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Perspectivas escatológicas no Antigo Testamento Grosso modo podemos afirmar que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento possuem aspecto escatológico claro. Anthony Hoekema em seu livro A Bíblia e o Futuro traz uma análise mais acurada da perspectiva dos dois testamentos, mas consegue resumi-la em poucas orações: Por um lado o crente do Novo Testamento está consciente do fato de que o grande evento escatológico predito no Velho Testamento já aconteceu, enquanto que, por outro lado, ele percebe que outra significativa série de eventos escatológicos ainda está por vir. 1 A Escatologia no Antigo Testamento Há na compreensão reformada da escatologia a visão de que a escatologia no Antigo Testamento passa por um enriquecimento progressivo. Os principais temas ou títulos escatológicos não nasceram ao mesmo tempo, antes, assumiram formas variadas em tempos diversos. O que é claro para nós é dizer que em várias épocas o crente do Antigo Testamento aguardava, no futuro, algumas realidades escatológicas. Hoekma 2 aponta 7 delas, resumiremos cada uma delas para apenar temos noção básica de sua procedência. O Redentor vindouro. Esse título é relacionado com a promessa feita para os primeiros seres humanos em Gn 3.15: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” Podemos dizer a partir desta promessa que tudo na revelação do A.T. olha para frente, e aguarda ansiosamente o redentor prometido O Reino de Deus. Há no A.T. uma conexão entre o redentor vindouro de Gn 3.15 com a predição que ele se assentará no trono de Davi. Especificamente em 2Sm 7.12-13 é afirma-se o estabelecimento de um reino eterno. Esse rei vindouro é apresentado progressivamente como “Emanuel” (Is. 7.14), como “Servo Sofredor” (Is. 53), como “Filho do Homem” (Dn 7.13-14). 1 HOEKMA, Anthony. A Bíblia e o Futuro. São Paulo: Cultura Cristã, p. 22. 2 Ibid. Todas os parágrafos foram escritas baseado na análise de Hoekema da pag. 9-20.

Perspectivas escatológicas no Antigo Testamento

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Perspectivas escatológicas no Antigo Testamento

Grosso modo podemos afirmar que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento

possuem aspecto escatológico claro. Anthony Hoekema em seu livro A Bíblia e o

Futuro traz uma análise mais acurada da perspectiva dos dois testamentos, mas

consegue resumi-la em poucas orações:

Por um lado o crente do Novo Testamento está consciente do fato de que o grande evento escatológico predito no Velho Testamento já aconteceu, enquanto que, por outro lado, ele percebe que outra significativa série de eventos escatológicos ainda está por vir.1

A Escatologia no Antigo Testamento

Há na compreensão reformada da escatologia a visão de que a escatologia

no Antigo Testamento passa por um enriquecimento progressivo. Os principais

temas ou títulos escatológicos não nasceram ao mesmo tempo, antes, assumiram

formas variadas em tempos diversos. O que é claro para nós é dizer que em várias

épocas o crente do Antigo Testamento aguardava, no futuro, algumas realidades

escatológicas. Hoekma2 aponta 7 delas, resumiremos cada uma delas para apenar

temos noção básica de sua procedência.

O Redentor vindouro. Esse título é relacionado com a promessa feita para os

primeiros seres humanos em Gn 3.15: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a

tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o

calcanhar.” Podemos dizer a partir desta promessa que tudo na revelação do A.T.

olha para frente, e aguarda ansiosamente o redentor prometido

O Reino de Deus. Há no A.T. uma conexão entre o redentor vindouro de Gn

3.15 com a predição que ele se assentará no trono de Davi. Especificamente em

2Sm 7.12-13 é afirma-se o estabelecimento de um reino eterno. Esse rei vindouro é

apresentado progressivamente como “Emanuel” (Is. 7.14), como “Servo Sofredor”

(Is. 53), como “Filho do Homem” (Dn 7.13-14).

1 HOEKMA, Anthony. A Bíblia e o Futuro. São Paulo: Cultura Cristã, p. 22.

2 Ibid. Todas os parágrafos foram escritas baseado na análise de Hoekema da pag. 9-20.

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Apesar de o termo “reino de Deus” não ser encontrado no A.T. o pensamento

de que Deus é rei está presente particularmente nos Salmos e nos Profetas. Deus é

denominado Rei de Israel (Sl 84.3, Is. 43.15), Rei de toda a terra (Sl 29.10, Is. 6.5,

Jr. 46.18).

A descrição mais clara de um reino vindouro está no livro de Daniel, cap. 2

onde ele afirma que Deus levantá um reino que nunca será destruído, que quebrará

todos os outros reinos e que permanecerá para sempre (vs. 44-45). E mesmo em

Daniel este reino é inaugurado na figura do já citado Filho do Homem que é o

protagonista desse reino.

A Nova Aliança. O profeta Jeremias prediz que Deus fará uma nova aliança

com o seu povo (Jr. 31.31-34) na qual Deus afirma: “Na mente, lhes imprimirei as

minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão

o meu povo”. No Novo Testamento em Hb fica claro que a nova aliança de Jeremias

foi instaurada pelo nosso Senhor Jesus Cristo.

A Restauração de Israel. Essa promessa escatológica está relacionada com o

ato futuro de Deus em fazer com que o seu povo volte do cativeiro. Isaías 11,

Jeremias 23 preveem esta restauração na figura do remanescente que se encontra

em Israel.

Derramamento do Espírito. O profeta Joel no capítulo 2 de sua profecia afirma

que em dias específicos o próprio Deus derramaria o seu povo sobre toda a carne

independente (ao que parece) das etnias e diferenças sociais.

Dia do Senhor. Muitas vezes no A.T. a expressão “O Dia do Senhor” é usada

para representar um dia juízo no futuro próximo, quando Deus trará destruição

repentina para os inimigos de Israel, como em Obadias vs.15-16, nos Doze Profetas

e principalmente em Isaías 13 este conceito é utilizado para um futuro não tão

longínquo seguido de uma referência ao dia escatológico do Senhor, no futuro

distante.

Novo Céus e Nova Terra. Em contraste com o aparente aspecto exclusivo da

ira do Senhor no seu “Dia”, o conceito de novo céus e nova terra dá um toque de

positividade na profecia bíblica. Vemos isso na profecia de Isaías 65, que

claramente se cumpre em Apocalipse 21.

O crente do Antigo Testamento não tinha a ideia clara sobre como ou quando

estas expectações seriam cumpridas. Esses eventos poderiam se cumprir de uma

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só vez, ou nos “últimos dias”, “naqueles dias”, ou no “Dia do Senhor”. A certeza que

possuímos é que a fé do crente da antiga aliança era completamente escatológica.