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Apreciação n.º 01/CNA/2001 1 GRUPO DE TRABALHO VI APRECIAÇÃO N.º 01/CNA/2001 RELATIVA AOS PLANOS DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS LUSO-ESPANHÓIS ÍNDICE Apresentação .............................................................................................. 2 1. Introdução .................................................................................................. 4 2. Apreciação na Generalidade..................................................................... 6 3. Apreciação na Especialidade ................................................................... 7 3.1 Apreciação da Análise e Diagnóstico da Situação Actual .................. 7 3.1 Articulação com Planos e Instrumentos Internacionais ..................... 9 3.2 Articulação com Planos e Instrumentos Nacionais .......................... .13 3.3 Análise dos Objectivos dos próprios PBH......................................... 15 3.4 Análise de Estratégias, Programas, Medidas e Regulamentos ........ 17 4. Conclusões .............................................................................................. 22

PLANOS DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS LUSO … · projectos de planos de recursos hídricos, designadamente relativos a bacias hidrográficas de rios internacionais Luso-Espanhóis

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Apreciação n.º 01/CNA/2001 1

GRUPO DE TRABALHO VI

APRECIAÇÃO N.º 01/CNA/2001

RELATIVA AOS

PLANOS DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS LUSO-ESPANHÓIS

ÍNDICE

Apresentação .............................................................................................. 2

1. Introdução .................................................................................................. 4

2. Apreciação na Generalidade ..................................................................... 6

3. Apreciação na Especialidade ................................................................... 7

3.1 Apreciação da Análise e Diagnóstico da Situação Actual .................. 7

3.1 Articulação com Planos e Instrumentos Internacionais ..................... 9

3.2 Articulação com Planos e Instrumentos Nacionais .......................... .13

3.3 Análise dos Objectivos dos próprios PBH ......................................... 15

3.4 Análise de Estratégias, Programas, Medidas e Regulamentos ........ 17

4. Conclusões .............................................................................................. 22

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Apreciação n.º 01/CNA/2001 2

Apresentação

No âmbito do Conselho Nacional da Água, foi criado, em Novembro de 2000, o Grupo de

Trabalho “Apreciação dos Planos de Bacia Hidrográfica dos Rios Internacionais Luso-

-Espanhóis” (GT VI) que teve por objectivos ”...avaliar a adequação da estratégia, medidas

e acções propostas, relativamente aos objectivos dos próprios PBH e ao diagnóstico neles

efectuado, salientando eventuais lacunas ou insuficiências que aqueles planos revelem face

aos problemas que se colocam em relação ao uso, conservação e gestão global e integrada

dos recursos e dos meios hídricos em Portugal; propor critérios para a harmonização e

integração dos Planos de Bacia Hidrográfica (PBH), no âmbito do Plano Nacional da Água

(PNA); propor acções conducentes à oportuna e eficaz aplicação dos mesmos PBH...”,

conforme Informação No. 14/CNA/2000, constante em Anexo.

O Grupo de Trabalho foi criado com a constituição a seguir indicada:

Presidente do Instituto da Água (ou seu representante)

Director-Geral da Energia (ou seu representante)

Presidente do Instituto de Hidráulica, Engenharia Rural e Ambiente (ou seu

representante)

Presidente do Instituto de Conservação da Natureza (ou seu representante)

Presidente da Câmara Municipal de Tavira, Engº J. Macário Correia

Presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (ou seu representante)

Presidente do GEOTA, Prof. Conceição Martins

Prof. Doutor Fernando Santana (UNL/FCT), Relator-Coordenador

Engº João Bau (IPE-AdP), Co-Coordenador

tendo sido nomeados os seguintes representantes, que foram os efectivos participantes na

generalidade das reuniões:

INAG – Dr. Marques Ferreira

DGE – Engº António Martins Carvalho

IHERA – Engº António Campeã da Mota

ICN – Arqtº José Silva Pereira

CIP – Engº Jaime Braga

O Presidente da Câmara Municipal de Tavira não pôde participar nas actividades do Grupo

de Trabalho.

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Apreciação n.º 01/CNA/2001 3

A partir de 8 de Janeiro de 2001, a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP)

passou a integrar o Grupo de Trabalho, sendo representada pela Engª Alexandra Brito.

Lisboa, 6 de Fevereiro de 2001

Pel’O GRUPO DE TRABALHO

O Relator-Coordenador

(Prof. Doutor Fernando Santana)

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Apreciação n.º 01/CNA/2001 4

1. Introdução

O presente Parecer surge na sequência da apresentação ao CNA do primeiro conjunto de

projectos de planos de recursos hídricos, designadamente relativos a bacias hidrográficas

de rios internacionais Luso-Espanhóis na parte situada em território nacional (Minho, Douro,

Tejo e Guadiana), elaborados em cumprimento do disposto no Dec. Lei 45/94, de 22 de

Fevereiro. Não foi presente e, consequentemente, não foi apreciado, o plano relativo à parte

portuguesa da bacia hidrográfica do Rio Lima.

Tendo a conclusão daqueles projectos de planos (PBH’s), ocorrido apenas no final de 2000,

não pode deixar de se observar que a fixação de um prazo de dois anos para a respectiva

elaboração, como preconizado naquele diploma legal, terá sido pouco realista.

É de admitir que possam ter sido sobrestimadas a capacidade e a experiência nacionais na

área do planeamento de recursos hídricos e, adicionalmente, que o âmbito das exigências

fixadas para elaboração dos PBH’s, nalguns domínios, possa ter sido demasiado ambicioso,

face às reconhecidas dificuldades relativas a informação de base, imprescindível ao

desenvolvimento dos Planos.

Os PBH’s surgem num contexto de mudança, já anunciada, do actual modelo legal e

institucional de gestão de recursos hídricos e, consequentemente, terão já integrado

algumas linhas fundamentais que se antevê virem a ser adoptadas no futuro, circunstância

que determina, para alguns aspectos do seu conteúdo, uma evidente inconsistência com o

actual quadro institucional, como adiante se poderá constatar pelas apreciações realizadas.

A presente análise dos PBH’s não pretendeu, nem poderia, ser exaustiva, no sentido da

apreciação detalhada de todas as respectivas peças, tarefa que, certamente, será

assegurada noutra sede e que excederia muito a capacidade do Grupo de Trabalho, quer

em meios envolvidos, quer no tempo que lhe foi facultado para a elaboração deste Parecer.

Não pôde também o Grupo de Trabalho dispor dos pareceres que os Conselhos de Bacia

estão elaborando sobre os planos de cada uma das bacias e que conterão certamente

matéria de muito interesse para a apreciação daqueles documentos.

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Apreciação n.º 01/CNA/2001 5

Assim, o Parecer debruça-se apenas sobre aspectos fundamentais, procurando habilitar o

Conselho Nacional da Água com a identificação de insuficiências e potenciais problemas

decorrentes do que é preconizado nos PBH’s, procurando também disponibilizar contributos

para eventual incorporação no Relatório Final, a preparar pelo INAG.

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Apreciação n.º 01/CNA/2001 6

2. Apreciação na Generalidade

Da análise dos PBH’s resulta claro o enorme esforço que foi realizado para tentar cumprir

com os requisitos do Guia que o INAG facultou para a respectiva elaboração, sendo

igualmente patentes as dificuldades inerentes à produção de um exercício de planeamento

que não dispunha de antecedentes relevantes.

Aquelas dificuldades terão, em boa parte, radicado na informação de base, necessária à

elaboração dos PBH’s, que, para além de dispersa e pouco sistematizada, é bastante

escassa nalguns domínios, principalmente, ao nível da caracterização ecológica e da

poluição, prevalecente e potencial, dos meios hídricos.

Por outro lado, e pese embora o atraso com que os PBH’s foram apresentados, conforme

anteriormente referido, considera-se que poderá ter sido insuficiente o tempo concedido

para proceder ao tratamento da informação disponível, face às supramencionadas

dificuldades.

Dos PBH’s decorre a necessidade da realização de muitos estudos, que identificam e

propõem para a respectiva fase de aplicação, o que não terá sido acautelado da forma mais

adequada, na medida em que não evidenciam autoajustamentos que permitam eventuais

correcções de estratégias, ou programas, em função da informação adicional que vier a ser

adquirida antes do período máximo previsto para revisão dos PBH’s.

Sem prejuízo de alguns aspectos – como decorre da Apreciação na Especialidade –

necessitarem de ser ajustados, melhorados, ou corrigidos, circunstância praticamente

inevitável para o que se pode caracterizar como a “primeira geração” deste tipo de Planos,

considera-se que os PBH’s são, genericamente, aceitáveis, constituindo um exercício de

planeamento de recursos hídricos válido e útil, devendo ser encarados não como

“documentos acabados”, mas como um passo muito importante num processo que se

entende ser necessário prosseguir.

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Apreciação n.º 01/CNA/2001 7

3. Apreciação na Especialidade

3.1 Apreciação da Análise e Diagnóstico da Situação Actual

Em termos de caracterização da situação actual, no que respeita às matérias abrangidas

pelo conjunto da legislação comunitária e transposta para a ordem jurídica interna,

considera-se que nos PBH’s foi efectuado o tratamento, praticamente exaustivo, da

informação disponível, nomeadamente no que respeita à legislação transposta pelo Dec. Lei

n.º 236/98 (qualidade das águas) e 152/97 (tratamento de efluentes), verificando-se que as

componentes relativas à poluição por nitratos e às substâncias perigosas não foram objecto

do mesmo grau de desenvolvimento, o que se compreende face à existência de muito

pouca informação relativa a estes domínios.

A caracterização da situação de referência dos ecossistemas aquáticos, e terrestres

associados, foi, de uma forma geral, bem desenvolvida, atendendo à informação disponível

e à especificidade das bacias hidrográficas. Assinale-se, a este respeito, o esforço colocado

na recolha de informação, dispersa por várias instituições, que foi complementada através

de levantamentos de campo e com base na interpretação de fotografia aérea.

Por outro lado, foram consideradas, não apenas as áreas com estatuto especial de

conservação, como também outras áreas identificadas no decurso dos trabalhos realizados,

potencialmente importantes para a protecção e conservação do património natural,

nomeadamente associadas aos ecossistemas aquáticos, como é o caso de zonas húmidas

e troços de linhas de água importantes para a conservação de galerias ripícolas e de

espécies protegidas, ou ameaçadas, com interesse conservacionista.

Se a caracterização da situação actual, de uma forma geral, se pode considerar aceitável,

já no que respeita ao diagnóstico (Situação actual – Identificação dos problemas – causas-

– efeitos) a abordagem efectuada pelos PBH’s não foi tão conseguida. Ao não cruzarem, de

forma sistemática, a informação recolhida nas diversas áreas temáticas, não tornaram clara

a visualização e a hierarquização dos principais valores de conservação e a identificação de

áreas-problema. Por razões semelhantes, a análise do cumprimento da legislação nacional

e comunitária também não atingiu o nível que seria desejável.

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Apreciação n.º 01/CNA/2001 8

No entanto, há que salientar que os PBH’s já consideraram a qualidade biológica nos

processos de classificação da qualidade das águas superficiais, para além da qualidade

físico-química, integrando o conceito de “qualidade ecológica”, embora os estudos

realizados não tenham ainda permitido a classificação do seu estado. Apesar disso, os

PBH’s disponibilizaram um primeiro esboço de programa de monitorização destes

parâmetros biológicos, que deverá permitir que se inicie a curto prazo a recolha sistemática

da informação necessária à realização de um diagnóstico mais completo, no prazo previsto

na Directiva-Quadro.

A este propósito, considera-se que, no estabelecimento da rede de monitorização

(ecológica) definitiva, a Rede Nacional de Áreas Protegidas, dado incluir áreas de

conservação por excelência, deverá ser devidamente integrada, enquadrando locais que

apresentam grande proximidade da situação pristina.

A análise do balanço necessidades/disponibilidades, permite constatar que este aspecto

não foi suficientemente abordado, dada a relevância deste aspecto para os PBH’s.

No PBH do Guadiana, refere-se que as disponibilidades de água atingirão

1500 hm3/ano, considerando apenas o sistema Alqueva-Pedrógão, reconhecendo no

entanto que este empreendimento não deverá resolver toda a procura, uma vez que o

transporte de água a grandes distâncias poderá não ser economicamente atractivo,

configurando portanto a eventual necessidade de construção de pequenos aproveitamentos

de interesse local.

Há que referir que aquelas disponibilidades permitem ainda satisfazer a procura existente e

prevista.

Já no caso do PBH do Douro, globalmente, o balanço é favorável, com saldos positivos da

ordem dos 7100 hm3 e 3800 hm3, respectivamente para Ano Médio e Ano Seco.

No entanto, o balanço é negativo em anos muito seco, ou seco (semestre seco),

penalizando a região interior, sendo de salientar a prevalência de um défice de

armazenamento.

Relativamente ao PBH do Tejo, o balanço é, globalmente, favorável, em Ano Médio, sendo

contudo negativo na sub-bacia do Sorraia, em Ano Seco (semestre seco).

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Assim, e no que concerne o balanço necessidades/disponibilidades de água nas bacias

hidrográficas objecto deste Parecer, pode concluir-se que há recursos potenciais para

garantir a procura, embora não disponíveis para satisfazer as necessidades totais quer em

Ano Seco, quer para o Semestre Seco em Ano médio, para algumas Áreas.

3.2 Articulação com Planos e Instrumentos Internacionais

As Convenções mais relevantes para o planeamento dos recursos hídricos, no caso

vertente os PBH’s, são a Convenção Para a Protecção do Marinho do Atlântico Nordeste

(Convenção OSPAR), a Convenção das Nações Unidas para a Protecção e Gestão dos

Cursos de Água Transfronteiriços e Lagos Internacionais (Convenção de Helsínquia) e, no

caso dos Planos das Bacias Luso-Espanholas, a Convenção Sobre a Cooperação Para a

Protecção e o Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-

-Espanholas (Convenção de Albufeira).

Relativamente às Convenções de Helsínquia e de OSPAR, que após aprovação pelo

Conselho da União Europeia passaram a integrar o quadro legal comunitário, tal como é

referido na Síntese dos PBH’s, constata-se que (i) a primeira, não transcendendo o quadro

da Convenção de Albufeira, não cria obrigações adicionais para o Estado Português, ou

seja, não tem implicações específicas para os PBH’s; (ii) os PBH’s não contemplaram,

adequadamente, as disposições da Convenção de OSPAR, por falta de informação sobre

qualidade das águas do litoral e por insuficiência de informação sobre descargas de águas

residuais.

No entanto, não se pode deixar de notar que, face à elaboração dos Planos de

Ordenamento da Orla Costeira (POOC) e à sua natureza (planos especiais), os PBH’s terão

procurado evitar sobreposições, circunstância que se materializa no caso dos Estuários, não

incluídos nos POOC e, em consequência, considerados nos PBH’s.

Apesar disso, dada a dependência da qualidade da água no litoral do controlo de descargas

na zona interior das bacias hidrográficas, crê-se que as disposições da Convenção de

Ospar deveriam também ali ser acauteladas, embora tal possa exceder o que é imposto

pela Directiva-Quadro de Água que, naquele aspecto, é menos restritiva do que a referida

Convenção.

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Apreciação n.º 01/CNA/2001 10

Quanto à Convenção de Albufeira, com inquestionável importância, não apenas para o

quadro do relacionamento entre Portugal e Espanha no âmbito do planeamento, gestão e

protecção dos recursos hídricos das bacias compartilhadas, mas também por estabelecer

um vasto programa de cooperação entre as autoridades dos dois Estados para a gestão

coordenada dos recursos hídricos, inclui aspectos muito relevantes para os PBH’s,

nomeadamente: permuta de informação entre os dois Estados; qualidade da água nos

troços transfronteiriços; volumes e regime de caudais; impactes transfronteiriços;

monitorização da quantidade e qualidade da água; aproveitamento sustentável dos recursos

das bacias compartilhadas; regime de exploração das Albufeiras em períodos de secas e de

cheias; coordenação dos Planos de Gestão.

Apesar da entrada em vigor da Convenção de Albufeira ser posterior à conclusão da

1ª Fase dos PBH’s dos Rios Minho, Douro, Tejo e Guadiana, isto é, só ocorreu no início de

2000, após ratificação pela Cortes de Espanha e pela Assembleia da República Portuguesa,

a respectiva assinatura teve lugar em Novembro de 1998, ou seja, durante a elaboração

daquela Fase, relativa à caracterização, análise e diagnóstico da situação de referência.

Era, portanto, expectável que nesta Fase tivesse sido efectuada uma análise mais

aprofundada das implicações da Convenção, em termos quantitativos, qualitativos e

institucionais, no planeamento e gestão dos recursos hídricos das bacias, do que a que

consta dos Planos, referindo-se o PBH do Guadiana como o que mais aprofundou aqueles

aspectos.

No entanto, e pese embora a insuficiência da informação de base, os PBH’s abordaram

aspectos como a quantidade dos recursos hídricos oriundos de Espanha, a qualidade da

água à entrada nos troços portugueses das bacias, tendo igualmente analisado os Planos

das Bacias Hidrográficas Espanholas e as suas implicações para Portugal. Contudo, os

PBH’s não efectuaram qualquer análise critica das implicações da Convenção para a gestão

dos recursos hídricos nas bacias hidrográficas, nomeadamente as implicações dos caudais

mínimos fixados.

Apesar da definição de caudais ecológicos ser competência da Comissão de

Desenvolvimento da Aplicação da Convenção de Albufeira, as propostas efectuadas nos

PBH’s poderiam ter sido mais abrangentes, nomeadamente contemplando as necessidades

ecológicas de várias espécies, ou as potenciais consequências de anos secos consecutivos

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Apreciação n.º 01/CNA/2001 11

(relevante no caso do Guadiana), para o que terá contribuído a escassez de informação de

base e de estudos que suportassem uma definição clara daqueles caudais.

Por outro lado, os PBH’s assumem objectivos específicos para a implementação da

Convenção de Albufeira, nomeadamente de qualidade para os troços transfronteiriços,

propondo programas de medidas que contemplam todos os domínios da Convenção,

avançando mesmo com uma proposta de caudais ecológicos para as secções de fronteira,

a adoptar em regime provisório, até que a Comissão de Desenvolvimento da Aplicação da

Convenção venha a estabelecer, com carácter definitivo, o regime de caudais ambientais.

Relativamente à articulação dos PBH’s com as Directivas Comunitárias pertinentes à sua

elaboração, seguidamente, salientam-se os aspectos mais relevantes.

A Directiva 96/61/CE (Directiva IPPC) – transposta pelo Dec. Lei. 194/2000, de 21 de

Agosto - relativa à prevenção e controlo integrados de poluição, só recentemente

transposta para o Direito Interno, que obriga a uma abordagem integrada de protecção

ambiental (ar, água, solo) contra a poluição tópica de origem industrial e introduz o

mecanismo da abordagem combinada, ou seja o controlo integrado das fontes de

poluição e da qualidade dos meios hídricos.

Devido à data da respectiva transposição, os PBH’s, nomeadamente nos respectivos

Regulamentos, não terão podido acautelar suficientemente a articulação com esta Directiva,

e consequentemente com o Dec. Lei 194/2000, na medida em que o licenciamento de

utilizações do domínio hídrico deveria ter enquadramento compatibilizado com a “licença

ambiental”, prevista naquele Decreto-Lei, para além de outros aspectos como: (i) as

implicações da existência, actual ou potencial, de zonas vulneráveis, (ii) o levantamento,

revisão ou actualização de licenças e concessões de utilização privada do domínio hídrico já

atribuídas.

A Directiva 2000/60/CE (Directiva – Quadro da Água) que estabelece o enquadramento

para: a protecção das águas, que evite a continuação da degradação e proteja e

melhore o estado ecológico dos meios hídricos; a promoção do uso sustentável da

água, baseado na protecção a longo prazo dos recursos disponíveis; a protecção do

ambiente aquático, através da redução gradual das descargas, das emissões e das

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Apreciação n.º 01/CNA/2001 12

substâncias perigosas; a mitigação dos efeitos das inundações e das secas; a

protecção das águas marinhas e litorais.

Apesar desta Directiva só ter sido aprovada em Junho de 2000, e portanto posteriormente à

conclusão da 1ª Fase dos PBH’s, denota-se a preocupação havida de procurar referenciar

temas e matérias constantes da Directiva. Com efeito, é patente a tentativa de passar da

abordagem tradicional da qualidade físico-química e biológica dos meios hídricos para uma

abordagem da qualidade ecológica (conceito subjacente à Directiva), exemplificada pelo

ensaio de estabelecimento de estações de referência e de não referência.

Contudo, os valores limite de emissão de poluentes não tiveram ainda em conta a

capacidade de recepção dos meios receptores, em particular as variações sazonais de

caudais e o efeito de concentração de poluição em períodos estivais, não sendo também

calculada a poluição difusa de origem agrícola, nem consideradas as eventuais alterações

de qualidade da água oriunda de Espanha.

As Directivas 92/43/CEE (Habitats) e 79/409/CEE (Aves) - cuja transposição para a

ordem jurídica interna é revista pelo Decreto-Lei nº 140/99 - estabeleceu as bases para

a protecção e conservação da avifauna selvagem e dos habitats prioritários a nível

comunitário, apontando para a criação de uma rede ecologicamente coerente de áreas

protegidas, constituída por Zonas de Protecção Especial (ZPE) e Zonas Especiais de

Conservação (ZEC), denominada Rede Natura 2000. A criação recente de Sítios, assim

como de diversas ZPE, constitui uma 1ª fase para o estabelecimento da referida Rede

Natura 2000.

Dada a sua representatividade no território nacional, e face aos valores de conservação em

presença, o adequado enquadramento desta Rede na política de recursos hídricos,

devidamente articulado com a Rede Nacional de Áreas Protegidas já estabelecida, poderá

contribuir de uma forma muito positiva para o reforço dos objectivos e estratégias

prosseguidas em termos de Conservação da Natureza e da Biodiversidade.

3.3 Articulação com Planos e Instrumentos Nacionais

A análise efectuada pelo Grupo de Trabalho centrou-se na articulação dos PBH’s com os

Planos e Instrumentos Nacionais mais relevantes, nomeadamente:

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Apreciação n.º 01/CNA/2001 13

Plano Estratégico de Abastecimento de Água e de Saneamento de Águas Residuais

(2000-2006) – De um modo geral, considera-se que os objectivos e a programação dos

PBH’s são compatíveis com este Plano, sem prejuízo da respectiva concretização poder

vir a necessitar de alguns ajustamentos, em função do modelo de intervenção que vier a

ser adoptado, ou seja, do tipo de sistemas de exploração e gestão (municipais,

intermunicipais ou plurimunicipais) que vierem a ser, efectivamente, implementados.

Novos Regadios para o período de 2000-2006 - Os grandes objectivos deste Plano

(atenuar a escassez dos recursos hídricos, assegurando um nível de garantia de 80%;

melhorar o controlo e gestão da água de rega de forma a impedir a degradação dos

sistemas hídricos; reduzir os riscos de poluição difusa estabelecendo directrizes e

orientações para boas práticas agrícolas para a protecção da água contra a poluição

com nitratos de origem agrícola; aprofundar o conhecimento sobre o regadio com base

na elaboração do Plano Nacional de Regadios) foram, genéricamente, adoptados pelos

PBH’s, embora havendo que reconhecer que a manifesta carência de informação sobre

a situação actual possa ter condicionado a credibilidade de objectivos e estratégias

preconizados. Particularizando, cita-se a evolução dos valores propostos para eficiência

de rega que, adoptando valores sem suporte experimental, se considera ser

manifestamente desligada da realidade, circunstância agravada pela proposta de

imposição de sanções económicas aos agricultores por incumprimento daqueles

valores.

Plano de Expansão do Sistema Eléctrico de Serviço Público para o período

2000-2010 – Relativamente a este Plano, constata-se que os PBH’s não articularam

satisfatoriamente os respectivos objectivos, nomeadamente respeitantes ao

desenvolvimento da produção hidroeléctrica.

Com efeito, alguns aspectos não foram tratados com profundidade adequada,

isto é, os PBH’s não abordaram a problemática respeitante a alguns empreendimentos

previstos naquele Plano, nomeadamente: (i) a constituição, em estudo, de uma reserva

estratégica de água no rio Douro, através da construção do aproveitamento do Baixo Sabor;

(ii) o açude de Pedrógão, no Guadiana; (iii) o reforço de potência da central de Venda Nova;

(iv) a construção do aproveitamento de Fridão.

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Apreciação n.º 01/CNA/2001 14

Considera-se também que os PBH’s poderiam, e deveriam, enquadrar as regras de

localização e licenciamento de pequenos aproveitamentos hidroeléctricos, por forma a

assegurar a consistência de política energética, no que toca a energias renováveis, com a

política de recursos hídricos.

PDM’s – A aprovação dos PBH’s implicará, necessáriamente, a revisão dos PDM’s.

Esta revisão, com regras e calendários próprios, aconselha a previsão de períodos

transitórios para salvaguarda de potenciais situações de conflito entre instrumentos de

planeamento.

Planos relativos a Áreas Classificadas, Planos de Ordenamento e,ou de Gestão de

Áreas Protegidas, Zonas de Protecção Especial (ZPE) e Plano Sectorial para a

implementação da Rede Natura 2000 – Considera-se que a articulação dos PBH’s com

estes Planos deverá assegurar o compromisso recíproco de compatibilização das

respectivas opções (nº 1 do artº 23º do DL 380/99) e evitar no futuro eventuais situações

de inconformidade o que, a verificar-se, conduziria à alteração dos PBH, enquanto

instrumentos de política sectorial e por força da aprovação de novos planos de

ordenamento de áreas protegidas, em elaboração e/ou revisão nas condições expressas

na lei (nºs 2 e 3 do artº 95º do DL 380/99).

Estes aspectos deverão ser objecto de análise detalhada, na sequência dos estudos

programados e,ou a reprogramar, a qual, necessáriamente, excede o âmbito da apreciação

efectuada pelo Grupo de Trabalho, que não deixa de recomendar que sejam contemplados

em sede de normas regulamentares.

Crê-se que aquela análise não se deverá limitar à verificação da compatibilidade de

competências entre instituições já existentes e as que decorrerem da aplicação dos PBH’s,

mas deverá também incidir na detecção de eventuais objectivos contraditórios.

Relativamente à legislação nacional, e nomeadamente aos instrumentos mais relevantes

para os PBH’s, constata-se que, de um modo geral, satisfazem as disposições constantes

dos seguintes Decretos-Lei: 45/94 (planeamento de recursos hídricos), 47/94 (regime

económico e financeiro da utilização do domínio público hídrico), 236/98 (qualidade das

águas) e 152/97 (tratamento de águas residuais).

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Por outro lado, verifica-se que os PBH’s não estão conformes com o Dec. Lei 46/94

(licenciamento), na medida em que propõem (i) a criação de Entidades Gestoras de Bacia,

com competências actualmente pertencentes às DRAOT’s, no pressuposto de que a

alteração do quadro institucional venha a caminhar neste sentido (ii) a alteração da ordem

de prioridades no uso e consumo de águas superficiais, invertendo as posições da

Agricultura e da Indústria, isto é, passando a Indústria para a segunda posição e a

Agricultura para a terceira.

Igualmente, detectam-se algumas incompatibilidades com o Dec. Lei 194/2000 (IPPC), no

regime de licenciamento industrial, nomeadamente quanto à previsão de uma licença

específica a conceder pela Entidade Gestora de Bacia e a licença ambiental global

destinada a proteger o ambiente como um todo, da competência da Autoridade Nacional

IPPC.

3.4 Análise dos Objectivos dos próprios PBH

Considera-se que os objectivos dos PBH’s estão, no essencial, em consonância com o

preceituado no Guia para a respectiva elaboração, satisfazendo princípios fundamentais

subjacentes à legislação nacional e comunitária.

Os PBH’s consagram de forma clara o cumprimento daquela legislação, estabelecendo o

ano de 2006 como horizonte para esse cumprimento.

Por outro lado, procuram assegurar a protecção dos meios aquáticos e ribeirinhos com

interesse ecológico, a recuperação de habitats e a manutenção das espécies nos meios

hídricos e nos estuários, integrando de forma adequada objectivos estratégicos de

Conservação da Natureza na política de recursos hídricos.

No que respeita à Directiva–Quadro, as propostas dos PBH’s apontam no sentido de, a

partir da informação recolhida na respectiva elaboração, serem efectuados os estudos e

desencadeadas as acções necessárias ao cumprimento daquela Directiva, nomeadamente

no que concerne à caracterização e preparação dos Planos de Gestão nela previstos.

Os Programas de medidas compreendem Sub programas (tipo B) que agrupam os

projectos, devidamente orçamentados e programados no tempo e no espaço, destinados ao

cumprimento da legislação nacional e comunitária.

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Embora, nalguns aspectos, os objectivos dos PBH’s sejam demasiado gerais, constata-

-se que, face à situação actual dos recursos hídricos e às prevalecentes dificuldades de

informação, não poderiam ser mais ambiciosos, ou de natureza distinta, devendo salientar-

-se a inclusão de objectivos para a protecção da natureza e para a utilização racional do

meio hídrico, designadamente pela promoção de um adequado regime económico e

financeiro.

Contudo, não se pode deixar de salientar a falta de objectivos relativos à valorização do

potencial dos nossos rios, para produção de energia eléctrica.

No entanto, considera-se que os objectivos dos PBH’s teriam resultado enriquecidos se

tivesse sido contemplada a discussão da respectiva integração, que permitiria melhor

esclarecer a interligação de aspectos fundamentais do planeamento de recursos hídricos:

Quantidade-Qualidade-Ambiente.

Neste sentido, é de admitir que haja que equacionar novos objectivos operacionais,

prioridades e/ou propostas de alteração dos mesmos na área temática de Conservação da

Natureza e restantes áreas, dado o carácter transversal desta que, face a informação

entretanto adquirida e tendo em vista a concretização dos objectivos estratégicos

estabelecidos, assim o justifique.

Neste aspecto, não se pode deixar de reconhecer que a necessidade de apresentação dos

PBH’s, e a sua eventual aplicação, antes do PNA, decorre de aspectos conjunturais que não

podem ser ignorados. Aliás, o próprio Dec. Lei 45/94 prevê uma revisão dos PBH’s com a

aprovação do PNA.

3.5 Análise de Estratégias, Programas, Medidas e Regulamentos

As estratégias adoptadas pelos PBH’s, tipificadas em fundamentais, instrumentais e

sectoriais, são adequadas à satisfação dos respectivos objectivos, consubstanciando-se em

programas e medidas, incorporando, para além da quantidade e qualidade dos meios

hídricos, aspectos fundamentais da preservação e valorização ambiental daqueles meios e

dos ecossistemas associados.

De modo análogo ao que foi referido para os objectivos dos PBH’s, considera-se também

que as estratégias preconizadas carecem de alguma integração, embora se admita que a

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informação disponível não tivesse permitido um melhor desenvolvimento deste aspecto,

bastando verificar o esforço proposto, ao nível de programas, para melhorar o

conhecimento actual sobre os recursos hídricos.

Constata-se que a falta de informação terá condicionado o rigor de alguns programas e

medidas, como no caso da poluição difusa, pelo que seria desejável que os resultados de

estudos propostos pudessem ser incorporados na aplicação dos PBH’s antes da respectiva

revisão, prevista para 2006.

Na definição de medidas, considera-se que os PBH’s poderiam ser mais objectivos, isto é,

algumas medidas são pouco específicas, dificultando certamente a posterior verificação da

respectiva eficácia. Sugere-se a rearrumação de medidas por grandes objectivos, a

caracterizar dos pontos de vista qualitativo e quantitativo.

Tal como para os objectivos, em consequência do prosseguimento dos estudos previstos,

poderá ser necessário equacionar novas medidas, prioridades e,ou propostas de alteração

das mesmas na área temática de Conservação da Natureza e restantes áreas, assim como

de projectos complementares que permitam uma visão mais integrada do biota.

Dado que a criação e manutenção de Áreas Protegidas é um objectivo de interesse público

nacional, recomenda-se que, de entre as prioridades estabelecidas e,ou a estabelecer para

os diferentes programas, sejam implementadas com a maior urgência medidas concretas

conducentes ao desenvolvimento sustentável das Áreas Protegidas, extensível aos Sítios da

Lista Nacional e às Zonas de Protecção Especial.

Relativamente aos projectos propostos, para além dos que são dirigidos ao incremento dos

níveis de atendimento de saneamento básico, aos quais corresponde a maior fracção do

investimento, constata-se que uma parte significativa respeita a estudos e programas de

monitorização, para colmatar as actuais lacunas de informação. Embora tal procedimento

seja adequado, e mesmo inevitável, considera-se que os PBH’s deveriam ter previsto

mecanismos de autoajustamento para maximizar no tempo potenciais benefícios daqueles

estudos.

Alguns domínios, em que é flagrante a necessidade de actuações céleres, para evitar que

se acentuem disfunções prevalecentes, como são os casos da sobrexploração de aquíferos,

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a protecção de captações, ou a inversão de situações críticas de poluição do meio hídrico,

há que reconhecer a insuficiência das propostas dos PBH’s.

Apesar da definição de caudais ecológicos ser uma competência da Comissão de

Desenvolvimento da Aplicação da Convenção de Albufeira, considera-se que a proposta de

caudais ecológicos, contida nos PBH’s, é um avanço bastante favorável, na medida em que

é fixado um regime de caudais ao longo do ano, consoante as condições climáticas que

ocorrerem (ano muito seco, seco, médio e muito húmido). No entanto, os PHB’s apenas

determinam caudais para secções das bacias junto da fronteira com Espanha, o que se

considera bastante incompleto, sendo necessário determinar aqueles caudais para outros

pontos ao longo da bacia, para que se possa dispor de uma gestão integrada de todos os

usos, tendo em conta a capacidade de regularização existente.

Por outro lado, a metodologia utilizada para avaliação dos caudais ecológicos foi diversa,

nem sempre acautelando de forma suficiente os requisitos dos ecossistemas envolvidos,

face à insuficiência de informação disponível.

Relativamente ao regime económico e financeiro, os PBH’s do Douro e do Tejo, embora

preconizando estudos que fundamentem os valores dos parâmetros consignados na

legislação actual para aquele efeito, apresentam a simulação de um regime provisório, com

suspensão daquela legislação, indicando valores da taxa a cobrar por m3 e os utilizadores a

que seria aplicada (“distribuição em alta”, regadios de iniciativa pública e produção de

energia). Faz-se notar que se trata apenas de uma simulação, na medida em que as

respectivas propostas não são acolhidas nos correspondentes Regulamentos.

No entanto, refere-se que se fosse adoptada a metodologia consignada naquela simulação,

daí resultaria que os utilizadores não beneficiariam do período de carência de quatro anos

(2004), para estudos sobre análise económica da utilização da água, previsto na Directiva-

Quadro, ficando assim em clara situação de desvantagem relativamente aos utilizadores

dos restantes países da União Europeia, situação que deverá ser evitada.

Considera-se portanto que, face às implicações económicas da aplicação daquela taxa, não

parece razoável, ou adequado, determinar o respectivo valor com base no

autofinanciamento a satisfazer para aplicação dos PBH’s.

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Assim, considera-se que a simulação apresentada para um regime económico e financeiro

provisório não é aceitável, não apenas porque carece de fundamentação, mas também

porque isenta, inexplicavelmente, utilizações da água relevantes para aquele efeito, como

por exemplo a descarga de águas residuais.

Nos PBH’s não foram suficientemente demonstradas as disponibilidades e as origens dos

meios financeiros necessários à execução do conjunto de programas, projectos e acções

previstas nos Planos. Recomenda-se, portanto, que este aspecto seja acautelado no

Relatório Final, tanto mais que neste momento já são conhecidas as tipologias de

financiamento e os montantes previstos no QCA III.

Merece especial referência a importância da fracção do investimento global atribuída a

problemas ambientais de 1ª geração (saneamento básico), não se podendo no entanto

deixar de admitir que possa ser insuficiente o peso dado a outros domínios igualmente

relevantes.

Considera-se que uma eficácia acrescida dos mecanismos de financiamento poderia ser

alcançada se, do ponto de vista institucional, fossem criados mecanismos que associassem

os utilizadores da água (em sentido lato) à administração central e local no processo

decisório relativo à aplicação dos montantes obtidos com a implementação do futuro regime

económico e financeiro.

O Grupo de Trabalho, tendo entendido que não se incluía no âmbito da tarefa que lhe foi

cometida a análise da pertinência legal dos PBH’s incluírem ou não normas regulamentares,

não deixou de apreciar o conteúdo dos Regulamentos apresentados.

Assim, relativamente aos Regulamentos dos PBH’s, e sem deixar de reconhecer o esforço

desenvolvido para que os projectos de Planos pudessem incluir uma peça fundamental à

respectiva aplicação, considera-se que deverão ser objecto de revisão. Com efeito, os

Regulamentos contêm, inadequada e excessivamente, sínteses resumidas dos PBH’s, o

que não é consentâneo com a própria natureza do documento, para além de alguns

aspectos que importa clarificar ou alterar, nomeadamente:

(i) a natureza jurídica dos PBH’s e o que daí decorre;

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(ii) a Entidade Gestora da Bacia Hidrográfica, referida em abstracto, sem

definição/articulação de competências no âmbito do actual quadro normativo e

institucional e das disposições da Directiva-Quadro da Água;

(iii) os condicionamentos impostos a novas captações, através da existência de

reservatórios próprios;

(iv) as Comissões para Empreendimentos de Fins Múltiplos, constituição e atribuições;

(v) a referência expressa ao regime a que estão sujeitos as Áreas Protegidas, os Sítios da

Lista Nacional e as ZPE, conforme previsto nos respectivos diplomas de classificação,

reclassificação e, ou de gestão elaborados ao abrigo:

- DL 19/93, de 23 de Janeiro, para as Áreas Protegidas;

- DL 75/91, de 14 de Fevereiro, para as ZPE;- DL nº 140/99, de 24 de

Abril, para os Sítios da Lista Nacional e ZPE;

- DL nº 140/99, de 24 de Abril, para os Sítios da Lista Nacional e o ZPE;

(vi) integração/revisão/compatibilização com os Planos da Rede Nacional de Áreas

Protegidas;

(vii) as plantas com limites de Áreas Protegidas, Sítios da Lista Nacional e Zonas de

Protecção Especial;

(viii) a forma do Regulamento: (a) expurgar do conteúdo toda a matéria que se inclui na

síntese dos Planos; (b) definições no início do documento; (c) substituição de pontos

iniciais por Preâmbulo geral.

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4. Conclusões

Das apreciações efectuadas, conclui-se que os PBH’s já integraram algumas orientações

fundamentais da actual política de recursos hídricos, que se antevê vir a consubstanciar-se

num novo modelo de gestão, como é evidenciado pelas atribuições consignadas a uma

nova Entidade, a Entidade Gestora de Bacia Hidrográfica, não se valorizando portanto as

subjacentes inconsistências com o quadro legal e institucional vigente. Considera-se assim,

que foi adequado não ter restringido a elaboração dos PBH’s às limitações decorrentes

daquele quadro, quer porque a sua aplicação prática nunca se consumou em aspectos

verdadeiramente essenciais, quer ainda porque se prevê a respectiva reestruturação e

revisão a muito curto prazo.

No entanto, resulta implícita a necessidade de compatibilizar atempadamente as futuras

alterações legais e institucionais com a aplicação dos PBH’s, por forma a evitar que possam

vir a materializar-se em indesejáveis sobreposições de competências, com inevitáveis

prejuízos para a eficácia da prossecução de objectivos de uma gestão sustentada de

recursos hídricos.

De um modo geral, pode concluir-se que, se é certo que as dificuldades de informação

necessária à elaboração dos PBH’s terão, em muitos aspectos, condicionado a análise e

prospectiva de soluções, não se poderá também deixar de reconhecer que o exercício de

planeamento realizado poderia ter sido mais objectivo e sustentado, sendo evidente que

nalguns domínios importantes não foi atingido o nível de desenvolvimento que seria

expectável, como no diagnóstico da situação actual, ou na análise dos balanços de

necessidades/disponibilidades de água.

Apesar disso, há que salientar o esforço efectuado para incorporar alguns aspectos

inovadores para o planeamento de recursos hídricos, decorrentes por exemplo da Directiva

Quadro de Água, ou directamente relacionados com a conservação da natureza, como os

caudais ecológicos, devendo ainda realçar-se a relevância que os estudos, a executar com

a aplicação dos PBH’s, poderão assumir para habilitar a futura definição daqueles caudais,

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a estabelecer no seio da Comissão para o Desenvolvimento da Aplicação da Convenção de

Albufeira.

Por outro lado, considera-se que a análise económica e financeira contida nos PBH’s, e

respeitante à respectiva execução, não equaciona adequadamente todas as questões que

lhe poderão estar associadas, particularmente no que se refere ao autofinanciamento, como

expresso na Apreciação na Especialidade. Adicionalmente, face ao investimento que é

previsto realizar num período razoavelmente curto, 2000-2006, coloca-se a preocupação,

não apenas quanto à suficiência da capacidade de realização existente no País, como

também da resposta que será imprescindível dispor para a boa aplicação dos PBH’s,

nomeadamente decorrente de necessidades de formação e Investigação &

Desenvolvimento, a satisfazer atempadamente. Embora admitindo que a criação de

sistemas plurimunicipais, previstos no Plano Estratégico de Abastecimento de Água e de

Saneamento de Águas Residuais, possa vir a agilizar a solução daquelas questões, crê-se

que, não sendo despicienda a respectiva relevância, a contribuição dos PBH’s para esta

problemática poderia ter sido mais desenvolvida.

Os PBH’s, apesar das dificuldades e insuficiências inerentes à execução de um primeiro

exercício de planeamento de recursos hídricos, sem antecedentes relevantes, constituem já,

peças fundamentais para a futura gestão daqueles recursos, admitindo-se que o

correspondente Relatório Final, a elaborar pelo INAG, possa ainda vir a ser enriquecido, não

apenas com as contribuições da consulta do público realizada, mas também pela

objectividade que, normalmente, se gera posteriormente à fase de elaboração.