31
o Pemba, Caixa Postal, 260 E-mail: [email protected] M o ç a m b i q u e Cabo Delgado, Nampula, Niassa, Zambézia e Sofala Pág. 2 Fernando Lima

Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

o Pemba, Caixa Postal, 260E-mail: [email protected]

M o ç a m b i q u e

Cabo Delgado, Nampula, Niassa, Zambézia e Sofala

Pág. 2

Fer

nand

o Li

ma

Page 2: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

TEMA DA SEMANA2 Savana 05-09-2014

O presidente da Rena-mo, Afonso Dhlakama, abandonou nesta quinta--feira a serra da Goron-

goza, pondo termo ao que ficou

conhecido como “refúgio em parte

incerta” depois de ter sido forçado a

sair da sua residência em Satunji-

ra, nas faldas da serra, na sequência

de um bombardeamento por for-

ças governamentais em Outubro

de 2013. Ironicamente, quando a

comitiva de 4x4 se dirigia à antiga

residência de Afonso Dhlakama

em Satunjira, o líder da Renamo

irrompeu do meio da mata para a

estrada, quando eram precisamen-

te 11h25.

Fresco e jovial, presume-se que

Dhlakama tenha vindo até ao tri-

lho que vai dar à sua antiga resi-

dência de mota, acompanhado de

seis guerrilheiros. Carlos Rungo,

um general da Polícia, apresentou-

-se a Dhlakama como o responsá-

vel governamental encarregue pela

sua segurança. “Como está cama-

rada”, disse Dhlakama dirigindo-se

a Rungo. Numa breve declaração

à imprensa, Afonso Dhlakama ga-

rantiu que não vai haver mais guer-

ra em Moçambique.

Uma delegação de embaixadores

acreditados em Maputo – de Itá-

lia (Roberto Vellano), Botswana

(Thuso Ramodimoosi), Estados

Unidos (Douglas Griffiths), Grã-

-Bretanha( Joanna kuenssberg) e

Portugal José Augusto Duarte)

- deslocou-se à Gorongosa para

receber Dhlakama, como parte das

garantias de segurança para que o

líder da Renamo possa desenvolver

a campanha eleitoral em condições

de normalidade em todo o territó-

rio nacional.

Os últimos obstáculos foram re-

movidos no último fim de semana

quando o vice-ministro para o De-

senvolvimento de Itália, Carlo Ca-

lenda acompanhado por D. Matteo

Zuppi da Comunidade de Sant’

Egideo se deslocou à serra da Go-

rongoza para se avistar com Afonso

Dhlakama. O “retorno à normali-

dade” estava condicionado pela exi-

gência da Renamo para que o par-

lamento moçambicano aprovasse a

declaração de cessar-fogo e todos

os outros documentos assinados

por José Pacheco, em representação

do Governo e Saimone Macuiane,

o representante da Renamo. O Par-

lamento encerrou os seus trabalhos

a semana passada e a esmagadora

maioria dos deputados está agora

envolvido na campanha eleito-

ral pelos seus partidos, pelo que a

exigência da Renamo era difícil de

acomodar, sobretudo do ponto de

vista prático.

Um “vai e vem” de D. Matteo Zu-

ppi, um “veterano” do Acordo de

Roma não só recolheu a aprovação

do presidente Armando Guebuza,

com quem se avistou antes e depois

do encontro da Gorongosa, como

conseguiu demover as últimas re-

sistências de Afonso Dhlakama em

abandonar a Gorongosa e regressar

a Maputo para um encontro com o

Chefe de Estado, onde serão “sim-

bolicamente visados” os acordos já

alcançados entre as partes.

Os embaixadores que se deslocaram

à Gorongosa viajaram quarta-feira

numa aeronave da Mex(subsidiária

da LAM), um turbo-propulsol

Embraer com capacidade para 30

lugares, posto à disposição pelo go-

verno de Moçambique. A acompa-

nhar os embaixadores, da Renamo

apenas está a deputada Ivone Soa-

res. O governo e os mediadores não

estiveram presentes. Na comitiva

de 4x4, a presença de muita polícia

à paisana e agentes do Sise. A es-

colta era enquadrada pelo coman-

dante da FIR, Amade Assane.

Os embaixadores dormiram no

acampamento do Chitengo, no

Parque Nacional da Gorogonza, a

cerca de 20 quilometros da sede do

distrito. Os contactos entre os em-

baixadores e Dhlakama foram fei-

tos a partir da sede local da Rena-

mo, não havendo qualquer presença

do governo distrital.

Dhlakama deve apanhar o avião da

Mex para Maputo, acompanhado

por Ivone Soares e os embaixado-

res.

Dhlakama reaparece da parte incerta

Fresco e jovialTexto Fernando Lima e André Catueira/Fotos Fernando Lima, em Gorongosa

segurança do líder da Renamo

Page 3: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

TEMA DA SEMANA 3Savana 05-09-2014 TEMA DA SEMANA

Mesmo passados mais de 20 anos após a assinatu-ra do Acordo Geral de Paz, a Frelimo e a Rena-

mo nunca deixaram de se tratar como

“inimigos”, sentindo uma hostilida-

de que marcou a relação entre os dois

lados durante os 16 anos de guerra

civil em Moçambique, observa o

académico Victor Igreja,  professor

de “Estudos de Paz e Conflitos, Jus-

tiça em Transição e Antropologia”,

na Universidade de Queensland, na

Austrália.

Victor Igreja notou que o partido no

poder em Moçambique e a principal

força política da oposição não se re-

conciliaram em mais de 20 anos de

paz, quando apresentava uma comu-

nicação subordinada ao tema “Recur-

sos da Violência e Lutas pela Legi-

timidade Política em Moçambique”,

durante o IV Seminário do Instituto

de Estudos Sociais e Económicos

(IESE), realizado semana passada em

Maputo.

“Durante duas décadas, os deputados

da Frelimo e da Renamo não pude-

ram desfazer-se da sua inimizade dos

tempos de guerra. Ambos os partidos

usaram as suas memórias de guerra

como armas no parlamento multipar-

tidário, acusando-se uns aos outros de

graves transgressões e crimes e recu-

sando mutuamente a sua legitimida-

de política”, diz Igreja, no sumário da

apresentação.

Na sua alocução, o académico defen-

de que a Frelimo e a Renamo falha-

ram na necessidade de seguir novas

práticas democráticas centradas no

diálogo, negociações e compromis-

sos, tornando inviável a reconciliação,

com essa postura.

“Enquanto os deputados da Frelimo e

da Renamo continuaram a actividade

legislativa, eles falharam na transfor-

mação dos formalismos legais em no-

vas práticas democráticas, centradas

no diálogo, negociações e compro-

missos”, lê-se na comunicação.

Vingança por detrás da guerraReferindo-se à violência militar que

eclodiu em Moçambique no ano

passado, opondo as Forças de Defe-

sa e Segurança e o braço armado da

Renamo, Victor Igreja aponta que a

mesma foi resultado da falta de res-

ponsabilização legal pelos actos pra-

ticados durante os 16 anos de guerra

civil, da tentativa da Frelimo de repa-

rar o sentimento de derrota no con-

texto do Acordo Geral de Paz (AGP)

assinado em 1992 e de controlo total

das instituições do Estado.

“Na sequência de uma longa aná-

lise, argumento que a falta de res-

ponsabilização pelos crimes come-

tidos durante a primeira guerra civil

(1976-1992), a tentativa da Frelimo

de reparar o sentimento de perda no

contexto do AGP e a reconquista do

controlo completo das instituições do

Estado de uma forma reminiscente

da era do socialismo contribuiu para

um clima político típico de uma tran-

sição inacabada”, enfatiza Igreja.

Defendendo a sua perspectiva, o do-

cente de “Estudos de Paz e Conflitos,

Justiça em Transição e Antropologia”

argumenta que é insuficiente apontar

a disputa pelo controlo dos recursos

minerais e económicos como a causa

das hostilidades militares que assola-

ram o país no último mês e meio.

“Muitas correntes de opinião e, mui-

tas vezes, explanações desprovidas

de argumento histórico para a es-

calada de violência que se assistiu

no país focam-se nas lutas das elites

pelo controlo dos recursos minerais

e económicos. Estas explanações são

insuficientes para explicar a erupção

de uma nova guerra civil no país”, ad-

voga Victor Igreja.

Para Igreja, o partido no poder gizou

estratégias orientadas à remoção de

oficiais superiores e não só das Forças

Armadas de Defesa de Moçambique

(FADM), mantendo na estrutura mi-

litar do Estado quadros fiéis à Freli-

mo, que integraram o exército após a

independência do país em 1975.

Purgas radicais com GuebuzaNa introdução da sua apresentação,

o académico sublinha que, após a sua

vitória nas eleições gerais de 2004,

Armando Guebuza empreendeu um

conjunto de reformas radicais com

pouca ou nenhuma consideração por

vozes ou visões das forças políticas da

oposição, marginalizando o princípio

da “aceitação da crítica ou a prática da

auto-crítica”.

“Estas reformas foram percebidas e

sentidas por muitos moçambicanos,

dentro e fora do partido no poder,

como um retrocesso e reminiscên-

Violência instrumentalAtento aos sinais de regresso à esta-

bilidade, no contexto dos entendi-

mentos obtidos pelo Governo e pela

Renamo, o pesquisador enfatiza que

a violência continua um instrumento

político recorrente em Moçambique,

tanto para gerar desordem como para

a transformação das instituições da

emergente democracia moçambica-

na. Por outro lado, a violência militar

dos últimos meses cristalizou a ideia

de uma transição política inacabada,

da guerra civil para a paz, e o enten-

dimento de que cada moçambicano é

um potencial de recurso de violência.

Frelimo e Renamo tratam-se como inimigos – diz académico Victor Igreja- A violência continua um instrumento político em Moçambique – sublinha o pesquisador

Por Ricardo Mudaukana

“Acabámos de assinar a de-

claração do fim de todas as

hostilidades militares. Este

cessar-fogo, que significa o

fim de todas as hostilidades mi-

litares é o último documento de

compromisso para a paz entre o

partido Renamo e o Governo da

República de Moçambique.

Anunciamos, a partir desta sala,

que a paz regressou ao país. A

sessão de declaração da cessação

de hostilidades militares que aca-

bámos de assinar, com os poderes

das nossas lideranças, isto é, do

Presidente da República, Arman-

do Emílio Guebuza e o líder da

Renamo, Afonso Dhlakama, é

feita no espírito de boa-fé e re-

presenta a vontade de todo o povo

moçambicano, de estabelecer a

paz, harmonia e a concórdia em

todo o nosso país. Queremos di-

zer, de viva voz, que valeu a pena o

sacrifício, o sofrimento e a entrega

abnegada de mulheres e homens,

jovens e adultos, que durante dois

anos dedicaram à causa de liberta-

ção do nosso país.

Não queremos, com isto, dizer que

a guerra é boa, nem que nos ale-

gramos com o sofrimento do povo,

mas quero, mais uma vez, dizer que

foi necessário o sacrifício que con-

sentimos para que chegássemos à

conclusão do diálogo, para o bem

de 24 milhões de moçambicanos. O

nosso propósito é aceitar o sacrifício

de viver nas matas, de sofrer humilha-

ções, insultos, injúrias e até o risco de

ser morto a tiros, que contra si foram

lançados.

Tudo foi feito para que os moçambica-

nos recuperassem a dignidade, respeito

e liberdade de escolha. Hoje, Moçam-

bique entra numa nova era, num novo

modelo de democracia efectiva, onde as

eleições podem ser transparentes, onde

haja liberdade e justiça. Estamos a criar

uma verdadeira República de Moçam-

bique, para os moçambicanos e não

uma monarquia para algumas famílias;

estamos a criar um verdadeiro Estado

de Direito, para todos os moçambica-

nos, onde cada um sinta-se protegido,

respeitado e dignificado.

Na República de Moçambique, pre-

tendemos que todos os moçambicanos

sejam importantes, independentemen-

te da região, origem, cor, sexo, etnia ou

grau de escolaridade. Queremos que

a exclusão social, política e económi-

ca seja esquecida em Moçambique.

Queremos que o desenvolvimento

seja efectivamente nacional e que to-

dos os moçambicanos, da cidade ou

do campo, sintam o orgulho de serem

moçambicanos. Que as riquezas que a

mãe natureza concede sejam uma bên-

ção para todos os moçambicanos; que

todos possam deles usufruir e isso con-

seguir-se-á com o acordo que acabá-

mos de assinar. O acordo significa

também que, a partir deste momen-

to, Moçambique começa um novo

caminho, onde as Forças de Defesa

deixam de pertencer a um partido

político, como acontecia.

As Forças de Defesa de Moçam-

bique e o Serviço de Segurança do

Estado passam a servir ao Estado

moçambicano e são proibidos de

participar em actos partidários. A

partir de hoje, nenhum partido po-

lítico deve usar as Forcas de Defe-

sa para quaisquer fins, salvo casos

previstos e autorizados por Lei. É

o fim de uma jornada difícil, mas

necessária, porque o que estava em

questão são os altos interesses do

povo moçambicano.

Consentimos o sacrifício, para ver-

mos, em Moçambique, onde os

nossos filhos possam crescer livres,

com as mesmas oportunidades, in-

dependentemente da sua origem

étnica, cor, geográfica, o estrato so-

cial dos seus pais.

O povo moçambicano ganhou a

paz, a liberdade, a democracia; mos-

trou a sua capacidade de resolver os

grandes interesses nacionais. Sau-

damos o povo moçambicano pela

paciência e esforço para o estabele-

cimento da liberdade, da paz e do

bem-estar do povo, colocando, aci-

ma de tudo, os superiores interesses

da nação.

Um cessar-fogo feito no espírito de boa-fé

cia do socialismo repressivo pós-

-independência. A combinação e os

efeitos cumulativos dos efeitos das

reformas radicais introduzidas pela

Frelimo convidam a uma séria análi-

se para um entendimento apropriado

do contexto que deflagrou a erupção

da segunda guerra civil em Moçam-

bique”, analisa Victor Igreja.

Por outro lado, assinala o académico,

“o Governo da Frelimo e a Rena-

mo recorreram consistentemente à

violência como meio de reforço das

negociações políticas e legitimação

num contexto de democracia multi-

partidária emergente”.

- Saimone Macuiane, chefe da delegação da Renamo

Page 4: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

TEMA DA SEMANA4 Savana 05-09-2014TEMA DA SEMANA

No meio de várias promes-sas, o país está desde o passado domingo, 31 de Agosto, a assistir à mo-

vimentação política com vista às

eleições gerais de 15 de Outubro,

com os três principais partidos a

arrancarem em Nampula e Zam-

bézia, dois círculos eleitorais que

metem juntos 92 deputados.

Frelimo, Renamo e MDM concor-

rem em todos os círculos eleitorais.

No que concerne à corrida pre-

sidencial, apenas Filipe Nyusi

da Frelimo e Daviz Simango do

MDM iniciaram a campanha logo

no primeiro dia.

Nyusi e Simango escolheram a

província de Nampula, maior círcu-

lo eleitoral do país, com 47 lugares

no parlamento, para iniciar a cam-

panha eleitoral. A Renamo, com

Manuel Bissopo, Secretário-geral a

liderar a caravana, iniciou a campa-

nha na Zambézia, círculo eleitoral

que elege com 45 assentos.

A escolha destes círculos eleitorais

pelos três maiores partidos da ac-

tualidade política moçambicana

não foi por acaso. Por exemplo,

sondagens da Universidade A Poli-

técnica e da Unilúrio mostram um

equilíbrio entre Nyusi e Simango

em Nampula. Na Zambézia, a opo-

sição sempre mostrou pujança.

A Frelimo, a Renamo e o MDM

juntam-se a mais 27 partidos, co-

ligações e grupos de cidadãos que

vão concorrer nas eleições de 15

de Outubro, disputando o voto de

perto de 11 milhões de eleitores re-

gistados pelos órgãos eleitorais.

Um dos factos que merece destaque

nesta campanha eleitoral é a ordem

e passividade dos protagonistas.

Até ao quarto dia, a campanha de-

corria sem incidentes. Mas no Gu-

rúè, município ganho nas autárqui-

cas de 2013 pelo MDM, a PRM

distrital fortemente armada proibia

o uso do jardim municipal pelo

partido de Daviz Simango, mas até

ao fecho da presente edição não se

registaram confrontos.

Começou a caça ao voto

O Vento sopra do nortePor Raul Senda

Outro aspecto que marca a presen-

te campanha é a diferença de meios

materiais entre os concorrentes. A

Frelimo, que em algumas circuns-

tâncias recorre ao Estado, é o par-

tido que mais se destaca em termos

de meios.

Enquanto Daviz Simango faz

campanha de carro, o candidato

da Frelimo, Filipe Nyusi, recorre a

helicópteros, facto que lhe permite

perfazer três distritos por dia. Os

meios aéreos são também usados

pelo Chefe de Estado na sua mara-

tona de caça ao voto, na qualidade

de presidente da Frelimo. Vários

quadros históricos da Frelimo estão

empenhados na caça ao voto, o que,

segundo alguns analistas, indicia

que o partido que forma governo

desde 1975 não está seguro do que

pode acontecer a 15 de Outubro.

Joaquim Chissano, presidente

honorário da Frelimo, juntou-se

nesta terça-feira na campanha do

seu partido em Maputo. Chissano

escalou o distrito municipal Ka

Maxaquene, para explicar que Fili-

pe Nyusi é o candidato da Frelimo,

que dará continuidade ao cresci-

mento económico e social que o

país regista. É preciso notar que na

sondagem da A Politécnica, Filipe

Nyusi tecnicamente empataria com

Daviz Simango no Ka Maxaquene,

o mais populoso de Maputo.

“Vim cá para pedir o vosso voto.

Este voto não é para mim, mas sim

para o nosso candidato Filipe Nyu-

si. Ele é uma pessoa cujo coração

está aberto para receber e resolver

as nossas preocupações. Mas não

basta só votar em Nyusi. Ele pre-

cisa de ser suportado pelos deputa-

dos. Por isso, temos que o votar e

votar também no seu partido, que é

também nosso: a Frelimo”, disse o

antigo presidente de Moçambique.

Na digressão que está a fazer pelos

distritos de Nampula, Nyusi con-

ta com suporte de Filipe Paúnde,

chefe do gabinete eleitoral. Paúnde,

antigo Secretário-geral da Frelimo,

é visto em alguns círculos como o

rosto do mau momento que a Fre-

limo está a passar.

Page 5: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

TEMA DA SEMANA 5Savana 05-09-2014 TEMA DA SEMANA

Nas vésperas da campanha eleitoral em Manica, 293 jovens e idosos, que se tinham filiado ao Movi-

mento Democrático de Moçambi-que (MDM), decidiram regressar à Renamo, de onde haviam saído desde 2009 por fricções internas, e outros três para a Frelimo, supos-tamente devido ao regionalismo e nepotismo. Curioso, nenhum dos dissidentes, todos anónimos, apre-senta cartão de membro do MDM, tendo um, na sua apresentação, exibido uma t-shirt do candidato às autárquicas pelo “galo”, o que para o MDM revela um jogo “bru-talmente psicológico”.

A Frelimo, através do seu chefe

provincial de mobilização e propa-

ganda, Joaquim Mainato, convocou

a imprensa para apresentar três dis-

sidentes do MDM, que “juraram

votos” para se filiar àquele partido.

Da lista, um é filho do secretário do

bairro Nhauriri, na cidade de Chi-

moio, num município sob direcção

da Frelimo, outro um antigo mem-

bro e gestor do Partido Indepen-

dente de Moçambique (PIMO) e o

terceiro um singular, todos anóni-

mos, e sem cartões de membros do

MDM, de onde eram provenientes.

Um outro grupo de dezenas de

homens e jovens, dos distritos de

Manica, Sussundenga e Vanduzi,

também todos anónimos, reuniu-se

num restaurante do centro da cida-

de de Chimoio, para renunciar seu

“amor” ao MDM e regressar à Re-

namo, por este partido já ter conse-

guido superar a queda de popula-

ridade e se reestruturado na esfera

política do país.

Jacinto Jeca, que se identificou

como líder do grupo dos dissiden-

tes, disse que a “relação no MDM

deixou muito a desejar, por terem

dado a vida nas eleições autárqui-

cas sob promessas não cumpridas” e

que regressam à Renamo, por “este

partido ter ultrapassado os proble-

mas internos e estar muito coeso e

mais maduro para as eleições”.

“Havia muita contradição entre

nós, o MDM não estava a trabalhar

como deve ser, por isso estamos a

voltar à casa, que é na Renamo, de

onde saímos”, disse Jacinto Jeca, as-

segurando que fez “muita mobiliza-

ção e formação sob promessas, mas

Dissidências anónimas penalizam MDM em Manica

Filhos pródigos voltam à casaPor André Catueira, em Manica

não recompensadas”.

Ainda segundo disse, “a Renamo já

abriu portas” para receber todos os

dissidentes, que haviam renunciado

para outros partidos políticos, para

voltar a fundar pilares que possam

permitir o partido governar o país.

Por sua vez, Victor Sofassoque, um

outro dissidente, disse que o regres-

so à casa justifica-se pelo facto de

a Renamo ter conseguido ultrapas-

sar a “confusão interna”, que criou

vários grupos, provocando fricções

e desnivelamento da popularidade

do partido.

Ataques desnecessáriosEntretanto, o MDM defende que

o anúncio das dissidências, dos su-

postos membros do partido, é uma

campanha de “ataques psicológi-

cos” desnecessários e típicos dos

períodos eleitorais, mas já “fora da

moda”.

“São propagandas típicas do mo-

mento. Até este momento não te-

mos notificação de algum membro

que seja dissidente do partido”,

explicou Alberto Nota, membro

da comissão política nacional do

MDM, questionando: “como é que

um partido que se gaba de idóneo

usa alguém com uma camiseta do

partido dizendo que se trata de um

dissidente?”.

Ainda segundo a fonte, durante a

campanha eleitoral, o material des-

truído e confiscado, sobretudo por

líderes comunitários, chefes de lo-

calidades e administradores distri-

tais, pode ser usado para denigrir a

imagem do partido, para se alegar

que são membros dissidentes a en-

tregarem os símbolos do partido.

“Assistimos à destruição do nos-

so material e à confiscação das

nossas bandeiras, como estratégia

preparada para usar em tempos de

campanha”, explicou Aberto Nota

e apelou que “pare esse jogo”, as-

segurando: “temos conhecimento

e sabemos quantas bandeiras estão

nas mãos daqueles que querem usar

essas bandeiras durante a cam-

panha, para referir que os nossos

membros estão a entregar símbolos

do partido”.

“Nós poderíamos fazer o mesmo,

mas não o fazemos porque somos

civilizados”, declarou Alberto Nota,

adiantando que o partido tem re-

cebido muitos dissidentes da Re-

namo e Frelimo, mas que o MDM

não tem feito sua propaganda, para

não colocar as pessoas em situação

de embaraço, por temer torturas e

detenções, como já ocorreu com

vários dissidentes da Frelimo.

“O moçambicano é livre de se fi-

liar a qualquer partido. A filiação é

voluntária e não coerciva, por isso

o membro que não se sentir con-

fortável no MDM pode renunciar

entregando-nos o nosso cartão”,

concluiu.

Page 6: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

6 Savana 05-09-2014SOCIEDADE

A campanha eleitoral na província de Inhamba-ne, sul de Moçambi-que, continua a decorrer

“friamente”, sem o brilho e a eufo-ria que normalmente caracterizam o processo de “caça ao voto”.

No terreno já estão a digladiar, com

alguma visibilidade, desde o último

domingo, três formações políticas,

nomeadamente, MDM, Frelimo

e Renamo. As outras formações

políticas continuam ausentes, uma

clara reedição de cenários anterio-

res.

Estrategicamente, a Frelimo apos-

ta em comícios populares e desfiles

desencadeados através de frotas de

viaturas. Por seu turno, a Renamo

e o MDM apostam em campanha

“porta a porta”, um chavão bastan-

te recorrente nesta época de propa-

ganda política.

Curiosamente, as três formações

políticas reforçaram as suas incur-

sões de “caça ao voto” com a che-

gada (esta terça-feira) de figuras

de peso despachadas a partir de

Maputo.

Maria da Luz Guebuza, esposa do

presidente da Frelimo, Armando

Guebuza, foi ao populoso mercado

da Mafureira pedir voto para Filipe

Nyusi e o partido Frelimo. “Estou

a pedir para votarem na Continui-

dade”, disse.

Mas, porque a nível da província

de Inhambane todas as atenções

estão viradas para Massinga, o

maior circulo eleitoral (com oito

lugares para as assembleias pro-

vinciais), esta quarta-feira a esposa

Frelimo, MDM e Renamo em Inhambane

Uma campanha pobre, mas pacífica Por Eugénio Arão, em Inhambane

de Armando Guebuza percorreu

vários aglomerados populacionais

pedindo voto em troca de uma boa

governação.

Esta quinta-feira, Maria da Luz

Guebuza trabalha no histórico dis-

trito de Homoíne.

Recorde-se que, inicialmente, os

três partidos haviam convergi-

do na escolha de Massinga como

palco da abertura das respectivas

campanhas, mas a Frelimo acabou

preterindo o distrito. O deputado

Eneias Comiche dirigiu a abertura

da campanha na cidade de Inham-

bane

Entretanto, Gania Mussagy, depu-

tada da Assembleia da República

pela Renamo, disse, à sua chegada

em Vilankulo (com oito lugares

para as Assembleias Provinciais),

que chegou o momento certo para

a concretização da sempre adiada

mudança.

“Estou aqui para pedir voto. Vocês

são um povo especial. Peço para

que no dia 15 de Outubro votem

na Renamo e no presidente Afonso

Dhlakama”, rogou Gania Mussagy.

Gania Mussagy fez notar que, a

Renamo e o seu líder pretendem,

em caso de eleição, proporcionar

um bem-estar social e económi-

co alicerçados numa governação

transparente e justa.

O MDM, terceira maior força po-

lítica, também viu reforçada a sua

campanha eleitoral com a chegada

de Agostinho Ussore e António

Frangoulis.

Recorrendo à sua “marca” de cam-

panha “porta a porta”, os dois

membros seniores do MDM pro-

metem, em caso de Daviz Simango

e seu partido chegarem ao poder,

um “Moçambique próspero e para

todos”.

Até ao fecho da presente edição

não havia registo de confrontos

entre os apoiantes dos três prin-

cipais partidos que concorrem em

todos os círculos eleitorais.

A Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) lançou, formalmente,

nesta segunda-feira, o Instituto de Acesso à Justiça (IAJ).

Trata-se de uma instituição que irá constituir o braço social da OAM.

A mesma tem por objectivo prestar consultas, informação e assistência

jurídica a pessoas carenciadas.

Segundo Catarina Camal, coordenadora do IAJ, os advogados filiados à OAM des-

de sempre prestaram apoio jurídico às camadas carenciadas através das indicações

oficiosas dos tribunais. Contudo, por motivos de vária ordem, estes advogados po-

diam não cumprir o seu dever.

Assim, o IAJ aparece para regular a participação dos seus filiados na promoção do

acesso à justiça.

De acordo com Camal, a assistência jurídica do IAJ será também enquadrada no

capítulo de formação prática dos advogados. Assim, os advogados estagiários assis-

tidos por advogados seniores serão destacados para os tribunais assim como para o

gabinete de assistência jurídica da OAM, para assistir as comunidades carenciadas.

Questionada se as competências e a missão do IAJ não iriam conflituar com outras

instituições de assistência jurídica gratuita como é o caso de Instituto de Patrocínio

e Assistência Jurídica (IPAJ), a nossa entrevistada referiu que o IAJ é uma insti-

tuição que trabalhará em estreita colaboração com o IPAJ, visto que o objectivo é

comum: garantir o acesso à justiça aos cidadãos.

O funcionamento do IAJ será garantido pela OAM, mas com a demanda não se

fecham possibilidades de, no futuro, recorrer-se a outras fontes.

“Numa primeira fase, teremos 30 advogados estagiários acompanhados dos seus

patronos a garantir assistência jurídica. No entanto, com o aumento da demanda

poderemos alargar o número no futuro”, disse.

Catarina Camal referiu ainda que numa primeira fase o IAJ irá funcionar na cidade

de Maputo e no futuro será alargado para Beira e Nampula.

Sublinhar que a OAM é pessoa colectiva de direito público representativa dos li-

cenciados em direito que, em conformidade com os preceitos estatutários e demais

disposições legais aplicáveis, exercem a advocacia.

A Ordem dos Advogados é independente dos órgãos do Estado, sendo livre e autó-

noma nas suas regras e funcionamento. Tem, dentre várias atribuições, a função de

defender o Estado de Direito Democrático, os direitos e liberdades fundamentais e

participar na boa administração da Justiça;  promover o acesso à justiça, para além

de contribuir para o desenvolvimento da cultura jurídica. (R. Senda)

OAM cria IAJ

Page 7: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

7Savana 05-09-2014 SOCIEDADEPUBLICIDADE

Page 8: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

8 Savana 05-09-2014PUBLICIDADE

Page 9: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

9Savana 05-09-2014 PUBLICIDADE

Page 10: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

10 Savana 05-09-2014SOCIEDADE

U m documento do famig-

erado Ser viço Nacional

de Segurança Popular

(SNASP), obtido pelo

Ikweli-Centro de Jornalismo In-

vestigativo (Ikweli-CJI) sugere

que os mais altos responsáveis

do antigo Comité Político Per-

manente do Partido Frelimo foi

quem “orientou” a execução ex-

trajudicial de presos políticos

mantidos no campo de reeducação

de M’telela na província do Ni-

assa. Dos membros desse órgão

do Partido Frelimo mencionados

no documento, apenas Sebastião

Marcos Mabote é que faleceu. Os

restantes ainda encontram-se en-

tre nós – Armando Emílio Gue-

buza, Alberto Joaquim Chipande

e Marcelino dos Santos.

Barnabé Lucas Nkomo, autor do

livro “Uria Simango: um homem,

uma causa”, considera que foi “en-

contrada a prova cabal” e que as

“dúvidas começam a ficar dissipa-

das” sobre aquilo que é considerado

o crime mais bárbaro cometido pela

direcção da Frelimo, pouco depois

da proclamação da independência

nacional.

Até hoje, a direcção do Partido

Frelimo tem-se pautado por uma

posição ambígua quanto à respon-

sabilidade pelas execuções sumárias

dos presos políticos moçambica-

nos. Na primeira legislatura do

Parlamento pluripartidário, Sérgio

Vieira admitiu publicamente que

os presos políticos haviam sido

executados por ‘traição’, para anos

depois atribuir as execuções a ter-

ceiros que agiam à revelia do poder

executivo moçambicano.

Seja como for, os restos mortais

dos rotulados “reaccionários” su-

mariamente executados no Niassa

não foram entregues aos familiares

para, como mandam os costumes e

as tradições, realizarem os funerais

dos seus entes queridos.

Leia a história nas linhas que se seguem.Do documento

De acordo com o documento na

nossa posse, a Direcção de Segu-

rança dos Responsáveis (DSR) do

SNASP emitiu, a 8 de Novembro

de 1978, a ordem de serviço Lga-

N/78 SECRETO, onde informa

os Serviços de Segurança dos Re-

sponsáveis (SSR), da província do

Niassa, do seguimento em viagem

de Armando Guebuza, Marcelino

dos Santos, Alberto Chipande,

Sabastião Marcos Mabote (já fal-

ecido), para aquele ponto do país.

Todos eles eram membros do Com-

ité Político Permanente do Partido

Frelimo, órgão máximo daquela or-

ganização durante o regime mon-

olítico e totalitário.

O mesmo documento informa

ainda que na delegação vinham

incluídos Lagos Lidimo e Manuel

Jeremias Chitupila. Quem assina

o documento é o director da DSR,

Mateus Óscar Kida, hoje titular do

pelouro dos Combatentes do con-

sulado de Armando Guebuza.

Aos SSR cabia, de acordo com o

documento “...a missão de fazerem

a protecção aos responsáveis do

partido e das FDS (NR: Forças de

Defesa e Segurança) que irão ori-

entar o acto da transferência dos

elementos mantidos no centro de

reeducação dos políticos”(Sic).

O autor de “Uria Simango: um

homem, uma causa” relata no seu

‘best-seller’ que quem conduziu

os presos ao local das execuções

sumárias foi o comissário políti-

co do Ministério da Segurança-

SNASP, Major Abel Assikala. Este

integrava uma delegação de alto

nível que se deslocou propositada-

mente a M’telela em viaturas ofi-

ciais do governo provincial de Ni-

assa, na altura dirigido por Aurélio

Manave, entretanto, ele também

já falecido. As ordens terão sido

transmitidas pelo então vice-min-

istro da Segurança, Salésio Teodoro

Nalyambipano, em cumprimento

de uma decisão tomada pelo Com-

ité Político Permanente do Par-

tido Frelimo. Nalyambipano é hoje

presidente da Comissão de Títu-

los Honoríficos e Condecorações,

tendo desempenhado as funções de

embaixador extraordinário e pleni-

potenciário de Moçambique em

Luanda por incumbência do Presi-

dente Chissano.

De facto, o documento obtido pelo

Ikweli-CJI diz que “o responsável

máximo da DP vai representar este

Serviço...” Segundo apurámos, o

Major Abel Assikala era esse re-

sponsável.

O autor de “Uria Simango: um

homem, uma causa” relata na sua

obra que, aquando da sua abertura

em 1976, o centro de reeducação de

M’telela tinha cerca de três mil e

seiscentos presos políticos e quan-

do este encerrou, nos inícios da dé-

cada de oitenta, só restavam cerca

de quatrocentos detidos. Estes da-

dos sugerem o extermínio de mais

de três centenas de nacionais.

Um crime de EstadoÉ sabido que as execuções das

vítimas do conhecido Processo de

Nachingwea tiveram lugar nas cer-

canias da estrada que liga M’telela

a Chiputo, no Niassa. A não ser que

venha a ser possível negar a auten-

ticidade do documento a que temos

vindo a fazer referência, ficam dis-

sipados os rumores e encontradas

as datas precisas em que se decid-

iu sobre o destino a dar ao grupo

composto por Uria Simango, Joana

Simeão, Lázaro Nkavandame, Pa-

dre Gwengere, Raul Casal Ribeiro.

Por esclarecer na sua plenitude as

execuções de Celina Simango, Lú-

cia Casal Ribeiro, Paulo Gumane,

Adelino Gwambe, Basílio Banda,

Eugénio Zitha, entre outros.

Quando a notícia de que os denom-

inados “reaccionários” haviam sido

extrajudicialmente executados cor-

ria o mundo, o governo de Samora

Machel, através do Ministério da

Segurança, emitiu a ordem de acção

5/80 (ver caixa desta matéria), para

se justificar de tão ignóbil acção.

Desde a eclosão deste dossiê, que

ao mais alto nível do partido Fre-

limo, o silêncio parece ter sido o

pacto assinado entre todos os ac-

tores envolvidos directamente no

morticínio de M’telela. Nunca

ninguém quis assumir a sua parte

na paternidade do plano maca-

bro. Fernando dos Reis Ganhão,

primeiro reitor da Universidade

Eduardo Mondlane (UEM) e

membro do Comité Central da

Frelimo, disse nos últimos dias da

sua vida, em entrevista ao autor da

obra “Uria Simango: um homem,

uma causa”, que “a ordem tinha

sido de Aurélio Manave”. Ganhão

transferia deste modo a responsa-

bilidade das execuções sumárias

para Manave, alegadamente por

este ter ficado aborrecido com um

‘moço que namorava com a sua fil-

ha’. Em “Memórias indeléveis dos

‘anos da peste’”, (SAVANA, edição

de 19 de Maio de 1995), Pita Fil-

ipe relata em pormenor o episódio

do tal moço, mas só que não existe

qualquer relação entre este caso e

as execuções sumárias dos presos

políticos mantidos em M’telela.O

“moço” que namorava a filha Anab-

ela (falecida numa emboscada da

Renamo a caminho da Namaacha),

era Manuel (Manolo) Cabral, irmão

do fotógrafo Ze Cabral, ainda vivo

e residente em Maputo que de facto

foi à reeducação, mas parece que

não tem nada a haver com M’telela)

Com o documento que o SAVANA

hoje publica, fica clara a responsab-

ilidade da direcção máxima do Par-

tido Frelimo no destino final dado

a dissidentes políticos, fuzilados

extrajudicialmente depois de um

julgamento popular em Nachigwea,

nas vésperas da independência de

Moçambique.

A tese que cai por terraO Ikweli-CJI foi ouvir Barna-

bé Lucas Nkomo, o pesquisador

moçambicano que escreveu sobre

os factos decorridos em M’telela.

Para Nkomo, “com esta prova doc-

umental que me parece autêntica,

cai por terra a tese de que as figuras

do topo da Frelimo não sabiam de

nada”. De acordo com a fonte fi-

cam dissipadas as dúvidas sobre o

ano da execução dos ‘reaccionários’.

“Foi em 1978, não tenho dúvidas”,

disse Nkomo.

Ordem de execuçãoEm entrevista concedida ao canal STV

em 2010, Sérgio Vieira confirmou a au-

tenticidade da Ordem de Acção assina-

da por Jacinto Veloso, contrariando as-

sim Óscar Monteiro que, em entrevista

a mesma estação televisiva considerara

o documento de “fictício”.

Seja como for, não restam dúvidas de

que a ordem de execução dos presos

políticos partiu da direcção máxima do

Partido Frelimo. Numa entrevista con-

cedida à comunicação social moçam-

bicana em Janeiro de 1991, o então

Presidente Joaquim Chissano afirmava:

“em qualquer país a revolução tem as

suas regras e normas e é normal que

esses indivíduos (os referidos presos

políticos) tenham sido tratados de

acordo com essas normas”, tendo acres-

centado: “neste momento, em que que-

remos criar a unidade e harmonia seria

bom que não abríssemos esses dossiês.”

Marcelino dos Santos, o número dois

da hierarquia da formação política no

poder em Moçambique por altura das

alegadas execuções em 1978, confir-

mou ao canal TVM que as execuções

sumárias haviam sido ordenadas pela

direcção máxima do Partido Frelimo.

Em entrevista concedida a Emílio

Manhique (programa «Singular» de

19 de Setembro de 1997), Marcelino

dos Santos afirmava ter havido “a ten-

tativa do inimigo de buscar elementos

moçambicanos descontentes, em par-

ticular aqueles que pudessem ser-lhes

bastantes úteis.” Na mesma entrevista,

Marcelino dos Santos frisou: “sobreveio

aquela consciência que nós tínhamos

inicialmente de que são traidores e que,

portanto, deveriam ser executados.”

Segundo o investigador britânico, Alex

Vines, existiu um plano da Renamo

para se desencadear um assalto ao cen-

tro de reeducação onde se encontravam

os dissidentes políticos moçambicanos.

Ao que apurámos, a Frelimo teve con-

hecimento desse plano, como confirma

Marcelino dos Santos, e que visava

transformar os presos políticos, uma vez

libertados do cativeiro, numa direcção

legítima da oposição moçambicana.

Isto, quando a Renamo ainda dava os

primeiros passos e não dispunha de no-

mes sonantes a enquadrar a sua acção

política, que a distanciasse da paterni-

dade rodesiana. A opção por um assalto

ao campo de M’telela terá surgido uma

vez esgotadas as diligências feitas junto

de Domingos Arouca para que este as-

sumisse a direcção da Resistência Na-

cional Moçambicana, o que não acon-

teceu devido a divergências entre o líder

da FUMO e Orlando Cristina.

*Coordenador da Ikweli-Centro de Jornalismo Investigativo

A(s) mão(s) de Guebuza no “dossiê M’telela”

O Comité Político Permanente do Partido Frelimo, saído

do III Congresso desta formação política em Fevereiro

de 1977, era constituído pelas seguintes personalidades,

por ordem hierárquica:

Samora Moisés Machel

Marcelino dos Santos

Joaquim Alberto Chissano

Alberto Joaquim Chipande

Armando Emílio Guebuza

Jorge Rebelo

Sebastião Marcos

Mariano de Araújo Matsinhe

Óscar Monteiro

Jacinto Veloso

Mário da Graça Machungo

Texto de Luís Nhachote*

Page 11: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

11Savana 05-09-2014 PUBLICIDADE

Page 12: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

12 Savana 05-09-2014OPINIÃO

O Luís Honwana e eu somos

amigos. É uma amizade

antiga, de décadas, se não

mesmo de séculos.

É daquelas amizades em que os

amigos não se procuram e lhes bas-

ta saber que existem, como dizia o

Vinícius de Moraes, que de poesia e

amizade sabia ele, e muito.

Quero deixar bem claro que essa

amizade em nada perturba ou afecta

os meus juízos sobre o Luís ou a sua

obra, e tudo quanto eu disser tem o

cunho da maior sinceridade.

Poucas pessoas nesta sala poderão

talvez reconstituir o que era Mo-

çambique em 1964. Mas podem

tentar viajar no tempo e, assim, ima-

ginar o que seriam as suas paisagens

físicas e humanas nessa altura, que

bizarras e insólitas sociedades eram

aquelas, como se estruturavam e

funcionavam, e estranhar como não

era tão claramente previsível o des-

fecho histórico em que tudo aquilo

iria desaguar. A revisitação desse

passado de pesadelo resultará muito

mais fácil se lerem com cuidado e

muita atenção cada uma das histó-

rias que compõem o “Nós matámos

o Cão Tinhoso”.

Para mim, esta obra ilustra, simulta-

neamente, dois milagres:

- por um lado, que ela tenha sido

escrita por um genial jovem moçam-

bicano naquele ano de 1964 e então

publicada, o que caiu, como diria o

personagem Quim do Cão-tinhoso,

como uma bomba atómica na sono-

lenta sociedade colonial;

-que ela se tenha logo tornado um

marco de referência da literatura

moçambicana e africana, e que a sua

perenidade ficasse tão solidamente

assegurada, que estamos aqui, passa-

dos cinquenta anos, a celebrá-la.

Por isso atrevo-me a dizer, sem re-

ceio de escandalizar ilustres aca-

démicos neste acto presentes, que

com um pequeno (em volume) livro,

o Luís passou a representar, ressal-

vados os contextos bem diferentes,

para a literatura moçambicana o que

Cervantes representa para a espa-

nhola.

Nós Matamos o Cão Tinhoso de-

limita claramente dois períodos da

prosa moçambicana. Da poesia não

falo agora, pois aí a conversa teria de

ser outra. Antes desta obra é como

se não existisse narrativa moçambi-

cana, ou o que se produziu é de baixa

intensidade e mediana qualidade.

Depois do Cão Tinhoso, e após se

ter dado a fermentação necessária, a

novelística moçambicana haveria de

ganhar novos fôlegos e alcançar pa-

tamares muito elevados de afirmação

literária. Basta mencionar o Mia, o

Ungulani, o Borges Coelho, a Pauli-

na Chiziane, que todos são herdeiros

tardios do Cão Tinhoso. Estou a co-

meter a injustiça de não identificar

muitos outros prosadores moçambi-

canos que se vão distinguindo pela

sua grande qualidade, dizia eu, basta

mencionar aqueles para que nos sin-

tamos orgulhosos e possamos dizer

que é extremamente rico o nosso pa-

trimônio ficcionista.

Como foi possível que sete pequenos

contos provocassem uma tão grande

revolução cultural?

Tenho como certo que, em matéria

de prosa literária, e se calhar o mes-

mo acontece nos outros domínios, é

só a qualidade que conta. Citando

apenas três autores da minha prefe-

rência e convívio mais frequente, di-

ria que ao Thomas Mann bastar-lhe-

-ia ter escrito A Montanha Mágica,

ao Hemingway O Velho e o Mar e

ao Garcia Márquez Os Amores nos

Tempos de Cólera, para lhes conferir

uma dimensão universal.

Daí que não me aflija ou inquiete o

facto de o Luís Honwana ter publi-

cado apenas este livro de sete contos,

e se calhar talvez nem todos sejam

contos, pois com ele se consagrou

logo um grande escritor.

A sua dimensão é tal que já outro

autor, em lugar bem distante, nos

brindou com um belíssimo conto

inspirado no Cão Tinhoso. Fiquei a sabê-lo quando a mão amiga da

Rita Chaves me enviou Nós chora-

mos pelo Cão Tinhoso, do escritor

angolano Ondjaki. O Cão Tinhoso

realizou, assim, o que o mapa cor de

rosa desconseguiu, saltando de um

lado ao outro do continente, para ser

recuperado pela escrita mágica de

um irmão angolano que nos brindou

com uma historia comovente, que

não é mais do que a imaginada leitu-

ra do conto do Luís Honwana numa

sala de aula.

Mas não se julgue que se esgotaram

já as virtualidades do Cão Tinhoso,

transcorridos que foram 50 anos.

Estou convicto de que nos anos

que hão-de vir, muitas mais vezes

os contos do Cão Tinhoso serão

reinventados, e deles, ou neles ins-

pirados, outras joias literárias hão-de

emergir.

É esse um dos fascínios das grandes

obras da literatura: quanto mais ve-

lhas, mais saborosas e apetecíveis se

tornam, e encontram sempre meios

de renascerem e nos desvendarem

segredos que não fomos capazes de

decifrar nos primeiros encontros.

O mesmo acontece com o Cão Ti-

nhoso, passados estes 50 anos, que

mantêm intacta toda a sua frescura

e intensidade criativa.

Não me inquieta o silêncio a que nos

castigou o Luís, mas tenho algumas

suspeitas que esse silêncio possa

ocultar algo, por motivos que vou

partilhar convosco, embora come-

tendo uma indiscrição que não sei se

ele me irá perdoar.

Há várias décadas, quando já nascera

o Cão Tinhoso, o Luís veio pedir-

-me que lhe emprestasse por uns

dias uma casa de que na altura era

dono na Namaacha, pois precisava

de isolamento e algum recolhimento

para poder escrever.

Evidentemente que a Olga e eu logo

lhe confiámos a casa e, no final da

sua estadia, ali nos deslocámos. O

Luís, com aquele excesso de boa

educação e generosidade que é seu

jeito de estar no mundo, propôs-se

ler-nos pedaços do que estivera a

escrever. Não porque tivesse que o

fazer, mas apenas para compartilhar

connosco o produto da sua estadia.

E do que a minha memória registou

depois de tantos anos transcorridos,

foram pedaços de prosa da mais alta

qualidade, na linha da escrita descar-

nada e da musicalidade metálica que

caracteriza o Cão Tinhoso, literatura

em estado puro, narração de pedaços

de vida transformados em arte.

Daí as suspeitas que antes vos men-

cionei.

Como muitos de vós sabem, o poeta

Fernando Pessoa pouca obra publi-

cou em vida, mas produziu imenso,

o que levou um intelectual luso que

cito de memória a dizer que parece

até que o homem não fez outra coisa

na vida senão escrever. Ao morrer, o

Fernando Pessoa deixou uma mala

ou baú cheio de manuscritos, onde

se continham muitos dos seus desas-

sossegos, e que, qual tesouro de Ali

Baba, permaneceram durante longo

tempo desconhecidos até que, lenta

e penosamente, foram sendo des-

vendados.

Pois eu, com aquela recordação da

Namaacha, desconfio que o Luís

poderá ter um baú do género lá em

casa. Se felizmente isto se vier a

confirmar, e o Luís decidir proce-

der a novo e actualizado Inventário

de Imóveis e Jacentes, mal consigo

sequer imaginar as surpresas que de

lá saltarão.

Mas exista ou não baú, pouco im-

porta.

O que importa, sim, é que o Luís

nunca desmereceu a celebridade que

lhe deu o Cão Tinhoso.

Penso ser importante referir o que

vou dizer a seguir, sobre o autor e

não tanto sobre a obra, embora nos

afaste um pouco do que estamos a

celebrar.

Faço-o porque autor e obra nunca se

podem dissociar, mormente quando

a grandeza da obra tem correspon-

dência em muitas qualidades do au-

tor.

Quem escreveu o Cão Tinhoso mi-

litou na clandestinidade, foi, des-

de muito jovem, um nacionalista

convicto, sofreu, na prisão, todas as

humilhações ignóbeis a que eram

sujeitos os presos políticos, nunca

atraiçoou as suas convicções e ideais,

e é, por tudo isso e muito mais, um

genuíno herói da luta de libertação

nacional.Não se espantem que eu use a pa-

lavra genuíno que tão maltratada e

conspurcada anda em utilizações

abusivas por espíritos toscos e me-

díocres que nem sequer entendem

os segredos da linguagem. É que

eu só reconheço o poder de estig-

matizar palavras a génios literários,

como o fez Sartre, ao utilizar no tí-

tulo de uma das suas famosas peças

de teatro a palavra respeitosa, que, a

partir dessa sua utilização, passou a

ter uma conotação injuriosa, quase a

exorcizando e tornando inutilizável.

O Luís Honwana é, sim, um genuí-

no herói da nossa cultura e da luta de

libertação nacional, e eu não tenho

qualquer dúvida ou hesitação em o

declarar aqui, neste local que tan-

to prezo, por mais insignificante e

destituído de efeitos que seja o meu

testemunho.

Todos nós sabemos que há muita

história recente de Moçambique por

escrever, e que a fase pós-indepen-

dência do nosso país foi marcada

por uma tendência antagonizante,

se é que não mesmo hostil, de cer-

ta intelectualidade, fruto de muitas

frustrações e complexos acumula-

dos, e que os efeitos dessa tendência

até tocaram esta Instituição (Ndr:

UEM) e não deixaram ainda de se

fazer sentir. Mais não direi porque

tudo se há-de a seu tempo desven-

dar, com o decantar lento e seguro

da história, que fará a depuração das

águas, purificando-as.

E já que mencionei águas e estou

a falar do Luís não posso deixar de

aludir a que o autor do Cão Tinho-

so navegou também pelos domínios

da política, bem no centro do poder,

que em nada o contaminou. Nisso

foi mais o personagem que o autor;

foi mais D. Quixote que Cervantes.

Mas o ter saído desse convívio ou

exercício do poder, sem mácula de

corrupção ou vil bajulação, deveu-

-se à sua coerência com os ideais que

sempre perfilhou e jamais aceitou

trair, e torna o Luís Honwana um

dos raros modelos da nossa socieda-

de, que pode e deve servir de inspi-

ração às novas gerações, tão carentes

de referências éticas e de exemplos

vivos que possam seguir.

*Intervenção editada feita na Univer-

sidade Eduardo Mondlane(UEM), a

propósito dos 50 anos de Nós Matá-

mos o Cão Tinhoso, que se assinalou

a 1 de Setembro corrente

Luís Bernardo Honwana e Nós Matámos o Cão TinhosoPor Rui Baltazar*

Excelência, queira en-

contrar nas pequenas

linhas que se seguem

um grito de protesto

de um dos milhares de clientes

da companhia de bandeira, que

(dizem-me) sabiamente dirige. 

Quero que saiba, nesta época

em que campeia o caos, e que

todos os meios justificam os

fins, que a mesma é-lhe diri-

gida com espírito imbuído de

patriotismo e moçambicani-

dade, com os quais consigo

notificar a “pátria de heróis” e

protestar com elevada cidada-

nia contra a máfia organizada. 

A empresa que (garantem-

-me mesmo) sabiamente

dirige, através do número

826040, está a bombardear

os seus clientes, com notí-

cias do partido no poder e do

seu candidato, Filipe Jacinto

Nyusi, em período eleitoral

(já tinham começado há dias).

Quero que saiba que a prin-

cípio em nada objecto tal ini-

ciativa “noticiosa”, mas acho

isso a todos os níveis tenden-

cioso, por não incluírem nesse

novo serviço, as “notícias” dos

candidatos da Renamo e do

MDM, respectivamente Afon-

so Dhlkama e  Daviz Simango

Isso é batota, excelência. É a

máfia que o senhor um dia,

no final do outro século, de-

signou de crime organizado

ao alertar em plena Assem-

bleia da República, da “cap-

tura do estado” a vários níveis.

Estamos de facto capturados

“camarada” Teodato Hungua-

na. Estamos capturados, e o

senhor acaba de dar a mais

inequívoca prova que estamos,

nesse seu estranho silêncio...

O core bussiness da empre-

sa que (não duvidarei mais do

que dizem) sabiamente dirige,

é prover de melhores serviços,

com os dinheiros públicos, que

garantem os confortos das pol-

tronas em que se senta naque-

le edifício amarelo, da baixa.

Na expectativa que de esta hu-

milde missiva lhe chegue, queira

aceitar os meus calorosos pro-

testos de irmandade, selada na

bandeira e no hino, e que mande

terminar essa pouca vergonha,

sob pena de o seu bom nome e

honra constarem das páginas da

hipocrisia e da mesquinhez.

Atenciosamente

Luís Filipe NhachoteMaputo aos 31 de Agosto de 2014 

Carta aberta a Teodato Hunguana, PCA da mCel

Luís Bernardo Honwana

Page 13: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

13Savana 05-09-2014 PUBLICIDADE

Page 14: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

14 Savana 05-09-2014Savana 05-09-2014 15NO CENTRO DO FURACÃO

Em tempos, o sistema ferro-portuário da Bei-ra foi um grande motor de desenvolvimento de

alguns países da África Aus-

tral sem acesso ao mar, nome-

adamente Zimbabwe, Zâmbia,

Malawi, Botswana, República

Democrática de Congo e até

África da Sul.

Com o conflito armado que devas-

tou o país durante 16 anos, o “mons-

tro” ficou completamente estagnado

e inoperacional. Mas o fim da guerra

trouxe nova esperança.

Porém, volvidos mais de 20 após o

fim do conflito armado, a “ressurrei-

ção” do sistema ferro-portuário da

Beira continua às cambalhotas e sem

conseguir gerar ao empreendimento

a competitividade necessária.

O Corredor de Desenvolvimento da

Beira compreende o porto, transpor-

te marítimo, ferroviário e rodoviário,

bem como os terminais de fronteiras.

A infra-estrutura está dotada de um

sistema ferroviário constituído pela

linha de Machipanda, com 317.7

km, que liga o Porto da Beira ao

vizinho Zimbabwe; linha de Sena

com 547 km, que parte do distrito

do Dondo até à vila de Moatize e

Corredor da Beira, um activo sub-aproveitado o ramal de Marromeu, com 82 km,

que liga Inhamitanga à vila de Mar-

romeu.

Conta ainda com o ramal que liga o

Malawi, com 44 km a partir da ponte

dona Ana, em Mutarara, bem como

da estrada que liga a cidade da Beira

ao Zimbabwe, Zâmbia e Malawi.

Para inteirar-se do actual estágio

daquele “gigante” regional, o SAVA-

NA escalou a cidade da Beira, capi-

tal provincial de Sofala, e constatou

que, apesar das concessões feitas

a privados, investimentos e acções

de modernização, o sistema ferro-

-portuário continua longe das po-

tencialidades exibidas nos primeiros

anos da independência, para além

de continuar com baixos índices de

competitividade.

Tão perto, tão longeComparado com os portos mais

próximos, como Durban, na África

do Sul, e Dar-Es-Salaam, Tanzânia,

o Porto da Beira é o mais próximo

dos principais pontos industriais do

Zimbabwe, Zâmbia, Malawi e Re-

pública Democrática de Congo, mas

é o menos usado.

Importadores, exportadores e ope-

radores dos países do “interland”

preferem fazer o dobro da distância

e recorrer aos Portos de Durban e

Dar-Es-Salaam, ignorando o Porto

da Beira.

A título de exemplo, tirar uma to-

nelada de mercadoria de Harare

(Zimbabwe), para o Porto da Beira e

vice-versa, custa 72 dólares america-

nos. A mesma mercadoria, de Hara-

re para Durban, custa 222 dólares, e

para o Porto de Dar-Es-Salaam são

342 dólares por tonelada.

A mercadoria que sai da cidade ma-

lawiana de Blantyre para o Porto da

Beira custa 106 dólares por tonelada,

mas quando sai ou entra via Dur-

ban tem um custo de 302 dólares

enquanto para Dar-Es-Salaam são

264 dólares americanos. As mesmas

diferenças verificam-se também para

Lusaka e Kitwe (Zâmbia) e Lubum-

bashi na República Democrática de

Congo.

Apesar da distância e o preço serem

mais favoráveis ao Porto da Beira, os

operadores optam pelas alternativas

mais distantes e dispendiosas.

Perante este quadro, o SAVANA

procurou, junto dos principais inter-

venientes, saber sobre as razões do

pouco aproveitamento do Porto.

Os gestores do sistema ferro-portuá-

rio negam que o corredor esteja a ser

abandonado. Culpam a guerra dos

16 anos pela estagnação e dizem que,

com os investimentos que se estão a

verificar nos últimos tempos, muitos

operadores estão a regressar.

Porém, os operadores e agentes eco-

nómicos afirmam que o sistema-fer-

ro-portuário da Beira é ineficiente e

não oferece a segurança desejada.

O empreendimento enfrenta sérios

problemas de dragagem do canal

de acesso, não oferece condições de

navegação nocturna e o sistema fer-

roviário não responde à demanda. As

ineficiências incluem ainda a infor-

mação precária e o desajuste entre os

regulamentos e a promoção da com-

petitividade.

Devido à ineficiência do transporte

ferroviário, a carga é transportada

por camiões, o que origina conges-

tionamentos nos acessos ao Porto e à

cidade da Beira.

No recinto portuário, o sistema de

segurança tem cometido falhas. Esta

situação é particularmente grave

para o Terminal de Petróleo, onde,

constantemente, são reportados ca-

sos de roubo de combustível.

Além disso, falta espaço para o es-

tacionamento de camiões dentro do

perímetro do Porto.

As dificuldades criadas pela locali-

zação do equipamento de inspecção

não intrusiva (scanners) e os atrasos

nos procedimentos de desalfandega-

mento resultam em longas filas de

camiões fora do Porto.

Os operadores são obrigados a ficar

dias à espera de vez dos seus cami-

ões entrarem no Porto para carregar

mercadoria e, enquanto esperam, são

cobrados pelo uso do parque de es-

tacionamento e vulneráveis a vários

riscos, incluindo roubo de pneus, ba-

terias e outras peças e até a própria

carga.

A segurança não é o único proble-

ma que afecta o Porto da Beira. A

linha de Sena é actualmente a única

via usada na exportação de carvão.

Além disso, a linha é necessária para

o transporte de outras cargas e pas-

sageiros.

No entanto, o seu uso é regularmen-

te problemático. O aumento da pro-

dução de carvão na bacia de Moatize

e, portanto, mais investimentos para

o país, é dependente do funciona-

mento do Porto e Corredor da Beira.

As ligações rodoviárias ao longo do

Corredor estão em péssimo estado

e, quem conduz, fica sujeito a uma

condução perigosa. Tanto a ligação

ferroviária como o Porto são inade-

quados para o nível de desenvolvi-

mento que pode e deve ter lugar no

centro do país.

Mike Roeder, transportador zam-

biano, disse, em conversa com o SA-

VANA, que o Porto da Beira tem

todas as potencialidades para ser o

melhor da região.

Possui muitas vantagens em relação

aos outros da região, porém, os pro-

blemas de gestão tornam-no menos

competitivo.

Roeder diz que não se explica que

um Porto que foi concebido para que

90% de carga fosse movimentada via

ferroviária, apenas 10% seja trans-

portada por comboio.

“Hoje, 80 a 90% da carga manuseada

no Porto da Beira é transportada via

rodoviária. Diariamente, são cerca de

Assim, para contornar essas incer-

tezas, o operador prefere desviar a

mercadoria para Durbam ou Dar-

-Es-Salaam, onde sabe que, apesar

dos custos elevados, chegará no dia

marcado e com segurança.

Exemplificando, Mike Roeder refe-

riu que um comboio transporta em

média cerca de 1600 toneladas de

mercadoria. Um camião não carrega

acima de 30 toneladas. Assim, para

atingir 1600 toneladas são necessá-

rios 600 camiões.

“Isso é complicado e ninguém está

para isso”, lamentou.

Outro operador, que recusou se

identificar, contou-nos que um navio

de fertilizantes transporta em média

cerca de 10 mil toneladas.

Com o sistema ferroviário fragiliza-

do, essa mercadoria chega ao destino

(Malawi) através de camiões.

“Imagine quantos camiões devem

ser mobilizados para transportar 10

mil toneladas de fertilizantes para

Malawi. Como é que estão as estra-

das da Beira para Malawi, quanto

tempo irá durar a operação, os ris-

cos, os custos de estacionamento e

da logística do pessoal? Todas essas

despesas são arcadas pelo operador.

Isso faz com que a via se torne in-

viável. Assim, os operadores mala-

wianos preferem gastar mais e levar

a mercadoria para Dar-Es-Salaam”,

desabafou.

A empresa Caminhos Ferros de Moçambique

(CFM) reconhece a situação e diz que, “de

facto, hoje, o cenário é preocupante”. Diz que

a degradação do sistema ferroviário deveu-se

à fraca capacidade de resposta à demanda por parte da

concessionária Companhia dos Caminhos de Ferro da

Beira (CCFB), facto que obrigou os clientes a recorrer

ao transporte rodoviário em detrimento da ferrovia.

“Está difícil circular nas estradas devido ao enorme

fluxo de camiões. No Porto da Beira, chegam a mo-

vimentar-se cerca de 600 camiões, por dia, tornando o

porto congestionado, devido à limitação de espaço. O

contorno da situação passa pelo aumento de vagões e

locomotivas por parte dos CFM, incluindo a melhoria

na linha de Machipanda”, disse Boaventura Mahave,

director ferroviário dos CFM-Centro.

Segundo o dirigente, em 2004, o Governo concessio-

nou à CCFB o sistema ferroviário da Beira, com o ob-

jectivo de reabilitação, reconstrução, desenvolvimento,

gestão, operação e exploração das linhas.

Para tal, entregou infra-estruturas como linha férrea,

estações, oficinas, habitações para os trabalhadores, lo-

comotivas e vagões, que pudessem dar continuidade ao

transporte de carga do Porto da Beira, para o Zimba-

bwe e vice-versa, incluindo o tráfego nacional.

Porém, sete anos depois, isto é, em 2011, não havia

evolução positiva por parte da concessionária, os servi-ços prestados aos clientes estavam a baixar de ano para

ano, sem planos concretos de recuperação.

Sublinhou que a disponibilidade de locomotivas e va-

gões iam reduzindo, fazendo com que os tradicionais

clientes dos serviços ferroviários deixassem, aos poucos,

de usar o comboio, para o transporte das suas cargas e

passassem a usar a via rodoviária como alternativa.

Segundo o director ferroviário, a empresa está a reabi-

litar 306 vagões e três locomotivas. Para minimizar o

défice de locomotivas, foram alugadas a terceiros nove

locomotivas. Para o transporte de passageiros, estão

disponíveis 13 carruagens.

Com vista a pôr o sistema ferroviário a funcionar em

pleno, a empresa CFM está a apostar forte na reabili-

tação de infra-estruturas e da linha de Machipanda. O

grande objectivo é reduzir o número de descarrilamen-

tos e do tempo que os comboios levam na linha.

“Quando recebemos a empresa do CCFB, em média,

um comboio levava mais de 24 horas da Beira até Ma-

chipanda. Hoje, o tempo está a baixar para 16 a 18 ho-

ras”, vangloriou-se .

A direcção ferroviária dos CFM-Centro nega que a li-

nha de Sena esteja a operar acima das suas capacidades.

Mahave referiu que a linha de Sena tem capacidade de

6,5 milhões de toneladas/ano e ainda não se atingiu

essa capacidade.

“Na linha de Sena, temos em média 25 comboios por

dia, sendo 20 de transporte de carvão e os restantes

dos CFM, que transportam carga diversa, passageiros

e comboios de serviço. Este número tende a aumentar,

com a aquisição de mais meios por parte das operado-

ras”, afirmou.

Por Raul Senda / Fotos de Naíta Ussene

A fim de promover a par-

ticipação privada na

gestão do empreendi-

mento, reduzindo cus-

tos operacionais, através da mo-

dernização das infra-estruturas e

satisfação dos clientes, o Porto da

Beira, mais concretamente os ter-

minais de contentores e de carga

geral, foram concessionados, por

um período de 25 anos, à Cornel-

der de Moçambique, em Outubro

de 1998. A Cornelder de Moçambique é

uma sociedade de capitais moçam-

bicanos e holandeses. Os Caminhos

de Ferro de Moçambique (CFM)

detêm 33% e os privados 67%. A

Focus 21, a holding da família pre-

sidencial, detém uma importante

participação na estrutura reservada

aos privados.

Um dos objectivos da concessão

era a angariação de mais tráfego,

estímulo à concorrência através da

aplicação de tarifas concorrenciais.

Quinze anos depois, a direcção da

Cornelder diz que muita coisa me-

lhorou graças a um conjunto de in-

vestimentos feitos pelo seu grupo.

Carlos Mesquita, administrador

delegado da Cornelder de Moçam-

bique, diz que, apesar dos investi-

mentos, os problemas persistem na

medida em que as operações ferro-

-portuárias não dependem duma

única entidade. São várias institui-

ções que são chamadas, e se uma delas

falha, compromete toda a cadeia.

Apontando os problemas que afectam

a competitividade do Porto da Beira,

Mesquita referiu-se à dragagem do ca-

nal de acesso.

Segundo o dirigente, nos últimos anos

a situação melhorou, mas não na totali-

dade. Outro problema relaciona-se com

o facto de o porto depender de marés.

“Por causa dos problemas de marés,

temos situações em que o navio termi-

na as operações, mas não pode sair do

porto porque a maré está baixa. A per-

manência do navio no porto tem custos

e se não está a fazer nada está a somar

despesas. Isso enfurece os operadores,

porque é a eles que são imputados os

custos”, queixou-se.

Soubemos de Mesquita que a perma-

Há melhorias -

700 a 800 camiões que vão ao Porto

e a infra-estrutura não está prepara-

da para tanta demanda”, disse.

Para ele, um aspecto que pesa nas

decisões de um operador da sua área,

que tem de fazer chegar suas enco-

mendas a destinos como Bulawayo,

Kitwe ou Lilónguè é a previsibili-

dade. A certeza é a alma do negócio

para um porto, esclarece a fonte.

“Quando um cliente faz uma enco-

menda, ele estabelece um calendário

também em função das necessidades

dos seus clientes. Mas, devido à in-

fra-estrutura deficiente e má gestão

no Corredor da Beira, os operadores

funcionam na incerteza”, diz Mike

Roeder.

Problemas de dragagem de canal do acesso impedem a entrada de navios de grande calado no Porto da Beira

nência do navio no porto pode custar

entre USD40 a 50 mil por 24 horas.

Carlos Mesquita falou também de pro-

blemas de navegação nocturna, que não

pode ser efectuada no Porto da Beira.

Lamentou também o facto de, em caso

de mau tempo, o porto chega a ficar

entre quatro a cinco dias sem receber

navios.

“A criação de condições para navegação

nocturna não depende dos gestores do

porto. Depende do Instituto Nacional

de Hidrografia e Navegação, o mesmo

verifica-se com a dragagem do canal. A

falha de um destes sistemas prejudica-

-nos”, disse.

No que concerne aos meios de trans-

porte, Mesquita referiu que também há

sérios problemas que influenciam na

competitividade do Porto da Beira.

A título do exemplo, o gestor sénior da

Cornelder referiu que a falta de meios

de transporte, sobretudo ferroviários

para satisfazer a grande procura de ser-

viços do Porto da Beira, faz com que

os operadores recorram ao transporte

rodoviário, o que traz transtornos aos

operadores bem como aos gestores por-

tuários que não têm logística suficiente

para albergar o elevado número de ca-

miões.

“Hoje é notável que as vias de acesso ao

Porto da Beira não foram desenhadas

para o volume de negócio que se movi-

menta”, disse.

Mesquita referiu que o uso do trans-

porte rodoviário em detrimento do

ferroviário faz com que o tempo

de permanência de cargas nos ter-

minais de contentores e carga geral

leve mais tempo para o seu escoa-

mento, facto que influencia negati-

vamente no bom desempenho das

operações portuárias.

Mesmo com estes constrangimen-

tos, o volume de carga manuseado

no Porto da Beira está a aumentar

de ano para ano.

Em 2013, o Porto da Beira manu-

seou 185 mil contentores e para

o presente ano projecta manusear

cerca de 210 mil contentores. No

que concerne à carga geral, o Porto

da Beira manuseou no ano passado

cerca de 2.2 milhões de toneladas

e para o ano 2014 a previsão é de

manusear cerca de três milhões de

toneladas.

No ano 2000, pouco depois da

concessão, o Porto da Beira manu-

seou apenas 34 mil contentores e

cerca de meio milhão de toneladas

de carga geral.

No capítulo referente aos investi-

mentos, o administrador delegado

da Cornelder de Moçambique re-

feriu que já foram gastos cerca de

USD120 milhões na moderniza-

ção de infra-estruturas e aquisição

de novos meios.

A Cornelder tenciona investir cer-

ca de 300 milhões de dólares na

construção do novo cais.

Page 15: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

16 Savana 05-09-2014PUBLICIDADE

A Eni East Africa S.p.A., uma sociedade constituída sob as leis da Itália com representação comercial na República de Moçambique (adiante designada “eni east Africa”), Opera-

República de Moçambique, no âmbito da sua estratégia de

-

A eni east Africadesignadas como “Candidatos”, a participarem da Mani-festação de Interesse para o potencial Concurso abaixo:

--

-

--

-Engineering and Project Service Contrac-

tor

-Project Services

--

Site/Site Characterization Supervision, Human Factors Engi-neering, Cumprimento com os Regulamentos Estatutá-rios e Requisitos de Conteúdo Local, Commissioning and Start Up Services.

---

Pa-cote da Manifestação de Interesse.

O Pacote da Manifestação de Interesse será forneci-do somente aos Candidatos interessados que preen-

Caso os Candidatos pretendam participar na fase de

--

da sobre o papel de cada participante neste potencial -

-

suportada por um Acordo de Joint Venture ou de

-

documentação solicitada no pacote de Manifestação de Interesse.

-bida até ao dia 26 de Setembro de 2014, devendo ser enviada para o seguinte endereço electrónico [email protected] -

Onshore”.

Ao responder ao Anúncio Público e durante a fase

-cio Público e com a Manifestação de Interesse, con-forme o caso, apenas por escrito para o endereço de E-MAIL acima indicado.

escrito da eni east Africa no sentido contrário, os -

da eni east Africa com relação ao presente Anúncio Público e Manifestação de Interesse.

Planta de LNG Onshore -do em Moçambique (englobando 2 fábricas de lique-

-

Construção, Testagem de Sistemas, Commissioning and Start Up, e operação inicial até ao Main Performance Test.

Âmbito do Trabalho

Projecto de Desenvolvimento em MoçambiqueConvite para Manifestação de Interesse

Page 16: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

17Savana 05-09-2014 PUBLICIDADE

Eni East Africa S.p.A., a company incorporated under -

“eni east Africa”---

eni east AfricaExpres-

sion of Interest

Mozambique Development ProjectPublic Announcement for Expression of Interest

Scope of Services

-

--

ment and Contract Administration, Quality Control -

ment, System testing, Commissioning and Start Up, and initial operation up to Main Performance Test.

---

pate, please submit your letter of interest duly signed by

-

--

-ry Regulations and Local Content Requirements, Com-

submission, eni east Africa-

-Expression of Interest

eni east Africa.

-

--

ture, Consortium or similar corporate structure, in-

similar corporate structure, must be supported by a Joint Venture or Consortium agreement or a “Memo-

26th September 2014 and shall be sent to the following E-MAIL address [email protected], specifying “Subject: Expression of Interest – Project Man-agement Services (PMS) for EPC Onshore LNG Plant”.

-

-

E-MAIL address.

eni east Af-rica

-

contractor or secondee of eni east Africa in connec-

of Interest.

Page 17: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

18 Savana 05-09-2014OPINIÃO

CartoonEDITORIAL

“Quando apontas a

montanha, o imbe-

cil olha para o teu

dedo!”(ditado popular

da Rússia)

Alguma imprensa escrita tem

se esforçado em denegrir o

trabalho que o Centro Ter-

ra Viva - CTV tem estado a

realizar em prol das popula-

ções abrangidas pelo projec-

to de construção da fábrica

(pertencente a uma empresa

multinacional) de liquefacção

de gás, no Distrito de Palma,

Cabo Delgado, mormente, o

aconselhamento às mesmas

no sentido de exigirem a ob-

servância dos seus legítimos

direitos, antes e depois da

instalação.

Na minha óptica, esse “com-

bate” ao CTV é absurdo, por-

que, lendo, relendo e pedin-

do aos mais sábios para que

leiam e interpretem, não en-

contro razão para tal e, como

tal, chego a pensar que essa

imprensa é machista, uma

vez que o CTV é dirigido por

uma mulher, e “em África, a

mulher não pode e nem deve

tocar assuntos de grande re-

levância, pois existem os Ma-

dotas, pronto! Para que haja

um entendimento profundo

sobre o trabalho do CTV, tra-

go aqui o registo de exemplos

de graves falhas humanas dos

mega-projectos; das multina-

cionais, em algumas partes do

mundo: dê uma pausa e olhe

para a etiqueta das suas sapa-

tilhas, das suas roupas NIKE,

ADIDAS ou REEBOK.

Olhe para a etiqueta da roupa

da GAP… - Verás “made in

Indonésia, Made in Vietna-

me, Made in India, Made in

China…”, porque não “made

in USA, Made in UK…” se

são empresas desses países, à

excepção da China que com-

prou respectivas patentes e,

consequentemente, regula os

impactos?

- Os trabalhadores das fá-

bricas NIKE, na Indonésia,

recebem (como salário), 4%

do preço de venda ao público

das sapatilhas que produzem,

valor que não chega nem para

comprar os atacadores! Na

mesma Indonésia, nas fábri-

cas que produzem vestuário

GAP para a Grã-Bretanha e

América, os trabalhadores, na

sua maioria mulheres jovens,

chegam a trabalhar 36 horas

de tempo consecutivas, em

temperaturas que chegam a

atingir os 40ºC. Adjacentes

às fábricas, como destroços

de uma grande tempestade,

encontram-se os campos de

trabalho onde os operários vi-

vem: comunidades hobbesia-

nas amontoadas em compri-

dos dormitórios, com esgotos

transbordantes em céu aberto

e água imprópria para consu-

mo. Junto das suas habitações

correm canais poluídos, pro-

vocando uma forma virulenta

da febre dengue. Portanto, es-

tas fábricas foram instaladas

naqueles países, uma vez que

as mesmas são altamente po-

luentes e para que haja explo-

ração de mão-de-obra!

Entendo que o CTV este-

ja a preparar as populações

no sentido de as mesmas se

erguerem visando evitar ou

ao menos diminuir as falhas

humanas que, geralmente,

caracterizam os mega-pro-

jectos: O CTV está a apontar

a montanha: olhemos para a

montanha e não para o dedo

do CTV.

Tenho dito.

Hermínio Paulino Chissico.

Depois de quase dois anos de incerteza e dor, moçam-

bicanos voltam a experimentar alguns momentos de

alegria e de esperança por um futuro de glória, tran-

quilidade, paz e progresso.

Em menos de duas semanas, os negociadores do governo e da

Renamo selaram o acordo que marca o fim das hostilidades

políticas e militares, a campanha eleitoral arranca com toda

a cor e brilho que dela se espera e, esta semana, registamos o

regresso de Afonso Dhlakama ao convívio nacional.

Isto tudo não foi obra do acaso. Foi necessário que homens de

fortes convicções e de ilimitado orgulho sentissem que esses

atributos nunca se podiam sobrepor aos interesses mais su-

blimes da maioria e que despir-se deles para assumir a inevi-

tabilidade do processo negocial era a coisa mais correcta que

deviam fazer.

E a campanha eleitoral já em curso, com toda a euforia que a

acompanha, é o sinal mais inequívoco da esperança dos mo-

çambicanos sobre o seu futuro. Embora se esteja ainda nos

primeiros dias, é sintomático o clima de tolerância e de respei-

to pelo adversário que tem sido característica desta campanha

eleitoral.

Esperemos que as coisas continuem assim e que os principais

intervenientes percebam que a preciosidade da vida humana

não se pode sujeitar às fantasias do jogo político. Depois das

eleições, a vida terá que continuar a tocar para a frente.

Uma campanha eleitoral ordeira, onde as rivalidades político-

-ideológicas não se confundem com inimizades, é a base para a

realização de um escrutínio justo, livre e transparente.

Não que os partidos políticos, os seus candidatos e apoiantes se

substituam aos órgãos de administração eleitoral em garantir

que as eleições sejam perfeitas. Mas a atitude dos intervenien-

tes políticos em relação uns aos outros determina o grau de

envolvimento ou não dos gestores do processo em questões

marginais e mundanas, que os desviam da sua principal res-

ponsabilidade de garantir um processo limpo.

Neste processo, o papel da polícia não deve passar sem alguma

menção. Relatos de uso excessivo de força para lidar com ques-

tões de rotina, próprias de ambientes de elevada emoção, têm

sido frequentes durante processos eleitorais em Moçambique

e referidos pelos partidos políticos da oposição como factores

que influenciam os resultados.

Se isso corresponde à verdade ou não, o que é certo é que a

polícia deve ser proporcional na sua actuação. A sua função

é garantir que as eleições tenham lugar num ambiente de se-

gurança, não se transformar, ela própria, em protagonista para

manchar o processo.

Deve ser obrigação de todos que a campanha eleitoral, agora

nos seus primeiros dias, decorra de forma prestigiante, num

processo em que os resultados reflictam exactamente as verda-

deiras aspirações dos eleitores.

Um momento de esperança

Registado sob número 007/RRA/DNI/93NUIT: 400109001

Propriedade da

Maputo-República de Moçambique

KOk NAMDirector Emérito

Conselho de Administração:Fernando B. de Lima (presidente)

e Naita UsseneDirecção, Redacção e Administração:

AV. Amílcar Cabral nr.1049 cp 73Telefones:

(+258)21301737,823171100, 843171100

Editor:Fernando Gonç[email protected]

Editor Executivo:Franscisco Carmona

([email protected])

Assessor EditorialMarcelo Mosse

([email protected])

Redacção: Fernando Manuel, Raúl Senda, Abdul Sulemane e Argunaldo

Nhampossa

Ilec VilanculosColaboradoes Permanentes:

Machado da Graça, Fernando Lima,

António Cabrita, Carlos Serra, Ivone Soares, Luis Guevane, João Mosca , Paulo Mubalo (Desporto).

Maquetização: Auscêncio Machavane e Hermenegildo Timana.

RevisãoGervásio Nhalicale

Publicidade: Benvinda Tamele (823282870)

([email protected])

Distribuição: Miguel Bila(824576190 / 840135281)

([email protected])

(incluindo via e-mail e PDF)

Fax: +258 21302402 (Redacção)82 3051790 (Publicidade/Directo)

Delegação da Beira Prédio Aruanga, nº 32 – 1º andar, ATelefone: (+258) 825 847050821

[email protected]

Redacção [email protected]

Administraçãowww.savana.co.mz

CTV não é o problema

Polícia do Pensamento Com GOLIAS

O sequestro

Page 18: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

19Savana 05-09-2014 OPINIÃO

[email protected]

http://www.oficinadesociologia.blogspot.com

390

Nasci em Canchungo, na re-

gião noroeste de Bissau. Uma

bela paleta de uma paisagem

verdejante atravessada por

abundantes cursos de água, por uma

floresta densa, grandes extensões de

mangais, de ilhas virgens e um lito-

ral onde uma riquíssima vida marinha

abunda permanece gravada na minha

memória. Hoje, as condições climáti-

cas erráticas, a diminuição de preci-

pitação, o aumento do nível do mar

e outros fenómenos estão a mudar a

paisagem, ameaçando a subsistência

de pescadores e agricultores e pondo

em causa o futuro de grande parte do

meu país.

Com aproximadamente 80 pequenas

ilhas que se estendem ao longo do

litoral, a Guiné-Bissau é um dos seis

pequenos estados insulares em desen-

volvimento (PEID) em África, junta-

mente com Cabo Verde e São Tomé e

Príncipe no Oceano Atlântico, e com

as Ilhas Comoros, Maurícias e Sei-

cheles no Oceano Índico. A tendên-

cia tem sido a de subestimar os PEID

africanos, quando são estes mesmos

países que efectivamente “suportam” o

custo global da gestão das alterações

climáticas. Ainda que representando

menos de 1% das emissões globais de

carbono, os custos que os PEID su-

portam são extraordinariamente des-

proporcionais.

Habitualmente referidos como um

grupo homogéneo, as realidades dos

PEID africanos são, na verdade, bas-

tante diferentes. A nível económico,

Cabo Verde, Ilhas Maurícias e Sei-

cheles encontram-se entre os países

de rendimento médio, numa muito

melhor posição relativamente às Ilhas

Comoros, Guiné-Bissau e São Tomé

e Príncipe, classificados como países

menos desenvolvidos (PMD). Não

obstante, todos partilham as mes-

mas vulnerabilidades aos choques

externos, dada a forte dependência

que registam em termos de energia,

importação de alimentos, a que se

somam uma limitada diversificação

das respectivas economias e grandes

deficits públicos e externos. Tendo em

conta estes constrangimentos, de que

forma poderão estes países combater

eficazmente as alterações climáticas

e mitigar os efeitos a elas associados?

As boas notícias são as de que os

PEID africanos se encontram na

linha da frente dos esforços para

encontrar soluções inovadoras na

resposta aos desafios trazidos pelas

alterações climáticas, através de me-

didas para o aproveitamento e poten-

cialização dos seus recursos marinhos

e costeiros e de uma transição para

soluções e tecnologias sustentáveis

mais limpas e inteligentes. Por outras

palavras: os PEID africanos são os

pioneiros da denominada “Economia

Azul”, conceito que está a transfor-

mar as alterações climáticas em opor-

tunidades.

Abundam as histórias de sucesso:

-

lica em Cabo Verde foi criado em

2009 com o efeito de reduzir os

custos da importação de energia

para o país. Hoje, os quatro par-

ques eólicos geram 18% da pro-

dução de electricidade, fazendo

de Cabo Verde líder mundial em

energia eólica e um modelo de

parceria público-privada.

La Feme, nas Maurícias, que co-

meçou a operar em Fevereiro de

2014, foi criada para responder à

crescente demanda de energia. É

esperada desta plataforma a pro-

dução de 24GW horas de energia

limpa, poupando simultaneamen-

te 15.000 toneladas de emissões

de CO2 por ano.

despontar nas Seicheles, com o

apoio financeiro do Governo por

forma a incrementar a produção

de atum, 70% do qual é exporta-

do.

As Seicheles estão também a promo-

ver o turismo industrial e arqueológi-

co-marinho, nichos novos e amigos

do ambiente. Em Junho de 2013, o

país lançou o seu primeiro parque eó-

lico em terreno recuperado em Port

Victoria, fornecendo, actualmente,

electricidade a mais de 2100 lares e

poupando 1.6 milhões de litros de

combustível por ano. Este projecto,

implementado em colaboração com

os Emirados Árabes Unidos, consti-

tui um exemplo de parceria Sul-Sul.

Assim como celebramos estas histó-

rias de sucesso, necessitamos, da mes-

ma forma, de redobrar esforços para

ajudar os PEID africanos e os res-

tantes 52 pequenos estados insulares

em desenvolvimento espalhados pelo

mundo a manter o seu combate con-

tra as alterações climáticas, a construir

as suas capacidades de adaptação e a

promover o uso, quer dos novos, quer

dos já existentes conhecimentos e

inovações. No meio de um cenário de

desenvolvimento em rápida transfor-

mação, os PEID africanos precisam

de encontrar novas formas de galva-

nizar o seu impulso para a “Econo-

mia Azul” através, inclusivamente, da

exploração dos mercados financeiros

africanos.

No momento da vossa leitura esta-

rei em Apia, Samoa, participando na

Terceira Conferência Internacional

dos Pequenos Estados Insulares em

Desenvolvimento. Tenciono parti-

lhar as histórias dos PEID africanos

e defender um apoio internacional de

alto nível que apoie os seus esforços.

Estarei também activamente empe-

nhado num diálogo de alto nível, que

decorrerá paralelamente à Conferên-

cia sobre o Clima no início de Setem-

bro em Nova Iorque, onde planeamos

ajudar os PEID africanos a transfor-

mar as suas preocupações particulares

em posições robustas para a sua par-

ticipação nas negociações sobre as al-

terações climáticas que decorrerão em

Lima, Dezembro próximo.

Não nos deixemos enganar: as ame-

aças das alterações climáticas são

taxativamente reais para os PEID.

Tuvalu, um pequeno país, atol de

corais, no Pacífico pode desaparecer

numa questão de décadas se não fo-

rem adoptadas medidas urgentes para

conter o aumento do nível do mar;

um grande número das 115 ilhas das

Seicheles aguardam pelo mesmo des-

tino, bem como um número incontá-

vel de outras pequenas ilhas em torno

de África e noutros lugares.

As oportunidades perdidas apontam

para uma espiral descendente de po-

breza, doenças e múltiplas vulnera-

bilidades. Os pescadores, agriculto-

res e pastores africanos não podem

permanecer impassíveis, enquanto os

impactos das alterações climáticas

continuam a roubar os seus sonhos

e a erodir a sua confiança, valores e

meios de subsistência - eles aguardam

ansiosamente por soluções concretas.

Um estudo recente da UNICEF pre-

vê que, no virar do século, quase me-

tade da população infantil no Mundo,

menor de 18 anos, será africana e um

grande número desta mesma popula-

ção viverá em pequenos estados insu-

lares em desenvolvimento. É tempo

de agir para moldar as vidas das gera-

ções presentes e futuras.

*Sub-Secretário Geral e Secretário Executivo da Comissão Económica das

Nações Unidas para África em Adis

É tempo de agir para resolver o paradoxo dos pequenos estados insulares

Subscrevo sem condições a opinião segundo a

qual um país sem documentários é como uma

família sem um álbum de fotografias. O tem-

po flui inesperadamente, indiferente a nós, ao

nosso crescimento e envelhecimento e pode se dizer o

mesmo em diferente a si próprio.

Precisamos de nos rever regularmente, de tempos em

tempos, como quem faz um mexerico para se agarrar

a algo de concreto, embora passado em quase que sem

forma definida. A fotografia, as ruas que nos viram

crescer, os jardins, os lugares onde tínhamos as nossas

brincadeiras, tudo isso contribui para que ao longo do

tempo não percamos o rumo da nossa identidade como

seres únicos singulares e inimitáveis no meio do con-

turbado mar em que somos o barco do qual navegamos

åa vida.

Negar isto é ser ignorante ou não ter o mínimo de res-

peito e conhecimento pelos espaços que também nos

fazem. É certo que por imperativos históricos e mesmo

culturais - para não falar dos políticos – fomos obriga-

dos a desfigurar as nossas cidades e aldeias com o der-

rube de estátuas, mudanças radicais de toponímia para

adequá-los ao país que nasceu em 25 de Junho de 1975.

Mas nada disso nega a necessidade de reconhecer que

qualquer vila, aldeia e cidade tem o seu crescimento

condicionado a normas, mais ou menos rígidas inte-

gralmente universais a que não se pode virar costas à

concepção de um bairro residencial. Por exemplo, não

se pode resumir a idealização e construção de espaços

habitacionais, há que integrar nesse projecto de forma

racional e sustentável a longo prazo os espaços de lazer

de adultos crianças e velhos e estes tanto podem ser

campos de jogos, casas de pasto, restaurantes tão neces-

sários como escolas, centros de saúde, farmácias, rede

funcional de saneamento, fornecimento de água potável

e energia.

O que se nota hoje, e estamos a tomar como ponto de

referência a cidade de Maputo, é que o rosto desta ca-

pital não só está a ser sistematicamente destruído tanto

no seu passado – basta ver o estado em que se encon-

tram os fedorentos bairros de Triunfo e do Alto Maé

- tal como a irracional incongruência na forma como

se conceberam os actuais bairros para onde se atiram,

como manadas de bois, as famílias que são desalojadas

das zonas destinadas à construção ou de estradas, fábri-

cas ou de novos condomínios: Não há transporte pú-

blico que lá chegue, não há energia eléctrica, nem água

canalizada, postos de saúde nem pensar e a farmácia

mais próxima fica a 45 minutos ou hora da viagem de

chapa, isto num período sem congestionamento. Feitas

as contas, duas horas para ir e voltar com um medica-

mento, tempo suficiente para chegar à casa e deparar

com um cadáver ainda quente.

Hoje em dia pode se perfeitamente percorrer a todo o

comprimento da Avenida Eduardo Mondlane, a 24 de

Julho, a Karl Marx num perímetro que vai desde Alto

Maé até à Polana Cimento, sem encontrar nem sequer

uma única casa onde se possa sentar tomar um refresco

ou uma cerveja, comer uma sandes e dar com a língua

com um amigo durante meia ou uma hora.

Tudo o que se dedicava a isso ou está transformado em

instalações para os inúmeros bancos que vão surgindo

como cogumelos – coisa que não se compreende por-

que aos bancos devia exigir-se que fizessem construções

de raiz para o exercício das suas actividades – as pastela-

rias estão agora nas mãos dos libaneses, que desgraçada

e arrogantemente impõem-nos seus serviços e menus às

normas rígidas que trazem ou do Líbano ou de outros

paraísos paranoicos de religião no médio oriente.

Somos ou não somos um Estado laico? Desde quando

se poderia admitir que um moçambicano se propuses-

se a criar porcos no Irão? Para onde é que nos estão a

empurrar?

Que significado tem hoje para quem não conhece o

passado recente desta cidade falar do Solar familiar,

Marisqueira do Alto Maé, ou da baixa, do restaurante

Vela azul, do Snack-bar pica-pau, Alfacinha, Tico-tico,

Águia d´ouro, Goa, Califórnia…. Ao que se diz Portu-

gália está na mira…

Aí teremos o grande apagão.

O Grande apagão

Por Carlos Lopes*

As cidades estão cheias de

cartazes de propagan-

da eleitoral. O cartaz, o

panfleto, a camisete, a

sagrada efígie do candidato, o ca-

lendário com o símbolo do par-

tido, por vezes o porta-chaves,

a viatura (com o clímax osten-

tatório no  4x4) e o espectáculo

musical são componentes obri-

gatórias do alfobre de persuasão

dos candidatos, em particular

dos mais abastados. Os partidos

não começam a campanha elei-

toral se não estiverem munidos

de cartazes. Estes são artigos

mágicos, prioritários, na caixa de

ferramentas dos políticos. Sem

eles é suposto que a campanha

eleitoral é má ou vai ser má. A

guerra dos cartazes e dos panfle-

tos é significativa: rasgar os do

adversário constitui uma manei-

ra guerrilheira de, por extensão, o

eliminar simbolicamente. A ideia

substantiva é a de que ganha as

eleições quem mais abastado for

na distribuição de cartazes. 

A batalha dos cartazes

Page 19: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

20 Savana 05-09-2014OPINIÃO

A TALHE DE FOICE

SACO AZUL Por Luís Guevane

Por Machado da Graça

Num dos cartazes da campanha eleitoral do candidato

presidencial do partido Frelimo diz-se: “Nyusi – Vota na

mudança”. O que me parece bem, embora estranho por

partir de quem parte.

Para tentar esclarecer-me melhor consultei o Dicionário Enci-

clopédico Alfa e descobri que “Mudança” significa “Transfor-

mação que faz diferença do que era; Alteração; Modificação de

ideias, sentimentos, etc.”. Fim de citação.

Fico, portanto, a saber que o candidato Nyusi é favorável a uma

transformação que faz diferença do que agora existe. É favorável

a uma alteração, a uma modificação de ideias, sentimentos, etc.

Ora, o que actualmente existe no nosso país foi produzido e ge-

rido pelo mesmo partido Frelimo do qual ele é candidato. Nunca

outro partido governou o país desde a Independência.

Desta forma, Nyusi está a pedir-nos o voto para, se for eleito,

transformar o país para uma coisa diferente daquela que Arman-

do Guebuza nos deixará no final do seu mandato.

Está a propor-nos uma mudança de ideias e sentimentos em

relação às ideias e sentimentos do actual Chefe de Estado.

O que é uma posição, devo dizer, de grande coragem, embora de

pequena coerência.

Mas penso que ele deve dar mais um passo em frente e fazer-

-nos saber quais são os aspectos concretos da actual governação

de Armando Guebuza com os quais ele não concorda e gostaria

de ver alterados.

Gostaria que ele nos dissesse que está em desacordo com os

aspectos tais e tais, seja na economia, na gestão das Forças de

Defesa e Segurança, na política externa, sei lá em que mais. E

nos informasse que, se for eleito, esses aspectos serão alterados

através das novas soluções X, Y e Z.

Porque, se isso não for feito, a tal palavra de ordem fica uma coisa

totalmente vazia, sem nenhum significado. Em vez de palavra de

ordem arrisca-se a ser uma palavra de desordem, de engano, de

batota eleitoral. Uma forma de gastar papel sem sentido.

E era bom que esses aspectos fossem esclarecidos rapidamente

para os cidadãos eleitores poderem decidir, com consciência, se

votam, ou não, naquele candidato.

Sob pena de se votar num candidato que propõe mudanças e

acabar com um presidente que deixa tudo na mesma.

Mudança

A campanha eleitoral arrancou

dentro de um quadro político

inspirador de paz. Inspirador

no sentido em que o “frente-

-a-frente” entre Dhlakama e Guebuza

criará, sem dúvida, um efeito mobi-

lizador e bastante positivo a esta fase

crucial do processo eleitoral, atraindo

o interesse do eleitorado pelo mesmo.

Os partidos políticos têm, neste abraço

entre as lideranças, uma grande opor-

tunidade de lutar contra as abstenções

e mesmo contra a violência, promoven-

do uma imagem de comprometimento

com a paz e o desenvolvimento.

As abstenções têm como fontes essen-

ciais o desinteresse pelas eleições, a des-

confiança relativamente à seriedade do

processo, a exclusão a que determinado

Sem Violência eleitorado tem sido votado, a convivência

com a falta de transparência institucional, o

monopartidarismo patológico e repugnante

que afasta as “massas” do processo, etc. Es-

tas fontes podem ser superadas em cascata

através de atitudes proactivas por parte das

lideranças, podem ser combatidas através de

um comportamento político saudável.

Outro aspecto preocupante é a violência na

fase da campanha eleitoral. Não basta que

um ou outro discurso desincentive a vio-

lência. O papel das lideranças é crucial para

que esse discurso se transforme permanen-

temente em realidade. A violência durante

as campanhas eleitorais resulta em grande

parte da falta de punho nas lideranças dos

partidos concorrentes. Os que se envolvem

directamente em actos de violência física e/

ou verbal não são os verdadeiros culpados.

Nem têm sequer um carácter violento que os

caracteriza socialmente. O problema tem, no

tipo de organização de toda uma “máquina de campanha”, a sua fonte. Quando esta não está suficientemente disciplinada e lubrifica-da organizacionalmente a culpa logicamente que vai para quem, por inerência do momen-to, devia tê-la sob controlo. Os membros dos partidos políticos que se envolvem em campanha eleitoral e que ele-gem como estratégia a violência não procu-ram ganhos para o seu partido, não querem que com isso o seu partido conquiste a con-fiança do eleitorado, antes pelo contrário, são uns frustrados políticos que encontram nessa estratégia uma forma insuspeita de descredibilizar o seu próprio partido. Esses devem ser imediatamente expurgados em nome do bom andamento da campanha. Desrespeitam e criam problemas ao bom

funcionamento da “máquina eleitoral” fazendo passar a ideia de uma campa-nha sem um mínimo de tolerância ou de um nervosismo incontrolável e de provável morte num cruzamento entre as caravanas. Se os participantes dessas caravanas ou animadores de campanhas não exigem aos seus partidos um segu-ro que cobre todos os riscos inerentes à violência é porque não é suposto terem--na como estratégia; é porque pode ser encarada e assumida desportivamente.

Cá entre nós: as lideranças fazem sempre a diferença. A violência durante a cam-panha eleitoral, a acontecer, deverá ter os seus donos. Não deve ser encarada como normal ou como resultado da falta de con-trolo emocional por parte dos membros dos partidos.

Nós e o capitalismo (1)

A história ensina-nos que a hu-

manidade não é hoje o que foi

um dia no passado. Ou seja,

ela passou e vai passar por um

processo longo de evolução permanente

quer sob o ponto de vista da sua dinâ-

mica interna como da sua morfologia.

Os manuais ensinam-nos que a história

da humanidade começou lá muito atrás

com a formação e desenvolvimento de

diferentes tipos de sociedade. São co-

nhecidas a Comunidade primitiva, o

Esclavagismo, o Feudalismo, e mais re-

centemente o Capitalismo. Ainda du-

rante a vigência deste, emergiu o Socia-

lismo que supostamente iria suceder o

modo de produção anterior, tendo con-

vivido com o mesmo durante apenas

cerca de 60 anos. Foi uma relação difícil

sob o ponto de vista político, militar e

económico, tendo desaparecido quando

ainda era um projecto com um núcleo

localizado e algumas bolsas aqui e acolá

à escala mundial. Rezam os livros que o

Socialismo, após o cumprimento do seu

ciclo de maturação, seria sucedido (de

forma pacífica), pela forma mais avan-

çada de sociedade - o Comunismo. Mas

o que nos interessa nesta reflexão não

é o possível ou quiçá garantido futuro

da humanidade mas sim o presente – o

Capitalismo e a nossa relação (entanto

que moçambicanos), com este sistema.

Como qualquer outro sistema social, o

Capitalismo tem todo um conjunto de

regras e normas que herdou das socie-

dades que lhe antecederam mas sobre-

tudo muitas outras criadas, desenvolvi-

das e aperfeiçoadas desde que ele existe.

Viver numa sociedade significa antes de

tudo conhecer as regras, normas enfim

as leis que a regem. Nós vivemos no

sistema Capitalista. Será que todos nós

sabemos como é que funciona o sistema

capitalista? A esmagadora maioria não

sabe porque não teve oportunidade de

saber ou simplesmente porque não to-

mou a iniciativa. Será que é importante

conhecer as regras desse sistema? Claro

que sim! Para facilitar a explicação da

importância, basta que nos lembremos

de um jogo. Um jogo qualquer que lhe

venha à memória. Experimente parti-

cipar num jogo, seja ele individual ou

colectivo sem conhecer as regras e verá

o que lhe acontece. Se o principal ob-

jectivo do jogo é ganhar ao adversário,

só ganha quem conhece as regras (em

primeiro lugar) e em segundo lugar se

prepara para adquirir habilidades, com-

petência para saber jogar bem, como condição para se sair vencedor. Vejamos um exemplo: o que acontece num jogo de futebol se um jogador toca delibera-damente a bola com a mão? Claro que a sua equipa é punida. Se for dentro da área, recebe o castigo máximo que é a marcação de um penalty que na maior parte dos casos resulta em golo. Portan-to é importante conhecer as regras do jogo em que você estiver a jogar para não cometer erros e de certa forma para jogar bem. Se você fizer tudo (ou quase) certinho, as chances de ganhar aumen-tam! Vivemos num sistema – o Capita-lismo, caracterizado sobretudo pela sua economia de mercado, que é regida por leis, normas ou regras muito próprias. Quem não as conhece fica vulnerável, corre grandes riscos de não se inserir devidamente no sistema. Quem estiver nesta situação, normalmente não é ca-paz de competir, não é capaz de se su-perar, não é capaz de produzir de forma mais eficiente, ou seja mais rápido, com melhor qualidade e mais barato. As principais leis/princípios, instrumentos atitudes e comportamentos do Capita-lismo incluem dentre outros, o mercado livre, o lucro, a propriedade privada, a taxa de juro, o crédito, o financiamento, o investimento, o balanço, a criatividade e inovação, a negociação, a propensão para o risco e muito mais. A versatili-dade, ou seja a capacidade de saber exe-cutar bem diversas tarefas, constitui um requisito extremamente importante nos dias de hoje caracterizados pelo despe-dimento de certos funcionários e pela admissão de novos porque os primeiros eram especialistas de uma função que já não existe na empresa ou tende a desaparecer. Por exemplo, se você tiver no seu currículo só uma formação pro-fissional e exercê-la por muito tempo sem se actualizar, poderá facilmente ser dispensado do seu trabalho porque não foi capaz de aprender novas funções ou se actualizar. Como refere o economista americano Jeremy Rifkin, autor do livro ‘O Fim dos Empregos’ vivemos hoje na ‘era da multifuncionalidade’ requeren-do por conseguinte que o cidadão seja mais versátil. Portanto, sem conhecer o

Capitalismo, seremos sempre as vítimas

do mesmo e particularmente das pesso-

as que o dominam e o gerem.

Algumas pessoas conhecem as leis/

princípios e regras do Capitalismo

porque aprenderam-nas em casa ou na

escola, mas a grande maioria aprendeu--a na escola da rua, na luta diária pela sobrevivência. Desde o nascimento do Capitalismo até à actualidade, ficou claro que todo o indivíduo que apren-deu e aplicou correctamente as regras do Capitalismo teve a oportunidade de melhorar a sua condição de vida, da sua comunidade e do seu país. Milhões de pessoas pelo mundo fora melhoraram a sua vida e até enriqueceram porque aprenderam de forma empírica e na prática como funciona o sistema. Mas, salvo excepções, esse processo é passível de revezes devido aos erros cometidos por não se conhecer as leis e as regras e por não se estar preparado sob o ponto de vista técnico e comportamental. Isto não significa que basta conhecer bem como funciona o Capitalismo para se ter todos os problemas resolvidos pois, de nada serve apenas conhecer os seus princípios se não os praticarmos. Gos-temos ou não deste sistema, a verdade é que para se viver condignamente e enriquecer honestamente, precisamos em primeiro lugar de o conhecer. Não escolhemos o tipo de sociedade em que nascemos, mas podemos escolher onde vamos viver e morrer. Se alguém não gosta do Capitalismo e se sente mal a viver nele, ainda resta uma ou duas saídas à escala mundial. Basta pedir tal informação que ficará logo a saber. Quem não gosta mas também não quer sair tem duas opções: estudar e conhe-cer a mecânica do seu funcionamento e “flutuar” nele, ou pura e simplesmente ignorá-lo e arcar com as consequências, ou seja, deixar-se “afundar”. No Capi-talismo é assim, o indivíduo é livre de fazer escolhas.Vamos terminar este texto com um exercício: Há dias, um amigo meu fez--me a seguinte pergunta: “Porque é que em Moçambique são conhecidos inúmeros casos de indivíduos que não sabem como funciona o Capitalismo, portanto nunca puseram em prática as suas leis/princípios mas estão ricos?” Eu procurei respondê-lo com base na mi-nha percepção da nossa realidade. Qual é a resposta que o amigo leitor dará se

num belo dia um amigo seu lhe fizer a

mesma pergunta?

Por Alberto da Barca

Page 20: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

21Savana 05-09-2014 PUBLICIDADE

A eni east Africa S.p.A., uma sociedade constituída sob as leis da Itá-lia com representação comercial na República de Moçambique (adiante designada “eni east Africana Bacia do Rovuma na República de Moçambique, no âmbito da sua estratégia de desenvolvimento da Área 4, está a avaliar a construção de

A eni east Africa convida as empresas interessadas, adiante designadas como “Candidatos”, a participarem da Manifestação de Interesse para o potencial Concurso abaixo:

Projecto de Desenvolvimento em MoçambiqueConvite para Manifestação de Interesse

Âmbito do Trabalho

Obras Preliminares/Early Works (EWK) incluindo Pioneer Dock, Estra-das, Vedação, Pesquisas/Estudos do Terreno, Pista Aérea Temporária

--

tos, acomodação, etc,) para permitir a construção de uma Planta de LNG Onshore

Este não é um convite para participar do potencial Concurso acima menciona-

do, mas apenas um convite para participar na Manifestação de Interesse. Caso

deseje participar, deverá apresentar uma carta a manifestar o interesse, devida-

mente assinada pela pessoa autorizada (juntamente com a Procuração auten-

ticada ou outro título que confira poderes a tal pessoa autorizada), juntamente

com a seguinte informação e documentação apresentando evidência de:

(i) Ser uma grande empresa internacional de Engenharia, Procurement e Cons-

trução com experiência comprovada em grandes Site Works, Infra-estruturas

Logísticas e Projectos de Construção Civil em áreas remotas e não desen-

volvidas, quer individualmente ou através de participação em joint ventures,

consórcios ou estrutura corporativa similar.

Após avaliação e aceitação da sua Manifestação de Interesse, a eni east Africa

irá fornecer-lhe um Formulário de Confirmação e Compromisso de Confi-

dencialidade, o qual deverá ser devidamente preenchido, assinado pela pessoa

autorizada e devolvido à eni east Africa, por forma a que possa receber o Pacote

da Manifestação de Interesse.

O Pacote da Manifestação de Interesse será fornecido somente aos Candidatos

interessados que preencham os requisitos acima referidos.

Caso os Candidatos pretendam participar na fase de Manifestação de Interesse

individualmente ou sob a forma de joint venture, consórcio ou estrutura cor-

porativa similar, deverão submeter informação detalhada sobre o papel de cada

participante neste potencial Projecto, incluindo o respectivo interesse participa-

tivo para cada fase do Projecto, conforme aplicável.

Tal intenção de formar uma joint venture, consórcio ou estrutura corporativa

similar deve ser suportada por um Acordo de Joint Venture ou de Consórcio ou

um “Memorando de Entendimento” devidamente assinado por cada entidade,

o qual deverá ser submetido antes ou na data de submissão da documentação

solicitada no pacote de Manifestação de Interesse.

A carta de manifestação de interesse, juntamente com a documentação acima

solicitada, deve ser recebida até ao dia 26 de Setembro de 2014, devendo ser

enviada para o seguinte endereço electrónico [email protected],

especificando “Assunto: Manifestação de Interesse – Obras Preliminares para

EPC da Planta de LNG Onshore”.

Ao responder ao Anúncio Público e durante a fase de Manifestação de In-

teresse, os candidatos deverão enviar quaisquer questões relacionadas com o

Anúncio Público e com a Manifestação de Interesse, conforme o caso, apenas

por escrito para o endereço de E-MAIL acima indicado.

A menos que tenham recebido uma instrução por escrito da eni east Africa no

sentido contrário, os Candidatos não deverão de modo algum comunicar-se ou

fazer alguma tentativa de comunicação com qualquer trabalhador, colaborador,

director, agente, consultor, conselheiro, contratado ou subcontratado da eni east

Africa com relação ao presente Anúncio Público e Manifestação de Interesse.

-

-

Mozambique Development ProjectPublic Announcement for Expression of Interest

--

-

-cient and clear evidence of:

-

-

--

Expression of Interest Package from eni east Africa.

eni east Africa-

-

-

-26th September 2014

-MAIL address [email protected]“Subject: Expression of Interest – Early Works for the EPC Onshore LNG Plant”.

eni east Africa

or secondee of eni east Africa -

Page 21: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

22 Savana 05-09-2014DESPORTO

Quis o destino que a selecção da Zâmbia, os “Chipolopo-lo”, fizesse parte do grupo de Moçambique na difícil

travessia pelo deserto rumo à der-radeira caminhada ao Campeonato Africano das Nações, a realizar-se próximo ano no Marrocos. Assim, as duas selecções defrontam-se, sá-bado, pela 17ª vez, num jogo aguar-dado com inusitado interesse.

No rescaldo das partidas até aqui re-

alizadas, a Zâmbia leva uma folgada

vantagem a julgar pelos dados dis-

poníveis, 14 vitórias e dois empates.

Porém, o técnico João Chissano diz

ter preparado o veneno para contra-

riar esse favoritismo.

Os “Mambas” estão integrados no

grupo “F” e terão como adversários a

Zâmbia, Cabo Verde e Níger. Con-

venhamos que são, de facto, adver-

sários que, segundo João Chissano,

têm mais pergaminhos do que pro-

priamente os seus pupilos.

No lançamento do jogo deste sába-

do frente à Zâmbia, marcado para

as 15:00 horas em Ndola, uma das

cidades daquele país, concretamente

a cerca de 300 quilómetros da capi-

tal, Lusaka, o seleccionador nacional

prometeu fazer história e chegou

mesmo a dizer que o maior obs-

táculo não será tanto o adversário,

mas questões de ordem psicológica.

O segundo jogo dos “Mambas”, o

qual vai ser disputado num espaço

de quatro dias, terá lugar na próxi-

ma quarta-feira, no Estádio Nacio-

nal do Zimpeto, a partir das 18:00

horas.

Para a dupla jornada, João Chissa-

no pré-convocou 26 jogadores, dos

quais 15 internacionais. Da lista,

destaque vai para o regresso de Dio-

go, Mexer, Hélder Pelembe, Faizal

Bangal e Simão Mathe Júnior e a

ausência de Manuelito II.

Dos habituais atletas da selecção na-

cional destaca-se: Milagre, Momed

Hagy, Kito, Chico, Soarito, Dário

Khan, Dito, Isac, Mário, Maninho,

Miro, Josemar, Dominguez, Jumisse,

Clésio, Zainadine Júnior, Reginaldo,

Ricardo Campos. Sonito está em

dúvida devido a uma lesão.

Questionado pelo SAVANA sobre

as razões que ditaram a convocação

do guarda-redes Soarito, que não

tem e sido titular no Costa do Sol,

João Chissano explicou que Soari-

to é o guarda-redes mais experien-

te que o país tem, é o guarda-redes

que, a seu ver, oferece mais seguran-

ça “quando o jogo não nos favorece”.

Sabe-se que no historial dos con-

frontos directos entre Moçambique

e Zâmbia, os “Chipolopolo” (alcu-

nha da Zâmbia, que significa bola

de cobre) levam vantagem. Em 16

jogos (registados pela FIFA), os

“Mambas” perderam 14 e empata-

ram por duas vezes. Nos referidos

encontros, Moçambique marcou

oito golos e sofreu 35.

No que tange às qualificações para o

CAN, as duas equipas cruzaram-se

por duas vezes (qualificações para o

CAN 2012), onde a Zâmbia venceu

ambos os jogos. Primeiro em Mapu-

Chissano apresenta o novo veneno que vai dar cabo da Zâmbia

Inteligência, agressividade e concentraçãoPor Paulo Mubalo e Abílio Maolela

to por 0-2 e segundo em casa por

3-0.

Porém, esses números, longe de

criarem pânico no seleccionador,

levam-no a encarar a partida com

muita responsabilidade, convicto de

que não há nenhuma selecção in-

vencível. Reconhece, sim, que o jogo

de sábado será deveras complicado

devido à experiência que o adversá-

rio tem, mas não admite facilidades,

“pois, o primeiro jogo é de capital

importância para uma boa campa-

nha”.

Segundo afirma, “o normal é Mo-

çambique ir à Zâmbia perder e nós

estamos a trabalhar para que esse re-

sultado normal (derrota) não acon-

teça, por isso temos que estar con-

centrados. Temos que fazer um jogo

inteligente, como o com a Tanzânia

(em Dar-es-Salaam), onde devemos

ser agressivos, principalmente no

meio campo (assegurando a bola)”.

Chissano acrescenta ainda que é

preciso tirar a pressão dos jogadores

porque “ela está do lado da Zâmbia

devido ao historial que lhe é favo-

rável”.

E elogia o adversário a quem con-

sidera que consegue misturar o

futebol inglês e a técnica dos seus

avançados.

Situação atípicaOs “Mambas” vão saborear, pela pri-

meira vez, a experiência de efectuar

dois jogos consecutivos em menos

de cinco dias. Após o jogo da Zâm-

bia, a selecção nacional recebe, na

quarta-feira, a sua congénere do

Níger para a segunda jornada do

certame.

O seleccionador diz que Moçam-

bique vai conhecer uma situação

atípica, mas mesmo assim diz não

estar preocupado e explica que o seu

maior desafio é “o trabalho psicoló-

gico porque o resultado de um jogo

tem influência no seguinte”.

Sabe-se que Moçambique foi a úl-

tima selecção a juntar-se ao grupo

“F”, pelo facto de ter participado das

pré-eliminatórias de acesso à fase de

grupos.

A situação deveu-se ao fraco

Ranking na FIFA. Em Fevereiro,

Moçambique era o 115º classificado

do mundo e 33º em África, com cer-

ca de 258 pontos, o que lhe permitiu disputar dois jogos antes de se juntar ao grupo (contra o Sudão do Sul e Tanzânia).Uma derrota diante do Marrocos (4-0), duas vitórias frente à Tan-zânia e Sudão do Sul e um empate diante da Angola permitiram que os

“Mambas” saltassem do 115º lugar para o 107º posto (com 289 pon-tos), tornando-se na terceira melhor selecção do grupo, relegando o Ní-ger para o último lugar, ocupando o 118º lugar no Ranking do mundo e 37 no de África, com 261 pontos.Por sua vez, Cabo Verde é a melhor selecção colocada no grupo, ocupan-do o 74º lugar no Ranking mundial e 15º no africano, com 411 pontos; seguido pela Zâmbia com 375 pon-tos no Ranking mundial, o equiva-lente ao 84º lugar no mundo e 21º em África.Moçambique é a única equipa do grupo que não participou nos úl-timos dois CAN’s. A Zâmbia foi campeã africana em 2012, após der-rotar a Costa do Marfim (nos pe-nalties). Por sua vez, o Cabo Verde participou na última edição, onde terminou nos quartos-de-final ao ser eliminado pelo Gana por 0-2. Por sua vez, o Níger participou nas duas últimas edições (2012 e 2013), mas sem nenhuma vitória. Apesar destes dados, João Chissano não teme e considera Cabo Verde como adversário directo dos “Mam-bas”, pelo facto de os seus jogadores não militarem no seu país e por “ter-

mos uma relação histórica próxima”.

“Mambas” começam o sonho na terra de más lembranças

Apesar da participação

dos “Mambas” em pro-

vas internacionais, em

particular nos jogos da

fase de grupos da qualificação ao

CAN 2015, o campeonato na-

cional da primeira divisão, “Mo-

çambola”, não vai parar e, neste

fim-de-semana, vai rodar a sua

20ª jornada com o Ferroviário

da Beira-Maxaquene e Ferroviá-

rio de Maputo-Têxtil de Púnguè,

a protagonizarem os encontros

mais electrizantes. Porém, dois

jogos serão adiados, pelo facto de

algumas equipas envolvidas con-

tribuírem com mais de dois joga-

dores na selecção nacional.

Depois de empatar com o Estrela

Vermelha da Beira, no primeiro

encontro dos “aflitos”, o Ferrovi-

ário de Maputo recebe, este sába-

do, o Têxtil de Púnguè, em mais

um jogo considerado de “aflitos”.

Separados por um ponto, maior

para os “locomotivas” da capi-

tal (18 pontos), as duas equipas

entram para esta jornada com o

sinal laranja. O Têxtil de Púnguè

ocupa, actualmente, a 12ª posi-

ção com 17 pontos e vem duma

Atenção cardíacos...! Por Abílio Maolela

derrota caseira diante do Clube do

Chibuto por 1-2.

Por sua vez, o Ferroviário de Maputo

ocupa o 11º lugar com 18 pontos e

no jogo da primeira volta os “fabris”

da Manga perderam, em casa, por

0-1.

Para Victor Pontes, as jornadas em

falta são importantes para definir o

futuro da equipa e para este jogo não

esconde a cede de ganhar.

“É um jogo muito importante para

nós e o nosso futuro passa também

por este encontro”, refere Pontes.

Na mesma linha de ideias, está o

Têxtil de Púnguè que também con-

sidera o jogo de “capital importân-

cia” para a sua “sobrevivência”. Aliás,

os “fabris” da Manga não querem

repetir a proeza do ano passado, em

que só garantiram a manutenção na

última jornada.

Entretanto, com sabor e perspec-

tiva oposta, o Ferroviário da Beira

recebe, no domingo, o Maxaquene.

Os “locomotivas” da Beira ocupam

a terceira oposição (32 pontos) e

os tricolores ocupam o quinto lugar

com 29 pontos.

As duas equipas vêm de vitórias. O

Maxaquene derrotou o Ferroviário

de Quelimane por 4-0 e o Ferro-

viário da Beira impôs a primeira

derrota ao campeão nacional e líder

do Moçambola, Liga Desportiva de

Maputo. Porém, as duas equipas vão

desfalcadas dos seus grandes jogado-

res. O Maxaquene vai ao encontro

sem Isac (jogador que marcou quatro

golos no último jogo) e o Ferroviário

da Beira estará sem o seu goleador,

Mário, e o seu capitão, Maninho.

Além destes jogos, a 20ª jornada re-

serva o clássico nampulense entre o

Desportivo de Nacala e o Ferroviário

de Nampula.

Na primeira volta, as duas equipas

terminaram empatadas sem abertura

de contagem. Actualmente, os “loco-

motivas” da capital do norte ocupam

a segunda posição, com 37 pontos

(a cinco pontos do líder) e os naca-

lenses ocupam o nono lugar com 23

pontos.

Por sua vez, o Clube de Chibuto re-

cebe o Ferroviário de Pemba, que na

jornada passada arrancou um empa-

te no terreno da HCB de Songo. Por

seu turno, os “guerreiros de Gaza”

derrotaram o Têxtil de Púnguè por

2-1.

O Ferroviário de Quelimane recebe

o Desportivo de Maputo, que derro-

tou o seu homónimo de Nacala, na

jornada passada.

Entretanto, devido ao jogo da se-

lecção nacional diante da Zâmbia,

a Liga Moçambicana de Futebol

adiou as partidas: Costa do Sol -

E. Vermelha e Liga Muçulmana

- HCB Songo. O facto deve-se à

participação de mais de dois joga-

dores das equipas do Costa do Sol

e Liga Desportiva de Maputo na

selecção nacional.

Jornada anterior (19ª jornada)

HCB Songo 1-1 Fer. Pemba

Têxtil Púnguè 1-2 Chibuto FC

E. Vermelha 0-0 Fer. Maputo

Fer. Nampula 1-0 Costa do Sol

Desp. Maputo 2-1 CD Nacala

Maxaquene 4-0 Fer. Quelimane

Liga Muçulmana 0-1 Fer. Beira

Primeira volta (7ª jornada)

Fer. Pemba 1-1 Chibuto FC

Têxtil Púnguè 0-1 Fer. Maputo

E. Vermelha 1-0 Costa do Sol

Fer. Nampula 0-0 CD Nacala

Desp. Maputo 4-2 Fer. Quelima-

ne

Maxaquene 1-0 Fer. Beira

HCB Songo 1-3 Liga Muçulma-

na

Page 22: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

23Savana 05-09-2014 PUBLICIDADE

Page 23: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

24 Savana 05-09-2014CULTURA

Por Luís Carlos Patraquim

“Na moldura do espelho (…) a pessoa que observa e o objecto ‘espelho’ adquirem,

ambos, uma certa subjectividade. Ou seja, o mundo descentra-se na pluralidade de

reflexões do sujeito que o espelho cria e publicita.” Pedro de Andrade, in TriploV

Um homem passa a vida inteira a ver-se ao espelho. Não é Narciso. Ele sabe que há

muitos espelhos. Tem, na tremura dos dedos e nos olhos marítimos, onde todas as vozes

o rondam, a consciência especular da realidade. O que quer contemplar, captar, tactear,

outrar, arranhar, convulsionadamente chorar, é um ser-estar-aí onde, recombinados to-

dos os escombros, sublimidades, a fugidia e mortal beleza, o substantivo “leite da ternura

humana”, se recomponha numa espiral de Ser e Tempo. Anda nisto como um nómada

da alma palmilhando um chão que lhe foge, onde tropeça, que o agride. A fotografia já

foi ao seu encontro porque a procurou. Encolheu os ombros à observação blasé de Bau-

delaire sobre a necessidade dessa invenção, dispositivo, no dizer do poeta maldito, abso-

lutamente inútil por se limitar a reproduzir a realidade. Mas nós, os que viemos depois,

agradecemos a Nadal ter-lhe fixado o rosto vincado. Ut pictura poeisis est, caro Virgílio!

Esse homem que passou a vida a saltar as fronteiras das lentes é hoje é um pedinte

que desdenha. Vê mas já está do outro lado do espelho. Não o consolam as fantasias

de Alice É mordaz, não é mordaz. O “cão da angústia” que nunca segurou pela trela,

excepto quando a luz e a sombra colidiam e uma imagem fluía e se fixava, morde-lhe

os calcanhares gretados porque ele, vendo, já não quer ver nem ser visto. Mas eu vejo-

-o na curva da estrada. É um longe-perto, uma profundidade de campo onde já não há

veredas. Uma parva savana nítida onde os elementos de qualquer hipotética composição

se reconstroem através das palavras. E, quando num sobressalto interior, se lembra de

ver é a imobilidade das árvores em contraste com o brilho e a rotação celeste da infância

soçobrando nos rostos das crianças invisíveis, que o perseguem.

Passou pelos jornais, andou em filmes, viveu a sua Waterloo - não como Fabrício depois

da batalha -, revelou, enquadrou, encenou, rasgou, granulou, sombreou, iluminou. Quis,

como qualquer fotógrafo, ombrear com o olhar de deus, se possível, dando-lhe a ver

a desordem da sua criação. Porque, quem enquadra, delimita um campo, estabelece a

triangulação entre referente ou objecto ou humana situação inscrevendo-lhe a aparente

evanescência da luz e o abismo da sombra, quem assim procede é um Lucífer dardejando

a aparente evidência do real.

Todos, ou muitos, lhe conhecem a obra. É um caminho longo onde ele escolheu a sua bi-

furcação. Do fotojornalismo se diz que é a matriz da fotografia moçambicana. Este José

Cabral de que falo entrou nesse templo, fez as vénias devidas e partiu. Não teve medo da

maldição dos espelhos como afirmava Jorge Luís Borges, citando um daqueles autores

ingleses que só o grande cego de Buenos Aires conhecia. Que os espelhos lembram a

morte? Sai Vuma! Neles, José Cabral, se enredou para a metaforização do não-dito. A

mortal beleza rondando-o e sempre, mesmo quando a rotina crepuscular dos dias se

afoga em evanescências e o barco ébrio baloiça no asco do copo e a melodia, mesmo

desconstruída, assoma por sobre o muro, estremece na floração das estações, cristaliza-se

na fulguração de um nome, com uma imagem dentro, pulsando.

O mundo futuro? Que o cantem os néscios ou os ingénuos ou os puros.

Noites há – e são muitas – em que lê. A sua obra inscreve-se nessa noção de Livro, do

livro por vir. Como as tábuas de argila do Gilgamesh, há um puzzle a recombinar, fases

e tempos, um implacável e terno e lúcido olhar onde cabem relatórios de escombros e

iluminações agónicas do sublime. Mas, quem tem coragem de se ver ao espelho?

Todos os espelhos

A Associação Moçambicana de Foto-grafia acolhe até 14 de Setembro a ex-posição fotográfica do fotojornalista Naíta Ussene, intitulada Mãos de mar,

Barcos de Vida, constituída por 64 fotografias.

Num texto sobre a exposição, Calane da Silva

escreve que Naíta Ussene, profissional do fo-

tojornalismo, aprendeu com os grandes mes-

tres que foram Ricardo Rangel e Kok Nam

na câmara escura da histórica revista Tempo o

segredo das focagens e das revelações a preto-

-e-branco e a cores e que agora, veterano e com

várias exposições fotográficas já realizadas, vem

expor sua arte e sua alma de Homem nascido

à beira-mar.

“O fotojornalista, na verdade, faz uma narrativa

por imagens que, para além da beleza estética

que ostentam, mostram-nos também percursos

nem sempre fáceis a partir deste Índico oceano

repleto de história e estórias”, sublinha Cala-

ne da Silva, colega de Naíta Ussene na Revista

Tempo.

Fotos de uma vida na AMFCalane da Silva prossegue referindo que: “este homem, este Ser Humano, herdeiro genético de artistas e pessoas de outros ofícios obreiros do sultanato de Angoche, hoje já maduro e de experimentado dedo clicador do mundo-natu-reza que o rodeia, resolveu desta vez brindar--nos com o seu mar, um mar-praia de redes e barcos, de peixes e pescadores. E, consciente da dimensão do litoral do país, não se ficou por Angoche e trouxe para esta exposição esse mundo de brisa e sal de outras zonas de Moçambique, incluindo Beira e Ma-puto. Este labor de encantamento, este traba-lho secular pelos caminhos ondulados de sal, são fruto e testemunham a arte fotográfica do jornalista, homem da imagem de olhos sempre atentos por detrás da câmara e das lentes foca-das com mestria”.Deste modo, o artista convida-nos a mergulhar nesta sua maravilhosa estilística incónico-dis-cursiva para que sintamos e nos sensibilizemos com o vibrar da faina pesqueira e também que nos alimentemos do belo da sua arte, íris-alma repleta de natura. A.SA mostra espelha como é a vida dos pescadores

Em reconhecimento à sua importân-cia no contexto da literatura e cultu-ra moçambicanas, foi lançada, esta segunda-feira, em Maputo, a versão

da primeira edição do livro “Nós Matámos o Cão Tinhoso” da autoria do escritor Luís Bernardo Honwana, por ocasião das come-morações dos 50 anos desta obra literária.

Publicada em Março de 1964, a obra repre-

senta um marco na dinâmica da literatura

moçambicana, cuja relevância e estética são

testemunhadas pelo resgate e elevação ao es-

tatuto de principal fonte dos textos de ficção

narrativa que povoam os manuais escolares

dos primeiros anos após a Independência na-

cional.

A reedição do “Nós Matámos o Cão Tinho-

so” resulta das actividades de investigação e

extensão da Universidade Eduardo Mondla-

ne, em parceria com a AEMO-Associação

dos Escritores Moçambicanos e a editora Al-

cance Editores, com o apoio institucional da

maior operadora de telefonia móvel do País,

a mCel.

O secretário-geral da AEMO, Ungulani Ba

Ka Khosa, considerou que o livro “Nós Ma-

támos o Cão Tinhoso” constitui obra maior

da nossa literatura, razão pela qual “não pode

ser abandonado em qualquer apeadeiro desta

ferrovia literária. Ele tem que ocupar a car-

ruagem da primeira classe junto às grandes

“Nós Matámos o Cão Tinhoso” assinala 50 anos

obras do nosso universo literário”.

“Que o nosso Ministério da Educação assu-

ma duma vez por todas que, no edifício do

nosso saber, “Nós Matámos o Cão Tinhoso”

tem a sua cadeira por direito próprio. Não é

um favor que prestamos ao autor, é um tribu-

to que prestamos à nossa cultura”, frisou.

Por seu turno, Luís Bernardo Honwana, au-

tor da obra, realçou que o livro é ainda hoje

celebrado, porque continua a interessar mes-

mo àqueles para quem os grandes resultados

da saga do 25 de Setembro são, nas suas vidas,

um dado adquirido.

O escritor reconheceu que a longevidade des-

te livro é feita, sem dúvida, pelo interesse do

público que justifica sucessivas edições e tra-

duções, mas sobretudo pelo favor da crítica.

“Efectivamente, é grande e variada a produ-

ção ensaística que este livro tem suscitado ao

longo destes 50 anos. Muitos dos textos estão

marcados pelas polémicas que o aparecimen-

to do livro levantou no ambiente peculiar de

um país colonizado que éramos então, mas

desde cedo a crítica mais esclarecida identifi-

cou nesta pequena colecção de contos aquilo

que certamente a faz transcender o tempo, o

lugar e o quadro histórico em que foi produ-

zida”, finalizou.

Intervindo na cerimónia de lançamento da

nova versão da obra, Felícia Nhama disse, em

representação da mCel: “a operadora é uma

empresa cem por cento moçambicana, daí

que a nossa aposta no apoio à cul-

tura, particularmente à literatura,

constitui um desafio muito gran-

de para a promoção e elevação da

identidade nacional”.

“Este lançamento ocorre numa

ocasião inestimável, que é a co-

memoração dos 50 anos desta

obra, que marcou a revolução e

o desenvolvimento da literatura

moçambicana e reiteramos, por

isso, mais uma vez, os nossos

agradecimentos pela honra de es-

tarmos presentes neste momento

de grandes memórias da literatu-

ra e história do nosso Moçambi-

que”, frisou Felícia Nhama.Momento da assinatura de autógrafos

Page 24: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

Do

bra

po

r aq

ui

SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1078 DE SETEMBRO DE 2014

Page 25: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

SUPLEMENTO2 3Savana 05-09-2014Savana 05-09-2014

Page 26: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

27Savana 05-09-2014 OPINIÃO

Fernando Manuel (Texto)

Participar em eventos principalmente os não muitos mediatizados é uma forma simples, livre de stress e resultados quase sempre certos de revermos de uma só cajadada, em uma ou duas horas, muitas caras amigas que já não as vemos há muito tempo. É rea-vivar conversas e porque não avaliarmos também em nós, embora sem o dizer muitas vezes, a profundidade das marcas que o tempo vai deixando nos nossos rostos, atitudes

e palavras, como dizia um amigo meu que já vai a caminho dos 70, mas não abdica do seu amor à boémia “a idade doméstica”.

Mas nem tanto, sem interessar como e nem porque calhou juntar-se num evento, o músico Zé Mucavel que se vê de barbicha, bigodes brancos e óculos, mas sem a guitarra, a conversar com a Glória Muianga, cujas marcas são mais que incontornáveis do seu testemunho ao longo dos anos em que esteve ao serviço dos microfones da Rádio Moçambique, instituição que, embora já não pela voz, ainda continua a contar com o seu concurso noutras áreas. De dentre meio está a esposa do Zé Mucavel. Conversas serenas de gente que já muito aprendeu na vida e provavelmente muito tem ensinado.

Em eventos desses também se pode ver alguém com um boné, barba e cabelo precocemente brancos, camisa de fora das calças, casaco e mãos nos bolsos e de repente reconhecemos nessa personagem nem mais nem menos que o multi-valente músico Chico António, com ar de quem está a pregar. Pelos vistos tem um auditório atento embora restrito, constituído pelo curador da Associação Moçambicana de Fotografia (AMF), Tomás Cumbana, e de Miguel Cossa, da HCB.Quem os reuniu foi o conjunto de fotografias que Naíta Ussene tem em exposição desde a passada sexta-feira, na AMF sobre a pesca artesanal.

De José Pinto de Sá diz-se na sua lacónica apresentação que vem na contra capa da obra “Os Filhos de Mussa Mbiki”, da editora alcance de 2013, que “ há quatro décadas na profissão de escritor já produziu milhões de caracteres de textos para jornais, livros, rádio, teatro, vídeo e sites”.Muito longe disso e ainda antes conheci o homem com quem convivi e convivo em tertúlias de cultura ou não e ainda como encenador, quando convidado por ele, fiz a minha primeira, única e ultima incursão como actor de teatro e tinha como título “uma cama para quatro”. Sucesso modesto, mas uma experiência ímpar como trabalho de equipa talvez dê, hoje passados quase 20 anos, rememorar isso em conversa descontraída entre ele e eu.

O G40 quase que já o enterrou vivo depois de o ter dado como morto para vida intelectual de forma definitiva. O seu nome é Eric Charas e como empresário tem cargo assumido como Director do jornal @verdade, como diz a nossa sabedoria milenar “vaso ruim não quebra”, pelo contrário cimentam-se relações sejam de amizade de profissão ou de compadrios passageiros. O Charas está na companhia de Armando Inroga, ministro da Indústria e Comércio, e de Francisco Mucanheia, deputado da Frelimo.

Como diria o Grande Líder “em Moçambique há poder e riqueza para todos”.

Aqui, há uns meses, vi um pequeno artigo, pequeno mas muito interessante na revista brasileira Veja em que o articulista perguntava se os seus leitores sabiam de que falavam os grandes políticos e homens de negócios quando estavam a sós com amigos em ambientes informais. Foi uma rev-elação esclarecedora, porque no fundo se revelava que nessas circunstâncias falavam sobre coisas comuns e de uma forma que não diferenciava em nada com a abordagem que era feita pelo ci-dadão comum. Lembrei-me então de uma vez que o ex-presidente do Brasil, Lula da Silva, visitou Moçambique e teve as habituais sessões de conversas à porta fechada com o seu homólogo, que começaram de uma forma muito desabrida com palavrões à mistura, uma vez que não sabiam que os microfones não estavam desligados do exterior e que da sala contígua podia ouvir-se perfeitamente o que Lula da Silva pensava sobre o projecto da montagem de uma fábrica de antir-retrovirais em Moçambique. Foi um menu capaz de fazer curar um marinheiro barbudo, o mesmo acontece connosco, comuns mortais, quando estamos a perfilar para uma foto em conjunto.

O Tomás Cumbana é capaz de estar a dizer ao Inácio Pereira para se afastar um pouco mais, o Chico António é capaz de estar mais preocupado com a sua pose e com a pessoa que está ao seu lado, que é um jovem designer de nome Fernando Pindula, ao lado do qual está outro Fernando Manuel, em frente do qual está de joelhos outro Fernando Vitorino, o Jorge Tomé, Paulo Man-hiça e António Capalandanda. Tudo gente que não precisa de apresentação e muito menos de porta-vozes para se saber o que lhes vai pela cabeça.

A magia dos reencontros casuais

João

Cos

ta

João

Cos

taJo

ão C

osta

Naí

ta u

ssen

eN

aíta

uss

ene

Page 27: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

IMAGEM DA SEMANA

À HORA DO FECHOwww.savana.co.mz o 1078

Diz-se... Diz-se

Foto de Naíta Ussene

A direcção do Serviço Nacional Penitenciário (SERNAP) ig-norou a decisão do Tribunal Judicial da Cidade de Mapu-

to (TJCM), de colocar em liberdade

condicional o controverso réu Momad

Assif Abdul Satar, vulgarmente co-

nhecido por Nini Satar, mesmo após

o parecer favorável da direcção da BO.

Segundo a direcção da cadeia, Nini

demonstrou um “bom comportamen-

to”.

-

-

-

Despacho do juiz

-

-

Liberdade condicional de Nini divide órgãos de justiçaPor Argunaldo Nhampossa

-

-

-

-

Parecer da BO

-

-

-

-

-

--

-

--

-

-

-

-

Nini Satar aguarda decisão do SERNAP para gozar liberdade

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

Em voz baixa-

Page 28: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

Savana 05-09-2014EVENTOS

EVENTOS

o 1078

A desnutrição crónica con-tinua sendo considera-da o maior problema de saúde pública no país por

ser responsável por 43 por cento das mortes nas crianças com me-nos de cinco anos. Uma em cada duas crianças nesta faixa etária não consegue atingir o seu poten-cial de crescimento físico, mental e cognitivo, devido ao défice de altura em relação à idade. Devido a este aspecto, a cantora beninen-se e embaixadora de boa vontade do Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF), Angélique Kidjo, visitou, na última semana, o bairro Madinguine, no distrito da Moamba (província de Maputo), para se inteirar dos trabalhos que estão a ser desenvolvidos pela sua organização, naquela localidade.

Kidjo afirma que a desnutrição cró-

nica em África resultada da falta de

cuidados básicos nas crianças, prin-

cipalmente no que tange ao acesso à

educação, saúde e saneamento. Kid-

jo considera: “sem juventude não

há economia” por isso “temos que

investir na educação para prepa-

Angélique Kidjo visita Moamba

Por Abílio Maolela

rarmos o futuro dos nossos filhos”.

Aliás, a cantora explica que nos

países desenvolvidos (como Esta-

dos unidos da América) as crianças

nascem em cidades ou localidades,

onde há condições básicas de higie-

ne e saneamento.

Os hábitos alimentares, a falta de

uma educação nutricional, a falta

de condições básicas de higiene e

de políticas claras do governo têm

sido apontados como sendo os

principais factores desta problemá-

tica e a embaixadora da UNICEF

afirma ser necessário usarmos “to-

dos os recursos” para sensibilizar as

comunidades, de modo a saber qual

é a melhor dieta alimentar a seguir

e os cuidados a ter com os resíduos

sólidos.

Falando aos jornalistas, após a sua

visita de trabalho às actividades de

desnutrição crónica (coordenadas

pela UNICEF), naquele bairro, a

embaixadora daquela organização

não culpa o governo pelo problema,

pois, para ela, a responsabilidade é

“todo o cidadão”.

A cantora aponta ainda a discrimi-

nação baseada no género também

como responsável, pois, para ela, “as

nossas sociedades supervalorizam

os homens que as mulheres”. Kid-

jo vai longe ao dizer que “a mulher

deve ser a arma principal no com-

bate à desnutrição, pois “é responsá-

vel pelo planeamento alimentar da

família”.

A embaixadora da UNICEF foi

recebida por uma média de 30 mu-

lheres e crianças.

Mertina Changana, residente de

Madinguine e avó de duas crianças,

uma órfã de mãe e outra abando-

nada, revelou que tem sido difícil

sustentar as duas crianças, tendo em

conta que as mesmas sobrevivem de

leite artificial. Mertina diz que para

sustentar o neto e o bisneto recorre

a alguns negócios.

Por sua vez, Cristina Macuácua, re-

sidente do mesmo bairro, diz que o

seu bairro sofre de desnutrição por-

que “cultivamos uma vez por ano,

devido à falta da chuva”.

Macuácua adianta ainda que quan-

do não há chuva “recorremos às lo-

jas para comprar arroz e peixe, pro-

dutos esses que, para a fonte, “são

caros”.

A fonte indica que, devido à falta

de condições, a comunidade do seu

bairro recorre a hortícolas, como

folha de abóbora, couve, nhangana,

assim como batata-doce e mandio-

ca.

“O que produzimos é para o nos-

so consumo e o que resta é para o

mercado, de modo a comprarmos

produtos básicos como sal, açúcar e

sabão”, destacou a fonte.

Para o Secretário do bairro, Ernesto

Bernardo, o principal problema que

a sua região enfrenta é a falta de

produtos agrícolas, como o milho,

devido à falta de chuvas.

“Quando há chuva vivemos de ma-

chambas”, sublinhou, para depois

exortar a população a combater a

doença, pois “na faixa etária entre

quatro a cinco anos, há uma defor-

mação do corpo”.

O dirigente daquele bairro da vila

sede da Moamba considerou a vi-

sita da cantora beninense como

importante porque “é pela primeira

vez que recebemos uma visita deste

género”.

Para a directora distrital da Saúde,

Felismina Massinga, os serviços de

saúde naquela parcela do país fazem

palestras, de modo a que os visados

se possam fazer presentes nas nos-

sas oficinas de culinária desenvol-

vidos.

A médica aponta a falta de alimen-

tos como sendo a principal causa do

problema da desnutrição crónica.

Entretanto, a embaixadora da UNI-

CEF considera que os resultados

das políticas adoptadas pela sua

organização “são encorajadores” por

isso “devemos apostar nos outros

países”.

Recordar que o Seminário Nacional

sobre a Desnutrição Crónica, reali-

zado em Março de 2010, elaborou

o Plano de Acção Multissectorial

para a Redução da Desnutrição

Crónica em Moçambique 2011-

2015(20), no qual preconiza redu-

zir a doença em menores de cinco

anos de 44% em 2008 até 30% em

2015 e 20%, em 2020. O mesmo foi

aprovado pelo Conselho de Minis-

tros na sua 34ª sessão ordinária de

28 de Setembro de 2010.

Angélique Kidjo, 54 anos de idade,

é embaixadora de boa vontade da

UNICEF desde 2002 e lidera os

programas de educação da rapariga

e da criança.

Page 29: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

Savana 05-09-2014EVENTOS

RedacçãoEdson BernardoMaquetização

Hermenegildo TimanaComercial

Benvinda TameleTelefone

(+258) 823051790

Savana Eventos

2

Mussá Bachir M. Tembe foi esta semana nomea-do PCE do Banco Mer-cantil de Investimentos

(BMI). Sedeado em Maputo e detido maioritariamente pelo Ins-tituto Nacional de Segurança So-cial, a EDM e a SPI, o BMI possui actualmente dependências apenas em Maputo e até agora tem tido uma actuação pouco expressiva no mercado. Fontes ligadas à institui-ção revelam que esta indigitação traduz a intenção dos accionistas de incutir uma nova dinâmica no Banco, esforço para o qual se com-

prometeram a efectuar uma injecção

de capital de pelo menos 30 milhões

de dólares, abrindo o caminho para

um processo de inovação e o início

de uma expansão para as restantes

regiões do País daquela que é única

instituição financeira com capitais

exclusivamente moçambicanos. O

BMI, considerado durante muitos

Mussá Tembe lidera Banco Mercantil de Investimentos

anos um banco problemático, este-

ve desde o seu início de actividades

ligado à nomenklatura do consulado

chissanista, sendo o seu primeiro

executivo um ruandês que acabou

por ser preso pelo presidente Paul

Kagame.

Com 39 anos de idade e licenciado

em Economia pela Universidade

Eduardo Mondlane, Mussá Tembe

possui extensa experiência de direc-

ção nas áreas financeira e de consul-

toria, com passagens por várias áreas

em algumas das principais institui-

ções da banca nacional, integrando

uma nova geração de quadros na-

cionais com formação técnica es-

pecializada e elevado potencial de

liderança.

A emblemática Riopele, fá-brica têxtil encerrada há vários anos no distrito de Marracuene, 30 km a nor-

te da cidade de Maputo, foi sexta--feira passada reinaugurada pelo Presidente da República, Arman-do Guebuza. Agora denominada fábrica de têxteis Mozambique Cotton Manufacturers (MCM), foi relançada com capitais maio-ritariamente portugueses, das em-presas Mundotêxtil, Mundifios e Crispim Abreu (85%), enquanto do lado moçambicano entra a Intelec Holdings (15%), liderada pelo empresário Salimo Abdula. Na Intelec Holdings, a família presidencial detém interesses em-presariais.

“O investimento realizado vai re-

sultar na criação de mais de 750

empregos directos, até 2016, e

contribuir para dinamizar a vida

social e económica de Marracuene,

da província de Maputo”, notou

Guebuza, na intervenção que mar-

cou a ressurreição da Riopele.

Guebuza sublinhou que a nova

fábrica enquadra-se na Agenda

Nacional de Luta contra a Po-

breza e incentiva a valorização e

o aumento da produção, consumo

Riopele com nova carae exportação de produtos nacionais

transformados.

Segundo Guebuza, esta fábrica

promove a criação de indústrias de

agro-processamento para o aprovei-

tamento dos recursos locais em áreas

com potencial agrário.

Na ocasião, Guebuza lembrou que

esta fábrica servia de uma grande

referência em Marracuene, para pro-

jectar o país à escala planetária de

negócios e de formação de parcerias

existentes.

De acordo com Guebuza, a revitali-

zação do sector têxtil de confecções

está plasmada na estratégia do desen-

volvimento deste sector que prevê o

aproveitamento das boas condições

agro-ecológicas para a produção de

algodão, o aproveitamento da com-

petitividade laboral, água e electrici-

dade e aproveitamento do acesso aos

mercados preferenciais e da zona do

comércio da SADC.

Sublinhou que a previsão de produ-

ção de 110 mil toneladas de algodão

para a presente campanha vai ga-

rantir a matéria-prima desta indús-

tria. A produção do algodão para

alimentar esta fábrica encontra-se

na província de Gaza. A fábrica vai

consumir cerca de 30% da produção

nacional de algodão.

Numa primeira fase, o consorcio está

O Banco Comercial e de In-vestimentos (BCI) reivin-dica ter liderado a quota de mercado de volume de acti-

vos (28,81%, em Junho), registando

um crescimento de 17,8% de Junho

de 2013 a igual mês de 2014, para

315,635 mil milhões de meticais,

indica uma nota daquela instituição

financeira.

Ao nível do volume de negócios, o

BCI indica que o crescimento de

Junho de 2013 para o mesmo pe-

ríodo de 2014 foi de 20,7%, para

395,105 mil milhões de Meticais.

Em termos de depósitos, no mesmo

período, o BCI registou um cresci-

mento de 15,7%, para 218,808 mil

milhões de meticais, tendo no cré-

dito assinalado um crescimento de

27,6%, para 176,297 mil milhões

de Meticais. Em todos estes indi-

cadores, o BCI afirma que regista

o maior crescimento entre os três

maiores bancos moçambicanos, no

mesmo período.

No seu comunicado depositado na

nossa Redacção, o BCI lembra que

recebeu, já no mês de Agosto cor-

rente, a distinção “O Banco do Ano

2014”, atribuída pelos “The Europe-

an East Africa Awards”, “pelo rele-

vante contributo dado para o desen-

volvimento do país”.

BCI reivindica ganhosRecorda igualmente que recebeu

também este ano os Prémios PMR

Africa 2014, como “O Melhor Ban-

co Comercial de Particulares” e “O

Melhor Banco Comercial de Em-

presas”, foi galardoado como “O

Melhor Banco Comercial – Mo-

çambique 2014”, pelo segundo ano

consecutivo, pela “Global Banking

& Finance Review” e como “O

Melhor Banco Comercial – Mo-

çambique 2014”, pelo quarto ano

consecutivo pela prestigiada revis-

ta “World Finance”. Em 2014, tal

como já havia acontecido em 2013,

o BCI afirma igualmente que lidera

em número de prémios recebidos.

Segundo o banco, a forte expansão

da rede comercial do BCI, em todas

as Províncias, incluindo distritos ru-

rais, a liderança no desenvolvimen-

to dos canais electrónicos (ATM,

POS, BCI Directo eBanking, BCI

Directo Mobile, BCI Directo App e

Tako Móvel), a constante inovação

no lançamento de produtos e servi-

ços e a atenção dedicada a todos os

segmentos de mercado têm permi-

tido granjear a confiança da maioria

das instituições, empresas e famílias

moçambicanas, o que coloca o BCI

na liderança no crescimento e no

reconhecimento, em 2014, entre as

principais instituições bancárias a

operar em Moçambique.

a investir na formação de quadros,

visto que este tipo de indústrias já

tinham sido ultrapassadas, sendo

necessário que sejam selecciona-

das pessoas com capacidades e

habilidades de lidar com este tra-

balho.

“O que testemunhamos hoje é

primeira fase do projecto que é

de fiação, que estará em funcio-

namento em duas semanas. A se-

gunda parte será a de Tecelagem,

que estará pronta daqui a seis

meses, nesta fase irá se trabalhar

sete vezes por semana sem parar e

contamos atingir ao máximo 750

empregos directos”, frisou Salimo

Abdula, PCA da Intelec Holdin-

gs.

O consórcio integrado pela em-

presa moçambicana Intelec Hol-

dins e as portuguesas Mundo Têx-

til, Mundifios e Crespim Abreu já

investiu neste momento USD15

milhões de capital próprio, mas a

área de fiação e de tecelagem está

orçamentada em USD40 milhões.

É de referir que este projecto está

previsto para ser implementado

em grande escala em Mocuba,

província da Zambézia, onde será

reabilitada a antiga fábrica têxtil

localizada naquele ponto de Mo-

çambique. Fárida Sequeiro

O Ministério da Saúde (MISAU) recebeu nes-ta terça-feira diverso material de prevenção e

combate ao Ébola, uma doença que, segundo dados da Orga-nização Mundial da Saúde, já matou 1.552 pessoas no leste do continente africano. O material foi oferecido pelas Cervejas de Moçambique (CDM), no quadro da sua responsabilidade social e corporativa.

O material vai ser alocado aos

principais pontos de entrada do

País, nomeadamente fronteiras e

aeroportos, para além de algumas

unidades sanitárias.

Trata-se de 100 termómetros in-

fravermelhos, 300 fatos macacos

impermeáveis descartáveis, 300

respiradores descartáveis, 300 vi-

seiras descartáveis com protecção,

300 pares de luvas PVC descartá-

veis, 600 pares de luvas de nitrilo

descartáveis e 365 pares de botas

de borracha.

Para José Moreira, administrador

da CDM, a oferta deste material

visa reforçar o quadro de medidas

de combate e prevenção que estão

a ser levadas a cabo pelo Governo,

com vista a preparar o País para

um possível surto desta doença.

“Se o Ébola é uma epidemia à

escala mundial, a preparação do

nosso País, onde a Cervejas de

Moçambique opera, constitui

prioridade. A identificação e a

aquisição deste material foram

CDM junta-se à prevenção e combate ao Ébola

feitas em colaboração com o Minis-

tério da Saúde”, frisou Moreira.

Moreira referiu igualmente que esta

oferta vem responder aos apelos fei-

tos pelo Governo, no sentido de as

empresas e os cidadãos participarem

nesta missão. “Sabemos que esta

contribuição está aquém das ne-

cessidades do Ministério da Saúde,

porém, acreditamos que podemos

minimizar os efeitos desta doença”.

Por seu turno, Francisco Mbofana,

director nacional de Saúde Pública,

afirmou: “o material chega numa al-

tura em que as autoridades sanitárias

estão a preparar-se para dar uma res-

posta adequada a um eventual surto

do Ébola”.

Num outro desenvolvimento, Mbo-

fana explicou que, por exemplo, os

termómetros vão contribuir para o

reforço das medidas de vigilância

nos pontos de entrada, onde estão

elementos do Ministério da

Saúde para efectuar testes aos

indivíduos provenientes, prin-

cipalmente, de países afectados

por esta doença.

“Com este material, podemos

fazer o nosso melhor. Neste

momento, a nossa preocupação

é reforçar as nossas medidas de

vigilância nos pontos de entra-

da para assegurar que, caso haja

uma suspeita, possamos rapida-

mente agir de acordo com o que

a Organização Mundial da Saú-

de recomenda”, enfatizou.

“Ainda não temos nenhum caso

suspeito, nem confirmado. O que

temos são informações que dão

conta da entrada de 10 indivídu-

os provenientes de um dos países

afectados. Eles estão, neste mo-

mento, em quarentena”, acres-

centou Francisco Mbofana.

Entrega simbólica do material para prevenção e combate ao virus da Ébola

Mussá Bachir M. Tembe PCE do Banco Mercantil de Investimentos (BMI)

Page 30: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

Savana 05-09-2014EVENTOS 3

A operadora de telefonia móvel Vodacom realizou, na última sexta-feira, em Maputo, a oitava edição

do programa “Vodacom Sessions”. Esta iniciativa teve como objectivo abordar a situação actual da opera-dora no mercado, bem com as ac-ções comerciais levadas a cabo no primeiro semestre de 2014 e ainda informar sobre os novos projectos a serem implementados no decurso do mesmo.

Entretanto, a Vodacom garantiu

que irá continuar a oferecer aos seus

clientes um serviço de qualidade e

eficiente através da sua aposta nas

inovações de produtos, bem como

“Vodacom Sessions” anuncia crescimento da operadoraPor Nélia Jamaldine

na contínua expansão da sua rede,

abertura de novas lojas com servi-

ços simplificados.

Na ocasião, o Chefe Executivo da

Direcção de Marca da Vodacom,

Riaz Jassat, orador da sessão, referiu

que associado à celebração do déci-

mo aniversário da telefonia móvel,

várias são as acções levadas a cabo

pela entidade, entre elas a consoli-

dação do seu posicionamento junto

ao mercado.

Sem apresentar números, Jassat

acrescentou ainda que, desde a sua

entrada no mercado, a Vodacom

tem registado crescimento a todos

os níveis, desde o número de clien-

tes, volume de chamadas, uso de

internet entre outros serviços.

Page 31: Pág. 2 Fernando Lima · zer, de viva voz, que valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e a entrega abnegada de mulheres e homens, jovens e adultos, que durante dois anos dedicaram

Savana 05-09-2014EVENTOS4 PUBLICIDADE