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PLANEJAMENTO E CONTROLE DE
SEPARAÇÃO EM UM SISTEMA
PICKING BY MONITOR: ESTUDO EM
UMA EMPRESA DE COSMÉTICOS
Marco Aurelio de Mesquita (USP)
Leonardo Gurgel Calipo (USP)
O presente artigo tem por objetivo apresentar um diagnóstico do
sistema de planejamento e controle de operação para a expedição de
uma empresa de venda direta de cosméticos. O modelo de
planejamento em questão é associado ao processo de piccking by
monitor, no qual as operações de picking (jobs) são realizadas
sucessivamente pelo acendimento automático de luzes nas estações,
após chegada das caixas. A Metodologia aplicada aproximou-se do
estudo de caso, com a descrição do sistema atual, discussão dos
resultados e identificação de gaps, a partir da literatura estabelecida
sobra Planejamento Hierárquico de Produção e Programação de
Processos Repetitivos. A coleta de dados envolveu visitas in loco e
entrevistas semiestruturadas registradas por anotação com os gestores
dos processos estudados. Como resultado indicam-se oportunidades de
melhoria no processo de planejamento das operações, atividade
estratégica para o atendimento dos objetivos de mercado da empresa.
Palavras-chaves: planejamento e controle, picking by monitor,
schedulling
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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1. Introdução
A Cosmetics Inc. (nome fictício) é uma empresa americana de venda direta de cosméticos
fundada em 1963, com sede em Dallas, Texas. Atualmente, a empresa é uma das maiores
companhias no segmento de cuidados com a pele e maquiagem nos Estados Unidos e está
presente em mais de 35 países, sendo considerada uma das maiores empresas de cosméticos
do mundo com um faturamento global de US$ 2,5 bilhões em 2009 e aproximadamente 2
milhões de pessoas em sua força de vendas independente. A operação brasileira teve início em
1998 e conta hoje com uma equipe de consultoras de venda de aproximadamente 71 mil
pessoas (dados fornecidos pela empresa).
2. Estudo de Caso
O presente estudo tem como foco a sede brasileira da Cosmetics Inc., localizada em Barueri,
cidade da região metropolitana de São Paulo. Neste sítio, concentram-se as funções
administrativas e ciclo operacional de armazenamento dos produtos acabados, faturamento,
separação e despacho dos pedidos efetuados pelas consultoras de venda.
A operação logística da empresa consiste de uma linha de separação de produtos em série do
tipo picking by monitor, i.e., o picker (separador) é orientado a separar itens de acordo com
informações disponibilizadas por um monitor e um conjunto de luzes conectado ao sistema de
controle de produção localizado à frente de seu posto de trabalho (ou estação), num total de
10 postos. Esses postos de trabalho são interligados por uma esteira, a qual tem sua
movimentação definida de forma automática pelo sistema de controle. A distribuição de
SKU’s é única por estação, ou seja, entre duas estações não há produtos repetidos. De acordo
com o giro de estoque, os itens são classificados como Top Seller (alto giro) ou como item de
baixo giro. Há ainda uma categoria específica para produtos utilizados para premiação das
consultoras de venda por boa performance, os chamados Promocionais. Desta forma é
possível segmentar as estações como descrito na Tabela 1.
Tabela 1 Distribuição de SKU’s por estação.
Estação Classificação
Quantidade
de SKU’s
por estação
Total de
SKU’s
1 Promocionais 12 12
2 – 8 Top Seller 36 252
9 – 10 Baixo Giro 84 168
Total 432
Fonte: Empresa.
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Além da linha de separação, a operação possui setores de estoque, abastecimento de linha,
posto avançado dos Correios e expedição, conforme layout esquemático da Figura 2.
Figura 2 - Layout da operação logística da Cosmetics Inc.
3. Descrição do Sistema de Separação
O processo de separação compreende um conjunto de atividades de operação, apoio e
planejamento conforme representado na Figura 2. São descritas a seguir tais etapas.
Abastecimento da linha: Quando há falta de um item na estação, preenche-se o espaço
no rack com a máxima quantidade possível de caixas. Este estoque não desencadeia
novos pedidos de produtos a fornecedores, sendo sua reposição feita separadamente
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num sistema do tipo empurrado, baseado no histórico de consumo. A reposição das
estações é realizada por movimentadores que periodicamente verificam as posições na
linha. A área de apoio, atrás de cada estação, abriga também um estoque pulmão,
reduzindo o tempo de reposição no caso de faltas na linha.
Figura 3 – Atividades relacionadas ao fluxo de materiais
Rotulagem: Cada SKU, se importado, é movimentado em pallets para o setor de
rotulagem indicado pelo item [10] no mapofluxograma da Figura 2. Os itens são
retirados das caixas, e rotulados manualmente com etiquetas adesivas impressas no
local. Após rotulados os itens são colocados novamente nas caixas, palletizados e
retornados para o porta-pallets.
Pedido de compra: O pedido de compra das consultoras é comumente realizado por
meio eletrônico (acesso Web), contudo também é possível efetuar o pedido via
telefone ou fax (o que ocorre em menor escala). Visando evitar pedidos sem cobertura
de estoque, a empresa adota como regra de negócio a emissão de pedido apenas contra
itens disponíveis (i.e., efetivamente em estoque).
Faturamento: etapa em que ocorre a emissão de nota fiscal e que também serve de
entrada para a geração da Picking List (a qual seria o equivalente a uma lista de ordens
de produção). A estratégia para programação de faturamento é essencialmente do tipo
FIFO (First In, First Out), ou seja, os pedidos são faturados na ordem em que entram.
Processo em linha - MTO
Atividades de Apoio
Processo em linha manual - MTS
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É realizado de forma automática por um sistema da empresa (Corpora), todavia é
possível modificar a programação de acordo com necessidades pontuais e específicas
(e.g., agrupamento de pedidos para uma mesma região). Importante notar que a
relação de quantidade entre pedidos e notas fiscais não é unívoca, mas numa
proporção aproximada de 10:1 (ou seja, cada pedido gera em média 10 notas fiscais).
Geração da Picking List: a lista de separação é resultado direto da ordenação de
faturamento, em geral ocorrendo no mesmo sequenciamento. Corresponde a uma
programação detalhada para montagem das caixas, definindo as tarefas individuais de
cada uma das estações. É também gerada pelo Corpora, e igualmente permite ajuste da
ordenação de acordo com necessidades da empresa (como exemplo, no caso de
renovação de parte da equipe de pickers, para fins de treinamento e aprendizado, é
possível gerar uma lista com tarefas de separação mais repetitivas e, por conseguinte,
menos complexas).
Carga da Picking List: esta é a etapa que libera as ordens de separação para o controle
da operação. Após gerada é impressa e enviada para o início da linha, local em que é
inserida no sistema por meio de leitura de código de barras. É realizada numa
frequência de duas vezes por dia.
Preparação da embalagem: nesta etapa é montada a embalagem que armazenará os
produtos constantes do pedido. Uma caixa de papelão de tamanho padronizado é
montada e inserida manualmente na esteira (a empresa atualmente trabalha com dois
diferentes tamanhos de caixa). A caixa tem seu peso aferido (para fins de controle de
qualidade, descrito em seção posterior) e é etiquetada com um código de barras único
(estas etapas ocorrem de forma automática e dinâmica). É este código que a
identificará durante todo o processo de separação e a partir de sua leitura são definidos
os itens a serem exibidos no monitor de cada estação.
Separação: este é o conjunto de etapas mais crítico de todo o processo. Uma leitora
verifica automaticamente o código de barras da caixa, processa a Picking List
correspondente e exibe no monitor a quantidade de produtos, enquanto luzes indicam a
localização no flow rack do item a que corresponde tal quantidade. Caso nenhum
produto daquela estação componha o pedido, a caixa segue diretamente para a estação
seguinte. Uma visão esquemática da estação é apresentada na Figura 4. As luzes
indicam os itens que devem ser separados, pela respectiva posição, e a quantidade é
informada no painel. Cada luz é acesa cada vez após a chegada da caixa na estação.
Quando o item é incluído na caixa o operador pressiona o botão luminoso liberando o
sistema para indicar a próxima operação. Ao final das operações designadas para a
estação, a esteira move a caixa automaticamente para a estação subseqüente. Caso esta
estação esteja ocupada, o sistema detecta este estado através de inter-travamentos e
sensores de posição, e a caixa permanece aguardando. Permite-se apenas uma caixa
parada entre duas estações antes do bloqueio. Ou seja, não existe uma esteira para
pulmão entre as estações e flutuações de ritmo individuais reduzem rapidamente o
ritmo total. Nenhum operador tem a possibilidade de parar a linha por motivo de
qualidade e os problemas de desvios são detectados apenas ao final.
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Figura 4 – Estação em U para separação de pedidos (Picking by Monitor)
Pesagem dinâmica: toda caixa é pesada dinamicamente na parte final da linha. O
sistema de rastreamento da linha mantém internamente a posição relativa de cada uma
das caixas na fila, atualizando as informações quando as caixas são direcionadas
automaticamente para as esteiras paralelas de cada estação. Dessa forma, ao realizar a
pesagem, o valor esperado é comparado ao peso medido, aceitando-se a tolerância de
desvio de até 4% em módulo.
Empacotamento: após a pesagem, todas as caixas são preenchidas com papel para
evitar choques dos produtos durante o transporte. Um ponto de destaque nesta etapa é
a preparação do papel amassado que é feito por máquina em paralelo. A partir de
folhas grandes, a máquina faz as dobras e cortes abastecendo um container grande ao
lado do operador.
Expedição: uma vez fechada, a caixa é movida pela esteira para um posto avançado
dos Correios, o qual realiza 100% das entregas para a empresa atualmente. A partir da
leitura da etiqueta inicial com código de barras, contendo nome da consultora, número
do pedido e endereço, os Correios geram e colam em cada caixa uma etiqueta de
“objeto” para rastreabilidade, operação e cobrança da entrega.
4. Descrição do Sistema de Planejamento e Controle da Operação
O planejamento da Cosmetics Inc. é atualmente dividido em dois níveis, sendo cada nível
alocado a um departamento com objetivos e horizonte de planejamento diferentes, conforme
Figura 5.
Painel com
Quantidade
Luzes de
Picking
Esteira
Esteira
Flow
Rack Flow
Rack
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Departamento de Suprimentos – SCM
Compras Regulatório Recebimento Importações Planejamento
Gestão de Fornecedores
e pedidos
Registro para comercialização
Movimentação entre armazéns
Documentação Previsão de vendas, Planejamento de
Compras
Departamento de Operações
Recebimento e Expedição
Controle do estoque
Planejamento de Rotulagem
Planejamento de Separação
Gestão de Notas Fiscais, conferências
Gestão de estoques
Gestão de Rótulos
Balanceamento de linha e schedulling
Figura 5 – Organização do Planejamento por Funções e Departamentos
O planejamento de médio prazo tem o objetivo de manter a disponibilidade de produtos no
armazém, para que estes possam ser pedidos e separados. Em virtude dos altos lead-times
para entrega, tanto de fornecedores como da matriz, a empresa utiliza o abastecimento contra
previsão. Para os produtos importados estima-se que o recebimento aconteça com estoque
mínimo de 2 meses e de modo a cobrir os próximos 7 meses de vendas. Os saldos de pedidos
e a previsão são revisados mensalmente, com horizonte rolante de previsão de 12 meses. A
previsão é calculada a partir de séries temporais utilizando um add-in de Excel denominado
Forecast X.
Os saldos de pedidos são disparados todos os meses e revisados com a matriz e/ou
fornecedores. Semanalmente se analisa junto à matriz as alterações de cenário,
disponibilidade de produção dentro do prazo previsto e reprogramações. Em relação a
fornecedores, cada pedido mensal compreende um horizonte fixo de pelo menos quatro meses
próximos e mais 8 meses sujeitos a modificação. Para alguns fornecedores locais com lead-
time menor, programa-se o recebimento com o estoque mínimo de dois meses e a reposição
de forma a cobrir a demanda de um mês, como estoque base ou lote a lote. Uma vez atendido
o objetivo de disponibilizar todos os produtos de forma equilibrada para venda, separação e
expedição, o departamento de planejamento de médio prazo mantém comunicação com o
departamento de planejamento operacional conforme apresentado na Figura 6.
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Figura 6 – Planejamento Hierárquico
É de responsabilidade do setor de planejamento e controle operacional da Cosmetics Inc.
todos os aspectos de curto e médio prazos que impactem diretamente a performance da
separação e entrega de produtos para as consultoras de venda, tais como: contratação de mão-
de-obra, determinação de uso de horas-extras, contratação de serviços de terceiros,
planejamento da rotulagem de produtos acabados importados, planejamento da distribuição e
operação da linha de separação de pedidos.
Dado que não é possível determinar a priori a composição de tais pedidos, o fluxo da
operação tem início apenas após a inclusão destes na carteira de vendas. Tal característica é
típica dos sistemas de produção Make to Order (MTO), e certamente esta é o elemento
predominante na linha de separação. Todavia há uma parcela significativa de pedidos (até
15% da carteira) correspondente aos chamados prepacks, kits de vendas iniciais oferecidos a
preços e prazos diferenciados às consultoras recém-chegadas à força de vendas da empresa. A
quantidade de kits é baseada numa previsão média dos últimos 12 meses e mantém-se um
estoque de segurança de 15 dias para eventuais oscilações de demanda.
Informações de forecast mensal por SKU são fornecidas pelo departamento de Planejamento
para o departamento de Operações, e têm um papel central no sistema de PCP do armazém.
Embora esta informação não seja usada diretamente para o sequenciamento dos pedidos
MTO, ela tem grande importância para a alocação dos itens nas posições de picking, sendo
definida uma única estação para cada sku. Esse balanceamento visa equalizar o ritmo entre
estações, suavizando a discrepância de gargalos. O tempo de ciclo em cada estação pode ser
modelado como diretamente proporcional ao número de skus que devem ser incluídos nas
caixas pelos operadores. Esse tempo ainda poderia ser refinado levando-se em consideração a
posição do item nas prateleiras e o número de unidades por SKU, mas estas duas variáveis são
muito pouco representativas no tempo total, correspondendo a menos de 10%.
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Atualmente, o balanceamento é realizado com o uso de planilha eletrônica aplicando-se o
seguinte algoritmo empírico: distribuem-se os produtos top sellers na prateleira frontal de
todas as estações, em igual número, de modo a se obter uma carga de SKU’s pedidos
relativamente constante; a seguir os itens de médio giro são distribuídos da mesma forma nas
duas prateleiras laterais de cada estação; por fim os itens de baixo giro são alocados na última
estação da linha (nesta estação os itens ficam distantes, sendo necessário que o picker se
desloque para buscar os itens e posicioná-los nas caixas). Verifica-se ao final do mês que com
este método obtém-se um nivelamento satisfatório de aproximadamente 70% em média.
Outra informação gerada pelo departamento de Planejamento para o departamento de
Operações refere-se à tabela com todos os SKU’s que serão vendidos no mês. Todos os meses
uma parcela proporcionalmente significativa da linha de produtos é lançada, descontinuada ou
sofre troca de código de venda por alteração de embalagem, origem, apelo do produto ou
outros fatores. A preparação da linha com todos os códigos ativos e a liberação do espaço dos
códigos inativos é importante para evitar interrupções por falta de produto ou retrabalho na
separação.
Figura 7 - Fluxo de Informações de Planejamento
O planejamento da linha de separação pode ser entendido como composto de duas etapas, a
saber: balanceamento mensal (i.e., o posicionamento de produtos em cada estação), o qual
estabelece a restrição de ritmo para cada um dos pedidos; sequenciamento diário, o qual
pondera critérios como número de pedidos atendidos, prazos para atendimento e outros
fatores que afetem o nível operacional.
O balanceamento tem foco tático e horizonte mensal, tratando informações de maneira
consolidada (e.g., média de pedidos por SKU). Configurada a linha, os pedidos passam a ser
inseridos com distribuição aleatória, onde cada um terá um ritmo de separação que é
determinado pela concentração de picking nas diferentes estações. Uma vez que os pedidos
reais estejam disponíveis, trata-se a informação de maneira detalhada para scheduling diário.
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O scheduling, ou sequenciamento dos pedidos, começa a partir da geração do faturamento,
cuja ordem é mantida na separação física (isto é, é do tipo FIFO). O faturamento no sistema
pode ser realizado seguindo-se diferentes critérios, e.g., data do pedido, região geográfica,
tipo de caixa (grande ou pequena). O ritmo real de cada pedido depende do número de SKU’s
solicitados em cada estação, o que é definido pelo balanceamento, o qual só é calculado a
posteriori pelo tracking system da linha. Se houvesse uma “inteligência de sistema” que
estimasse essa quantidade de itens por estação, seria possível estimar o ritmo teórico de cada
pedido na linha pelo cálculo da restrição do gargalo. No entanto, como essa lógica não está
disponível no sistema, em alternativa ao FIFO, busca-se dar maior vazão à linha aplicando-se
uma aproximação da regra SPT (Shortest Processing Time) separando os pedidos por tipo de
caixa ou quantidade de SKU’s por nota fiscal.
A linha possui apenas setup para a mudança do tipo de caixa, a qual é alocada
automaticamente pelo sistema Corpora. A seguir aplicam-se regras de despacho de acordo
com a sensibilidade do time de operações em relação ao contexto, sendo as mais comuns por
ordem de utilização FIFO, EDD e SPT. É interessante notar que indicadores como Lateness e
Tardiness são calculados somente a posteriori, utilizando informações de data de entrega
fornecida pelos Correios.
A curva de vendas no decorrer do mês também é um fator de interferência no scheduling. Esta
curva tem um padrão conhecido e previsível de crescimento diário exponencial, sendo que
nos últimos quatro dias concentram-se 50% dos pedidos. A empresa opta por estender o prazo
de entrega caso a ordem seja realizada nesse período de fechamento, prazo que é amplamente
divulgado nas revistas enviadas às consultoras, como o representado na Figura 8. Mesmo com
a extensão de prazo, é muito frequente o atraso e falha no atendimento devido à restrição de
capacidade da linha e até mesmo restrição de capacidade dos sistemas, que se tornam muito
lentos, fator este que atrasa o processo de faturamento, ponto nevrálgico para a programação
de toda a linha.
Figura 8 – Exemplo de calendário de prazos de entrega de acordo com data de emissão do
pedido
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Nesse contexto, tende-se a priorizar pedidos mais rápidos gerando casos de atrasos
significativos (segundo apurado, de até 30 dias). Visando uma distribuição regular da carga de
trabalho, a separação de prepacks ocorre sempre no início do mês (caso não haja ocorrência
de backlog). Esta medida, contudo não vem se mostrado eficiente.
Está em fase de projeto a adoção de medidas de estímulo para que as consultoras insiram
pedidos mais antecipadamente, suavizando o perfil da demanda. Planeja-se um incentivo,
fornecendo desconto ou pontuação diferenciada, no entanto, experiências anteriores sugerem
impacto reduzido. O estabelecimento de calendário de fechamento diferenciado por região
não é aplicado com o argumento de que é muito frequente no modelo de negócio da
companhia a existência de consultoras associadas em diversas regiões. Neste caso, um
calendário diferenciado dificultaria o cálculo das bonificações das unidades de vendas e
acompanhamento dos resultados.
A reposição das prateleiras da linha e do estoque de caixas ao lado de cada estação é realizada
de maneira puxada sob requisição dos operadores. O sistema é puxado do ponto de vista
interno, entre porta-pallets e estações, mas não gera pedidos de produtos aos fornecedores.
Estes são feitos sob previsão pelo departamento de Planejamento. No entanto a falta de
acuracidade dos números de estoque e da falta de rastreabilidade dos materiais
frequentemente acarreta em interrupções no abastecimento e paradas imprevistas na linha.
4. Discussão dos Resultados
A partir do estudo de caso apresentado foram identificadas oportunidades de melhoria, tanto
relacionadas ao sistema físico de processo e gestão de materiais quanto ao planejamento. Em
relação ao sistema de planejamento, o maior problema detectado está na concentração da
demanda nos últimos dias do mês. A empresa tem estudado alternativas para suavização da
demanda, mas, considera ações neste sentido pouco viáveis. Incentivos por desconto já foram
tentados no passado de modo pouco efetivo. Fechamentos de vendas, e pagamento das
respectivas bonificações, em datas diferentes implicaria um cálculo complexo visto que parte
significativa das bonificações depende da equipe, e é muito frequente que as integrantes
residam em diferentes cidades e estados. Este fechamento por consultora em datas diferentes
já é uma prática comum adotada por concorrentes em vendas diretas de cosméticos.
Analisando o obstáculo decorrente das particularidades do negócio, sugere-se adotar o
fechamento em data comum para toda a unidade de venda, em vez de diferenciar por
consultora. Isto viabilizaria o cálculo de bônus e simplificaria significativamente as datas,
visto que existem menos de 15 grandes unidades nacionais.
Outra alternativa para atender a demanda concentrada do fechamento seria adotar uma
estratégia chase para a mão-de-obra, visto que cada estação pode ser operada por duas pessoas
e hoje só é alocado um picker. A empresa também poderia contratar operadores e
simplesmente operar com capacidade ociosa no começo do mês, com possibilidade de
alocação em atividades como contagem de inventário e organização de materiais. O número
exato de pessoas poderia ser definido no médio prazo através de planejamento agregado e
provavelmente seria um valor intermediário entre chase e level, com tendência para level em
virtude do alto custo de contratação e demissão e do enorme custo de backorder para a
rentabilidade da empresa, traduzido em altíssimo turnover da força de vendas (100% a.a.).
Em relação às técnicas de balanceamento de linha, heurística por classificação ABC, e de
sequenciamento, heurística por regras de despacho, consideramos que embora simples, os
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métodos têm se mostrado efetivos. Há espaço para sofisticações, mas alterações trariam
benefícios apenas graduais. Ainda podemos notar que o balanceamento por classificação ABC
e sequenciamento por regra de despacho está totalmente compatível com as técnicas mais
empregadas pelas empresas neste campo, para múltiplos produtos e produção/operação
repetitiva. Há ainda uma particularidade em relação ao balanceamento mensal. Como muitas
famílias de produtos cosméticos tem forte sazonalidade, o mix de vendas pode variar
significativamente justificando então o processo de reprogramação das posições da linha, o
que já é feito atualmente.
Quanto ao sistema físico, a linha não conta com pulmões intermediários entre as estações,
permitindo apenas uma caixa entre dois postos subseqüentes. Isto causa freqüentes
interrupções por bloqueio devido à flutuações normais de ritmo entre as estações. Inicialmente
então, a produtividade do processo de separação na linha automática seria significativamente
incrementada se fossem adicionados pulmões de processo.
Hoje a empresa conta com dois tamanhos de caixa para enviar produtos às consultoras, em
virtude da máquina automática de fechamento. Esta restrição acarreta perda de pelo menos 30
minutos diários para configuração. Se a estação de fechamento automático contemplasse
múltiplos tamanhos de caixa, por exemplo, com máquinas em paralelo ou outra solução
tecnológica, o tempo de setup seria eliminado. Além disso, em função da diminuição dos
tamanhos de lote de separação o indicador de Tardiness teria potencial para ser aprimorado. O
maior benefício, no entanto, seria refletido diretamente nos custos da empresa. Atualmente
quase a totalidade das caixas é enviada com muito espaço vazio. Isso encarece muito o frete
além de danificar produtos que se chocam contra as paredes da caixa, mesmo com forração
interna de papel amassado.
A adoção de duas linhas, em termos imediatos, envolveria o investimento para reconfiguração
do layout, e como o problema dos lotes está bem definido e concentrado para a etapa de
fechamento das caixas, associado à restrição de espaço, parece mais cost effective atuar sobre
esta restrição de processo. No entanto, essa é uma alternativa válida para expansões futuras de
capacidade. A restrição física de alocação de apenas uma estação por SKU também resulta em
bloqueios de processo. Hoje a linha tem disponibilidade para acréscimo de aproximadamente
300 posições. A alocação de um SKU a mais de uma estação envolveria a necessidade de
desenvolvimento de uma lógica de processo para que dinamicamente o item de uma estação
sobrecarregada fosse direcionado para uma estação menos carregada, garantindo que ele fosse
selecionado apenas uma vez.
5. Conclusões
Foi estudado um sistema de operação repetitiva com setup, múltiplos produtos, estágio único,
sob demanda sazonal e previsível, em termos de planejamento e processo. Neste processo
foram identificados diversos gaps, os quais foram ordenados e diagnosticados por importância
e impacto para o atual sistema de acordo com as técnicas mais comuns encontradas na
literatura.
Embora o planejamento de capacidade tenha se destacado como crítico, diversas melhorias
foram identificadas em relação à interação entre planejamento e processo. Através das
alterações propostas sobre setup, etapas gargalo, inter-travamentos e estoques pulmão entre as
estações, há grande potencial para que sejam alcançados menores lotes de operação, assim
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como menos paradas por bloqueio de itens ou preparação da linha. Tal pode resultar em
melhor produtividade e consequentemente melhor atendimento dos pedidos.
Referências
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