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POLÍTICAS PÚBLICAS E
LEGISLAÇÃO DO SUS
FICHA CATALOGRÁFICA
Goiás (Estado). Secretaria de Estado da Saúde. Superintendência de Educação em
Saúde e Trabalho para o SUS. Escola Estadual de Saúde Pública “Cândido
Santiago”. Políticas Públicas e Legislação do SUS. Goiânia: ESAP-GO, 2017.
1. Gestor de Saúde. 2. Políticas, Planejamento e Administração em Saúde 3.
Sistema Único de Saúde. I. Título. II. Alves, Carla Guimarães. III. Costa, Loreta
Marinho Queiroz.
Todos os direitos desta edição serão reservados à Escola Estadual de Saúde
Pública “Cândido Santiago”/Secretaria da Saúde do Estado de Goiás. (ESAP-
GO/SEST-SUS/SES-GO).
Rua 26, 521
74.853-070 – Jardim Santo Antônio
Goiânia, GO
Tel: (62) 3201-3410
Sumário
1. Histórico das Políticas de Saúde no Brasil ........................................................... 6
2. Organização e Funcionamento do Sistema Único de Saúde ................................ 7
3. Operacionalização do SUS ................................................................................. 16
Anexo ........................................................................................................................ 23
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 5
Caro gestor...
Seja bem vindo ao Curso de Qualificação para Gestores Municipais de Saúde! Você
é uma peça fundamental para o sucesso da nova gestão, e para tanto, precisa
aperfeiçoar seus conhecimentos sobre o Sistema Único de Saúde (SUS).
A partir de agora iremos discutir sobre as Políticas Públicas de Saúde e Legislação
do SUS, bem como conhecer suas diretrizes, princípios doutrinários e organizativos,
arranjos institucionais e funções das diferentes esferas da gestão.
Os objetivos deste componente curricular são conhecer o histórico das políticas de
saúde no Brasil, compreender a organização e funcionamento do SUS, conceber o
papel do gestor municipal enquanto autoridade sanitária do seu território e
reconhecer a importância dos órgãos colegiados de representação política dos
gestores do SUS.
Este componente apresentará novas perspectivas sobre as políticas públicas de
saúde, a partir da evolução histórica até a realidade atual do SUS. Vamos lá?
É hora de começar o nosso desafio!!!
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 6
1. Histórico das Políticas de Saúde no Brasil
As políticas de saúde no Brasil, historicamente, se configuraram como reflexo da
conjuntura política, econômica, social e cultural. Ao longo dos quase 500 anos após
o descobrimento, as ações em saúde foram executadas de maneira a proteger a
economia e promover o desenvolvimento do país, sem levar em conta as condições
de vida e saúde da população: “A sucessão de modelos de práticas curativas,
campanhistas e excludentes, não conseguiram dar respostas às necessidades em
saúde da população” (BAPTISTA, 2007).
Nesse contexto, ao final do governo militar, o movimento sanitário reúne
profissionais de saúde, principalmente médicos e acadêmicos, no debate sobre a
precariedade nas condições de saúde da população. Além disso, associaram-se a
outros grupos que tinham em comum a luta pelos direitos civis e sociais percebidos
como dimensões inerentes à democracia. (ESCOREL; NASCIMENTO; EDLER,
2005).
Esse movimento culminou na 8ª Conferência Nacional de Saúde, a qual consolidou
um relatório que serviu de base para a elaboração do capítulo que trata da saúde na
Constituição de 1988, conhecida como "Constituição Cidadã", marco fundamental na
redefinição das prioridades da política do Estado na área da saúde pública, quando
o Brasil optou por um sistema público, universal e integral, o Sistema Único de
Saúde (SUS) (CONASS, 2011).
A Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 198, estabelece a definição do SUS como:
MAS O QUE É O SISTEMA ÚNICO DE
SAÚDE-SUS?
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 7
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede
regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único,
organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II-atendimento integral, com prioridade para as atividades
preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.
Parágrafo Único - O sistema único de saúde será financiado, nos
termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social,
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de
outras fontes. (CONASS, 2011, p.25).
Este sistema pode ser considerado uma das maiores conquistas sociais aprovadas
na Constituição e representa a consolidação de uma nova concepção acerca de
saúde em nosso país. Antes, a saúde era entendida como o "Estado de não doença"
levando a uma lógica que tudo girava em torno da cura de agravos, o que significava
apenas remediar os efeitos, com menor ênfase nas causas. Com o SUS,
incorporaram-se novas dimensões ao conceito de saúde, se estabelecendo que,
para se ter saúde, é preciso ter acesso a um conjunto de fatores relacionados à
qualidade de vida, como: alimentação, moradia, meio ambiente, emprego, nível de
renda, lazer, educação; ou seja, adotou-se uma lógica centrada na prevenção dos
agravos e na promoção da saúde (CONASS, 2011).
2. Organização e Funcionamento do Sistema Único de Saúde
Em decorrência da Constituição/88, visando à regulamentação do SUS, foram
promulgadas as Leis orgânicas da saúde: Lei 8.080/90, que dispõe sobre as
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes, e a Lei 8.142/90, que dispõe sobre a
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 8
participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências
intergovernamentais de recursos financeiros na área de saúde (CONASS,2011).
A Lei 8.080/90 estabelece que o SUS seja formado pelo conjunto de todas as ações
e serviços de saúde prestadas por órgãos e instituições públicas federais, estaduais
e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo
poder público. Determina ainda que a iniciativa privada pode atuar em caráter
complementar, e que, todos os serviços que integram o sistema, sejam eles
públicos, privados, contratados ou conveniados, devem ser desenvolvidos
obedecendo aos princípios doutrinários e organizativos do SUS (CONASS, 2011).
2.1 Princípios doutrinários e organizativos (*1)
Este sistema é único, ou seja, deve ter a mesma doutrina e a mesma forma de
organização em todo o país. Porém, é preciso compreender bem esta ideia de
unicidade. Num país com tamanha diversidade cultural, econômica e social como o
Brasil, pensar em organizar um sistema sem levar em conta estas diferenças seria
uma temeridade. O que é definido como único na Constituição é um conjunto de
elementos doutrinários e de organização do sistema de saúde. Portanto, o SUS
pode ser entendido a partir da seguinte imagem (Figura 01): um núcleo comum
(único), que concentra os princípios doutrinários (universalidade, equidade e
integralidade) e uma forma de organização e operacionalização, os princípios
1 (*) Extraído de: CUNHA J.P.P., CUNHA ROSANI R. E. Sistema Único de Saúde – SUS: princípios.
In: CAMPOS, F. E., OLIVEIRA JÚNIOR, M., TONON, L. M. Cadernos de Saúde. Planejamento e Gestão em Saúde. Belo Horizonte: COOPMED, 1998. Cap. 2, p. 11-26
QUAIS SÃO ESTES PRINCÍPIOS E
DIRETRIZES E O QUE SIGNIFICA CADA
UM DELES?
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 9
organizativos (participação popular, regionalização e hierarquização,
descentralização com comando único).
Figura 01 - Elementos doutrinários e de organização do sistema de saúde
Fonte: Cadernos de Saúde. Planejamento e Gestão em Saúde. Belo Horizonte: COOPMED,1998.
Princípios doutrinários
Universalidade: o acesso às ações e serviços deve ser garantido a todas as
pessoas, independentemente de sexo, raça, renda, ocupação, ou outras
características sociais ou pessoais;
Integralidade: o princípio da integralidade significa considerar a pessoa como um
todo, atendendo a todas as suas necessidades. Para isso, é importante a integração
de ações, incluindo a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e
a reabilitação. Ao mesmo tempo, o princípio da integralidade pressupõe a
articulação da saúde com outras políticas públicas, como forma de assegurar uma
atuação intersetorial entre as diferentes áreas que tenham repercussão na saúde e
qualidade de vida dos indivíduos.
Equidade: tem como objetivo diminuir desigualdades. Mas, isso não significa que a
eqüidade seja sinônimo de igualdade. Apesar de todos terem direito aos serviços, as
pessoas não são iguais e, por isso, têm necessidades diferentes. Eqüidade significa
tratar desigualmente os desiguais, investindo mais onde a carência é maior. Para
Universalidade
Equidade
Integralidade
Participação Popular Regionalização
e Hierarquização Descentralização com
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 10
isso, a rede de serviços deve estar atenta às necessidades reais da população a ser
atendida.
Princípios organizacionais
Regionalização e hierarquização: a regionalização e a hierarquização de serviços
significam que os serviços devem ser organizados em níveis crescentes de
complexidade, circunscritos a uma determinada área geográfica, planejados a partir
de critérios epidemiológicos, e com definição e conhecimento da clientela a ser
atendida. Este conhecimento é muito mais uma perspectiva de atuação do que uma
delimitação rígida de regiões, clientelas e serviços. A regionalização é, na maioria
das vezes, um processo de articulação entre os serviços já existentes, buscando o
comando unificado dos mesmos. A hierarquização deve, além de proceder a divisão
de níveis de atenção, garantir formas de acesso a serviços que componham toda a
complexidade requerida para o caso, no limite dos recursos disponíveis numa dada
região. Deve ainda incorporar-se à rotina do acompanhamento dos serviços, com
fluxos de encaminhamento (referência) e de retorno de informações do nível básico
do serviço (contra-referência).
Participação da comunidade: a participação da sociedade não se esgotou nas
discussões que deram origem ao SUS. Esta democratização também deve estar
presente no dia-a-dia do sistema. Para isto, devem ser criados os Conselhos de
Saúde nos três níveis de governo e, além disso, realizar as Conferências de Saúde.
Os Conselhos são órgãos deliberativos, de caráter permanente, compostos com a
representatividade de toda a sociedade, cuja composição deve ser paritária, com
metade de seus membros representando os usuários e a outra metade, o conjunto
composto por governo, trabalhadores da saúde e prestadores privados. Estes
devem ser criados por lei do respectivo âmbito de governo, onde serão definidas a
composição do colegiado e outras normas de seu funcionamento. As Conferências
de Saúde são fóruns com representação de vários segmentos sociais que se
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 11
reúnem para propor diretrizes, avaliar a situação da saúde e ajudar na definição da
política de saúde.
Descentralização político-administrativa com direção única em cada esfera de
governo:
Descentralizar é redistribuir poder e responsabilidades entre os três níveis de
governo. Na saúde, a descentralização tem como objetivo prestar serviços com
maior qualidade e garantir o controle e a fiscalização pelos cidadãos. Quanto mais
perto estiver a decisão, maior a chance de acerto. No SUS, a responsabilidade pela
saúde deve ser descentralizada até o município. Isto significa dotar o município de
condições gerenciais, técnicas, administrativas e financeiras para exercer esta
função. A decisão deve ser de quem executa, pois geralmente está mais perto do
problema. A descentralização, ou municipalização, é uma forma de aproximar o
cidadão das decisões do setor e significa a responsabilização do município pela
saúde de seus cidadãos. É também uma forma de intervir na qualidade dos serviços
prestados. Para fazer valer o princípio da descentralização, existe a concepção
constitucional do mando único. Cada esfera de governo é autônoma e soberana nas
suas decisões e atividades, respeitando os princípios gerais e a participação da
sociedade.
2.2. Funcionamento do SUS
Segundo Machado, Lima, Baptista (2011), para o funcionamento do SUS, deve-se
considerar dois aspectos fundamentais: o primeiro, a definição de quem são os
CONHECEMOS O CONCEITO, OS
PRINCÍPIOS E AS DIRETRIZES DO SUS.
MAS COMO ELE FUNCIONA?
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 12
gestores do SUS e o papel/atribuição destes gestores; o segundo, a forma como se
processam as decisões sobre as políticas de saúde, uma vez que, o funcionamento
do SUS envolve uma grande quantidade de serviços e de pessoas (gestores,
profissionais de saúde, prestadores de serviços, fornecedores e usuários de
serviços).
Os gestores do SUS são os representantes de cada esfera de governo designados
para o desenvolvimento das funções do Executivo na saúde: no âmbito nacional, o
Ministro da Saúde; no âmbito estadual, o Secretário de Estado da Saúde, e no
municipal, o Secretário Municipal de Saúde, que atuam solidariamente no exercício
das funções gestoras na saúde. Para efeito de entendimento das funções gestoras
no SUS, adotam-se os conceitos Gestão como a atividade e a responsabilidade de
comandar um sistema de saúde (municipal, estadual ou nacional) exercendo as
funções de coordenação, articulação, negociação, planejamento, acompanhamento,
controle, avaliação e auditoria. Gerência como a administração de unidade ou órgão
de saúde (ambulatório, hospital, instituto, fundação etc.) que se caracteriza como
prestador de serviço do SUS. (CONASS, 2011).
Quanto ao papel/atribuição destes gestores, podem-se identificar quatro grandes
grupos de funções – macrofunções gestoras na saúde: formulação de
políticas/planejamento; financiamento; coordenação, regulação, controle e avaliação
MAS QUEM SÃO OS GESTORES DO SUS?
QUAL O PAPEL/ATRIBUIÇÃO DESTES
GESTORES?
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 13
(do sistema/redes e dos prestadores públicos ou privados); e prestação direta de
serviços de saúde (Quadro 01). Cada uma dessas compreende uma série de
subfunções e de atribuições dos gestores (CONASS, 2011).
Quadro 1 – Resumo das principais atribuições dos gestores do SUS
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 14
FONTE: Cadernos de Saúde. Planejamento e Gestão em Saúde. COOPMED, p. 11-26.
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Em relação à forma como se processam as decisões sobre as políticas de saúde,
Machado, Lima, Baptista (2011) diz que se adotou, para o SUS, um modelo ousado,
no que se refere à tentativa de consolidar um arcabouço decisório e institucional que
considere as especificidades do arranjo federativo brasileiro e as diretrizes de
participação social. Esse modelo (Figura 02) pressupõe uma articulação estreita
entre a atuação de:
a) Gestores do sistema em cada esfera de governo;
b) Instâncias de negociação e decisão envolvendo a participação dos gestores das
diferentes esferas: Comissão Intergestores Tripartite-CIT (no âmbito nacional),
Comissões Intergestores Bipartiste-CIB (uma por estado) e, mais recentemente, as
Comissões Intergestores Regionais-CIR (número variável em função do desenho
regional adotado em cada e estado);
c) Conselhos de representação dos secretários de saúde no âmbito nacional
(Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde-CONASS e Conselho
Nacional de Secretários Municipais de Saúde-CONASEMS) e no âmbito estadual
(Conselho Estadual de Secretários Municipais de Saúde - COSEMS); e,
d) Conselhos de saúde de caráter participativo no âmbito nacional, estadual e municipal.
CONSIDERANDO O COMANDO ÚNICO EM
CADA ESFERA, COMO SE PROCESSAM AS
DECISÕES SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS?
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 16
Figura 02 - Estrutura institucional e decisória do SUS
Fonte: CONASS, 2006
3. Operacionalização do SUS
Após as Leis orgânicas da saúde, ao longo de duas décadas, várias normas foram
editadas e pactos foram acertados com a finalidade de operacionalizar, normatizar e
organizar as ações e serviços de forma descentralizada, regionalizada e em
complexidades crescente, conforme se observa no Quadro 02.
Quadro 2 - Cronologia de implantação/implementação do SUS.
1991 1992 1993 1996 2001/02 2006 2011
NOB
91
NOB
92 NOB 93 NOB 96
NOAS 01/02
Pacto pela
Saúde Decreto 7.508
Operacionalização do SUS Regulamenta a Lei
8.080/90
A municipalização foi o caminho Foco na regionalização Radicaliza na
regionalização
Fonte: Legislação SUS/CONASS, 2011b.
Nos primeiros movimentos de implantação do SUS, houve foco acentuado na
descentralização/municipalização dos serviços, a partir das Normas Operacionais
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 17
Básicas do SUS, em especial as NOB 93 e 96. Os grandes avanços no âmbito da
descentralização político-administrativa, com fortalecimento dos gestores locais e as
mudanças na organização da atenção básica induzidas pela NOB SUS 01/96,
evidenciaram a necessidade de maior articulação entre os sistemas municipais e de
fortalecimento das secretarias estaduais de saúde na sua função reguladora para
assegurar a organização de redes assistenciais regionalizadas, hierarquizadas e
resolutivas, que propiciem resultados positivos para a saúde da população (SOUZA,
2001).
Assim, na busca de preencher as lacunas da NOB01/96, no tocante à área
assistencial, foram editadas, em 2001 e 2002, as Normas Operacionais de
Assistência à Saúde-NOAS, quando a regionalização ganha importância na
normatização do SUS, sendo colocada como objetivo fundamental. Estas instituíram
o Plano Diretor de Regionalização (PDR), o Plano Diretor de Investimentos (PDI) e
Programação Pactuada Integrada (PPI) como instrumentos de planejamento da
Regionalização e organização do SUS. No entanto, evidenciaram apenas a
regionalização da assistência à saúde e o PDR como instrumento de desenho da
distribuição e articulação das ações e serviços assistenciais. (MINISTÉRIO, 2006).
As Normas Operacionais tornaram-se as regras de organização político-
administrativa do SUS durante esses 15 anos (1991 a 2006), pautando-o pelo
financiamento (transferências federais para estados e municípios) e não pelas
necessidades de saúde da população ou por metas qualitativas a serem alcançadas
transformando, muitas vezes, estados e municípios em gestores de projetos e
programas federais (SANTOS; ANDRADE, 2006).
Neste contexto, nasce o Pacto pela Saúde, estruturado em suas três dimensões:
Pacto Pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e Pacto de Gestão. O Pacto mantém a
regionalização como eixo central e reafirma os instrumentos de planejamento
instituídos pelas NOAS 01/2001 e NOAS 01/2002. O Pacto de Gestão amplia a visão
da regionalização para além da assistência, evidencia a conformação de sistemas
regionais que deem conta da organização da saúde integral nos diversos
componentes. O PDR assume a função de instrumento de planejamento sistêmico
do espaço regional, deixando de ser focado na assistência. Institui, além disso, o
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 18
Colegiado Gestor Regional (CGR) como instância de cogestão no âmbito
regional(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
Depois de 20 anos de operacionalização do SUS por meio de portarias ministeriais,
em 2011, foi publicado o Decreto 7.508/11,que veio regulamentar a Lei n. 8.080/90,
no que diz respeito à organização do SUS, ao planejamento da saúde, à assistência
à saúde e à articulação interfederativa. O decreto também aponta novos desafios na
gestão desse Sistema e institui o Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde
(COAP) como a figura jurídica que dará concretude aos compromissos de cada ente
federado frente a objetivos comuns, discutidos e pactuados em cada região de
saúde, respeitando a diversidade federativa e garantindo a segurança jurídica
necessária a todos (BRASIL, 2011).
O Decreto 7.508/11 estabelece a organização do SUS em Regiões de Saúde, sendo
estas instituídas pelo Estado em articulação com os seus municípios que definirão
os seguintes elementos em relação às Regiões de Saúde: seus limites geográficos;
população usuária das ações e dos serviços; rol de ações e serviços que serão
ofertados e respectivas responsabilidades, critérios de acessibilidade e escala para
conformação dos serviços. Determina que as regiões se constituam em espaço
privilegiado da gestão compartilhada da rede de ações e serviços de saúde, tendo
como objetivos: garantir o acesso resolutivo e de qualidade à rede de saúde2,
efetivar o processo de descentralização, com responsabilização compartilhada,
favorecendo a ação solidária e cooperativa entre os entes federados e reduzir as
desigualdades loco-regionais, por meio da conjugação interfederativa de recursos
(BRASIL, 2011).
Para o referido decreto, Rede de Atenção à Saúde é conjunto de ações e serviços
de saúde articulados em níveis de complexidade crescente, que podem estar
2Constituem a Rede de Saúde em Saúde, às ações e serviços de atenção primária, a vigilância à
saúde, a atenção psicossocial, a urgência e emergência e a atenção ambulatorial especializada e hospitalar.
O QUE O DECRETO 7.508/2011 DIZ SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO SUS?
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 19
compreendidas no âmbito de uma Região de Saúde ou de várias delas. Indica que a
integralidade da assistência à saúde se inicia e se completa na Rede de Atenção à
Saúde, cujo acesso se inicia pelas portas de entrada do SUS (atenção primária;
atenção de urgência e emergência; atenção psicossocial; e especiais de acesso
aberto) e se completa na rede regionalizada e hierarquizada, de acordo com a
complexidade do serviço (CONASS,2015).
Para assegurar ao usuário o acesso universal, igualitário e ordenado às ações e
serviços de saúde do SUS, caberá aos entes federativos, nas Comissões
Intergestores, garantir a transparência, a integralidade e a equidade no acesso às
ações e aos serviços de saúde; orientar e ordenar os fluxos das ações e dos
serviços de saúde; monitorar o acesso às ações e aos serviços de saúde; e ofertar
regionalmente as ações e os serviços de saúde (BRASIL, 2011).
O decreto 7.508/11 estabelece como obrigatório o planejamento em saúde para os
entes federados, bem como indutor de políticas para a inciativa privada e que o
mesmo deverá ser ascendente e integrado, orientado pelas necessidades de saúde
da população, devendo compatibilizar as necessidades das políticas de saúde com a
disponibilidade de recursos financeiros. Define que cabe aos Conselhos de Saúde
deliberar sobre as diretrizes para o estabelecimento de prioridades e a expressão do
planejamento em saúde dar-se-á em cada Plano de Saúde. Institui o Mapa da
Saúde, que é a descrição geográfica da distribuição de recursos humanos e de
ações e serviços de saúde ofertados pelo SUS e pela iniciativa privada, o qual deve
ser utilizado na identificação das necessidades de saúde e orientará o planejamento
integrado dos entes federativos. Para que o Plano de Saúde possa ser executado, é
necessário que esteja alinhado com o Plano Plurianual (PPA), que é o instrumento
que materializa as políticas públicas traduzindo-as em Diretrizes, Programas
(BRASIL, 2011).
O QUE O DECRETO 7.508/2011 DIZ SOBRE O PLANEJAMENTO DA SAÚDE?
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 20
Um desafio permanente da gestão do SUS é o fortalecimento dos vínculos
interfederativos, necessários à consolidação do Sistema. As Comissões
Intergestores, enquanto instâncias de pactuação consensual entre os entes
federativos para a organização e o funcionamento das ações e serviços de saúde
integrados em redes de atenção à saúde, constituem-se foros permanentes de
negociação, articulação e decisão entre os gestores na construção de consensos
federativos, em cada nível da organização do Sistema: regional, estadual e nacional
do SUS (BRASIL, 2011).
Quadro 3 - Atribuições das Comissões Intergestores
PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES DAS COMISSÕES INTERGESTORES
Comissões Intergestores Regionais
Efetivar o planejamento regional de acordo com o Plano de Saúde de cada ente federado, aprovado no respectivo Conselho de Saúde;
Organizar a rede de atenção à saúde, definindo as suas portas de entrada;
Definir as responsabilidades individuais e solidárias de cada ente federativo na Região de Saúde.
Comissões IntergestoresBipartite
Definir as regras de continuidade do acesso às ações e serviços de saúde, atendendo ao princípio da integralidade, mediante o referenciamento do cidadão a serviços localizados em outras regiões de saúde do Estado.
Comissões Intergestores Tripartite
Definir as regras de continuidade do acesso do cidadão às ações e serviços de saúde, atendendo ao princípio da integralidade, mediante referenciamento a serviços localizados em regiões de saúde de outro Estado.
Fonte: Resolução CIT nº 1, de 29 de setembro de 2011.
Outra novidade instituída pelo Decreto 7.508/2011 é o Contrato Organizativo da
Ação Pública da Saúde (COAP), instrumento que traduz os acordos de colaboração
entre os entes federativos para a organização da rede interfederativa de atenção à
saúde, em cada região de saúde, apresentando-se como um instrumento da gestão
estratégica, compromissada com a transparência e a ética da gestão pública. Para
garantir que o COAP seja o resultado de uma gestão participativa, é necessário que
se estabeleçam estratégias que incorporem a avaliação do usuário, das ações e dos
serviços, como ferramenta de sua melhoria; que haja apuração permanente das
O QUE O DECRETO 7.508/2011 DIZ SOBRE ARTICULAÇÃO
INTERFEDERATIVA?
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 21
necessidades e interesses do usuário; e que se dê publicidade aos direitos e
deveres do usuário, em todas as unidades de saúde do SUS, inclusive nas unidades
privadas que dele participem de forma complementar (BRASIL, 2011).
Prezado gestor, chegamos ao final do componente Políticas Públicas e Legislação
do SUS. Considerando os estudos aqui realizados, podemos concluir que o Sistema
Único de Saúde é um processo social em permanente construção, que tem sido
capaz de estruturar e consolidar um sistema público de saúde de enorme relevância,
o qual apresenta resultados inquestionáveis para a população brasileira. No entanto,
ainda há inúmeros desafios a serem enfrentados, sobretudo em relação à garantia
da integralidade da atenção, devido à lógica em que a atenção e a gestão do SUS
vêm sendo organizada ao longo desses anos, resultando em um sistema
caracterizado por intensa fragmentação de serviços, programas, ações e práticas
clínicas (BRASIL, 2010).
Veja no Anexo a seguir, a sequência Didática das atividades que você realizará
considerando este componente curricular.
LEMBRE-SE!
CONHECER E SE APROPRIAR DA LEGISLAÇÃO
PERTINENTE AO SUS É CONDIÇÃO
ESSENCIAL PARA O SUCESSO DE SUA
GESTÃO!
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 22
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto 7.508/2011, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, Regulamentação, Organização, (SUS), Planejamento, Assistência, Saúde. D.O.U. , p. 1, De 29/06/2011
BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Regulação, Avaliação e Controle de Sistema. Departamento Nacional de Auditoria do SUS. Curso básico de regulação, controle, avaliação e auditoria do SUS/Ministério da Saúde. Departamento de Regulação, Avaliação e Controle de Sistemas, Departamento Nacional de Auditoria do SUS-Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS n. 4.279/GM, de 30 de dezembro de 2010. Diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União, Brasília/DF, p. 88, 31 dez. 2010.
CONASS. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. A Gestão do SUS. 1 ed. Brasília/DF: Ministério da Saúde, 2015. 133 p.
CONASS. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Sistema Único de Saúde: Para entender a gestão do SUS. 20 ed. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. – Brasília/DF: Ministério da Saúde, 2011b, 291 p.
MACHADO C.V., LIMA, L.D.; BAPTISTA, T.W.F. Qualificação de Gestores do SUS. Programa Nacional de Qualificação de Gestores e Gerentes do SUS - Mais Saúde. Ministério da Saúde. 2 ed. Rio de Janeiro/RJ: Fiocruz/ENSP/EAD, p. 47-72, 2011.
MAGALHÃES JÚNIOR, H.M. Rede de atenção à saúde no SUS: O pacto pela saúde e redes regionalizadas de ações e serviços de saúde. 1 ed. Campinas/SP: IDISA: CONASEMS, p.7, 2008.
SILVA, S.F.; SOUTO JÚNIOR, J.V.; BRÉTAS JÚNIOR, N. Rede de atenção à saúde no SUS: O Pacto pela Saúde: oportunidade para aperfeiçoamento das redes de atenção à saúde no SUS. 1 ed. Campinas/SP: IDISA: CONASEMS, p.103-137, 2008.
SOUZA, R.R. A regionalização no contexto atual das políticas de saúde. Ciência e saúde coletiva, São Paulo, v. 6, n. 2, 2001.
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 23
Anexo
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
ATIVIDADE TEMA
Acolhimento; Entrega do material;
Apresentação dos facilitadores; Nome, formação, função na regional de saúde e o motivo de ser facilitador;
Apresentação dos alunos (gestores) e mapeamento das expectativas;
Nome, formação, gestor de qual município e expectativas em relação ao curso;
Apresentação da proposta do curso e da disciplina;
Curso: Qualificação para Gestores Municipais de Saúde do Estado de Goiás;
Disciplina: Políticas Públicas de Saúde e Legislação do SUS;
Vídeo
Políticas de Saúde no Brasil (Resumo). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hG6aDvVxMZs
Discussão sobre o filme; Questão disparadora: Como você avalia o sistema de saúde Brasileiro antes e depois do SUS?
CAFÉ COM PROSA
Estudo de caso; Vivências: Princípios e diretrizes do SUS
ALMOÇO
Apresentação das vivências
Aula expositiva;
Organização do Sistema Único de Saúde: Conceito, legislação e Princípios do SUS;
Estudo dirigido: dividir em três grupos;
Funcionamento do SUS:
Grupo1: Gestores do SUS- Distribuição
federativa das competências (pg39 a 41);
Grupo 2: Participação social- Conselhos e
Conferências de Saúde (Resolução nº
453,10/05/2012);
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Políticas Públicas e Legislação do SUS Página 24
Grupo3: Governança Federativa (42 a 45).
Plenária Apresentação dos grupos: 15 minutos para cada grupo.
COFFEBREAK
Aula expositiva; Operacionalização do SUS: NOBs, NOAS, Pacto pela Saúde e Decreto 7.508; e Regionalização do Estado de Goiás.
Atividade para problematização no município de origem;
1- Considerando o arranjo institucional do SUS, responda:
Como está estruturada a SMS para exercer o seu papel de gestor municipal?
Como está estruturado o Conselho municipal de saúde do seu município? a. Você participa das reuniões da CIR? Busque o regimento interno e calendário anual das reuniões 2017 da CIR da sua região.
2- Situação de saúde do seu município:
Quais as principais causas de morbidade e mortalidade do seu município?
3- Capacidade instalada:
Descreva os serviços de saúde disponíveis no seu território municipal.
Avaliação e encerramento. Aplicar formulário pré-estabelecido.