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PONTES entre o Comércio e o Desenvolvimento Sustentável Fevereiro 2008 Vol. 4 No. 1 Que os EUA recolhem mais tarifas do Cambodja do que da Grã-Bretanha? País Renda per capita Importação de bens (bilhões) Arrecadação tarifária (milhões) Alíquota média Grã-Bretanha US$ 37.760 US$ 57 US$ 412 0.7% Cambodja US$ 430 US$ 2,46 US$ 419 17.0% Arábia Saudita US$ 12.510 US$ 35 US$ 45 0.1% Fonte: Progressive Policy Institute. Disponível em: <http://www.ppionline.org/ppi_ci.cfm?knlgAreaID=108&subsecID=900003&contentID=254579> Os EUA gastaram US$ 1,96 trilhão em importação de bens no ano passado. Cerca de 60% de toda a arrecadação tarifária do país tem origem num pequeno grupo de produtos domésticos, o qual responde por menos de 7% de todas as importações. Países que produzem roupas, sapatos e bagagens baratas e simples enfrentam um regime comercial muito mais restritivo nos EUA do que no restante do mundo. Em 2007, as tarifas sobre roupas importadas do Cambodja somaram US$ 419 milhões, ao passo que o valor desses bens totalizou US$ 2,5 bilhões. Em termos de porcentagem, trata-se da cifra mais elevada, em comparação aos demais parceiros comerciais dos EUA. Juntos, Cambodja, Bangladesh e Paquistão foram responsáveis por cerca de 0,4% das importações estadunidenses. 1 Rodada Doha: finalização ainda parece distante 3 Caso dos pneus: o artigo XX do GATT deixa espaço para políticas nacionais? 6 Uma abordagem concorrencial à proteção da propriedade intelectual 8 UNCTAD examina relação entre comércio e desenvolvimento 10 O futuro do regime climático: a posição da União Européia e suas implicações para os BRICs 12 Conferência de Bali abre caminho para Acordo Climático Global 14 Biodiesel no Brasil: situação e perspectivas para o combustível do futuro 17 Com Obama, Hillary ou McCain a política de comércio exterior dos EUA deve continuar travada 19 O “novo regionalismo asiático”: maior integração ou mais um spaghetti bowl? 22 A nova Argentina e o futuro da integração VOCê SABIA? PONTES está disponível on-line em: http://www.ictsd.org/monthly/pontes e http://www.edesp.edu.br/ Para receber o PONTES via e-mail, por favor, escreva uma mensagem para [email protected], informando seu nome e profissão Rodada Doha: finalização ainda parece distante As minutas dos textos de agricultura e a acesso a mercado de bens não agrícolas (NAMA, sigla em inglês), publicadas em fevereiro de 2008, não foram suficientes para romper o impasse das negociações da Rodada Doha, que já dura 7 anos. Nenhum dos dois textos sobre modalidades apresenta grandes surpresas. As minutas não abordaram, por exemplo, os números para apoio agrícola interno, cortes tarifários e a fórmula para a redução de tarifas de importação para produtos não agrícolas - propostos no texto de julho de 2007. Desde a publicação dos dois textos, os governos dos Membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) têm trabalhado para identificar os elementos com os quais não estão de acordo. A Argentina afirmou que não aceitará o texto sobre NAMA e o Ministro de Agricul- tura francês, Michel Barnier, chamou o novo texto sobre agricultura de “inaceitável” e ainda mais desbalanceado que sua versão prévia. Barnier afirmou, ainda, que conta com o apoio de 19 outros ministros europeus. Flexibilidades no texto sobre agricultura: sob fogo cruzado Três temas dominaram os comentários dos Membros sobre a minuta de texto de agricultura: (i) o número e o tratamento a ser dado aos produtos “sensíveis” e “especiais”; (ii) as provisões para países em desen- volvimento (PEDs) propostas para um mecanismo de salvaguarda especial (SSM, sigla em inglês); e (iii) um novo requerimento para a média mínima relativa a cortes tarifários. O G-33, grupo de PEDs sensíveis a importações, afirmou que as disciplinas propostas para SSM – que supostamente devem proteger fazendeiros contra importações massivas – são extremamente inade- quadas e tornarão o mecanismo ineficaz e não-opera- cional. O G-33 solicita isenção de 8% de suas linhas tarifárias agrícolas de quaisquer cortes, pedido que se encontra, entre colchetes, no texto de fevereiro. Entretanto, o texto traz uma linguagem opcional proposta pelos Estados Unidos da América (EUA), que sujeita todos os produtos agrícolas a cortes tarifários, inclusive os produtos “especiais” que os PEDs pode- riam proteger de reduções tarifárias convencionais. O G-33 afirma que tal proposta não deveria ser incluída nas modalidades, nem mesmo como uma opção, mas Susan Schwab, Representante de Comércio dos EUA,

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PONTES entre o Comércio e o Desenvolvimento SustentávelFevereiro 2008

Vol. 4 No. 1

Que os EUA recolhem mais tarifas do Cambodja do que da Grã-Bretanha?

País Renda per capita Importação de bens (bilhões) Arrecadação tarifária (milhões) Alíquota média

Grã-Bretanha US$ 37.760 US$ 57 US$ 412 0.7%

Cambodja US$ 430 US$ 2,46 US$ 419 17.0%

Arábia Saudita US$ 12.510 US$ 35 US$ 45 0.1%

Fonte: Progressive Policy Institute. Disponível em: <http://www.ppionline.org/ppi_ci.cfm?knlgAreaID=108&subsecID=900003&contentID=254579>

• OsEUAgastaramUS$1,96trilhãoemimportaçãodebensnoanopassado.Cercade60%detodaaarrecadaçãotarifáriadopaístemorigemnumpequenogrupodeprodutosdomésticos,oqualrespondepormenosde7%detodasasimportações.

• Paísesqueproduzemroupas,sapatosebagagensbaratasesimplesenfrentamumregimecomercialmuitomaisrestritivo nos EUA do que no restante do mundo.

• Em2007,astarifassobreroupasimportadasdoCambodjasomaramUS$419milhões,aopassoqueovalordessesbenstotalizouUS$2,5bilhões.Emtermosdeporcentagem,trata-sedaciframaiselevada,emcomparaçãoaosdemaisparceiroscomerciaisdosEUA.

• Juntos,Cambodja,BangladeshePaquistãoforamresponsáveisporcercade0,4%dasimportaçõesestadunidenses.

1 Rodada Doha: finalização ainda parece distante

3 Caso dos pneus: o artigo XX do GATT deixa espaço para políticas nacionais?

6 Uma abordagem concorrencial à proteção da propriedade intelectual

8 UNCTAD examina relação entre comércio e desenvolvimento

10 O futuro do regime climático: a posição da União Européia e suas implicações para os BRICs

12 Conferência de Bali abre caminho para Acordo Climático Global

14 Biodiesel no Brasil: situação e perspectivas para o combustível do futuro

17 Com Obama, Hillary ou McCain a política de comércio exterior dos EUA deve continuar travada

19 O “novo regionalismo asiático”: maior integração ou mais um spaghetti bowl?

22 A nova Argentina e o futuro da integração

Você sAbIA?

PONTES está disponível on-line em: http://www.ictsd.org/monthly/pontes e http://www.edesp.edu.br/Para receber o PONTES via e-mail, por favor, escreva uma mensagem para [email protected], informando seu nome e profissão

Rodada Doha: finalização ainda parece distante

Asminutasdostextosdeagriculturaeaacessoamercadodebensnãoagrícolas(NAMA,siglaeminglês),publicadasemfevereirode2008,nãoforamsuficientespararomperoimpassedasnegociaçõesdaRodadaDoha,quejádura7anos.

Nenhumdosdoistextossobremodalidadesapresentagrandes surpresas.Asminutasnão abordaram, porexemplo, os números para apoio agrícola interno,cortestarifárioseafórmulaparaareduçãodetarifasdeimportaçãoparaprodutosnãoagrícolas-propostosno texto de julho de 2007.

Desdeapublicaçãodosdois textos,osgovernosdosMembrosdaOrganizaçãoMundialdoComércio(OMC)têmtrabalhadoparaidentificaroselementoscomosquaisnãoestãodeacordo.AArgentinaafirmouquenãoaceitaráotextosobreNAMAeoMinistrodeAgricul-turafrancês,MichelBarnier,chamouonovotextosobreagriculturade“inaceitável”eaindamaisdesbalanceadoquesuaversãoprévia.Barnierafirmou,ainda,quecontacomoapoiode19outrosministroseuropeus.

Flexibilidades no texto sobre agricultura: sob fogo cruzado TrêstemasdominaramoscomentáriosdosMembrossobreaminutadetextodeagricultura:(i)onúmeroeotratamentoaserdadoaosprodutos“sensíveis”e

“especiais”; (ii) asprovisõesparapaíses emdesen-volvimento (PEDs) propostas paraummecanismodesalvaguardaespecial(SSM,siglaeminglês);e(iii)umnovorequerimentoparaamédiamínimarelativaa cortes tarifários.

OG-33, grupo de PEDs sensíveis a importações,afirmouqueasdisciplinaspropostasparaSSM–quesupostamente devem proteger fazendeiros contraimportaçõesmassivas – são extremamente inade-quadasetornarãoomecanismoineficazenão-opera-cional.OG-33solicitaisençãode8%desuaslinhastarifáriasagrícolasdequaisquercortes,pedidoqueseencontra, entre colchetes, no texto de fevereiro.

Entretanto, o texto traz uma linguagemopcionalpropostapelosEstadosUnidosdaAmérica(EUA),quesujeitatodososprodutosagrícolasacortestarifários,inclusiveosprodutos“especiais”queosPEDspode-riamprotegerdereduçõestarifáriasconvencionais.OG-33afirmaquetalpropostanãodeveriaserincluídanasmodalidades,nemmesmocomoumaopção,masSusanSchwab,RepresentantedeComérciodosEUA,

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PONTES - Fevereiro 2008 2

PONTESentre o Comércio e o Desenvolvimento SustentávelPONTEStemporfimreforçaracapacidadedosagentesnaáreadecomérciointerna-cionaledesenvolvimentosustentável,pormeiodadisponibilizaçãodeinformaçõese análises relevantes parauma reflexãomais aprofundada sobre esses temas. Étambémuminstrumentodecomunica-çãoedegeraçãode idéiasquepretendeinfluenciartodosaquelesenvolvidosnosprocessosdeformulaçãodepolíticaspú-blicasedeestratégiasparaasnegociaçõesinternacionais.

PONTES foi publicado pelo CentroInternacional para oComércio e oDe-senvolvimento Sustentável (ICTSD) epelaEscola deDireito de SãoPaulo daFundaçãoGetulioVargas(DireitoGV).

Comitê EditorialMaximilianoChab MichelleRattonSanchez

EditoraMônicaSteffenGuiseRosina AdrianaVerdier

EquipeManuelaTrindadeViana CecíliaKanetoOliverio DanielaHelenaOliveiraGodoy LeonardoMargonatoRibeiroLima

ISSN: 1813-4378

ICTSDDiretorexecutivo:RicardoMeléndez-Ortiz 7, chemin de Balexert 1219,Genebra,Suíça [email protected] www.ictsd.org

DireitoGVDiretorGeral:AryOswaldoMattosFilho RuaRocha,233-8°andar-BelaVista 01330-000,SãoPaulo-SP,Brasil [email protected] www.edesp.edu.br

As opiniões expressadas nos artigos assinados em PONTES são exclusivamente dos autores e não refletem necessariamente as opiniões do ICTSD, da DireitoGV ou das instituições por eles representadas.

Espaço aberto

expressousuapreocupaçãoemrelaçãoaos8%de linhas tarifárias e aos potenciaisaumentostarifáriosprevistosnoSSM.

AUniãoEuropéia(UE)eoutrospaísesqueapresentam setores agrícolas altamenteprotegidos rejeitaram o requerimentoadicionalparaqueastarifasagrícolasdepaíses desenvolvidos (PDs) sejam a, nomínimo,54%(emmédia).Paraessespaí-ses,asprevisõesdaminutadetextopedemexpansõesdequotasmuitodrásticasparaprodutos“sensíveis”.

Questões de equilíbrio continuam a tumultuar as negociações de NAMAO texto deNAMAdesencadeou reaçõesmaiscríticasdoqueotextodeagricultura–exatamenteconformeocorridoemjulhode2007.Aprincipalmudançanosnovostextos foiaeliminaçãodenúmeros indi-cativos estabelecidoshá jámuito tempoparaderrogaçõesdetarifasconvencionaispara PEDs.Apesar dos pontos de vistacontrastantesemrelaçãoàextensãodetaisflexibilidades, tantoPEDs e quantoPDsargumentaramque a eliminação de taisnúmerosaumentariaoníveldeincertezanasnegociações.

A coalizão de PEDs conhecida comoNAMA-11 tambémpediu ao presidentedasnegociaçõesdeNAMAquereintegreosnúmerosaotexto.OgrupotambémcriticouaminutadeNAMApornãoestaremequi-líbriocomaminutadeagricultura,jáqueaprimeiramanteveaabrangênciacontroversaparacortestarifáriosdotextodejulho.

Poucoantesdasminutasdetextoseremcirculadas,ogovernoargentinoameaçoubloquearonovotextodeNAMAseelenão apresentasse uma diferença de 25pontos entre os coeficientes de PDs ePEDs,bemcomomaioresflexibilidades.AArgentinacomparouasflexibilidadesdeNAMAcomaquelasdasnegociaçõesagrícolas,asquaisnãoestãosujeitasaumlimitedevolumedeimportação.

Expectativas quanto aos textos revisados e mini-ministerial ainda incertaDiversospaísespediramumarevisãomaisprofundadostextosdeagriculturaeNAMAantesdoiníciodoprocessodenegociações“horizontal”, no qual haverá trocas deconcessões entre osMembros em temascomosubsídiosetarifasagrícolaseacesso

amercado para bensmanufaturados.Ospresidentesdosdoisgruposdenegociaçãoafirmaram que somente revisarão seus textosquandoosMembroslevaremmaisopçõesàmesadenegociações.

OEmbaixadorCrawfordFalconer,presidentedasnegociaçõesagrícolas,admitiuestarumtantoquantofrustradocomograudenego-ciaçõesdaprimeirasemanadeconsultasapósacirculaçãodaminuta.Amenosquehajaumamudançadetomentreosnegociadoresnaspróximas semanas, Falconer afirmouquenãopoderárevisarseutextoatéofinaldomês.OPresidentedasnegociaçõesdeNAMA,DonStephenson,tambémafirmounãopossuirmaterialsuficienteparapublicarsuasegundarevisãododocumento.

OsEUAeaUEsãoafavordeumamini-ministerialparaaconclusãodasnegocia-ções sobremodalidades de agricultura eNAMAaofinaldeabril.DiversosoutrosMembros–incluindoaÍndia–enfatizaramqueoprocessodeveserorientadoporsuasubstância e não por datas predetermi-nadas.ParaessesMembros,umareuniãoministerialnãodevesermarcadaatéquehajaumgrausuficientedetrabalhoreali-zadopelosnegociadores que indiqueumresultadodesucessoparaasnegociações.AlgunsMembros especularam que issopoderia atrasar a data daministerial atéjunho,oumesmojulho,de2008.

Tantoospresidentesdasnegociaçõesagrí-colasedeNAMAcomooDiretorGeraldaOMC,PascalLamy,concordamqueoritmodasnegociaçõesdeveserconduzidopela substância. Lamy, entretanto, lem-brouosMembrosdequeelesnecessitamdeseisaoitomesesapósadecisãosobremodalidades para poderem finalizar aRodadaatéofinaldesteano.

Odesafioprincipalenfrentadopelosnego-ciadorespodeserresumidoemumapalavra:equilíbrio.Esse equilíbrio refere-se: (i) àsobrigaçõeseaosinteressesdePEDsePDscomrelaçãoàsfuturasregulamentaçõesemagriculturaeNAMA;(ii)aoníveldeambi-çãoentreessasduasáreas;e(iii)àsegurançadadaaosMembrosqueprocuramgarantirseusinteressesemoutrostemas–taiscomoserviços,antidumpingeregrasparapesca–dequeessesúltimosnãoserãodeixadosdeladoumavezqueabarganhaentreagri-culturaeNAMAestejafinalizada.

Tradução e adaptação de artigo originalmente publicado em BRIDGES Monthly Review, Ano 12, n. 1, fevereiro.

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3 Fevereiro 2008 - PONTES

OMC em foco

caso dos pneus: o artigo XX do GATT deixa espaço para políticas nacionais?

Hannes schloemann*

PolíticasnacionaisdeproteçãoàsaúdeeaomeioambienteeatémesmoproibiçõesàimportaçãogozamtantodaproteçãoprevistapeloArtigoXXdoGATTquantodasimpatiadoÓrgãodeApelação(OA)daOrganizaçãoMundialdoComércio(OMC)–desdequenãointroduzamdiscriminaçãoinjustificada.Ocasodospneuspodefacilitaradefesada“necessidade”detaismedidas,mas,poroutrolado,tambémpodedificultarsuautilizaçãonocontextodeacordosregionaisdecomércioeoutrosacordospreferenciais.

Exatamentetrêsmesesapósanotificaçãode apelaçãodasComunidadesEuropéias(CE), oOAveiculou, em3de dezembrode 2007, o relatório sobre o caso Brasil – Medidas que afetam importações de pneus reformados1. Conforme havia sido decidido pelopainel,oOAmanteveaconclusãodequeaproibiçãoàimportaçãodepneusrefor-madosaplicadapeloBrasilera,emprincí-pio,justificadapelodireitodeosMembrosprotegerem a vida e a saúde humana,animalevegetal,previstonoArtigoXX(b)doGATT.Contudo,oOAtambémreafir-mouqueaaplicaçãode talmedida peloBrasil havia sido dis-criminatória, o que a isentavadaprovisãodoArtigoXX,caput, do GATT.

Embora o Brasi l tenha perdido “nacontagem dos pon-tos”,adecisãorepre-senta uma vitória esmagadoradaapli-cação de políticasambientais e de saúdepública sobredisciplinas comerciais. AmensagemenviadapeloOAaosMembros daOMCfoi,nãopelaprimeiravez,(quase)direta:seseusobjetivossãolegítimosesuasmedidasrazoáveis,nãosepreocupeemdemasiadocomdetalhestécnicos;osistemaestácomvocê.Preocupe-se,entretanto,comofator“discriminação” – estenão será toleradopornós,anãoserqueconstituapartelógicadesuapolíticadeproteção.

Umamensagemadicionalvaiaosgovernosdospaísesemdesenvolvimento(PEDs)comrecursoslimitadosàsuadisposição:nãoháobrigaçãoderealizaranálisesprofundasecustosas,emparticular,projeçõeseconômi-casquantitativas(aindaquebem-vindas),ao estabelecer a existência da “necessi-

dade”deumamedida.Oraciocínioquali-tativo,indutivoelógico,baseadoemdadoscientíficosdisponíveis,seránormalmenteconsideradosuficiente.

Reações conflitantes

Organizaçõesnão-governamentais(ONGs)quehaviamcriticadofortementeasCEpelacontestaçãodamedidabrasileiracriticaramaindamaisadecisãodeapelardadecisãodopainel.Talvezagoraelasdevessemenviarflores a Bruxelas – umavez que a atua-

ção das CE levouà adoção de umadecisãoquealargaeconsolidaumespaçoreservadopara polí-ticas nacionais de meio-ambiente e de saúde.Atãotemida“tendência comer-cialista”dosistemaderesoluçãodecon-trovérsias daOMCparece, ao menosnesta decisão, ter sido invertida. A empatiaexplícitadopainel e doOApor

uma política ambiental preventiva, queconsistia, no caso em questão, em evitar oacúmulodedetritosdepneusao invésde simplesmentemanejá-los e controlarseu descarte (alternativa proposta pelasCE),pareceterofuscadoapreocupaçãodaOMCcomosprofundosefeitoscomerciaisacarretadospelamedida.

Jáentreosjuristas,nãoháconsenso.Ospuristasdevemestarfrustrados,osprag-máticos, mais ou menos satisfeitos e os combativos, em total deleite. A análise da “necessidade” damedida permaneceum conceito flexível e abrangente nasmãos doOA.O teste de “ponderação esopesamento”, em particular, constituiumtesteveladodeproporcionalidadeque,

deformamiraculosa,funcionabemapesardaausênciadeumsistemadevalorespré-estabelecido.Talvezfossemelhorchamá-lode“testededesproporcionalidade”.OcaputdoArt.XX,apesardeadornadocomfortes adjetivos (“arbitrário”, “injustifi-cável” e “disfarçado”), opera comoumarestrição genérica contra abusos –masuma restrição severa no que tange àsdiscriminações: apenas as que seguiremamesma lógica de proteção damedidanacional serão toleradas.

Osobservadores de políticas comerciaistambém possuem perspectivas diferen-ciadas.Ao passo que o comércio pode edeve dar preferência amedidas políticasdeboa-fé,aomenosàquelasqueatendamaanseios essenciais da sociedade, tais como aproteçãodasaúdeedomeioambiente,issodeve acontecer semdiscriminação edemodoanãoconstituiraplicaçãoabusivadeumapolítica comercial protecionista.Umavezqueesseequilíbrioéoúnicoquesepodevislumbraremumainstituiçãoquenão conta com uma autoridade central e comum texto constitutivo abrangente,os verdadeiros admiradores do sistema da OMCdevem, provavelmente, simpatizarcomadecisãodoOA.

As decisões do painel e do OA

OOAeopainelrejeitaramosataquesfeitospelasCE à “necessidade” da proibição àimportação.OOAaceitoua“ponderação”e o “sopesamento” de fatores e, comoopainel,considerouquenenhumadasalter-nativaspropostaspelasCEera,aomesmotempo,adequadaedisponíveldeimediatoao Brasil. Ambas as instâncias considera-ramqueoArt.XXdoGATTjustificavaaproibiçãoàimportação.

Contudo, as duas instâncias discordaram quanto ao caput doArtigoXX.OpainelconsiderouquetantoaexceçãodoMerco-sul quanto as liminares concedidas cons-

… a decisão representa uma

vitória esmagadora da aplicação de

políticas ambientais e de saúde pública sobre disciplinas

comerciais.

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PONTES - Fevereiro 2008 4

OMC em foco

tituíampráticadiscriminatória.Concluiu,entretanto, que nenhuma das duas era arbitrária, visto que ambas constituíamimplementaçõesdedecisõesjudiciaisporadministradores e legisladores, demodoque suas açõesnão erammotivadas porcaprichos, não eram aleatórias e nemimprevisíveis(elementosdeumadefiniçãode dicionário da palavra “arbitrário”).Oresultado, entretanto, foi diferente quanto à“discriminaçãoinjustificável”.

Opainel avaliouos impactosquantitati-voseconcluiuqueaexceçãodoMercosulnãogeravaumfluxodeimportaçõessufi-cientemente significativopara contrariaro propósito damedida.Concluiu, ainda,queomesmonãopoderiaserditoquantoà importaçãode pneususados permitidaemvirtudedasliminaresconcedidaspelajustiçabrasileira,demodoqueasmesmascriavam uma “discriminação injustifi-cada”,namedidaemque,aoultrapassarolimite,asimportaçõeseramcontráriasaopropósitodamedida.

OOA rejeitou tal análise quantitativa econcluiuquetantoaexceçãodoMercosulquantoapermissãodeimportaçãopormeiodas liminares constituíamdiscriminação“arbitráriaeinjustificável”,umavezquenãosefundavamnamesmalógicadaproi-biçãoàimportação.Definiu-se,assim,essecritériocomooúnicorelevante.

Muitopoderia–edeveria–serditoares-peitodosdetalhesdestecaso,incluindoonovocritériode“contribuição”(demasiadopermissivo?),otestede“alternativas”queumMembrodeveriaaceitar(poucas)easpotenciaisarmadilhasderígidasbarreirascontra a discriminação introduzidaspelocaput (que provavelmente afastariam otratamentoespecialediferenciadoedificul-tariamajustificaçãodepolíticasregionais).Como o espaço do presente artigo nãopermitetalanálise,apresenta-se,aseguir,uma lista ordenada de assuntos relevantes aosusuáriosdoArtigoXX(b).

Checklist - Onde está o espaço para as políticas nacionais?

O que eu viso proteger está in­cluído nos parágrafos do Artigo XX? Esse é um teste relativamente objetivo(comalgumamargemdeapreciação),quepodeeserárevistopelospainéisepeloOA.Contudo,aabrangênciadetaisparágrafoségrande,demodoqueoespaçoparaaadoção

depolíticasnacionaisévasto.A“proteçãodavidaedasaúdehumana,animalevege-tal”, por exemplo, abrange confortavel-mente quase todos os temas relacionados àsaúde,váriosdelespodendoserconside-rados“ambientais”(osdemaissãocobertospeloparágrafo(g)).Àexceçãodeeventuaisfraudesaodenominaramedida,osMem-brossãodotadosdeamplospoderesnessaetapa(atençãoespecial,contudo,deveserdada à “restriçãodisfarçada ao comérciointernacional”,ArtigoXX,caput).

Qual é o “nível de proteção” que eu desejo implementar? Nesteponto,osMembrossãoplenamentelivres para estabelecer seus objetivos,segundoafirmaoOA–e,atéomomento,isso não suscitou discordâncias.Mas aquestão torna-semais dinâmica: oBrasildefiniu,comaaprovaçãodoOA,seuníveldeproteçãocomo“areduçãodoriscodeacumulaçãodedetritoscausadosporpneus,namedidadopossível”.Issosignificaquequalquermedidaquenão configureumatotal eliminação de tais riscos (dengue,malária, intoxicação causada pela quei-madadepneus)nãoseráobastante,desdequeaindaexistaalgoquepossaser feito.Assim, uma dinâmica de “tanto quantopossível”possuidoisefeitos.

Primeiramente, éprovávelquetaldinâ-mica afete a análise da “contribuição”.Em segundo lugar,coloca todas as alter-nativaspotenciaisnadefensiva, especial-mente porque nãohácomorealizarumcálculo líquido decustos e benefícios,já que as alternativas podemfuncionardemodo diferente da medidaoriginal.Seoalvonãofordefinidode maneira estática (“x”casosdemaláriaevitados),alternativasmaiscomplexaspropostaspelosdemandan-tesnãoterãograndeschancesdeprevalecer.Éoqueaconteceunocasooraanalisado.OpaineleoOAaceitaramrapidamenteoargumento(provavelmentecorreto)defen-didopeloBrasildequeevitaraproduçãodedetritosseriaumamedidadeproteçãomais eficaz do que o gerenciamento e acoleta de detritos. Ainda que tecnicamente trate-sedeumaanálisedistinta,serádifícilevitar uma conclusão intuitiva se a meta

deproteção for “tantoquantopossível”,sendo ausente qualquer análise quantita-tiva dos resultados efetivamente obtidos. Sobumaperspectivacomercial,levanta-seoproblemadoforteviésprotecionistadetaldinâmica,umavezquedizer“não”(sobaformadeumaproibiçãoàimportação)émaisfácildoquedizer“sim,mas...”.Dequalquermodo, o espaço para políticasnacionais nessamatéria é vasto, já queapenasocéupareceserolimite.

A medida é “necessária” para alcançar o nível de proteção desejado? É aqui que as coisas ficamcomplicadas.Tomandopor base a decisãodo casodospneus,épossíveltraçaraseguintesub-lista:

• Amedida “contribui” para atingir aproteçãodesejada? Emcasoafirmativo,até que ponto? Aqui, duas coisas são importantes: o grau e a efetivaocorrência dessa “contribuição”. OsegundoaspectoconsisteemsaberseoOAdiminuiuseuníveldeexigênciaem relação ao estabelecido no casoCoréia–carnes,noquala“extensão”dacontribuiçãodeveserexaminadacomoum componente para a “ponderaçãoe sopesamento” . O Bras i l não

forneceu análises q u a n t i t a t i v a s , mas o painel ficouc o n v e n c i d o d e que a p ro ib içãoà i m p o r t a ç ã oe r a s u f i c i e n t e pa ra f o r nece r a“ c o n t r i b u i ç ã o ”r e q u e r i d a . E m pr incípio , o OAconcordou(eignorousuas divergênciasg r a d u a i s c o ma s c o n c l u s õ e sdo pa ine l ) , masf o r m u l o u s e u critériodoseguintemodo:amedidaestá

aptaaatingirameta?Éprovávelqueelaforneçaumacontribuiçãomaterialparatanto?Éimportanteressaltarque“aptidão”e“probabilidade”nãoexigemprojeções quantitativas elaboradas,baseadas em análises econômicasprecisas (que são difíceis e custosas).Umaperspectivaindutivamaisabstrata(emais ao gosto dos advogados), queolhaparaasrelaçõeslógicasdecausaeefeito,tambéméaceitável (análisesquantitativaspermanecembemvindas,

O painel e o OA aceitaram rapidamente o

argumento … de que evitar a produção de

detritos seria uma medida de proteção mais eficaz do que

o gerenciamento e a coleta de detritos.

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5 Fevereiro 2008 - PONTES

OMC em foco

atítulodeapoio).TalanálisequalitativafacilitasignificativamenteatarefadosMembrosaodemonstrarseuargumentode“necessidade”–ereservaumespaçosignificativoparapolíticasnacionais.

• Qualaimportânciadovalorprotegido?Ofundamentoparataljuízodevalor,feitopelosórgãosjurisdicionaisdaOMC,nãoéclaro,umavezque faltaumsistemaabrangentedevaloresnoqual sepossabasear – o senso comum, apoiadoporevidênciasdecomopensamaOMCeacomunidade internacional,pareceseromelhorguiaparapreverareaçãodoOA.Comooqueestáemcursoéumtestenegativo (podemosdizeraumMembroqueovalorqueeleprotegenãoérelevanteo bastante?), o espaço para políticasnacionaisoriundodadeferênciadosórgãosdaOMCdevesersignificativo.

• Emqueextensãoamedidadeproteçãorestringeocomércio?Esteéumtestetécnico,passívelderevisãopelospainéisepeloOA–afinal,estaéasuaprincipalespecialidade. Não há espaço parapolíticasnacionaisaqui.

Medidas de igual eficiência e de menor efeito restritivo ao comércio estão prontamente disponíveis?

Estabelecerseumamedidaé“igualmenteeficiente”éumtestetécnico.Éimportantedestacarquenãohácompensaçãodecustos.Dizer se asmedidas estão“prontamentedisponíveis”, implica um juízo de valor–masissopodeserexigidodosMembrosemtermosdecustos,riscosedificuldades?Nocasodospneus,tantooOAquantoopaineladotaramumavisãomuitorestritaacercadasmúltiplasalternativaspropostaspelasCE.Riscospotenciaisealtoscustoseliminaram com facilidade as alternativas propostas, deixandoumespaço significa-tivoparaaspolíticasbrasileiras.Comojáfoidito,“menorefeitorestritivoaocomér-cio”éumtestetécnico,passívelderevisão.Pode até tornar-se complicado se váriosinteressescomerciaisagirememdireçõesopostas,masatéagora issonãotemsidoumgrandeproblema.

Ponderação e sopesamento

Na verdade, não está totalmente claroquandoecomoaponderaçãoeosopesa-mentodevemocorrer.Sejacomofor,oOAafirmaqueesteéumexercícioflexível,até

“holístico”,quedeveserrealizadocasoacaso.MasoqueissosignificaparaosMem-bros?Umacertainsegurançajurídica,queaofinaltrazumamargemsignificativadeapreciação(riscoseprojeções)edediscri-cionariedade (escolha demeios de ação).Esta abordagem é um verdadeiro testede proporcionalidade, com importantesjuízosdevalora seremrealizados,oquenão deixa de ser questionável diante da ausênciadeumtextoconstitutivoabran-gente. Contudo, graças à interpretaçãoestritarealizadapelospainéisepeloOA,essaetapafuncionamaiscomoum“testededesproporcionalidade”–epode-sedizerque funciona bem.

A medida resulta em “discrimi- nação arbitrária ou injustificá- vel”? Existe discriminação?

Oqueconstituidiscriminação,namaioriadasvezes,érelativamentefácildeidentifi-car.Note-sequea“semelhança”nãoépartedestaanálise,seuescopoémaisabrangente.Nãoháespaçoparapolíticasnacionaisaqui–otesteétécnicoesujeitoarevisão.

Adiscriminação é “arbitrária e injustifi-cável”?“Arbitrária”e“injustificável”sãoduas definições quenão possuemmuitaimportânciacomotermosjurídicos,eesteéumclaro resultadodo caso dos pneus.Seráqueoqueostermosrealmentesigni-ficamé:adiscriminaçãoestá fundadanamesmalógicanaqualse fundaamedidade proteção?Asdemais justificações sãotodas irrelevantes. Isso inclui obrigaçõesoriundasdeacordosregionaisdecomércio(como a decisão doMercosul invocadapeloBrasilnestecaso),bemcomooutrasconsiderações, incluindo consideraçõesbenevolentescomootratamentoespecialediferenciado.Otesteéjurídicoeestrito.Oobstáculodadiscriminação é bastantealto e deixa poucamargemdemanobra.Issonãoéinteiramentenovo:aexperiênciaestadunidensenos casosEUA-gasolina eEUA-camarõesnãofoidistintadabrasileiranopresentecaso.

A aplicação da medida opera como uma “restrição disfarçada ao comércio”?

Maisumavez,trata-sedeumtestetécnico–aindaquesejanecessárioavaliarapurezadamotivação não-comercial por trás damedida(ocritériodo“disfarce”).OspainéiseoOA,entretanto,nãogostamderejeitara

motivaçãodeumMembro,acusando-odeter interesses comerciais ocultos, a não ser queexistamprovasinequívocasparatanto.Osbenefíciosdaproteçãoaocomércioquesurgirem demedidas ambientais ou desaúdenãosãoumproblemaper se–enocasodospneus, funcionaramatémesmocomopartedomecanismo.

Demodo geral, existe um significativoespaçoparapolíticasnacionaisdeacordocomoArtigoXX.É importante ressaltarque o teste de “necessidade” é omaisimportantenesta discussão e deve ser otestemais rigoroso dentre todos os con-tidos naquele artigo.O caso dos pneus,entretanto, também tratou de riscosodiososàsaúdehumanapelosquaistodostêmsimpatia,oquecertamenteajudounodelineamentodasconclusõesjurídicas.Nãosepodeesperarsimpatia(nemflexibilidade)quanto a discriminações – ponto impor-tante a ser lembrado pelos formuladoresdepolíticaspúblicas.

* Hannes Schloemann é diretor do WTI Advi­sors Ltd., escritório de consultoria em política comercial, e sócio do escritório de advocacia MSBH Rechtsanwälte.

1 Para umhistórico do contenciosoBrasil-pneus,consulteosseguintesartigos:“Ocasodos pneumáticos: preferências regionais equestõesambientais”(PontesBimestral,vol.1, n. 4, disponível em: <http://www.ictsd.org/monthly/pontes/PONTES1-4.pdf>); “AimportaçãodepneusreformadoseoDireitoInternacional” (Pontes Bimestral, Vol. 2,No. 2, disponível em: <http://www.ictsd.org/monthly/pontes/PONTES2-2.pdf>);“EstabelecimentodepainelnadisputasobrepneusrecauchutadosentreasComunidadesEuropéiaseoBrasil”(PontesQuinzenal,Vol.1,No.2,disponívelem:<http://www.ictsd.org/pont_quinze/06-02-02/PQ_1-2_%20PDF.pdf>);“RelatóriodopaineldaOMCnadisputadospneuscontraoBrasil”(PontesQuinzenal,vol.2,n.1,disponívelem:<http://www.ictsd.org/pont_quinze/07-03-28/PQ%202-1pdf.pdf>);“OMCdivulga relatóriofinal sobreadisputadospneus”(PontesQuinzenal,Vol.2,No.7,disponívelem:<http://www.ictsd.org/pont_quinze/07-06-18/PQ_2-7_PDF.pdf>);“Ocasodospneus:umlitígioaindaemaberto”(PontesBimestral,Vol.3,No.4,disponívelem:<http://www.ictsd.org/monthly/pontes/PONTES3-4.pdf>); “Casodos pneus:UniãoEuropéiaapeladadecisãodaOMC”(PontesQuinzenal,Vol. 2,No. 11, disponível em:<http://www.ictsd.org/pont_quinze/07-09-10/PQ_2-11_%20PDF.pdf>);e“Casodospneus:ÓrgãodeApelaçãodaOMCimpõeregrasmaisseverasaoBrasil”(PontesQuinzenal,Vol.2,No. 18, disponível em: <http://www.ictsd.org/pont_quinze/07-12-17/PQ_2-18_%20PDF.pdf>).

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PONTES - Fevereiro 2008 6

Outros temas multilaterais

Uma abordagem concorrencial à proteção da propriedade intelectual

carlos correa*

Arelaçãoentrepropriedadeintelectual(PI)eodireitodaconcorrênciaapresentagrandesdesafiosaosformuladoresdepolíticaspúblicas,particularmenteempaísesemdesenvolvimento(PEDs)quepossuempoucaexperiêncianaaplicaçãododireitoconcorrencial.

eincentivamaconcorrência.Assim,aindaqueoartigo31(b)doAcordoTRIPSrefira-seapenasàrecusadeumalicençavoluntáriacomocondiçãopara a concessãodeumalicençacompulsória,arecusaunilateralàlicençavoluntáriadeumapatente–conhe-cida como“recusa emnegociar” – podeservir de base para a concessão de umalicença compulsória. Essas são cláusulascadavezmaispresentesemdiversas leisnacionaisdepatentes.

Uma outra abordagem, já adotada poralgunspaíses,permiteousodeinvençõesprotegidas por patentes por terceiros emcasosde recusa emnegociar, emconfor-midadecomoconceitodos“meiosessen-ciais”.Adoutrinaéaplicávelquandoumaempresanegaaoutraoacessojustoaumprodutoouserviçoabsolutamenteneces-sárioàconcorrência.

Algumas cortes estadunidenses enten-demqueainformaçãoconstituiummeioessencial à concorrência.O alcance daaplicaçãodessadoutrinaaoscasosdePI,entretanto,éduvidoso.NaUniãoEuropéia(UE),odetentordodireitodePInãotemaprerrogativadeexcluirconcorrentesdeseuusoquandoalicençaéessencialàcon-corrência(quando,porexemplo,alicençaimpedeaintroduçãodeumnovoprodutooupermitequeodetentormonopolizeummercado secundário.

OsPEDs podem tirar lições valiosas daaplicaçãodosconceitosde“recusaanego-ciar” e “meios essenciais” aplicadosnospaísesdesenvolvidos(PDs).Porém,nãohámodelosrígidoseosPEDsdevemelaborarsuasprópriasestratégiasaodireitoconcor-rencial,afimdemelhorresponderaseusinteressespúblicos.

Patentes e política concorrencialO respeito aosDPIs fundamenta-se naobtenção legal do título de propriedade.Odireitoconcorrencialpodeseraplicado

quando determinadoDPI não foi regu-larmente obtido ou não foi justificado (quandoodetentordapatentetenha,porexemplo, fraudado a autoridade conces-sora). Além disso, baixos requisitos depatenteabilidadeeproblemasnoprocessodeexamedapatentepodemlevaràcon-cessãodepatentesdebaixaqualidade,queprejudicamaconcorrência.Aaquisiçãodepatentes para propósitos frívolos ou pormeio de pedidos amplamente genéricostambém podem gerar a intervenção dedefesacomercial,mesmoemjurisdiçõesnasquaisaPIévistaemtotalcompatibi-lidadecomaleideconcorrência.

Aacumulaçãodedireitosprivados sob aformade “pacotes de patentes” tambémpodegerarefeitosanti-concorrenciais.Issopodeacontecer,porexemplo,seo“pacote”forutilizadoparaampliarinadequadamenteopoderdemercadodepatenteslegítimasa patentes ilegítimas, oupara coagirumagentealicenciarpatentesquedeveriamtersidonegadas.A“concorrênciasimulada”pode, igualmente, ensejar a proteção dodireitodeconcorrência.

Outros elementos para um regime de Propriedade Intelectual pró-concorrencialEmbora grande parte da literatura sobrepropriedadeintelectualedireitoconcorren-cialsejadirecionadaapatentes,condutasanti-concorrenciaistambémpodemocorrerfrenteaoutrosDPIs.Odireitodeautor,porexemplo,temsidoobjetodeimportanteslitígios de defesa comercial. Diversosestudos revelam que tais direitos criam poderdemonopólioequeumaprogressivaconcentraçãopodeserverificadanamaioriadosmercadosdebensdeinformação,tantoem esfera nacional como internacional. Osefeitosanti-concorrenciaisdaproteçãocontra reprodução indevida de software– especialmente aqueles de interface –,assumiram papel central em diversoscasos, notadamente aqueles envolvendo aMicrosoft.As sociedades de gestão de

OdireitodaPI sujeitaosbens intelectu-ais ao controle exclusivo dos detentores do título de propriedade. Em oposição,o direito da concorrência procura evitarbarreirasdemercadoebeneficiarosconsu-midores,garantindoqueumavariedadedefornecedoresdebens,serviçosetecnologiaspossam,defato,concorrerentresi.

Odireitodaconcorrênciapodeseraplicadodemodoeficazparacombaterpráticasanti-concorrenciais relacionadas à aquisiçãoeaoexercíciodedireitosdepropriedadeintelectual (DPIs).Muitos PEDs, entre-tanto, não dispõem de legislação con-correncial oumecanismos efetivos parasua implementação. Esses países podemmoldareaplicarpolíticasmaisabrangentesdedireitoconcorrencialquefavoreçamarelaçãoentrePIeconcorrência:éocasoderegulamentaçõesqueafetamdiretamenteaentradanomercadoeacontestaçãodeDPIs,comoaaprovaçãonacionaldeprodu-tosfarmacêuticoseagroquímicos.

Os PEDs podem criar uma estratégiaprópria para a relação entre o direito daconcorrênciaeosDPIs,jáquenãoexistemregras internacionais que restrinjam suacapacidadededisciplinarcomportamentosanti-concorrenciais relacionados à PI –comexceçãodoartigo40doAcordosobreAspectosdosDireitosdePropriedadeInte-lectualRelacionadosaoComércio(TRIPS,siglaeminglês).Éocaso,porexemplo,delegislaçõesnacionaisdeconcorrênciaqueregulamentamsituaçõesnasqueosDPIsaumentamexcessivamente os preços ouimpedemoacessoanovastecnologias.

“Recusa em Negociar” e a Teoria dos “Meios Essenciais”Aconcorrênciapodeoferecerfortesincen-tivos ao desenvolvimento de novas tecno-logiasemcertasáreas.MesmoempaísesqueoferecemamplaproteçãoaosDPIs,osgovernosaindapodemadotarmedidasqueatenuamamonopolizaçãodetecnologias

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7 Fevereiro 2008 - PONTES

Outros temas multilaterais

direitosdereproduçãosãooutrofreqüentefocodeapreensãododireitoconcorrencial.Observa-se,ainda,fortestensõesentreosobjetivos do registro demarcas e os dodireito concorrencial.

Alémdisso,orecursoimpróprioamedidasque buscam impor a proteção dosDPIspodeconfigurarcondutasanti-concorren-ciais. Liminares judiciais, por exemplo,podem ser utilizadas para prejudicar aconcorrência legítima. Por estemotivo,os tribunais dos EUA e da Europa têmsido bastante cautelosos na concessão de liminaresnoscasosenvolvendopatentes.Outroexemplosãoasmedidasaduaneiras,que tambémpodem ser utilizadas comobjetivos anti-concorrenciais.

O recurso a taismedidas deve servirparaprotegerosinteresseslegítimosdosdetentoresdeDPIs,masigualmentedeveimpedir abusos que venham a distorcera concorrência demodo indevido.NosEUA, o conceito de “litígio simulado”podeseraplicadonoscasos: (i)deabusodos procedimentos legais, notadamentequando a ação legal é baseada emDPIsadquiridos de forma fraudulenta ou em teoriasjurídicasclaramenteequivocadas;(ii)dedireitosválidos,poréminexigíveis;(iii)nosquaisodemandantesabianãoterhavidoqualquerviolação.

Asdisposiçõessobrelicençascompulsóriasexistem tanto noDPI como no direitoconcorrencial.O artigo 31(k) doAcordoTRIPSprevê explicitamente a concessãodessas licençasparapatentes.NosEUA,a justificativaparaa concessãode licen-ças compulsórias com base no direitoconcorrencialinclui:(i)ousodepatentescomomeioparaaformaçãodecartéisdefixaçãodepreçosouderestriçãoàentradadeprodutosnomercado;(ii)afinalizaçãodefusõesdeconcentraçãodemercadonasquais as patentes desempenham papelimportante; e (iii) práticas que ampliamo escopo das restrições de patentes paraalémdos limitesdoassuntopatenteado.Licenças compulsórias podem, ainda,ser concedidas quando o cruzamento delicenças limite indevidamente a concor-rência, particularmente em casos queenvolvemtecnologiassubstitutas,ouseja,tecnologiasquedefatooupotencialmenteconcorrementresi,independentementedesuascaracterísticasintrínsecas.

Oschamados“gruposdepatentes”(patentpools)representamoutrasituaçãoquepodeserobjetodeanálisesobumaperspectiva

de política concorrencial.Apesar de taisgrupos poderem ser utilizados compro-pósitos pró-concorrenciais, eles tambémpodem facilitar um conluio tácito emdiversosmercados e permitir que seusmembros imponhamexigênciasabusivasa nãomembros que busquem acesso àstecnologiasemquestão.

Porfim,osDPIsdesempenhamumpapelimportante em áreas nas quaismedidasgovernamentais determinam decisiva-mente as relações concorrenciais. Esse éclaramenteocasoderegulamentaçõesquedeterminamosrequisitosparaaprovaçãodemercadode produtos farmacêuticos eagroquímicos.O sistema sui generis de“exclusividade de informação” aplicadoemalgunspaíses–epromovidopormeiodeacordosdelivrecomércio–confereumdireitotemporáriodeusoexclusivodetalinformação para o primeiro demandante(geralmenteaempresaquedesenvolveuonovoproduto), excluindo, dessa forma, aconcorrência genérica durante o períododa exclusividade.

Restriçõesàconcorrênciapodemtambémsurgirdachamada“integraçãodoregistroda patente”, que ocorre quando a umaautoridadedesaúdenacionalficaimpedidadeaprovarummedicamentosemoconsen-timentododetentordapatente.

Recomendações a PEDs

Emconclusão,alegislaçãodePIpodeserformuladaeaplicadademododesvinculadode outras disciplinas legais, particular-mentedodireitodaconcorrência.Oenfo-quedado à política concorrencial sugerequeacriaçãoepreservaçãodecondiçõesparaaconcorrênciaeparaapossibilidadede contestação demercado na área dosDPIsnãosãocompetênciasexclusivasdodireito concorrencial ou das autoridades antitruste.Adefinição do devido equilí-brioentreaconcorrênciaeosDPIséumobjetivoaseralcançadopormeiodeumadiversidadedepolíticaseregimes.

AlgumasrecomendaçõespodemserfeitasaPEDs:

• Formularoufortalecersuaslegislaçõesconcorrenciais, com o objetivo de controlar, inter alia, possíveis abusosdecorrentesdaaquisiçãoedoexercíciodeDPIs;

• Considerarasimplicaçõesconcorrenciaisdas diversas políticas e regimes que

determinam a entrada de novos produtos nomercado, tais como aliberaçãodeprodutos farmacêuticos eagroquímicos;

• Asseguraruma adequada coordenaçãoentreaagênciadedireitoconcorrenciale as demais agências cujas decisõespossam influenciar a estrutura e aoperaçãodomercado,comoobjetivodemanterumambientecompetitivo;

• Uti l izar de forma completa asflexibilidades permitidas peloAcordoTRIPS para determinar as bases paraa concessãode licenças compulsórias,a fim de combater práticas anti-concorrenciaisrelativasaDPIs;

• Considerar, em especial, a concessãode licençascompulsóriasnoscasosde“recusaanegociar”;

• Aplicaradoutrinados“meiosessenciais”emsituaçõesdecontroledetecnologiasessenciais,levandoemconsideraçãoascondições demercado relevantes e asnecessidadespúblicas;

• Desenvolver políticas, incluindodiretrizes,paraprevenirecorrigirabusosnaaquisiçãoeaplicaçãodeDPIs;

• Tratar de situações que possamnormalmente levar a condutas anti-concorrenciais, comoos “pacotes” depatentes;

• Adotardiretrizesparausodosórgãosderegistrodepatentes,afimdepreveniraconcessãodepatentesfrívolasoudebaixa qualidade, bem como patentescompedidosextremamentegenéricos,quepodemserutilizadaspararestringirindevidamenteaconcorrêncialegítimaeimpedirainovação;efinalmente,

• Evitar disposições “integradas” eexclusividade de informações, comofim de promover a concorrência nosmercadosdeprodutosregulados.

*Carlos Correa é Diretor do Centro de Es­tudos Interdisciplinares sobre Propriedade Intelectual e Economia da Universidade de Buenos Aires. O autor adaptou este artigo de seu estudo “Propriedade Intelectual e Direito da Concorrência: Explorando algumas Ques­tões Relevantes para Países em Desenvolvi­mento”. Programa de Direito da Propriedade Intelectual e Desenvolvimento Sustentável do ICTSD. Outubro de 2007.

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PONTES - Fevereiro 2008 8

Outros temas multilaterais

UNcTAD examina relação entre comércio e desenvolvimentobárbara da costa Pinto oliveira*

Divulgadoestudotécnicoquerevêodesempenhocomercialeoníveldedesenvolvimentoem2006demaisde100países,apartirdeumíndicedeanálisedainteraçãoentrepolíticascomerciaiseestratégiasparaodesenvolvimento.

incluindo-seaíasreduçõesdeordemtari-fária,aadoçãodenormasquepromovaminvestimentosestrangeirosouoempre-endedorismo e a redução da burocraciaaduaneira(red tape),quecausaprejuízosàimportaçãoeexportaçãodebens.Outropontoimportantefoiqueumnúmerocon-sideráveldePEDsteveumamelhoranosíndicesdefinançasdomésticas,estruturaeconômica,estabilidademacroeconômicae sustentabilidade ambiental.

Utilizando-se de indicadores estatísticosdoBancoMundial2,daprópriaUNCTAD3 edoProgramadasNaçõesUnidasparaoDesenvolvimento (PNUD)4, que formam oschamadoscomponentes(combinaçãodedoisoumaisindicadores),oTDIincorporatrês dimensões: (i) contexto estrutural einstitucional;(ii)políticaseprocessosparaocomércio;e(iii)desempenhocomercialededesenvolvimento.Asduasprimeirasformam-se de componentes de entrada(InputMI)eaúltima,decomponentesderesultado(OutputMI).OmétodoestatísticoutilizadoparacomputaroTDI2006éumacomposiçãodeumamédiasimplesdossub-índices InputMI e OutputMI, calculados separadamente.Vejaoquadroabaixo.

Oscomponentes,seusindicadores,fontesemétodosestãodescritosnoApêndice3dorelatório.Atítulodeexemplo,veja-seocomponente“bem-estarsocialeeconô-mico”, que éuma combinação dos indi-cadores de desenvolvimento econômico,desenvolvimento social e desenvolvimento (igualdade entre) de gêneros.Vale ressal-tar queos indicadores estatísticos foramconstruídosapartirdeumamédiadetrêsanos, entre 2003 e 2005, o quepermitiucapturarvariaçõescíclicaseoscilaçõesdeinteraçãoentreasdimensõeseseuscom-ponentes.Entretanto,algunscomponentesda dimensão (i) – “contexto estrutural einstitucional” – levammais tempoparaseremsentidoseumavariaçãodeapenastrêsanospodenãosersuficienteparalevá-loscompletamenteemconta5. Indicadores epaísesparaanáliseforamescolhidospri-meiramenteemfunçãodadisponibilidadededadose,ainda,emfunçãodesuaimpor-tânciaeaceitaçãocomoparâmetro.

AConferência dasNaçõesUnidas sobreComércioeDesenvolvimento(UNCTAD,sigla em inglês) divulgou, emnovembropassado, a segunda edição do relatório“ÍndicedeComércioeDesenvolvimento”(Trade and Development Index ­ TDI)1, que analisa o desempenho comercial,socialeeconômicodeumasériedepaísesapartirdeumíndiceestatísticocompostode três dimensões, treze componentes etrinta e quatro indicadores.

Concebido para servir comouma ferra-mentaparaaanálisedepolíticaspúblicaseminteraçãocomestratégiasparaodesen-volvimentoemnívelnacional,oTDI foisensivelmente aprimorado na edição de2007,comainserçãodenovoscomponen-tes sugeridos a partir da contribuiçãodeseusEstadosMembros, acadêmicos e doConselhoSupervisor,presididopeloProfes-sorLawrenceR.Klein,PrêmioNobelemEconomia.Alémdisso,oestudoofereceuumaanáliseporpaís,incluídanaParteIIdorelatório-PerfildosPaíses.

Os EstadosUnidos da América (EUA)sobressaíram-senovamente comoo paísqueofereceamelhorcombinaçãodefato-res econômicos, sociais, regulatórios epolíticosquecontribuemparaa inserçãonocomérciointernacionaleparageraçãoedistribuiçãodebenefíciosdaíderivados.Seguidodepertovieramospaísesoriginá-riosdaUniãoEuropéia(EU-15)e,denãotãoperto,osMembrosqueacederamàUniãoEuropéia em2004 (EU-10).Oúnicopaísem desenvolvimento (PED) classificadoentreos20paísesdemaioríndiceTDIfoiCingapura, sendo que os últimos classi-ficados foram invariavelmente países daÁfricaSub-Sahariana,alémdaRepúblicadoIémen.Demodogeral,aanálisede2007,que se refere ao ano de 2006, averiguouumamelhora na pontuação dos paísesditos economias emergentes (E-7:China,Índia,Brasil,México,RepúblicadaCoréia,FederaçãoRussaeÁfricadoSul).

O TDI demonstra que a maioria dospaíses, sejam desenvolvidos ou emdesenvolvimento,possuiníveissimilaresde abertura ao comércio internacional,

Arelaçãoentreastrêsdimensõeseseuscomponentes é complexa,mutuamenteinterativa e multi-direcional, tanto que cada componente é aomesmo tempocausadealteraçãodosdemaiseresultado desuasinfluências6.

A análise da interação dos fatores quegeramoíndiceTDItrazàtonacombas-tanteclarezaasprincipaislimitaçõesdosPEDs e de grupos regionais no âmbitoestrutural, institucional, financeiro, comercial e de desenvolvimento, de forma aauxiliá-losnamaximizaçãodebenefícioseminimizaçãode custosdecorrentesdaglobalizaçãoedaliberazaçãocomercial.OTDIofeceretantoparâmetrosquantitati-vosquantoumquadroanalítico,demodoaservirdeinstrumentoparaaformulaçãode políticas pública emníveis nacional,regionalemundial7.

Assim, preenche-se um vazio existenteentreestudostécnicosconvencionaisque,aoanalisaremodesempenhocomercialdospaíses,deixamdeverificararelaçãoentrecomércioedesenvolvimento,umarelaçãofundamentaljáqueocomércionãoé–nempodeser–umfimemsimesmo.ParaosPEDs,emespecial,ocomércioévistocomoum instrumento essencial para realizaro desenvolvimento sócio-econômico e aconcretizaçãodosObjetivosdeDesenvolvi-mentodoMilêniodaONU(UN Millenium Development Goals-MDGs).

A principal conclusão do relatórioTDI2006, em suas análises estatísticas, foia determinação da regra de que, quantomenor a variabilidade dos componentesde entrada (input components ou fatores condicionantes),maior a pontuação deresultado(output score ou indicadores de resultado).Issosignifica,emtermospráti-cos,queaadoçãodeumconjuntocoerentedemedidas e políticas, sistematizadas elevadasacaboporumdeterminadoperí-ododetempo,épreferível,nageraçãoderesultados positivos para o comércio e odesenvolvimento, ao investimento em um número limitadodemedidas (e políticasisoladas),queviade regra trazemapenasresultadosmarginais.

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9 Fevereiro 2008 - PONTES

Outros temas multilaterais

Finalmente,caberessaltarqueaanálise–realizadaapartirdedadosestatísticosante-rioresa2007–nãoincorporaosefeitosdasdificuldadessociaiseeconômicasrecentes,associadasadesequilíbriosmacro-econômi-cos,aoenfraquecimentododólareàcriseno mercado imobiliário estadunidense. Tais efeitosimpactariamnãoapenasosíndicesdosEUA,mastambémdosdemaispaísesinseridosnaeconomiaglobal,commaioroumenorintensidade,oqueprovavelmenteserárefletidoemfuturosrelatórios.

Além disso, outros desenvolvimentosna arquitetura econômica internacional,comoasmudançastrazidasporumanovaliberalização comercial decorrente daconclusãodaRodadaDohadenegociaçõesnaOrganizaçãoMundial do Comércio(OMC), podem impactar em ediçõesfuturas do estudo. Ainda assim, conforme extensivamente demonstrado no relató-rio, não apenasmedidas de liberalizaçãocomercial (redução tarifária) impactamnamelhoria dos índices8.Neste ínterim,afinalizaçãodasnegociações sobre Faci-litaçãoaoComércio,quevisaamelhoraracooperaçãoentreentidadesaduaneiraseoutrasautoridadescomcompetênciasobrecomérciointernacional9, tem o condão de gerarbenefícioscontundentesaosPEDs,seosnecessáriosmeiostécnicosefinanceirosforemcolocadosàdisposição,jáqueesses

paísessãoosprincipaisprejudicadosporsuaprópriaburocraciaaduaneiraepelafaltadainfra-estruturaindispensávelparaoescoa-mentodeseusprodutos.Umaabordagemdo tema de facilitação ao comércio queenvolvaosprincipaisagentesfinanceirose de investimento internacional – taiscomo bancos internacionais de fomento e agências de desenvolvimento – temopotencialparacontribuirlargamenteparaamaior participação de tais países nocomérciointernacional.OprojetoAid for Trade10,daOMC,atualmenteaindaemfasededefinição,pode–ounão–serumpassoinicial neste rumo.

* Bárbara da Costa Pinto Oliveira é Oficial de Assuntos Econômicos na UNCTAD, em Ge­nebra, Suíça. Doutora em Direito Econômico e Mestre em Direito Internacional.

1UNCTAD.DevelopingCountriesinInter-nationalTrade2007:TradeandDevelopmentIndex.NovaYorkeGenebra:2007.UNCTAD/DITC/TAB/2007/2.Disponível em: http://www.unctad.org/en/docs/ditctab20072_en.pdf.Acessoem:15defevereirode2008.2TheWorldBank.TheWorldDevelopmentIndicators.Washington: 2006. _________.TheGovernanceMattersIndex.Washington:2006.3UNCTAD.TradeAnalyses and Informa-tionSystems(TRAINS)database.Disponívelem:http://cs.usm.my/untrains/trains.html.Acessoem:15defevereirode2008._________.

UNCTADHandbookof StatisticsOn-Line.Disponívelem:http://stats.unctad.org/hand-book/ReportFolders/ReportFolders.aspx?CS_referer=&CS_ChosenLang=en.Acessoem:15defevereirode2008.4UNDP.HumanDevelopmentReport.NovaYork:2006.5UNCTAD,2006,p.5.6Idem,p.4.7Idem,p.1.8 Sobre isso, declarou o Secretário Geral daUNCTAD,Dr. Supachai Panitchpakdi“Focusing on trade liberalization alone isunlikelytoachievethedesiredresults.Policymakers, especially in developing countries,needtoalsopromoteothermeasuressuchasmacroeconomicandfinancialmanagement,aswellastradesupportandindustrialpolicies.Onlythenwilltheyclosethegapwithmoreadvanced economies”.UNCTAD/PRESS/PR/2007/045,06/11/07.9 Sobre as negociações para facilitação docomércio, ver http://www.wto.org/english/tratop_e/tradfa_e/tradfa_e.htm.Acesso em:15defevereirode2008.10 Força-Tarefa composta por diversas orga-nizações-incluindoOMC,UNCTAD,UNDP,OrganizaçãodasNaçõesUnidasparaoDesen-volvimentoIndustrial(UNIDO),BancoMun-dial, FundoMonetário Internacional (FMI),CentroparaoComércioInternacional(ITC),BancoAsiáticodeDesenvolvimento (ADB),BancoAfricanodeDesenvolvimento(AfDB),BancoInter-AmericanodeDesenvolvimento(IADN),eOrganizaçãoparaCooperaçãoeDe-senvolvimentoEconômico(OCDE).SobreissoverWTOWorkProgrammeonAidforTrade(WT/AFT/W/26),de29demaiode2007.

DIMENSÕES

Contexto Estrutural e Institucional

Políticas e Processos de Comércio

Desempenho comercial e de desenvolvimento

COMPONENTES

Capital Humano

Infra-estrutura física

Intermediação Financeira

Finanças Domésticas

Finanças Internacionais

Qualidade Institucional

Estrutura Econômica

Estabilidade Macro-econômica

Sustentabilidade Ambiental

Abertura ao Comércio

Acesso a mercados externos

Desempenho comercial

Bem-estar social e econômico

Indice de Medida de Entrada

Indice de Medida de Resultado

TDI

Indice de Comércio e Desenvolvimento

Média ponderada

Média ponderada

Médiasimples

MEDIDAS

Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento

Países em desenvolvimento no comércio internacional: Índice de Comércio e Desenvolvimento

Fonte: Developing Countries in International Trade 2007, UNCTAD: 2007, p. 4 (tradução livre).

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PONTES - Fevereiro 2008 10

o futuro do regime climático: a posição da União Européia e suas implicações para os bRIcs

Thelma Krug*

A Proposta da União Européia

AUEtemassumidoumpapeldeliderançanoprocessodasnegociaçõesinternacionaissobre as ações pós-2012para combater amudançadoclima.Navisãodestebloco,asemissõesdegasesdeefeitoestufaprecisamser reduzidas em, nomínimo, 50%, até2050(relativoa1990).AUEentendequeessaéametaparaquesetenhaaomenos50%de chancede se permanecer dentrodolimitedeumaumentomédioglobalnatemperaturadesuperfíciede2oC.

Noseuconjuntodepropostas,aUEaindapropõequeosPDsreduzamsuasemissõesdegasesdeefeitoestufaemaproximada-mente 30%até 2020 (relativo a 1990) eque isto seja acordado com base em um novo compromisso global.As liderançaseuropéias entendem que a participaçãodosPEDstambémé fundamental, jáquesuasemissõesestãoprevistasparaexcederà dos PDs, até 2020.AUE aponta queexistemmuitas opções que podem, aomesmo tempo, prover benefícios econô-micos e sociais imediatos, sem que isto afeteabuscadecrescimentoeconômicoeareduçãodapobrezaporpartedosPEDs.Adicionalmente,oblocopropõeque sejaestabelecido compromisso especial paraque se impeçao desmatamento tropical,naspróximasduasdécadas.

Amudançaclimáticaéumadasmaioresameaçasambientaisqueahumanidadeenfrentaatualmente:atemperaturamédiaglobalcresceaumataxade0,2oCacadadécada.EsteartigotrazalgumasconsideraçõessobrealiderançadaUniãoEuropéia(UE)naconduçãodosdebatesparaarenovaçãodoProtocolodeQuiotoeacoordenaçãodesuasposiçõescomaquelasdealgunspaísesemdesenvolvimento(PEDs).

Os programas dos BRICs e a posição da UE

OsBRICssãoprojetadosaterumainserçãoimportantenafuturaeconomiamundial.Caso tais projeções se confirmem, emmenosde40anos,assuaseconomiaspode-rão, juntas,ultrapassaradoG-6 (EstadosUnidosdaAmérica, Japão,ReinoUnido,Alemanha,Françae Itália).CadaumdosBRICs tem,noentanto, seuprópriopesona inserçãodaeconomiamundialedevetrilhar um caminho distinto na sua traje-tória de desenvolvimento.Por isso, cadaqualtemumaconformaçãonoconjuntodenovaspropostasapresentadopelaUE.

Primeiramente,convémindicaradificul-dade de uma análise para aRússia, queapesardeserumaeconomiaemtransição,já conta com metas quantitativas de redu-çãodeemissõessoboProtocolodeQuioto.Diferentemente ocorre comBrasil, ÍndiaeChina, que apesardenão teremmetasquantitativasdereduçãooulimitaçãodeemissõessoboProtocolodeQuioto,assu-memasobrigaçõesdaConvenção-Quadro.Estas incluemmedidas paramitigar amudançadoclima,oquejátemsidofeitopormuitos PEDs pormeio de políticasemedidas específicas que têm resultadonuma significativa redução de emissõesatéopresente1.Nessecontexto,aChina,por exemplo, anunciou, recentemente, oseuProgramaNacionalparaMudançadoClima.Nele,aChinadeclarasuaintençãoemimplementarleis,programasepolíticasvoltadasparaamitigaçãodamudançacli-mática,tecnologiaeadaptação.

SeoconjuntodepolíticasinternasdaUEpara o setor de energia e transporte, queprioriza o uso de energias renováveis edebiocombusíveis,forcoordenadocomointeresseexportadordealgunsPEDs,issopodefavoreceraposiçãodealgunsBRICs.OBrasileaUE,porexemplo,compartilhamaconvicçãodequeumacooperaçãonaárea

Em1997,foiadotadooProtocolodeQuiotosobaConvenção-QuadrodasNaçõesUni-dassobreMudançadoClima(Convenção-Quadro). Esse Protocolo constituiu ummarcona consciência planetária sobre aredução das emissões de gases de efeitoestufaeavontadepolíticadeagir.OmaisimportantepassodoProtocolofoidefinirum conjunto demetas globais coletivasparareduçãodasemissõesdegasesdeefeitoestufaporpartedospaísesdesenvolvidos(PDs),numaproporçãode5%emrelaçãoaosníveisobservadosem1990.Nessaoca-sião,jásetinhaaesperançadequeoProto-colo,noprimeiroperíododecompromisso,de2008a2012,viesseaserasoluçãoparaamudançaclimática.

Aevoluçãodoconhecimentocientíficoe,particularmente,areduçãodasincertezasdasprojeçõesfuturasdoPainelIntergover-namentalsobreMudançadoClima(IPCC,siglaeminglês)têmapontadoparaaneces-sidadedeumareduçãoglobaldeemissõesmuitomaisseveraparaoperíodopós-2012.Assim,asnegociaçõessobreoregimerefe-renteaesseperíodonaConvenção-Quadrosãoconduzidas,hoje,emdoistrilhosparale-los:umsobreoProtocolodeQuiotoeoutrosobre aConvenção-Quadro.Oobjetivo échegaraumconsensonaConferênciadasPartesem2009.

Aprorrogaçãodoscompromissosparaaçõesefetivasdereduçãodeemissõesimplicaráemníveismaiselevadosdeestabilização,com impactos cada vezmais significati-vos nas sociedades, nas economias e nos ecossistemas.Nesse sentido, a posiçãorelativaentrePDsePEDssobreosnovoscompromissos tencionam-se a respeitodas responsabilidades comuns porémdiferenciadas(princípiocalcadonaprópriaConvenção-Quadro).Essedebatetorna-seainda mais acirrado quando se trata do con-juntodeeconomiasemergentesnogrupodos PEDs: Brasil, Rússia, Índia eChina(conhecidospelasiglaBRICs).

Outros temas multilaterais

… a participação dos PEDs também

é fundamental … suas emissões

estão previstas para exceder à dos PDs,

até 2020.

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11 Fevereiro 2008 - PONTES

de baixa intensidade de carbono. A UE estima que serão necessários investimentos anuais da ordem de US$ 170 bilhões para suportar ocrescimento econômico dos PEDs eque grande parte desse investimentoserá gerado pelos próprios países,particularmentepelosmaiores.

• E x p a n s ã o d o M e c a n i smo d eDesenvolvimentoLimpo (MDL): essemecanismo pode, aomesmo tempo,asseguraratransferênciadetecnologiaeodesenvolvimentosustentável.Paraser eficiente, entretanto, precisa seracompanhado demetas ambiciosasde reduçãode emissões por parte dosPDs,deformaaestimularomercadoeassegurarumpreço justo.A indústriaprecisa de um sinal urgente sobre adireçãodelongotermonaspolíticasdemudançadoclima,deformaaplanejarosinvestimentosapós2012.

• Incentivos positivos: os PDs podem,ainda,promoverincentivosfinanceirosparaestimularatividadesnãoelegíveissob oMDL. Um exemplo concretoé o arranjo voluntário sugerido peloBrasil para a redução de emissõespor desmatamento em PEDs, itemda agenda da Convenção desde2005,equecontemplaoprovimentode incentivos positivos aos PEDsque voluntariamente aderirem ao arranjo e que demonstrarem, de forma transparente, mensurável ecomprovável, uma redução de suasemissõespordesmatamento.

ConclusõesUmareduçãode50%dasemissõesglo-baisaté2050exigirádosPDsemissõeszero no setor de energia e, dos PEDsumareduçãode46%emtermosdesuasemissõesprojetadas.

ParaosPDs,compromissosdereduçãodeemissõesmuitomaisprofundosdoqueosassumidosnoprimeiroperíododecompro-missodoProtocolodeQuiototerãodeseracordados. Isto requererá investimentos no desenvolvimentodetecnologiasavançadas,a eliminação de barreiras tarifárias paraestimular o uso de fontes renováveis de energia e biocombustíveis nos transpor-tes, a ampliação significativadoMDL, eaidentificaçãodeabordagensalternativasparaainclusãodesetoreseatividadesnãocontempladosnoProtocolodeQuioto.

ParaosPEDs,essapodeserumaoportuni-dadeparaaimplementaçãodetecnologiasavançadas combaixa intensidadede car-bono, seja combasena transferência detecnologia, seja com incentivos própriosparapesquisa edesenvolvimento, e tam-bémumestímuloparaquepropiciemumcrescimento econômicoorientadopara odesenvolvimento sustentável, com uma melhorgestãodosrecursosnaturais.

Nesse sentido, as implicaçõesdaposiçãoeuropéiapós-2012paraosBRICsparecemserfavoráveisaumcrescimentoeconômicovinculado ao desenvolvimento sustentável. Mas, deve-se ressaltar, que a sua imple-mentaçãodependedodesenvolvimentodetecnologiasinovadoraseavançadasesuastransferênciasaosPEDs.Háumamiríadedeaçõespossíveisnasáreasdetransporte,eficiênciaenergéticaedecapturaearma-zenamento de dióxido de carbono. Essasoportunidades permitirão que os PEDs,particularmenteosBRICs,reduzamainten-sidade de carbono no seu desenvolvimento e encontremcaminhos alternativos paraarealizaçãodeseupotencialdedesenvol-vimentoeconômicoe social.Esperam-se,assim, investimentosnas estruturas pro-dutivasdosBRICs,bemcomoumfortale-cimentoda cooperação internacional empesquisaedesenvolvimento,entreaUEeosPEDs,fundamentalparaseatingironíveldemudançatecnológicanecessária.

* Thelma Krug é Secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Mi­nistério do Meio Ambiente do Brasil.

1OrelatóriodoGreenhouse Gas Mitigation in Brazil, China and India: Scenarios and Opportunities through 2025, do Center for Clean Air Policy, de 2006, indica que China eBrasil,atravésdaadoçãodemedidaseaçõesprópriasreduzirãosuasemissões,até2010,emníveiscomparáveisaosqueosEUAprojetamfazersobsuametavoluntáriaderedução,epróximaa40%doqueaUE15projetafazernestemesmoperíodo.Relatóriodisponívelnositewww.ccap.org.

debiocombustíveispodeoferecerbenefíciosmútuos.Issosedariapelocrescimentodeummercadointernacionalqueassegurariaumaproduçãosustentável,resultandoemumareduçãodegasesdeefeitoestufa,eaomesmotempotratandodeaspectosrelacio-nados ao desenvolvimento sustentável.

No tocante às novas propostas daUE, aintenção de atingir desmatamento zeroaté 2020 traz uma oportunidade impor-tanteparaoBrasil.Nestecaso,oBrasilsediferencia daChina e da Índia, pelo fatodesuamaiorfontedeemissõesdedióxidode carbono e outros gases não-CO2, emparticularometanoeoóxidonitroso,estarrelacionadaàconversãodasflorestasparaodesenvolvimentodeatividadesagropecuá-rias.NaChina,ÍndiaeRússia,asemissõessãomajoritariamente denatureza fóssil,parafinsdegeraçãodeenergia.Asflores-tas cobrem 57,2% do território brasileiro, enquantonaChinaeÍndiacobrem21,2e22,8%,respectivamente.

A Convenção-Quadro atual tem, noentanto,levadoemcontaasprioridadesdedesenvolvimento, os objetivos e as circuns-tâncias específicos, nacionais e regionaisdosPEDs,paraoseutratamentodiferen-ciado.Convémnotar que aConvençãocontémobrigaçõesespecíficasdesuportedosPDsaosPEDs,atravésdecapacitação,transferência de tecnologia, e incentivosfinanceirosadicionais,paraauxiliá-losnaimplementaçãodaConvenção.

As oportunidades mútuas: PDs e PEDsAnecessidadedeumareduçãosignificativaeurgente de emissões de gases de efeitoestufa, acoplada aos anseios naturais dedesenvolvimento econômico dos BRICs,pode ser preocupante, caso a dimensãode sustentabilidade econômica, socialeambientalnãovenhaasercontemplada.

Parareverteressequadrodeeventuaisins-tabilidades resultantes do crescimento dos BRICsedosdemaisPEDs,osPDsdevemterumpapelfundamentalpormeiodeváriasiniciativas,entreasquaisdestaco:

• Trans fe rênc ia de t ecno log ia efinanciamento: o relatório Sternaponta para um grande potencial demitigação de gases de efeito estufacomousodetecnologiasjáexistentes,particularmente namaior eficiênciaenergéticaenageraçãodeeletricidade

Na China, Índia e Rússia, as emissões

são majoritariamente de natureza fossil,

para fins de geração de energia.

Outros temas multilaterais

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PONTES - Fevereiro 2008 12

conferência de bali abre caminho para Acordo climático Global

Oplano estabelecido no Bali Roadmaplançaasbasesparaanegociaçãoquedeveconduzir a um instrumento de carátervinculantequesubstituiráoProtocolodeQuiotoapós2012.Osnegociadorescon-cordaramemavançarnatransferênciadetecnologia,alémdeimplementarfinancia-mentosefundosdeadaptaçãoparapaísesemdesenvolvimento(PEDs)comdiversasfinalidades,entreelas,aproteçãodesuasflorestas.Apesar das posições divergen-tes com relação àsmedidas climáticas,refletida, especialmente, na recusa dosEstadosUnidos da América (EUA) emaderir aoProtocolode2001, emBali foialcançado um consenso, festejado peloMinistroIndonésiodasRelaçõesExterio-res,HassanWirajuda,comoumprocessobastante inclusivo.

Durante as negociações, váriasmetasespecíficas foram removidos de acordosprévios, a exemplodo compromissodospaíses desenvolvidos (PDs) de reduziras emissões entre 25 e 45% dos níveispraticadosem1990,até2020.Apesardaomissão dessasmetas, o Plano deAçãoprescreveaosPDscompromissosmensu-ráveiseidentificáveisdemitigação.

No tocante àsmetas paraPEDs, anego-ciação tambémevidenciou divergências.Os representantes desse grupo de paísesrecusaramotextoquepropunhamedidasequivalentesàquelasestipuladasparaPDsedefenderam,emlugardisso,anecessidadedaaplicaçãodefórmulasespecíficasacadaeconomia,pormeiodeumdiscursofavo-rávelàgarantiadeespaçoparapolíticasdedesenvolvimento.Após a aprovaçãopelaUnião Européia (UE) do texto sugeridopelosPEDs,atensãovoltou-seàresistên-ciaestadunidense,quefinalmentecedeueabriu caminho ao consenso.

Asopiniõesarespeitodoresultadoobtidotambém foram dissonantes. Enquantoalguns países celebravama definição deuma agenda, a porta-vozdaCasaBrancamostrou-sepreocupadacomasrestriçõesde

MariPangestu ressaltouqueapropostanãoeraestabelecernegociações,masini-ciarumdiálogoeproverumaplataformaparaintercâmbioentreosparticipantes,considerando ter sido esta a primeiravezqueministrosde comércio exteriorreuniram-separadiscutirtaisquestões.

Os participantes concordaram que asmudanças climáticas, assim como ocomércio, demandam soluções mul-tilaterais e alertaram sobre o risco de abordagensunilaterais.Umavez reco-nhecida a necessidade de considerar o usodemedidascomerciaiscomoparteda resposta às mudanças climáticas,eles compartilharam a idéia de que,apesardehaverumapossívelcoopera-çãoentrecomércioeregimeclimáticoem diversas áreas, podem surgir con-flitos, especialmente no contexto dasnegociaçõesemdireçãoàrenovaçãodecompromissosapósQuioto.

David O’Sullivan, representante daComissãoEuropéia,alertouqueaincapa-cidadedechegaraumacordoglobalsobremudançasclimáticaspoderia complicaras relações comerciais internacionais.Segundoele,osformuladoresdepolíticaspoderiamver-seobrigadosausarinstru-mentos comerciais para alcançar obje-tivos demudança climática, incluindoajustes aduaneiros duvidosos.

Aindaquesechegueaumacordo,seelenãolograrainclusãodetodasasprinci-pais economias, podem surgir tensõesconforme os governos tomem atitudespara amanutenção de competitividadeemrelaçãoapaísesquenãosuportamosmesmosencargosdereduçãodeemissões.Defato,várioslídereseuropeuspedirama inclusão de tarifas aduaneiras sobre importaçõesdepaísesquenãoaderissemao acordo sobre medidas climáticas. Tal providência, segundo eles, serviria paraigualarasregrasdojogoeincentivarospaisesatrabalharemconjuntamenteparaatenuarosproblemasclimáticos.

RealizadaemBali,Indonésia,aConferênciasobreMudançaClimáticadaOrganizaçãodasNaçõesUnidas(ONU)reuniucercade11milpessoasnomaioreventojárealizadosobreotema,de3a14dedezembrode2007.Areuniãoresultouno“Bali Roadmap”1,umplanoestratégicoparaasnegociaçõesdeumnovoacordosobremudançasclimáti-cas.Aomesmotempo,umasériedeeventosparalelosexpôsabordagensinovadorasparaaatenuaçãodasmudançasclimáticasepermitiuaapresentaçãodeexperiênciaseperspectivasfuturas.

compromissosporpartedosPEDs.Mem-brosdaSociedadeCiviledeOrganizaçõesNão-Governamentais (ONGs) tambémmostraram-secéticosemrelaçãoaoavançorepresentadopeloacordo.

AConferênciacolocouaquestãoclimáticanovamentenofocodasatençõespúblicas.Paraospróximosdoisanos,osnegociadoresterãoumaagenda cheia – já comquatroreuniõesem2008–afimdeaperfeiçoaradefiniçãodoscompromissosechegaraumacordoconcretoeefetivoparasubstituiroProtocolodeQuiotoem2012.

AcaminhodeCopenhague,ondeasnego-ciações devem ser finalizadas em2009,os países podem reforçar ou ignorar aspromessasfeitasemBali.MuitosapostamqueamudançadeliderançaemdecorrênciadaspróximaseleiçõesnosEUAcontribuiráparamelhorar a previsão de avanços noregimeclimático.

Ministros Discutem Relação entre Comércio e Mudanças Climáticas em BaliCooperaçãointernacionalecriaçãodeumamolduramultilateralparatratardasemis-sõesdegasesdeefeitoestufaforamaponta-dospelosministrosreunidosemBalicomopré-requisitos para a efetiva governançaeconômicamundial.Nareuniãoinformal,paralelaàConferênciasobreMudançaCli-máticadaONU,elesressaltaramaneces-sidadedeformularpolíticasdecombateàsmudançasclimáticasdeformaaminimizarseusimpactoseconômicosesociais2.

Na reunião informal, organizada pelaChancelerdaIndonésia,MariPangestu,ministroseautoridadesdecomérciodosEUA, Brasil, Japão,UE,China e Índia,entre outros, discutiram questões querelacionamcomércioemudançaclimá-tica. O evento também contou com aparticipação de representantes de orga-nizações inter-governamentais e obser-vadores da sociedade civil.

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13 Fevereiro 2008 - PONTES

Agenda Multilateral oMc*

04.03.08 Reunião do Comitê sobre Comércio e Desenvolvimento

10.03.08 Reunião do Grupo de Trabalho sobre Comércio e Transferência de Tecnologia

11.03.08 Reunião do Conselho para Comércio de Bens

13-14.03.08 Reunião do Conselho do Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPs)

14.03.08 Reunião do Órgão de Solução de Controvérsias

18-19.03.08 Workshop sobre Barreiras Técnicas ao Comércio – Boa Prática Regulatória

Reunião do Comitê sobre Agricultura

20.03.08 Reunião do Comitê sobre Barreiras Técnicas ao Comércio

31.03.08 Workshop sobre Ferramentas de Avaliação de Capacidades relacionadas a Medidas Sanitárias e Fitossanitárias

2-3.04.08 Reunião do Comitê sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias

*TodasasreuniõesocorrerãoemGenebra,Suíça

Essa corrente enfrentou oposição damaioriadosparticipantes,comoarepre-sentante estadunidense Susan Schwab, que condenou o recurso a medidas res-tritivas aocomércioemnomedeaçõesdirigidasamudançasclimáticas.Segundoela,váriosaspectosprecisamserlevadosemconsideração,comocrescimentoeco-nômicoedesenvolvimentosustentável.AChinatambémdefendeuqueasaçõesdevemserpautadasporumprincípioderesponsabilidadescomuns,masdiferen-ciadas e os ministros concordaram que deveserconcedidaaosPEDseeconomiasemergentesamargemnecessáriaparaseudesenvolvimento.

Liberalização de Bens e Serviços AmbientaisDentre asmedidas comerciais favorá-veis às estratégias relativas àmudançaclimática, os participantes discutiramospotenciaisbenefíciosde liberalizarocomércio de bensde baixa emissão de carbono, como tec-nologiasdeenergiarenováveleequipa-mentos de controle depoluição.

PascalLamy,Dire-torGeraldaOMC,apontou para asnegoc iações emcurso na RodadaDohaa respeitodaliberalização dessacategoriadebenseserviços e sugeriuque eles poderiamrepresentar ganhostantoparaocomércioquantoparaomeio-ambiente, mas que a abertura deveria acontecer dentro de uma estrutura ade-quada,aindaaserdefinidapelospaíses.

FoidiscutidaapropostadosEUAedaUEparaosMembrosdaOMCdeliberalizarocomérciode43produtosidentificadospelo BancoMundial comobenéficos aomeio-ambiente. Alguns participantesargumentaramquealistaincluíaapenasprodutosdeinteressedeimportaçãopelospaísesmais industrializados, o que foinegadoporSusanSchwab.

Adelegaçãobrasileiracriticouanão-inclu-são do etanol, que, segundo oMinistro

CelsoAmorim, é o único produto cujoefeito climático já está demonstrado. Para ele, a distinção na classificaçãoentrebiocombustíveis–oetanoléclas-sificadocomoprodutoagrícola,aopassoque o biodiesel é considerado um bemindustrial – não faz sentido, e deve sercorrigida. Amorim acrescentou, ainda,quealiberalizaçãodoetanoltrariagran-desbenefíciosaoutrosPEDsemsituaçãosemelhanteàbrasileira.

AlgumasONGsmostraram-se preocu-padas com a formulação de políticascomerciais,acreditandoqueessaspode-riam prejudicar as negociações sobre otemaclimático.OgrupoAmigosdaTerradeclarouquea liberalizaçãodosmerca-dosdeenergiapormeiodenegociaçõesbilateraisoumultilateraisparadesregu-lamentarosetoraumentaadependênciados combustíveis fósseis e retarda oavançoemdireçãoaeconomiasdebaixaemissãodecarbono.Tambémressaltou-se

que a discussão em torno do comérciopodedesviaraaten-ção das tratativasparaofuturoregime climático.

Aofinal, osminis-t ros conc lu í ramser necessário uma maior interação narelaçãoentrecomér-cio internacional e mudanças climáti-cas, e recomenda-ram a continuaçãoda discussão sob os auspíciosdaOMCedaUNCTAD.Tam-

bém sugeriram a organização de novasreuniões, com a participação de repre-sentantesdasáreasdefinançasedesen-volvimento.

Tradução e adaptação de textos originalmen­te publicados em Bridges Weekly, Vol. 11, No. 43, 12 dez. 2007; Bridges Trade BioRes, Vol. 7, No. 22, 18 dez. 2007; e Puentes Quincenal, Vol. 4, No. 22, 11 dez. 2007.

1 Disponível em: <http://unfccc.int/files/meetings/cop_13/application/pdf/cp_bali_act_p.pdf>2VerPontesQuinzenal,Vol. 2,No. 18, 17dez.2007.Disponívelem:<http://www.ictsd.org/pont_quinze/07-12-17/PQ_2-18_%20PDF.pdf>

Outros temas multilaterais

Ao final, os ministros concluíram ser necessário uma maior interação

na relação entre comércio internacional e mudanças climáticas…

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PONTES - Fevereiro 2008 14

Emcontinuidadeàseriesobrebiocom-bustíveis, este artigo busca preencheralgumas lacunas relacionadas ao bio-diesel, pois verificou-se que essa fontealternativadeenergiatemsidoparcial-mente abordada em grande parte dosmeiosdecomunicação.Espera-se,assim,ofereceraoleitorumavisãomaisglobaldaproblemáticaemtornodaproduçãodobiodieselnoBrasil,comdestaqueparaasprincipaisoportunidadeseparaosdesa-fioscentraisdiantedopaísnosmercadosdomésticoeinternacional.

Nocontextodaentradaemvigor(janeirode2008)dasmetasdefinidasnoProgramaNacionaldoBiodiesel,lançadoem2004,épertinenteareflexãoacercadeseuprocessodeimplementação.NoBrasil,essedebatetemsidoorientado,principalmente,pelasseguintesquestões:quaissãoasvantagensapresentadasaoprodutor?Comoconciliarocompromissosocialembutidoàproduçãodobiodieselaumpreçocompetitivofrenteao diesel?Tais questões serão abordadascomoobjetivogeraldeverificarograudematuridade da produção de biodiesel nopaís,emespecialnoquetangeasuapossi-bilidadedeexportação.

A evolução das políticas relacionadas ao biodiesel no Brasil

Deacordocomregistrosoficiais,oBrasilrealiza estudos voltados à produção debiodieseldesdeadécadade19401, quando pesquisas da Universidade Federal doCeará(UFCE)revelaramumafontealter-nativadeenergiaapartirdeóleosvegetaisecompropriedadessemelhantesaoóleodieselconvencional.Nessecontexto,des-tacam-seosestudosdesenvolvidospelasequipesdosprofessoresExpeditoParenteeUlfSchuchard,numaparceriaentreaUFCE e aUnicamp, que resultaramnaprimeirapatentebrasileiradebiodieselapartirdoprocessodetransesterificação2, registradaem1980.

Análises Regionais

biodiesel no brasil: situação e perspectivas para o combustível do futuro

Nacorridapelosbiocombustíveis,oetanoldivideacenacomoutraalternativaenergética:obiodiesel.OProgramaNacionaldoBiodiesel,lançadoem2004pelaadministraçãoLula,buscaoferecerumincentivoàproduçãoindustrialdessenovobiocombustível,aodeterminarcomoobrigatóriaasuamisturaem2%aodiesel.Contudo,especialistastêmapontadodificuldadesestruturaisemsuafaseinicialdeimplementação.

estímulodainclusãosocialdaagriculturafamiliarnacadeiaprodutivadobiodiesel.Esseestímulosedá,essencialmente,pormeiodaconcessãodemelhorescondiçõesdefinanciamentodoBancoNacional deDesenvolvimento Econômico e Social(BNDES)5 e da desoneração de algunstributos6 àsempresasque seenquadremnoperfil“socialmenteresponsável”,con-forme definição do governo.Com isso,oGoverno Federal espera uma inclusãode aproximadamente 250.000 famíliasnomeio rural (Ministério doDesenvol-vimento Agrário, 2008). Em troca, asempresas devem garantir a compra damatéria-prima de produtores familiares,pré-estabelecerospreçosdessacompraeoferecer assistência, capacitação técnicae segurança aos agricultores familiares.Umavezqueésomentepormeiodo“SeloCombustívelSocial”queasempresastêmdireitodeparticiparnos leilõesdecom-pra de biodiesel, única oportunidade devendadafonteenergéticaparaaANP.OSeloarticula-se,assim,comoummétodoobrigatórioparaasempresasquedesejamingressar de forma competitiva nomer-cado de biodiesel.

No plano de incentivos à Pesquisa eDesenvolvimento(P&D),ogovernobra-sileiro investiu cercadeR$12milhõesna criação da Rede de Tecnologia deBiodiesel(RBTB),comoobjetivodearti-cular os diversos atores envolvidos na produçãodessebiocombustível,otimizarosinvestimentospúblicoseeliminargar-galos tecnológicos quepudessemsurgirdurante a evolução do Programa. Sob acoordenação doMinistério da Ciênciae Tecnologia (MCT), foi firmado umacordo de cooperação entre 22 Estados,para omapeamento das iniciativas nopaís,principalmentenasseguintesáreas:agricultura,armazenamento,controledequalidade,co-produtoseprodução.

Alémdisso, tambémexisteumasériedeiniciativas regionais e estaduais, dentreas quais se destaca aRedeNordeste de

Ousoenergéticodessafonte,entretanto,sófoioficialmenteincentivadonocontextodaprimeiracrisedopetróleo,em1973,quandoogovernoFigueiredocriou,em1980,oPró-óleo(PlanodeProduçãodeÓleosVegetaisparaFinsEnergéticos,Resoluçãono7/1980).Esseúltimoestabeleciaaobrigatoriedadede30%deadiçãodeóleovegetalaoóleodiesel, com a perspectiva de, no longoprazo, substituir integralmente o dieselpeloóleovegetal.

Com a queda nos preços do petróleo, ainiciativadoPró-óleofoiabandonadaem1986 pelo governo brasileiro.Uma vezpublicados estudos sobre a possibilidadede escassez do petróleo e o conseqüenteencarecimentodessafontedeenergia,adis-cussão da temática de fontes alternativas de energiavoltouàpautadogovernofederal,oqualorganizoucomissõesinterministeriaisemfinais da década de 1990.Realizadosemparceriascomuniversidadesecentrosdepesquisa,osestudosdessascomissõesresultaramna determinação do governofederaldeconsiderar,pormeiodaPortariaMCTno 702/2002, a etanólise dos óleosvegetaiscomoaprincipalrotadeumpro-gramadesubstituiçãododiesel,batizadodePROBIODIESEL.

Contudo, só é possível identificar, nasmedidas do governo, uma tentativa deorganizar a cadeia produtiva, definir aslinhasdefinanciamentoeestruturarabasetecnológicaapartirdedezembrode2004,quandofoilançadooProgramaNacionaldeProduçãoeUsodeBiodiesel(PNPB)3. A Lei no11.097/2005,porsuavez,introduziuobiodieselàmatrizenergéticabrasileira,aodeterminaramisturaobrigatóriade2%debiodiesel4aoóleodieselcomercializado(B2)emqualquerpartedoterritórionacional,apartirde2008 (porcentagemqueprevistaparaserestendidapara5%em2013).

Embutido ao PNPB, o governo federallançouo“SeloCombustívelSocial”(verInstruçãoNormativa no 01/2005), con-juntodemedidasespecíficasquevisamao

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15 Fevereiro 2008 - PONTES

OMC em focoAnálises Regionais

Biodiesel(RNB),lançadaem22demarçode 2004 e constituída por órgãos gover-namentais,universidades,instituiçõesdeP&Deentidadesdosetorprivado.Comoobjetivodedifundireapoiarascadeiaspro-dutivasparaaproduçãoeusodobiodiesel,aRNBcontacomumComitêExecutivo,constituídounicamenteporrepresentantesdosetorgovernamental,ecomseisGruposdeTrabalhodecomposiçãomista.Comoproduto da interação entre essas duasesferasdegestão,sãoelaboradosprojetosposteriormentesubmetidosàavaliaçãodasagênciasfinanciadorasdogoverno7.

APetrobráséumadasgrandesinvestidorasnosetor:desdeolançamentodoPNPB,aPetrobrásDistribuidora investiumais deR$20milhõesnaáreadelogísticadedis-tribuiçãodobiodiesel.Aofinalde2007,aestatalpossuíamaisde5.900postosparacomercializar o volume superior a 90%dobiodieseladquiridopelaPetrobrásnosúltimosleilões.

Dentre as inúmeras pesquisas sobre bio-dieselempreendidasnomeioacadêmico,destaca-seoPóloNacionaldeBiocombus-tíveis,criadoemjaneirode2004noâmbitodaEscolaSuperiordeAgriculturaLuizdeQueiroz(ESALQ),comafunçãodedesen-volverprojetosdeviabilidadenasesferasagrícolaeindustrial.

Outro centro relevante é a AssociaçãoBrasileira das Indústrias de Biodiesel(ABiodiesel)que,alémdeadvogaremfavordos produtores que representa, publicacom freqüência estudos relacionados àviabilidadetécnicaeeconômicadenovosprojetos, além de sistematizar dados einformaçõesemseusite8.

Viabilidade do Programa: os gargalos da matéria-prima e do agente regulador

Atualmente, o Brasil importa 10% dodieselconsumidonopaís,utilizado,prin-cipalmente,no transporte de passageirosecargas.Em2007,asimportaçõesdeóleodiesel corresponderam amais de cincobilhõesdelitros.Dessaforma,odesenvol-vimentodeumaindústriadebiodieselpodepermitiraopaísareduçãodegastoscomaimportaçãodepetróleoeóleodiesel.ALeino 11.097/2005, por exemplo, criouumademandadecercade800milhõesdelitroscomaobrigatoriedadedoB2,oquerepre-senta uma economia anual da ordem de US$160milhõesnaimportaçãodediesel.

Emrespostaaosincentivosdogoverno,asempresas aumentaramsuaprodução: em2005, a produçãode biodiesel girava emtornode736.000litros;essenúmeropassoua69milhõesdelitrosem2006eaquase400milhõesem2007(ANP,2008).Onúmerodeusinastambémtemaumentadosigni-ficativamente: atualmente, o país possui51usinasautorizadasaproduzirbiodieseleoutras44aguardamaaprovaçãodaANP.A capacidade de produção global dessasusinasultrapassa2,5bilhõesdelitros(ANP,2008)–oexcessodeofertapodevirareduziropreçodolitrodobiodiesel.

Paralelamente, a soja, matéria-primautilizadaparacercade75%dobiodieselproduzido no Brasil (ABiodiesel, 2007)9, encontra-se com o preço em alta nomercado internacional.Dessa forma, aomesmotempoemqueopreçodobiodieselé reduzido devido à excessiva oferta doproduto, o custo de produção aumentasignificativamente, e o resultado dessaequaçãoénegativoparaoprodutor.Essequadro fez com quemuitos produtoresparalisassem suas usinas em função daincerteza do retorno financeiro de seuinvestimento.Um caso ilustrativo é odoGrupo Bertin, que produz biodieselapartirdosebobovinoeque inaugurouuma usina em Lins, no Estado de São Paulo, em setembro de 2007. Projetadaparaumacapacidadedeproduçãoanualde100milhõesdelitros(ANP,2008),ausinaencontra-separalisada.

Ocenáriodeincertezaparaessaemuitasempresas tornou-se evidente no últimoleilãodaANP10,realizadoemnovembrode 2007. Nesse, a ANP adquiriu 380milhõesdelitrosdebiodieselpelopreço

médio deR$ 1,863 por litro, embora opreço de referência fosse R$ 2,40 porlitro11. O resultado foi o calote dasempresasprodutorasde20%dovolumecontratadologonoiníciodoprimeiroanodeimplementaçãodoPNPB.Alémdisso,nesseleilãofoicompradoovolumedebio-dieselnecessárioparaoprimeirosemestrede2008e,assim,nãohaverápossibilidadedevendanocurtoprazo.

Há, ainda, outros fatores em jogo, comoporexemplo,odescontentamentodosetorprivadocomaassimetriaentrepromessase ações doGovernoFederal.Mais preci-samente, a tentativa de incorporação daagricultura familiar ao Programa parececarecerdemaisatençãodogoverno,funda-mentalmenteemdois sentidos.Primeiro,a opçãodos produtoresde biodiesel pelasojajustifica-senofatodeessaseraúnicamatéria-primaquepermite produção emescala,afimdeatenderàexigênciadoB2dogoverno12.Osprodutoresquerecorreramàdiversificaçãodematérias-primas,dasquaisgrandeparteestáconcentradanas regiõesNorteeNordeste,depararam-secomoutroproblema: a distribuiçãodobiodiesel emescalanacional.Opaísnãodesfrutadeumamalhalogísticacapazdeintegrarasdiversaslocalidades emque se coleta dematéria-prima,asusinaseospontosdeconsumo.Issosedeveàdeficiênciadarededeestradaseaofatodeque,somentenoperíodorecente,novasempresasestãosendoincorporadasàredededistribuiçãodoBiodiesel13, funçãoesta que era exercida quase que de forma exclusivapelaPetrobrás.

Ao que tudo indica, o PNPB conseguiupromover o desenvolvimento de umacadeiaprodutiva,masnãotemcontribuídoparaminimizaraconcentraçãoindustrialeregional.Comefeito,das51usinasins-taladas,34situam-senasregiõesSudesteeCentro-Oeste(comdestaqueparaMatoGrosso e SãoPaulo) e concentrammaisdametadedacapacidadeprodutiva(1,62bilhãodelitros).Alémdisso,aausênciadeumamalhadedistribuiçãohomogêneanoterritórionacional,aincompatibilidadedocustodeproduçãocomopreçodevendanosleilõesearesultantebaixarentabili-dadedasempresasprodutorastêmtornadoaindamenos viável a incorporação daagriculturafamiliarnoprocesso14.

Mercado internacional para o biodiesel brasileiro?Circunscritaàlógicadebuscaporfontesdeenergiaalternativas,apolíticadeincen-

...o Brasil importa 10% do diesel consumido

no país, utilizado, principalmente, no transporte

de passageiros e cargas. Em 2007, as importações de óleo

diesel corresponderam a mais de 5 bilhões

de litros.

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PONTES - Fevereiro 2008 16

Análises regonais

tivo à produção do biodiesel tem, semdúvidas,contribuídoparaoincrementodaproduçãodessecombustíveledonúmerode regiões envolvidas no debate sobre aenergia.Contudo,deacordocominúmerosdepoimentosdeespecialistasàABiodiesel,oProgramaparecenãodispordeumgraudematuridadesuficienteparaaspromes-sas que anuncia, como a inclusão social e a competitividade.Comefeito, a expec-tativacriadaaoredordamudançasocialque essa alternativa energética poderiatrazerdeparou-secomafaltadesubsídiosgovernamentaisecomaausênciadeumamalhadedistribuiçãocapazdeinterligarasetapasdoprocessodeprodução.

EmpreitadasanálogasaoPNPBnoexteriordesfrutamde níveis de incentivomuitosuperioresaosencontradosnoBrasil.UmexemploemblemáticodessaafirmaçãoéaUniãoEuropéia(UE),querespondepor90%da produçãomundial de biodiesel.Apósanosdeesforçosdecoordenação,aUE conseguiu formular uma política deincentivosfiscais emarcos regulatóriosfavoráveisaomeio-ambiente,específicosparaobiodiesel.Em2003,oParlamentoEuropeu aprovou aDiretiva no 30, pormeiodaqualdeterminouque,até2005,2% dos combustíveis consumidos naEuropafossemrenováveis(em2010essaporcentagempassaráa5,75%).NosEsta-dosUnidosdaAmérica(EUA),aproduçãotambémtemcrescidoàscustasdefortesincentivosporpartedogoverno15.

Emmeadosde2007,ogovernobrasileiroafirmouque, apesar do elevadonível deproduçãoeuropeudebiodiesel,arestriçãodeáreascultiváveisnaEuropacriavaumaoportunidadeparaqueoBrasilexportasseparaessecontinente.Liderançaspolíticaseuropéias, entretanto, declararam quehaviaimpedimentostécnicosàimporta-çãodobiodiesel–porexemplo,parâmetrosdeviscosidadeedensidade–oqueintro-duziu, no Brasil, a necessidade de umacertificaçãodequalidadedoprodutoemconformidadecomosparâmetrosinterna-cionais16.OParlamentoEuropeutambéminiciou,emjaneirode2008,umprocessodediscussãoemtornodeumapropostadeleiqueprevêaproibiçãodaimportaçãodebiocombustíveiscujocultivoestávincu-ladoapráticasdedesmatamento.

O panorama acima descrito demonstraalgumas das dificuldades que o BrasilenfrentaránoprocessodeamadurecimentodoProgramanoâmbitodoméstico,paraqueestepossacumpriraspromessasanuncia-

das quando de seu lançamento. Emborahajapressado setorprivadoemescoaroexcedentedeproduçãodebiodieselparaoexterior,pesquisadoresdoBIDargumentamqueaexportaçãodeveserpensadacomoumestágioposterior.E,nointervalo,podemserpensadasecolocadasempráticaassoluçõesparaosproblemasidentificadospelospro-dutoresdessebiocombustível.

1EstudosapontamparaoInstitutoNacionaldeTecnologia(INT)comoainstituiçãopio-neiranodesenvolvimentodessesestudos.Ver:FILHOetall,“Biodiesel:consideraçõessobreaestratégianacional”(disponívelem:<http://www.congreso-info.cu/UserFiles/File/Info/Intempres2006/Intempres2004/Sitio/Ponen-cias/47.pdf>);ePauloA.Z.SUAREZeSimoniM.PlentzMENEGHETTI, “70º aniversáriodo biodiesel em 2007: evolução históricae situação atual noBrasil” (disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ar ttext&pid=S0100-404220070008000 46&lng=e&nrm=iso&tlng=e#fig01>).Acessoem:7fev.2008.2Obiodieselpodeserobtidopormeiodetrêsprocessos:craqueamento,esterificaçãoetrans- esterificação.A transesterificação, processomais aplicado atualmente para a produçãodobiodiesel,consistenumareaçãoquímicadosóleosvegetaisougordurasanimaiscomálcoolcomum,estimuladaporumcatalisador,daqualtambémresultamglicerinaeoutrosco-produtos(porexemplo,farelo).Paramaisinformações técnicas relacionadas a cadaumdeles,consultar:Brandão,K.S.R.etal.(2006),“Otimizaçãodoprocessodeproduçãodebiodieselmetílicoeetílicodesoja” (dis-ponível em: <http://www.biodiesel.gov.br/docs/congressso2006/producao/Soja08.pdf>);eParaizo,Alineet al. (2005), “ProduçãodeBiodiesel” (disponível em: <http://www.enq.ufsc.br/labs/probio/disc_eng_bioq/tra-balhos_grad2005/biodiesel/biodiesel.doc>).Acessoem:11fev.2008.3Ver“PortalBiodiesel–onovocombustíveldoBrasil”,disponívelem:<http://www.bio-diesel.gov.br/>.Acessoem:7fev.2008.4ALei no 11.097/2005definebiodiesel daseguinteforma:biocombustívelderivadodebiomassa renovávelparauso emmotores acombustãointernacomigniçãoporcompres-sãoou,conformeregulamento,parageraçãodeoutrotipodeenergia,quepossasubstituirparcialoutotalmentecombustíveisdeorigemfóssil”.5OBNDESnãoéaúnicainstituiçãoquecon-cedefinanciamentoàsempresasprodutorasdebiodiesel.Destacam-setambémoPRONAF,programadoqualparticipamdiversosbancosequefornece,alémdelinhasdecrédito,assis-tênciatécnica;eoBancodoBrasil,oqual,atra-vésdoProgramaBBBiodiesel,disponibilizalinhasdefinanciamentoparadiversasetapasdacadeiaprodutiva.Paramaisinformações,consulteapáginadoPNPB:http://www.bio-diesel.gov.br/.Acessoem7fev.2008.6 Há três níveis distintos de desoneraçãotributáriaconcedidospelogoverno:i)paraobiodieselfabricadoapartirdamamonaoudapalmaproduzidasnasregiõesNorte,Nordeste

e no Semi-Árido pela agricultura familiar,a desoneração de PIS/PASEP eCOFINS étotal;ii)paraobiodieselfabricadoapartirdequalquermatéria-primaque seja produzidapelaagriculturafamiliar,independentementeda região,há 67,9%de redução em relaçãoà alíquota geral; iii) para o biodiesel fabri-cado a partir damamona ou da palmanas regiõesNorte,NordesteenoSemi-Áridopeloagronegócio,háapenas30,5%dereduçãonaalíquotatotal.7OEdital de lançamentodaRNBestá dis-ponível em: <http://www.biodiesel.gov.br/docs/RedeNE23nov2004prel.pdf>.Paramaisinformaçõessobreiniciativasestaduais,ver:<http://www.biodiesel.gov.br/rede.html>.Acessoem:11fev.2008.8É interessanteconsultar,parafinscompa-rativos,ossitesdasassociaçõesanálogasnaUniãoEuropéia (ConselhoEuropeudoBio-diesel–EBB,nasiglaeminglês)enosEUA(ConselhoNacional deBiodiesel): <htttp://www.ebb-eu.org> e <http://www.biodiesel.org/>,respectivamente.9DeacordocomrelatóriodoBancoInterameri-canodeDesenvolvimento(BID),aproduçãodebiodieselapartirdasojanoBrasilcorrespondea80%.VerBID,A Plueprint for Green Energy in the Americas – Strategic Analysis of Oppor­tunities for Brazil and the Hemisphere, 2007. Disponível em:<http://idbdocs.iadb.org/ws-docs/getdocument.aspx?docnum=947972>.10OresultadodoleilãodaANPestádisponívelem: <http://www.anp.gov.br/doc/biodiesel/Resultado_7parc_Leilão.pdf>.Acesso em: 8fev.2008.11Cabeacomparaçãocomopreçododiesel,cotadoemR$1,80,segundoaANP(2008).12Emborasejaumamatéria-primaproduzidaem escala, cabe destacar que o rendimento emóleodasojaéinferioraodoóleodepalma(dendê),porexemplo:umhectaredecultivodesojaproduzde0,2a0,6toneladasdebiodiesel,aopassoqueumhectarededendêproduzcercade3,0a6,0toneladas(NAE–Secom,2005.Disponívelem:<http://www.planalto.gov.br/secom/nae/docs/cnae_bio.pdf>.Acesso em:11fev.2008).13Ver:<http://www.anp.gov.br/biocombusti-veis/GT_biodiesel.asp>.14 Paraumaanálisemaisprofunda, verdis-sertaçãodeMestradodeJuniorRuizGarcia,intitulada“OPNPBeaAgriculturaFamiliarnaRegiãoNordeste”(InstitutodeEconomiadaUnicamp,dez.2007).15 Cabe destacar que os incentivos fornecidos pelaUEconstituemisençõestributáriasaosconsumidores, de modo que seus efeitos só se fazemsentirnomercadodoméstico,;aopassoque,osEUAoferecemsubsídiosaosproduto-res. Essa distinção temalimentadodebatesinternacionais sobre a possibilidade deumpainelnaOrganizaçãoMundialdeComércio,àmedida que omercado internacional dosbiocombustíveisseconsolida.16Nadécadade1990,ospaísesquehojecons-tituemaUEinvestiram,aproximadamente,€100milhõesnoProjeto deDemonstraçãodeBiodiesel,programacompostopormaisde350projetosdepesquisadedicadosàavalia-çãodaqualidadedobiodieselproduzidonasfronteiraseuropéias.

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17 Fevereiro 2008 - PONTES

OMC em focoAnálises Regionais

com obama, Hillary ou Mccain a política de comércio exterior dos EUA deve continuar travada

Paulo sotero*

Aspresenças,entreoscandidatosdoPartidoDemocrataàseleiçõespresidenciaisdosEstadosUnidosdaAmérica(EUA),daprimeiramulher–SenadoraHillaryClinton–edoprimeironegro–SenadorBarakObama–comchancesreaisdechegaraopoder, transformaramacampanhapresidencialdesteanonumfatonovoetranscendentalnahistóriapolíticadopaís.Aconsolidação,entreosrepublicanos,dacandidaturadoSenadorJohnMcCaintrouxeaopalcoprincipalumconservadorpragmáticoeconhecidoporsuaindependência.Ospossíveisdesfechosdopleitode4denovembrode2008sugeremoportunidadeseriscosnoencaminhamentodequestõesrelevantesnasrelaçõesentreosEUAeseusvizinhosdaAméricaLatinaeCaribe.

complicaropanoramadaeconomiaesta-dunidensenofuturoprevisível,apolíticadecomérciointernacionaldosEUAjáeratemapoliticamenteindigestoemWashington.

NãoéóbvioqueumavitóriadeMcCain–fiel à tradição republicanadedefesadoliberalismoeconômico–melhorarásubstan-cialmenteodesfavorávelpanoramaatualaumaretomadadoassuntoemWashington.Pelocontrário,aforteprobabilidadedeumaampliaçãodamaioriademocratanasduascasasdoCongressonaseleiçõeslegislativas–queocorrerãosimultaneamenteàspresiden-ciais–sugerequeapolíticacomercialper-manecerápoliticamentetravada,aomenosatéqueanovaliderançadopaísdemonstrecapacidadeparanegociarosacordosinternosfavoráveisàliberalizaçãocomercial.

Quando e como isso ocorrerá é difícilprever. Após doze anos de jejum, seránecessário muito mais do que uma reto-mada do crescimento da economia paraqueWashingtonreassumaumaliderançaefetivanasnegociaçõesdecomérciointer-nacional.Asdeclaraçõesfeitasdesdeentãopor próceres democratas deixaram claroqueapolíticacomercialéumdostemasque ainda se encontram no limbo.

Emnovembroúltimo,HillaryClintoneBarakObamaderamumexemplodefaltadecoragempolíticaduranteadiscussãodoacordodelivrecomércioqueaadministra-çãoBushnegocioucomogovernodoPeru.Ambos votaram contra a ratificação doacordodecomércioentreEUA,AméricaCentral eRepúblicaDominicana, apro-vadaemmeadosde2005peloCongressoestadunidense. Eles tambémhaviam sepronunciado contra a renovação da LeideAutoridade de PromoçãoComercial(Trade Promotion Authorithy–TPA)queexpirou em junho de 2007.Nofinal de2007,HillaryeObama,entretanto,fize-

É importante ter emmente que o focoprincipaldasrelaçõesinternacionaisesta-dunidensesnospróximosanoscontinuaránoOrienteMédioenaÁsia,emtornodequestõeseconômicasedesegurançanacio-nalrelacionadasàameaçapermanentedoterrorismo, aos desdobramentos e reper-cussõesdaguerranoIraque,àconfrontaçãosobre aproliferaçãonuclear com Irã e aocrescimentoeconômicoepolíticodaChinaedaÍndia.Poressarazão,oslíderesdaregiãodevemmanterexpectativasbaixassobreaspossíveisimplicações,paraseuspaíses,damudançadeadministraçãoqueocorreránosEUA no dia 20 de janeiro de 2009.

Tomadosessescuidados,épossívelestimaralgunsimpactosdatrocadepoderexecutivoemWashington.Arevalorizaçãodadiplo-maciacomoinstrumentodeaçãointerna-cional,iniciadapelogovernodoPresidenteGeorgeW.Bush,deveintensificar-senopró-ximogoverno,sejaelequalfor,emrespostaànecessidadedosEUAde reconheceremanecessidadedereverteraforteperdadeprestígioecredibilidadeinternacionaisqueopaísamargounosúltimosseteanos.EsseseráumresultadodaseleiçõescertamenteaplaudidonaAméricaLatinaeCaribeenorestante do mundo.

Qualquerquesejaodesfechodaseleições,poucodevemudarnapolíticadecomércioexterior dos EUA, tema dominante das relaçõesbilateraiscomoBrasilnosúltimostrintaanosefontedefrustraçõesmútuasefaltadedinamismonodiálogoentreBrasíliaeWashington.Pormaioresquevenhamaser as transformaçõesprometidas, sobre-tudopelosoposicionistasBarakObamaeHillaryClinton,édifícilvislumbrarcomoestas poderão ser estendidas à políticacomercial estadunidense.

Muito antes da campanha presidencialesquentar e da ameaça de uma recessão

ramdeclaraçõesdeapoioàratificaçãodotratadodelivrecomérciofirmadoentreosEUAeoPeruem2006.Aposiçãodeambosossenadoresnãochegouacausarsurpresa:mesmoemmeioàatmosferaprotecionistadeWashington,seriadifícilimpugnarumacordonoqualoPeruconcordouemfazertodas as concessões em troca de tornarpermanentes os benefícios de acesso amercadodosquaisjádesfrutavatempora-riamente.OtratadofoiaprovadonasduascasasdoCongressoemmeadosdenovem-broporamplamargem–masnãocontoucomosvotosdeHillaryeObama.

Apesardaposiçãofavorávelaoacordo,ossenadoresnãocompareceramaoCongressono dia da votação e pouparam-se, destaforma, da ira de seus aliados do mundo sindical, quefizeramcampanha contra aratificação.Doisoutrosentãopré-candida-tosdemocratasàpresidência,osSenadoresJosephBideneChristopherDodd,eoSena-dorRepublicano JohnMcCain tambémnãocompareceramavotação.OSenadorMcCain foi o único pretendente àCasaBrancaaposicionar-seabertamentecontrao protecionismo e preferiu não correr orisco de votar favoravelmente a um acordo deliberalizaçãocomercial.

McCainéhojeo francofavoritonabrigapelacandidaturadoPartidoRepublicano.Conservador que diz o que pensa, atraivotosdeeleitoresindependentesemesmode democratas moderados que não se animam comObama ou que rejeitamHillary. Por essa razão, suas chances devitóriasãoreais,principalmenteseosdoiscontendoresdemocratasproduziremumadivisão irreconciliável na disputa pelacandidaturadopartido.AdespeitodeterfaltadonavotaçãodoacordoEUA-Peru,emseus26anosnoSenadoMcCainmanteveposiçõesdepolíticacomercialconsistentescomatradiçãodeliberalismoeconômico

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PONTES - Fevereiro 2008 18

embenefíciosnãoapenasparanossospar-ceiroscomerciaiseparaaspessoasnotopodaescaladerenda,masparatodososame-ricanos”8, lê-sena plataformadeHillaryClinton.SehádiferençasentreHillaryeObama,éaindamaisdifícilidentificá-lasdepois que o senador de Illinois adotouum tom claramente populista em seusdiscursos, quando assumiu a dianteira na disputadosdelegadosàconvençãonacio-nalqueoficializaráaescolhadocandidatodemocratanofinaldeagosto.

Hilary eObama tambémcoincidem emsuapromessadeseremmaisseveroscomaChinaepressionaremBeijingaabando-nar o que o senador de Illinois descreveu comoumaestratégiade“manipulaçãodamoeda”,quemantémoyuan em um valor artificialmente baixo e atraente para osimportadoresdeprodutoschineses.

EmrelaçãoàsnegociaçõesdaRodadaDohanaOMC,osdoispretendentesdoPartidoDemocrataàCasaBrancacoincidematénalinguagem.Ambos “rejeitamconcessõesnoapoiodomésticoàagriculturaeapóiama abertura demercados estrangeiros aosprodutosestadunidenses”.

Destler alerta, no entanto, que a proba-bilidadeda política de comércio exteriorganhar importância entre as prioridadesdonovogovernodependerádacapacidadede omesmo negociar “uma barganhadoméstica”, na qual temas relacionadosaocomércio–comopolíticatributáriaederenda,reformadossistemasprevidenciárioe de seguromédico federal, expansão deprogramasdetreinamentodetrabalhadoreseaaplicaçãomaisrigorosadeleisquepro-tegemseusdireitos–sejamconduzidosdemodoamobilizaroapoiodosdemocratasnoCongressoemproldeumaagendareno-vadadeliberalizaçãocomercial.

Adeterioraçãodaeconomiaestadunidense,entretanto,nãofavorecerátalnegociação,razão pela qual grande parte dos espe-cialistas é pessimista. JonHuenemann,experiente ex-negociadordosEUAealtoexecutivodafirmaMiller&Chevalier,emWashington, declaranão ter identificadonosdiscursoseplataformasdoscandidatosnenhum sinal sobre como abordariam as grandesquestõesglobaisqueconfrontamosEUA.Isso,paraeleeparaoutros,éumindíciodequeapolíticacomercialcontinu-aráembanho-mariaenãoseráprioridadedaagendadopróximopresidente.Seessescálculosestiveremcorretos,aRodadaDohacontinuaráexatamenteondeestá–parada.

I.M.Destler, especialista em comérciointernacionaldaUniversidadedeMarylandepesquisadorvisitantedoPeterson Insti­tute for International Economics, lembrou queoPresidenteDemocrata,BillClinton,levouadianteapolíticadecomércioexte-riordeseuantecessor.Destlerduvida,noentanto, queHillaryClinton, se eleita,seguirá o exemplo de seumarido e sim-plesmente retomará a agenda inconclusadeGeorgeW.Bush5.

Apresentadanumdiscurso intitulado “areconstruçãodaclassemédia”,apropostadepolíticacomercialdasenadoradeNovaYorkconsistenoreforçodasbarreirascomerciaisaprodutosqueentramnosEUAenaflexi-bilizaçãodebarreirasexternas.Elatambémpropõe que todos os acordos comerciaiscelebradospelosEUAsejamrevisadosacadacincoanos,acomeçarpeloAcordodeLivreComérciodaAméricadoNorte (NAFTA,siglaeminglês),queentrouemvigorentreEUA,CanadáeMéxicoem1994.Hillaryenfatiza,ainda,anecessidadedeampliaçãodosbenefíciosfederaisaostrabalhadoresqueperderamseusempregoscomoconseqüên-ciadetaisacordos.“Trabalhareidesdeopri-meirodiaparaassegurarquenossaspolíticascomerciaisfuncionemefetivamenteparaostrabalhadoresamericanos”6,afirmaHillaryemseudocumentodecampanha.

OcenárionãoserámuitodiferenteseBarakObama ganhar a briga pela candidaturademocrata e triunfar em novembro.Osenador de Illinois procurou contrastarsuaposiçãocomadeHillary,noembatedasprimárias,adotandoumaposturamaisaberta.“Aquestãonãoésedevemospro-tegernossostrabalhadoresdos[efeitos]dacompetição,masoquepodemosfazerparacapacitá-losplenamenteparacompetircomostrabalhadoresdorestodomundo”7.

Noquesitocomércioexterior,aplataformaeleitoraldeObamaépraticamenteidênticaàdesuarivaldepartido.“Obamalutaráporumapolíticacomercialqueampliemerca-dosnoexterioreapóieacriaçãodebonsempregosnosEUA”,lê-senaplataformadosenadorporIllinois.Obama“devetirarpro-veitodosacordoscomerciaisparadifundirmelhorespadrõestrabalhistaseambientaisaoredordomundoemanterásuaoposiçãoaacordoscomooAcordodeLivreComér-cio daAméricaCentral (CAFTA, siglaeminglês)entreEUAeAméricaCentral,quenãorespeitamtaispadrões”,prometeObama.“Aspolíticascomerciaisdeverãoincluirpadrõesforteseaplicáveisdepro-teçãotrabalhistaeambientalqueresultem

deseupartido.Emnovembropassado,eledeclarouque“promoveráagressivamentealiberalizaçãodocomércioglobalnaOrga-nizaçãoMundial doComércio (OMC)”1. Em janeiro,mesmodiante de pesquisasdesfavoráveisnaspréviasdoestadodeIowa–quetemumapopulaçãode2milhõesdehabitantes e recebeuma fatia despropor-cional da ajuda federal à agricultura – osenadordesancouapolíticadesubsídiosecriticouagenerosaajudafederalàproduçãodo etanol demilho (liderada pelo estadode Iowa e quenão existiria semo apoiodos subsídios estadunidenses). É difícilantever,entretanto,comoMcCainpoderiaterêxitoelevaradianteumaestratégiadeliberalizaçãocomercialcapazdedestravarasnegociaçõesdaRodadaDohasemoapoiodeumamaioriaparlamentar.

Certosdequeseupartidoampliaráamar-gemdecontroledoCongresso,assessoresparlamentaresdemocratasafirmamqueoresultadodaeleiçãopresidencialnãofarámuitadiferençaparaapolíticadecomér-cioexteriordosEUAnospróximosanos.JasonKeans, umconselheiro da estraté-gicaComissãodeDotaçõesdaCâmaradeRepresentantes,observouemconferênciarecentenoWilsonCenterque“quemquerque seja o presidente, ele ou ela deveráestardispostoaquestionarosistemaatualem seu conjunto e apresentarumanovaagenda”2.Kearnstambémafirmouqueosanalistaspodemestarerradosaopresumirque a agenda liberal de Bush será reto-mada seum republicanovencer o pleitode novembro, ou que a mesma continuará bloqueadaseosamericanoselegeremumdemocrata.“Nosúltimostrêsanos,diver-sosacordoscomerciaisficaramestagnadosnoCongressoestadunidensesobaliderançadeambosospartidos.Arazãoparaoatrasonasdecisõessugerequeéchegadaahoraderepensarapolíticacomercial”3.

Ademandaporum reexamenão existeapenas entre os democratas.Uma pes-quisa de opinião realizada em outubropassado peloWall Street Journal e pelaredeNBC4 mostrou que 59% dos eleitores entendemocomércioexteriorcomoalgo“ruim”paraopaís.Ainda,segundoJasonKearns, a próxima administração – sejaelademocrataourepublicana–terátrêsalternativas emmatéria de política decomérciointernacional:(i)manterocursoatual,quelevaráaumimpassetotal;(ii)nãotomarnenhumaação,oquedaránomesmo;ou(iii)buscarumnovocaminhoeremodelarapolíticacomercialdeformaaotimizarseusbenefícios.

Análises regonais

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19 Fevereiro 2008 - PONTES

Namelhordashipóteses,osnegociadorespoderiam produzir um acordomínimocapazdesalvarafacedosgovernosenvolvi-dosepreservaraOMCcomoinstituição.

NoquedizrespeitoaoBrasil,ogovernodoPresidenteLuiz InácioLula daSilvanãodeveráenfrentarmaioresproblemas–nosdoisanosquelherestarãonopoderapartirdapossedopróximomandatárioestaduni-dense–paramanteraposturadefensivaquetradicionalmente tempautado a políticacomercialbrasileira.Pormaispromissoraquepareçaser,acooperaçãocomosEUAnaáreadebiocombustíveis,formalmentedesencadeadanoanopassadocomaassina-turadeumMemorandodeEntendimentoentre os dois países, tampouco deveráavançar alémdemodestas ações conjun-tas para estimular a produção de etanoldecana-de-açúcarempaísescaribenhosecentro-americanos.ObamaeHillarytêmdívidaspolíticasapagaraolobby do etanol demilho,queéespecialmenterobustoemIowa,ondeambospassaramsemanasemcampanhaem2007.Nahipótesedeumavitória republicana emnovembro, JohnMcCainnão deverá termais sucesso doqueBushparalevaradianteumapolíticade redução ou eliminação dos subsídioseproteçõesaoálcooldemilho.Por tudoisso,opanoramadapolíticacomercialdosEUAnospróximosmeseseanos–quejáeradesalentadorantesmesmodaameaçadeuma recessão na economia estadunidense surgirnohorizonte – deverá permanecercomplicadoepoucopromissorparaquemacreditaqueaexpansãodocomércioéocaminhomais curto para o crescimentoeconômicoeageraçãodeempregos.

* Paulo Sotero é diretor do Brazil Institute, Woodrow Wilson International Center for Scholars, Washington.

1InUSATODAY,October8,2007.2 Conference on “Brazil and the US: Trade Agendas and Challenges of the Bilateral Re­lationship”, The Brazil Institute of the Wood­row Wilson International Center for Scholars, October 16, 2007, Washington, D.C.3 Idem nota II4 NBC Wall Street Journal Survey of 606 Re­publican Primary Voters interviewed from September 20th to 30th, in The Wall Street Journal, October 3, 2007.5 Idem nota II6 http://www.hillaryclinton.com/issues/middleclass/7DavidRanson,“TheCandidatesandTrade”.TheWallStreetJournal,February6,2008;8 http://www.ontheissues.org/International/Hillary_Clinton_Free_Trade.htm

o “novo regionalismo asiático”: maior integração ou mais um spaghetti bowl?

Esteémaisumartigosobreaspolíticasdebilateralizaçãocomercialquetêmproliferadonoatualcenáriodocomérciointernacional.Apósumano,estasériedapublicaçãoPontesencerra-secomumestudosobreapolíticacomercialedeintegraçãonaÁsia,regiãocujaimportânciapolíticaeeconô-micatemcrescidoapassosrápidosnosúltimosanos.

AparticipaçãodaÁsianocomérciointerna-cionalécadavezmaissignificativa.Muitosdosatuaispaísesemergentessãoasiáticosesuaspolíticascomerciaistornam-secadavezmais influentesno rumodasnegociaçõescomerciaismultilaterais.Recentemente,algunspaísesasiáticostêmnegociadoacor-dosbilateraiscompaísesdeforadaregião,o que demonstra umamaior atuação epreocupação como comércio extra-zona.Essasnegociaçõescertamenteterãoimpactonasrelaçõescomerciaisdediversospaísesocidentais, o que desperta aindamais ointeresseeaatençãosobreaatualpolíticacomercialdaÁsia.Algunsexemplosdessanovatendênciasãoasnegociaçõeschinesasparaacelebraçãodeacordosdelivrecomér-ciocomoPeruecomoChile(verPontes Quinzenal,v.3,n.2,08fev.2008).ACoréiado Sul também demonstra-se cada vezmaisinteressadaemnegociarpreferênciascomerciaiscompaísesocidentais,comoosEstadosUnidosdaAmérica(EUA),comoqualcelebrouacordodelivrecomércionoanopassado(aindapendentedeaprovaçãonoCongressoestadunidense).

Diantedetalpanorama,opresenteartigoapresentaoprocessodeintegraçãodaregiãoasiática e a estratégia comercial de seuspaísesnacelebraçãodeacordoscomerciaiscompaísesocidentais.

Integração econômica na Ásia: um processo recenteOprocessodeintegraçãodaregiãoasiá-ticaéumpoucomaistardiosecomparadoao início dos processos de integraçãoeuropeuelatino-americano.AorigemdaintegraçãoregionalinstitucionalnaÁsiadeu-secomacriaçãodaAssociaçãodasNaçõesdoSudesteAsiático(ASEAN,siglaeminglês)1,em1967.AASEANfoicriadacomobjetivospredominantementepolí-ticosecomumaagendaqueenfatizavaa cooperação em diversas áreas, comocultura, saúde e economia.Na décadade90,ospaísesmembrosdaassociação

decidiram buscar o estabelecimento de umacomunidadeeconômica,quedeveráserimplementadaem2020.

OutroprocessodeintegraçãoiniciadonaÁsiafoiaAssociaçãodaÁsiaMeridionalpara a Cooperação Regional (SAARC,sigla em inglês), formada em 1985 porBangladesh,Butão,Índia,IlhasMaldivas,Nepal, Paquistão e Sri Lanka. Como aASEAN, a SAARC também foi criadaprincipalmente por razões políticas,com uma agenda ampla de cooperaçãoregional.Essetemsidoumprocessomaisproblemático,pelofatodeseconcentraremumaregiãobastantemarcadaporcon-flitosarmados,oquedificultaouimpedeobomrelacionamentoentreospaíseseoavançodoprocessodeintegração.

Foinadécadade90,porém,queospaísesasiáticospassaramafirmarosconheci-dos acordos preferenciais de comércio,comvistasapromoveraçõesconcretaspara a liberalização comercial. Nestesentido,noâmbitodasduasassociaçõesregionaisforamcriadasaÁreadeLivreComércio da ASEAN (AFTA, sigla eminglês),em1992,eaAcordoPreferencialdeComércio da SAARC (SAPTA, siglaeminglês),em1995.

Antesdisto,umabuscapelaliberalizaçãocomercialparalelaàOrganizaçãoMundialdoComércio (OMC) já despontava: em1989foifundadaaCooperaçãoEconômicado Pacífico Asiático (APEC, sigla eminglês), constituída inicialmente pelospaísesqueformavamaASEANàépoca,juntamente com Austrália, Canadá, Coréia do Sul,Nova Zelândia e EUA.Em 1991,HongKong,China e Taiwantambémsetornarammembros,e,poste-riormente,Chile,México, PapuaNovaGuiné,Peru,RússiaeVietnãassociaram-seaogrupo.EssainiciativacontavacomaparticipaçãodemembrosdosdoisladosdoPacífico,cujaaspiraçãoeracriarum“regionalismoaberto”2.

OMC em focoAnálises Regionais

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PONTES - Fevereiro 2008 20

Identifica-secomoasprincipaiscausasparao desenvolvimento de acordos comerciais naregião:(i)acriseeconômicaasiáticade1997-1998; (ii) aperdadecredibilidadedeorganismos regionais5 e do sistema mul-tilateraldecomércio;(iii)aampliaçãodosblocos econômicos emoutras regiões domundo;e(iv)acompetiçãoentreospaísesdaregiãoasiática6.

China, Japão e Coréia do Sul: principais atores do novo regionalismo asiático

OJapão,até2002,nãohaviaparticipadode qualquer acordo comercial bilateral, apostandosomentenasnegociaçõesmulti-lateraisdaOMC.Naqueleano,entretanto,decidiu assinar um acordo preferencialcomCingapura.Neste primeiro acordo,o Japão evitou tratar de assuntos sensí-veisparasuaeconomia,comoaaberturacomercialdosetoragrícola,que,apesardenãoserumsetorcompetitivoparaopaísnocomérciointernacional,temrepresen-taçãosignificativainternamente.Osetoragrícola japonêsmostrou-se forteo sufi-cienteparainfluenciaroposicionamentodo governo nas negociações comerciaisemgeral–oqueparaocasodaAméricaLatina,ondeosetoréforteebastantecom-petitivoeoscompromissosdeaberturadomercado no setor costumam configurarasprincipaisreivindicaçõesdessespaísesem negociações internacionais – trazsériasdificuldades.Cingapura,entretanto,exportavaumvolumemínimodeprodutosagrícolasparaoJapão,oquepermitiuqueoassuntoagrícolafossepoucoabordadonasnegociaçõesentreosdoispaíses.

Desde a celebração do acordo comCin-gapura, o Japão tem realizado consultas

A partir do final dos anos 90, os países do Leste

Asiático passaram a demonstrar maior

interesse pela celebração de acordos comerciais, fenômeno

chamado de “novo regionalismo asiático”.

e negociações com outros países paraaumentar seus acordos bilaterais. NaAmérica Latina, o país negocia acordoscomerciaiscomMéxicoeChile.NaÁsia,jáavaliaaviabilidadederealizardiversosoutros acordos7.

NocasodaCoréiadoSul,oprimeiroacordodelivrecomérciocelebradofoicomoChile,em2003.Esseacordoentrouemvigorem2004 e visa à total liberalização e elimi-naçãodetarifasemtodosossetoresapós16anos.OacordopermitiuqueaCoréiadoSulganhasseexperiêncianacelebraçãode futuros acordos bilaterais e facilitou as negociaçõesdopaíscomosEUA,Cinga-pura,entreoutros8.

AestratégiaChinaéoutraquemereceespe-cialatenção.UmavezquesetornouMem-brodaOMCem2001,começouapenasapartirdeentãoaproporacordoscomerciaisregionaisparalelos.SuaprimeirapropostafoiacriaçãodeumaáreadelivrecomérciocomospaísesdaASEAN.Asnegociaçõesparaoalcancedesseobjetivoiniciaram-seem 2002 e, em 2004, o bloco e a China acordaramquantoàcriaçãodeumazonade livre comércio até 2010 para os seismembrosoriginaisdaASEANeaté2015paraosnovosmembros.

AlémdasnegociaçõescomaChina,ospaí-sesdaASEANtambémnegociambilateral-menteacordoscomerciaiscomJapão,CoréiadoSuleÍndia.Asnegociaçõesentreoblocoe cadaumdesses países variambastante,especialmente conformeo graudedesen-volvimentodopaísparceiro.AcelebraçãodeacordoscomerciaiscomPEDs,porexemplo,pode sermais fácil, graças à cláusula dehabilitaçãodaOMC,quepermitequealgunssetores sejamexcluídos dos esquemas deliberalizaçãodosacordoscomerciaisentrePEDs.Poroutrolado,acelebraçãodeacor-doscompaísesdesenvolvidos(PDs)émaiscomplexa,jáqueotratadoprecisaestardeacordocomoartigoXXIVdoAcordoGeralsobreTarifaseComércio(GATT,siglaeminglês) daOMC, ou seja, a liberalizaçãodeverá cobrir substancialmente todo o comérciobilateral.

ApesardasnegociaçõesdaASEANcomosdemaispaísesserembilaterais,vislumbra-seacriaçãodeumgrandeblocoeconômicoregional,jáquedesde1997sãorealizadasreuniõesdecúpulaanuais–denominadasASEAN+3 – referente ao diálogo con-juntodobloco comaChina, o Japão e aCoréiadoSul.Oobjetivoéchegaraumacoordenação econômica regionalmais

Análises regonais

Desdeosanos90,háumagrandetendêncianomundoparaacriaçãodeáreaspreferen-ciaisdecomércio,ouseja,paraacelebra-ção de acordos comerciais entre poucospaíses, jáque taisnegociações comerciaissão relativamentemais rápidas doque ascomplexas negociaçõesmultilaterais queocorremnoâmbitodaOMC.Especialmentenoquetangeaospaísesemdesenvolvimento(PEDs),asnegociaçõesdeacordosdelivrecomérciobilateraisouentrepoucospaísessãoaindamaissedutoras,poispermitemoestabelecimentodealiançasestratégicasquemelhoramposiçõesdebarganhanasnegocia-çõesmultilaterais.Alémdisso,osacordosbilateraisouplurilateraissão,emgeral,maisfacilmenteaceitosemtermospolíticospelosEstados do que os acordos multilaterais. Isso porquetaiaacordospermitemqueospaísescontinuemprotegendosetoreseconômicossensíveis,sobreosquaisosgovernossofrempressõesdaindústriadoméstica(emgrandepartedasvezes,osetoragrícola)3.

EssatendêncianãodeixoudeatingiraÁsia:desdeadécadade90,paísesqueatéentãosemostravampredominantementemultilatera-listaspassaramabuscaracordoscomerciaiscomumoupoucosparceiros,tantodentrocomoforadaregião.Desde1998,onúmerodepropostascomerciaisnaregiãodoPací-ficoAsiáticotemmultiplicado.Em2004,onúmerojáerasuperiora30,variandodesdeacordosbilateraisatéestudosparaformaçãodegrandesblocoseconômicos4.

O “novo regionalismo asiático”NoLesteAsiáticoencontram-seospaísesasiáticos que se destacam entre as maiores economiasdomundo:Japão,China,Coréiado Sul,Taiwan eHongKong.Até 2000,esses países estavam envolvidos apenasemnegociaçõesmultilaterais,ouseja,nãoparticipavamdasáreasdelivrecomérciodaregiãoounãotinhamconcluídoacordoscomerciais.

A partir do final dos anos 90, os paísesdoLesteAsiático passarama demonstrarmaiorinteressepelacelebraçãodeacordoscomerciais, fenômeno chamadode “novoregionalismoasiático”.Suascaracterísticasbásicassão:(i)aparticipaçãoemnegociaçõescomerciais de países que antes não erammembrosdeáreaspreferenciaisdecomércio;(ii)ofatodeospaíseseremmembrosdemaisdeumacordodecomércioregional; (iii)ograndenúmerodeacordosinter-regionais;e,finalmente,(iv)acaracterísticabilateralde muitos desses novos acordos.

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21 Fevereiro 2008 - PONTES

ampla.De qualquer forma, acredita-sequeaconcretizaçãodetrêsáreasdelivrecomércio (ASEAN-China,ASEAN-JapãpeASEAN-Coréia) sejamais provável.Oestabelecimento de uma área comercial entreChina, Japão eCoréia do Sul nãosóémaisdifícilporcausadaoposiçãodealguns setores contra uma liberalizaçãocomercialnesses termos,comotambémpelas diferenças históricas ainda persis-tentesnaregião9.

Perspectivas para as relações Ásia-América Latina

Especificamentenoquetangeàsrelaçõesdospaísesasiáticoscomospaíseslatino-americanos,pode-sevisualizarumaten-dência de aproximação cada vezmaior.IssoporqueanovatendêncianapolíticacomercialasiáticanãodeixoudeatingiraAméricaLatina.

Aofinaldadécadade90,foiestabelecidooForodeCooperaçãoAméricaLatina–ÁsiadoLeste(FOCALAL),doqualfazemparte33 Estados asiáticos e latino-americanos. Trata-sedeummecanismodeconcertaçãomultilateralentreasregiõesecujoprin-cipal objetivo é fortalecer a cooperaçãoentreaAméricaLatinaeaÁsiaafimdepossibilitaruma ação conjunta das regi-ões emdiversas questões10.Apesar de o FOCALALnãotratarespecificaeunica-mente de temas ligados à liberalizaçãocomercial,elesinalizaumdesejodeapro-ximaçãoeconômicadasregiões.

Ainda, individualmente e emmatériacomercial, como pôde ser observadoanteriormente, cada vezmais países daAméricaLatinanegociamcompaísesasi-áticosacelebraçãodeacordoscomerciais.OChile,jáconhecidoporsuapolíticadeliberalizaçãobilateral, pode ser conside-rado pioneiro nessa corrida por relaçõesmais próximas com aÁsia a partir domencionadoacordocomaCoréiadoSul.O país tambémnegocia com aChina eestreitasuasrelaçõescomdiversosoutrospaísesdaÁsia.Alémdisso,Chile,PerueMéxicosãomembrosdaAPEC,oqueostornamais próximosde futuros acordoscomerciaiscomospaísesasiáticos.

OBrasiltambémtembuscadoumamaioraproximaçãocomospaísesdaÁsiadesdeofinaldadécadade90.EmespecialcomChina11, Índia e outros PEDs, o Brasiltem criado uma rede de relacionamento comvistasaumaatuaçãoconjuntaem

proldaatençãoaodesenvolvimentonosistema multilateral.

Odesenvolvimentoaceleradopeloqualpassamosprincipaisatorescomerciaisda Ásia não deve passar despercebidopelos países latino-americanos quedesejamcadavezmaisseposicionarnocenário comercial internacional. Restasaber se essas novas parcerias poderãofortalecer o posicionamento da regiãono sistemamultilateral de comérciocomo um todo.

Tendências e perspectivas

Ospaísesasiáticostêmcelebradoacordoscomerciais entre si, ou seja, entre paísesgeograficamente próximos, geralmenteformados a partir de uma extensão deorganismosjáestabelecidosanteriormentepor razões predominantementepolíticas,como é o caso doAFTA e do SAPTA.Comopassardosanos,novospaísestêmaderidoataisacordos–jácelebradoseemvigor.Aomesmo tempo, surgemnovosacordos, emespecial os celebrados pelosprincipaisatoresasiáticos:Japão,ChinaeCoréiadoSul.

Alémdosacordoscelebradosintra-zona,há de se notar tambémuma tendênciaasiática em buscar acordos com blocos oupaísesnãopertencentesaocontinente.Nessesentido,anovapolíticacomercialdaÁsiajárefleteecontinuaráainfluen-ciarapolíticaexternadasdemaisregiõesdomundo,oqueseverificanaAméricaLatina,ondediversospaísescelebraramounegociamacelebraçãodeacordoscomer-ciaiscompaísesasiáticos.

Esses novos acordos representam umagrandemudançanapolíticacomercialdoSudesteAsiático:atéofinaldadécadade90,osatoresquasenãopossuíamacordoscomerciaiscelebradosedavampreferênciaàsnegociaçõesmultilaterais,aocontráriodo continente ocidental, que já celebrava acordos preferenciais hámais tempo.Acriseasiáticaaofinaldadécadade90dei-xouclaroqueasimplesinterdependênciaentreospaísesdaregiãonãofoisuficienteparamantera região livrede instabilida-des, mas evidenciou a necessidade de uma maioreverdadeiraintegraçãoregional.

AsnovasnegociaçõeseacordosbilateraisnaÁsiaapresentam,porém,os jáconhe-cidos sintomas de um spaghetti bowl asiático.Issoporquecadaacordonegociadobilateralmente tende a tratar de forma

diversaosmesmosassuntos,adependerdoparceiro comercial.Algumasnormas sãomais rígidas, outrasmais brandas, o quecriaumaredeconflitanteentreospaísesdeum mesmo bloco. Seria o modelo asiático capazdepreveniraconfusãodospaghetti bowl?Outrata-sedemaisumacópiadosmodelos ocidentais?

1Os países que originalmente formavamaASEANeram Indonésia,Malásia, Filipinas,Cingapura e Tailândia. Posteriormente,associaram-seaindaBrunei,Vietnã,Miamar,CambodiaeLaos.Paramaioresinformaçõessobreobloco,acesse:<http://www.aseansec.org/>.2Durantea5ªReuniãoMinisterialdaAPEC,em1993,desenvolveu-seaidéiadacriaçãodeumaáreadelivrecomérciodopacíficoasiáticoaté2020.Aidéiado“regionalismoaberto”,mais desenvolvida após a crise asiática de1997-1998,édequeoregionalismonãodeveservistocomoumassuntodeinteressedeap-enasumaregião,massimcomoumatendên-ciaglobaldastrêsregiõescontinentais,afimdenãoreduzirobem-estarglobal(in:BCHIR,HeideeFOUQUIN,Michel,Economicinte-grationinAsia:bilateralfreetradeagreementversusAsiansinglemarket,2006.Disponívelem:<http://www.cepii.fr/anglaisgraph/work-pap/summaries/2006/wp06-15.htm>.Acessoem:15fev.2008.3MIYAZAKI,Sílvio.Umavisãoabrangentedos processos de integração econômica nopacífico asiático. In:AMARAL JR.,AlbertodoeRATTONSANCHEZ,Michelle.RelaçõesSul-Sul:paísesdaÁsiaeoBrasil.SãoPaulo:Aduaneiras,2004,p.90.4Idem,pp.94-95.5O enfraquecimento da coesão daASEANea impaciênciacomaAPECcomoveículocondutor da liberalização comercial, foramdeterminantesparaoaumentodabuscaporacordosbilateraispelospaísesasiáticos.6Idemnota3,p.97.7Maioresinformaçõessobreasnegociaçõescomerciais bilaterais do Japão estão di-sponíveisem:<http://www.mofa.go.jp/policy/economy/fta/index.html>.8InformaçõesdisponíveisnosítioeletrônicodoMinistério de Relações Exteriores daCoréiadoSul.Disponívelem:<http://www.mofat.go.kr/english/econtrade/fta/issues/index.jsp>.9Idemnota7,p.101.10Maiores informações sobre o FOCALALestão disponíveis em: <http://www.focalae.org/> ou <http://www.focalal.mre.gov.br/>.Sobre a última reuniãoministerial do FO-CALALverPontesQuinzenal,v.2,n.11,10set. 2007.11Paramaiores informaçõessobrearelaçãoChina-Brasil, ver BARBOSA,Alexandre deFreitas eMENDES,RicardoCamargo,AsrelaçõeseconômicasentreBrasileChina:umaparceriadifícil,2006.Disponívelem:<http://www.fes.org.br/media/File/temas_interna-cionais/fes_briefing_papers/as_relacoes_eco-nomicas_entre_brasil_e_china_2006.pdf>.Acessoem:15fev.2008.

OMC em focoAnálises Regionais

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PONTES - Fevereiro 2008 22

A nova Argentina e o futuro da integraçãoJanina onuki*

OobjetivodesteartigoédiscutirasperspectivasdapolíticaexternadoatualgovernoargentinodeCristinaKirchner.Tomandocomopontocentralaintegraçãoregional,oartigorefletesobreosresultadosalcançadospelogovernoanterior,discuteospontosdecontinuidadeemudançaeaspropostasdonovogovernoparaaregião.

AeleiçãodeCristinaFernándezdeKirch-neràPresidênciadaRepúblicaArgentina,com praticamente 45% dos votos, nãosurpreendeu.Nãoapenasporqueconfirmouosresultadosdaspesquisaseleitorais,mas,sobretudo,porqueaentãocandidataher-davabonsresultadosdogovernoanterior,administradoporseumaridoNéstorKirch-ner,esoubeaproveitá-loseleitoralmente.

Por outro lado, a estratégia pré-eleitoralde Kirchner em não se recandidatar,garantindoespaçoparaCristina,refletiu,em parte, um jogo eleitoral que procu-ravasuperarospontosderejeiçãodoseugoverno(ameaçadainflação,denúnciasdecorrupçãoquecresciamnosúltimosmesesdecampanha–emboranãoameaçassemsuaeleição–eacriseenergética–superadaapósoapoioàproduçãodebiocombustí-veis).A estratégia também refletiuumaformadeconsolidara liderançadosKir-chnernopodereàfrentedoPartidoJusti-cialista(PJ),fragmentadodesdeasúltimaseleiçõesde2001,quandooPJconcorreucom três candidatos (CarlosMenem, NéstorKirchnereAdolfoRodriguezSaá).

AcampanhaeleitoraldeCristinaKirchnerfoiconsideradaminimalistapelosespecia-listas,jáqueacandidatadeupoucasentre-vistas,evitoudebatespúblicoseconfirmouumprogramadegovernoqueapontavaparamaiscontinuidadedoquemudanças.

Este artigo procura analisar as impli-cações dessa eleição, particularmenteno que tange a integração regional e o Mercosul.O que se pode esperar destenovogoverno?Essaperguntaéimportante,jáqueaArgentinaéconsideradaoparceiroestratégicodoBrasildesdefinaisdadécadade80etemadotadoumapolíticaexternabastantepragmática–epoucodiplomática–nosúltimosanos.Nasrelaçõesregionais,aArgentinapareceatuarnumequilíbriodelicado, especialmente ao apoiar oingressodaVenezuelanoMercosul.

A primeira parte desse artigo analisa arepercussão e o significadoda eleiçãodeCristinaFernándezdeKirchneràpresidên-

ciaargentina,aopassoqueasegundaparteprocura avaliar seuprogramade governoe posicionamento em temas de políticaexterna, particularmentenoquediz res-peitoàintegraçãoregional.

A consolidação de uma nova força políticaO sistema político argentino, historica-mente calcado em duas forças políticasque tornaram o sistema praticamentebipartidário(comoperonistaPartidoJus-ticialistaeaUniãoCívicaRadical–UCR),fragmentou-sedeformaradicalnosúltimosanos.Surgiramdiversosmicro-partidoseosistemapartidárionãosouberenovar-sedeformaorganizadanoperíodopós-autoritá-rio.Ainda,oqueseverificanaArgentinaéaascensão–tantoquantoaqueda–degovernos baseados, predominantemente,empersonalidadespolíticafortes.

Nessecontexto,podemosobservarquealiderançadosKirchnervemconsolidando-seaolongodosúltimosanos,nãoapenascoma eleição à presidência,mas comaprópriaeleiçãoaoSenadodeCristinaem2005, quando obteve um percentual devotos bastante superior à sua opositora,Hilda “Chiche”González deDuhalde.Nessasmesmaseleições,oPresidenteKir-chnerobtevemaiorianoCongresso.Tudoissofacilitouaadministraçãodogovernono enfrentamentodos problemas econô-micosepolíticoseéporissoqueseatribuiao governoKirchner a responsabilidadepelasuperaçãodeumadaspiorescrisesdahistóriadopaís.

NéstorKirchner assumiu a presidênciaem ummomento no qual o país aindaapresentavagravesproblemasdeingover-nabilidade e conseguiu,minimamente,colocar aArgentina nos trilhos, com aretomada da estabilidade e do crescimento econômico.Ocustodetaisrealizaçõesfoibastantealto:umdesequilíbriodepoder,em favor do Executivo.

Diversos trabalhosmostram que o pro-cessodecisórioemdemocraciaspresiden-cialistas latino-americanas é fortementecentralizadonoPoderExecutivo.Sabe-setambémqueaestruturadosistemapolí-ticoargentinofavoreceessacentralizaçãodo poder, bem como amanutenção depolíticaspersonalistas.Assim,amarcado“hiperpresidencialismo”temdominadoaArgentinahádécadas.ComKirchner,essaprática só foi ampliada: sua justificativaparamaior centralização de poder foi aprópriacriseeconômica,ograndefantasmaqueameaçavaapopulação.

Em um país no qual as personalidadespolíticas sobrepõem-se aospartidos, pelomenosnoquedizrespeitoàforçaeleitoral,aestratégiafoimanteracontinuidadedo“kirchnerismo”nopoder.A candidaturadeCristinaKirchnerfoigestadaaolongodesses últimos anos, beneficiada pelaboaaceitaçãopopulardaSenadoraepelacapacidade dosKirchner de recentralizarasdissidênciasperonistas.

Se,porumlado,acrisevividapelosargen-tinosapartirde2001trouxeumconjuntodenovosproblemas,tambémsereforçouaidéiadequeeranecessárioeliminardevez qualquer resquício dos dez anos de“menemismo”,culpadopelosresultadosnegativosda economia e pelas vulnera-bilidades que as políticas liberalizantesdeCarlosMenemdeixaram de herançaparaapopulação.

Do ponto de vista da institucionalidadepolítica, entretanto,osgrandesdesafiodaArgentinaaindacontinuamsendosuperarohiperpresidencialismopersonalistaeconso-lidarasinstituiçõespolíticasepartidárias.

Análises regonais

A campanha eleitoral de Cristina Kirchner…

confirmou um programa de governo

que apontava para mais continuidade do

que mudanças.

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23 Fevereiro 2008 - PONTES

OMC em focoAnálises Regionais

Noiníciodadécadade90,Menemsoubebeneficiar-se da “legitimidade de resul-tados”.Paraumapopulaçãovindadeumcenário catastrófico de hiperinflação, aprioridade deveria ser a estabilidade daeconomia.Menem ofereceu tal estabi-lidade como resultado imediato de seu primeiro ano de governo e conquistoulegitimidade para realizar uma série dereformas,oquereforçouaindamaisotraçodohiperpresidencialismo.Acriseeconô-micade2001fezviràtonaumproblemadenaturezapolíticaeestrutural.

CristinaKirchnernãoéapenasaprimeiramulherasereleitapresidenteemseupaís:elatememsuasmãosaresponsabilidadederecuperaratradiçãopolíticaperonista(pelomenosnocampopartidário),assimcomodesuperarofantasmadainflaçãoeenfrentarosdesafiosdamodernizaçãoedodesenvol-vimento,temasqueogovernoanteriornãoconseguiuavançar.

O pragmatismo responsável da ArgentinaAo revisar-se o discurso pré-eleitoral doPresidenteNéstorKirchner, em2002, noqueserefereàpolíticaexterna,percebe-sea defesa deumaparceria quase exclusivacomoBrasileagarantiadequeseugovernoapostarianoaprofundamentodaintegraçãodoMercosul como prioridade.À época,entretanto, o discurso derivava mais da faltadeumprojetodepolíticaexternaedanecessidadedefazeroposiçãoaoseumaioradversário,CarlosMenem,doquedadefesadaintegraçãodopaíscomosEstadosUnidos,tal como foi o alinhamento mantido durante adécadade90.

Pode-seobservar,noentanto,queogovernoKirchnerfoicaracterizadoporumdescom-promissocomoMercosul,justificadopelanecessidade imediata de resolver a crise que assolavaopaís.Porisso,foidadaprioridadeàs negociações com o FundoMonetárioInternacional(FMI)eàsrelaçõescomtodosaquelesquepudessemoferecerajuda,prin-cipalmenteaVenezuela.

NoquedizrespeitoaoaprofundamentodoMercosul,nãohouvepropriamenteavanços(valeressaltarquenãoapenasporresponsa-bilidadedaArgentina),epoucofoidiscutidosobremedidasefetivasparaaconcretizaçãoda“Agenda2006”.Opontoaltodapolíticaexterna argentina para oMercosul foi adefesado ingressodaVenezuela.Nãoqueisso tambémnão tenha sido apoiadopelogovernobrasileiro,maspordiversasvezes

aposturaargentinapareciaaliar-seaHugoChávez, numa combinação pragmática aseu maior credor e na tentativa de conter a expansãoda liderançabrasileiranoconti-nente,oquelevavaacrerqueaArgentinaprocurava evitar um aprofundamento dadependênciaemrelaçãoaoBrasil.

Neste período, a postura da Argentinacoincidiu mais com um free rider do que propriamenteumparceiroativonoprocessodeintegração.Issojáeradeseesperar,jáqueKirchner,mergulhadoemproblemasdomés-ticos,minimizousuaspropostasnaáreadepolíticaexterna.AdefesadoMercosulserviuparadiferenciarseugovernododeMenem(que voltava a insistir na relação comosestadunidenses)eobeneficiouaogarantiroapoiopolíticodoPresidenteLuladurantesuacampanha,cujaimagempositivajuntoaosargentinoserasurpreendente.

Aospoucos,expectativaspositivasviram-setransformadasemresistênciasnaconstru-ção de umanova agenda de negociaçõesparaoMercosul.Algunssinaismaisrecen-tesapontamparamaioresdificuldades:decoordenaçãodeposiçõesededesconfiançaentre os sócios.

CristinaKirchnerfoieleitacomodiscursoda ampliação doMercosul (defendendo oingressodaVenezuela),combasenomesmodiscurso do seumarido: dar à AméricaLatinaumoutro lugar nomundo.Mas arelaçãocomaVenezuela–etambémcomoBrasil–tornou-sepontofundamentalparaaArgentina,queprecisadiversificarsuapautadeexportaçõesesuperaraameaçadeumacriseenergéticamaisgrave.

Contrariamenteaseuprincipalopositor–aUCR,oPartidoJusticialistadeCristinaKirchner defende a integração latino-americanaeoMercosuléentendidocomoum instrumento para ampliar este pro-cesso–daíajustificativaparaoingressodaVenezuela.Partindodessaproposta,aArgentina pretendeu expandir oMerco-sul para uma integração sul-americana.No entanto,Néstor Kirchner opôs-se àproposta brasileira daComunidade Sul-AmericanadeNações(CASA)econtestoualiderançadoBrasilnesteprojeto.

AUCR,porsuavez,entendequeoMerco-suldeveserrecuperadoeretomaromodeloda década de 80, proposto pelos entãopresidentes José Sarney eRaúlAlfonsín.Oprogramapartidárioda“Frentepara laVictória”, que elegeuCristinaKirchner,é bastante superficial no que se refere à

Agenda Regional MERcosUL

04.03.08 Reunião do Comitê de Direção do Observatório da Democracia Montevidéu, Uruguai

10.03.08 Reunião do Subgrupo de Trabalho nº2 sobre Aspectos Institucionais Buenos Aires, Argentina

11.03.08 Reunião do Comitê Técnico nº1 sobre Tarifas, Nomenclaturas e Classificação de Mercadorias Buenos Aires, Argentina

13.03.08 Reunião Técnica do Grupo Mercado Comum para Incorporação da Normativa Mercosul Buenos Aires, Argentina

18.03.08 Reunião do Grupo Ad Hoc sobre Biocombustíveis Buenos Aires, Argentina

25.03.08 Reunião do Subgrupo de Trabalho nº3 sobre Regras Técnicas e Avaliação de Conformidade Buenos Aires, Argentina

Reunião do Grupo Ad Hoc de Alto Nível para a Reforma Institucional Buenos Aires, Argentina

Reunião do Grupo de Trabalho sobre Assuntos Consulares e Jurídicos do Mercosul Buenos Aires, Argentina

26.03.08 Reunião do Subgrupo de Trabalho nº13 sobre Comércio Eletrônico Buenos Aires, Argentina

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PONTES - Fevereiro 2008 24

níveisdeinterdependênciaintra-regional,emparticularnocampoeconômico.

Neste contexto, a Argentina tem umpapelcentral,comofieldabalança,entrea liderança deBrasil eVenezuela, e nãoé interessantepender integralmenteparanenhumdoslados,atéporquenessesdoisparceiros encontra-se parte das soluçõesparaosproblemasdaArgentina:energiaediversificaçãodapautadeexportações.Atéagora,oMercosultem-sereveladobenéficonoquedizrespeitoàinserçãointernacionaldospaíses,pelomenosdopontodevistacomercial, embora ainda bastante limi-tado,secomparadoaoutrasiniciativasdomesmoporte.Tudomuitopragmático,mas,por enquanto, aparentemente semumapropostaconcreta.

Talvez aArgentina tenha acostumado-se a reagir a problemas de curto prazo,masaintegraçãoexigeumcomprometi-mentomaiordosgovernosparaampliaralegitimidadedoblocoeumplanomaisclarodaArgentinaque,inclusive,estaráà frente da presidência pró-tempore doMercosul,de janeiroa junhodesteano.Mas,porenquanto,aparentementesemumapropostaconcreta.

NoBrasil, o temado ingresso daVene-zuela parece ter-se tornado ponto cen-tral da discussão sobre o Mercosul.No entanto, como afirma Lia Valls, a“entradadeumnovosócionãosignificaaconsolidaçãodoprocesso”1.Tampoucosignificaadissoluçãodobloco,comotêmapostadopartedaelitebrasileira,mascer-tamentecolocaumpontoadicionalnajácomplicadatrajetóriadaintegração.

OsdesafiosenfrentadospeloMercosulsãomaisprofundos.Oblocoespera, ainda, aelaboraçãodeumprojetomaisamplodedesenvolvimentodospaíses.Eissorequercompromissodetodososmembros.Etal-vezestesejaoproblemacentral:alémdenão haver uma visão comum sobre o obje-tivoquesedesejaalcançar,tambémnãofoipossívelchegaraumconsensonoqueserefereaumprojetocomumdedesenvolvi-mentodospaísesmembrosdobloco.

* Professora do Instituto de Relações Inter­nacionais da USP e pesquisadora do Centro de Estudos das Negociações Internacionais (CAENI/USP).

1VALLSPEREIRA,Lia.“AcessãodaVenezuelanoMercosul”.Pontes,janeiro-fevereiro2006,pp.14-15.

Análises regonais

políticaexterna,masdefendeoMercosulcomoprojetoregional,desdequenãohajaprejuízodeoutrasrelaçõesmultilaterais.Há várias formas de interpretar isso:trata-sedeumacontinuidadeemrelaçãoaogovernoanterior,istoé,teroMercosulcomopontocentral,masnãoprioridade.

Nesse sentido, vale a pena estar atentopara acompanhar os desdobramentos darelaçãodaArgentinacomoBrasileograudecomprometimentodoprimeirocomoprojetodeintegração.Aindanoquetangeàsdiscussões sobrea implementaçãodoParlamentodoMercosul, existemdiver-gênciasnoqueserefereàsuaestrutura,funcionamento e objetivos.A ausênciade uma estrutura institucional mais con-solidadanoblocotornaoParlamentoumelementocentralparaaumentarsualegiti-midadeeseráprecisomuitoempenhoparatransformá-loemumpilardarepresenta-çãodasociedade,enãorestringi-loaumórgãodesoluçãodecontrovérsias.

O futuro do Mercosul

AindanãoháclarezadequalrumotomaráogovernodeCristinaFernándezdeKirchner.Odiscurso,noqueserefereaoMercosul,temapontadopara o aprofundamentodaintegração.Aexpectativa,nestecaso,dizrespeitoaoperfilmaisdiplomáticodanovapresidente.Issopodefacilitarodiálogo,masnãoésuficienteparagarantirempenhonoavançodosproblemasdobloco.

AArgentina parece aindamanter umaposturadepoucoinvestimento.Antestudoerajustificadopelanecessidadedesuperaracrise.Maspassadasasdificuldadesmaisgraves,aindanãoháclarezasobreospro-jetosdanovapresidentedaArgentinanoqueserefereàagendadepolíticaexterna,atéporqueCristinapoucoapresentouseusplanosduranteacampanhaeleitoral.

Contudo, os maiores entraves da inte-gração sul-americana encontram-se naausênciade interessespolíticos conver-gentesoudeidentidadedegrupo.Oubemnãoháconsensoentreospaísesdaregiãosobre a necessidade de levar adiante a integração,oubemosignificadoquecadaumdospaísesconfereaesteprocessoédistinto.Oponto central,neste campo,éo fatodehaverdivergênciasde fundoquanto ao nível de prioridade da inte-gração regional nos quadros da políticaexternadospaísesdaregião,emespecialde seus países-pivô (Argentina, Brasil eVenezuela). Além disso, são baixos os

Agenda Regional MERcosUL(cont.)

27.03.08 Reunião de Altas Autoridades de Direitos Humanos Buenos Aires, Argentina

01.04.08 99ª Reunião da Comissão de Comércio Montevidéu, Uruguay

02.04.08 73ª Reunião do Comitê de Cooperação Técnica Buenos Aires, Argentina

07.04.08 Reunião do Grupo Ad Hoc de Consulta e Coordenação para as Negociações OMC-SGPC Buenos Aires, Argentina

14.04.08 Reunião do Subgrupo de Trabalho nº 6 sobre Meio Ambiente Buenos Aires, Argentina

15.04.08 71ª Reunião Ordinária do Grupo Mercado Comum Buenos Aires, Argentina

17.04.08 Reunião dos Ministros de Turismo - Buenos Aires, Argentina

21.04.08 Reunião do Comitê Técnico nº 5 sobre Defesa da Concorrência - Buenos Aires, Argentina

Reunião do Subgrupo de Trabalho nº 11 sobre Saúde Buenos Aires, Argentina

28.04.08 Reunião do Grupo Ad Hoc de Alto Nível para a Reforma Institucional do Mercosul Buenos Aires, Argentina