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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
Verônica Aparecida Ferreira
AUTORIA, CREDIBILIDADE E NOTICIABILIDADE EM BLOGS JORNALÍSTICOS ESPORTIVOS
Belo Horizonte
2017
Verônica Aparecida Ferreira
AUTORIA, CREDIBILIDADE E NOTICIABILIDADE EM BLOGS JORNALÍSTICOS ESPORTIVOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para qualificação de dissertação do mestrado em Comunicação Social.
Área de concentração: Interações Midiáticas.
Linha de Pesquisa: Linguagem e mediação sociotécnica.
Orientador: Prof. Dr. Mozahir Salomão Bruck
Bolsista FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais).
Belo Horizonte
2017
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Ferreira, Verônica Aparecida
F383a Autoria, credibilidade e noticiabilidade em blogs jornalísticos esportivos /
Verônica Aparecida Ferreira. Belo Horizonte, 2017.
83 f. :il.
Orientador: Mozahir Salomão Bruck
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
1. Comunicação - Aspectos sociais. 2. Jornalismo. 3. Mídia digital. 4.
Futebol - Blogs. 5. Times de futebol - Aspectos sociais. 6. Comunicação de
massa e esportes. I. Bruck, Mozahir Salomão. II. Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. III.
Título.
CDU: 301.175.1
Verônica Aparecida Ferreira
AUTORIA, CREDIBILIDADE E NOTICIABILIDADE
EM BLOGS JORNALÍSTICOS ESPORTIVOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, em cumprimento dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Comunicação.
______________________________________________________________________________
Profº.Dr.º Mozahir Salomão Bruck – PUC Minas (Orientador)
______________________________________________________________________________
Profª. Drª. Geane Carvalho Alzamora – UFMG (Banca Examinadora)
______________________________________________________________________________
Profª. Drª. Teresinha Maria C. Cruz Pires – PUC Minas (Banca Examinadora)
Belo Horizonte, 09 de março de 2017
Á meus pais por todo carinho e dedicação.....
AGRADECIMENTOS
Um caminho aqui se encerra. Todo o percurso foi de altos e baixos e apenas alguns poucos sabem
como foram esses últimos dois anos. Anos de dedicação e muito trabalho. Anos de expectativas e
conclusões.
Meu mundo se ampliou com novos conhecimentos, novas pessoas em minha. Com mais coragem
para correr riscos, mais vontade de enfrentar novos desafios numa infinita possibilidade de
desejar cada vez mais.
Agradeço aos meus pais pelo orgulho e dedicação. Sem eles nada disso seria possível.
Ao meu pequeno anjinho por tornar minha vida mais feliz. Agradeço ao meu amigo e
companheiro por acreditar em mim, e me ajudar a manter meus pés no chão sem deixar de
sonhar.
Aos meus colegas pelos momentos divertidos, carinho e respeito. Aos professores pela dedicação.
E ao meu orientador, professor Mozahir, por toda paciência e compreensão, além dos
ensinamentos.
A todos vocês eu agradeço por cada momento que dividimos, por cada palavra de incentivo,
afeto, de críticas e crescimento.
Obrigada a cada de vocês, que não serão esquecidos, estando sempre nas minhas principais
lembranças.
Por fim, agradeço a FAPEMIG. Sem a bolsa, esse trabalho não seria possível.
A vocês o meu muito obrigada!
RESUMO
Este estudo propõe-se a analisar dois blogs de jornalismo esportivo. Nosso trabalho de análise
compreende os blogs de José Cruz e Juca Kfouri no portal UOL Esportes. O objetivo é
compreender o dispositivo blog no jornalismo na contemporaneidade, critérios de noticiabilidade
no jornalismo digital, refletindo sobre a relação sociedade e comunicação, como a credibilidade é
constituída nesse espaço, e o papel do autor, neste trabalho entendido como o jornalista-
blogueiro, na perspectiva da relação entre produtor-leitor no âmbito entre informar e opinar. Para
compor os corpora de análise, foram selecionados textos publicados nos blogs no período entre
fevereiro e dezembro de 2015 tendo como referência de seleção a semana artificial proposta por
Martin Bauer e George Gaskell (2002). Tal seleção nos permite estabelecer um período para
análise que nos parece satisfatório para o objetivo inicial desta pesquisa. Pesquisa esta, composta
por cinco capítulos abordando conceitos inerentes ao jornalismo online, ao jornalismo esportivo,
relações entre mídia e sociedade, dispositivos de enunciação, critérios de noticiabilidade no
ambiente digital, bem como contratos de comunicação e de leitura, e os blogs jornalísticos. No
trabalho analítico foram criadas quatro categorias de análise, de modo que a aplicação de cada
uma delas oferecesse material para propor as possíveis reflexões previamente estabelecidas. O
que metodologicamente contribuiu para uma análise inicial de todo o material neste estudo que
pretende ampliar as discussões acera do tema, e não se delimitar apenas as questões aqui
propostas.
Palavras-chave: Comunicação. Jornalismo digital. Blogs. Credibilidade. Autoria.
ABSTRACT
This study proposes to analyze two blogs of sports journalism. Our analysis work includes the
blogs of José Cruz and Juca Kfouri in the portal UOL Sports. The objective is to understand the
blog device in contemporary journalism, criteria of newsworthiness in digital journalism,
reflecting on the relationship society and communication, how credibility is constituted in this
space, and the role of the author, in this work understood as the journalist-blogger, In the
perspective of the relationship between producer-reader in the scope between inform and opinion.
In order to compose the analysis corpora, texts published in the blogs between February and
December 2015 were selected using the artificial week proposed by Martin Bauer and George
Gaskell (2002). Such selection allows us to establish a period for analysis that seems satisfactory
for the initial objective of this research. This research is made up of five chapters dealing with
concepts related to online journalism, sports journalism, relationships between media and society,
enunciation devices, news channels in the digital environment, as well as communication and
reading contracts and journalistic blogs. In the analytical work four categories of analysis were
created, so that the application of each of them offered material to propose the possible
reflections previously established. What methodologically contributed to an initial analysis of all
the material in this study that intends to broaden the discussions about the theme, and not to
delimit only the issues proposed here.
Keywords: Communication. Digital journalism. Blogs. Credibility. Authorship.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 8
2 INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO AMBIENTE DIGITAL ................................... 13
2.1. Internet e a vida social: perspectivações na rede ........................................................... 13
2.2. A natureza interconectiva do ciberespaço ...................................................................... 15
2.3 O hipertexto e a circulação de conteúdos ......................................................................... 21
2.4 Breve histórico dos blogs ................................................................................................... 27
3 BLOGS: DISPOSITIVOS DE ENUNCIAÇÃO ..................................................................... 31
3.1 Blogs como dispositivo de enunciação .............................................................................. 31
3.2. A contratação de leitura nos blogs ................................................................................... 33
3.3. Blogs e conteúdo jornalístico ............................................................................................ 37
3.4 Construção da credibilidade no jornalismo na web ........................................................ 44
3.5 Blogs e a noção de autoria: novo status do jornalista? ................................................... 46
4 BLOGS ESPORTIVOS: ENQUADRAMENTOS DE CONTEÚDOS ................................. 50
4.1 Blogs de jornalismo esportivo ........................................................................................... 50
4.2 Apresentação dos blogs analisados: José Cruz e Juca Kfouri ....................................... 53
4.2.1 José Cruz ...................................................................................................................... 53
4.2.2 Juca Kfouri ................................................................................................................... 55
5 OS BLOGS DE JORNALISMO ESPORTIVO ..................................................................... 57
5.1 Metodologia de dimensionamento e análise dos corpora .............................................. 57
5.2 Categorias de análise .......................................................................................................... 58
5.3 O trabalho analítico ........................................................................................................... 60
5.4 Modos de relacionamento com o leitorado ...................................................................... 61
5.5 Critérios de noticiabilidade que norteiam os blogs ......................................................... 64
5.6 Como o blogueiro (autor) se coloca nos posts: níveis de subjetividade, opinião etc. ... 69
5.7 Modos como os blogs se relacionam com outras mídias e o Portal em que ele está inserido ...................................................................................................................................... 74
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 778
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 790
8
1 INTRODUÇÃO
O ponto de partida desta investigação são os modos enunciativos dos blogs1 jornalísticos
e da perspectivação das mudanças que as mídias online parecem provocar na comunicação.
Objeto principal desta pesquisa, os blogs de jornalismo esportivo interessa-nos, pois, ao analisá-
los, podemos nos permitir uma reflexão sobre o jornalismo na contemporaneidade, seja no
âmbito do produto, da produção e ou das interações que eles possibilitam. Abordar, também,
aspectos relacionados à credibilidade do autor, aqui entendido como o jornalista ou blogueiro, a
relação entre informar e opinar, e como esses blogs contribuem de algum modo, como suporte
para os portais de notícias que os abrigam. Para tanto, elegemos estudar os blogs esportivos dos
jornalistas José Cruz2 e Juca Kfouri ambientados na editoria de esportes do portal UOL3.
Inicialmente, o interesse por blogs esportivos partiu da experiência profissional da autora
deste projeto como repórter esportivo, e consequentemente pelo gosto por esportes de modo
geral. Sobre os blogs jornalísticos selecionados, o destaque de Juca Kfouri se deu pela
popularidade do jornalista e por certa admiração pelo trabalho deste, além da abordagem do
jornalista sobre o mundo esportivo. Já o jornalista José Cruz, até então desconhecido por esta
autora, foi descoberto durante a Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil. Na época, durante
a competição, ocorreu um acidente4 em uma obra na cidade de Belo Horizonte, vinculada às
obras de mobilidade urbana da Copa do Mundo para as cidades-sede do Mundial. Dois dias após
a tragédia, José Cruz publicou um texto no seu blog, destacado na página principal do UOL
Esportes. O título A dor de um craque e a real tragédia brasileira relacionava o acidente
ocorrido em Belo Horizonte com a saída de Neymar da Copa do Mundo após o atleta sofrer uma
falta em jogo contra a Colômbia, nas quartas de final do Mundial. Na ocasião, o atacante do
Brasil sofreu lesão na coluna o que o impossibilitou de jogar por um mês. O que mais chamou a
atenção desta autora foi o modo como José Cruz abordou os fatos.
1A denominação blog, segundo Quadros (2005), surgiu quando Tim Berners Lee criou a sua página web para trocar informações com colegas de trabalho. O termo blog, aponta a autora, foi criado pelo norte-americano Jorn Barger ao cunhar o termo weblog e ao descrever tal processo de registro na web em 1997, e inserido no ano de 2003 no dicionário Oxford da língua inglesa. 2 Ver item 4.2 3Universo Online, provedor de conteúdo e de acesso à internet brasileira. Criado em 1996 pela empresa Folha da Manhã, que edita o Jornal Folha de São Paulo. Pertence ao Grupo Folha. É o portal de internet brasileiro que só perde em audiência para o Google, Facebook e You Tube. Fonte: Wikipedia e Alexa.com. 4 No dia 03 de julho de 2014, houve a queda de um viaduto na Avenida Pedro I, em Belo Horizonte, com morte de duas pessoas. Ainda em construção, o viaduto estava vinculado à construtora Cowan.
9
Os principais jornais destacam o que já se sabia ontem à noite: “Neymar está fora da Copa”. Mas há muito pouco de repercussão sobre a queda de um viaduto em Belo Horizonte, com morte de duas pessoas, na quinta-feira, e as relações da construtora Cowan com políticos e suas doações para campanhas eleitorais. Ou sobre a morte de dezenas, vítimas de enchentes no Sul do país. A força do futebol é estupenda e coloca a corrupção e outras tragédias no chinelo.O Correio Braziliense tenta sensibilizar o leitor-torcedor: “A dor que calou nossa alegria”, diz a manchete, com Neymar ao fundo se contorcendo de dor.Impressiona a solidariedade do Jornal de Brasília: “Neymar, sua dor é nossa”!Folha de S.Paulo, Estadão e o Globo deram pequeno espaço, na parte inferior da capa, a legitima tragédia nesta Copa, o desabamento de uma passarela em construção, em Belo Horizonte, com morte de duas pessoas e vários feridos. Reparem que um “legado da Copa” desaba, mata e entra no esquecimento. Já a dor de um craque, agredido covardemente pelas costas, mas que em um mês voltará a correr pelos campos de futebol, “nos une em comoção nacional”, como escrevia Nelson Rodrigues. Esse sim, que falta nos faz! 05/07/2014 grifo nosso
Foi a partir deste texto que o blog de José Cruz começou a ser acompanhado por está
autora, e no mesmo ano surgiu o interesse em realizar uma pesquisa que abordasse o esporte e a
produção jornalística no ambiente da internet, e, em especial, os blogs, buscando melhor
compreender como atuam e interagem tais ambientes midiáticos. Entre os objetivos deste
trabalho, busca-se pesquisar que propriedades definiriam esses blogs jornalísticos como próprios
do campo do jornalismo; a relação que mantêm com o Portal que os abriga (UOL), diferenças em
relação aos suportes offline5 e, também, a partir de seu conteúdo, contratos de leitura verificável e
modos enunciativos; averiguar como os conceitos de autoria, credibilidade, informação e opinião,
atua nesses blogs e se e de que modo são capazes de promover alterações e ou movimentos
distintos na prática jornalística.
Portanto, a pergunta que move nossa investigação é: Que parâmetros fazem os blogs
jornalísticos esportivos ser percebidos como do campo do jornalismo e como neles se fazem
presentes aspectos como autoria, credibilidade, informação x opinião e a reverberação do que
publicam para outras dimensões e suportes de conteúdos informativos?
No Capitulo II Informação e comunicação no ambiente online, detemo-nos em uma
abordagem ancorada nos conceitos propostos por Dominique Wolton (2007) ao pensar no
ambiente online para além das potencialidades técnicas e refletir sobre uma teoria da
comunicação em concomitância com uma representação da sociedade, ressaltando aspectos que
5Offline é um termo da língua inglesa cujo significado literal é “fora de linha” e também pode qualificar alguma coisa que está desligada ou desconectada. Neste trabalho o termo offline caracteriza as mídias que não estão presentes no universo online.
10
fazem da comunicação um assunto ainda mais relevante no cenário contemporâneo a partir das
transformações que a internet vem causando nas práticas comunicativas e relacionais.
Atualmente, podemos dizer que os avanços tecnológicos não mais surpreendem e sim, espera-se
o que mais pode ser realizado por tais possibilidades técnicas. Desse modo, refletir sobre esses
ambientes constituídos através dessas técnicas podem ajudar no entendimento de todo esse
processo. Por isso, são abordadas características e possibilidades desse ambiente, como o
hipertexto, o ciberespaço e a relação entre comunicação e sociedade.
O hipertexto é uma das características mais importantes no ambiente online. Por meio
dele, o usuário pode navegar na rede traçando seu próprio percurso de acordo com a sua
preferência, tornando-se, assim, um leitor ativo. No jornalismo, altera concepções do texto
informativo e a sua recepção. Significa que a interpretação e o uso do texto informativo
modificam o modo como o receptor não só entende, mas também faz uso dessa informação seja
para compartilhamento ou mesmo para uma interação entre autor-leitor. A partir desse ponto, o
entendimento sobre informação e comunicação é importante para nos ajudar a compreender
melhor o ato de informar e comunicar no ambiente online.
O blog é uma ferramenta do quais muitos jornalistas se valem para publicar conteúdos
jornalísticos. No blog, em particular o de jornalismo esportivo, o jornalista-blogueiro têm
liberdade na produção da informação. Ele é quem seleciona o que será publicado, faz a edição e,
por ser um espaço autoral, se expõe perante o leitor propondo uma relação de cumplicidade entre
ambos. No Brasil, a editoria de esportes, conforme Borelli (2002) é uma das mais autônomas no
jornalismo “pois há menos entrave na análise do esporte do que da política ou economia, por
exemplo,” (BORELLI, 2002, p.3).
Não é novidade que o Brasil, culturalmente, é conhecido pela paixão da população por
esportes, particularmente o futebol. Desse modo, a popularidade desta prática social aumenta a
demanda por informações sobre o assunto, ampliando o modo como as empresas midiáticas se
valem desse efeito para atrair a audiência de leitores, telespectadores, ouvintes e, claro, os
benefícios de publicidade, contratos de patrocínio etc. Nesta pesquisa, nosso enfoque está nos
blogs jornalísticos esportivos. Isso nos remete a uma compreensão preliminar sobre
características inerentes a esses blogs.
No Capítulo III Blogs: dispositivo de enunciação e seus conteúdos, o pressuposto é de
que o blog trata-se de um dispositivo de enunciação, em que a relação entre os interlocutores
11
indica características específicas em decorrência das possibilidades oferecidas pela ferramenta.
Conceitualmente apresentamos os contratos de comunicação e de leitura, tendo como aporte
teórico Patrick Charaudeau (2006), Eliseo Verón (2004) e Antônio Fausto Neto (2007) na
tentativa de compreender como se constroem os contratos de comunicação e leitura nos blogs,
realizando uma reflexão prévia de como eles parecem atuar nos blogs jornalísticos. Sabemos que
o blog proporciona ao leitor não só consumir o conteúdo, mas também participar da produção
deste. Logo, os contratos tanto de comunicação quanto o de leitura parecem se reconfigurar
nesse espaço online, indicando diferentes modos de entendimento sobre a relação produtor-
receptor. São apresentadas características inerentes aos blogs, bem como a de jornalismo online
e a relação entre ambos. Abordamos a objetividade no jornalismo e como a figura do jornalista
(autor) se vê perpassado por conceitos como credibilidade, autoria e reputação (ADGHIRNI,
2006), e a relação deste autor com o seu público. O modo como essa interação e tais
características pode estar presentes nos blogs jornalísticos, com o objetivo de ampliar o olhar
sobre o processo autoral na prática do jornalismo. Zélia Adghirni (2006) e Luís Mauro Sá
Martino (2015) são alguns dos teóricos referenciados nesta pesquisa.
No Capítulo IV, Blogs jornalísticos esportivos: enquadramentos, os blogs analisados são
apresentados, perspectivando-os a partir da reflexão e especificidades da editoria de esportes.
Destaca-se a pluralidade de blogs jornalísticos esportivos no Portal UOL, atualmente 44 blogs
sobre diferentes modalidades, e o futebol é o assunto que mais se destaca entre eles. A massiva
presença de blogueiros esportivos demonstra o quão expressivo é o assunto no país, e como os
jornalistas aderiram ao dispositivo blog como meio da prática jornalística, ressaltando o valor da
opinião e da autoria nas informações publicadas.
A metodologia e categorias de análise desenvolvida no Capítulo V, O trabalho analítico,
e o dimensionamento a ser aplicado aos blogs de José Cruz e Juca Kfouri são elaborados a partir
da investigação inicial dos blogs selecionados. Assim, conceitos caros ao jornalismo como
credibilidade, valor-notícia, contrato de leitura e comunicação, ética, autoria, opinião e outros são
destrinchados ao longo de um recorte baseado no conceito de “semana artificial” proposto por
Martin Bauer e George Gaskell (2002). No período entre fevereiro e dezembro do ano de 2015
foram selecionadas cada semana de cada mês seguindo a seguinte ordem: primeira semana de
fevereiro, segunda semana de março, terceira semana de abril, quarta semana de maio, primeira
semana de junho, segunda semana de julho, terceira semana de agosto, quarta semana de
12
setembro, primeira semana de outubro, segunda semana de novembro e terceira semana de
dezembro.
Este recorte nos proporcionou estabelecer reflexões sobre os modos de apropriação dos
blogs jornalísticos esportivos por blogueiros e internautas para melhor tentar compreender as
questões inerentes ao nosso problema de pesquisa. Assim, estabelecemos categorias de análise
para melhor nos auxiliar na investigação dos blogs. Foram quatro categorias, a saber: modos de
relacionamento com o leitorado; critérios de noticiabilidade que norteiam os blogs; como o
blogueiro (autor) se coloca nos posts: níveis de subjetividade, opinião, etc. e modos como os
blogs se relacionam com outras mídias e o portal em que ele está inserido.
13
2 INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO AMBIENTE DIGITAL
Neste capítulo, são estudados conceitos e características de informação e comunicação, e
como estes se relacionam com a mídia online. Aspectos sociais são considerados importantes no
processo de comunicação da sociedade contemporânea, que vêm sofrendo alterações pela
proliferação de suportes midiáticos. Para além, abordamos especificidades do ambiente online,
como conceitos, características e efeitos do hipertexto e a multiconexão proporcionada pelo
ciberespaço.
2.1. Internet e a vida social: perspectivações na rede
Na atualidade, mostra-se urgente pensar as transformações tecnológicas e suas
consequências no mundo da vida, a partir, em especial, das discussões sobre o impacto dessas
tecnologias - mudanças substanciais que têm já há algum tempo chamado a atenção dos estudos
em comunicação tanto em termos do presente quanto dos cenários que se avizinham. A
comunicação eletrônica permite, através de sons, textos, imagens uma conexão que se estende a
vários lugares ampliando o poder de troca de informações e contato entre as pessoas.
A sociedade contemporânea encontra-se enraizada pela tecnologia midiática no seu
cotidiano. A midiatização torna-se, cada vez mais, um processo referencial para a comunicação e
as interações que promovem a vida social (BRAGA, 2006). E pensar essa presença da
comunicação na sociedade é um processo de abertura e expansão desses movimentos de busca de
compreensão de tais fenômenos, em especial, em campos específicos como o do jornalismo, que
ainda se ressentem de investigações mais aprofundadas acerca dos novos cenários midiáticos.
Desde o surgimento dos primeiros jornais na Europa, no século XVII, a tecnologia tem
sido um essencial aliado do jornalismo, permitindo-o que ele se organize e otimize algo que lhe é
cada vez mais exigido, ou seja, a divulgação rápida de informação. Desse modo, pode-se afirmar
que o jornalismo sempre se demonstrou dependente da tecnologia para a coleta, edição, produção
e disseminação da informação. Deuze (2009) ao analisar a história da tecnologia na comunicação
social diz ser possível afirmar que “o século XIX está ligado à (aparição, crescimento e
solidificação da) imprensa escrita; o século XX está ligado a radio e televisão e o século XXI
muito provavelmente irá ligar-se às plataformas multimédia digitais (sem fios)”.
14
Joshua Meyrowitz, (apud Sá Martino, 2015), ao definir mídia, elenca três elementos para
se pensar os meios de comunicação: como canais, como linguagem e como ambiente. Pensar a
mídia como canal remete a pensá-la como um instrumento que conduz informações entre dois ou
mais pontos. Um computador, por exemplo, se torna um dispositivo com infinitas possibilidades
de transmitir uma mensagem - assim, como um aparelho de televisão, um jornal ou um celular.
Isso leva à necessidade de pensar nas características de cada mídia ao se transmitir uma
mensagem.
Essa perspectiva conduz a refletir sobre a mídia como linguagem. Isso porque cada meio
tem características próprias que interferem diretamente na mensagem. Ao pensar no blog, a
leitura acontece por meio de uma tela, que impõe características específicas e criando regras para
o tamanho, o estilo da fonte etc. Compreender essa linguagem está relacionado à ideia de mídia
como ambiente. Essa perspectiva aproxima-se do modo como às mídias se inserem no dia a dia
das relações sociais, pessoais e como a rotina diária se articula com esses meios de comunicação.
É uma relação mútua entre os meios e seus receptores.
Uma das premissas da Teoria do Meio ou Teoria da Mídia 6 é que as alterações
provocadas no modo como as pessoas, vivem e entendem a realidade, estão relacionadas com a
maneira como esses indivíduos se relacionam com o conjunto das mídias de sua época. O
objetivo não é refletir apenas sobre o conteúdo em si, mas também nas consequências sociais e
pessoais que um determinado meio pode introduzir no dia a dia através de uma tecnologia.
Nossa resposta aos meios e veículos de comunicação - ou seja, o que conta é o modo como são usados - tem muito da postura alvar do idiota tecnológico. O “conteúdo” de um meio é como a “bola” de carne que o assaltante leva consigo para distrair o cão de guarda da mente. O efeito de um meio se torna mais forte e intenso justamente porque o seu “conteúdo” é outro meio. (McLUHAN, 1964, p. 33).
Harold Innis (2010) defende que para a compreensão da comunicação é fundamental ater-
se à centralidade do meio. Em termos de informação, a possibilidade de expandir dados com
rapidez e num alcance global faz inexistir barreiras espaciais para a informação. Deve-se pensar
se, e de que modo, essa potencialidade pode interferir na legitimidade e qualidade da informação,
uma vez que, devido à velocidade de divulgação nos veículos eletrônicos, a informação pode ser
condensada e até mesmo descartada em detrimento de outra que se “torna mais importante”.
62Teoria vinculada principalmente a Harold Innis e Marshall McLuhan, dois dos criadores dessa teoria na chamada“Escola de Toronto” nos anos de 1950-1960.
15
Quando McLuhan (1964) afirmou que “o meio é a mensagem” apontava para uma
perspectiva dos processos comunicacionais, principalmente provenientes dos estudos sobre
televisão. No entanto, pode-se, de modo relativizado, aplicar tais reflexões sobre o ambiente
digital ao relacionar a ideia de meio com a ideia de redes, ou seja, as redes são a mensagem,
cujo foco seria ponderar as mídias sociais na internet como meios de difusão de informações
e os seus efeitos. O resultado é que as redes, de modo coletivo e emergente, vão construindo,
delimitando e influenciando as mensagens que ali são propagadas. Por isso para compreender
os efeitos da difusão de informações na web é preciso ir além da noção de grupos sociais e
pensá-la como meio (RECUERO, 2012).
Ao inserir-se e participar de uma mídia social, o usuário acessa os recursos que essa
mídia oferece e que estão relacionados diretamente com o acesso à informação e a difusão
desses conteúdos. As mídias digitais, logo, constituem-se em mídia emergente das dinâmicas
entre os usuários na propagação de informações no ambiente digital. “Eles são emergentes
porque nem sempre seus mecanismos, intrincados e complexos, podem ser percebidos fora de
sua estrutura” (RECUERO, 2012, p.5).
Mas, para além e aquém do relacional, a web funciona como um meio por onde e a
partir da qual a informação transita. Como sistema, atua igualmente como meio tradicional de
comunicação. As informações podem ter impactos massivos, pois o conteúdo é amplamente
divulgado e disseminado entre os usuários que se conectam ao terem acesso a essas mídias
digitais. A internet trouxe impacto efetivo não apenas para a circulação da informação, mas
para a vida das pessoas – a ideia da cibercultura e que o ambiente interativo privilegiado hoje
é o ciberespaço.
2.2. A natureza interconectiva do ciberespaço
Uma das características da internet diz respeito à junção entre o espaço físico e
ciberespaço7 ou seja, o lugar da mediação. O ciberespaço, portanto, deve ser compreendido
como a interconexão entre computadores através de uma rede. Um espaço conceitual
estabelecido a partir das relações humanas, na troca de ideias, valores e informações
mediadas por meios digitais. (RHEINGOLD, 1996).
7Segundo Martino (2015) criado a partir de vínculos, e não se confunde com a estrutura física - os cabos, as máquinas, os dispositivos sem fio - que permite essa conexão. Uma das características do ciberespaço é sua arquitetura aberta, isto é, a capacidade de crescer indefinidamente.
16
O prefixo ciber vem da noção original de cybernetics, “cibernética” 8 que foi proposta
por Norbert Wiener (1948). Trata-se da relação entre informação, comunicação e controle em
determinados sistemas. É vista como a área do conhecimento dedicada a compreender de que
modo a informação pode ser usada para prever os acontecimentos dentro de um sistema (aqui
concebido como um conjunto de elementos em interação). Em qualquer sistema, o bom
andamento dependerá da interação entre as partes. Nesse ponto, a informação se torna
essencial, e é através dela que ocorrerá a troca de mensagens entre os elementos desse
sistema. Por isso, controlar as informações em circulação ajudará a manter não só o
funcionamento do sistema, mas prever o que vai acontecer. "Quando me comunico com outra
pessoa, transmito-lhe uma mensagem, e quando ela, por sua vez, se comunica comigo, replica
com uma mensagem conexa, que contém informação que lhe é originariamente acessível, e
não a mim" (WIENER, 1948, p. 16).
Nesse ponto, pode-se considerar a mensagem em seu conceito como a organização ou
desorganização da, ocorrendo na medida em que essas mensagens “compõem-se em formas
de configuração ou de organização - variando em termos e dimensões de acordo com sua
probabilidade e clareza”. (PAVELOSKI, 2004, p.14).Uma cidade digital9ou um megaportal e
a internet (no contexto do ciberespaço) é mais bem caracterizada para além de uma ‘nova
mídia’, para uma ideia de sistema que funciona como ambiente múltiplo e heterogêneo de
informação, comunicação e ação para outros sistemas.Não existe sistema sem um ambiente.
As fronteiras entre eles são móveis, uma vez que ao mesmo tempo todo sistema é fechado, ele
é igualmente aberto pela capacidade de relacionar-se com o ambiente, processar informação e
evoluir. Ao considerar essa fluidez de fronteiras entre sistema e ambiente, é possível
compreender que os diferentes subsistemas de uma rede híbrida possam se intercambiar. Suas
fronteias são fluidas e estão em constante movimento. Logo, ambientes e sistemas não devem
ser concebidos como pólos estanques. No entanto, o ambiente, definido sempre em relação ao
sistema, é sempre mais complexo que esse sistema. (PALACIOS, 2004, p.94).
Desse modo, a internet funciona como um sistema na rede híbrida ou também como
ambiente compartilhado seja de comunicação, ação e informação, para uma multiplicidade de
outros subsistemas10sociais e agentes cognitivos.
8 Cibernética é derivada da palavra grega “kubernetes” ou “pilôto”, a mesma linguagem na qual foi derivada“governador” (Wiener, 1948). 9André Lemos (2007) entende que, por cibercidade devemos compreender uma forte relação entre as cidades e as novas tecnologias de informação e comunicação. Cibercidades seriam cidades para as quais as infra-estruturas digitais já são uma realidade. 10Palacios (2004)afirma que a caracterização da Internet como sistema ou subsistema depende, é claro, do lugar de onde se observa ou descreve. A Internet é em si mesma um sistema, mas pode também ser descrita como um subsistema de um sistema mais abrangente (uma rede híbrida ou o ciberespaço, por exemplo) e/ou como ambiente para outros sistemas e/ou subsistemas.
17
A ideia muito difundida e aparentemente simplista de que “na rede se encontra de tudo” tem origem nessa mesma situação de compartilhamento ambiental. A concepção da Internet enquanto subsistema e ambiente permite-nos compreendê-la como ente dotado de sua própria dinâmica de funcionamento e evolução e não apenas como suporte tecnológico e elementos de mediação. [...] nosso objetivo é apenas chamar a atenção para a necessidade de adoção de concepções mais amplas, a fim de que os potenciais do novo ambiente venham a ser mais bem equacionados e, de facto, incorporados de forma criativa e eficaz na prática jornalística contemporânea. (PALACIOS, 2004, p.95).
A noção de cibercultura de Pierre Lévy (2000) leva em consideração as dimensões do
mundo real e do mundo virtual, e que essas se articulam. Ao se dizer mundo virtual é possível
fazer uma distinção com a expressão de mundo físico, mas essa oposição não pode ser
referida a mundo real. Isso porque o mundo virtual se torna visível quando acessado, o que
não significa que ele não seja real. Na consideração de Lévy (1996), o virtual nesse sentido
significa atual, ou seja, no sentido de algo estar acontecendo neste momento.
Jenkins (2009) fala em cultura da convergência onde as mídias tradicionais e as novas
mídias colidem e se cruzam no fluxo de conteúdos por meio de diversas plataformas de mídia,
e que podem definir transformações tecnológicas, culturais e sociais. O autor estabelece uma
relação entre os conceitos de convergência dos meios de comunicação, exatamente esse ponto
de colisão em que tecnologias e mídias tradicionais não morrem e sim são transformadas e
incorporadas por novas tecnologias e práticas, entendendo a ideia de convergência como uma
transformação cultural e não como um meio tecnológico em que diversas funções são unidas
dentro dos mesmos aparelhos; cultura participativa quando consumidores exercem também a
função de produtores, como exemplo nos blogs ou sites pessoais; e inteligência coletiva,
termo cunhado por Levy, no qual o consumo torna-se um processo coletivo quando as
pessoas compartilham saberes.
A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com outros. Cada um de nós constrói a própria mitologia pessoal, a partir de pedaços e fragmentos de informações extraídos do fluxo midiático e transformados em recursos através dos quais compreendemos nossa vida cotidiana. (JENKINS, 2009, p.30)
Mourão (2009) caracteriza o ciberespaço como um novo dispositivo, em que uma
página deixa de ser apenas uma página, e se torna ‘um espaço que é desmaterializado’.
Espaço da simultaneidade e de sobreposição.
18
No ciberespaço, o modelo dominante é o de uma versão horizontalmente partilhada e
tecnicamente melhorada do medium escrito. No caminho inverso, há o modelo do ciberespaço
piramidal. Esse modelo horizontal, deixa ao leitor a iniciativa de eleger como e em que fonte
ele gosta de ser informado. Aos redatores e editores ‘impõe’ a necessidade de conceder um
conteúdo de credibilidade, válido, fácil de navegar, assim fidelizando um leitorado. Seja qual
for o modelo, existirá uma incidência sobre a leitura e a escrita (MOURÃO, 2009).
O usuário do ciberespaço, após acessar o endereço eletrônico desejado, precisa
absorver-se num processo contínuo de intervenção na virtualidade da inforrede. E na
hipertextualidade dos produtos do ciberespaço para reativar em e extrair de ambos aquilo que
eles podem oferecer. A mensagem não vem até ele; é ele que, sedentário-nômade, através do
veículo, a todo o momento, vai. Além disso, tal estatuto do indivíduo tele-interagente-
ciberespacial o obriga a ter que construir e refazer o seu objeto de desejo de maneira pontual e
absolutamente individualizada.
Essas características do contexto global do ciberespaço estão vinculadas porque nesse
vigora a circulação de informações, imagens, sons de modo muito constante e tautológico,
descentralizado e equilibrado pelo processo individual de escolhas e intervenções.
Nessa cultura da convergência enfatiza-se uma mudança cultural, e não tecnológica.
Como o próprio Jenkins (2009) afirma, a mudança ocorre no momento que o consumidor tem
a possibilidade de encontrar informações e fazer conexões nos diversos conteúdos de mídia
espalhados no universo online.
A premissa de que meios de comunicação tradicionais seriam substituídos por novos
meios perde força, e o que se verifica é que há uma ligação entre eles, incorporando e
transformando as “velhas” mídias por novas tecnologias e práticas. O meio pode apresentar
mudanças em seu conteúdo e seu público, assim como seu status social pode aumentar ou
diminuir, mas, independente desses fatores, quando um meio de comunicação se estabelece,
ao atender a uma demanda, ele segue funcionando, porém dentro de um sistema ampliado de
operações da comunicação. (JENKINS, 2009).
Nos processos comunicacionais de massa, a relação produtor e receptor girou em
torno desses pólos, e entre eles pontuando um grupo de mediadores sociais e culturais como o
canal, a mensagem, o signo, o ruído, o contexto, a codificação, a decodificação e outros.
Isso se difere no processo ciberespacial de comunicação no que tange a imbricação
entre todas essas categorias, que se sobrepõem umas às outras ou se desfiguram e outros. Não
significa uma descaracterização da teoria inicial dos processos comunicacionais, e sim para
ampliar os horizontes e refletir sobre modos diferenciados de experimentação dessas práticas.
19
Essa imbricação, de algum modo, sempre esteve presente nesses processos. No entanto, a
configuração do media eletrônicos contemporâneos contribuem para visão contrária de
produtor e receptor como pólos estanques.
No contexto atual da mídia, que vem sendo desenvolvido e transformado nos últimos
anos, sabe-se que o consumidor também é produtor. Exemplo são os blogs, em nosso trabalho
com enfoque nos jornalísticos e esportivos, em que o jornalista tem a possibilidade de
conquistar um espaço seu, que o permite ter uma espécie de democracia editorial. Talvez um
modo de deixar a transmissão da informação mais dinâmica e menos centralizada, ou seja, um
modo de expor diferentes opiniões num espaço democrático. Nesse contexto o blog seria um
espaço para o acréscimo de informações dentro ou fora de um site de comunicação.
Por um lado, a convergência representa uma oportunidade de expansão aos conglomerados das mídias, já que o conteúdo bem-sucedido num setor pode se espalhar por outras plataformas. Por outro lado, a convergência representa um risco, já que a maioria dessas empresas teme uma fragmentação ou erosão em seus mercados. [...] O público, que ganhou poder com as novas tecnologias e vem ocupando um espaço na intersecção entre os velhos e os novos meios de comunicação, está exigindo o direito de participar intimamente da cultura. (JENKINS, 2009, p. 47/53).
A internet ora é vista como uma máquina que proporciona o acesso remoto e
personalizado a recursos e produtos em poucos centros, ora é definida como um meio de
comunicação que permite aos indivíduos explorar diferentes caminhos, se expressar e se
reunirem num determinado ambiente, o ciberespaço. Em tal contexto, um ponto a ser
observado está no modo que a mediação pode acontecer nessa rede. A internet (PAVELOSKI,
2004) já é parte dos sistemas e instrumentos da comunicação social mediada: é um suporte, é
uma ponte, é a estrada, é um medium. As suas características diferem-se dos meios de
comunicação de massa como o jornal ou a tevê, mas ela é um mediador.
Paulo Vaz (2001) afirma que a Internet coloca em crise um tipo de mediador, mas que
abre caminho para muitos outros. Nesse processo, num paralelo com os meios de
comunicação de massa, estes funcionam "segundo o esquema um-todos" em que as fontes
emissoras distribuem uma mensagem homogênea para muitos. No entanto, na internet, trata-
se de um lugar descentralizado numa comunicação de todos com todos à distância. O objetivo
é refletir e diferenciar as formas de mediação que podem existir na internet sem
descaracterizar ou tratar de modo negativo as características já descritas, negando a ideia de
que a Internet implica o fim da mediação, mas exatamente pensar nessa posição do mediador
dentro desse ciberespaço. "É estudar as diferenças entre a forma moderna de mediação,
20
articulada aos meios de comunicação de massa, e as formas de mediação que a internet
autoriza". (VAZ, 2001, p.3).
Na teoria do modo moderno de mediador, o especialista poderia exercer essa função
retratando um interesse geral. A diferença atualmente parece estar na posição desse mediador
quanto crítico em relação à verdade. Se a crença na possibilidade última da verdade for
concreta, a seleção “torna-se ideologia e transformação de interesses particulares em interesse
geral e bem comum”; do contrário, a seleção “é vista, sobretudo, como um procedimento de
massificação e redução do que pode ser pensado” (VAZ, 2001, p.4).
A função do mediador vai além de facilitar as expressões individuais, mas permitir a
cada um encontrar seu grupo. Num ambiente descentralizado, otimizado pelo grande
contingente de informação, o mediador amplia as opções possíveis devendo assegurar a
credibilidade e legitimidade da informação. Nesse ponto, leva-se também em questão à
pertinência e à garantia de autenticidade da informação. No universo em que qualquer pessoa
pode criar um “produto” e nele publicar o que bem entender, pode haver questionamentos
sobre a veracidade dessas mensagens. No entanto, Lévy (2003) ressalta que na internet a
maior parte dos documentos é identificada pela assinatura de seus autores, e também se pode
identificar o lugar em que estão hospedados (site de uma empresa ou de um grupo de
imprensa, por exemplo). Isso pode apontar credibilidade ou não ao produto publicado.
No que diz respeito ao nosso estudo, um blog num portal de notícias seria uma espécie
de lugar especializado para a divulgação de determinados assuntos, voltado para um público
específico. Nesse contexto, ao refletir sobre um blog esportivo, um tema bem difundido como
o futebol se destaca não só pela dimensão e difusão nas diversas mídias, mas pode-se perceber
que a credibilidade está na maior parte das vezes ligado à figura do autor. Um jornalista como
Juca Kfouri, cujo blog compõe os corpora de nossa investigação, conquistou certa
notoriedade e com ela uma autenticidade que o acompanha independente da mídia na qual
atua. Diferentemente de um profissional menos famoso, que mesmo escrevendo sobre igual
assunto, vai precisar de outros elementos para ganhar notoriedade e conquistar a confiança
dos leitores. Isso parece ser algo a ser conquistado com o tempo, mas leva-se também em
conta a potencialidade das informações publicadas.
21
2.3 O hipertexto e a circulação de conteúdos
Nos estudos sobre jornalismo online, alguns autores destacam o hipertexto como
elemento fundamental nas características da prática jornalística nesse ambiente digital. Essa
perspectiva é ressaltada por Luciana Mielniczuk (2001) ao relatar que a narrativa na web é
vista como fragmentada exatamente quando é proposta em forma de hipertexto, assim como é
individualizada/personalizada devido à construção que cada leitor realiza sobre determinada
mensagem, e efêmera por ser circunstancial reconstruída de modos diferentes por leitores
diferentes ou pelo mesmo leitor em momentos distintos.
O hipertexto liberta as sequências narrativas da chamada ‘gramática da narrativa
tradicional’ para um espaço multidimensional de uma estrutura nova e aberta. No hipertexto
alteram-se as noções de ‘começo’ e ‘fim’ determinados. Ele dissolve a diferença entre o
‘central’ e o ‘marginal’ exatamente por sua força de navegar em ritmo contrário a ideia de
sequência fixa, linear.
As potencialidades do hipertexto de algum modo já faziam parte, antes mesmo das
plataformas digitais, da prática jornalística. No jornal impresso, por exemplo, a fotografia
relacionada ao texto jornalístico pode ser considerada um modo de hipertexto bem como as
cartas do leitor pode ser um modo de interação entre emissor e receptor.
Segundo Mourão (2009): “A mudança de um modelo linear para um modelo multi-
linear [...] é mais do que a mudança de uma simples linha para um diagrama ou um modelo
mais complexo; implica sair de um tipo de representação – e de uma forma de expectação –
para outra” (MOURÃO, 2009, p.70). O que teria se alterado, então, foram as próprias
concepções do texto informativo e a sua recepção, ou seja, a interpretação e o uso.
A palavra mutação parece ser a que melhor define a passagem do texto ao hipertexto.
A relação com o desempenho vai além da ordem metafórica. Hipertexto e performance são
visuais e textuais, são multifacetados. E é dessa interação com as novas tecnologias, a
significação textual, a velocidade, os códigos semióticos, a intensidade que resultam
modificações, expansões. (MOURÃO, 2009, p. 219/221.)
[...] O hipertexto, então, não seria a imagem refletida de uma sociedade fragmentada em tribos, policêntrica e em rede? Sociedade na qual cada um pode participar de um grupo, de um contexto ou de um ambiente comunicacional. As dinâmicas intrínsecas do hipertexto poderiam, portanto, ser o espelho de uma sociedade complexa e “fractal”, sem ideologias hermetizantes ou classes sociais fechadas. Sociedade complexa e aberta (CASALEGNO, 2006, p. 280).
22
Distintas perspectivas são apresentadas sobre as noções de informação e
comunicação. Em nossa pesquisa, vamos nos basear-nos em Adriano Rodrigues (2010) e
Dominique Wolton (2007). De modo relativamente próximo, os dois autores identificam por
informação os diversos mecanismos utilizados para a transmissão de saberes, seja entre os
membros de uma comunidade, ou as técnicas de difusão de mensagens de massa ou um
processo de tratamento informático de dados11. As técnicas de informação estão cada vez
mais desenvolvidas, o que contribui substancialmente para transformações das relações
sociais seja no âmbito individual ou coletivo. Wolton (2007) ressalta quatro tipos de
informação dominantes nessa multiplicidade de dados, a saber: serviço, lazer, informação-
notícia e informação-conhecimento.
Sabe-se que toda produção de informação possui regras que regem a formação e a
produção dos enunciados. No campo jornalístico não é diferente, já que, para informar, é
preciso, por exemplo, produzir uma narrativa em ordem de importância, utilizar a terceira
pessoa (salvo matérias especiais), colocar um título, entre outras. Assim, há toda uma ordem
para se produzir um texto informativo; ordem que deve ser respeitada para que a informação
veiculada seja considerada uma informação legitimada (MAGNABOSCO; ROMUALDO,
2010).
Como abordado anteriormente, as práticas discursivas dizem respeito a um conjunto
de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiriam,
em uma determinada época e para certa área, as condições de exercício da função enunciativa,
ou seja, as condições para que dado enunciado seja produzido por um sujeito, em um lugar
institucional, bem como as regras sócio-históricas que definiriam as condições de emergência
desses discursos. (MAGNABOSCO; ROMUALDO, 2010, p.14).
Ciro Marcondes Filho (2001) destaca três componentes principais da era tecnológica: a
digitalização, a velocidade e o excesso informativo. Para o autor, o processo de digitalização
levou à redução de todos os dados à estrutura binária, numérica e por esse motivo infinitamente
reprogramável. Assim, a virtualidade põe em risco a escrita ou a cultura escrita. Na relação com o
objeto, enquanto que o analógico tem uma referência direta com o suporte, o digital tem uma
relação abstrata com o objeto, "um reducionismo que equaliza toda e qualquer informação,
seja ela textual, imagética ou em movimento". (MARCONDES FILHO, 2010, p.3).
11 No entendimento de Rodrigues (2010), no primeiro caso, as técnicas da informação existem desde os primórdios da humanidade ao passo que na segunda acepção, só passariam a existir na época moderna e, na terceira acepção, só apareceram na segunda metade do século XX.
23
No processo da velocidade, a busca pelo tempo real, leva a uma “ditadura do
instantâneo, da violência intrínseca aos processos rápidos, da prevalência do emocional, da
ausência de reflexão, em suma, de todos os componentes que fazem parte das formas
totalitárias”. Por fim, o processo do excesso de informações, "provocado pela abundância,
dispersão do receptor, da incapacidade de trabalhar esse volume, que acaba se tornando
opressivo, ao fim da informação pela “metástase”, etc. (CIRO MARCONDES FILHO, 2001,
p.5).
A comunicação compreende um processo de produção e compartilhamento de sentidos
entre sujeitos interlocutores que, através de uma materialidade simbólica (da produção dos
discursos), é realizado e inserido em determinado contexto sobre o qual atua e do qual recebe
os reflexos. Portanto, esse processo comunicativo é dinâmico, estabelece sentidos e relações,
onde os sujeitos além de dizer se constroem socialmente (FRANÇA, 2000).
Mafessoli (2003) usa a expressão "comunicação é cimento social" a partir da ideia que
é a relação com o outro que dá sentido à nossa compreensão de existir. Nesse caso, estaríamos
ligados ao outro pela mediação da comunicação, onde há encontro numa participação de um
destino comum, negando a ideia do individualismo. “As pessoas não querem só informação
na mídia, mas também e fundamentalmente ver-se, ouvir-se, participar, contar o próprio
cotidiano para si mesmas e para aqueles com quem convivem. A informação serve de cimento
social” (MAFESSOLI, 2003, p.3).
Destaque-se a "diferenciação" que o autor faz entre informação e comunicação. Ele
ressalta a importância ao pensar sobre o sentido etimológico da palavra Informação, que
significa - dar forma. Informar significa "ser informado por". Ou seja, pode-se refletir numa
possibilidade de não "se pensar por si mesmo, mas se é pensado, formado, inserido numa
comunidade de destino". Por outro lado, a comunicação "põe em relação" o que remete para
essa sociedade da informação onde o "indivíduo só é o que é na relação com outras pessoas"
(MAFESSOLI, 2003, p.2).
Destaque-se a "diferenciação" que o autor faz entre informação e comunicação. Ele
ressalta a importância ao pensar sobre o sentido etimológico da palavra Informação, que
significa - dar forma. Informar significa "ser informado por". Ou seja, pode-se refletir numa
possibilidade de não "se pensar por si mesmo, mas se é pensado, formado, inserido numa
comunidade de destino". Por outro lado, a comunicação "põe em relação" o que remete para
essa sociedade da informação onde o "indivíduo só é o que é na relação com outras pessoas"
(MAFESSOLI, 2003, p.2).
24
A comunicação e os conteúdos que ela faz circular conseguem unir as pessoas, que
compartilham o cotidiano, as emoções de pequenos acontecimentos. Assim, uma determinada
informação pode criar um vínculo de discussão entre pessoas que querem debater sobre um
assunto específico. Na internet, o aspecto interativo predomina sobre o utilitário. Aqui não é
negado que há informação, mas enfatiza a importância em ‘reconhecer-se e fazer parte de uma
comunidade seja ela presencial ou virtual’. No entanto, o essencial está na ausência de
diferença profunda entre informação e comunicação.
Comunicação e informação não passam de modalidades de uma mesma forma global, a da relação, do estar-junto, do contato social. [...] Comunicação e informação dão nova potência a um dos mais sólidos arcaísmos: estar em relação. Mesmo se agora se trata de relações mediadas tecnologicamente. [...] A comunicação é sempre fragmentada, negociada, jogada, investida de emoções e de sentimentos, articulada entre partes que ora se opõem, ora se complementam. (MAFESSOLI, 2003, p.4-8).
Portanto, não é possível uma teoria da comunicação sem uma representação da
sociedade. Entende-se que toda teoria da sociedade implica um modelo de comunicação em
escala individual e coletiva. É por este ponto que teoria da comunicação e teoria da sociedade
está ligada, em direção a um modelo de sociedade aberta na qual as relações e a comunicação
desempenham um papel essencial. Partindo deste raciocínio, Wolton (2007) explica a
dualidade da comunicação que, segundo o autor, hesita entre um sentido normativo (da ordem
do ideal) e um sentido funcional (da ordem da necessidade). A conversação se daria no
âmbito da comunicação, uma vez que esta se baseia na relação entre os sujeitos sem
intermédio dos aparatos tecnológicos. No entanto, o autor não descarta a internet12 – e, claro,
nesse ambiente digital os blogs – como possível locus do fazer comunicativo. Autonomia,
domínio e velocidade são termos essenciais para se compreender o sucesso das novas
tecnologias digitais, porque cada indivíduo pode agir sem intermediação do outro. Nesse
ciberespaço, a ideia de liberdade, de poder navegar na internet sem filtro ou hierarquia e a
noção de tempo real é absolutamente sedutora.
A Web não cria nenhum conceito novo. Ela oferece, por outro lado, uma extensão considerável tanto à informação normativa quanto à informação funcional, à comunicação normativa quanto à comunicação funcional, através das três dimensões da informação-serviço, da expressão ou da comunicação. Simplesmente, na Web está tudo misturado em proporção ao extraordinário volume de informações e de comunicação que ela gera. (WOLTON, 2007, p.103).
12 Seu funcionamento não dependeria não apenas do papel capital desempenhado pela informática.
25
Todavia, essa multiconexão não assegura uma melhor comunicação e coloca ainda
mais em evidência as complexidades dos novos arranjos entre a comunicação técnica e
comunicação humana. A internet criou a sua própria legitimidade suprimindo “de um só
golpe” as “realidades do poder, as desigualdades, as mentiras e as relações de força que desde
sempre cercam a informação”. Mesmo os jornalistas, que batalham pela liberdade de
informação e sabem o quanto é difícil este processo, nada reivindicam neste caso, não
levantam nenhuma questão, “não se surpreendem com tanto irenismo (ou seja, com uma
atitude conciliadora com pouco questionamento). „É certo e verdadeiro porque está na
rede”‟. (WOLTON, 2007, p.104/109).
Luís Mauro Sá Martino (2015) cita Castells ao refletir sobre a noção de rede como um
conjunto de “nós” interconectados, que se comunica entre si. A internet é uma “rede de
redes”.
As redes digitalizadas de comunicação multimodal passaram a incluir de tal maneira todas as expressões culturais e pessoais a ponto de terem transformado a virtualidade em uma dimensão fundamental da nossa realidade. (CASTELLS, 2011, p.16).
Pode-se interpretar a rede como um conjunto pensado a partir de “modelos sistêmicos”
no qual a Internet, no âmbito do ciberespaço, pode ser identificada como um sistema “que
funciona como ambiente de informação, comunicação e ação múltiplo e heterogêneo para
outros sistemas”.
Essa especificidade se constituiria para além de sua existência como suporte técnico, e
permitiria entendê-la provida de sua própria “dinâmica de funcionamento e evolução [...] pela
junção e/ou justaposição de diversos (sub) sistemas, no conjunto do ciberespaço enquanto
rede híbrida” (PALACIOS, 2003, p.7).
As redes integram e excluem, funcionando como pontos de conexão e de transformação interativa de fluxos sociais. Nesse espaço multidimensional em rede, a comunicação é inserida no centro da estruturação social, exprimindo uma transformação cultural paradigmática nas sociedades e nos indivíduos, imputada, principalmente, pela capacidade de dominação. Segundo Castells, essa dialética entre dominação e autonomia no funcionamento comunicacional-informacional está, por vezes, centralizada nos meios de comunicação jornalísticos, sendo estes atores privilegiados no novo contexto tecnológico da sociedade em rede. (ALMEIDA; ZAMITH, 2015, p.6).
No sentido técnico, a rede designava um modo de distribuição de um fluxo por canais
fixos. O termo rede não tinha aplicação social. No entanto, no sentido atual, "a rede aparece
26
como exemplo do que é aberto, rompe hierarquias, transgride fronteiras, impede o segredo e
pode ser produzido e apropriado por qualquer um”. A Internet a partir de agora será definida
pela “simultaneidade entre proximidade tecnológica e distância cognitiva de todos com todos"
(VAZ, 2001, p.5/8). 13A distância é aqui cognitiva e é inerente ao próprio crescimento desta
rede que a tudo e a todos aproxima, uma vez que a Internet tem a potencialidade de crescer
exponencialmente, ampliando o fluxo de informações e participação das pessoas,
multiplicando as conexões entre os pontos e nós que a compõem.
Ao tentar caracterizar a internet é preciso compreendê-la para além da sua dimensão
mediática em que variadas modalidades comunicacionais “síncronas/assíncronas;
pessoais/massivas coexistem num único artefato tecnológico [...]”. (PALACIOS, 2004, p.86).
Além de comportar meios de comunicação (jornalismo, rádio, canais de televisão,
etc.), a Internet é um grande sistema de referência para buscas, pesquisas, localizações; um
espaço para apresentação de pessoas, empresas, órgãos públicos e não-governamentais;
espaço de diálogo em tempo real, de correio eletrônico, de constituição de comunidades;
espaço de discussão, de lazer, encontros, passatempos; espaço de compras, de informações
bancárias, em suma, todo um mundo paralelo que reconduz a ágora para dentro de casa, agora
não mais como representação/preocupação, mas como projeção/reconstrução.
A cultura se realiza pela troca instantânea de cenas, pela sucessão contínua de apelos
visuais, pela comunicação através de significantes puros num contínuo jogo de reenvio. Este é
o lado lógico e político do sistema, que está na base da Internet. Mas há outras tendências,
como a de o meio técnico expandir-se e apropriar-se cada vez de mais funções propriamente
humanas e da expansão da Internet para dentro dos domicílios. Por isso, a Internet pode ser
vista como um mundo próprio em que a constelação de atividades se acha deslocada e
condensada no meio eletrônico (MARCONDES FILHO, 2001).
Portanto, seria necessário definir essa rede complexa constituída por um grupo
formado pelo mundo físico (caracterizado como IRL14 e o ciberespaço, na qual a Internet,
como elemento de mediação, não pode ser caracterizada apenas como um suporte para a
13 Vaz (2001) diz que por definição, uma rede é constituída por nós e conexões dois a dois entre estes nós, que podem ser diretas ou indiretas, isto é, a conexão entre dois nós pode requerer um ou mais nós intermediários. Da definição, decorre uma singularidade maior da rede: o número de nós pode ser finito e, contudo, a rede é ilimitada. De cada nó, só percebemos outros nós, só percebemos margens; contudo, como esta posição central da qual se vêem limites é indefinidamente negada pela presença mesma de outros nós, a rede, para quem está no seu interior, não tem limite e, portanto, não tem centro, margem ou exterior. A rede é a infinita encruzilhada [...] A rede é a estrutura mínima de ordem, singularizada por sua tolerância à diversidade social e temporal. 14 Segundo Palacios (2004) IRL são as iniciais de in real life (na vida real), ou seja, basicamente fora do computador. Essa expressão, muito usada nos primórdios da Internet, caiu em desuso por implicar uma disjunção bastante radical entre o mundo físico e o ciberespaço.
27
interação entre os atores envolvidos. Isso porque “outras ações (compra e venda oferta de
educação e treinamento, perpetração dos mais variados tipos de crime, atividades de lazer
etc.) ocorrem e produzem efeitos para além do âmbito comunicacional/informacional stricto
sensu”. (PALACIOS, 2004, p.91).
2.4 Breve histórico dos blogs
Num primeiro momento, é possível observar como algumas mídias online parecem
provocar alterações na comunicação, seja na difusão de informações ou nas relações cada vez
mais interativas. Os processos comunicacionais parecem caminhar para movimentos distintos
dos que já estão estabelecidos nos levando a uma reflexão sobre o impacto dessas mudanças
nos contratos de comunicação.
No entanto, essa potencialidade da internet nem sempre foi assim. Zago (2008) remete
ao passado, na década de 1990, em que os sites eram construídos como páginas estáticas, o
conteúdo pouco atualizado e editados por uma ou um grupo de pessoas. Mas, a partir do ano
2000, os sites ganharam um formato com conteúdo dinâmico, frequentemente atualizado.
Nesse ponto, as páginas da web se tornaram plataformas de interação, permitindo ao usuário
consumir e produzir conteúdo ao mesmo tempo.
O blog foi ao longo do tempo perdendo esse caráter íntimo e se tornando um espaço de
deliberações de assuntos mais voltados para o cotidiano. Formado a partir da interação das
pessoas na interface das mídias digitais, por sua dimensão pública, possibilita “publicações”
de determinados assuntos em sites e páginas da web, promovendo-os de algum modo a partir
dessa exposição. (SÁ MARTINO, 2015).
O blog foi criado com o termo weblog usado primeiramente por Jorn Barger, no ano
de 1997. Nessa época, os weblogs pouco se diferenciavam de site comum na web. Para
alguns, o inventor da World Wide Web (www) 15e criador do primeiro website também é
considerado o criador do weblog (GOMES, 2005). Um dos fatores que impulsionaram a
dimensão dos blogs foi a criação, em 1999, do Pitas, inédita ferramenta para criação e
15 WorldWide Web, o famoso WWW, é um sistema de documentos dispostos na Internet que permitem o acesso às informações apresentadas no formato de hipertexto. Para ter acesso a tais informações pode-se usar um programa de computador chamado navegador. Os navegadores mais famosos são: Internet Explorer, Mozilla Firefox, GoogleChromeeSafari. A idéia de World Wide Web surgiu em 1980, na Suíça. O precursor da idéia foi o britânico Tim Berners-Lee. Um computador NeXTcube foi usado por Berners-Lee como primeiro servidor web e também para escrever o primeiro navegador, o WorldWideWeb, em 1990. Fonte: TecMundo.
28
publicação dos blogs totalmente gratuita. No mesmo ano, a empresa Pyra lançou o Blogger,
que tornou mais simples publicar posts16 diários.
Nos blogs informativos – fazem parte dessa categoria os blogs jornalísticos – assuntos
gerais ou de um tema específico, como política, economia, cultura, esporte e outros, trazem
discussões acerca de tais temas e podem ser analíticos, opinativos, noticiosos.
Barbara Kaye citada por Martino (2009) destaca seis movimentações primárias,
indicadas pelos usuários, para acessar um blog: 1) a procura de informações; 2) a
conveniência das informações; 3) o interesse pessoal do usuário; 4) saber sobre as tendências
políticas; 5) busca de contatos sociais; 6) expressão e vínculos políticos.
O que os blogs têm em comum, independentemente do objetivo de sua utilização é o
“formato, constituído pelos textos colocados no topo da página, bem como a possibilidade de
uma lista de links apontando para sites similares”. (AMARAL; RECUERO; MONTARDO,
2009, p.28). A definição mais popular destaca o blog a partir dos textos serem organizados
em ordem cronológica reversa, datados e atualizados com certa frequência.
[...] vemos a noção do blog como uma ferramenta capaz de gerar uma estrutura característica, constituída enquanto mídia, ou seja, enquanto ferramenta de comunicação mediada pelo computador. A percepção do blog como ferramenta é, no entanto, propositalmente genérica, pois objetiva abranger todos os usos que alguém pode fazer do sistema, que são classificados como gêneros diversos autores. (AMARAL; RECUERO; MONTARDO, 2009, p.29).
Di Luccio e Nicolaci-da-Costa (2010) assinalam que, na internet, a maior parte da
informação/comunicação circula por escrito. Assim, o blog é um desses espaços em que
possibilidades textuais são geradas pela conexão em rede. Como meio de comunicação, os
blogs são compreendidos por sua função enunciativa e espaço de sociabilidade. Ele é uma
personalização‟ do blogueiro a partir da sua vocação midiática expressa em suas escolhas de
publicação. “Pode-se dizer que o objetivo do blog em todas as suas aplicações é possibilitar o
diálogo mais informal entre a organização e o seu público [...]”. (AMARAL; RECUERO;
(MONTARDO, 2009, p.39).
Nesse contexto surgiu a blogosfera “ou o espaço virtual resultante da união de todos
os blogs em uma conversação única. Os blogueiros passaram a citar outras pessoas, através da
inclusão de links para os seus sites, o que criava uma rede de referenciações mútuas entre
16Post é o nome dado aos textos e outros conteúdos publicados nos blogs.
29
blogs” (ZAGO, 2008, p.4). Outros recursos adicionais presentes nos blogs são a caixa de
comentários, blogroll, trackback e RSS.17
No Brasil, os blogs começaram a se difundir entre os anos 2000 e 2001. Em pesquisa18
divulgada em janeiro de 2016 existem no mundo aproximadamente 200 milhões de blogs,
sendo que 10 milhões deles estão ativos. O Brasil ficou em 4º lugar entre os países com maior
número de blogs, ficando atrás dos Estados Unidos, Reino Unido e Japão. A pesquisa também
revelou que no país 50,9% dos blogs são femininos e 49,1% são masculinos.
Essa disseminação abriu espaço para o surgimento de blogs dedicados a outros
gêneros de escrita que não o inicial do diarismo. Os blogs jornalísticos esportivos são um bom
exemplo de uso desse dispositivo. No país são, certamente, centenas de blogs de cobertura
esportiva, apesar de nem todos terem uma essência jornalística. Os mais acessados
encontram-se instalados em portais jornalísticos como UOL, G1, UAI etc.
Mágda Cunha (2006) destacou que os blogs, no contexto daquela época, viviam três
fases. A primeira diz respeito a sua constituição inicial, que começou como diário íntimo ou
um treinamento para dominar a técnica de como postar texto e fotos na internet. A segunda
fase foi o relacionamento do blog com o jornalismo que, segundo a autora, começou de fato
quando ele foi descoberto por profissionais da área. Os jornalistas produziam suas
informações individualmente sem estar associado às grandes empresas de comunicação.
“Porém, é importante ressaltar que estes profissionais construíram sua credibilidade na mídia
convencional e hoje migra esta mesma credibilidade para blogs particulares ou mesmo
organizada pelas empresas” (CUNHA, 2006. p.6).
Segundo a autora, numa fase inicial esses profissionais foram tratados com
preconceito, mas posteriormente passaram a ser respeitados e citados em outras mídias. Por
fim, a terceira fase foi o momento em que às empresas jornalísticas lançaram blogs de seus
jornalistas mais conhecidos, sem desvincular o blog das páginas web da empresa. Assim, o
internauta interessado no blog deveria acessar primeiramente a site da própria organização.
17 Segundo Zago (2008) Blogrol é a lista de blogs recomendados pelo autor de um determinado blog, geralmente disposta na barra lateral de um blog, e que representa os blogs que o blogueiro daquele espaço costuma ler. Trackback é uma espécie de notificação automática que um blog envia para outro, normalmente através dos comentários, avisando sobre a realização de uma postagem em um blog que cita um post de outro blog. RSS é sigla em inglês para “Really Simple Syndication”. Trata-se de um sistema para agregamento de conteúdo que permite a indexação das alterações que ocorram em um determinado site. “Várias páginas diferentes que disponibilizem seu conteúdo em RSS podem ser reunidas em um único local através do uso de um programa agregador”. 18Pesquisa divulgada na revista Exame dia 24 de janeiro de 2016.
30
Esta pode ser apontada como uma das mais significativas evidências de um degradé na apropriação das mídias pela cultura, neste momento. Trata-se de uma influência dos novos modelos midiáticos sobre os convencionais. A diversidade de iniciativas também evidencia o fato. Se até agora, todos faziam jornais, rádio e televisão de uma maneira muito parecida, as tentativas de acompanhar as modificações, usando as iniciativas proporcionadas pela internet são díspares. (CUNHA, 2006, p.6).
Atualmente, esse cenário descrito há dez anos ainda está presente na prática
jornalística através dos blogs. Essa co-dependência com as empresas de comunicação nos
parece potencializadas, até mesmo porque a sociedade tem presença massiva na rede. Logo,
essas empresas precisam criar estratégias para atrair o público, e uma delas identifica-se
exatamente pela presença de jornalistas conhecidos como destaque na página inicial da
empresa.
Os blogs de José Cruz e Juca Kfouri, objeto de estudo dessa pesquisa, podem oferecer
perspectivas dessa dimensão, já que estes são jornalistas conhecidos na área esportiva,
principalmente Juca Kfouri, e seu blog estar vinculado ao portal UOL que, por ser uma
grande empresa de comunicação sendo o portal na web de maior audiência no país, atrai mais
leitores, proporcionando mais audiência a esses blogueiros que, desse modo, poderão
estabelecer uma relação de cumplicidade com o seu leitor determinando diferentes contratos
de comunicação e leitura.
Assim, a popularidade do dispositivo abriu espaço para o surgimento de blogs
dedicados a outros gêneros de escrita que não o inicial do diarismo. Entre eles os blogs de
jornalismo esportivo, objeto de nossa pesquisa que têm grande relevância hoje na mídia
online no Brasil, pois o esporte sempre foi marcante na sociedade brasileira. As melhores
seleções, os melhores jogadores, entre outros fatores contribuíram para que o esporte
alcançasse ampla notoriedade, principalmente a modalidade futebol. Assim, para alguns
autores (BORELLI, 2002) o esporte ocupa na mídia um espaço significativo, o que garantiu
mais autonomia para a editoria de esportes.
No entanto, mais do que a importância do desporto na sociedade é refletir sobre esse
contingente de blogs jornalísticos esportivos na mídia online. Esse espaço acaba por ser um
lugar democrático para expressar opiniões e compartilhar ideias, ressaltando mais uma vez as
potencialidades que a internet trouxe para a sociedade.
31
3 BLOGS: DISPOSITIVOS DE ENUNCIAÇÃO
O presente capítulo tem o objetivo de buscar compreender os blogs como dispositivos
de enunciação, abordando a relação entre os interlocutores nesse ambiente interativo que se
caracteriza, também, por ser um meio que possibilita essa relação mídia usuário. Para tanto,
os contratos de leitura entram em cena nessa aproximação com a lógica de interação existente
no espaço dos blogs. Por fim, são observados os conceitos que definem os blogs jornalísticos
como tal, e a sua produção de conteúdos.
3.1 Blogs como dispositivo de enunciação
Nos blogs, é possível observar uma "intrínseca carga de unicidade em relação ao
sujeito falante e produz uma centralidade enunciativa" (SATUF, 2008, p.6). O blogueiro
configura-se um ator midiático central para a construção dos movimentos que dão forma e
sentido ao conteúdo. Assim é estabelecida uma relação mútua entre os enunciados e o
enunciador. "Daí a percepção de um fato novo: o sujeito se reveste em instituição sem perder
a personalidade. Ao contrário das instituições jornalísticas, o caráter pessoal é diretamente
relevante aos processos que ali se desenvolvem". (SATUF, 2008, p.6).
Mouillaud (2002) pontua que o dispositivo prepara para o sentido e possuem um modo
de estruturação do espaço e do tempo e que estes são encaixados uns nos outros, não só
comandando a ordem dos enunciados, mas a postura do leitor. Assim, os dispositivos são
descritos como matrizes, indo além da ideia de suportes em que se vinham inscrever os textos.
Logo, o dispositivo "existe antes do texto, ele o procede, comanda sua duração (a duração de
uma canção ou de um filme é um a priori de sua produção) e a extensão (um romance se
inscreve entre um número mínimo e máximo de páginas que, evidentemente, variaram ao
longo da história)". (MOUILLAUD, 2002, p.33).
Assim, por se situar aquém e além dos enunciados, é que podemos dizer que o
dispositivo de enunciação alcança o estatuto de quadro do sentido. Os valores contextuais
expostos pelo dispositivo de enunciação, não são um quadro delimitado, estável do sentido
dos enunciados. Estão em contínua transformação no decurso dos processos comunicacionais.
O dispositivo de enunciação, para Verón (2004) são os modos de dizer, ou seja, para o
autor não existe produção de sentidos sem enunciação, e o discurso jornalístico utiliza meios
enunciativos para garantir inteligibilidade aos assuntos apresentados, e que este só estabelece
32
vínculos com os demais grupos sociais exatamente por recorrer a diversos dispositivos de
enunciação (modos de dizer) para alcançar receptores.
O sucesso de uma troca comunicacional vai depender do emprego correto de um
código comum aos interlocutores, ou seja, é preciso compreender a mesma língua do
interlocutor e utilizá-la de modo correto. No entanto, o sentido que os interlocutores trocam e
reconhecem entre si não se reduz apenas às determinações do código. O sentido é
diferentemente da significação da ordem daquilo que é pressuposto e se institui quando não é
explicitamente verbalizado. Não significa que o interlocutor não possa, a seu critério, expor
verbalmente os motivos que o levaram a formular determinado enunciado. No entanto, "logo
que procedam à efetiva explicitação do dispositivo da enunciação, não podem deixar de
deslocá-lo e de substituí-lo por outro dispositivo que encaixa, de algum modo, naquele que o
explicita, o sentido que eles pretendem explicitar” (RODRIGUES, 1993, p.145).
Fausto Neto (2008) apresenta duas perspectivas que levam em conta a linguagem
como instância da construção do discurso. De um lado, a linguagem como dimensão
instrumental que conduz a postura jornalística sobre seu entendimento de prática discursiva.
Do outro lado, a perspectiva construcionista, que define a linguagem de um ponto de vista
analítico, o que ressalta a importância do seu papel na construção das operações enunciativas.
São os processos de ordem técnica, social e discursiva que redesenha os vínculos sociais.
Com a conversão das tecnologias em meios de interação, diferentes campos sociais são
submetidos a processos de enunciação que possibilitam modos diferentes de contato.
Para a concepção de sentido, o trabalho jornalístico reúne três aspectos: 1) as
operações enunciativas discursivas; 2) os textos, resultado destas operações; 3) as
representações que deles se fazem quando inseridos no trajeto da circulação. Fausto Neto
propõe o conceito de 'enunciação como completude que vem da ideia de delimitar a
complexidade do processo enunciativo ao ato do 'sujeito falante'. Este deteria controle sobre
o discurso e seus efeitos. Logo, a situação de comunicação não passaria por processos mais
complexos que pudessem incomodar a sua constituição e seu funcionamento.
Sobre auto-referência, são destacadas pelo autor três operações sobre diferentes
'modos de existência' do ambiente jornalístico: primeiro, mostra-o como território que, mesmo
numa realidade distante, pode ser compartilhado e vivenciado pelo leitor em que as realidades
de jornalistas e leitores não são distintas; segundo, o funcionamento do discurso é enfatizado a
partir do ambiente; e terceiro descreve o ambiente em sua ação propriamente dita. Na ruptura
do contrato é que emerge a auto-referencialidade como oportunidade de estabelecer uma
relação mais próxima com o leitor, quando o mesmo tem melhor capacidade de interpretação.
33
Os 'contratos' alteram o lugar de operação de referência, para operações de auto-referência,
em que receptores passam a ser ‘co-sujeitos’ da ação discursiva.
Pode-se afirmar que o jornalismo desenvolve, na atualidade, novas formas de contato,
segundo 'contratos de leituras' estruturados em processos de auto-referencialidade. "Ou seja,
fala cada vez mais para o âmbito público de suas próprias operações, enquanto regras
privadas de realidade de construção do que, necessariamente, da construção da realidade. Ou
seja, produz a enunciação da enunciação”. (FAUSTO NETO, 2008, p.4).
Não importa as diferentes modalidades dos contratos, eles são sinais que indicam a
atenção da produção midiática em equilibrar relações de defasagens, ou seja, as
incompletudes do sentido com a recepção. O objetivo, assim, é reduzir as complexidades das
interações.
No blog, o discurso do blogueiro não se encerra na sua fala, mas convoca os leitores a
participarem do debate em questão. Logo, o blog leva uma centralidade enunciativa não
permitindo a separação entre o ato de fala do interlocutor e a globalidade do processo
comunicativo. O blogueiro organiza o espaço delimitado pelo dispositivo e, ao seu modo,
estabelece uma relação de cumplicidade com os leitores. Desse modo, podemos pensar o blog
como um dispositivo de enunciação
3.2. A contratação de leitura nos blogs
As reflexões de Wolton (2007) acerca dos processos comunicacionais no contexto da
internet nos remetem, em termos dos interesses de nossa pesquisa, às noções de contratos de
comunicação (CHARAUDEAU, 2006) e de contratos de leitura (VERÓN, 2004). O contrato
de leitura busca compreender as bases de contratação e funcionamento da relação entre
emissor e receptor, que são entidades discursivas que interagem textualmente. A expressão,
original de Eliseo Verón (2004) refere-se à familiaridade que o público tem com os produtos
midiáticos, e que a mensagem (discurso social) e o reconhecimento desta são suscetíveis de
várias leituras. “Um discurso é um espaço habitado, repleto de atores, de cenários, de objetos,
e ler é colocar em movimento esse universo [...]. Ler é fazer”. (VERÓN, 2004, p. 181). O
contrato acontece no momento da leitura quando o receptor o reconhece.
Charaudeau (2006) desenvolve noção de contrato de comunicação que se difere de
Verón na sua finalidade específica: os produtos midiáticos. O contrato de comunicação
pressupõe que a instância de produção (práticas das organizações e representações) é uma das
que pertencem ao processo midiático. Além desta, a do produto (lugar da construção do
34
discurso); e da recepção (os efeitos produzidos) estão envolvidas no contrato midiático. Todo
discurso é construído no encontro entre um campo de ação, ou seja, lugar de trocas
simbólicas, e um campo de enunciação, lugar de práticas de representação da linguagem. O
resultado desse conjunto compõe o que Charaudeau (2006) chama de contrato de
comunicação. É na instância de produção que se ressalta a figura do jornalista, que
testemunha os fatos e busca as fontes de informação, descreve, comenta e fornece as
mensagens revelando os problemas da sociedade.
Para entender os elementos constituintes de um contrato de comunicação, Charaudeau
(2006) considera um agregado de dados fixos (externos e internos), e que no discurso existe
um componente linguístico, que é o material verbal, e um componente situacional, que se
trata do material psicossocial, que em sua origem são autônomos, mas que em seu efeito são
interdependentes. Relacionando os dois autores, é preciso destacar que a semelhança entre os
contratos se dá no dispositivo de enunciação. Isso porque o dispositivo de enunciação,
segundo Verón (2004) é formado por um enunciador (a imagem de quem fala, ou seja, trata-
se do lugar ou dos lugares, que aquele que fala atribui a si mesmo, a relação daquele que fala
ao que ele diz), por um destinatário (aquele a quem o discurso é endereçado) e pela relação
entre eles.
Para o autor também é preciso distinguir o que ele chama de o emissor “real” do
enunciador, depois, o receptor “real” do destinatário, e que enunciador e destinatário são
entidades discursivas. “Esta dupla distinção é fundamental: um mesmo emissor poderá, em
discursos diferentes, construir enunciadores diferentes, conforme, por exemplo, o alvo visado;
pelo mesmo motivo construirá, cada vez diferentemente, seu destinatário”. (VERÓN, 2004,
p. 218).
As significações dos discursos são produzidas e reproduzidas por um dispositivo da
situação de comunicação e os sujeitos. Na comunicação, o dispositivo é, no primeiro
momento, de ordem conceitual. É por ele que se estrutura o modo como se produzem as
trocas de linguagem organizando-as conforme as características envolvidas entre os parceiros
da troca, como o desenvolvimento das relações entre eles, o lugar que ocupam etc.
O dispositivo, então, opera como elemento instigador capaz de atrair a atenção do
leitor, motivando o processo comunicacional, que significa não ser apenas um elemento de
ordem técnica, mas também responsável por caracterizar esse processo. [...] “o emprego do
dispositivo depende também das condições materiais em que se desenvolve a troca
linguageira” (CHARAUDEAU, 2006, p. 53).
35
Essas condições podem diversificar de uma situação de comunicação a outra,
estabelecendo uma relação de encaixe entre o macrodispositivo conceitual e os
microdispositivos materiais. Nessa concepção de Charaudeau (2006), podemos compreender
o macrodispositivo como a comunicação em sentido amplo, através do qual há um sistema de
troca entre as partes envolvidas no processo, e os microdispositivos como canais nos quais a
comunicação é disponibilizada. O autor cita como exemplos de microdispositivos a televisão,
o rádio e a imprensa escrita. E, no interior de cada um deles, há outros microdispositivos, que
correspondem a gêneros, responsáveis por orientar o destinatário, ou seja, a notícia exposta
em diversos modos, como o telejornal, a reportagem, o documentário etc.
As instâncias 19 em cada dispositivo são caracterizadas conforme seus atributos
identitários, que define qual será sua finalidade comunicacional. O conhecimento das
instâncias é importante no ato de comunicação, e por isso é necessário acrescentá-las para que
a interpretação do falar das pessoas não seja equivocada. Para Charaudeau (2006) a instância
midiática está em dois dispositivos: de exibição e de espetáculo. O dispositivo de exibição diz
respeito à procura por credibilidade. O dispositivo de espetáculo busca por agregação com o
objetivo para conquistar a confiança e fidelidade do publico.
Quanto ao enunciador e seu público alvo, o primeiro têm sua legitimidade enquanto
ser social e na construção do que diz seu discurso. O segundo existe em sua realidade
empírica plural, e ao mesmo tempo são construídos enquanto destinatário ideal para
submissão dos interesses do seu remetente.
O dispositivo garante uma parte da significação do discurso, em fazer o enunciado ser
interpretado e endossar o contrato de comunicação ao mostrar como o campo de enunciação é
regulado e organizado. Fausto Neto (2007) coloca em questão um conjunto de fatores
externos e internos relacionados ao processo de noticiabilidade que estão reformulando a
natureza dos contratos, enquanto organizador do lugar de vínculo entre mídia e sociedade.
Para o autor, entende-se o conceito de contrato de leitura "por regras, estratégias e
políticas de sentidos que organizam os modos de vinculação entre as ofertas e recepção dos
discursos midiáticos, e que se formalizam nas práticas textuais, como instâncias que
constituem o ponto de vínculo entre produtores e usuários.” (FAUSTO NETO, 2007, p.3).
Já o trabalho jornalístico (enquanto prática de produção de sentidos), independente da
modalidade e dos distintos suportes e, no contexto atual, segundo Fausto Neto (2007) a 19Charaudeau (2006) explica que os parceiros desse contrato não são as pessoas de carne e osso, mas entidades humanas, cada qual sendo o lugar de uma intencionalidade, e categorizadas em função dos papéis que lhe são destinados. Trata-se, desse modo, de categorias abstratas, desencarnadas e destemporalizadas, definidas, como se diz, pela posição que elas ocupam no dispositivo e às quais os indivíduos são remetidos. Por isso, é preferível falar de instâncias.
36
natureza dos contratos de leitura, como organizador da relação entre mídia-sociedade, está
sendo reformulada através de uma série de fatores (como emergência de novos saberes e
conhecimentos; a especialização progressiva dos indivíduos; ampliação e intensificação de
plataformas tecnológicas; disputas de diferentes campos sociais em torno de temas e de
saberes; a concorrência inter-midiática; a crescente autonomização do campo das mídias, face
aos demais campos sociais; as transformações e/ou afetações de práticas sociais por lógicas e
operações da cultura da midiatização) relacionados com o processo de noticiabilidade, no
conceito do jornalismo como prática social, como produto.
Esses elementos afetam as mídias, sobretudo, na prática jornalística seja no âmbito da
produção, construção de sentidos, o papel do jornalismo e na relação com os leitores. Tal
relação, para Fausto Neto (2007), são desafiadas pela "defasagem" que existe entre o que ele
denomina 'situações de produção' e 'situações de reconhecimento' dos discursos, e por haver
menos pessoas acompanhando o mesmo programa, lendo o mesmo jornal, ao mesmo tempo.
Desse modo, os contratos de leitura têm sofrido, ao menos nas últimas duas décadas, algumas
transformações.
Na relação envolvendo o jornal-leitor, é preciso considerar o tipo de interação que
existe entre eles, já que o jornal parte do pressuposto de que é ele quem pode oferecer ao
leitor informações do qual ele não teria acesso por conta própria. Assim, as estratégias
estruturadas na esfera dos contratos de leitura seriam responsáveis por impulsionar o processo
de interação.
A força do contrato estaria nas virtudes de suas operações enunciativas, susceptíveis de traduzir em termos de efeitos, possível interação que articule a oferta jornalística e o trabalho de apropriação do leitor, a partir de mensagens que os articule, na esfera da circulação. [...] sabe-se que a chamada de produção de efeitos (por nós chamados produção de sentidos), não se faz por uma ação isolada da mensagem, por si só, como se a mesma tivesse o poder determinístico de operar por si sobre realidades complexas. Compreender possíveis efeitos de um contrato requer estudos que levem em conta as relações produção-recepção, circunstância em que a mensagem é apenas um ponto de passagem. (FAUSTO NETO, 2007, p.12).
É importante considerar que os contratos são ordenações de regras que visam, quando
transformadas em estratégias, constituir certo campo de efeitos. São espécies de operações
que refletem certa lógica de calculabilidade e de previsibilidade e sobre a qual repousaria a
questão da produção de sentido.
Fausto Neto (2007) ressalva que os contratos e os efeitos de sentidos acontecem no
âmbito de diversas relações e que, nesta condição, a relação entre produção-recepção tende a
37
aumentar, a se afastar, cada vez mais. Por está razão, as mídias visam transformações através
de novas modalidades de contratos para tentar regular este quadro de instabilidade.
O contrato de leitura tem por objetivo instituir o leitor em um campo de interesse e de
efeitos, na perspectiva de uma relação interacional de complementaridade. Neste contexto,
podemos pensar o contrato como um dispositivo tensional, ao levar em conta as
características que constituem o discurso dos leitores, e criar uma relação próxima a esse
leitor, o guiando em sua interpretação.
Desse modo, os contratos de leitura passam a ser construídos em 'conjunto', no qual o
receptor é transformado para participar do processo de produção das mensagens, sem ter o
controle do contato. De modo principal, essas transformações são justificadas pelos avanços
tecnológicos, permitindo aos usuários sociais diferentes dispositivos de produção com fácil
acessibilidade.
A constituição de um contrato de leitura não depende apenas de regras internas ao
processo de noticiabilidade, mas também de fatores externos, procedentes de distintos
campos sociais. Reduzir a comunicação à transmissão ou à mensagem mostra-se insuficiente
para entender como o processo comunicacional vem se desenvolvendo concomitantemente
com as mídias digitais. E o jornalismo, em tal contexto, continua exercendo um papel
importante, mas nos parece que com algumas outras configurações.
3.3. Blogs e conteúdo jornalístico
Pensar os blogs na perspectiva dos contratos de comunicação e de leitura por meio dos
qual esse engendra suas relações com seus públicos contribuirá para uma compreensão do
modo como blogueiro e internauta dialogam nesse ambiente da mídia on-line. Tais
perspectivações se tornam ainda mais relevantes para que se possa perceber como, na
atualidade, o jornalismo vem, rapidamente, experimentando importantes mudanças no
ambiente digital.
A relação entre os weblogs com o jornalismo começou por no ano de 2001. 20
Posteriormente, o blog ganhou espaço durante a Guerra do Iraque, em 2003, quando
conteúdos jornalísticos produzidos por jornalistas ou não profissionais do ramo, começaram a
escrever sobre o assunto e divulgar essas informações.
20Foletto (2009) diz que embora ela já se rascunhasse alguns anos antes, com a criação dos primeiros blogs em meados da década de 1990, são em 2001, principalmente com os atentados terroristas às Torres Gêmeas do World Trade Center em 11 de setembro, que os weblogs passam a ter visibilidade para o grande público e, como conseqüência disso, passa a ser vislumbrada a função que eles poderiam ocupar no jornalismo.
38
Com o crescimento da popularidade dos blogs, eles foram incorporados pelos grandes
grupos de mídia, seja o caso dos blogs de colunistas ou em editorias específicas21. Foletto
(2006) destaca que essa crescente propagação dos blogs provocou questionamentos no habitus
do campo jornalístico, bem como efeitos de várias ordens no mesmo. Sobre esses efeitos,
Palacios (2006 apud FOLETTO, 2009) destaca sete efeitos dessa aproximação entre os blogs
(blogosfera) e o campo jornalístico. O primeiro efeito é a "subversão do lugar de emissão", ou
seja, abre-se espaço para que diferentes emissores ocupem um espaço que até então não fazia
parte do contexto; o segundo efeito é a questão da prática jornalística por não jornalistas, que
nos blogs podem adquirir com liberdade um lugar de emissão de informações que ganham
status jornalísticos. O terceiro efeito é a mudança nos critérios de noticiabilidade. Com o
acréscimo de emissores da informação jornalística, os critérios para classificar um
acontecimento como notícia se modifica 22 . O quarto efeito "maior vigilância da mídia
tradicional" acontece partindo do pressuposto de que o público estaria descontente com a
cobertura da mídia tradicional, apontando com mais liberdade erros cometidos. Assim, com
essa "fiscalização" a mídia tradicional torna-se mais criteriosa na seleção do que é notícia
modificando, também, sua relação com o público.
O quinto efeito trata-se da relação entre o produtor e o receptor. A possibilidade dos
comentários nos blogs propicia ao leitor debater com o blogueiro suas opiniões, trocando
informações em maior quantidade e rapidez. Nesse ponto, o sexto efeito encaixa-se a partir
dessa relação entre produtores e consumidores na rede, formando uma rede mundial de
criação e transmissão de informações. Logo, cria-se "um novo ecossistema informático", este
o último efeito dos blogs no campo jornalístico.
Com a ampliação desses efeitos, foram estabelecidas diretrizes para amplificar o campo
jornalístico, a saber: Jornalismo difuso; Jornalismo lateral; jornalismo colaborativo. No
jornalismo difuso, usa-se o blog para divulgar reportagens de determinado local, em que o
blogueiro está presente e poderá passar informações mais detalhadas, expondo sua opinião do
fato. Como ponto positivo está a "multivocalidade" vigente no blog e o testemunho direto
proposto pelo blogueiro. Como ponto negativo, indica a "incapacidade" de oferecer ao leitor
um contexto em que o amplo contingente de informações possa adquirir "conhecimento"; No
21 Segundo Foletto (2006) consideram como um dos primeiros casos de blogs produzidos por jornalistas localizados em um meio de comunicação on-line: o blog do jornalista estadunidense Dan Gillmor na versão para a web do jornal San José Mercury News, uma das principais publicações do chamado Vale do Silício, no Estado da Califórnia. 22 Para Foletto (2009) haverá pessoas para além do campo classificando-os, o que já presume que outros interesses pode ser levado em conta na hora de determinar o que é ou não notícia; do outro lado, haverá um maior número de pessoas interessadas em fatos que não ganhariam status de notícia se não houvesse alguém para classificá-las como tal.
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jornalismo lateral, acontecimentos que não recebem atenção da mídia tradicional ganha
espaço nos blogs. Assim, como o dispositivo proporciona maior diversidade de assuntos, certo
acontecimento poderá ser entendido como notícia ampliando o leque de informações. O que
provoca mudanças nos critérios de noticiabilidade já estabelecidos; Por fim, no jornalismo
colaborativo mais de uma pessoa pode estar envolvida na produção. Isso ocorre através da
caixa de comentários e dos links, que possibilitam uma interação entre um grupo de pessoas,
ao mesmo. (PALACIOS, 2009).
No Brasil, o crescimento dos blogs começou a partir do ano 2003, tendo como "marco na
história do blog jornalístico no país" o blog Diário de Bagdá23, que se tornou a primeira
experiência oficial de cobertura jornalística através desta ferramenta. Essa crescente vai até o
ano de 2006.
Posteriormente, com a consolidação do uso do blog para fins jornalísticos ampliou as
funcionalidades da ferramenta dentro do jornalismo. Logo, os blogs são criados para funções
distintas, com editorias específicas: o uso mais comum era o de versões online de colunas
impressas. Assim, diferenças entre o jornalismo produzido nos blogs e em outros meios
(rádio, televisão, jornal) começam a ser apontadas, com destaque para a questão autoral do
blogueiro, que possuí mais liberdade e independência com relação às outras mídias
jornalísticas.
Os blogs podem apresentar-se em diferentes gêneros, tais como: diários pessoais,
propaganda, projetos, protestos e jornalísticos. O objetivo é compartilhar uma narrativa com o
leitor e proporcionar um espaço de discussão a partir dos comentários. Nesse aspecto, os
blogs jornalísticos podem ser um lugar de debate entre os interlocutores. Segundo Adghirni
(2006) os blogs relacionados ao jornalismo podem ser distinguidos em dois eixos: blogs
jornalísticos e blogs sobre jornalismo:
Os primeiros se identificam a sites noticiosos porque publicam notícias obtidas a partir de rotinas produtivas de jornalismo: pauta, apuração, redação, divulgação, com equipes próprias (ou individuais) e trazem ao público fatos realmente novos (“furos”, eventualmente) que são comentados pelos jornalistas que os produzem e pelos leitores que reagem. Mas a característica principal é que se trata de blogs que trazem no título o nome do jornalista responsável, em geral um nome famoso que confere um “lebel” ao espaço na web. Estes blogs criam uma sinergia entre os dois pontos de comunicação, emissor e receptor. O outro tipo de blog, que chamamos de “blogs sobre jornalismo”, se limita a comentar a atualidade através de artigos de crítica da mídia, tipo
23Segundo Foletto (2006)Blog Diário de Bagdá, criado em 2003 pelos enviados ao país do jornal Folha de S. Paulo Sérgio Dávila e Juca Varella. Antes disso, porém, há o caso emblemático do portal. No que já em 2001 mantinha três weblogs: a coluna O que há, do jornalista Pedro Dória, a página de Economia editada por Flávia Velloso e J. Teixeira da Costa e o Notíciasna rede, com links recolhidos por Leonardo Pimentel.
40
“Comunique-se ou Observatório da Imprensa”. Mas não buscam o “furo jornalístico”, ou seja, dar em primeira mão em velocidade record, como verdadeiro, um fato novo que “quebre a superfície lisa do cotidiano (TRAQUINA apud ADGHIRNI, 2006, p.3).
Para Recuero (2003), os blogs são divididos em três categorias: diários eletrônicos
(“fatos e ocorrências da vida pessoal de cada indivíduo”), publicações eletrônicas (“se
destinam principalmente à informação) e publicações mistas (“ misturam posts pessoais sobre
a vida do autor e posts informativos”). Quadros (apud Scott, 2004) diz haver dois períodos em
que os blogs podem ser divididos: protótipos de blogs e blogs contemporâneos.·.
Nos blogs informativos – fazem parte dessa categoria os blogs jornalísticos – assuntos
gerais ou de um tema específico, como política, economia, cultura, esporte e outros, trazem
discussões acerca de tais temas e podem ser analíticos, opinativos, noticiosos.
O nome « blogs jornalísticos» remete a um conjunto de publicações on-line, atualizadas por jornalistas e recorrem a um formato e a ferramentas partilhadas pelo universo dos weblgs. Quer dizer, o adjetivo « jornalístico » esta ligado aqui à identidade e à legitimidade do produtor. Ele serve para excluir do seu universo outros tipos de blogs, produzidos por adolescentes ou ligados às comunidades virtuais, por exemplo, (ADGHIRNI, 2006, p.3).
Os blogs jornalísticos, que geralmente levam o nome do jornalista que os escreve,
conferem credibilidade ao registro, bem como o espaço no qual ele está inserido. Essa prática
se afirmou no Brasil paralelamente à grande imprensa, não de modo a se opor, mas sim de
complementação. “Nos blogs de notícias, o jornalista não tem medo de opinar. Aliás, sua
opinião é essencial ao leitor, não precisa de disfarces, de filtros. Ela não representa um
empecilho, um deslize ou uma falta” (GERALDES, 2009, p.10).
Nesse novo ambiente midiático-interativo, os blogs – especialmente os de posts
pessoais - ganharam uma ambiguidade fundamental: o privado ser reafirmado numa esfera
potencialmente pública (GERALDES, 2009). Neste cenário, “A comunicação, ou mesmo a
prática do Jornalismo, por intermédio de blogs, permite uma individualização ou
personalização cada vez maior de conteúdos” (CUNHA, 2006, p.140) e pode-se pensar como
o conceito de mídia está sendo repensado ou reinventado.
O jornalismo na Web passou por fases distintas desde a expansão da internet nas duas
últimas décadas. No princípio, os jornais passaram a ocupar esse espaço reproduzindo o que
era veiculado ao impresso para a internet. Conforme os recursos e possibilidades técnicas da
internet foram se aperfeiçoando, os media passaram a explorar novos modos de publicação
41
experimentando as características que eram oferecidas pela rede. A partir desse momento tem-
se o webjornalismo24 (MIELNICZUK, 2001).
Segundo Bardoel e Deuze (2000), quatro elementos podem ser apontados como
características do jornalismo online. São eles: interatividade, customização de conteúdos,
hipertextualidade e multimidialidade. Aqui, interessa-nos acentuar a noção de hipertexto
(possibilidade de interconectar textos através de links; narrativa fragmentada), característica
esta destacada como específica da natureza do jornalismo online (MIELNICZUK, 2001).
Para Mourão (2009), o hipertexto altera a noção de “começo” e de “fim”, em que não há
nem uma versão final nem um fim da história. Isso se dá na diversidade do texto eletrônico
conjugado às potencialidades que o suporte on-line oferece. Essa interconexão entre os textos
e a narrativa fragmentada, dissolve a diferença entre o que é “central” e o que é “marginal”,
infringindo o que ele afirma em ser “as qualidades tradicionais da obra impressa: linearidade,
limite e fixidez” (MOURÃO, 2009, p.70). Segundo o autor, o hipertexto liberta “as
sequências” narrativas que saem de um modelo tradicional e seguem em direção a um modelo
“multidimensional” numa estrutura nova e aberta. Deixa de ser um modelo linear e passa a ser
multi-linear; sai de um tipo de representação para outra. Muda-se o modo como o texto
(informativo) é compreendido bem como a sua recepção (interpretação ou uso). “Ora, é da
interação com as novas tecnologias, a significação textual, os códigos semióticos, a
velocidade, a intensidade que resultam distorções, modificações, expansões” (MOURÃO,
2009, p.221).
Mas é preciso ressaltar que essas considerações não são rupturas em relação ao
jornalismo praticado em suportes anteriores, mas sim uma continuidade, e mais ainda uma
potencialização das características do jornalismo na Web, que em conjunto podem produzir
novos efeitos (PALACIOS, 2009). Nesse contexto, Mielniczuk, (2001), coloca em questão o
que essas características do webjornalismo poderão provocar nos modos de produção e
reflexão do jornalismo.
Essa indagação nos remete novamente a pensar em como o jornalismo, por meio dos
blogs jornalísticos, vêm se apropriando das potencialidades oferecidas na rede que, de algum
modo, provoca essas possíveis transformações no ‘fazer’ jornalístico. Segundo Wolton
(2007), o blog passou a ter a adesão de jornalistas sem necessariamente haver vínculo com as
empresas de comunicação em que estes atuavam. Era mais um espaço em que informações
eram divulgadas, no entanto, permitindo conteúdos mais elaborados e maiores alcance de 24 Para Canavilhas (2001) a nomenclatura encontra-se relacionada com o suporte técnico. Como o presente texto refere-se a um produto jornalístico desenvolvido única e exclusivamente para a Web, será utilizado o termo webjornalismo.
42
visibilidade. Para o estudioso, de um lado, a informação está relacionada com a troca de
mensagens e dados, que se efetiva com mais rapidez, clareza e precisão na transmissão feita a
partir de meios tecnológicos, sendo cada vez maior a quantidade de informações que são
produzidas e compartilhadas entre as pessoas. Por outro lado, a comunicação é o
estabelecimento de relações entre seres humanos sem a intervenção do aparato tecnológico.
No que concerne aos sistemas de distribuição de conteúdos no jornalismo, com a
internet, os sistemas de circulação são mais flexíveis e os usuários passam a ter mais
diversidade na rede central de informações com autonomia para escolher os percursos
conforme critérios pessoais. Esses sistemas podem ser estáticos ou dinâmicos. Nos sistemas
estáticos o usuário é quem busca pelas informações, diferente dos sistemas dinâmicos em que
o produtor é quem vai ao encontro dos consumidores das informações.
Nos blogs jornalísticos atual classificamos os sistemas de circulação de informações tanto
dinâmicos quanto estáticos. Elas já são por natureza dinâmica, desenvolvida de modo
horizontal, onde o blogueiro é quem estabelece os processos de publicação. Mas os blogs
jornalísticos também são estáticos, principalmente se voltarmos à reflexão sobre as mudanças
provadas pela internet. Com a proliferação dos produtos e a facilidade de acesso, atualmente o
usuário seleciona o que lhe é de interesse, como citamos anteriormente. Assim, o conceito de
sistemas de circulação estático perde o sentido.
Desta maneira, para pensarmos os sistemas de circulação nos blogs jornalísticos, mostra-
se mais potente abordá-los a partir da noção de sistemas de circulação dinâmicos simples e
complexos do que em de sistemas estáticos e dinâmicos, na medida em que são raríssimos
(para não dizer que não existem) os casos de weblogs jornalísticos que não utilizam pelo
menos um meio de chegarem aos seus leitores de modo que eles não precisem buscá-los. [...]
Para uma melhor delimitação dos modelos adotados para a circulação nos blogs jornalísticos,
vai-se trabalhar com a concepção de circulação dinâmica complexa a partir da ideia de maior
descentralização do processo, ocasionada pelo uso de diversas (mais de três) ferramentas para
circular as informações no ciberespaço, e com circulação dinâmica simples para caracterizar
aqueles blogs que utilizam até duas ferramentas para circular no ciberespaço.
O uso de diferentes ferramentas de circulação no ciberespaço por parte dos blogs
jornalísticos abre possibilidades para ser instituída uma efetiva conversação com os usuários
da web. Estes, tendo acesso ao conteúdo do blog de diferentes formas, têm também a sua
disposição mais canais para fiscalizar ou mesmo participar do processo de produção no
jornalismo, o que é característico dos sistemas mais complexos de circulação jornalística.
43
Nos blogs do Juca Kfouri e José Cruz, a lógica de circulação é a mesma, ou seja, há
poucos canais de circulação, mas eventualmente o portal UOL destaca uma postagem
específica seja na editoria de esportes na página inicial do site.
Desse modo, faz-se necessário que outros fatores são utilizados para maior circulação do
blog. Nesse ponto é que se destaca o sujeito-blogueiro e sua reputação anterior ao blog. Essa
reputação estabelecida fora do ambiente web facilita a circulação dos conteúdos publicados
no blog. Assim como o processo de produção, devido à experiência e possíveis relações com
as fontes.
As contribuições que os blogs jornalísticos trazem ao jornalismo on-line parecem ter
significado novas possibilidades de relações entre jornalistas e seus públicos, o pacto que se
constrói entre eles, assentado em novas bases (CHRISTOFOLETTI, 2007). Essa mídia não
tem funcionado apenas como versão eletrônica de outras mídias impressas, mas também como
um espaço de experimentação de linguagens e formatos ou ainda com abordagens mais
sólidas e conteúdos exclusivos.
Ao blogueiro, cabe adicionar às práticas valores e procedimentos consagrados na
criação jornalística, outros valores-notícia para a seleção de dados. Aqui nos parece um
caminho a se pensar como o blogueiro se legitima como o autor da informação, desde os
critérios seletivos às análises prévias e formulação do produto final, e como ele conquista e
ocupa esse espaço online pensando os blogs como um “novo” espaço nessa fronteira
profissional dos jornalistas.
Nos dias atuais, muitos jornalistas conceituados abrem mão do blog para emitir opiniões e
informações aos leitores interessados. “Por ser destinado a uma audiência mais ativa e menor
do que a do jornalismo ‘tradicional” é que no blog jornalístico o autor pode usar uma
linguagem mais informal e próxima do leitor. Outro ponto importante são os critérios de
noticiabilidade usados nos blogs jornalísticos. Assim como uma característica que se destaca
atualmente: o fato da maioria dos blogs jornalísticos estarem situados numa espécie de "rede"
em que um contingente de blogs, sobre um determinado assunto, ocupa o mesmo lugar de
divulgação. Nota-se que tal característica está presente nos principais sites de notícias do país,
nas principais editorias.
44
3.4 Construção da credibilidade no jornalismo na web
Uma característica que se percebe no ambiente online é que muitos destes profissionais
da área conquistaram notoriedade em veículos de comunicação fora da esfera online, e até
mesmo estão vinculados a grandes meios de comunicação. O lucro simbólico da
credibilidade, proporcionado pelo investimento ético no campo jornalístico, nos blogs deriva
de um protocolo de leitura autor-leitor sem interferência de outros componentes do campo.
(MARTINO, 2015).
Desse modo, a garantia de qualidade do blog só pode ser aferida pelos leitores no confronto com outras fontes de informação – isso quando o blog vai além da simples opinião. [...] O atestado de validade do blog é legitimado pelo procedimento: a veracidade de uma informação é o único indício da qualidade da próxima. No caso da opinião, a pertinência e a lógica de uma argumentação, ou sem eco no espírito do leitor, é a chancela necessária para o autor do blog manter seus leitores (MARTINO, 2009, p.2010).
Nesse sentido, podemos falar que um comunicador ou fonte prestigiada têm
possibilidade de ser mais persuasivo, o que talvez explique o porquê os jornalistas conhecidos
são os que conquistam mais sucesso no mundo dos blogs.
Conforme Zago (2008) uma característica importante dos blogs é que eles são espaços
pessoais. Significa que o blogueiro responsável por um blog torna-se importante para se
compreender a estrutura deste dispositivo. Assim, conceitos como credibilidade e autoria
passam a ser questionados, principalmente pelo blog ser uma mídia online, ou seja, está
presente no ciberespaço, lugar de múltiplas conexões em que qualquer pessoa pode produzir
conteúdo e divulgá-lo para quem obter o acesso a rede.
Um ponto a ser ressaltado é que, quando se trata de blogs jornalísticos desenvolvidos
por jornalistas, ou de pessoas que não são profissionais da área, mas estão situados em
grandes empresas de comunicação, esses conceitos passam a ter outra configuração. Pode-se
pensar no exemplo: um jornalista-blogueiro com certa notoriedade geralmente está vinculado
a algum meio de comunicação. Nesse aspecto, os blogs se tornam um lugar de fatores como
prestígio, verdade, confiabilidade que abrigam aspectos do que é considerado imprescindível
para jornalistas e meios de comunicação: a credibilidade. "Isto é, os blogs jornalísticos
ajudam a entrever novas possibilidades de um pacto entre jornalistas e seus públicos,
assentado em novas bases". (CHRISTOFOLETTI; LAUX, 2008, p.3).
45
Não significa que a credibilidade jornalística nos blogs seja totalmente distinta. Os
blogs conduzem características do conceito tradicional de credibilidade jornalística, ancorado
de sistemas de reputação originados e fortalecidos na internet. "a reputação torna-se resultado
de uma construção coletiva, na qual pessoas comuns – mas muitas delas – opinam, criticam,
sugerem, contestam um blog, diferente do modelo em que a reputação é atribuída por um
único canal, fruto de apenas um julgamento" (CHRISTOFOLETTI; LAUX, 2008, p.16)
No entanto, esse sistema não garante uma instância entre o acontecimento e o público
que confirme a veracidade da informação. É o próprio leitor quem estabelece a triagem do
que a ele parece ser confiável. O que foi potencializado com a internet. Desse modo, dois
universos são aproximados - o do jornalismo profissional e da blogosfera - em uma mútua
contaminação. Serra (2006a) diz haver dois lados da credibilidade, por um lado uma credibilidade
não técnica ou extrínseca, que é anterior ao discurso e referente à reputação ou o prestígio
conquistado pelo orador ou comunicador que lhe faz ser reconhecido pelo público; e uma
credibilidade técnica ou intrínseca, que é produzida pelo discurso proferido pelo comunicador.
Segundo o autor, o problema da credibilidade é colocar-se nos níveis e etapas do
processo de construção da notícia, e é solucionado por jornalistas e empresas mediáticas na
sua 'auto-subordinação' a princípios técnicos e deontológicos.
A credibilidade, na comunicação midiática, é um princípio essencial para a seleção da
informação pelo receptor. Logo, os produtores da informação precisam ser credíveis. Os
critérios de noticiabilidade devem estar inseridos no desenvolvimento da informação. Logo,
"na comunicação mediática, a credibilidade se transforma em dispositivo" (SERRA, 2006a, p.
10).
Na blogosfera, para um blog ser ou se tornar credível, primeiro, os blogueiros mais
conhecidos conduzem para o blog a credibilidade conquistada no ambiente off-line. Isso, por
si só, não garante a credibilidade do blogueiro que deve demonstrar honestidade, respeito em
relação ao seu leitor; segundo, o blogueiro pouco conhecido dependerá de alguns elementos
do qual a fiabilidade, a competência e a boa vontade dependem para a conquista dessa
confiabilidade. Quanto à fiabilidade e competência, o primeiro destaca três elementos:
existência de citações e referências; a possibilidade de contato com os autores por e-mail e
hiperligação a materiais de fontes externas. Neste ponto o blogueiro estar associado a mídias
de referência, consequentemente consideradas credíveis, permite a este autor usufruir dessa
credibilidade no seu próprio discurso. Assim como a falta da credibilidade de determinada
mídia pode causar o efeito contrário. Sobre a competência, destaca-se que o blogueiro publica
46
informação original ou com uma perspectiva diferenciada sobre um assunto comum,
desenvolvida com boa interpretação e contextualização dos fatos, desde que esses sejam
relevantes. Além da preocupação com a linguagem utilizada e postagens diárias, mantendo o
blog atualizado. (SERRA, 2006b).
A questão central é discutir o que faz do blog um blog jornalístico. Para além do
debate sobre a validade e a natureza das informações, bem como em novos modos de
comunicação e de identidades textuais, é refletir sobre os blogs em termos macro, ou seja,
pensando na “blogosfera” e como esta pode estar causando impacto na sociedade. É tentar ir
além do que está evidente e visível, e produzir outras reflexões e conhecimento. São esses e
outros aspectos dos quais vamos nos valer para analisar os blogs de jornalismo esportivo que
propomos investigar.
3.5 Blogs e a noção de autoria: novo status do jornalista?
Nas duas últimas décadas, especialmente, vive-se constantemente com e na presença
do digital. A mídia está ao redor e não conseguimos nos desconectar dela. Estamos imersos
por um ambiente de mídia, ambiente este, que em um dado momento chegou-se a ideia de que
a internet era uma esfera pública conectada. Os blogs jornalísticos se inserem nesse espaço,
com as mesmas características técnicas da rede, mas se difere de acordo com as necessidades
próprias do assunto. No campo acadêmico, os blogs são estudados a partir de suas temáticas e
características inerentes ao tema, seu campo de atuação dentro da comunicação, autoria e
legitimidade de seus produtores, entre outros.
A informação opinativa é uma característica presente na prática jornalística, no
entanto é nos blogs “que se encontra o fenômeno mais fortemente caracterizado, pois são
espaços onde se podem fomentar discussões e debates através da análise e opinião nos
textos”. (ABRÃO, 2007, p.14). Nesse contexto Adghirni (2004) ressalta um ponto a ser
identificado: o da autoria. Ao se identificar num blog, o autor ajuda na fiabilidade dos textos
que se posta, do que se escreve e do que é publicado. "Do autor individual que conosco
partilha a sua intimidade ou os seus interesses, “à autoria institucional formalmente assumida,
passando pelos blogs criados e mantidos por grupos de pessoas, existe todo um leque de
possibilidades de autoria” (GOMES, 2005, p.2).
O autor, que nos blogs jornalísticos é o profissional da área, detém autonomia para
selecionar, editar e publicar as informações que serão divulgados. Para essas abordagens, o
jornalista pode produzir sozinho ou pode recorrer a outros autores, especialistas que, nessa
47
coletividade, irão ajudá-lo a produzir o texto noticioso. “O conceito de autor é um conceito
seminal, generativo. [...] Em última instância, um escritor torna-se um autor quando a sua
obra é publicada. A publicação é um processo controlado pelos editores” (MOURÃO, 2009,
p.108-109). Assim, José Augusto Mourão descreve o que pode ser a figura do autor, que em
sua individualidade se torna uma agente com capacidade para potencializar o encontro entre
indivíduos heterogêneos.
A identidade desse autor é importante para a definição de um blog como jornalístico,
e que ações podem elucidar a criação de sua identidade. “É neste espaço que se insere o blog
jornalístico, como um savoir-faire típico de profissionais renomados que surgem para se
consolidar na web” (ADGHIRNI, 2006, p.7). A notoriedade e a credibilidade dos sites de
notícias como afirma a autora, estão ligados a mídias de comunicação confiáveis. E que os
blogueiros mais reconhecidos estão associados a esses veículos midiáticos.
O fenômeno dos blogs representa a volta do jornalismo de autor. A ousadia da assinatura, da “griffe” da alta costura do jornalismo, da “plume danslaplaie” (a caneta na ferida). Mas quem pode se refugiar neste espaço paradoxal de “refúgio de visibilidade”? O paradoxo justamente é que migram para os blogs os profissionais que já desfrutam de visibilidade, que já adquiriram notoriedade através da mídia convencional. São eles que emprestam o nome para o sucesso midiático da página web de determinada empresa e não o contrário como acontecia na tradição do jornalismo impresso. (ADGHIRNI, 2006, p.14).
Leonor Arfuch (2010) afirma que é no espaço da interação que se descobre a própria
identidade. É na troca de pensamentos, no “contato” com o outro que o indivíduo vai se
afirmando. Desse modo, a possibilidade de interação entre o jornalista e o internauta por
meio do blog também colabora para essas possíveis transformações; torna instigante e mais
atraente o assunto e proporciona a esse receptor, mais do que apenas ser informado,
compartilhar opiniões com outros sujeitos que também querem debater sobre o tema.
Segundo a autora, nesse tempo midiático, a primeira pessoa que se apresenta textualmente é o
resultado da união entre os espaços públicos e privados, que colaboram para a criação de uma
identidade autoral. O público dessa mídia é convocado a interagir diretamente com os
conteúdos. O leitor se torna empírico no momento que ocorre essa interação (PRADO, 2013)
e como nas demais mídias elegem seus favoritos julgando-os pertinentes, a sua validade e se
são confiáveis para serem compartilhados. São criados novos sistemas de reputação, que são
fortalecidos na internet – e também na blogosfera.
Nos blogs, pode-se observar, conforme Catarina Rodrigues (2006), um efetivo
exemplo de retomada da subjetividade opinativa, que havia se perdido após a industrialização,
48
mas que antes era recorrente no jornalismo25·. A notícia é restringida ao acontecimento
utilizando técnicas de redação jornalística como, por exemplo, a pirâmide invertida. Os
verbos em primeira pessoa desaparecem e o texto passa a ter uma escrita fácil e disponível a
todos os leitores, ou seja, ao grande público moldando-se por parâmetros como a objetividade
e a profissionalização. (CATARINA RODRIGUES, 2006).
O blog oferece ao autor possibilidades mais efetivas de não apenas divulgar a
informação de conteúdo esportivo, mas de manifestar suas opiniões que, à margem do
tradicional jogo imprensa x jornalismo, podem ser expostas sem restrições em função de
interesses editoriais, políticos e econômicos por parte da empresa jornalística, possibilitando o
debate aberto e infinito entre o blogueiro e seus leitores. Entre outros fatores, pode-se explicar
assim também o impulso e proliferação dos blogs, a receptividade dos leitores por se sentirem
representados nesses espaços e o incentivo aos blogueiros que, pela possibilidade de
manifestar publicamente sua opinião diante de um determinado assunto, o move a atualizar o
seu site frequentemente. Na condição do blog jornalístico, o jornalista-blogueiro deixa de ser
apenas um nome assinado no texto, e se expõe a seus seguidores. “A opinião é, sem dúvida, o
principal motor da blogosfera [...] A verdade é que aquele que escreve deseja ser lido por
alguém, ambiciona ter visibilidade (pelo menos alguma, nem que seja entre o grupo de
amigos)”. (RODRIGUES, 2006, p.36/39).
Em termos das noções de visibilidade29, disciplina e espetáculo, pode-se afirmar que
esses dizem respeito a vetores do regime de visibilidade que repercute sobre a subjetividade
tanto nos circuitos de controle e segurança quanto nos circuitos de prazer e entretenimento. Os
principais deslocamentos: interioridade - profundidade - opacidade converge para
exterioridade - aparência - visibilidade, motivados pela internet que amplia ainda mais as
tecnologias do ver e ser visto. Os indivíduos ficam cada vez mais sujeitos às vigilâncias, e
mais autônomos na produção de sua própria visibilidade (BRUNO, 2013).
25 Segundo Rodrigues (2006) associado ao conceito de publicidade surge o conceito de publicista, um opinionmaker, ou se quisermos um intelectual produtor de opinião que escrevia em jornais apesar de não ser jornalista, que apareceu no século XVIII e que se manteve ativo com influência crescente durante o século XIX, intervindo sobre os mais variados temas, nomeadamente nos capítulos da arte e da política. [...] Mas, o publicista do século XIX acabou por desaparecer com o início da gestão industrial, com a profissionalização do jornalismo e com o aparecimento da figura do repórter. O jornalismo ideológico cedeu o seu lugar ao jornalismo objetivo e centrado nos factos. A opinião e discussão ficam paulatinamente em segundo plano. Quando o jornalismo profissional apareceu liquidou a autoria, no sentido da existência de uma subjetividade individual responsável pela produção do enunciado. No período que precedeu o jornalismo industrial, as redações eram integralmente compostas por pessoas que davam a sua opinião para doutrinarem os outros. Com a industrialização do jornalismo, as marcas dessa subjetividade opinativa são apagadas do texto jornalístico. A partir do século XIX, começa a definir-se jornalismo como o relato objetivo dos acontecimentos exercido por profissionais.
49
É possível observar em alguns blogs essa relação com a ideia de subjetividade
opinativa, com o objetivo de ampliar percepções sobre diferentes temas. Em relação ao
jornalista, ele pode dispor no seu blog opiniões sobre assuntos de seu interesse, desde que não
coloque em causa sua credibilidade e isenção no modo como produziu a informação.
O blog constitui um conjunto de vozes que se fazem ouvir, individualmente ou em grupo. Uns conseguem ir mais longe que outros, atingindo um auditório alargado. Um anónimo nunca terá a mesma credibilidade de alguém perfeitamente identificado, e a quem possam ser imputado responsabilidades sobre o que é dito. (RODRIGUES, 2006, p.72).
No campo comunicacional, um aspecto fundamental para a prática jornalística é a
veracidade das fontes. O jornalista precisa de fontes confiáveis que o ajude a construir a
informação com credibilidade, o que concede a ele e a mídia no qual ele trabalha determinado
prestígio. Quer dizer que, no exemplo dos blogs jornalísticos esportivo do portal UOL, apesar
de toda a autonomia que o jornalista tem a empresa de comunicação precisa preservar a sua
imagem, evitando, assim, motivos para que o público não confie na idoneidade do portal de
notícias.
Essa relação entre blog e plataforma midiática é mútua, surtindo efeitos para ambos os
lados, o que implica ainda mais na produção de boas matérias, com fontes confiáveis assim
como parceiros de prestígio. E, nos blogs jornalísticos do José Cruz e Juca Kfouri, por seu
caráter singular, essa unicidade se torna ainda mais importante, já que este blogueiro se expõe
diante dos fatos com críticas, argumentos e comentários, que reverberam entre seus leitores e
assim, com a potencialidade da web, possibilita ampliar a transmissão de informações para
um número superior de pessoas.
50
4 BLOGS ESPORTIVOS: ENQUADRAMENTOS DE CONTEÚDOS
Neste capítulo, vamos abordar características dos blogs jornalísticos esportivos, suas
particularidades e o que diferencia a editoria de esportes das demais especialidades. São
apresentados os blogs dos jornalistas José Cruz e do Juca Kfouri nosso objeto de análise, bem
como a metodologia utilizada em nossa pesquisa para a seleção dos corpora e as categorias de
análise que estabelecemos para perceber como os blogueiros constroem as informações com
base em critérios de noticiabilidade, contratos de leitura e comunicação, entre outros.
4.1 Blogs de jornalismo esportivo
Pode-se afirmar que o jornalismo está cada vez mais se reconfigurando e se moldando
ao ciberespaço. É preciso atentar para essas tendências e o modo como se encaixam no
universo online, e a relevância social do tema para a produção e difusão de conhecimento.
Neste espaço virtual, os blogs são dispositivos que estão sendo utilizados para diversos fins,
entre eles como mídia jornalística. No contexto do jornalismo profissional, nota-se uma
abrangência de blogs sobre diferentes temas, destacando-se os blogs esportivos.
Desde a Grécia Antiga quando começaram os jogos olímpicos, o esporte é um meio
que proporciona a sociabilidade entre as pessoas quando diferentes classes sociais se reúnem
para assistir ao evento como entretenimento. No Brasil pode-se dizer que o esporte foi se
tornando parte da cultura, uma representação da identidade nacional principalmente através
do futebol. Além da diversão em si, já que as transmissões das competições esportivas
parecem ser espetáculos para entreter o público, a prática esportiva é importante também
quando se trata de melhor qualidade de vida e inclusão social.
Deste modo, mostra-se importante uma cobertura mais contextualizada do esporte e
sua relação com a sociedade, além da tradicional cobertura esportiva como a divulgação de
resultados, análises dos jogos e dos indivíduos participantes, avaliações e especulações. “É
preciso se fazer jornalismo inteligente expandindo a pauta do esporte para além do esporte.”
(BARBEIRO, 2006, p.21). Neste contexto, os blogs jornalísticos esportivos despontam como
possíveis meios de elaboração e nova perspectiva para uma abordagem mais ampla dos
conteúdos esportivos com informação e opinião.
Os blogs de jornalismo esportivo no país multiplicaram nos últimos anos por
consequência das potencialidades oferecidas por este dispositivo e, além disso, pelo
expressivo interesse do público quando o assunto é esporte. Conforme Borelli (2002) para o
51
esporte fazer-se efetivamente presente na sociedade, ele deve passar por procedimentos
técnicos, teóricos e por um debate que envolva os indivíduos e grupos sociais. “O motivo está
no fato que, sem o empreendimento da linguagem o esporte passa a ser apenas uma atividade
regrada, limitada à experiência daqueles que o vivenciam.” (BORELLI, 2002, p.3).
O jornalismo esportivo tem um modo de operação bem particular. Em uma lógica de
celebrização reverencia os atletas que se destacam alguns deles transformados em heróis e
ídolos, e tem forte relação com a publicidade e o marketing. Além das avaliações e análises
dos jogos. Assim, o jornalismo esportivo se estabelece a partir desses variados movimentos.
O blog esportivo mostra-se, então, mais um dispositivo potente para a divulgação de
informações sobre o esporte. E o jornalista-blogueiro passa a ser o mediador do que será
publicado a seus leitores. Pode-se afirmar que, relativamente, o blog seria uma espécie de
coluna no ambiente online. As colunas esportivas são singulares em que, através de uma
linguagem especializada, o jornalista apresenta seu ponto de vista sobre diversificados
assuntos como uma autoridade na interpretação de fatos e situações. Em um jornal impresso
ou online, a coluna especializada em esportes ocupa um lugar de destaque nessa editoria.
Seguindo esse caminho, o colunista estabelece vínculos com seu leitor.
Essas características não diferem do que se entende por blog e as potencialidades que
ele oferece. No entanto, as similaridades, nos blogs, são exploradas de outro modo. O blog foi
apropriado pelo jornalismo esportivo por ele ser um dispositivo de fácil acesso e produção de
conteúdo, e por proporcionar ao jornalista um espaço individual para explorar e publicar
assuntos e opiniões de seu interesse. Assim, pode-se dizer que a coluna, pelo histórico
arraigado ao impresso, é limitada em flexibilidade de tamanho e periodicidade, e não
necessariamente está aberta a comentários dos leitores. Já o blog é mais dinâmico e possibilita
publicar textos a qualquer momento independente do tamanho, e tem como marca registrada a
opção de comentários. Mas, principalmente, têm o mesmo desafio de informar, opinar, ganhar
credibilidade, respeito e audiência.
A cobertura esportiva acontece por uma composição das mídias e da opinião pública.
Logo, a mídia passa a ser a principal mediadora dos discursos sobre o esporte. Discurso esse
elaborado por especialistas no assunto. A especialização esportiva é uma consequência de
fatores como a divisão do trabalho jornalístico já que a editoria de esportes demanda por
profissionais com conhecimento em área específicas, ou seja, em modalidades esportivas, e
que não se limitam a descrever apenas o acontecimento esportivo em si, mas entender que
esses fatos representam outros aspectos, a saber: políticos, econômicos, culturais, etc.
52
A produção jornalística nos blogs esportivos ganha notoriedade quando está associada
a alguma mídia ou empresa de comunicação. Exemplo são os blogs analisados em nossa
pesquisa. O blog do José Cruz e do Juca Kfouri faz parte do conjunto de vários blogs
ancorados no portal de notícias UOL, e muitos deles são de autoria dos principais jornalistas
de cobertura esportiva do país. O portal UOL Esporte conta com 44 blogs que abordam
diferentes modalidades. O futebol é o assunto com mais destaque, mas há blogs sobre Vôlei,
Natação, Fórmula 1, MMA, Basquete, Vela e Tênis. Desses, 31 blogs estão diretamente
associados ao UOL, enquanto os demais estão ancorados por outros veículos, como alguns
jornalistas da ESPN Brasil que vinculam a página pessoal que possuem na emissora de
televisão ao portal de notícias.
Nota-se que o UOL Esporte ou outros portais como o Globoesporte.com, ao anunciar
seus comentaristas, faz uma separação entre blogs e colunas, ou até mesmo entre opiniões,
blogs e colunas. Na editoria de esporte do UOL, os blogs são destacados na barra do menu
principal, com a ordem dos jornalistas em lista alfabética. No entanto, dos 44 nomes ou títulos
presentes nesta lista, não são todos que podem ser considerados blogs, e também que estão
diretamente vinculados à página do UOL. Isso porque existe parceria entre o portal e outras
mídias, como a ESPN Brasil ou a BAND, e também associação com outros sites da empresa
UOL que estão independentes da página de esportes, como o site Grande Prêmio que publica
exclusivamente assuntos sobre automobilismo. Exemplos são os jornalistas: Mauro Cézar
Pereira, Gustavo Hofman ou Leonardo Bertozzi da ESPN Brasil, em que os blogs desses na
página da emissora de TV estão vinculados à lista de blogs do UOL, ou o comentarista Flávio
Gomes, que tem sem blog ancorado no site Grande Prêmio estabelecendo um elo direto com
o portal.
Segundo dados do Alexa.com, o site UOL está atualmente em quarto lugar na lista de
sites mais acessados no país. O Trafficestimate estipula que a página de esportes tem
mensalmente 6.478,900 de visitas. O blogosfera.uol.com.br registrou 3.535,300 visitantes no
último mês.
Esses exemplos são apenas uma amostra da potencialidade dos blogs nessas mídias e
como atuam enquanto um meio para promover interação entre diferentes mídias e assuntos,
uma parceria direta ou indiretamente que ajuda a proliferar esses conteúdos e aumentar o
conhecimento do público, seja entre mídias da mesma empresa de comunicação ou com
mídias diversas, tornando-se um espaço democrático tanto de divulgação de conteúdo quanto
de produção e interação.
Imagem 1
O portal concede ao jornalista
uma maior audiência, assim como o
a formar a credibilidade desse
divulgação para diferentes vozes colabora para que haja inúmeros pontos de vista aceitos e
cultuados pela editoria de esporte. São variadas falas e funções que surgem dentro do
jornalismo esportivo.
4.2 Apresentação dos blogs analisados: José Cruz e Juca Kfouri
4.2.1 José Cruz
José Cruz é um jornalista brasileiro natural de Porto Alegre, Rio Grande do S
mais de 30 anos de carreira é jornalista esportivo há 24 anos. É bacharel em Comunicação
Social, Jornalismo, pela Universidade Católica de Pelotas, RS (1968
estudou no Centro Internacional de Estudos de Jornalismo da América
O jornalista começou sua parceria com o UOL em 1999 no qual permaneceu por seis
anos, encerrando-a no dia 31 de dezembro de 2015. Anteriormente, foi repórter do Correio
Braziliense de 1994 até 2009. Entre 2013 e 2014 foi membro da Comiss
Câmara dos Deputados. Atualmente trabalha no Senado Federal como assessor no gabinete do
senador Romário.
Imagem 1 – Página inicial do portal UOL Esporte
Fonte: Portal do UOL Esporte
O portal concede ao jornalista-blogueiro um espaço seguro, no qual ele pode falar para
uma maior audiência, assim como o jornalista-blogueiro, que ao possuir certo prestígio ajuda
a formar a credibilidade desse blog no ambiente online diante de seus leitores. Este espaço de
divulgação para diferentes vozes colabora para que haja inúmeros pontos de vista aceitos e
ela editoria de esporte. São variadas falas e funções que surgem dentro do
s analisados: José Cruz e Juca Kfouri
José Cruz é um jornalista brasileiro natural de Porto Alegre, Rio Grande do S
mais de 30 anos de carreira é jornalista esportivo há 24 anos. É bacharel em Comunicação
Social, Jornalismo, pela Universidade Católica de Pelotas, RS (1968 – 1971). No ano de 1971
estudou no Centro Internacional de Estudos de Jornalismo da América Latina, CIESPAL.
O jornalista começou sua parceria com o UOL em 1999 no qual permaneceu por seis
a no dia 31 de dezembro de 2015. Anteriormente, foi repórter do Correio
Braziliense de 1994 até 2009. Entre 2013 e 2014 foi membro da Comissão de Esporte na
Câmara dos Deputados. Atualmente trabalha no Senado Federal como assessor no gabinete do
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ueiro um espaço seguro, no qual ele pode falar para
ueiro, que ao possuir certo prestígio ajuda
diante de seus leitores. Este espaço de
divulgação para diferentes vozes colabora para que haja inúmeros pontos de vista aceitos e
ela editoria de esporte. São variadas falas e funções que surgem dentro do
José Cruz é um jornalista brasileiro natural de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Com
mais de 30 anos de carreira é jornalista esportivo há 24 anos. É bacharel em Comunicação
1971). No ano de 1971
Latina, CIESPAL.
O jornalista começou sua parceria com o UOL em 1999 no qual permaneceu por seis
a no dia 31 de dezembro de 2015. Anteriormente, foi repórter do Correio
ão de Esporte na
Câmara dos Deputados. Atualmente trabalha no Senado Federal como assessor no gabinete do
No texto que o identifica no
economia e legislação do esporte
esporte sob a ótica da política e
Nas redes sociais tem 1,
o UOL (dezembro de 2015) tinha o total de 828 visitas nos últimos seis meses. É um
jornalista com poucos seguidores, se comparado
que tem um bom público que o acompanha atualmente
José Cruz cumpriu no seu
textos eram baseados em fatos de ordem econômica e política, com foco no esporte para além
do campo de competição com análises diárias sobre as ve
legislação esportiva etc. Essa característi
blog pode exercer esse olhar específico sobre assuntos pouco ou não explorados na mídia
esportiva. Desse modo, nota-se que
para a produção e publicação de notícias, praticando o jornalismo investigativo de interesse
público.
Por essa abordagem que o
manifestando o desejo de realizar pesquisa sobre a prática jornalística e o jornalismo
esportivo, com um viés mais político e social, ressaltando a importância dessa abordagem na
mídia em geral. Não se trata de enfatizar um tipo específico de abordagem jornalística, m
de explorar e tornar de conhecimento público um modo de enxergar os fatos para além de
uma abordagem tradicional, característica marcante no jornalismo esportivo, e como o
dispositivo blog parece proporcionar ao jornalista esse lugar único e individual
compartilhar informações e promover debates.
Imagem 2
No texto que o identifica no blog ele diz cobrir, em Brasília, “as áreas de política,
slação do esporte”. Temas que já ficam claros no próprio título do
esporte sob a ótica da política e da economia.
1, 833 mil seguidores no twitter, e até o fim de sua parceria com
o UOL (dezembro de 2015) tinha o total de 828 visitas nos últimos seis meses. É um
jornalista com poucos seguidores, se comparado o seu colega de profissão, Juca Kfouri, mas
que tem um bom público que o acompanha atualmente nas postagens no twitter
José Cruz cumpriu no seu blog exatamente o que anunciava no título da página. Seus
textos eram baseados em fatos de ordem econômica e política, com foco no esporte para além
do campo de competição com análises diárias sobre as verbas públicas destinadas ao esporte e
legislação esportiva etc. Essa característica condiz com a ideia do especialista que através do
pode exercer esse olhar específico sobre assuntos pouco ou não explorados na mídia
se que o blog passou a ser para o jornalista um espaço relevante
para a produção e publicação de notícias, praticando o jornalismo investigativo de interesse
Por essa abordagem que o blog do jornalista José Cruz chamou atenção desta autora,
o desejo de realizar pesquisa sobre a prática jornalística e o jornalismo
esportivo, com um viés mais político e social, ressaltando a importância dessa abordagem na
Não se trata de enfatizar um tipo específico de abordagem jornalística, m
de explorar e tornar de conhecimento público um modo de enxergar os fatos para além de
uma abordagem tradicional, característica marcante no jornalismo esportivo, e como o
parece proporcionar ao jornalista esse lugar único e individual
compartilhar informações e promover debates.
Imagem 2 – Página inicial do Blog do José Cruz
Fonte: Portal UOL Esporte
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ele diz cobrir, em Brasília, “as áreas de política,
á ficam claros no próprio título do blog: O
e até o fim de sua parceria com
o UOL (dezembro de 2015) tinha o total de 828 visitas nos últimos seis meses. É um
colega de profissão, Juca Kfouri, mas
twitter.
exatamente o que anunciava no título da página. Seus
textos eram baseados em fatos de ordem econômica e política, com foco no esporte para além
rbas públicas destinadas ao esporte e
ia do especialista que através do
pode exercer esse olhar específico sobre assuntos pouco ou não explorados na mídia
o jornalista um espaço relevante
para a produção e publicação de notícias, praticando o jornalismo investigativo de interesse
do jornalista José Cruz chamou atenção desta autora,
o desejo de realizar pesquisa sobre a prática jornalística e o jornalismo
esportivo, com um viés mais político e social, ressaltando a importância dessa abordagem na
Não se trata de enfatizar um tipo específico de abordagem jornalística, mas
de explorar e tornar de conhecimento público um modo de enxergar os fatos para além de
uma abordagem tradicional, característica marcante no jornalismo esportivo, e como o
parece proporcionar ao jornalista esse lugar único e individual para
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4.2.2 Juca Kfouri
Juca Kfouri é considerado um dos maiores jornalistas esportivos do país. Está na
equipe de comentaristas no portal UOL desde 2005 estreando com o blog em 2009. Juca é um
bom exemplo de um jornalista que conquistou credibilidade fora do ambiente online e, ao
integrar uma mídia da web levou com ele o prestígio conquistado, o que lhe garante até hoje
boa audiência entre os leitores.
Com uma proposta diferente da escolhida por José Cruz, Juca Kfouri usa seu blog
como um espaço de opinião sobre tudo o que lhe interessa no campo esportivo. Ele não só
fala de futebol, apesar de a modalidade ser destaque nos textos publicados, mas abarcam
também outros temas inerentes as competições esportivas, com postagem diária.
Juca Kfouri é natural da cidade de São Paulo. Formado em Ciências Sociais pela
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-
USP), em 1970 entrou na Editora Abril para trabalhar no departamento de documentação, se
tornando chefe do departamento até 1974, quando foi convidado para ser chefe de reportagem
da revista Placar. Ficou no cargo até 1978, quando trabalhou por três meses na extinta TV
Tupi. Posteriormente, retornou à revista Placar como diretor de redação, cargo que ocupou
enquanto trabalhou na Editora Abril.
O jornalista ganhou notoriedade ao organizar, em 1982, uma matéria que denunciava a
chamada "Máfia da Loteria Esportiva", um esquema na quais jogadores eram comprados por
apostadores para garantir que os resultados dos jogos da loteria seriam aqueles em que
haviam apostado. O jornalista chegou a receber ameaças após o escândalo. Em 1995, se
desligou da Editora Abril porque teria sido proibido de publicar denúncias contra os
dirigentes esportivos na época Eduardo José Farah e Ricardo Teixeira.
Na televisão trabalhou como diretor de esportes da TV Tupi, em 1978. Como
comentarista atuou na TV Record (1982), no SBT (1984 a 1987), na TV Globo (1988 a 1994).
Nos anos entre 1996 e 1999 teve seu primeiro programa de entrevistas na CNT. Entre 1995 e
2000, com retorno em 2003 até 2005, participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura,
ao lado de outros jornalistas esportivos de destaque como Flávio Prado, José Trajano e
Armando Nogueira. Na Rede TV!foi âncora do programa Bola na Rede entre os anos 2000 e
2003.
Atualmente é comentarista e apresentador na ESPN Brasil (desde 2005) participando
do programa Linha de Passe e com seu programa de entrevistas, Juca Entrevista.
Em jornais, foi colunista de futebol de
Paulo (1995 a 1999). No diário
retornou para a Folha de São Paulo
No ano de 2005 foi contratado pelo
após experiência como comentarista esportivo em noticiários da
Americansat, começou a trabalhar na rede
programa CBN Esporte Clube
esportivo nos noticiários da emissora.
Como escritor já publicou cinco livros, a saber:
Corinthians, Paixão e Glória
que não desisto - Futebol, Poder e Polít
É um jornalista muito popular na imprensa esportiva. Segundo dados do
foram 1.50M de visitas no blog
dias, dados do Trafficestimate
200 mil na página do facebook.
Essa popularidade é fator essencial para a construção da credibilidade do jornalista, e
apreciação do público. Seus textos são muito comentados, ressaltando
de acessos como o interesse desse público em participar do debate. Já se envolveu em
polêmicas com dirigentes do futebol nacional por seu tom crítico à administração do esporte
nacional.
Imagem 3
Em jornais, foi colunista de futebol de O Globo (1989 a 1991) e da
(1995 a 1999). No diário Lance! trabalhou entre os anos de 1999 até 2005, quando
Folha de São Paulo onde tem sua coluna desde então.
No ano de 2005 foi contratado pelo UOL onde mantém seu blog até hoje
após experiência como comentarista esportivo em noticiários da Rádio América
, começou a trabalhar na rede CBN de rádio, se tornando em 2000 âncora do
CBN Esporte Clube até 2010. Atualmente, continua na CBN como comenta
esportivo nos noticiários da emissora.
Como escritor já publicou cinco livros, a saber: A Emoção Corinthians
(2002); Meninos, eu Vi... (2003); O Passe e o Gol
Futebol, Poder e Política (2009).
É um jornalista muito popular na imprensa esportiva. Segundo dados do
blog nos últimos seis meses, e 531,900 visitas nos últimos trinta
Trafficestimate. Nas redes sociais tem 446,579 seguidores no twitter
facebook.
Essa popularidade é fator essencial para a construção da credibilidade do jornalista, e
apreciação do público. Seus textos são muito comentados, ressaltando o grande contingente
como o interesse desse público em participar do debate. Já se envolveu em
polêmicas com dirigentes do futebol nacional por seu tom crítico à administração do esporte
Imagem 3 – Página inicial do Blog do Juca Kfouri
Fonte: Portal UOL Esporte
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(1989 a 1991) e da Folha de São
trabalhou entre os anos de 1999 até 2005, quando
até hoje. No rádio,
Rádio América e na
de rádio, se tornando em 2000 âncora do
como comentarista
A Emoção Corinthians (1982);
O Passe e o Gol (2005) e Por
É um jornalista muito popular na imprensa esportiva. Segundo dados do Similar Web
últimos seis meses, e 531,900 visitas nos últimos trinta
twitter e mais de
Essa popularidade é fator essencial para a construção da credibilidade do jornalista, e
o grande contingente
como o interesse desse público em participar do debate. Já se envolveu em
polêmicas com dirigentes do futebol nacional por seu tom crítico à administração do esporte
57
5 OS BLOGS DE JORNALISMO ESPORTIVO
Neste capítulo serão apresentados os procedimentos adotados para a investigação do objeto de
análise, perpassando por caminhos metodológicos e analíticos. Categorias de análise foram
elaboradas para ajudar na compreensão de determinadas características de modo a perceber
como esses são utilizados nos blogs e como isso atua na concepção e no desenvolvimento do
que são esses blogs de jornalismo esportivo.
5.1 Metodologia de dimensionamento e análise dos corpora
Como ponto de partida na construção metodológica, seguimos os procedimentos que
fazem parte do percurso da pesquisa. Realizamos uma revisão bibliográfica, atualizada
conceitualmente em função da perspectivarão própria do objeto empírico. Considerando nosso
trabalho de reflexão teórica, constituímos os operadores analíticos por meio dos quais
procedemos à análise dos blogs esportivos dos jornalistas José Cruz e Juca Kfouri. Tais
análises valeram-se, referencialmente, da Análise de Conteúdo. Essa escolha se deu haja vista
que objetivo desta pesquisa é compreender aspectos como autoria e credibilidade pelo
contexto expresso no texto.
A análise de conteúdo, segundo Laurence Bardin (2009) organiza-se em torno de três
pólos cronológicos: a) a pré-análise; b) a exploração do material e c) o tratamento dos
resultados, a inferência e a interpretação. Na primeira fase (escolha dos documentos),
selecionamos quais textos seria submetido à análise, fase que Bardin denomina como leitura
flutuante com o objetivo de conhecer o texto absorvendo impressões e observações. Aqui
fizemos a constituição de um corpus26. Na fase seguinte (formulação de hipóteses e dos
objetivos) partimos de afirmação provisória que nos propomos verificar com o objetivo de
averiguarmos as instâncias iniciais propostas. Na última fase (elaboração de indicadores que
fundamentem a interpretação final), definimos quais seriam nossos operadores analíticos.
Para o dimensionamento do corpus, escolhemos o conceito de “semana artificial”
proposta por Martin Bauer e George Gaskell (2002). Com esse método nosso objetivo era
determinar textos publicados em uma semana de cada mês, entre fevereiro e dezembro. Os
autores afirmam que as datas dos calendários são um referencial de amostragem confiável, e
que dele é possível extrair uma amostra inteiramente aleatória. Com relação ao corpus,
ressaltam:
26Bardin define o corpus como “o conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos” (Bardin, 2009, p. 122).
58
Um corpus de texto é a representação e a expressão de uma comunidade que escreve. [...] Um corpus de texto oferece diferentes leituras, dependendo dos vieses que ele contém. A AC não é exceção; contudo, ela traça um meio caminho entre leitura singular verídica e o ‘vale tudo’, e é, em última análise, uma categoria de procedimentos explícitos de análise textual para fins de pesquisa social. Ela não pode nem avaliar a beleza, nem explorar as sutilezas de um texto particular (BAUER; GASKELL, 2002, p.191-192).
No dimensionamento do corpus de análise, elegemos como recorte temporal o ano de
2015 com a finalidade de alcançar uma visão completa e atualizada da jornada esportiva
durante um ano inteiro. A partir disso, realizamos uma primeira abordagem exploratória, e
posteriormente o dimensionamento dos corpora para análise.
Para Bauer (2002), ao realizar uma análise de conteúdo, estudar uma amostra aleatória
pequena, selecionada de modo sistemático é mais vantajoso, que selecionar uma grande
amostra ao acaso.
Desse modo estabelecemos um ano artificial (2015) com a seguinte amostragem,
selecionando uma semana de cada mês do ano27: a primeira semana de fevereiro, a segunda
semana de março, a terceira semana de abril, a quarta semana de maio, a primeira semana se
junho, a segunda semana de julho, a terceira semana de agosto, a quarta semana de setembro,
a primeira semana de outubro, a segunda semana de novembro e a terceira semana de
dezembro.
Nossa atenção foi no sentido de, entre outros aspectos, analisar o conteúdo dos blogs
do José Cruz e do Juca Kfouri. Assim, investigamos o conteúdo prevalecendo os critérios de
noticiabilidade desses blogueiros, o processo de construção da credibilidade e da autoria, e,
também, as características que definem o blog quanto jornalístico.
5.2 Categorias de análise
As categorias analíticas contribuíram para iluminar nossa observação, análise e
interpretação das textualidades definidas em nosso dimensionamento como corpus de análise.
Para tal, a análise dos blogs do José Cruz e do Juca Kfouri foi estabelecida quatro categorias
com a finalidade de entender os modos como os blogueiros constroem a informação e a
divulgam, de modo a perceber o funcionamento desses conteúdos no portal UOL.
Assim, definimos como categorias os seguintes pontos:
i) Modos de relacionamento com o leitorado. Nesse ponto queremos perceber como o
autor realiza seus contratos de leitura e comunicação com seu público alvo. Com esta
27 O mês de janeiro será excluído por ser um período de férias e de pouca demanda nos blogs.
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categoria, procedeu-se a análise, iluminada pela noção de contrato de leitura, de como os
blogueiros acionam algumas das cláusulas dos contratos que estabelecem com seus
leitores/usuários. Nessa perspectiva, considerou-se relevante observar aspectos como: o lugar
de interlocução destinado ao leitor (se mais distante ou mais próximo); a intensidade e os
modos de apropriação pelo blogueiro das opiniões/informações postadas pelos internautas e as
representações construídas pelos blogueiros a respeito das torcidas/torcedores.
ii) a segunda categoria diz respeito aos Critérios de noticiabilidade que norteiam os
blogs. Vamos observar quais sãos os valores-notícia estabelecidos pelo autor de acordo com
as especificidades da ferramenta blog. Nessa perspectiva, considerou-se importante averiguar
características como: a) a seleção primária dos fatos estabelecida pelo blogueiro, observando
os valores-notícia aplicados pelo autor a partir de aspectos como o impacto perante o público,
a notoriedade, o conflito, o entretenimento, a polêmica, conhecimento ou cultura, a raridade e
proximidade seja geográfica ou cultural, o interesse nacional, a tragédia, e por fim denúncias e
investigações; b) o modo como o blogueiro centrou-se na seleção hierárquica dos fatos para
além dos valores-notícia, como o formato dos textos, a qualidade da informação publicada, a
relação do autor com fontes, o público alvo e a linha editorial e c) o modo como o blogueiro
interpreta os fatos considerando-se fundamentos éticos do jornalismo, de objetividade,
interesse público, credibilidade, instantaneidade e imparcialidade.
iii) a terceira categoria refere-se a Como o blogueiro (autor) se coloca nos posts:
níveis de subjetividade, opinião, etc. O objetivo é pesquisar a relação entre informar e opinar
num espaço público e sua legitimidade jornalística. Por esse prisma destacou-se: a) processos
como individualidade, personalidade e identidade do blogueiro; b) o modo como o autor
dispõe do blog (enquanto dispositivo de comunicação) para expressar sua opinião sobre
determinado assunto construindo sua credibilidade e legitimidade diante do público e c) como
se estabelece a relação entre o informar e opinar, prevalecendo aspectos mais autorais ou
jornalísticos;
iv) Por fim, o quarto e última categoria diz respeito aos Modos como os blogs se
relacionam com outras mídias e o portal em que ele está inserido. Analisamos o modo como
outras mídias e o portal UOL se apropriam dos blogs analisados e como os reverbera. Desse
modo, investigamos aspectos como: a) o modo como os textos publicados nos blogs são
transmitidos para outras mídias como o facebook e o ttwitter; b) como o portal UOL apresenta
esses blogs em sua página principal, destacando-se o layout da página, a posição que esse
blog ocupa na página inicial; c) de que modo o portal interfere na escolha do internauta por
60
determinado blog e d) qual a importância que o portal dá a esse dispositivo e a
representatividade do mesmo para o público.
5.3 O trabalho analítico
Como mencionado, a análise dos blogs jornalísticos de José Cruz e Juca Kfouri
resultou de características analíticas construídas e delineadas diretamente em função do nosso
problema de pesquisa. Após a investigação exploratória inicial do conjunto completo das
publicações no período previamente determinado, algumas foram destacadas para melhor
elucidar as questões problematizadas dentro das categorias de análise dessa pesquisa. Durante
o período de investigação, notou-se a regularidade e constância dos blogueiros quanto às
publicações de informações nos blogs.
Ao realizarmos tal análise primária dos blogs constatamos que o jornalista José Cruz
publicava textos mais informativos com foco em questões da política e/ou da economia do
desporto no país, e também em temas relacionados à legislação do esporte. Já o blogueiro
Juca Kfouri apresentava informações sobre temas mais amplos, além do foco político e social,
equilibrando assuntos do futebol e outras modalidades esportivas, notícias relacionadas a
personalidades e a cultura etc. Esta investigação evidenciou que a maioria das publicações nos
blogs dos jornalistas é composta por textos informativos e/ou noticiosos, porém com diferente
tratamento.
José Cruz é argumentativo, opina quando julga necessário e produz textos mais
extensos, com críticas mais suáveis. Por outro lado, Juca Kfouri é crítico na maioria dos posts,
abusa da ironia e do humor na construção das notícias. Seus posts variam de tamanha de
acordo com o assunto abordado.
O layout da página dos blogs é similar e segue o padrão editorial do Portal UOL. O
rosto dos jornalistas em destaque no título do blog, também é uma característica da editoria de
esportes do Portal. Além da caixa de comentários, os internautas podem compartilhar os posts
através de suas próprias redes sociais, ou comentá-los no perfil dos jornalistas, que destacam
na página inicial do blog o endereço de suas contas no twitter e facebook.
José Cruz e Juca Kfouri publicaram textos praticamente em todos os dias do período
analisado, salvo algumas exceções. Nas 11 semanas de investigação, Juca Kfouri publicou
275 vezes, média de três posts diária, e José Cruz publicou 71 vezes, um post a cada dia.
Esses dados indicaram que os jornalistas mantêm os blogs atualizados e, quando não há
publicação diária, não ficam mais de dois dias sem postar algum texto.
61
Juca Kfouri é um notável comentarista esportivo, de prestígio nacional e conhecido
por ser crítico em relação às práticas políticas, não apenas no âmbito esportivo, mas também
no contexto social. Isso não o afasta da cobertura tradicional do jornalismo esportivo, ou seja,
a cobertura dos jogos, análises dos jogadores e dirigentes, mas sem perder o tom opinativo. Já
o jornalista José Cruz é um profissional que investiga o esporte sob o olhar legislativo,
apurando informações de interesse nacional e social. Uma semelhança entre ambos é lançar
mão, em alguns momentos, de questões da cultura e da poesia, por exemplo, para agregar
mais valor e porque não conhecimento às informações publicadas.
5.4 Modos de relacionamento com o leitorado
Como visto no capítulo 3, os blogs apresentam uma potencialidade de unicidade entre
enunciado e enunciador. E que o dispositivo de enunciação é formado por essa união entre o
enunciador, o destinatário e a relação entre eles. Os blogs de José Cruz e Juca Kfouri
apresentaram características importantes para ilustrar esse modo de apropriação no dispositivo
blog e como o blogueiro desenvolve sua narrativa de modo a atrair a atenção do internauta.
No blog do José Cruz O esporte sob a ótica da economia e da política, o jornalista
utiliza uma linguagem mais objetiva e distante do internauta na elaboração dos textos. Em
contrapartida, ele absorve os comentários e participa da discussão entre os leitores,
respondendo diretamente a eles, propondo ampliar o debate e até mesmo agradecendo elogios
ou respondendo a críticas. Por tal aspecto constatou-se que o jornalista assume uma relação de
proximidade com o internauta, o que potencializa essa característica marcante da mídia
online, ou seja, a possibilidade de interação entre os sujeitos através da caixa de comentários.
Mas, não necessariamente, essa potencialidade é utilizada em todos os comentários, até
mesmo por todos os blogueiros e com a mesma intensidade. Juca Kfouri, no seu blog
homônimo, busca interagir com seu leitor muito mais através dos posts do que na caixa de
diálogo. Uma característica observada no blog do renomado jornalista é o modo como ele
emprega a ironia e o humor nos seus textos. A começar na elaboração dos títulos de suas
matérias, muitas vezes convocativos ou irônicos, críticos ou bem humorados. O blog é muito
popular entre os leitores, visto o número de acessos e comentários. No entanto ao convocar
seu internauta a participar da discussão, pouco interage com eles. E, quando o faz, não se
identifica diretamente, provocando dúvida quanto à identidade daquele que se pronuncia.
Em publicação do dia 09 de março de 2015, o blogueiro publicou texto com o título
“O panelaço da barriga cheia e de ódio” no qual faz críticas contra o que ele chama de elite
62
branca e o panelaço de alguns brasileiros contra o governo. O internauta com o nome Carlos
Gomes enviou o seguinte comentário:
“Não adianta, sei, tentar criticar seu artigo por defender um governo corrupto, mas só lembrar que vocês, não-elitizados, são apenas 8%”.
A resposta do blogueiro ao comentário:
“Não adianta, sei, tentar ensinar você a ler. O artigo não é meu e não defende o governo, você simplesmente não leu até o fim ou não entendeu. Safatle, o autor, sim, o autor!, não é do PT.”
No mesmo post, outro leitor, Luca Maribondo faz a seguinte crítica:
“’Dilma Rousseff, gostemos ou não, foi democraticamente eleita em outubro passado’. O que significa a frase? Que Dona Dilma Rousseff não deve ser criticada?”.
Rafael Belattini (- colaborador do blog do Juca Kfouri, com textos publicados na
página do blogueiro) respondeu:
“Criticada sim, ofendida não. E muito menos devem gritar que ela deve sair apenas porque queriam que o outro estivesse lá”.
Como sabemos essa interação entre blogueiro e internauta não se estende apenas entre
eles, mas, também, a todos os outros leitores participantes do debate. Como o internauta
Dcls45, criticando a resposta do colaborador do blog:
“Ela tem que ser ofendida sim, Rafael Bellatini (tenro secretário do juquiinha), pois nos ofende à inteligência quando se faz de sonsa ao dizer que não sabia de nada do que ocorria na Petrobras, assim como o seu guru: o molusco.O importante é que vocês leiam, quem sabe eu consigo instruí-los melhor e vocês parem de escrever besteiras.”.
A resposta de Belattini:
“Oh, sábio! Sabedor supremo de todas as verdades! Sabes também que a ofensa é a argumentação dos imbecis?”.
Em outro comentário no post publicado dia 02 de junho de 2015 “Parreira dá uva.
Rinaldi dá o quê?”, o internauta Gino45 enviou a seguinte opinião:
“Tenho até calafrios ao imaginar uma reunião do marco Polo...fico imaginando o que este senhor Juca, gostaria de por na CBF (André Sanches) o que a senhora globo (cariocas – Romário) ...e ainda por cima o governo...”.
63
A resposta ao comentário foi de Rafael Belattini:
“Ah sim, porque o dirigente e o Juca se dão super bem, né?” que ainda publicou três links de textos do blogueiro criticando o então dirigente, Andres Sanchez.
José Cruz já é objetivo e se coloca a disposição do internauta a participar do debate.
Na publicação do dia 03 de fevereiro de 2015, o leitor Vicente Alves comentou:
“Saudações. Complementando, a ANATEL ajudou a formatar, juntamente com a iniciativa privada, a expansão e dinamização das telecomunicações neste país, possibilitando, inclusive, a importantíssima facilitação da comunicação do conceituado colunista com os internautas. Claro, nem tudo é perfeito, mas, o que falta ao país, é planejamento estratégico, inclusive no esporte. A criação da Agência Nacional do Esporte direcionará o investimento privado no esporte. Caminhamos, também, para a formatação da mídia digital para a transmissão de eventos esportivos, pelo que a ANE poderá ser um importante canal de entendimento dos investidores privados com o governo e o universo esportivo. Este internauta deseja um diálogo aberto com o Congresso Nacional, acerca do Estatuto do Atleta, inclusive, convidando atletas de renome nacional e internacional para a troca de informações, por comissão mista.”
José Cruz não apenas o respondeu como solicitou ao leitor informações para promover um
debate sobre outro tema:
“O esporte será prática estratégica para os estudantes? e o Estado tb estará presente aí? Repare, Vicente, que nem o governo, por seus ministros, consegue definir o que quer com o setor! E ousa avançar sobre o futebol, que é complexo e misterioso!!!! Sobre o Estatuto do Atleta, vou lhe pedir um favor: me envie mais detalhes, um briefing, para que eu possa levá-lo à futura Comissão de Esporte para tentar promover um debate sobre o tema. Meu endereço, ao dispor de todos: [email protected].”
Mais um exemplo da relação do blogueiro com o leitor aconteceu na publicação do dia
04 de fevereiro de 2015:
Idrubi “Piadista,essas agencias são cabidões de emprego para o pessoal do PT e seus apaniguados.” Jcruzz “como não sei com quem estou debatendo, não gastarei tempo com argumentos, até pq o leitor tb deve ter esquecido os óculos para ler a argumentação geral do texto publicado.” Sports in the world “Cruz, por favor até quando vamos ter de carregar o seu sobrenome? Pobre de nós brasileiros, que pagamentos os nossos impostos em dia, para sustentarmos esta corja que se instala no poder e nele não só se beneficiam, como ainda fazem média e beneficiam Clubes de Futebol, Federações e Confederações esportivas, usando o Esporte como meio de obtenção de votos e lógico perpetuação no poder. Jornais de ontem: o Flamengo vai pedir 16 milhões adiantados da cota de televisão da TV Globo, referente a 2018, que deve ser para contratar o Cleiton Xavier e o Mercadante quer criar Agência Reguladora para o Futebol. Quais seriam as intenções e os objetivos de se criar esta Agência? Existem outras agências que já não funcionam, imagina a do Futebol. O Congresso deveria fazer uma Lei que acabe com as Federações e Confederações que não servem para nada e enquadrar os presidentes dos clubes de Futebol.” Jcruzz “Prezado World. Não sei, sinceramente, até quando Vcs, leitores, terão que carregar o meu sobrenome. De minha parte, posso te afirmar que o faço com orgulho e cabeça erguida. Não só porque é uma herança honrosa de meus pais mas, principalmente, pq me remete a ao símbolo
64
maior da humanidade. Tua análise está bem argumentada, e vamos ver o que o Congresso Nacional decidirá. Em frente, Amigo, pq o ano promete. Abs.”
“Eu? Rico?” 05 de fevereiro de 2015, referência ao presidente do Clube Vasco da
Gama, Eurico Miranda.
Fonte: Blog do Juca Kfouri no Portal UOL Esporte
Os comentários descritos são apenas alguns exemplos da relação que os blogueiros
estabelecem com seus internautas. O vínculo acontece com mais intensidade através dos
comentários, e indiretamente através dos títulos que os jornalistas elaboram na abertura de
cada texto. Desde narrativa mais irônica até o bom humor, os títulos já são um modo de
convidar e atrair o leitor acessar e permanecer no blog.
5.5 Critérios de noticiabilidade que norteiam os blogs
Como observado nos blogs jornalísticos selecionados, já apresentados nesta pesquisa,
José Cruz é um jornalista investigativo. A seleção das notícias passa por um viés que destaca
assuntos de interesse nacional, abarcando situações de conflito, relação de poderes, disputas
políticas, agregando conhecimento através de notícias em formato de denúncia, sempre
abordando a esfera esportiva nacional. Pode-se dizer que o jornalista faz um trabalho de
apuração dos fatos e completando a informação com registros de outras mídias e informações
de outros jornalistas.
Sergio “É muito fácil se esconder atrás de um teclado e dizer que alguém não entende nada de algum assunto. Pela pretensão demonstrada, o escriba deve ser um especialista em futebol. O mais interessante é que os mais renomados jornalistas nacionais voltados para o esporte são favoráveis à criação da agência. Das duas, uma: ou o jornalista é uma sumidade no assunto, e até hoje todos os
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governos perderam feio em não consultá-lo, ou não passa de mais um dos muitos bravateiros da imprensa nacional”. Jcruzz “Sérgio, não tenho a pretensão de ser consultor do governo. Tive essa oportunidade ao receber convite da Confederação de Vôlei, que me orgulhou muito. Mas sou repórter e, pelas observações ao longo de 40 de profissão, 30 em esportes, me tornei crítico. Hoje, posso te garantir, estamos num retrocesso sem igual. Respeito todos os colegas que se manifestam sobre o assunto, principalmente os que cobrem futebol, pois são autoridades numa área q pouco entendo. O que não aceito -- e digo isso com experiência de ter trabalhado no Congresso -- é a intromissão do governo em negócios privados. Se o governo financia esse negócio, que fiscalize, mas não vá lá dizer como é que tem q ser feito. Enfim, obrigado pela manifestação e volte sempre ao bom debate. Abraço.” Neste comentário do blogueiro, o próprio, além de esclarecer sua opinião ao internauta, deixa explícito ser um profissional que pouco entende da cobertura do futebol, e sim com os anos de profissão aprendeu a ser mais crítico. 05/02/2015
Por apresentar textos em formato de reportagem ou artigo, José Cruz publica textos
mais extensos, atrelando um assunto ao outro, recorrendo a fontes diversas e compartilhando
informações. O jornalista-blogueiro lança mão de dados, gráficos, tabelas, entrevistas, entre
outros para compor seu texto informativo. E, também, se apropria claramente da agenda
midiática ao buscar informações sobre assuntos discutidos no momento ou resgatando
discussões paralelas ao noticiário do dia.
Ao refletir sobre como o jornalista-blogueiro constrói sua credibilidade, as distinções
entre José Cruz e Juca Kfouri, mostrou-se esclarecedora. De um lado um jornalista com
menor popularidade e pouco conhecido na mídia esportiva, talvez por ser um profissional do
jornalismo investigativo, fora do circuito tradicional da cobertura esportiva; do outro lado um
jornalista muito popular, que circula por diferentes mídias jornalísticas, com forte presença
nos debates sobre o esporte nacional e suas políticas. Logo, essas percepções confirmaram
algo já concebido no capítulo 3, no qual a credibilidade e o prestigio conquistados fora do
ambiente online, proporcionam ao blogueiro maior poder de persuasão, de modo que, ao
leitor, é estabelecida a conclusão do que é confiável.
No blog do José Cruz, publicação do dia 03 de fevereiro de 2015, com o seguinte
título: Candidato de Dilma à APO é citado na Operação Lava-Jato, o jornalista destaca a
relação com outros espaços midiáticos ao citar reportagem da revista Veja, e também do
jornal o Globo e Folha de São Paulo. Ao se referir ao jornal paulista, destacou-se que, o
jornalista, através da reportagem, foi influenciado pela agenda midiática.
[...] Desde janeiro, Edinho (foto) aparece nas denúncias de acusados da operação Lava-Jato: o dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, preso em na carceragem de Curitiba, revelou – segundo reportagem de Veja – que Edinho Silva negociou doações de R$ 18 milhões dessa empresa, em duas parcelas, para o comitê de Dilma e ao diretório do PT. Edinho negou. [...] Mais: em janeiro, já na prisão, Pessoa fez anotações, divulgadas por O Globo, onde alertava ao governo [...] Hoje, a Folha de S.Paulo divulga que [...] 03/02/2015
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Em outra publicação no dia 10 de março de 2015, Atleta profissional precisa de
‘apoio’ do Estado? José Cruz, ao propor esse título, provoca um debate ao mesmo tempo em
que expõe sua opinião sobre o assunto. No decorrer do texto, ele cita uma entrevista do tenista
João Souza, no programa “Bem Amigos”, apresentado pelo narrador Galvão Bueno, no canal
Sportv e comenta:
“Emocionado – e não era para menos –, Galvão apelou para que “alguém ajude esse garoto”, sugerindo bom patrocinador. Casagrande reforçou a necessidade de apoio financeiro ao talento brasileiro do tênis”.
Fonte: Blog do José Cruz no Portal UOL Esporte
Nessa declaração, o jornalista discorre sobre o tênis profissional, apresentando dados
sobre patrocínios recebidos por tenistas profissionais, ressaltando o valor que alguns, como o
próprio João Souza, já receberam na carreira em premiações. Ele segue esse caminho para
chegar à seguinte questão:
“Profissionais desse nível precisam de Bolsa Atleta? Em que isso contribuirá para melhorar seus desempenhos, enquanto jovens talentos da iniciação carecem de apoio mais expressivo e efetivo?”.
Seguindo o processo técnico de uma boa reportagem, ele continua a matéria com o
pronunciamento do Ministério do Esporte, agregando mais informação sobre a Lei de
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Incentivo. Esse texto abarca desde os critérios de noticiabilidade selecionados pelo jornalista,
como a proposta do debate e o caráter opinativo que o dispositivo blog proporciona.
Juca Kfouri é, sabidamente, um jornalista apaixonado pelo esporte e respeitado pelo
seu conhecimento sobre o tema. Com uma experiência de mais de quatro décadas como
jornalista esportivo, Juca diariamente comenta, com mais ênfase, o futebol no Brasil e no
exterior. No Blog do Juca Kfouri, o jornalista prevalentemente aborda a prática esportiva
(desenrolar dos jogos, resultados, situação dos campeonatos), mas sua narrativa pode-se dizer
assim, contem sempre traços de uma criticidade, mesmo quando apenas parece estar
informando.
A infeliz estréia de Cristóvão Borges Pense em Cristóvão Borges. Estreando pelo Flamengo, de quem ele sempre ouviu falar ser favorecido pelas arbitragens, logo aos 7 minutos de jogo ele vê o assoprador de apito inventar um. pênalti ridículo contra o rubro-negro. Fred bate e abre o placar. Daí ele vê o Tricolor jogar como ele gostaria em seus tempos de Laranjeiras e fazer 2 a 0, em gol contra de Pará. Seu time reage, diminui para 1 a 2 ainda no primeiro tempo com Alecsandro, mas logo leva o terceiro gol, em jogada de Gérson e novo complemento de Fred, aos 2 do segundo tempo. Então, o assoprador reaparece e expulsa Giovanni injustamente, em seguida, deixando o Flu com 10. O Flamengo toma conta do jogo e revela toda pobreza de seu repertório ao só conseguir um gol já aos 40, com Eduardo da Silva. Para ajudar no que poderia ser o ataque final, mesmo no desespero, Canteros arruma uma expulsão. 31/05/2015 Apesar deles, o torcedor foi Apesar de cartolas como José Maria Marin, mais de 30 mil colorados foram ao Beira-Rio para ver o clássico entre o time B do Inter e São Paulo, sem gols. Apesar de empresários como J.Hawilla, o Dérbi paulistano entre Corinthians e Palmeiras também teve boa presença de público em Itaquera, quase 30 mil pagantes que viram o Alviverde vencer, facilmente, por 2 a 0. Até o Fla-Flu de poucas atrações, e apesar de cartolas dissimulados como Marco Polo Del Nero, levou 25 mil pagantes ao Maracanã, 3 a 2 para o Tricolor. Porque, como diria o também tricolor Chico Buarque de Hollanda, “apesar de você, cartola, amanhã há de ser outro dia”. Parece mais próxima a época em que a paixão pelo futebol não será manipulada por quem faz do fair play apenas uma bandeira demagógica. Chico Buarque só não imaginava que fosse necessária a entrada em ação do FBI e de seus canhões para limpar o jogo. E se você não gosta dele, paciência. A sua filha gosta. Seattle Seahawks perde o bi para o New EnglandPatriots no 49o. Super Bowl Não, eu não entendo quase nada de futebol americano. Mas vejo porque é impossível ficar indiferente. É cada vez que vejo um Super Bowl prometo pra mim mesmo que para o próximo saberei mais. Hoje, de novo, o 49o., em Phoenix, no Arizona, foi sensacional. O time de Seattle teve a vitória nas mãos e a perdeu a uma jarda do bicampeonato. Até briga teve no fim e feia. Com direito a expulsão, coisa rara, de um jogador derrotado.
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Mas prevaleceu o 28 a 24 para os Patriots de Tom Brady, o marido de Giselle Bundchen, que bateu o recorde da lenda Joe Montana com 12 passes para touchdown em SuperBowls. New Englands não dormirá nesta madrugada. Eu mesmo terei dificuldade para conciliar o sono. Haja adrenalina! E não é que anteontem a seleção brasileira, ao derrotar a do Panamá, na casa panamenha, por 26 a 14, conquistou, pela primeira vez, vaga no Mundial de futebol americano? O Mundial será nos Estados Unidos, em julho, em Ohio. Já que não tem dado com o pé, quem sabe se dá com a mão?02/02/2015
Mas além da cobertura das “quatro linhas” e dos bastidores dos torneios e o dia a dia
do esporte, o blogueiro também abre espaço – como se mostrará à frente – para questões
políticas, culturais, da mídia e da arte. Um exemplo é o posto de 09 de março de 2015, quando
o jornalista usou seu blog para opinar sobre manifestações políticas, com um texto extenso e
provocante. Na ocasião, a publicação no dia 09 de março de 2015, O panelaço da barriga
cheia e do ódio recebeu 1319 comentários. A seguir, o texto na íntegra.
Nós, brasileiros, somos capazes de sonegar meio trilhão de reais de Imposto de Renda só no ano passado. Como somos capazes de vender e comprar DVDs piratas, cuspir no chão, desrespeitar o sinal vermelho, andar pelo acostamento e, ainda por cima, votar no Collor, no Maluf, no Newtão Cardoso, na Roseana, no Marconi Perillo ou no Palocci. O panelaço nas varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção. Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade. Elite branca que não se assume como tal, embora seja elite e branca. Como eu sou. Elite branca, termo criado pelo conservador Cláudio Lembo, que dela faz parte, não nega, mas enxerga. Como Luís Carlos Bresser Pereira, fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, que disse: “Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres. O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoronou no governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar. Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente. Não é preocupação ou medo. É ódio. Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou. Continuou defendendo os pobres contra os ricos. O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres. Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força. Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita. Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho. E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo.” Nada diferente do que pensa o empresário também tucano Ricardo Semler, que ri quando lhe dizem que os escândalos do mensalão e da Petrobras demonstram que jamais se roubou tanto no país. “Santa hipocrisia”, disse ele. “Já se roubou muito mais, apenas não era publicado, não ia parar nas redes sociais”. Sejamos francos: tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de quem bate panelas de barriga cheia, mesmo sob o risco de riscar as de teflon, como bem observou o jornalista Leonardo Sakamoto.
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Ou a falta de educação, ao chamar uma mulher de “vaca” em quaisquer dias do ano ou no Dia Internacional da Mulher, repetindo a cafajestagem do jogo de abertura da Copa do Mundo. Aliás, como bem lembrou o artista plástico Fábio Tremonte: “Nem todo mundo que mora em bairro rico participou do panelaço. Muitos não sabiam onde ficava a cozinha”. Já na zona leste, em São Paulo, não houve panelaço, nem se ouviu o pronunciamento da presidenta, porque faltava luz na região, como tem faltado água, graças aos bom serviços da Eletropaulo e da Sabesp. Dilma Rousseff, gostemos ou não, foi democraticamente eleita em outubro passado. Que as vozes de Bresser Pereira e Semler prevaleçam sobre as dos Bolsonaros é o mínimo que se pode esperar de quem queira, verdadeiramente, um país mais justo e fraterno. E sem corrupção, é claro!
Na observação do modo como os blogueiros selecionam os assuntos a serem
publicados e quais valores elegem como notícia, José Cruz e Juca Kfouri compartilham fatos
recorrentes a política esportiva e nacional, e interesse social em tom crítico. Como já visto
anteriormente, José Cruz segue a agenda midiática para publicar suas matérias, mas também é
investigativo e demonstra no momo como constrói seus textos, desenvolver características da
prática jornalística quanto à apuração, a relação com as fontes, os procedimentos éticos e
técnicos do jornalismo.
Juca Kfouri tem um olhar crítico sobre o mundo do esporte, mas a diferença em
relação ao colega de profissional está no fato do blogueiro ir além da denúncia e da crítica,
absorvendo e transmitindo aos leitores percepções acerca de outros assuntos, mesclando
temas referente a cultura, poesia, música etc. Como resultado, podemos dizer que os
jornalistas estão atentos aos principais acontecimentos do mundo esportivo e, a esse universo,
conectando outros temas, o que parece indicar uma maneira de atrair diferentes públicos.
5.6 Como o blogueiro (autor) se coloca nos posts: níveis de subjetividade, opinião etc.
Ao refletirmos sobre aspectos de ordem subjetiva dos blogueiros selecionados para a
análise, um ponto destacado nesta observação é o da autoria. Em relação a isso, podemos
afirmar que o blogueiro, nos textos publicados, parece, em alguns momentos, procurar afirmar
de modo mais intenso sua identidade e individualidade Em uma percepção inicial, ao acessar
um blog, um dos elementos que se destacam é o título desse blog. O mais comum é o autor
utilizar seu próprio nome como identificador da página. Isso, por si só expõe a identidade
desse autor, afirmando que aquele espaço o pertence e é dele a responsabilidade pela
manutenção do blog.
No seu blog, José Cruz se identifica como um jornalista investigativo, que prioriza a
política esportiva no país e tem como objetivo expor os problemas e promover o debate para
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se problematizar questões a serem corrigidas, e refletir sobre soluções para uma cultura
esportiva mais democrática e organizada.
Ele expressa-se de modo mais interpretativo e argumentativo do que opinativo. Suas
opiniões, quando surgem, consideram as informações e argumentos por ele apresentados.
Percebe-se que o blog é um meio no qual ele busca praticar um jornalismo de interesse
público, ao mesmo tempo buscando um modo de transmitir conhecimento a cerca da política
esportiva do país e promover o debate entre seus leitores. Esse debate é constante entre o
blogueiro e os internautas. São poucas as publicações em que José Cruz não responde aos
comentários, muitas vezes rebatendo críticas ou com agradecimento àqueles que o apóiam em
suas opiniões. Ele constrói sua credibilidade a partir das abordagens que escolhe para o seu
blog, com ponto de vista objetivo e um texto conciso.
Quando publica informações, José Cruz faz desse um espaço legitimo e confiável
àqueles que desejam mais informações e conhecimento sobre o assunto que ele se propõe
abordar. Nesse ponto, o blog é mais jornalístico do que autoral. Mesmo o jornalista usando
uma narrativa direta com seu leitor, ele se preocupa em ser mais um meio de informação, e
menos opinativo. Como visto anteriormente, esse componente é mais presente nos debates
entre o jornalista e os internautas através dos comentários.
Mas cabe ponderar que José Cruz também não deixa de ser opinativo e crítico em
determinados momentos. Na publicação no dia 04 de fevereiro de 2015, foi crítico em relação
ao Governo, expondo diretamente sua percepção sobre o assunto.
Governo vai impor a antipática Medida Provisória – que vigora imediatamente à edição –, intrometendo-se no já desmoralizado futebol. O que em outros países é valorizado produto de business e marketing, no Brasil dos 7 x 1 o retrocesso do esporte como negócio é real e se observa nas rodadas de cada semana.” [...] Depois da posse de um ministro que não entende de esporte e da ideia de nomear Edinho Silva para presidir a Autoridade Pública Olímpica – um tesoureiro especialista em arrecadações suspeitas para a campanha de Dilma Rousseff, citado no escândalo da operação Lava-Jato –, essa notícia da Agência do Futebol é proposta para perpetuar a desordem do esporte. É a mais espetacular intromissão do Estado num negócio altamente profissional, o futebol, com gestão de espertos cartolas, há décadas beneficiados pela omissão de seguidos governos. E o governo de agora, em vez de aplicar os fartos atos e leis existentes para punir os sonegadores e descumpridores das regras vigentes, como a legislação trabalhista, o Estatuto do Torcedor, etc, +envolve-se mais onde deveria se fazer respeitar com autoridade – que já não tem, está claro. [...] Agora vem o governo, pela antipática iniciativa de Medida Provisória, incluir o futebol nessa política de “agências”, de retrocessos comprovados. O que são? As agências não regulam nada. São empresas que batem cabeça com os ministérios afins. Seus valorizados cargos tornaram-se moeda de troca do governo, que ali dá empregos para desocupados e afilhados de políticos espertos, em troca de votos para os seus projetos no Legislativo! O riquíssimo esporte, sustentado pelos cofres públicos, mas sem rumo nem planejamento, não pode continuar sendo tratado com medidas emergenciais.
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Tudo o que está ocorrendo é reflexo da inexpressividade desse Ministério do Esporte. Fora dele e a cada crise reúne-se um comitê e as medida surgem como soluções milagrosas. 04/02/2015
Um das características presente nos blogs analisados é a denúncia, determinante
principalmente nos textos do José Cruz. Em publicação no dia 22 de maio de 2015, o
jornalista, com o título Na Cidade Olímpica, o ‘troféu’ do combate ao crime de adolescentes
publicou uma matéria em que expõe não só uma denuncia, mas abre espaço para o debate
sobre o assunto, além de ser informativo e opinativo.
A foto de Fábio Rossi, no alto de página de O Globo, hoje, é de policiais “empunhando” um garoto de 16 anos, suspeito de ter assassinado o cardiologista Jaime Gold, na Lagoa. Exibem como um “troféu”, conquista da reação do Estado à onda de crimes na Cidade Olímpica – Rio 2016. Volta-se à questão de décadas: por que adolescentes chegam ao crime para roubar bicicletas, celulares, bolsas…? afinal, quem é o responsável?
O caráter investigativo e de denuncia, como já visto, é marcante nos textos de José
Cruz. Publicações como a do dia 01 de junho de 2015, Esgrima gasta R$ 240 mil anuais com
CT que não é utilizado por atletas; e/ou o texto publicado dia 03 de junho de 2015, Sem
verbas, quatro CTs de Atletismo serão fechados, a um ano da Olimpíada, exemplificam o
caráter jornalístico do blog, com matérias extensas e bem produzidas.
Coincidindo com um ano do “Jogo dos Sete”, os deputados aprovaram ontem uma proposta para beneficiar caloteiros do futebol. Com decisiva participação da CBF – sabe-se lá com que recursos -, a Câmara dos Deputados aprovou um emendão à Medida Provisória 671, que trata do pagamento da dívida fiscal ao INSS, FGTS e Receita Federal. Absurdo I [...] Além da Caixa, os clubes, de outros esportes poderão atuar como agentes lotéricos. Ressuscita-se, assim, o flagelo dos “bingos”, que levaram clubes, federações e gestores à falência, justamente porque não recolhiam ao fisco o faturamento das apostas. É mais um convite à fraude, à sonegação, incentivo ao crime fiscal. Absurdo II As excelências também criaram a “Autoridade Pública de Governança do Futebol”, no âmbito do Ministério do Esporte. O governo será o órgão fiscalizador do futebol, como se isso fosse da sua competência! Como se não existissem leis para punir quem não paga contas em dia. E, principalmente, como se o próprio governo – atolado em grossa corrupção – fosse exemplo de gestão e honestidade. Mas será fiscalizador dos atos dos cartolas! Combinação explosiva é isso aí. Enquanto isso… … o Ministério do Esporte, que será o “fiscalizador” do futebol, é aquele de corrupção intensa na gestão dos ex-ministros Agnelo Queiroz e Orlando Silva, esse último demitido por fechar os olhos à corrupção em sua volta. Hoje, o Ministério Fiscalizador do Futebol é o mais novo templo de cabides de empregos da Igreja Universal, sugerindo que os fiéis serão os fiscais. Combinação explosiva II… 08/07/2015
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Já o blogueiro Juca Kfouri é mais direto e objetivo, mas também muito mais intenso
nas publicações no seu blog. Ele lança mão de uma linguagem direta e subjetiva ao expressar
sua opinião sobre determinado assunto.
“A quem interessava abrir o portão para deixar uma centena de bandidos vestidos com camisas vermelhas e pretas invadir o vestiário do time mandante? À direção do Flamengo, certamente, não. A quem interessa, então?”. 01/02/2015
No mesmo dia publicou o texto com o seguinte título: Brucutuzinhos brasileiros
perdem mais uma, e segue:
“A seleção brasileira sub-20, salvas raras exceções, é de doer. [...] Um monte de brucutus. E com o treinador se esgoelando: ‘Marca, marca, marca!’. Mas não é para marcar gols, é para marcar o adversário. Sei não. Tem nego cantando de galo que periga virar galinha.”
Na publicação do dia 06 de fevereiro de 2015, com o texto intitulado O incorrigível
Aidar, enfim, se corrige, o jornalista se refere ao personagem principal da notícia como um
“descompensado cartola” que cometeu um “bestialógico” erro. Assim como no texto
publicado dia 05 de junho de 2015 Clubes ou bananas?em que descreve a notícia em tom
irônico e crítico sobre o presidente da CBF:
“Lembremos, de cara, que Marco Polo Del Nero [...] Mas ele está como está, sem saber se corre para o
bicho não pegar ou se não fica para que o bicho não o coma.[...] Ricardo Teixeira não teve dúvida [...].
Escafedeu-se para Boca Raton e segue vivendo nababescamente [...].
É irônico, também, ao ser indireto em suas críticas como no texto do dia 12 de julho
de 2015 sobre um treinador de futebol:Cassino de Las Vegas cobra dívida de quase meio
milhão de Vanderlei Luxemburgo.
Juca Kfouri não abre mão do tom irônico e bem humorado ao falar de assuntos ligados
diretamente a questões políticas do esporte. Exemplo são algumas publicações em que o
jornalista utiliza apenas de charges para expressar sua opinião. Esse lugar de interlocução com
o leitor pode-se dizer ser mais próximo, já que o jornalista utiliza na maior parte das vezes a
primeira pessoa.
Bom dia, boa noite! Bom dia, você passou uma boa noite? Eu, felizmente, passei e acordei disposto a viver um novo dia. Espero que seja igual com a noite que você passou e com a sua terça-feira.
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Mas você já imaginou o que têm sido os dias e as noites de Marco Polo Del Nero, nosso valente presidente da CBF, o que estava na Suíça e voltou correndo para o Brasil? Já pensou na expectativa dele, no medo de que, de repente, possa surgir a notícia de que o FBI resolveu dar nome e sobrenome ao tal conspirador, que tem cara de pato, bico de pato, pata de pato, pena de pato e só mesmo por milagre será ganso? Não devem estar nada fáceis os dias e as noites de Marco Polo Del Nero. Você não fica com pena? 02/06/15
Além da ironia, o jornalista aposta no bom humor para explorar os assuntos publicados
no blog. No dia 13 de maio de 2015, postou um vídeo referente ao panelaço com o título
Panelaço da zoeira.
Mas, além dos textos autorais, Juca Kfouri abre espaço para publicações de outros
autores, não necessariamente jornalistas ou escritores, como o texto O ocaso da Portuguesa
do advogado Daniel Amorim Assumpção Neves, em 12 de março de 2015. Ou o texto
Cosmos em Cuba por Roberto Vieira, em 10 de março de 15.
E ressalta a proximidade com seu leitor ao prestar esclarecimento sobre sua ausência
em decorrência de fato pessoal ou ao contar uma história familiar em decorrência da
comemoração de um título do seu time de coração:
Hoje, sexta-feira, 29 de maio, pela primeira vez em 15 dias, depois de uma cirurgia corriqueira que complicou, acordo inteiramente bem e quase pronto para voltar à luta. Acredito que no domingo o blog esteja normalizado. Agradeço, sobretudo, a você, maluco, que não deixou a audiência cair mesmo com o blogueiro fora do ar. E quanta coisa aconteceu nestas duas semanas! No dia 6 de fevereiro de 1955 o Corinthians sagrou-se campeão do IV Centenário da fundação de São Paulo ao empatar 1 a 1 com o Palmeiras, no Pacaembu, gols de Luizinho, para o Corinthians e Nei, para o Palmeiras. Trata-se de minha primeira lembrança, às vésperas de completar 5 anos de idade. Vi o jogo com meu pai e meus dois irmãos mais velhos na casa de um tio por afinidade, Tio João, João Marino que, anos mais tarde, foi o braço direito de Pietro Maria Bardi no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Tio João era dono do único aparelho de televisão que conhecíamos e lembro bem do gol de Luizinho e mal do empate, que meu pai disse ter sido precedido de um empurrão de Humberto Tozzi, centroavante do Palmeiras, em Gylmar dos Santos Neves, o goleiro alvinegro. E se o velho disse, assim foi. Quando hoje vejo que se diz que a primeira transmissão externa de um jogo de futebol no Brasil aconteceu apenas em setembro de 1955, na Vila Belmiro, entre Santos e Palmeiras, me pergunto se enlouqueci, embora meus dois irmãos confirmem terem visto. Título ganho, fomos para o Parque do Ibirapuera, inaugurado em agosto de 1954 exatamente para marcar o IV Centenário, festejar a conquista do mais ambicionado Campeonato Paulista de todos os tempos, porque o dos 400 anos da cidade. Nem desconfiávamos que levaria 23 anos para o Corinthians voltar a ser campeão.
No dispositivo blog jornalístico a noção de autoria e o modo como o blogueiro lança
mão da subjetividade ao expressar opinião é uma característica importante a ser
problematizada. O dispositvo, por si só, já é um meio individual que possibilita esse caráter
íntimo e pessoal. Nos blogs de José Cruz e Juca Kfouri, notou-se que o primeiro adota postura
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mais de argumentação e de menos opinião do que Juca Kfouri, mais crítico e expressivo em
suas opiniões.
José Cruz é mais contido e abusa de adjetivos para se referir a personagens ou
entidades esportivas. Juca Kfouri também adota esse lado subjetivo, mas de modo muito mais
marcante, se projetando em alguns momentos através das situações ligadas ao assunto
referido. Ao ser mais subjetivo, o renomado jornalista se vale também da credibilidade e
confiança conquista ao longo da carreira. José Cruz, menos conhecido do público, precisa de
algum modo conquistar a confiança do internauta e assim atraí-lo para seu mundo particular
inserido na blogosfera.
5.7 Modos como os blogs se relacionam com outras mídias e o Portal em que ele está
inserido
No processo de investigação notou-se ser característica nos blogs o compartilhamento
dos textos para outras mídias, como o facebook, o twitter, o pinterest, o linkedin ou por e-
mail. Na própria página do blog os internautas são convidados a compartilhar o conteúdo por
essas diversas redes sociais.
O portal UOL, como uma plataforma midiática responsável por acolher e dar maior
visibilidade aos blogs explora potencialmente o recurso dos blogs jornalísticos em suas
editorias, em especial na editoria de Esportes. Como visto no Capítulo 04, atualmente 44
blogs compõem a página esportiva do portal. José Cruz, quando membro desse conjunto,
pouco era destacado na página inicial, ocupando zona intermediária na extensa lista de
blogueiros que consta na barra lateral direita da página. Isso, de certo modo, parece contribuir
para a baixa popularidade do blog no portal, e pode-se pensar também que, pela extensão de
blogs na página, a grande oferta de informações pode prejudicar a predileção dos usuários por
determinados blogueiros, escolhendo assim aqueles previamente já conhecidos, como o
próprio Juca Kfouri que, devido sua popularidade, encabeça a lista de blogueiros na barra
lateral da página inicial. Logo, ao acessar o portal de esportes, o internauta se depara com o
blog do Juca Kfouri como um dos destaques fixos da página de abertura do portal.
Nessa perspectiva, o Portal tem certa influência ao estabelecer uma ordem entre os
blogueiros, de acordo com a popularidade de cada um deles (leia-se número de seguidores) e
assim como primeira opção conduzir o internauta a priorizar, de certo modo, determinado
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caminho, privilegiando os mais já populares e acessados. Estratégia que, por sua vez,
potencializa a audiência do próprio Portal de notícias.
Um ponto a ressalta é a reverberação do próprio conteúdo do Portal em algumas
matérias, ate mesmo de diferentes editorias. Como a publicação de Juca Kfouri no dia 10 de
abril, em que cita matéria do seu colega de trabalho no UOL.
Sabella, Herrera e os Beatles Como informa, neste 10 de abril, Guilherme Palenzuela, do UOL Esporte, o São Paulo quer Alejandro Sabella e mais ninguém além do técnico argentino, campeão da Libertadores e nacional pelo Estudiantes em 2009/10 e vice-campeão mundial com a seleção de seu pais em 2014. Sabella é ótima aposta, mas seria melhor se em começo de temporada, não para tirar o Tricolor de uma crise. Neste mesmo 10 de abril, uma lenda como treinador, também argentino, Helenio Herrera nascia em 1910. Herrera ganhou quatro vezes o campeonato espanhol, duas pelo Atlético de Madrid e duas pelo Barcelona, além de três italianos, duas vezes o título europeu e mais dois mundiais de clubes, pela Inter de Milão, em meados dos anos 60. Ainda num 10 de abril, Paul MacCartney anunciou o fim dos Beatles. E o que uma coisa tem a ver com a outra? Nada, absolutamente nada. Apenas para lembrar que esporte também é cultura… 10/04/2015
Dentre as redes sociais, o facebook e o twitter são as plataformas mais utilizadas pelos
internautas ao compartilhar ou recomendar os posts. Como o trecho descrito acima, no qual
foi compartilhado 521 vezes através do facebook. E a publicação de José Cruz doa dia 03 de
fevereiro que foi recomendada 2,2 mil vezes através da rede social.
Ao buscar referências do José Cruz e do Juca Kfouri a outras plataformas, nos
deparamos com publicações como a do dia 14 de março de 2015 no blog de José Cruz:
“Enquanto observava minha vizinha procurando uma panela para cozinhar o feijão de sábado, me deliciei com esta manifestação do deputado Paulo Maluf ao “Sensacionalista”: Acabou a corrupção arte, a corrupção moleque, a corrupção alegre. Não tenho mais condições de competir com eles. Eu me aposento” A notícia completa está aqui”.
Em publicação no dia 19 de abril de 2015, Juca Kfouri apoio a causa contra a redução
da maioridade penal. O post foi compartilhado, 1,8 mil vezes através do facebook.
“Diversos coletivos e estudantes estão se mobilizando para Amanhecer o Rio de Janeiro contra a redução da maioridade penal. Na madrugada do dia 28 para 29 de abril as praças serão cobertas com materiais contra a redução (lambes, stencil, pipas, tecidos, fitas, adesivos). Participe! 1) Junte um grupo de pelo menos 5 amigos. 2) Escolha uma praça movimentada em seu território. 3) Inscreva sua praça (até o dia 25 de abril!): //amanhecer.strikingly.com/.
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4) Eles entrarão em contato nos próximos dias para entregar o kit de materiais para a ação. #ReduçãoNãoÉSolução #VoaJuventude
Fonte: Blog do Juca Kfouri no Portal UOL Esporte
Mais uma publicação do dia 20 de abril de 2015:
Nova pesquisa “Lance!/Ibope, a 5a., feita quatro anos depois da última, ouvindo 7.005 pessoas, incluindo a faixa etária entre 10 e 16 anos [...].
Ou publicação do dia de 09 de outubro:
Executivo da Liga Sul-Minas-Rio, Alexandre Kalil, talvez negue, mas acaba de sair da Globo onde ouviu que a emissora quer o torneio na TV aberta e fechada. Com o que já são três os concorrentes: ESPN, Esporte Interativo e Globo.A Record também promete fazer proposta.
Em 08 de novembro de 2015, Juca Kfouri publicou:
“Ah, não, Aécin! Em reportagem de RANIER BRAGON e AGUIRRE TALENTO, a “Folha de S.Paulo” deste domingo revela que: ‘Registros do Gabinete Militar de Minas Gerais mostram que durante o governo do tucano Aécio Neves (2003-2010) aeronaves do Estado foram cedidas para deslocamentos de políticos, celebridades, empresários e outras pessoas de fora da administração pública a pedido do então governador mineiro. Essas viagens não encontram amparo explícito na legislação que desde 2005 regula o uso das aeronaves oficiais do Estado, um decreto e uma resolução assinados pelo próprio Aécio. O tucano afirma, por meio de sua assessoria, que a legislação estabelece apenas diretrizes, que os voos foram regulares e atenderam a interesses do Estado.”
Juca Kfouri em 20 de dezembro de 2015: “Veja o mapa da corrupção no futebol do NY Times”.
José Cruz e Juca Kfouri ao compartilharem notícias de outras plataformas da mídia,
não apenas agregam mais conhecimento a seus leitores como proporcionam através do blog
um olhar diversificado sobre os fatos do mundo esportivo, o que também contribui, e muito,
para potencializar a legitimidade e credibilidade dos seus blogs.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos corpora desta pesquisa nos aponta que os blogs analisados estão
permeados de muitas das noções e processos sobre os quais em nossa investigação. E que, tais
parâmetros os fazem ser entendidos como do campo do jornalismo. Campo este que, pela
pluralidade de assuntos e abordagens e os interesses que o atravessam, vive constantemente
em circunstâncias de tensionamentos e contradições em função, por um lado, de seu papel
social, e, por outro, da complexidade de seus processos produtivos e as questões ideológicas e
político-econômicas das quais resulta. É certamente neste ambiente midiático complexo que
os blogs jornalísticos parecem, em razão de suas especificidades frente ao jornalismo dito
tradicional, ganhar força. Nomeadamente, os aspectos ligados à credibilidade e a autoria. ‘
Ao percorrer o caminho até um melhor entendimento sobe a dinâmica dos blogs nesse
ambiente online, notamos o quão importante é a reflexão sobre a internet e sociedade. Com a
crescente e já massiva reverberação da mídia online no mundo, a relação de conflito e poder
entre as tecnologias e questões ideológicas cresceu. Wolton (2007) ressalta essa influência da
internet na sociedade, através das mídias, e a valorização e os efeitos no campo social. É não
reduzir o processo comunicativo às técnicas e sim refletir sobre a comunicação.
Características como autonomia, domínio e velocidade são expostas pelo autor como
processos ativos na mídia online, neste ciberespaço que proporciona a seu usuário um
universo de possibilidades, entre elas a de se expressar seja individual ou coletivamente.
Este é um processo inerente aos blogs. O dispositivo tem como característica,
paradoxalmente, esse caráter íntimo, mas ao mesmo tempo alargado, e potencializado no e
pelo ambiente online e ainda mais forte quando passa a ser um meio de transmissão sobre
assuntos de muito interesse social. Elementos relevantes nessa nova esfera pública, por assim
dizer, os blogs são espaços de discussão, embates de ideias, digressões e conclusões, além de
promover o relacionamento entre os leitores.
No percurso dessa pesquisa, refletir sobre os blogs como um dispositivo de enunciação
que, de algum modo, reconfigura a relação entre o autor e o leitor, caracterizando modos
distintos de contratos de comunicação, nos ajudou a perceber esses movimentos seja na ordem
dos enunciados ou na postura do leitor. A autorreferência dos interlocutores nos blogs
jornalísticos esportivos se encaixa na concepção de Fausto Neto (2008), que destaca como
operações de modo de existência essa proximidade de territórios, ou seja, mesmo que ambos
vivam em realidades distantes, no espaço de interação dentro do dispositivo blog, eles
compartilham e vivenciam a mesma realidade, neste ambiente que proporciona a ação
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propriamente dita através de um discurso que é enfatizado por meio das potencialidades de tal
ambiente.
E o jornalismo esportivo, principalmente quando associado a alguma plataforma de
mídia, ocupou esse espaço massivamente, através dos blogs jornalísticos que se destacam pela
figura do seu autor, ainda mais quando este é um jornalista renomado e de prestígio na mídia
esportiva. O blogueiro Juca Kfouri se encaixa nesse perfil. Com mais de 40 anos de profissão
é um dos jornalistas esportivos mais populares do país, atuando em mídias diversas e com
significativo número de seguidores. Isto só ressalta a percepção de que, a figura do blogueiro,
a credibilidade e confiabilidade do blog são potencializados pela experiência que este
jornalista conquistou fora do ambiente online, agregando a ele maior poder de persuasão. Do
contrário, jornalistas como José Cruz, pouco conhecidos pelo público, precisam buscar outros
meios de fortalecer sua credibilidade diante a informação dos fatos, conquistando por meio da
abordagem e seleção dos textos, a confiança do leitor.
A interação entre eles, nos blogs jornalísticos, acontece principalmente por meio da
caixa de comentários. José Cruz é mais participativo e próximo de seus leitores, enquanto
Juca Kfouri pouco argumenta os comentários no seu blog. Por ser um blogueiro mais popular,
o número de acessos e seguidores também é expressivo o que parece dificultar esse contato
contínuo com o público.
Por fim, cabe ressaltar que a proposta desta pesquisa é uma tentativa de explorar as
possibilidades de reflexão acerca dos blogs jornalísticos esportivos, e de forma
problematizadora, buscar compreender os parâmetros que fazem desses dispositivos,
dispositivos próprios do campo do jornalismo. Para tanto, buscamos observar as
potencialidades dos blogs jornalísticos, tentando aí perceber seus significados e modos de
presença diante desse amplo universo de possibilidades de circulação de informação e de
conhecimento.
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