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FACULDADE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Curso de Bacharel em Direito Turma A – Unidade: Tatuapé
“Pesquisa exploratória sobre a metodologia para o Curso de
Bacharel em Direito”
Márcia Molina Cavalcanti
Faculdade Carlos Drummond de Andrade
Docente de Metodologia do Trabalho Científico
Johnson Pontes de Moura
Engenheiro Químico pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Mestre em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professor do Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental da
Faculdade do Vale do Cricaré- UNIVC. Discente do Curso de Bacharel em Direito da Faculdade Carlos Drummond de Andrade
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................................4 2 A LEITURA E SUA IMPORTÂNCIA PARA O APRENDIZADO......................................5 2.1 O PROCESSO DE LEITURA...................................................................................................5 2.1.1 que ler – e onde ler..................................................................................................................5 2.1.2 A idéia principal......................................................................................................................6 2.1.3 Os diferentes tipos de leitura...................................................................................................7 2.1.4 Fases da leitura........................................................................................................................8 2.1.5 Como sublinhar um texto........................................................................................................9 2.2 ESQUEMAS, RESUMOS E FICHAS DE LEITURA.............................................................10 3 CONHECIMENTO E CIÊNCIA.............................................................................................14 3.1 CONHECIMENTO..................................................................................................................14 3.1.1 Conceito.................................................................................................................................14 3.1.2 Elementos..............................................................................................................................14 3.1.3 Tipos de conhecimento..........................................................................................................15 3.2 CIÊNCIA.................................................................................................................................18 3.2.1 Conceito.................................................................................................................................18 3.2.2 Características da ciência.......................................................................................................19 3.2.3 Divisão da ciência..................................................................................................................21 3.2.4.Critérios de cientificidade......................................................................................................24 3.3 A PESQUISA COMO PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO........................25 4 O MÉTODO CIENTÍFICO......................................................................................................27 4.1 FUNDAMENTOS DE METODOLOGIA...............................................................................27 4.1.1 Conceito.................................................................................................................................27 4.1.2 Tipos de raciocínio................................................................................................................28 4.2 MÉTODOS CIENTÍFICOS.....................................................................................................30 5 ELEMENTOS DOS TRABALHOS ACADÊMICOS............................................................38 5.1 ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS.............................................................................................40 5.2 ELEMENTOS TEXTUAIS......................................................................................................45 5.3 ELEMENTOS PÓS-TEXTUAIS.............................................................................................47 6 CITAÇÕES................................................................................................................................49 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: A NBR 6023:2002...................................................53 8 PROJETOS E TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO.......................................60 8.1 O QUE É UM PROJETO DE ESTÁGIO................................................................................60 8.2 ESCOLHA DO TEMA, DO PROBLEMA, DO LOCAL E DO ORIENTADOR..................61 8.2.1 Definição da área e do tema..................................................................................................62 8.2.2 Definição do problema..........................................................................................................65 8.2.3 Definição do local..................................................................................................................69 8.2.4 Definição do orientador.........................................................................................................71 8.3 PROJETOS DE ESTÁGIO......................................................................................................72 8.4 O TRABALHO DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO................................................................76 9 ABORDAGENS DE PESQUISA NO ESTÁGIO...................................................................81 9.1 ABORDAGENS QUANTITATIVAS E QUALITATIVAS...................................................81
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9.1.1 Pesquisa quantitativa.............................................................................................................82 9.1.2 Pesquisa qualitativa...............................................................................................................85 9.1.3 Pesquisa quali-quantitativa....................................................................................................88 9.2 PERSPECTIVA TEMPORAL DE ESTUDO..........................................................................89 9.3 TIPOLOGIA DAS PESQUISAS..............................................................................................91 9.3.1 Classificação quanto aos fins.................................................................................................91 9.3.1.1 Pesquisa explicativa............................................................................................................91 9.3.1.2 Pesquisa descritiva..............................................................................................................92 9.3.1.3 Pesquisa explicativa............................................................................................................94 9.3.1.4 Pesquisa metodológica.......................................................................................................94 9.3.1.5 Pesquisa aplicada................................................................................................................95 9.3.1.6 Pesquisa intervencionista....................................................................................................95 9.3.2 Classificação quanto aos meios.............................................................................................96 9.3.2.1 Pesquisa de campo..............................................................................................................96 9.3.2.2 Pesquisa de laboratório.......................................................................................................97 9.3.2.3 Pesquisa documental...........................................................................................................97 9.3.2.4 Pesquisa bibliográfica.........................................................................................................98 9.3.2.5 Pesquisa experimental........................................................................................................98 9.3.2.6 Pesquisa ex-post-facto........................................................................................................99 9.3.2.7 Pesquisa participante/participativa...................................................................................100 9.3.2.8 Pesquisa-ação....................................................................................................................101 9.3.2.9 Estudo de caso..................................................................................................................102 9.3.2.10 Levantamento.................................................................................................................104 9.4 CONSIDERAÇÕES GERAIS................................................................................................105 10 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................................................106 10.1 POPULAÇÃO DE PESQUISA............................................................................................107 10.2 AMOSTRA...........................................................................................................................108 10.2.1 Tipos de amostragem.........................................................................................................110 10.2.2 Cálculo da amostra............................................................................................................114 11 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS...............................................................................116 11.1OBSERVAÇÃO....................................................................................................................118 11.1.1 Observação simples...........................................................................................................120 11.1.2 Observação participante....................................................................................................121 11.1.3 Observação sistemática......................................................................................................122 11.1.4 Roteiro de observação: Uma proposta...............................................................................123 11.2 ENTREVISTA......................................................................................................................124 11.2.1 O Focus Group..................................................................................................................130 11.3 QUESTIONÁRIO................................................................................................................131 11.4 PESQUISA DOCUMENTAL..............................................................................................134 11.4.1 A pesquisa bibliográfica....................................................................................................138 12 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS...............................................................140 12.1 CLASSIFICAÇÃO.............................................................................................................. 141 12.2 CODIFICAÇÃO...................................................................................................................143 12.3 TABULAÇÃO......................................................................................................................144 12.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA...................................................................................................146 12.5 INTERPRETAÇÃO DOS DADOS.....................................................................................153
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13 TRABALHOS ACADÊMICOS...........................................................................................154 13.1 RESUMOS DE TEXTO.......................................................................................................154 13.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................................................................156 13.3 ARTIGO...............................................................................................................................158 13.4 PAPER..................................................................................................................................159 13.5 RESENHA CRÍTICA...........................................................................................................161 13.6 ENSAIOS.............................................................................................................................163 13.7 MONOGRAFIAS.................................................................................................................164 13.8 ESTUDOS DE CASO..........................................................................................................165 13.9 SEMINÁRIO........................................................................................................................167 14 Identificação dos pontos em comum e dos pontos distintos entre a metodologia geral para Ciências Sociais em geral e a metodologia para Direito..........................................................................................................................................169 REFERÊNCIAS..........................................................................................................................170
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1 INTRODUÇÃO
Se pararmos para analisar as últimas décadas, vamos perceber que ocorreram grandes
mudanças uma vez que o conhecimento produzido pela humanidade cresceu e foi mais difundido
do que em qualquer outro período da História devido ao surgimento de agências que
incrementam e divulgam informações e saberes.
Podemos dizer que entre as agências que atualmente colocam a esse novo saber estão os
centros de pesquisa e laboratórios de altíssimo nível, universidades, meios de comunicação social
(com publicações e programas que popularizam o conhecimento) – e atualmente com grande
força a Internet com suas redes sociais.
A produção de novos conhecimentos gera nas pessoas uma necessidade constante por
atualização diante deste fato temos o outro lado da moeda que é uma avalanche de informação
que da forma como estão disponíveis podem não possibilitar a utilização do conhecimento
adquirido nem garante a relevância ou a veracidade da informação.
É deste fato que surge a necessidade de se desenvolver uma metodologia capaz de apurar,
selecionar, elaborar, ordenar e sistematizar essa massa de informações e transformá-la em
conhecimento. Esse é o objetivo da pesquisa.
A pesquisa ocupa posição central na vida universitária e está presente tanto no ensino quanto
na extensão. Por essa importância, é necessário esclarecer seus conceitos, conforme poderá ser
visto neste trabalho acadêmico.
Dessa forma, este trabalho procura identificar e desenvolver aspectos metodológicos básicos
para o estudo e a pesquisa eficientes do Curso de Bacharel em Direito. Com seu foco voltado
para o curso de graduação, o trabalho discute aspectos referentes aos projetos e relatórios
acadêmicos, fase de extrema importância na vida universitária, que exigem cuidados redobrados
em termos metodológicos, e fornece bases para os trabalhos acadêmicos na área.
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2 A LEITURA E SUA IMPORTÂNCIA PARA O APRENDIZADO
2.1 O PROCESSO DE LEITURA
2.1.1 O que ler - e onde ler
A leitura é essencial para o aprendizado e a formação dos operadores do Direito, sendo
ainda uma prática que o acompanhará necessariamente durante toda a sua vida profissional.
Assim, o primeiro aspecto que deve ser trabalhado para se garantir a maior eficiência no
processo de leitura refere-se ao que deve ser lido. Evidentemente, deve-se procurar ler o que é
importante para a vida e a prática do indivíduo. Ruiz (1995, p. 36) destaca muito bem a
importância da leitura: A leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memória, abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação, disciplinando a mente e alargando a consciência pelo contato com formas e ângulos diferentes sob os quais o mesmo problema pode ser considerado. Quem lê constrói sua própria ciência; quem não lê memoriza elementos de um todo que não se atingiu.
Para determinar o que ler, é preciso ter em mente, inicialmente, o que se pretende atingir,
ou seja, o propósito da leitura. De acordo com Ruiz (1995), a leitura busca captar, criticar, reter
e integrar conhecimentos. Isso se faz, segundo Northedge (1998), para desenvolver os próprios
pensamentos do leitor, agregando informações e idéias adicionais àquelas que este já possui,
conferindo-lhe novos pontos de vista. “O objetivo da leitura não é apresentar uma porção de
palavras passando em frente de seus olhos [...]. É reunir suas idéias e fazê-lo repensá-las.”
(NORTHEDGE, 1998, p. 34; grifos do autor).
Northedge (1998) sublinha que o conhecimento só será eficientemente construído a partir
da leitura se o leitor tiver interesse pelo assunto; isso significa, antes de mais nada, que a leitura
idealmente deve ser motivada por uma curiosidade e um desejo de aprendizado, de dominar o
conhecimento que o texto traz.
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Definidos os propósitos, é preciso examinar o título do livro, o nome do autor, seu
curriculum, o índice, a bibliografia, e, sempre que possível, a introdução, o prefácio, a nota do
autor, para ver se este está de acordo com o que se objetiva atingir (ou seja, a leitura deve estar
previamente planejada, deve seguir objetivos previamente definidos). Professores, colegas e
pessoas que já tenham tido contato com a área de conhecimento da qual a obra trata podem ajudar
a tirar dúvidas quando se está selecionando a bibliografia a ser lida.
Uma vez que se tenha selecionado o que será lido, o passo seguinte se refere à seleção de
um local para a leitura. A grande maioria das pessoas necessita de ambiente bem iluminado,
arejado e silencioso para uma leitura proveitosa. Manter distância de fontes de ruído é essencial
para não prejudicar a concentração do leitor. Ergonomicamente falando, está demonstrado que a
fonte de iluminação, no caso de luz artificial, deve estar à esquerda do leitor. Uma cadeira ou
poltrona confortável é fundamental, sobretudo nos casos em que a pessoa irá passar muito tempo
lendo; não obstante, é recomendável interromper periodicamente a leitura para “esticar as pernas”
e descansar os olhos, reduzindo o esforço no processo.
Alguns outros acessórios são importantes para uma leitura proveitosa: um dicionário de
fácil manuseio deve estar disponível para dirimir dúvidas em relação ao significado das palavras
do autor, e um bloco de papel com lápis ou caneta é de grande utilidade para destacar aspectos
fundamentais do texto, dúvidas e pontos que mereçam maior desenvolvimento em leituras
posteriores.
2.1.2 A idéia principal
Um aspecto central no processo de leitura está na captação da idéia principal ou central de
cada parágrafo. Cada texto escrito, qualquer que seja sua dimensão, destaca Ruiz (1995), possui
uma idéia central, fundamental para sua compreensão. O bom leitor, ao ler, concentra-se em
captar a idéia central do texto, procurando unidades de pensamento e idéias em cada parágrafo
(RUIZ, 1995). Como reconhecer essa idéia central? Uma vez que o leitor tenha encontrado uma
idéia importante em um parágrafo, ele deve memorizá-la ou anotá-la, e continuar o processo de
leitura com ela em mente, procurando desenvolver a argumentação do autor a partir dessa idéia,
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distinguindo, dentro dessa argumentação, o principal do secundário. Normalmente, a idéia central
exige maior esforço do autor em termos de prová-la e demonstrá-la, levando-o a incluir
exemplos, analogias e fatos que a expliquem, que a sustentem, que a demonstrem, pois a idéia
central, de uma forma grosseira, é a mensagem que o autor deseja passar.
2.1.3 Os diferentes tipos de leitura
Lakatos, Marconi (2001) apresentam uma classificação dos tipos de leitura baseada nos
objetivos do leitor, organizada em termos de profundidade:
a) Scanning: é uma leitura rápida, de procura de algum tópico ou assunto, lendo-se o índice,
algumas linhas ou alguns parágrafos do texto, em busca de frases ou palavras-chave. Trata-se
de leitura de contato inicial com a obra;
b) Skimming: é uma leitura que objetiva captar a tendência geral de pensamento do autor do
texto, usando-se sobretudo os títulos e subtítulos nos quais o texto se divide, mas também
alguns parágrafos, de modo a permitir a compreensão da tendência do trabalho ou a
metodologia com o qual ele foi construído;
c) Leitura de significado: procura dar uma visão ampla do conteúdo, desprezando aspectos
secundários. O leitor normalmente percorre uma única vez o texto, não voltando para
aprofundar sua compreensão;
d) Leitura de estudo ou leitura informativa: seu objetivo é dar uma visão completa do conteúdo
do texto, exigindo normalmente mais de uma leitura do mesmo texto, a sublinha e o destaque
de trechos ou palavras-chave do texto, e o resumo;
e) Leitura crítica: como o tipo mais profundo de leitura, pretende formar um ponto de vista
sobre o texto, comparando o que o autor escreveu com conhecimentos anteriores, avaliando a
qualidade, correção, atualidade e fidedignidade dos dados apresentados por este e a solidez da
argumentação. Neste caso específico, o processo de leitura exige, para ser bem-sucedido,
sólido conhecimento do assunto por parte do leitor.
Estes dois últimos tipos de leitura são os que mais recompensam o leitor em termos de
conhecimentos, mas também são os mais trabalhosos. É praticamente impossível, mesmo para o
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leitor treinado, captar adequadamente as idéias centrais e a mensagem do autor em uma só leitura.
Por isso o processo de leitura se divide em fases.
2.1.4 Fases da leitura
Lakatos e Marconi (2001) apresentam diversas fases diferentes para o processo de leitura,
que podem ser sintetizadas como se segue:
a) Leitura de reconhecimento ou leitura prévia: é uma leitura rápida, que visa dar um contato
inicial com o texto, para determinar se os conhecimentos que se procura estão sendo
abordados no mesmo. Lê-se normalmente o índice, os títulos e subtítulos do texto;
b) Leitura exploratória: busca sondar as informações disponíveis no texto. Já se determinou a
existência, neste, do conhecimento que se pretende buscar, mas é preciso definir se de fato o
texto aborda os aspectos específicos que se procura. Lê-se normalmente a folha de rosto, a
contracapa e as “orelhas” do livro, a bibliografia e as notas de rodapé do texto e, mais
importante, a introdução ou o prefácio do texto;
c) Leitura seletiva: visa selecionar as informações mais importantes do texto, relacionadas com
o problema que se está estudando. Busca-se eliminar o supérfluo no texto, como subitens e
outras subdivisões que não abordem o assunto;
d) Leitura reflexiva: nesta fase, busca-se frases-chave e idéias centrais que determinem o que o
autor pensa sobre o assunto, e porque faz determinadas afirmações. É uma leitura mais
profunda do que todas as anteriores;
e) Leitura crítica: avalia as informações prestadas pelo autor, hierarquizando as idéias que este
desenvolve de maneira a determinar suas intenções ao escrever o texto. Nesta fase, o leitor
primeiro compreende o que o autor quis transmitir, e depois modifica ou ratifica suas próprias
idéias e argumentos sobre o texto;
f) Leitura interpretativa: procura relacionar as afirmações do autor com os problemas para os
quais o leitor está procurando uma solução através da leitura. É um estudo mais profundo das
idéias desenvolvidas no texto, buscando a associação de idéias na solução dos problemas que
motivaram a leitura;
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g) Leitura explicativa: a mais profunda de todas, procura verificar os fundamentos de verdade
usados pelo autor.
Portanto, o processo de leitura engloba mais de uma leitura. As fases iniciais (“a” e “b”)
normalmente são cumpridas numa só leitura do texto, mas as demais exigem mais leituras. O
importante, aqui, não é o número de vezes que o texto será lido, e sim quanto de conhecimento
será gerado pelo processo de leitura. Esse conhecimento pode ser gerado por apenas duas leituras,
no caso de leitores metódicos e experimentados, que possuem bom conhecimento do assunto
tratado pelo autor. Entretanto, dependendo do leitor, leituras adicionais deverão ser
empreendidas. Dessa maneira, é fundamental que o leitor disponha de tempo suficiente para a
leitura antes de empreender o processo completo de leitura, ou seus objetivos serão prejudicados.
Evidentemente, antes de iniciar o processo de leitura, o leitor deve ter estabelecido
objetivos em relação à leitura, de modo que possa determinar quais textos devem ser lidos com
maior profundidade. Isto, entretanto, será trabalhado com maior profundidade quando se tratar da
pesquisa bibliográfica, na qual o planejamento prévio desempenha um papel central no
delineamento.
2.1.5 Como sublinhar um texto
Sublinhar um texto é uma das melhores formas de captar seu conteúdo, pois permite
identificar melhor as idéias principais de cada parágrafo, destacando-as para leituras posteriores,
além de aumentar a concentração do leitor. Sublinhar, de acordo com Ruiz (1995), exige alguns
cuidados:
a) Não se deve sublinhar em demasia, somente as idéias principais e os aspectos mais
importantes do texto;
b) Não se deve sublinhar após a primeira leitura, pois esta somente fornece um contato inicial
com o texto, e dificilmente permite uma seleção eficaz dos detalhes mais importantes do
texto;
c) A parte sublinhada deve dar a possibiliade de reconstituir todo o parágrafo;
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d) O texto sublinhado deve permitir uma leitura rapidíssima do texto, como um telegrama - vai
daí que a sublinha não precisa ser contínua, ou seja, não é preciso sublinhar todo um período
para se captar o que ele quer dizer, mas apenas duas ou três palavras ou expressões do texto,
que possam ser concatenadas posteriormente;
e) Deve-se sublinhar com dois traços as palavras-chave da idéia central do texto, e com um só
traço detalhes e pormenores importantes do texto, associados àquela idéia;
f) As passagens mais significativas do texto devem ser destacadas com linha vertical à margem
do texto;
g) Dúvidas e pontos de discordância devem ser assinaladas com um ponto de interrogação.
Naturalmente, determinar o que sublinhar, e o quanto sublinhar é um aspecto essencial
para o processo eficiente de sublinha; somente a prática pode conduzir à perfeição neste item,
pois sublinhas em demasia tornam monótona e demorada a leitura, enquanto que poucas
dificultarão a compreensão do texto. O trabalho, entretanto, é compensador: textos
adequadamente sublinhados são lidos mais rapidamente quando há a necessidade de leituras
adicionais, de rememorização das idéias tratadas, e de compreensão mais profunda do que o autor
desejava passar com o texto.
2.2 ESQUEMAS, RESUMOS E FICHAS DE LEITURA
Uma técnica que normalmente dá bons resultados em termos de maior aproveitamento da
leitura consiste em fazer anotações sobre o texto, na forma de esquemas, fichas e resumos.
Algumas dicas são importantes para facilitar o trabalho.
O esquema é o processo mais simples de trabalhar o conteúdo de um texto. Consiste em
condensar as idéias expressadas pelas frases do texto em palavras-chave, as idéias de um
parágrafo em uma frase-mestra que transmita a idéia principal do mesmo, e finalmente, a
sucessão das idéias desenvolvido no texto como um todo por meio de parágrafos-chave. O
processo exige o encadeamento lógico das diferentes idéias, de modo que se possa ter uma
compreensão do texto como um todo. Nas palavras de Lakatos e Marconi (2001, p. 25), “a
elaboração de um esquema fundamenta-se na hierarquia das palavras, frase e parágrafos-chave
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que, destacados após várias leituras, devem apresentar ligações entre as idéias sucessivas para
evidenciar o raciocínio desenvolvido.”
De acordo com Ruiz (1994), a elaboração de um esquema obedece a algumas regras:
a) É preciso ser fiel ao texto, evitando encaixar as idéias deste nos próprios pensamentos e
conhecimentos;
b) Deve-se usar os títulos e subtítulos do texto como guias para apreensão do tema trabalhado
pelo autor;
c) Clareza, simplicidade e critério na distribuição das idéias são essenciais para se manter
fidelidade ao texto;
d) Deve-se encadear e subordinar as idéias trabalhadas pelo autor, em vez de simplesmente
reuni-las;
e) Deve-se ter um sistema uniforme de observações, gráficos ou símbolos para dividir o texto e
subordinar as idéias umas às outras.
Os resumos exigem um esforço maior por parte do leitor, condensando o texto de modo a
reduzi-lo aos seus elementos mais importantes. Ao contrário do esquema, o resumo deve formar
um texto completo, redigindo cada parágrafo de modo a garantir a compreensão do texto original,
desobrigando o leitor de voltar a este quando precisar do conteúdo do mesmo. É possível também
incluir no resumo uma apreciação crítica do texto, a partir de um posicionamento assumido pelo
autor (RUIZ, 1994).
Um resumo é um instrumento valioso para testar a compreensão do texto por parte do
leitor, mas também permite treinar e desenvolver um estilo de escrita (RUIZ, 1994). Algumas
regras, de acordo com Ruiz, são importantes:
a) Deve-se resumir um texto somente depois de tê-lo lido o suficiente para compreendê-lo, e
depois de fazer anotações sobre o mesmo;
b) Um resumo deve ser breve e compreensível;
c) O autor do resumo deve utilizar as palavras sublinhadas e as anotações feitas ao longo do
texto, pois estas devem transmitir as idéias deste;
d) Toda vez que for necessário fazer uma transcrição textual, é preciso usar as aspas e fazer a
referência bibliográfica completa da mesma;
e) Pode-se incluir, ao final do resumo, idéias integradoras, referências bibliográficas adicionais e
posicionamentos críticos a respeito do texto.
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Esta última regra não é referendada por todos os autores. Alguns consideram que os
resumos não devem incluir posicionamentos pessoais, devendo guardar o máximo de fidelidade
em relação ao texto. Severino (2000) menciona que o resumo deve usar as próprias palavras do
estudante, mas precisa se manter fiel às idéias do autor do texto original. De qualqeur forma, o
resumo capta, analisa, relaciona, fixa e integra o assunto estudado, expondo-o de modo a permitir
uma rápida consulta e a rememorização do assunto (LAKATOS; MARCONI, 2001).
Os resumos são de três tipos básicos:
a) Indicativo ou descritivo: semelhante ao esquema, é um resumo que apenas faz referência às
partes mais importantes do texto, descrevendo-lhe sua natureza, forma e propósito, valendo-se
de frases curtas para indicar elementos importantes deste;
b) Informativo ou analítico: mais amplo que o anterior, contém todas as principais informações
do texto e dispensa leituras adicionais deste. Deve evidenciar os objetivos e o assunto do
texto, os métodos e técnicas adotados na exposição do assunto, e os resultados e conclusões a
que o autor chegou;
c) Crítico: formula um julgamento sobre a forma, o conteúdo e a apresentação do texto.
Resumir o texto, portanto, é um trabalho a ser empreendido sempre que for necessário
absorver conteúdos e rememorizá-los rapidamente. Dessa maneira, o resumo é um aliado tanto do
estudante que está realizando um trabalho de maior fôlego, que exija pesquisa em diversas fontes
diferentes, ou está se preparando para uma prova (e precisa relembrar conteúdos), quanto daquele
que apenas deseja maior compreensão de um determinado assunto. Subseqüentemente, este
trabalho abordará os resumos enquanto trabalhos acadêmicos.
Finalmente, as fichas consistem num sistema de apresentação de conteúdo do material
escrito, permitindo identificar uma obra, conhecer e analisar seu conteúdo, apresentar citações
importantes, e elaborar críticas ao texto (LAKATOS; MARCONI, 2001). As fichas seguem
regras básicas para sua apresentação: toda ficha possui três componentes, o cabeçalho, a
referência bibliográfica e o corpo ou texto, sendo opcional incluir a indicação da obra (ou seja, a
que tipo de público ela se destina) e sua localização (LAKATOS; MARCONI, 2001).
O cabeçalho identifica a ficha, apresentando-lhe o título, o número de classificação e, no
caso de o conteúdo se estender por mais de uma ficha, a letra indicativa de seqüência
(LAKATOS; MARCONI, 2001). Em seguida, a ficha deve apresentar a referência bibliográfica,
que deve ser elaborada de acordo com a norma da ABNT (6023: 2002). Já o corpo ou texto deve
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ser elaborado de acordo com o tipo de ficha. A classificação das fichas é definida por sua
finalidade; assim, as fichas se classificam em bibliográficas (de obra inteira ou parte), de citações,
de resumo ou conteúdo, de esboço, e de comentário ou analítica (LAKATOS; MARCONI, 2001).
As fichas bibliográficas abordam, de maneira sucinta e breve, os principais elementos da
obra fichada, definindo-lhes o campo do saber, a problemática abordada, as conclusões às quais o
autor chegou, as contribuições que este possa ter dado, as fontes dos dados, a metodologia
utilizada, entre outros. As fichas de citações reproduzem fielmente citações relevantes para o
estudo empreendido. As fichas de resumo sintetizam clara e concisamente as principais idéias ou
aspectos da obra. As fichas de esboço são semelhantes às de resumo, mas detalham com maior
profundidade a obra estudada. Por fim, as fichas de comentário analisam a obra, abordando
aspectos como a forma e a metodologia de exposição, fazendo análises críticas do conteúdo e/ou
a comparação da obra com outras do mesmo tema, e explicando a importância da obra para o
estudo que está sendo empreendido (LAKATOS; MARCONI, 2001).
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3 CONHECIMENTO E CIÊNCIA
3.1 CONHECIMENTO
3.1.1 Conceito
Etimologicamente, a palavra “conhecimento” deriva do latim cognitio (o termo grego
correspondente é ghnosis). Segundo Nicola Abbagnano (1992), conhecimento é a técnica para
comprovação de um objeto (seja ele uma entidade, um fato, uma coisa, uma realidade ou uma
propriedade); o termo “comprovação” deve ser entendido como um procedimento que possibilita
a descrição, o cálculo ou a previsão do objeto. É preciso mencionar, adicionalmente, que essa
comprovação não é infalível.
Neste sentido, não se deve confundir o conhecimento com a crença: esta deve ser entendida
como o empenho de colocar uma verdade qualquer, mesmo que ela não seja comprovável;
ademais, o verdadeiro conhecimento atinge as causas da coisa. O conhecimento é um processo
mais complexo do que a crença, como será visto na próxima seção, aonde serão descritos os
elementos do processo cognitivo.
3.1.2 Elementos
O processo de conhecer alguma coisa ou fenômeno envolve necessariamente três
elementos, a saber: o sujeito, isto é, o cognoscente ou aquele que conhece, o objeto, ou seja,
aquilo que deve ser conhecido, e a imagem, que vem a ser o ponto de coincidência entre o sujeito
e a realidade; o conhecimento vem a ser uma transferência das propriedades do objeto para o
sujeito. Felix Kaufmann (1977) frisa: a imagem não é uma cópia fiel da realidade. A figura a
seguir auxiliará no entendimento:
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SUJEITO OBJETO
IMAGEM
Figura 1: Os elementos do processo de conhecimento Fonte: Autores
Toda operação cognitiva se dirige do sujeito para o objeto e tende a efetuar uma relação
com esse objeto, de forma que surja uma característica efetiva deste na mente do sujeito. Dessa
maneira, como dizem os filósofos, todo conhecimento é uma apropriação do mundo objetivo por
parte do sujeito cognoscente. A percepção desempenha um papel fundamental no conhecimento.
Embora todos os seres vivos sejam capazes de possuir alguma forma de conhecimento,
somente o ser humano é capaz de transcender o conhecimento fornecido pelos sentidos: o
conhecimento humano é intelectual, ou seja, o homem é capaz de conhecer as realidades
materiais não somente na sua singularidade, mas vai além disso, pois ele pode comparar, analisar
e fazer relações entre os objetos. Uma pedra é a mesma coisa para qualquer animal, mas somente
ao homem ela pode ser considerada preciosa; uma planta é percebida pelos animais herbívoros
como comida, e pelo homem como comida, como remédio, como decoração, etc.; um pedaço de
carne é identificado como tal por um cachorro ou um gato, mas somente para um ser humano ele
tem forma triangular ou retangular.
3.1.3 Tipos de conhecimento
A tipologia de conhecimentos que será explicada nesta seção é fornecida por João Álvaro
Ruiz em seu livro “Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos” (1995); os
estudantes que desejem se aprofundar nessa tipologia, especialmente no que tange à diferença
entre as diferentes formas e o conhecimento científico devem consultar o capítulo 4 dessa obra.
O primeiro tipo que se pretende descrever é o chamado conhecimento vulgar. Este é uma
forma empírica de conhecer as coisas, baseada nas experiências e vivências de cada pessoa, que é
capaz de atingir os fatos mas não de discutir-lhes as causas. Toda pessoa acumula imensa carga
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de conhecimento vulgar ao longo de sua vida; as experiências vividas são acumuladas pelas
pessoas de forma acrítica e ametódica, isto é, sem a realização de análises, de críticas ou de
demonstrações sobre os objetos conhecidos.
O conhecimento vulgar forma a maior parte da carga de conhecimentos de cada um, sendo
capaz de fornecer aos homens algumas certezas; entretanto, não concede nenhuma demonstração
ou prova dessas certezas. Para exemplificar o tipo de conhecimento vulgar, pode-se mencionar o
fato de que, por experiência própria ou transmitida pelos parentes e amigos, todas as pessoas
sabem receitas caseiras de remédios para algumas doenças; entretanto, não sabem explicar o
porquê dessas receitas funcionarem, nem tampouco a forma pela qual elas fazem efeito. Um
cientista procederia à análise das receitas, buscando identificar as razões pelas quais elas curam
as doenças a que se destinam, bem como a forma pela qual ocorre essa cura.
O segundo tipo é chamado conhecimento intuitivo. Ruiz (1995) observa que a intuição é
uma forma de conhecimento que, pela sua característica de atingir o objeto sem “meio” ou
intermediários de comparação, assemelha-se ao fenômeno do conhecimento sensorial, em
particular da visão; Abbagnano reforça essa idéia mencionando que a intuição é uma relação
direta com um objeto qualquer, relação esta que implica a presença do objeto.
Como forma de conhecimento, o tipo intuitivo é imediato, subjetivo, e se reduz a um
único ato de experiência. Laville e Dionne (1999) associam o conhecimento intuitivo ao senso
comum, observando que ele representa uma primeira compreensão do objeto, e denunciando
como ele pode ser enganador. O conhecimento intuitivo não pode aspirar à validade do
conhecimento científico (que é objetivo), pois suas conclusões não têm validade geral. Há duas
formas de conhecimento intuitivo, a saber:
a) Sensorial: conhecimento obtido por meio dos sentidos;
b) Intelectual: conhecimento obtido por meio de determinados princípios lógicos (“nada pode
ser e não ser ao mesmo tempo sob o mesmo aspecto”), éticos (“faça o bem, evite o mal”) e
estéticos (conceito do belo ou esteticamente agradável).
O terceiro tipo é o conhecimento teológico, o qual pressupõe a existência de uma
autoridade divina, suprema e soberana acima dos homens. Exige também a fé, e se baseia na
revelação divina; os livros sagrados, revelados por Deus aos homens são as fontes dos
conhecimentos divinos. Para o fiel, o conhecimento teológico é superior ao científico, pois se
origina diretamente de Deus e é atingível pelo homem por meio da revelação. A fé é, dessa
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forma, o conhecimento supremo para o ser humano. A crença não deve ser confundida com o
conhecimento teológico, pois este apresenta fundamento definido.
O objeto do conhecimento teológico é (ou pode ser) o mesmo do científico, mas ele se
pauta por princípios diferentes: em primeiro lugar, o cientista se vale dos sentidos e de sua razão
para conhecer, ao passo que o teólogo utiliza a razão iluminada, ou seja, esclarecida por Deus; em
segundo lugar, o cientista se fundamenta no conhecimento dos fatos e das experiências, enquanto
que o teólogo se baseia na Revelação. Dessa maneira, enquanto o teólogo sustenta que o mundo é
uma criação de Deus - pois assim está escrito nos livros sagrados - o cientista se esforça por
explicar as leis físicas que deram origem ao mundo.
O quarto tipo é o conhecimento filosófico. A filosofia já foi definida das mais diferentes
maneiras, mas pode-se ficar com a conceituação de Platão, na qual ela é o “saber a serviço do
homem.” (apud ABBAGNANO, 1992). “Filósofo” é uma palavra grega cunhada por Pitágoras
como um substituto para a denominação “sábio”: segundo esse pensador, apenas os deuses são
sábios; os homens são apenas amigos (philos) da sabedoria (sophoi).
O conhecimento filosófico objetiva as idéias, as relações conceituais e as causas mais
remotas do objeto; embora ela tenha o mesmo objeto material das ciências particulares, estas não
podem se pronunciar sobre as finalidades supremas de tal objeto, ao passo que a filosofia, sim
(RUIZ, 1994). Num exemplo simples, o cientista estuda os mecanismos da vida humana, ao
passo que o filósofo indaga o porquê do homem estar vivo; o cientista estuda o papel do cérebro
no conhecimento, enquanto que o filósofo se concentra nos mecanismos utilizados pela mente
para o raciocínio, e assim por diante.
A filosofia se vale do método racional e dedutivo para conhecer; esse método não
necessita da confirmação empírica, e sim de coerência. Além disso, a filosofia busca a síntese e o
todo, enquanto que a ciência é analítica e procura a parte, o fragmento, a particularidade. Devido
a isso, não existe nenhuma verdade definitiva em filosofia: ela faz perguntas, fornece respostas,
mas não aspira a alcançar respostas supremas ou absolutamente corretas. A ciência, em contraste,
faz perguntas e oferece respostas, algumas das quais podem ser aceitas como perfeitamente
verdadeiras (pelo menos no estágio atual de seu desenvolvimento).
Finalmente, deve-se introduzir o conhecimento científico. Tal como o compreendemos,
ele é uma conquista recente, podendo ser datado na Revolução Galileana do século XVII; isso
não quer dizer que não existisse ciência antes de Galileu, e sim que as bases modernas da ciência
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foram estabelecidas a partir do cientista italiano. O conhecimento científico aspira à objetividade,
pois o cientista deve se despir de suas emoções e preconceitos, de forma que suas experiências
possam ser repetidas e suas conclusões, verificadas por seus colegas. Além disso, o cientista se
vale de uma linguagem rigorosa que é de conhecimento dos outros cientistas. O conhecimento
científico se caracteriza ainda, por ser sistemático, metódico, preciso, e por estudar fatos
abstratos, isolados do todo aonde se inserem.
O cientista está interessado em descobrir regularidades que lhe permitam enunciar
generalidades sobre os fenômenos na forma de leis; assim, ele busca descobrir relações universais
e necessárias sobre os fenômenos estudados e, ao encontrá-las, prever acontecimentos e agir
sobre a natureza. Evidentemente, nada disso será atingido se não for possível repetir as
experiências que levaram ao descobrimento das leis; como Alan F. Chalmers colocou, “o
conhecimento científico é conhecimento confiável porque é conhecimento provado
objetivamente.” (CHALMERS, 1995, p. 23).
3.2 CIÊNCIA
3.2.1 Conceito
Etimologicamente, a palavra “ciência” deriva do termo latino scientia, cujo sentido
original é “conhecimento”; o termo grego, epistheme, vem sendo modernamente utilizado no
sentido de “epistemologia”, teoria do conhecimento. Portanto, o que se originalmente utilizava
para definir todo o conhecimento humano, atualmente deve ser considerado somente como uma
das formas possíveis de se conhecer.
Não existe um conceito universalmente aceito de ciência. Na verdade, esse conceito não
somente mudou ao longo dos séculos, como ainda foi profundamente influenciado pelas tradições
de pesquisa e de conhecimento adotadas. A lista que se segue não pretende ser exaustiva, e sim
apresentar uma variedade de concepções diferentes sobre o assunto:
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• Nicola Abbagnano (1992): ciência é um conhecimento que inclui, em qualquer forma ou
medida, uma garantia de sua própria validade. Oposto à ela é o conceito de opinião, que não
possui garantia alguma de validade;
• Rubem Alves (1987): a ciência é uma especialização: ela consiste num refinamento de
potenciais comuns a todos e na hipertrofia de capacidades que todos têm. Neste sentido, ela
pode ser considerada uma metamorfose do senso comum, já que ambos (ciência e senso
comum) são expressões da mesma necessidade de compreender o mundo com o intuito de
melhor viver. Ambos estão em busca de ordem, ainda que possuam visões diferentes do que é
ordem;
• Roy Bhaskar (1975, apud MAY, 2004): a ciência é uma tentativa sistemática de pensar as
estruturas e ações das coisas que existem e agem independentemente do pensamento;
• Alan F. Chalmers (1995): a ciência é objetiva. Não existe uma categoria geral chamada
“ciência”, em relação à qual alguma área de conhecimento pode ser aclamada como tal ou
difamada por não sê-la;
• Antonio Carlos Gil (1995): a ciência é uma forma de conhecimento, e seu objetivo é a
formulação, através de linguagem rigorosa e adequada (quando possível, com o uso da
linguagem matemática), de leis que regem o comportamento dos fenômenos, leis estas que
sejam capazes de descrever séries de fenômenos, comprováveis por meio de experimentação e
observação e capazes de prever acontecimentos futuros;
• William J. Goode (1979): a ciência é um método de abordagem de todo o mundo empírico
(sendo este o mundo suscetível de ser experimentado pelo homem). Não visa alcançar a
verdade última, e sim analisar os fenômenos de forma que os cientistas possam apresentar
proposições sob a forma de “se..., então...”;
• Fred N. Kerlinger (1977): a ciência é um empreendimento preocupado exclusivamente com o
conhecimento e a compreensão dos fenômenos naturais. Os cientistas desejam conhecer e
compreender as coisas, de forma que possam afirmar: “se fizermos isto aqui, acontecerá
aquilo ali”;
• João Álvaro Ruiz (1995): a palavra “ciência” pode ser entendida de duas maneiras: num
sentido AMPLO, ela significa simplesmente conhecimento; num sentido RESTRITO, trata-se
de um conhecimento que não apenas apreende ou registra fatos, mas também os demonstra
pelas suas causas determinadas ou constitutivas.
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3.2.2 Características da ciência
O tipo de conhecimento que a ciência fornece ao ser humano é, como visto na seção
anterior, muito diferente dos demais que o ser humano pode alcançar. Dessa maneira, a ciência
possui diversas peculiaridades, que Antonio Carlos Gil (1995) formulou da seguinte maneira:
a) A ciência é objetiva, no sentido de que descreve a realidade independentemente dos
caprichos, valores e preconceitos do observador;
b) É racional, uma vez que se vale da razão, e não de sensações ou impressões, para chegar aos
resultados;
c) É sistemática, já que procura construir sistemas de idéias racionalmente organizadas e em
incluir conhecimentos parciais em totalidades cada vez maiores;
d) É geral, posto que busca formular leis e normas que expliquem fenômenos de todos os tipos;
e) É verificável, dado que possibilita a demonstração da veracidade de suas informações;
f) É falível, porque reconhece sua capacidade de errar.
A objetividade (a característica apresentada na letra “a” acima) é freqüentemente
considerada como uma das características centrais da ciência, um dos critérios que devem ser
satisfeitos para que se possa falar em conhecimento científico. Bernstein (apud MAY, 2004) a
define como uma convicção fundamental: existe uma estrutura permanente, independente da
História, que permite determinar a racionalidade, a correção, a realidade, a verdade ou a bondade.
Assim, a objetividade seria uma base de conhecimento à qual se pode apelar em caso de dúvida,
fornecendo uma medida das afirmações feitas pelo cientista.
Como uma complementação, de acordo com Ruiz (1995), a ciência se caracteriza por ser
um conhecimento pelas causas (demonstra os porquês de determinado enunciado), por ser capaz
de conhecer profundamente os fenômenos, por generalizar suas conclusões, por ter uma
finalidade teórica (aumentar o conhecimento) e uma prática (melhorar as condições de vida do
ser humano), por possuir um objeto formal (entendido como a forma pela qual ela atinge o
objeto material), por empregar método na busca do conhecimento, por operar sob condições de
controle rigoroso, por alcançar um resultado final exato e por ser uma instituição social. Das
características levantadas por Ruiz é importante sobretudo o fato de que a ciência é uma
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instituição social (ou seja, a ciência é produzida em um grupo social, para uso desse grupo e deve
ser validada por ele); esse aspecto fica muito mais visível nas ciências sociais, como será visto.
3.2.3 Divisão da ciência
Abbagnano (1992), Chauí (1995) e Gil (1995) destacam: ao longo da história, a ciência
foi objeto de uma grande quantidade de divisões diferentes, nenhuma das quais pode ser
considerada inteiramente satisfatória, ou ao menos universalmente aceita pelos estudiosos. Uma
vez que não é possível apresentá-las todas, serão colocadas algumas tentativas.
Abbagnano (1992) coloca, entre as divisões mais conhecidas, a de Ampère, que se baseou
sobretudo nas teorias dos filósofos gregos (entre eles Platão e Aristóteles), e reconhece as
ciências noológicas (ou do espírito) e as cosmológicas (ou da natureza), e a de Comte, que
classifica as ciências em abstratas (que buscam descobrir as leis que regulam os fenômenos) e
concretas (ciências descritivas que buscam aplicar as leis à história dos seres existentes). Durante
o século XIX, Wilhelm Dilthey (conhecido filósofo alemão) complementou a divisão de Ampère
ao estabelecer que as ciências noológicas tentam compreender um objeto (o homem) e revivê-lo
internamente, enquanto que as cosmológicas buscam conhecer causalmente um objeto externo.
Mas é a divisão de Comte que se tornou mais conhecida e serve de base para a que será
utilizada ao longo desta disciplina, que reconhece as ciências formais (como a matemática e a
lógica formal), que tratam de entidades ideais e suas relações, e as empíricas, que tratam de fatos
e processos. As ciências empíricas podem ser subdivididas em dois grandes grupos, as naturais
(como a física, a química, a biologia e a astronomia) e as sociais (como a sociologia, a história, a
antropologia, a economia e a ciência política). A psicologia é um caso à parte: ainda que muitos a
coloquem no plano das ciências naturais, ela deve ser considerada como uma ciência social, ainda
que se reconheça que seja quase fronteiriça às duas subclasses. A figura a seguir auxiliará na
visualização:
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CIÊNCIAS FORMAIS
CIÊNCIAS EMPÍRICAS Naturais
(FACTUAIS)
Sociais Figura 2: Divisão das ciências Fonte: Autores
Existe amarga controvérsia a respeito da divisão entre ciências naturais e sociais; desde os
tempos de Comte, as ciências sociais têm sido pressionadas na busca de uma aproximação às
naturais. Há dois motivos para essa controvérsia: em primeiro lugar, as ciências naturais
conseguem maiores neutralidade e objetividade que as sociais. Além disso, ainda permitem maior
campo de experimentação e são mais facilmente transformadas em leis de alcance geral; essas
considerações levam muitos autores a desprezar o caráter científico das ciências sociais, negando-
lhes o status de ciências. Dentro de tal debate, são reconhecidos quatro grupos de críticas às
ciências sociais:
• Em primeiro lugar, fenômenos humanos e sociais não possuem a ordem e a regularidade do
universo físico e por isso não são previsíveis;
• As ciências sociais não são quantificáveis e isso dificulta a comunicação de seus resultados;
• Os pesquisadores sociais trazem suas normas éticas e valores para o campo da pesquisa, e
com isso prejudicam seus resultados;
• Por fim, as ciências naturais são experimentais, enquanto que nem sempre as sociais
permitem a experimentação.
Por outro lado, tem-se a reação dos defensores do caráter científico das ciências sociais,
que respondem a essas críticas da seguinte maneira:
• O determinismo absoluto e as relações causa-efeito das ciências naturais não são livres de
questionamento. Além disso, as ciências sociais permitem fazer previsões probabilísticas;
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• O objeto de estudo das ciências sociais não é quantificável num sentido emocional, mas a
inteligência, por exemplo, é mensurável. O grau de quantificação das ciências sociais,
entretanto, sempre será menor do que o das naturais;
• É muito difícil deixar de lado os valores, mas em problemas técnicos e teóricos eles podem
ser colocados em segundo plano. Os valores não são inteiramente negativos;
• Finalmente, o experimento não é de todo indispensável: ciências naturais como a astronomia
não são experimentais. Há muita negligência em relação à capacidade experimental das
ciências sociais.
Dito isto, podem ser apresentadas as características específicas das ciências sociais, as
quais Pedro Demo (1995) formulou da seguinte maneira:
a) As ciências sociais têm objeto histórico, caracterizado pela provisoriedade e pela situação de
estar, não de ser
b) O ser humano possui consciência histórica, ou seja, pode intervir em sua história e planejá-la
a partir da interação de suas idéias com as condições da realidade;
. As ciências naturais possuem objeto cronológico, cuja identidade é estável;
c) Há uma identidade entre sujeito e objeto: o homem não pode conceber uma realidade social
que lhe seja inteiramente alheia;
d) As realidades sociais se manifestam de forma qualitativa, não podendo ser manipuladas com
exatidão. Isso não implica, entretanto, em uma análise frouxa ou pouco rigorosa: a verdadeira
ciência social é construída com procedimentos muito cuidadosos;
e) As ciências sociais são ideológicas, no sentido de que seu objeto é ideológico. A ideologia
deve ser entendida como o modo pelo qual se justifica uma posição política, um interesse
social, privilégios de classe social, etc. A ideologia não pode ser eliminada da ciência social,
por isso o cientista deve controlá-la criticamente, de forma que seus efeitos não sobrepujem a
cientificidade;
f) Quando se estuda uma realidade social, a separação entre teoria e prática não é perfeita. O
cientista social tem um compromisso com a prática mesmo quando se omite, pois é cidadão e
membro de uma sociedade.
Tim May (2004) afirma que as ciências não devem ser consideradas como uma explicação
definitiva a respeito dos fenômenos da vida, que não pode nem deve ser desafiada; seu papel é
“[...] entender e explicar os fenômenos sociais, focalizar a atenção em questões particulares e
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desafiar crenças convencionais sobre os mundos social e natural.” (MAY, 2004, p. 22) – mas nem
por isso as ciências sociais podem se arrogar a infalibilidade.
3.2.4 Critérios de cientificidade
Existem, de acordo com Demo (1995), dois tipos principais de critérios que medem a
cientificidade de uma proposição ou teoria: os internos (divididos em critérios de forma e de
conteúdo) e o critério externo
a) Coerência: uma teoria científica deve ser lógica, de maneira que tudo esteja em seu devido
lugar, de acordo com um planejamento racional, as conclusões não contradigam os princípios,
haja início, meio e fim, e assim por diante. É preciso também que o objeto seja sistematizado,
claro e distinto;
.
Os critérios internos ligados à forma são:
b) Consistência: a obra científica deve possuir profundidade, isto é, basear-se em argumentos
sólidos, ser firme, buscar o âmago do fenômeno, demonstrar conhecimento de causa e
considerar discussões anteriores.
No que tange aos critérios ligados ao conteúdo, deve-se mencionar os seguintes:
a) Originalidade: a teoria deve buscar renovar a ciência através de novas discussões, novas
alternativas de estudo e potencialidades, ou seja, tentando abrir novos caminhos para a sua
discussão;
b) Objetivação: a teoria deve ser científica, captando a realidade como ela se apresenta e
buscando eliminar o máximo possível de ideologia, preconceitos e valores pessoais que
possam atrapalhar a visão do cientista. O conhecimento deve estar isento de todo aspecto que
deturpe a realidade.
Por fim, o critério externo de cientificidade: a intersubjetividade. Como as ciências
possuem um débito para com a sociedade, é preciso levar em consideração a opinião dominante
em cada assunto, obra ou autor. Três fenômenos cercam a intersubjetividade:
I) O argumento da autoridade: algumas teorias são reconhecidamente importantes e são usadas
como citações;
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II) A opinião dominante
III)
: há, em cada escola de pensamento, uma linha de opinião que
predomina sobre as demais;
Comparação crítica externa
: visualização das teorias, escolas e autores, e comparação entre
eles.
3.2 A PESQUISA COMO CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
A pesquisa é o método de construção do conhecimento científico por excelência.
O papel da teoria não pode ser desprezado na definição da pesquisa científica. Como nota
May (2004, p. 43), “a teoria, junto com a pesquisa, é de central importância nas ciências sociais.”
O mesmo pode ser dito, em verdade, para qualquer tipo de ciência. A teoria auxilia a produzir
hipóteses, a orientar o pesquisador em seus questionamentos, a criticar os resultados da pesquisa,
a evitar erros cometidos anteriormente e denunciado por outros pesquisadores. Mas a relação
entre teoria e pesquisa vai além dessas contribuições: os resultados da pesquisa submetem a
teoria a reavaliações constantes, forçando-a a se reexaminar criticamente à luz dos resultados
obtidos pelos pesquisadores que a testam ou avaliam empiricamente suas proposições. Nas
palavras de May, [...] existe um relacionamento constante entre a pesquisa e a teoria social. Para nós, como pesquisadores, a questão não é somente o que produzimos, mas como o fazemos, pois isso é inseparável do processo da pesquisa. Um entendimento do relacionamento entre a teoria e a pesquisa é parte desse projeto reflexivo que focaliza nossas habilidades não apenas para aplicar técnicas de coleta de dados, mas também para considerar a natureza e os pressupostos do processo de pesquisa. (2004, p. 44; grifos do autor).
Assim, a teoria e a pesquisa encontram-se inevitavelmente entrelaçadas no processo de
construção do conhecimento científico. O trabalho de pesquisa coletará dados e construirá
informações que criarão condições para aperfeiçoar, modificar ou refutar as teorias então aceitas.
Algumas correntes de pensamento defendem o papel transformador da pesquisa científica,
mormente no caso das ciências sociais. Soriano (2004) afirma que a pesquisa em ciências sociais
pode atender a quatro objetivos diferentes:
a) Pesquisas voltadas à mudança estrutural no tecido socioeconômico, a partir das classes mais
necessitadas;
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b) Pesquisas meramente especulativas;
c) Pesquisas produzidas conforme os imperativos da produção de bens e serviços por parte das
organizações privadas;
d) Pesquisas voltadas a objetivos econômicos individuais.
Assim, esses pensadores consideram que a pesquisa deva ser feita em termos de produção
de mudança social, e esta, como fica nítida na obra de Soriano (2004), está voltada a uma
ideologia específica (o marxismo). Sem entrar nos méritos desse tipo de exposição, há que se
afirmar que ela introduz uma clivagem qualitativa muito grave nas pesquisas, desprezando
aquelas que não estão direcionadas à “emancipação das classes exploradas”. Se a pesquisa
científica fosse produzida inteiramente com essa destinação, então a ciência estaria
comprometida diretamente com um determinado tipo de juízo de valor – o que necessariamente
excluiria da comunidade científica os pesquisadores não comprometidos com esse valor; e isso é
inteiramente contrário ao espírito científico, que deve estar comprometido não somente com a
mudança social, mas com a produção de conhecimento desinteressado (a favor de Soriano, há que
se afirmar que seu manual está voltado para a pesquisa a ser produzida com fundos públicos).
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4 O MÉTODO CIENTÍFICO
4.1 FUNDAMENTOS DE METODOLOGIA
4.1.1 Conceito
“Método” deriva do latim methodus, que significa “caminho”; a palavra, no entanto, tem
origens gregas: meta (através, por meio de) hodos (caminho), donde methodos. O termo vem
sendo utilizado, de acordo com Abbagnano (1992), em dois sentidos: no primeiro, a palavra
significa toda investigação ou orientação de investigação, como uma doutrina; neste sentido, fala-
se de método dialético, método hegeliano ou método experimental. No segundo sentido, método
significa uma técnica particular de investigação, isto é, um procedimento ordenado de
investigação que garante a obtenção de resultados válidos, como no caso do método silogístico.
O primeiro sentido definido por Abbagnano é o que normalmente se estuda nas
disciplinas de Metodologia de Pesquisa, e pode ser melhor explicitado por Antonio Carlos Gil:
“pode-se definir método como caminho para se chegar a determinado fim. E método científico
como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o
conhecimento.” (GIL, 1995, p. 27). O método é central para a atividade científica, sendo
indispensável para a produção de conhecimento científico; entretanto, é um erro considerá-lo
como um dogma, pois a atitude crítica, não dogmática, é fundamental para a ciência (ALVES-
MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1999).
Nesta disciplina, serão enfocados os métodos normalmente utilizados nas Ciências
Sociais, posto que são aqueles normalmente adotados pelos estudiosos do Curso de Bacharel em
Direito. Há muita discussão sobre a adequação do uso dos métodos das ciências exatas ou
naturais nas ciências sociais; alguns defendem que somente o método típico da ciência natural
garante cientificidade ao objeto pesquisado e à teoria resultante da pesquisa, enquanto que outros,
como Kaufmann (1977) defendem exatamente o contrário. Não se entrará nesta discussão aqui;
os interessados poderão consultar Chalmers (todo o livro), Blaug (parte I) e Kaufmann (parte II)
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28
para maior aprofundamento na discussão. Serão vistos os métodos gerais, os métodos específicos
e os quadros teóricos de referência mais comumente utilizados nos estudos administrativos. Antes
de se passar a esses tópicos, é conveniente apresentar algumas considerações a respeito das
formas de raciocínio: indução, dedução e adução.
4.1.2 Tipos de raciocínio
O primeiro tipo de raciocínio que será abordado aqui é o indutivo. Este pode ser
facilmente descrito como o raciocínio que vai do particular para o todo, isto é, “[...] que nos leva
de uma lista finita de afirmações singulares para a justificação de uma afirmação universal.”
(CHALMERS, 1995, p. 27). Há várias formas de indução, das quais apenas a científica é
interessante neste curso, pois ela concede segurança ao cientista.
O conhecimento científico é construído a partir de induções baseadas na observação dos
fenômenos, da seguinte forma: “se um grande número de As foi observado sob uma ampla
variedade de condições, e se todos esses As possuíam sem exceção a propriedade B, então todos
os As têm a propriedade B” (CHALMERS, 1995, p. 27). Exemplificando: se um grande número
de cisnes observados são brancos, então todos os cisnes são brancos. O filósofo britânico Karl
Popper colocou a posição indutivista numa sinuca, ao afirmar que bastaria observar um cisne
negro para invalidar a cientificidade da proposição baseada na indução; em outras palavras, o
raciocínio indutivo parte do pressuposto de que as observações de um determinado fenômeno são
suficientes para construir a ciência, o que é evidentemente perigoso. Por outro lado, pode-se
afirmar que, com base nas observações dos planetas do sistema solar e nas leis da Física,
qualquer novo planeta a ser observado deve ter órbita elíptica - o que prova que, em certos casos,
a indução ainda é uma forma razoável de fazer ciência. Na verdade, pode-se dizer que a indução
mantém sua validade como uma forma de criar hipóteses científicas a serem testadas.
O segundo tipo de raciocínio é chamado dedutivo. Este faz o caminho contrário ao
indutivo, ou seja, parte do geral para o particular. O raciocínio dedutivo opera sobretudo a partir
de silogismos, dos quais o exemplo clássico é: “Todos os homens são mortais. Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é mortal”. A primeira frase é chamada premissa maior, a segunda, premissa
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menor, e a terceira, conclusão; as premissas são estabelecidas indutivamente. Evidentemente, se
as duas primeiras premissas forem verdadeiras, a conclusão forçosamente o será; dessa forma, o
método é muito criticado porque, na verdade, a conclusão não chega a ser uma nova teoria ou
mesmo algo que possa ser considerado uma contribuição significativa à ciência. De fato, o
simples estabelecimento de que Sócrates é mortal em nada acrescenta ao que já foi definido, ou
seja, de que todos os homens são mortais e de que Sócrates é homem. Entretanto, o raciocínio
dedutivo é a base para um método científico: o hipotético-dedutivo.
O método hipotético-dedutivo foi proposto por Karl Popper e outros cientistas como uma
alternativa para os problemas do método indutivo; ambos se fundamentam na observação dos
fenômenos mas, enquanto o indutivo permite apenas a generalização empírica de observações, o
hipotético-dedutivo admite a construção de teorias e de leis científicas (GIL, 1995). Popper
apontava as dificuldades inerentes à observação como um método de conhecimento, pois não se
pode observar nenhum fenômeno sem uma teoria prévia, ponto de vista ou expectativa
(GEWANDSZNAJDER apud ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1999). Em seu
livro “A conduta na pesquisa” (publicado no Brasil em 1972), Abraham Kaplan descreveu o
método hipotético-dedutivo da forma que se segue: [...] O cientista, através de uma combinação de observação cuidadosa, hábeis antecipações e intuição científica, alcança um conjunto de postulados que governam os fenômenos pelos quais está interessado; daí deduz ele as conseqüências observáveis; a seguir, verifica essas conseqüências por meio de experimentação e, dessa maneira, refuta os postulados, substituindo-os, quando necessários, por outros e assim prossegue. (apud GIL, 1995, p. 30).
O método hipotético-dedutivo progride, para usar a expressão do próprio Popper, por
meio de conjecturas (hipóteses) e refutações (uma hipótese deve ser testada, e se falseada,
rejeitada, sendo este o único teste definitivo da mesma: não é possível provar uma hipótese como
verdadeira, mas pode-se provar que seja falsa, e neste caso, deve-se abandoná-la). Este método é
muito apreciado pelos neopositivistas (que chegam a considerá-lo o único método científico
possível), mas sua dependência da experimentação torna-o pouco aplicável às Ciências Sociais,
ainda que Popper defenda justamente o contrário. Ele apresenta um conjunto de teses em seu
texto “A lógica das ciências sociais” para demonstrar que não há conflito algum entre seu método
e as ciências sociais (POPPER, 1978).
O terceiro tipo de raciocínio, muito pouco tratado pelos filósofos e estudiosos da ciência é
a adução. Esta pode ser definida como uma indução não-demonstrativa, isto é, como a “[...]
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operação não-lógica que consiste em pular do caos, que é o mundo real, para uma intuição ou
tentativa de conjetura acerca da relação real existente entre o conjunto de variáveis pertinentes.”
(BLAUG, 1993, p. 54). Ainda segundo Blaug, a adução pertence ao contexto da descoberta: ela é
o insight, o eureka do pensador e do cientista, que transcende os limites da indução baseada na
simples observação dos fenômenos. Na lógica formal, um dos poucos usos da adução é feito pelo
filósofo inglês Peirce, para quem a adução é o primeiro momento do processo indutivo
(ABBAGNANO, 1992).
4.2 MÉTODOS CIENTÍFICOS
Dentre os métodos científicos gerais, cujo objetivo é “[...] garantir ao pesquisador a
objetividade necessária ao tratamento dos fatos sociais.” (GIL, 1995, p. 28), destacam-se três: o
positivismo, a dialética (e, dentro dessa denominação geral, os materialismos histórico e
dialético) e a fenomenologia. As características gerais dos três serão vistas a seguir (àqueles que
desejarem se aprofundar no tema, recomenda-se a leitura dos capítulos 2 e 3 do livro de Augusto
Triviños e, sobre o método dialético em particular, o capítulo 6 do livro de Pedro Demo).
O método positivista é, na opinião de seus defensores, a única forma possível de fazer
ciência. Seu fundador, Auguste Comte, coloca-se tanto entre os pioneiros da Sociologia como
entre os visionários da Filosofia, já que pretendia criar uma nova religião para a humanidade,
baseada na Ciência. O modelo das Ciências Naturais, com sua exatidão, sua neutralidade, seu
empirismo e sua capacidade de previsão de acontecimentos futuros foi tomado por Comte como o
mais adequado para a construção de ciências da sociedade. Evidentemente, o moderno
positivismo é bastante diferente do de Comte, devido às contribuições de pensadores como Ernest
Mach, Rudolf Carnap, Moritz Schlick, Bertrand Russell, A. J. Ayer, Ludwig Wittgenstein, entre
outros.
Segundo Triviños (1995), a filosofia positivista condena a especulação, exaltando os
fatos. Ainda de acordo com esse autor, doze são as características principais do positivismo, a
saber:
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a) Em primeiro lugar, o positivismo despreza a integridade, buscando conhecer o fenômeno em
suas partes isoladas. O mundo deve ser concebido como um amontoado de coisas separadas;
b) Os fatos são as únicas realidades a serem observadas pelo cientista;
c) Não se deve buscar as causas últimas dos fatos (o que é “metafísico”), e sim as relações entre
eles (ou seja, busca-se conhecer como os fatos se relacionam, e não o porquê dessas
relações);
d) O conhecimento é um fim em si: a ciência deve ser neutra, preocupada com conhecer e não
com a aplicação do conhecimento;
e) Os únicos fatos realmente importantes são aqueles que são objetivamente dados, atingíveis
por meio da experiência. Fatos metafísicos não são dignos do conhecimento científico;
f) Existe um princípio da verificação: tudo aquilo que for empiricamente verificável é
verdadeiro, ou seja, toda afirmação a respeito do mundo deve ser confrontada com o dado
real;
g) Tanto fenômenos naturais quanto sociais devem ser estudados pelo mesmo método;
h) As teorias científicas são formadas pela operacionalização de variáveis, isto é, pela
conceituação de variáveis que significam relações entre os fenômenos;
i) Fisicalismo: todas as ciências devem ser expressas na mesma linguagem, qual seja, a da
Física;
j) O conhecimento a priori, isto é, o conhecimento independente da experiência (Abbagnano,
1992), não existe;
k) Fatos e valores são diferentes, e somente os primeiros devem ser objeto de estudo dos
cientistas;
l) Existem apenas dois tipos de conhecimentos autênticos: os empíricos (representados pelas
ciências naturais) e os lógicos (representados pelas ciências formais).
A essas características levantadas por Triviños (1995) devem ser somadas as seguintes, de
acordo com Easterby-Smith et al. (apud ROESCH, 1996): o observador é independente do fato
observado, e isento de valor; a ciência progride por meio de um processo hipotético-dedutivo, em
que os conceitos são operacionalizados de forma a permitir sua quantificação; devem ser
selecionadas amostras de tamanho grande o suficiente para que as conclusões possam ser
generalizadas (além disso, é necessário comparar variações entre amostras); por fim, o cientista
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deve elaborar leis fundamentais que permitam a explicação de regularidades no comportamento
humano.
Como síntese, pode-se destacar as seguintes características como sendo centrais para a
compreensão do positivismo:
a) Empirismo;
b) Objetividade;
c) Experimentação;
d) Validade ou reprodução das experiências;
e) Formulação de leis e de previsões de comportamento dos fenômenos (LAVILLE; DIONNE,
1999).
Em torno de 1920, o positivismo foi reavaliado pelos pensadores do Círculo de Viena
(Schlick, Carnap, Neurath, entre outros), que buscaram conjugar o empirismo com a lógica
moderna. Esses pensadores defendiam que a Lógica e a Matemática são conhecimentos a priori,
independentes da experiência (em flagrante contraste com o positivismo comtiano que, como
visto anteriormente, não admitiam essa possibilidade), e o uso da indução para a formulação de
teorias que poderiam ser experimentadas, sendo aceitas quando verificadas, ou seja, testadas e
confirmadas; após um certo número de repetições, uma teoria seria considerada indutivamente
provada (GEWANDSZNAJDER apud ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1999).
Essas concepções positivistas foram muito criticadas pelos diferentes pensadores, dentre
eles Karl Popper (ver o método hipotético-dedutivo na seção anterior) e os da Escola de Frankfurt
(Adorno, Benjamin, Horkheimer, Habermas, entre outros), mas desempenhou um importante
papel no avanço do conhecimento (TRIVIÑOS, 1995).
O segundo método científico a ser estudado é o fenomenológico. A concepção atual de
fenomenologia foi criada por Edmund Husserl (1859-1938), e está ligada a um tipo de método
científico no qual a única coisa que realmente importa é o fenômeno, o dado ou a coisa que se
apresenta diante da consciência do ser humano, sem se importar com o fato do dado ou fenômeno
ser real ou aparente: ele existe e se dá ao conhecimento; além disso, o método busca
exclusivamente mostrar o que é o dado ou fenômeno e esclarecê-lo, sem formular leis e
princípios a seu respeito (GIL, 1995). O fenômeno, portanto, é tudo aquilo que aparece, que se
manifesta ou se revela por si mesmo (MOREIRA, 2002). Não há, entretanto, objeto de
conhecimento sem sujeito cognoscente (TRIVIÑOS, 1995).
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Este método opera por meio do que Husserl chamou “redução fenomenológica”, ou seja,
o processo por meio do qual o fenômeno se mostra em sua forma pura, livre dos elementos
pessoais e culturais do observador; dessa forma, pode-se alcançar a essência das coisas, objetivo
máximo da fenomenologia (TRIVIÑOS, 1995), essência que deve ser descrita (MERLEAU-
PONTY apud MOREIRA, 2002), essência que deve ser compreendida como a forma pela qual o
fenômeno aparece diante da consciência (MOREIRA, 2002). A redução, ou epoqué, funciona da
seguinte forma: o indivíduo deve “suspender” suas crenças na tradição e nas ciências,
examinando os conteúdos da consciência como dados, e dessa forma descrevendo o fenômeno
em sua forma mais pura (MOREIRA, 2002). À redução fenomenológica segue-se a redução
eidética, voltada para a intuição da forma de alguma coisa, separando essa forma de qualquer
qualidade acidental; seu funcionamento se dá em três níveis, dos quais o primeiro consiste na
observação de coisas similares na natureza, as quais são posteriormente agrupadas em
características comuns, ou universais empíricos, e, por fim, dentro da coisa, procura-se uma
característica sem a qual não se possa pensá-la – os universais eidéticos, características
necessárias das coisas (MOREIRA, 2002).
Para alguns autores, como Easterby-Smith et al. (apud ROESCH, 1996), o uso do método
fenomenológico implica na análise do objeto de conhecimento tomando em consideração também
as diferenças culturais entre os observadores, que levam a formas diferentes de percepção; tal
visão, como observado, não é unânime entre os estudiosos. Husserl dividia as ciências em
ciências de fatos, fundamentadas na experiência sensível, e ciências eidéticas, que buscam a
intuição essencial, às quais se pode aplicar o método fenomenológico; entretanto, mesmo as
ciências de fatos possuem essência, o que significa que também podem ser estudadas pelo
método fenomenológico (GIL, 1995).
Husserl também pressupunha a universalidade do conhecimento: em sua visão, a essência
captada é a mesma para qualquer sujeito cognoscente, ou seja, “[...] o mundo que eu conheço [...]
é o mundo que pode ser conhecido por todos.” (HUSSERL apud TRIVIÑOS, 1995, p. 46). O
conhecimento fenomenológico não se preocupa com a historicidade; a busca da essência de um
fenômeno implica em desprezar toda a história por trás dele, o que faz com que o método seja
criticado como conservador, pois o pesquisador que o utiliza está interessado em captar a
realidade para descrevê-la em sua essência, sem qualquer preocupação de atuar sobre ela
(TRIVIÑOS, 1995). Entretanto, o método fenomenológico é útil para um pesquisador na
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34
formulação e definição de problemas, de hipóteses, e dos conceitos utilizados na fundamentação
teórica de suas pesquisas (GIL, 1995).
O terceiro e último método geral a ser apresentado é o dialético. Devido às limitações de
espaço e tempo, não serão tratadas todas as vertentes da dialética, preferindo-se a concentração
na chamada dialética marxista, que vem a ser a mais conhecida e utilizada pelos cientistas sociais.
Segundo Gil (1995), há três formas de encarar a dialética: como uma filosofia da natureza, como
uma lógica de pensamento aplicada ao estudo histórico de mudanças e conflitos sociais e como
um método de investigação da realidade.
Essa terceira faceta da dialética é a que interessa para os objetivos desta disciplina, e será
estudada aqui. Não existe um consenso a respeito do que é a dialética, mas em geral se admite
que o pressuposto central do método seja a admissão de que “[...] toda formação social é
suficientemente contraditória para ser historicamente superável.” (DEMO, 1995, p. 86), isto é,
que a realidade historicamente observável possui, em seu interior, contradições em diferentes
graus (tanto solúveis quanto insolúveis), que podem ser historicamente superáveis; as
contradições insolúveis dentro de uma determinada formação social são solucionadas pela
superação de tal formação por uma nova. Além disso, alguns princípios são, conforme Gil
(1995), comuns a todas as abordagens:
• Em primeiro lugar, há o princípio da unidade e luta dos contrários, que postula que todos
os fenômenos e objetos de pesquisa possuem aspectos contraditórios, indissoluvelmente
unidos como opostos que se encontram em estado de luta permanente entre si, de maneira a
construir e desenvolver a realidade. Demo (1995) reforça: a unidade de contrários (cada tese
traz em si sua antítese) não significa exclusão pura e simplesmente, mas convivência, no
objeto, desses contrários;
• O segundo é o princípio de transformação das mudanças quantitativas e qualitativas. De
acordo com os pesquisadores que trabalham com o método dialético, todos os objetos e
fenômenos possuem características qualitativas e quantitativas, sendo que estas últimas, em
seu processo gradual de mudança, geram mudanças qualitativas, e assim por diante. Triviños
(1995) menciona: todo objeto tem propriedades e características, que podem ser definidas
como suas qualidades, bem como características definidoras de suas dimensões, volume,
peso, grau de desenvolvimento e intensidade de suas propriedades, que definem seu aspecto
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quantitativo. Como exemplo, a passagem do capitalismo para o socialismo se dá por meio de
mudanças quantitativas, que levarão a uma nova realidade social, qualitativamente diferente;
• Por fim, tem-se o princípio da negação da negação, que define o desenvolvimento como
uma espiral em que, nos estágios superiores, repetem-se aspectos dos inferiores. Em outras
palavras, o surgimento do novo não implica numa completa desaparição do velho, pois
implica em admitir que “[...] o desenvolvimento tem um caráter contraditório, isto é, que é
possível que em determinadas etapas se repitam, com nova qualidade, fases do fenômeno que
já foram passadas.” (TRIVIÑOS, 1995, p. 73).
Com base nisto, pode-se concluir: [...] para conhecer realmente um objeto é preciso estudá-lo em todos os seus aspectos, em todas as suas relações e todas as suas conexões. Fica claro também que a dialética é contrária a todo conhecimento rígido. Tudo é visto como em constante mudança: sempre há algo que nasce e se desenvolve e algo que se desagrega e se transforma. (GIL, 1995, p. 32).
O método dialético opõe-se à quantificação defendida pelos positivistas, trabalhando
sobretudo com os aspectos qualitativos do objeto estudado, de forma que os procedimentos
operacionais e empíricos do positivismo sejam colocados num segundo plano. O método dialético
se apóia numa concepção materialista do mundo, em que se postula que o mundo, em todos os
seus fenômenos e objetos, é material, que a matéria é anterior à consciência (e que esta, por
conseguinte, é determinada por aquela), e que o mundo pode ser conhecido (TRIVIÑOS, 1995).
O método dialético opera por meio de categorias ou conceitos centrais, dos quais a idéia da
contradição é o mais importante, e busca a formulação de leis que reflitam as ligações entre os
diferentes aspectos da realidade objetiva (TRIVIÑOS, 1995).
Um interessante exemplo de como os três métodos tratam os problemas de pesquisa social
é fornecido por Triviños (1995). Ele fornece o tema “fracasso escolar”, delimita-o como
“fracasso escolar nas escolas estaduais de 1o grau em Porto Alegre (RS)”, e depois desenvolve a
formulação do problema com base nos três métodos. Assim, o pesquisador positivista buscaria
estabelecer as relações entre o fenômeno “fracasso escolar” e algumas variáveis hipotéticas,
como nível sócio-econômico da família, escolaridade dos pais, local aonde se situa a escola, sexo
dos estudantes, experiência e formação dos professores. Já o fenomenólogo pesquisaria as causas
do fracasso escolar segundo alunos, pais e professores, bem como o significado do fracasso para
essas pessoas. Por fim, o pesquisador que analisasse o fenômeno por um prisma dialético
investigaria os aspectos do fracasso escolar aos níveis local, regional e nacional, bem como as
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contradições referentes ao currículo, formação e desempenho dos professores, e à localização da
escola dentro da comunidade.
Um exemplo associado à Administração de empresas: um pesquisador poderia estar
interessado em investigar o fenômeno da motivação. Para o positivista, a motivação deveria ser
definida a partir de seus resultados objetivos, em termos de melhor desempenho no trabalho ou
uma escala de satisfação com o mesmo. A partir disso, a motivação seria associada a dimensões
tais como tempo de serviço, classe social, faixa salarial, estrutura das recompensas disponíveis na
organização, e assim por diante. Já o fenomenológo buscaria as definições de motivação dos
empregados e da direção da organização, buscando determinar um conceito de motivação que
pudesse ser adotado por todos os membros da mesma; paralelamente, poderia investigar as
percepções de motivação em empresas do setor. Um dialético tentaria identificar as relações
entre políticas da empresa e os seus resultados, identificando contradições entre as pretensões e
os resultados obtidos, bem como analisaria as contradições nas visões da motivação por parte da
alta direção e dos empregados.
Os métodos específicos das ciências sociais são voltados para as técnicas a serem usadas
pelos pesquisadores para a realização da pesquisa social, especialmente no que tange à coleta,
análise e validação dos dados. Gil (1995) destaca os seguintes:
a) Método experimental: fundamenta-se na realização de experimentos controlados, em que os
fenômenos estudados são submetidos à influência de certas variáveis, em determinadas
condições conhecidas pelo pesquisador, de forma a observar o resultado produzido pela ação
das variáveis sobre o objeto;
b) Método observacional: trata-se simplesmente da observação do fenômeno pelo cientista, que
deve evitar toda e qualquer intervenção na realidade observada;
c) Método comparativo: consiste na investigação e pesquisa de fenômenos, fatos, objetos,
classes sociais ou indivíduos de forma a destacar diferenças e semelhanças entre eles. Trata-se
de método que se tornou muito comum nos estudos políticos e da Administração Pública nos
anos 50 e 60;
d) Método estatístico: caracteriza-se pela aplicação sobretudo da teoria da probabilidade na
pesquisa, de forma a determinar, com razoável precisão, o comportamento dos fenômenos e
objetos estudados;
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e) Método clínico: bastante utilizado na psicologia, é baseado numa profunda relação entre o
pesquisador e o pesquisado, que interagem entre si.
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5 ELEMENTOS DOS TRABALHOS ACADÊMICOS
Os trabalhos acadêmicos possuem uma estrutura padronizada, que abrange elementos pré-
textuais (que consistem em aspectos de apresentação e ordenação dos conteúdos do trabalho),
textuais (o corpo do trabalho propriamente dito) e pós-textuais (elementos de fechamento do
trabalho, considerados importantes para a compreensão dos mesmos).
Os trabalhos acadêmicos, dessa maneira, são apresentados de modo a permitir um contato
inicial com seu conteúdo, que pode despertar ou não no leitor o interesse em prosseguir a leitura,
sendo fechados com elementos que (à exceção das referências bibliográficas), embora
importantes, podem ser dispensados em uma leitura rápida.
Antes de apresentar os elementos do trabalho científico, é conveniente mencionar os
padrões para a formatação dos documentos, de acordo com a Norma Brasileira Reguladora
(NBR) 14724:2002. O papel a ser utilizado para a digitação ou datilografia do texto é o A4.
Recomenda-se usar fonte de tamanho 12 para o texto, e tamanho 10 para citações longas
(destacadas no texto conforme será visto abaixo) e notas de rodapé. Não existe uma fonte
recomendada, mas a Arial e a Times New Roman vêm se popularizando; o importante é que a
fonte seja de fácil visualização. As margens das páginas obedecem ao seguinte padrão:
a) superior: 3 cm;
b) inferior: 2 cm;
c) esquerda: 3 cm;
d) direita: 2 cm.
Quanto à entrelinha, ela deve ser 1,5 para o corpo do texto, à exceção dos resumos, notas
de rodapé, indicações de título e fonte das figuras e das citações longas, destacadas do texto, em
que se deve usar a entrelinha simples. Títulos e subtítulos de seção devem ser separados do texto
precedente e do sucedente por duas entrelinhas de 1,5.
A paginação do documento segue uma regra simples: todas as páginas, a partir da folha de
rosto, devem ser contadas para a numeração em algarismos arábicos. Vale à pena observar que
não se exige mais que os elementos pré-textuais sejam numerados independentemente dos
textuais em algarismos romanos, como foi o padrão até a edição da NBR 14724:2002. O cuidado
que deve ser tomado é que os elementos pré-textuais não devem apresentar os números de
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páginas, portanto, estes só serão apresentados no documento a partir da primeira página dos
elementos textuais (a primeira página da Introdução). Os números de página devem ser colocados
na canto superior direito da folha, a 2 cm da borda direita do papel e a 2 cm da borda superior.
Quando há a apresentação de anexos e/ou apêndices, sua numeração deve ser seqüenciada em
relação à dos elementos textuais e, na hipótese de o trabalho abranger mais de um volume, deve-
se manter a seqüência da numeração nos volumes subseqüentes.
Títulos indicativos de seção devem ser numerados progressivamente (por exemplo, 1 para
introdução, 1.1 para contextualização do tema, 1.1.1 para justificativa), separando-se o título da
numeração por intermédio de um espaço. As seções primárias devem iniciar uma nova página e o
número desta página deve ficar aculto. O alinhamento do título segue a margem esquerda. Os
títulos de seção que não recebem numeração, como o resumo, o sumário, as listas de ilustrações e
as referências bibliográficas, devem ser centralizados; todos os demais devem estar alinhados
com a margem esquerda. Quanto ao destaque dos títulos, usa-se maiúscula e negrito para
identificar um título principal (como os capítulos), maiúscula para a seção e maiúsculas e
minúsculas para as subseções.
Notas de rodapé são numeradas seqüencialmente, podendo ter numeração independente,
ou seja, cada novo capítulo “zera” a numeração das notas, ou usando uma única numeração ao
longo de todo o texto. Elas devem ser digitadas ou datilografadas dentro das margens, em fonte
de tamanho menor (10 é o recomendável), em entrelinha simples, e com um filete de 3 cm a
partir da margem esquerda separando-as do texto.
As ilustrações de quaisquer tipos devem ser numeradas seqüencialmente em algarismos
arábicos, com o título precedido pela palavra Figura e sua respectiva numeração, legenda (se
necessário) e indicação da fonte (quando necessário, ou seja, quando não se trata de figura
elaborada pelo autor), sendo esses elementos (título, legenda e fonte) colocados imediatamente
abaixo da figura, com entrelinhas simples. A ABNT recomenda que todo tipo de ilustração deve
ser colocado o mais próximo possível do texto a que se refere, ficando a critério do autor o
projeto gráfico; isso significa, entre outras coisas, que não há uma exigência em termos de
separação da figura do resto do texto.
Tabelas são elementos sintéticos de demonstração de idéias ou conteúdos necessários para
a compreensão do trabalho. As informações nas tabelas, de acordo com a NBR 14724:2002, são
tratadas estatisticamente. A apresentação das tabelas segue algumas regras:
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a) a numeração das tabelas é consecutiva;
b) cada tabela é precedida pela expressão Tabela, seu número de ordem, em algarismos arábicos,
e pelo título (exemplo: Tabela 1: Média do tempo de serviço na empresa, por setor);
c) fontes citadas na construção da tabela e notas explicativas aparecem abaixo da mesma, após o
traço horizontal de fechamento;
d) tabelas retiradas de outros documentos devem trazer a menção do autor, devendo ser obtida a
autorização deste para sua apresentação;
e) a tabela deve ser inserida o mais próximo possível do texto a que se refere;
f) na hipótese de a tabela não caber numa só folha, pode-se continuar a apresentação da mesma
em outra folha, tomando-se o cuidado de não colocar traço horizontal de fechamento na
primeira folha e repetindo-se o título e o cabeçalho na folha subseqüente;
g) tabelas devem ter traços que separem títulos de colunas nos cabeçalhos, tanto horizontais
quanto verticais, mas não devem apresentar traços verticais separando as colunas nem
horizontais para separar as linhas.
5.1 ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS
Os elementos pré-textuais, segundo a ABNT (2002b), antecedem o texto apresentando
informações que permitem a identificação e a utilização do trabalho. O primeiro desses elementos
é a capa. A capa é obrigatória em qualquer trabalho acadêmico, ao identificar o trabalho, seu
autor, o local em que ele foi ou será apresentado, bem como o ano em que ele foi elaborado, além
de servir de proteção para o mesmo. Os elementos da capa são os seguintes:
a) nome do autor;
b) título;
c) subtítulo (caso exista);
d) número do volume (caso o trabalho esteja dividido em volumes);
e) cidade (local onde a instituição está situada);
f) ano da entrega do trabalho.
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A ABNT também estabelece normas para apresentação da lombada do trabalho, em caso
de encadernação de capa dura. Recomenda-se sua consulta para maiores informações.
O segundo elemento pré-textual, também obrigatório, é a folha de rosto. Essa folha é a
única no trabalho que deve ser impressa dos dois lados (caso o trabalho seja arquivqdo em
biblioteca). No anverso, figuram, nesta ordem, os seguintes elementos:
a) nome do autor;
b) título principal do trabalho;
c) subtítulo, se houver, subordinado ao título principal e antecedido por dois pontos (:);
d) número de volumes, quando houver mais de um, devendo cada volume possuir sua própria
folha de rosto, identificando o número do presente volume);
e) natureza (tese, dissertação, monografia, trabalho de conclusão de estágio ou trabalho de
conclusão de curso) e objetivo (aprovação numa disciplina, obtenção de grau - bacharel,
mestre, doutor, etc.) do trabalho, nome da instituição à qual se destina e área de concentração
(por exemplo, Administração Mercadológica);
f) nome do orientador, e caso haja, do co-orientador;
g) cidade (local) da instituição onde o trabalho será apresentado;
h) ano da entrega do trabalho.
No verso da folha de rosto deve ser colocada a ficha de catalogação da obra, no caso da
mesma ser arquivada em biblioteca. Essa ficha deve seguir o Código de Catalogação Anglo-
Americano. Para sua elaboração, é conveniente consultar um bibliotecário.
O terceiro elemento é opcional, e refere-se à errata do trabalho. Uma errata consiste
numa lista dos erros que porventura tenham sido cometidos no trabalho, com sua localização e
correção. Normalmente, a errata é uma folha avulsa, encartada no trabalho após sua impressão e
encadernação. Sua apresentação segue o exemplo abaixo:
ERRATA
Folha Linha Onde se lê Leia-se
25 4 adminisração administração 39 5 segundo colhidos segundo dados colhidos Figura 3: Modelo de errata Fonte: Autores
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O quarto elemento é obrigatório no caso de monografias, teses, dissertações e relatórios
de estágio: a folha de aprovação. Essa folha apresenta os seguintes elementos:
a) nome do autor;
b) título;
c) subtítulo, se houver;
d) local e data da aprovação;
e) nome e assinatura dos responsáveis pelo exame e avaliação do trabalho;
f) instituição à qual pertencem os responsáveis supracitados.
O quinto elemento é opcional: trata-se da dedicatória, que consiste numa homenagem
feita pelo autor a qualquer pessoa ou instituição de sua escolha. O elemento seguinte, os
agradecimentos, também é opcional, e consiste na listagem de pessoas e instituições que
proventura tenham contribuído de alguma forma para a realização do trabalho. O sétimo
elemento, a epígrafe, também é opcional; esta consiste numa citação, com seu autor devidamente
identificado, que está relacionada com a matéria tratada pelo trabalho. Se o autor do trabalho
desejar, também poderá apresentar epígrafes nas folhas de abertura de novas seções ou capítulos
do trabalho.
O oitavo e o nono elementos são obrigatórios, consistindo no resumo em língua nacional
(vernácula) e no resumo em língua estrangeira. Esses resumos consistem numa apresentação
sucinta do conteúdo do trabalho, permitindo uma visão rápida, clara e geral desse conteúdo e das
conclusões a que o autor chegou ao realizá-lo; o resumo deve, portanto, permitir que o leitor
decida sobre a necessidade de consultar ou não o texto. O resumo não possui título, sendo
simplesmente indicado pela palavra Resumo, devidamente centralizado, pois ele não é contado na
numeração dos documentos.
A NBR 6028:1987 estabelece os critérios para o resumo do trabalho acadêmico. Um bom
resumo deve apresentar até 100 palavras para notas científicas e comunicações breves, até 250
palavras nos casos de monografias e artigos e até 500 palavras para os relatórios, dissertações e
teses. O resumo não deve ser uma simples enumeração de tópicos, e sim uma seqüência
logicamente ordenada de frases (ou seja, trata-se de um “texto corrido”, redigido da mesma forma
que o texto do trabalho), redigidas na voz ativa e na terceira pessoa do singular. A primeira frase
deve explicar o tema principal do documento e, em seguida, explicar a categoria de tratamento
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(memória científica, estudo de caso, análise da situação, etc.). Alguns aspectos devem ser
relevados quando da apresentação do resumo, a saber:
a) deve-se identificar os métodos e técnicas pelos quais o problema tratado no trabalho foi
abordado, bem como as fontes e tratamentos dos dados;
b) ao se identificar os resultados das pesquisas, deve-se destacar o surgimento de fatos novos,
descobertas, teorias anteriores, contradições, novas relações e efeitos verificados;
c) se for o caso, devem ser apresentados os valores numéricos observados, limites de precisão e
graus de validade;
d) deve-se evitar a redundância ao apresentar os resultados obtidos;
e) novos aspectos, como métodos aplicados, documentos e fontes de dados recém descobertos
devem ser indicados no resumo, mesmo que não tenham relação direta com o tema tratado;
f) o resumo não deve ser apresentado sob a forma de parágrafos, devendo também evitar
símbolos ou siglas que não sejam correntes e a apresentação de fórmulas ou diagramas, a não
ser que sejam imprescindíveis; neste caso, deve-se definir os elementos constantes dos
mesmos (ABNT, 1987).
O resumo em língua estrangeira deve ser a tradução do resumo em vernáculo, devendo ser
escolhido o idioma comumente utilizado para a divulgação de trabalhos científicos. Embora não
exista nenhum critério para a definição da língua estrangeira a ser usada para o resumo, as mais
comuns são o inglês (abstract), francês (résumé) e alemão (zusammenfassung); a critério do
autor, é possível apresentar mais de um resumo em língua estrangeira. No curso de
Administração das Faculdades Energia o resumo em outra lingua não é adotado. Após cada
resumo, deve-se apresentar uma lista de palavras-chave (keywords em inglês), que permitem
identificar quais são os termos essenciais para a compreensão ou utilização dos trabalhos. Não
existe norma que regule quantos desses termos devem ser apresentados num trabalho, mas deve-
se procurar aquelas que sejam representativas ou significativas para o entendimento do texto, e
não aquelas que mais são utilizadas no mesmo. Palavras-chave são importantes para trabalhos
indexados em bases de dados, permitindo mais facilidade de acesso aos mesmos, portanto, devem
ser escolhidas com extremo cuidado. A seguir, vêm quatro elementos opcionais, a saber, a lista
de ilustrações (listagem ou listagens de elementos como quadros, gráficos, organogramas,
desenhos, gráficos apresentados no trabalho, seguidos dos respectivos números de páginas), a
lista de tabelas (que relaciona as tabelas incluídas no texto), a lista de abreviaturas e siglas
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(relacionando alfabeticamente as abreviaturas e siglas usadas no texto, seguidas de suas
respectivas explicações, grafadas por extenso, sendo recomendado fazer uma lista para cada tipo),
e a lista de símbolos (na qual os símbolos são apresentados e explicados em seu significado de
acordo com a ordem em que aparecem no texto). Deve-se observar que essas listagens devem ser
apresentadas na hipótese de haverem três ou mais elementos, ou seja, o autor não é obrigado a
incluir lista de tabelas se ele tiver apresentado apenas duas tabelas no texto.
O último elemento pré-textual é obrigatório: o sumário. O sumário é a enumeração das
principais divisões, seções e subseções do trabalho, na mesma ordem e grafia em que são
apresentadas, acompanhadas do devido número de página. No caso de haver mais de um volume,
em cada um deve ser apresentado o sumário completo. A NBR 6027:1987 regulamenta a forma
de apresentação dos sumários. Segundo essa norma (apud RAUEN, 2002), o sumário não se
confunde com índice, que consiste numa enumeração detalhada de assuntos, nomes de pessoas,
nomes geográficos, acontecimentos, etc., seguidos de uma indicação de sua localização no texto,
tampouco com lista, que é utilizada para elementos específicos como ilustrações e tabelas, muito
menos com o resumo. As regras para a apresentação do sumário são as seguintes:
a) a expressão sumário é usada como título e escrita em letras maiúsculas negritadas,
centralizada na primeira linha do texto;
b) o título é separado dos elementos com duas entrelinhas em branco (escrevendo na terceira);
c) as letras e entrelinhas são as mesmas utilizadas no texto;
d) os primeiros elementos apresentados são os pré-textuais (listas de figuras, de tabelas, de siglas
e resumos), sem indicação numérica, escritas em maiúsculas negritadas, e com uma linha
pontilhada ligando os títulos aos números da página inicial, que devem ser alinhados com a
margem direita;
e) os títulos das seções primárias e suas subdivisões são apresentados na ordem em que surgem
no texto, com indicativo numérico (quando houver) alinhado à esquerda, títulos separados do
indicativo por um espaço e com uma linha pontilhada ligando o título ao número da página
inicial, esta alinhada com a margem direita;
f) os últimos elementos apresentados no sumário são os pós-textuais, apresentados sem
indicação numérica acompanhando o título, alinhados à margem esquerda, escritos em
maiúsculas negritadas e ligados ao número inicial de página (alinhado com a margem direita)
por uma linha pontilhada (IPARDES, 2000, v. 8);
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g) Os títulos principais (capítulos) são grafados em maiúsculas e negrito, os subtítulos (seções),
em maiúsculas, e as subseções, em maiúsculas e minúsculas. Cada número de capítulo, seção
ou subseção deve ser separado do respectivo título por dois espaços, não sendo recomendável
usar pontos ou parênteses como elementos separadores no sumário (ISKANDAR, 2003).
O sumário apresentado no início deste trabalho pode ser tomado como um modelo para os
sumários de trabalhos acadêmicos, uma vez que segue as normas definidas para sua apresentação.
5.2 ELEMENTOS TEXTUAIS
Os elementos textuais consistem no corpo do trabalho propriamente dito, no qual o autor
apresenta, desenvolve e conclui as idéias que constituem o trabalho acadêmico apresentado. A
matéria do trabalho é, portanto, exposta pelo seu autor em três partes fundamentais: introdução,
desenvolvimento e conclusão. Essas três partes estão logicamente encadeadas: na introdução,
anuncia-se o que se pretende fazer; no desenvolvimento, a idéia anunciada na introdução é
trabalhada; na conclusão, resume-se o que se alcançou e fecha-se o trabalho.
A introdução visa contextualizar o trabalho acadêmico (ou seja, que tipo de trabalho foi
realizado, qual é sua área do conhecimento e o tema abordado), apresentar o problema de
pesquisa cuja investigação e solução foram tratadas ao longo do mesmo, definir seus objetivos
(geral e específicos) e limitações (estas são opcionais), delinear o quadro teórico no qual o
trabalho foi desenvolvido, bem como apresentar uma indicação de sua importância ou relevância;
ou seja, em linhas gerais, a introdução pode ser considerada como uma espécie de apresentação
do trabalho. Não existe nenhum padrão em termos de número de páginas, devendo a introdução
ser elaborada de maneira equilibrada em relação ao conteúdo do trabalho (ou seja, trabalhos
muito curtos não devem ser antecedidos por uma introdução muito longa).
O desenvolvimento do trabalho é composto por tantos capítulos quanto se fizerem
necessários para a solução do problema de pesquisa. A grande maioria dos trabalhos acadêmicos
exigirá a apresentação de um referencial teórico, ou seja, uma revisão da literatura a respeito do
tema do trabalho, podendo esta ser dividida em tantos capítulos quanto se fizerem necessários.
Outros capítulos que podem ser apresentados no desenvolvimento são a metodologia, na qual o
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autor classifica o trabalho de acordo com critérios previamente definidos e apresenta os métodos
e técnicas utilizados para a coleta, análise e tratamento dos dados constantes do trabalho, a
caracterização da empresa, nos trabalhos como os relatórios de estágio e os estudos de caso ou
pesquisas em empresas, o diagnóstico da situação, sempre que for importante contextualizar o
problema de pesquisa dentro de uma compreensão global da realidade, análise e tratamento dos
dados, em que os dados obtidos na pesquisa são trabalhados de modo a proporcionarem
informações e conhecimentos ao pesquisador e aos leitores, e as recomendações, que constam dos
trabalhos em que há uma proposição de um curso de ação para uma organização ou grupo social
(recomendações podem ser apresentadas na conclusão do trabalho; de fato, alguns autores
sugerem que elas sejam colocadas nesta). Outros elementos podem ser agregados de acordo com
as necessidades do trabalho; nem todos os elementos aqui tratados farão parte de todos os
trabalhos.
Em relação à apresentação dos capítulos do desenvolvimento, é preciso lembrar que cada
capítulo inicia uma nova página (com o seu número oculto), e que os capítulos podem ser
divididos em seções. A numeração dos capítulos e seções é progressiva e utiliza algarismos
romanos ou arábicos, de acordo com o critério estabelecido pelo autor. A numeração dos títulos
deve ir até três algarismos (1.1.1, por exemplo), não sendo aconselhável ir além disso.
Finalmente, as considerações finais consiste num fechamento do trabalho, em que os
principais aspectos abordados ao longo do trabalho são recapitulados resumidamente, e as
recomendações feitas são apresentadas sinteticamente (recomenda-se evitar apresentar
recomendações que sejam polêmicas ou controversas, apresentando-se somente os aspectos que
possam ser considerados aceitáveis sem maiores discussões). As considerações finais do trabalho
também pode apontar possibilidades de estudos mais profundos ou outros problemas que possam
vir a ser objeto de análise pelo autor ou por outros pesquisadores, bem como as limitações do
estudo desenvolvido, caso não tenham sido apresentadas na introdução. É essencial que as
considerações finais permitam analisar até que ponto os objetivos definidos na introdução foram
cumpridos pelo autor do trabalho. A NBR 14724:2002 considera opcionais os aspectos referentes
à importância, síntese, projeção, repercussão e encaminhamentos futuros de trabalho. Um aspecto
que não pode ser esquecido: nas considerações finais não é possível introduzir elementos novos
no trabalho. Mesmo que corram o risco de serem repetitivas, devem apenas trazer o que já foi
tratado no trabalho.
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Naturalmente, as dimensões dos elementos textuais num trabalho acadêmico são muito
variáveis. Relatórios de estágio, por exemplo, devem ter dimensões bem maiores que trabalhos
apresentados para uma disciplina, pois trabalham com maior número de elementos. Os principais
cuidados devem ser tomados com a redação do texto. Severino (2000) lembra que o autor de um
trabalho deve cuidar de sua linha de argumentação, redigindo parágrafos e construindo seções em
que os conteúdos sejam logicamente encadeados, permitindo ao leitor acompanhar o raciocínio
do autor. Em trabalhos científicos, impõe-se um estilo sóbrio e preciso, importando mais a clareza do que qualquer outra característica estilística. A terminologia técnica só será usada quando necessária ou em trabalhos especializados, nível em que já se tornou terminologia básica. De qualquer modo, é preciso que o leitor entenda o raciocínio e as idéias do autor sem ser impedido por uma linguagem hermética ou esotérica. Igualmente evitem-se a pomposidade pretensiosa, o verbalismo vazio, as fórmulas feitas e a linguagem sentimental. O estilo do texto será determinado pela natureza do raciocínio específico às várias áreas do saber em que se situa o trabalho. (SEVERINO, 2000, p. 84).
Esta passagem resume admiravelmente os cuidados que o autor de um trabalho acadêmico
deve ter ao redigir seu trabalho: é preciso ter clareza, evitando duplas interpretações, utilizar
parcimoniosamente a linguagem técnica, e escrever tendo em mente o leitor do trabalho, pois é
este que, afinal, irá determinar a qualidade do mesmo.
5.3 ELEMENTOS PÓS-TEXTUAIS
Os elementos pós-textuais são todos aqueles cuja apresentação é considerada, pelo autor,
como importante para a compreensão do trabalho, mas não tão fundamental que exijam sua
colocação ao longo do desenvolvimento do mesmo. São, na maior parte, elementos opcionais,
que serão utilizados com economia e cuidado pelo autor para ilustrar, aprofundar ou destacar
temas e assuntos tratados nos capítulos que formam o desenvolvimento.
Dentre os elementos pós-textuais, apenas um é obrigatório, e diz respeito às referências,
conhecidas até a revisão de 2000 da NBR 6023 como referências bibliográficas; o título mais
geral se deve ao fato de que hoje em dia existem muito mais opções de obras que podem ser
usadas como referências, não somente os livros e textos impressos. As referências consistem
numa listagem das obras consultadas e citadas ao longo do trabalho, apresentadas de acordo com
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os padrões definidos pela NBR 6023:2002, permitindo ao leitor identificar e consultar as fontes
originais sobre as quais se baseou o trabalho. É importante diferenciar bibliografia de referências
bibliográficas: aquela consiste numa lista de obras consultadas para a realização de pesquisa, ao
passo que estas apresentam somente as obras efetivamente citadas ao longo do texto. Devido à
importância deste assunto, ele será tratado em capítulo específico deste trabalho.
O elemento pós-textual seguinte é o glossário. De caráter opcional, o glossário apresenta
palavras e expressões técnicas de uso restrito ou de sentido obscuro, seguidas de suas definições.
As palavras devem ser apresentadas em ordem alfabética, não devendo ser numeradas.
Os demais elementos pós-textuais consistem em apêndices e anexos. Os apêndices são
textos ou documentos elaborados pelo próprio autor do trabalho, e complementam a
argumentação desenvolvida por este. São identificados pela expressão APÊNDICE (em
maiúsculas), por letras maiúsculas consecutivas e por um travessão separando-os do título (na
hipótese de existirem mais elementos do que letras no alfabeto, usam-se letras dobradas: apêndice
AA, por exemplo). Observe-se os exemplos a seguir:
APÊNDICE A - Classificação dos respondentes, por seção e tempo de serviço
APÊNDICE B - Nota metodológica sobre o questionário apresentado
Os anexos, por sua vez, são documentos não elaborados pelo autor, e são usados para
fundamentar, comprovar ou ilustrar a argumentação deste. Seu sistema de identificação é
semelhante ao dos apêndices. Veja-se o exemplo:
ANEXO A - O uso de entrevistas em levantamentos, de acordo com Fletcher (1999)
ANEXO B - Delineamentos de pesquisa (VERGARA, 2000)
Apêndices e anexos devem ser antecedidos por lista específica, na qual eles são
devidamente identificados. Na hipótese de serem apresentadas, como anexos, cópias de
documentos, nas quais não seja possível acrescentar um título, é conveniente antecedê-las por
uma folha de identificação. As páginas dos anexos são numeradas em seqüência aos elementos
textuais. No sumário, a página inicial das seções apêndices e anexos deve ser colocada de acordo
com a regra de apresentação do sumário, já referida anteriormente.
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6 CITAÇÕES
Uma citação é a menção, no texto, de uma informação extraída de outra fonte, de acordo
com a NBR 10520:2002. Estas podem ser diretas, quando se referem a uma transcrição literal
(ou seja, uma cópia fiel) do texto do autor consultado, ou indiretas, quando a transcrição não é
literal (ou seja, modifica-se o texto original, mantendo-se suas informações originais) sendo que o
pensamento do autor original é reescrito com as palavras do autor do trabalho. Naturalmente, no
caso desta, é preciso tomar extremo cuidado com o uso das palavras, devendo-se preservar o
significado original pretendido pelo autor citado, sem distorcer seu conteúdo.
Por que se usam citações? As respostas a essa pergunta variam, mas, geralmente, as
citações são utilizadas das seguintes maneiras:
a) apresentar conceitos;
b) comprovar um ponto de vista;
c) apresentar elementos adicionais para aumentar a força de um argumento;
d) valorizar aspectos trabalhados ao longo do texto.
Qualquer que seja a razão para usar a citação, é preciso lembrar-se do que Vergara (2000)
afirma: deve-se usar as citações com parcimônia. Ou seja, um trabalho acadêmico não pode se
constituir num sem-número de citações, em que o trabalho do autor tenha sido simplesmente
compilá-las e encadeá-las ao longo do texto. As citações são elementos adicionais ao texto,
jamais elementos principais.
Algumas regras gerais :
a) as entradas de sobrenomes de autor, da instituição responsável pelo texto citado ou pelo título
do texto (quando não for possível determinar a autoria) devem ser feitas em maiúsculas e
minúsculas, quando apresentadas fora de parênteses, e inteiramente em maiúsculas, quando
apresentadas entre parênteses. O ano da publicação é referenciado entre parênteses. No caso
de citação direta (literal), a página da citação também é referenciada entre parênteses;
havendo mais de um volume para o título referenciado, este deve ser apresentado após a data,
separado desta por vírgula e com a apresentação do volume ou tomo abreviada). Exemplo:
Vergara (2000, p. 37) Vergara (2000)
(VERGARA, 2000, p. 37) (VERGARA, 2000)
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IBGE (2002) IBGE (2002, p. 245)
(IBGE, 2002, p. 245) (IBGE, 2002, v. 2, p. 108)
b) transcrições com até três linhas são referenciadas dentro do próprio texto, separadas deste por
aspas duplas, usando-se as aspas simples na hipótese de haver aspas duplas na citação
utilizada. Exemplo: Severino (2000, p. 187) escreve: “quanto à sua estrutura, o raciocínio é
um todo complexo, formado que é por um encadeamento de vários juízos, que são,
igualmente, conjuntos formados por vários conceitos.” No exemplo acima, a apresentação da
fonte poderia se dar ao final do trecho citado, como se segue (SEVERINO, 2000, p. 187);
c) transcrições com mais de três linhas são destacadas com recuo de 4 cm em relação à margem
esquerda, em letra menor que a do texto e sem aspas. Exemplo: As variáveis podem ser de duas espécies, conforme sejam ou não conhecidos os seus valores no início da pesquisa. As variáveis sob controle são aquelas cujo valor é determinado ou mantido sob controle pelo pesquisador. As variáveis não-controladas são aquelas cujo valor é indeterminado e/ou não controlado pelo pesquisador ou cujo valor só é conhecido após o esforço de pesquisa. (RAUEN, 2002, p. 152; grifo do autor).
d) trechos suprimidos são indicados pelo uso de colchetes e reticências [...], interpolações e
acréscimos também são indicadas por colchetes [interpolação de comentário do autor do
trabalho no texto da citação] e destaques são feitos com grifos, negritos ou itálicos. Na
hipótese do destaque constar do texto original, utiliza-se a expressão grifo do autor, e, sendo
destaque feito pelo autor do trabalho acadêmico que está apresentando a citação, usa-se a
expressão grifo nosso. O exemplo acima apresenta um grifo feito por Fábio José Rauen, autor
do livro donde provém a citação;
e) dados obtidos por via oral devem indicar, entre parênteses, a fonte por meio da expressão
informação verbal;
f) trabalhos ainda não publicados ou em fase de elaboração devem ser destacados, incluindo-se
a expressão no prelo para trabalhos prontos para edição, mas ainda não lançados, e em fase de
elaboração, para trabalhos que ainda não estejam prontos. No caso de trabalhos no prelo, se a
data prevista de edição for conhecida, ela deve ser adicionada;
g) no caso do autor do trabalho ter traduzido o texto da citação, deve-se usar a expressão
(tradução nossa). Exemplo:
(BABBIE, 1983, p. 205; tradução nossa)
Algumas regras adicionais são importantes:
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a) no caso de haverem dois autores com o mesmo sobrenome que tenham publicado seus livros
ou artigos no mesmo ano, deve-se indicá-los por meio da inicial do prenome, e, se a inicial for
a mesma, usa-se o nome completo. Evidentemente, em não havendo publicações no mesmo
ano referenciadas na bibliografia, esta regra não se aplica. Exemplo:
(SILVA, R., 2000) (SILVA, Reinaldo, 2000)
(SILVA, J., 2000) (SILVA, Roberto, 2000)
b) quando forem citados textos de um mesmo autor, publicados no mesmo ano, usa-se uma letra
minúscula para diferenciá-los (naturalmente, o mesmo expediente deve ser adotado nas
referências bibliográficas). Exemplo:
(BRESSER PEREIRA, 1998a)
(BRESSER PEREIRA, 1998b)
c) citações de documentos do mesmo autor, publicados em anos diferentes, devem ser
referenciadas separando-se os anos com ponto e vírgula. Exemplo:
(BRESSER PEREIRA, 1996; 1998a; 1998b)
d) citações de documentos de autores diferentes, mencionados simultaneamente, devem ser
separadas por ponto e vírgula. Exemplo:
(SILVA, 1993; PEREIRA, 1995; ROCHA, 1995)
e) a expressão latina apud (citado por, conforme, segundo, junto a) é usada quando se está
fazendo a citação de um texto de um autor dentro de texto de outro autor. Conhecida como
citação de citação. Exemplo:
(KETTL, 1997 apud BRESSER PEREIRA, 1998b)
Kettl (apud BRESSER PEREIRA, 1998b)
f) outras expressões latinas são id (mesmo autor), ibidem ou ibid (na mesma obra), opere citato
ou op. cit. (obra citada), passim (em várias passagens do texto), loco citato ou loc. cit. (no
mesmo local). Essas expressões, entretanto, são usadas somente em notas de rodapé, à
exceção de apud;
g) no caso de haver mais de um autor para o texto, deve-se separar os sobrenomes por ponto e
vírgula, quando entre parênteses, podendo-se usar tanto o ponto e vírgula quanto a vírgula se
a menção vem fora de parênteses. Exemplo:
Melo Neto; Froes (2001)
Melo Neto, Froes (2001)
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(MELO NETO; FROES, 2001)
h) No caso de haver mais de três autores, pode-se citar o primeiro nome, seguido da expressão et
al. (et alii, que significa “e outros” em latim), ou os três primeiros nomes seguidos de et al.
Por exemplo:
Bastos et al. (2003)
(BASTOS et al., 2003)
Bastos, Paixão, Fernandes et al.
(BASTOS; PAIXÃO; FERNANDES et al., 2003).
i) no caso de sobrenome composto, deve-se usar a forma mais conhecida desse sobrenome. Por
isso, textos de Luiz Carlos Bresser Pereira normalmente são referenciados por Bresser Pereira
ou (BRESSER PEREIRA), e não por Pereira. Se o sobrenome do autor tiver as expressões
Filho, Neto, Sobrinho, estas devem ser utilizadas: por exemplo, ao citar um texto de Francisco
Paulo de Melo Neto, usa-se Melo Neto ou (MELO NETO).
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7 REFERÊNCIAS: A NBR 6023:2002
As regras para a apresentação das referências no Brasil estão consubstanciadas na NBR
6023, modificada pela última vez em setembro de 2002. Essa norma apresenta os elementos que
devem ser colocados nas referências bibliográficas e determina os padrões a serem seguidos para
os diversos tipos de documentos científicos normalmente referenciados nos trabalhos
acadêmicos.
Segundo a NBR 6023:2002, as referências bibliográficas podem ser apresentadas de
quatro formas:
a) em notas de rodapé;
b) no final do texto ou de cada capítulo;
c) numa lista de referências ao final do trabalho (antecedendo anexos, apêndices e glossário);
d) antecedendo os resumos, resenhas e recensões.
Para os trabalhos acadêmicos, convencionou-se tacitamente apresentar as referências ao
final dos mesmos, a não ser nos casos de resenhas e resumos de texto. Embora alguns utilizem a
prática de apresentá-las nas notas de rodapé, isso não é muito recomendável, pois normalmente
os avaliadores têm interesse em consultar a lista de referências antes de ler o texto inteiro, para se
inteirarem do quadro de referência adotado pelo acadêmico.
Antes de apresentar os principais modelos de referências trabalhadas pela ABNT, é
conveniente distinguir entre os elementos das mesmas. Existem os elementos essenciais,
indispensáveis para a identificação do documento consultado, como título, subtítulo (quando
houver), número da edição, local da publicação, editora e data da publicação, e os elementos
complementares que, em apoio aos essenciais, permitem a melhor caracterização dos
documentos, como indicações de responsabilidade (tradutor, ilustrador, revisor, adaptador,
compilador, etc.), características físicas e dimensões do documento, número de páginas, número
de volumes, existência de ilustrações, série editorial ou coleção a que o documento pertence,
notas e o International Standard Book Numbering (ISBN), etc. (ABNT, 2002). Apenas os
elementos essenciais são exigíveis numa análise da referência bibliográfica.
A seguir, serão apresentados os principais tipos de documentos referenciados nos
trabalhos acadêmicos exigidos pelos cursos de Administração. Os modelos aqui apresentados não
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esgotam a ampla variedade de possibilidades, portanto a consulta à norma original, disponível nas
bibliotecas, é essencial para dirimir possíveis dúvidas em relação à forma mais adequada de
construir a referência.
a) Para referenciar um livro utilizado no todo
SOBRENOME, Prenome (havendo até 3 autores, referenciar os nomes dos mesmos e, mais de 3, deve-se indicar o primeiro ou os três primeiros e usar a expressão latina et al.). Título do livro: Subtítulo (quando houver). Número da edição (em sendo a primeira edição, é desnecessário citar). Local da edição: Editora, ano da edição. (Coleção - quando houver). Número de páginas, se necessário.
EXEMPLO:
MANTEGA, Guido; MORAES, Maria. Acumulação monopolista e crises no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. (Coleção Economia, v. 7). MITROFF, Ian. Tempos difíceis, soluções inovadoras: A arte de fazer as perguntas certas e resolver os problemas certos. Rio de Janeiro: Campus, 1999. b) Para referenciar um livro organizado, editado ou compilado por um autor ou mais
autores, contendo textos de diversos autores diferentes, usa-se, após o(s) nome(s) do(s)
compilador(es), as expressões (org.), (ed.) e (comp.), e seus respectivos plurais:
MINTZBERG, Henry; QUINN, James Brian (orgs.). O processo da estratégia. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
c) Para referenciar um texto retirado de um livro do mesmo autor, usa-se o título da parte,
antecede-se o título do livro com a expressão In:, e acrescenta-se a menção ao capítulo (se
houver) e as páginas:
ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Pesquisa qualitativa. In: ______. Projetos de estágio e de pesquisa em administração: guia para estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudos de caso. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999, cap. 8, p. 130-153. Sustitui-se o nome da autora por sublinha de seis espaços (underline) para indicar que o
autor da parte é o mesmo do livro.
d) Na hipótese do texto ter sido retirado de um livro organizado por outros autores
CHAMPY, James A. Preparando-se para a mudança organizacional. In: HESSELBEIN, Frances; GOLDSMITH, Marshall; BECKHARD, Richard (orgs.). A organização do futuro. São Paulo: Futura, 1997, cap. 1, p. 25-32.
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e) Quando se está citando uma tese, dissertação, monografia, trabalho de conclusão de
curso, relatório de estágio, usa-se a seguinte estrutura:
SOBRENOME, Prenome. Título do trabalho: Subtítulo (quando houver). Ano. Número de folhas. Característica - Local de apresentação.
EXEMPLO:
ZAPELINI, Marcello Beckert. Colaboração entre os setores público e privado: elementos para uma teoria política. 1996. 420 f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Curso de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
Se apenas uma parte do documento estiver sendo citada, usa-se a mesma regra
apresentada em “c”. Assim:
EXEMPLO:
ZAPELINI, Marcello Beckert. Concepções políticas clássicas. In: ______. Colaboração entre os setores público e privado: elementos para uma teoria política. 1996. 420 f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Curso de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, cap. III, p. 15-39.
f) A referência de um dicionário segue este padrão:
ABBAGNANO, Nicola. Diccionario de filosofía. 2. ed., 9. reimpr. México, D. F.: Fondo de Cultura Económica, 1992.
g) Se apenas um verbete do dicionário está sendo citado, deve-se proceder desta forma:
AUTORITARISMO. In: SOUSA, José Pedro Galvão de; GARCIA, Clovis Lema; CARVALHO, José Fraga Teixeira de. Dicionário de política. São Paulo: T. A. Queiroz Editor, 1998. p. 85-86.
h) No caso de referência de um periódico (revista) tomado em sua coleção, deve-se usar o
seguinte padrão:
REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Rio de Janeiro: FGV, 1967- . Bimestral.
i) Quando apenas um artigo de periódico está sendo citado:
SOBRENOME, Prenome. Título. Revista, local, volume, número, páginas, data.
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56
EXEMPLO:
GUIMARÃES, Tomás de Aquino. A nova administração pública e a abordagem da competência. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 34, n. 3, p. 125-140, maio-jun. 2000.
Naturalmente, quando há mais de um autor, deve-se referenciar os nomes dos autores até
o máximo de três; quando forem quatro ou mais, deve-se usar a expressão et al., como definido
anteriormente no capítulo sobre citações.
j) Um artigo publicado em jornal é referenciado como se segue:
SOBRENOME, Prenome. Título. Jornal, Local, data. Seção ou caderno, página.
EXEMPLO (extraído da NBR 6023:2000, p. 5):
NAVES, P. Lagos andinos dão banho de beleza. Folha de São Paulo, São Paulo, 28 jun. 1999. Folha Turismo, Caderno 8, p. 13. Se não há menção de caderno, seção ou parte no jornal, a página precede a data, como no
exemplo a seguir (também extraído da NBR 6023: 2000, p. 5):
LEAL, L. N. MP fiscaliza com autonomia total. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 3, 25 abr. 1999. Na hipótese de não ser assinada, a matéria tem a primeira palavra do seu título
referenciado em maiúscula. Os demais elementos permanecem os mesmos.
k) Entrevistas são referenciadas sempre pelo nome do entrevistado
ÁLVARES DA SILVA, Antônio. Justa causa. Exame, São Paulo, n. 692, p.34-36, 14 jul. 1999. entrevista concedida a José Maria Furtado.
l) Documento extraído da Internet
SOBRENOME, Prenome. Título. Indicação de revista eletrônica, site ou evento. Disponível em: <http://www. ....>. Acesso em: data.
EXEMPLO:
CECATTO, Cristiano. Planejamento estratégico e RH. RH.com.br. Disponível em: <http://www.rh.com.br/ler.php?cod=3338>. Acesso em: 10 set. 2002.
m) Um documento em CD-ROM deve ser referenciado como se segue (o primeiro exemplo se
refere ao documento como um todo, e o segundo a uma parte do mesmo):
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57
EXEMPLO:
CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO. Legislação profissional de Administração. Brasília: CFA, 2002. CD-Rom. SOUSA, Renato. O papel do código de ética na vida profissional do administrador. In: CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO. Legislação profissional de Administração. Brasília: CFA, 2002. CD-Rom.
n) Legislação:
JURISDIÇÃO (ou cabeçalho da entidade). Título, numeração e data. Ementa. Dados da publicação. Notas adicionais que se mostrem necessárias.
EXEMPLOS:
BRASIL. Constituição Federal (1988). Brasília: Senado Federal, 1988.
BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional 9, de 9 de novembro de 1995. Dá nova redação ao art. 177 da Constituição Federal, alterando e inserindo parágrafos. Lex – Coletânea de Legislação e Jurisprudência: legislação ferdeal e marginalia, São Paulo, v. 59, p. 1966, out.- dez. 1995. o) Palestra ou aula não publicada
SOBRENOME, Prenome. Título do trabalho. Natureza da atividade, Local, data.
EXEMPLO:
ZAPELINI, Marcello. Curso de atualização em metodologia científica. Curso proferido na Faculdade Energia de Administração e Negócios – FEAN, 17-23 jul. 2003.
Algumas regras gerais são utilizadas em toda apresentação de referências
a) a lista pode ser apresentada em ordem alfabética, cronológica ou por assunto, sendo
entretanto recomendável usar a ordem alfabética;
b) cada referência deve ser apresentada em espaço simples e separada da subseqüente por espaço
duplo;
c) quando são referenciadas 2 ou mais obras do mesmo autor, não é necessário repetir o nome
do mesmo a partir da segunda referência, substituindo-o por uma sublinha de seis espaços
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antes do ponto, ou seja, ______. Esta regra não é válida se por acaso uma referência estiver
numa página e a outra na página seguinte;
d) quando são referenciadas obras do mesmo autor publicadas no mesmo ano, usam-se letras
para diferenciá-las (como, por exemplo, 1998a, 1998b, 1998c);
e) na hipótese do autor do documento ser uma entidade, usa-se o nome da entidade em letras
maiúsculas. Deve-se usar o nome completo da instituição, a menos que a sigla seja usada no
documento em lugar do nome;
f) cada acréscimo à edição deve ser mencionado de forma abreviada. Assim, usa-se rev. para
indicar uma edição revisada, ampl. para uma edição ampliada, aum. para uma edição
aumentada;
g) quando não é indicado o local da edição, usa-se a expressão [S.l.] (sine loco), e, se o local
pode ser identificado com precisão, coloca-se o mesmo entre colchetes, como por exemplo
[Florianópolis];
h) quando não há indicação de data, usa-se uma das seguintes hipóteses: [1999] quando se pode
determinar com precisão a data não indicada, [1998 ou 1999] quando se pode determinar que
é um ano ou o outro, [1999?], [199?] ou [19?] quando se trata de data, década ou século
provável;
i) se são referenciadas duas edições diferentes do mesmo documento, usam-se duas sublinhas de
seis espaços, como no seguinte exemplo:
FAORO, Raymundo. Os donos do poder. São Paulo: Globo, 1958.
______. ______. 3. ed. rev. São Paulo: Globo, 2001.
j) na hipótese de não haver indicação do autor do texto, utiliza-se o título como forma de
entrada, usando maiúsculas para a primeira palavra;
k) documentos oficiais podem ser referenciados pelo nome do país (BRASIL, para documentos
do governo federal), do estado ou mesmo do município;
l) se for necessário, o nome do tradutor e/ou do revisor deve aparecer logo após o nome do texto
pesquisado. Isso é recomendável nos casos em que essas pessoas são autoridades
reconhecidas no assunto do livro (por exemplo, se Marcos Cobra, autoridade brasileira em
marketing, é o tradutor de um livro de marketing, recomenda-se sua inclusão na referência);
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59
m) documentos extraídos de publicações periódicas (jornais ou revistas) online devem seguir as
normas específicas de apresentação da referência de periódicos, acrescido da informação
referente à página aonde o material está disponibilizado e da data de acesso.
Um aspecto que pode ser destacado diz respeito à abreviatura dos meses, necessária para
uma série de referências, como as de periódicos, jornais e da internet. A NBR 66:1989 define
essas abreviaturas: janeiro: jan.; fevereiro: fev.; março: mar.; abril: abr.; maio: maio (é o único
mês que não é abreviado); junho: jun.; julho: jul.; agosto: ago.; setembro: set.; outubro: out.;
novembro: nov.; dezembro: dez. Ou seja, à exceção de maio, todos os outros meses são
abreviados pelas três primeiras letras do nome.
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8 PROJETOS E TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO
Esta seção diz respeito aos produtos gerados no processo de estágio do acadêmico de
Administração. Esses produtos são o projeto, documento preliminar à realização das atividades e
consolida informações a respeito das pretensões do aluno em relação ao estágio e, num segundo
momento, o Trabalho de Conclusão de Estágio (TCE), que narra as tarefas realizadas pelo
acadêmico na organização, apresenta o referencial teórico utilizado pelo mesmo e suas
conclusões a respeito do processo como um todo.
A forma de apresentação desses documentos segue os padrões definidos na primeira seção
deste trabalho, sendo esta uma definição dos elementos do projeto e do trabalho de conclusão, tal
como definido pelo Regulamento de Estágios da faculdade.
8.1 O QUE É UM PROJETO DE ESTÁGIO?
Como anteriormente mencionado, o projeto de estágio define respostas para as seguintes
perguntas:
a) O que será feito?
b) Onde e quando será feito?
c) Quem fará?
d) Como fará?
A primeira pergunta refere-se à área do conhecimento administrativo, ao tema escolhido,
ao problema formulado pelo aluno e aos objetivos que deverão ser cumpridos para a realização
efetiva do estágio. Ou seja, quando se está perguntando o que será feito, essencialmente busca-se
determinar qual problema estará sendo investigado pelo estagiário, e como esse problema poderá
ser respondido.
A segunda questão diz respeito ao local e ao período de realização do estágio. Neste
sentido, é preciso determinar em qual empresa o estágio será realizado, detalhando em que setor
ou departamento da mesma as atividades se concentrarão. O período diz respeito a como as
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61
atividades se desenvolverão dentro da empresa: o que será feito em primeiro lugar, quais
atividades serão realizadas a seguir, e quando se pretende apresentar o TCE ao orientador para a
definição de datas para a defesa pública.
A terceira pergunta diz respeito aos atores envolvidos no processo. Naturalmente, o aluno,
como autor do projeto, é o principal responsável pelo mesmo. Entretanto, a definição do
orientador e do supervisor já devem constar do projeto, pois estes dois agentes concorrem para a
maior qualidade do processo.
Finalmente, tem-se a questão “como se fará o estágio”. Esta questão é provavelmente a
mais complexa do projeto, uma vez que lida com a programação das atividades, com os métodos
e técnicas necessários para cumpri-las adequada e proveitosamente, com o tipo de literatura que
será utilizado, e com as previsões de gastos por parte do estagiário. Embora trabalhosa, a resposta
a esta questão deve ser a mais cuidadosa e detalhada possível, pois as questões metodológicas são
essenciais para o sucesso dos trabalhos de estágio.
8.2 ESCOLHA DO TEMA, DO PROBLEMA, DO LOCAL E DO ORIENTADOR
Uma das questões mais importantes a serem respondidas quando da elaboração do projeto
de estágio refere-se à definição do tema, do local e do orientador, pois estes são pontos de partida
para o trabalho. Idealmente, o estágio será realizado no tema em que o acadêmico sentir maior
atração ou facilidade de trabalhar, ou para o qual direcionou seus esforços ao longo da graduação,
numa organização que lhe proporcionará as melhores oportunidades de aprendizado, sob a
orientação de um professor que não somente domina o assunto, mas também possui afinidade
com o acadêmico.
Na prática, entretanto, a situação é outra. Muitas vezes, o acadêmico é obrigado a estagiar
numa organização diferente daquela que sonhava, para poder realizar um trabalho na área que
mais o interessa, enquanto que em outros casos o acadêmico consegue o estágio na organização
que deseja, mas acaba tendo que realizá-lo em outra área e tema; casos ainda mais dramáticos são
aqueles em que não se consegue nem a empresa, nem o tema que originalmente se desejava
trabalhar - mas estes devem ser evitados a qualquer custo. Outro problema está na definição do
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orientador, que é restringida pelo número de orientandos que cada professor pode ter, pelos seus
interesses de trabalho, pela exsitência de afinidades pessoais entre professor e acadêmico, e pela
própria agenda deste.
Entretanto, alguns aspectos fundamentais devem ser levados em consideração na
definição do tema, do problema, da organização e do orientador do estágio, aspectos estes que
guiam e facilitam as decisões do acadêmico. Ver-se-ão, a seguir, esses cuidados, tendo-se em
mente que a organização proposta não deve ser considerada como uma seqüência cronológica de
passos, uma vez que, muitas vezes, essas escolhas ocorrem concomitantemente, já que são
interdependentes.
8.2.1 Definição da área e do tema
O regulamento de estágio estabelece as diferentes áreas da Administração dentro das
quais o acadêmico deverá fazer a opção para realização de seu estágio, devendo ser consultado
para a definição de quais estão disponíveis. Embora a área seja uma subdivisão da ciência, ainda
assim seu conceito refere-se a um campo de conhecimento relativamente amplo, dentro do qual
podem ser encontrados diferentes temas. “Área” corresponde a assunto, termo relativamente
comum dentro da metodologia da pesquisa, que pode ser definido como “aquilo sobre o qual se
quer saber alguma coisa, ou aquilo de que se fala.” (BEBBER; MARTINELLO apud RAUEN,
2002, p. 48). A escolha da área diz muito a respeito do estagiário, haja vista que as pessoas
escolherão aquela pela qual sentem mais interesse – ou, no mínimo, sentem-se mais confortáveis
para abordar.
Dentro de cada uma dessas áreas, o acadêmico poderá optar pelos mais variados temas, de
acordo com seus interesses, com os da empresa e com a disponibilidade de orientadores. É
extremamente importante que a área escolhida pelo acadêmico corresponda, da melhor forma
possível, a seus interesses profissionais; de forma geral, os estágios com melhor aproveitamento
são aqueles em que o estagiário se dedica à área da Administração que mais se corresponde à sua
visão de futuro enquanto profissional. Em não havendo essa definição, evidentemente,
recomenda-se que o acadêmico procure a área que mais lhe tenha interessado em sala de aula ou
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que consulte a empresa junto à qual deseja estagiar. Um aspecto que auxilia na escolha do tema é
a leitura prévia: ao longo do curso, o acadêmico deve procurar se informar em livros e revistas
sobre os assuntos que mais o interessam, pois isso o ajudará muito na definição de um tema para
estagiar.
Em outras palavras, o que se recomenda é que o acadêmico procure, no mínimo, estagiar
na área que considera mais importante para ele. Na maior parte dos casos, existe a possibilidade
de negociar com a organização qual tema será trabalhado no decorrer do estágio. É para esse
assunto que é preciso dedicar atenção no momento, focalizando o tema do trabalho.
Se a área do estágio corresponde diretamente a uma das subdivisões principais da
Administração, o tema do estágio pode ser considerado como uma aproximação maior ao
trabalho que de fato será desenvolvido; o tema é uma focalização do trabalho, restringindo a área
a apenas uma de suas possibilidades de estudo. Sylvia Roesch (1999) afirma que existe uma
infinidade de temas que podem ser explorados num estágio; esses temas, de acordo com a autora,
correspondem a problemas ou oportunidades a serem resolvidos ou explorados dentro da
organização. Conseqüentemente, a adequada definição do tema deverá ser feita de comum acordo
com a organização em que será desenvolvido o estágio.
Por exemplo: um aluno pretende desenvolver seu estágio em Administração de Recursos
Humanos (área), na definição de um sistema de avaliação de desempenho (tema) para a
organização escolhida.
Algumas tentações devem ser evitadas. Umberto Eco (1989) observa que todo estudante
tende a escolher um tema bastante amplo e genérico para desenvolver seu trabalho – o que é
extremamente perigoso, em vários sentidos: o acadêmico pode não terminar seu trabalho no
prazo; abre-se ampla possibilidade de, na defesa do trabalho, contestar-se a bibliografia utilizada
pelo estagiário; aumenta a dificuldade de coletar e tratar adequadamente as informações
necessárias; por fim, pode-se acrescentar, o trabalho tende a ser menos útil para a organização em
que o estágio foi realizado. Portanto, a primeira dica na escolha do tema é: restrinja o tema,
evite a tentação de fazer um trabalho muito amplo.
Um segundo aspecto, que Gil (1996) menciona em relação à formulação de problemas de
pesquisa, mas que pode ser adaptado à realidade do projeto de estágio, refere-se à precisão. O
tema do estágio deve ser definido de maneira a evitar dificuldades de interpretação por parte de
orientador, supervisor e possíveis leitores. Uma sugestão é: ao preparar a revisão da literatura no
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projeto de estágio, convém definir com o máximo de clareza o que se entende pelo tema. Dessa
maneira, a segunda dica é: seja claro e preciso na definição do tema.
Outra questão: o tema deve ser empírico e viável, ou seja, deve ser passível de
investigação na organização em que o estágio irá ser desenvolvido. Por exemplo: o acadêmico
pretende estagiar numa microempresa, na área de Administração de Recursos Humanos, e
escolhe como tema planejamento de cargos e salários. Em princípio, o tema é exeqüível, a
organização se interessa e o estagiário está motivado; mas não é viável realizar o estágio dessa
forma, pois o planejamento de cargos e salários só é de fato exeqüível e útil para organizações de
determinado porte. Na viabilidade, também é importante levar em consideração o tempo
disponível para a realização do estágio, os custos envolvidos e a possibilidade de se chegar a uma
solução adequada à organização. A terceira dica, portanto, é: escolha um tema que possa ser
abordado na organização, e que esteja dentro de suas possibilidades em termos de custos,
tempo e conhecimentos.
É interessante verificar como os estudiosos da Metodologia da Pesquisa abordam a
questão da definição do tema. Cláudio de Moura Castro (2006) propõe três critérios simples, mas
poderosos:
a) Importância: o tema deve estar ligado a alguma questão que mobiliza ou afete algum
segmento substancial da sociedade, ou a alguma questão teórica que mereça atenção na
literatura. Nas palavras do autor, “importante é o tema que, mais cedo ou mais tarde, vai
desembocar em conseqüências teóricas ou práticas que afetam diretamente o bem-estar da
sociedade.” (CASTRO, 2006, p. 61; grifo do autor);
b) Originalidade: o tema deve ter o potencial de surpreender o pesquisador;
c) Viabilidade: a pesquisa deve ser completada considerando-se os prazos, os recursos
financeiros, a competência do pesquisador, a disponibilidade de informações, a teoria
existente e o apoio do orientador.
Barros, Lehfeld (apud RAUEN, 2002) apresentam alguns interessantes critérios para a
escolha do tema:
a) Viabilidade técnica: metodologia e tipologia da pesquisa;
b) Viabilidade política: relevância da pesquisa na realidade contemporânea, suas contribuições
e relacionamento com pesquisas já feitas;
c) Viabilidade lógica: confronto entre o tema e um quadro teórico;
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d) Viabilidade financeira: custos envolvidos no projeto.
Sylvia Roesch (1999) apresenta os seguintes aspectos como fatores envolvidos na escolha
do tema do estágio:
a) Ele deve ser relevante para a Administração, e ter ligação com pelo menos duas disciplinas do
curso;
b) Deve ser viável em termos de acesso às fontes de informação e aos dados, e do tempo
disponível;
c) Deve ser viável em termos de custo, disponibilidade de bibliografia e de orientação;
d) Deve ser do interesse da organização aonde será feito o estágio e do orientador.
Tudo isso, entretanto, não substitui uma realidade: deve-se ter legítimo interesse pelo
tema de estudo. Somente esse interesse garantirá ao aluno o real comprometimento com o
trabalho.
8.2.2 Definição do problema, da pergunta e da hipótese de pesquisa
Um problema bem formulado é essencial para que o estágio possa ser levado a bom
termo, mas essa formulação tem se mostrado uma dificuldade para os acadêmicos. Para Rudio,
“formular o problema consiste em dizer, de maneira explícita, clara, compreensível e operacional,
qual a dificuldade, com a qual nos defrontamos e queremos resolver [...].” (apud BIANCHI;
ALVARENGA; BIANCHI, 2002, p. 33). Soriano (2004, p. 48) afirma que “propor um problema
a partir de uma perspectiva científica significa reduzi-lo a seus aspectos e relações fundamentais
para poder iniciar seu estudo intensivo” sem, entretanto, sacrificar sua complexidade dentro de
uma realidade natural ou social.
Um aspecto central dentro da formulação do problema é que ele deve estar embasado em
um marco teórico, ou seja, ele será elaborado depois de leitura prévia que permita ao pesquisador
compreender melhor a realidade que irá pesquisar (portanto, um problema nunca é formulado do
nada – ele deve refletir um conhecimento anterior sobre o assunto, conhecimento este que leva o
pesquisador a desejar aprofundar-se). Dentro desse espírito, Chizzotti (2006) informa: delimitar o
problema é uma atividade diretamente conectada a uma concepção de mundo do pesquisador,
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seja ela genérica, seja ela expressa sinteticamente em teoria. O autor conclui: “delimitar o
problema pode ser o momento mais aflitivo da pesquisa porque sua definição está conexa com a
concepção que gera o problema.” (CHIZZOTTI, 2006, p. 25).
Gil (1991) afirma que um problema é uma questão ainda não resolvida em algum campo
de conhecimento que levanta discussões dentro deste. Numa formulação mais precisa, Laville,
Dionne (1999, p. 87) definem o problema de pesquisa como sendo “[...] um problema que se
pode ‘resolver’ com conhecimentos e dados já disponíveis ou com aqueles factíveis de serem
produzidos.” Ou seja, de acordo com os dois autores canadenses, um problema consiste em uma
situação que se pretende resolver através do acesso ao conhecimento já existente ou aos dados a
serem coletados junto à realidade. Conquanto esta seja uma boa definição, há que se acrescentar
que, em um trabalho de estágio, obrigatoriamente todos os problemas passarão pelas duas
dimensões, apoiando-se em realidades já descritas por outros pesquisadores e em dados novos
produzidos pelo estagiário.
Um bom problema de pesquisa científica, lembra Gil (1991), deve indagar como se
verifica um dado fenômeno, o que o causa e quais são as conseqüências de sua ocorrência.
Citando Kerlinger, Gil (1991) afirma que indagar como se pode fazer melhor alguma coisa não é
um problema científico, e sim um problema de “engenharia”, pois só trata de eficiência. O
estagiário, entretanto, irá analisar muitas vezes situações em que a eficiência e o “como fazer”
serão centrais para seu trabalho; o fato de tal problema não ser considerado “puro” em termos
científicos não quer dizer que seu estágio não seja científico, mas sim que ele representa uma
aplicação do método científico à realidade empresarial.
Para que o estagiário possa responder ao problema, é fundamental que ele esteja
adequadamente delimitado, ou seja, ele não pode ser tão extenso que não permita uma resposta
durante o período de realização do estágio nem com os recursos à disposição do acadêmico, nem
ser restrito a ponto de não permitir um trabalho com as características e a profundidade de um
estágio. A questão de como delimitar o problema de pesquisa pode ser adequadamente
respondida tendo em mente critérios propostos por Soriano (2004):
a) Conceitualização: indica os limites teóricos do trabalho;
b) Tempo: a pesquisa deve estar situada historicamente;
c) Espaço: é preciso definir qual é a área geográfica da pesquisa;
d) Unidades de observação: refere-se à população que será pesquisada;
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e) Contextualizações: situar o problema em contextos socioeconômico, político, histórico e
ecológico pode ajudar o pesquisador a defini-lo melhor.
O estagiário deve ter consciência de diversos aspectos quando da formulação do
problema:
a) há material bibliográfico que permita um estudo do problema levantado?
b) o problema gera hipóteses (tentativas de resposta)?
c) as hipóteses geradas podem ser testadas, ou seja, avaliadas na prática?
d) o problema interessa à organização na qual o estágio está sendo desenvolvido?
Um problema é formulado, portanto, como uma descrição de uma situação da realidade, e
a partir desta, deriva-se uma pergunta, sendo o objetivo geral diretamente relacionado a essa
pergunta; em muitos casos, a formulação do objetivo geral é praticamente idêntica à da pergunta,
apenas retirando-se o questionamento. A pergunta de pesquisa propõe uma pesquisa a partir do
problema, e portanto ela deve ser de fácil compreensão e auxiliar o pesquisador em sua
abordagem da realidade, bem como permitir ao analista da pesquisa compreender melhor o que
será feito. A pergunta torna explícita o que se quer resolver ou responder com a pesquisa
(RAUEN, 2002, p. 51).
De acordo com Laville, Dionne (1999), a pergunta reflete o modo pelo qual o pesquisador
vê a realidade, a partir de suas teorias ou ideologia. Portanto, a pergunta guia a abordagem que
será dada ao problema da pesquisa. Eles propõem alguns critérios para uma “boa” pergunta:
a) A pergunta deve ser significativa, ou seja, deve deixar transparecer que o problema é
significativo e o que se deve esperar da pesquisa realizada a partir dela;
b) A pergunta deve ser clara para o pesquisador e para o leitor, dificultando ou impedindo
confusões e erros de interpretação ao deixar clara a direção em que se irá pesquisar. Ou seja,
aqui a chave é a objetividade;
c) A pergunta deve ser exeqüível, ou seja, deve deixar claro que o pesquisador dispõe dos meios
para fazer a pesquisa e que existem dados que podem ser coletados para respondê-la.
O conhecimento progride por meio de perguntas que, uma vez formuladas, são
investigadas em busca de uma resposta; para que tais respostas possam ser alcançadas, é preciso
formular hipóteses (tentativas de respostas à pergunta formulada no problema) que serão testadas
como respostas possíveis ao mesmo; no dizer de Laville, Dionne (1999), a hipótese é uma
solução antecipada ao problema de pesquisa. Richardson (1999) coloca que as hipóteses
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permitem orientar a análise dos dados e auxiliam a aceitar ou rejeitar tentativas de solução ao
problema.
Nem todos os trabalhos de estágio precisam de hipóteses: elas são indispensáveis na
maioria dos estudos quantitativos e dos quali-quantitativos, mas não são obrigatórias nos
qualitativos. Entretanto, mesmo no caso destes, as hipóteses sempre estão subjacentes, pois o
pesquisador não se exime de antecipar soluções possíveis para o problema que ele mesmo
formulou.
Para a formulação das hipóteses, Richardson (1999) apresenta uma série de critérios
simples, mas eficazes:
a) Clareza: as hipóteses devem evitar o uso de conceitos obscuros ou discutíveis;
b) Empirismo: os conceitos devem ter bases empíricas;
c) Verificação: as técnicas disponíveis devem permitir a verificação das hipóteses;
d) Especificação: hipóteses amplas devem ser evitadas ou desdobradas em sub-hipóteses
menores;
e) Relação com a teoria: deve haver relação entre a teoria existente e a hipótese formulada;
f) Generalização: deve ser possível aplicar a hipótese não a fatos isolados, mas a aspectos
gerais da área a ser analisada.
g) Relação com o problema: não se pode formular hipótese alheia ao problema, que não dê
respostas prováveis a este.
Há diversos tipos de hipóteses, classificadas de diferentes maneiras. Gil (1991) apresenta
uma classificação simples:
a) Casuísticas: referem-se a características específicas de determinadas pessoas, objetos ou
fatos;
b) Freqüência: referem-se à freqüência com que determinada característica se repete em um
grupo, uma sociedade, uma cultura;
c) Associação: estas hipóteses estabelecem uma relação de associação entre duas ou mais
variáveis procurando verificar até que ponto uma delas pode ser relacionada à outra;
d) Dependência: estabelecem que uma variável independente interfere em uma outra, dita
dependente. Há, portanto, relação de causalidade entre as variáveis.
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As hipóteses podem derivar de diversas fontes diferentes: observação empírica da
realidade, feita pelo próprio pesquisador; outras pesquisas já feitas sobre o mesmo tema; teorias
já existentes; intuição do pesquisador (GIL, 1991).
8.2.3 Definição do local
Esta é uma das questões mais espinhosas a serem respondidas: aonde será realizado o
estágio? A legislação considera o estágio como uma oportunidade de colocar em prática os
conhecimentos teóricos que foram fornecidos na IE, o que evidentemente pressupõe que o
acadêmico realizará seu estágio em uma organização que lhe abra amplas oportunidades de
aplicação de seus conhecimentos. Na prática, entretanto, nem sempre isso é possível.
Um estágio pode ser em qualquer tipo de organização, tanto pública quanto privada, e
inclusive está aberta a possibilidade de realizá-lo em organizações comunitárias. Uma questão
comum é se o estágio curricular pode ser realizado na mesma organização em que o acadêmico já
trabalhe. Esta possibilidade está aberta, mas o estágio não pode ser realizado na mesma atividade
que o profissional já realiza, sob pena de perder sua característica central, que é o aprendizado.
Para ajudar o acadêmico a escolher o local de seu estágio, alguns aspectos podem ser
mencionados. Em primeiro lugar, é preciso ter em mente as dimensões da empresa. Embora
muitos estágios de alta qualidade sejam realizados em microempresas, estas não são adequadas
para determinados tipos de trabalho. Estágios em Administração de Recursos Humanos, por
exemplo, dificilmente podem ser adequadamente realizados em empresas de micro ou pequeno
porte; na área de Materiais, entretanto, essas empresas são excelentes oportunidades de aplicação
de conhecimentos. Portanto, a primeira dica é: procure uma empresa de tamanho adequado
para a área em que você pretende realizar seu estágio, isto é, uma empresa que tenha as
dimensões adequadas para as restrições de trabalho que cercam o estágio.
Outro aspecto refere-se ao tipo de empresa: pública, privada ou do terceiro setor? As
primeiras são normalmente interessantes campos para estudos nas áreas de Administração Geral e
Organização, Sistemas e Métodos, mas já não são tão interessantes para outras áreas como, por
exemplo, Administração de Recursos Humanos (devido às limitações impostas pelo Estatuto dos
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Funcionários Públicos); dentro de Administração de Materiais e do Patrimônio, o tema Compras
normalmente não pode ser adequadamente trabalhado em empresas públicas, devido às
limitações da lei de licitações, embora normalmente essas empresas possuam áreas de Estoques
bem organizadas, que podem ser analisadas pelo estagiário. Dessa maneira, a segunda dica
consiste em: procure uma empresa que permita a aplicação dos conhecimentos
normalmente ministrados na IE em seu estágio.
Também é importante que a área em que o acadêmico pretende realizar seu estágio seja de
interesse da organização. Dessa forma, a escolha do local normalmente não é um processo muito
rápido, depende de negociação entre ambas as partes. É conveniente que, ao abordar uma
determinada organização, o estagiário já tenha em mente o que ele pretende fazer, de maneira a
chamar o interesse da mesma em seu trabalho; é importante que o estagiário esteja preparado para
ceder, mudar o tema do estágio, se for de comum acordo e a empresa realmente for interessante
para se realizar o trabalho. Portanto, a terceira dica é: procure empresas que tenham interesse
na área em que você pretende estagiar.
Mas, talvez, o aspecto mais importante seja este: em grande parte dos casos, a primeira
escolha não é a definitiva. O acadêmico precisa se preparar para procurar por outras empresas,
porque isso é o que normalmente acaba acontecendo, seja devido às características do trabalho
em si, seja da empresa, sejam inclusive problemas pessoais. Muitos excelentes estágios foram
realizados em empresas que estavam em “segundo lugar” na lista de preferências do estagiário,
sem demérito algum para o trabalho em si.
Sylvia Roesch (1999) recomenda as seguintes práticas para a escolha da organização:
a) Telefonar previamente, para localizar a pessoa a quem solicitar acesso;
b) Solicitar autorização por escrito à empresa;
c) Marcar visita à empresa, demonstrando entusiasmo pelo trabalho;
d) Obtida a empresa, enviar uma proposta preliminar;
e) Prometer entregar cópia do relatório final para a empresa.
Um outro aspecto: é sempre interessante que o estagiário esteja preparado em sua
primeira visita à empresa, buscando reunir previamente conhecimentos e informações sobre a
mesma, o ramo e o mercado em que ela opera, e assim por diante; uma visita ao website da
empresa, uma conversa com pessoas que já trabalhem nela, ajudam a acumular conhecimentos a
respeito do local do estágio e auxiliam a criar uma crucial primeira impressão favorável do
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71
candidato a estagiário junto aos profissionais da empresa. Isso demonstra interesse por essa
empresa específica e pode ajudar a criar uma boa impressão junto à mesma.
8.2.4 Definição do orientador
Idealmente, o orientador precisa ter três características fundamentais: afinidade com o
orientando, domínio da área e interesse pelo tema. Nem sempre é possível, entretanto, juntar
numa só pessoa essas características. Depende de cada pessoa determinar o que julga mais
importante, se é trabalhar com um professor a quem aprecia, ou se é trabalhar com aquele que
demonstra os maiores conhecimentos na área e no tema específico em que se pretende realizar o
estágio.
O papel do orientador no processo de estágio consiste essencialmente em prover meios
para a boa realização do estágio: fornecer indicações de bibliografia, facilitar contatos com a
empresa (quando necessário), sugerir (e discutir) meios e técnicas para a realização do estágio e
incentivar e motivar o estagiário (ROESCH, 1999). Além disso, espera-se que o orientador seja
capaz de tirar as principais dúvidas do estagiário em termos de metodologias adotadas para a
realização dos trabalhos.
O aspecto mais importante na escolha do orientador refere-se a uma questão cronológica:
é de suma importância contatar o orientador no início do processo, pois ele pode colaborar
ativamente na definição do tema a ser trabalhado, dos objetivos do estágio, na seleção de
bibliografia e na organização das etapas de trabalho. Dessa maneira, é fundamental procurar o
orientador nas primeiras fases do projeto de estágio, para que ele possa contribuir ativamente no
mesmo - e inclusive, para garantir a orientação.
É importante que o acadêmico procure despertar o interesse do orientador pelo trabalho
que está sendo realizado. Para que o processo de estágio conte com um envolvimento total por
parte do orientador, é essencial que o tema interesse a este, e o instigue a colaborar da melhor
maneira possível com o estagiário; embora o orientador deva ter domínio do assunto, só isso não
basta: é preciso que este se envolva em suas discussões com o estagiário, sinta-se desafiado por
este, tenha curiosidade a respeito dos resultados que serão alcançados.
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72
Não se pode esquecer do que Roesch (1999, p. 39) afirma: "[...] a qualidade do trabalho
final é muito mais responsabilidade do aluno do que do orientador." Portanto, não se pode esperar
milagres dos orientadores de estágio; embora estes tenham um papel muito importante a
desempenhar, quem vai realmente determinar se o estágio possui boa qualidade é o acadêmico,
pois é este que irá realizar a pesquisa e redigir o trabalho.
8.3 PROJETOS DE ESTÁGIO
Os projetos de estágio consolidam os elementos definidos no Regulamento de Estágio da
faculdade, e definem o que o estagiário irá fazer, onde e quando essas atividades serão
desenvolvidas, além de delimitar como o estágio será feito. Como um planejamento do trabalho a
ser realizado, o projeto de estágio se mostra essencial para guiar o acadêmico no desempenho das
atividades, como uma indicação do trabalho para o supervisor da empresa, e como um guia para o
professor designado como orientador do estágio. Um bom projeto será essencial para o sucesso
do acadêmico na realização de suas atividades de estágio.
Os elementos básicos do projeto de estágio são:
a) capa;
b) sumário;
c) identificação do estágio;
d) objetivos geral e específico;
e) referencial teórico;
f) classificação do estágio;
g) cronograma;
h) descrição das etapas de realização;
i) referências;
j) anexos.
A seguir, será feita uma descrição sucinta de cada um desses elementos. Como dois desses
elementos (a capa e o sumário) já foram descritos anteriormente, não há necessidade alguma de
repeti-los aqui.
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A identificação do estágio exige a apresentação dos seguintes aspectos: nome do aluno,
nome da organização em que o estágio será realizado (destacando, quando possível, o setor da
empresa em que as atividades ocorrerão), nome do professor orientador (que deverá
obrigatoriamente ser um professor da faculdade) e a identificação da área de conhecimento
(dentre as áreas previstas para o regulamento do estágio) e, dentro desta, do tema do estágio
(incluindo uma breve justificativa do porquê do trabalho).
Sobre este último aspecto, é conveniente apresentar algumas considerações. O tema é o
assunto, dentro da área de conhecimento, que será estudado ou pesquisado pelo acadêmico
(LAKATOS; MARCONI, 2001). O tema deve ser escolhido, segundo as autoras, de acordo com
as aptidões, as possibilidades, tendências e inclinações do acadêmico, e ser digno de uma
investigação científica, devendo ser formulado e delimitado dentro de uma pesquisa. O tema deve
ser preciso e específico (LAKATOS; MARCONI, 2001).
Para facilitar o processo de construção dos objetivos, é conveniente formular uma
pergunta ou problema de pesquisa. Isso significa que o acadêmico deve analisar a realidade da
organização na qual irá realizar o estágio, e encontrar nela uma questão cuja resposta possa ser
dada por ele dentro do período do mesmo. Um problema de pesquisa é, portanto, uma questão
formulada dentro do tema, que guiará a pesquisa e as atividades do estagiário dentro da
organização. A resposta a essa pergunta é dada pelo objetivo geral, como será visto a seguir. Gil
(1996) defende que um bom problema de pesquisa deve, além de ser formulado como uma
pergunta, ser claro e preciso (não deixando dúvidas sobre o que será feito), deve ser empírico (ou
seja, estar isento de valores), suscetível de solução e estar delimitado em uma solução viável (isto
é, não pode ser tão amplo que dificulte a solução dentro dos limites de tempo, recursos e
conhecimentos do estagiário).
O elemento subseqüente diz respeito aos objetivos do trabalho. Estes se dividem em
objetivos geral e específicos. Segundo Lakatos, Marconi (2001), o objetivo geral possui uma
EXEMPLO: um acadêmico escolhe a área Recursos Humanos e, dentro dela, o tema Seleção de pessoal.
EXEMPLO: como a seleção de pessoal pode influir na rotatividade dos funcionários na organização?
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visão global, abrangente, do tema, e está vinculado à significação da tese proposta pelo projeto. É
neste sentido que se afirmou acima que o objetivo geral consiste numa resposta à pergunta
formulada pelo problema de pesquisa. Já os objetivos específicos, por sua vez, “apresentam
caráter mais concreto. Têm função intermediária e instrumental, permitindo, de um lado, atingir o
objetivo geral e, por outro, aplicá-lo a situações particulares” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p.
219). Os objetivos específicos podem ser melhor compreendidos como sendo etapas de solução
do problema, contidas no objetivo geral. Dessa maneira, os objetivos específicos não podem, em
hipótese alguma, ultrapassar os limites estabelecidos pelo objetivo geral.
O momento seguinte consiste na elaboração de um referencial teórico. Este referencial
consiste numa primeira abordagem ao conteúdo teórico subjacente ao tema, feito pelo acadêmico
como suporte para a definição do problema e dos objetivos; os conceitos incluídos nos objetivos
são um guia para elaborar o referencial, uma vez que devem ser bem compreendidos para que se
possa operacionalizá-los em um trabalho de pesquisa. Um bom referencial teórico abrange tudo o
que possa ser considerado relevante ou necessário para explicar o problema, além de orientar os
métodos adotados no trabalho e os procedimentos para a coleta e análise dos dados (ROESCH,
1999). Um bom ponto de partida para a preparação do referencial teórico é a construção de um
tópico de estudo, sendo esse tópico uma frase (ou mesmo um título para o trabalho) que sintetize
a idéia central a ser explorada ao longo do estudo (CRESSWELL, 2007). Outra dica importante:
é essencial verificar os conceitos que são apresentados nos objetivos da pesquisa e explorar,
mesmo que brevemente, seus significados de acordo com os estudiosos do assunto.
Cresswell (2007) apresenta um roteiro de como proceder para selecionar o material
necessário para a revisão da literatura no trabalho de estágio:
EXEMPLO:
Objetivo Geral:
Identificar técnicas de seleção de pessoal que permitam reduzir o índice de rotatividade do pessoal dentro da organização Objetivos Específicos:
• Demonstrar os problemas e prejuízos de um alto índice de rotatividade de pessoal; • Analisar as técnicas de seleção hoje adotadas pela organização; • Analisar as técnicas de seleção recomendadas pela literatura de Recursos Humanos; • Identificar as técnicas mais adequadas às características da organização.
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a) Se o assunto não for de domínio do pesquisador, enciclopédias podem ser consultadas para
dar uma visão geral;
b) Em seguida, é recomendável buscar artigos junto a periódicos respeitáveis, especialmente
aqueles que apresentem conclusões de pesquisas. Cresswell recomenda começar com os mais
recentes, partindo posteriormente para os mais antigos;
c) O passo seguinte é procurar os livros. Para o autor, deve-se começar com obras monográficas
sobre o tema, para depois buscar os livros que aprofundam tópicos específicos e os livros
organizados a partir da contribuição de diferentes autores;
d) A quarta etapa consiste em buscar as conferências, palestras e seminários mais recentes sobre
o assunto;
e) Finalmente, o processo se encerra com a consulta a teses e dissertações sobre o assunto,
dando-se preferência àquelas que provêm das universidades e instituições de ensino mais
respeitadas.
Após o referencial teórico, deve-se apresentar uma classificação do estágio, de acordo
com a abordagem dada ao problema, os meios utilizados para realizar a pesquisa e os fins aos
quais ela se destina. Para maiores informações a respeito da classificação, ver o item 9 deste
trabalho.
O elemento seguinte diz respeito ao cronograma de execução das atividades,
acompanhado da descrição das etapas de realização. O cronograma se refere ao planejamento
temporal do trabalho de estágio, apresentando as etapas necessárias ao cumprimento das tarefas e
atividades previstas ao longo de períodos de tempo. Após o cronograma, o acadêmico deve
definir as etapas de realização do trabalho, descrevendo sucintamente quais as atividades serão
cumpridas para o atingimento dos objetivos previamente definidos.
O projeto de estágio irá ser concluído com os elementos pós-textuais. As referências
deverão apresentar no mínimo cinco obras diferentes, entre livros e artigos de revistas científicas
(artigos de jornais e de revistas não-científicas não devem ser apresentados – ou seja, artigos de
revistas como Exame, Você S.A., que têm cunho jornalístico, não podem ser contados como
referências para o projeto – por mais que pareçam adequados para o trabalho que será realizado),
que serão utilizadas no trabalho de estágio. Textos extraídos da Internet podem ser referenciados,
mas é preciso cuidar da confiabilidade das fontes (por exemplo, material extraído de sites que
oferecem auxílio a trabalhos acadêmicos, textos sem identificação de autor ou de uma
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organização idônea, verbetes da Wikipedia, não se constituem em fontes adequadas de
referências para um trabalho acadêmico).
Finalmente, os anexos incluirão a carta de apresentação fornecida pela Coordenadoria de
Estágios (se tiver sido necessária), uma cópia do termo de compromisso e um parecer de
aprovação assinado pelo coordenador de estágios, que será emitido quando o projeto tiver sido
aprovado pelo orientador e pelo coordenador metodológico.
Os elementos supracitados são considerados essenciais para o projeto, portanto são
obrigatórios. Outros elementos que se mostrem necessários podem ser incluídos a critério do
orientador, do supervisor da empresa ou do próprio aluno. Além disso, a faculdade poderá,
através da Diretoria e da Coordenadoria de Estágios, incluir outros elementos que permitam
melhorar o processo de estágio.
8.4 O TRABALHO DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO
O processo de estágio se esgota somente quando da apresentação de um Trabalho de
Conclusão de Estágio e sua respectiva avaliação por um ou mais professores, bem como pelo
coordenador metodológico. Os elementos básicos do TCE são aqueles que foram apresentados na
seção 2 deste documento (pré-textuais, textuais e pós-textuais), não sendo necessário repeti-los
aqui. Alguns desses elementos, entretanto, exigem algum desenvolvimento para facilitar sua
compreensão, e por isso serão abordados neste subitem para evitar maiores dificuldades por parte
dos acadêmicos.
A estrutura geral do TCE deve ser como a que segue:
a) capa;
b) folha de rosto;
c) página de aprovação;
d) dedicatória, agradecimentos e epígrafes (opcionais);
e) resumo e palavras-chave (obrigatório o resumo em vernáculo);
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f) listas (Ilustrações, Tabelas, Abreviaturas e siglas, Símbolos – quando for o caso de sua
apresentação);
g) sumário;
h) introdução;
i) revisão bibliográfica;
j) desenvolvimento do estudo;
k) considerações finais;
l) referências;
m) glossário (opcional);
n) apêndices e anexos (opcionais);
o) índices (opcionais).
O desenvolvimento do trabalho (elementos textuais) será composto por cinco grandes
grupos de elementos: a introdução, a metodologia, a revisão bibliográfica, a caracterização das
atividades desempenhadas pelo acadêmico no seu estágio e as conclusões alcançadas. Um
relatório de estágio dificilmente pode ser feito em menos de quarenta páginas, considerando-se
exclusivamente os elementos textuais.
Em primeiro lugar, é preciso falar a respeito da introdução do TCE. Consiste na
apresentação do trabalho propriamente dito. Deve preparar o leitor para o que virá a seguir no
trabalho, delimitando-o adequadamente e evitando criar falsas expectativas em relação ao seu
conteúdo. Ou seja, como uma abertura do trabalho, a introdução define o que será apresentado e
inspira o leitor a continuar a leitura. Uma boa introdução deve conter os seguintes elementos: a) Contextualização do tema
b)
: insere o tema escolhido dentro da área de conhecimento a que
pertence, usando elementos teóricos e/ou retirados da experiência do estagiário. Deve
caracterizar o problema de pesquisa formulado no objetivo do trabalho, ou seja, o que o
acadêmico investigará no mesmo. Deve incluir justificativa, destacando a relevância do
mesmo para o acadêmico, os benefícios advindos de sua realização e os beneficiários. A
justificativa, adicionalmente, deve relacionar o objeto do trabalho com o curso e a habilitação;
Objetivos geral e específicos: devem ser apresentados os objetivos efetivamente cumpridos.
Se o projeto previa objetivos que não foram alcançados, estes devem ser desprezados (podem
ser posteriormente apresentados dentro das limitações, indicando que um determinado
objetivo estava previsto, e não foi realizado pelas razões que são apresentados);
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c) Estrutura do estudo
Após a introdução, o TCE deverá apresentar a revisão bibliográfica que dá sustentação
ao trabalho, consistindo na apresentação dos conceitos pertinentes ao seu desenvolvimento. Esses
conceitos devem ser apresentados na introdução, a partir dos objetivos do trabalho. A bibliografia
consultada deve abranger pelo menos cinco referências sobre o assunto, sendo essas referências
obtidas diretamente de livros ou revistas científicas (referências jornalísticas ou da Internet não
podem ser contadas para esse quesito), devendo também trazer obras de metodologia científica e
da pesquisa, que fundamentem a caracterização do mesmo em termos metodológicos. Uma
revisão bibliográfica não pretende esgotar o assunto, e sim dar suporte às conclusões que o
acadêmico chegou ao realizar o estágio, e deve ser redigida de acordo com as regras da redação
científica. De acordo com Cresswell (2007, p. 45-46), a revisão tem os seguintes objetivos: Ela compartilha com o leitor os resultados de outros estudos que estão proximamente relacionados ao estudo que está sendo relatado. Ela relaciona um estudo ao diálogo corrente mais amplo na literatura sobre um tópico, preenchendo lacunas e ampliando estudos anteriores [...]. Ela fornece uma estrutura para estabelecer a importância do estudo e um indicador para comparar os resultados de um estudo com outros resultados.
O elemento seguinte é o desenvolvimento do estudo propriamente dito. Este capítulo
consiste na real contribuição do acadêmico ao assunto em tela, sendo, portanto, fundamental para
o sucesso do trabalho. Está dividido em algumas seções:
: consiste na apresentação resumida do conteúdo dos demais capítulos do
trabalho.
a) Metodologia da pesquisa
b)
: abrange a caracterização (tipo) de pesquisa, a população pesquisada
(ou amostra, quando for o caso) e os sujeitos pesquisados, Definição dos instrumentos de
coleta de dados (como mencionado no item 5.1, estes podem ser a observação, a análise
documental, a entrevista e o questionário) e a descrição dos procedimentos utilizados para a
consolidação dos dados coletados em informações que permitam a construção de
conhecimento. Deve, portanto, explicitar a origem e forma de tratamento dos dados;
Caracterização da empresa
c)
: nome da empresa, setor econômico em que ela atua, dados
históricos, composição atual da presidência e diretorias, organograma, descrição dos
principais cargos; é conveniente posicionar a empresa em um ramo ou setor de atividades.
Adicionalmente, é recomendar tratar brevemente a respeito do setor específico em que o
acadêmico realizou suas atividades;
Descrição dos dados, análise e interpretação dos resultados: apresentação dos dados obtidos
na pesquisa, tratamento dos mesmos conforme a metodologia e a interpretação dos resultados,
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à luz da bibliografia pesquisada. Este item consiste no resultado da pesquisa propriamente
dita, portanto, não pode ser uma simples enumeração de atividades realizadas dentro da
empresa. Espera-se que, ao responder a pergunta implícita na formulação do problema
enfrentado pelo estagiário, este demonstre domínio do tema e da realidade empresarial,
conhecimento de metodologia científica, e seja capaz de descrever o trabalho realizado na
empresa.
O elemento textual seguinte consiste nas considerações finais. Como um elemento de
fechamento do trabalho, deve responder as seguintes questões: quais foram os resultados obtidos?
Em que grau os objetivos propostos na introdução foram alcançados? Qual a reflexão do
acadêmico sobre o propósito do trabalho e suas limitações? O que de mais importante se
observou em termos de relação teoria administrativa X prática empresarial? O que se pode
recomendar para ampliar ou melhorar o estudo? Essas questões, naturalmente, terão sido
respondidas ao longo do trabalho, cabendo ao capítulo de considerações finais reuni-las e
consolidá-las; nunca se pode esquecer que as considerações finais não são lugar para apresentar
conteúdo novo, somente para resumir e concluir o trabalho. É conveniente, ainda, destacar as
dificuldades porventura enfrentadas pelo acadêmico no atingimento dos objetivos (se houve
mudança de algum objetivo desde a fase do projeto, pode ser interessante mencioná-la como uma
dificuldade); outro aspecto interessante refere-se às sugestões de novos estudos, que podem guiar
a empresa no aprofundamento do tema, servindo também como apoio e estímulo aos futuros
estagiários que porventura venham a ler o TCE.
Os elementos pós-textuais consistirão nas referências (já descritas), glossário, apêndices
e anexos e índices. O glossário se justifica no caso de existirem termos de sentido obscuro ou
diferente do corrente sendo usados ao longo do trabalho. Os apêndices e anexos devem ser
utilizados com parcimônia: apenas documentos que porventura acrescentem ao trabalho devem
ser apresentados. Dentre os apêndices (que são documentos de elaboração do próprio autor da
pesquisa) que devem ser acrescentados ao TCE, destacam-se os questionários e formulários de
entrevista aplicados, bem como descrições mais detalhadas da metodologia de análise e
tratamento dos dados, entre outros. Nos anexos (definidos como documentos elaborados por
outras pessoas), documentos internos da empresa que possam auxiliar na compreensão das
atividades realizadas são adequados e podem ser apresentados, resguardados, naturalmente,
quaisquer impedimentos ou restrições da empresa; outros elementos que podem ser apresentados
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como anexo são catálogos e descrições de produtos e serviços, documentos teóricos que auxiliem
indiretamente na sustentação das conclusões, entre outros. No que diz respeito aos anexos, é
importante identificar suas fontes, de modo a garantir que outras pessoas, interessadas no assunto,
possam ter, se desejarem, condições de acesso ao documento original, para conferência do
mesmo. Finalmente, os índices se constituem num conforto para o leitor, podendo ser
organizados índices onomásticos (que listam os nomes citados ao longo do trabalho) e
remissivos (que enumeram os principais assuntos tratados).
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9 ABORDAGENS E CLASSIFICAÇÕES DA PESQUISA NO ESTÁGIO
Nesta Unidade, iniciar-se-á a apresentação dos aspectos metodológicos envolvidos na
pesquisa necessária para a realização do estágio. Em primeiro lugar, serão apresentadas as duas
abordagens de pesquisa (qualitativa e quantitativa), e, num segundo momento, apresentar-se-á a
questão da perspectiva temporal de estudo (sincrônica ou diacrônica).
9.1 ABORDAGENS QUANTITATIVAS E QUALITATIVAS
O primeiro aspecto a ser abordado diz respeito às diferenças entre as duas abordagens. De
modo geral, pode-se seguir a distinção proposta por Trujillo (2003), que afirma que a pesquisa
qualitativa busca verificar se uma determinada característica está presente na população
pesquisada, enquanto que a quantitativa deseja verificar a freqüência com que essa característica
ocorre nessa população. Este autor apresenta um interessante quadro-resumo, que é apresentado a
seguir:
QUALITATIVA QUANTITATIVA Objetivo verificar presença mensurar presença Representatividade estatística baixa elevada Volume de informação médio ou elevado baixo ou médio Profundidade elevada média Teoria estatística não aplicável aplicável Tamanho da amostra poucos casos muitos casos Tipo de análise subjetiva objetiva ou numérica Figura 4: Comparação entre as abordagens qualitativa e quantitativa Fonte: adaptado de Trujillo (2003, p. 11).
Como se pode observar, as duas abordagens podem ser consideradas complementares, no
sentido de que cada uma se concentra na realidade pesquisada de maneira diferente; inclusive,
diversos autores sustentam que a pesquisa qualitativa deve ser encarada como uma preparação
para a pesquisa quantitativa, no sentido de que ela permite gerar hipóteses sobre a realidade, que
esta buscará testar e comprovar ou refutar. Cresswell (2007) argumenta que, hoje em dia, o
questionamento é antes como posicionar uma pesquisa numa continuidade entre o qualitativo e o
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quantitativo do que considerá-las numa oposição, reconhecendo a existência de uma relação entre
as duas abordagens.
Em pesquisas científicas, a abordagem qualitativa é muito usada nas Ciências Humanas e
Sociais para a produção de novos conhecimentos. A quantitativa, embora aplicável a estas
ciências, é muito usada nas Ciências Naturais e Exatas.
9.1.1 Pesquisa quantitativa
A pesquisa quantitativa já foi considerada como a única forma de se fazer ciência; o
pensamento científico seria quantitativo por excelência, trabalhando com hipóteses e variáveis
quantificáveis que seriam testadas e verificadas matematicamente, fornecendo um conhecimento
perfeitamente científico; esta idéia, entretanto, não se sustenta mais, até porque os dados são
obtidos por meio de percepção sensorial, e esta nem sempre é quantificável (KAUFMANN,
1977).
A pesquisa quantitativa, normalmente, procura identificar as relações de causa e efeito
entre os fenômenos. É recomendado utilizar, preferentemente, o enfoque da pesquisa quantitativa
quando o propósito do projeto implicar em medir a relação entre as variáveis, ou em avaliar o
resultado do sistema ou projeto (ROESCH, 1999), ou quando se pretende trabalhar com a
mensuração das características do fenômeno pesquisado, o que é feito normalmente a partir da
definição de uma amostra (TRUJILLO, 2003), ou seja, uma parte da população que pode ser
considerada representativa e que permite dessa forma conhecer as características de toda a
população sem a necessidade de pesquisar todos os seus componentes. A pesquisa quantitativa,
portanto, pretende desenvolver proposições do tipo causa-efeito, apoiadas pela lógica e pelos
dados (DAVIS apud BRYMAN, 1988). De acordo com Cresswell (2007), a pesquisa quantitativa
é feita para o desenvolvimento do conhecimento através de raciocínio de causa e efeito, redução
de variáveis específicas, hipóteses e questões, mensuração de variáveis, observação e teste de
teorias. Castro (2006) indica que o raciocínio da pesquisa quantitativa é predominantemente
dedutivo, pois o pesquisador já possui suas hipóteses e deseja testá-las em campo, fazendo
conjecturas a respeito do assunto e testando sua correção.
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83
Para a garantia de uma boa interpretação dos resultados, é recomendado a utilização do
melhor meio disponível para controlar o delineamento da pesquisa. Os métodos (delineamentos)
podem ser: experimento de campo; pesquisa descritiva; pesquisa explicativa. Staw (apud
ROESCH, 1999) coloca que a pesquisa quantitativa é apropriada na avaliação de mudanças em
grandes organizações. No caso das ciências sociais, quando utilizada a pesquisa quantitativa,
recomenda-se o delineamento do grupo de controle não equivalente, pois este delineamento
envolve mais de um grupo.
Um aspecto que pode ser considerado refere-se à questão de hipóteses de pesquisa. Uma
hipótese pode ser definida como uma proposição original, formulada a respeito de um
determinado fenômeno e que deve ser testada para ser confirmada ou refutada, ou seja, a hipótese
é uma "[...] proposição testável que pode vir a ser a solução de um problema." (GIL, 1996, p. 35).
Toda hipótese envolve um conjunto de pelo menos duas variáveis. Define-se variável
simplesmente como sendo qualquer coisa que possa ser classificada em duas ou mais categorias
(GIL, 1995) e que possam ser objeto de uma mensuração (CRESSWELL, 2007), pois pode
assumir valores diferentes dentro da população; ou seja, idade, sexo, classe social, atitudes em
relação a um processo ou fenômeno, etc., são variáveis a partir das quais podem ser estabelecidas
hipóteses de pesquisa. Diante disso, Cresswell afirma que as hipóteses “[...] são previsões que o
pesquisador faz sobre a relação entre as variáveis.” (2007, p. 120). Triviños (1995) assinala: na
pesquisa quantitativa, as variáveis são medidas, ao passo que na qualitativa, são descritas.
As relações entre variáveis são classificadas como:
a) Causais: envolvem uma variável independente e pelo menos uma dependente, sendo esta
influenciada pelo comportamento da primeira, e estão baseadas numa relação do tipo causa-
efeito;
b) Assimétricas: não há relação do tipo causa-efeito, mas uma variável influencia a outra;
c) Simétricas: não há influência de uma variável sobre a outra, ainda que ambas possam ter uma
causa comum;
d) Recíprocas: as variáveis influenciam-se mutuamente, interagindo e reforçando-se (GIL,
1995).
Um terceiro tipo de variável mencionado por Triviños (1995), complementar às
independentes e dependentes, é a chamada variável interveniente, que pode ser considerada
como uma variável que influi ou altera as dependentes e/ou independentes.
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Muitos estudiosos da pesquisa afirmam que a pesquisa quantitativa é logicamente
estruturada de forma a permitir esse teste de hipóteses, as quais são normalmente formuladas
como relações causais a respeito dos fenômenos, dentro de um quadro teórico previamente
formulado (BRYMAN, 1988). Esse enfoque da pesquisa é severamente criticado pelos autores,
por dar excessivo destaque à teoria já existente; uma crítica recorrente seria o fato de a pesquisa
se tornar conservadora. De qualquer forma, a teoria tem papel dedutivo na pesquisa quantitativa:
o pesquisador apresenta uma teoria, coleta dados para fazer um teste e reflete sobre os resultados
obtidos em termos de conformação ou não entre esses resultados e a teoria (CRESSWELL,
2007).
Um dos aspectos básicos da pesquisa quantitativa é sua capacidade de generalização; o
pesquisador que está realizando um estudo de caráter quantitativo normalmente está procurando
resultados que transcendam os limites estreitos de sua própria pesquisa; outro ponto importante
refere-se à idéia de repetição da pesquisa, ou seja, para que uma pesquisa possa ser considerada
válida, ela deve ter a capacidade de ser repetida por outro pesquisador (BRYMAN, 1988) – ou
seja, ela deve ser feita de modo a garantir que outra pessoa seja capaz de realizar a mesma
pesquisa.
Quando a pesquisa é de caráter quantitativo, as técnicas de coleta de dados são:
entrevistas; questionários; observação; testes, índices e relatórios escritos. As técnicas de análise
de dadoss são os métodos estatísticos, que são a freqüência, a correlação, e a associação. Os
processos de coleta e análise de dados são separados no tempo, sendo que a coleta antecede a
análise. Sobre a análise, é interessante mencionar o aspecto levantado por Trujillo (2003): uma
pesquisa quantitativa nada produz de novo sobre as características do fenômeno. Pelo contrário,
pode-se afirmar que ela normalmente só fornece informações sobre a presença das características
pesquisadas. Entretanto, como os resultados são objetivos e verificáveis (TRUJILLO, 2003), a
pesquisa quantitativa gera conhecimento que pode ser aplicado em outros casos, ou generalizado
para toda a população.
Os dados da pesquisa podem ser divididos em primários e secundários. Os primeiros são
colhidos diretamente pelo pesquisador, através dos diferentes métodos de coleta, ao passo que os
do segundo tipo são os dados que não são obtidos diretamente pelo pesquisador, por exemplo: os
arquivos, os bancos de dados, os relatórios (ROESCH, 1999). Daí se pode inferir que, numa
pesquisa exclusivamente bibliográfica, não há dados primários, somente secundários.
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85
9.1.2 Pesquisa qualitativa
De acordo com Chizzotti (2006, p. 28), “o termo qualitativo implica uma partilha densa
com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os
significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível.” Ao colocar
dessa forma, o autor explicita que a pesquisa qualitativa gera conhecimento que passara
desapercebido às pessoas, além de conectá-la ao contexto humano.
Para Malhotra (2001), a pesquisa qualitativa é uma metodologia não-estruturada, de
caráter exploratório, que se baseia em pequenas amostras e permite melhor compreensão do
contexto do problema. De forma geral, ela representa uma tentativa de conhecer com maior
profundidade um problema ou fenômeno, buscando descrever-lhe as características e definindo-o
melhor perante os olhos do pesquisador; alguns autores inclusive afirmam que a tarefa básica da
pesquisa qualitativa é produzir conhecimento, mas essa visão está envolta em controvérsia. O
raciocínio é predominantemente indutivo, permitindo exploração mais livre e aberta do tema da
pesquisa (CASTRO, 2006).
Para Cresswell (2007) a pesquisa qualitativa lida com os significados das experiências
individuais, os significados construídos histórica ou socialmente, para então construir
conhecimento; adicionalmente, essa abordagem trabalha com a pesquisa sobre as reivindicações e
a participação de grupos sociais.
De qualquer forma, a pesquisa qualitativa, muito utilizadas nas ciências sociais, é apropriada nos casos de avaliação formativa, quando se trata de melhorar a efetividade de um programa, ou plano, ou quando é o caso da proposição de planos, ou seja, quando se trata de selecionar as metas de um programa e construir uma intervenção, mas não é adequada para avaliar resultados de programas ou planos. (ROESCH, 1999, p. 155).
A pesquisa qualitativa não deve ser considerada como antagônica à pesquisa quantitativa.
Essa oposição só ocorre se o recurso à formulação de hipóteses, a quantificação do fenômeno, o
EXEMPLO: Um estagiário deseja auxiliar no planejamento da estratégia de lançamento de um novo produto no mercado. Assim, através da empresa, ele empreende pesquisa quantitativa para verificar se a população-alvo desse produto de fato apresenta as características previstas para tal população, e com que freqüência elas ocorrem.
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86
tratamento estatístico, o raciocínio indutivo e o modelo das ciências naturais forem considerados
como as únicas formas de investigar cientificamente um determinado fenômeno (CHIZZOTTI,
2006).
Na literatura é muito comum a apresentação da pesquisa qualitativa, seus métodos de
coleta e análise dos dados como sendo os mais apropriados para uma fase exploratória de
qualquer pesquisa, mesmo a quantitativa. Malhotra (2001) considera que a pesquisa qualitativa
pode ser usada como uma fase de preparação para a quantitativa, por sua característica de
contextualização do problema. Bryman (1988) afirma que os aspectos quantitativo e qualitativo
de uma pesquisa devem ser encarados como formas diferentes de responder a um problema de
pesquisa, mas não como oposição. O fato de a pesquisa qualitativa ser de difícil generalização
(TRUJILLO, 2003) faz com que seus resultados tenham validade restrita, exigindo a
complementação da pesquisa quantitativa.
Algumas características definem melhor a pesquisa qualitativa:
a) Compromisso com a perspectiva das pessoas estudadas: os fenômenos são sempre estudados
a partir das perspectivas e pontos de vista dos pesquisados;
b) Descrição: a pesquisa qualitativa normalmente envolve uma descrição acurada do fenômeno e
do cenário social pesquisado, não somente a partir do ponto de vista das pessoas envolvidas,
mas também dos pesquisadores;
c) Contextualismo: há um compromisso com o contexto geral aonde o fenômeno ocorre, ou seja,
é preciso situar os eventos e fenômenos no espaço social mais amplo em que ocorrem;
d) Visão longitudinal: o corte longitudinal, a ser melhor delineado na próxima seção deste
capítulo, refere-se a uma visão processual do fenômeno, que é considerado como sendo parte
de uma evolução temporal;
e) Flexibilidade: a pesquisa qualitativa é, normalmente, menos estruturada que a quantitativa,
permitindo modificações no problema de pesquisa ou nos métodos, se for o caso, para atingir
melhores resultados;
f) Papel da teoria e dos conceitos: ao contrário da pesquisa quantitativa, que exige um forte
aparato teórico para funcionar a contento, a abordagem qualitativa não depende de
formulação teórica prévia, favorecendo uma estratégia de teorização a partir das informações
e dados coletados (BRYMAN, 1988).
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Rossman e Rallis (apud CRESSWELL, 2007) afirmam que a pesquisa qualitativa ocorre
em cenário natural, utiliza métodos de coleta interativos e humanísticos, é emergente (em vez de
inteiramente configurada de antemão), é interpretativa (o que destaca o papel do pesquisador
como um intérprete dos dados), é holística, utiliza diferentes estratégias de coleta, análise e
comunicação de dados, baseia-se num raciocínio complexo, interativo e simultâneo
(usualmentedo tipo indutivo), e baseia-se profundamente na pessoa do pesquisador: seus
resultados não se dissociam da pessoa do pesquisador, seus valores, sua forma de ver o mundo,
seus interesses, aspectos que modelam a forma pela qual a pesquisa é delineada.
A pesquisa qualitativa pode ser considerada, apesar do que foi dito acima, como um
paradigma diferente de pesquisa, pois é uma alternativa de pesquisa que pode ser utilizada em
qualquer projeto. Problemas que envolvem a percepção dos sujeitos pesquisados, por exemplo,
são muito melhor trabalhados por intermédio da pesquisa qualitativa do que pela quantitativa. Os
delineamentos (métodos) mais utilizados são: estudo de caso, pesquisa-ação, e pesquisa
participante. As técnicas de coleta dos dados podem ser: entrevistas em profundidade; uso de
diários; entrevistas em grupo; técnicas projetivas; documentos; histórias de vida.
As técnicas de análise são: análise de conteúdo; construção de teoria; análise de discurso.
Um aspecto central, concernente às análises do dados obtidos em uma pesquisa qualitativa, é a
não-generalização. O pesquisador deve ter o cuidado de sempre trabalhar a pesquisa qualitativa a
partir de um ponto de vista particular, aplicando suas conclusões ao caso específico analisado,
sem a preocupação de apresentar uma conclusão abrangente ou válida a todas as situações às
quais o problema se aplica. O principal objetivo de uma pesquisa qualitativa deve se referir a uma
compreensão do problema individual de pesquisa, a mais ampla e profunda possível, sem buscar
generalização.
EXEMPLO: Um estagiário foi encarregado de pesquisar a visão dos colaboradores, nos diferentes níveis organizacionais da empresa, a respeito do processo de mudança organizacional por ela realizado, em que foi delegada maior autonomia decisória a níveis hierárquicos mais baixos.
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88
9.1.3 Pesquisas quali-quantitativas
Adicionalmente, deve-se observar que alguns estudiosos de Metodologia recomendam o
uso de uma abordagem mista ou quali-quantitativa, em que elementos qualitativos se mesclam
aos quantitativos; de modo geral, muitas pesquisas qualitativas recorrem à quantificação para
obter melhores resultados, o que produz confusões a respeito de qual seria a abordagem
predominante.
A defesa do conceito de pesquisa quali-quantitativa é feita apontando o fato de que a
pesquisa quantitativa permite melhor tratamento dos dados e maior precisão nas conclusões,
embora não se aplique a certos dados qualitativos, de difícil quantificação; ou seja, trata-se de
verificar se a quantificação e o tratamento estatístico estão sendo utilizados como bases para
resultados mais complexos ou profundos do que a simples observância das características
pesquisadas. Cresswell (2007) considera que a pesquisa quali-quantitativa pode ser justificada
pela idéia de que os vieses de uma abordagem podem ser combatidos pelo uso da outra.
De acordo com Cresswell (2007), as pesquisas quali-quantitativas (que o autor denomina
mistas) envolvem discussão de algumas questões:
a) Qual é a seqüência de implementação da coleta de dados qualitativos e quantitativos? Esta
pergunta visa determinar qual tipo de dados será coletado em primeiro lugar, ou se ambos
serão coletados simultaneamente;
b) Qual é a prioridade a ser dada à coleta e análise de dados qualitativos e quantitativos? Da
mesma forma que a anterior, esta pergunta se volta para determinar se algum dos tipos de
dados será privilegiado em relação ao outro;
c) Em que momento os dados serão integrados? Os dados qualitativos e quantitativos podem ser
integrados na fase da coleta, da análise da interpretação ou numa combinação destas etapas;
d) Há uma perspectiva teórica global na pesquisa? Essa perspectiva teórica orienta o trabalho de
pesquisa e dá uma direção para o estudo independentemente de considerações sobre
implementação, prioridade e integração de dados.
Para Cresswell (2007), ao adotar um método misto, o pesquisador pode quantificar dados
qualitativos ou qualificar dados quantitativos; pode explorar casos discrepatnes, ou seja, durante
a análise quantitativa dos dados, podem surgir casos que se desviam profundamente dos demais,
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e a pesquisa qualitativa pode ser utilizada para aprofundar esses casos; pode desenvolver
instrumentos de pesquisa baseados na visão da população pesquisada a partir da coleta qualitativa
de dados; pode estudar a população em diversos níveis, realizando pesquisa quantitativa com
famílias e qualitativa com indivíduos específicos dentro dessas famílias, por exemplo.
Castro (2006) afirma que as pesquisas qualitativas e quantitativas apresentam uma
“complementaridade virtuosa”, em que uma alcança resultados que à outra não é possível atingir.
Segundo o autor, enquanto a pesquisa quantitativa pergunta “o que acontece” e “como acontece”,
a qualitativa pergunta “por que acontece”, de modo que a pesquisa qualitativa “[...] dá sentido e
confiança à exploração quantitativa.” (CASTRO, 2006, p. 108; grifos do autor). Ao estagiário
interessado em fazer uma pesquisa quali-quantitativa, uma recomendação seria fazer essas três
perguntas:
a) A pesquisa deseja verificar o que acontece?
b) Ou, alternativamente, deseja verificar como acontece?
c) A pesquisa deseja saber o porquê dessa ocorrência?
Há vozes dissonantes, entretanto. Trujillo (2003), por exemplo, considera que as
pesquisas quali-quantitativas são uma exceção, ao menos no que tange às pesquisas de mercado.
A questão, portanto, está ainda envolta em controvérsia. Mas, de qualquer forma, técnicas como a
escala Likert, em que se atribui um número à satisfação de uma pessoa com uma variável, são
quali-quantitativas por excelência.
9.2 PERSPECTIVA TEMPORAL DE ESTUDO
Duas perspectivas podem ser consideradas dentro da dimensão temporal de estudo, a
saber:
a) Perspectiva diacrônica: refere-se aos estudos em que um fenômeno é estudado numa
dimensão de passado e/ou futuro, ou seja, analisa-se a evolução do fenômeno ao longo do
tempo (DUROZOI; ROUSSEL, 1993). Como um exemplo de pesquisa diacrônica em
Administração, poder-se-ia citar um estudo histórico de uma determinada organização, desde
sua fundação até os dias atuais. Outro exemplo seria o estudo da evolução das cotações das
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90
ações de uma determinada empresa na Bolsa de Valores ao longo de um determinado período
de tempo;
b) Perspectiva sincrônica: neste caso, o fenômeno é estudado em um determinado instante,
isoladamente ou em relação com outros fenômenos e acontecimentos (DUROZOI;
ROUSSEL, 1993) que estejam ocorrendo simultaneamente. Ou seja, não se procura
estabelecer uma visão histórica ou evolutiva a respeito do objeto de pesquisa, pressupondo-se
que seja suficiente analisar sua situação atual. Um exemplo de perspectiva sincrônica em
Administração poderia ser uma pesquisa de mercado voltada para a determinação das
características da população-alvo de um determinado produto. Outro caso, dentro do mesmo
assunto apresentado na perspectiva diacrônica, seria, a partir da cotação atual da ação da
empresa na Bolsa, determinar quais são as percepções do público em relação à companhia
que a emitiu.
As duas perspectivas podem ser consideradas equivalentes aos cortes longitudinal e
transversal da pesquisa. O corte longitudinal se refere ao antes e depois, ou seja, a uma
perspectiva temporal de pesquisa do fenômeno observado, enquanto que o transversal explora o
fenômeno no momento em que ocorre. O estudo transversal é feito num determinado momento
do tempo, enquanto que o longitudinal descreve eventos ao longo do tempo, pois o fenômeno
estudado é afetado pelo passar do tempo (HAIR JR. et al., 2005). É importante observar que, para
Hair Jr. et al. (2005), esses cortes associam-se diretamente ao conceito de pesquisa descritiva,
que será visto em seção subseqüente deste trabalho.
Segundo Roesch (1999), em pesquisas quantitativas, o corte longitudinal da pesquisa é o
mais adequado, permitindo experimentos com grupos de pesquisa; o transversal, ainda que não
mencionado pela autora, também permite atingir bons resultados. Na pesquisa qualitativa, como
mencionado acima, o corte longitudinal é extremamente importante, e praticamente
insubstituível, uma vez que a visão histórica do fenômeno se torna essencial para sua
compreensão.
Nos trabalhos de estágio, a classificação via perspectiva temporal é dispensável.
Normalmente, os trabalhos são apenas parcialmente longitudinais, ou mais precisamente, são
eminentemente transversais, pois o período de tempo em que são realizados é muito curto e não
permite uma análise mais aprofundada. Isto não siginifica, no entanto, que os estudos históricos
sejam dispensáveis ou impossíveis nos trabalhos de estágio, mas sim que o foco principal da
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91
pesquisa não será a evolução histórica do fenômeno. É, portanto, dispensável a utilização desta
classificação nos TCE.
9.3 TIPOLOGIA DAS PESQUISAS
9.3.1 Classificação quanto aos fins
A classificação quanto aos fins busca determinar o tipo de pesquisa de acordo com o
resultado final que ela deseja alcançar; sua lógica, portanto, está baseada no objetivo geral que o
pesquisador busca atingir ao realizar suas atividades. Uma pesquisa pode ser classificada quanto
aos fins em exploratória, descritiva, explicativa, metodológica, aplicada ou intervencionista
(VERGARA, 2000). A seguir, far-se-á uma breve descrição de cada um desses tipos.
9.3.1.1 Pesquisa exploratória
A pesquisa exploratória é realizada, segundo Vergara (2000), em áreas em que existe
pouco conhecimento acumulado e sistematizado. É, portanto, adequada para o objetivo de
aumentar o número de conhecimentos sobre o assunto, ou, nas palavras de Gonçalves e Meirelles
(2004, p. 37), é “realizada para descobrir ou descrever melhor o(s) problema(s)-raiz que são
apontados através de sintomas (ou queixas) para se alcançar os objetivos.” Hair Jr. et al. (2005),
afirmam que a pesquisa eploratória é útil para o pesquisador que não sabe muito.
Lakatos, Marconi (2001) consideram que a pesquisa exploratória deve estar voltada para a
formulação de questões ou de problemas de investigação, que aumentem a familiaridade do
pesquisador com o assunto, desenvolver hipóteses sobre o tema pesquisado e modificar ou
esclarecer conceitos. Dencker (2000) observa que as pesquisas exploratórias utilizam grande
quantidade de dados extraídos de fontes secundárias, estudos de casos selecionados e de
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92
observações informais, sendo os meios mais comuns de pesquisa exploratória a pesquisa
bibliográfica e o estudo de caso. Para Samara, Barros (2007), a pesquisa exploratória tem como
principais características a informalidade, a flexibilidade e a criatividade, permitindo um primeiro
contato com a realidade a ser investigada.
Cervo, Bervian e Silva (2007) afirmam que a pesquisa exploratória é muito utilizada
como primeira etapa para outras pesquisas e objetiva familiarizar o pesquisador com o fenômeno
investigado, realizando descrições precisas da realidade e buscando identificar as relações
existentes entre seus componentes. Adicionalmente, ela pode ser considerada como uma
importante forma de produzir hipóteses que serão testadas em pesquisas posteriores, tornando a
pesquisa exploratória que, pelas suas características, é fortemente qualitativa, um delineamento
que pode ser usado para iniciar estudos quantitativos. Como observam Gonçalves e Meirelles
(2004), a pesquisa exploratória conduz ao diagnóstico do problema; após este, deve-se usar
metodologia mais estruturada que permita uma investigação mais aprofundada do mesmo e sua
solução.
Uma conclusão evidente do exposto acima é: num Trabalho de Conclusão de Estágio que
utiliza o delineamento exploratório, o estagiário não pode deixar de apresentar recomendações de
novos estudos a partir do que verificou com sua pesquisa.
Um exemplo em Administração pode ser dado por um diagnóstico organizacional, em que
se procura entender globalmente a organização e determinar-lhe as principais características, de
modo a definir com maior precisão o que a leva a atuar de determinada maneira no seu mercado.
9.3.1.2 Pesquisa descritiva
A pesquisa descritiva trabalha com as características de uma população ou de um
fenômeno, podendo estabelecer correlações entre variáveis, definindo também a natureza de tais
correlações, sem se comprometer com a explicação dos fenômenos descritos (VERGARA, 2000).
Pesquisas descritivas delineiam ou analisam as características de um fato ou fenômeno, avaliam
os resultados de programas, ou isolam variáveis-chave ou principais, e são abordadas
predominantemente de forma quantitativa (LAKATOS; MARCONI, 2001). Questões essenciais a
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93
serem respondidas incluem: quem? O quê? Quanto? Como? Onde? Quando? Por quê? [adaptado
de um exemplo fornecido por Samara e Barros (2007)]
Para Cervo, Bervian e Silva (2007, p. 65), a pesquisa descritiva “[...] observa, registra,
analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Busca descobrir, com a
maior precisão possível, a freqüência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com
outros, sua natureza e suas características.” Normalmente esses fatos e fenômenos, quando
associados diretamente a uma população, não estão consolidados em documentos e os dados têm
que ser coletados diretamente onde são encontrados, ou seja, na realidade natural da população
pesquisada (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).
Para Hair Jr. et al. (2005, p. 86), a pesquisa descritiva é delineada para “[...] medir as
características descritas em uma questão de pesquisa. As hipóteses, derivadas da teoria,
normalmente servem para guiar o processo e fornecer uma lista do que precisa ser mensurado.”
De acordo com esses autores, ela possui uma relação com a pesquisa exploratória, pois esta pode
indicar a existência de um fenômeno que a pesquisa descritiva procurará aprofundar, buscando
uma comprovação empírica da ocorrência deste fenômeno – ou seja, a pesquisa exploratória pode
fornecer a hipótese que a descritiva irá estudar.
A pesquisa descritiva normalmente é delineada quanto aos meios através do levantamento
(GIL, 1996; DENCKER, 2000). Gil (1996) observa que, em alguns casos, a pesquisa descritiva se
aproxima da explicativa, no momento em que o pesquisador procure determinar também o
relacionamento entre os fatos. Cervo, Bervian e Silva (2007) defendem o uso do estudo de caso
como um dos meios para a pesquisa descritiva, mas esta proposição é controversa, pois a maioria
dos autores identifica o estudo de caso com a abordagem qualitativa.
É importante observar que, enquanto a pesquisa exploratória pode se valer
predominantemente de dados secundários, a pesquisa descritiva deve utilizar dados primários
obtidos diretamente pelo pesquisador a partir de entrevistas ou questionários aplicados junto à
população de pesquisa (SAMARA; BARROS, 2007).
A pesquisa descritiva é associada pela maioria dos autores à abordagem quantitativa, mas
Samara e Barros (2007) distinguem entre a pesquisa descritiva estatística, realizada dentro dessa
abordagem, e o estudo descritivo de caso, que segue a abordagem qualitativa. Embora se possa
admitir essa distinção no contexto das pesquisas de mercado, é necessário observar que ela não é
adotada no contexto mais amplo da metodologia da pesquisa científica.
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Uma pesquisa descritiva em Administração pode ser exemplificada por um mapeamento
das características de sazonalidae do mercado em que uma empresa pretende atuar.
9.3.1.3 Pesquisa explicativa
Este tipo de pesquisa analisa um fenômeno na busca de esclarecê-lo, torná-lo
compreensível ou justificá-lo, baseando-se numa pesquisa descritiva previamente realizada
(VERGARA, 2000). Ao procurar identificar os fatores que determinam, ou contribuem para, a
ocorrência dos fenômenos, baseiam-se no método experimental ou na observação, sendo
normalmente utilizados como meios de pesquisa a experimentação e a pesquisa ex-post-facto
(GIL, 1996; DENCKER, 2000). A pesquisa explicativa nem sempre pode ser aplicada nas
ciências sociais, uma vez que é, muitas vezes, difícil conduzir experimentos nestas (GIL, 1996).
Um exemplo de pesquisa explicativa em Administração pode ser dado por uma pesquisa
que procure determinar métodos mais eficazes de treinamento de pessoal, utilizando métodos
diferentes para cada grupo de profissionais.
9.3.1.4 Pesquisa metodológica
Está voltada para os métodos e instrumentos utilizados para captar e manipular a
realidade, ou seja, para os meios destinados a alcançar um determinado fim (VERGARA, 2000).
É uma pesquisa que trabalha com a própria pesquisa, buscando definir se determinado meio é
adequado ou não para produzir o conhecimento pretendido e portanto está direcionada para
problemas teóricos e de produção do próprio conhecimento. Exige grande domínio do fenômeno
pesquisado, pois ela envolve o questionamento da forma mais adequada para abordá-lo,
investigá-lo e compreendê-lo.
Por exemplo, uma empresa especializada em pesquisa de mercado poderá empreender
uma pesquisa metodológica para determinar qual instrumento de coleta de dados (entrevista
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individual, entrevista com focus group, questionário aplicado em campo, pesquisa experimental
com um grupo escolhido aleatoriamente, dentre outras possibilidades) é mais adequado para
produzir informações sobre o público-alvo.
9.3.1.5 Pesquisa aplicada
É um delineamento que busca solucionar um problema concreto, prático, da realidade
(VERGARA, 2000). Anders-Egg (apud MARCONI; LAKATOS, 1999) coloca que o interesse da
pesquisa aplicada é prático, pois seus resultados devem ser utilizados imediatamente na solução
de problemas da realidade. A pesquisa aplicada normalmente identifica a situação-problema e
busca, dentre as possíveis soluções, aquela que possa ser mais adequada para o contexto
específico; dessa maneira, não se pode ter a pretensão de pesquisa capaz de criar conhecimentos
novos, somente a de aplicar conhecimento já existente a uma situação-problema.
Neste sentido, cria-se uma dificuldade de utilização do conceito por parte do
administrador, pois, como se pode observar, alguns dos exemplos supracitados se enquadram
como pesquisa aplicada. Entretanto, há que se considerar que uma pesquisa voltada para verificar
se um determinado método de seleção de pessoal se aplica à realidade de uma empresa poderia
ser colocada como um exemplo de pesquisa aplicada (há que se observar que aqui o método já foi
determinado como utilizável, e a pesquisa visa verificar se isso é uma realidade), derivada
diretamente do contexto da pesquisa metodológica.
9.3.1.6 Pesquisa intervencionista
A pesquisa intervencionista é aquela que se fundamenta numa intervenção do pesquisador
na realidade estudada, com a pretensão de modificá-la, de solucionar um problema; ao contrário
da pesquisa aplicada, pressupõe-se nesta forma a participação direta do pesquisador na realidade
estudada (VERGARA, 2000), abandonando toda e qualquer pretensão de neutralidade e agindo
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na busca da mudança. É uma pesquisa que não pode ser usada dentro da abordagem quantitativa,
pois esta pressupõe a neutralidade do pesquisador.
Uma pesquisa intervencionista poderia ser exemplificada a partir do caso apresentado
acima para a pesquisa aplicada, apenas supondo-se que o pesquisador seja encarregado de
implantar o método na empresa estudada.
9.3.2 Classificação quanto aos meios
A classificação quanto aos meios aprofunda a classificação quanto aos fins, no sentido de
que um meio pode ser usado em mais de um tipo referido na listagem anterior, embora existam
meios mais adequados para determinados tipos, como mencionado acima. Esta classificação
também é chamada classificação quanto ao design (desenho, desígnio ou, mais adequadamente,
delineamento) da pesquisa (GIL, 1996). A classificação quanto aos meios representa, portanto,
uma forma mais completa de determinar como será feita a pesquisa e pode ser utilizada como
uma indicação do que se pode esperar em termos de instrumentos de coleta de dados.
De acordo com Vergara (2000), as pesquisas se classificam quanto aos meios em
pesquisas de campo, de laboratório, documental, bibliográfica, experimental, ex-post-facto,
participante, pesquisa-ação e estudo de caso. Um outro tipo, abordado por vários autores, mas
não mencionado por Vergara, é o levantamento. Brevemente, esses tipos podem ser
caracterizados como se segue.
9.3.2.1 Pesquisa de campo
É feita no local onde ocorre ou ocorreu um determinado fenômeno, havendo neste
elementos que permitam explicá-lo, sendo os dados coletados por intermédio de entrevistas,
questionários, testes ou observação participativa (VERGARA, 2000). Trata-se, como colocam
Hair Jr. et al. (2005), do ambiente natural do fenômeno. O pesquisador deve determinar qual é o
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contexto relevante (HAIR Jr. et al., 2005) de ocorrência do fenômeno e proceder à investigação.
Em relação à pesquisa de laboratório, a pesquisa de campo é mais realista, menos limitada em
termos de resultados plausíveis e apresenta maior flexibilidade (HAIR JR. et al., 2005).
A pesquisa de campo se aproxima do levantamento, que será apresentado mais abaixo –
mas é preciso ter em mente que o levantamento é associado à abordagem quantitativa, o que não
ocorre necessariamente com esta classe.
9.3.2.2 Pesquisa de laboratório
O laboratório é um local restrito, em que se possa conduzir uma experiência que, no
campo, seria impossível (VERGARA, 2000). Conforme Hair Jr. et al. (2005), a pesquisa de
laboratório pode ser considerada como a manipulação de uma variável em ambiente artificial, em
que o controle pode ser completo; para este autores, este delineamento é o mais preciso de todos,
em termos científicos. A pesquisa de laboratório permite maior controle sobre as variáveis,
redução das influências exteriores e permite projetos de menor escala (HAIR JR. et al., 2005).
O laboratório não é necessariamente um lugar físico: uma simulação da realidade feita por
computador é classificada como uma pesquisa de laboratório, de acordo com Vergara (2000).
9.3.2.3 Pesquisa documental
É a pesquisa realizada em documentos arquivados em locais públicos ou privados, com
pessoas, registro, anais, diários, cartas, comunicações informais, etc. (VERGARA, 2000), ou seja,
com fontes de dados ainda não tratadas analiticamente ou reelaboradas por outros autores,
divididas em fontes de primeira mão (conservadas em arquivos ou pessoais) e de segunda mão
(relatórios empresariais ou de pesquisa e dados estatísticos), que devem ser representativos e
corretamente interpretados pelo pesquisador (GIL, 1996; DENCKER, 2000). O conceito de
documento é bastante amplo, indo além do próprio material escrito, usualmente associado à idéia.
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98
Esta apostila trabalha com maior profundidade tanto esse tipo de pesquisa quanto a pesquisa
bibliográfica por considerá-los básicos para qualquer projeto.
9.3.2.4 Pesquisa bibliográfica
É a pesquisa realizada através de material já publicado em livros, revistas, jornais, meios
eletrônicos acessíveis ao público em geral (VERGARA, 2000). Praticamente todos os projetos de
pesquisa exigirão um levantamento bibliográfico para elaboração de conceitos e do marco
teórico, sendo necessário tomar muito cuidado com possíveis erros das fontes (DENCKER,
2000). Rauen (2002) coloca: a pesquisa bibliográfica opera com o acervo bibliográfico da
humanidade, que Gil (1996) divide em livros de leitura corrente (obras literárias ou de divulgação
de conhecimentos técnicos e científicos), livros de referência. (obras de consulta que permitem
obter rapidamente acesso às informações ou a obras que as contenham) e publicações periódicas.
A pesquisa bibliográfica é um meio de formação de conhecimento e busca o domínio de um
determinado tema, podendo inclusive ser produzida para um trabalho científico original
(CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).
9.3.2.5 Pesquisa experimental
Um experimento é uma investigação na qual o pesquisador manipula e controla variáveis
independentes e observa seus efeitos no comportamento das dependentes, sendo normalmente
realizada em campo, embora também possa ser feita em laboratório (VERGARA, 2000), ou, mais
simplesmente, ela “consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis que
seriam capazes de influenciá-lo, definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a
variável produz no objeto.” (GIL, 1996, p. 53). Nas ciências sociais, é normalmente associada a
analisar as características de um grupo antes e depois de aplicar-se um determinado estímulo (o
próprio experimento), de dois grupos aos quais são aplicados o mesmo estímulo, e de dois grupos
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antes e depois do estímulo (DENCKER, 2000). Esses grupos são definidos como experimentais e
de controle (GIL, 1996).
De acordo com Cresswell (2007), as pesquisas experimentais utilizam uma amostra e têm
seus resultados generalizados para toda a população, e são realizadas por meio de uma
intervenção ou tratamento, que modifica os resultados desta amostra, sendo desprezados outros
fatores que porventura possam influenciá-los. Em cada delineamento experimental, é importante
definir a variável independente ou variável de tratamento, ou seja, aquela que, uma vez
introduzida, produzirá modificações em uma ou mais variáveis dependentes. Alguns tipos de
experimentos são definidos pelo autor:
a) Projetos pré-experimentais: o pesquisador estuda um só grupo e introduz mudanças neste
(ou seja, intervém junto a alguma variável);
b) Projetos quase-experimentais: o pesquisador estuda os grupos experimental e de controle,
mas não distribui aleatoriamente a população entre esses grupos;
c) Experimento verdadeiro: também chamado por alguns autores “experimento clássico”,
consiste num estudo de grupos experimental e controle cujos membros foram designados
aleatoriamente pelo pesquisador;
d) Projeto de sujeito único: apenas uma pessoa (ou um grupo muito reduzido de pessoas) tem
seu comportamento estudado ao longo do tempo (CRESSWELL, 2007).
As pesquisas experimentais nas ciências humanas e sociais têm fortes implicações éticas,
pois envolvem a manipulação direta de variáveis associadas a seres humanos, exigindo grande
atenção do pesquisador para a sua realização. Por suas características, pode-se observar que são
muito pouco aplicáveis à realidade dos estágios.
9.3.2.6 Pesquisa ex-post-facto
Este delineamento trabalha com um fato já ocorrido, não sendo portanto possível ao
investigador controlar ou manipular as variáveis (VERGARA, 2000). É uma pesquisa quase-
experimental, baseando-se nos mesmos pressupostos da experimental, diferenciando-se desta
pelo fato de que o pesquisador não controla as variáveis; permite considerar aspectos históricos
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100
essenciais para a evolução e comportamento das estruturas sociais e normalmente se baseia na
comparação entre dois grupos semelhantes, mas com diferenças que possam ser atribuídas a um
fator que ocorre em apenas um deles (DENCKER, 2000). É um “experimento” realizado depois
dos fatos terem ocorridos, no qual esses fatos ocorreram espontaneamente, como nota Gil (1996).
Observa-se que a pesquisa ex-post-facto mescla características da pesquisa qualitativa (como a
ênfase na visão histórica) e da quantitativa (como os pressupostos da pesquisa experimental).
Estudos avaliativos, em que se procura determinar a eficiência, a eficácia e a efetividade
de uma intervenção na realidade, podem se enquadrar no conceito de pesquisa ex-post-facto,
dependendo da forma pela qual são delineados.
9.3.2.7 Pesquisa participante/participativa
Qualquer delineamento participante/participativo pressupõe uma indistinção entre as
figuras do pesquisador e a do pesquisado, exigindo portanto que pessoas investigadas participem
da pesquisa (VERGARA, 2000). Dentro do conceito da pesquisa participante/participativa, o
pesquisador assume o ponto de vista da produção popular de conhecimento, que assume a
premissa de que a população pesquisada é capaz de compreender e modificar sua realidade (o
que, na prática, transforma elementos da população pesquisada em pesquisadores, detentores de
conhecimento necessário para a realização da pesquisa, capacitados a controlar o processo de
investigação), democratizando dessa forma a produção do conhecimento e embasando a pesquisa
numa concepção ética (CHIZZOTTI, 2006). O pesquisador não é somente um observador da
realidade, é um ator nela inserido. Dessa maneira, é uma pesquisa essencialmente qualitativa, não
se podendo utilizá-la adequadamente em estudos quantitativos, pois o envolvimento do
pesquisador com a realidade pesquisada impede que se tenha a neutralidade e a imparcialidade
científicas característicos dos delineamentos quantitativos.
O pesquisador assume uma função dentro do grupo pesquisado, embora não obedeça a
nenhuma proposta de ação anteriormente determinada; o grupo pesquisado é conscientizado da
presença do pesquisador, de seus objetivos e finalidades, e este observa e analisa as ações daquele
no momento em que elas ocorrem (DENCKER, 2000). Gil (1996) e Rauen (2002) afirmam que
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101
essa pesquisa normalmente pressupõe um comprometimento do pesquisador com a classe
pesquisada, usualmente uma classe economicamente menos favorecida, e uma distinção entre
uma “ciência popular” e uma “ciência dominante”); Rauen (2002) menciona também alguns
problemas deste delineamento, como a dificuldade de definir um plano rigoroso de pesquisa e de
desenhos metodológicos. Por outro lado, há que se observar que se trata de um delineamento que
permite grande flexibilidade no desenho da pesquisa.
Uma outra crítica comum, feita por diferentes autores, ao delineamento participante é o
forte conteúdo ideológico que pode ser percebido no mesmo, já que o pesquisador possui um
ponto de vista que o norteia e assume a postura de alguém que deseja conscientemente
transformar a realidade.
9.3.2.8 Pesquisa-ação
Pode ser considerada como uma variante da pesquisa participante, em que o pesquisador
intervém na realidade pesquisada (VERGARA, 2000). Há um envolvimento participativo e
cooperativo do pesquisador com os pesquisados, e a situação investigada normalmente
corresponde a uma ação ou resolução de um problema coletivo, e o pesquisador age sobre a
realidade pesquisada (DENCKER, 2000). Essa pesquisa é planejada e possui caráter social,
educacional, técnico, etc., distinguindo-se portanto da pesquisa participante (GIL, 1996).
Uma definição de pesquisa-ação é dada por Thiollent (apud GIL, 1996, p. 60), que a
descreve como [...] um tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
Kurt Lewin é considerado como o “pai” da pesquisa-ação (CHIZZOTTI, 2006).
Baseando-se no conceito da pesquisa experimental, Lewin trabalha com a idéia de um
pesquisador que modifica a realidade social para poder conhecê-la e implementar as mudanças
desejadas. Em linhas gerais, a pesquisa-ação envolve a definição e a formulação de um problema,
a implementação, execução e avaliação da ação, e finalmente a continuidade da ação ao longo do
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102
tempo (CHIZZOTTI, 2006). Como tal, a pesquisa-ação vem sendo muito utilizada nas ciências
humanas e sociais, baseando-se em uma abordagem qualitativa dos fenômenos investigados. É
difícil distingui-la com precisão da pesquisa aplicada, mesmo que esta seja delineada como fim e
a pesquisa-ação seja delineada como meio.
9.3.2.9 Estudo de caso
Um dos delineamentos mais populares de pesquisa, o estudo de caso trabalha com uma ou
com poucas unidades de pesquisa (como, menciona Dencker, 2000, um indivíduo, um grupo,
uma organização, um conjunto de organizações ou inclusive uma situação observada),
aprofundando e detalhando os conhecimentos sobre esta, podendo ser realizada em campo ou não
(VERGARA, 2000); tal aprofundamento do conhecimento normalmente é impossível nos outros
delineamentos (GIL, 1996). Isso torna o estudo de caso uma classificação ideal para as pesquisas
exploratórias (CHIZZOTTI, 2006).
O estudo de caso não é fácil de definir, mas um dos maiores especialistas neste tipo,
Robert K. Yin, propõe: 1. Um estudo de caso é uma investigação empírica que
• investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando
• os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. [...] 2. A investigação de estudo de caso
• enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados e, como resultado,
• baseia-se em várias fontes de evidências, com os dados precisando convergir em um formato de triângulo, e, como outro resultado,
• beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise de dados. (YIN, 2005, p. 32-33).
Dentro desse contexto, para Yin o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que,
enquanto método, abrange tudo – o planejamento, as técnicas de coleta e as abordagens de análise
dos dados.
De acordo com Chizzotti (2006, p. 135), o estudo de caso “objetiva reunir os dados
relevantes sobre o objeto de estudo e, desse modo, alcançar um conhecimento mais amplo sobre
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103
esse objeto, dissipando as dúvidas, esclarecendo questões pertinentes, e, sobretudo, instruindo
ações posteriores.”
Normalmente é utilizado em fases iniciais de pesquisa, para estabelecer hipóteses ou
reformular problemas e, embora possua grande profundidade em termos da situação pesquisada,
estimule novas descobertas, seja simples e enfatize a análise da totalidade, suas conclusões não
podem ser generalizadas (DENCKER, 2000; RAUEN, 2002). Exige um pesquisador experiente,
que domine conhecimentos sobre a situação pesquisada (DENCKER, 2000; MARTINS, 2006).
O estudo de caso é criticado por não permitir a generalização das conclusões, sem base
amostral que o solidifique, e por conferir ao pesquisador a sensação de que ele domina uma
realidade específica (CHIZZOTTI, 2006). Um ponto importante, mencionado por Martins (2006),
refere-se ao fato de que o pesquisador envolvido em um estudo de caso normalmente não possui
controle sobre a realidade pesquisada, sendo a pesquisa realizada dentro do contexto em que o
fenômeno se verifica, apoiado por um embasamento teórico.
Para Chizzotti (2006), o estudo de caso envolve quatro fases:
a) Plano de pesquisa: nesta fase, o pesquisador estabelece os objetivos e as questões a serem
investigadas. Faz-se a revisão da literatura existente sobre o caso, a definição da unidade de
análise e a consulta ao material disponível para a pesquisa (livros, documentos, relatórios,
leis, etc.). Adicionalmente, negocia-se com os envolvidos o acesso aos dados, às pessoas e
aos lugares.
Martins (2006) observa que o planejamento do estudo de caso pode ser consolidado num
protocolo, em que os procedimentos adotados são apresentados de modo a garantir que outro
pesquisador possa, se desejar, replicar o caso em outro contexto. Este cuidado permitiria superar
a crítica de que os estudos de caso não permitem a generalização das conclusões: ao replicar o
caso em outro contexto, o pesquisador daria um importante passo no sentido de produzir
conclusões científicas válidas.
b) Trabalho de campo: consiste na coleta de informações sobre o caso pesquisado, utilizando
informações dos mais variados tipos. A entrevista é muito usada para coletar informações
diretamente com as pessoas;
c) Organização de registros: os documentos obtidos em relação ao caso são devidamente
consolidados, indexados e organizados de modo a garantir fácil acesso do pesquisador aos
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104
mesmos, para dirimir dúvidas, corroborar inferências e avaliar dados provenientes de outras
fontes;
d) Redação do relatório: faz-se a descrição do material coletado, sistematizando as
informações obtidas de modo a permitir ao leitor uma visão do material coletado. Deve-se
evidenciar as relações entre os dados e confirmar ou refutar as eventuais hipóteses propostas
para o estudo, de modo a impedir interpretações alternativas.
Um aspecto importante mencionado por Martins (2006) é o fato de que, num estudo de
caso, a análise e a reflexão do pesquisador sobre os dados pesquisados é permanente,
acontecendo em vários momentos da pesquisa – ou seja, não se espera pela conclusão da fase de
coleta de dados para analisá-los.
9.3.2.10 Levantamento
Como mencionado anteriormente, o levantamento não é mencionado por Vergara em sua
classificação, mas é trabalhado por diversos outros autores (como por exemplo GIL, 1996;
DENCKER, 2000). Um levantamento se caracteriza pela interrogação direta das pessoas
pesquisadas, às quais o pesquisador solicita informações, analisando-as quantitativamente e
procedendo a conclusões; quando abrangem toda a população disponível para pesquisa, chama-se
censo - mas, normalmente, procede-se à pesquisa de uma amostra representativa dos indivíduos
que compõem a população (GIL, 1996). Os levantamentos têm a vantagem de permitir um
conhecimento direto da realidade, pois trabalham com os próprios pesquisados, são econômicos e
rápidos e permitem quantificação dos dados, mas se baseiam na percepção, não permitem maior
profundidade de estudo e permitem uma percepção limitada de processos de mudanças, sendo
mais adequados para estudos descritivos, tendo pouca utilidade para os explicativos (GIL, 1996).
Dencker (2000) observa: um levantamento é como uma fotografia, uma visão estática do
momento pesquisado.
Cresswell (2007) associa o levantamento à pesquisa quantitativa. Para este autor, um projeto de levantamento dá uma descrição quantitativa ou numérica de tendências, atitudes ou opiniões de uma população ao estudar uma amostra dela. A partir dos resultados da amostragem, o pesquisador generaliza ou faz conclusões acerca da população. (2007, p. 161-162).
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105
Os levantamentos, como se pode observar, trabalham com várias das classificações que
foram apresentadas acima, e por isso não se recomenda utilizá-lo como uma das classes de
pesquisa aplicáveis aos trabalhos de estágio.
9.4 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Vistas as principais classes de pesquisa, é mister observar que elas não são estanques, pois
pesquisas bibliográficas e levantamentos muitas vezes são feitos em conjunção, no sentido de
permitir uma compreensão mais profunda da realidade. O único critério para a escolha do tipo de
pesquisa a ser empreendido é o problema, de acordo com os desdobramentos realizados em
objetivos geral e específicos. Ou seja, o que vai determinar o tipo de pesquisa é a pergunta que a
norteia e, a partir desta, os objetivos que se pretende alcançar. Recomenda-se a leitura de Gil
(1996) para maior aprofundamento da classificação quanto aos meios, e de Roesch (1999) para
um tratamento mais amplo dos estudos de caso em Administração.
No que diz respeito à classificação dos TCE, o que se recomenda é inicialmente classificar
quanto à abordagem, prosseguindo com a classificação quanto aos fins e encerrando com a
quanto aos meios. É importante observar que, no que diz respeito à abordagem, apenas uma
classificação é possível, enquanto que nas classificações quanto aos meios e aos fins seja possível
escolher mais de uma (no caso da classificação quanto aos meios, é visível que o estagiário
utilizará mais de uma classificação por vez). Essa forma permitirá uma visão mais completa do
trabalho e facilitará a compreensão dos seus resultados, quando mensurados contra os objetivos.
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106
10 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS – AMOSTRA DE PESQUISA
A importância da metodologia, em qualquer trabalho de pesquisa, não pode ser
corretamente estimada. Muitos projetos são dificultados por causa de delineamentos inadequados
de pesquisa, que dificultam a coleta, a análise e o tratamento dos dados. Esta unidade pretende
fornecer indicações para responder às seguintes perguntas:
a) Como se fará a pesquisa na empresa?
b) Quem será pesquisado?
Em primeiro lugar, entende-se por metodologia simplesmente o estudo do método. Este
pode ser definido como o "[...] caminho para se chegar a determinado fim." (GIL, 1995, p. 27),
ou, mais precisamente, "[...] o conjunto de etapas e processos a serem vencidos ordenadamente
na investigação dos atos ou na procura da verdade." (RUIZ, 1995, p. 137). No caso específico das
pesquisas acadêmicas e dos relatórios de estágio, adota-se o método científico, que vem a ser
"[...] o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos para se atingir o conhecimento." (GIL,
1995, p. 27). O método não é infalível, nem garante um resultado final de qualidade; nas palavras
de Ruiz, "o método é um extraordinário instrumento de trabalho que ajuda, mas não substitui por
si só o talento do pesquisador." (RUIZ, 1995, p. 137-138).
O primeiro aspecto a ser abordado na Metodologia consiste na definição do tipo de
trabalho a ser realizado na empresa (ver capítulo 9 deste trabalho). A escolha de um dos diversos
tipos será feita a partir do objetivo geral do estágio. Naturalmente, a interação entre a empresa e o
acadêmico será essencial para definir o que exatamente será feito durante o estágio. A escolha de
um dos tipos de pesquisa deve ser norteada também pelas abordagens de pesquisa (qualitativa e
quantitativa), pelas perspectivas temporais (sincrônica e diacrônica), nos casos em que for válido
trabalhá-las e pelas classificações quanto aos meios e quanto aos fins.
Definido qual será o tipo de pesquisa, é preciso decidir quais serão os instrumentos de
coleta de dados, ou seja, quais serão as técnicas adotadas para levantar, junto à organização ou a
seu ambiente, as informações necessárias para o atingimento do objetivo geral. Esse assunto será
objeto do capítulo 11 desta apostila. No momento, é fundamental definir alguns aspectos em
relação à população e à amostra de pesquisa.
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107
10.1 POPULAÇÃO DE PESQUISA
Em linhas gerais, a população É um conjunto definido de elementos que possuem determinadas características. Comumente fala-se de população como referência ao total de habitantes de um determinado lugar. Todavia, em termos estatísticos, uma população pode ser definida como o conjunto de alunos matriculados numa escola, os operários filiados a um sindicato, todos os integrantes de um rebanho de determinada localidade, o total de indústrias de uma cidade, toda a produção de televisores de uma fábrica etc. (GIL, 1995, p. 91-92).
Numa formulação um pouco mais simples, Malhotra (2001, p. 301) conceitua população
como “[...] agregado, ou a soma, de todos os elementos que compartilham algumas características
comuns.” Rosental e Frémontier-Murphy (2002) afirmam que a população consiste no conjunto
sobre o qual incidem as observações, devendo ser definida da forma mais precisa possível. A
população, dessa forma, consiste no universo a ser pesquisado, definido a partir do problema, da
pergunta, das hipóteses e/ou dos objetivos da pesquisa.
Num projeto de estágio, a população vai depender dos objetivos do mesmo. Como Roesch
(1999) coloca, o estágio pode se concentrar num departamento de uma empresa (no qual a
população seria simplesmente o número de pessoas que trabalham nesse departamento), ou
englobá-la totalmente (neste caso, a população seria composta por todos os funcionários da
empresa, independentemente do setor aonde trabalham). Em outros casos, o estagiário poderá
estar analisando a empresa em sua interação com variáveis do ambiente externo; nesse caso, a
população será bastante ampla e exigirá grandes cuidados em termos de definição de quem será
pesquisado.
Na definição da população, o pesquisador deve ser cuidadoso na definição das
características da mesma. Na formulação de Rosental e Frémontier-Murphy (2002), as
características são os aspectos distintivos da população como, por exemplo, as faixas etárias, as
faixas de renda, a escolaridade, etc. Como essas características variam de um indivíduo para
outro, elas também podem ser chamadas variáveis (ROSENTAL; FRÉMONTIER-MURPHY,
2002). É importante observar que as características dos indivíduos podem ser tanto qualitativas
quanto quantitativas: as primeiras não podem ser medidas em escalas numéricas, como ocorre
com as outras (ROSENTAL; FRÉMONTIER-MURPHY, 2002). Assim sendo, no exemplo
acima, enquanto faixas etárias e de renda são características qualitativas, a escolaridade é uma
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108
característica quantitativa. Observar as características da população é essencial para definir
instrumentos de coleta de dados, já que estes poderão ser modificados a partir do que a população
de fato apresenta como suas peculiaridades.
Dentro das variáveis quantitativas, é possível assumir duas formas diferentes: variáveis
contínuas, que podem assumir quaisquer valores numéricos dentro de um intervalo, e variáveis
descontínuas, que só podem assumir valores discretos, ou seja, não permitem valores
intermediários (ROSENTAL; FRÉMONTIER-MURPHY, 2002). Por exemplo, o número de
filhos de um casal não pode ser expresso continuamente (não se pode ter 2,5 filhos!), enquanto
que a renda de uma pessoa pode assumir qualquer valor expresso em unidades monetárias: um
indivíduo localizado na faixa de renda de R$ 380,00 a R$ 760,00 pode possuir uma renda de R$
544,36 – diferente, é claro, de uma renda de R$ 545,01.
Por sua vez, as características qualitativas podem assumir diversas modalidades
diferentes (ROSENTAL; FRÉMONTIER-MURPHY, 2002) – o que vem a ser o equivalente
qualitativo dos valores das variáveis quantitativas. Por exemplo, um indivíduo pode assumir
qualquer uma das seguintes modalidades dentro da característica geral “emprego”: profissional
liberal, comerciante, comerciário, industriário, etc.
10.2 AMOSTRA
Por amostra entende-se o Subconjunto do universo ou da população, por meio do qual se estabelecem ou se estimam as características desse universo ou população. Uma amostra pode ser constituída, por exemplo, por cem empregados de uma população de 4000 que trabalham em uma fábrica. Outro exemplo de amostra pode ser dado por determinado número de escolas que integram a rede estadual de ensino. Outros exemplos: uma quantidade definida de peixes retirados de determinado rio, certo número de parafusos retirados do total da produção diária de uma indústria ou um cálice de vinho de um tonel. (GIL, 1995, p. 92).
Uma boa amostra obedece a dois critérios essenciais, segundo Cooper, Schindler (2003):
acuidade e precisão. O primeiro critério refere-se ao grau em que os vieses ficam de fora da
amostra, evitando valores que possam comprometer a qualidade da amostra, enquanto que a
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109
precisão admite previamente os erros e falhas da amostragem, definindo assim o chamado erro-
padrão de estimativa.
Como a amostra consiste num subgrupo da população da pesquisa, é, por conseguinte,
essencial que a amostra tenha as características da população, o que torna essencial para o
sucesso da pesquisa planejar adequadamente a amostra a ser pesquisada. Este planejamento pode
seguir o roteiro apresentado por Malhotra (2001):
a) Definição da população: a primeira etapa no processo de definição da amostra é
simplesmente a definição da população-alvo do estudo, que é definida como “coleção de
elementos ou objetos que possuem a informação procurada pelo pesquisador e sobre as quais
devem ser feitas inferências.” (p. 302). A população-alvo é definida a partir de uma série de
aspectos:
• Definição dos elementos: consiste em determinar a fonte de informação (o entrevistado,
por exemplo);
• Definição da unidade amostral: diz respeito à unidade na qual pode ser encontrado o
elemento (um departamento da empresa, no qual trabalha o elemento, é um exemplo de
unidade amostral);
• Definição do alcance e do tempo: consiste nas fronteiras geográficas e temporais da
unidade amostral (por exemplo, apenas o departamento financeiro das filiais de Santa
Catarina da empresa, e somente os profissionais que têm mais de cinco anos de casa).
A população da amostra, conforme lembram Cooper, Schindler (2003), deve ser
relevante, ou seja, deve ser capaz de fornecer as infromações que o pesquisador deseja obter;
b) Determinação da estrutura amostral: a estrutura, ou arcabouço, amostral é uma listagem ou
conjunto de instruções que permitem identificar a população-alvo. Assim, a lista telefônica,
uma lista de endereços de uma associação comercial, a listagem dos profissionais empregados
pela organização (obtida junto ao departamento de Recursos Humanos), constituem exemplos
de arcabouços amostrais;
c) Escolha da(s) técnica(s) amostral(is): são as decisões a respeito de como será constituída a
amostra, verificando se haverá reposição ou não, se será usada a forma probabilística ou não,
ou se a amostragem será bayesiana (em que os elementos são selecionados seqüencialmente,
a partir de informação prévia sobre parâmetros populacionais, custos e probabilidades,
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110
modificando a amostra à medida em que ela é feita) ou tradicional (planeja-se a amostra
inteiramente antes de coletar os dados);
d) Determinação do tamanho da amostra: consiste na definição do número de elementos a
serem incluídos no estudo, e será objeto de maior desenvolvimento no próximo subitem;
e) Execução do processo de amostragem: a execução coroa o processo descrito até o
momento. Nesta etapa, o pesquisador avalia o planejamento feito e o implementa, efetuando a
pesquisa junto aos elementos selecionados, de acordo com a estratégia definida. Nesta fase, o
pesquisador pode iniciar o contato com os elementos a serem pesquisados dentro da
população, a partir das definições feitas previamente. Por exemplo, suponha uma pesquisa de
clima organizacional com os empregados de uma grande empresa comercial, com filiais em
todo o estado:
• População-alvo: todos os empregados com mais de um ano de casa (elemento), no setor
de vendas (unidade amostral – o pesquisador irá ligar para as lojas durante o horário
comercial), na Grande Florianópolis (alcance), durante o período da pesquisa (tempo);
• Arcabouço amostral: listagem de empregados fornecida pelo departamento de Recursos
Humanos da matriz;
• Técnica de amostragem: amostragem por conveniência;
• Tamanho da amostra: 237 vendedores;
• Execução: a primeira etapa será alocar a amostra entre as lojas. A forma de contato com
os vendedores será a discagem para as lojas durante o horário comercial, aleatoriamente.
Os vendedores serão chamados um a um, procurando determinar aqueles que estejam
disponíveis para atendimento do pesquisador – ou seja, o método será a conveniência em
termos de horário.
10.2.1 Tipos de amostragem
Há dois tipos de amostragem: probabilística e não-probabilística. A primeira segue as leis
da estatística, permite expressão da probabilidade matemática de se encontrar na população as
características da amostra (MAY, 2004) e é rigorosamente científica, ao passo que a segunda
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111
depende do critério do pesquisador, confiando no julgamento deste para a produção de uma
amostra fiel à população (MALHOTRA, 2001). Cada tipo tem suas vantagens e desvantagens: a
amostra não-probabilística é mais rápida e mais barata, enquanto que a probabilística confere
maior confiabilidade aos resultados obtidos (GIL, 1995), na medida em que, nesta, cada elemento
da população possui a mesma probabilidade, previamente conhecida e diferente de zero, de ser
incluído na amostra (MALHOTRA, 2001). Um outro aspecto importante refere-se ao fato de que
numa amostragem probabilística é possível extrair conclusões que podem ser generalizadas para
toda a população – algo que não se pode fazer na não-probabilística (MALHOTRA, 2001; MAY,
2004).
Alguns cuidados na definição do tipo de amostra são dadas por Cooper, Schindler (2003):
• Deve ser impossível modificar a seleção feita previamente (isso é muito importante quando
são empregados outros indivíduos para a coleta de dados);
• Somente os elementos da amostra original podem ser incluídos;
• Deve ser impossível fazer substituições, a não ser que se prevejam regras claras para as
mesmas, e estas sejam obedecidas.
O primeiro passo na amostragem probabilística consiste em listar os elementos da
população, da forma mais completa possível – o que May (2004) chama “moldura de
amostragem”. Dentre os vários tipos de amostragem probabilística, de acordo com Gil (1995) e
Malhotra (2001), encontram-se:
a) Amostragem aleatória simples: consiste em atribuir um número aleatório para cada membro
da população. Dentro da tabela de números obtidos, o acadêmico seleciona alguns números
que comporão a amostra, desconhecendo completamente a quem esses números são
associados. Segundo Kazmier, isso equivale a escolher a amostra "'tirando os nomes de um
chapéu'" (1982, p. 126). Cada elemento tem a mesma probabilidade de ser escolhido para
fazer parte da amostra (MALHOTRA, 2001);
b) Amostragem sistemática: é uma variação da aleatória simples, que exige que cada elemento
da população possa ser identificado de acordo com sua posição - o que só pode ser feito em
caso de se poder identificar a posição de cada membro num sistema ordenado, como por
exemplo o conjunto de candidatos a um concurso, identificados por fichas de inscrição. Por
exemplo, suponha uma amostra de 100 elementos dentro de 10.000 candidatos:
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aleatoriamente, escolhe-se o número 44, e a partir do intervado amostra, procura-se os
candidatos 44, 144, 244, 344 e assim sucessivamente;
c) Amostragem estratificada: nessa forma de amostragem, é preciso dividir a população em
estratos ou subgrupos (por exemplo, por sexo, faixa etária, classe social, posição hierárquica),
para a partir dessa divisão identificar a amostra; dentro de cada estrato, o pesquisador utiliza
normalmente a amostragem aleatória simples para selecionar cada elemento (MALHOTRA,
2001). Há duas formas de se efetuar a amostragem estratificada: proporcional, em que se
busca uma amostra similar à composição da população (por exemplo, se entre os funcionários
do departamento metade são mulheres, uma amostra estratificada por sexo deve ser composta
por 50% de mulheres), e não-proporcional, em que não se observa a extensão dos estratos
em relação à população;
d) Amostragem por conglomerados: em casos nos quais a população é muito extensa, essa
forma de amostragem é bastante útil. A primeira etapa consiste em distinguir a população em
subpopulações mutuamente excludentes (os conglomerados), selecionando-se
estatisticamente, na segunda etapa, os elementos em cada conglomerado. Por exemplo, se o
estágio será realizado numa grande empresa, os conglomerados serão os diferentes
departamentos, sendo feitas as amostras de cada departamento a partir da própria listagem de
pessoas que nele trabalham, não o total da empresa. O modo mais comum de se fazer
amostragem por conglomerados é dividindo a população por áreas geográficas, embora
também se possa fazer a amostragem a partir do tamanho. A amostragem por conglomerados
não deve ser confundida com a estratificada, pois esta divide a população em poucos
subgrupos heterogêneos (selecionados por critérios relacionados às variáveis em estudo) com
muitos elementos (homogêneos), enquanto que aquela, em muitos subgrupos homogêneos
(selecionados a partir da facilidade ou disponibilidade de acesso) com poucos elementos
(heterogêneos), sendo que na estratificada os elementos dentro de cada subgrupo são
selecionados aleatoriamente e na por conglomerados os subgrupos é que são selecionados
aleatoriamente (COOPER; SCHINDLER, 2003).
e) Amostragem por etapas: este tipo de amostragem normalmente se aplica aos casos em que a
população está muito dispersa em uma grande área. São tomadas amostras aleatórias em
subdivisões, para se ter uma amostra geral da população. Por exemplo, o estágio será
realizado numa empresa que possui diversas unidades de produção, espalhadas pelo país; o
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113
acadêmico poderia tomar amostras de departamentos e níveis hierárquicos em diferentes
unidades produtivas, pressupondo-se que cada uma seja representativa do todo (o que nem
sempre ocorre na prática).
Dentre os tipos de amostragem não-probabilística, ainda de acordo com Gil (1995) e May
(2004), encontram-se os seguintes:
a) Amostragem por acessibilidade: trata-se do processo menos rigoroso, em que o pesquisador
seleciona os elementos simplesmente porque eles são acessíveis, e pressupõe que os mesmos
sejam representativos. Esta amostra baseia-se na conveniência do pesquisador – o que nas
palavras de Malhotra (2001) significa que o elemento da pesquisa se encontrava na hora certa
e no local certo, sendo portanto rápida e barata, conquanto excessivamente limitada;
b) Amostragem proposital: a amostra é selecionada de acordo com uma determinada
característica, definida previamente pelo pesquisador – por exemplo, os ouvintes de um
programa religioso de rádio poderiam ser convidados a telefonar para a estação e dar sua
opinião a respeito daquela religião. Não surpreenderia ninguém se essa opinião fosse
favorável ao que o apresentador do programa divulgou;
c) Amostragem por tipicidade: neste caso, seleciona-se um subgrupo da população, que, de
acordo com as informações disponíveis a respeito desta, é representativo da mesma - o que,
evidentemente, só será possível por meio de profundo conhecimento da população. Essa
forma é definida por Malhotra (2001) como amostragem por julgamento, a partir da idéia de
que o pesquisador confia em seu juízo para definir quem será ou não apto a ser pesquisado;
d) Amostragem “bola de neve”: é utilizada em casos em que a população se encontra muito
distribuída ou é difícil de ser localizada. Encontrando-se um membro da população, pede-se a
ele que apresente outras pessoas que também façam parte dela, de modo que cada elemento
da pesquisa indicará outros elementos, fazendo com que o processo de amostragem;
e) Amostragem por cotas: é um processo composto por três etapas: em primeiro lugar,
classifica-se a população conforme as propriedades consideradas relevantes para o fenômeno
a ser estudado; o segundo passo consiste em determinar qual é a proporção da população a ser
colocada em cada classe; finalmente, fixa-se uma cota proporcional à população para cada
pesquisador. Esse tipo de amostragem exige que o pesquisador conheça de antemão as
características da população.
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114
10.2.2 Cálculo da amostra
Qualquer que seja a forma utilizada para selecionar os elementos da amostra, é preciso
tomar cuidado com uma série de aspectos em relação à determinação do tamanho da amostra. É
preciso que esta seja fidedigna, isto é, que seja composta por um número suficientemente grande
de elementos, número este que será determinado pelas dimensões do universo de pesquisa, o
nível de confiança, o erro máximo permitido e a porcentagem com a qual o fenômeno a ser
pesquisado se verifica (GIL, 1995). De acordo com Cooper, Schindler (2003), alguns princípios
influenciam e ajudam a definir o tamanho da amostra:
• Quanto maior a dispersão ou as variáveis da população, maior deve ser a amostra;
• Quanto maior a precisão desejada, maior a amostra;
• Quanto menor a amplitude de intervalo, maior a amostra;
• Quanto maior o nível de confiança na estimativa, maior a amostra;
• Quanto maior o número de subgrupos de interesse na população, maior a amostra;
• Se o tamanho da amostra for maior do que 5% da população, ele poderá ser reduzido sem que
isso implique em perda de precisão.
As dimensões do universo seguem uma regra simples: acima de 100.000 elementos, o
universo é considerado infinito, abaixo deste número, finito; estatisticamente falando, acima de
100.000 elementos, o número de elementos que compõem a amostra será sempre o mesmo (GIL,
1995). O nível de confiança, por sua vez, é estimado a partir da distribuição normal, e se expressa
de acordo com o número de desvios-padrão em relação à média: um desvio para um nível de
confiança de aproximadamente 68%, dois desvios para um nível de 95,5%, três desvios para um
nível de 99,7% (GIL, 1995). Quanto ao erro, normalmente se trabalha com estimativas de 3 a 5 %
(GIL, 1995). Por fim, a porcentagem com que o fenômeno se verifica refere-se a uma estimativa
prévia sobre como o fenômeno ocorre na população.
O exemplo a seguir permitirá calcular o número de elementos de uma amostra.
EXEMPLO: Considere a situação em que uma empresa com 500 empregados deseja reduzir o
nível de absenteísmo dos funcionários. Pesquisas prévias indicaram que cerca de 10% dos
funcionários faltam ao trabalho, mas não determinaram as causas do absenteísmo. Você decidiu
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pesquisar as razões mais comuns para as faltas, e, para tanto, estimou um nível de confiança de
cerca de 95%, e um erro máximo tolerado de 3%.
Dessa forma:
n = tamanho da amostra
σ2 = nível de confiança escolhido, em número de desvios-padrão (2)
p = porcentagem com a qual o fenômeno se verifica (10)
q = porcentagem complementar (90)
N = tamanho da população (500)
e2 = erro máximo permitido (3)
A fórmula utilizada para o cálculo é a seguinte:
n = σ2.p.q.N e2.(N-1) + σ2.p.q
Substituindo-se os números na fórmula, tem-se:
n = 22.10.90.500_____ = 222,47 32.(500-1) + 22.10.90
No caso supracitado, o estagiário teria que pesquisar aproximadamente 223 funcionários
para poder determinar quais seriam as principais causas do absenteísmo entre o corpo funcional
da empresa - um número bastante alto, mas que naturalmente seria reduzido ao se reduzir o grau
de confiança e aumentar o erro máximo permitido (por exemplo, um aumento do erro para 5%
levaria o acadêmico a pesquisar 112 pessoas).
No exemplo acima, existe uma pesquisa prévia que permite indicar as freqüências p e q.
Se essa pesquisa não estivesse disponível, o pesquisador não teria como determiná-las com
precisão. Numa situação dessas, normalmente se adota a perspectiva de que p e q são idênticas,
ou seja, cada uma teria o valor de 50%. Substituindo esses valores na fórmula, tem-se:
n = 22.50.50.500_____ = 345,02 32.(500-1) + 22.50.50 Portanto, o desconhecimento da freqüência exigiria a pesquisa com 345 pessoas.
Considerando-se um erro de 5% em vez dos 3% calculados, o pesquisador se obrigaria a trabalhar
com aproximadamente 223 pessoas.
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11 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que método e técnica designam realidades
diferentes. Nas palavras de Ruiz: [...] reserva-se a palavra método para significar o traçado das etapas fundamentais da pesquisa, enquanto a palavra técnica significa os diversos procedimentos ou a utilização de diversos recursos peculiares a cada objeto de pesquisa, dentro das diversas etapas do método. Diríamos que a técnica é a instrumentação específica da ação, e que o método é mais geral, mais amplo, menos específico. (RUIZ, 1995, p. 138; grifos do autor).
Soriano (2004) afirma que o método representa como se pesquisa, enquanto que a técnica
representa por meio de que se pesquisa. O autor mexicano ainda acrescenta um terceiro
elemento, o instrumento de pesquisa, que seria o meio físico para se pesquisar (como por
exemplo um guia de observação ou um roteiro de entrevista),
Um segundo conceito importante refere-se ao próprio dado. Segundo Triviños, dado
significa "[...] todo tipo de informações que o pesquisador reúne e analisa para estudar
determinado fenômeno social." (1995, p. 141). Ou seja, o dado é a unidade básica do
conhecimento a ser pesquisado, podendo ser considerado sinônimo de material de pesquisa; é a
partir dos dados que o pesquisador pode construir as informações que formam o conhecimento.
Quanto à classificação dos dados, tem-se: a) Dados primários são trabalhos originais de pesquisa ou dados brutos, sem
interpretação ou pronunciamentos, que representam uma opinião ou posição oficial; b) Dados secundários são interpretações de dados primários. [...] Quase todos os
materiais de referência entram nessa categoria; c) Dados terciários podem ser a interpretação de uma fonte secundária, mas
geralmente são representados por índices, bibliografias e outros auxiliares de busca. (COOPER; SCHINDLER, 2003, p. 223).
Malhotra (2001) prefere distinguir os dados primários dos secundários por meio do
responsável pela coleta, indicando que aqueles são recolhidos pelo pesquisador tendo por base
seus próprios objetivos de pesquisa, enquanto que estes foram coletados por outras pessoas com
objetivos diferentes.
Segundo Robert Yin (1984), existem seis fontes de evidências que permitem a realização
de pesquisas: documentação escrita, arquivos, entrevistas, observação direta, observação
participante, e artefatos físicos. Essas seis fontes permitem coletar dados para a realização de
pesquisas de variados tipos. Yin (1984) também chama a atenção para um princípio importante:
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117
em coleta de dados, o pesquisador nunca deve confiar em apenas uma técnica de levantamento de
dados, utilizando fontes múltiplas. Na verdade, a esmagadora maioria dos trabalhos de pesquisa
realizados em Administração consiste no uso de dados obtidos por meio de documentos escritos
(relatórios, contratos, documentação interna) e diretamente junto às pessoas que trabalham na
organização (por meio de entrevistas e questionários). Muitas vezes, o pesquisador participa
diretamente da realidade organizacional, observando-a cuidadosamente.
Quanto às fontes de informação documentais e bibliográficas, Cooper, Schindler (2003)
propõem alguns critérios para sua avaliação, definindo se são úteis para o propósito do
pesquisador ou não:
a) Objetivo: diz respeito à intenção do autor quando da preparação do documento (informar,
entreter, etc.);
b) Escopo: consiste em dimensões como a data da fonte, o período de tempo coberto por ela, a
profundidade do tratamento, em suma, define se a fonte apresenta informações completas ou
somente o essencial;
c) Confiabilidade: credenciais do autor, bibliografia pesquisada por ele, notas de rodapé,
editora;
d) Público-alvo: determinar para quem a fonte foi escrita é importante, pois, se a obra foi
preparada tendo em mente os especialistas, o autor terá sido muito mais cuidadoso em termos
de seu tratamento;
e) Formato: refere-se à forma geral pela qual é apresentada a informação, e à facilidade com
que se consegue obtê-la.
Martins (2006) propõe um procedimento para a definição dos instrumentos de coleta de
dados:
a) Em primeiro lugar, o pesquisador deve preparar uma lista das variáveis que pretende
pesquisar;
b) Em seguida, deve ser feita a revisão dos conceitos e dos significados de cada uma dessas
variáveis;
c) A terceira etapa refere-se a revisar operacionalmente as variáveis, ou seja, definir quais são os
instrumentos de medição e descrição das variáveis;
d) Finalmente, escolhe-se uma técnica e define-se o instrumento de coleta.
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118
Nesta Unidade, a atenção será voltada para a definição de algumas das principais técnicas
de pesquisa que podem ser utilizados pelo estagiário na realização de seu trabalho; duas delas
(entrevista e questionário) pressupõem uma interação direta entre o estagiário e os funcionários
da empresa aonde ele está realizando seu trabalho. No caso da primeira técnica (observação), o
estagiário pode não participar diretamente das atividades (embora tenha que interagir com os
funcionários) e, no da terceira (pesquisa documental), pressupõe-se a existência de documentação
na empresa, disponível para pesquisa.
11.1 OBSERVAÇÃO
Esta técnica consiste simplesmente no uso dos sentidos para aquisição de conhecimento
científico, desde que sirva a um objetivo de pesquisa previamente formulado, tenha sido
sistematicamente planejada e registrada, esteja associada a proposições gerais e seja submetida a
controles de validade e precisão (SELLTIZ et al. apud GIL, 1995), além de gerar informações
confiáveis e válidas a respeito do que ocorreu (COOPER; SCHINDLER, 2003). Yin (1984)
afirma que, se o fenômeno de interesse do pesquisador não for puramente histórico,
comportamentos relevantes e condições ambientais estarão disponíveis para a observação.
Uma definição mais completa de observação é dada por Triviños (1995, p. 153), para
quem [...] 'observar', naturalmente, não é simplesmente olhar. Observar é destacar de um conjunto (objetos, pessoas, animais etc.) algo especificamente, prestando, por exemplo, atenção em suas características (cor, tamanho etc.). Observar um 'fenômeno social' significa, em primeiro lugar, que determinado evento social, simples ou complexo, tenha sido abstratamente separado de seu contexto para que, em sua dimensão singular, seja estudado em seus atos, atividades, significados, relações, etc.
Conforme Gil (1995), como principal vantagem, a observação apresenta o fato de que o
próprio pesquisador percebe diretamente os fatos, sem necessidade de intermediários, o que reduz
a subjetividade na compreensão dos mesmos; por outro lado, a presença de um pesquisador pode
provocar mudanças no comportamento das pessoas, diminuindo as possibilidades de realismo.
Outra desvantagem, destacada por Yin (1984), também é relevante: se o fenômeno a ser
pesquisado possui uma base histórica, dificilmente a observação pode ser realizada com sucesso.
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119
De qualquer forma, pode-se afirmar que, para o estagiário em Administração, dificilmente será
possível realizar um trabalho que prescinda inteiramente da observação.
Apesar dessas desvantagens, pode-se afirmar que nenhum processo de estágio prescinde
da observação como técnica de coleta de dados, até porque o estagiário irá se envolver de alguma
forma na realidade em estudo, seja como um simples espectador, seja como uma parte dos
trabalhadores envolvidos. Mas é preciso lembrar que, em hipótese alguma, o estagiário pode
confiar exclusivamente na observação como instrumento de coleta de dados, devendo
complementá-la com outras técnicas como o questionário e a entrevista (inclusive para poder ter
uma melhor percepção de como os integrantes da organização encaram os processos que estão
sendo estudados no estágio). Observar, nota Soriano (2004), é uma capacidade inata do ser
humano, mas observar cientificamente exige um roteiro ou guia previamente definido que
permita ao observador concentrar sua atenção num fim determinado – e isso exige o
conhecimento das regras científicas.
A observação, enquanto técnica de pesquisa, é influenciada por uma série de fatores, mas
provavelmente o mais importante diz respeito à relação a ser estabelecida entre o observador e o
observado. De acordo com Cooper, Schindler (2003), devem ser considerados aspectos referentes
à categorização da observação como direta (com a presença do pesquisador) ou indireta (feita por
meios mecânicos, como filmagens e fotografias), o conhecimento, por parte dos indivíduos
pesquisados, da presença do pesquisador (muitas vezes, para poder obter dados fidedignos, o
pesquisador é obrigado a disfarçar sua presença) e a participação, ou não, do pesquisador na
realidade pesquisada (este último aspecto será mais detalhado adiante, na subseção a respeito de
observação participante).
Há muitas classificações da observação, baseadas em diferentes critérios. Cooper,
Schindler (2003) dividem as observações em comportamentais, voltadas para a análise de
comportamentos animais ou humanos (subdivididas, por sua vez, nas análises não-verbal,
lingüística, não-lingüística e espacial), e não-comportamentais, que analisam apenas as
estruturas, os dados e os processos ou atividades, subdividindo-se em análises de registro, de
condições físicas e de processos de atividades. Embora esses dois últimos possam ser de fato
considerados estudos observacionais, o primeiro pode ser melhor considerado como sendo uma
análise documental. As análises de condições físicas são exemplificadas pelas auditorias de
disponibilidade de produtos, pelos estudos de condições de segurança e análises de estoques,
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120
enquanto que as análises de processos abrangem os estudos de tempos e movimentos, os fluxos
financeiros e bancários, o fluxo dos documentos em um escritório, etc. (COOPER; SCHINDLER,
2003).
A classificação dos estudos observacionais fornecida por Gil (1995) é uma das mais
interessantes, abrangendo três tipos (observação simples, participante e sistemática). É esta
classificação que será detalhada a seguir.
11.1.1 Observação simples
É a técnica de observação “[...] em que o pesquisador, permanecendo alheio à
comunidade, grupo ou situação que pretende estudar, observa de maneira espontânea os fatos que
aí ocorrem. Neste procedimento, o pesquisador é muito mais um espectador que um ator.” (GIL,
1995, p. 105). Essa técnica não prescinde de planejamento cuidadoso e da definição dos objetivos
da pesquisa, e é bastante adequada para casos em que os fatos são de conhecimento público.
Segundo Selltiz et al. (apud GIL, 1995), é preciso definir os sujeitos (os participantes da
pesquisa), o cenário (aonde as pessoas se situam em termos de local), e o comportamento social
(o que realmente ocorre em termos sociais nesse local). Em suma, o planejamento da observação
reduz-se ao mínimo possível.
Soriano (2004) chama esta técnica de observação ordinária, definindo-a como técnica em
que o observador está fora do grupo observado, servindo em primeiro lugar para verificar
hipóteses e definir técnicas de coleta de dados e, em segundo lugar, para verificar hipóteses e
preparar para uma observação melhor planejada. É útil quando é difícil obter acesso ao grupo
social pesquisado, mas apresenta como desvantagem a própria limitação do observador, que é
incapaz de acompanhar todos os fenômenos que se verificam (SORIANO, 2004).
Para Cooper, Schindler (2003), a observação simples faz parte de praticamente todos os
estudos de pesquisa, sendo realizada no próprio ambiente a ser pesquisado, e não exige
padronização de seus procedimentos, devendo ser considerada como uma fase exploratória, de
descoberta e acumulação de conhecimentos.
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121
11.1.2 Observação participante
Consiste numa observação ativa, baseada na participação real do observador na vida da
comunidade, grupo, ou situação determinada, em que o observador se torna um membro ativo do
grupo, envolvido em suas práticas diárias. Em pesquisas que buscam compreender a dinâmica de
uma interação social ou rotinas cotidianas, ela é de extrema importância. Em termos conceituais,
observação participante é o Processo no qual um investigador estabelece um relacionamento multilateral e de prazo relativamente longo com uma associação humana na sua situação natural com o propósito de desenvolver um entendimento científico daquela associação. (LOFLAND; LOFLAND apud MAY, 2004, p. 177).
A observação participante, portanto, pressupõe um relacionamento do observador com o
grupo social, tornando o primeiro uma parte ativa do segundo, participando de suas
manifestações sociais e interagindo com o segundo: “[...] o pesquisador age com naturalidade
dentro do grupo, incorporando-se plenamente às atividades que desenvolvem seus integrantes.”
(SORIANO, 2004, p. 147).
Segundo Gil (1995), há duas formas de observação participante: a natural, em que o
observador pertence à comunidade em que será feita a pesquisa, e a artificial, na qual o
observador se integra à comunidade para realizar seu estudo; neste último caso, há situações em
que o observador precisa se “disfarçar”, sem revelar sua condição de pesquisador. Em qualquer
dos casos, no entanto, observa-se que a presença de uma pessoa estranha ao grupo acaba
conduzindo a barreiras sociais que reduzem e limitam a qualidade das informações colhidas.
A observação participante distancia-se profundamente do positivismo, na medida em que
os pesquisadores, em vez de assumirem uma postura neutra e distante do objeto de pesquisa,
envolvem-se diretamente com ele. O problema maior que se pode observar na observação diz
respeito à objetividade do pesquisador (SORIANO, 2004), quando ele está inserido num grupo
social; a participação no grupo pode fazer com que o pesquisador tome partido previamente, e
chegue a conclusões favoráveis ou desfavoráveis a este. De qualquer forma, é preciso ter bem
claro que a ideologia desempenha papel importante na observação participante, reduzindo a
objetividade da mesma (SORIANO, 2004).
Como técnica de pesquisa, ela apresenta algumas vantagens:
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122
a) É pouco provável que o pesquisador tente impor suas próprias realidades ao mundo social que
está pesquisando;
b) Permite entender melhor as ações e mudanças dos pesquisados;
c) Permite ao pesquisador compreender melhor o universo cultural e a linguagem dos
pesquisados (MAY, 2004).
Por outro lado, o método também tem seus defeitos:
a) O pesquisador pode ser obrigado a ficar muito tempo em um contexto com o qual está pouco
ou nada familiarizado;
b) Obriga o pesquisador a manter relacionamento com pessoas com as quais pode não ter
nenhuma afinidade;
c) Obriga a manter grande número de anotações (pois normalmente se anota tudo o que se
observa, mesmo o que pode ser um acontecimento absolutamente normal), algumas das quais
não têm utilidade nenhuma ao pesquisador;
d) O pesquisador pode correr alguns riscos em seu trabalho de campo;
e) As análises do material coletado podem ser muito demoradas devido ao grande volume de
informações e dados coletados junto aos pesquisados (MAY, 2004).
11.1.3 Observação sistemática/estruturada
Nesta técnica, o observador tem um conhecimento prévio a respeito dos fatos ou
fenômenos que, dentro do grupo ou comunidade, são relevantes para seus objetivos definidos;
trata-se de um quase-experimento, uma vez que o trabalho do pesquisador consiste basicamente
em testar hipóteses a respeito do grupo ou comunidade. Inicialmente, o pesquisador planeja a
coleta de dados, e estabelece categorias de análise em relação às práticas que pretende observar
(interessados podem consultar a Tabela de Bales, reproduzida em GIL, 1995, p. 110). É preciso
considerar que a relação entre o observador e os membros do grupo a ser observado precisa ser
cuidadosamente planejada, pois não é possível ao pesquisador “esconder-se” entre os
pesquisados. O pesquisador que planeja realizar uma observação sistemática precisa planejar de
antemão a forma pela qual irá coletar os dados, devendo também definir com precisão as
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categorias analíticas e os meios ou instrumentos para registro dos dados (COOPER;
SCHINDLER, 2003). Há graus diferentes de estruturação para a observação sistemática, sendo
que uma observação inteiramente estruturada só seria possível em condições de laboratório
11.1.4 Roteiro de observação: Uma proposta
Caplow (apud SORIANO, 2004) propõe que um roteiro de observação seja baseado nos
seguintes critérios:
I. Normas de observação
a) Familiarização com os objetivos;
:
b) Pré-teste das técnicas de observação e anotação;
c) Elaboração de uma lista de controle de elementos a serem observados.
II. Procedimento
a) Anotação das observações em campo sempre que possível;
:
b) Observações anotadas no dia seguinte ao fenômeno devem ser desprezadas;
c) Não se deve limitar o tempo das anotações;
d) O observador deve anotar seus próprios atos.
III. Conteúdo
a) As notas devem incluir data, hora e duração da observação, local, circunstâncias, pessoas
presentes, função do observador, aparelhos e equipamentos utilizados, condições
ambientais e eventuais modificações no ambiente;
:
b) Opiniões, ilações ou observações sobre o caráter e a personalidade dos observados devem
ser omitidas;
c) Transcrição literal das conversas e diálogos mantidos;
d) Opiniões e ilações devem ser anotadas regularmente e em separado.
IV. Ordenamento
a) As notas devem ser revisadas sempre que possível;
:
b) Deve ser criado um sistema de classificação das notas.
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124
Spradley (apud FLICK, 2004) propõe um conjunto de dimensões que podem ser utilizadas
nos estudos observacionais:
a) Espaço: local/locais físico(s);
b) Ator: pessoas envolvidas;
c) Objeto: coisas físicas presentes;
d) Ato: ações individuais executadas pelas pessoas;
e) Atividade: conjunto de atos executados pelas pessoas;
f) Evento: conjunto de atividades relacionadas, executadas pelas pessoas;
g) Tempo: seqüenciamento temporal da observação;
h) Metas: coisas que as pessoas tentam alcançar;
i) Sentimentos: emoções sentidas e expressadas.
11.2 ENTREVISTA
Entende-se por entrevista “[...] uma conversa entre duas pessoas com o propósito de
alcançar um objetivo.” (FLETCHER, s. d., p. 7).Ou, de forma um pouco mais precisa, Pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como uma fonte de informação. (GIL, 1995, p. 113).
Cooper, Schindler (2003) destacam que as diferenças entre o entrevistador e o
entrevistado são muito grandes: o entrevistador tem controle sobre o assunto e o tipo de discussão
e deve obter benefícios com o processo (em termos de conhecimento), ao passo que o
entrevistado está em uma situação passiva, cabendo-lhe exclusivamente responder aos
questionamentos levantados.
Dentro das ciências sociais, a entrevista é uma das técnicas mais utilizadas para a coleta
de dados, fornecendo informações a respeito dos conhecimentos, sentimentos, desejos, pretensões
e ações das pessoas, permitindo ainda levantar dados a respeito das razões pelas quais as coisas
foram feitas (SELLTIZ et al., apud GIL, 1995); as entrevistas permitem compreender a biografia
de uma pessoa, suas experiências, opiniões, valores, aspirações, sentimentos e atitudes (MAY,
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125
2004). Isso levanta um aspecto mencionado por Fletcher, de que a entrevista precisa ter um
propósito definido, ou não passará de uma simples conversa entre pessoas; ele recomenda: “se
você tiver de planejar e/ou conduzir uma entrevista, comece pensando no objetivo final.”
(FLETCHER, s. d., p. 8).
De acordo com Roesch (1999, p. 141), a entrevista possui uma série de vantagens: - os entrevistadores podem dar uma explicação mais convincente [...] sobre os objetivos da pesquisa; - atingem com mais facilidade respondentes com nível mais baixo de educação; - ajudam aquele que têm dificuldade de leitura a responder ao questionário; - oferecem explicações padronizadas para certos problemas que surgem; - impedem equívocos; e mantêm controle sobre a seqüência das questões.
Dencker (2000) destaca que a entrevista permite maior flexibilidade na elaboração das
questões e consegue maior sinceridade por parte do respondente, mas, por outro lado, é mais
dispendiosa, exige maior habilidade por parte do pesquisador em sua aplicação, pode apresentar
dificuldades de comparação (justamente devido à flexibilidade), e o respondente tem menor
confiança na proteção do anonimato. De forma geral, pode-se dizer que a grande desvantagem da
entrevista reside na necessidade de maior preparação e habilidade por parte do pesquisador em
sua elaboração e aplicação. Cooper, Schindler (2003) dão maior destaque para a questão dos
custos, se houver necessidade de cobrir uma área geográfica ampla ou houver exigências
elevadas em termos de amostragem.
Na Administração de Empresas, a entrevista é utilizada numa série de situações, desde a
seleção de funcionários até seu desligamento final. Para um estagiário em Administração, a
entrevista é praticamente uma necessidade, pois muitos dos dados exigidos pelo trabalho deverão
ser levantados por meio de conversas com os funcionários.
As entrevistas se classificam podem ser classificadas em diversos grupos (GIL,1995;
MAY, 2004):
a) Entrevista informal: é a entrevista menos estruturada possível, em que o entrevistador tem
apenas o objetivo básico da pesquisa em sua mente, buscando obter a visão geral do
entrevistado sobre o assunto;
b) Entrevista focalizada: também se trata de uma técnica pouco estruturada, mas, além de ter
um objetivo de pesquisa, o entrevistador focaliza a conversa em um determinado assunto,
procurando manter-se na rota mesmo quando o entrevistado se desvia. É muito útil em casos
em que se procura explorar com maior profundidade as experiências de alguém em relação a
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126
um determinado fato ou fenômeno. Ela possui caráter aberto e permite ao entrevistado
responder tendo em mente seu próprio quadro de referência. De acordo com May (2004), essa
técnica inclui as entrevistas biográficas ou de história de vida;
c) Entrevista por pautas: o entrevistador prepara uma pauta de assuntos com antecedência,
fazendo umas poucas perguntas diretamente e concentrando-se no que o entrevistado vai
falando, para explorar os assuntos à medida em que surgem. Apesar de ser mais formalizada
que as anteriores, a entrevista por pautas não pode ser considerada inteiramente estruturada;
d) Entrevista estruturada: neste caso, o entrevistador prepara com antecedência uma relação
de perguntas (um questionário), mantida fixa e invariável independentemente de quem quer
que esteja sendo entrevistado. Normalmente é utilizada quando há um grande número de
entrevistados, para facilitar a tabulação dos dados. Utilizam-se perguntas abertas, em que se
admite ampla variedade de respostas, ou perguntas fechadas, nas quais o entrevistador
apresenta uma série de opções para o entrevistado. Neste tipo de entrevista, pressupõe-se que
a repetição das mesmas perguntas produzam diferenças baseadas não na situação da
entrevista, mas na pessoa entrevistada, cabendo ao entrevistador somente apresentar as
perguntas, sem se envolver de modo algum com o entrevistado (a posição de “neutralidade”
definida por May, 2004). Como as entrevistas são uniformizadas, o resultado desta técnica é
maior facilidade de comparação entre as diferentes entrevistas;
e) Entrevista em grupo: refere-se à técnica em que o entrevistador prepara um grupo que será
entrevistado simultaneamente. Esse grupo pode assumir o formato de grupo focal (focus
group, a ser abordado com mais profundidade no decorrer desta unidade), em que se encoraja
a discussão entr os seus integrantes. O grupo deve ser grande o bastante para que se possa
obter dados e informações úteis, mas também precisa ser suficientemente pequeno para que o
entrevistador possa estudar seu comportamento e todos tenham chance de participar e
contribuir. As entrevistas de grupo permitem “[...] uma compreensão valiosa tanto das
relações sociais em geral como do exame dos processoes e das dinâmicas sociais em
particular.” (MAY, 2004, p. 152);
e) Entrevista semi-estruturada; neste caso, o entrevistador prepara uma lista padronizada de
perguntas, mas acrescenta, em cada entrevista que conduzir, perguntas adicionais que
porventura permitam maior atingimento dos objetivos, de acordo com os comentários e as
respostas do entrevistado, dando maior liberdade e flexibilidade para o entrevistador, que
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poderá buscar maior esclarecimento junto ao entrevistado ou sondar suas respostas (MAY,
2004). De maneira mais precisa: Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da entrevista. (TRIVIÑOS, 1995, p. 146; grifos do autor).
Dencker (2000) recomenda: numa entrevista semi-estruturada, o entrevistador deve
permitir que o entrevistado fale livremente sobre o assunto, podendo incluir questões à medida
que este aborde assuntos importantes para os objetivos da mesma.
Hair Jr. et al. (2005) observam que, com a popularização dos computadores, as entrevistas
podem assumir a forma de diálogos on-line, utilizando softwares de sistemas de grupos,
permitindo coleta e análise de dados praticamente instantâneas. Este sistema de entrevista perfila-
se ao lado das entrevistas por telefone, embora permitam superar, através do uso de webcams, um
dos maiores problemas destas, que é a ausência de contato visual entre o pesquisador e o
pesquisado.
Algumas dicas para a preparação da entrevista são dadas por Fletcher (s.d.), das quais
selecionou-se as mais relevantes:
a) Defina com clareza o propósito exato da entrevista;
b) Antes de entrevistar quem quer que seja, realize algumas atividades prévias: reuna
informações e fatos que auxiliem na condução da entrevista, avise o entrevistado com
antecedência, reserve um local adequado (em que você tiver privacidade e não seja
interrompido), faça uma lista dos pontos a serem discutidos, prepare o material a ser utilizado
e procure antecipar problemas que venham a afetar a condução da entrevista;
c) Planeje o tempo, reservando horários para a entrevista, evitando marcá-la em horários que
venham a interromper o trabalho do entrevistado – e mantenha um relógio por perto quando
estiver entrevistando alguém;
d) Faça seu “rascunho” da entrevista, definindo os comentários e perguntas que você venha a
fazer, tentando antecipar reuniões, calculando o tempo da entrevista e determinando como
será o relatório final de sua entrevista;
e) Avise aos superiores que estará realizando entrevistas naquele horário e local.
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Esses cuidados devem ser complementados pelos seguintes aspectos, levantados por Gil
(1995):
a) Antes de tudo o mais, é preciso estabelecer um contato inicial com o(s) entrevistado(s),
procurando ser bem aceito por ele(s). Avisar com antecedência é essencial, mas também é
preciso “quebrar o gelo” com o entrevistado, o que se consegue normalmente a partir de
conversa informal sobre algum tema que possa interessá-lo; também é essencial criar uma
atmosfera de cordialidade, evitando coagir ou intimidar o entrevistado. Também é
conveniente garantir a confidencialidade das informações, preservando o anonimato do
entrevistado;
b) Feito isso, alguns cuidados devem ser feitos na formulação das perguntas ao entrevistado. Um
planejamento prévio já deve ter sido feito, mas sempre é importante saber o momento certo
de formular uma determinada pergunta, evitando alguns aspectos, tais como sobrecarregar o
entrevistado com muitas questões, induzir suas respostas e criar sentimentos negativos ou de
recusa a responder;
c) Durante os questionamentos, o entrevistador deve estimular o entrevistado a fornecer
respostas claras e completas, mas também deve ter o cuidado de evitar induzi-lo a qualquer
coisa;
d) É essencial dispor de algum meio de registro das respostas. Muitas vezes, a entrevista aborda
temas e assuntos delicados, os quais as pessoas não se sentem muito à vontade em responder,
mas é preciso cuidar de registrar com fidelidade as respostas dadas. É conveniente mostrar ao
entrevistado que suas respostas estão sendo registradas em fita ou papel, e frisar que sua
identidade será preservada. Deve-se evitar ao máximo parafrasear ou distorcer as respostas
dadas;
e) Ao concluir a entrevista, é conveniente “deixar a porta aberta”, isto é, provocar o interesse do
entrevistado em fornecer mais dados, se isso for necessário.
Em relação ao ponto observado em “d”, recomenda-se apresentar ao entrevistado a
transcrição das respostas dadas, solicitando ao mesmo que corrija eventuais imprecisões na
mesma. Ao fazê-lo, o entrevistado às vezes se anima a acrescentar informações a respeito do
assunto, tornando essa revisão ainda mais preciosa para o pesquisador. Deve-se ter o cuidado de
não mostrar o material aos superiores ou colegas dos entrevistados, para evitar constrangimentos.
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Em termos de cuidados específicos junto aos entrevistados, convém mencionar que é
preciso deixar bem claro ao entrevistado que a experiência deverá ser-lhe satisfatória, que se trata
de alguma coisa importante (e não uma simples perda de tempo) e que o entrevistador é uma
pessoa digna de confiança (COOPER; SCHINDLER, 2003).
Um ponto importantíssimo a ser mencionado: é preciso fazer um pré-teste, ou seja,
entrevistar um pequeno grupo de pessoas (voluntárias ou indicadas pelos responsáveis pelo
andamento da pesquisa) e medir os resultados desse teste; o número de pessoas com as quais será
aplicado o pré-teste deve ser estimado a partir do tamanho da amostra ou da população
pesquisada, mas não existe nenhum padrão ou dimensionamento previamente definido. O pré-
teste, menciona Gil (1996, p. 95), [...] não visa captar qualquer dos aspectos que constituem os objetivos do levantamento. Não pode trazer nenhum resultado referente a esses objetivos. Ele está centrado na avaliação dos instrumentos enquanto tais, visando garantir que meçam exatamente aquilo que pretendem medir.
O pré-teste visa avaliar:
a) Clareza e precisão dos termos;
b) Quantidade de perguntas;
c) Forma das perguntas;
d) Ordem das perguntas;
e) Introdução da entrevista.
A partir desses resultados, o pesquisador deve acrescentar, retirar ou reformular as
perguntas, ou mesmo mudar de estratégia (de uma entrevista informal para uma estruturada, por
exemplo), de forma que, ao ser conduzido o processo de entrevista da amostra previamente
definida, já se tenha uma indicação mais precisa da confiabilidade do instrumento utilizado. No
caso da entrevista, deve-se procurar escolher como amostra indivíduos representativos, a par da
pesquisa que está sendo realizada e de seus objetivos (GIL, 1996).
É também importante trabalhar a questão da preparação de entrevistador e entrevistado.
Segundo Bergamini, Beraldo (1988), a pessoa bem entrevistada é aquela em que, no processo de
entrevista, sente-se fisicamente bem, não está submetida a uma situação que lhe provoca
ansiedade e possui algum interesse na entrevista. O bom entrevistador, por sua vez, preparou
todos os aspectos físicos da entrevista (local, material, entrevistados que contribuem para o
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130
objetivo), está à vontade (e sabe colocar o entrevistado numa situação confortável) e preparou as
técnicas da melhor forma possível (BERGAMINI; BERALDO, 1988).
O clima deve ser de confiança entre o entrevistador e o entrevistado. Algumas dicas para
melhorar o relacionamento entre eles são dadas por Cooper, Schindler (2003), a partir do que se
chama técnica de confirmação: é preciso deixar claro, o tempo todo, que o entrevistador está
interessado nas informações prestadas pelo entrevistado (o que se consegue por meio de pequenas
interjeições e demonstrações de interesse), fazer pausas de expectativa e demonstrações de que se
está esperando maior desenvolvimento da resposta, repetir a pergunta quando o entrevistado
demonstra não ter compreendido, repetir a resposta para confirmar o que se ouviu, fazer
perguntas ou comentários neutros, pedir maiores esclarecimentos.
Tudo isso deve garantir que a entrevista seja conduzida de tal forma que cada entrevistado
compreenda da mesma forma a pergunta que lhe for formulada, e simultaneamente evitar
conduzir a entrevista de forma que se induza o entrevistado a alguma resposta (ROESCH, 1999).
Dessa maneira, pode-se afirmar que a entrevista deve ser uma só; os entrevistados é que mudam.
Esse cuidado na uniformização auxiliará bastante no tratamento dos dados obtidos com a
entrevista, e reafirma a importância do pré-teste.
11.2.1 O Focus Group
O focus group é uma técnica utilizada por muitos pesquisadores com sucesso, e consiste
em entrevistas em profundidade com um grupo de pessoas a respeito de um assunto específico
(MARTINS, 2006). Em vez de entrevistar os elementos da população individualmente, o
pesquisador os reúne em um grupo e procede a uma entrevista com todos simultaneamente, de
modo que as respostas dadas pelo indivíduo acabam, de uma forma ou de outra, influenciando as
de outras pessoas). O pesquisador assume o papel de moderador da pesquisa, apresentando
perguntas e mediando a interação entre os componentes do grupo.
Martins (2006) apresenta uma série de recomendações para a construção de pesquisa por
meio de focus groups:
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131
a) O grupo deve ter entre seis e doze componentes, a serem escolhidos de acordo com os
propósitos da pesquisa;
b) Cada participante deve ter algo a dizer sobre o assunto;
c) Deve-se ter um grupo demograficamente heterogêneo, mas com nível cultural semelhante;
d) O nível de envolvimento do moderador é variável, dependendo de como ele conduz as
entrevistas e a interação entre as pessoas;
e) Devem ser marcadas sessões de entrevistas, previamente planejadas e roteirizadas;
f) A duração das sessões deve ser de uma a duas horas;
g) O local das sessõs deve ser confortável e é recomendável dispor os integrantes do grupo em
forma de U, para que eles possam ver uns aos outros. Deve-se colocar em local visível o
nome das pessoas para facilitar a interação. Se necessário, pode-se inclusive proceder às
entrevistas em ambiente virtual (como numa sala de chat);
h) O moderador não pode fazer juízos sobre as respostas e deve ter a capacidade de memorizá-
las – ou então usar um assistente que as registre;
i) As respostas devem ser consolidadas em categorias de análise que permitam consolidá-las em
grupos semelhantes.
11.3 QUESTIONÁRIO
O questionário consiste na "[...] técnica de investigação composta por um número mais ou
menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o
conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas,
etc." (GIL, 1995, p. 124). Roesch (1999) complementa essa afirmação, ao colocar que um
questionário não é uma simples listagem de questões, e sim um instrumento de coleta de dados
que procura mensurar alguma coisa, exigindo esforço prévio de planejamento no sentido de
definição do problema a ser pesquisado, da definição e operacionalização das variáveis, entre
outros aspectos.
De acordo com Gil (1995), o questionário apresenta uma série de vantagens: permite
atingir grande número de pessoas, mesmo dispersas; não exige gastos com treinamento de
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132
entrevistadores; garante o anonimato dos respondentes; abre a possibilidade das pessoas o
responderem no momento mais conveniente; diminui o viés do pesquisador sobre os pesquisados.
Por outro lado, ele também apresenta desvantagens e limitações: exclui da pesquisa os
analfabetos; não permite tirar dúvidas quando das respostas; o pesquisador pouco ou nada sabe
sobre o contexto em que o questionário foi respondido; não há nenhuma garantia de que as
pessoas o devolvam preenchido; deve ser restrito, envolvendo número limitado de perguntas;
dificulta a objetividade, pois, embora as perguntas sejam as mesmas para todos, não há como
garantir igualdade de interpretação das respostas (GIL, 1995).
Gil (1996, p. 91-92) apresenta uma série de regras práticas para a elaboração de
questionários de pesquisa, a saber: a) as questões devem ser preferencialmente fechadas, mas com alternativas suficientemente exaustivas para abrigar a ampla gama de respostas possíveis; b) devem ser incluídas apenas as perguntas relacionadas ao problema proposto; c) não devem ser incluídas perguntas cujas respostas possam ser obtidas de forma mais precisa por outros procedimentos; d) deve-se levar em conta as implicações da pergunta com os procedimentos de tabulação e análise dos dados; e) as perguntas devem ser formuladas de maneira clara, concreta e precisa; f) deve-se levar em consideração o sistema de referência do entrevistado, bem como o seu nível de informação; g) a pergunta deve possibilitar uma única interpretação; h) a pergunta não deve sugerir respostas; i) as perguntas devem referir-se a uma única idéia de cada vez; j) número de perguntas deve ser limitado; k) questionário deve ser iniciado com as perguntas mais simples e finalizado com as mais complexas; l) as perguntas devem ser dispersadas sempre que houver possibilidade de ‘contágio’; m) convém evitar as perguntas que provoquem respostas defensivas, estereotipadas ou socialmente indesejáveis, que acabam por encobri sua real percepção acerca do fato; n) na medida do possível, devem ser evitadas as perguntas personalizadas, diretas, que geralmente se iniciam por expressões do tipo ‘o que você pensa a respeito de...’, ‘na sua opinião...’ etc., as quais tendem a provocar respostas de fuga; o) deve ser evitada a inclusão, nas perguntas, de palavras estereotipadas, bem como a menção a personalidades de destaque, que podem influenciar nas respostas, tanto em sentido positivo quanto negativo; p) cuidados especiais devem ser tomados em relação à apresentação gráfica do questionário, tendo em vista facilitar seu preenchimento; q) questionário deve conter uma introdução que informe acerca da entidade patrocinadora, das razões que determinaram a realização da pesquisa e da importância das respostas para atingir os seus objetivos; r) questionário deve conter instruções acerca do correto preenchimento das questões, preferencialmente com caracteres gráficos diferenciados.
De forma mais geral, a listagem supracitada pode ser agrupada nos seguintes critérios:
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133
a) Forma das perguntas: há três formas de elaborar as perguntas do questionário, as abertas
(sem qualquer restrição), as fechadas (na qual se apresenta uma escala de resposta) e as
duplas (em que se coloca primeiro uma pergunta fechada e, no segundo momento, uma aberta
- normalmente um "por quê"). Cada uma delas atende a um objetivo específico e portanto
possui uma aplicação específica;
b) Conteúdo das perguntas: as questões podem ser feitas sobre fatos concretos, crenças, sobre
sentimentos, padrões de ação, comportamentos presentes ou passados, razões conscientes
sobre crenças, sentimentos, padrões de ação ou comportamentos;
c) Escolha das perguntas: há algumas regras básicas, quais sejam, só se deve fazer perguntas
sobre o problema pesquisado, não se deve incluir pergunta que possa ser melhor respondida
por outro procedimento, deve-se tomar em consideração a tabulação dos dados, não se deve
incluir questões que permitam dupla interpretação ou penetrem na intimidade do pesquisado;
d) Formulação da perguntas: é preciso cuidar da concisão, da apropriação da pergunta ao nível
de informação do pesquisado, evitar a dupla interpretação, evitar dupla resposta, e as
perguntas devem referir-se a uma só idéia por vez;
e) Número de perguntas: questionários muito extensos diminuem as possibilidades de se obter
respostas;
f) Ordem das perguntas: deve-se evitar mudanças bruscas de tema, e também evitar o "efeito
de contágio", em que a resposta de uma pergunta é influenciada pela de outra;
g) Prevenção de deformações: existem mecanismos de defesa social por parte das pessoas, que
dificultam a aplicação do questionário. As pessoas muitas vezes reagem mal a perguntas
pessoais, ou que envolvam preconceitos, estereótipos, mudanças, ou abram a possibilidade de
julgamentos por parte do pesquisador. Também é preciso evitar incluir menções a
personalidades destacadas, que possam induzir à resposta;
h) Apresentação do questionário: é preciso cuidar não somente de aspectos gráficos (papel,
fonte, diagramação, espaço para as respostas), mas também das instruções do preenchimento,
que devem ser claras e precisas, e da introdução do questionário, que apresente informações
sobre quem está realizando a pesquisa, e porquê, bem como sublinhar a importância de
questionários bem respondidos (GIL, 1995).
Um questionário deve estimular a memória do entrevistado, começando pelos fatos mais
recentes e deve ser elaborado de forma que as perguntas não induzam a uma resposta, nem
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134
tragam dificuldades de interpretação ou ambigüidades. As variáveis introduzidas nas perguntas
devem ser adequadamente operacionalizadas, ou seja, devem ser definidas de modo que se possa
identificá-las ou medi-las na resposta (MAY, 2004).
Os questionários podem incluir perguntas-filtro, que, ao serem respondidas, permitem ao
pesquisador decidir, a partir da resposta, se o entrevistado irá fornecer as informações necessárias
(como, por exemplo, a pergunta “você já recebeu treinamento da empresa?”, no caso de uma
pesquisa a respeito dos resultados do treinamento), e perguntas de controle, que esclarecem
dúvidas que porventura surjam a partir das respostas (permanecendo no exemplo acima, uma
pergunta de controle poderia se referir à quantidade de vezes em que o entrevistado passou por
programas de treinamento da empresa), sempre tomando-se o cuidado de apresentar as perguntas
na mesma ordem em todos os questionários, para facilitar a tabulação das respostas (DENCKER,
2000).
Da mesma forma que a entrevista, o questionário deve ser testado antes de aplicado. Essa
prova preliminar, ou pré-teste, busca identificar se o questionário foi bem elaborado em termos
da clareza e precisão com que os termos são utilizados nas questões, a forma pela qual elas são
apresentada e se desmembram em perguntas adicionais, a ordenação das questões, e a introdução
dada ao questionário (GIL, 1995); aplicam-se ao pré-teste do questionário os mesmos aspectos
anteriormente abordados no que tange à entrevista. Na questão da apresentação física, uma
recomendação comum é de que a introdução, as instruções e as questões propriamente ditas
sejam apresentadas em fontes diferentes (GIL, 1995; ROESCH, 1999).
11.4 PESQUISA DOCUMENTAL
A pesquisa nos documentos disponíveis é uma técnica extremamente importante para o
pesquisador, uma vez que estes se constituem numa preciosa fonte de informações. May (2004)
afirma que os documentos são a sedimentação de práticas sociais e fornecem informações sobre
as decisões tomadas peslas pessoas, bem como leituras particulares de eventos sociais que podem
estar indisponíveis para o pesquisador.
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135
A primeira questão que surge, neste tipo de pesquisa, é, sem dúvida, quais documentos
buscar? Marconi, Lakatos (1999) arrolam os seguintes tipos:
a) Documentos escritos: documentos oficiais, publicações parlamentares, documentos jurídicos,
fontes estatísticas, publicações administrativas, documentações particulares;
b) Outros tipos: iconografia (imagens como gravuras, desenhos, estampas, pinturas), fotografia,
objetos (artefatos), canções folclóricas, vestuário e folclore em geral.
Yin (1984) apresenta os seguintes, mais comumente utilizados em pesquisas de
Administração: cartas, memorandos, comunicados, agendas, atas e minutas de encontros e
reuniões, documentos internos da administração, estudos e análises formais a respeito da mesma
realidade que está sendo pesquisada, clipping de imprensa e artigos da mídia sobre a organização
(tanto os estudos quanto esses artigos constituem-se em fontes secundárias de dados, que serão
tratadas no subitem referente à pesquisa bibliográfica).
Uma segunda questão diz respeito a onde encontrar os documentos? Marconi, Lakatos
(1999) apresentam as seguintes fontes de documentos: arquivos públicos (municipais, estaduais e
federais), arquivos particulares (em domicílios particulares, instituições privadas e certos órgãos
públicos, como delegacias, Receita Federal, departamentos de trânsito, etc.) e fontes estatísticas
(IBGE, Ibope, Instituto Gallup, etc.).
Para o delineamento da pesquisa documental, Gil (1996) recomenda as seguintes etapas:
a) Em primeiro lugar, é preciso determinar os objetivos da pesquisa;
b) O segundo aspecto consiste na elaboração de um plano de trabalho;
c) A partir desse plano, identificam-se as fontes de dados;
d) Identificadas as fontes, é preciso localizá-las e obtê-las;
e) Com as fontes em mãos, o pesquisador deve fazer o tratamento dos dados;
f) Após esse tratamento, deve-se confeccionar fichas;
g) Finalmente, parte-se para a redação do trabalho.
Embora Gil apresente o delineamento de pesquisa documental como sendo uma pesquisa
científica própria, pode-se considerar o fato de que o estagiário não irá se ater aos documentos da
empresa para sua pesquisa, mas sim utilizá-los como reforço para seu trabalho. Assim, algumas
das etapas levantadas acima precisam de maior desenvolvimento:
a) Em primeiro lugar, o acadêmico deve responder à questão: os objetivos do meu trabalho
exigem a pesquisa documental? Em qualquer estágio que exija a avaliação de um programa
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136
ou plano já adotado pela empresa, a resposta é afirmativa, e deve-se observar que a pesquisa
documental será imprescindível para o sucesso do estágio, pois esses documentos permitem
confrontar o passado e o presente; para os demais casos, dependendo do trabalho a ser
realizado, o estagiário poderá não se valer dela;
b) Admitindo-se que o estagiário realmente necessite de pesquisa documental, surge a pergunta:
quais são, e onde posso obter, os documentos necessários? Normalmente, além dos
documentos mencionados no início deste item, o plano de negócio, os balanços e demais
registros contábeis, as atas de reuniões, os relatórios internos e para acionistas, entre outros,
são boas fontes de informações para o estagiário. Esses documentos normalmente estão
disponíveis na própria empresa, e podem ser franqueados ao estagiário. Mas é importante
observar uma regra simples: documentos sigilosos podem ser consultados, mas nem sempre
citados, portanto, é conveniente informar-se com o supervisor antes de mencionar
documentos no trabalho final;
c) Obtidos os documentos, surge uma nova questão: como separar o joio do trigo? Isto é, é
preciso fazer uma leitura prévia, para identificar quais documentos contêm informações
relevantes. Selecionados estes, novas leituras se fazem necessárias, de forma que se alcance a
compreensão dos dados. Fichas de leitura (apresentadas no início deste trabalho) são muito
úteis para indicar quais são os dados mais importantes e as informações que realmente serão
úteis para o trabalho;
d) Após esse trabalho, surge uma nova questão: como fazer a análise dos dados? Documentos
empresariais muitas vezes não receberam nenhum tratamento analítico, e, no caso de o terem
recebido, poucas vezes estão prontos para uso pelo estagiário, exigindo grande esforço deste
para serem trabalhados. Neste sentido, deve-se proceder à análise de conteúdo, que, segundo
Gil (1996, p. 83-84), “[...] possibilita a descrição do conteúdo manifesto e latente das
comunicações [...].”
O primeiro cuidado que deve ser tomado quando se procede à pesquisa documental, de
acordo com May (2004), é avaliar a autenticidade do documento; embora falsificações possam
ser interessantes, de acordo com as características da pesquisa, os documentos autênticos são
preferíveis. A seguir, é preciso determinar a credibilidade do documento, que ser refere à
extensão pela qual a informação contida é sincera. A terceira etapa diz respeito à
representatividade do documento, procurando determinar se ele é típico da realidade que
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137
descreve. A útlima etapa consiste no significado do documento, em termos de clareza e
compreensão.
É interessante trabalhar um pouco mais a questão do processo de leitura de textos.
Severino (2000) apresenta uma metodologia de leitura que, embora seja de alcance geral, aplica-
se muito bem ao caso presente e portanto merece ser desenvolvida aqui. O primeiro aspecto
refere-se à delimitação da unidade de leitura; esta é definida como “[...] um setor do texto que
forma uma totalidade de sentido.” (SEVERINO, 2000, p. 51); um capítulo, uma seção, um item
podem ser considerados unidades de leitura.
Determinada essa unidade de leitura, o acadêmico deve proceder à análise textual, que
vem a ser uma preparação para análises mais profundas do material; neste momento, busca-se
simplesmente tomar contato com o texto, de forma que se obtenha uma visão panorâmica do
mesmo, em que se esclarecem os conceitos, determina-se o quadro teórico a que o autor se filia e
se esquematiza o texto de forma a se ter uma visão de conjunto do mesmo (SEVERINO, 2000).
Feito isso, procede-se à análise temática. Aqui, o acadêmico “[...] procura ouvir o autor,
apreender, sem intervir nele, o conteúdo de sua mensagem. Praticamente, trata-se de fazer ao
texto uma série de perguntas cujas respostas fornecem o conteúdo da mensagem.” (SEVERINO,
2000, p. 55). Essas perguntas, conforme Severino (2000), abrangem:
a) Qual é o tema, ou o assunto do texto?
b) Qual é o problema abordado pelo autor?
c) Como o autor responde a esse problema, isto é, qual é sua idéia central, sua proposição
fundamental ou sua tese?
d) Qual é o raciocínio, isto é, a argumentação utilizada pelo autor?
e) Quais são as idéias secundárias utilizadas pelo autor para provar seu ponto de vista?
O resultado da análise temática será tanto o resumo do texto quanto um roteiro para
leitura do mesmo, além de servir de base para a terceira abordagem desse texto: a análise
interpretativa. A função da interpretação, de acordo com Severino (2000, p. 56), [...] é tomar uma posição própria a respeito das idéias enunciadas, é superar a estrita mensagem do texto, é ler nas entrelinhas, é forçar o autor a um diálogo, é explorar toda a fecundidade das idéias expostas, é cotejá-las com outras, enfim, é dialogar com o autor.
Em primeiro lugar, o acadêmico deve procurar situar o texto no pensamento geral do
autor; a partir daí, deve-se situar o pensamento do autor no contexto mais amplo do
conhecimento sobre o tema, a fim de definir seu posicionamento em termos de correntes de
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138
pensamento; feito isso, é preciso explicitar os pressupostos do texto, que são idéias subjacentes; a
partir daí, deve-se proceder à crítica do texto, levando em conta sua coerência interna, a
originalidade, alcance, validade e contribuição dada pelo texto ao problema em tela; findo esse
ponto, procede-se à problematização do texto, que consiste numa interpretação do mesmo,
levantando e discutindo questões explícita ou implicitamente levantadas pelo autor, ou pelo
próprio leitor; por fim, elabora-se uma síntese pessoal do texto (SEVERINO, 2000). No caso de
documentos de empresa, esse tratamento completo nem sempre é possível, mas deve ser tentado
ainda assim.
Informações documentais, de acordo com Forster (apud MAY, 2004), são sempre
informações contextualizadas. O documento não pode ser analisado somente pelo seu significado
manifesto, mas também pelo contexto geral que o produziu. Isso obriga o pesquisador a ser
cuidadoso com esse método: o conhecimento produzido pela pesquisa documental precisa ser
cotejado com o obtido por meio de outros métodos de coleta, para poder ser aceito.
O estagiário não pode esquecer de que o supervisor da empresa é uma fonte permanente
de consulta, para tirar dúvidas que porventura surjam de sua análise dos documentos consultados.
É conveniente apresentar os resultados dessa análise para que o supervisor os confirme ou os
altere, corrigindo o que se fizer necessário.
11.4.1 A pesquisa bibliográfica
Um relatório de estágio precisa de uma fundamentação teórica. Isso implica na exigência
de consulta e pesquisa a livros, artigos e papers que abordem o tema do estágio, trabalhando os
diversos elementos nele contemplados. Independentemente da fundamentação teórica, o
pesquisador poderá precisar da pesquisa bibliográfica em diversos momentos diferentes na
elaboração de seu trabalho. As principais fontes bibliográficas são, conforme Marconi, Lakatos
(1999):
a) Imprensa escrita, na forma de jornais e revistas;
b) Meios audiovisuais, como filmes, rádio, televisão;
c) Material cartográfico (mapas e gráficos);
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139
d) Publicações como livros, teses, monografias, publicações avulsas.
O delineamento de pesquisa bibliográfica aqui proposto segue o roteiro definido por
Macedo (1994):
a) Em primeiro lugar, é preciso ter bem claro o que será pesquisado, delimitando-se o assunto, o
tema e o problema que serão trabalhados. Marconi, Lakatos (1999) chamam tal etapa de
identificação, em que se faz o reconhecimento do que for pertinente ao tema da pesquisa. As
autoras sugerem a consulta a catálogos, índices, bibliografias e abstracts. Este material pode
ser obtido em publicações específicas e nas próprias bibliotecas;
b) O segundo passo consiste na seleção de fontes bibliográficas, e dos locais aonde poderão ser
obtidos. Corresponde à etapa de localização definida por Marconi, Lakatos (1999);
c) É preciso definir de que forma serão registrados os dados e informações obtidos,
recomendando-se sobretudo o fichamento dos textos;
d) A partir dessas definições, pode-se proceder à leitura do material, à seleção e organização dos
dados;
e) Findo o processo de leitura, deve-se preparar um sumário do trabalho, no qual seja feito um
esquema provisório do mesmo. Esse esquema será complementado por um rascunho inicial, a
ser revisado em termos de conteúdo e de forma de expressão, para ser apresentado ao final
dos trabalhos.
Convém lembrar que o orientador desempenha um papel muito importante na fase da
pesquisa bibliográfica, indicando sugestões de textos, discutindo idéias desenvolvidas pelos
autores e revisando o material escrito pelo acadêmico. Uma dica importante: não deixe a
pesquisa bibliográfica para o final do trabalho. Na maioria das vezes, a bibliografia sobre o
tema ajudará bastante na definição do que fazer no estágio, dos resultados que podem ser
esperados, e das melhores técnicas para atingir os objetivos.
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140
12 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Análise e interpretação dos dados caminham juntas na pesquisa. De maneira geral, pode-
se dizer que a análise refere-se a um esforço de sumarização dos dados, para que os mesmos
possibilitem o fornecimento de respostas aos problemas propostos, enquanto que a interpretação
se refere à tentativa de obter um significado maior nessas respostas, por intermédio da ligação
entre as mesmas e o conhecimento existente (GIL, 1995). Nas palavras de Dencker (2000, p.
159): o objetivo da análise é reunir as observações de maneira coerente e organizada, de forma que seja possível responder ao problema de pesquisa. A interpretação busca dar um sentido mais amplo aos dados coletados, fazendo a pote entre eles e o conhecimento existente. Todo o processo de pesquisa desenvolvido foi orientado para esse objetivo.
Portanto, os processos de análise e interpretação de dados devem ser considerados como o
resultado final da pesquisa, ou seja, a construção de conhecimento. Neste momento se pode
reconhecer o trabalho propriamente dito feito pelo pesquisador, tendo como base os objetivos que
ele se propôs alcançar.
Para realizar a análise dos dados, algumas etapas são necessárias:
a) Classificação dos dados;
b) Codificação;
c) Tabulação;
d) Análise estatística dos dados.
É sempre conveniente definir a forma de apresentação dos dados. Dados quantitativos
exigem a apresentação em tabelas, quadros e/ou gráficos, para facilitar sua visualização e sua
compreensão por parte do leitor. Após a realização das análises estatísticas, quando estas se
fizerem necessárias, o pesquisador deve proceder à interpretação dos dados, a ser feita sempre
tendo-se em mente a pergunta e os objetivos de pesquisa.
O restante desta unidade será dedicado a uma breve explanação desses processos, de
maneira a permitir uma introdução ao trabalho global de análise e interpretação dos dados, que
deve ser previsto no projeto de estágio, e realizado para a confecção do relatório final. Conclui-se
com algumas considerações a respeito da interpretação de dados.
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141
12.1 CLASSIFICAÇÃO
O processo de classificação dos dados consiste em dividir o conjunto de dados coletados
em partes ordenadas e colocadas em “lugares” específicos (DENCKER, 2000), e parte do
estabelecimento de categorias, que podem ser compreendidas como classes de dados. De acordo
com Selltiz et al. (apud GIL, 1995), para que as categorias sejam úteis para o pesquisador, é
preciso inicialmente estabelecer um princípio de classificação, criar um conjunto exaustivo de
categorias e cuidar para que estas sejam mutuamente exclusivas. Marconi e Lakatos (1999)
colocam um aspecto importante: o número de categorias deve ser determinado pelas
características significativas da realidade pesquisada, características estas que devem ser
diferentes e identificáveis.
Em outras palavras, as categorias são “caixinhas” ou “gavetas”, nas quais os dados são
colocados, de acordo com a “etiqueta” colocada em cada “caixinha” ou ”gaveta”, sendo cada uma
diferenciada de maneira que não se possa colocar o mesmo dado em mais de uma “caixinha” ou
”gaveta”. Esse procedimento, além de metodologicamente rigoroso, permite o melhor tratamento
dos dados e facilita sua interpretação posterior.
Por exemplo, o pesquisador que esteja investigando o absenteísmo numa empresa pode
fazer aos respondentes do questionário uma série de perguntas, que permitem respostas em
diversas categorias. Essas perguntas abrangeriam as seguintes informações (dentre outras):
a) Tempo de serviço;
b) Idade;
c) Sexo;
d) Nível de instrução;
e) Cargo ocupado.
Dentro da pergunta “a”, por exemplo, podem ser colocadas as seguintes classes ou
categorias de análise:
a) Menos de 1 ano;
b) 1-5 anos;
c) 5-10 anos;
d) 10-15 anos;
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142
e) 15-20 anos;
f) Mais de 20 anos.
Continuando com o exemplo, para a pergunta “c”, apenas duas categorias são possíveis.
Mas já a pergunta “d” pode incluir diversas possibilidades: o pesquisador poderia dividir os
respondentes com curso superior em nível superior completo ou incompleto, e dentro da primeira
categoria, pode-se apresentar casos de pós-graduação completa ou incompleta, e assim por diante.
Os objetivos da pesquisa são um lembrete para a definição da categoria: “tecnicamente, a
classificação é uma maneira de discriminação e seleção dos dados, com a meta de agrupá-los em
categorias ou classes, tendo em mente os objetivos do trabalho.” (RAUEN, 2002, p. 133).
O princípio básico de estabelecimento de categorias é: nenhum respondente à pesquisa
pode ficar de fora de uma categoria. Ou seja, é preciso tomar bastante cuidado ao estabelecer
as categorias, de forma que estas abranjam todas as respostas possíveis (para tanto, em alguns
casos, será necessário incluir a categoria “outros”, para dados em que existam dificuldades em ser
encaixados em uma categoria). Isso significa que o processo de estabelecimento de categorias,
conquanto seja uma tarefa bastante simples em muitos casos, não necessariamente o será em
todos.
Além deste princípio, Rauen (2002) recomenda alguns outros:
• Deve-se utilizar somente um critério para a classificação dos dados;
• A soma das freqüências dos dados em cada categoria deve ser igual ao total da população ou
amostra pesquisada;
• As classes devem ser excludentes (como já observado acima), adequadas ao problema
investigado e interligadas (ou seja, devem permitir análises conjuntas);
• As classes não podem ser tão minuciosas que não permitam ao pesquisador ter a visão do
todo na população.
Para Marconi, Lakatos (1999) os dados podem ser classificados de forma quantitativa
(que responde à pergunta “no quanto” os dados se dividem), que focaliza uma grandeza ou
quantidade do fator presente, ou qualitativa (que responde à pergunta “como” os dados se
dividem), que se baseia na presença ou ausência de uma determinada característica ou
propriedade. Peso, custos e número de filhos são exemplos de classes quantitativas, enquanto que
sexo, nacionalidade e estado civil podem ser citados como exemplos de qualitativas (MARCONI;
LAKATOS, 1999). As autoras sublinham: no caso de classificações quantitativas, os dados
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143
podem exigir agrupamentos (por exemplo, em vez de uma classe para 1 salário mínimo, 2
salários e assim sucessivamente até chegar a 50 salários mínimos, o pesquisador deve agrupar as
classes em estratos como “1 a 5 salários mínimos”, “6 a 10 salários mínimos” e assim por diante
até esgotar as possibilidades de classes de dados).
12.2 CODIFICAÇÃO
O processo de codificação pode ser definido como a transformação de dados brutos em
símbolos que permitam tabulação (GIL, 1995), ou seja, a alocação de códigos (geralmente
numéricos) para cada classe ou categoria, com a finalidade de “[...] sintetizar os dados, de forma
a facilitar a compreensão e otimizar a interpretação.” (RAUEN, 2002, p. 134). Esse processo
pode ser feito antes ou depois da aplicação do instrumento de coleta de dados, devendo ser
sempre realizado após a definição das categorias de análise (DENCKER, 2000). Para Marconi e
Lakatos, “[...] codificar significa organizar os dados em classes ou categorias, atribuindo a cada
categoria um item e dando a cada um deles um símbolo (número ou letra).” (1999, p. 143).
Suponha-se que o exemplo colocado acima refira-se a um questionário:
1) Tempo de serviço
Menos de 1 ano ( ) 01
1-5 anos ( ) 02
6-10 anos ( ) 03
11-15 anos ( ) 04
16-20 anos ( ) 05
Mais de 20 anos ( ) 06
Os números de 01 a 06 referem-se ao código de cada resposta, facilitando o processo de
tabulação. Entretanto, é importante mencionar, como lembra May (2004), que as respostas
apresentadas à pergunta devem ser não somente mutuamente exclusivas, mas também exaustivas,
ou seja, não só não deve ser possível marcar mais de uma resposta à pergunta, como também não
se pode pensar em nenhuma hipótese alternativa de resposta além das arroladas. Rauen (2002)
recomenda tentar antecipar as respostas às perguntas, o que pode ser facilmente alcançado no
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144
caso dos questionários, mas é complicado no caso dos procedimentos abertos como as
entrevistas.
Os códigos devem ser analisados para verificar sua validez, ou seja, o grau em que os
dados observados correspondem a algum critério que possa ser adotado como uma medida
adequada dos fenômenos estudados; a estruturação do material e a simplicidade das categorias
são aspectos centrais para garantir a segurança dos procedimentos de codificação do material
obtido com a pesquisa (MARCONI; LAKATOS, 1999).
12.3 TABULAÇÃO
Entende-se por tabulação o “[...] processo de agrupar e contar os casos que estão nas
várias categorias de análise.” (GIL, 1995, p. 169). Na tabulação, a operação essencial consiste na
contagem para determinação do número de casos das várias categorias, de acordo com Dencker
(2000). Conforme Gil (1995) existem dois tipos de tabulação. O primeiro é chamado tabulação
simples, que é a contagem das freqüências das categorias de cada conjunto, ou seja, a
determinação do número de respostas em cada categoria. Por exemplo, num universo de 500
respondentes à questão sobre o tempo de serviço, ter-se-ia um total de 35 respostas para até um
ano de serviço, 105 para um a cinco anos, e assim por diante. Veja-se o quadro a seguir:
Tempo de serviço na empresa Freqüência
Menos de 1 ano 35
1 a 5 anos 105
6 a 10 anos 200
11 a 15 anos 120
16 a 20 anos 30
Mais de 20 anos 10
TOTAL 500
O segundo tipo consiste na tabulação cruzada, que é a contagem de freqüências que
ocorram em dois ou mais conjuntos de categorias. De acordo com Malhotra (2001), a tabulação
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145
cruzada descreve duas ou mais variáveis simultaneamente, combinando em uma só tabela as
distribuições de freqüência de duas ou mais variáveis. Por exemplo, pode-se cruzar as respostas
obtidas na pergunta sobre tempo de serviço com as informações da pergunta sobre nível de
escolaridade, ou com a pergunta sobre o cargo ocupado, e assim por diante. A tabulação cruzada
é muito utilizada nas pesquisas quantitativas, porque auxilia na definição de correlações entre as
variáveis estudadas e os dados obtidos na pesquisa. É importante, antes de partir da tabulação
cruzada, veridicar cuidadosamente a existência de relações entre as variáveis. O quadro abaixo
divide a distribuição acima apresentada em sexos (por comodidade, apresentam-se apenas as duas
primeiras classes):
Tempo de serviço na empresa Sexo Freqüência
Menos de 1 ano Masculino 8
Feminino 27
1 a 5 anos Masculino 43
Feminino 62
TOTAL 140
A tabulação pode ser feita de maneira manual (com lápis e papel), mecânica (com cartões
perfurados – evidentemente, em desuso hoje em dia) e eletrônica (usando-se o computador).
Neste último caso, existem programas estatísticos que permitem uma tabulação rápida e precisa,
permitindo vários graus de complexidade nas análises.
Após a tabulação dos dados, Rauen (2002) recomenda o uso da distribuição de freqüência,
em que se apresentam os resultados obtidos em cada classe. De acordo com Goode e Hatt (apud
MARCONI; LAKATOS, 1999, p. 154), uma distribuição de freqüência é a “[...] apresentação,
numa coluna, de qualidades diferentes de um atributo, ou valores diferentes de uma variável,
junto com as entradas em outra coluna, mostrando a freqüência da ocorrência de cada uma das
classes”, sendo muito útil para o trabalho de análise estatística.
As freqüências podem ser absolutas (simples contagem dos resultados) ou relativas
(transformação dos resultados obtidos em percentuais), podendo ser ainda acumuladas em cada
um dos tipos (ou seja, somam-se as freqüências em cada classe).
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146
12.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA
A análise estatística é feita em dois níveis: descrição dos dados e avaliação de
generalizações obtidas a partir dos dados (GIL, 1995). Segundo Dencker (2000), a análise e a
descrição dos dados procuram estabelecer:
a) A tipicidade de um grupo;
b) A variação dentro do grupo;
c) As distribuições dentro do grupo em relação a determinadas variáveis;
d) A relação das diferentes variáveis entre si;
e) A descrição das diferenças entre dois ou mais grupos de indivíduos.
Nesses casos, a análise lança mão de medidas estatísticas, como média, mediana e moda,
desvio padrão, quartis, amplitude, polígono de freqüência, correlação, distribuição na curva
normal, entre outros. De acordo com Dencker (2000), existem dois tipos de análise: condicional,
que busca identificar os fatores que determinam a ocorrência de um determinado fenômeno ou
situação; funcional, que procura as relações que os vários fenômenos estabelecem entre si.
A avaliação das generalizações obtidas com os dados consiste em determinar se as
conclusões obtidas com a pesquisa, que normalmente é feita com uma amostra, podem ser
generalizadas para a população ou universo de pesquisa. Para isso, de acordo com Gil (1995),
deve-se utilizar o teste estatístico de hipóteses, que procura verificar a existência de diferenças
entre as populações representadas pelas amostras. A inferência estatística, no dizer de Huot
(2002), consiste na avaliação e na generalização dos resultados obtidos a partir de uma amostra
da população, feita a partir do estudo das variáveis de interesse dentro dessa amostra e gerando
conclusões sobre a população.
A análise estatística dos dados utiliza uma série de ferramentas diferentes, a saber:
a) Moda (Mo): consiste no valor que surge com maior freqüência (ou no valor dominante) na
amostra ou população estudada. Por exemplo, um pesquisador observou os seguintes
resultados para o número de salários mínimos de casais: 29 casais ganham 1 salário mínimo
(SM), 38 ganham 2 SM, 17 ganham 3 SM, 12 ganham 4 SM e 4 ganham 5 SM. A moda
consiste em dois SM. O quadro abaixo apresenta essas informações de uma forma mais
adequada:
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147
Número de SM por casal (X) Freqüência observada (N)
1 29
2 38
3 17
4 12
5 4
TOTAL 100
Para melhor visualização, tem-se a seguinte representação em gráfico de barras:
Salários Mínimos
29
38
1712
4
05
10152025303540
1 2 3 4 5
Número de SM
Núm
ero
de F
amíli
as
Salários Mínimos
Supondo-se que 38 casais ganhassem 1 SM e outros 38 ganhassem 2 SM, a distribuição
de freqüência seria multimodal, apresentando duas modas (1 e 2 SM);
b) Mediana (Md): representa o valor que divide exatamente ao meio a distribuição, deixando
50% acima e abaixo do valor encontrado. No caso acima, é preciso acumular o número de
casais, observando-se que o valor do 50o casal se encontra na classe de dois salários-mínimos.
Naturalmente, distribuições mais complexas exigirão cálculos mais elaborados. Observe-se o
quadro com as freqüências acumuladas:
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148
Número de SM por casal (X) Freqüência observada (N) Freqüência acumulada (Nac)
1 29 29
2 38 67
3 17 84
4 12 96
5 4 100
TOTAL 100 -
c) Média (Me): consiste no valor obtido dividindo-se a soma de todos os valores observados na
característica definida para a análise pela população total. No exemplo acima, o total de filhos
seria 224 (29 casais x 1 SM, 38 casais x 2 SM e assim por diante); dividindo-o pelo número
de casais (100), ter-se-ia a média de 2,24 SM por casal. Neste último caso tem-se a chamada
média ponderada; esta pode ser observada no quadro abaixo:
Número de SM por casal (X) Freqüência observada (N) Freqüência ponderada (N.X)
1 29 29
2 38 76
3 17 51
4 12 48
5 4 20
TOTAL 100 224
d) Extensão (amplitude) (A): consiste na diferença entre o maior e o menor dentre os valores
assumidos pela variável. No caso acima, os valores assumidos são de 1 a 5 SM, determinando
amplitude de 4 salários entre os casais observados. Dividindo-se a amplitude pela média, tem-
se o chamado desvio máximo relativo. No caso acima, o desvio máximo relativo seria igual
a 4 dividido por 2,24, ou 1,7857 SM;
e) Quantis: representam a divisão da população total estudada em n grupos de efetivos
exatamente iguais, permitindo dessa forma obter uma visão mais adequada da distribuição da
população. Os mais comuns são os quartis (que dividem a população total estudada em
grupos com 25%) e os decis (que dividem em grupos de 10%). Supondo-se no caso dos
quartis, o 1o quartil representa a situação em que 25% da população total têm valor inferior a
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149
Q1 e o 3o quartil apresenta os 75% da população que têm valor inferior a Q3. Na distribuição
dos casais e suas rendas, o Q1 equivale a 1 SM, enquanto que o Q3 se encontra na classe de 3
SM. Como não se trata de uma distribuição baseada em classes, o cálculo mais preciso dos
quartis não é necessário. O intervalo interquartil pode ser calculado para verificar até que
ponto uma população se encontra dispersa ou não, e é obtido pela fórmula Q3 – Q1 que, no
exemplo acima, seria 2 SM. Quanto mais próximo este intervalo estiver da mediana, mais
forte será a concentração em torno da mesma;
f) Desvios: o desvio médio (E) consiste na média aritmética dos desvios das observações em
relação à população total, tomados em módulo; calcula-se multiplicando o número observado
na classe pela diferença entre o valor da classe e a média. Veja-se o exemplo, tendo em mente
que a média foi calculada como 2,24:
Número de SM por casal (X) Freqüência observada (N) Ni.(Xi - M)
1 29 35,96
2 38 9,12
3 17 12,92
4 12 21,12
5 4 11,04
TOTAL 100 90,16
O desvio médio será dado pelo total da terceira coluna dividido pela população total, ou
seja, 0,9016, indicando que em média as observações se afastam em 0,9016 salários-mínimos da
média aritmética, para cima ou para baixo. Dividindo-se o valor obtido pela média aritmética da
distribuição, tem-se o desvio médio relativo, cuja interpretação indica o quanto, em média, as
observações se afastam da média aritmética (neste caso, será 0,4025); este normalmente é
considerado em porcentagem, indicando que as observações afastam-se mais ou menos 40% da
média da série;
g) Variância (V): é a média aritmética dos quadrados dos desvios das observações em relação à
média aritmética. Calculando-se a raiz quadrada da variância, tem-se o desvio-padrão (σ),
que consiste na média quadrática dos desvios das observações em relação à média. Veja-se o
quadro para verificar como seriam calculados a variância e o desvio-padrão do exemplo dos
casais e suas rendas, sabendo-se que o valor total obtido na coluna de multiplicação da
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150
freqüência pelo número de SM ao quadrado deve ser dividido pela população total, e o
resultado deve ser diminuído pela média ao quadrado para a variância: No de filhos por casal (X) Freqüência observada (N) Xi
2 Ni. Xi2
1 29 1 29
2 38 4 152
3 17 9 153
4 12 16 192
5 4 25 100
TOTAL 100 - 626
A variância seria de 1,24 salários mínimos ao quadrado (o que, obviamente, não faz
sentido algum) e o desvio-padrão 1,11 salários mínimos. O desvio-padrão é a base da distribuição
normal, baseada na chamada Lei de Gauss (uma situação em que os valores da mediana, da
média e da moda são idênticos). Numa curva normal, cerca de 68% das observações estão
situadas a um desvio-padrão da média (para mais ou para menos), aproximadamente 95%, a dois
desvios-padrão e aproximadamente 99,8% a três desvios-padrão. A figura abaixo mostra a
distribuição normal:
- 3 desvios - 2 desvios -1 desvio + 1 desvio + 2 desvios + 3 desvios
Curva Normal É possível calcular o intervalo médio I a partir da subtração e da soma do desvio-padrão à
média {I = [(Me - σ), ( Me + σ)]}. Assim, para o exemplo supracitado, o I consistiria em [(1,13),
(3,35)], indicando que em média as pessoas estudadas têm renda entre 1,13 e 3,35 salários
mínimos. Adicionalmente, é possível calcular o coeficiente de variação (CV) através da divisão
do desvio-padrão pela média, o que no exemplo utilizado dá 0,4955. Como a dispersão padrão é
0,5, pode-se observar que a dispersão dos valores no caso estudado é relativamente fraca;
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151
h) Coeficiente de curtose (K): representa o cálculo do grau de achatamento da curva que
distribui a freqüência da população estudada. É obtida pela divisão da diferença entre o
primeiro e o terceiro quartis pela diferença entre o primeiro e o nono decis, esta última
multiplicada por dois. No exemplo estudado, os quartis já foram calculados; o primeiro decil
equivale a 1 SM enquanto que o nono decil, a 4 SM. Assim sendo, o coeficiente de curtose
dessa distribuição é dado por 0,1333, indicando uma curva platicúrtica, mais achatada que a
curva normal.
O uso de diferentes variáveis ao mesmo tempo exige análises mais cuidadosas, mais
permite conclusões muito mais interessantes do que as que foram vistas até o momento. O estudo
das relações entre variáveis, como observam Rosental e Frémontier-Murphy (2002), procura
identificar se existe (ou não) alguma ligação entre a evolução de duas variáveis, se existe alguma
inversão de tendência nessa relação, e qual a intensidade dessa ligação. Para os autores, a
representação gráfica dos valores já pode ser uma indicação dessas relações, facilmente
observável. É mais interessante, entretanto, verificar se existe alguma função (por exemplo, do
tipo y = a.x + b, em que uma variável “y” qualquer tem seu valor afetado pelos valores assumidos
pela variável “x”) entre as variáveis.
A função apresentada assim é do tipo linear e pode ser estimada pelo ajustamento através
do método dos mínimos quadrados, o qual encontra uma reta ligando todos os pontos observados
cuja característica é ser a reta em que a soma dos quadrados das distâncias do eixo y em relação a
ela é a menor possível.
Para o cálculo da função, é preciso ter em mente que “y” e “x” representam variáveis de
análise, “a” representa o coeficiente angular (ou grau de inclinação da reta) e “b” o coeficiente
linear, que seria o valor mínimo de “y” (ou seja, quando “x” é igual a zero). O cálculo dos dois
coeficientes pode ser dado pelas seguintes fórmulas:
a = Cov (x, y) Vx
b = Mey – a.Mex
Onde:
Cov (x,y) = (x1.y1 + x2.y2 + ... + xn.yn) – Mex.Mey n
Vx = (x12 + x2
2 + ... + xn2) - Mex
n
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152
Sendo Cov (x, y) a covariância de x e y, Vx a variância de x, Me as médias de x e y, sendo
n o número de observações. Um exemplo extraído de Rosental e Frémontier-Murphy ajuda a
compreender melhor essa situação. O quadro a seguir apresenta uma amostra de sete países
africanos, e as variáveis x e y representam taxas de alfabetização masculina e feminina,
respectivamente, desejando-se traçar a curva que passaria mais próxima de todos os pontos. Para
comodidade de cálculo, os valores de x2 e xi.yi são apresentados na tabela.
Países Taxa alf. masc.
(x) em %
Taxa alf. femin.
(y) em %
x2 xi.yi
Argélia 74 49 5476 3626
Burkina Fasso 29 9 841 261
Costa do Marfim 50 30 2500 1500
Gana 76 54 5776 4104
Mali 39 23 1521 897
Marrocos 57 31 3249 1767
Mauritânia 50 26 2500 1300
Total 375 222 21863 13455
Fazendo-se os cálculos devidos, pode-se verificar que a variância de x é 253,54%2, a
covariância de x e y, 223,44%2, o que dará um coeficiente angular (“a”) igual a 0,88 e um
coeficiente linear b igual a -15,43%. A reta estimada será, então:
y = 0,88x – 15,43
De posse desta equação, pode-se fazer diferentes previsões sobre o comportamento das
variáveis, mas estas devem ser sempre tomadas com cuidado. Por exemplo, caso a taxa de
alfabetização masculina de um país qualquer da África seja 60%, pode-se estimar a taxa feminina
como 37,37%.
Para verificar a correlação linear entre as variáveis, é possível usar o coeficiente r de
Bravais-Pearson, que é dado pela covariância de x e y dividida pela multiplicação dos desvios-
padrão de x e y:
r = Cov (x, y) σx. σy
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153
Como o desvio-padrão é dado pela raiz quadrada da variância (e sendo a variância de y
dada por 203,62%2), o coeficiente r será 0,98. Quanto mais próximo de 1 for o valor do
coeficiente de correlação linear, maior será o grau de ligação entre as duas variáveis. Pode-se
afirmar que, no caso, existe correção entre as taxas de alfabetização de homens e mulheres nos
países estudados: aumentando-se a taxa de alfabetização dos homens, pode-se imaginar que
também aumente a das mulheres no país.
12.5 INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Concluindo, é preciso mencionar o processo de interpretação. De acordo com Dencker
(2000, p. 172), o processo de interpretação “consiste em expressar o verdadeiro significado do
material em termos do propósito do estudo. O pesquisador fará as ligações lógicas e
comparações, enunciará princípios e fará generalizações.” O processo de interpretação, portanto,
deve ser considerado como a fase final da pesquisa, em que os dados coletados foram
convenientemente tratados e analisados. Nem sempre esse processo pode ser facilmente
dissociado da análise, como nota Gil (1995), uma vez que esta já pode ser considerada como uma
preparação para a interpretação, com a preparação dos dados.
De acordo com Gil (1995), o principal aspecto que deve ser considerado no processo de
interpretação é a ligação entre as informações e dados empíricos coletados e a teoria subjacente
aos mesmos. A teoria é essencial para o estabelecimento de generalizações, mas não pode ser
considerada como o principal aspecto; é preciso ter em mente que teorias são construtos da mente
humana, interpretações da realidade, e como tal, podem apresentar falhas. Da mesma forma, uma
pesquisa, normalmente, não permite refutar uma teoria já estabelecida, ainda que possa lançar
dúvidas em relação à sua validade.
Dencker (2000) sugere: o pesquisador precisa elaborar modelos de análise dos dados, em
vez de se procurar fórmulas prontas, e deve encarar a interpretação como a busca de um sentido
mais amplo nos resultados da pesquisa, procurando estabelecer a continuidade dos resultados de
uma pesquisa com os de outro, tentando criar conceitos explicativos.
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154
13 TRABALHOS ACADÊMICOS
Esta seção visa fornecer as regras fundamentais para a elaboração e apresentação dos
principais tipos de trabalhos acadêmicos usualmente solicitados pelos professores aos alunos de
cursos de Bacharel em Direito, buscando padronizar as exigências daqueles em termos de
qualidade e conteúdo dos trabalhos; entende-se que tal padronização será valiosa e importante no
sentido de evitar interpretações dúbias e trabalhos desnecessário. Assim, as características e os
objetivos desses trabalhos são discutidos sucintamente, de modo a permitir uma visão geral dos
mesmos. Como os objetivos pedagógicos variam, os professores poderão incluir aspectos
adicionais nos trabalhos que solicitarem, entretanto, o arcabouço está delineado aqui.
As regras anteriormente mencionadas neste trabalho, a respeito de tamanho de fontes,
espaço entrelinhas, formatação da página, são válidas para todos os trabalhos aqui tratados, pois
se constituem no padrão recomendado pela ABNT.
13.1 RESUMO DE TEXTO
Resumos de texto são trabalhos muito interessantes não somente em termos de cobrança
de um conteúdo por parte do professor, mas também por parte dos alunos como forma de estudar
e fixar conteúdo de textos, além de permitir trabalhar, por meio de um exercício breve, formas de
escrita. O resumo não é simplesmente uma lista de tópicos, ele é um texto escrito com
encadeamento de idéias e que deve ser lido como um todo, permitindo entendimento do texto.
Severino (2000) observa: o resumo é uma síntese de idéias, não uma “miniaturização” do texto.
Um resumo, portanto, é um instrumento valioso para testar a compreensão do texto por
parte do leitor, mas também permite treinar e desenvolver um estilo de escrita (RUIZ, 1995).
Algumas regras, de acordo com Ruiz, são importantes:
a) deve-se resumir um texto somente depois de tê-lo lido o suficiente para compreendê-lo, e
depois de fazer anotações sobre o mesmo;
b) um resumo deve ser breve e compreensível;
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155
c) o autor do resumo deve utilizar as palavras sublinhadas e as anotações feitas ao longo do
texto, pois estas devem transmitir as idéias deste;
d) toda vez que for necessário fazer uma transcrição textual, é preciso usar as aspas e fazer a
referência bibliográfica completa da mesma;
e) pode-se incluir, ao final do resumo, idéias integradoras, referências bibliográficas adicionais e
posicionamentos críticos a respeito do texto.
Esta última regra não é referendada por todos os autores. Alguns consideram que os
resumos não devem incluir posicionamentos pessoais, devendo guardar o máximo de fidelidade
em relação ao texto. Severino (2000) menciona que o resumo deve usar as próprias palavras do
estudante, mas precisa se manter fiel às idéias do autor do texto original. De qualquer forma, o
resumo capta, analisa, relaciona, fixa e integra o assunto estudado, expondo-o de modo a permitir
uma rápida consulta e a rememorização do assunto (LAKATOS; MARCONI, 2001).
Resumir o texto, portanto, é um trabalho a ser empreendido sempre que for necessário
absorver conteúdos e rememorizá-los rapidamente. Dessa maneira, o resumo é um aliado tanto do
estudante que está realizando um trabalho de maior fôlego, que exija pesquisa em diversas fontes
diferentes, ou está se preparando para uma prova (e precisa relembrar conteúdos), quanto daquele
que apenas deseja maior compreensão de um determinado assunto. Um bom resumo pode
inclusive dispensar a releitura do texto
Os resumos, de acordo com a ABNT (NBR 6028:1987) são de três tipos básicos:
a) Indicativo ou descritivo: semelhante ao esquema, é um resumo que apenas faz referência às
partes mais importantes do texto, descrevendo-lhe sua natureza, forma e propósito, valendo-
se de frases curtas para indicar elementos importantes deste;
b) Informativo ou analítico: mais amplo que o anterior, contém todas as principais informações
do texto e dispensa leituras adicionais deste. Deve evidenciar os objetivos e o assunto do
texto, os métodos e técnicas adotados na exposição do assunto, e os resultados e conclusões a
que o autor chegou;
c) Crítico: formula um julgamento sobre a forma, o conteúdo e a apresentação do texto.
Salvador (apud AMBONI; AMBONI, 1997) apresenta algumas características dos
resumos, das quais as mais importantes para os objetivos deste trabalho são:
a) consistem na apresentação condensada de um texto;
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156
b) podem ser seletivos, trabalhando somente com os elementos do texto que são considerados
relevantes para o autor do resumo ou para seus leitores;
c) são independentes do trabalho resumido, mesmo quando baseados na sinopse da obra.
As dimensões dos resumos variam, conforme os objetivos do trabalho (como é o caso dos
resumos desenvolvidos para trabalhos de conclusão de curso ou de estágio, monografias,
dissertações ou teses), ou as dimensões do texto resumido (no caso de trabalhos acadêmicos
desenvolvidos para uma disciplina). Os professores podem estabelecer as dimensões dos
resumos, mas, para a maioria dos resumos pedidos como trabalhos acadêmicos, o ideal é que o
resumo tenha mais ou menos uma página digitada em computador, sendo seus elementos
apresentados como se segue:
• CABEÇALHO: deve incluir, nesta ordem, o nome da faculdade, o curso e habilitação, a
disciplina a que se destina, a fase, o nome do professor da disciplina, e o nome e o número de
matrícula do aluno, em espaço simples, como no modelo que se segue:
Faculdade Energia de Administração e Negócios Curso: Administração com Habilitação em .... Disciplina: Metodologia Científica (1a Fase) Professora: Silvia M. K. C. Zapelini Acadêmico(a): ....................................................................................... Matricula: .........................
• TÍTULO: separado do cabeçalho por uma entrelinha dupla, deve consistir exclusivamente na
expressão resumo em maiúsculas e centralizado.
• REFERÊNCIA: separada do título por uma entrelinha dupla, deve seguir a norma da ABNT,
já referenciada anteriormente.
• DESENVOLVIMENTO: consiste no resumo propriamente dito.
13.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Trabalhos do tipo revisão bibliográfica podem ser pedidos pelos professores como uma
forma de desenvolver ou aumentar o conhecimento de um determinado assunto. As revisões
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157
normalmente são parte de trabalhos monográficos, sendo elementos obrigatórios em monografias,
trabalhos de conclusão de estágio e de curso, dissertações e teses, entre outros; mas também
podem ser exigidas dentro de uma disciplina, como uma forma de apresentar, comparar e
desenvolver diferentes idéias e correntes de pensamento a respeito de um determinado assunto.
O objetivo central de uma revisão bibliográfica é levar o aluno a conhecer de modo
exaustivo o pensamento sobre o assunto trabalhado. Dessa maneira, a revisão se caracteriza pela
reunião de grande quantidade de material bibliográfico, pelo pluralismo de idéias (ou seja, não se
pode se concentrar numa determinada corrente de pensamento, a menos que isso seja
expressamente solicitado), pela objetividade e isenção (ou seja, não se pode exigir, neste trabalho,
uma postura ou posicionamento do indivíduo sobre autores e obras) e pela recapitulação de
conhecimentos.
A estrutura dos trabalhos do tipo revisão bibliográfica é, de acordo com Amboni, Amboni
(1997), a seguinte:
• CAPA (de acordo com o modelo apresentado neste trabalho).
• SUMÁRIO (de acordo com a norma da ABNT).
• INTRODUÇÃO: deve apresentar brevemente o assunto trabalhado pela revisão (ou seja,
descrever sucintamente o tema do trabalho), o objetivo que se pretende alcançar com o
mesmo, e uma rápida exposição da metodologia utilizada para a análise dos textos. Uma
justificativa do trabalho, evidenciando sua importância acadêmica, pode ser incluída quando
se mostra interessante.
• REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: consiste na descrição do assunto, conforme o tratamento dado
pelos autores consultados. Deve-se evitar que posicionamentos pessoais prejudiquem a
compreensão do assunto.
• CONSIDERAÇÕES FINAIS: são o fechamento do trabalho, apresentando a síntese das idéias
trabalhadas, e a importância do assunto dentro da área de conhecimento, mais ampla, em que
ele se insere.
• REFERÊNCIAS (de acordo com a norma da ABNT).
Um trabalho deste tipo não abre espaço para grandes contribuições individuais por parte
do acadêmico. É uma recapitulação de conteúdos, uma reunião de diferentes bibliografias num só
lugar, e não um trabalho de opinião, posicionamento ou reflexão pessoal.
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158
13.3 ARTIGO
Um artigo, de acordo com a ABNT, pode ser definido como um texto que apresenta de
modo organizado e sistemático um conjunto de idéias, métodos, técnicas, processos e resultados
de uma área de conhecimento. Como tal, ele trata de um problema científico de pesquisa e é
produzido como uma abordagem mais ou menos completa desse problema, podendo trazer uma
contribuição original ao desenvolvimento desses conhecimentos, ou constituir-se numa revisão de
contribuições e informações já publicadas. Neste sentido, informa Rauen (2002), os artigos se
dividem em originais e de revisão. Lakatos, Marconi (2001) observam: um artigo científico é
um estudo pequeno porém completo de um assunto científico, resultando de estudos ou pesquisas
feitos pelo autor, e permitem a um leitor repetir os estudos feitos pelo autor, já que devem conter
uma descrição da metodologia adotada para chegar aos resultados apresentados.
Há três tipos de artigos: a) os artigos analíticos descrevem, classificam e definem o assunto e levam em conta a forma e o objetivo em vista; b) os artigos classificatórios fazem uma ordenação de aspectos de determinado assunto e a explicação de suas partes; c) os artigos argumentativos enfocam um argumento e depois apresentam fatos que provam ou refutam o mesmo. (MEDEIROS apud RAUEN, 2002, p. 242).
Lakatos, Marconi (2001) acrescentam que o artigo argumentativo devem ser de cunho
teórico, e permitem ao leitor tomar uma posição a respeito do tema. O conteúdo do artigo,
observam as autoras, deve estar direcionado ao público a que se destina, ou seja, a linguagem e o
estilo devem ser adequados às características dos leitores. Um artigo trabalha uma descoberta, um
enfoque pessoal, oferece solução para um problema existente, informa o público especializado
sobre idéias novas, ou aborda aspectos secundários de uma pesquisa (aspectos que não foram
utilizados na mesma) realizada pelo autor (LAKATOS; MARCONI, 2001).
Há várias sugestões em termos de estrutura para o artigo. A que se recomenda seguir foi
definida por Rauen (2002):
• TÍTULO: consiste numa expressão identificadora do trabalho, devendo direcionar o leitor
para o tema do artigo. Deve estar centralizado no topo da página.
• AUTORIA: é a identificação do(s) autor(es) do artigo, acrescida da qualificação do(s)
mesmo(s), ou seja, de suas credenciais acadêmicas. No caso de um artigo feito para uma
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159
disciplina, essas credenciais são desnecessárias ou simplesmente referenciadas como
“Acadêmico da Xa fase do Curso de Administração com Habilitação em XXX”.
• RESUMO: sintetiza os objetivos pretendidos, a metodologia adotada e as conclusões obtidas.
O resumo é elaborado conforme a norma da ABNT.
• PALAVRAS-CHAVE: são expressões ou termos que indicam com maior precisão o conteúdo
do artigo.
• ELEMENTOS TEXTUAIS: formam o corpo do artigo, normalmente dividido em introdução,
desenvolvimento e conclusão. Neste sentido, as regras definidas anteriormente para os
trabalhos de conclusão de estágio são válidas e devem ser adotadas para o melhor
desenvolvimento do trabalho.
• ELEMENTOS DE APOIO: são notas, citações, tabelas, quadros, fórmulas, ilustrações,
incluídas no artigo como suporte à argumentação desenvolvida pelo autor.
• REFERÊNCIAS (de acordo com as normas da ABNT).
• APÊNDICE(S): documento(s) que complementa o argumento do autor, desenvolvendo
aspectos que este considera importantes, embora não cruciais, para a compreensão do mesmo.
• ANEXO(S): documento não elaborado pelo autor do artigo que fundamenta, comprova ou
ilustra o argumento desenvolvido no artigo.
Rauen (2002) recomenda que seja incluído, ao final do artigo, uma tradução do mesmo
em língua estrangeira. Algumas publicações, entretanto, solicitam que essa tradução seja incluída
logo após o resumo em vernáculo. Para o caso do artigo ser direcionado a uma disciplina, esse
resumo em língua estrangeira pode ser dispensado, já que o mesmo não foi produzido para
publicação.
13.4 PAPER
O paper é um trabalho normalmente de pequena extensão, baseado em conhecimento e
domínio do tema abordado, próprio para comunicação científica. Medeiros (2000, p. 192) o
define como
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[...] uma síntese de pensamentos aplicados a um tema específico. Esta síntese deverá ser original e reconhecer a fonte do material utilizado. [...] Num paper, espera-se [...] o desenvolvimento de um ponto de vista acerca de um tema e a expressão dos pensamentos de forma original.
Num paper há a síntese das descobertas do autor sobre o tema, uma avaliação ou
interpretação dessa descoberta, e não um resumo ou cópia de outro artigo; o paper é sempre uma
contribuição original, um desenvolvimento de idéias e pensamentos de seu autor, inserindo-o na
comunidade acadêmica, reconhecendo as fontes utilizadas, e nunca uma cópia, plágio ou uma
sucessão de citações (ROTH apud MEDEIROS, 2000).
É muito utilizado em congressos e simpósios científicos; neste caso, o paper obedece a
uma estrutura própria, diferente dos trabalhos exigidos nos cursos de graduação e pós-graduação.
Normalmente, o paper é trabalhado na academia em duas formas ligeiramente: position paper e
short paper.
O position paper é uma “composição escrita, na qual se apresenta um posicionamento
criativo e/ou reflexivo próprio ou de grupo de autores, diante de estímulos escritos [...] e/ou
áudio-visuais.” (RAUEN, 2002, p. 244). Para Amboni, Amboni (1997), o principal objetivo do
position paper é contribuir para o desenvolvimento da criatividade do acadêmico por intermédio
da reflexão sobre o material escrito ou observado no ambiente, tornando-o, assim, um agente
crítico na realidade estudada em vez de simples receptor ou reprodutor de conhecimentos. O foco
deste trabalho é o posicionamento do autor em relação ao assunto.
Esse posicionamento exige a leitura ou observação cuidadosa da realidade, a identificação
de termos-chave ou aspectos centrais, ou seja, das idéias centrais tratadas no(s) texto(s)
abordado(s) ou na realidade observada, e a formulação de uma posição de concordância (total ou
parcial) ou discordância com o assunto; essa posição deve considerar os valores, experiências e
visão de mundo do autor (AMBONI; AMBONI, 1997).
O position paper é um trabalho de estrutura simples, no qual não existe capa, sumário ou
mesmo divisão de partes. As dimensões são restritas: normalmente, esse trabalho não supera duas
páginas. A estrutura definida por Amboni, Amboni (1997) foi julgada a mais adequada, formando
a base para a composição que se segue:
• CABEÇALHO (elaborado de acordo com o exposto no item sobre resumos).
• TÍTULO: elemento opcional. Na hipótese de ser colocado, deve ser centralizado e separado
do cabeçalho e do desenvolvimento do texto por meio de uma sublinha dupla.
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• PARÁGRAFO INTRODUTÓRIO: deve apresentar o assunto e delimitá-lo, definindo assim o
objetivo pretendido pelo acadêmico. Amboni, Amboni (1997) consideram a definição do
objetivo tão importante que, em sua visão, este dispensa o título.
• DESENVOLVIMENTO: formado por tantos parágrafos quanto se mostrarem necessários, o
desenvolvimento deve esclarecer o leitor em relação ao ponto de vista defendido pelo autor
em relação aos argumentos desenvolvidos no(s) texto(s)-base, ou na realidade observada.
Esse ponto de vista deve estar devidamente fundamentado, o que poderá ser feito com base
em outros autores pesquisados, considerados relevantes para o tema (Rauen, 2002, recomenda
a apresentação de pelo menos dois autores neste item). No desenvolvimento, portanto, abre-se
espaço para a postura crítica do acadêmico.
• NOTAS CONCLUSIVAS: o parágrafo final apresenta as principais posições que o autor
assumiu ao longo do trabalho.
• REFERÊNCIAS: elaboradas de acordo com a norma da ABNT, as referências devem abordar
todos os livros e artigos de fato utilizados ao longo do position paper. Na hipótese deste ter se
baseado numa observação, dados sobre o local da mesma devem ser apresentados.
Quanto ao short paper, também chamado por alguns autores issue paper, Amboni,
Amboni (1997) destacam que o mesmo segue uma estrutura comum ao position paper, sendo
entretanto ainda mais restrito, pois trabalharia exclusivamente com uma só idéia desenvolvida por
um autor, ou extraída da observação da realidade. Dessa maneira, este tipo é ainda menos extenso
que o position paper, sendo esta a única distinção entre os dois. Dessa maneira, Amboni, Amboni
(1997) recomendam que o termo position paper seja usado genericamente para os dois tipos de
trabalho.
13.5 RESENHA CRÍTICA
Conceitualmente falando, uma resenha é [...] um relato minucioso das propriedades de um objeto, ou de suas partes constitutivas; é um tipo de redação técnica que inclui variadas modalidades de textos: descrição, narração e dissertação. Estruturalmente, descreve as propriedades da obra (descrição física da obra), relata as credenciais do autor, resume a obra, apresenta suas conclusões e metodologia empregada, bem como expõe um quadro de referências em que o autor se
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apoiou (narração) e, finalmente, apresenta uma avaliação da obra e diz a quem a obra se destina (dissertação). (MEDEIROS, 2000, p. 137).
A resenha crítica, por sua vez, inclui a apresentação de uma posição crítica por parte do
resenhista, comentando e julgando a obra estudada (MEDEIROS, 2000). Para Rauen (2002), a
resenha crítica resulta de leituras críticas e de resumo do texto, pois comprime e concentra o
conteúdo de uma obra, e a confronta com outros referenciais teóricos ou práticos.
Na apresentação do conteúdo, Amboni, Amboni (1997) recomendam que seja feita uma
exposição clara e detalhada do conteúdo, do propósito e do método adotado pela obra; em
seguida, o resenhista irá apreciar criticamente o conteúdo, a disposição das partes, o método,
forma e estilo, e, quando necessário, a apresentação tipográfica da obra (AMBONI;AMBONI,
1997). Ela é, no dizer dos autores, tanto objetiva quanto subjetiva.
A grande maioria dos autores observa que uma resenha crítica, feita com intuito de
publicação em periódico científico, deve ser elaborada por um resenhista que tenha conhecimento
e domínio do assunto. Ou seja, as credenciais do autor da resenha são fundamentais para que a
mesma tenha validade científica. Diante disso, fica nítido que, no caso de um trabalho acadêmico
caracterizado como resenha crítica, não há credenciais que sustentem o posicionamento do autor,
pois este não é uma autoridade reconhecida no assunto. Entretanto, ainda que de maneira restrita,
a resenha crítica é aplicável e interessante enquanto trabalho acadêmico. O nível de exigência é
mais baixo do que no caso de uma resenha para publicação, naturalmente. A estrutura da resenha
feita com propósito acadêmico também é diferente, seguindo padrões adaptados a partir do
definido por Amboni, Amboni (1997):
• CAPA.
• SUMÁRIO.
• INTRODUÇÃO: apresentação inicialmente genérica do assunto da resenha, e posteriormente
focalizada no ponto de vista que deve ser abordado no trabalho. Inclui justificativa que
determine a importância do trabalho e explicação sobre o método adotado pelo resenhista.
• DESCRIÇÃO DO ASSUNTO: apresentação das idéias e do pensamento do autor resenhado,
numa seqüência lógica e encadeada de elementos. Os aspectos apontados por Medeiros
(2000), supracitados, devem ser contemplados.
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• APRECIAÇÃO CRÍTICA: neste trecho, o resenhista apresenta um posicionamento,
fundamentado em outros autores, de concordância ou discordância com o texto resenhado, em
termos da validade ou aplicabilidade deste.
• CONSIDERAÇÕES FINAIS: reflexões e constatações feitas pelo resenhista ao longo do
trabalho.
• REFERÊNCIAS: elaboradas conforme as normas da ABNT.
• ANEXOS: é recomendável incluir o artigo ou texto originalmente utilizado como base para a
resenha crítica.
Pode-se notar que existe uma continuidade entre os trabalhos do tipo short paper, position
paper e resenha crítica – todos são trabalhos em que são feitas apresentações de conteúdo e
apreciações críticas do mesmo. O grau de complexidade e profundidade entretanto é crescente,
cabendo à resenha o mais elevado grau de exigências.
13.6 ENSAIOS
Os ensaios, dentre os trabalhos acadêmicos, são os que apresentam o maior grau de
informalidade (ainda que, evidentemente, existam ensaios formais), e representam um comentário
livre, reflexivo e teórico sobre um tema ou obra, sistematizando de maneira inicial as idéias a
respeito de um assunto pouco desenvolvido ou pouco explorado (SALVADOR apud AMBONI;
AMBONI, 1997). Reúne os pensamentos do ensaísta, organiza-os e os apresenta ao leitor com
clareza e concisão, devendo ser escritos de modo atraente e interessante ao leitor (RAUEN,
2002). O ensaio exige maturidade intelectual, pois abre a possibilidade de apresentar uma tese
pessoal sem a necessidade de comprová-la (RAUEN, 2002). Escrever um ensaio, entretanto,
exige uma série de passos: em primeiro lugar, deve-se fazer uma reflexão sobre o tema, devendo-
se após esta planejar a redação e apresentação dos tópicos, escrever uma primeira versão, revisá-
la e reavaliá-la de acordo com os pontos de vista dos possíveis leitores. Salvador (apud
AMBONI; AMBONI, 1997) acrescenta que o ensaio dispensa o domínio das técnicas de pesquisa
científica, mas exige grande cultura e maturidade intelectual, permitindo ao ensaísta usar uma
linguagem mais elegante e literária.
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A estrutura do ensaio, de acordo com Amboni, Amboni (1997), é a seguinte:
• CAPA.
• SUMÁRIO.
• INTRODUÇÃO: expõe o assunto, apresenta os pressupostos defendidos pelo ensaísta e
define a metodologia adotada para o trabalho.
• DISCUSSÃO DOS PRESSUPOSTOS BÁSICOS QUE NORTEIAM O ENSAIO: apresenta e
discute o assunto e a tese defendida pelo autor a respeito deste, a qual é subjetiva e inclui um
juízo de valor sobre o assunto.
• CONSIDERAÇÕES FINAIS.
• REFERÊNCIAS.
• ANEXOS.
Convém observar que a exigência da impessoalidade na redação não se aplica ao ensaio.
Como se trata da exposição de um ponto de vista pessoal sobre um assunto, o ensaísta pode
perfeitamente escrever na primeira pessoa sem dificuldade.
13.7 MONOGRAFIAS
As monografias são os mais extensos e formais dos trabalhos acadêmicos, tratando de um
assunto particular de maneira sistemática, completa e rigorosa; aborda apenas um assunto por
vez, dissertando sobre o mesmo, em graus crescentes de originalidade, profundidade e extensão,
em um continuum que vai da monografia propriamente dita, usada como trabalho de conclusão de
curso de graduação ou de pós-graduação, até a tese de doutorado, passando pela dissertação de
mestrado.
Há muitas obras no mercado que trabalham com as monografias, sendo recomendável a
consulta às mesmas para maior profundidade. Como o propósito desta seção era definir e
estruturar os principais trabalhos acadêmicos, a monografia não será abordada com maior
detalhamento no mesmo. Por ora, basta observar que sua estrutura é muito aproximada dos
trabalhos de conclusão de estágio, já trabalhados em seção anterior, devendo esta ser consultada
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para maiores detalhes, já que os diferentes elementos que a compõem estão ali apresentados, não
havendo diferenças de monta entre os mesmos.
A estrutura das monografias, proposta por Rauen (2002), consiste nos seguintes
elementos:
a) Elementos pré-textuais:
• CAPA.
• FOLHA DE ROSTO.
• PÁGINA DE APROVAÇÃO.
• PÁGINA DE DEDICATÓRIAS.
• PÁGINA DE AGRADECIMENTOS.
• PÁGINA DE EPÍGRAFE.
• RESUMO.
• RESUMO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA.
• SUMÁRIO.
• LISTAS (figuras, tabelas, siglas, símbolos, apêndices e anexos).
b) Elementos textuais:
• INTRODUÇÃO.
• DESENVOLVIMENTO.
• CONCLUSÃO.
c) Elementos pós-textuais:
• REFERÊNCIAS.
• GLOSSÁRIOS.
• APÊNDICE/ANEXOS.
• ÍNDICES.
13.8 ESTUDOS DE CASO
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O estudo de caso, como observa Roesch (1999), não deve ser considerado como um
método de pesquisa (ainda que o estudo de caso seja normalmente reconhecido como uma das
classificações das pesquisas quanto aos fins), mas como uma estratégia de investigação de um
fenômeno em profundidade, no contexto em que se verifica, e buscando compreender os
processos que o compõem, facilitando ainda uma compreensão do fenômeno sob diversos
ângulos. Robert K. Yin (1984) observa que um estudo de caso deve pesquisar o “como” e o “por
quê” de um fenômeno contemporâneo, sem ter preocupação de controlar variáveis
comportamentais, e oferece a seguinte definição: Um estudo de caso é uma pesquisa empírica que: • investiga um fenômeno contemporâneo em seu contexto real; quando • os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente visíveis; e no qual • múltiplas fontes de evidência são usadas. (YIN, 1984, p. 23; grifos do autor; tradução
nossa).
Um estudo de caso não deve ser confundido com uma experimentação, pois esta destaca
algumas variáveis do fenômeno estudado de seu contexto, tampouco com estudos históricos e
com surveys, pois os primeiros normalmente não abordam o contemporâneo, e os últimos não
conseguem trabalhar com todos os aspectos ambientais envolvidos (YIN, 1984).
Uma crítica comum aos estudos de caso refere-se à sua especificidade. Ao trabalhar um
caso, o pesquisador está investigando uma realidade específica, o que dificulta sua generalização
para outras realidades. Entretanto, Eckstein (apud ROESCH, 1999), sugere que um caso pode
contribuir para a teoria de diversas formas, como descrever aspectos particulares da realidade,
descrever a teoria com base em uma situação real, explorar ou gerar novas teorias, ou testar a
teoria.
O estudo de caso normalmente é trabalhado como uma parte de um trabalho monográfico
sobre um determinado assunto, mas também pode ser empreendido como um trabalho
independente. Uma estrutura adequada para um estudo de caso, enquanto um trabalho específico
de pesquisa do administrador, é a que se sugere a seguir:
• CAPA;
• SUMÁRIO;
• LISTAS (figuras, tabelas, siglas);
• INTRODUÇÃO;
• REFERENCIAL TEÓRICO;
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• DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PESQUISADA (CASO): inclui aspectos metodológicos
sobre a forma de coleta dos dados e sua categorização/classificação (tratamento dos dados),
uma descrição da(s) empresa(s) pesquisada(s), que deve sublinhar as características
específicas da realidade pesquisada (se necessário, incluindo dados históricos), e os dados
coletados na pesquisa;
• ANÁLISE DOS DADOS: deve ser procedida com base na teoria apresentada;
• CONSIDERAÇÕES FINAIS;
• REFERÊNCIAS;
• APÊNDICES E ANEXOS.
Uma questão correlata se refere à análise do estudo de caso pelo acadêmico de
Administração. Embora o tipo de análise varie de acordo com a disciplina e as características do
caso, alguns aspectos são comuns:
a) todos os fatos apresentados no relato do caso devem ser considerados relevantes em maior ou
menor grau;
b) conclusões obtidas a partir do caso devem ser sustentadas por conhecimentos teóricos
prévios, através de analogias ou comparações;
c) as conclusões obtidas não devem ser generalizadas, a não ser que o caso aponte nessa direção.
13.9 SEMINÁRIO
O seminário pode ser descrito como um trabalho acadêmico no qual há uma vasta
pesquisa sobre o tema, uma discussão e um debate, sendo este último o principal objetivo do
seminário. A palavra seminário (seminariu) significa sementeira, onde se faz germinar as
sementes de novas idéias, de novas pesquisas, sendo estes, também, objetivos de um seminário.
O apresentador do seminário deve providenciar, com antecedência, um texto-base, ou
seja, um texto bem informativo e distribuir aos participantes, para que estes tenham
conhecimento sobre o tema. Na apresentação do seminário deve-se utilizar elementos visuais
(cartazes, transparências, slides, apresentações em PowerPoint, etc.), que deverão ser
apresentados em forma de tópicos, escritos em letras de tamanho que torne fácil a leitura. Estes
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168
elementos visuais servirão como um roteiro, tanto para o apresentador quanto para os ouvintes,
facilitando a participação dos mesmos. Ou seja, um seminário deve ser considerado não só como
uma forma de apresentar um conhecimento relevante para uma determinada disciplina, mas
também como uma forma de despertar nos demais participantes do curso a curiosidade sobre o
assunto, estimulando o debate em torno dos elementos apresentados pela equipe responsável pelo
tema em questão.
O professor responsável pelo curso ou disciplina será o coordenador dos seminários,
organizando o cronograma de apresentação e a distribuição dos temas. Cabe-lhe ao final da
exposição orientar o debate e fazer uma apreciação do trabalho apresentado.
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14 Identificação dos pontos em comum e dos pontos distintos entre a
metodologia geral para Ciências Sociais em geral e a metodologia para o
Curso de Bacharel em Direito
14.1 Epistemologia das Ciências Sociais
IN: DEMO, Pedro. INTRODUÇÃO À METODOLOGIA DA CIÊNCIA. 2ª ed. SÃO
PAULO: ATLAS, 1994, P.13-26 e também GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos
de Pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2008. Capítulo 4.
Segundo DEMO (1995), o que é a princípio válido para as Ciências Exatas e Naturais,
também é para as Ciências Humanas e Sociais (como é o caso do Estudo da Ciência do Direito,
que é uma ciência social aplicada). Mas cada uma tem o seu tipo próprio de construção; no
entanto, DEMO (1995) admite que esse tema é polêmico e neste ponto há muitas controvérsias.
Talvez prevaleça, na prática, a crença de que deve valer para qualquer objeto científico o
mesmo método, a saber, o método típico das Ciências Exatas e Naturais. No outro extremo, estão
os pesquisadores que acham ser o fenômeno humano tão “Sui Generis” que necessita do método
próprio, totalmente diferente do outro.
Segundo DEMO (1995), as Ciências Humanas não são unitárias. Entre elas, o grupo mais
delineado é o chamado de Ciências Sociais.
DEMO (1994), ainda destaca que:
(i) Há Ciências Sociais mais aplicadas que outras;
(ii) Há Ciências Sociais que são consideradas mais clássicas;
(iii) Há Ciências Sociais que são menos delineadas, mais genéricas (seus
conteúdos são mais abrangentes);
(iv) Há Ciências que os seus conteúdos são dispersos;
(v) Há Filosofia que apresenta um caráter propedêutico;
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(vi) Há outras esferas de conhecimentos ainda mais vagos ou no limite.
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