11

Click here to load reader

PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

8/13/2019 PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

http://slidepdf.com/reader/full/pi-011-bobbio-norberto-matteuci-nicolai-pasquini-gianfranco-dicionario 1/11

RELAÇÕES INTERNACIONAIS 1089

Relações Internacionais.

I. A DICOTOMIA "SOBERANIA ESTATAL-ANARQUIA INTERNACIONAL" COMOFUNDAMENTO DA DISTINÇÃO ENTRE RELAÇÕESINTERNAS E RELAÇÕESINTERNACIONAIS. — Aexpressão Relações internacionais indica, nos lermosmais genéricos, o complexo das relações queintermedeiam entre os Estados, entendidos quer comoaparelhos quer como comunidades; implica adistinção da esfera específica das Relaçõesinternacionais da esfera das relações internas dosEstados. Tal distinção está, com efeito, associada,mesmo a nível do sentir comum, à idéia de queexistem importantes elementos de diferença entre asrelações internas e as Relações internacionais. Istonos põe, portanto, diante da necessidade preliminar deesclarecer rigorosamente tais diferenças, isto é, deestabelecer um critério qualitativo de distinção dasduas esferas de relações. Este critério não poderáfundar-se na diversidade dos atores, ou sejar pôressencialmente a diferença no fato de que, nocontexto das Relações internacionais, os atores seriamos Estados, enquanto, no das relações internas, osatores seriam os indivíduos e os sujeitos coletivos não

estatais, como os partidos, os sindicatos, as empresas,etc. Com efeito, junto com os Estados, possuemtambém um papel importante nas Relaçõesinternacionais organismos de índole internacional(ONU, NATO e outros sistemas de aliançasinternacionais, COMECON, OPEC, etc), organismosintegrativos como as comunidades européias, gruposde pressão como as empresas multinacionais e asinternacionais partidárias e sindicatos, organizaçõescomo a OLP e por aí afora. Esse critério também não pode basear-se essencialmente na diferença relativaao conteúdo, porque, no contexto internacional comono interno, existem relações de conteúdo político,econômico, social, cultural, etc, de carátercooperativo ou conflituoso e, atendendo só a esteaspecto, não se revelam diferenças tão claras eevidentes que possam servir de base a um clarificadorcritério de distinção. Na realidade, tal critério não pode senão referir-se essencialmente ao modo diversocomo as relações internas e internacionais se regulam,ou seja, ao fato de que, enquanto as primeiras sedesenvolvem normalmente sem o recurso à violência,que é monopólio da autoridade soberana, as segundasse desenvolvem "à sombra da guerra" (R. Aron), istoé, envolvem a possibilidade permanente da guerra ouda sua ameaça, quando não sua experiência freqüente.

O conceito fundamental de onde se há de partir éque, se a SOBERANIA(V.), OUmonopólio

internacional da força, é o poder de garantir, emúltima instância, a eficácia de um ordenamento jurídico, sendo por isso a garantia da manutenção derelações pacíficas dentro do Estado, ela é também, por outro lado, a causa da guerra nas relações entre osEstados (Kant). No contexto internacional, asoberania do Estado significa na realidade que ele nãoestá sujeito a leis que lhe sejam impostas por umaautoridade supra-estabelecida, dotada do monopólioda força; significa, por outras palavras, a existência deuma situação anárquica. Não podendo, pois, oscontrastes que surgem nas Relações internacionais serresolvidos mediante decisão de um poder soberanocapaz de impor um ordenamento jurídico eficaz, os

Estados recorrem, em última análise, à prova de força,vendo-se obrigados, em vista da constante possibilidade de tal situação, a armarem-se uns contraos outros ou, se não puderem confiar só em suasarmas, a apoiarem-se nas armas alheias. Está aqui, portanto, a raiz profunda da política de potência, daguerra, do imperialismo, entendido este no seucontexto mais geral, quer como expansão dos Estadosmais fortes em detrimento dos Estados ou povos maisdébeis, quer como imposição da vontade e dosinteresses daqueles a estes. Este conceito dasRelações internacionais e da sua diferença quanto àsrelações internas não é desmentido pela existência deum direito internacional, que muitos juristasconsideram um ordenamento originário, plenamentevinculador para quantos lhe estão sujeitos. Narealidade, se se analisam as normas do direitointernacional sob o aspecto, não da sua validade, masda sua eficácia, fica fora de dúvida que esta repousa,em última instância, na vontade que tiverem osdestinatários de as acatar. O fato de que adeterminados organismos internacionais, como aONU, seja reconhecida pelos seus membros afaculdade de conhecer das contendas entre as naçõese de cominar sanções, não modifica os termos daquestão, se se considera que, salvo casos totalmentesecundários, a execução de sanções desse gênero levaà guerra, que é o contrário do direito. Tudo istosignifica que, enquanto tem sentido afirmar serem asrelações dos homens dentro do Estado reguladas pelodireito, uma afirmação desse tipo não tem qualquerfundamento, se referida às Relações internacionais,onde o direito internacional, conquanto desempenheaí um papel preciso, pelas razões que mais adianteserão melhor esclarecidas, possui essencialmente afunção de servir de instrumento das políticas externasdos Estados, determinadas pelo jogo dos interesses edas relações de força.

Se é claro que a diferença realmente essencial queexiste entre as Relações internacionais e as

Page 2: PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

8/13/2019 PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

http://slidepdf.com/reader/full/pi-011-bobbio-norberto-matteuci-nicolai-pasquini-gianfranco-dicionario 2/11

1090 RELAÇÕES INTERNACIONAIS

internas diz respeito ao modo como elas se regulam,será possível compreender como tal diferençaestrutural influi também em seu conteúdo. Emsubstância, se excetuarmos as situações de profundacrise institucional ou até de guerra civil, existe dentrodo Estado um grau de certeza e de previsibilidade nasrelações entre os homens que, mesmo sendo relativo,visto haver sempre também dentro do Estado umaesfera não eliminável de relações antijurídicas, é, dequalquer modo, qualitativamente diverso da naturezaestruturalmente aleatória que caracteriza as Relaçõesinternacionais. Estas, com efeito, além de estaremsubordinadas ao êxito das guerras, tornam-se maisdifíceis mesmo nos momentos de paz (ou melhor, de

trégua), estando sempre de algum modo sujeitas ànecessidade da segurança militar, que, como esclarecea teoria da R AZÃO DEESTADO (V.), possui um valor prioritário em relação aos princípios jurídicos, morais, políticos e econômicos, considerados, no entanto,imperativos, quando não está em jogo a segurança.

A situação estrutural de anarquia que caracteriza asRelações internacionais é, por outro lado, igualmenterelevante quanto aos atores que operam nessecontexto.. Se é verdade, como vimos, que aqui, aolado dos Estados, desempenham também um papelimportante atores não estatais, se é verdade que taisatores têm um papel decisivo e a iniciativa numgrande número de crises e de conflitos internacionais(pense-se nas empresas multinacionais), também éverdade, por outro lado, que, quando se chega às provas de força, não são eles que as levam a efeito,mas os Estados, que monopolizam a força, e osresultados dessas provas são afinal avaliados segundoa influência que eles têm na vida dos Estadosenvolvidos. O que indica que os Estados são, se nãoos únicos, certamente os atores decisivos no contextodas Relações internacionais.

O raciocínio baseado na dicotomia "soberaniaestatal-anarquia internacional", é necessário ainda

precisar, não é absolutamente válido; o é em relaçãoao contexto histórico específico e determinado,conquanto de grandes dimensões e importância,caracterizado pela existência dos modernos Estadossoberanos (ou de entidades a eles assemelhadas). Narealidade, só onde existe o fenômeno de uma pluralidade de Estados soberanos é que se podedistinguir, em sentido estrito, uma esfera de relaçõesinternas, ou seja, subordinadas à soberania, de umaesfera de Relações internacionais, isto é,desenvolvidas entre entidades soberanas, nãosubordinadas a uma autoridade superior. Emconcreto, o contexto histórico que corresponde demodo paradigmático a estes requisitos é o da Europamoderna (depois também

o do mundo inteiro, com a afirmação no século XX deum sistema mundial de Estados e a generalização emtodo o mundo das formas do Estado moderno). AEuropa moderna começou a formar-se emconseqüência das transformações operadas entre o fimda Idade Média e a paz de Westfália (1648), querepresenta, ao mesmo tempo, um momento decisivo no processo de realização e consolidação do monopólioda força dentro do Estado, o momento em que sereconhece formalmente, de modo geral, a soberaniaabsoluta do Estado no plano internacional, e tambémaquele em que se definem oficialmente as bases dodireito internacional, ou seja, do direito destinado aregular as relações entre os Estados soberanos. Com

esta situação contrastam, de forma paradigmática, porrazões opostas, tanto a condição medieval de dispersãoda soberania, onde, não existindo nenhuma autoridadeefetivamente soberana, é extremamente problemático,se não impossível, distinguir as relações internas dasinternacionais, quanto a época em que o impérioromano dominou de forma quase completa a área dacivilização clássica mediterrânea, depois de nela havereliminado todo o Estado ou povo independente. Masexiste, ao contrário, uma certa analogia entre aEuropa moderna e a situação das cidades-Estados daantiga Grécia, no período do seu maior florescimento eda sua independência. A mesma semelhança seencontra também nos principados italianos do séculoXV. Em geral, os contextos históricos caracterizados pela existência durável de uma pluralidade de Estadossoberanos constituem os modelos de referênciaindispensáveis na análise de situações embrionárias ouintermediárias que emergem em diversos contextoshistóricos e culturais. Deve-se, enfim, observar, paraconcluir este ponto, que as conseqüências vinculadas àatual existência de uma pluralidade de Estadossoberanos estão fadadas a desaparecer, caso sechegue à criação de um único Estado mundial.

II. O SISTEMA DOS ESTADOS E O GOVERNODO MUNDO. — Se com o conceito de anarquiainternacional se põe em evidência o dado estruturalconstituído pela ausência de um ordenamento jurídicoeficaz e pelo conseqüente predomínio da lei da forçanas Relações internacionais, isso não significa emabsoluto julgar que a realidade internacional seja umasituação totalmente caótica, dominada pelo choquecontínuo, irracional e imprevisível entre os Estados,uma situação, portanto, destituída de toda a ordem. Na realidade, os teóricos da razão de Estadocomeçaram a perceber desde o início que existem nocontexto internacional outros elementos estruturais,além

Page 3: PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

8/13/2019 PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

http://slidepdf.com/reader/full/pi-011-bobbio-norberto-matteuci-nicolai-pasquini-gianfranco-dicionario 3/11

RELAÇÕES INTERNACIONAIS 1091

do mais geral da anarquia, que tornam menos caótico,e, conseqüentemente, relativamente maiscompreensível e previsível em seu desenvolvimentoconcreto, tal contexto. O pensamento que foram progressivamente elaborando e aperfeiçoando (e quesobretudo nestes dois últimos séculos atingiu umnotável rigor teórico), na tentativa de esclarecer osdemais elementos estruturais que atuam na realidadeinternacional e de a controlar de modo maisapropriado, centraliza-se no conceito de "sistema dosEstados", que trataremos agora de explicar em seusaspectos fundamentais.

O ponto de partida desta teoria é a constatação deque as relações de força existentes entre os Estados

levaram à formação de uma férrea hierarquia entreeles, uma hierarquia que discrimina as "grandes potências", ou seja, os Estados realmente capazes dedefender de modo autônomo, ou com a própria força,os seus interesses, das médias e pequenas potências,que precisam, em vez disso, de buscar a proteção deuma das grandes potências, a menos que estas lhereconheçam concordemente a neutralidade. Uma talsituação implica automaticamente que as decisõesfundamentais de que depende a evolução das Relaçõesinternacionais sejam tomadas pelas grandes potênciase, conseqüentemente, por um número muito reduzidode Estados soberanos em relação ao seu total. Nosistema dos Estados europeus, as grandes potências,que não foram sempre as mesmas, nunca excederam onúmero de seis, ao passo que, no atual sistemamundial, foram duas até há pouco tempo e hoje, como emergir da China, tendem a ser três ou até mesmoquatro, com a progressiva consolidação daComunidade Européia.

Se a existência das grandes potências constitui um primeiro e decisivo elemento estrutural no quadro daanarquia internacional, nele introduzindoindubitavelmente um fator de ordem muito genérico,que preside particularmente às relações entre os

grandes e os pequenos Estados, o segundo elementoestrutural básico é o equilíbrio, que regula, ao invés,as relações entre as grandes potências, introduzindotambém ele um novo fator de ordem. Ao ver noequilíbrio o dado estrutural fundamental quecondiciona as relações entre as grandes potências,quer-se ressaltar antes de tudo uma situação de fato,ou seja, que entre as grandes potências dominantes nosistema europeu e mundial (bem como no das cidades-Estados da Grécia e no italiano do século XV) secriou uma situação duradoura de não excessivadiferença no plano da força, capaz de impedir quequalquer delas se sobrepusesse a todas as demais e, por conseguinte, de conter toda a tentativa

hegemônica, quer pela coalizão das restantes potênciascontra o Estado mais forte e seus aliados, quersimplesmente devido à capacidade de resistência deuma só das potências, no caso de o sistema serformado apenas por duas grandes potências. Estemecanismo pôde funcionar, enquanto se manteve,graças a que as grandes potências adotaram comoregra de comportamento no plano internacional a política do equilíbrio. Isso não quer dizer que amanutenção do equilíbrio entre as grandes potênciastenha constituído sempre o objetivo primário econstante da política externa de cada uma dessas potências; quer apenas dizer que cada uma delas, nãotendo possibilidade objetiva de aspirar à hegemonia,

agiu regularmente de tal forma que pudesse impedirque um Estado ou coalizão de Estados acumulassemforças superiores às dos seus rivais coligados. Fizeram-no pela simples mas decisiva razão de que a rupturaradical do equilíbrio traria consigo a hegemonia deum Estado sobre todos os outros e, por conseguinte, a perda da própria soberania e independência. Estemecanismo do equilíbrio não trouxe consigo, comoéevidente, a superação da anarquia internacional comsuas manifestações violentas e belicosas. A própria política de equilíbrio torna indispensável, aliás, quetoda a grande potência aumente sem cessar a sua forçanum mundo caracterizado por um contínuo progressoeconômico, demográfico e tecnológico, e esteja,enfim, também disposta a fazer a guerra para manter precisamente o equilíbrio. Por outro lado, o equilíbrioé o mecanismo que tornou possível, no sistemaeuropeu e mundial, a manutenção da autonomia dasgrandes potências e, em conseqüência, de um sistema pluralista de Estados soberanos, que permitiu, entreoutras coisas, garantir um mínimo de autonomia àsmédias e pequenas potências.

A hierarquia entre os Estados e o equilíbrio entreas grandes potências constituem, pois, no quadro daanarquia internacional, os dois elementos estruturais

básicos que a transformam, de simples pluralidadecaótica de Estados, num sistema de Estados, ou seja,numa realidade caracterizada por uma relativa ordeme, por isso, relativamente mais compreensível e previsível em seu desenvolvimento concreto. Oequilíbrio entre as grandes potências constitui, em particular, a condição concreta que induziu os Estadosa se reconhecerem reciprocamente, até de modoformal, como Estados soberanos e que, no caso daEuropa moderna, tornou realmente possível aafirmação e progressiva difusão do direitointernacional, garantindo-lhe a eficácia em medidamais ou menos ampla, conforme os casos, apesar deele não derivar de um poder soberano. Com

Page 4: PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

8/13/2019 PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

http://slidepdf.com/reader/full/pi-011-bobbio-norberto-matteuci-nicolai-pasquini-gianfranco-dicionario 4/11

1092 RELAÇÕES INTERNACIONAIS

efeito, segundo o ponto de vista da doutrina da razãode Estado (Hintze), as normas do direito internacionalque são efetivamente observadas pelos Estados, vão buscar sua validade fatual, não tanto ao princípio pacta sunt servanda, que é essencialmente um juízode valor, quanto sobretudo ao fato de que, dado oequilíbrio, isto é, a impossibilidade real de eliminar asoberania dos outros Estados, os atores principais dosistema internacional tiveram de reconhecer anecessidade de conviver de algum modo, mesmo semrenunciar à política de potência e à guerra comoextrema ratio, e, conseqüentemente, de regular dealguma forma essa convivência de caráter anárquico,fazendo nascer um direito sui generis, na medida em

que legitima o uso normal da violência. Emsubstância, se não existe um poder soberano quegaranta o respeito pelo direito internacional, existe emtodo caso uma situação de poder, embora instávelcomo o equilíbrio entre as potências, que obtém dealguma maneira o mesmo efeito.

A hierarquia entre os Estados e o papel dominantedas grandes potências configuram, por outro lado, a presença de uma espécie de Governo no quadro dosistema dos Estados, definido como "Governo domundo" com referência à fase em que o sistemaeuropeu conseguiu dominar o mundo inteiro, mas,com mais razão, em relação à fase do atual sistemamundial. Trata-se evidentemente de um Governo detipo qualitativamente diverso do existente no quadrode um Estado, pois lhe falta o requisito da soberania,sendo constituído por um conjunto de potênciassoberanas que praticam a política de potência entre si eem relação aos demais Estados. A soberania implica,com efeito, que as decisões do Estado relativas aoscidadãos, mesmo sendo produto de discussões atémuito ásperas (mas não violentas) entre os vários partidos e grupos econômico-sociais, uma veztraduzidas em normas que passarão a fazer parte doordenamento jurídico, sejam impostas pelo poder

irresistível do Estado, mediante a ação conjunta dosseus órgãos. Pelo contrário, as decisões de valorinternacional das grandes potências, tomadas com base nas relações de força entre grupos armados, oumesmo na guerra, e traduzidas em normas de direitointernacional, tratados de vário gênero, alianças,distribuição de zonas de influência, regras formais einformais, etc, possuem sempre uma eficáciaestruturalmente inferior em comparação com asdecisões internas dos Estados e criam situaçõesestruturalmente mais precárias e aleatórias. Nãoobstante tais diferenças de qualidade, não é injustoafirmar que as grandes potências exercem o Governodo mundo (ou do sistema dos Estados), uma vez

que nos encontramos diante de uma situação em queas decisões de um número relativamente pequeno desujeitos internacionais traçam as linhas fundamentaisdo desenvolvimento das relações entre as nações edelimitam em especial, de forma decisiva, com umaintensidade e rigor diversos conforme ascircunstâncias, o campo de ação das médias e pequenas potências. Podemos, além disso, observarque, em certos períodos, tais decisões conseguemcontrolar a evolução da situação internacional com taleficácia que garantem uma notável estabilidade(caracterizada particularmente pela ausência deguerras gerais, ou guerras que envolvem as grandes potências, e pela ausência ou fraca presença de guerras

limitadas ou locais) e estabelecem, por isso, umaverdadeira e autêntica "ordem internacional", isto é,uma situação que, conquanto sempre qualitativamentediversa da situação interna de um Estado, tende aassemelhar-se a ela. Estas fases, mais ou menosduradouras, são em todo caso regularmenteinterrompidas por fases de crise aguda na ordeminternacional, ou seja, o mais das vezes, por guerrasgerais, tornadas inevitáveis pelo fato de que, quandosurgem contrastes profundos entre as grandes potências ou as potências emergentes, tendem amodificar a ordem internacional para a ajustar às suascrescentes necessidades, o único modo de resolver

esses contrastes é a guerra, de cujo desfechodependerá depois a nova configuração da ordeminternacional. Além desta incapacidade estrutural degerir pacificamente os contrastes graves e anecessidade de mudanças profundas, o Governo domundo, é preciso observar ainda, apresenta um carátermarcadamente antidemocrático. Mesmo que existam procedimentos democráticos eficazes no seio dasgrandes como das médias e pequenas potências, a suaeficácia se detém na fronteira dos Estados, já que asdecisões do Governo do mundo são fruto de relaçõesde pura força entre as grandes potências e não de umdebate ou de procedimentos democráticos, sendoimpostas aos demais Estados sem que eles tenham podido sequer contribuir para a sua elaboração.

III. SISTEMAS MULTIPOLARES E SISTEMAS BIPOLARES. — Os modelos mais típicos de configuração dasrelações de força são o multipolar e o bipolar: ou osatores principais, cujas forças não são excessivamentedesiguais, são relativamente numerosos, ou então sódois atores dominam de tal modo seus rivais que setransformam em centros de coalizões, sendo os atoressecundários obrigados a tomar posição em relaçãoaos dois "blocos", aderindo a um ou a outro, a menos

que tenham a possibilidade, graças em parte à

Page 5: PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

8/13/2019 PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

http://slidepdf.com/reader/full/pi-011-bobbio-norberto-matteuci-nicolai-pasquini-gianfranco-dicionario 5/11

RELAÇÕES INTERNACIONAIS 1093

sua posição geopolítica, mas, sobretudo, ao acordoformal ou tácito das superpotências, de se manteremneutrais. São possíveis modelos intermédios, de acordocom o número dos atores principais e da maior oumenor distância, mormente na configuração bipolar,entre as maiores potências e as potências médias.Mas vejamos agora as características principais dosmodelos típicos que servem também de paradigma naanálise das situações intermediárias e na compreensãodas variações que nelas ocorrem.

O exemplo fundamental do equilíbrio multipolar(dele se aproxima, com algumas reservas relativas ao processo ainda incompleto da formação do Estadomoderno, o sistema dos principados italianos do

século XV, em cujo âmbito se impôs, entre outros, ouso das embaixadas estáveis, cujo escopo original era justamente o de acompanhar de perto a evolução da potência dos outros Estados, para se poderem tomarmedidas adequadas à manutenção do equilíbrio) estáno sistema dos Estados europeus, que pôde manteressa configuração até se dissolver no atual sistemamundial, principalmente por causa do constante papelde equilíbrio nele desempenhado pela potência insularinglesa.

A característica mais evidente do equilíbriomultipolar é, à primeira vista, uma relativa elasticidadesob dois aspectos. Antes de mais nada, sob o aspectodas alianças, que tendem a não enrijecer mas a mudarsegundo as exigências da manutenção do equilíbrio,exigências que impelem os Estados a coligarem-secontra o mais forte dentre eles ou, em geral, aformarem contra-alianças diante de alianças que seafiguram ameaçadoras para o equilíbrio, sem sedeixarem geralmente guiar, na escolha dos aliados e namudança de alinhamento, por considerações referentesa solidariedade ideológica, ou seja, à homogeneidadeou não dos regimes internos dos Estados. Em segundolugar, as médias e pequenas potências possuem aqui,em confronto com a configuração bipolar,

possibilidades relativamente maiores de escolha e umamaior autonomia, e isso já porque são maisnumerosos os atores principais onde se pode encontrarapoio, já porque a passagem do campo de uma grande potência ao de outra pode mais facilmente sertolerada, dadas as possibilidades de reequilíbrio queoferece a existência de "terceiras pessoas", em que poderão apoiar-se os atores que viram diminuir seu poder.

A estas indicações é preciso acrescentar algumas particularidades de importância. Quando asdiferenças entre as forças dos atores principais setornam muito pequenas e nenhum deles, porconseguinte, pode ter em mira fins hegemônicos ouaspirar de qualquer modo a mudanças de

relevo na situação do poder em benefício próprio, osistema torna-se muito estável, no sentido de quegarante longos períodos de paz ou de guerras limitadasquanto aos meios e moderadas quanto aos objetivos. Nestas condições (pensemos especialmente em grande parte do período que vai dos tratados de Utrecht eRastatt ao início das guerras desencadeadas pelaRevolução Francesa e, mais ainda, no que vai doCongresso de Viena ao começo da era guilhermina), particularmente nos momentos de maior estabilidade eequilíbrio, tendem a afirmar-se, de modo vinculativo,algumas regras semiformais de comportamento dosEstados, que visam moderar a política de potência,isto é, a subordiná-la deliberada e conscientemente,

para além do vínculo objetivo do equilíbrio das forças,às exigências gerais da preservação do equilíbrio. Etorna-se até possível a formação de estruturas quase-formais, como o entendimento europeu da época daSanta Aliança, tendentes a resolver pacificamente, domodo mais amplo possível, as disputas entre osEstados e a preservar coletivamente a ordeminternacional. Pelo contrário, quando as diferenças de potência se tornam muito relevantes pelo fato de umdos atores principais acumular tal força que sesobrepõe aos outros, usando-a para modificarradicalmente a seu favor o quadro existente dasRelações internacionais, e quando, em conseqüência,surge um impulso hegemônico que provoca a coalizãodos outros atores principais (que se manterá estável,enquanto durar o perigo hegemônico), a configuraçãomultipolar tende efetivamente a aproximar-se da bipolar, com as características de rigidez das alianças,instabilidade do sistema, tensão constante e dimensãototal das guerras que veremos agora serem típicas de talconfiguração.

O modelo de equilíbrio bipolar encontra a suarealização mais completa no sistema mundial que seformou após o termo da Segunda Guerra Mundial.Deste modelo se aproximam tanto as fases de guerras

hegemônicas do sistema europeu (mas neste caso se poderia dizer que a configuração bipolar possui umcaráter mais conjuntural que estrutural), quanto osistema das cidades-Estados da Grécia, fundado na primazia de Atenas e de Esparta. A sua característicamais clara está na rigidez da política de equilíbrio postaem prática pelos dois atores principais, ou seja, nofato de eles terem extrema dificuldade ouimpossibilidade em renunciar a posições de podermesmo mínimas e, conseqüentemente, em aceitar a passagem de um aliado para o bloco oposto. Issodepende fundamentalmente de que, não havendo"terceiras pessoas" capazes de contrabalançar asdiferenças de equilíbrio, qualquer diminuição da

Page 6: PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

8/13/2019 PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

http://slidepdf.com/reader/full/pi-011-bobbio-norberto-matteuci-nicolai-pasquini-gianfranco-dicionario 6/11

1094 RELAÇÕES INTERNACIONAIS

força de um dos dois pólos, por relativamente pequena que seja, deixa automática e unilateralmenteem vantagem o outro pólo, implicando, por isso,imediatamente um perigoso desequilíbrio. Comefeito, na configuração bipolar, a corrida aosarmamentos é sempre mais acentuada que namultipolar, as crises ligadas às mudanças ou tentativasde mudança de posição assaz mais perigosas para amanutenção da paz, e, enfim, quando irrompe aguerra entre os atores principais, tende fatalmente aadquirir um caráter total, quer no sentido de envolvertodo o sistema, quer no de comprometer todas asenergias disponíveis das maiores potências.

Pelo que respeita aos atores menores, a formação de

blocos fortemente hegemonizados por uma potência-guia — inevitável, dada a limitadíssima liberdade deescolha de que gozam na configuração bipolar asmédias e pequenas potências — implicanecessariamente, sobretudo nas zonas de grandeimportância estratégica, a limitação de formaconsiderável da própria autonomia de decisão internados Estados subordinados. Com isso se pretende poderimpor aos "satélites" opções ideológicas e, emdecorrência disso, a adoção ou manutenção deestruturas políticas e econômico-sociais homogêneas,ou, de qualquer maneira, vantajosas quanto àsnecessidades do sistema político e econômico-social da potência hegemônica, que é, por outro lado, obrigada a procurar impedir profundas transformações internasnos Estados pertencentes à sua zona de influência, justamente para evitar a sua passagem ao bloco oposto.

Estas características fundamentais do equilíbrio bipolar tendem a atenuar-se à medida que a diferençade potência entre os atores principais e secundáriosdiminui, pondo assim em crise a posição desuperioridade das superpotências. Além disso, umfator decisivo que se há de ter em conta paracompreender o funcionamento do sistema mundial pós-bélico e para lhe captar a originalidade em relação

a qualquer outro sistema de Estados anterior é aexistência das armas de destruição total, que,tornando totalmente absurda e inconcebível a guerrageral e direta entre as superpotências (o que fez surgiro chamado "equilíbrio do terror"), impediram, de fato,que ela se deflagrasse, não obstante a elevadíssimaintensidade da competição dos armamentos e, emgeral, a rigidez e tensão peculiares de umaconfiguração bipolar, e abriram por isso caminho à possibilidade de controle e até mesmo de limitação dosarmamentos.

IV. POLÍTICA EXTERNA E POLÍTICA INTERNA. — Paracompletar a explicação das principais

contribuições que a abordagem teórica na doutrina darazão de Estado traz à teoria das Relaçõesinternacionais, é preciso ainda examinar o problemada relação entre política externa e política interna.Esta abordagem tem como característica maisevidente, neste contexto, a rejeição da tese do"primado da política interna" (v. R AZÃO DEESTADO), segundo a qual a política externa dependeriaessencialmente das estruturas internas dos Estados.Mas não contrapõe a essa tese, sic et simpliciter, atese do "primado da política externa", segundo a quala evolução interna dos Estados seria essencialmentedeterminada pelas exigências da política de potênciano plano internacional, uma tese que surgiu na

doutrina alemã do Estado-potência, mas que foisujeita a revisão crítica pelos maiores expoentes destatradição de pensamento. Na realidade, o raciocínio quedesenvolvem a tal respeito os mais agudos teóricos darazão de Estado é muito mais complexo, tendo como ponto de partida o reconhecimento da autonomia da política externa em relação às estruturas internas dosEstados. Com isto se afirma em resumo que, se porum lado os conteúdos políticos, econômicos, sociais eculturais das Relações internacionais e,conseqüentemente, dos conflitos que nelas surgem,variam conforme as épocas e as diversas estruturas políticas e econômico-sociais internas dos Estados(estruturas que, em parte, refletem as condições geraise o nível de civilização de uma época, e em partedivergem de Estado para Estado no mesmo período),os instrumentos com que os Estados regulam, poroutro lado, tais relações, ou seja, a política de potência, a política de equilíbrio e a guerra(instrumentos que, como se viu, deixam uma certamargem de eficácia às normas de direitointernacional), mantêm-se substancialmente osmesmos, excetuados os condicionamentos que aevolução tecnológica exerce sobre os armamentos esobre a condução da guerra, enquanto subsistir aanarquia internacional, isto é, a pluralidade dosEstados soberanos. Com efeito, as mudanças maisradicais de regimes, ocorridas na história modernadesde a Revolução Francesa à soviética, mudaramdecerto profundamente as condições internas dosEstados e as condições do sistema internacional emseu conjunto, e, portanto, os conteúdos das Relaçõesinternacionais, dos respectivos conflitos e dos própriosalinhamentos, mas não fizeram cessar as leisfundamentais das relações de potência e de equilíbrio.Identificados os termos mais gerais da autonomia da política externa em relação às estruturas internas, é possível depois enquadrar de modo teoricamente

válido tanto as formas em que se manifesta maisclaramente a influência da

Page 7: PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

8/13/2019 PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

http://slidepdf.com/reader/full/pi-011-bobbio-norberto-matteuci-nicolai-pasquini-gianfranco-dicionario 7/11

RELAÇÕES INTERNACIONAIS 1095

situação internacional sobre a evolução interna dosEstados, como aquelas em que se verifica o fenômenocontrário.

Sobre o primeiro ponto se pode constatar como aanarquia internacional, ao obrigar os Estados a criar ea reforçar constantemente, e a usar com freqüência, osaparelhos militares destinados à defesa externa,exerce em geral influência sobre a evolução internados Estados, favorecendo as tendências autoritárias, eexacerba em particular, nos Estados cuja segurança émais precária por causa da sua posição geopolítica, atendência à centralização do poder e à preponderânciado executivo sobre os demais poderes do Estado. Este ponto de vista é indispensável para explicar de modo

satisfatório um problema fundamental da história daEuropa moderna, o da profunda diferença entre asexperiências históricas dos Estados de tipo insular(como a Grã-Bretanha e os Estados Unidos daAmérica — estes até se tornarem, em 1945. um dosdois pólos do equilíbrio mundial), constantementecaracterizados por uma política externa propensamente mais pacífica e por uma evoluçãointerna tendente a estruturas político-sociais liberais,elásticas e descentralizadas, e as experiências dosEstados de tipo continental (como a Prússia-Alemanha, a França, a Itália, etc.) caracterizados aocontrário por uma política externa indubitavelmentemais agressiva e belicosa e, correlativamente, pelatendência interna ao centralismo autoritário. O dadocentral que é preciso ter presente para se compreenderesta diferença é, na realidade, a existência defronteiras terrestres e a necessidade de as defendercontra o perigo sempre presente de uma invasão porvia terrestre. Nestas condições, a necessidade desegurança impôs uma orientação tendentementeofensiva que procura não raro anteceder o adversáriocom ataques de surpresa; determinou, por isso, aformação de enorme aparelho militar, utilizável com amáxima rapidez possível; tomou, enfim, necessáriasestruturas políticas centralizadas e autoritárias,capazes de realizar, com fins defensivos, a rápida ecompleta mobilização de todas as energiasdisponíveis. Todas estas sujeições pesaram, aocontrário, infinitamente menos sobre os paísesinsulares, dada a sua favorabilíssima posiçãoestratégica, pois não havia fronteiras terrestres adefender. Com efeito, nesses países, a defesa pôde atéhá bem pouco tempo ser essencialmente garantida pela frota de guerra, evitando-se assim a custosacriação, em termos econômicos, mas sobretudo político-sociais, dos enormes exércitos de terra dos Estadoscontinentais e dos aparelhos burocráticos

centralizados a eles conexos.

Passando ao segundo ponto, o fenômeno maisrelevante que há de se tomar em consideração é atendência dos Estados com fortes tensões político-sociais internas a tentar dominá-las e reprimi-las, pondoem prática até uma política de expansão externa ou,em todo caso, de exacerbação da tensão internacional.Esta política acarreta geralmente a consolidação doGoverno ou do regime que a levam a efeito, a menosque conduza à derrota ou ruína do Estado em questão;nesse caso, as tensões internas que se procurara desviar para fora desembocam quase irremediavelmente emfenômenos de transformação revolucionária doregime. Esta tendência (também chamada

Bonapartismo ) se traduz indubitavelmente numainfluência notável da evolução interna de um Estadoem sua política externa e, por conseguinte, na situaçãointernacional. Contudo, não se deve cair no erro dever no bonapartismo a causa central e dominante dos processos internacionais de que, no entanto, constituium importante fator. Na realidade, a manobra bonapartista pressupõe, não e ela que cria a anarquiainternacional com a conjunta autonomia da políticaexterna. Por outro lado, na história do sistema dosEstados europeus, os exemplos mais relevantes de política bonapartista (a política externa da Alemanhanazista é o último e mais clamoroso exemplo)concernem exclusivamente às potências continentais,

onde a tendência a desviar para o exterior as tensõesinternas se insere tanto no caráter já de per si belicosoe expansionista da política externa, objetivamentedependente da posição continental, como na influênciade sentido centralizador, autoritário e conservador(tudo fatores de acentuação das tensões internas),exercida pela posição continental sobre a evoluçãointerna.

Pelo contrário, se o fenômeno da dificuldadeobjetiva que os Estados fortemente descentralizadosou federais e com uma efetiva separação dos poderesenfrentam para pôr em prática uma política externa belicosa e expansionista (pois o equilíbrio entre os poderes do Estado é um obstáculo à rapidez dedecisão e intervenção no plano internacional), põe emevidência um momento importante da influência, emsentido claramente oposto ao do caso precedente, dasestruturas internas sobre a política externa, deve, poroutro lado, ser enquadrado no contexto mais amplo dainfluência que a posição no sistema dos Estados temsobre a política externa e, por conseguinte, sobre aevolução interna de certos Estados. É claro que nosreferimos aqui à problemática do Estado insular.

Page 8: PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

8/13/2019 PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

http://slidepdf.com/reader/full/pi-011-bobbio-norberto-matteuci-nicolai-pasquini-gianfranco-dicionario 8/11

1096 RELAÇÕES INTERNACIONAIS

V. CRÍTICAS AO MODELO DICOTÔMICO SOBERANIAESTATAL-ANARQUIA INTERNACIONAL. — Enquanto ateoria das Relações internacionais, de que expusemosa urdidura conceptual básica, mergulha as suas raízesnuma tradição de pensamento que remonta em suas bases mais gerais a Maquiavel, o estudo dessasrelações como disciplina acadêmica e ciênciaautônoma no âmbito mais abrangente da ciência política é um fenômeno relativamente recente, que,depois de algumas antecipações no entremeio dasduas guerras mundiais, se desenvolveu sobretudoneste último pós-guerra, graças principalmente a algunsestudiosos anglo-saxões. Que relação têm entre siestas duas orientações?

Em parte pode existir aí uma relação de integraçãorecíproca. Isso conta particularmente quanto àcoleção de uma infinda quantidade de dadosempíricos (que constitui um dos mais notáveiscontributos, se bem que em si insuficiente, da ciênciaamericana das International Relations ) , que podem serutilizados com proveito na abordagem teórica acimaexaminada, cujas análises exigem, sem dúvida, em não poucos casos, serem providas de uma mais completa eorgânica recolha de dados. No que respeita ao uso por parte dos estudiosos de International Relations dametodologia comportamentista, dos processos dequantificação de dados, da teoria geral dos sistemas,da teoria dos jogos, de complexos modeloscibernéticos, podemos observar que tão sofisticadasformas metodológicas não são em si contraditórias emrelação aos ensinamentos derivados da doutrina darazão de Estado. Como exemplo assaz significativo pode-se indicar, a propósito, o esforço por tornar maisrigoroso o discurso sobre sistemas de Estados,enquadrando-o na teoria geral dos sistemas (Morton A.Kaplan). Com isso não se esquecem, por outro lado,as recentes e assaz difusas críticas aocomportamentismo e à tendência conexa àquantificação e matematização dos dados, críticas queestão levando a uma geral e substancial reavaliaçãoda abordagem tradicional, parecendo cada vez maisclaro que o perfeccionismo metodológico e, principalmente, a tendência a operar só com dadosquantificáveis obrigam a pesquisa a concentrar-se emtermos que são secundários.

Para além dos aspectos que podem com algumasreservas ser considerados complementares, surgem,não obstante, no panorama das International

Relations, algumas teses alternativas em relação àteoria das relações internacionais, fundada na doutrinada razão de Estado. Em resumo, segundo um modo dever bastante generalizado, os conceitos basilares desoberania estatal e de anarquia internacional pareceriam cada vez mais

destituídos de capacidade descritiva e explicativadentro da realidade contemporânea, comoconseqüência da presença de alguns fenômenos degrande relevo, que envolvem, todos eles, cm váriamedida, uma limitação substancial da soberania, tantonas Relações internacionais como nas internas, e,conseqüentemente, a desaparição do própriofundamento da diferença qualitativa entre relaçõesinternacionais e internas. Os fenômenos maisgeralmente citados são os seguintes:

— a crescente interdependência no planoeconômico, social, ecológico e cultural entre todos osEstados do atual sistema mundial, interdependênciaque deu origem a um desenvolvimento sem igual, em

confronto com épocas anteriores, das estruturas daorganização internacional (de que a ONU é oexemplo fundamental) que têm exatamente aincumbência de gerir, pelo método da cooperaçãointerestatal e mediante um enorme desenvolvimento,tanto no plano quantitativo como qualitativo, dodireito internacional, essa mesma interdependência;

— o progresso e aprofundamento de talinterdependência, sobretudo no seio dos blocos e daszonas de influência em que se articula o atual sistemamundial dos Estados; mas também fora dele sedesenvolvem formas de integração entre os Estados,no plano econômico e/ou militar (NATO, Pacto deVarsóvia, CEE, COMECON, Pacto Andino, ASEAN,etc), que pouca relação têm com as aliançastradicionais, uma vez que limitam consideravelmentea soberania estatal;

— a existência, embora ligada a umainterdependência econômica de nível mundial cadavez mais acentuada, das grandes empresasmultinacionais, as quais, conquanto não gozem desoberania, possuem de fato um poder muito superiorao de numerosos Estados soberanos, sendo capazes delhes restringir substancialmente a soberania.

A grande importância destes fenômenos no contextoatual das Relações internacionais e a necessidade deque a respectiva disciplina os enquadre de formaadequada são coisas fora de discussão. O que nos parece pelo contrário inteiramente infundado é a tesede que eles põem em dúvida o valor da teoria dasRelações internacionais baseada no esquemadicotômico soberania estatal-anarquia internacional.São necessários a tal respeito alguns esclarecimentos.Sobre o primeiro ponto é preciso observar que aexistência de uma certa interdependência (obviamentevariável nas formas, nos conteúdos e na intensidade deépoca para época) entre as sociedades cujos Estados

fazem parte de um sistema de Estados foi semprecondição contextual da existência de tais

Page 9: PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

8/13/2019 PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

http://slidepdf.com/reader/full/pi-011-bobbio-norberto-matteuci-nicolai-pasquini-gianfranco-dicionario 9/11

RELAÇÕES INTERNACIONAIS 1097

sistemas. À luz da análise histórica, eles aparecemsempre efetivamente ligados à existência de algumaforma de sociedade transnacional que, em termos muitogenéricos, constitui uma civilização comum e implica por isso relações constantes no plano econômico, social,cultural, etc, entre os membros de tais sistemas, isto é,relações transnacionais que se desenvolvem entre associedades politicamente incorporadas em cada um dosEstados. Mas aqui é conveniente uma certa distinçãoterminológica. Embora exista a tendência assazfreqüente de usar indistintamente as expressões"sistema internacional" e "sistema dos Estados", seriamais correto, a nosso entender, usar a primeiraexpressão quando nos referimos ao complexoconstituído pelo sistema dos Estados e pela sociedadetransnacional que aquele abrange, e a segundaexpressão quando, ao invés, nos limitamos a consideraro sistema dos Estados, prescindindo do tipo concreto desociedade transnacional a que está ligado. Depois dissodeve-se observar que, quando as relaçõestransnacionais alcançam uma notável intensidade, elasimpelem os Estados a criar formas mais ou menosdesenvolvidas de organização internacional destinadasa regulá-las. O modo como isto acontece no quadro dosistema dos Estados não alcança nunca, por outro lado,o mesmo grau de eficácia com que são reguladas asrelações internas de cada Estado, já que tal sistema é

um sistema político sem o requisito da soberania etorna por isso inevitáveis a política de potência e asguerras periódicas, que, conquanto não interrompamnunca de forma completa ou definitiva as relaçõestransnacionais e a ação das organizações internacionais,as tornam em todo caso estruturalmente precárias. Istovale também para o atual sistema internacional e há devaler enquanto ele não tiver adquirido as mesmascaracterísticas dos sistemas políticos dotados desoberania. Quanto aos fenômenos de integração entreos Estados, é preciso afirmar que eles constituem emcertos casos a forma específica como se organizam asrelações fortemente hierárquicas entre os atores principais e os atores secundários de um sistema deEstados de tipo bipolar (NATO, Pacto de Varsóvia,COMECON), enquanto em outros casos (sobretudo oda integração da Europa Ocidental, v. I NTEGRAÇÃOEUROPÉIA) correspondem à tendência — revelada noséculo passado, se bem que em formas diversas, com aunificação italiana e alemã — de criar entidadesestatais de dimensões mais amplas em zonas onde ainterdependência atinge particular profundidade e ondesó através da unificação supranacional é possívelrecuperar ou alcançar, participando de umacomunidade estatal mais ampla, um papel de ator

principal no sistema dos Estados. No que respeita aofenômeno das empresas multinacionais, não se há deesquecer que, se é verdade que elas são capazes emmuitos casos de limitar substancialmente a soberania denumerosos Estados estruturalmente débeis, quer pelassuas dimensões quer pela sua formação recente e/ouincompleta, isso, tornou-se possível devido ao apoiodireto ou indireto de uma grande potência, cuja forçaé fator decisivo, sobretudo quando a atividade de taisempresas provoca graves conflitos. Em resumo, se o papel que hoje desempenham as empresasmultinacionais está vinculado, por um lado, à peculiar profundidade que alcançou a interdependênciaeconômica, sobretudo entre os países de economia demercado, ele depende, por outro lado. da hierarquiaque existe entre os Estados e caracteriza o atualsistema mundial, isto é, uma das manifestações doatual governo do mundo.

Feitos estes esclarecimentos sobre o fato de que, narealidade internacional atual, o esquema dicotômicosoberania estatal-anarquia internacional mantém intataa sua capacidade explicativa, não só tem sentido,como é absolutamente inevitável encarar outraquestão. Temos de nos perguntar seriamente se osfenômenos de crescente interdependência das relaçõeshumanas em escala mundial (e entre eles se há detambém considerar o fenômeno, que poderíamosdefinir como de interdependência negativa,representado pela existência de armas capazes dedestruir o mundo inteiro) não demonstram que aestrutura anárquica da sociedade interestatal é cadavez mais inconciliável com as exigências desobrevivência e desenvolvimento do gênero humano,e não nos põem diante do problema da criação de umGoverno mundial eficaz e democrático e, por isso,concretamente, diante do problema das vias eeventuais etapas intermédias para alcançar esseobjetivo.

VI. SISTEMA DOSESTADOS E EVOLUÇÃO DO MODODE PRODUZIR . — Por último resta enfrentar o problema de fundo suscitado pelo pensamento deorientação marxista e, particularmente, pela teoria domaterialismo histórico, ou seja, a necessidade deexplicar a relação existente entre a evolução do modode produção e a evolução das superestruturas políticas,entre as quais ocupa um lugar relevante o sistema dosEstados, em que se concentra aqui a atenção. O queleva a enfrentar este problema é a verificação de quealguns processos de grande relevo encontrados naanálise da problemática das Relações internacionaisnão contam, no quadro da respectiva teoria, com um

instrumento que permita

Page 10: PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

8/13/2019 PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

http://slidepdf.com/reader/full/pi-011-bobbio-norberto-matteuci-nicolai-pasquini-gianfranco-dicionario 10/11

1098 RELAÇÕES INTERNACIONAIS

compreendê-los em profundidade. Referimo-nos particularmente aos processos de onde nascem osmodernos Estados soberanos e o sistema dos Estados,que provocam a formação e desenvolvimento dasociedade transnacional, politicamente incorporada pelo sistema dos Estados, que fomentam atransformação gradual ou revolucionária dos regimes políticos e das estruturas econômico-sociais internasdos Estados, e que, fazendo crescer a interdependênciada atividade humana para além dos confins dosEstados, impelem à formação de Estados de dimensõescada vez mais amplas, portanto aos fenômenos deintegração supranacional, e, preponderantemente, àunificação do mundo inteiro. Por um lado, parece bastante evidente que está fora da função e das

possibilidades da teoria das Relações internacionaisidentificar as forças motrizes destes processos, e isso porque ela, como qualquer teoria científica, é umateoria parcial dos fenômenos inter-humanos, que se propõe especialmente identificar uma série dedeterminações dos comportamentos do homem,derivados dos fenômenos da anarquia internacional, e, por conseqüência, do sistema dos Estados e da suainfluência na evolução interna de cada um deles; deve justificadamente deixar para outras ciências a tarefaacima referida. Por outro lado, visto que tais processosexercem uma influência decisiva sobre o sistema dosEstados, pois mudam a sua base econômico-social (associedades englobadas pelos Estados e a sociedadetransnacional), mudam os seus atores e a hierarquiaentre eles existente, mudam a própria matéria dosconflitos, etc, é indispensável que haja critérios deorientação que permitam explicar, pelo menos nosseus aspectos mais gerais, os modos de relação entreos fatores que provocam tais processos, bem como aevolução do sistema dos Estados. Ora, as indicaçõesmais certas para enfrentar corretamente esta problemática provêm, a nosso entender, domaterialismo histórico, única abordagem teórica que procura explicar de modo científico a interação

existente entre os diversos setores da atividade humanae as determinações deles provenientes. Pelo queconcerne ao tema que é objeto desta análise, omaterialismo histórico, com a tese do caráter supra-estrutural do Estado e conseqüentemente também dosistema dos Estados em relação à evolução do modode produzir, mostra, antes de tudo, a estrada mestraque é preciso seguir para descobrir os fatores decisivosque suscitam os processos antes indicados. Emsegundo lugar, com a tese da autonomia relativa dassuperestruturas (que, embora claramente implícita nasanálises de Marx e Engels, se desenvolveu de formamais clara e completa depois), indica como explicar acomplexa relação de interação dialética que existe entreas determinações provenientes da evolução do modode produção e as provenientes do sistema dos Estados.

Quanto à primeira das teses, é preciso remontar às

análises que mostraram de modo convincente como aformação do moderno sistema europeu dos Estadostem a sua base material na consolidação do modocapitalista de produção, que, por um lado, constitui oalicerce principal do moderno Estado soberano (omonopólio da força e a conseqüente certeza do direitosão indispensáveis para permitir o funcionamento deum sistema econômico-social bem mais complexoque o feudal e com outras formas de conflitos sociais)e, por outro, faz nascer progressivamente o chamadomercado mundial, isto é, uma crescenteinterdependência entre as sociedades organizadas porcada um dos Estados e, em decorrência, uma sociedadetransnacional politicamente englobada pelo sistemados Estados. Dentro desta linha de análise, têm sido

realizados estudos de grande interesse e valor sobre arelação entre desenvolvimento capitalista e, portanto,industrial, de um lado, e o progressivo fortalecimentodo domínio das potências européias sobre o mundo, dooutro; explicou-se o nexo das sucessivas fases dodesenvolvimento capitalista e da Revolução Industrialcom o aumento das dimensões do Estado, pondo-seem evidência, em tal contexto, como a incapacidadedos Estados europeus em se fundirem numacomunidade estatal mais vasta abriu caminho àhegemonia das potências de dimensões continentais;caracterizou-se o impulso que os conflitos sociaiscriados pelas sucessivas fases de desenvolvimentocapitalista e industrial deram à transformação gradualou revolucionária das estruturas internas dos Estados edas próprias características da sociedadetransnacional; e assim por aí afora.

Passando agora à tese da autonomia relativa dosistema dos Estados em relação à evolução do modode produzir, dois pontos têm de ser ressaltados. Emgeral, com base nesta tese, se pode tornar claro que,se a evolução do modo de produção constitui, nosentido acima indicado, a base material do sistema dosEstados e o fator determinante das transformações

fundamentais que nele se verificam, por outro lado,uma vez constituído tal sistema ou reestruturado emconseqüência de transformações nele ocorridas, asdeterminações daí provenientes e individualizadas pelateoria da razão de Estado exercem uma influênciaautônoma e decisiva sobre os comportamentoshumanos e, conseqüentemente, sobre o processohistórico, e hão de exercê-la, enquanto a evolução domodo de produção não levar à

Page 11: PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

8/13/2019 PI 011 - BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicolai, PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de Política - verbete RI

http://slidepdf.com/reader/full/pi-011-bobbio-norberto-matteuci-nicolai-pasquini-gianfranco-dicionario 11/11

REPRESÁLIA 1099

superação do sistema dos Estados soberanos. Estatese, porém, permite sobretudo compreender acapacidade que o sistema dos Estados tem de bloquear ou desviar, por longos períodos históricos, o processo de ajustamento da sua configuração àevolução do modo de produzir, ou seja, permitecompreender que o ajustamento da superestrutura àevolução da base estrutural não possui um carátermecânico, o que constitui um dado decisivo para acompreensão em profundidade das grandes guinadasdo processo histórico. Um exemplo significativo paraa visualização deste ponto é o do imperialismo dosEstados nacionais europeus, que foi também ummodo de evitar enfrentar o problema da criação deuma comunidade política de dimensões continentais,apresentado aos europeus com a passagem à fase da produção industrial de massa, e encontrou uma

alternativa histórica na integração européia posteriorao descalabro, em 1945, da potência dos Estadosnacionais (v. IMPERIALISMOe I NTEGRAÇÃO EUROPÉIA).

Outro exemplo significativo é o da política de tipo bonapartista (cujo pressuposto está, como vimos, naautonomia da política externa), que permite diferir atransformação do regime interno de um Estado,enquanto não ocorrer o desmoronamento da sua potência.

BIBLIOGRAFIA . R. ARON, Pace e guerra tra le nazioni(1962), Edizioni di Comunità. Milano 1970; L.

BONANATE. Il sistema internazionale. in Il mondocontemporaneo. Política internazionale. La NuovaItalia, Firenze 1979; K. W. DEUTSCH, Le relazioniinternazionali (1968), Il Mulino Bologna 1970; O.HINTZE, Staat und Verfassung. Vandenhock &Rupredit, Gottingen 1970; S. HOFFMANN, The state ofwar, Knopf, New York 1965; M. A. K APLAN, Systemand process in international politics. Wiley and Sons, New York 1957; Internationale Beziehungen, acuidado de E. K RIPPENDORF, Kiepenheuer& Witsch,Koln 1973; Id., Internationales Systems als Geschichte.

Einfiihrung in die internationales Beziehungen I,Campus, Frankfurt 1975; Id., Internationale

Beziehungen als Wissenschaft. Einführung 2, ibid.,Frankfurt 1977; LORDLOTHIAN, Pacifism is not enoughnor patriotism either, Oxford Univ. Press. London1935; H. J. MORGENTHAU, Politics among nations.Knopf, New York 1948; Política di potenza eimperialismo, a cuidado de S. PISTONE, F. Angeli, Milano1973; J. N. R OSENAU, Linkage polities. Essays on theconvergence of national and international systems.Knopf, New York 1969; Id., International polities and

foreign policy, ibid. 1969; Id.,The Scientific study of foreigh policy, ibid. 1971; A. WOLFERS, Discord andcollaboration, Johns Hopkins University Press.

Baltimore 1962.[SERGIOPISTONE]

Represália.

A Represália é uma resposta por meios violentos ecoercitivos a uma violência ou ato ilícito sofridos. É prevista apenas pelo sistema jurídico internacional por faltar, nesse sistema, uma autoridade supremacapaz de restaurar situações jurídicas violadas.

A Represália é considerada lícita somente comoresposta à violação de um direito próprio; não deveviolar leis humanitárias e tem de ser proporcionada àofensa recebida. Alguns tratados internacionaisvedam o recurso à Represália, propondo métodosdiversos para a solução das controvérsiasinternacionais. Segundo o sociólogo e politólogofrancês R. Aron, a interpretação da Represália como"sanção" contra atos ilícitos não é senão uma ficção jurídica, pelo simples fato de que diplomatas esoldados, quando fazem uso da força, nunca julgaramagir como "funcionários da justiça", encarregados deuma execução decretada por um tribunal. A doutrina, porém, é concorde em considerar lícita a violação dequalquer direito do agressor como reparação de umato ilícito por este cometido.

Fala-se também de Represália, maciça ou limitada,cm algumas doutrinas de estratégia nuclear. Pelotermo Represália maciça se indica a ameaça do uso detodo o potencial bélico, atômico e convencional, deum Estado, para impedir uma agressão, mesmo que periférica, aos interesses desses Estados por parte de

um outro. É a doutrina estratégica dos EstadosUnidos, de Eisenhower e Foster Dulles, após a guerrada Coréia. O conceito de Represália limitada (ouresposta flexível) é um dos elementos constitutivos dadoutrina da intimidação adotada pelos Estados Unidosa partir da administração Kennedy, conhecidatambém como doutrina MacNamara; consiste emresponder a uma agressão em proporção ao prejuízorecebido; estabelece diversos graus de resposta, casoa primeira Represália não tenha efeito.

[FULVIOATTINA]

Representação Operária.

I. FORMAS DE ORGANIZAÇÃO OPERÁRIA NA FÁBRICA. — É provável que, já desde o início daindustrialização, se tenha criado sempre nas fábricasalguma forma de autotutela dos trabalhadores,sobretudo entre os operários de profissão. Muitas pesquisas puseram em claro que os grupos operáriostendem regularmente a desen-