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RESENDE E ITATIAIA - SETEMBRO DE 2011 Nº 185 . ANO 16 - JORNAL MENSAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA [email protected] www.pontevelha.com Reconhecer a derrota pode ser, às vezes, inevitável e sábio. No caso do corte indiscriminado das árvores às margens da Via Dutra, mais precisamente nos municípios de Porto Real e Resende, declaro que fomos derrotados. Derrotados pelo radicalismo de eliminar todas as árvores ao invés de selecionar aquelas que realmente ofereciam risco e implantar um programa de manuten- ção e replantio gradativo das demais, com espécies mais adequadas e mais afastadas das laterais da rodovia. Derrotados enquanto cidadãos, assistindo impassíveis ao corte de centenas de árvores que amenizavam o calor da rodovia, suavizavam a paisagem, produziam som- bra para os caminhantes e absorviam parte dos poluentes do trânsito. Derrotados enquanto Município membro da Federação chamada Brasil, sendo que Resende e Porto Real não foram consultados pelo órgão federal (Ibama) nem pelo estadual (Inea), ao permitirem o corte das árvores e determinando que o plantio compensatório fosse realizado na Baixada Fluminense. Derrotados pelo Poder Judiciário, que proibiu Porto Real de fazer valer sua auto- ridade para questionar o corte e buscar compensações no próprio espaço territorial. Derrota e esperança Luis Felipe Cesar Vão ser grosseiros e sem noção no inferno! Derrotados pela própria natureza, que nos fará sofrer ainda mais com o aumento da temperatura do planeta. Derrotados pela falta de bom senso, de diálogo e de articulação institucional. Derrotados por nós mesmos, que não saímos em passeata, não subimos nas árvores, não protestamos com a força necessária. Mas onde estará a sabedoria em reconhecer tantas derrotas? Provavelmente esta reside na humildade e na esperança. Humildade por- que é preciso cair para levantar, aprimorar e repensar a estratégia. E esperança em saber que ao longo da Via Dutra existem muitas áreas, na sua extensa faixa de domínio, onde milhares de árvores podem ser plantadas. A flora brasileira possui fartas opções de espécies adequadas para cada situação e local. A natural evolução humana fortalecerá a tendência de uma crescente interação entre rodovias e árvores. A Figueira de São Caetano, antes e após a derrubada. O maior símbolo da agressão ambiental na via Dutra.

Ponte Velha - Setembro de 2011

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RESENDE E ITATIAIA - SETEMBRO DE 2011Nº 185 . ANO 16 - JORNAL MENSAL

DISTRIBUIÇÃO [email protected]

www.pontevelha.com

Reconhecer a derrota pode ser, às vezes, inevitável e sábio. No caso do corte indiscriminado das árvores às margens da Via Dutra, mais precisamente nos municípios de Porto Real e Resende, declaro que fomos derrotados.

Derrotados pelo radicalismo de eliminar todas as árvores ao invés de selecionar aquelas que realmente ofereciam risco e implantar um programa de manuten-ção e replantio gradativo das demais, com espécies mais adequadas e mais afastadas das laterais da rodovia.

Derrotados enquanto cidadãos, assistindo impassíveis ao corte de centenas de árvores que amenizavam o calor da rodovia, suavizavam a paisagem, produziam som-bra para os caminhantes e absorviam parte dos poluentes do trânsito.

Derrotados enquanto Município membro da Federação chamada Brasil, sendo que Resende e Porto Real não foram consultados pelo órgão federal (Ibama) nem pelo estadual (Inea), ao permitirem o corte das árvores e determinando que o plantio compensatório fosse realizado na Baixada Fluminense.

Derrotados pelo Poder Judiciário, que proibiu Porto Real de fazer valer sua auto-ridade para questionar o corte e buscar compensações no próprio espaço territorial.

Derrota e esperança

Luis Felipe Cesar

Vão ser grosseiros e sem noção no inferno!

Derrotados pela própria natureza, que nos fará sofrer ainda mais com o aumento da temperatura do planeta.

Derrotados pela falta de bom senso, de diálogo e de articulação institucional.

Derrotados por nós mesmos, que não saímos em passeata, não subimos nas árvores, não protestamos com a força necessária.

Mas onde estará a sabedoria em reconhecer tantas derrotas? Provavelmente esta reside na humildade e na esperança. Humildade por-que é preciso cair para levantar, aprimorar e repensar a estratégia.

E esperança em saber que ao longo da Via Dutra existem muitas áreas, na sua extensa faixa de domínio, onde milhares de árvores podem ser plantadas. A flora brasileira possui fartas opções de espécies adequadas para cada situação e local. A natural evolução humana fortalecerá a tendência de uma crescente interação entre rodovias e árvores.

A Figueira de São Caetano, antes e após a derrubada.

O maior símbolo da agressão ambiental na via Dutra.

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1) POLÍTICOS INFLUENTES DE RESENDE, JÁ TESTADOS NAS URNAS:Continuamos apresentando políticos que já concorreram a cargos eletivos, atualmente sem

mandato, mas que terão alguma influência nas próximas eleições.JOÃO LUIZ DE OLIVEIRA E SILVA - o popular Cacareco, industriário ( o rei do jato de

areia), Presidente da Resenvasco, foi candidato a vereador pelo PDT, em 1988, e obteve 196 votos. É um excelente companheiro.

JORGE ROCHA BRITO - Ex Sargento do Exército Brasileiro, se elegeu vereador, em 1972, pela Arena, com 1.297 votos. Candidato por mais cinco vezes, não conseguiu se reele-ger: Em 1976, teve 398 votos, pela Arena; em 1982, pelo PMDB, obteve 293 votos; pelo PDT, em 1988, alcançou 97 votos; em 1992, conseguiu somente 42 votos e, finalmente, em 2000 teve 73 votos pelo PP. Atualmente é advogado, tendo ocupado o honroso cargo de Presidente da Subseção local da OAB.

MÁRIO MEDEIROS - Ex industriário e sindicalista de escol. Candidato a vereador pelo PMDB, em 1988, obteve 272 votos, ficando como suplente. Eleito pelo PPB, em 1996, com 462 votos e em 2000, pelo PSB, com 627 votos. Tentou voltar à Câmara em 2004, pelo PSDB. Foi bem votado (707 votos), mas não conseguiu se reeleger.

NELSON DORES DA COSTA - Com raízes no distrito da Fumaça, Nelson Dores foi um dos melhores alfaiates de Resende, no tempo em que a profissão ainda estava no auge. Mudou para o comércio, associando-se ao seu tio, o Agnelo Nunes. Foi Vereador em 1972, pela Arena, com 721 votos. Tentou voltar em 1976, mas alcançou apenas 452 votos, ficando como suplente. Ainda tem muita influência na política de Resende.

NEY ARATAU, PROFESSOR - Arataú é Oficial da Reserva do Exército, Professor e Advogado. Foi candidato duas vezes pelo PP. Não conseguiu se eleger, mas foi bem votado nas duas ocasiões, com 570 votos, em 2004 e 472 votos em 2008. É um gaúcho macanudo, que tem muito a contribuir com a cidade.

NELSON SOARES DA ROCHA - Um dos poucos bravos que ainda sobrevivem exclusi-vamente da roça. Mais conhecido como Dr. Nelson, em razão de sua formatura em Agronomia. Candidato a vereador, em 1982, ficou na primeira suplência do PDS, com 479 votos. Em 1988 tentou a vereança, de novo, mas obteve apenas 411 votos, conquistando, outra vez, a primeira suplência, pelo PMDB. É sobrinho de um dos melhores Prefeitos que Resende já teve - o Dr. Aarão, e marido de Dona Virgínia, a competente e simpática Zina, Presidente do Confiar.

CAMPANHA CONTRA OS ESPERTINHOS - Nossa coluna repudia a campanha anteci-pada e ilegal dos espertinhos, que já começam a colocar adesivos nos carros. Tomara que Justiça Eleitoral aplique um corretivo nesses infratores e que os eleitores os rejeitem. Se já estão assim na campanha, imagine o que farão, se eleitos.

NOVAS FILIAÇÕES AO PSB - Novas e importantes conquistas do PSB, o casal Sheila Irani/Dr Irani. Tudo vem contribuindo para fortalecer o cacife do partido para indicar o Vice-Prefeito nas próximas eleições. Quem será e de quem será?

BARCITA RECHUAN - Em fevereiro p.p. o Ponte Velha publicou: “Candidata a vereador em 2008, conquistou 550 votos, ficando na primeira suplência da coligação PSDC/DEM. Se vier candidata novamente e trabalhar firme, a simpática e requisitada médica é favorita para ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Resende”. O problema é que suplência não

PREFEITURA 2012 - RESENDE

é mandato. O exercício do mandato daria pos-sibilidade de ser candidata à reeleição, mesmo seu irmão sendo o Prefeito. Talvez algum vereador de seu partido renuncie, abrindo possibilidade de assumir o mandato na atual legislatura, e, assim, ser candidata à reeleição, o que é permitido pelo final do § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.

NOEL DE CARVALHO NA ESTIVA - O Noel está trabalhando, e muito, para sua pretensa candidatura. Sua presença no lançamento do livro do Daniel/Chico Fortes demonstrou cla-ramente sua liderança, ao ter uma calorosa recepção por muitos dos convidados. Com certeza, o Noel será páreo duro!

FERNANDO MENAN-DRO, NO ESPORTE - Feliz aquisição do Rechuan. O Fernando é trabalhador e entende do riscado, o que

o habilita a fazer uma excelente gestão à frente da Fundação de Esportes.

BIRA RITTON - O competente contabilista, um dos poucos candidatos a vereador, em Resende, que já tiveram mais de 1.000 votos, está com um pé fora do PMDB. Cortejado pelo PP, pelo PDT e pelo PSB, ainda não decidiu para qual partido irá.

RECHUAN FAZENDO BONS NEGÓCIOS - Na zona rural, é usada a palavra manta, como sinônimo de vantagem, em uma troca. Exemplo: “Fulano deu uma manta no sicrano. Deu uma vaca ruim por um touro bom”. Assim têm sido as trocas políticas aqui de Resende.

Rechuan tem recebido ótimas aquisições e tem se descartado de cada peça ...

VICE DO RECHUAN - Mais uma peça no tabuleiro do vice do Rechuan. Entrou no páreo um competente veterinário resendense. Além de fortalecer a chapa do Rechuan, na zona rural, abriria caminho para duas candidaturas a vereador: uma candidata e um membro da colônia mineira, com amplas possibilidades de sucesso. Essa ocorrência ainda possibilitaria a eleição do Noel de Oliveira como Vereador, com chance de puxar outro pedetista.

PEDRA - PT, PP, PDT, PMDB. Todos querem o Luiz Fernando Pedra (de açúcar?).

Cabo Euclides e Professor Silva

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Setembro de 2011 - O Ponte Velha - 3

Eliel de Assis Queiróz

Compra-se Partido PolíticoA compra e venda de partidos políticos é

uma prática recorrente na política brasileira. Infelizmente. Não chegamos ainda ao nível de ter anúncios nas seções de classificados, como já ocorre com as ONGs. Mas isso é mera questão de tempo. Não se surpreenda se, um dia desses, você se deparar com um anúncio como este: “Compra-se partido político. Temos de esquerda e de direita. Temos ainda partidos flex, de dupla ideologia. Documentação em dia”.

Hoje, quando um prefeito quer comprar um partido, ele anuncia uma “reforma admi-nistrativa”. A imprensa noticia a tal reforma e começam as negociações. Li na imprensa local que a Prefeitura de Resende acaba de criar mais duas secretárias: a do Trabalho e a da Regularização Fundiária. Com essas novas secretarias a Prefeitura terá mais 40 (en)cargos de (des)confiança. Justiça seja feita, a nova Secretaria do Trabalho, sem qualquer trabalho, já começa gerando 40 novos empregos. Mas, calma, esses empregos não são para você nem para alguém da sua família, mesmo que você seja competente. Esses empregos já estão reservados para os partidos políticos que irão apoiar o prefeito nas próximas eleições, foi o que disse o jornal. “Mas isso não é abuso de poder econômico?” Perguntou o meu vizinho. “Não é improbridade administrativa? Perguntou o filho do meu vizinho.

Já não existem na Prefeitura de Resende secretarias específicas para gerar trabalho, emprego e renda, como as de indústria, comér-cio, turismo, agricultura, promoção social, entre outras? Essas secretarias serão extintas e toda a política de geração de trabalho será concen-trada na nova secretaria? E essa Secretaria de Regularização Fundiária? Por acaso Resende passou a fazer parte do Pontal do Paranapa-nema ou do Xapuri? Lá, sim, regularização fundiária faz parte do cotidiano. Aqui, não.

Já temos no nosso país gestores públi-cos com visão moderna de governança, que privilegiam a meritocracia. Eles também fazem acordos políticos, o que não é condenável,

mas não com barganhas de cargos públicos. O indicado político tem que ter competência técnica. Esta é a guerra que trava a Presidente Dilma neste momento.

O dinheiro gasto na criação dessas novas secretarias poderia ser aplicado em investimentos. O bairro onde moro, por exemplo, não tem sistema público de abastecimento de água, não tem coleta nem tratamento de esgoto, não tem coleta regular de lixo, não tem estradas decentes, a escola está necessitando de obras de manutenção. E o meu bairro tem um enorme potencial para o ecoturismo, ou seja, para a geração de trabalho e renda. Imagina se não tivesse. Não precisava criar uma secretaria do tra-balho, a pretexto de se criar trabalho. Era só investir o dinheiro público de forma honesta e competente que o trabalho apareceria. Não para um seleto grupo de privilegiados políticos, mas para todos. O mais lamentável disso tudo é que o prefeito de Resende é um político jovem, de primeiro mandato, mas já contaminado por práticas tão deploráveis.

A barbaridade que fez a Nova Dutra em parceria com os órgãos ambientais não deve ser cobrada só pelas redes sociais, pela chamada sociedade civil, que já está com vários processos no Ministério Público. Tem que ser cobrada também pelos governos munici-

pais. O Kiko Besouchet já anunciou ação popular contra a Nova Dutra. Tem que processar também Ibama e Inea. Se a União e o governo estadual são coniventes com o genocídio, o município não pode ser. É na nossa casa que o crime acontece. E os repre-sentantes que elegemos aqui são os chefes da nossa família. Deveriam é ter evitado o absurdo.

E sinto, de repente, uma grande nostalgia, uma saudade de um tio chamado Augusto Carvalho. Vejo-o levantando-se da cama antes da aurora e rumando para a entrada de Resende, na altura de Bulhões. Ele soube que pretendia-se perpetrar a imbecilidade e convocara o seu povo, que já estava lá. E estava lá porque conhecia bem o Augusto; elegera-o, aliás, por o conhecer bem, e não por alguma composição oportu-nista dessas de políticas de última hora.

Augusto barra as motoserras. O tecnocrata chefe mostra-lhe o papel com autorização dos órgãos ambientais; Augusto saca do bolso outro papel com o número de pessoas mora-doras do município e diz: “eu represento essa gente toda; mostre-me os votos do presidente do IBAMA, do presidente do INEA”. O tecnocrata chefe argumenta que as beiras da estrada são jurisdição federal, mas Augusto saca do bolso novo papel: uma mandado de segurança, uma liminar, alguma coisa do gênero, garantindo a vida das árvores e uma rediscussão da questão na justiça.

-”Lei é para ser sempre discutida” - diz ele.Em seguida, pega o tecnocrata chefe pelo

braço, afasta-se com ele da multidão: - “Ô animal! Olhe! Levante a vista e

olhe! Está vendo? Está vendo essa alameda de árvores? Está vendo que coisa linda? Isso é a entrada da nossa casa. Você está entrando na nossa casa, entende? Agora vamos lá em São Caetano que vou te mostrar a figueira que os moradores plantaram quando a estrada ainda era de mão única. A moça que está em cima dela para que não a cortem é neta do sujeito que plantou”.

“Ô animal,” - prossegue meu tio - “não estás vendo que se o sujeito bate numa árvore dessas é porque está dirigindo mal? Não estás vendo que alguma eco-nomia que a Nova Dutra possa fazer, evitando algum possível processo pela queda de uma árvore com o vento, não justifica esse extermínio? (por sinal, vamos examinar muito bem as motivações das pessoas que conce-

deram essa licenças..) Não queres também matar os moradores de São Caetano e das Fazendas da Barra para que não causem um desastre ao distrair os motoristas? Depois nascerão outros, como compensação, um pouco mais longe da estrada...”

Saio do transe nostálgico e constato que estou mesmo é velho, porque, mais que saudade do Augusto, tenho é saudade de um outro tempo, em que era possível existir um Augusto. De um outro tempo em que o trator que nos atropelava era menos pesado, e em que a resistência podia se humanizar numa personalidade forte como a dele. Ou será que idealizo e construo tudo isso neste programa doido da memória? Não. Houve, sim, um tempo melhor. A humani-dade passou por sua fase madura e agora está senil, a caminho do fim. O Ministério Público não vai resolver isso antes do Apo-calipse. Tomara que eu esteja errado.

Saudade do (tempo de) Augusto Carvalho

Gus

tavo

Pra

ça Não precisava criar uma secretaria do trabalho, a pretexto de se criar trabalho. Era só investir o dinheiro público de forma honesta e competente que o trabalho apareceria. Não para um seleto grupo de privilegiados políticos, mas para todos. O mais lamentável disso tudo é que o prefeito de Resende é um político jovem, de primeiro mandato, mas já contaminado

Se a União e o governo estadual

são coniventes com o genocídio, o município não

pode ser. É na nossa casa que o crime

acontece.

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“Louvando o que bem merece, deixa o que é ruim de lado...”

(Louvação – Gilberto Gil)

Como forasteiro, morador dessa sim-pática e acolhedora cidade há quatorze anos, gostaria de deixar registrada minha modesta opinião a respeito de temas tão controvertidos abordados no último núme-ro de Ponte Velha.

Em primeiro lugar, ainda que asfixie a fumaça dos carros e siderúrgicas, não vejo o progresso de Resende com maus olhos, mas com um certo otimismo contido. Temos muito mais carros circulando pela cidade, mas temos faixas de pedestres e sinais de trânsito que boa parte das pessoas respeita. Cada vez mais, eu diria. É fato que a qualidade de vida de uma cidade não é medida por sua riqueza, mas pela educação das pessoas. Se as pessoas não receberam a educação devida, que paguem pela má educação na forma de multas. Sou totalmente favorável à presença de guardas municipais nas ruas e radares (apesar da arrogância de alguns azuizinhos e do circo de corrupção que foi montado em torno dessa coisa de ra-dares). Com o resendense só pouco mais educado, vai dar pra circular de bicicleta, sem medo, pela cidade, como já se faz em Amsterdam e em outras cidades bem maiores que Resende.

A melhoria do comércio em nossa cidade dá a medida de seu crescimento. A chegada de shoppings e novas lojas é extremamente bem-vinda. A oferta de lojas significa que mais pessoas farão suas compras na própria cidade, o que incre-menta a geração de emprego e renda para o próprio município. Comércio fraco, fe-chado e corporativista só interessa a cartéis locais de lojistas.

Discordo do argumento da descaracte-rização. Salvo alguns prédios antigos, que merecem a sua preservação, Resende não conta com um conjunto arquitetônico his-

1. Há vida inteligente em Resende- Pelo menos na rua padre Couto, onde um sobrado ao lado do edifício da Câmara foi reformado com raro bom gosto. Modo humilde de reformar as almas, dar espaço à beleza. Quod visum placet...

A cidade é um microcosmos e sua beleza ampara a unidade moral. Porque traduz a unidade prévia da amizade cívica, silenciosa presença divina perambulando pelas ruas.

A graça, a recompensa deste culto tão simples é a fecunda multiplica-ção das linhas e formas belas; depois, o cresci-mento da capacidade de apreciar as harmonias das vozes, das ideias, dos prazos e ritmos. Até poderem-se contemplar outros mistérios. A beleza é pedagoga. Sem ela, a esterilidade.

Dizem que não se deve copiar estilos em arquitetura. Ora, a cópia autêntica me parece marca registrada do gênio criativo, ao reconhecer que é vital se submeter a algo

maior: a verdade da forma básica, o tema fundamental. A imitação permite buscar o modelo exemplar, o êxito passado que serve de orientação para o novo. Ser original é conseqüência inesperada. Topamos com a originalidade como quem dá de cara com um velho amigo há muito distante.

Assim surgiu o termo “moderno”: à moda de... para que todos pudessem se sentir co-autores da obra realizada, pois o antigo perdura no presente quando as cidades têm personalidade. Na cópia autêntica, não é o passado que resta, mumificado. É o venerável e eterno que sobrevive com honrada simpli-cidade. O microcosmos da cidade reflete o das almas.

2. Um centro histórico a se descobrir- “O Itatiaia emergindo das nuvens... o Paraíba

tórico de importância. A própria Igreja da Matriz, cuja foto ilustra a capa do número anterior, foi objeto de várias reformas que a descaracterizaram por completo. Tal fato se deve à pujança de sua economia: diferente de Paraty ou Ouro Preto, por exemplo, não houve por aqui uma súbita decadência que congelasse a cidade em algum passado remoto. Postes de iluminação a querosene ficam bonitinhos em Paraty, mas pouca gente concordaria com isso por aqui. Tratemos, pois, de preservar o que merece ser preser-vado, mas também de louvar o que é novo e bom.

Finalmente, manifesto o meu ponto de vista em relação à pergunta que é colocada no pé da capa. Tradi-ção e modernidade não são excluden-tes entre si. Várias cidades, no Brasil e mundo afora, foram capazes de pre-servar as suas tradições culturais e seu legado arquitetônico sem fechar-se para a modernização. Esta, por sua vez, deve proporcionar benefícios para a quali-dade de vida de nossa gente, dentre os quais cito alguns exemplos. Precisamos cuidar da maior tragédia ambiental de Resende, que são nossos riachos destru-ídos. Poluídos, assoreados e sem mata ciliar. Precisamos de árvores em nossas calçadas a áreas de lazer, não de pal-meiras, mas de árvores que produzem folhas e frutos que alimentem nossos passarinhos. E precisamos melhorar nosso transporte com ciclovia e ônibus, para que o carro fique na garagem ou, quem sabe, seja posto à venda.

com seu manto de espumas” são imagens que Luís Pistarini consagrou no hino a Resende no primeiro centenário, em 1901.

A antiga igreja matriz dialogava com a casa de João Maia (atual Santa Ângela), que conversava com o sobrado da Maria Benedita, em cochicho com o Hotel Central. A Casa da Câmara e o Palacete, mais no alto, não desdenhavam a Ponte Velha. A Santa Casa era afim da Capela do Rosário. Os paralelepípedos não me deixam mentir. Depois, entraram na conversa, o prédio da Caixa Rural, onde hoje funciona a Câmara, o do Cine Vitória, o do Colégio João Maia, o do Mercado Municipal, os conjuntos da AMAN, e assim, com algumas dissonantes e o improviso devido à alma jazzística do Paraíba, seguiu o baile.

Hoje, há 110 anos da comemoração, é urgente um novo poema para uma nova cidade com seu destino. Será imprescindível cuidar do centro histórico como um poema conhecido, vê-lo prolongado ao longo do tema inesgotável da beleza. Por isso não basta lamentar os caixotes de concreto, os cacos na parede, as paradas de ônibus histeri-camente alaranjadas.

Desde os anos 1960, a cidade vem sofrendo o desgaste de sua identidade com a pseudo-modernidade dos novos bairros, o padrão esdrúxulo das reformas e a ocupação desatinada das áreas baixas. Mas que fazer, se a heresia do progresso assolou as famílias, que passaram a se reunir em frente à TV e desaprenderam o ócio de morar e conviver?

3. Dever de casa - Em 1948, quando a cidade comemorava seus 100 anos, e a matriz queimada em 45 retomava as funções, Drum-mond publicava “Canção Amiga”. Uma lição de arquitetura:

“Eu preparo uma canção/em que minha mãe se reconheça,/ todas as mães se reconheçam,/e que fale como dois olhos./ Caminho por uma rua/ que passa em muitos países./ Se não me vêem, eu vejo/ e saúdo velhos amigos. [...] Eu preparo uma canção/ que faça acordar os homens/ e adormecer as crianças do centro histórico de Resende.”

Em defesa da modernidade e dos postes bêbadosJoão Guimarães Ferreira

O pequeno arquiteto do universoMarcos Cotrim

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Setembro de 2011 - O Ponte Velha - 5

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Meu caro Gustavo,Excelente a entrevista com a

Virgínia. O relato da sua trajetória no campo profissional, privado e na história cultural resendense me emocionou. Esse caminho foi traçado com a régua e o compasso da determinação, da serenidade e da competência, revestidas pela inefável doçura de sua personali-dade. Volta e meia fico lamentando a vida bipolar - Resende e Rio - que me obriga a ter como moradia fixa a Dutra e me priva de uma vivência maior na nossa cidade. A matéria com a Virgínia me deu a oportuni-dade de minorar um poucochinho essa frustração.

// À parte a Vivi, a matéria contém alguns dados incorretos a respeito do teatro do SENAC. No texto é dito que “nas décadas de 80 e 90, vocês (o Boca de Cena) ocupa-ram o teatro do SENAC, era a cara de vocês”, “antes deles (o Boca de Cena) o SENAC era fechado” e “O Boca de Cena só conseguiu produzir uma ou duas peças por ano, durante 10 anos, porque pode contar com o SENAC, e isso só aconteceu porque o diretor local era o Rui Saldanha. A política nacional do SENAC era só usar o espaço do teatro como audi-tório para atividades internas, mas o Rui Saldanha comprou uma briga com a direção nacional e o SENAC passou a ser a nossa casa”.

Lembrei-me de um texto do Giovanni Papini, em “Um Homem Acabado”, em que ele analisa a chegada de uma nova geração: “Nos momentos de maior exalta-ção, temos a certeza feliz de ser os primeiros homens do mundo – os primeiros na ordem do tempo – os verdadeiros Adãos, ser aqueles, enfim, que darão nome às coisas, que edificarão as cidades, fundarão

os reinos, profetizarão as crenças e conquistarão, corpo a corpo, o domínio do mundo. Sós, inocentes, virgens e puros, sentimos o direito de apagar a lembrança e a força da realidade, urdindo-a em nova trama e desenhos diversos.”

Via de regra, todos nós que che-gamos, nos achamos os inventores da pólvora e o ex-presidente Lula, que tinha certeza absoluta de ter descoberto o Brasil, sintetizava essa tendência, traduzindo popularmente o Papini com o “nunca antes na história deste país”.

Uma das ocasiões em que percebi isto, com maior clareza, foi por ocasião do show “Divina Pro-vidência”, em 24/08/1979, do qual participei, a convite do Tadeu e do Tita. Para a elaboração do texto do espetáculo, fizemos uma pesquisa e descobrimos uma riqueza incrível, uma efervescência inimaginável do

passado social e cultural resendense, esquecido, ignorado e, algumas vezes menosprezado. Descobrimos, então, que os chineses tinham se antecipado: a pólvora já existia ...

Vamos aos fatos: No Pé da Serra, de dezembro de 1983, temos a matéria “Bons Ventos no SENAC”, noticiando que o teatro fora arren-dado à SENA – Empreendimentos Artísticos. À época, o diretor do SENAC era o Paulo Gustavo Ramos, o saudoso Painha. Dele e do Michel Arbex foi a ideia do aproveitamento do auditório como teatro. Soube-mos que a direção nacional do SENAC já havia cedido o uso de teatros e tivemos acesso à carta de autorização para o teatro da rua Pompeu Loureiro, no Rio, emitida em novembro de 1979.Como o Painha era diretor da entidade, impedido portanto de gerir o teatro, entraram em contato comigo para que assu-

misse, com o Michel, o encargo. Por que eu? Eu era conselheiro comuni-tário do SENAC, gostava de teatro, era diretor da FETIERJ – Federação do Teatro Independente do Rio de Janeiro, tinha contatos com o meio teatral do Rio, dirigi, em Resende, com outros companheiros, um grupo de teatro infantil, o MOTIN – Movi-mento de Teatro Independente, que se apresentava em auditórios, escolas e, especialmente nas ruas, em diversos bairros de Resende e cidades próximas.

Obtivemos da direção nacional do SENAC uma carta de permissão para o uso do auditório como teatro. Não era arrendamento, não pagávamos aluguel. Adaptamos o auditório, insta-lamos o sistema de iluminação teatral fixa e usávamos aparelhagem nossa para sonorização. Tentamos, diversas vezes, a modificação do teto do palco, que impossibilitava a urdidura superior necessária para a fixação e mutação de cenários e impedia a iluminação lateral - sem sucesso.

Os grupos não tinham cachê e se apresentavam, por sua conta e risco, pela bilheteria, da qual recebíamos um percentual para atendimento das despesas de manutenção, limpeza, divulgação e ressarcimento do SENAC.

Correções Sobre o Senac e Nossa História CulturalMario Gonçalves

Rei das Trutas(Direção Irineu N. Coelho)

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Estreamos em 11/02/1984, com a peça ”Tiro ao Alvo”, com elenco global.

Nosso objetivo era diversificar os espetáculos, trazendo grupos não globais, teatro infantil, concer-tos musicais (João Carlos e Paulo Assis Brasil – piano e flauta, Cláudio Menandro – lançando seu primeiro disco de clássicos, Omar Kuraiem - teclados), poesia (Italo Rossi e Walmor Chagas, com “Encontro com Fernando Pessoa”).

Os grupos locais sempre foram acolhidos. O Boca de Cena apre-sentou 4 peças – Infidelidade ao Alcance de Todos, Aurora da Minha Vida, Os Sonhos de um Sedutor e o Cavalinho Azul). O Meria, dirigido pelo Daniel Fortes, fez 3 espetácu-los, o Carlos Frederico e a Isabel, de Mauá, um. O Grupo Pro Música, da Olga Tufick, o Coral Municipal, a Academia de Ballet Clássico Vera Brenner e a Academia de Dança K. K. apresentaram-se, também.

Encerramos nossas ativida-des com a peça “O Prazer é Todo Nosso”, com Myrian Pérsia, apresen-tada de 30/04 a 02/05/1987.

Foram, portanto mais de 3 anos, antes que o Boca de Cena assu-misse o teatro.

Esta é a história.“Meninos, eu vi!”.

Um salve para o teatro resen-dense pré-Boca de Cena

E outro salve para o nosso querido Painha

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6 - O Ponte Velha - Setembro de 2011

GUSTAVO: Você escreveu uma vez um bonito artigo onde mesclava o relato de seu trabalho na obra de Itaipu com lem-branças de seu tempo de menino de fazenda, um menino que é uma coisa muito forte em você. Onde era a fazenda do seu pai?

CHICO: Eu costumo dizer que sou resto de um menino de roça que talvez ainda brinque dentro de mim, demais, com as coisas da terra. Mas a fazenda do meu pai era atrás da Academia Militar. Era uma propriedade modesta, muito pequena, cheia de morros. Era muito difícil a vida. Eu era o mais velho dos filhos - tive dois irmãos mais velhos que morreram crianças - e então acompanhei muito o papai nas lides da fazenda. Eu tive contato com o chão, com a terra, com a dureza da vida rural naquela época. Se traba-lhava descalço, o pé ficava grosso, cortado, picado de sapé, e quando chegava no período das aulas você não conseguia calçar.

GUSTAVO: O teu pai tinha estudo?CHICO: Papai era um homem de muito pouca

cultura formal, mas minha avó, Maria Cristiana Fortes, que eu não conheci, deve ter sido uma mulher admirável em muitos sentidos, inclusive no aspecto cultural. E certamente passou isso para o meu pai. Para você ter uma idéia, eu aprendi com ele, que nem primário tinha, muitas poesias enormes, geralmente de poetas portugueses, Guerra Junqueira e outros. Essas poesias eu sei até hoje. Ele ia andando pelos campos e dizendo as poesias com aquele vozeirão.

GUSTAVO: Vozeirão que você herdou e passou para o Daniel. Seu pai era resendense?

CHICO: Era. O meu avô é que era um portu-guês muito mau. As referências dele são as piores possíveis. Batia muito nos filhos. Meu pai conta que um dia chegou a urinar de tanto que apanhou só por

ter montado num carneiro para brincar. Papai não ligava muito para estudo, mas quando eu passei para a escola de Engenharia, no Rio, ele ficou orgulhoso. Ir ao Rio no tempo

do meu pai era uma aventura. Papai quando ia punha aquela roupa branca, o guarda pó, e a gente tomava a benção para se despedir dele. Como as coisas mudaram...

GUSTAVO: Inclusive no que toca à maneira de se criar o gado.

CHICO: Nossa senhora! Naquele tempo, que eu me lembre, o gado nunca viu cocho, a não ser sal grosso; bezerro morria demais... Mamava na vaca com aftosa e não resistia à febre. O único tratamento que se fazia para aftosa era colocar cal nas passagens para o gado pisar. Fora isso, não tinha nada. Se não morria, o gado ficava com sequelas terríveis, ficava um gado aguado, como se dizia.

GUSTAVO: Nesse tempo ainda não havia a cooperativa.CHICO: Não. Havia a usina. Eu trazia leite para a usina

montado no próprio burro que trazia o latão. E eu gostava daquilo. Eu sempre gostei muito de fazer as coisas, de traba-lhar. Pouco leite que a gente vendia. Naquele tempo 80 litros era muita coisa. Era muito mais difícil uma vaca dar 10 litros do que hoje uma dar 50 num torneio leiteiro.

GUSTAVO: A que distância ficava a fazenda do seu pai da então cidadezinha de Resende?

CHICO: Uma légua - seis quilômetros. Entre a nossa fazenda e a cidade havia a fazenda Santa Maria, que era uma fazenda maior. Eu vim muito a pé para a escola, ou andando a toa para caçar passarinho. Automóvel você contava nos dedos; não tinha 10 carros na cidade. Um que eu me lembro muito bem era o do Juca Matos. Ele era farmaceutico e era uma espécie de médico também. Naquele tempo farmaceu-tico fazia tudo, como meu tio Araripe Reis, que antes de ser médico foi farmaceutico. E talvez tenha sido um bom médico por isso, por essa prática aque ele adquiriu; ele mesmo formu-lava os remédios.

GUSTAVO: O fazendeiro em geral tinha uma casa na cidade. Vocês não tinham?

CHICO: Chegou uma hora que meu pai teve que comprar uma casa na cidade para facilitar o estudo dos filhos - e eu me recordo que, mesmo a cidade sendo tão pequena, ela me parecia enorme, cheia de mistérios. E o camarada que é criado na roça, ele tem uma timidez impressionante. Eu carreguei muito tempo essa timidez comigo. Perto de entrar na escola de Engenharia é que eu comecei a ficar sem vergo-nha... (ri). Outra coisa que me marcou nessa época de morar na cidade foi o contato e o gosto pela leitura, que me vieram pelas irmãs mais velhas, a Aurélia e a Julieta, que eram muito atuantes na intelectualidade de Resende. Eram oradoras. Naquele tempo se fazia muita declamação.

GUSTAVO: Meu pai diz que ele e o Macedo Miranda apelidaram elas de Sociologia e Psicologia.

Há 10 anos Chico Fortes nos deixava. Um resendense de personalidade marcante, com ascendência e liderança na sua geração. Um homem que presenciou grandes transformações na nossa cidade: nascido em 1929, foi menino numa pequena fazenda onde depois se construiria a AMAN -quando a cidade tinha meia dúzia de automóveis - e, já adulto, chefiou as obras de construção da hidrelétrica do Funil, que permitiria

a nossa industrialização. Depois, entre outras coisas, foi o engenheiro Superintendente na construção da Itaipu binacional, o que nos enche de orgulho. À competência técnica, Chico unia a sensibilidade poética, o menino que sempre carregou consigo. Seu filho Daniel acaba de lançar um livro com escritos do pai, e nós o

homenagemos reproduzindo esta entrevista que nos foi concedida há cerca de 15 anos.

Reencontro com Chico Fortes

Chegou uma hora que meu pai teve que comprar uma casa na

cidade para facilitar o estudo dos filhos - e eu me recordo que,

mesmo a cidade sendo tão pequena, ela me parecia enorme, cheia de

mistérios. E o camarada que é criado na roça, ele tem uma timidez impressionante. Eu carreguei muito

tempo essa timidez comigo.

(continua na página 7, após o encarte)

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Setembro de 2011 - O Ponte Velha - 7

CHICO: A Julieta foi muito importante para levar a gente a estudar, às vezes a poder de beliscão. A mamãe também, que fazia questão de que os filhos fossem doutores. Já o papai dizia assim: “Se quiser ser doutor vai ser por sua conta, por minha não”. E não havia nisso qualquer desamor, que papai gostava muito da gente, particularmente de mim.

GUSTAVO: Vamos dar um pulo no tempo e passar para o Chico já adulto, engenheiro, trabalhando na obra da represa do Funil, que trouxe energia e possibilidade de industria-lização para Resende. Naquele tempo alguém se opôs à hidroelétrica, como hoje há oposição a alguns aspectos do progresso?

CHICO: Acho que não... porque era um sofrimento tão grande a deficiência do suprimento de energia elétrica aqui... Eu senti muito isso, porque nessa época eu já era casado e tinha muitas despesas paralelas com minha mãe, meu irmão doente, e então tinha que trabalhar muito para ganhar dinheiro e sustentar muita coisa. E ficava fazendo cálculo de concreto armado à noite, consultando tabelas com aquela luz fraca. Então, acho que todos torceram pela hidroelétrica. E além da questão da luz, a represa trazia a possibilidade de regulação do regime do rio Paraiba, porque antes dela a cidade sofria demais com as enchentes. Era uma coisa terrível, um prejuízo tremendo.

GUSTAVO: Você me contou uma vez que houve uma enchente no início do século que matou muita gente.

CHICO: Exato. E quero aproveitar a oportunidade para prestar uma homenagem ao seu Batista Gomes, que foi muito amigo de papai, embora papai fosse mais moço que ele, e que, quando papai morreu, transferiu a amizade para mim. Ele tinha uma memória fabulosa e um dia, ao lhe perguntar sobre os estragos da gripes espanhola em Resende - meu pai teve mas escapou - ele me disse que foram terríveis mas que tinha havido uma epidemia pior ainda numa enchente em 1906; uma febre muito pior, que matou muita gente. Aqui perto da Fazenda (Aliança), onde é hoje o Aoki, perto dos Balieiros, tinha uma quantidade enorme de pretos escra-vos e morreram todos. Depois, por deducação e pesquisa, eu concluí que foi um surto de leptospirose, doença que se forma com as enchentes, que desalojam os roedores, que então urinam na água. A Baixada Fluminense luta contra essa ameaça. E o pior é que existe vacina para o gado e não existe para o ser humano. Por aí você vê os benefícios da obra do Funil.

GUSTAVO: Houve algum resendense que se destacasse na luta pela vinda da usina, ou isso era um projeto federal irreversível?

CHICO: Era um projeto federal chocado por uns 50 anos mais ou menos. O objetivo primeiro era a eletrificação da

estrada de ferro. Com a segunda guerra e a dificuldade de dinheiro o projeto ficou hibernando, até que em 60 começou. Mas tudo muito devagar, com muita interferência política. Com a revolução haviam duas correntes militares antagônicas aqui dentro - uma mais janguista, outra mais de direita - que não tinham nada a ver com a obra em si, mas aquilo foi uma coisa horrorosa, prejudicava muito o andamento. Para se ter uma idéia, quando estourou a revolução o quadro de enge-nheiros civis da CHEVAP (Companhia Hidroelétrica do Vale do Paraíba) foi praticamente todo demitido pelo ato institu-cional. Eu escapei por uma dificuldade de demissão, por eu

estar chefiando uma obra semi retirada, um pouco atrasada, com peculiaridades, e o presidente da CHEVAP tinha me colocado lá justamente por isso. Mesmo assim eu pedi demis-são no fim de 64. Não suportei.

GUSTAVO: Tem uma passagem engraçada do Eitel Fernan-des, grande resendense que também trabalhou na obra. Você contou uma vez na Academia de História; conte para os leitores.

CHICO: O Eitel, pessoa admirável, era chefe de divisão da obra do Funil - eu era chefe de divisão da obra de Inhan-gapi, daquela barragem de terra lá. E periodicamente nós recebíamos a visita do professor Laginha Serafim, que era o autor do projeto (uma concepção muito bonita, a única aqui no Brasil de barragem em abóbada). E alguém foi dizer a ele que a areia que estava sendo usada para a construção era uma areia contaminada - no caso, “contaminada” signi-fica um teor de argila muito grande, o que torna o concreto mais fraco se você não usa uma quantidade muito grande de cimento. E o professor Laginha, muito vaidoso e um pouco arrogante, reuniu um dia a turma e falou muito sério, com aquele sotaque de português: “consta que a areia que vocês

estão usando é uma areia contaminada, e eu vou tirar a minha responsabilidade desse projeto”. O Eitel então virou-se e disse assim: “mas quem disse que essa areia é contaminada? Isso é um absurdo!” E catou na mão um punhado de areia, jogou na boca e fez que mastigava e engolia, para provar a não contaminação. Todo mundo ficou atônito e o assunto acabou no ato.

GUSTAVO: Hoje há uma grande polêmica sobre a energia nuclear. O que você acha?

CHICO: Acho que é uma solução econômica, uma solução prática, e que o Homem precisa só dominar melhor a questão, ter mais segurança. Acho que o caminho é esse, é inevitável. Em termos de meio-ambiente é muito mais atenta-tório hoje você fazer uma barragem alagando uma área linda, e tendo que desapropriar, expulsar as pessoas.

GUSTAVO: Sabemos que nossa água é muito clorada e que existe um projeto para trazer água da serra para a cidade. É viável?

CHICO: Primeiro, o seguinte: nós temos aqui, em frente à fazenda, entre a barragem do Funil e os despejos da cidade - e isso comprovado por mais de 10 anos de análises periódi-cas - uma água considerada balneável, que é quase uma água potável, uma água que com um tratamento muito barato fica potável (e aí já vai a primeira grande vantagem, pois hoje sabemos quase que com certeza que os tratamentos muito intensos, com excesso de produtos químicos, são também cancerígenos). A represa do Funil funciona como um grande decantador, é um privilégio da nossa cidade; é só a gente fazer a captação antes dos despejos urbanos. Precisaria só de uma estação de bombeamento modesta - o custo maior disso é a energia elétrica - e se abasteceria toda a cidade com essa água. Na minha opinião, a economia seria muito grande. E essa idéia da serra é um sonho louco. É pouca água, e a gente precisa de muita água; é caríssimo; é uma transposição de vale, e hoje, sob o ponto de vista do meio-ambiente, é um baita desrespeito você fazer isso. E outra coisa fundamental: nós devemos é salvar o nosso Paraíba. Do momento em que você se volta para a água pura da serra, você dá as costas ao Paraíba. Hoje nós temos recursos de engenharia capazes de recuperar um rio desses.

GUSTAVO: Você tem fé nisso? A gente vê o crescimento desenfreado das cidades, das áreas pobres, sem perspectiva de tratar os esgotos...

CHICO: Nesse nosso atual governo municipal havia uma ideia a qual eu sou muito simpático. Transferir para o lotea-dor, o construtor, o ônus do tratamento de esgoto. A partir de um certo porte do núcleo habitacional você não poderia lançar

o esgoto sem tratar. Porque o Estado não tem condições, não tem dinheiro. Não sei se isso é viável, constitucional-mente, de ser feito só pelo município, mas acho que o caminho é esse. E um outro ponto é a Educação.

Mas quero ressaltar o seguinte: acho que há hoje muita elucubração intelectual e pouca ação. Qualquer leigo hoje fala qualquer besteira sobre meio-ambiente. Eu sei que é muito bom se estudar o Paraíba, se estudar bacias hidrográficas; tudo bem, acho que tudo se deve estudar, mas, meu Deus, vamos atacar os pro-blemas. Aquilo que é possível atacar, que é barato, vamos atacando. Isso é que vai criar realmente o caminho da solução. Para mostrar que é possível,

Acho que a energia atômica é uma solução econômica, uma solução prática, e que o Homem precisa só dominar melhor a questão, ter mais segurança. Acho que o caminho é esse, é inevitável.

(continua na página 8)

Page 12: Ponte Velha - Setembro de 2011

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8 - O Ponte Velha - Setembro de 2011

o maior exemplo que nós temos é o Tâmisa, que era o rio mais porco, com dejetos de séculos e séculos de uma cidade imunda. E eles despoluíram o Tâmisa. E um dia um camarada pescou um salmão no rio e chorou. Aquele rio morto passou a ter vida. É uma passagem bonita. As entidades financeiras mundiais têm um interesse enorme em finan-ciar isso, a juros baratos. Mas nós não temos sido muito sérios nisso. Eu fiquei três anos em São Paulo trabalhando na despoluição do Tietê e a gente fica desalentado. A questão fundamental aí se chama vontade política. É a questão número um.

GUSTAVO: Por falar em polí-tica, o que você acha das divisões que os municípios, inclusive o nosso, vêm sofrendo nos últimos anos?

CHICO: Eu acho uma merda. Será que é impossível adminis-trar um município com o tamanho que Resende tinha antes? Eu acho que não. Quanto mais tecnologia moderna, mais informação, mais meios de comunicação, de acesso, mais fácil se torna administrar a área maior. O que acontece com a divisão? Você tem que sustentar mais uma Câmara de Vereadores, mais um prefeito, e isso quando nós, por falta de educação, somos muito carentes de gente competente, e eu costumo dizer que a incom-petência é, muitas vezes, mais deletéria do que a corrupção. E isso sem falar no bando de assessores, no empreguismo, nos nossos vícios. E se você lê a história da legislação que acabou conduzindo a essa facilidade de fracionamento você vê que isso aí foi sempre uma manipulação. A lei era muito mais rigo-rosa antigamente para você criar um muni-cípio, mas por razões politiqueiras foi-se criando facilidades e foi fracionando. E hoje temos um bando de municípios pedintes, com Câmaras horrorosas. Porque não temos gente

para isso, não temos gente educada para isso. Devia se criar no segundo grau uma cadeira de administração pública, um conhecimento geral básico dessa matéria.

GUSTAVO: A gente vive uma época de descrédito tão grande da política e de uma globalização tão violenta que dá a impressão de que não podemos mais decidir os rumos

principais da nossa vida.CHICO: Esse pensamento seu faz parte

do vício de elucubração mental e de pouca objetividade. Eu sei que nós temos proble-mas terríveis hoje, como a Aids (o trans-missor consciente devia ser tratado como criminoso), a paternidade irresponsável (é pior do que um assassinato) - a natalidade tem que ser limitada com a ajuda da Igreja -; os menores abandonados à droga (isso mata muito mais do que guerra). A educação, num país pobre como o nosso, tem que econo-mizar na construção da escola e investir no professor, nessas professoras que são verda-deiras heroínas. E não estou falando isso por pretensão política, o meu tempo para isso já

Sábado, 27 de agosto, a família Fortes apresentou e distribuiu, na ACIAR, o belíssimo livro “Memórias de um Menino da Roça” -- escritos de Chico Fortes -- compi-lado e editado pelo Daniel Fortes, com primorosas ilustrações de Sergio Ornellas. Paulo Mendes Campos dizia ser “restos de um menino que passou”. Chico Fortes, contrarian-

do o poeta, dizia ser “restos de um menino que não passou”. Comprova a sua tese no poema Mensagem de Natal, onde fala sobre o olhar do menino,

de resto abordado em todo o livro. Apresentou-se um curta metragem sobre o livro, dirigido e narrado por Daniel

Fortes, com imagens e edição do Paulo Frontarolli As ilustrações do Sérgio Ornellas e a locução do Daniel são obras de arte,

dentro de outra obra de arte. O livro não se destina à comercialização, mas existem exemplares disponíveis na

Biblioteca Municipal de Resende e na Academia Resendense de História - ARDHIS. A fina flor da cultura resendense prestigiou o lançamento da obra, ao lado de

ilustres visitantes. Nicolino Fortes veio de Viçosa, esbanjando vitali-dade e sabedoria, do alto de seus vividos anos. Aurélia Fortes veio

de Niterói, desfilando sua habitual elegância, em conjunto de onci-

nha. Foi bom ouvir sua contagian-te gargalhada ecoando pelo salão

da ACIAR, em bela lição de que a prioridade é ser feliz.

Joel Pereira

O Livro do Menino

A educação, num país pobre como o nosso, tem que

economizar na construção da escola e investir no professor,

nessas professoras que são verdadeiras heroínas. E

não estou falando isso por pretensão política, o meu tempo para isso já passou

passou, mas porque eu fico indignado com a nossa incapacidade de botar mão à obra e resolver os problemas com objetividade. Há uma falta de atitudes. De atitudes corajosas. Eu acredito na vontade, na capacidade de fazer as coisas até sem dinheiro, com criati-vidade. Engenharia é isso. É fazer economia. Isso é que é a grande sabedoria.

GUSTAVO: O que você acha dessa aproximação do Meohas com o PT para os dois últimos anos de governo?

CHICO: Olha, eu não sei bem o alcance e a objetividade disso, mas acho que o PT é um partido que tem a preocupação de apoiar os seus quadros. Um prefeito do PT não fica isolado, recebe do partido ajuda em tudo o que precisa, e o partido tem uma infra de valor, você vai encon-trar nele pessoas de muito bom nível. Agora, aqui em Resende está muito difícil de você plantar alguma coisa atualmente... Uma opacidade muito grande... Eu não gostaria de aprofundar nisso não. Em suma... É preciso ter quem fale e quem ouça... É preciso compreender, entender as coisas não é? Eu acho que nós prei-

samos pensar numa pessoa que possa assumir a cidade agora, trabalhar uma nova liderança.

GUSTAVO: Você tem uma formação humanista muito grande ao lado da forma-ção técnica. Você gosta de Dostoieviski, de Guimarães Rosa, de toda boa literatura e filosofia. O humanista, muitas vezes, reage ao “progresso”. Você não. É um caso um pouco raro.

CHICO: Há um poeta, Raul de Leone, que diz assim: “ Estranha alma essa que abrigo / há tantas almas comigo / que já nem sei quem sou eu”. Mas sobre essa questão, eu me lembro de uma ocasião em que eu estava em Itaipu e a dona Luci Bloch foi lá visitar a obra. Alguém me apresentou a ela como um “engenheiro poeta”, e ela exclamou: “Ah, não pode, ou é engenheiro ou é poeta!” Mas essa ambiguidade é interessante. Um dos maiores conhecedores de Guimarães Rosa com quem eu convivi, um verdadeiro devoto, é o engenheiro Milton Vargas, professor de Mecânica de Solo da Escola Politécnica de São Paulo, que foi consultor de todas essas hidroelétricas em que eu trabalhei. Ficamos muito amigos conversando sobre Guimarães Rosa. Eu gosto muito. Considero o Guimarães Rosa muito mais do que um escritor; ele é um filosofo. E não acho que ele seja um neologista; ele é o codificador de uma linguagem. O Brasil é tão grande, se fragmentou de tal forma, que as pessoas iso-ladas num ambiente criaram novas palavras - esses foram os neologistas. O Guimarães Rosa codificou isso. É muito bonito. Tem umas frases dele de um conteúdo didático incrível, como por exemplo a fala de um personagem ao ver um conhecido que era muito ego começar a enlouquecer: “aí eu aprendi uma coisa que assustava: que o princípio de toda maior bobagem é um se prezar demais o próprio de sua pessoa”. Esse personagem que fez a consideração, o Lélio do Hingino, diz também adiante sobre um certo Nho Morgão: “ Era de Nho Morgão que eu mais gostava; ele tinha amansado a vida”.

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10 - O Ponte Velha - Setembro de 2011

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expediente:

No mês de aniversário de nossa Resende, vou me ocupar de duas polê-micas. (Aliás, alguma dúvida que eu adoro uma polêmica?)

Vamos à primeira: a arquitetura de Resende e a implicância da maioria dos arquitetos em fazer construções novas no estilo do ambiente. Explico: Está em fase de acabamento um prédio ao lado do plenário da Câmara. A arquiteta Cláudia respeitou o estilo neoclássico do prédio do poder legis-lativo e ficou um conjunto muito bonitinho. E eu me esgoelei para que o prédio da Câmara, que vai ser construído na Praça (quer dizer, arqui-pélago) Oliveira Botelho fosse uma cópia do antigo prédio da Lira. Por dentro o que houvesse de mais moderno, mas por fora, repetindo o modelo.

Meu Deus, quase fui crucificado.

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Mas quem conhece Tiraden-tes – MG, e ama aquela cidade sabe que 40% dela foi reconstruída “imitando” o colonial português. O prédio mais imponente de lá é o Solar da Ponte e que não tem 30 anos.

A sede da prefeitura de Quis-samã, litoral norte do RJ, é um casarão maravilhoso, como o das velhas fazendas de café e de cana de açúcar da região, tão usadas como cenários das novelas da Globo. E o prédio “histórico” tem apenas 13 anos.

Viva a Cláudia, viva o dono desse prédio. Quem passar por lá vai me dar razão.

Vamos agora à segunda polêmica: afinal, qual a idade de Resende? Explico:

Resende comemora 210 anos dia 29 de setembro, data de sua

de Sá, idem São Paulo, pelos jesu-ítas, e não quando se emanciparam politicamente. Essa dialética serve até para a AMAN, que esse ano comemora 200 anos, embora tenha sido inaugurada apenas na década de 40.

Portanto, a partir deste racio-cínio, nossa Resende faz em dezembro 267 anos, marco da fundação da antiga Nossa Senhora da Conceição da Paraíba Nova pelo bandeirante Simão da Cunha Gago. Cartas para a redação deste jornal.

*************************

E a Nova Dutra continua fazendo o massacre da serra elé-trica na Dutra, alegando questões de segurança. Pois bem, quem já viajou pelo interior da França pode constatar que as estradas são todas arborizadas, dos dois lados. Isso vem desde o tempo de Napoleão Bonaparte, que mandou plantar árvores por todos os caminhos por onde ele passaria. Estão lá até hoje. Lá não tem Nova Dutra.

***************************

Não é por nada não, mas: gritar prum cara que é suspeito de chefiar o maior escândalo de corrupção da história desse país, chamando-o de “guerreiro do povo..”

emancipação política e administra-tiva, certo? Errado. Quantos anos tem o Brasil? 511 anos ou 189 anos. Afinal, o Brasil foi desco-berto em 1500 mas só teve a sua emancipação política e adminis-trativa em 1822. Ora, nossa pátria, mãe gentil tem 511, assim como Rio de Janeiro conta seu aniversá-rio no dia da fundação por Estácio

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Flávio Maia

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Setembro de 2011 - O Ponte Velha - 11

Joel Pereira Nossa História, Nossa Gente

Posto AvenidaBob`s

Seu carro agradece e seu paladar tambémCREDIBILIDADE

dade empresária de dedetização. Em 1936, Alcides, já sócio da Aerolineas

Wright (mais tarde vendida para a Real Aero-lineas), veio de avião a Resende para batizar Maria Izabel, filha do casal João e Helena

Viana, ficando encantado com a região, na qual veio morar em 1952. Aqui, se tornou comer-ciante de materiais de construção e representante da fábrica de cimento Tupi, o que lhe propor-cionou fornecer todo o cimento da Barragem do Funil, em Itatiaia.

Após muitos anos, sepa-rou-se de Aracy e, em 1971, se casou com Áurea Rodrigues, com quem viveu até morrer, em março de 2000, aos 95 anos.

Tibi deixou sua marca de homem íntegro e levou uma vida saudável mental e fisi-camente. Dizia sempre que a melhor coisa da vida era morar bem dentro do corpo.

REFERÊNCIAS: Texto do filho César Luís Jardim Wright; Indice Geral da Legislação do Município de Resende, obra inédita de Elisa Abrahão.

O objetivo desta coluna é homena-gear pessoas que dão nome a logradouros de Resende. O homenageado deste mês empresta seu nome à antiga Rua H, no Bairro Parque Ipiranga II, denominação conferida pela Lei 2591, de 28/12/06.

Alcides Ribeiro Wright, o popular Tibi, filho de John Francis Thurbut Wright e de Laura Ratto Wright, nasceu em São Vicente (SP), em 2 de março de 1905 e faleceu aqui em Resende, em março de 2000, aos 95 anos.

Aos 7 anos, seu pai o mandou para Genebra (Suíça), para cursar o Primário, até os 11 anos, quando retornou ao Brasil para estudar no Colégio Alderge, no Rio de Janeiro, para onde seus pais haviam se mudado. Dali saiu para Lavras, MG, onde se formou em Agronomia, no Instituto Gamam, de origem americana, mais tarde transformado na Universidade Federal de Agronomia. Formado, foi administrar uma das fazendas de seu pai, em Guapimirim (RJ), no fundo da Baía de Guanabara, com 800 alqueires plantados em banana, para exportação. Na ocasião, construiu uma

estrada de ferro para escoar a produção até o Porto de Magé. Com a recessão de 1929, as exportações fracassaram e Tibi foi trabalhar com o sogro, quando surgiu a oportunidade de construir duas dragas e fazer o aterro do Bairro Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca.

Em 1928, casou-se com Aracy Rego Jardim, filha de comerciante de tecidos no Rio de Janeiro, tendo como padrinho o Presidente da República, Washington Luis, em cerimônia realizada pelo Cardeal Primeiro do Rio. (Dona Aracy foi a primeira e única Presidente da Câmara de Vereadores de Resende). O casal Tibi/Aracy teve apenas um filho, o César Luís Jardim Wright, morador de Resende, um dos principais líderes do PT local, e proprietário da Astral Sul, uma socie-

Alcides Ribeiro WrightEsta invocação é uma Prece Mundial

Expressa verdades essenciais. Não pertence a nenhuma religião, seita ou grupo em especial. Pertence a toda humanidade como

forma de ajudar a trazer a Luz Amor e a Boa Vontade para a Terra. Deve ser usada

frequentemente de maneira altruísta, atitude dedicada, amor puro e pensamento concentrado.

A Grande Invocação

Desde o ponto de Luz na Mente de Deus,que aflua Luz às mentes dos homens.

Que a Luz desça à Terra.

Desde o ponto de Amor no Coração de Deus, que aflua Amor aos corações dos homens.

Que aquele que vem volte à Terra.

Desde o Centro, onde a Vontade de Deus é conhecida, que o propósito guie

as pequenas vontades dos homens.O propósito que os Mestres conhecem

e a que servem.

Desde o centro a que chamamos raça humana, que se cumpra

o plano de Amor e Luz. E que se feche a porta onde mora o mal.

Que a Luz, o Amor e o Poder restabeleçam o Plano Divino na Terra.

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Page 16: Ponte Velha - Setembro de 2011

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Sr.Zé Leon,Li seu artigo: “A conversa fiada

do trem bala” e fiquei bastante triste por ver uma pessoa inteli-gente como o senhor, estimular rivalidade entre irmãos de um mesmo país, segundo me pareceu. Sou de Uberaba e estou morando em Resende desde 1986. Rio de Janeiro é uma “cidade maravi-lhosa” de fato, encantadora. São Paulo é uma cidade deliciosa-mente linda . Belo Horizonte, ídem. Curitiba é sensacional, as cidades do sul, do nordeste, do norte, do centro-oeste, do sudeste, cada uma tem seus encantos e em todas vivem pessoas /irmãs por nossa origem divina (somos todos, filhos do mesmo Pai infinitamente amoroso) ,todos brasileiros desse País que recebe gente de toda parte, generosamente. Ficaria feliz se não precisasse ler textos como esse,percebendo que o senhor refle-tiu melhor e viu que tenho razão.Peço-lhe que me desculpe por discordar do que o senhor escreveu .Muitíssimo agradecida, D.Pereira

Carta ao Zé Leon

O Centro Cultural Visconde de Mauá convida para a abertura da expo-sição “Entalhes em Madeira” - A arte de Antônio Barbosa. Esse pernambu-cano de 61 anos, ex-morador da região de Visconde de Mauá, que entalha desde os 14 anos, apresenta-nos antigos e novos trabalhos nessa mostra individual.A exposição ficará aberta sábado, domingo e feriado, das 10 às 18h, do dia 4 de setembro ao dia 16 de outubro de 2011, abrindo também durante a semana para as visitas guiadas para a comunidade escolar.

Os Entalhes de A.Barbosa

No dia 20 de setembro - uma terça feira - às 19h no auditório do CDL, o docente da Fundação Logosófica Marcelo Damasceno fará palestra sobre

o tema “Onde está a chave da felicidade?”. Ele vai apresentar situações e propor reflexões com intuito de mostrar as oportunidades que todos

temos no dia a dia para a construção da felicidade. Segundo a Logosofia, é possível através de ações conscientes, coordenadas inteligentemente, ter-se

um controle diário das próprias ações, com base num método em prol da superação humana. O Centro de Difusão da Logosofia em Resende

fica na sala 310 -G2 do Edifício Golden Center. Os telefones são 3321 1585 ou 3355 1212

A Chave da Felicidade

Eles estão VoandoEste pessoal aí, da Banda Cuba, está em estado de graça musical, que

é quando a técnica se funde com a alegria. Como o time do Barcelona: entrosamento, harmonia entre os sete músicos, gols belíssimos. A base do

repertório são as músicas do Buena Vista Social Club, com variantes que se ajustam ao mesmo espírito. É imperdível. Como diz o guitarrista Élcio Drumond, a gente vê muita música ao vivo mas é raro ver músicos vivos. Portanto, atenção para a próxima apresentação. Essa aí da foto foi na Asso-ciação Arcanjo Gabryel, durante um jantar cubano. A Arcanjo, por sinal, vai promover saraus litero-musicais às sextas-feiras, quinzenalmente, a partir do dia 23 de setembro. Mais informações - 33513217. Um salve pra a Banda Cuba! - Gustavo Holanda, Fernando Faria, Rafael Procacci, Nino, Uirá, Marcelo Dertônio e Luis Lima (o popular Japão).

O Cabôco é QueridoNosso colunista e poeta Laís Amaral é um sujeito querido, haja visto a

quantidade de amigos que superlotaram o sempre concorrido bar Uai e Su no lançamento de seu livro Água de Passarinho. Foi uma festança, com mesas pela calçada, gente dançando na rua, amigos de variadas “tribos”

de Resende confraternizando, uma beleza. O bom samba ficou a cargo de Thiago Zaidan, Guido, Herbert e muita gente cantando e dizendo poesias.

O livro do Laís se divide em uma parte de versos livres e outra de sonetos, e pode ser encontrado nas boas casas do ramo. Bom poeta, conhecedor do

dificil ofício de dizer as mesmas coisas de sempre pela primeira vez.

Nosso querido Edgar Kuhlmann é vítima há anos de uma trama

kafkiana na Serrinha. Foi colocado na dívida ativa do município por

deixar de pagar o IPTU de um terreno que ninguém localiza. Teve bens

penhorados, mas conseguiu, tempo-ráriamente, bloquear esse absurdo na

justiça. Cobrar IPTU é fácil, difícil é descobrir o gato que engoliu o ter-

rento do grande geógrafo. Na próxima edição contaremos essa história.

Kafka na Serrinha

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