração de seus recursos florestais. São

Paulo: SENAC, 2002.

16. HICKEL, E.R. & DUCROQUET, J.H.J. Entomofauna associada a goiabeira serrana.

Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas. V.14. n.2,p.101-107.92

17. INSTITUTO DE PLANEJAMENTO E ECONOMIA AGRÍCOLA DE SANTA

CATARINA. Síntese anual da agricultura de Santa Catarina: 2003 - 2004.

Florianópolis: Instituto CEPA/SC, 2004.

18. MALGARESI, E. T. Goiaba Serrana: A boa nova que vem da serra. Revista

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, Editora da Epagri, v. 20, n. 2. 2007

19. MATTOS, João Rodrigues. O pinheiro brasileiro. 2.ed. Santa Catarina: princesa, 1994.

225p. v.1.

20. MAZUCHOWWSKI, J.Z. Mecanismos alternativos para o manejo sustentável de

pinheiro-do-paraná na pequena propriedade rural. Separata de: pesquisa Florestal

Brasileira. Colombo, n.55, p. 31-6, jul./Dez.2007. Acesso ao site

http:\\www.cnpf.embrapa.br

21. Prêmio Valorização da Biodiversidade de Santa Catarina reconhece trabalho com a

goiabeira serrana. Notícias da UFSC. 06/12/2012

22. Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil.

Ciposeiros de Garuva, fasc 9, Florianópolis SC, março 2007. Disponível em:

http://www.novacartografiasocial.com/downloads/Fasciculos/41_mma_09_cipozeirosgaruva. Acesso em :18/12/12.

23. Rede Globo. Parece açaí, mas é juçara. Atualizado em 02/07/11. Disponível em:

http://redeglobo.globo.com/globoecologia/noticia/2011/07/parece-acai-mas-e-fruta-da-

jucara.html.

24. REIS, A.; REIS, M.S.; FANTINI, A.C. Manejo de rendimento sustentado de Euterpe

edulis. São Paulo: USP, 1993. 59p.

25. REIS, M.S. et al. Manejo sustentável do palmiteiro. In: Euterpe edulis Martius –

(Palmiteiro): biologia, conservação e manejo. ed. M.S. REIS, A. REIS. Itajaí. Herbário

Barbosa Rodrigues, 2000.

26. REVISTA RURAL. Palmito – A sua lucratividade. dez/2004. Ver. 83. Disponível em:

http://www.revistarural.com.br/. Acesso em: 14/12/2014.

27. Santos, Karine Louise dos. Diversidade cultural, genética e fenotípica da goiabeira-

serrana (Acca sellowiana). Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina,

Centro de Ciências Agrárias. Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos

Vegetais. http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/92738.

28. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em

educação. São Paulo: Atlas, 1987

29. VELHO, Aline Cristina. et al. Influência da temperatura de armazenamento na

qualidade pós-colheita de goiabas serranas. Rev. Bras. Frutic. vol.33 no.1 Jaboticabal

Mar. 2011 Epub Mar 11, 2011

Page 33: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

29

30. Vieira, Pâmela Martins. Análise do processo extrativista do cipó-imbé (Philodendron

corcovadense Kunth - araceae) em Garuva-SC. TCC (graduação) - Universidade

Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias, Curso de Agronomia. Disponível

em: http://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/25468. Acesso em: 118/12/12.

Page 34: Perspectivas e potencialidades de produção e de mercado ...intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_33542.pdf · Projeto de Assistência Técnica e Extensão

30

ANEXO

Roteiro para entrevista dos agentes das cadeias produtivas

Entrevistado

Nome

Instituição

Endereço, Município, Email

Papel (produtor, agente de mercado, entidade representativa, instituição de apoio)

Cargo/função

Caracterização do Produto

Variedades, cultivares, características

Produção, produtividade, área

Regionalização

Sazonalidade

Problemas da produção

Caracterização dos produtores

Condição (proprietário, familiar, empregado)

Faixa etária

Escolaridade

Fontes de conhecimento e informação

Capacitação

Motivação para o negócio

Caracterização das empresas produtoras

Tempo de vida das empresas

Grau de formalização

Adequação sanitária

Adequação ambiental

Características e tamanho dos empreendimentos

Importância do negócio

Mão de obra

Acesso ao crédito

Participação em associações

Percepção de das características e dos problemas pelos empreendedores

Matéria-prima - Origem

Processamento

Distribuição

Preços e mercado

Fatores que influem na determinação do preço

Percepção

Biodiversidade/Sociobiodiversidade

Políticas

Potencialidades

Problemas/limitações

Desafios