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DEPTº DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAESCOLA POLITÉCNICA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GERENCIAMENTO ETECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO
ÊNFASE EM PRODUÇÃO LIMPA
SALVADOR2008
LIANA DUARTE GULBERG
PLANO DE MANEJO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DAS ILHAS DE TINHARÉ E BOIPEBA - ESTUDO DE CASO
LIANA DUARTE GULBERG
PLANO DE MANEJO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DAS ILHAS DE TINHARÉ E BOIPEBA - ESTUDO DE CASO
Monografia apresentada ao Curso de Especializaçãoem Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo, Universidade Federal da Bahia.
Orientadora: Professora Dra. Josanídia Santana Lima
Salvador - Bahia 2008
ii
SUMÁRIO
RESUMO.........................................................................................................................iv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS..........................................................................vLISTA DE FOTOGRAFIAS.............................................................................................vi
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................1
2. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO................................................................................2
3. ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL........................................................................3
4. PLANO DE MANEJO DE APAs..................................................................................4
4.1 Diagnóstico Sócio-ambiental........................................................................... 5
4.2 Zoneamento Ecológico Econômico..................................................................6
4.3 Plano de Gestão Ambiental............................................................................... 7
5. PLANO DE MANEJO DA APA DAS ILHAS DE TINHARÉ E BOIPEBA....................8
5.1 Características gerais da APA.................................................................................85.2 Criação da APA.......................................................................................................105.3 Plano de Manejo.....................................................................................................11
5.3.1 Caracterização do Meio Físico......................................................................125.3.2 Caracterização do Meio Biótico....................................................................125.3.3 Caracterização do Meio Antrópico...............................................................125.3.4 Diagnóstico Ambiental..................................................................................135.3.5 Zoneamento Ecológico e Econômico..........................................................135.3.6 Plano de Gestão da APA............................................................................. 15
6. ANÁLISE DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DA APA.....................................................186.1 Turismo..............................................................................................................196.2 Uso e Ocupação do Solo..................................................................................216.3 Resíduos Sólidos..............................................................................................266.4 Desmatamento..................................................................................................296.5 Pesca..................................................................................................................316.6 Água/Esgoto......................................................................................................356.7 Fiscalização Ambiental.....................................................................................37
7. CONSELHO GESTOR...............................................................................................388. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................399. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................42
iii
RESUMO
O trabalho foi estruturado em duas partes. Inicialmente, foram apresentadas definições
de diferentes conceitos como Unidades de Conservação, Áreas de Proteção Ambiental
(APAs), Plano de Manejo, e as etapas de sua elaboração e seus diferentes
componentes. Na segunda parte do trabalho foi realizada uma análise crítica do Plano
de Manejo da Área de Proteção Ambiental das Ilhas de Tinharé e Boipeba, aprovado
em 1998. Para tanto, inicialmente foi apresentada a caracterização da área em estudo
e as razões que justificaram a criação desta unidade de conservação pelo poder
público. A seguir foi feita a descrição do processo de elaboração do Plano de Manejo,
apresentando a metodologia utilizada, e um resumo do Zoneamento Ecológico e
Econômico e do Plano de Gestão. Com base no diagnóstico sócio-ambiental do Plano
de Manejo, foram descritos, por temas, os principais conflitos ambientais da APA na
época em que este foi elaborado, comparando com a situação atual, obtida através de
levantamento de informações em visitas à região e consultas a trabalhos técnicos
recentes. Foi realizada uma análise das mudanças ocorridas na área ao longo dos
últimos anos, bem como a influência do Plano de Manejo neste processo.
iv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AMAGA - Associação dos moradores de Garapuá
APA - Área de Proteção Ambiental
APP - Área de Proteção Permanente
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento 2005
CEPRAM – Conselho Estadual do Meio ambiente
CONDER – Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia
CRA – Centro de recursos Ambientais
CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
DUC Diretoria de Gestão de Unidades de Conservação
IBAMA – Instituto brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos
IMA - Instituto do Meio Ambiente
MMA – Ministério do Meio Ambiente
ONGs – Organização Não Governamental
RL - Reservas Legais
RPPN – Reserva Particular do Patrimônio natural
SEMA – Secretaria do Meio Ambiente
SEMARH-Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
SNUC – Sistema Nacional do Meio Ambiente
SEPLANTEC – Secretaria de planejamento Ciência e Tecnologia
UC – Unidade de Conservação
ZAG - Zona Agrícola
ZEA - Zona Extrativa Animal
ZEE – Zoneamento Ecológico Econômico
ZEP I - Zona de Expansão I
ZEP II - Zona de Expansão II
ZEV - Zona Extrativa Vegetal
ZME - Zona de Manejo Especial
ZOM-Zona de Orla Marítima
ZOR - Zona de Ocupação Rarefeita
ZPR-Zona de Proteção Rigorosa
ZPV-Zona de Proteção Visual
ZPVS - Zona de Proteção da Vida Silvestre
v
ZPVE - Zona de Proteção Visual Especial
ZRA - Zona de Recuperação Ambiental
ZT - Zona Turística
ZTE - Zona Turística Especial
ZUC - Zona de Urbanização Controlada
ZUR - Zona de Urbanização Restrita
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura da capa - Coqueiral de Boipeba
Figura 1 - Localização da APA das Ilhas de Tinharé e Boipeba
Figura 2 - Mapa das Ilhas de Tinharé, Boipeba e Cairú.
Figura 3 - Gamboa – ocupação em área de orla
Figura 4 - Ocupação desordenada na 1°praia de Morro de São PauloFigura 5 - Erosão e ocupação desordenada em Morro de São Paulo
Figura 6 - Exploração de areia em Boipeba
Figura 7 - Erosão entre Morro e Gamboa
Figura 8 - Lixão na Ilha de TinharéFigura 9 - Exploração de madeira em Boipeba
Figura 10 - Exploração de madeira em Boipeba
Figura 11 - Estrelas do mar para comercialização
vii
1. INTRODUÇÃO
A idéia de desenvolver esta monografia sobre o tema Plano de Manejo de APAs, surgiu
a partir de alguns questionamentos que tenho feito durante os anos que atuei como
técnica da área ambiental na esfera institucional, inicialmente no Centro de Recursos
Ambientais (CRA), atual Instituto do Meio Ambiente (IMA), em seguida no Ministério
do Meio Ambiente (MMA) e atualmente na Secretaria de Meio Ambiente (SEMA).
Nestes anos trabalhando com gestão de unidades de conservação, e em especial com
APAs, tenho constatado as dificuldades enfrentadas, tanto pelos órgãos ambientais,
como pela sociedade civil, para que os planos de manejo das APAs possam servir
como instrumento efetivo para auxiliar na gestão desta categoria de unidade de
conservação no Brasil.
O fato da elaboração dos Planos de Manejo ser um processo muito dispendioso
financeiramente, além de demandar muito esforço e tempo, dificulta a sua concepção
otimizada. Mesmo quando os órgãos ambientais conseguem produzi-los, muitas vezes
após a sua aprovação legal, os documentos são esquecidos nas gavetas dos órgãos
responsáveis pela gestão ambiental da área. Paralelamente o processo de ocupação
da APA, o uso dos seus recursos naturais e a destruição dos seus ecossistemas ocorre
à revelia, sem considerar as normas e diretrizes existentes no plano.
Existem na literatura poucos estudos que avaliam a eficácia dos planos de manejo das
APAs, como instrumento de gestão, no Brasil, Este fato dificulta a construção de uma
visão crítica sobre a forma como estes documentos são elaborados, bem como uma
avaliação do quanto eles realmente são utilizados para normatizar, ou mesmo orientar,
o processo de ocupação das APAs no nosso país.
A fim de colaborar no preenchimento da lacuna acima, este trabalho teve como
objetivo analisar a influência do Plano de Manejo da APA das Ilhas de Tinharé e
Boipeba no processo de gestão desta unidade de conservação. Para tanto, foi feita
uma avaliação dos principais conflitos ambientas da APA na época em que o Plano de
Manejo foi aprovado, em 1998, comparando com realidade atual. Foi observando até
que ponto o Plano contribuiu para a diminuição destes problemas. O trabalho também
1
buscou analisar e discutir as possíveis falhas no modelo do Plano de Manejo da APA,
que dificultaram a sua efetividade como instrumento de gestão da unidade. Finalmente,
foram feitas sugestões de ações a fim de que o plano venha ser mais respeitado.
Visando facilitar a compreensão da avaliação do Plano de Manejo da APA, o trabalho
abordou a definição de alguns conceitos, os quais serão descritos a seguir.
2. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Na busca por proteger e gerenciar elementos significativos dos ecossistemas, no
Brasil, o Poder Público utiliza como política ambiental a criação de Áreas Protegidas ou
Unidades de Conservação com diferentes extensões e graus de utilização. Esses
territórios passam a ser controlados pelo Poder Público segundo categorias de manejo,
determinadas em função do nível de proteção que se espera para cada uma destas
áreas (MOTTA, 2005).
Segundo Côrte (1997), o termo Unidade de Conservação é definido como “um espaço
territorial delimitado e seus componentes, com características naturais relevantes,
legalmente instituído pelo Poder Público, para a proteção da natureza, com objetivos e
limites definidos, sob regime de administração, ao qual se aplicam garantias
adequadas de proteção”. As unidades de conservação podem ser criadas pelos
governos federal, estadual ou municipal.
No ano de 2000 foi criada a Lei n° 9.985 que instituiu o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação da Natureza – SNUC, através do qual houve uma uniformização e
definição de critérios para o estabelecimento e gestão das unidades de conservação,
viabilizando assim, uma maior proteção dos biomas brasileiros (IBAMA, 2001).
Em conformidade com o SNUC, as Unidades de Conservação (UCs) dividem-se em
dois grupos com características específicas: Unidades de Proteção Integral e as
Unidades de Uso Sustentável. O objetivo básico das UCs Proteção Integral é preservar
a natureza, sendo proibida a ocupação para fins de exploração direta dos recursos
naturais, e permitidas atividades educativas, recreativas e turísticas e aquelas
relacionadas à pesquisa científica. As UCs de Uso Sustentável tem como objetivo
2
compatibilizar a conservação da natureza, protegendo sua biodiversidade com o uso
sustentável de parte dos seus recursos naturais, em quantidades ou com uma
intensidade compatíveis com sua capacidade de renovação. Entre as modalidades de
UCs que fazem parte desta categoria estão as APAs (BRASIL, 2000).
3. ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
As APAs são uma categoria de unidade de conservação criada no Brasil em 1981, que
têm como principal característica o fato de buscar conciliar o desenvolvimento da área
com a sua proteção ambiental. As terras permanecem sob o domínio particular, mas
estão sujeitas, a restrições de uso do solo e dos recursos naturais, de acordo com os
objetivos de proteção da área, através de ações de planejamento e gestão ambiental.
Segundo CÔRTE (1997), esta peculiaridade das APAs introduz um caráter de
complexidade à sua gestão, uma vez que é necessário buscar práticas de
sustentabilidade, que promovam a convivência harmônica do ser humano e seus
sistemas produtivos com o meio ambiente.
O SNUC adota o seguinte conceito para as APAs: “São áreas em geral extensas,
compostas por propriedades públicas e/ou privadas, com certo grau de ocupação
humana, dotadas de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais, especialmente
importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem
como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de
ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais" (IBAMA, 2001).
Uma das dificuldades de viabilizar as APAs ou torná-las efetivas é o excesso de
restrições impostas pela legislação ambiental a uma propriedade particular, o que
acaba por prejudicar as tentativas de busca do equilíbrio entre os objetivos sócio-
econômicos e os ecológicos (CÔRTE, 1997). A autora enfatiza a necessidade de
estabelecer processos de gestão de caráter participativo, compartilhado entre os vários
órgãos governamentais envolvidos, o setor privado e a sociedade civil. Ela sugere que
a gestão das APAs, devido à sua característica de estabelecer ações de conservação
ambiental e não apenas de preservação, não deve ser fundamentada em ações de
controle e fiscalização, mas sim deve priorizar a mediação de conflitos entre uso do
3
solo e a proteção dos recursos naturais, através da adoção de regimes consensuais de
gestão.
Devido às dificuldades dos órgãos ambientais brasileiros em obterem recursos
financeiros, para a desapropriação de terras particulares, visando a criação de
Unidades de Conservação de Proteção Integral, a APA torna-se uma peça fundamental
dentre os instrumentos de proteção ambiental no nosso país. A APA é uma categoria
de UC que apresenta ainda outras vantagens, dentre as quais vale destacar a
possibilidade do exercício da gestão compartilhada entre estado, municípios e
entidades da sociedade civil, como as organizações não governamentais, a iniciativa
privada, instituições de ensino e fóruns regionais, como Comitês de Bacias, Consórcios
Municipais e outros.
Alguns autores consideram a APA como a categoria de UC que melhor se adequa à
constituição dos corredores ecológicos e ao estabelecimento das Zonas de
Amortecimento para as UCs de proteção integral, como previsto na Lei do SNUC. O
fato das Áreas de Preservação Permanente (APPs), como por exemplo, as margens de
cursos de água, áreas com declividades de mais de 45°, topos de morros, áreas de
manguezais, floresta ombrófila densa, etc., estarem protegidas pela legislação
ambiental, introduz o conceito da função social da propriedade, ou seja, o Estado tem o
direito e o dever de impor normas restritivas ao uso dos recursos naturais, em prol dos
interesses da coletividade ( Da SILVA, 2006). A função social impõe, portanto, ao
proprietário de terras a preservação do meio ambiente, nos moldes estabelecidos em
lei, limitando inclusive o exercício do direito de propriedade dos mesmos.
4. PLANO DE MANEJO DE APAS
Uma das ferramentas utilizadas para facilitar a gestão das APAs é a elaboração do
seu Plano de Manejo. Os roteiros metodológicos para a elaboração destes Planos
orientam que os mesmos devem contemplar o diagnostico sócio ambiental, o
zoneamento ecológico econômico, com suas diretrizes e normas para o uso e
ocupação do solo, e o programa de gestão, com as ações a serem implementadas, a
curto, médio e longo prazos, para a mesma.
4
O Plano de Manejo é um instrumento muito importante na implementação de uma APA
e por isso mesmo deve ser elaborado com a participação da população que reside no
seu território, a qual precisa entender as limitações necessárias ao uso e ocupação da
área, para garantir a conservação dos atributos naturais da unidade de conservação. A
participação dos diferentes atores sociais envolvidos na gestão da APA é fundamental,
pois a imposição de limites à liberdade de ação em propriedades privadas,
naturalmente levará a conflitos e à necessidade de se buscar soluções (TORRES &
MESQUITA, 2002). No processo de elaboração do Plano de Manejo, cabe ao Estado,
além do estabelecimento das diretrizes e restrições à ocupação da APA, a definição de
Programas de Ação que considerem novas alternativas sócio-econômicas ou a
introdução de novas técnicas para as atividades já existentes, visando garantir a
sobrevivência digna das populações residentes na área.
Segundo CÔRTE (1997), no processo de planejamento e gestão das APAs tem
ocorrido uma série de dificuldades, que resultam em retardamento na obtenção dos
objetivos de proteção. Muitas vezes, em decorrência desta morosidade do processo, os
resultados podem ser inversos aos esperados, ou seja, enquanto o efetivo
planejamento e a eficiente gestão da APA não acontecem na prática, a demanda por
novos espaços sociais e de produção, aliada aos interesses econômicos continuam a
exercer pressão sobre os espaços protegidos por lei, levando a situações de conflito
entre os objetivos econômicos e ambientais. O que ocorre, muitas vezes, é que apesar
dos trabalhos produzidos no Brasil serem bons tecnicamente, as instituições
administrativas das UCs nem sempre contam com pessoal qualificado e recursos
financeiros suficientes, para colocar em pratica as ações de gestão, monitoramento e
fiscalização.
A seguir serão descritas as principais etapas para a elaboração dos Planos de Manejo
de APAs , bem como seus componentes.
4.1 Diagnóstico Sócio-ambiental
O Diagnóstico Sócio-ambiental apresenta a situação atual da APA, através de estudos
do meio físico, biótico e antrópico, realizados por uma equipe multidisciplinar. Na
5
elaboração do diagnóstico devem ser seguidas as seguintes etapas: levantamento de
fotografias e mapas; pesquisa bibliografia relacionada ao objeto de estudo; estudo e
análise da legislação ambiental e arranjo institucional vigente. Os agentes públicos e
privados, com interesses da área devem ser envolvidos, sendo fundamental que seja
realizado o levantamento dos planos e projetos previstos para a região em todas as
esferas de governo bem como dos segmentos do setor privado (MOTTA, 2005).
Iniciativas de Organizações não Governamentais (ONGs), associações de moradores
e outras representações da sociedade civil atuantes na área também serão
consideradas.
4.2 Zoneamento Ecológico Econômico
O Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) das APAs é um dos instrumentos de
extrema importância no processo de gestão desta categoria de Unidade de
Conservação. Através dele se estabelece a ordenação do território da APA, e as
normas de ocupação e uso do solo e dos recursos naturais. O zoneamento atua
organizando o espaço da unidade em áreas com graus diferenciados de proteção, e
sobre as quais deve ser aplicado conteúdo normativo específico. O ZEE tem como
pressuposto um cenário de desenvolvimento futuro, formulado a partir das
peculiaridades ambientais da região, em sua interação com processos sociais,
culturais, econômicos e políticos (WEGNER, 2000).
A implantação do zoneamento, buscando impedir a degradação ambiental da área, é
um processo mais complicado do que nas unidades de conservação de uso indireto,
onde o governo é proprietário das terras. As principais dificuldades de aplicação do
zoneamento se referem à não aceitação dos seus princípios, por parte da população
moradora ou usuária da APA. Isto leva a atitudes de desrespeito e descumprimento do
zoneamento, pois os interesses pessoais e econômicos tendem a superar os
interesses de proteção. Estas dificuldades apontam para a necessidade da população
participar das discussões de elaboração do ZEE, a fim de se chegar a um consenso
comum (CÔRTE, 1997).
6
Existem questionamentos sobre a real efetividade do zoneamento como instrumento
normativo sobre o uso do solo em APAs. O zoneamento é um instrumento de alto custo
financeiro, comparativamente ao montante de dinheiro destinado à gestão da unidade.
Caso o zoneamento esteja desatualizado, ou seja, de não ter acompanhado a dinâmica
de crescimento e desenvolvimento da região, torna-se um elemento complicador, pois,
queira ou não, ele é o instrumento que normatiza a ocupação da área. Segundo
SCHUBART (1992), não adianta elaborar, a qualquer custo, um zoneamento de alta
qualidade técnica, se não existe o apoio político para implementá-lo e uma equipe
técnica capaz de não só fazê-lo cumprir, mas também de atualizar os estudos e
revisões quando se fizerem necessários. É preciso que se tenha em mente que o
zoneamento não é um processo estanque, deve ser flexível e modificado de acordo
com os novos conhecimentos que vão sendo adquiridos ao longo dos anos. Como
qualquer instrumento de planejamento, o zoneamento ecológico-econômico é um
processo dinâmico. Não se trata de congelar o conhecimento em mapas definitivos,
que limitem quaisquer oportunidades futuras de desenvolvimento.
4.3 Plano de Gestão Ambiental
O Plano de Gestão Ambiental tem como objetivo estabelecer diretrizes e orientar
programas, projetos e ações que venham a ser executadas pelos diferentes segmentos
da sociedade e instituições que atuam de forma direta ou indireta na APA. É um
instrumento que se baseia nos princípios de planejamento participativo, com
responsabilidades compartilhadas, devendo ser detalhado através de planos operativos
ou outros instrumentos de planejamento que definam as atuações específicas de cada
um dos participantes da gestão da unidade de conservação (MORI, 1998). Para
viabilizar a participação da sociedade no processo de gestão é necessária a instituição
de um órgão, com a função de conduzir a gestão da APA. Na literatura analisada
aparecem os termos Comitê de Gestão e Conselho Gestor, para definir a mesma
organização. Este comitê é formado por representantes dos agentes públicos, privados
e da sociedade civil atuantes na região, que coordenam e executam a implementação
das ações contidas no plano de gestão da APA. (IBAMA, 1996).
7
5. PLANO DE MANEJO DA APA DAS ILHAS DE TINHARÉ E BOIPEBA
5.1 Características gerais da APA
A APA das ilhas de Tinharé e Boipeba está situada no litoral do baixo sul da Bahia no
município insular de Cairú, cuja sede se encontra na ilha de Cairú, que não faz parte da
área da APA (figura 1).
Figura 1 - Localização da APA das Ilhas de Tinharé e Boipeba
Este arquipélago e delimitado pela desembocadura do Rio dos Patos e o Canal de
Taperoá, estando compreendida entre os paralelos 13°22’ e 13°40’ S e os meridianos
38°51’ e 39°03’ W.
A APA possui uma área de 43.300 ha e engloba as ilhas de Tinharé e Boipeba, além
de inúmeras ilhas menores, entre as quais as ilhas da Aranha, Coroinha, Matinha,
Papagaio e Manguinhos. Os distritos que compõem as ilhas da APA são: Galeão e
Gamboa, na Ilha de Tinharé, e Velha Boipeba, na Ilha de Boipeba. Além das sedes
distritais, destacam-se na APA vilas como Morro de São Paulo, Garapuá, Cova da
Onça, Moreré e Canavieiras (figura 2).8
Figura 2 – Mapa das Ilhas de Tinharé, Boipeba e Cairú.
A área da APA apresenta um grande ecossistema estuarino, que envolve suas ilhas,
formado por pequenos canais e ilhotas de morros, barras e recifes, assentados em
depósitos costeiros compostos por arenitos, areias e mangues, canais e braços de mar,
entrecortados por ilhéus e inúmeras micro-bacias hidrográficas, compondo um
ecossistema típico do litoral brasileiro. A região apresenta manguezais de grande
potencial pesqueiro, associado a importantes remanescentes da Mata atlântica e rios
navegáveis, formando um complexo que abriga muitas espécies da fauna e da flora
(BAHIA, 1998).
A renda da população local é fundamentada no turismo e na pesca de peixes e
camarão, além da mariscagem, da cultura do coco, da piaçava e do dendê. Algumas 9
famílias ainda vivem exclusivamente da agricultura de subsistência. Locais como Morro
de São Paulo, Boipeba, Gamboa e Garapuá, e suas praias paradisíacas, que são as
grandes atrações da região, sofrem com a grande demanda turística, por estarem em
área de fácil acesso, via fluvial ou marítima.
5.2 Criação da APA
A Área de Proteção Ambiental Estadual das Ilhas de Tinharé e Boipeba foi criada em
05/06/1992, através do Decreto Estadual n° 1240 e segundo BAHIA (1998), sua
implantação teve como principais objetivos:
• Estimular o desenvolvimento regional;
• Ordenar as atividades econômicas de turismo ecológico, sociais e humanas,
observando as diretrizes que orientam o desenvolvimento sustentado;
• Incentivar o uso sustentável dos recursos naturais;
• Criar mecanismos visando reverter o processo acelerado de descaracterização
ambiental dos povoados das ilhas;
• Preservar os manguezais, os recursos naturais das áreas de restinga e de
remanescentes de Mata Atlântica, bem como o relevante patrimônio
histórico/ecológico;
• Incentivar ações de educação ambiental para desenvolver a consciência
ecológica nas gerações atuais e futuras;
• Proteger paisagens, belezas cênicas e os recursos hídricos;
• Propiciar recreação e lazer
O primeiro documento elaborado para atingir tais objetivos foi o Plano de Manejo da
APA das Ilhas de Tinharé e Boipeba, aprovado através da Resolução CEPRAM nº.
1.692 de 19 de junho de 1998, buscando garantir o desenvolvimento harmônico e
disciplinado dos povoados e vilas, a exemplo do Morro de São Paulo, Gamboa,
Garapuá e Velha Boipeba, contribuindo para controlar o processo acelerado de
descaracterização ambiental que vem ocorrendo na APA.
10
Atualmente a APA é coordenada pela Secretaria de Meio Ambiente do Governo da
Bahia (SEMA), antiga Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH),
através da Diretoria de Gestão de Unidades de Conservação (DUC). Em vista das
alterações sofridas na região desde a elaboração do Plano de Manejo, no ano de 2007,
foi realizada a revisão e atualização do zoneamento ecológico econômico do referido
Plano, com financiamento do Projeto Corredores Ecológicos, coordenado pela SEMA.
Apesar da aprovação do seu Plano de Manejo, a APA continua sofrendo as
conseqüências do aumento acelerado do turismo de massa na região. Locais como
Morro de São Paulo, Boipeba, Gamboa, Garapuá e Moreré, estão passando por um
processo de expansão urbana que muitas vezes não respeita as diretrizes de
ocupação determinadas pelo plano. A pressão para a instalação de complexos
turísticos, como resorts e condomínios privativos, muitas vezes em locais não
permitidos pelas normas do plano, tornou-se um problema muito grave, que precisa ser
avaliado e controlado (MMA, 2004).
5.3. Plano de Manejo
A elaboração do Plano de Manejo da APA de Tinharé e Boipeba ficou a cargo da
Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER), através de
um convênio com o CRA, atual IMA, firmado em outubro de 1992, constando das
seguintes etapas:
• Relatórios e cartas temáticas;
• Diagnóstico ambiental;
• Zoneamento ecológico econômico;
• Plano de gestão.
A metodologia se baseou nos estudos específicos dos meios físico, biótico e antrópico,
organizados em mapas temáticos básicos, resultando no Diagnóstico Ambiental da
APA.
11
5.3.1 Caracterização do Meio Físico
Os estudos do meio físico foram realizados pela Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais (CPRM) e tiveram como objetivo obter o conhecimento aprimorado do espaço
físico da APA e áreas do entorno, em termos de vulnerabilidade, a fim de determinar
sua tolerância às intervenções antrópicas, além de analisar os processos geológicos
atuantes na região. Para a realização dos levantamentos propostos, foram utilizadas
bases cartográficas e imagens de sensores remotos. Paralelamente, foi realizado o
levantamento, análise, avaliação e integração de dados bibliográficos da área, através
de relatórios e artigos técnicos. Foram feitos reconhecimentos de campo, incluindo
levantamentos geológicos, geomorfológicos, pedológicos hidrogeológicos,
climatológicos e hidrológicos, objetivando a identificação das características físicas da
área da APA, além de serem avaliados os processos ativos naturais na região, bem
como a vulnerabilidade dos aqüíferos da APA e as áreas com potencial mineral.
5.3.2 Caracterização do Meio Biótico
O meio biótico foi estudado por uma equipe de consultores a partir da análise de
mapas, fotografias aéreas obtidas em sobrevôo de 1993 e imagens de satélite Landsat
ML5. Foram escolhidas aleatoriamente estações piloto, as quais deram uma visão
global de toda a área de influência direta e indireta da APA. Os pesquisadores
realizaram trabalhos de campo, nos quais percorreram diversas trilhas existentes na
área, para fazer a coleta de espécimes representantes da flora, que se encontravam
em condições fenológicas para estudo, além da coleta de indivíduos para a
identificação de espécies da fauna terrestre.
5.3.3 Caracterização do Meio Antrópico
O diagnóstico do meio antrópico foi elaborado pelas equipes técnicas da CONDER e
CRA. Os profissionais realizaram levantamentos na Prefeitura de Cairú, aplicação de
questionários e entrevistas com lideranças e representantes das populações locais,
produtores rurais e empresários do setor de serviços e turismo. Foram utilizadas as
12
informações obtidas da observação direta durante visitas técnicas, alem de fotografias,
consulta a bibliografia específica e informações complementares de órgãos públicos
(BAHIA, 1998).
5.3.4 Diagnóstico Ambiental
O diagnóstico ambiental propiciou o conhecimento da área, apontando seus recursos
naturais, fragilidades e potencialidades. Segundo o Plano de Manejo foram
identificados os ambientes mais conservados, os conflitos presentes na área e os que
interferiam nas atividades produtivas, bem como as principais áreas de risco ambiental
e os recursos naturais e histórico/culturais que estavam se perdendo. A partir daí foi
possível elaborar uma proposta de uso e ocupação do solo, através do zoneamento
ecológico econômico da APA.
5.3.5 Zoneamento Ecológico e Econômico
Conforme consta no Plano de Manejo, a metodologia para definição do Zoneamento e
suas diretrizes e normas de ocupação foi a seguinte:
• Cruzamento das informações dos mapas temáticos;
• Avaliação dos diversos ecossistemas que compõem a APA, em função da suas
fragilidades e diversidades;
• Síntese do diagnóstico ambiental;
• Definição das zonas;
• Delineamento de diretrizes e normas.
As zonas foram classificadas em 4 categorias: preservação, conservação, uso e
conflito ambiental, utilizando a metodologia de classificação por múltiplos critérios,
denominada Combinação Linear Ponderada, método também utilizado nas Avaliações
de Impacto Ambiental – AIA. Neste método são criados indicadores de fragilidade,
como declividade, existência de corpos hídricos, nível de conservação da vegetação, 13
os quais recebem valores numéricos e peso de importância, para, a partir daí, se
chegar à seguinte classificação: Fragilidade Alta, Moderada, Baixa e Conflito Ambiental
(BAHIA, 1998).
Fragilidade Alta
Categoria de Áreas de Preservação: tipo de categoria onde são mínimas as
interferências humanas. Incluem-se também as áreas de reservas ecológicas e áreas
de preservação permanente definidas por lei. No Plano de Manejo de Tinharé e
Boipeba esta categoria é composta pelas seguintes zonas:
• Zona de Proteção Rigorosa (ZPR),
• Zona de Proteção da Vida Silvestre (ZPVS).
Fragilidade Moderada
Categoria de Áreas de Conservação: Essas zonas de conservação aceitam influência
antrópica com baixo potencial de impacto e que sejam controladas, sendo que cada
uma apresenta seus próprios usos e recomendações. No Plano de Manejo esta
categoria é composta pelas seguintes zonas:
• Zona de Manejo Especial (ZME),
• Zona de Orla Marítima (ZOM),
• Zona de Proteção Visual (ZPV),
• Zona de Proteção Visual Especial (ZPVE),
• Zona de Ocupação Rarefeita (ZOR),
• Zona de Urbanização Restrita (ZUR),
• Zona Extrativa Vegetal (ZEV),
• Zona Extrativa Animal (ZEA).
Fragilidade Baixa
14
Categoria de Áreas de Uso: submetidas à legislação ambiental e urbana, são áreas
destinadas ao desenvolvimento econômico do local. Nesta categoria estão as áreas
que requerem medidas de controle ambiental, por estarem sujeitas aos impactos
causados pela ação humana, sem que, no entanto haja alterações substanciais na sua
ação dinâmica. No Plano de Manejo esta categoria é composta pelas seguintes zonas:
• Zona Turística (ZT),
• Zona Turística Especial (ZTE),
• Zona de Urbanização Controlada (ZUC),
• Zona de Expansão I (ZEP I),
• Zona de Expansão II (ZEP II),
• Zona Agrícola (ZAG).
Conflito Ambiental
Categoria de Áreas de Recuperação: Engloba as áreas consideradas de conflito
ambiental. Corresponde às áreas com atuação de processos erosivos decorrentes de
fatores naturais e/ou da ação antrópica. No Plano de Manejo esta categoria é
composta pela seguinte zona:
• Zona de Recuperação Ambiental (ZRA).
No zoneamento proposto, para cada zona foram identificados os usos permitidos e as
restrições à sua ocupação, bem como as recomendações de programas e planos a
serem elaborados para elas. Estas normas foram organizadas em quadros resumos, os
quais apresentavam também uma descrição e caracterização sucinta das áreas da
APA, que faziam parte de cada zona.
5.3.6 Plano de Gestão da APA
Na terceira parte do Plano de Manejo são definidas as propostas de programas e
ações a serem desenvolvidos na APA, baseando-se nas informações contidas no
diagnóstico e nas diretrizes estabelecidas no zoneamento. Esta parte do documento foi 15
denominada “Plano de Manejo”, no entanto, teria sido mais apropriado que a mesma
fosse intitulada “Plano de Gestão”.
Para a elaboração do Plano de Gestão, foram consideradas as fragilidades e
diversidades ambientais da APA e o seu potencial econômico, visando dotar o Poder
Público de informações técnicas, para a tomada de decisões.
O item “Plano de Manejo” é composto por quadros resumos onde são indicados os
programas de ações, por áreas temáticas, que deveriam ser desenvolvidos na APA,
compatíveis com as diretrizes estabelecidas no zoneamento. Os quadros
apresentavam também o prazo para a realização das atividades: curto (1 ano), médio
(de 1 a 5 anos) e longo (mais de cinco anos). Além disto, indicavam apenas a quem
competia tal atribuição: poder público (municipal, estadual ou federal), setor privado,
organizações comunitárias e ONGs, sem especificar quais eram estas instituições.
Com o objetivo de facilitar a compreensão da análise do Plano de Manejo, apresenta-
se a seguir um pequeno resumo dos programas propostos no Plano:
Programas de Ações de Defesa - Atividades direcionadas a recursos naturais sob
legislação:
• Enriquecimento das bordas de diferentes ecossistemas da APA, com espécies
nativas.
• Criação e delimitação de outras categorias de unidades de conservação, dentro
do território da APA, principalmente nas ZPR e ZPVS, como parques, reservas
ecológicas e RPPNs para fins educacionais, científicos e ecoturísticos.
• Estudos da distribuição, composição e dinâmica da biota dos recifes de corais
existentes na APA.
• Implantação de corredores ligando diversos fragmentos com vistas a
manutenção da fauna.
• Levantamentos florísticos e estruturais relacionados à história de perturbações
da área, incluindo caracterização das espécies e elaboração de chaves de
campo para identificação e monitoramento posterior.
• Preservação dos sítios Paleontológicos locais.16
Programas de Ações de Conservação:
• Monitoramento dos ecossistemas e espécies exploradas em Matas ciliares;
restingas de brejos; dunas; campos litorâneos e remanescentes de matas.
• Enriquecimento (recuperação cobertura vegetal) de áreas degradadas.
• Desenvolvimentos florestais em áreas degradadas.
• Manejo sustentável de manguezais: avaliação produtividade, delimitação de
faixas de proteção, cadastramento de comunidades que praticam atividades
extrativistas, apoio a marisqueiras, caracterização e avaliação da flora e fauna.
• Manejo sustentável nas áreas de piaçava: Avaliação da produtividade e
Cadastramento de comunidades que praticam a atividade.
• Recuperação do patrimônio histórico-cultural.
• Estudos para identificação de usos adequados na Zona de Manejo Especial –
ZME.
• Programa de contenção de encostas e controle de erosão em áreas de risco:
Morro de São Paulo, falésias próximas a Gamboa e caminhos e estradas
vicinais.
Programas de Ações de Controle e Desenvolvimento:
• Definição da capacidade suporte dos principais recursos naturais de
subsistência (pescado, marisco).
• Programa de desenvolvimento agrícola.
• Programa incentivo à pesca.
• Incentivo à construção naval.
• Incentivos dos estudos e pesquisa de fontes alternativas descentralizadas de
energia (solar e eólica).
• Ordenamento do uso do solo.
• Aumento da malha hidroviária (principal sistema de circulação e comunicação).
• Desenvolvimento turístico (local e regional).
• Programa de saneamento básico.
17
• Implantação de sistemas de coleta, reciclagem e destino final de resíduos
sólidos.
• Desenvolvimento do artesanato (local e regional).
• Implantação sistema licenciamento conjunto.
• Modernização administrativa municipal e reciclagem técnica.
• Controle e fiscalização da APA.
• Convênios de cooperação técnica e captação de recursos.
Programas de Ações de Educação Ambiental
• Programa de educação ambiental através da divulgação da legislação ambiental
e do zoneamento da APA.
6. ANÁLISE DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DA APA
Através da comparação das informações do diagnóstico ambiental do Plano de
Manejo, o qual retrata a situação da APA em 1998, com os dados do diagnóstico
atualizado, foi realizada uma análise das mudanças ocorridas na área ao longo dos
últimos anos, bem como a influência do Plano de Manejo neste processo.
Para compor o diagnóstico ambiental atualizado da APA foram realizadas consultas a
trabalhos técnicos recentes sobre a região, como o Plano de Desenvolvimento
Estratégico do Município de Cairú (BID 2005) e o documento final da Revisão do
Zoneamento Ambiental da APA, realizado em 2007. Foram utilizados também trabalhos
científicos realizados na APA, obtidos através de pesquisa eletrônica em sites como o
da Fundação Ondazul, Associação de Moradores e Amigos de Boipeba, Projeto de
Gestão dos Recursos Ambientais do Município de Cairú, etc.
Devido ao fato de trabalhar na SEMA, no Projeto Corredores Ecológicos, no ano de
2007 tive a oportunidade de participar do processo de avaliação da atualização do
zoneamento da APA. Para tanto, realizei três visitas técnicas à área, onde foi feita a
checagem de algumas informações que subsidiaram a elaboração do diagnóstico
ambiental atualizado. Foram realizadas também entrevistas com pesquisadores da 18
Fundação Ondazul e com técnicos da SEMA, que participaram do processo de
elaboração do Plano de Manejo da APA e da gestão da mesma desde a sua criação.
A seguir são descritos os principais conflitos ambientais da APA por temas, fazendo
uma comparação da situação na época em que o plano foi elaborado, com a situação
atual.
6.1 Turismo
Situação na época da elaboração do Plano de Manejo
Até a década de 70 o arquipélago de Tinharé era visitado apenas por poucos turistas,
alguns veranistas e aventureiros hippies. Na década de 80 a publicidade atraiu a
atenção de turistas nacionais e estrangeiros, porém de forma incipiente.
A partir dos anos 90, o fluxo turístico para as ilhas que compõem a APA aumentou
significativamente, principalmente para visitar os povoados de Morro de São Paulo e
Boipeba. No entanto não ocorreram investimentos essenciais na infra-estrutura destes
vilarejos e nem o planejamento para a chegada do turismo de massa (FUNDAÇÃO
ONDAZUL, 2003). A exploração e o crescimento do turismo nas ilhas, trouxeram
grande impacto para a estrutura urbana de algumas localidades, cuja infra-estrutura
existente não suportava a crescente demanda de períodos de alta estação, com graves
conseqüências para o meio ambiente local. Esses problemas estavam ligados,
sobretudo à inexistência de saneamento básico e a deficiência dos serviços de energia,
limpeza urbana, saúde e educação. Principalmente em Morro, o turismo já vinha
causando uma descaracterização ambiental urbana intensa, devido em parte à falta de
infra-estrutura de apoio ao turismo e ausência de fiscalização pelos órgãos ambientais.
Segundo o Plano, o turismo levou ao aumento do numero de trabalhadores que
realizavam atividades de pedreiros, arrumadores e carregadores, guias turísticos,
pequenos comerciantes, empreiteiros, etc., os quais não eram contratados
formalmente, mas que eram responsáveis pelo sustento de numerosas famílias. A
oferta destes serviços aumentava nos meses de verão, em função do aumento no fluxo
19
de turistas, mas diminuía muito na baixa estação, acarretando descontrole sobre a
qualidade de vida da população mais carente envolvida diretamente nesta atividade
(BAHIA, 1998).
Situação atual
Nos últimos anos o aumento do turismo de massa contribuiu para o agravamento de
alguns problemas já existentes na APA, dentre eles o desmatamento, a sobre-pesca, a
carência de infra-estrutura, a ocupação desordenada do solo, a especulação
imobiliária, a descaracterização da cultura local, a prostituição, assédios sexuais, furtos
e roubos, drogas e o acúmulo do lixo.
Apesar do Plano de Manejo de Tinharé e Boipeba ter sido aprovado em 1998, e nele
constarem normas e restrições para ordenar o turismo no arquipélago, o que se
observou foi que as mesmas não foram levadas em consideração. Locais como Morro
de São Paulo, Boipeba, Gamboa, Garapuá e Moreré, com suas belas praias,
continuaram sofrendo as conseqüências do aumento acelerado do turismo de massa
na região.
No plano de manejo estavam previstas ações visando a regulamentação de
construções e de ordenamento dos equipamentos de apoio ao turismo, mas o que se
observou foi que desde a sua elaboração estas ações não foram desenvolvidas e,
portanto o plano de manejo não contribuiu para que o turismo ocorresse de forma mais
equilibrada. Com relação às normas do zoneamento, se observou que pela falta de
fiscalização, a construção de pousadas e hotéis não seguiram as diretrizes
estabelecidas ocorrendo a invasão de manguezais, margens de rios e o desmatamento
de áreas para a implantação de empreendimentos. Este fato acabou por agravar
problemas relacionados com a erosão. Um exemplo desta situação foi o desmatamento
ocorrido ao redor da lagoa do Morro, que provocou o assoreamento e a poluição da
mesma. Outro exemplo foi a ocupação dentro da vila do Morro em zona de orla, com
lotes inferiores aos padrões estabelecidos para esta atividade que eram de 1.200 m².
Observou-se também a construção de estabelecimentos comerciais como lojas,
mercados, bares e restaurantes, na orla marítima da 2ª e 3ª praias, sendo que estes
estão localizados praticamente na areia!
20
A descaracterização cultural de algumas localidades das ilhas que ocorreu nos últimos
anos é outra conseqüência da ocupação desordenada que está ocorrendo como
conseqüência do aumento do turismo. Na Vila de Morro de São Paulo, não se pode
mais identificar a cultura local do passado, pois os antigos habitantes da ilha,
principalmente pescadores venderam suas casas na vila e se transferiram para bairros
mais afastados ao sul do povoado como a região denominada Zimbo. A área central da
vila está invadida por lojas, restaurantes, pousadas e outros estabelecimentos
comerciais, que lembram mais um pequeno “Shopping Center”, do que uma vila de
pescadores.
A vila de Velha Boipeba, localidade que mais recebe turistas depois de Morro de São
Paulo, não teve seus valores culturais, belezas naturais e processo de urbanização tão
afetados negativamente, devido ao processo de conscientização e educação ambiental
desenvolvido pelas associações locais. No entanto, em Moreré, outra vila de Boipeba
bastante visitada por turistas, a população vem sofrendo rapidamente mudanças na
sua cultura e urbanização e muitos pescadores estão deixando de pescar para
fretarem seus barcos para passeios turísticos (MRS, 2007).
Observa-se também que muitas pessoas foram atraídas ao arquipélago com a
expectativa de conseguir emprego. Contudo o mercado não consegue absorver toda a
oferta de trabalhadores disponíveis, principalmente durante a baixa temporada,
alargando os bolsões de pobreza nas periferias das principais localidades.
O Plano de Manejo previa ações para a criação de um programa de ordenamento dos
equipamentos de apoio ao turismo, bem como o incentivo às atividades de turismo
ecológico. Infelizmente não foi constatada nenhuma ação neste sentido.
6.2 Uso e ocupação do solo
Situação na época da elaboração do Plano de Manejo
A estrutura fundiária se caracterizava por grandes propriedades que praticavam cultura
extrativista, as quais foram se modificando com o advento do turismo. Houve um maior
21
parcelamento do solo próximo ao litoral e às áreas urbanas, onde a compra de terras
por estrangeiros e empresários brasileiros visava investimentos futuros voltados ao
turismo.
Entre as conseqüências do aumento do turismo ocorreu o desordenamento do uso do
solo, a descaracterização da tipologia habitacional pela mudança de uso ( através da
construção de pousadas, bares e restaurantes), ocupação de sítios históricos e de
áreas de risco (encostas), construções em áreas de APP (figura 3), loteamentos
clandestinos, invasões, etc.
Figura 3 - Gamboa – ocupação em área de orla
(Foto: Ruy Tolentino)
Na vila de Velha Boipeba, havia ocupação urbana bastante desordenada próximo ao
ancoradouro. Observavam-se construções que avançavam sobre o rio, dificultando o
acesso de pedestres em direção a praia. Estas habitações não respeitavam as faixas
de proteção estabelecidas por lei e em alguns casos avançaram em balanço sobre o
rio, possibilitando a atracação direta dos barcos nas casas. Na época, a Prefeitura
considerou esta área como de conflito e de prioridade de intervenção.
Nos povoados como Morro, Velha Boipeba e Gamboa a expansão urbana já ocorria em
direção ao interior da ilha, onde surgiam construções recentes e a implantação de
loteamentos. Estes empreendimentos levavam a um processo de parcelamento do
solo, os quais não apresentavam nenhum registro na Prefeitura. Observava-se que as
22
áreas de uso rural eram desmembradas das fazendas, para serem transformadas em
uso urbano.
Na Ilha de Tinharé, próximo à desembocadura do Rio Grande, em área de manguezal
de águas rasas, foi construído um canal artificial, feito por drenagem, para dar acesso
ao estaleiro de propriedade da fazenda Pontal, onde foi implantado um ancoradouro
para grandes embarcações tipo balsa. O Plano de Manejo apontou que havia
implicações legais para esta construção, por ter sido implantada em área de APP,
causando impactos ao meio físico e biótico locais.
Situação atual
A falta de ordenamento urbano continua sendo um dos principais problemas da APA.
Neste processo de ocupação não são consideradas as normas existentes no
zoneamento do Plano de Manejo. Hotéis, pousadas e outras construções dificilmente
respeitam as condições ambientais, invadindo manguezais, rios e desmatando áreas
impróprias, o que acaba por agravar problemas relacionados com a erosão. O fato de
não haver fiscalização sistemática contribui para o agravamento desta situação.
Durante visitas técnicas ocorridas no ano de 2007, foram constatadas as seguintes
irregularidades:
• Vários empreendimentos turísticos e comerciais continuam a ser construídos em
locais proibidos na zona de orla, a exemplo da primeira, segunda e terceiras
praias em Morro de São Paulo (figuras 4 e 5). Constatou-se que as obras são
iniciadas sem que seja solicitada a anuência ambiental junto à Secretaria de
Meio Ambiente do Estado. Em muitos casos após a conclusão da mesma é que
o proprietário entra com processo de licenciamento, ou então, como
conseqüência de denúncias.
23
Figura 4 - Ocupação desordenada nas praias de Morro de São Paulo
(Foto: Ruy Tolentino)
Figura 5 - Erosão e ocupação desordenada em Morro de São Paulo(Foto: Ruy Tolentino).
• Ocupação do solo em áreas de elevada declividade (Área de Preservação
Permanente), principalmente em Morro de São Paulo onde, na encosta que fica
compreendida entre Gamboa e Morro, observou-se o início de um
24
empreendimento tipo condomínio, cujos lotes já estão sendo cercados e
inclusive já há a construção de algumas casas.
• Em Morro, no bairro Nossa Senhora da Luz, parte do caminho que liga o bairro à
região central da vila de Morro está sofrendo um intenso processo erosivo, com
surgimento de voçorocas que já estão dificultando a passagem das pessoas e
até causando riscos de desabamento das residências que estão situadas
próximo ao local.
• Retirada intensa de areia, para ser utilizada na construção civil, nas Ilhas de
Tinharé e Boipeba (figura 6). Em uma região bastante próxima à encosta onde
estão localizadas as falésias entre Gamboa e Morro de São Paulo, existem
crateras com 4 m de altura e com aproximadamente 50 m a 100 m de diâmetro.
Os processos erosivos observados nestas encostas necessitam de estudos
específicos para implantação de infra-estruturas de contenção.
Figura 6 – Exploração de areia em Boipeba.(Foto: Ruy Tolentino).
25
• Foi constatada ocupação desordenada nas áreas de mangue próximas às vilas
de Gamboa, Garapuá e Velha Boipeba, além do desmatamento da área para a
construção de habitações, contribuindo para a poluição dos rios, uma vez que o
lixo e o esgoto das residências são jogados diretamente nos mesmos. Estas
construções em aterramento de mangue ou praticamente dentro da água, estão
levando ao assoreamento do leito dos rios.
O Plano de Manejo da APA contemplava um Programa de contenção de encostas e
controle de erosão em áreas de risco para os seguintes locais: Morro de São Paulo,
falésias próximas a Gamboa (figura 7) e nos caminhos e estradas vicinais dos
povoados. Até o presente momento nenhum trabalho foi desenvolvido visando
implementar este programa
Figura 7 – Erosão entre Morro e Gamboa
6.3 Resíduos sólidos
Situação na época da elaboração do Plano de Manejo
Na época em que o plano foi elaborado, não havia locais apropriados para a disposição
do lixo gerado nos povoados das ilhas. A coleta do lixo era realizada pela Prefeitura
26
através de um trator, que depositava o mesmo, sem nenhum tratamento, nos campos e
baixios, havendo o risco de contaminação dos lençóis freáticos.
Segundo o diagnóstico do Plano, a qualidade das águas subterrâneas na época era
boa, havendo, no entanto, nos aqüíferos estudados a presença de agentes
contaminantes. O fato dos solos possuírem textura arenosa e serem muito permeáveis,
além da ocorrência de lençol freático próximo à superfície, principalmente na estação
chuvosa, facilitava a contaminação dos mesmos.
O Plano de Manejo sugeria a avaliação do problema do lixo e a escolha de um local
apropriado para depositá-lo, já que a tendência seria haver um aumento acelerado do
seu volume e conseqüentemente incremento de sua atuação como agente
contaminante dos mananciais. Para diminuir o problema, o plano também sugeria a
orientação e educação das comunidades, visando separar o material reciclável inerte e
o aproveitamento do material orgânico.
O plano de Manejo levantou a questão do lixo plástico trazido pelas correntes
marítimas, o qual já poluía as praias da APA. Infelizmente este problema só poderia ser
reduzido através de medidas nas fontes geradoras, uma vez que este lixo era
proveniente de outros locais.
Situação Atual
Durante visitas técnicas, observou-se que atualmente ocorre o lançamento de lixo em
áreas de APP, como manguezais, encostas e próximo aos córregos, e que não há
nenhuma ação das instituições responsáveis pela gestão e fiscalização ambiental da
APA no sentido de coibir tais ações. O problema do local de armazenagem do lixo até
o momento da sua coleta nos vilarejos, continua sem solução. O lixo se acumula
durante horas em alguns pontos impróprios, atraindo animais transmissores de
doenças.
O sistema de coleta de lixo dos principais núcleos urbanos como Morro de São Paulo e
a Vila de Boipeba continuam sendo realizado utilizando-se tratores. A quantidade de
lixo gerada nos principais vilarejos visitados por turistas é muito grande. Em Morro de
27
São Paulo, o trator chega a transportar em torno de 18 a 21 toneladas nos dias mais
movimentados. Em um ano a produção de lixo, só em Morro, é de aproximadamente
3.610 toneladas.
O destino final dos resíduos sólidos continua sendo um dos principais problemas da
APA, requerendo soluções imediatas. O lixo gerado pela população residente e pelos
visitantes continua sendo despejado em áreas abertas, na maioria das vezes próximas
ao povoado de origem. Apenas Morro de São Paulo, Gamboa e Garapuá despejam
seus respectivos resíduos sólidos em um aterro comum, o qual já atinge uma
profundidade de 3 metros. Segundo MRS (2007), a aproximadamente 100 m do lixão
de Morro-Gamboa-Garapuá (figura 8), existe um afloramento de água. Os funcionários
da Prefeitura suspeitam que o lençol freático localizado abaixo do lixão já esteja
contaminado. Situação semelhante é a do lixão de Boipeba e Moreré. Foi relatado por
moradores que na época das chuvas o chorume escorre para um córrego localizado a
poucos metros do lixão.
Figura 8 - Lixão na Ilha de Tinharé (Foto: Ruy Tolentino).
Entre os programas previstos no plano de manejo estavam indicadas ações visando a
melhoria dos sistemas de coleta e destino final de resíduos sólidos gerados nos
vilarejos, bem como o incentivo à reciclagem de materiais. O plano indicava também
ações visando o monitoramento da qualidade das águas subterrâneas. Entretanto não
28
foi constatada nenhuma pesquisa para avaliar os efeitos negativos dos lixões e aterros
sobre os lençóis freáticos da região.
6.4 Desmatamento
Situação na época da elaboração do Plano de Manejo
Na época em que o Plano foi elaborado, grande parte da cobertura vegetal primitiva do
território da APA já se encontrava muito reduzida e modificada, devido às ações
antrópicas que ocorreram na área, ao longo de décadas, tais como a exploração de
madeira e o desmatamento para a implantação de agricultura e pecuária extensiva.
Segundo o Plano, na década de 90, o turismo desordenado, principalmente em Morro
de São Paulo, também estava contribuindo para a depredação da vegetação natural da
APA. Nos manguezais, por exemplo, ocorriam desmatamento e aterramento do
mangue para a ocupação urbana e o uso indiscriminado de madeira para construção e
para uso como lenha. Já nas restingas, observava-se a extração de espécies
ornamentais como bromélias e orquídeas e o desmatamento para a implantação de
empreendimentos turísticos. As matas ciliares, na sua maioria formações secundárias,
já sofriam um processo de desmatamento do seu sub-bosque o que levava ao
empobrecimento acelerado da sua vegetação.
Com a devastação dos diversos ecossistemas da APA, muitas espécies da fauna
terrestre foram prejudicadas ou eliminadas devido ao desaparecimento das fontes de
alimentação. Espécies que habitavam, por exemplo, a floresta ombrófila, com a sua
devastação ou fragmentação, migraram para outros ecossistemas, ou então, devido à
falta de abrigo, tornaram-se presas fáceis para predadores naturais e para caçadores.
Situação atual
Através de observação de campo e por relatos em entrevistas realizadas com
moradores e presidentes das associações locais, em visita técnica à APA, constatou-se
que ainda hoje ocorre a extração ilegal de madeira na mesma (figuras 9 e 10).
29
Segundo a Fundação Ondazul (2003), a lenha é bastante utilizada para cozinhar,
principalmente na zona rural. Habitantes locais revelaram que esta prática se deve ao
alto custo que o gás representa para as despesas familiares. Já a expansão urbana
desordenada que vem ocorrendo nos vilarejos do arquipélago, tem levado ao
desmatamento dos manguezais para construção de moradias. Este fato foi constatado,
em locais como Gamboa e Garapuá e Velha Boipeba.
As poucas áreas de floresta ombrófila que ainda restam nas ilhas continuam sofrendo
com o desmatamento. Na ilha de Boipeba observou-se na região das matas, o corte de
madeira, incêndios e efeito de borda, o que está ameaçando a manutenção da
cobertura vegetal que ainda resta na ilha.
Figuras 9 e 10 – Exploração ilegal de madeira em Boipeba
No Plano de Manejo estavam previstas ações visando à conservação dos recursos
vegetais do seu território. Um dos programas previa o monitoramento dos diferentes
ecossistemas e suas espécies, principalmente as matas ciliares, manguezais, restingas
de brejos e matas de um modo geral. Infelizmente não se constatou nenhuma ação
neste sentido ao longo dos últimos anos. A criação e delimitação de unidades de
conservação como parques, reservas ecológicas para fins educacionais, científicos e 30
ecoturísticos, foi outra ação proposta no Plano, bem como o incentivo a criação de
Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPNs, nas Zona de Proteção Rigorosa
e na Zona de Proteção da Vida Silvestre. As áreas com remanescentes florestais
deveriam também ser objeto de programas de incentivo à regularização de Reservas
Legais-RL. No entanto nenhuma das ações acima ocorreu! O plano também previa o
incentivo à recuperação da cobertura vegetal e recuperação de áreas degradadas nas
localidades de Morro de São Paulo, Gamboa e Boipeba, mas não se constatou
nenhuma ação neste sentido.
O plano também indicava ações de controle e fiscalização ambiental visando coibir a
extração de madeira e queimadas criminosas, em especial nas Zona de Proteção
Rigorosa e na Zona de Proteção da Vida Silvestre. De acordo com moradores do
arquipélago, a fiscalização é praticamente inexistente e mesmo quando ocorrem
denúncias, os fiscais dos órgãos responsáveis raramente aparecem.
6.5 Pesca
Situação na época da elaboração do Plano de Manejo
O setor de pesca no arquipélago sempre foi de extrema importância para o sustento
das famílias das comunidades da APA fazendo parte da cultura de todos os lugarejos
da região. No entanto, segundo o Plano, a realização desta atividade de forma
descontrolada, fez com que a pesca predatória se tornasse um dos principais
problemas ambientais existentes. O uso de bombas, a pesca abusiva de mariscos na
época de desova, principalmente gaiamum e o uso de arrastão de malha fina por
embarcações com motor, dentro do canal, já causavam preocupação naquela época.
Observava-se também intensa pesca de linha e o uso de redes de espera e de cerco.
Na época, havia a presença de barcos pesqueiros provenientes de outros estados,
como Ceará e Pernambuco, que eram atraídos pela grande oferta de peixes, polvos e
lagostas.
31
Situação Atual
A pesca predatória continua sendo um problema presente na área. Moradores de
todas as localidades que foram entrevistados reportaram que a pesca e a mariscagem
vem caindo devido à pesca sem controle na região, sejam pelos próprios pescadores
locais ou por embarcações de outras regiões como Valença, Itacaré, Ilhéus e Barra
Grande e até de outros estados. São comuns práticas ilegais como o uso de bombas,
malhas pequenas e desrespeito às leis, que proíbem a pesca em períodos de
reprodução e a captura de espécies ameaçadas de extinção.
Segundo informações das associações de pescadores do arquipélago, os povoados
que vivem basicamente da pesca, como São Sebastião, que é um dos principais
produtores de camarão, polvo, lambreta e gaiamum, estão sofrendo de forma mais
intensa as conseqüências da exploração pesqueira sem controle. Barcos de maior
porte munidos de guincho pescam na época do defeso do camarão (período de
setembro a novembro). Já os nativos não saem para pescar, respeitando esta
condicionante. A produção do camarão é a que mais vem decrescendo e a que
necessita de uma fiscalização mais severa pelos órgãos responsáveis. Em São
Sebastião existe a pesca com malha fina, o corte das quizangas, a pesca com bombas
e o comércio de estrelas do mar (figura 11). Segundo moradores, denúncias já foram
feitas ao IBAMA, mas nenhuma providencia foi tomada. (MRS, 2007)
Figura 11 – Estrelas do mar para comercialização
(Foto Ruy Tolentino)
32
O turismo é um grande incentivador da produção pesqueira na região. No entanto este
incentivo vem causando impactos negativos ao meio ambiente. Isto se deve ao fato
dos pescadores da região, motivados por recursos financeiros imediatos, acabarem por
não respeitar a capacidade de carga dos pesqueiros e ecossistemas.
Observou-se também que a destruição de manguezais continua ocorrendo devido à
concentração de tráfego marítimo e atividade pesqueira intensa e sem controle. Os
recifes também estão sendo destruídos por explosões, visando a abertura de barras
artificiais para a entrada de embarcações até a praia. Os barcos de pesca fretados por
turistas em Moreré, para visitar as piscinas naturais da ilha de Boipeba atracam nos
corais, o que acaba por destruí-los (MRS, 2007).
Desde que o Plano de Manejo foi elaborado, algumas ações já foram realizadas no seu
território, no intuito de promover o incentivo ao uso racional dos recursos pesqueiros.
Um projeto pioneiro que abordou estas questões foi o Projeto de Gestão dos Recursos
Ambientais do Município de Cairú/BA - Projeto Piloto na Vila de Garapuá”, coordenado
pela UFBA (sob o comando do Professor Ronan R. Caires de Brito do Instituto de
Biologia) e executado pela Fundação Ondazul, em parceria com a BAHIAPESCA, IMA,
Associação dos Moradores de Garapuá (AMAGA) e Prefeitura de Cairú ( ONDAZUL,
1999). Este projeto foi financiado pelo Fundo Nacional do Meio ambiente e apoiou a
realização de várias monografias de conclusão de graduação de alunos de biologia da
UFBA. Este projeto teve como principal objetivo construir um modelo de gestão
ambiental participativa, descentralizada, que poderá ser aplicado, não somente ao
Município de Cairú, mas também, uma vez testado e aperfeiçoado, em outras regiões
litorâneas de características semelhantes. Abaixo estão listadas algumas monografias
que foram realizadas com o apoio deste projeto:
• Aspectos da biologia quantitativa da lagosta vermelha panulirus echinatus
(Smith, 1869) no ecossistema recifal da vila de Garapuá – Cairú – BA
(OLIVEIRA, 2001)
33
• Caracterização hidrológica e produtividade primária da baía de Garapuá (Cairú –
BA): um subsídio à pesquisa sobre a capacidade de recarga do ambiente (Dos
SANTOS, 2002)
• Estudo para o cultivo, em gaiolas flutuantes, de camarão marinho litopenaeus
vannamei boone, 1931 (crustácea, decapoda, penaeidae), em Garapuá, Cairú-
BA ( MORAIS, 2002)
• Diagnóstico da comunidade zoobentônica do infralitoral da Baía de Garapuá,
Cairú - BA. (RAMOS, 2002)
• Partilhando saberes: educação ambiental na vila de Garapuá, município de
Cairú-BA (FRANCO 2002).
• Biologia quantitativa da população de Octopus vulgaris Cuvier, 1797 no
ecossistema recifal de Garapuá, Cairú – Bahia (JAMBEIRO, 2002).
• Etnoecologia dos pescadores e marisqueiras da vila de Garapuá/BA (MENDES,
2002).
• Estudos Complementares da Dinâmica de População de Lucina pectinata
(Gmelim, 1791), no Ecossistema de Manguezal de Garapuá - Cairú – Bahia
(DELFINO, 2005).
• Sustentabilidade dos recursos florestais utilizados no artesanato de Garapuá –
Baixo Sul / BA. (RIGUEIRA, 2005).
• A qualidade das águas superficiais e produtividade primária em ecossistemas
aquáticos estuarino e costeiro na área de Proteção Ambiental Tinharé e Boipeba
– BA (VIANA, 2005).
• Avaliação da carcinocultura implantada pelo projeto de gestão dos recursos
ambientais do baixo sul – BA. (CARDOSO, 2005).
34
No Plano de Manejo estavam previstas ações visando definir a capacidade de suporte
dos principais recursos naturais de subsistência (pescado, marisco) bem como um
programa de incentivo à pesca, através de estudos da cadeia produtiva, do potencial
pesqueiro, das espécies de interesse econômico e do impacto da ação antrópica. O
plano sugeria também apoio aos pescadores através de assistência financeira e
social, normas de sinalização e instalação de equipamentos pesqueiros e o
reaparelhamento das frotas pesqueiras, além da recuperação e construção de
ancoradouros. Observa-se que várias destas ações foram contempladas pelo Projeto
de Gestão dos Recursos Ambientais do Município de Cairú /BA (monografias acima
citadas). No entanto, constatou-se que é fundamental para a conservação dos recursos
pesqueiros da região, que muitos outros estudos ainda venham a ser desenvolvidos
sobre o tema.
É fundamental o incentivo a campanhas educativas e programas de educação
ambiental para lideranças comunitárias, a fim de prepará-las para atuar como agentes
multiplicadores da conscientização ambiental junto aos pescadores da região.
6.6 Água/Esgoto
Situação na época da elaboração do Plano de Manejo
O Plano constatou que os distritos da APA são abastecidos a partir de rios e riachos,
além de inúmeras cacimbas e fontes. Não existiam poços tubulares profundos
perfurados na área visando o abastecimento humano.
Segundo o Plano, a falta de infra-estrutura sanitária adequada nos povoados, bem
como o fato das cacimbas em geral não apresentarem proteção contra poluição e
contaminação, eram fatores de risco que comprometiam a qualidade das fontes e dos
mananciais subterrâneos. O lançamento de esgotos domésticos nos riachos e rios,
problema agravado pela chegada do turismo de massa na região, já estava causando a
poluição dos mananciais hídricos e das praias do arquipélago.
35
Até o ano 2000, a coleta e o tratamento de esgoto no município de Cairú eram muito
precários. A maioria da população não possuía instalações sanitárias, ou possuía
apenas fossas rudimentares. Estima-se que naquela época mais de 50% dos usuários
despejavam o esgoto de suas residências diretamente no solo, riachos, no mar, ou
estuários (BID, 2005).
O plano recomendava o monitoramento da área com campanhas sistemáticas de
amostragem das águas para análise, a fim de verificar as variações nos índices de
qualidade e para procurar correlacionar essa variação com o clima (estiagem e chuvas)
e com a flutuação da população.
Situação atual
Hoje, praticamente todas as localidades ainda sofrem com o problema da falta de água
durante o verão, não apenas pela escassez de chuva, mas também pela demanda
turística por este recurso. Associado à falta de saneamento básico ocorre a poluição
das águas marinhas e dos rios, claramente visível em Boipeba, durante a alta estação.
No ano de 2002 ocorreu uma melhoria no problema do esgoto na APA, devido à
construção da rede de esgotamento sanitário em Morro de São Paulo. Segundo a
Prefeitura, boa parte dos domicílios de Morro está conectada à rede, sendo que esta
percorre cerca de 7 km. Na 3a praia está localizada a estação de tratamento final dos
efluentes que, após a filtração, seguem por um emissário submarino por cerca de 300
metros a partir da costa, até ser despejada finalmente no mar. (BID, 2005). Com a
instalação da rede de esgoto de Morro, a situação da qualidade das águas do riacho
que corta o vilarejo está melhor, levando a uma diminuição da contaminação das praias
próximas (MRS, 2007). No entanto, outros locais, como a lagoa do Morro, próxima a
comunidade Nossa Senhora da Luz, apresentam uma situação bastante preocupante.
Esta lagoa, antes rodeada de uma mata exuberante, passou a receber o esgoto
diretamente das casas que, aos poucos e de forma desordenada, foram ocupando
seus arredores.
Segundo MRS (2007), não há projetos de instalação de rede de esgotamento sanitário
para outras localidades da APA, sendo que nestas vilas as residências possuem fossas
36
que freqüentemente transbordam e vazam para o solo, mar, riachos, e estuários. Em
Gamboa, pessoas oferecem o serviço de esvaziar as fossas, jogando o conteúdo
diretamente no mar. Foi constatado também que em Cairú, Boipeba, Galeão e São
Sebastião, as casas a beira rio lançam seus esgotos diretamente no estuário. Em
Garapuá casas lançam esgoto na lagoa do vilarejo, o que adicionado à utilização de
suas águas para a lavagem de roupas comprometem a sua qualidade. Vale ressaltar
que esta lagoa abastece o povoado da vila (BID, 2005).
Não foram observados projetos nos últimos anos para correção dos graves problemas
acima citados. As ações se limitaram a sugerir a obtenção de informações sobre
aspectos relacionados com a contaminação dos corpos hídricos, superficiais ou
subterrâneos na área da APA.
6.7 Fiscalização Ambiental
Situação na época da elaboração do Plano de Manejo
O Plano de Manejo aborda a deficiência no sistema de fiscalização ambiental da
unidade de conservação, como um dos fatores que contribuía de forma determinante
para que os problemas ambientais se agravassem. Na época em que o Plano foi
elaborado não existia nenhuma estrutura de fiscalização e nem ações rotineiras de
controle. Segundo a opinião de moradores da região, para reduzir ou acabar com estes
problemas, seria fundamental a atuação do poder público, através da fiscalização
sistemática envolvendo o IBAMA, a Capitania dos Portos e o Órgão Ambiental do
Estado.
Situação atual
Atualmente, a fiscalização ambiental para coibir ações como a ocupação urbana
irregular, desmatamento, deposição de lixo em áreas proibidas, pesca predatória e
outros danos ao meio ambiente, é praticamente inexistente na região. Os órgãos
ambientais não possuem atividades rotineiras de fiscalização na área da APA.
Segundo depoimento de técnicos das instituições responsáveis por tais ações, o
37
principal motivo para esta deficiência, é a falta de funcionários suficientes no quadro do
Estado para realização da fiscalização e de equipamentos de apoio (lancha ou barco).
O fato da aplicação das penalidades serem pouco eficientes e em muitos casos nem
ocorrerem, incentiva a realização de infrações ambientais na APA.
No Plano de Manejo são indicadas ações visando o fortalecimento do controle e
fiscalização, sugerindo a instalação de postos de fiscalização, bem como ações que
informem os moradores e visitantes sobre as restrições de ocupação da área e o uso
de seus recursos. Nos últimos anos nenhuma ação neste sentida foi realizada.
Para que a gestão da APA possa ocorrer na prática e as diretrizes do zoneamento do
Plano de Manejo sejam respeitadas, é fundamental que haja um maior rigor na
fiscalização ambiental. Recentemente houve contratação de novos funcionários pelo
Instituto do Meio Ambiente (IMA), antigo CRA, para atuar como fiscais do Estado.
Espera-se que o aumento no número de fiscais reverta em benefícios para a APA.
7. CONSELHO GESTOR
O Plano de Manejo não fez menção sobre a importância da formação de um conselho
gestor para que o processo de gestão da APA possa ocorrer na prática. Apesar do
Plano ter sido aprovado em 1998, apenas no final do ano de 2005 foi concluída a
formação do seu conselho gestor, resultado do Projeto de Criação do Conselho Gestor
da APA, desenvolvido por iniciativa da Fundação Ondazul, tendo entre os parceiros as
seguintes instituições: SEMA, AMAGA (Associação dos Moradores e Amigos de
Garapuá) e a UFBA.
As principais ações do projeto de criação do conselho gestor foram:
• Articulação entre os parceiros – instituições, poder local e comunidade;
• Formação de novas associações em oito vilarejos do arquipélago;
• Oficinas de capacitação em todas as associações;
• Recrutamento de lideranças;
• Legitimação do Conselho; 38
• Criação das Câmaras Setoriais;
• Implementação de uma rádio educativa, para atuar como a principal interlocutora
entre os vilarejos e este Conselho, e os trabalhos de monitoramento do projeto e
das atividades programadas.
Após a criação do Conselho Gestor, a Fundação Ondazul também coordenou as
primeiras reuniões ordinárias e a operação inicial das suas Câmaras Setoriais. A partir
daí a coordenação do mesmo passou a ser responsabilidade da SEMA, órgão gestor
da APA.
Segundo depoimentos de pesquisadores da Fundação Ondazul e membros de
associações envolvidas com o processo de gestão da APA, após a formação do
Conselho houve uma participação bastante incipiente por parte da SEMA, no sentido
de manter atuante o Conselho. O fato do órgão ambiental não possuir verba destinada
especificamente a apoiar reuniões, prejudicou muito a continuidade do trabalho. Este
fato, associado à dificuldade de deslocamento dos membros para participar de
reuniões (transporte é feito em barcos), levou a um processo de desarticulação. Além
disto, a gestão da APA tem sido comprometida pelo fato da mesma ter permanecido
um bom tempo sem gestor e quando este foi nomeado, o mesmo não ter residido na
área.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A iniciativa do Governo Estadual em elaborar o Plano de Manejo da Área de Proteção
Ambiental das Ilhas de Tinharé e Boipeba, bem como a Revisão e Atualização do
Zoneamento da mesma, foi de fundamental importância para o conhecimento da
problemática ambiental da APA. As informações contidas nestes documentos poderão
subsidiar ações de intervenção, visando a conservação dos seus recursos naturais e o
desenvolvimento sustentável da região.
O Plano de Manejo apresentou um bom diagnóstico da área, com a presença de
informações importantes sobre a dinâmica de uso e ocupação do solo, estrutura
39
fundiária da região, bem como a caracterização das atividades econômicas e
organização social das comunidades. No entanto, poderia ter sido feito um diagnóstico
mais aprofundado sobre as pressões econômicas e sociais que já ocorriam na região
na época da sua elaboração.
Na descrição do processo de elaboração do zoneamento, em nenhum momento, foi
dito se houve a participação das populações locais, nas discussões para definição das
zonas e seus parâmetros e normas de ocupação. Parece não ter havido uma consulta
aos moradores da APA, com relação ao documento e, se houve o texto não descreve
como isso ocorreu e se as comunidades locais legitimaram o mesmo.
No Plano de Gestão, os programas das linhas de ações prioritárias foram apresentados
de acordo com temas, citando os locais onde seriam realizados. No entanto, não houve
o detalhamento de como deveriam ser executados. Não foram indicados os
representantes das instituições públicas, associações comunitárias, instituições de
pesquisa, do setor privado, etc., que deveriam participar da gestão da área. Isto
dificultou o comprometimento dos diversos atores com este processo. A participação
das associações locais e ONGs atuantes na área da APA, bem como o envolvimento
de moradores, proprietários e empreendedores é fundamental para o sucesso do
planejamento e o desenvolvimento de projetos que buscam solucionar os principais
problemas das localidades.
Apesar do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental das Ilhas de Tinharé e
Boipeba apresentar tecnicamente aspectos positivos, o processo de ocupação da APA,
que ocorreu nos últimos anos, não respeitou, de modo geral, as diretrizes e normas
definidas no zoneamento do Plano. A carência de pessoal qualificado e recursos
financeiros suficientes, por parte dos órgãos ambientais competentes, para colocar em
prática as ações de gestão, monitoramento e fiscalização contribuiu para um aumento
acentuado do nível de degradação sócio-ambiental e cultural nesta APA, nas últimas
décadas.
Não adianta elaborar, a qualquer custo, um zoneamento de alta qualidade técnica, se
não existe o apoio político para implementá-lo e uma equipe técnica capaz de não só
40
fazê-lo cumprir, mas também de atualizar os estudos e revisões quando se fizerem
necessários.
Para que a gestão da APA possa vir a ter resultados efetivos, garantindo a
conservação dos seus recursos naturais, bem como proporcionando a melhoria da
qualidade de vida das populações locais é fundamental que o Conselho Gestor da
unidade, volte a ter uma participação atuante no processo de gestão. Sugere-se
também que sejam incentivados novos projetos que venham a apoiar financeiramente
ações que contribuam para a preservação dos ecossistemas da APA.
41
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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UFBAUNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA POLITÉCNICA
DEPTº DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO
Rua Aristides Novis, 02, 4º andar, Federação, Salvador BACEP: 40.210-630
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