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Pesquisa “Grandes Projetos Urbanos no vetor norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte”
Entrevista com Luiz Antônio Athayde
Entre 1995-‐1998 (Governo Fernando Henrique Cardoso – FHC), Athayde foi Coordenador-‐Geral das privatizações dos bancos do estado de Minas Gerais CREDIREAL S.A. e BEMGE S.A.; entre 1999-‐Janeiro/2003 (Governo FHC), foi Diretor da Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; Coordenador da criação da “Rede Brasileira de Promoção de Investimentos” (INVESTE BRASIL), Coordenador da Unidade Parcerias Público-‐Privadas (até 2002) e Coordenador adjunto da Comissão Interministerial do “Projeto Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sul Americana” (IIRSA); entre Março/2003-‐Dezembro/2010 (Governo Aécio Neves), foi Subsecretário de Assuntos Internacionais da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais, Secretário-‐Executivo do Conselho de Comércio Exterior de Minas Gerais e Coordenador-‐Geral da Unidade Parceria Público-‐Privada/MG; entre Janeiro/2011-‐Dezembro/2014 (Governo Antônio Anastasia), foi Subsecretário de Investimentos Estratégicos da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais.
29 de março de 2017
Entrevistadores: Denise Morado, Daniel Freitas e Thais Nassif.
Athayde: Uma questão de ordem aqui: vocês gostariam de ter mais uma visão histórico-‐analítica das parcerias público-‐privadas no Brasil e em Minas Gerais – que foi um locus importante para esse mecanismo – ou vocês querem ouvir um pouco mais sobre a que se presta o mecanismo, como esse mecanismo é adaptável, como é melhor na realidade aplicável, o que que é risco...? Assim, se a gente vai falar de PPP, a gente tem o script do que é o mecanismo, o QID – Quadro geral de indicadores – risco, marco regulatório... não que essas coisas não façam parte de um compêndio como um todo, mas são vetores, né? Enfim, o que se presta mais à pesquisa de vocês?
Denise: A princípio a gente estaria mais interessado nessa primeira parte que você colocou: uma coisa histórica e analítica. Quando você tocar nesse processo – Brasil, Minas Gerais, Belo Horizonte – talvez, de alguma maneira, esse outro lado compareça um pouco. Porque as informações sobre o mecanismo em si, como ele funciona e foi criado, ou seja, a visão técnica da coisa, nós conseguimos algumas informações porque são informações até mais fáceis de ser encontradas. Agora, a visão de quem estava nesse processo é muito importante pra nós. Esse processo histórico-‐analítico.
Athayde: Então vamos lá, ver se a gente tem um ponto de referência com relação à realidade do mecanismo... O mecanismo per se das parcerias público-‐privadas até hoje, 15-‐16 anos depois, encerra uma visão um tanto quanto difusa, até distorcida, do que realmente está por debaixo do regramento legal das PPPs que no Brasil é muito bem destacado, muito bem definido. Isso tem a ver com um
enorme questionamento de um governo – o primeiro mandato do Fernando Henrique Cardoso – que estava contido numa frase: porque que o setor privado é tão refratário a investir em concessões no Brasil? Essa pergunta está diretamente ligada ao colossal deficit de estrutura no Brasil – se você falar 100 bilhões é pouco – e o que eu estou dizendo não é uma ponte ali no Ribeirão do Onça, estou dizendo obras de infraestrutura de razoável porte, ou seja estou falando de infraestrutura que são obras de grande calibre (termoelétricas, usina hidroelétrica, estradas, aeroportos, centros logísticos), e que esse deficit de estrutura na realidade em algum momento foi mapeado. Ele foi mapeado no Brasil e todos levaram um susto com o tamanho.
E em função do que surgiu esse portfólio de projetos de estrutura? Isso estava diretamente ligado à questão da competitividade da economia brasileira. Na realidade nós somos um queijo suíço, nós somos uma economia toda fractal, sob o ponto de vista da infraestrutura. Então, se você imaginar um país da dimensão do Brasil, um PIB que ronda aí 2 trilhões de dólares, você imagina os ativos que nós temos na infraestrutura, vis a vis aquilo que na realidade se precisa na economia: uma maior capacidade de competição entre regiões do Brasil e para o exterior. É, de certa forma, uma coisa anacrônica, ou seja, nós desperdiçamos capacidade de gerar riqueza, literalmente. Por conta – se você olhar diretamente os quesitos, não é o único – da capacidade de competição da nossa economia, nós temos um desleixo, para não falar de uma enorme omissão com relação a essa plataforma de estrutura. Muito bem, um apêndice a se colocar aqui para que a gente fale do mecanismo, foi feito no Fernando Henrique, e por favor, vamos deixar a ideologia de lado, vamos olhar na realidade um corte histórico. Não que já não se tinha preocupações, mesmo muito antes do governo Fernando Henrique, nos governos de exceção... O Brasil por ser um país de porte continental, com uma economia diversa, e ao mesmo tempo que ela teve impulsos muito grandes em alguns setores, a destacar aí, a questão do agronegócio. Mas nós na realidade nós conseguimos evoluir muito na atividade produtiva e muito pouco nos ativos de infraestrutura do Brasil. É esse enfoque importante para que em algum momento se fale "o assunto PPP calhou aqui", esses antecedentes são muito importantes para dizer porque que o assunto PPP de certa forma foi mais organizado, mais hierarquizado no Brasil.
Terminou que, em 1995, nós já tínhamos uma lei de concessão, a Lei de Geral de Concessões de 1995. Mas se você comparar o que a lei de concessões deu de provimento ao Brasil: a via Dutra, a ponte Rio-‐Niterói, ferro-‐norte (se não me engano também foi concessionada), é risível diante desse enorme ‘gap’ que se tinha. E que, de certa maneira, preocupava as autoridades brasileiras, preocupava a área econômica, preocupava a área de planejamento do Brasil o fato de não ter um portfólio de projetos de infraestrutura associado e hierarquizado de importância em termos de contribuição a essa melhoria da competitividade, e diante daquilo que o Brasil estava numa condição de melhor competir, seja intra regiões, seja com o exterior. E a gente tem que ver isso é de acordo com algumas coisas que são dadas: a geografia, a plataforma
existente até então, os atores que financiavam e empreendiam as ações desses ativos, se o Estado ou se a União. Mas, e é esse o dado que eu quero marcar posição, a participação do setor privado era risível, para não falar praticamente nula, diante de duas coisas: diante da plataforma existente – dos ativos existentes – e de uma possível capacidade de maior participação da iniciativa privada.
Então, nós temos no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, que parte de um programa que se chamou-‐se "Brasil em Ação”, nós tivemos o início disso tudo alentado. O que começou como "Brasil em Ação" tomou outra forma chamava "Avança Brasil" que eu estou fazendo essa observação, mas por favor, nós tivemos nos últimos 15 anos uma apologia a ter nomes cunhados para coisa nenhuma, e o que quis dizer com coisa nenhuma é simplesmente, eles davam uma marca de uma ação de governo. Todo governo, ele seja qual for, tem que ter uma ação, mas ele não era um programa de desenvolvimento, aquilo lá atrás ensejava um programa de desenvolvimento, vale dizer: era você verificar, olhando o Brasil como um todo, onde se tinha os eixos estruturadores que precisavam levantar portfólios de novos projetos e não só na infraestrutura, na educação, na saúde, na área de tecnologia e que isso viesse a contribuir com a mudança de patamar da capacidade de você ter duas respostas: gerar mais renda e, associado a isso, gerar riqueza e emprego e, como na realidade, hierarquizar isso e financiar. Então era para isso, financiar porque não importa se o privado, se é o público, se o público-‐privado, não importa.
Esse estudo foi conduzido com recursos do BNDES salvo engano, custou 15 milhões de dólares. Na época, contratado pelo BNDES, vou lembrar aqui, uma das grandes consultoras internacionais muito conhecida, eu vou lembrar aqui o nome, eu não trabalhei nessa primeira fase, mas o fato é que houve um processo licitatório muito concorrido que escolheu essa empresa e começou. O nosso tema não é ficar falando sobre essa contratação, mas se contratou um estudo que pudesse mostrar na realidade o conjunto desses projetos – desconsiderando as fronteiras – o território era o Brasil. Mas que se tivesse os eixos estruturadores da economia do Brasil, por hora, não iria se esgotar, mas daria essa ossatura, essa vertebração mais importante. Na realidade, isso está na internet, é muito rico esse material, os estudos são riquíssimos, vale a pena para quem quiser pesquisar, olhar isso porque isso vai em algum momento chegar até outras questões maiores de indagações que aí estão.
Então, no segundo mandato do governo do Fernando Henrique Cardoso percebeu-‐se, me desculpe o termo chulo, que o “buraco era mais embaixo”. Que se tinha na realidade um deficit muito maior, se tinha uma falta de correlação, e essa correlação, era possível fazer entre projetos visando prioridade. "O que faço primeiro?" E "o que faço primeiro dentro dos eixos?". Então isto, se depurar isso poderia-‐se falar: "faz primeiro em que setor?", faz primeiro no.... Na realidade, na cooperação de que setores, para se ter uma resposta mais rápida?" Se tinha várias formas de combinar isso e aquilo se mostrou realmente um estudo de primeira grandeza para exatamente dar subsídios as áreas de planejamento do
Brasil. O BNDES que financiava, e a primeira constatação é que era impossível imaginar a capacidade que teria recursos orçamentários federais, e se somar aos recursos do BNDES. Mesmo financiando a iniciativa privada: "opa, BNDES não vai financiar governo para fazer isso"; então é como financiar a iniciativa privada para fazer parte dessa estrutura. Nós não temos marco regulatório, não temos ânimo, não tem empreendedorismo, então nós temos um problema aqui. Esse gerenciamento que se teve mudando um pouco a pegada do modelo de gestão incluía nesse momento um conjunto de projetos que não só de infraestrutura, mas que na realidade o primeiro programa no Brasil de Gestão por Resultado em Projeto, que também estava debaixo desse guarda-‐chuva chamado “Avança Brasil”.
E aí nasceram os 350 projetos, ou programas estruturadores. Muito badalado, muito comentado, mas uma novidade, porque pela primeira vez se olhava o território e se via as fronteiras geográficas e se via corredores, eixos. Era diferente, se tinha um eixo que pegava aqui da região do norte de Minas e subia até o Nordeste, sem entrar aqui nos fundamentos que na realidade hierarquizaram os eixos, não importa aqui agora debater essas posições, acho que vocês encontram isso lá. Ali, eu sempre trabalhei como um técnico em infraestrutura, desde que eu entrei no BDMG, eu sou economista, mas fui cambiando para ser na realidade um analista de projetos de infraestrutura -‐ fala aí Luís Antônio para você ver, uma usina de emborcação... olha aí -‐ e tem até uma pessoa da área de urbanismo que me levou para fazer um mestrado de Urbanismo, Teodoro Alves Lamounier. Tá aí o Téo, foi meu primeiro chefe. E foi quando criou a área dos serviços de infraestrutura do BDMG, a famosa área 3. E foi onde que eu me apaixonei, moleque ainda, e isso está tudo por fazer.
Mas era ainda um país a construir, e o que mais chamava atenção era a profundíssima alienação da classe política com relação a isso. Não tô dizendo que eles não achavam que não tinha que fazer, é que não lhes adentrava a como financiar isso. "Como é que vai financiar isso?" Para ter uma resposta a algo que no Brasil agora começasse a se falar: "nós vamos começar a trabalhar para gerar riqueza, renda, o povo precisa ser rico", você precisa gerar riqueza, se você não gerar riqueza, você não resolve o problema do desenvolvimento do povo, não há como até mesmo se for pra pagar um sistema de saúde. Mas se você não criar condições para gerar renda – e que você gere renda e oportunidade – e que as pessoas cresçam nisso, isso impacta o sistema educacional, e vai embora, vai na universidade, e você cria esse ciclo virtuoso. Esta questão de que a gente tinha essa visão muito isolada dos projetos, não tô dizendo que não tinha planejamento, tinha já um planejamento sistêmico, mas muito aquém daquilo que se poderia preparar o Brasil para crescer mais rápido, independentemente de quem estivesse no poder. O que deu esse corte na época do Fernando Henrique Cardoso, foi simplesmente acender a lâmpada no mapa do Brasil e ver que a plataforma que tem é essa aí e para que nós possamos ter um papel diferenciado no mundo, tinham questões que batiam na cara da gente, não representavam 1% das exportações do Brasil.
O Brasil nunca teve vocação para ser um país de economia ligada ao esforço exportador, e aí começava a antever as coisas: "gente, vem a nova economia, e a nova economia, vem a economia de serviços, vem um outro padrão de saúde..." e como se vai "tocar" essas coisas? Esse estudo, deu de certa forma, lineamentos para que você enxergasse isso. E agora afunilando, vamos lá no portfólio de infraestrutura, ele tinha um número, só de um conjunto de 300-‐400 projetos, salvo engano. Não importa o número, precisava de algo em torno de 130 bilhões de dólares. Então jamais poderia se imaginar, e com todas as vicissitudes, da práxis de operar orçamento. No orçamento mudou o governo, mudou essas coisas que você transvestia como funcionava o orçamento, se se tinha uma estrada muito importante, fazia-‐se 3km dela da maneira – me desculpe – da maneira mais porca possível. Um sistema viciado na forma de fazer infraestrutura sem um critério e um cuidado, para que aquilo se prestava. Mas o pior é que esse investimento não dizia nada sobre melhorar a competitividade.
Então essa coisa, na realidade, a gente precisava saber sobre um projeto como: o linhão que vai trazer a energia de Girau até aquela cidadezinha, Rio Verde em Goiás, onde se tem um grande centro de distribuição que pega o linhão que desce pela Eletronorte, custa 2 bilhões de dólares. São 3000 e tantos km à corrente contínua e tal. Se chegar o linhão a um km do entroncamento e não ligar, não se tem nada. Eu tô falando de coisas assim pestalósicas para justificar a alienação realmente de certa forma da classe política de não entender a importância de se ter uma proposta de como para 10-‐20-‐30 anos se pudesse criar uma nova plataforma, e se vale o que o grande escritor Guimarães Rosa falou: "o importante é você fazer a travessia", ir melhorando a condição de vida e a percepção que de fato nós estávamos ficando mais ricos. Esta palavra quando eu cheguei no governo federal ela era abominada, falar para quem não tinha, era pobre, ficar rico era abominado. Não podia, era uma coisa impressionante você tratar com isso. E se tudo que as pessoas, economicamente desassistidas, querem é ficar ricas. Elas querem ter acesso a uma renda que mude a perspectiva de vida dela, para que isso pudesse traduzir em algum momento numa palavra, também abominada, e de certa forma a esquerda no Brasil foi muito competente em falar: "olha o entendimento de prosperidade é aquilo que eu entendo como prosperidade, prosperidade se dá, prosperidade você faz o Estado prover e é uma enorme prioridade". Prosperidade é uma perspectiva que na gênese de uma família, de um grupamento que ela, de certa forma, acopla num projeto de que de fato vai ser útil para mudar essa realidade. Mas tem-‐se que tirar o manto da ignorância para poder como vai ser engajado nisso.
E nós não tínhamos uma discussão que isso estava dentro do próprio modelo de alternância de poder no Brasil. De novo, essa coisa que estava lá, em 1998-‐99, desse grande portfólio, números, e o que fazer. Tinha falhas? Tinha falhas, mas era um enorme avanço quanto ao estudo para que na realidade pudesse se hierarquizar. E se perguntava: "porque não tem dinheiro, não faz?" Não você vai começar a ter seletividade nos orçamentos, orientar as pessoas a discutirem por projeto. E aí eu tive uma chance, que me
chamou muita atenção; é que antes inclusive de eu trabalhar no governo federal, eu participei dos workshops que discutiam o "Avança Brasil", vi o que era estudo nacional, dos eixos de integração, então a gente começou a ter uma lógica. Eu já trabalhava na área de infraestrutura, mas aqui dentro de Minas Gerais. Eu fui analisar, por exemplo, aquelas estradas no vale do Jequitinhonha entre Poté, Capelinha, financiar as estradas de lá, porque começava a fronteira do café a ir para lá, com dinheiro do fundo do café. Para se ter uma ideia, era o fundo do café que estava financiando algo que tinha que ter uma lógica muito maior para impulsionar, não só a economia do café, mas tinha a economia também de celulose, mas também era tudo disperso. Eu vinha dessa época e quando eu vi aquilo era uma coisa melhor orquestrada, mais organizada.
No segundo mandato, inicia-‐se no segundo mandato, do governo Fernando Henrique, com um trabalho para que esses 340 gerentes – claro, não voltados só para infraestrutura – mas para implementar esses 340-‐350, projetos e programas estruturadores. É claro que tinha um bloco que tratava da infraestrutura, e quando digo infraestrutura, pegava de óleo e gás.... Eu por exemplo trabalhei na viabilização, não da parte financeira, mas na parte de promoção, do gasoduto Brasil-‐Bolívia. Tive várias vezes na Bolívia discutindo com eles como nós poderíamos aumentar a produção e consumo de 17 milhões de m3/dia para 35 milhões de m3. E aí se tem uma questão utópica de como negociar, porque quem financiou isso tudo foi o Brasil. Nesse pacote inclusive, veio a instalação daquela refinaria que depois foi estatizada pelo Evo Morales. Mas que saiu, o que o Brasil quis fazer.... Porque o Brasil quis fazer dentro do conjunto dos investimentos para viabilizar o gasoduto Brasil-‐Bolívia. Estou dando como exemplo aqui, do mesmo jeito, "astro" que foram feitos no Sul e aí começou uma outra coisa interessante junto com isso, que eu não vou aqui detalhar, mas também extremamente importante que era a integração de infraestrutura sul-‐americana: "Que projetos? Quais daqueles são integradores?" Agora, e foi muito disso aí, nós temos sistemas elétricos, compatíveis com a argentina, tudo bonitinho. Não se tinha ferrovia, os trilhos não se falavam! É por que tinha uma outra perspectiva. Pro argentino fale em ter trilho compatível com a bitola do Brasil, você estava na realidade, dando chances – se tivesse – de ato de guerra. Isso já estava ficando lá pra trás mas a ruptura da perspectiva de integração batia nessas coisas. O Peru nem se falava. Aí essa plataforma do Brasil deu inclusive, perspectivas para vir logo o IIRSA [Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sul-‐americana] foi algo muito interessante e deu bons frutos, mas não é aquilo que nós vamos comentar aqui. Que inclusive fomentou muito as parcerias público-‐privadas no Peru; mais no eixo sul-‐norte, que no eixo Leste-‐Oeste. Agora que tá começando Leste-‐Oeste que pega em parte do Brasil, sul-‐norte pega Colômbia e Chile.
Então, isso tudo que estou falando até agora, vocês podem ver uma historieta sobre planejamento dessa coisa toda. E aí vem a pergunta "e aí? Um portfólio desse tamanho como você viabiliza isso?" Com recurso público é inimaginável fazer isso. BNDES pode financiar o setor privado, não vai financiar o setor público porque estaria financiando o
próprio tesouro, isso é proibido. Mas não é nem que é proibido, é inconsistente fazer isso. A pergunta " porque que o setor privado no Brasil é tão refratário a operar a infraestrutura?" Aí começa a nossa história que vai levar as PPPs. Naquele momento você tinha as leis de concessões, já fiz o comentário, absolutamente risível sua aplicação nas demandas que se tinha, e até porque, muitos de projetos que interessavam a iniciativa privada não ficavam de pé sobre o ponto de vista econômico... Não dava uma concessão pro outro, um outro dado é que quem naquele momento encarava uma concessão queria taxas internas de retorno altíssimas por causa do risco, o risco regulatório, do risco do investimento, do risco inclusive da própria financiabilidade, você tinha várias restrições que impedia inclusive a lei de concessão de ser melhor aplicada.
Eu aqui fui convidado, tinha um dado, isso é só pra compreensão de vocês, se um dia tiver importância pro curso histórico vai ser por uma outra questão que não cabe aqui, quando eu fui secretário adjunto da fazenda de Minas Gerais, eu fui o coordenador executivo das duas únicas privatizações – venda de patrimônio – não eram concessão, que ocorreu aqui, que foi a venda do BEMGE e CrediReal. Um parto na montanha pra fazer isso, mas eu falo pra vocês porque isso é público, estes dois bancos perdiam por mês, e esse custo era debitado da conta de todos nós mineiros, 35 milhões de reais. Custava. E tinha uma importância porque naquele tempo, e tinha uma importância porque quem financiava a dívida estadual eram os próprios bancos estaduais, não se tinha ainda essa grande reestruturação da dívida. Quando na realidade foi feita a privatização desses bancos, se tinha que resolver um outro problema, que os bancos eram bancos públicos estaduais, emitiam moedas, emitiam CDBs e emprestavam para o estado. Além de tomar dinheiro na dívida imobiliária. E como se fazia o aumento da divida? Tinha que se pagar um spread maior, o sistema financeiro ganhou montanhas de dinheiro com isso porque era o mesmo risco, por exemplo, um risco soberano é um risco do estado, um risco da união, mas por ser estado você pagava um prêmio muito mais alto. Isso aí, muita gente já fala que essa dívida é irreal, mas essa é a realidade que se tinha, então teve naquele momento, quando é se teve a federalização dessa dívida. Isso passou pra lá, e no dia seguinte que o governo comprou todas as dívidas estaduais, no mesmo dia se emitiu na época, 92 bilhões de dólares, e trocou a dívida e entregou papel federal aos estados. "Acabou a dívida". Acabou a dívida estadual, mas agora você tem uma dívida federal, e que essa dívida veio a ser refinanciada, que é esse programa que tá aí, essa paçoca toda que nós estamos vivendo aí, é a famosa dívida que foi renegociada em 1998, é a dívida imobiliária que tinha 4 estados que representavam praticamente 85% da dívida SP, MG, RS e RJ. Nisso acabava um pouco o papel dos bancos estaduais, porque enquanto instituição financeira, sem entrar no marco histórico, bancos comerciais, que tiveram papel na história de Minas, eles custavam ao estado algo que o sistema bancário já cumpria esse papel, a decisão tomada do que fazer foi a privatização desses bancos. Isso ocorreu ao longo do governo Eduardo Azeredo e privatizou o CrediReal primeiro, privatizou-‐se o BEMGE e terminou a liquidação da Minas Caixa, que ela estava sob intervenção, e com isto, um dado muito importante, salvou-‐se o banco dos movimentos do estado de Minas
Gerais, que era muito importante, não por eu ser do banco, é porque aquilo tinha a ver com formação de ativos fixos na economia. E esse dado, que foi tudo muito novo naquele momento, como você ia refinanciar as dívidas dos bancos, não se viu nenhum funcionário do CrediReal nem do Bemge entrar na justiça, porque todos tiveram muito bem preservados suas estruturas de aposentadoria e enfim, foi um processo sadio, pode assim se dizer. Nesse passo nós tivemos na realidade o início aqui de privatizar ativos, que no caso foi direcionado ao setor bancário.
Nesse meio tempo, a união percebia a importância de levar esse programa a outros estados, como de fato foi. BANERJ, BANESPA, BANEB, só não foi um banco, que até hoje ele não foi que os gaúchos não deixaram, que é o BANRISUL. Até hoje o BANRISUL continua como banco estadual, mas isso é História. Esse fato me levou a ter uma discussão, muito ingente, na relação com o governo federal: "falta lenha na caldeira. Nós não estamos gerando novos ativos 'pra valer' na economia", que se tenha um programa de longo prazo pra gerar massivamente emprego, dar um arranque na indústria de base do Brasil, nós temos engenharia mas isso...
Denise: Precisava de um marco regulatório...
Athayde: e era dominado por outras forças que hoje ficaram muito visíveis. As forças eram outras para formar ativos de modo geral na economia. É muito importante a gente ver esse marco histórico porque isso vem de uma cultura, que a gente pode falar: "o quê que é esse quadro de desmande aí?" É o quadro da alienação de não ter um projeto de longo prazo para fazer com que o Brasil tivesse uma infraestrutura compatível com seu tamanho e principalmente com a expectativa da população que não sabia. Ela não sabe, a população é de forma geral, não bem-‐educadas, não bem esclarecidas, e precisava porque saber que eu vou trabalhar que eu vou fazer um curso pra trabalhar de armador, o cara vai pra onde que tiver [oportunidade], ele vai trabalha e.... O Brasil tinha, de novo, um status quo de fazer alguns investimentos, mas reitero, muito aquém da necessidade que se tinha, ligada a essa questão de como nós vamos competir, "agora no século XXI, como nós vamos fazer isso? Como vai ficar essa questão da logística do Brasil?" Um país meio desbalanceado com relação as concentrações dos bolsões industriais. Então o Pedro Parente, que hoje é o presidente da Petrobrás, era...
Denise: não é do Banco Central?
Athayde: Ele é do Banco Central. Pedro Parente era o secretário executivo do Ministério da fazenda, pelo lado de lá ele era o coordenador da renegociação da dívida, pelo lado de cá eu era o coordenador, também, da renegociação da dívida. Então, nas discussões mais ordinárias de contratar isso – pra quem gosta de olhar para o longo prazo – é [/era] pra resolver uma hemorragia, mas a gente tem que pensar numa coisa sem entrar no detalhe. Aí veio e acabou o governo Eduardo Azeredo e eu voltei para as minhas funções no mg e 3-‐4 meses depois o Pedro me toca o telefone: "aí Luiz Antônio, tem um trem aqui que você vai gostar." Já estava em curso os findings, os achados, né? As conclusões dos estudos do... E que precisava ter uma
agenda mais propositiva para implementá-‐los, e tinha um programa chamado "recursos para o desenvolvimento" -‐ aí entra na parte histórica de novo – esse programa era desse 'tamanhozinho', entre objetivo, missão... Por exatamente ausência de maior background de porque você precisava estimular, ele tinha uma pergunta, um objetivo "1. Aumentar a participação da iniciativa privada na infraestrutura do Brasil, 2. Como fazer com que a estrutura sob o ponto de vista institucional se sinta atraída? 3. como financiar?"
Denise: então a infraestrutura, vamos dizer, foi o protagonista desse...?
Athayde: Para a PPP foi, continua sendo e vai ser ainda. Não obstante nós já temos várias iniciativas já de PPP e agora vai entrar no assunto PPP. Eu gastei 30 minutos para dar esse pano de fundo, mas é importante para a gente situar um pouco isso. Porque não é uma coisa que não tem... tem fonte demais para vocês pesquisarem isso, não é algo que.... Aí eu fui chamado para ser o gerente deste programa, "recursos para o desenvolvimento", era eu e eu, não tinha mais ninguém. Era eu, mais eu, um telefone "e como vai fazer isso?", eu era um diretor da secretaria do desenvolvimento do governo e um gerente de um dos programas do "Avança Brasil" que se chamava "Recursos para o Desenvolvimento".
Percebeu-‐se que também ao mesmo tempo que isso tinha que dar uma resposta, tinha que promover essa carteira de projetos. Era uma carteira que fazia sentido, se tinha estudo mais articulado do que realmente se tinha no Brasil para você endereçar algumas coisas: crescer o PIB do nordeste mais tantos % gerava tantos empregos; melhorar a plataforma de infraestrutura; fazer a Ferro Norte pra trazer a soja. Nós estamos em 2017, nós acabamos de ver a 15 dias, de que por falta de 400 km sem asfalto para estrada para o [...] voltou e infletiu todo o fluxo da soja. Já imaginou uma coisa dessas? Não falo com indignação não, mas você imagina que em 2017 -‐ ela foi concessionada agora -‐ acho que a [BR-‐] 163 foi concessionada agora. Estava lá pra fazer a 163, não importa como mas tem que fazer a 163 porque isso significa... Estava abrindo a fronteira de Sorrisos, Ji-‐paraná pra não se fazer um passeio de 2500km da soja até Paranaguá, até Santos. Tinha que fazer um Ferroanel, você imagina jogar... Brincadeira aí 30-‐40 milhões de toneladas de soja quando você poderia andar mais 1000 km e ganhar 7 dias de navegação embarcando em aguas profundas lá em Santana. Coisas que você não tem dúvida, tem que fazer essa infraestrutura. Descompassos, não é? Aquilo que aconteceu no agronegócio no Brasil, sobre o ponto de vista do desenvolvimento de tecnologia e o aumento da fronteira agrícola -‐ sem entrar na questão ambiental, por favor, porque essa é uma outra discussão – mas o fato é que ali já se sabia o Brasil tem um protagonismo no mundo nos próximos 50 anos, o Brasil pode se candidatar a ser a matriz da proteína vegetal e animal do resto do mundo. Não só a proteína vegetal, mas agregar isso na cadeia animal e exportar proteína animal, é o que tá aí, é o que a gente tá vendo aí, mas temos que falar de infraestrutura aqui.
Então, essa coisa toda precisava ser promovido, nesses projetos, promover os projetos na área de infraestrutura
elétrica, os aeroportos, rodovias, e promover o seguinte, de novo, com muita humildade. Era o seguinte, o setor privado internacional: "olha tem essas oportunidades aqui" Alguns setores eram mais organizados, tinha o setor elétrico, ele era mais organizado pra se recepcionar, portos eram mais ou menos organizado, se poderia ter uma concessão pura de porto dos 'inhões', fazendo aí um corte nos anos 1990-‐2000, e ao mesmo tempo que se teria que buscar um novo mecanismo, com um caminho, você tinha que dar conhecimento disso, e foi um período muito fértil porque [ininteligível] nós fomos mostrar essa carteira, na Alemanha, na China, nos Estados Unidos. Era um trabalho de duplo compromisso, era promover essa carteira e trazer de governos de outros países a impulsionar a iniciativa privada, porque não era só a infraestrutura, era a infraestrutura e o que que isso tem a ver com as cadeias industriais, as cadeias de suprimentos, e principalmente, o que que isto -‐ e a gente precisava saber -‐ iria despertar para o mercado lá fora? Partindo dessa perspectiva que nós éramos 'guris' em termos uma economia mais internacionalizada.
Denise: Que mecanismos que vocês usavam para fazer essa promoção?
Athayde: Olha, um mecanismo muito clássico junto com o Itamaraty. A gente reunia o governo brasileiro lá fora, o Itamaraty, eu ia junto com o braço do setor empresarial, câmaras especiais, federações de indústrias, e nós levávamos de acordo com algum afeiçoamento, por setor ou por região. Nós levávamos levamos e mostrávamos o portfólio. O portfólio é assim: o projeto, o template do projeto, quanto custa, o que que vai gerar, quais setores vai impactar. Tudo bem sintético.
Denise: benefícios e riscos?
Athayde: Não vou dizer riscos, mas se estava pronto para discutir ali. Dois países se sobressaíram inclusive a Alemanha e a China.
Denise: A China sem dúvida nenhuma.
Athayde: Vou dizer que essa vinda da China para a infraestrutura do Brasil começou lá, não começou agora, os chineses todos constroem um planejamento que prevê 50 anos. Todos são pra 50 anos, esse apetite dos chineses. Agora, os chineses evidentemente tem – a China na verdade – tem uma grande vulnerabilidade que a questão de segurança alimentar. Não há, tudo que se puderem fazer eles não dão conta, eles têm que comprar proteína animal e vegetal massivamente, que eles compram do Brasil, Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos. São esses países que importam e vão continuar. Isso pra eles tinha a ver com estrutura, porque até então eles eram compradores de uma commodity, soja, milho, carne, mas agora estão entrando firme no petróleo. Na hora de comprar Girau, essa que eu te falei que estava lá, na hora de comprar a linha de transmissão de Girau, Santo Antônio até Rio Verde, compraram. Compraram não, são donos da concessão. Essa fato de que nos botou ali -‐ era importante promover... teve um papel... Esta carteira foi a carteira base do PAC. Esta carteira veio...
Denise: Veio a marca nova?
Athayde: Revestida... E como se tivesse sido pensada e.... Não era nada disso, isso já estava pronto. Eu tô dizendo é o curso das coisas porque o que eu quero reforçar é que o país precisa de projeto de longíssimo prazo. Não se pode achar que essa lesa, essa coisa de que se faz isso em 3 anos, não se faz nunca. Isso é um processo de decantação, de filtros, para que você possa falar em mudar o padrão de vida das pessoas. E que tem várias coisas a fazer a respeito disso: a parte regulatória, do direito comercial, na parte da engenharia, na parte de como você empreender, várias coisas. Então esse programa que eu tinha nas mãos, "como é que você faz?", eu comecei a conversar com pessoas do BNDES, do governo e aí veio um 'insight'. Esse 'insight' foi muito importante, porque ele nasceu de uma conversa dentro da CNI com o BNDES" por que que a gente não faz um estudo bem enxuto sobre o financiamento de longo prazo no Brasil. E nesse estudo a gente faz algumas perguntas e vai capturando isso. Então foi contratado, esse trabalho foi contratado com o Michal Gartenkraut, ex-‐reitor do ITA e gerente do “Avança Brasil”. Ele é que fez aquele estudo, que eu vou lembrar o nome, daquela grande empresa de consultoria. E o Michal se prontificou a fazer esse estudo, que na verdade era, conversar com essas pessoas para responder isso "por que que o setor privado não entra?"
Denise: O portfólio era o que fazer e o financiamento era o como fazer, então?
Athayde: O portfólio era aquele ali, tinha uma justificativa. Mas como fazer, e como financiar e quem vai tomar o risco de fazer. Partindo da premissa que é impossível, não a capacidade.... Tem essas coisas que estão tão claras, como que a gente anteviu, olha hoje, nesse momento nós estamos faltando 25 minutos para ser anunciado o corte de 58 bilhões. Vocês têm dúvida do que vai ser cortado? É investimento. Daquilo que se pensou que se pudesse ter algum investimento, ele vai ser cortado.
Denise: Mas você tocou num ponto importante, quem que decidia sobre o que fazer? Você falou da prioridade da infraestrutura, mas tinha um jogo de decisão ali muito maior. Quem eram os participantes do jogo da decisão?
Athayde: Veja bem, ali naquele momento o país estava andando, o país estava ligado. A Petrobrás tinha seu programa de investimento. A Eletronorte tinha seu programa de investimento. O pais não estava parado de forma alguma. O que se tinha era "como se turbina mais isso? Como se amplia a derivada primeiro, o investimento." Em infraestrutura, ainda que PPP seja ligada a vários outros...
Denise: Setores?
Athayde: Depois eu mando pra vocês um estudo interessante que mostra um pouco dessa trajetória...
Denise: Você tinha falado que não estava parado o país.
Athayde: Então, muito aquém do que poderia crescer. Claro, tem várias condicionalidades, mas uma condicionalidade que era extremamente rígida era o gargalo em cima do orçamento de não poder fomentar nada porque não se tinha amarragem. E nunca teve, teve
um período que se teve aí, excedentes muito grandes, o primeiro governo do Lula que realmente se teve aí, longe 20% do PIB em investimentos, chegou a 19%. Foi o período que nós tivemos mais áureo, de investimentos, que nem foi por esforço do governo. Foi porque foi uma onda extremamente favorável que bateu nas portas. O minério de ferro saiu de 40 dólares para 150. Formamos as reservas, o Brasil quando teve a mudança de poder do Fernando Henrique para o Lula, nós tínhamos salvo engano, 30 bilhões de dólares de reserva. No governo da presidente Dilma nós estamos com 300 bilhões, 10 vezes mais. Esse estudo que foi feito ele é um estudo basicamente de percepção de pessoas para responder essas perguntas "onde é que tá o nó? Onde é que tá o entrave? O que que precisa ser feito?" e chegamos a 3 conclusões que elas sintetizam esse estudo, 1º o problema não é falta de dinheiro. Tem dinheiro, se você olha-‐se os fundos privados se tinha dinheiro à beça, só que no máximo de infraestrutura que esse pessoal entrava era em shopping. Que é uma infraestrutura, mas é uma infraestrutura que a gente chama de leve. Hoje tem alguns que se aventuraram na parte de... Mas se tinha o BNDES que podia financiar, capacidade enorme de alavancar recursos. Naquela época o BNDES era maior que o banco mundial, não tenho ideia da proporção, naquela época o BNDES já era do mesmo tamanho, em termos de formação de investimento -‐ dólar-‐ moeda forte, ele era um pouquinho maior que o banco mundial. Hoje o BNDES deve dar 4 bancos mundial, agora eu não sei como é que tá, em termos de investimento 3 vezes a capacidade de investir. Do termo do que que um país carecia de [investimento]... Claro, não só para a infraestrutura, todos os setores. E realmente o BNDES multiplicou isso por 3 ou 4. Mas ali nas conclusões, 1º não é falta de dinheiro, grana, dinheiro tem. [2º] Não é falta de empreendedorismo, existe vontade. Oque que falta?
Denise: Regulação?
Athayde: Confiança, e esse artigo é tão desprezado. Confiança traduzido, decupado, em algumas linhas. A confiança de 1º ter marcos confiaveis, a confiança de saber que estes investimentos eles não seriam objetos... E aí a cultura era acultura da desconfiança, mudou o governo, mudou tudo, então pra que que eu vou me meter a ser operador se eu posso ser o construtor pago e vou embora, pra que? Era uma falta, num sentido mais amplo de confiança na capacidade do governo de empreender. E tomar essa liderança na promoção do investimento. E até um receio de que o governo em algum momento tentasse ser ele o investidor "eu estatizo, depois eu vou lá e estatizo". E que isso tudo se dava dentro de um ambiente de transitória institucional. E aí vieram questões de ordem enfática, mesmo as concessões puras, se tem capacidade de ter determinado projeto que se viabiliza, enquanto concessão pura, mas qual a referência se tem para aquele setor de se fazer? "não vou botar dinheiro ali", "ah mas tem uma taxa de retorno, "não vou colocar", mas alguns setores sim.
Nós vimos um caso que foi explicado, a ponte Rio-‐Niterói foi 30 anos da primeira concessionária, muito bem organizada, inclusive a concessionária que ganhou o aeroporto junto com os suíços. A própria fez um patrimônio extremamente sólido que são as concessionárias da Dutra.
Mas com taxas internas de retorno... Mas aí veio uma coisa que chamava mais atenção, que era aqueles projetos de enorme impacto e que a lei de concessões não dá provimento legal. Ou seja, ele não tem uma taxa interna de retorno que justifique o privado entrar. "Então não tem jeito, nós não temos isso, então o que você vai fazer?" Como se lida com uma situação dessas? Bem, indagação é o que nós vamos fazer. Eu fui pro mundo, como é que no mundo se resolve isso? E nós tomamos um susto que o mundo já estava resolvendo isso já, a bastante tempo.
A começar da ação da nossa grande primeira ministra Margareth Thatcher, quando teve que fazer aquele shift violentíssimo de se sair de alguns setores, mas se estava com problemas sérios em alguns serviços que eram marcas dos serviços públicos ingleses, saúde, serviço de passaporte, defesa. Em que não tinha como se prover recursos orçamentários para fazer o investimento de reciclagem e que precisava fazer o investimento e precisava chamar o setor privado para fazer isso. Então aí teve a primeira gênese das parcerias público-‐privadas no Reino Unido, de novo, não que não se tivesse outras iniciativas, mas na Inglaterra isso nasceu por uma necessidade. É necessário você organizar um regramento, uma estrutura, uma equipe, um grupo que faça com se possa viabilizar [as PPPs?]... Qual foi o primeiro grande projeto que surgiu e que os ingleses lideraram de uma PPP? O Eurotúnel. Então o Banco europeu de investimento já estava estudando isso, a Inglaterra já estava estudando, já tinha a Partnership UK que era exatamente o grupo dentro do ministério da fazenda -‐ do tesouro -‐ a Itália já estava estudando isso, aí a [gente] "mas puxa vida, como vocês resolveram isso?" Para resolver uma questão que era a nossa [...]?” Como se combina, a modulação e estudo do risco, do negócio, de uma estrutura regulatória, de um negócio que nós não tínhamos noção, o chamado Q.I.D. – Quadro Referencial de Indicadores – que agora o privado investe e eu não vou pagar pelo investimento. Eu vou pagar pelo provimento do serviço que esse investimento disponibiliza. E eu vou pagar por indicadores de 'performance'. Era uma coisa que assim, ela testava "a gente não consegue fazer isso no Brasil." Como um negócio desses. Para você imaginar pagar por indicador de performance. Mas continuamos estudando, veio um especialista, conseguimos trazer. E o governo inglês deu apoio ao governo federal "vocês querem intender isso? Isso é o novo" E lá é que nós vimos que na Inglaterra rapidamente, o mecanismo das PPPs saía de um mero mecanismo de financiamento para ser um mecanismo de reforma do estado – isso é muito importante. Lá a gente percebeu isso, e a onde a gente viu isso de forma impactante? Prisão. Da infraestrutura que precisa para um serviço desses, que só pode ser estado? Por que o privado poderia fazer, a hotelaria, a enfermagem, mas gerenciar prisão num outro padrão – tem índices, indicadores de performance – e receber por isso? Os ingleses já estavam realmente mais a frente, fomos ao governo inglês, eles tem um ministério ao fomento do desenvolvimento no exterior, um negócio assim, que é a [...] ou um negócio assim. Foram eles que na realidade nos convidaram para passarmos 15 dias para entender como funcionava a Partnership UK. E aí foi o primeiro grupo, foi coordenado por mim.
Denise: Vinculado à secretaria de planejamento?
Athayde: Chamava secretaria de investimento estratégico SPI, é uma das secretarias do ministério do planejamento. E lá tinha uma diretoria da qual estava o programa e da qual eu era o gerente. Quem foi do meu lado comigo pra lá foi o Joaquim Levy. Temos fotos e tudo, da Inglaterra, a convite do governo inglês, pagos pelo governo inglês.
Denise: O que que significa, com um pouco mais de detalhes, quando você fala do mecanismo de reforma do estado? Em que que o estado foi realmente reformado?
Athayde: Ainda no Brasil isso está em gestação, na Inglaterra já estava em fase de consolidação. Que é na realidade se mudar a cultura da prestação do serviço e fizesse com que a iniciativa privada viesse a ter uma oferta privada de um serviço público.
Denise: ou seja, uma associação estado e iniciativa privada permanente?
Athayde: Permanente. Se criar [condições] com que uma oferta privada, investimento privado, gestão privada, pudesse se transformar numa ação do estado. Ou seja, o provimento de um serviço eminentemente público, e aí um primeiro princípio: toda PPP disponibiliza um serviço público. De quem que é o ativo? Não a contestação, ele é público. Então eu ficava processo, me desculpe aqui a palavra, quando [falavam] "mas vai privatizar, vai vender", que o quê, lê o primeiro item da lei, isso é uma concessão. Não a discussão com relação ao ativo.
Denise: Mas quem decide sobre as prioridades? Quem é que manda no jogo?
Athayde: Estamos ainda lá em 2000, até então o seguinte, nós começamos a pegar um rastilho de algo que fazia sentido para nós porque nós tínhamos uma carteira colossal de empreendimentos que não caberia concessão pura, que caberia essa hibrida, entra algo que era capaz de gerar uma receita -‐ receita essa não suficiente para remunerar o capital privado -‐ e que tinha que ter um concurso de recursos públicos para se dar a taxa interna de retorno. E os ingleses tinham isso, e nós mergulhamos nisso e falamos o seguinte "só tem um jeito" e aí começa a ter um pouco da inteligência nacional a serviço disso. Tem que fazer um tributo ao Dr. Carlos Ary Sandfeld e à época [...] e Vera Monteiro, que eles foram para Inglaterra pagos pelo BID, e BID foi quem nos ajudou a pagar o primeiro estudo de uma lei de PPP. Foi feito com ajuda do ao Dr. Carlos Ary Sandfeld juntamente, eu juntamente diria a nós 3 assim, Carlos, Vera, eu que do lado de cá não entendo coisa nenhuma de lei, entendo do real da prática de como essa lei impacta o ambiente econômico.
E aí veio coisas fundamentais, nós não podemos pensar no Brasil, e aí ele tinha um dos melhores administrativistas do Brasil... Se nós formos fazer uma lei nova no Brasil, como é hoje as coisas tão engessadas no Brasil, nós perdemos o bonde, vamos fazer uma costela de adão, vamos pegar a lei de concessões e fazer da lei de concessões uma lei que é um contrato administrativo, mas sob um regime de concessão e que ele disciplina que o pagamento vai se dar por performance, de que se pode ter o pagamento de uma contraprestação pública. Ou seja, você paga uma parte daquilo que forma o bolo da receita para que o privado se
interesse a fazer o investimento e operar. Como é que se equilibra isso? Mas ali que na realidade é que nós começamos a colocar o ovo de pé. A lei, o primeiro rascunho daquilo que veio a ser o projeto de lei, tinha que ser o mais racional possível, porque nós não podíamos fazer uma coisa que não tivesse uma ligação com o que que era o regime das concessões, só que de um elemento novo que era você alocar um recurso público, por óbvio, muito menos se tivesse que o setor público fazer aquele investimento 'per se', e se for um projeto que a receita gerada pelo projeto ela não é paga pelo usuário final, não é uma estrada, não é um porto. Uma prisão como você faz? E aí veio também a genialidade – fazer uma concessão administrativa. Que o único usuário da concessão é o governo. Mas o governo vai pagar por performance. Quanto custou pra construir? Não sei. Quanta custa para você disponibilizar uma vaga com esses tais recursos? Custa tantos. Isso nos incendiou positivamente.
Aí tivemos o primeiro arcabouço do que viria a ser o primeiro projeto de lei. Nós iniciamos dentro do governo, dos vários ministérios, uma discussão, explicamos toda essa lógica. Tínhamos a presunção de falar 'olha o tamanho do buraco', o problema não é de financiamento e começamos a testar, sentir o pulso do setor privado, vieram algumas contribuições da CNI, e começou essa discussão, começou a botar fermento no bolo. Nesse meio tempo acontece uma coisa muito interessante, o candidato lula ganha. Quando ficou pronto esse desenho, nós levamos ao presidente Fernando Henrique, isso eu tenho que falar, 5 pessoas. O Guilherme Dias era o ministro do planejamento; Dr. Silveira, meu chefe, secretário de planejamento estratégico. Fomos lá mostramos para o presidente "isso aqui responde aquela questão, pelo menos, não testado de como recepcionar o setor privado para ele poder abrigar o interesse de uma regra transparente de poder fazer o investimento", aí surgiu uma coisa, no Brasil, diferentemente de uma Inglaterra, de uma Itália, se você colocou no orçamento, isso é mandatório.
Aqui você não tinha confiabilidade aí surge as garantias, as famosas garantias. Como prover uma garantia só para cobrir a contraprestação pública? E qual que é o período dessa garantia? Então por uma questão de certa forma empírica, é até por um período que esse projeto rode, ele ganhe consistência, e entenda a sociedade que este serviço ele é de fato um serviço que atende o interesse da sociedade. Mas qual a experiência? Zero, não tinha experiência. Nós tínhamos projetos, então neste momento foi criado, criado assim, como se uma portaria, a unidade PPP Brasil. Para embarcar conhecimento e [ininteligível] dessas discussões. Fomos ao presidente da república, eu participei dessa reunião pessoalmente e me recordo do presidente Henrique falou assim: "caramba, isso tinha que tá aí numa discussão, precisa se discutir isso no congresso nacional, mas eu tô saindo. Coloque isto na comissão de transição, leve isso como um dos itens que dê pra ser estudado pelo governo que chega"
E assim que foi feito, a comissão de transição do ministério de planejamento eram 3 pessoas: o deputado João Paulo, Dilma Rousseff que depois veio a ser presidente do Brasil e o ministro Palocci. Não tinham cargo nenhum, todos eram escudeiros da comissão de transição. Inclusive a ex-‐
presidente veio a ser ministra de minas energia. E o Palocci veio a ser o ministro da fazenda.
Aí eles na transição, todos eles se interessaram pelo mecanismo PPP. Tiveram atenção, entenderam, foram muito receptivos, muito receptivos. O que faz sentido, isso entrou na pauta do governo, tanto é que se vocês pegarem o que foi discutido no congresso da área econômica 2003-‐2004, foi a nova lei de PPP. Lamentavelmente, isso estou falando, foi discutido como se fosse uma coisa do PT e não foi, mas não é que tenha que ver que tenha que ser... de novo, o Brasil precisa de um projeto de longo prazo e isso tinha que ser colocado. E qual que era o grande receio que a gente tinha ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, esse negócio de se resvalar, para isso ser simplesmente um novo mecanismo para financiar obra pública, isso ia morrer no nascedouro.
Bem, eu volto pra cá, para o governo de Minas, janeiro de 2003, esse assunto continuou lá, entrou na pauta. Entrou pra valer, o deputado Paulo Bernardo foi ser o relator, o Fernando Haddad era o novo chefe da assessoria econômica, veio aqui duas vezes conversar comigo sobre o mecanismo PPP, o porquê disso. Só que nós fizemos uma coisa aqui por orientação do governador aécio, aqui foi de fato criado a unidade de PPP de Minas Gerais, e Minas Gerais colocou ainda que não fosse uma lei de Minas Gerais de aplicação geral – tinha que ser uma lei geral do congresso. Mas aqui discutiu-‐se rigorosamente os fundamentos de uma lei PPP. E aí que surge uma grande contribuição da lei de Minas Gerais, à lei federal é o instituto de PMI – do procedimento de manifestação de interesse.
O que que significa isso? Era uma maneira transparente de falar pra todo mundo e o ministério público "olha nós vamos conversar com aqueles que inclusive serão possíveis operadores" eles vão conversar antes, eles podem opinar, podem apresentar projeto, mas eu tô falando aqui de forma muito... Depois veio o regulamento que pega o decreto. O primeiro decreto de PMI do Brasil é da lei de Minas, ligada a lei de Minas, depois o decreto nacional ligado a lei federal 11079. Ainda falando desse curso histórico a lei de Minas Gerais foi aprovada -‐ sancionada -‐ em 17 de dezembro de 2003 e a lei federal foi aprovada em 30 de dezembro de 2004. Eu fui convidado pelo presidente Lula para essa assinatura, inclusive eu fui no palácio, no salão leste, quando foi ser sancionada lei PPP, convidado pelo Ministro Palocci – pelo presidente através do ministro Palocci. Joaquim Levy era o secretário executivo, lembrava desse caminhar. E nisso aí vem olhando o mecanismo e esse negócio explodiu: PPP pra isso, PPP pra aquilo e PPP serve pra isso e pode fazer PPP de investimento de 5 milhões. Era um negócio que se falou "gente, na recomendação aqui da assembleia, foi colocada inclusive o investimento mínimo, isso é para operações complexas, isso não é pra resolver... Por que todo mondo começou a falar 'vamos fazer uma PPP? faz uma PPP'" então esse negócio viralizou e ao mesmo tempo diluiu sem perder na realidade -‐ isso eu vou ter que comentar, que está atual -‐ a força de nascer um novo mecanismo que viesse a abrigar o setor privado para cumprir uma missão pública, dentro de uma oferta privada e que não só sendo uma concessão patrocinada se poderia ter o recurso que vem do usuário
final: se é uma estrada, se tem um pedágio; se é um aeroporto, se tem a tarifa de embarque; se tem uma usina de processamento de lixo, se tem o pagamento da prefeitura. E que combinasse isso com um pagamento de orçamento do governo para ajudar a formar aquele conjunto, a receita é hibrida, composta de dois pilares para que desse a taxa interna de retorno necessária, não só do investimento agora, mas do investimento, da operação e que você pudesse regrar isso pagando pelo QID.
Tem muito questionamento se... Isso hoje é uma questão sofisticada no Brasil. Você consegue perfeitamente saber.... Dá para pagar o operador para tomar dinheiro no BNDES, num vou dizer, pra pagar um head e um risco cambial, mas tem muito investidor que entrou em algumas PPP’s do Brasil e trouxe dinheiro de fora e falou assim "ó, eu banco o risco cambial, é muito mais barato a taxa de juros lá que o dinheiro do BNDES" e trouxe, botou dinheiro e tá aí. Minas Gerais inovou em que, e a inovação foi feita dentro de procedimentos que entendíamos os mais adequados, Minas tal como fez os ingleses, nós elegemos os projetos pilotos. Não é pra qualquer coisa, vamos estudar: saneamento, estradas, presídios e um projeto na área de serviço público da cidade administrativa. O 1º a ser colocado de lado foi a Cidade Administrativa, porque imagina construir um outro ativo, e a cidade administrativa naquele momento, diga-‐se de passagem, nem era imaginada a ser construída lá, era pra ser construída aqui no aeroporto do Carlos Prates. Só não foi porque de fato a Infraero não quis liberar, se não, ia ser construída aqui. Então não é pra dizer pra viabilizar... Agora, tinha uma outra coisa extremamente importante, fundamental ao desenvolvimento da região metropolitana que era o vetor norte, que precisava de um outro conjunto de equipamentos públicos e privados pra fazer com que nascesse a nova economia, que é a 'redenção de Minas Gerais' que tinha a ver como ancora o aeroporto. E é por isso que houve a criação dessa subsecretaria de investimentos estratégicos [dentro de?] da qual eu era o coordenador geral da unidade de PPPs e a subsecretaria para ter esses projetos que seriam os motores da economia a frente, levando Minas Gerais À nova economia. Porque nós estávamos, e agora não estamos, numa situação crítica, na questão de a mineração ter 50% da economia de Minas Gerais fadada a uma situação gravíssima, que eu não vou entrar aqui. Mas que nós precisávamos sair para os investimentos da nova economia, atrair os investimentos, melhor dizendo, a gente precisava de uma infraestrutura para isso. Esse estudo foi feito, saindo um pouquinho aqui, mas de certa forma, via o ambiente PPP, talvez seja o estudo mais alentado feito até hoje no Brasil para uma determinada região, para estudo de uma região metropolitana. Vale a pena vocês olharem. Foi feito pela Jurong Consultants, com ajuda de Jaime [Lerner]; depois nós pedimos uma segunda opinião disso, que a CH2M Hill ganhou com a moda canadense, seguindo aquela regra do que é prioritário, quais são os projetos elegíveis... E despontava ali uma coisa: ou nós temos um equipamento de primeira grandeza para que a saída seja pelo ar, fazer com que belo horizonte de fato tenha um equipamento aeroportuário que compita, não só dentro do Brasil, mas internacionalmente, em termos de custo, operação. Graças a deus isso, é um dos grandes legados do governo Anastasia
e do governo Aécio, é que a concessão, que foi feita, concessão pura, ela só vingou porque esses estudos que teve, primeira opinião e segunda opinião, e que mostraram que esse aeroporto seria viável para ser um novo 'hub' no Brasil. Aqui a geografia não é madrasta de Minas Gerais. Aqui tem claras condições de se fazer um grande centro distribuidor, mas isso era importante para economia regional de Minas Gerais, para fomentar uma área que não tinha sido ocupada irracionalmente ainda. Então foi planejado tudo: rodovias, o VLT, o contorno norte, tudo.
Denise: tudo do vetor norte?
Athayde: tudo, de cabo a rabo. Todo o contorno e depois a região metropolitana. Cadê o estudo de como deva ser o entorno de Inhotim? Tá pronto. Como é que vai fazer com o entorno da fábrica da Coca-‐Cola? Tá pronto. Como é que a ligação da fundação Dom Cabral daquela região pela parte leste pra chegar lá em cima? Tudo pronto, tudo estudado, com o maior nível de sofisticação que vocês puderem imaginar. Isso vale a pena estudar depois o plano macroestrutural. Que isso tem a ver com desenvolvimento sustentável da região metropolitana para nos levar pra nova economia; quais setores? Por que esses setores? 28 estudados, 4 escolhidos por que esses setores? Tem sentido as pessoas meterem o pau no aeroporto de confins, querer reabrir o da Pampulha, imagina se você reabrir a Pampulha você quebra a malha nacional pra cumprir alguns anseios que não tem nada a ver com racionalidade econômica, por que se você quebrar a malha nacional pra fazer um voo Rio de Janeiro – Belo Horizonte, nós vamos na verdade alimentar o hub de São Paulo e o hub do Rio de Janeiro, que vão distribuir pra malha, nós temos é que trazer a malha nacional pra voar aqui e daqui carregar a malha internacional pra competir lá. Por que aqui uma aproximação é 600 dólares, num é barato. É só voar e ver, e tinha que se fazer um projeto de primeiríssima grandeza. Não tem projeto no Brasil de infraestrutura aeroportuária como o Tancredo Neves, que graças a Deus, fez com que fosse uma concessão pura que os suíços ganharam com a 'CCE' e já fez o primeiro grande investimento que já é o terminal 2 que quem for lá vai ver que faz sentido. O portão internacional, serve pra embarcar o nacional, com um botão, você aperta e fecham-‐se os portões, não precisa criar mais um terminal internacional, não tem nada disso, com um padrão que fez com que esse investimento ser o único investimento que Minas Gerais teve nos últimos 3 anos foi o investimento privado que foi o aeroporto internacional, 900 milhões. Mas pra mostrar a lógica que o planejamento leva a isso, e que precisa desse negócio voar. Porque nós temos que ver a parte de testes, testes médicos, a parte de customização dos chips, a fábrica de chips veio, a fábrica de chips tá lá em... O primeiro chip hibrido do Brasil com tecnologia da IBM tá lá, já montada, tinha que ter a ligação com o aeroporto, pra... Chip é uma commodity, uma commodity digital, pra embarcar em carro, em ultrassom, onde que for, pra vender isso. Taiwan tem 500 fabricas de chip, nós temos a 1ª e paramos no meio. E aí voltando no mecanismo de PPP, era pra financiar essa malha, projeto a projeto, por PPP, saiu a primeira, que inclusive só não foi adjudicada, que é a ligação do contorno norte, de Betim até o ponto de toque na 381, ela na realidade não foi à frente.
Sem entrar no mérito e inclusive acho que se podia aperfeiçoar isso, mas saiu dentro do mecanismo PPP. Aí entra o mecanismo PPP, dando suporte para se realizar aqueles investimentos que vão mover a economia. Então Minas Gerais teve esse papel de ser o grande laboratório das PPP, mas hoje você tem 100 contratos no Brasil, mas a maior formação de técnicos de PPP do Brasil inquestionavelmente é aqui. Marcos Siqueira, Marco Aurélio de Vasconcellos, Mônica Lanna saiu daqui, Ana Salomão todos saíram daqui. Todos entraram na unidade de PPP pra começar a estudar os projetos pilotos, como é que se faz, como discute com a iniciativa privada, como se monta um PMI, e isso virou uma grande escola, e viabilizou os nove primeiros projetos. Pagou o preço do pioneirismo, olha o que que foi a MG050, mas tá rodando, olha lá que tá rodando. Vamos pegar um indicador que se paga por ele, morria na mg050 algo entorno de 30/45 pessoas por ano, o problema da 3ª faixa de segurança, hoje não morre na mg050 5 pessoas/ano. Pra se ter uma ideia, e não é pra justificar PPP, é pra justificar que esse tipo de investimento ele realmente se dá, e olha o que que é o sistema prisional de Minas Gerais em PPP. Essa coisa de fazer cadenciadamente, e com um detalhe, é a vontade do estado, não é a vontade do privado. É a vontade transparente "olha e não tá bom, volta pra trás e não licita, até na hora de licitar" e assim foi esse grande aprendizado que foi a unidade de PPP, que foi uma escola. O BID veio ai, botou dinheiro a fundo perdido pra formar esse capital institucional e fazer o capital da confiança. Então essa é a história que se tem, você pode pegar o portfólio todo, se pegar esse trabalho se lê lá as primeiras foram de Minas Gerais. Aí veio a lei federal, é uma lei aplicável, uma lei fácil, e isso sensibilizou alguns grupos que entraram nisso. Houve na realidade algumas operações dirigidas que estão dando errado, são as dores do parto mesmo, mas o que que eu posso [dizer] para concluir isso aqui, o mecanismo ele vingou, ele existe um mecanismo PPP bem definido não é qualquer parceria que se topou, um 'OSCIP' não é, é uma parceria ente o setor público e o setor privado, mas não é PPP ‘stricto sensu’ dentro daquilo que preconiza e lei, que preconiza... Isso tem uma riqueza enorme, se botar PPP contra os PMI's lançados... Teve uma pratica muito pratica muito reprovável que foi, e digo ainda cachimbo fazendo a boca torta, que são essas prefeituras que vão fazer PPP aí vem uma construtora bate na porta e "lança o PMI que eu faço PMI", não vai dar certo, cadê a garantia? Qual é a receita que vai pagar a contraprestação? Isso tudo tem que ter um senso de realismo, mas o mecanismo é um mecanismo, voltando a falar, ele está nessa transição pra se transformar num mecanismo da reforma do estado. Ou seja, vem dessas experiências já com setor privado e aí tem uma coletânea de iniciativas no Brasil a fora que isso foi crescendo e adensando, as maiores operações se deram na área de saneamento. A COPASA aqui por exemplo, esse maior investimento da COPASA pra fazer a nova ligação do Rio Manso é uma PPP contratada pela própria COPASA, o mecanismo mostrou coisas muito interessantes, não se precisa por exemplo quando se tem uma concessão municipal, e é uma COPASA que contrata... Ah, uma discussão que se teve no Brasil, quem é que pode contratar uma PPP, não é só a administração direta, a administração indireta também, isso foi um ganho em uma discussão enorme que teve na lei e entrou. Sem querer ficar falando
muito dos atores, o momento crítico na lei federal e aí se vocês quiserem fazer uma análise, é que lei aprovada na câmara, ela foi totalmente diferente daquele projeto de lei entregue na comissão de transição. Quando foi para o senado, houve um projeto substitutivo que voltou a fazer rigorosamente aqui que tinha sido apresentado, porque se ficasse a lei da câmara nos iriamos ter a PPP financiando obra pública, e aí seria um desastre, sei lá onde esse negócio estaria hoje. Então houve um esforço grande, inclusive de áreas da administração do presidente Lula contrária a outras áreas "não vamos deixar misturar isso, tem que pagar por QID e tal, tal e tal". A história mostra isso aí e esse dado é muito enfático, se tem lá o projeto de lei que foi apresentado na câmara, foi tudo fuçado, mexido. Pode ler lá, falava que podia financiar obra pública, textualmente. Foi pro senado e foi feito um trabalho enorme de Minas Gerais "não pode fazer isso, isso vai acabar com o mecanismo" foi apresentado um substitutivo, salvo engano, pelo senador Antônio Carlos Magalhães ou pelo [...] Carlos Saide nós fomos na comissão econômica e discutimos e sai a lei PPP muito afeiçoada aquela que originalmente tinha entrado na comissão de transição, a 11079. Então, nós estamos diante de uma coisa que não é nova mas estamos diante de um mecanismo que tá nessa fase saindo aí, da infância, entrando já na puberdade, precisando de alguns aperfeiçoamentos, por óbvio, mas é um mecanismo compreendido como valido na realidade brasileira de tantas dificuldades, com tantas faltas ainda, com tantas falhas ainda na questão da integração legal, precisa ainda ter muito aperfeiçoamento mas é um mecanismo que vingou-‐se, e que evidentemente eu tenho essa esperança de que é ele virá com vigor muito maior nos novos governos que não vão desperdiçar essa chance de se valer desse mecanismo, para projetos seletivos, tem aplicação para um hospital, tem aplicação pra um conjunto ode rodovias, pra uma ferrovia, um VLT, pra um metro, sem dúvida. O mecanismo ele é testado, mostra essa capacidade de convivência, e principalmente, resolve algumas questões que vai mexer um pouco com a cultura. Quando o privado investe pra ficar 30 anos gerenciando aquele ativo, ele não vai querer custos de manutenção que retirem a rentabilidade dele, se ele pode fazer na origem, com o mesmo recurso um investimento que vai dar a ele, a partir de um período determinado aí à amortização do financiamento ele ter um custo de manutenção marginal. Isso não é na realidade é o patamar elevado da engenharia, isso é negócio, e aí tem que colocar, isso é um negócio sim. Só que é um negócio que ele é hierarquizado, ele é contratado e tem que desmistificar "mas o privado tá tendo lucro" é claro que ele tá tendo lucro, evidente. Se ele não tivesse lucro, não estaria nesse papel de ser o provedor da oferta privada. Mas agora o que tem que colocar, ele tendo lucro é ainda muito mais conveniente o estado por duas razões. Uma, e eu não tô nem falando que é mais barato, mas o custo é previsível, porque fechou o contrato PPP é só a inflação e pronto, então você sabe quanto é que é lá a vaga disponibilizada lá no presídio de neves? Começou com 2100, tá hoje lá 3560, é só a inflação. Agora se o privado, se o setor público falar "olha, eu quero investimento adicional para melhorar o serviço, e esse é o caso do próprio presídio, não há problema, o contrato tem que ser flexível o suficiente que ele possa incorporar esse investimento que o provado vai fazer e isso se traduzir dentro da
contraprestação ou alongamento da operação. É um negócio em si de matemática financeira em cima de indicadores, mas que tem que ter ampla transparência. O antídoto disso é a ampla transparência, participa quem quer, concorre... Mas agora você já imaginou uma PPP nascer, já dirigida desde o início? Primeiro que não se vai ter concorrência, segundo, de fato, vai disponibilizar o serviço, mas com que ganho que isso tá trazendo? Então por isso que essa discussão do procedimento de manifestação de interesse ele tem que sair, ao meu juízo... Hoje se tem um mecanismo que é ao contrário, o privado pode apresentar e o estado reagir a isso, possível é de se fazer isso, mas nós não estamos maduros pra isso, ao meu juízo. Nós ainda temos que ter o estado indutor disso " eu quero isso, porque a prioridade é essa, porque se justifica dentro de um plano maior" isso é pedagógico.
Denise: Mas ainda não estamos nesse ponto?
Athayde: Então, nós estamos nesse ponto só que isso não está devidamente adensado. Não tô dizendo que mais de 500 prefeituras do Brasil, saiu com construtoras batendo na porta "que que você quer fazer prefeito?". "ah eu quero fazer 3 praças"...
Denise: PPP?
Athayde: "lança, eu redijo aqui pra você o PMI, aí você publica". Isso é pecaminoso? Não, não é, isso simplesmente é sujo. Isso se varre porque não vai a lugar nenhum. Se chegar e ver, dos 4 projetos de Minas Gerais, dos 4 pilotos, só um não foi feito. E lá na origem decidiu-‐se não fazer, que foi a cidade administrativa. A MG050 tá aí rodando, o projeto de saneamento tá aí rodando, que não foi este que está a aí a ser, o sistema de águas do Jequitinhonha, mas acabou resolvendo fazer a COPANOR, mas usou o mecanismo todo pra fazer o abastecimento. As duas adutoras que trazem água do manso pra uma das estações de tratamento. E o aeroporto.
Denise: O aeroporto não foi depois?
Athayde: O aeroporto não foi valendo da 'expertise' que tinha, nós preparamos tudo pra ser uma concessão pura. Porque a concessão pura na realidade, é o estágio mais avançado de uma PPP. Porque quando se contrata uma operação de PPP, se em termos de performance se tem uma contraprestação pública? Ela tende a complementar a receita vinda do pedágio para que se viabilize determinada taxa interna de retorno, que não se contrata taxa interna de retorno, se contrata sempre indicar, mas se estrai a taxa interna de retorno. Ora, se a estrada, ela ‘performa’ e os investimentos estão sendo feitos, qual é a tendência? Virar uma concessão pura, isso tá previsto. Não há mais razão de se colocar recurso público, porque o pedágio já viabilizou ela. Não é essa a tendência? Se levar para que se tenha uma concessão pura. E pra iniciativa privada? Quem é que sabe na MG050 que é um italiano, um austríaco o dono da PPP? Não sabem, mas agora eu quero saber o seguinte se está lá funcionando todo o sistema de segurança da estrada. Qual estrada que... Tô dizendo que a PPP está pronta. Isso é um aprendizado, voltando aqui, eu encerro aquilo que estava lá, qual é o mecanismo capaz de ampliar na derivada primeira a plataforma de infraestrutura do Brasil? Essa não é a solução pra tudo, por óbvio, e nunca vai
ser, mas ela é uma solução que o principal capital do setor público ele é confiança, é credibilidade, não é grana, é criar um mecanismo. E aí entra um papel extremamente relevante das universidades, olha esse mercado dos verificadores independentes, prestarem ao estado de fazer a verificação de PPP, desenvolver os programas dos QID's, esse é um mercado. A federal entrou nisso eu acho, a engenharia. Se ganha por 3-‐4 anos um contrato, você pode manter um núcleo, que roda independentemente do setor privado, roda o QID mesmo, todinho ele roda "tem que pagar só 92% porque não cumpriu a performance do mês", vai pagar e roda de novo, se torna menos corruptível isso. Passou 3 anos "ô universidade, você precisa melhorar isso..." é uma coisa mais transparente, é um grande mercado, uma grande oportunidade -‐ não vou falar mercado nas universidades. Serem verificadores independentes, de hospital, rodovia, de aeroporto e melhorar isso. Melhorar, porque daqui a pouquinho toda universidade vai falar o seguinte "no próximo PMI, melhora isso aqui, já joga no PMI que isso aqui, melhorou a performance." Essas coisas que precisam ser compreendidas como um novo capital institucional que tá nascendo. Mas agora, precisa de tempo, de perseverança de resiliência e principalmente de seriedade do setor público. E é por isso que o setor público não pode fazer o que fizeram em Minas Gerais e liquidar a unidade de PPP, isso é um absurdo por uma questão ideológica, "porque isso é uma esperteza do governo", isso é uma loucura, eu não entendo um negócio desses, "porque isso pertenceu a iniciativa privada?", pertenceu coisa nenhuma, isso veio na realidade de um processo...
Denise: De construção?
Athayde: De construção. E de quem na realidade é a inteligência? De quem que é o conhecimento? Primeiro na ordem de quem detém o conhecimento, segundo, isso é um acervo que não vale nada se não for aplicado. Pergunto: quantos PMIs estão abertos no estado de Minas Gerais? De contrato de PPP? Quais contratos de PPP foram contratados nos últimos 3 anos? Nós estamos falando de PPP, não é que PPP é solução. Parou, isso não pode acontecer, tratando-‐se de um mecanismo que tem esse poder a realidade de fazer a diferença e acho que as universidades têm um papel muito grande de indagar, de questionar, porque^? O que que foi? O que que aconteceu? Entrevistar quem é usuário. Absoluta transparência disso, isso não tem que ser monopólio de ninguém, quem tem que ter o monopólio disso é a sociedade. A sociedade pelos seus entes constituídos que é o estado, e que representa... Mas aí tem que formar gente, que não é só uma questão de conhecime4nto. É uma questão também de estrutura, de como preparar pessoas dentro do estado para serem empreendedores, e pra isso tem que entender a lógica do privado, senão não se contrata isso. E Minas Gerais, acredito que deu uma contribuição boa nisso, a nível de Brasil pra consolidar isso, projetos pilotos. Faz um tempo, nós começamos a fazer a primeira modelagem de presídios em 2003, ela foi licitada, salvo engano, em 2007, saiu na revista esse negócio, MG050 foi o primeiro projeto de PPP do Brasil, 2 anos entre se estudar, modelar, testar e até licitar. E teve gente que impugnou "não se atendeu o rigor lá dos ditames" veio o ministério público e "a licitação é pra
todo mundo", "então abre pra todo mundo, abre, deixa, pode abrir", a gente aprende com a situação. Então não se trata rigorosamente só de um mecanismo de financiamento.
Denise: É um mecanismo de reforma do Estado.
Athayde: É um mecanismo de reforma do Estado que tem esses desdobramentos de modelar o Estado para recepcionar o investimento privado para cumprir missão pública. E aí que tá o [...], talvez um instrumento para essa crise que nós estamos, não tem recurso público.
Denise: Uma última pergunta: nesse momento que nós estamos vivendo -‐ esse momento político estranho -‐ a nível de Brasil, mas Minas também, porque as coisas não estão dissociadas. Como é que você vê, você acha que esse mecanismo de reforma do estado ele tem facilitado ou prejudicado determinado setor? Ou facilitado a própria ação do estado ou prejudicado a ação do estado? Como você vê a PPP hoje nesse momento político?
Athayde: Prejudicado não. Quando eu só falei Minas é porque Minas tinha que se valer mais desse capital que fez.
Denise: E você disse que está parado, né?
Athayde: Tá parado. Mesmo não contratando, mas deveria estar com essas coisas prontas, a obra 1 que nós precisávamos para ganhar competitividade com são Paulo em termos de produtos de alto valor agregado é o contorno norte, pra botar o aeroporto na ponta de Betim, atrair os investimentos da nova economia, porque se tinha que fazer primeiro o que? A coluna vertebral, que só se viabilizou por causa de PPP, quando eu tô dizendo 'que só ficou de pé por causa disso' ainda que não tenha sido implementado, então assim... e o 2 pra ganhar na realidade em termos de região metropolita, maior capacidade de atração de empresas e ao mesmo tempo ganhar tempo. Esse ganhar tempo e aproveitar dessa logística aérea, que graças a deus, essa já tá aí e se essa coisa não funcionar... O aeroporto já tá com 13 milhões de passageiros até 2023, no dia que se falar o seguinte "bateu 20 milhões de passageiros no Tancredo neves" você fala " tem gente mais próspera no pedaço", se pode afirmar. Mas respondendo isso que você falou, o mecanismo PPP foi determinante para com que nós fossemos para os estudos de matriz de escolha, de portfólio de projetos, do que seria o setor... Se estimulou isso acontecer, ainda que não se tenha uma interdependência, e prova tanto disso é que quando esses estudos mostraram quais eram os investimentos de infraestrutura que eram prioritários, o número 1 com certeza o aeroporto, mas eu vou deixá-‐lo de lado, porque não precisava saber que era ele se a gente quisesse mudar pra nova economia, levar a economia de Minas para bens de alto valor agregado. Mas o primeiro equipamento era o contorno norte, foi feito dentro do mecanismo de PPP e o segundo seria alça sul para tirarmos essa coisa que nós temos dessa avenida, chamada hoje de anel rodoviário, pra isso virar uma avenida mesmo e se levar 1000 mil veículos pro lado de lá, mas de maneira muito mais planejada, o entorno e fazer com que se pudesse fazer esse contorno em 20-‐30 minutos, hoje se gasta 3 horas, fora o que que custa de vidas, complicações de tudo que se possa imaginar aqui o que é pegar um caminhão que saia de ouro preto querendo ir pra
são Paulo, onde que ela entra, pega a avenida amazonas aqui dentro de NH ali perto [universidade]da católica. Esse tipo de coisa, se tivesse na realidade o mecanismo, nós poderíamos estar onde, já com o PMI pronto a muito tempo, com tudo pronto pra laçar um negócio como esse, um investimento de 800 milhões, um contrato desse deve dar uns 5 bilhões de reais pra trinta anos. Isso estaria pronto. E o 3, ligação do aeroporto Tancredo Neves a 040, e 4, a ligação do aeroporto, uma linha transversal, pegar a mg020 e sair lá na 381 lá em cima, ia reordenar toda essa parte de maneira muito mais, eu diria... Se vocês verem os estudos assim, é de uma riqueza tamanha...
Denise: E porque você acha que parou Athayde? Você acha que foi ideológico?
Athayde: Ah, eu não tenho dúvida, tem uns colegas seus que eu vou te contar uma coisa. A universidade tem que se desideologizar, não pode, tratando de desenvolvimento, não pode continuar dessa forma, não pode imaginar o estado ser Atlas, não pode querer. O nosso sistema é capitalista, não como gerar riqueza e prosperidade no sistema capitalista que não se fomente a iniciativa privada e que isso bata lá na célula familiar, não tem jeito de querer prover isso: vamos prover o poste, a rua... não existe isso, não adianta ficar nesse proselitismo. Tem que ter realismo pra esse tipo de coisa "ah eu complemento a minha renda com um projeto aqui." faça isso em prol dos projetos que vão transformar a sociedade, não que não tenha mérito esse tipo de coisa, mas não pode continuar assim, e esse tipo de coisa nos últimos 15 anos. A universidade se assenhorou de um espaço de pensar a sociedade a partir de seu próprio umbigo, não é assim. Isso tem que ser uma discussão um pouco mais diversa e estou dizendo isso não é pra entrar nos intestinos da universidade, é porque está a larga. Projetos que interessam a sociedade, interessa ela a universidade ser encomendada de coisas que são, o que eu acabei de falar aqui dos verificadores de pop? Quem que tá? É importante essa discussão e eu acho que ela vai aflorar, mas tem que haver essa desideologização.
Denise: Isso só tá na universidade, ou tá no âmbito do estado em termos de PT, PSDB essa briga em Minas Gerais?
Athayde: Deixa eu dizer, no caso de Minas Gerais se tenha um político em Minas Gerais que é uma situação sui generis. Essa relação...
Denise: O Aécio...?
Athayde: O Aécio até não. O Anastásia teve seus erros e acertos, teve um programa propositivo em todas as áreas. Eu tô dizendo a situação atual é 'sui generis' para uma agenda por exemplo de desenvolvimento. Que que tem em Minas Gerais em construção? Qual o projeto acima de 50 milhões de dólares hoje que tem a marca do governo no estado de 20 milhões de pessoas? Não tem, entendeu e isso por causa da crise econômica? Também, mas não é só não, não é só mesmo. O freio da economia foi enorme, mas não é só isso não. Eu não quero adentrar nessa questão, mas não se pode ter visões de longo prazo. Rumo e estratégia econômica por isso tem que ser discutido na universidade, que não olhe pra trinta anos 'gente isso tem sentido aqui" e se pode aperfeiçoar, mas não se pode abrir mão disso. Então se nós tínhamos um mecanismo como
esse, testado já, queira ou não queira, nós pagamos -‐ o estado de Minas Gerais no caso -‐ nós pagamos porque somos mineiros contribuintes, a prestação publica somados os projetos todos que tem aí, uns 200 milhões, 230 milhões por ano de contraprestação de pop. Tem o Mineirão que tá nessa conta, a mg050, presídios tudo tá nesse portfólio. Você acha que isso deveria parar? Eu não posso [responder]... Por mais que eu seja uma pessoa assim, fora do habitat, pra falar sobre isso, eu posso achar as perguntas, mas eu não tô falando por causa do governo. O governo é passageiro, o PT tem 4 anos, 2018 vira rinha politica de novo. O governo não pertence ao governante.
Denise: o governo não é o Estado.
Athayde: o governo é para o Estado. E o governante ele é o representante do povo, ele não é representante do Estado. E essas coisas vão ficando cada vez mais claras, essa cambada que se locupletou do estado, porque era governante tem que pagar mesmo, isso não pode continuar assim, não é só porque tá faltando dinheiro não, é porque deixou de cumprir a missão essencial de promover o desenvolvimento, melhorar o serviço, melhorar o regramento. Quem falou que o governador do estado não é servidor público? É, ele é um servidor público, tá lá pra servir, isso não é discurso. Então, não se pode ter numa agenda tão complexa como é a do desenvolvimento, principalmente naquilo que seja de drives importantes, não se ter um discurso que inclusive questione se a estratégia traçada -‐ se não tiver estratégia tem que discutir -‐ se ela tá de pé, se ela tá de pé, tem que aperfeiçoar, tem que adaptar. Mas não se pode ter uma ruptura com isso porque [ela] é de outro partido, pior ainda, é o fim do mundo. Porque a população do estado de Minas Gerais está muito acima de um partido, tá muito acima de quem foi eleito, com todo respeito. E é isso, se nós estamos falando de mecanismos que são do estado, que pertencem a agenda de reforma do estado... estão assim nossos governantes, e isso tem que se ir para um processo de aggiornamento da máquina pública, não pensa que vai funcionado assim, não é assim que funciona. Eu acho que, eu sou uma pessoa otimista, acho que não é que só tem muito por fazer, é que tem muita coisa que pode ser aproveitada, o americano fala " tem que ter commitment numa mão e um taco de basebol de baixo da mesa, o accountability, isso tem que ser assim mesmo, pra ver se essas coisas dão resposta, por que a gente também tem que ter discernimento que a sociedade, as pessoas mais desvalidas economicamente, socialmente elas não tem uma ideia do todo. Não tem sentido o metrô de belo horizonte, tem 22 anos... Eu fico pasmo com um negócio desses, instrumento político na essência, isso é um absurdo. A linha expressa para o aeroporto, diante do que é o aeroporto, nós não podemos perder um dia se quer em termos de competição com São Paulo, Campinas, com Rio, o Rio coitado vai passar um aperto, por outra razão, porque ele precisava do arco norte, o arco norte vai parar. Ele era arco norte em direção as fabricas de carro lá de Porto Real e em direção ao aeroporto de Cabo Frio, que tá lá, uma obra belíssima mas parou -‐ aqui nós nem começamos -‐ mas o que se faz sobre o investimento? O investimento ele é fundamental, na implantação são 6 mil empregos diretos, isso é acender o braseiro do forno da Usiminas, dos fornos de cimento aqui.
"E o que se está fazendo?" É empreendedorismo, é credibilidade do governo e um mecanismo que vai levando essa coisa. Isso tem que estar em discussão, tem que estar em pauta, por isso que é um instrumento da reforma do estado na área do desenvolvimento, na área do desenvolvimento, não é em sentido lato não. Eu sou otimista de que essa discussão vai se estabelecer de novo e não tem ninguém que é dono da verdade não, as ideias tem que ser confrontadas E a pergunta "Tem que esperar o estado, O estado vai fazer isso? Vai se esperar que o estado vai botar dinheiro pra desapropriar uma área que o proprietário vai ter resultado?" Não tem sentido, isso é absurdo, "então o senhor proprietário vai passar o terreno pro estado" se é pop não tem problema nenhum, vale-‐se a terra porque tem o valor da terra, se é errado da forma de fazer o valor da terra, que tem teses e mais teses sobre isso, tudo bem. Vale, não vale? Acerta-‐se o valor, leva a conta capital da SPC, a SPC te bota lá 15 anos pra ou você é sócio da SPC ou tem o [...], eu duvido que o cara do setor privado não vai querer isso. Agora o quê que é a masmorra que nós estamos? "Ah não, vou desapropriar, fazer que isso tenha um valor que adiante um pouco do dinheiro pra você liberar pra construir obra" aí não se constrói obra... Esse tipo de enredamento que nós temos que sair dele, é pra tudo? Não é, mas para as coisas essenciais tem um papel. E quando nós estamos falando aqui, nós estamos falando não tem nada contra o estado, tem que formar a consciência dos prefeitos, dos vereadores, sair da lógica do ganha-‐ganha ali. A noção dele de desenvolvimento do bolso dele. Isso tem um papel relevante para o capital institucional o mecan9ismo tem um papel importante e eu acho, que a universidade tem um papel...
Denise: De discutir?
Athayde: De abrir o debate. Tem história, toda história tem seus protagonistas, seus coadjuvantes, não é por isso. Isso não é uma coisa qualquer. Se nós estamos falando de PPP vai pra área de internet, o que significa a discussão da nova lei da internet. São várias áreas pra que é muito importante um estado preparado e eficiente, pessoas capacitadas, treinadas sem nenhum tipo de recebido de conversar com o setor privado, não tem rabo preso "mas eu sou estado" tem que ser claro "eu sou estado" o cara tem que saber que ele é o estado, ele vai sentar na mesa e negociar duro, mas ele é o estado. Isso vai dar um peso enorme nessa reforma maior.
Denise: Talvez seja aí um ponto frágil né, por que o cara não vai representando o estado.
Athayde: o ponto frágil é que isso se transformou em voto ainda. Esse que é o ponto frágil, mas a sociedade tá se conscientizando, meio lenta mas tá se conscientizando disso.
Denise: Nós não temos representantes do Estado desse nível, conceitualmente falando.
Athayde: nós não temos representantes da população que façam esse estado...
Denise: Ser forte.
Athayde: Imagina assim, dos 7 conselheiros do Tribunal de Contas, 5 estão na cadeia hoje. Isso é higiênico eu acho. O presidente da assembleia foi levado coercitivamente para depor, mas o que que esse pessoal fez com o voto do povo? Eles assaltaram os cofres e a esperança do povo, esse que é o problema grave dessas pessoas. Não é só o servidor público que deixou de receber seu salário, que também é importante, e aí vem uma coisa que eu acho extremamente perversa, essas pessoas que fizeram isso foram muito hábeis para lidar com a força das corporações. O toma lá dá cá
Denise: foi muito bem negociado.
Athayde: Foi. Que é legal mas...
Denise: Imoral.
Athayde: Alguns são imorais. Esse que é o problema e essa discussão não pertence a um mundo político, ela não pertence a um partido, mas tem partidos que podem tomar aquela bandeira e falar "isso aqui tem sentido e nós vamos defender" por isso essa coisa de se imaginar num país como o Brasil se ter lista fechada [de empresas?] Se votar em lista fechada, nós não estamos maduros para isso. Imagina como você vai se [...] isso pra discutir alguma coisa que é da minha área que é estratégia econômica? Que é uma coisa complexa, tem interesses. E estou dizendo interesses é de competição. No estado de São Paulo quem ganhou a concessão do Aeroporto de Guarulhos, ninguém nem vê falar na concessão do Tancredo neves, nem ver falar. Até a última hora pagou a notícia da imprensa pra falar que era o patinho feio, que não teria nenhum candidato aqui, entrando com uma questão de ordem, um deputado entrou com uma questão de ordem no TCU dizendo que na realidade se teria que abrir pra mais candidatos, que na verdade não era pra abrir, era pra melar o leilão pra não concessionar, mas que não se queria na realidade era abrir mercado, porque aqui embarca todos os dias 1000 pessoas pra ir para o exterior daqui.
Denise: Privilegiar lá, claro, competição né.
Athayde: Isso! Competição ué. Então é isso gente.
Denise: Não deu nem pra fazer muitas perguntas, eu fiquei interrompendo, mas é porque tem algumas coisinhas que a gente fica querendo...
Athayde: De forma alguma, vocês veem como transformam isso aí num fio condutor e o que eu puder eu corrijo pra vocês. O importante é vocês terem uma visão um pouco mais equidistante, e se vale o contexto histórico é pra isso.
Denise: São pontos de vista importantes de vários agentes.
Athayde: Agora a carteira de PPP eu vou mandar pra vocês, eu tenho uma apresentação que tem a carteira de todas as operações de PPP do Brasil, tem o...
Denise: Você falou do outro documento também que tem a curva de tendência...
Athayde: É tá no meio do documento, tem o que tem de PMI, as operações contratadas, tem os principais marcos desde a Lei de....