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PESCA EM ÁGUAS PROFUNDAS LXXXV EVANGELIZAÇÃO NO TERCEIRO MILÊNIO A PETROBRAS EM ALENQUER DA AMAZÔNIA

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PESCA EM ÁGUAS PROFUNDAS LXXXV EVANGELIZAÇÃO NO TERCEIRO MILÊNIO

A PETROBRAS EM ALENQUER DA AMAZÔNIA

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ELES PASSARAM POR AQUI

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A presença da Petrobras nas matas de Alenquer, região do rio Curuá, lá pelos idos do início da década de 60 do século passado, foi a novidade principal que ocorreu no sítio Boa Esperança. Os petroleiros chegaram em enormes barcaças, algumas em forma de casa flutuante, que serviam de alojamento, restaurante e escritório, e outras escancaradas a céu aberto, carregadas de tratores, jeeps, caminhões, guindastes, torres de perfuração desmontadas, puxadas por possantes rebocadores e estrategicamente apoiadas por lanchas velozes.

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Todas as embarcações eram pretas, cor do combustível fóssil procurado, e cada qual tinha um prefixo impresso no costado que permitia sua identificação de longa distância, pois todas eram parecidas, rebocadores com rebocadores e lanchas com lanchas. Era um quadro espetacular vê-las navegando mansamente em comboio pelos igarapés ximangos. Chegaram aos bandos, assim como aves em migração.

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Os técnicos graduados, grande maioria estrangeira, juntamente com os frágeis aparelhos de pesquisa, viajavam nas lanchas. Pareciam seres de outro mundo, chegaram tomando conta de tudo e falando línguas esquisitas.

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Dois aviões catalinas, prefixos PT-AXM e PT-AXL, quando pousavam no rio, espalhavam água longe, lembravam dois gigantes patarrões de asas abertas, prontos para levantar vôo novamente nem bem pousavam. Eles transportavam pessoas importantes e autoridades que vinham olhar o lugar do poço, que ficava no meio da mata, cerca de cinco quilômetros da enseada Vaiquenquer, no igarapé das Pirapitingas, onde estavam instalados os alojamentos.

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Na época era Presidente do Brasil, Jânio Quadros; o Governador do Pará, Aurélio do Carmo; o Prefeito de Alenquer, José Rafael Valente, e o Vigário da Paróquia de Santo Antônio de Alenquer, o franciscano Frei Guido. Geonísio Carvalho Barroso era o Presidente da Petrobras e o Superintendente Regional da Amazônia (SRAZ), o engenheiro Levindo Carneiro...

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Nossa vida no Boa Esperança, praticamente, virou do avesso com a chegada da Petrobras, de tranquila que era passou a alvoroçada.

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Antes, uma turma desses trabalhadores já tinha andado abelhudando a região, explodindo dinamite nas matas e nos rios, diziam, para interpretarem nuns aparelhos que carregavam nas costas o eco dos estrondos das bombas vindo do âmago da terra. Não imagina o estrago que essas bombas faziam no terreno e na quantidade de peixes que morriam, quando explodiam no rio ou no lago, chega doía o coração ver...

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Raimundo Carão, um pacato roceiro da Arariquara, homem de coração bom, incapaz de matar um carapanã sequer sem justa razão, chegou a perder a paciência quando viu seu milharal todo explodido e botou uma cartucheira de três canos na venta de um tal Mister Linque. Na tarde do dia seguinte, depois que os ânimos serenaram e o roceiro indenizado, o observador de geofísica Tomé de Castro numa roda de conversas soltas na venda do Boa Esperança, explicou a importância das explosões.

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Tomé disse que a Petrobras estava tentando encontrar petróleo preso no fundo da terra e que, caso localizasse as rochas que o prendiam, uma outra turma de petroleiros viria soltá-lo e trazê-lo para cima para ser refinado e utilizado nos carros, navios, aviões, enfim, nas máquinas do Brasil inteiro, inclusive nas lamparinas e porongas de nossas casas. Nova Olinda no Amazonas já demonstrou que a Amazônia tem petróleo e o Brasil precisa desse combustível para se libertar das garras dos países imperialistas, falou o técnico emocionado e punhos cerrados. Ele está aí embaixo de nós, escondido em algum lugar, só falta acharmos a armadilha que o esconde. Mas isso logo vamos descobrir, os gringos não perdem por esperar, concluiu Tomé.

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Ainda estava fresca na minha cabeça, as notícias da campanha de O Petróleo é Nosso, que li nos jornais velhos de embrulhar mercadorias da loja do Boa Esperança. Esta campanha, a meu modo de ver, era uma maneira de defendermos nossos recursos naturais, que alguns maus brasileiros estavam querendo entregar aos estrangeiros. Foi assim que fiquei sabendo, que a Petrobras é uma empresa genuinamente brasileira, como um pedaço de carne do nosso corpo, fruto da inspiração do presidente Getúlio Vargas.

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O que os gringos querem, disse também o técnico Tomé de Castro, são os nossos recursos naturais para substituir os deles que estão acabando, se já não acabaram. Por isso, estão interessadíssimos pela região Amazônica, que é rica em tudo, principalmente ouro, cobre, ferro, manganês... Urânio temos em abundância que chega até a deixar doidos os ponteiros dos relógios das aeronaves que sobrevoam certas áreas! Pedras preciosas, idem. Petróleo, mais cedo ou mais tarde, descobriremos seu habitat.

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Portanto, devemos tomar consciência dos nossos direitos, defendê-los, pensar no futuro de nossos filhos e lutar contra esses sacanas entreguistas, para que as riquezas do Brasil permaneçam em nossas mãos, sob nosso controle, pois só assim seremos um povo soberano e respeitado.

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A propósito disto, certa vez Fortunato me disse que neste mundo tem gente para tudo quando se trata de riqueza e que devemos desconfiar de todos, principalmente das pessoas de voz mansa e conversas cheias de promessas e palavras bonitas, que a gente não entende. Essas pessoas são perigosas, dizem que entendem de tudo e que tudo o que fazem é para o bem do povo, mas na verdade são todas uns paus-mandados dos trustes e o Brasil está cheio dessas gentes. Só sabem dizer que os estrangeiros são mais inteligentes, trabalhadores e honestos, e os brasileiros, mais ignorantes, preguiçosos e ladrões. Falam assim que é para perdermos nossa estima, a confiança em nós mesmos...

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Até que me admirava dessas palavras do Fortunato, porque ele era italiano e tudo ali era dele: terras, casas, castanhais, fazendas de gado, barcos, comércios, sem contar as coisas que possuía nas cidades vizinhas. Continua na próxima Pesca, com o poço perfurado que estava “dry”. Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo eternamente!...

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O vazio que ficou em Alenquer por causa do “dry”

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Foi em junho de 1961, pelo tempo da festa de Santo Antônio de Alenquer, quando o rio Amazonas estava cheio, seus afluentes e igarapés transbordados, e a virgem floresta transformada numa colossal planície verde encharcada de água doce e barrenta, que os petroleiros começaram a chegar para perfurar o poço da região do rio Curuá, conforme a orientação sísmica.

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Os técnicos estrangeiros, que eram os maiorais na Petrobras e os sabichões em geologia de petróleo, quando este poço chegou a uma certa fundura, mandaram tampar com cimento porque estava dry. Revirando uma das minhas papeladas na tentativa de encontrar algo para ilustrar este texto, encontrei estas anotações sobre este poço:

Well: 2-CUst-1-Pa, Lat.: 01°45'30" South e 54°58'30" West, Depth: 1577 metros, Início: 28/01/62 e término: 03/05/62, Elevação do

terreno: 13 metros. Geólogos: Winger, Harnish, Dennis Holliss. Geólogo do Distrito: Carlos Walter Campos. Teste estratigráfico no flanco norte da bacia do Médio Amazonas, distante 70 km do poço 1-AC-1-Pa. Apresentou odor de gás. Dois testes de formação recuperaram água salobra.

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Durante a sua perfuração, enfrentei problemas seríssimos com os trabalhos de carga e descarga das embarcações, que negociavam com o Boa Esperança, porque não havia trabalhadores suficientes, quase todos os homens da redondeza tornaram-se braçais da Petrobras. Estava à frente dos negócios do Boa Esperança, pois Fortunato já andava com coração falhando e largou tudo em mnhas mãos.

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Nunca na nossa vida fomos tão bem informados. Passamos a saber de tudo o que se passava no mundo através dos meios de comunicação da Petrobras, telegrafia, telex, fonia, mas principalmente nas conversas com os petroleiros... Por exemplo, naqueles cafundós ximangos, isolado no meio da mata densa, soubemos quase instantaneamente que Jango Goulart era o novo presidente do Brasil porque substituiu Janio Quadros que renunciou porque “forças ocultas” não lhe permitiam governar direito e que essas “forças ocultas” eram os políticos corruptos; que Aurélio do Carmo governava tranquilamente o Pará; e que Antônio Aldo Arrais, alenquerense da gema, era o novo prefeito eleito de Alenquer em substituição a José Rafael Valente...

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Nas conversas no botequim do Boa Esperança, sob o calor ardente de algumas doses de pinga, já era visível uma certa euforia nas conversas entre os petroleiros. Não, não porque o petróleo procurado foi achado, mas porque o sindicato da categoria petroleira da Amazônia, o Sindipetro-Pa, já existia de fato e de direito no Pará a partir de 2 de fevereiro de 1962, mas seu presidente eleito, o destemido Carlos de Sá Pereira, só foi empossado em 15 de maio.

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Foi delirante o comportamento destes trabalhadores, especialmente os da Amazônia, quando tomaram conhecimento que o processo nº 151.282 de 1961, transformava a Associação dos Trabalhadores na Indústria de Petróleo (ATIPE) em sindicato. Esta vitória deu-lhes o status dos demais de todo o Brasil.

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Dessa forma, passaram a gerir seus próprios recursos (imposto sindical, etc), fato que era do sindicato dos eletricitários do território do Amapá, que não tinha nada a ver com pesquisa de petróleo, mas com manganês. Conta-se que essa gerência esperta dos eletricitários, levou Jarbas Passarinho, então superintendente Regional da Petrobras na Amazônia(SRAZ), a criar subliminarmente uma associação para reter tais recursos no Pará, em benefício dos petroleiros...

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Os petroleiros amazônidas, passaram reivindicar seus direitos, como unificação salarial nacional, vantagens compensatórias diante da periculosidade que a região oferece, reestruturação administrativa de pessoal, folga de campo, mais recursos para a exploração de hidrocarbonetos da Amazônia...

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A presença da Petrobras na região do Curuá deu-nos novo alento intelectual e nova consciência de povo livre, fato que reforçou nosso patriotismo mesmo perdido naquelas lonjuras alenquerenses. Dizem que por onde essa Empresa passa, o povo fica mais brasileiro e cônscio de suas responsabilidades, o que é fato notório...

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Além disso, fez correr dinheiro às pencas na região. Pedro Perema, caçador do Pacoval, que negociava peles com Fortunato, chegou a comprar um rifle, caçando para os petroleiros. Chico Tracajá, pescador de mão cheia que veio do Arapiri, comprou uma máquina de costura para a mulher só com a venda de pirarucu. Tonho Socoró, com o comércio de queijo de coalho, comprou um anel de ouro para a companheira Josefina com quem vivia amigado só para mostrar que eram casados. Gente que nunca tinha visto dinheiro grande, viu naquele tempo, mesmo que nas mãos dos outros. Mas foi o sítio Boa Esperança que mais se beneficiou e bote benefício nisso, pois era o único fornecedor de mantimentos

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Até as mulheres da vida fizeram seus pés-de-meias no puteiro, também chamado de peteó pelos petroleiros, instalado à certa distância dos alojamentos. A Iraúna cansou-se da vida que levava, criou jeito de mulher séria e responsável, e juntou-se ao gringo John W Left, homem bom e educado. Dizem que ela foi para os EUA e levou o filho que tinha abandonado quando andava na safadeza. Antônia Cuia Rachada, mulher do carpinteiro Damião Macacaúba, lá das bandas do Flexal, para não ser mais surrada pelo marido escondeu-se no camarote de um rebocador e perna-para-que-te-quero com o comandante...

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A armadilha que a turma do observador de geofísica Tomé de Castro supunha prender o petróleo embaixo da terra, a turma de geologia veio, cavou o poço e descobriu que o prisioneiro era água salobra com leve odor de gás. Aqui está a justificativa do “dry” pelos gringos para o abandono das atividades exploratórias na área. Quando a Petrobras levantou os acampamentos, parece que um buraco enorme ficou cavado dentro da gente, assim como um vazio sem fim, e a região fechou-se novamente em seu silêncio enigmático natural.

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Mas é assim mesmo, disse resignado o petroleiro encarregado de acertar as contas com o Boa Esperança, isto faz parte da nossa luta. Um dia a gente topa de frente com esse danado e aí queremos ver a cara dos entreguistas e da gringalhada. então, seremos gente grande também, mas às nossas próprias custas... Continua na próxima Pesca, com a sequência: a Petrobras, a Amazônia e o Brasil. Louvado seja nosso senhor Jesus Cristo eternamente!...

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A Brasilidade dos Petroleiros

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Faz tempo que a Petrobras (Petróleo Brasileiro SA) passou por Alenquer, região do Curuá. Ela tinha apenas nove anos de idade desde que Getúlio Vargas criou-a pela Lei 2004, outubro de 1953, como consequência da clamor popular O Petróleo é Nosso. Antes, era conhecida como CNP (Conselho Nacional de Petróleo). Escrevi este texto no final da década de 80 do século passado para o jornal O Ximango e, hoje, fevereiro de 2012, reescrevo-o para seu conhecimento via e-mail como conclusão do tema acima...   

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Cincoenta anos passados desde então. A clareira onde o poço 2-CUst-1-PA encontra-se fechado, melhor dizendo, tamponado por cimento como “dry”, a mata recompôs-se e devolveu-a à livre circulação dos animais silvestres...

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Vez por outra ainda são encontrados na área, carcomidos pelo barro amazônico da intempérie e como fantasmas daquele tempo áureo do comércio do Boa Esperança, restos de materiais enterrados nos barrancos que marginam os igarapés por onde esses abençoados trabalhadores andaram, tais como fragmentos de copos e pratos de porcelana, vidros de garrafa de uísque, enfim, traços de coisas que os petroleiros manusearam com precisão e dedicação...

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Várias brocas e pedaços de tubos de aço usados na perfuração do poço cercam o jardim da frente da casa do Boa Esperança. O italiano Fortunato, antes de morrer do coração, disse que se orgulhava daquele jardim, não por causa das plantas que cultivava, mas pelas brocas e tubos que lhe davam uma lembrança agradável...

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A Região Amazônica pode ser caracterizada pelo desempenho dos administradores da Petrobras que, ao desvendarem os mistérios do seu subsolo, foram dando a conhecer ao mundo a verdadeira dimensão da beleza e da riqueza do patrimônio do povo brasileiro. Era uma façanha incomum a condução desta atividade exploratória, até então desconhecida no País, devido aos esforços extraordinários dispensados ao entendimento das parcas informações geológicas.

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Durante os anos de exploração de hidrocarbonetos na Amazônia, passaram pela base de Belém inúmeros administradores, superintendentes e interventores, muitos dos quais chegaram à direção geral da Petrobras. Eles se substituíam conforme sua formação profissional, da contingência política do País ou da própria Empresa. Assim, veremos engenheiros, geofísicos, geólogos e militares, conduzindo este seu segmento avançado. Com exceção dos militares, todos eram oriundos da Empresa.

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Eram homens de performance admirável que, comandando outros, quase sempre sob o rigor da intempérie, embrenhavam-se na floresta abundante. Rasgavam trilhas. Mapeavam margens de rios, lagos e igarapés. Movimentavam-se por estradas lamacentas-poeirentas. Ligavam a margem de uma rodovia ou hidrovia a uma clareira solitária cientificamente determinada na mata. Levantavam a torre de perfuração. Ativavam os motores e faziam a “catarina” arriar a sonda para escarafunchar as funduras da terra atrás do escasso fluido fóssil, que robustece a riqueza das nações...

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Desta forma, despiam a Amazônia e conheciam os detalhes de sua superfície e profundeza. Descobriam e estimulavam bacias sedimentares. Definiam os ambientes de sedimentação dos estratos, idades, texturas das rochas e constituição mineralógica. Interpretavam as causas e os efeitos dos processos de geração, migração e armadilhamento de hidrocarbonetos. Enfim, Desenvolviam técnicas precisas para produzir e refinar o petróleo encontrado e lançá-lo no mercado de consumo.

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Eram e continuam fundamentalmente uma equipe, uma equipe de exploração científica, de objetivo único. Um corpo uniforme e coeso, estruturado por várias categorias de profissionais que se alimentam do sonho de um povo independente, forte e feliz.

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São geofísicos, geodesistas, geólogos, engenheiros, técnicos, aviadores, sondadores, torristas, médicos, enfermeiros, cozinheiros, eletricistas, advogados, técnicos de escritório, plataformistas, motoristas, marinheiros, mecânicos, radiotelegrafistas, almoxarifes, além daqueles homens sem qualificação profissional, que são contratados nas cidades ou vilarejos próximos do lugar da operação, para realizarem os serviços pesados, braçais, imprescindíveis para o bom desempenho da missão...

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Todos estes homens, apartados da família ou dos entes amados, têm dias repletos de emoções, entremeios de temores, alegrias, angústias, tristezas, saudades, que enriquecem seu ambiente de trabalho de calor humano.

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Lutam por um Brasil cada vez mais forte, pacífico, consciente, que dá igual chance de crescimento a todos os filhos, por isso, não medem esforços e nem sacrifícios! Muitos são acometidos por doenças crônicas, outros estão com o corpo lacerado e mais outros que tiveram a vida ceifada pela adversidade do trabalho. Que Deus os tenha em seu aconchego! Enfim, são homens que tudo enfrentam para fazer o Brasil crescer e andar para frente...

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O enfrentamento das dificuldades por esses homens e o consequente aprimoramento das atitudes e ações do seu intelecto diante do desconhecido, são momentos que marcarão passo a passo a construção da ciência do petróleo na Amazônia, constituindo-se em verdadeiro maná para os futuros exploracionistas.

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Concretamente, constroem um patrimônio científico enorme a custo de muito sacrifício, paciência e perseverança, no afã de encontrar o petróleo na Amazônia e empurrar o Brasil para a frente...

Eliezer de Oliveira Martins

Obs: Este texto foi adaptado. O original você encontra em www.eliezer.ninhodanatureza.nom.br, link O Petróleo da Amazônia. O autor é técnico de geologia de petróleo aposentado da Petrobras e diácono da Arquidiocese de Belém, Pará. O exagero na narração está por conta da inspiração da beleza amazônica. Os nomes de alguns personagem são fictícios, mas os fatos reais.