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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP
RENATO LOPES SABINO
ETHOS DISCURSIVO EM EDITORIAIS DO JORNAL DO SINDICATO DOS
PROFESSORES DO ENSINO OFICIAL DO ESTADO DE
SÃO PAULO
MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA
SÃO PAULO
2014
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP
RENATO LOPES SABINO
ETHOS DISCURSIVO EM EDITORIAIS DO JORNAL DO SINDICATO DOS
PROFESSORES DO ENSINO OFICIAL DO ESTADO DE
SÃO PAULO
MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA
SÃO PAULO
2014
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Língua Portuguesa, sob a orientação do Prof. Dr. Jarbas Vargas Nascimento.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida, pela saúde e plenas condições no
exercício diário dos estudos.
Ao professor doutor Jarbas Vargas Nascimento, prezado mestre, pela
sábia orientação, não somente acadêmica, mas pessoal também.
À Banca Examinadora, formada pela professora doutora Izilda Maria
Nardocci e pelo professor doutor Marcio Rogério de Oliveira Cano, pelas
preciosas críticas, voltadas ao enobrecimento do trabalho.
Aos professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua
Portuguesa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pelos
ensinamentos oferecidos.
A meus amados pais, Francisco e Yara, e aos meus amados irmãos,
Rosana e Rodrigo, pelo apoio irrestrito e pela compreensão nas ausências
exigidas pelo estudo.
À minha amada esposa, Rosy Cristina, pelas palavras de incentivo em
todo o percurso dessa etapa acadêmica.
À CAPES, pelo apoio financeiro.
RESUMO
Esta dissertação, resultado de um processo de pesquisa, fundamenta-se na
Análise do Discurso de linha francesa e tem como tema o estudo da
constituição do ethos discursivo em editoriais publicados no Jornal do
Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo -
APEOESP. Na análise que empreendemos buscamos examinar a forma de
constituição do ethos discursivo do sujeito enunciador em discursos
recolhidos no Jornal do sindicato publicados em 2012 e 2013.
Inicialmente tratamos da entidade, a fim de verificar como se manifesta o
discurso sindical. Para tanto, discorremos sobre a APEOESP, desde sua
fundação até as lutas atuais, com o intuito de levantarmos as condições
sócio-históricas em que são produzidos os discursos que selecionamos para
análise. Contextualizamos sua história de lutas no cenário sindical brasileiro,
abordando os aspectos que alicerçam a organização discursiva dos
editoriais, publicados no seu principal meio de divulgação entre os
associados: o Jornal da APEOESP.
Em um segundo momento, apresentamos a fundamentação teórica da
pesquisa, sobretudo as abordagens de Maingueneau em suas novas
perspectivas, além de Charaudeau, que postula o discurso político em
relação à vida social e a possibilidade de relação com a instância sindical e
Bakhtin, que discute o conceito de gênero de discurso.
As análises mostraram-nos que há uma distância entre a o sujeito dos
discursos da APEOESP e o professorado paulista. O Sindicato busca um
sujeito imaginário, que cria uma imagem de si e uma imagem ideal de
professor, que tenta representá-la. Pela análise, confirmamos que o
enunciador que emerge nos discursos do Jornal da APEOESP apresenta um
ethos discursivo com marcas de autoridade que, de certa forma, contracena
com o político e o pedagógico, ao incitar os professores a conseguirem os
benefícios que a lei lhes garante.
Palavras-chave: Análise do discurso, APEOESP, gênero do discurso
editorial, ethos discursivo.
ABSTRACT
This dissertation, resulted from a research process, is based on the French
speech line analysis and brings as theme the study of the constitution of
discursive ethos in editorials, publication of “Sindicato dos Professores do
Ensino Oficial do Estado de São Paulo” (APEOESP syndicate). In the
analysis undertaken, we seek to examine the form of constitution of
discursive ethos of the enunciator subject in speeches collected in the
syndicate’s newspaper, published in 2012 and 2013.
Initially is treated about the entity, in order to verify how the syndical speech
manifests. It is discussed about the APEOESP syndicate, since its foundation
to the actual fights, in order to seek the socio-historical conditions in which
the discourses that we selected for analysis are produced. The history of
fights, on the Brazilian syndical scenario is contextualized, addressing the
aspects that underpin discursive strategies present on the editorials,
published on the main way of disclosure between the associates: The
APEOESP syndicate newspaper.
Furthermore, it is presented the theoretical fundament of the research, the
approaches from Maingueneau in his new prospects, besides Charaudeau,
who addresses the politic speech related to the social life and the possibility
of relation to the syndical instance and Bakhtin, who discusses the genre of
discourse.
These analysis shows there is a distance between the subject of speeches in
APEOESP's syndicate and teachers from São Paulo. The syndicate seeks
an imaginary subject, which creates an image of itself and an ideal teacher’s
image, which tries to represent it. From the analysis, it is confirmed that the
enunciator who emerges in APEOESP syndicate journal speeches, presents
a discursive ethos with authority marcs that, in certain ways contra scene
with the pedagogical and political to encourage teachers to achieve the
benefits that the law guarantees them.
Key-words: Discourse analysis, APEOESP, genre of editorial speech,
discursive ethos.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 01
CAPÍTULO I – O DISCURSO DO SINDICATO DOS PROFESSORES DO ENSINO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO .................................................. 05
1.1. Condições que deram origem à instituição APEOESP ..................................... 05
1.2. A instituição APEOESP ..................................................................................... 08
1.3. Um histórico das lutas da APEOESP ................................................................ 09
1.4. Participação da APEOESP em mobilizações nos cenários estadual e nacional .................................................................................................................... 14
1.5. O Jornal do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo ........................................................................................................................ 28
CAPÍTULO II – PRESSUPOSTOS DA ANÁLISE DO DISCURSO ......................... 34
2.1. Introdução ......................................................................................................... 34
2.2. O percurso da Análise do Discurso ................................................................... 34
2.3. A noção de gênero do discurso na Análise do Discurso ................................... 37
2.4. O gênero do discurso editorial ........................................................................... 39
2.5. Ethos discursivo ................................................................................................ 41
CAPÍTULO III – O ETHOS DISCURSIVO EM EDITORIAIS DO JORNAL DO SINDICATO DOS PROFESSORES DO ENSINO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO ............................................................................................................ 46
3.1. A constituição da Amostra .................................................................................. 46
3.2. Procedimentos metodológicos .......................................................................... 47
3.3. Análise ............................................................................................................... 48
3.3.1. Análise do Editorial de março/12 .................................................................... 49
3.3.2. Análise do Editorial de maio/12 ...................................................................... 54
3.3.3. Análise do Editorial de setembro/12 ............................................................... 57
3.3.4. Análise do Editorial de janeiro/13 ................................................................... 62
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 68
ANEXOS .................................................................................................................. 74
1
INTRODUÇÃO
Ao longo de quinze anos atuando como funcionário do Sindicato dos
professores do ensino oficial do estado de São Paulo e, há cinco anos, atuando
em sala de aula como professor, notamos que os professores, por conta de
diversos fatores, tais como as desgastantes labutas profissionais, delegam ao
sindicato as decisões tomadas em nome de sua classe. Dessa forma, o
Sindicato pode ser considerado o responsável por divulgar as aspirações dos
professores, buscando cumprir o papel de legítimo representante da classe.
Essa atitude, por parte do Sindicato, é apresentada de diversas formas, e uma
delas é a divulgação das reivindicações por meio de seu jornal próprio, de
tiragem bimestral, intitulado Jornal da APEOESP. Analisando os editoriais
publicados nesse jornal, queremos verificar de que maneira a entidade
representa plena e satisfatoriamente as ideias dos professores sindicalizados e
como os discursos construídos no interior do jornal se revelam como
condensadores dos anseios dos docentes paulistas.
Com o intuito de contribuir para a caracterização do ethos do enunciador no
contexto do sindicato, expresso em seu jornal, selecionamos os editoriais de
quatro edições: as de março, maio e setembro do ano de 2012, e a edição de
janeiro de 2013. Tal escolha deve-se ao fato de que as citadas edições
correspondem ao período em que estávamos efetivamente voltados à
pesquisa, além de trazerem temas semelhantes, como as discussões acerca
da lei do piso, identificada pela sigla PSPN (Piso Salarial Profissional Nacional).
A análise que empreenderemos dos editoriais selecionados, tendo por base a
Análise do Discurso de linha francesa, busca identificar qual é o ethos que se
projeta desse discurso, aliada ao fato de que essa construção decorre também
da compreensão das condições de produção em que o discurso é elaborado.
Com base nesta reflexão e no referencial teórico-metodológico da Análise do
Discurso, conforme postulado por Maingueneau (1989, 2005, 2010), propomos
2
o seguinte problema de pesquisa: qual ethos é construído no/pelos discursos
dos editoriais do Jornal da APEOESP?
A fim de responder a esse questionamento, buscaremos examinar, no
funcionamento interno dos discursos selecionados, os efeitos de sentido, a as
marcas de gênero e a constituição do ethos discursivo do sujeito enunciador.
As pesquisas acerca das lutas dos professores do ensino público estadual e a
própria história de luta da APEOESP, fundada na cidade de São Carlos, em
1945, serão fundamentais para tratarmos das condições de produção dos
discursos que selecionamos para esse trabalho. Queremos, também, destacar
o papel social das entidades sindicais, num ambiente atual diferente de quando
elas, em sua maioria, foram criadas, e o papel do professorado paulista pela
ótica da APEOESP, descrito em seus editorais, publicados em seus
informativos bimestrais (Jornal da APEOESP). Para dar conta de nosso tema,
optamos pela Análise do Discurso (daqui para frente AD), na medida em que
esta disciplina permite-nos estabelecer diálogo com outras disciplinas e porque
entendemos a categoria ethos como um grande articulador discursivo.
Como base teórica para discutirmos sobre o gênero do discurso editorial,
recorremos à Bakhtin (2003, p.282), que afirma serem os gêneros formas-
padrão relativamente estáveis (...) determinadas sócio-historicamente, e
Maingueneau (2008, p.61), para quem os gêneros discursivos são dispositivos
de comunicação que só podem aparecer quando certas condições sócio-
históricas estão presentes.
Apoiados nessa fundamentação, examinaremos a maneira como os editoriais
publicados nos jornais da APEOESP refletem a posição da instituição que os
publica, servindo como objeto de análise para nossa pesquisa. Além de
refletirem o posicionamento do sindicato, os editoriais têm um caráter opinativo
e, muitas vezes, soam polêmicos. Entre esses posicionamentos, interessa-nos
a constituição do ethos do enunciador, materializado pela entidade por meio do
seu discurso. Soma-se a isso nosso interesse de identificação, nos editoriais,
das marcas e os mecanismos discursivos, neles empreendidos, por melhor
caracterização da figura do professor do ensino oficial do estado de São Paulo.
3
Por meio das propostas de Maingueneau (1989, 2005, 2010), queremos
mostrar que o discurso exposto no jornal da APEOESP, por materializar os
posicionamentos de um grupo social, busca constituir-se como a “voz” dos
professores exposta e representada nos editoriais. Daí o tema tratado ser
permeado de denúncias contra a classe e organização educacional. Pela
própria natureza da instituição, os editoriais manifestam forte teor político, uma
vez que não há sindicato sem posições políticas. O discurso político
corresponde a tudo o que toca a organização da vida em sociedade e ao
governo da coisa pública. Em nosso trabalho, é de grande importância
perceber o modo como o discurso do campo sindical, atravessado pelo
discurso político, corresponde à posição política do seu associado, já que os
indivíduos que vivem em um mesmo território são diferentes e não tem a priori
os mesmo interesse nem os mesmos objetivos, conforme reforça Charaudeau
(2006, p.189).
De acordo com Maingueneau (2008, p.20), o discurso está subordinado ao
interdiscurso e, dessa maneira, propõe que a unidade de análise pertinente não
seja o discurso, mas um espaço de trocas entre vários discursos
convenientemente escolhidos. Dessa forma, um dado discurso, em nosso caso,
do campo sindical, não será original, mas estará permeado de discursos
anteriores, como o do campo político e do campo pedagógico, modificados ou
atualizados.
Para nós, o discurso sindical se constitui como uma ação política, na medida
em que pretende orientar a vida profissional, organizando-a sócio-
discursivamente. Nesta perspectiva, a AD permite-nos compreender os
sentidos de tal discurso e interpretá-lo a partir da relação que se estabelece
entre o discurso e sua interioridade, uma vez que é na relação da linguagem
com o social que o sujeito tem um enunciador constituído e o enunciado que
este produz sempre é perpassado por discursos outros, abrindo espaço para a
interdiscursividade com outros campos, tais como o pedagógico, entre outros.
A Dissertação está organizada em três capítulos:
4
No primeiro capítulo, tratamos das condições de produção do discurso sindical,
publicado bimestralmente no jornal da APEOSESP. Abordamos o papel da
entidade sindical, o perfil de sua atuação e suas conquistas, desde sua origem
até os dias atuais e sua principal fonte de divulgação: o Jornal da APEOESP.
No segundo capítulo, estabelecemos a fundamentação teórica, enfocando o
percurso da AD, sua consolidação nos anos 60 e a abordagem proposta por
Maingueneau (1989, 2006, 2008 e 2010), a fim de alicerçarmos a análise dos
discursos selecionados. O conceito de gênero discursivo será retomado à luz
das propostas de Bakhtin (2003) e Maingueneau (2008), para que possamos
tratar de um gênero em particular, o editorial. Esse gênero será analisado
quanto aos temas abordados, a estrutura composicional e as estratégias
utilizadas na organização dos discursos. Tratamos, ainda, das propostas de
Maingueneau (2008) acerca das cenas de enunciação e da categoria de ethos
discursivo.
No terceiro capítulo, reservamos à análise dos editoriais, que constituímos
como amostra para essa Dissertação, selecionados dos jornais da APEOESP
publicados em março, maio e setembro/12 e janeiro/13, à luz das propostas
abordadas no capítulo anterior. O momento, portanto, é de utilização das
categorias discursivas propostas e as análises dos editoriais.
5
CAPÍTULO I
AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO DISCURSO DO SINDICATO
DOS PROFESSORES DO ENSINO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
Neste capítulo, tratamos das condições de produção do discurso sindical dos
professores do ensino oficial do estado de São Paulo, presente no gênero
editorial, do Jornal da APEOESP. Para tanto, abordamos as condições que
deram origem à instituição APEOESP, seu papel e sua atuação, o que
contribuirá para compreendermos as propostas desenvolvidas por ela, que é a
representante da classe dos professores do ensino público do estado de São
Paulo. Além disso, apresentamos a forma como esse jornal se organiza, tendo
em vista sua estrutura e seus temas.
1.1. Condições que deram origem à instituição APEOESP
Para tratarmos das condições em que o discurso sindical dos professores do
ensino oficial do estado de São Paulo foi produzido, é preciso antes conhecer
um pouco da história dos professores desse segmento.
Até os anos de 1960, os cursos de formação de professores atraíam jovens, na
maioria moças, das classes mais abastadas, já que se tratava de uma
profissão bastante valorizada pela sociedade. A qualidade da escola pública
também contribuía para essa valorização do professor e para o fato de ele não
se interessar por atividades sindicais.
Na passagem dos anos 60 para 70, período da ditadura militar, houve uma
transformação não apenas no perfil dos educadores, mas no sistema
educacional de modo geral. A classe desses profissionais, antes composta por
indivíduos de classe média, originária das camadas urbanas, foi afetada pelas
reformas educacionais propostas pelo regime militar, a fim de que a educação
servisse aos interesses do Estado.
6
O regime militar perseguiu, prendeu, torturou e matou opositores, e a escola
foi, infelizmente, um dos meios mais eficazes na difusão da ideologia que
alicerçou o programa governamental. De acordo com Ferreira Junior & Bittar
(2006, p.1161), amparado pela repressão, o Estado editou políticas e práticas
que, em linhas gerais, redundaram no tecnicismo (...) no cerceamento e
controle das atividades acadêmicas no interior das universidades; e na
expansão da iniciativa privada no ensino superior.
A Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, reorganizou o funcionamento do
ensino superior e sua articulação com a escola média; o seu artigo 30
estabelecia que:
a formação de professores para o ensino de segundo grau, de disciplinas
gerais ou técnicas, bem como o preparo de especialistas destinados ao
trabalho de planejamento, supervisão, administração, inspeção e
orientação no âmbito de escolas e sistemas educacionais, far-se-á em
nível superior.
A Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, por sua vez, reestruturou os antigos
primário e ginásio, criando o ensino de 1º e 2º graus. Dessa forma, aos quatro
anos do ensino primário foram acrescentados os quatro do ginásio, em um
ciclo único de oito anos, que passou a ser obrigatório. Os três anos do antigo
ensino colegial passaram a ser o 2º grau. Surgia, assim, a classe dos
professores públicos de 1º e 2º graus. Com essa nova estrutura, a quantidade
de professores foi aumentada, mas a qualidade decaiu, uma vez que as
licenciaturas instituídas pela reforma universitária do regime militar operaram
um processo aligeirado de formação com graves consequências culturais,
segundo Ferreira Junior & Bittar (2006, p.1162).
Desse modo, altera-se radicalmente o perfil do professor e da própria rede
pública de ensino. Em substituição aos profissionais muito bem formados,
pertencentes a uma elite cultural, intelectualizada e também financeira,
atuantes nas poucas escolas públicas existentes, surgem os professores
formados nos cursos de licenciaturas curtas das faculdades privadas noturnas,
7
originários das classes médias baixas ou das camadas dos trabalhadores
urbanos, que se beneficiaram da expansão da educação universitária.
Abramo (1987, p.78) esclarece que, para a camada dos trabalhadores, ser
professor significava quase o apogeu na escala de ascensão social e, para a
elite, a perda de seu status com a proletarização no trabalho. Além disso,
inicia-se a concentração das empresas privadas do setor educacional,
principalmente na promoção de cursos superiores de curta duração e o
achatamento dos salários. Essas mudanças dão início à questão sindical, pois
“o arrocho salarial foi uma das marcas registradas da política econômica do
regime militar” o que justificava as mobilizações (FERREIRA JUNIOR E
BITTAR, 2006, p.1166).
O professor, por conta desse processo, sofreu, de forma acentuada, a
paulatina perda do seu status social (2006, p.1166), e tornou-se, dessa forma,
um profissional da educação submetido às mesmas contradições
socioeconômicas que determinavam a existência material dos trabalhadores.
Estavam plasmadas, assim, as condições que associariam o seu destino
político à luta sindical dos demais trabalhadores (2006, p.1167).
A junção entre crescimento quantitativo, formação acelerada e arrocho salarial
deteriorou intensamente as condições de vida e de trabalho do professor.
Como resultado desse fenômeno, a categoria dos professores, composta na
época por cerca de um milhão de membros, desenvolveu uma consciência
política e deu início a um período de grandes manifestações, fortemente
influenciada pela greve operária no ABC paulista (sigla para a região que
abrange as cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano
do Sul), entre 1978 e 1979. Incorporou, assim, a tradição da luta operária, base
para o movimento sindical.
Nesse período de 78 e 79, o movimento sindical dos professores, em nível
nacional, era responsabilidade da Confederação dos Professores Primários do
Brasil (CPPB), a mais importante entidade docente da época; no entanto, ela
tinha caráter mais associativo e recreativo do que propriamente sindical e,
inicialmente, apoiou o regime militar. Posteriormente, tornou-se oposição e, no
8
final dos anos 70, já transformada em Confederação dos Professores do Brasil
(CPB), foi uma das entidades mais atuantes na luta pelos direitos dos docentes
e, por extensão, da própria liberdade política no Brasil. A partir de 1989, a CPB
tornou-se a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação).
No estado de São Paulo, a APEOESP, atualmente o maior sindicato de
professores do país, seguiu a mesma direção: de aliada ao governo, tornou-se
oposição.
1.2. A instituição APEOESP
Fundada em 13 de janeiro de 1945, em São Carlos, a APEOESP tinha
inicialmente o nome de APESNOESP (sigla para Associação dos Professores
do Ensino Secundário e Normal do Estado de São Paulo)1. A alteração na
nomenclatura deu-se por conta da reorganização do sistema educacional
brasileiro, conforme mencionamos.
O nome APEOESP (cuja letra “a” remete à associação) foi criado porque, até
1988, os professores não podiam se organizar em entidades sindicais, o que foi
alterado na atual Constituição. Além disso, essa Constituição demarcou, em
leis, várias conquistas, que foram bandeiras de movimentos sociais e
permitiram aos profissionais organizarem-se em sindicatos e, além disso,
permitiu que essas entidades efetuassem os descontos sindicais das
respectivas classes.
De acordo com o Estatuto (2012), a APEOESP é uma entidade sem fins
lucrativos, que não discrimina por raça, credo religioso, gênero ou convicção
política ou ideológica; é uma entidade sindical integrada por docentes e
especialistas em educação da rede pública do Estado de São Paulo; tem como
finalidade defender os interesses diretos, individuais e coletivos da categoria
profissional que representa, inclusive nas instâncias judiciais e administrativas
competentes; desenvolver e organizar encaminhamentos conjuntos visando à
unidade e à unificação das entidades representativas dos trabalhadores em
educação, no âmbito do Ensino Público; lutar, juntamente com outros setores
1 Informações retiradas do www.apeoesp.org.br, acesso em 2012.
9
da população, pela melhoria do ensino, em particular, do ensino público e
gratuito, em todos os níveis; lutar, ao lado de outros trabalhadores, por
organização, manifestação e expressão para todos os trabalhadores.
Com cerca de 180 mil sócios, a APEOESP hoje é um dos maiores sindicatos
da América Latina. Sua sede central está localizada no centro da cidade de
São Paulo (Praça da República, 282). Possui 10 subsedes na capital; 17, na
Grande São Paulo; 66, no interior do Estado.
O principal papel da APEOESP, como entidade sindical, é defender os
interesses dos professores e especialistas, que trabalham na rede pública
oficial do estado de São Paulo – sejam eles individuais ou coletivos. É o
sindicato que, em nome dos associados, negocia com o governo questões
salariais, profissionais e educacionais. O sindicato também mantém assistência
jurídica aos seus associados, além de convênios, por meio de suas subsedes,
nas áreas de educação, do comércio e de assistência médica e odontológica.
Também mantém na Capital, além da sede central, a Casa do Professor, um
apart-hotel localizado na região central (Rua Bento Freitas, 71, próximo ao
Largo do Arouche) destinado a receber professores do Interior em passagem
pela Capital para a realização de exames médicos, cursos e procedimentos
funcionais. Para o lazer do professor ou especialista associado, a APEOESP
mantém quatro colônias de férias no litoral e no Interior do Estado: Praia
Grande, Termas de Ibirá, Ubatuba e Águas de São Pedro.
Além de se destacar na luta pelos direitos da classe, a APEOESP luta,
juntamente com outros setores da população, pela melhoria do ensino, em
particular pelo ensino público e gratuito, em todos os níveis (APEOESP, 2013).
1.3 . Um histórico das lutas da APEOESP
Embora tenha sido fundada em 1945, a entidade veio a participar efetivamente
de um movimento grevista somente no ano de 1978; os trinta e três anos que
separaram sua fundação da primeira participação efetiva em uma greve foram
permeados de assistencialismo e, mais ainda, submissão à ditadura,
orientando, inclusive, a categoria de professores a atender aos órgãos oficiais.
10
Os anos de 76 e 77, entretanto, um grupo de professores se constituiu em
liderança de oposição e criaram o Movimento de União dos Professores (MUP)
e o Movimento de Oposição Aberta dos Professores (MOAP), sendo o último
uma dissidência do primeiro. O MUP era formado por pessoas oriundas do
movimento estudantil que, após a formação, atuando em escolas da rede
particular, buscavam um novo campo de atuação. Um dos motes desse grupo
foi a luta por “liberdades democráticas”, portanto mais abrangente que seu
grupo dissidente, o MOAP, de caráter mais conservador, mais aceito pelos
professores do interior do estado, com maior tempo de atuação. Importante
frisar que a dissidência dava-se pelas estratégias políticas adotadas, mas tanto
o MUP quanto o MOAP não divergiam em relação à situação dos professores.
Como ambos se propunham à organização sindical dos professores,
mantinham algumas atividades conjuntas, como coleta de assinaturas para o
abaixo-assinado, solicitando uma assembleia para discussão das
reivindicações.
Em uma assembleia realizada em maio de 77, foi aprovada a criação de uma
comissão aberta, da qual participou um número muito expressivo de
professores e criou-se, então, diretoria da APEOESP. Tal comissão tinha por
responsabilidade encaminhar a realização das decisões da assembleia e
promover discussões junto à categoria - preparatórias às assembleias
seguintes. As responsabilidades de encaminhamento foram distribuídas entre
os professores, respeitando suas regiões de trabalho, o que acabou por se
constituir na semente do que é hoje as regionais da Grande São Paulo.
Esta comissão enviou ao Estado abaixo-assinado e cartas com as
reivindicações: 180 dias letivos; 20% de hora-atividade; recebimento por 5
semanas; CLT aos precários; aposentadoria com 25 anos de trabalho e
regulamentação do Estatuto do Magistério. No dia 26 de outubro de 1977, a
Comissão Aberta entregou à Secretaria Estadual da Educação “O Memorial
dos Professores da Rede Oficial de Ensino do Estado de São Paulo”, que
diagnosticava a realidade do Ensino Público: escolas condenadas ao
abandono, alunos e professores carentes, nível de ensino precário e orçamento
estadual insuficiente.
11
A Diretoria da APEOESP, naquele momento adepta ao governo, também agia.
O então presidente, Rubens Bernardo, denunciou alguns membros do MUP e
do MOAP ao DEOPS e, em julho de 77, em pleno recesso escolar, realizou
uma assembleia em Lucélia (divisa com o Mato Grosso do Sul), convocada por
meio do “Diário Oficial do Estado”, no espaço reservado à Secretaria de Obras.
Só 27 professores compareceram e deliberaram alterações estatutárias. A
primeira delas determinava que a convocação da Assembleia fosse aprovada
por um terço dos associados, o que na época representava mais de mil sócios.
Até então, bastariam cinquenta para convocar assembleia. A segunda
alteração exigia quórum mínimo de mil sócios, identificados com R.G. e
assinatura para assembleia ser legal. E, finalmente, aprovou-se um prazo
mínimo de três anos ininterruptos de associação, para que o professor pudesse
candidatar-se à diretoria. Esta exigência tinha por objetivo impossibilitar que as
novas lideranças viessem a ser eleitas. Isto porque a maioria tinha pouco
tempo de magistério e era formada por professores admitidos em caráter
temporário (ACT), tendo, no final de cada ano, interrompido seu contrato com o
Estado e o pagamento à Entidade interrompido.
No ano de 1978, no governo Paulo Egídio Martins, a situação dos professores
tornou-se cada vez mais insustentável. A Comissão Aberta realizou uma
assembleia geral em agosto, com mais de dois mil professores, deflagrando a
primeira greve dos professores, a partir do dia 19 de agosto, sem a
participação da Diretoria da APEOESP, que não reconheceu o Comando Geral
de Greve. A paralisação durou 24 dias e encontrou receptividade entre os pais
de alunos e a comunidade em geral, que compreenderam a importância das
reivindicações. A principal delas era a de um reajuste salarial de 20%, que
acabou sendo conquistado. A greve repercutiu em todo o Estado. A Polícia
Federal proibiu as emissoras de rádio e de televisão de noticiarem a
paralisação.
Outro acontecimento importante, já no final da greve de 1978 foi a
transformação do Comando Geral de Greve em Comissão Pró-entidade Única
(CPEU). A comissão tinha como tarefa: coordenar o processo de construção de
uma entidade única que representasse os professores (tentar unificar
12
APEOESP, o Centro do Professorado Paulista - CPP, a União dos Diretores do
Ensino Médio Oficial - UDEMO e o Sindicato dos Profissionais em Educação no
Ensino Municipal de São Paulo - SINPEEM); iniciar uma ação integrada com os
demais funcionários públicos paulistas e com os professores de outros estados.
A primeira tarefa levou de imediato a um complicado e estafante trabalho de
constituição de uma chapa para concorrer às eleições da APEOESP em 1979.
A segunda tarefa levou os membros da CPEU a entrarem em contato com as
demais entidades do funcionalismo público do Estado, para que a campanha
salarial acontecesse de maneira unificada.
Em janeiro de 79, quatro chapas estavam prontas e registradas. A chapa do
CPEU teve que lutar pela formação de uma Comissão Eleitoral, já que a
diretoria não quis encaminhar o processo. Essa comissão convocou uma
assembleia para abril de 1979, na qual se decidiu por outra greve, com duração
de 39 dias, e unificada com o funcionalismo. Após a vitória nas urnas, a chapa
da CPEU só conseguiu tomar posse com liminar da Justiça, no dia 10 de maio
de 1979. Nesse período, o Palácio dos Bandeirantes estava ocupado pelo
governador Paulo Salim Maluf, que havia derrotado, na convenção da seção
paulista da Aliança Renovadora Nacional, o candidato do então general-
presidente João Batista Figueiredo.
Ferreira Junior & Bittar (2006) expõe que a greve foi derrotada pela política
adotada pelo governo Maluf. Um dos atos arbitrários adotados, por meio do
secretário de Educação Luís Ferreira Martins, foi exigir que os diretores de
escolas enviassem à secretaria os nomes dos professores grevistas da sua
unidade; essa imposição foi rechaçada pela União dos Diretores do Ensino
Médio Oficial (UDEMO), cujos associados eram efetivados por meio de
concurso público e não por simples nomeação política. A palavra de ordem da
UDEMO era: “Diretor não é feitor, é educador”. Ao final da greve, Maluf
respondeu com mais arrocho salarial e desconto dos dias parados. Uma das
decisões que mais impactou a APEOESP, porém, foi a de cortar o repasse da
contribuição sindical descontada em folha salarial; com isso, a entidade sofreu
um grande enfraquecimento, sem, no entanto, abrir mão das lutas da categoria,
13
algo pretendido pelo citado governo. A suspensão do repasse duraria até 1983,
já no governo Montoro.
Depois da greve de 79, os professores se conscientizaram da necessidade da
mobilização e organização e a Comissão Pró-Entidade Única aproveitou a
mobilização para vencer as eleições para diretoria da APEOESP. Essa vitória,
representada pela professora Eiko Shiraiwa Campos Reis, presidente entre os
anos de 1979 e 1981, significou o rompimento com a antiga prática sindical
característica dos professores públicos de 1º e 2º grau, durante o regime
militar.
Várias regiões, mesmo com divergências, tomavam a iniciativa de eleger
representantes para fazer parte das reuniões estaduais da entidade. Tomava
forma e corpo o atual Conselho Estadual de Representantes (CER). Contudo, o
CER só foi institucionalizado como deliberativo no Congresso de 1980, na
cidade de Campinas. A eleição de representantes de escola só ocorreu quando
os membros do CER passaram a considerar a necessidade de vincular mais
diretamente a posição dos conselheiros às posições das escolas. Outro passo
de suma importância que se deu nesse Congresso foi a aprovação do novo
Estatuto da APEOESP.
A partir daquele ano, a APEOESP deixou de ser uma entidade que não
encaminhava lutas da categoria para se transformar numa das mais
combativas e, em poucos anos, uma das mais representativas entidades
sindicais do país, chegando a ser exemplo de organização para outras
categorias. As condições naquele período, no entanto, continuam atuais:
condições precárias para o ensino, professores transformados em máquinas de
dar aulas, sem tempo ou meios financeiros para aperfeiçoamento ou realização
de pesquisas, problemas de ordem funcional, salarial e existencial.
No cenário nacional, apoiados pelos partidos de esquerda, que defendiam uma
estrutura sindical com estratégia de unificação do movimento de professores,
ocorreram dois Encontros Nacionais de Professores: o primeiro foi realizado
em São Paulo, em julho de 79, com a participação de 800 professores –
14
apenas 5 estados não estiveram presentes - e o segundo em Belo Horizonte,
em março de 1980.
Em 1983, depois de árdua resistência às decisões do governo Maluf, com a
nova conjuntura política e um governo eleito com base em compromissos de
mudança (governo Montoro), a APEOESP conseguiu mais espaço para o
desenvolvimento do seu trabalho. Uma das grandes conquistas desse período
foi a aprovação da lei que garantia o desconto em folha da contribuição dos
associados. A partir desse momento, a entidade adquiriu importância social,
extrapolando a própria categoria profissional que representa, consolidando-se
como uma entidade com organização de base.
Foi somente na Constituição de 1988 que os funcionários públicos
conquistaram o direito, embora ainda não regulamentado, de se organizar em
sindicato. No ano de 1990, a APEOESP alterou sua razão social para
“Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo”, embora
a sigla, dada a importância adquirida, ainda continue APEOESP. Mesmo tendo
adquirido o status de sindicato, a entidade pertence a uma classe que,
diferente de outras categorias que todo ano têm datas base, não tem garantia
de negociação. O funcionário público só garante processo de negociação com
muita organização e mobilização, daí as razões dos inúmeros atos públicos e
das incansáveis greves realizadas na trajetória histórica da entidade.
1.4 . Participação da APEOESP em mobilizações nos cenários estadual e
nacional
Dos mais diversos atos realizados pela APEOESP, podemos destacar a
participação nos anos de luta na Assembleia Nacional Constituinte, no período
1987/1988. A entidade enviou várias caravanas a Brasília, resultando na
conquista de algumas das principais reivindicações: a definição de 18% do
Orçamento Federal e 25% dos Estados e Municípios para a Educação;
aposentadoria aos 25 anos; plano de carreira; direito a piso salarial; direito de
sindicalização de funcionários públicos; estabilidade para professores com
mais de 5 anos de magistério; direito ao 13º salário integral; gratificação de 1/3
15
do salário de férias; direito de greve; direito para as entidades entrarem com
ações coletivas em nome de seus associados entre outros.
Já o ano de 1989 ficou marcado como o ano da mais longa greve já realizada
no estado de São Paulo: durante oitenta dias, os professores estiveram
mobilizados em defesa da Escola Pública e por um Piso Salarial Profissional.
O resultado positivo foi o reajuste de 51% a 126%. No mês de julho, após a
greve, o PI - professor de ensino fundamental nas séries iniciais - atingiu um
poder de compra equivalente a mais do dobro do que é hoje. Mais tarde, em
1990, seu salário atingiu 4,6 salários mínimos, por 20 horas-aula.
Durante o ano de 1991, a APEOESP participou ativamente dos Fóruns
Estadual e Nacional em Defesa da Escola Pública, discutindo a Lei de
Diretrizes e Bases (LDB). Nesse ano, em abril, promoveu o Congresso de
Educação, que discutiu, entre outros, os temas, "Concepção de escola",
"Gestão democrática da educação", "Financiamento da Educação Pública", que
gerou um documento, considerado um dos mais completos sobre o tema
produzido até hoje no país.
No ano de 1993, foi realizada a maior eleição para a Diretoria da história da
APEOESP, com a participação de 69.245 professores. Em 1994, aconteceu o
Congresso Sindical em Araçatuba, que aprovou alterações no Estatuto da
Entidade. Em 1995, comemorando os 50 anos, a APEOESP organizou uma
série de eventos. No mês de junho, a entidade inaugurou a nova Sede Central,
um prédio de sete andares, localizado na Praça da República, no centro de
São Paulo. No segundo semestre, a APEOESP lidera campanha contra a
reestruturação da Rede Física que retomava a concepção de 30 anos antes,
voltando a dividir o 1º Grau em primário e ginásio. A campanha envolve pais e
alunos.
Em 1996, mais de 50 mil professores participaram das eleições estaduais da
APEOESP, apesar da tentativa do governo de impedir a mobilização da
categoria, não concedendo o abono de ponto para o dia da eleição, retirando
um direito conquistado 13 anos antes. No ano seguinte, mais caravanas são
enviadas a Brasília a fim de pressionar deputados e senadores contra a
16
Reforma Administrativa e contra o fim da aposentadoria especial do magistério.
Somente no Dia Nacional de Luta, em 17 de abril, a APEOESP enviou mais de
60 ônibus à Capital Federal. Durante todo o ano, a diretoria da APEOESP
participou de centenas de debates em todo o estado para alertar professores,
pais, alunos, vereadores e prefeitos sobre os prejuízos da municipalização à
qualidade do ensino. Em várias cidades, os docentes conseguiram a reversão
do processo.
Também no mesmo ano de 1997, foi criado o Departamento do Aposentado,
buscando melhorar o atendimento específico aos associados inativos. Além
das lutas pela categoria dos professores, a entidade organizou um Coletivo
Estadual Antirracismo, participando com a maior delegação no Encontro
Nacional de Sindicalista Antirracismo da CUT. Entre fevereiro e julho de 1998,
integrou a Marcha Global contra o Trabalho Infantil. Em novembro do mesmo
ano, a APEOESP instala na Internet sua homepage (http://APEOESP.org.br),
com informações sobre conquistas da categoria, instâncias democráticas do
Sindicato, subsedes, campanhas e as notícias mais recentes. No mesmo mês
é realizado em Serra Negra o XVI Congresso.
Em 1999, a APEOESP lança o Movimento Paz nas Escolas, buscando discutir
com a sociedade civil as causas e encontrar saídas para o crescimento da
violência nos estabelecimentos escolares. No segundo semestre, é realizada a
Teleconferência sobre Paz nas Escolas, atividade transmitida às escolas e que
contou com a participação de docentes em todo o Estado. Em abril do mesmo
ano mais de 10 mil pessoas participam da Marcha em Defesa da Escola
Pública. Pelas ruas do centro da capital, professores, estudantes, pais de
alunos e trabalhadores de outras categorias exigem prioridade à Escola
Pública. No mês de junho foram realizadas eleições na entidade, com a
participação de 64 mil docentes. A professora Maria Izabel Azevedo Noronha,
da cidade de Piracicaba, é eleita presidenta da APEOESP. A nova diretoria
estadual é formada por 113 membros, representando todo o estado.
Filiada à Central Única dos Trabalhadores - CUT, a APEOESP também esteve
presente nas diversas atividades organizadas por ela, em conjunto com
17
demais entidades, do Fórum Nacional de Luta por Trabalho, Terra e Cidadania
contra as políticas econômicas de Fernando Henrique Cardoso. Em agosto, na
Marcha dos 100 mil sobre Brasília, a APEOESP mandou 65 ônibus com mais
de 2500 docentes, representando a maior categoria presente.
Após as várias conferências regionais organizadas pelas subsedes, dois mil
delegados participam da II Conferência Estadual de Educação realizada na
cidade de Águas de São Pedro nos dias 07,08 e 09 de novembro. Sob o tema
"Construindo um Plano Estadual de Educação Democrático e Emancipador", a
Conferência lançou as bases para a construção de um Plano Estadual de
Educação. Diversas entidades somaram-se à APEOESP no compromisso de
trabalhar por um Plano que garantisse uma educação de qualidade a toda a
população.
Em março do ano 2000, a APEOESP, em conjunto com as demais entidades
do Magistério paulista, lançou a Campanha Salarial Unificada. Além da
reivindicação de "no mínimo cinco mínimos", cobrando do governador sua
promessa de campanha, as entidades iniciaram uma luta em defesa do
emprego e da Escola Pública. A primeira assembleia da campanha aconteceu
no dia 07 de abril com mais de 15 mil profissionais do magistério. Em 28 de
abril, uma assembleia geral unificada decretou greve a partir de 02 de maio.
Nos 43 dias de paralisação, a Educação foi colocada no centro das atenções. A
sociedade verificou, por meio da greve, que as políticas educacionais do
governo estadual não garantiam qualidade de ensino aos estudantes, boa
infraestrutura nas escolas e condições de trabalho aos profissionais.
A mobilização foi ampliada com a participação de vários setores da sociedade
em defesa da Escola Pública. Em 12 de julho, a APEOESP realizou uma aula
pública na Praça da República sobre "Direito à Educação, Solidariedade e
Cidadania" com representantes da Sociedade Brasileira de Especialistas em
Direitos Difusos e Coletivos, da Pastoral Operária Nacional, do Sindicato dos
Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de São Paulo e da
CUT. No decorrer do ano, foram realizadas várias plenárias em todas as
regiões do Estado com discussões sobre a elaboração do Plano Estadual de
18
Educação. No período de 11 a 14 de novembro, a APEOESP realizou seu XVII
Congresso Estadual com participação de 1908 professores. Sob o tema
"Mobilização Solidária por um movimento social em defesa da escola pública,
do emprego e do salário", foram realizados diversos debates e discussões
sobre temas conjunturais, educacionais e sindicais.
O ano de 2001, para a APEOESP, foi marcado pela continuidade da luta em
defesa da escola pública, dos serviços públicos, do emprego e do salário, na
perspectiva estratégica de construção da mobilização solidária da categoria,
dos demais trabalhadores e da sociedade em geral em defesa da Educação.
Naquele ano, foi formalizada a comissão que buscou implementar a evolução
funcional pela via não acadêmica, prevista no Plano de Carreira. Nesse
sentido, a evolução de professores, diretores e supervisores ocorrerá levando
em conta três fatores: atualização, aperfeiçoamento e produção profissional. A
comissão originou-se da Emenda formulada pela APEOESP ao Plano de
Carreira do Magistério e está composta por quatro representantes da secretaria
da Educação e um representante de cada uma das entidades do magistério:
além da APEOESP, a APASE – Sindicato dos Supervisores de Ensino do
Magistério Oficial no Estado de São Paulo, o CPP – Centro do Professorado
Paulista e o UDEMO – União dos Diretores do Ensino Médio Oficial.
Com relação à formação dos professores, a APEOESP manteve-se firme na
defesa da implementação, por parte do Estado, de programas de formação
profissional em serviço articulados à melhoria das condições de trabalho dos
professores, bem como da instituição de condições adequadas para a
complementação da formação dos professores do primeiro ciclo do Ensino
Fundamental, que não têm curso superior ou têm licenciatura curta, de acordo
com as exigências da LDB.
No período de 20 a 24 de outubro, a APEOESP realizou o XVIII Congresso
Estadual concomitantemente à III Conferência Educacional, constituída por
mesas de debates sobre a conjuntura educacional, contando com a
participação de especialistas em cada uma das áreas. Reunindo a base da
categoria, contando com 1919 delegados presentes - professores eleitos nos
19
encontros regionais preparatórios realizados nas subedes da APEOESP - o
XVIII Congresso deliberou assuntos relativos às conjunturas nacional e
internacional, política sindical, balanço da atuação do sindicato, política
educacional, políticas sociais, plano de lutas e alterações estatutárias.
Em paralelo, a APEOESP também enviou uma expressiva delegação ao Fórum
Social Mundial e Fórum Mundial de Educação, ambos realizados em Porto
Alegre, teve representantes na manifestação continental contra a ALCA - Área
de livre comércio das Américas, realizada em Buenos Aires, participou da
Conferência Mundial contra o Racismo e Formas Correlatas de Intolerância, na
África do Sul, além de muitas outras atividades nacionais e internacionais em
defesa dos direitos da cidadania e das conquistas dos trabalhadores do Brasil e
de todo o mundo. Em 2001, a entidade implementou ainda o programa
Educação na TV, um espaço na televisão para discutir os diversos temas que
envolvem a categoria e os usuários da escola pública.
Durante o ano de 2002, a APEOESP lançou a campanha "Em defesa da escola
pública, por melhores condições de trabalho, garantia de emprego e salário
digno." Com diversas atividades em todas as regiões do Estado, a campanha
manteve a Educação no centro das atenções durante todo o ano. Em abril, a
entidade promoveu, com outras entidades do funcionalismo, o Dia de Luta em
Defesa do Instituto de Assistência Médica do Servidor Público Estadual -
IAMSPE. A ação do sindicato junto ao Instituto garantiu a criação de convênios
com hospitais regionais para atendimento do funcionalismo. Em maio, a
APEOESP participou da Conferência Estadual de Mulheres. Em junho, cerca
de 60 mil associados participaram da eleição para a diretoria da APEOESP e o
CER. Pelo critério proporcional, três chapas integraram a nova gestão. O
professor Carlos Ramiro de Castro, da Capital, foi eleito presidente da
entidade. Em agosto o sindicato realizou Aula Pública para denunciar a farsa
do governo em relação à redução dos índices de violência nas escolas e à
aprovação automática de estudantes. Realizou também Ato Público pela anistia
dos professores demitidos por motivos políticos. Em setembro, a APEOESP
instalou centenas de urnas em todo o estado para o plebiscito sobre a ALCA.
Mais de 600 mil pessoas votaram nessas urnas. Em todo o Brasil, mais de 95%
20
dos 10 milhões de votantes rejeitaram a participação do Brasil no acordo e a
instalação de uma base militar dos Estados Unidos na cidade de Alcântara, no
Maranhão. Em outubro, a APEOESP realizou ato contra a perseguição política
de professores que lutam pelos direitos da categoria. Em novembro, organizou
o I Seminário do Coletivo Antirracismo Milton Santos e, em conjunto com a
CUT, marcha comemorando o Dia Nacional da Consciência Negra. Em
novembro e dezembro, promoveu um plebiscito em que a comunidade escolar
condenou a política educacional excludente, segundo o sindicato (2012), do
governo Alckmin/Chalita, respectivamente governador do estado e secretário
de Educação.
Em 2003, o sindicato realizou, durante todo o ano, uma série de assembleias,
atos e gestões junto ao governo do Estado apresentando as reivindicações da
categoria, entre elas, a incorporação das gratificações, dos bônus e abonos,
com extensão aos aposentados, e aumento no valor da hora/aula de acordo
com o piso do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos - DIEESE. De acordo com o sindicato (2012), o governo do
estado, mostrando sua truculência e a falta de compromisso com a Educação,
não atendeu às reivindicações. Assim, houve um ato público no dia 12 de
dezembro com o objetivo de denunciar tudo o que o governo vinha (e vem)
fazendo contra a escola pública e seus usuários. Outra luta da APEOESP foi
pelo não fechamento do Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do
Magistério - CEFAM e dos cursos de formação de professores de nível médio,
determinado pela Secretaria da Educação, a partir de 2005, e pela manutenção
e ampliação das Escolas Técnicas.
Aquele ano também ficou marcado pela luta do funcionalismo público contra a
proposta do governo federal de Reforma da Previdência. A APEOESP
participou de todas as manifestações convocadas pela CUT - Central Única
dos Trabalhadores - e pela CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores
em Educação. Representantes do sindicato estiveram presentes em Brasília no
dia 28 de abril, no dia 11 de junho – quando foram enviados ao Distrito Federal
32 ônibus – no dia 5 de agosto, quando a Câmara dos Deputados votou a PEC
40, e no dia 19 de agosto, Dia Nacional de Luta. A entidade também divulgou
21
matérias pagas nas redes de televisão contra a Reforma da Previdência e
denunciando o descaso do governo do Estado com relação às reivindicações
salariais. No dia 4 de dezembro, a APEOESP assinou um convênio com o
Banco do Brasil que possibilita aos professores das redes estadual e municipal
– efetivos e ACTs – associados do sindicato o financiamento de computadores,
com parcelamento de até 36 meses. Aliado a isso, o sindicato também garantiu
a inclusão dos professores ACTs e estáveis no Programa de Inclusão Digital do
governo do Estado. A ação do sindicato na Justiça permitiu o acesso ao
Programa de todos os professores em atividade na rede estadual de ensino,
incluindo os admitidos nos termos da Lei 500/74 (ACTs). Entre os dias 26 e 29
de novembro, a entidade realizou em Sumaré o XIX Congresso Estadual “Prof.
Macedo”. Reunindo 2264 delegados, o congresso deliberou sobre assuntos
relativos às conjunturas nacional e internacional, política sindical, balanço de
atuação do sindicato, política educacional, políticas sociais, plano de lutas e
alterações estatutárias. O ponto alto do Congresso foi a definição de um plano
de lutas consensual entre os professores participantes.
No ano de 2004, uma assembleia realizada no dia 26 de março, na Praça da
República, deu início à campanha salarial daquele ano, quando se aprovou
intensa mobilização com o objetivo de chamar a atenção da população e
pressionar o governo estadual para que as principais reivindicações da
categoria fossem atendidas. Com o objetivo de resgatar a escola pública – da
qualidade dos processos de ensino e aprendizagem à valorização dos
profissionais –, em 16 de abril nova assembleia aprovou a realização, em todo
o Estado, de atos públicos, como bloqueios de estradas, visitas a fábricas,
atividades com a comunidade escolar, abaixo-assinado etc. Os professores
também realizaram vigília em frente à Secretaria de Educação durante o início
do processo de negociação. Paralelamente, a mobilização dos professores
garantiu a alteração na Lei 836, que trata do Plano de Cargos e Salários. Em
julho, o governador enviou à Assembleia Legislativa as alterações no Plano de
Cargos e Salários, o que resultou num reajuste de 13,38% para os Professores
de Educação Básica I e de 5% aos demais professores, diretores de escola e
supervisores de ensino. O governo tentou passar à opinião pública que a
22
adequação salarial a partir da alteração na Lei 836 significava um reajuste
salarial. A APEOESP promoveu novas assembleias e atos públicos
denunciando a farsa do governo, que não apresentou proposta de reajuste e
manteve a mobilização pelo atendimento de reivindicações como reajuste
salarial, incorporação das gratificações, do prêmio e do bônus ao piso - com
extensão aos aposentados, definição e cumprimento da data-base, retorno da
grade curricular de 1997, com seis aulas no diurno e cinco no noturno,
readmissão dos professores demitidos e fim dos indiciamentos, anistia das
faltas da greve de 2000, o número máximo de 35 alunos por sala de aula e o
efetivo atendimento do IAMSPE. Entre os dias 17 e 20 de novembro, no
Centro de Convenções Circuito das Águas, na cidade de Serra Negra, a
APEOESP realizou o XX Congresso Estadual “Zumbi dos Palmares”, que
reuniu 2783 delegados. Esse congresso deliberou sobre assuntos relativos às
conjunturas nacional e internacional, política sindical, balando de atuação do
sindicato, política educacional, políticas sociais, plano de lutas e alterações
estatutárias.
Em 2005, em conjunto com pais e alunos, a APEOESP iniciou o ano
promovendo manifestações e mobilizações contra o fechamento de escolas e
salas de aula proposto pelo governo de Geraldo Alckmin. Em novembro de
2004, a Secretaria da Educação anunciou o encerramento de atividades de 14
escolas. No dia 3 de janeiro, a diretoria do sindicato reuniu-se com
representantes de várias escolas e subsedes. Decidiu-se encaminhar ação civil
pública contra o fechamento de unidades.
Por pressão dos professores, em setembro o governo anunciou reajuste para a
categoria: 15% sobre o salário dos ativos e aposentados. Mais uma vez,
contudo, excluiu os aposentados ao criar a Gratificação por Atividade do
Magistério – GAM - a ser pago só para os professores da ativa. A GAM
representou um percentual de 15% sobre a retribuição mensal do servidor. Em
outubro, grande mobilização dos professores exigiu que o governador Alckmin
anunciasse a retirada de um projeto de lei da Assembleia Legislativa que previa
a demissão de 120 mil professores ACTs. Mais de 30 mil professores
participaram da reunião ampliada de representantes de escolas da capital,
23
Grande São Paulo e algumas cidades do interior. Os professores cruzaram os
braços durante quatro dias para garantir que o Projeto de Lei Complementar
26, que previa a contratação temporária dos ACTs por seis meses renováveis
por igual período, com carência de dois anos para que retomasse aulas no
Estado, fosse definitivamente retirado da Assembleia.
No dia 13 de dezembro, os deputados aprovaram o Projeto de Lei 1037/03, de
autoria do deputado Roberto Felício (ex-presidente da APEOESP), que
estabelecia o limite de 25 alunos por sala nas primeiras quatro séries do ensino
fundamental, 30 para as quatro últimas e 35 alunos para o ensino médio. A
pressão dos professores garantiu também que o governo acatasse emenda do
mesmo deputado, propondo a instituição da data-base para o funcionalismo.
No dia 15, o governador enviou à Assembleia projeto de lei propondo o dia 1º
de maio como data-base para discussão de revisão salarial.
No ano de 2006, graças à pressão das entidades dos servidores públicos, em
especial da APEOESP, a Assembleia Legislativa aprovou, em 24 de abril, o
projeto de lei 906/05, estabelecendo a data-base da categoria em 1º de março,
contemplando uma luta histórica da categoria. Outra vitória dos trabalhadores
da Educação foi à aprovação da aposentadoria especial aos diretores e
coordenadores pedagógicos. De autoria da deputada Neide Aparecida (PT-
GO), a lei foi sancionada pelo governo federal em maio. A lei é fruto de antiga
reivindicação da CNTE e de todas as entidades representativas, entre elas a
APEOESP. Para valer nos municípios e nos estados, a lei precisa ser
regulamentada. O governo do estado, no entanto, ainda não elaborou projeto
de lei complementar regulamentando a medida.
O Conselho Nacional de Educação – órgão ligado ao MEC – aprovou, no dia 7
de julho de 2006, parecer tornando obrigatórias nos currículos do Ensino
Médios as disciplinas de Filosofia e Sociologia. O parecer aprovado determinou
o prazo de um ano para que, em todo o território nacional, as escolas de
Ensino Médio incluam as duas disciplinas em seus currículos. A aprovação do
parecer foi uma vitória da APEOESP, que desde 1998 lutava para que as
disciplinas fossem obrigatórias no currículo do Ensino Médio. Em outubro de
24
2006, o Conselho Estadual de Educação publicou indicação contrariando
decisão do Conselho Nacional.
Entre os dias 6 e 8 de dezembro, a APEOESP realizou o XXI Congresso
Estadual, em Sumaré. Diante do grave quadro da escola pública em São
Paulo, fruto da falta de políticas por parte do governo estadual, o XXI
Congresso escolheu como tema “A Educação faz a diferença”, com objetivo de
reforçar a campanha que somente com educação de qualidade é possível
assegurar índices favoráveis de desenvolvimento e redução da miséria e da
desigualdade social.
Em 2007, foi convocada para o dia 30 de março a primeira assembleia dos
professores, que aprovou a pauta de reivindicações daquele momento e um
novo encontro no dia 17 de abril. Diante da inércia do governo, que não havia
apresentado qualquer proposta, os professores aprovaram a continuidade da
campanha salarial e nova assembleia no dia 10 de maio. No entanto, os
professores e a direção da APEOESP foram surpreendidos. No dia 19 de abril,
o governador José Serra encaminhou à Assembleia Legislativa uma proposta
de emenda aglutinativa preparada para alterar o Projeto de Lei 30/2005 –
criação do Sistema de Previdência dos Servidores Públicos (SPPrev) – que
atacava brutalmente os direitos de todos os servidores públicos. Segundo a
emenda, a SPPrev serviria para arcar com os benefícios previdenciários dos
servidores públicos titulares. Já a aposentadoria, a licença saúde, a pensão de
beneficiários, a proteção à maternidade, os acidentes de trabalho, o auxílio
reclusão dos professores ACTs e estáveis seriam administrados pelo INSS.
A direção da APEOESP antecipou-se, convocando nova assembleia para o dia
25 de abril. Cerca de 20 mil professores aprovaram nova assembleia para o dia
4 de maio, com início de greve. O governo recuou, enviando novo projeto a
Assembleia Legislativa, incorporando os ACTs. A mobilização dos professores
continuou até a aprovação do projeto, dia 28 de maio, com a realização de
novas assembleias, atos públicos e vigília no Legislativo. Após grande
mobilização dos professores, o governo encaminhou emenda assegurando que
25
os profissionais admitidos pela Lei 500 até a data da publicação da lei não
seriam dispensados pelo Estado, ainda que não tivessem aulas atribuídas.
No segundo semestre, a APEOESP deu continuidade à campanha salarial com
realização de assembleias e acampamento em frente à Secretaria da
Educação, que culminou com um ato público unificado no dia 24 de agosto,
quando 50 mil trabalhadores em Educação reuniram-se na Praça da Sé. A
única proposta do governo foi a incorporação aos salários do Prêmio de
Valorização. Em alguns níveis, a diferença entre a remuneração anterior e a
pós-incorporação não significou aumento de valor. A maior diferença (para PEB
II, 30 horas, nível V) foi de R$ 18,73, ou 1,22%. Tendo como tema “Educação
Pública de Qualidade para Avançar na Conquista de Direitos”, o XXII
Congresso Estadual da APEOESP aconteceu entre os dias 7 e 9 de novembro,
em Serra Negra.
O ano de 2008 marcou os 30 anos da primeira greve dos professores e os 40
anos das greves dos metalúrgicos de Osasco e de Contagem (MG) que
desafiaram a ditadura militar (1964-1985). Foi o ano também que os
professores cruzaram os braços e tomaram as ruas da capital, na greve que
durou 22 dias e que reivindicou, principalmente, a revogação do Decreto
53037, que propunha a avaliação excludente dos admitidos em caráter
temporário. A campanha salarial e educacional pela valorização dos
professores e em defesa dos professores continuou durante todo o ano. No dia
14 de março aconteceu a primeira assembleia dos professores, na República,
seguida de um ato público unificado do funcionalismo. A APEOESP
apresentara a pauta de reivindicações à Secretaria da Educação em janeiro. O
primeiro ato público acontecera em 29 de fevereiro. A ideia era pressionar o
governo a respeitar a data-base. Reunidos na Praça da República, no dia 16 de
maio, os professores aprovaram a luta contra a Lei 1041, que restringe as
faltas médicas a seis por ano.
Em 28 de maio, o governo publicou o Decreto 53037 que, entre outras medidas
prejudiciais aos professores, previa a realização de um processo seletivo
simplificado, de âmbito regional, para os ACTs (admitidos em caráter
26
temporário). A assembleia do dia 13 de junho, que reuniu 30 mil professores na
Praça da República, aprovou uma greve, que durou 22 dias. 60 mil pessoas
participam da assembleia do dia 20 de junho. A força da greve levou o governo
a apresentar proposta de reajuste de 5% e a incorporação da GTE -
Gratificação de Trabalho Educacional. A greve também forçou a SEE –
Secretaria Estadual de Educação - a apresentar mudanças no Decreto 53037,
que não satisfizeram os professores. A intransigência da SEE e do governo
Serra em abrir negociações levou o Ministério Público do Trabalho a agendar
audiência de conciliação sobre a greve. O resultado foi a alteração da prova
seletiva que foi aplicada aos ACTs em dezembro. Inicialmente o decreto previa
que a prova fosse eliminatória. A luta da categoria, diante da intransigência do
governo, assegurou que o processo fosse classificatório e que o tempo de
serviço tivesse o mesmo peso que o desempenho na avaliação.
No dia 5 de junho, 66.275 professores participaram das eleições para a
renovação da Diretoria e do Conselho Estadual de Representantes. Com
54,18% dos votos, a professora Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, da
Chapa 1, foi eleita presidenta da APEOESP, pela segunda vez.
No ano de 2009, houve uma sucessão de erros por parte da SEE: a então
secretária da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, na tentativa de
amenizar a série de irregularidades ocorridas durante o processo de
organização, realização, correção e divulgação dos resultados da provinha
(avaliação seletiva aplicada aos ACTs), alegou que a APEOESP entrara na
Justiça porque 1500 professores teriam zerado na avaliação. Entretanto, de
acordo com o site (2012), não conseguiu provar o que disse. Erros nos
Cadernos do Professor em 2008 repetiram-se. Os professores denunciaram
mais erros nos Cadernos de Matemática, Geografia, História e Filosofia.
A APEOESP fez a primeira assembleia, em 27 de março, para aprovar a pauta
de reivindicações. Maria Helena foi substituída no dia 14 de abril pelo
economista Paulo Renato Souza. Até então deputado federal pelo PSDB,
Paulo Renato assumiu o cargo para dar continuidade, segundo a APEOESP
(2012), aos ataques engendrados pelo governador José Serra aos professores.
27
No primeiro semestre, o governo enviou para a Assembleia Legislativa os
Projetos de Lei que alteraram o processo de contratação de temporários e a
obrigatoriedade para os novos concursados de frequência e aprovação em
cursinho de quatro meses para tomar posse. O sindicato promoveu uma ampla
ação na Assembleia Legislativa, como a realização de reuniões de
representantes e assembleias para discutir os dois projetos, participação em
audiências públicas e pressão junto aos deputados.
No dia 23 de junho, porém, contando com ampla maioria, o governo conseguiu
aprovar os projetos. Uma importante vitória da APEOESP, entretanto, foi a de
assegurar a publicação do Decreto 54556/2009, que estabelece periodicidade
para a realização de concursos públicos para professor de educação básica II.
De acordo com o decreto, os concursos devem acontecer de quatro em quatro
anos.
O ano de 2010 também foi representativo na história da APEOESP. Naquele
ano, aconteceu a greve de 35 dias. Foi um basta da categoria aos constantes
ataques do governo que, aliás, iniciaram-se em 2009 com a imposição do
“provão” para que os professores admitidos em caráter temporário
participassem do processo de atribuição de aulas. Por pressão do sindicato,
que em plenas férias de janeiro mobilizou a categoria em um grande ato na
Praça da República, o governo alterou o caráter do “provão”, que deixou de ser
eliminatório. Sem qualquer abertura de negociação por parte do governo, no
dia 5 de março 10 mil professores aprovaram a deflagração da greve.
De acordo com as informações disponíveis em www.APEOESP.org.br (2012),
embora os professores não tenham obtido as conquistas econômicas, que
pleiteavam, a entidade não considerou o movimento em vão, uma vez que
colocou a Educação no centro das atenções, mostrando ao governo e à opinião
pública que os professores não aceitavam e não iriam aceitar políticas que
significassem ataques ao magistério e à educação pública.
Devido à atitude da grande imprensa, que fez uma cobertura parcial desse
movimento, reverberando o discurso oficial do Palácio dos Bandeirantes, ou
seja, 1% de adesão e caráter político do movimento, a APEOESP promoveu,
28
no dia 1º de julho, o seminário Mídia e os Movimentos Sociais, reunindo em
São Paulo diversos representantes dos meios de comunicação progressistas e
sindicalistas. Em todo o estado, as subsedes também promoveram seminários
regionais.
Em agosto daquele ano, a APEOESP promoveu o 7º Encontro Estadual de
Professores Aposentados, que discutiu as lutas gerais pelos direitos dos
idosos, além do 1º Encontro de Especialistas, que reuniu diretores de escola e
supervisores de ensino filiados ao sindicato. Entre os dias 1º e 3 de dezembro,
a entidade realizou em Serra Negra o XXIII Congresso Estadual. Os dois mil e
duzentos delegados e delegadas presentes ao Congresso aprovaram
resoluções sobre Política Educacional, Política Sindical, Políticas Permanentes,
Plano de Lutas e Estatuto.
O Congresso fez uma avaliação positiva da atuação da atual gestão da
APEOESP, assim como avaliou positivamente a greve que foi realizada no
primeiro semestre de 2010, levando em conta a correlação de forças, a
truculência e intransigência do governo e a capacidade que tiveram de
denunciar à opinião pública, não apenas do Estado de São Paulo, mas de todo
o Brasil, a real situação das escolas estaduais, interferindo na conjuntura
brasileira. Ao mesmo tempo, várias das questões que foram levantadas
durante a greve continuaram repercutindo durante o ano e ainda produzem
resultados.
1.5. O Jornal do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de
São Paulo
O Jornal da APEOESP, cuja primeira edição ocorreu em 1947, é publicado
bimestralmente. Com tiragem de 165.000 exemplares, é distribuído
gratuitamente aos associados, além de ser disponibilizado no site da entidade.
As matérias publicadas no jornal manifestam forte teor político, em razão da
própria natureza da instituição, uma vez que não há sindicato sem posições
políticas. De acordo com Charaudeau (2006, p.189), o discurso político
29
corresponde a tudo o que toca a organização da vida em sociedade e ao
governo da coisa pública.
Para o tema desta pesquisa, julgamos relevante investigar de que modo o
discurso sindical corresponde à posição política do seu associado, já que os
indivíduos, que vivem em um mesmo território, são diferentes e não têm a priori
os mesmo interesses nem os mesmo objetivos, conforme reforça Charaudeau
(2006, p.189). A configuração do ethos político, de acordo com o autor, não é
facilmente apreendida, pelo menos, não se considerarmos do ponto de vista de
sua eficácia (2006, p.86).
Para esta pesquisa, selecionamos os editoriais de quatro edições, publicadas
em março, maio e setembro do ano de 2012 e a edição publicada em
janeiro/13.
As edições selecionadas apresentam-se de modo semelhante. As capas têm a
mesma diagramação e contêm imagens alusivas ao universo professoral como
quadro-negro, palavras escritas com material, remetendo a giz, caderno. Além
das imagens, há na capa as palavras reivindicações e paralisações.
Na contracapa, o espaço nomeado “acontece” está presente somente na
edição de março de 2012, tratando do Mês Internacional das Mulheres; nas
demais edições, foi substituído por “dicas”. Embora o nome seja diferente,
trata-se do mesmo tipo de assunto, ou seja, “novidades” tais como: debate
acerca de “a crise do capital” (edição de maio/12) e, em uma metalinguagem,
das próprias publicações da entidade, impressas e virtuais, como o “Boletim
dos Aposentados”, “Boletim da Consciência Negra”, “Boletim LGBT” etc. Livros
publicados acerca da luta dos professores e movimentos sociais, cartas dos
leitores (não necessariamente professores), eventos nos quais professores
foram os destaques, como autores de samba-enredo (edição de março/12),
homenagens a professores falecidos e matérias sobre livros publicados por
professores também integram essa parte do jornal.
A página 3 das edições, intitulada “Conjuntura”, é reservada aos editoriais,
objeto de nossa análise. Eles trazem temas abrangentes como um caso de
30
assédio em uma escola, por exemplo. Já a edição de março/12 trata do PSPN -
Piso Salarial Profissional Nacional - patamar nacional, que é ultrapassado pelo
salário base do magistério paulista, por força das mobilizações promovidas
pela entidade. Essa edição aborda ainda a administração da Secretaria da
Educação quanto à questão da “Lei do Piso” e a edição de setembro/12 trata
da luta incansável da APEOESP em defesa dos professores e da escola
pública.
As páginas centrais, que são as páginas 4 e 5, são o carro-chefe da
APEOESP: “campanha salarial” e demais reinvindicações. A edição de
março/12, por exemplo, convoca os professores à luta pela implantação da
jornada do piso, que consiste em 2/3 da jornada para interação com alunos e
1/3 para atividade extraclasse, o que não vem sendo seguido pelo governo.
Alerta, também, para as assembleias que serão organizadas, a fim de
pressionar o governo estadual. A edição de maio/12 trata dos mesmos pontos,
acrescentando a questão dos diferentes patamares, que o Estado impõe aos
professores, separando-os em categorias como a “O”, por exemplo, que
abrange docentes contratados por períodos determinados, ou seja, que não
tem vínculo que justifique vários benefícios concedidos aos efetivos. Além
disso, a entidade critica a “provinha”, que, segundo a APEOESP, não tem
condições de aferir a capacidade e experiência profissional do professor. A
edição de setembro/12 trata de uma série de questões que sempre estão na
pauta das reivindicações: “pela jornada do piso; contra a remoção ex-offício e a
redução de disciplinas no ensino médio; pela dignidade na contratação e
regime de trabalho dos professores da categoria ‘O’; reajuste e reposição
salarial já!; assembleia geral – 28 de setembro – 14 horas – Praça da
República”.
A página 6 do Jornal da APEOESP trata de outros assuntos que também
fazem parte do universo do professor, além de campanha salarial. Na edição
de março/12, intitulada “Jurídico”, a entidade orienta os professores a entrarem
com liminares individuais pela implantação da jornada do piso. Com essa
atitude, a APEOESP busca uma decisão que favoreça o professor em
particular e, numa jurisprudência, atinja toda a classe.
31
A questão dos aposentados é tratada na edição de maio/12, em uma coluna do
mesmo nome; nela, a APEOESP exige a regularização das aposentadorias,
sanando problemas como a “demora na concessão das aposentadorias, falta
de respostas aos protocolos e descontos de licenças médicas e licenças saúde
no cômputo do tempo de serviço”.
As políticas sociais são tema da edição de setembro/12: a questão da mulher
(Mulher e Política; Mulher e Sindicalismo; A Mulher no Mercado de Trabalho), o
combate ao preconceito de raça (Coletivo Antirracismo), buscando a
implementação integral da Lei 10.639, aprovada em 2003, que garante a
inclusão da História e Cultura Afro nos currículos escolares e orientação
sexual, Coletivo LGBT, que propõe a distribuição de material didático, que
combata a homofobia nas escolas, além de discutir o PL 728/2011, que
determina que as instituições de ensino de São Paulo incluam o nome social de
travestis e transexuais em seus registros internos, ou seja, respeitem a
diversidade no ambiente escolar.
A página 7 é reservada às entidades, que trabalham conjuntamente em prol de
uma educação de qualidade em todo o país: o CNE (Conselho Nacional de
Educação), a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação)
e a CUT (Central Única dos Trabalhadores), a qual a APEOESP é filiada.
Nessa coluna, são discutidos assuntos como “as novas diretrizes do ensino
médio nacional”, como a separação entre as disciplinas regulamentares e o
ensino profissionalizante; o II Fórum Mundial de Educação Profissional e
Tecnologia (FMPT), que foi realizado entre os dias 28/5 e 01/6/13 em
Florianópolis (SC); a aprovação do CNE sobre a lei do piso; o plebiscito
nacional promovido pela CUT pelo fim do imposto sindical (lembrando que a
APEOESP não cobra esse imposto dos professores); a III Marcha Nacional
Contra a Homofobia, organizada pela CNTE, como parte das celebrações do
17 de maio (Dia Internacional de Combate à Homofobia); a reeleição da
professora Maria Izabel Azevedo Noronha, presidente da APEOESP, à vice-
presidente da Câmara da Educação Básica, órgão do Conselho Nacional de
Educação, assim como sua participação na construção do Plano Nacional de
Educação (PNE); a I Conferência de Trabalho Decente, promovida pela CUT,
32
corroborando com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), órgão da
Organização das Nações Unidas (ONU); a greve nacional organizada pela
CNTE, em abril; a luta pela homologação do Parecer CNE/CEB nº 18/2012,
que tem por finalidade orientar as redes públicas de ensino do país a aplicarem
corretamente o percentual da jornada extraclasse do professor (1/3),
considerada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal.
Na página 8 da edição de março/12, a APEOESP destaca o grande número de
acessos ao seu site, após a reformulação do portal, totalizando 2 milhões nos
meses de janeiro e fevereiro daquele ano. Por meio dessa nova estratégia de
comunicação, a entidade busca “facilitar o acesso dos professores a
informações importantes para sua vida funcional”. No site, além das
informações que também são publicadas no jornal impresso, atualizadas de
uma forma mais dinâmica, há um link para o programa EducAção na TV,
veiculado aos domingos pela Rede TV (na Baixada Santista, pelo canal SBT).
Outra novidade destacada é a criação de uma Central de Atendimento, por
meio de uma empresa líder de Service Desk na América Latina. Segundo a
entidade, o projeto visa a “agilizar o atendimento ao professor associado”. A
edição de maio/12 também valoriza o próprio site, destacando uma ferramenta
que fornece acesso ao Diário Oficial (DO) para consultas sobre a vida funcional
do professor. Publicações importantes nesse mesmo contexto, como
“APEOESP URGENTE”, “Boletim Educacional e Cultural”, “Manual do
Professor” e artigos com posicionamentos do Sindicato sobre assuntos
relacionados à Educação também são enviados para o e-mail do associado,
mediante cadastro no site. Na edição de setembro/12, dá-se grande destaque a
uma data próxima e de suprema importância para o sindicato: o dia dos
professores. Há, na matéria, uma homenagem a um dos educadores mais
reverenciados do mundo, Paulo Freire, para quem “a data é um convite para
que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas
atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que
queremos”.
33
Para a presidente Maria Izabel Azevedo Noronha, vem ocorrendo por parte de
setores do Estado brasileiro um processo de culpabilização dos professores
pelos problemas e deficiências da educação nacional. Apesar disso, reproduz-
se uma pesquisa em que a profissão de professor aparece em terceiro lugar
entre as mais admiradas, perdendo apenas, por pequena margem de votos,
para médicos e bombeiros. O texto também chama atenção para o papel da
entidade, pelos 33 anos de história vitoriosa. Quanto a esse aspecto, é
importante ressaltar que embora a APEOESP tenha sido fundada há 67 anos
(ano de 1945), dá-se destaque à data de 1979, quando “grupos de professores
progressistas tomaram a frente do Sindicato”; daí os 33 anos comemorados.
Como já mencionamos, o objeto desta pesquisa são os editoriais das edições
selecionadas do Jornal da APEOESP. Os editoriais deste jornal são sempre
polêmicos, pois refletem a posição desta instituição que é uma instituição
sindical. Para este estudo, fundamentamo-nos na Análise do Discurso e
verificaremos que ethos do professor da rede pública estadual paulista está
presente no discurso desse gênero.
34
CAPÍTULO II
PRESSUPOSTOS DA ANÁLISE DO DISCURSO
2.1. Introdução
Nesse capítulo, traçaremos um percurso da Análise do Discurso (AD), desde
sua consolidação, nos anos 60, até a abordagem proposta por Maingueneu
(1989, 2006, 2008 e 2010) na atualidade, a fim de alicerçarmos a análise das
amostras selecionadas. O conceito de gênero discursivo será retomado à luz
das propostas de Bakhtin (2003) e Maingueneau (2008), para que possamos
tratar de um gênero em particular, o editorial. Esse gênero, que tem por
finalidade manifestar a opinião de uma instituição, será analisado quanto aos
temas abordados, a estrutura composicional e as estratégias utilizadas na
construção dos temas tratados. Este capítulo trará, ainda, das propostas de
Maingueneau (2008) acerca do ethos discursivo, que servirá como base para
análise dos aspectos abordados nos editoriais, categoria fundamental para
discutirmos a imagem de professor apresentada pela APEOESP, por meio do
seu jornal.
2.2. O percurso da Análise do Discurso
O surgimento da Análise do Discurso (AD) não pode ser atribuído a nenhum
teórico especificamente, uma vez que ela se constitui de correntes diversas
além da Linguística, tais como a Antropologia (Hymes), a Sociologia (Garfinkel;
Sacks) e a Filosofia (Pêcheux e Foucault). Essa ausência de “alicerce” provoca
discussões, quando se argumenta que a AD abrange, de forma não ordenada,
análises linguísticas e aspectos sociológicos e psicológicos sem
fundamentação; outros, menos radicais, desejam que a AD seja firmada como
uma disciplina, por não verem vantagem nela como um domínio aberto.
35
É necessário considerar, porém, de acordo com Maingueneau (2007, p.15),
que podemos abordar as pesquisas sobre o discurso partindo tanto da
linguagem quanto da psicologia, da sociologia, da antropologia, da teoria
literária, etc., o que não constitui nenhuma situação fora do comum, já que a
própria Filologia era considerada tanto pelo aspecto linguístico quanto pelo
histórico.
Consolidada a partir de 1960, a AD é considerada por Brown e Yale (1983)
como a análise da língua efetivamente em uso, por Van Dijk (1985) como um
prolongamento da Retórica Clássica, preocupando-se em analisar o uso real da
linguagem utilizada por locutores reais em situações reais, por Schiffrin como
uma das regiões mais vastas e menos definidas da linguística (1994), e por
Moeschler e Reboul (1998) como uma subdisciplina da Linguística. Se existem
essas diferentes interpretações acerca da fundação da AD, ela ainda
permanece como extremamente variável: tanto são as análises quanto são os
analistas.
Talvez a maior causa das diferentes interpretações ocorra porque se espera
que toda disciplina tenha um elemento empírico como objeto de pesquisa, e
isso não acontece na AD, uma vez que, segundo Maingueneau (2008) o
discurso somente pode ser considerado objeto de um saber se ele for
assumido por diversas disciplinas que possuam, cada uma delas, um interesse
específico; dessa forma, nem toda pesquisa sobre o discurso pertence
necessariamente a uma disciplina específica.
Em nosso trabalho, trataremos especificamente da AD francófona, da qual
privilegiaremos Maingueneau, um dos maiores expoentes nessa disciplina. Seu
surgimento ocorreu como um movimento de aparente ruptura ao
estruturalismo, do qual fez parte Ferdinand Saussure. O objeto de estudo da
AD é, obviamente, o discurso, visto pelos leigos como uma fala formal, longa,
protocolar; na verdade, segundo Maingueneau, o discurso é exterior à própria
língua; é, de acordo com Castanho (2009, p.08), o terreno em que o ideológico
e o social se fundem e se concretizam na língua. Para a AD, portanto, devemos
considerar a textualidade materializada pela língua e o lugar social, a
36
exterioridade, apreendida pelo contexto sócio-histórico. Um passo importante
foi dado por Pêucheux, ao preconizar a escolha do corpus para análise,
embora naquele momento preferissem-se os discursos estabilizados,
produzidos em condições estáveis.
Ainda em sua trajetória, a AD caracterizou-se pela junção de conceitos
adquiridos da filosofia de Foucault, principalmente aquele que trata da
formação discursiva, doravante FD. Baseando-se nesse conceito, é possível
afirmar que o enunciado somente será digno de análise se relacionado às
condições sócio-históricas da enunciação. Vinculado a esse conceito, existe a
noção da formação ideológica – doravante FI – que compreende o contexto
sócio-histórico em que o sujeito enunciador se encontra.
Após esse momento, o discurso passa a ser visto em uma perspectiva
polifônica, a partir dos estudos de Bakhtin, atualizado posteriormente por
Ducrot, que distinguiu o sujeito falante, empírico, do locutor. Portador do
discurso, o locutor abarca vários discursos outros, daí a noção de polifonia e
heterogeneidade, dividida, por sua vez, em heterogeneidade constitutiva, que
traz implícita a voz do sujeito, e as palavras, os enunciados de outrem estão
tão intimamente ligados ao texto que elas não podem ser apreendidas por uma
abordagem lingüística (MAINGUENEAU, 2008, p.31) e heterogeneidade
mostrada, em que transparece a voz do outro, que faz parte da constituição do
discurso, como as citações, por exemplo.
A partir dos estudos de Ducrot, Maingueneau (2008, p.31) propõe o conceito do
primado do interdiscurso, afirmando que este amarra, em uma relação
inextricável, o Mesmo do discurso e seu Outro. Desse conceito, parte para a
tríade universo discursivo, campo discursivo e espaço discursivo. De acordo
com o autor (2008, p.33), o universo discursivo é o conjunto de formações
discursivas de todos os tipos que interagem numa conjuntura dada; os campos
discursivos, ou seja, um conjunto de formações discursivas que se encontram
em concorrência (2008, p.34) e espaço discursivo, que abrange, conforme
Castanho (2009, p.14), subconjuntos do campo discursivo em que pelo menos
duas FDs dialogam entre si.
37
Maingueneau (2008), no entanto, avança ao alterar o conceito de formação
discursiva para posicionamento – aquilo que pode e deve ser visto – e propor
as unidades tópicas – determinado fluxo de palavras que estão presentes em
diversos setores da sociedade (discurso do campo político, do campo feminino,
do campo sindical) – aceitas e socialmente reconhecidas, e não tópicas, que,
segundo Castanho (2009, p.15), são delineadas pelos pesquisadores e
independem de fronteiras pré-estabelecidas pela sociedade.
2.3. A noção de gênero do discurso na Análise do Discurso
Para tratar dos gêneros, recorremos inicialmente à Bakhtin (2003), para quem
os gêneros do discurso resultam em formas-padrão “relativamente estáveis” de
um enunciado, determinadas sócio-historicamente. Afirma ainda que somente
nos comunicamos, falamos e escrevemos por meio dos gêneros do discurso, e
até nas formas mais coloquiais, o discurso é moldado pelo gênero em uso.
Para Bakhtin (2003, p.282), esses gêneros são dados quase da mesma forma
com que nos é dada a língua materna, a qual dominamos livremente até
começarmos o estudo da gramática.
Como todo gênero é dotado de um enunciado, e este de palavras, apoiamo-
nos também em Bakhtin (2003, p.295), quando afirma que elas trazem consigo
a sua expressão, o seu tom valorativo que assimilamos, reelaboramos, e
reacentuamos; dessa forma, podemos afirmar que a palavra só adquire
significado quando inserida em um determinado discurso, dentro de um
contexto específico. O enunciado, constituinte desse discurso, falado ou
escrito, é um ato de comunicação social; nessa interação, o co-autor do
discurso não é passivo: ele compreende e assume uma posição, concordando
ou discordando, completando, discutindo, agindo, enfim, de forma ativa. Esse
aspecto, aliás, é a principal característica do enunciado. É importante salientar
que a abordagem de Bakhtin vai de encontro aos estudos de Saussure e outros
estruturalistas, para quem o outro era passivo na interação verbal.
38
O autor afirma ainda que cada um desses atos de enunciação é composto por
diversas vozes, a “polifonia”; nesse sentido, as vozes travam um diálogo
amparado histórico-socialmente e, dessa maneira, de cada situação social
surge um gênero, com suas características particulares. Para classificar cada
um dos gêneros, Bakhtin divide-os em primários, que são aqueles presentes
em situações de comunicação imediata, espontâneas, informais (o diálogo
cotidiano, por exemplo, ou uma carta pessoal), e secundários, normalmente na
forma escrita, mais bem elaborada, como por exemplo, os editoriais. O autor
ainda os classifica segundo o conteúdo temático (assunto), o plano
composicional (a forma, a estrutura) e o estilo (vocabulário, composição
gramatical, formal, e a forma individual de escrever do autor).
Maingueneau (2008, p.61), apoiado na noção bakhtiniana, afirma que a ideia
tradicional de gênero foi inicialmente elaborada no âmbito de uma poética, de
uma reflexão sobre a literatura. O autor define gêneros de discurso como
dispositivos de comunicação que só podem aparecer quando certas condições
sócio-históricas estão presentes. A existência de um gênero, portanto, só
ocorre quando da existência de atores sociais e condições que promovam o
seu uso, justificando o uso de uma determinada estrutura textual.
Todo gênero de discurso, portanto, visa a uma finalidade reconhecida, ou seja,
possui uma intenção reconhecida pelo destinatário; também deve estar
adequado a uma interação de parceiros legítimos; os papéis do enunciador e
co-enunciador são conscientes do seu papel naquele determinado contexto.
A AD sugere ainda outra distinção: a diferença entre gênero e tipo.
Maingueneau (2008, p.61) afirma que os gêneros de discurso pertencem a
diversos tipos de discurso associados a vastos setores de atividade social,
utilizando como exemplo o gênero “talk show”, inserido no tipo de discurso
“televisivo”, por sua vez parte do tipo de discurso “midiático”.
A fim de conceber um gênero e sua tipologia de discurso, Maingueneau (op.
cit., p.68) afirma que é necessário considerar uma finalidade reconhecida, ou
seja, a opção pelo uso de determinado gênero, em detrimento a outro; o
estatuto de parceiros legítimos, os papéis desempenhados por cada um em
39
uma interação; o lugar e o momento legítimos, que avalia o contexto da
enunciação; um suporte material, considerando que a modificação do suporte
material de um texto modifica radicalmente um gênero de discurso e uma
organização textual, ou seja, a estrutura formal normalmente aceita de um
determinado gênero; o editorial, por exemplo, não segue o formato de uma
receita de bolo.
2.4. O gênero do discurso editorial
O editorial é um gênero de discurso que circula em diversos veículos de
comunicação, entre eles o jornal; de acordo com Bakhtin (2003), é classificado
como um gênero secundário, uma vez que surge em uma interação verbal mais
complexa e evoluída, circulando, no Jornal da APEOESP, em um contexto
sociopolítico.
O editorial opera com ideias, argumentos e críticas, tendo a função social de
marcar a posição do jornal sobre os principais fatos do momento. Assim, o
leitor procurará, no editorial, assuntos de repercussão momentânea, sobre os
quais o jornal irá se posicionar. É um texto jornalístico opinativo, escrito de
maneira impessoal, acerca dos assuntos ou acontecimentos locais, nacionais
ou internacionais de maior relevância, de forma dissertativo-argumentativa.
Define e expressa o ponto de vista do veículo ou da empresa responsável pela
publicação (do jornal, revista etc.).
Segundo Guimarães (1992, p.26), o editorial, durante todo seu percurso
histórico, tem servido para que o jornalismo desempenhe a função de
intermediário, nas relações entre sociedade e poder. Melo (1985), acerca do
editorial, destaca que este possui quatro particularidades: a impessoalidade,
uma vez que o texto não é assinado e normalmente está redigido na primeira
pessoa do plural; a topicalidade, já que trata essencialmente de apenas uma
questão; a condensabilidade, por ser claro e breve; e a plasticidade, pois os
fatos tratados não são estáticos. O caráter opinativo do editorial ainda é
enfatizado por Beltrão (1980, p.60), quando afirma que seu autor tem sempre
40
que tomar partido, pois sua finalidade é aconselhar e dirigir as opiniões dos
leitores. Não se pode reservar: tem de decidir-se.
Quanto à estrutura, a página editorial tem um estilo que acompanha as
tendências do jornal, o próprio “estilo” ou “design” do jornal. Esse “estilo”’ é
equilibrado, denso ou leve, conforme a linha do veículo; nos editoriais da
APEOESP, por exemplo, percebemos o tom crítico, provocador, presente de
forma visual na diagramação do Jornal da APEOESP.
Normalmente os grandes jornais reservam um espaço pré-determinado para os
editoriais em duas ou mais colunas, logo nas primeiras páginas internas; no
Jornal da APEOESP, ele ocupa sempre a terceira página.
Os boxes (quadros) dos editoriais são normalmente demarcados com uma
borda ou tipos diferentes, para marcar claramente que aquele texto é opinativo,
e não informativo.
Quanto à estratégia de construção de um editorial, assim como ocorre em
qualquer matéria jornalística, tem início na captação de informações concretas,
que se dá pelo acompanhamento do que acontece no nosso meio e no mundo,
e por uma apurada percepção do que é tema de relevância no momento. A
percepção, nesse caso, é da própria instituição acerca dos temas tratados;
obviamente, essa interpretação é subjetiva.
Quanto à estrutura, existe a apresentação do tema (situando o leitor), já com
um posicionamento pontuado, no primeiro parágrafo. O uso da linguagem é
realizado de forma objetiva e o vocabulário é acessível; no caso da APEOESP,
é relacionado ao próprio universo dos professores da rede pública.
Os demais parágrafos (do terceiro ao penúltimo) trazem uma análise das
possíveis motivações que tornam o tema relevante, com argumentos de
autoridade, tais como a opinião de especialistas que reforcem credibilidade da
matéria.
O último parágrafo, de caráter conclusivo, apresenta o posicionamento crítico
final, que justifica o tratamento dado à notícia tratada; essa parte é,
41
normalmente, um alerta ao leitor. Essa conclusão, portanto, não deve esquecer
o que motivou a opinião, o que se afirmou no início, sem fugir do assunto. O
bom arremate opinativo é aquele que retoma o tema e traz uma projeção,
aponta para uma solução, indica um caminho ancorado em exemplos
concretos.
Quanto ao leitor, que normalmente adere à opinião expressa, uma vez que ele
faz parte do público-alvo (os professores, no caso tratado neste trabalho), não
lhe interessa apenas impressões, interessa a crítica ou a defesa embasada. O
leitor quer uma crítica contextualizada, e uma opinião consistente é aquela que
vem seguida de um exemplo concreto; ou, um exemplo concreto seguido de
uma opinião.
Pelas características apontadas, portanto, podemos dizer que o editorial é um
texto predominantemente dissertativo, pois desenvolve argumentos baseados
em uma ideia central; crítico, já que expõe um ponto de vista; informativo,
porque relata um acontecimento.
É corrente a mídia afirmar que o jornalista deve atuar de forma imparcial e
isenta, uma vez que sua missão é simplesmente informar os fatos. O
editorialista, porém, tem relativa liberdade para expressar os seus pontos de
vista, desde que sejam bem fundamentados e bem argumentados. Agindo
assim, o editorialista adquire credibilidade, constrói o seu ethos, a imagem de
alguém digno de fé. Essa imagem de credibilidade se constitui pela adoção de
uma postura de seriedade, de responsabilidade e de pleno conhecimento do
que o seu texto está veiculando. O convencimento do leitor, por meio da
argumentação, é uma das grandes qualidades de um bom editorial, o que pode
favorecer a construção de uma imagem positiva perante o público.
2.5. Ethos discursivo
De acordo com Amossy (2005, p.09), todo ato de tomar a palavra implica a
construção de uma imagem de si. Dessa forma, não é necessário que o locutor
42
fale sobre sua pessoa, apresente suas qualidades; embora ele queira
apresentar-se como digno de confiança, de apreciação, esses aspectos serão
percebidos pelo público a partir do ato da enunciação. Segundo a autora (2005,
p.69), a noção de ethos pertence à tradição retórica. Ligado ao orador,
diferencia-se do discurso (logos) e do auditório (pathos).
O conceito do ethos apresentado por meio da enunciação vem de Benveniste,
demonstrando que o ato de produzir um enunciado remete necessariamente ao
locutor que mobiliza a língua (AMOSSY, 2005, p.11). Kerbrat-Orecchioni
analisou os “procedimentos linguísticos”, por meio dos quais o locutor imprime
sua característica ao enunciado. Pêcheux também aborda a questão da
imagem dos interlocutores, ilustrados numa “cadeia de comunicação”: o
emissor A faz uma imagem de si mesmo e de seu interlocutor B;
reciprocamente, o receptor B faz uma imagem do emissor A e de si mesmo.
De acordo com Amossy (2005), a produção de uma imagem de si nas
interações começou a receber mais atenção por meio de Erving Goffman. O
sociólogo, adotando uma metáfora teatral, aborda o conceito da
“representação”, um artifício pelo qual o indivíduo recorre a atividades diversas
a fim de influenciar, sob certo aspecto, um dos participantes da interação. Trata
também dos “papéis” ou “rotina”, modelos de comportamento pré-
estabelecidos, como o professor comporta-se em sala de aula, por exemplo.
Nenhum dos autores citados até o momento, porém, fez uso da palavra ethos.
Segundo Amossy (2005, p.14), a vinculação desse termo às ciências da
linguagem encontra uma primeira expressão na teoria polifônica da
enunciação, de autoria de Ducrot. O autor afirma que a enunciação
corresponde à aparição de um enunciado, e não ao ato de um sujeito que o
produz. Para tanto, faz uma distinção entre locutor – sujeito empírico – do
enunciador, origem das posições expressas pelo primeiro; nesse caso, o ethos
está ligado ao locutor, um ser do discurso.
Maingueneau (2008, p.57), ao tratar desse aspecto, também relembrando a
retórica, afirma que este se consiste em causar boa impressão mediante a
forma com que se constrói o discurso, em dar uma imagem de si capaz de
43
convencer o auditório, ganhando sua confiança; para tanto, o orador pode jogar
com três qualidades fundamentais: a “phronesis”, ou prudência, a “areté”, ou
virtude, e a “eunonia”, ou benevolência. Dessa forma, perante a sociedade, é
construída a imagem do professor por meio da sua entidade de classe. O autor
destaca, ainda, o aspecto discursivo da noção de ethos, salientando que ele
implica uma experiência sensível do discurso, mobiliza a afetividade do
destinatário (2008, p.57). Dessa forma, o ethos é constituído junto à cena de
enunciação, ou seja, o ethos emerge no acontecimento, no discurso, por isso
ethos discursivo. No nosso caso, é construído por meio da publicação do
editorial no jornal da sua entidade.
A noção de ethos discursivo é um princípio composto por vários planos. Um
primeiro plano de análise é o tom, responsável por fazer emergir essa instância
corporificada que serve de fiador do que se diz. Maingueneau diz (2008: p.
64):
Isso quer dizer que optei por uma concepção mais “encarnada” do
ethos, que, nessa perspectiva, recobre não somente a dimensão
verbal, mas também o conjunto de determinações físicas e psíquicas
associadas ao “fiador” pelas representações coletivas. Assim, acaba-
se por atribuir um “caráter” e uma “corporalidade”, cujo grau de
precisão varia segundo os textos. O “caráter” corresponde a um feixe
de traços psicológicos. Quanto à corporalidade, ela é associada a
uma compleição física e a uma forma de se vestir. Além disso, o
ethos implica uma forma de mover-se no espaço social, uma
disciplina tácita do corpo, apreendida por meio de um
comportamento. O destinatário o identifica apoiando-se em um
conjunto difuso de representações sociais, avaliadas positiva ou
negativamente, de estereótipos, que a enunciação contribui para
reforçar ou transformar.
Isso implica dizer que o co-enunciador vai construindo, a partir dos seus
modelos estereotipados de indivíduos que compõem o seu mundo de
44
representações, a imagem daquele que lhe fala por meio do texto. No
imaginário da memória discursiva, o co-enunciador pode começar a construir a
imagem mais efetiva do enunciador, um modo de se vestir e de circular na
sociedade que possa contemplar o seu tom. Para Amoussy (2005: p. 125), tais
representações são estereotipadas e
para serem reconhecidas pelo auditório, para parecerem legítimas, é
preciso que sejam assumidas em uma doxa, isto é, que se indexem
em representações partilhadas. É preciso que sejam relacionadas a
modelos culturais pregnantes, mesmo se constestatórios (...) Na
perspectiva argumentativa, o estereótipo permite designar modos de
raciocínio próprios a um grupo e os conteúdos do setor da doxa na
qual ele se situa.
Podemos confirmar, então, o corpo que o enunciador assume no discurso.
Esse corpo toma uma existência que é partilhada por sua comunidade de co-
enunciadores e que orienta modos de raciocinar típicos desse grupo, o que faz
com que tais co-enunciadores possam aderir e incorporem tal imagem
estereotipada.
Esse processo de incorporação passa por três registros indissociáveis
(MAINGUENEAU, 2005: p. 99)
- a enunciação leva o co-enunciador a conferir um ethos ao seu
fiador, ela lhe dá corpo;
- o co-enunciador incorpora, assimila, desse modo, um conjunto de
esquemas que definem para um dado sujeito, seja a maneira de
controlar o seu corpo, de habitá-lo, uma forma específica de se
inscrever no mundo;
45
- essas duas primeiras incorporações permitem a constituição de um
corpo, o da comunidade imaginária dos que comungam-na adesão de
um mesmo discurso.
Assim, retomamos a centralidade da noção de adesão e de posicionamento.
Como mencionamos, não se adere a uma ideia, mas a um ethos, um fiador, um
maneira de ser e de estar no mundo, que carrega uma série de traços físicos e
psicológicos, mas a percepção disso tudo está no nível de uma interação
interdiscursiva e não de uma interação simplesmente linguística.
46
CAPÍTULO III
O ETHOS DISCURSIVO EM EDITORIAIS DO JORNAL DO SINDICATO DOS
PROFESSORES DO ENSINO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
3.1. A constituição da Amostra
Neste capítulo, procederemos à análise dos discursos selecionados para a
realização desse trabalho, considerando as propostas de examinar o gênero do
discurso editorial e a constituição do ethos discursivo nos discursos destacados
dos jornais publicados pela APEOESP nos meses de março, maio e
setembro/12 e janeiro/13.
Os editoriais, conforme já explicitamos, serão analisados, quanto ao gênero,
nas perspectivas de Bakhtin e à luz da Análise do Discurso de linha francesa,
nas abordagens de Maingueneau que, na atualidade, amplia a noção de ethos,
ao considerá-lo inerente ao discurso. A abordagem do gênero de discurso
abrange o tema, a estrutura composicional e as marcas linguísticas,
características do estilo do editorial. Como todo e qualquer discurso implica a
apresentação de um sujeito que assume o que se diz e o que não se diz no
discurso, buscamos desvelar o ethos discursivo, ou seja, a forma como se
produz a imagem do enunciador nas interações que se constroem no
funcionamento dos discursos que analisaremos.
Do ponto de vista da AD, os discursos do Jornal da APEOESP tornam-se
terreno fértil para reflexões sobre a constituição do ethos e de sua relação com
o professorado paulista, possibilitando-nos detectar as propostas que o
Sindicato faz em nome de seus associados. Por isso, consideramos como
critério de análise os mecanismos linguístico-discursivos, que o enunciador
utiliza na organização do gênero de discurso editorial e legitimar seu dizer no
campo sindical e pedagógico.
47
No período escolhido, verificamos que os editoriais tratam de temas
recorrentes na pauta da entidade, visando a legitimá-la como porta-voz dos
anseios e intencionalidades dos associados.
3.2. Procedimentos metodológicos
Conforme nos referimos na introdução desta pesquisa, nosso objetivo geral é
examinar, no funcionamento interno dos discursos selecionados, os efeitos de
sentido, a as marcas de gênero e a constituição do ethos discursivo do
enunciador, identificando, também, o posicionamento da APEOESP, que,
muitas vezes, soam polêmicos.
A partir desses objetivos, procuramos responder nosso problema de pesquisa
com base nas discussões teóricas que propusemos no capítulo II. Desse
modo, a fim de analisarmos os editoriais que constituímos como amostra desta
Dissertação, partimos da noção de gênero do discurso proposta por Bakhtin e
Maingueneau, assim como, deste último autor, as noções de ethos discursivo,
na medida em que o enunciador constrói uma imagem de si no discurso.
Buscaremos, por meio da análise das amostras, detectar indícios da
interdiscursividade, dividida por Maingueneau (2008, p.33) em uma tríade, que
compreende o universo discursivo, ou seja, o conjunto de formações
discursivas de todos os tipos que interagem numa conjuntura dada, campo
discursivo, que é um conjunto de formações discursivas que se encontram em
concorrência, delimitam-se reciprocamente em uma região determinada do
universo discursivo (MAINGUENEAU, 2008, p.34) e espaço discursivo, que é o
subconjunto de formações discursivas que o analista, diante do seu propósito,
julga relevante pôr em relação. Esses conceitos partem do que o autor chama
de heterogeneidade mostrada e heterogeneidade constitutiva: a primeira visa a
apreender “sequências delimitadas” (MAINGUENEAU, 2008, p.31) destacadas
no texto, tais como citações e palavras entre aspas; a segunda, muito mais
sutil, trata de enunciados de outrem (2008, p.31) que estão tão entranhados no
texto que não é possível detectá-los por meio da simples análise do léxico; os
dois conceitos justificam a tese do autor de que todo discurso é atravessado
48
por discursos outros, sobretudo quanto à heterogeneidade constitutiva, que
enlaça de tal forma os discursos que não é possível dissociá-los.
3.3. Análise
A fim de contextualizarmos os temas debatidos nos discursos escolhidos, faz-
se necessário apresentarmos o Jornal da APEOESP, veículo onde eles se
inserem. Com uma tiragem de 165 mil exemplares, de periodicidade bimensal,
essa publicação é voltada especialmente aos professores e professoras do
ensino público do estado de São Paulo, associados da APEOESP. O jornal é
enviado gratuitamente aos endereços dos associados, além de estar disponível
também em meio virtual, no site da APEOESP.
Com formato semelhante ao padrão dos editoriais comuns, a publicação da
entidade difere de outros veículos de comunicação predominantemente sob
dois aspectos: o tema tratado e a assinatura. Sabemos que os jornais de
grande tiragem e largo alcance tratam de um tema único, de conhecimento
público, geralmente uma notícia ocorrida recentemente. Os editoriais da
APEOESP, embora retomem em suas edições um mesmo tema – o Piso
Salarial, tratam também de assuntos diversos, sempre alusivos ao campo
professoral, como legislação própria, direitos conquistados, destacando
principalmente as ações do Sindicato em reação às mais diversas atitudes do
governo estadual, representado por seu órgão responsável, a Secretaria da
Educação.
Quanto à assinatura, percebemos que dois dos editoriais selecionados não são
assinados, embora as opiniões neles materializadas correspondam aos
posicionamentos da Associação, contrariando a reflexão de Melo (1985),
quando afirma ser esse gênero de discurso dotado de impessoalidade, por não
trazer autoria identificada. Os editoriais selecionados não seguem esse padrão
rigidamente; as edições de março e maio de 2012 não são assinadas; as de
setembro/12 e janeiro/13, porém, trazem a assinatura da presidente da
APEOESP.
49
O Jornal da APEOESP tem uma tiragem é significativa, além de ser publicado
em papel e on-line, o que amplia sua divulgação entre aos associados e não
associados. Isso favorece o entendimento da opinião ali defendida por seu
enunciador, tornando esse veículo de grande alcance. Os argumentos
manifestados em cada um dos discursos articulam um ponto de vista da
entidade e buscam uma interação com os co-enunciadores, que se tornam
interessados nos posicionamentos da Associação que os representa. A
distância de posicionamento entre o enunciador e co-enunciador não
correspondem exatamente ao que se veicula nos discursos em análise. Nesse
sentido, embora os quatro editoriais sejam de períodos diferentes, a tese que
defendem são praticamente as mesmas e estão alicerçadas na questão do
Piso Salarial.
A partir do que expusemos nos parágrafos acima, apresentamos as análises
propriamente ditas, nos próximos itens.
3.3.1. Análise do Editorial de março/12:
Resultado de dois séculos de luta das professoras e professores, o Piso
Salarial Profissional Nacional (PSPN) é lei no Brasil.
Instituído pela lei 11.738/08, o PSPN vem acompanhado da determinação de que, no mínimo, 1/3 da jornada de trabalho docente seja destinado a atividades extraclasses e, também, que os entes federados criem ou adaptem seus planos de carreira à nova legislação. No Estado de São Paulo, por força das nossas lutas, greves e mobilizações, o salário base do magistério é um pouco superior ao PSPN. E vamos continuar lutando para que melhore cada vez mais, pois ainda é um valor insuficiente para suprir as necessidades dos professores. Nossa luta vai muito além da questão salarial, pois temos compromisso com a qualidade da educação. Também precisamos nos manter saudáveis para continuar ministrando aulas com a qualidade que os estudantes necessitam e merecem. Para tanto, precisamos de condições de trabalho. Uma delas é uma jornada de trabalho que nos assegure tempo para preparar aulas, participar de programas de formação continuada no próprio local de trabalho, elaborar e corrigir provas e trabalhos, acompanhar e assistir
50
alunos com maior dificuldade de aprendizagem e outras atividades relacionadas à tarefa de ensinar. Mas na rede estadual o total de horas destinadas a essas atividades não passa de 17% da carga horária total, quando deveria ser, no mínimo, 33%. O governo estadual se recusa a implantar a composição da jornada determinada pela lei do piso. Por isto recorremos à justiça. Mesmo com sentença favorável ao nosso mandato de segurança coletivo, o secretário da Educação, com aval do governador do Estado, continua utilizando todos os recursos protelatórios para não cumpri-la. A resolução 8 retira apenas uma aula e ainda altera a base de cálculo das jornadas, de horas-relógio para horas-aula, o que está em desacordo com a lei complementar 836/97. É, portanto, ilegal. Além disso, a SEE não considera os deslocamentos do professor entre salas, intervalo para um café, para ir ao banheiro, nada. O momento é de persistir e lutar. Não vamos recuar. Vamos levar o caso ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal, se necessário. E vamos nos mobilizar para pressionar diretamente o governo estadual a cumprir a lei. Por isso, nossa primeira assembleia do ano será no Palácio dos Bandeirantes, no dia 16 de março, às 14 horas. Esta assembleia poderá decidir pela greve por tempo indeterminado, pois já estaremos com nossas atividades paralisadas desde o dia 14 de março. Cada professor e professora é importante neste movimento, assim como é importante o diálogo com nossos alunos e seus pais. Todos juntos, vamos realizar uma greve forte, massiva e vitoriosa.
O discurso 1, publicado no jornal da APEOESP em março/12, aborda a
questão do Piso Salarial Profissional Nacional do Magistério - PSPN, Instituído
pela lei 11.738/08, que valoriza o salário dos docentes brasileiros,
determinando, também que, no mínimo, 1/3 da jornada de trabalho dos
professores seja destinado a atividades extraclasses, algo que não vinha sendo
oferecido pelo governo estadual de São Paulo. O texto afirma, ainda, que as
mobilizações do Sindicato conquistaram um piso maior do que o determinado
pelo PSPN, embora ele ainda seja insuficiente para suprir as necessidades dos
professores.
O discurso apresenta um tom grave, contundente, na medida em que, em sua
enunciação, o enunciador busca amparo na legislação, a fim de provocar a
adesão do co-enunciador; ressalta, também, o alcance da luta pela questão
salarial, relacionando-o à qualidade do ensino e a tarefa de ensinar. O
enunciador se posiciona também contrário ao governo estadual, visto que ele
51
se recusa a implantar o que se determinara em lei. Nesse sentido, o
enunciador pretende recorrer à Justiça, utilizando os recursos que levem ao
cumprimento do que se determina a lei. O tema proposto nesse discurso
materializa a função social deste gênero de discurso, na medida em que
envolve todos os professores paulistas e a sociedade, em geral.
O campo sindicalista é percebido, sobretudo no estilo, como as expressões
condições de trabalho, jornada de trabalho e outras que surgirão em outros
recortes.
Recorte 1:
Instituído pela lei 11.738/08, o PSPN vem acompanhado da determinação de que, no mínimo, 1/3 da jornada de trabalho docente seja destinado a atividades extraclasses e, também, que os entes federados criem ou adaptem seus planos de carreira à nova legislação.
No recorte acima, percebemos uma preocupação do enunciador em
reconhecer que o que se pretende argumentar no funcionamento discursivo já
está previsto pela lei 11.738/08. Isso nos parece pertinente com o que
Maingueneau chama de mundo ético, ou seja, quando, no discurso, enunciador
e co-enunciador participam de um mesmo processo. Assim, o conteúdo do
recorte suscita à adesão pela lei que expressa uma força que tem a ver com os
modos de ser dos atores do discurso.
Desta maneira, podemos dizer que por meio da explicitação da lei o enunciador
mostra que estão adequados os argumentos que explicitara e que deve ser de
interesse do co-enunciador, portanto impossível de qualquer contestação.
Recorte 2:
No Estado de São Paulo, por força das nossas lutas, greves e mobilizações, o salário base do magistério é um pouco superior ao PSPN. E vamos continuar lutando para que melhore cada vez mais, pois ainda é um valor insuficiente para suprir as necessidades dos professores.
52
O enunciador, nesse recorte, valoriza a atuação da Entidade, que resultou em
um salário maior do que o estabelecido pelo PSPN, embora ressalte que ele
ainda não seja um valor que corresponderia a um modo de viver
satisfatoriamente.
Recorte 3:
Nossa luta vai muito além da questão salarial, pois temos compromisso com a qualidade da educação. Também precisamos nos manter saudáveis para continuar ministrando aulas com a qualidade que os estudantes necessitam e merecem.
Percebe-se, nesse recorte, que o enunciador por meio de sua maneira de
enunciar, mostra sua identidade, utilizando marcas linguísticas que demarcam
seu comprometimento com a questão em pauta, tais como os itens lexicais
nossa, nós e os verbos em primeira pessoa do plural. Com isso o enunciador
valoriza não somente a si, mas também o co-enunciador, estabelecendo com
ele uma situação em que ambos se colocam nas mesmas condições.
Recorte 4:
Para tanto, precisamos de condições de trabalho. Uma delas é uma jornada de trabalho que nos assegure tempo para preparar aulas, participar de programas de formação continuada no próprio local de trabalho, elaborar e corrigir provas e trabalhos, acompanhar e assistir alunos com maior dificuldade de aprendizagem e outras atividades relacionadas à tarefa de ensinar. Mas na rede estadual o total de horas destinadas a essas atividades não passa de 17% da carga horária total, quando deveria ser, no mínimo, 33%.
No recorte acima, o enunciador explicita as condições de trabalho a que ele e
seu co-enunciador precisam para obter qualidade em sua tarefa educacional:
jornada de trabalho para preparar aulas, ter formação continuada, corrigir
atividades, assistir alunos etc. Neste sentido, aproxima seu discurso ao
discurso dos professores, legitimando sua identidade, ou seja, construindo uma
imagem de si favorável, simpática e amplificada, nesse momento de luta de
classe. As razões propostas pelo enunciador nesse discurso oferecem
53
condições de reforçar os fatos não cumpridos pelo governo estadual e reforça
sua atitude para garantir seus argumentos.
Recorte 5:
O governo estadual se recusa a implantar a composição da jornada determinada pela lei do piso. Por isto recorremos à justiça. Mesmo com sentença favorável ao nosso mandato de segurança coletivo, o secretário da Educação, com aval do governador do Estado, continua utilizando todos os recursos protelatórios para não cumpri-la.
Recorte 6:
A resolução 8 retira apenas uma aula e ainda altera a base de cálculo das jornadas, de horas-relógio para horas-aula, o que está em desacordo com a lei complementar 836/97. É, portanto, ilegal. Além disso, a SEE não considera os deslocamentos do professor entre salas, intervalo para um café, para ir ao banheiro, nada.
Nos recortes 5 e 6, o enunciador assume um tom crítico e passa a argumentar
contra o governo estadual, destacando sua ida à justiça. Além disso, mostra a
ilegalidade da ação governamental. O recorte 5 se constitui como uma
constatação da situação e mexe com a emoção do co-enunciador. Todavia, no
recorte 6, o enunciador acusa o governo de ilegalidade e suscita que seu co-
enunciador considere a situação em que ambos se colocam.
Recorte 7:
O momento é de persistir e lutar. Não vamos recuar. Vamos levar o caso ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal, se necessário. E vamos nos mobilizar para pressionar diretamente o governo estadual a cumprir a lei. Por isso, nossa primeira assembleia do ano será no Palácio dos Bandeirantes, no dia 16 de março, às 14 horas. Esta assembleia poderá decidir pela greve por tempo indeterminado, pois já estaremos com nossas atividades paralisadas desde o dia 14 de março.
54
Recorte 8:
Cada professor e professora é importante neste movimento, assim como é importante o diálogo com nossos alunos e seus pais. Todos juntos, vamos realizar uma greve forte, massiva e vitoriosa.
Como podemos perceber, nos recortes 7 e 8, finalizadores do discurso, em
análise, o enunciador registra sua convicção frente à situação que o
professorado paulista está e registra: O momento é de persistir e lutar. Não
vamos recuar. Vamos nos mobilizar. Vamos realizar uma greve forte, massiva
e vitoriosa. No registro dessas atitudes, vemos o enunciador revelando seu
ethos, enfatizando seu compromisso com a causa do magistério de São Paulo.
Sua convicção é de que a greve será forte, se cada professor/professora incluir
pais e alunos, tornando, assim, a greve legítima.
Ressaltamos, por fim, no recorte 8 alguns índices de avaliação, que buscam
dar um valor ao co-enunciador, ao dizer que a participação dele é importante. A
greve recebe uma avaliação positiva, ao ser categorizada pelos adjetivos forte,
massiva e vitoriosa.
O Discurso 1, portanto, faz emergir, na enunciação construída, uma cenografia
de conclamação à greve, justificada pela injustiça que o governa opera sobre o
magistério paulista.
3.3.2. Análise do Editorial de maio/12:
Sem título
A APEOESP é incansável na defesa dos professores e da escola pública. A cada novo governo, somos confrontados com políticas educacionais que tratam os professores como executores dessas políticas e não como sujeitos principais do processo educativo.
O atual secretário da Educação, logo após a sua posse, criou certa expectativa declarando que ia dialogar com os profissionais da educação, pais, alunos e, com eles, elaborar as políticas educacionais, mas isso não tem ocorrido.
Primeiro, o secretário criou os chamados “pólos” nas regiões, com um público de convidados. Ouviu muitas críticas e, ao final, anunciou propostas e programas que nada tinham a ver com o que ali foi dito. Na segunda edição, restringiu ainda mais o público, tentando configurar uma plateia totalmente
55
favorável. Mesmo assim, ainda houve muitas críticas e reclamações, demostrando que nada mudou de substancial na rede estadual de ensino.
Paralelamente, está em curso a negociação de um novo plano de carreira no âmbito da comissão paritária. Nós, da APEOESP, em conjunto com a APASE, CPP e APAMPESP, apresentamos novas possibilidades de evolução funcional pelas vias acadêmica e não acadêmica e promoção na carreira. Elas privilegiam o trabalho coletivo, beneficiando os professores que participem de projetos vinculados ao projeto político-pedagógico da escola ou que desenvolvem um itinerário formativo coerente. Para tanto, a implantação da jornada do piso é fundamental. Por isso, nossa mobilização e pressão garantiram a inclusão deste ponto na pauta de discussão na comissão paritária.
A SEE insiste em não implantar a lei do piso. Mas nós não desistimos da luta. Temos a sentença favorável, estamos trabalhando para derrubar o efeito suspensivo concedido irregularmente ao governo pela 10º Câmara do TJSP e, em Brasília, estamos ingressando com recursos junto ao STJ e STF.
A pauta da nossa luta inclui ainda a reposição das nossas perdas salariais, a defesa dos professores da categoria O, submetidos a condições indignas de contratação e de trabalho; a denúncia do assédio moral, presente em muitas escolas estaduais; as condições físicas estruturais das unidades escolares; a campanha por mais concursos públicos, para PEB I e PEB II, de todas as disciplinas e outras reivindicações.
Nossa campanha salarial e educacional está em pleno andamento e a participação de cada professor e professora é essencial para a vitória.
O discurso 2, publicado no jornal da APEOESP em maio/12, faz uma crítica ao
então Secretário da Educação, que havia garantido diálogo com a classe, algo
que não se concretizou. Trata, também, das discussões acerca de um novo
Plano de Carreira, que privilegie o trabalho coletivo e traga benefício aos
professores envolvidos em projetos ligados às respectivas unidades escolares.
Retoma, ainda, a questão da lei do Piso Salarial, não implantada pela
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. O discurso conclama a pauta
de luta em prol da defesa dos associados submetidos a condições indignas de
trabalho.
Recorte 1:
A APEOESP é incansável na defesa dos professores e da escola pública. A cada novo governo, somos confrontados com políticas educacionais que tratam os professores como executores dessas políticas e não como sujeitos principais do processo educativo.
56
No recorte acima, o enunciador exalta a importância da entidade na defesa dos
professores e da educação como um todo. A aproximação ao co-enunciador se
dá quando ambos estão submetidos às mesmas dificuldades impostas pelo
governo, por meio das políticas educacionais adotadas.
Recorte 2:
O atual secretário da Educação, logo após a sua posse, criou certa expectativa declarando que ia dialogar com os profissionais da educação, pais, alunos e, com eles, elaborar as políticas educacionais, mas isso não tem ocorrido.
Recorte 3: Primeiro, o secretário criou os chamados “pólos” nas regiões, com um público de convidados. Ouviu muitas críticas e, ao final, anunciou propostas e programas que nada tinham a ver com o que ali foi dito. Na segunda edição, restringiu ainda mais o público, tentando configurar uma plateia totalmente favorável. Mesmo assim, ainda houve muitas críticas e reclamações, demostrando que nada mudou de substancial na rede estadual de ensino.
Nos recortes 2 e 3 acima, o enunciador volta a assumir um tom crítico quanto à
atuação do secretário da educação. Com esse posicionamento, reforça a
necessidade de adesão do co-enunciador na luta por melhores condições.
Recorte 4:
Paralelamente, está em curso a negociação de um novo plano de carreira no âmbito da comissão paritária. Nós, da APEOESP, em conjunto com a APASE, CPP e APAMPESP, apresentamos novas possibilidades de evolução funcional pelas vias acadêmica e não acadêmica e promoção na carreira. Elas privilegiam o trabalho coletivo, beneficiando os professores que participem de projetos vinculados ao projeto político-pedagógico da escola ou que desenvolvem um itinerário formativo coerente. Para tanto, a implantação da jornada do piso é fundamental. Por isso, nossa mobilização e pressão garantiram a inclusão deste ponto na pauta de discussão na comissão paritária.
No recorte acima, o enunciador reforça o ethos de autoridade no processo de
negociação, e apresenta soluções para a situação educacional. Ao mesmo
tempo, reafirma a permanente necessidade de união a fim de pressionar o
governo.
Recorte 5:
57
A SEE insiste em não implantar a lei do piso. Mas nós não desistimos da luta. Temos a sentença favorável, estamos trabalhando para derrubar o efeito suspensivo concedido irregularmente ao governo pela 10º Câmara do TJSP e, em Brasília, estamos ingressando com recursos junto ao STJ e STF.
No recorte acima, o enunciador reforça sua legitimidade amparada pela justiça,
e aproxima-se do co-enunciador em (...) nós não desistimos da luta (...). Dessa
maneira, há um reforço na mensagem.
Recorte 6:
A pauta da nossa luta inclui ainda a reposição das nossas perdas salariais, a defesa dos professores da categoria O, submetidos a condições indignas de contratação e de trabalho; a denúncia do assédio moral, presente em muitas escolas estaduais; as condições físicas estruturais das unidades escolares; a campanha por mais concursos públicos, para PEB I e PEB II, de todas as disciplinas e outras reivindicações.
Recorte 7:
Nossa campanha salarial e educacional está em pleno andamento e a participação de cada professor e professora é essencial para a vitória.
Nos recortes 6 e 7 acima, o enunciador reafirma sua posição de igualdade com
o co-enunciador em (...) a reposição das nossas perdas salariais (...), além de
ressaltar sua autoridade e conhecimento acerca das agruras dos profissionais
da educação. Conclui o texto em tom de convocação, ressaltando que a
adesão do co-enunciador às atividades propostas é indispensável.
3.3.3. Análise do Editorial de setembro/12:
A luta da APEOESP em defesa dos professores e da escola pública nunca para.
No dia 28 de setembro, todas as professoras e todos os professores estão convocados para a grande assembleia estadual que realizaremos na Praça da República, para darmos um recado claro e direto ao governo estadual: queremos reajuste salarial já, plano de carreira justo e atraente, condições de trabalho, dignidade na contratação e regime de trabalho para todos os professores, garantia de direitos e valorização do magistério estadual.
Não aceitaremos que o governo, simplesmente, deixe de nos pagar o reajuste integral de 10,2% prometido para 2012 e do qual recebemos apenas parte, por
58
ter sido incluído no cálculo a incorporação da última parcela da GAM, definido em outra lei, que não a que institui o reajuste salarial parcelado de 2011 a 2014 (LC 1143/2011). Também não abriremos mão da negociação em torno da recuperação de nossas perdas salariais, estimadas em 36,74%. Se a resposta do Estado para nossas reivindicações não forem satisfatórias, não nos restará outra saída: é greve.
A luta pela jornada do piso também prossegue, apesar das manobras protelatórias do governo do Estado. A APEOESP luta em todas as frentes: no TJSP, no Conselho Nacional de Justiça, no Superior Tribunal de Justiça. Por meio da CNTE, introduzimos este debate também no Conselho Nacional de Educação, no qual ocupo a Vice-Presidência da Câmara de Educação Básica e a relatoria do Parecer CNE/CEB 9/2012, que normatiza a implantação da jornada do piso em todos os entes federados.
Além disso, estamos empenhados em assegurar, em contatos com o governo e pela via judicial, dignidade para os professores da categoria “O”, questionando sua forma de contratação, a quarentena e a ausência de direitos. Também na justiça estamos lutando para garantir a aposentadoria especial para todos os professores, inclusive readaptados.
Na comissão paritária da carreira, estamos defendendo permanentemente as posições históricas da nossa categoria, buscando resgatar os direitos que nos foram assegurados pela LC 444/85 e depois retirados. Junto com esta edição você está recebendo um exemplar do caderno “Conversas sobre a Carreira”, onde poderá ter acesso a tudo o que vem sendo feito e o estágio atual da discussão.
Finalmente, estamos atuando para evitar retrocessos no ensino médio, como a diluição de disciplinas, pois o problema deste nível de ensino é a ausência de uma concepção que atenda aos interesses dos jovens filhos e filhas da classe trabalhadora. Da mesma forma, não aceitaremos ataques aos direitos dos professores, como a remoção ex-offício e avaliações de desempenho como condição para que o professor permaneça na escola de ensino médio de período integral.
A luta não para. Lutando, podemos conquistar.
Presidenta da APEOESP
O discurso 3, publicado no jornal da APEOESP em setembro/12, aborda a luta
da Sindicato em defesa dos professores e da escola pública. Esse discurso,
assinado pela presidente da Associação, é caracterizado por um tom incisivo e
evoca o reajuste salarial-já, um plano de carreira justo e atraente, melhores
condições de trabalho, dignidade na contratação e jornada de trabalho para
todos os professores, enfim tudo que garante aos professores sua valorização
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pessoal e profissional. O enunciador posiciona-se firmemente, ameaçando
greve da categoria, caso tais reivindicações não sejam atendidas.
Recorte 1:
No dia 28 de setembro, todas as professoras e todos os professores estão convocados para a grande assembleia estadual que realizaremos na Praça da República, para darmos um recado claro e direto ao governo estadual: queremos reajuste salarial já, plano de carreira justo e atraente, condições de trabalho, dignidade na contratação e regime de trabalho para todos os professores, garantia de direitos e valorização do magistério estadual.
O enunciador convoca seus enunciadores para comparecerem a uma
assembleia, especificando dia e local, onde ela acontecerá. Além disso, tal
convocação explicita os pontos que serão discutidos na ocasião, que, como
podemos perceber, são todos recorrentes: reajuste salarial, plano de carreira,
condições de trabalho, dignidade na contratação, regime de trabalho, garantia
dos direitos, valorização do magistério. Vê-se nesse recorte, o enunciador seus
posicionamentos alinhados com o do professorado, manifestando sua
convicção de que busca justiça e que as consequências da assembleia que se
realizará serão legítimas. Nesta perspectiva, o discurso adquire uma forma
consensual, aparentando revelar um ethos de autoridade na luta da classe.
Recorte 2:
Não aceitaremos que o governo, simplesmente, deixe de nos pagar o reajuste integral de 10,2% prometido para 2012 e do qual recebemos apenas parte, por ter sido incluído no cálculo a incorporação da última parcela da GAM, definido em outra lei, que não a que institui o reajuste salarial parcelado de 2011 a 2014 (LC 1143/2011). Também não abriremos mão da negociação em torno da recuperação de nossas perdas salariais, estimadas em 36,74%. Se a resposta do Estado para nossas reivindicações não forem satisfatórias, não nos restará outra saída: é greve.
A intervenção do enunciador, partilhando com o co-enunciador a pessoa do
discurso, de forma, inclusiva, exprime o posicionamentos que todos terão de
assumir na assembleia: Não aceitaremos (...); não abriremos mão (...); não nos
restará outra saída (...). O enunciador ainda não se satisfazendo de apresentar
as causas das lutas dele e do professorado, declara que a única saída será a
greve. Ora, o discurso, caracterizado como do gênero de discurso editorial,
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deixa de ter um enfoque dissertativo, para manifestar uma marca convocatória.
Assim, o item lexical greve no final do recorte gera um efeito de crença, na
medida em que, na perspectiva do enunciador, ela tem um grande valor e
produzirá um resultado positivo.
Recorte 3:
A luta pela jornada do piso também prossegue, apesar das manobras protelatórias do governo do Estado. A APEOESP luta em todas as frentes: no TJSP, no Conselho Nacional de Justiça, no Superior Tribunal de Justiça. Por meio da CNTE, introduzimos este debate também no Conselho Nacional de Educação, no qual ocupo a Vice-Presidência da Câmara de Educação Básica e a relatoria do Parecer CNE/CEB 9/2012, que normatiza a implantação da jornada do piso em todos os entes federados.
No recorte acima, o enunciador dá crédito ao que vem dizendo em diferentes
espaços discursivos, quando recorre à lei, esclarecendo a participação efetiva
da APEOESP nas lutas da classe, evidenciando, inclusive, a força da entidade.
A partir disso, podemos afirmar que o gênero de discurso editorial tem a função
social de se posicionar diante de algum acontecimento ou fato social,
apresentando argumentos que possam obter a adesão dos co-enunciadores.
Isso garante ao enunciador legitimidade principalmente, quando em primeira
pessoa, argumenta: introduzimos este debate também no Conselho Nacional
de Educação, no qual ocupo a Vice-Presidência da Câmara de Educação
Básica e a relatoria do Parecer CNE/CEB 9/2012. Por isso, podemos confirmar
que todas essas marcas permitem-nos desvelar o ethos do sujeito enunciador.
Recorte 4:
Além disso, estamos empenhados em assegurar, em contatos com o governo e pela via judicial, dignidade para os professores da categoria “O”, questionando sua forma de contratação, a quarentena e a ausência de direitos. Também na justiça estamos lutando para garantir a aposentadoria especial para todos os professores, inclusive readaptados.
Não é somente a discussão da situação do professorado em geral que o
enunciador conhece, nesse recorte, ele parece dominar cada situação docente,
quando relaciona os professores da categoria O, os aposentados e os
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readaptados. A partir disso, constrói-se um ethos que confere ao discurso certa
autoridade pela valorização de todos os envolvidos nas lutas da classe.
Recorte 5:
Na comissão paritária da carreira, estamos defendendo permanentemente as posições históricas da nossa categoria, buscando resgatar os direitos que nos foram assegurados pela LC 444/85 e depois retirados. Junto com esta edição você está recebendo um exemplar do caderno “Conversas sobre a Carreira”, onde poderá ter acesso a tudo o que vem sendo feito e o estágio atual da discussão.
A sequência discursiva assume o mesmo tom que o enunciador vinha dando
nesse e nos outros discursos. Desta maneira, ele procura manter, perante seus
co-enunciadores uma face positiva pela maneira como se comunica e como
trata das questões fundamentais do magistério paulista. Tal posicionamento lhe
permite convidar o co-enunciador a ler “Conversas sobre a Carreira”, a fim de
que ele tenha esperança de tudo se alcançará. O desafio é ter a adesão do co-
enunciador, pois a discussão sobre a situação do professorado exige um
engajamento de todos e a leitura do Conversas sobre a Carreira trará os
esclarecimentos necessários
Recorte 6:
Finalmente, estamos atuando para evitar retrocessos no ensino médio, como a diluição de disciplinas, pois o problema deste nível de ensino é a ausência de uma concepção que atenda aos interesses dos jovens filhos e filhas da classe trabalhadora. Da mesma forma, não aceitaremos ataques aos direitos dos professores, como a remoção ex-offício e avaliações de desempenho como condição para que o professor permaneça na escola de ensino médio de período integral. A luta não para. Lutando, podemos conquistar.
Presidenta da APEOESP
A opinião do enunciador está fundada em imaginários politico-pedagógicos,
que visam a não ocorrer retrocessos na ação educacional. O desafio é não
acatar o que fere os direitos dos professores. A luta pelos direitos exige que
cada professor tenha adesão ao plano estabelecido pelo sindicato. O último
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enunciado do discurso incita os associados a sonhar e acreditar que tudo
poderão conquistar.
3.2.4. Análise do Editorial de janeiro/13:
A luta da APEOESP em defesa dos professores e da escola pública nunca para
Em muitos anos de lutas, desafios e conquistas a APEOESP acumulou um patrimônio inestimável, formado pelos seus mais de 186 mil associados e associadas e uma organização presente em todas as regiões do estado, por meio de suas 93 subsedes, além da Sede Central.
Se a função primordial de um Sindicato é lutar pela constante melhoria das condições de vida e trabalho da categoria que representa, a APEOESP soube compreender que esta luta deve contemplar os(as) professores(as) não apenas no seu ambiente de trabalho, mas alcançar todos os aspectos de sua vida como cidadãos e cidadãs plenos de direitos e capazes de contribuir para a transformação da nossa sociedade.
Não podemos esquecer que a finalidade da nossa profissão é a de formar nossas crianças e jovens para que assegurem um futuro de paz, solidariedade, desenvolvimento econômico com justiça social e distribuição de renda e a soberania da nossa nação. Temos consciência de que a valorização dos professores é condição fundamental para a qualidade do ensino na escola pública, que deve ser gratuita, laica e inclusiva para cumprir sua função social.
As resoluções da V Conferência Estadual de Educação da APEOESP, que você está recebendo juntamente com esta edição do Jornal da APEOESP, refletem essa preocupação, estabelecendo caminhos para lutarmos por melhores condições de trabalho, pela implantação da jornada do piso, por reajuste salarial e reposição das nossas perdas, por uma carreira justa e atraente, pela melhoria das nossas condições de saúde, contra a violência nas escolas, enfim, por melhores condições de vida para os professores e professoras em seus diversos aspectos.
A saúde do professor é uma das nossas lutas centrais. Já realizamos uma bem sucedida caminhada no Parque do Ibirapuera, formulamos uma pauta a ser apresentada ao governo e vamos realizar em 2013 uma olimpíada que deve envolver todas as subsedes. Quanto à violência nas escolas, estamos realizando uma ampla pesquisa, cujos resultados subsidiarão nossas ações.
O Governo do Estado de São Paulo não negocia e não atende nossas reivindicações. Sob a propaganda do diálogo e da negociação, assistimos ao monólogo do Secretário da Educação, respostas negativas ou evasivas a nossas solicitações. Sob o discurso da qualidade, a realidade mostra o descaso para com as escolas estaduais e o não atendimento das necessidades dos seres humanos que nelas estudam e trabalham. Onde há professores, funcionários, estudantes e suas famílias, o Governo enxerga apenas despesas que pretende cortar.
63
Por esta razão a V Conferência aprovou: como não aceitamos mais tergiversações, nossa única saída é a greve no mês de abril. Vamos começar o ano letivo conversando com todos os nossos colegas para construir a consciência coletiva da necessidade da greve, para que o nosso movimento nasça forte, cresça e nos leve às conquistas de que tanto necessitamos.
Um feliz 2013 para todos e todas, vencendo desafios e conquistando grandes realizações.
Presidenta da APEOESP
O discurso 4, publicado no jornal da APEOESP em janeiro/13 faz um balanço
dos anos de lutas e mobilizações em prol da classe e da educação como um
todo. Trata das questões debatidas na V Conferência Estadual de Educação,
ocorrida em novembro/12, na qual foram apontadas diversas críticas à atuação
do governo, que culminaram na decisão de se realizar uma greve no mês de
abril/13.
Recorte 1:
Em muitos anos de lutas, desafios e conquistas a APEOESP acumulou um patrimônio inestimável, formado pelos seus mais de 186 mil associados e associadas e uma organização presente em todas as regiões do estado, por meio de suas 93 subsedes, além da Sede Central.
No recorte acima, o enunciador ressalta seu ethos de quem conquistou muito
e, portanto, tem autoridade para tratar do assunto em pauta, nos próximos
recortes. Percebe-se, então, a demonstração de uma clara aproximação às
aspirações do co-enunciador.
Recorte 2: Se a função primordial de um Sindicato é lutar pela constante melhoria das condições de vida e trabalho da categoria que representa, a APEOESP soube compreender que esta luta deve contemplar os(as) professores(as) não apenas no seu ambiente de trabalho, mas alcançar todos os aspectos de sua vida como cidadãos e cidadãs plenos de direitos e capazes de contribuir para a transformação da nossa sociedade.
No recorte acima, o papel da entidade, conforme está descrito, aproxima
sobremaneira o co-enunciador do enunciador. Ora, todo o exposto vai ao
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encontro do que almeja o professor, e o texto apenas confirma as expectativas
de um sindicato para com a categoria que representa.
Recorte 3:
Não podemos esquecer que a finalidade da nossa profissão é a de formar nossas crianças e jovens para que assegurem um futuro de paz, solidariedade, desenvolvimento econômico com justiça social e distribuição de renda e a soberania da nossa nação. Temos consciência de que a valorização dos professores é condição fundamental para a qualidade do ensino na escola pública, que deve ser gratuita, laica e inclusiva para cumprir sua função social.
No recorte acima, o enunciador chama a atenção para aspectos que
ultrapassam o universo profissional dos professores. Elementos como futuro de
paz, solidariedade, desenvolvimento econômico com justiça social (...) são
ressaltados para demonstrar ao co-enunciador que a entidade não se furta às
preocupações com a sociedade da qual o professor faz parte. Percebe-se,
nesse recorte, o teor político-social de que trata Charaudeau.
Recorte 4:
As resoluções da V Conferência Estadual de Educação da APEOESP, que você está recebendo juntamente com esta edição do Jornal da APEOESP, refletem essa preocupação, estabelecendo caminhos para lutarmos por melhores condições de trabalho, pela implantação da jornada do piso, por reajuste salarial e reposição das nossas perdas, por uma carreira justa e atraente, pela melhoria das nossas condições de saúde, contra a violência nas escolas, enfim, por melhores condições de vida para os professores e professoras em seus diversos aspectos.
No recorte acima, o enunciador trata de aspectos restritos ao universo da
entidade, como a realização da V Conferência, e de temas recorrentes em
outros editoriais, como a implantação da jornada do piso. Pode-se perceber
que a cada debate, busca-se reforçar o vínculo entre enunciador e co-
enunciador.
Recorte 5:
A saúde do professor é uma das nossas lutas centrais. Já realizamos uma bem sucedida caminhada no Parque do Ibirapuera, formulamos uma pauta a ser apresentada ao governo e vamos realizar em 2013 uma olimpíada que deve envolver todas as subsedes. Quanto à violência nas escolas, estamos realizando uma ampla pesquisa, cujos resultados subsidiarão nossas ações.
No recorte acima, o enunciador aborda temas que não são exclusivos do
universo professoral, mas que aproximam o co-enunciador, uma vez que
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refletem a preocupação de todos os indivíduos da sociedade (saúde e violência
social). Percebemos, então, um ethos político que avança as aspirações
profissionais.
Recorte 6:
O Governo do Estado de São Paulo não negocia e não atende nossas reivindicações. Sob a propaganda do diálogo e da negociação, assistimos ao monólogo do Secretário da Educação, respostas negativas ou evasivas a nossas solicitações. Sob o discurso da qualidade, a realidade mostra o descaso para com as escolas estaduais e o não atendimento das necessidades dos seres humanos que nelas estudam e trabalham. Onde há professores, funcionários, estudantes e suas famílias, o Governo enxerga apenas despesas que pretende cortar.
No recorte acima, percebemos um tom incisivo e até acusatório. Termos como
“monólogo” e “descaso” são utilizados como reforço para as mazelas que o
enunciador denuncia. A aproximação com o co-enunciador se dá em (...) não
atende nossas reivindicações (...), e o ethos de professor que se preocupa com
todo o universo escolar é destacado em detrimento ao abandono de um
governo que (...) enxerga apenas despesas que pretende cortar.
Recorte 7:
Por esta razão a V Conferência aprovou: como não aceitamos mais tergiversações, nossa única saída é a greve no mês de abril. Vamos começar o ano letivo conversando com todos os nossos colegas para construir a consciência coletiva da necessidade da greve, para que o nosso movimento nasça forte, cresça e nos leve às conquistas de que tanto necessitamos. Um feliz 2013 para todos e todas, vencendo desafios e conquistando grandes realizações.
Presidenta da APEOESP
No recorte acima, o enunciador apresenta a (...) única saída (...) ao co-
enunciador: a greve. De acordo com os argumentos apresentados, (...) um feliz
2013 (...) somente pode acontecer se houver uma intensa mobilização de todos
os professores e todas as professoras a fim de que ocorram grandes
realizações. Podemos perceber, mais uma vez, que há uma recorrente
retomada de elementos que buscam aproximar o discurso do enunciador às
aspirações do co-enunciador, e seja justificada a tese de que o sindicato é o
legítimo representante da classe.
66
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao término desta etapa, é inevitável que façamos um balanço do que foi
apreendido e uma análise do que ainda deve ser aprofundado. Aliado à
experiência pessoal, pelos anos de convivência com os professores com os
quais travamos conhecimento no decorrer desses anos todos, além dos
colegas nas instituições de ensino, debruçamo-nos na pesquisa, em busca de
teorias e propostas que dessem conta de resolver o problema levantado nesse
trabalho.
Partindo do estereótipo que acompanha a classe dos professores, por muitas
vezes visto como alguém que cumpre uma árdua missão, que luta contra tudo
e todos a fim de transmitir conhecimentos e erradicar a ignorância, e outras
vezes como um profissional mal formado, acomodado e que reclama sem
razão, uma vez que é livre para decidir por outros rumos, buscamos
fundamentação teórica que embasasse ou negasse um ou outro ponto de vista,
uma vez que o estereótipo não tem base empírica, parte de um pré-conceito.
Os editoriais analisados com o olhar do pesquisador, que busca sempre a
objetividade, demonstram que o profissional professor - ou professora, uma
vez que o número de mulheres na Educação é bastante superior ao número de
indivíduos do sexo masculino – é, inevitavelmente, um agente de lutas, de
mobilizações, alguém que está sempre buscando melhorias no campo em que
atua. Como o sindicato representa toda a classe, esse ethos é generalizado, e
parece abarcar todos os profissionais da Educação.
Um aspecto interessante a ser observado é o fato de o professor, como
profissional da Educação, buscar progressos e melhorias para si, como é
demonstrado em recortes como reajuste salarial de 36,74%, salários dignos,
possibilidades de evolução, condições de trabalho, respeito, valorização
profissional, plano de carreira, mas não se ater à própria condição, mas a da
Educação como um todo, ressaltando o perfil “missionário”, de quem luta por
uma causa.
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Mediante esse resultado, podemos perceber que a APEOESP, o sindicato dos
professores, reforça em sua principal publicação, o Jornal da APEOESP, e nele
o editorial, a imagem que a sociedade tem desse profissional: alguém que luta
por melhores condições de ensino, mas, invariavelmente, está buscando ser
respeitado e tratado como um profissional que merece ser bem remunerado e
ter boas condições de trabalho. Dessa forma, uma evolução na Educação
passa, necessariamente, pelo progresso do professor.
68
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