Plano de Governo Sartori

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Conheça o Plano de Governo de José Ivo Sartori, candidato a governador do Rio Grande do Sul

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  • 1Setembro de 2014

    Diretrizes do PLANO DE GOVERNO

  • 3SUMRIO

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    Diretrizes do Plano de Governo

    Introduo

    1. Uma aliana pela mudana: pela integrao do Rio Grande Do Sul no novo ciclo histrico cujo incio se avizinha 06

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    2. Os desafios do desenvolvimento gacho e a inovao

    a) A modernizao e a diversificao da base produtiva do Estado

    b) Os desafios da Inovao em uma Economia de Transio

    3. O desafio do desenvolvimento urbano e regional equilibrado

    4. O desafio da expanso e da melhoria dos servios pblicos bsicos

    a) Os desafios da educao estadual: melhorar a qualidade, a gesto e infraestrutura escolar b) O desafio do sistema pblico de sade: ateno bsica, regionalizao da medicina especializada e presteza no atendimento ao cidado c) O desafio da segurana pblica

    5. Os desafios da infraestrutura: transportes, energia e saneamento

    a) Transportes

    b) Energia

    c) Saneamento bsico

    6. As finanas pblicas

    7. Os desafios da poltica cultural

    Anexo 1 - Sntese das principais propostas de Sartori e Cairoli

    a) Uma Nova Poltica Cultural

  • 4A elaborao deste documento tem vrios mritos. O principal que no obra exclusiva de uma cabea, e sim da soma das capacidades de centenas de pessoas, todas envolvidas com um novo projeto para o Rio Grande.As contribuies aqui reunidas propostas, proposies e sugestes representam a viso conjunta de inmeros setores da sociedade gacha: instituies empresariais, entidades de trabalhadores, associaes comunitrias e agremiaes sociais. Outro mrito enfeixar rumos para um governo centrado na reconstruo do estado com amplitude e profundidade em reas vitais: regionaliza a sade, renova a educao, repensa a segurana, recupera a infraestrutura e revigora a economia. Significa retomar o desenvolvimento em todas as frentes da vida gacha.Por fim, o mrito mais democrtico: um plano aberto, que alinha necessidades bsicas e estabelece as prioridades. E embora esteja pronto para servir de guia em aes e realizaes, no definitivo: continua receptivo a novas ideias, vindas de todas a direes.O fundamental neste documento a nossa explcita determinao de governar para todos. Comea aqui a transformao do Rio Grande.

    DIRETRIZES DO PLANO DE GOVERNO

    Jos Ivo Sartori

    Governador

  • 5 Este documento de plano de governo, elaborado de acordo com as exigncias da legislao eleitoral - e ora apresentado em verso que j conta com a contribuio de milhares de gachos - no deve ser visto somente como o cumprimento de uma formalidade legal. Ele tambm o termo de referncia do que nossa coligao tem por objetivo realizar. Nele, so apresentadas as diretrizes mais gerais que devero orientar nossa ao comum j desde a campanha e, depois, na ao de governo. Embora aproveite o patrimnio programtico e a experincia administrativa do PMDB e dos demais partidos da coligao, no um documento acabado nem definitivo: um texto oferecido para o exame e a reflexo de todos, aberto a crticas, acrscimos e emendas. Para cumprir essa tarefa, precisaremos estar atentos s diferentes vozes e demandas dos gachos e de nossas regies.

    Nossas primeiras palavras dirigem-se, portanto, s lideranas, aos militantes e aos simpatizantes de nossa aliana que, por todos os quadrantes do Estado, ouvem os reclamos mais sentidos de nossa sociedade. O profundo enraizamento social de nossas agremiaes, suas histrias de lutas pelos interesses de nossa coletividade, assim como a grande experincia administrativa do PMDB representam o alicerce poltico, a slida base social sem os quais toda ao de governo instvel e precria. Sem experincia administrativa, sem estabilidade poltica, sem sustentao social, nenhum governo capaz de desenvolver e implementar polticas pblicas consequentes.

    Da contribuio de todos resultar uma linha de ao que queremos sintonizada com as necessidades e as oportunidades abertas aos rio-grandenses, pois no pretendemos expressar to somente interesses de grupos ou de parcelas da sociedade, por legtimos que sejam, mas almejamos expressar os sentimentos e as aspiraes mais profundos de todos os gachos.

    O dilogo, a reflexo e o esforo comum que serviro de base para a campanha e para o governo se baseiam nessas diretrizes gerais. Adiante, no curso da disputa eleitoral, e, depois, quando da preparao e organizao do Governo, outros documentos detalharo os problemas e as linhas de polticas pblicas aqui programaticamente apresentados.

    O texto a seguir compe-se de sete partes. Na primeira, examinamos o carter oportuno, a fora e as motivaes da coligao PMDB, PSD, PSB, PPS, PHS, PTdoB, PSL, PSDC e indicamos os objetivos mais gerais da caminhada que estamos iniciando. Na segunda, apresentamos os problemas e desafios que a economia gacha tem pela frente, assim como a avaliao que fazemos das potencialidades de nosso Estado e das oportunidades que nos so oferecidas nesta segunda dcada do sculo 21. Na terceira, expomos as ideias que norteiam nossa concepo de desenvolvimento regional, cuja marca o compromisso de fazer um governo que trabalhe com e para as regies do Estado. Na quarta parte, discutimos as condies em que se encontram o Governo e o Setor Pblico, notadamente com relao aos grandes servios da rea social, e indicamos as tarefas prioritrias para a melhoria e, em alguns casos, para recomposio de sua capacidade de ao. Na quinta parte, tratamos dos problemas e das necessidades da infraestrutura estadual. Na sexta parte, apresentamos nossa viso da situao das contas pblicas estaduais e das iniciativas que precisam ser tomadas para conter o agravamento de seu desequilbrio e paulatina recuperao da capacidade de investimento do setor pblico. Na stima, finalmente, apresentamos as diretrizes gerais para uma nova poltica cultural para o RS.

    INTRODUO

  • 61. UMA ALIANA PELA MUDANA: PELA INTEGRAO DO RIO GRANDE DO SUL NO NOVO CICLO HISTRICO

    CUJO INCIO SE AVIZINHA

    Neste momento, tanto o Brasil como o Rio Grande do Sul enfrentam uma situao complexa e desafiadora. Tudo indica que estamos diante do esgotamento de um ciclo poltico e que o desenvolvimento do pas e do Estado requer profundas mudanas.

    O Brasil experimentou importantes avanos nos ltimos 30 anos: o processo de redemocratizao liderado, no ser demais lembrar, pelo MDB; o controle da inflao; a adoo de novos e mais produtivos padres de distribuio de encargos entre os setores pblico e privado, na prestao dos grandes servios pblicos; e, mais recentemente, a incorporao de um grande contingente de brasileiros a condies de vida mais dignas, a que se tem denominado de criao de uma nova classe mdia. A despeito disso, a verdade que o desvirtuamento do sistema de representao poltica ocorrido nos ltimos anos impe inadiavelmente uma mudana de lideranas e de direo.

    Quando o objetivo estratgico principal dos governantes torna-se a perpetuao das foras que esto no poder; quando os recursos para consecuo desse objetivo so a transformao de importantssimas reas da administrao pblica em moeda de troca para a garantia de apoios polticos; quando, para consecuo desse mesmo objetivo, admitem-se at mesmo as escandalosas iniciativas de venalizao das relaes entre os Poderes Executivo e Legislativo, que ficaram conhecidas como o Mensalo, torna-se gritante e imperiosa a necessidade de mudana. Alm disso, o retorno de presses inflacionrias e um a cada dia mais insuportvel bloqueio do desenvolvimento do pas pela insuficincia e precariedade de nossos grandes servios de infraestrutura so tambm fatores que, poderosa e justificadamente, alimentam o desejo e as foras mudancistas.

    verdade que esses fatos geraram na sociedade brasileira, alm da insatisfao e mesmo da revolta, um grande descrdito na poltica e nos polticos. Contudo, essa maneira de posicionar-se diante das dificuldades atuais, a crtica que amalgama a censura das lideranas desmoralizao das instituies evidentemente no soluo para nada e, por isso, tem como utilidade apenas a de fazer com que o pas se d conta dos graves problemas que o afligem e da imperiosa necessidade de mudana. Para andarmos frente, indispensvel, porm, compreender que no h soluo para os problemas de uma sociedade que possa se fazer ao largo da poltica e alheia ao modo como o poder poltico exercido. Desesperar da poltica entregar-se anarquia ou fomentar a nostalgia pelos regimes autoritrios. O necessrio no esquecer que h boa e m poltica e que a responsabilidade dos cidados saber escolher entre esses dois caminhos, embora sabendo que no h obra humana sem falhas.

    No h dvida de que o Brasil e o Rio Grande do Sul tm sua frente oportunidades histricas inditas, um amplo leque de condies promissoras e circunstncias favorveis que podem nos levar no s a novos patamares de desenvolvimento econmico, mas tambm criao de uma sociedade mais prspera, equilibrada e justa.

    No entanto, sem a alterao do modo de fazer poltica hoje predominante, sem um compromisso rigoroso e sem concesses de partidos e governantes com o interesse pblico,

  • 7sem a adoo de prticas de governo estritamente respeitadoras no apenas da legalidade, mas tambm da moralidade dos atos de governo, no reencontraremos o ambiente de tranquilidade e confiana que indispensvel para o desenvolvimento econmico sustentvel, para a promoo social e, assim, para a prosperidade de nosso pas e de nosso Estado.

    Esses elementos, que se referem mudanas de condutas e de providncias institucionais, so tambm condies objetivas que subjazem ao descontentamento dos brasileiros em geral e dos gachos em particular nos dias que vivemos. Os rio-grandenses esto prontos a apoiar a quem se disponha a enfrentar o desafio das mudanas de atitude e de comportamento sem otimismo fcil, sem esprito de seita, sem promessas irresponsveis ou personalismos miditicos. Por essa razo, nos empenhamos em ter uma viso clara dos problemas econmicos e sociais a enfrentar, dos caminhos polticos e institucionais a seguir. No o fazemos levianamente, mas confiantes na base poltica em que assentamos nossa proposta: a da seriedade comprovada na experincia administrativa e na capacidade de governar com iniciativa e com o compromisso com os interesses do Rio Grande de que o PMDB gacho tem dado repetidas provas ao longo de sua histria. essa base que nos permite no apenas anunciar mudanas, mas tambm dizer em que direo mudar, o que mudar e o modo de faz-lo.

    , pois, no empenho para darmos esse passo novo e, ao faz-lo, mais uma vez esposarmos os sentimentos e as expectativas mais de fundo dos gachos, que estruturamos o projeto poltico de nossa coligao, assim como do Governo que pretendemos conquistar e administrar.

    Para esclarecer o sentido da mudana que indispensvel fazer, conveniente comear pela explicitao dos pressupostos e das implicaes polticas que a caracterizam. E com esse ponto que daremos incio apresentao de nossa proposta.

    A alternncia regular do exerccio do poder poltico, associada limitao do tempo de seu exerccio por meio dos mandatos so, talvez, a maior das virtudes da forma democrtica de governo. Isso no quer dizer que a continuidade poltico-administrativa seja em todos os casos malfica. No entanto, quando o exerccio do poder poltico se divorcia das expectativas dos cidados e contrape-se ao sentimento majoritrio da opinio pblica, no h dvida que chegada a hora de mudar.

    Isso o que vemos hoje em nosso Estado e no Brasil. No se trata de negar os avanos sociais e econmicos dos ltimos anos, mas, sim, de entender que tais progressos, alm de resultarem de um esforo que no tem dono, porque de toda a sociedade brasileira, esto batendo em seus limites. A verdade que tais avanos tm sido acompanhados por um custo institucional que ameaa o prprio reconhecimento da democracia como a nica forma de governo aceitvel em pases politicamente maduros e esclarecidos. O profundo desgaste da imagem dos poderes Legislativo e Executivo alimenta no s os repetidos e radicalizados protestos que, por vrias vezes, tm tomado conta do pas, mas tambm a perniciosa fantasia de que possvel ter uma sociedade sem Estado e sem Governo.

    Por essa razo, resgatar a poltica como nica forma de conduzir democraticamente o desenvolvimento torna-se uma prioridade. Para tanto, preciso reconhecer que h boa e m poltica e que a escolha de quem possa representar a boa poltica deve ser a mais urgente e importante de nossas prioridades.

  • 8 Contudo, a mudana que precisamos no se reduz simples troca dos dirigentes, mas exige, no plano institucional, um compromisso srio com a reforma poltica. No plano das polticas de desenvolvimento, preciso reconhecer que enfrentar as carncias de infraestrutura uma necessidade inadivel. Essa prioridade no s compatvel, mas indispensvel para a continuidade do desenvolvimento social, uma vez que evidente e que o processo de desenvolvimento do pas est, em grande parte, travado pelos problemas de competitividade decorrentes de nossa precria logstica de transportes, dos gargalos de mobilidade urbana a cada dia mais graves, assim como do retardo dos investimentos necessrios expanso da infraestrutura energtica do pas.

    Essa prioridade, a ser atribuda modernizao da infraestrutura nacional e estadual, convm repetir, no conflita com o desenvolvimento social, tendo em vista que se a economia no avana se continuar presa nos gargalos da infraestrutura insuficiente; alm disso, no menos verdade que os ganhos de produtividade dependem criticamente de avanos no s da educao, mas tambm das condies de sade da populao, assim como da garantia de boas condies de vida para o maior contingente possvel de cidados. E tampouco haver verdadeiro desenvolvimento se no se restabelecer uma situao de tranquilidade e confiana na comunidade brasileira, clima profundamente prejudicado pela terrvel situao de insegurana pessoal e patrimonial em que hoje se encontram os brasileiros, e o nosso Estado, infelizmente, no fazendo exceo neste quadro lamentvel.

    Esses pontos todos fazem parte da caracterizao do momento histrico por que passa atualmente o Brasil. Entendemos indispensvel retrat-lo, ainda que em grandes linhas, porque este o quadro em que, queiramos ou no, encontra-se inserido o nosso Estado. por essa razo que a oferta aos rio-grandenses de uma candidatura ao governo do Estado, como a representada por Jos Ivo Sartori e seu programa de Governo, no pode deixar de sustentar que a alternncia nas foras polticas que conduzem o pas uma prioridade nacional. Uma prioridade que envolve o apoio incondicional urgente reforma poltica e, no plano estadual, o compromisso inegocivel com uma administrao sria e transparente. So essas mesmas razes que, em nvel nacional,que nos levaram a apoiar a candidatura de Eduardo Campos, e agora de Marina Silva, que segue seu legado e compromissos.

    A opo que ela representa a de uma mudana que, se atenta preservao dos avanos sociais alcanados nos ltimos anos, entende como prioritrio uma mudana profunda no modo de fazer poltica, uma mudana que envolva mais seriedade no trato das ameaas inflacionrias, mais seriedade e profissionalismo na gesto dos ministrios e das empresas estatais, melhor compreenso de que uma resposta pronta para a inadivel expanso da infraestrutura do pas s pode ser feita mediante uma colaborao mais estreita e rpida com o setor privado, assim como a conscincia no menos enftica de ques teremos um verdadeiro desenvolvimento se ele for sustentvel.

    No plano estadual, alm dessas razes mais gerais que justificam, neste momento, a luta pela alternncia no poder, embasa a proposta de governo e de renovao a ser conduzida pela coligao PMDB, PSD, PSB, PPS, PHS, PT do B, PSL, PSDC um conjunto de razes mais especficas ligadas situao em que se encontra a economia de nosso Estado, ao modo como esto sendo prestados os grandes servios pblicos seja os da rea social, seja os de infraestrutura, assim como aos problemas recorrentes e crticos das finanas estaduais. Na sequncia deste documento, trataremos de retratar concisamente o modo

  • 9como vemos a situao em cada uma dessas frentes e as diretrizes gerais que, em cada uma delas, orientaro nossa campanha e, posteriormente, com os ajustes e aprofundamentos devidos, a ao de nosso governo.

    Muito embora em vrios momentos do passado recente tenham sido feitos diagnsticos de que a economia estadual encontrava-se em seu limite, tendendo a perder progressivamente sua posio destacada no contexto da economia nacional, a verdade que os avanos do Paran e, na frente agrcola, das novas regies de grande produo de gros no Centro-Oeste no foram capazes de deslocar nossa economia da quarta posio na comparao interestadual nacional, nem nos afastaram da disputa pela terceira posio no ranking dos estados exportadores. A verdade que a economia gacha forte e diversificada. Temos um agronegcio pujante, uma agricultura familiar produtiva, uma indstria importante, com grande destaque para o setor metal-mecnico, servios modernos, uma rede de boas universidades que esto a criar as bases para parques tecnolgicos, como se v no TECNOPUC, TECNOSINOS, VALETEC, TECNOUCS, URI Parque, SANTA MARIA TECNOPARQUE, TECNOUNISC e TECNOVATES.

    No entanto,seria um ufanismo irresponsvel desconhecer que, a despeito dessa fora e da resilincia de nossa base econmica, no temos problemas nem novos desafios a vencer. O grande impacto negativo sofrido pela indstria caladista do Vale do Sinospor fora da produo de calados na China e em outros pases da sia uma evidncia inquestionvel dos riscos a que est exposta a base industrial do Rio Grande do Sul. A forte concorrncia internacional um limitador tambm evidente para o pleno florescimento da vitivinicultura do Estado, agravado, como se sabe, pela forte apreciao do real. A interrupo e o atraso dos grandes investimentos para a produo de celulose so outras evidncias no mesmo sentido, assim como tambm o o fato de que, apesar de ter havido nos ltimos 5 anos um novo ciclo de investimentos na indstria automobilstica do pas, em nenhum caso o Rio Grande do Sul foi considerado como uma opo verdadeiramente sria. Tambm no caso da produo agropecuria, malgrado se vejam auspiciosas iniciativas de expandir as prticas de irrigao na produo graneleira, a verdade que o caminho a ser trilhado nesta direo longo e que continuamos gravemente dependentes e vulnerveis s variaes das condies climticas. Alm disso, nossa capacidade de absorver e criar tecnologias de ponta para os processos produtivos tpicos da economia contempornea ainda incipiente. Em funo de todas essas limitaes, no surpreende que a participao da economia gacha na economia brasileira tenha decrescido de 6,94% em 2000 para 6,36% em 2011, queda que d continuidade a uma tendncia, s ocasionalmente infletida, de reduo do peso da economia rio-grandense na economia nacional. Essa tendncia negativa, embora no tenha grande acelerao, , obviamente, um motivo de preocupao para quem quer que acompanhe responsavelmente os vetores de crescimento da econmica estadual em comparao com a nacional.

    Nessas circunstncias, sem cair em consideraes simplistas e simplrias sobre o antagonismo entre as cadeias produtivas tradicionais do Estado e a busca de diversificao de nossa base econmica, parece evidente que o Governo Estadual, com determinao e

    2. OS DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO GACHO E A INOVAO

    a) A modernizao e a diversificao da base produtiva do Estado

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    energia, precisa fazer tudo que estiver ao seualcance o uso do FUNDOPEM, das demais opes de poltica tributria, das polticas de crdito do BANRISUL e do BADESUL, para citar somente os instrumentos mais conhecidos para dar sustentao e fortalecer o agronegcio e a agricultura familiar do Estado, assim como para apoiar nossa indstria tradicional.

    Mas no menos importante reconhecer a necessidade de incentivar e lutar pela diversificao de nossa base industrial, e isso envolve desenvolver uma poltica ativa de atrao de investimentos. Nessa frente, o caso mais fcil de entender o da indstria automotiva, sobre cuja recente grande expanso a participao de nosso Estado, como aludido anteriormente, foi nula, como se o clamoroso caso da perda do grande investimento da FORD no fosse uma lio a no ser esquecida.

    H, no entanto, vrios outros desafios e oportunidades que estamos a desperdiar, pois no se v trao de esforo para integrar a indstria metal-mecnica do Estado na cadeia de suprimento do polo naval. Tambm no existe sinergia alguma entre inciativas do poder pblico estadual com os esforos de gerao de parques tecnolgicos desenvolvidos pelas Universidades gachas. O aproveitamento das grandes jazidas de carvo do Estado encontra-se ainda bloqueado, no obstante a bvia convenincia de diversificao da matriz energtica do pas, decorrente da instabilidade climtica e dos recorrentes perodos de grandes secas.

    Esses so todos exemplos claros de importantes reas em que necessrio avanar e com relao s quais avulta a omisso ou o escasso alcance das iniciativas do atual governo. Uma outra frente de iniciativas diz respeito a inovaes na pecuria, especialmente bovina, cuja larga fronteira de aumentos de produtividade continua inexplorada, a despeito do forte incremento da demanda mundial de protena animal e da clareza dos bons resultados que se encontram entre alguns poucos produtores inovadores.

    A economia rio-grandense, convm repetir, deve diversificar sua matriz produtiva, incorporando novas reas de atividade com produtos de maior valor agregado, intensivas em vantagens competitivas no naturais, atentas ao uso de conhecimento e tecnologias de ponta.

    A matriz tradicional da economia gacha est diante do desafio de aumentar sua eficincia e produtividade, seja aprimorando seus processos de produo e gesto, seja criando novos produtos que incorporem tecnologias avanadas, seja ainda buscando novos mercados. As vantagens competitivas naturais, que no passado sustentaram o dinamismo da economia tradicional do Estado, so hoje de todo insuficientes.

    Todos esses movimentos voltados para os diferentes setores da economia estadual supem a incorporao ativa de uma cultura de inovao pelas lideranas pblicas e empresariais, bem como por amplos setores da populao.

    O papel do Governo do Estado nesse processo de reestruturao, reconverso, fortalecimento e diversificao de nosso parque produtivo ser decisivo nas seguintes frentes:

    b) Os desafios da Inovao em uma Economia de Transio

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    Atuar de maneira consequente na melhoria de nossa infraestrutura;

    Promover a formao intensiva de mo de obra com os diferentes nveis de qualificao; Estimular a produo e a difuso de pesquisas cientficas e novas tecnologias; Apoiar de maneira continuada a atrao de novas empresas que contribuam para a diversificao de nossa matriz econmica.

    Nesses procedimentos, a ateno equnime s necessidades e aospotenciais de nossas diferentes regies indispensvel para o sucesso das aes de governo. Mas no menos importante, seja pelos resultados, seja pelo exemplo, a adoo sistemtica, generalizada e visvel mesmo que gradativa de novas prticas de planejamento e gesto pela administrao pblica estadual em outras palavras, a incorporao efetiva de uma cultura de inovao na gesto dos assuntos pblicos. Na etapa de transio em que se encontra a economia gacha, o desafio do setor privado e do setor pblico do Estado adotar e disseminar uma cultura de inovao. Assim, uma poltica de inovao que pretenda ter impacto sobre as diferentes regies e reas da economia estadual deve, necessariamente, identificarcom preciso os ritmos de inovao (ritmos de implantao) requeridos para cada setor e regio, as etapas que, primeiro, devem ser implementadas (qualificao de pessoal, processos de gesto e produo, produtos, etc.) e, finalmente, os programas de espectro e efeito mais geral (apoio a pesquisadores e instituies de pesquisa, formao de mo de obra com qualificao tecnolgica, estmulos integrao universidade-empresa, criao de incubadoras e parques tecnolgicos, linhas de financiamento, etc.), dedicados ao fortalecimento de uma infraestrutura institucional, de recursos humanos e de conhecimentos.

    O ponto de partida da nova Poltica Estadual de Inovao soas prticas, projetos e resultados relevantes j existentes no Rio Grande do Sul e no pas. Exemplares, nesse sentido, so iniciativas como os Parques Tecnolgicos ligados s Universidades, o Programa Gacho de Qualidade e Produtividade PGQP, a Universidade Sebrae, os Polos Tecnolgicos da Secretaria Estadual de Cincia e Tecnologia, os cursos tecnolgicos da UERGS, entre muitas outras. Todas elas devem ser levadas em conta, apoiadas e desenvolvidas.

    Neste contexto, merece especial ateno o TECNOPUC, que tem se dedicado a atrair empresas de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para trabalhar em parceria com a Universidade; promover a criao e o desenvolvimento de novas empresas de base tecnolgica; atrair projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnolgico em geral; estimular a inovao e a interao empresas-Universidade; gerar uma sinergia positiva entre o meio acadmico e empresarial e atuar de forma coordenada com as esferas governamentais municipal, estadual e nacional. Esta experincia pode ser uma referncia importante na reestruturao das unidades de pesquisa e transferncia de tecnologia existentes no mbito da administrao estadual, como o caso do CIENTEC.

    Outro pressuposto decisivo diz respeito formao permanente de mo de obra qualificada, nos diversos nveis demandados (lideranas empresariais, gestores pblicos,

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    pesquisadores, engenheiros, administradores, gerentes, trabalhadores de variada qualificao tcnica, etc.) como parte fundamental da nova poltica estadual de inovao naescala da empresa individual, do setor produtivo, tanto local como regionalmente. A aplicao desta diretriz exige a formao de parcerias com instituies privadas, incumbidas da representao empresarial, tais como FIERGS, FARSUL, FEDERASUL, OCERGS, Universidades, entre outras.

    Por ltimo, mas no menos importante, o Rio Grande do Sul precisa dispor de uma estrutura de difuso de bons resultados e melhores prticas, capaz de disseminar informaes indispensveis para a adoo de atitudes e modelos de inovao bem-sucedidos.

    Todos esses aspectos devem ser considerados na necessria valorizao e fortalecimento da Secretaria Estadual de Cincia e Tecnologia e dos rgos de pesquisa e fomento a ela vinculados (CIENTEC, FAPERGS e UERGS).

    Alm disso, preciso reconhecer o importante papel que a nova Lei Estadual de Inovao poder desempenhar em uma poltica estadual de inovao, colocando-a eefetivamente em prtica, em uma escala significativa.

    As consideraes que acabam de ser feitas sobre a situao da economia estadual precisam ser complementadas, porm, com uma viso mais determinada com relao s questes relativas geografia econmica do Estado e dos mecanismos institucionais necessrios para ter uma poltica responsvel no que diz respeito organizao da base territorial do desenvolvimento estadual.

    Nesse sentido, a primeira observao a fazer que o Rio Grande do Sul j possui uma cultura de valorizao dos programas de administrao regionalizada, bem como instituies voltadas para a promoo dessas iniciativas, de que os COREDES so a maior expresso. Est dada, portanto, pelo menos parte das pr-condies institucionais necessrias para incrementar a regionalizao de atividades do Governo do Estado.

    Na verdade, o desenvolvimento regional deve ser considerado como um elemento estratgico no enfrentamento dos desafios colocados para o Rio Grande do Sul. A base institucional de que dispomos permite tanto identificar, com maior preciso, as oportunidades e os potenciais regionais para impulsionar o desenvolvimento do conjunto do Estado, mais especificamente para desenhar e executar polticas de estmulo e fomento especficas, adequadas s peculiaridades de cada uma das regies. A regionalizao favorece ainda a mobilizao dos recursos humanos e materiais disponveis, aumentando a efetividade de polticas e programas de ao, alm de estimular as prticas de transparncia dos rgos pblicos e o controle por parte das comunidades e cidados concernidos.

    Diferentemente, porm, de outras iniciativas voltadas nessa direo, a coligao PMDB, PSD, PSB, PPS, PHS, PT do B, PSL, PSDC no a concebe apenas como um instrumento de consulta e dilogo com as comunidades regionais. O que precisamos ter uma poltica que, baseada em uma avaliao criteriosa dos problemas e daspotencialidades de cada uma de nossas regies, articuladamente com as lideranas regionais, trate de identificar

    3. O DESAFIO DO DESENVOLVIMENTO URBANO E REGIONAL EQUILIBRADO

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    gargalos e oportunidades, canalizando para os respectivos desbloqueios e aproveitamentos no s os recursos do Tesouro estadual, mas tambm a maior capacidade de articulao e alavancagem que o Governo Estadual tem com relao ao direcionamento tanto dos recursos fiscais e de crdito da Unio quanto das polticas pblicas federais. Os diagnsticos e as propostas do Projeto Rumos 2015, elaborado durante o Governo Germano Rigotto, so um acervo de grande riqueza, cujos recursos e subsdios continuam subaproveitados por fora dos maus efeitos da descontinuidade administrativa. Tom-lo como base para o detalhamento de nossa poltica de desenvolvimento regional representa um desdobramento natural das diretrizes ora apresentadas.

    Tomando ainda em considerao as questes relativas distribuio espacial da populao, das atividades econmicas, dos servios de infraestrutura no territrio gacho, no podemos deixar de registrar que, tal como acontece por todo mundo, pelo menos desde o sculo 19, constante e acelerado o aumento da participao das cidades nesses agregados, pois a diferena maior da populao urbana em comparao com a populao rural no cessa de crescer, assim como tambm crescem as diferenas entre o peso da economia urbana se compararmoso peso da produo de base agrcola, tendncia de distanciamento que se verifica ainda em maior proporo quando consideramos os grandes servios de infraestrutura, pois evidente a concentrao urbana da oferta de energia, dos servios de telefonia, de saneamento bsico e mesmo de transporte.

    Em vista disso, muito embora o pas no tenha uma poltica nacional de desenvolvimento urbano e de apoio aos aglomeradosmetropolitanos, bvia a necessidade de que o poder pblico, nas trs esferas de poder e governo que constituem a federao brasileira, oriente e regule a dinmica de crescimento de nossas cidades e dos aglomerados metropolitanos. Neste sentido, nossa coligao tem como uma primeira resposta aos problemas que se colocam nesta rea criao da Rede Gacha de Cidades Sustentveis, instrumento institucional mediante o qual sejam acordadas metas integradas polticas, econmicas, sociais e ambientais para o desenvolvimento urbano de nosso Estado. Quando do detalhamento dessa proposta, examinaremos o modo de estruturar um instrumento financeiro para este fim, mediante a revitalizao do antigo FUNDURBANO, articuladamente com a sempre adiada implantao do Fundo de Desenvolvimento da Regio Metropolitana de Porto Alegre. Igualmente indispensvel avanar no estmulo ao consorciamento entre os municpios desta ltima, tanto no planejamento como na tomada de decises. A Metroplan, a despeito de que esteja atualmente enfraquecida e com sua vocao original mais lembrada do que exercida, o instrumento natural para promover a criao da Rede e, fortalecida, dar-lhe o fundamental suporte tcnico-administrativo.

    No se promove um verdadeiro desenvolvimento s com crescimento econmico, nem apenas com a construo de infraestruturas. Se tais realizaes no estiverem voltadas promoo e ao atendimento dos anseios dos menos favorecidos, ter-se-, na melhor das hipteses, crescimento, no um verdadeiro desenvolvimento. Esta a razo pela qual a questo social o foco central do programa de governo de nossa coligao.

    O objetivo maior nesta frente a busca da maximizao da incluso social, para cuja

    4. O DESAFIO DA EXPANSO E DA MELHORIA DOS SERVIOS PBLICOS BSICOS

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    consecuo preciso no medir esforos. Nada tem sentido na gesto pblica seno vier ao encontro dos menos favorecidos, das crianas, dos idosos e dos necessitados em geral. Um governo que no tenha polticas para o enfrentamento de tais problemas no tem sentido como governo. Tambm importa entender que os esforos a serem realizados nesta direo no se limitam a aumentar os recursos alocados oferta dos servios da rea social, mas envolvem tambm melhorias de gesto e incrementos de produtividade.

    Outro requisito importante de um servio moderno e adequado s condies atuais prover a gesto pblica de ferramentas modernas e atualizadas de gesto. Isso implica tanto a aquisio dos instrumentos e ferramentas digitais quanto o desenvolvimento de uma nova cultura integrada ao uso das redes sociais. Esses novos recursos propiciam mais eficincia na prestao dos servios, maior acesso e conforto para os usurios. O Rio Grande precisa de um servio pblico do sculo 21.

    Visto o panorama da rea social segundo os trs maiores setores educao, sade e segurana, a situao que encontramos e as diretrizes que devem orientar a ao de nosso governo podem ser suscintamente apresentadas nos termos seguintes.

    O sistema estadual de ensino a maior das instituies do setor pblico gacho. No existe no Estado nenhum outro servio pblico de maior importncia e impacto social, dado o enorme potencial da educao em melhorar todos os demais indicadores sociais, particularmente o nvel de renda dos indivduos e das famlias. A educao a varivel mais potente para garantir a igualdade de oportunidades, a base de uma sociedade democrtica e aberta ao esforo e ao xito individual e coletivo. A rede estadual pblica de ensino responsvel pelo atendimento de aproximadamente 1 milho de crianas e jovens, contando com 2.570 estabelecimentos de ensino sob administrao estadual e 95 mil servidores nas funes de docncia, tcnica e administrativa em atividade (Censo Escolar/2013-SEC/RS). O atendimento do sistema representa em torno de 50% de todas as matrculas escolares.

    Apesar dessa reconhecida importncia, de amplo conhecimento que a educao pblica do Rio Grande Sul enfrenta dois graves problemas. O primeiro de natureza poltica, o desentendimento recorrente entre as lideranas sindicais do magistrio e o Governo do Estado. O segundo diz respeito ao desempenho insatisfatrio da aprendizagem, expresso nas diversas avaliaes que vm sendo feitas no Brasil e no RS, conforme veremos adiante. No ensino mdio, a situao mais crtica, uma vez que: I) a taxa lquida de matrculas na faixa etria de 15-18 anos cerca de 50%; II) o percentual da taxa de concluso do ensino mdio tambm em torno de 50%. Isso significa que de cada 100 alunos que ingressam no ensino mdio, apenas 50 concluem o terceiro ano. Alm disso, h uma comprovada queda nos indicadores de qualidade da educao oferecida pelo sistema.

    Esses dois fatores - conflito permanente e desempenho qualitativamente insatisfatrio - so, em larga medida, responsveis pelas dificuldades que enfrentamos nesta rea e que representam um grande desafio para o Governo estadual e para a comunidade rio-grandense em geral.

    a) Os desafios da educao estadual: melhorar a qualidade, a gesto e infraestrutura escolar

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    As carncias estruturais devem ser enfrentadas com a identificao clara das necessidades, da constituio de um sistema de planejamento detalhado e da elaborao de uma poltica permanente e estvel de gesto dos recursos financeiros, operacionais, humanos e pedaggicos.

    O conflito precisa ser superado pela criao de um novo ambiente na educao gacha: os debates e as posies, naturais e legtimos, precisam se expressar em um clima de cooperao, construo e respeito aos direitos e competncias de todos gestores pblicos, professores, servidores de escola, alunos, pais e demais agentes sociais que veem na educao um fator de desenvolvimento e democracia.

    Igualmente importante o esforo a ser feito na melhoria da remunerao dos professores. Embora limitado pelas restries oramentrias, esse objetivo estratgico precisa ser assumido e realizado progressivamente em prazos compatveis com a melhora das finanas pblicas estaduais. Sem isso, persistiro os problemas de recrutamento de quadros qualificados, evaso e baixa autoestima dos professores, no final, a m qualidade da educao.

    tambm imprescindvel reverter a trajetria de baixa performance da educao gacha, retratada nas avaliaes recentes do ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica IDEB1.

    Na avaliao da 4 e 5 srie do ensino fundamental o RS atingiu nota (5,4), superior meta fixada pelo MEC para 2013 (5,2), mas ainda inferior s notas de outros cinco estados brasileiros.

    Na 8 e 9 sries a nota das escolas gachas foi de 4,0, abaixo da meta de 4,5 para 2013, o que nos deixa em 9 lugar entre todos os estados brasileiros.

    Por fim, na 3 serie do ensino fundamental, atingimos a nota de 3,7, abaixo da meta de 4,0 fixada pelo MEC. Embora nos coloque na segunda posio no ranking nacional, ao lado de So Paulo, essa nota apenas recupera o escore alcanado em 2009, de 3,6, no havendo motivo, portanto, para qualquer comemorao.

    No podemos nos conformar com melhorias insignificantes nas notas, ou mesmo a sua estagnao, quando outros estados avanam, deixando o RS distante da tradicional posio de referncia em educao pblica que j ocupamos no passado.

    Alm disso, preciso considerar que as metas fixadas pelo MEC ainda esto distantes do que pode ser admitido como um padro de qualidade educacional compatvel com a existente nos pases desenvolvidos, cuja mdia das notas compatveis em avaliaes similares ao IDEB de 6,0 pontos. No caso do RS, o problema que no apenas estamos distantes do padro internacional, mas tambm estamos ficando atrs dos demais estados brasileiros, o que nunca havia ocorrido at os ltimos anos. A educao gacha precisa reagir e avanar mais rapidamente na conquista da qualidade.

    1O IDEB avalia o I) Rendimento: considera a taxa de aprovao de um ano para outro, abandono e reteno; II) Desempenho: medido pelas notas dos alunos nas avaliaes da Prova Brasil (4 a 8 sries) e SAEB (3 ano do ensino mdio por amostragem).

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    Alm dos problemas j apontados, a educao gacha se depara com importantes carncias e necessidades: na insuficiente infraestrutura fsica e operacional, no inadequado planejamento e gesto global dos recursos, na restrita autonomia e responsabilidade das unidades escolares, na carncia de programas de apoio aos estudantes e ao funcionamento da rede escolar, assim como nas deficincias no planejamento das atividades curriculares e extracurriculares.

    Diante do diagnstico sumariado anteriormente, a conquista de um novo patamar de qualidade educacional constitui um enorme desafio e envolve esforos planejados e persistentes em vrias frentes.

    Em primeiro lugar, investir na qualificao dos professores, promovendo e incentivando ampla e permanente atualizao.

    Em segundo lugar, intensificar iniciativas voltadas para o aprimoramento dos gestores e da gesto das escolas.

    Em terceiro lugar, aperfeioar o processo de recrutamento dos professores, valorizando os conhecimentos especficos nas respectivas reas de atuao.

    Em quarto lugar, adotar estratgias pedaggicas compatveis com as deficincias diagnosticadas e com as melhores experincias nacionais e internacionais.

    Em quinto lugar, redobrar esforos para dotar, progressivamente, nossas escolas de equipamentos e meios que potencializem a aprendizagem, tais como laboratrios, bibliotecas e salas digitais.

    Finalmente, em sexto lugar, mas no menos importante, dar continuidade aos esforos de avaliao permanente do desempenho dos alunos, no apenas para medir os resultados, mas tambm para permitir o justo e emulador reconhecimento de professores e alunos.

    J com relao ao ensino mdio, responsabilidade precpua da esfera estadual, o desafio ainda maior, pois se trata de acrescentar s polticas anteriormente referidasiniciativas destinadas a:

    Implantar polticas que conduzam universalizao do acesso, assegurando a matrcula aos jovens de 15 a 18 anos, uma vez que aproximadamente 40% dessa faixa etria encontra-se fora da escola;

    Promover uma ampla reforma do ensino mdio contemplando a diversificao curricular, tornando-o mais atrativo e adequado s necessidades dos jovens;

    Melhorar o desempenho geral das escolas, com especial ateno para aquelas que apresentam pior desempenho;

    Realizar aes visando elevar o nmero de egressos formados.

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    Alta prioridade deve tambm ser atribuda ao da Superintendncia de Ensino Profissionalizante da Secretaria Estadual da Educao. Embora existam, no sistema, escolas de reconhecida excelncia, como a Escola Parob e a Escola Liberato Salzano, no contexto da estratgia mais geral do desenvolvimento regional defendida neste programa de governo, importante que, a exemplo dessas, seja criada pelo menos uma Escola de Educao Profissional de referncia em cada uma das regies do Estado do Rio Grande do Sul.

    Uma avaliao menos global e mais focada na articulao do sistema estadual de ensino com a formao dos recursos humanos necessrios conduo do Estado a uma posio mais destacada no contexto nacional torna-se quase inevitvel constatar que nossos sistemas educacionais parecem ter renunciado a uma de suas funes mais essenciais: a de formar jovens capacitados e vocacionados a ingressarem no ensino universitrio com condies para, ao termo do terceiro ciclo de estudos, virem a desempenhar funes de vanguarda e de liderana nas reas crticas da pesquisa cientfica, da inovao tecnolgica e do desempenho profissional de alta qualificao, pois consensual o diagnstico de que um mau ensino mdio , com as excees que sempre ocorrem, o prenncio de estudos universitrios pouco aproveitados e de medocre qualificao.

    A necessidade de criar estmulos para a reverso desse quadro tem que ser uma prioridade da ao de governo na rea educacional, e seus princpios devem ser orientados pelas seguintes premissas: a) os avanos da poltica nacional da educao obtidos nas duas ltimas administraes federais, particularmente no que diz respeito s prticas de avaliao e promoo do melhor desempenho de professores e alunos; b) as demandas, prioridades e potencialidades existentes no mbito das vrias regies gachas, que devero merecer especial ateno da Governana Regionalizada.

    Alm disso, em termos gerais possvel, j neste momento inicial de concepo de nosso plano de governo, apontar os princpios que devem nortear a ao de nosso governo na rea educacional e que so os da integralidade, valorizaodoconhecimento, gesto, incluso e valorizao profissional. Exemplos do contedo a ser dado aplicao de tais princpios so os seguintes:

    ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL: implantao de pelo menos duas Escolas por Coordenadoria Regional de Educao (CRE), segundo as concepes de Ansio Teixeira e Darcy Ribeiro;

    EXPANSO DO TEMPO DE PERMANNCIA DO ALUNO: ampliao do tempo de permanncia dos alunos do Ensino Fundamental em toda a Rede Estadual;

    ENSINO DE LNGUA ESTRANGEIRA: aprimorar o ensino de lnguas estrangeiras na rede, notadamente do espanhol e do ingls;

    ENSINO MDIO: universalizao do Ensino Mdio para jovens de 15 a 18 anos, em consonncia com a meta do programa Todos pela Educao;

    ESCOLA ACESSVEL: incluso de alunos com deficincia nas escolas regulares, implantando programa de apoio, qualificao de RH, contratao de profissionais com formao adequada e investimento em acessibilidade, a partir de 2015;

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    INCLUSO DIGITAL: universalizao do uso de Tecnologias da Informao como ferramentas pedaggicas inovadoras;

    JOGOS ESCOLARES: fortalecimento dos Jogos Escolares do RS, revitalizao do Centro Estadual de Treinamento Esportivo CETE e criao de centros poliesportivos nas 30 CREs, a partir de 2014;

    FORMAO DOCENTE: programa de formao permanente para qualificar professores e funcionrios da Rede Pblica Estadual, instituindo um nmero mnimo de cinco formaes obrigatrias por ano, com durao de no mnimo quatro horas, com implantao imediata; preciso potencializar todas as fontes de recursos para esta tarefa, em especial as do FUNDEB.

    b) O desafio do sistema pblico de sade: ateno bsica, regionalizao da medicina especializada e presteza no atendimento ao cidado

    A prestao de servios bsicos de sade constitui uma das atribuies mais nobres, importantes e irrenunciveis do Estado. No Brasil, o principal instrumento de interveno na sade pblica o Sistema nico de Sade SUS, responsvel pela articulao e coordenao das aes da Unio, dos Estados e Municpios, instituio cuja criao nas condies econmico-financeiras de um pas ainda em desenvolvimento um feito notvel, que a todos nos deve orgulhar. No ignoramos, por certo, suas muitas deficincias, que motivam grandes e intensas reclamaes e crticas, muitas, sem dvida, justificadas e feitas de boa-f e com intenes construtivas. Mas impossvel comear a tratar dos problemas e dos avanos que preciso fazer no enfrentamento dos desafios colocados para melhora da sade pblica sem fazer este reconhecimento do patrimnio que j temos nesta rea.

    Desde sua criao, o SUS procura desenvolver e aprimorar a descentralizao das aes de sade, atravs da regionalizao e da municipalizao do planejamento, da gesto e execuo dos servios. natural que um sistema que envolve todas as instncias administrativas do poder pblico nacional e engloba uma ampla rede de aes e programas continuados de preveno, atendimento ambulatorial, e servios hospitalares em mltiplas especialidades, se depare com o desafio de, permanentemente, aprimorar normas, procedimentos, protocolos e mecanismos de financiamento.

    Embora haja grande concordncia quanto melhoria dos indicadores bsicos de sade no Brasil, os quais se refletem principalmente na queda da mortalidade infantil e na elevao da expectativa de vida dos brasileiros, as polticas de preveno e as redes de atendimento ainda apresentam grandes e importantes insuficincias.

    A precariedade do atendimento hospitalar de emergncias e tratamentos especializados se expressa na falta de vagas para internaes, na demora, s vezes de meses, para a realizao de consultas, cirurgias e revises, na ausncia de estruturas adequadas de UTIs, apenas para citar as carncias mais evidentes.

    De outra parte, as polticas preventivas apresentam tambm um alcance extremamente

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    limitado: apenas a metade da populao brasileira atendida na Estratgia de Sade da Famlia (54% de cobertura). Na falta de cuidados bsicos preventivos e de diagnsticos precoces, as pessoas so acometidas por doenas que poderiam ser evitadas, onerando ainda mais o sistema.

    Alm disso, a sade pblica enfrenta novos desafios no plano nacional, e tambm regional, com o crescimento da drogadio especialmente do consumo de crack e da elevada prevalncia de alcoolismo entre adolescentes e jovens, bem como a alta incidncia de AIDS no RS.

    Finalmente, como agravante, a sade pblica dos brasileiros , ainda, afetada por outros fatores estruturais, entre os quais, a condio de pobreza e desnutrio em que se encontram milhes de pessoas e a precarssima estrutura de saneamento bsico, responsvel pela gerao e transmisso de dezenas de doenas que afetam principalmente as famlias e as crianas que vivem nas periferias das mdias e grandes cidades.

    O Rio Grande do Sul no constitui exceo nesse cenrio de desafios e problemas, muito embora nossa situao no se encontre entre as de pior situao no contexto nacional. Apesar de o Estado j contar com uma ampla rede de prestao de servios hospitalares no mbito do SUS, com 350 hospitais de diversas naturezas jurdicas (filantrpicos, pblicos municipais, privados, federais e estaduais), ainda nos deparamos com uma distribuio geogrfica bastante desigual e concentrada desses servios.

    Por isso, nos ltimos governos, acertadamente, envidaram-se importantes esforos para promover a regionalizao do atendimento e dos servios de mdia e alta complexidade, para evitar o deslocamento, sempre oneroso, de doentes para a Capital ou para as cidades mdias do RS. No entanto, apenas 60% das necessidades de atendimento e procedimentos especializados so atendidos pela rede pblica ou conveniada. Neurocirurgias, procedimentos cirrgicos de otorrinolaringologia e politraumatismos dependem ainda de deslocamento para a capital do Estado. A expanso desses servios se dar por meio da regionalizao do atendimento a partir das cidades-polo das macrorregies de sade: Santa Maria, Iju, Passo Fundo, Caxias do Sul, Pelotas, Cachoeira do Sul, Santa Cruz do Sul e Lajeado.

    De outra parte, embora o RS tenha sido um dos primeiros estados brasileiros a adotar polticas de ateno bsica sade, atravs do programa de Sade da Famlia e Agentes Comunitrios de Sade e, no Governo Rigotto, tambm de forma pioneira, criado o programa inovador PRIMEIRA INFNCIA MELHOR, direcionado ao desenvolvimento pleno da sade e capacidade cognitiva dos bebs e crianas, ainda temos um largo caminho a percorrer em direo universalizao dessas importantes aes de preveno e promoo da sade.

    Um exemplo disso a necessidade de expandir a populao atendida pelas aes da chamada Estratgia de Sade da Famlia. Nosso desafio atingir 100% da meta de cobertura da populao do RS com Estratgia de Sade da Famliaat o final do Governo, o que significa um incremento anual de 15% por ano. No se faz isso simplesmente com recursos, mas tambm com gesto e gerenciamento do sistema.

    O mesmo ocorre com o programa PRIMEIRA INFNCIA MELHOR, criado pioneiramente no governo de Germano Rigotto. Apesar de ter evoludo em bom ritmo, as aes do programa

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    podem e devem ter metas mais ambiciosas de cobertura, pelo menosduplicar o universo de crianas atendidas.

    certo que o ritmo de expanso de aes e programas de preveno e ateno bsica, como os anteriormente citados, fortemente dependente da cooperao entre as esferas de governo Unio, Estados e Municpios. Essa caracterstica do SUS, de repartio de responsabilidade entre as esferas pblicas, reafirma a necessidade de persistir e intensificar esforos para ampliar as relaes de cooperao interinstitucional, sem partidarismos ou preferncias ideolgicas, para que os servios cheguem de forma mais rpida, ampla e efetiva aos cidados. Para isso, so necessrias no apenas vontade e determinao, mas a criao de mecanismos de financiamento e incentivos que promovam a adeso das partes.

    As diretrizes gerais que as corporificam devem apontar para a ambiciosa meta de tornar o Rio Grande do Sul referncia nacional em todos os indicadores de sade pblica. Programaticamente, na rea da sade pblica, podemos, desde logo, enunciar como metas gerais do Governo que pretendemos fazer as seguintes:

    AMPLIAR A ATENO BSICA: elevar substancialmente a cobertura das aes de ateno bsica, ampliando as parcerias com os municpios, tendo como meta levar as aes da Estratgia de Sade da Famlia a 100% das famlias de baixa renda.

    AJUSTAR O PERFIL DA PRESTAO DOS SERVIOS DE SADE AO MOMENTO DE TRANSIO DEMOCRFICO-EPIDEMIOLGICA EM QUE SE ENCONTRA O RS: neste caso, trata-se de levar em conta que o Rio Grande do Sul est passando a ter um perfil demogrfico tpico dos pases mais desenvolvidos, com o aumento da populao da chamada terceira idade e uma reduo relativa da populao infantil na pirmide etria. Este fenmeno exige, evidentemente, um reposicionamento dos servios de sade que precisam preparar-se para atender, em muito maior proporo, aos problemas cardiovasculares, s neoplasias e s doenas mais frequentes nas pessoas idosas.

    GARANTIR AS CONSULTAS: ampliar o acesso e agilizar as consultas de baixa complexidade. Em parceria com os municpios, ampliar o horrio de atendimentos dos Postos de Sade, especialmente nas regies de maior concentrao populacional e de reconhecida grande demanda dos servios.

    REGIONALIZAR O ATENDIMENTO DE MDIA E ALTA COMPLEXIDADE: intensificar os esforos de regionalizao do atendimento de mdia e alta complexidade, para que as necessidades sejam atendidas na regio em que as famlias vivem.

    MAIOR ATENO INFNCIA E S MES: fortalecer as polticas preventivas e de promoo da ateno bsica direcionadas infncia e ateno materna, fortalecendo a presena do programa Primeira Infncia Melhor e da ateno pr-natal nas comunidades gachas.

    GESTO EFICIENTE: aprimorar, permanentemente, a gesto do sistema de sade com nfase na qualificao dos gestores, sistemas tecnolgicos de suporte e diagnsticos epidemiolgicos; da mesma forma, urge aperfeioar os sistemas de

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    Os gachos esto inseguros. Muito e gravemente inseguros, e com razo. Esta a premissa de qualquer considerao sensata dos problemas de segurana pblica no Rio Grande do Sul no presente momento. O registro disso j no precisa apelar para as sondagens de opinio pblica, pois este um tema cotidianamente presente em nossas vidas, tanto pela alta frequncia com que somos vtimas, quanto pelo fato de o tema se fazer permanentemente presente em nossas conversas e nos esforos a cada dia maiores para nos acautelarmos e protegermos com os meios que tivermos ao nosso alcance.

    To importante quanto o estresse psicolgico derivado da percepo geral da deteriorao das condies de segurana pblica so os custos decorrentes do aumento da criminalidade na subtrao de vidas, destruio de famlias e da vida comunitria, alm da imposio crescente de perdas patrimoniais.

    Esse sentimento universalizado de grande insegurana pessoal e patrimonial agrava-se em consequncia da percepo igualmente generalizada da enorme insuficincia da resposta do Estado a essa situao crtica. Nem os servios de preveno e investigao policial, nem a gesto do sistema prisional, nem os programas de preveno criminal tm escala e eficincia compatvel com o agravamento da situao. O esforo das diversas administraes estaduais recentes em manter o nvel do gasto pblico na segurana em reposio parcial do efetivo policial, manuteno e equipamentos, em um contexto de severas restries financeiras, embora meritrio, se mostrou insuficiente frente s necessidades associadas ao crescimento da criminalidade.

    A criminalidade e a insegurana crescentes produzem um novo tipo de segregao social na sociedade gacha: entre aqueles que podem se proteger recorrendo a meios privados guardas, grades, alarmes, cmeras de vigilncia e aqueles que, privados desses meios, dependem apenas do sistema pblico de segurana. Essa nova forma de segregao, evidentemente, no se coaduna com o modelo de sociedade com a qual todos sonhamos. Urge, portanto, enfrentar com firmeza e deciso o desafio de tornar nossa sociedade mais segura. Essa no uma tarefa fcil, nem passvel de ser resolvida de um dia para outro. Mas se no lhe atribuirmos a prioridade devida, no haver esperana de, num prazo mdio, a conquistarmos.

    c) O desafio da segurana pblica

    Registre-se ainda que a promoo da sade precisa ser complementada pela ampliao dos investimentos em reas diretamente correlacionadas, tais como saneamento bsico, combate s drogas e ao alcoolismo e reduo da acidentalidade no trnsito.

    Requisito financeiro indispensvel para o cumprimento desses objetivos e metas cumprir escrupulosamente as previses legais de destinao de recursos oramentrios para o setor. Requisito institucional e operacional estratgico a regionalizao do atendimento de mdia e alta complexidade, para cuja consecuo no mediremos esforos.

    avaliao do impacto, da efetividade e resolutividade das aes e programas na sade dos gachos

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    Ressalte-se que, na dinmica recente da criminalidade, certamente um dos fatores mais decisivos na elevao dos patamares de ocorrncia a disseminao das drogas, mais particularmente do crack. O aumento do consumo dessa substncia, devido ao elevado poder e velocidade na gerao da dependncia, tem sido apontado como uma das causas do aumento do volume de roubos, assaltos e homicdios nas mdias e grandes cidades. Alm desse fenmeno relativamente recente, permanecem como temas importantes a merecer ateno a violncia domstica, a segurana no ambiente escolar e o acentuado nvel de acidentalidade e mortes no trnsito.

    Tambm da maior relevncia para entendimento da situao em que nos encontramos que uma das consequncias mais graves da crise estrutural das finanas pblicas estaduais das ltimas quatro dcadas foi um quadro crnico de subinvestimento na rea da segurana pblica. Com efeito, entre 2000 e 2013, a mdia anual da rubrica Investimentos em relao Receita Corrente Lquida foi de apenas 0,33%, o que corresponde a um vigsimo do total dos investimentos realizados pela Administrao Estadual.

    Tal condio estrutural como reflexo:

    De outra parte, o reduzido nvel de investimentos, muito aqum das necessidades mnimas no sistema prisional, gerou um enorme dficit de vagas de aproximadamente 8 mil vagas , sem falar na deteriorao da quase totalidade das unidades existentes em termos fsicos, humanos e de segurana.

    Alm do crescimento vertiginoso dos crimes de furtos e roubos nas pequenas e mdias cidades do Estado nos ltimos anos, muito preocupante tambm a elevao dos ndices de homicdios, de 18,3 casos por cada 100 mil habitantes em 2002 para 22 casos em 2012, bem como a defasagem de 32% no provimento do efetivo da Brigada Militar (diferena entre o efetivo autorizado e o efetivo provido) e de 39% na Polcia Civil. O quadro dramtico:

    A sempre insuficiente dimenso do efetivo policial, tanto na Polcia Civil quanto na Brigada Militar;

    A permanente dificuldade na manuteno e reposio dos equipamentos essenciais operao policial, principalmente veculos e estruturas de apoio;

    A precariedade e desatualizada estrutura de apoio tcnico (percias e exames) investigao criminal;

    A ausncia de sistemas de tecnologia de informao modernos e atualizados, cada vez mais importantes na elaborao de metodologias de policiamento preventivo e repressivo mais efetivas;

    A ausncia de um sistema eficiente de acompanhamento e controle do regime semiaberto, o que acaba por se refletir em um alto ndice de reincidncia criminal;

    A inexistncia de um processo de organizao e avaliao permanente da evoluo dos indicadores criminais, procedimento fundamental para o planejamento dos gastos e das aes operacionais do sistema de segurana pblica gacho.

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    de um lado, o crime aumenta e se interioriza e, de outro, o Estado continua a enfrentar enormes dificuldades para realizar os investimentos em recursos humanos e equipamentos para ampliar, modernizar e aperfeioar os servios de preveno, investigao e punio criminal.

    Com efeito, os investimentos efetuados pelo Estado na criao de novas vagas prisionais esto sempre aqum do necessrio, fazendo com que a efetiva punio criminal seja prejudicada pela sua incapacidade em prover as condies para a efetiva execuo penal. claro que o gasto pblico em segurana no constitui o nico fator a explicar a dinmica criminal recente, que tem condicionamentos de ordem socioeconmica e cultural, mas , sim, o principal responsvel pela perda de efetividade do Estado no cumprimento de seu papel constitucional de prover segurana pessoal e patrimonial.

    A recomposio dos servios pblicos de segurana deve ser orientada por trs diretrizes bsicas:

    Alm dessas diretrizes gerais, a poltica estadual de segurana dever fortalecer e renovar o papel das comunidades locais e promover uma articulao mais efetiva das instituies s quais est afeta a produo da segurana e da justia no RS. Isso implicar, entre outras, as seguintes providncias:

    INVESTIMENTOS: elaborar e executar um programa permanente de investimentos em recursos humanos e materiais, de modo a criar uma estrutura adequada s necessidades e demandas dos gachos por mais segurana.

    TRANSPARNCIA: estimular e incentivar prticas de maior transparncia nas polticas de segurana pblica, com o objetivo de melhorar os canais de comunicao e informao entre os agentes pblicos e a sociedade. PARTICIPAO: otimizar a parceria com as prefeituras e comunidades locais nas aes preventivas policiais e de natureza social e focalizar e dar maior efetividade s aes policiais em consonncia com as peculiaridades das diversas regies do RS.

    INSTITUCIONALIZAO DOS CONSELHOS MUNICIPAIS DE SEGURANA PBLICA: os conselhos devem ter seu papel valorizado e ampliado, auxiliando a Polcia Civil e Militar na definio das aes preventivas, aproximando e integrando as instituies policiais das comunidades e promovendo e coordenando aes preventivas multidisciplinares.

    SISTEMA DE JUSTIA CRIMINAL INTEGRADO E COOPERATIVO: propor a formao de um comit permanente integrado por todas as instncias do sistema de justia criminal: o Poder Judicirio, o Ministrio Pblico e o Governo do Estado (Polcia e Sistema Prisional), com a finalidade de planejar, articular e coordenar esforos no sentido de melhorar as condies de segurana pblica e da promoo da justia, respeitando,evidentemente, as atribuies e competncias constitucionais e legais das partes. Uma das formas possveis para promover esta integrao conferir tais atribuies ao CONSELHO ESTADUAL DE SEGURANA PBLICA.

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    AUMENTO DO EFETIVO DA BRIGADA MILITAR: dar continuidade recomposio do efetivo da Brigada Militar, de modo a recompor, pelo menos, a meta histrica de 3,0 policiais para cada 1.000 gachos.

    RECUPERAO E MODERNIZAO DA ESTRUTURA DE POLICIAMENTO PREVENTIVO: investimentos em sistemas de comunicao e georreferenciamento para aprimorar o sistema de planejamento e execuo de aes preventivas pela Brigada Militar. FORTALECIMENTO DA CAPACIDADE INVESTIGATIVA DA POLCIA CIVIL: ampliao do quadro de delegados e investigadores, investimentos em tecnologia de informao e logstica, especialmente nas regies com maior incidncia de criminalidade violenta. Avaliar e propor a criao de novas delegacias especializadas, principalmente, de homicdios, nas cidades mdias.

    AES INTEGRADAS PERMANENTES: fortalecer o papel coordenador e integrador do CIOSP (Centro Integrado de Operaes de Segurana Pblica). Reavaliar e reorganizar as bases geogrficas e operacionais da Polcia Civil e Brigada Militar, visando desenvolver aes integradas de forma estruturada e permanente.

    ATENDIMENTO AO CIDADO: melhorar a presteza e a qualidade do atendimento aos cidados nas Delegacias de Polcia, tanto no registro das ocorrncias como na prestao das informaes. Criar um mecanismo gil e fcil, via internet ou 0800, que permita ao cidado acompanhar o andamento dos inquritos, respeitadas as disposies legais.

    CRIAR BASES DE PATRULHAMENTO COMUNITRIO: desenvolver programas permanentes de patrulhamento nos bairros mais violentos das mdias e grandes cidades, em parceria e cooperao com as prefeituras municipais e entidades comunitrias. Incentivar e fortalecer programas de Policiamento Comunitrio e Policiamento Orientado para a Soluo de Problemas2.

    AUMENTAR O NMERO DE VAGAS PRISIONAIS: dar continuidade aos investimentos na ampliao do sistema prisional. Ser priorizada a construo ou ampliao de unidades de mdio porte adequadas ao perfil de periculosidade dos apenados.

    REINSERO SOCIAL E PRODUTIVA: criar e desenvolver programas e aes de reinsero de ex-apenados no mercado de trabalho mediante um sistema de incentivos empregabilidade e capacitao profissional e formao educacional dos apenados.

    PROGRAMAS INTEGRADOS DE PREVENO: fortalecer a presena do Estado no

    2Modelo de policiamento desenvolvido pelo criminologista Herman Goldstein e j utilizado em muitos pases. Nesse modelo, o escopo da ao policial ampliado para alm do crime como um incidente isolado, de forma a captar e buscar solues para o conjunto de circunstncias sociais, fsicas e culturais que o incentivam. , essencialmente, um modelo de parceria e transversalidade, que tende a envolver, na preveno criminal, todos os agentes pblicos e sociais que operam em uma determinada rea geogrfica com alta concentrao de crimes.

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    desenvolvimento de programas permanentes de educao e preveno do uso de drogas e lcool, em conjunto com as prefeituras municipais, entidades sociais e escolas pblicas, com foco prioritrio em adolescentes e jovens.

    TRNSITO SEGURO: intensificar os programas de combate ao uso do lcool no trnsito, integrando a Polcia Rodoviria estadual, Brigada Militar, Detran, Prefeituras e organizaes sociais.

    FORTALECIMENTO DA REDE DE SADE NO TRATAMENTO DA DROGADIO: abertura de mais vagas nas redes pblica e filantrpica de sade e ampliao da rede de comunidades teraputicas.

    PROGRAMA DE RECUPERAO DE JOVENS INFRATORES: em parceria com o setor privado, alterar o modus faciendi de recuperao de menores infratores atravs (I) da descentralizao radical da instituio mantenedora de jovens infratores; (II) da ampliao dos programas de ressocializao dos jovens infratores, com bolsa em dinheiro especfica para famlias de menores infratores; (III) do incentivo participao e parceria com as organizaes sociais vocacionadas na gesto das casas mantenedoras e de apoio psicossocial a jovens em situao de risco e infratores.

    Nas sociedades modernas, uma funo crtica do setor pblico prover as condies de infraestrutura necessrias ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades e preservao da competividade sistmica de suas economias. No caso do Rio Grande do sul, assim como no Brasil, o cumprimento desses encargos foi prejudicado, nos ltimos anos, em razo dos desequilbrios financeiros do setor pblico.

    Para ter xito nesta frente decisiva para o nosso futuro, alm de criar solues inovadoras nos processos de produo propriamente ditos em termos de recursos tecnolgicos e humanos , a economia gacha dever contar com uma oferta de infraestruturaque nos coloque em um patamar de competitividade em posio vantajosa, ou pelo menos de igualdade, em relao aos demais estados brasileiros. Para isso, preciso dar a ateno e a prioridade que o tema exige no mbito do planejamento da interveno estatal, das prioridades dos investimentos pblicos e no contexto mais geral do desenvolvimento regional.

    Em consonncia com essas consideraes mais gerais, entendemos como diretrizes para a recuperao, ampliao e modernizao da infraestrutura estadual as prioridades elencadas a seguir.

    Tendo em vista a importncia estratgica desta rea para a economia gacha, indispensvel modernizar, qualificar e dar um tratamento rigorosamente profissional aos problemas do setor.

    5. OS DESAFIOS DA INFRAESTRUTURA: TRANSPORTES, ENERGIA E SANEAMENTO

    a) Transportes

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    b) Energia

    Isso implica em reestruturar e modernizar o DAER, fazendo com que a entidade recupere a sua capacidade tcnica para enfrentar, em termos adequados, s necessidades atuais, notadamente no que se refere ao desenvolvimento e gesto de projetos de engenharia rodoviria. Com relao Empresa Gacha de Rodovias - EGR, o desafio fazer com que a natureza empresarial da nova entidade seja empregada para a captao de financiamentos que permitam a expanso e duplicao das estradas sob sua jurisdio. Por exemplo, o caso da duplicao de trechos como a ligao Passo Fundo-Marau, Venncio Aires-Santa Cruz do Sul e Santa Maria-Camobi e a duplicao da RS 118, beneficiando diretamente os municpios de Viamo, Gravata, Cachoeirinha, Esteio e Sapucaia do Sul. Igualmente importante a implementao do Plano Estadual de Logstica e Transportes PEL, o qual permitir embasar as decises de investimento em critrios tcnicos seguros e adequados s reais necessidades da economia e da comunidade.

    Tambm fundamental dar continuidade aos investimentos em curso, evitando os malefcios que costumam acompanhar as trocas de governo em todos os setores que compem o amplo domnio dos servios de infraestrutura.

    Outra providncia imperiosa buscar novos financiamentos internacionais, especialmente com relao s necessidades de logstica, malha rodoviria e s oportunidades, sempre negligenciadas, referentes ao melhor aproveitamento de nossos cursos dgua para alternativas hidrovirias.

    Reconhecer que a poupana fiscal passvel de ser gerada, mesmo com uma boa administrao das contas pblicas, insuficiente para prover as carncias de infraestrutura que nos retiram competitividade. necessrio prospectar a constituio de parcerias pblico-privadas, sem preconceitos ideolgicos e polticos, dentro dos parmetros, das condies e diferentes modalidades contratuais que melhor ajustem o interesse entre as partes, a empresa privada e o poder pblico. Nesse sentido, indispensvel fazer um trabalho minucioso de levantamento de necessidades e oportunidades para a proviso dos servios de infraestrutura estadual.

    igualmente indispensvel avanar aes junto Unio a fim de aumentar a participao da ferrovia no transporte de cargas, meta maior de mudana na Matriz de Transportes. Apoiar a criao da Ferrosul, um investimento de grande impacto na matriz de transportes e na economia gacha.

    Finalmente, se faz necessrio modernizar os servios de Estaes Rodovirias tanto pelo estmulo adoo de sistemas informatizados de gesto e vendas de passagens, quanto pela exigncia de que os concessionrios garantam aos usurios um atendimento confortvel e limpo.

    No final dos anos 1990, o Brasil e o Rio Grande do Sul passaram por um processo de redistribuio de encargos entre o setor pblico e o privado em relao oferta dos servios de infraestrutura. O Estado apresenta, atualmente, o seguinte desenho institucional: trs empresas de distribuio, a CEEE-D, a RGE e a AES, sendo as duas ltimas privadas; a CEEE-GT, que atua na gerao e na transmisso, e a CGTEE, empresa de gerao trmica,

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    vinculada Eletrosul. Alm disso, mais recentemente, foi criada a SULGS, uma empresa do Governo do Estado e da Petrobras, que opera a distribuio de gs para os mercados veicular, industrial, comercial e residencial. Portanto, no que diz respeito oferta de energia, a responsabilidade do Governo do Estado ainda se faz presente, com grande importncia, na gerao e distribuio de energia eltrica e de gs natural.

    O Grupo CEEE responde por 75% da transmisso de energia eltrica no Rio Grande do Sul, a qual distribuda por 47 mil km de rede nas reas urbana e rural. A companhia possui 15 plantas de gerao hdrica, agrupadas no sistema Jacu-Salto. Alm da hdrica, que representa 63% da capacidade de gerao, a companhia tem ainda usinas termeltricas que respondem por 11% de sua produo, 16,9% provenientes do gs natural e, por fim, 6,2% oriundas de fontes renovveis.

    Alm da gerao de energia, a CEEE responsvel direta pela distribuio de energia, atravs da CEEE-D, para 4 milhes de gachos, em 72 municpios do Estado. Do ponto de vista da demanda de energia eltrica, a capacidade instalada atual foi suficiente para atender ao consumo final de 25.427.246 de MWh. No entanto, projetando-se uma taxa de crescimento econmico de 5% ao ano, teremos em 2015 uma demanda de 35.778.68 MWh. Nesse cenrio, a margem de segurana do sistema muito pequena.

    Com relao capacidade de gerao, crtica a necessidade de que a ANEEEL (Agncia Nacional de Energia Eltrica) volte a fazer leiles de compra de energia, os quais so, no atual sistema de gerenciamento do setor eltrico brasileiro, a base para qualquer deciso de investimento. S assim sero executadas as obras em Garabi, a Termeltrica do Seival e a expanso dos parques elicos.

    J quanto distribuio, a ao principal elevar a capacidade de transmisso, com a construo do anel de 525 kV interligando os principais pontos das regies Sul e Norte do Estado. Certamente, o crescimento do RS nos prximos anos, com a instalao de novas usinas termoeltricas em Candiota, com o crescimento expressivo da fabricao de celulose, com o polo naval de Rio Grande e outros investimentos na chamada Metade Sul, ir impor ao Sistema Integrado Nacional (SIN) a necessidade de interligaes no nvel de tenso de 525 kV no Estado. O RS deve exercer papel poltico de presso junto aos rgos da Unio, visando pautar este importante tema, especialmente em razo das futuras usinas de carvo na regio de Candiota e do complexo hidreltrico de Garabi no Rio Uruguai, bem como o rebatimento de tais investimentos na interligao regional com Uruguai e Argentina.

    Esses dados j so conhecidos e esto apropriados nos modelos de investimento do setor eltrico, porm, a CEEE tem tido grandes dificuldades de acompanhar os cronogramas de investimento.

    Outra dificuldade de grande monta a que est confrontada a Companhia reside nas consequncias da Medida Provisria n 579, de 11 de setembro de 2011, a qual afetou fortemente sua receita. O agravamento do quadro financeiro torna forosa a reabertura de negociaes com o governo federal.

    Nesse contexto, tambm indispensvel que a CEEE melhore significativamente a sua gesto operacional e financeira. Isso requer, antes de mais nada, que o Governo do

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    c) Saneamento bsico

    No plano estadual, os servios de saneamento bsico que compreendem o fornecimento de gua tratada e coleta e tratamento do esgoto so de responsabilidade da CORSAN, empresa tradicional e que j prestou relevantes servios ao Estado.

    A Companhia Estadual de Saneamento CORSAN atende a 349 localidades, em uma rea de extenso que abrange 318 municpios, atendendo a mais de 70% da populao urbana, com abastecimento de gua tratada. Nos municpios de Porto Alegre, Pelotas, Caxias do Sul, Bag, Santana do Livramento, Vera Cruz, So Leopoldo, Novo Hamburgo e Uruguaiana, esses servios so operados diretamente pelas prefeituras municipais ou por empresas concessionrias. A CORSAN a nica companhia estadualno pasque no possui concesso dos servios na capital do respectivo estado, bem como em nove outros municpios de mdio e grande porte.

    importante sublinhar, ainda, que existem no RS aproximadamente 1,5 milho de gachos, moradores de pequenos aglomerados urbanos e da zona rural, sem acesso ao sistema formal de abastecimento de gua tratada.

    Com relao ao esgotamento sanitrio, embora inexistam dados precisos, pode-se estimar que, no Estado, os servios de coleta e tratamento de esgotos atingem apenas 14% dos domiclios. As obras do Programa Integrado de Saneamento Ambiental PISA, recentemente inauguradas em Porto Alegre, devero elevar esse ndice para algo em torno de 30%. Ainda assim, a oferta desses servios continuar em um patamar inaceitavelmente baixo, portanto, a exigir novos e maiores investimentos.

    A principal dificuldade para a ampliao dos sistemas de esgotamento sanitrio reside no seu elevado custo de implantao, estimado em cinco vezes o volume de recursos necessrios implantao de sistemas de abastecimento de gua. Some-se a issoa dificuldade adicional de que a tarifa cobrada para a coleta e tratamento de esgoto de 70% do valor cobrado para o consumo de gua e de 50% no caso de somente ocorrer o afastamento do esgoto, traduzindo-se em mdia 47% de faturamento da gua.

    Nos ltimos anos, a CORSAN ampliou os investimentos em sistemas de esgotamento sanitrio com recursos prprios e tambm logrou xito em incluir novos aportes de recursos no mbito do PAC, do Oramento Geral da Unio e da Caixa Econmica Federal. No entanto, a

    Estado d uma ateno prioritria s questes relativas ao desempenho da Companhia. Essa avaliao do setor energtico deve levar em conta ainda as potencialidades de diversificao da matriz energtica. A SULGS e o Parque Elico de Osrio so empreendimentos importantes j em pleno funcionamento e, no caso especfico, em expanso.

    A expanso da SULGS em direo ao Vale do Sinos e Porto Alegre, depois de ter j atendido parcialmente regio da Serra, um fato promissor e que deve ser apoiado. O incremento da disponibilidade dessa fonte energtica uma contribuio relevante para o desenvolvimento da indstria e do comrcio do Estado.

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    6. AS FINANAS PBLICAS

    Como de amplo conhecimento no apenas dos especialistas, mas da opinio pblica em geral, as finanas pblicas de nosso Estado encontram-se em situao de graves dificuldades h muitos anos. Os dficits oramentrios so recorrentes, a dvida cresce, o comportamento da despesa cada vez mais rgido, e o crescimento das receitas prprias no d conta da expanso do gasto. Em vista da magnitude desses desequilbrios, a administrao das contas converteu-se na tarefa prioritria dos governos estaduais que, apelando para recursos e expedientes diversos endividamento, aumento de impostos, privatizaes, uso do caixa nico, reduo drstica e necessariamente provisria e insustentvel do gasto, algum socorro emergencial da Unio tratam de, a cada exerccio, fechar contabilmente as contas e manter o funcionamento ordinrio dos servios pblicos.

    Em virtude da gravidade desse quadro e da rigidez da despesa em sua quase totalidade compulsria, como o caso da folha de pessoal, do pagamento da dvida pblica, das vinculaes constitucionais e legais da despesa com educao e sade, da total independncia da despesa executada pelos demais poderes, assim como das limitaes estruturais do crescimento da receita, deve-se reconhecer que nossos governos tm sido habilmente capazes de evitar o colapso fiscal e manter o funcionamento dos servios pblicos. O preo pago por essa situao tem sido a reduo dos investimentos e a prestao de servios pblicos em escala e qualidade decrescentes.

    Os constrangimentos que tornam esse quadro muito rgido obrigaes contradas por fora de legislao constitucional, como o caso da despesa dos outros poderes, ou de legislao federal; das vinculaes de gasto, ou de funes indelegveis do setor pblico; da prestao dos servios de educao, sade e segurana, ou, em outra frente, de oferta de servios bsicos de infraestrutura, dos encargos com a malha viria tornam os ajustes pelo lado da despesa limitados e de execuo necessariamente longa.

    No obstante isso, um trabalho contnuo em busca do aumento da produtividade dos servios, de busca de consenso com relao necessidade de contribuio de todos os Poderes do Estado e de todas as categorias de servidores para a indispensvel melhoria da qualidade do gasto pblico uma das linhas de ao que preciso, paciente e denodadamente, trilhar.

    Nesse sentido, decisivo estabelecer uma condio de dilogo que permita consensualizar, entre todas as foras e agentes polticos e a opinio pblica, uma regra que

    execuo e os desembolsos desses financiamentos continuam, em grande parte, pendentes.

    O desafio do prximo governo ser o de viabilizar o efetivo desembolso desses recursos e a concretizao das obras correspondentes. Entretanto, tais investimentos esto longe de atender ao dficit estadual de servios de coleta e tratamento do esgoto, que continuar no patamar de 70%.

    Ao lado da execuo e ampliao dos investimentos, continua crtica a gesto operacional da companhia, notadamente com relao s perdas fsicas e financeiras no sistema de abastecimento de gua (aproximadamente 40% da gua produzida).

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    vincule o crescimento da despesa pblica ao crescimento da economia e da produtividade. A experincia brasileira j contm dispositivos deste tipo, como a regra de reajuste do salrio mnimo, indicando que este um caminho factvel para a boa gesto dos recursos disponveis. Tambm importante levar a termo a renegociao da dvida estadual, que precisa avanar em relao proposta do Governo Federal, em tramitao no Congresso Nacional. A proposta de manter o servio da dvida em 13% da RLR no impacta o fluxo imediato dos dispndios, no beneficiando as finanas estaduais no curto e mdio prazo, embora reduza o saldo devedor da dvida em 2028. A reforma que interessa ao Rio Grande aquela que reduz o percentual da RLR com o servio da dvida e alongue o prazo de pagamento das prestaes.

    Este conjunto de esforos s ter resultados sustentveisse, porm, pelo lado da receita houver avanos significativos. Nesta frente, sem elevao da carga tributria, os avanos s podem provir do aumento da eficincia da gesto da arrecadao tributria e, com muito maior importncia, e, sobretudo, do crescimento econmico, da diversificao da base produtiva do Estado, especialmente em relao a bens e utilidades destinados ao consumo interno.

    Muito embora os mecanismos de ressarcimento das perdas tributrias decorrentes do peso das exportaes na economia estadual tenham sido extintos, as perdas continuam to expressivas quanto antes e impactando as finanas estaduais. A luta pelo ressarcimento de tais perdas uma agenda econmica e poltica que o Rio Grande e seu governo no podem abandonar.

    Igualmente irrenuncivel a bandeira da Reforma Tributria. As diversas modificaes no sistema tributrio nacional nos ltimos 50 anos resultaram na reduo da participao dos estados na repartio das receitas. Com efeito, no incio da dcada de 1960, os estados tinham participao de 34% da receita tributria disponvel no pas, ndice que foi reduzido para apenas 24,6% em 2012. Tais perdas no foram compensadas pela arrecadao direta dos estados, a despeito do aumento da abrangncia do ICMS a partir de 1988, principalmente nos setores de combustveis, minerais, transportes e comunicaes. O fato indiscutvel que a melhor repartio das receitas tributrias um passo indispensvel para a recuperao mais consistente das finanas dos estados e o estabelecimento de relaes federativas mais equilibradas. Na verdade, todo o pacto federativo que precisa ser redefinido, pois tambm do lado dos encargos e das responsabilidades os estados e, especialmente, os municpios esto sendo cada vez mais sobrecarregados.

    Diante desse contexto, pode-se dizer que o maior desafio da gesto fiscal no Rio Grande do Sul continua sendo o de manter o equilbrio das contas de forma consistente e duradoura, de modo a:

    Recuperar sustentavelmente a capacidade de investimento do Estado e, assim, direcionar maior quantidade de recursos para as demandas mais reprimidas do setor de infraestrutura e de logstica, to importantes para a competitividade da economia gacha;

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    7. OS DESAFIOS DA POLTICA CULTURAL

    a) Uma Nova Poltica Cultural

    No mundo contemporneo, todas as sociedades democrticas com expressivo desenvolvimento econmico e social apresentam intensa vitalidade cultural. A dimenso cultural parte fundamental dos processos sociais que esto na base do dinamismo dessas sociedades. Em primeiro lugar, porque as atividades e as realizaes culturais preservam os elementos mais importantes das experincias e dos valores passados a memria das comunidades humanas. Em segundo lugar, porque a cultura, quando viva, explora novas formas de experincia humana e antecipa novas possibilidades de afirmao individual e coletiva. Por essas duas razes, o acesso continuado s produes culturais indispensvel para a formao de identidades pessoais e coletivas.

    Que papel cabe ao Governo do Estado na promoo e desenvolvimento dos diferentes aspectos e funes da cultura no Rio Grande do Sul? Destaque-se, desde logo, que ao poder pblico no compete substituir e tutelar a sociedade, procurando dirigir, definir e moldar os esforos e os objetivos culturais que os agentes e as instituies culturais devem alcanar. Ao Estado cabe o estmulo refletido no apenas preservao e ao desenvolvimento das tradies, dos valores e acervos culturais da sociedade, mas tambm ao fomento e ao fortalecimento das atividades que a eles do origem, garantindo o pluralismo de perspectivas e a liberdade de expresso e de experimentao em todos os setores da atividade cultural. No o Estado que faz a cultura essa tarefa de toda a sociedade.

    Uma poltica cultural adequada deve partir de um diagnstico preciso tanto dos resultados positivos j alcanados pelos diferentes setores culturais das vrias regies do Estado ao longo das ltimas dcadas, como dos pontos de estagnao e paralisia que marcaram o mesmo perodo e se projetam no presente. Igualmente importante a identificao de novos atores e novos projetos culturaisem gestao ou ainda em seus passos iniciais.

    Nossa experincia acumulada mostra que o procedimento mais adequado para dar consequncia a essa tarefa um dilogo e troca de informaes coma comunidade cultural a realizao do II Congresso Estadual de Cultura, nos moldes de evento similar pela primeira administrao de Carlos Jorge Appel, frente da Secretaria Estadual de Cultura, durante o Governo Pedro Simon.

    Recompor a capacidade de prestao de servios de nosso setor pblico, principalmente nas reas de educao, de sade e de segurana, mas tambm em outras reas, como a da promoo da inovao, da assistncia social e do fomento ao desenvolvimento regional, o que exige recursos, inclusive destinados melhora das remuneraes.

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    Da mesma forma, a interao permanente e o intercmbio ativo de rgos como o Conselho Estadual de Cultura, o CODIC (Conselho dos dirigentes municipais de cultura da Famurs), das secretarias e das instituies municipais de cultura com a Secretaria Estadual de Cultura so indispensveis para manter o fluxo de informaes necessrio para a constante avaliao e correo de rumos das polticas que vierem a ser adotadas para a rea. No Governo Jos Ivo Sartori, merecer especial ateno o levantamento criterioso da situao em que se encontram, em todo o Estado, os diferentes setores da culturatanto no tocante ao grau de profissionalizao das atividades realizadas, como s formas de gesto e financiamento disponveis (ou ausentes) e abrangncia e continuidade dos projetos executados.

    A modernizao da poltica cultural do Estado deve compreender a mudana sobrevinda nos espaos e na produo cultural em razo das novas formas e ferramentas de comunicao que permitem a integrao da produo cultural aos vrios e diversos ambientes de mdia, inclusive a web, a televiso, o cinema. Uma consequncia dessas inovaes pode ser a constituio de um Portal da Cultura Gacha, que funcione como um canal de divulgao e promoo das muitas iniciativas individuais desenvolvidas no Estado.

    Com base nesse trabalho, importante, desde j, elencar as diretrizes mais importantes:

    Conceber as variadas manifestaes e expresses culturais produzidas no RS, nas mais diversas reas, como o patrimnio e que, como tal, deve ser mais amplamente utilizado para a divulgao e o conhecimento do nosso Estado;

    Desenvolver uma gesto de Governo que acolha, valorize e impulsione a produo cultural independente, de forma no atrelada ao Estado, que afirme o setor como cadeia produtiva, geradora de emprego e renda, e que respeite e ressalte a diversidade das manifestaes culturais do RS;

    Realizar, apoiar, articular e promover projetos culturais de grande efeito multiplicador festivais, bienais, feiras, mostras, espetculos, etc. nas vrias expresses da cultura regional, entre as quais a msica, o folclore, as artes plsticas, o cinema e a literatura;

    Utilizar os recursos viabilizados pela Lei de Incentivo Cultura de forma equilibrada, por meio de editais de concorrncia pblica e com ateno diversidade da produo cultural, em estrita obedincia s exigncias legais em relao ao uso dos recursos;

    Revitalizar o projeto de um polo regional de cinema, como forma de bem aproveitar a enorme gerao de talentos que existe no RS nesta rea da produo cultural;

    Apoiar e promover projetos culturais que tenham uma funo educativa no sentido de qualificar a produo cultural, possibilitando que alcancem nveis mais elevados e sejam reconhecidos nacional e internacionalmente;

    Formular polticas culturais para macrorregies do Estado centradas em determinados centros urbanos importantes, os quais possam exercer um papel catalizador para as atividades culturais de localidades menores em seu entorno;

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    Promover cursos de formao tcnica especializada que estimulem a profissionalizao das atividades de indivduos, grupos e associaes, tanto pblicas como privadas. Essa profissionalizao, traduzida em atividades mais qualificadas, indispensvel para a gerao continuada de empregos no setor;

    Estimular projetos culturais em diferentes regies do Estado que possam gradativamente, adquirir estabilidade financeira, tornando-os o mais possvel independentes do patrocnio pblico continuado;

    Promover cursos de treinamento em novas tecnologias com crescente aplicao em projetos das diferentes reas da cultura; Apoiar projetos culturais integrados com os programas e as polticas nas reas da educao e do turismo;

    Organizar calendrios semestrais das atividades para cada setor da cultura, articulando iniciativas pblicas e projetos privados, evitando a competio pelos mesmos pblicos e pelos mesmos recursos;

    Implantar uma Rede Estadual de Cultura, que divulgue e faa circular informaes sobre as atividades das instituies e dos grupos culturais de todo o Rio Grande do Sul, pblicos e privados. E, ao mesmo tempo, estimule intercmbios e projetos em parceria entre grupos e instituies de todo o Estado;