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MARISTELA ALVES FARIAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: EDUCAÇÃO, POLÍTICAS, PRÁTICAS E O ORIENTADOR EDUCACIONAL CANOAS, 2009

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: EDUCAÇÃO, … · PRÁTICAS E O ORIENTADOR EDUCACIONAL Trabalho de conclusão apresentado para o curso de ... RESUMO Este Trabalho é o resultado

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MARISTELA ALVES FARIAS

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: EDUCAÇÃO, POLÍTICAS,

PRÁTICAS E O ORIENTADOR EDUCACIONAL

CANOAS, 2009

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MARISTELA ALVES FARIAS

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: EDUCAÇÃO, POLÍTICAS,

PRÁTICAS E O ORIENTADOR EDUCACIONAL

Trabalho de conclusão apresentado para o curso de Pedagogia do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência parcial para obtenção do grau de Licenciada em Pedagogia, Habilitação em Orientação Educacional.

Orientação: Prof. Dr. Miguel Alfredo Orth

CANOAS, 2009

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MARISTELA ALVES FARIAS

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: EDUCAÇÃO, POLÍTICAS,

PRÁTICAS E O ORIENTADOR EDUCACIONAL

Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciada em Pedagogia pelo Centro Universitário La Salle – Unilasalle.

Aprovada pela avaliadora em 25 de novembro de 2009.

AVALIADOR:

Prof. Dr. Miguel Alfredo Orth

Unilasalle

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Dedico este trabalho a todas as pessoas que acreditaram em mim nesta trajetória de estudos: os professores mais comprometidos, os colegas mais próximos e minha família que sempre me impulsionou para vencer!

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RESUMO

Este Trabalho é o resultado de uma pesquisa bibliográfica, realizada a partir da

problemática da aprendizagem e inclusão das pessoas com deficiência visual no

ensino regular. Analisando a legislação vigente, as políticas educacionais aplicadas

no Brasil e no município de Canoas, foi possível fazer um comparativo entre estas e

a prática verificada nos ambientes educacionais. Além disso, foi realizado um estudo

sobre a vida social e os aspectos cognitivos envolvidos na aprendizagem das

pessoas com deficiência visual. Por fim, um dos principais objetivos deste estudo é

trazer elementos para que os orientadores educacionais sintam-se comprometidos

com a inclusão em suas escolas e proporcionem ao aluno, familiares e professores,

todas as ferramentas necessárias a este processo peculiar de aprendizagem.

Palavras-chave: Inclusão. Deficiência visual. Ensino Regular. Orientador

Educacional.

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ABSTRACT

This study is result of bibliographic research, performed since a troubled

acknowledgement and people inclusion with visual deficiency in regular teaching.

Analyzing up-to-date legislation, educational policies applied in Brazil an in Canoas, it

was possible to establish a comparison among them and practice verified in

educational mood. Besides, it was operated a study about social life and cognitive

aspects involved in learning of people with visual deficiency. At last, one of most

important focus of this study is to bring elements for educational managers in a way

that they cold feel acquainted with inclusion in their schools and give to pupils,

parents and teachers, all necessary tools for this peculiar process of learning.

Keywords: Inclusion. Visual deficiency. Regular teaching. Educational manager.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Fachada do IBC .........................................................................................16

Figura 2 - Antigo prédio do Instituto São Rafael, 1958..............................................17

Figura 3 - Fachada do IPC ........................................................................................18

Figura 4- Instituto Santa Luzia em Porto Alegre........................................................20

Figura 5 - Fundação Dorina Nowill ............................................................................22

Figura 6 - Escola de 1º Grau Incompleto Louis Braille ..............................................24

Figura 5 - Evolução da Política de Inclusão nas Classes Comuns do Ensino Regular

..................................................................................................................................33

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Atendimentos no ano de 2008 .................................................................19

Quadro 2 - Cronograma de Implantação...................................................................37

Quadro 3 - Produção do livro acessível ....................................................................37

Quadro 4 - Cronograma de implantação ...................................................................37

Quadro 5 - Formação continuada de professores .....................................................38

Quadro 6 - Atendimentos (dado anual previsível) .....................................................38

Quadro 7 - Atendimentos na escola - 1º semestre de 2009......................................39

Quadro 8 - Atendimentos no domicílio - 1º semestre 2009 .......................................39

Quadro 9 - Convênios ...............................................................................................39

Quadro 10 - Alunos com inclusão .............................................................................40

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................9

2 CONHECENDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PARA PESSOAS COM

DEFICIÊNCIA VISUAL .............................................................................................13

3 POLÍTICAS PÚBLICAS INCLUSIVAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

VISUAL .....................................................................................................................25

3.1 Legislação..........................................................................................................25

3.2 Políticas Inclusivas ...........................................................................................28

3.2.1 Quais são os programas e medidas que o MEC está fazendo para incluir as

crianças com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas

habilidades/superdotação? .......................................................................................29

3.2.2 Há alguma determinação formal do MEC (lei, portaria, etc.) para o fim das

classes especiais no Brasil?......................................................................................31

3.2.3 Há uma data limite em que o MEC espera que a maior parte dos alunos com

necessidades especiais esteja incluída em escolas comuns? ..................................31

3.2.4 Como está sendo feita a inclusão de alunos com deficiência que nunca tiveram

contato com as classes regulares? É necessário algum tipo de adaptação? ...........32

3.3 Política de Educação Inclusiva ........................................................................33

3.3.1 Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais .........................................34

3.3.2 Rede Nacional de Formação de Professores...................................................34

3.3.4 Programa BPC na Escola.................................................................................35

3.3.5 Políticas Inclusivas no Município de Canoas....................................................36

4 COMO A PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL VIVE EM SOCIEDADE,

DESENVOLVE HABILIDADES E CONSTRÓI CONHECIMENTOS? ......................44

4.1 Quem é a pessoa com deficiência visual?......................................................44

4.2 Convívio social a partir das vivências familiares ...........................................49

4.3 Desenvolvimento Cognitivo da Criança com Deficiência Visual ..................54

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................59

REFERÊNCIAS.........................................................................................................63

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1 INTRODUÇÃO

Acreditando que a deficiência visual ainda é pouco conhecida nos ambientes

educacionais, motivou-me a pesquisar sobre a temática. A grande maioria dos

educadores teme o dia em que um aluno cego ou com baixa visão encontre-se na

sua lista de chamada. Este temor é perfeitamente justificável, haja vista que na

maioria dos cursos de formação de professores, trabalha-se muito pouco a temática.

Algo similar deve estar acontecendo nas demais áreas, como: medicina, arquitetura,

assistência social e tantas outras. Aliás, todos os cursos, em qualquer área do

conhecimento, deveriam em tese preparar seus profissionais para, ao menos, dar o

ponta-pé inicial nas questões inclusivas com as quais irão se deparar no exercício

de sua profissão.

Em se tratando de educação, podemos dizer que o profissional tem ainda uma

responsabilidade maior, uma vez que trabalha com indivíduos em formação. É

exatamente este o meu objetivo e minha motivação maior ao realizar este trabalho

de pesquisa, além de querer compartilhar com meus colegas de profissão todos os

conhecimentos que me foi possível agregar a minha formação inicial, especialmente

no curso de Pedagogia.

Desejo ainda que alguns tabus relacionados à educação de pessoas com

deficiência possam ser derrubados, com a aquisição do conhecimento sobre a sua

forma de aprender, bem como de suas principais necessidades nesse processo. Em

todos os níveis educacionais: desde a educação infantil até os cursos de graduação,

existem lacunas a serem preenchidas. Os profissionais da educação vivem dias de

profundos conflitos e sem dúvida, uma adequada formação na área iria acariar e em

muito os conflitos e angústias que batem a porta destes profissionais e de todas as

escolas.

Minhas histórias profissionais, como professora de séries iniciais há mais de

vinte anos, me ajudam a compreender o quanto precisamos estudar para exercer

bem a profissão. Aquela imagem da novela que mostra a professorinha linda, loira

de cabelos longos e sedosos, falando diante de uma turma de alunos silenciosos e

muito respeitosos precisa ser esquecida. A nossa realidade mudou ao longo das

últimas décadas, e de uma forma tão rápida que não conseguimos acompanhar com

10

tranqüilidade todo este processo. As novas tecnologias, a democracia e as

profundas mudanças nos formatos familiares são fatores que revelam uma

necessidade urgente de mudanças nas escolas.

Eu, particularmente, iniciei minha carreira no Magistério sem ter a menor idéia

de que um dia eu teria nas minhas classes escolares alunos cadeirantes, com

deficiência auditiva, doenças degenerativas, paralisia cerebral e atrasos no

desenvolvimento intelectual. Lecionei a todos eles e digo sem a menor sombra de

dúvidas que não foram eles os responsáveis pelos meus cabelos brancos. Aqueles

que mais abalaram o meu emocional foram sem dúvida os alunos que tinha corpo e

mente em perfeito estado, mas lhes faltava algo que eu não poderia dar sem a

parceira da família: limites em âmbito familiar. Por isso afirmo que os professores

estão cada vez mais assustados com a inclusão sem se darem conta que há muito

tempo já o fazem em suas classes cada vez mais heterogêneas.

Minha história pessoal também revela um pouco dos motivos desta minha

escolha nesta monografia. Casei aos 22 anos e, aos 24, tive um filho. Quando

completei 31 anos me separei do pai dele. Alguns meses depois conheci Alexandre,

meu atual marido, que é cego. Começamos a namorar, em meio a inúmeros conflitos

internos, tanto eu quanto ele não sabíamos se isso poderia dar certo. Também

houve conflitos familiares, pois era e é muito difícil para os pais compreenderem que

fizemos uma escolha pelo convívio com a deficiência. Esta angústia é perfeitamente

compreensível, pois uma coisa é ter um filho com deficiência, acolhê-lo e amá-lo.

Outra coisa é escolher alguém que tem os seus limites estampados na aparência

física como companheiro de vida.

É bom lembrar-se deste pequeno detalhe: limites, todos nós temos e muitos,

mas conseguimos escondê-los ou disfarçamos nossas incapacidades diariamente,

pois elas não são aparentes. Para as pessoas com deficiência física ou sensorial,

não podem disfarçar, enxergamos a sua fragilidade no primeiro contato.

Voltando a minha história, resolvemos viver juntos, construir um lar. A

convivência diária com meu marido despertou em mim o interesse sempre maior em

compreender como funciona a aprendizagem das pessoas cegas. O que estava

acontecendo? Eu estava relacionando minha prática profissional com o

conhecimento empírico que estas convivências com ele e com outros cegos

estavam me trazendo. Passei a fazer cursos e a participar de congressos e eventos

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que tratavam da deficiência visual. Estudei, observei e troquei muitas experiências

nesta área ao longo dos últimos oito anos.

Minha prática em Orientação Educacional III foi realizada no Laboratório de

Aprendizagem do Curso de Psicopedagogia do Unilasalle. Lá, trabalhei com a

família de uma criança cega, que ainda não freqüentava a escola. Meus objetivos

com este estágio foram atingidos: elevar a auto-estima da família e da criança e

orientar os pais para a necessidade de matriculá-la na escola.

Atualmente trabalho na Secretaria Municipal de Educação de Canoas – na

Unidade de inclusão. Lá, realizo assessoria pedagógica para professores da rede

municipal que trabalham com alunos cegos ou com baixa visão.

O meu objetivo maior é ser capaz de levar, através da educação, mais

conhecimento a todas as pessoas que precisam ou desejam relacionar-se com

pessoas com deficiência visual. Sonho com um dia em que, ao andar pelas ruas, as

pessoas cegas encontrem muitas outras que saibam abordá-las para oferecer-lhes

ajuda, com respeito e sem sentimento de pena. Sonho com o dia em que os

professores ficarão menos apavorados com a idéia de ter alunos com deficiência

visual em suas classes. E ao acolhê-los, este profissional tenha a noção de que a

sua responsabilidade (com o auxílio da equipe diretiva da escola, governo e

sociedade), em orientar estes alunos para que busquem as ferramentas necessárias

à sua aprendizagem.

É importante também que este professor dê seus aos alunos com qualquer tipo

de deficiência o tempo de que eles necessitam para construir seus conhecimentos.

Sem privilégios, mas com os subsídios necessários para exercerem o seu direito de

estudar.

Diante de tantos desafios cheguei ao seguinte problema a ser analisado neste

trabalho de pesquisa: “que ações são desenvolvidas pelas políticas públicas para

incluir as pessoas com Deficiência Visual (DV) nos sistemas de ensino. E como

educadores, sociedade organizada e governo poderiam incrementar ou reforçar

processos educacionais inclusivos, de sorte que as pessoas com DV possam

exercer o seu direito subjetivo a educação” (art. 4 da LDB).

Para dar conta desta questão de pesquisa estabeleci como metas:

• Conhecer a legislação e as políticas públicas existentes hoje para garantir o

direito à educação às pessoas com DV;

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• Analisar a vida em sociedade e a construção de conhecimentos da pessoa

com DV;

• Discutir alguns fazeres pedagógicos capazes de impulsionar novos

processos inclusivos na área.

Usarei como metodologia de trabalho a pesquisa bibliográfica e documental,

tanto em sites, livros e revistas especializadas. A pesquisa bibliográfica abrange a

leitura, análise e interpretação de livros, periódicos, textos legais, documentos

mimeografados ou xerocopiados, mapas, fotos, manuscritos etc. Todo material

recolhido deve ser submetido a uma triagem, a partir da qual é possível estabelecer

um plano de leitura. Trata-se de uma leitura atenta e sistemática que se faz

acompanhar de anotações e fichamentos que, eventualmente, poderão servir à

fundamentação teórica do estudo. Além disto, a minha observação diária de pessoas

com DV nos mais variados ambientes socais: familiar, educacional, esportivo,

profissional e outros. Escolhi esta metodologia de pesquisa porque tenho bastante

conhecimento empírico devido a minha convivência diária com a cegueira, então

senti necessidade de buscar pressupostos teóricos para aprimorar minha prática

profissional.

Pretendo desenvolver esta pesquisa em três etapas, que definirão cada

capítulo. Inicialmente trarei um pouco da história da educação para pessoas com

DV. Em seguida falarei sobre a legislação e as políticas públicas voltadas para este

grupo. E para finalizar farei um estudo sobre as peculiaridades desta deficiência e, a

seguir passarei a tratar sobre o desenvolvimento cognitivo das pessoas com DV e

sua inclusão escolar.

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2 CONHECENDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

VISUAL

Ao longo dos séculos, as pessoas com deficiência foram sempre

marginalizadas e consideradas incapazes de aprender, desenvolver-se e gerir sua

própria vida. Somente a partir do século XVIII, começaram a surgir movimentos que

propunham a possibilidade, através de algumas ações restritas, de educação desses

indivíduos. O século XIX veio dar um salto qualitativo nesse processo, podendo ser

considerado como um marco referencial de acessibilidade à educação,

principalmente em relação às pessoas cegas, em virtude da criação do Sistema

Braille. Esse código de leitura e escrita foi inventado por Louis Braille na França, por

volta de 1825, e se espalhou pelo mundo inteiro, chegando ao Brasil em 1854.

A partir da invenção do Sistema Braille, da criação de escolas especiais para

cegos e, posteriormente, da inclusão do mesmo no Sistema Regular de Ensino, as

pessoas com deficiência visual começaram a conquistar novos espaços, acendendo

a um direito ante-sonegado aos cegos. O acesso à informação e à comunicação é

um dos principais aspectos para a formação da pessoa com deficiência visual e para

o exercício de sua cidadania, estando previsto inclusive na Constituição Brasileira de

1988.

Com o advento do modelo inclusivo, amparado em diversos dispositivos legais,

faz-se indispensável implementar políticas públicas capazes de garantir as pessoas

com deficiência visual (cegos ou com baixa visão) o acesso à informação e à

comunicação, nas modalidades adequadas à sua situação visual. A sociedade

precisou (e ainda precisa) adaptar-se a essa nova realidade, na qual ela também

precisa ser capaz de atender às necessidades de seus membros com necessidades

especiais. Nesse sentido, a inclusão escolar também deverá atender às necessidades

e peculiaridades de cada sujeito, provendo recursos necessários para o desenvolvimento

de suas potencialidades e a uma efetiva participação nas atividades propostas no

ambiente escolar e de trabalho.

Durante o século XIX, houve a criação de diversos centros, a maior parte deles

de iniciativas particulares ou de autoridades locais e provinciais, onde se ministrava

a educação e o treinamento dos cegos para alguns ofícios como fabricação de

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escovas e vassouras, dentre outros. Por estas iniciativas a Espanha tornou-se um

referencial técnico e científico no que tange ao atendimento às pessoas com

deficiência visual.

Desde o começo deste século, a administração pública espanhola se esforçou

para proporcionar aos DVs proteção e trabalho. Entretanto, as medidas tomadas se

mostraram ineficientes, pois se limitavam a um número reduzido de pessoas, e

geralmente só eram atendidas aquelas em idade escolar.

Pelo fato de terem surgido várias entidades com fins e critérios parecidos,

passou a existir inicialmente uma grande competição. Porém, a partir da idéia de

que o mais importante é a atuação conjunta e a integração de esforços, estes

grupos começaram a ocupar esse espaço de forma colaborativa e se constituíram

em uma razão capaz de impulsionar a criação de uma organização de cegos

espanhóis de referência mundial.

De fato, um grupo de cegos, diante da ineficácia do Estado, viabiliza a

fundação ONCE, com o objetivo primordial de buscar novos meios de vida. Aliás,

esta fundação já havia sido criada oficialmente pelo governo espanhol a 13 de

dezembro de 1938, por um decreto do General Franco. A Organização Nacional de

Cegos Espanhóis (ONCE) reúne, em uma mesma instituição, três atividades

heterogêneas: aquelas próprias de uma associação de deficientes visuais, as

derivadas de uma instituição que oferece serviços especializados a este grupo e as

relativas a uma empresa comercial que ocupa um dos primeiros lugares no país em

termos de previsão de lucro e porque mantém mais ou menos vinte e seis mil postos

de trabalho. A partir da década de 60 e início dos anos 70, verificou-se na

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Dinamarca uma preponderância da educação integrada para alunos com deficiência

visual. Este sistema educacional é baseado em princípios políticos e administrativos

descentralizados. Aos municípios cabia a responsabilidade de oferecer serviços

sociais e educacionais, enquanto que às estruturas regionais cabia oferecer apoio

econômico e profissional. Em nível nacional, cabe à Refnaesskolen1 supervisionar e

apoiar o trabalho junto aos professores, pais e alunos para garantir a continuidade

deste processo. Em outras palavras, o sistema de educação local oferecia suporte

aos professores, o regional prestava serviços de assessoramento tanto às escolas

quanto às famílias. A Refnaesskolen formava os professores, supervisionava os

assessores regionais e promovia cursos para pais e para os próprios alunos no

sistema regular de ensino.

Neste país, as crianças DVs vivem em suas casas e quase todos os que não

possuem outros comprometimentos estão integrados em jardins de infância e

escolas de sua localidade. Esta modalidade de ensino acontece em nível local,

levando-se em consideração as características individuais de cada um e não

estabelecendo classes para deficientes visuais em âmbito regional.

No Brasil, o atendimento educacional aos DVs se faz presente a partir da

metade do século XIX, com o surgimento gradativo de várias instituições

especializadas na área. Algumas destas iniciativas podem ser creditadas ao poder

público, como também, as ações de comunidades religiosas, filantrópicas e/ou

particulares.

O primeiro passo concreto no Brasil para garantir ao cego o direito à cidadania

foi a criação do Instituto Benjamim Constant, fundado ainda no século XIX, na

1 Escola nacional para crianças e jovens cegos e deficientes visuais, fundada em 1898.

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cidade do Rio de Janeiro/RJ. O Instituto Benjamin Constant foi criado pelo Imperador

Dom Pedro II através do Decreto Imperial n.º 1.428, de 12 de setembro de 1854,

tendo sido inaugurado, solenemente, no dia 17 de setembro do mesmo ano, na

presença do Imperador, da Imperatriz e de todo o Ministério, com o nome de

Imperial Instituto dos Meninos Cegos.

Figura 1- Fachada do IBC Fonte: Brasil, 2005.

Estruturando-se de acordo com os objetivos a serem alcançados, o Imperial

Instituto dos Meninos Cegos foi pouco-a-pouco derrubando preconceitos e fez ver

que a educação das pessoas cegas não era utopia, bem como a profissionalização

dos mesmos. Com o aumento da demanda foi idealizado e construído o prédio atual,

que passou a ser utilizado a partir de 1890, após a primeira etapa da construção. Em

1891, o instituto recebeu o nome que tem ainda hoje: Instituto Benjamin Constant

(IBC), em homenagem ao seu terceiro diretor.

Fechado em 1937, para a conclusão da segunda e última etapa do prédio, o

IBC reabriu no ano de 1944. Em setembro de 1945, criou seu curso ginasial, que

veio a ser equiparado ao do Colégio Pedro II em junho de 1946. Foi proporcionado,

assim, o ingresso nas escolas secundárias e nas universidades.

Atualmente, o Instituto Benjamin Constant vê seus objetivos redirecionados e

redimensionados. É um Centro de Referência, a nível nacional, para questões da

deficiência visual. Possui uma escola, a qual capacita profissional da área da

deficiência visual; presta assessoria a escolas e instituições; realiza consultas

oftalmológicas a população; reabilita cegos; produz material especializado na área

como: impressos em Braille e publicações científicas.

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Toda a história centenária do IBC foi publicada no primeiro exemplar da

Revista Benjamin Constant, em um texto que apresenta os seguintes tópicos

históricos: antecedentes, fundação, primeiros diretores, nomes do instituto, imprensa

Braille e o instituto no século XX (ACESSIBILIDADE, 2005). O Educandário do

Instituto Benjamin Constant funciona hoje em regime de externato, e ou em regime

de semi-internato e internato, considerando-se a realidade sócio-econômica e a

localidade de residência de cada educando (BRASIL, 2005).

Outro passo diz respeito ao Instituto São Rafael (ISR), que foi fundado em

1925 e inaugurado no dia 20 de setembro de 1926. Surgiu pela iniciativa de dois

professores, ex-alunos do IBC, que procuraram o governo do Estado de Minas

Gerais, obtendo total apoio para a criação do referido Instituto. O nome desta

instituição é uma homenagem ao Anjo Rafael, feito pelos seus mentores.

A partir de 1979, o Instituto São Rafael passou a denominar-se Escola Estadual

São Rafael, hoje, de primeiro e segundo graus. Atende a todas as faixas etárias,

abrangendo desde a estimulação até o segundo grau, embora a escola tenha como

prioridade o atendimento ao primeiro grau.

Além de cumprir o papel de uma escola especializada, é uma escola da

comunidade, mantida pelo estado e, também por uma entidade comunitária

(Associação dos Amigos São Rafael). O quadro de docentes e funcionários pertence

à entidade mantenedora e a escola conta, ainda, com um corpo de voluntários.

Atende em torno de 310 alunos deficientes visuais, distribuídos no primeiro e

segundo graus e mais de 170 alunos videntes no segundo grau (BRASIL, 2003).

Figura 2 - Antigo prédio do Instituto São Rafael, 1958 Fonte: IBC, 2003.

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A escola funciona nos três turnos e recebe alunos em três sistemas: internato,

semi-internato e externato. O internato é permitido somente para deficientes visuais

até 18 anos. Presta atendimento a outras escolas da rede pública e particular, onde

existem alunos DVs matriculados. Cerca de 80 alunos são atendidos desta forma.

O Instituto de Cegos Padre Chico (ICPC), instalado na cidade de São

Paulo/SP, teve a sua pedra fundamental lançada em 27 de maio de 1928. Em 07 de

setembro do ano anterior, foi doado, pela Sra. Elza de Paula, um terreno para a

construção do Instituto, sob a condição de que um dos futuros pavilhões fosse

denominado de Monsenhor Francisco de Paula Rodrigues, “Padre Chico”. Por

ocasião da inauguração, o nome de “Padre Chico” se estendeu a toda a obra,

reverenciando o sacerdote paulista.

Figura 3 - Fachada do IPC Fonte: IPC, 2008

A direção interna do Instituto é confiada, desde a fundação, à Associação das

Filhas de Caridade de São Vicente de Paula. A instituição é dirigida por uma

diretoria não remunerada, nomeada pelo Arcebispo Metropolitano.

Os primeiros trabalhos dos cegos foram orientados pelo professor aposentado,

ex-aluno do Instituto Benjamim Constant, Sr. Mauro Montagna. Hoje, funciona ali

uma escola de ensino fundamental, onde professores e técnicos são mantidos pela

própria instituição. O ensino é ministrado de acordo com as normas vigentes da

Secretaria dos Negócios de Educação do Estado de São Paulo.

O Instituto de Cegos Padre Chico tem como finalidade encaminhar e preparar a

criança cega e de baixa visão para a sua perfeita integração na sociedade. As

crianças ali acolhidas recebem educação e instrução especializada do período

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preparatório ao ensino fundamental, gratuitamente. Essas crianças também realizam

atividades extracurriculares, assim como, os adultos que têm acesso a curso de

informática, leitura e escrita Braille, orientação e mobilidade, cujos dados podem ser

observados no quadro nº 1 (IPC, 2008).

Quadro 1- Atendimentos no ano de 2008 Fonte: IPC, 2008

A escola possui, atualmente, 97 alunos DVs no ensino fundamental e possui

um grupo de voluntários que presta serviços diversos como, por exemplo: dentário,

aulas de balé, capoeira, coral, transcrição de livros para o Sistema Braille, pesquisas

para trabalhos escolares, organização de bazares e promoções beneficentes para

auxiliar a instituição.

O Instituto Santa Luzia (ISL), localizado em Porto Alegre/RS, foi fundado em

21 de setembro de 1941, por Lydia Moschetti. Na Itália, ainda quando estudante, a

20

Sra. Lydia Moschetti conheceu um menino cego, do qual se compadeceu.

Comprometeu-se em criar uma escola para cegos ao regressar ao Brasil. Criou a

escola, entregando-a para a comunidade religiosa das Irmãs Filhas da Caridade de

São Vicente de Paula. O ISL é uma escola particular e, desde sua fundação até os

dias de hoje, está sob a responsabilidade diretiva desta Congregação.

A Instituição atende no regime de semi-internato, alunos deficientes visuais,

residentes em locais em que haja transportes acessíveis e constantes até o Instituto,

e alunos com locomoção independente ou com acompanhante. Estes alunos

permanecem na Instituição quando há atividades específicas no turno oposto às

aulas.

Atualmente, o Instituto Santa Luzia presta serviços educacionais aos alunos de

visão normal e deficientes visuais sem outras patologias que sua aprendizagem

comprometida, o que os impede de acompanhar e freqüentar o ensino regular. A

escola mantém o ensino de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio

– este último aprovado em 2002 –, numa proposta de integrar o portador de

deficiência visual com alunos de visão normal. A escola conta com 751 alunos, entre

os quais, em torno de 150 são DVs.

Figura 4- Instituto Santa Luzia em Porto Alegre Fonte: ISL, 2009

O corpo docente da escola é composto exclusivamente por professores não

religiosos, fato que há algum tempo atrás não se verificava, pois algumas Irmãs

exerciam o magistério. A limpeza e a conservação da escola estão a cargo de um

quadro de funcionários admitidos e remunerados pela própria instituição, conforme

as leis trabalhistas. Por ser uma instituição particular, parte de seus recursos provém

do pagamento de matrículas. Além disso, mantém convênios com órgãos

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governamentais, dos quais recebe subvenções, além de possuírem um quadro

regular de sócios contribuintes e receberem donativos de toda ordem da

comunidade em geral. Os alunos DVs que não possuem recursos são atendidos

gratuitamente.

A Instituição tem como objetivo desenvolver seu trabalho educativo

fundamentado na vivência profética de Jesus de Nazaré, na prática educativa de

Vicente de Paulo e Luísa de Marillac. Concebe a Educação como uma relação

dialética com a sociedade, através de práticas libertadoras, na construção de uma

visão de mundo crítica e social, passando pela integração da fé, da ciência e da

cultura, a serviço da vida e da esperança.

De acordo com informações do informativo “Filhas da Caridade São Vicente de

Paulo” (2009), o Instituto promove uma educação de qualidade, onde a formação

cristã e a informação contextualizada asseguram ao aluno movimentar-se nos

aspectos culturais, científicos, físicos, espirituais, sociais e políticos, de tal forma,

que o habilitem a conviver no mundo social e no mundo do trabalho. Resgatar

valores relacionados ao processo de humanização, com base em atitudes de

solidariedade, humildade e disponibilidade para agir como cristão e como cidadão.

A Fundação para o Livro do Cego no Brasil (FLCB) foi criada em São Paulo,

no dia 11 de março de 1946. Surgiu pela necessidade de se produzir e distribuir

livros para pessoas cegas. Esta necessidade se manifestou quando Dorina Nowill,

mentora e fundadora desta instituição, que ainda jovem perdeu a visão, ingressou

como primeira aluna cega integrada na antiga escola Caetano Campos, em São

Paulo/SP, em 1943. Dorina formou-se nesta escola como professora, atuando

sempre na área educacional de deficientes da visão. Contou com a colaboração de

vários amigos e autoridades do Estado de São Paulo para tornar o seu sonho

realidade.

A produção de livros Braille foi, de início, um trabalho voluntário, onde

participavam alunos da escola normal Caetano Campos e voluntários da Cruz

Vermelha. O resultado deste trabalho se traduziu em um razoável número de livros

Braille que começaram a circular em todo o país. Mais tarde, a Fundação ampliou

suas atividades no campo da educação, prevenção, estimulação e reabilitação das

pessoas cegas e de visão subnormal. Passou a produzir livros e revistas gravados,

possibilitando aos DVs acesso a um elenco maior de autores. Hoje, perseguindo os

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mesmos objetivos e primando pela qualidade do atendimento, investe em novas

tecnologias, ampliando o setor da Imprensa Braille e inovando metodologicamente

no que tange ao trabalho com estes educandos.

Dorina encontra-se em pleno exercício de suas atividades, atuando como

diretora presidente da Fundação, que no dia 11 de novembro de 1991, após

reformulação estatutária, passou a denominar-se Fundação Dorina Nowill para

Cegos (FDNC).

A Fundação tem como missão “facilitar a inclusão social de pessoas com

deficiência visual, respeitando as necessidades individuais e sociais, por meio de

produtos e serviços especializados”.

Oferece gratuitamente, também, programas de atendimento especializado ao

deficiente e sua família nas áreas de avaliação e diagnóstico, educação especial,

reabilitação e colocação profissional.

Figura 5 - Fundação Dorina Nowill Fonte: Amigos do livro, 2009

O Instituto Sulmatogrossense para Cegos “Florivaldo Vargas” (ISMAC) foi

fundado em 04 de fevereiro de 1957, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Funciona em sede própria, na região central da cidade e as atividades são

ministradas, na sua maioria, na sede, enquanto que outras em órgãos privados.

O ISMAC é uma instituição de assistência social, não governamental, sem fins

lucrativos e tem por objetivo principal promover a integração do portador de

deficiência visual por intermédio de ações educativas e/ou reabilitativas.

O instituto é administrado por uma diretoria composta por pessoas da

comunidade sem qualquer remuneração. A manutenção é feita por rendas

patrimoniais, contribuições de associados, auxílios e subvenções governamentais e

campanhas beneficentes. A equipe de professores e técnicos possui a característica

23

de equipe multidisciplinar, contando, para isso, com profissionais cedidos pelos

governos Estadual, Municipal e ainda com um corpo de voluntários.

Atende pessoas portadoras de DV de 0 a 21 anos de idade, oriundas não

somente de Mato Grosso do Sul, mas de estados e países vizinhos. Atualmente são

120 matrículas diretas e 100 indiretas. Diretos são os atendimentos feitos

exclusivamente pelo ISMAC e indiretos são os atendimentos feitos em regime de

itinerância ou eventual.

Desenvolve vários programas, desde a estimulação precoce, AVD (atividades

da vida diária), OM (orientação e mobilidade) e uma série de programas

educacionais até a formação e colocação profissional. É uma escola especializada,

porém não seriada. Apenas alfabetiza ou reabilita o educando e o insere na vida

escolar comum, tendo como meta principal a integração escolar.

A Escola José Álvares de Azevedo (EJAA) está localizada na cidade de Rio

Grande/RS e foi fundada no dia 5 de novembro de 1962, pelo rotariano Sr. Eurico

Bianchini. Inicialmente, chamou-se Centro de Educação Complementar para

Deficientes Visuais. Mais tarde, por exigências legais, recebeu o nome de Escola

José Álvares de Azevedo, em homenagem ao fundador do Instituto Benjamim

Constant.

A escola possui, atualmente, 65 alunos sem limite de idade, desde a

estimulação precoce até a terapia ocupacional. Atende da primeira à quarta série,

sendo que o quadro docente é composto por professores cedidos pelo Município e

pelo estado. Funciona em dois turnos – manhã e tarde – e adota o sistema de

internato para crianças e adolescentes. A escola estende seu atendimento a todos

os alunos DVs, em Rio Grande, que estejam matriculados em qualquer escola, seja

municipal, estadual ou particular e, ainda, dá suporte aos estudantes universitários.

A entidade mantenedora da escola é o Rotary Riograndino. Os funcionários e o

corpo técnico são mantidos por verba pública, repassada pela FADERS. Os

recursos financeiros, necessários para a manutenção da escola, originam-se de

contribuições mensais de um quadro de sócios e de doações da comunidade.

A Escola de 1º Grau Incompleto Louis Braille (EGILB) situa-se em

Pelotas/RS. Fundada em 10 de junho de 1952, esta escola funcionou, a princípio,

como departamento da Biblioteca Pública Pelotense, ocupando duas salas,

emancipando-se mais tarde por força do seu desenvolvimento. A professora Lory

24

Huber, também deficiente visual, ocupou a direção da escola durante 28 anos, a

convite de seus fundadores.

Figura 6 - Escola de 1º Grau Incompleto Louis Braille Fonte: http://www.louisbraille.com.br/

Desde a aprovação dos atuais estatutos, por determinação de ordem superior,

a escola Louis Braille passou a chamar-se escola de 1º Grau Incompleto Louis

Braille, tendo como entidade mantenedora a Escola Louis Braille, que é uma

sociedade civil de fins assistenciais que se mantêm com recursos advindos de

convênios, doações espontâneas, contribuição de sócios, sendo a principal fonte de

recursos a Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assistência Social (STCAS).

A escola é particular e totalmente gratuita, funcionando em regime de externato

em dois turnos. Atende a deficientes visuais, em geral provenientes de famílias de

baixa renda ou totalmente carentes. Tem como finalidade proporcionar um

atendimento psicofísico e sócio-pedagógico às crianças DVs, com vistas a garantir o

seu desenvolvimento global, através de estimulação dos sentidos remanescentes,

estimulação psicomotora, cognitiva, social e emocional, promovendo maior

independência pessoal em seu meio ambiente.

A Instituição oferece, entre outras atividades, serviço social, intervenção

precoce de zero a três anos de idade, pré-escola, ensino regular de primeira à

quarta série, reforço pedagógico nas disciplinas de português e matemática a alunos

que estudam em outras escolas (ensino itinerante), orientação e mobilidade para

cegos e atividades da vida diária, assim como o sistema Braille para cegos e escrita

ampliada para pessoas com visão subnormal e orientação e mobilidade.

Estes são os principais institutos e escolas que foram criados para atender ao

DV ao longo da história brasileira. Na seqüência deste trabalho apresentam-se as

políticas públicas inclusivas para pessoas com deficiência visual.

25

3 POLÍTICAS PÚBLICAS INCLUSIVAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

As políticas públicas, assim como a legislação brasileira, vêm evoluindo de

forma significativa em relação à educação de pessoas com deficiência. Para que o

atendimento a estes alunos seja apropriado e eficiente, a lei atual determina que o

Atendimento Educacional Especializado (AEE) seja oferecido a todos os alunos com

deficiência, transtornos de desenvolvimento ou altas habilidades. Tudo isso na rede

regular de ensino, com o devido apoio dos órgãos responsáveis. Como isto ocorre

mesmo?

3.1 Legislação

Os principais documentos legais relacionadas à educação especial podem ser

resumidamente listados assim:

A Declaração de Salamanca é fruto de um encontro mundial, ocorrido em

Salamanca, na Espanha, de 07 a 10 de junho de 1994, oportunidade em que os

delegados da conferência declaram que:

[...] reafirmamos o nosso compromisso para com a Educação para Todos, reconhecendo a necessidade e urgência do providenciamento de educação para as crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino e re-endossamos a Estrutura de Ação em Educação Especial, em que, pelo espírito de cujas provisões e recomendações governo e organizações sejam guiados (SALAMANCA, 1994).

O objetivo desta conferência foi o de traçar diretrizes para que a educação

mundial tratasse a inclusão de pessoas com deficiência com mais seriedade e a

partir dali criassem suas próprias políticas públicas de atendimento a estas pessoas.

A Constituição Federal, nossa lei maior, aprovada a 05 de outubro de 1988,

contempla o direito à educação para os brasileiros que não tenham terminado o

ensino obrigatório, inclusive às pessoas com deficiência como reza o art. 208 da

mesma. “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

26

III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,

preferencialmente na rede regular de ensino [...]” (BRASIL, 1988).

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96 garante

direitos específicos para os alunos com deficiência. Regulamentando desta forma a

prática educativa no país, contemplando as diferenças individuais dos educandos e

apontando para a valorização das capacidades dos mesmos. Desta forma, a

deficiência é levada em consideração, porém não é ela que define os limites de cada

aluno, sendo a aprendizagem um caminho individual, a ser traçado de forma peculiar

mediante as condições proporcionadas pelos sistemas de ensino. Mais

especificamente, o art. 58 da LDB, quando discute a problemática da Educação

Especial, em seu capítulo V diz que:

Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. Parágrafo único. O Poder Público adotará, como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo (BRASIL, 1996).

Já a Constituição do Estado do Rio Grande do Sul: promulgada a 03 de

outubro de 1989, seguindo os princípios orientadores da Constituição Federal

garante o acesso à educação para todos. Veja:

O Poder Público garantirá educação especial aos deficientes, em qualquer idade, bem como aos superdotados, nas modalidades que se lhes adequarem. § 1º - É assegurada a implementação de programas governamentais para a formação, qualificação e ocupação dos deficientes e superdotados. § 2º - O Poder Público poderá complementar o atendimento aos deficientes e aos superdotados, através de convênios com entidades que preencham os requisitos do art. 213 da Constituição Federal. § 3º - O órgão encarregado do atendimento ao excepcional regulará e organizará o trabalho das oficinas protegidas para pessoas portadoras de deficiência, enquanto estas não estiverem integradas no mercado de trabalho (RIO GRANDE DO SUL, 1989, Art. 214).

A Resolução nº 2, de 11 de fevereiro de 2001 do CNE/CEB atualiza os órgãos

responsáveis pela educação, trazendo de forma específica o público alvo para o

atendimento especializado e a assessoria, bem como institui Diretrizes Nacionais

para a Educação Especial na Educação Básica. O Presidente da Câmara de

27

Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, em conformidade com o

disposto no Art. 9º, § 1°, alínea “c”, da Lei 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a

redação dada pela Lei 9.131, de 25 de novembro de 1995, nos Capítulos I, II e III do

Título V e nos Artigos 58 a 60 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e com

fundamento no Parecer CNE/CEB 17/2001, homologado pelo Senhor Ministro de

Estado da Educação em 15 de agosto de 2001, resolve que:

A presente Resolução institui as Diretrizes Nacionais para a educação de alunos que apresentem necessidades educacionais especiais, na Educação Básica, em todas as suas etapas e modalidades. Parágrafo único. O atendimento escolar desses alunos terá início na educação infantil, nas creches e pré-escolas, assegurando-lhes os serviços de educação especial sempre que se evidencie, mediante avaliação e interação com a família e a comunidade, a necessidade de atendimento educacional especializado.

A principal modificação que acontece da Resolução nº 02.01 para a atual (nº

01.09) do CNE/CEB, é a possibilidade que a primeira prevê que, em casos

específicos o aluno possa ser matriculado em escolas especializadas, quer dizer,

Escolas de Educação Especial, como diz o Art. 10 da Resolução nº. 01/09 do

CNE/CEB.

Os alunos que apresentem necessidades educacionais especiais e requeiram atenção individualizada nas atividades da vida autônoma e social, recursos, ajudas e apoios intensos e contínuos, bem como adaptações curriculares tão significativas que a escola comum não consiga prover, podem ser atendidos, em caráter extraordinário, em escolas especiais, públicas ou privadas, atendimento esse complementado, sempre que necessário e de maneira articulada, por serviços das áreas de Saúde, Trabalho e Assistência Social.

A atual resolução do CNE não abre essa possibilidade como veremos adiante.

A Resolução 04, de 02 de outubro de 2009, do CNE. Orienta que todos os

alunos com Necessidades Educativas Especiais sejam matriculados em escola

regular, devendo receber atendimento em turno inverso (AEE) na própria escola em

Salas de Recursos Multifuncionais, ou em Escolas Especializadas que passariam a

servir de núcleos de apoio à aprendizagem destes alunos.

Art. 1º - Para a implementação do Decreto Nº 6.571/2008, os sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento

28

Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos.

Outro aspecto relevante desta resolução é a contabilização dupla do aluno que

está matriculado na rede regular e no AEE para fins do FUNDEB:

Serão contabilizados duplamente, no âmbito do FUNDEB, de acordo com o Decreto Nº 6.571/2008, os alunos matriculados em classe comum de ensino regular público que tiverem matrícula concomitante no AEE. Parágrafo único. O financiamento da matrícula no AEE é condicionado à matrícula no ensino regular da rede pública, conforme registro no Censo Escolar/MEC/INEP do ano anterior, sendo contemplada: a)matrícula em classe comum e em sala de recursos multifuncionais da mesma escola pública; b)matrícula em classe comum e em sala de recursos multifuncionais de outra escola pública; c)matrícula em classe comum e em centro de Atendimento Educacional Especializado de instituição de Educação Especial pública; d) matrícula em classe comum e em centro de Atendimento Educacional Especializado de instituições de Educação Especial comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos (BRASIL, Resolução 04/09 do CNE, Art. 8º).

3.2 Políticas Inclusivas

O movimento educacional inclusivo no Brasil iniciou de forma mais efetiva nos

anos oitenta. O período pós-ditadura proporcionou a livre manifestação dos

movimentos sociais e esta luta pelos direitos humanos envolveu também as pessoas

com deficiência e seu direito de estudar, como exercício pleno de sua cidadania.

(ORTH, 2009, p.68).

O Decreto nº 914, de 06 de setembro de 1993 trata da integração da pessoa

com deficiência e considera necessário complementar os currículos de formação de

docentes para trabalhar com estas pessoas.

Para que as instituições de Ensino Superior possam ser credenciadas, o

Governo Federal, através da Secretaria de Educação Superior, com apoio técnico da

Secretaria de Educação Especial, define alguns quesitos mínimos que devem ser

levados em consideração pelos avaliadores do MEC, em suas visitas às instituições,

objetivando a autorização, o reconhecimento e o credenciamento da instituição em si

ou de um curso da mesma. Dentre os requisitos exigidos, este se refere

29

especificamente à Educação de Pessoas com Deficiência Visual (Portaria nº. 3284,

de 2003):

II – no que concerne a alunos portadores de deficiência visual, compromisso formal da Instituição, no caso de vir a ser solicitada e até que o aluno conclua o curso: a) de manter sala de apoio equipada como máquina de datilografia braile, impressora braile acoplada ao computador, sistema de síntese de voz, gravador e fotocopiadora que amplie textos, software de ampliação de tela, equipamento para ampliação de textos para atendimento a aluno com visão subnormal, lupas, réguas de leitura, scanner acoplado a computador; b) de adotar um plano de aquisição gradual de acervo bibliográfico em braile e de fitas sonoras para uso didático; [...] (BRASIL, 2003, art. 2).

O decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, define claramente o que é

considerado deficiência visual, para os efeitos legais desta lei:

Para os efeitos deste Decreto, considera-se: [...]. III - deficiência visual – acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20º (tabela de Snellen), ou ocorrência simultânea de ambas as situações [...] (BRASIL, 1999).

3.2.1 Quais são os programas e medidas que o MEC está fazendo para incluir as

crianças com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas

habilidades/superdotação?

A centralidade das ações e programas implementados pelo MEC, por meio da

Secretaria de Educação Especial (SEESP) é a promoção das condições para o

acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos

globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Para isso, as

questões referentes à garantia da acessibilidade física, pedagógica e nas

comunicações nas escolas públicas são estratégicas. Destacam-se os seguintes

programas:

1. Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade, voltado à formação de

gestores e educadores para transformar os sistemas educacionais em

sistemas educacionais inclusivos, por meio da organização de cursos

presenciais, realizados em 162 municípios-pólo de todas as regiões

brasileiras;

30

2. Programa Escola Acessível: tem como objetivo apoiar a adequação de

prédios escolares para o acesso das pessoas com deficiência ou mobilidade

reduzida a todos os espaços; as ações de acessibilidade nos programas

nacionais do livro com a garantia dos formatos em Braille, Libras, áudio e

digital falado, de laptops para alunos cegos do ensino médio e dos últimos

anos do ensino fundamental; a articulação com as secretarias de educação

dos estados e do Distrito Federal para a organização e atuação do Centro de

Apoio Pedagógico às pessoas com deficiência visual, Centro de Capacitação

de Profissionais da Educação para área da surdez, bem como dos núcleos de

atividades de altas habilidades/superdotação;

3. Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais: com o

objetivo de disponibilizar aos sistemas públicos de ensino, equipamentos,

mobiliários, materiais pedagógicos e de acessibilidade para a oferta do

atendimento educacional especializado nas escolas públicas de ensino

regular; a Rede de Formação Continuada de Professores na Educação

Especial, que oferece cursos de extensão/aperfeiçoamento ou especialização

nas áreas do atendimento educacional especializado; na modalidade à

distância, por meio de instituições públicas de educação superior; a Formação

Presencial de Professores na Educação Especial, que objetiva formar

professores para atuar no atendimento as necessidades educacionais

específicas dos alunos com deficiência, transtornos globais do

desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, desenvolvido em parceria

com os estados;

4. Programa BPC na Escola: realiza o acompanhamento do acesso e da

permanência na escola das pessoas com deficiência, beneficiárias do

Benefício da Prestação Continuada da Assistência Social (BPC), na faixa

etária de 0 a 18 anos de idade, por meio da articulação das políticas de

educação, saúde, assistência social e direitos humanos. Também foram

implantados os cursos de letras/licenciatura em libras; o Prolibras, realizado

anualmente pelo Inep em todas as capitais, para Certificação de Profissionais

fluentes no ensino de Libras e na Tradução e Interpretação de Libras.

31

3.2.2 Há alguma determinação formal do MEC (lei, portaria, etc.) para o fim das

classes especiais no Brasil?

O Ministério da Educação orienta a organização dos sistemas educacionais

inclusivos, que supera a organização de sistemas paralelos de educação especial,

investindo na articulação entre a educação regular e a educação especial. Esta

concepção educacional se define pela efetivação do direito de todos à educação,

tendo como princípio o reconhecimento e a valorização das diferenças humanas e a

valorização da diversidade. A Política Nacional de Educação Especial na

Perspectiva da Educação Inclusiva, de 2008, traduz em seus objetivos e diretrizes

essa orientação, ou seja, a garantia do acesso à escolarização na sala de aula

comum do ensino regular e a oferta do atendimento educacional especializado

complementar, aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento

e altas habilidades/superdotação.

O atendimento educacional especializado deve ser organizado em salas de

recursos multifuncionais ou centros de atendimento educacional especializado, no

contra turno do ensino regular, disponibilizando recursos pedagógicos e de

acessibilidade que eliminem as barreiras para a participação e aprendizagem,

considerando as necessidades específicas dos alunos, conforme Decreto n° 6.571,

de 17 de setembro de 2008. O Decreto Legislativo nº. 186, de 9 de julho de 2008

que ratifica com status de emenda constitucional a Convenção da ONU sobre Os

Direitos das Pessoas com Deficiência, traz em seu artigo 24 que os estados-partes

devem assegurar sistemas educacionais inclusivos em todos os níveis.

3.2.3 Há uma data limite em que o MEC espera que a maior parte dos alunos com

necessidades especiais esteja incluída em escolas comuns?

A implementação da política de inclusão no sistema de ensino brasileiro já é

realidade. O Censo MEC/INEP, de 2008, indica que 54% dos alunos com

32

deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/

superdotação estão matriculados em escolas e classes comuns do ensino regular,

contrapondo a 46% de matrículas do alunado da educação especial em instituições

de educação especial e classes especiais. Esse dado revela a transformação que

está ocorrendo na gestão das escolas brasileiras, e que os sistemas educacionais

têm buscado a efetivação da garantia do direito à educação enquanto um direito

humano e constitucional.

3.2.4 Como está sendo feita a inclusão de alunos com deficiência que nunca tiveram

contato com as classes regulares? É necessário algum tipo de adaptação?

Na perspectiva da educação inclusiva, o foco não é deficiência do aluno e sim

os espaços, os ambientes, os recursos que devem ser acessíveis e responder a

especificidade de cada aluno. Portanto, a acessibilidade dos materiais pedagógicos,

arquitetônicos e nas comunicações, bem como o investimento no desenvolvimento

profissional cria condições que asseguram a participação aos alunos com

deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/

superdotação.

Vivemos um tempo de transformação de referências curriculares, que indicam

que não cabe ao aluno se adaptar à escola tal como foi construída; a escola é que

deve se reconstruir para atender a toda a sua comunidade, da qual fazem parte

pessoas com e sem deficiência. Portanto, são necessárias as adaptações nos

espaços e nos recursos e principalmente uma mudança de atitude, que já reflitam a

concepção de desenho universal, não só na estrutura física das escolas, como

também no desenvolvimento das práticas de ensino e aprendizagem e nas relações

humanas.

33

3.3 Política de Educação Inclusiva

Os resultados do Censo Escolar da Educação Básica de 2008 apontam um

crescimento significativo nas matrículas da educação especial nas classes comuns

do ensino regular. O índice de matriculados passou de 46,8% do total de alunos com

deficiência, em 2007, para 54% no ano passado. Estão em classes comuns 375.772

estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas

habilidades ou superdotação (BRASIL, 2009).

Figura 5 - Evolução da Política de Inclusão nas Classes Comuns do Ensino Regular Fonte: BRASIL, 2009

Esse crescimento é reflexo da política implementada pelo Ministério da

Educação, que inclui programas de implantação de salas de recursos

multifuncionais, de adequação de prédios escolares para a acessibilidade, de

formação continuada de professores para a educação especial e do Benefício de

Prestação Continuada da Assistência Social (BPC) as escolas, além do programa

Educação Inclusiva: Direito à Diversidade. O propósito do programa é estimular a

formação de gestores e educadores para a criação de sistemas educacionais

inclusivos.

34

Em 2008, foi lançada a política nacional de educação especial na perspectiva

da educação inclusiva, aprovada, por meio de emenda constitucional que leva em

consideração a convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência.

De acordo com a convenção, devem ser assegurados sistemas educacionais

inclusivos em todos os níveis. O Decreto nº 6.571, de 17 de setembro de 2008,

dispõe sobre o atendimento educacional especializado.

3.3.1 Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais

O programa apóia os sistemas de ensino na implantação de salas de recursos

multifuncionais, com materiais pedagógicos e de acessibilidade, para a realização do

atendimento educacional especializado, complementar ou suplementar à

escolarização. A intenção é atender com qualidade alunos com deficiência,

transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação,

matriculados nas classes comuns do ensino regular. O programa é destinado às

escolas das redes estaduais e municipais de educação, em que os alunos com

essas características estejam registrados no Censo Escolar MEC/INEP.

A Secretaria de Educação Especial oferece equipamentos, mobiliários e

materiais didático-pedagógicos e de acessibilidade para a organização das salas de

recursos multifuncionais, de acordo com as demandas apresentadas pelas secretarias de

educação em cada plano de ações articuladas (PAR). No período de 2005 a 2009, foram

oferecidas 15.551 salas de recursos multifuncionais, distribuídas em todos os estados e o

Distrito Federal, atendidos 4.564 municípios brasileiros - 82% do total.

3.3.2 Rede Nacional de Formação de Professores

A Rede Nacional de Formação Continuada de Professores foi criada em 2004

com o objetivo de contribuir para a melhoria da formação dos professores e alunos.

35

O público-alvo prioritário da rede são professores de educação básica, diretores de

escola, equipe gestora e dirigentes dos sistemas públicos de educação.

A rede é formada por 19 instituições de ensino superior públicas, federais e

estaduais e comunitárias sem fins lucrativos, que têm centros de pesquisa e

desenvolvimento da educação. Estes, articulados entre si e com outras IES,

produzem materiais instrucionais e de orientação para cursos à distância e

semipresenciais, atuando em rede para atender às necessidades e demandas dos

sistemas de ensino. As áreas de formação são: alfabetização e linguagem,

educação matemática e científica, ensino de ciências humanas e sociais, artes e

educação física, gestão e avaliação da educação.

O Ministério da Educação oferece suporte técnico e financeiro e tem o papel de

coordenador no desenvolvimento do programa, que busca implementar, por adesão

e em regime de colaboração com os estados, municípios e Distrito Federal.

3.3.3 Programa BPC na Escola

O programa é uma ação interministerial que envolve os ministérios da

Educação, da Saúde e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, além da

Secretaria Especial dos Direitos Humanos, em parceria com municípios, estados e o

Distrito Federal. O objetivo deste programa é realizar o acompanhamento e o

monitoramento do acesso e da permanência na escola das pessoas com deficiência,

beneficiárias do BPC, até 18 anos, por meio da articulação das políticas de

educação, saúde, assistência social e direitos humanos.

A intenção é criar condições para o desenvolvimento da autonomia,

participação social e emancipação da pessoa com deficiência. O beneficiário deve

ter garantida a sua matrícula na escola da sua comunidade. É importante que os pais

saibam que a matrícula é um direito do seu filho e uma obrigação do sistema de ensino.

O BPC na Escola realiza anualmente o pareamento de dados entre o Censo

Escolar Inep/MEC e o Banco do BPC/MDS, a fim de identificar os índices de

inclusão e exclusão escolar dos beneficiários do BPC.

36

Em 2008, foi identificado que 71% dos beneficiários do BPC, com deficiência

na faixa etária de zero a 18 anos, estavam excluídos das escolas e que somente

29% destes beneficiários estavam na escola.

Além do pareamento de dados, o BPC na Escola realiza a formação de grupos

gestores estaduais, a fim de que estes sejam multiplicadores e estejam aptos a

formar outros gestores nos municípios que aderissem ao programa. A formação

aborda ainda temas sobre educação inclusiva, acessibilidade e direitos das pessoas

com deficiência. Desde o final de 2008, os municípios que aderiram ao programa

estavam realizando pesquisas domiciliares para a identificação das barreiras que

impediam o acesso e a permanência na escola dos alunos com deficiência, e

beneficiários do BPC.

Atualmente, o programa está em funcionamento em todos os estados e no Distrito

Federal e em 2.623 municípios, o que dá um subtotal de 47% dos municípios, mas

abrangendo 68% dos beneficiários nessa faixa etária (BRASIL, 2009).

3.3.4 Políticas Inclusivas no Município de Canoas

Dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação – Diretoria de

Educação Continuada e Diversidade – Unidade de Inclusão, em novembro de 2009.

a) Programas Federais

Salas Recursos Multifuncionais (Verificar detalhes no capítulo 2.2.1): são 15

escolas contempladas, em 2008; e em implantação no ano de 2009. Estas escolas

receberam material para montar suas salas de recursos que devem entrar em

funcionamento em 2010.

Das 17 escolas contempladas no ano de 2009, está prevista a implantação em

2010. Estas escolas receberão material para montar suas salas de recursos em

2010 que devem entrar em funcionamento assim que estiverem prontas. Conforme

representado no cronograma abaixo:

37

Quadro 2 - Cronograma de Implantação Fonte: SME/DECD/Unidade de Inclusão

Livro Acessível / Adesão / 2009 (Verificar detalhes no capítulo 2.2.1)

O livro acessível é um projeto federal que proporciona a alunos com deficiência

visual acesso aos livros didáticos e de literatura trabalhados por seus professores

em sala de aula. Funcionamento no NAPPB / CEIA (Centro de Capacitação,

Educação Inclusiva e Acessibilidade) em implantação e produzindo em caráter

experimental livro no formato MEC/DEISY e formato de material em Braille. No

momento sendo acompanhado pelos consultores do MEC/UNESCO no laboratório

de produção, conforme apresentado no Quadro 3:

LOCAL DE PRODUÇÃO PARCERIA APOIO PREVISÃO

NAPPB / CEIA ADEVIC MEC / UNESCO 2010

Quadro 3 - Produção do livro acessível

Fonte: SME/DECD/Unidade de Inclusão

Escola Acessível / 2009 (Verificar detalhes no capítulo 2.2.1)

Obras de acessibilidade em execução e caracterizadas por reformas

arquitetônicas nas seguintes escolas: EMEF Guajuviras; EMEF Irmão Pedro; EMEF

Monteiro Lobato; EMEF João Palma da Silva; e Valter Perachi de Barcellos.

Quadro 4 - Cronograma de implantação Fonte: SME/DECD/Unidade de Inclusão

ANO TOTAL % GERAL

2010 32 44,0 44,0 %

2011 21 29,0 73.0 %

2012 20 27,0 100 %

ANO TOTAL % GERAL

2009 05 12,5 12,5 %

2010 05 12,5 25,0 %

2012 10 25,0 50,0%

38

Formação Continuada de Professores

Este quadro mostra os cursos à distância oferecidos pelo MEC e onde o município

de Canoas inscreveu seus professores. O objetivo é formar professores para trabalhar

nas salas de recursos multifuncionais que estão sendo instaladas nas escolas.

UNIVERSIDADES

Professores em Formação

Modalidade Tipo

Federal do Ceará 11 EAD AEE (Atendimento Educacional Especializado)

Federal de São Carlos 25 EAD AEE

Federal de Juiz de Fora 03 EAD Atividades Física

Estadual de Goiás 25 EAD Deficiência Mental nas Escolas

TOTAL 64

Quadro 5 - Formação continuada de professores

Fonte: SME/DECD/Unidade de Inclusão

b) Projetos municipais:

• Centro de Capacitação em Educação Inclusiva e Acessibilidade – CEIA,

Atendimento Educacional Especializado

Este é o local onde os alunos da rede municipal têm acesso a atendimentos de

psicopedagogia, fonoaudiologia e psicomotricidade, conforme encaminhamento feito

pelas escolas.

MENSAL SEMESTRAL ANUAL PROFISSIONAIS

542 2168 4336 12

Quadro 6 - Atendimentos (dado anual previsível)

Fonte: SME/DECD/Unidade de Inclusão

Projeto Itinerância:

Neste projeto professores especializados vão até as escolas dar atendimento a

alunos com deficiência ou dificuldades de aprendizagem. Este atendimento é

semanal e em parceria com o trabalho do professor titular da turma da criança

atendida.

39

N° de crianças atendidas N° de escolas Atendidas Professores Envolvidos

200 17 05

Quadro 7 - Atendimentos na escola - 1º semestre de 2009

Fonte: SME/DECD/Unidade de Inclusão

Assessoria - SME/DECD/UNIDADE DE INCLUSÃO

Professores que trabalham na Unidade de Inclusão/SME realizam assessoria

às escolas da rede, em reuniões, formação de professores ou atendimentos

individualizados nas escolas, conforme necessidade das mesmas. O grupo é

composto por: pedagogas, assistente social e psicóloga.

Rede Visitas Domiciliares Professores Envolvidos

150 95 04

Quadro 8 - Atendimentos no domicílio - 1º semestre 2009

Fonte: SME/DECD/Unidade de Inclusão

Convênios:

Instituições Privadas Conveniadas: estas instituições recebem (através de

compra de vagas) alunos da rede municipal que não puderam ser incluídos no

ensino regular. Ou, então, atendem alunos em turno inverso para complemento de

aprendizagem.

Instituições Nº de Bolsas Valor Mensal R$ Valor Anual R$

ADEVIC 40 8.360,00 100.320,00

APAE 85 20.981,00 151.772,00

PESTALOZZI 65 51.263,00 615.165,00

ACADEF 100 12.592,00 155.034,00

CHIMARRÃO DA AMIZADE

76 12.919,00 199.104,00

TOTAL: 366 TOTAL GERAL: R$ 1.221.395.00

Quadro 9 - Convênios

Fonte: SME/DECD/Unidade de Inclusão

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c) DIAGNÓSTICO ANUAL / 2009

O quadro abaixo apresenta os dados referentes aos alunos de inclusão

matriculados em escolas com diagnóstico.

QUADRANTES Nº DE ESCOLAS Nº DE ALUNOS ( NEE )

Sudoeste 13 258

Sudeste 10 97

Nordeste 18 353

Noroeste 19 227

TOTAL 1030

Quadro 10 - Alunos com inclusão Fonte: SME/DECD/Unidade de Inclusão

Obs.: Com ou sem laudo técnico

d) PLANEJAMENTOS ESTRATÉGICOS UNIDADE DE INCLUSÃO

Estes são projetos, cursos e parcerias que a Unidade de Inclusão tem em

andamento ou planeja realizar no próximo ano.

UNIVERSIDADES:

Parceria: ULBRA

Foco: Escola Vitória

Projeto: Pesquisa

Envolvidos: DECD, UNI, ESCOLA VITÓRIA, CONSELHO ESCOLAR

Objetivo: Avaliação e adequação as novas diretrizes das políticas de educação

inclusiva do MEC.

Cronograma: a partir de novembro de 2009.

Conclusão: Maio/2009

Parceria: UNILASALLE

Foco: CEIA

Projeto: Pesquisa científica e técnica

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Envolvidos: DECD, UNI, CEIA, EQUIPE DE PROFESSORES/NAPPB

Objetivo: Elaboração do Projeto Político Pedagógico e apoio para criação de dados

estatísticos das demandas.

Cronograma: a partir de novembro de 2009.

Conclusão: dezembro/2010

Meta: Lançamento dos dados compilados em outubro de 2010.

Parceria: Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

Foco: DECD

Projeto: Desafios para Incluir

Envolvidos: DECD, EJA, PROJOVEM, UNI

Objetivos: Capacitação, formação de programas, projetos e políticas intersetoriais.

Cronograma: setembro de 2009 a agosto de 2010

Conclusão: Dezembro/2010

ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL:

Parceria: Instituto Pestalozzi

Foco: Pedagógico

Projeto: Em estudo/Formação Profissional

Objetivos: Compras de vagas.

Cronograma:

• Outubro/novembro: avaliação de propostas

• Dezembro: documentação da entidade para conveniamento e envio a PGM

da minuta da proposta.

Parceria: Associação Canoense dos Deficientes Físicos - ACADEF

Foco: Profissionalizante

Objetivos: Compras de vagas.

Cronograma:

• Outubro/novembro: avaliação de propostas

• Dezembro: Documentação da entidade para conveniamento e envio a PGM

da minuta da proposta.

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Parceria: Chimarrão da Amizade

Foco: Terapias alternativas e profissionalizantes

Objetivos: Compras de vagas / Em estudo proposta de correção dos valores

Cronograma:

• Outubro/novembro: avaliação de propostas

• Dezembro: Documentação da entidade para conveniamento e envio a PGM

da minuta da proposta.

Parceria: Associação dos Deficientes Visuais de Canoas - ADEVIC

Foco: Assistência Social

Objetivos: Compras de vagas e absorção da demanda da comunidade e escolas.

Cronograma:

• Outubro/novembro: avaliação de propostas

• Dezembro: Documentação da entidade para conveniamento e envio a PGM

da minuta da proposta.

Parceria: APAE

Foco: Trabalhos alternativos e terapias ocupacionais.

Objetivos: Compras de vagas e absorção da demanda da comunidade e escolas.

Cronograma:

• Outubro/novembro: avaliação de propostas

• Dezembro: documentação da entidade para conveniamento e envio a PGM

da minuta da proposta.

OUTRAS:

Parceria: KINDER

Foco: Pedagógico e atendimento de múltiplas deficiências.

Objetivos: Compras de vagas e absorção da demanda das escolas.

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Cronograma:

• Novembro: avaliação de propostas para conveniamento

• Dezembro: documentação da entidade para conveniamento e envio a PGM

da minuta da proposta.

44

4 COMO A PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL VIVE EM SOCIEDADE,

DESENVOLVE HABILIDADES E CONSTRÓI CONHECIMENTOS?

Para que se possa responder a esta questão, é preciso que se entenda

inicialmente quem é este indivíduo e quais os aspectos legais que envolvem a

deficiência visual. É importante que esteja bem claro quais os casos em que

podemos considerar uma deficiência e não apenas uma dificuldade visual, passível

de correção com uso de lentes, óculos ou cirurgia. A partir disso podemos analisar o

convívio social destas pessoas e a importância da família no processo inclusivo. Por

fim, conhecer o funcionamento cognitivo das crianças com DV é de fundamental

importância para que os educadores possam planejar ações efetivas e de relevância

para este grupo que utiliza outras formas de aprender, que não seja a visão.

4.1 Quem é a pessoa com deficiência visual?

São consideradas pessoas com deficiência visual (PDV) as pessoas cegas e

as de visão subnormal. Engloba aquelas com acuidade visual igual ou inferior a

10/200 no melhor olho, após a melhor correção ou campo visual inferior a 20º (tabela

de Snellen), ou ocorrência simultânea de ambas as situações. Esta é a orientação

legal segundo o Decreto nº 3.298/99, o qual regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de

outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa

Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras

providências.

É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: III - deficiência visual – acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20º (tabela de Snellen), ou ocorrência simultânea de ambas as situações [...] (BRASIL, 1999, art. 4º)

Os critérios visuais incluídos nessa definição seguem a Classificação

Internacional de Doenças (CID) e não devem ser, portanto, utilizados para

elegibilidade de educação ou reabilitação sem incluir dados de avaliação de outras

45

funções visuais igualmente importantes, como sensibilidade aos contrastes e

adaptação à iluminação (MORAES, 2007, p.62).

De forma geral, os cegos constituem um grupo dentro de um conjunto maior de

indivíduos possuidores de problemas no órgão da visão, denominados deficientes

visuais. Dentre estes há também os que, embora apresentem limitações de

percepção visual, a utilizam para muitos afazeres e são classificados como sujeitos

com baixa visão. Assim define Gaspareto (apud LAZARO e MAIA, 2009, p.36):

A deficiência visual é uma categoria que inclui pessoas cegas e pessoas com baixa visão. Educacionalmente, a pessoa cega utiliza o Sistema Braille para a leitura e a escrita. A pessoa com baixa visão pode ler tipos impressos ampliados. A baixa visão, visão reduzida ou visão subnormal pode ser definida como uma ‘”perda grave de visão que não pode ser corrigida por tratamento clínico ou cirúrgico, nem com óculos convencionais ou também pode ser descrita como qualquer grau de dificuldade visual que cause incapacidade funcional e diminua o desempenho visual”.

Pode-se assim classificar:

Deficiência: representa a exteriorização de um estado patológico, refletindo um

distúrbio orgânico, uma perturbação no órgão, a perda ou anormalidade da estrutura

ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, temporária ou permanente, como

exemplo: uma anomalia, defeito ou perda de um membro, órgão, tecido ou qualquer

outra estrutura do corpo, inclusive das funções mentais.

Incapacidade: representa a conseqüência da deficiência e reflete as limitações

dela resultantes e que são impostas às próprias pessoas, comprometendo o

desempenho de suas atividades essenciais à vida diária, consideradas normais para

o ser humano. A incapacidade reflete a natureza da deficiência, seja psicológica,

física, sensorial ou outra.

Desvantagem: representam, no contexto social, as conseqüências de uma

doença ou incapacidade que limitam ou impedem as pessoas de exercerem as

habilidades necessárias à sua sobrevivência ou de desempenharem os papéis

esperados de acordo com a sua idade, sexo, fatores sociais e culturais.

Para nomear a deficiência é usado um substantivo ou adjetivo; pare se referir a

incapacidade é usado um verbo e para mencionar as conseqüências das

deficiências, o documento refere-se a algumas desvantagens na vida do sujeito, seja

no meio físico ou social.

46

A cegueira é um exemplo desta definição, por ser ela uma deficiência da visão

(substantivo), qualificada como deficiência sensorial que acarreta a incapacidade de

ver (verbo) e que apresenta, como uma das conseqüências, dificuldades na

orientação e na mobilidade que podem, até, comprometer a sobrevivência (o que é

uma desvantagem).

Na medida em que o modelo médico enfatiza a lesão que leva à deficiência e

pode criar algumas condições de dependência, a pessoa passa a ser percebida e

representada no imaginário coletivo como alguém totalmente incapaz. Isso explica porque

são levadas em consideração as características isoladas de certos órgãos e suas

funções, perdendo-se de vista o sujeito como um todo (CARVALHO, 2008, p. 29).

Por isso é tão importante que as avaliações para fins educacionais ou

profissionais sejam realizadas por um médico oftalmologista e por um pedagogo

especializados em baixa visão. De uma forma geral, o modelo médico enfatiza a

lesão que leva à deficiência permanente, como se todas as pessoas incapacitadas

(em alguma parte do corpo), nunca pudessem ser autoras e mentoras de seus

projetos de vida representando, em decorrência, um problema para a sociedade em

que vivem.

Ainda buscando conceituar a deficiência visual, podemos afirmar que:

Cego é o indivíduo que apresenta desde a ausência total da visão até a perda

da projeção da luz, após correção máxima, ou que tenham um ângulo visual restrito

à 10º de amplitude.

A restrição do campo visual, a chamada visão de túnel é também considerada

cegueira, independentemente da acuidade visual possuída pelo sujeito, porque

qualquer visão nesta amplitude impede a apreensão do ambiente como um todo,

uma das características fundamentais da percepção visual.

Do ponto de vista educacional, deve-se evitar o conceito de cegueira legal

(acuidade visual igual ou menor que 20/200 ou campo visual inferior a 10º no melhor

olho), utilizada apenas para fins sociais, pois não revela o potencial visual útil para a

execução de tarefas.

Foi observado que sujeitos cegos, com idêntica acuidade visual, possuíam

eficiência visual diversa, ou seja, sujeitos com a mesma medida oftalmológica de

visão apresentavam diferenças na utilização do resíduo visual.

47

Esta constatação tornou necessária uma concepção educacional de cegueira,

que se caracterizou, prioritariamente, pela ênfase na eficiência visual e não pela

acuidade. Até a década de 70 a classificação dos sujeitos como cegos, e sua

indicação para o ensino pelo método Braille, baseava-se no diagnóstico

oftalmológico. Entretanto, a constatação de que muitas crianças “cegas” liam o

Braille com os olhos levou os especialistas a uma reformulação do conceito, que

passou a centrar-se na maneira pelo qual o sujeito apreende o mundo externo.

Baixa Visão é o comprometimento do funcionamento visual em ambos os

olhos, mesmo após tratamento e/ou correção de erros refracionais comuns: a 10º do

seu ponto de fixação; capacidade potencial de utilização da visão para o

planejamento e execução de tarefas.

Assim, passaram a serem considerados cegos aqueles para quem o tato, o

olfato e a cinestesia são os sentidos primordiais na apreensão do mundo externo; e,

sujeitos com baixa visão, aqueles que, embora prejudicados na visão, a utilizam

satisfatoriamente em seu processo de aprendizagem (MORAES, 2007, p. 62).

Observa-se aqui uma mudança: antes, o Braille era indicado aos indivíduos

diagnosticados clinicamente como cegos; agora, são considerados cegos aqueles

que necessitam do Braille para a aprendizagem da leitura e da escrita. Pode-se

considerar neste movimento uma leve tendência de mudança na percepção dos

conhecimentos sobre a saúde e a doença. Até aquele momento, eram cegos os que

os médicos assim considerassem. Depois, passaram a serem denominadas cegas

aquelas pessoas que, pelo seu próprio comportamento visual, indicavam a ausência

de uma percepção eficaz.

Para os educadores, a preocupação com a cegueira centra-se nas condições

necessárias e apropriadas ao desenvolvimento da aprendizagem; outro fator,

desconsiderado pelas concepções populares, literárias e médicas, é a época da

incidência da cegueira. Sem dúvida, o sujeito que nasce cego (cegueira congênita),

que estabelece as suas relações objetais, estrutura o seu ego e organiza toda a sua

estrutura cognitiva a partir da audição, do tato, da cinestesia, do olfato e da

gustação, difere daquele que perde a visão após já ter ocorrido o seu

desenvolvimento (cegueira adquirida).

Do ponto de vista educacional há, portanto, necessidade da consideração de

dois grupos distintos: os cegos congênitos e os possuidores de cegueira adquirida. A

48

perda da visão pode ocorrer por diversas condições, várias formas e diferentes

idades. Há casos em que a cegueira é causada por doenças que atingem

especificamente o aparelho ocular, como o glaucoma, a catarata e as distrofias

periféricas e centrais e aquelas em que, esta condição é associada a outros

problemas orgânicos, como a diabetes, ou síndromes neurológicas que afetam o

nervo óptico. Nestes casos, geralmente a cegueira é progressiva e com tempo

variável na instalação da perda total da visão. Há também os casos de cegueira

adquirida, súbita e traumaticamente causada por acidentes e que podem ocorrer

com crianças, adolescentes ou adultos.

Assim podemos considerar que os efeitos da cegueira adquirida sobre a

personalidade estão em função de três fatores: a fase de desenvolvimento em que

se encontra o sujeito, a forma de instalação da cegueira (súbita ou progressiva) e as

condições pessoais e familiares do sujeito antes da ocorrência do problema.

As pessoas cegas precisam utilizar-se de meios não usuais para

estabelecerem relações com o mundo dos objetos, pessoas e coisas que a cercam.

Esta condição imposta pela ausência de visão traduz-se em um peculiar processo

perceptivo, que se reflete na estruturação cognitiva e na organização e constituição

do sujeito psicológico.

Por outro lado, considerando o papel preponderante da visão nas relações com

o meio, na maioria das vezes descritas, estudadas e exploradas através de

percepções, imagens e representações visuais, somos levados a conceder à visão

um valor primordial e, consciente ou inconscientemente, dar à sua ausência

conotações que algumas vezes ultrapassam sua real significação.

Uma questão que preocupa os especialistas é o quanto uma pessoa pode ou

não ver. A primeira afirmação com que nos deparamos a esse problema mostra-nos

quanto às concepções populares e literárias da cegueira estão desvinculadas de

uma verificação científica. Do ponto de vista médico e educacional, cego não é

aquele que nada enxerga, vive nas trevas e na escuridão total, pois é muito rara a

ausência total de percepção visual. A grande maioria daqueles, a quem

denominamos de cegos, freqüentemente distinguem o claro do escuro, percebem

vultos e contam dedos a uma determinada distância. Por outro lado, se pensarmos

que trevas e escuridão são dados perceptuais, que têm no outro plano a claridade e

a brancura, um sujeito que nunca enxergou não pode jamais ver nem a escuridão

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nem a claridade, sendo, portanto, esses conceitos muito mais metafóricos do que

dados da realidade (MORAES, 2007, p. 61) .

4.2 Convívio social a partir das vivências familiares

Para a criança com Deficiência Visual, assim como qualquer outra criança, a

família é o primeiro grupo social com o qual ela interage e aprende a conviver com

os valores sociais que a sociedade cria e reproduz. A partir do momento em que

esta família se relaciona com os demais parentes, escola, vizinhança e outros, a

criança com DV passa a adquirir mais elementos para perceber o mundo externo e

de acordo com o seu crescimento, ela vai buscando formas de se relacionar com

este mundo através de seus sentidos remanescentes (audição, olfato, paladar, tato e

cinestesia).

Nenhuma família pode dizer que está preparada para a chegada de uma

criança cega ou para um acidente, ou doença que leve um de seus membros à

cegueira. Assim como qualquer outra deficiência, ou doença que leve à danos

permanentes, a deficiência visual exige adaptações nos mais variados sentidos:

físicas, emocionais, cognitivas. Além disso, deve-se levar em consideração o tempo

de que a família precisa para viver seu ‘luto’ e administrar a perda de seu ‘filho

imaginário’ para só então conviver bem com o ‘filho real’, aquele que possui uma

deficiência. Para Masini (2007, p. 133):

A família tanto pode ser uma rede de apoio quanto impeditiva na concretização dos processos de desenvolvimento e educabilidade de seus membros. A dinâmica das relações familiares, por serem estas mais transacionais do que fixas, muda na medida em que altera o número de seus membros, bem como suas funções sociais e profissionais, levando-os a constantes processos de adaptação, necessários à sua sobrevivência.

Sendo assim, nos espaços educacionais, é necessário que se leve em conta o

contexto familiar em que vive a criança com DV. Acima de tudo é fundamental que

se apóie esta família e se oriente adequadamente a mesma em função do processo

educacional que a mesma precisa enfrentar. Uma família que se encontra perdida,

sem saber como lidar com um filho ‘diferente’, certamente não conseguirá exercer

50

seu papel de apoio no processo cognitivo da criança. Além disso, muitas vezes pode

atrapalhar o fato dos pais considerarem que seu filho seja incapaz de corresponder

aos desafios que a escola lhe propõe no intuito de estimular o seu desenvolvimento.

Mais uma vez lembrando que não podemos culpar a família que age deste

modo, pelo contrário, é necessário acolhê-la e orientá-la adequadamente, conforme

nos explica Masini (2007, p.152):

Nesse momento o desafio de orientação à família ultrapassa em muito as fronteiras institucionais e volta-se à instrumentalização das famílias para enfrentar as relações que se estabelecem na escola e na comunidade de um modo geral. A família precisa conhecer seus direitos e deveres contidos nas mudanças preconizadas pelo processo de inclusão e suas nuances.

O Orientador Educacional da escola tem papel fundamental neste processo, de

sorte que este precisa conhecer os direitos e deveres destas famílias. Além disto,

precisa pesquisar sobre os materiais pedagógicos adaptados e necessários à sua

aprendizagem, assim como precisa ter noções básicas do uso de uma bengala,

material ampliado, reglete e todo o universo da deficiência visual. Este profissional

irá então instrumentalizar o professor de sala de aula para que este também não se

sinta tão perdido diante da situação.

Se neste processo, a família não se sente capaz de auxiliar, a escola precisa

buscar formas de mostrar a ela como fazer. Isso vai exigir algumas horas de estudo

teórico para todos (professores, funcionários, pais, demais alunos) e também

oficinas práticas para que todos tenham acesso a materiais que passarão a circular

pela escola, além da mobilidade do próprio aluno com DV.

Os irmãos da criança com DV também precisam de uma atenção particular, por

parte dos educadores. Por que de uma forma geral estes são responsáveis por

acompanhar o irmão à escola e muitas vezes sentem-se responsáveis pelo que

acontece com eles lá dentro. Muitas vezes esta responsabilidade é imposta pelos

pais, outras vezes surge de forma natural, devido aos fortes laços afetivos que os

envolvem. Cabe também à escola (na figura do Orientador Educacional),

proporcionar a este irmão a oportunidade de conhecer os limites de sua atuação e

responsabilidade neste cenário escolar, onde existem adultos responsáveis pelo DV

e não se faz necessário que o irmão esteja sob vigilância absoluta. Esta postura da

escola deixará ambos os irmãos mais a vontade para exercerem seus papéis de

51

alunos e de cada qual criar seu círculo de amizades, muito importante para ambos,

enquanto crianças ou adolescentes. Segundo Masini (2007, p.147):

A auto-estima e a vaidade nos membros da família (pai, mãe, irmãos e irmãs, avôs e avós, tios e tias, entre outros) muitas vezes chegam a ser prejudicados ou mesmo esquecidos, para tanto há necessidade de acompanhá-los em atividades que possibilitem valorizar e desenvolver seus sentimentos, potencialidades, necessidades e expectativas.

Notadamente não é tarefa fácil a do Orientador Educacional e da escola como

um todo diante do desafio de aproximar e organizar tantos interesses e informações

diversas a respeito da vida escolar do DV. Este profissional também precisa estar

amparado por uma rede de trabalho que promova a efetiva funcionalidade das

políticas públicas voltadas para a inclusão deste grupo.

Para além da família e da escola, a criança encontra-se em uma sociedade,

onde o convívio com as deficiências ainda é muito mais empírico do que técnico.

Mesmo os profissionais que deveriam estar minimamente preparados para o trato

com a pessoa em qualquer situação que ela se encontre, ainda demonstram (uma

parte deles) um grande despreparo. Fala-se aqui de médicos, dentistas, advogados

e tantos outros profissionais que, ao deparar-se com um DV, muitas vezes ainda

dirigem a palavra ao seu acompanhante com frases do tipo: “Pode ajudá-lo a se

vestir.”, após uma consulta médica. Ou então iniciam a mesma perguntando ao

acompanhante: “O que ele tem?”.

Da mesma forma que acontece com a família, também não podemos culpar

este profissionais pela reação que apresentam diante do novo, do diferente. Mas a

sociedade, que de uma forma geral, precisa discutir mais estas questões, não

apenas em novelas, mas com a seriedade que o tema merece, pois a deficiência

não é algo de que qualquer um de nós possa estar livre. Mais do que isso, ela pode

surgir em nossas vidas no minuto seguinte em que acabarmos de escrever ou ler

estas palavras. Sem pensar em tragédias maiores, nos imaginemos distraídos,

caminhando pela rua XV de Janeiro, em Canoas (em frente ao UNILASALLE). A

qualquer momento podemos literalmente entrar em um dos inúmeros buracos

deixados para que as árvores se desenvolvam entre as lajes (que por si só já são

um tipo de piso ultrapassado, escorregadio). Bem, mas voltando ao buraco, este

pequeno deslize pode nos custar um rompimento de ligamentos do tornozelo que

52

nos obrigaria a uma imobilização, que levaria ao uso de muletas por algum tempo.

Só então perceberíamos o significado da palavra ACESSIBILIDADE, assim como

também ao compreendemos melhor quando envelhecemos ou então engravidamos

e carregando um peso maior do que de costume, precisamos atravessar

rapidamente as ruas, mesmo nas faixas de segurança porque alguns motoristas

estão sempre muito atrasados...

As pessoas com DV enfrentam todas estas barreiras arquitetônicas e ainda

muito mais: as cruéis barreiras de comportamento humano. A Psicologia certamente

explicaria melhor do que a Pedagogia os motivos que levam algumas pessoas a agir

como se fossem inatingíveis e jamais corressem o risco de estar em situação

semelhante à da pessoa com deficiência. Alguns indivíduos são incapazes de

coloca-se no lugar do outro e evitar pequenos (e grandes transtornos) às pessoas

com deficiência. Por pequenos transtornos podemos citar uma poça de preparo de

cimento e argamassa (massa para assentar tijolos) feito na calçada ou na rua

mesmo por onde diariamente circula um DV, ele certamente entrará com os pés na

poça de cimento antes que sua bengala possa fazê-lo. Por grandes transtornos

podemos citar a calçada do UNILASALLE ou os orelhões “assassinos” da OI, sobre

os quais as bengalas também não conseguem alertar o cego.

Algumas vezes as empresas ou órgãos administrativos públicos empenham-se

em fazer melhorias arquitetônicas, como aquela que o Trensurb e a Prefeitura de

Canoas fizeram em frente a algumas escolas e próximo das Estações de Trem (o

piso tátil). Estas melhorias são muito importantes e úteis para que a pessoa com DV

exerça plenamente sua cidadania e ande sozinho pelas ruas. Porém, ainda se faz

necessário muitas campanhas de esclarecimento público para instruam o povo

sobre a importância de deixar estes espaços livres para o trânsito dos DVs. Outro

dia, ao aproximar-me da passarela da Estação Canoas do Trensurb, percebi que um

vendedor ambulante de doces tinha montado sua mesa de trabalho exatamente em

cima do piso tátil. Certamente não foi informado da importância do mesmo para a

locomoção dos cegos.

Viver em uma sociedade inclusiva exige muita educação para a cidadania e

para uma disciplina, em especial para aqueles que desejam agir de forma correta,

educada, cidadã e inclusiva. Em muitas situações ficamos sem saber qual a melhor

atitude, o gesto mais apropriado, a ajuda mais adequada para uma pessoa que

53

apresente qualquer dificuldade de comunicação ou locomoção nas ruas. É natural

que fiquemos apreensivos diante do desconhecido, ou do pouco conhecido,

ninguém é obrigado a conhecer todas as peculiaridades de cada deficiência. Porém,

as pessoas que tem sensibilidade de observar o outro e vê-lo enquanto alguém que

tem todos os direitos e deveres de cidadão, esta precisa ser capaz de agir e reagir

da forma mais adequada diante da diferença.

Algumas dicas para quem encontra uma pessoa com DV e deseja ou necessita

interagir com ela:

COMO AGIR DIANTE DE UMA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL?

Nem sempre as pessoas cegas ou com baixa visão precisam de ajuda, mas se encontrar alguma que pareça estar em dificuldades, identifique-se, faça-a perceber que você está falando com ela e ofereça seu auxílio. Caso sua ajuda como guia seja aceita, ofereça seu cotovelo dobrado para que ela o segure. Ela irá acompanhar o movimento do seu corpo enquanto estiver andando. É sempre bom você avisar, antecipadamente, a existência de degraus, pisos escorregadios, buracos e obstáculos em geral durante o trajeto. Para ajudar uma pessoa cega a sentar-se, você deve guiá-la até a cadeira e colocar a mão dela sobre o encosto da mesma, informando se esta tem braço ou não. Deixe que a pessoa sente-se sozinha. Ao explicar as direções para uma pessoa cega, de preferência indique as distâncias em metros (uns vinte metros à sua frente). Se ela estiver acompanhada, jamais se dirija ao acompanhante para perguntar o que ela deseja ou precisa. Fale diretamente com a pessoa cega. As pessoas cegas ou com baixa visão são como você, só que não enxergam. Trate-as com o mesmo respeito e consideração que você trata as outras pessoas. No convívio social ou profissional, não exclua as pessoas com deficiência visual das atividades normais. Deixe que elas decidam como podem ou querem participar. Proporcione às pessoas com deficiência visual a mesma chance que você tem de ter sucesso ou de falhar. Fique a vontade para usar palavras como “veja” e “olhe”. As pessoas cegas as usam com naturalidade. Quando for embora ou sair de um ambiente, avise sempre a pessoa com deficiência visual (LERPARAVER, 2009).

54

4.3 Desenvolvimento Cognitivo da Criança com Deficiência Visual

Sabendo-se que a criança cega ou com baixa visão não é um vidente (pessoa

que enxerga) que carece de visão, precisamos compreender o desenvolvimento

cognitivo desta criança, é preciso que se saiba que sua forma de relacionar-se com

o mundo externo é diferente do que uma criança que pode ver. Cerca de 80% das

informações recebidas do meio são adquiridas por via visual, assim podemos ter

uma idéia de com é restrita e parcial a recepção destas informações para a pessoa

com deficiência visual (MARTÍN e BUENO, 2003, p. 98).

Mesmo sabendo das restrições, é evidente que investimos na sua

aprendizagem e desenvolvimento precoce a partir de seus sentidos remanescentes

(aqueles que lhe restaram) dos quais falaremos mais a seguir. Segundo Martin e

Bueno (2003, p. 99):

Poderíamos afirmar que os processos cognitivos da criança cega em relação ao vidente são distintos e, logicamente, mais lentos, embora a criança tenha mais atenção aos sons do ambiente. O sentido da visão proporciona ao ser humano um mundo atraente que lhe proporciona informações suficientes do ambiente, assim como verificação constante e instantânea, coisa que não acontece com a criança carente de visão.

Para aprender, o indivíduo conta com aspectos perceptivos que lhe permitem

assimilar as informações externas do mundo. Assim, quando se está exposto a uma

grande quantidade delas, é preciso fazer escolhas e eleger a qual delas daremos

mais atenção. Colocamos em andamento uma operação de filtragem da informação

proveniente do meio.

A estimulação multisensorial é de fundamental importância para que a criança

cega ou com baixa visão possa ter oportunidades semelhantes às crianças videntes

de apreender conceitos e comportamentos socialmente aceitos. Além disso,

proporciona que, em cada situação à qual está exposta, esta possa reagir

adequadamente e assimilar aprendizagens por meio de um de seus sentidos

remanescentes, conforme explicam Martin e Bueno (2003, p.100):

O homem está equipado com sistemas sensoriais que têm como missão coletar informações para planejar e controlar seu comportamento. Tradicionalmente, consideramos cinco sistemas perceptivos (visual,

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auditivo, gustativo, olfativo e tátil). Neste último, no sentido do tato, diferenciam-se cinco sistemas: contato físico, pressão profunda, dor, calor e frio, conjunto conhecido como sistema somatosensorial, constituído por elevadíssimo número de células altamente especializadas e distribuídas por toda a pele. Além disso, dispomos do sentido que nos informa sobre a posição (sentido cinestésico) e, finalmente, do sentido vestibular, ou seja, aquele que nos informa sobre a orientação e o equilíbrio. Estes dois últimos constituem o sistema proprioceptivo.

Os indivíduos desenvolvem a cognição através de vários aspectos. São eles:

• Percepção visual

• Percepção auditiva

• Olfato e paladar

• Percepção tátil

• Aspectos motores

• Linguagem e comunicação

• Competência Social

• Aspectos do desenvolvimento conceitual

A percepção visual é a mais utilizada pelos indivíduos de uma maneira geral.

Através da visão temos uma rápida idéia do todo e com uma riqueza de detalhes

que nenhum outro sentido é capaz de proporcionar.

As crianças com baixa visão também se utilizam do resíduo visual (capacidade

de enxergar que lhes restou), Elas exploram esta capacidade para obter

informações que uma criança sem visão alguma (cega) jamais poderá ter. Aqui

Martin e Bueno (2003, p. 102) nos trazem mais esclarecimentos sobre as diferenças

entre elas:

Podemos distinguir três tipos de crianças com deficiência visual: a criança cega congênita, que logicamente não dispõe de visão durante o período sensório-motor; o cego tardio, que conta com experiências visuais; e a criança de baixa visão que nunca viu com nitidez a realidade que o rodeia. Todas com uma problemática comum: percepção visual anômala.

Além de todas estas particularidades a serem observadas em uma criança para

acompanhar e contribuir em sua aprendizagem, é preciso que se leve em

consideração características muito individuais, como a capacidade intelectual e o

período de desenvolvimento em que se encontra (período sensório-motor ou período

da inteligência representativa e operatória), que perpassam a vida da criança desde

o nascimento até os sete anos de idade.

56

A percepção auditiva traz para o indivíduo cego ou com baixa visão, as

informações sonoras de que ele tanto necessita para compreender alguns conceitos.

É através da audição que muitas coisas não táteis podem ser percebidas, como

afirmam Martin e Bueno (2003, p. 107):

O sentido da audição permite a recepção das experiências sonoras. Boa parte dos conhecimentos que temos acerca do mundo nos chega por via auditiva. É considerado juntamente com a visão um dos mais importantes sentidos do homem, já que lhe facilita a comunicação com os demais de maneira simples, ao mesmo tempo que possibilita a participação na vida do seu ambiente social, propiciando um clima de relações cooperativas e interdependentes.

As pessoas com deficiência visual se utilizam da audição com muito mais

propriedade do que aquelas que enxergam. Isso não se dá devido a ‘super poderes’

muitas vezes atribuídos a elas por ter a habilidade de ouvir detalhes de um ambiente

que para os demais (videntes) passa despercebido. Na verdade isso se dá pela

necessidade que estes têm de estar mais atentos aos sons, devido à falta da visão.

Um cego precisa ouvir os sons dos carros para que possa atravessar uma rua com

relativa segurança, enquanto que um vidente olha o carro e calcula a distância do

mesmo apenas pelas informações visuais que captou, sem necessidade de prestar

atenção ao som que este faz.

O olfato e o paladar são sentidos muito utilizados pelas pessoas com

deficiência visual para captar informações peculiares do ambiente ou dos alimentos.

O cheiro de um pão mofado, conhecido por qualquer indivíduo, será muito útil para

que uma pessoa cega não corra o risco de comê-lo, já que não pode ver a cor

diferenciada que o mofo dá ao alimento.

O mesmo se dá com o paladar, as escolhas por alimentos saborosos se dá

pela direta experimentação do mesmo, diferente da pessoa que enxerga que muitas

vezes os escolhe pela cor e aparência chamativa.

A percepção tátil é também muito útil à pessoa com deficiência visual, embora

dê uma idéia limitada de alguns objetos, em outros casos traz uma informação exata

de tamanho, peso, textura e outras sensações. Para Martin e Bueno (2003, p. 110):

O sentido do tato não reside de modo exclusivo nas mãos, está distribuído de maneira ampla por toda a superfície da pele, e seus receptores coexistem tanto na derme como na epiderme. Como tal sentido fornece informações acerca de estímulos puramente táteis, pressão e determinadas

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vibrações, desempenha para o cego um papel extraordinário no conhecimento do meio, sendo a percepção tátil um meio de inestimável importância para o reconhecimento do ambiente na ausência do sentido visual.

Os aspectos motores também têm desenvolvimento diferenciado entre uma

criança cega e outra vidente. Embora ambas tenham nascido com os mesmo

reflexos (exceto as respostas aos estímulos luminosos). O desenvolvimento motor

se dá de forma espontânea para a criança que enxerga, enquanto que naquela com

deficiência visual, esse processo sofre uma defasagem em conseqüência da

percepção incompleta do meio (MARTIN e BUENO, 2003).

Pelas razões citadas acima, a estimulação precoce para crianças com DV é de

fundamental importância. Através deste trabalho de estimulação, a criança consegue

desenvolver habilidades motoras que se aproximam bastante das desenvolvidas

pelas videntes. A defasagem de desenvolvimento motor é um fator real a ser

avaliado, porém não pode ser uma barreira para que maiores desafios sejam

propostos aos pequenos, dando-lhes a oportunidade de descobrir seus próprios

limites.

A linguagem e a comunicação estão entre as mais importantes formas de um

indivíduo conhecer o mundo que o cerca e interagir com ele. Para a criança cega a

palavra e a linguagem proporcionam (MARTIN e BUENO, 2003, p.111): “Relações

com outras pessoas; e meios de controle remoto sobre objetos que, por não vê-los,

ficam fora do seu alcance.

É fundamental que os familiares e educadores tenham consciência de que as

explicações sobre objetos ou acontecimentos precisam de um maior número de

detalhes para a criança com DV. As informações verbais proporcionam ao indivíduo

a aquisição da linguagem, que é sua forma preferencial de representar o mundo,

como elemento integrador das percepções táteis, auditivas, olfativas e gustativas, ao

mesmo tempo em que é um meio excelente para o treinamento da memória auditiva.

Algumas vezes é exigido de um indivíduo que não enxerga, que ele estabeleça

relações que são muito difíceis sem a percepção visual. Por isso é de fundamental

importância que professores sejam preparados e também busquem informações

sobre o desenvolvimento destas pessoas, embora se possa exigir muitas coisas em

relação ao seu desenvolvimento, não podemos frustrá-lo ao solicitar tarefas

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impossíveis ou de uma dificuldade tão grande que o faça perder o interesse pelos

estudos.

Algumas vezes a pessoa com DV demonstra uma linguagem tão desenvolvida,

que passa aos videntes a impressão de que domina plenamente as informações do

meio, o que muitas vezes não é real, conforme explicam Martin e Bueno:

Em algumas ocasiões, a criança vidente – e a cega, com mais freqüência – apresenta problemas com a linguagem. Um deles, e talvez o mais representativo, é o da predisposição a usar a linguagem de modo excessivo, o que dá a impressão de que domina um meio ao qual, na verdade, é muito difícil que tenha acesso. Essa utilização de conceitos abstratos e, portanto, não baseadas em experiências diretas, é o verbalismo (MARTIN e BUENO, 2003, p.112).

Sob um ponto de vista mais positivo, o verbalismo pressupõe um interesse em

adaptar-se às exigências sociais, ao mundo dos videntes, pois a comunicação, além

de intercâmbio de informações, é transação de valores.

Os aspectos do desenvolvimento conceitual envolvem todas as percepções e

vivência já citadas acima. A partir disso, o indivíduo forma seus próprios conceitos e

estabelece relações com os conceitos já estabelecidos por outros. Isso se dá por

meio dos seguintes processos, segundo Martin e Bueno (2003):

• A abstração, que implica na capacidade de perceber, discriminar e abstrair

semelhanças a partir de vários objetos e atribuir uma palavra ou etiqueta à

idéia ou semelhança abstraída.

• A generalização, que implica em aplicar as semelhanças ou propriedades

abstraídas de uma nova exposição do conceito em questão.

Para o indivíduo cego, as restrições que a falta de visão impõe, trazem

limitações à assimilação das características e variedade de conceitos. Isso gera

muitas dificuldades a serem ultrapassadas, já que o desenvolvimento de conceitos é

a base para a aprendizagem acadêmica, social e psicomotora. Apesar disso as

pessoas com DV superam esses limites com as ferramentas apropriadas e o devido

estímulo precoce, quanto mais cedo receberem o Atendimento Educacional

Especializado (AEE), melhor a qualidade de sua organização cognitiva.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Crianças com deficiência visual precisam de condições apropriadas para seu

desenvolvimento intelectual, assim como qualquer outra criança. No entanto, a

realidade que se vê, é um medo do desconhecido que se justifica (da parte dos

professores) que não lhes permite perceber o quanto estes são capazes de

desenvolver estratégias de ensino que envolva a todos os alunos. Um cego

certamente é um desafio em uma sala de aula regular, porém, outros alunos, com as

mais variadas dificuldades de aprendizagem, compartilham o mesmo espaço e são

aceitos com naturalidade nos ambientes escolares.

É preciso deixar bastante claro o que entendemos por inclusão nos dias atuais.

Para fazer isto precisamos estudar como, ao longo da história, as pessoas com DV

aprenderam, para, a partir disto, poder aprofundar métodos de ensino e

aprendizagens adequados a inclusão destes na sociedade por meio da educação.

Até o final dos anos 70, falava-se em integração, um modelo onde a pessoa

com deficiência (qualquer que fosse) era integrada ao sistema educacional e

precisava adaptar-se a ele. O enfoque dado era o do treinamento dado a esta

pessoa para que pudesse fazer as coisas da maneira mais parecida possível àquela

das pessoas sem nenhuma deficiência. Ao apresentar dificuldades em acompanhar

a aprendizagem, era considerada incapaz, ou com alguma espécie de retardo.

Assim, as pessoas com DV também acabavam parando em instituições

especializadas no atendimento a pessoas ‘excepcionais’, como as APAES entre

outros. E sem o acesso a essas instituições, ficavam em casa, à margem da

sociedade, sem qualquer tipo de atendimento.

No início dos anos 80, iniciou-se todo um movimento de reflexão sobre as

práticas educativas, adequadas a cada educando, inclusive práticas educativas

adequadas às pessoas com deficiência. Mas este pensamento causou estranheza e

receio por parte de muitos profissionais da área, que preferiram continuar

justificando suas ações pouco inclusivas com o não preparo das mesmas para

atender esta demanda. No entanto as cobranças sobre inclusão começaram a ficar

cada vez maiores e hoje já há um movimento que busca levar formação a estes

educadores.

60

Nos anos 90, surge com mais clareza, estudos e teóricos capazes de suportar

esse novo paradigma da inclusão. Acreditava-se que toda a sociedade deveria se

preparas para a convivência com as pessoas que possuam algum tipo de

deficiência, inclusive os DV. Os espaços físicos e as tecnologias modernas

precisam ser adaptados para que todos que desejem ou precisem dos mesmos

pudessem utilizá-los. Com relação à educação, não é mais o aluno que precisa

adaptar-se às metodologias, ao material pedagógico, ao espaço físico e aos

recursos humanos, mas sim a escola que precisa se preparar para recebê-lo. Além

disso, desenvolver a cultura da inclusão entre todos os envolvidos no processo

educacional (alunos, pais, professores, funcionários) como nos esclarece Masini

(2007, p. 211):

No novo modelo de educação os alunos sem deficiência devem conviver com os com deficiência e a escola deve dar conta de atendê-los em suas necessidades específicas. Os alunos devem conviver na mesma sala, no mesmo pátio, na mesma biblioteca, na mesma cantina, enfim, conviver com tudo, todos e no todo.

Para que esta inclusão aconteça de forma efetiva, não adianta culpar o

professor pelo fracasso do aluno (ao final do ano letivo), ou então aterrorizá-lo (no

início do ano) com a idéia de receber um aluno com deficiência. Toda a equipe

escolar e também a mantenedora da escola são responsáveis por este aluno e

devem dar a este professor o suporte técnico, emocional e também material

pedagógico adequado para que se processe a inclusão. Além de amparar o

professor adequadamente, seu preparo profissional precisa ser colocado como

prioridade, conforme afirma Masini (2007, p. 213):

Não adianta estudiosos e pesquisadores afirmarem que não é necessário o professor estar preparado para receber e trabalhar com a criança com deficiência, porque, se ele não tiver o mínimo conhecimento, não saberá lidar, não conseguirá pedagógica e didaticamente orientar alunos com ou sem deficiências ao mesmo tempo, com metodologias e estratégias que sejam adequadas a todos, não em detrimento da qualidade, mas, sobretudo em razão das necessidades e diferenças individuais daqueles alunos que devem dividir, hoje e futuramente, espaços iguais ou semelhantes, sem preconceito e sem discriminação.

Estimular o aluno para que tenha prazer em aprender é um dos papeis

fundamentais do professor em qualquer situação. Ao tratar-se de crianças com DV,

esta responsabilidade aumenta, já que os estímulos visuais, normalmente usados

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pelos professores (especialmente em séries iniciais), não terão significado para

estes que não podem ver. É preciso que estratégias de motivação sejam criadas ou

adaptadas em uma classe com aluno DVs, as matérias devem ter significado

potencial e lógico para eles, as adaptações físicas precisam ajudar a proporcionar as

mesmas condições dadas aos demais alunos e os recursos didático-pedagógicos

precisam estar adequados a sua forma de aprender.

O atendimento precoce a este grupo de crianças é de fundamental importância

para seu desenvolvimento adequado, assim que os pais descobrirem a deficiência,

precisam levá-lo para que receba atendimento especializado em centros que

proporcionem reabilitação e estimulação precoce. Esta atitude da família será

crucial para que seu desenvolvimento intelectual seja adequado e sua inclusão no

ambiente escolar seja o mais natural possível, já que estará orientado para que

busque soluções junto a colegas e professores e não fique passivamente esperando

que façam o melhor por ele.

Além de tudo o que já foi citado, as peculiaridades que a deficiência visual

apresenta também precisam ser levadas em consideração, já que um aluno cego

necessita de um tipo de adequação, a qual é diferente do que daquele que possui

baixa visão. Os graus de visão abrangem um leque de possibilidades que vai da

cegueira total até a baixa visão. Assim nos explicam Lazaro e Maia na revista

Benjamim Constant (2009, p.11-12):

O trabalho escolar desenvolvido com o aluno de baixa visão é bem mais complexo do que com o cego, por ser altamente individualizado. Além das diversas patologias oculares, a funcionalidade da visão é de difícil compreensão, uma vez que pode haver comprometimento em diferenças funções visuais, de forma isolada ou associada.

Professores, de uma maneira geral, têm dificuldade em identificar as

necessidades educativas especiais e, assim que identificadas, a escola precisa

buscar apoios efetivos para elaborar as melhores estratégias de aprendizagem para

estes alunos. Não se pode esquecer que toda a adaptação pedagógica que se faz

em uma sala de aula, trará benefícios a todos os demais alunos, pois a variedade de

metodologias e recursos materiais é sempre uma fonte de riqueza para as aulas que

se tornam tanto mais atraentes quanto variadas.

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Muitas vezes os alunos com baixa visão chegam a uma sala de aula e são

deixados de lado, por se entender que os resíduos visuais dos mesmos são

suficiente para que estes acompanhem as aulas. No entanto é necessário que se

tome muito cuidado com isso, pois eles precisam de material adaptado (em geral

com tipos ampliados) e todo um monitoramento (no qual o Orientador Educacional

pode e deve auxiliar o professor) para que se descubram as reais necessidades dos

mesmos, que certamente são individuais, únicas, diferentes da dos outros que

possam ter a mesma deficiência. Motivo pelo qual Masini (2007, p. 229) afirma:

Uma sala de aula que para ser inclusiva necessita ter todo o material adequado ao atendimento desses alunos e, em especial muitos objetos com cores contrastantes, cadernos de pautas mais largos e linhas mais definidas, livros com tipos de letras ampliados. Os jogos de encaixe são recomendados, pois neles a criança brincando vai desenvolvendo uma série de habilidades e conhecimentos.

O caminho para uma educação inclusiva ainda é longo e possui muitas pedras

no caminho. Nós, educadores estamos em constante clima de desafio para

proporcionar ao nosso aluno um ambiente de aprendizagem que seja ao mesmo

tempo agradável e eficiente. Por isso a busca por conhecimentos é constante e

jamais tem fim na vida profissional de um educador.

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REFERÊNCIAS

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