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Pesquisa “Grandes Projetos Urbanos no vetor norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte” Entrevista com Luiz Antônio Athayde Entre 19951998 (Governo Fernando Henrique Cardoso – FHC), Athayde foi CoordenadorGeral das privatizações dos bancos do estado de Minas Gerais CREDIREAL S.A. e BEMGE S.A.; entre 1999 Janeiro/2003 (Governo FHC), foi Diretor da Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; Coordenador da criação da “Rede Brasileira de Promoção de Investimentos” (INVESTE BRASIL), Coordenador da Unidade Parcerias PúblicoPrivadas (até 2002) e Coordenador adjunto da Comissão Interministerial do “Projeto Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sul Americana” (IIRSA); entre Março/2003Dezembro/2010 (Governo Aécio Neves), foi Subsecretário de Assuntos Internacionais da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais, SecretárioExecutivo do Conselho de Comércio Exterior de Minas Gerais e CoordenadorGeral da Unidade Parceria Público Privada/MG; entre Janeiro/2011Dezembro/2014 (Governo Antônio Anastasia), foi Subsecretário de Investimentos Estratégicos da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais. 29 de março de 2017 Entrevistadores: Denise Morado, Daniel Freitas e Thais Nassif. Athayde: Uma questão de ordem aqui: vocês gostariam de ter mais uma visão históricoanalítica das parcerias público privadas no Brasil e em Minas Gerais – que foi um locus importante para esse mecanismo – ou vocês querem ouvir um pouco mais sobre a que se presta o mecanismo, como esse mecanismo é adaptável, como é melhor na realidade aplicável, o que que é risco...? Assim, se a gente vai falar de PPP, a gente tem o script do que é o mecanismo, o QID – Quadro geral de indicadores – risco, marco regulatório... não que essas coisas não façam parte de um compêndio como um todo, mas são vetores, né? Enfim, o que se presta mais à pesquisa de vocês? Denise: A princípio a gente estaria mais interessado nessa primeira parte que você colocou: uma coisa histórica e analítica. Quando você tocar nesse processo – Brasil, Minas Gerais, Belo Horizonte – talvez, de alguma maneira, esse outro lado compareça um pouco. Porque as informações sobre o mecanismo em si, como ele funciona e foi criado, ou seja, a visão técnica da coisa, nós conseguimos algumas informações porque são informações até mais fáceis de ser encontradas. Agora, a visão de quem estava nesse processo é muito importante pra nós. Esse processo histórico analítico. Athayde: Então vamos lá, ver se a gente tem um ponto de referência com relação à realidade do mecanismo... O mecanismo per se das parcerias públicoprivadas até hoje, 1516 anos depois, encerra uma visão um tanto quanto difusa, até distorcida, do que realmente está por debaixo do regramento legal das PPPs que no Brasil é muito bem destacado, muito bem definido. Isso tem a ver com um enorme questionamento de um governo – o primeiro mandato do Fernando Henrique Cardoso – que estava contido numa frase: porque que o setor privado é tão refratário a investir em concessões no Brasil? Essa pergunta está diretamente ligada ao colossal deficit de estrutura no Brasil – se você falar 100 bilhões é pouco – e o que eu estou dizendo não é uma ponte ali no Ribeirão do Onça, estou dizendo obras de infraestrutura de razoável porte, ou seja estou falando de infraestrutura que são obras de grande calibre (termoelétricas, usina hidroelétrica, estradas, aeroportos, centros logísticos), e que esse deficit de estrutura na realidade em algum momento foi mapeado. Ele foi mapeado no Brasil e todos levaram um susto com o tamanho. E em função do que surgiu esse portfólio de projetos de estrutura? Isso estava diretamente ligado à questão da competitividade da economia brasileira. Na realidade nós somos um queijo suíço, nós somos uma economia toda fractal, sob o ponto de vista da infraestrutura. Então, se você imaginar um país da dimensão do Brasil, um PIB que ronda aí 2 trilhões de dólares, você imagina os ativos que nós temos na infraestrutura, vis a vis aquilo que na realidade se precisa na economia: uma maior capacidade de competição entre regiões do Brasil e para o exterior. É, de certa forma, uma coisa anacrônica, ou seja, nós desperdiçamos capacidade de gerar riqueza, literalmente. Por conta – se você olhar diretamente os quesitos, não é o único – da capacidade de competição da nossa economia, nós temos um desleixo, para não falar de uma enorme omissão com relação a essa plataforma de estrutura. Muito bem, um apêndice a se colocar aqui para que a gente fale do mecanismo, foi feito no Fernando Henrique, e por favor, vamos deixar a ideologia de lado, vamos olhar na realidade um corte histórico. Não que já não se tinha preocupações, mesmo muito antes do governo Fernando Henrique, nos governos de exceção... O Brasil por ser um país de porte continental, com uma economia diversa, e ao mesmo tempo que ela teve impulsos muito grandes em alguns setores, a destacar aí, a questão do agronegócio. Mas nós na realidade nós conseguimos evoluir muito na atividade produtiva e muito pouco nos ativos de infraestrutura do Brasil. É esse enfoque importante para que em algum momento se fale "o assunto PPP calhou aqui", esses antecedentes são muito importantes para dizer porque que o assunto PPP de certa forma foi mais organizado, mais hierarquizado no Brasil. Terminou que, em 1995, nós já tínhamos uma lei de concessão, a Lei de Geral de Concessões de 1995. Mas se você comparar o que a lei de concessões deu de provimento ao Brasil: a via Dutra, a ponte RioNiterói, ferro norte (se não me engano também foi concessionada), é risível diante desse enorme ‘gap’ que se tinha. E que, de certa maneira, preocupava as autoridades brasileiras, preocupava a área econômica, preocupava a área de planejamento do Brasil o fato de não ter um portfólio de projetos de infraestrutura associado e hierarquizado de importância em termos de contribuição a essa melhoria da competitividade, e diante daquilo que o Brasil estava numa condição de melhor competir, seja intra regiões, seja com o exterior. E a gente tem que ver isso é de acordo com algumas coisas que são dadas: a geografia, a plataforma

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Pesquisa  “Grandes  Projetos  Urbanos  no  vetor  norte  da  Região  Metropolitana  de  Belo  Horizonte”  

       

Entrevista  com  Luiz  Antônio  Athayde  

Entre   1995-­‐1998   (Governo   Fernando   Henrique   Cardoso   –   FHC),  Athayde   foi   Coordenador-­‐Geral   das   privatizações   dos   bancos   do  estado  de  Minas  Gerais  CREDIREAL  S.A.  e  BEMGE  S.A.;  entre  1999-­‐Janeiro/2003   (Governo   FHC),   foi   Diretor   da   Secretaria   de  Planejamento   e   Investimentos   Estratégicos   do   Ministério   do  Planejamento,   Orçamento   e   Gestão;   Coordenador   da   criação   da  “Rede   Brasileira   de   Promoção   de   Investimentos”   (INVESTE  BRASIL),  Coordenador  da  Unidade  Parcerias  Público-­‐Privadas   (até  2002)   e   Coordenador   adjunto   da   Comissão   Interministerial   do  “Projeto   Iniciativa   de   Integração   da   Infraestrutura   Regional   Sul  Americana”   (IIRSA);   entre  Março/2003-­‐Dezembro/2010   (Governo  Aécio   Neves),   foi   Subsecretário   de   Assuntos   Internacionais   da  Secretaria   de   Desenvolvimento   Econômico   do   Estado   de   Minas  Gerais,  Secretário-­‐Executivo  do  Conselho  de  Comércio  Exterior  de  Minas   Gerais   e   Coordenador-­‐Geral   da   Unidade   Parceria   Público-­‐Privada/MG;   entre   Janeiro/2011-­‐Dezembro/2014   (Governo  Antônio   Anastasia),   foi   Subsecretário   de   Investimentos  Estratégicos   da   Secretaria   de   Desenvolvimento   Econômico   do  Estado  de  Minas  Gerais.    

29  de  março  de  2017  

Entrevistadores:  Denise  Morado,  Daniel  Freitas  e  Thais  Nassif.    

Athayde:  Uma  questão  de  ordem  aqui:  vocês  gostariam  de  ter  mais  uma  visão  histórico-­‐analítica  das  parcerias  público-­‐privadas   no   Brasil   e   em  Minas   Gerais   –   que   foi   um   locus  importante  para  esse  mecanismo  –  ou  vocês  querem  ouvir  um  pouco  mais  sobre  a  que  se  presta  o  mecanismo,  como  esse  mecanismo  é  adaptável,   como  é  melhor  na   realidade  aplicável,  o  que  que  é  risco...?  Assim,  se  a  gente  vai  falar  de  PPP,  a  gente   tem  o  script  do  que  é  o  mecanismo,  o  QID  –  Quadro   geral   de   indicadores   –   risco,   marco   regulatório...  não   que   essas   coisas   não   façam   parte   de   um   compêndio  como  um  todo,  mas  são  vetores,  né?  Enfim,  o  que  se  presta  mais  à  pesquisa  de  vocês?  

Denise:  A  princípio  a  gente  estaria  mais   interessado  nessa  primeira   parte   que   você   colocou:   uma   coisa   histórica   e  analítica.  Quando  você  tocar  nesse  processo  –  Brasil,  Minas  Gerais,   Belo   Horizonte   –   talvez,   de   alguma   maneira,   esse  outro   lado   compareça   um   pouco.   Porque   as   informações  sobre  o  mecanismo  em  si,   como  ele   funciona  e   foi   criado,  ou  seja,  a  visão  técnica  da  coisa,  nós  conseguimos  algumas  informações  porque  são  informações  até  mais  fáceis  de  ser  encontradas.  Agora,  a  visão  de  quem  estava  nesse  processo  é   muito   importante   pra   nós.   Esse   processo   histórico-­‐analítico.  

Athayde:  Então  vamos  lá,  ver  se  a  gente  tem  um  ponto  de  referência   com   relação   à   realidade   do   mecanismo...   O  mecanismo  per   se   das  parcerias  público-­‐privadas  até  hoje,  15-­‐16   anos   depois,   encerra   uma   visão   um   tanto   quanto  difusa,   até   distorcida,   do   que   realmente   está   por   debaixo  do   regramento   legal   das   PPPs   que   no   Brasil   é  muito   bem  destacado,   muito   bem   definido.   Isso   tem   a   ver   com   um  

enorme   questionamento   de   um   governo   –   o   primeiro  mandato   do   Fernando   Henrique   Cardoso   –   que   estava  contido   numa   frase:   porque   que   o   setor   privado   é   tão  refratário  a  investir  em  concessões  no  Brasil?  Essa  pergunta  está  diretamente   ligada  ao  colossal  deficit  de  estrutura  no  Brasil  –  se  você  falar  100  bilhões  é  pouco  –  e  o  que  eu  estou  dizendo   não   é   uma   ponte   ali   no   Ribeirão   do   Onça,   estou  dizendo  obras  de   infraestrutura  de   razoável  porte,  ou  seja  estou   falando   de   infraestrutura   que   são   obras   de   grande  calibre   (termoelétricas,   usina   hidroelétrica,   estradas,  aeroportos,   centros   logísticos),   e   que   esse   deficit   de  estrutura   na   realidade   em   algum   momento   foi   mapeado.  Ele  foi  mapeado  no  Brasil  e  todos  levaram  um  susto  com  o  tamanho.    

E   em   função   do   que   surgiu   esse   portfólio   de   projetos   de  estrutura?   Isso   estava   diretamente   ligado   à   questão   da  competitividade   da   economia   brasileira.   Na   realidade   nós  somos   um   queijo   suíço,   nós   somos   uma   economia   toda  fractal,   sob   o   ponto   de   vista   da   infraestrutura.   Então,   se  você   imaginar  um  país  da  dimensão  do  Brasil,  um  PIB  que  ronda  aí   2   trilhões  de  dólares,   você   imagina  os   ativos  que  nós   temos   na   infraestrutura,   vis   a   vis     aquilo   que   na  realidade   se   precisa   na   economia:   uma  maior   capacidade  de  competição  entre  regiões  do  Brasil  e  para  o  exterior.  É,  de   certa   forma,   uma   coisa   anacrônica,   ou   seja,   nós  desperdiçamos   capacidade   de   gerar   riqueza,   literalmente.  Por  conta  –  se  você  olhar  diretamente  os  quesitos,  não  é  o  único  –  da   capacidade  de   competição  da  nossa  economia,  nós   temos   um   desleixo,   para   não   falar   de   uma   enorme  omissão  com  relação  a  essa  plataforma  de  estrutura.  Muito  bem,  um  apêndice  a  se  colocar  aqui  para  que  a  gente   fale  do  mecanismo,  foi  feito  no  Fernando  Henrique,  e  por  favor,  vamos  deixar  a  ideologia  de  lado,  vamos  olhar  na  realidade  um  corte  histórico.  Não  que  já  não  se  tinha  preocupações,  mesmo   muito   antes   do   governo   Fernando   Henrique,   nos  governos   de   exceção...   O   Brasil   por   ser   um   país   de   porte  continental,   com   uma   economia   diversa,   e   ao   mesmo  tempo   que   ela   teve   impulsos   muito   grandes   em   alguns  setores,  a  destacar  aí,   a  questão  do  agronegócio.  Mas  nós  na   realidade   nós   conseguimos   evoluir   muito   na   atividade  produtiva   e   muito   pouco   nos   ativos   de   infraestrutura   do  Brasil.   É   esse   enfoque   importante   para   que   em   algum  momento   se   fale   "o   assunto   PPP   calhou   aqui",   esses  antecedentes  são  muito  importantes  para  dizer  porque  que  o   assunto   PPP   de   certa   forma   foi   mais   organizado,   mais  hierarquizado  no  Brasil.    

Terminou   que,   em   1995,   nós   já   tínhamos   uma   lei   de  concessão,   a   Lei   de  Geral   de  Concessões  de  1995.  Mas   se  você   comparar   o   que   a   lei   de   concessões   deu   de  provimento  ao  Brasil:  a  via  Dutra,  a  ponte  Rio-­‐Niterói,  ferro-­‐norte   (se   não   me   engano   também   foi   concessionada),   é  risível   diante   desse   enorme   ‘gap’   que   se   tinha.   E   que,   de  certa   maneira,   preocupava   as   autoridades   brasileiras,  preocupava   a   área   econômica,   preocupava   a   área   de  planejamento   do   Brasil   o   fato   de   não   ter   um   portfólio   de  projetos   de   infraestrutura   associado   e   hierarquizado   de  importância  em  termos  de  contribuição  a  essa  melhoria  da  competitividade,  e  diante  daquilo  que  o  Brasil  estava  numa  condição  de  melhor  competir,  seja  intra  regiões,  seja  com  o  exterior.   E   a   gente   tem   que   ver   isso   é   de   acordo   com  algumas   coisas   que   são   dadas:   a   geografia,   a   plataforma  

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existente   até   então,   os   atores   que   financiavam   e  empreendiam  as   ações   desses   ativos,   se   o   Estado   ou   se   a  União.  Mas,  e  é  esse  o  dado  que  eu  quero  marcar  posição,  a   participação   do   setor   privado   era   risível,   para   não   falar  praticamente   nula,   diante   de   duas   coisas:   diante   da  plataforma   existente   –   dos   ativos   existentes   –   e   de   uma  possível   capacidade   de   maior   participação   da   iniciativa  privada.    

Então,  nós  temos  no  primeiro  governo  Fernando  Henrique  Cardoso,   que   parte   de   um   programa   que   se   chamou-­‐se  "Brasil  em  Ação”,  nós  tivemos  o  início  disso  tudo  alentado.  O  que  começou  como  "Brasil  em  Ação"  tomou  outra  forma  chamava   "Avança   Brasil"   que   eu   estou   fazendo   essa  observação,   mas   por   favor,   nós   tivemos   nos   últimos   15  anos   uma   apologia   a   ter   nomes   cunhados   para   coisa  nenhuma,   e   o   que   quis   dizer   com   coisa   nenhuma   é  simplesmente,   eles   davam   uma   marca   de   uma   ação   de  governo.  Todo  governo,  ele  seja  qual  for,  tem  que  ter  uma  ação,  mas   ele   não   era   um   programa   de   desenvolvimento,  aquilo  lá  atrás  ensejava  um  programa  de  desenvolvimento,  vale   dizer:   era   você   verificar,   olhando   o   Brasil   como   um  todo,  onde  se  tinha  os  eixos  estruturadores  que  precisavam  levantar   portfólios   de   novos   projetos   e   não   só   na  infraestrutura,   na   educação,   na   saúde,   na   área   de  tecnologia  e  que  isso  viesse  a  contribuir  com  a  mudança  de  patamar   da   capacidade   de   você   ter   duas   respostas:   gerar  mais  renda  e,  associado  a   isso,  gerar  riqueza  e  emprego  e,  como  na   realidade,  hierarquizar   isso  e   financiar.  Então  era  para  isso,  financiar  porque  não  importa  se  o  privado,  se  é  o  público,  se  o  público-­‐privado,  não  importa.    

Esse   estudo   foi   conduzido   com   recursos   do   BNDES   salvo  engano,   custou   15   milhões   de   dólares.   Na   época,  contratado  pelo  BNDES,  vou  lembrar  aqui,  uma  das  grandes  consultoras  internacionais  muito  conhecida,  eu  vou  lembrar  aqui   o  nome,   eu  não   trabalhei   nessa  primeira   fase,  mas  o  fato  é  que  houve  um  processo   licitatório  muito  concorrido  que  escolheu  essa  empresa  e  começou.  O  nosso  tema  não  é  ficar  falando  sobre  essa  contratação,  mas  se  contratou  um  estudo   que   pudesse   mostrar   na   realidade   o   conjunto  desses   projetos   –   desconsiderando   as   fronteiras   –   o  território   era   o   Brasil.   Mas   que   se   tivesse   os   eixos  estruturadores  da  economia  do  Brasil,  por  hora,  não  iria  se  esgotar,   mas   daria   essa   ossatura,   essa   vertebração   mais  importante.  Na  realidade,  isso  está  na  internet,  é  muito  rico  esse  material,  os  estudos  são  riquíssimos,  vale  a  pena  para  quem  quiser  pesquisar,  olhar  isso  porque  isso  vai  em  algum  momento   chegar   até   outras   questões   maiores   de  indagações  que  aí  estão.    

Então,   no   segundo   mandato   do   governo   do   Fernando  Henrique   Cardoso   percebeu-­‐se,   me   desculpe   o   termo  chulo,   que  o   “buraco   era  mais   embaixo”.  Que   se   tinha   na  realidade   um   deficit   muito   maior,   se   tinha   uma   falta   de  correlação,   e   essa   correlação,   era   possível   fazer   entre  projetos   visando   prioridade.   "O   que   faço   primeiro?"   E   "o  que   faço   primeiro   dentro   dos   eixos?".   Então   isto,   se  depurar  isso  poderia-­‐se  falar:  "faz  primeiro  em  que  setor?",  faz   primeiro   no....   Na   realidade,   na   cooperação   de   que  setores,   para   se   ter   uma   resposta   mais   rápida?"   Se   tinha  várias   formas   de   combinar   isso   e   aquilo   se   mostrou  realmente   um   estudo   de   primeira   grandeza   para  exatamente   dar   subsídios   as   áreas   de   planejamento   do  

Brasil.  O  BNDES  que  financiava,  e  a  primeira  constatação  é  que   era   impossível   imaginar   a   capacidade   que   teria  recursos   orçamentários   federais,   e   se   somar   aos   recursos  do   BNDES.   Mesmo   financiando   a   iniciativa   privada:   "opa,  BNDES  não   vai   financiar   governo  para   fazer   isso";   então  é  como   financiar   a   iniciativa   privada   para   fazer   parte   dessa  estrutura.   Nós   não   temos   marco   regulatório,   não   temos  ânimo,   não   tem  empreendedorismo,   então  nós   temos  um  problema  aqui.   Esse   gerenciamento  que   se   teve  mudando  um   pouco   a   pegada   do   modelo   de   gestão   incluía   nesse  momento   um   conjunto   de   projetos   que   não   só   de  infraestrutura,  mas  que  na   realidade  o  primeiro  programa  no  Brasil  de  Gestão  por  Resultado  em  Projeto,  que  também  estava   debaixo   desse   guarda-­‐chuva   chamado   “Avança  Brasil”.    

E   aí   nasceram   os   350   projetos,   ou   programas  estruturadores.   Muito   badalado,   muito   comentado,   mas  uma   novidade,   porque   pela   primeira   vez   se   olhava   o  território   e   se   via   as   fronteiras   geográficas   e   se   via  corredores,   eixos.   Era   diferente,   se   tinha   um   eixo   que  pegava   aqui   da   região   do   norte   de   Minas   e   subia   até   o  Nordeste,   sem   entrar   aqui   nos   fundamentos   que   na  realidade  hierarquizaram  os  eixos,  não   importa  aqui  agora  debater  essas  posições,  acho  que  vocês  encontram  isso   lá.  Ali,   eu   sempre   trabalhei   como   um   técnico   em  infraestrutura,   desde   que   eu   entrei   no   BDMG,   eu   sou  economista,  mas   fui   cambiando   para   ser   na   realidade   um  analista  de  projetos  de   infraestrutura  -­‐   fala  aí  Luís  Antônio  para  você  ver,  uma  usina  de  emborcação...  olha  aí   -­‐  e  tem  até  uma  pessoa  da  área  de  urbanismo  que  me   levou  para  fazer   um   mestrado   de   Urbanismo,   Teodoro   Alves  Lamounier.   Tá   aí   o   Téo,   foi   meu   primeiro   chefe.   E   foi  quando   criou   a   área   dos   serviços   de   infraestrutura   do  BDMG,   a   famosa   área  3.   E   foi   onde  que  eu  me  apaixonei,  moleque  ainda,  e  isso  está  tudo  por  fazer.    

Mas  era  ainda  um  país  a   construir,  e  o  que  mais   chamava  atenção   era   a   profundíssima   alienação   da   classe   política  com  relação  a   isso.  Não   tô  dizendo  que  eles  não  achavam  que  não  tinha  que  fazer,  é  que  não  lhes  adentrava  a  como  financiar  isso.  "Como  é  que  vai  financiar  isso?"  Para  ter  uma  resposta   a   algo   que   no   Brasil   agora   começasse   a   se   falar:  "nós  vamos  começar  a  trabalhar  para  gerar  riqueza,  renda,  o  povo  precisa  ser  rico",  você  precisa  gerar  riqueza,  se  você  não   gerar   riqueza,   você   não   resolve     o   problema   do  desenvolvimento  do  povo,  não  há  como  até  mesmo  se  for  pra   pagar   um   sistema   de   saúde.   Mas   se   você   não   criar  condições   para   gerar   renda   –   e   que   você   gere   renda   e  oportunidade   –   e   que   as   pessoas   cresçam   nisso,   isso  impacta   o   sistema   educacional,   e   vai   embora,   vai   na  universidade,   e   você   cria   esse   ciclo   virtuoso.   Esta   questão  de  que  a  gente  tinha  essa  visão  muito  isolada  dos  projetos,  não   tô   dizendo   que   não   tinha   planejamento,   tinha   já   um  planejamento  sistêmico,  mas  muito  aquém  daquilo  que  se  poderia   preparar   o   Brasil   para   crescer   mais   rápido,  independentemente   de   quem   estivesse   no   poder.   O   que  deu  esse  corte  na  época  do  Fernando  Henrique  Cardoso,  foi  simplesmente  acender  a   lâmpada  no  mapa  do  Brasil  e  ver  que   a   plataforma   que   tem   é   essa   aí   e   para   que   nós  possamos   ter   um   papel   diferenciado   no   mundo,   tinham  questões  que  batiam  na  cara  da  gente,  não  representavam  1%  das  exportações  do  Brasil.    

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O  Brasil  nunca  teve  vocação  para  ser  um  país  de  economia  ligada   ao   esforço   exportador,   e   aí   começava   a   antever   as  coisas:   "gente,   vem  a  nova  economia,  e  a  nova  economia,  vem   a   economia   de   serviços,   vem   um   outro   padrão   de  saúde..."   e   como   se   vai   "tocar"   essas   coisas?   Esse   estudo,  deu  de  certa  forma,  lineamentos  para  que  você  enxergasse  isso.   E   agora   afunilando,   vamos   lá   no   portfólio   de  infraestrutura,  ele  tinha  um  número,  só  de  um  conjunto  de  300-­‐400   projetos,   salvo   engano.   Não   importa   o   número,  precisava   de   algo   em   torno   de   130   bilhões   de   dólares.  Então   jamais   poderia   se   imaginar,   e   com   todas   as  vicissitudes,  da  práxis  de  operar  orçamento.  No  orçamento  mudou  o  governo,  mudou  essas  coisas  que  você  transvestia  como   funcionava   o   orçamento,   se   se   tinha   uma   estrada  muito   importante,   fazia-­‐se   3km   dela   da   maneira   –   me  desculpe   –   da   maneira   mais   porca   possível.   Um   sistema  viciado  na   forma  de   fazer   infraestrutura  sem  um  critério  e  um  cuidado,  para  que  aquilo  se  prestava.  Mas  o  pior  é  que  esse   investimento   não   dizia   nada   sobre   melhorar   a  competitividade.    

Então   essa   coisa,   na   realidade,   a   gente   precisava   saber  sobre  um  projeto  como:  o  linhão  que  vai  trazer  a  energia  de  Girau  até  aquela  cidadezinha,  Rio  Verde  em  Goiás,  onde  se  tem   um   grande   centro   de   distribuição   que   pega   o   linhão  que  desce  pela  Eletronorte,  custa  2  bilhões  de  dólares.  São  3000   e   tantos   km   à   corrente   contínua   e   tal.   Se   chegar   o  linhão  a  um  km  do  entroncamento  e  não  ligar,  não  se  tem  nada.   Eu   tô   falando   de   coisas   assim   pestalósicas   para  justificar   a   alienação   realmente   de   certa   forma   da   classe  política   de   não   entender   a   importância   de   se   ter   uma  proposta  de  como  para  10-­‐20-­‐30  anos  se  pudesse  criar  uma  nova   plataforma,   e   se   vale   o   que   o   grande   escritor  Guimarães   Rosa   falou:   "o   importante   é   você   fazer   a  travessia",  ir  melhorando  a  condição  de  vida  e  a  percepção  que  de  fato  nós  estávamos  ficando  mais  ricos.  Esta  palavra  quando  eu  cheguei  no  governo  federal  ela  era  abominada,  falar   para   quem   não   tinha,   era   pobre,   ficar   rico   era  abominado.  Não  podia,  era  uma  coisa  impressionante  você  tratar  com  isso.  E  se  tudo  que  as  pessoas,  economicamente  desassistidas,  querem  é  ficar  ricas.  Elas  querem  ter  acesso  a  uma  renda  que  mude  a  perspectiva  de  vida  dela,  para  que  isso   pudesse   traduzir   em   algum   momento   numa   palavra,  também  abominada,  e  de  certa  forma  a  esquerda  no  Brasil  foi  muito   competente   em   falar:   "olha   o   entendimento   de  prosperidade  é  aquilo  que  eu  entendo  como  prosperidade,  prosperidade  se  dá,  prosperidade  você  faz  o  Estado  prover  e   é   uma   enorme   prioridade".   Prosperidade   é   uma  perspectiva   que   na   gênese   de   uma   família,   de   um  grupamento   que   ela,   de   certa   forma,   acopla   num   projeto  de  que  de  fato  vai  ser  útil  para  mudar  essa  realidade.  Mas  tem-­‐se   que   tirar   o  manto   da   ignorância   para   poder   como  vai  ser  engajado  nisso.    

E  nós  não   tínhamos  uma  discussão  que   isso  estava  dentro  do   próprio   modelo   de   alternância   de   poder   no   Brasil.   De  novo,   essa   coisa  que  estava   lá,   em  1998-­‐99,   desse   grande  portfólio,   números,   e   o   que   fazer.   Tinha   falhas?   Tinha  falhas,  mas  era  um  enorme  avanço  quanto  ao  estudo  para  que  na  realidade  pudesse  se  hierarquizar.  E  se  perguntava:  "porque  não  tem  dinheiro,  não  faz?"  Não  você  vai  começar  a   ter   seletividade   nos   orçamentos,   orientar   as   pessoas   a  discutirem   por   projeto.   E   aí   eu   tive   uma   chance,   que   me  

chamou   muita   atenção;   é   que   antes   inclusive   de   eu  trabalhar  no   governo   federal,   eu  participei   dos  workshops  que   discutiam   o   "Avança   Brasil",   vi   o   que   era   estudo  nacional,  dos  eixos  de  integração,  então  a  gente  começou  a  ter  uma   lógica.  Eu   já   trabalhava  na  área  de   infraestrutura,  mas   aqui   dentro   de   Minas   Gerais.   Eu   fui   analisar,   por  exemplo,  aquelas  estradas  no  vale  do   Jequitinhonha  entre  Poté,   Capelinha,   financiar   as   estradas   de   lá,   porque  começava  a  fronteira  do  café  a   ir  para   lá,  com  dinheiro  do  fundo  do   café.  Para   se   ter  uma   ideia,   era  o   fundo  do   café  que   estava   financiando   algo   que   tinha   que   ter   uma   lógica  muito  maior  para   impulsionar,  não  só  a  economia  do  café,  mas   tinha   a   economia   também   de   celulose,  mas   também  era   tudo   disperso.   Eu   vinha   dessa   época   e   quando   eu   vi  aquilo  era  uma  coisa  melhor  orquestrada,  mais  organizada.    

No   segundo   mandato,   inicia-­‐se   no   segundo   mandato,   do  governo   Fernando   Henrique,   com   um   trabalho   para   que  esses   340   gerentes   –   claro,   não   voltados   só   para  infraestrutura   –   mas   para   implementar   esses   340-­‐350,  projetos  e  programas  estruturadores.  É  claro  que  tinha  um  bloco   que   tratava   da   infraestrutura,   e   quando   digo  infraestrutura,   pegava   de   óleo   e   gás....   Eu   por   exemplo  trabalhei   na   viabilização,   não   da   parte   financeira,   mas   na  parte  de  promoção,   do   gasoduto  Brasil-­‐Bolívia.   Tive   várias  vezes  na  Bolívia  discutindo  com  eles  como  nós  poderíamos  aumentar  a  produção  e  consumo  de  17  milhões  de  m3/dia  para  35  milhões  de  m3.  E  aí  se  tem  uma  questão  utópica  de  como   negociar,   porque   quem   financiou   isso   tudo   foi   o  Brasil.   Nesse   pacote   inclusive,   veio   a   instalação   daquela  refinaria   que   depois   foi   estatizada   pelo   Evo  Morales.  Mas  que   saiu,   o   que   o   Brasil   quis   fazer....   Porque   o   Brasil   quis  fazer  dentro  do  conjunto  dos   investimentos  para  viabilizar  o  gasoduto  Brasil-­‐Bolívia.  Estou  dando  como  exemplo  aqui,  do   mesmo   jeito,   "astro"   que   foram   feitos   no   Sul   e   aí  começou  uma  outra  coisa  interessante  junto  com  isso,  que  eu   não   vou   aqui   detalhar,   mas   também   extremamente  importante   que   era   a   integração   de   infraestrutura   sul-­‐americana:   "Que   projetos?   Quais   daqueles   são  integradores?"   Agora,   e   foi   muito   disso   aí,   nós   temos  sistemas   elétricos,   compatíveis   com   a   argentina,   tudo  bonitinho.  Não  se  tinha  ferrovia,  os  trilhos  não  se  falavam!  É  por  que   tinha  uma  outra  perspectiva.  Pro  argentino   fale  em  ter  trilho  compatível  com  a  bitola  do  Brasil,  você  estava  na  realidade,  dando  chances  –  se  tivesse  –  de  ato  de  guerra.  Isso   já   estava   ficando   lá   pra   trás   mas   a   ruptura   da  perspectiva  de   integração  batia  nessas  coisas.  O  Peru  nem  se   falava.   Aí   essa   plataforma   do   Brasil   deu   inclusive,  perspectivas  para  vir  logo  o  IIRSA  [Iniciativa  de  Integração  da   Infraestrutura   Regional   Sul-­‐americana]   foi   algo  muito  interessante  e  deu  bons  frutos,  mas  não  é  aquilo  que  nós  vamos  comentar  aqui.  Que  inclusive  fomentou  muito  as  parcerias  público-­‐privadas  no  Peru;  mais  no  eixo  sul-­‐norte,  que   no   eixo   Leste-­‐Oeste.   Agora   que   tá   começando   Leste-­‐Oeste   que   pega   em   parte   do   Brasil,   sul-­‐norte   pega  Colômbia  e  Chile.    

Então,  isso  tudo  que  estou  falando  até  agora,  vocês  podem  ver  uma  historieta  sobre  planejamento  dessa  coisa  toda.  E  aí  vem  a  pergunta  "e  aí?  Um  portfólio  desse  tamanho  como  você   viabiliza   isso?"   Com   recurso   público   é   inimaginável  fazer   isso.   BNDES   pode   financiar   o   setor   privado,   não   vai  financiar   o   setor   público   porque   estaria   financiando   o  

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próprio   tesouro,   isso   é   proibido.   Mas   não   é   nem   que   é  proibido,   é   inconsistente   fazer   isso.   A   pergunta   "   porque  que   o   setor   privado   no   Brasil   é   tão   refratário   a   operar   a  infraestrutura?"  Aí  começa  a  nossa  história  que  vai  levar  as  PPPs.  Naquele  momento  você   tinha  as   leis  de   concessões,  já  fiz  o  comentário,  absolutamente  risível  sua  aplicação  nas  demandas   que   se   tinha,   e   até   porque,  muitos   de   projetos  que   interessavam   a   iniciativa   privada   não   ficavam   de   pé  sobre   o   ponto   de   vista   econômico...   Não   dava   uma  concessão  pro  outro,  um  outro  dado  é  que  quem  naquele  momento  encarava  uma  concessão  queria  taxas  internas  de  retorno  altíssimas  por  causa  do  risco,  o  risco  regulatório,  do  risco   do   investimento,   do   risco   inclusive   da   própria  financiabilidade,   você   tinha   várias   restrições   que   impedia  inclusive  a  lei  de  concessão  de  ser  melhor  aplicada.    

Eu   aqui   fui   convidado,   tinha   um   dado,   isso   é   só   pra  compreensão   de   vocês,   se   um   dia   tiver   importância   pro  curso  histórico  vai  ser  por  uma  outra  questão  que  não  cabe  aqui,  quando  eu  fui  secretário  adjunto  da  fazenda  de  Minas  Gerais,   eu   fui   o   coordenador   executivo   das   duas   únicas  privatizações  –  venda  de  patrimônio  –  não  eram  concessão,  que  ocorreu  aqui,  que   foi   a   venda  do  BEMGE  e  CrediReal.  Um  parto  na  montanha  pra  fazer  isso,  mas  eu  falo  pra  vocês  porque  isso  é  público,  estes  dois  bancos  perdiam  por  mês,  e  esse  custo  era  debitado  da  conta  de  todos  nós  mineiros,  35  milhões  de  reais.  Custava.  E  tinha  uma  importância  porque  naquele   tempo,   e   tinha   uma   importância   porque   quem  financiava   a   dívida   estadual   eram   os   próprios   bancos  estaduais,  não  se  tinha  ainda  essa  grande  reestruturação  da  dívida.  Quando  na   realidade   foi   feita  a  privatização  desses  bancos,   se   tinha   que   resolver   um  outro   problema,   que   os  bancos   eram   bancos   públicos   estaduais,   emitiam  moedas,  emitiam   CDBs   e   emprestavam   para   o   estado.   Além   de  tomar   dinheiro   na   dívida   imobiliária.   E   como   se   fazia   o  aumento  da  divida?  Tinha  que  se  pagar  um  spread  maior,  o  sistema  financeiro  ganhou  montanhas  de  dinheiro  com  isso  porque  era  o  mesmo  risco,  por  exemplo,  um  risco  soberano  é  um  risco  do  estado,  um  risco  da  união,  mas  por  ser  estado  você   pagava   um   prêmio   muito   mais   alto.   Isso   aí,   muita  gente  já  fala  que  essa  dívida  é  irreal,  mas  essa  é  a  realidade  que   se   tinha,   então   teve   naquele  momento,   quando   é   se  teve   a   federalização  dessa  dívida.   Isso  passou  pra   lá,   e   no  dia   seguinte   que   o   governo   comprou   todas   as   dívidas  estaduais,  no  mesmo  dia  se  emitiu  na  época,  92  bilhões  de  dólares,   e   trocou   a   dívida   e   entregou   papel   federal   aos  estados.   "Acabou  a  dívida".  Acabou  a  dívida  estadual,  mas  agora  você  tem  uma  dívida  federal,  e  que  essa  dívida  veio  a  ser   refinanciada,   que   é   esse   programa   que   tá   aí,   essa  paçoca  toda  que  nós  estamos  vivendo  aí,  é  a  famosa  dívida  que   foi   renegociada   em   1998,   é   a   dívida   imobiliária   que  tinha   4   estados   que   representavam   praticamente   85%   da  dívida  SP,  MG,  RS  e  RJ.  Nisso  acabava  um  pouco  o  papel  dos  bancos   estaduais,   porque   enquanto   instituição   financeira,  sem   entrar   no   marco   histórico,   bancos   comerciais,   que  tiveram   papel   na   história   de   Minas,   eles   custavam   ao  estado  algo  que  o  sistema  bancário  já  cumpria  esse  papel,  a  decisão   tomada   do   que   fazer   foi   a   privatização   desses  bancos.  Isso  ocorreu  ao  longo  do  governo  Eduardo  Azeredo  e  privatizou  o  CrediReal  primeiro,  privatizou-­‐se  o  BEMGE  e  terminou   a   liquidação   da  Minas   Caixa,   que   ela   estava   sob  intervenção,   e   com   isto,   um   dado   muito   importante,  salvou-­‐se   o   banco   dos   movimentos   do   estado   de   Minas  

Gerais,  que  era  muito  importante,  não  por  eu  ser  do  banco,  é  porque  aquilo  tinha  a  ver  com  formação  de  ativos  fixos  na  economia.   E   esse   dado,   que   foi   tudo  muito   novo   naquele  momento,  como  você   ia   refinanciar  as  dívidas  dos  bancos,  não  se  viu  nenhum  funcionário  do  CrediReal  nem  do  Bemge  entrar   na   justiça,   porque   todos   tiveram   muito   bem  preservados   suas  estruturas  de  aposentadoria  e  enfim,   foi  um   processo   sadio,   pode   assim   se   dizer.   Nesse   passo   nós  tivemos  na  realidade  o   início  aqui  de  privatizar  ativos,  que  no  caso  foi  direcionado  ao  setor  bancário.    

Nesse  meio  tempo,  a  união  percebia  a  importância  de  levar  esse  programa  a  outros  estados,  como  de  fato  foi.  BANERJ,  BANESPA,   BANEB,   só   não   foi   um   banco,   que   até   hoje   ele  não   foi   que  os   gaúchos   não  deixaram,   que   é   o   BANRISUL.  Até   hoje   o   BANRISUL   continua   como   banco   estadual,  mas  isso   é   História.   Esse   fato   me   levou   a   ter   uma   discussão,  muito   ingente,   na   relação   com   o   governo   federal:   "falta  lenha   na   caldeira.   Nós   não   estamos   gerando   novos   ativos  'pra   valer'   na   economia",   que   se   tenha   um   programa   de  longo   prazo   pra   gerar   massivamente   emprego,   dar   um  arranque   na   indústria   de   base   do   Brasil,   nós   temos  engenharia  mas  isso...  

Denise:  Precisava  de  um  marco  regulatório...  

Athayde:   e   era   dominado   por   outras   forças   que   hoje  ficaram  muito   visíveis.   As   forças   eram   outras   para   formar  ativos   de  modo   geral   na   economia.   É  muito   importante   a  gente   ver   esse   marco   histórico   porque   isso   vem   de   uma  cultura,  que  a  gente  pode  falar:  "o  quê  que  é  esse  quadro  de  desmande  aí?"  É  o  quadro  da  alienação  de  não   ter  um  projeto  de   longo  prazo  para  fazer  com  que  o  Brasil   tivesse  uma   infraestrutura   compatível   com   seu   tamanho   e  principalmente   com   a   expectativa   da   população   que   não  sabia.  Ela  não  sabe,  a  população  é  de  forma  geral,  não  bem-­‐educadas,  não  bem  esclarecidas,  e  precisava  porque  saber  que   eu   vou   trabalhar   que   eu   vou   fazer   um   curso   pra  trabalhar   de   armador,   o   cara   vai   pra   onde   que   tiver  [oportunidade],  ele  vai  trabalha  e....  O  Brasil  tinha,  de  novo,  um  status  quo  de   fazer  alguns   investimentos,  mas   reitero,  muito   aquém   da   necessidade   que   se   tinha,   ligada   a   essa  questão   de   como   nós   vamos   competir,   "agora   no   século  XXI,   como   nós   vamos   fazer   isso?   Como   vai   ficar   essa  questão   da   logística   do   Brasil?"   Um   país   meio  desbalanceado   com   relação   as   concentrações   dos   bolsões  industriais.  Então  o  Pedro  Parente,  que  hoje  é  o  presidente  da  Petrobrás,  era...  

Denise:  não  é  do  Banco  Central?  

Athayde:   Ele   é   do   Banco   Central.   Pedro   Parente   era   o  secretário  executivo  do  Ministério  da  fazenda,  pelo  lado  de  lá   ele   era   o   coordenador   da   renegociação   da   dívida,   pelo  lado  de  cá  eu  era  o  coordenador,  também,  da  renegociação  da   dívida.   Então,   nas   discussões   mais   ordinárias   de  contratar  isso  –  pra  quem  gosta  de  olhar  para  o  longo  prazo  –   é   [/era]   pra   resolver   uma   hemorragia,  mas   a   gente   tem  que   pensar   numa   coisa   sem   entrar   no   detalhe.   Aí   veio   e  acabou   o   governo   Eduardo   Azeredo   e   eu   voltei   para   as  minhas  funções  no  mg  e  3-­‐4  meses  depois  o  Pedro  me  toca  o  telefone:  "aí  Luiz  Antônio,  tem  um  trem  aqui  que  você  vai  gostar."  Já  estava  em  curso  os  findings,  os  achados,  né?  As  conclusões   dos   estudos   do...   E   que   precisava   ter   uma  

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agenda  mais   propositiva   para   implementá-­‐los,   e   tinha   um  programa  chamado  "recursos  para  o  desenvolvimento"  -­‐  aí  entra  na  parte  histórica  de  novo  –  esse  programa  era  desse  'tamanhozinho',   entre   objetivo,   missão...   Por   exatamente  ausência   de   maior   background   de   porque   você   precisava  estimular,   ele   tinha   uma   pergunta,   um   objetivo   "1.  Aumentar   a   participação   da   iniciativa   privada   na  infraestrutura  do  Brasil,  2.  Como  fazer  com  que  a  estrutura  sob  o  ponto  de  vista  institucional  se  sinta  atraída?  3.  como  financiar?"  

Denise:   então   a   infraestrutura,   vamos   dizer,   foi   o  protagonista  desse...?  

Athayde:   Para   a   PPP   foi,   continua   sendo   e   vai   ser   ainda.  Não   obstante   nós   já   temos   várias   iniciativas   já   de   PPP   e  agora  vai  entrar  no  assunto  PPP.  Eu  gastei  30  minutos  para  dar   esse   pano   de   fundo,   mas   é   importante   para   a   gente  situar   um   pouco   isso.   Porque   não   é   uma   coisa   que   não  tem...  tem  fonte  demais  para  vocês  pesquisarem  isso,  não  é  algo   que....   Aí   eu   fui   chamado   para   ser   o   gerente   deste  programa,  "recursos  para  o  desenvolvimento",  era  eu  e  eu,  não   tinha  mais   ninguém.   Era   eu,  mais   eu,   um   telefone   "e  como   vai   fazer   isso?",   eu   era   um   diretor   da   secretaria   do  desenvolvimento   do   governo   e   um   gerente   de   um   dos  programas   do   "Avança   Brasil"   que   se   chamava   "Recursos  para  o  Desenvolvimento".    

Percebeu-­‐se  que  também  ao  mesmo  tempo  que   isso  tinha  que  dar  uma  resposta,  tinha  que  promover  essa  carteira  de  projetos.   Era   uma   carteira   que   fazia   sentido,   se   tinha  estudo  mais  articulado  do  que  realmente  se  tinha  no  Brasil  para   você   endereçar   algumas   coisas:   crescer   o   PIB   do  nordeste  mais  tantos  %  gerava  tantos  empregos;  melhorar  a   plataforma   de   infraestrutura;   fazer   a   Ferro   Norte   pra  trazer  a  soja.  Nós  estamos  em  2017,  nós  acabamos  de  ver  a  15   dias,   de   que   por   falta   de   400   km   sem   asfalto   para  estrada  para  o  [...]  voltou  e  infletiu  todo  o  fluxo  da  soja.  Já  imaginou  uma  coisa  dessas?  Não  falo  com  indignação  não,  mas   você   imagina   que   em   2017   -­‐   ela   foi   concessionada  agora   -­‐   acho   que   a   [BR-­‐]   163   foi   concessionada   agora.  Estava   lá  pra   fazer  a  163,  não   importa  como  mas  tem  que  fazer   a   163   porque   isso   significa...   Estava   abrindo   a  fronteira  de  Sorrisos,  Ji-­‐paraná  pra  não  se  fazer  um  passeio  de   2500km   da   soja   até   Paranaguá,   até   Santos.   Tinha   que  fazer  um  Ferroanel,  você  imagina  jogar...  Brincadeira  aí  30-­‐40   milhões   de   toneladas   de   soja   quando   você   poderia  andar   mais   1000   km   e   ganhar   7   dias   de   navegação  embarcando  em  aguas  profundas  lá  em  Santana.  Coisas  que  você   não   tem   dúvida,   tem   que   fazer   essa   infraestrutura.  Descompassos,   não   é?   Aquilo   que   aconteceu   no  agronegócio   no   Brasil,   sobre   o   ponto   de   vista   do  desenvolvimento   de   tecnologia   e   o   aumento   da   fronteira  agrícola   -­‐   sem   entrar   na   questão   ambiental,   por   favor,  porque  essa  é  uma  outra  discussão  –  mas  o  fato  é  que  ali  já  se   sabia   o   Brasil   tem   um   protagonismo   no   mundo   nos  próximos  50  anos,  o  Brasil  pode  se  candidatar  a  ser  a  matriz  da  proteína  vegetal  e  animal  do  resto  do  mundo.  Não  só  a  proteína   vegetal,   mas   agregar   isso   na   cadeia   animal   e  exportar  proteína  animal,  é  o  que  tá  aí,  é  o  que  a  gente  tá  vendo  aí,  mas  temos  que  falar  de  infraestrutura  aqui.    

Então,   essa   coisa   toda   precisava   ser   promovido,   nesses  projetos,   promover   os   projetos   na   área   de   infraestrutura  

elétrica,  os  aeroportos,  rodovias,  e  promover  o  seguinte,  de  novo,  com  muita  humildade.  Era  o  seguinte,  o  setor  privado  internacional:   "olha   tem  essas  oportunidades  aqui"  Alguns  setores   eram  mais   organizados,   tinha   o   setor   elétrico,   ele  era  mais  organizado  pra   se   recepcionar,  portos  eram  mais  ou  menos  organizado,   se  poderia   ter   uma   concessão  pura  de  porto  dos   'inhões',   fazendo  aí  um  corte  nos  anos  1990-­‐2000,  e  ao  mesmo  tempo  que  se  teria  que  buscar  um  novo  mecanismo,   com   um   caminho,   você   tinha   que   dar  conhecimento   disso,   e   foi   um  período  muito   fértil   porque  [ininteligível]   nós   fomos   mostrar   essa   carteira,   na  Alemanha,  na  China,  nos  Estados  Unidos.   Era  um   trabalho  de  duplo  compromisso,  era  promover  essa  carteira  e  trazer  de   governos   de   outros   países   a   impulsionar   a   iniciativa  privada,   porque   não   era   só   a   infraestrutura,   era   a  infraestrutura   e   o   que   que   isso   tem   a   ver   com   as   cadeias  industriais,  as  cadeias  de  suprimentos,  e  principalmente,  o  que  que  isto  -­‐  e  a  gente  precisava  saber  -­‐  iria  despertar  para  o   mercado   lá   fora?   Partindo   dessa   perspectiva   que   nós  éramos   'guris'   em   termos   uma   economia   mais  internacionalizada.  

Denise:  Que  mecanismos  que  vocês  usavam  para  fazer  essa  promoção?  

Athayde:  Olha,  um  mecanismo  muito  clássico   junto  com  o  Itamaraty.   A   gente   reunia   o   governo   brasileiro   lá   fora,   o  Itamaraty,   eu   ia   junto   com   o   braço   do   setor   empresarial,  câmaras   especiais,   federações   de   indústrias,   e   nós  levávamos   de   acordo   com   algum   afeiçoamento,   por   setor  ou   por   região.   Nós   levávamos   levamos   e   mostrávamos   o  portfólio.   O   portfólio   é   assim:   o   projeto,   o   template   do  projeto,  quanto  custa,  o  que  que  vai  gerar,  quais  setores  vai  impactar.  Tudo  bem  sintético.  

Denise:  benefícios  e  riscos?  

Athayde:  Não   vou  dizer   riscos,  mas   se   estava  pronto  para  discutir   ali.   Dois   países   se   sobressaíram   inclusive   a  Alemanha  e  a  China.  

Denise:  A  China  sem  dúvida  nenhuma.  

Athayde:   Vou   dizer   que   essa   vinda   da   China   para   a  infraestrutura  do  Brasil  começou  lá,  não  começou  agora,  os  chineses   todos   constroem  um  planejamento  que  prevê  50  anos.   Todos   são   pra   50   anos,   esse   apetite   dos   chineses.  Agora,   os   chineses   evidentemente   tem   –   a   China   na  verdade  –   tem  uma  grande  vulnerabilidade  que  a  questão  de  segurança  alimentar.  Não  há,  tudo  que  se  puderem  fazer  eles  não  dão  conta,  eles  têm  que  comprar  proteína  animal  e   vegetal   massivamente,   que   eles   compram   do   Brasil,  Austrália,  Nova  Zelândia  e  Estados  Unidos.  São  esses  países  que  importam  e  vão  continuar.  Isso  pra  eles  tinha  a  ver  com  estrutura,   porque   até   então   eles   eram   compradores   de  uma   commodity,   soja,   milho,   carne,   mas   agora   estão  entrando   firme   no   petróleo.   Na   hora   de   comprar   Girau,  essa   que   eu   te   falei   que   estava   lá,   na   hora   de   comprar   a  linha  de  transmissão  de  Girau,  Santo  Antônio  até  Rio  Verde,  compraram.  Compraram  não,  são  donos  da  concessão.  Essa  fato  de  que  nos  botou  ali  -­‐  era  importante  promover...  teve  um   papel...   Esta   carteira   foi   a   carteira   base   do   PAC.   Esta  carteira  veio...  

Denise:  Veio  a  marca  nova?  

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Athayde:   Revestida...   E   como   se   tivesse   sido   pensada   e....  Não  era  nada  disso,  isso  já  estava  pronto.  Eu  tô  dizendo  é  o  curso   das   coisas   porque   o   que   eu   quero   reforçar   é   que   o  país   precisa   de   projeto   de   longíssimo   prazo.   Não   se   pode  achar  que  essa  lesa,  essa  coisa  de  que  se  faz  isso  em  3  anos,  não   se   faz   nunca.   Isso   é   um   processo   de   decantação,   de  filtros,   para   que   você   possa   falar   em  mudar   o   padrão   de  vida  das  pessoas.  E  que  tem  várias  coisas  a  fazer  a  respeito  disso:  a  parte  regulatória,  do  direito  comercial,  na  parte  da  engenharia,   na   parte   de   como   você   empreender,   várias  coisas.  Então  esse  programa  que  eu  tinha  nas  mãos,  "como  é  que  você   faz?",  eu  comecei  a  conversar  com  pessoas  do  BNDES,  do  governo  e  aí   veio  um   'insight'.   Esse   'insight'   foi  muito   importante,   porque   ele   nasceu   de   uma   conversa  dentro  da  CNI  com  o  BNDES"  por  que  que  a  gente  não  faz  um   estudo   bem   enxuto   sobre   o   financiamento   de   longo  prazo   no   Brasil.   E   nesse   estudo   a   gente   faz   algumas  perguntas  e  vai  capturando  isso.  Então  foi  contratado,  esse  trabalho  foi  contratado  com  o  Michal  Gartenkraut,  ex-­‐reitor  do   ITA   e   gerente  do   “Avança  Brasil”.   Ele   é   que   fez   aquele  estudo,   que   eu   vou   lembrar   o   nome,   daquela   grande  empresa   de   consultoria.   E   o  Michal   se   prontificou   a   fazer  esse   estudo,   que   na   verdade   era,   conversar   com   essas  pessoas  para   responder   isso   "por  que  que  o   setor  privado  não  entra?"  

Denise:  O  portfólio  era  o  que  fazer  e  o  financiamento  era  o  como  fazer,  então?  

Athayde:  O  portfólio  era  aquele  ali,  tinha  uma  justificativa.  Mas  como  fazer,  e  como  financiar  e  quem  vai  tomar  o  risco  de   fazer.   Partindo   da   premissa   que   é   impossível,   não   a  capacidade....  Tem  essas  coisas  que  estão  tão  claras,  como  que   a   gente   anteviu,   olha   hoje,   nesse   momento   nós  estamos  faltando  25  minutos  para  ser  anunciado  o  corte  de  58   bilhões.   Vocês   têm   dúvida   do   que   vai   ser   cortado?   É  investimento.   Daquilo   que   se   pensou   que   se   pudesse   ter  algum  investimento,  ele  vai  ser  cortado.    

Denise:  Mas  você  tocou  num  ponto  importante,  quem  que  decidia   sobre   o   que   fazer?   Você   falou   da   prioridade   da  infraestrutura,   mas   tinha   um   jogo   de   decisão   ali   muito  maior.  Quem  eram  os  participantes  do  jogo  da  decisão?  

Athayde:   Veja   bem,   ali   naquele   momento   o   país   estava  andando,   o   país   estava   ligado.   A   Petrobrás   tinha   seu  programa   de   investimento.   A   Eletronorte   tinha   seu  programa   de   investimento.   O   pais   não   estava   parado   de  forma   alguma.   O   que   se   tinha   era   "como   se   turbina  mais  isso?  Como  se  amplia  a  derivada  primeiro,  o  investimento."  Em   infraestrutura,   ainda   que   PPP   seja   ligada   a   vários  outros...  

Denise:  Setores?  

Athayde:   Depois   eu   mando   pra   vocês   um   estudo  interessante  que  mostra  um  pouco  dessa  trajetória...    

Denise:  Você  tinha  falado  que  não  estava  parado  o  país.  

Athayde:   Então,   muito   aquém   do   que   poderia   crescer.  Claro,   tem   várias   condicionalidades,   mas   uma  condicionalidade   que   era   extremamente   rígida   era   o  gargalo   em   cima   do   orçamento   de   não   poder   fomentar  nada   porque   não   se   tinha   amarragem.   E   nunca   teve,   teve  

um   período   que   se   teve   aí,   excedentes   muito   grandes,   o  primeiro   governo   do   Lula   que   realmente   se   teve   aí,   longe  20%  do  PIB  em  investimentos,  chegou  a  19%.  Foi  o  período  que  nós  tivemos  mais  áureo,  de  investimentos,  que  nem  foi  por   esforço   do   governo.   Foi   porque   foi   uma   onda  extremamente   favorável   que   bateu   nas   portas.   O  minério  de   ferro   saiu   de   40   dólares   para   150.   Formamos   as  reservas,   o   Brasil   quando   teve   a   mudança   de   poder   do  Fernando  Henrique  para  o  Lula,  nós  tínhamos  salvo  engano,  30  bilhões  de  dólares  de  reserva.  No  governo  da  presidente  Dilma   nós   estamos   com   300   bilhões,   10   vezes   mais.   Esse  estudo   que   foi   feito   ele   é   um   estudo   basicamente   de  percepção   de   pessoas   para   responder   essas   perguntas  "onde  é  que  tá  o  nó?  Onde  é  que  tá  o  entrave?  O  que  que  precisa   ser   feito?"   e   chegamos   a   3   conclusões   que   elas  sintetizam   esse   estudo,   1º   o   problema   não   é   falta   de  dinheiro.  Tem  dinheiro,  se  você  olha-­‐se  os  fundos  privados  se   tinha   dinheiro   à   beça,   só   que   no   máximo   de  infraestrutura   que   esse   pessoal   entrava   era   em   shopping.  Que  é  uma  infraestrutura,  mas  é  uma  infraestrutura  que  a  gente  chama  de  leve.  Hoje  tem  alguns  que  se  aventuraram  na   parte   de...  Mas   se   tinha   o   BNDES   que   podia   financiar,  capacidade  enorme  de  alavancar  recursos.  Naquela  época  o  BNDES  era  maior  que  o  banco  mundial,  não  tenho  ideia  da  proporção,   naquela   época   o   BNDES   já   era   do   mesmo  tamanho,  em  termos  de  formação  de  investimento  -­‐  dólar-­‐  moeda   forte,   ele   era   um   pouquinho   maior   que   o   banco  mundial.  Hoje  o  BNDES  deve  dar  4  bancos  mundial,   agora  eu   não   sei   como   é   que   tá,   em   termos   de   investimento   3  vezes   a   capacidade   de   investir.   Do   termo   do   que   que   um  país   carecia   de   [investimento]...   Claro,   não   só   para   a  infraestrutura,   todos   os   setores.   E   realmente   o   BNDES  multiplicou  isso  por  3  ou  4.  Mas  ali  nas  conclusões,  1º  não  é  falta   de  dinheiro,   grana,   dinheiro   tem.   [2º]  Não   é   falta   de  empreendedorismo,  existe  vontade.  Oque  que  falta?  

Denise:  Regulação?  

Athayde:   Confiança,   e   esse   artigo   é   tão   desprezado.  Confiança   traduzido,   decupado,   em   algumas   linhas.   A  confiança  de  1º  ter  marcos  confiaveis,  a  confiança  de  saber  que   estes   investimentos   eles   não   seriam   objetos...   E   aí   a  cultura   era   acultura   da   desconfiança,   mudou   o   governo,  mudou   tudo,   então   pra   que   que   eu   vou   me   meter   a   ser  operador  se  eu  posso  ser  o  construtor  pago  e  vou  embora,  pra   que?   Era   uma   falta,   num   sentido   mais   amplo   de  confiança   na   capacidade   do   governo   de   empreender.   E  tomar   essa   liderança  na  promoção  do   investimento.   E   até  um  receio  de  que  o  governo  em  algum  momento  tentasse  ser   ele   o   investidor   "eu   estatizo,   depois   eu   vou   lá   e  estatizo".  E  que   isso   tudo  se  dava  dentro  de  um  ambiente  de  transitória   institucional.  E  aí  vieram  questões  de  ordem  enfática,   mesmo   as   concessões   puras,   se   tem   capacidade  de   ter   determinado   projeto   que   se   viabiliza,   enquanto  concessão  pura,  mas  qual  a   referência  se   tem  para  aquele  setor  de  se  fazer?  "não  vou  botar  dinheiro  ali",  "ah  mas  tem  uma  taxa  de  retorno,  "não  vou  colocar",  mas  alguns  setores  sim.    

Nós   vimos   um   caso   que   foi   explicado,   a   ponte   Rio-­‐Niterói  foi   30   anos   da   primeira   concessionária,   muito   bem  organizada,   inclusive   a   concessionária   que   ganhou   o  aeroporto  junto  com  os  suíços.  A  própria  fez  um  patrimônio  extremamente  sólido  que  são  as  concessionárias  da  Dutra.  

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Mas  com  taxas  internas  de  retorno...  Mas  aí  veio  uma  coisa  que   chamava   mais   atenção,   que   era   aqueles   projetos   de  enorme   impacto   e   que   a   lei   de   concessões   não   dá  provimento  legal.  Ou  seja,  ele  não  tem  uma  taxa  interna  de  retorno   que   justifique   o   privado   entrar.   "Então   não   tem  jeito,   nós   não   temos   isso,   então   o   que   você   vai   fazer?"    Como  se  lida  com  uma  situação  dessas?  Bem,  indagação  é  o  que   nós   vamos   fazer.   Eu   fui   pro   mundo,   como   é   que   no  mundo   se   resolve   isso?   E   nós   tomamos   um   susto   que   o  mundo  já  estava  resolvendo  isso  já,  a  bastante  tempo.    

A   começar   da   ação   da   nossa   grande   primeira   ministra  Margareth   Thatcher,   quando   teve   que   fazer   aquele   shift  violentíssimo   de   se   sair   de   alguns   setores,   mas   se   estava  com  problemas  sérios  em  alguns  serviços  que  eram  marcas  dos   serviços   públicos   ingleses,   saúde,   serviço   de  passaporte,   defesa.   Em   que   não   tinha   como   se   prover  recursos   orçamentários   para   fazer   o   investimento   de  reciclagem  e  que  precisava  fazer  o  investimento  e  precisava  chamar   o   setor   privado   para   fazer   isso.   Então   aí   teve   a  primeira   gênese   das   parcerias   público-­‐privadas   no   Reino  Unido,   de   novo,   não   que   não   se   tivesse   outras   iniciativas,  mas   na   Inglaterra   isso   nasceu   por   uma   necessidade.   É  necessário   você   organizar   um   regramento,   uma   estrutura,  uma  equipe,  um  grupo  que  faça  com  se  possa  viabilizar  [as  PPPs?]...   Qual   foi   o   primeiro   grande   projeto   que   surgiu   e  que  os  ingleses  lideraram  de  uma  PPP?  O  Eurotúnel.  Então  o  Banco  europeu  de  investimento  já  estava  estudando  isso,  a   Inglaterra   já  estava  estudando,   já   tinha  a  Partnership  UK  que   era   exatamente   o   grupo   dentro   do   ministério   da  fazenda  -­‐  do  tesouro  -­‐  a  Itália  já  estava  estudando  isso,  aí  a  [gente]  "mas  puxa  vida,  como  vocês  resolveram  isso?"  Para  resolver   uma   questão   que   era   a   nossa   [...]?”   Como   se  combina,   a   modulação   e   estudo   do   risco,   do   negócio,   de  uma   estrutura   regulatória,   de   um   negócio   que   nós   não  tínhamos  noção,  o  chamado  Q.I.D.  –  Quadro  Referencial  de  Indicadores   –   que   agora   o   privado   investe   e   eu   não   vou  pagar  pelo  investimento.  Eu  vou  pagar  pelo  provimento  do  serviço  que  esse  investimento  disponibiliza.  E  eu  vou  pagar  por  indicadores  de  'performance'.  Era  uma  coisa  que  assim,  ela   testava   "a   gente   não   consegue   fazer   isso   no   Brasil."  Como   um   negócio   desses.   Para   você   imaginar   pagar   por  indicador   de   performance.   Mas   continuamos   estudando,  veio   um   especialista,   conseguimos   trazer.   E   o   governo  inglês   deu   apoio   ao   governo   federal   "vocês   querem  intender   isso?   Isso  é  o  novo"  E   lá  é  que  nós  vimos  que  na  Inglaterra  rapidamente,  o  mecanismo  das  PPPs  saía  de  um  mero  mecanismo  de  financiamento  para  ser  um  mecanismo  de  reforma  do  estado  –  isso  é  muito  importante.  Lá  a  gente  percebeu   isso,   e   a   onde   a   gente   viu   isso   de   forma  impactante?  Prisão.  Da   infraestrutura  que  precisa  para  um  serviço  desses,  que  só  pode  ser  estado?  Por  que  o  privado  poderia   fazer,   a   hotelaria,   a   enfermagem,   mas   gerenciar  prisão   num   outro   padrão   –   tem   índices,   indicadores   de  performance   –   e   receber   por   isso?  Os   ingleses   já   estavam  realmente  mais  a  frente,  fomos  ao  governo  inglês,  eles  tem  um  ministério  ao  fomento  do  desenvolvimento  no  exterior,  um  negócio  assim,  que  é  a  [...]  ou  um  negócio  assim.  Foram  eles   que   na   realidade   nos   convidaram   para   passarmos   15  dias  para  entender  como  funcionava  a  Partnership  UK.  E  aí  foi  o  primeiro  grupo,  foi  coordenado  por  mim.  

Denise:  Vinculado  à  secretaria  de  planejamento?  

Athayde:   Chamava   secretaria   de   investimento   estratégico  SPI,  é  uma  das  secretarias  do  ministério  do  planejamento.  E  lá  tinha  uma  diretoria  da  qual  estava  o  programa  e  da  qual  eu  era  o  gerente.  Quem  foi  do  meu  lado  comigo  pra  lá  foi  o  Joaquim  Levy.  Temos  fotos  e  tudo,  da  Inglaterra,  a  convite  do  governo  inglês,  pagos  pelo  governo  inglês.  

Denise:   O   que   que   significa,   com   um   pouco   mais   de  detalhes,   quando   você   fala   do  mecanismo   de   reforma   do  estado?  Em  que  que  o  estado  foi  realmente  reformado?  

Athayde:   Ainda   no   Brasil   isso   está   em   gestação,   na  Inglaterra   já   estava   em   fase   de   consolidação.   Que   é   na  realidade   se   mudar   a   cultura   da   prestação   do   serviço   e  fizesse  com  que  a  iniciativa  privada  viesse  a  ter  uma  oferta  privada  de  um  serviço  público.  

Denise:  ou  seja,  uma  associação  estado  e  iniciativa  privada  permanente?  

Athayde:   Permanente.   Se   criar   [condições]   com   que   uma  oferta   privada,   investimento   privado,   gestão   privada,  pudesse   se   transformar   numa   ação   do   estado.   Ou   seja,   o  provimento  de  um  serviço  eminentemente  público,  e  aí  um  primeiro   princípio:   toda   PPP   disponibiliza   um   serviço  público.  De  quem  que  é  o  ativo?  Não  a  contestação,  ele  é  público.   Então   eu   ficava   processo,   me   desculpe   aqui   a  palavra,  quando  [falavam]  "mas  vai  privatizar,  vai  vender",  que  o  quê,  lê  o  primeiro  item  da  lei,  isso  é  uma  concessão.  Não  a  discussão  com  relação  ao  ativo.  

Denise:   Mas   quem   decide   sobre   as   prioridades?   Quem   é  que  manda  no  jogo?  

Athayde:  Estamos  ainda  lá  em  2000,  até  então  o  seguinte,  nós   começamos   a   pegar   um   rastilho   de   algo   que   fazia  sentido   para   nós   porque   nós   tínhamos   uma   carteira  colossal   de   empreendimentos   que   não   caberia   concessão  pura,  que  caberia  essa  hibrida,  entra  algo  que  era  capaz  de  gerar   uma   receita   -­‐   receita   essa   não   suficiente   para  remunerar   o   capital   privado   -­‐   e   que   tinha   que   ter   um  concurso  de  recursos  públicos  para  se  dar  a  taxa  interna  de  retorno.  E  os  ingleses  tinham  isso,  e  nós  mergulhamos  nisso  e   falamos  o   seguinte   "só   tem  um   jeito"   e   aí   começa   a   ter  um  pouco  da  inteligência  nacional  a  serviço  disso.  Tem  que  fazer  um  tributo  ao  Dr.  Carlos  Ary  Sandfeld  e  à  época  [...]  e  Vera  Monteiro,   que   eles   foram  para   Inglaterra   pagos   pelo  BID,  e  BID   foi  quem  nos  ajudou  a  pagar  o  primeiro  estudo  de  uma  lei  de  PPP.  Foi  feito  com  ajuda  do  ao  Dr.  Carlos  Ary  Sandfeld   juntamente,   eu   juntamente   diria   a   nós   3   assim,  Carlos,   Vera,   eu   que   do   lado   de   cá   não   entendo   coisa  nenhuma  de   lei,   entendo  do   real  da  prática  de   como  essa  lei  impacta  o  ambiente  econômico.    

E  aí  veio  coisas  fundamentais,  nós  não  podemos  pensar  no  Brasil,  e  aí  ele  tinha  um  dos  melhores  administrativistas  do  Brasil...  Se  nós  formos  fazer  uma  lei  nova  no  Brasil,  como  é  hoje   as   coisas   tão   engessadas   no   Brasil,   nós   perdemos   o  bonde,  vamos  fazer  uma  costela  de  adão,  vamos  pegar  a  lei  de   concessões   e   fazer   da   lei   de   concessões   uma   lei   que   é  um   contrato   administrativo,   mas   sob   um   regime   de  concessão  e  que  ele  disciplina  que  o  pagamento  vai  se  dar  por  performance,  de  que  se  pode  ter  o  pagamento  de  uma  contraprestação   pública.   Ou   seja,   você   paga   uma   parte  daquilo  que  forma  o  bolo  da  receita  para  que  o  privado  se  

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interesse   a   fazer   o   investimento   e   operar.   Como  é   que   se  equilibra   isso?   Mas   ali   que   na   realidade   é   que   nós  começamos   a   colocar   o   ovo   de   pé.   A   lei,   o   primeiro  rascunho  daquilo  que  veio  a  ser  o  projeto  de  lei,  tinha  que  ser  o  mais  racional  possível,  porque  nós  não  podíamos  fazer  uma  coisa  que  não  tivesse  uma  ligação  com  o  que  que  era  o  regime  das   concessões,   só  que  de  um  elemento  novo  que  era   você   alocar   um   recurso   público,   por   óbvio,   muito  menos   se   tivesse   que   o   setor   público   fazer   aquele  investimento   'per   se',     e   se   for   um   projeto   que   a   receita  gerada  pelo  projeto  ela  não  é  paga  pelo  usuário  final,  não  é  uma  estrada,  não  é  um    porto.  Uma  prisão  como  você  faz?  E   aí   veio   também   a   genialidade   –   fazer   uma   concessão  administrativa.   Que   o   único   usuário   da   concessão   é   o  governo.   Mas   o   governo   vai   pagar   por   performance.  Quanto   custou   pra   construir?   Não   sei.   Quanta   custa   para  você  disponibilizar  uma  vaga  com  esses  tais  recursos?  Custa  tantos.  Isso  nos  incendiou  positivamente.    

Aí   tivemos   o   primeiro   arcabouço   do   que   viria   a   ser   o  primeiro   projeto   de   lei.   Nós   iniciamos   dentro   do   governo,  dos  vários  ministérios,  uma  discussão,  explicamos  toda  essa  lógica.  Tínhamos  a  presunção  de   falar   'olha  o   tamanho  do  buraco',  o  problema  não  é  de  financiamento  e  começamos  a   testar,   sentir   o   pulso   do   setor   privado,   vieram   algumas  contribuições  da  CNI,  e  começou  essa  discussão,  começou  a  botar   fermento  no  bolo.  Nesse  meio  tempo  acontece  uma  coisa  muito   interessante,   o   candidato   lula   ganha.   Quando  ficou   pronto   esse   desenho,   nós   levamos   ao   presidente  Fernando  Henrique,   isso   eu   tenho   que   falar,   5   pessoas.  O  Guilherme   Dias   era   o   ministro   do   planejamento;   Dr.  Silveira,   meu   chefe,   secretário   de   planejamento  estratégico.   Fomos   lá   mostramos   para   o   presidente   "isso  aqui  responde  aquela  questão,  pelo  menos,  não  testado  de  como  recepcionar  o  setor  privado  para  ele  poder  abrigar  o  interesse   de   uma   regra   transparente   de   poder   fazer   o  investimento",   aí   surgiu   uma   coisa,   no   Brasil,  diferentemente   de   uma   Inglaterra,   de   uma   Itália,   se   você  colocou  no  orçamento,  isso  é  mandatório.    

Aqui  você  não  tinha  confiabilidade  aí  surge  as  garantias,  as  famosas   garantias.   Como   prover   uma   garantia   só   para  cobrir   a   contraprestação   pública?   E   qual   que   é   o   período  dessa   garantia?   Então   por   uma   questão   de   certa   forma  empírica,  é  até  por  um  período  que  esse  projeto  rode,  ele  ganhe  consistência,  e  entenda  a  sociedade  que  este  serviço  ele   é   de   fato   um   serviço   que   atende   o   interesse   da  sociedade.   Mas   qual   a   experiência?   Zero,   não   tinha  experiência.  Nós  tínhamos  projetos,  então  neste  momento  foi   criado,   criado   assim,   como   se   uma  portaria,   a   unidade  PPP   Brasil.   Para   embarcar   conhecimento   e   [ininteligível]  dessas   discussões.   Fomos   ao   presidente   da   república,   eu  participei   dessa   reunião   pessoalmente   e   me   recordo   do  presidente  Henrique   falou  assim:  "caramba,   isso   tinha  que  tá  aí  numa  discussão,  precisa  se  discutir   isso  no  congresso  nacional,   mas   eu   tô   saindo.   Coloque   isto   na   comissão   de  transição,   leve   isso   como   um   dos   itens   que   dê   pra   ser  estudado  pelo  governo  que  chega"    

E  assim  que  foi  feito,  a  comissão  de  transição  do  ministério  de  planejamento  eram  3  pessoas:   o  deputado   João  Paulo,  Dilma  Rousseff  que  depois  veio  a  ser  presidente  do  Brasil  e  o  ministro  Palocci.  Não  tinham  cargo  nenhum,  todos  eram  escudeiros   da   comissão   de   transição.   Inclusive   a   ex-­‐

presidente  veio  a  ser  ministra  de  minas  energia.  E  o  Palocci  veio  a  ser  o  ministro  da  fazenda.    

Aí   eles   na   transição,   todos   eles   se   interessaram   pelo  mecanismo   PPP.   Tiveram   atenção,   entenderam,   foram  muito  receptivos,  muito  receptivos.  O  que  faz  sentido,  isso  entrou  na  pauta  do  governo,  tanto  é  que  se  vocês  pegarem  o  que  foi  discutido  no  congresso  da  área  econômica  2003-­‐2004,   foi   a   nova   lei   de   PPP.   Lamentavelmente,   isso   estou  falando,  foi  discutido  como  se  fosse  uma  coisa  do  PT  e  não  foi,  mas  não  é  que   tenha  que   ver   que   tenha  que   ser...   de  novo,  o  Brasil  precisa  de  um  projeto  de   longo  prazo  e   isso  tinha  que  ser  colocado.  E  qual  que  era  o  grande  receio  que  a   gente   tinha   ainda   no   governo   Fernando   Henrique  Cardoso,   esse   negócio   de   se   resvalar,   para   isso   ser  simplesmente   um   novo   mecanismo   para   financiar   obra  pública,  isso  ia  morrer  no  nascedouro.    

Bem,  eu  volto  pra  cá,  para  o  governo  de  Minas,   janeiro  de  2003,   esse   assunto   continuou   lá,   entrou   na   pauta.   Entrou  pra   valer,   o   deputado   Paulo   Bernardo   foi   ser   o   relator,   o  Fernando   Haddad   era   o   novo   chefe   da   assessoria  econômica,  veio  aqui  duas  vezes  conversar  comigo  sobre  o  mecanismo  PPP,   o   porquê   disso.   Só   que   nós   fizemos   uma  coisa  aqui  por  orientação  do  governador  aécio,  aqui   foi  de  fato   criado   a   unidade   de   PPP   de   Minas   Gerais,   e   Minas  Gerais  colocou  ainda  que  não  fosse  uma  lei  de  Minas  Gerais  de   aplicação   geral   –   tinha   que   ser   uma   lei   geral   do  congresso.   Mas   aqui   discutiu-­‐se   rigorosamente   os  fundamentos   de   uma   lei   PPP.   E   aí   que   surge   uma   grande  contribuição   da   lei   de   Minas   Gerais,   à   lei   federal   é   o  instituto   de   PMI   –   do   procedimento   de   manifestação   de  interesse.    

O  que  que  significa  isso?  Era  uma  maneira  transparente  de  falar   pra   todo   mundo   e   o   ministério   público   "olha   nós  vamos  conversar  com  aqueles  que  inclusive  serão  possíveis  operadores"   eles   vão   conversar   antes,   eles  podem  opinar,  podem   apresentar   projeto,   mas   eu   tô   falando   aqui   de  forma   muito...   Depois   veio   o   regulamento   que   pega   o  decreto.   O   primeiro   decreto   de   PMI   do   Brasil   é   da   lei   de  Minas,   ligada   a   lei   de   Minas,   depois   o   decreto   nacional  ligado   a   lei   federal   11079.   Ainda   falando   desse   curso  histórico  a   lei  de  Minas  Gerais   foi  aprovada   -­‐   sancionada   -­‐  em  17  de  dezembro  de  2003  e  a  lei  federal  foi  aprovada  em  30  de  dezembro  de  2004.  Eu  fui  convidado  pelo  presidente  Lula   para   essa   assinatura,   inclusive   eu   fui   no   palácio,   no  salão   leste,   quando   foi   ser   sancionada   lei   PPP,   convidado  pelo  Ministro  Palocci  –  pelo  presidente  através  do  ministro  Palocci.   Joaquim  Levy  era  o  secretário  executivo,   lembrava  desse   caminhar.   E   nisso   aí   vem   olhando   o   mecanismo   e  esse   negócio   explodiu:   PPP  pra   isso,   PPP  pra   aquilo   e   PPP  serve   pra   isso   e   pode   fazer   PPP   de   investimento   de   5  milhões.   Era   um   negócio   que   se   falou   "gente,   na  recomendação  aqui  da  assembleia,  foi  colocada  inclusive  o  investimento   mínimo,   isso   é   para   operações   complexas,  isso  não  é  pra   resolver...   Por   que   todo  mondo   começou  a  falar   'vamos   fazer   uma   PPP?   faz   uma   PPP'"   então   esse  negócio  viralizou  e  ao  mesmo  tempo  diluiu  sem  perder  na  realidade  -­‐  isso  eu  vou  ter  que  comentar,  que  está  atual  -­‐  a  força  de  nascer  um  novo  mecanismo  que  viesse  a  abrigar  o  setor  privado  para  cumprir  uma  missão  pública,  dentro  de  uma   oferta   privada   e   que   não   só   sendo   uma   concessão  patrocinada   se   poderia   ter   o   recurso   que   vem   do   usuário  

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final:   se   é   uma   estrada,   se   tem   um   pedágio;   se   é   um  aeroporto,  se  tem  a  tarifa  de  embarque;  se  tem  uma  usina  de   processamento   de   lixo,   se   tem   o   pagamento   da  prefeitura.   E   que   combinasse   isso   com   um   pagamento   de  orçamento   do   governo   para   ajudar   a   formar   aquele  conjunto,  a  receita  é  hibrida,  composta  de  dois  pilares  para  que  desse  a   taxa   interna  de   retorno  necessária,  não  só  do  investimento   agora,   mas   do   investimento,   da   operação   e  que  você  pudesse  regrar  isso  pagando  pelo  QID.    

Tem  muito   questionamento   se...   Isso   hoje   é   uma   questão  sofisticada  no  Brasil.  Você  consegue  perfeitamente  saber....  Dá  para  pagar  o  operador  para   tomar  dinheiro  no  BNDES,  num  vou  dizer,  pra  pagar  um  head  e  um  risco  cambial,  mas  tem   muito   investidor   que   entrou   em   algumas   PPP’s   do  Brasil  e  trouxe  dinheiro  de  fora  e  falou  assim  "ó,  eu  banco  o  risco  cambial,  é  muito  mais  barato  a  taxa  de  juros  lá  que  o  dinheiro  do  BNDES"  e  trouxe,  botou  dinheiro  e  tá  aí.  Minas  Gerais   inovou   em   que,   e   a   inovação   foi   feita   dentro   de  procedimentos   que   entendíamos   os   mais   adequados,  Minas   tal   como   fez   os   ingleses,   nós   elegemos   os   projetos  pilotos.   Não   é   pra   qualquer   coisa,   vamos   estudar:  saneamento,   estradas,   presídios   e   um   projeto   na   área   de  serviço   público   da   cidade   administrativa.   O   1º   a   ser  colocado   de   lado   foi   a   Cidade   Administrativa,   porque  imagina  construir  um  outro  ativo,  e  a  cidade  administrativa  naquele   momento,   diga-­‐se   de   passagem,   nem   era  imaginada   a   ser   construída   lá,   era   pra   ser   construída   aqui  no  aeroporto  do  Carlos  Prates.  Só  não  foi  porque  de  fato  a  Infraero   não   quis   liberar,   se   não,   ia   ser   construída   aqui.  Então   não   é   pra   dizer   pra   viabilizar...   Agora,   tinha   uma  outra   coisa   extremamente   importante,   fundamental   ao  desenvolvimento  da   região  metropolitana  que  era  o   vetor  norte,   que   precisava   de   um   outro   conjunto   de  equipamentos   públicos   e   privados   pra   fazer   com   que  nascesse   a   nova   economia,   que   é   a   'redenção   de   Minas  Gerais'   que   tinha   a   ver   como  ancora  o   aeroporto.   E   é   por  isso   que   houve   a   criação   dessa   subsecretaria   de  investimentos   estratégicos   [dentro   de?]   da   qual   eu   era   o  coordenador   geral   da   unidade   de   PPPs   e   a   subsecretaria  para  ter  esses  projetos  que  seriam  os  motores  da  economia  a   frente,   levando  Minas   Gerais   À   nova   economia.   Porque  nós  estávamos,  e  agora  não  estamos,  numa  situação  crítica,  na  questão  de  a  mineração  ter  50%  da  economia  de  Minas  Gerais   fadada   a   uma   situação   gravíssima,   que   eu   não   vou  entrar   aqui.   Mas   que   nós   precisávamos   sair   para   os  investimentos   da   nova   economia,   atrair   os   investimentos,  melhor   dizendo,   a   gente   precisava   de   uma   infraestrutura  para  isso.  Esse  estudo  foi  feito,  saindo  um  pouquinho  aqui,  mas   de   certa   forma,   via   o   ambiente   PPP,   talvez   seja   o  estudo   mais   alentado   feito   até   hoje   no   Brasil   para   uma  determinada   região,   para   estudo   de   uma   região  metropolitana.   Vale   a   pena   vocês   olharem.   Foi   feito   pela  Jurong   Consultants,   com   ajuda   de   Jaime   [Lerner];   depois  nós  pedimos  uma  segunda  opinião  disso,  que  a  CH2M  Hill  ganhou  com  a  moda  canadense,  seguindo  aquela  regra  do  que   é   prioritário,   quais   são   os   projetos   elegíveis...   E  despontava   ali   uma   coisa:   ou  nós   temos  um  equipamento  de   primeira   grandeza   para   que   a   saída   seja   pelo   ar,   fazer  com   que   belo   horizonte   de   fato   tenha   um   equipamento  aeroportuário   que   compita,   não   só   dentro   do   Brasil,   mas  internacionalmente,  em  termos  de  custo,  operação.  Graças  a  deus  isso,  é  um  dos  grandes  legados  do  governo  Anastasia  

e   do   governo   Aécio,   é   que   a   concessão,   que   foi   feita,  concessão   pura,   ela   só   vingou   porque   esses   estudos   que  teve,  primeira  opinião  e  segunda  opinião,  e  que  mostraram  que  esse  aeroporto  seria  viável  para  ser  um  novo   'hub'  no  Brasil.   Aqui   a   geografia   não   é   madrasta   de  Minas   Gerais.  Aqui   tem   claras   condições   de   se   fazer   um   grande   centro  distribuidor,   mas   isso   era   importante   para   economia  regional  de  Minas  Gerais,  para  fomentar  uma  área  que  não  tinha   sido   ocupada   irracionalmente   ainda.   Então   foi  planejado  tudo:  rodovias,  o  VLT,  o  contorno  norte,  tudo.  

Denise:  tudo  do  vetor  norte?  

Athayde:  tudo,  de  cabo  a  rabo.  Todo  o  contorno  e  depois  a  região  metropolitana.   Cadê   o   estudo   de   como   deva   ser   o  entorno  de  Inhotim?  Tá  pronto.  Como  é  que  vai  fazer  com  o  entorno  da  fábrica  da  Coca-­‐Cola?  Tá  pronto.  Como  é  que  a  ligação  da  fundação  Dom  Cabral  daquela  região  pela  parte  leste  pra  chegar   lá  em  cima?  Tudo  pronto,   tudo  estudado,  com   o   maior   nível   de   sofisticação   que   vocês   puderem  imaginar.   Isso   vale   a   pena   estudar   depois   o   plano  macroestrutural.  Que  isso  tem  a  ver  com  desenvolvimento  sustentável   da   região   metropolitana   para   nos   levar   pra  nova   economia;   quais   setores?   Por   que   esses   setores?   28  estudados,   4   escolhidos   por   que   esses   setores?   Tem  sentido  as  pessoas  meterem  o  pau  no  aeroporto  de  confins,  querer   reabrir   o   da   Pampulha,   imagina   se   você   reabrir   a  Pampulha  você  quebra  a  malha  nacional  pra  cumprir  alguns  anseios   que   não   tem   nada   a   ver   com   racionalidade  econômica,    por  que  se  você  quebrar  a  malha  nacional  pra  fazer  um  voo  Rio  de  Janeiro  –  Belo  Horizonte,  nós  vamos  na  verdade   alimentar   o   hub   de   São   Paulo   e   o  hub   do   Rio   de  Janeiro,   que   vão   distribuir   pra   malha,   nós   temos   é   que  trazer   a   malha   nacional   pra   voar   aqui   e   daqui   carregar   a  malha   internacional   pra   competir   lá.   Por   que   aqui   uma  aproximação  é  600  dólares,  num  é  barato.  É  só  voar  e  ver,  e  tinha   que   se   fazer   um   projeto   de   primeiríssima   grandeza.  Não   tem  projeto   no  Brasil   de   infraestrutura   aeroportuária  como   o   Tancredo  Neves,   que   graças   a   Deus,   fez   com   que  fosse  uma   concessão  pura  que  os   suíços   ganharam   com  a  'CCE'   e   já   fez   o   primeiro   grande   investimento   que   já   é   o  terminal  2  que  quem  for  lá  vai  ver  que  faz  sentido.  O  portão  internacional,   serve   pra   embarcar   o   nacional,   com   um  botão,   você   aperta   e   fecham-­‐se   os   portões,   não   precisa  criar  mais   um   terminal   internacional,   não   tem  nada  disso,  com  um  padrão  que   fez   com  que   esse   investimento   ser   o  único   investimento   que   Minas   Gerais   teve   nos   últimos   3  anos   foi   o   investimento   privado   que   foi   o   aeroporto  internacional,  900  milhões.  Mas  pra  mostrar  a  lógica  que  o  planejamento  leva  a  isso,  e  que  precisa  desse  negócio  voar.  Porque   nós   temos   que   ver   a   parte   de   testes,   testes  médicos,   a   parte   de   customização   dos   chips,   a   fábrica   de  chips   veio,   a   fábrica   de   chips   tá   lá   em...   O   primeiro   chip  hibrido  do  Brasil  com  tecnologia  da   IBM  tá   lá,   já  montada,  tinha  que  ter  a   ligação  com  o  aeroporto,  pra...  Chip  é  uma  commodity,   uma   commodity   digital,   pra   embarcar   em  carro,  em  ultrassom,  onde  que  for,  pra  vender  isso.  Taiwan  tem   500   fabricas   de   chip,   nós   temos   a   1ª   e   paramos   no  meio.  E  aí  voltando  no  mecanismo  de  PPP,  era  pra  financiar  essa  malha,  projeto  a  projeto,  por  PPP,  saiu  a  primeira,  que  inclusive  só  não  foi  adjudicada,  que  é  a  ligação  do  contorno  norte,   de   Betim   até   o   ponto   de   toque   na   381,   ela   na  realidade  não  foi  à  frente.    

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Sem   entrar   no   mérito   e   inclusive   acho   que   se   podia  aperfeiçoar   isso,   mas   saiu   dentro   do   mecanismo   PPP.   Aí  entra   o   mecanismo   PPP,   dando   suporte   para   se   realizar  aqueles   investimentos   que   vão   mover   a   economia.   Então  Minas   Gerais   teve   esse   papel   de   ser   o   grande   laboratório  das  PPP,  mas  hoje  você  tem  100  contratos  no  Brasil,  mas  a  maior   formação   de   técnicos   de   PPP   do   Brasil  inquestionavelmente   é   aqui.   Marcos   Siqueira,   Marco  Aurélio   de   Vasconcellos,   Mônica   Lanna   saiu   daqui,   Ana  Salomão   todos   saíram   daqui.   Todos   entraram   na   unidade  de  PPP  pra  começar  a  estudar  os  projetos  pilotos,   como  é  que  se  faz,  como  discute  com  a  iniciativa  privada,  como  se  monta  um  PMI,  e  isso  virou  uma  grande  escola,  e  viabilizou  os  nove  primeiros  projetos.  Pagou  o  preço  do  pioneirismo,  olha  o  que  que  foi  a  MG050,  mas  tá  rodando,  olha  lá  que  tá  rodando.   Vamos   pegar   um   indicador   que   se   paga   por   ele,  morria  na  mg050  algo  entorno  de  30/45  pessoas  por  ano,  o  problema   da   3ª   faixa   de   segurança,   hoje   não   morre   na  mg050   5   pessoas/ano.   Pra   se   ter   uma   ideia,   e   não   é   pra  justificar  PPP,  é  pra  justificar  que  esse  tipo  de  investimento  ele  realmente  se  dá,  e  olha  o  que  que  é  o  sistema  prisional  de   Minas   Gerais   em   PPP.   Essa   coisa   de   fazer  cadenciadamente,   e   com   um   detalhe,   é   a   vontade   do  estado,   não   é   a   vontade   do   privado.   É   a   vontade  transparente  "olha  e  não  tá  bom,  volta  pra  trás  e  não  licita,  até  na  hora  de  licitar"  e  assim  foi  esse  grande  aprendizado  que  foi  a  unidade  de  PPP,  que  foi  uma  escola.  O  BID  veio  ai,  botou   dinheiro   a   fundo   perdido   pra   formar   esse   capital  institucional   e   fazer  o   capital  da   confiança.   Então  essa  é  a  história   que   se   tem,   você   pode   pegar   o   portfólio   todo,   se  pegar   esse   trabalho   se   lê   lá   as   primeiras   foram   de  Minas  Gerais.  Aí  veio  a  lei  federal,  é  uma  lei  aplicável,  uma  lei  fácil,  e  isso  sensibilizou  alguns  grupos  que  entraram  nisso.  Houve  na  realidade  algumas  operações  dirigidas  que  estão  dando  errado,   são   as   dores   do   parto  mesmo,  mas   o   que   que   eu  posso   [dizer]   para   concluir   isso   aqui,   o   mecanismo   ele  vingou,  ele  existe  um  mecanismo  PPP  bem  definido  não  é  qualquer  parceria  que  se  topou,  um   'OSCIP'  não  é,  é    uma  parceria  ente  o  setor  público  e  o  setor  privado,  mas  não  é    PPP   ‘stricto  sensu’  dentro  daquilo  que  preconiza  e   lei,  que  preconiza...   Isso   tem   uma   riqueza   enorme,   se   botar   PPP  contra  os  PMI's   lançados...  Teve  uma  pratica  muito  pratica  muito  reprovável  que  foi,  e  digo  ainda  cachimbo  fazendo  a  boca   torta,  que  são  essas  prefeituras  que  vão   fazer  PPP  aí  vem  uma  construtora  bate  na  porta  e  "lança  o  PMI  que  eu  faço   PMI",   não   vai   dar   certo,   cadê   a   garantia?   Qual   é   a  receita  que  vai  pagar  a  contraprestação?  Isso  tudo  tem  que  ter   um   senso   de   realismo,   mas   o   mecanismo   é   um  mecanismo,  voltando  a  falar,  ele  está  nessa  transição  pra  se  transformar   num   mecanismo   da   reforma   do   estado.   Ou  seja,  vem  dessas  experiências  já  com  setor  privado  e  aí  tem  uma   coletânea   de   iniciativas   no   Brasil   a   fora   que   isso   foi  crescendo  e  adensando,  as  maiores  operações  se  deram  na  área   de   saneamento.   A   COPASA   aqui   por   exemplo,   esse  maior  investimento  da  COPASA  pra  fazer  a  nova  ligação  do  Rio  Manso   é   uma  PPP   contratada   pela   própria   COPASA,   o  mecanismo   mostrou   coisas   muito   interessantes,   não   se  precisa   por   exemplo   quando   se   tem   uma   concessão  municipal,   e   é   uma   COPASA   que   contrata...   Ah,   uma  discussão  que  se  teve  no  Brasil,  quem  é  que  pode  contratar  uma  PPP,  não  é  só  a  administração  direta,  a  administração  indireta   também,   isso   foi   um   ganho   em   uma   discussão  enorme  que  teve  na  lei  e  entrou.  Sem  querer  ficar  falando  

muito  dos  atores,  o  momento   crítico  na   lei   federal   e  aí   se  vocês   quiserem   fazer   uma   análise,   é   que   lei   aprovada   na  câmara,  ela  foi  totalmente  diferente  daquele  projeto  de  lei  entregue   na   comissão   de   transição.   Quando   foi   para   o  senado,   houve   um   projeto   substitutivo   que   voltou   a   fazer  rigorosamente  aqui  que  tinha  sido  apresentado,  porque  se  ficasse   a   lei   da   câmara   nos   iriamos   ter   a   PPP   financiando  obra   pública,   e   aí   seria   um   desastre,   sei   lá   onde   esse  negócio   estaria   hoje.   Então   houve   um   esforço   grande,  inclusive   de   áreas   da   administração   do   presidente   Lula  contrária   a   outras   áreas   "não   vamos   deixar  misturar   isso,  tem   que   pagar   por  QID   e   tal,   tal   e   tal".   A   história  mostra  isso  aí  e  esse  dado  é  muito  enfático,  se  tem  lá  o  projeto  de  lei  que  foi  apresentado  na  câmara,  foi  tudo  fuçado,  mexido.  Pode   ler   lá,   falava   que   podia   financiar   obra   pública,  textualmente.   Foi   pro   senado   e   foi   feito   um   trabalho  enorme   de   Minas   Gerais   "não   pode   fazer   isso,   isso   vai  acabar  com  o  mecanismo"  foi  apresentado  um  substitutivo,  salvo   engano,   pelo   senador   Antônio   Carlos  Magalhães   ou  pelo   [...]  Carlos  Saide  nós   fomos  na  comissão  econômica  e  discutimos   e   sai   a   lei   PPP   muito   afeiçoada   aquela   que  originalmente   tinha   entrado   na   comissão   de   transição,   a  11079.  Então,  nós  estamos  diante  de  uma  coisa  que  não  é  nova  mas  estamos  diante  de  um  mecanismo  que   tá  nessa  fase   saindo   aí,   da   infância,   entrando   já   na   puberdade,  precisando  de  alguns  aperfeiçoamentos,  por  óbvio,  mas    é  um   mecanismo   compreendido   como   valido   na   realidade  brasileira   de   tantas   dificuldades,   com   tantas   faltas   ainda,  com   tantas   falhas   ainda   na   questão   da   integração   legal,  precisa   ainda   ter   muito   aperfeiçoamento   mas   é   um  mecanismo  que  vingou-­‐se,  e  que    evidentemente  eu  tenho  essa  esperança  de  que  é  ele  virá  com  vigor  muito  maior  nos  novos  governos  que  não  vão  desperdiçar  essa  chance  de  se  valer   desse   mecanismo,   para   projetos   seletivos,   tem  aplicação  para  um  hospital,  tem  aplicação  pra  um  conjunto  ode  rodovias,  pra  uma  ferrovia,  um  VLT,  pra  um  metro,  sem  dúvida.   O   mecanismo   ele   é   testado,   mostra   essa  capacidade   de   convivência,   e   principalmente,   resolve  algumas  questões  que  vai  mexer  um  pouco  com  a  cultura.  Quando   o   privado   investe   pra   ficar   30   anos   gerenciando  aquele  ativo,  ele  não  vai  querer  custos  de  manutenção  que  retirem  a   rentabilidade  dele,   se   ele  pode   fazer  na  origem,  com  o  mesmo  recurso  um  investimento  que  vai  dar  a  ele,  a  partir   de   um   período   determinado   aí   à   amortização   do  financiamento   ele   ter   um   custo   de  manutenção  marginal.  Isso  não  é  na  realidade  é  o  patamar  elevado  da  engenharia,  isso  é  negócio,  e  aí  tem  que  colocar,  isso  é  um  negócio  sim.  Só   que   é   um   negócio   que   ele   é   hierarquizado,   ele   é  contratado  e  tem  que  desmistificar  "mas  o  privado  tá  tendo  lucro"  é  claro  que  ele   tá   tendo   lucro,  evidente.  Se  ele  não  tivesse  lucro,  não  estaria  nesse  papel  de  ser  o  provedor  da  oferta  privada.  Mas  agora  o  que  tem  que  colocar,  ele  tendo  lucro   é   ainda   muito   mais   conveniente   o   estado   por   duas  razões.  Uma,  e  eu  não   tô  nem   falando  que  é  mais  barato,  mas  o  custo  é  previsível,  porque  fechou  o  contrato  PPP  é  só  a   inflação   e   pronto,   então   você   sabe   quanto   é   que   é   lá   a  vaga  disponibilizada  lá  no  presídio  de  neves?  Começou  com  2100,  tá  hoje  lá  3560,  é  só  a  inflação.  Agora  se  o  privado,  se  o  setor  público  falar  "olha,  eu  quero  investimento  adicional  para   melhorar   o   serviço,   e   esse   é   o   caso   do   próprio  presídio,  não  há  problema,  o  contrato  tem  que  ser  flexível  o  suficiente  que  ele  possa  incorporar  esse  investimento  que  o  provado   vai   fazer   e   isso   se   traduzir   dentro   da  

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contraprestação   ou   alongamento   da   operação.   É   um  negócio   em   si   de   matemática   financeira   em   cima   de  indicadores,  mas   que   tem  que   ter   ampla   transparência.  O  antídoto   disso   é   a   ampla   transparência,   participa   quem  quer,   concorre...   Mas   agora   você   já   imaginou   uma   PPP  nascer,   já   dirigida   desde  o   início?   Primeiro   que  não   se   vai  ter   concorrência,   segundo,   de   fato,   vai   disponibilizar   o  serviço,  mas   com   que   ganho   que   isso   tá   trazendo?   Então  por   isso   que   essa   discussão   do   procedimento   de  manifestação  de  interesse  ele  tem  que  sair,  ao  meu  juízo...  Hoje   se   tem  um  mecanismo  que  é  ao  contrário,  o  privado  pode   apresentar   e   o   estado   reagir   a   isso,   possível   é   de   se  fazer  isso,  mas  nós  não  estamos  maduros  pra  isso,  ao  meu  juízo.  Nós  ainda  temos  que  ter  o  estado  indutor  disso  "  eu  quero   isso,  porque  a  prioridade  é  essa,  porque   se   justifica  dentro  de  um  plano  maior"  isso  é  pedagógico.  

Denise:  Mas  ainda  não  estamos  nesse  ponto?  

Athayde:  Então,  nós  estamos  nesse  ponto  só  que   isso  não  está   devidamente   adensado.   Não   tô   dizendo   que  mais   de  500  prefeituras  do  Brasil,  saiu  com  construtoras  batendo  na  porta   "que   que   você   quer   fazer   prefeito?".   "ah   eu   quero  fazer  3  praças"...  

Denise:  PPP?  

Athayde:   "lança,   eu   redijo   aqui   pra   você   o   PMI,   aí   você  publica".  Isso  é  pecaminoso?  Não,  não  é,  isso  simplesmente  é   sujo.   Isso   se   varre   porque   não   vai   a   lugar   nenhum.   Se  chegar  e  ver,  dos  4  projetos  de  Minas  Gerais,  dos  4  pilotos,  só  um  não  foi  feito.  E  lá  na  origem  decidiu-­‐se  não  fazer,  que  foi   a   cidade   administrativa.   A   MG050   tá   aí   rodando,   o  projeto  de  saneamento  tá  aí  rodando,  que  não  foi  este  que  está   a   aí   a   ser,   o   sistema  de  águas  do   Jequitinhonha,  mas  acabou   resolvendo   fazer   a   COPANOR,   mas   usou   o  mecanismo   todo   pra   fazer   o   abastecimento.   As   duas  adutoras  que  trazem  água  do  manso  pra  uma  das  estações  de  tratamento.  E  o  aeroporto.  

Denise:  O  aeroporto  não  foi  depois?  

Athayde:   O   aeroporto   não   foi   valendo   da   'expertise'   que  tinha,   nós   preparamos   tudo   pra   ser   uma   concessão   pura.  Porque   a   concessão   pura   na   realidade,   é   o   estágio   mais  avançado   de   uma   PPP.   Porque   quando   se   contrata   uma  operação   de   PPP,   se   em   termos   de   performance   se   tem  uma  contraprestação  pública?  Ela  tende  a  complementar  a  receita  vinda  do  pedágio  para  que  se  viabilize  determinada  taxa   interna   de   retorno,   que   não   se   contrata   taxa   interna  de  retorno,  se  contrata  sempre  indicar,  mas  se  estrai  a  taxa  interna   de   retorno.   Ora,   se   a   estrada,   ela   ‘performa’   e   os  investimentos  estão  sendo  feitos,  qual  é  a  tendência?  Virar  uma  concessão  pura,  isso  tá  previsto.  Não  há  mais  razão  de  se   colocar   recurso   público,   porque   o   pedágio   já   viabilizou  ela.   Não   é   essa   a   tendência?   Se   levar   para   que   se   tenha  uma  concessão  pura.  E  pra   iniciativa  privada?  Quem  é  que  sabe  na  MG050  que  é  um  italiano,  um  austríaco  o  dono  da  PPP?  Não  sabem,  mas  agora  eu  quero  saber  o  seguinte  se  está   lá   funcionando   todo   o   sistema   de   segurança   da  estrada.   Qual   estrada   que...   Tô   dizendo   que   a   PPP   está  pronta.   Isso   é   um   aprendizado,   voltando   aqui,   eu   encerro  aquilo  que  estava  lá,  qual  é  o  mecanismo  capaz  de  ampliar  na   derivada   primeira   a   plataforma   de   infraestrutura   do  Brasil?  Essa  não  é  a  solução  pra  tudo,  por  óbvio,  e  nunca  vai  

ser,  mas  ela  é  uma  solução  que  o  principal  capital  do  setor  público  ele  é  confiança,  é  credibilidade,  não  é  grana,  é  criar  um   mecanismo.   E   aí   entra   um   papel   extremamente  relevante   das   universidades,   olha   esse   mercado   dos  verificadores  independentes,  prestarem  ao  estado  de  fazer  a  verificação  de  PPP,  desenvolver  os  programas  dos  QID's,  esse   é   um   mercado.   A   federal   entrou   nisso   eu   acho,   a  engenharia.  Se  ganha  por  3-­‐4  anos  um  contrato,  você  pode  manter  um  núcleo,  que  roda   independentemente  do  setor  privado,   roda   o   QID   mesmo,   todinho   ele   roda   "tem   que  pagar  só  92%  porque  não  cumpriu  a  performance  do  mês",  vai  pagar  e  roda  de  novo,  se  torna  menos  corruptível   isso.  Passou   3   anos   "ô   universidade,   você   precisa   melhorar  isso..."   é   uma   coisa   mais   transparente,   é   um   grande  mercado,   uma   grande   oportunidade   -­‐   não   vou   falar  mercado   nas   universidades.   Serem   verificadores  independentes,   de   hospital,   rodovia,   de   aeroporto   e  melhorar   isso.   Melhorar,   porque   daqui   a   pouquinho   toda  universidade  vai  falar  o  seguinte  "no  próximo  PMI,  melhora  isso   aqui,   já   joga   no   PMI   que   isso   aqui,   melhorou   a  performance."   Essas   coisas   que   precisam   ser  compreendidas   como  um  novo   capital   institucional   que   tá  nascendo.  Mas   agora,   precisa   de   tempo,   de   perseverança  de   resiliência   e   principalmente   de   seriedade   do   setor  público.  E  é  por   isso  que  o  setor  público  não  pode   fazer  o  que   fizeram  em  Minas  Gerais  e   liquidar  a  unidade  de  PPP,  isso   é   um   absurdo   por   uma   questão   ideológica,   "porque  isso  é  uma  esperteza  do  governo",   isso  é  uma   loucura,  eu  não  entendo  um  negócio  desses,  "porque  isso  pertenceu  a  iniciativa  privada?",  pertenceu  coisa  nenhuma,  isso  veio  na  realidade  de  um  processo...  

Denise:  De  construção?  

Athayde:   De   construção.   E   de   quem   na   realidade   é   a  inteligência?  De  quem  que  é  o  conhecimento?  Primeiro  na  ordem   de   quem   detém   o   conhecimento,   segundo,   isso   é  um  acervo  que  não  vale  nada  se  não  for  aplicado.  Pergunto:  quantos  PMIs  estão  abertos  no  estado  de  Minas  Gerais?  De  contrato   de   PPP?   Quais   contratos   de   PPP   foram  contratados   nos   últimos   3   anos?   Nós   estamos   falando   de  PPP,   não   é   que   PPP   é   solução.   Parou,   isso   não   pode  acontecer,   tratando-­‐se   de   um   mecanismo   que   tem   esse  poder   a   realidade   de   fazer   a   diferença   e   acho   que   as  universidades   têm   um   papel  muito   grande   de   indagar,   de  questionar,  porque^?  O  que  que  foi?  O  que  que  aconteceu?  Entrevistar   quem   é   usuário.   Absoluta   transparência   disso,  isso   não   tem   que   ser   monopólio   de   ninguém,   quem   tem  que  ter  o  monopólio  disso  é  a  sociedade.  A  sociedade  pelos  seus  entes  constituídos  que  é  o  estado,  e  que  representa...  Mas  aí  tem  que  formar  gente,  que  não  é  só  uma  questão  de  conhecime4nto.   É   uma   questão   também   de   estrutura,   de  como   preparar   pessoas   dentro   do   estado   para   serem  empreendedores,  e  pra   isso   tem  que  entender  a   lógica  do  privado,   senão   não   se   contrata   isso.   E   Minas   Gerais,  acredito   que   deu   uma   contribuição   boa   nisso,   a   nível   de  Brasil   pra   consolidar   isso,   projetos   pilotos.   Faz   um   tempo,  nós  começamos  a  fazer  a  primeira  modelagem  de  presídios  em   2003,   ela   foi   licitada,   salvo   engano,   em   2007,   saiu   na  revista  esse  negócio,  MG050  foi  o  primeiro  projeto  de  PPP  do   Brasil,   2   anos   entre   se   estudar,   modelar,   testar   e   até  licitar.  E  teve  gente  que  impugnou  "não  se  atendeu  o  rigor  lá  dos  ditames"  veio  o  ministério  público  e  "a  licitação  é  pra  

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todo   mundo",   "então   abre   pra   todo   mundo,   abre,   deixa,  pode  abrir",  a  gente  aprende  com  a  situação.  Então  não  se  trata   rigorosamente   só   de   um   mecanismo   de  financiamento.  

Denise:  É  um  mecanismo  de  reforma  do  Estado.  

Athayde:  É  um  mecanismo  de  reforma  do  Estado  que  tem  esses   desdobramentos   de   modelar   o   Estado   para  recepcionar   o   investimento   privado   para   cumprir   missão  pública.  E  aí  que  tá  o  [...],  talvez  um  instrumento  para  essa  crise  que  nós  estamos,  não  tem  recurso  público.  

Denise:   Uma   última   pergunta:   nesse   momento   que   nós  estamos  vivendo  -­‐  esse  momento  político  estranho  -­‐  a  nível  de  Brasil,  mas  Minas   também,  porque  as   coisas  não  estão  dissociadas.   Como   é   que   você   vê,   você   acha   que   esse  mecanismo   de   reforma   do   estado   ele   tem   facilitado   ou  prejudicado   determinado   setor?   Ou   facilitado   a   própria  ação   do   estado   ou   prejudicado   a   ação   do   estado?   Como  você  vê  a  PPP  hoje  nesse  momento  político?  

Athayde:   Prejudicado   não.   Quando   eu   só   falei   Minas   é  porque  Minas  tinha  que  se  valer  mais  desse  capital  que  fez.  

Denise:  E  você  disse  que  está  parado,  né?  

Athayde:  Tá  parado.  Mesmo  não  contratando,  mas  deveria  estar   com   essas   coisas   prontas,   a   obra   1   que   nós  precisávamos   para   ganhar   competitividade   com   são   Paulo  em  termos  de  produtos  de  alto  valor  agregado  é  o  contorno  norte,   pra   botar   o   aeroporto  na  ponta  de  Betim,   atrair   os  investimentos  da  nova  economia,  porque  se  tinha  que  fazer  primeiro  o  que?  A  coluna  vertebral,  que  só  se  viabilizou  por  causa  de  PPP,  quando  eu  tô  dizendo  'que  só  ficou  de  pé  por  causa  disso'  ainda  que  não  tenha  sido  implementado,  então  assim...  e  o  2  pra  ganhar  na  realidade  em  termos  de  região  metropolita,   maior   capacidade   de   atração   de   empresas   e  ao   mesmo   tempo   ganhar   tempo.   Esse   ganhar   tempo   e  aproveitar  dessa  logística  aérea,  que  graças  a  deus,  essa  já  tá  aí  e  se  essa  coisa  não  funcionar...  O  aeroporto  já  tá  com  13  milhões  de  passageiros   até  2023,  no  dia  que   se   falar  o  seguinte   "bateu   20   milhões   de   passageiros   no   Tancredo  neves"  você  fala  "  tem  gente  mais  próspera  no  pedaço",  se  pode   afirmar.   Mas   respondendo   isso   que   você   falou,   o  mecanismo   PPP   foi   determinante   para   com   que   nós  fossemos  para  os  estudos  de  matriz  de  escolha,  de  portfólio  de   projetos,   do   que   seria   o   setor...   Se   estimulou   isso  acontecer,  ainda  que  não  se   tenha  uma   interdependência,  e  prova  tanto  disso  é  que  quando  esses  estudos  mostraram  quais   eram   os   investimentos   de   infraestrutura   que   eram  prioritários,  o  número  1   com  certeza  o  aeroporto,  mas  eu  vou   deixá-­‐lo   de   lado,   porque   não   precisava   saber   que   era  ele   se  a  gente  quisesse  mudar  pra  nova  economia,   levar  a  economia  de  Minas  para  bens  de  alto  valor  agregado.  Mas  o   primeiro   equipamento   era   o   contorno   norte,   foi   feito  dentro   do   mecanismo   de   PPP   e   o   segundo   seria   alça   sul  para   tirarmos   essa   coisa   que   nós   temos   dessa   avenida,  chamada   hoje   de   anel   rodoviário,   pra   isso   virar   uma  avenida  mesmo  e  se  levar  1000  mil  veículos  pro  lado  de  lá,  mas   de  maneira  muito  mais   planejada,   o   entorno   e   fazer  com  que  se  pudesse  fazer  esse  contorno  em  20-­‐30  minutos,  hoje   se   gasta   3   horas,   fora   o   que   que   custa   de   vidas,  complicações  de  tudo    que  se  possa  imaginar  aqui  o  que  é  pegar  um  caminhão  que  saia  de  ouro  preto  querendo  ir  pra  

são   Paulo,   onde   que   ela   entra,   pega   a   avenida   amazonas  aqui  dentro  de  NH  ali  perto  [universidade]da  católica.  Esse  tipo   de   coisa,   se   tivesse   na   realidade   o   mecanismo,   nós  poderíamos   estar   onde,   já   com   o   PMI   pronto   a   muito  tempo,  com  tudo  pronto  pra   laçar  um  negócio  como  esse,  um   investimento  de  800  milhões,  um  contrato  desse  deve  dar   uns   5   bilhões   de   reais   pra   trinta   anos.   Isso   estaria  pronto.  E  o  3,  ligação  do  aeroporto  Tancredo  Neves  a  040,  e    4,   a   ligação   do   aeroporto,   uma   linha   transversal,   pegar   a  mg020  e  sair   lá  na  381   lá  em  cima,   ia  reordenar  toda  essa  parte  de  maneira  muito  mais,  eu  diria...  Se  vocês  verem  os  estudos  assim,  é  de  uma  riqueza  tamanha...  

Denise:  E  porque  você  acha  que  parou  Athayde?  Você  acha  que  foi  ideológico?  

Athayde:   Ah,   eu   não   tenho   dúvida,   tem   uns   colegas   seus  que  eu  vou  te  contar  uma  coisa.  A  universidade  tem  que  se  desideologizar,   não   pode,   tratando   de   desenvolvimento,  não   pode   continuar   dessa   forma,   não   pode   imaginar   o  estado   ser   Atlas,   não   pode   querer.   O   nosso   sistema   é  capitalista,   não   como   gerar   riqueza   e   prosperidade   no  sistema  capitalista  que  não  se  fomente  a  iniciativa  privada  e  que  isso  bata  lá  na  célula  familiar,  não  tem  jeito  de  querer  prover   isso:  vamos  prover  o  poste,  a   rua...  não  existe   isso,  não  adianta  ficar  nesse  proselitismo.  Tem  que  ter  realismo  pra  esse  tipo  de  coisa  "ah  eu  complemento  a  minha  renda  com  um  projeto  aqui."   faça   isso  em  prol  dos  projetos  que  vão   transformar   a   sociedade,   não   que   não   tenha   mérito  esse   tipo   de   coisa,  mas   não   pode   continuar   assim,   e   esse  tipo   de   coisa   nos   últimos   15   anos.   A   universidade   se  assenhorou  de  um  espaço  de  pensar  a  sociedade  a  partir  de  seu   próprio   umbigo,   não   é   assim.   Isso   tem   que     ser   uma  discussão  um  pouco  mais  diversa  e  estou  dizendo  isso  não  é  pra  entrar  nos   intestinos  da  universidade,  é  porque  está  a  larga.  Projetos  que   interessam  a  sociedade,   interessa  ela  a  universidade  ser  encomendada  de  coisas  que  são,  o  que  eu  acabei   de   falar   aqui   dos   verificadores   de   pop?  Quem   que  tá?   É   importante   essa   discussão   e   eu   acho   que   ela   vai  aflorar,  mas  tem  que  haver  essa  desideologização.  

Denise:   Isso   só   tá   na   universidade,   ou   tá   no   âmbito   do  estado  em  termos  de  PT,  PSDB  essa  briga  em  Minas  Gerais?  

Athayde:  Deixa  eu  dizer,  no  caso  de  Minas  Gerais  se  tenha  um   político   em   Minas   Gerais   que   é   uma   situação   sui  generis.  Essa  relação...    

Denise:  O  Aécio...?  

Athayde:   O   Aécio   até   não.   O   Anastásia   teve   seus   erros   e  acertos,   teve  um  programa  propositivo  em  todas  as  áreas.  Eu   tô   dizendo   a   situação   atual   é   'sui   generis'   para   uma  agenda  por  exemplo  de  desenvolvimento.  Que  que  tem  em  Minas  Gerais   em   construção?  Qual   o   projeto   acima  de   50  milhões   de   dólares   hoje   que   tem   a  marca   do   governo   no  estado   de   20   milhões   de   pessoas?   Não   tem,   entendeu   e  isso  por  causa  da  crise  econômica?  Também,  mas  não  é  só  não,  não  é  só  mesmo.  O  freio  da  economia  foi  enorme,  mas  não   é   só   isso   não.   Eu   não   quero   adentrar   nessa   questão,  mas   não   se   pode   ter   visões   de   longo   prazo.   Rumo   e  estratégia   econômica   por   isso   tem   que   ser   discutido   na  universidade,  que  não  olhe  pra  trinta  anos   'gente   isso  tem  sentido  aqui"  e  se  pode  aperfeiçoar,  mas  não  se  pode  abrir  mão   disso.   Então   se   nós   tínhamos   um   mecanismo   como  

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esse,   testado   já,   queira   ou   não   queira,   nós   pagamos   -­‐   o  estado   de   Minas   Gerais   no   caso   -­‐   nós   pagamos   porque  somos  mineiros  contribuintes,  a  prestação  publica  somados  os  projetos  todos  que  tem  aí,  uns  200  milhões,  230  milhões  por  ano  de  contraprestação  de  pop.  Tem  o  Mineirão  que  tá  nessa   conta,   a   mg050,   presídios   tudo   tá   nesse   portfólio.  Você   acha   que   isso   deveria   parar?   Eu   não   posso  [responder]...  Por  mais  que  eu  seja  uma  pessoa  assim,  fora  do   habitat,   pra   falar   sobre   isso,   eu   posso   achar   as  perguntas,  mas  eu  não  tô  falando  por  causa  do  governo.  O  governo   é   passageiro,   o   PT   tem   4   anos,   2018   vira   rinha  politica  de  novo.  O  governo  não  pertence  ao  governante.  

Denise:  o  governo  não  é  o  Estado.  

Athayde:  o  governo  é  para  o  Estado.  E  o  governante  ele  é  o  representante  do  povo,  ele  não  é  representante  do  Estado.  E   essas   coisas   vão   ficando   cada   vez   mais   claras,   essa  cambada   que   se   locupletou   do   estado,   porque   era  governante  tem  que  pagar  mesmo,  isso  não  pode  continuar  assim,  não  é  só  porque  tá  faltando  dinheiro  não,  é  porque  deixou   de   cumprir   a   missão   essencial   de   promover   o  desenvolvimento,   melhorar   o   serviço,   melhorar   o  regramento.  Quem  falou  que  o  governador  do  estado  não  é  servidor   público?   É,   ele   é   um   servidor   público,   tá   lá   pra  servir,   isso   não   é   discurso.   Então,   não   se   pode   ter   numa  agenda   tão   complexa   como   é   a   do   desenvolvimento,  principalmente  naquilo  que  seja  de  drives  importantes,  não  se   ter   um  discurso  que   inclusive  questione   se   a   estratégia  traçada  -­‐  se  não  tiver  estratégia  tem  que  discutir  -­‐  se  ela  tá  de   pé,   se   ela   tá   de   pé,   tem   que   aperfeiçoar,   tem   que  adaptar.  Mas  não  se  pode  ter  uma  ruptura  com  isso  porque  [ela]   é   de   outro   partido,   pior   ainda,   é   o   fim   do   mundo.  Porque  a  população  do  estado  de  Minas  Gerais  está  muito  acima   de   um   partido,   tá  muito   acima   de   quem   foi   eleito,  com   todo   respeito.   E   é   isso,   se   nós   estamos   falando   de  mecanismos   que   são   do   estado,   que   pertencem   a   agenda  de  reforma  do  estado...  estão  assim  nossos  governantes,  e  isso  tem  que  se   ir  para  um  processo  de  aggiornamento  da  máquina  pública,  não  pensa  que  vai  funcionado  assim,  não  é   assim   que   funciona.   Eu   acho   que,   eu   sou   uma   pessoa  otimista,  acho  que  não  é  que  só  tem  muito  por  fazer,  é  que  tem   muita   coisa   que   pode   ser   aproveitada,   o   americano  fala   "   tem   que   ter   commitment   numa  mão   e   um   taco   de  basebol   de   baixo   da  mesa,   o   accountability,   isso   tem   que  ser  assim  mesmo,  pra  ver  se  essas  coisas  dão  resposta,  por  que   a   gente   também   tem   que   ter   discernimento   que   a  sociedade,   as   pessoas   mais   desvalidas   economicamente,  socialmente   elas   não   tem   uma   ideia   do   todo.   Não   tem  sentido   o  metrô   de   belo   horizonte,   tem  22   anos...   Eu   fico  pasmo   com   um   negócio   desses,   instrumento   político   na  essência,   isso   é   um   absurdo.   A   linha   expressa   para   o  aeroporto,  diante  do  que  é  o  aeroporto,  nós  não  podemos  perder  um  dia  se  quer  em  termos  de  competição  com  São  Paulo,   Campinas,   com   Rio,   o   Rio   coitado   vai   passar   um  aperto,   por   outra   razão,   porque   ele   precisava   do   arco  norte,  o  arco  norte  vai  parar.  Ele  era  arco  norte  em  direção  as   fabricas   de   carro   lá   de   Porto   Real   e   em   direção   ao  aeroporto  de  Cabo  Frio,  que  tá  lá,  uma  obra  belíssima  mas  parou  -­‐  aqui  nós  nem  começamos  -­‐  mas  o  que  se  faz  sobre  o   investimento?   O   investimento   ele   é   fundamental,   na  implantação   são   6  mil   empregos   diretos,   isso   é   acender   o  braseiro  do  forno  da  Usiminas,  dos  fornos  de  cimento  aqui.  

"E   o   que   se   está   fazendo?"   É   empreendedorismo,   é  credibilidade  do  governo  e  um  mecanismo  que  vai  levando  essa  coisa.  Isso  tem  que  estar  em  discussão,  tem  que  estar  em   pauta,   por   isso   que   é   um   instrumento   da   reforma   do  estado   na   área   do   desenvolvimento,   na   área   do  desenvolvimento,   não   é   em   sentido   lato   não.   Eu   sou  otimista  de  que  essa  discussão  vai  se  estabelecer  de  novo  e  não  tem  ninguém  que  é  dono  da  verdade  não,  as  ideias  tem  que   ser   confrontadas   E   a   pergunta   "Tem   que   esperar   o  estado,  O  estado  vai  fazer  isso?  Vai  se  esperar  que  o  estado  vai   botar   dinheiro   pra   desapropriar   uma   área   que   o  proprietário   vai   ter   resultado?"   Não   tem   sentido,   isso   é  absurdo,  "então  o  senhor  proprietário  vai  passar  o  terreno  pro  estado"  se  é  pop  não  tem  problema  nenhum,  vale-­‐se  a  terra  porque  tem  o  valor  da  terra,  se  é  errado  da  forma  de  fazer   o   valor   da   terra,   que   tem   teses   e   mais   teses   sobre  isso,   tudo   bem.   Vale,   não   vale?   Acerta-­‐se   o   valor,   leva   a  conta  capital  da  SPC,  a  SPC  te  bota  lá  15  anos  pra  ou  você  é  sócio  da  SPC  ou  tem  o   [...],  eu  duvido  que  o  cara  do  setor  privado  não  vai  querer  isso.  Agora  o  quê  que  é  a  masmorra  que  nós  estamos?  "Ah  não,  vou  desapropriar,  fazer  que  isso  tenha  um  valor  que  adiante  um  pouco  do  dinheiro  pra  você  liberar   pra   construir   obra"   aí   não   se   constrói   obra...   Esse  tipo   de   enredamento   que   nós   temos   que   sair   dele,   é   pra  tudo?  Não  é,  mas  para  as  coisas  essenciais  tem  um  papel.  E  quando  nós  estamos  falando  aqui,  nós  estamos  falando  não  tem   nada   contra   o   estado,   tem   que   formar   a   consciência  dos   prefeitos,   dos   vereadores,   sair   da   lógica   do   ganha-­‐ganha  ali.  A  noção  dele  de  desenvolvimento  do  bolso  dele.  Isso   tem  um  papel   relevante   para   o   capital   institucional   o  mecan9ismo   tem   um   papel   importante   e   eu   acho,   que   a  universidade  tem  um  papel...  

Denise:  De  discutir?  

Athayde:  De  abrir  o  debate.  Tem  história,  toda  história  tem  seus  protagonistas,  seus  coadjuvantes,  não  é  por   isso.   Isso  não  é  uma  coisa  qualquer.  Se  nós  estamos  falando  de  PPP  vai  pra  área  de  internet,  o  que  significa  a  discussão  da  nova  lei  da  internet.  São  várias  áreas  pra  que  é  muito  importante  um   estado   preparado   e   eficiente,   pessoas   capacitadas,  treinadas  sem  nenhum  tipo  de  recebido  de  conversar  com  o   setor  privado,  não   tem   rabo  preso   "mas  eu   sou  estado"  tem  que  ser  claro  "eu  sou  estado"  o  cara  tem  que  saber  que  ele  é  o  estado,  ele  vai  sentar  na  mesa  e  negociar  duro,  mas  ele  é  o  estado.  Isso  vai  dar  um  peso  enorme  nessa  reforma  maior.  

Denise:   Talvez   seja   aí   um   ponto   frágil   né,   por   que   o   cara  não  vai  representando  o  estado.  

Athayde:  o  ponto  frágil  é  que  isso  se  transformou  em  voto  ainda.   Esse   que   é   o   ponto   frágil,   mas   a   sociedade   tá   se  conscientizando,   meio   lenta   mas   tá   se   conscientizando  disso.    

Denise:   Nós   não   temos   representantes   do   Estado   desse  nível,  conceitualmente  falando.  

Athayde:  nós  não  temos  representantes  da  população  que  façam  esse  estado...  

Denise:  Ser  forte.  

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Athayde:   Imagina  assim,  dos  7  conselheiros  do  Tribunal  de  Contas,  5  estão  na  cadeia  hoje.   Isso  é  higiênico  eu  acho.  O  presidente   da   assembleia   foi   levado   coercitivamente   para  depor,  mas  o  que  que  esse  pessoal  fez  com  o  voto  do  povo?  Eles  assaltaram  os  cofres  e  a  esperança  do  povo,  esse  que  é  o   problema   grave   dessas   pessoas.   Não   é   só   o   servidor  público  que  deixou  de   receber   seu   salário,   que   também  é  importante,  e  aí  vem  uma  coisa  que  eu  acho  extremamente  perversa,   essas   pessoas   que   fizeram   isso   foram   muito  hábeis  para  lidar  com  a  força  das  corporações.  O  toma  lá  dá  cá  

Denise:  foi  muito  bem  negociado.  

Athayde:  Foi.  Que  é  legal  mas...    

Denise:  Imoral.  

Athayde:  Alguns  são  imorais.  Esse  que  é  o  problema  e  essa  discussão   não   pertence   a   um   mundo   político,   ela   não  pertence  a  um  partido,  mas  tem  partidos  que  podem  tomar  aquela  bandeira  e  falar  "isso  aqui  tem  sentido  e  nós  vamos  defender"  por  isso  essa  coisa  de  se  imaginar  num  país  como  o  Brasil  se  ter  lista  fechada  [de  empresas?]  Se  votar  em  lista  fechada,   nós   não   estamos   maduros   para   isso.   Imagina  como  você  vai  se  [...]  isso  pra  discutir  alguma  coisa  que  é  da  minha  área  que  é  estratégia  econômica?  Que  é  uma  coisa  complexa,   tem   interesses.  E  estou  dizendo   interesses  é  de  competição.   No   estado   de   São   Paulo   quem   ganhou   a  concessão   do   Aeroporto   de   Guarulhos,   ninguém   nem   vê  falar  na  concessão  do  Tancredo  neves,  nem  ver  falar.  Até  a  última  hora  pagou  a  notícia  da  imprensa  pra  falar  que  era  o  patinho   feio,   que   não   teria   nenhum   candidato   aqui,  entrando   com   uma   questão   de   ordem,   um   deputado  entrou  com  uma  questão  de  ordem  no  TCU  dizendo  que  na  realidade   se   teria   que   abrir   pra   mais   candidatos,   que   na  verdade   não   era   pra   abrir,   era   pra  melar   o   leilão   pra   não  concessionar,  mas  que  não  se  queria  na  realidade  era  abrir  mercado,  porque  aqui  embarca  todos  os  dias  1000  pessoas  pra  ir  para  o  exterior  daqui.  

Denise:  Privilegiar  lá,  claro,  competição  né.  

Athayde:  Isso!  Competição  ué.  Então  é  isso  gente.  

Denise:  Não  deu  nem  pra  fazer  muitas  perguntas,  eu  fiquei  interrompendo,  mas  é  porque  tem  algumas  coisinhas  que  a  gente  fica  querendo...  

Athayde:  De  forma  alguma,  vocês  veem  como  transformam  isso   aí   num   fio   condutor   e   o   que   eu   puder   eu   corrijo   pra  vocês.  O   importante     é   vocês   terem  uma   visão   um  pouco  mais  equidistante,  e  se  vale  o  contexto  histórico  é  pra  isso.  

Denise:  São  pontos  de  vista  importantes  de  vários  agentes.  

Athayde:  Agora  a  carteira  de  PPP  eu  vou  mandar  pra  vocês,  eu  tenho  uma  apresentação  que  tem  a  carteira  de  todas  as  operações  de  PPP  do  Brasil,  tem  o...  

Denise:  Você  falou  do  outro  documento  também  que  tem  a  curva  de  tendência...  

Athayde:  É   tá   no  meio   do  documento,   tem  o   que   tem  de  PMI,   as   operações   contratadas,   tem   os   principais   marcos  desde  a  Lei  de....