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0 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas Alanni de Lacerda Barbosa de Castro GÊNERO, EMPREENDEDORISMO E REDES PESSOAIS: AS INFLUÊNCIAS DOS LAÇOS NA CRIAÇÃO DE EMPRESAS Belo Horizonte 29 de fevereiro de 2016

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas

Alanni de Lacerda Barbosa de Castro

GÊNERO, EMPREENDEDORISMO E REDES PESSOAIS: AS INFLUÊNCIAS DOS LAÇOS NA CRIAÇÃO DE EMPRESAS

Belo Horizonte 29 de fevereiro de 2016

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Alanni de Lacerda Barbosa de Castro

GÊNERO, EMPREENDEDORISMO E REDES PESSOAIS: AS INFLUÊNCIAS DOS LAÇOS NA CRIAÇÃO DE EMPRESAS

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração. Linha de pesquisa: Estratégia Orientadora: Gláucia Maria Vasconcelos Vale

Belo Horizonte

29 de fevereiro de 2016

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FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Castro, Alanni de Lacerda Barbosa de

C355g Gênero, empreendedorismo e redes pessoais: as influências dos laços na

criação de empresas / Alanni de Lacerda Barbosa de Castro. Belo Horizonte,

2016.

159 f. : il.

Orientadora: Gláucia Maria Vasconcelos Vale

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Administração.

1. Redes sociais. 2. Empreendedorismo. 3. Grupos sociais. 4. Tecnologia da

informação. I. Vale, Gláucia Maria Vasconcelos. II. Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. III.

Título.

CDU: 658.012.4

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Alanni de Lacerda Barbosa de Castro

GÊNERO, EMPREENDEDORISMO E REDES PESSOAIS: As influências dos laços na criação de empresas

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração.

_____________________________________________________

Gláucia Maria Vasconcelos Vale – PUC Minas

_____________________________________________________

José Márcio de Castro – PUC Minas

_____________________________________________________

Juvêncio Braga de Lima – Universidade FUMEC

Belo Horizonte/MG, 29 de fevereiro de 2016.

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Ao amor da minha vida, meu anjo e marido – Cláudio Wagner de Castro – que me apoiou em todos os momentos. Muito obrigada! À minha mãe – Maria Ordália – exemplo e inspiração, para que eu busque sempre me dedicar mais e mais em tudo nesta vida, e ao meu pai – Aroldo Barbosa – pela doação e amor, que me formaram no caminho do bem e como ser humano. Aos meus amados irmãos, sobrinhos, tios e sogros, pela compreensão da minha ausência durante os dois anos deste trabalho. À minha avó Aurora, por me acompanhar através das conversas diárias e à Irmã Regina que, juntas, preenchem uma parte importante do meu coração.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, pelo dom da vida e pela misericórdia em conceder-me mais

um dia.

À minha orientadora, Profª. Drª. Gláucia Maria Vasconcelos Vale, por ter

compartilhado seu amplo conhecimento, por me apresentar o vasto horizonte da

Análise de Redes Sociais (ARS), sem a qual seria impossível o desenvolvimento e a

conclusão deste trabalho.

À Profª. Drª. Liliane Guimarães, por ter me recebido e orientado no estágio

docente, por ter compartilhado sua experiência de forma abrangente e generosa,

pelos incentivos e carinho.

Aos professores do Mestrado Acadêmico em Administração da PUC MINAS,

por terem contribuído de forma significa para o meu desenvolvimento acadêmico e

profissional. Em especial, àqueles que me levaram a recordar o real sentido da

palavra “professor”, aqui destacados - Prof. Dr. José Márcio de Castro, Prof. Dr.

Antônio Neto, Prof. Dr. Roberto Patrus e as já citadas, Profª. Drª. Gláucia

Vasconcelos e Profª. Drª. Liliane Guimarães.

Aos empreendedores entrevistados, pela disponibilidade em compartilhar as

informações e suas histórias, que me proporcionaram melhor compreensão do tema

pesquisado.

Aos parceiros que conheci na PUC Minas ao longo desta jornada, agradeço

pela troca de experiências e companheirismo nos momentos de apreensão. À

Marina Cruz, pelo apoio acadêmico e incentivo.

Aos amigos da Paróquia São Bento, em especial ao Padre Jonh Kennedy e à

Adriana Pimenta, com os quais busquei renovar a energia e a fé para concluir esta

caminhada.

Às grandes amigas Débora, Luciene e Renata, pela compreensão da

ausência neste período e pela torcida de sempre.

Enfim, a todos vocês, que seguem no meu coração, recebam minhas orações

como forma de gratidão e reconhecimento.

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“A pessoa que procura segurança e se

abriga na sombra protetora do Todo-

Poderoso pode dizer a Ele: ‘Ó Senhor Deus,

tu és o meu defensor e o meu protetor. Tu

és o meu Deus; eu confio em Ti.’ ”

Salmo 91 – 1-3

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RESUMO

Este estudo apresenta uma análise sobre como as redes sociais de

empreendedores de sucesso influenciaram suas decisões de empreender e como

estas se diferenciaram por gênero. Os recursos utilizados para se chegar aos

resultados deste trabalho foram: estudos de casos múltiplos; análises de conteúdo e

dados; e comparação intra e intercasos. A pesquisa foi, portanto, majoritariamente

qualitativa, mas também se utilizou de dados quantitativos. O trabalho está

sustentado na literatura disponível sobre redes sociais e empreendedorismo,

baseando-se nas informações empíricas geradas pelas pesquisas dos quatro casos

descritos. Para a compreensão do contexto empreendedor e da análise das redes

sociais, o referencial teórico deste trabalho foi estruturado em quatro seções. A

primeira aborda o tema empreendedorismo, apresentando conceitos e

características por gênero. A segunda seção apresenta importância, conceituações

e elementos intrínsecos fundamentais às redes sociais, focalizando as egocêntricas.

Na terceira seção destacam-se os laços sociais, sob a perspectiva da intensidade

dos mesmos. Finalmente, o referencial teórico apresenta, na quarta seção, modelos

de análises teóricas aplicáveis ao estudo. A fim de elucidar o contexto no qual os

empreendedores pesquisados foram premiados, apresentou-se, também, a

descrição do Prêmio Micro e Pequenas Empresas Brasil. A partir de então, após se

apresentar discussões da literatura sobre empreendedorismo, redes e laços sociais,

descrever o contexto da premiação das empresas e a metodologia aplicada ao

trabalho, buscou-se analisar como mulheres e homens proprietários de empresas

premiadas utilizaram suas redes pessoais para a criação de seus empreendimentos.

Para tanto, intermediariamente buscou-se mapear as redes pessoais utilizadas por

homens e mulheres empreendedores, compreender como os gêneros acessaram os

diversos recursos disponíveis em seus laços sociais, identificar os diferentes tipos de

agrupamentos e, por fim, fazer uma análise comparativa entre as redes sociais e os

resultados encontrados.

Palavras-chave: Redes sociais; Redes egocentradas; Empreendedorismo, Gênero.

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ABSTRACT

This study presents an analysis about the way social networks of successful

entrepreneurs influenced their decisions to start their own businesses and how these

decisions varied based on gender. The resources employed towards reaching the

results were: multiple case study; content analyses (primary and secondary); data

processing and cross-checking (interviews and documents); intra and inter-case

comparisons. Therefore, the research was mostly qualitative, though quantitative

data were also used. The work was founded on the available literature about social

networks and entrepreneurship, being based on the empirical information generated

from the study of the four described cases. In order to understand the

entrepreneurship context as well as analyze the social networks, the theoretical basis

was structured in four sections. The first section covered the theme entrepreneurship

by presenting conceptualizations and characteristics per gender. The second section

covered the importance, conceptualizations and intrinsic elements essential to the

social networks, with a focus on the ego-networks. In the third section social links

were highlighted under the perspective of their intensity. Last but not least, the

theoretical basis presented, in the fourth section, models of theoretical analyses

applicable to the study. With views to elucidate the context in which the surveyed

entrepreneurs were awarded, a description of the Award Brazil Micro and Small

Companies was also included. After presenting discussions about the literature on

entrepreneurship, as well as describing the context of business awarding and the

methodology applied in the study, an analysis was conducted on how women and

men owners of awarded companies used their personal networks to start their

businesses. To this aim, an attempt was made to map the personal networks utilized

by male and female entrepreneurs, understand how they accessed the several

resources available in their social links, identify the different kinds of groupings and

eventually make a comparative analysis between the social networks and the related

findings.

Key-words: Social networks; Ego-networks; Entrepreneurship; Gender.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 - Empreendedorismo e gênero ................................................................... 29 Quadro 2 - Redes sociais e interpessoais .................................................................. 39 Quadro 3 - Empreendedorismo, redes e gênero ......................................................... 41 Quadro 4 - Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços (caso 1) ... 87 Quadro 5 - Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes (caso 1) ...... 89 Quadro 6 - Tipos de recursos fornecidos pela rede social do empreendedor, distribuídos pela intensidade dos laços (caso 1) ......................................................... 90 Quadro 7 - Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e intensidade dos laços (caso 1) .................................................................................... 91 Quadro 8 - Composição da rede social do empreendedor em percentuais (caso 1) ... 92 Quadro 9 - Mapeamento de relacionamentos inter-alteri (caso 1) .............................. 93 Quadro 10 - Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços (caso 2) ... 96 Quadro 11 - Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes (caso 2) .... 98 Quadro 12 - Tipos de recursos fornecidos pela rede social do empreendedor, distribuídos pela intensidade dos laços (caso 2) ......................................................... 99 Quadro 13 - Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e intensidade dos laços (caso 2) .................................................................................. 101 Quadro 14 - Composição da rede social do empreendedor em percentuais (caso 2) .. 102 Quadro 15 - Mapeamento de relacionamentos inter-alteri (caso 2) .......................... 103 Quadro 16 - Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços (caso 3) ... 107 Quadro 17 - Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes (caso 3) .... 109 Quadro 18 - Tipos de recursos fornecidos pela rede social da empreendedora, distribuídos pela intensidade dos laços (caso 3) ....................................................... 110 Quadro 19 - Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e intensidade dos laços (caso 3) .................................................................................. 111 Quadro 20 - Composição da rede social da empreendedora em percentuais (caso 3) .. 111 Quadro 21 - Mapeamento de relacionamentos inter-alteri (caso 3) .......................... 112 Quadro 22 - Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços (caso 4) ..... 116 Quadro 23 - Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes (caso 4) .. 119 Quadro 24 - Tipos de recursos fornecidos pela rede social da empreendedora, distribuídos pela intensidade dos laços (caso 4) ....................................................... 120 Quadro 25 - Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e intensidade dos laços (caso 4) .................................................................................. 121 Quadro 26 - Composição da rede social da empreendedora em percentuais (caso 4) .. 122 Quadro 27 - Mapeamento de relacionamentos inter-alteri (caso 4) .......................... 123 Quadro 28 - Comparação entre casos, quanto à influência de suas redes sociais e ao principal fator que motivou a decisão de empreender .......................................... 126 Quadro 29 - Quadro síntese da composição das redes sociais dos empreendedores . 128 Quadro 30 - Confirmação ou refutação das proposições teóricas ............................. 133 Figura 1 - Modelo teórico ........................................................................................... 42 Figura 2 - Redes sociais dos empreendedores pesquisados .................................... 130

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Gráfico 1 – Rede social do empreendedor, formada pelos alteri que forneceram algum tipo de recurso (caso 1) ................................................................................. 104 Gráfico 2 - Rede social do empreendedor, formada pelos alteri que forneceram algum tipo de recurso (caso 2) ................................................................................... 89 Gráfico 3 - Rede social da empreendedora, formada pelos alteri que forneceram algum tipo de recurso (caso 3) ................................................................................. 113 Gráfico 4 - Rede social da empreendedora, formada pelos alteri que forneceram algum tipo de recurso (caso 4) ................................................................................. 124

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LISTA DE SIGLAS

AcMINAS - Associação Comercial de Minas Gerais

CDL - Câmara de Dirigentes Lojistas

FNQ - Fundação Nacional da Qualidade

GEM - Global Entrepreneurship Monitor

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MBC - Movimento Brasil Competitivo

MEG - Modelo de Excelência da Gestão

MPE - Micro e Pequenas Empresas

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SINCOMÉRCIO - Sindicato do Comércio Varejista

TEE - Empreendimentos Estabelecidos

TI - Tecnologia da Informação

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 14 1.1 Problema de pesquisa ............................................................................................. 14 1.2 Objetivos ................................................................................................................. 18 1.2.1 Objetivo geral ....................................................................................................... 18 1.2.2 Objetivos específicos............................................................................................ 18 1.3 Justificativa .............................................................................................................. 18 1.4 Estruturação do trabalho ......................................................................................... 21 2 REFERENCIALTEÓRICO .......................................................................................... 22 2.1 Empreendedorismo ................................................................................................. 22 2.1.1 Conceituações e características ........................................................................... 22 2.1.2 Empreendedorismo e relações de gênero ............................................................ 24 2.2 Redes sociais .......................................................................................................... 31 2.2.1 Abordagens e importância .................................................................................... 31 2.2.2 Conceitos essenciais ............................................................................................ 32 2.2.3 Redes sociais e gênero ........................................................................................ 34 2.3 A força dos laços ..................................................................................................... 38 2.3.1 Elementos determinantes para seu desenvolvimento .......................................... 38 2.4 Modelos de análises teóricas .................................................................................. 40

3 PRÊMIO MICRO PEQUENAS EMPRESAS BRASIL ................................................. 44 3.1 Descrição do prêmio ............................................................................................... 44

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................... 46 4.1 Abordagem da pesquisa.......................................................................................... 46 4.2 Classificação da pesquisa ....................................................................................... 46 4.3 Unidades de análise e observação ......................................................................... 47 4.4 Elaboração e pré-teste do instrumento ................................................................... 48 4.5 Detalhamento da coleta dos dados ......................................................................... 48 4.6 Realização da coleta dos dados .............................................................................. 49 4.7 Análise dos resultados ............................................................................................ 51 4.7.1 Generalização teórica e analítica dos resultados ................................................. 54

5 CASOS ESTUDADOS E ANÁLISES PRELIMINARES .............................................. 55 5.1 Caso 1: Vladimir Gomes Mourão – Caça Talentos Consultoria e Treinamento Empresarial. .................................................................................................................. 55 5.1.1 Recursos para a criação da empresa ................................................................... 59 5.1.2 Motivações para empreender ............................................................................... 60 5.1.3 A questão de gênero para o empreendedor ......................................................... 63 5.2 Caso 2: Anderson de Souza Martins – Bacana Bolsas ........................................... 64 5.2.1 Recursos para a criação da empresa ................................................................... 66 5.2.2 Motivações para empreender ............................................................................... 68 5.2.3 A questão de gênero para o empreendedor ......................................................... 68 5.3 Caso 3: Ágatha Lefosse Junqueira – Originalle Presentes e Decorações ............. 70 5.3.1 Recursos para a criação da empresa ................................................................... 75

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5.3.2 Motivações para empreender ............................................................................... 78 5.3.3 A questão de gênero para a empreendedora ....................................................... 78 5.4 Caso 4: Valda Eurides Alves Sanchez – Cultura Inglesa Araxá .............................. 80 5.4.1 Recursos para a criação da empresa ................................................................... 83 5.4.2 Motivações para empreender ............................................................................... 84 5.4.3 A questão de gênero para a empreendedora ....................................................... 85 6 CONSOLIDAÇÃO DOS RESULTADOS..................................................................... 86 6.1 Consolidação dos resultados por caso pesquisado ................................................ 87 6.1.1 A rede social do empreendedor Vladimir Gomes Mourão (caso 1) ......................... 87 6.1.2 A rede social do empreendedor Anderson de Souza Martins (caso 2) .................... 96 6.1.3 A rede social da empreendedora Ágatha Lefosse Junqueira (caso 3) ................... 107 6.1.4 A rede social da empreendedora Valda Eurides Alves Sanchez (caso 4) .............. 116 6.2 Análise comparativa dos casos ............................................................................. 127 6.2.1 Comparação das redes sociais dos empreendedores ....................................... 128 7 CONCLUSÕES ........................................................................................................ 136 7.1 Padrões identificados para os casos pesquisados ................................................ 136 7.2 A influência dos laços para a criação das empresas ............................................. 137 7.3 Contribuições, limitações e sugestões para pesquisas futuras ............................. 141 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 143 ANEXO - ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PESQUISA DE CAMPO ..................... 153

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1 INTRODUÇÃO

No Brasil e no mundo, o empreendedorismo vem apresentando, cada vez

mais, importância para o contexto econômico. São aproximadamente 8,9 milhões de

empresas de micro e pequeno portes, ou seja, com faturamento bruto anual de até

R$ 3,6 milhões, conforme Lei Complementar nº 123, de 2006 (SEBRAE, 2014).

Segundo o SEBRAE (2014), essas empresas empregam 52% da mão de obra

formal e são responsáveis por 40% da massa salarial brasileira. Para o estudo

Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2013), a busca de alternativas por melhores

condições de vida e a flexibilização do mercado de trabalho são alguns dos fatores

que explicam o aumento do empreendedorismo no mundo ao longo dos anos.

Abordagens sobre comportamento, características e fatores de sucesso dos

empreendedores podem ser encontradas na administração, sociologia e outras

áreas. Granovetter (2005) aborda o empreendedorismo como precedido por

estruturas sociais e econômicas, tendo presentes aspectos como valores e normas

sociais, sobretudo as que se organizam em forma de redes sociais, influenciando as

ações econômicas. Considerando o empreendedor como importante elemento no

cenário econômico, estando imerso em diversas conexões das quais obtém

diferentes recursos para seu negócio, pode-se dizer, também, que possui de

maneiras específicas, diferentes imersões em diferentes formatos de redes.

Nesse sentido, a análise de redes sociais “trouxe contribuições para o

entendimento das relações entre comunidades ou grupos sociais. Estes processos

tentam entender como os indivíduos interagem buscando informações, ideias e

apoio dentro do grupo” (Andion & Neto Mendonça, 2007, p.1).

Para Rauf e Mitra (2011) os empreendedores consideram suas redes de

relacionamentos como fontes que contribuem para o processo empreendedor, de

diferentes formas. Para estes autores, o empreendedor utiliza componentes de sua

rede pessoal para acessar recursos diversos e suportes de diferentes naturezas,

como suporte emocional, por exemplo.

A rede pessoal é conceituada por Sluzki (2009, p. 42) como “a soma de todas

as relações que um indivíduo percebe como significativas ou define como

diferenciadas da massa anônima da sociedade”. Paralelamente a esses conceitos

deve-se considerar que as redes pessoais “funcionam como pontos de apoio e

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contribuem para a experiência individual da identidade e da competência [...]”

(Custódio, 2010, p.57).

Complementando este pensamento, Vale e Guimarães (2010) apresentam as

redes dos empreendedores como ambientes fornecedores de recursos para o

empreendimento. Segundo pesquisas realizadas com empresas ativas e extintas, a

busca de informações está em primeiro lugar para os respondentes (73,6% dos

respondentes). Em segundo, os empresários utilizam seus relacionamentos para

“conseguir os primeiros clientes” (72,7%), sendo que “buscar apoio ou orientações

para abrir o negócio” (66,4%) ficou em terceiro, e, por último, “obter facilidades com

os fornecedores” (Vale & Guimarães, 2010).

Outros estudos também demonstram diferentes abordagens para a utilização

das redes pessoais. Da mesma forma, são diversos os aspectos que influenciam na

formação e utilização da rede pessoal do empreendedor. Alguns desses fatores são,

dentre outros, questões como etnia, fatores sócio-demográficos e gênero, sendo as

redes pessoais baseadas em perspectivas individuais (Rauf & Mitra, 2011).

Para Vale e Guimarães (2010), a questão de gênero impacta no

desenvolvimento das respectivas redes pessoais. Enquanto, historicamente, as

mulheres estiveram imersas mais em laços sociais e na segurança das densas

relações familiares, os homens foram capazes de desenvolver redes mais abertas,

dotadas de laços fracos. Este contexto pode ser explicado devido ao fato de, ao

longo do tempo, as mulheres se dedicarem à gestão e produção de bens e serviços

exclusivamente para seus grupos familiares. Por outro lado, aos homens cabia a

função de interação com o mundo, dedicando-se aos mais diversos negócios e

atividades. Assim, as redes pessoais foram se formando mais densas ou mais

fluidas, de acordo com o gênero.

A participação das mulheres, se comparadas aos homens, tem apresentado

evolução ao longo dos anos, nos contextos econômico, político e social, assim como

contribuído para o desenvolvimento econômico de muitos países (Vale &

Guimarães, 2010; Klapper & Parker, 2011). Entretanto, no que tange ao mundo dos

negócios, a evolução feminina não vem apresentando a mesma intensidade (Vale &

Guimarães, 2010). Em alguns países, por exemplo, os Estados Unidos da América

(EUA), o empreendedorismo feminino ainda é menor, tanto para os

empreendimentos iniciais (15,0% homens e 10,4% mulheres) quanto para os já

estabelecidos (8,5% homens e 6,6% mulheres), segundo o GEM (2012). O mesmo

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estudo demonstra que na Índia estes números são ainda mais expressivos,

prevalecendo a maioria masculina, com uma distância de, aproximadamente, oito

pontos percentuais da taxa de empreendedoras.

A maioria dos países estudados (Estados Unidos da América, Reino Unido,

Irlanda, Suíça, Bélgica e Portugal) apresenta, segundo pesquisa de Klapper e Parker

(2011), a minoria de empreendimentos liderados por mulheres. Ao mesmo tempo, as

empresas com menos de dez funcionários são comandadas por mulheres, e os

homens são donos das maiores empresas.

Grenne (2003) considera que as mulheres empresárias já eram, em 2003,

proeminentes empregadoras, além de importantes no contexto de fornecedores,

clientes e concorrentes, nos Estados Unidos da América e no restante do mundo.

A participação das mulheres nos diversos contextos da sociedade tem se

mostrado mais presente e os estudos empíricos que pesquisam o

empreendedorismo também têm apresentado evolução. Pouca atenção, entretanto,

tem sido dada às redes sociais das empreendedoras (Vale & Guimarães, 2010;

Hampton, Coope & Macgowan, 2009), e ainda menos às conexões das suas redes

pessoais com o desenvolvimento dos respectivos negócios. Brunch, Bruin e Welter

(2009) corroboraram com o exposto, afirmando que novas pesquisas contribuirão

para o entendimento das diferenças entre o empreendedorismo de homens e

mulheres, mudando a noção de que empreender é uma regra masculina.

Para reconhecer e divulgar boas práticas de empreendimentos de ambos os

sexos, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), o

Movimento Brasil Competitivo (MBC), a Gerdau e a Fundação Nacional da

Qualidade (FNQ) criaram o Prêmio MPE Brasil. Este é um prêmio de competitividade

para MPEs, conforme descrito no terceiro capítulo deste trabalho.

Neste contexto, o presente estudo se propõe a identificar e analisar as

diferenças entre a utilização das redes pessoais de homens e mulheres na criação

de suas empresas.

O objeto empírico de análise são homens e mulheres proprietários de

empresas vencedoras do prêmio MPE Brasil no estado de Minas Gerais, entre os

anos de 2008 e 2014. As empresas vencedoras são reconhecidas nacionalmente e

destacam-se pelas práticas adotadas na melhoria da competitividade nos

respectivos segmentos, através da qualidade da gestão e capacidade

empreendedora do empresário ou empresária.

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Anualmente são premiadas oito empresas, sendo as categorias

Agronegócios, Comércio, Indústria, Serviços de Educação, Serviços de Saúde,

Serviços de Tecnologia da Informação - TI (desenvolvimento, implantação e

gerenciamento de software), Serviços de Turismo (bares, restaurantes, hotéis,

pousadas, agências de viagem, transportes turísticos) e Serviços (empresas de

serviços que não se enquadrem nas categorias de serviços acima).

Considerando-se os homens e mulheres proprietários de empresas

premiadas e como utilizaram suas redes pessoais para a criação do negócio, é útil

ao presente trabalho o conceito de embeddedness, amplamente estudado por

Granovetter (1985). Os desdobramentos acadêmicos dos estudos propostos por

Granovetter favoreceram as pesquisas sobre como os laços relacionais influenciam

o comportamento humano.

Para Vale (2011, p.187), “homens e mulheres estiveram, historicamente,

imersos em redes sociais distintas”. Segundo a autora, em comparação aos

homens, mulheres tendem a recorrer mais aos laços relacionais mais próximos para

informação e suporte. Vale e Serafim (2010) acrescentam que mulheres parecem

mostrar-se mais sensíveis do que homens à influência de terceiros, quanto à

decisão de criar uma empresa.

Tais análises encontradas na literatura deixam uma lacuna no conhecimento

a respeito do tema. Isto, visto que os estudos sobre empreendedorismo por gênero e

sobre redes sociais de empreendedores que foram encontrados em pesquisas

acadêmicas não buscaram investigar especificamente a influência das redes

pessoais por gênero no processo decisório do empreendedor para a criação da

empresa.

Destaca-se, ainda, que não foram encontrados estudos comparativos entre

redes de mulheres e homens no que tange ao seu papel no processo empreendedor

feminino e masculino.

1.1 Problema de pesquisa

O problema que orientou a presente pesquisa é: como mulheres e homens

proprietários de empresas premiadas utilizaram suas redes pessoais para a criação

de seus empreendimentos?

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1.2. Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

Analisar como mulheres e homens proprietários de empresas premiadas

utilizaram suas redes pessoais para a criação de seus empreendimentos.

1.2.2 Objetivos específicos

a) Mapear as redes pessoais utilizadas por homens e mulheres

empreendedores.

b) Compreender como os gêneros acessaram os diversos recursos

disponíveis em suas redes, tais como: informações sobre mercado, local,

clientes, recursos financeiros, entre outros.

c) Identificar os diferentes tipos de redes capazes de desempenhar papéis

de fornecedores de recursos aos empreendedores, por gênero.

d) Fazer uma análise comparativa entre as oportunidades e desafios

encontrados entre os gêneros.

1.3 Justificativa

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), no

Brasil, 52% das empresas com até 3,5 anos de existência são de mulheres e 48%

têm homens à frente (SEBRAE, 2014). Para os empreendimentos com mais de 42

meses de atividade, as empreendedoras são 41% e os empreendedores 59%.

Porém, alguns estudos demonstram que estes números estão mudando. No último

Anuário das Mulheres Empreendedoras e Trabalhadoras em MPEs, a taxa de

mulheres de negócios cresceu 21,4% entre os anos de 2001 e 2011, enquanto a

participação masculina cresceu 9,8%, no mesmo período.

O Brasil ocupou, em 2012, a 15ª posição para atividades empreendedoras de

mulheres em idade adulta (18 a 64 anos) em um ranking de 69 países, segundo o

GEM (2012), Report for Women. Para a categoria atividade empreendedora sem

distinção do sexo em fase inicial (TEA), o Brasil ficou em 17º lugar (GEM, 2013).

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O estudo destaca as taxas para empreendedorismo masculino e feminino no

Brasil, bem como nos países: Alemanha e EUA (do grupo impulsionado por

inovação); China e México (do grupo impulsionado por eficiência), e Índia (do grupo

impulsionado por fatores) (GEM, 2013). Comparando o Brasil com estes países:

as taxas para empreendimentos iniciais ficam próximas para homens e mulheres (17,2% e 17,4%, respectivamente). Ao observar os outros países, percebe-se que os homens são muito mais propensos a empreender do que as mulheres. Como exemplo, cita-se a Índia, onde 13,2% dos homens e 6,4% das mulheres são empresários em início de atividade. Na Alemanha estas taxas são, respectivamente para homens e mulheres, 6% e 3,9%; na China 15,8% e 12,2%; nos EUA 15,1% e 10,4%; e no México 16,8% e 13% (GEM, 2013).

Na observação dos Empreendimentos Estabelecidos (TEE) pode-se perceber

aumento na diferença entre homens e mulheres (respectivamente): no Brasil, 18,6%

e 12,6%; China, 14,1% e 8%; e Índia, 14,8% e 6,3% (GEM, 2013). Segundo GEM

(2013), para Alemanha, EUA e México, a diferença entre empreendimentos

masculinos e femininos já estabelecidos inverteu, ou seja, foi menor do que se

observou nos empreendimentos iniciais, a saber: Alemanha, 6,1% (m) e 4% (f);

EUA, 8,5% (m) e 6,6% (f); e México, 5,7% (m) e 2,8% (f).

A criação de empresas por homens ainda é predominante em muitas partes

do mundo, segundo Klapper e Parker (2011). Os negócios femininos se concentram

no comércio e os masculinos no setor industrial. Para os autores, existe uma

desproporcionalidade entre o desempenho gerencial dos empreendimentos

liderados por mulheres e por homens. Este fator pode ser um dos indicadores de

desencorajamento das mulheres em criar uma empresa. Afirmam, ainda, que os

empreendimentos masculinos apresentam um melhor desempenho, podendo o

mesmo ser medido, por exemplo, pelos lucros, taxas de retorno sobre o capital, e

taxas de crescimento e sobrevivência da empresa. Concluem que segundo todas

aquelas métricas os homens ficam à frente das mulheres.

É importante destacar que no Brasil 40 milhões de pessoas estão

empreendendo, demonstrando a importância econômica e social do tema e a

necessidade de ações governamentais ou não governamentais para sua

consolidação (SEBRAE, 2014). O Brasil ocupa a 4ª posição no ranking em número

absoluto de empreendedores, atrás da China, Índia e Nigéria (GEM, 2013).

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Para Sanchez e Fuentes (2013), o empreendedorismo em qualquer

sociedade é um fenômeno que exige uma análise complexa, uma vez que é

influenciado por diversas variáveis, incluindo as condições sociais, políticas,

econômicas e culturais.

Enquanto há semelhanças demográficas entre homens e mulheres, segundo

Grenne (2003) existem diferenças entre gêneros no tocante às escolhas de setor,

estratégias e governança. Já England (1993) considera que, para economistas e

psicólogos, diferentes atributos, sendo eles individuais e externos, influenciam no

comportamento de homens e mulheres, assim como em suas interações sociais.

Apesar da abrangente literatura sobre os temas redes sociais,

empreendedorismo e gênero (e seus respectivos desdobramentos), a análise sobre

as respectivas correlações ou influências ainda apresenta espaço para estudos

empíricos. Segundo Gupta (2009), a persistência em pesquisas e comparações

entre as diferenças do comportamento empreendedor de homens e mulheres é

importante para a compreensão sobre porque, ao redor do mundo, menos mulheres

escolhem empreender. Afirma, ainda, que o empreendedorismo é visto, por ambos

os sexos, como atividade tipicamente masculina. Winn (2005) considera que,

mesmo as mulheres participando da mudança do mercado econômico de forma

geral, ainda vivem um dilema para empreender. Para o autor, as questões das

responsabilidades com o lar e com a família ainda assolam as mulheres para esta

tomada de decisão (Winn, 2005).

Ahal (2006), Bruch, Bruin e Welter (2009), Klapper e Parker (2010)

argumentam que a teoria tem demonstrado a criação de empresas como uma

característica mais masculina, sendo as mulheres empreendedoras como uma parte

menos óbvia para as atividades empresariais.

Vale, Serafim e Teodósio (2011) sustentam que os motivos que levam o

indivíduo à atividade empreendedora diferem de acordo com o gênero. Segundo as

autoras, para mulheres a influência de outra pessoa na tomada de decisão (21%) é

maior do que para homens (7%). A questão do desemprego também influencia mais

as empreendedoras do que os empreendedores (10% contra 1,8%). Ao mesmo

tempo, Vale, Serafim e Teodósio (2011) demonstram que para o motivo

“identificação de uma oportunidade” os homens destacam-se (50% dos homens

contra 34% das mulheres).

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Apesar do estudo sobre redes sociais ter sido bastante valorizado nas últimas

décadas, o campo para o aprofundamento teórico sobre o tema ainda dispõe de

espaço para crescimento. Marteleto (2001) avalia que ainda é pouco explorado o

estudo sobre o comportamento dos indivíduos e suas ações inseridas no próprio

contexto social, no formato de redes.

Com base nos dados investigados, pode-se afirmar que o tema “Redes

Pessoais para Criação do Empreendedorismo” vem sendo investigado com menos

ênfase.

Assim, a relevância deste estudo para o meio acadêmico e social consiste em

ampliar a compreensão teórica sobre redes pessoais e suas influências, por gênero,

no processo empreendedor, ou seja, na decisão de empreender.

A finalidade desta investigação é propor também, a partir do mapeamento das

redes pessoais de empreendedores premiados, compreender como essas redes

influenciam na tomada da decisão de criação de um negócio.

1.4 Estruturação do trabalho

Além da introdução, a dissertação conta ainda com mais cinco capítulos. No

segundo, encontra-se a fundamentação teórica, citada por meio de abordagens

teóricas de alguns autores. Em linhas gerais, descrevem-se alguns aspectos

considerados importantes para o entendimento do significado do

empreendedorismo, com ênfase na relação de gênero. O estudo procura expor e,

ainda, analisar redes sociais, seus conceitos e importância. Em seguida, é

contemplada a importância dos laços sociais, conforme a literatura atual se reporta

ao tema.

No terceiro capítulo são apresentados os aspetos metodológicos norteadores

desta pesquisa, descrevendo-se o tipo de pesquisa, o método de estudo, o

detalhamento da coleta de dados e as variáveis analisadas.

O “Prêmio Micro Pequenas Empresas Brasil”, destacando-se suas categorias

de reconhecimento e critérios especificados no regulamento, é descrito no capítulo

quatro.

O capítulo quinto traz a análise e a interpretação dos dados coletados nas

empresas, os quais são comparados com as informações da pesquisa bibliográfica,

com a finalidade de atender aos objetivos do trabalho.

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Para finalizar, o sexto capítulo compreende as conclusões deste estudo,

evidenciando as limitações da pesquisa e algumas recomendações para avanços de

novos estudos sobre o tema investigado.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo são apresentados os fundamentos teóricos do trabalho. Inicia-

se com os conceitos sobre empreendedorismo. Em seguida, descrevem-se alguns

aspectos sobre a relação de gênero. Dando continuidade, explicitam-se redes

sociais, conceitos e importância. Por fim, abordam-se os laços sociais, conforme a

literatura atual se reporta ao tema.

2.1 Empreendedorismo

2.1.1 Conceituações e características

No século XX, o empreendedorismo tem seu marco teórico desenvolvido por

Schumpeter, que destaca a importância do empreendedor no desenvolvimento

econômico e na sobrevivência do capitalismo. Para esse autor, o empreendedor

tinha uma função social ao provocar inovação e crescimento econômico. Nesse

período o conceito de inovação e novidade torna-se parte integrante do

empreendedorismo (HISRICH; PETERS, 2004).

Para Stevenson (2001, p. 32), o espírito empreendedor define-se como “uma

atitude perante o risco e a busca contínua de oportunidades que estejam além dos

recursos disponíveis”.

Johnson (2005, p.2) argumenta que o empreendedorismo “não se trata de um

conjunto de características específicas nem de uma função econômica; tem, sim, um

sistema que é capaz de agregar valor às empresas e às economias dos países que

incentivam a prática do empreendedorismo”.

Segundo Dornelas (2004, p. 32), a definição para empreendedorismo se

resume em “fazer diferente, empregar os recursos disponíveis de forma criativa,

assumir riscos calculados, buscar oportunidades e inovar”.

A inovação, o ato de lançar algo novo, é uma das mais difíceis tarefas para o

empreendedor, pois exige a capacidade de entender o conjunto de forças em

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funcionamento no ambiente. Para Hisrich (2004), o conceito de empreendedor fica

mais bem definido quando são considerados princípios e termos de uma perspectiva

empresarial, administrativa e pessoal.

Para Timmons (19941 apud DORNELAS, 2004), o empreendedorismo é um

ato comportamental, humano, de criatividade, onde os empreendedores utilizam sua

habilidade de persuasão para formar uma equipe de pessoas com conhecimentos

complementares, para gerenciar os negócios ou projetos empresariais.

Segundo Filion (2000, p.3),

[...] há uma corrente de autores que chama a atenção para o fato de que boa parte das teorias propõe modelos estáticos, argumentando que uma construção conceitual no campo deveria incluir critérios de desempenho, pois os empreendedores trabalham em contexto de constante mudança e evolução, com papéis e funções em permanente transformação.

O empreendedorismo tem sido um aliado do desenvolvimento econômico

porque tem suportado grande parte das inovações responsáveis por esse

desenvolvimento (Dornelas, 2003). Para o autor, os países desenvolvidos têm

valorizado e apoiado as iniciativas empreendedoras por saberem que estas se

constituem de ações que propiciam a geração de empregos e renda.

No Brasil, estudos sobre empreendedorismo constituem uma área de

investigação relativamente recente se consideradas as últimas décadas do Século

XX, identificando-se baixo número de pesquisas e publicações relacionadas à

infraestrutura, à ambiência econômica e às políticas públicas de apoio ao

empreendedorismo. Por outro lado, há um elevado número de estudos sobre

sistemas de apoio ao empreendedorismo, na área de infraestruturas de suporte

como incubadoras de empresas, parques tecnológicos, financiamentos e práticas de

apoio empresarial (JUDICE; VASCONCELOS, 2006).

Em Filion (2000), deve-se considerar que o que vai realmente constituir um

diferencial no mercado e na vida das pessoas é seu nível de autonomia, e não sua

capacidade de se adaptar à mudança, mas sua habilidade de iniciar a mudança.

Pode-se, então, chamar de “assumir uma cultura empreendedora” ao

comportamento individual orientado na busca de oportunidades e capaz de enfrentar

a dinâmica das mudanças.

1 TIMMONS, Jeffry A. New venture creation: entrepreneurship for the 21st. century. Boston: Irwin, 1994.

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Drucker (2002) sustenta que, para que o espírito empreendedor se apresente

nas empresas, isto é, em um nível organizacional e não individual, são requeridas

diretrizes e práticas específicas de três ordens: 1) criação de um clima de

receptividade à inovação, à mudança e à busca de oportunidades; 2) sistemática

mensuração e aperfeiçoamento do desempenho e 3) implementação de práticas

gerenciais de incentivo e recompensa.

Empreendedorismo é uma atividade exercida pela humanidade há muito

tempo; integrados a ele, o progresso e a evolução das sociedades vêm ocorrendo

continuamente, porque as pessoas identificam oportunidades de melhoria e

crescimento sob aspectos diversos, permitindo, assim, um crescimento sustentável

do desenvolvimento humano através dos séculos. Os fenômenos relacionados ao

empreendedorismo vêm ganhando importância e relevância nos contextos

acadêmicos e empresariais com acentuação desde a década de 1980 (RIMOLI et

al., 2004).

Há destaque na competitividade brasileira no novo cenário mundial, segundo

Drucker (2001), já que o país prima pela versatilidade e adaptabilidade, permitindo

um melhor aproveitamento das futuras oportunidades geradas no cenário de

formação de blocos comerciais e de economias emergentes.

2.1.2 Empreendedorismo e relações de gênero

Apesar de os níveis de sucesso empresarial não serem os mesmos para os

gêneros, pesquisas demonstram que mulheres possuem alguns dos mesmos

recursos que os empreendedores do sexo masculino para a abertura do negócio

(Runyan, Huddleston, & Swinney, 2006).

Devido à evolução do papel da mulher na sociedade contemporânea e às

peculiaridades associadas à condição feminina, algumas questões importantes

surgem para investigação. Dentre elas destaca-se, de interesse particular do

presente trabalho, a influência das redes sociais femininas no processo

empreendedor (Vale & Serafim, 2010, p.1).

De acordo com essas autoras, algumas pesquisas procuram relacionar o

interesse pela atividade empreendedora de mulheres com a presença de certos

tipos de experiências familiares prévias. Ressalta-se, porém, “que mulheres com

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pais empreendedores teriam, teoricamente, maior interesse em se tornarem

empreendedoras” (Vale & Serafim, 2010, p.1).

Torna-se importante destacar que o aumento da participação da mulher no

mercado de trabalho talvez seja um dos principais fatores que vem contribuindo para

o avanço dos estudos na área do empreendedorismo feminino. A participação das

mulheres na atividade empreendedora tem sido objeto de estudo em todo o mundo:

[...] estando entre outros assuntos de interesse as características empreendedoras, as motivações para empreender, a inclusão social, as dificuldades para empreender, assim como a sua ascensão dentro das organizações. Este aspecto, inclusive, tem sido acompanhado por diversos órgãos, destacando-se o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Miranda & Hoeltgebaum; 2008, p.2).

No Brasil, são identificadas diferenças na escolha de setores e segmentos

quando comparados mulheres e homens empreendedores. Para as empresas

femininas há predominância dos setores de serviços e comércio, apresentando-se

mais ligadas às questões do seu universo, como serviços domésticos, vestuário,

beleza e higiene. Estes segmentos correspondem a 53,9% dos empreendimentos

femininos estabelecidos (GEM, 2013). Ao contrário das mulheres, os homens

apresentam uma maior dispersão de atividades, com menor concentração de

setores e segmentos, mas com predominância da indústria. Entre as empresas

masculinas o segmento da construção civil lidera, com 24,7%, seguido por

manutenção de veículos e transporte de cargas (GEM, 2013).

Mesmo que, ao longo do tempo, as mulheres estejam ocupando cada vez

mais posições de destaque nos diferentes contextos, no que tange ao mundo dos

negócios esta evolução apresenta-se mais tímida, permanecendo a predominância

masculina, afirma Vale (2011). Para Klapper e Parker (2011), existem diferentes

fatores que levam a essa desproporcionalidade, em que mulheres e homens

mantêm-se diferentes quanto à entrada nas atividades empreendedoras. Segundo

os autores, um desses fatores são as dificuldades encontradas por mulheres

empreendedoras para acessarem financiamentos bancários.

Mesmo com a predominância de homens nas atividades empreendedoras, o

empreendedorismo feminino representa uma potencial viabilidade para o

crescimento econômico e para a redução da pobreza em países em

desenvolvimento e muitas partes do mundo (Lapper & Parker, 2011). Para Brush,

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Bruin e Welter (2009), mulheres donas de negócios compõem uma das populações

empreendedoras que mais apresentaram rápido crescimento no mundo, tendo,

também, contribuído para a geração de empregos e riqueza em todas as economias.

Corroborando com esse pensamento, Yetim (2008, p.864) salienta a

existência de diferenciações em função da classe social das empreendedoras. Para

o autor,

[...] mulheres de classe média ou alta que iniciam seus empreendimentos com o propósito de se tornarem autônomas, recorrem, sobretudo, a laços profissionais – ou laços fracos – que são formados por colegas, membros de associações. No caso de mulheres de classe social mais baixa, os laços são, sobretudo, provenientes do interior de suas famílias ou de suas comunidades.

Se, por um lado, há semelhanças populacionais entre homens e mulheres,

por outro, segundo Grenne (2003), existem diferenças entre gêneros no tocante às

escolhas de setor, estratégias e governança. Os comportamentos de homens e

mulheres podem, não conscientemente e, não raras vezes, ser influenciados pelos

estereótipos de gênero presentes na sociedade (Devine, 1989; Wegener, Clark &

Petty, 2006; Heilman & Okimoto, 2007).

Para Hughes (2012), apesar da relevância do empreendedorismo feminino

demonstrado ao longo dos anos, houve historicamente uma “desatenção” às

mulheres empresárias e suas iniciativas. A autora afirma que, em 2012, o estudo

sobre esta temática estaria ainda jovem, mas não em fase inicial, como

anteriormente.

Sanches (2013) menciona que há diferença no saldo entre os gêneros, tanto

no que diz respeito aos números de empreendimentos, quanto ao que se refere aos

estudos acadêmicos: há diferença entre homens e mulheres. Apesar desta

constatação, o autor considera que as mulheres também constituem um importante

grupo social, corroborando com Vale e Guimarães (2010, p.1), que sustentam que

“as mulheres vêm ocupando posições de destaque nas mais diferentes esferas da

vida social, econômica, cultural e política, assumindo papeis antes reservados aos

homens”.

Os obstáculos para a criação de empresas diferem conforme o gênero, como

por exemplo, a dificuldade maior das mulheres para obtenção de recursos

financeiros, se comparadas aos homens (Sanchez & Fuentes, 2013). Para os

autores, homens empreendedores apresentam mais facilidade do que as mulheres

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na questão de obtenção de financiamento para a empresa. A Organização para a

Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE (1997) reconhece a importância

econômica e social da crescente atividade empreendedora feminina, sugerindo que

se amplie a exploração teórica do tema (Sanchez & Fuentes, 2013).

O estudo Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2012) reforça a afirmação

da OCDE (1997) sobre as importantes implicações do empreendedorismo das

mulheres, com grande potencial para criação de empregos. Em todas as regiões

pesquisadas houve significativa aproximação, quando não a superação, do

percentual de mulheres com produtos ou serviços inovadores (em empresas em

início de atividade) com relação aos homens.

Considerando o empreendedorismo de modo geral (homens e mulheres), o

mesmo estudo avaliou a percepção das pessoas sobre o ambiente externo e as

suas próprias auto-avaliações internas relacionadas à ação de empreender (GEM,

2012). Analisando-se as percepções sobre o ambiente de negócios,

pode-se constatar que as pessoas veem o contexto que as cercam de formas diferentes umas das outras. Confirmando estas diferenças entre percepções de um mesmo ambiente de negócios, onde algumas pessoas não consideram frutíferas áreas para empreender, outras avaliam como propícias para tal (GEM, 2012).

Além da percepção sobre oportunidades, outras variáveis interferem na

motivação para a abertura de negócios. Enquanto Greence et al. (2003) sustentam

que mulheres e homens têm interesses distintos para empreender, outros autores

complementam que o empreendedorismo feminino, em maior parte, é motivado por

questões relacionadas à família, como dispor de mais tempo para os filhos e

responsabilidades familiares (Hart et al. 2003; Klapper & Parker, 2011, Brush, Bruin,

& Welter, 2009). Diaz (2007) observou que, embora haja diferenças entre os

motivos, não há dependência entre o sexo e o desejo de criação de um negócio.

Estudos têm investigado os motivos pelos quais o empreendedorismo

feminino ainda é em menor escala, se comparado ao masculino. Klapper e Parker

(2011) afirmam que um dos fatores que influenciam este fato é que as mulheres

apresentam menos aspirações profissionais do que os homens. Entretanto,

complementam que estudos recentes revelam que a diferença entre os gêneros para

as intenções de iniciar um negócio é pequena.

Apesar de diversos estudos constatarem que o empreendedorismo feminino

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tem evoluído ao longo dos anos, ao mesmo tempo, afirmam que as mulheres ainda

enfrentam algumas dificuldades. Para ao GEM (2012), em alguns países a

responsabilidade de cuidar da família é predominantemente da mulher, limitando,

muitas vezes,

a sua capacidade de empenho para o crescimento do negócio. Na República da Coreia, por exemplo, as empresárias também enfrentam dificuldades em manter seus negócios, enquanto assumindo a responsabilidade pelas tarefas domésticas e da educação dos filhos. Além disso, é difícil para as mulheres daquele país se incluírem na cultura empresarial, dominada por homens. Em outro extremo, a Polônia conta com uma Lei de 2011 que permite maior flexibilidade às empreendedoras.

O empreendedorismo inicial no Brasil apresentou um maior número para

homens do que para mulheres empreendedoras (GEM, 2012). O estudo seguinte

(GEM, 2013) demonstrou uma inversão, sendo 47,8% de homens e 52,2% de

mulheres donos de empresas em fase inicial. Considerando os empreendimentos

estabelecidos liderados por homens e mulheres, o gênero masculino predomina,

com diferença de 15 pontos percentuais -

57,8% e 42,2%, respectivamente (GEM, 2013).

Para os negócios já estabelecidos, a média geral dos países pesquisados

ainda retrata maioria masculina. Acompanhando os resultados do GEM 2012, o

estudo verificou maior percentual de empreendimentos estabelecidos no Brasil.

China e Índia também apresentaram diferença significativa, se comparados com

Alemanha, EUA e México, entre o percentual de empreendimentos masculinos e

femininos (Brasil: 18,6% e 12,6%; China: 14,1% e 8,0%; Índia: 14,8% e 6,3%;

Alemanha: 6,1% e 4,0%; EUA: 8,5% e 6,6%; México: 5,7% e 2,8%, sendo homens e

mulheres, respectivamente), conforme GEM (2013).

Independentemente do sexo do empreendedor, ambos os gêneros

necessitam de diferentes recursos para iniciarem e conduzirem suas atividades

empresariais (Vale, 2011). Reforçando esta sustentação teórica, Rauf e Mitra (2011)

afirmam que laços mantidos nas redes interpessoais de empreendedoras fornecem

suporte, sejam como clientes, sejam como parceiros das empresas ou como apoio

emocional.

Machado (2001) argumenta que a diversidade em termos de gêneros,

envolvendo empreendedorismo, tem se acentuado nas duas últimas décadas com o

sucesso e o crescimento do número de mulheres empreendedoras em diversas

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localidades. A autora cita, ainda, que estudos focados apenas em mulheres

empreendedoras têm apontado diferenças no estilo de empreender e de gestão, que

podem estar associadas ao gênero, indicando que vários trabalhos conduziam a

generalizações sobre o comportamento empreendedor feminino.

Remetendo-se ao processo decisório de homens e mulheres para a criação

de empresas, Machado, Gazola e Anez (2013) consideram o mesmo como

dinâmico, resultando em implicações econômicas, culturais e sociais, havendo

diferenças por gênero. Para os autores, uma dessas diferenças são barreiras sociais

enfrentadas, mais comumente, por mulheres, quando decidem empreender. Como

descrito nas seções anteriores, mulheres e homens percebem de formas diferentes

a questão entre trabalho e família, o que para algumas empreendedoras se torna

mais um fator dificultador.

Para Jonathan (2003, p. 2), mulheres empreendedoras perceberam que o

crescimento de um negócio requer um propósito, ou seja, o crescimento por

crescimento não interessa às empreendedoras. O autor também cita que o

crescimento é frequentemente uma consequência de um intensivo estabelecimento

de amplas redes sociais com empregados, clientes, banqueiros e outros

empreendedores.

Lizárraga, Baquedano e Cardelli-Elawar (2007) consideram que as variáveis

de sexo e idade afetam diretamente a tomada de decisão, contribuindo para

diferenças individuais. Citam, ainda, que nossas decisões são afetadas por crenças

e pelas características que diferenciam os sexos, mesmo que as crenças sejam

baseadas em critérios questionáveis. Consideram também que mesmo com a

sociedade evoluindo no sentido da igualdade social e do trabalho entre homens e

mulheres, é necessário continuar a analisar a partir de uma perspectiva psicológica

se existem diferenças entre os sexos na importância que as pessoas atribuem a

fatores que determinam o processo de decisão. Em se tratando de diferenças entre

homens e mulheres empreendedores, uma diversidade de trabalhos tem sido

desenvolvida a partir dessa perspectiva. Entretanto, a maioria dos estudos tem

analisado um número pequeno de variáveis e suas possíveis associações, afirma

Machado (2001).

No Quadro 1 apresenta-se um modelo de análise dos principais conteúdos

abordados no empreendedorismo, mostrando-se o relacionamento do mesmo com o

gênero.

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Quadro 1 - Empreendedorismo e gênero

PROPOSIÇÕES TEÓRICAS PRINCIPAIS AUTORES

EMPREENDEDORISMO E GÊNERO

A rede interpessoal é composta por um conjunto de laços didáticos e diretos, tendo o empreendedor no centro, como ponto focal da rede.

Hite e Hesterly (2001)

Há diferenças no estilo de empreender de homens e mulheres. Machado (2001)

Homens e mulheres têm interesses distintos para empreender. Greence, Hart Gatgewood, Brush e Carter (2003)

O empreendedorismo feminino é, em maior parte, motivado por questões relacionadas à família, como dispor de mais tempo para os filhos e responsabilidades familiares.

Hart, et al. (2003) Klapper; Parker (2011)

Brush, Bruin, Welter (2009)

Mulheres possuem alguns dos mesmos recursos que os empreendedores do sexo masculino para a abertura do negócio.

Runyan, Huddleston e Swinney (2006)

Todo empreendedorismo é um processo de imersão social. Bruch, Bruin e Welter (2009)

O gênero é um dos fatores que influenciam na formação e utilização da rede pessoal do empreendedor.

Rauf e Mitra (2011)

O empreendedor é criador de redes, podendo cooperar entre si e com outros agentes econômicos.

Vale (2006; 2008; 2011)

As relações sociais do empreendedor, que é imerso em relações sociais, influenciam e são como recursos para o processo empreendedor.

Rauf e Mitra (2011)

Um dos fatores que levam o empreendedorismo feminino a ser em menor escala do que o masculino se dá ao fato de as mulheres apresentarem menos aspirações profissionais do que os homens.

Klapper e Parker (2011)

As mulheres parecem mostrar-se mais sensíveis do que os homens à influência de terceiros, quanto à decisão de criar uma empresa.

Vale, Serafim e Teodósio (2011)

O processo decisório para a criação de empresas difere por gênero, sendo uma das diferenças as barreiras culturais e sociais enfrentadas, mais comumente por mulheres, quando decidem empreender. Mulheres e homens percebem de formas diferentes a questão entre trabalho e família, o que para algumas empreendedoras se torna mais um fator dificultador.

Machado, Gazola e Anez (2013)

Fonte: Organizado pela autora.

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2.2 Redes sociais

2.2.1 Abordagens e importância

Rede social é “uma das formas de representação dos relacionamentos

afetivos ou profissionais dos seres humanos entre si ou entre seus agrupamentos de

interesses mútuos” (Silva, 2013, p.4).

Para Capra (2012), as redes sociais emergem nos últimos anos como um

padrão capaz de expressar, em seu arranjo de relações, as ideias políticas e

econômicas inovadoras, nascidas dos desejos mais atuais. São uma manifestação

cultural e:

[...] uma nova maneira de fazer política. Inspiradas no pensamento sistêmico, as redes dão surgimento a novos valores, novos pensamentos, novas atitudes: um novo balanço nas relações entre a tendência auto-afirmativa e competitiva predominante e a integrativa e colaborativa, que muitos veem como a tônica das sociedades do futuro (Amaral, 2004, p.2).

Complementando, Inojosa (2000, p.6) enfatiza que uma rede social deve

possuir também objetivos e propósitos comuns que justifiquem a sua existência. Em

uma “rede de compromisso social, as relações nascem e se nutrem de uma visão

comum sobre a sociedade ou sobre determinada questão social e da necessidade

de uma ação coletiva”.

As redes sociais, segundo Marteleto (2001, p. 72), representam “[...] um

conjunto de participantes autônomos, unindo ideias e recursos em torno de valores e

interesses compartilhados”. Nela, “cada indivíduo tem sua função e identidade

cultural e sua relação com outros indivíduos vai formando um todo coeso que

representa a rede” (Costa, 2003, p. 42).

Nesse sentido, Amaral (2004, p.2) diz que a rede social que contempla

encontros presenciais periódicos:

aprofunda suas discussões, enriquece a diversidade de assuntos, visões e perspectivas, e alavanca possibilidades de formação de sub-redes. Para a autora, o encontro presencial favorece a apropriação pelo participante tanto da esfera pública, como do espaço da própria rede. É o presencial que da densidade à rede.

As redes sociais representam também um grau de complexidade política de

uma determinada comunidade ou grupo e não deveriam ser criadas artificialmente,

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uma vez que emergem de processos culturais e políticos (Amaral, 2004).

Manifestam “um desejo coletivo de inovar na forma de organização política, numa

desorganização consciente e intencional de estruturas que não mais correspondem

às demandas e aspirações do grupo”. Além disso, revelam “a existência de

problemas que não conseguem ser resolvidos com as antigas estruturas e forma de

gestão” (Marteleto, 2001, p. 73).

2.2.2 Conceitos essenciais

Os aspectos e desdobramentos acadêmicos referentes ao conceito de rede

(network) vêm sendo estudados com relevância na área das Ciências Sociais. Neste

sentido, Granovetter na (1973) afirma que as comunidades apresentam crescimento

em tamanho e o interesse de pesquisadores pelo estudo das relações sociais dos

membros dessas comunidades também tem recebido maior foco teórico.

A teoria de redes define rede social como uma estrutura social formada por

relações sociais de indivíduos (ou organizações) chamados “nós”, sendo cada um

deles conectado a outro, apresentando um ou mais tipos específicos de

interdependência. Em Vale (2010), pode-se compreender que as relações sociais

geram influência sobre o desempenho dos indivíduos e grupos sociais. Para Martes

(2003 2 apud VALE & GUIMARÃES, 2010), estas conexões entre os indivíduos

compõem os fatores básicos para o entendimento das relações sociais.

A antropologia estrutural compreende redes como descritivas, visto que o

caráter perene das organizações e dos comportamentos sociais pode ser

identificado através da sua análise (Marteleto, 2001). Em se tratando de redes de

indivíduos e não de organizações, a autora coloca ênfase nas relações informais.

De Nooy, Mrvar e Batagelj (2011) conceituam rede social como a relação

existente entre pessoas ou entidades sociais, representando grupos. Para os

autores, essas relações podem ser, por exemplo, afetivas, se para pessoas, e

relacionamentos comerciais, em se tradando de organizações.

2MARTES, Ana Cristina Braga. Fronteiras cruzadas: etnicidade, gênero e redes sociais. São

Paulo: Editora Paz e Terra, 2003.

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Segundo Wellman (1988), redes sociais são como uma compreensão da

interação humana, de uma maneira mais ampla do que somente o seu

comportamento em comunidade.

Para Wasserman e Galaskiewicz (1994), enquanto uma rede social consiste

em um conjunto limitado de atores e as relações entre eles, uma rede egocentrada,

ou ego-network, consiste em uma rede onde há um foco central - ego - e todos os

“nós” são conectados a ele. Estes nós são chamados de alter (Wasserman &

Galaskiewicz, 1994). Ao contrário da análise da rede total onde, comumente,

investigam-se as conexões nela existentes, na rede egocêntrica o ego é a unidade

de análise (Wellman & Galaskiewicz, 1994; Marsden, 2005).

Conforme Marin (2010), as redes sociais são um conjunto de “nós”, pontos e

vértices, podendo ser individuais ou coletivas. As primeiras são caracterizadas,

segundo o autor, pelas redes egocêntricas, pessoais, chimps. Já as redes coletivas

são aquelas em que o ator central são organizações, ou firmas, ou nações, ou

espécies, por exemplo. Os tipos de laços que conectam à rede, seja ela individual ou

coletiva, são específicos, podendo ser diretos ou indiretos e, também, valorados.

As conexões que ligam o ego ao alter (ou aos alteri) são chamadas laços,

podendo ser mais ou menos intensos - fortes ou fracos (Granovetter, 1973).

Segundo o autor, a estrutura social, mais especialmente na forma de redes sociais,

afeta os resultados econômicos por três razões principais. A primeira delas deve-se

ao fato de as redes sociais afetarem o fluxo e a qualidade da informação. A segunda

é a sua representação de uma importante fonte de recompensa e punição. A terceira

razão é descrita como a confiança do membro da rede em que os outros indivíduos

irão agir corretamente, a despeito dos incentivos para o contrário (Granovetter,

2005).

Alguns estudos que têm surgido sobre redes sociais e seus desdobramentos,

após Granovetter (1973, 1985), têm demonstrado que interesses e comportamentos

são influenciados pelas relações sociais nas quais os indivíduos estão inseridos. Da

mesma forma, empresas também sofrem pressões das contínuas relações sociais

intrínsecas ao seu cotidiano (Granovetter, 2007). Uma das questões clássicas da

teoria social é como os comportamentos e as empresas são afetados pelas redes

sociais. Grande parte da tradição utilitarista pressupõe um comportamento racional e

de interesse pessoal minimamente afetado pelas relações sociais. Tanto os

economistas clássicos e neoclássicos quanto os sociólogos baseiam-se em uma

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concepção atomizada e subsocializada da ação humana. Segundo Granovetter

(2007), os argumentos teóricos nesses campos rejeitam, por hipótese, todo impacto

da estrutura social e das relações sociais sobre a produção, a distribuição e o

consumo.

Para Schott e Cheraghi (2012), as redes de empresários podem ser

analisadas considerando o agrupamento das suas relações. Segundo estes autores,

são cinco os componentes que caracterizam os relacionamentos dos

empreendedores e, desta forma, a análise dos mesmos. São eles: redes privadas

(ou pessoais); redes de trabalho; rede profissional; rede de mercado; e rede

internacional.

As redes privadas são formadas por cônjuge, pais, outros familiares e amigos.

As de Trabalho, por chefes, subordinados, colegas de trabalho. As redes

Profissionais têm como componentes contadores, advogados, funcionários de

bancos, consultores e pesquisadores, enquanto as redes de Mercado são formadas

por concorrentes, colaboradores, fornecedores, clientes, parceiros. Por fim, Schott e

Cheraghi (2012) definem as redes Internacionais como aquelas compostas por

relações de aconselhamentos realizados por pessoas que estão no exterior ou que

vieram do exterior.

Os autores complementam a análise, sustentando que as redes sociais do

empreendedor sofrem influência da cultura do país e região de origem. Da mesma

forma, consideram a existência de interferência cultural nas propriedades estruturais

(composição e diversidade) das redes em torno do empreendedor (Schott &

Cheraghi, 2012).

Diante do exposto, pode-se dizer que rede social é uma estrutura horizontal,

democrática, participativa, aberta e presencial que une indivíduos em torno de

valores e objetivos compartilhados, sem que as partes percam autonomia e

identidade (Amaral, 2004).

2.2.3 Redes sociais e gênero

As redes pessoais podem fazer parte do contexto da tomada de decisão do

empreendedor. Vale (2008), analisando a literatura sobre empreendedorismo, avalia

o empreendedor como criador de redes. Segundo a autora, não mais este ator

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econômico é considerado “um ator atomizado e individualista” como anteriormente

descreveu a concepção dominante relacionada ao tema.

Com vistas na teoria das redes, Vale (2008) afirma que a mesma parte do

princípio de que os laços entre os indivíduos possuem fatores básicos que

complementam as relações sociais. Acrescenta, ainda, que as redes sociais são

importantes para diversos tipos de empreendimentos humanos, podendo haver

diferença na forma como homens e mulheres acessam e utilizam seus laços

relacionais.

Vale e Guimarães (2010) apresentam como as redes sociais e informações

que nelas circulam influenciam a sobrevivência e a criação de empresas. Observam

que apesar de haver diferenças para os dois grupos de empresas pesquisadas

(ativas e extintas), os resultados demonstram que as redes sociais (amigos ou

conhecidos) da maioria das empresas compuseram a sua clientela no primeiro ano

de atividade. No mesmo estudo, as autoras reforçam a relevância dos laços fracos

para os negócios, por meio de categorização dos relacionamentos dos

empreendedores. Demonstram que os laços fracos, mais do que os fortes, são

utilizados pelos empreendedores na abertura das empresas. As autoras distinguem

as relações sociais dos empreendedores em três categorias, sendo: laços

profissionais, laços pessoais, laços familiares.

Dentre os resultados, a pesquisa apresenta a categoria de relacionamento

que é mais útil, segundo os respondentes, ao processo de abertura das empresas. A

maioria dos dois grupos pesquisados - empresas ativas e extintas - apontou:

os laços profissionais (que, em geral, fazem parte do contexto de laços fracos) são “muito importantes” no processo para a abertura do negócio. Em seguida estão os laços pessoais (compostos por amigos e conhecidos), seguidos dos laços familiares (parentes que, geralmente, são laços fortes). Além da utilidade para a abertura do negócio, as redes de empreendedores, segundo o estudo, fornecem recursos como informações, clientes e fornecedores (Vale & Guimarães, 2010, p.197).

Quando observados os gêneros, Vale, Serafim e Teodósio (2011)

demonstram que, para ambos, os “relacionamentos profissionais” continuam sendo

avaliados como os mais importantes pelos empreendedores para a criação das

empresas. Ressaltam, entretanto, que para os homens este tipo de laço -

profissional - é mais importante do que para as mulheres (82% e 67,7%,

respectivamente). Em segundo lugar, mantêm-se os laços pessoais, com percentual

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aproximado entre homens (27,8%) e mulheres (27%). Já os laços familiares são os

de menor percentual como “muito importantes” para a abertura do negócio - 15,7%

para homens e 12,7% para mulheres (Vale, Serafim & Teodósio, 2011).

Segundo Vale (2011), a questão de gênero tem sido objeto, mais

recentemente, de pesquisas teóricas e empíricas que buscam investigar suas

implicações, tanto no campo das redes sociais quanto no processo empreendedor

em si.

Para Vale (2011) e Moore (1990), mulheres são mais propensas a manter

laços mais intensos e frequentes (laços fortes) com familiares e poucos laços não

familiares, enquanto homens são mais dispostos a formar mais laços fora da família

para a composição da sua rede. Moore (1990) acrescenta que as redes de homens

e de mulheres apresentam diferenças não somente quanto à estrutura e

composição, mas inclusive quanto ao tamanho.

Granovetter (1985) defende que os indivíduos fazem parte de um contexto

social e não tomam decisões nem se comportam de forma atomizada. Neste

sentido, afirma o autor, os relacionamentos de confiança entre os atores influenciam

os comportamentos no mundo dos negócios. Ele considera que, quanto mais forte

for a confiança entre dois indivíduos, mais propício será o ambiente para

comportamentos oportunistas e de má fé. Ressalta, ainda, que os relacionamentos

de confiança nas redes sociais geram oportunidades de manipulações e que, apesar

desta situação poder ocorrer, também, na ausência de relações sociais, o

oportunismo é mais provável em relações mais próximas.

Considerado o primeiro pesquisador a assumir os manifestos da chamada

“Nova Sociologia Econômica”, Mark Granovetter sustenta que as relações sociais

produzem confiança nas relações econômicas (Granovetter, 1985). Segundo o

autor, as relações pessoais são circunstanciais, podendo gerar tanto confiança

quanto má fé na rede.

A abordagem da confiança em redes sociais está diretamente relacionada

com o conceito de embeddedness (Granovetter, 1973, 1985). Para um melhor

entendimento sobre embeddedness e seus desdobramentos nas questões do

empreendedorismo, distinguindo-o por gênero, torna-se necessário um maior

aprofundamento nos conceitos e reflexões sobre redes sociais e laços relacionais.

O argumento de embeddedness traz a defesa de que a concretude das

relações, agindo na origem da confiança, considerando a mesma oriunda da

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imersão dos indivíduos na rede, desencoraja a má fé (Granovetter, 1985). A

influência das redes no comportamento individual pode ser compreendida por dois

tipos de laços interpessoais (fortes e fracos) que caracterizam uma rede

(Granovetter, 1973).

Em se tratando de redes sociais por gênero, Moore (1990) defende que há

diferenças significativas. O autor exemplifica, afirmando que mulheres são menos

propensas do que homens a utilizar suas redes como recursos para evolução da

carreira profissional.

Enquanto as redes, em nível macro, influenciam movimentos sociais

(Marteleto, 2004), as redes pessoais estão ligadas às relações do ego. Burt (1980)

define ego-network como aquela onde o principal ator é o ego, sendo todos os

demais indivíduos da rede membros com os quais o ego tem relação direta. O autor

conclui que modelos de redes egocêntricas têm sido extensivamente desenvolvidos.

Afirma, ainda, que, para estudos sociológicos, pesquisas empíricas têm sido mais

exploradas.

Burt (1980) sustenta que a rede possui maior ou menor alcance na medida

em que inclui uma diversidade de atores aos contatos do ego. Essa diversidade

pode ser identificada como a heterogeneidade social e/ou número de atores na rede.

Quanto à densidade, se todos os atores estão conectados e as relações são

intensas, pode-se afirmar que a rede é densa (Burt, 1980). Em Burt (1983) e Burt e

Schott (1985), pode-se compreender o aspecto multiplex das redes como a

convergência de múltiplas relações e estrutura dos laços. As redes multiplex podem

apresentar múltiplas formas, sendo que os laços multiplex são constituídos por

componentes formais e informais das relações da rede.

Segundo Bruch, Bruin e Welter (2009), o empreendedorismo é um processo

de imersão social, sendo que, para Rauf e Mitra (2011), os empreendedores, além

de imersos nos relacionamentos sociais, sofrem influência das questões e

informações oriundas do ambiente externo. Se de um lado as redes sociais de

mulheres possuem diversidade de gênero, por outro, homens apresentam maior

frequência de laços com outros homens (Bruch, Bruin, & Welter, 2009, et al. Aldrich,

1989).

Para Rauf e Mitra (2011), as relações sociais são consideradas pelos

empreendedores como recursos para o processo empreendedor de diferentes

formas, que são determinadas pela natureza da rede. Afirmam, ainda, que o

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empreendedor forma sua personal network (rede pessoal) sob uma perspectiva

estritamente individual. Em contraponto, Marteleto (2004) considera que são as

relações (passadas ou atuais) que determinam o modo como o indivíduo se

comporta, e complementa que as “redes humanas têm uma ordem e leis diferentes

daquelas planejadas e desejadas pelos indivíduos que as compõem”.

A questão da imersão social no processo empreendedor tem sido estudada

também no sentido de analisar o contexto das redes sociais (Uzzi, 1997, 1999;

Granovetter, 1985; Vale, 2008) e redes sociais de mulheres empreendedoras

(Grenne, 2003). Para Manolova (2007), não somente o capital humano, mas

também níveis mais elevados de networking do empreendedor aumentam as

expectativas de crescimento da empresa, assim como, segundo a autora, o grau de

desenvolvimento da rede social especifica a foça institucional do negócio e fornece

apoio emocional para a iniciativa empreendedora.

As redes sociais têm sido foco de diversos autores para estudos relacionados

ao contexto econômico. Granovetter (1985, 2005, 2007) embasa seus estudos na

questão da imersão. Para o autor, as relações sociais interferem nas instituições e

no comportamento econômico. Os indivíduos não atores atemorizados e, sim,

comportam-se imersos em relações sociais que, segundo o autor, influenciam a

questão da confiança e da má-fé na vida econômica (Granovetter, 2007).

2.3 A força dos laços

2.3.1 Elementos determinantes para seu desenvolvimento

Um laço social constituído a partir dessas interações e relações é denominado

laço relacional (Breiger, 1997). Para Breiger (1997, p. 184), portanto, “o laço social

não depende apenas de interação. Laços relacionais, portanto, são aqueles

constituídos através de relações sociais, que apenas podem acontecer através da

interação entre os vários atores de uma rede social”.

Granovetter (1983, p. 209) define laços fortes e fracos com diferentes

atributos.

[...] os laços fortes são aqueles que apresentam uma combinação entre quantidade de tempo, intensidade emocional, frequência de convívio e reciprocidade. Laços fracos são contatos menos frequentes e intensos; são

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as relações interpessoais em que os indivíduos se conhecem, mas não apresentam a mesma intensidade pessoal como as que são consideradas como laços fortes. Estes, afirma o autor, são aqueles que possuem grande intensidade e frequência de contato, assim como intimidade e confiança mútua. O autor afirma, ainda, que se por um lado os laços fortes dispõem de confiança, mutualidade e confidência, possuindo informações redundantes e comuns aos membros, os laços fracos apresentam informações mais novas do que as que circulam dentro da rede.

Com relação aos laços fortes, Granovetter (1992) cita quatro aspectos que os

identificam: tempo, intensidade emocional, intimidade (confiança mútua) e serviços

recíprocos entre as pessoas. Para o autor, a presença de um desses atributos define

um laço como sendo forte.

Já para Aldrich e Zimmer (1985, p. 11), a força do laço é “dada pelo nível,

frequência e reciprocidade dos relacionamentos entre os indivíduos”. Devido à

confiabilidade, os laços envolvem confiança e emoção e as pessoas dedicam-se

com mais intensidade a este tipo de relacionamento.

Freman (1979), analisando membros primários e secundários das redes, cita

as ideias de Granovetter (1973) relacionadas às relevâncias dos laços fracos, como

possibilidades para o desenvolvimento de modelos para estudos sobre a estrutura

de grupos.

Considerando que redes sociais são conjuntos de laços e “nós”

interconectados, Wellman (1999) defende que tanto pessoas quanto organizações

estão ligadas constantemente, vivendo em diferentes redes sociais, e acrescenta

que os indivíduos tendem à homofilia, isto é, as conexões sociais se formam com

pessoas similares, sendo suas redes sociais construídas onde os atributos são

semelhantes.

Lin (1981) admite, com vistas na literatura referente à força dos laços, a

relevância dos laços fracos para aquisição de informações novas, por exemplo,

empregos, mas afirma que as interações sociais mais intensas (laços fortes) tendem

a se formar entre indivíduos com atributos semelhantes (princípios da homofilia).

Neste sentido, Wellman (2010) sustenta que a característica dos laços e das

relações varia, dentre outros fatores, de acordo com gênero e idade. Por exemplo,

Wellman (1985) descreve que pessoas casadas tendem a manter mais laços com

outras pessoas também casadas.

Uzzi (2003) salienta que as relações presentes nos laços formais e informais

das empresas atuam como condutores de informação, podendo aumentar sua

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capacidade de prosperar no curto e adaptar-se no longo prazo. O autor ratifica o que

Granovetter (1973) demonstrou sobre a importância dos laços para o fornecimento e

circulação de informações. Os laços fracos possibilitam informações novas e uma

ampla gama de atores, enquanto os laços fortes tendem a ser em menor quantidade

e com circulação de informações mais privadas à rede (Granovetter, 1973, 1983;

Uzzi, 2003).

Para Shane e Cable (2002) os laços relacionais impactam na confiança para

financiamento de negócios e geração de oportunidades para aumento do lucro, em

função da diminuição da assimetria de informações.

Uzzi (1999) defende que as redes de relacionamentos afetam o custo de

capital para uma empresa em transações econômicas, confirmando o que

Granovetter (1985) sustenta. Neste sentido, Williamson (1975) apresenta a questão

da confiança relacionada aos custos de transação.

2.4 Modelos de análises teóricas

No Quadro 2 apresenta-se um modelo de análise dos principais conteúdos

abordados sobre redes, mostrando-se o relacionamento das mesmas com gênero,

abordagens sociais e interpessoais.

Quadro 2 - Redes sociais e interpessoais

PROPOSIÇÕES TEÓRICAS PRINCIPAIS AUTORES

REDES SOCIAIS E INTERPESSOAIS

As conexões que ligam o ego aos alteri são chamadas laços, podendo ser mais ou menos intensos – fortes ou fracos.

Granovetter (1973)

Enquanto os laços fracos fornecem recursos como informações novas à rede, que são úteis ao ego (empreendedor), os laços fortes fornecem apoio emocional.

Granovetter (1973, 1985)

As redes sociais, compostas por laços fortes e fracos, afetam os resultados econômicos, principalmente por três razões: a) por afetarem o fluxo e a qualidade da informação; b) por serem fonte de recompensa e punição; e c) pela confiança do membro da rede em que os outros indivíduos irão agir corretamente, a despeito dos incentivos para o contrário.

Granovetter (1973, 2005)

As redes interpessoais possuem maior ou menor alcance de acordo com a diversidade dos contatos do ego.

Burt (1980)

Redes sociais são como uma compreensão da interação humana, de uma maneira mais ampla do que somente o seu comportamento em

Wellman (1988)

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comunidade.

Há diferenças nas redes pessoais de homens e mulheres. As redes masculinas são focadas, na maioria, em colegas de trabalho, enquanto as femininas mantêm familiares como a maior parte dos membros.

Moore (1990) e Vale (2011)

Uma ego-network consiste em uma rede onde há um foco central - o ego - com todos os nós conectados a ele.

Wasserman e Galaskiewicz (1994)

Ao contrário da análise da rede total onde, comumente, investigam-se as conexões nela existentes, na rede egocentrada o ego é a unidade de análise.

Wasserman e Galaskiewicz (1994)

Marsden (2005)

Os laços sociais são constituídos através de relações sociais, podendo acontecer apenas através de interação entre os vários atores de uma rede social.

Breiger (1997)

Os indivíduos tendem à homilia. Wellman (1999)

As redes sociais representam um conjunto de participantes autônomos, unindo ideias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados.

Marteleto (2001)

Rede social é uma estrutura que une indivíduos em torno de valores e objetivos compartilhados, sem que as partes percam autonomia e identidade.

Amaral (2004)

O empreendedor é criador de redes, podendo cooperar entre si e com outros agentes econômicos.

Vale (2006, 2008, 2011)

A questão de gênero impacta no desenvolvimento das redes pessoais e as relações sociais geram influência sobre o desempenho dos indivíduos e grupos sociais.

Vale (2010)

Os laços mantidos nas redes interpessoais de empreendedoras fornecem suporte, sejam clientes, sejam como parceiros das empresas ou como apoio emocional.

Rauf e Mitra (2011)

As relações sociais do empreendedor, que é imerso em relações sociais, influenciam e são como recursos para o processo empreendedor.

Rauf e Mitra (2011)

As redes sociais podem ser definidas como as relações entre pessoas ou organizações […], por exemplo, as relações afetivas entre as pessoas ou relações comerciais entre organizações.

De Nooy, Mrvar, Batagelj e (2011)

As redes sociais de empreendedores podem ser classificadas em cinco grandes grupos: (i) rede privada (ou pessoal); (ii) rede de trabalho; (iii) rede profissional; (iv) rede de mercado; e (v) rede internacional.

Schott e Cheraghi (2012)

Fonte: Organizado pela autora.

No Quadro 3 apresenta-se um modelo de análise dos principais conteúdos

abordados e de interesse deste estudo, destacando-se as abordagens entre

empreendedorismo e redes e entre empreendedorismo e gênero.

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Quadro 3 – Empreendedorismo, redes e gênero

PROPOSIÇÕES TEÓRICAS PRINCIPAIS AUTORES

EMPREENDEDORISMO, REDES E GÊNERO

EMPREENDEDORISMO E REDES

Enquanto os laços fracos fornecem recursos como informações novas à rede, que são úteis ao ego (empreendedor), os laços fortes fornecem apoio emocional.

Granovetter (1973, 1985)

As redes interpessoais possuem maior ou menor alcance de acordo com a diversidade dos contatos do ego.

Burt (1980)

As relações sociais do empreendedor, que é imerso em relações sociais, influenciam e são como recursos para o processo empreendedor.

Rauf e Mitra (2011)

O empreendedor é criador de redes, podendo cooperar entre si e com outros agentes econômicos.

Vale (2006, 2008, 2011)

Mulheres recorrem mais aos laços fortes e homens aos laços fracos.

Vale (2011)

As redes sociais de empreendedores podem ser classificadas em cinco grandes grupos: (i) rede privada (ou pessoal); (ii) rede de trabalho; (iii) rede profissional; (iv) rede de mercado; e (v) rede internacional.

Schott e Cheraghi (2012)

EMPREENDEDORISMO E GÊNERO

Há diferenças nas redes pessoais de homens e mulheres. As redes masculinas são focadas, na maioria, em colegas de trabalho, enquanto as femininas mantêm familiares como a maior parte dos membros.

Moore (1990) e Vale (2011)

A questão de gênero impacta no desenvolvimento das respectivas redes pessoais dos empreendedores.

Vale (2010)

Mulheres possuem alguns dos mesmos recursos que os empreendedores do sexo masculino para a abertura do negócio.

Runyan, Huddleston e Swinney (2006).

As mulheres parecem mostrar-se mais sensíveis do que os homens à influência de terceiros, quanto à decisão de criar uma empresa.

Vale e Serafim (2010)

Um dos fatores que levam o empreendedorismo feminino a ser em menor escala do que o masculino se dá ao fato de as mulheres apresentarem menos aspirações profissionais do que os homens.

Klapper e Parker (2011).

Fonte: Organizado pela autora.

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O processo de criação de uma empresa, como exposto nas seções

anteriores, passa por algumas influências, sobretudo das relações sociais do

empreendedor (homem ou mulher), bem como das questões relacionadas ao

gênero. Para identificar e analisar como essas influências impactam no processo da

tomada de decisão da abertura da empresa, desenvolveu-se um modelo teórico

(FIGURA 1).

Figura 1 – Modelo teórico

Fonte: Elaborado pela autora.

O modelo teórico buscou sustentação nas proposições teóricas apresentadas

neste trabalho e sintetizadas nos Quadros 1, 2 e 3.

A rede pessoal refere-se aos relacionamentos do empreendedor na época em

que criou a empresa. Esta rede é formada pelos agrupamentos de relacionamentos

que Schott e Cheraghi (2012) denominaram como profissionais (rede de trabalho),

pessoais (rede privada) e comerciais (rede de mercado). A estas caracterizações foi

incluída a rede de colegas de faculdade e demais cursos, relevantes para parte dos

empreendedores.

Os atributos são o que caracteriza cada membro da rede (alter – segundo

McCarty, 2005) do empreendedor, por exemplo, sexo, proximidade familiar (cônjuge,

filho, irmão, etc.) ou de trabalho, dentre outros.

Neste estudo buscou-se identificar se os atributos dos alteri têm correlação

com os tipos de laços (fortes ou fracos, segundo Granovetter, 2012) e qual ou quais

tipos de recursos, motivações e influências esses laços fornecem ao ego

(empreendedor).

Por fim, o modelo teórico se propõe a favorecer a compreensão de como as

redes sociais dos empreendedores influenciaram a decisão de empreender.

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A seguir, aborda-se o “Prêmio Micro Pequenas Empresas Brasil”, destacando-

se suas categorias de reconhecimento e critérios especificados no regulamento.

3 PRÊMIO MICRO PEQUENAS EMPRESAS BRASIL

Este item descreve as informações apresentadas nos relatórios de gestão

publicados no site do “Prêmio MPE Brasil” do ano de 2014, destacando suas

categorias de reconhecimento e critérios especificados no regulamento.

3.1 Descrição do prêmio

O prêmio é um reconhecimento concedido anualmente às micro e pequenas

empresas que se destacam em suas categorias, cuja atuação sirva de referência no

esforço de mobilização para a melhoria da competitividade em seu segmento.

As empresas candidatas são avaliadas pela qualidade da gestão e pela

capacidade empreendedora do empresário (ou empresária), através da utilização de

ferramentas específicas, por exemplo, o “Questionário de Auto-avaliação”, com base

no Modelo de Excelência da Gestão (MEG) da Fundação Nacional da Qualidade

(FNQ).

O objetivo do prêmio se constitui no reconhecimento nacional e estadual às

micro e pequenas empresas que promovem o aumento da qualidade, da

produtividade e da competitividade, pela disseminação de conceitos e práticas de

gestão. Esta avaliação é realizada através da observação de 11 fundamentos:

pensamento sistêmico, aprendizado organizacional, cultura da inovação, liderança e

constância de propósitos, orientação por processos e informações, visão de futuro,

geração de valor, valorização das pessoas, conhecimento sobre o cliente e o

mercado, desenvolvimento de parcerias e responsabilidade social.

As categorias de reconhecimento para o prêmio são Agronegócio, Comércio,

Indústria, Serviços de Educação, Serviços de Saúde, Serviços de TI

(desenvolvimento, implantação e gerenciamento de software), Serviços de Turismo

(bares, restaurantes, hotéis, pousadas, agências de viagem, transportes turísticos) e

Serviços (empresas de serviços que não se enquadrem nas categorias de serviços

acima).

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As empresas inscritas em uma destas categorias também podem optar por se

candidatar ao “Destaque de Boas Práticas de Responsabilidade Social” e "Destaque

de Inovação". As empresas aptas a participar devem se enquadrar em critérios

especificados no regulamento do prêmio, dentre eles, ter completado pelo menos

um ano de atividades e receita bruta anual de até R$3.600.000,00 (três milhões e

seiscentos mil reais), incluindo a soma dos orçamentos de filiais e matriz. Para

participarem do Prêmio MPE Brasil, as empresas devem, portanto, ser de micro ou

pequeno porte (MPE), segundo a Lei Complementar 123/2006, apresentando,

portanto, faturamento de até R$3.600.000,00 (PRÊMIO MPE BRASIL, 2014).

As MPE, no Brasil, correspondem a 27% do PIB e a 99% dos estabelecimentos

formais, além de empregarem cerca de 70% da força de trabalho nacional (PRÊMIO

MPE BRASIL, 2014).

Segundo o MPE Brasil (2014), o interesse na participação no prêmio tem

crescido a cada ano. Desde 2002 mais de 230 mil empresas se candidataram ao

prêmio em todo Brasil. Somente em Minas Gerais, foram 34.085 empresas inscritas

de 2008 a 2014 (período selecionado para este trabalho). Percebe-se que, ao longo

dos anos, as empresas vencedoras de cada ciclo renovam sua motivação pela

busca da excelência e do aumento das vantagens competitivas de seus negócios,

além de tornarem-se agentes na multiplicação de seus conhecimentos em gestão

(PRÊMIO MPE BRASIL, 2014).

A partir deste ponto, faz-se necessário abordar os procedimentos

metodológicos nos quais se reúnem a abordagem e a classificação da pesquisa, as

unidades de análise e observação, a elaboração do instrumento de pré-teste, a

coleta e análise dos dados.

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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os capítulos anteriores forneceram as referências teóricas nas quais se

baseia o desenvolvimento deste trabalho. Este capítulo trata da abordagem e

classificação da pesquisa, abordagem metodológica, unidade de análise e

observação, elaboração e pré-teste de instrumento, detalhamento e elaboração da

coleta de dados e as variáveis analisadas.

4.1 Abordagem da pesquisa

A abordagem da pesquisa é de natureza qualitativa. A pesquisa qualitativa

tem como principal objetivo compreender, em profundidade, fenômenos complexos.

O uso da pesquisa qualitativa é indicado para se analisar fenômenos sociais e

humanos. A pesquisa qualitativa tem como principal objetivo compreender, em

profundidade, fenômenos complexos. O uso da pesquisa qualitativa é indicado para

se analisar fenômenos sociais e humanos (Godoy, 1995, 2005).

Esta é uma das tônicas do estudo, uma vez que o objetivo da pesquisa é,

sobretudo, analisar como mulheres e homens proprietários de empresas premiadas

utilizaram suas redes pessoais para a criação de seus empreendimentos.

A definição por abordagem qualitativa faz-se também em função da

necessidade de se compreender como os gêneros acessaram os diversos recursos

disponíveis em suas redes, tais como: informações sobre mercado, local, clientes,

recursos financeiros, entre outros.

4.2 Classificação da pesquisa

Para caracterizar o tipo de pesquisa, tomou-se como base a taxionomia

proposta por Vergara (2005), que a qualifica com quanto aos fins e quanto aos

meios, sendo ambos parte fundamental deste estudo.

De acordo com Ragin (1992), quanto aos fins, a presente pesquisa é

explanatória. Este método de teorização - “explanation-contextualization” - se baseia

na afirmação de que os estudos de caso podem gerar explicações causais que

preservam um pouco da riqueza contextual. Ainda, segundo Ragin (1992), os

estudos explanatórios admitem preservar variáveis explicativas que estão

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necessariamente ligados ao contexto, o que é desconsiderado em pesquisas

estatísticas. Neste método de teorização, o nexo de causalidade pode é rejeitado em

favor de um entendimento mais complexo que reconhece a natureza contingente

das relações causa-efeito, complementa Ragin (1992).

Quanto aos meios de investigação, esta pesquisa se caracteriza como estudo

de casos (YIN, 1981; 2001) múltiplos, sendo quatro os indivíduos que compõem os

casos pesquisados. Segundo Yin (1981), estudos de caso como a estratégia de

investigação que busca examinar um fenômeno contemporâneo em seu contexto de

vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são

claramente evidentes. Afirma, ainda, que nos estudos de casos não se podem

manipular comportamentos relevantes (Yin, 2001).

A pesquisa foi desenvolvida, portanto, pelo método casos múltiplos, estando

circunscrita a mapear as redes pessoais e suas utilizações por homens e mulheres

empreendedores proprietários de empresas premiadas pelo “Prêmio MPE Brasil”,

em Minas Gerais.

4.3 Unidades de análise e observação

Foram definidas como unidades de análise empreendedores proprietários de

empresas premiadas, em Minas Gerais, entre os anos de 2010 e 2014 pelo Sebrae

Minas no “Prêmio MPE Brasil”. As empresas vencedoras são reconhecidas

nacionalmente e destacam-se pelas boas práticas adotadas de gestão e capacidade

empreendedora do empreendedor.

O estudo ficou restrito à análise do estado de Minas Gerais por conveniência

logística da pesquisadora. A seleção das unidades de análise para este estudo foi,

portanto, intencional, não probabilística, visto que não foram utilizadas formas

aleatórias de seleção das amostras, não se adotando a aplicação de fórmulas

estatísticas (Marconi & Lakatos, 2002). Neste sentido, Ragin (1992) afirma que, o

conceito de “caso” é logicamente anterior ao conceito de “população”. Em um

contexto em que o conceito de “caso” é entendido como “problemática”, esses

conceitos parecerem impenetráveis, acrescenta o autor.

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4.4 Elaboração e pré-teste do instrumento

Antes de aplicar a entrevista aos dois grupos, foi realizado um pré-teste com

um homem empresário, com o objetivo de validar o instrumento de pesquisa em

relação à facilidade de compreensão, facilidade de respostas, tempo gasto para

resposta e quantidade de questões.

O instrumento foi validado e, a partir do pré-teste, detectou-se a necessidade

de reformular cinco questões, a saber: as variáveis 1, 2, 3, 4 e 6 do Bloco I e as

variáveis 8, 9 e 10 do Bloco II. A reformulação fez-se necessária dada a possiblidade

(identificada a partir do pré-teste) de o entrevistado não estar em sua primeira

empresa. Outra possibilidade verificada foi a atividade empreendedora ter começado

através da entrada em uma sociedade e, não necessariamente, da abertura de uma

empresa.

O tempo de resposta à entrevista durante o pré-teste foi de 50 minutos. Este

tempo foi considerado insuficiente, se incluído o preenchimento do “gerador de

nomes”. A partir do pré-teste verificou-se que o tempo médio necessário para as

entrevistas é de 120 minutos.

4.5 Detalhamento da coleta dos dados

O instrumento de coleta de dados primários constituiu-se em uma entrevista

semi-estruturada, sendo definidas algumas questões orientadoras, deixando aos

entrevistados a oportunidade de complementar as observações como desejassem.

Para Beuren (2004, p.133), “a entrevista em profundidade possibilita ao entrevistado

a liberdade de desenvolver cada situação na direção que considera mais adequada.

Isso significa uma forma de explorar mais as questões levantadas”.

As evidências que foram coletadas através de entrevistas em profundidade

basearam-se na literatura e em um único tipo de roteiro de entrevistas aplicado com

os quatro empresários – objeto da análise empírica, conforme apresentado no

Apêndice A.

As entrevistas foram aplicadas abordando os seguintes tópicos: os recursos

disponíveis nas redes pessoais dos entrevistados; a forma de utilização dos

recursos das redes pelos empreendedores; a natureza dos laços presentes nas

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redes; a influência dos laços na criação da empresa; e a percepção do entrevistado

quanto ao desempenho por gênero.

O apoio das redes sociais dos empreendedores, incialmente, não lhes

pareceu explícito. Entretanto, à medida que as entrevistas se aprofundaram e que a

memória da época em que empreenderam era reavivada, observaram-se como as

interações de cada ego participaram da criação da empresa. Esta constatação, que

inicialmente não era explícita, foi assumida pelos entrevistados ao final da pesquisa.

Para a realização do estudo de caso, foi adotada também a perspectiva

relacional pura, com foco nos aspectos da Análise de Redes Sociais (ARS),

utilizando-se da linha sociométrica desenvolvida por Jacob Levy Moreno, a partir de

estudos sobre a relação entre estruturas sociais e bem-estar psicológico.

Wassermann e Galaskiewicz (1994) argumentam que a ARS pode ser

categorizada em: a) medidas estruturais (como centralidade, densidade,

transitividade e coesão); b) papéis e posições (como a análise de equivalência

estrutural, regular, análise de clusters e de blockmodels); e c) análise estatística dos

relacionamentos.

A ARS envolveu a identificação e análise da natureza dos contatos, as

relações dos empreendedores e a utilização de recursos presentes nas redes

pessoais de empreendedores premiados, tais como informações para mercado,

apoio financeiro, seleção do local para a instalação da empresa, apoio emocional,

composição de sociedades, dentre outros.

A base para a coleta de dados secundários se deu em livros, artigos de

revistas, artigos eletrônicos, journals, dissertações e teses, entre outros. Marconi e

Lakatos (2002, p. 24) afirmam que as fontes secundárias são as extraídas da

“imprensa em geral e obras literárias”. Parte das informações referentes às histórias

das empresas pesquisas foi acessada no site do Prêmio MPE Brasil, disponível em

http://www.mbc.org.br/mpe (acessado no período entre 01/09/2014 e 31/05/2015).

4.6 Realização da coleta dos dados

As entrevistas foram aplicadas direta e presencialmente pela pesquisadora,

para três dos entrevistados, e obedeceram ao seguinte processo:

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a) Contato telefônico para checagem da disponibilidade de resposta do

empreendedor, explicação dos objetivos da pesquisa e agendamento da

entrevista presencial.

b) Envio de e-mail contendo o objetivo geral da pesquisa e, em anexo, o

roteiro da entrevista e gerador de nomes (planilha em Excel).

c) Presencialmente, no início da entrevista, realizou-se a explicação dos

objetivos da pesquisa.

d) Entrega do roteiro impresso aos entrevistados.

e) Checagem, por parte da entrevistadora, da existência de impedimentos

sobre a gravação da entrevista.

f) Realização da entrevista pela pesquisadora, com anotações e

preenchimento realizados em notebook e no roteiro impresso.

Para uma das empresárias entrevistadas foi impossibilitada a aplicação

presencial e a entrevista foi realizada via videoconferência, utilizando-se a

ferramenta Skype. Contudo, esta entrevista também seguiu o mesmo processo

exposto acima, como para os demais respondentes, sem prejuízo das respostas e

levantamento de informações.

A opção metodológica para coleta dos dados proposta foi construída

apresentando características da técnica name-generator, em entrevistas

semiestruturadas, onde é solicitado ao ego (o empreendedor entrevistado) que liste

os nomes de pessoas que fazem parte de sua rede (com critérios especificados pelo

pesquisador, por exemplo, quantidade e tempo, natureza dos recursos, tais como

informação, solidariedade, recursos financeiros, entre outros). Segundo Marin et al.

(2007) e Laumann (1999), o name-generator é aplicado por meio de entrevistas nas

quais os entrevistados recebem uma ou uma série de questões que os provocam

para gerar uma lista de pessoas (alter) que fazem parte da sua rede.

Rauf e Mitra (2011) afirmam que, se a um indivíduo for solicitado que liste

todas as pessoas com as quais se relaciona, esta lista constituirá sua rede pessoal,

ou ego-network. A coleta de dados para as redes pessoais foi realizada

entrevistando-se o ego sobre seus contatos (membros de sua rede). Os outros

membros da rede do ego são chamados de alter (McCarty, 2005). Para o autor, as

redes pessoais analisam aspectos da relação do ego (e seus desdobramentos) com

os membros da sua rede (alter).

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Existem também pacotes para a coleta de dados de redes pessoais. O

software selecionado para esta etapa do trabalho foi o EgoNet, por ser considerado

o mais adequado para o mapeamento da ego-network, assim como sistematização

de criação de dados para a posterior visualização da rede. McCarty (2005) afirma

que o EgoNet combina dados fornecidos pelos respondentes e dados relativos à

composição da rede em um arquivo que pode ser exportado para outros softwares

geradores de gráficos e sociogramas.

Outra justificativa para a utilização do EgoNet dá-se pelo fato de o mesmo ter

sido projetado para pesquisadores que precisam coletar e analisar dados de redes

egocêntricas de vários entrevistados (McCARTY, 2005). Este é o caso do presente

trabalho, onde foram entrevistados quatro empreendedores.

As entrevistas foram realizadas pela própria pesquisadora, em junho de 2015,

com vistas a identificar como cada empreendedor usa seus laços para sustentar o

processo de criação da empresa.

4.7 Análise dos resultados

A análise dos resultados efetivou-se pela análise dos dados e do conteúdo

obtidos a partir das entrevistas norteadas pelo instrumento de coleta. O objetivo

primordial desta pesquisa encontra sentido nas respostas dos entrevistados, bem

como durante sua condução, e permite ao pesquisador inferir sobre os elementos da

comunicação, com base na objetividade e sistematização da análise de conteúdos

(BARDIN, 2002). Segundo o autor, na fase de análise do material os dados brutos

foram trabalhados e decodificados, ou seja, foi feita uma categorização dos

conteúdos de forma a facilitar a análise realizada.

Na análise dos dados, visando elevar a confiabilidade dos resultados (Castro

& Ladeira, 2010), aplicou-se também a triangulação de dados provenientes das

evidências geradas pelas entrevistas. Este cruzamento de informações contribuiu,

também, para salientar diferenças e similaridades relacionadas ao objeto empírico e

ao problema investigado (Eisenhardt, 1989).

Acredita-se que a utilização dos múltiplos métodos de coleta tenha

possibilitado a realização dos processos de triangulação ou verificação controlada

de informação, através da checagem cruzada de consistência e confiabilidade dos

dados (Vergara, 2005).

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Para contribuir com a análise dos dados, foi utilizada a técnica de ARS, que

pode ser sociocêntrica ou pessoal (McCarty, 2005, 2007). Enquanto a análise

sociocêntrica destina foco sobre as interações dentro de um grupo, a análise de

redes pessoais – utilizada neste trabalho – foca os efeitos da rede sobre as atitudes

individuais, comportamentos e condicionantes.

A análise das redes sociais dos egos foi realizada considerando-se três

critérios, a saber:

a) A natureza das relações, agrupando-as em cinco tipos de redes, segundo

Schott e Cheraghi (2012):

i) Rede privada ou pessoal;

ii) Rede de trabalho;

iii) Rede profissional;

iv) Rede de mercado;

v) Rede internacional.

b) A intensidade dos laços (Granovetter, 1973):

i) Laços fortes (adotados para esta pesquisa como aqueles cujos

contatos presenciais ou à distância eram, pelo menos, semanais ou

quinzenais);

ii) Laços fracos (aqueles cujos contatos eram esporádicos, sem

relacionamento presencial ou à distância, superior a quinze dias).

c) Os tipos de recursos fornecidos pelas redes dos egos:

i) Informações sobre mercado;

ii) Informações sobre o ramo específico da empresa;

iii) Informações sobre como abrir uma empresa;

iv) Apoio para identificação do ponto;

v) Suporte financeiro;

vi) Apoio para selecionar mão de obra;

vii) Incentivo emocional para empreender;

viii) Indicação dos primeiros clientes;

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ix) Outros (citados pelos entrevistados como alerta sobre os riscos de

empreender, equipamentos para a empresa, incentivo contrário entendido

como estímulo e suporte acadêmico).

Para analisar a natureza das relações dos entrevistados, baseou-se na

sustentação teórica proposta por Schott e Cheraghi (2012), que definem como cinco

os tipos de relacionamentos que compõem as redes sociais dos empreendedores.

Segundo os autores, os cinco agrupamentos seguem as seguintes descrições: (i)

redes privadas (ou pessoais), formadas por cônjuge, pais, outros familiares e

amigos; (ii) redes de trabalho, formadas por chefes, subordinados, colegas de

trabalho; (iii) redes profissionais, compostas por contadores, consultores,

advogados, funcionários de bancos, pesquisadores; (iv) redes de mercado,

formadas por concorrentes, colaboradores, fornecedores, clientes e demais

parceiros; e (v) redes internacionais, que são aquelas compostas por relações de

aconselhamentos realizados por pessoas que estão ou que vieram do exterior

(Schott & Cheraghi, 2012).

A intensidade dos laços, pesquisada e analisada neste trabalho, distinguiu-se

seguindo o conceito de Granovetter (1973) para laços fortes e laços fracos. Os laços

fortes são, para o autor, aqueles que combinam quantidade de tempo, intensidade

emocional, frequência de convívio e reciprocidade, enquanto os fracos são menos

frequentes e menos intensos (Granovetter, 1973). Segundo o autor, os laços fracos

caracterizam-se, também, como os relacionamentos em que os indivíduos se

conhecem, não apresentando, contudo, a mesma frequência, intensidade, confiança

mútua e intimidade que são presentes nos laços fortes (Granovetter, 1973). Desta

forma, foram realizadas análises sobre a intensidade dos laços de cada ego e como

cada laço participou no fornecimento de recursos.

As redes sociais são fontes de recursos para os empreendedores, como

apresentado nas seções anteriores por diversos autores (Granovetter, 1973, 1985;

Rauf & Mitra, 2011; Vale, 2010). Neste sentido, foram mapeados quais recursos as

redes dos egos forneceram quando estes decidiram empreender.

Para efeito da análise das redes sociais dos empreendedores, o estudo se

concentrou nos laços que forneceram algum tipo de recurso quando os

entrevistados decidiram empreender. Desta forma, o número de alteri cuja análise se

aprofundou se dará somente com aqueles os quais foram citados pelo (a)

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entrevistado (a) como fonte de algum recurso. A mesma lógica se aplica para os

grafos das redes sociais dos empreendedores.

4.7.1 Generalização teórica e analítica dos resultados

Para Pozzebon e Freitas (1998) uma das etapas mais difíceis da pesquisa

qualitativa é a análise dos dados. Acrescentam que, para muitos pesquisadores o

processo tornar-se-ia mais fácil e aceitável se o estudo fosse realizado por métodos

estatísticos. Entretanto, Pozzebon e Freitas (1998) concluem que as análises

estatísticas são pouco recomendáveis para estudos exploratórios e explanatórios,

nos quais busca-se conhecer melhor o contexto pesquisado.

No que se refere às possibilidades de generalização, em Yin (2002)

compreende-se que os estudos de casos possibilitam a generalização analítica, uma

vez que permitem construir, alargar ou desafiar teorias. Segundo Yin (2002) as

generalizações analíticas a partir de estudos de casos, refletem questões

problemáticas de interesse da pesquisa e, desta forma, sua análise possibilita

inferências lógicas (generalização analítica).

Para Welch (2011) a generalização dos resultados de estudos de caso

viabiliza-se envolvendo uma definição cuidadosa de escopo, explicações causais e

requer, ainda, compreensão das condições em que a pesquisa foi realizada.

Eisenhart (2009) afirma que a generalização em pesquisas qualitativas é

possível e importante. Exemplifica que resultados encontrados em pesquisas

etnográficas possibilitam a generalização teórica e analítica para contextos

semelhantes. Em se tratando de estudo de casos, segundo Eisenhart (2009), alguns

pesquisadores iniciam a investigação escolhendo o objeto de pesquisa por

conveniência ou acessibilidade. Desta forma, são exploradas as condições iniciais,

estreitado o foco e descritos os resultados iniciais. Posteriormente, verificam-se se

os resultados são relevantes para aquela amostra escolhida.

Pode-se compreender, portanto, que também para Eisenhart (2009), a

generalização dos resultados da pesquisa qualitativa é plausível. Ademais, os

resultados encontrados podem, em contextos diversos, ser extrapolados analítica e

teoricamente, para situações e contextos similares.

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Na sequência, apresentam-se os resultados da pesquisa, demonstrando-se as

possíveis comparações com os proprietários de empresas premiadas que utilizaram suas

redes pessoais para a criação de seus empreendimentos.

5 CASOS ESTUDADOS E ANÁLISES PRELIMINARES

Este capítulo dedica-se à apresentação dos dados e informações coletados

junto aos dois grupos participantes do estudo. Salienta-se que a pesquisa permitiu

não só examinar as diferentes percepções dos entrevistados em relação ao tema

proposto, mas também explorar como os fatos são articulados, confrontados e

alterados.

É importante destacar que, embora todos os entrevistados estivessem

centrados no tema, cada um focalizou uma perspectiva acerca da temática,

buscando com isso o enriquecimento do estudo. Para tanto, foram utilizadas

técnicas apropriadas em cada encontro e questões norteadoras para os debates,

que fizeram parte da pesquisa.

A apresentação de cada caso está organizada, primeiramente, com a

descrição do histórico empreendedor do indivíduo pesquisado e a caracterização de

sua empresa. A partir desta contextualização, descrevem-se (i) os recursos

fornecidos pelas redes sociais dos empreendedores para a criação da empresa; (ii)

as motivações para empreender; e (iii) a questão de gênero para o (a)

empreendedor (a).

5.1 Caso 1: Vladimir Gomes Mourão – Caça Talentos Consultoria e

Treinamento Empresarial

Em 2012 e 2008, o empresário Vladimir Mourão foi vendedor do “Prêmio MPE

Brasil”, Caça Talentos Consultoria e Treinamento Empresarial Ltda. A empresa é a

segunda experiência formal de empreendedorismo do empreendedor.

A empresa, criada em março de 1999, tem como objetivo principal despertar a

visão empreendedora em seus alunos. Possui um laboratório de aprendizado

contábil e administrativo, aliando a teoria à prática destas atividades. Além dos

serviços prestados aos clientes, a Caça Talentos oferece eventos gratuitos de

treinamento em técnicas de oratória, memorização, artes cênicas, gestão

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empresarial, marketing pessoal, preparação de currículos e outros temas ligados ao

empreendedorismo. Promove, também, outras ações sociais, como arrecadação de

alimentos para doação a pessoas necessitadas.

A história de empreendedorismo de Vladimir, proprietário da empresa,

começa quando ainda era criança em Governador Valadares, cidade da região Leste

de Minas Gerais. Filho de uma empreendedora informal (vendedora de roupas

autônoma) e de um professor do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

(SENAC) regional, com outros quatro irmãos, o Vladimir da Caça Talentos

encontrava-se, na maior parte do tempo, sem dinheiro suficiente para comprar

merenda escolar. Como a família vivia com dificuldades financeiras, para resolver a

questão, Vladimir, com sete anos de idade, começou a colher mangas “coco” da

mangueira do quintal de sua casa e vendê-las nas ruas de Governador Valadares.

Além das mangas do quintal de casa, o Vladimir da Caça Talentos vendia

bolas de gude e figuras da seleção brasileira de futebol. Segundo ele, era bom na

competição e negociava com os alunos que, na maioria, eram filhos de fazendeiros

e podiam pagar por aqueles produtos.

O empresário cita, com objetividade, estas experiências empreendedoras que

viveu na infância. Para ele, a necessidade de solucionar as questões financeiras

logo cedo torna a sua história empreendedora um pouco diferente de outras, e dos

pontos abordados por esta pesquisa.

O Vladimir da Caça Talentos e sua família viveram em Governador Valadares

até seus nove anos de idade, quando se mudaram para a periferia de Belo

Horizonte. Para o empresário, foi marcante a mudança de realidade. Enquanto no

interior do estado convivia com filhos de fazendeiros, na capital seus amigos eram

de baixa renda. Ali passou a brincar soltando papagaio e jogando bola e aprendeu a

ter liberdade de andar na rua, sozinho.

Segundo o empreendedor, a sua realidade era “ver de perto pessoas carentes

e necessitadas”. Naquela época, sua mãe vendia roupas para os funcionários de

uma fábrica de plástico da cidade e ele a acompanhava. Era ele o responsável pelo

recebimento dos pagamentos dos clientes toda sexta-feira, além de acompanhar a

mãe aos fornecedores dos produtos.

Quando a família de Vladimir se mudou para uma casa financiada pelo pai,

onde ele e os irmãos aprenderam a plantar frutas, legumes e criar pequenos

animais, conheceram muitas outras crianças.

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Naquela época que, segundo Vladimir, sua rede social privada (Schott &

Cheraghi, 2012) começou a ser ampliada, implementou a sua terceira iniciativa

empreendedora. Após ser aprovado para o Colégio Tiradentes (colégio de regime

militar de Belo Horizonte), onde estudou até a conclusão do ensino médio, ele

ministrou aulas particulares de matemática para colegas daquela escola e de outras.

Com o dinheiro gerado pelas aulas, o empreendedor ajudava nas despesas da casa

e da família, também comprando doces e merenda escolar para os irmãos menores.

A quarta oportunidade de aumentar a renda foi identificada pelo Vladimir ao

entrar na faculdade de Ciências Contábeis e perceber (ainda partindo da experiência

de acompanhar sua mãe) mercado para anéis e colares de prata. Assim, comprava

da fábrica de produtos de prata que havia aberto perto da sua casa e revendia na

sala de aula. Para o empreendedor, esse período lhe rendeu um bom lucro, o que

contribuiu para pagar o primeiro ano da faculdade, conjuntamente à ajuda recebida

de sua mãe e às aulas particulares que voltou a ministrar para colegas de sala.

Naquele momento, dois membros de sua rede privada (sequencialmente),

sendo um laço forte e outro laço fraco, influenciaram o empreendedor da Caça

Talentos a se candidatar a postos de trabalho cujos salários seriam maiores do que

a renda gerada pelas atividades empreendedoras. Schott (2012) define redes

privadas como aquelas formadas por esposo, parentes, amigos. Encontra-se em

Granovetter (1973) a definição de laços fortes, que são aqueles cuja intensidade e

frequência dos contatos são altas, e laços fracos, em que a intensidade é esporádica

ou pouco frequente.

Durante o período de faculdade Vladimir trabalhou em várias empresas e teve

outras atividades empreendedoras informais para complemento de renda, por

exemplo, ovos de páscoa que fabricava e vendia para sua rede de relacionamentos.

Vladimir foi também influenciado por seu pai na formação do seu perfil

empreendedor. No período de sua graduação acompanhou o pai, que participava de

um curso de psicologia transcendental (Movimento Gnóstico 3 ). Por meio deste

grupo, que ele também passou a frequentar, aprendeu atividades relacionadas à

tesouraria, abertura de empresas, contabilidade prática de gastos. Para ele, naquele

3 O Movimento Gnóstico Cristão Universal (ou simplesmente Movimento Gnóstico) é o nome de uma

escola fundada por Samael Aun Weor na qual se estudava a doutrina gnóstica, para divulgar suas ideias em benefício da humanidade. Esta escola foi organizada e transformada por Joaquin Enrique Amortegui Valbuena, também conhecido como Rabolu, de acordo com as ordens manifestadas em documentos pelo fundador desta instituição. Em 2000, o Rabolú veio a falecer. Um pouco antes de falecer ele desinstitucionalizou o Movimento Gnóstico, por falta de praticidade de seus membros.

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grupo aprendeu a “ter uma mente correta”. Acrescenta que o objetivo daqueles

ensinamentos é libertar a consciência com uma atitude correta e ética.

Vladimir participou do grupo gnóstico até os 28 anos de idade e, para ele,

esta foi a principal influência para se tornar empreendedor. Integrado à prática que

adquiriu no referido grupo, o empreendedor utilizou da experiência de quando

ministrava aulas particulares. Para o empresário, em suas aulas ele contribuía com

os alunos, também os orientando sobre empregabilidade, currículos, posturas e

capacitação.

Ressalta-se, ainda, que a vontade de empreender de Vladimir surgiu

conjuntamente à vontade de se tornar mais útil para um público que necessitava de

capacitação para aumentar sua possibilidade de emprego. Naquele momento,

começou a vislumbrar o que, posteriormente, seria a criação da empresa que hoje é

denominada Caça Talentos Consultoria e Treinamento Empresarial Ltda.

No primeiro ano de atividade, a empresa Contabilidade dos Empreendedores

possuía um funcionário e hoje conta com cinco.

A Caça Talentos também começou com um e hoje conta com 12, entre

funcionários e profissionais terceirizados.

A primeira experiência do entrevistado como empreendedor formalizado foi

como sócio de um escritório de contabilidade de um amigo do seu pai. Esta

sociedade foi formada por um laço fraco (Granovetter, 1973). Um laço forte do

empreendedor, o seu pai, possibilitou o início da sociedade. A sociedade começou

em 1995 (um ano após a fundação da empresa Contabilidade dos

Empreendedores), com 30% de ações do escritório, passando para 50%

posteriormente.

Os dados provenientes da pesquisa demonstram que Vladimir:

[...] e o sócio conquistaram clientes importantes e venceram algumas licitações. Em 2002 o primeiro sócio vendeu sua parte na empresa para uma mulher, mudando-se para São Paulo/SP. A parceria com a nova sócia, que completa 13 anos, construiu uma carteira de clientes, o que foi possível pela implementação da organização das atribuições na empresa por sócio.

Torna-se importante ressaltar que a Caça Talentos foi criada em 1999 pelo

empreendedor, em sociedade com uma irmã. Constatou-se que a motivação foi a

identificação da lacuna de oferta dos serviços que a empresa viria a oferecer.

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5.1.1 Recursos para a criação da empresa

Foi pertinente também avaliar os recursos faltantes para a criação da

empresa. Neste item, verificou-se que para o empreendedor não houve dificuldades

em encontrar os recursos necessários para a abertura da empresa. Outro ponto

destacado foram os recursos disponíveis e acessados na rede pessoal do

empreendedor para a criação da empresa. Nota-se que a experiência profissional do

empresário, anterior à primeira experiência empreendedora formal, lhe gerou

segurança.

Enfatiza-se que alguns membros de sua rede privada (Schott, 2012) lhe

forneceram incentivo, mesmo que em forma de inspiração, no momento da criação

da empresa. Um laço fraco do empreendedor,

colega do seu pai e de reputação reconhecida no meio dos contadores, lhe forneceu orientações para a sua atuação como profissional no início da carreira, o que, para o entrevistado, foi importante quando decidiu empreender na área.

Os dados coletados permitem abstrair que o recurso financeiro necessário

para a primeira sociedade, o empresário “havia poupado ao longo dos anos

anteriores; [...] e também dominava informações sobre abertura de empresas devido

à sua área de atuação”, relata Vladimir.

Com base nos dados da pesquisa, pode-se afirmar que o mercado de

atuação, tanto da Contabilidade dos Empreendedores quanto da Caça Talentos, foi

sendo pesquisado pelo próprio empresário.

A partir desses relatos, pode-se inferir que cinco membros da sua rede

pessoal, sendo um laço forte (Granovetter, 1973) da rede privada (Schott &

Cheraghi, 2010), forneceram informações sobre o mercado e sobre o ramo de

atuação da primeira empresa (Contabilidade dos Empreendedores).

Deve-se salientar que este resultado é compatível com a teoria de Schott

(2012), que menciona que as redes dos empreendedores são organizadas em cinco

agrupamentos de relacionamentos, que são as redes privadas (ou pessoais), redes

de trabalho, de mercado, profissionais e as redes internacionais.

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É fundamental registrar que para informações sobre a abertura de empresa,

além da experiência que o entrevistado já possuía, ele contou com fontes da rede

privada e da rede profissional (Schott & Cheraghi, 2010), sendo dois laços fortes e

dois laços fracos, como reforça Granovetter (1973).

Foi pertinente também observar que houve incentivo contrário ao início da

atividade empreendedora por parte de dois laços fortes da rede privada – os pais do

empreendedor. Para Vladimir, “isso se deu em função do receio ao risco que o filho

estava por assumir”.

Os dados coletados permitiram identificar que “parte da rede social forneceu

incentivos para a criação da empresa, sendo a maioria laços fortes (cinco) e dois

laços fracos”. Especificando-se estes recursos, listam-se: informações sobre

mercado (1); informações sobre o ramo (2); suporte financeiro (3); apoio para

selecionar mão de obra (4); e indicação dos primeiros clientes, independentemente

do sexo (5). O empreendedor afirma que esses recursos são mais situacionais do

que relacionados ao gênero da fonte.

Conforme pode ser comprovado, o entrevistado ressaltou a importância do

gênero feminino para fornecer informações sobre como abrir uma empresa:

As mulheres têm parecido mais organizadas e competentes; [...] a mulher ainda é mais calculista e detalhada no planejamento do que o homem, o que favorece as informações sobre como abrir a empresa.

No aspecto relacionado ao apoio para identificação do ponto do negócio,

Vladimir sugere que “as mulheres são mais ousadas do que os homens, arriscando

mais; [...] as mulheres também são melhores no apoio emocional (incentivo para a

criação da empresa)”.

5.1.2 Motivações para empreender

Com relação à motivação para empreender, segundo Greence, Hart

Gargewood, Brush e Carter (2003) homens e mulheres têm interesses distintos. O

empreendedor Vladimir, além dos fatores apresentados no roteiro de entrevista,

apresentou a “responsabilidade social” como uma das principais motivações para

empreender.

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Desta forma, foi pertinente observar o “peso dos fatores para a criação da

empresa”, para os quais Vladimir apresenta a ordem de importância, a saber:

i) Ter mais tempo livre com a família;

ii) Responsabilidade social;

iii) Ter mais flexibilidade de horários para resolver questões pessoais;

iv) Realização profissional.

Ressalta-se que o aumento da renda não foi não considerado fator importante

para o empreendedor.

5.1.3 A questão de gênero para o empreendedor

A avaliação dos fatores relativos à diferença entre os gêneros no

empreendedorismo foi diversificada, levando-se em consideração questões que

abordavam os seguintes aspectos: influência para empreender, desempenho por

gênero, preferências por gênero na admissão e gestão de funcionários, preferências

por gênero para aconselhamento profissional e consultorias, empreendedorismo na

família e as influências da rede pessoal do empreendedor na inspiração e decisão

de empreender.

Quanto à influência para empreender, o relato do entrevistado permite

evidenciar que “há diferença entre os gêneros na forma de se influenciarem por

outras pessoas no momento da decisão de empreender; [...] mulheres são mais

influenciadas do que homens para as questões relacionadas à criação da empresa”,

afirma Vladimir.

Durante o discurso, foi explicitado por Vladimir que “suas atuais sócias, assim

como outras empreendedoras de seu relacionamento e clientes mulheres, são

quase todas influenciadas pelos maridos”.

Deve-se salientar que esse resultado é compatível com as teorias de Vale e

Serafim (2010), que mencionam que mulheres parecem mais sensíveis do que os

homens à influência de terceiros quanto à decisão de criar uma empresa.

As reflexões são pertinentes sobre o desempenho por gênero, traduzindo

muito bem que o desempenho de mulheres e homens é semelhante. Entretanto, o

entrevistado pondera que:

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para algumas atividades o desempenho pode ser diferente. Como exemplo destas atividades listam-se as áreas mais humanas da gestão, relacionamentos, áreas de vendas de roupas femininas, salões de beleza. Exemplifica, ainda, as áreas exatas como áreas em que os homens apresentam melhor desempenho (engenharias, TI) e direito.

Também foi lembrada pelo entrevistado a preferência para consultores e

orientação profissional que:

depende da área de conhecimento. Para áreas de conhecimento exatas, como assessoria em Tecnologia da Informação (TI) e finanças, homens parecem ser melhores. Já as mulheres são melhores do que os homens na área do marketing.

Com base nos dados da pesquisa, pode-se afirmar que as mulheres vêm se

sobressaindo em profissões e atividades, conforme relato de entrevista:

As mulheres se sobressaem, quando comparadas aos homens, em profissões e atividades que demandam mais o lado emocional, como paisagismo e arquitetura, por exemplo; [...] em atividades mais racionais e intelectuais os homens levam vantagem.

Os dados coletados permitiram identificar que Vladimir “não tem preferência

entre funcionários homens ou mulheres; é indiferente”. Ao se discutir na entrevista

sobre esta questão, ele mostrou posição distinta ao afirmar que “para ele os homens

são mais fáceis de administrar”.

A preferência por gênero para aconselhamento profissional e consultorias é

um item que é reforçado nos resultados. Observou-se que:

quando se relaciona a consultorias e aconselhamentos profissionais, as mulheres são melhores do que os homens em questões de marketing, de relacionamento, como Recursos Humanos (RH), por exemplo. Os homens se destacam nas áreas exatas, como também exemplifica: TI, engenharias e finanças.

Visando compreender os aspectos referentes ao empreendedorismo em

família, percebeu-se uma linha diversificada na visão do entrevistado quanto ao

perfil da família que busca sempre diversificar a atividade empreendedora. Isso se

comprova no seguinte relato:

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Além da mãe, que era empreendedora, um irmão e uma irmã do entrevistado também exercem atividade empreendedora. Ambos os irmãos começaram após o entrevistado. Um primo empreendeu em uma empresa no segmento de lava a jato, e hoje possui uma pizzaria.

Foi pertinente perceber, no decorrer da entrevista, como o apoio da mãe

(incluindo o apoio financeiro) do entrevistado contribuiu para sua formação

acadêmica e para iniciar sua percepção sobre as atividades empreendedoras.

Ressalta-se, ainda, a importância que o entrevistado dá ao Movimento

Gnóstico na criação da empresa. Para Vladimir, “foi no momento em que comecei a

trabalhar como contador voluntário no Movimento Gnóstico que despertei

efetivamente para a criação do meu próprio escritório”.

Outro ponto importante ressaltado durante a entrevista foi no que se refere às

inspirações. O entrevistado destacou que “apesar de ter inspirações para se tornar

um empresário, o seu interesse foi despertado ainda criança e apurado ao longo das

diversas experiências que teve como empreendedor informal ao longo da vida”.

Conforme pode ser comprovado, o empreendedor Vladimir ressalta a

importância da sua rede pessoal na inspiração e decisão de empreender. “Naquela

época ela vendia roupas para os funcionários de uma fábrica de plástico da cidade e

o entrevistado a acompanhava. Era ele o responsável pelo recebimento dos

pagamentos dos clientes toda sexta-feira”.

5.2 Caso 2: Anderson de Souza Martins – Bacana Bolsas

Em 2013, o empreendedor Anderson de Souza Martins, venceu o Prêmio MPE

Brasil, em Minas Gerais, pela Casa Bacana Presentes, do setor de comércio,

sediada em Varginha-MG. Fundada em 2003, esta foi a primeira empresa do

empresário, seguida de outras duas unidades, sequencialmente criadas em 2004 e

2007, sendo todas no mesmo ramo de atividade. Hoje, estão em operação duas

delas, sendo uma a matriz e a outra filial.

Ao longo do tempo, o foco da empresa (matriz e filiais) foi se concentrando até

que o seu produto principal se focasse em bolsas e malas, assumindo, hoje, o nome

fantasia de Bacana Bolsas. Desde a criação da empresa o empreendedor tem como

sócia a sua esposa. No início das atividades a empresa contava com uma

funcionária somente, e hoje conta com quatro funcionárias que trabalham nas duas

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lojas, sendo uma gerenciada por Anderson e a outra pela sócia (esposa). Desde o

momento da criação até os dias atuais o mercado de alcance é Varginha-MG e

municípios do seu entorno.

O entrevistado destacou alguns membros de sua rede profissional como sendo

os que mais influenciaram seu interesse e decisão de criar a empresa. Esses laços,

(parte da rede profissional do entrevistado) foram todos caracterizados como fortes,

apresentando vínculo emocional e contato frequente com o empreendedor.

Esses mesmos laços forneceram ao empreendedor Anderson recursos como

incentivo (apoio emocional para a criação da empresa), informações sobre mercado,

informações sobre o ramo de atuação (comércio), informações sobre como abrir a

empresa, apoio para identificação do ponto e de mão de obra.

Apesar de esta ser a primeira experiência empreendedora, o empresário

começou a trabalhar antes dos 15 anos, como vendedor de picolés, engraxate de

sapatos e lavador de peças de carro, em Varginha-MG. Antes de se formar como

Técnico em Contabilidade, foi contratado aos 15 anos pela empresa Casas

Pernambucanas, iniciando sua vida profissional no setor de embalagens de pacotes

e serviços gerais. Após um ano trabalhando naqueles setores, o empresário foi

promovido para trabalhar no escritório da empresa, período em que fazia o curso de

Técnico em Contabilidade. Após três anos de contrato, participou de concurso

interno e foi promovido para o cargo de Auditor Interno, onde ficou durante quatro

anos.

Naquele período, Anderson ainda não pensava em se tornar empreendedor.

Segundo ele, sua aspiração era crescer na empresa onde, após os quatro anos

como Auditor Interno, assumiu o cargo de Gerente de Compras, sendo transferido

para a cidade do Rio de Janeiro. Com sua transferência para o Rio de Janeiro,

conheceu a esposa e se casaram.

A história do empreendedor Anderson está inter-relacionada com a história da

empresa “Casas Pernambucanas”, matriz Rio de Janeiro. Após atuar quatro anos

como Gerente de Compras, a “Casas Pernambucanas - matriz Rio de Janeiro” veio

à falência e a matriz São Paulo (sendo esta a que hoje sedia a unidade de Varginha-

MG) sobreviveu. Naquela fase, Anderson atuou como consultor da massa falida até

o momento em que se mudou para Varginha-MG e criou a sua própria empresa.

Segundo o empreendedor, sua experiência com a falência da grande empresa na

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qual trabalhou por muitos anos forneceu-lhe subsídios importantes sobre a gestão

de um negócio.

Os cinco anos em que atuou como consultor da massa falida (totalizando 10

anos como funcionário das “Casas Pernambucanas), segundo o entrevistado, foram

importantes para a decisão de criar a própria empresa. Seu gerente imediato

deixava evidente que aquele era um processo do qual os consultores sairiam aos

poucos, na medida em que o trabalho para a massa falida fosse sendo finalizado.

Naquele período, concluindo sua parte no trabalho, conversou e convenceu a

esposa, que também estava desempregada, da sua vontade de empreender na

cidade natal (Varginha-MG) como alternativa de geração de renda, visto que

também estavam com um filho pequeno. Em fevereiro de 2002, após o incentivo

vindo do alter B2, que era o responsável pela massa falida das “Casas

Pernambucanas”, o empreendedor Anderson retornou para Varginha com a família e

fundou a “Casa Bacana Presentes”.

No momento da criação da empresa, sua rede social era formada na maior

parte por colegas de trabalho e de faculdade, sendo que alguns membros da sua

rede profissional foram a principal fonte de recursos para a criação da empresa. O

empreendedor ressalta que a maior parte dos gerentes contemporâneos das “Casas

Pernambucanas” havia montado empresas semelhantes. Este fato contribuiu para

que esses laços fornecessem, sobretudo, recursos diversos para a criação da Casa

Bacana Presentes, sobretudo informações sobre mercados.

A prosperidade dos negócios de diversos colegas de trabalho motivou

Anderson a abrir a sua própria empresa. Outros membros da sua rede profissional o

incentivavam explicitamente.

O incentivo partindo principalmente da rede profissional e parte da rede privada

(esta composta totalmente por laços fortes) se dividiu em incentivo emocional

positivo e estímulos negativos que foram alertas sobre os riscos de empreender.

Neste sentido, destaca-se um dos membros da rede pessoal do empreendedor (laço

forte), que forneceu incentivo contrário, focando sua percepção nos riscos do novo

negócio. A mãe incentivou positivamente e a ela o proprietário da “Casa Bacana

Presentes” atribui o seu perfil empreendedor. Sua esposa também apresentou

incentivo positivo assim que o empreendedor a convenceu de sua ideia de abrir a

empresa na cidade natal. Para o empresário, as mulheres são melhores do que os

homens para apoio emocional.

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5.2.1 Recursos para a criação da empresa

Pode-se perceber que no momento da criação da empresa o entrevistado

sentiu falta de alguns recursos, assim como de fontes seguras para buscá-los. Um

deles foi o passo a passo de “como fazer”. Além de informações detalhadas de

como abrir a empresa, o empreendedor relatou que:

gostaria de ter tido acesso a fontes de informações sobre alternativas de onde comprar mercadorias, equipamentos para a montagem da loja (como prateleiras e expositores), como desenvolver a logomarca da empresa, dentre outras.

Os recursos acima descritos foram buscados em fontes diversas, sobretudo

na Internet. Entretanto, para o entrevistado a busca não obteve os resultados

esperados. Segundo ele,

os principais sites pesquisados foram o do SEBRAE-RJ e outros sites de possíveis fornecedores em Belo Horizonte e São Paulo. Além da Internet, para identificar fornecedores também realizou algumas viagens. O empreendedor considerou difícil o acesso a fontes destes tipos de recursos para a abertura da empresa.

Salienta-se que não houve interesse em buscar recursos de terceiros para a

criação da empresa. Desta forma, o empreendedor não pensou em possíveis fontes.

Contudo, no início das atividades acessou crédito bancário para capital de giro.

A análise dos dados da pesquisa indica não haver dificuldades na aquisição

de recursos disponíveis e acesso na rede pessoal do empreendedor para a criação

da empresa.

Diversos autores afirmam que redes de relacionamentos dos

empreendedores são fontes de recursos para seus empreendimentos. Vale e

Guimarães (2010) consideram que as redes sociais fornecem recursos para a

sobrevivência e para a criação de empresas, sendo os laços fracos (mais do que os

fortes) os mais utilizados para a abertura do negócio.

Quanto aos aspectos referentes à rede de relacionamentos, o entrevistado

destacou um laço forte como fornecedor de recursos da natureza dos descritos

acima. Em algumas das suas pesquisas de campo realizadas em Varginha-MG

(sede da empresa), o empreendedor acessou um dos membros de sua rede de

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trabalho, B46, laço forte. Este alter foi uma das fontes de informações (mercado e

como abrir empresa) mais importantes para o entrevistado. Além deste tipo de

recurso, este laço forneceu um dos incentivos mais fortes para a criação da

empresa, segundo Anderson, o apoio emocional.

Quando o entrevistado retornou à Varginha buscando informações para a

abertura da sua empresa, aquele membro de sua rede de trabalho (B46) já havia se

tornado empreendedor e lhe forneceu algumas das informações das quais

necessitava. Complementando os recursos anteriores fornecidos por este laço do

empreendedor, encontram-se apoio para planejar o dimensionamento das vendas e,

segundo Anderson, “principalmente, informações sobre fornecedores de

mercadorias e equipamentos que são pontos críticos para começar um negócio”.

Quase a totalidade da rede privada do entrevistado é composta por laços

fortes, fornecendo diferentes recursos para a criação da empresa. A sua rede

privada é composta por 14 membros. Deles 13 são caracterizados como laços fortes

e 1 como fraco, como explicitado em Granovetter (1973).

Sua esposa forneceu, segundo Anderson, todos os recursos descritos no

roteiro de pesquisa:

[...] informações sobre mercado, informações sobre o ramo de atuação, informações sobre como abrir a empresa, apoio para identificar o ponto, suporte financeiro, apoio para identificar mão de obra, incentivo emocional e indicação dos primeiros clientes.

A mãe, irmãos e um parente, laços fortes, como define Granovetter (1973),

“forneceram incentivo para a criação da empresa (apoio emocional). O pai e a sogra,

também laços fortes, foram contrários à criação da empresa”.

Dos amigos caracterizados como laços fortes, quatro forneceram informações sobre mercado e sobre como abrir a empresa; dois forneceram informações sobre o ramo (comércio); um deu informação sobre o ponto para abrir a empresa; três forneceram apoio para identificar e selecionar mão de obra; quatro incentivaram emocionalmente para a criação da empresa e indicaram os primeiros clientes.

Schott (2007) menciona que a rede de trabalho de um empreendedor é

formada por colegas de trabalho, gerentes, funcionários. A rede de trabalho do

entrevistado era composta por 14 membros. Além de 8 indivíduos que possuem

somente o atributo de colega de trabalho, a rede social apresenta outros 6

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indivíduos que, além deste atributo, possuem o atributo de amigos, fazendo também

parte da rede privada do empreendedor.

Os resultados indicam que parte da rede social do empreendedor Anderson

também se apresentou como fonte de recursos para a decisão de empreender.

Diante do exposto, será analisada na seção a seguir a rede social formada somente

pelos membros que forneceram algum tipo de recurso ao empreendedor.

5.2.2 Motivações para empreender

Quanto às motivações para empreender, considerando também para este

empreendedor as afirmações de Greence, Hart, Gatgewood, Brush e Carter (2003)

de que homens e mulheres têm interesses distintos para empreender, buscou-se

verificar quais variáveis pesavam mais e quais eram menos importantes para a

decisão empreendedora.

Para o empreendedor Anderson, o “peso dos fatores para a criação da

empresa” apresenta-se na seguinte ordem:

i) Ter mais tempo com a família;

ii) Realização profissional;

iii) Aumento da renda;

iv) Ter mais flexibilidade de horários para resolver questões pessoais.

Falta de oportunidade de trabalho não foi uma opção considerada pelo

empreendedor.

5.2.3 A questão de gênero para o empreendedor

Outro ponto importante ressaltado durante a entrevista foi a percepção dos

entrevistados sobre quem sofria mais influência para empreender, os homens ou as

mulheres. Para Anderson, há diferença por gênero. Segundo o empreendedor,

“mulheres e homens são influenciados de forma diferente por outras pessoas nas

suas decisões, sendo as mulheres mais vulneráveis às influências de outras

pessoas para a criação de uma empresa”.

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No decorrer da entrevista, constatou-se que a escolha do ramo de negócio se

deu por meio de observações de mercado e da tendência que o próprio

empreendedor vislumbrou, que eram as lojas de presentes e utilidades de preço

único. Desta forma, ele não considera que foi influenciado a atuar no ramo em que

fundou a empresa.

A partir de dados coletados para esta pesquisa e aqui analisados, percebeu-

se a importância do desempenho por gênero. Nesta questão, o entrevistado

destacou:

O desempenho operacional de homens e mulheres empreendedores é diferente. Enquanto homens são mais focados, mulheres são mais dispersas. [...] as duas situações são, ao mesmo tempo, benéficas e prejudiciais. Benéficas porque as mulheres conseguem visualizar “o todo” mais do que os homens, por exemplo, em caso de feiras de negócios. Prejudiciais porque pode haver dispersão do sexo feminino, impedindo que se cumpra o planejado no tempo estabelecido.

Quanto ao desempenho geral nos negócios, o entrevistado considera que

“homens e mulheres têm as mesmas condições e resultados, ou seja, o

desempenho de uma mulher empreendedora é igual ao de um homem

empreendedor. O gênero é indiferente”.

Registrou-se, a partir das respostas, a preocupação do entrevistado com as

preferências por gênero na admissão e gestão de funcionários.

Dá-se relevo ao fato da preferência do entrevistado por funcionários do sexo

feminino, uma vez que Anderson considera que é mais fácil administrar mulheres.

Esta afirmação se confirma no fato de o seu quadro funcional ser composto somente

por mulheres.

Enfatiza-se também a importância das preferências por gênero para

aconselhamento profissional e consultorias. De um lado, Anderson

afirmou ser indiferente. Por outro lado, afirmou que as mulheres escutam mais, ao passo que os homens são mais competitivos, buscando mostrar o que gostariam de fazer. Por escutarem mais, para o empresário as mulheres têm mais habilidade para a consultoria. Da mesma forma se dá com o aconselhamento profissional.

Outro ponto importante ressaltado durante a entrevista diz respeito ao

empreendedorismo na família. Constatou-se que há histórico de empreendedorismo

na família do entrevistado.

Os dois avôs (paterno e materno) e o pai foram proprietários de pequenas mercearias. Contudo, segundo o entrevistado, apesar destes membros da

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sua rede pessoal, cujos laços são fortes, serem empreendedores, o que mais lhe despertou interesse para o empreendedorismo foram sua experiência e os relacionamentos após começar a trabalhar nas Casas Pernambucanas.

A partir de dados coletados para esta pesquisa e aqui analisados, percebeu-

se que apesar de membros da sua rede pessoal terem fornecido apoio emocional

para a criação da empresa, o entrevistado:

atribui a principal influência às experiências que teve durante o período em que trabalhou nas Casas Pernambucanas, impelindo-o ao empreendedorismo no momento em que se viu fora da empresa.

Com relação à inspiração para empreender, averiguou-se que surgiu após o

empreendedor:

[...] ter tido experiência como funcionário nas Casas Pernambucanas, apresentando sua rede social mais ampla e diversificada. Para ele, mesmo a sua empresa sendo de pequeno porte, sua inspiração foi a grande empresa na qual trabalhou por aproximadamente 10 anos.

Na análise das respostas identificou-se que o empreendedor “sofreu as

influências da rede pessoal na inspiração e decisão de empreender para criar a

empresa”.

5.3 Caso 3: Ágatha Lefosse Junqueira – Originalle Presentes e Decorações

A empreendedora Ágatha, proprietária da Originalle Presentes e Decorações,

foi vencedora do Prêmio MPE Brasil em 2014. Criada em Julho de 2009, esta foi a

primeira empresa da empresária, que nasceu em uma família de empreendedores.

Ágatha Lefosse Junqueira é graduada em Design de Interiores, com especializações

em “Visual Merchandising” e “Vitrinismo”.

A empresa atua no setor de comércio de São Lourenço/MG, atualmente no

segmento de fun design (expressão em inglês que literalmente significa "estilo

engraçado ou divertido). O fun design é um estilo que está sendo adotado cada dia

mais na área de design de produto, moda, decoração além de estilização de

ambientes. Direcionada a este segmento, a Originalle é uma loja multimarcas de

presentes, que conta com produtos exclusivos na cidade e na região de São

Lourenço/MG.

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A empresa iniciou suas atividades com uma funcionária e nos meses

seguintes passaram a ser dois. No momento atual, conta com sete colaboradores,

sendo três na matriz e quatro na filial. Como São Lourenço/MG é uma cidade

turística, o foco se divide em turistas (loja matriz) e mercado local e regional

(segunda loja).

A Originalle começou suas atividades já como associada a duas entidades de

classe, sendo elas Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e Associação Comercial e

Industrial de São Lourenço, além do Sindicato dos Empregados. A empresária

Ágatha é diretora da CDL e, além das entidades de classe das quais já participava, a

empresa se associou posteriormente ao Sindcomércio. A Originalle foi criada sem

sociedade, contando com algumas parcerias descritas a seguir.

A história de empreendedorismo da empresária tem início com o histórico de

empreendedorismo do seu pai, que aos 18 anos começou a fazer perfumes para

vender na porta de faculdades em São Paulo/SP. Recém-chegado da Argentina,

saído do militarismo daquele país à época, vendeu alguns pertences para comprar

as primeiras matérias primas (essências de perfumes) e começar a vida

empreendedora da família que se formaria logo a seguir. Durante a sua atividade

empreendedora conheceu sua esposa e, juntos, começaram a fazer artesanato e

gerar renda para seu sustento e dos filhos que viriam.

Para Ágatha, sua família foi criada com a “essência do empreendedorismo,

saindo de uma vida de não ter nada e conquistando muitas coisas”.

Em 1985 a família se mudou de São Paulo/SP para São Lourenço/MG, onde

inicialmente começou a vender seus produtos numa pequena feira, em uma rua

ainda de terra. Tendo aquele mercado e o local atraído os empreendedores,

decidiram se instalar na cidade. Montaram uma pequena loja nos fundos de uma

galeria, foram aumentando o espaço e hoje estão instalados em uma loja que possui

quatro portas (uma ao lado da outra), o que para a cidade é considerado um

empreendimento grande. Atualmente, os empreendedores que iniciaram sua

trajetória fabricando sua própria mercadoria não produzem mais o que vendem. O

setor se mantém o mesmo (comércio), com foco em presentes, sobretudo orientais.

Neste contexto, Ágatha cresceu e foi moldando suas características

empreendedoras. A partir dos 13 anos de idade, começou a participar ativamente

das decisões da empresa dos pais. Sua opinião era consultada sobre alterações de

embalagens, logomarca, exposição e outras questões do dia a dia do negócio.

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Segundo Ágatha, mesmo com a pouca idade, lhe agradava a inteiração com seus

pais para discutir sobre coisas da empresa.

Aos 18 anos foi para o Rio de Janeiro/RJ para fazer faculdade (Design de

Interiores), com o auxílio financeiro de seus pais. Não se sentindo confortável com

os pais financiando totalmente os custos dos seus estudos e considerando sua

experiência em lojas, procurou emprego.

Segundo Ágatha, foi o segundo momento de grande influência para a sua

decisão de criar sua própria empresa. Para ela, o fato de ter também a visão “do

olho do dono” contribuía para que não se limitasse a fazer somente as atividades

que lhe eram atribuídas e, em se dedicando mais, se destacava dos demais

funcionários.

O encantamento pelo empreendedorismo aumentou com esse primeiro

trabalho no Rio de Janeiro, quando conheceu processos e procedimentos bem

estruturados para planejamento e gestão da empresa. Tendo crescido vivenciando o

empreendedorismo instintivo dos pais, conhecer uma nova empresa diferente, com

departamentos melhor estruturados, segundo a empresária a despertou para um

novo jeito de empreender. Foi naquele momento que um membro de sua rede social

exerceu influência decisiva, segundo a empreendedora, para a sua vontade de criar

a própria empresa.

A consultora de recursos humanos da rede de empresas na qual trabalhava,

na época laço forte (Granovetter, 1973), exerceu forte influência e, segundo Ágatha,

em 2000, aos 20 anos de idade, decidiu que queria se tornar empreendedora.

Durante seu relato, a empresária identificou exatamente o momento em que tomou a

decisão de empreender, passando pelas influências de seus pais e chegando a uma

também forte influência que lhe impulsionou à decisão (consultora de recursos

humanos de uma empresa em que trabalhou).

A história da empresa em que Ágatha trabalhou no Rio de Janeiro foi,

segundo ela, muito importante para a sua formação empreendedora. Assim como a

história de seu pai, os donos daquela empresa (Viva a Vida) eram estrangeiros, e

vieram para o Brasil precisando de recursos financeiros para se manter neste outro

país. A empresária Ágatha foi contratada para a empresa, cuja rede possuía 14

lojas, no momento em que a mesma já se encontrava na segunda geração dos

proprietários - os filhos do casal de alfaiates alemães fundadores da empresa em

São Paulo/SP.

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Para Ágatha, o histórico de inovação da Viva a Vida influenciou a sua

formação empreendedora. A primeira iniciativa foi manter uma costureira disponível

na loja para modificar as roupas de acordo com o desejo do cliente. A segunda foi

disponibilizar uma revistaria (com revistas importadas dado o público alvo que era

classe “A”) para os homens que acompanhassem as mulheres em compras. A

terceira inovação foram os cafés italianos e champagne sempre oferecidos nas lojas.

Os relatos da entrevistada demonstram o seu perfil empreendedor.

Na empresa em que trabalhava no Rio de Janeiro teve a iniciativa de propor

mudança de conceito na exposição dos produtos. Esta ação foi para a gerente da

Viva a Vida uma quebra de paradigmas dada à rigidez de padronização entre as 14

lojas que compunham a rede. A proposta da Ágatha foi acolhida e a loja do Rio de

Janeiro, na qual trabalhava como vendedora, foi a única a ser autorizada a montar a

própria vitrine.

Para Ágatha, uma situação específica presenciada nessa empresa também

influenciou o seu histórico de empreendedorismo. Foi adotada pelos gestores

daquela empresa a estratégia de contratar um estilista renomado para assinar uma

coleção inteira. As cores utilizadas na coleção não agradaram os clientes, fazendo

com que não se vendesse praticamente nada daquelas novas peças. Diante do

prejuízo, os proprietários decidiram viajar à China para encontrar mercadorias mais

baratas, buscando recuperar as perdas. Novamente, segundo Ágatha, a estratégia

foi equivocada por dois principais motivos. O primeiro, porque o mercado alvo da

empresa era focado em um público clássico, não absorvendo o estilo de roupas

fabricadas na China. O segundo, a demora na entrega dos produtos comprados

contribuiu para que novas medidas de contingência pudessem ser adotadas.

Naquele momento de oscilações no negócio, Ágatha assumiu o cargo de

subgerente. Contudo, após duas coleções com faturamento decrescente em toda a

rede, a Viva a Vida iniciou seu processo de falência, fechando loja a loja, tendo sido

a unidade do Rio de Janeiro (onde Ágatha trabalhava) a última a fechar as portas.

De acordo com a empreendedora, o processo de falência da empresa em que

trabalhava foi um grande aprendizado, sendo utilizado ainda hoje em sua empresa.

Ao retornar a São Lourenço, após a conclusão do curso de Design de

Interiores, e tendo trabalhado em lojas no Rio de Janeiro, a empreendedora Ágatha

trabalhou em sua área de formação (Designer de Interiores) durante um longo

período. Assumiu como gestora a loja dos pais, conciliando com as atividades

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profissionais, o que para ela foi possível sem causar transtornos. Entretanto,

segundo Ágatha, sua frustração com os resultados como designer de interiores foi

gradativa e crescente, visto que somente tinha o controle do projeto e não dos

demais serviços. Assim, tendo aptidão e gosto pelo comércio decidiu dedicar-se

somente às atividades do setor.

O tempo em que Ágatha esteve fora de São Lourenço/MG, trabalhando em

outras empresas e conhecendo formas de gestão mais estruturadas, a motivou a

implementar uma forma mais moderna e mais profissional de gerir os negócios da

família. Entretanto, as novidades trazidas para a condução da empresa dos pais

geraram choque de gestão entre as gerações. A tentativa de implantar os

aprendizados trazidos das experiências fora, como inovações, procedimentos e

metodologias estruturantes, não convenceu os patriarcas, que consideraram ser

mais adequado manter a gestão da mesma forma que era feita até então, visto que,

para eles, estava dando certo.

Com o objetivo de implantar os diversos processos da administração de um

negócio, a empreendedora Ágatha decidiu criar sua própria empresa e, acreditando,

segundo ela, que possuía conhecimento suficiente, abriu seu negócio. Avaliou,

ainda, que a experiência adquirida ao longo do trabalho com seus pais em uma

cidade turística (São Lourenço/MG), atrelada à experiência adquirida nos outros

trabalhos, fornecera a ela a visão para a escolha do negócio. Após sua decisão de

deixar a empresa dos pais para criar a própria, a empreendedora identificou um

imóvel em uma localização que, para ela, era ideal. A empresária relata que no

momento de fechar o negócio para a locação do imóvel para a abertura da empresa,

o marido estava em viagem ao exterior e precisou tomar sozinha a decisão.

Segundo Ágatha, todas as áreas da gestão lhe encantam. Relata, ainda, que

é “apaixonada pelo empreendedorismo de forma geral”. Desde os processos de

compra, distribuição dos produtos, venda, precificação, treinamento de funcionários,

até visual merchandising e todas as demais compõem a sua motivação para o dia a

dia na empresa.

Uma característica do perfil da Ágatha é sua permanente busca por

capacitação. Tanto como proprietária da empresa, como para a equipe de

funcionários, ela investe constantemente em treinamentos.

Em 2011 foi criada a segunda loja, no mesmo segmento, com o objetivo de

atender ao público que frequentava outra parte da cidade, também turística.

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5.3.1 Recursos para a criação da empresa

A avaliação dos fatores relativos aos recursos para a criação da empresa foi

feita levando-se em consideração questões que abordaram os seguintes aspectos:

recursos faltantes para a criação da empresa; recursos disponíveis e acessados

para a criação da empresa; e peso dos fatores para a criação da empresa.

No que diz respeito aos recursos faltantes para a criação da empresa, ao criar

sua empresa, dentre os primeiros recursos que a empreendedora aponta como

escassos estão:

treinamentos de vendas para a equipe, que satisfizessem suas expectativas. Para solucionar esta deficiência na oferta de recursos, a empresária montou seus próprios cursos (a partir da sua própria experiência, leituras e pesquisas) para capacitar sua equipe e assim o realiza até o momento.

Outro recurso não encontrado foram informações suficientes para realizar

pesquisa de mercado. A empresária buscou no SEBRAE e:

[...] em outras fontes na Internet e não encontrou dados suficientemente confiáveis para a definição de estratégias de marketing, por exemplo. [...] sentiu falta de crédito disponível para a criação e, também, durante o início das atividades.

Aspectos mais negativos dos recursos, segundo Ágatha, dizem respeito às

“informações sobre mercado para direcionar ações de marketing e divulgação que

não foram encontradas. Também por isso a empresária decidiu naquele momento

não investir em ações de divulgação”.

Segundo Ágatha, ela não dispunha de todos os recursos financeiros

disponíveis para a criação da empresa. Porém, ela possuía:

o seu conhecimento e sabia o que queria colocar na loja para vender. Naquele momento, decidiu recorrer a um membro de sua rede social, da época em que trabalhava na loja dos seus pais. Um fabricante de velas decorativas havia oferecido para os pais da empreendedora seus produtos, reforçando que, como era fabricante, poderia conceder melhores condições de pagamento. Contudo, na loja dos pais essa linha de produtos não foi

incluída.

O resultado desta análise está compatível com o pensamento de Schott e

Cheragui (2012) de que rede de mercado é aquela formada por fornecedores,

concorrentes, clientes, parceiros, colaboradores. Esta classificação da rede da

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empreendedora se mostrou relevante e composta por laços fracos (Granovetter,

1973), quando criou sua empresa.

Aquele laço contido em sua rede de mercado forneceu o primeiro lote de produtos para a sua empresa, no formato de consignação. Mesmo não compondo exatamente a linha de produtos que buscava oferecer em sua loja, a empreendedora percebeu em um laço o recurso do qual necessitava para iniciar suas atividades.

Destaca-se, ainda, que outro membro da sua rede de mercado (SCHOTT,

2012) que conheceu como fornecedor de serviços (marceneiro) da empresa dos pais

fabricou as prateleiras para a loja, mesmo com o recurso financeiro disponível pela

empreendedora sendo aquém do valor cobrado por aquele profissional. O

marceneiro decidiu atender à demanda de Ágatha,

pela parceria antiga com a família e pela parceria que estava sendo construída com a nova empresa para trabalhos futuros. Outro recurso fornecido por esse seu laço fraco, membro da sua rede de mercado, foi a referência para a primeira funcionária.

Aquele fornecedor de serviços de marcenaria atuou como ponte entre Ágatha

e a pessoa que passou a ser a primeira funcionária da empresa. Esta, por sua vez,

antes que fosse contratada, forneceu incentivo emocional para a criação da

empresa, pelo fato de a empreendedora sentir nela confiança para iniciar as

atividades da Originalle ainda estando amamentando a filha. Para a empresária, “o

fato de ter identificado uma pessoa com a qual poderia contar ao abrir a empresa

deu a ela mais segurança”.

Assim, com aproximadamente R$2 mil em móveis fabricados pelo Ferreira e

um lote de R$10 mil de velas do Beto, mercadorias suficientes para encher a loja, a

Originalle iniciou as atividades.

Outra consideração a ser feita é que o marido da empreendedora, laço forte e

membro de sua rede pessoal, forneceu recursos como incentivo para a criação da

empresa (apoio emocional). Além do apoio emocional, o marido participou com

recursos financeiros para a compra de um computador, um pouco mais de

mercadorias em São Paulo/SP, e cedeu outro computador que possuía

(Granovetter, 1973).

Quanto às seis colegas de trabalho, conforme a teoria de Granovetter (1973)

representam laços fortes que forneceram insumos que a empreendedora utiliza

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ainda hoje no treinamento de sua equipe, como “o que não fazer”. Aquelas pessoas

argumentavam que Ágatha não deveria se dedicar tanto à empresa, por ser somente

funcionária. Contudo, tendo o que ela chama de “olhar do dono” por ter

acompanhado a trajetória empreendedora dos seus pais, mantinha seu

comprometimento com os resultados.

Evidenciou-se no discurso da empreendedora que a maior parte da sua rede

social,

seja ela privada, profissional ou de mercado forneceu apoio emocional, ou seja, incentivou para a criação da empresa. Contudo, ressalta que a decisão sobre o que e como empreender foi, em grande medida, uma decisão própria, sem que houvesse influências de outras pessoas.

Na criação da segunda loja, em 2011, a empreendedora afirma ter tido mais

influências, sobretudo quanto à localização do ponto. A influência para esta decisão

começou:

ao ouvir clientes dizerem que não se lembravam da loja quando levavam turistas a uma região específica da cidade. Estes laços fracos, que compõem a rede de mercado da empreendedora, forneceram, portanto, informações sobre ponto e mercado, influenciando também no incentivo da empresária em abrir uma nova unidade.

Mais um fornecedor destes recursos foi um membro da rede de mercado da

empreendedora. Uma das funcionárias, laço forte, forneceu à Ágatha

informações sobre o mercado de São Lourenço para mais de uma unidade de empresas do mesmo segmento. Tão importante quanto o laço anteriormente mencionado, a empreendedora cita outro funcionário que lhe forneceu recursos sobre o mercado, implicando no seu estímulo para abrir a segunda loja, mais focada no fun design. Este segmento, para o qual a empresa foi direcionada ao longo dos anos, está diretamente ligado ao público mais jovem. Outro funcionário, que tinha na época 16 anos, atuou como termômetro para as ideias e decisões de Ágatha. Segundo a empreendedora, o comprometimento dos funcionários forneceu a ela segurança (apoio emocional) para abrir a segunda loja.

5.3.2 Motivações para empreender

Quanto às motivações para empreender, Klapper e Parker (2011) afirmam

que um dos fatores pelos quais o empreendedorismo feminino é menor que o

masculino é que as mulheres apresentam menos aspirações profissionais do que os

homens. Desta forma, procurou-se também apurar qual o peso dos fatores para a

criação da empresa da empreendedora Ágatha.

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Registrou-se que para alguns autores as questões relacionadas ao lar e à

família influenciam mais as mulheres do que os homens na tomada de decisão para

empreender, conforme reforçam Winn (2005), Hart, Gatgewood, Brush, Carter e

(2003), Klapper e Parker (2011) e Brush, Bruin e Welter (2009).

O “peso dos fatores para a criação da empresa” apresenta, para Ágatha, a

ordem:

i) Realização profissional;

ii) Ter mais tempo com a família;

iii) Ter mais flexibilidade de horários para resolver questões pessoais;

iv) Aumento da renda.

Observa-se que, para esta empreendedora, a falta de opção de emprego também

não foi um fator considerado para a decisão de empreender.

Os resultados e análises da entrevista com a empreendedora Ágatha não

confirmaram, se analisados isoladamente, a sustentação de Klapper e Parker

(2001). Para a entrevistada, o principal fator considerado na sua decisão de

empreender foi realização profissional.

5.3.3 A questão de gênero para a empreendedora

Evidenciou-se na análise dos resultados a percepção dos entrevistados sobre

a influência de gêneros na decisão de empreender. A empreendedora Ágatha

considera que

homens e mulheres sofrem, de diferentes formas, influências ao decidirem criar uma empresa; [...] as mulheres consideram mais as questões familiares do que os homens. Avalia, ainda, que homens são mais objetivos ao definirem o ramo em que vão atuar, buscando modelos de negócios mais práticos e testados, como as franquias, por exemplo.

Para Ágatha, a própria história exemplifica a sua afirmação. Ao longo de sua trajetória empreendedora:

1) influenciou vários membros de sua rede pessoal, sobretudo laços fortes.

2) considerou algumas opiniões no momento da criação de sua empresa, mas “se fosse ficar ouvindo” a opinião de cada um teria tanta sugestão que ficaria perdida.

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3) junto a um empreendedor de sucesso há sempre uma mulher, seja a namorada, esposa, ou mãe, por exemplo.

4) considera que homens são mais influenciáveis por outras pessoas para a abertura de empresas do que mulheres.

Pode-se perceber que, quanto ao desempenho por gênero, para Ágatha o

desempenho de um empreendedor:

não depende de gênero, é indiferente ao sexo do indivíduo. A empreendedora considera que os bons ou os maus resultados dependerão de fatores como dedicação, conhecimento, entre outros, mas não se o empresário é homem ou mulher.

Em se tratando de preferência por funcionários, a empresária estratifica por

gênero: “em vendas, tenho mais sucesso com homens, e para as atividades

administrativas, as mulheres demonstram-se mais organizadas”.

Com relação à facilidade de administrar, a empreendedora Ágatha afirma que

“os homens são mais fáceis de lidar”.

Também foram levados em consideração aspectos relacionados às

preferências por gênero para aconselhamento profissional e consultorias. No caso

de consultores e aconselhamento profissional, a preferência da empreendedora é:

[...] para os homens; [...] as mulheres são mais competitivas, retendo informações em alguns casos. Relatou que suas experiências com consultores foram melhores do que as com consultoras. Acrescentou, ainda, que considera os consultores homens mais generosos quanto ao compartilhamento de informações e conhecimento.

A partir do relato dos entrevistados, pode-se inferir que o histórico de

empreendedorismo na família que Ágatha acompanhou:

durante sua vida foi a história dos seus pais. Além dos pais, a empresária possui um tio que é dono de uma loja em Jaguariúna, interior do estado de São Paulo, mas não teve contato nem conhecimento mais aprofundado da história deste parente empreendedor.

Nas respostas colhidas, foi possível detectar as influências da rede pessoal

da empreendedora na inspiração e decisão de empreender. Para ela, “a primeira e

importante influência foram seus pais. Neles, ela se pautou em tudo, valores que vão

além dos valores empreendedores”, relata Ágatha.

Destaca-se, ainda, que o segundo momento de influência foi o seu primeiro

trabalho no Rio de Janeiro/RJ. Nessa empresa, Ágatha foi influenciada por “uma

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profissional da área de RH, pela forma como atuava e tratava as questões da

empresa, além das ações inovadoras da empresa, que até hoje são inspiração”.

5.4 Caso 4: Valda Eurides Alves Sanchez – Cultura Inglesa Araxá

A empresária Valda, proprietária da Cultura Inglesa Araxá, foi vencedora do

Prêmio MPE Brasil em Minas Gerais em 2013. Esta foi sua primeira experiência

empreendedora, assumida em parceria com sua irmã Valma, em agosto de 1988. A

empresa foi criada em Araxá, como filial de outra Cultura Inglesa, com sede em

Uberaba/MG. A empreendedora Valda Sanchez é formada em Letras, com MBA em

Gestão Empresarial e outras especializações na língua inglesa em diversos países,

como Inglaterra, Canadá, Austrália, entre outros.

O histórico de empreendedorismo de Valda se mistura ao da sua irmã (Valma

Eurides Alves Ashidani). Juntas, participaram da primeira turma de alunos da Cultura

Inglesa em Araxá. Nascida em uma família de 13 filhos, sendo uma das mais novas,

Valda decidiu empreender entre seus 18 e 19 anos de idade. O pai foi consultado e

foi solicitada sua permissão para assumirem aquela atividade empreendedora,

quando surgiu a oportunidade do negócio. Este foi um dos momentos de apoio

recebido pela empreendedora, de sua rede de relacionamentos.

Àquela época, a empresa era de propriedade de dois sócios de Uberaba, em

parceria com uma professora italiana. Por motivos particulares, após três anos

aquela professora mudou-se para São Paulo/SP e indicou Valda e Valma como

possíveis novas professoras da escola. Naquela ocasião, Valda cursava Magistério

e já se interessava pela profissão de sala de aula. Antes que as irmãs despertassem

para assumir a escola, outra professora liderou o empreendimento durante

aproximadamente um ano e meio.

Não obtendo sucesso, a matriz da empresa em Uberaba/MG se percebeu entre

duas opções. A primeira era fechar a Cultura Inglesa em Araxá/MG e a segunda era

buscar nova sociedade. Foi nesse momento que Valda e sua irmã propuseram aos

proprietários participarem da sociedade com o percentual de 30%. Valda salienta

que

o maior recurso de que ambas dispunham naquela época, além da força de trabalho, era a “vontade de não deixar o negócio morrer”, dado o gosto que tinham pela escola. O carinho que tinham pela professora italiana, que já

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não participava mais do quadro de colaboradores da Cultura Inglesa em Araxá/MG, também continuava a motivá-las para fazerem “de tudo para o negócio sobreviver”.

Assim, a empreendedora Valda e sua irmã Valma pediram ao empresário que

as deixasse tentar. Apesar da pouca idade que tinha na época em que decidiu

empreender juntamente à sua irmã gêmea, Valda assumiu parte da gestão e da

condução da Cultura Inglesa de Araxá e, em 1989, a matriz Uberaba/MG vendeu

mais 50% da sociedade. Em 1991, a empreendedora Valda e sua irmã compraram

os 20% restantes assumindo, naquele momento, a totalidade da empresa. A partir

de então, como relata Valda, “foi muito trabalho, mas também muito sucesso”.

Em 1991, quando assumiram os 100% da Cultura Inglesa Araxá, a escola

possuía 44 alunos, o que, para a empreendedora, configurava um negócio bastante

pequeno. Contavam com cinco funcionários, incluindo as suas sócias, que também

trabalhavam como professoras. No momento atual, a escola possui 24 funcionários.

O mercado de alcance no início das atividades era somente a cidade de

Araxá/MG. Hoje, além de Araxá, a empresa possui clientes de Perdizes, Tapira e

São Gotardo, cidades localizadas em Minas Gerais, na região denominada como

Alto Paranaíba. Participa, hoje, de duas entidades empresariais, quais sejam:

Sindicato Patronal – Sindlivre; Sindicato do Comércio e Associação Comercial e

Industrial de Araxá. No primeiro ano, a escola era associada somente ao Sindlivre.

O perfil empreendedor de Valda permitiu que assumisse o cargo de presidente

da Associação Brasileira de Culturas Inglesas, estando hoje em seu segundo

mandato. Uma das características percebidas na entrevistada foi a busca constante

de conhecimento. Valda relata que, desde o momento em que empreendeu, tinha

muito claro em sua mente que ela e sua sócia não poderiam parar de se

especializar. Para ela, “o estudo que tinham era suficiente para o momento, mas

sabiam que para a empresa crescer precisavam continuar aprimorando seus

conhecimentos”.

O empreendedorismo sempre se fez presente na vida de Valda. Para ela, o

espírito empreendedor do pai, que exercia atividade de fazendeiro na região de

Araxá/MG, foi inspiração para diversas questões da vida, incluindo a decisão de

empreender. Com 13 filhos, a dedicação do senhor Eurípedes Batista Alves – pai de

Valda, assim como sua “incansável busca por uma vida melhor para a família”,

inspirava a entrevistada a também ter atitudes empreendedoras, relata Valda.

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Segundo a empreendedora, com seu pai aprendeu a buscar caminhos para

solucionar as questões adversas no negócio e na vida. Para ela, o senhor Eurípedes

possuía visão empreendedora diferenciada e era atento às oportunidades de negócio. Através de seu espírito empreendedor, incrementava sua atividade de fazendeiro e comprou terras e imóveis de parentes e de outras pessoas da região [...]. Assim, o senhor Eurípedes foi aumentando o patrimônio da família e contribuindo para que Valda e os irmãos tivessem suporte, também financeiro, quando precisassem.

Além do pai, um irmão das duas sócias também era empreendedor no

momento em que empreenderam. O irmão possuía e ainda hoje é dono de um

restaurante na cidade de Araxá/MG. O pai, como mencionado diversas vezes pela

entrevistada, possuía o “empreendedorismo nas veias”. Hoje, o marido também

exerce atividade empreendedora, atuando no segmento de produção de flores,

transporte na Colômbia, fabricação e exportação de fertilizantes foleares no Brasil.

Quando indagada sobre que tipo de recursos sentiu necessidade quando

decidiu empreender, a empresária relatou que financiamentos bancários não eram

muito disponíveis naquela época. Por outro lado, a empreendedora podia contar

com o apoio financeiro de seu pai, quando precisava.

Outro recurso do qual a empreendedora sentiu falta foram mais fontes para

suporte acadêmico. Como para Valda e a irmã (sua sócia) aquela era a primeira

experiência empreendedora, buscavam apoio técnico para reduzir os riscos do

negócio. O suporte técnico relacionado às questões acadêmicas da escola, as

sócias encontraram “em somente duas fontes”, como afirma Valda. A primeira era a

Cultura Inglesa de Uberaba, que tinha sido a matriz da Cultura Inglesa Araxá,

quando esta ainda era filial. A segunda fonte para o suporte acadêmico foram as

editoras internacionais que, como relata Valda, ofertavam cursos a baixo custo.

Esses e outros recursos fornecidos pela rede social da empreendedora são

descritos nas próximas seções.

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5.4.1 Recursos para a criação da empresa

Descobriu-se que assim como para os empreendedores descritos

anteriormente, a rede social de Valda foi fonte de diversos recursos quando do

momento em que se tornou empresária.

A rede social da empreendedora, mapeada com 40 membros, participou da

sua decisão de empreender. Desses 40 laços com quem Valda se relacionava na

época em que se tornou empresária, 16 forneceram algum tipo de recurso.

Confirmando a sustentação teórica de Manolova (2007), que afirma que as redes

sociais do empreendedor fornecem apoio emocional para a iniciativa

empreendedora, na rede de Valda isto também pode ser observado.

Segundo Valda e conforme descrito nas sessões anteriores, parte da sua

rede influenciou a sua decisão de empreender. Atrelada a esta influência, a

empresária afirma que quando empreendeu “um grande fator motivador foi a

vontade de manter o negócio da Cultura Inglesa em Araxá funcionando”, dado o seu

envolvimento emocional com a empresa.

Como descrito, o empreendedorismo se fez presente na vida de Valda,

inicialmente através do seu pai. Fazendeiro na região e com “um espírito

empreendedor nato”, segundo ela seu pai a inspirou a tornar-se também empresária.

Para ela, a inspiração advinda dele explica-se pelo empreendedorismo, dedicação,

vontade de vencer na vida e, sobretudo, incentivo emocional.

O pai da empreendedora era fazendeiro, tendo nesta atividade a fonte de

renda e de formação do patrimônio da família. Segundo ela, a visão de negócio e de

futuro do pai fez com que ele fosse adquirindo as fazendas dos irmãos e de outras

pessoas. Para Valda, acompanhar os comportamentos empreendedores do pai, que

durante todo o tempo seguiam em direção à melhoria do patrimônio da família, foi

para ela como uma formação empreendedora durante a vida.

É importante ressaltar que o recurso financeiro inicial para a compra dos 30%

da empresa em 1988 também teve como fonte de apoio o pai de Valda. Reforçando

o espírito empreendedor do senhor Eurípedes, a empreendedora relata

que o pai, que tinha como fonte de renda a fazenda da família, que crescia por “sua dedicação e visão de negócio”, tinha o hábito de destinar parte do rebanho de gado para toda a família. Assim, os 13 filhos teriam algum patrimônio quando adultos.

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E essa foi a origem do primeiro recurso que a empreendedora acessou para

comprar parte da Cultura Inglesa de Araxá/MG. Valda e a irmã abriram mão de sua

parte em uma casa comprada por seu pai, cuja parte do recurso foi o gado da

família.

5.4.2 Motivações para empreender

Com relação às motivações para empreender, quando perguntado à

empreendedora se algumas pessoas a influenciaram na decisão de empreender, a

resposta foi positiva.

De acordo com Valda, o maior incentivador foi seu pai,

[...] dizendo que, se ela acreditava que o negócio daria certo, deveria agarrar a oportunidade. Para a empreendedora, os aconselhamentos do pai de que as sete filhas deveriam estudar e ser independentes, para não ficarem na dependência de algum homem, também foram incentivos para que empreendesse com a pouca idade.

Além da motivação gerada pelo apoio emocional do pai e a inspiração nele, a

decisão de empreender foi

[...] igualmente motivada pela vontade de manter a empresa funcionando, sobretudo devido à importância que Valda e sua irmã davam ao empenho e confiança a elas depositada pela antiga proprietária e professora da Cultura Inglesa em Araxá/MG entre 1982 e 1986. Foi a partir deste membro de sua rede social que as sócias aumentaram o amor que tinham pela escola.

A empreendedora acrescenta, ainda, que o fato de ela e a irmã estarem

sempre juntas significava para ela um apoio emocional importante. Isso era

traduzido na confiança de que uma poderia contar com a outra independentemente

do problema que pudesse surgir. Este sentimento foi um dos recursos que contribuiu

para a decisão de empreender.

Quanto ao peso dos fatores para a decisão de empreender (QUADRO 13), foi

possível constatar que para Valda a realização profissional foi o fator que mais

pesou para tornar-se empreendedora. Quando solicitado que atribuísse um peso aos

fatores apresentados, o escalonamento de Valda apontou a seguinte ordem de

importância:

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i) Realização profissional;

ii) Aumento da renda;

iii) Ter mais tempo com a família;

iv) Ter mais flexibilidade de horários para resolver questões pessoais.

Assim como para a entrevistada anterior, o maior peso foi dado para

“realização profissional”, não confirmando o exposto por Klapper e Parker (2001),

que afirmam que as mulheres empreendem valorando, principalmente, as questões

relacionadas à família.

Para Valda, também não foi considerada na tomada de decisão de

empreender a questão de falta de opção de emprego.

5.4.3 A questão de gênero para a empreendedora

Com relação a gênero, Valda coloca que homens e mulheres são igualmente

influenciados por outras pessoas nas suas decisões, o que se repete na decisão

específica de criar uma empresa. Para ela, “em geral essas influências dependem

mais de “como a pessoa funciona do que da questão de gênero”. Isso tem a ver

mais com “competência e determinação do que se a pessoa é homem ou mulher”.

Com respeito a consultores e aconselhamentos profissionais, a

empreendedora respondeu ser indiferente. Relatou que:

[...] talvez por existirem no mercado mais consultores do sexo masculino, contratam-se mais homens do que mulheres. Mas, para ela, não significa preferência. Valda exemplifica a área de finanças, onde é mais comum haver mais homens do que mulheres, e contrapõe, relatando que teve experiência com consultora de finanças, cujos resultados foram satisfatórios. Para ela, as contratações de consultores para a Cultura Inglesa de Araxá são baseadas na análise de currículos e referências, sem se considerar o gênero do profissional.

O mesmo se dá para a contratação de funcionários. Não há, para Valda,

[...] a preferência por funcionários homens ou mulheres. A competência da pessoa independe do gênero. Manter uma equipe com mulheres e homens é saudável para a empresa. Homens são, geralmente, mais práticos dos que as mulheres, têm pensamentos mais lógicos e agem de forma mais

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objetiva. Esse perfil pode ser melhor para algumas atividades e pior para outras em um mesmo negócio.

A empreendedora afirma que não acredita que time formado somente por

mulheres resulta em muita conversa e pouca produtividade. Para ela, esta e outras

situações problemáticas dentro das empresas são:

[...] devido mais aos perfis e às personalidades das pessoas do que em função de gênero. Acrescenta, novamente, que em sua empresa busca manter o equilíbrio. Da mesma forma, dá-se para a questão sobre a facilidade de administrar homens ou mulheres: indiferente.

A não existência de diferenças de competência entre os gêneros é

exemplificada pela empresária Valda, que relata: “há casos de mulheres que

obtiveram sucesso mesmo em setores de maior ocorrência masculina. E o inverso

também é verdadeiro”, complementa. Segundo ela, mulheres e homens não se

distinguem quanto à diferença de recursos fornecidos e disponíveis.

6 CONSOLIDAÇÃO DOS RESULTADOS

As informações obtidas permitem concluir que existe conexão em termos de

relações de gênero, empreendedorismo e as redes sociais dos egos pesquisados.

O resultado obtido nas entrevistas leva a entender, também, que para os

empreendedores pesquisados há tendências objetivas de que os seus laços sociais

foram utilizados no momento em que decidiram empreender. Pode-se concluir que

a triangulação dos resultados sobre gênero, empreendedorismo, redes pessoais e

laços sociais foi aplicada satisfatoriamente.

Registrou-se que a combinação de diferentes perspectivas metodológicas, a

utilização de materiais empíricos e secundários foram úteis, de modo a melhor

compreender os diferentes aspectos das influências das redes sociais dos egos em

suas decisões de empreender e a evitar os “vieses” de uma metodologia única.

Operacionalmente, a triangulação foi conduzida com a combinação de

resultados obtidos a partir da análise do estudo dos quatro casos. Esta análise se

deu através dos resultados dos empreendedores pesquisados, considerando-se o

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processamento dos respectivos dados e da análise dos conteúdos, como

apresentado no item 6.1.

A partir da análise comparativa entre os resultados por indivíduo pesquisado,

realizou-se uma síntese da participação das redes sociais e dos principais fatores

que influenciaram os empreendedores a empreender. Esta perspectiva comparativa

está descrita a partir do item 6.2.

6.1 Consolidação dos resultados por caso pesquisado

A apresentação dos resultados por empreendedor pesquisado, está

organizada a partir da análise das respectivas redes sociais como fontes de

recursos para a criação da empresa. Ainda nesta perspectiva, foi incluída a análise

da necessidade da presença do ego (empreendedor pesquisado) para o

relacionamento inter-alteri. Inclui-se nesta parte a elaboração dos grafos das redes

para os quatro casos.

6.1.1 A rede social do empreendedor Vladimir Gomes Mourão (caso 1)

Constatou-se que uma parte da rede social do empreender forneceu recursos

no momento da sua decisão de se tornar empresário (participar de uma sociedade

formal). Entretanto, para Vladimir sua decisão foi mais individual do que influenciada

por outros.

Analisando a totalidade dos alteri citados pelo ego (43), sete deles foram fonte

de algum tipo de recurso, repetindo-se a mesma fonte para mais de um recurso.

Por meio da análise da entrevista com o empreendedor Vladimir foi possível

mapear os recursos fornecidos por sua rede social no momento em que decidiu

empreender. Os resultados demonstram o quanto sua rede de relacionamentos

participou como fornecedora de recursos quando tomou tal decisão.

A partir do gerador de nomes foi criada uma matriz com todos os membros da

rede do empreendedor, destacando-se os que forneceram algum tipo de recurso e

analisando-se em qual categoria de rede – privada, de trabalho, profissional, de

mercado ou internacional (Schott & Cheragui, 2012), cada alter se enquadrava.

Também se analisou a intensidade dos laços, segundo definição de laços fortes e

laços fracos (Granovetter, 1973) e a natureza do recurso disponibilizado.

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Houve ocorrência de 25 indicações de recursos recebidos da rede social do

entrevistado. Estas ocorrências foram provenientes de 7, do total de 43 membros da

rede social de Vladimir. Isto significa que 7 pessoas forneceram algum tipo de

recurso para a sua decisão de empreender formalmente (formalmente, porque que

ao longo da vida havia exercido diversas atividades empreendedoras informais).

Das 25 ocorrências de recursos fornecidos por 7 pessoas, constatou-se que

algumas participaram com mais de um tipo de apoio. Para preservar a privacidade

do entrevistado, os nomes dos alteri foram substituídos por siglas (de A1 a A43). Do

total de 43 relacionamentos mapeados, o quadro 4 apresenta somente os 7 alteri

que forneceram algum tipo de recurso no momento em que Vladimir decidiu

empreender.

Quadro 4: Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços

Alter Categoria da rede à qual o alter pertence

Intensidade do laço

Recursos fornecidos4

1 2 3 4 5 6 7 8

A1 Rede Privada Laço forte x

A3 Rede Privada Laço forte x x x x x

A6 Rede Profissional Laço forte x x x x

A7 Rede de trabalho Laço fraco x x x

A11 Rede de Mercado Laço forte x x x x x x

A12 Rede Profissional Laço fraco x x x

A26 Rede Privada Laço forte x x x Fonte: Dados da pesquisa.

O quadro 4 demonstra que parte da rede social de Vladimir forneceu 6 dos 8

tipos de recursos listados na pesquisa. A ocorrência desses seis recursos recebidos

pelo empreendedor foi de 25 vezes, para um total de 7 alteri (fontes dos recursos).

Considerando-se as cinco categorias apresentadas por Schott e Cheragui

(2012) para as redes sociais dos empreendedores, pode-se observar que das 25

ocorrências, 16 foram oriundas de 4 alteri que não pertenciam à rede privada

(familiares, amigos e parentes). Estes 4 laços pertenciam, pois, às redes

4 Recursos fornecidos: (1) Informações sobre mercado; 2) Informações sobre o ramo da empresa; (3) Informações sobre como abrir a empresa; (4) Apoio para identificar o ponto; (5) Suporte financeiro; (6) Apoio para selecionar mão de obra; (7) Incentivo emocional para a criação da empresa; (8) Indicação dos primeiros clientes.

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profissionais, de trabalho ou de mercado. A rede privada do empreendedor

apresentou 9 ocorrências de recursos fornecidos.

Com relação à intensidade dos laços (fortes ou fracos) sustentada por

Granovertter (1973), 5 dos 7 membros da rede social do empreendedor Vladimir,

que forneceram algum tipo de recurso, eram laços fortes, e 2 eram fracos. Dos 4

alteri que forneceram a maior parte dos recursos (redes de trabalho, profissional e

de mercado), 2 eram laços fracos e 2 eram laços fortes. Estratificando-se

especificamente a ocorrência de recursos fornecidos pela intensidade dos laços,

constata-se que 20 ocorrências se deram pelos laços fortes e 6 pelos fracos.

Para os recursos “informações sobre mercado” e “informações sobre o ramo

da empresa”, foram fontes 6 membros da rede do entrevistado, sendo 2

caracterizados como rede privada (ou pessoal), 2 como rede profissional, 1 como

rede de trabalho e 1 como rede de mercado. Estes mesmos 6 alteri, se

caracterizados pela intensidade dos laços, são 2 laços fracos e 4 laços fortes.

Embora o empreendedor possuísse o conhecimento necessário para abertura

de empresas, este tipo de informação foi discutido entre Vladimir e 4 membros de

sua rede social, sendo 1 da rede privada, 1 da rede de trabalho, 1 da rede de

mercado e 1 da profissional. Deles, somente o alter que compunha a rede de

trabalho foi considerado pelo entrevistado como laço fraco (os demais foram

caracterizados como laços fortes).

Enquanto “apoio para selecionar mão de obra” foi um dos recursos apontados

por 1 membro da rede de mercado, sendo ele um laço forte, o “incentivo emocional

para a criação da empresa” teve como fonte 5 alteri (3 da rede privada, 1 da rede

profissional e 1 da rede de mercado). Todas as 5 fontes do apoio emocional se

caracterizaram como laços fortes.

Os resultados da pesquisa demonstram, portanto, que para o empreendedor

Vladimir a maior parte dos recursos recebidos de sua rede social foi oriunda das

redes privada, profissional, de trabalho e de mercado, como apresenta o quadro 5:

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Quadro 5 – Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes

RECURSOS FORNECIDOS

CATEGORIA DA REDE REDE

PRIVADA REDE

PROFISSIONAL REDE DE

TRABALHO REDE DE

MERCADO

1 Informações sobre mercado

2 2 1 1

2 Informações sobre o ramo específico da empresa

2 2 1 1

3 Informações sobre como abrir a empresa

1 1 1 1

4 Apoio para identificar o ponto para a empresa

- - - -

5 Suporte financeiro - - - -

6 Apoio para selecionar mão de obra

- - - 1

7 Incentivo emocional para empreender

3 2 - 1

8 Indicação dos primeiros clientes

1 - - 1

Fonte: Dados da pesquisa.

Pode-se observar no quadro 6 que as redes privada, profissional, de trabalho

e de mercado participaram em 16 das 25 ocorrências de recursos fornecidos quando

Vladimir decidiu empreender. Destes, 13 ocorrências foram recursos referentes a

informações de mercado e informações diretamente ligadas a questões do negócio.

Por outro lado, 03 ocorrências, ou seja, uma menor parte dos recursos fornecidos

pela rede do empreendedor, tiveram como fonte estas redes.

A análise do quadro 6 ainda apresenta como a rede privada (ou pessoal)

deste empreendedor participou no fornecimento de recursos. Esta categoria de rede

apresentada por Schott e Cheragui (2012) forneceu 09 das 25 ocorrências de

recursos recebidos por Vladimir. Destas 09 ocorrências, 03 foram apoio emocional,

02 informações sobre mercado, 02 informações sobre o ramo da empresa, 01

informações sobre como abrir a empresa e 01 participou na indicação dos primeiros

clientes (ressaltando-se que neste último o empreendedor comprou a carteira de

clientes).

Considerando a intensidade dos laços como fortes ou fracos, conforme

conceituado por Granovetter (1973), a rede do empreendedor Vladimir demonstra

que das 25 ocorrências de recursos recebidos de sua rede, 17 originaram-se de

laços fortes e 08 de laços fracos. Buscando sintetizar o exposto, o quadro 6

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relaciona os tipos de recursos fornecidos pela rede social do entrevistado,

distribuídos pela intensidade dos laços (laços fortes ou laços fracos).

Quadro 6 – Tipos de recursos fornecidos pela rede social do empreendedor,

distribuídos pela intensidade dos laços

RECURSOS FORNECIDOS PELA REDE DO EMPREENDEDOR

INTENSIDADE DOS LAÇOS

LAÇOS FORTES

LAÇOS FRACOS

1 Informações sobre mercado 3 3

2 Informações sobre o ramo específico da empresa 3 3

3 Informações sobre como abrir a empresa 3 1

4 Apoio para identificar o ponto para a empresa - -

5 Suporte financeiro - -

6 Apoio para selecionar mão de obra 1

7 Incentivo emocional para empreender 5 1

8 Indicação dos primeiros clientes 2 - Fonte: Dados da pesquisa.

O Quadro 6 demonstra que a maior parte dos recursos recebidos por Vladimir

foi oriunda de laços fortes.

Considerando o recurso “incentivo para a criação da empresa”, a análise para

este empreendedor confirma a defesa de Granovetter (1973; 1985), que afirma que

o apoio emocional é fornecido, em maior parte, por laços fortes. Por outro lado, os

resultados para este entrevistado isoladamente contradizem a afirmação de Vale e

Guimarães (2010), que sustentam que os laços fracos (mais do que os fortes) são

os mais utilizados para a abertura de negócios.

Contudo, vale ressaltar que o entrevistado considerou que, dos

relacionamentos mapeados em sua rede social, apenas 7 pessoas forneceram

algum tipo de recurso no momento em que decidiu empreender formalmente.

Os relacionamentos mapeados por Vladimir como ativos na época em que

empreendeu foram 43, sendo 13 mulheres e 30 homens. A tendência à homofilia

(Wellman, 1999), se isolado o atributo de gênero, é confirmada para este

empreendedor. Analisando a totalidade da rede social do empreendedor, 31 eram

laços fortes e 12 laços fracos.

Estratificando-se homens e mulheres do total de 43 relacionamentos

mapeados, foram identificadas 13 mulheres, sendo que 12 foram caracterizadas

como laços fortes e 01 como laço fraco, segundo definição de Granovetter (1973).

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Constatou-se que os 30 homens da rede de Vladimir se dividiram em 19 laços

fortes e 11 laços fracos. A maioria dos laços fortes pertence à rede privada (neste

caso formada por pai, mãe, irmãos, parentes e amigos) e de colegas do curso que o

empreendedor fazia na época (Gnose). Os 11 laços fracos se concentraram

majoritariamente na rede de trabalho (colegas de trabalho) e parte da rede privada

(parentes distantes).

Entretanto, para efeito da análise da rede social do empreendedor, este

estudo continuará se concentrando nos laços que forneceram algum tipo de recurso

quando o mesmo decidiu empreender.

Nesse sentido, foi criada uma matriz com os 07 membros da rede social do

ego (empreendedor) que foram fontes de recursos, mapeando-se o atributo (gênero)

dos alteri, a categoria da rede à qual pertenciam e a intensidade do laço, como

apresenta o quadro 7.

Quadro 7 – Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e

intensidade dos laços

ALTER GÊNERO DO

ALTER CATEGORIA DA REDE À QUAL

O ALTER PERTENCE INTENSIDADE

DO LAÇO

A1 Masculino Rede Privada Laço forte

A3 Masculino Rede Privada Laço forte

A6 Masculino Rede Profissional Laço forte

A7 Masculino Rede de trabalho Laço fraco

A11 Masculino Rede de Mercado Laço forte

A12 Masculino Rede Profissional Laço fraco

A26 Masculino Rede Privada Laço forte

Fonte: Dados da pesquisa.

Como demonstra o quadro 7, todos os fornecedores de algum tipo de recurso

para o empreendedor eram homens, sendo: (i) 03 da rede privada e laços fortes; (ii)

02 da rede profissional, sendo 01 laço forte e 01 laço fraco; (iii) 01 da rede de

trabalho – laço fraco; e (iv) 01 da rede de mercado, laço forte. Vale ressaltar que a

rede privada foi composta por 2 familiares e 1 amigo do empreendedor.

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A análise da rede social de Vladimir se deu, também, através dos indicadores

gerados pelo software Egonet. Tais indicadores demonstram, conforme apresentado

no quadro 8, a síntese da composição da rede social em percentuais.

Quadro 8 – Composição da rede social do empreendedor em percentuais

GÊNERO DOS ALTERI NA REDE

FORMAÇÃO DA REDE SOCIAL DO EMPREENDEDOR POR CATEGORIA

PARTICIPAÇÃO DAS REDES (POR

CATEGORIA) NO FORNECIMENTO DE

RECURSOS

INTENSIDADE DOS LAÇOS

NA REDE

Masculino: 100%

Feminino: 0%

Rede Privada: 43% Rede Privada: 36% Laço forte: 71%

Laço Fraco: 29%

Rede Profissional: 29%

Rede Profissional: 28%

Rede de trabalho: 14% Rede de trabalho: 12%

Rede de Mercado: 14%

Rede de Mercado: 24%

Fonte: Dados da pesquisa.

A totalidade dos alteri fontes de algum tipo de recurso quando Vladimir

decidiu empreender era do gênero masculino. Considerando-se somente o atributo

gênero para a rede fornecedora de recursos, novamente é confirmada a sustentação

teórica de Wellman (1999), que afirma que os indivíduos tendem à homofilia, sendo

suas redes formadas por pessoas com atributos similares.

Quanto à categoria das redes do empreendedor, conforme conceituado por

Schott e Cheragui (2012), dos membros fonte de algum tipo de apoio, 43%

pertenciam à rede privada, 29% à rede profissional e às redes de trabalho e de

mercado (14% dos alteri em cada).

Analisando-se as 25 ocorrências de recursos fornecidos pela rede social do

empreendedor, o quadro 8 apresenta que a maior parte deles teve como fonte a

rede privada (36%). A rede profissional aparece em segundo lugar, fornecendo 28%,

seguida da rede de mercado com 24% e da rede de trabalho com 12% dos recursos

recebidos pelo entrevistado.

Pode-se observar o agrupamento das redes privada (A3, A1 e A26) e

profissional (A6 e A12) do empreendedor Vladimir. Em sua maioria, os membros

desses grupos se relacionavam entre si, o que não acontecia com os alteri A11

(rede de mercado) e A7 (rede de trabalho), que não faziam parte do agrupamento

citado. A existência de ligação entre os alteri está representada no gráfico 1 por

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linhas. As figuras não estão ligadas pelas referidas linhas, significando a inexistência

de relacionamentos entres esses laços.

Como demonstrado, a ARS possibilita, também, a análise da necessidade da

presença do ego para os relacionamentos inter-alteri. Neste sentido, buscou-se

elaborar uma matriz binária, onde 0 significa que não havia relacionamento e 1

significa que havia relacionamento entre os alteri, segundo percepção do ego, como

demonstrado no quadro 9.

Quadro 9 – Mapeamento de relacionamentos inter-alteri

ALTER RELACIONAMENTOS INTER-ALTERI

A1 A3 A6 A7 A11 A12 A26

A1 - 0 1 0 0 1 1

A3 - 0 0 0 0 1

A6 - 0 0 0 0

A7 - 0 0 0

A11 - 0 0

A12 - 1

A26 -

Fonte: Dados da pesquisa.

Considerando que 1 significa a existência e 0 a inexistência de

relacionamento entre os alteri, os dados demonstram que 2 membros da rede social

do empreendedor – A7 (rede de trabalho, laço fraco) e A11 (rede de mercado, laço

forte) – não se relacionavam com os demais, sem a presença de Vladimir. Os alteri

A26 (rede privada, laço forte), A12 (rede profissional, laço fraco) e A1 (rede privada,

laço forte) formam uma tríade, como demonstrado no gráfico 1.

Na rede social de Vladimir, A26 também funciona como ponte entre A3 (rede

privada, laço forte) e A1, e entre A3 e A12. No mesmo sentido, A1 é ponte entre A6

(rede profissional, laço forte) e A12, e entre A6 e A26.

A análise da rede social prescinde, também, a análise dos atributos dos

membros que a compõem, além da intensidade dos laços e da existência ou não de

relacionamento entre os alteri. O gráfico 1 apresenta a visualização da rede social

de Vladimir.

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Gráfico 1 – Rede social do empreendedor, formada pelos alteri que forneceram

algum tipo de recurso

Fonte: Elaborado pela autora.

A rede de Vladimir é demonstrada no Gráfico 1, que apresenta a

configuração, segundo gênero, atributos, intensidade dos laços e existência (ou não)

de relacionamento entre os laços do ego.

Pode-se verificar que a rede do empreendedor, na época em que decidiu

empreender, era composta pelo agrupamento dos seus membros em redes privada

(representada por círculos), profissional (representada por quadrados), de trabalho

(representada por estrela) e de mercado (representada por triângulo). Quanto aos

atributos, Schott e Cheraghi (2012) analisam as redes de empreendedores a partir

do agrupamento de suas relações (atributos). Considerando-se a sustentação

teórica de Schott e Cheraghi (2012) e analisando-se a rede formada somente pelos

alteri que forneceram algum tipo de recurso, a rede social do empreendedor Vladimir

se configura como segue:

a) Rede privada (ou pessoal): 03 membros, sendo todos laços fortes;

b) Rede de trabalho: 01 membro, laço fraco;

c) Rede profissional: 02 membros, sendo 01 laço forte e um laço fraco;

d) Rede de mercado: 01 membro, laço forte.

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A maioria dos membros da rede social do empreendedor caracterizou-se

como laços fortes (figuras preenchidas em preto). Segundo Granovetter (1973),

laços fortes são aqueles cuja intensidade do contato (pessoal ou não) é alta.

Vladimir apresenta, em sua rede fornecedora de recursos, 5 laços fortes e 2 laços

fracos. Os laços fortes foram compostos pelos 03 membros da rede privada, pelo

membro da rede de mercado e por 1 membro da rede profissional. O membro da

rede de trabalho e 1 da rede profissional foram caracterizados pele ego com laços

fracos (figuras sem preenchimento, somente contornadas).

6.1.2 A rede social do empreendedor Anderson de Souza Martins (caso 2)

A avaliação sobre os recursos fornecidos pela rede social do proprietário da

empresa Bacana Bolsas foi considerada positiva e importante por Anderson,

levando-se em consideração questões que abordavam os seguintes aspectos:

informações sobre o mercado; informações específicas sobre o ramo da empresa;

suporte financeiro; apoio para selecionar mão de obra; incentivo para a criação da

empresa (apoio emocional); e outros recursos fornecidos pela rede.

Parte da rede social do empreendedor foi fonte de recursos para a criação da

sua empresa. Do total de 46 membros da rede listados por Anderson no gerador de

nomes, 17 forneceram algum tipo de apoio.

Partindo da construção teórica de Schott e Cheraghi (2012), que apresentam

as redes dos empreendedores categorizadas em cinco agrupamentos (rede privada

ou pessoal, rede de trabalho, rede profissional, rede de mercado e rede

internacional), e atribuindo a cada membro a descrição de Granovetter (1973) para a

intensidade dos laços, serão apresentados a seguir os recursos fornecidos ao

empreendedor por sua rede social.

Foram identificadas 47 ocorrências de recursos oriundos da rede social deste

ego. Esses recursos tiveram como fontes as redes privada, de trabalho e

profissional, sendo 17 os alteri fornecedores. Também para este empreendedor mais

de um recurso foi fornecido por uma mesma pessoa, fato que se repetiu para 10 dos

17 membros fornecedores de recursos.

Assim como para o caso anterior, os nomes dos 46 membros da rede social

de Anderson foram substituídos pelas siglas sequenciais de B1 a B46, com o

objetivo de preservar a privacidade do entrevistado e das pessoas citadas.

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A análise dos 17 alteri que formaram a rede fornecedora de recursos ao

empreendedor está apresentada a partir do quadro 10.

Quadro 10: Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços

Alter Categoria da rede à qual o alter pertence

Intensidade do laço

Recursos fornecidos5

1 2 3 4 5 6 7 8 9

B1 Rede Privada Laço forte x x x x X x x x

B2 Rede de Trabalho Laço fraco x

B3 Rede Privada Laço forte x X x

B4 Rede de Trabalho Laço fraco x x x x

B5 Rede de Trabalho Laço forte x x x x X

B6 Rede de Trabalho Laço fraco x x x x x

B8 Rede Privada Laço forte x

B9 Rede Privada Laço forte x

B10 Rede Privada Laço forte x

B11 Rede Privada Laço forte x

B13 Rede de Trabalho Laço fraco x x

B17 Rede Privada Laço forte x x x x x x

B18 Rede de Trabalho Laço fraco x

B23 Rede Profissional Laço forte x x

B24 Rede Profissional Laço forte x x

B43 Rede Privada Laço forte x

B46 Rede de Trabalho Laço forte x X x

Fonte: Dados da pesquisa.

5 Recursos fornecidos: (1) Informações sobre mercado; (2) Informações sobre o ramo da empresa; (3)

Informações sobre como abrir a empresa; (4) Apoio para identificar o ponto; (5) Suporte financeiro; (6) Apoio para selecionar mão de obra; (7) Incentivo emocional para a criação da empresa; (8) Indicação dos primeiros clientes; e (9) Outros (alerta sobre os riscos de empreender).

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Pode-se observar através do quadro 10 que a rede social de Anderson

forneceu os 8 recursos listados, além de alerta sobre os riscos de empreender

(outros).

Constata-se que houve 47 ocorrências de recursos fornecidas por 17 alteri.

Se estratificadas por categoria das redes, conforme proposto por Schott e Cheragui

(2012), apresentam-se como sendo 23 oriundas da rede privada (ou pessoal), 20 da

rede de trabalho e 04 da rede profissional. Observa-se, portanto, que as fontes de

recursos fornecidos para o empreendedor Anderson se concentraram nas redes

privadas e de trabalho, com 43 das 47 ocorrências de recursos.

Analisando-se a intensidade dos laços conforme sustentado por Granovertter

(1973), 34 das 47 ocorrências de recursos recebidos pelo empreendedor foram

oriundas de laços fortes e 13 de laços fracos. Quanto à característica dos alteri

fornecedores de recursos, segundo a intensidade dos laços constata-se que 12 são

laços fortes e 05 são fracos.

Para o recurso “informações sobre mercado” foram fontes 6 membros da rede

de Anderson, sendo que 03 deles também forneceram “informações sobre o ramo

da empresa”. Os alteri fornecedores desses recursos caracterizaram-se como

membros da rede de trabalho (04 alteri, sendo 2 laços fracos e 2 fortes) e da rede

privada (2 alteri, sendo ambos laços fortes).

“Informações sobre como abrir a empresa” foram fornecidas por 8 pessoas,

sendo que duas delas também forneceram “apoio para identificar o ponto”. Destes

alteri, 5 pertenciam à rede de trabalho (3 laços fracos e 2 fortes) e 3 à rede privada

(todos laços fortes).

O recurso “suporte financeiro” teve como fonte dois membros da rede privada,

sendo ambos laços fortes.

Ainda analisando as fontes dos recursos recebidos por Anderson quando

decidiu empreender, 5 membros de sua rede forneceram “informações para

selecionar mão de obra”, sendo eles 03 da rede de trabalho (2 laços fracos e 1 laço

forte) e 2 da rede privada (ambos laços fortes). Três destes mesmos alteri (2 da rede

de trabalho – laços fracos; 1 da rede privada – laço forte) também forneceram o

recurso “indicação dos primeiros clientes”.

Com relação ao apoio emocional (incentivo para criação da empresa) para o

empreendedor, 15 alteri se destacaram, sendo eles 9 componentes da rede privada

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(todos laços fortes), 4 da rede de trabalho (3 laços fracos e 1 forte) e 2 da rede

profissional (ambos laços fortes).

O empreendedor citou, ainda, outro recurso que membros de sua rede o

forneceram, que foram os alertas sobre os riscos de empreender. Para Anderson,

“estas informações foram úteis para compor o planejamento do negócio”. Os alteri

fornecedores desse recurso foram 2 membros da rede profissional (laços fortes) e 1

da rede de trabalho (laço fraco).

Os resultados demonstram que a maior parte dos recursos recebidos por

Anderson quando decidiu empreender teve como fonte as redes privada e de

trabalho, como apresenta o quadro 11.

Quadro 11 – Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes

RECURSOS FORNECIDOS

CATEGORIA DA REDE

REDE PRIVADA REDE DE

TRABALHO REDE

PROFISSIONAL

1 Informações sobre mercado

2 4 -

2 Informações sobre o ramo específico da empresa

2 1 -

3 Informações sobre como abrir a empresa

3 5 -

4 Apoio para identificar o ponto para a empresa

2 - -

5 Suporte financeiro 2 - -

6 Apoio para selecionar mão de obra

2 3 -

7 Incentivo emocional para empreender

8 5 2

8 Indicação dos primeiros clientes

1 2 -

9 Outros 1 - 2 Fonte: Dados da pesquisa.

Constata-se, através do quadro 11, que 43 das 47 ocorrências de recursos

fornecidos pela rede social do empreendedor foram oriundas das redes privada e de

trabalho. Destas, 17 ocorrências se concentraram em informações sobre mercados

e como abrir a empresa, além de incentivo para empreender, com 15 ocorrências.

O quadro 11 apresenta, ainda, como a rede privada de Anderson participou

no fornecimento de recursos. O maior número de ocorrências de recursos fornecidos

por esta categoria de rede foi o “incentivo para a criação da empresa”, com 8 do total

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de 15. Para os demais recursos listados, a rede privada também foi fonte. Contudo,

a rede de trabalho forneceu mais informações relacionadas ao negócio em si

(informações sobre o mercado, sobre o ramo, sobre como abrir a empresa, apoio

para selecionar mão de obra e indicação dos primeiros clientes), quando comparada

à rede privada.

Analisando-se os recursos fornecidos pela rede do empreendedor a partir da

intensidade dos laços (Granovetter, 1973), o quadro 12 apresenta a distribuição dos

mesmos, por laços fortes e laços fracos.

Quadro 12 – Tipos de recursos fornecidos pela rede social do empreendedor,

distribuídos pela intensidade dos laços

RECURSOS FORNECIDOS PELA REDE DO EMPREENDEDOR

INTENSIDADE DOS LAÇOS

LAÇOS FORTES

LAÇOS FRACOS

1 Informações sobre mercado 4 2

2 Informações sobre o ramo específico da empresa 3 -

3 Informações sobre como abrir a empresa 5 3

4 Apoio para identificar o ponto para a empresa 2 -

5 Suporte financeiro 2 -

6 Apoio para selecionar mão de obra 3 2

7 Incentivo emocional para empreender 12 3

8 Indicação dos primeiros clientes 1 2

9 Outros 1 2 Fonte: Dados da pesquisa.

O quadro 12 demonstra que a maior parte dos recursos recebidos por

Anderson de sua rede social foi proveniente dos laços fortes. Observa-se que 47,33

ocorrências de recursos tiveram como fonte os laços fortes e 14 os laços fracos.

Estes recursos concentraram-se no incentivo emocional para empreender, com 12

ocorrências. Em seguida, destacam-se para os laços fortes as informações sobre o

negócio (recursos 1, 2 e 3). Os laços fracos apresentaram maior ocorrência, quando

comparados aos laços fortes, para a indicação dos primeiros clientes e alerta ao

empreendedor sobre os riscos inerentes ao processo de se criar uma empresa.

Para este empreendedor também se confirma a sustentação teórica de

Granovetter (1973; 1985), que afirma que o apoio emocional para os

empreendedores tem como fonte mais os laços fortes do que os fracos. Excluindo-

se esse recurso (incentivo emocional), os laços fortes continuam sendo a maior

fonte de recursos fornecidos ao empreendedor Anderson quando da criação de sua

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empresa, assim como aconteceu para o entrevistado anterior. Este resultado

contradiz os resultados de outros estudos, por exemplo, aquele apresentado por

Vale e Guimarães (2010).

Moore (1990) e Vale (2011) demonstraram em seus estudos que há

diferenças nas redes pessoais de homens e mulheres. Ambos os autores afirmam

que as redes masculinas são focadas, na maioria, em colegas de trabalho, enquanto

as femininas mantêm familiares como a maior parte dos membros.

O empreendedor Anderson listou 46 pessoas como sendo de sua rede de

relacionamentos na época em que decidiu empreender. Destas, 34 eram do gênero

masculino e 22 do gênero feminino. Assim como para o entrevistado anterior, para

este empreendedor também se confirmou a tendência à homofilia (Wellman, 1999),

se observado somente o atributo de gênero.

Quanto à intensidade dos laços como fortes ou fracos (Granovetter, 1973), a

totalidade dos relacionamentos mapeados (46) foram caracterizados como laços

fortes (26 alteri) e 20 como fracos. Dos 26 laços fortes, 15 eram homens e 11

mulheres. Dos laços fracos, 13 eram homens e 07 eram mulheres.

Analisando-se a intensidade dos laços (Granovetter, 1973) e os

correlacionando aos agrupamentos dos relacionamentos (Schott & Cheragui, 2012),

os laços fortes se concentraram nas redes privada e de trabalho, enquanto a maioria

dos laços fracos se concentrou na rede profissional.

Retornando à estratificação da rede social do empreendedor que forneceu a

ele algum tipo de recurso, foi criada uma matriz que favoreceu a visualização dos

alteri por atributo de gênero, categoria da rede e intensidade do laço. O quadro 13

apresenta estas informações.

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Quadro13 – Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e

intensidade dos laços

ALTER GÊNERO DO

ALTER CATEGORIA DA REDE À QUAL

O ALTER PERTENCE INTENSIDADE

DO LAÇO

B1 Feminino Rede Privada Laço forte

B2 Masculino Rede de Trabalho Laço fraco

B3 Masculino Rede Privada Laço forte

B4 Masculino Rede de Trabalho Laço fraco

B5 Masculino Rede de Trabalho Laço forte

B6 Masculino Rede de Trabalho Laço fraco

B8 Feminino Rede Privada Laço forte

B9 Masculino Rede Privada Laço forte

B10 Feminino Rede Privada Laço forte

B11 Feminino Rede Privada Laço forte

B13 Masculino Rede de Trabalho Laço fraco

B17 Masculino Rede Privada Laço forte

B18 Masculino Rede de Trabalho Laço fraco

B23 Feminino Rede Profissional Laço forte

B24 Feminino Rede Profissional Laço forte

B43 Feminino Rede Privada Laço forte

B46 Feminino Rede de Trabalho Laço forte Fonte: Dados da pesquisa.

Como demonstrado no quadro 13, a rede social do empreendedor Anderson

foi composta por (i) 8 membros da rede privada, sendo 5 mulheres e 2 homens,

todos laços fortes; (ii) 7 da rede de trabalho, sendo 6 homens e 1 mulher, 2 laços

fortes e 5 laços fracos; e (iii) 2 membros da rede profissional, sendo 2 mulheres e

ambas laços fortes.

A fim de sintetizar a composição da rede do empreendedor em informações

quantitativas, foi elaborado um quadro síntese, apresentado a seguir.

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Quadro 14 – Composição da rede social do empreendedor em percentuais

GÊNERO DOS ALTERI NA REDE

FORMAÇÃO DA REDE SOCIAL DO EMPREENDEDOR POR CATEGORIA

PARTICIPAÇÃO DAS REDES (POR

CATEGORIA) NO FORNECIMENTO DE

RECURSOS

INTENSIDADE DOS LAÇOS NA

REDE

Masculino: 53%

Feminino: 47%

Rede Privada: 47% Rede Privada: 49% Laços fortes: 70%

Laços Fracos: 30%

Rede Profissional: 12%

Rede Profissional: 8%

Rede de trabalho: 41% Rede de trabalho: 43%

Fonte: Dados da pesquisa.

O quadro 14 demonstra que 53% dos membros da rede do empreendedor

eram do sexo masculino, e 47% do sexo feminino. Quanto à categoria das redes por

agrupamento dos relacionamentos (Schott & Cheragui, 2012), 47% dos membros

pertenciam à rede privada, 41% à rede de trabalho e 12% à rede profissional.

Analisando-se a participação de cada categoria de rede no fornecimento de

recursos, verificou-se que 49% do apoio recebido pelo empreendedor quando criou

sua empresa teve como fonte a rede privada, 43% a rede de trabalho e 8% a rede

profissional. Quanto observada a intensidade dos laços presentes na rede, constata-

se que 70% eram laços fortes e 30% laços fracos.

A análise da necessidade da presença do ego para que os membros de sua

rede social se comunicassem foi realizada para os quatro empreendedores

pesquisados neste trabalho. Além da visualização da existência ou não de

relacionamentos inter-alteri sem a presença do ego ter sido apresentada através do

gráfico 2, essa análise pode ser realizada também através da matriz binária,

conforme apresentado pelo quadro 15. Esta matriz (QUADRO 15) demonstra

quando havia relacionamento com outro alter (número 1) e quando não havia

relacionamento entre os alteri sem a presença do ego (número 0).

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Quadro 15 – Mapeamento de relacionamentos inter-alteri

RELACIONAMENTOS INTER-ALTERI

ALTER B1 B2 B3 B4 B5 B6 B8 B9 B10 B11 B13 B17 B18 B23 B24 B43 B46

B1 - 0 1 1 0 0 0 1 1 1 0 1 0 0 0 1 0

B2 - 1 1 1 1 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 1

B3 - 1 1 1 0 1 1 1 1 0 1 0 0 0 1

B4 - 1 1 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 1

B5 - 1 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 1

B6 - 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 1

B8 - 1 1 1 0 1 0 0 0 0 0

B9 - 1 1 0 0 0 0 0 0 0

B10 - 1 0 0 0 0 0 0 0

B11 1 - 0 0 0 0 0 0 0

B13 - 0 1 0 0 0 1

B17 - 0 0 0 0 0

B18 - 0 0 0 1

B23 - 1 0 0

B24 - 0 0

B43 - 0

B46 -

Fonte: Dados da pesquisa.

O quadro 15 apresenta a existência ou não de conexões entre os alteri da

rede social de Anderson. O número 1 significa que os alteri se relacionavam sem a

presença do empreendedor e o número 0 significa a inexistência de relacionamento,

ou seja, era necessário que Anderson estivesse presente para que houvesse

contato entre aquelas pessoas.

Os dados demonstram que 2 alteri da rede do empreendedor Anderson – B23

e B24 (rede profissional, laços fortes) – se relacionavam entre si somente, não

mantendo contato com os demais membros da rede social.

Buscando favorecer a visualização gráfica da rede social do empreendedor,

também para este foi criado, a partir dos dados inseridos no software Egonet, o

gráfico 2. O referido gráfico é a representação visual da rede social de Anderson,

identificando-se as categorias das redes, a intensidade dos laços, o gênero dos alteri

e se havia ou não contato entre eles sem a presença do empreendedor.

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Gráfico 2 – Rede social do empreendedor, formada pelos alteri que forneceram

algum tipo de recurso

Fonte: Elaborado pela autora.

Pode-se observar que os membros da rede do empreendedor que lhe

forneceram algum tipo de apoio para empreender se caracterizavam

majoritariamente como rede privada (representada por círculos) e rede de trabalho

(representada por estrelas), sendo a minoria caracterizada como rede profissional

(quadrados). As figuras que possuem círculos no centro representam os alteri do

gênero feminino.

Como já discutido anteriormente, de acordo com os cinco tipos de

agrupamentos propostos por Schott e Cheraghi (2012), a rede social de Anderson

apresentou três deles, como demonstra o gráfico 2. Em números absolutos, as redes

mapeadas apresentaram-se como segue:

i) Rede privada (ou pessoal): composta por 8 membros, todos laços fortes;

ii) Rede de trabalho: composta por 7 membros, sendo 2 laços fortes e 5

fracos;

iii) Rede profissional: composta por 2 membros, ambos laços fortes.

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Quanto ao gênero, os alteri do sexo feminino (representados pelas figuras

com círculo ao centro) estão presentes nos três agrupamentos (redes privada, de

trabalho e profissional), mesmo que em diferentes proporções. Entretanto, são

minoria quando comparados ao gênero masculino (figuras sem a marcação dos

círculos ao centro). Verifica-se que as mulheres da rede deste empreendedor estão

mais concentradas nas redes privada e profissional. É possível, ainda, observar que

a rede de trabalho é formada basicamente pelo sexo masculino.

Considerando-se a intensidade dos laços (Granovetter, 1973), as figuras com

o interior preenchido de preto são a representação dos laços fortes. As figuras sem

preenchimento representam os laços fracos. O gráfico 2 demonstra que a maioria

dos membros da rede social se caracterizou como laços fortes (12 alteri),

concentrados na rede privada, e a minoria como laços fracos (5 alteri), concentrados

na rede de trabalho.

Pode-se observar através do gráfico 2 que os três agrupamentos presentes

na rede social de Anderson possuem características distintas, tanto quanto à

categoria das redes, como quanto à intensidade dos laços. O primeiro agrupamento

é formado pelos alteri da rede profissional (B23 e B24, ambos laços fortes). As duas

pessoas da rede profissional interagem entre si, podendo ser observado pela

existência da linha de ligação. Entretanto, não há comunicação desta categoria (rede

profissional) com os demais membros da rede social do empreendedor.

O segundo agrupamento é composto pelos 7 alteri da rede de trabalho (B2,

B4, B5, B6, B13, B18, B46), sendo a maior parte deles laços fracos. Os membros

desta categoria de rede (de trabalho) se comunicam entre si e possuem uma ponte

para a rede privada – B3. O alter B3 era, ao mesmo tempo, amigo (rede privada,

laço forte) e colega de trabalho de Anderson, o que o possibilitava fazer esta ligação

entre as duas categorias de redes.

O terceiro agrupamento na rede social do empreendedor é formado por sua

rede privada, com 8 membros (B1, B, B8, B9, B10, B11, B17 E B43), sendo todos

laços fortes. Esta rede é formada, na maioria, por familiares próximos (família

nuclear) e amigos, sendo que B1 (cônjuge) mantém a centralidade neste

agrupamento, servindo de ponte entre B43 e o restante da rede privada e entre B17

e B3, B10, B9 e B11.

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6.1.3 A rede social da empreendedora Ágatha Lefosse Junqueira (caso 3)

A avaliação dos fatores relativos à rede social como fonte de recursos para

Ágatha foi diversificada, levando-se em consideração questões que abordaram os

seguintes aspectos: informações sobre o mercado; informações específicas sobre o

ramo da empresa; suporte financeiro; apoio para selecionar mão de obra; e incentivo

para a criação da empresa (apoio emocional).

Segundo Runyan, Huddleston e Swinney (2006), as mulheres possuem

alguns dos mesmos recursos que os homens para a criação de um negócio.

Manolova (2007) afirma que as redes pessoais do empreendedor fornecem apoio

emocional para a iniciativa empreendedora.

A rede social da empreendedora Ágatha era formada por 36 pessoas e parte

dela forneceu alguns recursos no momento da criação da sua empresa. Mas, para

esta empreendedora, a sua decisão foi mais individual do que influenciada por

outros. Contudo, do total de 36 membros que formavam sua rede social, 11

forneceram algum tipo de apoio.

Considerando o agrupamento dos relacionamentos proposto por Schott e

Cheraghi (2012) – rede privada ou pessoal, rede de trabalho, rede profissional, rede

de mercado e rede internacional – e partindo dos alteri mapeados no gerador de

nomes, analisaram-se os recursos fornecidos pela rede social da entrevistada.

Foi elaborada uma matriz com os 36 nomes citados pela empreendedora e

estratificados os 11 que geraram algum tipo de recurso, indicando-se a qual

categoria de rede cada alter pertencia. Assim como a categoria da rede, foi

analisada também a intensidade dos laços como fortes ou fracos (Granovetter,

1973).

Os resultados demonstram que houve 17 ocorrências de recursos fornecidos

por 11 membros da rede social de Ágatha. Para esta empreendedora, 5 alteri

forneceram mais de um recurso e 6 somente um. Para preservar a privacidade da

entrevistada, os nomes dos alteri foram substituídos por siglas sequenciais de C1 a

C36. Os membros da rede que forneceram algum tipo de apoio são C1, C2, C4, C5,

C6, C7, C8, C11, C31 e C34.

O quadro 16 apresenta os recursos fornecidos a Ágatha quando a

empreendedora decidiu criar sua empresa, assim como as fontes desses recursos.

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Quadro 16: Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços

Alter Categoria da rede à qual o alter pertence

Intensidade do laço

Recursos fornecidos6

1 2 3 4 5 6 7 8 9

C1 Rede Privada Laço forte x x C2 Rede Privada Laço forte x

C4 Rede de Mercado Laço fraco x

C5 Rede de Mercado Laço fraco x x C6 Rede Privada Laço forte x x x C7 Rede Privada Laço forte x

C8 Rede de Trabalho Laço fraco x C9 Rede de Trabalho Laço fraco x C11 Rede de Trabalho Laço fraco x

C31 Rede Privada Laço forte x x

C34 Rede de Mercado Laço forte x x Fonte: Dados da pesquisa.

O quadro demonstra que dos 8 recursos listados na pesquisa a rede social da

empreendedora forneceu 6 (informações sobre mercado; informações sobre o ramo

da empresa; informações sobre como abrir a empresa; suporte financeiro; apoio

para selecionar mão de obra; e incentivo emocional para a criação da empresa) e

outros recursos que não estavam listados (equipamentos para a empresa e incentivo

contrário que, segundo Ágatha, lhe serviu de estímulo). Os dois recursos que não

foram indicados por Ágatha como fornecidos pelos seus relacionamentos da época

em que empreendeu foram apoio para identificar o ponto (lembrando que este

recurso foi recebido somente para a segunda loja) e indicação dos primeiros

clientes.

Analisando-se, pois, a ocorrência de 16 recursos fornecidos pele rede social

da entrevistada a partir das cinco categorias apresentadas por Schott e Cheragui

(2012), observam-se que 9 foram oriundos da rede privada, 5 da rede de mercado e

3 da rede de trabalho.

Considerando-se a intensidade dos laços, dos 11 membros fornecedores de

recursos, 6 eram laços fortes e 5 laços fracos, segundo o conceito de Granovetter

6 Recursos fornecidos: (1) Informações sobre mercado; (2) Informações sobre o ramo da empresa; (3) Informações sobre como abrir a empresa; (4) Apoio para identificar o ponto; (5) Suporte financeiro; (6) Apoio para selecionar mão de obra; (7) Incentivo emocional para a criação da empresa; (8) Indicação dos primeiros clientes; e (9) Outros (equipamentos para a empresa e incentivo contrário, que lhe serviu de estímulo).

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(1973). A concentração dos recursos se deu nos laços fortes (11 ocorrências),

ficando 6 ocorrências de recursos nos laços fracos.

Uma mesma pessoa foi fonte de “informações sobre mercado” e “informações

sobre o ramo da empresa”, sendo ela parte da rede de mercado e laço forte.

Informações sobre como abrir uma empresa foram acessadas pela empreendedora

junto a um membro de sua rede privada, caracterizado como laço forte.

Quanto a suporte financeiro, o quadro 16 demonstra que 2 alteri membros da

rede de mercado (laços fracos) e 1 da rede privada (laço forte) foram fonte para a

empreendedora. Ágatha considera que o fornecimento de mercadorias em formato

de consignação e a redução do preço para aquisição de equipamentos junto aos

dois fornecedores (C4 e C5) foram “um importante suporte financeiro”. Além do

suporte financeiro através de desconto para fornecimento dos primeiros

equipamentos para a montagem da loja, C5 também forneceu apoio para selecionar

mão de obra. A empreendedora reforça que o suporte financeiro para a criação da

empresa também teve como fonte um familiar próximo (C6, rede privada, laço forte).

Enquanto 7 membros da rede privada (C1, C2, C6, C7, C8, C9 e C31, laços

fortes) da empreendedora forneceram incentivo emocional para a criação da

empresa, 1 membro da rede de trabalho (C11, laço fraco) foi contrário à iniciativa de

Ágatha. Entretanto, a mesma afirma que tal fato foi, para ela, também um fator

impulsionador à decisão de empreender.

Os resultados da pesquisa demonstram que a maioria dos recursos

fornecidos pela rede social de Agatha teve como fontes as redes privada, de

mercado e de trabalho, como apresenta o quadro 17:

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110

Quadro 17 – Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes

RECURSOS FORNECIDOS

CATEGORIA DA REDE

REDE PRIVADA REDE DE

MERCADO REDE DE

TRABALHO

1 Informações sobre mercado

- 1 -

2 Informações sobre o ramo específico da empresa

- 1 -

3 Informações sobre como abrir a empresa

1 - -

4 Apoio para identificar o ponto para a empresa

- - -

5 Suporte financeiro 1 2 -

6 Apoio para selecionar mão de obra

- 1 -

7 Incentivo emocional para empreender

5 - 3

8 Indicação dos primeiros clientes

- - -

9 Outros 2 - - Fonte: Dados da pesquisa.

Considerando-se a categorização das redes proposta por Schott e Cheragui

(2012), o quadro 17 demonstra que 99 das 17 ocorrências de recursos foram

fornecidos pela rede privada, 5 pela profissional e 3 pela rede de trabalho. Constata-

se, portanto, que a rede privada da entrevistada foi a principal fonte dos recursos por

ela recebidos quando decidiu empreender. Em segundo lugar encontra-se a rede de

mercado, com 5 ocorrências de recursos, seguida pela rede de trabalho, com 3.

Quanto à intensidade dos laços conceituada por Granovetter (1973), a rede

social da empreendedora apresenta a maior concentração de laços fortes, como

demonstrado no quadro 18:

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111

Quadro 18 – Tipos de recursos fornecidos pela rede social da empreendedora,

distribuídos pela intensidade dos laços

RECURSOS FORNECIDOS PELA REDE DO EMPREENDEDOR

INTENSIDADE DOS LAÇOS

LAÇOS FORTES

LAÇOS FRACOS

1 Informações sobre mercado 1 -

2 Informações sobre o ramo específico da empresa 1 -

3 Informações sobre como abrir a empresa 1 -

4 Apoio para identificar o ponto para a empresa - -

5 Suporte financeiro 1 2

6 Apoio para selecionar mão de obra - 1

7 Incentivo emocional para empreender 5 2

8 Indicação dos primeiros clientes - -

9 Outros 2 1 Fonte: Dados da pesquisa.

Os laços fortes forneceram 11 das 17 ocorrências de recursos e os fracos os

6 restantes, como apresentado pelo quadro 18.

Granovetter (1973; 1985) afirma que são os laços fortes os que mais

fornecem apoio emocional ao empreendedor. Esta sustentação se confirmou

também para Ágatha, que teve como fontes para este recurso 5 laços fortes.

Analisando-se a rede social da empreendedora por gênero, dos 36

relacionamentos listados por Ágatha na época em que decidiu empreender, 24 eram

mulheres e 12 homens. Confirma-se, portanto, também para esta entrevistada, a

tendência à homofilia sustentada por Wellman (1999), se isolado o atributo de

gênero. Estratificando-se as 24 mulheres da sua rede de relacionamentos, 16 foram

caracterizadas como laços fortes e as demais como laços fracos. Dos 12

relacionamentos masculinos, 5 eram laços fortes e 7 laços fracos (Granovetter,

1973).

Isolando-se os 11 alteri fornecedores de recursos essa tendência se mantém,

visto que 6 eram do gênero feminino e 5 do gênero masculino. A rede social dos

empreendedores pesquisados neste trabalho foi estudada também segundo a força

dos laços descrida por Granovetter (1973). Considerando-se a intensidade dos laços

para os gêneros da rede, enquanto 4 das 6 mulheres eram laços fortes, 3 dos 5

homens eram laços fracos, como demonstrado no quadro 19.

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112

Quadro 19 – Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e

intensidade dos laços

Alter GÊNERO DO

ALTER Categoria da rede à qual o

alter pertence Intensidade do

laço

A1 Feminino Rede Privada Laço forte

A2 Masculino Rede Privada Laço forte

A4 Masculino Rede de Mercado Laço fraco

A5 Masculino Rede de Mercado Laço fraco

A6 Masculino Rede Privada Laço forte

A7 Feminino Rede Privada Laço forte

A8 Masculino Rede de Trabalho Laço fraco

A9 Feminino Rede de Trabalho Laço fraco

A11 Feminino Rede de Trabalho Laço fraco

A31 Feminino Rede Privada Laço forte

A34 Feminino Rede de Mercado Laço forte Fonte: Dados da pesquisa.

O exposto pelo quadro 19 mostra que, quanto ao agrupamento dos

relacionamentos fornecedores de recursos, conforme Schott e Cheraghi (2012), e

analisados como laços fortes, a maior parte compunha a rede privada, com 5 dos 6

alteri. Os 05 laços fracos se dividiram entre a rede de trabalho (03 alteri) e a rede de

mercado (02 alteri).

O quadro 19 demonstra, ainda, que os fornecedores de recursos, distribuídos

por gênero do alteri (6 do gênero feminino e 5, do masculino), assim se

caracterizavam: (i) 5 como rede privada e laços fortes; (ii) 3 como rede de trabalho e

laços fracos; (iii) 3 como rede de mercado, sendo 2 laços fracos e 1 laço forte.

A análise da rede social de Ágatha também foi realizada através dos

indicadores quantitativos gerados pelo software Egonet. O quadro 20 apresenta a

composição da rede em percentuais.

Quadro 20 – Composição da rede social da empreendedora em percentuais

GÊNERO DOS ALTERI NA REDE

FORMAÇÃO DA REDE SOCIAL DO EMPREENDEDOR POR CATEGORIA

PARTICIPAÇÃO DAS REDES (POR

CATEGORIA) NO FORNECIMENTO DE

RECURSOS

INTENSIDADE DOS LAÇOS NA

REDE

Masculino: 45%

Feminino: 55%

Rede Privada: 46% Rede Privada: 53% Laço forte: 55%

Laço Fraco: 45%

Rede de Trabalho: 27%

Rede de Trabalho: 18%

Rede de Mercado: 27%

Rede de Mercado: 29%

Fonte: Dados da pesquisa.

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113

A análise dos resultados demonstra que 55% dos alteri eram do gênero

feminino e 45% do gênero masculino. Isto sugere, também para Ágatha, a tendência

à homofilia apresentada por Wellman (2010), se analisado especificamente o

atributo de gênero na rede. Os laços fortes apresentam-se como maioria na rede

social da empreendedora. Enquanto os laços fracos são 45%, os classificados como

fortes (Granovetter, 1973; 1985) são 55%.

Quanto à categoria das redes, conforme sustentação teórica de Schott e

Cheragui (2012), 46% dos membros pertenciam à rede privada e, igualmente, 27% à

rede de trabalho e à rede de mercado. Dos recursos fornecidos pela rede social de

Ágatha, a rede privada foi a apresentou-se com maior percentual de apoios à

empreendedora. (53%). A rede de mercado ficou em segundo lugar com 29%,

seguida da rede de trabalho, com 18% dos recursos fornecidos.

Dando sequência à análise da rede social de Ágatha, foi criada uma matriz

com os 11 membros da rede social do ego que forneceram algum tipo de recurso. A

matriz possibilitou a visualização dos atributos dos alteri e o mapeamento da

necessidade da presença do ego para que houvesse relacionamento entre aqueles,

como apresenta o quadro 21:

Quadro 21 – Mapeamento de relacionamentos inter-alteri

RELACIONAMENTOS INTER-ALTERI

ALTER C1 C2 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C11 C31 C34

C1 - 1 0 1 1 1 0 0 0 0 0

C2 - 1 1 1 1 0 0 0 0 0

C4 - 0 0 0 0 0 0 0 0

C5 - 1 0 0 0 0 0 0

C6 - 1 0 0 0 1 1

C7 - 0 0 0 0 0

C8 - 1 1 0 0

C9 - 1 0 0

C11 - 0 0

C31 - 0

C34 -

Fonte: Dados da pesquisa.

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114

Considerando que 1 significa a existência e 0 a inexistência de

relacionamentos entre os membros da rede da empreendedora, os resultados

demonstram a necessidade da sua presença para que houvesse o contato para

parte da rede social.

O quadro 21 demonstra que nenhum alter se relaciona com todos os outros.

Isto demonstra a necessidade da presença de Ágatha. Entretanto, como exposto

anteriormente, há relacionamento entre os membros da rede privada e alguns

contatos com a rede de mercado. Não há relacionamento destas duas redes com a

rede de trabalho, onde os alteri se relacionam todos entre si.

A utilização do software Egonet nesta pesquisa possibilitou a geração de

gráficos, favorecendo a visualização das redes sociais dos entrevistados,

contemplando os atributos dos alteri, a intensidade dos laços e a existência (ou não)

de relacionamento entre eles. O gráfico 3 demonstra o exposto.

Gráfico 3 – Rede social da empreendedora, formada pelos alteri que

forneceram algum tipo de recurso

Fonte: Elaborado pela autora.

O gráfico 3 apresenta a visualização da rede social de Ágatha, segundo

gênero, atributo (categoria das redes), intensidade dos laços e existência (ou não)

de relacionamento entre os laços do ego.

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Verifica-se que a rede da empreendedora era composta pelo agrupamento

dos seus membros em redes privada (representada por círculos), de trabalho

(representada por estrelas) e de mercado (representada por triângulos), segundo

descrevem Schott e Cheraghi (2012). A partir desta sustentação teórica (Schott &

Cheraghi, 2012) e analisando a rede formada somente pelos alteri que forneceram

algum tipo de recurso na época em que a entrevistada decidiu empreender, a

configuração em números absolutos se deu como segue:

iv) Rede privada (ou pessoal): 5 membros, sendo todos laços fortes;

v) Rede de trabalho: 3 membros, sendo todos laços fracos; e

vi) Rede de mercado: 3 membros, sendo 1 laço forte e 2 fracos.

As figuras com círculos ao centro são a representação do gênero feminino,

sendo as demais figuras as que representam os membros da rede que são do sexo

masculino. A maior parte dos alteri que compuseram a rede social da

empreendedora se caracterizou como laços fortes (figuras preenchidas em preto).

Enquanto os laços fortes se concentraram na rede privada, formada, em sua

maioria, por familiares, os laços fracos se concentraram nas redes de mercado (3

alteri) e de trabalho (2 alteri).

O gráfico 3 permite observar que a rede de Ágatha possui dois agrupamentos,

com características distintas. O primeiro agrupamento é formado por alteri da rede

privada (C2, C1, C7, C6 e C31 – todos laços fortes) e da rede de mercado (C4, C5 –

laços fracos e C34 – laço forte), que na maioria se relacionavam entre si. C4, que

era um fornecedor da empresa de Agatha e prestava serviços anteriormente para o

empreendimento do pai (C2), apresenta ligação direta somente com este (C2). C31

(familiar distante) apresenta ligação direta somente com C6 (familiar nuclear), que

centraliza as ligações da rede. O mesmo se repete para C34.

O segundo agrupamento é formado exclusivamente pela rede de trabalho

(C11, C9 e C8 – todos laços fracos). Os alteri desta rede se comunicavam entre si;

no entanto, não se comunicavam com os demais alteri da rede social da

empreendedora, sem a sua presença, formando, assim, uma clique (Wellman,

1981).

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116

6.1.4 A rede social da empreendedora Valda Eurides Sanchez (caso 4)

Embora a decisão empreendedora de Valda ter se dado há mais de vinte anos,

através de estímulos foi possível que a entrevistada se recordasse dos seus

relacionamentos presentes na época, assim como dos fatos importantes para o

empreendimento. Pode-se constatar, assim como para os empreendedores

descritos anteriormente, que a rede social de Valda foi fonte de diversos recursos

quando do momento em que se tornou empresária. Apesar de Valda ter se tornado

empreendedora há mais de vinte anos, foi possível resgatar em sua memória os

relacionamentos da época, sobretudo os que lhe forneceram algum tipo de apoio

para a decisão de empreender.

Segundo Valda, além do fundamental apoio emocional dado pelo pai desde o

momento da tomada de decisão até os primeiros anos de atividade da empresa,

outros fatores foram decisivos para decidir empreender. Valda diz que,

primeiramente, ela e a irmã Valma estavam sempre juntas e isso encorajava ambas a assumirem os riscos da decisão. O outro fator relevante foi a importância dada à indicação que a ex-professora e sócia da Cultura Inglesa de Uberaba fez às duas irmãs, para que assumissem a escola em seu lugar. [...] Esta indicação e confiança recebidas foram fundamentais para que decidissem se tornar empreendedoras naquela empresa. E, finalmente e, tão importante para a entrevistada quanto as anteriores, foi a vontade de não deixar o negócio daquela escola de inglês acabar.

Ainda sobre inspiração, mas, neste caso, em relação à forma de gerir o

negócio que estava por ser assumido, outro membro da rede social da

empreendedora se destacou. Por se tornar uma referência de organização

empresarial e pela forma que conduzia a empresa da qual estava à frente, o alter

D19 (laço fraco), segundo Valda, foi referência e as inspirou no quesito gestão.

Além do incentivo emocional, outros apoios foram fornecidos pela rede social

da empreendedora. Tendo em vista a descrição teórica de Schott e Cheraghi (2012),

que sustentam que as redes sociais dos empreendedores podem ser redes privadas

(ou pessoais), redes de mercado, redes de trabalho, redes profissionais ou

internacionais, e a definição de laços fortes e laços fracos de Granovetter (1973),

esses recursos foram mapeados e analisados, também para Valda.

Assim como para os entrevistados anteriores, foi elaborada uma matriz – o

gerador de nomes – contendo os 41 nomes dos relacionamentos da empreendedora

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na época em que empreendeu. Entretanto, a análise da rede social se concentrou

nos 16 membros da rede que forneceram algum tipo de recurso.

Os resultados da pesquisa demonstram que houve 31 ocorrências de recursos

fornecidos por 16 alteri da rede social de Valda, sendo que 7 alteri foram fontes de

mais de um recurso.

Buscando preservar a privacidade da entrevistada e de sua rede social, os

nomes das pessoas foram substituídos por siglas (D1 a D41). O quadro 22

apresenta, por categoria da rede (Schott & Cheragui, 2012) e por intensidade dos

laços (Granovetter, 1973), os recursos recebidos pela empreendedora de sua rede

social.

Quadro 22: Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços

Alter Categoria da rede à qual o alter pertence

Intensidade do laço

Recursos fornecidos7

1 2 3 4 5 6 7 8 9

D1 Rede Privada Forte X x D2 Rede Privada Forte x x D3 Rede de mercado Forte x D4 Rede trabalho Forte x x x D5 Rede de mercado Fraco x x D6 Rede de mercado Fraco x x x x x x D7 Rede de mercado Fraco x x x D8 Rede de trabalho Fraco x D9 Rede de trabalho Fraco x D11 Rede de trabalho Fraco x D12 Rede Privada Forte x D13 Rede Privada Forte x D14 Rede Privada Forte x x x D17 Rede Privada Forte x D19 Rede trabalho Forte x D40 Rede de mercado Fraco x

Fonte: Dados da pesquisa.

Os resultados demonstram que todos os recursos listados foram recebidos por

Valda de, pelo menos, um dos alteri. Além dos 8 recursos listados na pesquisa, para

ela o “suporte acadêmico” foi um apoio também oriundo da sua rede social.

7 Recursos fornecidos: (1) Informações sobre mercado; (2) Informações sobre o ramo da empresa; (3) Informações sobre como abrir a empresa; (4) Apoio para identificar o ponto; (5) Suporte financeiro; (6) Apoio para selecionar mão de obra; (7) Incentivo emocional para a criação da empresa; (8) Indicação dos primeiros clientes; e (9) Outros (Suporte acadêmico).

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118

Segundo Valda, durante certo período o suporte acadêmico foi acessado por

meio de 2 membros da sua rede de mercado (D6 e D7, laços fracos). O primeiro foi

a Cultura Inglesa de Uberaba, à qual a Cultura Inglesa de Araxá/MG já havia

pertencido como filial. No início das atividades, as empreendedoras viajavam para

Uberaba/MG duas vezes por semana para receber esse suporte.

A segunda fonte para o suporte acadêmico foram as editoras internacionais

que, como relata Valda, ofertavam cursos a baixo custo. Esse acesso aos cursos

fornecidos pelas editoras internacionais foi realizado através de outro membro da

sua rede de mercado, que atuava em São Paulo/SP (D40, laço fraco). Esta fonte

disseminava as informações sobre os cursos pertinentes às sócias e, ainda hoje, faz

parte da sua rede de mercado.

Analisando, pois, as 31 ocorrências de recursos fornecidos pela rede social

da empreendedora, apresentadas no quadro 22, observa-se que os mesmos se

dividiram nas redes privada, de trabalho e de mercado, conforme agrupamentos de

relacionamentos propostos por Schott e Cheragui (2012). Na rede de mercado

houve 13 ocorrências de recursos, 11 na rede privada e 6 na rede de trabalho.

Quanto à intensidade dos laços sustentada por Granovetter (1973) como

laços fortes e laços fracos, os 16 membros fontes de recursos foram caracterizados

como 9 laços fortes e 6 fracos. Não foi percebido, para esta empreendedora,

concentração de recursos por intensidade dos laços. Constatou-se, pois, que

aproximadamente a metade dos recursos foi oriunda de laços fortes e a outra

metade dos laços fracos.

O alter D6 (rede de mercado, laço fraco) foi fonte de “informações sobre

mercado” e “informações sobre o ramo da empresa”. Além de D6, o alter D5 também

forneceu informações sobre mercado para a empreendedora. Para os recursos

“informações sobre como abrir uma empresa” e “apoio para identificação do ponto”

foram fontes, novamente, D6 e D14 (rede privada, laço forte), além de D7 (rede de

mercado, laço fraco).

Cabe realçar que como a empresa já estava instalada quando a

empreendedora Valda e sua sócia (a irmã Valma) entraram na sociedade, não foi

necessária a escolha do ponto. Contudo, quando assumiram a totalidade da

empresa, contaram com o apoio de dois membros da rede social para contratos de

novas instalações. Constatou-se que este recurso foi fornecido por 2 membros da

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rede de mercado, sendo ambos laços fracos, e um membro da rede privada (laço

forte).

O apoio para seleção de mão de obra foi fornecido por 2 membros da rede

social da empreendedora, pertencendo o primeiro à rede de mercado (D3) e o

segundo à rede de trabalho (D4), ambos laços fortes.

Como descrito anteriormente, a empreendedora Valda recebeu incentivo

emocional para a sua decisão de empreender. A maior parte das fontes desse

recurso se caracterizou como rede privada e laços fortes, sendo elas D1, D2, D12,

D13 e D14. Este apoio foi, ainda, fornecido por parte da rede de trabalho - D4 (laço

forte), D8 (laço fraco) e D11 (laço fraco) - e por D5, que era membro da rede de

mercado e laço fraco.

A indicação dos primeiros clientes foi um recurso novamente fornecido por

D2, D4, D6, D7 e o único recebido de D17 (rede privada, laço forte).

Por fim, a empreendedora recebeu, ainda de sua rede social e como descrito

anteriormente, suporte acadêmico para a empresa. Este recurso foi fornecido por D6

e D7 (rede de mercado, laço fraco), por D19 (rede de trabalho, laço forte) e por D40

(rede de mercado, laço fraco).

Considerando a definição proposta por Schott e Cheraghi (2012), que

agrupam os relacionamentos dos empreendedores em cinco categorias (rede

privada, rede de trabalho, rede profissional, rede de mercado e rede internacional), a

rede de Valda foi composta de três tipos: rede privada; rede de trabalho; e rede de

mercado. A análise dos resultados aponta que a rede privada foi a que mais

forneceu recursos para a empreendedora quando a mesma decidiu empreender,

seguida pela rede de mercado e, por último, a rede de trabalho. O quadro 23

demonstra o aqui apresentado.

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Quadro 23 – Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes

RECURSOS FORNECIDOS

CATEGORIA DA REDE

REDE PRIVADA REDE DE

TRABALHO REDE DE

MERCADO

1 Informações sobre mercado

- - 2

2 Informações sobre o ramo específico da empresa

- - 1

3 Informações sobre como abrir a empresa

1 - 1

4 Apoio para identificar o ponto para a empresa

1 - 2

5 Suporte financeiro 1 - -

6 Apoio para selecionar mão de obra

1 1

7 Incentivo emocional para empreender

6 3 1

8 Indicação dos primeiros clientes

2 1 2

9 Outros - 1 3

Fonte: Dados da pesquisa.

Como demonstrado no quadro 23, a rede privada apresentou 11 ocorrências

de recursos fornecidos, a rede de mercado 13 e a rede de trabalho 6. Constata-se,

pois, que a rede privada foi a principal fornecedora de recursos para a

empreendedora.

Analisando a descrição das redes dos empreendedores apresentada por

Schott e Cheraghi (2012) e atribuindo a força dos laços sustentada por Granovetter

(1973), os resultados da análise da rede social de Valda demonstraram o que segue:

da rede privada da empreendedora, com 6 membros, todos eram fortes; dos 5

membros da rede de trabalho, 02 configuravam-se como laços fortes e 03 como

fracos; e, por fim, dos 5 laços da rede de mercado 4 eram fracos e 1 forte, segundo

os conceitos de Granovetter (1973).

Quando se analisa o fornecimento de recursos quanto à intensidade dos

laços, constata-se que houve um equilíbrio entre os fortes e os fracos, como descrito

no quadro 24.

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Quadro 24 – Tipos de recursos fornecidos pela rede social da empreendedora,

distribuídos pela intensidade dos laços

RECURSOS FORNECIDOS PELA REDE DO EMPREENDEDOR

INTENSIDADE DOS LAÇOS

LAÇOS FORTES

LAÇOS FRACOS

1 Informações sobre mercado - 2

2 Informações sobre o ramo específico da empresa - 1

3 Informações sobre como abrir a empresa 1 1

4 Apoio para identificar o ponto para a empresa 1 2

5 Suporte financeiro 1 -

6 Apoio para selecionar mão de obra 2 -

7 Incentivo emocional para empreender 7 4

8 Indicação dos primeiros clientes 3 2

9 Outros 1 3

Fonte: Dados da pesquisa.

Certificou-se que os laços fortes forneceram 6 dos 8 recursos listados na

entrevista, acrescentando o suporte acadêmico, que não estava listado.

Das 31 ocorrências de recursos, 16 foram fornecidos pelos laços fortes e 15

pelos laços fracos, como apresentado no quadro 24. Assim como para os

entrevistados anteriores, também para Valda o apoio emocional foi o recurso que

mais se concentrou nos laços fortes.

Granovetter (1973; 1985) afirma que as redes sociais dos empreendedores

fornecem a eles diferentes tipos de recursos. Para o autor, os laços fracos fornecem

recursos como informações novas à rede, enquanto os laços fortes fornecem apoio

emocional. Manolova (2007) afirma que as redes pessoais do empreendedor

fornecem a ele apoio emocional para a iniciativa empreendedora. Esta sustentação

teórica confirma-se também para esta empreendedora.

Em complemento, observa-se que, como para os demais entrevistados,

também para Valda a maioria dos laços que compõem a rede privada caracteriza-se

como laço forte.

A rede social da empreendedora foi formada por 40 membros e, destes, 16

forneceram algum tipo de recurso no momento em que Valda decidiu empreender.

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122

Segundo a empreendedora, parte da sua rede influenciou a sua decisão de se tornar

uma empresária. Integrada a esta influência, a entrevistada afirma que

quando empreendeu, um grande fator motivador foi a vontade de manter o negócio da Cultura Inglesa em Araxá funcionando. Seu envolvimento emocional com a escola compôs a decisão de, junto à irmã, assumir a empresa”.

Com base nos dados da pesquisa, pode-se afirmar que dos 40 membros que

compunham a rede social de Valda, 22 eram mulheres e 18 homens. Se isolado o

atributo de gênero, confirma-se o exposto por Lin (1981) e Wellman (1999), que

afirmam que os indivíduos tendem à homofilia, ou seja, têm conexões sociais com

pessoas semelhantes.

Analisando-se os 16 alteri fornecedores de algum tipo de apoio, a maioria

feminina se mantém, com 9 pessoas, como demonstrado no quadro 25.

Quadro 25 – Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e

intensidade dos laços

Alter GÊNERO DO

ALTER Categoria da rede à qual o

alter pertence Intensidade do

laço

D1 Masculino Rede Privada Forte

D2 Feminino Rede Privada Forte

D3 Feminino Rede de mercado Forte

D4 Feminino Rede trabalho Forte

D5 Feminino Rede de mercado Fraco

D6 Masculino Rede de mercado Fraco

D7 Feminino Rede de mercado Fraco

D8 Masculino Rede de trabalho Fraco

D9 Feminino Rede de trabalho Fraco

D11 Feminino Rede de trabalho Fraco

D12 Masculino Rede Privada Forte

D13 Feminino Rede Privada Forte

D14 Masculino Rede Privada Forte

D17 Masculino Rede Privada Forte

D19 Feminino Rede trabalho Forte

D40 Masculino Rede de mercado Fraco Fonte: Dados da pesquisa.

A análise do quadro 25 mostra que, segundo o conceito de agrupamento dos

relacionamentos de Schott e Cheraghi (2012) e atribuindo a intensidade dos laços

como fortes ou fracos (Granovetter, 1973), os membros da rede privada de Valda

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possuem maioria caracterizada como rede privada (6 alteri), sendo todos laços

fortes. As redes de trabalho e de mercado apresentam a mesma quantidade de alteri

– 5 cada uma. A rede de trabalho possui 3 laços fracos e 1 forte e a de mercado, 4

laços fracos e 1 forte.

Ao caracterizar os laços femininos e masculinos, observa-se que, dos 9 alteri

femininos, 5 caracterizaram-se como laços fortes (2 da rede privada, 2 da rede de

trabalho e 1 da rede de mercado) e 4 como laços fracos. Torna-se possível analisar,

ainda sob a perspectiva de gênero, que os 16 alteri fornecedores de recursos (9

mulheres e 7 homens) estão assim caracterizados: (i) rede privada: 4 homens e 2

mulheres, sendo todos laços fortes; (ii) rede de trabalho: 4 mulheres (2 laços fortes e

2 laços fracos) e 1 homem (laço fraco); (iii) rede de mercado: 3 mulheres (1 laço

fraco e 2 fortes) e 2 homens, sendo ambos laços fracos.

Foi feita uma síntese das informações quantitativas da rede social de Valda,

relacionadas a gênero dos alteri, percentuais das categorias das redes (privada, de

trabalho e de mercado), participação das categorias no fornecimento de recursos e

percentual de laços fortes e fracos na rede da empreendedora (QUADRO 26).

Quadro 26 – Composição da rede social da empreendedora em percentuais

GÊNERO DOS ALTERI NA REDE

FORMAÇÃO DA REDE SOCIAL DO EMPREENDEDOR POR CATEGORIA

PARTICIPAÇÃO DAS REDES (POR CATEGORIA) NO FORNECIMENTO DE RECURSOS

INTENSIDADE DOS LAÇOS NA

REDE

Masculino: 44%

Feminino: 56%

Rede Privada: 38% Rede Privada: 35% Laços fortes: 56%

Laços Fracos: 44%

Rede de Trabalho: 31%

Rede de Trabalho: 23%

Rede de Mercado: 31%

Rede de Mercado: 42%

Fonte: Dados da pesquisa.

O quadro 26 mostra que 56% dos alteri eram do gênero feminino e 44% do

gênero masculino. Quanto à categoria das redes, segundo Schott e Cheragui (2012),

38% dos membros pertenciam à rede privada, 31% à rede de trabalho e 31% à rede

de mercado.

A necessidade ou não da presença da empreendedora para que os membros

da sua rede se relacionassem foi pesquisada durante as entrevistas. A matriz

elaborada com os 16 alteri fornecedores de apoio à empreendedora (QUADRO 27)

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reforça a existência ou não dos relacionamentos inter-alteri. O número 1 significa

que havia relacionamento e o número 0 significa a inexistência.

Quadro 27 – Mapeamento de relacionamentos inter-alteri

RELACIONAMENTOS INTER-ALTERI

ALTER D1 D2 D3 D4 D5 D6 D7 D8 D9 D11 D12 D13 D14 D17 D19 D4O

D1 - 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 0 0 0

D2 - 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

D3 - 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

D4 - 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0

D5 - 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1

D6 - 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1

D7 - 0 0 0 0 0 0 0 0 1

D8 - 0 0 0 0 0 0 1 0

D9 - 0 0 0 0 0 0 0

D11 - 0 0 0 0 1 0

D12 - 1 1 1 0 0

D13 - 1 0 0 0

D14 - 0 1 0

D17 - 0 0

D19 - 0

D40 - Fonte: Dados da pesquisa.

Com relação à necessidade ou não da presença da empreendedora para o

relacionamento entre os membros da sua rede, os resultados demonstram que, para

a maioria dos relacionamentos, precisavam da presença de Valda (QUADRO 27).

Os resultados demonstram que parte da rede social da empreendedora se

relacionava entre si (número 1). Para a outra parte da rede, demonstrada pelos

números 0, a presença de Valda era necessária para que houvesse conexão entre

os alteri.

Pode-se contatar que, dos 16 alteri fornecedores de recursos, D9 é o único

que mantinha contato com apenas um outro membro da rede (D2). Isto pode ser

observado também no gráfico 4.

Para a visualização gráfica da rede da empreendedora, foi utilizado o Egonet,

assim como para os demais entrevistados. Desta forma, o gráfico 4 apresenta a rede

social de Valda, contemplando os atributos dos alteri, a intensidade dos laços e a

existência (ou não) de relacionamento entre eles.

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Gráfico 4 – Rede social da empreendedora, formada pelos alteri que

forneceram algum tipo de recurso

Fonte: Elaborado pela autora.

Como demonstrado, o gráfico 4 apresenta visualmente os resultados já

descritos até no momento. A rede social da empreendedora Valda foi composta por

três agrupamentos, quais sejam: rede privada (representada por círculos), rede de

trabalho (representada por estrelas) e rede de mercado (representada por

triângulos). Dois destes agrupamentos se caracterizaram por não haver, neles,

membros de outra rede. São a rede de trabalho e a rede de mercado. Os alteri com

preenchimento em preto são a representação dos laços fortes, e as figuras sem

preenchimento são os laços fracos. As figuras que possuem um círculo ao centro

representam o gênero feminino e aquelas sem círculo ao centro são a representação

do gênero masculino na rede social da empreendedora.

A rede de trabalho foi formada somente por 5 alteri (D4, D8, D11, D19 e D9),

sendo um laço forte (D4) e os demais laços fracos. Quanto ao gênero, este

agrupamento apresentou 4 alteri do sexo feminino (3 laços fracos e 1 forte) e 1 do

sexo masculino (laço fraco). Os membros desta rede não estão todos diretamente

conectados. Observa-se que o arter D4 (laço forte), embora seja membro da rede de

trabalho, está ligado a esta via D2 (rede privada). Da mesma forma apresenta-se a

maioria dos membros da rede de trabalho, que é conectada ao restante da rede

social da empreendedora por membros da rede privada (D14 e D2).

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A rede de mercado, representada por triângulos (D5, D6, D7 e D40), sendo 2

mulheres e 2 homens (todos laços fracos), apresenta-se semelhante à rede de

trabalho. A rede de mercado é ligada ao restante da rede social, também por D2.

Vale observar que a rede de mercado possui, ainda, o alter D3 (sexo feminino, laço

forte). Entretanto, D3 não está ligado diretamente ao restante desta rede. Assim

como D4, D3 se conecta aos demais membros da sua categoria de rede através de

outro alter (D2).

Analisando-se a rede privada (D1, D2, D12, D13, D14 e D17), como

demonstra o gráfico 4 e como discutido anteriormente, quanto à intensidade dos

laços, todos se caracterizam como laços fortes (círculos preenchidos de preto),

sendo 2 alteri do sexo feminino e 4 do masculino. A rede privada mantém ligação

com a rede de trabalho e com a rede de mercado. Com a rede de trabalho, a ligação

se dá pelos alteri D14 e D2; com a rede de mercado, exclusivamente através de D2.

A partir desta sustentação teórica (SCHOTT E CHERAGHI, 2012), a

configuração da rede social da empreendedora se sintetiza em:

i) Rede privada: 06 membros, sendo todos laços fortes;

ii) Rede de trabalho: 5 membros, sendo 4 laços fracos e 1 laço forte; e

iii) Rede de mercado: 5 membros, sendo 04 laços fracos e 1 laço forte.

Ressalta-se que, para esta entrevistada, os três agrupamentos caracterizados

como rede privada, rede de trabalho e rede de mercado apresentavam conexão

entre si através de pelo menos um alter.

A necessidade da presença da empreendedora para que os membros da sua

rede se relacionassem foi pesquisada durante a entrevista. Neste sentido, observa-

se que para parte deles era preciso que Valda estivesse presente. As linhas que

unem um alter a outro (GRÁFICO 4), demonstram que havia conexão sem a

presença de Valda. As figuras sem linhas entre si caracterizam ausência de

relacionamento.

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6.2 Análise comparativa dos casos

O estudo dos casos dos quatro empreendedores pesquisados neste trabalho

possibilitou a análise da influência das redes quando os mesmos decidiram

empreender. Além da influência das redes, este estudo abordou as motivações que

os levaram à criação das respectivas empresas. O quadro 28 e as informações que

o sucedem apresentam a análise comparativa dos resultados encontrados.

Quadro 28: Comparação entre os casos, quanto à influência de suas redes

sociais e ao principal fator que motivou a decisão de empreender

EMPRESAS

PESQUISADAS INFLUÊNCIA DAS REDES SOCIAIS E O PESO DOS FATORES PARA A DECISÃO DE EMPREENDER

CA

ÇA

TA

LE

NT

OS

BA

CA

NA

BO

LS

AS

OR

IGIN

AL

LE

CU

LT

UR

A

ING

LE

SA

AR

AX

Á

1 A rede social do (a) empreendedor (a) forneceu recursos quando decidiu empreender.

Sim Sim Sim Sim

2 Os laços fortes forneceram incentivo (apoio emocional).

Sim Sim Sim Sim

3 As redes dos empreendedores possuem mais pessoas do mesmo gênero do que do sexo oposto.

Sim Sim Sim Sim

4 Houve modelo de referência familiar para empreender.

Sim Não Sim Sim

5 Quanto aos fatores que levaram a empreender, “ter mais tempo com a família”, recebeu o maior peso.

Sim Sim Não Não

6 Quanto aos fatores que levaram a empreender, a “realização profissional” recebeu o maior peso.

Não Não Sim Sim

Fonte: Dados da pesquisa.

O quadro 28 apresenta a síntese da participação das redes sociais (1 a 4) e

dos principais fatores (5 e 6) que influenciaram os empreendedores a empreender.

A análise dos resultados da pesquisa versou em torno da rede social que forneceu

algum tipo de apoio aos indivíduos focais do estudo (QUADRO 28). Desta forma,

será apresentado o quanto e como as respectivas redes sociais participaram do

processo empreendedor, sob a dimensão de tamanho, natureza e intensidade dos

laços, quantidade de laços úteis e tipos de recursos provenientes das respectivas

redes.

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Neste capítulo, serão apresentadas as conclusões da pesquisa, que foram

baseadas no referencial teórico, cujas proposições foram discutidas ao longo da

análise de cada caso. As conclusões dos resultados, como demonstrado ao longo

deste trabalho, estão pautadas no estudo dos casos, processamento dos dados e

análise de conteúdo.

A comparação das redes sociais dos empreendedores está, portanto,

organizada em três partes que compõem a próxima seção. Na primeira, busca-se

comparar as redes dos egos, elucidando-as através da comparação das redes

sociais e das influências por gênero. A segunda apresentará, para cada caso

estudado, quais as proposições teóricas discutidas no Capítulo 2 foram, ou não,

confirmadas e quais foram refutadas. Por fim, a terceira parte discutirá as

contribuições e limitações deste trabalho, apresentando sugestões para pesquisas

futuras.

6.2.1 Comparação das redes sociais dos empreendedores

A análise dos resultados demonstrou que as redes sociais dos

empreendedores contribuíram para a criação dos respectivos empreendimentos.

Contudo, a composição das redes apresentou variação entre os entrevistados, tanto

com relação à natureza dos laços quanto à intensidade dos mesmos e, também,

quanto à composição das redes.

Analisando-se o período em que os egos decidiram empreender, pode-se

confirmar que a rede privada (Schott & Cheragui, 2012) foi a de maior relevância

para os quatro empreendedores pesquisados. A mesma constatação se repetiu para

os laços fortes, que se apresentaram como os de principal participação no

fornecimento de recursos para os egos, se comparados aos laços fracos.

Estudar quem são as fontes e quais os tipos de apoio foram fornecidos aos

empreendedores pesquisados possibilitou compreender como suas redes sociais

influenciaram a decisão de empreender.

Para facilitar essa compreensão, foi elaborada a síntese das informações

acima descritas, como apresenta o quadro 29. As informações estão assim

organizadas: relacionamentos ativos de cada ego na época em que decidiu

empreender; laços úteis para o processo de criação da empresa; natureza dos laços

(categoria das redes em privada, de mercado, de trabalho ou profissional);

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intensidade dos laços (fortes ou fracos); e a intensidade versus a natureza dos

laços.

Quadro 29: Quadro síntese da composição das redes sociais dos

empreendedores

NATUREZA DA REDE

GÊNERO MASCULINO GÊNERO FEMININO

Empresa 1

Empresa 2

Empresa 3

Empresa 4

Relacionamentos ativos na época em que o ego empreendeu

43 46 36 40

Laços considerados úteis para o processo de criação da empresa (% do total de relacionamentos mapeados)

16% 37% 30% 40%

Laços do gênero masculino 100% 53% 45% 44%

Laços do gênero feminino 0 47% 55% 56%

Natureza dos laços

1. Rede Privada 43% 47% 46% 38%

2. Rede de Mercado 14% 0 27% 31%

3. Rede de Trabalho 14% 41% 27% 31%

4. Rede Profissional 29% 12%

Intensidade dos laços

Laços Fortes 71% 70% 55% 56%

Laços Fracos 29% 30% 45% 44%

Intensidade dos Laços por Natureza dos Laços

Rede Privada – Laços Fortes 100% 100% 100% 100% Rede Privada – Laços Fracos - - - - Rede de Mercado – Laços Fortes 100% 33% 20% Rede de Mercado – Laços Fracos - 77% 80% Rede de Trabalho – Laços Fortes - 29% - 40% Rede de Trabalho – Laços Fracos 100% 71% 100% 60%

Rede Profissional – Laços Fortes 50% 100% Rede Profissional – Laços Fracos 50% -

Fonte: Dados da pesquisa.

O quadro 29 reúne as informações mais relevantes para este estudo. Tal

síntese possibilita comparar a composição das redes sociais dos indivíduos

pesquisados e outros fatores de influência, como a presença de recursos e a

intensidade dos laços de cada rede.

A apresentação das informações contidas no quadro 29 está organizada sob

cinco perspectivas. A primeira trata-se das redes pessoais quanto às similaridades.

A segunda, das redes pessoais quanto às diferenças. A terceira perspectiva

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apresenta as diferenças e convergências por gênero. A quarta perspectiva para a

apresentação das informações trata-se das diferenças e convergências por gênero.

Por fim, a quinta perspectiva traz a confirmação ou não dos resultados da pesquisa

sob a abordagem das proposições teóricas.

Três principais similaridades entre os quatro casos pesquisados (QUADRO

29) foram reveladas pelos resultados deste estudo. A primeira delas é que, para os

quatro empreendedores, o tamanho da rede privada predominou sobre as demais. A

segunda similaridade está relacionada à rede de trabalho. Comparando-se a rede de

trabalho presente nos relacionamentos dos quatro empreendedores, constata-se

que para todos eles os laços fracos foram maioria na rede de trabalho.

A terceira similaridade é quanto à tendência à homofilia. Analisando-se

isoladamente o atributo gênero dos alteri nas quatro redes sociais, constata-se que

os laços masculinos são a maioria dos relacionamentos dos empreendedores e os

laços femininos a maioria para as empreendedoras.

Os dois empreendedores do gênero masculino apresentaram maior

percentual de laços fortes do que as empreendedoras. Enquanto os laços fortes

presentes nas redes sociais masculinas foram de 71% e 70%, nas redes femininas

foram de 55 e 56%. Ressalta-se, ainda, que os laços fortes foram os que mais

forneceram recursos para os empreendedores pesquisados.

A existência da rede profissional foi verificada para os dois empreendedores

do gênero masculino e inexistente para as empreendedoras do gênero feminino.

Observa-se que para os três egos que apresentaram relacionamentos

classificados como rede de mercado, ou houve experiência empreendedora

preliminar (empresas 1 e 3) ou a empresa foi adquirida (empresa 4).

Os quatro empreendedores afirmaram terem decidido empreender por própria

análise do contexto à época. Embora haja esta afirmativa, o estudo demonstra que

as redes sociais forneceram diferentes tipos de apoio àqueles empreendedores no

momento em que decidiram empreender.

A rede de mercado foi identificada em três dos quatro casos, sendo eles: uma

empresa de propriedade masculina (empresa 1, Vladimir); e as duas empresas

femininas (empresa 3 – Ágatha e empresa 4 – Valda). Para esta natureza de laços

(rede de mercado), as mulheres apresentaram maior percentual de laços fracos do

que os citados pelo empreendedor do gênero masculino. Para a rede de mercado

masculina (Vladimir), todos os alteri se caracterizaram como laços fortes, enquanto

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para as empreendedoras a maioria foi de laços fracos (77 e 80%) para esta natureza

de laços.

O apoio emocional foi o recurso mais presente para os empreendedores

quando da criação das empresas. Da mesma forma, os laços fortes foram as

principais fontes de recursos para os entrevistados. A rede privada foi formada

exclusivamente por laços fortes, também para os quatro casos.

Um dos indicadores de coesão nas redes sociais são as chamadas “cliques”,

que são caracterizadas por um nível mais sociocêntrico do que egocêntrico

(Wellman, 1981). As cliques são representadas por um subconjunto de alteri, com

existência de relações diretas entre si. Neste sentido, a visualização gráfica das

redes sociais demonstrou que, para os quatro casos, foram observadas cliques,

como destacam os círculos pontilhados na figura 2.

Figura 2: Redes sociais dos empreendedores pesquisados

Fonte: Elaborado pela autora.

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A figura 2 mostra que a quantidade de cliques foi maior de acordo com o

número de membros das redes, mais do que a existência da correlação de cliques

com o gênero dos empreendedores.

Os resultados da pesquisa demonstram que as redes sociais de dois

empreendedores (Vladimir e Ágatha) forneceram menos recursos para a decisão de

empreender, quando comparadas às redes dos demais (Anderson e Valda). No

mesmo sentido observa-se, para eles, uma menor quantidade de cliques. Nas redes

de maior tamanho (Anderson e Valda) há, além de maior número de cliques,

também um mesmo indivíduo participando de dois subgrupos. Estes alteri – B3 para

Anderson e D2 para Valda – são membros da rede privada dos dois

empreendedores (ambos família nuclear).

Outra similaridade identificada foi que, para os quatro empreendedores

pesquisados, pode ser confirmado o agrupamento dos laços, conforme proposto por

Schott e Cheraghi (2012). Todos os relacionamentos foram caracterizados como

rede privada, rede de trabalho, de mercado ou profissional. A rede internacional não

foi identificada para nenhum dos egos pesquisados. Ressalta-se, também, que os

autores não afirmam que para todos os empreendedores as cinco categorias de

redes são necessariamente identificadas, e sim que os laços presentes nas redes

sociais se enquadram naquelas categorias descritas (Schott & Cheraghi, 2012).

Os resultados deste estudo demonstraram que os egos que tiveram menor

número de recursos recebidos de seus laços relacionais são também os que

demonstraram mais autonomia nas decisões. Esses entrevistados afirmaram decidir

sozinhos sobre as questões empreendedoras (Vladimir) e que mais influenciam as

pessoas, do que recebem delas influências para suas tomadas de decisão (Ágatha).

Constata-se, sob a perspectiva dos recursos recebidos das redes sociais, que

os dois egos que demonstraram mais autonomia apresentaram também menor

percentual de alteri fornecedores de apoios, em relação aos outros. Esta

constatação é demonstrada no quadro 29: os percentuais de alteri fornecedores de

recursos foram de 16% para Vladimir, 30% para Ágatha, 30% para Anderson e 40%

para Valda, sugerindo que não há diferença ou igualdade por gênero quanto à

quantidade de fontes de recursos presentes nas redes.

Do total de 51 alteri fornecedores de recursos para os egos pesquisados,

nota-se que 53% pertenciam às redes das empreendedoras e 47% pertenciam às

redes masculinas. Embora o apoio das redes sociais tenha sido presente também

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para os homens empreendedores, o fato de a maioria dos laços fornecedores de

recursos estar lotada nas redes femininas reforça o exposto por Rauf e Mitra (2011),

que afirmam que as redes interpessoais de empreendedoras fornecem suporte, seja

como clientes, seja como parceiros das empresas ou como apoio emocional.

O apoio emocional para a decisão de empreender pode ser identificado para

ambos os gêneros, apresentando proximidade no percentual das ocorrências (54%

para homens e 46% para mulheres), como demonstrado no quadro 30.

Outra divergência mapeada entre os gêneros foi a motivação para

empreender. Diferentes autores (Greence, Hart, Gatgewood, Brush & Carter, 2003;

HART, et al. 2003; Brush, Bruin & Welter, 2009; Klapper & Parker, 2011; Rauf &

Mitra, 2011; Machado, Gazola & Anez, 2013) afirmam que mulheres e homens têm

diferentes motivações para a criação de uma empresa. Os dados desta pesquisa

demonstram que para as duas empreendedoras o fator de maior peso foi a

realização profissional (Ágatha e Valda). Já para os empreendedores do sexo

masculino, ter mais tempo com a família ocupou o primeiro lugar na ordem dos

fatores que pesaram para a decisão de empreender (Vladimir e Anderson).

Ter uma referência empreendedora na família nuclear também foi um dos

elementos comuns para as duas empreendedoras. Uma delas teve o pai como

inspiração forte quando decidiu empreender e no dia a dia do negócio (Valda). Para

a outra, o empreendedorismo dos pais e trabalhar no empreendimento da família

durante grande parte da adolescência, despertaram características empreendedoras

e de autonomia para suas decisões (Ágatha).

Revisitando a teoria discutida neste trabalho, buscou-se apresentar as

proposições teóricas e a análise da confirmação ou não das mesmas para os

resultados da pesquisa. O quadro 30 apresenta a descrição das referidas

proposições e a discussão dos resultados (QUADRO 30).

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Quadro 30: Confirmação ou refutação das proposições teóricas

AUTORES PROPOSIÇÃO TEÓRICA DISCUSSÃO DOS

RESULTADOS

GRANOVETTER (1973; 1985)

Enquanto os laços fracos fornecem recursos como informações novas à rede, que são úteis ao ego, os laços fortes fornecem apoio emocional.

Os resultados sugerem confirmação desta proposição. Para todos os egos pesquisados, os laços fortes foram a principal fonte de apoio emocional (incentivo para empreender).

GRANOVETTER (1973; 1985)

Comportamento e interesses pessoais são influenciados pelas relações sociais nas quais os indivíduos estão inseridos.

Os resultados demonstraram que os empreendedores pesquisados foram impactados pela influência de suas redes sociais quando decidiram empreender. Para os quatro casos, incidiram relacionamentos que os inspiraram na tomada de decisão, sugerindo, portanto, a confirmação desta proposição teórica.

RAUF E MITRA (2011)

VALE (2010)

O gênero é um dos fatores que influencia na formação e utilização da rede pessoal do empreendedor.

Foi demonstrado que para as redes femininas e masculinas houve algumas diferenças quanto à composição, quanto ao percentual de laços fortes e fracos fornecedores de recursos e quanto à natureza dos laços, sugerindo, assim, a confirmação desta proposição teórica.

VALE (2010) Pode haver diferença na forma como homens e mulheres acessam e utilizam seus laços relacionais.

Também para esta proposição sugere-se confirmação, visto que houve algumas diferenças na composição das redes por gênero, assim como recurso presente nas redes femininas que não foi identificado nas redes masculinas.

VALE E GUIMARÃES (2010)

As redes sociais e informações que nelas circulam influenciam a sobrevivência e a criação de empresas, sendo os laços fracos (mais que os fortes) os mais utilizados para a abertura dos negócios.

Os resultados da pesquisa demonstraram que as redes sociais dos quatro casos estudados forneceram recursos quando os egos decidiram empreender. Por outro lado, os dados sugerem que os laços fortes forneceram mais apoio do que os fracos.

MANOLOVA (2007) As redes pessoais do empreendedor fornecem apoio emocional para a iniciativa empreendedora.

Para os empreendedores pesquisados o apoio emocional foi o principal recurso recebido das respectivas redes pessoais.

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Continuação do Quadro 30: Confirmação ou refutação das proposições

teóricas

AUTORES PROPOSIÇÃO TEÓRICA DISCUSSÃO DOS

RESULTADOS

RUNYAN, HUDDLESTON E SWINNWY (2006)

Mulheres possuem alguns dos mesmos recursos que os empreendedores homens para a abertura do negócio.

Embora um recurso (suporte financeiro) tenha sido identificado somente nas redes sociais femininas, a maior parte deles esteve presente nas redes de ambos os gêneros.

KLAPPER E PARKER (2011).

Um dos fatores que levam o empreendedorismo feminino a ser em menor escala do que o masculino se dá ao fato de as mulheres apresentarem menos aspirações profissionais do que os homens.

Os resultados desta pesquisa demonstraram que o fator de maior peso para a decisão feminina de empreender foi realização profissional.

WINN (2005); HART, GATGEWOOD,

BRUSH E CARTEER (2003); KLAPPER E

PARKER (2011); BRUSH, BRUIN E WELTER (2009)

Questões relacionadas ao lar e à família influenciam mais as mulheres do que os homens na tomada da decisão para empreender.

A pesquisa constatou que, para os homens, ter mais tempo com a família foi o principal fator que pesou quando decidiram ter a própria empresa.

VALE E SERAFIM (2010)

Mulheres parecem mostrar-se mais sensíveis do que os homens à influência de terceiros, quanto à decisão de criar uma empresa.

Dados não conclusivos. Sugerem-se novas pesquisas para buscar elucidar estas teorias.

MACHADO (2001) Há diferença no estilo de empreender de homens e mulheres.

Fonte: Organizado pela autora.

Buscou-se investigar, à luz da teoria disponível, como as redes sociais de

empreendedores premiados os influenciaram quando os mesmos decidiram

empreender. Desta forma, como apresentado no quadro 31, algumas posições

teóricas foram confirmadas, outras negadas e, para outras duas, os resultados não

foram conclusivos.

Sobre a negação de duas proposições sugerem-se novas pesquisas que

verifiquem longitudinalmente (e se possível, de forma a generalizar os resultados)

se o contexto social altera os fatores que motivam homens e mulheres a

empreender.

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7 CONCLUSÕES

Como descrito no capítulo 2, os indivíduos fazem parte de um contexto

social, não adotando comportamentos e decisões de forma atomizada

(GRANOVETTER, 1985). Neste sentido, este estudo pode concluir que os laços dos

empreendedores, com os quais estes mantinham relacionamentos próximos na

época em que empreenderam, tiveram influências na criação das respectivas

empresas.

Essas influências, a partir da pesquisa, podem ser analisadas como os

apoios recebidos pelos egos de suas redes sociais, os quais foram percebidos

como incentivo emocional e suportes variados, como informações relacionadas ao

mercado e ao negócio em si, além de apoio financeiro em alguns casos.

Conclui-se, portanto, que as redes sociais dos empreendedores proprietários

das empresas premiadas estudadas foram fontes de recursos. A maior parte dos

referidos recursos fornecidos foram relacionados a informações sobre mercado e

sobre o negócio em si, além do apoio emocional, que em todos os casos teve a

maioria das ocorrências.

Baseando-se nas teorias discutidas no capítulo 2, considerando-se o modelo

teórico proposto por este trabalho e analisando-se os dados comparativos da

pesquisa, apresenta-se, a seguir, a síntese dos resultados.

7.1 Padrões identificados para os casos pesquisados

A partir da análise dos quatro casos pesquisados, pode-se concluir que houve

padrões no que se refere à composição e à utilização das redes sociais dos

empreendedores para a criação de suas empresas. Não obstante, padrões também

foram identificados nas motivações empreendedoras por gênero.

O primeiro padrão encontrado trata-se da utilização da rede como fonte de

recursos. Para os quatro empreendedores as respectivas redes sociais forneceram

diversos tipos de apoio quando os mesmos decidiram empreender. Dentre os

recursos recebidos pelos empreendedores, para todos eles, o apoio emocional foi o

mais recorrente. Assim como os laços fortes foram a fonte da maior parte dos

recursos presentes nas quatro redes sociais.

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No que se refere às categorias e à intensidade dos laços, a rede privada e os

laços fortes foram a maioria na composição de todas as redes sociais. Este segundo

padrão foi identificado tanto para as empreendedoras, quanto para os empreendedores.

O terceiro padrão mapeado foi a predominância de gênero, considerando o

sexo do dono da rede. Para as empreendedoras prevaleceu a maioria de membros

femininos nas suas redes e, para os empreendedores, os membros masculinos

foram predominantes.

Ter um modelo de referência foi o quarto padrão verificado para os quatro

empreendedores. Para dois deles (um homem e uma mulher) a inspiração para

empreender foram as respectivas empresas nas quais trabalharam. Para os outros

dois (um homem e uma mulher), houve forte influência empreendedora na família.

Quanto à motivação para a decisão de empreender, o padrão identificado

caracterizou-se por gênero. As duas empreendedoras atribuíram maior peso para a

sua decisão de empreender ao mesmo fator: “realização profissional”. Da mesma

forma, para os dois empreendedores do sexo masculino o maior peso foi dado à

mesma motivação: “ter mais tempo com a família”.

7.2 A influência dos laços para a criação das empresas

Para os quatro casos pesquisados, verifica-se a influência de seus laços

sociais quando da decisão de empreender. O modelo teórico elaborado por este

estudo (figura 1) apresenta esta influência, detalhando a reflexão acerca dos

resultados da pesquisa.

Figura 1 – Modelo teórico

Fonte: Elaborado pela autora.

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A partir do modelo teórico (figura 1), foram analisados os resultados dos

casos e pode-se afirmar que:

a) O atributo de gênero para as redes dos empreendedores manteve a

mesma lógica, apresentando a maioria dos alteri o mesmo gênero do ego

em todos os casos.

b) A intensidade dos laços foi a mesma para ambos os gêneros quanto à

maioria dos recursos fornecidos no momento em que os entrevistados

decidiram se tornar empreendedores – laços fortes.

c) A rede privada, formada por familiares nucleares e amigos próximos, foi a

de maior relevância para os quatro casos quanto ao fornecimento de

recursos no momento em que os empreendedores decidiram empreender.

d) A rede de mercado se apresentou mais presente quanto ao fornecimento

de recursos, mais para as mulheres do que para os homens pesquisados.

e) O recurso mais presente nas redes dos empreendedores pesquisados foi

o apoio emocional e o incentivo para a criação da empresa.

f) Os quatro casos pesquisados apresentaram evidências de referências

anteriores que foram úteis para sua decisão de empreender, sendo elas

familiares ou profissionais.

g) Dois dos quatro casos pesquisados (um por gênero) afirmaram ter, nas

empresas onde haviam trabalhado, inspiração para o processo

empreendedor.

h) Três dos quatro casos pesquisados, sendo duas mulheres e um homem,

apresentaram histórias de empreendedorismo na família nuclear (pai e/ou

mãe) que exerceram peso no histórico empreendedor do ego.

i) Os dois casos do gênero feminino afirmaram ter crescido em um

ambiente familiar empreendedor, podendo-se constatar que receberam

esta influência para as respectivas decisões de se tornarem empresárias.

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j) Os recursos recebidos pelos empreendedores diferiram-se por gênero,

tendo os homens recebido mais informações sobre o negócio em si, e as

mulheres mais suporte financeiro. Contudo, ambos os gêneros

receberam, semelhantemente, incentivo emocional para empreender,

advindo de suas redes sociais.

k) As principais motivações para empreender se distinguiram por gênero. As

mulheres disseram buscar mais realização profissional do que os

homens, enquanto estes afirmaram que o maior peso para a decisão de

empreender foi ter mais tempo com a família.

O objetivo geral deste estudo foi analisar como mulheres e homens

proprietários de empresas premiadas utilizaram suas redes pessoais para a criação

de seus empreendimentos. Pesquisando-se junto aos quatro empreendedores os

elementos e variáveis relacionados às respectivas redes sociais, pode-se afirmar

que o objetivo geral foi cumprido. As análises basearam-se na discussão das teorias

apresentadas no capítulo 2 e possibilitaram confirmar a influência das redes sociais

dos entrevistados em seus processos de criação das empresas.

Pode-se afirmar que os laços sociais dos empreendedores influenciaram no

momento em que estes decidiram empreender, sobretudo de duas maneiras. A

primeira, através do fornecimento de recursos diversos. Esses recursos foram

mapeados pelos empreendedores como informações diversas sobre mercado,

informações técnicas e específicas dos empreendimentos, apoio financeiro e suporte

emocional. Para todos os egos pesquisados, parte da rede social e dos recursos

nela presentes lhes forneceu confiança para o processo da decisão de empreender.

Mesmo para aqueles que disseram ter, sozinhos, tomado a decisão de criar a

empresa, as evidências demonstram que o apoio advindo de seus laços relacionais

da época contribuiu no processo empreendedor. Tais evidências podem ser

constatadas, por exemplo, pelo acesso aos primeiros clientes para a empresa 1 e o

apoio dos fornecedores de equipamentos e mercadorias para a empresa 3.

A segunda forma em que as redes sociais dos empreendedores os

influenciaram foi pela inspiração que os mesmos afirmaram ter recebido de parte de

seus laços relacionais, fossem eles de trabalho, profissionais ou familiares. Mais as

empreendedoras (empresas 3 e 4) do que os empreendedores homens (somente

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empresa 1) afirmaram ter membros da família nuclear (pai e/ou mãe) como sendo

empreendedores. Nestes três casos houve relatos e afirmações de como esses

laços familiares tinham comportamentos empreendedores nas atividades

econômicas que exerciam.

Para a empresa 2, mesmo que não demonstrada com a mesma intensidade a

inspiração no empreendedorismo dentro da família, esta inspiração, relatada e

verbalizada diversas vezes durante a entrevista, teve como fonte a empresa em que

o empreendedor trabalhou, incluindo alguns dos ex-colegas de trabalho.

A verificação do objetivo geral da pesquisa compreendeu quatro objetivos

específicos, a saber: (i) Mapear as redes pessoais utilizadas por homens e mulheres

empreendedores; (ii) Compreender como os gêneros acessaram os diversos

recursos disponíveis em suas redes, tais como: informações sobre mercado, local,

clientes, recursos financeiros, entre outros; (iii) Identificar os diferentes tipos de

redes capazes de desempenhar papéis de fornecedores de recursos aos

empreendedores, por gênero; e (iv) Fazer uma análise comparativa entre as

oportunidades e desafios encontrados entre os gêneros.

O primeiro objetivo específico buscou, através do mapeamento das redes

pessoais dos empreendedores pesquisados, conhecer os componentes das

referidas redes, tamanho, atributos dos alteri e intensidade dos laços. Estas

informações foram identificadas para os quatro casos e seus resultados discutidos

no capítulo 5. Da mesma forma, mapearam-se os membros das redes sociais que

forneceram algum tipo de recurso e quais foram os apoios recebidos pelos

empreendedores, como descreveu o segundo objetivo específico.

Para o terceiro objetivo específico, que buscou identificar os diferentes tipos

de redes capazes de desempenhar papéis de fornecedores de recursos aos

empreendedores, constatou-se que não houve diferença significativa por gênero. Foi

identificado, entretanto, que a rede privada (SCHOTT E CHERAGHI, 2012) foi o tipo

de agrupamento que mais forneceu recursos aos empreendedores, fossem eles

homens ou mulheres.

Fazer uma análise comparativa das oportunidades e dos desafios por gênero

foi o quarto objetivo específico, também discutido nos resultados apresentados no

capítulo 5. Esta análise possibilitou constatar que as duas mulheres

empreendedoras pesquisadas consideraram desafiador encontrar fontes variadas e

confiáveis para acesso a conhecimentos específicos das suas empresas, por

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exemplo, suporte acadêmico (empresa 4) e cursos de vendas para a equipe

(empresa 3). Este desafio não foi explicitamente verificado para os empreendedores

do gênero masculino. Para estes, pode-se constatar que houve um maior tempo

destinado ao planejamento do negócio.

Observa-se, portanto, que os objetivos, geral e específicos, foram

compreendidos por esta pesquisa. Entretanto, algumas limitações compõem este

estudo, como será apresentado a seguir.

7.3 Contribuições, limitações e sugestões para pesquisas futuras

Embora o foco deste trabalho tenha sido, especificamente, o mapeamento e

estudo das redes egocêntricas e não sociocêntricas, admite-se que uma limitação

advém do fato de a realidade de cada indivíduo pesquisado ser a percepção

unilateral dele próprio, uma vez que os membros das redes não foram entrevistados.

Outra dificuldade encontrada foi a negação de responder à pesquisa pela

única mulher proprietária de empresa do setor industrial vencedora do prêmio MPE

Brasil no período estipulado. O fato de esta empreendedora não aceitar ser

entrevistada culminou na exclusão da entrevista já realizada com a empresária,

proprietária de uma indústria vencedora do prêmio. Estas duas exclusões do grupo

foco de indivíduos da pesquisa limitaram o estudo aos setores de serviços e

comércio.

A maior parte das proposições teóricas testadas apresentou resultados

conclusivos para os egos pesquisados. Entretanto, para duas destas proposições,

os resultados não apresentaram conclusões claras. São elas:

i) Mulheres parecem mostrar-se mais sensíveis do que os homens à

influência de terceiros, quanto à decisão de criar uma empresa (VALE E

SERAFIM; 2010); e

ii) Há diferença no estilo de empreender de homens e mulheres (MACHADO,

2001).

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Não obstante às limitações acima descritas, esta pesquisa possibilitou

contribuições acadêmicas no que tange ao estudo das redes sociais de indivíduos

que decidem empreender.

A primeira contribuição está relacionada à compreensão da percepção do

próprio indivíduo pesquisado sobre a participação de seus laços relacionais na sua

decisão de se tornar empreendedor. Esta pesquisa demonstrou empiricamente que,

mesmo o ego afirmando ter, sozinho, decidido empreender, a rede social forneceu

recursos que favoreceram a confiança para a referida decisão. Esta constatação

pode ser observada, principalmente, para os egos das empresas 1 e 3.

A segunda contribuição teórica é a constatação de modelos de referência

para os empreendedores premiados. Esta evidência foi fortemente verificada em

pelo menos três dos quatros empreendedores pesquisados.

Por fim, acredita-se que compreender como as redes sociais de empresários

proprietários de empresas premiadas influenciaram as decisões de empreender

contribui para que organizações acadêmicas, públicas e civis (dentre outras),

possam gerar mais ambiência favorável ao empreendedorismo.

Investigar e analisar quais recursos estavam presentes nas redes sociais dos

empreendedores pesquisados, assim como a composição e atributos dos laços por

gênero, pode ser útil para possíveis aprofundamentos de novas pesquisas. A

generalização de resultados de pesquisas empíricas sobre fenômenos sociais,

mesmo que complexos, pode ser mais uma possibilidade para estudos futuros.

Da mesma forma, pesquisas futuras podem complementar os resultados

deste estudo e as contribuições teóricas por ele geradas. Como exemplo,

apresentam-se algumas sugestões:

a) Há influência correlata entre redes sociais e idade do indivíduo para a

decisão de empreender?

b) Em quais situações homens e mulheres diferem por peso de fatores

motivadores para a criação de uma empresa?

Acredita-se, portanto, que as reflexões geradas ao longo deste trabalho e a

partir dele contribuirão para expandir a compreensão das influências das redes

sociais sobre as decisões, por gênero, de indivíduos empreendedores.

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ANEXO

ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PESQUISA DE CAMPO

GÊNERO, EMPREENDEDORISMO E REDES PESSOAIS: AS INFLUÊNCIAS DOS LAÇOS NA CRIAÇÃO DA EMPRESA

Problema de pesquisa: Como mulheres e homens proprietários de empresas premiadas utilizaram suas redes pessoais para a criação de seus empreendimentos? Empresário (a): Idade: Telefones: CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA 1. Nome da empresa: 2. Setor/ Segmento: 3. Data de criação da empresa: ___/___/___ 4. Número de funcionários hoje: _________ 2. Número de funcionários no primeiro ano: _________ 3. Mercado de alcance hoje:

__________________________________________________________________________________________________________________________________

4. Mercado de alcance no início das atividades:

__________________________________________________________________________________________________________________________________

5. Participação em entidades de classe hoje: ( ) Sindicato patronal:_______________________________________________ ( ) Sindicato do Comércio ( ) Associação Comercial e Industrial ( ) CDL ( ) Outra (s) associação (ões) de classe: ________________________________ ( ) Outra (s): ______________________________________________________

6. Participação em entidades de classe no início:

( ) Sindicato patronal:_______________________________________________ ( ) Sindicato do Comércio ( ) Associação Comercial e Industrial ( ) CDL ( ) Outra (s) associação (ões) de classe: ________________________________ ( ) Outra (s): ______________________________________________________

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EMPREENDEDOR (ego) 7. Gênero: 8. Idade: 9. Escolaridade: _________________ Curso(s): ________________________ Especializações: __________________________________________________ 10. Estado civil: ______________________________________________________ 11. Filhos (e idade):

a) Sexo / Idade: _________/ __________ b) Sexo / Idade: _________/ __________

12. Presença de empreendedor na família?

( ) Sim ( ) Não Se sim, Quem: ___________________________________________________

Houve algum Modelo de referência?

Familiar? Qual familiar: __________________________________________

Outros? Quem: ________________________________________________

Inexistente: Em quem se inspirou? ____________________________________________ 13. Sociedade empresarial

EMPRESA 1: ( ) Sim ( ) Não EMPRESA 2: ( ) Sim ( ) Não

14. Sociedade na empresa – Gênero EMPRESA 1: ( ) Homem ( ) Mulher EMPRESA 2: ( ) Homem ( ) Mulher

15. Sociedade – Proximidade parental com o sócio

EMPRESA 1 EMPRESA 2

Seu sócio é algum familiar ou parente? ( ) Sim: Quem: ____________ ( ) Não Se não, indicar: ( ) Amigo ( ) Colega de trabalho ( ) Outro: _____________________

Seu sócio é algum familiar ou parente? ( ) Sim: Quem: ____________ ( ) Não Se não, indicar: ( ) Amigo ( ) Colega de trabalho ( ) Outro: _____________________

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RELACIONAMENTO E SUPORTE 16. Quando DECIDIU entrar em sua primeira sociedade, quem lhe ajudou mais?

( ) Algum familiar (pai, mãe, filho, cônjuge); ( ) Namorado; ( ) Amigo; ( ) Colega de trabalho; ( ) Vizinho; ( ) Consultor; ( ) Outro: _____________________________

Para isso, liste 40 pessoas com quem você se relacionava quando criou sua empresa, e que considera que participaram, de alguma forma, do processo. Podem ser familiares, amigos, colegas de trabalho, consultores, entre outros.

Ir para a tabela para a geração dos nomes.

GERADOR DE NOMES:

ALTER / LAÇO

ATRIBUTO

1. Familiar (pai, mãe, filho, cônjuge); 2. Namorado; 3. Amigo; 4. Colega de trabalho; 5. Vizinho; 6. Consultor; Outro: _______

...

TIPOS DE RECURSOS x LAÇO 17. Em que cada uma dessas pessoas contribuiu?

a) Informações sobre mercado b) Informações sobre o ramo c) Informações sobre como abrir a empresa d) Apoio para identificar o ponto e) Suporte financeiro f) Apoio para selecionar mão de obra g) Incentivo para a criação da empresa h) Indicação dos primeiros clientes i) Outros(especificar)

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18. De que tipo de apoio você sentiu necessidade (falta) quando decidiu abrir a empresa?

Escrever:

TIPOS DE RECURSOS

1

2

3

4 Outros:

19. Onde foi buscar cada um deles?

________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________

ALTER (LAÇO) E RECURSOS 20. Tipo do relacionamento.

Qual era a intensidade do relacionamento com cada $$ à época? > VOLTAR À PLANILHA.

Nomes e Atributo Intenso/ Forte

Superficial/ Esporádico/

Fraco

1

40

Porque cada $$ foi importante/útil naquele momento? > VOLTAR À PLANILHA.

Nomes - Atributo Importância

1

40

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21. Você considera que algumas pessoas influenciaram na decisão de abrir a empresa? ( ) Sim ( ) Não

22. Rede social versus Influência na decisão para a criação da empresa.

Qual foi o grau de influência que os laços exerceram sobre o seu INTERESSE e DECISÃO de abrir a empresa?

6. Você considera que mulheres e homens são influenciados de forma diferente por outras pessoas para as suas decisões?

( ) Sim ( ) Não

7. Em sua opinião, as mulheres ou os homens são mais influenciados por outras pessoas para a abertura de uma empresa?

( ) Mulheres ( ) Homens 23. Por que escolheu este ramo de negócio?

a. Você foi influenciado por alguém?

( ) Sim ( ) Não

Se sim,

b. Quem: ___________________________________________________ c. Como: ___________________________________________________ d. Outro (s) motivo (s): ________________________________________

24. Peso dos fatores para a criação da empresa Quais fatores foram mais importantes para a criação da sua empresa?

Escala: 5 4 3 2 1

Principal fator considerado

Muito importante, mas não principal

Pouco importante

Nada importante

Não considerado

( ) Ter mais tempo livre com a família ( ) Ter mais flexibilidade de horários para resolver questões pessoais ( ) Aumento da renda ( ) Realização profissional ( ) Falta de opção de emprego ( ) Outro: _____________________

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25. Interesse em recursos de terceiros para a abertura da empresa

i. Você teve INTERESSE em recursos de terceiros para a criação da empresa? ( ) Sim ( ) Não

ii. Se sim, em quais fontes de recursos pensou para a criação da empresa?

( ) Família (pai, mãe, filho {a}, irmão {ã}) ( ) Cônjuge (marido ou esposa) ( ) Namorado (a) ( ) Amigo (a) ( ) Colega de trabalho ( ) Vizinho (a) ( ) Empréstimo bancário ( ) Outro: _____________________ ( ) Não pensei em recursos de terceiros para a abertura da empresa

26. Utilização de recursos de terceiros para a abertura da empresa: I. Você UTILIZOU recursos de terceiros para a criação da empresa? ( ) Sim ( ) Não

ii. Se sim, qual ou quais foram a(s) fonte(s)?

( ) Família (pai, mãe, filho (a), irmão (a) ( ) Cônjuge (marido ou esposa) ( ) Namorado (a) ( ) Amigo (a) ( ) Colega de trabalho ( ) Vizinho (a) ( ) Empréstimo bancário ( ) Outro: _____________________

RELAÇÕES INTER-LAÇOS 27. Os membros da sua rede de relacionamentos se relacionam entre si sem a

necessidade de sua presença?

Escala: 5 4 3 2 1

Sim Muito provavelmente

Pouco provavelmente

Nada provável Não se relacionam

Mapeamento:

> VOLTAR À PLANILHA.

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DESEMPENHO POR GÊNERO

28. Você considera que o desempenho de uma mulher empreendedora é igual

ao de um homem empreendedor? ( ) Sim ( ) Não

29. Você prefere consultores HOMENS ou MULHERES? ( ) Homens ( ) Mulheres

30. Você prefere funcionários HOMENS ou MULHERES? ( ) Homens ( )Mulheres

31. Quem é mais fácil de administrar? ( ) Homens ( ) Mulheres

32. Você prefere aconselhamento profissional de HOMENS ou MULHERES?

( ) Homens ( )Mulheres 33. Para quais tipos de apoio os homens são melhores?

1. __________________________________________________________ 2. __________________________________________________________ 3. __________________________________________________________ 4. __________________________________________________________

34. E as mulheres? Para quais tipos de apoio as mulheres são melhores? 1. __________________________________________________________ 2. __________________________________________________________ 3. __________________________________________________________ 4. __________________________________________________________

35. E as mulheres? Para quais tipos de apoio as mulheres são melhores? 1. __________________________________________________________ 2. __________________________________________________________ 3. __________________________________________________________ 4. __________________________________________________________

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