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Plantio Maldito escrita por fosforosmalone Capítulo 1 Genêsis Notas iniciais do capítulo A fic é um prequel do conto "As Crianças Do Milharal", mas também pode ser vista como um prequel de sua adaptação, o filme "Colheita Maldita". A história também pode ser apreciada por aqueles que ainda não tem conhecimento deste universo criado por Stephen King, já que não revela o desfecho da obra original. Alguns personagens são citados no conto original e desenvolvidos por mim aqui. Outros são de minha propria autoria. Boa leitura, e espero que gostem! "Você beberá do riacho, e dei ordens aos corvos para o alimentarem lá". (Livro Dos Reis. Antigo Testamento) CEMITÉRIO DE GATLIN

Plantio Maldito

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conto terror

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Plantio Malditoescrita porfosforosmalone

Captulo 1Gensis

Notas iniciais do captuloA fic um prequel do conto "As Crianas Do Milharal", mas tambm pode ser vista como um prequel de sua adaptao, o filme "Colheita Maldita".

A histria tambm pode ser apreciada por aqueles que ainda no tem conhecimento deste universo criado por Stephen King, j que no revela o desfecho da obra original.

Alguns personagens so citados no conto original e desenvolvidos por mim aqui. Outros so de minha propria autoria.

Boa leitura, e espero que gostem!

"Voc beber do riacho, e dei ordens aos corvos para o alimentarem l". (Livro Dos Reis. Antigo Testamento)

CEMITRIO DE GATLIN

O sol se pe na cidade de Gatlin, trazendo uma brisa fresca para aliviar o intenso calor. Um grupo de pessoas est reunido em torno de um tmulo, enquanto o caixo baixado lentamente. Um homem alto, de cabelos grisalhos e batina branca est do lado oposto ao das pessoas que assistem o enterro. O religioso fala com voz potente, mantendo os olhos fechados.PADRE HORTONDo p viemos, e ao p voltaremos. Que Deus receba a alma de nosso irmo Johnny em seu reino, e o perdoe de todos os pecados que ele possa ter cometido em vida. Oremos.A maior parte dos presentes abaixa a cabea, e fecha os olhos para orar pela alma de Johnny Franklin. Mas o Xerife Timoth Harris mantm os seus olhos abertos, observando as pessoas ao redor. Assim como Timoth, que trocara o seu uniforme azul por um palet preto, todos ali tambm estavam de preto, excetuando o padre.Harris no religioso, diferente da falecida esposa. Timoth tem plena conscincia que o Xerife de uma cidade onde a religio muito influente, portanto est ali somente pela imposio do cargo que ocupa, e no por um dever cristo, como a maioria. Muitos dos presentes no sentiriam falta do morto. Johnny era um alcolatra. No fora nem uma e nem duas vezes que Julie Franklin fora buscar o marido na cadeia depois de ele ter arranjado confuso em algum bar. Como recompensa, tudo o que Julie recebia era pancada. A mulher nunca dissera nada ningum, mas Gatlin inteira sabia.Mas nenhum dos cidados parecia se preocupar com Julie. E o pior, havia o pequeno David, filho do casal, exposto as bebedeiras do pai e a fraqueza da me. O Xerife Harris queria ter feito algo para ajud-los, mas estava de mos atadas sem uma denuncia de Julie. Ao olhar para a viva, com as mos nos ombros do filho, Timoth no pde deixar de pensar que a morte do marido era uma beno e uma maldio para Julie Franklin. Se por um lado, os maus tratos teriam fim, por outro, Julie tinha agora no s um filho para criar sozinha, mas tambm as dividas do marido.Eram tempos difceis. Como grande parte do estado do Nebraska, Gatlin tinha na agricultura a sua principal fonte de renda. Mas nos ltimos trs anos, o clima voltou-se contra o pequeno povoado. O grande milharal que cercava a cidade j no vingava mais como antes. As ltimas colheitas foram as piores em mais de cem anos. Johnny era um dos tantos moradores que tinha uma pequena fazenda de milho, e que estava sofrendo com a crise. Sua situao fora agravada pelas noites de jogo e bebedeira. A presso fora demais para o homem, que acabou por enfiar uma espingarda na boca, e atirar.

CASA DO XERIFE

Ao entrar em casa, Harris sente o cheiro de caf fresco, e ouve no rdio a musica House Of The Rising Sun do The Animals. Timoth adentra a cozinha, e v Linda, sua filha mais velha, servindo ovos mexidos no prato de Kathryn, sua segunda filha, uma menininha morena de cinco anos, e olhos castanhos, que parecia uma bonequinha em seu vestido rosa.Linda completara dezessete anos poucas semanas. Ela tem belos cabelos ruivos cados at os ombros, e olhos verdes como os do pai. A garota usa uma blusa verde e uma saia vermelha. Embora no fosse nenhum velho (tem quarenta e trs anos), Timoth ainda no havia se acostumado com as combinaes de cores que os jovens andavam usando. Mas Linda sempre foi uma tima filha. Roupas coloridas no mudavam isso. Alm do mais, a jovem vinha suportando muita coisa ultimamente.H dez meses, sua esposa Martha falecera durante o parto do terceiro filho do casal, Dan. Foi um golpe duro para Timoth, e ele no sabe se teria conseguido aguentar se a filha mais velha no estivesse l para apoia-lo. Linda foi obrigada a amadurecer rpido demais para ajudar o pai a cuidar dos irmos.Kathryn era s uma criana que ainda no entendia direito por que perdera a me. E Dan era um beb que necessitava de cuidados. Outras jovens poderiam ter fraquejado, mas Linda manteve-se firme ao lado do Xerife, dedicando-se aos irmos o mximo que podia. E era exatamente o que ela estava fazendo quando Timoth Harris voltou do enterro.LINDAOi Pai. Como foram as coisas?TIMOTHTristes.O Xerife senta-se ao lado da filha menor, que bebe uma xcara de caf com leite.TIMOTHE voc princesinha, como passou tarde?Kathryn vira-se para o pai com um pequeno bigode de caf com leite, e diz aborrecida.KATHRYNFoi legal. S que a Linda no deixa fazer nada! E fica ouvindo essas musicas o dia todo!Timoth presta ateno no ultimo trecho da musica que diz E tem sido a runa de muitos pobres garotos, e Deus, eu sei que sou um.TIMOTHParecem as musicas que os bbados cantam nas celas da delegacia(Diz com desaprovao).A garota senta-se ao lado do pai, segurando o prprio prato, e diz com censura.LINDANo implica, pai! As musicas do The Animals so legais! Vai querer um ovo mexido?TIMOTHObrigado, mas eu to sem fome. Onde est o Dan?LINDAEsta l em cima. Dei uma espiada nele no faz cinco minutos.

QUARTO DE DAN

Harris se aproxima do bero onde dorme o seu filho. Ao olhar dentro do bero, Timoth v a criana olhando curiosa para ele. Delicadamente, ele pega o beb, o aninhando em seus braos.TIMOTH Ouviu o papai chegando?Dan responde apenas com os tpicos balbucios de beb. O Xerife sorri diante das tentativas falhas de comunicao do filho. Ele amava aquela criana de todo o corao. Fora o ultimo presente que Martha deixara para ele. E o homem o amaria da mesma forma que amava as outras duas filhas. O Xerife beija o filho amorosamente na testa, e o leva para fora do quarto.

FAZENDA FRANKLIN

A noite j caiu sobre Gatlin. David Franklin se encontra deitado em seu quarto. Quem olhasse para o menino de oito anos, moreno e de olhos verdes, fitando o teto do quarto, poderia supor que ele estivesse morto, tamanha era a sua imobilidade. Sua me entra cuidadosamente pela porta aberta, olhando para o filho com preocupao.JULIEQuer que eu prepare alguma coisa pra voc comer?David permanece em silncio.JULIESe precisar de qualquer coisa, vou estar no quarto(Diz aflita)Julie se retira, e em seguida, o garoto escuta o som da porta do quarto da me bater com fora. David sabe exatamente o que a me vai fazer agora. Ela vai se trancar no quarto, e se entupir de remdios para dormir, como fazia na maioria das vezes em que se via diante de um problema. Esta mania da me causava em David uma mistura de pena e desprezo. Como era possvel que sua me fosse to fraca que no fosse capaz de proteg-lo naquele momento?Pior, como Deus, que o Padre Horton dizia ser to poderoso e bondoso, capaz de ver a tudo e a todos permitia que ele sofresse, com aquela famlia horrorosa? Como permitia que a cidade sofresse tanto com a fome e a misria provocada pelas colheitas ruins? A ltima pergunta de Johnny Franklin ainda ecoa na cabea do filho. Deus havia abandonado Gatlin?Neste instante, David ouve um leve rudo ritmado. O menino olha assustado ao redor do quarto, procurando no escuro a fonte daquele repentino barulho. Mas ao olhar para a janela, a criana se acalma ao ver um corvo bicando o vidro insistentemente.Os pais de David detestavam corvos. Diziam que eles acabavam com a plantao. Mas o menino sabia que os animais eram o menor dos problemas enfrentados pelos milharais da cidade. Alm disso, o garoto admirava a coragem dos pssaros em ignorar completamente os ridculos espantalhos que seu pai e os outros adultos da cidade espalhavam pelo milharal.Sem saber o porqu, a criana levanta-se, e abre a janela. O corvo entra batendo as asas e pousa em cima do armrio. David anda lentamente at o armrio, olhando para o pssaro, que o encara de volta com vvida ateno.DAVIDO que voc t fazendo aqui?O corvo grasna em resposta, e voa pela porta aberta. David corre para o corredor e v o pssaro empoleirado no corrimo. O menino vai em direo ao animal, que volta a alar voo, planando para o andar de baixo. O garoto desce as escadas correndo. Ao chegar ao p da escada, ele volta a ver o corvo, desta vez, empoleirado sobre a maaneta.Ao se aproximar, o menino sente uma pontada de medo. Ele vira-se para o armrio de ferramentas do seu pai sob a escada. O menino abre o armrio, e retira uma velha foice de uma das prateleiras. O corvo continua a observar a criana, sem demonstrar reao. David vai at a porta, mas antes que toque a maaneta, o corvo volta a alar voo. Desta vez, o menino pode sentir as asas do animal roarem o seu rosto. O garoto abre a porta, e segundos depois, o corvo passa por cima de sua cabea, e some no cu noturno, sobrevoando o milharal.Enquanto desce os degraus da varanda, David observa o milharal em frente sua casa. H algo diferente neles. Antes do anoitecer, os ps de milho estavam secos e fracos. Mas agora, mesmo tendo somente a luz da varanda como nica fonte de iluminao, o garoto consegue perceber que a primeira fileira do milharal ostenta ps de milho vistosos e saudveis.Havia mais alguma coisa diferente. David pode ouvir algum andando por trs das fileiras. Mais do que isso. Ele pode sentir que h algum andando por trs das fileiras. Repentinamente, uma voz falou com ele. E ao ouvir aquela voz, David sentiu medo, mas tambm profunda admirao.

QUARTO DE KATHRYN: MANH SEGUINTE

O quarto da pequena Kathryn Harris banhado pela luz do cu no momento em que o pai da menina abre as cortinas. A garotinha revira-se na cama, cobrindo-se com o lenol.TIMOTHLevante e brilhe, mocinha(Diz puxando o lenol).A menina senta-se na cama, ainda esfregando o rosto, e pe os chinelos.TIMOTHAnda, vai lavar o rosto. Daqui a pouco Linda vem te ajudar com o uniforme.A menina vai emburrada para o banheiro. Timoth sai do quarto de Kathryn, e bate na porta do quarto ao lado, pertencente filha mais velha.

QUARTO DE LINDA

Linda esta sentada em frente a sua penteadeira, fitando-se no espelho, com uma expresso angustiada no rosto. Ela j esta usando o uniforme do colgio, mas a pssima noite de sono que teve pode ser constatada em seus olhos cansados. A garota sobressalta0se ao ouvir as batidas na porta. Ela rapidamente levanta-se da cadeira onde est. S uma pessoa bate na sua porta.LINDAEntra pai.Timoth abre a porta, permanecendo parado na soleira.TIMOTH Voc pode ajudar a Kathryn a se arrumar enquanto eu preparo o caf de vocs duas e esquento o leite do Dan?LINDAClaro, pai(Diz cansada)A moa passa por Timoth na porta, mas ele delicadamente pega o ombro da filha.TIMOTHEspere ai. Voc t com algum problema?LINDAProblema? Claro que no!TIMOTHEu conheo voc. Tem alguma coisa te incomodando.LINDAEu j disse que no tem!(Responde ela com contida irritao)Por um instante, Linda arrepende-se do seu tom de voz, j que v magoa e irritao surgir nos olhos do pai, mas estes sentimentos logo so substitudos por compreenso.TIMOTHTalvez... Talvez voc no queira conversar sobre esse problema comigo. Mas eu quero que saiba que estou aqui para o que precisar.Pai e filha se encaram em silncio. Linda baixa os olhos para o choLINDAObrigada, pai(Diz em voz baixa)Neste instante, Kathryn sai do banheiro e fala impaciente.KATHRYNLinda! Pensei que voc ia ajudar a me vestir.LINDAE vou. Vamos l, resmungona.Linda passou a mo pelo ombro da irm menor, e a conduziu para o seu quarto.

ESCOLA BLOCH

Timoth estaciona sua caminhonete em frente nica instituio de ensino de Gatlin. A escola dividida em dois pequenos blocos, separados por uma grande cerca de metal gradeado. O primeiro bloco abrigava os alunos do primrio e do secundrio. Uma pequena pracinha est instalada na frente deste bloco. Tanto o cho quanto as paredes so pintadas de azul e laranja, dando um ar bastante ldico ao local. J o segundo bloco recebe os alunos do ginsio. Ao invs de uma pracinha, h uma quadra poliesportiva. As paredes do local so cinzas e brancas, contrastando com as cores do bloco do outro lado da cerca.As duas garotas descem do carro, uma aps a outra. Ambas usam o uniforme da escola, uma saia verde musgo, e uma blusa branca. O beb Dan j havia sido deixado na creche da cidade, administrada pela igreja local.Timoth, j usando o uniforme e chapu azul que o identificavam como Xerife da cidade tambm desce do carro, juntando-se as filhas na calada. A adolescente dirige-se ansiosamente ao pai.LINDAEu preciso ir. Quero falar com algumas amigas antes que a aula comece.TIMOTHClaro. Voc pode ir.KATHRYNTchau Linda!(Gritou abanando para a irm).A adolescente abana desanimada para a irm, e desaparece ao passar pelo porto.TIMOTHAgora vamos, mocinha. Eu quero falar com Annie antes que a aula comece.A menina olha assustada para Timoth.KATHRYNPor que quer falar com a minha professora, pai? Eu fiz alguma coisa de errado?TIMOTHO que quero falar com a Srta. Leigh no tem nada a ver com voc(Diz tranquilizador).KATHRYNMas ento o que voc quer falar com ela?TIMOTHDeixa de ser curiosa e vamos logo!O Xerife e sua filha entram pelo porto que d acesso a colorida pracinha. Algumas crianas j brincam por ali.TIMOTHPode ir brincar com os seus amigos.Kathryn lana um ultimo olhar curioso para o pai, e vai se encontrar com algumas amigas que brincam em um balano da pracinha.O Xerife Harris atravessa a pracinha, e entra em um amplo corredor, que to colorido quanto o ptio do lado de fora. Timoth anda calmamente passando por algumas poucas crianas que preferiram brincar por ali. O policial pra diante de uma porta aberta, onde se pode ver um cartaz colorido escrito Turma C. Uma bela mulher de cabelos negros e usando um comportadssimo vestido cinza est sentada na mesa dentro da sala, escrevendo concentrada em seu caderno. O homem ergue a mo e d duas pequenas batidas na porta.TIMOTHBom Dia, Annie.Posso entrar?A professora vira-se para a porta para ver o seu visitante. Ao ser fitado pelos belos olhos castanhos de Annie, Timoth lembrou-se quando ambos eram mais jovens e namoravam. Como ele adorava aqueles olhos! Na juventude, ele achava que amaria Annie para sempre. Mas ento Martha apareceu, e tudo mudou. Ele se apaixonou perdidamente pela mulher que se tornaria me de seus filhos, e rompeu o namoro com Annie Leigh.Contra todas as expectativas, Annie e Timoth tornaram-se bons amigos. No comeo, essa amizade gerou intrigas e fofocas na cidade, mas Martha nunca se importou. Tinha convico de que Timoth lhe era fiel, e dizia inclusive gostar de Annie. Embora elas nunca tenham se tornado amigas de fato, Annie fora convidada para jantar pela falecida Sra. Harris mais de uma vez.Annie tornou-se professora logo que Linda entrou na escola, e por essa razo, sua convivncia com o casal Harris diminuiu. Entristecia o Xerife o fato de Annie nunca ter se casado, e ele torcia para que no tivesse nada a ver com isso. Desde a morte do pai h cinco anos, a professora tornara-se uma mulher solitria, excetuando um ou outro namoro mal sucedido com forasteiros, at onde ouvira falar. Por no seguir as regras sociais de casar na idade, a professora era um alvo fcil para as lnguas ferinas de Gatlin, e Timoth no hesitava em usar a sua autoridade para sufocar tais comentrios quando tinha a oportunidade. Pois apesar de no amar mais Annie, nunca deixou de respeita-la, admir-la, e confiar nela.ANNIEClaro. Entre Timoth. O que faz por aqui?(Diz sorrindo amigavelmente)O Xerife entra retirando o chapu da cabea, revelando os cabelos pretos que aos poucos comeam a ficar grisalhos, e aproxima-se da mesa da professora.TIMOTHEu precisava pedir um conselho. Na verdade, talvez seja um favor.ANNIEAnda tendo algum problema com a Kathryn?O xerife torce levemente o chapu nas mos, parecendo hesitante.TIMOTHNo. Com Kathryn as coisas esto calmas. Quer dizer to calmas como poderiam com uma menina espoleta como ela. O meu problema com a mais velha.Annie arregala os olhos, espantada.ANNIELinda? Mas Ela no minha aluna h muito tempo. Eu no vejo como...TIMOTHEu sei, mas eu realmente preciso de ajuda com ela. Eu tenho certeza que Linda esta com algum problema, mas no acho que seja algo que ela queira... Conversar com o pai, entende?ANNIEEntendo, Tim. E eu adoraria ajudar, mas...TIMOTHEla gosta muito de voc. At hoje ela diz que voc foi a melhor professora que ela j teve. Linda tem suportado muita coisa desde a morte de Martha, e me apoiou muito. Tenho tentado fazer o mesmo por ela, mas acho que tem coisas que s uma mulher pode fazer.ANNIETudo bem, mas por que eu, Tim?TIMOTHPor que eu no confio em mais ningum pra fazer isso por mim. Por favor, Annie, eu sinto que minha filha esta sofrendo.(Diz deixando escapar uma nota de suplica).Annie olha em duvida para o Xerife, parecendo constrangida, mas enfim assente.ANNIEMuito bem. Eu vou falar com ela e ver o que eu posso fazer.TIMOTHObrigado Annie. Eu sabia que podia contar com voc(Diz sorrindo com gratido).Timoth volta a colocar o chapu na cabea, e dirige-se sada. Ao chegar at a porta, ele volta-se para a professora.TIMOTHS tome cuidado ao falar com ela, sim? Apesar de madura, ela ainda s uma menina e...A mulher lana um olhar rgido para o Xerife.ANNIEEu vou falar com ela, Tim(Diz rispidamente).O espanto no rosto de Timoth logo se transforme em um sorriso. Annie podia ser uma pessoa doce, mas nem por isso deixava de ter um gnio forte. Talvez essa tenha sido uma das razes de ele ter se apaixonado por ela quando ambos eram mais jovens.TIMOTHClaro. Como eu disse, confio em voc.PORTO DA ESCOLA BLOCHEnquanto atravessa o ptio, o Xerife Harris v a filha mais nova brincando no balano com uma amiguinha. No havia assunto que ele no pudesse falar com Kathryn. Em outros tempos, tambm fora assim com Linda, mas este tempo havia passado, assim como o tempo de Kathryn passaria.Nesse momento, algum esbarra de leve em Timoth. Algum pequeno. O Xerife segura a reprimenda que ia dar ao ver qual criana esbarrou nele. Ningum menos do que o mais recente rfo de Gatlin, David Franklin.TIMOTHDesculpe, David. Eu no vi voc.David encara Timoth com um olhar frio. No parecia estar bravo, mas curioso. Entretanto, a curiosidade que brilhava no rosto do menino no era a tpica curiosidade infantil, mas sim analtica. Aquele era um olhar que o Xerife no estava acostumado a ver no rosto de uma criana.DAVIDA culpa foi minha, Xerife(Responde o garoto educadamente).Definitivamente, Harris no estava acostumado com aquilo. Quando as crianas de Gatlin se dirigiam a ele, sempre era com certo medo respeitoso imposto pelo uniforme de Xerife. Mas Timoth tinha a ligeira impresso de que no havia nenhum sinal de temor na voz do menino, e apesar do tom formal, tambm no havia respeito.

PTIO DO COLGIO

hora do intervalo na Escola Bloch. Vrios alunos caminham pelo enorme ptio localizado atrs do colgio. Diferente do ptio frontal, que separa os alunos mais velhos dos mais novos atravs de um muro, este ptio no distinguia as crianas dos adolescentes.A maior parte dos estudantes do ginsio preferia ficar no ptio frontal, ou nos corredores do colgio reservado aos ltimos anos de ensino, para no ter que compartilhar o seu espao com os pequenos. Mas este no era o caso de Richard Deigan.Richard Deigan era um repente de dezoito anos, temido por alguns de seus colegas. Gostava de perseguir e implicar com os mais tmidos e fracos. Mas entre os alunos menores, era considerado um verdadeiro bicho papo. O rapaz roubava o lanche e o dinheiro de muitas das crianas, e as intimidavam, falando-lhes sobre o que aconteceria a elas caso ousassem contar alguma coisa a algum.Richard est escorado no muro, cercado por mais trs amigos. O rapaz observa os alunos que passam, saboreando cada olhar de medo e admirao que lhe lanado. Neste momento, um menino de cabelos escuros se aproxima do grupo. Deigan fita a criana com ateno, e incomoda-se ao perceber que o garoto aproxima-se dele sem demonstrar sinal de hesitao. A expresso em seu rosto quase serena.David para diante do grupo, e dirige-se diretamente a Richard Deigan, com a voz firme e tranquila.DAVIDEu preciso conversar com voc.Richard desencosta-se do muro, fitando David com desdm.RICHARDE o que um merdinha como voc ia querer comigo?DAVIDEu sei por que voc sente essa necessidade de se colocar acima dos outros, mas no precisa ser assim(Diz o menino inabalvel).Richard d um passo na direo do menino.RICHARDComo , moleque?(pergunta em tom ameaador)DAVIDVoc sabe do que eu estou falando, Richard. Estou falando das suas noites sem dormir, e dos pesadelos que tem quando consegue dormir. Todo esse dio dentro de voc esta envenenando a sua alma. Mas eu posso...Em um movimento rpido, Richard agarra a gola de David, puxando o menino para perto de si. S as pontas dos ps da criana tocam o cho. A raiva fasca nos olhos de Richard Deigan.RICHARDEu devia te fazer engolir os dentes por ficar falando essas merdas.David estica o pescoo, at a sua boca ficar ao lado do ouvido do valento. O menino fala numa voz baixa e tranquila.DAVIDEle me contou como voc se excita, Richard. A forma pecaminosa com que voc faz isso. No consegue obter prazer nos seus devaneios se ele no for obtido fora, no mesmo?Richard sente a raiva borbulhar dentro de si, e atira o menino com fora no cho. O adolescente d alguns passos na direo de David, que continua a olha-lo de forma desafiadora. Raiva no o nico sentimento que o valento sente por aquela criana neste momento. Richard Deigan tambm est com medo. Os amigos de Deigan olham para o seu lder, esperando alguma ordem.RICHARDQuem... Quem te contou essas mentiras, pirralho?(Pergunta com voz tremula)Richard sabia que esta era uma pergunta vazia. No havia como ningum saber de suas fantasias. Deigan nunca contara a ningum, e nem registrara em lugar algum. Mas aquele maldito menino sabia. Ele sabia.DAVID Deus me contou, Richard. O verdadeiro. O do antigo testamento. Aquele que se importa com Gatlin. Aquele que anda por trs das fileiras.Um silncio sepulcral se instala. Tanto Richard quanto seus amigos olhavam para o garoto no cho com um misto de assombro e incredulidade. Neste momento, a Sra. Waton, uma das monitoras, uma mulher com cerca de cinquenta anos, que usava culos e mantinha curtos os seus cabelos grisalhos, aproxima-se do grupo.SRA. WATONO que esta acontecendo aqui? Aterrorizando os menores de novo, Deigan?!(Pergunta em tom autoritrio).David levanta, espanando a poeira da roupa com as mos.DAVIDNo nada disso, Sra. Waton. Eu ca.Apesar da postura firme do menino, a monitora no parece convencida.SRA. WATONPode dizer a verdade pra mim, David. Voc no precisa ter medo desses valentes. Dou a minha palavra que eles no vo machuca-lo.David olha de forma quase carinhosa para Richard e seus amigos.DAVIDEu no tenho medo deles, Sra. Waton. O nico que devemos temer Deus, a senhora no concorda?Ele sorri para a monitora, que sente um arrepio percorrer-lhe a espinha.DAVIDEu preciso ir agora. O recreio esta quase no fim. Terminamos nossa conversa depois, Richard, e pense sobre o que eu disse, t?

CORREDOR DO PRDIO DE GINSIO

Linda Harris esta sentada em um dos vrios bancos de madeira espalhados pelos corredores do Ginsio Bloch. A garota olha tensa para o relgio no alto da parede, constatando que faltam pouco mais de cinco minutos para o fim do intervalo. Ela precisa falar com Rob antes que o recreio chegue ao fim.Foi ento que a garota viu Rob Soul surgir no corredor acompanhado de seus amigos, e sentiu seu corao acelerar dentro do peito. A garota levanta-se e anda decidida em direo aos garotos. Ao ver Linda se aproximando, Rob abre um grande sorriso.ROBOi Linda, tudo bem?LINDAOi Rob. E ai pessoal, tudo bem?(Diz dirigindo-se ao resto do grupo)AMIGO DE ROBSalve a madame justia!Um dos amigos de Rob ensaia uma reverncia, e todos, exceto Rob, caem na gargalhada.ROBVocs querem parar com a palhaada?!Constantemente, Linda sofria provocaes por ser a filha do Xerife. Isso nunca a incomodou, e especialmente hoje, ela sequer deu-se ao trabalho de responder.LINDAA gente pode falar... A ss?(Diz olhando constrangida para os outros garotos)Os amigos de Rob voltam a cair na gargalhada e fazer piadas.AMIGO DE ROBCuidado Rob. O pai dela te pe na cadeia.Mais risadas. Desta vez Rob que os ignora.ROBClaro Linda. Vem comigo.O rapaz pega a garota pela mo, e a leva para longe. Linda mal percebe para onde Rob a esta levando. Tudo que ela quer ter aquela conversa com o namorado de uma vez, e se livrar do fardo que estava carregando. Quando se deu conta, Linda estava de baixo da escada, perto do armrio de produtos de limpeza. No era um lugar romntico, mas era reservado o bastante para ela conversar o que queria com ele.ROBEnto? Pode falar.Linda olha fundo nos olhos de Rob.LINDANa festa da Cissy, voc falou em me pedir em namoro. Voc falou srio?ROBClaro. Por mim, eu j tinha falado com o seu pai, mas voc disse que era melhor esperar.LINDAEle estava se recuperando do que houve com a minha me, e... Achei que no fosse a hora. Talvez tenha sido um erro. Um de muitos(Diz com uma nota de arrependimento na voz).Rob olha com estranheza para a garota.ROBLinda, desabafa comigo.(Diz com sinceridade).LINDAEu no vou forar voc a nada, Rob. Mas voc tem que saber que voc e eu fomos longe demais naquela festa.Rob lembra-se da noite de amor que tivera com Linda em um dos quartos da casa de Cissy h quase dois meses.ROBVoc se arrepende de ter tido a sua primeira vez comigo, isso?(Pergunta encabulado)Linda parece irritar-se com o comentrio.LINDANo! Voc no entende mesmo, no ? Rob, eu ando sentindo umas sensaes estranhas, e... Eu acho... Eu acho que estou grvida!

Notas finais do captuloEspero que tenham gostado do captulo. Ainda no houve grandes acontecimentos, pois queria usar este captulo para apresentar os personagens principais e tudo mais.

Mas garanto que as coisas esquentaro bastante em Gatlin nos prximos captulos.

Quem puder, deixe o seu review comentando o que funcionou ou no.

Abrao a todos, e at o prximo captulo!

Captulo 2A Pedra Fundamental

Notas iniciais do captulo

Desculpem pela demora gigantesca em postar o segundo captulo, mas a coisa andou corrida por aqui.

Mas enfim, o segundo captulo. Espero que gostem.

" O Senhor confia os seus segredos aos que o temem, e os leva a conhecer a sua aliana"Livro dos Salmos

CORREDOR DO GINSIO: ESCOLA BLOCHRob Soul olha estupefado para Linda. O que a garota disse no podia estar acontecendo. Linda Harris no podia estar grvida dele. O rapaz pergunta com pnico na vozROBVoc tem certeza do que t falando?LINDAAcho que tenho(Diz insegura)ROBVoc no pode achar! Tem que ter ou no!LINDANo grita comigo(Diz com os olhos comeando a ficar marejados)Arrependendo-se de sua reao, Rob abraa a jovem.ROBMe desculpe. No devia ter falado assim. Mas por que... Por que acha que est grvida?LINDAEu to... To atrasada um tempo. Os meus seios comearam a crescer.ROBIsso no quer dizer que...Ela continua, como se no tivesse ouvido a interrupo.LINDATenho enjoado por quase qualquer coisa. Tenho muito sono, mas no consigo dormir de preocupao. Tenho pensado muito na minha me, e de como ela reclamava dessas coisas logo que engravidou do Dan.Enquanto o sinal para chamar os alunos de volta as aulas toca, Rob olha para o teto.ROBMeu deus! A gente t ferrado!Linda segura a mo do garoto, e diz em um tom quase suplicante.LINDAVoc no vai me deixar sozinha, vai?Ele a abraa.ROBEu te amo Linda! E tambm no vou fugir da minha responsabilidade. Seu pai provavelmente vai me matar, mas vamos contar juntos, esta bem?CORREDOR DA ALA INFANTIL DA ESCOLA BLOCHDavid Franklin sente-se muito bem consigo mesmo, de uma forma que poucas vezes se sentira. Estava realizando bem a tarefa para a qual fora chamado. David nunca fora uma criana de muitos amigos. Mas tinha o bastante para espalhar a sua mensagem. Era um garoto deprimido, que acabara de perder os pais, e que precisava do apoio dos colegas. Por isso convidara estes poucos amigos para uma reunio em sua casa dentro de trs dias. E pediu que estes amigos levassem seus amigos, irmos e irms. Seria um comeo. E seria um brilhante comeo.

FACHADA DA ESCOLA BLOCHRichard Deigan, e trs amigos, Wally, Keith e Zack, esperam a sada de David. Como os alunos do ginsio so liberados dez minutos antes do que os alunos do primrio e do secundrio, Richard achava que no havia chance do pequeno Franklin sair sem ser visto, mas comeava a duvidar disso. J estavam ali h mais de meia hora e ainda no havia nem sinal do menino.Grande parte dos alunos do primrio e do secundrio j havia sado. De onde estava Richard pde ver Kathryn sair pelo porto, e encontrar Linda, que a estava esperando. Aps as filhas do Xerife irem embora, Deigan assistiu as crianas menores serem buscadas por seus pais, mas ainda nem sinal da criana que ele realmente queria ver.Quando o porteiro, um velho de expresso mal humorada, comea a fechar os portes, Richard v o semblante do porteiro fechar-se ainda mais, para ento ele voltar a abrir um dos portes para dar passagem ao pequeno David Franklin. O menino v o pequeno grupo sua espera, e caminha na direo deles, sem qualquer receio.DAVIDOi gente. Imaginei que vocs iam estar por aqui(Diz jovialmente).Richard aproxima-se ameaadoramente do menino.RICHARDQuem te contou aquelas coisas?David encara Richard com ateno, e ento os amigos do rapaz atrs dele.DAVIDVocs tem alguma coisa pra fazer? O caminho at a minha casa um pouco longo. Se vierem comigo, eu conto como eu soube dos seus pecados, Richard.Os amigos de Richard entreolham-se. Deigan, que sempre se mostrou to seguro de si parecia preocupado, assustado at. Mas o que aquele menino poderia saber do garoto mais barra pesada de Gatlin? Afinal, ele no passava de uma criana!RICHARDOk. Vamos com voc, pirralho.Wally, um dos trs rapazes que acompanhavam Deigan parece no acreditar no que ouviu.WALLYQual Richard. A gente pode dar uma prensa nesse pirralho, e ele fala tudo o que voc...RICHARDCala a boca! A gente vai com o garoto e deu! Andando pirralho!(Diz dirigindo-se a David)DELEGACIA DE GATLINA delegacia de Gatlin era relativamente pequena para uma central de policia. Localizada no centro da cidade, a delegacia contava com uma minscula sala de espera, separada do local de trabalho dos policiais apenas por um balco. Atrs do balco havia um espao um pouco maior, onde trs dos cinco homens que formavam a fora policial de Gatlin estavam trabalhando.A sala do Xerife podia ser identificada por uma porta onde se lia o seu nome na vidraa. A sala do Xerife tinha mais ou menos o mesmo tamanho da sala comum dos policiais, j que abrigava os arquivos da polcia de Gatlin.Por fim, havia uma porta que dava acesso carceragem, que no passavam de duas pequenas celas. Por fim, havia um pequeno cubculo que servia de banheiro para os funcionrios, j que os presos tinham as suas prprias latrinas.Foi nessa delegacia que as filhas do Xerife Harris entraram no comeo daquela tarde. Sem cerimnia alguma, Linda dirigiu-se a campainha sobre o balco, e tocou-a. Otis Lyns, um dos policiais, levanta-se de sua mesa e vai at o balco, abrindo um sorriso ao ver as duas garotas.LINDAComo vai, Otis? O meu pai est?OTISSeu pai t no escritrio. Quer ir falar com ele?LINDAEu queria sim. Pode dar uma olhada na minha irm enquanto eu falo com ele?KATHRYNPor que no posso entrar tambm?(Pergunta emburrada)LINDAPor que eu quero falar sozinha com o pai!(Diz autoritria).KATHRYNMas isso no justo!OTISNossa Kathryn. Eu sou to chato assim?(Diz fingindo mgoa)Kathryn lana um olhar culpado ao policial, enquanto Linda passa pela abertura do balco.LINDAObrigada(Diz num sussurro ao policial).ESCRITRIO DO XERIFEO Xerife Timoth Harris derrama a gua que acabou de ferver dentro da cafeteira, e observa o liquido negro comear a se concentrar na cafeteira. Neste momento, ele ouve a porta do escritrio abrir, e ao se virar, v a filha mais velha entrar no recinto.TIMOTHO que faz aqui? Cad a sua irm?LINDAAli fora. Otis t cuidando dela(Diz fechando a porta).Do canto da sala, Stuart Doyle, um homem alto de cabelos loiros, baixa o mao de folhas de papel que estava lendo, e ergue o brao em saudao garota.DOYLEEi, Linda! Como vai?LINDAVou bem, Assistente Doyle. Pai, eu podia... Falar a ss com voc?O Xerife e seu assistente trocaram um olhar. O jovem acena com a cabea e deixa a sala.LINDAEu tenho que fazer um trabalho na casa de uma amiga. Por isso, no vou poder tomar conta da Kathryn hoje. Tava pensando em deixar ela na creche da igreja junto com o Dan.TIMOTHKathryn j no esta mais na idade de ficar na creche. Por que no a leva casa de sua amiga? Ou a convida para ir fazer esse trabalho na nossa casa?LINDAEla t um pouco doente. Nem foi na aula hoje e no pode sair de casa. Por isso eu no acho legal levar a Kathryn. Ela vai ficar agitando e incomodando, e...TIMOTHTudo bem. Voc pode levar a Kathryn a igreja e deixa-las com as freiras da creche. Acho que elas no vo se importar. S no digo o mesmo da sua irm.LINDAObrigado, paiEla sorri aliviada, e vira-se pra deixar a sala, sem ver que o pai pousou a xcara sobre a mesa.TIMOTHQual mesmo o nome desta sua amiga?(Pergunta olhando-a com ateno)LINDAO nome dela?TIMOTHFoi o que eu perguntei(Diz olhando a filha com desconfiana).LINDAEmma. Emma West(Responde ela rapidamente).O no responde nada por um instante. Mas ento sua expresso se desanuvia.TIMOTHVoc pode ir, filha. Tem a minha permisso.A garota assente com a cabea, e sai. Logo depois, Doyle retorna a sala, e fecha a porta.DOYLEO que ela queria, Chefe?Timoth no responde. Apenas pega a xcara e toma o caf, pensativo.ESTRADADavid anda por uma estrada de terra ladeada por um milharal, sendo seguido de perto por Richard e seus colegas. Eventualmente, o lder do grupo perguntava ao menino para onde estavam indo, mas a criana apenas pedia que eles esperassem mais um pouco. Deigan tenta conter a ansiedade e irritao de seus colegas. Mas no consegue impedir Wally quando ele acelera o passo e se coloca na frente de David, impedindo o seu caminho.WALLYChega de passeiosinho. Se esse pirralho tem alguma coisa pra contar, ele vai contar agoraWally agarra David pelo colarinho, quase o erguendo do cho.WALLYDiz logo o que o Deigan quer saber, ou eu afundo o seu nariz a soco!David encarava Wally com um misto de curiosidade e divertimento.DAVIDEu vou dizer mais do que isso. J se perguntou Wally, se os seus colegas pensam por que no voc e sim o Deigan que manda nesse clubinho de vocs?Deigan e os dois rapazes restantes se entreolham, no entendendo o que o menino quis dizer. Wally, entretanto, esta com o rosto vermelho de raiva.DAVIDAlguns se perguntam. Mas nenhum consegue utilizar a palavra certa. devoo, Wally. Voc deixa o Richard achar que o bad boy da cidade, por que no pode demonstrar a sua devoo ele do jeito que gostaria. Mas outras companhias te serviram de consolo.Wally ergue o punho pronto para socar aquele rostinho irritante, mas uma mo segura o seu pulso, enquanto um par de braos agarra o seu peito. A gola do menino rasga devido fora com que era segurado, enquanto Wally tenta se livrar dos braos que o puxam para longe.WALLYEu vou te matar, seu nanico de merda! Ouviu bem? Eu vou te matar!Richard Deigan olha para o colega enfurecido, e ento se aproximou de David, observando o menino passar os dedos despreocupadamente pela gola rasgada.RICHARDEu conheo o Wally. Ele no vai se segurar por muito tempo. T na hora de falar, pivete.DAVIDEu prometi que ia contar no caminho. A gente t quase chegando em casa. E vai chegar mais rpido ainda se pegar um atalho pelo milharal.WALLYMe d um minuto com ele, Deigan! S um minuto!Deigan vira-se, e grita com autoridade.RICHARDEu j mandei ficar frio, Wally! No me faz engrossar contigo!Os dois rapazes se encaram em silncio. Richard ento vira-se para David.RICHARDSe estiver nos levando pra uma armadilha, ou se tentar fugir...Com extrema rapidez, Deigan saca um canivete, o abrindo bem prximo do rosto do menino.RICHARDSe estiver levando a gente pra uma armadilha, ou se tentar fugir, eu arranco as suas bolas.MILHARAL: MOMENTOS DEPOISOs quatro adolescentes so guiados pelo menino atravs do milharal. Richard nasceu e cresceu em Gatlin, como a maioria dos cidados. Estava acostumado com a mistura de odores de milho e folhagem exalados pelos campos de milho, e com o som da terra sendo esmagada por seus ps quando atravessava esses campos. Mas tudo parece estranho para o rapaz agora.E no apenas por causa dos ps de milho de folhas levemente amarelados, resultado da safra ruim que nada tinha a ver com os vistosos ps de milho de sua infncia. Era algo que ele s podia sentir, e no sabia explicar. Mas tinha certeza que aquele pivete saberia, assim como sabia sobre os seus segredos e desejos.DAVID triste ver os milharais, assim. Fraco e quase sem vida(Diz o menino de repente).RICHARDNo viemos aqui falar de milho(Diz Deigan com rispidez).DAVIDO milho tem tudo a ver com isso, Richard. Olhe em volta.Deigan obedece, e percebe que j no est mais cercado pelos ps de milho fracos e doentes que a cidade se acostumara a ver nos ltimos trs anos, mas sim por ps de milho ainda mais saudveis e vistosos do que aqueles que ele se lembrava de sua infncia.DAVIDEu j dei a resposta que voc queria, Richard. Eu conheo os seus segredos, assim como conheo os do Wally por que Aquele Que Anda Atrs Das Fileiras me contou. Ele quer salvar esta cidade da misria. Mas temos que fazer por merecer.Os quatro adolescentes olham incrdulos para o menino. Richard ento d uma risada nervosa, sendo acompanhado pelos companheiros.RICHARDVoc t doido pirralho!(Diz em um inseguro tom de gozao)DAVID s olhar esses ps de milho pra ver que eu no estou brincando. Essa cidade tem depositado a sua devoo no deus errado.WALLYEle t brincando com a gente, Richard(Diz o rapaz com irritao).David vira a cabea em direo a Wally. Richard pode ver um brilho cruel nos olhos do menino.DAVIDVoc tambm no vem depositando a sua devoo na figura certa, no Wally? Os seus amigos sabem em quem voc anda grudado quando no esta com eles? Com certeza no com garotas.Sem dizer uma nica palavra, Wally avana na direo do menino, e lhe d um forte soco no lado da cabea. O menino tem os ps erguidos do cho ao ser jogado contra os ps de milho. O som de folhas sacudidas segue-se ao barulho do corpo de David caindo no cho. A mochila que ele carregava desprende-se de suas costas, rolando no cho. A criana permanece imvel onde caiu por alguns instantes, mas lentamente comea a se levantar, como um bbado que se recupera de uma ressaca. H um corte em sua testa, de onde escorre um pequeno filete de sangue.WALLYIsso s uma amostra, seu merda!(Diz ameaadoramente indo em direo ao menino)Nesse instante, um corvo surgido do nada voa sobre o rosto de Wally, grasnando violentamente. Atordoado pelo sbito aparecimento do animal, o rapaz d alguns passos para trs, enquanto tenta espantar o pssaro com as mos. Mas no momento em que sente as garras e o bico do agressor arranharem o seu rosto, o rapaz sente o pnico lhe invadir.WALLYMe ajudem, porra! Tirem esse bicho de cima de mim!Zack e Keith correm em sua direo, mas alguns ps de milho movem-se sob os ps dos jovens, fazendo- os tropear. Richard observa a tudo como se estivesse hipnotizado. David engatinha com rapidez at a sua mochila, retirando algo l de dentro.Wally sente uma dor excruciante no olho, quando o corvo consegue enfiar o bico em uma de suas orbitas, e com um movimento rpido, arrancar todo o globo ocular. A dor e o desespero fazem com que o rapaz consiga agarrar o corvo, e atira-lo ao cho. Mas o pssaro cai de p, ainda com o olho de Wally preso ao bico.O rapaz cai de joelhos, gritando enquanto sangue esguicha de sua rbita vazia. Com dois rpidos movimentos de cabea, o corvo engole o olho que um dia foi de Wally. Keith comea a se levantar, mas surpreendido por David, que brande uma foice de mo em sua direo. O rapaz mal tem tempo de gritar, quando a lamina enterra-se em seu crnio, descendo at a testa.Deigan continua a observar a cena dantesca que se desenrola diante dos seus olhos como se tudo no passasse de um pesadelo. Zack levanta-se, no conseguindo acreditar que seu colega acaba de ser morto por um menino de oito anos. O garoto sente o seu corpo ser atingido por varias direes pelos ps de milho. Era como ser chicoteado de varias direes ao mesmo tempo.O corvo volta a alar voo em direo ao rosto de Wally, mas desta vez o rapaz mais rpido, e consegue agarrar a ave, aplicando tanta fora que quebra o pescoo do animal. Entretanto, mal o pssaro morto cai no cho, o rapaz desaba no solo logo em seguida, aparentemente vencido pelo choque de seu ferimento.O garoto chicoteado pelos ps de milho esta encolhido no cho em posio fetal, chorando como um beb, embora as plantas j no o agridam mais. Com as mos trmulas, Richard tira o seu canivete de seu bolso, e o abre. Com as duas mos, e bastante esforo, David consegue arrancar a foice da cabea do garoto que havia acabado de matar.David e Richard se encaram com as armas em mo. Deigan no acredita que uma criana possa ter uma expresso to fria depois de tudo aquilo. No, fria no era a palavra, corrigiu-se Richard mentalmente. A expresso no rosto de David era completamente serena. A perplexidade do rapaz mais velho s aumentou quando o outro soltou a foice e abriu um sorriso bondoso.DAVIDVoc v? Estou desarmado, e depositando a minha f em voc. E no sou o nico. Deus tambm tem f em voc. Por isso eu fui te procurar. Por que ele mandou.RICHARDCala a boca! O que voc?! Um demnio?!(Pergunta o jovem em desespero).DAVIDPor acaso um ser maligno nos oferecia essa fartura?(Diz apontando para os ps de milho).RICHARDFartura? Olhe o que essa fartura fez com o Zack!(retruca o rapaz apontando para o adolescente choroso encolhido no cho).DAVIDAquele Que Anda Por Trs Das Fileiras protege os seus. No se lembra de Sodoma e Gomorra? Das dez pragas do Egito?RICHARDEsta dizendo que esse... Que esse de quem voc fala ... Deus?DAVIDUm deus que se preocupa com voc, e no um deus capaz de deixar o filho morrer em um pedao de madeira. Um deus que quer ajuda-lo a canalizar essa raiva, promiscuidade e agressividade dentro de voc para algo positivo. Chega de culpa, Deigan. Chega de passar noites se masturbando enquanto imagina violentar garotas. Ele quer te salvar.Uma lagrima escorre pelo rosto de Deigan. Ele no podia duvidar. Algo havia tocado aquele menino.DAVIDEnto? Qual a sua escolha?Assim que o menino termina de falar, Wally atira-se furiosamente sobre David. A criana v o rosto do adolescente contorcido de dio e dor, com um filete de sangue negro escorrendo da orbita vazia. David sente o ar lhe faltar, medida que as mos de Wally apertam o seu pescoo.Subitamente, a cabea de Wally puxada para trs, e a lamina de um canivete lambe o seu pescoo. David sente o sangue quente esguichar em seu rosto, ao mesmo tempo em que escuta um som quase inumano emanar da boca do adolescente.Deigan puxa o corpo de Wally para trs, e comea a apunhalar descontroladamente o peito do colega. David ergue-se lentamente do cho, e limpa o sangue do rosto com a manga, enquanto Deigan continua a apunhalar Wally. O menino encosta a mo de leve no ombro de Deigan.Deigan para de golpear o cadver de Wally, e ainda de joelhos, vira-se para David. H lagrimas no rosto do rapaz mais velho. O menino estica a mo, limpando as lgrimas de Richard, embora acabe manchando-o com um pouco de sangue.DAVIDA jornada para a salvao pode ser difcil. Sacrifcios so precisos para atingir o bem maior. Mas vamos salvar essa cidade. Esta comigo, Deigan? Esta com ele?Lentamente, Richard abraa David.DAVIDVoc acaba de renascer, Irmo. E pra mostrar isso diante daquele que Anda Por Trs Das Fileiras, voc passara a ser chamado de Amos a partir de agora.O rapaz que um dia fora Richard, aceitou o seu batismo, baixando a cabea. Enquanto Amos Deigan se levanta, David anda at Zack, que continua encolhido no cho.DAVIDSei que esta com medo. Tambm tive medo quando ele me deu esta misso sagrada. Assim como Amos, voc foi poupado pois sua alma tem salvao. Vai se juntar a ns?O olhar no rosto de Zack foi resposta suficiente para David. Tudo estava saindo exatamente como Aquele Que Anda Por Trs Das Fileiras havia dito.

IGREJA DE GATLINLinda deixou Kathryn sob os cuidados das freiras na creche. As religiosas no viram problemas em cuidar da filha mais nova do Xerife e cuidar de Dan por mais duas horas, j que estavam com poucas crianas naquela tarde. Kathryn por outro lado, no gostou da ideia, bem como Timoth havia previsto. Mas a jovem sabia lidar com a irm, e conseguiu convenc-la a ficar.A garota foi ento para a praa que ficava em frente igreja. Ela havia marcado de encontrar Dan ali. O rapaz havia tido a ideia de contar ao Padre no confessionrio sobre o que havia acontecido, para ento pedir ajuda ao religioso para lidar com as famlias, especialmente com o Xerife.Linda observa o relgio que se localiza no centro da praa, e sente a sua ansiedade aumentar a cada movimento dos ponteiros. Rob est atrasado. Vrios pensamentos comeam a passar pela cabea da garota. Ser que o rapaz havia se acovardado? Ele iria abandona-la?LINDAEle prometeu!(Disse em voz baixa)A moa estava to ensimesmada, que no viu Annie se aproximando.AnnieLinda?A garota se sobressalta ao perceber a presena de sua antiga professora.LINDAOi Srta. Leigh.ANNIEAnnie. Eu no sou mais sua professora, esqueceu?LINDAA senhora sempre vai ser minha professora(Diz com um sorriso sincero).ANNIESe prefere assim. Posso me sentar um minuto com voc?LINDAClaroAnnie senta-se ao lado de sua antiga aluna, e logo percebe o modo aflito com que ela olha para o relgio.ANNIEEu no quero me intrometer, mas est esperando algum?LINDANo... Quer Dizer... Marquei um encontro com um amigo aqui.A desconfiana brilha nos olhos da professora.ANNIELinda, eu vou ser sincera. Seu pai me procurou hoje na escola. Ele esta preocupado com voc.LINDAComigo? Mas por qu?(Diz com uma nota de medo mal disfarada na voz).ANNIEEu acho que ele sente que voc no esta bem. Tem suportado muita coisa para uma menina da sua idade. Linda.LINDACom todo o respeito, Professora, eu no sou mais uma menina.ANNIEMas tambm no uma mulher feita.O tom de voz da professora firme, porem gentil. Sentindo-se envergonhada, Linda levanta-se do banco.LINDAEu preciso ir.ANNIEEspere Linda. Apesar do seu pai ter pedido pra eu te procurar, eu estou aqui por voc. Voc pode me contar o que quiser. Talvez eu possa at ajud-la a resolver o seu problema.Quando a moa se vira, Annie v nos olhos da jovem a fora que ela est fazendo para conter as lgrimas. E quase em um lamento que ela responde.LINDAA senhorita no pode me ajudar, Professora. Eu acho que ningum pode me ajudar.Delicadamente, Annie a pega pela mo, e a faz sentar-se novamente ao seu lado.ANNIEO que aconteceu meu bem? Do que voc esta com medo?Linda mantm a cabea baixa, sem encarar a mulher ao seu lado.LINDADe um monte de coisas, Professora. Eu fiz uma besteira. Simplesmente... Simplesmente aconteceu. Eu no queria... Quer dizer, eu queria. Mas no assim. No agora.A garota comea a chorar, e confortada por um silencioso abrao de Annie. Neste instante, Rob chega praa, e estaca ao ver a namorada sendo consolada pela professora. A mulher mais velha percebe a presena do rapaz, e ao ver a expresso no rosto dele, comea a compreender o problema de Linda.

CASA DE DAVID FRANKLINJulie Franklin espera ansiosa na cozinha a chegada do filho. Julie arrepende-se de no ter ido buscar David no colgio. Afinal, ele havia acabado de perder o pai. No era a hora de deix-lo sozinho. Na verdade, Julie sentia que ela prpria no devia estar sozinha. A mulher realmente sentia falta do falecido marido. Apesar de todo o mal que ele fizera a ela, de toda a brutalidade a que fora submetida ao longo dos anos, ela no conseguia deixar de amar o marido.Um rudo vindo do lado de fora interrompe os pensamentos da mulher. Ao olhar para a soleira da porta, Julie v o filho recortado pela luz do sol.JULIEDavid! Por que demorou tanto?(Diz levantando-se exasperada).DAVIDEu fiquei conversando com alguns amigos, e perdi a hora, me.O menino entra em casa, largando a sua mochila sobre uma das cadeiras. Julie logo percebe o sangue seco que mancha o rosto do filho.JULIEO que isso no seu rosto, David? Voc andou brigando?!Ela levanta-se e agarra o queixo do filho, na tentativa de examina-lo. Entretanto, o garoto se desvencilha, afastando-se.DAVIDEu to bem, me.JULIEClaro que no esta! Vem c, me deixa ver esses machucados.Lentamente, David vira-se e anda em direo me.DAVIDT bom, me.Logo, o garoto esta sentado na cozinha, enquanto sua me abre a maleta de primeiros socorros. Ela molha um pouco de algodo no iodo, e o leva at a ferida na cabea do menino. Ele cerra os dentes assim que o algodo mido toca o seu ferimento.JULIEVoc ainda no disse por que entrou numa briga.DAVIDNo foi uma briga. Foi uma provao.JULIEUma provao? Do que est falando, David? Quem foi que bateu em voc? Pode me contar. No precisa ter medo!David olha para a me com ternura. Ele estica o brao e acaricia o rosto dela.DAVIDEu no tenho medo, me. Eu sei que vai ser difcil, mas quero que voc tambm no tenha.Ela usa uma pequena tesoura para cortar um pedao de esparadrapo, que usado como curativo para o ferimento na testa de David.JULIEVoc ta muito estranho. Do que eu teria medo, garoto?DAVIDEu recebi um chamado. E eu tenho que responder esse chamado.Julie pousa a tesoura sobre a mesa, olhando o filho com estranheza.JULIEEst me assustando, David. Provao, chamado. O que quer dizer com isso?DAVIDQuero dizer que eu estou rezando para a sua alma ser salva. Quero dizer que eu te amo. Ento por favor, no me odeie.Antes que Julie tenha a chance de responder, o menino agarra a tesoura que esta sobre a mesa, e a enfia na jugular da me. A lamina da tesoura afunda no pescoo dela, at ser detida pelos dedais.A mulher levanta-se, empurrando o filho para longe, enquanto sua mo levada instintivamente ao cabo da tesoura. Julie cambaleia para o lado, e s no cai no cho, pois consegue se apoiar na pia. A fina dor que atravessa o seu pescoo s no maior do que o seu medo e incompreenso. Horrorizada, ela v David puxar a faca de cozinha do faqueiro sobre a pia, e avanar em sua direo.Ainda desequilibrada, Julie tenta segurar o filho pelos ombros, mas intil. A faca mergulha em sua barriga enquanto ela cai no cho, puxando David consigo. A mulher sente uma golfada de sangue jorrar de sua garganta atravs de sua boca, enquanto o menino se pe de p.Cada no cho, ainda com a tesoura cravada no pescoo, Julie s consegue ofegar. Ao ver o filho se aproximar, ela tenta levantar-se, mas seus membros parecem feitos de chumbo. David agarra o cabo da faca, e com esforo, puxa-a violentamente para cima. A lamina rasga a carne da mulher, gerando um corte vertical. Julie engasga-se com o prprio sangue, e em um gesto quase involuntrio move o brao, e crava suas unhas na pele do filho, arranhando o seu rosto.O menino levanta-se, levando a mo ao arranho. O rosto e as roupas do garoto esto encharcados com o sangue da me. Ele ajoelha-se ao lado dele, e ergue a faca acima da prpria cabea.DAVIDA dor vai expiar os seus pecados. Mas j chega. Eu vou lhe dar paz.Com as duas mos, David desfere uma punhalada certeira, atingindo o corao da me. O menino olha para o rosto da mulher. H medo e pavor no rosto dela, mas h outra coisa tambm. Algo que faz o garoto ter certeza de que fez a coisa certa. No ultimo olhar de Julie, David Franklin consegue ver perdo.DAVIDAdeus, mame.Amos Deigan surge na soleira da porta da cozinha, olhando primeiro para o cadver no cho, e depois para o menino ensanguentado que esta de joelhos ao lado do corpo. O rapaz pergunta com certo temor na voz.AMOSTudo bem, David?O menino no responde de imediato. Ele passa a mo sobre o rosto da me, fechando os seus olhos. David ento se levanta, e diz com a voz serena e tranquila.DAVIDEstou sim. Foi doloroso, mas necessrio. Temos que ser fortes, Irmo. Ainda h muito trabalho h ser feito. H muito que construir. Estamos s comeando.Sem dizer mais nada, David deixou a cozinha, adentrando a casa. Amos, que um dia se chamou Richard, encostou-se na parede, e deslizou at o cho. Enquanto o sangue de Julie Franklin comeou a tomar forma em volta de seu corpo, Amos reflete que Deus tinha que estar do lado deles, caso contrario, no teria permitido que um simples menino como David fizesse aquilo com a prpria me. O rapaz pde escutar o som do chuveiro ligando. No andar de cima, o pequeno David limpava o sangue de seu corpo.

Notas finais do captuloEm breve, o captulo trs. Espero que tenham gostado. Quem puder, deixe um review para dizer o que gostou, o que no gostou. Enfim, avalie o captulo. bom para o leitor, e para o escritor. :)

Grande abrao!

Captulo 3Verdade Sagrada

Notas iniciais do captuloEspero que gostem do captulo. Ele no tem muita ao e suspense, e mais focado nos personagens. Achei necessrio para o desenvolvimento da histria, mas prometo emoes mais fortes fisicamente falando para os prximos captulos.

Espero que gostem. e grande abrao!

"Certamente Deus esmagar a cabea dos seus inimigos, o crnio cabeludo dos que persistem em seus pecados.

Livro Dos Salmos: Antigo Testamento

IGREJA DE GATLIN

Annie Leigh esta sentada no banco da praa entre Linda Harris e Rob Soul em frente igreja. A professora olha de um jovem para o outro, sem saber o que dizer. Parte dela queria ser a mais rspida possvel com, por eles terem agido com tamanha irresponsabilidade. Por outro lado, Annie conseguia sentir o medo e a confuso daqueles dois adolescentes No final das contas, no passavam de duas crianas que agora teriam que cuidar de uma terceira.ANNIEDeixem-me ver se eu entendi. O plano era contar ao padre Horton no confessionrio sobre a gravidez de Linda, para que ento ele ajudasse a contar para os pais de vocs?LINDAA gente... No sabia mais o que fazer.(Diz envergonhada).ANNIEEnto acharam que seria uma boa ideia protelar o que tinham que contar aos seus pais atravs do segredo de confisso?!ROBNo amos protelar nada. A gente s tava querendo ajuda!ANNIEBom, agora vocs tm(Diz com um pequeno sorriso).A professora levanta-se do banco, sendo observada pelos dois jovens surpresos.LINDAVai ajudar a gente?ANNIEClaro que vou. Mas ns vamos agir rpido. No podemos deixar isso pra depois. Quanto mais tempo demorarmos pra levar isso pra famlia de vocs, pior vai ser.ROBA senhora... Vai contar?ANNIEEu no. Vocs vo contar.ROBNs vamos. Mas... na hora certa.ANNIENo existe uma hora certa pra contar uma coisa destas, Rob.ROBMas... E se ela no estiver grvida? amos criar problemas toa.ANNIEPelo que ouvi, acho pouco provvel que no esteja.Subitamente, Linda levanta-se do banco.LINDAVocs querem parar de falar como se eu no estivesse aqui?! da minha vida que ns estamos falando. Da minha e do meu filho(Diz ela irritada).Linda respira pesadamente. Delicadamente, Annie coloca a mo sobre o ombro da garota, enquanto Dan olha ao redor, temendo que algum tenha escutado as palavras da jovem.ANNIEEu vou estar com vocs, se quiserem que eu esteja l. Mas vocs dois precisam antes de tudo pensar nessa criana que vai chegar. Eu sugiro que a gente conte esta noite.ROBEsta noite?! Mas...LINDAEla t certa! No podemos ficar adiando. Vamos contar esta noite. Comeando pelo papai.A professora observa Linda com ateno. A garota com certeza estava com medo, mas pelo visto havia decidido que no seria controlada por este medo. Esta era a menina determinada para quem lecionara anos antes.

CASA DE DAVID FRANKLIN

Zack e Amos esto na varanda da casa. Aps ter matado a prpria me, David subiu para o andar de cima para tomar um banho. Amos no conseguiu ficar na cozinha, com o cadver de Julie Franklin sangrando no cho, e foi esperar por seu mentor do lado de fora da casa.Os dois adolescentes esperaram em silncio por mais de meia hora, mas David no dava sinal de vida. Aps algum tempo, Amos decidiu entrar na casa, e ver o que havia acontecido com o menino. Ele passou pela cozinha, fazendo o mximo possvel para no olhar para o corpo de Julie. Ao chegar ao p da escada, Amos, que j foi Richard, gritou para o andar de cima.AMOSDavid? Tudo bem com voc?A voz que respondeu do andar de cima no foi rspida, porem foi firme.DAVIDEstou timo! Me espere l na frente, e no volte a entrar at eu mandar.Sentindo uma ponta de medo, Richard imediatamente voltou para a fachada da casa, onde Zack estava. Neste momento, os dois rapazes encaram pensativos o milharal que circula a casa, at que Zack quebra o silncio.ZACKO que ns estamos fazendo aqui, Richard?(Pergunta em voz baixa)AMOSO que voc acha, Zack?! Esse garoto especial. Tem alguma coisa falando com ele. Talvez at mesmo Deus! No viu os ps de milho? No ouviu tudo o que ele sabia da gente?ZACKEu sei, cara. Mas olha em volta. Todas essas mortes! Eu to assustado!Subitamente, uma voz se faz ouvir atrs deles.DAVID bom estar com medo, irmo. S no deixe que o seu medo seja maior do que a sua f. Caso contrario, Deus vai saber. E ento vai me contar.Zack estremece ao ouvir David, que surge atrs deles, usando uma nova muda de roupas.DAVIDIsso seria um pecado gravc, Zack. Entregue-se a ns, e ter o paraso. Caso contrrio, sua alma ser esmagada. Me entende, irmo?ZACKClaro, David. Eu vou me lembrar disso.Um silncio sepulcral se instala entre os trs. Zack achou que aquele silncio duraria para sempre, at que a voz de David fez-se ouvir novamente.DAVIDAinda falta muito tempo para o sol se pr. Peguem foices l dentro. Ns vamos voltar para o milharal, e ceifar o milho ruim at o anoitecer.AMOSMas David, precisamos mesmo fazer isso? Ns vimos Aquele Que Anda Por Trs Das Fileiras fazer o milho bom crescer sozinho!Ele lana um olhar severo para Amos e aponta para a cozinha, onde se encontra o corpo da me.DAVIDSabe como se chama aquilo ali dentro?Amos gagueja ao tentar responder, quando cortado por David.DAVIDAquilo um sacrifcio! E todos teremos que fazer algum, seja de sangue, seja de suor. Ento entrem logo e peguem as foices para fazerem o sacrifcio de suor. Pois ele no vai demorar a reclamar o de sangue.Os dois jovens assentem, e obedientemente, dirigem-se para dentro da casa.DAVIDMais uma coisa. Eu preciso que faam algo pela minha me. Ela foi uma mrtir. Temos que tratar ela do jeito certo. Vocs vo me ajudar antes da gente ir pro milharal.AMOSE o que vamos fazer?(Pergunta temeroso)

FACHADA DA DELEGCIA

O sol comea a se por sobre Gatlin, lanando um brilho bronzeado sobre a pequena cidade. O Xerife Timoth Harris sai da delegacia do municpio, retirando as chaves do seu carro do bolso. O homem entra no carro, mas assim que fecha a porta do veculo, ouve pequenas batidas no vidro da janela. Ele rapidamente baixa a janela para falar com a mulher parada ao lado do carro.ANNIESer que eu ganho uma carona?TIMOTHPra onde a moa vai?(Pergunta em tom brincalho)ANNIENenhum lugar especifico. Eu s queria dar uma volta com um velho amigo.TIMOTHNo se preocupa com o que as pessoas vo dizer?ANNIESe eu me preocupasse, j teria me casado h tempos. Agora, vai me deixar entrar ou no?O Xerife balana a cabea, sorrindo. Essa era a Annie que conhecia,TIMOTHD a volta, madame.

CARRO DE TIMOTH

O Xerife dirige calmamente pelas ruas de Gatlin, tendo Annie ao seu lado.TIMOTHEnto, essa visita inesperada tem alguma coisa a ver com o que eu pedi hoje de manh?ANNIETem sim. Como sabe eu dou aula pra crianas. No trabalho com jovens da idade da Linda. Mas convivo com eles h bastante tempo pra saber quando esto com medo e precisam de apoio.A preocupao surge no rosto do policial.TIMOTHPor que esta me dizendo isso?ANNIEPor que verdade.TIMOTHO que ela te contou?A professora suspira, j esperando ouvir esta pergunta.ANNIEEla esta em casa, te esperando. Eu s peo que a escute, e tente entende-la. Deixe os julgamentos para depois.TIMOTHO que ela disse?(Insiste ele com um leve tom de raiva)ANNIEPergunte a ela. Eu fui ajudar Linda, e no ser sua espi.(Declara sem alterar a voz)TIMOTHEla minha filha! Se ela esta com algum problema, eu tenho todo o direito de saber!ANNIEE vai saber. Mas por ela. S lembre bem do que eu te disse. Ou melhor, lembre-se do que voc mesmo me disse hoje de manh. Linda tem passado por muita coisa.O Xerife no insistiu mais, mas manteve a expresso carrancuda e preocupada no rosto.

CASA DE TIMOTH HARRIS

Timoth estaciona o carro em frente sua casa, enquanto os ltimos raios de sol do dia brilham sob o negro da noite. Na varanda, Tim pode ver as duas filhas sentadas nos degraus da varanda. Kathryn, visivelmente cansada, empurra o carrinho de beb de Dan de forma montona.Ao ver o pai descer do carro, a filha mais velha pe-se de p. O Xerife percebe que Annie estava certa. Aquela garota esta realmente assustada. Mas h uma coisa que a professora no contou sobre Linda. Misturado com o medo, via-se determinao no belo rosto da moa.LINDAOi pai.Timoth permanece em silncio. Ele acha que comeou a entender o problema que tem afligido a sua filha. Ao ver a professora descer do carro atrs do pai, Kathryn imediatamente se levanta.KATHRYNOi Srta. Leigh. Tudo bem?(Diz a menina correndo em direo aos dois adultos).ANNIETudo bem sim, Kathryn. Obrigado por perguntar. Mas no estou aqui como a sua professora. Pode me chamar de Annie.KATHRYVoc vai ficar pra jantar, Annie?ANNIETalvez. Eu ainda no sei. A sua irm e o seu pai precisam conversar. Quer me ajudar a por o Dan pra dormir?KATHRYNU? Mas sempre a Linda ou o papai que fazem isso.ANNIEComo eu disse, eles precisam conversar. Vamos, querida.Annie pega Kathryn pela mo, e entra com a menina dentro da casa, levando o carrinho de Dan consigo. Durante este tempo, Linda permaneceu parada na varanda, enquanto Timoth continuou de p em frente ao carro. Assim que a professora entra com as crianas, Linda senta-se em uma das cadeiras da varanda, aparentando cansao. Sem tirar o chapu, o Xerife sobe os degraus da sacada, e encosta-se na beirada do portal.TIMOTHE ento? Estou ouvindo.LINDAEu estou grvida(Diz em um flego s).Tim tem a sensao de ter recebido um soco no corao. Depois do que Annie lhe disse. Ele esperava que Annie houvesse feito alguma besteira com algum rapaz, mas no que estivesse grvida. No, isso no podia ser possvel! Linda era uma criana. Uma garota. A sua garotinha!TIMOTHQuando... Quando descobriu?LINDAEu comecei a desconfiar a algumas semanas(Diz tentando segurar o choro).Timoth esfora-se para conter o turbilho de emoes que sente crescer em seu peito. Suas palavras saem quase sufocadas enquanto ele desencosta-se do pilar e aproxima-se da filha..TIMOTHQuem o pai?Uma lgrima escorre do rosto dela.LINDAUm garoto da escola.TIMOTHQual garoto da escola?LINDAPai, antes de eu te contar, eu acho que...TIMOTHEu fiz uma pergunta!(Grita ele)A garota encolhe-se diante do grito do pai, ao mesmo tempo em que as lgrimas comeam a correr soltas pelo seu rosto. Um velho que passa em frente a casa, desacelera o passo, olhando na direo da discusso. O Xerife vira-se na direo do idoso, e grita com rispidez.TIMOTHPerdeu alguma coisa aqui, Ralph?RALPHNo, Xerife Harris.TIMOTHEnto continue andando. Aqui s tem um pai discutindo com a sua filha. Vai!Ralph no espera segunda ordem, e segue seu caminho sem olhar para trs.TIMOTHPra dentro de casa, Linda. Agora!Ainda chorando, Linda obedece, e entra na casa, sendo seguida pelo pai. O homem fecha a porta, e encara os olhos assustados e lacrimejantes da filha.TIMOTHAgora, eu quero um nome. Quem foi o filho da me que fez isso com voc?LINDAEu no vou falar at... At voc parar de se comportar assim.TIMOTHE como voc acha que eu devia me comportar?! Voc me diz que um safado qualquer te engravidou e espera o que?!(Grita ele socando a porta com raiva).O soco na porta parece quebrar as ultimas resistncias do choro de Linda, mas traz tambm reao da garota, que transmitida em prantos.LINDAMe desculpe, Pai! Eu no queria envergonhar voc! Mas aconteceu! Eu sei que eu no devia, mas... Mas foi um momento em que eu consegui me sentir realmente feliz. Algo que no acontecia desde a morte da mame e...TIMOTHNo ouse falar de sua me! Acha que ela aprovaria isso?!LINDAEu... Eu no sei. Mas desde que isso comeou, eu tenho pensado muito nela. Eu to com medo, pai! E pensar na mame me d fora, por que eu tenho essa criana agora. E eu preciso de fora. Eu... Eu me sinto fraca e...Linda volta a chorar com mais fora. No andar de cima, ouve-se o choro de Dan, provavelmente assustado com os gritos no andar de baixo. O som do choro do filho lembra a Timoth as palavras de Annie. No era hora de julgar a filha agora. Ela errara, no havia duvidas disso. Mas estava enfrentando o seu erro de cabea erguida. Da mesma forma que enfrentara todas as dificuldades dos ltimos meses. Da mesma forma que havia ajudado Timoth a enfrentar as suas prprias dificuldades com a morte de Martha. Antes que pudesse perceber, o homem envolve a filha em um forte abrao.TIMOTHTudo bem, meu anjo. Minha Linda. Nos vamos enfrentar isso juntos.LINDAMe desculpe, pai(Repete em prantos).TIMOTHVoc cometeu um erro. Independente de quem for o pai, eu vou estar do seu lado. Eu vou ajudar voc a cuidar do meu neto. Como voc me ajuda com Kathryn e Dan.Pai e filha continuam abraados . O homem sente as lgrimas da garota encharcarem a sua farda azul, mas no importa. Sua filha precisava dele, e era isso que importava. No andar de cima, Dan parara de chorar. Linda parece se recompor, e diz ainda um pouco soluante.LINDAPai, quanto ao garoto...TIMOTHShhh. Falamos dele quando estiver mais calma.Neste instante, ouvem-se passos descendo a escada. Tim e Linda olham para cima, e vem Annie descendo a escada carregando Dan no colo.ANNIESente-se no sof e acalme-se, Linda. Eu farei um ch pra voc.TIMOTHEla tem razo. Descansa um pouco na sala, e ento a gente conversa com mais calma.

COZINHA: INSTANTES DEPOIS

A chaleira sobre o fogo comea aos poucos a liberar fumaa. Dan, sentado em sua cadeira de beb, observa curioso a expresso cansada do pai, sentado ao seu lado na mesa. Desde que entraram na cozinha, o Xerife e a Professora mal trocaram palavras. Ela apenas disse para que faria duas xcaras de ch, j que ele tambm precisava se acalmar.Neste instante, Annie senta-se na cadeira em frente a dele e enfim se manifesta.ANNIEMeus parabns.TIMOTHPelo que? Por ter falhado como pai? Ter decepcionado Martha deixando que nossa filha jogasse a juventude dela fora?ANNIENo diz besteira(Fala ela com impacincia).TIMOTHComo ?ANNIENo culpa sua. Linda deu um mal passo, mas continua sendo uma tima garota! Voc Fez um timo trabalho como pai. E agora, deu o que ela precisava: segurana.TIMOTHNo t sendo fcil.ANNIEEu imagino. Teve um momento que eu achei que voc no ia conseguir. E esse garoto aqui tambm(Diz indicando Dan com a cabea).O Xerife olha com ternura para o filho. Em pensar que dentro de pouco tempo, haveria outro beb na casa.TIMOTHE a Kathryn? Se assustou com o que houve aqui embaixo?ANNIEUm pouco, mas sempre trago um caderno de desenho na bolsa. Vai manter ela distrada.O policial sorri nostlgico, sentindo saudades do tempo em que as coisas eram assim to simples com Linda.TIMOTHVoc sabe quem o pai?ANNIENo vai fazer a besteira de tentar arrancar um nome de mim, no ?TIMOTHNo. Quero que ela me diga quando se acalmar. Droga, quero ouvir quando eu me acalmar. Se eu visse o maldito agora, batia nele at cansar. No sei se no vou fazer isso.A chaleira comea a apitar, e Annie levanta-se para desligar o fogo.ANNIENo ia resolver nada.TIMOTHNo. Mas eu ia me sentir bem melhor.ANNIEPara de falar besteira e me diz onde eu encontro as xcaras.

MILHARAL

A noite j caiu sobre o milharal. Amos e Zack continuam cortando ps de milhos secos com suas foices. Os dois rapazes j esto nesta atividade h mais de quatro horas, j tendo conseguido abrir uma pequena clareira. David tambm trabalhou muito, mas diferente de seus companheiros, no demonstrava sinal de cansao. Quando a noite comeou a cair, o menino juntou alguns ps de milho cados, e fez uma pequena e controlada fogueira, voltando ao trabalho em seguida.Amos Deigan j sentia os pulmes arderem e as mos calejarem. Mas aceitava aquela sensao quase de bom grado. Ele fora escolhido. No fora atacado por aquele que guiava David como os outros foram. No estava morto como Keith e Wally. Estremecia ao lembrar o modo como deixara a me de David, a pedido do prprio. Mas parte dele... Parte dele comeava a gostar daquilo. Afinal, fora escolhido. Aquele Que Anda Atrs das Fileiras o recompensaria no final.DAVIDPodemos parar por hoje(Diz de repente).Imediatamente, Amos e Zack param de trabalhar. Amos percebe o suspiro de alvio do colega. David comea a falar com uma voz firme e cheia de empolgao.DAVIDFoi um bom comeo, irmos. Hoje, juntos, ns plantamos a semente do que ser a nova Gatlin. Em breve, mais irmos e irms se juntaram a ns. Mas para isso, precisam me ajudar a espalhar a palavra dele.ZACKE... Como ns vamos fazer isso?(Pergunta temeroso).DAVIDDaqui trs dias, farei uma reunio na minha casa. Voc, como Richard Deigan,tem influencia na escola, Amos. Quero que traga o mximo de estudantes que puder.AMOSEu posso fazer isso(Responde prontamente).David sorri satisfeito. Zack olha para o cho, tentando reunir coragem para fazer uma pergunta que esta martelando em sua cabea.DAVIDtimo. Podem ir ento.David d as costas aos dois, e comea a andar para fora da pequena clareira. Timidamente, Zack d um passo frente.ZACKEspera David.DAVIDO que o aflige, irmo?A autoridade e o formalismo na voz do menino faz Zack sentir um arrepio na espinha.ZACK que... Bem... sobre Wally e Keith. Vo perguntar sobre eles.A preocupao de Zack no parece preocupar David de forma alguma.DAVIDFaz parte do nosso teste, irmo. Se perguntarem, vocs no sabem de nada. Caso fraqueje, pea foras para Aquele Que Anda atrs Das Fileiras.ZACKMas... No podemos esconder o que fizemos pra sempre.DAVIDE no vamos precisar. Logo no vai importar, irmo. Agora vo!

CASA DO XERIFE

Timoth, Annie, e Linda tomaram em silncio o ch preparado pela professora. Ento, a mulher voltou a deixar pai e filha sozinhos para checar a pequena Kathryn. Durante este perodo, Tim perguntou sobre o estado da filha, e sobre como ela estava se sentindo. Tentando evitar o mximo possvel o assunto da paternidade, o Xerife disse a ela que a levaria para fazer um check-up em Holdrege no dia seguinte, para saber como andava a sade dela e do beb.Linda sente um misto de vergonha e gratido pelo pai. A garota podia sentir que o homem estava se esforando para aceitar a situao. Linda sabe que outros em Gatlin j teriam jogado na rua. Apesar da reao inicial, seu pai estava sendo maravilhoso. Ele merecia saber a verdade. Mas contar parecia quase impossvel para Linda.Ao ouvir os passos na escada anunciando o retorno de Annie, a moa encheu-se coragem. Se no contasse naquele momento, talvez nunca mais contasse.LINDARob Soul o pai(Diz ela rpido)Timoth olha para filha com uma expresso quase curiosa. Annie se encontra parada na porta, esperando a reao do amigo.TIMOTHRob Soul?Linda confirma com a cabea, sentindo a vergonha crescer em seu peito.ANNIEEle um bom garoto, Tim.TIMOTHUm garoto irresponsvel voc quer dizer(Diz com contida irritao).LINDAEle vai assumir, pai. Est to assustado quanto eu, mas gosta de mim e...TIMOTH bom ele gostar. Vamos fazer o seguinte, Linda. Suba, descanse um pouco, depois tome um banho, e vista-se. Ns vamos visitar o seu namorado e os pais dele.LINDAPai, eu acho que o Rob se sentiria melhor se ele mesmo...O Xerife interrompe a filha com voz tranquila, enquanto levanta-se da poltrona.TIMOTHLinda, como Rob Soul se sente em relao a isso minha ultima preocupao agora. O que me importa so os seus sentimentos e o bem estar da criana. Agora faa o que eu mandei.A garota olha para a professora em busca de apoio, e v um conselho muito claro nos olhos da mulher, que diz: Obedea. Sem dizer mais palavra alguma, Linda levanta-se da poltrona, e vai fazer o que o pai lhe ordenou.

CASA DOS SOUL

Linda demorou o mais que pode no banho. Demorou mais ainda enquanto escolhia a roupa para ver os pais do seu namorado, e futuros avs do filho dela. A jovem tinha a esperana de que o pai desistisse da ideia de ir ver os Soul naquela noite. Mas sua esperana se mostrou em vo. Quase cinco horas depois de ter deixado a sala, ela e o pai se encontravam na varanda dos Stevenson.O Xerife pode ouvir Johnny Cash cantando Ring Of Fire no rdio do outro lado da porta. Sem perder mais tempo, Timoth ergue o punho, e bate trs vezes na porta. A voz de Cash rapidamente substituda pelo silncio, e em seguida pelo som de passos dirigindo-se at a entrada da casa. O homem que abre a porta tem os cabelos castanhos comeando a ficar grisalhos. Jordy Soul uma pessoa gorda, embora no parea inteiramente consciente disto, j que os botes de sua camisa no do conta do tamanho de sua barriga.TIMOTHOla, Jordy.Jordy leva um tempo para se recuperar da surpresa de ver o Xerife da cidade parado em sua varanda, acompanhado de uma garota no meio da noite.JORDYBoa noite Xerife Harris.TIMOTHCreio que se lembre de minha filha, Linda.JORDYEnto, como posso ajuda-lo?(Pergunta com cautela).TIMOTHPode comear nos deixando entrar.Parecendo dar-se conta do obvio, o homem d espao para que o Xerife e a moa adentrem a sua casa.JORDYDesculpe receb-los assim, mas eu no sabia que vinham.TIMOTHTudo bem. Sua mulher e seu filho esto em casa?JORDYEsto sim. Eu vou chama-los.Virando a cabea para o lado, o homem grita a plenos pulmes.JORDYSelma! Rob! Venham aqui agora!Segundos depois, Selma Soul, uma mulher de culos e cabelos pretos arrumados em um penteado que a Timoth, fazem-na lembrar uma coruja, vem dos fundos da casa. Ela veste um avental, indicando que se preparava para cozinhar. J Rob desce do andar de cima. Ao ver o garoto alto e moreno descer as escadas, Timoth teve que sufocar a vontade de avanar sobre ele, e quebrar-lhe os dentes por desencaminhar a sua filhinha. Mas esforou-se para ficar impassvel.O jovem, entretanto, no foi to eficiente assim. Ao ver Linda e o Xerife ao p da escada acompanhado de seus pais, o garoto tem a sensao de um vento gelado percorrendo as suas veias. Mas ao ver a namorada olhando de forma confiante para ele, Rob enche-se de coragem e termina de descer as escadas.ROBComo vai, Xerife? Eu achei que o senhor podia aparecer.TIMOTHObviamente.Jordy coloca-s ao lado da esposa.JORDYEu no estou entendendo o que esta acontecendo, Xerife. Meu filho por acaso fez alguma coisa errada?(Diz em tom desafiador)TIMOTHTalvez seja melhor ele mesmo responder a esta pergunta. Ser que podemos nos acomodar na sala?Todos vo para a sala. Os Soul esto sentindo-se extremamente constrangidos por receberem ordens do Xerife em sua prpria casa, mas estarrecidos demais para discordar.Aps pedir autorizao para o dono da casa, Timoth e Linda sentam-se no sof. Tim tira o chapu, e em seguida o seu revolver do coldre, colocando-o sob a mesinha de centro. Os Soul arregalam os olhos diante da viso da arma, reao j esperada pelo Xerife. Mal sabia a famlia que o revolver estava sem balas. Timoth cruza as mos sobre o queixo, e diz com autoridade.TIMOTHE ento, Rob? Conta voc ou conto eu?Rob mantm os olhos fixos no cho, mantendo-se em silncio.TIMOTHMuito bem. Sr. e Sra. Soul, o seu filho e a...ROBEu vou ser pai(Diz em voz baixa).Todos voltam-se para Rob. O Casal Soul parece ter tido o rosto congelado em espanto.TIMOTHDesculpe Rob, eu no ouvi.ROBEu vou ser pai! Linda Harris est grvida e o filho meu!(Diz ele quase gritando).Em um movimento rpido para o seu tamanho, Jordy Soul levanta-se e esbofeteia o filho. Selma Soul somente cobre o rosto com as mos.JORDYVoc tem merda na cabea, seu garoto irresponsvel? O que eu lhe falei sobre tira na hora, hein?!ROBPai, eu...JORDYCale a boca!Jordy ergue a mo para dar uma nova bofetada no filho, mas algum o segura com fora pelo pulso. Ao se virar, o homem v o Xerife, fitando-o com frieza.TIMOTHAcalme-se Jordy.JORDY.Por favor, Xerife, no se meta. Eu estou educando o meu filho.TIMOTHNo na frente da minha filha grvida. Quando formos embora, j no mais problema meu, mas agora recomendo que volte pro seu sof.Jordy olha para o Xerife com raiva. Timoth pode ver a duvida correndo na cabea do homem, que pondera entre obedecer, e acertar o homem que veio a sua casa jogar um neto em seu colo. Por fim, Jordy Soul voltou obedientemente ao seu assento, e Timoth fez o mesmo. Aps se sentar, o Xerife olha diretamente para o filho dos Soul.TIMOTHA pergunta que eu tenho pra fazer a voc muito simples, Rob. O que pretende fazer agora?ROBBem, eu acho... Eu acho que eu vou casar com a Linda.TIMOTHVoc acha? Quer dizer que no tem certeza?LINDAPai!(Diz Linda com uma nota de pnico na voz)O Xerife volta-se para a filha.TIMOTHVoc quer esperar l fora?A garota silencia. Timoth volta a olhar para Rob.TIMOTHEnto, Timoth. Quero uma resposta direta.ROBEu vou sim, Xerife Harris.Timoth junta as pontas dos dedos, e as estrala.TIMOTHMuito bem. Agora a pergunta que realmente me interessa. Voc quer casar com a minha filha?JORDYBem, diante das circunstancias...TIMOTHPor favor, Sr. Soul, deixe o seu filho responderJordy faz cara de quem tomou um remdio ruim, mas permanece em silncioTIMOTHPode falar, Rob.O jovem respira fundo, e ento responde a pergunta do Xerife.ROBEu amo a Linda, Xerife Harris. Eu quero me casar com ela. Eu no pretendia casar logo, mas as coisas mudaram. Mas quero que saiba que no s por obrigao. Eu vou me casar com a sua filha, por que eu amo ela.Timoth sorri satisfeito com a resposta.TIMOTHBom, um comeo.A Sra. Soul enfim tira as mos do rosto e se manifesta.SELMAMas eles no podem se casar. So s crianas!TIMOTHCrianas que fazem crianas no so mais crianas, Sra. Soul.SELMAMas existem outras alternativas pra este problema. Certos remdios podem resolver, e ningum precisaria saber.Linda instintivamente leva a mo a barriga. E para surpresa de Tim, Rob levanta-se da cadeira em que estava sentado, com o rosto vermelho de fria.ROBMe, no! Isso nunca!Sem saber, naquele momento, Rob Soul ganhara um pouquinho do respeito de Timoth Harris.JORDYNo levante a voz pra sua me, garoto!TIMOTHPensei que fosse uma pessoa catlica, Sra. Soul.SELMAE eu pensei que o senhor no fosse.Repentinamente, o silencio impera na sala. O ambiente tenso. Mas repentinamente, ouve-se algum batendo com fora na porta.JORDYCom licena, eu vou atender(Diz Soul tentando recuperar a compostura)Rob continua sentado em sua poltrona. Selma olha do Xerife para sua filha com raiva fulminante faiscando nos olhos, como se eles tivessem trazido a praga sua casa. Neste momento, Jordy Soul retorna.JORDYSo dois policiais. Querem falar com o senhor, Xerife.Harris levanta-se, sendo seguido pela filha.XERIFEBom, espero que possamos encontrar toda esta situao juntos. E Rob, espero voc na minha casa amanh a noite, se vai pedir a mo da minha filha em casamento, quero que faa isso direito.Sem dizer mais nada, Timoth pegou Linda pela mo e a levou para a soleira da porta dos Soul. Ela s teve tempo de abanar discretamente para Rob antes de perde-lo de vista. Na varanda estavam Otis e Doyle.DOYLEBoa noite, Xerife. Fomos at a sua casa, e a Srta. Leigh disse que iramos encontra-lo aqui.XERIFEQual o problema, Rapazes?DOYLEEstamos com dois garotos sumidos, Xerife. Keith Winter e Wally Thorbald no voltaram pra casa.timo, pensou Timoth. Era tudo o que ele precisava para terminar a noite. Dois moleques irresponsveis perdidos por ai.

Notas finais do captuloEspero que tenham gostado do captulo. Foi mais contemplativo e focado no desenvolvimento de alguns personagens, mas espero que tenham vlido a pena.

Quem puder, por favor deixe um review pra me incentivar a melhorar cada vez mais. Inclusive aqueles que s leem a histria e se abstm de comentar.

Grande abrao, e at o prximo captulo!