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Plano de Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis

Plano de Ação Nacional para a Conservação de ... · José Airton de Vasconcelos, José Heriberto M. de Lima e Onildo Marini Filho ... Paulo Luna Capa ... barcos de pesquisa Soloncy

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Plano de Ação Nacional

para a Conservação de

Albatrozes e Petréis

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Endereço do Editor

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS

SCEN, Avenida L4 Norte, Trecho 2Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros

Coordenação-Geral de FaunaCoordenação de Proteção de Espécies da Fauna

70818-900 - Brasília - DF - BrasilTel./fax: + 55 61 33161215

http://www.ibama.gov.br

Colaboradores

PROJETO ALBATROZ

Avenida Rei Alberto I, 450, sala 5Terminal Pesqueiro Público de Santos

11030-380 - Santos - SP - BrasilTel./fax: + 55 13 32614039

E-mail: [email protected]://www.projetoalbatroz.org.br

BIRDLIFE INTERNATIONAL – PROGRAMA DO BRASIL

Rua Fernão Dias, 219, Cj. 205427-010 - São Paulo - SP - Brasil

Tel.: + 55 11 38152862Fax: + 55 11 38150343

E-mail: [email protected]://www.birdlife.org

© IBAMA 2006. O material contido nesta publicação não pode ser reproduzido, guardado pelo sistema “retrieval” ou transmitido dequalquer modo ou por qualquer outro meio, seja eletrônico, mecânico, de fotocópia, de gravação ou outros, sem a prévia autorização,por escrito, do Coordenador da Coordenação de Proteção de Espécies da Fauna.

© dos autores 2006. Os direitos autorais das fotografias contidas nesta publicação são de propriedade de seus fotógrafos.

República Federativa do Brasil

Presidente

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Vice-PresidenteJOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA

Ministério do Meio Ambiente

MinistraMARINA SILVA

Secretário-ExecutivoCLÁUDIO ROBERTO BERTOLDO LANGONE

Secretário de Biodiversidade e FlorestasJOÃO PAULO RIBEIRO CAPOBIANCO

Diretor do Programa Nacional de Conservação daBiodiversidadePAULO YOSHIO KAGEYAMA

Gerente da Gerência de Recursos GenéticosLÍDIO CORADIN

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Naturais Renováveis

PresidenteMARCUS LUIZ BARROSO BARROS

Diretor de Fauna e Recursos PesqueirosRÔMULO JOSÉ FERNANDES BARRETO MELLO

Coordenador Geral de FaunaRICARDO JOSÉ SOAVINSKI

Coordenador de Proteção de Espécies da FaunaONILDO JOÃO MARINI-FILHO

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Plano de Ação Nacional

para a Conservação de

Albatrozes e Petréis

Série Espécies Ameaçadas Número 2

Tatiana Neves (Projeto Albatroz)Fábio Olmos (BirdLife International – Programa do Brasil)

Fabiano Peppes (Projeto Albatroz)Leonardo Vianna Mohr (Ibama)

ColaboraçãoGrupo de Trabalho para a Conservação de Albatrozes e Petréis

Brasília, 2006

(Planacap)

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Coordenação das Edições IbamaCleide Passos

Coordenação técnica da Série Espécies AmeaçadasOnildo Marini Filho

Revisão técnica do documentoJosé Airton de Vasconcelos, José Heriberto M. de Lima e Onildo Marini Filho (Ibama)Letícia Carvalho e Maria Carolina Hazin (Ministério do Meio Ambiente)Marcus Henrique Carneiro (Instituto de Pesca de São Paulo)

Revisão de textoEnrique Calaf Calaf, Nara Albuquerque e Maria José Teixeira (Edições Ibama)

Revisão finalLeonardo Mohr e Tatiana Neves

Edição de textoVitória Rodrigues

Normalização bibliográficaHelionidia C. Oliveira

Projeto gráfico e diagramaçãoPaulo Luna

CapaThomas SigristPintura em guache sobre papel

Dúvidas, sugestões e requisição de exemplaresOnildo Marini Filho ([email protected])

P699 Plano de ação nacional para conservação de albatrozes epetréis / Tatiana Neves... [et al.]. – Brasília: Ibama, 2006.

124 p. : il. color. ; 29 cm.

ISBN 85-7300-193-3

1. Plano (Planejamento). 2. Aves. 3. Ornitologia. 4.Extinção. 5. Espécies. I. Neves, Tatiana. II. Olmos, Fábio. III.Peppes, Fabiano. IV. Mohr, Leonardo Vianna. V. InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis. VI. Coordenação de Proteção de Espécies daFauna. VII. Título.

CDU(2.ed.) 598.2

Catalogação na FonteInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

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Agradecimentos

Roberto Kikuo Imai (Imaipesca Com.e Ind. de Pescados Ltda.); Wagner de OliveiraSimões e Sérgio Coutinho Datoguia (Itafish);José Kowalsky (Com. e Ind. de PescadosKowalsky Ltda.); Max Magalhães Stern (BahiaPesca); Guisepe Calzavara de Araújo (AlphaPesca Capt. Ind. e Com. de Pescados); AlexQuinta Blanco Alfaya (Cabedelo Pesca Ltda.);José Williams de Freitas Gouveia (WGPescados Ltda.); Marcelo Lima (Cooperativados Armadores de Pesca da Paraíba); GabrielCalzavara (Mucuripe Pesca); ReginaldoNascimento (Natal Pesca); Iranildo Pereira dePontes (Sindicato da Indústria de Pescados dosEstados do Pará e Amapá); Maguary Pesca;Presidente do Sindicato dos Armadores dePesca da Paraíba; Gilberto Rocha Raposo eJosé Américo Barbosa Barreto (Associação dePescadores do Distrito de Itaipava/ES).

Paulo Travassos, Fábio Hazin eRosângela Lessa (UFRPE); Flávia Lucena(Universidade Federal do Pará); Ruy Válka(MNRJ); Márcio Efe (PUCRS); VenâncioAzevedo (Instituto Oceanográfico/USP);Heloisa Azevedo (IFSP); Gastão Bastos, CarlosArfeli e Antônio Olinto (IPSP); DemétrioMartinho de Carvalho, Priscilla Gatto eLeonardo Sales (Instituto Albatroz); JaquelineGoerk (BirdLife International - Programa doBrasil); Carles Carboneras (SEO/BirdLife);José Tubino, Eliana Ferreira e FernandoScardua (FAO/Brasil); Celso Lin, FelipeAlbanez e Mabel Augustowski (CEMAR/IFSPe IUCN/Grupo Marinho); Gilberto Sales,Bruno Giffoni, Guilherme Maurutto eMargareth Buzin (Tamar/Ibama); Nilamon O.Leite Jr. e João Carlos Alciati Thomé (Tamar/

Ibama de Vitória/ES); Francisco Machado eSebastião Saldanha Neto (Seap); Ricardo JoséSoavinski (CGFAU); Inês Nascimento e João LuizXavier do Nascimento (Cemave/Ibama); ÍtaloJosé Araruana Vieira e Mutsuo Asano Filho(Cepnor/Ibama); Luis Fernando Rodrigues(Cepsul/Ibama); Letícia Reis de Carvalho eRicardo Casteli Vieira (MMA); Tatiana Walter(Fundo Nacional do Meio Ambiente/MMA);Sônia Fahlstrom (Conepe) e Renato Lima Pinto(Capitania dos Portos da Paraíba).

José Valdemarsen e Wilfried Thiele(Chefes do Comitê de Pesca da FAO/Romadurante a tramitação do processo deelaboração deste Planacap) e Svein Lokkeborg,especialista convidado pela FAO.

John Croxall (BAS/UK), Kim Rivera(NOAA/EUA), Warren Papworth (ACAP), EricGilman (Blue Ocean Institute) e CarlosMoreno (Universidade Austral do Chile).

Mestres e todos os tripulantes dosbarcos Itaipu, Itaúna, Imaipesca, Kaiko Marú,Taihei Marú, Progressão, Yamaia III, Marbela,Macedo IV, Oceano Brasil, Camburi, MarParaíso, Rio Solimões, Patamar e Fidgy e osbarcos de pesquisa Soloncy Moura e AtlânticoSul, que permitiram os embarques deobservadores em suas viagens de pesca,colaborando de maneira significativa para arealização deste Planacap.

T.S. Neves agradece ao Prof. CarolusMaria Vooren (FURG) pelos anos deensinamento e pelo estímulo desde o início.

André Dias, Cesar Musso, FranciscoPedro Neto, G. Robertson, Guillermo Moreno,Guy Marcovaldi, Luciano Candisani, RobertoImai e Tony Palliser, pela cessão de fotografias.

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Recomendação ..........................................................................................................

Parte 1: INFORMAÇÕES GERAIS

Introdução ....................................................................................................................

Ameaças aos Procellariiformes .............................................................................

Enfrentando o problema mundialmente ................................................................

A situação no Brasil ...............................................................................................

Objetivos .....................................................................................................................

Albatrozes e petréis no Brasil ..........................................................................................Características gerais ..............................................................................................

Espécies que nidificam no Brasil ...........................................................................

Pardela-de-trindade Pterodroma arminjoniana ............................................

Pardela-de-asa-larga Puffinus lherminieri .....................................................

Espécies visitantes que interagem com a pesca .....................................................

Albatroz-errante Diomedea exulans .............................................................

Albatroz-de-tristão Diomedea dabbenena ....................................................

Albatroz-real-meridional Diomedea epomophora .......................................

Albatroz-real-setentrional Diomedea sanfordi ..............................................

Albatroz-de-sobrancelha-negra Thalassarche melanophris ..........................

Albatroz-de-nariz-amarelo-do-atlântico Thalassarche chlororhynchos .........

Albatroz-de-cabeça-cinza Thalassarche chrysostoma ..................................

Piau-preto Phoebetria fusca ........................................................................

Pardelão-gigante Macronectes giganteus .....................................................

Pardelão-prateado Fulmarus glacialoides ....................................................

Pardela-preta Procellaria aequinoctialis .......................................................

Pardela-de-óculos Procellaria conspicillata .................................................

Bobo-grande-de-sobre-branco Puffinus gravis ............................................

Agradecimentos ..........................................................................................................

Lista de siglas e abreviaturas .....................................................................................

Lista de figuras ............................................................................................................

Lista de participantes do workshop para a preparação do Planacap ....................Histórico da Conservação de Procellariiformes no Brasil ................................................Apresentação ...............................................................................................................

União de esforços pela preservação das aves marinhas ........................................

Sumário

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

As pescarias que capturam aves no Brasil ................................................................A pesca com espinhel pelágico (ou de superfície) realizada comembarcações baseadas nos portos das regiões Sul e Sudeste ..................................A pesca com espinhel pelágico das frotas nacional e arrendada realizada comembarcações baseadas nos portos das regiões Norte e Nordeste ..........................

A pesca com espinhel de fundo .............................................................................

A pesca com espinhel de superfície (boiado) para a captura de dourado,utilizado principalmente em embarcações do porto de Itaipava/ES .....................

A captura incidental de aves marinhas pela frota espinheleira no Brasil .............Espinhéis de fundo ......................................................................................

Espinhéis pelágicos ......................................................................................

Medidas mitigadoras ..................................................................................................

Espantador de aves ou toriline ....................................................................

Largada noturna do espinhel ........................................................................

Isca azul .......................................................................................................

Lançamento lateral .......................................................................................

Dispositivos de largada submersa .................................................................

Isca descongelada ......................................................................................

Iscas artificiais ..............................................................................................

Limitação dos descartes ..............................................................................

Aumento do peso do espinhel ...................................................................

Limitação da pesca ..........................................................................................

O uso de medidas mitigadoras no Brasil ............................................................

Parte 2: PLANO DE CONSERVAÇÃO

Metas e ações ...............................................................................................................

Espécies que nidificam no Brasil ...........................................................................

Pardela-de-trindade Pterodroma arminjoniana ............................................

Manejo ..................................................................................................

Pesquisa .................................................................................................

Pardela-de-asa-larga Puffinus lherminieri ........................................................

Manejo ..................................................................................................

Pesquisa .................................................................................................

Espécies visitantes que interagem com a pesca ...................................................Manejo .................................................................................................

Pesquisa .................................................................................................

Referências bibliográficas .............................................................................................

ApêndicesI. Relação de links para acessar NPOAs e políticas de conservação de

Procellariiformes, no exterior ................................................................................

II. Categorias da IUCN para a elaboração de listas vermelhas ...............................

III.Categorias e critérios da IUCN para a elaboração de listas vermelhas ..............IV.Mapas da evolução do esforço de pesca ...........................................................

V. Portaria de criação do Grupo de Trabalho para a Conservação dos Albatrozes ePetréis ..............................................................................................................

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Acap Agreement on the Conservation of Albatrosses and Petrels – Acordo sobre aConservação dos Albatrozes e Petréis

APA Área de Proteção AmbientalAvidepa Associação Vila-Velhense de Proteção AmbientalBP Barco pesqueiroCBRO Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (grupo de estudos vinculado à

Sociedade Brasileira de Ornitologia)CCAMLR Comissão para a Conservação dos Recursos Marinhos Vivos da AntártidaCemave Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação das Aves Silvestres/IbamaCepene Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Nordeste/

IbamaCepsul Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Sudeste e

Sul/IbamaCGEUC Coordenação-Geral de Unidades de Conservação/IbamaCGFAU Coordenação-Geral de Fauna/IbamaCIRM Comissão Interministerial para os Recursos do MarCMS Convention on Migratory Species – Convenção sobre Espécies MigratóriasCofau Coordenação de Proteção de Espécies da Fauna/IbamaCofi Comitee on Fisheries – Comitê de Pesca/FAOConepe Conselho Nacional de Pesca e AqüiculturaCPUE Captura por Unidade de EsforçoDema Departamento do Meio Ambiente/MREDepaq Departamento de Pesca e Aqüicultura/Ibama (extinto)Devis Departamento de Vida Silvestre/Ibama (extinto)Direc Diretoria de Ecossistemas/IbamaDiren Diretoria de Recursos Naturais/Ibama (extinta)DPA Departamento de Pesca e Aqüicultura do Ministério da Agricultura (extinto)FAO Food and Agriculture Organization – Organização das Nações Unidas para a

Agricultura e AlimentaçãoFurg Fundação Universidade do Rio GrandeGerex Gerência Executiva/IbamaIbama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisIccat International Commission for the Conservation of Atlantic Tunas – Comissão

Internacional para a Conservação do Atum do AtlânticoIFSP Instituto Florestal de São Paulo

Lista de siglas e abreviaturas

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IN Instrução NormativaInfraero Empresa Brasileira de Infra-Estrutura AeroportuáriaIpoa-Seabirds International Plan of Action – Plano de Ação Internacional para a

Redução da Captura Incidental de Aves Marinhas na Pesca com EspinhelIPSP Instituto de Pesca de São PauloIUCN União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos

NaturaisMMA Ministério do Meio AmbienteMNRJ Museu Nacional do Rio de JaneiroMRE Ministério das Relações ExterioresMZUSP Museu de Zoologia/USPNMFS National Marine Fisheries Service – Serviço Nacional de Pesca Marinha

dos Estados Unidos da AméricaNPq. Navio de Pesquisa OceanográficaONG Organização Não-GovernamentalParna Parque NacionalPlanacap Plano de Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e PétreisProfrota Programa Nacional de Financiamento da Ampliação e Modernização da Frota

Pesqueira Nacional/SeapRevizee Avaliação do Potencial Sustentável dos Recursos Vivos da Zona Econômica

Exclusiva BrasileiraSCRS Comitê Permanente de Pesquisas e Estatísticas/ICCATSeap Secretaria Especial de Aqüicultura e PescaSPU Secretaria de Patrimônio da UniãoSTWG Seabird Technical Working Group – Grupo de Trabalho sobre Aves

MarinhasTamar Centro Nacional de Conservação e Manejo de Tartarugas Marinhas/IbamaUC Unidade de ConservaçãoUFRPE Universidade Federal Rural de PernambucoUFS Universidade Federal de SergipeUnisantos Universidade Católica de SantosUnivali Universidade do Vale do ItajaíUSP Universidade de São PauloZEE Zona Econômica Exclusiva

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Figura 1. Ilha da Trindade ...........................................................................................

Figura 2. ilhas Itatiaia, município de Vila Velha, litoral do Espírito Santo ...................Figura 3. Baía do Sancho com ilha Dois Irmãos ao fundo, Arquipélago

de Fernando de Noronha ..........................................................................

Figura 4. Albatroz-de-tristão Diomedea dabbenena preso a anzol e morto porafogamento .................................................................................

Figura 5. Albatroz-de-sobrancelha-negra Thalassarche melanophris .........................

Figura 6. Albatroz-de-sobrancelha-negra Thalassarche melanophris juvenil, morto porum espinhel ...............................................................................................

Figura 7. Albatrozes-de-nariz-amarelo Thalassarche chlororhynchos, pardelas-pretasProcellaria aequinoctialis, pardelas-de-óculos P. conspicillata e pombas-do-cabo Daption capensis aguardam os descartes de um espinheleiro ............

Figura 8. Bobo-grande Calonectris diomedea ..........................................................

Figura 9. Pardela-de-óculos Procellaria conspicillata ................................................

Figura 10. Pardela-de-trindade Pterodroma arminjoniana .............................................

Figura 11. Caranguejo Gecarcinus lagostoma predando filhote de tartaruga marinhana Ilha da Trindade ....................................................................................

Figura 12. Pteridófitas em encosta da Ilha da Trindade ..............................................

Figura 13. Pardela-de-asa-larga Puffinus lherminieri na ilha Morro do Leão, Fernandode Noronha ...............................................................................................

Figura 14. Albatroz-errante Diomedea exulans ..........................................................

Figura 15. Distribuição oceânica dos grandes albatrozes Diomedea spp. ....................Figura 16. Albatroz-de-tristão Diomedea dabbenena ..................................................

Figura 17. Albatroz-real-meridional Diomedea epomophora ......................................

Figura 18. Albatroz-real-setentrional Diomedea sanfordi ............................................

Figura 19. Albatroz-de-sobrancelha-negra Thalassarche melanophris ........................

Figura 20. Distribuição oceânica do albatroz-de-sobrancelha-negra Thalassarchemelanophris ..............................................................................................

Figura 21. Albatroz-de-nariz-amarelo-do-atlântico Thalassarche chlororhynchos ..........Figura 22. Distribuição oceânica do albatroz-de-nariz-amarelo-do-atlântico

Thalassarche chlororhynchos ......................................................................

Figura 23. Albatroz-de-cabeça-cinza Thalassarche chrysostoma .................................

Figura 24. Piau-preto Phoebetria fusca .........................................................................

Figura 25. Pardelão-gigante Macronectes giganteus ...................................................

Figura 26. Distribuição oceânica de Macronectes spp. ...................................................Figura 27. Pardelão-prateado Fulmarus glacialoides ....................................................

Lista de figuras

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Figura 28. Distribuição oceânica do pardelão-prateado Fulmarus glacialoides............

Figura 29. Pardela-preta Procellaria aequinoctialis .......................................................

Figura 30. Distribuição oceânica da pardela-preta Procellaria aequinoctialis a partirde observações a bordo de espinheleiros ..................................................

Figura 31. Pardela-de-óculos Procellaria conspicillata ...............................................

Figura 32. Pardelas-de-óculos Procellaria conspicillata alimentando-se de descartes depesca ...........................................................................................................

Figura 33. Distribuição oceânica da pardela-de-óculos Procellaria conspicillata ...........Figura 34. Bobo-grande-de-sobre-branco Puffinus gravis .............................................

Figura 35. Distribuição oceânica do bobo-grande-de-sobre-grande Puffinus gravisFigura 36. Espinheleiro pelágico em operação ...........................................................

Figura 37. Evolução do número de embarcações arrendadas e nacionais que pescavamcom espinhel pelágico no Brasil entre 1985 e 2004 ...................................

Figura 38. Recolhimento de espadarte .......................................................................

Figura 39. Evolução do número de embarcações nacionais e arrendadas que pescavamcom espinhel pelágico nas regiões Sul/Sudeste e Norte/Nordeste entre 1998e 2002 ........................................................................................................

Figura 40. Composição da captura de pescado da frota nacional de espinhel pelágico,em 2004 ....................................................................................................

Figura 41. Tubarões à bordo .......................................................................................

Figura 42. BP Auster, operador arrendado de espinhel pelágico .................................

Figura 43. Espinheleiro de fundo em operação ..........................................................

Figura 44. BP Mar Paraíso, operador de espinhel de fundo ........................................

Figura 45. Estimativa de mortalidade anual de aves oceânicas por espinheleiros defundo no Brasil, em 1998/1999 ....................................................................

Figura 46. Um albatroz-de-sobrancelha-negra Thalassarche melanophris e trêspardelas-pretas Procellaria aequinoctialis mortas em espinhel pelágico ........

Figura 47. Estimativa de mortalidade anual de aves oceânicas por espinheleiros pelágicosno Brasil, em 1998/1999 ............................................................................

Figura 48. Lançamento de espinhel .............................................................................

Figura 49. Toriline em operação ....................................................................................

Figura 50. Confecção do toriline .................................................................................

Figura 51. Largada noturna do espinhel ........................................................................

Figura 52. Tingimento de lulas ....................................................................................

Figura 53. Lançamento lateral do espinhel ....................................................................

Figura 54. Isca artificial ...............................................................................................

Figura 55. Albatroz-de-sobrancelha-negra Thalassarche melanophris capturado emespinhel ......................................................................................................

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Nome Instituição Endereço eletrônicoAlexandre Filippini Cemave [email protected] Yamashita Gerex/SP [email protected] Maria Vooren Furg [email protected] Carneiro Projeto Albatroz [email protected]étrio M.R. de Carvalho Projeto Albatroz [email protected] Barbieri UFS1 [email protected] Fanta CCAMLR [email protected] Secomandi Unisantos [email protected] Coelho Projeto Albatroz [email protected] Peppes Projeto Albatroz [email protected]ábio Olmos BirdLife International2 [email protected] Carlos Ramos Seap [email protected]ão César Bastos IPSP [email protected] Sales Tamar [email protected]ão Luiz X. do Nascimento Cemave [email protected]é Heriberto M. de Lima Cepene [email protected] José Kowalsky Kowalsky pescados [email protected] Soto Univali [email protected] Bugoni Furg3 [email protected] Sales Projeto Albatroz [email protected] Fernando Rodrigues Cepsul [email protected] Henrique Carneiro IPSP [email protected] Asano Filho Cepnor [email protected] Alvares da Silva CGEUC4 [email protected] Gatto Projeto Albatroz [email protected] Castelli MMA [email protected] José Soavinski CGFAU [email protected] Imai Imai pescados [email protected] Wahrlich Univali [email protected] Válka Alves MNRJ [email protected] da Silva Neves Projeto Albatroz 5 [email protected] Rolim IPSP [email protected]

Yara de Melo Barros Cofau [email protected]

Instituição atual:1 IPSP.2 Consultor ambiental autônomo.3 Universidade de Glasgow, Escócia, Reino Unido e Projeto Albatroz4 Coordenação-Geral de Florestas/Ibama.5 Projeto Albatroz e Consultora do PNUD/Ibama.

Lista de participantes do workshop para a preparação do Planacap

Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, Guarujá/SP, 5 e 6 de abril de 2004.

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Em junho de 1997, o pesquisadorFábio Olmos encaminhou correspondênciaà Presidência do Ibama, relatando o problemada mortalidade incidental de aves marinhasdurante as operações pesqueiras envolvendoo uso de espinhéis, na qual alertava para aprevisibilidade de adoção de sançõeseconômicas contra os países que nãoadotassem medidas mitigadoras para evitar acaptura das mesmas.

Teve início, ainda na antiga estruturado Ibama, um intercâmbio entre o Depaq,vinculado à Diren, e o Devis, vinculado àDirec, para tratar do assunto. Em julho de1998, um representante do Depaq, CarlosFisher, após consulta à pesquisadora TatianaNeves, participou da reunião preparatóriapara as consultas da FAO, em Roma. Naocasião foram discutidos temas como omanejo da capacidade de pesca de tubarõese da captura acidental de aves marinhas napesca com espinhel, que resultaram naadoção, em 1999, de um Plano de AçãoInternacional para a Redução da CapturaIncidental de Aves Marinhas na Pesca comEspinhel (Ipoa-Seabirds). Os países associadosà FAO deveriam, então, preparar planosnacionais de ação para reduzir talmortalidade.

Ao retornar dessa reunião, orepresentante do Depaq solicitou aospesquisadores T. Neves e Carolus MariaVooren o envio de um projeto para aelaboração de um diagnóstico sobre a capturade aves marinhas na pesca com espinhel,conforme orientação do Ipoa-Seabirds.

Em junho de 1999, representantedo Devis e Cemave/Ibama, Maria CarolinaHazin, participou de reunião do grupo de

Histórico da Conservaçãode Procellariiformes no Brasil

trabalho criado pelo comitê coordenador doGrupo de Valdívia (relativo ao acordo decooperação para espécies migratórias), paradiscutir uma proposta de acordo regional paraa proteção de albatrozes, no âmbito daConvenção sobre Espécies Migratórias.

Em junho e agosto de 2000 forampromovidas reuniões pelo Ibama (Cemave,Devis e Depaq) com os pesquisadores F.Olmos, T. Neves e Jules Soto, para discussõessobre o tema. Ciente da responsabilidadebrasileira, a coordenadora do Devis, IolitaBampi, solicitou aos pesquisadores T. Nevese F. Olmos que elaborassem um plano de açãonacional visando a conservação de avesmarinhas.

Em julho de 2000, a pesquisadoraT. Neves foi indicada pelo Ibama e pelo MREpara representar o Brasil na segunda reuniãopreparatória do Acordo sobre a Conservaçãode Albatrozes e Petréis – Acap, ocorrida emHobart, Austrália. Durante essa reunião, apesquisadora iniciou contatos com o chefedo Cofi/FAO, John Valdemarsen, para aviabilização financeira da elaboração doplano de ação brasileiro.

Ainda em 2000, as seguintesatividades foram viabilizadas: (1) algumasviagens de treinamento de observadoresvoluntários em barcos de pesca, pelo ProjetoAlbatroz; (2) por meio do Depaq, uma bolsade Fomento Tecnológico, modalidadeEspecialista Visitante, no âmbito do ProgramaRevizee, para as pesquisadoras T. Neves eM.C. Hazin, visando à realização de estudosrelacionados à captura acidental de avesmarinhas em artefatos de pesca,respectivamente, nos litorais sul e norte dopaís, entre novembro de 2000 e janeiro de

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

2001; (3) foi encaminhado à FAO, porintermédio do Devis, um projeto de autoriade T. Neves e F. Olmos visando à elaboraçãode um plano de ação nacional; (4) emconjunto com a Univali, o Cemave realizou,em julho de 2000, o curso Técnicas dePesquisa para a Conservação de AvesSilvestres, com ênfase nos Procellariiformes;e (5) o oceanógrafo Alexandre Filippini,executor de projetos do Cemave em SantaCatarina, elaborou o projeto de pesquisa“Avaliação da Mortalidade deProcellariiformes nos Espinhéis da PescaOceânica no Sul do Brasil”.

Em dezembro de 2000 ocorreureunião entre as chefias do Cemave e doDevis com o Primeiro Secretário da Divisãode Meio Ambiente do MRE, para discutir aproposta brasileira para a reunião do Acap,ao qual o Brasil aderiu em junho de 2001.

Em julho de 2001 foi realizada emCuritiba, Paraná, reunião entrerepresentantes da CGFAU, Cemave, IFSP,CBRO, IPSP, Univali, Cepsul e CentroUniversitário São Camilo/SP, na qual o temafoi discutido e surgiu a proposta de realizaçãode um workshop e a criação de um grupo detrabalho pelo Ibama.

Em setembro de 2001, o Chefe doCemave, João Luiz Xavier do Nascimento,acompanhado da pesquisadora T. Neves, naocasião representando o Projeto Albatroz,representou o Ibama no primeiro TallerSudamericano sobre Conservación deAlbatrosses y Petreles, promovido pelaBirdLife International e Aves Uruguai, emPunta del Este, Uruguai.

Nos dias 24 e 25 de outubro de2001, no Cemave, em Brasília, foi realizadoo primeiro Workshop Brasileiro sobre aConservação de Aves Marinhas, que tevecomo tema central o problema da mortalidadede albatrozes e petréis em espinhéis.

Em abril de 2003 foi criado oInstituto Albatroz, que recebeu imediatamenteos recursos da FAO para elaboração do Planode Ação Nacional para a Conservação deAlbatrozes e Petréis – Planacap. O trabalhofoi realizado em conjunto pelo ProjetoAlbatroz e BirdLife International – Programa

do Brasil e submetido ao Ibama. O documentofinal, em sua versão em português, foi enviadoà organização financiadora, a FAO.

Em dezembro de 2003, emworkshop internacional organizado emconjunto pela BirdLife International e FAO emFutruno, Chile, o Projeto Albatroz apresentouo Planacap para a comunidade científica daAmérica do Sul.

Em abril de 2004 ocorreu emGuarujá, São Paulo, um workshop para adiscussão do Planacap, em uma promoçãoconjunta do Ibama e Projeto Albatroz, sendoa primeira reunião do Grupo de Trabalho,formalmente instituído pelo Ibama por meioda Portaria Ibama n° 55/04-N, de 1º de junhode 2004.

Em outubro de 2004, a versãoexecutiva do Planacap foi apresentada pelapesquisadora T. Neves na reunião do grupoad hoc WG-IMAF (Grupo de Trabalho paraCaptura Incidental na Pesca da CCAMLR),durante a XXIII Reunião da CCAMLR emHobart, Austrália.

Entre 8 e 12 de novembro de 2004foi realizado o primeiro encontro das partesdo Acap em Hobart, Austrália, onde o Brasilfoi representado pelo Coordenador deProteção de Espécies da Fauna, Onildo JoãoMarini Filho e pelo Secretário da Embaixadado Brasil na Austrália, Roberto Parente. Nestaocasião, foi conseguida uma redução nascontribuições dos países menosdesenvolvidos, entre eles o Brasil,possibilitando a sua adesão ao Acordo.

Em julho de 2005, apesar de não terratificado o Acap, o Brasil enviou para aprimeira Reunião do seu Conselho Consultivoum documento preparado por O.J. MariniFilho, T. Neves e Leandro Bugoni, intituladoRelatório Voluntário Brasileiro sobre aImplementação do Plano de Ação do Acap,que foi também apresentado à CCAMLR, emoutubro de 2005.

Ao longo de 2005 o Planacap passoupor diversas revisões e atualizações, sobsupervisão da Cofau, de forma a tornar o textomais consistente com as ações dos setoresrelacionados à pesca, possibilitando apresente publicação.

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Apresentação

O Brasil é o país que detém a maiorbiodiversidade em todo o mundo. Ao mesmotempo, a intensificação de atividadeshumanas, como a expansão desordenada decidades e o aumento da fronteira agrícolasobre áreas preservadas, têm gerado fortepressão sobre as diversas paisagens e biomasbrasileiros. As principais conseqüências destasações são a perda, degradação e fragmentaçãode habitats, que se refletem no aumento donúmero de espécies presentes na ListaNacional das Espécies da Fauna BrasileiraAmeaçadas de Extinção, oficializada pelaInstrução Normativa nº. 3 do MMA, de 27 demaio de 2003.

Zelar pela conservação destariqueza nacional é responsabilidade de cadacidadão brasileiro, porém as iniciativas emedidas a serem adotadas para reverter estequadro devem ser tomadas de maneiraorganizada e conjunta, em prol de umobjetivo comum. Assim, a união de esforçosde governos, da sociedade civil e dasinstituições de ensino e pesquisa, visando àconservação da nossa biodiversidade,representa um passo importante nestajornada.

Com o propósito de mudar estasituação de ameaça, o Instituto Brasileiro doMeio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis e o Ministério do Meio Ambientecriaram a Série Espécies Ameaçadas, queé composta de Planos de Ação para a proteçãoe conservação da fauna brasileira ameaçadade extinção. O primeiro número desta Sérieabordou o mutum-do-sudeste Craxblumenbachii.

Este segundo número da Série é oPlano de Ação Nacional para a Conservaçãode Albatrozes e Petréis, espécies de avesoceânicas que passam a maior parte de suasvidas em alto mar, procurando a terra firmesomente para reprodução, que geralmenteocorre em ilhas oceânicas. As duas principaisameaças aos albatrozes e petréis são a pescaindustrial realizada com espinhéis e aalteração de suas áreas de reprodução, devidoà introdução de espécies exóticas invasoras.

O Plano apresenta informaçõessobre a biologia do grupo, identifica seusprincipais fatores de ameaça e propõe umasérie de medidas para implementação emdiversas áreas temáticas, identificando atorespotenciais e seguindo uma escala de prazose prioridades, com o principal objetivo deconservar a espécie em longo prazo. EstePlano deverá ser revisado periodicamente,como forma de monitorar e avaliar o sucessodas ações executadas e atualizar asnecessidades de conservação.

Agradecemos a todos os parti-cipantes e patrocinadores que trabalharampela formulação deste Plano em todas as suasfases, demonstrando comprometimento coma conservação da biodiversidade brasileira.

MARCUS LUIZ BARROSO BARROSPresidente

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente edos Recursos Naturais Renováveis

JOÃO PAULO RIBEIRO CAPOBIANCOSecretário de Biodiversidade e Florestas

Ministério do Meio Ambiente

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A idéia de um Plano de AçãoInternacional para a Redução da CapturaIncidental de Aves Marinhas na Pesca comEspinhel foi lançada pelos membros do Cofi,em 1997, visando estabelecer um acordointernacional que atendesse às questõesapontadas pelo Código de Conduta para aPesca Responsável. A adesão voluntária porparte dos países-membros da FAO foi oinstrumento eleito como o mais adequadopara o desenvolvimento deste Plano. O textofoi elaborado durante dois encontrosintergovernamentais realizados em 1998,sendo finalmente adotado durante a 23ªSessão do Cofi, em fevereiro de 1999 eendossado pelo Conselho da FAO em junhodo mesmo ano.

Ao aceitar o Plano Internacional oBrasil adotou, de forma voluntária, aresponsabilidade de desenvolver seu próprioplano de ação nacional. Diversos setorescomeçaram, então, a se organizar para arealização dessa importante tarefa, queenvolveu o poder público, empresas eorganizações do terceiro setor, uma vez queo trabalho era complexo e demandava oenvolvimento de atores tão diversos quantoo setor produtivo e entidades ambientalistas.

Apoiados pela FAO, o InstitutoAlbatroz e a BirdLife International – Programado Brasil elaboraram um diagnóstico sobre aconservação das espécies de albatrozes epetréis em território nacional e a sua relaçãocom a pesca. Ambas as instituições, envolvidashá mais de uma década com as questõesrelacionadas a esse grupo de aves, mantêmem seus bancos de dados informações

União de esforços pela conservaçãodas aves marinhas

históricas sobre a interação das aves com apesca. Esse pioneirismo possibilitou tambémuma aproximação com o setor pesqueiro,em especial com mestres e tripulações, oque gerou um valioso aprendizado sobre aíntima relação desses homens com o mar eauxiliou na abordagem a ser adotada paraa implementação de ações conservacionistas.

Por sua vez, os pescadores, apoiadospelos empresários da pesca, mostraram-sereceptivos, em muitos casos, às informaçõessobre a importância da conservação das aves,da biodiversidade e do ambiente marinhoem geral. Essa frutífera relação surtiu efeitosaté então inimagináveis como a adoçãovoluntária de medidas de mitigação e a efetivamodificação do comportamento dos pescadoresem relação às questões ambientais. Osalbatrozes tornaram-se ícones dessa novapostura, que nos mostrou que o manejo dequestões aparentemente insolúveis éplenamente possível.

Impulsionado por esses movimentos,o poder público tornou-se cada vez maisparticipativo e interessado em enfrentar aquestão. O Ibama, que vem se envolvendodiretamente no assunto há vários anos,consolidou sua posição de entidaderesponsável pelo tema, realizando umworkshop para a discussão deste Plano deAção Nacional para a Conservação deAlbatrozes e Petréis – Planacap. A Seap, emuma ação pioneira, previu a utilização demedidas de mitigação para evitar a capturade aves e tartarugas marinhas por embarcaçõesarrendadas (Decreto n° 4.810, de 19 deagosto de 2003) e vem buscando normatizar

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nacional: a pardela-de-asa-larga Puffinuslherminieri e a pardela-de-trindade Pterodromaarminjoniana, esta última endêmica das ilhasde Trindade e Martin Vaz. As principaisdiscussões abordaram a preocupação sobreo manejo das áreas, envolvendo o risco deintrodução de predadores (como ratos), apartir de atividades como atracações denavios nas proximidades das ilhas e odesembarque. Também foram propostasmedidas de erradicação de predadoresintroduzidos (especialmente em Fernando deNoronha), a restauração dos habitats nativose mecanismos para evitar as atividades quecausem danos às populações de avesmarinhas. A realização de pesquisas paraapurar a possível ocorrência de atividadereprodutiva de outras espécies nas ilhas foitambém sugerida, assim como estudos sobrea interação dessas espécies com a pesca.

Fig. 1 - Ilha da Trindade.

Fig. 2 - IIhas Itatiaia, município de Vila Velha, litoraldo Espírito Santo.

Fig. 3 - Baía do Sancho com ilha Dois Irmãos aofundo, arquipélago de Fernando de Noronha.

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o Programa Nacional de Observadores, emparceria com o MMA e o Ibama, uma vezque prevê o estudo da interação de aves eoutros organismos com os petrechos de pesca.Na esfera estadual, a Secretaria do MeioAmbiente do Estado de São Paulo, por meiodo IFSP, criou o Programa para a Conservaçãode Albatrozes e Petréis – Procap, que vematuando em conjunto com o Projeto Albatroz,desde a sua criação, em fevereiro de 2002.

Vindos de todo o Brasil, 35representantes do MMA, Ibama, Seap, IFSP,Projeto Albatroz, BirdLife International –Programa do Brasil, empresas de pesca,Conepe e universidades reuniram-se, nos dias5 e 6 de abril de 2004, na Fortaleza de SantoAmaro da Barra Grande, em Guarujá, SãoPaulo, durante o workshop que teve comoobjetivo discutir o Planacap.

Durante essa reunião, as discussõesestiveram concentradas nos temas de manejoe pesquisa de espécies residentes (atividadesde preservação dos sítios reprodutivos emilhas oceânicas brasileiras) e visitantes(enfoque na interação entre as aves e aatividade pesqueira).

As ilhas de Trindade (Fig. 1) e MartinVaz (fora da costa do Espírito Santo), Itatiaia(Vila Velha, Espírito Santo) (Fig . 2) e oarquipélago de Fernando de Noronha(Pernambuco) (Fig. 3) foram focos centrais dadiscussão, uma vez que constituem locais dereprodução das duas únicas espécies depetréis que se reproduzem em território

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Plano de Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis

Outra questão que obteve consensodurante as discussões foi a inclusão daMarinha do Brasil, da CIRM e do MNRJ comoparticipantes em todas as ações referentesàs ilhas de Trindade e Martin Vaz, bem comoa inclusão do governo do estado dePernambuco nas ações referentes a Fernandode Noronha.

No entanto, a captura acidental dosalbatrozes e petréis nas pescas oceânicas,especialmente aquelas realizadas comespinhel pelágico, foi a questão central queimpulsionou a elaboração do Planacap. Foibastante produtiva a participação dos diversossetores na discussão, que esteve centrada emquatro linhas de ação: (1) o desenvolvimentode atividades educativas voltadasprincipalmente aos pescadores embarcados;(2) a normatização da obrigatoriedade do usode medidas mitigadoras por embarcaçõesbaseadas em território nacional, para evitar acaptura incidental das aves; (3) oestabelecimento de incentivos à adoção detais medidas, como a certificação ambientaldo pescado; e (4) o monitoramento destaadoção, por meio de um embasado programade observadores de bordo.

O resultado desse esforço foi aelaboração de um documento, no qual foramabordadas todas as questões relacionadas àsespécies envolvidas e suas interações com apesca, assim como a utilização de medidas demitigação no Brasil. Essa compilação deinformações tem o objetivo de instrumentalizar,com informações atualizadas, quaisquer dossetores envolvidos no problema.

O diagnóstico também serve comobase para a compreensão dos objetivos dasegunda parte do documento, composto pormetas e ações que representam a estratégianacional para a questão. A partir da publicaçãodeste Planacap, o Brasil estará honrando ocompromisso assumido perante as demaisnações pesqueiras e a FAO, conduzindo comseriedade e determinação a tarefa de buscara conservação dos albatrozes e petréis, bemcomo garantindo a continuidade daexistência dessas espécies no Brasil e nomundo.

Tatiana NevesFábio Olmos

Fabiano PeppesLeonardo Mohr

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Ratificação do Acordo para a Conservação de Albatrozes e

Petréis

O Ministério das Relações Exteriores – por meio de seu Departamento do MeioAmbiente (ponto focal para a questão) e da Embaixada do Brasil na Austrália – após aparticipação em reuniões preparatórias em Hobart (Austrália) e Cidade do Cabo (África doSul), assinou em junho de 2001 o Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis – Acap(Agreement on the Conservation of Albatrosses and Petrels).

Austrália, Nova Zelândia, Equador, Espanha e África do Sul ratificaram o Acap,alcançando o número mínimo de integrantes para que ele entrasse em vigor, o que aconteceuem 1° de fevereiro de 2004. Posteriormente, o Acordo foi ratificado pelo Reino Unido.

Brasil, Argentina, Chile, França e Peru assinaram o Acap, sendo que nesses paíseso Acordo ainda se encontra em processo de ratificação.

Os participantes do workshop para a discussão do Plano de Ação Nacional para aConservação de Albatrozes e Petréis recomendam que o Brasil – por intermédio do Ministériodas Relações Exteriores, que está realizando uma consulta interministerial sobre a questão –promova a ratificação do Acap o mais breve possível.

Recomendação

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Parte 1

INFORMAÇÕES GERAIS

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Ameaças aos

Procellariiformes

As aves marinhas, de maneira geral,são bastante vulneráveis à predação duranteo período reprodutivo, acarretando quemuitas espécies dependam de habitatsinsulares para nidificarem, nos quaispredadores terrestres – especialmentemamíferos – estejam ausentes. A introduçãode predadores como ratos, gatos, porcos ecães, bem como de herbívoros que destroema cobertura vegetal e causam processoserosivos (como cabras), tem dizimado colôniasde aves marinhas em todo o mundo,ameaçando espécies ou levando-as àextinção. A introdução de espécies exóticasé um dos maiores problemas paraconsiderável parcela das aves marinhasameaçadas de extinção.

Outro fator de ameaça às avesmarinhas decorre de seus hábitos alimentares.Diversas espécies, além de predadoras depeixes e cefalópodes, capturam essas presasenfraquecidas ou mortas encontradas nasuperfície, tais como lulas agonizantes pós-reprodução ou restos de animais descartadospor grandes peixes ou mamíferos marinhos.Esse comportamento notável entre osProcellariiformes os torna pré-adaptados parasuplementar sua dieta utilizando os descartesde atividades pesqueiras, bem como paratentarem capturar iscas de anzóis. Dessa forma,tais espécies interagem com barcos pesqueiros,muitas vezes resultando na captura incidentalpor espinhéis e outras artes de pesca.

Introdução

Os barcos espinheleiros podemlançar à água de 800 a 4 mil anzóis/dia,dependendo da modalidade de pesca realizada.Durante o lançamento do espinhel, os anzóisiscados podem não afundar rapidamente,colocando-os ao alcance de aves marinhas queacompanham a embarcação em busca dealimento. As aves presas aos anzóis afundamcom o equipamento, ocasionando a morte porafogamento (Fig. 4).

Fig. 4 - Albatroz-de-Tristão Diomedea dabbenenapreso a anzol e morto por afogamento.

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Enfrentando o problema

mundialmente

Na década de 1990, tornou-se claroque a mortalidade de aves marinhas causadaspela pesca com espinhéis é uma questãoglobal e por isso só poderia ser abordada naesfera internacional. Essa compreensão

Alguns tipos de espinhéis, como osutilizados na pesca do dourado (Coryphaenaspp.), podem permitir que as avespermaneçam na superfície, mas elas sãovítimas de ferimentos – na maioria fatais –ocasionados por engolir os anzóis ou durantea recuperação do equipamento, pelospescadores. Embora em menor proporçãotambém ocorrem capturas durante a operaçãode recolhimento do espinhel.

A mortalidade de aves oceânicas,especialmente albatrozes, petréis e pardelas,associada à pesca com espinhéis, tem sidoreconhecida como uma grave ameaça a essasaves nos últimos 25 anos. Durante esseperíodo, houve um crescimento expressivono esforço de pesca por barcos utilizandoespinhéis destinados à captura de grandespeixes predadores. Esse incremento na pescaassocia-se a declínios significativos naspopulações de várias espécies de avescapturadas incidentalmente. Por exemplo,uma recente estimativa feita pela CCAMLRindica que a pesca com espinhéis de fundodirecionada ao “patagonian toothfish”(Dissostichus eleginoides) matou cerca de250 mil aves marinhas, em três anos (Brotherset al., 1999).

Estudos pioneiros feitos na décadade 1980, incluindo análises de recuperaçõesde anilhas por barcos pesqueiros (Croxall &Prince, 1990), identificaram a pesca comespinhéis como um problema sério para aconservação de albatrozes e outras avesmarinhas. Apregoada como “ambientalmenteamigável” quando comparada a técnicascomo as redes de deriva ou arrasto,atualmente se reconhece que a pesca comespinhéis é um fator de mortalidadesignificativo para aves marinhas, tartarugas epeixes não comerciais.

A maioria das espécies de albatrozese petréis gigantes está em declínio devido –pelo menos em parte – à mortalidade sofridanos espinhéis, sendo que eles tambémameaçam os petréis do gênero Procellaria(Barnes et al., 1997; Ryan, 1998). O númerode albatrozes-errantes Diomedea exulansobservado no oceano Índico diminuiu 99%entre 1981/82 e 1992/93, enquanto os

decréscimos para o albatroz-de-sobrancelha-negra Thalassarche melanophris (Fig. 5) e opardelão-gigante Macronectes giganteusforam de 100 e 98%, respectivamente(Woehler, 1996). As populações de trêsespécies de albatrozes que nidificam nas ilhassubantárticas Geórgias do Sul (D. exulans, T.melanophris e T. chrysostoma) declinarammais de 30% desde 1976 (Croxall et al.,1998). De fato, poucas populações dealbatrozes e petréis gigantes têm se mantidoestáveis, sendo todas as espécies consideradasglobalmente ameaçadas e algumasclassificadas como “Em Perigo” (Endangered),como o albatroz-de-tristão Diomedeadabbenena (Croxall & Gales, 1998; Gales,1998; BirdLife International, 2004; IUCN,2004).

Fig. 5 - Albatroz-de-sobrancelha-negra Thalassarchemelanophris.

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desencadeou uma série de iniciativas porparte de governos, ONGs e agênciasmultilaterais, incluindo organizações ligadasao manejo pesqueiro. Em outubro de 1996,durante a primeira sessão do WorldConservation Congress da IUCN, emMontreal, um grupo de ONGs obteve aaprovação da resolução que solicitava umaação coordenada para reduzir a mortalidadedas aves marinhas. Essa resolução, apoiada portodos os países-membros da IUCN, exceto oJapão, evidenciou a problemática na esferainternacional.

Apoiando essa iniciativa, na 22ªSessão do Cofi, ocorrida em Roma em marçode 1997, foi solicitada uma consulta aespecialistas regionais – governamentais enão-governamentais – com o objetivo depropor linhas orientadoras para um plano deação para a redução da mortalidade incidentalde aves marinhas. De forma significativa, oJapão foi um dos dois países que se dispôs aorganizar esse esforço. Na mesma época, aBirdLife International – a ONG internacionalde maior destaque nas iniciativas para aconservação de aves – iniciou um programainternacional para a conservação de avesmarinhas (Seabird International ConservationProgramme), com o objetivo principal deobter a redução da captura incidental combarcos espinheleiros.

Além desses esforços, na 28ª Sessãoda FAO, ocorrida em outubro de 1995, foiadotado o Código de Conduta para a PescaResponsável, que estabeleceu princípios epadrões para práticas pesqueirasresponsáveis, para assegurar a conservação,o manejo e o desenvolvimento sustentáveisdos recursos aquáticos vivos. No artigo 7.6.9deste Código, é estimulada a adoção demedidas de manejo que minimizem a capturade espécies não-alvo e não consideradascomo recursos pesqueiros, além dodesenvolvimento e do uso de técnicas depesca seletiva e ambientalmente seguras. EsseCódigo constitui a base para as iniciativas deconservação das aves apoiadas pela FAO.

Em outubro de 1998, representantesda FAO e dos governos do Japão e dos EstadosUnidos organizaram uma consulta a fim deelaborar um plano de ação internacional (que

foi denominado Ipoa – Seabirds), no qualconstassem medidas para reduzir a capturaincidental de aves marinhas nas pescarias comespinhel. Na preparação para a consulta, foiestabelecido o Seabird Technical WorkingGroup – STWG, composto por 16especialistas das regiões com os maioresproblemas de captura incidental de aves. Elesprepararam, revisaram e sistematizaramdocumentos de apoio – incluindo uma revisãode Cooper (1999) – referentes à capturaincidental de aves marinhas e medidas paraa sua mitigação. Também foram produzidosdocumentos preliminares indicando diretrizespara medidas de redução da mortalidadeincidental de aves e um plano de ação para aimplementação das mesmas.

O STWG reuniu-se em Tóquio, emmarço de 1998, com a presença docoordenador do programa de conservação deaves marinhas da BirdLife International, sendopublicada, pela FAO, uma versão consolidadareunindo os documentos de apoio (Brotherset al., 1999). Essa reunião foi um avançonotável, pois demonstrou que uma dasmaiores nações pesqueiras do mundo estavadisposta a trabalhar em conjunto com umaONG internacional, a fim de resolver umproblema comum: evitar a mortalidade deaves marinhas e conduzir as atividadespesqueiras de forma ambientalmenteresponsável.

Na sessão plenária da FAO, realizadaem outubro de 1998, foi efetuada umaconsulta sobre o manejo da capacidadepesqueira, a pesca de tubarões e a capturaincidental de aves marinhas pela pesca comespinhéis. Na reunião, que teverepresentantes de 81 estados-membros, alémde observadores de várias agênciasgovernamentais e não-governamentais, foiaprovada a versão preliminar do Ipoa. O planorecebeu o endosso do Cofi em fevereiro de1999 e foi adotado pela Conferência da FAOem novembro do mesmo ano.

O Ipoa indica ações concretas eespecíficas para a redução da capturaincidental de aves marinhas pela pesca comespinhéis, nas esferas regional, nacional eglobal, estimulando que Planos de Ação

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Nacionais (NPOA – Seabirds) sejamelaborados. Foram solicitados aos estados-membros diagnósticos sobre a extensão damortalidade incidental em suas águas e porsuas frotas pesqueiras e, quando necessário,a elaboração de seus NPOAs. Eles devemconter prescrição, planos para a pesquisa edesenvolvimento e avaliação de medidasmitigadoras; planos de conscientização eeducação do setor pesqueiro (incluindotripulações) e programas de coleta de dados(incluindo programas de observadores) paraavaliar a dimensão da captura incidental e aeficácia das medidas mitigadoras.

Até o momento 9 países elaboraramou iniciaram seus planos de ação1, sendo aadoção uma medida absolutamentevoluntária.

Outra iniciativa internacional visandoà conservação de albatrozes e petréis foi aelaboração do Acap, estabelecido no âmbitoda CMS. Este acordo inclui países signatáriose não signatários da Convenção, e tem porobjetivo a redução da mortalidade de avesmarinhas, tanto em alto mar, devido àsinterações com a pesca oceânica, quanto nassuas colônias de reprodução, pela ação depredadores introduzidos.

Os países que ratificam o Acap seobrigam legalmente a adotar ações paragarantir a conservação, em longo prazo, dediversas espécies de aves marinhas (albatrozese petréis em sentido amplo) incluindo, senecessário, o manejo do habitat nas zonas denidificação. O Acap incorpora um plano deação com medidas concretas a seremdesenvolvidas pelos países signatários.

Até o presente, onze países jáassinaram o Acap (África do Sul, Austrália,Equador, Espanha, Nova Zelândia, ReinoUnido, Argentina, Brasil, Chile, França ePeru), sendo que os seis primeiros já oratificaram. O Acordo entrou em vigência em1° de fevereiro de 2004. O Brasil assinou oAcap em junho de 2001, por meio de suaembaixada brasileira na Austrália, sendo queo ponto focal para o tema é o Departamentodo Meio Ambiente do Ministério dasRelações Exteriores, que está promovendo

uma consulta interministerial para a suaratificação.

Várias organizações regionais degestão de pesca estão incorporando aproblemática da captura incidental de avesnas suas agendas. A Comissão para aConservação do Atum-do-sul (Thunnusmaccoyii), formada pela Austrália, Coréia,Japão, Nova Zelândia e a entidade pesqueiranacional de Taiwan, estabeleceu o usoobrigatório de torilines (espantadores de aves)em todos os barcos de pesca de espinhel parao atum-do-sul que operam ao sul dos 30°Sassim como recomendou a todos os barcosde outras bandeiras, que pescam na mesmazona, que também adotem o uso dos torilines.

Em 2002, a Iccat aprovou resoluçãosobre a captura acidental de aves marinhasnas pescarias de atuns com espinhel, na qualos países-membros são obrigados a informarao SCRS e à Comissão quanto ao andamentode seus NPOAs, bem como são encorajadosa coletar e voluntariamente fornecer ao SCRStoda a informação disponível sobre ainteração entre aves e as pescarias de atuns eafins, com vistas a possibilitar uma avaliaçãodo impacto da captura acidental resultante dasatividades dos barcos que pescam atuns noAtlântico.

Outras organizações de gestãopesqueira estão estudando a adoção demedidas similares. Paralelamente, algunspaíses têm adotado normas legais paraestabelecer a obrigatoriedade de algumas dasmedidas mitigadoras. Destacam-se por suaimportância:

Austrália: dispõe em seu Regulamentode Manejo de Pesca (Modif. n° 1/2001) o usoobrigatório de um conjunto de medidas paratodos os barcos de bandeira australiana e paraos que pescam em sua ZEE. Entre as medidasse encontram o toriline, a largada noturna doespinhel, o uso de iscas descongeladas e alimitação dos descartes.

Espanha: mediante Ordem Ministerial(BOE nº 123/2002), adota um conjunto demedidas mitigadoras para sua frota deespinhel de superfície que pesca em águasao sul dos 30°S, as quais incluem a largada

1 No Apêndice I, há uma relação de links para acesso aos planos de ação.

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Plano de Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis

noturna do espinhel e a redução dosdescartes. Existem propostas para que sejamadotadas medidas legais similares por outrospaíses da União Européia.

Estados Unidos: estabelece controlerigoroso de suas pescarias com espinhel noPacífico (Alasca, Havaí e Mar de Bering/ilhasAleutas), especialmente para evitar amortalidade dos albatrozes-de-cauda-curtaPhoebastria albatrus2. Determina o usoobrigatório de medidas mitigadoras (torilinese largada noturna), incluindo a paralisação dapescaria quando é atingido certo número decapturas de albatrozes. Um programa comapoio governamental incentiva a instalação eo uso de dispositivos de largada submersa.

Uruguai: por meio do Decreto nº248/1997, indica como obrigatórias diversasmedidas mitigadoras para toda sua frotaespinheleira – torilines, largada noturna doespinhel e utilização de isca descongelada –bem como estabelece que observadorescientíficos acompanhem as embarcações depesca.

Gradualmente, as autoridadesresponsáveis pela questão, nos diferentespaíses, estão elaborando disposições ecolaborando mutuamente para introduzir, emcaráter obrigatório, um conjunto mínimo demedidas mitigadoras em suas frotasespinheleiras, para que no futuro a pesca comespinhel seja inofensiva para as aves marinhas.O assunto encontra-se atualmente em umaetapa de transição, que deverá ser a mais curtapossível para o benefício das aves e da própriapesca. Nesse sentido, é preciso estudar todasas possibilidades de aprimoramento dasmedidas mitigadoras existentes.

A situação no Brasil

Informações obtidas nas últimasdécadas demonstram que a captura incidentalde albatrozes, pardelas e petréis porembarcações brasileiras, ou baseadas emportos do Brasil, é significativa e tende acrescer juntamente com a ampliação da frota

pesqueira nacional. É preciso adotar maneirasde reduzir o número até um nível aceitável.

O Brasil aderiu ao Acap em junhode 2001, e em outubro do mesmo ano,durante o Primeiro Workshop Brasileiro sobrea Conservação de Aves Marinhas – que reuniurepresentantes do Ibama, MMA, DPA, Univali,Furg , Conepe, BirdLife International –Programa do Brasil, Projeto Albatroz e IFSP –foi elaborado um plano de ação emergencial,que subsidiou a confecção do presentePlanacap. No encontro, os seguintes itensforam definidos como proposta de estratégianacional para a conservação de albatrozes epetréis, a ser adotada pelo Governo:

• Promover pesquisas sobre aincidência da mortalidade de avesnas pescarias marítimas;

• Avaliar e quantificar possíveis per-das socioeconômicas relacionadascom a captura incidental dealbatrozes e petréis e propor alter-nativas para reduzi-las;

• Aplicar as medidas mitigadorasconhecidas para essas pescarias;

• Aperfeiçoar as medidas mitigadorasexistentes e desenvolver novaspara as pescarias atuais e futuras;

• Promover pesquisas sobre a biologiade albatrozes e petréis no Brasil,com vistas à sua conservação;

• Identificar e promover a proteção deáreas de reprodução e alimentaçãode aves marinhas no Brasil;

• Promover pesquisas para dimen-sionar os impactos dos poluentesno ambiente marinho – inclusivederivados do petróleo – sobrealbatrozes e petréis, propondomedidas mitigadoras;

• Desenvolver e implementar pro-gramas de formação e educaçãopara o setor pesqueiro quanto apráticas de pesca compatíveis coma conservação das aves;

2 Ver http://ecos.fws.gov/docs/recovery_plans/2005/051027.pdf. Acesso em 08/12/2005.

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

• Ampliar e aprimorar programas deobservadores de bordo queregistrem as interações entre asaves marinhas e a pesca;

• Incorporar na legislação brasileiramedidas adequadas para aconservação das aves marinhas;

• Promover a ratificação dos acordosinternacionais relativos àconservação de aves marinhas dosquais o Brasil é signatário;

• Contribuir com critérios e padrõestécnicos para processos decertificação do pescado;

• Fomentar a cooperação entreempresas, ONGs, governos einstituições de ensino e pesquisa,nacionais e internacionais;

• Favorecer o intercâmbio interna-cional de dados sobre a mortalida-de de aves marinhas e o estado desuas populações;

• Buscar o envolvimento da socie-dade em relação à conservaçãodos albatrozes e petréis;

• Difundir essa estratégia nacional eas necessidades de conservação dealbatrozes e petréis do Brasil, nosfóruns internacionais.

Em setembro de 2001, no Uruguai,foi realizado o primeiro Taller Sudamericanosobre Conservación de Albatrosses y Petreles,promovido pela BirdLife International, com apresença de representantes governamentaise de ONGs, incluindo o Brasil.

Os contatos interinstitucionaisrealizados durante o encontro possibilitarama execução de ações no Brasil, por meio doProjeto Albatroz. Tais ações se concentraramna produção e na divulgação de materialeducativo para os pescadores quanto aoproblema da captura incidental e nas formasde mitigação, bem como nos testes dessasmedidas e no monitoramento de embarcaçõespesqueiras. O presente Planacap se baseia eminformações e experiências obtidas pelo

Projeto Albatroz, nas quais o apoio recebidodas empresas de pesca parceiras foifundamental.

Em reconhecimento ao problemada mortalidade incidental, todas as espéciesde albatrozes que ocorrem regularmente noBrasil, assim como os petréis do gêneroProcellaria, foram incluídas na Lista de Espéciesda Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (INMMA n° 3, de 27 de maio de 2003). Assim, ogoverno brasileiro oficializa a necessidade deproposição de políticas públicas visando àconservação dessas espécies, e este Planacapvem ao encontro dessa demanda.

Em junho de 2004, por meio daPortaria Ibama n° 55/04-N, foi oficialmentecriado o Grupo de Trabalho para aConservação dos Albatrozes e Petréis,formado por representantes do poder público,ONGs, entidades de classe e especialistas emProcellariiformes, com o objetivo deassessorar o Ibama na implementação depolíticas públicas para a conservação.

Fig. 6 - Albatroz-de-sobrancelha-negra Thalassarchemelanophris juvenil, morto por um espinhel.

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Objetivos

Os objetivos do Planacap são:

• Sumarizar as informações existen-tes sobre as espécies de albatrozes,pardelas e petréis que nidificamem território brasileiro ou são cap-turadas incidentalmente por em-barcações pesqueiras comerciais;

• Realizar um diagnóstico sobre aspescarias envolvidas na capturaincidental de albatrozes, pardelase petréis;

• Caracterizar as ameaças a essegrupo de aves (Procellariiformes) noBrasil;

• Identificar, descrever e priorizar asações necessárias para iniciar oprocesso de recuperação deespécies ameaçadas e mitigar oproblema da captura incidental;

• Identificar os atores necessáriospara que as ações atinjam osobjetivos;

• Fornecer um instrumento para queentidades governamentais e ONGspossam contextualizar e articularações em prol da conservação dealbatrozes, pardelas e petréis.

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Albatrozes, pardelas e petréisconstituem aqui um conjunto englobandotodos os membros da ordem Procellariiformes,também conhecidos por outros nomescomuns (por exemplo, bobos, painhos, pés-quentes, patos, urubus, pretinhas e almas-de-mestre). Este grupo de aves distribui-seamplamente pelos oceanos do mundo,apresentando maior diversidade noHemisfério Sul, onde ocorrem 22 espéciesde albatrozes, duas de petréis-gigantes e pelomenos 75 espécies menores das famíliasProcellariidae, Hydrobatidae e Pelecanoididae.

Em águas brasileiras ocorrem, comregistros documentados, dez espécies dealbatrozes (família Diomedeidae), 24 depetréis (família Procellariidae), cinco depainhos e almas-de-mestre (famíliaHydrobatidae) e uma de petrel-mergulhador(família Pelecanoididae) (Lima et al., 2002;Olmos, 2002; CBRO, 2005), sendo quedestas, apenas duas se reproduzem no Brasil:a pardela-de-trindade Pterodroma arminjoniana(endêmica das ilhas Trindade e Martin Vaz) ea pardela-de-asa-larga Puffinus lherminieri(ilhas do litoral do Espírito Santo e deFernando de Noronha) (Sick, 1997; Soto &Filippini, 2000).

Apesar da escassez de espécies queaqui se reproduzem, a ZEE brasileira é umaárea de alimentação utilizada por pelo menos37 espécies de Procellariiformes, com asmaiores riquezas e abundâncias sendoencontradas nas águas mais frias e nasressurgências do Sul/Sudeste, especialmentena convergência subtropical, fora do litoralgaúcho, onde as águas quentes da Corrente

Albatrozes e petréis no Brasil

do Brasil se encontram com as águas frias daCorrente das Malvinas (Vooren & Brusque,1999).

Fig. 7 - Albatrozes-de-nariz-amarelo Thalassarche chlororhynchos,pardelas-pretas Procellaria aequinoctialis, pardelas-de-óculos P.conspicillata e pombas-do-Cabo Daption capensis aguardam osdescartes de um espinheleiro.

A região da plataforma continentalsofre influência das descargas da Lagoa dosPatos e do Rio da Prata, e tanto esta como asregiões mais profundas, recebem nutrientestrazidos pela Corrente das Malvinas, formandouma área de alta produtividade, na qual seconcentram presas importantes para as avesmarinhas, como lulas e pequenos peixes.

Grande parte dessas aves migra lon-gas distâncias até a Convergência Subtropicalpara se alimentar, incluindo migrantestransequatoriais como o bobo-pequenoPuffinus puffinus e albatrozes que nidificamnas ilhas Geórgias do Sul e Falklands/Malvinas.Além disso, durante o inverno, há uma pene-

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A grande capacidade de deslocamentoe a ampla área de distribuição dosProcellariiformes implicam que as atividadespesqueiras no Brasil interferem naspopulações que se reproduzem no Ártico,Antártida, ilhas subantárticas e ilhas doAtlântico central. Por exemplo, os albatrozes-errantes Diomedea exulans e as pardelas-pretas P. aequinoctialis que se reproduzemnas ilhas Geórgias do Sul têm uma de suasprincipais áreas de alimentação na plataformacontinental sul-americana, incluindo a áreasob influência da Convergência Subtropical,fora da costa do Rio Grande do Sul, Uruguaie Argentina (Prince et al., 1992; Weimerskirchet al., 1999; Berrow et al., 2000b), enquantoque as pardelas-de-óculos P. conspicillata (Fig.9) que nidificam apenas na ilha Inacessível3

(arquipélago de Tristão da Cunha), têm suasprincipais agregações ao longo da costa Sul/Sudeste do Brasil (Olmos, 1997).

tração de águas frias e ricas em nutrientes vin-das do sul, que avançam pela plataforma con-tinental brasileira até 23-24°S (Campos et al.,1996). O fenômeno coincide com a disper-são pós-reprodutiva de espécies como apardela-preta Procellaria aequinoctialis e oalbatroz-de-sobrancelha-negra Thalassarchemelanophris, que se tornam mais numerosasem águas brasileiras durante o período.

Características gerais

Os Procellariiformes estão entre asaves marinhas mais oceânicas, raramente seaproximando da terra, exceto para areprodução. Diversas espécies, notadamentealbatrozes, pardelas e petréis gigantes,realizam amplos movimentos migratórios elongas viagens, para a alimentação, quecobrem milhares de quilômetros. Porexemplo, os bobos-pequenos P. puffinus e ospetréis Calonectris diomedea (Fig. 8) e C.edwardsii se reproduzem no HemisférioNorte, realizando migrações transequatoriasem direção às águas de alta produtividade doAtlântico sul ocidental. Já os bobos P. gravise P. griseus que nidificam em ilhas doAtlântico Sul, migram para o Atlântico nortedurante o inverno meridional (Weimerskirch& Jouventin, 1987; Weimerskirch &Robertson, 1994; Walker et al., 1995;Warham, 1996; Weimerskirch et al., 1999;Berrow et al., 2000a; González-Solís et al.,2000b; Huin, 2002).

Fig. 8 - Bobo-grande Calonectris diomedea.

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Os Procellariiformes são K-estrategistasextremos: têm uma grande longevidade,baixa mortalidade de adultos e baixaprodutividade. Todas as espécies têm vida longa(uma fêmea do albatroz-real-setentrionalD. sanfordi se reproduziu aos 61 anos deidade [Robertson, 1998]), atingem amaturidade sexual tardiamente (cerca de 5-6 anos para as espécies menores e 11 anospara os grandes albatrozes [Warham, 1990]) eproduzem apenas um ovo por temporada,que pode ocorrer em intervalos de vários anos.Também não há a postura de reposição caso oovo seja perdido. Diversas espécies nidificamapenas a cada dois anos, sendo comum que o

Fig. 9 - Pardela-de-óculos Procellaria conspicillata.

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3 Para um mapa mundial de localização de ilhasoceânicas, ver HARRISON (1991).

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intervalo entre as tentativas de reprodução sejaainda maior (Warham, 1990; 1996). Taiscaracterísticas tornam os Procellariiformes,especialmente os albatrozes, extremamentevulneráveis a fatores de mortalidade queatingem as aves em idade de reprodução, comoa captura incidental na pesca com espinhel(Moloney et al., 1994; Tuck et al., 2001).

Espécies que nidificam no Brasil

Apenas duas espécies4 de pardelasnidificam em território brasileiro e ambas

4 IMBER (2004) sugeriu a nidificação de Pterodroma neglecta na Ilha da Trindade.5 Ver nos Apêndices II e III um sumário desses critérios

apresentam problemas particulares deconservação, por terem suas colônias em ilhasque são vulneráveis à introdução depredadores e destruição de habitats. Não háinformações sobre a captura incidental dessasespécies pela pesca, mas isso não pode serdescartado.

No status de conservação, sãoindicados as categorias e os critérios5

segundo a versão 3.1 da IUCN (2004),que foram extraídos de Machado et al.(2005).

Ninhos ativos e casais em vôos deexibição são observados por todo o ano. Osninhos são construídos em fendas e grutas nos

paredões rochosos, ocasionalmente formandopequenas colônias. Os atuais sítios denidificação podem representar umaadaptação às mudanças ambientais eintrodução de predadores em Trindade.A postura consiste de um único ovo, pesandoentre 43 e 80 g (média de 68,5 g), que éincubado de 52 a 54 dias, por ambos os pais,que se revezam na tarefa por um período quepode alcançar até 19 dias. Os filhotes estãoaptos a deixar o ninho após 95-100 dias, sendoque o maior fator de predação, durante esseperíodo, é o ataque pelo caranguejo terrestreGecarcinus lagostoma (Luigi, 1995) (Fig. 11).

Fig. 11 - Caranguejo Gecarcinus lagostoma predandofilhote de tartaruga marinha na Ilha da Trindade.

Nome comum: pardela-de-trindade

Nome científico: Pterodroma arminjoniana (Giglioli & Salvadori, 1869)

Família: Procellariidae

Status de conservação:

MMA (2003): Vulnerável (D2)

IUCN (2004): Vulnerável (D2)

CMS (2002): não consta

A espécie (Fig. 10) é um petrel detamanho médio, sem dimorfismo sexualevidente, com envergadura de 89 a 104 cme pesando de 300 a 475 g (Luigi, 1995).Apresenta grande polimorfismo deplumagem, com morfos claros (raros), escuros(comuns) e intermediários, o que já trouxedúvidas quanto ao número de espécies queexistiriam na Ilha da Trindade.

Fig. 10 - Pardela-de-trindade Pterodroma arminjoniana.

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A pardela-de-trindade alimenta-seprincipalmente de lulas, peixes (perseguepeixes-voadores em vôo), medusas (Porpitasp.) e insetos hemípteros pelágicos (Halobatessp.), sendo raramente atraída por embarcações(Luigi, 1995).

Áreas de reprodução

Nidifica apenas na Ilha da Trindade(Fig . 12) e ilhotas próximas (20°30’S–29°19’W), que distam aproximadamente1.200 km do continente, e no arquipélagode Martin Vaz (20°15’S–28°55’W), situado acerca de 50 km de Trindade. Segundo Luigi(1995), contudo, a espécie não maisnidificaria em Martin Vaz. Essa pardela, comoespécie nidificante, é endêmica do Brasil.

Dispersão e migrações

Não há registros dessa espécie naAmérica do Sul continental, sugerindo queela utiliza águas afastadas da costa, comregistros ao sul até a ConvergênciaSubtropical. Curiosamente, é regularmenteobservada fora da costa leste norte-americana, em águas da Corrente do Golfo(fora da Carolina do Norte, entre maio esetembro) e há registros para o Atlânticonorte oriental (Açores e Inglaterra) (Brinkley& Patteson, 1998).

Status

Em meados da década de 1990, apopulação em Trindade foi estimada emcerca de 5 mil indivíduos (Fonseca-Neto,2004). Não há informações sobre Martin Vaz.A Ilha da Trindade sofreu um acentuadoprocesso de destruição da vegetação nativa;uma floresta dominada pelo pau-tucano(Colubrina glandulosa var. reitzii) ocupava85% da superfície da ilha até o início doséculo 18. A causa dessa perda parece tersido uma combinação de incêndios deinfluência humana e o pastoreio excessivopelas cabras que foram introduzidas (Olson,1981).

A destruição das florestas causouacentuado declínio das aves que nidificavamem árvores, como o atobá-de-pé-vermelhoSula sula – aparentemente extinto na ilha – eduas subespécies de fragatas endêmicas, otesourão-grande Fregata minor nicolli e otesourão-pequeno F. ariel trinitatis, ambasconsideradas “Criticamente em Perigo” peloMMA (2003). Atualmente, há um projeto dereconstituição da cobertura florestal deTrindade, conduzido pelo MNRJ, Marinha doBrasil e Ibama6.

Os predadores introduzidos, comoporcos, gatos e cabras, certamente tiveramimpacto sobre todas as aves marinhas. Osporcos foram eliminados pela Marinha doBrasil, que mantém um posto oceanográficoem Trindade, e os gatos parecem ter seextinguido. No entanto, ainda há o risco deque ratos sejam introduzidos. Segundo RuyVálka, pesquisador do MNRJ (in litt.), asúltimas cabras foram eliminadas de Trindadeem outubro de 2004 pelo batalhão defuzileiros navais “Tonelero”, mas haveráfuturas missões para confirmar essainformação, que o pesquisador consideraprovável.

Fig. 12 - Pteridófitas em encosta da Ilha da Trindade.A espécie de maior porte é o xaxim-duro (Cyatheacopelandii), endêmica da ilha.

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6 Ver http://acd.ufrj.br/~mndb/trimanpo.html.Acesso em 09/12/2005.

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A Marinha do Brasil tem intençãode construir um aeródromo e instalar turbinas

eólicas na Ilha da Trindade, o que pode afetarseriamente as populações de aves marinhas.

As pardelas do complexo Puffinuslherminieri/assimilis constituem um controversoagrupamento de 20 táxons distribuídos emmares tropicais, subtropicais e subantárticos(Harrison, 1990; Warham, 1990; Shirihai etal., 1995), com taxonomia obscura (Shirihaiet al., 1995; Austin, 1996; Bretagnolle etal., 2000). Austin et al. (2004) indicaramque os tratamentos taxonômicos até entãopropostos para esse complexo não sãosuportados pela f i logenia molecular,propondo que 14 táxons sejam reconhecidose sugerindo que outros cincoprovavelmente não são válidos.

As aves que nidificam em Fernandode Noronha são identificadas como P.lherminieri (Silva e Silva & Olmos, em prep.).Nas ilhas Itatiaia (Espírito Santo), Efe & Musso(2001) registraram uma pequena populaçãoreprodutiva identificada como P. lherminieri(Fig. 13), mas seu status taxonômico necessitaser avaliado.

Nome comum: pardela-de-asa-larga

Nome científico: Puffinus lherminieri Lesson, 1839

Família: Procellariidae

Status de conservação:

MMA (2003): Criticamente em Perigo (D)

IUCN (2004): não constaCMS (2002): não consta

Fig. 13 - Pardela-de-asa-larga Puffinus lherminierina ilha Morro do Leão, Fernando de Noronha.

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A pardela-de-asa-larga é um petrelpequeno, com envergadura de 65 a 70 cm.No Espírito Santo, nove exemplares pesaramde 203 a 249 g (Efe & Musso, 2001). O altoda cabeça e o dorso são marrom-escuros; aface, a garganta e o ventre têm a cor brancae as coberteiras inferiores da cauda sãovariavelmente marrons. No Brasil, nidifica emcavidades naturais rochosas, mas em outrasregiões também pode cavar seu próprioburaco; nestas últimas, incuba seu único ovopor 49-50 dias e o filhote deixa o ninho com62-75 dias. No Espírito Santo há o registro deuma ave que incubou em agosto.

Há poucas informações sobre a suadieta, que inclui crustáceos, larvas de peixesplanctônicos (Harris, 1969) e peixes-voadoresem vôo. As aves desse grupo tambémcapturam presas mergulhando e perseguindo-as sob a água; P. l. nicolae das ilhas Seychelles(oceano Índico) mergulha até 15 m deprofundidade (Burger, 2001).

Áreas de reprodução

Puffinus lherminieri lherminierinidifica em várias localidades no Caribe (comoBahamas, Jamaica, Antilhas, Grenadinas,Bermuda e Tobago). No Atlântico sul, P.lherminieri também foi registrado nas ilhas deAscenção e de Santa Helena (pertencentesao Reino Unido), respectivamente comoalguns poucos subfósseis e aves vivas (Olson,1977) e abundantes restos subfósseis, sendoque a espécie parece ter sido totalmenteextinta após a colonização humana (Olson,1975).

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Os machos são maiores do que asfêmeas, pesando entre 8,19 e 11,9 kg e 6,35

No Brasil, nidifica nas ilhas Itatiaia,Espírito Santo (20°21’30"S–40°16’45") (Efe &Musso, 2001) e nas ilhotas Morro do Leão eMorro da Viuvinha, em Fernando de Noronha(aproximadamente 03°54’S–32°25’W) (Soto& Filippini, 2000).

Dispersão e migrações

Exemplares de P. lherminieri já foramobservados a 26°S na plataforma continentalentre São Paulo e Paraná (Olmos, 1997).

Status

No Brasil, menos de dez casais de P.lherminieri já foram observados em cada umadas localidades onde a espécie foi registrada.Nas ilhas Itatiaia, segundo Márcio Efe (in litt.),após o registro de nidificação, em 1993,aparentemente não houve novas ocorrências,contudo, não ocorreram trabalhos intensivosde busca. Seis ninhos ativos foramencontrados na ilha Morro da Viuvinha, emFernando de Noronha, em setembro de 2003(Silva e Silva & Olmos, em prep.).

Em Fernando de Noronha hápredadores introduzidos – ratos, gatos, cãese teiús – que provavelmente impedem aocupação da ilha principal pela pardela-de-asa-larga, além de certamente predaremoutras aves marinhas. A ilha Morro daViuvinha é próxima à praia e isso coloca aespécie em risco pela invasão de ratos, quepodem dizimar as aves que ali nidificam. Asilhas Itatiaia são manejadas visando ao uso poraves marinhas, especialmente trinta-réis

(Sterna spp.), e não apresentam predadoresintroduzidos.

Espécies visitantes queinteragem com a pesca

Vinte ou mais espécies de avesmarinhas interagem com a pesca de espinhelem águas brasileiras, seguindo embarcaçõese alimentando-se de descartes (Olmos, 1997;Neves & Olmos, 1998; Olmos et al., 2001).No entanto, várias dessas espécies alimentam-se apenas na superfície ou acompanham asembarcações por um curto período ou, então,são pequenas demais para engolir anzóisiscados e serem capturadas. Entre elas, pode-se listar Pterodroma incerta, P. mollis,Calonectris diomedea borealis, Calonectrisedwardsii, Puffinus puffinus, P. griseus,Oceanites oceanicus, Fregata magnificens,Morus capensis e Stercorarius spp.

É interessante notar que C. diomedeaé vítima de espinhéis no Hemisfério Norte(Cooper et al., 2003), mas isso ainda não foiconstatado no Atlântico sul ocidental.

Abaixo, apresentamos um sumáriosobre as principais espécies de albatrozes epetréis que interagem com a pesca no Brasil.Exceto quando indicado, as informações estãobaseadas em Murphy (1936), Warham (1990,1996), Gales (1993, 1998), Croxall et al.(1995), Tickell (2000) e BirdLife International(2004).

No status de conservação, indicam-se as categorias e os critérios7 segundo a versão3.1 da IUCN (2004), que foram extraídos deMachado et al. (2005).

7 Ver nos Apêndices II e III um sumário desses critérios

e 8,71 kg, respectivamente, nas ilhas Geórgiasdo Sul. A envergadura varia de 2,72 a 3,45 m.

Nome comum: albatroz-errante

Nome científico: Diomedea exulans Linnaeus, 1758

Família: Diomedeidae

Status de conservação:

MMA (2003): Vulnerável (A1bd + A2bd)

IUCN (2004): Vulnerável (A4bd)

CMS (2002): Apêndice II

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O albatroz-errante (Fig. 14) nidificaem colônias dispersas; a postura ocorreentre dezembro e fevereiro e a incubação,que é dividida entre os pais, dura cerca de11 semanas. Machos e fêmeas começam ase reproduzir com cerca de 11 anos deidade, tendo decrescido recentemente empopulações em situação de declínio, devidoà mortalidade causada pela pesca. O sucessoreprodutivo variou anualmente entre 52e 73% (64% em média) nas ilhas Geórgiasdo Sul.

O único filhote leva 40 semanas paradeixar o ninho, o que ocorre entre novembroe fevereiro. O longoperíodo reprodutivo(55 semanas) fazcom que a espéciese reproduzaapenas a cada doisanos ou mais. Casaisb e m - s u c e d i d o spodem retornar àcolônia apenas de 3a 4 anos apósproduzirem umfilhote. Em 1997,havia 19 aves com39 anos de idadenidificando em BirdIsland (Geórgias doSul) e é provávelque alguns indivíduosultrapassem os 50anos de idade.

Os jovensdeixam o ninho coma plumagem quaseque totalmente marrom-chocolate, que vaiclareando com a idade, sendo que os machostendem a se tornar mais brancos do que asfêmeas; indivíduos muito velhos adquiremuma plumagem snowy (branco-gelo).

Os jovens permanecem no oceanopor cinco anos, antes de retornar à sua colônianatal, exibindo alto grau de filopatria. Cercade 50% dos jovens das ilhas Geórgias do Sulsobrevivem até essa idade. Já os adultos, noperíodo de 1972 a 1985, apresentaramexpectativa anual de sobrevivência de 94%,

o que representou uma redução de 1 a 2%em relação à década de 1960, devido àmortalidade causada pelos espinheleiros. Osmachos têm uma expectativa desobrevivência 2% maior do que a das fêmeas,que se alimentam em latitudes mais baixas eassim parecem interagir mais com asembarcações pesqueiras.

Diomedea exulans e os outrosgrandes albatrozes capturam presasprincipalmente na superfície, tendocapacidade limitada de submergir. Nas ilhasGeórgias do Sul alimentam-se principalmente

de lulas e peixes, queperfazem, respec-tivamente, 35 e 45%da massa da dietados filhotes. Entre ospeixes, são consumi-dos os demersais“blackfin icefish”(Chaenocephalusaceratus) e “smalleyemoray cod” (Murae-nolepis microps),que devem serobtidos de descartede pesca ou doscorpos flutuantesapós a desova. Osalbatrozes tambémconsomem carniça(como mamíferosmarinhos mortos),tunicados, águas-vivas e crustáceos(como o “lobster krill”

Munida gregaria). Alterações nas condiçõesoceanográficas têm forte influência sobre ospadrões de forrageamento e presascapturadas (Xavier et al., 2003). A maiorparte do alimento é obtida durante o dia,embora haja algum forrageamento noturno.

Muitas das lulas consumidas sãoespécies mesopelágicas de grande porte,como a “giant warty squid” Kondakovialongimana (que pesa em média 3 kg) edevem ser capturadas como carniça, masos albatrozes podem capturar lulas grandes na

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Fig. 14 - Albatroz-errante Diomedea exulans.ans.

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A frota pesqueira brasileira parece capturarprincipalmente indivíduos pertencentes à população dasGeórgias do Sul (12 registros até 2001). Entretanto, a capturafora da costa do Rio Grande do Sul, de um exemplaranilhado no sul da Austrália, pode indicar a presença deaves de outras populações em águas brasileiras (Soto & Riva,2000; Olmos, 2002a).

Status

A população mundial tem aproximadamente8.500 pares reprodutivos anuais, o que corresponde a cerca

superfície durante a noite,quando elas realizam migraçõesverticais. A predisposição dessaespécie em consumir presasmortas faz com que ela seassocie a barcos pesqueirospara aproveitar os descartes,sendo bastante agressiva aodisputar os restos com as outrasaves.

Áreas dereprodução

No oceano Atlânticose reproduz nas ilhas Geórgiasdo Sul (cerca de 2 mil paresreprodutivos/ano), especialmenteem Bird Island (60% dapopulação do arquipélago). Apopulação reprodutiva das ilhasFalklands/Malvinas se extinguiuem 1959 devido à pressãohumana. Também se reproduznas ilhas Príncipe Eduardo eMarion; ilha Crozet e ilhaKerguelen; e ilha Macquarie,pertencentes, respectivamente,à África do Sul, França e Austrália.

Dispersão emigrações

O albatroz-erranteocorre na maior parte dooceano Austral; do Círculo PolarAntártico (cerca de 68°S) até oTrópico de Capricórnio (cercade 23°S) e, ocasionalmente, atémais ao norte, com algunsregistros fora da costa daCalifórnia e no Atlântico norte.Durante o inverno, a maiorparte se concentra ao norte daConvergência Antártica (Tickell& Gilson, 1968; Marchant &Higgins, 1991). Durante areprodução, a população dasilhas Geórgias do Sul se alimentasobre a plataforma das ilhas epara o oeste, especialmente ao

longo do talude, e fora da plataforma continental daPatagônia e sul do Brasil. Durante o verão, as fêmeas utilizama margem da plataforma continental da América do Sul(norte até cerca de 32°S) e os machos, as águas fora daPenínsula Antártica. No inverno, os machos se juntam àsfêmeas. As viagens de alimentação para as águas do norteda Argentina e sul do Brasil cobrem mais de 9 milquilômetros e duram aproximadamente 15 dias.

A espécie realiza movimentos de grande escala,sendo que os indivíduos que nidificam no Atlânticoparecem realizar uma migração circumpolar para leste,levando-os à costa sul da Austrália e ao oceano Pacífico,antes de retornarem às colônias de reprodução nas Geórgiasdo Sul. Aves anilhadas dessa população têm sidorecapturadas na costa Sul do Brasil (notadamente porespinheleiros operando fora do Rio Grande do Sul e SantaCatarina), África do Sul e sul da Austrália e Nova Zelândia.No Brasil, o albatroz-errante tem sido registrado desde oRio Grande do Sul até cerca de 23°S (Fig. 15).

Fig. 15 - Distribuição oceânica dos grandes albatrozes Diomedeaspp. a partir de observações a bordo de espinheleiros (dados doProjeto Albatroz).

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de 28 mil indivíduos adultos. A população dasilhas Geórgias do Sul decresceu 28% entre1960 e 1996 (0,8% ao ano), o que coincidiucom a diminuição na expectativa de

sobrevivência dos adultos e jovens. Umdeclínio anual de 10% na taxa de sobrevivênciados juvenis ocorreu concomitante a uma quedade 2 a 3% ao ano, na taxa dos adultos.

O albatroz-errante (D. exulans) dasilhas do Atlântico sul central foi consideradauma espécie plena – D. dabbenena – apenasrecentemente, com base em estudosmoleculares (Nunn et al., 1996; Nunn &Stanley, 1998). Morfologicamente, sediferencia do primeiro pelas menores medidasde asa, tarso e, notadamente, bico. Um machoapresentou envergadura de 2,83 m.

Uma característica importante doalbatroz-de-tristão (Fig . 16) – tambémconhecido como albatroz-de-gough – é não

Nome comum: albatroz-de-tristão

Nome científico: Diomedea dabbenena (Mathews, 1929)

Família: Diomedeidae

Status de conservação:

MMA (2003): Em Perigo (B1 + 2e)

IUCN (2004): Em Perigo (A4bd; B2ab[v])CMS (2002): não consta

apresentar estágios de plumagem tão clarosquanto o albatroz-errante, especialmente asfêmeas, que se reproduzem e mantêm portoda a vida uma plumagem mais escura,principalmente na cabeça, pescoço e peito.As fêmeas mantêm uma faixa peitoral e aporção dorsal das asas negras mesmo quandoo dorso já adquiriu uma coloração quaseque totalmente branca. Os jovens deixam oninho com uma plumagem mais pálida eacinzentada do que os jovens de D. exulans(Ryan, 2000).

Fig. 16 - Albatroz-de-Tristão Diomedea dabbenena (ao centro).

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Comparativamente à D. exulans eD. dabbenena, o albatroz-real-meridional (Fig.

Adultos em incubação são observadosna ilha Gough (pertencente ao Reino Unido,distando cerca de 350 km SE de Tristão daCunha) em janeiro/fevereiro, enquanto filhotescom o tamanho dos pais, mas cobertos depenugem, estão presentes em setembro,deixando os ninhos em novembro/dezembro.A espécie nidifica bienalmente. O sucessoreprodutivo – que representa o número dejovens que deixam o ninho versus o númerode ovos postos – varia entre 46 e 69%. Osjovens começam a voltar às colônias com 4-5anos de idade. A filopatria é bastante elevada:80% dos indivíduos da espécie retornam a suacolônia natal. Em geral, os albatrozes-de-goughtêm sua primeira reprodução aos 8-9 anos deidade (10-12 para D. exulans), algunschegando a nidificar com 6 anos. A maiorlongevidade registrada, por meio doanilhamento, é de 22 anos.

Durante a reprodução, o principalitem alimentar em Gough são as lulas (seisespécies do gênero Histiotheuthis) e cercade outras 18 espécies de cefalópodes (Cherel& Clages, 1998). Exemplares acompanhandoespinheleiros fora da costa do Brasil sealimentam tanto de iscas descartadas (lulas Illexargentinus) quanto de vísceras de peixes,principalmente fígado de tubarão.

Áreas de reprodução

O albatroz-de-tristão foi extinto emTristão da Cunha no início do século 20, devidoà exploração de ovos e de filhotes para aalimentação dos habitantes locais. Contudo,entre um e três pares nidificam anualmentena ilha Inacessível (partencente aoarquipélago de Tristão da Cunha). A ilhaGough abriga quase que a totalidade daespécie, cerca de 1.500 pares.

Dispersão e migrações

Exemplares anilhados em Gough têmsido recapturados fora da costa do Uruguai edo Brasil (respectivamente, um e três registros),no sul da África e no sudeste da Austrália (Ryanet al., 2001). Os registros na América do Sul ena África sugerem deslocamentos paraalimentação, enquanto o australiano indica queexemplares da ilha Gough realizam migraçõescircumpolares similares a alguns D. exulans.Recentes estudos de rastreamento por satéliteconfirmam que, durante a reprodução, aespécie se alimenta na plataforma continentalda América do Sul e sugerem que a região éutilizada principalmente por machos, enquantoque as fêmeas forrageiam preferencialmenteà leste de Gough (R. Cuthbert, in litt.).

O MZUSP possui dois machosanilhados em Gough e capturados porespinheleiros brasileiros, além de quatrofêmeas de D. dabbenena não anilhadas ecapturadas da mesma forma; ambos foramobtidos entre Santa Catarina e o Rio Grandedo Sul, nos meses de outubro e novembro(Neves & Olmos, 2001).

Status

Entre 1979 e 1981, a populaçãoreprodutiva anual na ilha Gough foi estimada emaproximadamente 1.000 pares. Em 1999, 1.129filhotes foram censados, correspondendo a 1.500pares e equivalendo a uma população total de 9mil indivíduos (Ryan et al., 2001). Censos recentessugerem que a população declinou 28% ao longode 46 anos, enquanto modelos populacionaisprevêem um declínio anual de 2,9 a 5,3%(Cuthbert et al., 2004). Apenas um filhote foiencontrado na ilha Inacessível (Ryan et al., 2001).

Nome comum: albatroz-real-meridional

Nome científico: Diomedea epomophora Lesson, 1825

Família: Diomedeidae

Status de conservação:

MMA (2003): Vulnerável (D2)

IUCN (2004): Vulnerável (D2)

CMS (2002): Apêndice II

17) tem as narinas bulbosas, o bico mais largoe robusto e a borda da maxila negra. Os jovens

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As posturas são feitas em novembroe dezembro, com os ovos eclodindo entrefevereiro e março. Os jovens deixam os ninhosapós oito meses, em outubro/novembro. Oscasais nidificam em intervalos mínimos de doisanos, quando bem-sucedidos. O sucessoreprodutivo nas ilhas Campbell (pertencentesà Nova Zelândia) foi de 58%, em média, aolongo de três anos.

Enquanto o albatroz-errante forrageiano talude ou fora da plataforma continental,o albatroz-real-meridional é encontrado naságuas sobre a plataforma. A dieta em massa,em Campbell, consiste de 75% decefalópodes, 21% de peixes, 3% decrustáceos e 1% de salpas (um tunicado). Noconteúdo alimentar de dois indivíduos

encontrados no Rio Grande do Sul ocorreu apescada-cascuda (Ctenosciaena gracilicirrhus)e as lulas Ommastrephes bartrami,Lycoteuthis diadema, Cyclotheuthis sp. eGrimalditheuthis sp. (Petry et al., 2001).

Áreas de reprodução

A espécie nidifica no arquipélagodas ilhas Auckland, pertencentes à NovaZelândia (composto pelas ilhas Auckland,Adams e Enderby), ilhas Campbell e tambémem Taiaroa Head, uma ilha ao sul da NovaZelândia.

Dispersão e migrações

Após a reprodução, as aves sedispersam para o leste, até a costa do Chile edo Peru, sendo registradas sobre as águas daplataforma continental. Dali contornam o CaboHorn e são encontradas sobre a plataformacontinental da Argentina (incluindo as Falklands/Malvinas) e o sul do Brasil, onde permanecemantes de migrar pelo Atlântico e o Pacífico,retornando às áreas de nidificação.

No Brasil, há registros para o RioGrande do Sul (espécimes no Museu deZoologia da Universidade do Rio dos Sinos)e o Rio de Janeiro (um espécime no MuseuNacional do Rio de Janeiro). Um antigoregistro para São Paulo é baseado em umexemplar capturado nas proximidades da ilhade Alcatrazes, ainda existente no MZUSP.Exemplares capturados no Rio Grande do Sul,um deles por um espinheleiro, haviam sidoanilhados em Campbell (Olmos, 2002b).

Status

A população de Campbell correspondea 99% da população mundial e é estimadaem 8.200 a 8.600 pares reprodutivos, tendoaparentemente se estabilizado após umcrescimento na década de 1980. Em 1995,55 pares estavam se reproduzindo emEnderby e cerca de 20 em Auckland e Adams.Nenhum D. epomophora puro está presenteem Taiaroa Head.

deixam o ninho com plumagem similar a dosadultos, diferenciando-se deles por apresentaro dorso das asas negro e uma quantidadevariável de penas escuras no dorso, o queproduz um efeito de finas manchas. Com otempo, o dorso das asas adquire a cor branca,a partir da borda anterior, até tornar-se quaseque totalmente branco em exemplares muitovelhos. A cauda também se torna branca (D.exulans mantém a maioria das retrizes compontas negras). A envergadura máxima é de3 m. Os machos são maiores, pesando entre8,1 e 9,45 kg, enquanto as fêmeas oscilamentre 6,5 e 9 kg.

Fig.17 - Albatroz-real-meridional Diomedeaepomophora.

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As aves começam a retornar àscolônias de reprodução em setembro e asposturas ocorrem no final de outubro emTaiaroa Head e meados de novembro emChatham. A incubação dura, em média, 79dias e o jovem deixa o ninho após 32-38semanas. Assim, a nidificação demora umamédia de 46 semanas, fazendo com que aespécie se reproduza bienalmente. Os jovensficam no mar entre 4 e 8 anos, antes deretornarem à colônia natal. A primeirareprodução ocorre entre 6-11 anos. A maiorlongevidade, obtida por anilhamento, foi de61 anos, sendo que este exemplar aindaproduziu um filhote antes de desaparecer.O sucesso reprodutivo em Taiaroa Head, aolongo de 17 anos, foi de 31% em média.Estima-se que 57% dos jovens sobrevivam atéa idade para reprodução. Na década de1990, entre 94,6 e 95,3% dos adultossobreviviam, enquanto nas décadas de 1940/50 chegavam a 98,9% os sobreviventes. Nasilhas Chatham, a produtividade anual entre1990 e 1996 foi de apenas 18%, devido àdegradação da cobertura vegetal, que causoua inundação de ninhos e a quebra de ovos.

A dieta nas ilhas Chatham éconstituída, em massa, por 85% de cefalópodes,14% de peixes e 1% de salpas. Em TaiaroaHead, as aves consomem, em massa, 80% decefalópodes, incluindo polvos aparentementeobtidos de descartes, 15% de peixes, 3% decrustáceos e 2% de salpas.

Áreas de reprodução

A espécie nidifica apenas em trêsilhotas do arquipélago das Chatham(Motuhara, Big Sister e Little Sister), além deTaiaroa Head. Nesta, a população inclui várioshíbridos entre D. epomophora e D. sanfordi,tendo status único.

Os adultos da espécie (Fig. 18) sedistinguem de D. epomophora e D. exulanspela combinação única de dorso branco edorso das asas totalmente negro. Os jovensdeixam o ninho com a plumagem similar ados adultos, diferenciando-se pela quantidadede penas escuras no dorso, que produzemum efeito manchado, e também por algumaspenas escuras no alto da cabeça. Assim comoD. epomophora, D. sanfordi tem narinasbulbosas e a borda da maxila negra, mas amorfometria é significativamente maior nasegunda. Adultos coletados no arquipélago dasChatham (pertencente à Nova Zelândia)pesavam entre 6,35 e 6,6 kg.

Fig.18 - Albatroz-real-setentrional Diomedea sanfordi.

Nome comum: albatroz-real-setentrional

Nome científico: Diomedea sanfordi (Murphy, 1917)

Família: Diomedeidae

Status de conservação:

MMA (2003): Em Perigo (A2c + B1 + 2ce)

IUCN (2004): Em Perigo (A4bc + B2ab [iii, v])

CMS (2002): não consta

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Dispersão e migrações

Após o término do período reprodutivoas aves se dirigem para o leste, até a costa doChile e do Peru, sendo observadas sobre aplataforma continental, onde se alimentam erealizam a muda de penas. Dali contornamo Cabo Horn e são encontradas sobre aplataforma continental da Argentina(incluindo as Falklands/Malvinas) e no sul doBrasil, que parecem ser importantes áreas dealimentação. As aves migram pelo oceanoAtlântico, passam pela costa sul-africana e sedirigem para o oceano Austral, retornando àsáreas de nidificação. Um exemplar foiencontrado nas Falklands/Malvinas oito dias apósdeixar as ilhas Chatham.

Sua presença no Brasil baseia-se noregistro de um indivíduo acompanhando umespinheleiro, fora da costa de Santa Catarina(Olmos, 2002b) e de outros registros foradeste estado e do Rio Grande do Sul, obtidospelo programa de observadores de bordo doProjeto Albatroz.

Status

A população das Chatham, quecorresponde a 99% da população mundial,foi estimada em 6.500-7.000 pares reprodutivos.Em Taiaroa Head, em 1995, havia 27 pares,incluindo cinco híbridos com D.epomophora.

Nome comum: albatroz-de-sobrancelha-negra

Nome científico: Thalassarche melanophris (Temminck, 1828)

Família: Diomedeidae

Status de conservação:

MMA (2003): Vulnerável (A2bd + 3bd + 4bd)

IUCN (2004): Em Perigo (A4bd)

CMS (2002): Apêndice II

Os adultos são brancos com as asasnegras e têm um característico bico alaranjadocom a ponta avermelhada (Fig. 19). Há umaconspícua faixa ocular escura, característicacompartilhada com outras espécies do gêneroThalassarche. Os jovens deixam o ninho com

uma faixa peitoral amarronzada e o biconegro, que depois se torna amarronzado coma ponta negra. A envergadura máxima é deaproximadamente 2,5 m. Nas Geórgias do Sul,os machos pesam entre 3,35 e 4,66 kg e asfêmeas entre 2,9 e 3,8 kg.

Fig. 19 - Albatroz-de-sobrancelha-negra Thalassarche melanophris.

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A espécie é notável pelo entusiasmoe a agressividade quando acompanhaembarcações pesqueiras e forrageia pordescartes, agrupando-se em grande númeroao redor de espinheleiros em operação.

Áreas de reprodução

No oceano Atlântico, as maiorespopulações estão no arquipélago dasFalklands/Malvinas (12 sítios), especialmentenas ilhas Steeple Jason e Beauchene (cadauma com mais de 100 mil paresreprodutivos). Também há colônias nasGeórgias do Sul e, no limite entre o Atlânticoe o Pacífico, em Diego Ramirez e ilhasIldefonso (Chile). Fora do Atlântico hácolônias nas ilhas Crozet, Kerguelen, Heard,McDonald, Macquarie, Bishop, Clerk,Antipodes, Campbell e Snares.

Dispersão e migrações

Os exemplares das Geórgias do Sul,durante o período reprodutivo, alimentam-se principalmente sobre a plataforma daquelearquipélago e a das South Orkney, não seaproximando da plataforma continental dasFalklands/Malvinas e da Patagônia. Após areprodução, a maioria das aves desloca-separa o sul da África, sendo encontradas naregião da Corrente de Benguela e no Caboda Boa Esperança. Há várias recapturas nosul da Austrália e na Nova Zelândia, sugerindoum deslocamento circumpolar. No entanto,há alguns registros de aves anilhadas em BirdIsland e capturadas no Uruguai, na provínciade Buenos Aires (Argentina) e uma no Rio deJaneiro (Olmos, 2002a).

As aves da ilha de Diego Ramirezutilizam as águas próximas ao Cabo Horn e acosta do Pacífico na América do Sul, na regiãosob influência da Corrente de Humboldt. Osexemplares das Falklands/Malvinas parecemse restringir às águas ao redor das ilhas e davizinha plataforma continental da Patagônia,durante o período reprodutivo. As avesanilhadas neste arquipélago têm sidorecuperadas ao longo da costa leste sul-americana até o Nordeste do Brasil

Burg & Croxall (2001) encontraramdiferenças genéticas entre aves das Falklands/Malvinas e das Geórgias do Sul tão grandesquanto estas e T. impavida, que é sua espécie-irmã e endêmica da ilha Campbell. O espécime-tipo de T. melanophris foi coletado no Caboda Boa Esperança, uma área utilizada pelosexemplares das Geórgias do Sul, de forma quea população das Falklands/Malvinas necessitade uma revisão taxonômica.

Nas Falklands/Malvinas, as aveschegam às colônias entre o final de agosto eo início de setembro, realizando as posturasem outubro; nas Geórgias do Sul, isso ocorretrês semanas depois. A incubação leva cercade 68 dias e os jovens deixam o ninho após116-125 dias, o que corresponde a março/abril para as aves das Falklands/Malvinas. Ociclo reprodutivo é relativamente curto,permitindo que a espécie se reproduzaanualmente. Mais de 90% dos ovos eclodeme entre 29 e 77% dos filhotes sobrevivem atéa idade de deixar o ninho. O sucessoreprodutivo nas Geórgias do Sul, entre 1975e 1991, variou de 0 a 64% (média de 29%),estando diretamente relacionado àdisponibilidade de krill (Euphausia superba).Os jovens retornam às colônias com 3 a 8anos de idade e começam a se reproduzircom 6-13 anos. A filopatria é moderadamenteelevada (58% dos jovens voltam às suas colôniasnatais nas Geórgias do Sul) e as aves adultasnão mudam de colônia. A sobrevivência anualpara machos e fêmeas é de 94 a 96%,respectivamente.

Nas ilhas Geórgias do Sul aalimentação é composta, em massa, por 40%de krill, 39,5% de lampréias Geotria australis,21% de cefalópodes (em especial, lulas dogênero Todarodes) e peixes. Nas Falklands/Malvinas, as presas principais são lulas(principalmente Loligo gahi) e peixes, que,juntas, constituem 90% da massa da dieta,sendo que medusas e crustáceos (“lobsterkrill” Munida gregaria) constituem o restante.Dessa forma, há importantes diferençasecológicas entre as duas populações.Thalassarche melanophris tem razoávelcapacidade de mergulho, podendo capturarpresas a pelo menos 5 m de profundidade.

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(Maranhão), com maior número ao sul do Riode Janeiro (Cabo Frio). Tal fato sugere umdeslocamento para o norte, talvez acompanhandoa Corrente das Falklands/Malvinas até a

convergência subtropical, e de lá para as águasfrias e ricas em nutrientes que se formamsobre a plataforma continental brasileiradurante o inverno.

Status

A população reprodutiva total eraestimada em cerca de 680 mil casais, com80% nas Falklands/Malvinas, 10% nas Geórgiasdo Sul e 3% no Chile. Recentemente, umarevisão apontou aproximadamente 530 milpares reprodutivos, com 70% nas Falklands/Malvinas, 20% nas Geórgias do Sul e 10% noChile.

Algumas populações nas Geórgias doSul tiveram uma redução de 35% desde 1989/90; em 1995, cerca de 9.500 paresnidificavam em Bird Island. No total, todas aspopulações ali monitoradas decresceram 31%no período. O sucesso reprodutivo e aexpectativa anual de sobrevivência dos

adultos também diminuíram. A colônia deSteeple Jason, a maior do mundo (68% dasaves do arquipélago), perdeu 41.200 pares,tendo hoje cerca de 150 mil casaisreprodutivos (Huin, 2001; B. Sullivan, com.pess.).

Estima-se que nos últimos 20 anos apopulação das Falklands/Malvinas decresceuentre 506.000 e 382.000 pares reprodutivos,sendo que de 468.000 para 382.000 paresapenas nos últimos cinco anos (Huin, 2000).Assim, infere-se que a espécie declinará cercade 65% ao longo de três gerações (65 anos) ecomo existem poucos locais onde ela está emcrescimento populacional, espera-se umdeclínio maior do que 50% ao longo doperíodo.

Fig. 20 - Distribuição oceânica do albatroz-de-sobrancelha-negra Thalassarche melanophris a partir deobservações a bordo de espinheleiros (dados do Projeto Albatroz).

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A característica principal da espécieé a faixa amarela ao longo da porção dorsalda maxila (Fig. 21), que termina com um desenhoarredondado, ao contrário de sua espécie-irmã,T. carteri do oceano Índico, que terminapontiagudo. Thalassarche chlororhynchostem a cabeça e o pescoço acinzentados, maisclaro no vértice, enquanto T. carteri tem acabeça branca, exceto por uma fracacoloração cinza na face. É um dos menoresalbatrozes: a envergadura de quatroexemplares variou entre 1,98 e 2,07 m. Osmachos parecem ser maiores do que asfêmeas, como nas demais espécies dealbatrozes. Exemplares de Gough pesaram de1,78 a 2,84 kg.

A espécie se reproduz anualmente,sendo que as primeiras aves chegam às áreasde nidificação em meados de agosto. Em

Fig. 21 - Albatroz-de-nariz-amarelo-do-atlântico Thalassarchechlororhynchos.

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Nightingale (pertencente ao arquipélago deTristão da Cunha), a maioria dos ovos foi postaentre 10 e 20 de setembro, eclodindo noinício de dezembro, após aproximadamente78 dias de incubação (Elliott, 1957). EmGough, as posturas foram feitas em setembro/outubro e os primeiros filhotes eclodiram nofinal de novembro; em 2 de dezembro, 75%dos ovos já haviam eclodido e no final dedezembro, a maioria dos filhotes estavapraticamente emancipada (Ryan & Moloney,2000). Em Tristão da Cunha e Gough, osjovens deixam a colônia no final de abril einício de maio (Elliott, 1957; Swales, 1965).A expectativa anual de sobrevivência deadultos, nas ilhas Inacessível e Nightingale, foide aproximadamente 84%, enquanto quepara os juvenis da ilha Inacessível foi de 82%.

A dieta da espécie não é bemconhecida, mas foram encontrados cefalópodesem todos os conteúdos estomacais deexemplares coletados em Gough, enquantopeixes e anfípodos ocorreram em apenasalgumas amostras.

Áreas de reprodução

Reproduz-se nas ilhas do arquipélagode Tristão da Cunha (Tristão da Cunha,Nightingale, Inacessível, Middle e Stotenholf)e em Gough. As maiores populações estãonas ilhas de Tristão da Cunha e Gough.

Dispersão e migrações

Ao que parece T. chlororhynchosprefere águas mais quentes do que outrosalbatrozes. Na América do Sul, há poucosregistros ao sul da convergência subtropical,embora centenas tenham sido registradas forado Rio da Prata. A espécie é comum fora da

Nome comum: albatroz-de-nariz-amarelo-do-atlântico

Nome científico: Thalassarche chlororhynchos (Gmelin, 1789)

Família: Diomedeidae

Status de conservação:

MMA (2003): Vulnerável (A1ad + A2b + B1)

IUCN (2004): Em Perigo (A4bd)

CMS (2002): Apêndice II

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costa sul e sudeste do Brasil (incluindo o Riode Janeiro) (Fig. 22) e há vários registros noNordeste. No sul da África ocorre fora dosistema da Corrente de Benguela,novamente preferindo águas oceânicas maisquentes. O número de exemplares emambas as regiões aumenta muito durante oinverno, quando as aves deixam as áreas dereprodução. Exemplares anilhados nas ilhas

Fig. 22 - Distribuição oceânica do albatroz-de-nariz-amarelo-do-atlânticoThalassarche chlororhynchos apartir de observações a bordo de espinheleiros (dados do Projeto Albatroz).

Status

Em 1972/1973, a população deTristão da Cunha foi estimada em cerca de 20mil pares reprodutivos e a de Gough, em 7.500pares. Em 1980, a população da primeira regiãofoi de 21.600-35.600 pares. Em 1982, 1.100casais se reproduziam na ilha Inacessível (Gales,1998; Ryan & Moloney, 2000). Há evidênciasde que todas as populações diminuíramsensivelmente desde a década de 1980. Em

Gough, na temporada 2000/2001, foramestimados 5.250 casais (Cuthbert et al., 2003).

Dados demográficos têm sidocoletados em duas colônias em Gough e Tristãoda Cunha, por 20 anos. Durante esta pesquisa,as populações declinaram 1,1 a 1,2%, ao ano.Entretanto, modelos populacionais estimammaiores taxas anuais de declínio, entre 1,5 e2,8%, em Gough, e 5,5% em Tristão da Cunha(Cuthbert et al., 2003). Tais declínios indicamuma redução de 58% ao longo de três geraçõesda espécie (71 anos).

Gough, Inacessível e Tristão da Cunha têmsido recapturados principalmente no sul daÁfrica, mas também nos estados de SãoPaulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,incluindo aves mortas por espinheleiros (Sotoe Riva, 2001; Olmos, 2002a). Há registrosda espécie na Nova Zelândia e no sul daAustrália, embora com ocorrência bemmenor do que T. carteri.

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Os adultos são bastante característicospor causa da cabeça cinza-ardósia e a coloraçãodo bico, que apresenta largas faixas amarelasna maxila e na mandíbula (Fig. 23). Os juvenistêm a cabeça amarronzada e o bico negro. Aenvergadura é de 2,1-2,4 m. Os machos dasGeórgias do Sul pesam entre 3,9 e 4,35 kg e asfêmeas, entre 3,52 e 4,17 kg.

Fig. 23 - Albatroz-de-cabeça-cinzaThalassarchechrysostoma.

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As colônias reprodutivas mostramgrandes variações anuais no tamanho daspopulações. A filopatria é elevada: 85%nidificam na colônia em que nasceram. A idademédia da primeira reprodução é de 12 anos(entre 10 e 14). Geralmente, os casais sereproduzem bienalmente quando bem-sucedidos, mas intervalos maiores que doisanos são comuns. As aves chegam às Geórgiasdo Sul em meados de setembro, realizandoas posturas em outubro e as eclosõesocorrendo em dezembro e janeiro. O sucessoreprodutivo no arquipélago tem média de39%, com variações anuais significativas emtodos os parâmetros reprodutivos. Cerca de60% dos ovos eclodem e 65% dos filhotesproduzidos sobrevivem para deixar osninhos, o que ocorre entre maio e junho.Os filhotes crescem mais lentamente que os

de T. melanophris, aparentemente porque okrill consumido em grande quantidade pelaúltima espécie apresenta maior quantidadede cálcio. A sobrevivência anual dos adultosdas Geórgias do Sul reduziu de 95 para 93%na década de 1990, coincidindo com umaredução no recrutamento, de 35 para 5%.

As aves das Geórgias do Sulalimentam-se principalmente de cefalópodes(49% da massa da dieta, sendo que 91%correspondem à lula Martialia hyadesi),peixes (35%, sendo 1/3 de lampréias Geotriaaustralis) e krill (17%). Ocorrem variaçõesanuais, especialmente quanto ao uso destecrustáceo, mas lulas e peixes são presasdominantes. As aves mergulham partindo dasuperfície ou em vôo, alcançando no mínimo5 m de profundidade. Há indícios dea l i m e n t a ç ã o t a m b é m n o t u r n a . N oBras i l parecem não seguir embarcaçõesconstantemente; entretanto, nasproximidades das Falklands/Malvinas, aespécie é um membro ativo entre os gruposde aves que procuram descartes depesqueiros.

Áreas de reprodução

Reproduz-se nas ilhas Geórgias doSul, Diego Ramirez, Príncipe Eduardo eMarion, Kerguelen, Crozet, Macquarie eCampbell.

Dispersão e migrações

Os indivíduos que nidificam nasGeórgias do Sul se alimentam em águasoceânicas, em um raio de aproximadamente1.500 km da colônia. Exemplares alianilhados têm sido recapturados ourastreados por satélite nas Falklands/Malvinas,

Nome comum: albatroz-de-cabeça-cinza

Nome científico: Thalassarche chrysostoma (Forster, 1785)

Família: Diomedeidae

Status de conservação:

MMA (2003): não consta

IUCN (2004): Vulnerável (A4bd)

CMS (2002): Apêndice II

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sul da África (Corrente de Benguela), sul daAustrália e no norte da Nova Zelândia,sugerindo uma migração circumpolarsemelhante à de T. melanophris do mesmoarquipélago (Prince et al., 1998). Avesnidificando em Diego Ramirez e rastreadaspor satélite voaram principalmente para ooeste, permanecendo ao sul de 45°S. Háregistros ocasionais em direção ao Atlânticosul e à região das Falklands/Malvinas. Hápoucos registros confirmados no Brasil, emSão Paulo, Santa Catarina e Rio Grande doSul, sendo todos de jovens. Exemplares sãoobservados acompanhando espinheleiros nosul do Brasil, mas não houve nenhumacaptura confirmada.

Status

Em Bird Island, a população – quecorresponde a 15% do total das Geórgias doSul, que por sua vez corresponde a 56% dapopulação mundial – tem declinado 19-29%,desde 1975/76, e as taxas de recrutamento dosjovens passaram de 38 para 5%. Em PríncipeEduardo e Marion, a população (7% do totalmundial) declinou 1,75% ao ano, até 1992,depois crescendo e atualmente parecendoestável. Em Campbell a população (7% do totalmundial) tem decrescido desde a década de1940, sendo que três colônias reduziram entre79 e 87%. Os jovens são mais vulneráveis àcaptura por espinheleiros pelágicos.

É um dos albatrozes mais caracte-rísticos, com plumagem escura (Fig. 24) ecauda longa. É similar a P. palpebrata, quetambém ocorre no Brasil, distinguindo-se pelodorso marrom, que é apenas um pouco maisclaro do que a cabeça e o pescoço (em P.palpebrata, o contraste é muito mais evidentee o dorso é cinza-pálido) e pelo sulco mandibularamarelo (azul ou violeta em P. palpebrata). Temenvergadura de aproximadamente 2 m. EmTristão da Cunha, machos e fêmeas pesam,respectivamente, 2,4-2,9 kg e 1,8-2,5 kg.

Fig. 24 - Piau-preto Phoebetria fusca.

Nome comum: piau-preto

Nome científico: Phoebetria fusca (Hilsenberg, 1822)

Família: Diomedeidae

Status de conservação:

MMA (2003): não consta

IUCN (2004): Em Perigo (A4bd)

CMS (2002): Apêndice II

Seu ciclo reprodutivo é de setemeses e os casais nidificam bienalmente. Osninhos são construídos em terrenos íngremes,como falésias. Em Tristão da Cunha, os adultosretornam às colônias em setembro e osprimeiros ovos são postos, de forma bastantesincronizada, na primeira semana de outubro.A incubação dura perto de 71 dias, sendo queo casal se reveza em turnos que duram de 1a 21 dias. Um dos pais permanece semprecom o filhote durante seus primeiros 19-21dias de idade e então o filhote é deixadosozinho, exceto quando é alimentado. Osjovens são alimentados até deixarem o ninho,o que ocorre aproximadamente 164 dias apóso nascimento, não havendo abandono pelospais, como em outras espécies de albatrozese petréis. O sucesso reprodutivo varia bastanteentre os anos, apresentando uma média de43% nas ilhas Crozet. A idade média daprimeira reprodução é de 12-13 anos e aexpectativa de vida é de mais de 19,5 anos.A sobrevivência dos adultos varia entre 89,9e 96,7% e a dos juvenis é de 22,4%.

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A dieta não está definida para aspopulações do oceano Atlântico. Em Crozet,70% da massa da dieta dos filhotes é compostapor peixes, 14% por lulas, 13% por krill e 3%por carniça. Em Príncipe Eduardo e Marion,os peixes representaram 32%, as lulas 32%,os crustáceos 23% e a carniça 1% da dieta.As lulas predadas têm entre 100 e 300 g, masrestos de indivíduos muito maiores, de até 5kg, ocorreram nas amostras. A espécie é umdos Procellariiformes com vôo mais ágil e umdos albatrozes com maior capacidade demergulho, atingindo aproximadamente 12 m.

Áreas de reprodução

No oceano Atlântico, a espécienidifica nas ilhas Gough e Tristão da Cunha.Também se reproduz nas ilhas Príncipe Eduardoe Marion, Crozet, Amsterdan e Kerguelen.

Dispersão e migrações

Ocorre ao norte da convergênciasubtropical (raramente chegando até 16°S) e

ao sul, ocasionalmente até 70°S, com grandedispersão pelo oceano Austral. As duasespécies de Phoebetria têm distintas áreas dealimentação, separadas grosso modo pelaconvergência antártica (50°S), com P. fuscautilizando águas ao norte desta. Não háinformação sobre migrações.

Status

A população reprodutiva anual éestimada em 12.500-19.000 pares,equivalente a uma população reprodutivatotal de aproximadamente 42.000 indivíduos.Os pares reprodutivos são estimados em5.000-10.000 em Gough, 4.125-5.250 nogrupo de Tristão da Cunha, 1.539 emPríncipe Eduardo e Marion, 2.620 nas ilhasCrozet, menos de cinco em Kerguelen e300-400 em Amsterdam. Na ilha Possession(Crozet), a população declinou 58% entre1980 e 1995. Em Marion, o declínio foi de25% entre 1990 e 1998. Em Gough, apopulação parece ter declinado 68% aolongo de 28 anos.

A espécie (Fig. 25) tem notávelpolimorfismo na cor da plumagem,apresentando distintas colorações conformeenvelhece. A maioria dos indivíduosobservados no Brasil é jovem com coloraçãomarrom ou fuligem (de onde surgiu o nomecomum “urubu”, utilizado por pescadores),mas também há registros de exemplaresbrancos. Os machos são bem maiores do queas fêmeas, apresentando envergaduras quevariam entre 2,07 e 2,44 m, em comparaçãocom 1,80-1,83 m das fêmeas. Pesam 5 kg(machos) e 3,8 kg (fêmeas), em média. Fig. 25 - Pardelão-gigante Macronectes giganteus.

Nome comum: pardelão-gigante

Nome científico: Macronectes giganteus (Gmelin, 1789)

Família: Procellariidae

Status de conservação:

MMA (2003): não consta

IUCN (2004): Vulnerável (A4bcd)

CMS (2002): Apêndice II

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llerm

o M

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o

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O pardelão-gigantedistingue-se de M. halli (quetambém ocorre no Brasil) porter a ponta do bico esverdeada,que é avermelhada nesta última.Contudo, quando o animal estácom calor, o bico pode se tornaravermelhado, podendo causarproblemas na diferenciação. Háconsiderável variação namorfometria e na coloraçãoentre aves de diferentes regiões,sendo que as populações deGough e das Falklands/Malvinastêm características próprias,sendo consideradas uma formadistinta: M. giganteus solanderi.

Nas Geórgias do Sul, oprocesso de nidificação começaem outubro, com a formação decolônias dispersas de até 300casais. A incubação dura de 55a 66 dias e os filhotes deixamo ninho com 104-132 dias,quando pesam 1,3x mais do queum adulto. A maturidade sexualé atingida aos 6-7 anos de idadee a expectativa de vida ultrapassaos 9,5 anos.

Macronectes giganteus

é o único petrel que é preferen-cialmente predador e necrófagode mamíferos e aves, sendo umdos poucos a mostrar agilidadequando em terra. Nas Geórgiasdo Sul, os pingüins constituemitem importante da alimentaçãodurante o período reprodutivo(62 a 89% da massa da dieta);os demais itens são outras es-pécies de aves, em especialpetréis menores (6 a 9%), krill(1 a 21%), lobos marinhos (1a 6%), lulas (1 a 2%) e peixes(1%).

Áreas de reprodução

No oceano Atlântico, reproduz-se em duas ilhasna costa de Chubut (Argentina), ilha dos Estados, Falklands/Malvinas, Geórgias do Sul, South Orkneys, Shetland doSul, Gough e várias ilhas próximas à Península Antártica ea este continente. Em outras regiões, nidifica nas ilhasKerguelen, Príncipe Eduardo e Marion, Heard eMacquarie.

Dispersão e migrações

O rastreamento por satélite indicou que as avesdas Geórgias do Sul têm estratégias de forrageamentosexualmente diferenciadas: enquanto machospermanecem na região do arquipélago, alimentando-sede carcaças de pingüins e mamíferos marinhos, as fêmeaspodem se deslocar para a plataforma continental do sulda Patagônia, obtendo alimentos no mar (González-Solíset al., 2000a).

Adultos pós-reprodução não parecem fazergrandes deslocamentos, mas os jovens realizamdeslocamentos circumpolares seguindo os ventosdominantes. Exemplares registrados no Brasil haviam sidoanilhados nas ilhas Geórgias do Sul, Macquarie, Signy(South Orkneys) e ilhas da Península Antártica.

Fig. 26 - Distribuição oceânica de Macronectes spp. a partir deobservações a bordo de espinheleiros (dados do Projeto Albatroz).

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Status

A população global foi estimada em31 mil pares no início da década de 1990, o

que significou um declínio de 18%,comparativamente à década de 1980.

A nidificação se inicia em outubro,sendo altamente colonial. Os ninhos sãoconstruídos em fendas nas rochas e apostura ocorre em novembro/dezembro.A incubação dura cerca de 46 dias. Os jovensdeixam o ninho com 48 a 56 dias de idade ecomeçam a se dispersar em março e abril.A expectativa de vida dos adultos é de 12,8anos e a taxa de sobrevivência anual variaentre 90 e 95%.

Alimentam-se principalmente decrustáceos (krill), peixes e lulas, sendo que asproporções variam localmente. O peixepelágico Pleurogramma antarcticum é umapresa-chave. Também procuram carniça edescartes de pesca.

Áreas de reprodução

Nidificam em várias localidades naAntártica e nas ilhas Geórgias do Sul, Shetlandsdo Sul, South Orkneys, South Sandwich,Bouvet e Peter.

Dispersão e migrações

Distribui-se amplamente pelooceano Austral. Os jovens chegam atélatitudes subtropicais, seguindo correntes friascomo a das Malvinas e de Benguela;ocasionalmente há grandes mortalidades nacosta brasileira, em São Paulo e Rio Grandedo Sul, aparentemente associadas a essesdeslocamentos.

Nome comum: pardelão-prateado

Nome científico: Fulmarus glacialoides (Smith, 1840)

Família: Procellariidae

Status de conservação:

MMA (2003): não consta

IUCN (2004): não consta

CMS (2002): não consta

A espécie (Fig. 27) apresenta umaenvergadura de aproximadamente 1,2 m e800 g de peso.

Fig. 27 - Pardelão-prateado Fulmarus glacialoides.

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Status

A espécie não está ameaçada deextinção. A única população monitorada

Fig. 28 - Distribuição oceânica do pardelão-prateado Fulmarus glacialoides a partir de observações abordo de espinheleiros (dados do Projeto Albatroz).

indica alta variação interanual, com tendênciade crescimento (Woehler et al., 2001).

A espécie apresenta plumagemmarrom-escura uniforme, bico claro e umamancha gular branca de extensão variável,ocasionalmente ausente (Fig . 29). Temenvergadura de 1,3-1,4 m e pesa até 1,4 kg(macho) e 1,3 kg (fêmea). Nas colôniasreprodutivas, apresentam comportamentonoturno. Nidificam em longos buracos,

escavados sob moitas de gramíneas eciperáceas. As aves vocalizam para atrair osparceiros. Chegam às Geórgias do Sul emsetembro e os primeiros ovos são encontradosapós meados de novembro. A incubação duracerca de 59 dias e os ovos eclodem emjaneiro. Os filhotes atingem o peso máximoaproximadamente aos 82 dias, quando pesam

Nome comum: pardela-preta

Nome científico: Procellaria aequinoctialis (Linnaeus, 1758)

Família: Procellariidae

Status de conservação:

MMA (2003): Vulnerável (A4bcde)

IUCN (2004): Vulnerável (A2bcde + 3bcde)

CMS (2002): Apêndice II

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mais do que os adultos, sendoentão abandonados. Os jovensdeixam os ninhos com cerca de98 dias de idade. O sucessoreprodutivo varia de 12 a 54%(Hall, 1987).

Fig. 29 - Pardela-preta Procellariaaequinoctialis.

O monitoramento daespécie possibilitou o registro demergulhos de até 13 m, comsubmersão por até 45 s (Huin,1994). Nas Geórgias do Sul,durante o período reprodutivo,se alimenta principalmente dekrill, peixes-lanterna da famíliaMyctophidae e lulas oceânicas(principalmente Martialiahyadesi), indicando que ocorreforrageamento noturno, o que éapoiado por observações a partirde espinheleiros. Na região daCorrente de Benguela, as avesfora do período reprodutivoalimentam-se principalmentede peixes (50% da massa dadieta), crustáceos (13%) e lulas(11%) ativamente capturados,além de outros 21% constituídospor peixes descartados porbarcos de arrasto.

Áreas de reprodução

No oceano Atlântico,nidifica nas ilhas Falklands/

Malvinas e Geórgias do Sul. Também se reproduz nas ilhasPríncipe Eduardo e Marion, Crozet, Kerguelen, Auckland,Campbell, Antipodes e, talvez, em Macquarie.

Dispersão e migrações

Aves nidificando nas Geórgias do Sul realizamviagens de 12 a 15 dias durante o período de incubação,percorrendo entre 3 mil e 8 mil quilômetros para buscaralimento e deslocando-se até ao norte das Falklands/Malvinas e águas costeiras do norte e sul da Argentina.Durante o período de cuidado com a prole as viagens sãomais curtas, durando entre 2 e 11 dias e com umdeslocamento de 1.100-5.900 km; assim, as aves sealimentam na região da plataforma continental próxima àcolônia e às South Orkney e Shetland do Sul e ao longo dotalude continental do sul do Brasil até as Falklands/Malvinas(Berrow et al., 2000b).

O crescente número de registros de indivíduosda espécie em áreas sobre a plataforma continental sul-americana (incluindo o Brasil até cerca de 23°S) e Correntede Benguela sugere que ocorram migrações para estasregiões pós-reprodução, mas ainda não está confirmado.

Status

O comitê científico da CCAMLR estima queapenas na região ao sul da Convergência Antártica, até 138mil pardelas-pretas foram mortas por barcos espinheleirosilegais, nos últimos três anos. Essa é a ave mais capturada

Fig. 30 - Distribuição oceânica da pardela-preta Procellariaaequinoctialis a partir de observações a bordo de espinheleiros(dados do Projeto Albatroz).

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pelos espinheleiros pelágicos brasileiros.Nas Geórgias do Sul, onde a população foiestimada em 2 milhões de casais na décadade 1980, houve um declínio de 28% nos

ninhos ocupados entre 1981 e 1998(Berrow et al., 2000a). A população dasFalklands/Malvinas é avaliada entre 1 mil e5 mil casais.

É uma espécie semelhante a P.aequinoctialis, distinguindo-se pela máscarafacial branca (Fig. 31), que apresenta formato eextensão variáveis, sendo já visível nos ninhegos,e também por possuir morfometria menor.O peso, que varia de 1,01 a 1,3 kg (média de1,2 kg), é significativamente menor do que naspardelas-pretas das Geórgias do Sul.

Fig. 31 - Pardela-de-óculos Procellaria conspicillata.

Fáb

io O

lmos

A pardela-de-óculos, assim como P.aequinoctialis, escava túneis para areprodução, que são freqüentementeconstruídos em solo encharcado, ao longo dedrenagens e riachos, com uma poça ou fossona entrada. As posturas são feitas no início deoutubro e a maioria dos ovos eclode apósmeados de dezembro. Os jovens deixam acolônia em março e abril.

Alimenta-se de cefalópodes, crustáceosdecápodes e peixes. Tem boa capacidade demergulho, sendo que algumas aves foram

observadas submergindo pelo menos até 6 mpara obter descartes de espinheleiros (Fig. 32).Parece ser muito mais diurna que P.aequinoctialis.

Áreas de reprodução

A única população reprodutivaocorre na ilha Inacessível. Aparentemente,também se reproduzia na Ilha de Amsterdam,o que explicaria os registros efetuados nooceano Índico durante o século 19.

Dispersão e migrações

Durante o verão, é a espécie maiscomum entre as aves que acompanhamespinheleiros de fundo sobre a plataformacontinental do Sul/Sudeste do Brasil, proval-velmente tratando-se de exemplares em períodonão reprodutivo. Durante o inverno, quando aságuas estão mais frias, praticamente desaparecedessas regiões, sendo então substituída porP. aequinoctialis. A quantidade de indivíduos

Fig. 32 - Pardelas-de-óculos Procellaria conspicillataalimentando-se de descartes de pesca.

Fáb

io O

lmos

Nome comum: pardela-de-óculos

Nome científico: Procellaria conspicillata Gould, 1844

Família: Procellariidae

Status de conservação:

MMA (2003): Em Perigo (B1ab)

IUCN (2004): Críticamente em Perigo (B1ab[v])

CMS (2002): Apêndice II

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nas águas mais mornas e salgadas da Correntedo Brasil, fora do talude continental, nesseperíodo, é superior àquele sobre a plataformadurante o verão (Olmos, 2001).

As águas fora da plataforma continentalbrasileira parecem abrigar a maior concentração

da espécie fora de sua zona de reprodução,mas também há concentrações, emboramenores, fora da plataforma continental dosul da África, em águas de maior salinidadesob a influência da Corrente de Agulhas(Camphuysen, 2001).

Fig. 33 - Distribuição oceânica da pardela-de-óculos Procellaria conspicillata a partir de observações abordo de espinheleiros (dados do Projeto Albatroz).

Status

Em 1999, a população foi estimada em 3.800-4.600 pares reprodutivos (Ryan &Moloney, 2000).

A espécie (Fig. 34) apresenta umaenvergadura que varia entre 1,0 e 1,18 m e

Nome comum: bobo-grande-de-sobre-branco

Nome científico: Puffinus gravis (O'Reilly, 1818)

Família: Procellariidae

Status de conservação:

MMA (2003): não consta

IUCN (2004): não consta

CMS (2002): não consta

peso de 715 a 950 g. Nidifica em buracosescavados no solo, sob moitas de gramíneas

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Dispersão e migrações

Puffinus gravis é um migrante intertropical quedeixa o Atlântico sul após a reprodução, migrandorapidamente para o Atlântico norte em abril/maio, ao longoda costa oeste. Nas Falklands/Malvinas surge em grandenúmero de dezembro a abril, enquanto parece ser maiscomum fora da costa brasileira em abril e maio (quandomigra para o norte) e novembro, o que indica umapredominância de indivíduos não reprodutivos. O retornopara o sul parece seguir uma frente ampla ao longo dooceano Atlântico central e ocidental. Indivíduos nãoreprodutivos parecem ficar nas áreas de invernada e aolongo das rotas migratórias durante todo o ano.

É a espécie mais capturada por espinheleirosde fundo, com o maior número ocorrendo em maio, oque coincide com a migração das aves jovens para onorte.

e ciperáceas. Embora sejabastante ativa no períodonoturno, também é encontradase exibindo e cavando ninhosdurante o dia. Chegam àscolônias reprodutivas em agostoe no mês subseqüente há grandenúmero de espécimes ocupandoas tocas. Aparentemente, amaioria das posturas ocorre emnovembro, mas há registros deovos em todos os meses doverão austral. A incubação dura53-57 dias e os filhotes deixamos ninhos com aproximadamente105 dias de idade. Os jovenscomeçam a voar em maio,deixando as colônias nesseperíodo (Rowan, 1952).

Freqüentemente P.gravis interage com golfinhos ebaleias para se alimentar. Podemergulhar mais de 10 m epermanecer submerso por 12 s.

Áreas de reprodução

Nidifica no arquipélagode Tristão da Cunha (Inacessívele Nightingale) e em Gough. Háuma pequena população nasilhas Falklands/Malvinas (ilhaKidney).

Fig. 34 - Bobo-grande-de-sobre-brancoPuffinus gravis.

Status

Na década de 1970, a população de Nightingalee Inacessível foi estimada em 5 milhões de pares, e a deGough entre 600 mil e 3 milhões de pares. Apenas 50-100 casais nidificam nas Falklands/Malvinas. A espécie nãose encontra ameaçada de extinção.

Fig. 35 - Distribuição oceânica do bobo-grande-de-sobre-brancoPuffinus gravis a partir de observações a bordo de espinheleiros(dados do Projeto Albatroz).

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