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Políticas públicas para a pessoa idosa: marcos legais e regulatórios

Politicas Publicas Idosos

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  • Polticas pblicas para a pessoa idosa: marcos legais e regulatrios

  • GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULO

    Jos SerraGovernador

    Rita PassosSecretria Estadual de Assistncia e Desenvolvimento Social

    Nivaldo Campos CamargoSecretrio Adjunto

    Carlos Fernando Zuppo FrancoChefe de Gabinete

  • Secretaria Estadual de Assistncia e Desenvolvimento Social SEADS

    Departamento de Comunicao Institucional DCI Paulo Jos Ferreira Mesquita

    Coordenador

    Coordenadoria de Gesto Estratgica CGE Cludio Alexandre Lombardi

    Coordenador

    Coordenadoria de Ao Social CAS Tnia Cristina Messias Rocha

    Coordenadora

    Coordenadoria de Desenvolvimento Social CDS Isabel Cristina Martin

    Coordenadora

    Coordenadoria de Administrao de Fundos e Convnios CAF Carlos Alberto Facchini

    Coordenador

    Fundao Padre AnchietaPaulo Markun

    PresidenteFernando Almeida

    Vice-Presidente

    Coordenao Executiva Ncleo de Educao Fernando Almeida

    Fernando Moraes Fonseca Jr. Mnica Gardeli Franco

    Coordenao de Contedo e Qualidade Gabriel Priolli

    Coordenao de Produo Ncleo de Eventos e Publicaes Marilda Furtado

    Tissiana Lorenzi Gonalves

    uma realizao

    Equipe de Produo do Projeto

    Coordenao geralurea Eleotrio Soares Barroso

    SEADS

    Fernando Moraes Fonseca Jr. Fundao Padre Anchieta

    DesenvolvimentoSEADS

    Elaine Cristina Moura Ivan Cerlan Janete Lopes

    Mrcio de S Lima Macedo

    Organizao dos contedos/textosurea Eleotrio Soares Barroso

    ColaboradoresCllia la Laina, Edwiges Lopes Tavares, Izildinha Carneiro, Ligia Rosa de Rezende Pimenta, Maria Margareth Carpes,

    Marilena Rissuto Malvezzi, Paula Ramos Vismona, Renata Carvalho, Rosana Saito, Roseli Oliveira

    Produo editorialMaria Carolina de Araujo

    Coordenao editorialMarcia Menin

    Copidesque e preparaoPaulo Roberto de Moraes Sarmento

    RevisoProjeto grfico, arte, editorao e produo grfica

    Mare Magnum Artes Grficas

    IlustraesAdriana Alves

  • Polticas pblicas para a pessoa idosa: marcos legais e regulatrios

    Direitos de cpia

    Sero permitidas a cpia e a distribuio dos textos integrantes desta obra sob as seguintes condies: devem ser dados crditos SeaDS Secretaria estadual de assistncia e

    Desenvolvimento Social do estado de So Paulo e aos autores de cada texto; esta obra no pode ser usada com finalidades comerciais; a obra no pode ser alterada,

    transformada ou utilizada para criar outra obra com base nesta; esta obra est licenciada pela licena Creative Commons 2.5 Br

    (informe-se sobre este licenciamento em http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/)

    as imagens fotogrficas e ilustraes no esto includas neste licenciamento.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Gomes, SandraPolticas pblicas para a pessoa idosa : marcos legais e

    regulatrios / Sandra Gomes, maria elisa munhol, eduardo Dias ; [coordenao geral urea eleotrio Soares Barroso]. -- So Paulo : Secretaria estadual de assistncia e Desenvolvimento Social : Fundao Padre anchieta, 2009.

    Bibliografia.

    1. administrao pblica 2. Cidadania 3. envelhecimento 4. idosos - Cuidados 5. Planejamento social 6. Poltica social 7. Polticas pblicas 8. Qualidade de vida 9. Servio social junto a idosos i. munhol, maria elisa. ii. Dias, eduardo. iii. Barroso, urea eleotrio Soares. iV. Ttulo.

    09-09544 CDD-362.6

    ndices para catlogo sistemtico:1. So Paulo : estado : idosos : estado e assistncia e

    desenvolvimento social : Bem-estar social 362.6 2. So Paulo : estado : Plano estadual para a Pessoa idosa-

    Futuridade : Bem-estar social 362.6

  • [...] ns envelheceremos um dia, se tivermos este privilgio. Olhemos, portanto, para as pessoas idosas como ns seremos no futuro. Reconheamos que as pessoas idosas so nicas, com necessidades e talentos e capacidades individuais, e no um grupo homogneo por causa da idade.

    Kofi annan, ex-secretrio-geral da oNu.

    Prezado(a) leitor(a),

    Temos a grata satisfao de fazer a apresentao deste material elaborado pela

    Secretaria Estadual de Assistncia e Desenvolvimento Social de So Paulo (SeadS)

    e pela Fundao Padre Anchieta TV Cultura.

    Um dos objetivos do Plano Estadual para a Pessoa Idosa do Governo do Estado de

    So Paulo Futuridade, coordenado pela SeadS, propiciar formao permanente

    de profissionais para atuar com a populao idosa, notadamente nas Diretorias Regionais de Assistncia Social (dradS).

    No total, esta srie contm dez livros e um vdeo, contemplando os seguintes

    contedos: o envelhecimento humano em suas mltiplas dimenses: biolgica,

    psicolgica, cultural e social; legislaes destinadas ao pblico idoso; informaes

    sobre o cuidado com uma pessoa idosa; o envelhecimento na perspectiva da

    cidadania e como projeto educativo na escola; e reflexes sobre maus-tratos e violncia contra idosos.

  • Sumrio

    Poltica pblica de assistncia social para idosos Sandra Gomes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    O Sistema nico de Assistncia Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

    Matricialidade familiar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

    Descentralizao poltico-administrativa e territorializao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16Novas bases de relao entre o Estado e a sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

    Financiamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

    O controle social e o desafio da participao popular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18A poltica de recursos humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

    A importncia da famlia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

    Consideraes finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

    Referncias bibliogrficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26Sites pesquisados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27

    Direitos humanos e legislao especfica Maria Elisa Munhol . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

    A Poltica Nacional do Idoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

    O Estatuto do Idoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

    A Poltica Estadual do Idoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

    Comisso de Defesa dos Direitos do Idoso da Ordem dos Advogados do Brasil Seo de So Paulo (OAB-SP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

    Referncias bibliogrficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

    Maus-tratos e violncia contra idosos Eduardo Dias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47

    Os crimes previstos no Estatuto do Idoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

    Sugestes de atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57

    Referncias bibliogrficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

    Com esta publicao, destinada aos profissionais que desenvolvem aes com idosos no Estado de So Paulo, o Futuridade d um passo importante ao

    disponibilizar recursos para uma atuao cada vez mais qualificada e uma prtica baseada em fundamentos ticos e humanos.

    Muito nos honra estabelecer esta parceria entre a SeadS e a Fundao

    Padre Anchieta TV Cultura, instituio que acumula inmeros prmios em

    sua trajetria, em razo de servios prestados sempre com qualidade.

    Desejo a todos uma boa leitura.

    Um abrao,

    Rita PassosSecretria Estadual de Assistncia e Desenvolvimento Social

  • Poltica pblica de assistncia social

    para idososSandra Gomes

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    A Constituio Federal de 1988 define um modelo de proteo social configurado como um sistema de seguridade social. en-volve a previdncia social (elaborada nos moldes de seguro social), a assistncia social (entendida como direito e no como filantropia) e a sade. ou seja, busca-se articular os direitos contributivos e transfe-rncias de renda no contributivas vinculadas assistncia social sob a gide dos direitos sociais.

    assim, a assistncia social integra o sistema de seguridade social como poltica pblica no contributiva, conforme esquematiza o quadro 1. , portanto, direito do cidado e dever do estado.

    a partir da, a assistncia social experimentou grandes avanos: promulgao da lei orgnica da assistncia Social (loas), em 1993, que a reconheceu como pol-tica pblica de seguridade social, tornando-a respons-vel pela oferta de proteo social no contributiva

    A idade cronolgica no ocasiona o incio da velhice nem de qualquer outro perodo etrio; ela deve servir como parmetro para julgar a maturidade social do indivduo ou como referncia para compreender as mudanas evolutivas.

    Nri, 2007.

    A assistncia social direito do cidado e dever do Estado.

    Sandra Regina Gomes fonoaudiloga, mestranda em Gerontologia, responsvel pela implementao de polticas pblicas para idosos na cidade de So Paulo. Assessora Tcnica da Secretaria de Relaes Institucionais do Governo do Estado de So Paulo, ex-coordenadora da Rede de Proteo Social para Idosos da Secretaria de Assistncia e Desenvolvimento Social da Prefeitura de So Paulo, docente de Universidades da Terceira Idade e fundadora da Associao de Afsicos, Prximos e Familiares da Baixada Santista.Implantou o Centro de Referncia da Cidadania do Idoso (CRECI@), Abrigos para Idosos em Situao de Rua: Boracea e Casa de Simeo, o Servio de Apoio-socioalimentar para Idosos e Ncleos de Convivncia para Idosos.Desenvolve pesquisas na rea de Gerontologia, elabora programas de capacitao para profissionais, cria ofertas de incluso social para idosos, estabelece parcerias com universidades e empresas, com vistas na qualidade de vida e garantia de diretos da populao idosa.

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    Poltica Pblica de assistncia social Para idosos

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    O Sistema nico de Assistncia Social

    o Suas define os elementos essenciais para desenvolver aes da poltica de assistncia social, possibilitando a normatizao dos padres dos servios, e os organiza com base em seus eixos estruturantes, descritos a seguir.

    Matricialidade familiar

    os servios da poltica de assistncia social so balizados na cen-tralidade da famlia e nos territrios.1 a famlia percebida como sujeito estratgico no amparo social de seus membros e tambm como alvo prioritrio de proteo. a matricialidade sociofamiliar considera a famlia o ncleo social bsico de acolhida, conv-vio, autonomia, sustentabilidade e protagonismo social.

    populao socialmente mais vulnervel; gesto compartilhada pela implantao dos conselhos e criao dos fundos de assistncia social nas trs esferas de governo; elaborao dos Planos municipais de assistncia Social (PmaS); criao de instncias de pactuao e rea-lizao de conferncias nos trs nveis governamentais, as quais con-cretizaram grandes fruns de discusso, participao e consensos na evoluo dessa poltica.

    outro marco importante foi a aprovao da Poltica Nacional de assistncia Social (PNaS), em 15 de outubro de 2004, com sua posterior regulao, em 2005, pelo Sistema nico de assistncia Social (Suas), que estabelece um pacto federativo para a operaciona-lizao da PNaS.

    Quadro 1: Constituio de 1988A assistncia social poltica de seguridade social

    (sade, previdncia e assistncia social).

    POltiCA PbliCA de PrOteO SOCiAl

    A assistncia social torna-se poltica pblica e direito de cidadania, deixando de ser ajuda ou favor ocasional e

    emergencial. Portanto, exigvel e reclamvel.

    a atual concepo da assistncia social como poltica pblica de di-reitos voltada preveno, proteo, insero e promoo social, desenvolvida em conjunto com outras polticas pblicas, reverte o paradigma de carter clientelista, imediatista e assistencialista que sempre marcou essa rea.

    a assistncia social visa a garantir proteo social a todos os que dela necessitam, independentemente de qualquer contribuio prvia. isso significa que qualquer cidado brasileiro tem direito aos benefcios, servios, programas e projetos socioassistenciais sem o carter contri-butivo, o que permite eliminar ou reduzir os nveis de vulnerabilida-de e/ou fragilidade social.

    1. Os servios so ati-vidades continuadas que visam melhoria das condies de vida da populao.

    Aula de bordado portugus no Centro Turstico, Esportivo e Cultural do Morro do So Bento, Santos (SP).

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    descentralizao poltico-administrativa e territorializao

    Na Poltica Nacional de assistncia Social ocorre uma diviso de tarefas e responsabilidades, sem, no entanto, reduzir a importncia das instncias nacional, estadual e/ou municipal. a descentralizao busca aproximar as respostas da unio (por meio de polticas sociais) da realidade local, compreendendo as diferenas e especificidades- -alvo da poltica de assistncia social. o municpio, portanto, tem papel de destaque em sua operacionalizao.

    esfera nacional cabem a coordenao e a normatizao da poltica de assistncia social, por meio das diretrizes apontadas na PNaS e em legislao prpria, e aos estados e municpios, a coordenao e a execuo de programas em consonncia com as linhas gerais da PNaS, sempre respeitando as especificidades locais.

    o princpio da territorializao o reconhecimento da presena de mltiplos fatores sociais e econmicos nos territrios que levam o indivduo e a famlia a uma situa-o de vulnerabilidade, risco pessoal e social (NoB- Suas, 2005).

    a leitura adequada das situaes de maior incidncia de vulnerabilidades e riscos no territrio nortear o conhe-cimento sobre o modo de ser, pensar e viver dessa popu-lao, com isso subsidiando o planejamento de uma pol-tica de atendimento voltada a suas reais necessidades.

    Novas bases de relao entre o estado e a sociedade

    articulao, parceria e complementaridade para evitar aes isoladas e fragmentadas entre o estado e a sociedade, representadas pelas or-ganizaes de assistncia social, exigem uma relao democrtica, horizontal, participativa e proativa o trabalho em redes. Quando

    coordenadas pelo estado, so essenciais para estruturar propostas mais abrangentes para obter resultados mais efetivos na qualidade de vida dos cidados (Carvalho, 2006).

    Financiamento

    o financiamento da assistncia social toma corpo com a instituio dos fundos de assistncia social. a rede socioassistencial financiada mediante o repasse de recursos fundo a fundo (nacional-municipal ou estadual-municipal), de acordo com critrios de partilha e elegi-bilidade de municpios. H, tambm, formas de transferncia de renda direta ao beneficirio, como o programa federal Benefcio de Prestao Continuada (BPC). o modelo de financiamento de

    Os servios da poltica de assistncia social so balizados na centralidade da famlia e nos territrios.

    Caminhada no Centro de Esporte, Cultura e Lazer, Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (Pefi).

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    responsabilidade da unio, do estado e do municpio, primando pelo cofinanciamento construdo por meio de pacto federativo.

    benefcio de Prestao Continuada (bPC)

    um direito constitucional regulamentado pela LoaS no valor de um salrio mnimo para idosos com 65 anos ou mais e pessoas com deficincia que comprovem renda familiar inferior a um quarto do salrio mnimo, ou seja, sem condies de prover sua subsistncia. No se trata de uma aposentadoria ou penso, mas de um benefcio assistencial, cujo beneficirio no precisa ter contribudo anteriormente para a Previdncia Social. Em mais de 70% dos casos direcionados ao sustento da famlia, representa, para a populao idosa, o principal programa de prestao social operado por meio de transferncia de renda.

    os fundos de assistncia social esto alocados nos rgos gestores responsveis pela poltica de assistncia social, e o repasse de recursos feito somente quando da instituio e funcionamento dos respec-tivos conselhos e planos de assistncia social.

    O controle social e o desafio da participao popular

    a participao da sociedade na formulao e no controle da polti-ca de assistncia social figura como prioritria em sua implementa-o da perspectiva do Suas. a existncia de mecanismos pblicos de negociao e de consolidao de uma esfera pblica no estatal, no mbito da assistncia social, como conselhos, conferncias e fruns, possibilita processos ampliados de deciso e o reconheci-mento de interesses coletivos na formulao da poltica e no acom-panhamento de sua execuo (Suas, Plano Decenal, jul. 2006).

    um dos grandes desafios da construo dessa poltica a criao de mecanismos que garantam a participao dos usurios nos con-selhos e fruns como sujeitos e no mais como sub-representados ( NoB- Suas, 2005).

    A poltica de recursos humanos

    a instituio de uma poltica de assistncia social como poltica p-blica de direitos exige dos profissionais profundo conhecimento da legislao e deve oferecer-lhes programas de requalificao e educao, incluindo gestores e conselheiros, de forma sistemtica e continuada, para maior capacidade de gesto e controle da sociedade sobre as aes do estado.

    a PNaS garante pessoa idosa e a sua famlia o acesso a programas, servios, projetos e benefcios que contribuam para a efetivao de seus direitos. estes so organizados pelo Suas, que estabelece um conjunto de regras denominadas Norma operacional Bsica do Sistema nico de assistncia Social (NoB-Suas) e Norma operacional Bsica de recursos Humanos (NoB-rH), disciplinando o funcionamento do novo modelo de gesto, conforme esquematiza o quadro 2.

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    Aula de tai chi chuan, projeto da onG Melhor Idade, Ginsio do Ibirapuera, So Paulo.

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    Quadro 2: Marcos legais Constituio Federal de 1988

    Lei Orgnica da Assistncia Social (loas), 1993

    Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS), 1998

    Norma Operacional Bsica (NOB), 1997-1998

    Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS), 2004

    Norma Operacional Bsica do Sistema nico de Assistncia Social (NOB-suas), 2005

    Norma Operacional Bsica de Recursos Humanos (NOB-RH), 2006

    o Suas, ao prever uma gesto descentralizada e participa-tiva da assistncia social, considera para a efetivao de suas aes as desigualdades socioterritoriais. Diante desse novo paradigma, as aes de assistncia social dividem-se em duas categorias de ateno, de acordo com a natureza ou o tipo e complexidade do atendimento: proteo social bsica e proteo social especial.

    Cada uma das protees conta com equipamentos que ca-racterizam o direito assistencial, espaos fsicos pblicos onde so desenvolvidas atividades de proteo famlia e ao indivduo. o equipamento da proteo social bsica o Centro de referncia de assistncia Social (Cras) e o da especial, o Centro de referncia especializado de assistn-cia Social (Creas).

    Proteo social bsica

    Tem como objetivos: prevenir situaes de risco social; estimular o desenvolvimento de vnculos familiares e comunitrios; promover o autoconhecimento quanto condio de vida e relao com fa-

    miliares e vizinhos, assim como a compreenso dos direitos sociais. Configura-se como um conjunto de servios, programas, projetos e benefcios de assistncia social estruturados para atender pessoas em situao de vulnerabilidade e risco social decorrente de pobreza, apar-tao da sociedade, ausncia de renda, fragilidade dos vnculos fami-liares e/ou comunitrios, discriminao, entre outros. isto , a pro-teo social bsica tem como foco principal a preveno ao isolamento e ao abrigamento.

    as aes e os benefcios desse tipo de proteo destinados s pes soas idosas e seus familiares so: Centro de Convivncia para idosos, Benefcio de Prestao Continuada (BPC), programa Bolsa Fam-lia, aes socioeducativas promovidas pelo Programa de ateno integral Famlia (Paif ) e apoio e orientao a grupos de cuida-dores de idosos.

    Aula de ginstica no Pefi.

    As aes de assistncia social dividem-se em duas categorias de ateno: proteo social bsica e proteo social especial. W

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    os servios devem ser estruturados de modo a promover encontros e reunies que estimulem a reflexo e discusso de interesse comum, principalmente no caso dos idosos, para que se possa fortalecer a malha social, rompendo com discriminaes e desrespeito e estimu-lando, assim, o protagonismo social do idoso.

    essa participao previne riscos sociais relacionados ao ciclo de vida, como o isolamento e o asilamento, que muitas vezes levam a pessoa idosa a quadros depressivos, demncia e mesmo morte.

    Para os idosos com algum grau de dependncia, a PNaS promove aes de ateno individualizada e personalizada em domiclio, de carter preventivo e de garantia de direitos. o atendimento carac-teriza-se pelo apoio ao idoso e a sua famlia, identificado pelas equi-pes do Cras, que em uma ao integrada com outras polticas pblicas atendem a pessoa idosa, na perspectiva da permanncia no domiclio.

    Proteo social especial

    um conjunto de servios, programas e projetos que tem por obje-tivo prestar atendimento especializado a famlias e indivduos em

    situao de risco pessoal e social e violao de direitos, visando ao fortalecimento de suas potencialidades e a sua proteo. No caso da pessoa idosa, tal situao pode ter sido causada por abandono, violncia fsica ou psicol-gica, abuso se xual ou negligncia.

    o foco da proteo social especial est na defesa da dignidade e dos direitos do idoso, monitorando a ocor-rncia dos riscos e de seu agravamento e oferecendo ser-vios de acolhimento.

    os encaminhamentos so feitos pelo Cras, Creas, Poder Judicirio e ministrio Pblico, entre outros rgos.

    o Suas reorganiza os servios dessa proteo conforme sua comple-xidade (mdia ou alta):

    Servios de proteo social especial de mdia complexidade atendem as famlias, seus membros e indivduos com direitos vio-lados, mas cujos vnculos familiares e comunitrios no foram rompidos. requerem estrutura que permita ateno especializada e/ou acompanhamento sistemtico e monitorado.Servios de proteo social especial de alta complexidade Garantem proteo integral: moradia, alimentao, higienizao e trabalho protegido. Dirigem-se s famlias, seus membros e indiv-duos que se encontram sem referncia e/ou ameaados e necessitam ser retirados de seu ncleo familiar e comunitrio.

    Centro de Referncia do Idoso Jos Ermrio de Moraes (crijem).

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    Todos os servios de proteo social especial, independentemente do tipo, devem pautar-se, de forma geral, pelo disposto no estatu-to do idoso e pelas normativas legais especficas de proteo aos direitos da pessoa idosa.

    A importncia da famlia

    o reconhecimento da importncia da famlia na vida social da pessoa idosa, merecedora da proteo do estado, est explcito no artigo 16 da Declarao dos Direitos Humanos, que traduz a famlia como o ncleo natural e fundamental da sociedade, e endossado no esta-tuto do idoso, que declara, em seu artigo 3:

    obrigao da famlia, da comunidade, da sociedade e do Poder P-blico assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivao do direi-to vida, sade, alimentao, educao, cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, cidadania, liberdade, dignidade, ao respeito e convivncia familiar e comunitria.

    a assistncia social com interveno na famlia deve pre-venir a ruptura dos vnculos, promovendo o fortalecimen-to das relaes afetivas, de forma que o idoso permanea em seu ncleo familiar, com papel participativo e senso de pertencimento. Portanto, pode-se concluir que, para a famlia prevenir, proteger, promover e incluir seus mem-bros, preciso garantir condies de sustentabilidade. Nesse sentido, a PNaS tem como foco atender s neces-sidades da famlia, de seus membros e dos indivduos, conforme os diferentes arranjos familiares.

    a famlia cada vez mais apontada como suporte da rede social da pessoa idosa, sendo convidada a assumir seu papel de proteo social. a garantia de ofertas de programas e servios para dar apoio e sus-tentabilidade s famlias tem lugar privilegiado nas discusses e for-mulaes de polticas pblicas sociais includas na PNaS.

    Consideraes finaisentende-se por polticas pblicas o conjunto de aes coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais, configurando um com-promisso pblico que visa a dar conta de determinada demanda, em diversas reas (Guareschi, Comunello, Nardini e Hoenisch, 2004, p. 180). Para tanto, torna-se necessria a formao de uma equipe transdisciplinar, pois um projeto de poltica pblica deve, obrigato-riamente, permitir a transversalidade, alm de estabelecer um dilo-go consciencioso entre as partes (Ferreira, 2008). a articulao e a integrao entre todas as polticas pblicas constituem uma ao estratgica para assegurar a complementaridade da rede de atendi-mento s pessoas idosas, para que a populao possa envelhecer com segurana e dignidade.

    esse o compromisso da Poltica Nacional de assistncia Social, que, em consonncia com o estatuto do idoso e com o Plano de ao internacional para o envelhecimento, reconhece a urgncia da con-solidao da rede de proteo e promoo social da pessoa idosa, na direo de uma sociedade para todas as idades.

    A famlia cada vez mais apontada como suporte da rede social da pessoa idosa,sendo convidada a assumir seu papel de proteo social.

  • Polticas pblicas para a pessoa idosa: marcos legais e regulatrios

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    Poltica Pblica de assistncia social Para idosos

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    Referncias bibliogrficas

    Brasil. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil, 1988. Braslia: Senado Federal, 1988.

    . ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome (mDS)/Con-selho Nacional de assistncia Social (CNaS). Resoluo n 145, de 15 de outu-bro de 2004. aprova a Poltica Nacional de assistncia Social. Braslia, 2004.

    . ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome. Ateno pessoa idosa na perspectiva do Sistema nico de Assistncia Social. Braslia, 2008.

    . Guia de polticas e programas do MDS. Braslia, 2008.

    . Norma Operacional Bsica do Sistema nico de Assistncia Social NOB-SuaS. Braslia, 2005.

    Camarano, ana amlia. Envelhecimento da populao brasileira: uma contribui-o demogrfica. rio de Janeiro: ipea, 2002.

    . (org.). Os novos idosos brasileiros: muito alm dos 60?. rio de Janeiro: ipea, 2004.

    Carvalho, maria do Carmo Brant de. assistencia Social: reflexes sobre a po-ltica e sua regulao. Revista Quadrimestral de Servio Social, ano XXVii, n. 87, set. 2006.

    Fonseca, ana; Cohn, amlia. o Bolsa Famlia e a questo social. Teoria e De-bate, So Paulo, ano 17, n. 57, p. 10-15, mar.-abr. 2004.

    Guareschi, Neuza; Comunello, luciele Nardi; Nardini, milena; Hoenisch, Jlio Csar. Problematizando as prticas psicolgicas no modo de entender a violncia. in: Strey, marlene N.; azambuja, mariana P. ruwer; Jaeger, Fernanda Pires (org.). Violncia, gnero e polticas pblicas. Porto alegre: eDiPuCrS, 2004.

    instituto Brasileiro de Geografia e estatstica. Pesquisa Nacional por Amos-tra de Domiclios: volume Brasil 2004. rio de Janeiro: iBGe, 2006.

    . Censo Demogrfico 2000. rio de Janeiro: iBGe, 2003.

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    organizao das Naes unidas. Plano de Ao Internacional sobre o Envelhe-cimento, 2002. Traduo de arlene Santos. Braslia: Secretaria especial dos Direitos Humanos, 2007.

    revista Kairs Gerontologia. Ncleo de estudo e Pesquisa do envelheci-mento. Programa de estudos Ps-Graduados em Gerontologia PuC-SP. So Paulo, ano 1, n. 1, 1998.

    revista Quadrimestral de Servio Social. So Paulo, ano XXiV, n. 75, set. 2003; ano XXVii, n. 87, set. 2006.

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    Sites pesquisados

    www.blogfranciscoefernando.com/referencia_teorico

    www.cndpi.com.br

    www.ibge.gov.br

    www.ipea.com.br

    www.mds.gov.br

    www.portaldoenvelhecimento.net

    www.presidencia.gov.br/sedh/ct/cndi

  • Direitos humanos e legislao especfica

    Maria Elisa Munhol

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    O primeiro marco de conquistas relaciona-das aos direitos dos idosos ocorreu em 10 de dezembro de 1948, quando a assembleia Geral das Naes unidas adotou e proclamou a Declarao universal dos Direitos Humanos. ela afirma que todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos, que no haver distino de raa, sexo, cor, lngua, religio, poltica, riqueza ou de qualquer outra natu-reza, e prescreve, no artigo 25, os chamados direitos dos idosos:

    Toda pessoa tem direito a um padro de vida capaz de assegurar a si e a sua famlia sade e bem-estar, inclusive alimentao, vesturio, habitao, cuidados mdicos e os servios sociais indispensveis, e direito segurana, em caso de desemprego, doena, invalidez, viu-vez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistncia em circunstncias fora de seu controle.

    Maria Elisa Munhol advogada, presidente da Comisso de Defesa dos Direitos do Idoso da Ordem dos Advogados do Brasil Seo de So Paulo.

    Todo o mundo igual. Todo o mundo toda gente.Aqui no: sente-se bem que cada um traz a sua alma.Cada criatura nica.

    manuel Bandeira, a estrada, 1921.

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    Polticas pblicas para a pessoa idosa: marcos legais e regulatrios direitos humanos e leGislao esPecfica

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    No Brasil, a Constituio Federal de 1988, lei fundamental e supre-ma do estado, declara todos os direitos e deveres dos cidados, inde-pendentemente da idade. Vale ressaltar que o legislador constituinte inovou ao estabelecer direitos pessoa idosa, at ento no previstos em outro texto constitucional.

    alguns artigos da Carta magna referentes idade merecem destaque: artigo 3, inciso iV Dispe que objetivo fundamental do esta-do promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao.artigo 7, inciso XXX Probe diferena de salrios, de exerccio de funes e de critrio de admisso por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.artigo 14, pargrafo 1, inciso ii, alnea b Faculta o direito de votar aos maiores de 70 anos.

    artigo 201 Salienta que a previdncia social atender, entre outros eventos, cobertura de doenas, invalidez, morte e idade avanada (inciso i). estabelece, ainda, o tempo de contribuio para homens, mulheres e trabalhadores rurais (pargrafo 7).artigo 203 afirma que a assistncia social ser prestada a quem dela precisar, independentemente de contribuio seguridade social, e relaciona, entre seus objetivos, a proteo famlia, maternidade, infncia, adolescncia e velhice (inciso i). as-segura, tambm, um salrio mnimo de benefcio mensal pessoa portadora de deficincia e ao idoso que comprovem no possuir meios de prover a prpria manuteno, ou de t-la provida por sua famlia, conforme dispuser a lei.artigo 229 Determina que os pais tm o dever de assistir, criar e educar seus filhos menores, e os filhos maiores tm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carncia ou enfermidade.artigo 230 Dispe que a famlia, a sociedade e o estado tm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participao na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantin-do-lhes direito vida. estabelece que os programas de amparo aos idosos sero executados preferencialmente em seus lares (pargra-fo 1) e garante a gratuidade dos transportes coletivos urbanos aos maiores de 65 anos (pargrafo 2).

    aps a promulgao da Constituio de 1988, outras leis surgiram amparando a pessoa idosa, entre elas: Cdigo de Defesa do Consu-midor (1990), estatuto do ministrio Pblico da unio (1993), lei orgnica da assistncia Social loas (1993), Poltica Nacional do idoso (1994), estatuto do idoso (2003) e Poltica Nacional de Sade da Pessoa idosa (2006). No mbito do estado de So Paulo, foi aprovada a Poltica estadual do idoso (2007).

    a seguir so feitas algumas reflexes sobre a Poltica Nacional do ido-so, sobre o estatuto do idoso e sobre a Poltica estadual do idoso.

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    A Poltica Nacional do idoso

    a lei n 8.842, que instituiu a Poltica Nacional do idoso (PNi), foi sancionada em 4 de janeiro de 1994 e regulamentada pelo Decreto n 1.948, de 3 de julho de 1996. ela assegura os direitos sociais e amplo amparo legal ao idoso e estabelece as condies para promover sua integrao, autonomia e participao efetiva na sociedade. ob-jetiva atender s necessidades bsicas da populao idosa no tocante a educao, sade, habitao e urbanismo, esporte, trabalho, assis-tncia social e previdncia, justia.

    a referida lei cumpre sua misso, entre outras estratgias, quando atribui competncias a rgos e entidades pblicos, sempre de forma alinhada a suas respectivas funes. Determina que cada ministrio, de acordo com suas competncias, elabore proposta oramentria

    visando ao financiamento de programas compatveis e integrados (inter e intraministeriais) voltados aos idosos e promova cursos de capacitao, estudos, levantamentos e pesquisas relacionados tem-tica da velhice e envelhecimento, em suas mltiplas dimenses.

    a PNi institui vrias modalidades de atendimento ao idoso, entre elas: Centro de Convivncia; Centro de Cuidados Diurno: Hospital--Dia e Centro-Dia; Casa-lar; oficina abrigada de Trabalho; atendi-mento domiciliar.

    Pontua que a ateno ao idoso deve ser feita por intermdio de sua famlia, em detrimento da internao em instituies de longa per-manncia. assim, o atendimento integral institucional ser prestado ao idoso sem vnculo familiar que no tenha condies de prover a prpria subsistncia no tocante a moradia, alimentao, sade e con-vivncia social. Nessa hiptese, servios nas reas social e da sade so prestados a ele.

    O estatuto do idoso

    o estatuto do idoso (lei n 10.741, de 1 de outubro de 2003) regulamenta os direitos assegurados a todos os cidados a partir dos 60 anos de idade, estabelecen-do tambm deveres e medidas de punio. a forma legal de maior potencial da perspectiva de proteo e regulamentao dos direitos da pessoa idosa.

    No artigo 3, dispe sobre as obrigaes familiares e so-ciais com relao ao idoso. afirma que obrigao da famlia, da comunidade, da sociedade e do estado asse-gurar pessoa idosa a efetivao dos direitos vida, educao, sade, alimentao, educao, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, cidadania, liberdade, dignida-de, ao respeito e convivncia familiar e comunitria.

    O Estatuto do Idosoregulamenta os direitos assegurados a todos os cidados a partir dos 60 anos de idade, estabelecendo tambm deveres e medidas de punio.

    O velho sbio, de Salomon Koninck, 1609-1656 (Coleo Count von Bruhl, Dresden).

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    ressalta, ainda, no artigo 4, que proibido qualquer tipo de discri-minao, violncia, negligncia ou crueldade que atinja ou afronte os direitos do idoso, seja por ao seja por omisso, e, se isso acontecer, h punio prevista em lei.

    os artigos 8 e 9 versam sobre o direito vida. estabelecem a obri-gatoriedade do estado de garantir pessoa idosa a proteo vida e sade, por meio de polticas sociais pblicas que permitam um envelhecimento saudvel e digno.

    No artigo 10 so assegurados ao idoso, como pessoa humana e sujei-to de direitos civis, polticos, individuais e sociais, contidos na Cons-tituio Federal e em leis, a liberdade, o respeito e a dignidade.

    J os artigos 11, 12, 13 e 14 tratam da prestao de alimentos ao idoso, em conformidade com o Cdigo Civil. Salientam que preciso garantir no apenas a alimentao da pessoa idosa, mas tambm sua sobrevivncia. o conceito, portan-to, tem de ser entendido de forma ampla, englo-bando alimentao, medicamentos, vesturio, habitao, lazer, sade, entre outras despesas. assim, a pessoa idosa que precisar de ajuda fi-nanceira e no a obtiver de modo espontneo deve, se necessrio, interpor recurso judicial (ao de alimentos em face de seus familiares, ou seja,

    filhos, irmos e netos maiores). a obrigao alimentar solidria, podendo o idoso optar, entre os prestadores, a quem demandar seu direito. entretanto, se a famlia no possui condies de lhe prestar alimentos, impe-se ao poder pblico esse provimento, competin-do tal responsabilidade assistncia social, conforme dispe a lei n 8.742, de 7 de dezembro de 1993 (loas).

    o estatuto tambm ampara o direito de ateno integral sade do idoso, por intermdio do Sistema nico de Sade (SuS). Garante o

    acesso universal e igualitrio para preveno, promoo e proteo, bem como recuperao da sade, estabelecendo o atendimento pre-ferencial pessoa idosa. Determina que a preveno e a manuteno da sade do idoso sero efetivadas por meio de: cadastramento dos idosos; atendimento com geriatras e gerontlogos em ambulatrios ou unidades geritricas; atendimento domiciliar; internao para aquele que dela necessite; tratamentos de recuperao de leses ou sequelas decorrentes de agravo da sade. importante salientar, ain-da, que cabe ao poder pblico fornecer gratuitamente pessoa idosa: medicamentos, inclusive aqueles de uso continuado, prteses, rteses, reabilitao ou habilitao. o idoso tem tambm o direito, em caso de internao ou observao, a acompanhante, cabendo ao mdico responsvel pelo tratamento autorizar esse acompanhante ou, no caso de impossibilidade, justific-la. Por fim, o artigo 15, pargrafo 3,

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    probe qualquer tipo de discriminao, com cobrana de valores diferenciados por idade, nos planos de sade. mes-mo aqueles que possuem contratos anteriores ao estatuto do idoso, nos quais se estabelecia contratualmente aumen-to pela faixa etria, esto protegidos. Portanto, proibido o aumento pelo fator idade.

    o direito a educao, cultura, esporte, lazer e diverso, visando participao e insero da pessoa idosa, descrito nos artigos 20 a 25. J os artigos 26 a 28 tratam do trabalho e da profissionalizao, estabelecendo que o idoso deve e pode ser admitido em qualquer emprego e tipo de trabalho. No caso de concursos pblicos, proi-bida a discriminao por idade, salvo quando houver ressalva em razo da natureza do cargo.

    os artigos 29 a 32 versam sobre a previdncia social, que um segu-ro que se paga para quando a pessoa se aposentar ou no lhe for mais possvel trabalhar. estabelecem condies para a concesso de bene-fcios de aposentadoria e penso, como idade diferente para homens e mulheres e tempo da contribuio.

    a assistncia social est prevista nos artigos 33 a 36. assegura-se aos idosos a partir dos 65 anos que no tenham condies de manter sua subsistncia, nem de t-la provida por sua famlia, o benefcio men-sal de um salrio mnimo, nos termos da loas.

    o estatuto tambm garante ao idoso o direito moradia digna, no mbito de sua famlia, ou desacompanhado desta, quando ele assim desejar, ou em instituio pblica ou privada. estabelece regras de funcionamento e outros direitos no tocante a habitao nos artigos 37 e 38. Descreve que programas habitacionais pblicos ou subsidia-dos com recursos pblicos devero conceder-lhe prioridade na aqui-sio de imvel para moradia, observando a acessibilidade ao idoso, com reserva de 3% das unidades e critrios de financiamento de acordo com os rendimentos de aposentadoria ou penso.

    No que se refere a transporte (artigos 39 a 42), asseguram-se aos maiores de 65 anos a gratuidade dos transportes coletivos pblicos urbanos e semiurbanos (para tanto, basta a apresentao de qualquer documento que prove sua idade) e a reserva de 10% dos assentos em veculos de transporte coletivo. No transporte interestadual, o esta-tuto estabelece que sejam reservadas, por nibus, duas vagas gratuitas para idosos com renda igual ou inferior a dois salrios mnimos e desconto de 50%, no mnimo, no valor das passagens para aqueles que excederem as vagas gratuitas, com renda inferior ou igual a dois salrios mnimos. a pessoa idosa tambm tem garantidos o direito de vagas preferenciais nos estacionamentos pblicos e particulares, nos termos da legislao local, e a prioridade no embarque e desem-barque no sistema de transporte coletivo.

    O Estatuto do Idoso trata das medidas de proteo pessoa idosa.

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    Aula de bijuterias na sede do Movimento Pr-Idosos (moPi).

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    Conforme dispem os artigos 69 a 71, na Justia, em todos os pro-cessos, procedimentos, execuo de atos, diligncias em que figure como parte ou venha a intervir, em qualquer instncia do Poder Ju-dicirio, uma pessoa com 60 anos ou mais, esta ter prioridade, des-de que solicite, por meio de documento que comprove sua idade, o benefcio autoridade judiciria, que colocar tarja de preferncia nos autos do processo. a prioridade no cessa com o falecimento, estendendo-se ao cnjuge ou companheiro com unio estvel, maior de 60 anos. essa agilidade processual estendida a toda a adminis-trao pblica (municipal, estadual e federal).

    o estatuto do idoso trata das medidas de proteo pessoa idosa, com o objetivo de punir todo aquele que violar ou ameaar seus di-reitos por ao ou omisso, no importando por quem seja praticada (estado, famlia ou sociedade). essas medidas podem ser aplicadas de

    forma isolada ou cumulativa, visando sempre proteo ao idoso. No sendo cumpridas, o Poder Judicirio, o ministrio Pblico, a Defensoria Pblica e a ordem dos advogados do Brasil (oaB), assim que tiverem conhe-cimento da leso ao direito, tomaro as medidas legais necessrias, de modo a salvaguardar a integridade fsica, psquica e moral da pessoa idosa. o prprio estatuto estabelece, nos artigos 96 a 106, as penas para cada tipo de leso, seja ela de cunho sexual, financeiro, psicolgico, medicamentoso, de as-sistncia mdica ou alimentar, de ameaa, de crcere privado, de aban-dono, de morte, de espancamento, de coao, de abandono, entre outros. No caso de agresso, deve-se fazer um Boletim de ocorrncia e recorrer ao Poder Judicirio, ao ministrio Pblico, Defensoria Pblica, oaB, ao Conselho do idoso (estadual ou municipal), para que sejam tomadas as medidas legais necessrias.

    Por fim, resta salientar que o estatuto do idoso eficaz ao firmar direitos e deveres e estabelecer sanes a quem viol-los, devendo ser exercido e cobrado em face de quem tem o dever de fazer, contra aquele que o viola. Figura como um avano na defesa dos direitos do pblico ao qual se destina.

    A Poltica estadual do idoso

    o estado de So Paulo, de forma diferenciada, inovou e unificou todas as leis existentes e consolidou em apenas uma, lei n 12.548/2007, a Poltica estadual do idoso ( www.legislacao.sp.gov.br). Tal lei con-solida em um nico texto leis estaduais promulgadas entre junho de 1982 e fevereiro de 2006 e contm 68 artigos. Nela so assegurados os direitos cidadania, vida, dignidade, ao bem-estar e partici-pao na sociedade. Portanto, necessrio que os idosos a conheam e faam uso dela, aplicando-a em suas necessidades.

    O Estatuto do Idoso eficaz ao firmar direitos e deveres e estabelecer sanes a quem viol-los.

    Aula de ginstica no Pefi.

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    Comisso de defesa dos direitos do idoso da Ordem dos Advogados do brasil Seo de So Paulo (OAb-SP)

    Desde maro de 2007, a Comisso de Defesa dos Direitos do idoso adotou uma nova dinmica, buscando a transparncia do trabalho realizado e possibilitando a constante participao da sociedade em suas decises. Foram criadas estratgias que permitem conhecer o processo do envelhecimento, denunciar maus-tratos e cobrar o devi-do respeito pessoa idosa. o envelhecimento passou a ser divulgado de forma ampla, com parcerias com todos os segmentos da sociedade civil e do governo, objetivando atingir os 4,5 milhes de idosos exis-tentes no estado de So Paulo.

    No site da Comisso1 h uma srie de itens denncias, estats-ticas, relatrios, cartilhas, telefones teis, pareceres, o estatuto do idoso e outras leis atualizadas, relatrios de atividades, entre outros , os quais podem ser consultados por qualquer pessoa. Para divulgar essa nova fase, em todas as oportunidades (entre-

    vistas, palestras etc.) tem sido informado o e-mail da Comisso ([email protected]), o que tem levado ao aumento do

    nmero de acessos, consultas, denncias, solicitaes de informaes, enfim, maior participao da sociedade em seu trabalho.

    Paralelamente, realizou-se em 2007 o i encontro da Comisso de Defesa dos Direitos do idoso da oaB-SP com as entidades afins dos idosos, durante o qual houve discusses e foram tomadas e apro-vadas providncias. em continuidade aos trabalhos, lanaram-se duas campanhas institucionais: Todos ns envelhecemos. o respeito no!, em 2007, e Combate violncia contra a pessoa idosa, em 2008.

    Diante da nova dinmica de atuao, expediram-se vrios ofcios ao Poder Judicirio estadual e federal, cobrando direitos de atendimen-to preferencial e de colocao de tarjas nos processos, contidos na Constituio Federal e no estatuto do idoso, cujo pleito foi atendido. Houve, tambm, ampla divulgao sobre as medidas a serem tomadas no tocante aos convnios mdicos, que violam de forma flagrante o disposto no estatuto do idoso, na Constituio Federal e no Cdigo de Defesa do Consumidor. a Comisso recebeu, ainda, denncias contra asilos e, depois das visitas (devidamente relatadas e fotogra-fadas), tomou as providncias necessrias em relao s irregularidades, expedindo ofcios Vigilncia Sanitria, ao ministrio Pblico, ao Conselho regional de enfermagem do estado de So Paulo ( Coren-SP) e ao Conselho regional de medicina do estado de So Paulo (Cremesp).

    existe, tambm, uma parceria firmada com o Conselho regional de Psicologia de So Paulo (CrP-SP), de grande valia.

    Por fim, entre as atividades executadas pela Comisso de Defesa dos Direitos do idoso da oaB-SP de 8 de maro de 2007 a 31 de dezem-bro de 2008, destacam-se:

    expedio de 445 ofcios.instaurao de 268 procedimentos. Depois de eles serem autuados e relatados, tomam-se as medidas necessrias e envia-se uma respos-ta ao requerente (idoso que relata Comisso o que est acontecen-

    1. Na pgina principal do site da OAB-SP (www.oabsp.org.br), acessar Comisses e, em seguida, Defesa dos Direitos do Idoso.

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    do ou a informao de que necessita) do que foi feito. ao receber a resposta, o idoso fica sabendo que foi atendido, o que, por si s, j um grande diferencial.realizao de 67 palestras no estado de So Paulo.Participao da oaB-SP, por meio da Comisso de Defesa dos Direitos do idoso, de conferncias municipais, regionais e estaduais, conseguindo assento como delegada. Com isso, a oaB-SP foi a nica seccional a ter uma representante eleita pelo segmento da sociedade paulista como delegada na ii Conferncia Nacional dos Direitos do idoso; teve tambm assento como suplente no Conse-lho Nacional dos Direitos do idoso (CNDi).integrante do Grupo Gestor do Plano estadual para a Pessoa idosa Futuridade, do Governo do estado de So Paulo, coordenado pela Secretaria de assistncia e Desenvolvimento Social (Seads).

    Referncias bibliogrficas

    Constituio Federal de 1988.

    estatuto do idoso.

    Poltica estadual do idoso de So Paulo.

    Poltica Nacional do idoso.

    www.oabsp.org.br.

  • Maus-tratos e violncia

    contra idososEduardo Dias

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    M aus-tratos e violncia contra idosos tema que passa a preocupar a sociedade no momento em que comeam a ser definidos o pr-prio conceito de idoso, as diver-sas formas de envelhecer e sua consequente diversidade social. a idade mdia da populao aumentou com o decorrer dos anos e, portanto, a populao idosa cresceu. alm disso, o con-ceito legal de idoso tambm evoluiu, e at hoje h diferentes idades em que a pessoa consi-derada idosa.

    O que mata um jardim no mesmo alguma ausncianem o abandono...O que mata um jardim esse olhar vaziode quem por eles passa indiferente.

    mario Quintana, Jardim interior.

    Old man in sorrow (no limiar da eternidade), 1890, de Vincent Van Gogh (Krller-Mller Museum em Otterlo, Pases Baixos).

    Eduardo Dias de Souza Ferreira graduado em Direito pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (1987), especialista em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Faculdade de Direito-USP (1989), mestrado (2001) e doutor (2006) em Direitos Sociais pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Tem experincia na rea de Direito, com nfase em direitos humanos, difusos e coletivos, em especial da infncia e juventude, idoso e pessoa com deficincia, conselhos e ONGs.

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    Polticas pblicas para a pessoa idosa: marcos legais e regulatrios maus-tratos e violncia contra idosos

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    A partir dos 60 anos

    A lei considera idosa a pessoa maior de 60 anos.

    Ela tem direito a ser atendida com prioridade em reparties, empresas e concessionrias de servios pblicos e em bancos.

    S possvel casar com separao de bens.

    A mulher pode se aposentar pelo INSS (desde que tenha contribudo durante 30 anos).

    A Justia tem de dar prioridade ao andamento das aes em que seja parte a pessoa com mais de 60 anos.

    Com mais de 65 anos

    A pessoa pode usar gratuitamente o transporte coletivo urbano.

    O idoso carente tem direito a penso de um salrio mnimo.

    O homem pode se aposentar pelo INSS (desde que tenha contribudo durante 35 anos).

    possvel viajar nos nibus interestaduais de graa, se houver vaga (as empresas devem oferecer duas passagens gratuitamente para idosos em cada viagem), ou com 50% de desconto (se as duas vagas gratuitas j tiverem sido ocupadas por outros idosos).

    Depois dos 70, o voto no mais obrigatrio.

    Fonte: Senado Federal. Caderno Cidadania de 2008.

    Para qualquer um desses casos, o que se procura estabelecer um sistema de denncia em que a populao tenha conscincia de situa-es que caracterizam maus-tratos e violncia e de que ela pode con-tar com servios de apoio e acompanhamento.

    em pesquisa feita em jornais de So Paulo entre 2004 e 2005, foram selecionados 1.980 recortes sobre a cidade, dos quais a categoria violncia ficou em terceiro lugar, com 140 recortes (Corte, merca-dante e Gomes, 2006).

    Os crimes previstos no estatuto do idoso

    Duas antigas regras fornecem os contornos da atuao criminal e apontam para um estado democrtico de direito. a primeira a da reserva legal: no h crime sem prvia lei que o defina, ou seja,

    Para esta discusso, considera-se idosa a pessoa com mais de 60 anos, conforme definido no estatuto de idoso (ei, lei n 10.741, de 1 de outubro de 2003), que tambm fixou vrias condutas consideradas crimes contra a pessoa idosa (arts. 94-113).

    os maus-tratos ocorrem com muita frequncia no mbito familiar (Penna, 2002; ipea, TD 1220). entretanto, dependendo de onde a pesquisa feita, isto , de quais sejam as portas de entrada, h variaes entre as formas mais comuns de maus-tratos contra idosos: em rgos policiais ou de sade, aparece a agresso fsica (Penna, 2002); em servios de Disque Denncia, figura o abandono (ipea, TD 1200).

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    ningum pode ser processado por um fato que foi considerado crime apenas depois de sua ocorrncia. a segunda a de que no h pena sem prvio processo em que seja garantida a ampla defesa.

    o estatuto do idoso definiu situaes que nos debates eram consi-deradas atos de violncia e de maus-tratos contra idosos, mas que ainda no estavam estabelecidas como crimes da um dos pontos importantes do estatuto. Tambm determinou que para esses crimes o ministrio Pblico atuar dando incio ao penal, na forma de ao penal pblica incondicionada (ei, art. 95).

    o primeiro crime descrito na lei o de discriminar a pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operaes bancrias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessrio ao exerccio da cidadania, por mo-

    tivo de idade, fixando pena de priso (recluso) de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. Nesse crime tambm se enquadram aqueles que pratiquem atos e aes para des-denhar, humilhar, menosprezar ou discriminar a pessoa idosa, por qualquer motivo. a pena aumentada de um tero se a vtima se encontrar sob os cuidados ou respon-sabilidade do agente (ei, art. 96).

    Deixar de prestar assistncia ao idoso, quando for pos-svel faz-lo sem risco pessoal, em situao de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistncia sade, sem justa causa, ou no pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pblica outro crime. Para essa ao de negligncia e abandono, a pena de priso, mas na forma de deteno1 de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa, podendo ser aumentada de metade se da omisso resultar leso corporal de natureza grave2 e triplicada se ocasionar a morte (ei, art. 97).

    Abandonar o idoso em hospitais, casas de sade, entidades de longa permanncia ou congneres ou no prover suas necessidades bsicas, quando obrigado por lei ou man-dado, tambm crime, e a punio pode ser de 6 (seis) meses a 3 (trs) anos de deteno, alm de multa (ei, art. 98).

    Expor a perigo a integridade e a sade, fsica ou psqui-ca, do idoso, submetendo-o a condies desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados in-dispensveis, quando obrigado a faz-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado, crime, com pena de deteno de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa. Contudo, caso essa exposio ocasione leso corporal de natureza grave, a punio passa a ser de recluso de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e, se resultar na morte do idoso, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos (ei, art. 99).

    igualmente crime, punvel com recluso de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa, obstar o acesso de algum a qualquer cargo pblico ou negar-lhe emprego ou trabalho por motivo de idade; recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar assistncia sade, sem justa causa, pessoa idosa; deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execuo de ordem judicial expedida na ao civil a que alude a lei; recusar, retardar ou omitir dados tcnicos in-dispensveis propositura da ao civil objeto da lei, quando requi-sitados pelo ministrio Pblico (ei, art. 100).

    Na rea do Direito do trabalho tambm se enfrentam o preconceito e a discriminao por idade. a primeira deciso do Tribunal Superior do Trabalho de que se tem notcia sobre esse tema de setembro de

    O primeiro crime descrito na lei o de discriminar a pessoa idosa.

    1. A diferena entre deteno e recluso est no artigo 13 do Cdigo Penal: a pena de reclu-so deve ser cumprida em re-gime fechado, semiaberto ou aberto; a de deteno, em re-gime semiaberto ou aberto, salvo necessidade de transfe-rncia a regime fechado.

    2. Segundo o artigo 129, 1 e 2, do Cdigo Penal, leso corporal de natureza grave a que resulta em: incapacida-de para as ocupaes habi-tuais, por mais de 30 dias; perigo de vida; debilidade permanente de membro, sen-tido ou funo; acelerao de parto; incapacidade perma-nente para o trabalho; enfer-midade incurvel; perda ou inutilizao de membro, sen-tido ou funo; deformidade permanente; aborto.

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    2003, na qual se reconheceu como ilegal e ofensiva ao princpio constitucional da igualdade a demisso de um funcionrio de deter-minada empresa pelo simples fato de ele ter completado 60 anos. Nesse caso, como o tribunal constatou tambm que se tratava de uma prtica habitual da empresa, determinou que fossem remetidas cpias das principais peas para o ministrio Pblico do Trabalho para ado-o das medidas cabveis (Furtado, 2004).

    outro crime, punvel com deteno de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa, deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execuo de ordem judicial expedida nas aes em que for parte ou interveniente o idoso (ei, art. 101).

    Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, penso ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-lhes aplicao diversa da de sua finalidade, delito punvel com recluso de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa (ei, art. 102).

    Negar o acolhimento ou a permanncia do idoso, como abrigado, por recusa deste em outorgar procurao entidade de atendimento crime, cuja penalidade pre-vista a deteno de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa (ei, art. 103). o idoso no pode ser obrigado, de forma alguma, a assinar procurao para entidade ou pessoa por ela indicada para praticar atos em seu nome. H casos, porm, em que o dirigente da entida-de pode ser nomeado curador da pessoa idosa, mas tal nomeao feita judicialmente e o curador atua sob a fiscalizao do juzo, perante o qual deve prestar contas da gesto do patrimnio de seu curatelado.

    Subtrair bens do idoso por meio de procurao ou contratos fraudu-lentos, abusando de sua condio de fragilidade afetiva e social ou de sua falta de capacidade mental, prtica comum e antiga. Por isso, o legislador inseriu figuras penais tanto para aquele que auxilie, induza ou exera coao como para o agente que realize quaisquer desses atos em cartrio:

    induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar pro-curao para fins de administrao de bens ou deles dispor livremen-te pena de recluso de 2 (dois) a 4 (quatro) anos (ei, art. 106).Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou ou-torgar procurao pena de recluso de 2 (dois) a 5 (cinco) anos (ei, art. 107). lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento de seus atos, sem a devida representao legal pena de recluso de 2 (dois) a 4 (quatro) anos (ei, art. 108).

    atualmente, na era da informtica e do dinheiro de plstico (cartes), o legislador preocupou-se, tambm, com a prtica criminosa de reter o carto magntico de conta bancria relativa a benefcios, proventos ou penso do idoso, bem como qualquer outro documento, com o

    O idoso no pode ser obrigado,de forma alguma,a assinar procurao para entidade ou pessoa por ela indicada para praticar atos em seu nome.

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    Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicao, informaes ou imagens depreciativas ou injuriosas pessoa do idoso outro crime.

    objetivo de assegurar recebimento ou ressarcimento de dvida. esse crime passvel de deteno de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa (ei, art. 104).

    Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicao, informaes ou imagens depreciativas ou injuriosas pessoa do idoso outro crime que, pela amplitude, tambm pode implicar a punio daqueles que se utilizam da rede mundial de computadores (internet e e-mails). a pena de deteno de 1 (um) a 3 (trs) anos e multa (ei, art. 105).

    o estatuto tambm conferiu ao ministrio Pblico atribuies rele-vantes para a proteo do idoso, como um dos articuladores e agen-tes da rede de proteo aos direitos humanos. Por isso, no deixou de fora do rol de delitos o crime de impedir ou embaraar ato do repre-sentante do ministrio Pblico ou de qualquer outro agente fiscali-zador (ei, art. 109).

    enfim, esses so os tpicos principais sobre maus-tratos e violncia contra idosos.

    lembramos que as pessoas podem procurar alguns lugares para denunciar os casos de maus-tratos. elas deveriam, alm de dirigir-se delegacia de polcia mais prxima, acionar os demais servios, como ministrio Pblico, con-selhos, ouvidorias e corregedorias (cartrios) e Disque Denncia. esses atores, fixados no estatuto do idoso, so importantes para o encaminhamento de maus-tratos e violncia contra pessoas idosas, porm no podemos dei-xar de lado um servio que existe (e funciona) h muito tempo: a emergncia 190, uma grande porta de entrada.

    Sugestes de atividades

    1. Para nortear reflexes e debates.

    em minha cidade, como proceder quando vejo uma situao de maus-tratos ou violncia contra idosos?

    Para onde devo me encaminhar para fazer cessar a violao imedia-tamente? Como?alm do processo de responsabilizao do agressor, h servio de acompanhamento do caso, como:

    apoio sociofamiliar? Servio de suporte e apoio ao cuidador? abrigo ou entidade para acolher pessoas que necessitem de abri- gamento emergencial e por pouco tempo? e abrigamento prolon-gado (instituio de longa Permanncia para idosos ilPi)?

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    2. Filmes que podem estimular a reflexo em grupos.

    Elsa & Fred. Direo: marcos Carnevale. espanha/argentina, 2005. 108 min. Comdia/drama.

    Fred comea a dilapidar seu patrimnio quando co-nhece elsa, uma aproveitadora (com a mesma faixa etria) que lhe vira a cabea. Ser que em nossa rea-lidade ele no seria interditado pela filha e genro por adotar tal comportamento? Como deixar de socorrer a filha para custear o sonho daquela mulher?

    Parente serpente. Direo: mario monicelli. itlia, 1992. 100 min. Comdia.

    Durante a festa de Natal da famlia Colapietro, a ma-triarca declara que ela e seu marido esto muito velhos para ficarem sozinhos naquela enorme casa. Comuni-ca, ento, uma deciso irrevogvel: vai pr a casa venda e morar com um dos filhos. mas, claro, ne-nhum deles quer dar abrigo aos pais, e a ceia de Natal acaba se tornando uma grande confuso.

    A dana da vida. Direo: Juan zapata. Brasil, 2008. 80 min. Documentrio.

    Desvenda a atividade do idoso em sua sexualidade. a violncia pode cercear os desejos do idoso, os mais bsicos dos instintos?

    O fim e o princpio. Direo: eduardo Coutinho. Brasil, 2005. 110 min. Documentrio.

    uma equipe de cinema chega ao serto da Paraba em busca de pessoas que tenham histrias para contar. acaba colhendo depoimentos filosficos sobre vida, morte, religio, amor e outros grandes temas.

    Era uma vez em Tquio. Direo: Yasujiro ozu. Japo, 1953. 136 min. Drama.

    um casal procura a ateno de trs filhos e a en-contra no mais novo. o filme de 1953, japons, o que indica que o tema no to novo e est presente em diversas culturas.

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    Referncias bibliogrficas

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