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MOSTRA DOS PREMIADOS E SELECIONADOS ARTISTA CONVIDADO GERALDO RAMOS ENCONTROS COM ARTISTAS AÇÃO EDUCATIVA OFICINAS Poéticas e lugares do retrato patrocínio Gringo Coletivo – Gui Christ e Gabi Di Bella - Entre-andares

Poéticas e lugares do retrato - diariocontemporaneo.com.br · O tema “Poéticas e lugares do retrato” propõe ao artista trabalhar o gênero em ... que está presente desde jovem,

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MOSTRA DOS PREMIADOS E SELECIONADOS

ARTISTA CONVIDADO GERALDO RAMOS

ENCONTROS COM ARTISTAS

AÇÃO EDUCATIVA

OFICINAS

Poéticas e lugares do retrato

patrocínio

Gringo Coletivo – Gui Christ e Gabi Di Bella - Entre-andares

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2 · VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia

Poéticas e lugares do retratoO retrato, gênero dos mais tradicionais na história da arte, foi imediatamente acolhido pela fotografia no momento de sua invenção, marcada pela presença de uma figura real manifesta na imagem. Ao mesmo tempo que emulava os valores nobres e as legitimações do gênero constituído pela pintura, a foto-grafia popularizou a sua prática e consumo e interferiu, já nas suas primeiras décadas de invenção, nos modos realistas de representação. Hipollyte Bayard, em 1840, com seu Autorretrato de um homem afogado e Gustav Rejlander em Tempo Difíceis, em 1860, são dois exemplos que romperam com os limites do factual e abraçaram a fotografia como campo de encenações.O tema “Poéticas e lugares do retrato” propõe ao artista trabalhar o gênero em todas as suas configurações, considerando a sua prática como uma experiência de tradição e sociabilidade, mas pensando as poéticas e representações entre o eu e o outro que ampliam os seus lugares e significados enquanto ação artística.Dessa forma, propomos ao artista experimentar também a significação do retrato para além da figura humana, pensar os espaços em que ocorrem as identificações e as identidades, e olhar os lugares no quais ocorrem os diá-logos sociais.

Mariano Klautau Filhocurador geral do viii prêmio diário

contemporâneo de fotografia

FICHA TÉCNICA

jornal diário do pará – rede brasil amazônia de

comunicação

Jader Barbalho FilhoDiretor Presidente do Diário do Pará

Camilo CentenoDiretor Geral da RBA

Francisco MeloDiretor Financeiro

rba – marketing

Hamilton PinheiroGerente de Marketing

Marcelle MaruskaAnalista de Marketing

rba – desenvolvimento

Luis FolhaGerente de desenvolvimento

Oscar AlencarSupervisor de desenvolvimento

projeto prêmio diário contemporâneo de fotografia

Mariano Klautau FilhoCurador e Coordenador Geral

Lana MachadoCoordenadora de Produção

Irene AlmeidaCuradora assistente

Luis LagunaProdutor

Rafael AlmeidaAssistente de Produção

Andrea KellermannDesigner Gráfico

Cinthya Marques e Rodrigo CorreiaCoordenação da Ação Educativa

Debb CabralAssessora de Comunicação

espaço cultural casa das onze janelas

Mariana SampaioDiretora do Sistema Integrado de Museu e

Memórias - SIM/SECULT

Heldilene RealeDiretor

Márcia PontesCoordenadora da Ação Educativa

museu da universidade federal do pará

Jussara DerenjiDiretora

Raul CarvalhoCoordenador da Ação Educativa

PROGRAMAÇÃO

exposições

VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia – Artistas selecionados, premiados e participações especiaisEspaço Cultural Casa das Onze Janelas - 04/05 a 02/07Museu da UFPA - 06/05 a 30/06

InterioresGeraldo Ramos - Artista convidadoMuseu da UFPA - 06/05 a 30/06

encontros com artistas

Fotografia e o Circuito da Arte: entre o museu e a galeriaIsabel AmadoVaranda do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas – 22/02 - 19hMediação: Mariano Klautau Filho

A presença do retrato na fotografia documentáriaJoão UrbanEspaço Cultural Casa das Onze Janelas – 05/05 - 19h

Conversa com os ResidentesLívia Aquino, Alexandre Sequeira, Hirosuke Kitamura e Guido Couceiro EliasMuseu da UFPA – 06/05 - 18hMediação: Mariano Klautau Filho

oficinas

Olhar e ser visto: práticas educativas na poética do retratoCinthya Marques e Rodrigo CorreiaAuditório do Museu de Arte Sacra – 22 e 23/04 - 09 às 12h e 14 às 18h

Fotografar a FotografiaLívia AquinoAuditório do Museu de Arte Sacra – 05 e 08/05 - 09 às 13h

Fora do lugar – Oficina de fotografia contemporâneaAlex OliveiraAuditório do Museu de Arte Sacra - 09 a 12/05 - 15 às 18h

lançamento

Livro “O corpo neutro”Filipe BarrocasEspaço Cultural Casa das Onze Janelas - 05/05 - 18h

***Espaço Cultural Casa das Onze JanelasPraça Frei Caetano Brandão s/n – Cidade VelhaMuseu da UFPA

Av. Governador José Malcher – esquina com Generalíssimo Deodoro

Informações: Rua Gaspar Vianna, 773 – Redutowww.diariocontemporaneo.com.br

Contatos: (91) 3184-9310 e [email protected]

SumárioPoéticas e lugares do retrato 2

Editorial 3

Conheça os Artistas Premiados 4

Artistas Selecionados 7

A Poesia Documental 13

O Retrato na Fotografia 15

A Fotografia e o Circuito da Arte 16

A Sensibilização do Olhar 17

Visitas podem ser agendadas 18

Ação Educativa 19

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VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia · 3

EditorialOlhar o outro. Olhar a si mesmo. Nesta 8ª edição, o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia se debru-ça sobre um dos gêneros mais tradicionais e populares da arte: o retrato. Mas não somente o retrato, suas poéticas e seus lugares, indo além da sua configura-ção tradicional, expandindo imagem e sujeito.

Dois dos três premiados partiram em residências artísticas. Um saiu de Belém para São Paulo e outro veio da Bahia para Belém, realizando um intercâmbio de experiências, ideias e debates.Durante a seleção dos trabalhos, um detalhe cha-mou a atenção do júri composto por Alexandre

Sequeira, Camila Fialho e Isabel Amado: a quanti-dade de propostas inscritas por jovens artistas. Um público com pouca idade, mas com uma sensibili-dade apurada. O resultado disso foi que dois novos fotógrafos paraenses estão presentes na mostra na condição de participações especiais, um estimulo do

Diário Contemporâneo à produção de artistas jovens.Lançar o olhar para além do que sem-pre se viu. Geraldo Ramos é o artista convidado desta edição. Ele, que se destaca como um dos grandes docu-mentaristas da Amazônia, irá expor um novo recorte de seu trabalho.Mas, um museu não é nada sem seu público. E é para receber cada vez me-lhor este público que o Projeto trabalha com cuidado a sua equipe de educa-dores. Além da seleção, foi realizado também um minicurso, no qual os mediadores conheceram mais sobre o Prêmio, as obras, os artistas e de-bateram o acesso e a democratização da arte.O Diário Contemporâneo convida você a integrar esta edição. Visite as mos-tras, faça um minicurso, participe de uma roda de conversas. Poste estes momentos nas redes sociais com a hashtag #DiarioContemporaneo2017. Através de uma selfie? Por que não? O modo como nos mostramos diz muito sobre o nosso posicionamento social e a forma como nos relacionamos com o mundo. Aproveite as provocações tra-zidas pelos artistas para refletir sobre isso.Assim, o resultado desta 8ª edição é a renovação. Retornar ao edital não sig-nificou um engessamento, mas sim, a possibilidade de novas propostas. O processo foi mais uma vez valorizado.

Debb Cabral

Juliana Jacyntho – TOCs Femininos

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4 · VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia

Conheça os Artistas PremiadosEste ano, o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia inovou mais uma vez e trouxe a resi-dência como grande novidade da edição. Um ar-tista de Belém foi contemplado com a residência artística em São Paulo, sob a orientação da artis-ta e pesquisadora Lívia Aquino, em parceria com o Condomínio Cultural, e um artista de fora da capital paraense foi premiado com a residência em Belém, sob a orientação do artista e pesquisa-dor Alexandre Sequeira, por meio de seu projeto “Residência São Jerônimo”.O Diário Contemporâneo tem uma trajetória sig-nificativa e quer continuar com o foco na pratica artística. “A ideia de maturidade nos leva para uma espécie de certeza, engessamento, repetição que não contribui com a experimentação. Então, a edi-ção de 2017 nos coloca em movimento novamente, testando nossa capacidade de experimentar. As residências são uma possibilidade de experimenta-ção. Agora, é claro, que sete anos de existência nos dão uma certa coragem para arriscar. O que vejo de bonito na trajetória do Diário Contemporâneo

é perceber a produção de artis-tas, incluindo a produção local, circulando e tendo visibilidade no Brasil e saber que o Prêmio con-tribui com isso”, afirmou Mariano Klautau Filho, curador do Projeto.

PESQUISA E SEMELHANÇAS

João Urban ganhou na categoria “Prêmio Diário Contemporâneo” com o ensaio “Tu i Tam, poloneses

aqui e lá”, sobre imigrantes poloneses no Paraná e que busca semelhanças na Polônia. As imagens exibidas têm “a característica de apresentar os mes-mos personagens fotografados com até 24 anos de diferença, entre 1980 e 2004”, explicou. Elas foram publicadas em um livro homônimo, onde retratos fei-tos em 2004 estão nas páginas iniciais e remetem às fotografias dos anos anteriores, que estão no miolo.Um projeto de resgate da memória, que apresenta os laços invisíveis entre a Europa e o Brasil. As ima-gens e as pessoas são tão semelhantes que se torna difícil dizer o que é Polônia e o que é o Paraná, neste trabalho de preservação cultural.

João Urban – Tu i Tam, poloneses aqui e lá

João Urban – Tu i Tam, poloneses aqui e lá

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VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia · 5

DE SALVADOR PARA BELÉMHirosuke Kitamura, que levou o “Prêmio Residência Artística em Belém”, apresentará dois vídeos. “Doce Obsessão Vol.1” vem de uma vivência em Guaicurus, bairro de grande prostituição em Belo Horizonte (MG). “Existe energia de sexo muito forte e carrega-da nesta região. Apesar da relação que envolve troca de dinheiro por prazer e apelo obsessivo do comer-cial do corpo, senti mistura de várias emoções entre as pessoas neste ambiente caótico. Dentro destas emoções saturadas, eu comecei a sentir sensações espirituais internamente quando fiquei sozinho no pequeno quarto alugado do hotel”, contou o artista.Já “Doce Obsessão Vol.2” mostra um pedaço da vida

de uma personagem transexual da mesma região. “Depois do prazer e a alegria sobra apenas solidão, sofrimento e angústia em sua vida noturna. Masculinidade e feminida-de, facilidade e dificuldade, doce e amargo, fogo e água, ordem e des-controle. Vejo esta mistura destes elementos opostos da vida huma-na concentrados nesta área. Isto é a realidade presente na vida de qual-quer um que encontramos em qual-quer lugar da sociedade”, explicou.

Hirosuke Kitamura – Doce Obsessão Vol.2

Hirosuke Kitamura – Doce Obsessão Vol.1

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6 · VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia

DE BELÉM PARA SÃO PAULO

Guido Couceiro Elias é calouro do curso de Artes Visuais da UFPA e ganhou o “Prêmio Residência Artística em São Paulo”, mos-trando que a sensibilidade artística é algo que está presente desde jovem, como em “Vivaz”, seu ensaio fotográfico. “A memória de uma família transcende o imaginário de seus integrantes e expande a expressão em seus lugares físicos, suas relações entre si, suas relações íntimas e solitária. ‘Vivaz’ é uma serie fotográfica que percorre retra-tos atuais e antigos de família, focando no contraste de relações entre o núcleo de uma família e a memória carregada nos lugares dos retratos. A série inicia de um desejo par-ticular de registrar a minha própria família, tendo foco seus integrantes mais idosos, a relação destes que convivem juntos há mais de um século e atenta para os momentos de reunião e solitude”, refletiu.

PREMIADOS

Prêmio Residência Artística em Belém Hirosuke Kitamura (BA)

Prêmio Residência Artística em São Paulo Guido Couceiro Elias (PA)

Prêmio Diário Contemporâneo João Urban (PR)

SELECIONADOS

Alex Oliveira (MG)

André Penteado (SP)

Antonio Carlos de Faria Junior (RJ)

Emanoela Neves (PA)

Filipe dos Santos Barrocas (SP)

Francisco de Assis Pereira Junior (MG)

Gui Mohallem (MG)

Gringo Coletivo – Gui Christ e Gabi Di Bella (SP)

Hans Georg (RJ)

Isabel Santana Terron (SP)

Janaina Wagner (SP)

Juliana Jacyntho (SP)

Keyla Sobral (PA)

Leticia Ranzani (SP)

Marcelo Costa (SP)

Mirian Guimarães (SP)

Pedro Silveira (MG)

Renata Laguardia (MG)

Rodrigo Linhares (SP)

Sara Alves Braga (MG)

Silas de Paula (CE)

Victor Galvão (MG)

Viviane Gueller (RS)

PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS

Lucas Negrão (PA)

Tarcisio Gabriel (PA)

Guido Couceiro Elias – Vivaz

Guido Couceiro Elias – Vivaz

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VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia · 7

Artistas SelecionadosAlex Oliveira (BA)Fora do Lugar – série produzida em 2014 a partir de deslocamentos geográficos realizados por Caetité, Ibicoara, Ituaçu, Jequié e Paulo Afonso, cidades da Bahia. As imagens foram produzidas a partir da cons-trução de uma autorrepresentação, que propõe refor-çar a constituição de brasileiro mestiço do artista. O projeto surgiu quando diversas pessoas começaram a questionar sua descendência, afirmando encontrar semelhanças com os povos árabes. Durante o processo de criação, ele buscou experimentar relações compo-sitivas entre corpo e espaço, acaso e objetos diversos encontrados pelas andanças e derivas, criando ações performáticas para o ato fotográfico e investigando, desta maneira, as semelhanças entre as paisagens da caatinga e sertão baiano e as paisagens dos países do Oriente Médio.

André Penteado (SP)Vazio – Depois do suicídio de seu pai em 2007, o artista participou, por cerca de um ano, das reu-niões de um grupo de apoio. Ouvir os participantes

compartilharem suas experiências ajudou-o a colocar em perspectiva o que havia acontecido em sua vida e foi parte importante de seu processo de luto. Na série, o fotógrafo quis representar a sensação que a morte súbita de uma pessoa amada deixa na vida dos sobreviventes.

AC Junior (RJ)O Animal da Floresta – O en-saio é inspirado no poema homônimo de Thiago de Mello mostrando a sim-biose entre o elemento humano e a natureza que o cerca.

Emanoela Neves (PA)Universo Paralelo – A visão do reflexo da artista a in-comoda, provoca-lhe es-tranheza. Por isso, ela se propôs desenvolver uma série de autorretratos como forma de experi-mentação fotográfica e como busca de autoconhecimento.Percebeu, então, que os jogos de reflexos construí-dos para representação do Eu também passaram a se refletir com a sua ausência, onde cada objeto co-locado e registrado naquele espaço representava-a, contava uma parte sua, perdida em um infinito particular.

Filipe dos Santos Barrocas (SP)Este é aquele que apesar da distância te traz sempre presente na memória em todo o caminho – São objetos pessoais dos quais o artista não pode desapegar e falam de quem ele é. Coisas apropriadas ou produzidas, coisas úteis ou inúteis, qualquer tipo de coisa. A princípio a origem as diferenciava, umas vieram de Portugal e outras do Brasil. E agora, reunidas e misturadas sobre a mesa, estas coisas que se escolhe carregar ao longo do caminho e não se deixar para trás, falam do quê? Será que o retratam?

Francisco Pereira (MG)Antisocial Personality Club – Os registros são o berço de um canto harmonioso, a paz momentânea fantástica e a luta do corpo para manter os pés firmes. São re-gistros de uma tarde que pareceu infinita, dentro de

André Penteado – Vazio

Emanoela Neves – Universo Paralelo

AC Junior – O Animal da Floresta

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8 · VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia

uma banheira, entre poucas palavras, ações lentas e o viver. É o nascimento de uma frágil era, espaço-tem-po escolhido pelo grupo como casulo e refúgio. São fotografias sobre um ritual de passagem e a partilha da carne crua do ser humano para com outro que lhe faça sentir.

Gui Mohallem (MG)Tia Nabiha – O vídeo traz o registro de Tia Nabiha, a única irmã viva do pai do artista. Ela diz ter 94 anos. Nos registros tem 101. No primeiro encontro entre os dois, o fotografo leva para ela algo do passado de que ela não pode ou não quer se lembrar.

Gringo Coletivo – Gui Christ e Gabi Di Bella (SP)Entre-andares – Inaugurado na década de 50, o Edifício Cine-Marrocos, foi construí-do para acomodar grandes empresas em seus 12 anda-

res e, no térreo, o maior e mais luxuoso cinema da América do Sul. Por 20 anos o prédio foi uma referência em São Paulo até que suas portas foram fechadas na década 80. Abandonado até 2013 o pré-dio foi ocupado ilegalmente por brasileiros de di-versas regiões e imigrantes de 25 países diferentes.

A luxuosa edificação se tornou uma favela verti-cal, uma torre de babel moderna, onde mais de 2.000 pessoas viviam sob a proteção da maior organização criminosa do país – disfarçada de movimento social sem teto – até que foi retoma-da pelas autoridades locais em 2016. O ensaio busca estimular o debate sobre a crescente crise migratória e habitacional que vivem os grandes centros urbanos mundiais.

Hans Georg (RJ)Usuários – Foi entre as estações Flamengo e Siqueira Campos que apareceu a inspiração para o artista. Na forma era uma mulata esguia e miúda na apa-rência e na postura, um deslumbre. Ela se apoiava na parede branca que existe entre os vagões das novas composições do metrô carioca. O fotógrafo enxerga no metrô o mesmo espaço democrático atribuído à praia. As classes sociais, os habitantes e os visitantes misturam-se ali.

Hans Georg – Usuários

Francisco Pereira – Antisocial Personality Club

Filipe dos Santos Barrocas – Este é aquele que apesar da distância te traz sempre presente na memória em todo o caminho

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VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia · 9

Isabel Santana Terron (SP)A Era de Ouro da Miséria – Quando a corporificação é apenas sobra periférica, restos da sociedade de consumo, os traços da humanidade quase obsoleta não se resumem a rugas e vincos da pele, mas às reproduções daquilo que está à beira da extinção: o abrigo do lar, e o caráter subjetivo do lugar que habitamos – nossos rastros. Os retratos de barracos de sem-tetos das ruas de São Paulo, feitos pela artista, além de registrarem aquele que talvez seja

o movimento político mais urgente da atualidade, o da desapropriação e ocupação de áreas urbanas abandonadas, demonstram que a última e mais ele-vada manifestação do ser humano é sempre estética.

Janaina Wagner (SP)Mortinhos – O vídeo apresenta a imagem do cadáver congelado de um pato ao lado de um saco plástico cuja disposição formal assemelha-se ao formato do animal. O pato congelado é a perfeita imagem de «natureza

morta», gênero abundantemente explorado ao longo da história da arte. O saco plástico, objeto originalmen-te inanimado, aqui é apresentado com ani-ma, alma, vida anima-da. O que lhe anima e confere movimento é a força invisível, po-rém claramente sen-sível, do ar em forma de vento. Mortinhos é uma tentativa de retra-tar as forças invisíveis que animam a maté-ria, viva ou não viva, do mundo.

Juliana Jacyntho (SP)TOCs Femininos – O trabalho visa dar voz à ansiedade e à angústia presente no dia a dia das mulheres que, convidadas a desempenhar papéis complexos e diver-sos na sociedade moderna, acabam desenvolvendo rituais íntimos de repetição e controle, como se a ma-nia fosse um recado para o seu cérebro e para o seu coração de que não importa o tamanho da pressão: tudo vai bem.

Keyla Sobral (PA)Retrato Falado – O Retrato Falado é imagem, não tem fronteiras. Fotografia-narrativa. Palavra que não é palavra. É vastidão. Uma série que vai para além da escrita, transformada em outra linguagem.

Leticia Ranzani (SP)Multidão densa de indivíduos próximos, mas subje-tivamente separados – A série é um estudo sobre o autorretrato e a encenação. A artista coletou por quase um ano descrições em perfis de sites de relacionamento, buscando mapear todas as formas como um eu pode existir e como mui-tas pessoas podem ser iguais, mas diferentes. É também a forma como um indivíduo se coloca esperando ser um alguém que um outro deseja. Ela acredita que cada descrição, além de uma projeção, é também uma forma de autorretrato, é ao mesmo tempo textual e fotográfico, pois ele lhe direciona a imaginar um indivíduo único e plural, criando assim uma série de camadas de personagem. O recorte proposto são mulheres, entre 18 e 60 anos.

Isabel Santana Terron – A Era de Ouro da Miséria

Gui Mohallem – Tia Nabiha

Leticia Ranzani – Multidão densa de indivíduos próximos, mas subjetivamente separados

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10 · VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia

Marcelo Costa (SP)Lugar onde o tempo sofre – Apropriando-se de imagens de ex-votos de mulheres que creem na cura de al-guma enfermidade, o ensaio procura criar simbo-logias que deambulam entre a fragilidade do ser e a força da natureza. Intercaladas às imagens das mulheres, que por meio da dor buscam o contato com o divino, a edição traz imagens de paisagens revolvidas pela ação do homem. As estratégias uti-lizadas pelo autor incluem impregnar as fotografias

com matéria física (café e cinzas) que geram a partir dessa experimentação uma tensão particular e assinalam o acú-mulo de seu próprio tempo de reflexão sobre elas. A série convida à profana-ção das imagens, desacomodando-as do lugar onde se encontram circunscritas a uma determinada função social para dotar de liberdade seus desdobramentos simbólicos.

Mirian Guimarães (SP)Pra Sempre – Quando Lucia, uma pessoa que trabalha com a artista, pediu para recuperar uma foto 3x4, a única que ti-nha de sua mãe e que estava desapare-cendo pela ação do tempo, a fotógrafa ficou tocada e pensou como seria viver sem foto-grafias. Ela passou a olhar aquela foto por um bom tempo. O olhar daquela mulher era penetrante, a encarava, como que pedindo algo. A boca entrea-berta parecia querer falar.

Pedro Silveira (MG)Efemérides da Gênese – Uma narrativa visual baseada na história oral do quilom-bo Barra do Brumado, na região do Alto Sertão da Bahia. O objetivo do projeto é levantar questões acerca da opressão histórica que negros e afrodescenden-tes enfrentam aqui e além, ontem e hoje. Ao longo do tempo, das trocas e do con-

vívio com a comunidade, aqueles retratos de outrora estenderam sua roupagem clás-sica e se desdobraram em representações impregnadas de conceitos e significações.

Renata Laguardia (MG)La dame blanche e Militaires – Os vídeos fo-ram desenvolvidos durante o mestrado da artista. Um dos questionamentos que a dissertação abordou foi o ato de posar para fotos e o consequente ritual que isso acarreta. No primeiro vídeo, um grupo es-colar se prepara para um retrato de classe.

Enquanto a professora os organiza, ouvimos em off suas conversações e assim, participamos do universo daquele grupo. Da mesma maneira, no segundo, ob-servamos os militares que se enfileiram para a captura da fotografia.

Mirian Guimarães – Pra Sempre

Marcelo Costa – Lugar onde o tempo sofre

Janaina Wagner – Mortinhos

Rodrigo Linhares – Taurus [desaparecimento: primeiros estudos]

Sara Alves Braga – De amargo basta a vida

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VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia · 11

Rodrigo Linhares (SP)Taurus [desaparecimento: primeiros estudos] – O trabalho é um estudo para o autorretrato com referências em torno do masculino e da figura do minotauro.

Sara Alves Braga (MG)De amargo basta a vida – A instalação é um diário do co-tidiano de Augusta, avó da artista. Uma senhora de 86 anos que passou grande parte de sua vida trabalhando em f ábricas de tecidos em Contagem, Minas Gerais. A série retrata a visão da fotógrafa sobre a idosa, seus filhos, objetos e a casa que dividem. Nos últimos anos, Augusta começou a conversar com as fotografias, tra-tando-as como pessoas reais, que falam, se alimentam e criam diálogos. Ela compartilha com essas imagens e personagens suas dúvidas, aflições e histórias, de-senvolvendo instigantes narrativas. As fotografias e o

vídeo revelam essa realidade enigmática, que se asse-melha a uma história ficcional e roteirizada mas são, na verdade, registros documentais de ações cotidianas.

Silas de Paula (CE)Anônimos – Uma ficcionalização do trabalho operário na construção. É um trabalho em progresso. Não só dos operários que estão construindo o edifício, mas da imagem como processo. Um elemento é isolado e transformado em «protagonista», em símbolo. As cores do prédio em construção, com tons quentes caminhando em direção aos mais frios, procuram uma relação entre uma poética e a política do olhar. Uma tentativa de expandir as possibilidades de produção, misturar procedimentos, libertar-se de compromissos que parecem fundantes, uma proposta de encaminha-mento político – uma ficcionalização do cotidiano.

Victor Galvão (MG)Usinas Nacionais – Registros de um personagem anônimo que se desloca por uma paisagem árida. Sujeito e ambien-te desérticos. Uma presença que se dissipa pelo espaço, em ações indefinidas, à procura talvez pela própria identi-dade ou por uma história ocultada na opacidade do meio fotográfico desgastado. Espaço e imagem como barreiras, que guardam narrativas em suas arestas e pontos cegos. Uma situação de instabilidade e perigo, em uma zona industrial ameaçada por um colapso eminente.

Viviane Gueller (RS)Interlúdio – É a partir de intervalos estabelecidos no flu-xo do cotidiano que se constitui a série. São situações em diferentes suportes que emergem da experiência em espaços-tempo de espera, estado de disponibili-dade que possibilita uma suspensão no fluxo do dia

Renata Laguardia – MilitairesRenata Laguardia – La dame blanche

Silas de Paula – Anônimos

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12 · VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia

a dia. Uma possibilidade de transformação da nossa experiência a partir da percepção meditativa sobre o que nos cerca no cotidiano. Se por um lado, a situação de espera – esperar por alguém, por um atendimento, por um embarque – nos traz a sensação de uma perda de tempo, ou de tempo improdutivo, no qual nada apa-rentemente acontece, por outro, são nestes espaços intervalares, ligados ao silêncio e ao estranhamento, que encontros e diálogos podem ocorrer.

PARTICIPAÇÕES ESPECIAISLucas Negrão (PA)Margem de Beira, passagem. Paisagem · Ambiente-corpo – A série é com-posta por fotografias produzidas em viagens de fim de semana à Mosqueiro durante três meses, em 2012. Um ambiente rodeado de água, emerso na água, com-posto de beiras. Margem da flo-resta rasgada pela passagem.

Tarcisio Gabriel (PA)

Pai Velho – Fotos que registram o enterro do deca-no da Ilha São Miguel, no interior do Pará. Além de ser um homem muito importante para as pessoas daquela região, Pai Velho, como era conhecido João Lopes, era tio avô do artista. Morreu com 96 anos e levou dezenas de pessoas de todos os momentos de sua vida àquele cemitério precário no interior da Ilha. A fotografia vem servindo de ferramenta na tentativa do homem em guardar lembranças e de permanecer no mundo mesmo depois de sua morte, uma tentativa falha de se tornar infinito.

Viviane Gueller – InterlúdioLucas Negrão – Margem de Beira, passagem. Paisagem - Ambiente-corpo

Victor Galvão – Usinas Nacionais

Tarcisio Gabriel – Pai velho

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VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia · 13

A Poesia DocumentalGERALDO RAMOS É O ARTISTA CONVIDADO DESTA EDIÇÃO

A Amazônia, suas pessoas, florestas, rios, animais, cores e crenças são destaques no trabalho de Geraldo Ramos, jor-nalista com formação em artes visuais. O fotógrafo é o artista convidado da 8ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia e exibe, de 06 de maio a 30 de junho, no Museu da UFPA, um passeio por momentos do seu olhar na mostra individual “Interiores”.Geraldo, que se destaca como um grande documentarista da região amazônica, contou que recebeu com uma feliz surpresa o convite do Projeto. Na exposição ele apresenta fotografias produzidas em película, preto e branco, cromo e digital. Não foi feito um panorama da trajetória do artista, e sim, a escolha em seu vasto arquivo, de imagens em um recorte inédito.“Eu gosto muito de andar pela Amazônia e o meu acervo refle-te esse meu gosto pelo registro da cultura popular. Andei em todas as microrregiões sempre buscando também as paisa-gens, os rios, as florestas, os diversos tipos de embarcações, suas formas e seus usos”, contou.Sobre “Interiores”, o nome da mostra, o curador do Projeto, Mariano Klautau Filho explicou que “o título partiu de uma característica muito forte no trabalho de Geraldo, que é sua incursão por décadas pela paisagem cultural, pelos rituais, festas e manifestações nas cidades do interior do estado. A Marujada, o Boi, as máscaras utilizadas nas festas de São Caetano de Odivelas, e a própria paisagem humana são cenas fotografadas de maneira muitas vezes intimista. Dessa forma, o sentido da palavra no plural dá a ideia de um interior geo-gráfico, mas também de uma visão mais interiorizada sobre a paisagem humana”.

“Eu gosto muito de andar pela Amazônia e o meu acervo reflete esse meu gosto pelo registro da cultura popular”

Geraldo RamosGeraldo Ramos – Curuçá

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14 · VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia

O Boi, de São Caetano, “é representante da cultura popular do município e, a mais ou menos vinte anos atrás, quando eu o fotografei, já notava que ele era a manifestação mais importante que se tinha lá”, lembrou Geraldo.

“Trata-se de um trabalho de cunho documental, que tem interesse pelo registro dos lugares e ritos, mas também muito refinado na composição e na observação sobre as representações culturais da nossa região. Fazem parte também uma série em preto e branco captada em Belém voltada para o retrato e a cultura visual dos mercados e feiras em bairros mais populares da cidade”, acrescentou Mariano.Entre as imagens de Belém que integram a mostra o artista destacou as produzidas na Pedreira, desde um bar instalado no mercado, até a Festa de São Pedro, padroeiro do bairro.“O que eu gosto mesmo de fazer é o trabalho em cima da cultura popular. Ir para o interior ou mesmo aqui na cidade, nos bairros mais periféricos, onde ainda se encontram as tradições de um catolicismo popular”, finalizou Geraldo.

Geraldo Ramos – Painéis em Cametá

“Trata-se de um trabalho de cunho documental, que tem interesse pelo registro dos lugares e ritos, mas também muito refinado na composição e na observação sobre as representações culturais da nossa região”

Mariano Klautau Filho

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VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia · 15

O Retrato na FotografiaNo século XXI, a quantidade de fotografias produzidas é incalculável, uma vez que a todo momento imagens novas são feitas, indo habitar a internet, sendo compar-tilhadas nas redes sociais. Destas, a que mais se destaca é a no estilo autorretrato: a selfie, verbete inserido no Dicionário Oxford, em 2013, considerado a palavra do ano e que nos fala, acima de tudo, sobre a democrati-zação do retrato.Antes do surgimento da fotografia, o retrato era, princi-palmente, pintado através de longas sessões em estúdio. Pinceladas que somente os ricos e poderosos podiam pa-gam. Um sinônimo de poder uma vez que era usado para diferenciar classes e ressaltar indivíduos da sociedade.Com o surgimento da fotografia, a pintura se libertou da obrigação de ser a cópia da realidade. Surgia assim a fotografia documento, que tinha compromisso com a exatidão e priorizava a objetividade.As carte de visite e os álbuns de família se tornaram po-pulares no século XIX. Uma coleção de rostos. Retratos que eram registros e, ao mesmo tempo, projeções da-queles que ficariam fixos para sempre na melhor imagem de si, concebida em um estúdio fotográfico. O sujeito, a pose, o simulacro, as aparências: um jogo teatral.A tecnologia foi se aperfeiçoando e as câmeras, ficando cada vez mais leves e acessíveis. O fazer fotográfico se popularizou, o retrato e o autorretrato, aquele estudo e reflexão sobre si mesmo, foi ganhando cada vez mais adeptos.Retrato vem do latim “retrahere”, ou copiar. Assim, ele está ligado à ideia de mimese, mas, acima de tudo, re-lacionado à memória. Incessantemente existe a subjeti-vidade na imagem fotográfica. Aquela ideia de cópia do real sempre foi algo inatingível, pois o que enquadra e faz o recorte daquilo que merece ser fotografado, é sem-pre o olhar humano, que marca e afirma sua presença, mesmo que de maneira inconsciente.

Debb CabralGustav Rejlander – Tempos Difíceis

Hipollyte Bayard – Autorretrato de um homem afogado

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16 · VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia

A Fotografia e o Circuito da ArteISABEL AMADO ABRIU A PROGRAMAÇÃO FORMATIVA DA 8ª EDIÇÃO

O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia promoveu em fevereiro uma conversa com a curadora e especialista em conservação, Isabel Amado, que foi membra da comissão de seleção des-te ano. A varanda do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas foi o lugar es-colhido para receber a fala “Fotografia e o Circuito da Arte: entre o museu e a galeria”.O curador do Projeto, Mariano Klautau Filho, iniciou apresentado Isabel que “é uma pessoa que atua na área da foto-grafia desde os anos 80”. Ela comen-tou sobre as mudanças que a fotogra-fia passou e que muitas delas são bem

recentes. “A fotografia mudou profun-damente de 30 anos para cá. Estamos em um estágio de maturidade que con-sidero impressionante e louvável. Fico feliz em ver isso”, disse a curadora.Quando surgiu, a fotografia não era considerada uma manifestação artís-tica. Isabel, que tem grande formação empírica, contou que foi um trabalho exaustivo fazer com que a fotografia saísse do lugar apenas do registro docu-mental e colocá-la no universo da arte.Do Brasil, ela destacou o traba-lho importante do Foto Cine Clube Bandeirante, um dos mais antigos e importantes fotoclubes brasileiros,

“um lugar para estudar, ver e falar so-bre fotografia”. O ambiente de expe-rimentação tinha fortes influências da fotografia americana e europeia.Isabel mostrou imagens de fotógrafos como Ademar Manarini, Georges Radó, Gertrudes Altchulz, José Yalenti, Marcel Giró,Paulo Pires, Thomaz Farkas e Geraldo de Barros. Ela também desta-cou a importância do livro “A fotografia moderna no Brasil”, de Helouise Costa e Renato Rodrigues da Silva. “Esse livro é determinante para entender a foto-grafia no nosso país”, afirmou.Ao falar sobre o mercado ela apresen-tou os critérios para a legitimação da

fotografia e a entrada dela em um mu-seu ou coleção, métodos que são utili-zados por coleções como a do MOMA NY e MAC USP. São eles: a figura do curador como especialista, a valoriza-ção do vintage, a fotografia de autor enquanto alguém com uma linguem particular e a afirmação da autonomia.Durante a sua fala, Isabel destacou os momentos essenciais da entrada e da afirmação da fotografia no mercado da arte. “A apresentação que eu fiz foi para mostrar para vocês o quanto a fo-tografia se ampliou nos seus espectros, conceitos e espaços”, acentuou.O incentivo ao colecionismo é fun-

damental para fazer a fotografia circular e ter seu valor sempre com-preendido. Para finalizar, a curado-ra destacou o pró-prio Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, que ano passado apre-sentou ao público a coleção de fo-tografia contem-porânea que veio construindo desde o seu primeiro ano de atuação. Uma coleção que se for-ma bem próximo do momento de produção da obra, sendo assim um re-gistro da produção artística da época em que vivemos.

José-Yalenti – Paralelas e Diagonais

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VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia · 17

A Sensibilização do OlharMINICURSO FORMOU A EQUIPE DA AÇÃO EDUCATIVAO Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia reservou um final de semana inteiro para a realização do minicurso de formação da sua equipe de mediadores culturais. Intitulada “Olhar e ser visto: práticas educativas na poética do retrato”, a ação educativa, sob a coordenação de Cinthya Marques e Rodrigo Correia, irá aprofundar a discussão a respeito das “Poéticas e Lugares do Retrato”, tema desta 8ª edição do Projeto.Os coordenadores iniciaram o encontro com uma proposta de olhar o outro. Lápis e papel foram distribuídos e duplas foram formadas. Os participantes conversaram sobre si, suas memorias, experiências e desejos. Ao final, uma pessoa desenhou a outra como a via depois daquele breve diálogo. Este foi o início do relacionamento daqueles que, nos próximos meses, atuarão em equipe e conviverão diariamente.“O retrato é um estilo presente em diversos períodos da história da arte e seu uso é comum a todos aqueles que experimentam retratar a si e ao outro”, explicou Cinthya ao passear pelas outras linguagens, como a pintura, antes de chegar a fotografia.De que forma se pode trabalhar as práticas educativas no cerne do retrato?

Como fazer com que as discussões iniciadas nas exposições sejam ampliadas para a sala de aula? Estas e outras questões foram debatidas em grupo e, ao final, foi compreendido que o caminho norteador para isso será promover a sensibilização do olhar.Além disso, os textos “Retrato e Sociedade na arte italiana – ensaios de história social da arte”, de Enrico Costelnuovo; “O destino das imagens”, de Jacques Rancière e “Olhar e ser visto – a figura humana da Renascença ao contemporâ-neo”, de Teixeira Coelho, foram lidos e debatidos em conjunto.A forma como a sociedade enxerga o retrato fotográfico também foi pautada, uma

vez que esta tem certos rituais com a fotografia, que é guardada com todo o cuidado, exibida com orgulho e descartada de forma passional. “A fotografia acaba sendo a materialização simbólica daquele individuo retratado”, observou Rodrigo.As obras que integram as mostras da 8ª edição fo-ram apresentadas aos participantes do minicurso. Múltiplos olhares, múltiplas reações. Curiosidade, surpresa, rejeição, inspiração e melancolia foram alguns dos sentimentos despertados quando eles se depararam com a poética do outro.Lucas Negrão, que participa da exposição deste ano, na condição de participação especial, foi da equipe da Ação Educativa no ano passado. Sobre essa ex-periência ele comentou que “o mais interessante na mediação é a troca, o diálogo entre dois mundos, dois seres que se prestam a fazê-lo”.Do minicurso nasceu a equipe que trabalhará na ação educativa desta edição. Eles darão suporte ao públi-co visitante e terão como apoio, durante a visitação escolar, as propostas e dinâmicas pedagógicas que integram este tabloide, provocando questões e pos-sibilitando que esses alunos se vejam como protago-nistas, refletindo sobre si e sobre o outro.Fotos de Irene Almeida

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Visitas podem ser agendadasEducação visual e cultural são os objetivos do trabalho da Ação Educativa “Olhar e ser visto: prá-ticas educativas na poética do retrato”, do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. As exposi-ções da 8º edição têm visitação aberta ao público no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas e no Museu da UFPA. Os professores que queiram levar as suas turmas podem solicitar o agendamento das visitas pelo site www.diariocontemporaneo.com.br ou no telefone 98146-2506, no horário de 10 às 16h. As solicitações estão sujeitas à dis-ponibilidade de agenda. Após o cadastramento de informações no site, todos os pedidos serão respondidos por email ou telefone.Uma equipe composta por educadores de dife-rentes áreas acadêmicas foi capacitada para re-ceber o público, eles conheceram mais sobre o Projeto, artistas e trabalhos selecionados. Além disso, Cinthya Marques e Rodrigo Correia, coor-denadores da Ação Educativa, preparam propos-tas que relacionam as obras e poéticas artísticas à vida cotidiana, estimulando a reflexão sobre si e sobre o outro.Os mediadores instigarão os visitantes, provocan-do no senso crítico destes questões e reflexões. Tudo isso ocorrerá como em um passeio, com conversas e trocas. Segundo os coordenadores, “durante o período de exposição serão propostos

percursos educativos para as visitas em prol da sensibilização do olhar a partir das obras que irão compor a exposição deste ano, de modo a aproximar o público dos trabalhos dos artistas participantes”.

Educação formal e não formal atua-rão lado a lado, em uma experiên-cia sensível ha-bitando o espaço dos museus. As mostras do Diário Contemporâneo são abertas ao público e também atendem outros grupos que vão desde os universi-tários até os cen-tros de convivên-cia comunitários.

Qualquer conjunto que se organize pode realizar um agendamento prévio da sua visita.O público flutuante ou espontâneo, aqueles que chegam sem agendamento, também tem à sua dis-posição a equipe de educadores para lhe fornecer informações sobre as obras e os artistas, além dos temas pertinentes à exposição.Assim, a visita aos museus proporciona a ampliação da cultura e da sensibilidade artística do indivíduo, reno-vação das didáticas entre professor e alunos, conexões e trocas de experiências pessoais, além da apropriação e ocupação destes espaços culturais da cidade.

AGENDAMENTOAdemar Queiroz

98146-2506 (10 às 16h)

Ficha de inscrição no sitewww.diariocontemporaneo.com.br

Informações:[email protected]

Fotos – Irene Almeida

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VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia · 19

Ação EducativaCaro educador (a),O retrato é um estilo presente em diversos períodos da história da arte e seu uso é comum a todos aquele que experimentam retratar a si e ao outro. Na VIII edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia o educativo do projeto visa trabalhar com atividades que aprofundem a reflexão do retrato como um espelho de si, pois nesta relação há uma troca mútua, a partir do momento que o retrato nos olha tanto quanto o olhamos.Este material busca oportunizar o aprofundamento das questões voltadas para a com-preensão do tema desta edição do Projeto, de modo que as discussões iniciadas dentro dos espaços expositivos e, a partir das obras dos artistas que compõem as mostras, sejam ampliadas para o ambiente da sala de aula. Isso se dará através de propostas e recursos didáticos que facilitarão a abordagem do ensino aprendizado, voltadas para a experiência da percepção e da criação artística, contextualizando assim, na prática, um laboratório de entrelaçamento entre obras e público.Desse modo, a sensibilização do olhar será o caminho norteador para este entrelaçamento de dinâmicas entre as mostras e a sala de aula, haja vista que compreender o mundo é parte do processo de ensino-aprendizagem dos estudantes que frequentam as exposição e cujas tessituras do saber são construídas nessa dinâmica entre os dois espaços. Partindo deste viés, o educativo do Projeto propõe atividades que possibilitam a compreensão e o questionamento diante das obras dos artistas que, através da poética do retrato, percorrem os caminhos em busca desta autonomia entre arte e reflexão.

Cinthya Marques e Rodrigo CorreiaCoordenadores de Educação do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia

PROPOSTA 01: OBSERVANDO O OUTRO

Retratar a si e ao outro se torna uma prática nos estudos das artes visuais quando se observa que diversos artistas recorrem a este tema para produção de suas obras. Neste sentido, esta atividade propõe que em dupla os alunos conheçam a si e ao outro, incentivando, assim, o exercício de observação do outro enquanto figura humana.Siga o passo-a-passo e finalize a atividade relacionando os trabalhos produzidos com o contexto “Póeticas e lugares do Retrato”, tema deste ano do VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia.

Passo a passo:

1. Em duplas, solicite que um aluno conte ao outro um fato marcante de sua infância;2. Peça para que um deles escolha uma cor e desenhe um retrato do colega que está contando sua história;3. Em seguida, é a vez de inverter os papéis. Escolhendo também uma cor, o outro desenha o retrato do colega que conta sua história;4. Agora, é a vez da dupla se apresentar aos demais colegas. Um apresentará o outro por intermédio do retrato desenhado;5. Socialize os retratos produzidos pelos estudantes e construa um grande mural de retratos colando os desenhos produzidos na parede.Faixa etária: a partir de 12 anosMaterial: 01 folha de papel sulfite A4 por aluno, lápis de desenho, lápis de cera, lápis de cor e canetas hidrográficas.

Pedro Silveira – Efemérides da Gênese Pedro Silveira – Efemérides da Gênese

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PROPOSTA 02: CONSTRUINDO MEU AUTORRETRATO

Retrato (Cecília Meireles)

Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: – Em que espelho ficou perdida a minha face?

O Auto-retrato (Mário Quintana)

No retrato que me faço - traço a traço - às vezes me pinto nuvem, às vezes me pinto árvore... às vezes me pinto coisas de que nem há mais lembrança... ou coisas que não existem mas que um dia existirão... e, desta lida, em que busco - pouco a pouco - minha eterna semelhança, no final, que restará? Um desenho de criança... Terminado por um louco!

Compreender o mundo em que se vive também faz parte da dinâmica de conhecer a si mesmo e essas ob-servações podem ser construídas no tanto no ambiente escolar quanto no familiar. Na atividade de construção do autorretrato é importante que você, caro educador (a), incentive no processo de ensino-aprendizagem que cada criança explore as suas diferenças e seme-lhanças através de questionamentos como “O que é um autorretrato?”, “Como fazer um autorretrato?” e “O que expressa um autorretrato? ”. Estas reflexões podem ser iniciadas no ambiente da exposição do Diário Contemporâneo e desenvolvidas no ambiente da sala de aula com a construção do autorretrato de

cada aluno que reconhece a si mesmo dentro e fora dela, reforçando assim as relações entre arte e vida.

Passo a passo:

1. Durante visita a exposição solicite aos alunos que observem as obras de artistas que retratam a si mesmos;2. Ao retornar para sala de aula leia com os alunos os poemas “Retrato” de Cecília Meireles e “O auto-retrato” de Mário Quintana;3. Convide os alunos a se descreverem iniciando uma conversa “Como eu me vejo?” e “Como eu gostaria de ser visto?”.4. Utilize um espelho para que os alunos se dirijam e descrevam suas caracterís-ticas físicas e observem como eles se veem, o que chama atenção diante de seus olhos e qual a característica que eles mais admiram ao se olharem no espelho;5. Após esta dinâmica incentive os alunos a produzirem um desenho que retrate a si de acordo com a descrição de cada um;6. Compartilhe o resultado final com a turma perguntando sobre as diferenças e semelhanças observadas entre si o seu desenho retratado.Faixa etária: a partir de 08 anosMaterial: 01 folha de papel sulfite A4, lápis de desenho, lápis de cera, lápis de cor e canetas hidrográficas.

Alex Oliveira – Fora do Lugar

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PROPOSTA 03: RETRATO FALADO

Na série “Retrato falado” a artista Keyla Sobral pro-duz desenhos feitos com nanquim sobre papel e propõe a relação entre o relato oral e uma imagem no ambiente visual, utilizando assim uma fotogra-fia-narrativa para desenvolver os personagens que ambientam sua obra. Após visitar a obra da artista participante do VIII Prêmio Diário Contemporâneo

de Fotografia e partindo do contato que os alunos terão com os seus desenhos, desenvolva a ativi-dade “Retrato Falado” distribuindo os desenhos encartados nesta edição do tabloide e solicite que os alunos produzam um desenho partindo da sua imaginação e interpretação de cada descrição pre-sente nos desenhos da artista.

Passo a passo:

1. Visite a exposição e ao retornar para sala de aula, recorte com os seus alunos os desenhos da artista Keyla Sobral que integram este tablóide;2. Embaralhe os desenhos entre os alunos e distribua um para cada;3. Solicite que cada um interprete o desenho visual “Retrato Falado”, da artista Keyla Sobral a partir de um desenho autoral utilizando a sua imaginação;4. Solicialize o resultado final com a turma compar-tilhando as impressões de cada um.

Faixa etária: a partir de 14 anosMaterial: 01 desenho para cada aluno, 01 folha de papel sulfite A4, lápis de desenho ou nanquim.

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Pedro Silveira – Efemérides da Gênese

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PROPOSTA 04: JOGO DAS SEMELHANÇAS

Na série “Vivaz”, o artista Guido Couceiro Elias apresenta os retratos antigos e recentes de sua família, apostando nestas relações para aprofundar o pensa-mento sobre o que constitui um núcleo familiar. Nesta obra, o artista apresenta imagens que se assemelham entre si, porém, não são iguais. Que tal testar sua capacidade de observar as semelhanças entre essas imagens e sua memória?

Neste jogo recorte as fotografias e relacione as imagens do artista, mas lembre-se que elas não são totalmente iguais e sim semelhantes! Brinque com seus amigos e teste a capacidade de memorizar deles também. Boa sorte!Faixa etária: a partir de 08 anos.

Gostou do material? Gostaria de fazer sugestões ou críticas? Escreve pra gente! Mande um email para [email protected]. Este

tabloide está disponivel para download gratuito no site www.diariocontemporaneo.com.br.

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