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Política de Desenvolvimento de Coleções Para Bibliotecas Escolares
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CLAUDIA SILVA DE CARVALHO ARAUJO
DESENVOLVIMENTO DE COLEES PARA BIBLIOTECAS
ESCOLARES GUARANI:
UMA PROPOSTA PARA BIBLIOTECAS DE ESCOLAS
INDGENAS
FLORIANPOLIS SC 2005
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA UDESC CENTRO DE CINCIAS DA EDUCAO CCE
DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAO
CLAUDIA SILVA DE CARVALHO ARAUJO
DESENVOLVIMENTO DE COLEES PARA BIBLIOTECAS ESCOLARES GUARANI:
UMA PROPOSTA PARA BIBLIOTECAS DE ESCOLAS INDGENAS
Monografia apresentada ao Departamento de Biblioteconomia da UDESC como requisito para obteno do ttulo de bacharel em Biblioteconomia Gesto da Informao. Orientador: Mestre Elisa Cristina Delfini Corra.
FLORIANPOLIS SC 2005
ARAUJO, Claudia Silva de Carvalho
Desenvolvimento de colees para bibliotecas escolares
guarani: uma proposta para bibliotecas de escolas indgenas./
Claudia Silva de Carvalho Araujo Florianpolis (SC), 2005.
85 p. 21 cm. X 29,7 cm. (trabalho de concluso de curso Departamento Biblioteconomia)
1. Biblioteca Escolar 2. Desenvolvimento de colees 3. Biblioteca
Escolar Indgena 4. Educao indgena
I. Arajo, Claudia Silva de C. II. Desenvolvimento de colees
III. Bibliotecas Escolares Indgenas.
AGRADECIMENTOS
Agradeo a todos que me ajudaram a trilhar o difcil caminho. Em especial,
Aos familiares.
minha filha e marido pelo amor e carinho.
Aos formandos de 2005 da turma de Biblioteconomia Gesto da Informao.
Aos amigos, Gladis Rosado, Marcelo Del Pino, Natali Vicente e Tarcila Peruzzo,
pela amizade e fora em todos os momentos .
Ao Departamento de Biblioteconomia e Documentao da UDESC.
Aos mestres Elaine de Oliveira Lucas, Elisa Correa, Fernanda de Sales, Maria de
Jesus Nascimento e Paulino de Jesus Francisco Cardoso, pelas orientaes,
compreenso e apoio.
comunidade indgena de Morro dos Cavalos.
A Agostinho Krai Miri e Joana Vangelista Mongel, pelos ensinamentos de
humildade, amor e conhecimento de um mundo novo e fascinante.
E sobretudo a Deus/Tup que permitiu que eu chegasse ao fim.
Caminhos... A floresta tem mil caminhos e no tem caminho nenhum. Caminhos que se abrem e se fecham. Para caminhar na floresta preciso conhecer a floresta: [...] como se voc conhecesse o livro s de capa. Voc tem que entrar nele. Vagarosamente, freqentemente. Cada vrgula importa. A floresta como um livro, um livro. O aprendizado de vida inteira. S os velhos conhecem a floresta, os que andaram muito, viram muito. O silncio deles de sabedoria. [...] Na floresta voc no anda s, nunca. [...] Para andar na floresta preciso ser da floresta. A floresta se protege dos que vem de fora, ela os exclui. A floresta mata, mas s em legtima defesa. Para vencer a floresta preciso derrubar a floresta, deixar o solo nu. Para entender a floresta preciso ser da floresta. (SCHULER, 2005)
RESUMO
O presente Trabalho de Concluso de Curso tem como principal objetivo oferecer uma proposta de poltica de desenvolvimento de colees para a formao de acervo de bibliotecas escolares indgenas, considerando aspectos culturais e histricos. Tem como objetivos definir o conceito de escolas diferenciadas, enquadrando a escola indgena como foco de ateno, alm de analisar de forma comparativa os parmetros curriculares do MEC direcionados ao modelo tradicional de escolas e ao ensino direcionado s comunidades indgenas. Investiga os padres sugeridos em bibliografia especializada para acervo de bibliotecas escolares e identifica necessidades de adaptao para atendimento das necessidades informacionais em escolas indgenas. Como laboratrio para criao de uma nova proposta de desenvolvimento de colees, foi realizada uma anlise da coleo da Biblioteca Escolar Guarani, de onde surge a proposta para o desenvolvimento de colees adequadas cultura de comunidades indgenas. De acordo com os dados obtidos, as principais adaptaes para o desenvolvimento destas colees so: literatura indgena, acervo na lngua materna, literatura infantil e literatura brasileira, principalmente poesia. A metodologia, de acordo com o referencial terico apresentado considerou os aspectos qualitativos no tratamento dos dados obtidos.
PALAVRAS CHAVE: Biblioteca escolar. Biblioteca Escolar Indgena. Educao
indgena. Desenvolvimento de colees.
LISTA DE SIGLAS
BE - BIBLIOTECA ESCOLAR
BEI -BIBLIOTECA ESCOLAR INDGENA
CF - CONSTITUIO FEDERAL
CGE- COORDENAO GERAL DA EDUCAO
CGEEI - COORDENAO GERAL DE EDUCAO ESCOLAR INDGENA
CNPQ - CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTFICO E
TECNOLGICO
CNE - CONSELHO NACIONAL DE EDUCAO
FUNAI - FUNDAO NACIONAL DO NDIO
GEI - GESTO DE ESTOQUES INFORMACIONAIS
IFLA - FEDERACIN INTERNACIONAL DE ASOCIACIONES E INSTITUCIONES
BIBLIOTECARIAS
LDBEN - LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAO NACIONAL
MEC - MINISTRIO DA EDUCAO
NEI - NCLEO DE ESTUDOS INDGENAS
RCNEI - REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL DAS ESCOLAS INDGENAS
SEE - SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAO
UI - UNIDADE DE INFORMAO
UNESCO - ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS PARA A EDUCAO, A CINCIA
E A CULTURA
SUMRIO
1 INTRODUCO............................................................................................................ 8
2 METODOLOGIA..........................................................................................................12
3 POVOS INDGENAS: CARACTERSTICAS HISTRICAS E CULTURAIS...............14
3.1 PRINCIPAIS FATOS HISTRICOS RELACIONADOS AO IDIOMA GUARANI.......19
3.2 EDUCAO E ENSIN0 ...........................................................................................21
3.2.1 Educao dos povos indgenas..............................................................................23 3.2.2 Legislao referente Educao Escolar Indgena...............................................26 3.2.3 Curso de formao de professores indgenas........................................................30 3.2.4 Cotas......................................................................................................................35
4 BIBLIOTECA ESCOLAR.............................................................................................38 4.1 MISSO E OBJETIVOS DA BIBLIOTECA ESCOLAR..............................................38
4.2 ACERVO DE BIBLIOTECA ESCOLAR.....................................................................42
4.3 POLTICAS DE GESTO DE ESTOQUES INFORMACIONAIS DE BIBLIOTECAS
ESCOLARES...................................................................................................................44
5 BIBLIOTECA ESCOLAR INDGENA..........................................................................46 5.1 MISSO E OBJETIVOS DA BIBLIOTECA ESCOLAR INDGENA...........................46
5.2 ACERVO DE BIBLIOTECA ESCOLAR INDGENA...................................................50
5.3 GESTO DE ESTOQUES INFORMACIONAIS DE BIBLIOTECAS ESCOLARES INDGENAS.....................................................................................................................56 5.3.1Relato de experincia..............................................................................................58 5.3.2 Bases para uma proposta de Gesto de Estoques Informacionais de Bibliotecas
Escolares Indgenas........................................................................................................63
6 MODELO DE PROPOSTA DE GESTO DE ESTOQUES INFORMACIONAIS PARA BIBLIOTECAS ESCOLARES INDGENAS...................................................................68
6.1INTRODUO...........................................................................................................68
6.2 OBJETIVOS..............................................................................................................69
6.3 FORMAO DO ACERVO.......................................................................................69
6.4 FONTES DE SELEO............................................................................................70
6.5 POLTICA DE SELEO E AQUISIO..................................................................73
6.6 DOAES.................................................................................................................74
6.7 INTERCMBIO DE PUBLICAES.........................................................................75
6.8 RESPONSABILIDADES PELA SELEO................................................................75
7 CONCLUSO..............................................................................................................77
8 REFERNCIAS............................................................................................................82
8
1 INTRODUO
A promulgao da Constituio Federal de 1988, tambm conhecida como
Constituio Cidad, garantiu antigas reivindicaes de comunidades indgenas, como
a garantia de respeito a sua histria e cultura, sendo esses aspectos introduzidos nas
Escolas Diferenciadas Indgenas.
Ao mesmo tempo em que esse direito foi garantido, acabou gerando uma
demanda de necessidade informacional para as comunidades indgenas exigida nas
relaes interetnicas. O conhecimento tradicional passou a ser valorizado e pesquisado
em meio acadmico. A escola diferenciada indgena pressupe a preservao cultural,
o respeito as suas diferenas e o ensino da lngua materna.
Dando incio s discusses sobre escola "diferenciada", sua matriz curricular e
material didtico, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao e, mais recentemente o
Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indgenas, esto consolidando essa
questo a nvel nacional.
O ensino e a educao so fatores fundamentais para o desenvolvimento
humano, social e econmico de um pas. A biblioteca representa o elo de ligao entre
esses processos ao propiciar o acesso democrtico a informao.
Uma biblioteca possui, como uma de suas mltiplas funes, a preservao
documental de um povo. tambm, por excelncia, um local apropriado para o fluxo de
informaes, quer estejam em suportes fsicos tradicionais ou nos modernos suportes
de informtica. No se pode negar a crescente demanda por pesquisas nessa rea e o
9
grande desafio facilitar o acesso informacional e contribuir para a perpetuao e
divulgao da massa documental existente em nosso pas.
As bibliotecas escolares exercem seu trabalho focadas nas atividades
desenvolvidas em salas de aula e, dentre os seus objetivos destacam-se: o apoio s
atividades pedaggicas, o incentivo a leitura, a formao necessria para o exerccio da
cidadania e a disponibilizao de informaes necessrias s tomadas de decises da
instituio escolar.
Se por um lado a escola diferenciada j est presente em vrias
comunidades indgenas, a instalao de Biblioteca Escolar Indgena algo inovador,
propondo agregar valor ao ensino e minimizar as diferenas existentes entre o ensino
tradicional e o indgena, propiciado atravs de um acervo dinmico e seletivo,
proporcionando condies de igualdade de acesso e permanncia na vida escolar.
A verdade que, mesmo com a introduo deste ensino diferenciado, os
indgenas esto distantes de atingirem um ensino de excelncia . Existe ainda, a viso
romntica do bom selvagem por grande parte da sociedade e para a efetiva incluso
social ocorrer faz-se necessria a anuncia desses povos e a revogao de conceitos
pr-estabelecidos dos no-ndios e o questionamento da tutela pelo Estado. Essa
situao que perdura, mantm os ndios incompreendidos e desvalorizados.
As polticas pblicas s surtiro efeito no seio dessas comunidades quando
proporcionarem a garantia do direito terra. Pode-se dizer, irrefutavelmente que, A
TERRA SEU MAIOR E MAIS PRECIOSO BEM. O apoio das lideranas estar
garantido quando os executores perceberem essa questo crucial. O dilogo tornar-se-
igualitrio quando a populao indgena, independente de etnia, obtiver de forma
eficaz o acesso democrtico a informao.
10
A biblioteca escolar indgena poder proporcionar este grande diferencial,
permitindo e contribuindo para o acesso e fluxo da informao independente do suporte
em que se encontra. A composio de acervos contextualizados com essa realidade
garantir um melhor aproveitamento da comunidade escolar e favorecer as relaes
interetnicas.
Em consonncia com a escola diferenciada indgena a biblioteca escolar
indgena tem funo social, cultural e educativa. A coleo deste espao deve atender
necessidade informacional de alunos, corpo pedaggico e comunidade refletindo o
respeito s diferenas culturais e os esforos de preservao da lngua materna,
costumes e tradies dessa comunidade, ampliando essa construo a partir da viso
pr-concebida do no-ndio.
O presente trabalho composto pelos seguintes captulos: povos indgenas:
caractersticas histricas e culturais (abrange a poca da colonizao at os dias atuais
e suas peculiaridades), educao dos povos indgenas (enfatizando o direito indgena a
educao diferenciada), legislao (concernentes proposta da educao
diferenciada), curso de formao de professores indgenas (salientando a importncia
de qualificao de profissionais indgenas ao ensino bilnge), biblioteca escolar
(destacando sua importncia no processo ensino/aprendizagem), biblioteca escolar
indgena (enfatizando o grande diferencial na instalao de bibliotecas escolares em
territrios indgenas) e biblioteca escolar guarani (elaborao da proposta de poltica de
gesto de estoques informacionais baseada no relato de experincia) .
A metodologia utilizada tem caractersticas de pesquisa bibliogrfica exploratria
e documental, tendo como base principal a anlise dos parmetros curriculares
11
propostos pelo Ministrio da Cultura (MEC) para escolas tradicionais e para a educao
indgena.
Nesse contexto, ressalta-se que a biblioteca escolar indgena e o
desenvolvimento de colees podem contemplar a viso de duas culturas e o respeito
ao que de melhor est sendo produzido em portugus e guarani, alm de contribuir
para a perpetuao de saberes milenares atravs do arquivamento de material
produzido na Escola Indgena e na Biblioteca Escolar (BE).
Com a identificao das diferenas curriculares existentes possvel elaborar
uma poltica de gesto de estoques informacionais que atenda s necessidades
informacionais das escolas diferenciadas indgenas.
12
2 METODOLOGIA
Este Trabalho de Concluso de Curso (TCC) tem caractersticas de pesquisa
bibliogrfica exploratria e documental, tendo como base principal a anlise dos
parmetros curriculares propostos pelo MEC para escolas tradicionais e para a
educao indgena.
A pesquisa foi feita a partir dos seguintes materiais:
a) Livros e artigos em formato impresso e eletrnico em portugus e espanhol;
b) Utilizao do acervo da biblioteca da Secretaria Estadual de Educao de SC;
c) Parmetros do MEC e mais especificamente documentao do Ncleo de Estudo
Indgena de Santa Catarina;
d) Currculos escolares indgenas;
c) Sites dedicados educao indgena;
f) Literatura especfica da rea de gesto de estoques informacionais e bibliotecas
escolares.
Os textos em espanhol foram acrescidos aps a verificao de maior produo
de artigos cientficos nesta lngua justificada pelo adiantamento em pases como o
Mxico e o Chile pertinentes temtica de servios bibliotecrios oferecidos.
A metodologia, de acordo com o referencial terico apresentado, considerou os
aspectos qualitativos no tratamento dos dados obtidos.
A reviso de literatura composta por bibliografia existente sobre o tema
pesquisado, servindo de parmetros para a elaborao de textos. Apresenta-se
distribuda em captulos. Serve de apoio s argumentaes elaboradas demonstrando o
desenvolvimento do assunto, as contradies e limitaes existentes na literatura
13
cientfica.
As discusses levantadas esto apoiadas no resultado demonstrado por outros
pesquisadores no assunto servindo de parmetros para a formulao da linha de
raciocnio descrita. O principal objetivo da reviso de literatura consiste na reunio,
anlise e discusso das informaes disponveis para a fundamentao terica do
trabalho.
Para o aprimoramento da proposta do plano de diretrizes para o
desenvolvimento de colees foi elaborado:
a) pesquisa de material bilnge;
b) Anlise comparativa de textos;
O convvio com a comunidade indgena de Morro dos Cavalos e, principalmente
com o coordenador, professores e alunos da Escola Estadual Itaty, serviu de base para
demonstrar as reais necessidades informacionais para a composio de acervos
seletivos e dinmicos da Biblioteca Escolar Guarani.
14
3 POVOS INDGENAS: CARACTERSTICAS HISTRICAS E CULTURAIS
Os povos indgenas so descendentes de populaes pr-colombianas, de
regime estrutural igualitrio, sem distino de classes sociais e domnio de posse. Sua
histria baseada na posse coletiva da terra e preconiza a igualdade de condies
para todos os membros da comunidade. Encontra-se organizada na diviso do trabalho
por sexo e idade, tendo suas relaes baseadas no princpio da reciprocidade. So
portadores de tradio oral, que, conforme Levy (1993, p.77) remete ao papel da
palavra antes que uma sociedade tenha adotado a escrita, [....], quase todo o edifcio
dos indivduos est fundado sobre as lembranas dos indivduos.
A perpetuao de lendas, mitos, crenas, tradies e cultura das comunidades
indgenas so a melhor representao da tradio oral indgena. A mitificao dos fatos
histricos representa, suponho, o caso que melhor alimenta a avidez dos defensores da
histria oral. (CALAVIA SEZ, 2005)
As regras de convivncia so determinadas pelas polticas indgenas e polticas
indigenistas que, podem ser definidas como:
- poltica indgena: denota os regimes jurdicos de cada povo, relata Jfej
Kaingang (2004, p.6)
- poltica indigenista: elaborada pelo legislador no indgena para os diferentes
povos indgenas. (GALIZA, 2005)
Conforme o Parecer 14/99 do Ministrio da Educao e do Conselho Nacional de
Educao, as comunidades indgenas so consideradas grafas, por no possurem a
escrita alfabtica, estas sociedades transmitem seus conhecimentos e saberes atravs
15
da oralidade, comunicando e perpetuando a herana cultural de gerao para gerao.
Contestando esse parecer, Jfej Kaingang (2004, p.8) esclarece
As Sociedades Indgenas brasileiras, originariamente, no possuam escrita (atualmente algumas lnguas foram grafadas, de modo geral, por lingistas estrangeiros), embora no sejam grafas como se tem afirmado, inadvertidamente, pois apresentam uma ampla diversidade de grafismos com significados compreendidos pelos membros de cada Povo.
No Brasil, existem cerca de 230 povos indgenas, que apresentam 180 lnguas
diferentes, com complexos sistemas de registros, numa grafia de linguagem simblica,
portadores da tradio oral. Hoffmann (2005) relata que, no censo de 2000, a
contagem oficial da populao indgena mais que dobrou, quando 400 mil habitantes
citadinos aproveitaram a oportunidade para se declararem ndios algo inimaginvel h
algumas dcadas.
Com o processo de evangelizao, por mtodos proibitivos e de inferiorizao
das etnias indgenas, verifica-se a ocupao dos seus territrios e a destruio de
grande parte da sua cultura. Atualmente, percebe-se a preocupao dos rgos
governamentais de integrao e preservao desses povos, o que se mostra
contraditrio, pois a preservao um processo cujo xito inversamente proporcional
integrao. Os povos indgenas no querem ser integrados, querem ser respeitados.
Assim aconteceu com o povo indgena Guarani do Brasil, quando no perodo da colonizao pelos espanhis no sculo XVI e XVII, no quis mais procriar, nem mais cantar e nem mais criar. Queriam jogar-se do alto do penhasco a si e toda sua famlia, numa demonstrao de resistncia contra a escravido, colonizao e racismo. (POTIGUARA, 2005a)
Em termos populacionais, de acordo com o site do Museu do ndio, as seis maiores
etnias so:
1. Guarani (sub-grupos Kaiow, Nandeva e Mby): 30 mil (MS, SP, RJ, PR, SC,
RS, ES);
16
2. Ticuna: 23 mil (AM);
3. Kaingang: 20 mil (SP, PR,RS,SC);
4. Macuxi: 15 mil (RR);
5. Guajajara: 10 mil (MA);
6. Yanomami: 9.975 (RR/AM).
No Estado de Santa Catarina,
o primeiro relatrio sobre as aldeias Guarani no litoral de Santa Catarina, elaborado por Maria Ins Ladeira no incio da dcada de 1990, menciona locais ocupados e desocupados nos municpios de So Francisco do Sul, Barra do Sul, Araquari, Itaja, Guabiruba, Biguau e Palhoa. Atualmente aqui vivem vrias famlias, grupos, em aldeamentos ou no, perfazendo uma populao aproximada de 650 pessoas, localizadas nas seguintes reas: Marangatu (Imaru), Massiambu, Morro dos Cavalos, Cambirela e Praia de Fora (Palhoa), Mbiguau (Biguau), Tarum, Pira, Pindoty, Jabuticabeira e Ilha do Mel (Araquari), Ara e Morro Alto (So Francisco do Sul), Conquista (Barra do Sul), Trs Barras (Garuva), Piarras e Guaramirim. (POST DARELLA , 2003 p. 203)
O autor afirma que, as localizaes de aldeias guarani esto diretamente
relacionadas a fatores histricos e culturais dessa etnia
fundamental sublinhar que existe um substrato cultural e social na ocupao costeira. O cultural refere-se viso de mundo dos Guarani e ao seu sistema (modo de ser), como dizem. Esta parte do territrio Guarani guarda importantes significados cosmolgico e mitolgico, alm de histrico. Para os Guarani que vivem na regio litornea h um sentido de aqui estar, embasado numa concepo de mundo, na qual o mar simboliza ao mesmo tempo limite e possibilidade de superao da condio humana. O social diz respeito principalmente aos laos de parentesco e economia de reciprocidade (trocas, intercmbios de sementes, mudas, informaes etc.), aspectos fundamentais nas estratgias do cotidiano. Economicamente as famlias guarani tm se mantido com uma diversidade de itens que podem somar agricultura, venda de artesanato, caa, pesca, coleta, aposentadoria, salrio (professor, agente de sade, agente de saneamento), doaes, cestas bsicas, trabalhos temporrios para regionais, para citar os principais. (POST DARELLA, 2003 p. 204)
Dentre as caractersticas desta etnia pode ser observada sua maneira itinerante
de ocupao da terra, fazendo contnuos e freqentes deslocamentos entre as regies
17
que habitam. Em sua relao com a terra, no existe delimitao geogrfica nem o
conceito de posse da terra, como o enraizado na cultura no ndia.
O territrio Guarani, que engloba regies do Paraguai, Argentina e Uruguai, se consubstancia como uma grande rede de parentes, pensamentos, conhecimentos, interpretaes, estratgias. um territrio-movimento no apenas em termos de deslocamentos, mas igualmente de transformaes, elaboraes, atualizaes. (POST DARELLA, , 2003 p. 205)
Na viso indgena, a terra habitada por eles um bem coletivo, destinado a
suprir as necessidades de toda a comunidade, por meio da caa, pesca, plantio,
moradia e de uma relao ntima com a natureza. A todos assegurada a utilizao
dos recursos. A sua alimentao baseada em mandioca, milho, batata doce, feijo,
melancia e carne de caa.
H muito tempo que j se discutem as discriminaes e desigualdades
sofridas por essas comunidades, frutos das relaes interetnicas, aonde os direitos
indgenas vm sendo desrespeitados, embora previstos no Direito Internacional e, no
Brasil, pelo Estatuto do ndio, que em seu artigo 1 assegura o respeito identidade
cultural, tradies e lnguas indgenas:
Esta lei regula as relaes dos povos indgenas, suas comunidades e dos ndios individualmente com a sociedade e com o Estado Brasileiro, as quais devem se basear no princpio de proteo e respeito s organizaes sociais, costumes, lnguas, crenas e tradies de cada povo, os direitos originrios sobre as terras que tradicionalmente ocupam e todos os seus bens. (BRASIL, 2005 a)
Outro fator preponderante para as comunidades indgenas a questo da
espiritualidade, que est diretamente relacionada sua vinculao com a terra, a
cultura e tradies. No possuindo relao direta com a posse da terra, transcendendo
ao material, cada comunidade indgena particularmente tem sua viso espiritual,
18
cosmolgica e de origem da vida. Sua espiritualidade intimamente relacionada ao
meio ambiente e ao respeito pela terra.
O paj, mesmo sem conhecimento cientfico urbano do que sejam direitos humanos, um dos maiores defensores natos, na teoria e na prtica, desses direitos, alm de ser um curador. Ele o verdadeiro conhecedor dos conhecimentos tradicionais e de sua biodiversidade: patrimnio cultural de povo, propriedade intelectual de seu povo. Ser lder espiritual, em qualquer lugar, em quaisquer culturas e tradies significa estar conectado primeiro com o eu interior, a mulher/o homem selvagem dentro de si mesmo, como j dissemos, enfim sua intuio e todos os desdobramentos dela faz-nos remeter s nossas culturas e espiritualidades tradicionais, dentro da nossa casa espiritual e mental. (POTIGUARA, 2005b)
Mas, afinal o que vem a ser cultura e conhecimento tradicionais das
comunidades indgenas? A cultura est associada a lngua, vestimentas, moradia,
alimentao, crenas, comunicao. Bernard (2005) diz que
Cultura o padro integrado do conhecimento, das crenas e do comportamento humanos. Assim definida, a cultura consiste na linguagem, idias, crenas, costumes e tradies, tabus, cdigos, instituies, instrumentos, tcnicas, obras de arte, rituais, cerimnias e outros conceitos assemelhados. O desenvolvimento da cultura depende da capacidade humana de aprender e de transmitir o conhecimento s geraes seguintes.
O conhecimento tradicional o meio de identificao cultural de seus
detentores, de forma que sua preservao e integridade sejam relacionadas s
preocupaes na preservao de diversas culturas per se.(PINTO, 2005, p. 4)
No existe na literatura cientfica um consenso se as comunidades indgenas, de
um modo geral, e especificamente neste trabalho os guarani, so povos grafos ou
no. No Paraguai, a lngua guarani oficial ao lado do espanhol e serve de
denominao para diversas variantes de lnguas indgenas da famlia tupi guarani.
19
3.1 PRINCIPAIS FATOS HISTRICOS RELACIONADOS AO IDIOMA GUARANI
Conforme relaciona Fernndez (2005) esses so os principais fatos relacionados
ao idioma guarani e suas influncias na Amrica do Sul:
Ano Fato relacionado ao idioma Guarani
3000 a.C. O grupo Tupi-Guarani est se estabelecendo no centro de Amrica do Sul, acredita-se proveniente da Amrica Central, tendo uma linguagem em desenvolvimento, majoritariamente monossilbica e gutural.
2000 a.C. provvel que pequenos grupos indgenas desagregam e isolam-se, para depois formar o que no futuro longnquo seriam conhecidos como outros troncos lingsticos menores.
1000 a.C. Os Tupi-Guarani tm conseguido melhorar notavelmente a sua linguagem primignia convertendo-a em uma concisa e precisa lngua com a qual se comunicavam, com muitos sons guturais e onomatopaicos.
500 a.C. Por alguma razo desconhecida, o grupo inicial comea a se dividir em dois, os Tupi e os Guarani, perdendo comunicao um com o outro. Os Tupi vo migrando para o norte e leste, enquanto que os Guarani vo para o oeste e o sul-oeste.
200 a.C. Um grupo dos Tupi vai chegando costa atlntica, sudeste do que ser o Brasil, enquanto que outro se estabelece na Amaznia. Os Guarani, entretanto, expandem-se pela bacia do Rio da Prata. Suas lnguas comeam a se diferenciar, embora com a mesma sintaxe.
500 Vm-se gerando vrios dialetos das duas grandes lnguas originais (Tupi e Guarani), enriquecendo-se lexicamente cada qual a seu prprio modo, pela influncia das lnguas locais de outros troncos lingsticos.
1000 A sintaxe das lnguas derivadas do Tupi-Guarani segue e seguira mantendo-se quase invarivel, o que, somado sua similitude fonolgica, permitir mais tarde a identificao deste grupo como de origem comum.
1553 Chegam os primeiros jesutas ao Brasil. Estes missioneiros dedicam-se imediatamente ao estudo do Tupi, liderados por Jos de Anchieta.
1595 Anchieta publica Arte de grammatica da lingoa mais usada na costa do Brasil. Esta lngua o Tupi que, nestas alturas do tempo, j bem diferente do Guarani.
1603 O Frei Luis de Bolaos traduz para o guarani o Catecismo breve para rudos y ocupados, que, majoritariamente, ser considerado como a primeira escritura nesta lngua. Alm disso, deixa-nos alguns esboos da sua gramtica.
1605 estabelecida a Ordem da Companhia de Jesus (conhecida tambm como A Misso dos
20
Jesutas) na Provncia do Rio da Prata, para reforar a tarefa evangelizadora dos franciscanos, e para "alfabetizar e instruir" aos indgenas, com a inteno de que sejam teis, uma vez dominados. Mas os jesutas imediatamente interessaram-se pelo estudo da lngua guarani, e foram contrrios a Encomienda no que diz respeito explorao dos indgenas.
1629 Alonso de Aragona escreve uma gramtica da lngua guarani, que permanecer indita por 350 anos.
1639 Antonio Ruiz de Montoya publica Tesoro de la lengua Guaran, o primeiro dicionrio Guarani-Castelhano.
1870 Finaliza a Guerra Grande com a morte do Marechal Lpez, e se reinicia a guerra contra o guarani, "a lngua selvagem", proibindo-se o seu uso nas escolas. Aqueles que o usam so qualificados de "guarangos", e sujeitos a penalidades sociais. O guarani pasar a ser, novamente, uma lngua oral.
1941 Nasce no Paraguai Cultura Guarani, que mais tarde ser a Academia de Lngua e Cultura Guarani. Um tempo depois perder autoridade e logo mais ficar no esquecimento, pela improdutividade de seus membros.
1950 Em Montevidu, o Congresso da Lngua Guarani estabelece uma nova grafia para esta lngua, com delegados de Argentina, Brasil, Bolvia, Paraguai e Uruguai.
1989 Apoiada pela Constituio Federal do Brasil de1988, que otorga s sociedades indgenas o direito ao uso de suas lnguas maternas, a Constituio do Estado de Santa Catarina estabelece "O ensino fundamental regular ser ministrado em Lngua Portuguesa, assegurada s comunidades indgenas tambm a utilizao de suas lnguas maternas e processos prprios de aprendizagem" (Artigo 164, pargrafo 2). Isto supe uma educao bilnge, com sistemas diferenciados, se bem aplicvel somente s comunidades indgenas.
1994 O Conselho Estadual de Educao do Rio de Janeiro aprova uma recomendao de que o Tupi (nestas alturas, uma lngua morta) fosse includo no ensino do segundo grau. No se far, pela falta de professores.
1995 Wolf Lustig publica em Internet, da Alemanha Guarani anduti Rogue (Pgina Guarani da Rede), o primeiro stio da Internet sobre o idioma guarani e da cultura do seu entorno.
1997 Comea um auge extraordinrio de publicaes em guarani e sobre o guarani (poesias, narraes, ditados, dicionrios, gramticas, mtodos de aprendizado, etc.).
1998 Eduardo Navarro, da Universidade de So Paulo (a nica que ensina Tupi), funda a organizao Tupi Aqui, com a que pretende formar professores da lngua Tupi, para inclu-la como matria opcional, nas escolas do Estado de So Paulo.
Eduardo Navarro publica Mtodo Moderno de Tupi Antigo e depois Poemas - Lrica Portuguesa e Tupi de Jos de Anchieta, com o sublime intento de reviver a lngua Tupi.
2000 Levantamos os nossos copos para honrar os 5.000 anos da Histria Tupi-Guarani na Amrica do Sul, almejando que, desta vez, pelo menos o Guarani fique definitivamente triunfante na terra dos homens que a cultivaram suficientemente para mant-la viva, a pesar das dificuldades, nem que seja na oralidade.
Percebe-se que desde o ano de 3000 AC a lngua guarani vem sofrendo duras
perdas em sua forma textual. No Brasil o seu estabelecimento pelos jesutas no
chegou a ser oficializado. Durante esses vrios anos, documentos em guarani foram
21
elaborados e acabaram se perdendo, o que ressalta a importncia da implantao de
bibliotecas, visto que uma biblioteca possui, como uma de suas mltiplas funes, a
preservao documental de um povo.
tambm, por excelncia, um local apropriado para o fluxo de informaes,
quer estejam em suportes fsicos tradicionais ou nos modernos suportes de informtica.
No se pode negar a crescente demanda por pesquisas nessa rea e o grande desafio
facilitar o acesso informacional e contribuir para a perpetuao e divulgao da
massa documental existente em nosso estado.
3.2 EDUCAO E ENSINO O ato de educar no se restringe somente ao ambiente escolar, esta etapa
compreende os complexos universos familiares, sociais e comunitrios. O ato de
ensinar apresenta uma relao ntima entre educadores (professores, bibliotecrios e
educandos), que trabalham, embora muitas vezes sem conscincia, sob a influncia de
pensadores como Aristteles, Rousseau ou Durkhein, entre outros, na maneira em que
as prticas pedaggicas foram introduzidas, na organizao do sistema escolar, no
contedo de livros didticos e na formao dos currculos de educadores.
A arte de educar, que vem desde a Antiguidade, o meio que as sociedades
encontraram para garantir a sobrevivncia. Nas sociedades primitivas a tarefa de
educar era coletiva, sendo restrito aos adultos o ato de educar e ensinar aos jovens e
crianas os cdigos e valores sociais para o desempenho de determinadas funes
sociais.
22
Com o desenvolvimento e aumento da complexidade das sociedades a
educao passou a ser atribuda a especialistas, restringindo-se o ato de ensinar a
algumas pessoas e ocorriam em lugares determinados (escola).
Durante a Idade Mdia, o Cristianismo foi a base da educao, tendo a Bblia
como cartilha obrigatria, no prescindindo, porm, de um certo grau de alfabetizao,
lgica e retrica. Mesmo restrita a nobres e religiosos, nem todos possuam domnio da
tcnica de ler e escrever.
Com a influncia de polticos e a introduo da educao como princpio da
disciplina intelectual, a Igreja comea a sofrer presses acarretando assim o
surgimento das primeiras universidades abertas aos leigos pobres.
Com o feudalismo, no sculo XIV, a formao de Estados Nacionais e
universidades, que, embora se mantivessem fieis educao teolgica, comeou a ser
introduzido o conhecimento cientifico. Iniciou-se a fase da educao onde a priorizao
do esprito cedeu lugar ao conhecimento do ser humano como interesse e medida do
conhecimento.
Durante o sculo XVI, houve o rompimento da educao com a Igreja Catlica,
tornando livre a interpretao da Bblia e valorizao da alfabetizao, o ensino de
lnguas e o acesso a todos desse conhecimento acarretando o inicio da utilidade social
da educao.
A Igreja Catlica reagiu com a ContraReforma sendo os jesutas os operadores
do movimento e membros da Companhia de Jesus, fundada pelo espanhol Incio de
Loyola, entre os anos de 1491 e 1556. A concepo de ensino era baseada na rgida
disciplina intelectual e fsica, hierarquia autoritria, desestmulo a iniciativa individual,
competio entre os alunos e formao erudita dos professores.
23
No Brasil os jesutas desempenharam papel especial, sendo os primeiros
educadores a serem enviados ao pas, ainda colnia de Portugal.
Educar os ndios tornou-se desde cedo, uma estratgia central da aliana entre o Estado portugus e a Igreja, ambos dispostos a levar a evangelizao e a civilizao as terras conquistadas, trabalhando em conjunto para isso, no s no Brasil, mas tambm na sia e na frica. A poltica educacional ultramarina passou a delinear em Portugal logo nas primeiras dcadas do sculo XVI e tomou corpo com a fundao da Companhia de Jesus por Incio de Loyola, em 1540. (ALEGRE, 1988, P. 82).
Essa educao foi oferecida nas aldeias indgenas at o ano de 1760, onde o
educador foi substitudo pelo professor leigo.
At o fim do perodo colonial, a educao indgena permaneceu a cargo de missionrios catlicos de diversas ordens, por delegao tcita ou explcita da Coroa portuguesa. Com o advento do Imprio, ficou tudo como antes: no Projeto Constitucional de 1823, em seu ttulo XIII, art. 254, foi proposta a criao de "...estabelecimentos para a catechese e civilizao dos ndios...,, Como a Constituio de 1824 foi omissa sobre esse ponto, o Ato Adicional de 1834, art. 11 , pargrafo 5, procurou corrigir a lacuna, e atribuiu competncia s Assemblias Legislativas Provinciais para promover cumulativamente com as Assemblias e Governos Gerais''...a catechase e a civilizao do indgena e o estabelecimento de colnias (AZEVEDO E SILVA,2005)
3.2.1 Educao dos povos indgenas
A histria da educao indgena que iniciou no Brasil colnia vem sofrendo
alteraes at os dias atuais, em atendimento as necessidades surgidas da relao
intertnica, pressionando os rgos competentes na criao de escolas alternativas
ou escolas diferenciadas com a formulao de polticas educacionais junto
comunidade.
a questo da escola ganha importncia na medida em que os ndios precisam adquirir conhecimentos qualificados sobre o mundo dos brancos, para que possam estabelecer relaes menos submissas e mais igualitrias tanto com setores do indigenismo oficial, quanto com outros segmentos da sociedade brasileira. Aprender o idioma portugus, dominar algumas operaes matemticas eram necessidades prementes para alguns povos, para darem um bastas relaes de subordinao e de dominao em que se encontravam.
24
(GRUPIONI, 2005, p. 2)
Capelas Junior (2003, p. 9) refora essa idia ao dizer que hoje o prprio
ndio quer aprender a lngua do branco, mas desta vez para se defender da esperteza
do homem civilizado, mas tambm para tomar contato com um mundo do qual ele
parte.
Mas que escola ser esta, de carter cultural, libertadora do ser humano, do
encontro e resgate de sua cultura, de novas relaes com a sociedade, construtora de
uma histria e de uma nova cidadania? Kahn e Franchetto (1994, p.5) admitem a impossibilidade de se definir com nitidez a real poltica de Educao Indgena colocada atualmente em prtica no Brasil.
Com a promulgao da Constituio de 1988, as escolas indgenas passaram a
ter um mtodo diferenciado de ensino, tornando-se bilnge, especfico e comunitrio.
Dando incio s discusses sobre escola "diferenciada" e questes da matriz curricular
e material didtico, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDBEN), obriga
os sistemas de ensino a desenvolverem programas especficos e material didtico
diferenciado; e, mais recentemente, com o Referencial Curricular Nacional para as
Escolas Indgenas, a perspectiva de preservao histrica e cultural a educao
indgena procura proporcionar aos ndios, suas comunidades e povos, a recuperao
de suas memrias histricas; a reafirmao de suas identidades tnicas; a valorizao
de suas lnguas e cincias; (BRASIL, LDBEN, Ttulo VIII, art. 78, inciso I, 1996)
A escola diferenciada indgena pressupe a preservao cultural, o respeito as
suas diferenas e o ensino da lngua materna.
De acordo com o Ministrio da Educao e Cultura (MEC, BRASIL, 2005b), a
25
misso da coordenao Geral de Educao Escolar Indgena CGEEI :
planejar, orientar, coordenar e acompanhar a formulao e a implementao de polticas educacionais voltadas para as comunidades indgenas, apoiar tcnica e financeiramente a formao de professores indgenas e o desenvolvimento de materiais pedaggicos especficos para as escolas indgenas, em harmonia com os projetos de futuro de cada povo.
Esta questo dever ser resolvida com o envolvimento no processo e interao
com comunidades indgenas, pois as respostas sero encontradas no seio dessas
comunidades, levando em conta, a intersubjetividade, a preocupao com o conhecimento para o crescimento e desenvolvimento e efetivando a tica e o respeito
s diferenas.
Nos dizeres de Azevedo e Silva (2005)
Em outras palavras, assessores e tcnicos em educao escolar indgena no podem prescindir de lies fundamentais de teoria antropolgica e de etnologia sul-americana. Caso contrrio, os programas de educao escolar indgena podero ser pautados por uma ideologia de indianidade genrica, onde noes como organizaes sociais, costumes, crenas e tradies dos povos indgenas so desprovidas de um sentido mais profundo e tomadas como detalhes pitorescos.
Esta relao ir propiciar uma nova estrutura escola/biblioteca/comunidade
indgena desenvolvendo os potenciais culturais, integrando oralidade e escrita. Os
nichos de origem sero integrados e claros diante desta nova perspectiva, sem
imposies repressivas e autoritrias provenientes de um meio social alienado e
alienante. Desta forma, ser construda uma nova educao inclusiva, resultado de
uma participao multidisciplinar do processo pedaggico.
Em pesquisa realizada com povos indgenas no Chile, Hernndez (1981, p. 41) afirma que o povo mapuche se transformava, assim, de um objeto tradicional de
investigao, tomando a si mesmo como objeto de conhecimento, para transformar ele
mesmo suas condies de existncia social. Estes passos podem ser atingidos
26
tambm na realidade brasileira.
3.2.2 Legislao referente educao escolar indgena
O processo de escolarizao indgena muito antigo, datando da poca do Brasil
Colnia, por parte dos jesutas. A problemtica que se torna atual que, se
historicamente a educao se destinava negao desses povos, a preocupao
educacional transformou-se em propiciar condies para a autonomia e o
desenvolvimento sustentvel dessas etnias.
Para os povos indgenas, mesmo que a escola seja uma instituio produzida pela sociedade ocidental e que tenha servido para impor uma lgica de pensamento contrria lgica desses povos e uma organizao social em nada semelhante autctone, portanto, uma cultura alheia cultura indgena, ela necessria e faz parte da luta por autonomia. (GRANDO, 2005)
A reflexo da autonomia por parte desses povos eclodiu com a garantia de
direitos na Constituio Federal (CF) de 1988, garantindo reivindicaes antigas de
reconhecimento ao direito de ser diferente, com suas especificidades de pensamento,
modo de vida, sua lngua e sua cultura reformulando a poltica educacional vigente e
introduzindo as escolas diferenciadas indgenas.
A aprovao da CF de 1988 representou um grande avano para essas etnias,
representando o fim da poltica integracionista, ao reconhecer os Povos Indgenas com
direito diversidade cultural, com seus costumes, lnguas, hbitos, crenas e tradies,
cuja preservao permaneceu apesar das tentativas histricas de eliminao. Esta
garantia encontra-se explcita no ttulo VIII, captulo III, artigo 215 da CF do Brasil de
1988, O Estado garantir a todos o pleno exerccio dos direitos culturais e acesso s
fontes da cultura nacional, e apoiar e incentivar a valorizao e a difuso das
27
manifestaes culturais.
O Ttulo VIII, captulo III, seo I, artigo 210, da CF assegura aos povos indgenas
o direito ao ensino bilnge: O ensino fundamental regular ser ministrado em lngua portuguesa, assegurada s comunidades indgenas tambm a utilizao de suas lnguas maternas e processos prprios de aprendizagem (BRASIL,1988).
O Referencial Curricular Nacional das Escolas Indgenas (BRASIL,RCNEI,1999)
pressupe que seus currculos sejam elaborados por indgenas e devem proporcionar o
intercmbio educacional com outras regies que apresentam diversas etnias.
A proposta do RCNEI pretende:
[...] garantir os pontos comuns, encontrados em meio desejada diversidade e multiplicidade das culturas indgenas, tal como esto garantidos nos princpios legais do direito cidadania e diferena, traduzidos numa proposta pedaggica de ensino-aprendizagem que promova uma educao intercultural e bilnge, assegurando a interao e parceria. Seu objetivo maior oferecer subsdios e orientaes para a elaborao de programas de educao escolar que melhor atendam aos anseios e interesses das comunidades indgenas. (BRASIL, 1999)
Com a elaborao do RCNEI fica assegurado o direito educacional de um
ensino intercultural, bilnge, comunitrio e de qualidade voltada autodeterminao
dos povos indgenas.
No artigo 79, pargrafo 2 da LDBEN, os programas a que se refere este
artigo, includos nos Planos Nacionais de Educao, tero os seguintes objetivos:
- fortalecer prticas scio-culturais e a lngua materna de cada comunidade indgena; - manter programas de formao de pessoal especializado, destinado educao escolar nas comunidades indgenas; - desenvolver programas e currculos especficos, neles incluindo os contedos culturais correspondentes s respectivas comunidades; - elaborar e publicar sistematicamente material didtico diferenciado e especfico. (BRASIL, 1996)
28
O conceito de escola indgena engloba o ensino:
1- Diferenciado: respeito a calendrio escolar especfico, tradies, valores, crena, conceitos de tempo, posse e lugar, valorizao de sua histria e cultura.
2- Bilnge: ensino na lngua materna e na lngua portuguesa.
3- Intercultural: que o ensino contenha o mesmo contedo terico e pratico das
escolas ditas tradicionais, sem minimizar a educao comunitria indgena.
4- Qualidade: assegurar a permanncia e continuidade do aprendizado.
Verifica-se que exatamente neste contexto que ocorrem as diferenciaes
entre o ensino ministrado em escolas ditas tradicionais e a educao escolar indgena.
A Lei 10639 (Brasil,1996) foi elaborada como uma poltica de reparao que
obriga as instituies educacionais a reconhecerem a histria e a cultura dos afro-
descendentes como parte da Histria e da Cultura nacional. Serve como um
mecanismo de valorizao da raa, visando acabar com a sujeio interetnica de uns
sob os outros, aumentando a capacidade de ao de comunidades no contexto social.
O projeto de lei n 433/03 inclui no currculo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade
do estudo da temtica Histria Afro-Brasileira e Indgena complementando a Lei
10639 (Brasil, 1996).
Esta lei serve ainda como um fator de reconhecimento e valorizao das
diferenas culturais, que sob o mito da democracia racial, as desigualdades tornam-se
mascaradas e somente com a obteno de dados concretos podero ser evidenciados.
Essa mesma proposta est tramitando no Congresso Nacional como Projeto de Lei
referente s questes indgenas, porm j est assegurado na LDBEN, art. 26,
pargrafo 4 O ensino da Histria do Brasil levar em conta as contribuies das
diferentes culturas e etnias para a formao do povo brasileiro, especialmente das
29
matrizes indgenas, africana e europia (BRASIL, 1996).
As polticas pblicas educacionais direcionadas s comunidades indgenas,
embora tenham avanado, ainda permanecem caminhando lentamente.
Desde o incio o NEI/SP realizou encontros com representantes das aldeias indgenas do estado. Algumas reunies mobilizaram tambm universitrios, intelectuais e pessoas envolvidas com a questo educacional. Entre os anos de 1999 e 2002 foi de delineando um pblico indgena que adquiriu conscincia das leis. Foram discutidas situaes relativas s aldeias, as possibilidades de dos objetivos pedaggicos ligados a interculturalidade, adiversidade cultural e lingista do Estado.(GODOY, 2004, p. 144)
Existe no Estado de Santa Catarina, conforme dados da Secretaria Estadual de
Educao (SEE), Ncleo de Estudos Indgenas (NEI) , 29 escolas estaduais indgenas,
com um total de 1.636 alunos, 148 professores ndios.
Atualmente, apenas o municpio de Biguau possui a nica escola estadual
guarani com ensino mdio e fundamental.
A Secretaria de Estado da Educao e Inovao de Santa Catarina, em
consonncia com a Poltica Nacional de Educao Escolar Indgena definida pelo
Ministrio da Educao MEC em regimento interno do Ncleo de Educao Indgena
NEI, em seu captulo III, Artigo 2 afirma que:
O Ncleo de Educao Escolar Indgena NEI de Santa Catarina, com suas funes consultiva, executiva e informativa, tem como objetivos bsicos propor e executar aes visando a efetivao de uma proposta de Educao Escolar Indgena especifica, diferenciada, intercultural, bilnge e comunitria conforme preceituam as Constituio Federal e Estadual, Decreto Federal n 26/91, Portaria Interministerial n 559/91, Lei n 9394/96 Diretrizes e Bases da Educao Nacional LDB, Lei Complementar n 170/98 Sistema Estadual de Educao de santa Catarina e Resoluo CEB n 03 de 10 de novembro de 1999. (ESTADO DE SANTA CATARINA,REGIMENTO INTERNO DO NCLEO DE EDUCAO ESCOLAR INDGENA, 1999)
Percebe-se assim que, embora ainda em fase de construo de polticas
educacionais, o Estado de Santa Catarina demonstra preocupao com as questes
indgenas e sobretudo em oferecer o ensino diferenciado e de qualidade previsto na
30
CF e LDBEN.
3.2.3 Curso de formao de professores indgenas
A CF assegura as comunidades indgenas o direito a educao diferenciada,
bilnge e especifica, alm dos direitos educacionais previstos a toda a sociedade
brasileira tais como: igualdade de condies no acesso e permanncia na escola,
liberdade no aprendizado, ensino, pesquisa e divulgao do pensamento, arte e saber,
pluralidade de idias, gratuidade do ensino publico e garantia do padro de qualidade,
em regime colaborativo dos Sistemas de Ensino a Unio, Estados, Municpios e Distrito
Federal. Saviani (2005, p. 129) ao discutir aspectos da CF, afirma que:
Ora, a prpria Constituio, ao prescrever no art. 22, inciso XXIV, que compete privativamente Unio legislar sobre diretrizes e bases da educao nacional; que compete Unio, aos estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre educao, cultura, ensino e desporto (art. 24, inciso IX); e que competncia comum da Unio, dos estados, do Distrito Federal e dos municpios proporcionar os meios de acesso cultura, educao e cincia (art. 23, inciso V), no estendeu aos municpios a competncia para legislar em matria de educao. Portanto, no tendo autonomia para baixar normas prprias sobre educao ou ensino, os municpios estariam constitucionalmente impedidos de instituir sistemas prprios, isto , municipais, de educao ou de ensino. No obstante, o texto constitucional deixa margem, no art. 211, para que se possa falar em sistemas de ensino dos municpios quando estabelece que "a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios organizaro, em regime de colaborao, os seus sistemas de ensino.
Cada comunidade indgena apresenta formas peculiares de organizao social e
de lngua, sendo caracterstica comum a tradio oral. Nesse contexto que se verifica
a importncia de formao e capacitao diferenciada de professores indgenas.
Desloca-se, nessa perspectiva, a questo do ensino ou no-ensino da lngua padro que para as prticas escolares resume-se modalidade escrita das
31
classes dominantes para a questo da circulao de diferentes composies discursivas e para a utilizao de diferentes elementos do "ba de tradies" constitudo ao longo da histria dos homens, porque, se neste esto as memrias do passado, as composies resultam dos clculos da enunciao presente com base nas memrias de futuro das diferentes classes sociais, independentemente da variedade lingstica que domina cada um dos narradores desta histria. (GERALDI, 2005, p. 103)
Conforme o Parecer 14/99 do CNE: estima-se que existam hoje cerca de 1500 escolas em reas indgenas, atendendo a uma populao educacional de aproximadamente 70 mil alunos matriculados nas primeiras sries e/ou ciclos do Ensino Fundamental. Essa clientela formada por cerca de 2900 professores, dos quais mais de 2 mil so professores ndios. (BRASIL, 1999)
A educao escolar indgena pressupe o ato de lecionar a pessoas escolhidas
na prpria comunidade para exercer a funo de professores. A proposta de formar
ndios, como professores, para atuarem nas escolas de suas aldeias , sem dvida, a
principal novidade que impulsiona os novos modelos de escola em comunidades
indgenas (FRANCHETO e KAHN, 1994). Pode-se confirmar esta formao analisando
aspectos do curso de formao de professores indgenas oferecidos em diversas
regies do pas.
Outro ponto sobre o qual parece haver um consenso total que os processos escolares devem ser conduzidos pelos prprios ndios, membros das respectivas comunidades onde a escola esteja inserida. Para tanto, professores indgenas tm sido formados para atuarem nas escolas das aldeias, a partir de diferentes programas de formao, primeiramente alavancados por organizaes da sociedade civil de apoio aos ndios, e hoje, j assumidos em muitos estados pelas Secretarias Estaduais de Educao.(GRUPIONI, 2005, p. 3)
Porm, o que se verifica em sala de aula a presena de professores no-ndios
e ndios, para a traduo de ensinamentos ministrados. Sechhi (2003, p. 12) argumenta que:
Essas correlaes consubstantivam-se em decises acerca de estratgias de acesso, administrao e aplicao dos recursos externos; de uma estratgia de organizao escolar e curricular e de uma estratgia de formao de professores. nessa correlao de foras e de interesses que esto sendo definidos os formatos das atuais escolas indgenas.
32
A situao que se apresenta preocupante que os professores indgenas no
foram submetidos ao ensino estabelecido em magistrio no-indio, apresentam pouco
domnio da lngua portuguesa e das demais matrias especficas do ensino seja
fundamental, mdio ou superior.
A formao do professor ndio pressupe ento um currculo tambm diferenciado em atendimento a demanda educacional exigida pela LDBEN.
Entre uma das funes estabelecidas para a Fundao Nacional do ndio
(FUNAI) o apoio tcnico e financeiro, acompanhamento e avaliao do
desenvolvimento de aes de professores indgenas inicial e continuadas.
Pensar a escola indgena sem a considerao da relao entre esta instituio e a diviso do trabalho tal como se define na sociedade em que est inserida (o seu projeto social) parece ser de uma ingenuidade comprometedora. Este ponto vem preocupando os professores indgenas do Amazonas, Roraima e Acre nos ltimos anos, j que muitas escolas da regio so como portas de sada de indgenas de suas comunidades. (AZEVEDO; SILVA, 2005)
Ao se pensar em educao indgena deveria se pensar na produo de material
didtico elaborado na prpria comunidade, o que caracterizaria o ensino diferenciado,
podendo se ater em tcnicas de elaborao em que o prprio artesanato fosse utilizado
e a confeco de tintas extradas da prpria flora e fauna, favorecendo o
desenvolvimento dessas regies e o fortalecimento da educao ambiental to
importante no estilo de vida dessa cultura.
Em carta enviada aos candidatos presidncia da Repblica em 2002,
professores indgenas da regio de Tocantins elaboraram as seguintes reivindicaes:
33
1- Uma Secretaria Nacional de Educao Escolar indgena no MEC para articular a
educao infantil, o ensino fundamental, mdio e superior e possibilitar maior
coordenao dos programas de atendimento s escolas indgenas;
2- Estruturar e fortalecer em todas as secretarias estaduais de educao setores
responsveis pela execuo da educao escolar indgena, com oramento
prprio e recursos humanos qualificados;
3- Recursos especficos no oramento da Unio para a educao escolar indgena;
4- Participao de representantes das comunidades indgenas em todas as
instancias de deliberao e execuo das polticas pblicas de educao escolar
indgena;
5- Reforar a atuao do Ministrio Pblico Federal na Fiscalizao e cumprimento
dos direitos indgenas a uma educao diferenciada e de qualidade;
6- Autonomia pedaggica e financeira das escolas indgenas;
7- Programas de formao inicial e continuada de professores indgenas em nvel
mdio e superior, e programas de valorizao das lnguas indgenas;
8- Programas nacionais especficos para as escolas indgenas (livros e materiais
didticos, BIBLIOTECAS (grifo nosso), videotecas, laboratrios, computadores);
9- Editar livros didticos de autoria indgena em portugus e nas lnguas maternas;
10- Programas de alimentao escolar definido pelas comunidades indgenas;
11- Escolas nas terras indgenas;
12- Promover ampla e correta informao populao brasileira sobre a sociedade
e culturas indgenas para valorizar a riqueza scio-cultural de nosso pas e
combater o desconhecimento, a intolerncia e o preconceito em relao s
populaes indgenas; e
34
13- Criar programas de valorizao das lnguas maternas. (DECLARAO DOS
POVOS INDGENAS SOBRE A SOCIEDADE DA INFORMAO, 2005)
Torna se fundamental que governo federal, estados e municpios realizem
encontros peridicos de professores indgenas coordenados por eles mesmos, sem
prejuzo dos cursos de formao.
Se o movimento de professores indgenas adquiriu maior visibilidade em certas regies que em outras, isso aconteceu porque naqueles lugares os encontros de professores so atividades que se desenvolvem de modo mais sistemtico. E a diferena principal entre "encontro de" professores indgenas e "cursos para" professores indgenas que nos segundos, os professores indgenas so sempre alunos, enquanto que, nos primeiros, os professores indgenas so finalmente professores. (AZEVEDO e SILVA, 2005)
No Estado de Santa Catarina est sendo oferecido pela SEE o primeiro curso de
formao de professores guarani da regio sul e sudeste com trmino previsto para
2006,
Os vrios projetos de formao de professores indgenas, em andamento em diferentes regies do pas, vem demonstrando que isto no s possvel como desejvel e altamente rentvel em termos pedaggicos e polticos, afastando-se com isso, do modelo em que os professores no-ndios lecionavam em portugus para alunos monolingues em suas lnguas maternas, assessorados por monitores indgenas responsveis pela traduo daquilo que se pretendia ensinar. (FRANCHETO e KAHN, 1994)
No se pode negar a crescente demanda por pesquisas educacionais nessa
rea. O grande desafio que precisa ser complementado : facilitar o acesso
informacional e contribuir para a perpetuao e continuidade do processo educacional
das comunidades indgenas, exercendo papel fundamental para a formao de
cidados conscientes e divulgadores de conhecimento em suas aldeias de origem,
atravs da promoo do debate sobre aes de polticas afirmativas destacando o
sistema de cotas.
35
3.2.4 Cotas
As polticas de ao afirmativa, isto , que visam a diminuio das desigualdades
existentes de acesso ao ensino superior, vem debatendo e ampliando a criao de
cotas nas Universidades Pblicas Brasileiras.
A UNESCO, recentemente criou a rea de Combate ao Racismo e Discriminao Racial para a Amrica Latina e Caribe com a finalidade de implementar as deliberaes da III Conferncia Mundial contra o Racismo, Discriminao Racial, Xenofobia e Intolerncia Correlata, sada a Universidade de Braslia e exorta as demais universidades brasileiras a seguir as experincias positivas criadas no Brasil no perodo ps-Durban. (ROLAND,2005)
Em maio de 2005 foi aprovado, pela Comisso de Trabalho, o projeto de lei n
1456/03 que criou a Universidade Federal Autnoma dos Povos Indgenas, em Cuiab,
Mato Grosso.
- www.unb.br idia de criar uma universidade pblica, voltada para o ensino, pesquisa e extenso relacionados aos povos indgenas, antiga. Surgiu nas conferncias que participei nos anos 80. Quando a Universidade Estadual de Mato Grosso - Unemat, instalou o primeiro curso exclusivo indgena, a idia se fortaleceu, conta ele. A UAPI comeou a tomar forma em abril, quando foi realizada na Cmara dos deputados uma sesso solene em homenagem aos povos indgenas. A falta de respeito cultura dos ndios nos diversos segmentos educacionais j existentes foi uma das crticas de 54 lideranas, de 13 etnias diferentes, presentes sesso. (BRASIL, 2005) du.br
No site da mdia independente, as Universidades que adotaram as polticas de cotas so:
1. UNB (Braslia)
2. Unifesp (So Paulo)
3. Universidade Federal da Bahia
36
4. Universidade Estadual da Bahia
5. Universidade Estadual do Rio de Janeiro
6. Universidade Estadual Norte Fluminense (Rio de Janeiro)
7. Universidade Federal de Alagoas
8. Universidade Federal do Paran
9. Universidade Estadual de Londrina (Paran)
10. Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul
11. Universidade Estadual do Amazonas
12. Universidade Estadual de Minas Gerais
13. Universidade Unimontes (Minas Gerais)
14. Universidade do Vale do So Francisco.
No basta a existncia de cotas ou vagas nas universidades para alunos
indgenas, a demanda maior a necessidade de criao de programas que favoream
a permanncia desses alunos nas universidades. Neste sentido a FUNAI compromete-
se a apoiar tcnica e financeiramente os estudantes do ensino mdio e superior que
estudam fora de suas aldeias de acordo com critrios pr-estabelecidos e prioriza a
articulao e busca de concesso de bolsas e descontos junto s instituies de
ensino, garantindo acesso, permanncia e sucesso, estgios remunerados ou no,
junto a outras agencias e/ou empresas e a construo de propostas complementares
aos estudos regulares.
Conforme dados da FUNAI a operacionalizao da poltica de acesso de
indgenas ao ensino superior seria responsabilidade do MEC ao priorizar o apoio s
instituies de ensino superior, assegurando-lhe condies de atendimento das
37
demandas, cabendo a FUNAI priorizar o apoio aos ndios, tanto no que se refere
discusso das propostas de programa e sua implementao e a manuteno dos
estudantes indgenas junto a sua formao acadmica.
A FUNAI avalia os avanos conquistados ao proporcionar transferncia de 10
alunos indgenas de Instituies particulares de Braslia para a UNB, criao de 100
vagas no processo seletivo de 2005 no projeto de Licenciaturas em atendimento das
demandas de professores indgenas de Mato Grosso, criao de 120 vagas em janeiro
de 2005 para o processo seletivo para Licenciaturas em Roraima e Gois, articulao
com Universidades Federais e Estaduais para acesso diferenciado, permanncia e
acompanhamento nos estados do Esprito Santos, Paran, Amap e Mato Grosso do
Sul, criao de novos grupos de trabalhos interinstitucionais para o ensino superior nos
estados do Para, Paraba e Minas Gerais.
No balano realizado pela FUNAI obteve-se os seguintes resultados:
- Em 2004 havia 1500 alunos no Ensino Superior;
- Em 2005 havia 2500 alunos no Ensino Superior e,
- Em 2005/2006 no h uma definio sobre poltica especifica para o ensino
superior indgena que contemple cursos regulares e licenciaturas.
Esses dados refletem o crescente aumento do nmero de alunos indgenas no
ensino superior, embora no exista uma unanimidade nacional a respeito da
implantao e diretrizes da poltica de cota.
38
4 BIBLIOTECA ESCOLAR
4.1 MISSO E OBJETIVOS DA BIBLIOTECA ESCOLAR
Biblioteca escolar (BE) e ensino esto intimamente relacionados. Segundo a
UNESCO (2004): A biblioteca escolar parte integral do processo educativo, uma vez
que este espao tem como finalidade maior informar e instrumentalizar alunos e
professores na arte de aprender e ensinar atravs de prticas de: incentivo leitura e
ao cultural e proporcionar o acesso democrtico informao. Assim, verifica-se a
grande contribuio dessa instituio como um organismo vivo e dinmico
proporcionando aes de construo da cidadania.
O fato que, quando se trata de Brasil, a maioria das pessoas desconhece o verdadeiro papel de uma biblioteca em suas vidas e, portanto, na vida da comunidade. Esta afirmao se aplica tanto aos usurios potenciais quanto queles que de um modo ou de outro tm responsabilidade pelo seu funcionamento. Como, por exemplo, as escolas. Por inmeras razes, as bibliotecas escolares brasileiras esto ainda longe de cumprir sua importantssima funo dentro do sistema educacional. Poucas instituies dispem dos recursos e da viso necessrios para manter uma biblioteca digna desse nome. Raros so os profissionais empenhados em prestar servios que realmente dem suporte ao aprendizado e vida cultural da escola. (FRAGOSO, 2005, p. 128)
A BE tem como misso: apoiar as atividades pedaggicas, auxiliar a pesquisa e
ensino de seus usurios e favorecer o fluxo informacional dentro da instituio e entre
alguns dos objetivos da biblioteca escolar destacam-se: apoiar o desenvolvimento das
atividades pedaggicas de seus usurios, o incentivo leitura, a formao necessria
para o exerccio da cidadania e a disponibilizao de informaes necessrias as
tomadas de decises da instituio escolar.
39
A misso da biblioteca escolar recomendada pela UNESCO (2004) :
A biblioteca escolar promove servios de apoio aprendizagem e livros aos membros da comunidade escolar, oferecendo-lhes a possibilidade de se tornarem pensadores crticos e efetivos usurios da informao, em todos os formatos e meios. As bibliotecas escolares ligam-se s mais extensas redes de bibliotecas e de informao, em observncia aos princpios do Manifesto UNESCO para Biblioteca Pblica.
Os objetivos da biblioteca escolar preconizados pela UNESCO so:
- apoiar e intensificar a consecuo dos objetivos educacionais definidos na misso e
no currculo da escola;
- desenvolver e manter nas crianas o hbito e o prazer da leitura e da aprendizagem,
bem como o uso dos recursos da biblioteca ao longo da vida;
- oferecer oportunidades de vivncias destinadas produo e uso da informao
voltada ao conhecimento, compreenso, imaginao e ao entretenimento;
- apoiar todos os estudantes na aprendizagem e prtica de habilidades para avaliar e
usar a informao, em suas variadas formas, suportes ou meios, incluindo a
sensibilidade para utilizar adequadamente as formas de comunicao com a
comunidade onde esto inseridos;
- prover acesso em nvel local, regional, nacional e global aos recursos existentes e s
oportunidades que expem os aprendizes a diversas idias, experincias e opinies;
- organizar atividades que incentivem a tomada de conscincia cultural e social, bem
como de sensibilidade;
- trabalhar em conjunto com estudantes, professores, administradores e pais, para o
alcance final da misso e objetivos da escola;
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- proclamar o conceito de que a liberdade intelectual e o acesso informao so
pontos fundamentais formao de cidadania responsvel e ao exerccio da
democracia;
- promover leitura, recursos e servios da biblioteca escolar junto comunidade escolar
e ao seu derredor.
Embora seja funo da escola instrumentalizar o aluno para o domnio dos
conhecimentos bsicos, funo da biblioteca escolar complementar a educao do
estudante oferecendo informaes que estimulem e reflitam as relaes interculturais,
estimulem a criatividade, desfrutem da escrita e da leitura, proporcionem prazer e
auxiliem a construo do senso crtico. Porm, o que se verifica na maioria dos casos
que: ... a escola, por sua vez, tem ignorado a biblioteca no seu projeto pedaggico e educativo, no considerando que a biblioteca tenha uma natureza educativa (OBATA,
2005).
As BEs exercem seu trabalho focado nas atividades desenvolvidas em salas de
aula; caracterizando o aspecto dinmico que essas instituies possuem, considerando
o usurio (comunidade escolar), a quem deve servir e o atendimento das necessidades
informacionais provenientes da instituio escolar em que se encontra inserida. Sales
(2004, p. 4) argumenta que:
O primeiro passo para a integrao com a sociedade pode ser a biblioteca (instituio e profissionais) reconhecer cada usurio como um cidado que, ao entrar na biblioteca, busca um bem, a princpio abstrato, que ir lhe trazer algum desenvolvimento pessoal, cultural, intelectual ou profissional e que, ao sair de l, ele ainda estar buscando, pois a informao no um bem acabado, finalizado, portanto, ele voltar.
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A BE tem importante funo cultural, Conforme Silva (2005, p. 5) apud Van Der
Lann & Ferreira:
A biblioteca escolar teria trs funes bsicas, social, cultural e educativa. A funo social estaria relacionada a integrao com a comunidade, pela participao no processo de alfabetizao e a promoo de hbitos de leitura; a funo cultural realizar-se-ia tanto com a biblioteca assumindo o papel de depositria e preservadora de hbitos quanto atravs da transmisso de experincias acumuladas pela sociedade; a funo educativa estaria em selecionar e produzir materiais educativos apropriados aos objetivos do programa de estudo e orientar os professores e alunos no uso deste material.
A importncia de uma BE, bem contextualizada, encontra-se explcita no
Manifesto das Bibliotecas Escolares da UNESCO (2004):
A biblioteca escolar proporciona informao e idias fundamentais para sermos bem sucedidos na sociedade atual, baseada na informao e no conhecimento. A biblioteca escolar desenvolve nos alunos competncias para a aprendizagem ao longo da vida e estimula a imaginao, permitindo-lhes tornarem-se cidados responsveis.
Existem alguns parmetros do MEC para avaliao de bibliotecas escolares,
dentre eles se destacam: local, acervo, pessoal e equipamento disponvel.
Quanto ao local deve ser considerado o nmero mximo de usurios que o local
comporte de maneira agradvel. Os equipamentos, como mesa, cadeiras e estantes
devem ser adequados ao tipo de usurio e para que a BE atenda aos requisitos
mnimos de qualificao necessrio no mnimo 1 computador com acesso a internet.
Quanto ao pessoal a IFLA (2005) recomenda a contratao de no mnimo 1
bibliotecrio e 2 auxiliares de biblioteca, visando a qualidade na prestao de servios e
atendimento ao usurio.
A composio do acervo, segundo normas internacionais, para BEs de 2/3 de
assuntos das disciplinas ofertadas na escola, e 1/3 de obras de fico. Deve ser
variado, atualizado e incluir livros, enciclopdias, revistas, vdeos, CDs, internet, entre
outros.
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A duplicao de obras deve ser avaliada conforme estudo de uso e estudo de
usurio, evitando um dos grandes problemas de BEs, o espao fsico.
O acervo quando bem selecionado capaz de transmitir ao leitor informaes e
experincias compatveis com cada contextualizao social. Ao elaborar uma poltica de
desenvolvimento de colees deve se considerar a qualidade e atualizao em
detrimento da quantidade de material ofertado.
4.2 ACERVO DE BIBLIOTECA ESCOLAR
O acervo de uma BE todo seu conjunto de obras, independentes do suporte,
que integra o patrimnio desta instituio.
A BE cumpre suas funes desenvolvendo polticas e servios, selecionando e
adquirindo recursos, proporcionando acesso material e intelectual a fontes de
informao apropriadas, disponibilizando equipamentos e dispondo de pessoal
qualificado e promovendo a incluso social. Cardoso (1996, p. 17) afirma que Deste
trabalho surgem prticas de cidadania e de micro-polticas que se colocam como
propostas de democracia participativa buscando suprir as carncias deixadas pela
democracia representativa.
Uma das formas de cumprir o seu papel a qualidade do acervo oferecido
estimulando hbitos de leitura e pesquisa.
As diretrizes da Lei 10.753, Brasil (2005) da Poltica Nacional do Livro que possui
como principais objetivos promover e incentivar o hbito da leitura, estabelecem no
captulo I, que:
Art. II - o livro o meio principal e insubstituvel da difuso da cultura e transmisso do
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conhecimento, do fomento pesquisa social e cientfica, da conservao do patrimnio
nacional, da transformao e aperfeioamento social e da melhoria da qualidade de
vida;
Art. 16. A Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios consignaro, em seus
respectivos oramentos, verbas s bibliotecas para sua manuteno e aquisio de
livros.
O acervo da biblioteca escolar deve traduzir os objetivos que a instituio de
ensino pretende realizar de acordo com as atividades poltico-pedaggicas da escola.
Faz-se necessria uma variedade de material bibliogrfico e no-bibliogrfico,
independente do suporte, como complemento ao processo de ensino-aprendizagem.
Segundo orientao da IFLA (2005):
O acesso s colees e aos servios deve orientar-se nos preceitos da Declarao Universal de Direitos e Liberdade do Homem, das Naes Unidas, e no deve estar sujeito a qualquer forma de censura ideolgica, poltica, religiosa, ou a presses comerciais.
Na ausncia de polticas do MEC para a GEI para BE, a construo do acervo e
suas demandas so submetidas a juzos estabelecidos em bibliotecas escolares que
apresentam polticas formuladas, que sem um prvio estudo de usurios, poder
reduzir os interesses dos usurios. Dias (2005) ao analisar o acervo de BEs afirma
que:
[...], registrou-se no momento das compras, algumas distores.Em algumas escolas, por exemplo, as escolhas eram feitas por um ou outro setor da escola, sem o envolvimento do coletivo e participao do profissional da biblioteca que deve ser o articulador de todo o processo de seleo de material para biblioteca. Dessa forma, ocorriam compras de materiais inadequados, em duplicata e de baixa qualidade. Em outros casos, somente eram adquiridos livros didticos, manuais de suporte para o professor ou livros que contemplassem apenas uma rea do conhecimento.
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pontual que a seleo de acervos seletivos e dinmicos, independentes do
suporte, sejam um atrativo ao leitor e o instigue para sempre retornar a esse espao.
Arruda e Silva (1998, p.5) informam que:
Por formas no-convencionais, entende-se os suportes que no se encontram no formato tradicional (livro) ou nas formas impressas, podendo-se desta forma obter-se a informao por meios auditivos, audiovisuais, sonoros, fotogrficos e muitos outros.
Verifica-se, portanto, a necessidade de que o profissional da informao esteja
atento, no s variedade de recursos possveis de serem utilizados para seleo de
acervos, mas tambm ao perfil do pblico ao qual o acervo se destina.
4.3 POLTICA DE GESTO DE ESTOQUES INFORMACIONAIS DE BIBLIOTECAS
ESCOLARES
A poltica de gesto de estoques informacionais (GEI) um planejamento
para a seleo e aquisio de acervos dinmicos que segue um modelo sistmico e
ininterrupto, influenciado pelas caractersticas de cada Unidade de Informao (UI).
Desenvolvimento de colees acima de tudo, um trabalho de planejamento.
(VERGUEIRO, 1989, p. 15). A GEI norteia as decises do trabalho do bibliotecrio em
relao ao acervo de uma UI, tornando pblica a relao biblioteca e escola.
A GEI um documento de carter pblico e legal, caracterizada por atividade
administrativa, dinmica, contnua e de planejamento constante. Desenvolvida por
bibliotecrios, deve retratar o tipo de biblioteca correspondente. Neste desenvolvimento
conta com o auxlio da comunidade de usurios que lhe dar respaldo quanto s suas
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reais necessidades de informao e para que o acervo cumpra a finalidade proposta.
Vergueiro (1989, p. 25) define que a poltica ir funcionar como diretriz para as
decises do bibliotecrio em relao a seleo do material a ser incorporado ao acervo
e a prpria administrao dos recursos informacionais.
O estabelecimento de polticas de GEI evita o acmulo desnecessrio de
documentos, estabelece critrios de crescimento do acervo, identifica os documentos
necessrios para a composio do acervo, evita o desperdcio financeiro, traa
diretrizes para prioridades de aquisio. Estes cuidados podem transformar o atual
estado da arte das BEs brasileiras.
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5 BIBLIOTECA ESCOLAR INDIGENA 5.1 MISSO E OBJETIVOS DA BIBLIOTECA ESCOLAR INDGENA
A biblioteca escolar indgena (BEI) pode ser o grande diferencial ao permitir e
contribuir para o acesso e fluxo da informao independente do suporte em que se
encontra e para a preservao da histria e da cultura indgena. Porm, para tal, sua
coleo deve atender aos anseios de sua comunidade, que dever interferir nas etapas
de seleo, aquisio e avaliao do material que ir compor o acervo dessa unidade.
Esta interveno comunitria no processo de seleo do acervo compe um dos
preceitos do exerccio da cidadania, isto , o indivduo que no gozo dos direitos civis e
polticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este desenvolve
aes visando melhoria individual ou coletiva de uma nao.
Biblioteca escolar, lato sensus, uma rede de servios, leitura e informao, articulada e agilizada, extrapolando o carter tecnicista, sem necessariamente neg-lo. A biblioteca de uma escola no pode ficar presa s tramas das normas. A normalizao tcnica ter maior sentido se estiver a servio da cidadania. (FRAGOSO, 2005)
A BEI, alm dos objetivos das BEs tradicionais, necessita incluir a histria e
cultura desses povos e a disponibilizao de material didtico especfico, acarretando
um planejamento, contnuo e ininterrupto, de construo do acervo bibliogrfico. A BEI,
institucionalmente, deve observar as recomendaes da UNESCO, contidas no
Manifesto da Biblioteca Escolar. A IFLA (Federao Internacional de Associaes e
Instituies Bibliotecrias) declara ainda que: reconhece o valor intrnseco e a
importncia do conhecimento indgena tradicional e das comunidades locais, e a
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necessidade de consider-los holisticamente a respeito das definies e usos
conflitivos. (IFLA, 2005, traduo nossa)
A IFLA, ainda adverte sobre a necessidade de:
Reconhecer a importncia, relevncia e valor que tem de integrar o conhecimento tradicional indgena com o conhecimento da comunidade local
com proposta de solues para alunos dos mais difceis problemas modernos e
estimular seu uso no planejamento e implementao de projetos.
Proteger o saber indgena tradicional e local dos povos indgenas para o benefcio dos povos indgenas e do resto do mundo. Este saber vulnervel
porque a possibilidade de investigao tem se perdido pelos ancies e um
significativo declnio na nfase de transmisso desse conhecimento as geraes
mais jovens frente s presses da modernizao.
Implementar mecanismos eficazes de transferncia de tecnologias, capacitao e proteo contra a pesquisa de acordo com a Conveno sobre Diversidade
Biolgica, a Conveno 169 e outras convenes relacionadas com o
desenvolvimento sustentvel e interesses dos povos indgenas.
A IFLA apia aes de preservao, disseminao, promoo, pesquisa, valor ,
ensino dos mais velhos associado ao conceito de identidade indgena, a liberao de
impostos governamentais de livros e outros meios informacionais e a propriedade
intelectual do conhecimento tradicional indgena e seus aproveitamentos sociais.
Para que a unidade de informao cumpra seu papel social importante que
seus materiais e fontes de informao favoream o desenvolvimento ou aprimoramento
de uma viso crtica, estimulem a leitura e possam subsidiar pesquisas sobre questes
48
indgenas.
A realizao dessas atividades vai requerer a criao de novos procedimentos e, talvez, novos materiais didticos, o que poder exigir a busca de novos conhecimentos. A instrumentalizao consiste nesse processo de apropriao dos instrumentos e signos produzidos pela humanidade, que fazem parte da herana cultural, e, ao mesmo tempo, de criao de novos instrumentos e signos. (SAVIANI, 1984, p.17)
Em consonncia com a escola diferenciada indgena, a BEI tem funo social,
cultural e educativa. A coleo deste espao deve atender a necessidade informacional
de alunos, corpo pedaggico e comunidade refletindo o respeito s diferenas culturais
e os esforos de preservao da lngua materna, costumes e tradies dessa
comunidade, ampliando essa construo na viso pr-concebida do no-ndio, atravs
de relaes igualitrias de conhecimento e cultura. Grando (2005) relata que:
As relaes histricas estabelecidas entre os colonizadores e os povos
indgenas nos ltimos 500 anos, revelam a construo dos valores autoritrios
e etnocntricos ainda presentes na sociedade brasileira e que tm,
efetivamente, contribudo para consolidar a desigualdade e injustia social que
coloca a maioria da populao como sem cultura,, isto , sem terra, sem
comida, sem teto, sem sade, sem educao....... Sem cidadania.
A CF de 1988 no artigo 215, complementa o estabelecido pela IFLA ao dizer que
O Estado garantir a todos o pleno exerccio dos direitos culturais e acesso (grifo
nosso) s fontes da cultura nacional, e apoiar e incentivar a valorizao e a difuso
das manifestaes culturais (BRASIL, 1988).
Nossa Lei Maior reconhece, dessa forma, a importncia da cultura, embora
ainda no se tenha obtido resultados prticos quanto s questes que envolvem o
acesso das comunidades indgenas. tanto no que tange a cultura da sociedade
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envolvente quanto a questes de divulgao da cultura indgena.
No Parecer 14/99 do MEC (BRASIL, 1999) diz que: ao longo de sua histria, as
sociedades indgenas vm elaborando complexos sistemas de pensamento e modos
prprios de produzir, armazenar, expressar, transmitir, avaliar (grifo nosso) e
reelaborar seus conhecimentos e suas concepes sobre o mundo, o homem e o
sobrenatural . As palavras acesso, produzir, armazenar, expressar, transmitir e avaliar
vem ao encontro de um dos objetivos que caracterizam uma unidade de informao,
demonstrando a relevncia da organizao desses saberes.
No mesmo Parecer os professores indgenas devem ser capazes de:
- Realizar levantamentos de literatura indgena tradicional e atual;
- Realizar levantamentos tnicos cientficos;
- Lidar com o acervo histrico do respectivo povo indgena;
- Realizar levantamento scio geogrficos de sua comunidade.
Essas atividades que devero ser realizadas por professores so aquelas
solicitadas aos bibliotecrios no servio de referncia e educao do usurio em UI.
Complementando esta argumentao, o Art. 78, II da LDBEN, BRASIL (1996),
garante aos ndios, suas comunidades e povos, o acesso s informaes,
conhecimentos tcnicos e cientficos da sociedade nacional e demais sociedades
indgenas e no-ndias, caracterizando a necessidade de instalao de BEIs para as
comunidades indgenas.
Esta, inclusive, uma demanda da prpria comunidade, pois na carta (j
mencionada anteriormente), enviada a presidncia da repblica por professores
indgenas, existe a reivindicao conforme Capelas Junior (2003, p. 12) de programas
nacionais especficos para as escolas indgenas (livros e materiais didticos,
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bibliotecas, videotecas, laboratrios, computadores) projetando a necessidade de
implantao de BEIs para organizao, divulgao, disseminao e arquivamento de
todo o material que vem sendo produzido nos cursos de formao de professores
indgenas em todo o pas.
5.2 ACERVO DE BIBLIOTECA ESCOLAR INDGENA
A demanda de organizao de informao j se faz presente na educao
escolar indgena concomitantemente com a produo cada vez maior de documentos
bilnge.
Se num passado recente de polticas educacionais indgenas percebeu-se a
perda de importantes fatos da histria e cultura de comunidades indgenas, atualmente,
com essa nova proposta educacional existe concretamente a possibilidade de integrar
ao patrimnio cultural nacional saberes milenares oriundos dessa parte integrante da
sociedade, que historicamente j foi vtima de tantas perdas e discriminaes.
O movimento da histria indgena e falo em "movimento" porque em vrios sentidos ultrapassava os limites da academia, inserindo-se nas empresas do prprio movimento indgena tomou vrios caminhos, alternativos ou combinados. De um lado, promoveu uma recuperao e uma avaliao mais otimista do acervo documental produzido ao longo dos sculos pelos agentes da sociedade colonial ou nacional, maior em quantidade e qualidade e muito menos perdido do que era de praxe considerar. (CALAVIA SEZ, 2005)
O profissional da informao o grande intermediador dessa interao,
proporcionando aes culturais atravs de vdeos, contaes de histria, teatro,
construo de murais, etc... Os softwares podem ser grandes aliados como instrumento
utilizvel no reforo pedaggico. Esses recursos de multimdia devero estar presentes
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principalmente nas BEIs, onde a comunidade escolar no possui acesso. Sob essa
perspectiva e nesse panorama, inserem-se nossas preocupaes com a criana, a
leitura, a literatura infantil/juvenil. (CUNHA, 2004, p. 2)
Como dito anteriormente, ainda, no existe uma poltica do MEC para a GEI para
BEs, portanto no existe para BEIs. A construo do acervo e suas demandas devero
ser submetidas a juzos pr-estabelecidos em BEs tradicionais que apresentarem
polticas formuladas, fazendo-se necessrio um prvio estudo de usurios e preparao
antropolgica pelos bibliotecrios, evitando reduzir os interesses dos usurios escolares
indgenas, e no haver comprometimento com os contextos sociais, histricos e
pedaggicos propostos nas escolas diferenciadas indgenas em relao ao acervo
existente. Graniel Parra et al (2002) comenta que considera urgente que as instituies
governamentais responsveis proporcionem servios bibliotecrios e faam realidade
do acesso e uso da informao a que tem direito a populao indgena. (traduo
nossa). O mesmo pode ser dito a respeito da realidade das escolas indgenas
brasileiras.
Distinguem-se dois aspectos do problema: o desenvolvimento de colees em
BEs ditas aqui tradicionais e as adaptaes que estas devero sofrer quando feito em
BEIs, devido aos aspectos carac