Peter May Iniciativas de Carbono Florestal na Mata Atlântica com mapa FINAL

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Iniciativas de Carbono Florestal na Mata Atlntica: Oportunidades para Pagamento por Servios AmbientaisPeter H. May (coord.) Com o apoio de Jorge L. Vivan, Eduardo Correa e Vinicius Azeredo Rio de Janeiro, junho de 2010

Trabalho contratado pelo Projeto Proteo da Mata Atlntica II, patrocinado pelo GTZ/KfW/MMA. Agradecemos aos proponentes e executores de projetos entrevistados, por sua colaborao e material complementar fornecido. Por quaisquer erros de anlise e interpretao dos dados fornecidos, somente os autores so responsveis.

ndiceAntecedentes O estado do mercado voluntrio de Carbono florestal Avaliao resumida dos levantamentos efetuados Pagamentos por servios ambientais e repartio de custos Recomendaes para a estratgia de fomento do Fundo de Conservao da Mata Atlntica Referncias citadas Anexo 1. Questionrio utilizado para o levantamento de projetos de Carbono na Mata Atlntica Anexo 2. Arcabouo legal para PSA no Brasil Anexo 3. Informaes detalhadas dos projetos levantados 1 2 7 16 19 22 24 26 32

AntecedentesEste relatrio produto de consultoria e levantamentos realizados por solicitao da GTZ e MMA/SBF para subsidiar uma chamada de apoio a projetos no mbito do Fundo de Conservao da Mata Atlntica AFCOF II/Funbio voltado ao financiamento de iniciativas de Pagamento por Servios Ambientais (PSA) no bojo do Projeto Mata Atlntica, financiado pela KfW. Neste sentido, refere-se aqui aos produtos iniciais elaborados pelo consultor, destinados a apresentar e discutir os resultados preliminares deste estudo e trabalho paralelo focando PSA para gesto de recursos hdricos, em reunio tcnica e seminrio realizados nos dias 08 e 09 de maro de 2010 em Braslia. Os resultados preliminares foram encaminhados em forma de banco de dados em Excel e apresentaes em PowerPoint, servindo ainda de subsdios formulao deste Relatrio Tcnico. Alm dos resultados do levantamento e dos encontros em Braslia, o presente Relatrio incorpora uma caracterizao do atual status do mercado voluntrio de Carbono, a fonte principal de recursos voltados aos mltiplos co-benefcios prestados por florestas na Mata Atlntica. Avalia-se neste contexto certas questes econmicas relevantes contribuio de projetos de Carbono florestal para a mitigao e adaptao do efeito estufa, tais como a viabilidade financeira, a eficincia por tonelada e os custos de transao, incluindo os custos associados com a monitoria e validao. Os riscos e gargalos associados ao investimento em projetos desta natureza tambm so abordados, com sugestes para superar tais obstculos na montagem do Fundo planejado. Neste trabalho, adotamos a definio de PSA adotada em MURADIAN et al.. (2010), como uma transferncia de recursos entre atores sociais, visando criar incentivos para alinhar decises individuais e/ou coletivas sobre o uso do solo com o interesse social na gesto dos recursos naturais. Neste caso, o PSA no necessariamente envolve transaes monetrias num contexto do mercado, pois este representa somente uma entre diversas possveis variaes institucionais no conceito; pode ainda ocorrer atravs de transferncias ou mesmo intervenes diretas do poder pblico atuando no interesse da sociedade. Tambm, embora a comprovao de benefcios ambientais (adicionalidade) associada s aes destes atores seja considerada um aspecto central s condies que definem PSA (WUNDER et al.., 2008), a seleo de melhores prticas no uso do solo tende a surgir muitas vezes de um ato de f em vez de comprovao cientfica. Apesar de no necessariamente representar atividades puramente mercantis, neste estudo os projetos so caracterizados como vislumbrando algum acesso ao mercado de Carbono em processo de estruturao. A celebrao do Protocolo de Quioto constituiu um marco na definio de instrumentos de incentivo econmico para a gesto ambiental, pois os mecanismos de flexibilizao incorporados permitiram um estmulo sem precedentes criao de mercados para servios ambientais. Embora os investimentos propiciados tenham se focado principalmente em inovaes energticas e troca de combustveis, foram mobilizados esforos para legitimar atividades adicionais visando fortalecer o setor florestal. Neste contexto, o acordo de Marrakech que limitou investimentos florestais no Mecanismo do Desenvolvimento Limpo (MDL) a apenas projetos de aflorestao ou reflorestamento (A/R) gerou 1

algumas frustraes. Estas foram reforadas pelas barreiras entrada criadas no Painel de Metodologias de Linha de Base, e no prprio Conselho Executivo do MDL, que apenas registrou 14 projetos florestais ao longo do primeiro perodo de compromisso, nenhum dos quais localizados no Brasil (apesar de dois projetos, da Plantar e da AES-Tiet, terem sido aprovados na primeira instncia pela Comisso Interministerial de Mudanas Climticas). Os custos de transao necessrios para vencer os obstculos aprovao de um projeto de qualquer natureza pelos procedimentos do MDL so estimados em torno de US$ 150 mil por projeto, fazendo com que unicamente projetos comerciais ou de grande porte tenham sido considerados. Apesar da criao de modalidades de projeto A/R em pequena escala, certificao de Carbono em grupo ou mesmo a criao de consrcios de projetos visando reduzir os custos de entrada e permitir a participao no mercado formal de Carbono de projetos florestais de base comunitria, no h uma luz no fim do tnel com este propsito relativo ao mercado MDL. H ainda uma discusso em curso relativo proposta de Reduo de Emisses do Desmatamento e Degradao Florestal (REDD), que deve aplicar princpios de PSA para compensar proprietrios rurais que evitam o desmatamento, ou que ativamente enriquecem florestas remanescentes visando recompor estoques de Carbono (ANGELSEN, 2009). No entanto, a maioria das iniciativas REDD no Brasil so focados na Amaznia, podendo beneficiar-se de recursos do Fundo Amaznia (veja discusso em Anexo 2). Portanto, o mercado voluntrio de Carbono at o momento permaneceu como a principal porta de entrada para projetos de Carbono florestal na Mata Atlntica.

O estado do mercado voluntrio de Carbono florestal 1Projetos florestais comearam a fazer parte do mercado global de crdito de Carbono no incio da dcada de 1990, quando organizaes no-governamentais, indstrias e outras empresas formaram parcerias para conservar e plantar rvores com o principal objetivo de neutralizar as suas emisses de gases de efeito estufa por intermdio da captura de Carbono pelas rvores plantadas. Embora os projetos de Carbono florestal tenham sido os primeiros a fazer parte do mercado de compensao de Carbono, eles logo foram colocados de lado por polticas regulatrias sobre gases de efeito estufa. Apenas 14 projetos florestais foram registrados pelo MDL at a data deste estudo, totalizando 0,453 milhes de toneladas de CO2 (MtCO2) por ano em reduo de emisses prevista pelos executores (clculos pelo autor, baseado em UNFCCC, 2010). Desta forma, a grande maioria dos projetos florestais, no conseguindo financiamento no mercado regulamentado (compliance market), foi capturada pelos mercados voluntrios. Alguns compradores foram atrados por essa categoria de compensao tangvel, baseada na terra e outros co-benefcios socioambientais, e outros abriram mo da complexidade e riscos inerentes a projetos de compensao de Carbono baseado em florestas. Atualmente, o mercado de Carbono florestal bem diverso, tanto pelo lado da demanda quanto pelo da oferta. Muitos crditos foram produzidos e comercializados meramente com fins de filantropia e muitos outros foram criados como commodities para serem1

Esta seo foi inspirada em grande medida pelo Resumo Executivo de HAMILTON et al. (2009), com subsdios de outros estudos e informaes obtidas ao longo deste levantamento.

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vendidos nos mercados regulamentados e voluntrios. Para tanto, a evoluo dos padres de certificao e validao dos projetos no mercado voluntrio tem permitido que estes ganhem credibilidade e sejam vistos como complementos ao mercado regulamentado (SIMONIS, 2009). A Ecosystem Marketplace (HAMILTON, 2009), projeto da entidade Forest Trends, monitorou projetos que geraram crditos durante os ltimos 20 anos, tanto nos mercados voluntrios quanto nos mercados regulamentados. Mesmo se referindo a projetos com diferentes caractersticas e com os ativos comercializados tendendo a representar valores e conceitos distintos, esses ativos so geralmente considerados em toneladas de dixido de Carbono (tCO2). Os mercados voluntrios esto representados pelo mercado Over-the-Counter (OTC) e pelo mercado Chicago Climate Exchange (CCX). Est se criando uma bolsa de projetos de reduo de emisses na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) no Brasil; no entanto, a ltima tentativa de atrair recursos para estes ativos terminou sem lances (OESP, 9/4/2010 - Vida, p. A19)2. Os projetos contemplados para negociao na B&MF tem caractersticas do MDL, e no do mercado voluntrio. Neste sentido, projetos da modalidade A/R do MDL podero, em princpio, tambm ser negociados no mercado nacional. A categoria de mercados regulamentados relevantes ao Brasil inclui o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e a Unidade de Quantidade Atribuda (Quioto Assigned Amount Units - AUU's), os quais so restritos para comercializao entre as partes do Anexo I. Conforme mencionado acima, at a realizao deste estudo, somente dois projetos florestais brasileiros chegaram ao estgio de considerao para registro pelo Conselho do MDL (UNFCCC, 2010). Tabela 1. Volume e valor do mercado global de Carbono florestalMercados Voluntrio OTC CCX Total Voluntrio Austrlia (NSW) MDL A/R Quioto AAU N. Zelndia ETS Total Regulamentado Total Florestal GlobalFonte: HAMILTON et al. (2009).

Volume (MtCO2) Total Acumulado 2008 15,3 3,7 2,6 1,3 17,9 5,0 1,8 0,2 0,5 0,1 0,6 0,1 2,9 0,2 20,8 5,3

Valor (milhes de US$) Total Acumulado 2008 129,7 31,5 7,9 5,3 137,6 36,8 2,9 8,0 0,7 11,6 149,2 0,3

0,3 37,1

Ao longo dos anos at 2008, a maioria dos acordos baseados no Carbono florestal (73% ou 15MtCO2) ocorreu no mercado voluntrio OTC. O mercado CCX tem sido responsvel por 12,5% (2,6 MtCO2) do total de transaes. Combinados, os mercados regulamentados pelo Protocolo de Quioto2

Trata-se de um projeto de reduo de emisses por cermicas promovido pelo programa Carbono Social da entidade Ecolgica. Um projeto anterior, financiado pelo governo de So Paulo, vendeu certificados de reduo de emisses na mesma instncia anteriormente.

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comercializaram 1,3 MtCO2 (6,25%). Mais da metade dessas transaes foram originadas pelo MDL (MDL A/R), que representam 0,5 MtCO2, ou apenas 4% do mercado global de crditos de Carbono florestal. No geral, o volume de transaes permaneceu baixo at 2006. Com a proximidade do primeiro perodo de compromisso do Protocolo de Quioto, em 2007 o volume de comercializao cresceu a olhos vistos, em 226%, para alcanar 5,1 MtCO2. O ano de 2008 viu um crescimento tmido em relao aos nveis do ano anterior, at 5,3 MtCO2. Essa tendncia de crescimento provavelmente continuou em 2009, com os proponentes de projetos reportando um total de 3,7 MtCO2 comercializadas nos dois primeiros quadrimestres do ano. A crise financeira global abalou tanto o preo quanto o volume de transaes neste mercado, junto com todos os demais mercados de risco (POINT CARBON, 2010).

Figura 1. Evoluo do mercado de Carbono florestal at meados de 2009. Fonte: HAMILTON et al.. (2009).

Os preos pelos crditos de Carbono florestal variaram de US$ 0,65/tCO2 a mais de US$ 50/tCO2. Ao longo do tempo, o preo mdio ponderado foi de US$ 7,88/tCO2. Os mercados regulamentados, em geral, obtiveram os preos mais elevados, com um preo mdio de US$ 10,24/tCO2, seguido pelo mercado voluntrio OTC com US$ 8,44/tCO2. Os preos mdios para os tCER's (certificados temporrios), que devem ser substitudos ou reeditados no fim do seu perodo de crdito, foram significativamente mais baixos, alcanando US$ 4,76/tCO2. Os crditos mais baratos foram comercializados pelo mercado CCX, com um preo mdio de US$ 3,03/tCO2. Estes preos tendem a flutuar, tendo como ndice como o restante do mercado de Carbono o mercado global de combustveis fsseis: quando o preo dos combustveis aumenta, sinaliza a escassez, e a reao dos agentes de procurar um mercado hedge (SIMONI, 2009). Mesmo com um futuro mais escasso quanto disponibilidade de petrleo, as incertezas na regulao do clima tm afetado a estabilidade do preo do Carbono, que sofreu uma queda significativa no mercado voluntrio psCopenhague. Se houver incluso de off-sets florestais na legislao norteamericana em discusso, podese prever uma valorizao de ativos em projetos florestais certificados por padres internacionais. 4

Hamilton et al.. (2009) relatam que o valor total de mercado de Carbono florestal registrado at a primeira metade de 2009 foi de US$ 149,2 milhes, dos quais cerca de US$ 137,6 milhes vieram do mercado voluntrio e US$ 11,6 milhes dos mercados regulamentados. Cabe mencionar que este valor est apenas em torno de 0,1% do valor do mercado de carbono como um todo (US$ 143,7 bilhes em 2009; KOSOY e AMBROSI, 2010). Grande parte deste valor (66%) foi gerada recentemente, de 2007 at a primeira metade de 2009, devido comercializao de grandes volumes a preos mais elevados. Um interesse emergente geral no mercado voluntrio, juntamente com padres e infraestrutura bem estabelecidos, contriburam para aumentar esse valor total.Mesmo assim, o valor do CER de carbono florestal, est em geral menos da metade do valor mdio de carbono no mercado europu, que foi de US$ 18,70 em 2009, mesmo aps o colapso dos preos que acompanhou a crise financeira mundial. Ainda h uma percepo de maior risco associado a estes ativos no mercado financeiro. A Amrica do Norte (7,2 MtCO2) e a Amrica Latina (3,9 MtCO2) esto no topo da lista de lugares que mais comercializaram crditos de Carbono florestal, respondendo por 39% e 22% do total de transaes, respectivamente. A Oceania, que consiste principalmente de projetos na Austrlia, segue com 16% do volume de transaes, enquanto a frica responsvel por 11% das transaes, e a sia e a Europa respondem por 6% e 4%, respectivamente. Quando o valor total para cada regio considerado, o ranking entre mercados : US$ 37 milhes para Oceania, US$ 35,5 milhes para Amrica Latina, US$32 milhes para Amrica do Norte, US$ 20,9 milhes para frica, US$ 9,9 para sia e US$ 6 milhes para Europa. evidente que a Amrica Latina, devido sua vocao florestal, vai continuar no topo deste ranking de investimentos neste setor. No entanto, proponentes de projetos de Carbono florestal na Mata Atlntica devem ficar atentos aos riscos percebidos nestes investimentos, que reduzem o valor dos ativos e dificultam o acesso ao mercado. De acordo com a Figura 2, a maioria dos crditos comercializados provm de projetos de A/R com 63%, seguidos por projetos de Reduo de Emisses por Desmatamento e Degradao Florestal (REDD) com 17% e projetos de Manejo Florestal Sustentvel (MFS) com 13%. Em 2008, projetos de A/R permaneceram no topo da lista de geradores de crditos (53%). Projetos que combinam REDD, A/R e MFS surgiram na segunda posio com 24% do volume total, seguidos por projetos de MFS com 20%. No mercado voluntrio, a maioria dos projetos de A/R (60%) divulgou que plantaram rvores nativas. Em geral, esta estrutura do mercado praticado semelhante ao que descobrimos no levantamento de projetos em curso ou proposto para a Mata Atlntica (veja Tabela 2 abaixo), ou seja, predominncia de projetos de desmatamento evitado + regenerao de florestas nativas. Como a Mata Atlntica no a regio do Brasil mais indicada para atividades de REDD, e o manejo florestal restrito por lei, os agentes de mercado devem focar em oportunidades para A/R, agroflorestas e regenerao.

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Figura 2. Foco temtico de projetos em execuo. Fonte: HAMILTON, et al., 2009.

Padres esto cada vez mais sendo utilizados para o estabelecimento de benchmarks de qualidade e consistncia. O mercado OTC de crditos de Carbono exibe uma intensificao no uso de padres, particularmente aqueles que enfatizam os co-benefcios entre projetos de Carbono florestal e outros servios ambientais, emprego e uso sustentvel. Ao longo do tempo, 86% de todos os crditos de Carbono foram originados de projetos que utilizam padres, sejam aqueles desenvolvidos internamente ou aplicados por outras organizaes. A certificao por padres de outras organizaes aumentou significativamente, de meros 15% em 2002 para a marca de 96% na primeira metade de 2009, indicando a maior credibilidade de certificao independente e voluntria. Os padres se diferenciam, basicamente, em duas categorias: aqueles que focam na qualidade da medio e no monitoramento da quantidade de Carbono, e aqueles que focam em qualidade alm do Carbono (co-benefcios, como, por exemplo, questes socioambientais). Entre os mercados, 23% de todos os crditos vindos de projetos validados por padres de outras organizaes adotaram a conformidade com os padres Climate, Comunity and Biodiversity (CCB). Isso corresponde a 3,7 MtCO2 de reduo de gases de efeito estufa. O predomnio de crditos certificados pelos padres CCB aponta para uma demanda histrica para crditos de Carbono florestal com cobenefcios ambientais e sociais, mas no necessariamente esto correlacionados com redues de emisses de gases de efeito estufa comprovadas. Projetos certificados pelos padres CCB tem a opo de no se sujeitar a padres de verificao. Outros 16% dos crditos esto em conformidade com os padres CCX (emitidos pelo Chicago Climate Exchange). Outros esquemas de certificao populares incluem o NSW GGAS (11%, ou 1,8MtCO2), padro adotado no programa de reduo de emisses de New South Wales, na Austrlia, padres CGSCOV (10%, ou 1,6 MtCO2) e Greenhouse Friendly (6%, ou 1 MtCO2). Crditos comercializados por projetos registrados sob o MDL correspondem a 3% dos crditos certificados. Outros 12% dos crditos

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foram certificados por padres internos, enquanto 10% do total de crditos entre todos os tipos de mercados no foram certificados. Em meio a um cenrio de oportunidades e riscos que enfrenta o mercado para servios ambientais, investidores ainda esto de olho em crditos de Carbono florestal, entretanto muitos esto espera de sinais de regulamentao mais bem definidos antes de dar um salto financeiro. Mesmo sem as certezas do mercado, infraestrutura e ferramentas de medio e monitoramento continuam a amadurecer rapidamente, servindo como fundaes para o financiamento de projetos de Carbono florestal nos anos vindouros (HAMILTON et al., 2009).

Avaliao resumida dos levantamentos efetuadosNesta seo, trata-se de resumir o levantamento de projetos em curso ou em alguma fase de planejamento, que envolvem a valorizao do ativo florestal atravs do mercado de Carbono na Mata Atlntica. Neste levantamento, foram privilegiados principalmente os projetos que visam restaurao e manuteno das funes dos ecossistemas do bioma, embora, em alguns casos, projetos envolvam plantios de espcies exticas e de agroflorestas, enriquecidas com espcies nativas. Tambm foram enfatizados os projetos que tenham benefcios socioambientais e no somente capturam ou protegem estoques de Carbono. Investidores (demandantes) nestes projetos esto fundamentalmente interessados em comprovar que alcanam garantir a permanncia de um volume relevante em estoques de Carbono mantidos em solo terrestre. Dito isso, h uma variedade de co-benefcios que os projetos tentam promover em boa parte dos casos, seja como condio para a certificao por um dos padres utilizados no mercado voluntrio, seja para responder s demandas de comunidades locais afetadas. Estes incluem principalmente aspectos associados conservao e/ou restaurao da biodiversidade nativa, proteco de mananciais ou matas ciliares, e/ou proviso de benefcios em termos de renda incremental oriunda do manejo das espcies incorporadas no sistema. O bundling (empacotamento) de diversos atributos ecossistmicos associados com estes projetos pode implicar numa valorizao dos ativos comercializados, mas implica tambm na necessidade de apresentar os servios gerados de uma forma acreditvel, viveis de serem monitorados e verificados in situ. Sendo que a mensurao de Carbono a partir de uma linha de base seja mais factvel, a comprovao tende de ser limitada a este servio. Ao todo, foram levantados 34 projetos ou programas, distribudos por estado(s) de atuao (Figuras 3 e 4)3. Como pode ser visto, mais de 25% dos projetos so localizados em So Paulo, principalmente devido3

Um programa representa um agrupamento de projetos semelhantes realizado pela mesma entidade executora. Do total de projetos levantados, nove (19%) constituem projetos do bioma Mata Atlntica que foram submetidos na ltima licitao do programa Petrobras Ambiental, mas no contemplados por financiamento do Programa neste estgio, e foram includos no Banco de Projetos deste programa. Consideramos que estes apresentam forte interesse em acessar o mercado de Carbono, embora as informaes disponveis sejam escassas. Outros cinco projetos efetivamente financiados pelo Programa Petrobras Ambiental foram includos no levantamento como em desenvolvimento.

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proliferao de projetos de neutralizao de emisses neste estado. A grande maioria dos projetos possui atividades em apenas sete estados: por ordem de importncia, SP, RJ, PR, BA, MG, SC e RS. A regio Nordeste (fora BA) e estados do Centro-Oeste que contm vestgios da Mata Atlntica, representam uma lacuna significativa identificada por este levantamento 4. Foram localizados apenas trs projetos que incluem algum estado do Nordeste, e estes apenas com interesse expresso em acessar o mercado de Carbono, sem ter ainda achado o caminho das pedras. Apesar de uma proliferao de aes no Pontal do Paranapanema, prximo trplice fronteira de SP com PR e MS (ver mapa), a Mata Atlntica do interior nos estados do Centro-Oeste tambm foi sub-representada entre os projetos levantados.RN, 1 GO, 1 ES, 1 AL, 1 CE, 1 PE, 1 PB, 1 Brasil, 2

RS, 3

SP, 15

SC, 4 MG, 6 RJ, 8

BA, 7

PR, 9

Figura 3. Distribuio dos projetos levantados, por estado de atuao. (Alguns projetos informaram atividades em mais de um estado. Listagem inclui projetos Banco de Projetos de Petrobras Ambiental) Fonte: Levantamento prprio, 2010. No mapa da Figura 2, constata-se uma diferenciao dos projetos levantados, de acordo com o estgio da implantao em que se encontram. Foram identificados 16 projetos ou programas que j esto em Execuo, alguns dos quais j de longa data, que fornecem importantes lies apreendidas, fundamentados em plantios, monitoramento, certificao, financiamentos e pagamentos para servios ambientais. Uma segunda categoria identificada se refere aos 15 projetos que esto em pleno Desenvolvimento; embora possam no ter realizado ainda acordos com proprietrios, pr-certificao ou qualquer plantio para finalidades de execuo, tm algum financiamento piloto, e esto traando a linha de base, identificando propriedades e definindo as aes a ser realizadas. Nesta categoria, incluiuse alguns dos projetos financiados na linha fixao de Carbono ou emisses evitadas do programa4

O levantamento utilizou todos os recursos disponveis para identificar outros projetos em curso ou contemplados nos demais estados da regio, incluindo listagens de workshops, conferncias, estudos de caso, programas de apoio formulao de estudos de viabilidade, buscas pela Internet, e a bibliografia especializada. Alguns projetos em realizao focados principalmente em fornecimento de energia de biomassa no foram contemplados, por no ter como objetivo principal a recomposio ou proteo do estoque de Carbono terrestre.

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Petrobras Ambiental. Foram includos tambm alguns projetos de enriquecimento agroflorestal que, embora no tenham acessado o mercado de Carbono, j possuem todos os requisitos para tanto, incluindo certificao de outros produtos com atributos ambientalmente amenos. Uma terceira srie de trs projetos caracterizados como Interesse referem-se a entidades ou projetos que, embora tenham interesse em considerar meios para incorporar a valorizao do Carbono florestal nas medidas planejadas, ainda no tm especificada esta forma de atuao, e carecem de informaes sobre como acessar o mercado de Carbono (veja no Anexo 3 as fichas completas dos projetos levantados). Finalmente, projetos qualificados mas indeferidos na linha fixao de Carbono ou emisses evitadas do programa Petrobras Ambiental, so listados no Banco de Projetos on-line (veja http://www2.petrobras.com.br/minisite/programa-ambiental/projeto_banco.asp) dos quais, nove projetos na Mata Atlntica, representam potenciais projetos para o Fundo que se costura (no constam deste banco de dados). Dos projetos levantados, a maioria tem enfoque em aes em uma ou mais propriedades privadas, mas raras vezes este ocorre atravs de uma perspectiva de paisagem (corredores ecolgicos), visando reforar a conectividade entre fragmentos remanescentes. A maioria dos projetos implanta reflorestamentos em terrenos particulares de forma isolada, onde for possvel entrar em acordo com o proprietrio para dedicar parte da propriedade a esta finalidade. De modo geral, este ocorre onde existe algum passivo ambiental associado com a no-observao de toda ou parte da reserva legal (RL) e/ou rea de proteo permanente (APP). Na medida em que este passivo composto de reas de mata ciliar ou nascente, ou ainda adjacncias de fragmentos remanescentes, a ao empreendida pode assegurar a restaurao de funes de conectividade associadas aos corredores, assim como de proteo aos mananciais. A escala dos projetos varia consideravelmente entre si, assim como o tamanho das propriedades envolvidas. O porte das propriedades um aspecto importante, fortemente relacionado distributiva das aes em curso e propostas. Boa parte dos projetos contempla propriedades de menor porte (entre 0-10 e entre 11-50 ha), particularmente nos pequenos projetos de neutralizao de Carbono, aqueles que incluem PSA como incentivo participao, ou que envolvem a implantao ou enriquecimento de sistemas agroflorestais. Por outro lado, um nmero significativo de projetos contempla propriedades de maior porte (entre 100 e 500 ha), seja junto com propriedades de menor porte ou exclusivamente, indicando uma preferncia para atividades que atinjam uma escala no seu conjunto que seja atraente aos investidores. Esta escala tambm se aplica a projetos comerciais de reflorestamento com espcies exticas.

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Figura 4. Distribuio de projetos de Carbono florestal levantados na Mata Atlntica, por estado e estgio do desenvolvimento. Fonte: Levantamento prprio, jan-mar 2010. 10

Ao todo, a distribuio de escala dos projetos para os quais informaes foram disponveis exibe uma variao enorme, de 5 ha na escala mnima, focado em neutralizao de pequeno porte, at 23 mil ha na escala maior, comercial de espcie extica (eucalipto). A mdia obtida pelos projetos com especificao de rea total de atuao de um pouco abaixo de 2 mil ha, mesmo retirando os projetos comerciais de maior porte (Klabin, Plantar e AES-Tiet) deste clculo. Ainda h vrios projetos na fase de desenvolvimento que caracterizam a sua escala de atuao como municipal, de bacia ou de corredor interestadual, mas as aes especficas de plantio ou proteo de recursos florestais ficam numa escala muito menor, principalmente demonstrativo, tendo como objetivo multiplicar tais iniciativas na medida de que seja comprovado o seu xito. Uma varivel de maior importncia at mesmo do tamanho das propriedades refere-se escala de plantio objeto de investimento e contabilizao de Carbono perante os agentes do mercado. Informaes obtidas de investidores sugerem que uma escala mnima de plantio para sequestro de Carbono de 1 mil ha seja um fator essencial para atrair investimentos no mercado voluntrio de Carbono, considerando os custos de transao envolvidos em acessar tais recursos e as economias de escala associadas implantao de reflorestamentos (planejamento, viveiros, equipe de apoio, etc.) e validao do sequestro de Carbono. No entanto, constata-se a presena no levantamento realizado de vrios projetos de porte inferior a este mnimo, que nem por isso esto sem perspectivas de financiamento, seja pelo segmento de neutralizaes, seja por doaes ou parcerias. Portanto, embora uma escala maior seja um fator que possa atrair investidores, existem outros fatores que fazem com que um determinado projeto deva ser o objeto de recursos, tais como os co-benefcios socioambientais. Outro fator associado ao xito dos negcios nesta rea a configurao de parcerias envolvidas com a sua estruturao e execuo. Nos projetos levantados, exibe-se uma complexidade de atores e parceiros que forosamente implica na necessidade de incorrer custos de transao adicionais, para que os distintos parceiros alcancem consenso sobre as estratgias adotadas. Um tpico esquema de execuo pode envolver, por exemplo, os seguintes atores: ONG ou empresa iniciadora da proposta, com atuao regional ou nacional; Fornecedores de servios associados implementao do projeto (coleta de sementes, viveiros, preparao de terrenos, plantio, manuteno); Financiador (tendo, como intermedirios, agentes do mercado financeiro, empresas de consultoria especializada, brokers, etc.); Empresas de consultoria especializadas em estruturar propostas e estudos de viabilidade para projetos de Carbono florestal5; Consultores especializados em mensurao de linha de base de Carbono na paisagem produtiva; Governo(s) municipal(ais) e respectivas secretarias do meio ambiente e agricultura, Responsveis pela emisso de licenas ambientais e permisses de reflorestamento; ONGs locais, envolvidas em propostas de conservao e desenvolvimento com atores diversos; Certificadores especializados na validao de sequestro de Carbono em plantios florestais.

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A Associao Brasileira das Empresas do Mercado de Carbono-ABEMC especializa-se nestes servios.

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Evidentemente, possvel reduzir esta complexidade, nos casos em que a agente executora apresenta capacidade em mais do que uma das funes descritas. Neste sentido, a complexidade pode ser uma caracterstica limitada fase germinativa do mercado de PSA e de experincias nesta esfera, que com maior aprendizagem terminar se reduzindo, com as entidades executoras se especializando e assumindo um maior leque de funes. A reduo das incertezas associadas ao mercado deve trazer consigo maior confiana aos agentes, que possibilitar a simplificao e padronizao das abordagens, permitindo multiplicar as aes sem incorrer nos mesmos custos. Num momento inicial, apoio na negociao e cumprimento dos acordos com os parceiros em certos casos sero necessrios, assegurando recursos para a realizao de encontros e manuteno de canais de comunicao abertos e dinmicos, alm de informaes que permitam a padronizao de caractersticas mensurveis, tais como o seqestro de Carbono por determinadas espcies em certos contextos de plantio e solos. Alm disso, necessrio buscar uma equidade na distribuio de benefcios, o que pode ser aprofundado com utilizao de um sistema de certificao amparado em indicadores sociais, econmicos e ecolgicos que diferenciem atores e contextos em C florestal. Dois exemplos de iniciativa neste sentido podem ser citadas, uma para UCs e outra para iniciativas privadas de reflorestamento com sistemas agroflorestais. No caso das UCs, indicadores de qualidade scio-ecolgica das UCs tem sido elaborados, de modo a proporcionar uma alocao dos recursos do ICMS-Ecolgico (ver Anexo 2) proporcional ao estado de conservao ecolgica e ao amparo populaes moradores e de entorno das UCs que cada prefeitura proporciona. Esta abordagem inicialmente foi aplicada no estado do Paran, e poderia ser adotada em mecanismos de PSA para contextos similares na Mata Atlntica. No caso das propriedades privadas, um grupo de trabalho intitulado "Sistemas Agroflorestais e Servios Ambientais", da Rede Ecovida de Agroecologia, est executando um projeto PDA em rede intitulado Consolidao do grupo de trabalho e monitoramento dos Sistemas Agroflorestais na Rede Ecovida de Agroecologia. J foram definidos indicadores e ferramentas de monitoria, e o esforo congrega 16 entidades, com uma propriedade-caso sendo monitorada. A sistematizao dos dados ecolgicos e econmicos levantados nessas 16 experincias produzir subsdios para certificao visando PSA6. Estas iniciativas apontam no sentido de um sistema de pontuao que poderia valorizar mais o Carbono florestal gerado em contextos onde ocorre no apenas a compensao de estoques , mas um pacote de servios agregados direcionados a sistemas de uso da terra mais alinhados com os Objetivos do Milnio, que incorpora explicitamente o combate pobreza e desigualdades. Esta uma tendncia para o mercado voluntrio de Carbono nos pases escandinavos, por exemplo, que j valoriza mais o Carbono seqestrado neste tipo de projeto7. De acordo com as informaes fornecidas pelos executores dos projetos, uma boa parte dos mesmos tem como estratgia principal evitar desmatamento ou degradao de florestas remanescentes da Mata Atlntica. Entre estas, em torno de dois teros dos projetos que procuram evitar desmatamento tambm adotam aes de regenerao ou restaurao da vegetao nativa (Tabela 1). Trata-se de6 7

Cristiano Motter, tcnico do Centro Ecolgico Litoral Norte, em 23 de junho de 2010, comunicao pessoal. http://www.uwab.se/index.php?option=com_content&view=article&id=12&Itemid=142&lang=en

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reforo aos principais objetivos da poltica de conservao da Mata Atlntica, onde os remanescentes so escassos e altamente fragmentados (PINTO et al.., 2006), no viabilizando a manuteno de populaes viveis de mamferos ameaados. Por outro lado, em termos econmicos, tais estratgias representam as formas de menor custo para manter ou restaurar estoques de Carbono, pois tm como enfoque principal a proteo de matas existentes ou dos seus processos de regenerao natural (evitando fogo ou incurso, seja de seres humanos ou de animais domesticados). A cobertura florestal no bioma tende a estabilizar ou incrementar devido crescente fiscalizao e incorporao dos fragmentos remanescentes em unidades de conservao. No entanto, no se pode em nenhuma hiptese imaginar com isso que o problema de desmatamento esteja superado, pois em muitas partes do bioma, particularmente em reas contguas s concentraes urbanas, assim como dentro de empreendimentos ou assentamentos agropecurios e mesmo plantaes florestais8, as presses para substituio da mata nativa, alm de degradao nas bordas dos remanescentes, continuam. Tabela 2. Estratgias promovidas para a restaurao, uso ou proteo de estoques de Carbono. aEstratgia promovida Evitar desmatamento ou degradao de remanescentes b Regenerao ou restaurao Reflorestamento ou aflorestao Agroflorestas d Adota apenas uma das estratgias acima Evitar desmatamento + Regenerao Agroflorestas + Regenerao Biomassa energtica Evitar desmatamento + Reflorestamento Nmero (%) de projetos 18 (51%) 17 (49%) 16 (46%) 13 (37%) 11 (30%) 12 (32%) 8 (22%) 6 (17%) 4 (11%)c

Fonte: Pesquisa prpria junto aos empreendimentos (jan-mar 2010). a As porcentagens no totalizam 100% pelo fato de muitos projetos executarem estratgias em combinao. b Incluindo RL e APP. c Do total de projetos ou programas que reportaram informaes neste quesito. d A maioria destes projetos privilegia unicamente regenerao/restaurao ambiental, ou reflorestamento comercial.

Os projetos A/R (aflorestao/reflorestamento) desenvolvidos incluem tanto projetos de cunho comercial, contemplando plantio de espcies exticas em monocultura (eucaliptos e teca), quanto projetos de reflorestamento ambiental com espcies nativas de grande diversidade. Por exemplo, se for obedecida a norma adotada no estado de So Paulo, reflorestamentos de menos de 90 espcies de vrios estgios sucessionais no seriam apropriados9. Os comportamentos dos plantios sucessionais quanto ao crescimento de biomassa tm sido favorveis, com mdia em torno de 13,7 t CO2e/ha/ano em cinco anos (Tabela 3), mesmo sem levar em considerao o Carbono acumulado nas razes. Estes8

Os empreendimentos florestais comerciais de grande porte tm feito esforos para assegurar a manuteno de remanescentes, particularmente em matas ciliares e APPs, que s vezes supere as exigncias do Cdigo Florestal. Na medida em que tais plantaes propiciam a manuteno de estoques temporrios e ao mesmo tempo protegem remanescentes permanentes, procuram reivindicar compensao pelo mercado de Carbono. 9 A SOS Mata Atlntica, para incentivar a estruturao de viveiros e reflorestadores locais, tem permitido uma flexibilizao desta norma (Clickrvore, Florestas do Futuro) para no mnimo 60 espcies.

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parmetros no distam daqueles exibidos por plantios de eucaliptais clonados, que alcanam idade de corte para finalidades de carvo entre seis e sete anos de idade (PROTOTYPE CARBON FUND, 2002). Tabela 3. Dados mdios de Carbono sequestrado em reflorestamentos ambientais, So Paulo.

Fonte: LACERDA et al. (2009). Obs.: Carbono Equivalente refere-se a CO2-e (t C x 3.67).

Neste sentido, h necessidade de diferenciar projetos A/R, com respeito aos servios ambientais proferidos. No caso de plantios monoculturais, h o potencial de sequestro de Carbono superior aos 180 t CO2e/ha durante a vida til dos plantios de eucaliptos (ver Figura 2, abaixo). No entanto, no momento do corte, este estoque novamente eliminado (exceto as razes que permanecem no subsolo), resultando apenas para contabilizao de Carbono o estoque mdio ao longo dos ciclos de crescimento sucessivos (pois h rebrote no caso de eucaliptos). Como o Carbono acumulado nas razes no contabilizado nos projetos A/R, apenas o Carbono acumulado acima da superfcie em mdia 52,5 t CO2e/ha, ou 7.5 t CO2e/ha/ano podem ser comercializados (tipicamente com adicional de em torno de 20% como medida de averso de risco de incndio, praga ou outro vetor de mortalidade).

60.00

40.00 30.00 20.00

10.000.00

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

Carbono Acumulado (t/ha)

50.00

Idade dos Eucaliptais da Plantar (anos)C- Tronco C-Folhas C-Razes C-Total

Figura 2: Acumulao de Carbono em plantaes monoespecficas de eucalipto.Fonte: PROTOTYPE CARBON FUND (2002).

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Os demais servios ambientais alm do seqestro de Carbono podem ser prejudicados, no caso de plantios monoespecficos, embora a controvrsia a respeito do impacto sobre disponibilidade hdrica jusante de plantios de eucaliptos esteja longe de se calar. Se houver, acoplada ao projeto de reflorestamento comercial, significativa preservao de corredores em matas ciliares, e proteo de outras APPs em matas nativas, estes efeitos sobre servios ambientais podem ser em parte mitigados, no que se refere escala de paisagem. Em relao aos reflorestamentos ambientais, com diversidade de espcies, a previso na maior parte dos casos levantados de uma permanncia de no mnimo 28, e, em alguns casos, at 40 anos, no sendo previsto corte. Um dos principais raciocnios para o convencimento de proprietrios para aderir a esta estratgia a perspectiva de assim regularizar a propriedade perante a crescente fiscalizao do Cdigo Florestal. Esta ser a regra principalmente para APPs, onde se prev manejo no madeireiro para at 5% do total da rea de APP na lei atual, ou manejo agroflorestal de baixo impacto na pequena propriedade ou posse rural10. J em reas de Reserva Legal, existe maior flexibilidade, tanto para a composio e estrutura da recomposio, como para uso11. A permanncia das aes (plantio, cerceamento, manuteno inicial) dos projetos de Carbono desta natureza, tipicamente, bem mais curta do que a permanncia prevista dos plantios. Procura-se, com o acesso ao mercado de Carbono, garantir os recursos necessrios para a implantao inicial de mudas, e sua manuteno (s vezes como contribuio do proprietrio), durante o perodo inicial de crescimento, visando atingir um padro de sobrevivncia inicial que permite alguma medida de segurana quanto permanncia do reflorestamento. Uma questo que surgiu nas discusses no seminrio justamente esta: como assegurar o adequado monitoramento e proteo dos plantios no perodo posterior implantao e manuteno inicial dos mesmos? Como o principal fator que define o ganho de crdito de Carbono associado aos projetos florestais a permanncia dos plantios, que precisam ser regularmente verificados, os contratos exigem compromissos de longo prazo e h custos adicionais associados com a certificao. Sem remunerao durante a fase ps-projeto, estes custos ficam complicados particularmente se forem responsabilizados ao proprietrio. No caso dos projetos agroflorestais, estes com frequncia so executados conjuntamente com aes de regenerao/recuperao florestal, seja no mesmo campo agrcola, seja nas mesmas propriedades. Os SAFs desenvolvidos so tipicamente de uma diversidade algo menor do que os reflorestamentos de nativas, a fim de propiciar maior crescimento e produtividade s espcies carro-chefe, sejam estes cafezais, cacau, ctricos ou outros. Uma estratgia adotada por EcoCitrus, por exemplo, que agrega Carbono ao sistema, o enriquecimento dos pomares com rvores nativas, numa mdia de 500 rvores/ha com replantio. A diversidade e a estabilidade fornecidas por esta estratgia resultam em benefcios em servios ambientais (tanto ao Carbono quanto gua e biodiversidade) superiores aos reflorestamentos monoespecficos ou outra linha de base que no a floresta nativa intacta. Ainda, garantem um retorno financeiro oriundo dos produtos do carro-chefe, e produtos secundrios integrados ao SAF. A contribuio do pagamento para o Carbono adicionado nestes sistemas seria de10

Art. 9 da Instruo Normativa MMA n 5, de 2009. 11 Resoluo SMA - 44, de 30-6-2008. Define critrios e procedimentos para a implantao de Sistemas Agroflorestais no Estado de So Paulo.

o

o

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providenciar um x a mais ao retorno financeiro, que justifique o investimento adicional no plantio de espcies de sombreamento, como compensao para alguma reduo de rendimento em comparao com aquele obtido a sol aberto. Como restrio a estas opes est a falta de Instrues Normativas para regularizao da utilizao econmica da maior parte das espcies nativas em sistema de plantio e/ou de regenerao assistida. Como o analista ambiental responsvel pelo processo ser judicialmente interpelado caso hajam dvidas, na prtica, existe uma resistncia dos analistas dos rgos ambientais em aprovar projetos de manejo de espcies nativas que possam abrir qualquer espao para contestao legal. Ainda persiste uma exigncia tecnicamente absurda para comprovao de plantio a posteriori, que o ordenamento do plantio em linha, o que invivel na maior parte dos casos onde relevo, pedregosidade e/ou umidade no permitem tais ordenamentos. As avaliaes baseadas em faixa etria e estrutura/composio so mais adequadas, mas demandam conhecimento, nem sempre disponvel entre os analistas de pedidos de registro de florestas nativas plantadas. Entre as excees j cobertas pela lei esto a bracatinga (Mimosa scabrella) e o palmiteiro (E. edulis), mas existem inmeras espcies que ocorrem em regime de dominncia na sucesso secundria na Mata Atlntica e formaes associadas. Um exemplo so as espcies do genero Miconia, que so atualmente foco de estudos12 para definir parmetros para seu manejo sustentvel como alternativa de reflorestamento e recuperao de Reserva Legal espcies exticas. Se o objetivo de instrumentos legais de PSA o redirecionamento do uso do solo e servios em pacote (ecolgicos, econmicos), estes estudos devem ser fomentados, acompanhados e utilizados como pilotos para alcanarem a escala necessria aos projetos de PSA. portanto necessrio aumentar as opes legais de espcies nativas que podero ter uso econmico quando utilizadas em recuperao de Reserva Legal e ou reflorestamentos visando adicionalidade e PSA. Estes mecanismos devero prever a retirada seletiva de indivduos baseada em taxas de incremento e ciclos de vida de espcies de crescimento rpido, tal como foi definido para E. edulis, mantida a funcionalidade ecolgica definida para o uso do solo (APP ou RL).

Pagamentos por servios ambientais e repartio de custosA estruturao de modelos de compensao por servios ambientais com base no mercado de Carbono florestal no evidencia caracteristicas esperadas nesta modalidade entre os projetos levantados, tais como a diferenciao de remunerao baseado nas caracteristicas ou qualidade de servios. H sete casos entre os projetos levantados onde j existem experincias piloto de PSA, ou nos quais o PSA forma parte integral do projeto proposto para execuo13. Em unicamente um caso, os valores definidos foram explicitamente diferenciados entre propriedades com base em caractersticas dos servios verificados14.12

Bases Para Manejo dos Recursos Madeireiros de Florestas Secundrias em Pequenas Propriedades Agrcolas de Santa Catarina. Financiado pelo CNPq Processo: 503167/2009-6. 13 Os projetos que incorporam PSA so: Carbono Muriqui (MG), Recncavo Sustentvel (BA), Floresta Viva (BA), Agricultura Ecolgica e Servios Scio-Ambientais (PR), Brasil Mata Viva (GO), Carbono Seguro (SP) e Oasis (SP, PR). 14 O projeto Oasis, realizado pela Fundao O Boticrio em reas no entorno da represa de Guarapiranga e em duas APAs na regio metropolitana de So Paulo e outras reas no Paran, uma exceo. O Oasis prope uma valorao ambiental associada s caractersticas ambientais da floresta em p dos proprietrios participantes, que

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Em vez disso, a maioria dos projetos oferece um pagamento mensal ou anual determinado, famlia que adere ao projeto (p.e., Floresta Viva). Em outros casos, o pagamento reflete a rea dedicada, como o caso no projeto Carbono Seguro (R$ 256/ha/ano, um valor superior ao custo de oportunidade mdio da regio, que de pecuria bovina)). A durao do pagamento previsto tambm varia entre os projetos: no Floresta Viva, este pagamento (em mdia, 1/2 salrio mnimo/ms) previsto somente por um perodo de transio tecnolgica de 5 anos, intervalo que cai para apenas 3 anos no projeto da Rureco, e no Corredor Muriqui, at 10 anos. Em outros casos, o pagamento deve ocorrer ao longo do projeto, chegando at 30 anos (Carbono Seguro). A regularizao ambiental um dos objetivos dos projetos, que tambm implica em benefcio, pois assim evitaria multas e o ITR que incide sobre a rea de RL e APP, assim como servido florestal e RPPN, que so isentos. Embora no represente um PSA direto, implica numa forma de evitar custos. Nenhum dos projetos que contemplam PSA repassaria o valor do Carbono captado na ntegra aos participantes; uma parte destinada a recuperar os investimentos e custos administrativos da entidade proponente, permitindo a multiplicao de tais esforos no futuro. Em troca do pagamento, em alguns casos, do proprietrio no esperado mais do que comprovar que as reas reflorestadas permanecem com as rvores em p ao longo do perodo do contrato. Em outros, precisa cercar e proteger os plantios contra o fogo ou animais que possam prejudicar o crescimento e recuperao florestal; o valor desta contrapartida em geral no contabilizado com exatido. Com um enfoque em Carbono na paisagem produtiva, os incentivos oriundos do PSA poderiam ser direcionados a uma determinada comunidade rural ou bacia hidrogrfica, contemplando todas as famlias, para o qual j existem alguns exemplos (como o projeto Scolel-Te de reflorestamento comunitrio em Chiapas, no Mxico, documentado por DE JONG et al., 2000, e o prprio Bolsa Floresta em Amazonas que possui um componente de investimentos comunitrios e de empreendimentos sustentveis). O pagamento no precisa ser necessariamente em dinheiro, mas poderia vir na forma de linha de crdito subsidiado, recuperao de estradas, fornecimento de mudas, regularizao ambiental, etc. A opo de criao de fundos com governana local, atravs de um oramento participativo ambiental, em que a comunidade decidiria como alocar os recursos, caso promovesse determinados ganhos ambientais, deve ser contemplada para a compensao de servios ambientais. Os custos de realizao dos projetos variam de forma significativa, ainda que para executar o mesmo tipo de ao. A tabela 3, a seguir, evidencia este nvel de variao em custos de implantao e manuteno de florestas nos projetos que forneceram esta informao. Observa-se, pela tabela, que as aes que envolveram regenerao assistida (projetos da SPVS/TNC em Guaraqueaba-PR, por exemplo) apresentaram custos de implantao e manuteno consideravelmente menores que a mdia, que reflete os custos superiores de aes de reflorestamento ambiental. A escala das aes tambm causa um impacto considervel nos custos mdios fixos dos projetos. Portanto, a viabilidade financeira dos projetos de menor porte, numa conjuntura de baixos preos de Carbono no mercado voluntrio, podeservir como instrumento de diferenciao do PSA. Utiliza-se um ndice de Valorao de Mananciais (IVM), baseado em frmulas que medem fatores pelos quais a floresta em p contribui com servios ecossistmicos (permitir maior infiltrao da gua, controlar eroso e evitar o tratamento da gua) como parte integral do contrato de premiao financeira ao proprietrio. A pontuao mxima leva ao pagamento de R$ 370/ha/ano.

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depender de doaes a fundo perdido complementares para cobrir pelo menos parte dos custos de implantao e manuteno. Por outro lado, os projetos que contemplam a implantao ou enriquecimento de SAFs com espcies nativas, mesmo no atingindo um porte maior agregado, tero os seus custos de manuteno cobertos pela comercializao dos produtos gerados, sendo ainda contemplados com recursos de crdito com termos atrativos do PRONAF-Florestal visando a sua implantao (MAY e TROVATTO, 2008). Tabela 3. Custos de implantao e manuteno florestais previstosProjeto Banco de Carbono (Brasil) Mapa dos Sonhos do Pontal do Paranapanema (SP) Plantando gua (SP) Neutralizao de emisses de Carbono (SP, MG) Com Caf (CE) SAF EcoCitrus (RS) SAF Carbono, Biodiversidade e Comunidade (Monte Pascoal BA) Projeto Floresta Viva (BA) Brasil Mata Viva (GO) Carbono, Biodiversidade e Renda (Pontal do Paranapanema, SP) Carbono Seguro (SP) Projeto Ao Contra o Aquecimento Global em Guaraqueaba Projeto de Restaurao da Floresta Atlntica Projeto Piloto de Reflorestamento em Antonina Reflorestamento das bordas dos reservatrios da AES Tiet (SP) Programa Desmatamento Evitado Recomposio da Paisagem e SAFs (Caf com Floresta - SP) Projeto Oasis (SP, PR) Mdia Geral Implantao (R$/ha) 7.000 5.000 5.000 7.000 9.000 4.100 (cafezal + sombreamento florestal) 2.175 (enriquecimento de ctricos com matas nativas) 15.000 12.000 1.043 (recuperao com teca em parte da rea, renovao de pasto) 5.000 n.d. US$ 230 US$ 350 US$ 300 11.000 n.a. 920 480 R$ 4.750 Manuteno (R$/ha/ano) 1.000 (3 anos) 1.800 (3 anos) 1.800 (3 anos) 1.800 2.500 (3 anos) 300 n.d. 6.000 (3 anos) + 1.500 (monitoramento 30 anos) n.d. n.d. 1.800 (3 anos) 256 (30 anos) US$ 45 US$ 65 US$ 60 Includo em valor de implantao (2 anos) 500 n.d. 850 7.000 (repassados ao proprietrio) R$ 1.354

Fonte: Levantamento prprio. Obs.: Os valores em US$ foram convertidos na taxa de R$ 1,75/US$.

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Recomendaes para a estratgia de fomento do Fundo de Conservao da Mata Atlntica AFCOF:A seguir, so apresentadas sugestes para considerao na montagem das chamadas de apoio a projetos PSA para a Mata Atlntica, atualmente em fase de desenho entre as partes (MMA, FUNBIO, KfW, GTZ). Tais recomendaes se limitam principalmente aos projetos que envolvem a valorizao de florestas com base no mercado do Carbono, mas podem ser igualmente relevantes para os demais ativos e atributos florestais considerados pelo Fundo (gua, biodiversidade). No curso deste estudo, identificou-se uma srie de problemas e lacunas que devem ser equacionados no desenho e execuo de projetos, os quais incluem: Como assegurar o adequado monitoramento e proteo dos plantios no perodo posterior implantao e manuteno inicial dos mesmos, considerando que a maioria dos projetos contempla insumos com este propsito apenas para os primeiros 3-5 anos posteriores? A maioria dos projetos de muito pequena escala em termos de rea e/ou Carbono para interessar investidores ou beneficiar-se das economias de escala associadas aos custos fixos de implantao. As aes devem ser agrupadas na paisagem e/ou em parcerias associativistas para assegurar tais economias. Entidades que esto interessadas em acessar o mercado faltam informaes sobre o potencial de sequestro de Carbono em espcies nativas ou SAFs suficientes para permitir a formulao de propostas tcnicas; h uma necessidade para agregar conhecimentos existentes como base para formulao de projetos. Mesmo com informaes adequadas, existe uma generalizada falta de informaes sobre procedimentos para captao de recursos, de quais fontes nacionais e internacionais, e quais os canais que podem ser acionados para acess-los. O conceito de pagamento por servios ambientais atrai bastante interesse, mas entre interesse e institucionalizao do mecanismo h um grande abismo, precisando ser melhor informado por documentao de experincias concretas e a proviso de assessoria especializada. Apesar do melhor potencial econmico de projetos que preveem a gerao de produtos comerciais alm do Carbono (reflorestamento comercial ou SAFs), as vulnerabilidades dos arranjos produtivos em projetos que visam ao uso sustentvel precisam ser reconhecidas e superadas. A atribuio de valores excepcionais aos produtos associados com servios ambientais pode ser um caminho para melhor competitividade comercial, mas para atingir tais nichos, deve haver parcerias com agentes de mercado que possam agregar tais valores atravs do marketing e certificao independente de origem.

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Considerando incertezas e a complexidade e multiplicidade de agentes envolvidos em negcios de Carbono florestal, o Projeto Proteo da Mata Atlntica II deve aportar recursos visando subsidiar a negociao e cumprimento dos acordos entre parceiros, assegurando recursos para a realizao de encontros e para manter canais de comunicao abertos e dinmicos. Persistindo controvrsias quanto perda de servios ambientais e impactos sociais associados com grandes projetos de reflorestamento comerciais monoespecficos, recomenda-se no arriscar a imagem e potenciais benefcios outorgados pelo Fundo em apoiar esta modalidade de projeto. Considerando as vantagens comparativas do bioma (concentrao da maior parte da populao nacional, fragmentos remanescentes em propriedades privadas) e a j reduzida taxa de desmatamento regional, as aes devem privilegiar a regenerao/restaurao de matas nativas e aes de reflorestamento ambiental, assim como SAFs com espcies nativas. Durante o seminrio em Braslia em 08 de maro de 2010, patrocinado pelo GTZ, realizou-se uma reunio do Grupo de Trabalho Carbono, que contava com diversos executores de projetos nesta rea. O GT examinou uma srie de questes, privilegiando aquelas da esfera jurdico-institucional que os integrantes consideraram representar os aspectos mais crticos para o xito nos negcios em curso e previstos, a seguir. 1) Necessidade para padronizao em critrios de desenho de projetos H falta de padronizao no formato de projetos e na anlise da linha de base, o que dificulta a canalizao de apoio financeiro. Deve-se considerar como padronizar os tipos de aes que possam ser empreendidas no mercado voluntrio, com a elaborao de um checklist de contedo mnimo. Alm do tipo de aes, seria desejvel padronizar informaes associadas com a definio da linha de base e potencial de agregao de Carbono. A distncia entre o estoque de Carbono em pastagens ou outras paisagens em diferentes sub-regies da Mata Atlntica tratadas como linha de base para projetos no significativa, e a sua padronizao agilizaria o desenvolvimento de projetos. Tais informaes poderiam ser padronizadas por estado, regio e/ou bacia, e por tipo de uso do solo, visando reduzir custos por projeto e dar segurana ao investidor. Seria importante haver uma prospeco prvia de reas promissoras para PSA de Carbono na Mata Atlntica, considerando o valor relativo de biodiversidade. Seria importante a gerao de um check-list dos atributos socioambientais desejveis. Definir a priorizao entre conservao ou recuperao (h um grande diferencial em custos e benefcios destes tipos de interveno), priorizando reas em fase de regenerao inicial por ter maior potencial de sequestro de Carbono e menor custo por t C sequestrado.

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2) Superar incertezas jurdicas e regulamentares para permitir a multiplicao de aes H incertezas quanto natureza fiscal do pagamento para servios ambientais. O preo do Carbono construdo internacionalmente, mas h dificuldade para definir a forma de assegurar a permanncia dos ativos criados (investimentos temporrios com estratgia de sada). A titularidade sobre o Carbono adicional gerado constitui um risco contratual para PSA comercializado internacionalmente. Em termos jurdicos, a servido florestal seria prefervel a outros instrumentos (RPPN menos atraente ao proprietrio devido perpetuidade do compromisso). preciso estabelecer a base jurdica para minimizar incertezas. Uma lacuna que o Fundo poderia preencher uma anlise dos contratos executados at o momento para definir o melhor formato jurdico15. No seria interessante ter padronizao de contratos, e sim, incentivar inovao nas relaes contratuais, p.e., o contrato de captao de recursos do Carbono Seguro. 3) Assegurar reduo nas disparidades regionais, e apoio s comunidades tradicionais Boa parte dos projetos em curso tem focado na regio Sul/Sudeste. O Fundo deve propiciar um reconhecimento e envolvimento efetivo de populaes tradicionais (p.e., quilombolas) na conservao de recursos florestais. Adicionalmente, as desigualdades regionais devem ser consideradas como critrio de apoio. O Fundo deve apoiar iniciativas de restaurao que sirvam como fundamento para experincias em regies menos favorecidas (principalmente o Nordeste). 4) Comunicao entre projetos deve ser apoiada para fortalecer lies aprendidas Deve-se aproveitar a estruturao do Pacto de Restaurao da Mata Atlntica como foco de intercmbio entre projetos. Seria importante a gerao de um check-list dos atributos socioambientais desejveis. Monitoramento e certificao precisam de suporte incremental.

Montar uma rede de Internet para disponibilizar informaes geradas pelos projetos.

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Um dos presentes argumentou que sem regulamentao do mercado de Carbono florestal dentro do MDL no haver valorizao dos projetos no mercado voluntrio.

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Anexo 1. Questionrio utilizado para o levantamento de projetos de Carbono na Mata Atlntica

1.Nome

Nome de fantasia do projeto 1-propriedade; 2-conjunto de propriedades; 3municpio ou corredor; 4-bacia; 5-matas ciliares, outros Municpio, Estado Nmero ou % em cada classe: 1-0-10 ha; 2-11-50 ha; 3-51-100; 4-100-500; 5-> 500 ha / rea total Nome das instituies envolvidas (+ sigla): Lder (executor) + parceiros x funo no projeto Mata Atlntica costeira; de altitude; de interior; etc. Desmatamento Evitado (1=sim, 0=no) Agrofloresta (1=sim, 0=no) Restaurao / regenerao (1=sim, 0=no) Af/reflorestamento (1=sim, 0=no) Biomassa (1=sim, 0=no) Anos desde a implantao do projeto; Permanncia prevista? (previso de corte/manejo?) Incentivos praticados ou acessados pelo projeto (1-PSA, 2-acesso mercado Carbono, 3regularizao ambiental, 4-comrcio de produtos) Outras estratgias (detalhar proposta ou estratgia adotada, p.e., ordenamento territorial, corredores, etc.) 1=crditos vendidos, 2=certificados, 3=convnios com setor pblico ou financeiro, 4=linha de base, 5=stakeholders identificados, 6=localizao definida, 7=nenhuma 24

2.Escala

3.Localizao 3.1 Nmero de propriedades por escala de tamanho; estimativa de escala do projeto 3.2 Instituies parceiras

4.Tipologia da Mata Atlntica abrangida 5.1 Meio para reduzir emisses de Carbono 5.2 Meio para reduzir emisses de Carbono 5.3 Meio para reduzir emisses de Carbono 5.4 Meio para reduzir emisses de Carbono 5.5 Meio para reduzir emisses de Carbono 5.6 Durao prevista e permanncia dos estoques de Carbono

6. Estratgias do projeto

6.2 Estratgias do projeto

7. Alcanado at o momento

7.1 Forma de comprovao

1-certificao de estoque de Carbono; 2-outra forma de verificao (qual?) [para certificao: qual a entidade certificadora?] Valor por ha, propriedade, ou por rvore plantada (por tipo de interveno) no momento da implantao Valor por ha ou outra medida por ano (por interveno) Complementao do investimento previsto (cerceamento, implantao de mudas, manuteno, etc.); Valor ou quantitativo de cada item identificado por fonte (proprietrio, prefeitura, associao, etc.) 1=contrato, 2=termo de compromisso, 3=outro (descrever) 1-empresa; 2-banco; 3-fundo ambiental; 4fundao; 5-recursos de cobrana de gua; 6outros (identificar) 1-no incio; 2-aps implantao; 3-ao longo da prestao de servio; 4-outra ou combinao (qual?) 1-valor por ha; 2-valor por nmero de rvores; 3valor por t de Carbono certificado; 4-outro (detalhar) 1-associao ou cooperativa; 2-proprietrio individual; 3-outro formato (detalhar) Gargalos encontrados no caminho; perspectivas para desenvolvimento do projeto Nome Email Outras informaes de contato / site

8. Custos de investimento

8.1 Custo de manuteno e/ou operao

8.2 Contrapartida esperada do proprietrio e/ou outros atores locais

9. Forma de acordo entre "vendedor" e "comprador" de Carbono

10. Fonte de remunerao ou investimento

10. Periodicidade de pagamento

11. Base de valorao do servio

11. Base legal para remunerao

12. Futuro Melhor contato

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Anexo 2. Arcabouo legal para PSA no BrasilCdigo Florestal, APPs, RLs, Mais Ambiente e servios ambientais Do ponto de vista da governana sobre os servios ambientais oferecidos, S (2008) enfatiza que o direito de conservao sobre reas com limitao administrativa imprescritvel, recai sobre o titular independente da condio anterior do imvel, um nus real, que grava a propriedade. Verificado que a propriedade rural apresenta desconformidade na rea da Reserva Legal e APPs, quando existentes, no Cdigo Florestal, a obrigatoriedade de reparao do dano ambiental persiste. E essa obrigatoriedade assumida at mesmo pelo novo adquirente da propriedade degradada, pelo fato de esta obrigao ser qualificada juridicamente como uma obrigao real, portanto, atrelada ao bem lesado, no caso, a propriedade rural que teve sua reserva legal suprimida ou no implementada como manda a Lei. Para o mercado voluntrio de Carbono, estas exigncias legais no so impedimento, e o passivo ambiental passa, inclusive, a ser um atrativo, pois a recuperao da cobertura de uma rea j desflorestada pressupe um benefcio concreto em termos ecolgicos e socioeconmicos. necessrio, porm a definio de uma linha de base, dentro de metodologias convencionadas, e preferencialmente que um pacote de servios ou projetos complementares viabilize outras funcionalidades da rea recuperada. Isto permitir reduzir e diluir o custo de recuperao por rea, bem como um incremento da remunerao por rea, no s pelos servios ambientais, mas tambm por outras atividades econmicas viabilizadas direta ou indiretamente pela rea reflorestada. Isto faz com que estes projetos sejam economicamente viveis e sustentveis, alm de atrativos, tanto para o agricultor como para os compradores no mercado de Carbono. Assim, para programas privados de PSA, em tese, a limitao para acesso a PSA pode existir ou no. Os financiadores sero empresas, consrcios, grupos de consumidores ou produtores rurais, os quais podem estar interessados mais na governana da recuperao ambiental do que do regime jurdico que define a situao ambiental da propriedade. A linha de base, nestes casos, pode ser definida tambm em funo de critrios que caracterizem o estado de conservao da cobertura florestal e sua distribuio/permanncia num perodo pr-definido, alm de critrios para a composio, estrutura e distribuio/permanncia do reflorestamento. No Brasil, a Reserva Legal assim definida pelo Art. 1, 2, III - Reserva Legal: rea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservao permanente, necessria ao uso sustentvel dos recursos naturais, conservao e reabilitao dos processos ecolgicos, conservao da biodiversidade e ao abrigo e proteo de fauna e flora nativas; (Includo pela Medida Provisria n 2.166-67, de 2001). Para os casos onde a propriedade no est em conformidade com sua Reserva Legal pelos parmetros legais lei ambiental e precisa se adequar, os programas privados de PSA so o principal canal. O estado de So Paulo definiu normas para recuperao de Reserva Legal que apontam para os critrios de composio, estrutura, permanncia e temporalidade ressaltados, tanto para o 26

reflorestamento, como para a utilizao econmica de seus produtos, atravs da Instruo Normativa...., que define no Artigo 5, que a utilizao de Sistemas Agroflorestais visando recomposio das nas Reservas Legais, exceto em pequena propriedade ou posse rural familiar, dever atender os seguintes princpios: I - Manuteno de densidade de plantio de espcies arbreas de no mnimo 600 (seiscentos) indivduos por hectare; II - Adoo de percentual mximo de espcies arbreas exticas: metade das espcies; III - Adoo de nmero mximo de indivduos de espcies arbreas exticas: metade dos indivduos ou a ocupao de metade da rea; IV-Manuteno de nmero mnimo de espcies arbreas nativas: 50 (cinqenta) espcies arbreas de ocorrncia regional, sendo pelo menos 10 (dez) zoocricas, devendo estas ltimas representar 50% (cinqenta por cento) dos indivduos; V - Recomposio total da Reserva Legal no prazo mximo de oito anos; VI - Impedimento do replantio de espcies arbreas exticas na Reserva Legal, findo o ciclo de produo do plantio inicial. Em relao aos produtos dos Sistemas Agroflorestais, a mesma resoluo define: III - Previso de produtos nativos a serem escoados: 1 - A aprovao dos projetos pelo DEPRN compreende autorizao para aImplantao, uso da rea, explorao de espcies exticas, cortes e podas de espcies nativas pelo prazo de at cinco anos, renovvel em funo das caractersticas do projeto. 2 - O escoamento de produtos oriundos de espcies nativas dever ser autorizado parte, atravs de procedimento simplificado por ocasio da explorao. O caso das APPs mais delicado. Seu uso econmico mais restrito, sendo que apenas 5% podem ser utilizadas por atividades ambientais consideradas de baixo impacto. Tambm, quando somada Reserva Legal (o que possvel quando ultrapassam 30% da rea total da propriedade rural), seu regime jurdico no muda, ou seja, valem as restries definidas para APP. Isto significa que, segundo o 3: No caso de plantio de espcies nativas conjugado com a induo e conduo da regenerao natural de espcies nativas, o nmero de espcies e de indivduos por hectare, plantados ou germinados, buscar atingir valores prximos aos da fitofisionomia local. Outras possibilidades foram abertas com a Resoluo Conama No- 425, de 25 de maio de 2010,DOU 27/05/2010 seo 1 pag. 53, que define para APPs a manuteno de culturas com espcies lenhosas ou frutferas perenes, no sujeitas a cortes rasos sazonais, desde que utilizadas prticas de manejo que garantam a funo ambiental da rea, em toda extenso das elevaes com inclinao superior a 45 graus, inclusive em topo de morro; e III as atividades de manejo agroflorestal sustentvel, desde que no descaracterizem a cobertura vegetal e no prejudiquem a funo ambiental da area. Uma lacuna para viabilizar a permanncia e aumento de escala da utilizao de espcies nativas em projetos de recuperao de Reserva Legal, com previso de financiamento e retorno econmico a ampliao da lista de espcies passveis de manejo em regime de regenerao assistida. Exemplos de 27

regulamentao com normativa especfica existentes eram a bracatinga (Mimosa scabrella) e o palmito juara (Euterpe edulis). A volta do palmiteiro lista de espcies ameaadas, porm reduziu esta lista a uma espcie, a bracatinga. O Programa Mais Ambiente (Programa Federal de Apoio a Regularizao Ambiental de Imveis Rurais), introduzido pelo Decreto 7.029 de 10 de dezembro de 2009 um programa de adeso no obrigatrio, cujo o objetivo a recuperao das APPs e reas de Reserva Legal, onde o proprietrio fica imune de sanes de multas por 03 anos aps a adeso. O produtor poder aderir ao programa assinando um Termo de Adeso e Compromisso, que visa a regularizao ambiental por meio do compromisso de recuperar, recompor ou manter as reas de preservao permanente, bem como de averbar a reserva legal do imvel. Este programa se aplica unicamente s propriedades at 150 ha. Na percepo dos produtores rurais (Notcias da FEAP), o Decreto 7.029 no resolveu nenhuma das distores da legislao ambiental e somente d um flego ao produtor quanto ao prazo de averbao definitiva da reserva legal. Ainda mais contundente, do ponto de vista do movimento ambientalista, A suspenso das multas por 3 anos s seria admissvel se viesse acompanhada de medidas concretas de implementao do Cdigo Florestal Brasileiro, ou seja, se fosse compreendido como um perodo de transio para que os produtores rurais se adequassem a uma realidade onde o descumprimento da lei no mais tolerado. O decreto, no entanto, apesar de dizer que apoiar a regularizao ambiental das propriedades rurais, no traz nenhuma medida concreta, recursos ou estrutura administrativa para tirar do papel este Programa ironicamente chamado de Mais Ambiente. Algumas das medidas que poderiam efetivamente facilitar aplicao da lei esto prontas, mas no foram publicadas. (ICV, 2009) Tais crticas so ainda redobradas no caso da legislao atualmente sendo proposta pela Comisso de Agricultura da Cmara, como substitutivo ao Cdigo Florestal, apresentado pelo relator Aldo Rebelo, que repete alguns dos termos de anistia e adiamento das obrigaes presentes no decreto Mais Ambiente. Alm disso, segundo baixa assinada transmitida ao Frum Brasileira de Mudanas Climticas: as medidas propostas arrunam as metas brasileiras para reduo de emisses de gases de efeito estufa a partir de desmatamento, apresentadas pelo Governo Brasileiro na COP15 e includas na Lei Federal n 12.187/2009. A saber, dentre vrias outras flexibilizaes do Cdigo Florestal, o texto em discusso anistia o desmatamento ilegal ocorrido at 22 de junho de 2008, isenta de reservas legais as propriedades rurais de at 04 mdulos fiscais, e, finalmente e de forma mais determinante, institui um perodo de 05 anos de regularizao voluntria, com suspenso de multas, at que governos Estaduais implementem planos de regularizao ambiental. Claramente, vemos a um a liberao do desmatamento em todo o pas, de forma irrestrita. ICMS - Ecolgico Foi o primeiro Instrumento econmico a pagar pelos servios ambientais no Brasil, iniciado no Paran em 1992, com a alocao de uma proporo do ICMS recolhido pelo Estado para municpios que evidenciaram a manuteno de florestas em p nas reas de mananciais e a proteo de unidades de conservao (MAY et al.., 2005). Os repasses aos municpios da receita oriunda do ICMS so feitos de acordo com frmulas diferenciadas de acordo com a legislao estadual, que ponderam a rea das UCs com a rea do municpio, e ajustes por ndices de qualidade da proteo, que variam nos estados que 28

adotam o instrumento. No caso do Paran, h uma avaliao da qualidade do manejo das UCs, de modo a compensar aqueles municpios onde h evidncia de que tenham empregado esforos na manuteno das UCs. MAY et al.. (2005) constataram um aumento na rea e no nmero de UCs, principalmente municipais e estaduais, ps-implantao do ICMS Ecolgico, no PR e MG. Adotam este instrumento os seguintes estados: Paran, So Paulo, Minas Gerais, Amap, Rondnia, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Tocantins, Acre, Gois, Rio de Janeiro. O problema principal do ICMS Ecolgico que as receitas adicionais auferidas no so carimbadas especificamente para necessidades de investimento na proteo do meio ambiente local, e como a receita proporcional ao ICMS recolhido pelo estado, tende a minguar proporcionalmente com o aumento de reas sob regime de conservao. No caso do Paran, o foco nas UCs, mas se inclui, alm das florestas, a ocorrncia de mananciais, premiando municpios que os abrigam, visando conservao de recursos hdricos. Em caso de sobreposio, considera-se o critrio de maior retorno. O amparo legal dado por um conjunto de leis16: Lei Federal Complementar n 63, de 11 de janeiro de 1990. Dispe sobre critrios e prazos de crdito das parcelas do produto da arrecadao de impostos de competncia dos Estados e de transferncias por estes recebidos, pertencentes aos Municpios, e d outras providncias. - Lei Complementar n 59, de 01 de outubro de 1991. Dispe sobre a repartio de 5% do ICMS, a que alude o art. 2 da Lei n 9.491/90, aos municpios com mananciais de abastecimento e unidades de conservao ambiental, assim como adota outras providncias - Decreto Estadual n 2.791, de dezembro de 1996. Critrios tcnicos de alocao de recursos a que alude o art. 5 da Lei Complementar n 59, de 01/10/1991, relativos a mananciais destinados a abastecimento pblico. - Decreto Estadual n 3.446, de 14 de agosto de 1997. Criada no Estado do Paran, as reas Especiais de Uso Regulamentado ARESUR. - Decreto Estadual n 1.529, de 02 de outubro de 2007. Dispe sobre o Estatuto Estadual de Apoio Conservao da Biodiversidade em Terras Privadas no Estado do Paran, atualiza procedimentos para a criao de Reservas Particulares do Patrimnio Natural - RPPN. Proambiente (Programa de Desenvolvimento Sustentvel da Produo Familiar Rural da Amaznia) O programa, na sua concepo, visa, segundo o MMA17, remunerao de servios ambientais para compensar a cobertura dos custos de oportunidades para mudanas qualitativas de uso da terra, focando em sistemas de produo identificados com as especificidades de cada bioma encontrou dificuldades operacionais e no desenvolveu mecanismos quantitativos para avaliar a adicionalidade dos sistemas sendo promovidos (WUNDER et al., 2008). Mesmo assim, na sua fase piloto, subsidiou o desenvolvimento de mtodos de certificao participativa, e gerou novos conhecimentos sobre oportunidades e limitaes do PSA no Brasil. Bolsa Floresta Foi criado pelo Governo do Estado do Amazonas, pela Lei Estadual n 3.135, de 05 de junho de 2007, que instituiu a Poltica Estadual de Mudanas Climticas, Conservao Ambiental e Desenvolvimento Sustentvel do Amazonas: Art. 5, II. A bolsa fornecida para famlias residentes de16 17

http://www.uc.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=57. .

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Reservas de Desenvolvimento Sustentvel (RDS) estaduais, que se comprometem a evitar o desmatamento de novas reas para produo de alimentos dentro das reservas. Outros recursos administrados pelo programa so destinados a investimentos comunitrios e em pequenos empreendimentos produtivos. Outras iniciativas relacionadas ao PSA na esfera federal Uma srie de propostas foram apresentadas em forma de Projetos de Lei no Congresso referente ao PSA a partir de 2007, visando regulamentar o procedimento, permitindo que proprietrios individuais recebam remunerao. Entre os projetos submetidos, encontram-se o PL 792/2007, 2021/2007 e 1190/2007, 11.828/2008, 3570/2008. Todos os projetos tm o intuito de definir o PSA de forma juridicamente defensvel. Em alguns projetos, cria-se um fundo federal que deve servir de fundamento para o financiamento de operaes nesta rea (S, 2008). Este processo culminou na apresentao de um substitutivo do Executivo (PL 5487/2009), que consolidou aspectos dos PLs anteriormente apresentados. Este substitutivo contm os seguintes elementos: Cria-se uma Poltica Nacional de Servios Ambientais e um Programa Nacional de Pagamento para Servios ambientais Define pagamento por servios ambientais, pagador, recebedor Estabelece um Cadastro Nacional de Servios Ambientais No Programa Nacional, estabelece sub-programas nas linhas de floresta, RPPN e gua Projetos so habilitados para executar uma atividade especfica de implantao do pagamento por atividades de restabelecimento, recuperao, manuteno e melhoria dos ecossistemas que geram servios ambientais So previstos pagamentos para servios ambientais de propriedades apenas at quatro (04) mdulos rurais vedada o bundling de servios (p.e., floresta + RPPN ou floresta+gua). Cria-se o Fundo Federal de Pagamento de Servios Ambientais - FFPSA, para financiar estas aes, assim como destina verbas de fontes federais (compensaes, royalties) para este propsito. Embora a Comisso de Meio Ambiente da Cmara tivesse aprovado o projeto, at o fechamento deste relatrio, o mesmo encontrava-se sob considerao da Comisso de Agricultura. Outro projeto de lei, N 5.586-A, de 2009, referente criao de Redues Certificadas de Emisses de Desmatamento e Degradao Florestal (RCEDD), foi apresentado para debate com a sociedade. Este projeto iria permitir a emisso de certificados comercializveis de reduo de emisses oriundas de florestas nativas ou recuperadas, os quais poderiam servir como ttulos no mercado de 30

carbono nacional e (se alcanasse credibilidade para tanto) internacional. Pelo projeto, seriam includos no mbito dos certificados, reas em propriedades particulares em: RPPNs, Reserva legal e APPs em excedente do requerido pelo Cdigo Florestal, e Servido florestal. Em todos os casos, a rea sujeita RCREDD no poderia ter permanncia de menos de 30 anos. Os RCREDDs seriam transferveis entre proprietrios, mas poderiam ser cancelados em qualquer momento pelo proprietrio. No ficou claro, no caso de retirada do certificado, a responsabilidade do proprietrio junto fonte de financiamento. Entidades da sociedade civil envolvidas com propostas REDD tem se posicionado contra este projeto, sugerindo que fosse melhor que o arcabouo internacional da realizao de aes REDD sejam negociados antes de tentar estabelecer um paralelo nacional.

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Anexo 3. Informaes detalhadas dos projetos levantados1 - Projetos em execuo, com certificao / verificao de carbono, financiamento e (em alguns casos) pagamento de servios ambientais 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Instituto BioAtlntica - Parque de Carbono: Restaurao Florestal no Parque Estadual da Pedra Branca Instituto BioAtlntica - Carbono, Biodiversidade e Comunidade no Corredor Ecolgico Monte Pascoal Pau Brasil RURECO - Agricultura Ecolgica e Servios Scio Ambientais IMEI Consultoria - Brasil Mata Viva Instituto Arvorar - Carbono, Biodiversidade e Renda no Pontal do Paranapanema - SP Instituto Arvorar - Recomposio da Paisagem e SAFs (Caf com Floresta) Iniciativa Verde Programas Carbon Free, Amigo da Floresta e Carbono Seguro SPVS Projetos de Combate ao Aquecimento Global na Zona Costeira SPVS Projeto de Desmatamento Evitado AES Tiet - Reflorestamento das bordas dos reservatrios da AES Tiet Grupo Plantar - Projeto de Reflorestamento como Fonte Renovvel de Suprimento de Madeira para Uso Industrial no Brasil Fundao SOS Mata Atlntica - Florestas do Futuro Rede Ipiranga - Ipiranga Carbono Zero Fundao O Boticrio - Projeto Oasis Grupo Ambientalista da Bahia (GAMBA) - Aes Ambientais Sustentveis no Recncavo Sul Baiano Klabin - Projeto de Seqestro de Carbono Estados em que atua RJ BA PR, RS GO SP SP SP PR PR, SC SP MG SP, MG, RJ, BA SP, RJ SP, PR BA PR

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2- Projetos em desenvolvimento, que j tenham identificado fontes de recursos e locais para implantar aes, mas ainda no esto em implementao 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 Associao Ambientalista Copaba - Banco de Mudas da Mata Atlntica Associao Ecolgica Amigos da Serra (Asema) - Corredor Aymors Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlntica (IPEMA) Manejo Sustentvel da Juara no Litoral Norte e Serra do Mar Ao Nascente Maquin - Projeto de Recuperao de reas degradadas da sub-bacia do Rio Maquin Conservao Internacional - Projeto Carbono Muriqui Instituto Arvorar Banco de Carbono Instituto Arvorar Mapa dos Sonhos do Pontal do Paranapanema Instituto Arvorar - Plantando gua: Servios da Mata Atlntica no entorno do reservatrio Atibainha Instituto Arvorar - Neutralizao de emisses de Carbono Fundao CEPEMA COMCAF Centro Ecolgico IPE - Litoral Norte do RS e Sul de SC ECOCITRUS - Consrcio de Formao Agroflorestal em Rede na Mata Atlntica Instituto Perene - Programa Recncavo Sustentvel REDD, A/R e Eficincia Energtica Associao Mico Leo Dourado Corredores Florestais na Mata Atlntica Instituto Floresta Viva - Projeto Floresta Viva

Estados MG, SP RJ SP RS MG Brasil SP SP SP, MG CE RS, SC RS BA RJ BA

3- Projetos de entidades que tem interesse ou inteno de procurar oportunidades com o mercado de carbono 32 33 34 Mira-Serra - Rio Padilha AMANE e CEPAN - Corredor de Biodiversidade do Nordeste AREGUA Reserva Ecolgica de Guapiau RS PE, PB, RN, AL RJ

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Categoria: Execuo

1Instituto BioAtlntica - Parque de Carbono: Restaurao Florestal no Parque Estadual da Pedra BrancaRio de Janeiro, RJ CATEGORIA: EXECUO Contato e informaes: Alexander Copello Moraes. E-mail: [email protected]. (21) 2535-3940. Homepage: www.bioatlantica.org.br Telefone:

Introduo O Projeto executado pelo Instituto BioAtlntica visando fortalecer a proteo de remanescentes de Mata Atlntica no Parque Estadual da Pedra Branca, localizado no municpio do Rio de Janeiro. Conta com a parceria do Instituto Estadual do Ambiente, Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro e a Coordenadoria de Recuperao Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro. O projeto encontra-se em fase final de contratao, e iniciar suas atividades com o incio da restaurao em uma rea com extenso de 204 hectares do Parque. Meio para reduzir emisses de carbono O projeto pretende recuperar reas degradadas no interior de Unidades de Conservao, atravs de regenerao assistida e enriquecimento com espcies nativas, preferencialmente favorecendo a criao de corredores ecolgicos. Estratgias econmicas do projeto O projeto no prev pagamento por servios ambientais, nem comercializao de produtos, concentrando-se apenas na tarefa de impedir o desmatamento das reas protegidas. Situao para creditar C, comprovao e Monitoramento O projeto j obteve convnios com o setor pblico e possui localizao definida. As negociaes com stakeholders encontram-se em andamento. A linha de base, apesar de se encontrar dentro de unidade de conservao, confirmada pelo estgio de degradao da rea e sem a iniciativa de reflorestamento poderia manter ou at agravar o quadro de degradao da rea.

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Sendo assim, o projeto pretende investir na regularizao ambiental e aplicar a metodologia do CCBA (Clima,Comunidade e Biodiversidade) para a realizao do inventrio do estoque de carbono existente nas reas protegidas, e estimar a capacidade de neutralizao de emisso de Gases de Efeito Estufa com a preservao das reservas, recomposio de reas de reserva legal, preservao permanente e reflorestamentos. O CCBA foi escolhido devido aos critrios socioambientais utilizados, e o processo de certificao ser iniciado concomitante com as atividades de restaurao, ficando a cargo da contratante. A partir da, buscar o mercado de crditos de carbono, com previso de abatimento das emisses de Gases do Efeito Estufa decorrentes de operaes de teste de explorao de leo e gs na Bacia de Santos. Custos de investimento (implantao, manuteno, contrapartida) Os custos de investimento do projeto giram em torno de R$ 27.000,00 por hectare, sendo este o custo total do projeto, abrangendo os custos de investimentos, manuteno e certificao. A contrapartida esperada ocorrer por parte do Estado na figura do INEA (rgo ambiental), atravs da proteo efetiva da unidade de conservao e o apoio na captao de investidores. Acordo "vendedor" e "comprador" de carbono O projeto celebrar contratos de prestao de servios entre as partes e buscar recursos junto a empresas. Os pagamentos sero realizados da seguinte forma: adiantamento de 70% no incio e o restante ao longo do contrato, de acordo com as entregas dos crditos. Base de valorao do servio A base de valorao o valor por tonelada de carbono certificado. Base legal para remunerao A base legal de remunerao ser a celebrao de contrato de prestao de servios de restaurao florestal entre organizao sem fins lucrativos e empresas investidoras, com base em Termo de Cooperao Tcnica (sem transferncia de recursos) entre esta mesma organizao e o rgo pblico responsvel pela unidade de conservao. Gargalos e perspectivas para desenvolvimento do projeto Os gargalos encontrados so a lentido das decises no mbito dos rgos pblicos envolvidos, dificuldades no envolvimento das comunidades locais, incluindo o recrutamento da mo-de-obra para as operaes de restaurao florestal, a coleta de sementes e a produo de mudas, os eventuais problemas de acesso aos locais de trabalho (problemas de disputas territoriais entre traficantes e milcias), fogo (especialmente provocado pela queda de bales) e pastoreio clandestino. Segundo os executores, no mbito da restaurao florestal no Parque, as perspectivas so muito boas, uma vez que j h sinalizao de investimentos para mais da metade da rea original destinada pelo governo para o projeto (rea total de 1.300 hectares). A estratgia que ser adotada para o recrutamento e treinamento de mo-de-obra priorizar a gerao de trabalho e renda para comunidades locais, preconizada pelo Pacto Pela Restaurao da Mata Atlntica, aproveitando a 35

experincia do Projeto Mutiro Reflorestamento, que vem sendo executado pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro h mais de 25 anos. Com o projeto seguindo a metodologia desenvolvida para restaurao pelo LERF da ESALQ/USP e o modelo da experincia bem sucedida do mutiro reflorestamento, espera-se um excelente desenvolvimento das atividades e a perpetuao deste tipo de iniciativa, inserindo a comunidade do entorno do parque no processo de restaurao.

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2Instituto BioAtlntica - Carbono, Biodiversidade e Comunidade no Corredor Ecolgico Monte Pascoal Pau BrasilBahia, BA - CATEGORIA: EXECUO Contato e informaes: Carlos Alberto Mesquita. E-mail: [email protected]. Telefone: (21) 2535-3940. www.bioatlantica.org.br

Introduo O Projeto executado pelo Instituto BioAtlntica visando fortalecer a proteo de remanescentes de Mata Atlntica costeira atravs da formao de um corredor ecolgico entre dois parques nacionais, o Parque Nacional do Pau Brasil e o Parque do Monte Pascoal, no Estado da Bahia, tendo como parceiros uma rede de instituies composta por The Nature Conservancy (TNC), Conservao Internacional (CI-Brasil), Instituto Cidade, Grupo Ambiental Naturezabela, Associao dos Nativos de Carav