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Rua Pandiá Calógeras, 250/1601, Prado – CEP: 50.720-160 - Recife-PE - Fone/Fax: +55 81 3445-5241 http://www.creativante.com.br - e-mail: [email protected]
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“Perspectivas para o Setor de
Tecnologias de Informação e
Comunicação- TICs de Pernambuco
para o ano 2020” ========================================
Relatório Final de Consultoria Econômica
J C Cavalcanti Consultoria e Soluções em Tecnologia e Sistemas de Informação
Ltda. (CREATIVANTE)
Recife, 12 de Março de 2015
Rua Pandiá Calógeras, 250/1601, Prado – CEP: 50.720-160 - Recife-PE - Fone/Fax: +55 81 3445-5241 http://www.creativante.com.br - e-mail: [email protected]
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO
2- METODOLOGIA
3- DESENVOLVIMENTO
Parte 1
3.1- O Estado da Arte do Empreendedorismo, da Competitividade e do Desenvolvimento no
Brasil
3.1.1- A Posição do Brasil no cenário mundial de Empreendedorismo, Competitividade e
Desenvolvimento
3.1.1.1- O Brasil e sua relação de empreendedorismo e competitividade
3.1.1.2- Atividade Empreendedora de Empregados (AEE)
3.1.1.3- Empreendedorismo Ambicioso
3.1.1.4- Competitividade e Ambição
3.1.1.5- Empreendedorismo Inovador
3.1.1.5- Competitividade e Empreendedorismo Inovador
3.1.1.6- Ambição e Inovação
3.1.2- Cinco Clusters de Economias Empreendedoras
3.1.2.1- Entendendo os clusters
3.1.3- Conclusões e Implicações para Políticas
3.2- O Estado da Arte das Tecnologias de Informação e Comunicação - TICs no Brasil
Parte 2
4- O Ecossistema de Tecnologias de Informação e Comunicação- TICs de Pernambuco: Passado,
Presente e Futuro
4.1- Arquitetura
4.1.1- Breve Histórico
4.1.2- Arquitetura do Ecossistema de TICs e a Arquitetura do seu Mercado 4.2- Governança
4.3- Crescimento
5- Desafios e Propostas de Políticas de Ação para o SOFTEX/Recife
6- REFERÊNCIAS
ANEXOS
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1- INTRODUÇÃO
Este documento contempla o Relatório Final dos trabalhos da J C Cavalcanti Consultoria e
Soluções em Tecnologia e Sistemas de Informação Ltda. – nome fantasia Creativante, empresa de
consultoria econômica em tecnologia e inovação sediada em Recife, Pernambuco, para a
organização SOFTEX-Recife, com sede no Recife/PE, de acordo com o contrato de serviços de
consultoria para desenvolver a consultoria intitulada “Perspectivas para o Setor de Tecnologias
de Informação e Comunicação- TICs de Pernambuco para o ano 2020”.
Na proposta de trabalho apresentada à SOFTEX-Recife por esta consultoria, uma das atividades
cotejadas foi a identificação de como os pilares do GCI - Global Competitiveness Index (Índice de
Competitividade Global - ICG) do World Economic Forum - WEF (Fórum Econômico Mundial -
FEM) estavam caracterizados no país, e, por extensão, em Pernambuco (as demais atividades
foram a de caracterização do setor de TICs do Estado a partir do arcabouço sugerido pelo The
Global Information Technology Report – Relatório Global de Tecnologia da Informação, também
produzido pelo FEM, bem como as possibilidades futuras deste setor para o aumento da
competitividade e para a melhoria dos padrões de vida e oportunidades do Estado, e por
decorrência, do país.
Neste sentido, este Relatório Final contempla, além da explicitação da Metodologia de sua
condução, duas partes principais. Na primeira parte do trabalho é tratada a primeira atividade
acima descrita, indo além da mera caracterização e apontando para uma importante, e complexa,
relação entre as questões do Empreendedorismo, da Competitividade e do Desenvolvimento, a
partir do Estado da Arte do Brasil nestas temáticas. Em seguida, é apresentado um breve relato do
Estado da Arte das Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs no Brasil a partir de estudo
também desenvolvido pelo FEM. Na segunda parte do trabalho são descritos os principais achados
observados a partir de um conjunto de entrevistas com pessoas com variadas inserções no
ecossistema de TICs do Estado, bem como de uma coleta de informações a partir de determinados
eventos relacionados com este mesmo ecossistema. Este relato é apresentado baseando-se no
modelo desenvolvido pela Creativante, em que são tratadas três dimensões do ecossistema de TICs
de Pernambuco: sua Arquitetura, sua Governança e seu Crescimento. Finalmente são elencados
os principais desafios a serem enfrentados, e algumas sugestões que possam contribuir para a
definição de políticas de ação da SOFTEX-Recife visando o futuro do Ecossistema de TICs de
Pernambuco nos próximos anos.
Esta breve introdução não poderia deixar de manifestar os sinceros agradecimentos às cerca de três
dezenas de pessoas entrevistadas ao longo das atividades aqui descritas, àquelas que manifestaram
opiniões em diversos eventos voltados ao setor com a participação da consultora, e aos membros
Diretoria da SOFTEX-Recife pela confiança depositada. É para elas que este relatório é dedicado!
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2- METODOLOGIA
A metodologia inicial dos trabalhos aqui relatados visava, como delineado em sua proposta de
execução, a identificação de como os pilares do GCI - Global Competitiveness Index (Índice de
Competitividade Global - ICG) do World Economic Forum - WEF (Fórum Econômico Mundial -
FEM) estavam caracterizados no Brasil, e, por extensão, em Pernambuco. As demais atividades
indicadas foram a de caracterização do setor de TICs do Estado a partir do arcabouço sugerido
pelo The Global Information Technology Report – Relatório Global de Tecnologia da Informação,
também produzido pelo FEM, bem como as possibilidades futuras deste setor para o aumento da
competitividade e para a melhoria dos padrões de vida e oportunidades do Estado, e por
decorrência, do país.
Para concretização destes objetivos, a consultora se valeu de uma base secundária de dados e
informações, bem como de um conjunto de entrevistas com pessoas com variadas inserções no
ecossistema de TICs do Estado, bem como de uma coleta de informações a partir de determinados
eventos relacionados com este mesmo ecossistema. Em função das múltiplas pessoas, tarefas,
eventos, documentos, e dos processos e dependências decorrentes, a consultora se valeu
inicialmente da metodologia denominada “Dynamic Case Management- DCM” (Gestão
Dinâmica de Caso), tratando a pesquisa como se fosse um caso. De acordo com a DCM, resolver
um Caso requer a gestão de pessoas, documentos, sistemas, informação, e mesmo coisas.
Trabalhar um caso envolve uma ou mais das seguintes tarefas (como pode ser visto na Figura 1 à
frente):
a) Coordenar múltiplas tarefas, frequentemente cruzando pessoas e departamentos, e algumas
vezes além das fronteiras de uma única organização;
b) Gerenciar pessoas e interessados associados com um caso, o mais importante dos quais
geralmente é um consumidor;
c) Agregar informação de uma variedade de fontes, incluindo documentos, imagens, e dados de
outros sistemas computacionais;
d) Cumprir com processos e regras estabelecidas tanto por melhores práticas quanto por
regulações;
e) Detectar e responder a eventos que podem afetar a urgência ou status do caso;
f) Reportar sobre o status e a história para a visibilidade gerencial e/ou melhoria contínua.
A partir da DCM, passou-se ao estabelecimento dos “silos”, grupos ou blocos de interessados no
“Ecossistema de TICs” de Pernambuco (os “stakeholders”, em inglês). E foi assim que se
delineou o foco das entrevistas as serem realizadas com os principais “stakeholders”, a partir dos
seguintes silos: empreendedores maduros e nascentes (startups), academia, governo e organizações
(Figura 2 à frente).
Em janeiro de 2015 a consultora tomou conhecimento que o World Economic Forum- WEF
(Fórum Econômico Mundial- FEM) acabara de publicar o relatório “Leveraging Entrepreneurial
Ambition and Innovation: A Global Perspective on Entrepreneurship, Competitiveness and
Development” (Alavancando Ambição e Inovação Empreendedora: Uma Perspectiva Global sobre
Empreendedorismo, Competitividade e Desenvolvimento), que examina a relação de
empreendedorismo e competitividade de uma perspectiva nova (relatório tratado em detalhe na
Parte 1 deste relatório).
Este relatório redefiniu as prioridades dos trabalhos desta consultora em função de sua importância
estratégica. Ele é o primeiro relatório do mundo a estabelecer (com dados globais) relações
fundamentais entre conceitos cruciais para a estrutura e a dinâmica de ecossistemas como o de
TICs de Pernambuco: os conceitos de Empreendedorismo, Competitividade e Desenvolvimento.
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Figura 1: Estrutura do Dynamic Case Management- DCM (Gestão Dinâmica de Caso)
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Figura 2: Estrutura dos “silos” de interessados (“stakeholders”) no Ecossistema de TICs de
Pernambuco
Neste sentido, este documento ganhou tal importância para os trabalhos desta consultora que ele
passou a ser um dos pilares do relatório parcial das atividades desenvolvidas por esta consultora.
Em outras palavras, ele praticamente reorientou os fundamentos analíticos deste trabalho, e,
finalmente, passou a constituir um dos pilares da primeira parte deste Relatório Final.
E para a definição das etapas finais dos trabalhos aqui relatados, a consultora buscou apresentar os
aspectos centrais do “Ecossistema de TICs” de Pernambuco a partir do modelo desenvolvido pela
própria consultora, modelo este que constitui a essência do livro “Effects of IT on Enterprise
Architecture, Governance and Growth” (Efeitos da TI na Arquitetura, Governança e Crescimento
da Empresa), publicado em outubro de 2014 pela IGI-Global dos Estados Unidos.
Finalmente, a partir de diversas inferências colhidas do conjunto de entrevistas com cerca de três
dezenas de pessoas, bem como de oficinas realizadas com a Diretoria da SOFTEX-Recife e com
outras entidades, e confrontando-as com todo o material analítico coletado, chegou-se ao conjunto
de desafios a serem enfrentados e de propostas de políticas de ação para a SOFTEX-Recife,
indicado no último item deste relatório.
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3- DESENVOLVIMENTO
3.1- O Estado da Arte do Empreendedorismo, da Competitividade e do Desenvolvimento no
Brasil
O World Economic Forum- WEF (Fórum Econômico Mundial- FEM) publicou em janeiro de
2015 o relatório “Leveraging Entrepreneurial Ambition and Innovation: A Global Perspective on
Entrepreneurship, Competitiveness and Development” (Alavancando Ambição e Inovação
Empreendedora: Uma Perspectiva Global sobre Empreendedorismo, Competitividade e
Desenvolvimento), que examina a relação de empreendedorismo e competitividade de uma
perspectiva nova. O relatório se baseia e avança os trabalhos anteriores do Fórum nesta questão.
O estudo descrito naquele relatório combina dois únicos conjuntos de dados, o World Forum`s
Global Competitiveness Index Data (base do Índice Global de Competitividade- IGC, também do
FEM), que hierarquiza a competitividade econômica de 144 economias, e a avaliação do Global
Entrepreneurship Monitor- GEM (um produto do consórcio internacional da Global
Entrepreneurship Research Association – GERA) da atividade empreendedora em 70 economias.
Usando cinco anos de dados de ambos os conjuntos, o estudo analisa uma amostra de 44
economias ao, primeiramente, examinar três aspectos (ou dimensões) da atividade empreendedora,
depois agrupa as economias em cinco tipos de clusters empreendedores, e, enfim, desenvolve um
aprofundado entendimento de cada tipo de cluster. Finalmente, o estudo culmina em o que o
processo de produção de políticas se beneficia das características únicas das diferentes economias.
Os três aspectos da atividade empreendedora (ou dimensões do empreendedorismo) examinados
no estudo são:
a) “Early-stage entrepreneurial activity” – atividade empreendedora prematura, medida como
uma percentagem da população em idade para trabalhar (entre 18-64 anos) que são
empreendedores nascentes, isto é, pessoas ativamente envolvidas em abrir um negócio que eles
serão proprietários ou co-proprietários – sem necessariamente ter salários por mais de três meses,
ou são gerentes-proprietários – com salários por mais de três meses (o estudo também examinou a
entrepreneurial employee activity – atividade empreendedora de empregados, ou,
intrapreneurship – intra-empreendedorismo);
b) A proporção de “ambitious” entrepreneurs – empreendedores ambiciosos (que esperam criar
20 ou mais empregos em cinco anos); e,
c) A proporção de “innovative” entrepreneurs – empreendedores inovadores (que oferecem novos
produtos e serviços).
Todas três métricas foram altamente prevalentes em somente duas economias: Colômbia e Chile.
Todas outras economias caíram no interior da média (ou abaixo da média) em pelo menos uma das
três dimensões. Em geral, economias menos competitivas têm mais early-stage entrepreneurial
activity do que economias competitivas. Alternativamente, o relatório observou que a proporção
de ambitious and innovative entrepreneurs é mais frequentemente maior em economias mais
competitivas. Economias mais competitivas também têm taxas mais altas de intrapreneurship,
também conhecida como entrepreneurial employee activity – atividade empreendedora de
empregados.
Para desenvolver um melhor entendimento de como empreendedorismo interage com a
competitividade econômica, que pré-condições e estratégias de negócios lideram diferentes
combinações de tipos de empreendedorismo, e como o processo de produção de políticas pode
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melhorar seu impacto, o estudo identificou cinco clusters de economias entre uma amostra de 44
países:
1- All-rounder economies (economias versáteis) com altas taxas de empreendedores prematuros,
ambiciosos e inovadores;
2- High-Activity economies (economias de alta atividade) com altas taxas de atividade
empreendedora prematura, e com ambição e inovação média ou baixa;
3- High-Ambition economies (economias de alta ambição) com taxas de atividade prematura e
inovação médias ou baixas, mas com alta ambição;
4- High-Innovation economies (economias de alta inovação) com atividade prematura e ambição
médias ou baixas, e alta inovação; e,
5- Neutral economies (economias neutras) com taxas nas três métricas médias ou baixas.
O estudo destila as pré-condições empreendedoras para quatro categorias: 1) conexões
empreendedoras; 2) conscientização de oportunidades; 3) habilidades empreendedoras inerentes; e
4) uma cultura para o risco. High-Activity e All-rounders, contando com 13 países na amostra,
possuem todas elas. Em economias High-Ambition e High-Innovative, estratégia de negócios
importa, especialmente com respeito a acesso a mercados estrangeiros. Os clusters Neutral e
High-Ambition são dominados por países altamente competitivos, na maioria europeus, com
culturas corporativas fortes e a América latina não está nele representada. O fator escondido nesta
equação é a atividade empreendedora de empregados. De fato, uma correlação inversa entre a
atividade empreendedora de empregados e a atividade empreendedora prematura é evidente.
Os três estágios do desenvolvimento econômico (factor-driven - liderado por fatores, efficiency-
driven - liderado por eficiência, e innovation-driven - liderado por inovação) também afetam os
tipos de setores em que os empreendedores proliferam, com serviços ao consumidor
compreendendo o grosso da atividade empreendedora em factor-driven e na maioria das
economias efficiency-driven, estas últimas começaram a se mover para os negócios de serviços e a
transformar iniciativas de negócios. Colômbia e Chile são as únicas economias no cluster All-
rounders e têm programas agressivos de políticas para empreendedorismo.
Com respeito à produção de políticas, as autoridades devem considerar três fatores: (1) o tipo de
economia empreendedora em que a política de empreendedorismo está sendo conduzida; (2) o
resultado empreendedor específico a ser alcançado; e (3) os niveladores disponíveis para atingir
um resultado específico.
3.1.1- A Posição do Brasil no cenário mundial de Empreendedorismo, Competitividade e
Desenvolvimento
Neste relatório do FEM o Brasil está posicionado no estágio de economia efficiency-driven (ver
Tabela 1). Ou seja, como definido no relatório, neste estágio as companhias desenvolvem
processos eficientes e aumentam a qualidade de seus produtos para manterem competitividade e
evitarem repassar custos de trabalho aos preços. Países neste estágio têm grandes mercados
domésticos, ou acessam mercados estrangeiros, fomentam tecnologias existentes, melhoram a
educação superior e o treinamento, alavancam bens eficientes, bem como contam com mercado de
trabalho eficiente e mercado financeiro desenvolvido. Nestas economias os governos focam (ou
deveriam focar) em assegurar mecanismos suaves, tais como o funcionamento adequado e o
desenvolvimento dos mercados acima indicados, os sistemas de educação superior e infraestrutura
tecnológica.
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Sendo assim, o Brasil é considerado como tendo uma economia num estágio de desenvolvimento
intermediário; ou seja, não é considerado nem como uma economia factor-driven (no limite
inferior) nem como uma economia innovation-driven (no limite superior). No primeiro estágio, os
países competem baseados nos seus dotes, os quais são primariamente trabalho de baixa
qualificação e recursos naturais. As companhias competem por preço e vendem produtos básicos
(como commodities), e os baixos salários refletem baixa produtividade. Já no estágio innovation-
driven, à medida que os países o adentram, salários mais altos e o padrão de vida correspondente
só são sustentáveis quando os negócios podem competir com processos de produção sofisticados e
produtos inovadores. Nestas economias os altos custos do trabalho levam a que a inovação seja
um nivelador de desenvolvimento econômico mais importante do que os fomentadores de
eficiência. No Global Competitiveness Report_2014-15 é apresentada uma tabela (Tabela 2 à
frente) onde são apresentados os parâmetros que definem a evolução das economias nestes três
estágios de desenvolvimento, e por este relatório o Brasil se encontra na transição do estágio 2 para
o estágio 3 de desenvolvimento, e se posiciona na 57ª posição no GCI - Global Competitiveness
Index- 2014-2015.
Tabela 1: Economias por nível de desenvolvimento e região geográfica
Fonte: World Economic Forum (2015a)
Para o propósito deste relatório do FEM, as economias foram separadas em três grupos, de acordo
com o seu índice de competitividade global avaliado pelo CGI (Global Competitiveness Index) do
GCR (Global Competitiveness Report): “high competitiveness” (alta competitividade), que
compreende países com scores gerais de 5 ou acima; “moderate competitiveness” (competitividade
moderada) para scores de 4 a 5; e “low competitiveness” (baixa competitividade), para scores
abaixo de 4. Como se pode perceber na Figura 3, o Brasil se posiciona no grupo dos países de
competitividade moderada.
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Tabela 2: Pesos de sub-índices e limites de renda para os estágios de desenvolvimento
Fonte: World Economic Forum (2015b)
3.1.1.1- O Brasil e sua relação de empreendedorismo e competitividade
O relatório do FEM aponta que a competitividade importa para o empreendedorismo, mas não de
uma forma simples e direta. Neste sentido, o relatório discute três dimensões do
empreendedorismo e como elas podem ser mapeadas no globo:
i) Early-stage Entrepreneurial Activity (Atividade Empreendedora Prematura) se refere ao
percentual da população com idade entre 18 a 64 anos que compreendem tanto empreendedores
nascentes ou gerentes proprietários de novos negócios. Esta medida provê discernimentos sobre os
estágios iniciais da atividade empreendedora que capacita estes empreendedores prematuros;
ii) Ambitious entrepreneurs (Empreendedores Ambiciosos) necessitam construir uma organização
significativa para preencher suas metas; eles não podem atingi-las por eles próprios. Portanto suas
estimativas de quantas pessoas eles irão empregar no médio prazo é uma boa proxy de suas
ambições. No relatório se distingue entre aqueles que esperam empregar pelo menos 20 pessoas
em cinco anos, e aqueles que esperam empregar menos de 20 pessoas em cinco anos, como uma
maneira de identificar os empreendedores mais ambiciosos dos menos ambiciosos. A proporção
dos empreendedores ambiciosos é crítica para medir o aspecto da criação de empregos do
empreendedorismo;
iii) Innovative entrepreneurs (Empreendedores Inovadores) são medidos no estudo como a
proporção dos empreendedores prematuros que introduzem um novo, ou único, produto ou serviço
em um mercado. Isto é somente uma dimensão da inovação, mas pode indicar o nível de
sofisticação dos empreendedores em uma economia.
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Figura 3: Competitividade por economia
Fonte: World Economic Forum (2015a)
De acordo com o relatório FEM somente uns poucos países na sua amostra têm altas taxas de
atividade empreendedora prematura, e nenhum deles é altamente competitivo, conforme a
definição do CGI. O Brasil se encontra exatamente nesta condição (na faixa entre 15 e 20% de sua
população), como se pode perceber a partir da Figura 3.
Alta atividade empreendedora prematura é exclusiva de economias com baixa competitividade. À
medida que as economias sobem no espectro de competitividade, elas convergem em torno de uma
banda estreita de atividade empreendedora prematura de aproximadamente 4 a 11% de suas
populações em idade de trabalhar. Desta forma, Uganda, o país com o menor score de
competitividade entre os 44 países da amostra, exibe a maior taxa de atividade empreendedora
prematura, enquanto a Suíça, a economia mais competitiva da amostra, está na faixa inferior da
Figura 4, com 7% da população em idade para trabalhar. A Figura 5 à frente mostra esta condição,
e a posição do Brasil.
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Figura 4: Atividade empreendedora prematura por economia (% do total da
população)
Fonte: World Economic Forum (2015a)
Quando cada uma das três bandas de competitividade é vista como um todo, este padrão geral da
atividade empreendedora é claramente revelado, com países altamente competitivos como um
grupo vendo 6% de sua população em idade para trabalhar engajada em atividade empreendedora
prematura, comparada com 11% para moderadamente competitiva, e 16% para economias pouco
competitivas (Figura 6).
Os resultados do estudo encontraram que não há países com economias que exibam altos níveis de
competitividade e altos níveis de atividade empreendedora prematura. E, contrário, seis países
com alta competitividade caem no mais baixo quartil de atividade empreendedora prematura, e
cinco países com baixa competitividade caem no mais alto quartil de atividade empreendedora
prematura.
Daí que o estudo sugere que à medida que a competitividade em uma economia aumenta, menores
proporções da população em idade de trabalhar começam empresas empreendedoras. Logo, várias
hipóteses existem para explicar esta estatística. O estudo aponta três hipóteses. Primeiro, em
economias altamente competitivas há um número maior de oportunidades de emprego atrativas
existentes do que em economias menos competitivas, as quais elevam os custos de oportunidade de
começar um negócio nestas economias altamente competitivas. Segundo, o mais alto nível de
habilidades requerido para começar um negócio que pode competir em um ambiente de mercado
altamente competitivo levanta a barreira à entrada para novos empreendedores em economias
altamente competitivas. Terceiro, as diferenças entre atividades prematuras entre as economias da
América Latina e da Europa no mesmo grupo moderadamente competitivo apontam para a
hipótese de que fatores culturais envolvendo maior aversão ao risco desempenha um papel em
reduzir as motivações empreendedoras.
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Figura 5: Distribuição da atividade empreendedora prematura (% da população) por
competitividade (score)
Fonte: World Economic Forum (2015a)
3.1.1.2- Atividade Empreendedora de Empregados (AEE)
O estudo do FEM aqui tratado sugere que, apesar das baixas taxas de atividade empreendedora
prematura nos países altamente competitivos, o entrepreneurial drive, ou, traduzindo, a verve
empreendedora, não é baixa nestas economias mais competitivas, mas sim, torna-se mais
formalizada, com altas de “entrepreneurial employee activity” – EEA (ou, atividade
empreendedora de empregados – AEE).
De fato, a AEE, conhecida também como intrapreneurship (ou intra-empreendedorismo), é mais
predominante nas economias mais competitivas. A Figura 7 à frente plota a atividade
empreendedora prematura e a AEE como percentagem da população em idade de trabalhar e o
nível de competitividade. O gráfico mostra claramente um padrão que enquanto menores
percentagens da população em idade para trabalhar começam negócios em economias
competitivas, maiores percentagens destas mesmas populações em idade para trabalhar se tornam
empregados empreendedores.
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Figura 6: Taxa média de atividade empreendedora prematura (% da população) por
competitividade (nível)
Fonte: World Economic Forum (2015a)
Figura 7: Taxa de atividade empreendedora de empregados e a atividade empreendedora
prematura por competitividade
Fonte: World Economic Forum (2015a)
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3.1.1.3- Empreendedorismo Ambicioso
Empreendedores ambiciosos não estão contentes com empregos próprios. Eles necessitam criar
uma organização significativa para perseguir e preencher suas metas. Empreendedorismo é
inerentemente uma atividade de risco, a qual é capturada na estatística de que uma grande
percentagem de negócios start-up fracassa, ou simplesmente não atinge os alvos esperados de
crescimento. Ambição é importante porque, sem ambição, empreendedores são menos prováveis
de atingir crescimento. Países com grandes números de empreendedores ambiciosos são mais
prováveis de criar mais empregos quando as expectativas destes tipos de empreendedores se
materializam.
O relatório do FEM constata que a maioria dos empreendedores prematuros não tem alto
crescimento de ambições. Em mais da metade dos países da amostra (56%), menos de 10% dos
empreendedores prematuros são ambiciosos. O Brasil se posiciona próximo da parte inferior do
ranking da amostra de países por empreendedores ambiciosos, como pode ser visto na Figura 8 à
frente.
Figura 8: Proporção dos empreendedores prematuros que são ambiciosos, por país (% de
empreendedores)
Fonte: World Economic Forum (2015a)
3.1.1.4- Competitividade e Ambição
De forma geral, quanto mais competitiva é uma economia, maior a proporção de empreendedores
prematuros ambiciosos entre os empreendedores prematuros, apesar d correlação ser fraca, no
valor de 0.30, onde 1.0 é perfeitamente correlacionado. Tal como a atividade empreendedora em
geral, a correlação entre competitividade e o percentual de atividade empreendedora que é
ambicioso é também fraca para sugerir uma relação causal em ambas direções.
Apesar disto, o relatório do FEM mostra que, em resumo, ao contrário da atividade empreendedora
prematura em geral, maiores proporções de empreendedores prematuros ambiciosos são
encontradas em economias mais competitivas. A Figura 9 à frente mostra que à medida que os
países sobem nos scores de competitividade, a proporção média de empreendedores ambiciosos
por grupo de competitividade cresce, de abaixo de 5% dos empreendedores prematuros para o
menor grupo de competitividade, para aproximadamente 10% para os países moderadamente
competitivos, e 11% para os países altamente competitivos.
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Figura 9: Proporção média dos empreendedores prematuros que são ambiciosos (% dos
empreendedores) por competitividade (nível)
Fonte: World Economic Forum (2015a)
3.1.1.5- Empreendedorismo Inovador
Inovação é tanto um promotor crítico quanto um resultado chave da competitividade. Uma
atividade empreendedora prematura inovadora é um dos meios pelos quais inovação significativa
ocorre. No entanto, tal como a taxa de empreendedorismo em geral, com a atividade
empreendedora prematura ambiciosa, a taxa de empreendedorismo inovador varia
significativamente nas economias analisadas no estudo do FEM, indo de quase nenhuma atividade
empreendedora inovadora no Brasil (afirmação textual do relatório sobre o Brasil) até atividade
inovadora contando com mais de 50% da atividade empreendedora prematura no Chile, como se
pode ser na Figura 10 à frente.
Empreendedores prematuros inovadores são mais prevalentes que aqueles ambiciosos, mas
permanecem uma minoria em todas as economias menos uma. Em dois-terços dos países da
amostra do estudo, menos que 30% dos empreendedores prematuros são inovadores. Três países –
Chile com uma taxa superior a 50%, Dinamarca e África do Sul – têm taxas de empreendedor
inovador acima de 40% do total dos empreendedores prematuros. Completando os top cinco estão
Colômbia e França.
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Figura 10: Proporção de empreendedores prematuros que são inovadores por economia (%
dos empreendedores prematuros)
Fonte: World Economic Forum (2015a)
No final do ranking, está o Brasil, com empreendedorismo inovador perfazendo somente 6% do
total da atividade de empreendedores prematuros (ver novamente a Figura 8), precedido por
Trinidad e Tobago, Uganda, Malásia e Jamaica, todos os quais têm proporções inferiores a 15% do
total da atividade empreendedora prematura. Para colocar estas proporções em contexto, a
proporção de empreendedores prematuros inovadores mediana e média na amostra são ambas
acima de 26%. Curiosamente, Europa, América Latina e África compreendem economias ao
longo de todo o espectro de taxas de inovação, enquanto todas as economias asiáticas na amostra
estão na metade inferior por esta métrica (ver Figura 11 à frente).
Figura 11: Distribuição geográfica dos empreendedores prematuros inovadores
Fonte: World Economic Forum (2015a)
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3.1.1.5- Competitividade e Empreendedorismo Inovador
A relação entre empreendedores prematuros inovadores e competitividade é fraca em toda a
amostra (ver Figura 12 à frente). Isto reflete a natureza a definição de inovação neste relatório:
enquanto Colômbia, Israel e Estados Unidos têm aproximadamente as mesmas proporções de
empreendedores prematuros inovadores, aquelas economias têm níveis diferentes de
competitividade. E apesar de todos empreendedores prematuros inovadores introduzirem novos
produtos e serviços em seus respectivos mercados, somente poucos irão introduzir produtos ou
serviços que são novos para o mundo. É provável que empreendedores novos para o mundo sejam
mais prevalentes em economias mais competitivas.
Figura 12: Proporção de empreendedores prematuros inovadores (% dos empreendedores
prematuros) por competitividade (score)
Fonte: World Economic Forum (2015a)
Esta hipótese é suportada pelo fato de que uma forte correlação é encontrada ao se combinar
empreendedores prematuros inovadores com empregados empreendedores inovadores (ver Figura
13 à frente). À medida que as se tornam mais competitivas, as condições para inovação através da
economia se tornam mais positivas: há mais indivíduos educados, um mais rico fluxo de
informação sobre oportunidades e recursos e mais oportunidades para se beneficiar com inovação
sem roubar propriedade intelectual. Logo, mais indivíduos têm oportunidade de ser inovadores
como empregados, sem arriscar seus próprios ativos ou perspectivas de carreira ao abrir um novo
negócio.
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Figura 13: Prevalência relativa de atividade empreendedora prematura inovadora e
atividade empreendedora de empregados (combinadas) em toda atividade empreendedora e
competitividade, mostrando riqueza per capita, para 40 economias, para dados médios entre
2011 e 2012
Fonte: World Economic Forum (2015a)
3.1.1.6- Ambição e Inovação
Muitas, mas não todas, economias com altas proporções de empreendedores que são inovadores
têm também altas proporções de empreendedores que são ambiciosos (ver Figura 14 à frente).
Países tais como Colômbia e Latvia, com altos níveis de atividade empreendedora ambiciosa, têm
também altas taxas de atividade inovadora, enquanto Chile e Dinamarca desempenham bem em
pelo menos uma métrica e acima da média na outra. A Alemanha é um exemplo de um país
altamente competitivo que está no meio em ambas as métricas, enquanto o Brasil (afirmação
textual do relatório) dá suporte à correlação ao desempenhar-se pobremente em ambas métricas.
Esta hipótese é suportada pela Figura 15, que mostra que empreendedores prematuros ambiciosos
são mais prováveis de afirmar que eles têm produtos e serviços inovadores. De fato, ao longo de
toda a amostra de 44 países, empreendedores prematuros orientados ao crescimento são, em média,
50% mais prováveis de afirmar que os empreendedores não-ambiciosos que eles têm produtos e
serviços inovadores. A figura mostra ainda que, sem considerar a orientação para o crescimento,
empreendedores em economias factor-driven são menos prováveis de afirmar que eles são
inovadores comparados com aqueles de outras economias.
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Figura 14: Proporção dos empreendedores prematuros inovadores (% dos empreendedores
prematuros) por proporção dos empreendedores ambiciosos (% dos empreendedores
prematuros)
Fonte: World Economic Forum (2015a)
Figura 15: Empreendedores prematuros ambiciosos que também são inovadores (% dos
empreendedores prematuros) por nível de desenvolvimento
Fonte: World Economic Forum (2015a)
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3.1.2- Cinco Clusters de Economias Empreendedoras
Nas seções anteriores foram descritos como o Brasil se posiciona em termos da sua atividade
empreendedora prematura, da atividade empreendedora prematura ambiciosa e da atividade
empreendedora prematura inovadora, e como a competitividade está correlacionada com cada uma
destas variáveis.
Para aprofundar o entendimento de como empreendedorismo, ambição e inovação interagem, e,
por seu turno, relacionam-se com competitividade, o estudo do FEM inclui uma análise de cluster
para apontar as economias dos países da amostra selecionada em cinco clusters de economias
similares.
O mapa mostrado na Figura 16 à frente apresenta a distribuição geográfica dos cinco clusters, os
quais são denominados no estudo como sendo:
1- All-rounder economies (economias versáteis) com altas taxas de empreendedores prematuros,
ambiciosos e inovadores;
2- High-Activity economies (economias de alta atividade) com altas taxas de atividade
empreendedora prematura, e com ambição e inovação média ou baixa;
3- High-Ambition economies (economias de alta ambição) com taxas de atividade prematura e
inovação médias ou baixas, mas com alta ambição;
4- High-Innovation economies (economias de alta inovação) com atividade prematura e ambição
médias ou baixas, e alta inovação; e,
5- Neutral economies (economias neutras) com taxas nas três métricas médias ou baixas.
Percebe-se na Figura 16 que enquanto que o padrão verificado no mapa não é geograficamente
conclusivo, nenhuma das economias versáteis ou das de alta atividade são encontradas na Europa,
enquanto nenhuma das economias neutras é encontrada nas Américas.
O Brasil está posicionado no cluster de economias de alta atividade. Este cluster de economias é
distinto dos outros por ter altas taxas de atividade empreendedora prematura, mas tem taxas médias
ou baixas de empreendedores ambiciosos e inovadores entre os empreendedores prematuros. Os
outros 10 países ao lado do Brasil neste cluster são: Argentina, Equador, Guatemala, Jamaica,
México, Panamá, Peru, Trinidad e Tobago, Uganda e Uruguai. Geograficamente este cluster é
mais que representado por países Latino-americanos e do Caribe. Com respeito ao nível de
desenvolvimento, há uma economia factor-driven (Uganda) e uma innovation-driven (Trinidad e
Tobago); as sete remanescentes são economias efficiency-driven.
3.1.2.1- Entendendo os clusters
Para melhor entender os clusters, o estudo compara os clusters em termos de um leque de
indicadores representando as condições de empreendedorismo, enfoques empreendedores e
competitividade. Sendo assim, a atividade empreendedora depende de indivíduos que percebem
oportunidades de negócios e têm a capacidade e o desejo de persegui-las. Para os seus negócios
funcionarem, estes indivíduos, por seu turno, apoiam-se em uma variedade de interessados em
torno deles que encorajam empreendedorismo, incluindo investidores, consumidores,
fornecedores, empregados, conselheiros, e mesmo famílias e amigos.
As pré-condições para tal são as condições gerais e, um ambiente econômico, social e político que
gerem e deem suporte aos empreendedores. A relação entre estas pré-condições e os
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empreendedores não é de uma via; a atividade empreendedora pode influenciar também como a
sociedade, as economias, e os sistemas políticos operam. Abaixo segue uma lista breve de pré-
condições que diferem ao longo dos cinco clusters:
● Conexões com empreendedores;
● Conscientização de oportunidades;
● Habilidades empreendedoras, e,
● Desejo de correr riscos.
Ao observar as ações dos empreendedores, o estudo tira conclusões sobre as capacidades e limites
que eles enfrentam quando começam um negócio e as estratégias que eles empregam, as quais, por
sua vez, oferecem discernimentos comportamentais na dinâmica das economias empreendedoras.
As estratégias de negócios empreendedores variam muito por cluster e podem explicar algumas
das atividades empreendedoras (ver Figura 17 à frente). Poucos empreendedores nas economias
de alta atividade e nas economias versáteis são orientados internacionalmente quando comparados
com seus pares em economias em outros clusters. Contrariamente, empreendedores em economias
de alta ambição e alta inovação são mais prováveis de serem orientados internacionalmente.
Enquanto empreendedores ambiciosos e inovadores são por sua natureza mais prováveis de buscar
mercados internacionais mais que seus pares menos ambiciosos ou inovadores, outros fatores
influenciam suas tendências de tomar como alvo mercados fora de suas fronteiras nacionais. Por
exemplo, empreendedores em países pequenos podem buscar oportunidades no estrangeiro porque
suas habilidades de construir economias de escala para seus bens e serviços são limitadas pelos
pequenos mercados domésticos. Também, aqueles empreendedores operando em ambientes
altamente competitivos podem buscar mercados menos servidos em outros países. Em adição,
culturas comuns, tais como políticas de livre comércio, podem promover negócios empreendedores
além das fronteiras.
Com respeito ao uso de nova tecnologia por empreendedores, as economias versáteis apresentam a
mais alta proporção de empreendedores usando novas tecnologias, as economias de alta atividade
têm a menor proporção, e os clusters remanescentes estão basicamente na média da amostra total
dos 44 países estudados. O estudo ainda aponta o desempenho dos clusters por composição da
atividade industrial, destacando os serviços ao consumidor como o mais popular.
Finalmente, o estudo aponta como a competitividade impacta nas três métricas empreendedoras em
diferentes maneiras. O Brasil está posicionado pelo estudo nas economias de moderada
competitividade (ele é um dos cinco países indicados na coluna de moderados na Figura 18 à
frente).
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Figura 16: Distribuição geográfica dos clusters
Fonte: World Economic Forum (2015a)
Figura 17: Desempenho de clusters normalizados pela média da amostra geral
Fonte: World Economic Forum (2015a)
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Figura 18: Contagem de economias por cluster por nível de competitividade
Fonte: World Economic Forum (2015a)
3.1.3- Conclusões e Implicações para Políticas
A análise do relatório FEM aqui tratado produziu um número de discernimentos de alto nível:
1- O Empreendedorismo não é uni dimensional e inclui três componentes: i) começar e conduzir
seu próprio negócio; ii) as expectativas de crescimento dos empreendedores, ou ambições; e, iii)
que inovações os empreendedores introduzem;
2- O nível de competitividade da economia afeta cada uma daquelas dimensões de formas
distintas;
3- Pré-condições empreendedoras e estratégias de negócios se combinam com competitividade
para afetar o que o empreendedorismo pode fazer em uma economia;
4- Estágios de desenvolvimento têm significativo impacto num ecossistema empreendedor de uma
economia;
5- Características empreendedoras importam;
6- Ambição, Inovação e Internacionalização tendem a estar associados uns com os outros.
Neste sentido, a política de empreendedorismo deve se adequar ao contexto de uma economia e
deve reconhecer as nuances particulares de cada economia. As implicações para fazedores de
políticas e governos, apontadas no estudo, são as seguintes:
7- Fazedores de políticas devem especificar objetivos para políticas de empreendedorismo;
8- Fazedores de políticas necessitam situar a política no contexto do tipo empreendedor de suas
economias;
9- Fazedores de políticas devem entender quais niveladores afetam quais dimensões do
empreendedorismo.
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3.2- Estado da Arte das Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs no Brasil
Para que se perceba com maior propriedade o estado da arte do desenvolvimento do setor de
tecnologias de informação e comunicação – TICs no Brasil, basta que se evidencie o que aqui se
denomina de “paradoxo deste setor” no país. De acordo com dados de três das principais
entidades representativas deste setor (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da
Informação e Comunicação- BRASSCOM, Associação Brasileira das Empresas de Software –
ABES, e Federação das Associações das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação –
ASSESPRO), o Brasil é o 5º maior mercado de TICs do mundo.
No entanto, este setor está na 69ª posição mundial (dentre 144 países pesquisados) em termos de
preparo, uso e impacto na economia e sociedade, segundo o Network Readiness Index- NRI (Índice
de Preparo em Rede – IPR) do Fórum Econômico Mundial em seu The Global Information
Technology Report – GITR 2014 (Relatório Global da Tecnologia da Informação 2014). Neste
sentido, como a 7ª economia do mundo (segundo dados de Produto Interno Bruto - PIB do Fundo
Monetário Internacional - FMI e do Banco Mundial - BIRD) pode ter, ao mesmo tempo, um setor
de TICs tão ‘expressivo’ e tão ‘pouco relevante’?
Para responder esta pergunta, basta que se observe a lógica construtiva do IPR. Segundo o GITR,
apesar da disponibilidade de dados ser escassa, o interesse das políticas em medir as TICs tem
mudado de ‘medir o acesso às TICs’ para ‘medir o impacto das TICs’. Seus autores propõem um
‘framework’ (arcabouço) (ver diagrama da Figura 19 à frente), que é baseado em cinco princípios:
1- Medir os impactos econômicos e sociais das TICs é crucial;
2- Um ambiente possibilitador determina a capacidade de uma economia e de uma sociedade
beneficiarem do uso das TICs;
3- O preparo das TICs e o seu uso permanecem como motores-chave e como pré-condições para
obter quaisquer impactos;
4- Todos os fatores interagem e co-evolvem no seio de um ecossistema de TICs;
5- O ‘framework’ (do diagrama ou outro semelhante) deve prover orientações claras de políticas, e
deve identificar oportunidades para colaboração público-privada.
Estes princípios são incorporados no arcabouço a partir de duas dimensões que estruturam o IPR:
os motores do preparo em rede e os seus impactos. Na primeira dimensão (denominada de
ambiente) são subdivididos os vetores que conformam o preparo (readiness), tais como a
infraestrutura do país, a capacidade de pagamento dos usuários das TICs, e as habilidades da
população, e os vetores que definem o uso (usage), a partir dos indivíduos, dos negócios e do
governo. Na segunda dimensão são aferidos os impactos econômico e social das TICs.
Em termos gerais, a partir do GITR 2014 o Brasil está posicionado na 69ª colocação deste ranking
mundial, tendo caído nove posições em relação ao GITR de 2013 (a Tabela 3 à frente mostra a
posição do Brasil e dos dez primeiros lugares no IPR). A pergunta que emerge a partir desta
condição é a seguinte: quais foram os principais determinantes desta posição do Brasil neste
ranking?
Para examinar esta questão, faz-se necessário observar como o IPR é estruturado no GITR. Sendo
assim, é possível observar que o IPR é formado por quatro sub-índices (ambiente, preparo, uso e
impacto) e dez pilares (ambientes político e regulatório, ambientes de negócio e de inovação,
infraestrutura e conteúdo digital, capacidade de pagamento, habilidades, usos - individual, nos
negócios e no governo, e impactos econômico e social), como é apontado na Figura 20 à frente.
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Figura 19: O Arcabouço do Índice de Preparo em Rede
Fonte: World Economic Forum (2014). “The Global Information Technology Report – GITR”.
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Figura 20: Sub-índices do IPR e seus pilares
Quando observamos o sub-índice Ambiente e seus respectivos pilares (ver Tabela 4 à frente),
percebemos que este é o principal determinante do baixo posicionamento do Brasil no IPR (situado
na 116ª colocação neste ítem), já que o país está na 135ª posição (dentre 144 países) em termos dos
seus ambientes de negócios e de inovação, e na 78ª posição em termos dos ambientes político e
regulatório.
No que diz respeito ao sub-índice Preparo e seus pilares (ver Tabela 5 à frente), o Brasil se
encontra na 76ª posição, estando na 56ª posição em infraestrutura e conteúdo digital, 91ª em
termos de capacidade de pagamento, e 91ª em termos de habilidades.
No que concerne ao sub-índice Uso e seus pilares (ver Tabela 6 à frente), o Brasil está na 47ª
posição (indicação uma posição relativamente boa no cenário mundial), estando na 59ª posição em
termos de uso individual, 41ª posição em uso nos negócios, e 54ª posição em uso no governo.
Finalmente, em termos do sub-índice de Impacto e seus pilares (ver Tabela 7 à frente), o Brasil
está na 57ª posição, estando na 64ª posição no seu impacto econômico, e na 58ª posição no seu
impacto social.
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4- O Ecossistema de Tecnologias de Informação e Comunicação- TICs de Pernambuco:
Passado, Presente e Futuro
4.1- Arquitetura
Para dar conta do que se constitui o aqui chamado “Ecossistema de TICs de Pernambuco”, este
trabalho se vale do modelo desenvolvido pela própria consultora, modelo este que é a essência do
livro “Effects of IT on Enterprise Architecture, Governance and Growth” (Efeitos da TI na
Arquitetura, Governança e Crescimento da Empresa), publicado em outubro de 2014 pela IGI-
Global, nos Estados Unidos. O modelo foi primordialmente desenvolvido para caracterizar a
estrutura e a dinâmica da empresa: como ela emerge, como ela se estrutura e se organiza, como ela
opera e se “governa”, e como ela cresce e prospera. No entanto, o modelo é aplicável também para
a caracterização da estrutura e da dinâmica tanto de organizações, quanto de instituições,
plataformas ou ecossistemas, como o aqui tratado.
A tese principal do modelo é a de que as caraterísticas arquiteturais observáveis da empresa
(organização, ecossistema, ou outro qualquer) determinam as questões de governança da empresa,
e a agenda da governança da empresa determina suas condições mensuráveis de crescimento
(Cavalcanti, 2014). Neste sentido, este trabalho apresenta as principais características do
ecossistema de TICs de Pernambuco, em termos do seu passado, presente e futuro, a partir de suas
dimensões de arquitetura, governança e crescimento.
Para que seja possível apresentar as principais características arquiteturais deste ecossistema, um
breve histórico de sua evolução é mostrado no item a seguir.
4.1.1- Breve Histórico
A Primeira Fase do “Ecossistema de TICs” de Pernambuco: das necessidades governamentais
ao pioneirismo empreendedor
As atividades de alguma forma relacionadas ao que hoje se entende como a concepção,
desenvolvimento e comercialização de produtos e serviços de tecnologias de informação e
comunicação-TICs em Pernambuco, e Recife em particular, remontam os anos 30 do século XX.
Como registrado no livro “História da Informática de Pernambuco”, publicado em 1996, pelo
jornalista Manoel Barbosa, o berço do processamento de dados em Pernambuco foi a Secretaria de
Finanças da Prefeitura do Recife. E o objeto da atividade foi o processamento eletromecânico dos
dados do Imposto Predial e Territorial Urbano-IPTU e da folha de pagamentos do município, que
se iniciaram em 1936.
Tal processamento era realizado por um dispositivo eletromecânico concebido pelo norte-
americano Herman Hollerith, que consistia de perfuradora de cartões, tabuladora e separadora. O
conjunto era conhecido como Hollerith, e por muito tempo foi sinônimo de contracheque, por
prestar basicamente serviços de confecção de folhas de pagamento.
Após 15 anos, o processamento de dados em Pernambuco deu outro salto. A Prefeitura do Recife
assinou contrato com a empresa International Business Machines Corporation- IBM (que havia
absorvido a Serviços Hollerith Ltda.) para ampliação do equipamento Hollerith e suas atividades.
Mas foi somente em 1963 que, de forma substantiva, iniciou-se o efetivo contato dos
pernambucanos com o computador. Naquele ano a Prefeitura do Recife produziu o primeiro Curso
de Programação de Computador orientado pela IBM, capacitando os primeiros técnicos para
trabalharem no primeiro computador do Recife, um IBM 1401, com mil posições de memória
(Barbosa, 1996).
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Em 1965, o Serviço Federal de Processamento de Dados- SERPRO passou a funcionar no Recife
(também utilizando um IBM 1401 como equipamento inicial), inicialmente na sede da Receita
Federal, no Bairro do Recife (onde se situa o Porto Digital). Em 1969 o SERPRO se mudou para
um dos pontos centrais do Recife (na Praça do Entroncamento, próxima à Av. Agamenon
Magalhães), onde funcionou a Empresa Municipal de Processamento Eletrônico da Prefeitura do
Recife- EMPREL (criada em 1969, e hoje denominada Empresa Municipal de Informática, e uma
das únicas empresas municipais de informática das regiões norte e nordeste do país), que hoje está
situada no Bairro do Bongi, na zona oeste do Recife. O SERPRO só veio a se instalar em sua atual
sede (na Av. Rui Barbosa) em 1974.
A difusão do uso dos computadores IBM fez com que esta empresa inaugurasse um escritório no
Recife também na década de 60. Em 1965 a IBM instalou na sede do Banco Nacional do Norte-
BANORTE (braço financeiro do Grupo Batista da Silva, com origem na agro-indústria canavieira
e na indústria têxtil pernambucanas) o primeiro computador para um cliente privado do Norte e
Nordeste (Barbosa, 1996).
O BANORTE foi o primeiro grupo privado do Nordeste- e um dos primeiros do Brasil- a investir
em alta escala em tecnologia de informação, antecipando-se, nesta dimensão, ao Governo do
Estado e Prefeitura do Recife, que só vieram a dar provas de seus compromissos com a área em
1969, com a criação, respectivamente das empresas Centro de Prestação de Serviços Técnicos de
Pernambuco- CETEPE (que em 1987 passaria a ser a Empresa de Fomento da Informática do
Estado de Pernambuco, e em 2004 se transformaria em Agência Estadual de Tecnologia da
Informação- ATI, com sede em unidade contígua à Estação Ferroviária Central do Recife) e a
EMPREL (já referida).
Em paralelo a este núcleo emergente governamental e comercial da Primeira Fase do
“Ecossistema de TICs” em Pernambuco, surgiam na Universidade Federal de Pernambuco- UFPE
os primeiros grupos de pesquisa que viriam a constituir, anos depois, o embrião da comunidade
acadêmica da informática pernambucana. Eram pesquisadores que já difundiam o uso do cálculo
automático num dos cursos do Instituto de Matemática da UFPE.
No início dos anos 70, a UFPE exerceu um papel chave na amplificação do que hoje se pode
denominar o “Ecossistema das TICs” em Pernambuco. O Instituto de Matemática funcionava
naquele período, como uma espécie de encruzilhada, uma estação central de tendências e
potenciais, um caldeirão, fervente, de ideias (Barbosa, 1996). O Instituto já criara em 1967 um
Centro de Computação Eletrônica, que se tornaria um órgão independente na estrutura
universitária, em 1971, com a denominação Centro de Processamento de Dados, e em 1974 passou
a ser o Núcleo de Processamento de Dados- NPD até o ano de 2000, quando se transformou em
Núcleo de Tecnologia da Informação- NTI da UFPE.
Ainda no início dos anos 70, o Instituto de Matemática da UFPE foi dividido em dois
departamentos distintos: o Departamento de Matemática e o Departamento de Estatística e
Informática. Em 1972, o Departamento de Estatística e Informática iniciou seu desmembramento,
para dar origem a dois departamentos: o Departamento de Estatística e o Departamento de
Informática -DI, este último iniciando suas atividades com apenas quatro professores. A
efetivação desta separação só veio a se constituir uma realidade em 1981, de acordo com
informações obtidas no próprio DI. Em 1975 era implantado na UFPE o seu Curso de Graduação
em Ciência da Computação, que só veio a ser reconhecido em 1979.
Como apropriadamente apontado em Barbosa (1996), a informática de Pernambuco difundiu-se
com rapidez como ferramenta nos anos 70. O parque instalado de máquinas crescia. Em 1972, um
grupo de técnicos fundou a PROCENGE, hoje a mais antiga empresa de informática em atividade
no Estado. Em 1975 a Companhia Hidroelétrica do São Francisco- CHESF inaugurou o seu
Centro de Processamento de Dados. No mesmo ano o empresário Adson de Carvalho fundou a
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empresa IT, que posteriormente se tornou uma das grandes empresas de informática do Estado.
Em 1976, outro empresário, Belarmino Alcoforado fundou a PITACO- a primeira grande
produtora de software de Pernambuco, e, no ano seguinte, viria a fundar a Elógica, que mais à
frente, nos anos 90, projetou-se como pioneiro na provisão de acesso à Internet.
A Segunda Fase do “Ecossistema de TICs” de Pernambuco: a oferta de capital humano
especializado (o Departamento de Informática- DI, o Centro de Estudos e Sistemas
Avançados do Recife-CESAR e o Centro de Informática- CIn da UFPE)
Apesar da criação do Departamento de Informática ter se estabelecido no final da década de 70 e
início da década de 80 (marcadamente em 1981), o verdadeiro amplificador do que viria a
acontecer anos à frente (com o aumento da influência deste departamento no domínio econômico
da realidade pernambucana), foi a decisão de criar programas de pós-graduação de qualidade
nacional e internacional. Sendo assim, em 1975 se iniciara o Curso de Mestrado em Ciência da
Computação, e em 1992 foi iniciado o Programa de Doutorado na mesma área.
Estes programas foram fundamentais na definição do que aqui se pode denominar a transição para
a Segunda Fase do “Ecossistema de TICs” de Pernambuco. Como a Primeira Fase se caracterizou
pelo uso e disseminação de tecnologias desenvolvidas no mercado externo, sendo estas baseadas
em desenvolvimentos científicos (e capital humano qualificado) das principais matrizes da
economia mundial, a Segunda Fase começou a se estruturar a partir do reconhecimento (por parte
de alguns de seus líderes, principalmente acadêmicos ligados à UFPE) de que tanto uma base
científica de competência internacional (apoiada em Mestres e Doutores formados no País, e no
Estado), quanto um segmento de mercado interno poderiam ser encontrados a partir daqui, com
centros de excelência próprios (como o DI estava se tornando) e com empresas de base tecnológica
locais.
Durante os anos 80, que coincidiu com uma etapa de baixo desenvolvimento econômico e alta
inflação (que ficou conhecida na história como “a década perdida”), o setor de informática
brasileiro conviveu com um período da chamada “reserva de mercado”, quando as autoridades
públicas nacionais optaram por fechar o mercado brasileiro à indústria mundial do setor de TIC.
E foi durante esta década onde se verificou a transição de fases acima apontada.
De um departamento pequeno, com apenas três professores PhDs em 1981, o DI passou a se
constituir num dos mais dinâmicos departamentos de informática do país, formando toda uma nova
geração de profissionais altamente qualificados que passaram a desenvolver uma nova cultura na
indústria de TIC local.
Durante a década de 90 pelo menos três fatores contribuíram para o que aqui se poderia denominar
de avanço recente do “Ecossistema de TICs” de Pernambuco, os quais foram fundamentais para a
emergência do Parque Tecnológico do Porto Digital, no ano 2000. Em primeiro lugar, o país
passou a conviver com uma abertura e liberalização econômicas, onde medidas tais como reservas
de mercado (como acontecia com a informática) perderam apelo em termos de política pública.
Em segundo lugar, a área de informática passou a contar com uma atenção diferenciada das
autoridades federais, tendo como premissa a questão da maior integração aos mercados
internacionais. No âmbito da Secretaria de Política de Informática Automação- SEPIN, do
Ministério da Ciência e Tecnologia- MCT, três novos programas institucionais surgiram ao lado da
Nova Lei de Informática (a Lei 8248/91, de 1991, que dava incentivos fiscais às empresas que
investissem na Pesquisa e Desenvolvimento- P&D da TIC nacional), e ganharam visibilidade no
território nacional como indutores de uma nova etapa da informática brasileira: a Rede Nacional de
Pesquisa- RNP (embrião do que viria a ser a partir de 1995 a Internet no Brasil), o Programa
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Brasileiro de Software para Exportação - SOFTEX 2000, e o Programa Temático Multi-
Institucional em Ciência da Computação- PROTEM-CC.
Em Pernambuco, a RNP instalou seu Ponto-de-Presença (POP) no Instituto Tecnológico de
Pernambuco- ITEP em 1990. O Programa SOFTEX 2000 foi instalado oficialmente no Recife em
1993, num espaço alugado à IBM (em seu antigo prédio situado na Av. Agamenon Magalhães),
mas logo depois passou a receber apoio da EMPREL e de entidades representativas do setor, tais
como a Sociedade de Usuários de Informática e Telecomunicações de Pernambuco- SUCESU-PE
(criada em 1965) e a Associação das Empresas Brasileiras de Software e Serviços de Informática-
ASSEXPRO (criada em 1979). E o PROTEM-CC, adotado pela comunidade acadêmica da
computação nacional, passou a operar a partir de 1993, com uma forte vinculação à UFPE, a partir
do DI.
O terceiro fator foi a criação, em 1996, do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife-
CESAR, ligado ao DI da UFPE, e mais à frente, em 1999, o Centro de Informática- CIn da UFPE.
O CESAR surgiu como uma resposta do DI ao desafio de se criar uma intervenção no domínio
econômico local para geração de novas oportunidades para “o desenvolvimento de software de
Pernambuco para o Mundo”. Como uma empresa sem fins lucrativos, vinculada ao DI-UFPE, a
principal missão do CESAR era (e ainda é) realizar a transferência auto-sustentada de
conhecimento em tecnologias da informação entre a sociedade e a universidade.
O DI, o CESAR e o CIn foram fundamentais tanto para a criação de um novo ambiente de
desenvolvimento de novas TICs a partir de Pernambuco, quanto para a atração de um novo perfil
de empresas multinacionais deste setor à busca de uma competência diferenciada neste segmento
econômico. Facilitada pela existência da nova Lei de Informática, empresas tais como a Motorola,
Sun, Ericsson, Nokia, Samsung, dentre tantas outras, passaram a perceber que em Recife poderiam
encontrar capital humano e P&D necessários aos seus processos produtivos e cadeias de valor.
Ao lado de instituições como o CESAR e o CIn, desde a década de 80 foram se desenvolvendo em
Pernambuco vários novos cursos relacionados às tecnologias da informação e comunicação (tanto
universitários quanto técnicos), tais como o curso em Ciência da Computação da Universidade
Católica de Pernambuco- UNICAP (em 1986), e seu curso de Sistema de Informação (de 2005),
além daqueles da Universidade de Pernambuco- UPE, e de mais dezenas de instituições sediadas
na Região Metropolitana do Recife que vêm contribuindo para a formação de capital humano do
ecossistema de TICs do Estado.
A Terceira Fase do “Ecossistema de TICs” de Pernambuco: Governo Estadual assume papel
estratégico das TICs (a emergência do Porto Digital e da Institucionalização da Política
Pública de Informática)
A terceira fase do “Ecossistema de TICs” de Pernambuco pode ser caracterizada pela emergência
do parque tecnológico denominado Porto Digital, bem como pela estruturação da primeira política
pública institucionalizada para este segmento econômico no Estado.
Em julho do ano de 2000 foi lançado o Projeto Porto Digital. Este projeto foi uma iniciativa da
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado de Pernambuco- SECTMA ao
cumprir uma Política Estadual de Ciência e Tecnologia que foi idealizada e implementada entre os
anos de 1999 a 2006.
O Governo do Estado de Pernambuco à época investiu na visão de que Recife, em função da sua
vocação para formação de capital humano e por sua base empresarial dinâmica, tinha o potencial
para ser o principal polo de atração de empresas e investimentos em TICs do Nordeste. Por outro
lado, o Bairro do Recife, na parte mais antiga da cidade, aliava um patrimônio histórico valioso e
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diversificado a uma infraestrutura urbana pensada como adequada à instalação de empresas de
base tecnológica.
Portanto, para garantir a existência dos elementos necessários para a atração de novos negócios
para o Bairro do Recife, o Governo do Estado decidiu incluir na sua política de ciência e
tecnologia uma ação dirigida para a consolidação de um cluster de classe mundial em TICs. Desta
forma, lançou o Projeto Porto Digital, cuja missão era (e ainda é) a “estruturação e gestão
sustentável de um ambiente de negócios capaz de criar e consolidar empreendimentos de classe
mundial em TICs através da interação e cooperação entre universidades, empresas, organizações
não governamentais e governamentais no Estado de Pernambuco” (é fundamental recordar que
esta ação representou um investimento inferior a R$ 30.000.000,00 – trinta milhões de reais).
Durante os anos de 2003 e 2006 foram também criadas as bases jurídico-institucionais que
definiram pela primeira vez no Estado uma política pública voltada para o setor de TICs. Em 02
de janeiro de 2006 foi criado o SEIG - Sistema Estadual de Informática de Governo, através da
Lei 12.985/2006, vinculado à Secretaria de Administração, que estabelece, além de outras
providências, a formulação da política pública da informática de governo e o planejamento, a
coordenação, o controle e a execução das atividades a ela relacionadas, no âmbito da
administração direta e indireta do Poder Executivo. O SEIG desenvolveu como sua estrutura de
funcionamento o Núcleo de Gestão do Governo, o Comitê de Informática, a ATI – Agência
Estadual de Tecnologia da Informação e os Núcleos Setoriais de Informática nos órgãos do
governo.
Como um importante derivado da emergência das duas ações acima descritas, o governo do
Estado, visando suprir as dificuldades de gestão emanadas da descentralização dos serviços de
transmissão de dados, o que culminava entre outras coisas com precificações distintas para cada
Órgão do Poder Executivo, links de baixa velocidade e precário acesso à internet, licitou no ano de
2000 a sua primeira Rede Corporativa de Telecomunicações que, no primeiro momento, focava
apenas na gestão centralizada dos serviços de dados, a qual recebeu o nome de PE-Digital. Essa
contratação, apesar de atingir apenas a rede de dados, já trouxe importantes ganhos ao Estado,
reduzindo os custos praticados à época em cerca de 40%, mostrando a vantagem de se contratar em
escala, e principalmente de se compartilhar a infraestrutura dos serviços de telecomunicações, os
quais são essenciais para uma boa prestação de serviços à sociedade por parte do ente público
(Castro, 2012).
No final de 2005, o governo do Estado licitou uma nova rede de telecomunicações, a qual recebeu
o nome de PE-Multidigital, por incorporar à antiga rede de Dados os serviços de Voz e Imagem,
sendo este último destinado à videoconferência. O objeto dessa nova contratação (uma Rede de
Dados, Voz e Imagem), revolucionou a maneira do Estado de Pernambuco atender ao cidadão,
pois, permitiu à implantação de sistemas que facilitaram uma melhor prestação de serviços à
sociedade, sendo este fato possível, entre outras coisas, pela interligação dos seus prédios públicos
independentemente de onde eles estivessem localizados dentro do Estado (Castro, 2012).
A Quarta Fase do “Ecossistema de TICs” de Pernambuco: à procura de maior espaço em
economias em transformações produtivas (a do Brasil, a do Nordeste e a de Pernambuco)
O intervalo de tempo transcorrido entre os anos de 2007 e 2014, portanto oito anos, foi marcado
por profundas transformações nos domínios econômico, social e político no Brasil, com efeitos
marcantes na região Nordeste do país, e, em Pernambuco em particular. O Brasil experimentou
um ciclo positivo de crescimento iniciado a partir de 2004, quando obteve grandes avanços nos
campos social e econômico, resultado de políticas de períodos anteriores (como a abertura
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comercial, e a estabilização econômica), culminando na ascensão de milhões de pessoas sobre a
linha de pobreza, e a queda da taxa de desemprego para patamares históricos.
No entanto, a crise financeira internacional de 2008 revelou a fragilidade daquele modelo
defendido a partir de 2004. Os avanços recentes estiveram relacionados ao aumento do consumo e
aos gastos do governo, impondo altos custos para a sociedade brasileira - entre eles o aumento da
carga tributária e a manutenção dos investimentos em baixo patamar.
A região Nordeste foi uma das grandes beneficiárias das transformações ocorridas naquele
período. No entanto, apesar daquele ciclo positivo de crescimento, o problema regional continua
a existir no país, pois as diferenças permanecem grandes e a velocidade da convergência (para a
média nacional), onde ela tem existido, ainda é insatisfatória. Segundo o economista Gustavo Maia
Gomes, os ícones da desigualdade ainda permanecem intactos. Em 1960, primeiro ano de atuação
da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), o Nordeste tinha um PIB per
capita igual a 47% do brasileiro; em 2010, a relação entre os dois produtos per capita, do Nordeste
e do Brasil, continuava a mesma: 47% (Maia Gomes, 2013).
Pernambuco, dentro do Nordeste, foi um dos estados que mais se beneficiou do ciclo de
crescimento acima apontado. Após perder pujança econômica relativa nos cenários nacional e
regional (o PIB de Pernambuco representava 4,4% do PIB nacional em 1939; 3,8% em 1949; 3,2%
em 1955; 2,9% em 1970; e permaneceu no intervalo de 2,3% e 2,4% entre os anos de 1995 e
2008), a partir de 2009 o Estado de Pernambuco começou a reconquistar dinâmica econômica e
social, e hoje sua economia deve estar superando a marca dos 2,5% do PIB nacional.
A partir dos anos 2007/08/09 Pernambuco passou a vivenciar um forte ciclo de reindustrialização.
Seu crescimento passou a ser apoiado num núcleo dinâmico de expansão diverso daquele
verificado no passado, onde as novas atividades industriais (refinaria, petroquímica,
automobilística, para citar algumas) baseadas em uso intensivo de capital, passaram a ser a
referência econômica (importante salientar que estas atividades representaram investimentos
bilionários, tanto de natureza pública quanto privada).
Neste meio termo, o “Ecossistema de TICs” do Estado foi praticamente relegado a um plano
menor. Uma vez que “os setores protagonistas da nova era industrial em Pernambuco dialogam
muito pouco com a base industrial prévia existente” (importante afirmação do livro “Pernambuco
Desafiado”, TGI/Ceplan/Multivisão, 2014), e se estabeleceram com baixíssimo vínculo com o
“Ecossistema de TICs” existente, bem como o restante dos segmentos do setor econômico de
serviços historicamente existente.
Sendo assim, esta fase se caracteriza como aquela em que o “Ecossistema de TICs” de
Pernambuco está à procura de um maior espaço nas economias em transformações produtivas,
como a do Brasil, a do Nordeste, e a do próprio Estado. É fundamental qualificar que o fato deste
ecossistema praticamente ter sido relegado a um plano menor no Estado, não significou que suas
empresas, organizações e instituições ficassem estagnadas. Muito ao contrário, as mesmas partiram
para conquistas de oportunidades fora do território pernambucano, e algumas fora do país.
4.1.2- Arquitetura do Ecossistema de TICs e a Arquitetura do seu Mercado
O breve relato acima apontado serve como referência para que seja reconhecido como as principais
características arquiteturais do “Ecossistema de TICs” de Pernambuco foram historicamente
determinadas. Apesar do conceito de arquitetura de Cavalcanti (2014) estar mais relacionado à
arquitetura empresarial (onde são destacados, das empresas, os ativos humanos, financeiros, de
relacionamento, físicos, de informação e de tecnologia, de propriedade intelectual, competências,
estratégias, culturas, princípios, processos e serviços, e como estes ativos se articulam entre si), é
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possível se fazer uma apropriação caricatural da arquitetura do “Ecossistema de TICs” de
Pernambuco a partir da Figura 21, apresentada no documento preliminar denominado “Plano
Estratégico da SOFTEX-Recife”, cujos autores são Cláudio Marinho e Emerson Emerenciano.
Figura 21: Representação estática parcial do Ecossistema de TICs de Pernambuco
Fonte: Marinho e Emerenciano (2015)
A figura recebeu a denominação de representação estática parcial por duas razões. Em primeiro
lugar, ela constitui uma mera representação esquemática de uma realidade (ou seja, é uma “foto”,
usando a metáfora da foto) que tenta modelar o inter-relacionamento dos principais atores que
intervêm na composição do ecossistema. Em segundo lugar, ela ignora um importante ator dos
ecossistemas mundiais, como é a sociedade civil, já que os consumidores/usuários finais, aqueles
que adotam as TICs, hoje exercem papel preponderante no sucesso destes ecossistemas. Por
último, a representação é estática, não configurando a dinâmica do ecossistema (ou seja, o “filme”,
usando a metáfora do filme).
É parcial também no sentido de que oferece uma visão geral mas não destaca os elos micro-
organizacionais. Neste sentido, é importante destacar o que aqui se denomina por “microeconomia
do ecossistema de TICs”, como pode ser visualizado a partir da Figura 22 à frente. Nesta figura é
apresentada uma representação esquemática de como o complexo de Ciência, Tecnologia e
Inovação- C&T&I de uma nação se articula com o complexo educacional formador dos
profissionais de TICs, e como estes complexos se articulam com a indústria de TICs a partir dos
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seus ciclos constitutivos. A Figura 22 pode ser desdobrada em três outras, como são as Figuras 23,
24 e 25.
Figura 22: Microeconomia do Ecossistema de TICs
A Figura 23 dá destaque ao complexo de C&T&I, apontando, para o caso do Brasil, alguns dos
seus principais instrumentos e mecanismos. A Figura 24 ilustra como o complexo da educação
formador dos profissionais de TICs identifica as suas diversas áreas de competência. A Figura 25
dá destaque aos ciclos de estruturação das indústrias de TICs, partindo do ciclo de vida de produtos
e serviços, passando pelo ciclo de vendas, até chegar ao ciclo de negócios de produtos e serviços
de TICs. No Brasil em particular, a trajetória histórica de nossa indústria aponta para muitos
investimentos (e energia) no primeiro ciclo, pouco no segundo, e quase nada no terceiro ciclo.
Uma outra dimensão da arquitetura do “Ecossistema de TICs” é a natureza do seu mercado de
trabalho. Como pode ser visualizado na Figura 26, o mercado de trabalho na indústria de TICs é
estruturado a partir de níveis de habilidades e competências em capital humano, das dimensões da
formação, e dos mercados de trabalho propriamente ditos. Os níveis são três: um primeiro nível
(básico) que é aquele formado por profissionais com habilidades e competências mais técnicas, ou
tecnológicas (como programadores e desenvolvedores, os conhecidos “nerds”); um nível
intermediário se estrutura a partir daqueles profissionais com perfil mais administrativo e
gerencial; e num último nível, no topo da carreira, estariam aqueles profissionais com perfis mais
de liderança ou de perfil empreendedor, que ousam abrir seus próprios negócios. Todos estes
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profissionais adquirem formações caracterizadas por duas dimensões: a dimensão do negócio
(onde são passadas noções de lógica e modelagem) e a dimensão das tecnologias (onde são
tratados os aspectos centrais do desenvolvimento de tecnologias, tais como Java, .Net, iOs,
Android, Tizen ,etc).
Mas é fora dos bancos acadêmicos que o mercado de trabalho se estrutura de fato. E neste podem
ser observados três patamares distintos: um mercado de maior dimensão, constituído por aquelas
empresas, organizações e instituições que são usuárias de TICs (e no caso brasileiro este mercado
pode ser denominado como sendo o mercado NIBSS – Não Indústria Brasileira de Software e
Serviços, nomenclatura da SOFTEX-Nacional); um mercado num patamar intermediário,
composto por empresas, organizações e instituições desenvolvedoras de TICs (no Brasil IBSS -
Indústria Brasileira de Software e Serviços); e num patamar no topo dos mercados estaria o
mercado de profissionais desenvolvedores de TICs que constituem suas empresas (mercado
EMPREENDE).
Figura 23: O Complexo de C&T&I no Brasil
Fonte: Newsletter da Creativante, 07/02/2011: http://bit.ly/1wU4eLU
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Figura 24: O Complexo Formador dos Profissionais de TICs
Fonte: Newsletter da Creativante, 07/02/2011: http://bit.ly/1wU4eLU
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Figura 25: Ciclos da Indústria de TICs
Fonte: Newsletter da Creativante, 07/02/2011: http://bit.ly/1wU4eLU
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Figura 26: Mercado de Trabalho na Indústria de TICs
Vistos alguns dos aspectos da arquitetura do “Ecossistema de TICs”, qual, então, é a Arquitetura
do Mercado em que ele opera? Aqui podem ser apropriados alguns dos aspectos centrais
apontados na Parte 1 deste documento (que dá destaque às questões de empreendedorismo,
competitividade e desenvolvimento ao nível do Brasil), bem como de um conjunto de dados
específicos da competitividade específica de Pernambuco, e das inferências estabelecidas nas
entrevistas realizadas.
Na Parte 1 deste documento se demonstrou que o Brasil é um país caracterizado economicamente
como sendo de competitividade moderada que está em transição de um estágio de
desenvolvimento “efficiency-driven” caminhando em direção ao estágio de desenvolvimento
“innovation-driven”. O país tem altas taxas de empreendedorismo prematuro, no entanto, seu
empreendedorismo é de baixas taxas de ambição e de inovação. Acrescente-se a isso o pouco
dinamismo do chamado intraempreendedorismo (empreendedorismo interno às empresas
consolidadas). Adicionalmente, o país atravessa o que se denominou aqui de “Paradoxo do Setor
de TICs”, uma vez que o mesmo é o 5° maior mercado de TICs do planeta, mas este setor está é
um dos menos relevantes dos pontos de vista econômico e social, acordo com o Fórum Econômico
Mundial.
Do ponto de vista do Estado de Pernambuco, pode-se dizer que o quadro não é alentador. De
acordo com o ranking de ambiente estadual para os negócios construído pela Economist
Intelligence Unit- EIU, da revista britânica The Economist, preparado no Brasil em conjunto com
o Centro de Liderança Pública (think tank voltado para coaching de líderes: ver
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http://www.clp.org.br/). Este ranking foi desenvolvido para permitir um melhor entendimento
comparativo dos ambientes em que os negócios operam nos estados brasileiros.
O ranking da EIU se baseia em oito categorias com seus respectivos indicadores, a saber:
1- Ambiente Político
1.1- Estabilidade Política
1.2- Corrução
1.3- Burocracia
1.4- Condições de Segurança
2- Ambiente Econômico
2.1- Tamanho do Mercado
2.2- Crescimento do Mercado
2.3- Renda Média Per capita
2.4- Disparidade de Renda
3- Regimes Tributário e Regulatório
3.1- Consistência do Sistema Tributário
3.2- Abertura de negócios
4- Políticas voltadas ao Investimento Estrangeiro
4.1- Incentivos para Investir
4.2- Políticas em direção ao Capital Estrangeiro
5- Recursos Humanos
5.1- Disponibilidade de Trabalho Qualificado
5.2- Produtividade do Trabalho
5.3- Universitários
6- Infraestrutura
6.1- Qualidade da Rede de Telefonia
6.2- Qualidade da Rede de Estradas
7- Inovação
7.1- Gasto Público em P&D
7.2- Gasto Privado em P&D
7.3- Presença de Infraestrutura de P&D
7.4- Incentivos Fiscais para P&D
7.5- Patentes requeridas
8- Sustentabilidade
8.1- Plano/Estratégia Ambiental Estadual
8.2- Incentivos Fiscais para Sustentabilidade
8.3- Regulador Ambiental
8.4- Qualidade da Legislação Ambiental
A Figura 27 à frente apresenta um resultado das três edições do ranking que foram detectados para
14 estados brasileiros rankeados. Percebe-se pela figura que Pernambuco caiu da 12ª posição na
primeira edição do índice do EIU para a 14ª posição em 2013/2014. A Figura 28 apresenta as
categorias e indicadores de Pernambuco com seus respectivos scores. Ou seja, uma posição nada
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confortável para um Estado com grandes pretensões. Quando se investiga a posição de
Pernambuco em relação à média nacional- MN pelas categorias do índice, percebe-se as seguintes
posições:
1- Ambiente Político: PE (43.8); MN (40.9)
2- Ambiente Econômico: PE (31.3); MN (42.9)
3- Regimes Tributário e Regulatório: PE (12.5); MN (22.2)
4- Políticas voltadas ao Investimento Estrangeiro: PE (75); MN (59.9)
5- Recursos Humanos: PE (33.3); MN (36.7)
6- Infraestrutura: PE (25); MN (36.6)
7- Inovação: PE (35); MN (34.3)
8- Sustentabilidade: PE (81.3); MN (70.8)
Os números indicam que Pernambuco está abaixo da média nacional em quatro das oito categorias
do índice da EIU, sendo as duas piores aquelas que dizem respeito ao ambiente econômico de
negócios e aos regimes tributário e regulatório. Estes indicadores se adequam perfeitamente aos
problemas detectados a partir dos depoimentos de quase todos os entrevistados pela consultora.
Figura 27: Ranking de 14 Estados Brasileiros
Fonte: Centro de Liderança Pública (2015)
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Figura 28: Ranking de Pernambuco
Fonte: http://veja.abril.com.br/multimidia/infograficos/ranking-de-gestao-dos-estados-brasileiros
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4.2- Governança
A palavra Governança, de acordo com um documento preparado pela Comissão Europeia
(http://ec.europa.eu/governance/docs/doc5_fr.pdf), deriva do verbo grego κυβερνάω [kubernáo],
que significa direcionar, e foi usado pela primeira vez por Platão, e logo depois foi passado para o
Latim, e, em seguida para outras línguas.
Em termos do seu significado, o conceito tem sido considerado como o ato de governar. Ele se
relaciona com decisões que definem expectativas, delegação de poder, ou verificação de
desempenho. Consiste tanto de um processo separado quanto de parte da tomada de decisão ou de
processos de liderança. Em Estados-Nação modernos estes processos e sistemas são tipicamente
administrados por um governo (Cavalcanti, 2014).
No entanto, a governança permanece como um conceito complexo e tem diferentes definições para
diferentes organizações em todo o mundo. Estas diferenças podem estar relacionadas com
diferentes tipos (ou dimensões) de governança que se pode encontrar no cotidiano: governança
global, governança regulatória, governança de projeto, governança de tecnologias de informação,
governança participatória, governança sem fins lucrativos (Cavalcanti, 2014).
A literatura internacional sobre governança de ecossistemas de empresas e organizações, ou a
governança de ecossistemas de produção de produtos e serviços de TICs ainda é rara, mas começa
a despertar a atenção de acadêmicos e profissionais em todo o mundo. Ruokolain (2013a) afirma
que a passagem de modelos de negócios monolíticos voltados para produtos para modelos de
negócios em rede e baseados em serviços tem dado origem à emergência dos chamados
ecossistemas de serviços. Segundo ele, um ecossistema de serviços é um sistema sócio-técnico
complexo que possibilita colaborações baseadas em serviços entre entidades tais como empresas,
instituições ou indivíduos.
Os ecossistemas de serviços podem surgir espontaneamente devido a um interesse em comum ou
demanda, ou como resultado de um planejamento estratégico de longo-prazo. Exemplos de
ecossistemas de serviços incluem ecossistemas de software, redes de negócios eletrônicos,
plataformas de computação em nuvem. A emergência dos ecossistemas de serviços tem sido
liderada especialmente por desenvolvimentos tecnológicos e inovações. Avanços em áreas tais
como computação orientada a serviços e computação na nuvem têm oferecido os alicerces para a
implementação e a operação de ecossistemas de serviços contemporâneos (Ruokolain, 2013a).
Os ecossistemas de serviços contemporâneos estão sendo desafiados em duas frentes. Por um
lado, negócios em rede e modelos de negócios em rede requerem suporte especialmente para
tomada de decisões eficientes, para redes de negócios flexíveis e ágeis, e que demandem
governança. Tais atividades requerem conhecimento explícito sobre as capacidades e outras
características dos ecossistemas de serviços. Por outro lado, as visões da Internet das Coisas e a
Internet dos Serviços necessitam meios para estabelecimento sob demanda de ecossistemas de
serviços de domínio específico eficiente, bem como tanto conectividade e interoperabilidade
combinadas em, e entre, distintos ecossistemas de serviços. Devido à implícita natureza das
arquiteturas dos ecossistemas de serviços contemporâneos, e processos guiados por engenharia, os
ecossistemas de serviços estão correndo riscos de se tornarem novos silos tecnológicos e
conceituais (Ruokolain, 2013a).
Em resumo, os ecossistemas modernos estão demandando estruturas de governança mais
avançadas. O próprio Ruokolain (2013b) aponta para os mais prementes desafios. A atual forma
de fazer negócios crescentemente requer que as empresas (e outras organizações) colaborem umas
com as outras; que as redes de negócios permitam empresas a focar em suas competências-chave e
ainda capturarem fatias de mercado com valor adicionado, com serviços compostos conjuntamente
com parceiros de negócios confiáveis.
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No entanto, as soluções presentes para proporcionar colaborações são baseadas em métodos ad-
hoc, ou requerem integração através de compartilhamento de plataformas de computação e
comunicação. Estas soluções deixam as colaborações com maiores riscos ao não detectarem
falhas, funcionais ou não-funcionais, quebra da confiança ou de estado contratual, ou sem suporte
sistemático para reagir às mudanças no ambiente de negócios (Ruokolain, 2013b).
Ruokolain (2013b) propõe seis princípios para uma governança de ecossistema de serviços, a
saber:
a) Identificar os stakeholders (interessados) e usar forte gestão de identidade para os atores do
ecossistema;
b) Usar colaborativamente ciclos de vida gerenciados e coreografias;
c) Declarar e controlar explicitamente atores de comportamento confiável;
d) Enfrentar a gestão de conhecimento do ecossistema em todas suas operações;
e) Assegurar que as atividades da governança possam estar alinhadas, e analisadas, com respeito
aos princípios e padrões das governanças de TI, Arquitetura Empresarial e Arquitetura Orientada a
Serviços usados em organizações individuais, e;
f) Representar os elementos do ecossistema em um modelo de ecossistema de serviços.
Este é apenas um exemplo (ainda que voltado para o contexto europeu) de como estão surgindo
orientações de modelo para o que hoje se entende como governança de ecossistemas de produtos e
serviços baseados em tecnologia e inovação.
À luz deste quadro de referência, e a partir das entrevistas com diversos atores do “Ecossistema de
TICs” de Pernambuco, é possível afirmar que a ideia de “governança geral” deste ecossistema de
TICs é inexistente. Tendo como ponto de partida a arquitetura deste ecossistema sugerida pela
Figura 21 deste documento, é possível detectar alguns papeis de entidades que contribuem para
“algum tipo de governança”. Sem qualquer hierarquização, pode-se citar a SOFTEX-Recife, com
seu papel de qualificação de algumas empresas e profissionais; a ASSESPRO-PE, com seu papel
de defesa dos interesses empresariais do setor; o SEPROPE, com sua defesa legal de questões
trabalhistas; e o Núcleo de Gestão do Porto Digital, com o papel de defesa dos interesses
relacionados com as questões imobiliárias e de incentivo empresariais do parque tecnológico, bem
como de fomento à iniciativas em segmentos da chamada Economia Criativa.
Em função da visível desarticulação entre os diversos atores deste ecossistema, detectada pela
grande maioria dos depoimentos dos entrevistados pela consultora, fica claro que este é um dos
grandes desafios a serem enfrentados pelo “Ecossistema de TICs” de Pernambuco nesta quarta fase
de sua existência.
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4.3- Crescimento
Há muito pouco do que dizer acerca do crescimento do “Ecossistema de TICs” de Pernambuco. A
principal razão é simples de ser diagnosticada: inexistem estatísticas confiáveis a este respeito.
Uma única oportunidade registrada em todas as fases do seu desenvolvimento histórico foi aquela
proporcionada pela pesquisa “Indicadores de Tecnologia da Informação do Estado de
Pernambuco- ITIC-PE”, idealizada pela FACEPE- Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia
do Estado de Pernambuco e desenvolvida pela Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de
Pernambuco- CONDEPE. Esta pesquisa, iniciada em 2001, proporcionou a identificação da estrutura e da dinâmica dos
vários segmentos econômicos que compunham a indústria de TICs de Pernambuco, chegando até a
definição da participação desta indústria no produto interno bruto- PIB do Estado desde 1999,
como pode ser observado na Figura 29 à frente. Infelizmente esta pesquisa foi interrompida em
2007, e de lá para cá nenhum outro registro significativo foi detectado que representasse o
crescimento deste setor até os dias atuais.
Figura 29- Evolução da participação do PIB setorial no PIB estadual segundo setores de
TI&C (1999-2005)
Há que se mencionar um registro recente de pesquisa conduzida para o Núcleo de Gestão do Porto
Digital- NGPD, mas tal registro só representa a indicação do faturamento das empresas
pesquisadas, e não o PIB setorial. Neste sentido, cabe aqui a sugestão para uma possível
recuperação dos ITIC-PE de forma a se constatar o efetivo crescimento do setor ao longo dos
últimos 10 anos.
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5- Desafios e Propostas de Políticas de Ação para o SOFTEX/Recife
Como uma síntese do que foi observado ao longo das atividades empreendidas desde outubro de
2014 (quando efetivamente se iniciaram os trabalhos desta consultora), é possível que sejam
elencados alguns dos principais desafios a serem enfrentados pelo “Ecossistema de TICs” de
Pernambuco nos próximos anos.
Um dos principais, senão o de maior relevância, é o da AMPLA IGNORÂNCIA da importância
econômica e estratégica do setor de TICs, marcamente neste século 21. Este problema não se
limita apenas aos não-afeitos às TICs do ponto de vista técnico, mas representa um estado de
coisas que decorre da não compreensão (mesmo entre economistas reconhecidos) de um fenômeno
econômico denominado de “transformação produtiva” (um exemplo bem emblemático desta
condição é a total ausência de referências ao setor no Projeto Pernambuco 2035, apresentado pelo
Governo do Estado de Pernambuco ao final de 2013, e reapresentado ao final de 2014).
Os economistas, profissionais que lidam com modelos e teorias que representam os processos
econômicos se utilizam muito de regularidades empíricas (fatos estilizados) para ajudarem em suas
argumentações. Alguns fatos estilizados podem ajudar na compreensão da razão pela qual o setor
de TICs ainda não ser amplamente reconhecido.
Na Figura 30 à frente, são apresentados alguns gráficos retirados de um recente trabalho que vai
ser publicado este ano de 2015 como capítulo de um Handbook of Economic Growth (Manual de
Crescimento Econômico). Seus autores construíram uma série de dados de dois séculos de
participações setoriais de emprego e valor adicionado de 10 países. Nos gráficos da figura o eixo
vertical é tanto a participação no emprego quanto a participação no valor adicionado. O eixo
horizontal é o logarítimo do PIB per capita, em dólares de 1990.
Os gráficos revelam fatos estilizados (padrões) da transformação estrutural que ocorreu nestes 10
países. Ou seja, ao longo de 2 séculos aumentos no PIB per capita têm estado associados com
decréscimos tanto na participação do emprego quanto do valor adicionado na agricultura, e com
aumentos tanto na participação no emprego quanto na participação no valor nominal no setor
dos serviços. O setor industrial tem se comportado diferentemente dos outros 2 setores: suas
participações em emprego e em valor adicionado seguem a forma de uma “corcunda”, isto é, elas
crescem para baixos níveis de desenvolvimento dos países e decrescem para altos níveis de
desenvolvimento.
O que estes gráficos apontam é para a diminuição da importância econômica do setor industrial e
para o crescimento da importância econômica do setor de serviços das economias que se
desenvolvem. Dentro deste setor de serviços está a grande maioria dos setores de TICs do mundo.
Além disto, o setor de TICs é considerado na nova literatura econômica como sendo um setor de
General Purpose Tecnologies- GPT (Tecnologias de Propósito Geral), ou seja, tecnologias que
têm importância central para os outros setores da economia (industrial e agrícola).
No entanto, esta compreensão infelizmente não é disseminada. Muitos profissionais, bem como
muitas instituições, ainda consideram que o setor industrial é o principal motor do crescimento, e
que, portanto, um crescimento no setor de serviços representa uma “doença de custos” na
economia. Este posicionamento reflete um amplo desconhecimento do peso, e da complexidade,
dos serviços nas economias modernas.
Para que possa ficar mais claro o que representa para as economias modernas a expansão de
setores como os de TICs, basta que se observe a noção colocada recentemente pelo Prof. Michael
Porter do que ele denomina de “Produtos Inteligentes Conectados” (Smart, Connected Products).
Em um artigo recente publicado na Harvard Business Review, o Prof. Porter apresenta um
ilustrativo exemplo do que está acontecendo com os produtos e serviços modernos.
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Na Figura 31 à frente é possível perceber o exemplo tratado pelo Prof. Porter. Na figura vê-se um
Figura 30- Participações setoriais do emprego e do valor adicionado em países desenvolvidos
selecionados 1800-2000
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Figura 31: Produtos Inteligentes Conectados
Fonte: Porter (2014)
trator, um produto típico da era industrial que foi desenvolvido para aumentar a produtividade do
setor agrícola. No entanto, se ao trator é acoplado um computador, este trator passa a ser um
“produto inteligente”. Se este tratador com computador é conectado a uma rede de comunicações,
este trator passa a ser um “produto inteligente conectado”. Se este trator inteligente conectado
acessa um sistema de informações que adiciona de segmentos relacionados à atividade agrícola,
este produto inteligente conectado passa a ser considerado um “sistema de produtos”. E se este
sistema de produtos acessa outros sistemas de informações especializados, tem-se aí um sistema de
sistemas, ou um ecossistema de serviços.
Produtos inteligentes conectados, como o acima apresentado, oferecem oportunidades de expansão
exponenciais para novas funcionalidades e capacidades que transcendem os limites tradicionais
dos produtos. A mudança na natureza dos produtos representa uma cadeia de valor de ruptura e
está forçando as empresas a repensarem quase tudo que elas fazem, desde o como elas concebem,
projetam e vendem seus produtos, até como elas fabricam, operam, e os servem, bem como elas
constroem e asseguram a necessária infraestrutura de TI.
São estas mudanças que são difíceis de serem percebidas, até por exímios profissionais.
Entretanto, estes produtos inteligentes e conectados levantam um novo conjunto de escolhas
estratégicas sobre como o valor é criado e capturado, como empresas trabalham com parceiros
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tradicionais e novos, e como elas asseguram vantagem competitiva à medida que as novas
capacidades reformatam as fronteiras da indústria.
Outro desafio de grande importância é o da AMPLA DESARTICULAÇÃO entre os principais
atores do “Ecossistema de TICs” de Pernambuco. Apesar da existência de várias entidades
representativas do setor, os diversos depoimentos coletados nas entrevistas revelam um profundo
desconhecimento do que se faz no contexto do ecossistema. E isso remete à atomização das
atividades e processos, bem como à superposição de interesses e projetos.
Uma primeira investigação sobre as possíveis causas deste fenômeno revela que sua origem pode
estar relacionada à ausência de uma VISÃO GLOBAL que unifique os interesses dos diversos
stakeholders do ecossistema. Mesmo que se considere que a economia pernambucana tem um
posicionamento competitivo considerado frágil, como apontado no item 4.1.2, o próprio
ecossistema detém exemplo de que uma “visão impactante”, com uma “metáfora sedutora”, pode
se estabelecer e unificar alguns interesses, como foi o caso do Porto Digital.
Um desafio de grande relevância diz respeito à AUSÊNCIA DE EXPERTISE EM NEGÓCIOS
GLOBAIS, e marcadamente, de negócios globais de TICs. Uma das razões para isto é o fato de
que a economia brasileira é muito fechada ao comércio exterior. E assim sendo, grande parte das
empresas nascidas no território brasileiro tendem a considerar que este mercado é suficiente.
Adicione-se a isto, o fato de que, a partir das entrevistas, constatou-se aquilo que o recente
documento do Fórum Econômico Mundial (tratado na Parte 1 deste documento) detectou: os
empresários e empreendedores de Pernambuco são pouco ambiciosos e inovam muito pouco.
Outro desafio detectado nas pesquisas com os entrevistados foi a AUSÊNCIA DE
INSTRUMENTAL ANALÌTICO PARA AVALIAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS E
NOVOS MERCADOS. Apesar de se estar tratando de um ecossistema de empresas de tecnologia,
são muito poucas aquelas que fazem uso de métodos e técnicas robustas para avaliação de quais
tecnologias e mercados abraçarem e desenvolverem atividades. Uma visível exceção é o
C.E.S.A.R., que faz uso da metodologia dos Três Horizontes, apresentada no anexo 1 deste
documento.
Ainda neste âmbito, foi possível perceber junto à esfera governamental do “Ecossistema de TICs”
de Pernambuco uma AUSÊNCIA DE INSTRUMENTAL ANALÍTICO PARA TOMADA DE
DECISÕES EM AMBIENTES DE MÚLTIPLAS DEMANDAS. Neste sentido, esta
consultora, atuando para a empresa Athiva Soluções Digitais Ltda. apresentou o modelo de quatro
estágios da computação descentralizada do Prof. John J. Donovan. Esta consultora, em função do
seu conhecimento dos atributos da iniciativa PE-Conectado, fez uma adaptação do modelo
Donovan à realidade do Estado de Pernambuco, apresentando-o na forma descrita no Anexo 2
deste documento.
Finalmente, em termos de sugestões de Políticas de Ação para a SOFTEX-Recife, é possível
apresentar o seguinte elenco de proposições de acordo com os desafios acima apontados. Logo, as
propostas são:
DESAFIO 1- AMPLA IGNORÂNCIA da importância econômica e estratégica do setor de TICs:
Para enfrentamento deste desafio sugere-se a identificação (eventualmente através de uma empresa
especializada em marketing), com consequente expressiva comunicação e marketing, de uma
VISÃO de futuro do ecossistema. Para tanto, indica-se que o ponto de partida seja o encontro de
uma “metáfora sedutora”, a exemplo do que representou a metáfora do “desembarque da nova
economia” para o lançamento do Porto Digital.
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Uma metáfora que aqui se pode sugerir, mesmo incorrendo no natural “viés acadêmico”, é aquela
da “SOCIEDADE DO APRENDIZADO”. A justificativa para esta metáfora pode ser
encontrada tanto nas palavras dos autores do livro “Criando uma Sociedade do Aprendizado”,
Joseph Stiglitz e Bruce Greenwald (à frente), quanto pelo fato de que a humanidade está
convivendo com o crescente aprendizado dos humanos e das “máquinas que aprendem”:
“A maioria dos incrementos em padrões de vida é resultado de aumentos na produtividade –
aprender como fazer as coisas melhores. E se é verdade que a produtividade é o resultado de
aprendizado, e que aumentos de produtividade (aprendizado) são endógenos, logo um ponto focal
de política deve ser aumentar o aprendizado na economia; isto é, aumentar a habilidade e os
incentivos para aprender, aprender a aprender, e, então, diminuir os hiatos de conhecimento que
separam as empresas mais produtivas da economia do resto. Portanto, criar uma sociedade do
aprendizado deveria ser um dos maiores objetivos da política econômica. Se uma sociedade do
aprendizado é criada, uma economia mais produtiva emergirá e padrões de vida irão aumentar.”
DESAFIO 2- AMPLA DESARTICULAÇÃO entre os principais atores do Ecossistema de TICs
de Pernambuco:
Para o enfrentamento deste desafio sugere-se a criação de uma espécie de “Núcleo de Governança
Global do Ecossistema-NGGE de TICs de Pernambuco”, congregando formalmente as entidades
atualmente existentes, mas assumindo novos papéis. Dentre estes novos papéis podem ser
destacados os de ADVOCACY do setor perante entidades dos diversos governos formais (federal,
estadual e municipais) e junto à sociedade civil como um todo, a exemplo do que vêm fazendo
fóruns de discussão como aqueles de entidades como a AMCHAM-Recife.
Outro papel seria o que THINK TANK para os stakeholders do ecossistema. Uma sugestão seria
expandir a capacidade de alavancagem dos estudos e pesquisas pensados no âmbito do recém
criado CICTEC- Centro de Inteligência Competitiva do Porto digital.
Finalmente, este NGGE poderia se constituir em uma referência internacional em práticas de
colaboração de empresas e negócios em ecossistemas para geração de plataformas globais de
produtos e serviços avançados de TICs em ambientes de países em desenvolvimento.
DESAFIO 3- AUSÊNCIA DE EXPERTISE EM NEGÓCIOS GLOBAIS, e marcadamente, de
negócios globais de TICs:
Para o enfrentamento deste desafio sugere-se a criação de uma “Escola de Negócios Globais
Baseados em TICs”. Esta escola poderia ser criada inicialmente a partir de uma rede de
instituições formadoras de profissionais no Estado, tais como a Faculdade Guararapes, o Centro de
Informática da UFPE e o C.E.S.A.R. Esta escola seria tanto para formar profissionais aqui em
Pernambuco, quanto para atrair estudantes internacionais.
DESAFIO 4- AUSÊNCIA DE INSTRUMENTAL ANALÍTICO PARA AVALIAÇÃO DE
NOVAS TECNOLOGIAS E NOVOS MERCADOS:
Este desafio é um desafio constante para as empresas e, portanto, deve ser enfrentado a partir de
um Núcleo de Governança Global, como sugerido acima. Como tais instrumentais se apresentam
como de importância estratégica para todos os stakeholders do ecossistema, portanto, assumindo
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característica de bens públicos, nada mais natural do que serem investigados e disseminados para
estes stakeholders a partir deste núcleo sugerido.
DESAFIO 5- AUSÊNCIA DE INSTRUMENTAL ANALÍTICO PARA TOMADA DE
DECISÕES EM AMBIENTES DE MÚLTIPLAS DEMANDAS:
À exemplo do Desafio 4, este desafio adquire semelhante importância, e, portanto, deve ser
enfrentado também a partir de um Núcleo de Governança Global, como sugerido acima. Como tal
instrumental se apresenta como de importância estratégica para todos os stakeholders do
ecossistema, portanto, assumindo característica de bens públicos, nada mais natural do que ser
investigado e disseminado para estes stakeholders a partir deste núcleo sugerido.
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6- REFERÊNCIAS
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Tecnologia de Pernambuco.
Castro, Daniel Bastos (2012). “Evolução dos Serviços da Rede de Telemática do Estado de
Pernambuco: PE Conectado”. V Congresso CONSAD de Gestão Pública. Brasília, 4 a 6 de junho.
Cavalcanti, José Carlos (2014). “Effects of IT on Enterprise Architecture, Governance and
Growth”. IGI-Global, USA.
Donovan, John J. (1988). Beyond Chief Information Officer to Network Manger. Harvard
Business Review, v. 88, n. 5, p. 134-140, Sept./Oct.
Maia Gomes, Gustavo (2013). “Disparidades regionais, conflitos federativos e a nova agenda da
política regional”. Manuscrito encontrado em http://gustavomaiagomes.blogspot.com.br/.
Marinho, Cláudio e Emerson Emerenciano (2015). “Plano Estratégico da SOFTEX-Recife”.
Porter, Michael and James E. Heppelmann (2014). “How Smart, Connected Products Are
Transforming Competition”. Harvard Business Review. November.
Ruokolainen, Toni (2013a). “A Model-Driven Approach to Service Ecosystem Engineering”. PhD
Thesis, Series of Publications A, Report A-2013-3, Helsinki, Finland.
Ruokolainen, Toni (2013b). “Solving service ecosystem governance”. Department of Computer
Science, University of Helsinki, Finland.
Stiglitz, Joseph and Bruce Greenwald (2014). “Creating a Learning Society: A New Approach to
Growth, Development and Social Progress”. Columbia University Press.
TGI/CEPLAN/Multivisão (2014). “Pernambuco Desafiado”. Editora INTG.
TGI/CEPLAN/Multiplan (2014). “Visão de Futuro Pernambuco 2035: Proposta para discussão
com a sociedade”.
World Economic Forum (2015a). Leveraging Entrepreneurial Ambition and Innovation: A Global
Perspective on Entrepreneurship, Competitiveness and Development.
World Economic Forum (2015b). Global Competitiveness Report_2014-15.
World Economic Forum (2014). The Global Information Technology Report – GITR 2014
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Prof. José Carlos Cavalcanti
Recife, 12 de Março de 2015
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ANEXOS
Anexo 1: Cenários de Tecnologias e Inovações
1- Introdução
Vivemos hoje num mundo de rápidas e profundas transformações. No centro destas
transformações estão a emergência e o desenvolvimento de novas tecnologias e inovações. Mas
uma questão que desperta muitas preocupações é o fato de que muitas destas tecnologias e
inovações representam ciclos cada vez mais curtos, e incertos, de duração. Neste sentido, como
avaliar a emergência, a difusão e a viabilidade comercial destas tecnologias e inovações?
A Gartner, Inc., baseada nos EUA, líder mundial em pesquisa e aconselhamento na área de
tecnologia de informação e comunicação, possui diversas metodologias para avaliação de novas
tecnologias e inovações. Uma destas metodologias é a denominada Gartner Hype Cycle (uma
tradução popular atual poderia ser “Ciclo Vibrante do Gartner”). Ao interpretar a “vibração” de
uma tecnologia, a Gartner faz a seguinte descrição.
Quando novas tecnologias parecem prometer, e como alguém pode discernir o que é “vibração” do
que é viabilidade comercial? A Gartner indica que sua metodologia de Hype Cycle oferece uma
representação gráfica da maturidade e da adoção de tecnologias e aplicações, e como elas são
potencialmente relevantes para resolver problemas reais de negócios e para explorar novas
oportunidades. A metodologia provê uma visão de como uma tecnologia ou aplicação irá evolver
ao longo do tempo, ofertando uma fonte sólida para discernimentos para gerenciar seu emprego no
contexto de metas específicas de negócios.
Uma visão geral do Gartner Hype Cycle pode ser observada a partir da Figura 1 à frente. E como
usar os Hype Cycles? Qualquer pessoa pode usar os Hype Cycles para se educar sobre as
promessas de uma tecnologia emergente no contexto de sua indústria e de apetite individual para o
risco. A Gartner sugere aos iniciantes pelo menos três movimentos iniciais:
a) Você poderia decidir por um movimento prematuro? Se você está disposto a combinar a
assunção de um risco com um entendimento de que investimentos de risco nem sempre
compensam, você pode colher os frutos de uma adoção prematura;
b) Um enfoque moderado é apropriado? Executivos que são mais moderados entendem o
argumento para um investimento prematuro, mas também insistem em uma sólida análise
benefício/custo quando novos modos de fazer as coisas não estão provados completamente;
c) Você poderia aguardar por uma maturação mais longa? Se há muitas questões não respondidas
em torno da viabilidade comercial de uma tecnologia emergente, é melhor esperar até que outras
tenham sido mais aptas a entregar valor tangível.
E como os Hype Cycles funcionam?
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Figura 1: Visão dos Hype Cycles
Cada Hype Cycle pode ser observado em cinco fases chave de um ciclo de vida de uma tecnologia
(em termos de maturidade ao longo do tempo, eixo horizontal, e visibilidade/expectativa, no eixo
vertical):
a) Technology Trigger (Disparador de Tecnologia): Um potencial avanço tecnológico surge.
Estórias prematuras de provas-de-conceito e interesse da mídia disparam publicidade significativa.
Frequentemente nenhum produto usável existe e a viabilidade comercial não está provada;
b) Peak of Inflated Expectations (Pico de Expectativas Infladas): Uma publicidade prematura
produz um número de estórias de sucesso – frequentemente acompanhada de escores de fracassos.
Algumas companhias entram em ação; muitas não;
c) Trough of Disillusionment (Vale de Desilusão): O interesse se esvai à medida que
experimentos fracassam em entregar. Produtores de tecnologia balançam ou fracassam.
Investimentos continuam somente se os produtores sobreviventes melhoram seus produtos para a
satisfação dos adotadores prematuros;
d) Slope of Enlightenment (Aclive de Esclarecimento): Mais instâncias de como a tecnologia pode
beneficiar a empresa (ou organização) começam a cristalizar e se tornar mais amplamente
entendidas. Produtos de segunda e terceira geração aparecem a partir dos provedores da
tecnologia. Mais empresas financiam pilotos; companhias conservadoras permanecem cautelosas;
e) Plateau of Productivity (Platô de Produtividade): A adoção principal começa a decolar.
Critérios para avaliar a viabilidade do provedor estão mais claramente definidas. O mercado para
aplicabilidade ampla e a relevância da tecnologia começam claramente a compensar.
A Figura 2 à frente apresenta as indicações da Gartner para o ano de 2014. Como pode ser
visualizado na figura, além da nominação das tecnologias, são indicados (em cores) os intervalos
de tempo em que o platô das tecnologias está estimado em ser alcançado: a) entre 0 e 2 anos; b)
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entre 2 e 5 anos; c) entre 5 e 10 anos; d) mais de 10 anos; e, e) a tecnologia fica obsoleta antes do
platô.
Figura 2: Gartner Hype Cycles 2014
2- Uma Metodologia de Avaliação da Viabilidade da Tecnologia versus seu Mercado
Apesar de parecer simples (tal como apresentado na introdução acima), a avaliação de uma
tecnologia ou de uma inovação tecnológica não é trivial. A falta de consenso sobre a definição do
que é um projeto inovador, ou o seu grau de inovação, torna esta discussão algo difuso. Isto é
marcadamente importante ao nível de governo, quando se trata da questão de alocar recursos
escassos para atividades que envolvem inovação.
Neste sentido, com o propósito de definir e medir projetos de tecnologia e inovação de forma fácil
e sem ambiguidades, o C.E.S.A.R. - Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife [ver
Peixoto, Eduardo, Aldrêycka Albuquerque e Marcello Bressan (2014). Extending the Three
Horizons Model. Unpublished paper] - desenvolveu uma metodologia qualitativa que é fácil de
aplicar, baseada no modelo de Três Horizontes definido por Baghai, Coley e White, de forma a
definir o grau de inovação de projetos de tecnologia.
Originalmente o modelo dos Três Horizontes foi lançado pelo livro The Alchemy of Growth:
Practical Insights for Building the Enduring Enterprise (Baghai, Coley and White, 1999). No
livro Innovation Tournaments: Creating and Selecting Exceptional Opportunities (Terwiesch and
Ulrich, 2009) seus autores modificaram o modelo de modo que ele tivesse menos utilidade
financeira e mais utilidade estratégica. A proposta destes autores consistiu em três espaços de
inovação que são graduados, devido às incertezas de um novo projeto, em relação à tecnologia e ao
mercado. As três áreas são chamadas Horizontes 1, 2, e 3, tal como definido à frente:
[H1] Horizonte 1: contém projetos caracterizados por tecnologias maduras para mercados já
servidos pela companhia. É o horizonte de melhorias incrementais, ou menor risco, com menores
níveis de inovação. Usualmente os projetos neste horizonte são os de curto prazo;
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[H2] Horizonte 2: contém projetos caracterizados por tecnologias existentes (não necessariamente
dominadas pela companhia, mas aqueles que são possíveis de serem adquiridos pela companhia),
e/ou por mercados existentes, mas não aqueles ainda penetrados pela companhia. É o horizonte de
incertezas relativas, de projetos com um moderado grau de inovação, representado por um avanço
da companhia em tecnologia e/ou mercado;
[H3] Horizonte 3: contém projetos caracterizados por tecnologias emergentes, ainda em
desenvolvimento, usadas de forma experimental, e/ou em ainda mercados não existentes, e não
preenchidos por qualquer organização. É o horizonte de projetos ultimados no longo prazo e com
maiores incertezas. Os projetos neste horizonte irão consumir muitos recursos e levar anos para
completar. Não há garantias de um retorno do investimento neste horizonte.
No entanto, Peixoto, Albuquerque e Bressan (2014) observaram que apesar deste modelo ser
extremamente útil para selecionar projetos de inovação no âmbito de uma organização, seria
necessário eliminar as ambiguidades de como ser aplicado, de forma a responder questões como:
qual é o grau de maturidade tecnológica? E qual é o grau de incerteza sobre o mercado?
Logo, Peixoto, Albuquerque e Bressan (2014) buscaram complementar o modelo sugerido por
Terwiesch and Ulrich (2009), ao remover as ambiguidades associadas com a classificação do grau
de inovação, ao introduzirem uma ligeira modificação na metodologia do Hype Cycles da Gartner.
Sendo assim, Peixoto, Albuquerque e Bressan (2014) escolheram simplificar a escala de
maturidade tecnológica do Hype Cycles a Gartner para somente três estágios. Os estágios 2 e 3,
bem como os estágios 4 e 5 dos Hype Cycles foram fundidos. Deste modo, o eixo de Tecnologia
ficou reduzido a somente 3 estágios:
I. Tecnologias Emergentes: este corresponde ao estágio Gartner’s Technology Trigger;
II. Tecnologias Existentes: este corresponde aos estágios Gartner’s Peak of Inflated Expectations
e Trough of Disillusionment;
III. Tecnologias Maduras: este corresponde aos estágios Gartner´s Slope of Enlightenment and
Plateau of Productivity.
Peixoto, Albuquerque e Bressan (2014) definiram o eixo do Mercado (horizontal) como sendo o
do grau de incerteza do Mercado, o qual é dividido em três níveis: Maduro, Adjacente e Novo. As
definições destes três níveis são as seguintes:
I. O mercado maduro é o mercado em que a companhia já opera com produtos e serviços. Neste
mercado, o grau de incerteza para lançar um novo produto ou melhorias em produtos existentes é
baixo. A companhia gerencia com um bom grau de segurança para estimar o retorno no
investimento em inovação. Inovações apontadas para este mercado são caracterizadas por:
a) Defender uma posição corrente no mercado servido pela companhia;
b) Encontrar as demandas do mercado mais eficientemente; e,
c) Precisão em estimativas quanto ao retorno do investimento.
II. O mercado adjacente, por seu lado, é um mercado existente, mas um que não é ainda servido
pela companhia. O propósito de um projeto de inovação é penetrar o mercado existente que está já
sendo servido por outras companhias. O grau de incerteza sobre o lançamento de um novo produto
ou melhorias em produtos existentes é moderado. Ao fazer uso da indústria disponível, ou de
dados de mercado, a companhia pode, com alguma acurácia, estimar o retorno do investimento em
inovação. As inovações voltadas para um mercado adjacente são caracterizadas por:
a) Uma entrada em um mercado ainda não servido pela companhia;
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b) Encontrar uma nova demanda em um mercado existente que já está sendo explorada por outra
companhia;
c) O retorno do investimento em inovação pode ser estimado ao tomar como base dados de
mercado de outras companhias.
III. Finalmente, o novo mercado é um mercado que ainda não existe, em que nenhum negócio
opera ainda. É um mercado a ser construído. Neste mercado o grau de incerteza para lançar um
novo produto ou melhorias em produtos existentes é grande. O nível de incerteza é da magnitude
de “não é conhecido o que não é conhecido”. Inovações neste mercado são caracterizadas por:
a) Uma estratégia para criar um novo mercado;
b) Encontrar uma nova demanda que ainda não foi explorada por qualquer companhia;
c) O grau de imprecisão em avaliar o retorno do investimento é muito grande, uma vez que não há
dados históricos para usar como base.
A interseção das classificações dos eixos de Tecnologia e Mercado, como já indicado, produz
quadrantes em que os três horizontes de inovação do modelo de Terwiesch e Ulrich podem ser mapeados.
Logo, de acordo com Albuquerque e Bressan (2014) a matriz de horizontes de inovação toma a forma da
Figura 3 à frente.
Figura 3: Matriz de Horizontes de Inovação
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Anexo 2: Tomadas de Decisões em Ambientes de Múltiplas Demandas
1- A Alocação de Recursos de TI e Relacionados
Uma das principais características do inventário das necessidades de recursos do Governo do
Estado observadas é a diversidade destas necessidades. No grupo considerado infraestrutura, são
várias as entidades que demandam de estações de trabalho, passando por datacenter, suporte de
serviços e canais de comunicação até software básico. No grupo de sistemas de informação podem
ser observadas demandas que vão desde a área administrativa, passando pelo financeiro, até
sistemas mais especializados, tais como inteligência de negócios e educação à distância.
Finalmente, no grupo de capital humano são solicitados apoios que vão desde a estrutura
organizacional de TICs até sua governança.
Do lado da oferta, algumas questões centrais podem ser avançadas: Como alocar recursos tão
diversos em um contexto de repressão orçamentária? Como otimizar a alocação de recursos
escassos levando em questão a heterogeneidade da demanda, considerando que a possibilidade de
compartilhamento dos recursos (apesar de fortemente indicada) tem suas limitações? Finalmente,
como alocar recursos em um contexto de profundas e rápidas mudanças tecnológicas, e de modelos
de negócios, de modo a cumprir satisfatoriamente as missões do governo com as melhores práticas
de oferta de serviços?
De forma a poder dar respostas a estas questões, este documento apresenta um modelo que tenta
contribuir para o desenho e o estabelecimento de políticas que contemplem decisões de natureza
tanto tecnológica quanto organizacional. Este modelo se baseia naquele denominado “The Four
Stages of Decentralized Computing” (Os Quatro Estágios da Computação Descentralizada)
sugerido pelo Prof. John J. Donovan (do Massachusetts Institute of Technology-MIT, dos EUA)
em seu artigo “Beyond Chief Information Officer to Network Manager” (Além do Oficial Chefe de
Informação para o Gestor de Rede), publicado na Harvard Business Review, em setembro de
1988. O sub-item a seguir apresenta as principais características do modelo Donovan.
1.1- O Modelo Donovan de Alocação de Recursos
Como apontado por Menezes, Teixeira Júnior e Ponte (2005), até atingir o estágio atual, a
Tecnologia da Informação (TI), como é conhecida hoje, passou por grandes transformações dentro
das organizações, compreendendo desde a disposição dos equipamentos no interior das empresas
até a terceirização da mão-de-obra técnica e aquisição externa de Sistemas de Informação.
Segundo os mesmos autores, a partir do surgimento dos primeiros computadores, caracterizados
pelo seu grande porte e capacidade de processamento em larga escala – os chamados mainframes –
, as estruturas organizacionais vieram a contemplar em seus organogramas os Centros de
Processamento de Dados. Os CPDs, como eram denominados (e ainda hoje o são, em muitas
empresas), consistiam em unidades monopolizadoras do processamento de grandes volumes de
informações, gerando relatórios para os usuários. Os CPDs compunham-se de técnicos que
detinham conhecimento especializado: analistas de sistemas, programadores e operadores. Os
demais colaboradores da organização eram “meros” usuários, que tinham acesso aos sistemas por
meio de terminais ligados ao computador central.
Durante muitos anos, os CPDs reinaram soberanos. Entretanto, a partir da constatação da
necessidade de imprimir celeridade nas decisões – muitas vezes dificultada pela lentidão de
resposta da equipe de desenvolvimento de sistemas e produção de relatórios –, foram criados os
Centros de Desenvolvimento de Sistemas (CDS), visando atender à crescente demanda por
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informação, oriunda de todos os ambientes da empresa. Foram constituídas equipes de analistas e
programadores, sob a forma de pool, para centralizar o desenvolvimento dos sistemas aplicativos
da empresa (Menezes, Teixeira Júnior e Ponte, 2005).
Diante da crescente demanda por informação, os CDS já não conseguiam garantir atendimento
tempestivo às unidades de negócios. Verificou-se, então, a primeira iniciativa de descentralização
da área de TI: os Centros de Informação. Os CIs (sigla pela qual esses centros passaram a ser
conhecidos) surgiram como uma nova unidade da estrutura organizacional, visando prover aos
usuários os meios de desenvolver seus próprios (e pequenos) sistemas e gerar relatórios com as
informações de que careciam. Os CIs foram criados para oferecer treinamento, consultoria e
suporte técnico para “ajudar os usuários a se ajudarem” (Menezes, Teixeira Júnior e Ponte, 2005).
Visando adquirir o controle gerencial, mediar os conflitos da área de TI com as unidades de
negócios, controlar orçamentos e estabelecer prioridades, as organizações estruturaram os Comitês
Diretores de Informação, compostos pelo CEO (Chief Executive Officer), CIO (Chief Information
Officer) e os gestores das diversas áreas de negócio. Apesar deste movimento, centralização versus
descentralização de TI ainda constitui um tema de debate recorrente nos meios empresarial e
acadêmico.
Com o advento da Era da Internet, gerenciar os problemas de TI se tornou mais complicado,
principalmente porque os meios de corrigir problemas em particular podem ficar
momentaneamente fora do alcance e controle. A Internet torna mais difícil o funcionamento de um
departamento de TI centralizado, e que a descentralização da TI é, simplesmente, algo inevitável.
Por outro lado, para enfrentar os desafios descortinados pelos atuais cenários, novas formas de
controle e estrutura organizacional também foram aprimoradas. A revisão de todos os processos e
estruturas das organizações tem estabelecido uma relação muito próxima com o posicionamento –
centralização ou descentralização – de TI. Depreende-se daí a importância de compatibilizar as
estruturas organizacionais e aquelas de TI. Com o entendimento da integração, da estrutura e de
onde ocorre o processo decisório, os gestores podem adequar a TI mais de acordo com a natureza
da organização (Menezes, Teixeira Júnior e Ponte, 2005).
Com relação às alternativas de descentralizar ou centralizar a TI, Donovan (1988) sugere um
modelo representativo (Figura 1) de como as empresas estiveram conduzindo essa questão. Nele,
são considerados três fatores: desenvolvimento de sistemas, equipamentos e processo decisório.
A lógica do modelo pressupõe que o Chief Information Officer (CIO) proceda as escolhas de
centralização/descentralização em três níveis. As três dimensões do modelo correspondem a essas
escolhas. O eixo “X” indica o grau em que as empresas distribuem equipamentos com suas filiais.
O eixo “Y” reflete a descentralização das funções de desenvolvimento, tais como a escrita de
novas aplicações e a atualização de software. O eixo “Z” representa a localização da autoridade
responsável pela tomada de decisão sobre SIs – por exemplo, quem aprova compras de
equipamentos ou quem determina as aplicações a desenvolver.
O ponto do esquema em que os três eixos se encontram representa o conjunto de políticas
centralizadas com as quais, virtualmente, todas as empresas ingressaram nos primórdios da era do
computador. Nesse ponto de convergência, a equipe da área de TI exerce controle irrestrito.
Donovan (1988) considera esse conjunto de políticas um “dinossauro organizacional e
tecnológico”. Afinal, não obstante algumas empresas ainda manterem hoje sistemas
administrativos, como folha de pagamento e contas a pagar, sob rígido controle central, a
proliferação de minicomputadores, de estações de trabalho de alto desempenho e de PCs tem
nulificado, ao longo do tempo, políticas pautadas pela alta centralização de hardware (é importante
assinalar que tais observações eram de um mundo da TI no final dos anos 80 do século passado!).
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Figura 1: Os Quatro Estágios da Computação Descentralizada
Fonte: Donovan (1988)
As políticas big brother (Ponto “A”) (ou melhor, de alta centralização de decisão e de
desenvolvimento) aplicam-se, em geral, a sistemas orientados a transações, em que os usuários têm
limitada expertise técnica, tais como aplicações para scanners POS (ponto de venda) ou terminais
hand-held. A expressão big brother (grande irmão) alude ao livro 1984, de George Orwell, em que
o termo representa o controle ubíquo do Estado sobre o cidadão. Os usuários do ambiente big
brother despendem a maior parte de seu tempo trabalhando com a tecnologia, mas têm pouco
domínio sobre seu modo de funcionamento. A centralização de todas as atividades relacionadas ao
desenvolvimento de sistemas e ao processo decisório (de hardware e software), com baixo nível de
resposta da equipe central de TI, constitui fator de descontentamento por parte dos usuários.
O Ponto “B” representa o estágio helping hand (mão amiga) de gerência de TI na era de hardware
distribuído. Mainframes, minicomputadores e PCs estão localizados e são operados nas fábricas ou
filiais. Essas unidades, porém, não desenvolvem, atualizam ou dão suporte a aplicações do
software que apóia suas atividades. A equipe central de TI exerce uma função que é mais de apoio
do que de mando.
No ambiente watchdog (cão de guarda, ou regulador), que corresponde ao Ponto “C”, a equipe
central de TI controla todas as principais decisões, desde a aquisição de hardware e software até a
definição de prioridades de desenvolvimento de aplicações. Apesar de a equipe local desenvolver,
manter e distribuir software com os usuários, por exemplo, ela precisa requisitar hardware e
ferramentas ao departamento de TI, além de solicitar permissão para desenvolver aplicações.
Na visão de Donovan (1988), o ambiente watchdog é o que encerra as mais severas tensões de
todos os modelos por ele estudados. O Prof. Donovan afirma não haver rigor no enquadramento de
uma organização em qualquer dos pontos do modelo, posto que as demandas competitivas da
empresa e a competência tecnológica da sua força de trabalho, como um todo, influenciam o ritmo
e o método de descentralização. Assevera, contudo, que toda empresa estaria migrando, embora
em ritmo distinto, rumo ao Ponto “D”, o estágio network, em que a equipe local de TI gerencia
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todos os aspectos relacionados aos SIs (reforçamos que o ambiente de TI aqui apontado pelo Prof.
Donovan era o do final dos anos 80 do século passado).
1.2- Um Modelo para o Governo de Pernambuco na Era da Rede PE-Conectado
De forma a incorporar o modelo Donovan aos processos decisões sobre o atendimento às
necessidades do Projeto “Elaboração dos Planos Diretores de TI da Administração Pública de
Pernambuco” (e, em última instância, às decisões de políticas de TI do governo), este documento
sugere a adoção do aqui denominado “Modelo Híbrido de Quatro Estágios de Computação
Descentralizada com Centralização de Oferta de Conectividade”.
A ideia central deste modelo híbrido é que ele possa incorporar as principais características do
Modelo Donovan (apresentado na Figura 1) para atuar nos processos decisórios de alocação de
recursos do Governo do Estado de Pernambuco, porém partindo de um patamar (ou layer, isto é
camada) de oferta de conectividade centralizada por um órgão central do governo (como é o caso
da ATI- Agência Estadual de Tecnologia da Informação), tal como mostrado na Figura 2 à frente.
A justificativa para a adoção deste modelo híbrido é a seguinte. O Estado de Pernambuco possui
uma moderna rede de telemática, hoje denominada PE Conectado, que compreende uma série de
serviços integrados de voz, dados e imagem (Figura 3 à frente), rede esta que vem evoluindo em
termos tecnológicos e organizacionais desde o ano de 2000 (para um breve relato histórico desta
evolução, ver o anexo deste documento).
Como esta rede oferece a todo território do Estado de Pernambuco (a todos os seus órgãos
públicos, de natureza Estadual ou Municipal, e, eventualmente, por acordo, a entidades privadas)
serviços ampliados de conectividade para voz, dados, e imagem, qualquer perspectiva de
ampliação da oferta de infraestrutura, serviços e aplicações (ou seja, numa perspectiva de
modelagem de rede, nesta ordem de priorização) para atendimento às necessidades destas
entidades, necessariamente deverá contemplar os aspectos centrais que constituem a arquitetura
(atual e futura) da Rede PE Conectado, bem como de sua governança (atual e futura).
Neste sentido, em termos de ampliação da oferta para atendimento às necessidades apontadas no
inventário pesquisado pela Athiva, os novos PDTI´s – Planos Diretores de TI dos órgãos do
governo, bem como o PETI- Plano Estratégico de TI do Estado de Pernambuco, deverão ser
aqueles que contemplem novas tecnologias e inovações em modelos de negócios (tais aqueles
apontados no Primeiro Relatório apresentado à Athiva), e negociações (entre a cúpula do Governo
do Estado e os dirigentes de seus órgãos, bem como os dirigentes dos municípios do Estado) que
vislumbrem novos estágios da Figura 2 (Big Brother A1; Helping Hand B1; Watchdog C1; e
Network D1), tendo como ponto de partida os serviços ofertados na camada de conectividade (que
no caso representa a rede PE Conectado).
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Figura 2: Modelo Híbrido de Quatro Estágios de Computação Descentralizada com
Centralização de Oferta de Conectividade
Fonte: Adaptado de Donovan (1988)
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Figura 3: Concepção do Modelo da Rede PE-Conectado
Fonte: Secretaria de Administração de Pernambuco (2014). Termo de Adesão PE-Conectado.
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Referências
Castro, Daniel Bastos (2012). Evolução dos Serviços da Rede de Telemática do Estado de
Pernambuco: PE Conectado. V Congresso CONSAD de Gestão Pública. Brasília, 4 a 6 de junho.
Donovan, John J. (1988). Beyond Chief Information Officer to Network Manger. Harvard
Business Review, v. 88, n. 5, p. 134-140, Sept./Oct.
Menezes, Ricardo Bezerra de, Francisco Teixeira Júnior, e Vera Maria Rodrigues Ponte (2005).
Centralização Versus Descentralização de Tecnologia da Informação (TI): Uma Análise Sob a
Ótica da Eficácia Organizacional. Revista Eletrônica de Administração (REAd). Edição 47, Vol.
11, No. 5, set-out.
ANEXO
Breve Histórico da Rede PE Conectado
“O Governo do Estado de Pernambuco visando suprir as dificuldades de gestão emanadas da
descentralização dos serviços de transmissão de dados, o que culminava entre outras coisas com
precificações distintas para cada Órgão do Poder Executivo, links de baixa velocidade e precário
acesso à internet, licitou no ano de 2000 a sua primeira rede corporativa de telecomunicações
que, no primeiro momento, focava apenas na gestão centralizada dos serviços de dados, a qual
recebeu o nome de PE-Digital. Essa contratação, apesar de atingir apenas a rede de dados, já
trouxe importantes ganhos ao Estado, reduzindo os custos praticados à época em cerca de 40%,
mostrando a vantajosidade de se contratar em escala e principalmente de se compartilhar a
infraestrutura dos serviços de telecomunicações, os quais são essenciais para uma boa prestação
de serviços à sociedade por parte do ente público.
No final de 2005, o Estado licitou uma nova rede de telecomunicações, a qual recebeu o nome de
PE-Multidigital, por incorporar à antiga rede de Dados os serviços de Voz e Imagem, sendo este
último destinado à videoconferência. O Objeto dessa nova contratação (uma Rede de Dados, Voz
e Imagem), revolucionou a maneira do Estado de Pernambuco atender ao cidadão, pois, permitiu
à implantação de sistemas que facilitaram uma melhor prestação de serviços à sociedade, sendo
este fato possível, entre outras coisas, pela interligação dos seus prédios públicos
independentemente de onde eles estivessem localizados dentro do Estado.
O incremento de serviços a essa nova rede foi fator decisivo para o sucesso da mesma e o
resultado financeiro chegou a 61% de economia se comparado ao que já se pagava anualmente
pela prestação dos serviços de forma isolada. Todo esse ganho só foi possível graças a um fator
considerado preponderante, que é o compartilhamento da infraestrutura de prestação dos
serviços. As redes montadas através do seu backbone e de seus links se prestam para o transporte
de voz, dados e imagens. A gerência da rede se presta para gerenciar o tráfego de dados, voz e
imagem.
Com a economia gerada por essa forma de contratação, o Estado pode agregar valor ao serviço
prestado ao cidadão, com inovações em várias áreas, sendo hoje impensável ao Poder Executivo
deixar de contar com essa rede para os seus afazeres do dia a dia.
Diante disto, em 2009 foi publicada a portaria SAD No. 706, declarando a necessidade de iniciar
processo licitatório para permitir a continuidade da prestação dos serviços de telecomunicações,
dados, voz e imagem para todos os órgãos, usuários do contrato da PE-MULTIDIGITAL,
acrescentando as melhorias e ampliações pertinentes. O novo serviço a ser licitado recebeu o
título de projeto PE-CONECTADO.”
Trecho retirado do artigo “Evolução dos Serviços da Rede de Telemática do Estado de
Pernambuco: PE Conectado”, desenvolvido por Daniel Bastos de Castro, apresentado no V
Congresso CONSAD de Gestão Pública. Brasília, 4 a 6 de junho de 2012.